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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação e Humanidades Instituto de Artes Sergi Arbusà Amorós Entre a ideia e a obra: O Cubo Rio de Janeiro 2016

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Educação e Humanidades

Instituto de Artes

Sergi Arbusà Amorós

Entre a ideia e a obra: O Cubo

Rio de Janeiro

2016

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Sergi Arbusà Amorós

Entre a ideia e a obra: O Cubo

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Arte e Cultura Contemporânea.

Orientador: Prof. Dr. Jorge Luiz Cruz

Rio de Janeiro

2016

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CATALOGAÇÃO NA FONTE

UERJ/REDE SIRIUS/ BIBLIOTECA CEH/B

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta

dissertação desde que citada a fonte.

______________________________________ __________________

Assinatura Data

A667 Arbusà Amorós, Sergi. Entre a ideia e a obra: O Cubo / Sergi Arbusà Amorós. – 2016. 137 f.: il. Orientador: Jorge Luiz Cruz. Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado do Rio de

Janeiro, Instituto de Artes. 1. Escultura moderna – Séc.XXI – Rio de Janeiro (RJ) –

Teses. 2. Espaços públicos – Teses. 3. Arte - Técnica – Teses. 4. Arte e sociedade – Teses. 5. Escultura ao ar livre – Teses. 6. Água na arte – Teses. I. Cruz, Jorge Luiz. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Artes. III. Título.

CDU 730(815.3)”20”

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Sergi Arbusà Amorós

Entre a ideia e a obra: O Cubo

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Arte e Cultura Contemporânea.

Aprovada em 13 de setembro de 2016.

Banca examinadora:

________________________________________

Prof. Dr. Jorge Luiz Cruz (Orientador)

Instituto de Artes - UERJ

________________________________________

Profª. Dra. Evelyne Azevedo

Instituto de Artes - UERJ

________________________________________

Prof. Dr. Leandro Mendonça

Universidade Federal Fluminense

Rio de Janeiro

2016

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DEDICATÓRIA

A Manoela, claro.

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AGRADECIMENTOS

A colaboração de muitas pessoas foi decisiva par tornar possível este trabalho.

Agradeço ao meu orientador, Jorge Luiz Cruz, por ter aceitado me acompanhar neste

processo, pelas orientações que definiram o rumo do trabalho, pelos valiosos conselhos e

pelas leituras dos meus textos; a Evelyne Azevedo e Leandro Mendonça que integraram a

banca de qualificação e defesa da dissertação, pelos oportunos e relevantes comentários; ao

Programa de Pós-Graduação da Uerj; a Aldo Victorio Filho por ter confiado no meu projeto; a

Denise Espírito Santo, Marcelo Campos, Ricardo Basbaum, Malu Fatorelli e Regina de Paula

pelas conversas e as prestigiosas aulas; às minhas colegas do grupo de pesquisa Nay Araújo,

Nívea Faso e Luisa Mendes pela escuta, afeto e companhia; aos engenheiros da família Jordi e

Ignasi Arbusà e Carles Amorós pelo carinho, atenção e dedicação; aos amigos Gabriel

Botelho pela leitura, correções e complementações, Fabio Martinez pela bibliografia e

consideração, Bruno Coelho pelo entusiasmo e confiança e André Aires pelo envolvimento; a

todas essas conversas na Praça que repensaram e amadureceram o projeto.

Agradeço o apoio, dedicação e disponibilidade ao engenheiro Alencar Vieira e aos

geólogos Johannes Stein e Cássio Benites, e a todas as empresas que participaram da

concepção desta Obra.

Por último, agradeço especialmente a minha esposa, Manoela Guerrante, pelas trocas

que enriqueceram o projeto, leituras, correções e sugestões; pela constância e pela paciência;

pelo amor e dedicação, obrigado.

A todos, e a cada um, sou imensamente grato.

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RESUMO

ARBUSÀ AMORÓS, Sergi. Entre a ideia e a obra: O Cubo. 2016. 137f. Dissertação (Mestrado em Arte e Cultura Contemporânea) - Instituto de Artes, Universidade do Estado de Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.

Este trabalho se propõe, através da concepção de um obra específica, uma obra minha, pensar os processos artísticos contemporâneos. Embora esta dissertação não seja uma clássica dissertação onde se abordam diretamente assuntos pertinentes às ciências sociais, usando como objeto de pesquisa a Obra proposta, traçamos um percurso onde se abordam questões relativas ao processo de conceituação, produção e viabilização de uma obra, além de sua divulgação e documentação. No presente documento o leitor encontrará o processo de criação da Obra, que consiste na instalação de um cubo de gelo de 10m por 10m por 10m, 1000m3, na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro. Uma Obra que precisa considerar o material com que é realizada, o lugar onde será instalada, como será realizada tecnicamente e qual será o processo para se concretizar. Por outro lado, é uma Obra de porte significativo, instalada no espaço público e para todos os públicos, desta forma, deve ser apresentada uma série de contrapartidas à Cidade que desperte interesse na efetivação da proposta. É uma Obra onerosa que necessita de um patrocinador para financiá-la. Uma Obra efêmera, de importante visibilidade, que pretende gerar uma experiência estética ao espectador ao mesmo tempo que busca destacar uma realidade que nos afeta a todos, em todos os aspetos da nossa vida: água como recurso natural limitado. Esta dissertação é o trabalho de um artista, uma obra e o processo para viabilizá-la.

Palavras chave: Processo. Escultura. Intervenção urbana. Gelo.

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ABSTRACT

ARBUSÀ AMORÓS, Sergi. Between the idea and the opera: The Cube. 2016. 137f. Dissertação (Mestrado em Arte e Cultura Contemporânea) - Instituto de Artes, Universidade do Estado de Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.

This study aims, through the projection of a specific work, my own work, to think the contemporary art processes. This thesis is not a classic dissertation where to directly disscuss about relevant social science issues. Particularly, using as research object the proposed work, we present a guideline related to the concept of process, production and viability of an artwork, in addition to disclose and to document the opera. The reader will find the projection process of an ice cube installation sized 10m by 10m by 10m, 1000m3, at Tiradentes Square in Rio de Janeiro. A work that have to considerate the material which it is held with, the place where it will be installed, how it has to be done and the way to materialized it. On the other hand, is a work of substancial size, installed in public spaces and for all audiences. In this way it have to offer some counterparts to fullfill the competent authorities interests about the effectiveness of the proposal. It is a costly work that needs to be fund it. An ephemeral work with relevant visibility that wants to generate an aesthetic experience to the public at the same time that reflects a humankind reality: water as a natural limited resource. An idea and the way to materialize it. An opera.

Keywords: Process. Sculpture. Urban intervention. Ice.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Desenho da obra instalada no local. (Autor, 2015) .................................... 18

Figura 2 - Mapa dos rios no município do Rio de Janeiro. (GLOBO, 2015) ............. 19

Figura 3 - Frame do vídeo da performance Paradox of Praxis 1 (Sometimes

Making Something Leads to Nothing), Cidade do México (ALŸS, 1997) 21

Figura 4 - Pôster da performance Fluids, Califórnia (KAPROW, 1967) ................... 22

Figura 5 - Foto da instalação do projeto Ice Watch, Copenhague (ELIASSON,

2014) .......................................................................................................... 23

Figura 6 - Fotografia da obra Mistos (Match Cover), Barcelona (OLDENBURG,

1992) .......................................................................................................... 24

Figura 7 - Fotografia do prédio do Guggenheim de Bilbao. (GUGGENHEIM

BILBAO, 2013) ......................................................................................... 25

Figura 8 - Fotografia atual do Port Olímpic em Barcelona onde pode-se observar o

Hotel Arts, torre esquerda, e a escultura de The Fish. (HOTEL ARTS,

2015) .......................................................................................................... 26

Figura 9 - Fotografia da Árvore de Natal instalado na Lagoa Rodrigo de Freitas,

Rio de Janeiro (COSTA, 2015) .................................................................. 27

Figura 10 - Fotografia da Cidade de Gelo de Harbin, China. (KYUNG-

HOON/REUTERS, 2015) ......................................................................... 28

Figura 11 - Fotografia do congelamento artificial do Sena para escavação e

entravamento de um caixote (espaço fechado para passagem do metrô).

(1906) ......................................................................................................... 30

Figura 12 - Infograma dos recursos totais de águas renováveis em km2 por ano.

(AQUASTAT, 2013) ................................................................................. 33

Figura 13 - Infograma da média de água usada por pessoa/dia em litros.

(AQUASTAT, 2013) ................................................................................. 34

Figura 14 - Infograma dos recursos hídricos per capita. (AQUASTAT, 2013) ........... 34

Figura 15 - Mapa do Brasil indicando a disponibilidade hídrica m3/seg. (AGÊNCIA

NACIONAL DE ÁGUAS, 2015) ..............................................................

35

Figura 16 - Mapa do Brasil indicando a faixa de precipitação média anual.

(AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2015) .......................................... 35

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Figura 17 - Mapa dos sistemas aquíferos do Brasil. (AGÊNCIA NACIONAL DE

ÁGUAS, 2015) .......................................................................................... 36

Figura 18 - Tabela dos valores do consumo médio per capita de água a partir das

informações fornecidas pelos prestadores de serviços participantes do

SNIS, em 2013 e na média dos últimos três anos, segundo estado, região

geográfica e Brasil. (BRASIL, 2013) ........................................................ 38

Figura 19 - Representação espacial do índice médio de atendimento urbano por rede

de água dos municípios cujos prestadores de serviços são participantes

do SNIS em 2013, distribuído por faixas percentuais, segundo estado.

(BRASIL, 2013) ………………………………………………………… 39

Figura 20 - Gráfico do índice de perdas na distribuição dos prestadores de serviços

participantes do SNIS em 2013, segundo capital de estado e média do

Brasil. (BRASIL, 2013) ............................................................................. 40

Figura 21 - Gráfico do índice de perdas na distribuição dos prestadores de serviços

de abrangência regional participantes do SNIS em 2013, segundo

prestador de serviços. (BRASIL, 2013) ..................................................... 40

Figura 22 - Representação espacial e tabela do índice de perdas na distribuição dos

prestadores de serviços participantes do SNIS em 2013, distribuído por

faixas percentuais, segundo estado, região e Brasil. (BRASIL, 2013) ...... 41

Figura 23 - Tabela dos níveis de atendimento com água e esgotos dos municípios

cujos prestadores de serviços são participantes do SNIS em 2013,

segundo região geográfica e Brasil. (BRASIL, 2013) ............................... 41

Figura 24 - Representação espacial do índice médio de atendimento urbano por rede

coletora de esgotos dos municípios cujos prestadores de serviços são

participantes do SNIS em 2013, distribuído por faixas percentuais,

segundo estado. (BRASIL, 2013) .............................................................. 42

Figura 25 - Tabela da produção anual de 2005 a 2012 de água de reúso da ETE da

Penha. (CEDAE, 2008) .............................................................................. 44

Figura 26 - Desenho de Dom Pedro I jurando a constituição portuguesa no Real

Teatro São João situado no Campo dos Ciganos, 1821. (DEBRET, 1821) 47

Figura 27 - Fotografia da Estátua de Dom Pedro I onde, também, pode-se observar o

Arco de Triunfo erguido em motivo da inauguração da Estátua, 1862.

Praça da Constituição, Rio de Janeiro. (KLUMB, 1862) .......................... 47

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Figura 28 - Gravura Place de la Constitution, à Rio.(THEGANDE, 1869) ................. 48

Figura 29 - Fotografia da Praça Tiradentes durante a última remodelação concluída

em 2012. (2012) ......................................................................................... 49

Figura 30 - Mapa do Corredor Cultural. (PREFEITURA RIO DE JANEIRO, 2016) . 50

Figura 31 - Representação a escala da Praça Tiradentes. (Autor, 2015) ...................... 51

Figura 32 - Mapa simulação do lugar onde se ergueu a cidade de Rio de Janeiro,

Bahia de Guanabara, em 1500. (AMADOR, 1997) ................................... 53

Figura 33 - Mapa da cidade de Rio de Janeiro em 1867. (1867) .................................. 54

Figura 34 - Mapa geológico do Estado do Rio de Janeiro, 1955. (BRASIL, 1955) ..... 54

Figura 35 - Imagem da Praça com a Base da Obra instalada. (Autor, 2016) ............... 57

Figura 36 - Imagem detalhe da Base da Obra. (Autor, 2016) ...................................... 58

Figura 37 - Imagem da Praça com o Molde contentor e a Base da Obra instalados.

(Autor, 2016) ............................................................................................. 58

Figura 38 - Imagem detalhe do Molde contentor da Obra. (Autor, 2016) ................... 59

Figura 39 - Imagem da Praça com a Câmara Refrigeradora, o molde contentor e a

base da Obra instalados. (Autor, 2016) ...................................................... 59

Figura 40 - Imagem detalhe do Molde contentor da Obra. (Autor, 2016) ................... 60

Figura 41 - Imagem da Praça com a Câmara Refrigeradora, o Molde contentor e a

Base da Obra instalados quando um caminhão pipa está enchendo o

molde contentor com umas das camadas de água. (Autor, 2016) .............. 60

Figura 42 - Imagem da Praça com a Obra pronta e aberta ao público. (Autor, 2016) . 61

Figura 43 - Imagem detalhe da Obra exposta. (Autor, 2016) ....................................... 61

Figura 44 - Gráfico da previsão da trajetória do sol no dia 21 de dezembro de 2017

na Praça Tiradentes, Rio de Janeiro. (SUNCALC, 2016) ......................... 63

Figura 45 - Gráfico da média mensal da despesa familiar com recreação e cultura

por faixa etária no Brasil. Fonte: IBGE/POF, 2002-2003. (BRASIL,

2010) .......................................................................................................... 68

Figura 46 - Gráfico da média mensal da despesa familiar com recreação e cultura,

por anos de estudo da pessoa de referência da família no Brasil. Fonte:

IBGE/POF, 2002-2003. (BRASIL, 2010) ................................................. 69

Figura 47 - Gráfico da média mensal da despesa familiar com recreação e cultura

por gênero da pessoa de referência na família no Brasil. Fonte:

IBGE/POF, 2002-2003. (BRASIL, 2010) ................................................. 69

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Figura 48 - Gráfico da média mensal da despesa familiar com recreação e cultura,

por raça ou cor da pessoa de referência na família no Brasil. Fonte:

IBGE/POF, 2002-2003. (BRASIL, 2010) ................................................. 69

Figura 49 - Tabela de custos do projeto. (Autor, 2016) ............................................... 74

Figura 50 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 1.

(Autor, 2015) ............................................................................................. 92

Figura 51 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 2.

(Autor, 2015) ............................................................................................. 93

Figura 52 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 3.

(Autor, 2015) ............................................................................................. 94

Figura 53 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 4.

(Autor, 2015) ............................................................................................. 95

Figura 54 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 5.

(Autor, 2015) ............................................................................................. 96

Figura 55 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 6.

(Autor, 2015) ............................................................................................. 97

Figura 56 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 7.

(Autor, 2015) ............................................................................................. 98

Figura 57 - Fotografia da Ocupação da Praça Tiradentes de maio de 2016. (Autor,

2016) …………………………………………………………………….. 100

Figura 58 - Imagem 1 da intervenção Toque Divagar, instalada na Praça Tiradentes

do 15 de setembro a 6 de outubro de 2012. (MOURÃO, 2012) ................ 105

Figura 59 - Imagem 2 da intervenção Toque Divagar, instalada na Praça Tiradentes

do 15 de setembro a 6 de outubro de 2012. (MOURÃO, 2012) ................ 105

Figura 60 - Imagem 3 da intervenção Toque Divagar, instalada na Praça Tiradentes

do 15 de setembro a 6 de outubro de 2012. (MOURÃO, 2012) ................ 106

Figura 61 - Orçamento do projeto de documentação Time-Lapse da Obra e sua

construção. Folha 1. (HUOLIVER, 2016) ................................................. 110

Figura 62 - Orçamento do projeto de documentação Time-Lapse da Obra e sua

construção. Folha 2. (HUOLIVER, 2016) ................................................. 111

Figura 63 - Orçamento do projeto de documentação Time-Lapse da Obra e sua

construção. Folha 3. (HUOLIVER, 2016) ................................................. 112

Figura 64 - Orçamento do projeto audiovisual da obra e o processo de construção do

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Cubo. (MALÍCIA VISUAL, 2016) ........................................................... 113

Figura 65 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça

Tiradentes. Folha 1. (ENVIROGEO, 2016) .............................................. 115

Figura 66 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça

Tiradentes. Folha 2. (ENVIROGEO, 2016) .............................................. 116

Figura 67 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça

Tiradentes. Folha 3. (ENVIROGEO, 2016) .............................................. 117

Figura 68 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça

Tiradentes. Folha 4. (ENVIROGEO, 2016) .............................................. 118

Figura 69 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça

Tiradentes. Folha 5. (ENVIROGEO, 2016) .............................................. 119

Figura 70 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça

Tiradentes. Folha 6. (ENVIROGEO, 2016) .............................................. 120

Figura 71 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça

Tiradentes. Folha 7. (ENVIROGEO, 2016) .............................................. 121

Figura 72 - Desenho 1 do projeto da câmara refrigeradora. (TERMKCAL, 2016) ..... 123

Figura 73 - Desenho 2 do projeto da câmara refrigeradora. (TERMKCAL, 2016) ..... 124

Figura 74 - Desenho 3 do projeto da câmara refrigeradora. (TERMKCAL, 2016) ..... 125

Figura 75 - Orçamento da estrutura tubular com a que será construído o molde

contentor que dará forma ao Cubo. (FEELING, 2016) ............................. 126

Figura 76 - Projeto O Cubo, folha 1. (Autor, 2016) …...................………...………... 128

Figura 77 - Projeto O Cubo, folha 2. (Autor, 2016) …...……….…......……………... 129

Figura 78 - Projeto O Cubo, folha 3. (Autor, 2016) …………........................………. 130

Figura 79 - Projeto O Cubo, folha 4. (Autor, 2016) …………......................………... 131

Figura 80 - Projeto O Cubo, folha 5. (Autor, 2016) ………….............…......……….. 132

Figura 81 - Projeto O Cubo, folha 6. (Autor, 2016) ………...........................……….. 133

Figura 82 - Projeto O Cubo, folha 7. (Autor, 2016) …………........................………. 134

Figura 83 - Projeto O Cubo, folha 8. (Autor, 2016) …......……..............................…. 135

Figura 84 - Projeto O Cubo, folha 9. (Autor, 2016) ……………..................………... 136

Figura 85 - Projeto O Cubo, folha 10. (Autor, 2016) ……………................………... 137

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................. 14

1 A OBRA .......................................................................................................... 18

2 O MATERIAL ............................................................................................... 32

3 O LUGAR ....................................................................................................... 46

4 AGENTES ENVOLVIDOS E CRONOGRAMA DE MONTAGEM ....... 56

5 CAPTAÇÃO DE RECURSOS ..................................................................... 65

6 DIVULGAÇÃO .............................................................................................. 68

7 OS VALORES ................................................................................................ 73

8 O PROJETO .................................................................................................. 75

CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES ........................................ 76

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 79

ANEXOS ......................................................................................................... 82

 

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INTRODUÇÃO

Este trabalho trata de um artista, uma ideia, uma obra e um processo para viabilizá-la.

Em uma entrevista Olafur Eliasson comenta: It is important, he says, not to mistake an idea for a work of art. “Between an idea and doing something, there’s a bridge. First you make a sketch, it’s a small doodle but it’s amazing, at that moment you have changed the world! Then you might do another drawing, a cardboard model, add colour, put it into a computer, maybe a scientist assists. The assumption in our society is that creativity lies within these choices, between cardboard and wood, red and blue, floor or ceiling, but it doesn’t. It is in the quality of the way it grips the world”1.

Converter uma ideia em obra e fazê-la existir é o objeto desta dissertação. Trata-se de

uma obra minha, original e inédita, escolhida como objeto de estudo por causa das suas

características técnicas, de dificultosa produção, que requer profissionais de diversas áreas de

atuação, além de considerar a relação com órgãos públicos e a necessidade de patrocínio.

Realizar uma obra do porte da apresentada neste trabalho é uma empreitada que envolve

grande quantidade de agentes e fatores que colocam como pano de fundo elementos-chave

do mundo da arte, que acabam complexificando a simples equação artista-obra-público.

Em primeiro lugar, em alguns tipos de obras, como a que nos ocupa, temos o artista,

sim, mas é um criativo que não consegue realizar a obra sozinho. Precisa de físicos, químicos

e engenheiros especializados para poder fazê-la, estudar sua confecção. Posteriormente, tem

que recorrer à indústria para saber como será feita e precisará de pessoal qualificado para

construí-la. Na verdade, segue a lógica do arquiteto como artista, um artista que projeta a

obra mas não a executa. Neste caso, temos que pensar em uma obra que não é objeto. Uma

obra não enquadrada na antiga concepção de mercado da arte, que a entende como um

objeto-produto que possa ser comercializado em galerias-lojas a um público-cliente que a

colocará na sua coleção. Esta é uma obra efêmera. Uma obra que se relaciona com o espaço

onde é instalada e que não pode ser posse de alguém. Uma obra que, de alguma maneira,

quer chegar ao público, a todos os públicos. Uma obra que quer ser lida pelos entendidos em 1 ELIASSON, Olafur. Olafur Eliasson at Fondation Louis Vuitton, Londres, The Financial Times. 5 dez. 2014. Entrevista concedida a WULLSCHLAGER, Jackie. Disponível em: <http://www.ft.com/cms/s/2/2ecac286-7a1c-11e4-9b34-00144feabdc0.html>. Acesso em: 2 set. 2015. O trecho correspondente na tradução é: “É importante, ele diz, não confundir uma ideia e uma obra de arte. “Entre uma ideia e fazer alguma coisa, existe uma ponte. Primeiro você faz um desenho, um pequeno rabisco, mas é maravilhoso: naquele momento você mudou o mundo! Depois, você prepara outro desenho, um modelo em papelão, acrescenta cores, coloca a imagem no computador, talvez solicite a ajuda de um cientista. A suposição em nossa sociedade é de que a criatividade está nas escolhas, entre o papel e a madeira, o vermelho e o azul, o teto ou o piso, mas não está. Está na qualidade da forma pela qual ela toma o mundo”. (Tradução: Paulo Migliacci).

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arte, pelos experts na área e pelos não tão familiarizados com a matéria. Uma obra que se

apresenta determinada dizendo: - eu sou arte - e procura, em um entorno urbano que não a

legitima como tal, que o próprio espectador decida e aceite o que para ele é. Esta obra, ainda

sendo escultórica, perde a natureza de objeto e, por causa da categoria de efêmera e urbana,

funcionará com uma lógica mais parecida com a dos eventos, procurando gerar uma

experiência em relação ao espectador.

Quando pensamos em uma obra efêmera, no nosso caso, aparece com força a

necessidade de documentar o acontecimento incluindo todo o processo de construção e a

resposta dos assistentes, gerando assim um documento audiovisual que permita a posterior

divulgação do sucedido em forma de testemunha, “vestígio”2. Por causa disto, o projeto

apresentado contém um projeto audiovisual a fim de documentar o evento e, de algum modo,

perpetuar a lembrança da obra.

Por outro lado, a nossa proposta é uma obra realizada inteiramente com água, um

recurso essencial para a vida que conhecemos. O fato de trabalharmos com este material

provê a obra de uma carga conceitual importante que acaba compreendendo uma igualmente

relevante responsabilidade e, ao entender a dimensão do recurso e da sua gestão, uma forte

mensagem política. A Obra não só quer usar a água como material para chegar a um

resultado formal e com isso gerar uma experiência estética ao espetador, a proposta busca

tratar a questão do recurso em si, quer falar da sua importância e da necessidade de,

particularmente em um país como Brasil que contém a maior reserva de água doce do

mundo, implementar políticas sérias de cuidado e conservação deste bem tão precioso.

Fugindo dos lugares tradicionais de exposição e adotando a rua como espaço de

relação e ativação com o público, a Obra se impõe no seu dia-a-dia em busca, também, de

uma aproximação com as pessoas que não a procuraram. Apesar disto, para a proposta ser

realizada, entendendo que o artista não é reconhecido, nem pode custeá-la, a lógica do

mercado entra com força na parte do financiamento. Alguém tem que pagar o alto custo

desta intervenção e para isto há que “caminhar com o diabo”.

Em 1994, o curador e crítico cubano, Gerardo Mosquera, termina um ensaio sobre a

arte na América Latina, para o catálogo da exposição Cocido y crudo do Museo Nacional

Centro de Arte Reina Sofia em Madrid, com esta piada galega:

Un campesino tenía que atravesar un puente en muy malas condiciones. Entró en él atento, y mientras avanzaba con pies de plomo decía: “ Dios es bueno, el diablo

2 NANCY, Jean-Luc. O Vestígio da Arte. Conferência pronunciada no Jeu de Paume, e publicada primerio em L’Art contemporain in question, Paris, Jeu de Paume, 1994. In: HUCHET, Stéphane (org.). Fragmentos de uma Teoria da Arte. São Paulo, Ed: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.

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no es malo; Dios es bueno, el diablo no es malo…” El puente crujía y el campesino repetía la frase, hasta que finalmente alcanzó la otra orilla. Entonces exclamó: “¡Vayan al carajo los dos!”. Y prosiguió su caminho (MOSQUERA, 1994)3.

O mesmo autor, no texto Caminando con el Diablo. Arte Contemporáneo,Cultura e

Internacionalización (MOSQUERA, 2010) recupera a história e adiciona um capítulo onde

conta quando o diabo se reencontra com o camponês:

Este quedó inmóvil, presa del terror. El diablo lo miró con calma y le dijo: “No te asustes, no soy rencoroso. Sólo quiero proponerte algo: sigue tu camino propio, por ti mismo, pero deja que te acompañe; acéptame, y te abriré las puertas del mundo”. Y el campesino, entre asustado, pragmático y ambicioso, accedió. Así, catorce años después, el “arte latinoamericano” ha proseguido su derrotero, pero dentro de las estrategias del diablo, quien, por otro lado (y esto el arte de América Latina lo ha sabido siempre), no es tan malvado como parece”4.

Aproveitando a fábula que Mosquera utiliza para falar da arte da América Latina se

propõe a aceitação que há que ser consciente da importância das, como diz Canclini, forças

extraculturais (2013)5, na própria prática artística. Tem-se que ativar os mecanismos que

permitam a realização da obra assegurando a natureza da mesma. Para isto há que se

construir uma sólida proposta específica, clara e contundente, que desperte o interesse dos

capitais e das instituições locais. Realizada a proposta com especificações bem detalhadas da

obra, valores e cronograma da montagem, deve-se procurar o apoio das instituições públicas

vinculadas à cultura e a espaços públicos urbanos para obter a permissão e ajuda de qualquer

tipo. Em paralelo, entendendo que algumas decisões irão alimentar e condicionar as outras,

há que se procurar investimentos de instituições e programas dedicados à promoção das artes

e da cultura mas, principalmente, negociar com marcas e empresas para captar recursos

através de uma proposta de colaboração na lógica da publicidade e visibilidade. Por

conseguinte, nesta nossa obra, a participação do patrocinador é determinante para a sua

3 MOSQUERA, Gerardo. Caminar con el Diablo: Textos sobre arte, internacionalismo y culturas. 2 ed. Madrid, Exit Publicaciones, 2010, p. 152. O trecho correspondente na tradução é: "Um camponês teve que atravessar uma ponte em mau estado. Ele entrou atencioso, e enquanto caminhava cautelosamente disse: ‘Deus é bom, o diabo não é mau; Deus é bom, o diabo não é mau ...’ A ponte rangia e o camponês repetia a frase, até que finalmente chegou à outra margem. Então ele disse: ‘Ambos vão para o inferno!’. E seguiu o seu caminho.” “Ele, o camponês, congelou em terror. O diabo olhou para ele com calma e disse: ‘Não tenha medo, eu não estou ressentido. Eu só quero propor algo: segue seu próprio caminho, por si mesmo, mas deixe-me acompanhá-lo; aceita-me, e vou te abrir as portas do mundo’. E o camponês, entre medroso, pragmático e ambicioso, concordou. Assim, quatorze anos mais tarde, a ‘arte latino-americana’ continuou o seu curso, mas dentro das estratégias do diabo, que, por outro lado (e isto a arte latino-americana sempre soube), não é tão ruim quanto parece." (T.N.) 4 Ibid. 5 CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas. Estratégias para entrar e sair da modernidade. (“Coleção Ensaios Latino-americanos 1”) 4ª edição, São Paulo, Ed: EDUSP (Editora Da Universidade de São Paulo), 2013.

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realização, obrigando o artista a negociar a proposta com o responsável pelo financiamento

tendo que, eventualmente, adaptar a obra, sempre dentro do que o artista considerar

aceitável, às condições do benemérito.

Esta, portanto, não é uma proposta simples, pelo contrário é ambiciosa, e é escolhida

especificamente pelas complicações de caráter ético, técnico, econômico, legais e de

produção que envolve. Um projeto que, no processo de projeção e viabilização, permitirá

entender e mapear a quantidade de agentes envolvidos na realização de uma obra destas

características, abrindo a reflexão sobre a simplificada equação “artista-obra-público”

quando uma ideia quer ser convertida em obra.

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1. A OBRA

A obra, intitulada o Cubo, é um cubo de gelo maciço de 10m x 10m x 10m instalado

na Praça Tiradentes no Rio de Janeiro. O Cubo de 1.000m3 vai derretendo em temperatura

ambiente até o fim, marcando o tempo da peça.

Figura 1 - Desenho da obra instalada no local.

Fonte: O autor, 2015.

A principal questão da monumental peça é o fato de ter a água como matéria-prima,

uma substância abundante no planeta e no universo. A água é o maior constituinte dos seres

vivos e estes precisam de água para viver. A água é a origem da vida. A água é o material

mais valioso da Terra. A água doce, consumida pela fauna e flora terrestres, incluindo os

seres humanos, não está distribuída uniformemente e, por isso, há regiões que sofrem de

escassez hídrica. Sendo assim, a realização de uma obra de arte com este material é cercada

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por uma carga ética, ecológica, política, social e econômica, que precisa ser levada em

consideração.

A obra está projetada para ser realizada no Rio de Janeiro, cidade localizada no

litoral, em uma área de clima tropical, onde a flora é abundante e exuberante. Uma metrópole

situada em uma região de vasta hidrografia composta por uma importante quantidade de rios

e lagoas.

Figura 2 - Mapa dos rios no município do Rio de Janeiro. Editora de Arte de Globo, 2015.6

Fonte: Secretaria Municipal de Saneamento e Recursos Hídricos.

Sem querer estender o assunto, pode-se dizer que o Rio de Janeiro não é uma cidade

incluída em região geográfica que sofre de escassez hídrica e esta é uma das razões pelas

quais se escolheu esta cidade para receber esta peça. Ainda assim, o racionamento de água

não é uma prática estranha aos habitantes da cidade e isto nos leva para o ponto seguinte,

mais político.

A peça proposta neste projeto é uma obra a ser realizada com uma quantidade de

1.000.000 de litros de água. Um número astronômico na proporção humana, porém

minúscula na escala da indústria e na imagem global. Nesta escala é onde o projeto ganha

força. Um projeto que facilita, através de uma escultura, em uma proposta artística, a

visualização de um tamanho, de uma quantidade, gerando uma referência. O fotógrafo 6 O Globo. Fonte: Secretaria Municipal de Saneamento e Recursos Hídricos.Visto em: <http://oglobo.globo.com/rio/bairros/rios-cariocas-entre-esquecimento-o-futuro-15652879>. Acesso em: 25 set. 2015.

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americano James Balog, fundador e diretor do projeto Extreme Ice Survey 7, comenta, no

documentário que mostra o trabalho realizado, chamado Chasing Ice:

“We don’t have a problem with economics, technology and public policy, we have a problem

with perception.”8

Se o projeto que aqui se expõe tem algum poder de conscientização é a partir do

volume e das proporções, facilitando a percepção. O cubo mostra uma unidade que pode

servir de ponte entre os valores da escala humana e os valores da escala da natureza ou da

escala industrial. O espectador pode ver o cubo, pode senti-lo e pode medi-lo.

Nossa peça é formada por 1.000.000 de litros de água, correspondentes a

1.000.000.000 cm3, a 1.000.000 dm3 e a 1000 m3. Este volume representa 1/250 da

quantidade média do caudal que desce pelo Rio Amazonas em um segundo, 2/3 da

quantidade média de queda nas cachoeiras de Iguaçu em um segundo, um segundo de caudal

do Rio Paraíba do Sul. A quantidade de água que há em 2,5 Cubos é a água que contém uma

piscina olímpica. O Cubo é a água que usam 3 pessoas e meia, no Brasil, em um ano; a água

que usam 1.195 pessoas em um dia no Brasil, 1.195 dias de uso de água por uma pessoa no

Brasil. Os recursos de água renovável do Brasil são de 823.300.000.000 vezes o Cubo, dos

quais são consumidos 58.100.000 vezes o Cubo em água por ano. Partindo do consumo

médio por pessoa diário, no Brasil, uma pessoa consome um Cubo a cada 3,2 anos. Os

recursos hídricos do Brasil oferecem mais de 27 Cubos por pessoa ao ano9.

Um milhão de litros de água na Praça Tiradentes. Um milhão de litros de água na

cidade, no seu dia-a-dia, comparado aos prédios, às arvores, às luminárias, à estátua, às

pessoas. Um milhão de litros de água se relacionando com o entorno. Um milhão de litros de

água de reúso que, depois de ter feito parte da escultura, continua o seu curso.

O Cubo é feito de gelo e vai se derretendo. Uma enorme e pesada massa leve. Um

bloco vivo, assustadoramente grande, frágil, poderoso, imóvel, agonizando, sublime. Um

enorme cubo que se impõe à frente do espectador, no cotidiano, em uma escala que coloca o

espectador em xeque. Uma presença imponente que obriga a parar e, chocante, pede uma

7 O projeto Extreme Ice Survey (EIS), nascido em 2007, com sede em Boulder, Colorado, trabalha com fotografia time-lapse, fotografia convencional e vídeo para documentar os efeitos do aquecimento global nas calotas polares. 8 Chasing Ice. Dir. Jeff Orlowski. EUA, Submarine Deluxe Film, 2013. O trecho correspondente na tradução é: “Não temos um problema com a economia, a tecnologia e a política pública, temos um problema com a percepção” (T.N.) 9 AQUASTAT, banco de dados online. Fonte: The Food and Agriculture Organization das Nações Unidas, 2010. Disponível em: <http://chartsbin.com/view/1455>. Acesso em: 28 set. 2015.

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explicação. Lá estão os dois, cubo e espectador, lado a lado. Parados, se consumindo.

Pensando no tempo, pensando no clima, pensando no consumo, na água.

É um cubo de gelo, reconhecível, normal. Um cubo fabricado, feito por alguém.

Construído.

Uma referência importante à proposta, devido ao material utilizado e à relação que

estabelece com o espaço urbano, é a obra do artista belga Francis Alÿs, realizada em 1997 na

Cidade do México, chamada Paradox of Praxis 1 (Sometimes Making Something Leads to

Nothing), onde o artista empurrava um bloco de gelo pela cidade enquanto ele derretia. A

obra termina no momento em que o bloco de gelo derrete completamente e desaparece.

Figura 3 - Frame do vídeo da performance Paradox of Praxis 1 (Sometimes Making Something Leads to Nothing), Cidade do México (ALŸS, 1997).10

Fonte: Francis Alÿs.

Outra importante referência é a obra realizada em 1967 na Califórnia pelo artista norte-

americano Allan Kaprow, chamada Fluids. Durante três dias, o artista construiu quatro

paredes com blocos de gelo, formando um espaço, e os deixou derretendo em temperatura

ambiente.

10 ALŸS, Francis. Paradox of Praxis 1 (Sometimes Making Something Leads to Nothing). Mexico City, 1997. 4:59 min. Disponível em: < http://www.francisalys.com/public/hielo.html> Acesso em: 29 set. 2015.

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Figura 4 - Pôster da performance Fluids, Califórnia (KAPROW, 1967)11.

Fonte: Allan Kaprow Estate and Hauser & Wirth.

A obra do artista dinamarquês Olafur Eliasson, realizada em 2014 em Copenhague e

posteriormente repetida em outras cidades, chamada Ice Watch, também merece destaque. O

artista colocou em frente ao prédio da prefeitura local 12 pedaços de gelo, somando 100

toneladas, trazidos do fiorde Nuup Kangerlua, na Groenlândia, que derreteram em

temperatura ambiente durante três dias.

11 Courtesy Allan Kaprow Estate and Hauser & Wirth, Disponível em: <http://www.kaprowinberlin.smb.museum/en/> Acesso em: 29 set. 2015.

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Figura 5 - Foto da instalação do projeto Ice Watch, Copenhague (ELIASSON, 2014)12.

Fonte: Olafur Eliasson.

Por outras razões, pode-se estabelecer relação, também, com a maior parte da

produção artística do norte-americano Claes Oldenburg. Uma obra escultórica que apresenta

como principal recurso a extrapolação do tamanho de objetos cotidianos e a realocação dos

mesmos no espaço urbano.

12 Ice Watch project, Disponível em: <http://olafureliasson.net/icewatch> Acesso em: 29 set. 2015.

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Figura 6 - Mistos (Match Cover), Barcelona (OLDENBURG, 1992)13.

Fonte: Claes Oldenburg and Coosje Van Bruggen

Em outra linha de referências, como anuncia o arquiteto Dr. Josep Maria Montaner

no livro Museos para el Siglo XXI14, ao longo da história recente encontramos muitos

exemplos de arquiteturas emblemáticas que funcionam como catalizadores das

transformações urbanísticas no local onde são instaladas. Arquiteturas, geralmente museus,

que funcionam como uma enorme escultura onde o próprio edifício é apresentado como obra

do acervo, como uma escultura urbana que age como ponto de interesse cultural e, muitas

vezes, como símbolo da cidade ou da região. Um dos exemplos mais paradigmáticos é o do

prédio do Museo Guggenheim de Bilbao, do arquiteto Frank Gehry, que acabou atraindo um

novo tipo de turismo à cidade de Bilbao, cidade principalmente industrial, convertendo-a em

uma capital conhecida internacionalmente.

13 OLDENBURG, Claes. Mistos (Match Cover), Disponível em: <http://oldenburgvanbruggen.com/largescaleprojects/mistos-01.htm>, acesso em: 29 set. 2015. 14 MONTANER, Josep Maria. Museos para el Siglo XXI. 1ª edição, Barcelona, Ed: Gustavo Gili, 2003.

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Figura 7 - Fotografia do prédio do Guggenheim de Bilbao.15

Fonte: Guggenheim Bilbao.

Como exemplo mais próximo desta realidade, no Rio de Janeiro, atualmente está se vivendo

os efeitos da implantação deste modelo urbanístico com a revitalização da zona portuária a

partir do projeto Porto Maravilha e o símbolo deste, o Museu do Amanhã, do arquiteto

Santiago Calatrava. Este projeto que, enquanto estou escrevendo, está se desenvolvendo no

Rio de Janeiro é abertamente inspirado na modificação urbanística que a cidade de Barcelona

viveu para acolher as olimpíadas de 1992. Em Barcelona, para a efeméride, além de se

revitalizar a área portuária e abrir a cidade para o mar usando símbolos arquitetônicos, como

pode ser o Hotel Arts do arquiteto Bruce Graham, ou a escultura The Fish do arquiteto

anteriormente citado Frank Gehry, realizou-se uma proposta chamada Olimpíada Cultural,

em que se instalaram mais de 50 esculturas urbanas, de artistas locais e internacionais; os

Mistos de Claes Oldenburg fazem parte desta proposta, com o intuito de revalorizar outros

espaços da capital e estender o evento esportivo à cidade como um todo.

15 Disponível em: <http://www.guggenheim-bilbao.es/>. Acesso em: 20 jul. 2016.

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Figura 8 - Fotografia atual do Port Olímpic em Barcelona onde pode-se observar o Hotel Arts, torre esquerda, e a escultura de The Fish.16

Fonte: Hotel Arts.

Nossa proposta não foi pensada para aproveitar o movimento cultural que um evento

como as Olímpiadas, que o Rio de Janeiro acolheu recentemente, pode gerar mas, entende-

se, sim, que uma obra das características de O Cubo pode ser interessante sob um ponto de

vista urbanístico, alinhado a algumas das diretrizes do Plano Diretor da Cidade que dizem

respeito à revitalização e ocupação da área central do Rio. No entanto, acreditamos que, em

questões de visibilidade, a Cidade e o patrocinador podem ter interesse em que a intervenção

aconteça no contexto de um evento maior como poderiam ser os recentes Jogos Olímpicos17.

Como última referência e respeitando as distâncias, desde 1996, cada ano se instala

na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, a Árvore de Natal do Bradesco Seguros, como

símbolo das Festas. Esta referência já inclui de forma clara o componente publicitário da

proposta. Como curiosidade, em um levantamento aproximado realizado pelo jornalista

Agostinho Vieira (2015), estabelece-se que os custos da intervenção encontram-se entre os 9

e os 20 milhões de reais18.

16 Disponível em: <http://www.hotelartsbarcelona.com/es>. Acesso em: 20 jul. 2016. 17 BRASIL. Programa de Cultura nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cultura/2016/05/conheca-a-programacao-cultural-dos-jogos-rio-2016>. Acesso em 1 ago. 2016. 18 VIEIRA, Agostinho. Quanto custa a árvore de Natal? Projeto Colabora, 23 de dezembro de 2015. Disponível em: <http://projetocolabora.com.br/cidades/quanto-custa-a-arvore-de-natal/>. Acesso em: 24 jun. 2016.

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Figura 9 - Fotografia da Árvore de Natal instalado na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, 2015. (COSTA, 2015)19.

Fonte: Guto Costa.

Tecnicamente, a nossa obra é um cubo de gelo e pretende ser isto. A intenção é

construir um cubo o mais semelhante possível aos cubos de uso doméstico, tanto quanto à

forma quanto ao material. A questão principal é a sua dimensão e, por causa disso, há que se

considerar uma série de fatores.

Em primeiro lugar, será maciço e um cubo de gelo sólido dessas dimensões pesa

1000 toneladas, aproximadamente. Um elemento deste tamanho e peso não pode ser

simplesmente pousado no solo da Praça já que, dependendo da composição do subsolo local,

poderia afundar e, com isso, danificar o entorno. Desta forma, a primeira providência a ser

tomada é a realização de um estudo do subsolo para determinar a possível necessidade de

uma fundação que sustente o peso da peça. Em segundo lugar, o calor que o chão emana

derreteria a superfície da base do cubo, gerando uma pequena camada de água que o levaria

a se movimentar no sentido que a topografia mandasse. Nesta condição, a obra precisa ser

colocada sobre uma base isolante que resista ao peso da peça e evite a transmissão do calor

proveniente do solo. Por outro lado, esta base deve conter um sistema de coleta que

encaminhe a água derretida ao sistema de coleta de águas pluviais, evitando, assim, a

19 Disponível em: < http://www.arvorenatalbradescoseguros.com.br/ensaio-02-2015/>. Acesso em: 20 jul. 2016.

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“inundação” da praça. Na lógica do discurso artístico, seria interessante deixar a água

derretida na praça, em volta da peça, mas devido à quantidade de litros de água gerados,

acarretaria um certo perigo aos pedestres e visitantes e isto, com certeza, seria mais um

empecilho para viabilizar o projeto.

Em terceiro lugar, o cubo de gelo será integralmente realizado com água de reúso por

uma questão puramente ecológica. Esta opção não é uma escolha que agilize a produção,

nem que faça deste um projeto mais viável economicamente. As razões pelas quais a peça

será realizada com este recurso é o compromisso ecológico assumido e a responsabilidade

social que implica trabalhar com este material, além de destacar a existência deste recurso,

água de reúso, como alternativa sustentável para reduzir o consumo e a poluição das nossas

águas.

Para a construção da escultura, entendemos que a melhor solução, de acordo com as

dimensões da obra e do material utilizado, é confeccioná-la in situ. Tendo em vista que na

indústria e no mercado não existe nenhum precedente da fabricação de uma peça de gelo

destas dimensões, devemos criar uma maneira de fazê-la. Ao usar como referência a cidade

de gelo de Harbin, no nordeste da China, percebemos que o método construtivo das

arquiteturas e das esculturas é o de empilhamento de grandes blocos de gelo.

Figura 10 - Fotografia da Cidade de Gelo de Harbin, China.20

Fonte: Kim Kyung-Hoon / Reuters.

20 CARVALHO, Luciana. Arte de gelo. Revista Exame. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/festival-na-china-constroi-uma-incrivel-cidade-de-gelo-veja> Acesso em: 20 jul. 2016.

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Nesse caso, a temperatura do local, em janeiro, à época do Festival Internacional de

Esculturas no Gelo e Neve, está em torno de -17ºC. Esta temperatura possibilita o uso deste

sistema de construção que, no nosso caso, com uma temperatura média de 30ºC, torna-se

inviável. Pela dificuldade no método construtivo, pela questão estética, de não querer que as

junções entre os blocos apareçam e que se estabeleça uma relação com a construção

arquitetônica mais do que com um único bloco de gelo, e por questões de segurança esta

opção é descartada e trabalhamos a opção do congelamento do material no local.

Entre 1898 e 1910 foi construída a parte central do metrô de Paris. Uma das

principais dificuldades se deu no momento de construir o componente que tinha que

atravessar o Sena, entre as estações Cité e Saint-Michel. As margens do Sena não podiam ser

perfuradas, a lama colapsava impedindo a abertura do túnel. Em 1905, frente a este desafio,

o arquiteto Léon Chagnaud resolveu congelar as margens para, assim, poderem ser

perfuradas. A fim de permitir a abertura do túnel, quinze metros abaixo do leito do Sena, o

solo foi congelado com salmoura de cloreto de cálcio a - 24°C. Depois de 40 dias de

congelamento, a perfuração foi possível.21

21 FRANÇA. Breve história do metrô de Paris. Paris, Service d'information du Gouvernement (Serviço de Informação do Governo). France.fr. Disponível em: <http://www.france.fr/pt/paris-e-arredores/breve-historia-do-metro-de-paris.html>. Acesso em: 29 set. 2015.

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Figura 11 - Fotografia do congelamento artificial do Sena para escavação e entravamento de um caixote (espaço fechado para passagem do metrô) (1906).22

Fonte: J. Boyer e R. Viollet.

Inspirados por esta ideia, pretendemos construir uma câmera refrigeradora de 12m3

na própria Praça, que permita chegar a uma temperatura de -12ºC. No interior da câmara,

situaremos a fôrma que vai modelar o gelo. Um molde que não requer grande resistência, já

que o processo de congelamento, diferente do processo seguido em Paris, será feito em

camadas de 10m por 10m por 20cm de altura. Quando a camada anterior estiver congelada,

adiciona-se outra camada com mais 20cm de altura, até alcançar o tamanho do Cubo. Com

este processo conseguimos erguer e congelar o Cubo sem ter que construir uma represa que

contenha os 1000m3 de água. Chegada à altura desejada, o mecanismo de congelamento será

retirado e a peça estará pronta.

A partir do momento que a escultura estiver pronta, abre-se o período de exposição

que durará o tempo que as condições climáticas permitirem. Durante estas datas, a proposta é

usar o acontecimento para realizar um evento que promova encontros e palestras em que se

abordem as questões relativas à água e a suas políticas.

22 Construction du Métropolitain à Paris. Photos du net de J.Boyer et de R.Viollet. Disponível em: <http://www.paris-today.com/tag/congelation-de-la-seine/> Acesso em: 21 jul. 2016.

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Todo o processo de construção da Obra assim como o período de exposição e o

depoimento dos visitantes será documentado de forma audiovisual. A posteriori e

dependendo do resultado, decidiremos como arquitetar a divulgação do documentário.

Para finalizar o capítulo da Obra, é importante dizer que a obra proposta é um cubo

de gelo de 1000m3. A intenção é chegar a uma boa representação mimética do referente com

o mesmo material que é feito o original e, em consequência, manter todas as especificações:

a mesma força e a mesma fragilidade. Dito isto, a obra é aberta (ECO, 1968)23 e o

significado da mesma só é decifrável na relação que estabelece com o público que, por sua

vez, fechará o “coeficiente artístico” de que fala Duchamp (1965)24.

23 ECO, Umberto. Obra Aberta. (Coleção Debates). 1ª edição, São Paulo, Ed: Editora Perspectiva S.A., 1968. 24 DUCHAMP, Marcel. O Ato Criador em: BATTCOCK, Gregory. A Nova Arte, 14ª edição, São Paulo, Ed: Editora Perspectiva: 2004, p. 71-74.

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2. O MATERIAL

Água

Nós somos feitos de água. Toda vida que conhecemos depende da água. Água é vida,

equilíbrio, pureza. Nela encontramos a melhor definição de elementar, fundamental,

indispensável, essencial, necessário, básico. Entendendo-a como um material, poderia ser

considerado o material mais nobre que conhecemos e isto implica muita cautela com o seu

uso. A água é um bem universal e, apesar de o planeta ser constituído de 75% de água, o

percentual disponível próprio para o consumo humano, água doce, é de apenas 0,8% de seu

total no mundo. A oferta de água potável não acompanha, na mesma proporção, o

crescimento populacional e sua demanda por água tratada. A má distribuição da água doce

no mundo, a crescente degradação, poluição e contaminação de suas fontes agravam a

situação.

Em julho de 2010, a ONU publicou resolução que reconhece o acesso à água potável

e ao saneamento básico como direitos de todo ser humano. A água potável limpa, segura e adequada é vital para a sobrevivência de todos os organismos vivos e para o funcionamento dos ecossistemas, comunidades e economias. Mas a qualidade da água em todo o mundo é cada vez mais ameaçada à medida que as populações humanas crescem, atividades agrícolas e industriais se expandem e as mudanças climáticas ameaçam alterar o ciclo hidrológico global. (…) A cada dia, milhões de toneladas de esgoto tratado inadequadamente e resíduos agrícolas e industriais são despejados nas águas de todo o mundo. (…) Todos os anos, morrem mais pessoas das consequências de água contaminada do que de todas as formas de violência, incluindo a guerra. (…) A contaminação da água enfraquece ou destrói os ecossistemas naturais que sustentam a saúde humana, a produção alimentar e a biodiversidade. (…) A maioria da água doce poluída acaba nos oceanos, prejudicando áreas costeiras e a pesca (…). Há uma necessidade urgente para a comunidade global – setores público e privado – de unir-se para assumir o desafio de proteger e melhorar a qualidade da água nos nossos rios, lagos, aquíferos e torneiras 25.

No infográfico abaixo, podemos ver como está distribuída a água doce no Planeta

Terra e observar como, em números gerais, o Brasil não pode ser incluído no grupo das

regiões que sofrem de escassez hídrica, pelo contrário, é considerado o país com a maior

25 Organização das Nações Unidas, Declaração da ‘ONU Água’ para o Dia Mundial da Água 2010. Visto em: <https://nacoesunidas.org>. Acesso: 11 jan. 2016.

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reserva de água doce do Planeta. “O Brasil mantém uma posição privilegiada no cenário

mundial: detém cerca de 12% da água doce superficial do planeta” (MARCONDES, 2010)26

Figura 12 - Recursos totais de águas renováveis em km2 por ano27

Fonte: ONU.

26 MARCONDES, Dal. Opulência e desigualdade. Carta Capital, 2010. Visto em: <http://www.cartacapital.com.br/educacao/opulencia-e-desigualdade>. Acesso em: 6 jan. 2016. 27 AQUASTAT banco de dados online, Total Renewable Water Resources in Km2/Year per Country. Fonte: The Food and Agriculture Organization das Nações Unidas, 2010. Disponível em:<http://chartsbin.com/view/1455>. Acesso em: 28 set. 2015.

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Figura 13 - Média de água usada por pessoa/dia em litros28.

Fonte: ONU. Figura 14 - Recursos hídricos per capita29.

Fonte: ONU.

28______, Water Usage Per Person Per Day in Liter. Fonte: The Food and Agriculture Organization das Nações Unidas, 2010. Disponível em: <http://chartsbin.com/view/16529>. Acesso em: 28 set. 2015. 29 AQUASTAT banco de dados online, Total Renewable Water Resources per capita by Country. Fonte: The Food and Agriculture Organization das Nações Unidas 2010. Disponível em: <http://chartsbin.com/view/1470> Acesso em: 28 set. 2015.

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Também cabe dizer que o Brasil é um país de enormes proporções e que os seus

recursos hídricos não estão uniformemente repartidos. Nos seguintes mapas podemos

observar a distribuição dos recursos hídricos nas regiões do Brasil.

Figura 15 - Mapa do Brasil indicando a disponibilidade hídrica m3/seg.30

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos. Figura 16 - Mapa do Brasil indicando a faixa de precipitação média anual.31

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.

30 BRASIL. Agência Nacional de Águas (ANA). Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos. Disponível em: <http://www3.snirh.gov.br/portal/snirh>. Acesso em: 4 jan. 2016. 31 BRASIL. Agência Nacional de Águas (ANA). Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos. Disponível em: <http://www3.snirh.gov.br/portal/snirh>. Acesso em: 4 jan. 2016.

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Figura 17 - Mapa dos sistemas aquíferos do Brasil.32

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos.

Como pode se observar nas imagens anteriores, a distribuição da água no Brasil é

desigual. Encontramos regiões como o Nordeste do Brasil onde o acesso à água é um

problema que afeta diretamente à população local. Em contraposição, a região da Amazônia

é a área com mais quantidade de água doce superficial do mundo, fato que coloca o Brasil

acima de potências como Rússia e Canadá, que abrigam grandes quantidades de gelo.

Porém, a falta de água nas grandes cidades do país não é uma raridade e a população

dessas localidades sofre com a interrupção de seu fornecimento. Esta realidade indica a

importância do gerenciamento dos recursos naturais e aponta responsabilidades às políticas

da água.

Em nível mundial, existe a U.N. Water33 e a World Water Council34 que organizam

encontros para estabelecer relações e políticas globais para alcançar um gerenciamento

sustentável deste recurso vital. Já no Brasil, existe a Agência Nacional de Águas (ANA) que

depende do Poder Executivo Federal, responsável por implementar o Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) e a Política Nacional de Recursos

Hídricos (PNRH) que, por sua vez, fazem parte do Ministério de Meio Ambiente (MMA) 32 Ibid. 33 UN-Water é uma entidade das Nações Unidas, aprovada em 2003, com a função de acompanhar os objetivos assumidos na Cimeira Mundial de 2002 sobre Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: <http://www.unwater.org/>. Acesso em: 25 jul. 2016. 34 The World Water Council é uma organização internacional independente, fundada em 1996, que trabalha para melhorar o gerenciamento da água no mundo. Disponível em: <http://www.worldwatercouncil.org/>. Acesso em: 25 jul. 2016.

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que conta com o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), sob acompanhamento da

Câmara Técnica do Plano Nacional de Recursos Hídricos (CTPNRH). Contudo, para que o

instrumento seja implementado, deve antes ser pactuado entre o Poder Público, o setor

usuário35 e a sociedade civil.

Em uma aproximação à região do Estado do Rio de Janeiro existe a Companhia

Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) e a Fundação Instituto das Águas do Município do

Rio de Janeiro – Rio-Águas, que opera com o consórcio privado Foz Águas 5 como

concessionária.

Resumidamente, para o fornecimento à população, a água é captada da natureza e

tratada nas Estações de Tratamento de Água (ETA) para potabilizá-la, já que a água da

maioria dos nossos rios é contaminada em seu percurso. Depois do uso, a água suja,

teoricamente, é tratada nas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) e é devolvida limpa à

natureza. Na prática isto não acontece exatamente assim, como indicam os números

fornecidos ao Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

“Tratamento de esgoto: 40% dos esgotos do país são tratados (...) Em termos de volume, as

capitais brasileiras lançaram 1,2 bilhão de m³ de esgotos na natureza em 2013.” 36

Para explorar alguns dados e obter uma imagem geral do que está se falando, vamos

extrair alguns dados da publicação do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

(SNIS)37.

35 Refere-se aos setores comercial e industrial. (Nota do autor) 36 TRATA BRASIL. Disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/saneamento-no-brasil>. Acesso em: 25 jul. 2016. 37 BRASIL. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2013, Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Brasília, dezembro de 2014.

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Figura 18 - Tabela dos valores do consumo médio per capita de água a partir das informações fornecidas pelos prestadores de serviços participantes do SNIS, em 2013 e na média dos últimos três anos, segundo estado, região geográfica e Brasil38.

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

38 BRASIL. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2013, Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Brasília, dezembro de 2014. p 26.

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Figura 19 - Representação espacial do índice médio de atendimento urbano por rede de água dos municípios cujos prestadores de serviços são participantes do SNIS em 2013, distribuído por faixas percentuais, segundo estado39.

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

39 BRASIL. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2013, Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Brasília, dezembro de 2014. p 21.

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Figura 20 - Gráfico do índice de perdas na distribuição dos prestadores de serviços participantes do SNIS em 2013, segundo capital de estado e média do Brasil40.

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

Figura 21 - Gráfico do índice de perdas na distribuição dos prestadores de serviços de abrangência regional participantes do SNIS em 2013, segundo prestador de serviços.41

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. 40 BRASIL. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2013, Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Brasília, dezembro de 2014. p 32. 41 Ibid.

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Figura 22 - Representação espacial e tabela do índice de perdas na distribuição dos prestadores de serviços participantes do SNIS em 2013, distribuído por faixas percentuais, segundo estado, região e Brasil.42

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

Figura 23 - Tabela dos níveis de atendimento com água e esgotos dos municípios cujos prestadores de serviços são participantes do SNIS em 2013, segundo região geográfica e Brasil.43

42 BRASIL. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2013, Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Brasília, dezembro de 2014. p 33. 43 Ibid. p 17.

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Nota: para o cálculo do índice de tratamento dos esgotos gerados estima-se o volume de esgoto gerado

como sendo igual ao volume de água consumida. Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

Figura 24 - Representação espacial do índice médio de atendimento urbano por rede coletora de esgotos dos municípios cujos prestadores de serviços são participantes do SNIS em 2013, distribuído por faixas percentuais, segundo estado.44

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento.

Em síntese, a partir das informações acima fornecidas pelo Sistema Nacional de

Saneamento Ambiental pode-se dizer que, o consumo de água médio per capita, no Brasil, é

44 BRASIL. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2013, Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Brasília, dezembro de 2014. p 24.

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de 165,5 litros por dia, que 82,5% têm acesso aos sistemas de distribuição da água potável,

mas que só 48,6% contam com um apropriado sistema de coleta de esgoto que, por sua vez,

tem apenas 39% de seu total tratado.

Por outro lado, podemos observar como, na média do Brasil, perdem-se na distribuição

37% da água potável do sistema de atendimento, sendo que em capitais de estados como

Macapá, perdem-se mais de 75%. Já, no caso mais próximo, o sistema da CEDAE tem uma

perda considerável de 30% que, na quantidade de 1.036.367.000m3/ano45 de água produzida

são 310.910.100m3/ano, só no Estado do Rio de Janeiro.

Nesta alarmante situação, apresentamos como uma possível solução para a redução do

consumo de água e da poluição, a água de reúso.

Água de Reúso

A água de reúso é, basicamente, água de alguma forma já usada ou água residual que

passa por um processo de filtragem e tratamento nas Estações de Tratamento de Esgoto e

pode ser reutilizada, pois como alerta a ONU, “A não ser que exista grande disponibilidade,

nenhuma água de boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram águas de qualidade

inferior” (ONU, 1958)46.

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), através da Resolução Nº54, de

28 de Novembro de 2005, define água de reúso como “água residuária, que se encontra

dentro dos padrões exigidos para sua utilização nas modalidades pretendidas”.47

Em uma entrevista, Miguel Cunha, gerente de Tratamento de Esgoto da Estação

Alegria, Rio de Janeiro, explica: O esgoto que recebemos vem em estado bruto, com 99,8% de água e 0,2% de impurezas. Na estação, removemos os poluentes até que a água tenha qualidade para ser lançada na Baía de Guanabara. Para usá-la como água de reúso,

45 BRASIL. Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2013, Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Brasília, dezembro de 2014. 46 Organização das Nações Unidas. Visto em: <https://nacoesunidas.org>. Acesso: 11 jan. 2016. 47 “O reúso direto não potável de água, para efeito desta Resolução, abrange as seguintes modalidades: I - reúso para fins urbanos: utilização de água de reúso para fins de irrigação paisagística, lavagem de logradouros públicos e veículos, desobstrução de tubulações, construção civil, edificações, combate a incêndio, dentro da área urbana; II - reúso para fins agrícolas e florestais: aplicação de água de reúso para produção agrícola e cultivo de florestas plantadas; III - reúso para fins ambientais: utilização de água de reúso para implantação de projetos de recuperação do meio ambiente; IV - reúso para fins industriais: utilização de água de reúso em processos, atividades e operações industriais; e, V - reúso na aqüicultura: utilização de água de reúso para a criação de animais ou cultivo de vegetais aquáticos.”

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acrescentamos uma quarta etapa ao processo, que é a adição de cloro. Dessa maneira, ela pode ser usada para diversos fins industriais e de limpeza.48

A água de reúso pode ser tratada até ser considerada potável e, em consequência, apta

para o consumo humano. Por enquanto, os projetos em andamento no Brasil não têm o

intuito de conseguir sua potabilidade, mas sim o seu uso em setores da indústria como

geração de energia, refrigeração de equipamentos e em diversos processos de produção, bem

como em higienização de logradouro público, irrigação da vegetação, entre outros46. Em se

tratando do uso residencial ou de comércio e serviço, no município do Rio de Janeiro, há

programas como o Qualiverde em que a Prefeitura incentiva as construções sustentáveis,

contemplando as propostas que reduzem o consumo de água a partir do reúso. No caso

doméstico, o uso desta água serve principalmente para vaso sanitário, limpeza e irrigação de

jardins.

Atualmente, no Rio de Janeiro há duas Estações de Tratamento de Esgoto que

produzem água de reúso. A Estação da Penha, que tem hoje uma capacidade média de

fornecimento de 21.600m3/mês (720m3/dia)49, e a Estação da Alegria que fornece à

Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB) 910 mil litros/mês50.

Seguindo o exemplo de outras cidades51, o Rio de Janeiro está começando a melhorar

a gestão dos recursos hídricos para, quem sabe em um futuro próximo, usufruir da melhora

da qualidade de vida, que supõe contar com um entorno despoluído, e otimizar a vida útil da

água para um consumo regular e mais sustentável.

Figura 25 - Tabela da produção anual de 2005 a 2012 de água de reúso da ETE da Penha.

Fonte: CEDAE.

48 EBC Agência Brasil, Cedae aproveita água de reuso para limpeza urbana no Rio. Rio de Janeiro, 10 mar. 2015. Visto em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-03/cedae-aproveita-agua-de-reuso-para-limpeza-urbana-no-rio>. Acesso em: 3 fev. 2016. 49 CEDAE, 2008, visto em: <http://www.eq.ufrj.br/nirae/documentos/seminario_1/apresentacao_cedae.pdf.> Acesso em: 11/01/2016. 50 BRASIL, Governo do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 11 mar. 2015. Visto em: <http://www.rj.gov.br/web/seobras/exibeconteudo?article-id=2361377>. Acesso em: 3 fev. 2016. 51 TRATABRASIL. Bons exemplos de outros países de gestão de água. 25 ago. 2014. Visto em: <http://www.tratabrasil.org.br/bons-exemplos-de-outros-paises-de-gestao-de-agua>. Acesso em: 11 jan. 2016.

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Nestas condições, entendendo a nobreza do material com que está se tratando,

abraçando a ideia de praticar um uso responsável deste recurso e assumindo o grau de

responsabilidade exigida, o projeto O Cubo quer fazer parte desta mudança. Por causa disto,

a proposta será realizada com água de reúso procedente da Estação de Tratamento de Esgoto

da Penha. Para realizar a obra, são precisos 1.000.000 de litros de água; 1000m³ que podem

ser fornecidos pela ETE da Penha que, segundo as informações facilitadas, tem uma

capacidade de produção de 720m3 por dia. Em relação ao transporte e aos valores, esta água

será transportada por caminhões pipa com capacidade de 20m³. Para chegar aos 1000m³

propostos, serão necessários, aproximadamente, 50 caminhões pipa que irão chegando à

medida em que a camada inferior de água se congele. Cada caminhão transportará 20.000

litros de água a serem depositados no molde contentor situado dentro da câmara frigorífica

que manterá a temperatura de -12ºC. Os 20.000 litros de água que o caminhão pode

transportar equivale a 10m por 10m por 20cm de água no nosso molde. A camada será

congelada devido à baixa temperatura no interior da câmara e, quando congelada,

repetiremos a operação até chegar à altura desejada. Cabe dizer que, por causa da dilatação

que sofre a água ao solidificar-se, correspondente a 10% do volume absoluto, não será

necessária à totalidade da água calculada.

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3. O LUGAR

A Praça

Como adiantamos, optamos pela Praça Tiradentes do Rio de Janeiro, por ser “uma

das regiões mais representativas na vida e na formação da personalidade carioca”52.

Quando os europeus chegaram na região atualmente ocupada pela Praça, a área era

um grande pântano. Com o tempo, a região foi sendo aterrada, convertendo-se no "Campo da

Cidade" ou "Campo de São Domingos", que revelou-se um marco divisório entre o centro da

cidade e a zona rural. No século XVII, desmembrou-se o Campo de São Domingos e nasceu

o lugar que se chamou de Rossio Grande em referência à histórica praça de Lisboa, a atual

Praça de D. Pedro IV, conhecida como praça do Rossio. Posteriormente, o Rossio Grande foi

sendo ocupado por tendas de ciganos e começou a ser chamada de Campo dos Ciganos. A

partir da construção da Igreja de Nossa Senhora de Lampadosa, em 1748, a região passou a

ser conhecida como Campo da Lampadosa e, em 1808, um pelourinho foi construído no

local e passou a ser conhecido, também, como Campo do Polé. Em 1822, Dom Pedro I,

príncipe na época, jurou fidelidade à Constituição Portuguesa na varanda do Real Teatro São

João (onde hoje se localiza o Teatro João Caetano) e, por causa disso, o local passou a

chamar-se Praça da Constituição. A praça ganhou em 1862 o primeiro monumento público

de grande porte do Brasil, a estátua a D. Pedro I, no centro, e em 1865 quatro estátuas

neoclássicas nas quinas representando as virtudes das nações modernas: a Justiça, a

Liberdade, a União e a Fidelidade. Em 1892, a praça recebeu o seu atual nome, em

comemoração ao centenário da morte de Tiradentes que, segundo o historiador Nireu

Oliveira Cavalcanti (2003)53, foi executado próximo à Praça. Em finais do século XIX e

início do século XX, a Praça foi um importante lugar de encontro de artistas e personalidades

ligadas à cultura. Centro da região que concentrava a maior parte dos teatros cariocas, a

Praça Tiradentes foi, literalmente, o palco da evolução da dramaturgia brasileira e de todos

os principais autores da época.

52 BRASIL. Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IRPH). Rio de Janeiro. Visto em: <http://www0.rio.rj.gov.br/patrimonio/proj_revitalizacao_pcatiradentes.shtm>. Acesso em: 1 fev. 2016. 53 CAVALCANTI, Nireu Oliveira. O Rio de Janeiro setecentista: a vida e a construção da cidade, da invasão francesa à chegada da Corte. 1ª edição, Rio de Janeiro, Ed: Jorge Zahar, 2003.

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Figura 26 - Desenho de Dom Pedro I jurando a constituição portuguesa no Real Teatro São João situado no Campo dos Ciganos, 1821. DEBRET, Jean Baptiste.54

Fonte: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.

Figura 27 - Fotografia da Estátua de Dom Pedro I onde, também, pode-se observar o Arco de Triunfo erguido em motivo da inauguração da Estátua, 1862. Praça da Constituição, Rio de Janeiro. KLUMB, 1862.55

Fonte: Instituto Moreira Salles. 54 DEBRET, Jean Baptiste. Acceptation provisoire de la constitution de Lisbonne, à Rio de Janeiro 1821. Rio de Janeiro, [1821?]. Visto em: <http://www.brasiliana.usp.br/>. Acesso em: 8 fev. 2016. 55 KLUMB, Revert Henrique. Rio de Janeiro, [1862?]. Instituto Moreira Salles, Coleção Gilberto Ferrez. Visto em: <http://www.ims.com.br/>. Acesso em: 8 fev. 2016.

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Figura 28 - . Gravura do artista francês Thegande, sobre quem nada se sabe.56 Place de la Constitution, à Rio, 1869.57

Fonte: Cau Barata.

A Praça Tiradentes é, então, um espaço de grande importância histórica e social da

Cidade do Rio de Janeiro que, no final do século XX, assim como todo o Centro da Cidade,

sofreu certo abandono. Por causa do crescimento da cidade e da consolidação do Centro

como centro financeiro e comercial, a pouca ocupação residencial fez da área central da

cidade um lugar muito movimentado de dia e vazio à noite e nos finais de semana.

Já em 1983, oficializou-se o decreto que declarou a proteção de grande parte do

centro histórico da Cidade do Rio de Janeiro com o projeto Corredor Cultural, que visa

preservar e revitalizar áreas no Centro da Cidade, levando em consideração os elementos

ambientais que representam valores culturais, históricos, arquitetônicos e tradicionais para a

população. Esta primeira proposta acarretou projetos mais específicos para com a Praça

como, em 2005, o programa Monumenta, impulsionado pelo Instituto de Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e, posteriormente em 2012, com o projeto Vazios

Urbanos, do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), propondo a revitalização da

Praça Tiradentes, com a restauração da escultura de Pedro I, reformas da própria praça e dos

prédios adjacentes e o início dos trabalhos para reconvertê-la em polo cultural da Cidade.

56 BARATA, Cau. O Rio de Janeiro Visto pelos artistas franceses (1551-1886). Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/1241368/>. Acesso em: 24 jul. 2016. 57 BARATA, Cau. Rio de Janeiro Desaparecido. Origem do Palacete do Rio Seco – 1791. Rio de Janeiro, 4 nov. 2015. Disponível em: <http://rio-de-janeiro-desaparecido.blogspot.com.br/2015/11/origem-do-palacete-rio-seco-1791-praca.html>. Acesso em: 6 dez. 2015.

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Projetos como Revitalização da Praça Tiradentes da Prefeitura do Rio de Janeiro assim como

o recente projeto do IRPH, Centro para Todos e a Rede Tiradentes Cultural, veiculado pelos

espaços culturais ao redor da praça, tentam devolver o caráter cultural e de encontro que a

Praça sempre teve, reconvertendo-a em um importante ponto artístico da cidade.

Figura 29 - A Praça Tiradentes durante a última remodelação concluída em 2012. Autor desconhecido.58

Fonte: Gaban.

No mapa a seguir, pode-se observar como a Praça está situada dentro da área

delimitada pela Prefeitura como Corredor Cultural na qual o Plano Diretor da Cidade mostra

um especial interesse na conservação e revitalização.

58 Visto em: <http://imperiobrasileiro-rs.blogspot.com.br/2012_04_01_archive.html>. Acesso em: 3 dez. 2015.

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Figura 30 - Mapa do Corredor Cultural.59

Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo.

A Praça e o Cubo

A atual Praça Tiradentes está situada no Centro de Cidade, numa área onde convivem

edificações de todas as épocas desde a fundação da cidade do Rio de Janeiro. Uma região

especialmente interessante pela mistura da arquitetura colonial com a arquitetura moderna. A

parte da praça reservada aos pedestres mede 66 metros por 144 metros. A praça é integrada a

um entorno onde os prédios tem uma altura entre 9 e 35 metros aproximadamente, com uns

poucos que chegam na faixa dos 50 metros e o Edifício Centro Paulista que chega a uma

altura de 92 metros. Uma praça bastante arborizada facilitando o encontro, com um tamanho

que permite a realização de eventos de pequeno e médio porte. Um espaço aberto e

transitável, onde convivem com certa harmonia os veículos e os pedestres. Atualmente,

enquanto escrevo estas linhas, estão sendo realizadas as obras do Veículo Leve sobre Trilhos

(VLT), proposta incluída no projeto das olimpíadas Rio 2016, que contempla uma estação na

Praça, interligando-a com o resto do centro e a zona portuária.

59PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Urbanismo da Prefeitura do Rio de Janeiro. Legislação Bairro a Bairro. Visto em: <http://mapas.rio.rj.gov.br/>. Acesso em: 1 fev. 2016.

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Figura 31 - Representação a escala da praça Tiradentes..

Fonte: O Autor, 2015.

A Praça Tiradentes é bem concorrida, pois combina o uso comercial com uma

importante oferta cultural. Em sua redondeza, encontram-se centros públicos e privados

vinculados às artes do porte do Centro Municipal Hélio Oiticica, do Real Gabinete Português

de Leitura, do Teatro João Caetano, do Teatro Carlos Gomes, da Galeria A Gentil Carioca,

da Galeria Largo das Artes, do Centro de Arte Maria Teresa Vieira, do Centro Carioca de

Design, do Barracão Maravilha e da Casa do Choro, da Estudantina Musical entre outros.

A escolha da Praça Tiradentes é marcada principalmente por ser um ponto cêntrico e

um símbolo sociocultural da Cidade; é uma praça suficientemente grande para abrigar uma

obra do tamanho do Cubo mas não tão grande como para perder a noção de escala, podendo-

se comparar a peça com a própria escultura, árvores, prédios, veículos e pedestres; por

último, acreditamos que a nossa proposta pode ser incluída no projeto de revitalização do

centro da cidade, projeto em que acreditamos vigorosamente, trazendo movimento e

vitalidade para a região.

Por todas estas razões a Praça é o lugar escolhido para realizar a obra do Cubo. Uma

obra que quer estar na Cidade, que quer estabelecer relação direta com a arquitetura local, e

quer encontrar-se facilmente com o púbico que deseje visitá-la e com o que se esbarrar com

ela no caminho. Enfim, a obra quer se fazer presente e quer fazer presente uma praça que

tem sido esquecida e que está trabalhando, com o esforço de todos, em se reerguer como

centro artístico e cultural da Cidade.

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Proteção e Tombamento

Para tratar a questão de proteção e tombamento, entendemos que há que começar

dizendo que, desde 2012, a Cidade do Rio de Janeiro é declarada pela UNESCO como

Patrimônio Cultural da Humanidade por sua paisagem cultural. Aproximando-nos à nossa

área de interesse particular, observamos que é uma região com enorme valor histórico e

artístico e, por causa disto, é área protegida como patrimônio cultural. Já que a Praça forma

parte do Corredor Cultural, o conjunto é protegido pela Área de Proteção do Ambiente

Cultural (APAC) do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH). Por outro lado, a

Estátua Equestre de Dom Pedro I é tombada pelos órgãos federal e estadual, Instituto

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e Instituto Estadual do Patrimônio

Cultural (INEPAC) respetivamente. As estátuas A União, A Justiça, A Liberdade e A

Fidelidade são tombadas pelo IRPH, órgão municipal. No entorno imediato o prédio do Solar

do Visconde do Rio Seco, recém restaurado, é tombado pelo IPHAN e pelo INEPAC. Bens

tombados pelo INEPAC são os painéis Pintados sobre Alvenaria por Di Cavalcanti, na

parede do foyer superior do Teatro João Caetano, e juntamente com o IRPH, é tombado o

conjunto da Rua da Carioca do número 2 ao 89. Para terminar o Teatro Carlos Gomes e o

prédio da Associação Centro Cultural Estudantina são tombados pelo IRPH60.

Como podemos observar, não há um tombamento específico para a Praça em si, nem

para o desenho de pedras portuguesas que forma a calçada da mesma. Isto não significa que

a nossa proposta não tenha que passar pelos órgãos responsáveis pelo patrimônio, pelo

contrário, a Praça faz parte da área do Corredor Cultural, gerenciado pelo IRPH, e faz parte

da Cidade do Rio de Janeiro, declarada patrimônio da humanidade pela UNESCO, com o

que, no mínimo, para realizar a nossa peça, o projeto terá que ser aprovado pela

administração do IRPH.

De todo modo, o fato das pedras portuguesas da Praça, e a Praça em si, não serem

tombadas, significa que, pelo menos no papel, caso seja necessário, poderíamos retirar

provisoriamente parte do piso da Praça sem danificar o patrimônio cultural protegido.

60 PATRIMÔNIO CULTURAL DA PREFEITURA DE RIO DE JANEIRO, Guia do Patrimônio Cultural Carioca, Bens Tombados 2014. 5 ed., Rio de Janeiro, Ed: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2014.

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O Solo

Numa certa aproximação geológica da região podemos observar, como indica o

estudo do geógrafo Dr. Elmo da Silva Amador, que em 1500 era uma área pantanosa: “Continuo aos manguezais, após o Campo de Santana, desenvolvia-se uma extensa área embrejada, que foi denominada pantanal de Pedro Dias, que ia do antigo Campo dos Ciganos (área que abrangia a atual Praça Tiradentes e parte do Campo de Santana) até a atual Rua Riachuelo.”61

Figura 32 - Simulação do lugar onde se ergueu a cidade de Rio de Janeiro, Bahia de Guanabara, em 1500.

Fonte: Elmo Silva Amador.

Como podemos observar no mapa da Cidade do Rio de Janeiro de 1867, a atual Praça

Tiradentes já era incluída na malha urbana da cidade.

61 SILVA AMADOR, Elmo da. Baía de Guanabara e Ecossistemas Periféricos: Homem e Natureza., 1 ed., Rio de Janeiro, Edição do Autor, 1997. p 227.

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Figura 33 - Mapa da cidade de Rio de Janeiro em 1867. Autor desconhecido.62

Fonte: Library of Congress. Figura 34 - Mapa geológico do estado do Rio de Janeiro, 1955.63

Fonte: Serviço Nacional de Pesquisas Agronómicas, Comissão de Solos, Rio de Janeiro. 62 LIBRARY OF CONGRESS. Visto em: <https://www.loc.gov/item/2003682769/>. Acesso em: 13 dez. 2015. 63 European Soils Data Center. Visto em: <http://esdac.jrc.ec.europa.eu/images/Eudasm/latinamerica/images/maps/download/br13015.jpg>. Acesso em 12 abr. 2016.

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O que se confirma em 1955 desde um ponto de vista geológico, conforme podemos

observar neste mapa de então.

De acordo com as informações facilitadas pelo Sistema de Mapeamento do Solo da

Prefeitura do Rio de Janeiro, chamado de Geovias, observamos que embaixo de onde

queremos instalar nossa obra não existe atravessamento de nenhum tipo de infraestrutura. No

sistema, implantado no centro da Cidade em 2014, podemos observar que nenhuma

instalação subterrânea passa pelo local: nem as de telecomunicações das empresas Oi, GVT,

Embratel, Telefônica, Telebrás, Tim Celular, Level 3 Comunicações e Mundivox, nem as

instalações elétricas da Light, nem as instalações de gás da CEG ou os sistemas aquíferos da

CEDAE, água e esgoto e também da Rio Águas, drenagem, etc.64 Além disso, no mesmo

sistema podemos observar que o metrô não passa sob a Praça e também não é conhecida a

existência de estacionamento subterrâneo no local.

Concluindo, o subsolo da Praça Tiradentes é aterrado, formado por areia compactada

durante um longo período de tempo. Estabelecemos, portanto, que em aspectos geológicos, a

Praça Tiradentes pode receber uma obra de grandes dimensões. Evidência disto é a

instalação no local, em 1862, do primeiro grande monumento da Cidade e do Brasil, a

estátua de Dom Pedro I. Uma peça que mede 15,7m de altura e com um peso de 55 mil

quilos de bronze, mais o peso do pedestal de granito e o pavimento de mármore65. Ainda

assim, nossa peça tem um peso que se aproxima às 1000 toneladas numa área de 100m2. Este

é um peso considerável e, por causa disto, haverá que se fazer uma sondagem do terreno para

ter certeza de que o solo da Praça aguenta o peso da peça com total segurança. No hipotético

caso de que as sondagens indiquem que O Cubo não pode ser simplesmente pousado na

Praça, haverá que se projetar a fundação que suporte o peso da peça para, em nenhum caso,

colocar em risco o legado cultural dos arredores e da própria Praça.

64 A consulta ao programa Geovias não é aberta ao público, por causa disto, a informação foi facilitada pela Prefeitura do Rio de Janeiro, 2016. Nota do autor. 65 KNAUSS, PauloVisto. Às Margens do Pedestal. Revista de História. Rio de Janeiro, 1 mar. 2015. Visto em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/perspectiva/as-margens-do-pedestal>. Acesso em: 12 abr. 2016

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4. AGENTES ENVOLVIDOS E CRONOGRAMA DE MONTAGEM

Agentes envolvidos

Para realizar um projeto desta envergadura, há que se estabelecer uma rede com

bastantes profissionais de diversas áreas, além de se adaptar ao protocolo burocrático que

estas obras comportam e ao tempo de execução. Há vários agentes envolvidos e uma série de

interesses a se adequar para que a proposta possa ser realizada com sucesso. Neste capítulo,

vamos citá-los na ordem cronológica em que participam do projeto.

Para começar, o autor do projeto terá que abrir uma empresa para submeter a

proposta aos benefícios da Lei Rouanet66 com mais garantias de sucesso e poder gerenciar e

faturar o projeto conforme a lei. O artista tem que virar empresário ou contratar uma empresa

que o faça.

O primeiro agente a ser consultado é a equipe da empresa de engenharia

especializada em projetos de refrigeração. Uma equipe formada por engenheiros de várias

áreas de atuação como de termodinâmica, de engenharia da refrigeração, de mecânica

estrutural e de engenharia da construção, assim como especialista na área da engenharia

elétrica. Esta equipe será a responsável por certificar que o projeto apresentado é viável e,

fazendo as modificações pertinentes, assegurar que pode ser feito com total segurança. Para

isto, será preciso, depois de corroborar que o modo de fabricação proposto é o melhor, fazer

um projeto à medida, desenhando a máquina que realizará o trabalho de congelamento. A

empresa que aceitar o desafio, será a empresa que adquirirá as responsabilidades técnicas da

obra.

Para o projeto seguir em frente, será preciso candidatá-lo aos favores da Lei Rouanet,

para que esta contribua com sua aceitação e facilite a chegada aos patrocinadores. Neste

ponto, também será necessário apresentar o projeto ao Instituto Rio Patrimônio da

Humanidade (IRPH) para obter a aprovação da proposta.

Com o parecer favorável do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e a aprovação

pela Lei Rouanet, começa-se a captação de recursos, realizada majoritariamente pelo artista,

66 BRASIL.LEI Nº 8.313, DE 23 DE DEZEMBRO DE 1991. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 de 1991. Visto em: <http://www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 16 mai. 2016. Nota do autor: A Lei de Incentivo à Cultura, popularmente chamada de Lei Rouanet, é conhecida principalmente por sua política de incentivos fiscais. Esse mecanismo possibilita que cidadãos e empresas apliquem parte do Imposto de Renda devido em ações culturais.

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autor da proposta e o maior conhecedor do projeto, com a ajuda do profissional captador de

recursos, especialista no setor.

A partir daqui, começa o trabalho in situ onde a equipe de geologia realizará o

levantamento da área com o estudo de reconhecimento e determinará se será necessária

fundação, e de que tipo, para que a obra seja instalada com segurança. Em caso da

necessidade de construir algum tipo de estrutura para sustentação da peça, esta será incluída

no calendário e a empresa construtora realizará a fundação requerida (Anexo Dia 16 e 21).

Seguidamente, a empresa responsável pela montagem de Câmara Refrigeradora

instalará o material isolante da base, que evitará a transferência de calor do solo ao interior

da câmara e, posteriormente, minimizará a transmissão de calor do chão para o Cubo. Feito

isto, começa a montagem da peça em si, instalando a base da peça realizada a partir da

estrutura tubular que delimitará a peça e servirá de coletor da água derretida a ser

encaminhada ao sistema de águas pluviais; esta estrutura, é onde será instalado o projeto de

iluminação e será espaço de informação e patrocínio (Anexo Dia 23).

Figura 35 - Imagem da Praça com a Base da Obra instalada. Desenho do Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 36 – Imagem detalhe da Base da Obra. Desenho do Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

Posteriormente, ergue-se o Molde contentor da água, realizado a partir de uma

estrutura tubular de 11m de altura que cerque um espaço de 10m2. Este espaço interno, lugar

que dará forma ao cubo, será vestido de uma membrana PVC que conterá a água (Anexo Dia

13).

Figura 37 - Imagem da Praça com o Molde contentor e a base da Obra instalados. Desenho do Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 38 - Imagem detalhe do Molde contentor da Obra. Desenho do Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

Seguidamente, edifica-se a Câmara Refrigeradora, estrutura isolante envolta do

molde contentor para controlar a temperatura desejada (Anexo Dia 22). Com toda a

infraestrutura pronta, instala-se o gerador de energia e a máquina refrigeradora.

Figura 39 - Imagem da Praça com a Câmara Refrigeradora, o molde contentor e a base da Obra instalados. Desenho do Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 40 - Imagem detalhe da Câmara Refrigeradora da Obra. Desenho do Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

A partir deste momento, começam a chegar os caminhões pipa com a água de reúso,

da CEDAE (Anexo Dia 24). Cada caminhão transportará 20.000 litros de água que, no nosso

molde, adquire a forma de camada de 20cm de altura, 10m de profundidade e 10m de

largura. Quando esta camada for congelada, adiciona-se a seguinte e assim por diante.

Calcula-se a adição do conteúdo de 4 caminhões por dia. Com isto conseguem-se 6 horas

para congelar cada camada de água. Em 12 dias, toda a água do cubo será congelada.

Figura 41 - Imagem da Praça com a Câmara Refrigeradora, o Molde contentor e a Base da Obra instalados quando um caminhão pipa está enchendo o Molde contentor com umas das camadas de água. Desenho do Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Neste ponto, começa-se a desmontagem da infraestrutura. Em primeiro lugar,

desmantela-se o molde contentor composto da estrutura tubular e a membrana PVC. Instala-

se o projeto de iluminação, as bombas de água e os banners que contêm a informação e o

patrocínio.

Derradeiramente, retira-se a geladeira, o gerador de energia e a máquina

refrigeradora. Esta última etapa é muito importante que seja realizada com o menor tempo

possível, já que no início do processo o Cubo começará a descongelar.

Figura 42 - Imagem da Praça com a Obra pronta e aberta ao público. Desenho do Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

Figura 43 - Imagem detalhe da Obra exposta. Desenho do Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Com a peça pronta, a partir de uns modestos cálculos, estimamos que a duração de

peça será de 16 dias e meio. Esta aproximação não contempla o efeito refrigerador que possa

exercer O Cubo nas condições térmicas da região, o efeito das nuvens, do vento e da chuva.

Durante o período de exposição, realizaremos uma série de eventos. A inauguração

da Obra será o início de um conjunto de encontros e conferências entorno o conceito da água

e as políticas de gerenciamento deste recurso.

Todo o processo de construção do Cubo, assim como o período de exposição, serão

documentados, resultando em um produto audiovisual que posteriormente, dependendo do

produto que se consiga, se idealizará sua melhor estratégia de divulgação e publicação.

(Anexo 19 e 20)

Cronograma de montagem

Para organizar o decorrer do projeto, se propõe este cronograma a partir da entrega

desta dissertação, quando podemos dizer que a proposta está formalizada. Cabe destacar que

este calendário está sujeito a duas datas específicas. A primeira é o dia primeiro de fevereiro,

quando abrem as inscrições de projetos para concorrerem aos favores da Lei Rouanet. O

proponente pode inscrever o projeto à Lei durante o ano todo, mas quando dizemos que abre

o período de inscrições, queremos dizer que começam as inscrições para o ano vigente. Na

Lei Rouanet, os projetos aprovados têm até o final do ano em que se apresentou, começando

em fevereiro, para captar os recursos. Se não se conseguiu captar os recursos neste tempo,

pode-se pedir uma extensão de outro ano para esta captação. Este processo pode ser repetido

mais uma vez. Por isso é interessante se inscrever à Lei Rouanet em fevereiro e assim dispor

de quase o ano todo para encontrar um patrocinador, mais os prorrogáveis seguintes dois

anos. A outra data específica, ou a época concreta, é o período de verão. A Obra tem que

acontecer no verão carioca. Isto significa que seria interessante que no dia 21 de dezembro,

dia em que o sol passa mais perpendicular em relação ao local de exposição, a obra estivesse

exposta. Esta data é importante para que o derretimento da peça seja o mais homogêneo

possível. Nas outras datas do ano, as que poderiam ser interessantes por causa da menor

temperatura, o sol passa ao norte da peça e isto resultaria em um derretimento irregular que

acabaria “desgastando” mais um lado do que o outro, potencializando a possibilidade de

queda da peça.

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Figura 44 - Gráfico da previsão da trajetória do sol no dia 21 de dezembro de 2017 na Praça Tiradentes, Rio de Janeiro.67

Fonte: Sun Calc.

Com este intuito, estabelecemos que o período de pré-produção acontecerá

aproximadamente nos próximos 5 meses, do dia 13 de setembro ao dia 1º de fevereiro e

envolverá as seguintes ações: fechar a equipe que participará do projeto, principalmente a

empresa de engenharia que assinará o projeto técnico da proposta, entrar em contato com as

instituições responsáveis pelo espaço onde será exposta a obra e começar a sondar as

possíveis empresas patrocinadoras.

A próxima etapa, de 4 meses, começa com a inscrição do projeto aos favores da Lei

Rouanet. Este período é destinado à captação de recursos para o projeto assim como à

apresentação do mesmo ao Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH).

Enfim, calcula-se 6 meses para fechar os contratos e realizar a obra. Com isto,

estima-se que se os recursos chegarem até final de maio, a obra poderá ser executada em

dezembro do mesmo ano. Se não, haverá que se prorrogar a execução para o ano seguinte.

A etapa da execução da obra começa com a sondagem geológica que demora cerca de

2 meses para ser concluída. Enquanto isso, fecham-se os contratos com todas as empresas

que participarão da execução da obra. Posteriormente, a partir do veredito do estudo

geológico, constrói-se, se preciso, a fundação e, para isto, calculam-se outros 2 meses. Com a

fundação pronta, entramos no cronograma da peça em si: 1 dia para instalar o material

isolante da base, parte da câmara refrigeradora, 1 dia para instalar a estrutura tubular da base

67 SUNCALC. Visto em: <http://suncalc.net/#/-22.9065,-43.1829,17/2017.12.21/13:54>. Acesso em: 29 mai. 2016.

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que recolherá a água derretida, 5 dias para montar a estrutura tubular que oferecerá suporte à

membrana de PVC, gerando o molde contentor da peça, e 6 dias para montar os painéis

isolantes da câmara refrigeradora. Com isto resolvido, liga-se a máquina refrigeradora e

começa-se a encher o molde. Como calculado, a cada seis horas chega um caminhão,

resultando em 4 caminhões por dia e 12 dias para encher e congelar a Obra. A partir daqui,

desarma-se o molde contentor em 7 dias, sem desligar a máquina refrigeradora. Por último,

no menor tempo possível, se desliga a máquina refrigeradora e se desmontam os painéis

deixando a peça à mercê do tempo. Para este último passo, em conversa com a empresa

fornecedora, como caso excepcional, calcula-se que pode ser realizado em dois dias.

Contudo, estima-se que a obra pode ser executada em 36 dias.

O Cubo se inaugura com um evento no dia 13 de dezembro de 2017 e estima-se que a

instalação terminará no dia 30 de dezembro. Enquanto a obra estiver exposta, acontecerão

encontros para tratar assuntos referentes à água e às suas políticas. Além disso, a equipe de

filmagem que acompanhou toda a construção da Obra estará no local, a fim de documentar

as impressões dos visitantes e recolher seus depoimentos.

Para finalizar, 3 meses de pós-produção, que se resumem à prestação de contas e à

finalização do documento audiovisual.

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5. CAPTAÇÃO DE RECURSOS

Este projeto não está pensado para concorrer em editais públicos de apoio à cultura já

que é um projeto bem oneroso e não consideramos apropriado tentar captar os recursos

através dos programas destinados a projetos menos custosos. Por causa disto, a estratégia

proposta neste quesito é atrair uma grande empresa que assuma o projeto e o patrocine. Junto

com ele, estamos abertos a aceitar colaborações para diminuir os custos do projeto, assim

como o apoio de instituições culturais que ofereçam infraestrutura e divulgação e qualquer

outro tipo de colaboração.

Para ajudar na tarefa de encontrar um patrocinador, contaremos com a ajuda de um

profissional na área que, comumente, em contradição ao que anuncia a Associação Brasileira

de Captadores de Recursos, recebe um percentual entre 10 e 20 por cento do valor captado. O captador deve ser um funcionário da organização, contratado exclusivamente para esta função. Quando isso não for possível, deve ser contratado mediante valor fixo pré-definido, que pode ser complementado com bônus ou gratificações. E, em hipótese alguma, deve receber exclusivamente um percentual (comissionamento) do valor total captado68.

Seguindo as indicações da Associação Brasileira de Captadores de Recursos, mas em

correspondência com os valores do mercado, prudentemente estipularemos previamente um

valor próximo aos 10% do valor do projeto, que é o máximo que a Lei Rouanet permite.

O Projeto será inscrito na Lei Rouanet, lei federal de incentivo à cultura através da

isenção fiscal dos patrocinadores, com o intuito de ser aprovado e, com isto, facilitar a

chegada a um possível patrocinador. Como comentado anteriormente, a Lei Rouanet, abre no

dia primeiro de fevereiro, isso não significa que um projeto não possa ser inscrito em outro

momento, o que indica que a possibilidade de apresentar um projeto para o ano corrente

começa no início do mês de fevereiro. O processo de aceitação e aprovação demora alguns

meses e, por causa disto, é interessante apresentá-lo o quanto antes possível.

Mantendo o dia primeiro de fevereiro como data para apresentar o projeto à Lei

Rouanet, sujeito às mudanças que a empresa de engenharia que realizará e assinará o projeto

técnico possa achar pertinentes, começaremos a captação de recursos apresentando as

seguintes contrapartidas:

Inserção destacada de logomarca em qualidade de patrocinador em:

68 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CAPTADORES DE RECURSOS (ABCR). São Paulo, 25 dez. 2013. Visto: <http://captacao.org/recursos/institucional/remuneracao>. Acesso em: 10 mai. 2016.

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- Material gráfico geral;

- Banner na base da instalação;

- Banner na abertura;

- Newsletter;

- Utilização de mailing autorizado;

- Divulgação pela assessoria de imprensa;

- Inserções em mídia já negociadas;

- Menção e destaque na abertura;

- Convites pessoais para a inauguração;

- Lugares reservados, para patrocinadores e seus convidados;

- E outras opções a combinar com o próprio Patrocinador.

Inserção de logomarca em qualidade de colaboradores em:

- Material gráfico geral;

- Banner na Base da instalação.

Calcular a quantidade de publicações que uma intervenção deste porte vai gerar,

direta e indiretamente, é um pouco difícil. O que se pode assegurar é que tanto a assessoria

de imprensa como a empresa que realizará a comunicação usarão todas as plataformas,

físicas e digitais, possíveis para divulgar a obra e, com ela, a marca. Por outro lado, estamos

falando de um cubo de gelo de 1000m3, no centro da Cidade do Rio de Janeiro em pleno

verão; acredita-se que esta será uma obra que, para bem ou para mal, será comentada e

confia-se que isto acontecerá em proporções internacionais. Hoje em dia, há muitos espaços

de divulgação cultural, principalmente das artes visuais e, com certeza, uma obra com estas

características reverberará nestes sistemas chegando a um público incalculável. Entende-se

que a “viralização” que a internet oferece é uma poderosíssima ferramenta de marketing.

Em uma escala mais local, a Praça Tiradentes por si só, assim como todo o centro da

Cidade do Rio de Janeiro, é um espaço muito movimentado durante a semana e, no final de

semana, as propostas culturais crescentes na região estão atraindo cada vez mais visitantes.

Da mesma maneira, a proposta do Cubo, abraçada pelas instituições culturais da região,

também vai atrair o próprio público; um público mais específico.

Ao pensar nos possíveis patrocinadores, procuramos empresas que possam se sentir

identificadas com a proposta por proximidade com a própria atividade ou pelo conceito. Nos

dois casos, interessam empresas que tenham mostrado simpatia pelas propostas artísticas.

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Por causa do tamanho da proposta, há uma inclinação por pensar em empresas de grande

porte, sem descartar as menores. Parece imprescindível pensar em empresas que tenham

mercado no Brasil ou que o estejam abrindo. Nestas condições segue uma lista com uma

série de candidatos:

- Ambev é uma notável candidata já que além de cumprir com todos os requisitos

anteriormente citados, atualmente, está com um projeto de conscientização do uso da água.69

- Heineken é uma importante marca internacional que tem uma reconhecida relação com

projetos culturais;

- Red Bull e Absolut, assim como Heineken, têm investido fortemente em projetos culturais;

- Everest, principalmente por proximidade e pela possível colaboração técnica que pode se

estabelecer;

- Kibon, é uma grande empresa e tem uma certa proximidade com a proposta.

Entrando já nas empresas mais ativas nos projetos apresentados à Lei Rouanet,

filtradas por um viés mais cultural e de proximidade, encontramos a Petrobrás, Banco do

Brasil, Eletrobrás, Banco Itaú, Banco Bradesco, Banco HSBC, Furnas, Caixa Econômica

Federal, Pepsico do Brasil, Energisa, Light, Ampla, Gerdau, Instituto Votorantim, Instituto

Telemar – Oi, V&M do Brasil, Barcelos & Cia, Casa da Moeda do Brasil e Metrô Rio70.

Em qualidade de Colaborador, entendem-se como possíveis interessadas as empresas

que fazem parte da montagem ou as instituições que interagem, de algum modo, com o

projeto.

69 AMBEV, Juntos por um mundo melhor. Campanha de marketing atual. Visto em: <http://www.ambev.com.br>/. Acesso em: 29 mai. 2016. 70 SEBRAE, Guia SEBRAE-RJ de Empresas Patrocinadoras. Instituto Cidade Viva e SEBRAE/RJ. Rio de Janeiro, 2012. Visto em: <http://www.guiaempresaspatrocinadoras.com.br/>. Acesso em: 10 mai. 2016.

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6. DIVULGAÇÃO

Com o objetivo de conseguir a divulgação desejada, se contratará uma equipe para

fazer a comunicação que trabalhará conjuntamente com um assessor de imprensa

especializado na área das artes e com a empresa patrocinadora. Cabe destacar que o

objeto a ser divulgado é uma obra de arte. Uma obra de arte que será vinculada ao

patrocinador, mas que não pode deixar de ser uma obra de arte e converter-se em um

outdoor dispendioso. Por causa disto, como já apontamos no capítulo anterior, o

patrocinador e a obra têm que estar vinculadas conceitualmente para, também,

facilitar a estratégia de comunicação e atingir o público desejado. Em relação ao

público, temos buscado o tipo de público que se interessa por cultura e, através dos

dados recolhidos71, temos traçado o perfil de um possível público mais interessado:

Figura 45 - O gráfico apresenta a média mensal da despesa familiar com recreação e cultura por faixa etária no Brasil.

Fonte: IBGE/POF, 2002-2003.

71 BRASIL. Ministério da Cultura, Cultura em Números: anuário de estatísticas culturais, 2ª Edição, Brasília, Ed: MinC, 2010.

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Figura 46 - Apresenta a média mensal da despesa familiar com recreação e cultura, por anos de estudo da pessoa de referência da família no Brasil.

Fonte: IBGE/POF, 2002-2003.

Figura 47 - O gráfico apresenta a média mensal da despesa familiar com recreação e cultura por gênero da pessoa de referência na família no Brasil. Fonte: IBGE/POF, 2002-2003.

Fonte: IBGE/POF, 2002-2003.

Figura 48 - O gráfico apresenta a média mensal da despesa familiar com recreação e cultura, por raça ou cor da pessoa de referência na família no Brasil. Fonte: IBGE/POF, 2002-2003.

Fonte: IBGE/POF, 2002-2003.

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Com os dados fornecidos pelo Ministério de Cultura do Brasil, entendemos que o

público alvo da nossa proposta seria o homem, branco, com o maior tempo de estudo

possível, dentre 40 e 60 anos. Em contrapartida, entendemos que nossa proposta pode

interessar ao público mais especializado assim como ao público menos familiarizado com o

mundo da arte e, por causa disto e por querermos que a arte seja para todos, colocamos a

peça no meio da cidade, sem cobrar ingresso, onde atenderá ao público que a procurar, mas

também a todos aqueles que passarem pelo local. Quem possui certa familiaridade com o

centro do Rio de Janeiro sabe que não há lugar mais eclético na Cidade, onde convivem

pessoas de diversas nacionalidades, idades, gêneros, culturas, poder aquisitivo e capital

cultural. Concluindo, então, podemos dizer que não há um público alvo.

Em relação à estratégia de comunicação será realizada juntamente com a equipe de

marketing da empresa patrocinadora mas já podemos sugerir alguns pontos:

Com a empresa de comunicação, geraremos a identidade visual de todo o projeto,

produzindo cartazes e panfletos para serem distribuídos física e virtualmente, assim como o

banner que envolverá a estrutura base do cubo. Principalmente usaremos a internet, canais

de Youtube e Vimeo, redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram e Pinterest, e

plataformas de divulgação cultural internacional como Ffffound e Behance entre outros. Por

um lado, então, teremos as plataformas mais estáticas como cartazes, impressos, o site e a

plataforma Behance, rede de portfolios online, que usaremos para explicar a ideia e informar

sobre a proposta. Em alternativa, temos as plataformas mais dinâmicas, como as redes

sociais onde publicaremos o processo e estabeleceremos uma relação mais próxima com o

público. Postando regularmente, desde bem antes da montagem, acreditamos que

conseguiremos uma comunidade de seguidores que ajudarão a divulgar o que estamos

prestes a realizar e, deste modo, conseguiremos fazer patente o projeto. O objetivo, com uma

estratégia de comunicação indireta, mais orgânica, é que o próprio público espalhe a

proposta chegando assim aos líderes de opinião de revistas, blogs, jornais, televisões e

rádios, potencializando a difusão. De outro modo, com a inestimável ajuda do assessor de

imprensa, alguns dias antes da inauguração serão enviadas notas para a imprensa aos meios

nacionais e internacionais que se demonstrem interessados em mencionar o projeto.

No tocante à ação em geral, junto com a obra, haverá um evento específico de

inauguração com espaço para as falas dos atores envolvidos. Durante o transcurso da obra,

serão organizados eventos culturais e de divulgação meio-ambiental, assim como palestras,

encontros, cursos e oficinas, abrigados por um evento de caráter ferial com food trucks e

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barracas de alimentação a combinar com o patrocinador, a Rede Tiradentes Cultural e a

Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

Finalmente, realizaremos um documentário sobre a obra e o processo para conseguir

realizá-la. Com este finalizado, dependendo do resultado, realizaremos a estratégia de

divulgação pertinente convertendo a experiência efêmera do Cubo em um registro

permanente e em uma testemunha memorável do evento.

A partir das conversas acontecidas com o sócio-diretor da empresa de comunicação

Banana Brasil, André Aires, obtivemos o seguinte programa da divulgação:

BANANA STRATEGIC PLAN Para obter sucesso nessa empreitada a Banana Brasil sugere a contratação do pacote Strategic Plan, uma seleção de produtos e serviços de comunicação indispensáveis para a realização do evento A - Criação de naming do projeto, que seja criativo, com boa sonoridade, dentro do conceito proposto e com boa aceitação nos mecanismos de buscas. B - Criação de marca do projeto. C - Criação de ambientação do local do evento (totens, faixas, painés, etc...), até 15 peças. D - Criação de vídeo instiucional de apresentação do projeto. E - Criação de apresentação do projeto para captação de patrocinadores. F - Criação de site do projeto sem ferramentas dinâmicas. G - Criação de blog e redes sociais (facebook e Instagram) do evento. H - Criação de política editorial e identidade visual das redes sociais. I - Manutenção do blog e rede sociais do projeto. J - Criação do conceito de comunicação e campanha de divulgação do evento. K - Planejamento de mídia on/off para o evento. L - Investimento em compra de mídia para o evento. M - Contratação de assessoria de imprensa.72

Em relação à mensagem que pretendemos transmitir, realizaremos encontros com

todos os agentes envolvidos como a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, IPHAN, IRPH, a

Rede Tiradentes Cultural, a CEDAE, as empresas fornecedoras de equipamentos e,

evidentemente, a empresa patrocinadora, para acertar este ponto. De qualquer modo,

entende-se que os atores envolvidos concordam em participar do projeto porque confiam nas

mensagens que a proposta possa emitir. Acredita-se que algumas delas podem se referir ao

fato da Cidade do Rio de Janeiro apostar nas propostas artísticas ousadas, porque acredita no

poder transformador da arte, gosta de promover novos artistas locais e quer preservar o lugar

como referência na arte e na cultura. O Rio de Janeiro é uma cidade onde se preserva o

antigo, mas se aposta no novo; proteger não envolve impedir o uso, cuidar não significa

paralisar, defender não implica renegar. Um centro da cidade ativo, ligado, presente, de todos

e para todos.

72 BANANA BRASIL. Strategic Plan [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por o autor em: 27 jun. 2016.

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Ainda em relação à mensagem, de forma criativa, a CEDAE, que administra e se

importa com a água, promove seu reúso. Água de reúso, recurso que está se implementando

na Cidade, é uma proposta de mudança nas políticas da água e pretende conscientizar a

população sobre a importância deste recurso natural. Um recurso que é de todos e que cabe a

todos exigir melhoras nas infraestruturas assim como adquirir responsabilidades para cuidar

deste nosso patrimônio. Por último, as empresas fornecedoras, assim como a empresa

patrocinadora, acreditam nas mensagens citadas, acreditam na Cidade, na cultura, na arte, no

poder de transformação de uma proposta diferente, impactante, no meio da Praça, para todos.

Cabe destacar que, em contraposição a um anúncio em qualquer meio, ou qualquer

campanha de publicidade direta, o fato de patrocinar este projeto ou apoiar toda a proposta

criativa, converte a marca patrocinadora em um agente indissociável da obra e isto começa,

mas não acaba. A obra fica e as pessoas a lembrarão e a propagarão, chegando cada vez a

outras pessoas.

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7. OS VALORES

Uma das coisas que interessará ao nosso Patrocinador será o custo da intervenção.

Fechando o projeto, fazer um levantamento dos custos é imprescindível para determinar a

sua viabilidade e pensar a estratégia de como articulá-lo. Por exemplo, não é o mesmo tratar

um projeto de R$ 300.000 que um de R$ 20 milhões. Para fazer o orçamento, entramos em

contato com as empresas fornecedoras e pedimos uma estimativa de custos da sua

participação no projeto. Algumas empresas conseguiram passar um orçamento bem ajustado

já que tinham toda a informação necessária para realizá-lo. Em outros casos, como o da

fundação, não foi possível estabelecer um valor real, já que não se sabe ainda se haverá

necessidade de construi-la nem de que tipo será até se obter os resultados do estudo

geológico. Por causa disto, podemos dizer que os valores nesta tabela a seguir são

aproximados.

Cabe ressaltar que há uma serie de variáveis nas atividades citadas e nos seus

respetivos valores, que podem ser alteradas dependendo do acordado com a empresa

patrocinadora, assim como na incorporação de fornecedores Colaboradores.

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Figura 49 - Tabela de custos do projeto.

ITEM QUANTIDADE UNIDADE QUANTIDADEDEUNIDADE VALORUNITÁRIOR$ VALORTOTALR$Projetodeengenharia 1 projeto 1 1500000 1.500.000,00BRLSondagemgeológica 1 projeto 1 63200 63.200,00BRL

ÁguadeReúso 1 m3 1.000 5 5.000,00BRL

EstruturabaseTruss 1 unidade 1 116.000 116.000,00BRLEstruturaAndaime 1 unidade 1 424.511 424.511,00BRLMembranaPVC 1 unidade 1 50.330 50.330,00BRLCâmarafrigorífica 1 unidade 1 515.000 515.000,00BRLBombasdeágua 1 unidade 4 3.000 12.000,00BRLMangueiras 1 unidade 6 5.000 30.000,00BRLBannerinformaçãoepatrocinio 1 unidade 4 1.500 6.000,00BRL

Guindache 2 horas 100 200 40.000,00BRLElevadores 12 horas 100 100 120.000,00BRLGeradorelêtrico 2 dias 40 2.000 160.000,00BRL

Transportedeágua 1 caminhões 50 1.000 50.000,00BRLProjetoestruturalfundação 1 projeto 1 24.000 24.000,00BRLConstrutora(fundação) 1 execução 1 900.000 900.000,00BRLConstrutora(finalização) 1 execução 1 100.000 100.000,00BRLProjetodeiluminação 1 projeto 1 80.000 80.000,00BRLProjetoaudiovisual 1 projeto 1 724.900 724.900,00BRLProdução 1 mes 7 50.000 350.000,00BRLCaptaçãoderecursos 1 unidade 1 500.000 500.000,00BRLSegurança 4 dias 180 100 72.000,00BRLHonoráriosartista 1 unidade 1 300.000 300.000,00BRLImprevistos 1 % 20 6.142.941,00 1.228.588,20BRL

PARCIAL 7.371.529,20BRL

Assessoriadeimprensa 1 unidade 1 25.000 25.000,00BRLComunicação 1 unidade 1 750.000 750.000,00BRL

Contabilidade 1 serviço 1 40.000 40.000,00BRLAdvogado 1 contrato 27 20.000 540.000,00BRL

TOTAL 8.726.529,20BRL

PROJETO:OCUBOPRÉ-PRODUÇÃO

PRODUÇÃO

DIVULGAÇÃO(max20%)

CUSTOSADMINISTRATIVOS(max15%)

estrutura

máquinaria

serviços

águamateriais

Fonte: O Autor, 2016

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8. O PROJETO

Chegado a este ponto, é o momento de juntar todas as informações da nossa Obra em

um documento (Anexo Dia 26).

Um dossiê que contenha as informações de forma clara, resumida e organizada já

que, provavelmente, as pessoas a quem é destinado não disponham de muito tempo para se

dedicar a entender o assunto. Neste caso, cabe com perfeição a expressão do escritor

espanhol Baltasar Gracián, já provérbio popular: “Lo bueno, si breve, dos vezes bueno; y aun

lo malo, si poco, no tan malo” (1647).73

Este documento será a porta de entrada ao nosso projeto e é destinado a todos os

agentes que farão parte deste processo. O Patrocinador tem que ver claramente porque seria

interessante para a sua empresa investir no projeto; e a Cidade, em uma primeira instância o

Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), também deve entender qual será o retorno

que esta Obra trará ao Rio de Janeiro e que benefícios existem em acolher uma iniciativa

como esta. Nesta lógica, cabe ao projeto indicar as vantagens de se estabelecer esta parceria

público-privada.

Por outro lado, os fornecedores também precisam compreender claramente o que se

requer deles. A partir deste propósito, o dossiê deve responder basicamente às seguintes

questões:

O quê? Que quantidade? Quando? Onde? Por quanto tempo? Com quem? Quanto custa?

73 GRACIÁN, Baltasar. Oráculo manual y arte de prudencia. 1647. Disponível em: <http://blogs.20minutos.es/yaestaellistoquetodolosabe/cual-es-el-origen-de-la-expresion-lo-bueno-si-breve-dos-veces-bueno/>. Acesso em: 2 ago. 2016. O trecho correspondente na tradução é: “O bom, se breve, duas vezes bom; e, ainda o ruim, se pouco, nem tão ruim.” (Tradução do Autor).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES

Ao longo do processo de construção desta dissertação, pode-se observar como a ideia

original foi mudando devido às novas informações adquiridas e se adequando aos sistemas

de produção e cronograma dos fornecedores. A cada passo alcançado resolvia-se um assunto,

ou não, e geravam-se novas questões a serem esclarecidas. Na sequência, o projeto ia

ganhando forma e obtinha-se uma ideia objetiva das particularidades do empreendimento.

O contato com as empresas tem sido complicado. Primeiro porque a proposta era

difícil de entender, questão que foi resolvida com o dossiê explicativo e o vídeo destinado ao

mesmo fim; segundo porque é uma proposta que sai completamente dos moldes em que as

empresas que foram mobilizadas estão acostumadas a trabalhar e ao tipo de projeto que

costumam receber; e terceiro, porque o contato realizado não conseguia oferecer a previsão

de que o projeto prosseguiria seu curso até a sua efetivação, provavelmente por causa da

condição artística, tamanho do mesmo e devido à falta de precedentes. Além disso, a relação

se construía a partir da confiança na proposta, sem nenhum tipo de remuneração até o projeto

ser aprovado e o interlocutor era uma pessoa física, sem empresa, sem apoio e sem

referências em projetos deste porte, fazendo com que a credibilidade da proposta diminuísse.

Todas estas questões desgastaram a relação com os agentes acionados e não obtivemos os

resultados desejados que, se acredita, poderiam ter sido atingidos com um apoio empresarial,

institucional ou financeiro. Cabe destacar que houve certos atores que, por cima das

dificuldades citadas, acreditaram no projeto e foram de grande ajuda na realização do

mesmo, aportando o próprio conhecimento técnico.

Neste ponto, temos um desenho viável, uma proposta planejada que já começou a

existir no próprio decorrer da mesma e que, com a apresentação e publicação desta

dissertação, ficará registrada. Uma Obra que pode ser divulgada e pode começar a se

relacionar com possíveis patrocinadores interessados, a fim de ajudar a encontrar a empresa

de engenharia que se responsabilizará pelo projeto técnico. Temos uma proposta formal, com

os custos de orçamento e cronograma aproximados e com o impacto no local apurado.

Temos uma obra projetada, uma peça que existe no papel e que, neste momento, só depende

de conseguir os recursos necessários e a aceitação por parte das instituições responsáveis

pelo local para poder prosseguir. Uma Obra formalmente poderosa, chocante e imponente

que fala de nós, dos nossos recursos que, assim como ela mesma, se desgastam, agonizando,

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morrendo. O Cubo, de um lado funciona como arte na sua formalidade e, do outro, funciona

como uma arte mais política, mais social, mais comprometida.

Como pode ser observado nos desdobramentos da proposta, não é uma proposta

econômica e, para sua construção, haverá que se interditar uma parte da Praça para a

instalação dos elementos que possibilitarão a efetivação da Obra, o que significa que, ainda

que tentemos reduzir ao máximo esse tempo, a Praça estará em obras novamente. A última

obra que a Praça sofreu foi neste ano, 2016, na construção da estação do Veículo Leve sobre

Trilhos (VLT). Esta condição nos deixa céticos, já que estamos cientes da situação crítica

que a política, a economia e a cultura estão passando em nosso País. Por outro lado, no

entanto, é uma proposta que gerará emprego e prevê grande repercussão midiática que pode

ser interessante para a Cidade, para o Patrocinador e também para os colaboradores. Neste

projeto, a aceitação e participação da Cidade do Rio de Janeiro assim como da empresa

patrocinadora é fundamental para a efetivação da Obra e, para isto, as situações política e

econômica serão determinantes. Partindo destas condições, há que destacar que a obra está

projetada para ser instalada no lugar escolhido, pelas razões citadas, e ter as características

apontadas. Dito isto, considera-se que estes dois importantes atores, se interessando pela

proposta, terão as próprias disposições da natureza que acharem pertinente e, de acordo com

estas, se estudará o interesse em dar continuidade, ou não, ao projeto. Para colocar um

exemplo: a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro tem investido muito em transformar a

Praça Mauá em um ponto turístico de referência. Sendo assim, cabe a possibilidade de que a

Prefeitura, por fins políticos, queira instalar a obra na Praça Mauá. Nesse caso, caberá a mim,

autor do projeto, decidir se essa mudança é interessante e pode ser assumida pelo projeto ou,

caso contrário, não valha a pena realizar a Obra nesse local.

No início desta dissertação tínhamos uma ideia, agora temos um projeto. No presente

documento, encontra-se o desenvolvimento deste processo, procedimentos que buscam a

formalização dessa ideia e, neste decorrer, descobrimos a história do local em que estamos

trabalhando, referentes artísticos com quem estabelecemos relação, propostas públicas que

usam a arte para ativar espaços urbanos e propostas artísticas que se associam a empresas

privadas e que se servem da mesma como estratégia publicitaria; investigamos com outras

disciplinas como termodinâmica, mecânica estrutural, engenharia da refrigeração, geologia e

meteorologia; entendemos como funcionam as estruturas regionais de financiamento à

cultura, proteção do patrimônio e redes culturais locais assim como nos debruçamos com as

questões de produção, documentação e divulgação. Todas estas interações arquitetam a

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efetivação da proposta e, com isto, corrobora-se como os processos artísticos se interligam

com outras práticas e que o fazer artístico está totalmente inserido no contexto em que se

desenvolve.

Normalmente as dissertações terminam neste capítulo, somando-se à bibliografia

anterior e abrindo-se à consulta para posteriores trabalhos e investigações. Neste caso, isto

não é diferente, a diferença reside em que nesta nossa dissertação, com a apresentação da

mesma, começa o período de efetivação da Obra em si. Com o projeto definido, chegou a

hora de sair e convertê-lo em realidade.

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ANEXOS

Dia 1 (03/06/2015)

Já temos projeto. A partir da premissa do pré-projeto apresentado para ingressar no

Mestrado na UERJ: O Espaço como Objeto Artístico, são realizadas uma série de propostas

para tratar a inclusão de um tipo específico de obra no mercado da arte. Este tipo de obra tem

caráter instalativo, sem acesso direto à antiga estrutura objeto-galeria/loja-venda. Uma obra

que não tem um resultado em forma de objeto. Uma obra que, em si, não é comercializável

na lógica do gostou, comprou, levou. Uma obra que trabalha com o espaço, uma obra que se

relaciona com o entorno e só faz sentido nele sendo, ou não, site-specific.

Nesta condição, se começa a trabalhar a possibilidade de fazer um evento/exposição

onde seriam convidados artistas que trabalham com este tipo de produção como:

Anne Patterson, Ball-Nogues Studio, Chip Lord (Ant Farm), Christo & Jeanne-

Claude, DGT architects (Dorell.Gothmeh.Tane), Do ho Suh, Doris Salcedo, Eduardo Srur,

Ernesto Neto, Esther Stocker, Florentjin Hofman, Gert Wingárdh Kustaa Saksi, Gosia

Wlodarczak, Hans Walter Müller, Henrique de Oliveira, Inges Idee, Kurt Perschke, Kyung

Woo Han, Les Astronautes, Loop.pH, Los Carpinteros, Nils Nova, Numen/For Use, Oliafur

Eliason, Onishi Yasuaki, Rachel Whiteread, Snarkitecture, Tomás Saraceno, Toshiko

Horiuchi MacAdam, Yayoi Kusama, Urbanscreen e William Forsythe.

Uma primeira proposta com uma linha curatorial que costura as escolhas em artistas

que, nas suas obras, falam diretamente do espaço, no espaço. Por causa disto, encontramos

convidados que não se apresentam como artistas e sim como estúdios de arquitetura. Uma

primeira proposta que não parece adequada por causa do protagonismo que adquire a

exposição em si. Só o fato de propor estes artistas e reuni-los em uma exposição já é um

trabalho que pede justificar o porquê e em razão do quê são selecionados em uma extensa

narrativa curatorial. Apresentar esta exposição seria o trabalho e, no caso, a relação com o

mercado da arte ficaria em um segundo plano.

Por outro lado, temos a ambição da proposta. A maioria dos artistas cogitados tem

reconhecimento mundial e uma extensa obra que, em quase todos os casos, daria origem a

uma enorme individual. Por causa disto, depois de começar a trabalhar na exposição e

perceber que a proposta é dificilmente realizável, escolhemos um deles.

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A escolha do artista é realizada por causa das semelhanças na produção artística com

meu próprio trabalho, porque é um referente das propostas que se relacionam com o entorno

e trabalham com o espaço e, também, por uma profunda admiração por sua obra. O artista

selecionado é Christo Vladimirov Javacheff, mais conhecido como Christo & Jeanne-Claude,

dupla que forma com a esposa.

Em uma primeira aproximação à sua obra com a intenção de convidá-lo ao Rio de

Janeiro para realizar uma obra, nos deparamos com este comunicado: Most artists receive grants, foundation money and produce commissioned works of art for an art patron – Christo and Jeanne-Claude do not accept those. They have never accepted sponsorship of any kind, they never will, because they value their freedom most of all. Also they never create a work in collaboration with other artists, nor do they accept the ideas of others for the choice of a site for their work. The search for freedom is the reason why Christo escaped from his native country Bulgaria, at age 21, while it was under Communist rule. Christo and Jeanne-Claude will never allow any kind of "strings attached." They refuse all commercial involvement – at any price. They have refused a one million dollars fee for a 60 second commercial on Japanese television, in 1988.74

Com enorme admiração e uma certa inveja leio que eles (Christo e Jeanne-Claude)

não aceitam sugestões de lugares onde trabalhar. A partir deste momento, sem nem pensar

em escolher outro artista, descarta-se a ideia de tentar trazê-lo já que seria um esforço em

uma tentativa que acabaria frustrada.

Neste contexto, acompanhado de leituras sobre o processo e o trabalho de Richard

Serra75, decido recuperar uma ideia que anotei há uns meses. Vamos fazer um trabalho onde

o objeto de pesquisa seja uma obra minha.

Já temos projeto!

Dia 2 (30/07/2015)

O objeto da dissertação será uma obra que, por enquanto, temos chamado de O Cubo.

Um cubo de gelo de 1000m3 que será instalado na Praça Tiradentes do Rio de Janeiro para,

em temperatura ambiente, ir se derretendo.

74 CHRISTO and JEANNE-CLAUDE. Life and Works, Most Common Errors.1998. Disponível em: <http://www.christojeanneclaude.net/>. Acesso em: 3 jun. 2015. O trecho correspondente na tradução é: A maioria dos artistas recebe bolsas, dinheiro de fundações e produz obras de arte encomendadas para um “art patrão” – Christo and Jeanne-Claude não aceitam isso. Eles nunca aceitaram patrocínio de qualquer tipo, nunca irão, porque eles valorizam a própria liberdade acima de tudo. Também, nunca criam uma obra em colaboração com outros artistas, não aceitam as ideias dos outros na escolha dos lugares para suas obras. A procura da liberdade é a razão pela qual Christo escapou da Bulgária natal, aos 21 anos, enquanto estava sob o regime Comunista. Christo e Jeanne-Claude nunca permitirão nenhum tipo de “amarras.” Eles recusam todo envolvimento comercial - a qualquer preço. Eles recusaram um milhão de dólares por 60 segundos de um anúncio publicitário na televisão japonesa, em 1988. (N.T.) 75 SERRA, Richard. Richard Serra: Escritos e entrevistas 1967-2013. 1ª edição, Rio de Janeiro, Ed: Instituto Moreira Salles, 2014.

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Uma obra de complicadas características técnicas que contempla todos os problemas

que um artista pode ter. Não vamos poder pensá-la sozinhos, vamos precisar de profissionais

das áreas da física e da química para ajudar a projetar a melhor maneira de realizá-la, se de

fato for realizável. Teremos que recorrer à indústria para conhecer a maquinaria existente e

que poderia viabilizar o trabalho da forma ótima. Quando já saibamos como poderá ser feita,

pensaremos em como pode ser executada e qual será a ordem da montagem em relação às

possibilidades que oferecem os fornecedores. Posteriormente, enumerar os valores e,

enquanto procura-se alguém para patrocinar o projeto, há que se “vender” a ideia para

conseguir a permissão dos poderes públicos. Resumindo, é uma obra de um alto custo

econômico, que requer a colaboração de profissionais de outras áreas, dos serviços de

empresas especializadas, e da aprovação dos órgãos públicos. Além disso, é uma obra que é

feita com um milhão de litros de água e um notável consumo de energia elétrica. Duas

questões que não ajudarão à sua aceitação e deverão ser levadas em consideração na hora de

projetar a peça.

Em primeiro lugar, a água terá que ser da chuva. O Rio de Janeiro é um lugar onde os

recursos hídricos são abundantes, mas sua gestão é muito deficiente e a falta de água para o

consumo particular não é rara. Utilizar água destinada ao consumo da população seria um

“suicídio” frente à opinião pública.

Em segundo lugar, há que se pensar que um cubo destas dimensões não pode ser

apoiado diretamente no chão que emana calor. Se assim fosse, o cubo poderia derreter na

base e a pequena película de água resultante possibilitaria o deslocamento para o lugar onde

a topografia mandasse, podendo causar grandes danos.

A água resultante do derretimento também tem que ser levada em consideração.

Grandes quantidades de água serão derretidas por dia e seria imprudente deixá-la escorrendo

pelo chão da Praça.

A partir destas condições, há que se pensar como realizá-la, com que materiais, que

procedimento, segurança e iluminação.

Com todo isto resolvido, podemos começar a falar de como fazê-la, de fato.

Dia 3 (19/10/2015)

O Cubo será feito somando camada a camada de água em estado líquido e a

congelando in situ.

Tínhamos três opções que pareciam viáveis para realizar a peça:

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A primeira opção era ir no lugar mais próximo da cidade do Rio de Janeiro, onde

houvesse gelo, cortar um pedaço e trazê-lo. Nesta opção, nos deparamos com dois problemas

principais: o primeiro era que não interessavam os estratos de gelo que acharíamos em um

pedaço de gelo pego da natureza. Interessa fazer uma peça o mais parecida com o cubo de

gelo usado habitualmente e, para isto, é melhor fabricá-lo. Por outro lado, o fato de trazer um

pedaço de gelo que derreteria no Polo para que se derreta na cidade, carregaria um peso

simbólico, protagonista demais, muito vinculado à questão do aquecimento global e, isto,

não interessa em demasia. A questão do aumento das temperaturas interessa como assunto

sintomático de uma serie de políticas e ações, mas o nosso interesse tem foco na gestão do

recurso água e as políticas que podem ser aplicadas para cuidar deste capital de vital

importância. O segundo inconveniente reside na questão do transporte. Trazer um cubo de

gelo de 1000m3 de perto da Antártida é uma grande aventura, mas... achamos viável. O

problema complica-se quando chegamos à Cidade e queremos situá-lo em seu Centro. A

praça onde a peça será localizada, a Praça Tiradentes, está cercada de estreitas ruas que

impossibilitariam o acesso de uma peça de tal magnitude. O fato de colocá-la por via aérea é

descartado já que achamos que não seria possível. O maior helicóptero de carga pesada que

existe é o russo MI-26 que pode carregar até 20 toneladas76. Nosso cubo pesa 1000

toneladas. O fato de usar 50 helicópteros russos para transportar O Cubo fica fora de

cogitação.

A segunda opção era, como feito na cidade de gelo de Harbin, no nordeste da China,

usar menores blocos de gelo e empilhá-los como tijolos. O problema nesta segunda opção é

que a temperatura da cidade de Rio de Janeiro nunca chega a -17ºC, como nosso referente na

China, e, por causa disto, tentar realizar o cubo com métodos construtivos em gelo não daria

certo. A temperatura ambiente, está em volta dos 30 - 35ºC, fato que levaria a derreter a

superfície dos nossos cubos impedindo a união entre eles conduzindo ao iminente colapso.

Em outra ordem de prioridades, no caso em que fosse possível a construção do cubo neste

método, o resultado não seria esteticamente interessante, já que restariam as marcas das

uniões e não conseguiríamos uma peça uniforme.

Descartadas as duas primeiras opções, optamos pela terceira que se baseia na

fabricação do cubo no lugar a ser instalado, a partir do congelamento da água líquida. O fato

da água estar no estado líquido facilita o transporte, permitindo que seja feito por etapas. A

ideia é congelar a água por camadas para não ser necessário um contentor que tenha que

76 PADILHA, Luiz; WILTGEN, Guilherme. Helicópteros Russos: Os 5 maiorais dos céus em atividade. Fonte: Gazeta Russa. Disponível em: <http://www.defesaaereanaval.com.br/helicopteros-russos-os-5-maiorais-dos-ceus-em-atividade/>. Acesso em: 19 out. 2015.

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suportar a pressão de toda a água. No momento em que a água é congelada, o gelo tem

estrutura própria e não exerce pressão lateral, mas apenas pressão vertical, oriunda de seu

próprio peso.

Dia 4 (23/10/2015)

Projetada a peça, há que se começar a pensar em concretizar as ideias que foram

escolhidas como melhor solução. Há que se começar a pensar em questões referentes à física

e química para entender os processos e procurar na indústria e no mercado possíveis soluções

que facilitem e otimizem a realização da obra.

Em relação ao procedimento, em primeiro lugar temos que calcular quanto tempo vai

demorar a congelar a partir das condições propostas e, na mesma lógica, calcular quanto

tempo levará em se derreter, para, assim, estabelecer a duração da peça.

Em relação à infraestrutura da peça podemos enumerar os seguintes elementos:

Estrutura que sustente a peça, já que esta não pode ser pousada no chão, e que

contenha um sistema de coleta da água derretida que a leve para o ponto de recolhida das

águas pluviais. Cabe destacar que a estrutura terá que suportar 1.000 toneladas de peso.

Câmara refrigeradora ou câmara fria maior do que a peça, gerando as condições

ótimas para que a água mude para o estado sólido, gelo;

Reservatório da água tratada para ser esfriada e aplicada;

Obtenção da água da chuva;

Transporte da água;

Fornecimento de eletricidade.

Em relação à finalização da obra, pode-se pensar em:

Segurança;

Iluminação;

Registro e documentação;

Por outro lado, em relação à produção:

Espaço de praça Tiradentes;

Fornecedores e parcerias para conseguir os elementos;

Articulação das Instituições Culturais;

Levantamento de Apoios e Financiamento.

Dia 5 (14/12/2015)

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Depois de uma primeira pesquisa, empreendemos a primeira aproximação aos

possíveis fornecedores de câmaras frias. Com esta mensagem: Consulta sobre uma Câmara Frigorífica especial

Olá,

Meu nome é Sergi Arbusà, sou artista plástico e estou trabalhando em um projeto para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que consiste na realização de um cubo de gelo de 1000m3 (10x10x10m.) para ser instalado na praça Tiradentes do Rio de Janeiro. Para realizar esta peça vou precisar de uma câmara frigorífica de uns 12x12x12m. a ser situada na própria praça que consiga chegar a uma temperatura interna de uns -25ºC.

É possível fazer isto? quanto custaria? Muito obrigado, Sergi77

Entramos em contato com as seguintes empresas: Riofrio, Pladil Refrigeração,

Termkcal, Friolar, Bandeirantes Refrigeração, Refrigeração Unifrio, International

Refrigeração, Refrigeração Moreira, STR Refrigeração e Tectermica.

Dia 6 (15/12/2015)

Avançando na pré-produção do projeto, estabelecemos algumas mudanças a partir da

relação com os fornecedores e as primeiras conversas com as empresas. Continuamos

trabalhando para conhecer a viabilidade do projeto. Já estamos em contato com os órgãos

competentes para realizar um levantamento da região e saber se o subsolo da Praça

Tiradentes pode suportar uma peça do peso da proposta.

A partir daqui podemos enumerar as etapas do cronograma para organizar o processo:

• Entrar em contato com as instituições responsáveis pelo espaço onde vai ser exposta e tratar sua viabilidade, assim como ver com as instituições culturais um possível apoio.

• Em paralelo, entrar em contato com todas as empresas que participarão na construção

da peça e estabelecer um calendário de montagem.

• Empresa responsável pela realização da Estrutura Base. É possível que seja a mesma empresa que realizará a Câmara Frigorífica. Estamos vendo se é melhor fazê-la com estrutura modular metálica, usada nos shows e palcos temporários, ou realizá-la de concreto.

• Empresa responsável pela realização do Molde contentor.

77 O autor. Consulta sobre uma Câmara Frigorífica especial [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por: @strrefrigeracao.com.br; @friolar.com.br; @tectermica.com.br; @refrigeracaomoreira.com.br; @refrigeracaounifrio.com.br; @bandeirantesrefrigeracao.com.br; @termkcal.com.br; @reedalcantara.com.br; @pladil.refrigeracao. Em 14 dez. 2015.

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• Empresa responsável pela realização da Câmara Refrigeradora. Temos iniciado os primeiros contatos e, pelo comentado, fazer uma geladeira que chegue a -25ºC de 12 x 12 x 12m, temporária, é possível.

• Empresa responsável pelo fornecimento elétrico.

• Empresa responsável pela água. Neste ponto houve uma mudança. Estávamos

trabalhando com a possibilidade de fazê-la com água de chuva, mas tínhamos dúvidas em relação à coleta, transporte e tratamento. Por isto, optamos por trabalhar com água de reúso, um recurso que está começando a se estabelecer na cidade do Rio de Janeiro, fato que pode nos dar algumas vantagens em relação ao apoio institucional e, ao mesmo tempo, continua mantendo as questões éticas exigidas, atendendo a todas as especificações estéticas. Este material será fornecido pela Estação de Tratamento de Esgoto da Penha – RJ.

• Empresa responsável do transporte da água; caminhões Pipa com capacidade de

20.000 litros.

• Empresa responsável pelo registro da obra.

• Quando a viabilização da peça estiver resolvida, começar o trabalho de captação de recursos para financiá-la.

Dia 7 (05/01/2016)

Provas da potência do sol.

Nas conversas com o engenheiro que está auxiliando o projeto resolvemos que a

melhor maneira de conhecer a interferência que o sol exercerá sobre a peça é a partir de

provas empíricas. Para perceber o impacto, expomos cubos de 80 gramas de gelo ao sol e

calculamos o tempo de derretimento.

Prática de laboratório:

Objeto: Conhecer a interferência do sol no gelo e estimar quanto tempo levará nosso

cubo em derreter.

Elementos: Cubos de gelo de 5 x 5 x 5cm, 80 gramas.

Procedimento: Dividimos o dia em 8 partes: das 00h00 às 03h00, das 03h00 às

06h00, das 06h00 às 09h00, das 09h00 às 12h00, das 12h00 às 15h00, das 15h00 às 18h00,

das 18h00 às 21h00 e das 21h00 às 24h00. Em cada período, submetemos dois cubos de gelo

ao sol, registramos a temperatura ambiente e anotamos o tempo que demoram em derreter

completamente. Cabe destacar que os cubos são apoiados em superfícies isolantes que

filtram a água derretida. As provas são realizadas em dias de sol, sem nuvens, com

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incidência direta dos raios do sol e na estação de verão. Registramos o tempo de

derretimento dos dois cubos e fazemos uma média.

Resultados:

00h00 – 03h00: 25ºC, início: 00h00; fim: 02h29. 2h29min.

03h00 – 06h00: 24ºC, início: 03h00; fim: 05h42. 2h42min.

06h00 – 09h00: 27ºC, início: 06h16; fim: 08h43. 2h27min.

09h00 – 12h00: 29ºC, início: 09h13; fim: 10h52. 1h38min.

12h00 – 15h00: 30ºC, início: 12h00; fim: 13h18. 1h18min.

15h00 – 18h00: 29ºC, início: 15h00; fim: 16h16. 1h24min.

18h00 – 21h00: 28ºC, início: 18h02; fim: 19h55. 1h53min.

21h00 – 24h00: 27ºC, início: 20h58; fim: 23h08. 2h10min.

A partir destes dados estabelecemos a média de tempo que leva o cubo em derreter.

Em média, um cubo de gelo de 5cm x 5cm x 5cm derrete em duas horas. Com isto, já

que o cubo derrete por todas as faces, podemos dizer que a cada duas horas nosso cubo

perderá 2,5 cm de superfície. Nestas condições, podemos estabelecer que a cada dia o Cubo

perderá 30cm. Entendo que para chegar ao centro do cubo há que se percorrer 5 metros e,

sendo assim, estimamos que o Cubo vai demorar em derreter 16,6 dias, aproximadamente.

É importante destacar que as provas foram realizadas em dias de sol com incidência

direta dos raios, simulação que reproduz as condições às que o Cubo será exposto no local

em dias claros. Se o dia for nublado entende-se que o tempo de derretimento aumentará,

assim como se chover, o tempo de derretimento aumentará. As variáveis climatológicas são

instáveis e, nesta condição, há que se entender que os cálculos são meramente aproximativos.

Por outro lado, ha que se levar em consideração que o Cubo mede 10 x 10 x 10

metros e que a curva de derretimento não é linear. Entende-se que, por causa da influência da

importante massa de gelo, as primeiras camadas serão derretidas mais lentamente, assim

como as últimas derreteram mais rapidamente.

Por último, o efeito do vento na nossa peça também não pôde ser calculado com

mostras representativas já que, para isso, precisaríamos de umas paredes de gelo de 10

metros de altura ou simulá-las.

Dia 8 (21/01/2016)

Já pensando na construção do Molde, precisamos do material que estará em contato

com a água e a estrutura que permitirá alcançar a altura desejada.

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Entendendo que o material que conterá a água tem que ser impermeável e facilmente

emendável, pensamos no vinil com que se fazem as piscinas infláveis: resistente, é utilizado

em piscinas de 50.000 litros, e, pelos formatos de piscinas que existem, achamos que não

deve ser muito difícil de emendar e isolar, para que não hajam fugas.

Por outro lado, a estrutura não precisa ser muito resistente já que não precisará

suportar muita pressão. Em primeiro lugar, temos quatro paredes de dez metros unidas nas

esquinas, o que divide as forças, compensando-as, e faz a nossa estrutura mais sólida do que

se fossem paredes separadas. Em segundo lugar, esta estrutura não tem que conter a pressão

dos 1000m3 de água. Se assim fosse, sim teríamos que construir uma imponente represa e o

nosso projeto não seria viável. Uma das condições básicas do projeto é interferir o mínimo

possível no entorno e na Praça; nesta condição todos os elementos devem ser removíveis. Já

que a intenção não é acabar com a Praça, pensamos em congelar a água em fases de 20.000

litros, o que significa camadas de dez metros de largura por dez metros de comprimento por

vinte centímetros de altura; a pressão lateral que esta água exercerá é a pressão que nossa

estrutura tem que aguentar. A fim de conseguir uma superfície rígida e plana, a nossa

estrutura também terá a função de manter o vinil tenso, ajudando assim a conter a água.

Por último, a estrutura tem que possibilitar o acesso ao topo do contentor para

facilitar a montagem e a adição da água.

Levando em consideração estas exigências, concluímos que a melhor opção é fazer a

estrutura com andaimes de construção, estrutura tubular.

Dia 9 (28/03/2016)

Depois de várias conversas e pesquisas, optamos por pousar o cubo de gelo no chão

da Praça, separado da pedra unicamente por uma camada de tecido de vinil. Entendemos que

a própria irregularidade da pedra portuguesa vai ajudar a evitar movimentos e o fato de não

trabalhar com uma superfície rígida em contato com uma superfície irregular ajudará a

distribuir a pressão do peso do cubo. A escolha de fazer uma estrutura que levante o cubo

apresentava uma série de problemas como: de que material teria que ser feito para resistir mil

toneladas de peso; se a peça fosse sustentada por elementos verticais, tipo pernas,

acabaríamos concentrando todo o peso da peça nessas estruturas e, com isso, o peso seria

distribuído em pontos menores aumentando de forma considerável a pressão exercida sobre o

chão, podendo assim, lesioná-lo.

Por outro lado, devido ao peso da peça e ao fato de que serão instaladas bombas que

conduzirão a água ao sistema de coleta de águas pluviais, evitando assim a acumulação de

água na base da estrutura, a obra não se deslocará.

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Por último, para recolher a água derretida, será instalada uma estrutura metálica

modular que, além de ser também o espaço de informação e patrocínio, será um delimitador

que evitará um possível movimento da obra e reprimirá a excessiva aproximação dos

visitantes.

Dia 10 (31/03/2016)

Em 2011, no Rio de Janeiro, teve início a implantação de um sistema unificado que

facilita o levantamento dos equipamentos subterrâneos. Este sistema é chamado de Geovias e

a partir dele podemos saber o que há no subsolo das áreas mapeadas. A Praça Tiradentes,

área de nosso interesse, já está atualizada e podemos observar que não há equipamentos de

nenhum tipo que passem pela área onde pretendemos instalar a peça. O Sistema indica as

instalações de telecomunicações das empresas Oi, GVT, Embratel, Telefônica, Telebrás, Tim

Celular SA, Level 3 Comunicações e Mundivox, assim como as instalações elétricas da

Light, instalações de gás da CEG e os sistemas aquíferos da CEDAE, água e esgoto e

também da Rio Águas, drenagem.

Ainda, no mesmo sistema, podemos observar que o metrô não passa sob a Praça e

não é conhecida a existência de estacionamento subterrâneo no local.

Com estas informações podemos dizer que a Praça é sólida e, entendendo que o

nosso cubo pesará 10 toneladas por metro quadrado e será completamente adaptado às

irregularidades da calçada existente, podemos dizer que não há risco de colapso. Em

contrapartida, o fato de não ter nenhum equipamento na área de atuação assegura que, na

hora de congelar a água, mais nada seja afetado pela mudança de temperatura.

Dia 11 (02/04/2016)

Nos primeiros contatos com os fornecedores, percebemos que a ideia que é tão clara

para nós, não consegue chegar a eles com a mesma clareza. Para que todo o trabalho já

realizado seja visível e para que o projeto seja mais atrativo na medida em que é

compreendido, resolvemos fazer um dossiê explicativo da proposta e um vídeo com o

mesmo propósito. A seguir o pré-projeto explicativo para contato com os fornecedores:

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Figura 50 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 1.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 51 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 2.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 52 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 3.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 53 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 4.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 54 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 5.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 55 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 6.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 56 - Dossiê apresentado às empresas para melhorar a comunicação. Folha 7. O autor,

2015.

Fonte: O Autor, 2016.

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Dia 12 (02/04/2016)

Um segundo contato com as empresas fornecedoras da câmara fria, desta vez com o

suporte gráfico e audiovisual que trazem o dossiê e o vídeo, é muito mais fecundo. Três

empresas se mostram interessadas e a empresa paulista Termkcal, através do engenheiro

Alencar Vieira, mostra um interesse especial na proposta. Nas conversas com ele,

resolvemos algumas questões técnicas e estamos trabalhando para chegar às soluções

oportunas.

Dia 13 (04/04/2016)

Em contato com a empresa Delta Vinil Piscinas, que fornecerá a membrana

contentora responsável por revestir e isolar o interior da estrutura de andaimes onde será

colocada a água que congelará em camadas, comentam que, sim, podem atender o nosso

pedido e encaminham o orçamento a seguir78: Revestimento em pvc (com cordas e ilhós). Material: Geomembrana cinza, 1mm – atóxico. Medidas: 10m x 10m x 11m. Valor R$ 45.595,00 – a vista Valor R$ 48.330,00 – a prazo Não incluso instalação. Frete: R$ 2.000 Formas de pagamento: A vista: 50% sinal e 50% na liberação da mercadoria. A prazo: Parcelamos em 3x (cartão de crédito) Realizamos vendas no cartão BNDES. Prazo de entrega: 15 / 20 dias.

Dia 14 (07/04/2016)

Em encontro no Centro Carioca do Design, na Praça Tiradentes, com a arquiteta e

urbanista Paula de Oliveira Camargo, Gerente do Centro Carioca de Design - CCD, que é

ligado ao Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) da Prefeitura da Cidade do Rio de

Janeiro; uma das idealizadoras e organizadoras do projeto Tiradentes Cultural que, a cada

primeiro sábado do mês, promove o evento 'Ocupação da Praça Tiradentes'79, realizamos a

entrevista a seguir.

78 GRUPO DELTA. Novo Orçamento [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por o autor em: 30 mar. 2016. 79 OLIVEIRA CAMARGO, Paula de. Entrevista concedida ao autor. Centro Carioca do Design (CCD), Praça Tiradentes, Rio de Janeiro. 07 abr. 2016.

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Figura 57 - Fotografia da Ocupação da Praça Tiradentes de maio de 2016.

Fonte: O Autor, 2016.

Como nasceu o Circuito Tiradentes Cultural e o projeto Ocupação da Praça Tiradentes? Em 2014 a direção do Centro de Arte Hélio Oiticica entrou em contato com

representantes de vários espaços culturais da região da Praça Tiradentes, propondo uma

reunião para discutir novas dinâmicas para nossos espaços e ver como poderíamos nos

articular para, juntos, melhorar o ambiente urbano da Praça. Como, trazendo melhorias ou

novas articulações, poderíamos transformar um pouco o espaço público. Para os encontros,

que aconteceram em maio-junho de 2014, muitas instituições foram chamadas e os primeiros

encontros ficaram bem cheios. Após algumas reuniões, chegamos ao consenso de criar uma

rede dos espaços culturais da região, dos agentes culturais, não necessariamente um espaço

físico, mas pessoas que trabalham por aqui. E assim a chamamos de Rede Tiradentes

Cultural, para pensarmos o que poderíamos fazer juntos.

Uma das coisas propostas era que todos os espaços, ou pelo menos a maior parte,

poderiam receber uma programação específica no primeiro sábado de cada mês. Com isso,

teve início o que chamamos de Circuito Tiradentes Cultural. Começou como a ideia de fazer

uma articulação bem sequenciada dos horários: eu, sabendo que em determinado espaço

haveria uma atividade às 14h, tentava colocar uma palestra para começar às 15h aqui no

Centro Carioca do Design (CCD) ou outra instituição fazia um evento às 16h para que as

pessoas realmente pudessem ter essa ideia de circuito, de circular pelo ambiente da Praça.

Somar propostas. Desta forma, seriam oferecidas visitas guiadas, palestras com curadores,

residências artísticas abertas, para as pessoas poderem visitar. Enfim, cada um oferecia,

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dentro da sua programação e das suas possibilidades, alguma coisa que tivesse relação com o

próprio conteúdo, ou criava eventos específicos.

Aqui temos uma característica bem interessante aos sábados. No primeiro sábado do

mês tem a feira da Rua do Lavradio, uma feira consolidada que, não sei se neste ano (2016)

ou no próximo, completa vinte anos. Bem, entramos em contato com o pessoal do Polo Novo

Rio Antigo, que organiza a feira, para que a nossa proposta não fosse também vista como

uma concorrência ou algo nesse sentido e também para convidá-los e apresentar essa nossa

ideia. O que eu ia falar que tem uma característica interessante é que no sábado de manhã,

ainda tem bastante movimentação por aqui, porque as lojas do SAARA (Sociedade de

Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega) estão abertas. A partir das 14h, horário em

que as lojas fecham, o espaço público já começa a ficar vazio e realmente as pessoas têm

medo de passar, acham perigoso. Percebemos que isso estava afetando a programação que

oferecíamos, porque tínhamos a ideia de oferecer eventos à tarde e nem sempre recebíamos a

visitação esperada. Tínhamos um trabalhão e muitas vezes vinha pouca gente e, mesmo em

inauguração de exposição, não era aquela coisa. Nós já pensávamos nessa ideia de ir de

dentro dos espaços para fora e isso foi ganhando força.

Começamos, ainda em 2014, a fazer algumas ocupações no Largo Albino Pinheiro,

que tem de um lado o Real Gabinete Português de Leitura, do outro o Teatro João Caetano,

do outro o IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de

Janeiro) e do outro lado a Rua do Teatro com casarios antigos. Sempre pretendemos que toda

programação oferecida fosse gratuita, um ato de ocupação mesmo da praça, e iniciamos

assim, pensando em coisas que pudéssemos oferecer sem muito custo já que os gestores dos

espaços se engajaram e se uniram para fazer acontecer. Por exemplo, a Escola de Música

Villa-Lobos, que é uma das integrantes da Rede, tem, obviamente, alunos de música, e às

vezes temos ações musicais com a participação deles. Teve uma em que os músicos foram

para as janelas do Centro Cultural Carioca e se apresentaram ali de cima, enquanto embaixo

rolava uma contação de história meio teatral. Assim, através de contatos, de parceiros ou dos

próprios espaços, começamos a montar essa programação cultural, ainda de uma maneira um

pouco tímida, com alguma visitação, mas já com esse anseio de vir para a Praça. Entretanto,

nos agendávamos com um pouco de cautela, entendendo que a magnitude do que estávamos

oferecendo ainda não tinha esse alcance de estar no meio da Praça. A Praça é grande e

precisa ser ocupada de fato para não ficar um negócio meio pingado, com cara de que está

meio mais ou menos. Com dez pessoas você já encheu o Largo Albino Pinheiro, aqui na

Praça você precisa de mais.

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Hoje, fazendo uma avaliação, acho que se tivéssemos feito aquela contação de

história aqui, teríamos trazido um público que de repente ia passar e ver. Ali estávamos um

pouco escondidos, mas seguimos assim durante alguns meses e foi importante como um

teste, onde identificamos uma coisa que, para nós, era muito problemática: a pouca opção de

comida, de restaurantes, que ficam abertos no sábado até mais tarde. Aqui tem o boteco da

Praça mas, mesmo assim, quando estávamos no Largo Albino Pinheiro, nos deparávamos

com o seguinte problema: alguém que quer ir ao banheiro ou quer comer ou beber alguma

coisa, ali não encontra nada; e o público que sai para fazer qualquer uma dessas atividades,

não volta. Em geral o pessoal não volta. É muito raro você sair para o banheiro e depois

voltar para cá. Então começamos a perceber que precisávamos de uma infraestrutura um

pouco melhor e oferecer isso na proposta, para conseguir reter o público na nossa

programação. No fim das contas, é tudo Tiradentes Cultural porque são eventos da Rede,

mas existe a Rede Tiradentes Cultural, que é essa associação de todos os espaços, existe o

Circuito, que continua acontecendo e tentando, com os espaços culturais, colocar o máximo

de eventos no primeiro sábado, e a Ocupação da Praça Tiradentes que também ficou

Tiradentes Cultural.

Em um dado momento, foi inaugurado um restaurante aqui na Avenida Gomes

Freire, o Refeitório -RJ, e o dono se interessou pela Rede e veio conversar conosco. Ele

conseguiu dar uma organizada nisso que queríamos fazer de oferecer opções de comida e

infraestrutura, além de trazer essas pessoas que são responsáveis pelas barracas

gastronômicas. Passamos uns meses pensando como seria esse formato e em maio de 2015

fizemos a primeira edição com as barracas gastronômicas e a programação cultural. A

programação cultural tem que ter sempre, pois nós não somos uma feira gastronômica, não

somos Junta Local que é mais focada na gastronomia em si. Aqui é comida pronta que você

vai comer aqui e, com isso, ficar mais tempo na Praça. Isto deu muito certo, foi um formato

que finalmente encontramos de conseguir unir as duas coisas. Desde então, vimos tentando

aprimorar e sempre trazer mais programação interessante para as pessoas, para que elas

queiram vir pelas atrações culturais. Agora já ficou bem conhecido até como opção de

comida mesmo; muita gente sai da feira do Lavradio e vem comer aqui, porque é mais

barato, porque acha mais legal, porque tem varias cervejas artesanais... a feira gastronômica

acabou ganhando corpo. Demoramos um pouco para conseguir estruturar e agora estamos

nesse balanço também, entre ter a estrutura da feira gastronômica, que dá um trabalhão para

organizar e fazer a programação cultural ser consistente e relevante, porque é isto ao que nos

propomos. Como gestores de espaços culturais estamos de olho na programação cultural.

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Pensando em um panorama geral, como se articulam os eventos aqui na Praça, como,

pensando no Carnaval, o Toca Raul ou outros eventos de grande porte?

Nós não fazemos a Ocupação em janeiro e fevereiro justamente por conta disto.

Janeiro porque realmente aqui fica meio parado. A Rede é bem colaborativa, ninguém ganha

salário para participar, sejam empresários ou gestores de espaços públicos. A nossa

participação no projeto acabou sendo incorporada por uma percepção posterior de que a

proposta é bacana e as pessoas nos animaram a seguir em frente, mas não foi uma pauta que

tenha vindo como uma das nossas obrigações. Assim, paramos em janeiro e em fevereiro

sempre tem bloco, como o Toca Raul e vários outros. Nós não temos nem estrutura para

segurar um público de Carnaval que é multitudinário, muito específico, com muita

possibilidade de causar todo tipo de complicação, de briga, que demanda uma estrutura de

segurança que não temos como manter, banheiro... Mesmo com toda a estrutura da

Prefeitura, optamos, depois de uma discussão, já que tudo aqui é bem discutido, não fazer em

janeiro e fevereiro. Nesta condição, é de março a dezembro, sempre. Em se tratando da

articulação com outros eventos, principalmente os eventos Carnavalescos, o que eu posso

dizer é que não há. Já até recebemos um bloco como uma das atrações culturais, mas aí não é

um evento de Carnaval, é uma articulação como programação, não como uma proposta

conjunta na Praça. Outras coisas realmente ainda não fizemos, não que a gente não possa

fazer, mas é bem trabalhoso realizar essa ocupação toda no primeiro sábado do mês. Fomos

procurados no ano passado por um pessoal de São Paulo que veio para o “Emergências”, um

evento bem grande, que mobilizou a cidade toda, principalmente os equipamentos da Zona

Norte, as Arenas Cariocas. Conversaram conosco bem em cima da hora e não conseguimos

nos articular, porque eles chegariam ao Rio um dia depois do nosso evento. Eles queriam que

mudássemos a data mas, para nós, é muito importante que seja sempre no primeiro sábado

do mês porque as pessoas já vem esperando, e tentamos não mudar. Então ainda não teve

uma articulação, mas não que não possa ter.

O maior palco que tivemos até agora foi o da semana passada na ocupação de abril,

que se chama Primavera da Mulheres, um show com 25 mulheres. É importante colocar que

não temos patrocínio. O que temos de recurso é o que vem do nosso acordo com as barracas

da feira gastronômica, então é uma verba bem restrita; e oferecemos uma estrutura simples.

Temos duas lonas, um palquinho e o nosso equipamento de som. O que vem além disso tem

que se buscar ou novos parceiros ou a produção que vai vir já tem,... Nós nunca fizemos

nada com um grande cenário. Ainda não aconteceu.

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A Praça é tombada?

Sim. Os órgãos que cuidam disso são: IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional) e o IRPH (Instituto Rio Patrimônio da Humanidade). Não sei se tem

algum grau de preservação pelo INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural), mas

certamente, Federal e Municipal tem. No caso da sua instalação, seria o caso de apresentar ao

Patrimônio Municipal para uma orientação de como seguir adiante. Embora seja uma

instalação temporária, ela tem uma estrutura grande e acho que valeria fazer uma reunião,

não comigo, mas com pessoas mais técnicas ligadas à área da preservação, para ver

realmente qual é a possibilidade e como caminhar com essa aprovação. Como você (eu) já

fez no caso do Parque Laje.80

Já para terminar, o que você achou da proposta O Cubo?

Eu acho a proposta bem interessante, mas só fiquei um pouco sem entender se

quando o gelo vai derretendo a estrutura começa a ficar aparente. É isso? Ou não vemos mais

a estrutura? Você tira a estrutura depois que o gelo está pronto?

Exatamente, não há estrutura, fica só o cubo de gelo com a base embaixo que deve ter

uns 50-70 cm de altura e servirá para recolher a água derretida.

Eu achei demais! Acho que vai ser muito legal porque vai trazer mais pessoas para a

Praça especificamente para ver isso. Muito bacana. Uma vez o CCD, deu apoio à realização

de uma estrutura grande aqui na Praça, do Raul Mourão, você viu? Tem bastante tempo. De

repente é uma obra legal de você pesquisar, porque me parece ter um porte semelhante à sua

e ficou aqui na Praça um bom tempo. Pode servir como precedente para você. O que

acontece, não pode furar o chão, porque há uma serie de restrições aqui. Acho que você tem

que se cercar de cuidados para não fazer intervenção que possa trazer algum dano para a

Praça. Sem danificar a Praça já tem esse precedente da obra do Raul Mourão que aconteceu

aqui e ficou bastante tempo, não lembro se foi um mês ou coisa assim. Você já pode anexar

isso ao seu projeto como uma instalação prévia desse porte.

80 Refere-se a uma instalação que realizei no Parque Lage, Rio de Janeiro, no dia 24 jan. 2015, para a que precisei da autorização do IPHAN. Mais informação em: <http://peniqueproductions.com/index.php/project/a-piscina-do-parque-lage/>. Visto em: 28 jul. 2016.

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Figura 58 - Imagem 1 da intervenção Toque Divagar, instalada na Praça Tiradentes do 15 de setembro a 6 de outubro de 2012. MOURÃO, Raul.81

Fonte: Raul Mourão. Figura 59 - Imagem 2 da intervenção Toque Divagar, instalada na Praça Tiradentes do 15 de setembro a 6 de outubro de 2012. MOURÃO, Raul.

Fonte: Raul Mourão.

81 MOURÃO, Raul. Toque Devagar. Disponível em: <http://www.raulmourao.com/toque-devagar/>. Acesso em: 29 mai. 2016.

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Figura 60 - Imagem 3 da intervenção Toque Divagar, instalada na Praça Tiradentes do 15 de setembro a 6 de outubro de 2012. MOURÃO, Raul

. Fonte: Raul Mourão.

E para articular esta minha intervenção com a Rede Tiradentes Cultural? O que você

sugeriria?

Vamos ter uma reunião da Rede daqui a pouco. Mas vamos fazendo reuniões e eu

posso te convidar, porque justamente estamos com um movimento agora de buscar novos

parceiros. Já consolidamos o evento e estamos percebendo que tem muito mais gente aqui

em volta com interesse na Praça além do que os representantes da Rede. Por isso, faremos

uma reunião na próxima sexta-feira, às 16h30, na Galeria Cenário, e vamos chamar possíveis

novos parceiros e colaboradores. Acho que seria uma oportunidade bacana de você ir e

conhecer as pessoas que já fazem parte da Rede e, enfim, falar um pouco do seu projeto.

Acredito ser uma boa oportunidade de você conhecer as pessoas, justamente no contexto em

que estaremos abertos a isso. Estamos chamando pessoas que queiram estabelecer parcerias.

Dia 15 (14/07/2016)

Continuando com a tarefa de formar a equipe e fechar os valores da instalação,

realizamos um encontro com a Produtora Inusitado Design. A ordem do dia é apresentar o

projeto e convidá-los a participar; no caso afirmativo, ver que possibilidades oferecem para

fazer a produção de todo o evento. O agente: Produtora é interessante para controlar os

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documentos e permissões para realizar a obra e organizar os atores envolvidos na sua

construção, divulgação e documentação.

A resposta foi muito positiva, eles querem fazer parte do projeto! Ficaram de

encaminhar uma listagem dos elementos que precisam para realizar uma boa produção e um

orçamento aproximado dos seus serviços.

A equipe esta se formando...

Dia 16 (26/04/2016)

Conversamos com o Dr. Johannes Hinrich Stein, geólogo Diretor Presidente da

companhia EnviroGeo, empresa com mais de 20 anos na área de geologia, de engenharia,

geotécnica ambiental, hidrogeologia, geofísica, avaliação ambiental, análise de riscos,

fiscalização geotécnica de projetos e obras de engenharia de superfície e subterrânea e

prospecção de recursos minerais, especializada em áreas urbanas e regiões de alto risco. O

Dr. Johannes Hinrich Stein adverte que a área é aterrada e que há se que fazer uma sondagem

exaustiva para saber se o subsolo suportará o peso da obra. “É uma obra de um peso

considerável e, para instalá-la de forma segura, há que se estudar o subsolo e tomar as

medidas pertinentes”.

Para realizar a pesquisa do solo é preciso, em primeiro lugar, fazer um estudo

radiográfico, não agressivo ao terreno, para ter uma ideia das camadas sedimentarias da área.

Em segundo lugar, é imprescindível realizar uma sondagem física incisiva, de Simples

Reconhecimento, para saber com detalhes o tipo de solo em que vamos trabalhar e, com isto,

obteremos a informação suficiente para fazer as escolhas pertinentes, a fim de garantir que a

peça não danificará o solo nem o entorno.

O método de ensaio de reconhecimento com SPT (SPT- Standard Penetration Test) é

o ensaio mais executado na maioria dos países e no Brasil foi normatizado pela Associação

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) pela NBR 6484, cujos procedimentos seguem as

seguintes diretrizes.

De acordo com as características do terreno e tipo de obra é determinada a quantidade

e a posição dos pontos a serem sondados. Em cada ponto monta-se um tripé com um

conjunto de roldanas e cordas, sendo a amostra a zero metro coletada. Na base do furo apoia-

se o amostrador padrão acoplado a hastes de perfuração. Marca-se na haste, com giz, um

segmento de 45cm, dividido em trechos iguais de 15cm. Ergue-se o peso batente de 65kg até

a altura de 75cm e deixa-se cair em queda livre sobre a haste. Tal procedimento é repetido

até que o amostrador penetre 45 cm do solo. A soma do número de golpes necessários para a

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penetração do amostrador nos últimos 30cm é o que dará o índice de resistência do solo na

profundidade ensaiada.

O ensaio será interrompido quando já tiver atingido o critério técnico adequado para

aquela obra ou atingir o impenetrável. As amostras coletadas a cada metro são

acondicionadas, etiquetadas e enviadas ao laboratório para análise táctil-visual do material

por geólogo especializado. As amostras extraídas recebem classificação quanto às

granulometrias dominantes, cor, presença de minerais especiais, restos vegetais e outras

informações relevantes encontradas. A indicação da consistência ou compacidade e da

origem geológica da formação, complementa a caracterização do solo.

No relatório final, constará a planta do local da obra com a posição das sondagens e o

perfil individual de cada sondagem e/ou seções do subsolo; indicando a resistência do solo a

cada metro perfurado, o tipo e a espessura do material e as posições dos níveis d’água,

quando encontrados durante a perfuração.82

Dia 17 (26/04/2016)

Em conversa informal com arquiteta e urbanista, especialista em patrimônio histórico

que trabalha no Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), Aline Cordeiro, ela

comenta que há bastantes prédios do entorno da Praça Tiradentes tombados assim como a

estátua da mesma praça. Além disso a Praça está dentro do denominado Corredor Cultural,

estabelecido em Decreto nº 4141 de 14 de julho de 1983, protegido pela Área de Proteção do

Ambiente Cultural (APAC). No entanto, a pavimentação composta por pedras portuguesas

da Praça, em si, não é tombada. De qualquer maneira, afirma que, por ser área de entorno de

bem tombado, a proposta terá que ser submetida aos órgãos responsáveis pelo patrimônio

cultural e ao Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural.

A arquiteta lembra também, que o atual Presidente do IRPH, Washington Fajardo,

costuma incentivar sobremaneira propostas artísticas inovadoras e não convencionais, como

O Cubo.

Dia 18 (03/05/2016)

O engenheiro especializado em refrigeração, Alencar Vieira, da empresa Termkcal do

Brasil, responsável pela elaboração do projeto da câmara refrigeradora que irá possibilitar o

congelamento da peça, comenta, em conversa, que há uma série de questões a serem levadas

em consideração. A primeira é o isolamento da parte inferior da peça, chegando a cogitar a 82 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Solo - Sondagens de simples reconhecimento com SPT - Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2001. 17 p. Relatório técnico.

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instalação de um sistema de congelamento da base, parecido com o sistema usado para a

instalação das pistas de gelo. Uma proposta que resolve a questão do isolamento térmico da

base mas que implica na instalação de maquinaria de um porte considerável resultando em

uma “poluição estética” do conjunto da peça. A segunda é que, no momento da congelação

por temperatura ambiente, a água será congelada de fora para dentro, fazendo com que a

parte central do cubo seja mais suscetível a um possível descongelamento. A terceira

preocupação é em relação à temperatura; o gelo, a partir de -12ºC, perde qualidades

estruturais e deve ficar quebradiço aumentando a possibilidade de colapso. Por conta disto, o

processo de congelamento fica condicionado à manutenção de uma temperatura superior a -

12 ºC, para que se consiga um cubo de gelo mais resistente.

Dia 19 (04/05/2016)

Como combinado com a diretor da empresa de fotografia Time-Lapse Huoliver,

Sérgio Huoliver, segue o orçamento aproximado dos custos para a realização do registro

fotográfico da montagem e derretimento da Obra83:

83HUOLIVER FOTOGRAFIA. Orçamento do projeto de documentação Time-Lapse.[mensagem pessoal]. Mensagem recebida por o autor em: 17 mai. 2016.

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Figura 61 - Orçamento do projeto de documentação Time-Lapse da Obra e sua construção.

Folha 1.

Fonte: Huoliver Fotografia.

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Figura 62 - Orçamento do projeto de documentação Time-Lapse da Obra e sua construção.

Folha 2.

Fonte: Huoliver Fotografia.

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Figura 63 - Orçamento do projeto de documentação Time-Lapse da Obra e sua construção.

Folha 3.

Fonte: Huoliver Fotografia.

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Dia 20 (17/05/2016)

Como combinado com a diretora da produtora audiovisual, Malícia Visual, Lara

Rodrigues, segue o orçamento aproximado dos custos para a realização do documentário:

Figura 64 - Orçamento do projeto audiovisual da obra e o processo de construção do

Cubo.84

Fonte: Malícia Visual.

84 MALÍCIA VISUAL. Orçamento [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por o autor em: 17 mai. 2016.

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Dia 21 (17/05/2016)

Como combinado com o diretor da empresa de engenharia Envirogeo, o Dr. Johannes

Hinrich Stein, segue o orçamento aproximado dos custos para a realização do estudo

geológico do subsolo da Praça Tiradentes85:

85 ENVIROGEO. Proposta P 1050 - Investigação Geotécnica. Orçamento e coronograma. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por o autor em: 17 mai. 2016.

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Figura 65 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça Tiradentes.

Folha1.

Fonte: Envirogeo.

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Figura 66 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça Tiradentes.

Folha 2.

Fonte: Envirogeo.

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Figura 67 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça Tiradentes.

Folha 3.

Fonte: Envirogeo.

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Figura 68 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça Tiradentes.

Folha 4.

Fonte: Envirogeo.

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Figura 69 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça Tiradentes.

Folha 5.

Fonte: Envirogeo.

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Figura 70 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça Tiradentes.

Folha 6.

Fonte: Envirogeo.

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Figura 71 - Orçamento e cronograma do estudo geológico do subsolo da Praça Tiradentes.

Folha 7.

Fonte: Envirogeo.

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Dia 22 (22/05/2016)

Em nova conversa com o engenheiro Alencar Vieira, da Termkcal do Brasil, ele

informa que a empresa Termkcal do Brasil não tem condições de se responsabilizar

tecnicamente pelo projeto e que, através de contato com as duas maiores empresas

fornecedoras de máquinas de refrigeração do País, Hussmann e Bitzer, tomou conhecimento

que estas também não assumem a responsabilidade técnica do projeto.

Entende-se que uma proposta do tamanho da que está se tratando nesta dissertação

requer a realização de um projeto de engenharia no sentido mais amplo da palavra, incluindo

técnicos especialistas nas áreas de termodinâmica, engenharia da refrigeração, mecânica

estrutural e engenharia da construção, apenas para construir o cubo. Há que ser realizado um

projeto específico para cada proposta, assim como construir uma máquina refrigeradora que

atenda as especificações do projeto. Este projeto tem que ser estudado com muito detalhe

para ser realizado com convicção de que funcionará a partir de fundamentos teóricos sólidos,

sendo imperativo certificar total segurança. Nestas condições, ainda não encontramos quem

assuma a responsabilidade técnica do mesmo. No entanto, as empresas anteriormente citadas,

estão calculando que tipo de máquina de refrigeração seria necessário para realizar a obra

com sucesso. Com isto, sim, podemos fechar uma proposta teoricamente praticável, mas que

ainda precise de uma equipe de engenharia que conclua o projeto aos mínimos detalhes e se

responsabilize tecnicamente pela obra.

Neste ponto, aceitamos que o seguinte ator na construção do projeto ainda não é a

empresa patrocinadora que financiará a intervenção e sim a empresa de engenharia que

assinará a obra.

Enquanto isto, o projeto da câmara refrigeradora é fornecido pela empresa Termkcal

do Brasil com os seguintes detalhes orçamentais:

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Figura 72 - Desenho 1 do projeto da câmara refrigeradora.

Fonte: Termkcal do Brasil

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Figura 73 - Desenho 2 do projeto da câmara refrigeradora.

Fonte: Termkcal do Brasil.

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Figura 74 - Desenho 3 do projeto da câmara refrigeradora.

Fonte: Termckal do Brasil.

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Dia 23 (25/05/2016)

Como combinado com o responsável do Rio de Janeiro na empresa de Eventos

Feeling, o engenheiro Marcio Cavalcante, segue o orçamento aproximado dos custos para a

realização da estrutura tubular para construir o molde contentor que dará forma ao Cubo86: Figura 75 - Orçamento da estrutura tubular com a que será construído o molde contentor que dará forma ao Cubo.

Fonte: Feeling Eventos.

Dia 24 (27/05/2016)

Em contato com o Sr. Miguel Freitas Cunha, Gerente de Tratamento de Esgotos da

Cedae, ele informa que a água de reúso, da forma que é tratada pela Cedae, continua sendo

esgoto e que há se que considerar esta condição, em relação ao transporte e à segurança.

Sr. Sergi Arbusà Parabenizo-o pela bela inciativa, entretanto devo alertá-lo sobre alguns

riscos em se usar água de reúso no trabalho proposto. Inicialmente, alerto para o fato de que não é qualquer caminhão que

poderá transportar esta água de uma estação de tratamento de esgotos para a Praça Tiradentes. Um caminhão que transporta água potável não poderá transportar água de reúso, portanto creio que o senhor encontrará alguma dificuldade em encontrar caminhões específicos para este transporte.

86 FEELING. Orçamento da estrutura tubular. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por o autor em: 25 mai. 2016.

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Além disso, a água de reúso, embora apresente-se cristalina, ainda é esgoto e poderá causar sérios problemas se ocorrer vazamentos antes do seu congelamento.

Ante o exposto, recomendo comparar os riscos com os benefícios desta opção. Se julgares apropriado o seu uso, consultarei a diretoria da CEDAE para obter autorização para continuarmos com os entendimentos necessários para viabilizar esta magnífica obra.”

Miguel Freitas Cunha Gerente de Tratamento de Esgotos - GTE CEDAE87

Dia 25 (02/06/2016)

Em reunião com o sócio e diretor criativo da agência de publicidade e comunicação

Banana Brasil, André Aires, comentamos a estratégia de divulgação e comunicação a seguir.

Entende-se que há que se divulgar a ação do Cubo, principalmente a partir da mídia

digital, mas também há que se realizar uma série de eventos em volta da obra. Está se

trabalhando na ideia de fazer um grande evento no dia da inauguração da Peça, com

depoimentos do artista, do patrocinador e da Prefeitura. Durante o tempo em que a peça será

exposta, haverá umas jornadas de encontros, palestras, cursos e oficinas em torno dos

assuntos relativos à água. Durante a reunião, foi destacado que estamos em contato com o

pessoal da Rede Tiradentes Cultural e que podem ser estabelecidas colaborações,

principalmente em questões de infraestrutura. Por outro lado, serão organizados encontros de

caráter mais festivo, na própria Praça, para acompanhar o “Evento da Peça”, e atrair um

público mais amplo. A combinar com o patrocinador e a Rede Tiradentes Cultural, está se

pensando em oferecer, também, uma estrutura de comidas e barracas para, na lógica da

ocupação da Praça Tiradentes, fazer com que as pessoas permaneçam.

Finalmente, realizaremos um documentário sobre a obra e o processo para conseguir

realizá-la. Neste período, entendemos que uma boa estratégia de comunicação facilitará o

recolhimento dos depoimentos dos visitantes da obra.

Dia 26 (13/09/2016)

Projeto:

87 FREITAS CUNHA, Miguel. Gerente de Tratamento de Esgotos – GTE, CEDAE [mensagem pessoal]. Mensagem recebida pelo autor em 5 mai. 2016.

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Figura 76 - Projeto O Cubo, folha 1. O Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 77 - Projeto O Cubo, folha 2. O Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 78 - Projeto O Cubo, folha 3. O Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 79 - Projeto O Cubo, folha 4. O Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 80 - Projeto O Cubo, folha 5. O Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 81 - Projeto O Cubo, folha 6. O Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 82 - Projeto O Cubo, folha 7. O Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 83 - Projeto O Cubo, folha 8. O Autor.

Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 84 - Projeto O Cubo, folha 9. O Autor

. Fonte: O Autor, 2016.

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Figura 85 - Projeto O Cubo, folha 10. O Autor.

Fonte: O Autor, 2016.