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GT HISTORIA DO JORNALISMO COORDENAÇÃO GERAL: MARIALVA BARBOSA (UFF) INICIAÇÃO CIENTÍFICA I = EM FOCO A IMPRENSA MARANHENSE 1º DE JUNHO – 14 ÀS 16 HORAS COORDENAÇÃO: LETICIA CANTARELA MATHEUS E DANIELE BRASILIENSE (UFF) CENSURA E IMPRENSA NA HISTÓRIA DO BRASIL: 300 ANOS DE DESAFIO DA ARTE TIPOGRÁFICA O Possível Alicerce da Imprensa Brasileira Inserido na Tipografia Recifense que foi Censurada em 1706 * Por Luís Carlos Cipriano * *Orientação de Salett Tauk e Antonio Moura Palavras Chaves: Imprensa, história, Censura 1. A HISTÓRIA COMO BASE

Censura e imprensa na história do Brasil

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Page 1: Censura e imprensa na história do Brasil

GT HISTORIA DO JORNALISMO

COORDENAÇÃO GERAL: MARIALVA BARBOSA (UFF)

INICIAÇÃO CIENTÍFICA I = EM FOCO A IMPRENSA MARANHENSE

1º DE JUNHO – 14 ÀS 16 HORAS

COORDENAÇÃO: LETICIA CANTARELA MATHEUS E DANIELE

BRASILIENSE (UFF)

CENSURA E IMPRENSA NA HISTÓRIA DO BRASIL: 300 ANOS DE DESAFIO

DA ARTE TIPOGRÁFICA

O Possível Alicerce da Imprensa Brasileira Inserido na Tipografia Recifense que foi

Censurada em 1706

* Por Luís Carlos Cipriano

* *Orientação de Salett Tauk e Antonio Moura

Palavras Chaves: Imprensa, história, Censura

1. A HISTÓRIA COMO BASE

As vésperas do consistente fato dos 300 anos da primeira CENSURA em terras

brasileira , revelou - se um forte indício da influência holandesa e judaica neste assunto.

Por outro lado assegurou diversas indagações de o porque se censurar uma tipografia

única e exclusivamente para impressão de letras de cambio e orações devotas.

Até o momento não se tinham notícias sobre documentos que fundamentassem

as raízes da imprensa ainda no período colonial do Brasil. Porém, isso não acalentou o

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ímpeto de muitos pesquisadores. Entre eles, Nelson Werneck Sodré. “(...) Em 1706, sob

os auspícios do governador Francisco de Castro Morais, instalou – se no Recife pequena

tipografia para impressão de letras de câmbio e orações devotas. A carta régia de 8 de

junho do mesmo ano (...) determinava que deveria seqüestrar as letras impressas.”

(p.17)

Partindo desse pressuposto, diversas bibliografias e manuscritos oficiais

descobertos recentemente alertaram para este fato. Fato este, que colocou – nos diante

de um questionamento importante. Como pôde ser documentado o período imperial

como marco do nascimento da Imprensa brasileira, sabendo – se que muito antes já

existia impressos; e fora esses impressos e escritos informativos, que receberam a

primeira censura do Brasil?

A partir desses fatos surge a interrogação: Será que todos os fatos foram

esclarecidos nesses 300 anos, desde a ocorrência da 1ª Censura documentada do país?

Esta indagação começa a tomar estrutura e respostas a partir do Livro TEMPO DOS

FLAMENGOS, do historiador José Antonio Gonsalves de Mello, e de documentos

encontrados no Arquivo Público de Pernambuco e Arquivo Nacional.

Portanto, para responder esse questionamento, vislumbrou – se a necessidade de

criar esta pesquisa, que se baseia especificamente na Carta Régia que decreta o

fechamento da tipografia e, documentos da época com obras atuais que referência o

fato. Criando assim, uma metodologia comparativa de documentos de época e análise de

informações direcionadas.

2.CONTEXTO HISTÓRICO DA ÉPOCA

A região européia que hoje denomina – se Holanda compunha econômica e

geograficamente no século XVII, um complexo de províncias de caráter cosmopolita e

burguês. Com interesses em comum, um grupo de comerciantes diretamente ligados a

tais províncias fundaram uma companhia que objetivava o lucro farto e imediato; essa

companhia foi nomeada, Companhia das Índias Ocidentais. A mesma agia em regiões

de exploração coloniais Portuguesas.

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No Brasil, especificamente em 1630, a Companhia das Índias Ocidentais aporta

em Pernambuco dotada de considerado poderio militar, como destaca o historiador

JOSÉ ANTONIO GONSALVES DE MELLO, em TEMPO DOS FLAMENGOS. Esta

companhia citada desprendera esforços acerca de estudos estratégicos em torno da

geografia pernambucana setecentista: “ Há anos que vinham sendo reunidos na Holanda

dados e informações sobre a Capitania de Pernambuco, a configuração de sua costa, os

portos, desembocaduras, regime dos ventos, a sua riqueza, a sua agricultura.” (MELLO,

1987, p.36).

A chegada dos Flamengos a Pernambuco em 16 de fevereiro de 1630, já fora

ambientada num panorama de especulações constantes de povos europeus sobre o Brasil

e suas riquezas. Fator que passava a ser estimulado muitas vezes pelos estudos

descritivos de cronistas, e até de brasileiros em torno das riquezas minerais e agrícolas

constituídas. Por mais, a divulgação dessas explorações e comercializações tornava o

campo a ser explorado muito mais perigoso. Um forte exemplo disso, é a Obra

CULTURA E OPULÊNCIA DO BRASIL, de André João Antonil publicada em 1711,

que com pouco tempo de divulgação de seu conteúdo sofrera a CENSURA do Estado

Português.

Diante do supracitado, é nítido que Portugal busca reprimir todas as

possibilidades de produção e difusão de obras informativas sobre o Brasil. Pois, foi com

esse caráter repressor, que a metrópole em 1706 determinou o encerramento das

atividades de uma tipografia instalada na cidade do Recife. Período no qual Portugal

está reestruturando os seus ditames sobre sua mais prospera colônia.

O que se constata nas pesquisas documentais, é que a tipografia recifense

recebeu da Companhia das Índias Ocidentais, apoio considerável; uma vez que letras de

imprensa vindas de Amsterdã agilizavam todo o processo de impressão da colônia

brasileira. Salienta – se que este processo de impressão tinha os mais distintos objetivos,

questão esta, que levanta e permite analisar a imprensa no Brasil, especificamente em

Pernambuco, a partir da presença holandesa e judaica.

É demasiado sabido, que durante a estada dos Flamengos em Pernambuco houve

uma convergência considerável, de comunidades judaicas, no território da maior

província de poder econômico da colônia no século XVII. E estes Judeus, radicados na

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Holanda contribuíram financeiramente de forma irrestrita, ao processo de

empreendimento da Companhia das Índias em Pernambuco.

“O Mundo Português na América sofrera em todo seu período colonial

investidas de corsários ingleses, franceses, (...) objetivando tomar posse das riquezas

brasileira”(Mello, 1987. p.26). Logo, os Flamengos que aqui estavam passaram a

incentivar a impressão de obras informativas não apenas em terras pernambucanas, mas

também nos Estados Gerais das Províncias Unidas – Holanda, para notificarem tais

ocorridos.

2.1 A TIPOGRAFIA

Realmente, muito pouco se tem a respeito da tipografia pernambucana censurada

em 08 de junho de 1706. A não ser, a menção feita por Francisco A Pereira, em anais

pernambucano – volume V, data de 08 de junho, ano 1706, que também ofereceu

subsídios à pesquisa do autor e historiador de comunicação, Nelson Werneck Sodré, em

história da imprensa no Brasil.

“ ... Os holandeses, dominando a área mais rica da colônia, no século XVII

introduziram no Brasil alguns elementos característicos da atividade burguesa, de quem

foram pioneiros. Não a imprensa, apesar de lhe terem dado singular desenvolvimento,

na área metropolitana, na proporção do avanço da burguesia, não se empenharam em

trazer ao seu novo domínio americano a arte tipográfica. Inúteis foram os esforços de

Nassau nesse sentido. É curioso o fato, porque mostra como as condições da colônia

constituíam obstáculo mais poderosos ao advento da imprensa ao que os impedimentos

oficiais que caracterizaram a atitude portuguesa. Claro que estes, na sua vigilância

permanente concorreram também para o retardo com o que conhecemos a imprensa.

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Mas a razão essencial estava nas condições coloniais adversas. O escravismo dominante

era infeso à cultura e a nova técnica de sua difusão. A etapa econômica e social

atravessada pela colônia não gerava as exigências necessárias à instalação da

imprensa...” sendo, “(...) em 1706, sob os auspícios do governador Francisco de Castro

Moraes que, instalou – se no Recife pequena tipografia para impressão de letras de

câmbio e orações devotas. A Carta Régia de 8 de junho do mesmo ano, entretanto

liquidou a tentativa. Determinava que se devia seqüestrar as letras impressas e notificar

os donos dela, e os oficiais da tipografia que não imprimissem nem consentissem que se

imprimissem livros ou papeis avulsos. Essa iniciativa pioneira tem significação

meramente cronológica, pois não teve nenhuma função efetiva, nem as suas atividades

despertaram atenção.” (Sodré, 1999. p.16 – 17)

Ora, se por acaso essa iniciativa só teve significado cronológico, e suas

atividades não despertaram atenção, porque seqüestrar tais letras de impressão e fechar

tal tipografia? Outro fato merecedor de menção é: Os holandeses dominando a área

mais rica da colônia foram pioneiros em diversas atividades, NÃO A IMPRENSA,

apesar dos esforços de Nassau. Pois, acredita – se que tais fatos não seriam de

intenção das condições da colônia..

Porém, se observa nesse contexto que existe um ponto de discordância entre o

historiador Francisco de A. Pereira, de Anais Pernambucanos e o autor de História da

Imprensa, Nelson Werneck Sodré. Pois, Francisco Pereira em nenhum momento cita

que tal tipografia tenha nascido no mesmo ano de sua censura, 1706, como pronuncia –

se Nelson Werneck Sodré. Mas como isso pode ocorrer, se o próprio Sodré buscou

informações nos Anais de Francisco Pereira, segundo suas próprias descrições em sua

obra?

Outro fator que suscita essa discordância são as análises realizadas nas Ordens

Regias 6, 4, e DIII – 01, do Arquivo Público do Estado de Pernambuco. Estas ordens,

que datam o período do governo de Francisco de Castro Moraes, o mesmo que cumpriu

as ordens do Conselho Ultramarino em cassar as letras e impressos da Tipografia

pernambucana, não faz nenhuma referência a este fato. Sendo o único documento

existente acerca dessa censura, a Carta Regia que se encontra atualmente no Arquivo

Ultramarino em Portugal. Então, como entender que essa tipografia nascera no mesmo

ano de sua censura, como nos revela Sodré?

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Nas análises do historiador José Antonio Gonsalves de Mello, percebe – se

nitidamente que a preocupação dos holandeses era com as riquezas existentes em terras

pernambucanas. Porém, com a Presença do Conde João Mauricio de Nassau possibilitou

– se um ambiente para que se desenvolvesse as artes e sua propagação. Dentre elas a

arte Tipográfica. Principalmente porque recebeu dos Cristãos – Novos, Judeus em

Pernambuco, tamanho incentivo burocrático e financeiro. Salientando – se que quase

toda estrutura da Companhia das Índias Ocidentais era mantida pelos Judeus radicados

em Holanda.

Outro fator que considera as afirmações históricas em Mello, é que o dinheiro

doado pelos Judeus vindos para o Brasil tornou o comércio próspero, e para tanto se

necessitava de notas e papéis para considerar as vendas e a difusão de seus credos.

“ ... sabe – se hoje o enorme valor da Nação Judaica do Recife Holandês (...)

Fundaram a sua Sinagoga, onde não faziam somente rezar as suas orações, mas

redigiam memoriais (...) A Isaac Aboab da Fonseca (...) deve – se um poema sobre a

Insurreição Pernambucana que M. Kayserling publicou.” (Mello, 1987. p. 27)

Ao levantar essas informações, se percebe de imediato as lacunas deixadas pela

história da imprensa. Afinal ligações diretas e indiretas com essa tipografia censurada

no século XVIII, são de extrema delicadeza, levando em conta que poucas são as fontes

que traduzem tais questionamentos acerca da mesma com veemência.

Portanto, é imprescindível acolher essas informações acerca da Tipografia

Censurada, para que se consiga entender a arte tipográfica como um todo no período

colonial. Pois, só assim será constatado quais foram os reais alicerces da imprensa no

Brasil.

3. ATOS DE IMPRENSA NO SÉCULO XVII

Ao entender a essência da palavra Jornais de Viagens descrita no Livro Tempo

dos Flamengos, é possível descrever o que seria informações e disseminações de

informações no governo de Holanda no Brasil. E assim assemelhar aos atos de imprensa

como o conhecemos hoje, Neste, Jornal de viagens se tinha informações e dados acerca

de muitos atos e acontecimentos ocorridos naquele período da história. Tanto que,

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Nassau pedia para que todos os Capitãs de suas Naus relatassem suas observações e

crônicas para serem lidas e disseminadas na metrópole – Holanda.

“ Ao lado das cartas à Holanda há papéis vários: Atas de Assembléias

religiosas, JORNAIS DE VIAGENS, cartas interceptadas aos portugueses, depoimentos

de prisioneiros, requerimentos, exposições, que via de regra seguiam como apensos às

Generale Missiven. Preservou – se para os estudiosos, toda esta enorme coleção de

documentos – o governo holandês em Pernambuco não se CANSAVA DE SOLICITAR

À HOLANDA PAPEL DE CARTA, TINTA E PENAS – que, aproveitada agora,

permitiu deixar esclarecidas muitas dúvidas sobre a história do Brasil holandês em geral

e a de Pernambuco em particular.” (MELLO,1987.p.26)

Com isso, se percebe que mesmo sem intenção, ou até mesmo com intento,

Nassau inseriu em nosso meio a pratica do cronista – jornalista, iniciando assim os atos

dessa profissão em terras de Recife, Pernambuco. Este assunto também é citado no

segundo parágrafo da página 22, onde Mello descreve que o Doutor Alfredo de

Carvalho (1904) enriqueceu vários números da Revista do instituto arqueológico

Pernambucano e outras revistas que versam sobre a criação da imprensa no período

holandês.

“ ...Em 9 de maio de 1886, José Hygino fez entrega dos volumes copiados na

Holanda ao Instituto arqueológico, Histórico e geográfico de Pernambuco e este pode

ter orgulho de se considerar, desde então, o possuidor da mais completa coleção

existente, fora da Holanda, de documentos sobre o período da dominação neerlandesa

do nordeste brasileiro. Nem sobre outra documentação é que se baseou – o, sob certo

aspecto, melhor trabalho sobre o assunto: o livro do professor da Universidade de

Munster Dr. Hermann Watjen, Das Hollandische Kolonialreich In Brasilien. O próprio

José Hygino tomou a peito demonstrar a grande riqueza do material reunido: no seu

interessante relatório, que constitui hoje uma preciosidade bibliográfica, e em traduções

para jornais e revistas históricas. Não realizou, porém, nenhum estudo de conjunto

como aconteceu, também, com o seu seguidor próximo, outro pernambucano ilustre, o

Dr. Alfredo Ferreira de Carvalho (1870 – 1916). Este enriqueceu vários números da

Revista do Instituto Arqueológico Pernambucano e outras revistas com traduções e

estudos detalhados em que abordava determinados temas: Minas de Ouro e Prata,

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CRIAÇÃO DA IMPRENSA NO DOMINIO HOLANDÊS, brasões d´armas, moedas

obsidionais, Jacob Rabe, etc...” (Mello, 1987.p.22)

Outro aspecto revelador sobre atos de imprensa no século XVII, são as obras

de Brito Freyre – Guerra Brasílica, Gaspar Barléu – O Brasil Holandês sob o Conde

João Maurício de Nassau , e Frei Manuel Calado – Valeroso Lucideno ou Trimpho da

Liberdade. Esses três personagens tiveram grande destaque por narrarem diversos

ocorridos no Brasil holandês (1630 – 1654).

Brito Freyre, tinha suas memória diárias escrita, sendo importante GUERRA

BRASILICA, sua maior obra acerca do domínio holandês.

“... Alguns deles merecem uma referência especial: entre estes o muito

caluniado Brito Freyre a quem Varnhagen acusou de ter se aproveitado do material

reunido pelo Marquês de Basto. O que me parece um exagero. Acusou – o ainda, de

escrever em um estilo ultra culto e muito guindado. No que, também, há exagero. É

verdade que, em certos trechos, o autor se deixa arrebatar pela eloquência: não se pode

negar, também que o livro hauriu muito das MEMORIAS DIÁRIAS – E COMO

ESTAS ABRANGE O PERÍODO 1630 – 1638 : NÃO SERIA POSSÍVEL QUE

SENDO AQUELAS MEMÓRIAS A MELHOR RELAÇÃO CRONOLÓGICA,

DELAS NÃO SE TIVESSE SERVIDO O GENERAL BRITO FREYRE. QUE ESTE

MUITAS OUTRAS FONTES TEVE EM MÃO, VÊ – SE DO TEXTO. QUE MUITA

EXPERIÊNCIA PESSOAL DOS LUGARES, SABE – SE. QUE MUITAS NOTICIAS

E INFORMAÇÕES PESSOALMENTE RECOLHEU, É COISA QUE TAMBÉM SE

VÊ NO LIVRO. E acrescenta-se, que algumas lendas veiculou, como a da morte heróica

do almirante Pater.

Várias razões levaram Brito Freyre a escrever os sucessos da Guerra Brasílica

, a quem não era alheio o desejo de contrapor a sua as obras publicadas na Holanda e o

orgulho da vitória Luso – Brasileira: Acumulando sobre o mesmo argumento, volumes

grandes, as elegâncias estrangeiras, enquanto o fim do sucesso, não emudeceu o orgulho

de Olanda. E também o fato de se ter achado presente ao período final da guerra e de ter

sido testemunha de vista: Não só esta confiança me animou esta ocupação, mas

parecerem – me melhor os limitados talentos que nalguma se empregão, do que os

grandes sujeitos que passão em silêncio a vida; disfarçando por encolhimento modesto o

que é frouxidão ociosa. Revela-se por essas firmes palavras, Brito Freyre, uma

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personalidade para quem os acontecimentos e a própria vida criavam obrigações. O fato

de se ter achado presente à guerra levou – o a escrever o sucesso dos seus patrícios

contra o invasor. Ele, que tinha sido sempre um soldado, aparou a pena com a espada e

lançou – se ao grande trabalho. Bem certo estava ele que do ócio ocupado – como

chamava ao seu trabalho intelectual – poderia resultar grande serviço à pátria: a qual

muitas vezes tirou mais fruito do ócio ocupado de alguns, que do suor inútil de

outros...” (MELLO,1987.p.28 – 29).

Gaspar Barléu, narrou em texto datado de 1647 o Brasil holandês sob o conde

João Mauricio de Nassau os oito anos de administração do Conde em terras de

Pernambuco – Brasil.

No que se refere ao frei Calado temos, “... um dos documentos mais preciosos

da bibliografia em Lingua portuguesa é o VALEROSO LUCIDENO, OU TRIUMPHO

DA LIBERDADE da autoria de frei Manuel Calado, pregador da ordem de S. Paulo da

Congregação dos Eremitas de Serra D´ossa. Calado, como se sabe, é o nome com que se

refere a si próprio Frei Manuel do Salvador, personagem bastante conhecido entre

holandeses – nas Dagelijksche Notulen aparece referido como o Frei Manuel – e

portugueses, entre os quais, morador que era lá para as bandas de Giquiá, era chamado

de Frei Manuel dos óculos. O seu livro, publicado pela primeira vez em 1648, depois de

sofrer censura eclesiástica – tendo incorrido na pena de inclusão no Index Librorum

Prohibitorum – reaparece em 1668 para continuar sofrendo fortes ataques de estudiosos

brasileiros e estrangeiros. O bom Frei Manuel fez – me pressentir, graças ao tom de

espontaneidade em que está redigido o seu livro, a veracidade de suas afirmações;

depois, no que pude confrontar muitas de suas narrativas com documentos holandeses,

principalmente as Dagelijksche Notulen, não tenho dúvida em referir que no

VALEROSO LUCIDENO está o mais importante testemunho sobre Pernambuco sob o

domínio holandês.” (MELLO, 1987.p.31)

Outro aspecto importante é “...A bibliografia do domínio holandês do nordeste

brasileiro é das mais vastas da história do Brasil. Não está senão incompletamente feita

por alguns estudiosos: Tiele, Knuttel Wulp, Petit, , Asher, J. C. Rodrigues, Alfredo de

Carvalho, José Honório Rodrigues. A parte, no Brasil, menos acessível – não pela

lingua, mas pela raridade – São os chamados PANFLETOS OU BROCHURAS

IMPRESSOS NA HOLANDA ANTES E DURANTE O PERÍODO DA OCUPAÇÃO

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HOLANDESA. SÃO EM BOA PARTE DE PEQUENO INTERESSE OU DE

INTERESSE SUBSIDÍARIO; VERSAM PRINCIPALMENTE ASSUNTOS DE

CARATER MERCANTIL.

Alguns, porém, são de maior importância, e descrevem a vida econômica da

colônia e são, em primeiro plano, O MACHADÃO DO BRASIL (De Brasilsche Breede

– Byl) e o SACO DE OURO DO BRASIL (Brasilsche Gelt – Sack). Raro, Talvez

único, um com interesse social do Cort ende Sonderlingh Verhael da autoria do

predicante de língua francesa Soler e para o qual fui um dos primeiros a chamar

atenção. Alguns Panfletos, como refere Asher, são de inspiração anti – holandesa, como

aqueles custeados pela embaixada portuguesa na Holanda. Um outro contém cartas de

um índio brasileiro, Antonio Parauapaba, e um relatório dos vexames sofridos pelos

moradores pernambucanos dos chefes flamengos. Outro, de 1624, traz uma gravura das

mais antigas de Olinda e do Recife, há pouco reproduzida na tradução brasileira de

Nieuhof...” (MELLO, 1987.p.27 – 28)

Mesmo sem uma constatação exata sobre qualquer impresso oficialmente

tipógrafado em terras brasileira no final do século XVII, verificou -se a circulação

destes. Por mais, a busca de dados e informações, as anotações e a disseminação dos

fatos ocorridos naquele período da história fazem perceber as características que

determinam a profissão de um jornalista. De acordo com o significado da palavra

tipografia temos: É a arte de imprimir textos com tipos. Estabelecimento onde se faz

composição e impressão com tipos. Porém, cabe a profissão de períodista/jornalista a

busca de dados, a disseminação das informações. Portanto, nesse caso, e em

consonância com o significado descrito, se constata elementos e fatos que caracterizam

atos de um tipógrafo, períodista, e não poderíamos aqui dizer um jornalista?

Outro fator que também caracteriza a arte tipográfica no século XVII, é a

manifestação dos Cristãos Novos instalados em Pernambuco no período holandês. Essas

manifestações correspondem a composição de textos, onde possivelmente se vislumbra

o prelo tipográfico na sinagoga existente no Bairro do Recife, antiga rua dos Judeus,

atual rua do Bom Jesus.

“ ... Sou o primeiro a lamentar no estudo que se segue o fato de que lhe faltam

quase completamente dados provenientes de fontes judaícas. Sabe - se hoje o enorme

valor da nação judaica do Recife Holandês e que aqui nasceu a cultura sefardínica na

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América. Vultos da maior importância no mundo dos Judeus Ibéricos reuniram – se em

Pernambuco e, em um primeiro andar de certo sobrado da rua dos Judeus, fundaram a

sua sinagoga, onde não faziam somente rezar as suas orações, mas redigiam memoriais

e consultas e mantinham estreita ligação com outros centros judaicos: Constantinopla,

Amsterdam, Salonica.

Parece que muitos deles eram adeptos de Sabbathai Zevi; esses adeptos

guardaram por longos anos tradições e reminiscências Ibéricas e foi entre eles que

Menendez Pidal foi encontrar trechos inteiros de antigos romances espanhóis. A Isaac

Aboab da Fonseca, rabino de grande nomeada no seu tempo, deve -se um poema sobre a

insurreição Pernambucana que M. Kayserling publicou...” (MELLO, 1987.p.27)

“...Também no Recife foi que compôs poemas e orações o primeiro escritor

israelita em terras das Américas: o já citado rabino Isaac Aboab da Fonseca. Conhecem

– se dele duas orações compostas em Pernambuco. E um poema sobre os sofrimentos

dos Judeus durante a Insurreição Pernambucana (1645 – 1654), publicado, juntamente

com aquelas, por Kayserling. O poema intitula -se Memorial dos Prodígios de Deus e da

grande bondade que Ele, na Sua compaixão e misericórdia, mostrou para com a casa de

Israel no Brasil, quando surgiu a tropa de Portugal para destruir e exterminar tudo que

se chama Israel, mulheres e meninos, em um dia...”(MELLO,1987.p.251)

3.1 A CENSURA

Diversos são os argumentos que levam a dúvida de o porque fechar uma

tipografia, pelo que se consta, única no Brasil colônia.Ou seja, a censura no Brasil como

se ver, não é um caso recente, e os fragmentos deixados pela história são contundentes

para se chegar a essa conclusão.

Para tanto, se tomou como linha de partida para essa investigação, a Carta

Censuradora de 08 de junho de 1706, que se encontra atualmente em copia guardada, no

Arquivo Ultramarino de Portugal.

Até então não se tinha dado a importância devida a este fato, porque no texto

oficial da carta que censurou a tipografia, não se faz menção a qualquer investida de

divulgações de assuntos referentes a colônia. E como se sabe, é necessário esse tipo de

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informação para que se defina tais fatos como comparativos entre a tipografia e o

alicerce da imprensa.

Porém, o que se escapou à análise desse documento foi a contextualização

histórica, e o cruzamento de dados com outros documentos da época.

Evaldo Cabral de Melo, em Norte Agrário do Brasil , em descrição do ano de

1647 descreve: “ ... a primeira reação de Souza Coutinho foi esconder o acontecimento,

mas no dia seguinte a nova era conhecida em Amsterdã e em Haia por navios vindos de

Recife. As gazetas descreviam a extensão das perdas... O embaixador não sabia a quem

imputar a rapidez com que a novidade difundira – se, se a linha no fito de provocar um

sobressalto de indignação nacional, se aos inimigos da W.I.C (Companhia das Índias

Ocidentais) no intuito de torpedear – lhe as ambições no Brasil... (p.107)

Esse trecho de Norte Agrário do Brasil descreve, que o diplomata Souza

Coutinho (Português) se utilizou de panfletos e folhetos para difundir em meio da

colônia e nas terras holandesas, assuntos de interesses portugueses, enquanto o padre

Antonio Vieira auxiliava o governo as margens das ações oficiais.

Certo desses acontecimentos, se coloca em linha de raciocínio a arte tipográfica

no Brasil, especificamente em Recife, local onde ocorreu a censura de 08 de junho de

1706, tida nesta investigação, como a primeira censura documentada, e oficial, a

imprensa do Brasil. Portanto, a partir desses acontecimentos descritos em Norte Agrário

do Brasil, que afirma: “... Holanda investia nas terras invadidas de Portugal, e

certamente Portugal usufruía desses investimentos. Após expulsão dos holandeses não

havia motivos de manter tais investimentos...”, possivelmente uma tipografia.

Em suma, a censura da tipografia pernambucana questiona veementemente a

castração dos ideais e desenvolvimento da imprensa em solo brasileiro no período

colonial. Pois, a cada momento em que se adentra nos fatos que questionam o porque da

castração dessa tipografia, se observa que o único intuito era não difundir informações

acerca da colônia e do seu povo.

3.2 O ALICERCE DA IMPRENSA NO BRASIL

Mesmo sendo essa tipografia de 1706, a primeira a ser descrita pela história da

imprensa como uma mera certidão cronológica, sem nenhuma função efetiva, e sem

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atividades que despertem atenção. É notório levar em conta, que outros autores

históricos – sociais levantaram a hipótese para a probabilidade de um desenvolvimento

da imprensa no Brasil Colonial. E esta probabilidade é contundentemente constatada por

José Antonio Gonsalves de Mello, in TEMPO DOS FLAMENGOS. Mello foi a maior

autoridade em período holandês e presença judaica no Brasil.

“ ... Dr. Alfredo Ferreira de Carvalho (1870 – 1916). Este enriqueceu vários

números da revista do Instituto Arqueológico de Pernambuco e outras revistas com

traduções e estudos detalhados em que abordavam determinados temas: (...) Criação da

Imprensa no domínio holandês...” (Mello, 1987. p. 22)

O que se percebe, é que com o passar do tempo, a história começa a revelar fatos

e fontes que alicerçam o século XVII e XVIII como momento critico para o

desenvolvimento e alicerçamento da imprensa no Brasil.

Ainda na côrte de Nassau ocorreu a chegada de papéis, penas e tintas para

escrita de informações e diversos jornais de viagens como relata Mello em seu texto.

Outro fator que pode referenciar esta pesquisa trata de um documento datado

de 1792, que fala do regulamento do Conde de Oeiras, Sebastião José de Carvalho e

Melo, para controlar o comercio de livros e textos em Portugal e suas colônias. A lei

obriga todos os impressores, livreiros e negociantes de livros a entregarem a um

magistrado uma lista completa com os títulos das obras e textos de que dispõem. Entre

outras determinações, é punida com pena capital a introdução de obras estrangeiras,

irradiadas principalmente pela Holanda.(Arquivo Nacional. Livro X, Cap. 7, pag. 30 –

33. Local: Lisboa)

Em 1792, também ocorreu um registro da criação de um tribunal da mesa

censória pelo Conde de Oeiras, Sebastião José de Carvalho e Melo. Com base na

necessidade de limites para Liberdade de Imprensa, o tribunal supremo deveria

permitir as obras úteis e proibir as que fossem perigosas. Era composto por 17

deputados, sete ordinário e 10 extraordinário, dos quais eram representantes do Santo

Ofício.(Arquivo Nacional. Livro V, cap. 24, pág. 78 Livro: Lisboa)

Levando em consideração as distâncias, e a demora na chegada de documentos

vindos da Europa, se nota que entre 1654 e 1706 são 52 anos, tempo mais que próximo

para ocorrer qualquer censura de cunho repressor aos resquícios do invasor.

Page 14: Censura e imprensa na história do Brasil

Sendo assim, os ditos em torno da tipografia recifense, que foi censurada

começam a tomar ares de ponto alicersatório para a história da imprensa no Brasil,

podendo ser este, um ponto até então desconhecido da história.

3.3 O LEGADO DA TIPOGRAFIA CENSURADA EM FAVOR DA

IMPRENSA

Se atualmente a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo

220, datada de 1988 diz que:

“ A manifestação de pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob

qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observando o

disposto nesta constituição. 1º nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir

embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de

comunicação social. 2º É vedada toda e qualquer CENSURA de natureza política,

ideológica ou artística.”

Fora porque, a coragem de muitos compatriotas brasileiros, que lutaram ao

longo da história fizeram com que a imposição de interesses da coroa portuguesa, não

prevalecessem, apesar de toda repressão.

A castração ocorrida no período colonial mostra que Portugal tinha alto interesse

em ocultar qualquer fato ou assunto acerca da colônia que fosse divulgada. Esse assunto

é descrito pelo autor Jorge Caldeira, em Nação Mercantilista. “ ... O motivo da

proibição era a velha política de sigilo dos portugueses, cultivada com fervor desde os

tempos do infante Dom Henrique no século XV ... Quando se tratava de cultivar a

ignorância no Brasil e sobre o Brasil, o governo português não titubeava. Quase todos

os exemplares impressos foram confiscados e queimados...” (p.13)

O que se observa com clareza, é o intuito da coroa portuguesa em esconder

todos os fatos e fontes que comprometessem o andamento da colônia brasileira. Afinal,

no período em que se censurou a tipografia pernambucana, Portugal estava se

reestruturando da invasão e expulsão holandesa, tendo ainda como resquícios dessa

invasão, os Judeus. Após também decisão de reenviar estes Judeus para outros lugares,

o governo português definiu que todos os bens fossem confiscados, e esse

Page 15: Censura e imprensa na história do Brasil

confiscamento dizia respeito a todas as obras e documentos que co – relacionassem esse

período da invasão.

Para tanto, Melo incomodado com a falta de informações começou a preencher

esta lacuna, principalmente quando abriu os documentos que estavam até os dias atuais

guardados, e sem nenhuma análise, no Arquivo Real de Haia, e Arquivo Público de

Amsterdã. Salientado que estes documentos visto e analisados por Mello, diz respeito a

todo o período holandês no Brasil. Dentre eles, se revelam assuntos direcionados a arte

tipográfica. Assunto este, que não era o foco do historiador. Portanto, eis a necessidade

de uma grande análise em cima de toda esta documentação para que se alicerce com

fundamentos a história da imprensa no Brasil.

4. CONCLUSÃO

As vertentes da história da imprensa, até então sufocadas pelos arquivos que

contém fontes importantes acerca do assunto começam a revelar, fatos importantes, que

consolidam o alicerce da informação no país. Afinal, redes e teias começam a se

entrelaçarem para responder a questionamentos dantes inquestionáveis.

Pois, falar de Censura no período colonial, é contestar a história em quase tudo

que fora dito até este momento. Porém, fatos novos, e fontes credenciadas revelam que

a arte tipográfica tem seus alicerces, muito antes daqueles que se conhece hoje,

fundamentando assim, a exigência de nova pesquisa que constate essas novas

informações.

Por isso, em CENSURA E IMPRENSA NA HISTÓRIA DO BRASIL: 300 ANOS DE

DESAFIO DA ARTE TIPOGRAFICA. O Possível Alicerce da Imprensa Brasileira

Inserido na Tipografia Recifense que foi Censurada em 1706, percebe – se

fidedignamente a busca de novos fatos e fontes, que foram apresentadas pela história

para a ampliação do conhecimento acerca desse assunto.

Page 16: Censura e imprensa na história do Brasil

No mais, constata – se que o historiador Jose Antonio Gonsalves de Mello

forneceu dados de extrema importância para tal pesquisa, principalmente no que diz

respeito aos locais exatos de onde buscar tais informações.

“ ... sabe – se hoje o enorme valor da Nação Judaica do Recife Holandês ...

Fundaram a sua Sinagoga, onde não faziam somente rezar as suas orações, mas

redigiam memoriais ... A Isaac Aboab da Fonseca ... deve – se um poema sobre a

Insurreição Pernambucana que M. Kayserling publicou.” (Mello, 1987. p. 27)

Portanto já se coloca em linha de raciocínio os séculos XVII e XVIII como

ponto de partida da Imprensa Nacional, e que possivelmente a tipografia recifense

censurada tenha sido o marco de todo esse prelo, reforçando assim, Recife como berço

da Imprensa do Brasil.

BIBLIOGRAFIA

CABRAL DE MELO, Evaldo. Norte Agrário do Brasil. Rio de Janeiro:

TopBooks.1999.

GONSALVES DE MELLO, Jose Antonio. Tempo dos Flamengos. Recife:

Massangana.1997.

BRANDÃO, Ambrosio Fernandes. Diálogo das Grandezas do Brasil. Recife:

Massangana.1997.

CALDEIRA, Jorge. Nação Mercantilista. São Paulo: Editora 34.1999.

VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Historia Geral do Brasil, antes de sua Separação

e Independência de Portugal – TOMO I, II, III, IV. São Paulo: Melhoramentos. 1948.

ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil. São Paulo: USP e

Itatiaia.1982.

PEREIRA, Francisco de A. Anais Pernambucano – Vol. V. Recife: UFRPE.1960.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro:

Mauad.1999.

Page 17: Censura e imprensa na história do Brasil

ORDEM REGIA – 6 (1701 – 1706). Recife: Arquivo Público do Estado de

Pernambuco.2004.

ORDEM REGIA – 4 (1670 – 1745). Recife: Arquivo Público do Estado de

Pernambuco.2004.

ORDEM REGIA – D.III – 01 (1696 – 1801). Recife: Arquivo Público do Estado de

Pernambuco.2004.

* LUIS CARLOS CIPRIANO, 28 anos, natural de Jaboatão, estado de

Pernambuco é formado em jornalismo pela Universidade São Marcos de São Paulo,

especializado em Comunicação na Era Ponto. Com pela Universidade Católica do

Uruguay, e Novas Rotas da Comunicação para América do Sul pela Universidade de

Rio Cuarto – Argentina. Atualmente, gradua – se no Curso Normal Superior da UFRPE,

e é membro da SBPJor. O mesmo é Vencedor de Prêmios na área de Comunicação.

** Salett Tauk coordenadora do PAPE – Projeto de Associativismo e

Pesquisa do Mestrado em Comunicação, Associativismo e cooperativismo Rural da

UFRPE. Doutora em Comunicação pela USP. E membro da Associação Internacional

de Cooperativismo e Associativismo.

Antonio Moura é Mestrando em arqueologia da UFPE e professor de História

na prática pedagógica, Metodologia do Ensino de História e Ciências Sociais da UFRPE

– Departamento de Educação.

Page 18: Censura e imprensa na história do Brasil

O Desenvolvimento da Democracia e da Imprensa no Brasil –

uma cobertura política

DORNELES, Felipe Rigon. Graduando em Comunicação Social – habilitação

Jornalismo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul –

UNIJUÍ - RS

ENDRUWEIT, Leila Martina Baratieri. – Graduando em Comunicação Social –

habilitação Jornalismo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande

do Sul – UNIJUÍ

Resumo

A história da política e da imprensa brasileira é marcada por lutas rumo à democracia

e à liberdade de imprensa. Movimentos e protestos marcaram este desenvolvimento.

Analisando esta história à luz das teorias da comunicação percebemos as influências,

positivas e negativas, dos meios de comunicação sobre a população. Parte desta

influência foi e é exercida pelo telejornal de maior audiência no Brasil, o Jornal

Nacional, da Rede Globo de Televisão. Neste sentido, este artigo tem como objetivo

analisar as relações entre mídia e política, enfocando as principais coberturas políticas

do Jornal Nacional: desde o Movimento “Diretas Já”, em 1985, período em que a

imprensa ainda sofria com a censura do regime militar, até a eleição do presidente

Lula, em 2002, momento em que a imprensa goza de uma liberdade que jamais teve.

Através deste estudo observamos que a imprensa trabalhou junto com a política para o

desenvolvimento da democracia em nosso país. A relação que a imprensa cria com a

população é de influência recíproca, uma relação entre mídia, política e população.

Palavras-chave: história; imprensa; democracia; influência dos meios.

Considerações Iniciais

A política no Brasil tem sido marcada por grandes conquistas rumo á

democracia, fato este que também é presente na história da imprensa. Na política temos

uma caminhada desde a conquista do voto pela mulher, passando pela ditadura militar,

as eleições diretas, a vitória e o impeachment de Collor, os oito anos de poder de

Fernando Henrique Cardoso e a tão esperada vitória do dito socialismo regido por Lula.

Page 19: Censura e imprensa na história do Brasil

A história da imprensa brasileira também é marcada por vitórias e fracassos,

desde o surgimento dos primeiros jornais impressos no início do século XIX e das

primeiras rádios brasileiras. Passando pela censura do regime militar e pela conquista da

liberdade de imprensa, pós-ditadura, marcada pela consolidação de grandes emissoras

de televisão.

É neste contexto que este artigo tem como objetivo analisar o desenvolvimento

da democracia e da imprensa brasileira. Faremos uma retrospectiva dos últimos e mais

importantes acontecimentos políticos no Brasil citados acima, analisando a cobertura

realizada pela imprensa brasileira.

Em 2006 o Jornal Nacional completa 37 anos sem nunca ter saído do ar. Foi um

modo de fazer telejornal que deu certo no Brasil e hoje ele é responsável por uma das

maiores audiências da televisão brasileira. O Jornal Nacional é um programa assistido

por aproximadamente 31 milhões de brasileiros todos os dias e, a médio e longo prazo,

passa a influenciar estes brasileiros, que vivem em sociedade e trocam idéias com seus

integrantes.

Nesta trajetória os fatos políticos tiveram lugar de destaque e,

consequentemente, ajudaram a construir a consciência política da população brasileira.

Claro, sabemos que as relações com grupos de amigos, igreja, trabalho, escola e família

são os principais responsáveis pela formação da identidade de cada um, mas não

podemos negar que o Jornal Nacional influenciou a população (negativamente ou

positivamente) desde o Movimento “Diretas Já” até a eleição do presidente Lula. Sob a

luz das teorias de comunicação podemos analisar como tais fatos forma abordados e

como foram recebidos pelos telespectadores.

O que nos faz analisar estes últimos anos da história da política e da imprensa

brasileira é a crise política que se passa no Brasil, onde podemos refletir um pouco

sobre a democracia, a pouco tempo conquistada em nosso país, claro, comparada a

países como França e Inglaterra. E também pela realidade da imprensa, que de um

“estado” de censura, passou para um “estado” de liberdade, este que talvez não soube

ser usado, ultrapassando os limites da liberdade, sofrendo uma crise de credibilidade em

relação à manipulação da população.

A imprensa brasileira evolui a cada dia. Repressão e censura não fazem parte do

vocabulário da imprensa atual. Muitos fatos foram encobertos por interesses políticos

Page 20: Censura e imprensa na história do Brasil

das famílias donas dos grandes meios de comunicação sob o pretexto de censura.

Analisaremos então, a partir de um breve contexto histórico da política e da imprensa

brasileira, a cobertura dos principais fatos políticos que marcaram a história do Brasil

nos últimos 20 anos.

Breve contexto histórico da política e da imprensa brasileira

A partir de 1985 o Brasil começa a desenvolver-se como um país democrático.

O período repressão regido por Getúlio Vargas, que assumiu o poder no país em 1930

governando durante 15 anos, cansou a população. Sua forma de governo era

centralizadora e controladora. Controlava e censurava manifestações contrárias ao seu

governo. Perseguia opositores políticos, o povo e os meios de comunicação. Foi um

período de extrema repressão, tanto para a população quanto para os meios de

comunicação, que serviam de porta-voz do governo, sofrendo com a censura.

Após a morte de Getúlio em 1954, assume a presidência Juscelino Kubitschek,

seguido de Jânio Quadros e João Goulart, dando continuidade ao governo getulista, mas

claro, com grandes inovações, pregando o “nacionalismo”.

A partir de 1964, o Brasil entra em um regime de ditadura, a Ditadura Militar,

um período da política brasileira em que os militares governaram o país. Este período

foi marcado pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura,

perseguição política e repressão aos que eram contra este regime. Neste período que a

imprensa brasileira mais sofre com a censura. Os meios de comunicação sofriam uma

grande repressão, não podiam publicar matérias que, de uma forma ou outra,

comprometeriam a administração do governo militar.

Este regime durou até 1985, com a campanha das Diretas Já. Mas a censura e

rastros do regime militar ainda continuaram até 1988, quando a Constituição de 1988

estabeleceu princípios democráticos no país.

O Brasil, então, entra em uma fase democrática. Se estabelecem no país vários

partidos políticos. Volta às eleições diretas. O povo começa a ter voz ativa na

sociedade e a pressão sobre os meios de comunicação diminui. Neste momento,

através da liberdade de imprensa, os meios de comunicação passam a ter uma grande

influência na vida política do país. A voz ativa na sociedade permite uma influência

recíproca.

Page 21: Censura e imprensa na história do Brasil

O telespectador é um ser social, exposto a diversas influências

de inúmeros agentes que se contradizem entre si. O jornalista

que trabalha na televisão também é uma pessoa que recebe

pressões e idéias de diversas fontes e tenta conviver com elas

dentro de si mesmo e nas mensagens que produz e veicula. A

empresa em que ele trabalha é um agente social, que tem de

responder aos estímulos diferenciados que recebe e que mudam

junto as circunstâncias políticas e sociais. (SILVA, 1985, p.15).

Em 1989 ocorre a primeira eleição direta depois de 25 anos de Regime Militar.

Entre os candidatos estava Collor, Lula e Brizola, sendo Collor o vencedor. Anos

depois ocorre o impeachment do presidente. Estudantes e protestantes Caras Pintadas

invadem as ruas do país protestando contra a administração de Collor. Assume a

presidência Itamar Franco e em 1994 ocorrem novas eleições.

Concorrem a eleição presidencial de 1994, Fernando Henrique Cardoso, Lula,

Enéas e Brizola. Fernando Henrique ganha a eleição e cria o Plano Real com o

objetivo de controlar a hiperinflação. Em 1998 Fernando Henrique reelege-se,

vencendo novamente Lula.

Em 2002, depois de três candidaturas, Luiz Inácio Lula da Silva vence a

eleição presidencial. Tinha como ideal o socialismo: a luta contra a fome, miséria e

desigualdade social. Criou no povo a esperança de renovação diante á critica ao

governo de Fernando Henrique Cardoso. Mas na prática deu continuidade ao governo

de FHC. Ainda com uma grande crise política envolvendo seu partido, ministros e

chefes de estado.

O Brasil é um país democrático, o povo tem voz ativa na sociedade, tem o

direito do voto e é livre para lutar por seus direitos. Os meios de comunicação gozam

de uma liberdade que jamais tiveram, e tem liberdade de expor e impor sua opinião.

Imprensa

A criação e o desenvolvimento da imprensa brasileira se deram com o

surgimento dos primeiros jornais impressos no Brasil, no início do século XIX. O

Page 22: Censura e imprensa na história do Brasil

primeiro jornal foi o Correio Brasiliense de Hipólito José da Costa, editado em

Londres e de linha ideológica a favor da independência. Logo depois foi criado A

Gazeta do Rio de Janeiro e O Patriota e outros também de circulação nacional.

A rádio no Brasil começou a ganhar grande poder no início dos anos 1930.

A primeira transmissão de rádio no Brasil foi realizada no dia 7 de setembro de

1922, quando o então presidente Epitácio Pessoa usou a estação instalada no alto

do Corcovado, no Rio de Janeiro, pela Westinghouse Electric International, para

fazer um discurso em comemoração ao centenário da Independência.

A primeira estação a entrar no ar foi a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro,

fundada por Henrique Morize e Edgar Roquette Pinto e instalada na Academia

Brasileira de Ciências. A rádio começou a ganhar grande força no ano de 1932,

como demonstra o fato de a Rádio Record de São Paulo ter sido invadida por um

grupo de estudantes no levante constitucionalista, durante o qual José Lefèvre leu

um manifesto nos microfones “em favor da liberdade do Brasil e pela

Constituição”. Não foi à toa, portanto, que o presidente Getúlio Vargas fez intenso

uso do rádio para divulgar as suas obras e fazer proselitismo político.

No Brasil a televisão foi inaugurada pelo jornalista e empresário Assis

Chateaubriand. A primeira transmissão oficial ocorreu no dia 18 de setembro de

1950, pela TV Tupi de São Paulo. A Rede Globo só seria inaugurada em 1965 no

Rio de Janeiro. Em poucos anos tornou-se uma força hegemônica no mercado,

liderada pelo seu carro-chefe: o Jornal Nacional. Desde este período até os dias de

hoje a imprensa conquistava, aos poucos, seus direitos rumo á liberdade de

imprensa, pautando os acontecimentos políticos do país.

A Cobertura Política

Na imprensa brasileira a política é pauta na maioria dos telejornais. É pauta, pelo

fato de esclarecer e divulgar acontecimentos políticos do país, dos estados e das cidades

aos telespectadores, para que haja uma comunicação entre o governo e cidadãos.

A mídia tem usado seu poder de transmissão dos acontecimentos políticos, para

muitas vezes interferir na recepção do telespectador, por descuido ou até por interesses.

“É a televisão como um ambiente que está moldando e reformando o caráter nacional e

Page 23: Censura e imprensa na história do Brasil

os padrões de sentir e pensar” (...) “Televisão é o contexto na qual maioria de nós

percebe o mundo, no qual pensamos sobre política...” (LIMA, 2001 p.221).

A imprensa brasileira é considerada agressiva e audaciosa, exercendo enorme

influência na vida política do país. Através da mídia criamos conceitos e opiniões que

servirão como fonte na hora de tomar decisões políticas. Esta relação predomina nos

tempos de hoje, pois na época da ditadura quem exercia o poder de influência na

sociedade era o governo. A época da censura foi um período obscuro, pois se

evidenciava o papel censor do estado autoritário diante da imprensa e da sociedade. Na

medida em que a mídia conquistava uma certa liberdade de expressão, ela ia ocupando o

espaço de influência na sociedade que antes era do governo.

Movimento “Diretas Já”

Em março de 1983, quando o Brasil ainda se encontrava sob o governo do

regime militar, o deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT) propôs ao Congresso

Nacional uma emenda à constituição prevendo o restabelecimento das eleições diretas

no Brasil. O Jornal Nacional acompanhou o desenrolar das “Diretas Já”.

No dia 16 de novembro de 1983 o repórter Álvaro Pereira entrevistou o

presidente João Batista Figueiredo durante uma visita à Nigéria. Na entrevista,

Figueiredo disse que se dependesse de seu voto as eleições diretas para presidente no

Brasil retornariam, mas que o seu partido, o PDS, não estava disposto a abrir mão de

escolher o novo presidente. A entrevista foi exibida ainda naquela noite no Jornal

Nacional.

O assunto, como era de interesse nacional, teve uma imensa receptividade e

repercussão, sendo discutido em todos os lugares, se tornou o assunto do momento e

apenas dois dias depois, ou seja, no dia 18 de novembro, nove minutos do JN foram

dedicados a este assunto.

A partir deste fato fica claro o agendamento: a reportagem foi exibida e teve

repercussão logo, mais reportagens sobre o assunto foram realizadas, pois o público

havia demonstrado interesse, caso contrário o JN não teria reservado 1/3 de seu tempo

de exibição para falar sobre eleições diretas para presidente.

Outro fato que representa muito bem a influência que a população tem sobre o

que é transmitido tem relação com os primeiros comícios realizados em favor do

movimento das “Diretas”, a quatro meses da votação pela emenda Dante de Oliveira.

Page 24: Censura e imprensa na história do Brasil

Em janeiro de 1984, um comício em Curitiba reuniu cerca de 50 mil pessoas.

Nos dias seguintes as cidades de Salvador, Vitória e Campinas também realizaram

comícios com a participação de 15, 10 e 12 mil pessoas respectivamente, porém, esses

comícios foram apresentados apenas nos telejornais locais e não foram sequer

mencionados no JN. Neste momento os comícios ainda tinham ares utópicos e a Globo,

a fim de evitar um transtorno com o governo que ainda mantinha certo grau de censura,

tentava ao máximo não se envolver muito com as “Diretas”, afinal, inimizade com o

governo não faria bem a nenhuma emissora muito menos para a Rede Globo, a maior

emissora do País.

Mas o JN não conseguiu manter sua política de preservação por muito tempo.

Com o crescimento da participação de vários segmentos da sociedade no movimento o

JN se viu pressionado a cobrir os comícios e manifestações, pois era isso o que o

telespectador queria, ver o seu empenho, seu esforço, seu desejo ser mostrado na TV.

Atendendo os pedidos da população o JN passou a cobrir os comícios. A

primeira cobertura transformou-se numa das mais polêmicas da história da televisão

brasileira. A Globo mostrou no JN o comício ocorrido na Praça da Sé, em São Paulo,

reunindo mais de um milhão de pessoas, mas se referiu a ele como sendo parte dos

festejos do aniversário de São Paulo, na reportagem o locutor disse: “Festa em São

Paulo. A cidade comemorou seus 430 anos com mais de 500 solenidades. A maior foi

um comício na Praça da Sé”.

O episódio causou muita confusão e até hoje não se consegue chegar a um

consenso: a população em geral, que viveu as “Diretas já”, afirma que a Globo tentou

“matar” o movimento, ou pelo menos mascará-lo, logo no seu início, outros afirmam

que Roberto Marinho agiu de boa vontade impedindo que se mostrasse o nascimento do

movimento, pois, considerava que a realização dos comícios pelas “Diretas Já”, em

1984, "poderia ser um fator de inquietação nacional", o que não convinha ao magnata,

que no início de sua empreitada no ramo televisivo teve o pleno apoio do governo

militar.

A única certeza que se tem é que o episódio “Diretas Já” fez com que muitas

pessoas perdessem a credibilidade pela Rede Globo e, principalmente, pelo Jornal

Nacional. O fato foi largamente comentado e a população brasileira se posicionou

contra a Globo: não é possível a televisão porta voz do Brasil não mostrar em seu

Page 25: Censura e imprensa na história do Brasil

principal jornal os esforços para a voltas às eleições diretas. Para contornar a situação,

que já contava até mesmo com o povo na rua gritando o refrão: “o povo não é bobo,

abaixo a Rede Globo”, a emissora de Roberto Marinho se viu obrigada a exibir todas as

manifestações relacionadas ao movimento Diretas Já, mas era tarde demais, a confiança

pela emissora já estava perdida.

Mais uma vez é possível perceber a hipótese do agendamento no fato narrado: o

povo influenciou a mídia a pautar um assunto de interesse de grande parte da sociedade.

Ou, nas próprias palavras de Armando Nogueira, diretor da Central Globo de

Jornalismo na época, “a cobertura cresceu em tamanho e intensidade à medida que

também de um lado, crescia a força da sociedade na sua luta por diretas”, ou seja, a

sociedade mostrou interesse pelo assunto e a mídia se viu obrigada a transmiti-lo. No

livro Jornal Nacional: a notícia faz história, a Globo admite que errou:

Houve erros, principalmente em relação ao comício da Sé, quando

a notícia exata e detalhada sobre a manifestação foi introduzida

por um texto do locutor que revelava ambigüidade. O povo, no

entanto, desde o início, soube da campanha das diretas pela

Globo. Embora a Globo não tenha feito campanha. (MEMÓRIA

GLOBO, 2004, p.167).

Durante as campanhas “Diretas já”, a Globo não voltou a errar, e passou a

noticiar tudo o que fosse relevante em relação ao movimento, mas já era tarde, a

credibilidade já estava perdida e muitos dos esforços por parte da emissora foram em

vão pois grande parte dos telespectadores já haviam criado consciência de sua

parcialidade diante do governo, fato que pôde ser confirmado anos mais tarde na

polêmica edição do debate para as eleições de segundo turno de 1989.

Eleição presidencial de 1989

A eleição presidencial de 1989 ficará registrada na história da política brasileira,

um fato inédito no país, pois aconteceu 25 anos depois do golpe militar de 1964 e quase

30 anos após a última eleição presidencial direta, também, por ter sido alvo de críticas

em relação a influência da mídia.

Page 26: Censura e imprensa na história do Brasil

Eram 22 candidatos à presidência da República, entre os mais conhecidos

estavam Ulysses Guimarães (PMDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Leonel Brizola

(PDT), Mário Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), e Fernando Collor (PRN).

As intenções de votos realizadas pelo IBOPE e divulgadas pela mídia no

primeiro turno da eleição, indicava uma grande oscilação entre os três primeiros

colocados, de março à novembro de 1989. Collor começa a campanha com 7% das

intenções de voto, chega a 44% e na última pesquisa está com 28%. Lula começou com

15%, desceu à 5% e terminou com 16% das intenções de voto. Brizola começou com

16%, chegou a 19%, desceu a 10%, e terminou com 15% das intenções de voto.

Segundo LIMA (2001), estas oscilações ocorriam de acordo com a presença dos

candidatos na mídia - debates, propaganda eleitoral, entrevistas e coletivas - e na

veiculação de informações sobre os candidatos também feita pela mídia, mais

especificamente pelo Jornal Nacional.

Foi a primeira eleição que se realizou em dois turnos - nenhum dos candidatos

alcançou a maioria absoluta dos votos no primeiro turno - passaram paro o segundo

turno Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, terminando com a vitória de Collor.

O Jornal Nacional foi alvo de críticas em relação a influências que teria gerado

aos telespectadores na eleição presidencial de 1989. Denúncias sobre o apoio da TV

Globo à Fernando Collor surgiram no país, um trabalho a longo prazo, que a emissora

teria começado muito antes da campanha eleitoral, ao divulgar várias reportagens sobre

o importante trabalho do então governador de Alagoas, Fernando Collor, no Jornal

Nacional. Situação que é confirmada pela hipótese da agenda setting: “Os meios de

comunicação por conseqüência influenciam sobre o receptor não a curto prazo (...) mas

sim a médio e longo prazo” (HOHLFELDT, 2001 p. 190).

Estas hipóteses de apoio à Collor se confirmavam com descobertas de ligação do

candidato à presidência e a Rede Globo, onde a família de Collor teria posse de uma

filial da emissora em Alagoas. Declarações de Roberto Marinho, presidente das

Organizações Globo, como: “Collor, eu soube que há emissoras de TV que não lhe

apoiam, quero que você me diga quem são, porque vou conversar com eles

pessoalmente”, entre outras em que o empresário declara que o perfil de um presidente

se “encaixa” com o perfil de Collor, foram provas desta possível ligação entre Collor e a

Globo.

Page 27: Censura e imprensa na história do Brasil

Durante a campanha eleitoral ocorreram dois debates entre Collor e Lula, o

primeiro transmitido dos estúdios da TV Manchete, no Rio de Janeiro e o segundo dos

estúdios da TV Bandeirantes, em São Paulo.

No dia seguinte a realização do último debate da campanha eleitoral, a Rede

Globo apresentou duas edições diferentes desse último debate, uma no Jornal Hoje e

outra no Jornal Nacional. A edição transmitida no Jornal Nacional foi polêmica, sendo

outra confirmação do apoio à Collor, onde foram mostradas denúncias de Collor à Lula

e cortadas falas de defesa de Lula. O tempo de depoimentos foi totalmente desmedido

entres candidatos, mostrando um melhor desempenho do candidato Collor.

Então recebemos um fluxo contínuo de informações, também explicado pela

hipótese da agenda setting, onde: “consciente ou inconscientemente, guardamos de

maneira imperceptível em nossa memória uma série de informações de que,

repentinamente, lançamos mão” (HOHLFELDT,2001 p. 190).

Tentativas de influências da Rede Globo foram lançadas aos telespectadores que

decidiram receber e aceitar estas influências, concordando com as ideologias da

emissora, o que se confirmou com a vitória de Collor. “Há 35 anos, todos as noites, sete

em cada dez aparelhos de televisão ligados sintonizam o Jornal Nacional” (Memória

Globo, 2004). Esta grande audiência mostra que os telespectadores tem uma certa

credibilidade no telejornal, por isso, na época das eleições de 1989, é que o público

aceitou informações sobre Fernando Collor criando também uma certa credibilidade ao

candidato.

Segundo LIMA (2001), “É exatamente como ambiente que a mídia revela todo o

seu poder nas sociedades contemporâneas, é capaz de definir a temática e estabelece os

limites em que as campanhas eleitorais se desenvolvem”.

A maioria dos autores pesquisados, que estudaram os fatos da eleição

presidencial de 1989, acreditam que houve uma grande influência por parte do Jornal

Nacional devido a todos os fatos citados acima, alguns afirmam que: “Grande parte dos

eleitores que atualmente votam em função de um candidato, estabelece relações de

identificação pontuais (...) tendo em vista os atributos simbólicos dos candidatos

percebidos através da mídia.” (PEDROSO, 1999 p.47).

Utilizamos dois livros para analisar os fatos da eleição presidencial de 1989,

duas versões totalmente contraditórias. A primeira versão é da Rede Globo, em um livro

Page 28: Censura e imprensa na história do Brasil

escrito por editores da Memória Globo e comentado por jornalistas que fizeram parte da

cobertura eleitoral em 1989 pelo Jornal Nacional. A outra versão é do livro editado pela

Fundação Perseu Abramo, fundada pelo Partido dos Trabalhadores, partido mais

prejudicado pela influência da mídia na eleição de 1989.

No livro “Jornal Nacional – a notícia faz história”, os editores da Memória

Globo dizem que a edição do debate teria sido um erro jornalístico, por ter sido a

primeira cobertura de uma campanha eleitoral, e que o erro serviu como aprendizado.

“Hoje a TV Globo adota como norma não editar debates; eles devem ser vistos na

íntegra. Porque, ao condensá-los, necessariamente bons e maus momentos dos

candidatos terão de ficar de fora, segundo a escolha de um editor”. (MEMÓRIA

GLOBO, 2004 p.214). Em nome de todos, Roberto Marinho diz que o debate foi de

maior felicidade para Color e de infelicidade para Lula, ainda:

Não é verdade que eu exerça poder político hegemônico e

menos ainda que o faça em caráter pessoal. A orientação que

imprimo aos veículos que me cabe dirigir visa estritamente à

defesa do que julgo serem os reais interesses do país e dos

caminhos a serem trilhados para que se possa alcançar o bem-

estar do povo. (Roberto Marinho in LIMA, 2001 p.213).

Ainda dizem que o que abalou a candidatura de Lula foi uma “bomba”

apresentada por Collor em seu programa eleitoral gratuito, onde uma enfermeira dava

um depoimento dizendo ser ex-namorada de Lula e mãe da sua filha Lurian, ainda, que

Lula pediu para ela abortar a criança em troca de dinheiro, acusando o candidato de

racista.

Uma melhor campanha, um melhor desempenho nos debates e acusações reais

contra Lula, segundo profissionais da Rede Globo especialmente do Jornal Nacional,

que levaram o candidato Fernando Collor a se eleger presidente da República.

Já no livro “Mídia: teoria e política”, Lima (2001) afirma que o eleitorado foi

com certeza influenciado pela mídia, que o Jornal Nacional, desde 1988, ano em que

Collor foi eleito governador de Alagoas, divulgava, pelo menos duas vezes por semana,

matérias sobre Collor e sobre seu bom trabalho no estado de Alagoas.

Page 29: Censura e imprensa na história do Brasil

Em 1989, quase metade dos eleitores (47%) ainda não tinha completado 30 anos,

um eleitorado jovem, que segundo LIMA (2001): “Essa geração se constitui no Brasil

ao lado da consolidação do sistema comercial de comunicações e, sobretudo, da TV

como veículo nacional...”. Ele usa o termo “geração da televisão” para se referir ao

eleitorado jovem.

LIMA (2001) ainda afirma que a Rede Globo usou o Jornal Nacional como

“arma” para influenciar os telespectadores pois seria o horário de maior audiência, em

que 84% dos televisores estariam sintonizados na Rede Globo.

Impeachment do presidente Collor

A mídia não pauta apenas assuntos que serão tratados pelos seus telespectadores:

é comum um meio de comunicação pautar o quê será abordado por outro. Foi o que

aconteceu no caso do Impeachment de Fernando Collor de Mello. Depois de

especulações e boatos sobre corrupção no governo Collor, no dia 24 de maio de 1992,

numa entrevista a revista Veja, o irmão do presidente, Pedro Collor, acusou o ex-

presidente de manter uma sociedade com Paulo Cézar Farias, tesoureiro da campanha

Collor. A entrevista causou polêmica em todo o Brasil e, na mesma semana, o Jornal

Nacional passou a dedicar boa parte de seu espaço para o assunto. No dia seguinte, 25

de maio, foi ao ar trechos da carta do presidente a nação, onde ele se dizia chocado

pelas declarações “falsas e insensatas”. Desde então, num período de apenas dois dias

seguiram-se entrevista coletiva de Pedro Collor, exame médicos de sanidade mental do

irmão do presidente, solicitação por parte de parlamentares do PT para instauração de

uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as denúncias contra PC Farias. O

Jornal Nacional acompanhou diariamente o desenrolar das denúncias e apurações até o

dia 9 de junho de 1992, quando o repórter Álvaro de Azevedo assistiu ao depoimento do

ex-tesoureiro da campanha Collor e apresentou um resumo com as principais

declarações no jornal daquela noite.

O fato já tomava todos os meios de comunicação e era o principal assunto entre

rodas de amigos, familiares, no trabalho e em todos os cantos do Brasil: o Caçador de

Marajás agora era acusado de corrupção. No dia 24 de agosto, três meses após a

primeira notícia divulgada pela revista Veja, a CPI apontou os responsáveis pelos

desvios de dinheiro público e considerou ligações entre o presidente Collor e o esquema

de corrupção envolvendo mais de 6 milhões de dólares que teriam sido transferidos para

Page 30: Censura e imprensa na história do Brasil

gastos pessoais do presidente. Neste dia, o JN teve uma parte de sua transmissão, ao

vivo, direto de um estúdio em Brasília.

Em 16 de agosto de 1992, a população passou a tomar as ruas das cidades,

principalmente das grandes capitais, vestindo preto, contra a corrupção. A partir de

então estudantes, que ficaram conhecidos como caras pintadas, foram as ruas com os

rostos pintados de verde e amarelo. O JN cobriu as manifestações e seu repórter,

Marcelo Canellas, pintou-se também com as cores do movimento durante a reportagem.

Apesar das reportagens e matérias minuciosas feitas pelo JN, a cobertura chamou a

atenção: o presidente, visivelmente apontado como o candidato da Globo, como

descrevemos acima, agora era hostilizado pela emissora que três anos atrás o havia

elegido. Mais uma vez percebemos, neste contexto, a influência não só da mídia sob a

população, mas também da população sob a mídia.

O debate de 1989 ainda era apontado como estratégia da emissora carioca para

convencer eleitores de que Collor era o melhor candidato que Lula, ainda estava na

memória dos brasileiros a relutância da Globo em transmitir as manifestações a favor

das Diretas Já: mais um erro não seria permitido. A pressão da população era grande e,

esta pautou o JN, que não viu outra alternativa se não apoiar a população, sobretudo o

movimento “caras pintadas”: era uma maneira de se redimir pelos fatos ocorridos

anteriormente e recuperar a credibilidade abalada, tornando-se novamente um jornal

visto com imparcialidade e comprometimento com o cidadão brasileiro.

O Jornal Nacional, em sua cobertura, transmitiu também a solenidade de entrega

do pedido de impeachment e a abertura de processo contra o presidente. Finalmente, em

29 de setembro de 1992, com 441 votos a favor e 39 contra foi declarado o

impeachment do Presidente Fernando Collor de Mello.

Fernando Collor foi afastado do cargo e em 2 de outubro de 1992 assumiu a

presidência o vice, Itamar Franco. O último julgamento de Collor aconteceu em 29 de

dezembro do mesmo ano, antes disso Collor resolveu renunciar. Mesmo assim, o

julgamento prosseguiu e ele foi condenado.

Oito anos de governo FHC

Com o impeachment de Collor, o principal candidato a presidência para as

eleições de 1994 era Luiz Inácio Lula da Silva. Dois sentimentos dividiam a população

brasileira: a vontade de reverter a situação das últimas eleições e eleger um presidente

Page 31: Censura e imprensa na história do Brasil

“honesto" e inovador e o descontentamento em ter que eleger outro candidato que,

segundo alguns, apenas continuaria com a trajetória de corrupção.

Neste contexto de sentimentos opostos, Lula liderava as pesquisas como favorito

até maio de 1994. No entanto o novo plano econômico do governo Itamar Franco iria

mudar este cenário. Em 1º de julho entra em vigor o plano Real, que leva o então

desconhecido (pela grande parte da população) Fernando Henrique Cardoso, a ter sua

popularidade gradativamente impulsionada pela estabilidade econômica alcançada com

o novo plano. Fernando Henrique já havia sido ministro da Fazenda do governo Itamar

Franco, e um dos autores do Plano Real, agora era candidato da coligação PSDB-PFL.

A disputa entre Lula e FHC se tornava mês a mês mais acirrada, a Globo então pensou

em promover um debate, que não veio a acontecer devido as novas regras impostas pela

legislação eleitoral:

A legislação eleitoral determinou também que a realização

dem debates entre os presidenciáveis só seria permitida

se as emissoras assegurassem a presença de todos os

candidatos. Só seria permitida alguma ausência se o veículo de

comunicação comprovasse haver convidado o candidato com antecedência

mínima de 72 horas. O debate poderia ser feito de duas formas:

num único dia ou em dias diferentes, sendo que a

escolha dos participantes de cada dia seria feita através de

sorteio. Por esse motivo, a Globo preferiu não promover

nenhum debate. (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p.281).

O motivo da decisão de não promover o debate foi explicado em matéria do

jornal O Globo, publicada em 13 de junho de 1994, por Alberico de Sousa Cruz, diretor

da Central Globo de Jornalismo na época:

Se fizermos um debate reunindo nove candidatos vai ficar uma

loucura total, ou seja, o telespectador não consiguirá descobrir

nada. Pensamos, então, em produzir dois debates. Só que a

justiça eleitoral não permite que a gente escolha quais serão os

Page 32: Censura e imprensa na história do Brasil

candidatos de cada dia. Ela exige que isso aconteça através de

sorteio ou de um acordo entre os partidos. E aí fica difícil, pois

não sabemos se vai dar para confrontar os principais

concorrentes. (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p.281).

Através desta citação é possível considerar uma hipótese: a Globo desejava

confrontar os dois principais candidatos, disso não há dúvida, o próprio Alberico de

Sousa Cruz afirma. Mas, talvez com a intenção de, novamente, editar o debate em favor

do candidato de sua escolha. Não sendo isso possível, a emissora optou por não realizar

o debate.

Apesar do apoio ao movimento para o impeachment de Collor, a Globo ainda

era mal vista pela edição do debate de 1989 e, como afirma o jornalista da emissora

Alexandre Garcia, a Globo tomou muitos cuidados para evitar críticas: “Embora nós

julgássemos que tínhamos feito uma cobertura isenta em 1989, ainda assim tomamos

cuidados redobrados em 1994”. (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p.281-282).

As eleições de 1994 foram realizadas no dia 3 de outubro e a apuração começou

no dia seguinte. O JN acompanhou as eleições e, durante toda a semana, a apuração em

todas as regiões do Brasil. Fernando Henrique venceu as eleições ainda em primeiro

turno com 54,3% dos votos, seguido por lula 27,1%.

Quatro anos depois, em 1998, a história se repetiu: Lula e FHC novamente se

enfrentaram nas urnas, desta vez com uma peculiaridade – era a primeira vez que um

presidente brasileiro concorreria à reeleição. O presidente havia conseguido, em 1997,

a aprovação na Câmara de Deputados e no Senado da emenda constitucional instituindo

a possibilidade de um presidente ter dois mandatos consecutivos.

A exemplo das eleições de 1994, naquele ano a Rede Globo também não

realizou debate, dado o grande número de candidatos – doze no total. O trecho retirado

do livro Jornal Nacional: A Notícia faz história, comprova que o interesse da emissora

carioca era confrontar apenas grandes candidatos.

A legislação obrigava que todos os candidatos fossem

chamados, ou, não havendo acordo entre eles, que fosse feito

um sorteio para realização do debate em diferentes dias, mas

Page 33: Censura e imprensa na história do Brasil

essa solução sempre foi considerada descabida, pois dá margem

a que o candidato principal debata apenas com outros

candidatos de partidos nanicos. (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p.

312)

No dia anterior as eleições daquele ano, 3 de outubro, o Jornal Nacional

dedicou-se inteiramente as eleições. Anunciou os números das últimas pesquisas que

apontavam vitória de FHC com 49% dos votos. O resultado se confirmou na apuração e

Fernando Henrique Cardoso se reelegeu, ainda no primeiro turno, com 53,6% dos votos.

A Eleição do Lula

Em 2002, a Rede Globo fez o plano de cobertura de eleições políticas mais bem

elaborado que já havia realizado. O planejamento começou no ano anterior, 2001, e

contou até mesmo com apresentação do plano de cobertura para o TSE e a

representantes de cada partido. A partir de 1º de julho o Jornal Nacional passou a

acompanhar o dia-a-dia dos quatro principais candidatos a presidência: José Serra, Luiz

Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes e Antony Garotinho. Como explica Kamel:

Pela legislação a gente poderia dar um dia 3 minutos para o

Lula e 30 segunda para o Serra, se o Lula tivesse produzido

mais notícias naquele dia. Mas para evitar mal-entendidos

decidimos que daríamos todos os dias tempos iguais aos quatro

candidatos. Agora, claro, quando o Lula lançou seu programa

econômico, que era importante, o mercado estava esperando, a

gente deu tempos iguais para a matéria do dia-a-dia dos

candidatos, e a matéria do programa econômico do Lula à parte,

em outra reportagem. Porque, um dia, o Garotinho e o Serra

também iriam lançar o seu programa e, quando lançassem,

teriam tratamento igual. (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p.363)

Page 34: Censura e imprensa na história do Brasil

Através desta citação percebe-se que, mais de 10 anos depois do polêmico

debate entre Collor e Lula, a Globo finalmente queria recuperar a credibilidade que

ainda estava abalada frente alguns grupos da sociedade. Dentro do plano de cobertura

das eleições, forma realizados esclarecimentos para população, ensinando o eleitor a

usar a urna eletrônica, esclarecendo as funções dos governadores, presidentes,

deputados e senadores. Mas, onde o JN mais se destacou, inovando, foi ao entrevistar,

ao vivo, os quatro principais candidatos a presidência. As entrevistas aconteceram entre

8 e 11 de julho em seqüência decidida por sorteio: Ciro Gomes, Antony Garotinho, José

Serra e Luiz Inácio Lula da Silva, responderam as perguntas de Willian Bonner e

Fátima Bernardes com regras previamente negociadas com as equipes dos candidatos.

A iniciativa agradou o público e a crítica. O site Observatório da Imprensa, num

artigo de Alberto Dines, declarou que através destas entrevistas foi possível perceber

que “o jornalismo político pode ser conduzido sem veemências, a serviço do

esclarecimento”.

Houve ainda uma segunda rodada de entrevistas entre os dias 23 e 26 de

setembro, com os mesmos candidatos. Desta vez, cada um deles expôs suas idéias em

20 minutos e responder perguntas dos âncoras e do público, que participou através da

internet.

A cobertura das eleições de 2006 definitivamente pretendia apagar quaisquer

resquícios de parcialidade restante do confronto entre Lula e Collor, em 1989. A Globo

exibiu no último dia da campanha, às 22h o debate entre os quatro principais candidatos

a presidência. No dia seguinte, o jornalista Pedro Bial apresentou uma reportagem

especial sobre os bastidores do debate do dia anterior, no entanto, nenhum trecho do

debate foi exibido.

As eleições de 2002 já contaram com urnas eletrônicas na maior parte das Zonas

Eleitorais, em decorrência disso, em 7 de outubro, um dia após as eleições, quando o JN

foi ao ar, 99% das urnas já haviam sido apuradas, restando apenas as urnas localizadas

em zonas eleitorais de difícil acesso. Os números indicavam que Serra e Lula

disputariam o segundo turno das eleições para presidência do Brasil. Ainda naquela

noite os dois candidatos deram entrevista ao vivo durante o JN, falando sobre os rumos

que suas campanha tomariam nesta segunda etapa da votação.

Page 35: Censura e imprensa na história do Brasil

No dia seguinte as entrevistas, o JN voltou a acompanhar o dia-a-dia dos

candidatos, reservando o mesmo espaço de tempo para cada um no telejornal. Em 25 de

outubro, dois dias antes das eleições do segundo turno, a Globo exibiu debate entre

Serra e Lula. Novamente, Pedro Bial, apresentou reportagem especial, durante o JN do

dia seguinte sobre os bastidores do debate. No dia 28 de outubro de 2002, o Jornal

Nacional anunciou a vitória de Lula, aguardada por seus fiéis simpatizantes a mais de

uma década. Naquela edição do JN foi exibida entrevista ao vivo com Lula.

Por fim, o polêmico debate de 1989 havia ficado no esquecimento: Lula eleito

como o presidente mais votado na história do Brasil com 61,27% dos votos válidos e a

Rede Globo recuperando sua credibilidade que ainda encontrava-se abalada.

Considerações Finais

O movimento das “Diretas Já” pode ser considerado o momento mais importante

na história da democracia política brasileira, pois foi o momento em que a população

criou coragem e foi às ruas protestar pelo direito do voto. E os meios de comunicação

tiveram um importante papel neste processo.

O Jornal Nacional que surgiu durante o período do regime militar, considerado

um porta-voz do governo, apresentava-se cada vez mais independente. Os importantes

acontecimentos políticos pautados pelo telejornal foram os responsáveis pela conquista

da liberdade de imprensa no Brasil.

Partindo de 1985, com a campanha das Diretas Já, quando a imprensa começa a

ter um a certa liberdade, o Jornal Nacional realmente deixou de pautar os movimentos

das “Diretas Já”, mas, mais tarde, percebeu que a força da população era uma grande

aliada para a conquista da democracia e da liberdade de imprensa, passando a transmitir

os protestos.

Na eleição de 1989 o telejornal editou o debate de acordo com seus interesses, se

consolidando como um meio de comunicação independente, que tem o poder de

influência. Mas a sociedade deveria ter a capacidade de discernir a veracidade das

informações. “O receptor, por sua vez, também realiza mediações, de caráter

psicológico, determinadas pelas de caráter sociocultural, em um processo constante e

dialético”. (ESCOSTEGUY; JACKS, 2005, p.69).

A polêmica desta cobertura política fez com que o telejornal retomasse a

credibilidade perdida desde a campanha das “Diretas Já”. Então, a partir da eleição de

Page 36: Censura e imprensa na história do Brasil

1994 não existia mais edição de debates, passariam a serem transmitidos ao vivo e a

presença dos candidatos na mídia seria outro aspecto muito relevante na cobertura

política.

Estes acontecimentos políticos responsáveis pelo desenvolvimento da

democracia e da liberdade de imprensa no Brasil foram parte da história do país nestes

últimos 20 anos. Muitos movimentos sociais e culturais também surgiram nesta história,

lutando juntamente com os movimentos políticos na luta por um país democrático. É os

meios de comunicação e a sociedade que, munida de aspectos culturais e identidades,

fazem de um país, uma nação.

Bibliografia:

BOURDIEU, Pierre. “Sobre a Televisão”. Tradução, Maria Lúcia Machado. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

DEFLEUR, Melvin L.; BALL-ROKEACH, Sandra. Teorias da comunicação de massa.

Tradução de Octavio Alves Velho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

ESCOSTEGUY, Ana Carolina; JACKS, Nilda. Comunicação e Recepção. São Paulo:

Hacker Editores, 2005.

HOHLFELDT, Antônio. “Teorias da Comunicação: conceitos, escolas e tendência”.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

LIMA, Venício A. de. “Mídia: teoria e política”. São Paulo: Editora Fundação Perseu

Abramo, 2001.

LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. “Pesquisa em Comunicação”. 5ª ed. São

Paulo: Editora Loyola, 2001.

MEMÓRIA GLOBO. “Jornal Nacional: a notícia faz história”. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar Editor, 2004.

PEDROSO, Elizabeth Kieling (org.) “ELEIÇÕES: histórias e estratégias” Porto

Alegre: Editora Evangraf, 1999.

RODRIGUES, Alberto Tosi. “Brasil de Fernando a Fernando”. Ijuí - RS: Editora

UNIJUÍ, 2000.

SILVA, Carlos Eduardo Lins da. “Muito Além do Jardim Botânico – um estudo sobre a

audiência do Jornal Nacional entre trabalhadore”. São Paulo: Summus, 1985.

Page 37: Censura e imprensa na história do Brasil

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

BRUNA SAMPAIO DE CARVALHO

GUIDA MENDONÇA FIGUEIREDO FERREIRA

NATÁLIA RAPOSO DA FONSÊCA

VALÉRIA ROMANO UCHÔA

ALUÍSIO AZEVEDO E A IMPRENSA MARANHENSE DO SÉCULO

XIX

Page 38: Censura e imprensa na história do Brasil

São Luís

2006

BRUNA SAMPAIO DE CARVALHO

GUIDA MENDONÇA FIGUEIREDO FERREIRA

NATÁLIA RAPOSO DA FONSÊCA

VALÉRIA ROMANO UCHÔA

ALUÍSIO AZEVEDO E A IMPRENSA MARANHENSE DO SÉCULO

XIX

Artigo Científico apresentado às disciplinas

Métodos e Técnicas de Estudo e Pesquisa

Bibliográfica, e História da Comunicação

do Curso de Comunicação Social da

Universidade Federal do Maranhão para

Page 39: Censura e imprensa na história do Brasil

obtenção da 3ª avaliação, ministradas pelos

professores Márcia Cordeiro e Franklin

Douglas.

São Luís

2006

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................4

2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA....................................................................5

3 ALUÍSIO AZEVEDO NESSE CONTEXTO............................................................7

4 PRÁTICA PROFISSIONAL DE ALUÍSIO..............................................................9

4.1 No Maranhão......................................................................................................10

4.2 No Rio de Janeiro..............................................................................................11

5 JORNAIS MARANHENSES..................................................................................12

5.1 A Flecha.............................................................................................................13

5.2 O Pensador........................................................................................................14

5.3 A Pacotilha.........................................................................................................15

6 CONCLUSÃO........................................................................................................16

REFERÊNCIAS.........................................................................................................16

ANEXOS...................................................................................................................18

Page 40: Censura e imprensa na história do Brasil

ALUÍSIO AZEVEDO E A IMPRENSA MARANHENSE DO SÉCULO XIX *

Bruna Sampaio de Carvalho**

Guida Mendonça Figueiredo Ferreira

Natália Raposo da Fonsêca

Valéria Romano Uchoa

RESUMO

Page 41: Censura e imprensa na história do Brasil

Resgata-se a produção do jornalista e escritor maranhense Aluísio Azevedo, a partir de

investigações de sua colaboração aos jornais A Flecha, A Pacotilha e O Pensador.

Contextualização da produção de Aluísio Azevedo em sua época. Destacam-se as

influências política, econômica, social e cultural recebida pelo escritor. Além disso,

registros das caricaturas, textos jornalísticos e literários de Aluísio Azevedo.

Palavras-chave: Jornalismo maranhense. Imprensa no século XIX. Literatura.

1 INTRODUÇÃO

Aluísio Azevedo é no Brasil talvez o único escritor que ganha

pão exclusivamente a custa de sua pena, mas note-se que apenas

ganha o pão: as letras no Brasil ainda não dão para a manteiga.

Magalhães (1896 apud MARTINS, 2002)

As dezenove anos, em 1876 Aluísio Azevedo deixou sua terra natal, a fim de

realizar-se profissionalmente na Corte Imperial, queria cursar a Academia Brasileira de

Belas-Artes, pretendendo seguir a carreira de pintor, tornando-se posteriormente, um

excelente caricaturista. Foi então que teve seu primeiro contato com os jornais, pois os

periódicos ilustrados tinham contribuição de caricaturistas. Em agosto de 1878, por

motivo do falecimento de seu pai, Aluísio retorna ao Maranhão onde escreveu seu

primeiro romance: Uma Lágrima de mulher.

A literatura incentivou a participação de Aluísio nos jornais maranhenses, nos

quais desenvolveu um jornalismo de combate. Exercia um jornalismo opinativo,

___________________

*Artigo Científico apresentado às disciplinas Métodos e Técnicas de Estudo e Pesquisa

Bibliográfica, e História da Comunicação do Curso de Comunicação Social da

Universidade Federal do Maranhão, ministradas pelos professores Márcia Cordeiro e

Franklin Douglas, para obtenção da 3ª avaliação.

Page 42: Censura e imprensa na história do Brasil

** Alunas do 1º período do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do

Maranhão.

totalmente parcial e anticlericalista, marcado por muita subjetividade e adjetivação, com

a abordagem dos problemas vividos à época e com a identificação de tipos marginais da

sociedade, como aconteceu muito fortemente em O cortiço.

O momento sócio-histórico do final do século XIX permitiu que o jornalismo

fosse

desenvolvido ao lado da literatura com o objetivo de levantar, alimentar e estimular os

debates públicos, acerca das questões sociais em que acreditava.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Para se que se entenda a produção de Aluísio Azevedo, bem como sua

contribuição no jornalismo e literatura, deve-se considerar o contexto histórico em que

este autor viveu e desenvolveu sua obra.

Aluísio Azevedo viveu em um contexto de grandes mudanças a nível de mundo,

de Brasil e de Maranhão. Tais mudanças na realidade econômica, política e cultural já

vinham sendo desencadeadas desde o século XVIII com a Revolução Francesa que

implicou o surgimento de uma nova classe: a burguesia.

Posteriormente, a Revolução Industrial modificou ainda mais os contornos da

sociedade do século XIX, devido às grandes transformações geradas pela automação da

produção de bens e pelo surgimento da classe proletária,que assim como a burguesa

possuía um certo poder de compra, mas não tinha instrução suficiente para consumir

uma literatura clássica que exigisse maior rebuscamento intelectual. Além disso, o

grande êxodo rural decorrente da revolução industrial, uma vez que a mão-de-obra dos

servos e colonos foi substituída por mão-de-obra assalariada, empurra esse excedente

para a atividade industrial que ascende nesse período.

Essa nova configuração da sociedade implica modificações no tipo de

jornalismo que era feito na época, voltado somente para um público mais erudito. O

crescimento da classe proletária obrigou a produção jornalística e literária a encontrar

Page 43: Censura e imprensa na história do Brasil

formas de atender a esse novo público com características próprias, um público que

divide seu tempo em jornada de trabalho e tempo de lazer, por isso o jornalismo deveria

ter função informativa e de entretenimento. A questão era como tornar os jornais mais

populares e mais interessantes à grande massa, de forma a aumentar as vendagens

abrangendo um público mais amplo.

Revolução Industrial

Fonte: http:// www.vestigios.hpg.ig.com.br

Dessa questão surgiu o folhetim, uma forma de narrativa literária que segundo

Cristina Costa em sua obra, A milésima segunda noite, originou-se da narrativa árabe

“As mil e uma noites”, cuja versão mais antiga data do século X, exatamente por se

tratar de uma narrativa ficcional e apresentada de forma fragmentada, deixando

“ganchos” que instigassem a curiosidade na continuação da história.

gancho, aquele recurso narrativo que procura, através da

suspensão

temporária da resposta, intensificar e solucionar a espécie

de angústia

que assalta o leitor (telespectador) diante de um fato

desconhecido [...]

uma forma narrativa, popular e produzida pela indústria

cultural. (COSTA, 2000, p.10)

Page 44: Censura e imprensa na história do Brasil

Devido a esse caráter seriado do folhetim é que sua inserção no jornalismo diário

foi tão importante, pois graças ao sucesso desse tipo de narrativa o público leitor

comprava diariamente o jornal e acabava por fim, tendo acesso também às notícias que

nele circulavam e recebendo influência direta dessas notícias, já que nessa época os

jornais eram declaradamente parciais e traziam de forma clara a visão política e

ideológica do grupo a que pertenciam.

O folhetim, que surge na França já em fins do século XIX, é considerado uma

obra aberta, pois assim como as telenovelas atuais, descendentes diretas dos folhetins,

tinham seus roteiros passíveis de mudanças de acordo com a aceitação popular. A

temática explorada nos folhetins variava a cada lugar onde fossem produzidos, mesmo

porque a realidade européia divergia bastante do momento vivido no Brasil, e por isso

foi importante a atuação de Aluísio Azevedo como escritor de folhetins, pois suas

narrativas, assim como suas obras retratavam com riqueza de detalhes as peculiaridades

da sociedade brasileira, sobretudo a maranhense.

No século XIX, o Brasil vivia um momento de movimentos abolicionistas, que

culminou o fim da escravidão em 1888, a chegada dos imigrantes ao Brasil para suprir a

escassez de mão-de-obra ocasionada pela abolição, e também forte impulso no

movimento republicano, o qual contava com o apoio de diversos escritores famosos,

dentre os quais citamos Aluísio Azevedo.

Por fim, as transformações ocorridas desde o século XVIII e ao longo do

século XIX repercutiram no Maranhão, sobretudo em questões referentes à briga

pelo poder entre Igreja e Estado. O Maranhão por ter sido o último estado a aderir à

independência, ainda se encontrava muito arraigado a Portugal e muito dominado

pela poder eclesiástico. Dessa forma, os pensamentos positivistas, bastante

disseminados pela Europa e já chegados ao Brasil, enfrentaram duras resistências da

Igreja que não admitia a mudança do eixo do poder.

3 ALUÍSIO AZEVEDO NESSE CONTEXTO

As transformações que ocorriam no mundo, no Brasil e no Maranhão

repercutiam diretamente na produção literária e jornalística de Aluísio Azevedo, já que

Page 45: Censura e imprensa na história do Brasil

este, enquanto autor de grande expressão realista/ naturalista, devia fidelidade à

realidade.

No âmbito literário, o Realismo surge em oposição

à alienação dos ultra- românticos, propondo uma

nova estética, que apregoa a descrição exata da

realidade física e humana, através da anotação

dos pormenores e com a máxima verossimilhança,

sem a distorção do subjetivismo, do

sentimentalismo e das visões fantasiosas e

alucinatórias dos românticos. (D’ ONÓFRIO,

2000, p.380).

A produção de Aluísio Azevedo retrata exatamente o período em que ele estava

inserido. Pode-se perceber isso através dos traços declaradamente anti-clericais dos

jornais que contavam com a sua contribuição e através também das características de

seus personagens, retratando por vezes pessoas reais da sociedade maranhense; o caráter

abolicionista também é presença constante em suas obras.

O século XIX presenciou mudanças tão significativas que se estendem até os

dias atuais, e Aluísio Azevedo sofreu influência dessas mudanças, assim como também

foi agente das mesmas no que tange ao jornalismo maranhense, onde ele deu

contribuição de grande valia, apesar de ser mais conhecido por sua produção literária,

sobretudo O Mulato(1881) e O Cortiço(1890), ambos romances polêmicos que

possibilitaram projeção nacional a Azevedo

Iniciando sua vivência no meio jornalístico, Azevedo começa como caricaturista

em jornais cariocas e registram algumas fontes que ele, posteriormente, passou a

compor a personalidade de seus personagens por meio das caricaturas. Os jornais O

Fígaro e O Mequetrefe contaram com suas caricaturas.

Page 46: Censura e imprensa na história do Brasil

Charge de Aluísio Azevedo

publicada em O Mequetrefe

Fonte: http:// www.klickeducacao.com.br

Já em São Luís, começa a escrever para três jornais: A FLECHA, O PENSADOR

e A PACOTILHA, nos quais expressa seu posicionamento político e ideológico atacando

frontalmente e algumas vezes utilizando pseudônimos, a Igreja, não só através dos

jornais, mas também ao publicar O Mulato(1881) durante o curto período em que

permaneceu em sua terra natal.

De volta ao Rio de Janeiro, Azevedo dá início à produção de folhetins

seguindo uma tendência mundial, no entanto, seus folhetins não se igualam aos

produzidos na Europa, pois possuem traços tipicamente brasileiros bastante

presentes na obra desse autor: um clima tropical, retratando o comportamento da

mulher e trazendo a figura de um padre que vem destacar a visão que Azevedo

possui da Igreja, dentre outros elementos igualmente importantes.

4 PRÁTICA PROFISSIONAL DE ALUÍSIO

Na busca de analisar a vida de Aluísio Azevedo como escritor e jornalista

teve-se que fazer uma distinção da sua característica marcante no Maranhão e no

Rio de Janeiro. O escritor em apreço nesse artigo é “produto” da terra maranhense,

mas foi buscar um lugar de destaque com as Artes na capital carioca, como afirma

Pinheiro (2003, p. 3):

Page 47: Censura e imprensa na história do Brasil

Aluísio fazia jornalismo opinativo, nada preocupado

com os anseios de imparcialidade. Era,

declaradamente, anticlerical. Essa característica é

muito evidente em seus registros deixados, seja na

literatura, seja no jornalismo. Esse é um aspecto

muito presente, desde o início de sua carreira, como

caricaturista no Rio de Janeiro.

Aluísio Azevedo, aos dezenove anos, embarca para o Rio de Janeiro, com

o fim de matricular-se na Imperial Academia de Artes, tinha ele um sonho de se

tornar desenhista. Seu primeiro emprego foi como caricaturista nas redações de

jornais políticos e humorísticos. Com a morte do seu pai, ele volta ao Maranhão, em

1878, e na capital maranhense, aos vinte e dois anos, lança seu livro “Uma Lágrima

de Mulher”. Aluísio, que pretendia ficar no Maranhão por três meses, acaba ficando

por três anos, e durante esse período, teve uma contribuição marcante para a

imprensa maranhense.

4.1 NO MARANHÃO

Aluísio Azevedo teve sua produção jornalística expressada por três jornais

anticlericais, nos quais contribuiu como colunista de crônicas e charges. Como

enfatiza na entrevista Ferreira Junior(2006, p. 2):

Aqui em São Luís ele escreve O Mulato, quando se

depara com questão grave que era a influência da Igreja, de

uma igreja muito conservadora e ele era um homem

Page 48: Censura e imprensa na história do Brasil

Liberal, Republicano, Abolicionista e Marçon e era

sobretudo Anticlerical. Aqui no Maranhão ele colabora na

fundação de três jornais. No primeiro jornal mais

expressivo de caricaturas do Maranhão que foi o jornal

anticlerical “A Flecha”, no qual ele tinha uma coluna

chamada “Piticaia” e assinava com o pseudônimo

“Pitrybi”. Ele ajudou a fundar o jornal “O Pensador” e o

jornal “A Pacotilha” que foi o primeiro jornal diário do

Maranhão.

No Maranhão, Aluísio colaborou de forma intensa nos jornais locais,

tendo uma atividade ativa de protestos contra as atitudes da igreja, que possuía

na época um jornal chamado “Civilização” que demonstrava os ideais clericais.

Esse jornal estava vinculado aos padres do Seminário Santo Antônio, como

relata Ferreira Júnior (2006, p. 2): “o embate na época era muito forte, era

quase que de luta corporal, na Praia Grande”.

Interessante observar que Aluisio Azevedo quando vem ao Maranhão

por motivos pessoais, não possuía interesses em estabelecer vínculo

empregatício e acabou por escrever um livro, “Uma Lágrima de Mulher”, e

pintou um quadro á óleo “Depois de uma banicada”, além da publicação de “O

Mulato”, fundando “O Pensador” e ficando como colunista no jornal “A

Pacotilha” até as vésperas de sua viajem de volta ao Rio de Janeiro. Nesse

último jornal, Aluísio publica uma Carta de Despedida (Ver Anexo 1).

O livro “Um Lágrima de Mulher” não possui uma repercussão tão boa a nível

nacional apenas tendo sua abrangência restrita principalmente ao Maranhão, como

coloca Fanini (2003, p. 287):

Mas o livro não prenuncia, de forma alguma, o

romancista de pulso que dois anos mais tarde, ainda em

São Luiz, publicava “O Mulato”. Mesmo assim, o

romance desperta certo interesse no público da terra. O

idealismo romântico, dentro de cujos princípios fora

Page 49: Censura e imprensa na história do Brasil

concebida a narrativa, ainda provoca enternecimentos e

paixões nos serões de leitura da sociedade imperial. E o

livro, por isso mesmo, é aceito e discutido.

4.2 No Rio De Janeiro

Aluísio retorna ao Rio de Janeiro em 1982. Na capital carioca, o

escritor maranhense começa a escrever romances-folhetins que se chamava de

Ministério da Tijuca que, posteriormente, dará origem ao livro Girândola de

Amores. Esses folhetins eram editados pelo jornal “Folha Nova” (1882-1883).

Ressalta-se que essa edição folhetinesca foi alvo de diversas críticas

devido ao fato de Aluísio ter escrito uma carta a um amigo, na qual pedia uma

função pública, já que a considerava uma produção fabril e queria escrever

“Casa de Pensão”. Como coloca Fanini (2003, p.292):

Certamente, Aluízio terá sentido sempre

algum remorso de “O mistério da Tijuca”, que

reapareceu mais tarde com o título “Girândola dos

Amores”, como se a mudança de nome pudesse

tornar essa narrativa menos soporífera.

Aluísio toma os romances-folhetins como um laboratório de

experimentação para a produção da obra “Casa de Pensão”, e assim faz uma

certa mistura entre as duas escolas (Romântica e Realista-Naturalista). Jean-

Yves Mérian, o mais minucioso pesquisador da obra de Aluísio, coloca:

Seus folhetins são romances em tese, mas o

autor desenvolve neles teses sociais e políticas

claras ao mesmo tempo em que, por outro lado, faz

Page 50: Censura e imprensa na história do Brasil

descrições de cenas irreais e fantásticas. (MÉRIAN

apud FERREIRA JUNIOR, 2005, p. 2).

Aluísio Azevedo, além de escrever “Girândola de Amores”, também

escreveu A Condessa Vésper no Jornal “Gazetinha”. Após sua passagem pela

imprensa carioca, Aluísio, em 1891, troca a carreira de literato e jornalista pela

diplomacia. Foi nomeado oficial-maior da secretária do Governo do Estado do

Rio e, logo em seguida, torna-se cônsul de carreira ao ser nomeado Vice-Cônsul

em Vigo.

Suas principais obras foram:

a) Romance: Uma Lágrima de Mulher (1879); O mulato (1881); Memórias de um

Condenado (1882); Mistério da Tijuca (1882); Casa de Pensão (1884); Filomena

Borges (1884); O Coruja (1885); O homem (1887); O cortiço (1890); A

mortalha de Alzira (1894); Livro de uma sogra (1895).

b) Conto: Demônios (1893); Pegadas (1897).

c) Teatro publicado: A flor de lis (1882); Fretzmac (1888); Casa de Orates (1956);

Fluxo e refluxo (1905).

d) Crônica e epistolário: O touro negro (1954).

Observações: Grande parte da obra teatral de Aluísio Azevedo, embora levada à cena,

não foi editada, como, por exemplo: “O mulato”; “Filomena Borges” ; “A República”;

“Um caso de adultério”.

Outras peças não foram publicadas nem representadas: “As minas de Salomão”;

“A mulher”; “Alma de prego” etc.

Aluísio deixou inconcluso um livro de impressões de viagens, que se intitularia

“Japonesas e norte-americanas”, e do qual um excerto foi publicado em 1904 pelo

Almanaque Garnier.

5 JORNAIS MARANHENSES

Page 51: Censura e imprensa na história do Brasil

Como já citado, a contribuição de Aluísio Azevedo foi de grande

importância para o jornalismo maranhense, pode-se falar em imprensa

maranhense antes e depois de Aluísio, um verdadeiro divisor de águas. Para

que se entenda melhor essa divisão, há de se caracterizar os principais jornais

maranhenses da época que contaram com a participação ativa deste autor.

Aluísio Azevedo fazia jornalismo opinativo,

nada preocupado com os anseios de imparcialidade.

Era, declaradamente, anticlerical. Esta característica

é muito evidente em seus registros deixados, seja na

literatura, seja no jornalismo. Este é um aspecto

muito presente, desde o início de sua carreira, como

caricaturista no Rio de Janeiro. (MARTINS, 2002,

p. 35)

5.1 A Flecha

Page 52: Censura e imprensa na história do Brasil

Coluna Piticaias,

Jornal A Flecha, 1879

Fonte: SIOGE

Fundado em 1879, foi o primeiro jornal caricatural no Maranhão, utilizado por

Aluísio Azevedo para atacar o clero maranhense. Surgiu no século XIX, em um período

de grandes debates, momento em que estavam em foco as questões da abolição da

escravatura e da Proclamação da República. O primeiro número, na seção Fechadas se

lê:

A irmandade dos Passos, deu um passo na senda do

progresso

E deu um exemplo também

Page 53: Censura e imprensa na história do Brasil

E fez uma economia

E acabou uma ostentação

E matou uma mamata

E merece um amigável aperto de mão

- Ponto de interrogação do leitor...

Ora esta! Não fez procissão.

O jornal a flecha caracterizava-se por ser abolicionista, determinista, contra-

espiritualista, liberalista, anticlericalista, positivista e naturalista.

Aluísio escrevia em uma coluna chamada Piticais, onde assinava com o

pseudônimo de Pitrybi, utilizava esse anonimato para favorecer o enfrentamento com o

clero maranhense, já que era a favor da abolição e da Proclamação da República.

5.2 O Pensador

Teve sua primeira edição publicada no dia 10 de setembro de 1880, em oposição

ao jornal Civilização, periódico clerical que surgiu quando a Igreja Católica reagia

diante da expansão positivista que chegava ao Maranhão. Os textos publicados nesse

jornal, preocupavam os sacerdotes e seus seguidores.

No longo editorial-programa da primeira edição de O Pensador, escrito segundo

presunção geral por Manuel de Bethencourt, há trechos assim:

O Cristianismo fora vencido

Vencido? Completamente não. Já ao longo começa a

erguer-se o vulto majestoso da Reforma. Ouve-se

o troar de um canhão, é Lutero que fala. Vem

retemperar o cristianismo vem fazer brotar as fontes

Page 54: Censura e imprensa na história do Brasil

da liberdade.

A voz da Reforma o clero treme. Parece então que

o mundo lhe vai escapar... Cristo peleja contra

ele pela voz daqueles que apregoam a doutrina.

O Papa recorre aos grandes meios: inventa uma

Máquina infernal – o jesuíta.

Em meio deste século de ciência ele inventou

a maior das monstruosidades – a infabilidade papal,

essa mutilação enorme da razão. E não ficou

aqui. Corrompeu o ensino, alterou a história, deturpou

a moral, perverteu as consciências e fez o Silabus.

Finalizando dizia assim o editorial:

Tal é o programa do PENSADOR: pensar e só

pensar. Pensar rasgar os horizontes do povir.

Aluísio aproveita-se dos deslizes dos representantes da Igreja Católica para

atingir essa Instituição, que possuía respeito e credibilidade e exercia poder sobre a

sociedade.

Devido às severas críticas que fazia ao clero e a Igreja Católica, o jornal

Civilização apontava Aluísio como indivíduo que tem pacto com o satanás. A rivalidade

era tão grande, que O Pensador foi processado judicialmente, devido às injúrias escritas

cometidas contra o clero, principalmente contra o Padre Francisco José Batista.

Após tantos conflitos, Aluísio e seus parceiros perceberam que apenas três

edições mensais de O Pensador não respondiam à situação criada pela rivalidade entre

grupos clericais e seus opositores. Daí fez-se necessário a publicação de um jornal

diário. Essa idéia concretizou-se com o jornal A Pacotilha, lançado em outubro de 1880.

Page 55: Censura e imprensa na história do Brasil

5.3 A Pacotilha

O jornal diário A Pacotilha foi fundado em 1880 por Victor Lobato e dirigido

durante muitos anos por Agostinho Reis, surgiu com o objetivo de atiçar ainda mais os

embates com o jornal Civilização, fortalecendo o já provocativo periódico O Pensador.

Neste jornal, Aluísio publicava textos de outras pessoas que tinham os mesmos

objetivos que os seus, a fim de se legitimar junto a setores da sociedade.

Aluísio escreveu diversos artigos, assinados com vários pseudônimos, entre eles:

Giroflê e Semicúpio dos Lampiões. Foi através d’A Pacotilha que Aluísio se despediu

da sociedade maranhense, ao retornar, onde conta, resumidamente sua mensagem pelo

Maranhão.

6 CONCLUSÃO

Aluísio Azevedo ficou mais conhecido por sua obra ficcional. Fundou a cadeira

número quatro da Academia Brasileira de Letras, com relevante acervo literário. A

análise de sua obra tornou-se importante por trazer consigo um pouco da consolidação

da imprensa no Brasil do século XIX.

O fazer jornalístico de Aluísio era envolvido pela sua inspiração literária, sem

deixar de lado a verdadeira finalidade jornalística, de informar, interpretar, orientar e

entreter.

ALUÍSIO AZEVEDO AND THE PRESS MARANHENSE OF CENTURY XIX

ABSTRACT

Page 56: Censura e imprensa na história do Brasil

Rescue of the production of the journalist and maranhense writer Aluísio Azevedo, from

inquiries of its contribution to periodicals A Flecha, A Pacotilha and O Pensador.

Historical context of the production of Aluísio Azevedo at its time, detaching the

influences politics, economic, social and cultural received by the writer. Moreover,

journalistic and literary registers of caricatures, texts and Aluísio Azevedo.

Keywords: Maranhense journalism. The press in séc. XIX. Literature.

REFERÊNCIAS

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Piticaias.

COSTA, Cristina. A milésima segunda noite: da narativa mítica à telenovela análise

estética e sociológica. São Paulo: Annablume, 2000.

D’ONÓFRIO, Salvatore. Literatura ocidental: autores e obras fundamentais. 2ed. São

Paulo: Ática, 2000.

FANINI, Ângela Maria Rubel. Os romances-folhetins de Aluísio Azevedo: aventuras

periféricas. Florianópolis: Tese apresentada para obtenção do título de Doutor – UFSC,

2003.

FERREIRA, Déborah M. M. Jornalismo e Literatura em Aluísio Azevedo:

contribuições do escritor para os jornais maranhenses e folhetins, no período de 1879 a

1883. São Luís: Trabalho de Conclusão de Curso – UFMA, 2002.

____________. Palcos de uma causa: jornalismo e literatura em Aluísio Azevedo. São

Luís: Artigo Científico apresentado para obtenção do título de especialista – UFMA,

2004.

Page 57: Censura e imprensa na história do Brasil

FERREIRA JÚNIOR, José. Entrevista sobre Aluísio Azevedo e a imprensa

maranhense do séc. XIX. São Luís, 18 mar 2006.

_____________. Aluísio Azevedo: o jornalista, o critico literário e o romancista. Jornal

da Rede Alcar. São Paulo, v.5, n. 59, 1 nov. 2005. Disponível em:

<http.www2.metodista.Br/unesco/rede_alçar/rede_59/rede_alcar-serie-aluisio-59.ht>.

Acesso em: 10 mar. 2006.

JORGE, Sebastião Barros. Os primeiros passos da imprensa no Maranhão. São

Luis: EDUFMA, 1987. (Coleção Ciências Sociais; Série Comunicação).

MERIAN, :Jean-Yves. Aluísio Azevedo: vida e obra(1857-1913). Rio de Janeiro:

Espaço e tempo/ Banco Sudameris-Brasil:INL,1988.

PINHEIRO, Roseane. Sob Pena do Jornalismo e do Romance. Associação

Maranhense de Imprensa. São Luís, dez. 2003. Disponível em: <http//www.ami-

ma.com.br/index.php?catID=59&blID-7&ID=331>. Acesso em: 10 mar.2006.

Page 58: Censura e imprensa na história do Brasil

ANEXOS

Page 59: Censura e imprensa na história do Brasil

ANEXO 1 – Carta de despedida de Aluísio Azevedo

Pacotilha, São Luís, 06 set. 1881

DESPEDIDA

Ao lerem estas palavras estará o autor delas sendo conduzido a vapor para o Rio

de Janeiro e sendo conduzido pela saudade para o mundo nebuloso das meditações e das

tédias idéias.

Nessa ocasião ele ao menos sentirá o prazer íntimo de calcular que não

desapareceu ainda da memória de seus comprovincianos e deixará embelar-se pela

esperança de um dia prestar bons serviços à sua pátria e a seus amigos.

A estes sejam entretanto dedicadas estas palavras singelas e sem elegância cujo

único mérito está exclusivamente na sinceridade que as dita.

Seria imperdoável ingratidão partir sem patetear publicamente o muito

penhorado que vou do Maranhão pelos inestimáveis obséquios que me foram

dispensados nesta cidade desde que vim do Rio de Janeiro.

Estava bem longe de merecer tanto – vou por conseguinte com o coração arejado

por uma boa idéia de reconhecimento e com a consciência satisfeita pela convicção de

não ter jamais procedido mal – não me arrependo de coisa alguma que fiz.

Arrastado ao Maranhão pela lastimável morte de meu pai, cujo inventário

reclamava à presença de um de seus filhos, tencionava demorar-me aqui apenas três

meses – demorei-me quase três anos.

Page 60: Censura e imprensa na história do Brasil

Durante esse espaço tive ocasião de avivar velhas amizades da infância e de

entabolar novas relações, que me puseram em contato com alguns caracteres e alguns

corações de primeira agoa.

Já é grande consolação não descrer dos homens – já o que me sucedeu.

Para aproveitar os lazeres escrevi aqui o meu primeiro romance – Uma lágrima

de mulher; pintei um quadro a óleo – Depois de uma banicada; publiquei meu último

trabalho literário – O Mulato; fundei com alguns amigos distintos e talentosos O

Pensador, do qual só me despedi na ocasião de retirar-me, e finalmente chamado à

redação da Pacotilha aqui demorei-me até a véspera de minha viagem.

Todos esse trabalhos que enumerei pouco com nada valerão, se não lhes valer o

único mérito que possuem – a boa intenção com que foram praticados.

Essa, afianço que foi a melhor, se nem sempre os recursos intelectuais, do autor

corresponderam a sua vontade, não o devemos responsabilizar por isso. Ao contrário,

seria resolução firme de aperfeiçoar-se. É uma boa resolução e se ela depende somente

do esforço e do trabalho, devemos animá-lo para que ele trabalhe e no futuro produza

cousa mais aproveitável.

A intenção possuo-a eu, muito feliz serei se dela colher bons e sazonados frutos.

A todas as pessoas que contribuíram por conseguinte para a realização dos

trabalhos que empreendi nesta cidade; assim como o público que as acolheu com

protetora condescendia os meus mais sinceros protestos de gratidão e estima – em

quanto viver guardarei no coração a idéia desses favores.

Agora, que meu irmão Américo veio substituir-me ao lado de minha família,

nada mais tenho a fazer aqui e como a plantar minha atividade e minha perseverança em

um terreno mais amplo e produtivo.

Page 61: Censura e imprensa na história do Brasil

Sei que audácia dos padres de Santo Antônio aumentará na razão inversa do meu

afastamento, porém isso pouco me abala – a lama que me fizeram atirar há de voltar as

suas pias de água benta; além disso tenho bastante confiança no seguinte provérbio –

cão que ladra não morde!

Por mais que dissessem eles a meu respeito nunca daria eu por mal empregados

os serviços que prestei à sociedade maranhense colaborando abertamente n’O Pensador

– muitas famílias tenho consciência e ter arrancado às garras do fanatismo para restituir

às sublimes obrigações do lar doméstico.

Digam embora os padres que sou ignorante e atrevido, porém nunca poderão

dizer que sou um homem mal intencionado.

O leitor que me desculpe esse esbanjamento de palavras com semelhante

assunto, porém depois que tanto se escreveu a meu respeito nesta província, não será

muito que também eu acrescente alguma cousa.

Muito me escreveu e, seja dito em verdade, a maior parte das vezes

desfavoravelmente.

E, como de tudo conservo as melhores recordações, peço licença ao leitor para

terminar as minhas despedidas, transcrevendo a seguinte engraçada poesia do Sr. Rocha

Santos, que foi o primeiro assento das descomposturas que levei.

(...)

ANEXO 2 – Entrevista com o Prof. Dr. José Ferreira Junior

Page 62: Censura e imprensa na história do Brasil

Por que Ministério da Tijuca passou a se chamar Girândola de Amores?

Vários romances dele tinha um título em folhetim e outro quando passava a ser

livro, o folhetim Ministério da Tijuca tinha um apelo mais popular, Girândola de

Amores tinha um apelo mais romântico, mais bucólico, telúrico.

O que é a edição critica?

Você reedita o trabalho do autor, com todas as notas sobre ortografia e sobre

sintaxe. E nessa edição vem o original e a ultima edição publicada que foi em 1973.

O interessante dessa edição critica, é que ela tem dois capítulos na versão

folhetinesca, no Mistério da Tijuca, que é o capítulo 61 e o capítulo 76, onde ele

interrompe a narrativa do romance e vai fazer um crítica literária, que foi muito

estigmatizada; a crítica foi ferrenha em cima dele por que ele estava escrevendo de uma

forma muito romântica, já que o Romantismo é da primeira metade do séc. XIX, e no

final deste século já se estava diante dos autores realistas/ naturalistas, então para os

críticos aquele romance rocambolesco, já estava fora de sintonia.

Nesses dois capítulos (61 e 76) ele responde a esses críticos, dizendo que o

público ainda queria o romance rocambolesco, queria o folhetim melodramático. Ele

teria que agradar aos dois tipos de público, tendo uma preocupação com a formação do

leitor.

Como se dava a produção de Aluísio?

Era em forma narrativa, o folhetim do Ministério da Tijuca era absolutamente

novelístico. Era uma narrativa que tem uma história, só que a historia é prolongada,

porque o autor fazia um contrato com o jornal de produção diária.

Page 63: Censura e imprensa na história do Brasil

Talvez o maior estigma do Mistério da Tijuca seja esse apelo a um amigo, feito

por Aluísio, no qual demonstra o desejo de conseguir emprego público, para que ele

tivesse mais tempo para escrever Casa de Pensão do que fabricar Mistério da Tijuca,

por que realmente era um romance fabril era uma produção industrial, para conseguir o

“pão de cada dia” e ele foi um dos poucos escritores do séc. XIX que viveu da sua

literatura só que teve uma hora em que ele saturou. Quando ele entra pro Itamarati ele

deixa a literatura, aí ele dá o golpe.

O Mistério da Tijuca foi um romance, publicado no Jornal carioca “A Folha

Nova”.

Aluísio nasce em São Luís e fica aqui até a adolescência depois vai para o rio de Janeiro

e lá começa a trabalhar como caricaturista, ele foi fazer a escola de belas artes, sendo

que ele era um artista plástico “frustrado”.

Tem um período que ele trabalha como artista plástico e depois volta ao

Maranhão por motivos pessoais.

Aqui em São Luís ele escreve O Mulato, quando se depara com questão grave

que era a influência da Igreja, de uma igreja muito conservadora e ele era um homem

Liberal, Republicano, Abolicionista e Marçon e era sobretudo Anticlerical. Aqui no

Maranhão ele colabora na fundação de três jornais. No primeiro jornal mais expressivo

de caricaturas do Maranhão que foi o jornal anticlerical “A Flecha”, no qual ele tinha

uma coluna chamada “Piticaia” e assinava com o pseudônimo “Pitriby”. Ele ajudou a

fundar o jornal “O Pensador” e o jornal “A Pacotilha” que foi o primeiro jornal diário

do Maranhão. Embora num intervalo de tempo muito curto que passou aqui, ele teve

uma participação atuante na imprensa maranhense. Alguns críticos como Mérian diz

que o Aluísio não foi bem um homem de jornal, eu até acredito que lá no Rio realmente

não tenha sido, mas aqui ele foi, até mesmo em função da polêmica que ele tinha com

um jornal da Igreja Católica chamado “Civilização”, um jornal que foi criado para

combater as idéias na época republicanas, abolicionistas, sobretudo as idéias

anticlericais. Era um jornal vinculado aos padres ao clero do seminário Santo Antônio.

E o embate na época era muito forte, era quase que de luta corporal na Praia Grande.

Page 64: Censura e imprensa na história do Brasil

O que há de mais interessante na obra de Aluísio Azevedo?

A vinculação com o jornal, fazer do folhetim um laboratório para desenvolver a

técnica do romance isso fica interessante no capítulos 61 e 76 chamado Parêntese.

Como a edição de um livro tinha um custo elevado, o folhetim funcionava como

consolidação de um público que iria posteriormente ser consumidor(leitor) da obra que

iria reunir os folhetins. O romance feito por jornal era um “passaporte” para criar um

público leitor. O romance de folhetim brasileiro foi revolucionário na forma e no

conteúdo, porque o autor brasileiro descobriu que livro e jornal eram coisas diferentes.

No jornal teria que ter uma escrita direta, com orações coordenadas e não com

subordinadas o mestre disso foi Machado de Assis.

Já o Aluísio Azevedo ele também usa isso, porém ao contrário do Machado, ele

ia aumentando, esticando as coordenadas, ele para descrever um personagem fazia

praticamente um retrato, seu processo de criação se dava primeiro visualmente e só

depois ele escrevia, dizem que isso se dava por ser um artista plástico. A sua parataxe

era extensiva, até mesmo para render o romance.

No Jornal “A Flecha” ele era caricaturista e também tinha uma coluna (Piticaia)

na qual, ele fazia crítica de Teatro, crítica Literária e crítica de costumes como se fosse

uma crônica.

Na sua opinião, Aluísio fazia isso por que gostava ou por sobrevivência, já que

posteriormente, ele se tornaria um funcionário público?

Ele fazia pelas duas coisas, por que gostava e por que precisava pra ganhar

dinheiro. O fato de ele ter entrado para o Itamarati, ele já era um homem de meia

idade(idoso), deixando de escrever ficção, romance e vende sua obra em 1990 para

editora Garnier.

Page 65: Censura e imprensa na história do Brasil

Por que O Prof. Dr. Ferreira Júnior resolveu ser pesquisador do tema?

Sobretudo pela crítica literária embutida no romance e também por que foi um

romance que ele escreveu pouco depois de sair do Maranhão. Eu queria fazer uma certa

analogia sobre a atividade intelectual que ele teve aqui, jornalística, anticlerical de

combate e essa produção folhetinesca. Tem uma questão que eu achei relevante ressaltar

quando eu fiz minha edição crítica: é que tem um personagem no Mistério da Tijuca que

é absolutamente lateral e descartável, poderia nem estar ali, que é o Padre Almeida, um

padre totalmente diferente dos padres com os quais o Aluísio se digladiou aqui no

Maranhão através da impressa. Era um padre liberal, astuto, um padre que fazia suas

“traquinagens”, que aceitava os avanços da ciência, era muito arguto.

Na minha análise era o tipo de padre que o Alísio aceitava, mesmo sendo

anticlerical, republicano, antiabolicionistas, até por que acho que ele não era anti-

religioso.

Page 66: Censura e imprensa na história do Brasil

Componentes: Aurilene Alencar

Juliana Lima

Letícia Silva

Nayara Vieira

Suellen Wolff

Page 67: Censura e imprensa na história do Brasil

Objetivo:

Mediante a este artigo temos como principal objetivo mostrar que os pasquins

foram determinantes no movimento social que contribuiu efetivamente à adesão do

Maranhão à Independência do Brasil. Sendo assim um marco na história da imprensa

maranhense.

Sumário

1. Introdução

2. Desenvolvimento

3. Considerações finais

4. Bibliografia

Page 68: Censura e imprensa na história do Brasil

Introdução

Observa-se nesse artigo científico os acontecimentos que culminaram na adesão

do Maranhão à Independência do Brasil, e a importância dos pasquins nesse processo.

Os pasquins eram jornais periódicos que apareciam e sumiam sem deixar

vestígios.

Apesar disso, seu rastro surtia efeitos imediatos na economia, política e

principalmente na sociedade gerando indignação nos maranhenses do século XIX.

Page 69: Censura e imprensa na história do Brasil

Desenvolvimento: A voz que não conseguiram calar

Nos primeiros 20 anos do século XIX da imprensa maranhense, os jornais não

foram apenas testemunhas da história, mas autores da mesma, pela participação política

e cultural da província.

Foi uma época brilhante pela presença de Odorico Mendes (precursor dos

pasquins no Maranhão, com participação também nos jornais de São Paulo e Rio de

Janeiro), Garcia de Abranches, Frederico Magno, José Cândido de Moraes e Silva, João

Lisboa, Cândido Mendes, Sotero dos Reis entre outros. Houve aqueles que encheram de

vergonha o jornalismo com suas infâmias e pasquins terríveis.

O período que vai de 1821 a 1841, marca a trajetória de uma fase de ouro da

imprensa maranhense (surgimento dos pasquins). Essa é uma das fases mais

conturbadas, pois os portugueses residentes no Maranhão se recusavam a aderir à

Independência do Brasil, passando depois, por outros problemas, tais como a abdicação

de Dom Pedro I A Regência Trina e os movimentos como a Setembrada e a Balaiada.

Em 1822, foi organizada em Lisboa, a Junta Provisória e Administrativa do

Maranhão, por ato das Cortes Constituintes que abriria a página de adesão à

Independência do Brasil. Com a chegada do almirante Cochrane à província, em missão

oficial, deu-se a 28 de Julho de 1823 a adesão do Maranhão à Independência.

Mediante esses acontecimentos, surgem assim, os pasquins. Que possuíam como

objetivo central expressar sua indignação através desses folhetins que eram entregue em

domicílio ou pregados nas paredes durante a noite.

Page 70: Censura e imprensa na história do Brasil

No entanto, havia muitas pessoas no qual discordavam do objetivo dos pasquins,

sempre acreditaram que eram utilizados como forma de denegrir a imagem das

principais autoridades da província. Como é o caso de Sebastião Jorge (autor do livro

“A linguagem dos pasquins”), que coloca nesse livro a sua visão sobre o trabalho dos

pasquins no Maranhão.

Para Sebastião Jorge, os pasquins tinham como objetivo denegrir a imagem do

grupo político rival utilizando uma linguagem de baixo nível onde atacava não só a vida

política e sim a privacidade do desejado e de toda sua família.

Tinha como características principais o ataque à honra, a vida pessoal, ofensa,

insulto, vingança, entre outros. Os pasquins tinham como finalidade denegrir a honra

das personalidades de destaque, o qual era motivado pela ambição do poder. Enfim,

para ele, os pasquins não tiveram nenhuma contribuição cultural, social, apenas política

uma vez que houve vários assassinatos por conta desses folhetins.

Porém, ao se falar em liberdade de expressão naquela época o Maranhão era

bastante censurado pelas autoridades provinciais, ao passo que esses mesmos sempre

impediam a qualquer custo o surgimento dos movimentos revolucionários.

Por causa de tamanha censura a população se via no direito de reivindicar todas

as suas “mágoas” de alguma forma. No caso, os pasquins foram o único meio

encontrado para expressar a indignação política da população.

Somente através desse mecanismo, pode-se conhecer o outro lado da história, a

versão das camadas populares, e não o que as autoridades queriam apresentar.

Page 71: Censura e imprensa na história do Brasil

Considerações finais

Concluí-se através desse artigo a importância relevante dos pasquins no processo

de adesão do Maranhão à Independência do Brasil.

O desdobramento desse processo, que durou décadas, acabou por dar muita “dor

de cabeça” nas autoridades gerando polêmica na sociedade maranhense do século XIX.

Sendo muitas vezes menosprezado por alguns, mas que com ousadia e idealismo

venceram os obstáculos e, hoje, têm o seu valor reconhecido pela história.

Bibliografia

Page 72: Censura e imprensa na história do Brasil

História do Maranhão, Autor: Mário M. Meireles.

A linguagem dos Pasquins, Autor: Sebastião Jorge.

Os primeiros passos da imprensa no Maranhão, Autor: Sebastião Jorge.

Pantheon maranhense

Jornais maranhenses, 1821-1979, Fundação cultural do Maranhão.

Jornais:

1. Os Argos da Lei (1825)

2. O Censor Maranhense (1825)

3. O Astro (1827)

4. Poraquê (1828)

5. A Cigarra (1829)

6. Brasileiro (1830)

7. Farol Maranhense (1831)

8. O Guajajara (1840)

9. O Conciliador (Sete de Maio de 1823, nº. 190).

Page 73: Censura e imprensa na história do Brasil

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

ALUNOS: FÁBIO PERES DE BERRÊDO MARTINS E JANAÍNA DOS SANTOS

JANSEN

DISCIPLINA: LABORATÓRIO DE RADIOJORNALISMO

PROFESSOR: FRANKLIN DOUGLAS

************************************************************

TÍTULO: ANISTIA POLÍTICA E O MARANHÃO

**********************************************************************

<Tchaikovsky>

LOC: UM GOLPE MILITAR DERRUBA O PRESIDENTE DA

REPÚBLICA./ O COMANDO REVOLUCIONÁRIO EDITA O

ATO INSTITUCIONAL NÚMERO 1, QUE MODIFICA UMA

SÉRIE DE DIREITOS CONSTITUCIONAIS./ COMEÇA UM

PERÍODO DE VIOLÊNCIA, MEDO E REPRESSÃO./

INTELECTUAIS LOTAM AS PRISÕES DE TODO O PAÍS;

LIVROS E JORNAIS SÃO APREENDIDOS./ A CULTURA

AGONIZA.//

EM 1968, É DECRETADO O ATO INSTITUCIONAL

NÚMERO 5, QUE LIMITA AINDA MAIS AS GARANTIAS

CIVIS./ A TORTURA E O DESAPARECIMENTO DE PRESOS

POLÍTICOS MARCAM UMA FASE OBSCURA NA

HISTÓRIA DA REPÚBLICA.//

NO MARANHÃO A SITUAÇÃO NÃO ERA DIFERENTE./

GOVERNANTES ESCOLHIDOS PELOS MILITARES

TENTAVAM CONTROLAR MOVIMENTOS SOCIAIS./

Page 74: Censura e imprensa na história do Brasil

COMBATIAM ESTUDANTES E SINDICALISTAS COM

MÃO DE FERRO./ A PARTIR DE 1975, UMA NOVA LEI

ABRE AS TERRAS DO MARANHÃO PARA GRANDES

GRUPOS NACIONAIS./ COM ISSO, O MOVIMENTO

CAMPONÊS SE ERGUE EM DEFESA DA TERRA./ ESSE

GRUPO VAI CONTRIBUIR PARA O INÍCIO DA LUTA PELA

ANISTIA, JUNTO AOS MOVIMENTOS DE MÃES E

ESPOSAS DE DESAPARECIDOS POLÍTICOS./ O ENTÃO

JORNALISTA DO “DIÁRIO DO POVO”, ALDIONOR

SALGADO.//

(SONORA 1 ALDIONOR SALGADO)

<música suspense>

ERAM CRIADOS OS COMITÊS BRASILEIROS PELA

ANISTIA, FORMADOS POR INTELECTUAIS, POLÍTICOS E

ESTUDANTES./ EM 1978, A IGREJA CATÓLICA ADERE AO

MOVIMENTO./ NO MARANHÃO, O COMITÊ PELA

ANISTIA É INSTALADO NO SEMINÁRIO DA IGREJA DE

SANTO ANTÔNIO, COM O APOIO DO ARCEBISPO DE SÃO

LUÍS, DOM MOTA./ O ENTÃO PRESIDENTE DO COMITÊ

BRASILEIRO PELA ANISTIA, REGINALDO TELLES.//

(SONORA 1 REGINALDO TELLES)

<Rossini>

REGINALDO, QUE ALÉM DO COMITÊ PRÓ-ANISTIA

PRESIDIA O MOVIMENTO FAMILIAR CRISTÃO, FALA

SOBRE A REPRESSÃO QUE SOFREU DURANTE A

DITADURA.//

(SONORA 2 REGINALDO TELLES)

<Hino Independência>

Page 75: Censura e imprensa na história do Brasil

FORÇAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS EXIGIAM A

ANISTIA NO BRASIL./ O GOVERNO FIGUEIREDO JÁ

DAVA MOSTRAS DA QUEDA DO REGIME MILITAR:

APRESENTAVA ÍNDICES ECONÔMICOS TERRÍVEIS E

SOFRIA COM MANIFESTAÇÕES DE RESISTÊNCIA

SOCIAL./ É NESTE MOMENTO QUE PRESOS POLÍTICOS

INICIAM UMA GREVE DE FOME EM 22 DE JULHO DE

1972./ OBJETIVO: O PERDÃO AOS CHAMADOS

“SUBVERSIVOS”.//

COM A GREVE, OS MANIFESTANTES ALCANÇAM A

IMPRENSA E CONVENCEM IMPORTANTES

PARLAMENTARES./ A GREVE DUROU 32 DIAS./ EM SEU

AUGE, O PRESIDENTE FIGUEIREDO SE COMPROMETE A

REVER INQUÉRITOS E CONDENAÇÕES DE PRESOS

POLÍTICOS./ EM AGOSTO DE 1979 ELE ENCAMINHA O

PROJETO AO CONGRESSO NACIONAL, QUE É

APROVADO./ ESTÁ DECRETADA A ANISTIA.//

<Caetano Veloso>

ANTES DA ABERTURA, HAVIA CERCA DE 10 MIL

BRASILEIROS EXILADOS./ ENTRE ELES O POLÍTICO

LEONEL BRIZOLA, O EDUCADOR PAULO FREIRE, O

CANTOR CAETANO VELOSO E O JORNALISTA

MARANHENSE NEIVA MOREIRA./ NEIVA ERA, NA

ÉPOCA, SECRETÁRIO DA FRENTE NACIONAL

PARLAMENTARISTA, MOVIMENTO QUE COMBATIA O

TOTALITARISMO E A CENSURA./ COM A ANISTIA,

NEIVA RETORNA AO BRASIL: MAIS DE 20 MIL PESSOAS

O ESPERAM NA PRAÇA DEODORO, CENTRO DE SÃO

LUÍS./ O JORNALISTA ALDIONOR SALGADO.//

(SONORA 2 ALDIONOR SALGADO)

Page 76: Censura e imprensa na história do Brasil

<Som multidão>

O JORNAL PEQUENO DE 16 DE OUTUBRO DE 1979

ANUNCIAVA: CHEGA O LÍDER NEIVA MOREIRA./ NA

MESMA EDIÇÃO, A MANCHETE “NEIVA MOREIRA

MUDA O TRÂNSITO” INFORMAVA QUE A POLÍCIA

PRETENDIA MUDAR O ITINERÁRIO DOS ÔNIBUS QUE

CRUZAM O CENTRO DA CIDADE./ TUDO POR CAUSA DA

MULTIDÃO QUE AGUARDAVA O ANISTIADO.//

NO DIA SEGUINTE, 17 DE OUTUBRO DE 1979, O JORNAL

O IMPARCIAL PUBLICA: “EXILADO MARANHENSE FALA

MODERADAMENTE NA DEODORO”./ DE ACORDO COM A

EDIÇÃO, O EX-DEPUTADO INCITOU O POVO A LUTAR

PELA REFORMULAÇÃO DO PODER IMPLANTADO A

PARTIR DE 1964.//

NO MESMO DIA O JORNAL PEQUENO IRONIZAVA./

ESTAMPAVA NA PRIMEIRA PÁGINA: O GOVERNO

CONTRIBUIU PARA A MULTIDÃO QUE LOTOU A PRAÇA

DO PANTHEON, GRAÇAS À ALTERAÇÃO DO

TRÂNSITO.//

<Chico Buarque>

A IMPRENSA MARANHENSE NÃO FICOU IMUNE À

CENSURA EMPREENDIDA PELA DITADURA./ A

CENSURA, DIFERENTE DA PRATICADA NOS JORNAIS

DO SUDESTE DO PAÍS, FOI SUFICIENTE PARA

INTIMIDAR JORNALISTAS E IMPEDIR A CIRCULAÇÃO

DE JORNAIS COMO “O RUMO”, “CAMPO E CIDADE” E

“TRIBUNA DO POVO”./ O JORNALISTA ALDIONOR

SALGADO.//

(SONORA 3 ALDIONOR SALGADO)

Page 77: Censura e imprensa na história do Brasil

APESAR DAS PRESSÕES, INTERNAS E EXTERNAS,

JORNAIS COMO DIÁRIO DO POVO E JORNAL PEQUENO

INSISTIAM EM COMBATER A ORDEM VIGENTE./ O

JORNAL O IMPARCIAL, COMO RESSALTA ALDIONOR,

CHEGOU A ABRIGAR E PROTEGER MILITANTES

COMUNISTAS.//

(SONORA 4 ALDIONOR SALGADO)

<Rossini>

NÃO SÓ O JORNALISMO IMPRESSO FOI ALVO DO

CONTROLE DO GOVERNO./ O RÁDIO TAMBÉM SOFREU

CENSURA, PRINCIPALMENTE A RÁDIO EDUCADORA,

COMO AFIRMA O ENTÃO DIRETOR DA RÁDIO GURUPI

JOSÉ ARNOLD FILHO.//

(SONORA 1 JOSÉ ARNOLD)

JOSÉ ARNOLD COMENTA SUA EXPERIÊNCIA FRENTE À

RÁDIO GURUPI.//

(SONORA 2 JOSÉ ARNOLD)

<Tchaikovsky>

ASSIM, PERCEBEMOS QUE A IMPRENSA DO MARANHÃO

(OU PARTE DELA), MESMO EM MOMENTOS DE CRISE,

SOUBE CONTORNAR A INFLUÊNCIA DO PODER, E

REIVINDICAR O QUE A TORNA UMA EXTENSÃO DA VOZ

POPULAR: A LIBERDADE DE APONTAR O QUE

ACONTECE, DE INFORMAR E DENUNCIAR O MUNDO./ A

ANISTIA FOI, PARA ELA, UM PRESENTE

INESQUECÍVEL.//

Page 78: Censura e imprensa na história do Brasil

<Hino nacional>

E A LUTA, ANTES DESTINADA À ANISTIA E AO FIM DA

DITADURA MILITAR, HOJE TOMA NOVOS RUMOS./ A

REDEMOCRATIZAÇÃO, HÁ DUAS DÉCADAS, ABRIU AS

PORTAS PARA A “DITADURA DO CAPITAL”./ A

CENSURA CONTINUA, E SEGUE O RITMO DITADO PELOS

GRANDES BLOCOS ECONÔMICOS.//

(SONORA 3 REGINALDO TELLES)

<Geraldo Vandré>

QUEM SABE AMANHÃ, INTELECTUAIS E IMPRENSA

LUTARÃO POR UMA NOVA ANISTIA./ UMA ANISTIA ÀS

IDÉIAS DE PAZ E JUSTIÇA SOCIAL.//

JANAÍNA JANSEN E FÁBIO PERES PARA A SÉRIE

“MARANHÃO SOB CENSURA”.

<Geraldo Vandré. Reginaldo Telles lê, ao fundo, texto escrito por ele sobre a

injustiça social>

Page 79: Censura e imprensa na história do Brasil

Silêncio e memória: a cobertura jornalística da Guerrilha do Araguaia

Autora: MOURÃO, Mônica. Graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela

Universidade Federal do Ceará (UFC) e estudante de especialização em Teorias da

Comunicação e da Imagem pela UFC – Fortaleza-CE.

Endereço digital: [email protected]

GT: História do jornalismo.

Resumo: A pesquisa se refere à cobertura da imprensa sobre a guerrilha do Araguaia

(1972-1975). É apresentada a situação da imprensa nos chamados “anos de chumbo”.

Em meio ao silêncio dos jornais de grande circulação sobre a Guerrilha do Araguaia,

duas matérias que davam conta das movimentações no sul do Pará foram publicadas,

em dois dias seguidos, por jornais da mesma empresa: O Estado de S. Paulo e o

vespertino Jornal da Tarde. O texto era praticamente o mesmo. A partir do estudo das

matérias jornalísticas, é discutido o conceito de documento histórico. Com a mudança

do lugar da memória na sociedade pós-escrita, o silêncio da imprensa com relação à

Guerrilha do Araguaia é considerado um dos fatores que impediram o acontecimento de

ser apropriado pela memória hegemônica dos brasileiros, subsistindo nas memórias

subterrâneas dos parentes e amigos dos participantes da Guerrilha.

Palavras-chave: História, jornalismo, censura, memória, Guerrilha do Araguaia.

1. A censura durante o regime de 1964

Enquanto governava o general Castelo Branco, a censura era sutil: o presidente e o

general Golbery do Couto e Silva procuravam os jornais e os conquistavam – era a

chamada censura branca. Com o poder nas mãos dos militares da linha dura e o decreto

do AI-5, a censura se tornou mais ofensiva.

Apesar de a Carta Magna garantir a livre manifestação de pensamento, através de

decretos-lei e atos institucionais, a imprensa brasileira passou a ser “legalmente”

cerceada. Em 1967, foi instituída a Lei de Imprensa e, em 1969, a Lei de Segurança

Nacional – em vigor até 1978. Houve ainda o Decreto-Lei Nº 898, também de 1969,

que delegava ao ministro da Justiça os poderes de apreender qualquer tipo de

publicação e suspender sua impressão, circulação, distribuição ou venda em todo o

território brasileiro.

Page 80: Censura e imprensa na história do Brasil

Pela Lei de Imprensa, não se podia divulgar nenhum crime cometido por presidente

da República, ministros de Estado, presidentes do Senado e da Câmara, chefes de

Estado ou governo estrangeiros e seus representantes diplomáticos. Essa lei também

determinava que o ministro da Justiça podia, a qualquer momento, decretar a apreensão

de impressos que contivessem propaganda de guerra ou que promovessem incitamento

à subversão da ordem política e social. Além da censura, houve também casos de

violência física e até de atentados a bomba (como nas redações dos alternativos Em

Tempo e Opinião e da Associação Brasileira de Imprensa, em 1976) para barrar a

divulgação de determinadas informações.

A atuação da censura tinha duas vias: impedir a publicação de certos assuntos e

impor a de outros. Não sob qualquer abordagem, mas a que interessasse aos militares.

Se, por um lado, não se podiam noticiar reações contra o governo que obtivessem

sucesso, por outro, quando “subversivos” eram derrotados, o fato tinha de ser

publicado.

Esse caso ilustra bem a censura caracterizada por Eni Orlandi como a

impossibilidade de o sujeito manter certo discurso, de se situar em determinada posição.

Dessa maneira, a censura vai além da interdição, pois também é um processo que

impede o sujeito de realizar seu movimento de identidade.

Isso levou alguns jornalistas a buscarem formas de comunicar informações

proibidas. Uma das táticas utilizadas era a mudança da pirâmide invertida; outro recurso

era a publicação de pequenas notas que desmentiam a versão oficial que ganhava

destaque de página. Também se abria espaço para regimes ditatoriais de outros países,

na expectativa de que o leitor os associasse ao governo militar brasileiro.

Entretanto, as “manobras” feitas pelos jornalistas dependiam muito da percepção do

leitor. Ele tinha que estabelecer uma relação de cumplicidade com os órgãos de

comunicação e, talvez, já estar ideologicamente de acordo com o conteúdo dos textos.

2. O silêncio

O silêncio pode ser caracterizado em dois tipos: o silêncio fundador e a política do

silêncio ou silenciamento. Este último dá margem às retóricas da dominação (opressão)

e do oprimido (resistência). O silêncio fundador é aquele necessário a qualquer

Page 81: Censura e imprensa na história do Brasil

elaboração de sentido. É como se a palavra se imprimisse no silêncio contínuo e, dessa

maneira, ele fosse marcado e segmentado por ela, distinguindo sentidos.

Na política do silêncio, o sujeito, quando diz um sentido, não diz outros. Quanto à

censura, ela pode fazer com que se diga A porque não se pode dizer B. Desse modo,

afeta a identidade dos sujeitos, já que eles não podem se inscrever em todas as

formações discursivas historicamente possíveis – somente nas formações devidas. A

censura impõe o silêncio não somente calando o interlocutor, mas o impedindo de

sustentar outro discurso.

3. Cobertura de O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde sobre guerrilha

No período da Guerrilha do Araguaia (1972-1975) e durante todo o governo Médici

(1969-1974), sob a vigência do AI-5, apenas duas matérias foram publicadas nos

periódicos nacionais de grande circulação sobre o assunto. Elas foram veiculadas nos

dias 24 e 25 de setembro de 1972, respectivamente, por dois jornais do mesmo grupo

empresarial, O Estado de S. Paulo e o Jornal da Tarde, apesar de os dois terem sofrido

censura prévia até 1975.

Somente dois anos e meio após a retirada do Exército da região do Araguaia, foram

publicadas outras matérias sobre o assunto, nos periódicos Coojornal, Movimento,

Jornal da Tarde e IstoÉ. Segundo João Batista de Abreu, esta é “uma situação na qual a

ausência de informação é vista como informação, porque traz subjacente às matérias em

destaque a idéia de que nada de mais importante ocorreu nas últimas 24 horas, além do

que está publicado” (ABREU, 2000, p. 159).

Foram publicados 14 textos que tratavam de guerrilhas no Brasil do início do

governo Médici até o final das movimentações armadas no Araguaia (1969 a 1975), nos

jornais Estadão e Jornal da Tarde (JT) – sete em cada um. Trabalharemos, nesse

momento, excetuando as matérias específicas sobre a Guerrilha do Araguaia. Das 12

restantes, sete têm como tema movimentos que já haviam sido descobertos e derrotados,

alguns até anos antes da publicação. Dentre as outras cinco, uma – do Jornal da Tarde

de 12 de agosto de 1969 – relata movimentações que a matéria do dia seguinte anuncia

como desarticuladas, com “aparelhos descobertos e desmantelados”.

Na matéria do JT de 30 de outubro de 1969, intitulada “O Exército cerca seus

guerrilheiros”, de autor desconhecido, o movimento não tinha sido derrotado, mas seu

Page 82: Censura e imprensa na história do Brasil

fracasso já estava previsto na abertura: “Os 2.300 homens das fôrças [sic] regulares

cercaram os guerrilheiros numa fazenda, perto de Salesópolis. No máximo hoje ou

amanhã – segundo prevê o Estado-Maior das fôrças [sic] regulares – guerrilha será

derrotada”.

Uma outra matéria do JT que não foi contabilizada dentre as que tratam de

movimentos já vencidos também não diz respeito a uma guerrilha que estivesse se

desenrolando naquela época. Em “Um nôvo plano contra a guerrilha?”, do dia 28 de

dezembro de 1970, o repórter buscou indícios de qual seria a nova política de segurança

do Estado, apontando a atuação do Ministério da Educação, cujo titular era Jarbas

Passarinho, e o reforço na segurança das regiões Norte e Centro-Oeste como ações

contra o movimento armado.

Das matérias do Estadão, apenas duas não falavam sobre guerrilhas ou tentativas de

organizá-las já frustradas. Uma, cujo título é “Mapas, armas contra guerrilhas”, de 2 de

agosto de 1970, não se refere a movimento armado uma vez sequer no corpo do texto.

Seu subtítulo estabelece uma relação entre levantamentos topográficos e prevenção a

guerrilhas: “A cartografia poderá se revelar muito util [sic] no combate às guerrilhas

rurais, segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em

entrevista por escrito, fornecida ao ‘Estado’”. No decorrer do texto, contudo, o que se

encontra são detalhes sobre como se fazer um mapa, o significado de escalas e a

importância de satélites.

Quase dois meses depois da reportagem especial que tratava do movimento armado

no Araguaia, veiculada nos dois jornais da família Mesquita, uma matéria publicada no

Estadão faz referência à guerrilha do sul do Pará. Em 16 de novembro de 1972, o texto

intitulado “Brasília ignora foco de terror” diz respeito a uma possível organização de

movimentos armados no norte de Mato Grosso, mas é feita uma comparação com a

Guerrilha do Araguaia – sem, no entanto, mencionar esse nome. O termo utilizado foi

“foco guerrilheiro da região Xambioá-Araguatins, Norte de Goiás”.

Page 83: Censura e imprensa na história do Brasil

Nessa matéria, membros do governo reclamam da existência de boatos sobre

possíveis focos guerrilheiros. Isso também acontece nos textos “Um novo inimigo

procura a guerrilha. E vai atacar”, de 12 de agosto de 1969, e “E um cerco a seis

homens do terror”, de 13 de agosto de 1969, ambas do JT, a própria imprensa é

acusada de disseminar boatos.

– Os moradores da área fantasiam muito; e existem jornalistas

que acreditam nisso e publicam tudo como se fosse verdade. E

se isso que estamos fazendo aqui for um simples treinamento? –

pergunta um oficial do Corpo de Fuzileiros (SOUZA e

STRAUSS, 12 ago. 1969).

– Por falta de informações oficiais, vários órgãos de imprensa

têm dado a conhecer ao público meias verdades – começou o

capitão Paulo Freire, em sua entrevista de ontem, explicando

que ali estava para evitar que isso continuasse acontecendo

(JORNAL DA TARDE, 13 ago. 1969).

Observa-se que uma característica dessas matérias é o grande peso das fontes

oficiais, fato já comum na imprensa brasileira. No contexto específico da ditadura

militar, contudo, divulgar os fatos a partir de declarações e de ações de autoridades era

uma espécie de disfarce para encobrir certos aspectos que poderiam ser barrados pela

censura.

Algumas matérias relatam a maneira como os grupos de oposição à ditadura

conquistam aliados de forma que as palavras “guerrilheiro”, “subversivo” e “terrorista”,

embora possuam cargas semânticas diferentes, fiquem todas num campo negativo de

sentidos. Na matéria “Não houve julgamento”, no Estadão de 8 de janeiro de 1969, fala-

se de “aliciamento de novos membros”. Em matéria do mesmo jornal, em 1971 –

“Goiás abrigou durante 11 anos um Estado comunista”1 –, a conquista de membros para

a luta armada também é colocada de forma difamatória: “Recorrendo a um proselitismo

dialetico [sic] com acenos de melhoria e possibilidade de facil [sic] enriquecimento,

1 A matéria tem como tema as Ligas Camponesas, já desbaratadas desde o início do regime.

Page 84: Censura e imprensa na história do Brasil

dirigentes comunistas reuniram, em torno de alguns lideres [sic], diversos grupos de

lavradores”.

Outra característica dessas matérias é que lhes falta maior contextualização. Alguns

textos mais parecem tramas recheadas de personagens, surpresas e reviravoltas do que

matérias jornalísticas.

4. As matérias sobre a Guerrilha do Araguaia

O Estado de S. Paulo se posiciona como um jornal liberal, procurando se afirmar

como defensor da família, da propriedade e da liberdade de imprensa. Seus

representantes procuram dar a ele uma feição de independência em relação a governos e

partidos. Afirmando ser contra extremismos de esquerda e de direita, o jornal preferia

pender para esta última e até renunciar aos princípios de liberdade se o caso fosse o

enfrentamento do comunismo.

Foi esse veículo e o vespertino Jornal da Tarde, fundado em 1965, que publicaram,

na imprensa nacional de grande circulação, em setembro de 1972, as duas únicas

matérias sobre a Guerrilha do Araguaia no período em que ela aconteceu. Enquanto em

O Estado de S. Paulo, o título é: “Em Xambioá, a luta é contra guerrilheiros e atraso”, o

Jornal da Tarde trouxe o título “A luta na selva, contra terroristas e doenças”, seguido

da seguinte abertura: “Cinco mil homens do Exército, Marinha e Aeronáutica estão

combatendo terroristas nas matas da margem esquerda do rio Araguaia, em Goiás. Na

cidade de Xambioá, nessa região, o Exército está iniciando a operação ACISO”.

O texto jornalístico, ainda que não atinja plena imparcialidade, sempre busca ser

objetivo, porque isso daria credibilidade a ele em relação ao leitor. Porém, “a ordenação

das informações obedece a uma seleção arbitrária e o relato submete-se ao sujeito da

narrativa” (ABREU, 2000, p. 141). Assim, há vários níveis de intervenção no texto.

A matéria de O Estado de S. Paulo traz a guerrilha logo no título. A abertura da

matéria fala sobre a operação Ação Cívico e Social (Aciso), que buscava conquistar o

apoio da população urbana da região contra a influência dos guerrilheiros, e outras

ações do Exército contra o movimento. Porém, nos dois primeiros parágrafos da

matéria, só se encontram informações sobre a operação Aciso e a criação de um

Batalhão de Infantaria da Selva. Embora com outro título, o Jornal da Tarde traz

informações semelhantes, com a valorização da operação Aciso. A partir daí, os textos

Page 85: Censura e imprensa na história do Brasil

dos dois jornais seguem praticamente iguais. As diferenças são que o JT traz menos

subdivisões no texto e utiliza os termos “terrorismo” e “terrorista” em substituição a

“guerrilha” e “guerrilheiro”, mais usados na matéria do Estadão. É com ela que vamos

trabalhar a partir de agora.

Na retranca O Município, o primeiro parágrafo fala de guerra sem explicar que

conflito era esse nem suas razões. O segundo parágrafo descreve a política da cidade,

com detalhes sobre o prefeito de Xambioá, um dos principais municípios da região. Em

Militares e Políticos, o repórter exalta os benefícios que os militares trouxeram, como a

abertura de estradas, o que, segundo ele, proporcionava desenvolvimento para a região.

É possível notar que o fornecimento desse tipo de benefício era um meio para facilitar o

combate à guerrilha.

A imprensa da época usava os termos “guerrilheiro” e “terrorista” como sinônimos.

Embora os significados se misturem, “a identidade ‘terrorista’ está impregnada da idéia

de transgressão e ameaça não apenas ao Estado, mas à própria sociedade” (ABREU,

2000, p. 161). A matéria do Estadão e do JT tentou esclarecer o leitor sobre essas

diferenças:

A guerrilha já deixou mortos e feridos entre os militares, mas a

expressão “guerrilheiros” não é empregada. Os militares usam o

termo “terroristas”, afastando, dessa forma, qualquer conotação

aventureira ou romantica [sic], que a palavra guerrilheiro possa

implicar (O ESTADO DE S. PAULO, 24 set. 1972).

Mesmo com essa ressalva, o próprio repórter utiliza os dois termos

indiscriminadamente ao longo da matéria, o que talvez não se devesse a uma tomada de

posição ideológica do jornal, mas apenas a descuido e a uma tentativa de não repetir

palavras. Mas a escolha dos termos utilizados é de grande relevância.

Figuras como “negro”, “comunista”, “puta” têm um conteúdo cheio

de preconceitos, aversões e hostilidades, ao passo que outras como

“branco”, “esposa” estão impregnadas de sentimentos positivos.

Não devemos esquecer que os estereótipos só estão na linguagem

Page 86: Censura e imprensa na história do Brasil

porque representam a condensação de uma prática social (FIORIN,

1993, p. 55).

Nos dois jornais, a matéria sobre o Araguaia é a de maior destaque da página: seu

título se encontra em local de visão privilegiada e é destacado por um tipo de fonte

diferente daquele utilizado no corpo do texto e do que é usado no título da outra

matéria. Não há classificação do conteúdo da reportagem, se política ou policial. Em O

Estado de S. Paulo, informa-se apenas que se trata de trabalho de um enviado especial.

Taís Morais e Emano Silva afirmam que o autor da matéria publicada no Estadão foi

Henrique Gonzaga Júnior. Mas o jornalista Fernando Portela, que ainda trabalha no

Jornal da Tarde e, na época, era editor de reportagens, diz não lembrar quem foi o autor

das matérias, mas acredita que tenha sido o correspondente em Belém. Segundo ele, o

texto não especifica que os acontecimentos no Araguaia constituíam uma guerrilha,

definindo-os apenas como um “movimento estranho”, e o jornal não sofreu nenhum tipo

de retaliação2.

5. Documento histórico

As duas matérias sobre a Guerrilha do Araguaia resultaram “do esforço das

sociedades históricas para impor ao futuro – voluntária ou involuntariamente –

determinada imagem de si próprias” (LE GOFF, 1996, p. 548), por isso, segundo esse

conceito, podem ser consideradas documentos históricos. Embora Le Goff não se refira

a textos jornalísticos, e seu trabalho seja mais voltado para a história medieval, suas

considerações sobre documento e monumento históricos são interessantes para esta

pesquisa.

Paul Zumthor defende uma distinção entre monumento e documento. O primeiro

responde a uma intenção de edificação, “no duplo significado de elevação moral e de

construção de um edifício”. De acordo com Zumthor, o segundo responde apenas às

necessidades da intercomunicação corrente. Para ele, “o escrito, o texto, é mais

freqüentemente monumento do que documento”. O que distingue um tipo de texto do

outro é “esta elevação, esta verticalidade” que a gramática confere a um documento e,

2 Fernando Portela em entrevista à autora, por correio eletrônico, em mensagem recebida em 19 de novembro de 2004.

Page 87: Censura e imprensa na história do Brasil

assim, ele é transformado em monumento (ZUMTHOR apud LE GOFF, 1996, p. 544-

545).

Transportando essas reflexões para esta pesquisa, as matérias jornalísticas sobre a

guerrilha também seriam documentos, pois constituem escritos deixados pela sociedade

da época sobre esse assunto. O valor documental se torna maior por haver poucos

registros sobre o tema – na história oficial, a guerrilha praticamente não existiu.

Esses documentos são todos verdadeiros, por serem legados da sociedade da época,

e falsos, por terem sido construídos para simbolizar tal sociedade na posteridade,

mesmo que involuntariamente. Entretanto, a história se faz mesmo sem documentos

escritos, porque ela é feita “com tudo o que, pertencendo ao homem, depende do

homem, serve o homem, exprime o homem, demonstra a presença, a atividade, os

gostos e as maneiras de ser do homem” (LE GOFF, 1994, p. 540).

6. Memória, oralidade e escrita

A memória coletiva, definida por Pierre Nora como “o que fica do passado no

vivido dos grupos ou o que os grupos fazem do passado” (NORA apud LE GOFF, 1996,

p. 472), pode ser considerada um dos fatores de coesão das comunidades. Já Le Goff

utiliza o termo “memória coletiva” somente para as sociedades sem escrita, mas aqui a

expressão se refere a todo tipo de sociedade, inclusive a atual. O próprio Le Goff afirma

que “a verdade é que a cultura dos homens sem escrita é diferente, mas não

absolutamente diversa” (LE GOFF, 1996, p. 428).

A idéia de memória é um dos fatores que mantêm comunidades, podendo ser

exemplificada com a memória nacional. A memória também é importante para a

identidade de classe, de etnias e de “minorias”, sendo fundamental em lutas contra a

opressão e a dominação. “Valorizada, então, quer por sua participação na construção da

identidade da comunidade, quer pelo papel que desempenha no fortalecimento e

emancipação dos fracos, ela não pode nem deveria ser esquecida” (LOVISOLO, 1989,

p. 16).

Apesar disso, o Ocidente não formou profissionais da memória, que deveriam

repassar as tradições para as gerações futuras. Nos séculos XIV e XV, a “arte da

memória” era ensinada e valorizada nas escolas. Mesmo entre conhecedores da escrita,

“a concepção da memória que transmitem implica a idéia de uma presença real dos

Page 88: Censura e imprensa na história do Brasil

corpos: um laço, em particular, entre a memória e a vista, fundado sobre a função da

imagem e de suas relações com a palavra” (ZUMTHOR, 1993, p. 141).

Nas sociedades sem escrita, segundo Paul Zumthor, a poesia tem a função primária

de conferir coesão e estabilidade ao grupo. “Por isso, os modos de difusão oral

conservarão um status privilegiado, para além das grandes rupturas dos séculos XVI e

XVII. A voz poética é, ao mesmo tempo, profecia e memória” (ZUMTHOR, 1993, p.

139). No entanto, ele afirma que, com seu surgimento, a escrita se integra a outras

tradições.

O impresso, ligado ao desenvolvimento urbano, provoca significativas mudanças

para a memória coletiva. As alternativas que o homem “poderia ter estiveram limitadas

por sua experiência imediata do passado, em sua comunidade, e pelo que lhe foi

transmitido oralmente por seus antepassados” (LERNER apud MEDINA, 1978, p. 19-

20) até o surgimento da escrita e a circulação dos primeiros impressos.

Com o impresso não só o leitor é colocado em presença de uma

memória coletiva enorme, cuja matéria não é mais capaz de

fixar integralmente, mas é freqüentemente colocado em

situação de explorar textos novos. Assiste-se então à

exteriorização progressiva da memória individual; é do exterior

que se faz o trabalho de orientação que está escrito no escrito

(LEROI-GOURHAN apud LE GOFF, 1996, p. 457).

Logo após o surgimento da escrita, ela era utilizada mais seletivamente para aquilo

que não se podia memorizar completamente, como o calendário. Numa espécie de

esboço de escrita, eram feitas inscrições em materiais resistentes como pedra, metal,

argila e cera. Robert reflete sobre a função da epigrafia na Grécia e Roma antigas, onde

foram construídos verdadeiros monumentos para a perpetuação da memória,

constituindo aquela que se poderia chamar de “civilização da epigrafia”. As inscrições

estavam em todos os locais públicos – templos, cemitérios, avenidas – forçando a

comemoração e perpetuação da lembrança. A pedra e o mármore eram o suporte da

memória. “Os ‘arquivos de pedra’ acrescentavam à função de arquivos propriamente

Page 89: Censura e imprensa na história do Brasil

ditos um caráter de publicidade insistente, apostando na sustentação e na durabilidade

dessa memória lapidar e marmórea” (ROBERT apud LE GOFF, 1996, p. 432).

A partir dessa idéia, a memória pode ser entendida como “propriedade de conservar

certas informações” através de “um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o

homem pode atualizar impressões ou informações passadas”. Ela não se desvincula da

intenção de se perpetuar determinada imagem para as gerações futuras (LE GOFF,

1996, p. 423). Tanto através da construção de monumentos quanto por meio de

discursos encampados em entrevistas a pesquisadores, existe o propósito de transmitir

aquilo que interessa. Por isso, no sentido desenvolvido por Le Goff, a memória funciona

também como monumento.

As idéias desenvolvidas por Iúri Lotman, da Escola Semiótica de Tartu Moscou,

deram grande contribuição para os estudos da memória, aproximando cultura, história e

comunicação. Ele analisa a cultura como memória não-hereditária de uma comunidade.

Por isso, segundo Lotman, a história intelectual da humanidade é uma luta pela

memória, situando a origem da história e do mito como forma de memória coletiva. De

acordo com ele, cultura é memória, porque ambas constituem uma espécie de

“bagagem”, o conjunto de referências a que nos remetemos. Compartilhar algum grau

de memória é essencial para que as pessoas se comuniquem. Um exemplo dessa idéia é

que hoje Hamlet não é somente uma peça de Shakespeare. É a memória de todas suas

interpretações anteriores e de todos os eventos históricos que ocorreram fora do texto,

mas que a peça pode evocar.

7. Memória hegemônica e memórias subterrâneas

A memória nacional (histórica e coletiva) costuma ser valorizada, e sua perda,

através, por exemplo, da colonização de um determinado país, é considerada negativa.

As funções positivas da memória coletiva, enfatizadas por autores como Maurice

Halbwachs, compõem um pensamento segundo o qual ela é dotada de força, duração e

estabilidade. Para Halbwachs, a memória coletiva é “uma corrente de pensamento

contínuo que nada tem de artificial, já que retém do passado somente aquilo que ainda

está vivo ou capaz de viver na consciência do grupo que a mantém” (HALBWACHS,

1990, p. 81-82).

Page 90: Censura e imprensa na história do Brasil

Já Michael Pollak insere a questão da dominação e da violência simbólica no

conceito de memória coletiva. São muitas as memórias coletivas dentro de uma

sociedade, e todas coexistem pacificamente, integrando-se sem dificuldades à memória

nacional – dominante e hegemônica. Mas nem todas as memórias coletivas se

enquadram nessa situação. As memórias de perseguidos políticos – e suas redes

familiares e de amizade, por exemplo – costumam constituir memórias subterrâneas.

Em desacordo com a memória nacional, os grupos portadores de memórias

subterrâneas, em geral, silenciam até que mude o contexto político-social que os impede

de manter uma posição diferente da memória hegemônica e enquadrante.

Segundo Pollak, o problema de toda memória hegemônica é a sua legitimação, já

que ela não sobreviveria se fosse simplesmente imposta à força. Os militares

justificaram o enquadramento da memória propagando as idéias de progresso

econômico e de que o Brasil precisava temer e barrar a “ameaça comunista”. Tiveram

papel essencial nesse trabalho as campanhas da Assessoria Especial de Relações

Públicas (Aerp).

Por outro lado, as memórias subterrâneas têm como empecilho o silêncio que é

imposto a elas e precisam manter vivas as lembranças até que o contexto sociopolítico

permita que aflorem. Então, essa memória proibida e clandestina ocupa a cena cultural,

comprovando, algumas vezes, o abismo que separa a sociedade civil e a ideologia do

grupo que pretende alcançar dominação hegemônica. Nesse momento, surgem as

reivindicações das “minorias” que detêm as memórias subterrâneas.

No caso das famílias dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia e de outros

perseguidos políticos durante o regime de 1964, o período de silêncio não se prolongou

muito. Cedo, as famílias começaram a se organizar para denunciar o que lhes era

narrado pelos parentes detidos e presos e a mobilizar outros setores da sociedade civil.

Esse movimento foi reforçado quando os sobreviventes de cárceres e sessões de tortura

voltaram para suas casas: eles tornaram público o que acontecera com aqueles que não

puderam retornar. As denúncias de crimes cometidos pelo regime ditatorial começaram

a ser feitas desde o golpe, principalmente a partir de organizações formadas por

familiares de presos e de desaparecidos políticos, que o governo não tardou a reprimir.

Em 1969, a União Brasileira de Mães foi cassada. No ano seguinte, contudo,

formaram-se entidades como o Movimento Feminino Pela Anistia e Liberdades

Page 91: Censura e imprensa na história do Brasil

Políticas e os Comitês Brasileiros pela Anistia, que se iniciaram no Rio de Janeiro e em

São Paulo, espalhando-se depois para outros Estados brasileiros. Eram expressões de

uma reivindicação que tomou as ruas principalmente em 1978 – pela anistia ampla,

geral e irrestrita dos presos e exilados políticos. Como reflexo da pressão desses grupos,

nesse ano, Geisel aboliu o AI-5 e restituiu o habeas-corpus. Contudo, ele avançou nas

reformas que aumentavam o poder do Executivo, como o de ratificar medidas de

emergência e de decretar estado de sítio sem a legitimação do Congresso.

A busca das famílias por seus parentes desaparecidos, apesar de ter começado logo

que se instalou o regime ditatorial no Brasil, não fazia parte da cultura hegemônica na

época. Esse silêncio era resultado de uma política que impedia determinadas questões,

relativas a setores sociais perseguidos pela ditadura, de aflorar para outras camadas que

ficaram inebriadas com o “milagre econômico” e com o sucesso da seleção brasileira de

futebol.

Apesar de, durante a ditadura militar brasileira, questões como perseguição, prisão e

tortura por motivos políticos terem feito parte somente da cultura de pessoas cerceadas

pelo regime, elas atualmente constituem a memória nacional. Quando se iniciava a

“abertura”, ainda nos anos de chumbo, no fim da década de 1970 e início da década

seguinte, a maior parte da população começou a tomar conhecimento do lado obscuro

do governo militar. Depois, a mídia eletrônica, embora beneficiada com concessões de

funcionamento autorizadas pelos militares, aproveitou-se do interesse despertado sobre

o tema, veiculando-o na televisão através de novelas e seriados3.

8. Considerações finais

A Guerrilha do Araguaia, que teve reduzida cobertura da imprensa, aconteceu numa

região até hoje pouco presente no cenário nacional. Isso só mudou de forma mais

acentuada a partir do ano 2000, quando procuradores da República foram ao Araguaia

para colher informações junto a moradores, a partir de solicitação da Comissão de

Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. O episódio suscitou o debate sobre a

abertura de arquivos militares, um tema que permanece presente na imprensa. Devido

ao silenciamento imposto pela ditadura, a Guerrilha do Araguaia continua sendo um

acontecimento obscuro na história nacional. Com a coerção provocada pelo regime, o

3 Um exemplo é a minissérie “Anos Rebeldes”, que estreou na Rede Globo em 1992.

Page 92: Censura e imprensa na história do Brasil

não-dito constituía o que não era exteriorizado, mas subsistia num discurso interior. Por

isso, as memórias da guerrilha ainda são subterrâneas; sobreviveram à memória da

sociedade englobante4 através de redes afetivas e políticas.

9. Referências bibliográficas

ABREU, João Batista de. As manobras da informação: análise da cobertura

jornalística da luta armada no Brasil: (1965-1979). Niterói: EdUFF; Rio de Janeiro:

MAUAD, 2000.

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1972. Autor desconhecido.

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1972. Autor desconhecido.

CÊRCO ao terror em 5 Estados. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 5 de maio de 1970.

Autor desconhecido.

COMANDOS, o pior inimigo da guerrilha. Jornal da Tarde. São Paulo, 28 de abril de

1970. Autor desconhecido.

EM XAMBIOÁ, a luta é contra guerrilheiros e atraso. O Estado de S. Paulo. São

Paulo, 24 de setembro de 1972. Autor desconhecido.

E UM CERCO a seis homens do terror. Jornal da Tarde. São Paulo, 13 de agosto de

1969. Autor desconhecido.

FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 1993. 3ª ed.

GASPARI, Elio. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

4 Termo usado por Michael Pollak para se referir às pessoas que formam a sociedade e compartilham a memória “oficial e dominante” (Cf. Bibliografia).

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GOIÁS abrigou durante 11 anos um Estado comunista. O Estado de S. Paulo. São

Paulo, 11 de setembro de 1971. Autor desconhecido.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, Editora Revista dos

Tribunais, 1990.

JORGE, Miguel. Crime na Amazonia. Guerrilheiros. Jornal da Tarde, São Paulo, 20

de maio de 1969.

LE GOFF, Jacques. História e memória. 4ª edição. Campinas, SP: Editora da

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1970. Autor desconhecido.

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Autor desconhecido.

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– 2. ed. rev. e aum. Campinas: Pontes, 1987.

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SOUZA, Inajar; STRAUSS, João Victor. Um novo inimigo procura a guerrilha. E

vai atacar. Jornal da Tarde, 12 de agosto de 1969.

ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz. São Paulo: Cia das Letras, 1993.

Page 95: Censura e imprensa na história do Brasil

Agradecemos a Deus, aos nossos pais, aos

professores, e a todos que de alguma forma

contribuíram para o sucesso desse trabalho.

Page 96: Censura e imprensa na história do Brasil

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................6

2 CONJUNTURA HISTÓRICA (1945 – 1964)...................................................7

2.1 Internacional...............................................................................................7

2.2 Brasil...........................................................................................................8

2.3 Maranhão....................................................................................................9

Dedicamos a todos aqueles que acreditam na

função social dos veículos de comunicação que

apesar do caráter mercadológico deve, antes de

tudo, suprir a necessidade básica da população: o

direito a informação.

Page 97: Censura e imprensa na história do Brasil

3 SOBRE JOSÉ GUIMARÃES NEIVA MOREIRA..........................................12

4 JORNAL DO POVO......................................................................................15

5 AMPLIANDO HORIZONTES: a causa continua..........................................17

6 CONCLUSÃO...............................................................................................20

REFERENCIAS..................................................................................22

ANEXOS.............................................................................................24

NEIVA MOREIRA E A IMPRENSA MARANHENSE: O JORNAL DO POVO *

Amanda Dutra Ramos**Ana Lívia Leitão Monteiro

Daniela Marques dos AnjosSuelaine Soraia Cantanhede Pereira

RESUMO

Reconstitui a história do Jornal do Povo que foi um dos diários mais influentes no

cenário maranhense de 1950 a 1964. Resgata-se a produção jornalística e política de Neiva

Moreira e a fundação desse periódico financiado inicialmente pelo líder nacional do Partido

Social Progressista (PSP), Adhemar de Barros. Situa-se o jornal na conjuntura sócio-política da

Page 98: Censura e imprensa na história do Brasil

época a partir das disputas travadas entre as oposições coligadas e o vitorinismo até o período

em que foi fechado pela ditadura militar.

Palavras-chave: Jornal do Povo. Imprensa Maranhense. Mídia e política

1 INTRODUÇÃO

Neste artigo científico abordaremos a trajetória do jornalista e político Neiva Moreira e

sua importância na imprensa maranhense, a frente do periódico conscientizador: Jornal do

Povo. Dentro de um contexto de Guerras, redemocratização e clientelismo político. No afã de

resgatar e mostrar a um público maior sua relevância nos fatos ocorridos entre 1945 a 1964.

Período de destaque que poderia ser considerado, assim como, no século XIX – A ERA DAS

REVOLUÇÔES – que segundo o historiador Eric J. E. Hobsbawm, foi marcado

_________________

*Artigo apresentado às disciplinas de História da Comunicação e Métodos e Técnicas de Pesquisas Bibliográficas.

** Alunas do 1° período do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão.pelo fim das monarquias absolutistas como ocorreu na Revolução Francesa (final do século

XVIII e início do século XIX); crescimento da classe proletariada e a ascensão histórica da

burguesia que apoderou-se do poder político e engendrou condições para o desenvolvimento

do capitalismo.

Contudo, o número alarmante de mortos com as Guerras, as ditaduras na América

Latina, a causa do mundo islâmico e as mudanças e contradições do desenvolvimento do

mercado mundial imposto pela economia capitalista transformou o século XX em A ERA DOS

EXTREMOS, como afirma Hobsbawm. No panorama internacional vimos findar o trâmite de um

líder nazista em transformar a humanidade numa raça ariana, e os veículos de comunicação

crescerem de acordo com a hegemonia do capitalismo reinante.

No Brasil, após oito anos de regime ditatorial assistimos perplexos a deposição de

Getúlio Vargas que optou por sair da vida para entrar na história. Em meio a Guerras e suicídio,

no Maranhão, a consciência das massas entrava em choque com a estrutura política vitorinista

da sociedade. Através de um líder populista-progressista e do seu matutino que denunciava e

mostrava ao povo as raízes de sua miséria e descaso que perduravam por anos, a população

ganhava força e esclarecimento, tornando-se politicamente ativa.

2 CONJUNTURA HISTÓRICA (1945 – 1964)

Page 99: Censura e imprensa na história do Brasil

No período que o Jornal do Povo circulou na imprensa maranhense (1950 – 1964), o

mundo vivia sob a influência do Pós-guerra. Nacionalmente, com a queda do Estado Novo, em

1945, o Brasil tinha iniciado sua redemocratização que perdurou até 1964 com o Golpe Militar.

No Maranhão o quadro político e social era marcado pelas disputas político-partidárias e

tensões sociais.

2.1 Internacional

Dentro do panorama internacional, o século XX foi marcado por duas grandes guerras: a

Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). Com

término desta, o mundo caracterizou-se pelo fortalecimento do socialismo e pela hegemonia

dos Estados Unidos nos países capitalistas.

A partir do Pós-guerra, houve a bipolarização mundial entre o bloco capitalista e o socialista

e iniciou-se a Guerra Fria, que consistia numa “luta ideológica entre os Estados Unidos e a

União Soviética pela manutenção e expansão de suas áreas de influência” (CACERES, 1996,

p.411).

2.2 Brasil

Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado das democracias lideradas

pelos Estados Unidos, houve as primeiras manifestações contra o regime ditatorial,

corporificado no Estado Novo. Em 1945, com a derrubada de Getúlio Vargas do poder, o país

entrou num processo de redemocratização. No ano seguinte, seguindo a lógica da maioria dos

países da América Latina, o Brasil iniciou o seu período populista que se estendeu até 1964

com o Golpe Militar.

Nesse período, o primeiro presidente eleito foi Eurico Gaspar Dutra, do PSD (Partido Social

Democrático). Seu governo foi marcado pela repressão aos comunistas, no qual o Partido

Comunista foi extinto devido à ameaça de sua representatividade na Assembléia Constituinte e

o início da Guerra Fria. Nesta o Brasil apoiou os Estados Unidos e rompeu relações

diplomáticas com a URSS. Ainda nesse governo, a primeira emissora de televisão da América

Latina foi inaugurada em São Paulo, por Assis Chateaubriand (PSD) que posteriormente se

elegeu senador pelo Maranhão, pois não conseguiu se reeleger pelo seu estado natal, Paraíba.

Após o populismo refreado de Dutra, os partidos que tinham referências populistas

se fortaleceram, como o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), liderado por Getúlio

Vargas, e o PSP (Partido Social Progressista), que tinha como líder o maior

Page 100: Censura e imprensa na história do Brasil

representante populista de São Paulo, Adhemar de Barros. Em 1951, Getúlio voltou ao

Poder Executivo com o apoio de Adhemar de Barros, permanecendo até 1954, quando

sob a ameaça de deposição, se suicidou e Café Filho, o vice-presidente, assumiu o

cargo.No ano seguinte, outro candidato populista, Juscelino Kubitschek, foi eleito presidente e

iniciou um governo marcado pela industrialização e crescimento econômico financiado pelo

capital estrangeiro, que trouxe sérios problemas sociais e econômicos, como as grandes

disparidades regionais e constantes êxodos para as cidades industrializadas.

Nas eleições de 1960, Jânio Quadros, inicialmente candidato pelo Partido Democrata

Cristão e depois pela UDN (União Democrática Nacional), ganhou as eleições e adotou uma

política antiinflacionária ortodoxa e uma política externa independente, que foi seguida por João

Goulart até 1964. Essa postura do presidente chegou a reatar as relações diplomáticas com os

países socialistas, levando a UDN a romper com ele. A denúncia de que ele pretendia dar um

golpe, o levou a renúncia.

Essa vacância no Poder gerou impasses sobre a legalidade da sucessão à presidência e

deixou o país à beira do caos e de uma guerra civil. A solução encontrada pelo Congresso foi

adoção do Parlamentarismo, que em tese significa que o poder Executivo é chefiado pelo

primeiro-ministro. Assim, João Goulart assume a presidência, em 1961, num efêmero sistema

parlamentarista e através de um plebiscito volta-se ao Presidencialismo em 1963. No entanto, o

regime democrático estava em risco, o país era ameaçado pelas tensões sociais, crises política

e econômica e pelo conflito entre a esquerda e a direita radicais. E na madrugada de primeiro

de abril de 1964, João Goulart foi derrubado: começa o Golpe Militar.

2.3 Maranhão

Após a redemocratização do Brasil, no sistema politíco-partidário maranhense o ex-

interventor, Paulo Ramos (1937 – 1945), teve sua participação reduzida e o pernambucano,

Victorino Freire, ascendeu na chefia política estadual.

Victorino entrou na política maranhense em 1933, quando foi nomeado secretário no

governo de Martins Almeida, com a incumbência de organizar o PSD para as eleições da

Câmara Federal e da Constituinte Estadual em 1934. Não tendo êxito na eleição de um

candidato pessedista e enfrentando a hostilidade de Paulo Ramos, ele regressou ao Rio de

Janeiro.

Com a deposição de Vargas, Victorino Freire retornou ao Maranhão como articulador da

campanha de Eurico Gaspar Dutra à Presidência da República e (re)organizador do PSD

maranhense. Em 1945, com a eleição de dois senadores e seis deputados federais

pessedistas, além da influência na indicação do novo interventor, Saturnino Bello, ele iniciou

Page 101: Censura e imprensa na história do Brasil

sua ascendência na política maranhense, como afirma Wagner Cabral (2004, p.266), “estava

dado um passo decisivo na trajetória ascendente da ‘raposa’ ao comando político estadual,

com a posterior formação de sua corrente política, o vitorinismo, inaugurando o período da

Ocupação do Maranhão”.

No entanto, a hegemonia vitorinista foi contestada tanto pela oposição como pelas

dissidências dessa corrente. No quadro partidário, a oposição se reuniu numa frente chamada

de Oposições Coligadas (ver anexo 1). Segundo Neiva Moreira, esta coligação não era de

esquerda, mas “representava um passo à frente no quadro político e social do estado,

dominado então pelas oligarquias rurais” (MOREIRA, 1989, p.45).

Em destaque na frente oposicionista, o PSP/MA, com o apoio de Adhemar de Barros

(candidato à Presidência da República), foi o segundo maior partido do Estado e o único a

desenvolver formas de populismo através do deputado federal Neiva Moreira. Apesar de nunca

ter conseguido derrotar o vitorinismo nas eleições, as Oposições Coligadas elegeram vários

parlamentares e aglutinaram os diversos segmentos sociais.

As campanhas eleitorais de 1950 foram bastante agitadas e provocaram o interesse da

população. Em agosto deste ano, Adhemar de Barros, em campanha a favor de Getúlio

Vargas, veio à São Luís (ver anexo 2). As atividades programadas para recepcioná-lo foram

sabotadas pelos governistas e o comício que estava marcado para ser na Praça João Lisboa

foi transferido, na última hora, para a Praça Deodoro, com objetivo de esvaziar a manifestação.

As sabotagens não pararam por aí, quando Adhemar iniciou o seu discurso, a energia elétrica

foi cortada. Após o comício, uma passeata direcionou-se à Praça João Lisboa, onde a

população partiu para o confronto com a polícia e o operário João Evangelista de Sousa foi

morto.

Desse modo, as eleições de 1950 se realizaram sob acusações de fraudes eleitorais e

Eugênio Barros (ligado ao vitorinismo) venceu Saturnino Bello, candidato das oposições,

iniciando uma prolongada disputa jurídica no TRE. Para agravar a situação, o candidato das

oposições sofreu um ataque cardíaco e o TRE estadual ante o problema inédito decidiu que

não seriam realizadas eleições suplementares. Logo, Eugênio Barros foi diplomado governador

do Maranhão com o atestado de óbito de Saturnino Bello. Este foi o estopim do movimento

político, articulado pelas oposições, conhecido como Greve de 1951, que se deu em dois

momentos: fevereiro/março e setembro/outubro (ver anexo 3), chegando a reunir de três a

quatro mil pessoas por dia em praça pública.

O povo instigado pelos líderes oposicionistas foi às ruas e acampou na chamada praça

João Lisboa (ver anexos 4 e 5). Essa mobilização e agitação popular levaram a capital

maranhense a ser acunhada de Ilha Rebelde. Segundo a análise de Negrão de Lima, o “caso

maranhense” não era apenas uma crise política, mas também social. A crise - apesar de

provinciana - teve destaque na mídia nacional e internacional.

Page 102: Censura e imprensa na história do Brasil

A Greve de 1951, embora não tenha atingido êxito na deposição de Eugênio Barros,

sedimentou os sentimentos da oposição de combate à corrupção e à fraude eleitoral, que

preconizava a libertação do Maranhão das rédeas da oligarquia vitorinista.

Nesse quadro político, surgiu o nome de José Sarney na esfera pública, passando de

assessor do governo de Barros a candidato a deputado federal através do “apadrinhamento” de

políticos fortes, pois “foi uma flor de estufa, plantada e cultivada no Palácio dos Leões: apenas

a criatura (Sarney) engoliu o criador (Vitorino)” (COSTA, 2004, p.285).

Até a década de 1960, a carreira política de Sarney foi marcada pelos seus “saltos” entre o

governo e a oposição. Inicialmente, candidatou-se pelo grupo vitorinista. Depois, em 1955, ele

passou para o grupo dos dissidentes do PSD que entraram na UDN. Em 1958, ele foi eleito a

deputado federal pelas Oposições Coligadas. Em 1960, a UDN saiu das oposições e apoiou a

candidatura de Newton Bello (governador de 1961 a 1965). Além disso, a UDN amparou a

candidatura de Jânio Quadros, o que possibilitou uma a transformação nas relações estaduais

com o governo federal, pois “no lugar de Victorino brilhava com intensa luminosidade em

Brasília a estrela do deputado José Sarney” (BUZAR, 1998, p.409).

Com a implantação do parlamentarismo no Brasil, as ligações entre o PSD/UDN foram se

deteriorando no Maranhão e , em 1962, esta aliança se rompeu. Assim, a UDN voltou as

Oposições Coligadas e elegeu Sarney como o segundo deputado federal mais votado do

estado. Outro nome que atingiu projeção nacional foi o deputado federal Neiva Moreira (PSP),

que transformou-se o alvo principal da campanha anticomunista maranhense.

No entanto, o quadro político modificou-se com o Golpe Militar de 1964. A política

maranhense foi marcada pela forte repressão aos nacionalistas e reformistas e o Golpe

provocou o acirramento às disputas internas do PSD, que opôs o governador Newton Bello e o

senador Victorino Freire, acentuando a crise vitorinista.

Além disso, com o Golpe, a candidatura de José Sarney pela Frente de Libertação do

Maranhão (formada pela UDN, PR E PSP) foi apoiada pelo governo do general Castelo Branco,

modificando os grupos de poder no Maranhão, como analisa Wagner Cabral:

Passados quase quinze anos da Greve de 1951, a bandeira da

‘moralização dos costumes políticos’ foi empunhada pela ditadura, que,

‘do alto’, determinou a mudança das regras do jogo, reestruturando o

sistema de dominação e provocando a alternância de grupos no poder

(CABRAL, 2001, p.?).

Desse modo, somente quinze anos após a greve que mobilizou mais três mil pessoas

nas praças públicas de São Luís, num período marcado pela repressão, o vitorinismo ruiu com

a reestruturação e, não com o rompimento, do sistema oligárquico e de dominação.

Page 103: Censura e imprensa na história do Brasil

3 SOBRE JOSÉ GUIMARÃES NEIVA MOREIRA

10 de outubro de 1917. Em Nova Yorque do Maranhão nasce José de Guimarães

Neiva Moreira. Sendo o mais velho de seis irmãos. Filho de um quitandeiro: Antonio Neiva

Moreira; com uma professora, Luzia Guimarães Moreira. Sua família tinha dois ramos: uma

grande parte pobre; a outra (ínfima parte) de abastados que com muito esforço conseguiu

terras e gados. José Guimarães  Neiva Moreira- ou simplesmente Moreirinha- era do ramo

pobre, e foi ainda na infância que tornou-se conhecedor de uma realidade de mazelas e

descasos que permeava dois cenários próximos: Piauí e Maranhão.

Dona Luzia –carinhosamente- chamada de Mariinha, foi contratada pelo Governo do

Maranhão, juntamente com outras professoras para implantar o ensino primário no sertão,

durante a seca de 1915. Seu filho primogênito a caracterizava pela sua agitação intelectual

e sempre a considerava uma militante progressista. Tendo-a como exemplo, Neiva Moreira

transformou-se desde cedo em um não-conformista. Seu pai, Antônio, morreu cedo aos 30

anos. Antes da morte de seu pai, Neiva Moreira e sua família haviam se mudado para Barão

de Grajaú cidade pequena próxima do município piauiense de Floriano. Com a morte

precoce de seu marido, dona Mariinha passou a receber ajuda do cunhado, Cícero Neiva

Moreira. Três grandes influências de sua vida eram: primeira, a sua mãe, com quem ele

aprendeu francês e jornalismo, dando início a sua carreira em um jornal produzido por ela, A

Liberdade, que não agradava a todos; segunda, o agreste, Neiva Moreira vivia em um

“ambiente de confrontação de clãs familiares e conflitos comunitários” (MOREIRA, 1986,

p.19) época em que cada um fazia sua lei e se defendia como melhor aprouvesse; por fim, o

Rio Parnaíba, por sua vez, foi palco de memoráveis eventos um dos mais marcantes foi o

grande embate entre a Coluna Prestes e o Exército:

O comando da expedição, com mais de 5mil soldados, estava a

cargo de um oficial piauiense que depois tornou-se político: o coronel

Jacob Gaioso e Almendra.[...] Depois dessa vitória, a fama da

Coluna cresceu. Os  revolucionários viraram mito e passaram a

alimentar a temática do cotidiano e o cancioneiro popular.

(MOREIRA, 1986, p.27)

Page 104: Censura e imprensa na história do Brasil

A fase seguinte de seu aprendizado foi quando se matriculou no LICEU de Teresina.

Nessa escola Neiva Moreira fez todo o curso secundário até o quarto ano, tendo feito amigos

como o Abdias Silva, o Carlos Castelo Branco e outros que o acompanhariam por toda sua

história. Carlos presenteou Neiva Moreira com um dos livros mais importantes que ganhara em

sua vida: o ABC do Comunismo. Sua estréia na nova escola não poderia ser mais triunfal. No

primeiro dia convidaram-no a participar de uma greve. Neiva Moreira juntou-se aos grevistas e

acabou sendo suspenso durante 15 dias. Porém na mesma semana recebeu sua primeira

anistia, pois havia morrido o patriarca da família Ferraz, homem de grande influência na região.

Ainda em Floriano, Neiva Moreira e alguns amigos lançaram seu primeiro jornal: A

Luz, jornal estudantil que publicavam desde intrigas pessoais a crônicas sociais. Quando foi

para Teresina participou, com seu amigo Carlos Castelo Branco, da fundação de outro jornal -

A Mocidade- também de curta duração. Foi em São Luis que Neiva Moreira, por intermédio de

seu tio Cícero, teve sua primeira oportunidade em um jornal da Capital: O Globo - Pacotilha,

um dos mais tradicionais do Maranhão na época. Periódico que estava ligado ao situacionismo

do Estado.

Neiva Moreira, agora, dividia seu tempo entre a redação do jornal e os estudos no

Liceu Maranhense. Sem com isso deixar a militância, pois o próprio Neiva Moreira no Liceu,

encabeçava uma chapa que reunia católicos de direita, agitadores, anarquistas e radicais de

esquerda sem filiação ideológica, segundo ele. Da política estudantil à política partidária. Neiva

Moreira assumia uma postura que ele denominava de “esquerda da direita”. Nesse período

participou de vários jornais, militou na Associação Maranhense de Imprensa (AMI), serviu ao

Exército e casou-se com uma professora do Colégio Santa Teresa.

Não demorou muito para o jornalista maranhense ir trabalhar no Rio de Janeiro como

“free lancer” no Diário de Noticias. Mais tarde iria para os Diários Associados que tinha como

diretor Leão Gondin. Segundo Neiva Moreira, o Diário da Noite foi a sua grande escola de

jornalismo.

Não demorou muito para o jornalista maranhense ir trabalhar no Rio de Janeiro como

“free lancer” no Diário de Noticias. Mais tarde iria para os Diários Associados que tinha como

diretor Leão Gondin. Segundo Neiva Moreira, o Diário da Noite foi a sua grande escola de

jornalismo. Neste pouco tempo que Neiva ficou no Rio de Janeiro conseguiu projetar-se

profissionalmente, sobretudo, quando passou a integrar à equipe da revista O Cruzeiro - de

maior circulação nacional nos anos cinqüenta.

Com a redemocratização do Brasil, Neiva é convidado pelo médico Clodomir Millet

para encabeçar a equipe redacional de um veículo de comunicação, que daria sustentabilidade

política ao PSP maranhense: o Jornal do Povo.

Page 105: Censura e imprensa na história do Brasil

4 JORNAL DO POVO

Fundado em 29 de abril de 1949 pelo médico Clodomir Millet (ver anexo 10), o Jornal

do Povo foi o veículo que surgiu com o objetivo de dar sustentação política ao Partido Social

Progressista, criado pelo governador de São Paulo, Adhemar de Barros (PSP) o qual financiou

a implantação do jornal.

O Jornal do Povo era um veículo que sempre procurou exercer uma influência

conscientizadora progressista em quase todos os aspectos e que foi também um “reformador

da imprensa no Maranhão” uma vez que substituiu aquele analítico jornalismo literário ou de

fuxico doméstico, e valorizou a reportagem e a denúncia (MOREIRA, 1989, p. 107).

Funcionando em sua primeira fase na rua da Paz, logo na sua primeira edição, o

jornal apresenta uma matéria intitulada “Geração da Lama”, que contava a história dos meninos

que viviam nos alagados do bairro do Lira. Essa matéria, escrita por Neiva Moreira em parceria

com Reginaldo Telles, também uma referência do jornalismo do Maranhão, emocionou São

Luís. Até hoje, quem a lê fica chocado com a realidade cruel daqueles garotos. Essa tônica de

denúncias norteava a maioria das matérias que o Jornal do Povo apresentava em suas edições

até o seu fechamento pelo regime militar.

O Jornal do Povo tornou-se um referencial para toda a população de São Luís.

Segundo Neiva, quando uma greve estava sendo articulada, os operários aglomeravam-se

diante da fábrica, esperando o jornal chegar com as últimas notícias sobre o movimento. Como

saía quase sempre atrasado (por volta das 8 ou 9 horas da manhã), César Aboud, industrial do

ramo de tecidos e presidente da Associação Comercial do Maranhão, apelava: “Neiva, vê se

solta a porcaria do jornal mais cedo. Preciso saber se vai haver greve ou não” (MOREIRA,

1989, p.107).

Entre os colaboradores figuravam verdadeiros medalhões do jornalismo

maranhense, entre eles encontravam-se nomes como: Amorim Parga, Walbert Pinheiro, Celso

Bastos, Clodomir Millet, Lago Burnertt (revelação como chargista), Ferreira Gullar, Odylo Costa

Filho, Franklin de Oliveira, Mata Roma, Bandeira Tribuzi e José Sarney. Era um grupo de peso,

com nomes que viriam a fazer parte da história política nacional e outros com extraordinário

destaque no meio intelectual do Brasil. Entre os jovens que começaram a carreira no jornalismo

através do Jornal do Povo estavam Nonato Masson, Ubiratan Teixeira, Ilmar Furtado, Benito

Neiva e Edson Vidigal.

A partir de outubro de 1952, Neiva Moreira (começando a sua carreira política)

adquire o controle acionário do Jornal do Povo e indica Euclides Neiva para a diretoria

administrativa e Reginaldo Telles para chefe de redação.

Sob o comando de Neiva Moreira, o JP tornou-se durante um tempo o órgão da

imprensa maranhense mais lido no estado, principalmente na capital. Com o tempo aprofundou

ainda mais a sua linha editorial de combate sistemático aos desmandos do governo e de duras

Page 106: Censura e imprensa na história do Brasil

críticas ao mandonismo de Vitorino, pernambucano que comandou com “mão-de-ferro” as lutas

políticas no cenário estadual (ver anexo 11). O matutino de maior prestígio e credibilidade junto à sociedade maranhense teve

também um importante papel na divulgação de grandes acontecimentos nacionais como: As

eleições presidenciais, A greve de 1951(rebelião maranhense que teve repercussão

internacional), a Era Vargas, a criação de Brasília, a renúncia de Jânio Quadros, o Golpe Militar

de 1964, e vários outros acontecimentos nos quais Neiva estava presente, ou como

testemunha ou como protagonista.

No editorial, Neiva Moreira clamava por um regime político mais humano, de respeito

às comunidades trabalhadoras. O lema do jornal do povo: ”contra a opressão e a injustiça

social”, expressa bem a postura contrária aos mandonistas locais que fez Neiva e outros

colaboradores desse periódico sofrerem vários ataques e atentados.

A relação da imprensa com a política sempre foi delicada, sobretudo quando os

meios de comunicação desafiam o poder vigente. No século XX, os riscos eram ainda maiores

em cidades provincianas como São Luís. Era comum ocorrerem incêndios misteriosos e

assaltos onde os ladrões quebravam as máquinas, mas não levavam nada. O jornal já

funcionando na Rua da Palma, centro histórico de São foi invadido várias vezes por capangas

armados. Como eram invasões relâmpago as melhores opções era ficar escondido.

O último ato de vandalismo contra o Jornal do Povo foi o incêndio que destruiu quase que completamente as suas instalações, até hoje origem do fogo continua desconhecida. “É uma característica das ditaduras acreditar que as idéias se acabam quando são destruídos os meios e instrumentos que as veiculam”, afirma Moreira (1989, p. 112).

Em abril de 1964, após o golpe militar, o jornal foi definitivamente fechado e com a

edição do “Ato Institucional n° 1 Neiva Moreira teve seu mandato parlamentar cassado e

suspenso por dez anos” (BUZAR, 1997, p. 19). Em seguida, ele foi exilado juntamente com seu

amigo Bandeira Tribuzi. “Era impossível que o velho e inconformado JP circulasse sob

censura”, conta Neiva Moreira (1989, p.112). A censura também atingiu a Tribuna do Povo

(periódico do PCB).

5 Ampliando horizontes: a causa continua

É inevitável registrar os momentos político-jornalísticos de Neiva Moreira, sem

destacarmos um fato crucial: o exílio.

Estando o país respirando tirania, Neiva sofreu grandes represálias, no que resultou

em um amargo exílio de 15 anos. Vários foram os lugares por onde passou, mas a ideologia

era sempre a mesma: lutar contra as forças opressivas, juntando-se a cada mobilização.

Page 107: Censura e imprensa na história do Brasil

Mesmo distante, constatou-se que era bastante influente, causando “complicações” por onde

passava.

“Neiva Moreira é uma legenda em caixa alta” ¹, sentenciou com veemência o

desembargador aposentado Almeida Teles. O seu espírito revolucionário o denunciava desde

sua infância.

Aos 15 anos foi premiado com uma suspensão de 15 dias por juntar-se

aos estudantes-grevistas do colégio Liceu (em Teresina); mais tarde, foi enquadrado por

indisciplina quando fazia o serviço militar no 24º Batalhão de Caçadores, levando-o ao

comando.

Da política estudantil, passou à política partidária, consolidando suas posições

ideológicas, estas notavelmente percebidas em seus artigos e

____________

1 Comentário realizado pelo desembargador aposentado Almeida Teles, São Luís, em abril de

2006.

reportagens. Como exemplo, em visita ao Maranhão, Neiva escreveu um artigo no jornal O

Combate, relatando o descaso e o abandono em que encontrava sua terra natal. Isso lhe

resultou em uma prisão de 10 dias a mando do senador Victorino Freire.

Sua trajetória de ‘exílio’, como tudo em sua vida, começou cedo e por levantar as

bandeiras de seus ideais, Neiva foi perseguido desde sempre. Bolívia foi seu primeiro ‘porto

(in)seguro’, que mesmo não aceitando mais asilados, mas tendo ele uma boa relação com os

presidentes Estenssorro e Siles Suazo, foi autorizado a entrar ficando por lá vários dias,

ocupando-se em grande parte do tempo de brincar com seus filhos gêmeos.

Os momentos que antecederam sua viagem, Neiva discursou sobre o golpe militar e

com um olhar compenetrado gravou na memória todos aqueles que foram se despedir; entre

amigos e parentes, a emoção se fez com o abraço através do olhar de seu amigo compositor

João do Vale, que sempre se atrasava, mas nunca faltava; dessa despedida abstrata nasceu

um samba em que o compositor frisa que mesmo distante, a sua essência ficava no ar. (ver

anexo 6).

O exílio começava. Neiva já estivera várias vezes na Bolívia cobrindo revoluções,

mas em 64 quando chegou exilado, foi recebido pelo presidente Estenssorro, compartilhando

em seguida um apartamento com outros jornalistas políticos. Logo depois residiu em uma casa

com um nome curioso: República Popular de los Pepitos, isso porque todos se chamavam

José, então todos eram pepes.

Foi oficializado, pela presidência boliviana, o convite para trabalhar em sua

assessoria de imprensa com um salário satisfatório. Enquanto isso, a embaixada brasileira

monitorava seus passos 24 horas por dia, pressionando o governo para tirá-lo de La Paz com a

intenção de levá-lo a um confinamento em Sacre, já que esta capital ficava muito distante e

isolada da sede política e administrativa do país.

Page 108: Censura e imprensa na história do Brasil

Ainda na Bolívia, Neiva foi convidado para estruturar o jornal Clarín, tendo êxito e o

colocando, é claro, na mira dos militares golpistas que tramavam contra o presidente, o que

resultou no seu recambiamento ao Uruguai; na rotina do exílio, viveu um momento de

entusiasmo ao reencontrar em Montevidéu seus familiares e, de esperança, por estar num país

aberto politicamente e de fácil comunicação ao Brasil.

Chegando à capital uruguaia no último dia de 64, Neiva foi acolhido fraternalmente

por seus companheiros. Os centros de concentração antiditadura já tinham endereços certos;

todavia, a vida de Neiva exilado era difícil, bastante severa, em 15 anos de exílio, lembrou de

não ter ido meia dúzia de vezes a um cinema ou teatro, e quando fora, sempre era para assistir

filmes que envolviam batalhas, constatando que vivia para a luta ou pensava nela.

Entre os exilados em Montevidéu havia dois grupos: o de Brizola e o de Jango,

diferentes mas paralelos, Neiva constituía o lado de Brizola( ver anexo 7), discutindo e traçando

planos para derrubar, pelas armas, a ditadura brasileira; Brizola, porém, era contra a guerrilha,

pois achava que ela excluía o povo da participação direta na luta, mas de forma alguma, ele

impedia os incentivos que pudessem enfraquecer a ditadura.

Neiva recebeu treinamentos onde aprendeu a sobreviver na selva, a atirar e a aplicar

algumas táticas militares. Como Uruguai representava um papel essencial na luta de libertação

da América Latina, virou um refúgio de patriotas perseguidos no continente. É oportuno

ressaltar o apoio que ele deu a Revolução Cubana, frisando a impressão que teve de Fidel

Castro, a de um líder responsável e brilhante.

Enquanto aprendia a língua espanhola, Neiva não se esquivou do trabalho

jornalístico, escrevendo artigos, quase sempre com pseudômios, que colegas uruguaios

traduziam. Recebia ajuda financeira da família no Brasil e de amigos. Logo depois aceitou o

convite para trabalhar em um jornal do Partido Socialista, Isquierda, porém não demorou muito

ele foi fechado pelo governo por conter notícias desastrosas, como a prisão de milhares de

pessoas como forma de repressão às matérias.

Com a turbulência política do Uruguai, Neiva prosseguiu para a Argentina exercendo

a sua grande paixão que era escrever, agora para a revista Terceiro Mundo, mas em virtude da

radicalização política, sua estadia foi bastante curta, prosseguindo para o Peru, onde escreveu

o livro Modelo Peruano, (ver anexo 8) que lhe rendeu um bom dinheiro com direitos autorais.

Através de uns amigos ao diário de notícias, onde publicou artigos sobre guerras armadas,

recebendo vários elogios, porém com a queda do governo do general Velasco em 75, o único

caminho que restou foi México.

Sua estada no México foi mais complicada ainda, pois Neiva encontrou grandes

dificuldades para dar seqüência as revistas, uma vez que os recursos não eram suficientes

para dar vivência aos exemplares. Neiva conseguiu alguns êxitos memoráveis com suas

edições, infiltrando-se em repartições públicas e privadas, no entanto, o retorno para o Brasil já

estava marcado.

Page 109: Censura e imprensa na história do Brasil

Durante esses 15 anos de exílio, muito aconteceu com Neiva. O sentimento se

misturava a cada país que ele desembarcava; contudo, dois prevaleciam, o de melancolia

quando era assaltado vez por outra com a possibilidade de morrer clandestinamente e, é claro,

o da esperança de retornar à sua terra natal.

Para os exilados, um fato, um evento, tem uma dimensão adversa, e ao perceber

mesmo de longe, que a anistia era possível, a preocupação firmou-se em indagar o que fazer

quando voltar. Quando o anunciaram que Lei da Anistia foi assinada, Neiva Moreira festejou às

lágrimas e, não demorou muito, já estava no Brasil, sendo recebido por 20 mil pessoas que

aclamavam o seu nome, muitos nem sabiam de sua história, o que interessava-os era a

informação de que ele desagradava o governo atual do Maranhão (ver anexo 9).

6 CONCLUSÂO

“Jornal do Povo: contra a opressão e a injustiça social”, durante 14 anos foi um dos

maiores e influentes periódicos de oposição mais relevante no cenário político e na imprensa

maranhense na segunda metade do século XX. Sendo a maior ferramenta do Partido Social

Progressista (PSD) encabeçado por Adhemar de Barros.

Nessa conjectura, os jornais e os partidos políticos eram indissociáveis (Tribuna do

povo/Maria Aragão-PCB, O Combate/Lino Machado-PR, Jornal do Povo/Neiva Moreira-PSP

etc.) um muito raramente sobreviveria sem o outro, como se fossem – irmãos siameses.

A luta entre as oposições coligadas (inclui-se o PSP) contra a política vitorinista

acontecia na esfera das oligarquias, pois mesmo havendo um deslocamento do poder - “sai

Vitorino Freire e assume a oposição” - tal luta se constitui enquanto disputa intra-oligárquica.

Os desdobramentos da luta contra a opressão e a injustiça social não resultaram em

êxito pleno, todavia, provou que um veículo de comunicação cumprindo sua função social pode

esclarecer, conscientizar e mobilizar uma sociedade, tornando-a politicamente ativa.

Para Neiva Moreira, os periódicos devem ser audaciosos, não

podendo perder a esperança e nem clamar contra a escuridão, pois era melhor

acender uma vela. Na qual “a chama” que iluminava a consciência da

população era o jornal, muitas vezes a única trincheira contra o obscurantismo

oligárquico que ainda hoje insiste em querer vendar e amordaçar a população

do Maranhão.

SUMMARY

Page 110: Censura e imprensa na história do Brasil

Reconstitutes the history of the Newspaper of the People that was one of the most

influential diaries in the scenery from Maranhão from 1950 to 1964. It is rescued Neiva Moreira

journalistic and political production and the foundation of that newspaper financed initially by the

national leader of Progressive Social Party (PSP), Adhemar of Barros. He/she locates the

newspaper in the partner-political conjuncture of the time starting from the disputes joined

between the associated oppositions and the vitorinismo until the period in that was closed for

the military dictatorship.

Word-key: Newspaper of the People. Press from Maranhão. Media and politics

___________

2 Comentário realizado pelo deputado federal Neiva Moreira, São Luís, em abril de 2006.

REFERÊNCIAS

BUZAR, Benedito (org.). Neiva Moreira: o jornalista do povo. São Luís: Lithograf, 1997.

_________. Vitorinismo & oposicionistas. São Luís: Lithograf, 2001.

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CÁCERES, Florival. História geral. 4.ed.rev.ampl.São Paulo: Moderna, 1996.

COSTA, Wagner Cabral da (org). História do Maranhão: novos estudos. São Luís: EDUFMA, 2004.

_________ . O “salto do Canguru”: ditadura militar e reestruturação oligárquica no Maranhão pós-1964. São Paulo: UNICAMP, 2001. Dissertação de Mestrado em História.

FERREIRA JÚNIOR, Ribamar. A arena da palavra: parlamentarismo em debate na imprensa maranhense 1961 – 1963. São Paulo: Annablume, 1998.

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_________. O pilão da madrugada. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, 1989.

SENA, Clovis. Neiva Moreira: testemunha da libertação. Brasília: Alvorada, 1976.

SILVA, Francisco de Assis. História do Brasil. São Paulo: Moderna, 1992.

MEMÓRIA BIOGRÁFICA DE JORNALISTAS E RADIALISTAS DO MARANHÃO (suplemento da revista Nossa Imprensa). São Luís; Sindicato dos Jornalistas e Radialistas do Maranhão,

jul/2004.

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