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CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
LONDRINA - PARANÁ
2009
VALDEMIR JOSÉ BATISTA
AGRICULTURA ORGÂNICA
A PRODUÇÃO DE SOJA DA ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES ORGÂNICOS DA REGIÃO DE LONDRINA – APOL.
LONDRINA - PARANÁ 2009
AGRICULTURA ORGÂNICA
A PRODUÇÃO DE SOJA DA ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES ORGÂNICOS DA REGIÃO DE LONDRINA – APOL.
Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina – UEL, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Geografia.
Orientadora: Profª. Dra. Ruth Youko Tsukamoto.
VALDEMIR JOSÉ BATISTA
Londrina, 26 de janeiro de 2009.
COMISSÃO EXAMINADORA
____________________________________ Draª. Ruth Youko Tsukamoto
Orientadora (Depto. de Geociências – UEL)
____________________________________ Ms. Margarida Cássia Campos (Depto. de Geociências – UEL)
____________________________________ Ms. Cláudia Kressin Camargo
(Depto. de Geociências – UEL)
Londrina, 07 de dezembro de 2009.
VALDEMIR JOSÉ BATISTA
AGRICULTURA ORGÂNICA
A PRODUÇÃO DE SOJA DA ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES ORGÂNICOS DA REGIÃO DE LONDRINA – APOL.
Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina – UEL, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Geografia.
Dedico este trabalho a Deus e aos meus pais –
Maria Lídia e Valdir José, meus maiores
incentivadores.
AGRADECIMENTOS
À Profª. Drª. Ruth Youko Tsukamoto - minha orientadora, pela
atenção, carinho e desprendimento em todos os momentos que me acompanhou.
A todos os professores que contribuíram para minha aprendizagem,
que me mostraram quão divina é a arte do aprender, através da mais pura essência
humana - nosso coração.
À Associação dos Produtores Orgânicos da Região de Londrina –
APOL, principalmente aos produtores de soja que me acolheram com todo
desprendimento, carinho, ensinando-me o verdadeiro sentido de amor ao próximo e
à natureza, através de atitudes simples.
Aos meus amigos e companheiros de curso, pela compreensão,
colaboração e palavras de incentivo.
Enfim, meu maior agradecimento a Deus, aquele que é o grande
responsável pela minha vida.
Epígrafe... "Celebrar a vida é somar amigos, experiências e conquistas, dando-lhes sempre algum significado." (autor desconhecido)
BATISTA, Valdemir José. Agricultura Orgânica: A produção de soja da Associação de Produtores Orgânicos da Região de Londrina - APOL - Paraná. 2009. 84 folhas. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Centro de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Paraná, 2009.
RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo o estudo da Associação de Produtores Orgânicos da Região de Londrina (APOL), bem como o perfil dos produtores de soja orgânica pertencentes à supra citada associação e devidamente localizados nos municípios de Uraí, Rancho Alegre, Assaí e Jataizinho – Estado do Paraná, efetuando uma análise sistemática da forma de produção/comercialização vigentes, principalmente atinente às relações capitalistas da produção, com enfoque na interferência e alteração do espaço geográfico, e na produção em sintonia com os princípios éticos da relação com o meio natural. A escolha do tema parte da importância do desenvolvimento de uma agricultura alternativa para produção de alimentos isentos de adubos químicos e agrotóxicos, com vistas à saúde humana e do meio ambiente. A pesquisa pautou-se em levantamentos bibliográficos, leituras de cunho teórico sobre o tema abordado, entrevistas com produtores e lideranças da Associação. Constatamos que os produtores analisados são descendentes de japoneses que antes dedicavam-se à produção cafeeira, sendo que a produção de soja orgânica surgiu como uma alternativa de produção rentável e com vistas a minimização dos impactos causados pela ação de uma agricultura convencional. É importante salientar que a produção de soja do grupo analisado objetiva a venda para o mercado externo, o que é efetuado através de uma “tradding”. Ressaltamos ainda que os produtores analisados diversificaram suas culturas, contando com a produção de hortifruticulturas além da sojicultura. Pela organização da produção, verificamos que os produtores de soja orgânica da APOL estão inseridos nas relações de produção capitalista. A figura da “Tradding” na etapa de comercialização constitui-se de suma importância na comercialização da soja orgânica, sendo o elo entre a APOL e o mercado externo. Destaca-se que as transformações ocorridas no espaço agrário das propriedades analisadas, ocorre principalmente nos gargalos ambientais, onde verificou-se a constituição e manutenção de áreas de preservação permanente, proteção de águas, manutenção de refúgio de animais, enfim a produção em harmonia com a natureza. Palavras-chave: Agricultura Orgânica, Análise Sistemática e Produção de Soja.
LISTA DE FIGURAS
01 Seminário Orgânicos x Transgênicos ....................................................45
02 Diversidade de produtos orgânicos .......................................................49
03 Detalhe do desenvolvimento da planta da soja orgânica e das barreiras
de proteção............................................................................................ 51
04 Detalhe do desenvolvimento de olerículas ............................................52
05 Fabricação de Compostagem.................................................................53
06 Detalhe do desenvolvimento da planta da soja orgânica em solo arado
................................................................................................................54
07 Reunião da Diretoria da APOL no município de Jataizinho/PR .............56
LISTA DE GRÁFICOS
1 Evolução da Produção Orgânica - safras 1996/97 a 2003/04 em
toneladas................................................................................................39
2 Evolução do Número de Produtores Orgânicos – safras 1996/97 a
2003/04...................................................................................................39
3 Localização das Propriedades................................................................59
4 Tamanho Médio das Propriedades.........................................................59
5 Faixa Etária dos Produtores...................................................................60
6 Áreas de Cultivo por Cultura (ha)...........................................................63
7 Renda Total da Propriedade .................................................................65
8 Fontes de Empréstimos e Financiamentos............................................67
9 Comercialização da Soja Orgânica........................................................71
LISTA DE TABELAS
1 Evolução da Produção Orgânica e Número de Produtores no Estado do
Paraná....................................................................................................38
2 Rastreabilidade das propriedades..........................................................47
LISTA DE MAPAS
1 Mapa - Localização da produção orgânica no Paraná...........................32
2 Mapa - Número de Produtores Orgânicos Paranaenses........................33
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AO Agricultura Orgânica
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
SEAB Secretaria Estdual de Agricultura e Abastecimento
COEA Coordenação Geral de Educação Ambiental
UEL Universidade Estadual de Londrina
CPORG Comissão de Produção Orgânica
MAPA Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
SETI Secretaria Estadual de Tecnologia e Ensino Superior
IAPAR Instituto Agronômico do Paraná
TECPAR Instituto de Tecnologia do Paraná
IMO Instituto de Mercado Ecológico
IBD Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento
OGM Organismo Geneticamente Modificado
ASSESOAR Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural
RURECO Fundação para o Desenvolvimento Econômico e Rural do Oeste do
Paraná
AOPA Associação de Agricultura Orgânica do Paraná
AS-PTA Assessoria de Projetos em Agricultura Alternativa
APOL Associação dos Produtores Orgânicos da Região de Londrina.
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
MDS Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome
LABTED Laboratório de Tecnologia Educacional
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15
1 - AGRICULTURA ORGÂNICA COMO ALTERNATIVA DE PRODUÇÃO............17
1.1 Agricultura Orgânica – Legislação.................................................................... 22
1.2 Certificação de Produtos Orgânicos................................................................. 25
2 - CONTEXTUALIZAÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA NO PARANÁ........ 29
2.1 Programas de Incentivo a Produção Orgânica................................................. 34
2.2 A Produção de Soja Orgânica Paranaense...................................................... 37
3 - A APOL: DAS ORIGENS ÀS SUAS AÇÕES................................................... 41
3.1Histórico da APOL: Localização ao Processo de Certificação .......................... 42
3.2 O Trabalho de Preservação Ambiental nas Propriedades................................ 50
3.3 A APOL e seus Associados.............................................................................. 54
4 - OS PRODUTORES DE SOJA ORGÂNICA da APOL ..................................... 58
4.1 Perfil dos Produtores e sua Produção.............................................................. 58
4.2 A Comercialização de Soja Orgânica da APOL ............................................... 69
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 74
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 77
ANEXOS ................................................................................................................ 80
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo apresentar a realidade vivenciada pelos
produtores orgânicos associados à APOL, que apesar das adversidades e do
pequeno número dos adeptos, continua persistindo na produção orgânica, em
muitos municípios de maneira isolada, em meio a grande produção convencional e
até mesmo transgênica, que tomou e toma conta do estado do Paraná.
A sustentabilidade agrícola, tem sido um tema relevante de debates
recentes sobre os rumos da produção. A importância do assunto ressurge a cada
desastre ecológico que coloca em risco a sobrevivência das espécies, e mesmo,
quando são retomadas as controversas análises atinentes a injustiças sociais e
distribuição igualitária das riquezas.
Contudo, o conceito sustentável tem inúmeras definições, por muitas
vezes contraditórias, e mesmo estando totalmente arraigada a um discurso oficial
neoliberal, na prática observa-se ainda a pouca importância com que é tratada a
questão, principalmente quando atentamos para sua realidade de ações e de
implantação efetiva, e porque não em caráter hegemônico, de sistemas econômicos
que busquem uma melhor interpretação do conceito de desenvolvimento
sustentável.
As propriedades de soja orgânica certificadas através da APOL
estão localizadas nos municípios de: Uraí, Assaí Jataizinho e Rancho Alegre na
região norte do estado do Paraná e apesar dos produtores estarem utilizando o
manejo orgânico há cerca de uma década, ainda é desconhecida pela sociedade
essa forma de produção. Sendo que um dos motivos dessa falta de informação esta
na comercialização da soja orgânica que não acontece no mercado interno, pois o
brasileiro não tem o costume de consumir soja, seja orgânica ou convencional.
Dessa forma, mais de 90% da produção é exportada para Europa e EUA.
Justifica-se assim, um estudo apurado a respeito dos produtores
orgânicos de soja da região do norte do estado do Paraná associados à APOL, pois
muitas questões se apresentam diante da proposta desse estudo, tais como: A
história do grupo, o que levou esses produtores a buscarem uma forma alternativa
de produzir, o número de produtores, a produtividade, o tamanho médio das
propriedades e o suporte oferecido pela associação, a comparação da região norte
16
com outras regiões do estado, já que o estado do Paraná é o maior produtor
orgânico do pais.
No desenvolver do estudo torna-se possível saber que apesar de
toda a propaganda sobre os números da produção, o pagamento por todo o esforço
e trabalho realizado pelo produtor ainda não chegou até ele, pois no caminho da
comercialização dos produtos orgânicos, assim como outros gêneros primários,
existem alguns intermediários que retiram do produtor o que seria seu, por direito.
Quanto à metodologia o presente trabalho foi realizado a partir de
pesquisas bibliográficas de obras relacionadas ao tema da agricultura orgânica
brasileira e, especificamente, a paranaense; coleta de informação juntos sites
especializados no assunto; levantamento de material e informações do grupo no
escritório sede da entidade no município de Uraí e visitas a campo onde foram
realizadas entrevistas com os produtores orgânicos de soja associados a APOL,
assim como coleta de material fotográfico.
Este trabalho está estruturado pelos seguintes itens: a
contextualização da produção orgânica Paraná/APOL, com ênfase a produção de
soja orgânica; a localização dos produtores de soja orgânica associados à APOL; o
perfil do produtor de soja orgânica da associação; e a relação entre o produtor de
soja orgânica e a APOL.
17
1. AGRICULTURA ORGÂNICA COMO ALTERNATIVA DE PRODUÇÃO
A produção orgânica tem crescido no Brasil nos últimos anos, pois
além da preservação ambiental, esta forma de produção tem sido utilizada por
pequenos produtores que utilizam a mão-de-obra familiar e que não conseguem se
adequar ao modelo de produção agrícola industrial imposto no cenário da agricultura
brasileiro a partir do movimento conhecido como “Revolução Verde”.
Para Graziano da Silva (1982, p. 80):
As conseqüências de um domínio “irracional” sobre a Natureza podem ser ameaçadoras à própria sobrevivência do homem, que somente através da ciência pode encontrar formas de elas se manisfestarem de forma suportável.
Segundo Ricci e Neves (2006):
A agricultura orgânica é o sistema de manejo sustentável da unidade de produção com enfoque sistêmico que privilegia a preservação ambiental, a agro biodiversidade, os ciclos biogeoquímicos e a qualidade de vida humana. A agricultura orgânica aplica os conhecimentos da ecologia no manejo da unidade de produção, baseada numa visão holística da unidade de produção. Isto significa que o todo é mais do que os diferentes elementos que o compõem. Na agricultura orgânica, a unidade de produção é tratada como um organismo integrado com a flora e a fauna. Portanto, é muito mais do que uma troca de insumos químicos por insumos orgânico/biológicos/ecológicos. Assim o manejo orgânico privilegia o uso eficiente dos recursos naturais não renováveis, aliado ao melhor aproveitamento dos recursos naturais renováveis e dos processos biológicos, à manutenção da biodiversidade, à preservação ambiental, ao desenvolvimento econômico, bem como, à qualidade de vida humana.
Khatounian, (2001) afirma que em vários pontos do planeta e em
várias épocas se acumularam conhecimentos sobre formas mais sustentáveis de
existência. Pelo menos, desde a segunda década do século XX, já se propunha o
desenvolvimento de soluções baseadas em exemplos de melhor convivência com os
recursos naturais tirados do passado e no conhecimento científico utilizável então
disponível.
Contudo, foi a partir do momento em que as críticas ao modelo
agroquímico, denominado agricultura convencional, tornaram-se irrefutáveis, que
movimentos reativos em vários países, que apontavam em outras direções, tomou
força.
18
No início dos anos sessenta do séc passado, a publicação de
“Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, foi um importante instrumento de alerta
sobre os problemas ambientais causados pelos inseticidas. As conferências da
Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
ocorridas em 1972, 1982 e 1992, constituíram-se também numa fonte de denúncia
dos danos causados pela agricultura convencional.
Assim, segundo Khatounian, (2001), a partir dos anos setenta no
século XX, os movimentos de agricultura ecológica se multiplicam ainda mais pelo
mundo. As reações surgiam simultaneamente em vários países, incorporando
elementos da cultura de onde emergiam ao seu corpo filosófico e prático. Nos
Estados Unidos, onde essa agricultura é denominada alternativa, ocorre o primeiro
reconhecimento oficial de que a agricultura convencional apresentava problemas
sérios e de que havia métodos alternativos que os contornavam.
Na América Latina, a Agroecologia (Altieri, 1989) surge como um
movimento que incorpora aos objetivos de preservação ambiental, os de promoção
sociocultural e econômica camponesa, em face da exclusão política e social dos
agricultores latino-americanos e da necessidade de criar mecanismos para a sua
sobrevivência no campo.
Neste trabalho, foi escolhida a terminologia Agricultura Orgânica,
porque, segundo Khautonian (2001), devido ao desenvolvimento em número e
qualidade bem como ao crescimento do mercado para esses produtos, esta corrente
de produção sentiu a necessidade da formação de uma organização, em nível
internacional, não só para a troca de experiências entre países, mas também para
instituir padrões de qualidade para os produtos de todos os movimentos. Então,
após um processo de decisão, foi adotado o termo geral “agricultura orgânica” para
indicar este conjunto de propostas alternativas, e foi fundada em 1972 a IFOAM
(International Federation of Organic Agriculture Movements).
Assim, a IFOAM começa a ditar as normas para que os produtos
pudessem ser vendidos com o selo orgânico. Estas normas, além de proibirem os
agrotóxicos, limitam a utilização dos adubos químicos e incluem ações de
conservação dos recursos naturais. (Khatounian, 2001).
A IFOAM – International Federation of Organic Agriculture
Movements, tem como objetivo a troca de conhecimentos e experiências entre seus
membros e informar o público sobre Agricultura Orgânica. Ela representa o
19
Movimento Orgânico em parlamentos e fóruns de decisão de políticas. Possui uma
revista para a difusão do conceito e realiza congressos internacionais a cada dois
anos. Tem como principal função a coordenação da rede de movimentos orgânicos
em todo o mundo. As principais atividades são realizadas pelos diretores, vários
comitês e equipes de trabalho. (Planeta Orgânico, 2009).
A década de 1990 constitui-se como o momento em que os
movimentos de agricultura alternativa ao modelo convencional começaram a ganhar
espaço no cenário econômico mundial, particularmente a orgânica que atualmente
se constitui numa das principais tendências no mercado de alimentos mundial.
As primeiras organizações de produtores orgânicos foram realizadas
através da atuação de organizações não governamentais – ONGs, sem a
participação de órgãos governamentais. Somente em meados da década de 1990,
observam-se projetos de lei que tratam da produção orgânica por parte dos
governos federal e no estudo aqui apresentado no estado do Paraná, sendo que no
Paraná verifica-se uma organização e preocupação em compilar dados e contribuir
para que as ações realizadas sejam devidamente fomentadas principalmente
através de acompanhamento técnico dos produtores. (SEAB, 2009)
Num mundo onde agricultura é realizada essencialmente através da
utilização de produtos químicos para controle de pragas e doenças e que essa
formação de produção configura-se como um modelo de produção que geral lucros
aos grandes capitalistas produtores de insumos e que comercializam os gêneros
primários, a agricultura aparece como uma alternativa aos pequenos produtores que
estão endividados por não terem condições de trabalhar com o modelo de produção
convencional e ainda conseguem melhor a qualidade de vida de sua família com não
utilização de agroquímicos na propriedade além de ainda ter um melhor preço na
hora da comercialização de seus produtos orgânicos.
Destaca-se, que a agricultura orgânica mesmo sendo praticada nos
países desenvolvidos desde a década de 1920, no Brasil ganhou espaço somente
após a consolidação do processo de modernização da agricultura, onde os
agricultores familiares, excluídos desse processo, continuariam a produzir com a
rara presença de insumos provenientes da “Revolução Verde” ou, em outros casos,
onde, após terem absorvido as novas tecnologias”, perceberam a incompatibilidade
do sistema de produção com a saúde de sua família e, assim, iniciaram o plantio de
orgânicos. (Darolt 2000)
20
Dessa forma a agricultura orgânica é um sistema de produção que
promove sob o ponto de vista ambiental, social e econômico, a produção de
alimentos e fibras, excluindo sistematicamente o uso de fertilizantes, pesticidas
químicos, hormônios de crescimento, aditivos e organismos geneticamente
modificados. Utilizando o conhecimento popular e científico, a agricultura orgânica
promove a biodiversidade, os ciclos biológicos e a qualidade natural do solo. Tem
como base o uso mínimo de produtos que não pertençam ao ecossistema em
questão, e a gestão para recuperar, manter ou promover a harmonia ecológica.
A intenção principal da agricultura orgânica é otimizar a
produtividade de comunidades interdependentes, considerando o contexto social e a
saúde do solo, das plantas, dos animais e das pessoas. Campos (2004, p. 19)
ressalta que:
O espaço agrícola brasileiro foi palco de um pacote tecnológico que não somente alterou a forma de produzir, mas também as relações sociais presentes neste espaço, pois os defensivos substituíram uma grande parcela de mão- de –obra que antes era utilizada na prática de tratos culturais das lavouras, tarefa que é realizada atualmente com êxito pelos herbicidas.
Nesse contexto a agricultura orgânica, aparece como uma
alternativa viável para pequenos produtores que utilizam à mão-de-obra familiar e
que almejam abandonar o modelo de produção agrícola que é propagado através de
empresas de insumos químicos, bancos e cooperativas que em busca do lucro,
estabeleceram um modelo de produção no qual o produtor rural não consegue ter
rendimentos e se torna um eterno refém desse sistema. Contraindo dívidas relativas
à produção que o leva o um circula vicioso, pois ele adquiriu sementes e insumos e
até mesmo combustível na cooperativa, na qual terá que entregar sua produção e
em caso de frustração de safra a dívida é remanejada para o pagamento na próxima
safra, sendo computados juros altos que nunca são perdoados.
Sem alternativas, em virtude da falta de recursos financeiros, muitos
pequenos produtores, vende a terra para agricultores que possuem grande
quantidade de terras, para pagar as dívidas que vão se acumulando e se mudam-se
para zona urbana (êxodo rural) ou em alguns casos vai mantendo relações
comerciais e de produção injustas com as empresas, bancos e cooperativas até
quando conseguirem .
21
Ainda segundo Campos (2004 p. 29):
Ao longo do processo de modernização da agricultura no Brasil, vários problemas ambientais surgiram em decorrência deste pacote tecnológico. A intensa mecanização e o uso indiscriminado de agrotóxicos foram os grandes depredadores do meio ambiente. Estes elementos geraram a destruição de ambientes frágeis, que atualmente encontra-se em processo de desertificação, poluição do solo, contaminação das águas de superfície e de lençóis freáticos, provocou o fim de algumas espécies e principalmente contaminação dos alimentos. Atualmente os efeitos danosos do uso de agrotóxicos na saúde humana são largamente conhecidos.
Os agrotóxicos começaram a ser usados em escala mundial após a 2ª Grande Guerra. Vários serviram de arma química nas guerras da Coréia e do Vietnã, como o agente Laranja, desfolhante que dizimou milhares de soldados e civis. Os países que tinham a agricultura como principal base de sustentação econômica - na África, na Ásia e na América Latina sofreram forte pressão de organismos financiadores internacionais para adquirir essas substâncias químicas. A alegação era que os agrotóxicos garantiriam a produção de alimentos para combater a fome. Com o inofensivo nome de “defensivos agrícolas”, eles eram incluídos compulsoriamente, junto com adubos e fertilizantes químicos, nos financiamentos agrícolas. Sua utilização na agricultura nacional em larga escala ocorreu a partir da década de 70. O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, gasta, anualmente, cerca de 2,5 bilhões de dólares nessas compras. Infelizmente, pouco se faz para controlar os impactos sobre a saúde dos que produzem e dos que consomem os alimentos impregnados por essas substâncias. O DDT (inseticida organoclorado) foi banido em vários países. A partir da década de 1970, quando estudos revelaram que os resíduos clorados persistiam ao longo de toda a cadeia alimentar. (Terrazul, 2009).
Diante de toda essa situação da agricultura brasileira, na qual a
utilização de agrotóxicos e adubos químicos se apresenta como uma regra
inalienável para a maioria dos produtores rurais, a agricultura orgânica se apresenta
como uma alternativa viável, pois utilizando essa forma de produção o agricultor
consegue desempenhar três papéis fundamentais para uma boa qualidade de vida:
renda - já que os produtos orgânicos possuem um valor superior aos produtos
convencionais; integração da família a lavoura por meio da utilização de mão-de-
obra familiar; e ainda contribui com a preservação do meio ambiente através da
não utilização de agrotóxicos e de adubos químicos.
22
1.1 Agricultura Orgânica – Legislação
No Brasil, a Instrução Normativa n.º 007 de 17/05/1999, do
Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (MAPA), dispôs até 2003
detalhadamente sobre as normas de produção, tipificação, processamento, ênfase,
distribuição, identificação e certificação da qualidade para os produtos orgânicos de
origem vegetal e animal. (Planeta Orgânico, 2009).
Foi sancionada pelo Presidente da República – Exmo.sr. Luiz Inácio
Lula da Silva, a Lei n.º.831, de 23/12/2003, a qual no seu Art.º 1º diz:
Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente. (Planeta Orgânico, 2009).
Nela, destacam-se os seguintes pontos:
1. Exclusão do emprego de organismos geneticamente modificados (OGM’s) da
produção orgânica.
2. Detalhamento das etapas de conversão e transição dos produtos
convencionais para orgânicos.
3. Criação de um órgão colegiado nacional e dos respectivos órgãos estaduais
responsáveis pela implementação da Instrução Normativa e fiscalização das
entidades certificadoras.
4. Exigência de que a certificação seja feita por entidades nacionais e sem fins
lucrativos.
O selo de certificação de um alimento orgânico fornece ao
consumidor muito além da certeza de estar levando para a casa um produto isento
de contaminação química, o selo de "orgânico" é o símbolo não apenas de produtos
isolados, mas também de processos mais ecológicos de se plantar, cultivar e colher
alimentos.
23
Daí resulta a importância estratégica da certificação para o mercado
de orgânicos, pois além de permitir ao agricultor orgânico diferenciar e obter uma
melhor remuneração dos seus produtos protege os consumidores de possíveis
fraudes. Existem também outras vantagens expressivas como, por exemplo, o fato
de que a certificação torna a produção orgânica tecnicamente mais eficiente, à
medida que exige planejamento e documentação criteriosos por parte do produtor.
Outra vantagem, a promoção e a divulgação dos princípios norteadores da
agricultura orgânica na sociedade, colaborando, assim, para o crescimento do
interesse pelo consumo de alimentos orgânicos.
Por fim, cabe ressaltar que a certificação, mais do que um
instrumento de confiabilidade para o mercado dos produtos orgânicos é uma
poderosa estratégia de construção da cidadania, buscando mobilizar tanto as
comunidades regionais quanto a sociedade como um todo, pela produção e
consumo de alimentos mais saudáveis e harmonizados com as atuais demandas de
preservação dos ambientes naturais.
Desde 29 de dezembro de 2007, por meio do decreto n.º 6323 a
agricultura orgânica no Brasil passou a ter critérios para o funcionamento de todo o
seu sistema de produção, desde a propriedade rural até o ponto de venda.A
legislação, que regulamenta a Lei n.º 10.831/2003, inclui a produção,
armazenamento, rotulagem, transporte, certificação, comercialização e fiscalização
dos produtos.
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento:
A regulamentação da agricultura orgânica dará um grande impulso ao setor uma vez que temos agora regras claras quanto aos processos e produtos aprovados e pela criação do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica que propiciará aos consumidores mais garantias e facilidade na identificação desses produtos. (Planeta Orgânico, 2009)
Ainda segundo o Ministério da Agricultura, a elaboração do decreto
envolveu a participação de técnicos e especialistas de entidades públicas e
privadas. Para facilitar a relação comercial com outros países foram utilizadas,
também como base, as diretrizes do Codex Alimentarius para a produção orgânica e
regulamentos já adotados nos Estados Unidos, União Européia e Japão.
No que tange a certificação, o decreto cria o Sistema Brasileiro de
Avaliação da Conformidade Orgânica que será composto pelo Ministério da
24
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), órgãos de fiscalização dos estados
e organismos de avaliação da conformidade orgânica. Nessa cadeia, cabe ao
ministério credenciar, acompanhar e fiscalizar os organismos. Já os organismos,
mediante prévia habilitação do MAPA, farão à certificação da produção orgânica e
deverão atualizar as informações dos produtores para alimentar o cadastro nacional
de produtores orgânicos. Estes órgãos, antes de receber a habilitação do Ministério,
passarão por processo de acreditação do Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). (Planeta Orgânico, 2009)
O decreto ainda permite a produção paralela na mesma propriedade
de produtos orgânicos e não orgânicos desde que haja uma separação do processo
produtivo. Também não poderá haver um contato com materiais e substâncias cujo
uso não seja autorizado para a agricultura orgânica.
Conforme a legislação, não poderão ser comercializados como
orgânicos no mercado interno, os produtos destinados à exportação em que as
exigências do país de destino ou do importador implique na utilização de
componentes ou processos proibidos na regulamentação brasileira.
Com intuito de auxiliar as ações para o desenvolvimento da
atividade, foi criada a Comissão Nacional da Produção Orgânica (CNPOrg) e
comissões estaduais organizadas pelas superintendências federais de agricultura.
As comissões poderão emitir pareceres sobre regulamentos, propor regulamentos
técnicos além de incentivar o fomento de fóruns setoriais. Esses órgãos serão
formados, por integrantes do setor público e da sociedade civil com formação e
experiência comprovada em agricultura orgânica. (Planeta Orgânico, 2009).
A APOL é uma das entidades que compõem a Comissão
Estadual de Produção Orgânica do estado do Paraná, conforme consta na Portaria
Nº. 632 de 10 de setembro de 2009 – Diário Oficial do Paraná. (DOU – Diário Oficial
da União, 2009)
O decreto autoriza também os agricultores familiares a realizar a
venda direta ao consumidor desde que tenham cadastro junto ao órgão fiscalizador.
Com relação à fiscalização, a inspeção será feita nas unidades de
produção, estabelecimentos comerciais e industriais, cooperativas, órgãos públicos,
portos aeroportos, postos de fronteira, veículos e meios de transporte e qualquer
ambiente onde se verifique a produção, beneficiamento, manipulação,
25
industrialização, embalagem, acondicionamento, distribuição, comércio,
armazenamento, importação e exportação.
Quando houver indício de adulteração, falsificação, fraude e
descumprimento da legislação as seguintes medidas serão tomadas: advertência,
autuação, apreensão dos produtos, retirada do cadastro dos agricultores autorizados
a trabalhar com a venda direta e suspensão do credenciamento como organismo de
avaliação. As punições serão mantidas até que se cumpram às análises, vistorias,
ou auditorias necessárias. Também poderão ser aplicadas multas que variam entre
R$ 100,00 (cem reais) a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). (Planeta Orgânico,
2009)
Para o detalhamento de algumas questões do decreto, tais como o
manual de boas práticas da produção orgânica, simplificação do registro dos
produtos, lista dos insumos permitidos e regras para o credenciamento dos
organismos de avaliação da conformidade orgânica, o ministério publicará instruções
normativas que ficarão em consulta pública por 30 dias. Alguns desses
regulamentos serão elaborados em conjunto com outros órgãos do governo federal,
como Ministérios da Saúde e Meio Ambiente. Todos os segmentos envolvidos na
rede de produção orgânica terão prazo de dois anos para se adequarem às regras
do decreto.
1.2 Certificação de Produtos Orgânicos
A certificação de produtos orgânicos visa conquistar maior credibilidade dos consumidores e conferir maior transparência às práticas e aos
princípios utilizados na produção orgânica. A certificação é outorgada por diferentes
instituições no país, as quais possuem normas específicas para a concessão do seu
selo de garantia.
Um conceito que fundamenta a produção orgânica é a
rastreabilidade, pois através dos dados que são colhidos e organizados pelas
certificadoras é possível o consumidor saber como é feito o manejo da propriedade
daquele produtor, as condições da propriedade e as relações de trabalho
estabelecidas.
Para o comércio exterior de produtos orgânicos é necessário que
essas certificadoras sejam credenciadas por órgãos normativos de abrangência
26
internacional, como é o caso da International Federation of Organic Agriculture
Movements – IFOAM. A principal função dessa Federação é coordenar o conjunto
de movimentos de agricultura orgânica em todo o mundo. O programa de
credenciamento da IFOAM é administrado pelo International Organic Accreditation
Services Inc. – LOAS – que é o braço independente da IFOAM responsável pelo
credenciamento de instituições certificadoras de produtos orgânicos, para assegurar
a equivalência dos programas de certificação em todo o mundo e favorecer o
comércio internacional desses produtos.] (Planeta Orgânico, 2009)
Há no Brasil atualmente quase duas dezenas de certificadoras
atuando no mercado, sendo todas elas comumente tratadas como certificadoras de
produtos orgânicos. Dentre as certificadoras que atuam na produção orgânica
brasileira há também, as internacionais, como a francesa Ecocert e a suíça IMO.
A vinda dessas instituições para o Brasil está relacionada à falta de
legislação no país até próximo do ano 2000, isso provocou a vinda das
certificadoras, pois os europeus consomem produtos orgânicos brasileiros e
necessitam de garantias da qualidade, que é conferida por algumas certificadoras do
velho continente.
Segundo FONSECA (2001), a Associação Harmonia Ambiental
Coonatura (RJ) e a Coolméia – Cooperativa Ecológica – foram às pioneiras da
agricultura orgânica no país, e começaram a comercializar esses produtos em
1978/79.
A Coolméia foi fundada em 1978 e tem sede em Porto Alegre – RS.
Atua no ramo de assessoria em agricultura ecológica ministrando cursos e palestras
e auxiliando na elaboração e implantação de projetos em propriedades rurais.
Coordena, também, uma feira de produtos orgânicos em Porto Alegre. Administra,
ainda, uma lanchonete e um restaurante onde são vendidos alimentos elaborados
com produtos orgânicos fornecidos pelos agricultores cooperados e certificados. A
Cooperativa atua no sul do país e fornece selo próprio aos agricultores certificados.
Ainda para FONSECA (2001), A Coonatura – RJ surgiu em 1979 por
iniciativa de algumas pessoas interessadas em produzir alimentos mais saudáveis.
Atualmente ela agrega 15 famílias de produtores não mais como meeiros, como
funcionou durante algum tempo, mas como co-arrendadores, em sistema
associativo. A Coonatura tem quatro pontos de venda na cidade do Rio de Janeiro e,
também, faz entregas de produtos orgânicos em domicílios.
27
Entre as certificadoras estrangeiras que atuam no país, destacamos: a Ecocert França, que concedeu o primeiro selo orgânico a um produto brasileiro – o açaí orgânico –, e duas dos EUA: a Farm Verified Organic – FVO – e a Organic Crop. Improvement Association – OCIA. As duas primeiras instalaram recentemente representações locais: a FVO tem sede em Recife – PE desde outubro/2000 e a Ecocert Brasil, em Porto Alegre - RS, desde janeiro/2001. A Ocia – está criando um grupo de produtores orgânicos que respondem pela produção e qualidade dos produtos, no sudoeste do Paraná e a IMO – Instituto Mercado Ecológico – certificadora suíça começou a operar, no início de setembro de 2001, possui um escritório na cidade de São Paulo, a empresa IMO-Control do Brasil se dedica exclusivamente aos serviços de inspeção e certificação de sistemas de controle de qualidade ambiental e social, com ênfase para a agricultura orgânica. É credenciada pela IFOAM e possui certificado ISO 65, que garantem o acesso aos maiores mercados consumidores: Europa, EUA e Japão. A certificadora ainda atua nas produções agrícolas com base no regulamento europeu CEE 2092/91 e nas exigências dos principais selos privados, trabalha também nas áreas de têxteis ecológicos, produtos de madeira, apicultura, aqüicultura, criação de animais e critérios sociais. Há mais de 20 anos no mercado e pioneira no ramo de produtos orgânicos na Europa, IMO está presente em 50 países, com mais de 20.000 projetos certificados que abrangem uma área de 200.000 ha. A IMO oferece seus serviços no mundo inteiro, em diversas áreas, para produtores, indústrias e exportadores. (Planeta Orgânico, 2009)
É importante salientar que a certificação pode ser conferida a
entidades de diferentes perfis, tais como: associações e cooperativas de produtores,
pessoas físicas ou jurídicas dedicadas à produção agropecuária, empresas de
insumos agrícolas (adubos, substratos e sementes), empresas distribuidoras e
empresas processadoras de produtos orgânicos.
Segundo HOMEOPATIAVETERIANÁRIA, 2009, no Brasil as
principais certificadoras são:
a) Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento/IBD – Fundado em
1982, com sede em Botucatu-SP. O IBD é a única certificadora
no Brasil com dois credenciamentos internacionais: o primeiro
credenciamento é da IFOAM, que garante ao IBD acesso aos
mercados dos USA e Japão, e o segundo, do Círculo de
Credenciamento Alemão – DAR garante-lhe acesso a toda a
Comunidade Européia;
b) Fundação Mokiti Okada – Instituída em 1971 e atualmente
sediada no Município de São Paulo. A atividade de certificação
foi iniciada somente em dezembro de 1999, e a sede da
Certificadora está localizada em Rio Claro-SP. O destaque é para
a horticultura, que é praticada por 61% dos produtores
28
certificados, vindo em seguida a combinação
horticultura/fruticultura, com 18% do total de produtores
certificados;
c) Associação de Agricultura Orgânica – AAO, sediada em São
Paulo-SP, foi instituída em 1989. O número de agricultores
certificados tem crescido exponencialmente: de oito agricultores
certificados em 1991, chegou-se a 291 em janeiro de 2000 e em
abril desse mesmo ano já atingia o total de 320 (Dulley et al.,
2000). Em janeiro de 2000, do total de agricultores certificados,
71% dedicava-se à horticultura;
d) Rede Ecovida de Agroecologia – Lançada oficialmente no dia 28
de abril de 1999, em audiência pública realizada na Assembléia
Legislativa de Florianópolis-SC. A Rede abrange 31 municípios
em Santa Catarina, com 36 grupos e associações e 400 famílias
de agricultores familiares. O acompanhamento é realizado por
cinco Ongs de assessoria em agroecologia. Todos os produtos
da rede – alimentos, feiras livres, materiais didáticos e de
divulgação – são identificados pela marca-selo Ecovida. A Rede
difere das demais certificadoras de produtos orgânicos porque
são os próprios grupos de agricultores em trabalho conjunto com
as organizações de assessoria e consumidores que garantem o
processo que desenvolvem – a chamada “certificação
participativa”. Entretanto, para a utilização do selo Ecovida, o
grupo deve estar de acordo com as normas de produção
definidas pela lei 10.831/2003, do Ministério da Agricultura e
Abastecimento, e com as normas de funcionamento da Rede;
29
2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ORGÂNICA NO PARANÁ
O estado do Paraná conseguiu atualmente o status de ser o maior
produtor de alimentos orgânicos do Brasil, e a sua produção continua em franca
expansão. Essa realidade se deve segundo Campos, 2004:
A pujança da agricultura no Paraná é evidente, através de dados fornecidos pela Secretaria de Agricultura. No entanto, para se transformar em um estado de vanguarda na produção agrícola, o Paraná foi palco propício para absorção das várias técnicas do processo de modernização no decorrer da década de 1970. Este processo se intensificou nos últimos 30 anos, tornando o Paraná uns dos maiores consumidores de insumos agrícolas, aumentando a produtividade de algumas culturas. Nesse contexto surgem as iniciativas de agricultores isolados ou aglomerados em grupos, assessorados por organizações-não-governamentais, em produzir sem a utilização de agroquímicos. Isto ocorreu por alguns fatores tais como: falta de condições financeiras para adquirir o pacote tecnológico da modernização da agricultura, ou por uma escolha em produzir alimentos livres de agroquímicos. CAMPOS (2004, p.78 e 79)
Os pequenos agricultores familiares abraçaram a agricultura
orgânica como a maneira mais viável de produzir. A cada ano tem aumentado a
produção e o Estado do Paraná tem conseguido destaque no cenário nacional e
internacional.
Segundo o secretário estadual de agricultura, o crescimento desse
setor é impulsionado pela agricultura familiar e pela diversificação da propriedade. E
ainda para o coordenador estadual de Olericultura e Agricultura Orgânica da
EMATER-PR, a produção de alimentos orgânicos gera 10 mil empregos diretos no
campo. Na safra 05/06, a produção paranaense cresceu 21% em relação à safra
anterior, atingindo um volume total de 94.448 toneladas. Em volume, o cultivo de
hortaliças orgânicas é o setor que mais cresceu, com uma produção de 19.625
toneladas, que corresponde a mais de 20% do volume total de orgânicos produzidos
no Paraná. O crescimento desse setor deve-se ao aumento da procura do
consumidor por alimentos que concentram vitaminas e minerais. O produtor de
orgânicos se organizou para atender essa demanda, que tem possibilitado um bom
retorno financeiro em curto espaço de tempo, devido ao ciclo curto de produção de
hortaliças. (Planeta Orgânico, 2009)
O governo do estado Paraná a partir de 2010 desenvolverá um
projeto que buscará solucionar a problemática dos produtores que querem obter a
30
certificação, dos seus produtos, mas que não tem condições de obtê-las. Trata-se
do Programa Certificação de Orgânicos, em uma parceria entre: Governo do Estado
do Paraná, SETI, TECPAR e UEL. Dessa forma, o pequeno produtor familiar poderá
certificar os produtos orgânicos, sem custo.
Essa também é uma das estratégias para que o estado do Paraná
continue liderando o ranking da produção orgânica no Brasil, sem contar que os
produtos certificados pelo TECPAR poderão ser adquiridos pelo próprio estado
através dos programas que buscam oferecer alimentos orgânicos para as crianças
em idade escolar.
A APOL foi convidada pela EMATER núcleo de Londrina para
participar do programa e também pretende ter seus produtos certificados por meio
do Programa de Certificação de Orgânicos.
No estado do Paraná existem aproximadamente 4.000 (quatro mil)
produtores, cuja área média de exploração é de 3,0 hectares por família, o que
proporcionou um VBP (Valor Bruto de Produção) de US$ 42.5 milhões, na safra de
2004/2005. (SEAB-DERAL,2006).
Ainda segundo (SEAB-DERAL – 2006). a área total plantada na
safra 2.004/05 foi de 11.330 hectares e a produção chegou a 75.900 toneladas. As
principais culturas exploradas são de soja, cujo volume total produzido foi de 5.772
toneladas, sendo 98% exportada para a Europa, Ásia e Estados Unidos. O açúcar
mascavo também é um produto orgânico de grande importância, sendo 50%
exportado para a Europa. As hortaliças e frutas orgânicas ultrapassam a 22.000
toneladas, sendo estas para consumo interno. Outras culturas em destaque são: o
milho, o feijão, café, plantas medicinais, arroz, mandioca e trigo.
Segundo Campos (2004 p. 87),
Nota-se que quase todos os agricultores orgânicos do Paraná estão ligados a algum tipo de organização (garantindo-lhes a sobrevivência no mesmo universo da Agricultura Convencional). Estas organizações tecem redes por meio de cursos e organização dos produtores no momento da comercialização, entre outros fatores, dando pleno suporte ao produtor para realizar este tipo de agricultura. Quanto à formação das organizações de produtores orgânicos no Paraná é bastante diversa, como também o mercado visado pelos produtores. Existem grupos de produtores interessados em produzir para o mercado local, outros visando ao mercado nacional e estadual até internacional. Verifica-se que há mercado de orgânicos para todos, porém a figura do intermediário, no processo de venda dos produtos, deve ser extinto.
31
Existem em todo o estado várias entidades que buscam oferecer
suporte aos pequenos produtores orgânicos, sendo que a década de 1990 foi o
momento de maior propagação desses grupos. O período onde aconteceu a
implantação da APOL foi o mesmo em que surgiram outras entidades não
governamentais, exemplo disso é a AOPA que nasceu em 10 de setembro de 1995,
através do suporte do Instituto Verde Vida, foi criada a Associação de Agricultores
Orgânicos do Paraná (AOPA), em Curitiba. Os objetivos iniciais de tal associação
seriam organizar a produção, comercialização dos alimentos orgânicos produzidos
na região de Curitiba, tendo em vista a ampliação do universo de agricultores e
aqueles envolvidos com a proposta orgânica na região metropolitana da referida
cidade.
Campos (2004), ainda revela que as organizações não-
governamentais e as associações de produtores, existentes no Estado do Paraná,
são de extrema importância tais como a da região de Francisco Beltrão, no
sudoeste do Paraná com atuação da ASSESOAR (Associação de Estudos,
Orientação e Assistência Rural), no oeste na região de Guarapuava o trabalho da
RURECO (Fundação para o Desenvolvimento Econômico e Rural do Centro Oeste
do Paraná), AOPA (Associação de Agricultura Orgânica do Paraná) com atuação na
Região Metropolitana de Curitiba, AS-PTA (Assessoria de Serviços a Projetos em
Agricultura Alternativa) na região sul do Paraná com sede em União da Vitória e o
Pólo de Agroecologia no litoral.
O Mapa 1 demonstra a predominância de cada cultura agrícola nas
diversas regiões do estado do Paraná:
32
Mapa 1 – LOCALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO ORGÂNICA NO PARANÁ
Fonte: Planeta Orgânico
Percebe-se através do mapa que a maior produção de soja
encontra-se nas regiões de Ponta Grossa, Ivaiporã, Campo Mourão, Toledo,
Cascavel e Francisco Beltrão, nas outras regiões do estado do Paraná, destaca-se
a produção de verduras, café e plantas medicinais, e outros gêneros em menor
proporção como a cana-de-açúcar.
A região norte onde se localiza a APOL, há produção de vários
gêneros agrícolas entre eles a soja, mas é absoluta nessa região a produção de
verduras que é comercializada em várias partes do Brasil, principalmente nas
cidades de Curitiba e São Paulo. Existe uma empresa que fica localizada em São
José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, chamada Rio de Una, que realiza
um projeto de comercialização das verduras orgânicas durante todo ano.
Na região central do estado e no sudoeste estão localizadas duas
empresas que compram soja orgânica de pequenos produtores, trata-se da Tozan
Alimentos Orgânicos Ltda. de Ponta Grossa e da Cataratas do Iguaçu Produtos
Orgânicos Ltda. de Capanema, sendo que a Cataratas é a filial de uma empresa
33
suíça chamada Gebana. Essa duas empresas compram soja orgânica e
comercializam o produto principalmente para Europa e EUA.
No Mapa 2 pode-se observar a concentração de produtores em cada
uma das regiões do estado:
MAPA 2 - NÚMERO DE PRODUTORES ORGÂNICOS PARANAENSES
Fonte: (Campos, 2004)
É possível observar que na região sudoeste do Estado se
encontram as áreas com maior número de produtores, chegando a ser superior a
400 produtores. No município de Capanema - região de Cascavel localiza-se a
empresa Cataratas do Iguaçu Produtos Orgânicos Ltda. que comercializa soja
orgânica estimulando essa forma de produção naquela área.
Há também, uma importante entidade na região - a ASSESSOAR –
Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural que foi criada em outubro
de 1966 e está sediada em Francisco Beltrão-PR. A Associação conta com mais de
200 associados ou unidades de produção familiar orgânica de 16 municípios da
34
região sudoeste do Paraná. (IAPAR, 2007)
O fato é que em todo o estado, a maior parte das propriedades são
consideradas “pequenas”, com média de 10 hectares, na qual os produtores
encontram na agricultura orgânica a melhor maneira de continuar no campo, devido
ao menor custo de produção e maior rendimento na comercialização. (IAPAR, 2007)
2.1 Programas de Incentivo a Produção Orgânica.
Nos últimos anos o governo federal em parceria com os governos
estaduais tem buscado fomentar a produção familiar e orgânica nos estados através
de programas que buscam favorecer o pequeno produtor familiar. Um dos
programas mais conhecido é o Compra Direta que é um programa vinculado ao do
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome.
Operacionalizada pela Companhia Nacional de Abastecimento
(CONAB), a Compra Direta tem como objetivo a aquisição da produção da
agricultura familiar visando atender a demandas de alimentos de populações em
risco alimentar. Em casos de baixa de preço, a compra direta também é utilizada, na
movimentação de safras e estoques, adequando a disponibilidade de produtos às
necessidades de consumo, cumprindo um importante papel na regulação de preços
dos produtos desta modalidade também compõem cestas de alimentos.
Para executar o programa, a Conab pode montar Pólos Volantes de
Compras, se aproximando das localidades onde os produtos estão disponíveis. Para
ser comprado, o produto in natura deverá estar limpo, seco, enquadrado nos
padrões de identidade e qualidade estabelecidos pelo Ministério da Agricultura. Se o
produto for beneficiado deverá estar acondicionado e nos padrões estabelecidos
pelos órgãos competentes e entregue nos Pólos de Compra (Unidades
Armazenadoras próprias ou credenciadas, indicadas pela Conab) ou nos Pólos
Volantes de Compra. A execução desta modalidade é feita por meio de convênio
entre MDS e Conab, com repasse de recursos. Entre os produtos adquiridos, estão:
o arroz, castanha de caju, castanha do Brasil, farinha de mandioca, feijão, milho,
sorgo, trigo, leite em pó integral e farinha de trigo. (Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate a Fome – MDS, 2009). . Outro programa que segue o mesmo sentido do Compra Direta é o
PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS (PAA). O Programa de Aquisição de
35
Alimentos é uma das ações do Fome Zero, cujo objetivo é garantir o acesso aos
alimentos em quantidade, qualidade e regularidade necessárias às populações em
situação de insegurança alimentar e nutricional e promover a inclusão social no
campo por meio do fortalecimento da agricultura familiar. (Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate a Fome – MDS, 2009)
O PAA é um instrumento de política pública instituído pelo artigo 19
da Lei nº. 10.696, de 2 de julho de 2003, e regulamentado pelo Decreto nº. 6.447, de
07 de maio de 2008. O Grupo Gestor do PAA, coordenado pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome e composto ainda pelo Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, Ministério do Desenvolvimento Agrário,
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Fazenda e
Ministério da Educação é responsável pela implementação do Programa, cujas
diretrizes são estabelecidas e publicadas em resoluções.
O Programa adquire alimentos, com isenção de licitação, por preços
de referência que não podem ser superiores nem inferiores aos praticados nos
mercados regionais, até o limite de R$ 3.500,00 ao ano por agricultor familiar que se
enquadre no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar –
PRONAF, exceto na modalidade Incentivo à Produção e Consumo do Leite, cujo
limite é semestral. Os alimentos adquiridos pelo programa são destinados às
pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional, atendidas por
programas sociais locais e demais cidadãos em situação de risco alimentar, como
indígenas, quilombolas, acampados da reforma agrária e atingidos por barragens.
(Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome – MDS, 2009)
Dentro das normas dos dois programas, aqui citados, existem
recomendações que se dê preferência para aquisição de produtos orgânicos. Na
região Norte do Paraná, os programas estão sendo desenvolvidos por meio das
prefeituras e da EMATER, e os produtores têm vendido principalmente frutas e
verduras.
Atualmente 38% dos produtores do grupo da APOL participam do
programa Compra Direta e estão satisfeitos com os resultados do programa. Um
produtor orgânico que vende banana maça através do programa no município de
Uraí, relatou que faz entregas semanais nas escolas e creches e com isso além de
conseguir um melhor preço pelos produtos orgânicos produzidos em suas
propriedade, estão contribuindo na alimentação saudável das crianças da
36
comunidade onde vivem, pois uma das escolas onde ele faz entrega a sua neta
estuda no estabelecimento.
Esses programas soam também como um investimento do estado,
na saúde de seus futuros cidadãos, pois as crianças que se alimentam com produtos
orgânicos, têm maiores chances de criarem o hábito de se alimentarem assim, e ter
consequentemente menor risco de contrair doenças causadas pelo uso excessivo de
agrotóxicos nas lavouras. Sem contar que essa pode ser a única opção para que
pessoas que não pertençam às classes A e B da sociedade possam consumir
produtos orgânicos.
Apesar do destaque do estado do Paraná na produção de alimentos
orgânicos, observando a realidade dos produtos não é possível vislumbrar o grande
sucesso e lucro que é propagado pelos meios de comunicação, ao conhecer a
situação dos produtores. Os produtos ainda estão muito caros no mercado para o
consumidor, não é possível ainda encontrar em qualquer supermercado ou quitanda
esse tipo de produto, pois o diferencial de preço que acontece entre a propriedade e
o supermercado chega a 400% em alguns casos. Enquanto um dos produtores
associados à APOL vende o quilo de tomate orgânico a R$ 3,00 para uma grande
empresa que embala e comercializa o produto e vende para grandes redes
supermercado que vão comercializar o mesmo tomate ao preço médio de R$ 10,00
a R$ 12,00 o kg, em lojas nos grandes centros urbanos como a cidade Londrina,
maior centro regional do norte do Paraná.
Essa problemática é digna de análise por parte de autoridades
competentes, pois da maneira que está se desenvolvendo este processo econômico,
o produtor está ficando mais uma vez com a menor parte do rendimento durante a
venda sendo que é ele que realiza todos os investimentos de plantio, manejo, mão-
de-obra, transporte, recebe muito pouco pelo seu honroso labor.
37
2.2 A Produção de Soja Orgânica Paranaense
Diante dos 4.148,4 milhões de hectares e das 9.541,3 milhões
toneladas da sojicultura paranaense na safra 2004/2005 (Conab,2005), a área de
soja orgânica do Paraná é extremamente pequena, com cerca de 3.586 ha, com
produção de 5.772 toneladas (SEAB – Safra: 2004/05). Contudo, merece destaque a
dimensão social, ecológica e econômica, que tem aumentado gradativamente. Ao
todo são cerca de 500 produtores paranaenses produzindo a oleaginosa no sistema
orgânico em pequenas propriedades familiares.
Este número só não é maior porque os novos agricultores que
aderem ao sistema encontram muitas dificuldades no manejo das ervas invasoras, e
se não abraçarem verdadeiramente a filosofia da produção orgânica, acabam
desistindo diante dos obstáculos. As pesquisas para o controle do problema estão
acontecendo, mas até momento não foram possíveis muitos resultados animadores
e a extensão rural não tem conseguido atender a demanda de trabalho, apesar da
EMATER-PR, possuir 75 profissionais para atuar no desenvolvimento desta forma
de produção. Há também que se destacar a falta de experiência de muitos técnicos
que não tem formação para atender a produção orgânica, pois a formação
agronômica não prioriza esse tipo de trabalho em praticamente todas as instituições
de ensino.
Na tabela 1 pode-se visualizar a produção de soja no estado do
Paraná comparada a de outros produtos:
38
Tabela 1 - Evolução da Produção Orgânica e Número de Produtores no Estado do Paraná
Paraná Agricultura Orgânica Safra 04/05 Safra 04/05
Produtos Área ha
Produção toneladas
Produtores nº.
Soja 3.586 5.772 500
Hortaliças 1.231 14.633 1.208
Milho 1.229 3.518 308
Café 1.102 934 164
Mandioca 994 18.762 282
Frutas 940 8.071 647
Arroz 565 2.562 113
Cana (açúcar mascavo) 407 13.095 172
Erva Mate 372 648 68
Feijão 343 485 323
Plantas Medicinais 233 563 145
Cana (Cachaça) 178 6.630 93
Trigo 72 103 30
Fumo 42 70 24
Amendoim 22 28 50
Algodão 12 25 10
Girassol 1 1 1
Total 11.330 75.900 4.138 Fonte: SEAB-DERAL.
Conforme Gráficos 1 e 2, a produção orgânica no Estado do Paraná
demonstrou um crescimento de 1600% nos últimos 8 anos, com uma produção de
75.900 toneladas em, aproximadamente, 4.138 propriedades. Na seqüência será
demonstrado através de gráficos os números do crescimento durante o período.
39
Gráfico 1
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO ORGÂNICA - SAFRAS 1996/97 A 2003/04 em toneladas Fonte: Planeta Orgânico
Gráfico 2
EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE PRODUTORES ORGÂNICOS – SAFRAS 1996/97 A 2003/04 Fonte: Planeta Orgânico
40
Diante de tamanho crescimento se faz necessário uma análise que
justifique esses dados demonstrados pelas instituições governamentais.
Schmitz e Kammer, 2006, relatam que:
A agricultura orgânica é vista com bons olhos pelo segmento empresarial, como uma fonte promissora de lucros, pois além de vantagens como redução dos custos de cultivo, atrai a simpatia dos consumidores que buscam mais qualidade de vida, demandando cada vez mais produtos saudáveis, além claro da ordem prática de poder comprar alimentos como frutas, verduras e legumes, já limpos, frescos e embalados. No Brasil a disseminação da cultura orgânica se reflete nas vendas, que vem crescendo ao longo dos anos, em 1996 os produtos orgânicos movimentaram cerca de US$ 1 bilhão, e em 1997 passa para US$ 4 bilhões. O fato dos orgânicos serem produzidos em pequena escala, aumenta o preço final em relação ao produto convencional. (SCHMITZ E KAMMER, 2006, p 7.)
Ainda segundo Schmitz e Kammer (2006) o melhor preço na hora da
venda da produção e o menor custo de produção são os fatores determinantes ao
aumento das áreas e da produção de soja orgânica no estado do Paraná e também
em outras regiões brasileiras nos últimos anos:
O crescimento da área cultivada com sistemas orgânicos deu-se pela busca da renda maior. Os que ingressaram mais recentemente no sistema perceberam lucros potenciais e cultivaram áreas maiores do que as primeiras fazendas orgânicas, cujos objetivos aproximavam-se mais da busca de um ideal (SOUZA, 2000). O principal fator motivador do aumento do cultivo de orgânicos é a sobrevalorização dos preços (PELINSKI, GUERREIRO, 2004). O aumento do cultivo de orgânicos no Brasil se deve também aos elevados custos com insumos químicos do sistema convencional (onde aproximadamente 50% desses insumos são importados), ao reduzido custo de produção, aos preços compensadores, o crescente aumento da demanda de produtos saudáveis e menos agressivos ao meio ambiente.( SCHMITZ E KAMMER, 2006, p 8).
41
3. A APOL: DAS ORIGENS ÀS SUAS AÇÕES
Verificou-se que os produtores orgânicos associados à APOL, estão
localizados na região Norte Pioneiro do estado do Paraná, localizados precisamente
nos municípios e seções rurais descritas a seguir: Assaí – Seção Jangada;
Jataizinho - Seção Roseira; Uraí – Seção Figueira; e Rancho Alegre – Seção
Barbosa.
Conforme Tsukamoto e Asari, 2008 p.1 em “A territorialização dos
Agricultores Nikkeys no Norte do Paraná:
O Norte do estado do Paraná foi uma das últimas frentes de expansão da cafeicultura e junto chegaram inúmeras famílias japonesas oriundas do estado de São Paulo. O processo de territorialização de novas áreas, via de regra, é precedido pela atividade agrícola. O norte do Paraná não fugiu a regra, pois foi alvo de ocupação por várias companhias de terras seja estatal e/ou estrangeiras.
Sendo assim, e sabedores que 90% dos produtores analisados têm
origem nipônica, podemos constatar através do depoimento dos próprios
agricultores, que o processo de territorialização inicial acompanhou a expansão da
cafeicultura proveniente do estado de São Paulo, e da cultura do algodão, havendo
uma alteração significativa na década de 1980 com a diversificação dos plantios, e a
produção de grãos (soja, milho e trigo), e hortifruticultura, em razão da crise da
cafeicultura – geada da década de 1960 e da necessidade de diversificação da
lavoura devido aos altos custos da produção.
Ao longo do tempo a agricultura passou por um processo de
transformação e o pensamento das novas gerações se reflete na forma de expansão
de suas atividades: de colono de café e produtores de algodão, os produtores
passaram a proprietários rurais capitalistas, sendo várias as evidências desta
transformação. Entre elas destacamos a aproximação dos produtores com as
cooperativas e empresas produtoras de agroquímicos, que deixam os produtores à
mercê do modelo de produção capitalista.
A alternativa de superação dos problemas evidenciados é
oportunizada aos produtores de soja ligados à APOL na década de 1990, através da
influência da Igreja Messiânica, mais especificamente da Fundação Mokiti Okada
que contribui para que os produtores encontrassem na agricultura orgânica uma
forma sustentável de produzir.
42
3.1 Histórico da APOL: Localização ao Processo de Certificação
A Associação dos Produtores Orgânicos da Região de Londrina
(APOL) surgiu no ano de 1997 e iniciados por um grupo de 10 (dez) pequenos
produtores de soja e café dos municípios de Assaí, Jataizinho e Uraí – localizados
no Norte Pioneiro do estado do Paraná, preocupados em realizar uma agricultura
ecológica e economicamente viável.
É importante verificar que a história inicial da APOL possui a filosofia
da Igreja Messiânica, haja vista que os produtores residentes na zona rural de Assaí
e de Jataizinho são membros da supracitada Igreja, que praticam a Agricultura
Natural, proposta por Mokiti Okada:
O filósofo japonês Mokiti Okada, na década de 1930 fundava uma religião baseada no princípio da purificação, hoje Igreja Messiânica, que tinha como um de seus alicerces a chamada agricultura natural. Essa religião defende que a purificação do espírito deve ser acompanhada pela purificação do corpo, daí a necessidade de evitar o consumo de produtos tratados com substâncias tóxicas. O princípio dessa proposta é o de que as atividades agrícolas devem potencializar os processos naturais, evitando perdas de energia no sistema. (Igreja Messiânica Mundial do Brasil, 2009)
Ao decidir pela formação de uma associação, após reuniões
realizadas entre os produtores interessados e a EMATER local de Uraí, que
ofereceria o acompanhamento metódico, culminou na fundação legal em 17 de
setembro de 1999 e na elaboração de seu Estatuto Social, fundamentado em cinco
itens principais:
1º Promover a organização de produtores orgânicos na compra de insumos, na
comercialização e na produção de produtos orgânicos;
2º Comercializar produtos, insumos e prestar serviços; Oferecer a população
alimentos de qualidade, produzidos de acordo com as normas de produção
orgânica;
3º Apoiar iniciativas de organização de consumidores;
4º Preservar o meio ambiente.
Sua certificadora, inicialmente e até o ano de 2007, o Instituto
Biodinâmico-IBD realizou no mesmo ano de sua fundação, a primeira inspeção nas
propriedades da APOL, sendo que a partir desta, foram colocadas em prática as
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técnicas de agricultura orgânica acordadas com as diretrizes para padrão de
qualidade do IBD.
Entre os anos de 1999 e 2001, a Associação através de uma diretoria
comprometida e dinâmica primou pela sua consolidação através da promoção do
conhecimento e incentivo ao debate entre os pequenos agricultores, sobre os
problemas e conseqüências da utilização da agricultura químico-industrial,
estimulando o trabalho em grupo e o associativismo, na busca do planejamento,
organização e administração das propriedades rurais, com base nos princípios e
práticas da agricultura orgânica e agrossilvicultura, enfatizando os princípios de
conservação e valorização dos recursos naturais renováveis, bem como a
permanência do homem no campo, principalmente o jovem. Na consecução desses
objetivos estreitou laços com organismos públicos ligados à pesquisa como, a
EMBRAPA Soja e o IAPAR, que tiveram papel fundamental em vários trabalhos
desenvolvidos ao longo da história da APOL.
Já no ano de 2001 e com a necessidade de uma melhor organização,
decide implantar no município de Uraí, sua sede administrativa. A APOL alcança seu
auge em número de produtores associados – 56 (cinqüenta e seis), elevando
também o alcance geográfico da mesma, para os municípios de Rancho Alegre, São
Jerônimo da Serra, Nova Santa Bárbara, Londrina, Apucarana, Arapongas, São
João do Ivaí e Fênix.
Nota-se que o número de produtores associados a APOL diminuiu
expressivamente do ano de 2001 para 2009. Atualmente, o quadro de associados é
composto por 13 produtores. A diminuição do grupo segundo o presidente atual da
associação aconteceu, principalmente, devido à distância que existia entre algumas
propriedades no estado. Havia propriedades certificadas de Mamborê, região da
Cascavel, até Assis no estado de São Paulo e a dificuldade de comunicação era
maior do que hoje, pois todas as vezes que era necessário tomar alguma decisão ou
de uma assinatura de documentos convocavam-se reuniões.
Em 2004 para atender as necessidades dos produtores da região de
São João do Ivaí foi criada um nova associação chamada Biovale que agregou
associados da APOL daquela região. Em 2005, um produtor do município de
Arapongas foi para o Japão em busca de recursos, pois não estava sendo possível
se manter com a produção de hortaliças e, em 2006 cinco produtores do município
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de Uraí deixaram o grupo para realizarem a certificação e comercialização de seus
produtores de forma individual.
Outro fator a considerar é que as informações sobre a produção,
certificação e comercialização de produtos orgânicos foram sendo divulgadas de
maneira que os produtores obtiveram maior acesso ao conhecimento e alguns por
opção acharam por bem deixar o grupo de produtores e trabalharem de maneira
individualizada. As razões dessa decisão é atribuída ao fato de que na associação
existe um processo de planejamento de produção no qual a certificação fica em
nome da APOL pois apesar dos produtores receberem a certificação por fazer parte
do grupo, todas as decisões quanto ao processo de certificação cabe a diretoria do
grupo.
Para divulgar a produção orgânica e atrair novos produtores para
grupo, a partir de 2001 uma seqüência de eventos regionais de grande repercussão,
foram realizados tendo como principal apoio a Secretaria de Estado da Agricultura e
Abastecimento do Paraná-SEAB, entre os organismos de pesquisa e extensão de
renome nacional, com o objetivo de chamar atenção de consumidores, produtores,
pesquisadores, estudantes e afins para a temática: Agricultura Orgânica.
Entre os eventos já realizados pela entidade destacam-se: o I
Encontro de Agricultura Orgânica do Norte do Paraná, realizado em outubro de 2002
nas dependências do Templo da Igreja Tenrikio – na cidade de Assaí, o qual contou
com a presença especial da Dra. Ana Maria Primavesi - uma das maiores
referências brasileiras no desenvolvimento sustentável da agricultura; o II Encontro
de Agricultura Orgânica do Norte do Paraná realizado na cidade de Londrina, nas
dependências da Sociedade Rural em junho de 2003, o qual contou com a presença
do Dr. Armênio Kathounian – Pesquisador do IAPAR; o 1º Seminário Orgânicos x
Transgênicos, (foto 1) realizado no ano de 2005 em um período em que a discussão
sobre a soja transgênica se intensificava em todo o país. Nesse evento a APOL em
parceria com a ONG Greenpeace - que na época realizava uma campanha de
conscientização sobre a utilização de alimentos transgênicos, realizou no município
de Uraí/PR uma sabatina com a participação de autoridades, como os Secretários
Estaduais de Agricultura e Meio Ambiente do Paraná, técnicos agrícolas da
Associação de Produtores Orgânicos da Região de Porto União de Santa Catarina,
que fazem parte da Rede Ecovida, deputados estaduais e ainda representantes de
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tradings – (compradoras internacionais de produtos orgânicos) empresas que
comercializam insumos liberados para utilização na agricultura orgânica. (figura 01)
Figura 01 – 1º Seminário: Orgânicos x Transgênicos – Evento promovido pela APOL no município de Uraí/PR em junho/2005. Observe-se na composição da mesa de autoridade, presença do Vice-governador e Secretário de Agricultura do Estado do Paraná – Sr. Orlando Pessuti. Foto: Valdemir J. Batista – 2005.
Este evento teve como marco o esclarecimento à sociedade em geral
dos possíveis riscos que a produção transgênica pode trazer ao organismo humano,
e numa acalorada discussão entre defensores e apoiadores da produção
transgênica foi possível trazer à tona a discussão e repercussão dessa questão que
até hoje causa polêmica no cenário agrícola brasileiro e especialmente paranaense.
O quadro atual da associação é composto por 13 produtores
orgânicos certificados, porém 11 delas estão certificadas pela IMO. Um dos
produtores do município de Uraí tem certificação através de um projeto individual no
IBD, a antiga certificadora do grupo e o outro produtor, no município de Assai, está
com dificuldade para continuar com a produção orgânica na propriedade que
pertence a sua família; após duas safras de pouca produtividade da soja orgânica os
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componentes da sua família que ajudam na administração e trabalham na
propriedade, decidiram retornar para o manejo convencional por acreditarem que
esta forma de produção oferece mais alternativas de controle de pragas e doenças,
ocasionando assim maior produtividade e por consequência maior rentabilidade.
Atualmente mais de 90% do grupo de produtores da APOL está
certificado pelo Instituo de Mercado Ecológico – IMO o restante é certificado pelo
Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento – IBD. Durante nove anos todos os
produtores foram certificados pelo IBD, mas em 2008 uma proposta da empresa
Cataratas do Iguaçu que comercializa soja orgânica levou os produtores a optarem
pela IMO que tem um custo menor de certificação e não há custo de
comercialização. A proposta chegou até a associação, pois a Cataratas do Iguaçu
também é certificada pela IMO e isso viabiliza o processo de reconhecimento da
certificação durante o comércio dos produtos orgânicos.
Segundo os produtores o IBD cobrava uma porcentagem sobre a
venda dos produtos comercializados, já a IMO não cobra essa taxa. Mesmo assim o
custo da certificação ainda é alto segundo eles, em média R$ 700,00 (setecentos
reais) no último ano.
Verifca-se no quadro 1 as informações de duas propriedades no
município de Assaí/PR sobre a forma de se realizar a rastreabilidade das
propriedades.
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Tabela 2 – Rastreabilidade das propriedades.
Município Código do Produtor Ano da 1ª inspeção Área Total Área Cultivada Produto Área
horta 1 uva 0,01 lixia 0,25 citrus 0,3 pousio 1 abacate 0,1 caqui 0,9 manga 1,12 reserva + pasto 4,76
A
ssaí
- P
R
18 1999
12,1 4,24 manga 0,56 soja 3 mandioca 0,63 abacate 3,63 manga 1,8 mandioca 3,63 caqui 0,6 limao 0,12 milho 4,84 feijão 0,3 feijão 0,3 mandioca 1,8 soja 4,88 soja 1,8 Sede 0,63 mandioca 1,2 feijao 1,82 APP 4,76
Ass
aí -
PR
5 1999
35,74 30,35 Fonte: Carta de inspeção da APOL – IMO 2009. Adaptado por Valdemir José Batista.
Através dos dados do quadro 1, pode-se constatar a diversificação
em cada uma das propriedades. É possível encontrar em um mesmo
empreendimento até seis culturas diferentes, entre grãos, frutas e verduras,
demonstrando que o pequeno produtor orgânico necessita ter várias culturas
agrícolas para se sustentar.
Todas as certificadoras utilizam-se de ferramentas como tabelas,
croquis, diário de campo para acompanhar o andamento da propriedade
Segundo o produtor P. S. M. de Uraí, que produz café orgânico, o
mercado nos últimos quatro anos está muito desfavorável e por isso tem vendido o
café no mercado convencional, principalmente para cooperativas, pois não tem
encontrado bons preços para efetivar a venda do café orgânico. Ainda segundo o
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produtor o dólar desvalorizado no Brasil e a concorrência que tem tornado o
mercado cada vez mais exigente, são os principais gargalos na comercialização do
café manejado organicamente. O que tem ajudado na manutenção das despesas é
a produção de banana maçã que ocorre durante todo o ano, existindo períodos de
menor produção, mas todos os meses a produção da banana maçã traz algum
recurso financeiro ao produtor, além de produzir outras frutas, como: laranja, maça,
lichia.
Em todas as propriedades existe a diversificação de culturas com
produção de frutas, de legumes e de grãos, sendo essa uma característica comum
entre os pequenos produtores orgânicos que procuram em diferentes culturas
caminhos para sustentabilidade, diferente da monocultura da agricultura
convencional.
Na figura 2 há imagens das frutas e hortaliças orgânicas produzidas
nas propriedades do Sr. R. D. – Rancho Alegre e Sr. L. T. O. – Assaí.
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Figura 02 – Diversidade de produtos orgânicos produzidos pelos produtores de soja orgânica. Da esquerda para a direita: Quadro1: Lichia in natura; Quadro 2: Banana Maçã, Tangerina Ponkã, Cenoura e Rabanete; Quadro 3: Alface Crespa; Quadro 4: Lichia embalada para venda – observe-se o selo de qualidade orgânica e que confirma a rastreabilidade do produto. Foto: Valdemir J. Batista – 2008.
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3.2 O Trabalho de Preservação Ambiental nas Propriedades
Assis e Romeiro (apud Altieri,1989) vem dizer que a agroecologia é
uma ciência que resgata o conhecimento agrícola tradicional desprezado pela
agricultura moderna, e procura fazer sua sistematização e validação de forma que
este possa ser aplicado em novas bases (científicas). Além disto, na medida em que
expressa em seus princípios, que para sua prática é necessário um ser humano
desenvolvido e consciente, com atitudes de coexistência e não de exploração para
com a natureza. Ainda segundo Assis e Romeiro (apud Canuto,1998), a
agroecologia se apresenta no Brasil como uma forma de resistência contra a
devastadora onda modernizadora e contra a expropriação completa dos agricultores.
Segundo Assis e Romeiro, 2005:
Em função de suas especificidades, a organização social da produção agrícola baseada no trabalho familiar favorece a conciliação entre a complexificação desejada e a supervisão e controle do processo de trabalho necessário, de tal forma que a considera como o lócus ideal ao desenvolvimento de uma agricultura ambientalmente sustentável, em função de suas características de produção diversificada, integrando atividades vegetais e animais, e por trabalhar em menores escalas.
A estrutura familiar de produção não representa uma limitação ao
desenvolvimento agrícola, mas sim que este deva ocorrer a partir de uma lógica
diferente, na medida em que – como enfatiza os âmbitos da satisfação, do desejo ou
da subjetivação, que justificam a conduta dos agricultores, nem sempre atuam de
forma dissociada como nos demais sistemas da sociedade moderna. Esta lógica é
que faz com que apresente uma estrutura social agrária com base na unidade
familiar e o conseqüente trabalho agrícola associativo e cooperado, aliado à
preocupação ambiental, inerente a agroecologia, como embrião do surgimento no
campo de uma sociedade verdadeiramente sustentável. Assis e Romeiro (apud
Costa Neto,1999).
Partindo destas premissas verificou-se que os procedimentos
adotados pelos agricultores orgânicos associados à APOL, estão em consonância
com as práticas agroecológicas para a produção orgânica, e leis ambientais
vigentes. Do total das propriedades analisadas, todas possuem devidamente
restituídas as áreas de preservação permanente, matas ciliares – nas propriedades
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que possuem cursos d’água e ainda proteção natural de minas e/ou olhos d’água,
além de barreiras naturais – efetuadas em sua grande maioria com Capim Napier,
de contenção de deriva de produtos provenientes de propriedades circunvizinhas
que realizam a agricultura convencional; também isolam lotes das propriedades de
animais, evitando o pisoteio e compactação do solo. (Figuras 3 e 4).
Figura 03 – Detalhe do desenvolvimento da planta da soja orgânica – propriedade do Sr. Hino em novembro/2009. Observe-se no lado esquerdo a barreira de proteção efetuada com Capim Napier e ao fundo manutenção de APP. Foto: Valdemir J. Batista – 2009.
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Figura 04 – Detalhe do desenvolvimento de