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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação e Humanidades Instituto de Psicologia Edilberto Nobrega Martinez Empatia em cães: análise comportamental e fisiológica Rio de Janeiro 2018

Centro de Educação e Humanidades Instituto de Psicologia

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Educação e Humanidades

Instituto de Psicologia

Edilberto Nobrega Martinez

Empatia em cães: análise comportamental e fisiológica

Rio de Janeiro

2018

Edilberto Nobrega Martinez

Empatia em cães: análise comportamental e fisiológica

Tese apresentada, como requisito parcial para

obtenção de título de doutor, ao Programa de Pós-

graduação em Psicologia Social, da Universidade

do Estado do Rio de Janeiro.

Orientadora: Profa. Dra. Angela J. Donato Oliva

Rio de Janeiro

2018

CATALOGAÇÃO NA FONTE

UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta

tese, desde que citada a fonte.

___________________________________ _______________

Assinatura Data

M385 Martinez, Edilberto Nobrega.

Empatia em cães: análise comportamental e fisiológica / Edilberto Nobrega

Martinez. – 2018.

126 f.

Orientadora: Angela J. Donato Oliva.

Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de

Psicologia.

1. Psicologia Social – Teses. 2. Cães – Comportamento – Teses. 3. Empatia

– Teses. I. Oliva, Angela J. Donato. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Instituto de Psicologia. III. Título.

es CDU 316.6

Edilberto Nobrega Martinez

Empatia em cães: análise comportamental e fisiológica

Tese apresentada, como requisito parcial para

obtenção de título de doutor, ao Programa de Pós-

graduação em Psicologia Social, da Universidade

do Estado do Rio de Janeiro.

Aprovada em 27 de março de 2018

Banca Examinadora:

________________________________________________

Profa. Dra. Angela J. Donato Oliva (Orientadora)

Instituto de Psicologia - UERJ

________________________________________________

Profa. Dra. Maria Amélia Penido

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio

________________________________________________

Profa. Dra. Leila Sanches de Almeida

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

________________________________________________

Profa. Dra. Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

________________________________________________

Profa. Dra. Lucia Emmanoel Novaes Malagris

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Rio de Janeiro

2018

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha filha Malu, na esperança que ela cresça e se desenvolva

em um mundo mais empático.

AGRADECIMENTOS

À minha esposa Fernanda, por todo apoio dado como revisora e pela compreensão nos

momentos de maior dificuldade durante essa trajetória.

À minha família, pelo incentivo dado em meus projetos e conquistas pessoais desde a

minha infância.

Aos amigos tutores e cuidadores Djalma, Guilherme,Teresa, Ricardo, Marta, Jairo,

Sisinho e Antônio, o apoio e dedicação de cada um viabilizou a efetivação do projeto

idealizado.

Aos meus familiares, padrinhos João Paulo e Adail e a todos meus amigos espalhados

pelo mundo, por acreditarem em mim mesmo sem saber o que, quando e como. Com empatia

todos fizeram parte dessas descobertas.

À professora, orientadora e amiga Angela Donato, por ter acreditado na proposta e

dado a oportunidade de realizar um trabalho com muitas novidades e aprendizado.

E é claro, aos cães que participaram dessa empreitada, que nos recebeu sempre com

muita alegria e colaboraram durante todas as fases do projeto com muito entusiasmo.

RESUMO

MARTINEZ, Edilberto Nobrega. Empatia em cães: análise comportamental e fisiológica.

2018. 126 f. Tese (Doutorado em Psicologia Social) – Instituto de Psicologia, Universidade

do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

A primeira espécie que os seres humanos domesticaram foi o ancestral comum do cão,

o lobo cinzento. Desde então o ambiente social humano providencia um nicho natural para os

cães. Estudos afirmam que cães são capazes de interpretar a intencionalidade humana. A

partir de uma perspectiva evolucionista, assume-se que a empatia, definida como uma

característica universal dos seres humanos pode ser compartilhada, de alguma forma, por

cães. A empatia caracteriza-se por um entendimento emocional e cognitivo de um indivíduo

em relação a outro (e não necessita que sejam de uma mesma espécie). Teóricos subdividem a

empatia em três dimensões: afetiva, cognitiva e comportamental. Mesmo não sendo possível

nesse momento assegurar que essas mesmas dimensões existam nos cães, a empatia parece

estar presente em outras espécies que não apenas a nossa. O estudo em causa investigou a

existência do processo empático em cães através de observações e análises do comportamento

de um grupo de cães, assim como averiguou as crenças de estudantes universitários sobre a

capacidade empática de cães e outros animais. O procedimento básico do estudo empírico

realizado foi apresentar aos cães películas audiovisuais que representavam situações de

conforto e desconforto vivenciadas por outro cão. Antes e depois da exposição foi coletado

sangue desses animais para análise laboratorial dos níveis de ocitocina e de cortisol. As cenas

apresentadas nos vídeos foram encenadas também ao vivo pelos cães testados. Por sua vez,

para identificar as crenças dos estudantes, um questionário estruturado foi aplicado em uma

universidade pública brasileira. As duas hipóteses que nortearam a pesquisa foram

respondidas: há alterações similares nos níveis de ocitocina e cortisol plasmático dos cães

quando eles vivenciam determinadas situações e quando esses mesmos cães veem outros cães

as vivenciarem; e estudantes universitários acreditam que cães possuem habilidades empáticas

bem desenvolvidas.

Palavras-chave: Empatia. Cães. Ocitocina. Cortisol. Universitários.

ABSTRACT

MARTINEZ, Edilberto Nobrega. Empatia em cães: análise comportamental e fisiológica.

2018. 126f. Tese (Doutorado em Psicologia Social) – Instituto de Psicologia, Universidade do

Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

The first specie that humans domesticated was an early gray wolf, a dog common

ancestor. Since then the human social environment provides a natural niche for dogs. Studies

assume that dogs are capable of human intentionality interpretetion. From an evolutionary

perspective empathy is a universal trait that can be shared, somehow, by dogs. Empathy is

characterized by an emotional and cognitive understanding of an individual to another

(intraspecific or interspecific). Theorists subdivide empathy into three dimensions: affective,

cognitive and behavioral. Even not being possible to infer that those dimensions are presents

in dogs, empathy seems to be present in other species that not just ours. This study

investigated empathy processes existence through observation and behavioral analysis of a

dog group, as well as university students beliefs about empathic abilities in dogs and other

animals. The basic empirical study procedures were present to dogs‘ audiovisual movies that

represented comfort and discomfort situations experienced by another dog. Before and after

showing the movies blood samples were collected for oxytocin and cortisol laboratory

analysis levels. Dogs also went through live situations similar us the scenes showed in

movies. To identify students' beliefs, a questionnaire was applied at a Brazilian public

university. Both hypotheses that guided the research were answered: there are similar

oxytocin and cortisol plasmatic level alterations in dogs when they experience certain

situations and when these same dogs see other dogs experience them; and university students

believe that dogs have well-developed empathic abilities.

Keywords: Empathy. Dogs. Oxytocin. Cortisol. University Students.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Posturas corporais de cães: adaptado de Priscilla Barrett ................................... 42

Figura 2 - Cão amarrado a uma árvore observando e reagindo ao afastamento de seu

cuidador ............................................................................................................... 43

Figura 3 - Cuidador acariciando o cão de forma tranquila e emitindo sons suaves. ............ 43

Figura 4 - Cão sentado de frente para a televisão que transmitia os vídeos. ....................... 44

Figura 5 - Cão dormindo relaxado. ...................................................................................... 45

Figura 6 - Média de cortisol e ocitocina em cada situação. ................................................. 50

Figura 7 - Representação proporcional dos respondentes e sexo. ........................................ 60

Figura 8 - Representação proporcional dos respondentes e faixa etária. ............................. 61

Figura 9 - Representação proporcional dos respondentes e período letivo acadêmico em

curso. ................................................................................................................... 61

Figura 10 - Representação proporcional dos respondentes e período letivo acadêmico em

curso. ................................................................................................................... 61

Figura 11 - Representação proporcional dos respondentes já ter possuído cão como

animal de estimação. ........................................................................................... 62

Figura 12 - Representação proporcional dos respondentes de ter sofrido ataque de algum

cão. ...................................................................................................................... 62

Figura 13 - Representação proporcional dos respondentes e grau que cães empatizam com

pessoas. ................................................................................................................ 62

Figura 14 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães serem mais capazes que

outros animais em sentir o mesmo que pessoas sentem. ..................................... 64

Figura 15 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães serem mais capazes que

gatos em sentir o mesmo que pessoas sentem. .................................................... 65

Figura 16 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães perceberem

antecipadamente o retorno inesperado de seus tutores ........................................ 65

Figura 17 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães bocejarem ao ver um ser

humano bocejar. .................................................................................................. 65

Figura 18 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães consolarem pessoas. .......... 66

Figura 19 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães que se alimentam apenas

na presença de seus tutores. ................................................................................. 66

Figura 20 - Perspectiva dos respondentes com relação a uma cadela que leva alimento

para outros animais de seu convívio. .................................................................. 66

Figura 21 - Perspectiva dos respondentes com relação a cães que salvam pessoas de

ataques de outros cães ou animais. ...................................................................... 67

Figura 22 - Perspectiva dos respondentes com relação capacidade de animais em sentir o

mesmo que pessoas. ............................................................................................ 67

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Valores obtidos em Estudo Empírico .................................................................. 47

Tabela 2 - Dados brutos de ocitocina de cada cão antes e depois da execução do

experimento em cada situação. ............................................................................ 48

Tabela 3 - Dados brutos de cortisol de cada cão antes e depois da execução do

experimento em cada situação. ............................................................................ 49

Tabela 4 - Variação simbólica de ocitocina e cortisol antes e depois e estado

comportamental de cada cão durante a execução do experimento em cada

situação. ............................................................................................................... 49

Tabela 5 - Variação numérica de ocitocina e cortisol antes e depois do experimento para

cada cão em cada situação. .................................................................................. 50

Tabela 6 - Comparação das variações de ocitocina e de cortisol para cada cão, ocorridas

e esperadas para antes e depois do experimento em cada situação. .................... 51

Tabela 7 - Diferença estatística para opções de respostas dentro de cada pergunta para

todos os participantes (Qui-quadrado). ............................................................... 63

Tabela 8 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães serem mais capazes que

outros animais em sentir o mesmo que pessoas sentem. ..................................... 64

Tabela 9 - Sexo como variável independente. ...................................................................... 68

Tabela 10 - Possuir ou não algum animal de estimação como variável independente. .......... 69

Tabela 11 - Ter ou não sofrido algum ataque de cão como variável independente. .............. 70

Tabela 12 - Diferenças estatísticas quando as variáveis independentes são: o sexo; ter

animal de estimação; ter cão de estimação; ter sido atacado. (Mann-Whitney). 70

Tabela 13 - Grandes áreas do conhecimento como variável independente. ........................... 71

Tabela 14 - Diferença estatística para opções de respostas quando as variáveis

independentes são: idade; grande área do conhecimento; período acadêmico.

(Kruskal-Wallis). ................................................................................................. 72

Tabela 15 - Diferença estatística para opções de respostas múltiplas, quando variáveis

independentes: sexo; idade; grande área do conhecimento; período

acadêmico; ter animal de estimação; ter cão de estimação; ter sido atacado

por cão. ................................................................................................................ 73

Tabela 16 - Sexo como variável independente nas questões de múltiplas respostas. ............ 73

Tabela 17 - Ter animal de estimação como variável independente nas questões de

múltiplas respostas. ............................................................................................. 74

Tabela 18 - Ter sofrido ataque de cão como variável independente nas questões de

múltiplas respostas sobre a cadela que divide alimento. ..................................... 74

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12

1 OBJETIVO E HIPÓTESE GERAIS ................................................................... 37

1.1 ESTUDO I Evidências empáticas em cães (Canis lupus familiaris) que

assistem a películas de outros cães. ...................................................................... 37

1.1.1 Objetivos e hipóteses ............................................................................................... 37

1.2 Materiais e métodos ............................................................................................... 38

1.2.1 Participantes ............................................................................................................. 38

1.2.2 Instrumentos ............................................................................................................. 38

1.2.3 Procedimentos .......................................................................................................... 39

1.2.3.1 Primeira etapa (vivência presencial) ........................................................................ 40

1.2.3.2 Situação-anti ............................................................................................................ 42

1.2.3.3 Situação-pró ............................................................................................................. 43

1.2.3.4 Segunda etapa (condicionamento) ........................................................................... 44

1.2.3.5 Terceira etapa (teste) ................................................................................................ 44

1.2.3.6 Vídeo-neutro ............................................................................................................ 45

1.2.3.6.1 Vídeo-anti ................................................................................................................ 45

1.2.3.6.2 Vídeo-pró ................................................................................................................. 46

1.3 Justificativa do tamanho da amostra ................................................................... 46

1.4 Delineamento experimental ................................................................................... 46

1.5 Resultados ............................................................................................................... 47

1.6 Discussão ................................................................................................................. 51

1.7 Conclusão ................................................................................................................ 54

2 ESTUDO II ESTUDO PILOTO DO ESTUDO III ............................................. 56

3 ESTUDO III ANÁLISE SOBRE O PONTO DE VISTA DE GRUPOS DE

UNIVERSITÁRIOS SOBRE A EMPATIA COMPARATIVA EM CÃES ..... 57

3.1 Objetivos e hipóteses .............................................................................................. 57

3.2 Materiais e métodos ............................................................................................... 57

3.2.1 Participantes ............................................................................................................. 57

3.2.2 Instrumentos ............................................................................................................. 58

3.2.3 Procedimentos .......................................................................................................... 58

3.3 Delineamento experimental ................................................................................... 59

3.4 Resultados ............................................................................................................... 60

3.5 Discussão ................................................................................................................. 75

3.6 Conclusão ................................................................................................................ 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 82

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 83

APÊNDICE A – Questionário Médicos Veterinários ............................................. 95

APÊNDICE B – Questionário Universitários UnB ................................................ 99

APÊNDICE C – Representação dos números nas Tabelas 10, 11 e 12 ................ 105

APÊNDICE D – Resultados apresentados no 26th Human Behavior and

Evolution Society Conference (apresentação oral) ................................................ 107

APÊNDICE E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE ............ 125

APÊNDICE F – Identificação dos cães participantes........................................... 126

12

INTRODUÇÃO

O presente trabalho consistiu em dois estudos, um experimental e o outro exploratório,

que buscaram obter um entendimento mais amplo sobre reações empáticas em cães e sobre

como um grupo de universitários pensa a questão da empatia em cães e em outros animais. A

proposta do estudo experimental foi avaliar se os cães são afetados por seus coespecíficos,

sentindo-se aflitos ou não ao perceberem a angústia ou passividade do outro. Para isso, vídeos

contendo imagens de outro cão em três situações (estresse, relaxamento e neutro) foram

exibidos para o grupo de cães a ser testados. O mesmo procedimento foi realizado em

situações nas quais os próprios cães vivenciaram os mesmos fatos assistidos. Antes e depois

de cada situação o sangue desses cães foi coletado e enviado para análise laboratorial dos

níveis séricos de ocitocina e de cortisol. No outro estudo, através da aplicação de

questionários pretendeu-se saber qual é a opinião de diferentes grupos universitários de três

grandes áreas de conhecimento (biológicas, tecnológicas e sócias), sobre as reações empáticas

em cães e em outros animais.

A premissa é de que, assim como em humanos, em animais há também variadas

reações frente a eventos ocorridos com outros indivíduos. Essas respostas geradas no

organismo do observador dependem de sua interpretação frente à situação vivida pelo outro,

podendo ou não ser um ato consciente (Yamada & Decety, 2009). Elas instituem uma forma

de percepção sensível, relacionada aos sentidos em si mesmo, denominada de empatia

(Preston & De Waal, 2002). A empatia, em suas diferentes dimensões, é um constructo que

envolve, em elevado grau, a interação com o outro e as relações com o ambiente. A empatia

recebe significados nos campos de conhecimento, entre eles, da filosofia (subjetividade), da

psicologia (comportamento), da biologia (bioquímica) e atualmente da neurociência

(sinapses) (Decety, 2015; De Waal, 2010; Stueber, 2006).

Os cães convivem com os seres humanos há milhares de anos (Skoglund, Ersmark,

Palkopoulou & Dalén, 2015). Os primeiros seres humanos (Homo sapiens) viviam como

nômades e o seu ambiente social e forma de vida passaram a ser compartilhados com os cães

há mais de 15 mil anos, antes mesmo do surgimento das primeiras grandes sociedades e

civilizações humanas (Cochran & Harpending, 2010; Serpell, 1996). Desde então, ambas as

espécies co-evoluem (Schleidt & Shalter, 2003) e os cães são encontrados em diversos lares

das principais sociedades humanas modernas. Recentemente, um levantamento no Brasil

apontou uma população de 132,4 milhões de animais de estimação domiciliados, dos quais 52

milhões são cães, isso representa aproximadamente 26% do total da população humana

13

brasileira e um número maior do que a quantidade de crianças por domicílio, 44,9 milhões

(IBGE, 2013). Em termos quantitativos, o número de cães domiciliados no Brasil perde

apenas para a população de cães com posse comprovada dos Estados Unidos da América,

77,8 milhões (APPA, 2015). Desde o lançamento do livro E o Homem Encontrou o Cão por

Lorenz (1949), houve no meio científico um aumento de pesquisas utilizando cães, apesar

disso, um questionamento a ser feito é o quanto essa aproximação e trocas com as pessoas

permitiram aos cães, ao longo de sua evolução, desenvolverem mais que em outros animais,

uma melhor percepção das intenções e das emoções humanas.

Considerando as tentativas anteriores para medir a capacidade de respostas empáticas

em animais e quais componentes da empatia podem ser ativados, nota-se uma dificuldade de

constatação da manifestação de todos os componentes da empatia em primatas, golfinhos,

cães e ratos (De Waal, 2010). Até o momento, estudos com animais não fornecem evidências

diretas da manifestação de todas as dimensões empáticas e de emoção em respostas

comportamentais e/ou fisiológicas à dor ou à dificuldade de um coespecífico, por exemplo.

Para responder se animais são capazes de expressar tais dimensões de empatia quando

expostos a diferentes situações, faz-se necessário conduzir pesquisas comparativas e

evolutivas contextualizadas com diferentes áreas da ciência. Críticos do antropomorfismo

alegam que não se pode compreender cães ou outros animais, porque nós não somos "um

deles", desconsiderando assim haver similaridades funcionais no comportamento

sociocognitivo dos seres humanos e animais. Por dividirem há milhares de anos o mesmo

nicho social com os seres humanos, os cães são excelentes objetos de estudo para esclarecer

diversos pontos antrozoológicos (relação entre seres humanos e animais). Realizar

experimentos empíricos dessa natureza contribui para ampliar o entendimento de processos

compartilhados por espécies sociais, avançando no estudo de mecanismos que possibilitam a

empatia, fator fundamental para o convívio social. Tais estudos são vitais para a mensuração

da expressão empática demonstrada por animais e para determinar as consequências sociais

de coping em grupo.

A outra premissa é compreender, através da aplicação de questionários estruturados a

assimilação prática da realidade do publico alvo (universitários) sobre as reações empáticas

em cães e em outros animais. O grupo foi dividido em três grandes áreas do conhecimento:

biológica, tecnológica e social. A divisão em grupos universitários é justificada tendo em vista

que eles abordam o tema empatia de diferentes perspectivas e magnitude. Abranger a opinião

dos diferentes alunos das referidas áreas de ensino superior ajudará estabelecer um elo entre a

prática e a teoria, uma vez que seja provável que o indivíduo presencie empatia em seu dia a

14

dia e compreenda ontologicamente, as causas e efeitos de suas vivências empáticas e as utilize

numa perspectiva evolutiva e comparativa com os animais. A construção empírica revela

aspectos da realidade pautados pelas manifestações qualitativas e quantitativas. Já na

racionalização teórica não há uma observação direta e instantânea da situação manifestada. É

possível desenvolver julgamentos e assimilar novos conteúdos por meio das análises de dados

disponíveis, decorrentes do conhecimento empírico (Abrantes & Martins, 2007). Em seres

humanos é possível aplicar e validar inventário sobre empatia através de instrumentos

respondidos pelo público alvo da pesquisa. Animais, por sua vez, não dispõem desse recurso.

Dessa forma, uma solução encontrada foi descrever como animais agem em determinadas

circunstâncias através do ponto de vista e interpretação dos alunos participantes.

Empatia

A palavra empatia tem raízes linguísticas no grego antigo, empatheia, composta de

"em" (dentro) e "páthos" (sentimento) (Singer & Lamm, 2009). O desdobramento científico

da empatia deriva do termo alemão Einfühlung, criado por Robert Visher em 1873 para

explicar a projeção mental de si mesmo para objetos abstratos como casas e árvores. A

tradução literal da palavra Einfühlung para o português é ―sentir dentro‖ (Maciel, 2016).

Theodor Lipps, em 1903, definiu como Einfühlung a existência de uma relação entre o artista

e o espectador que projeta a si mesmo na obra de arte. Posteriormente, em 1909, o psicólogo

Edward Titchener traduziu o termo para o inglês como empathy, empatia no português,

levando em conta sua raiz etimológica grega (Stueber, 2013; Zimerman, 2009). Empatia,

portanto, pode ser definida como a reação de um indivíduo às experiências observadas de

outros (Davis, 1980; Preston & De Waal 2002). Em consequência, é uma forma complexa de

inferências psicológicas na qual a observação, a memória, o conhecimento e o raciocínio são

combinados para a compreensão sobre os pensamentos e sentimentos dos outros (Ickes,

1997).

Empatia e fisiologia

Existem três respostas comportamentais básicas diante de um estressor:

enfrentamento, evitação e passividade. A resposta depende da maneira como o indivíduo

processa e avalia as informações contidas nos estímulos recebidos (relevantes, agradáveis,

aterrorizantes, etc). Essa avaliação determinará a resposta diante da situação estressora e o

15

modo como o mesmo será afetado pelo estímulo (Labrador, Crespo & Fernandéz-Ballesteros,

1994; Margis, Picon, Cosner & Silveira, 2003; Sousa, Silva & Galvão-Coelho, 2015). Os

sinais comportamentais dos animais vão de respostas simples até complexas sequências

motoras, resultado de um conjunto de variáveis genéticas, estado fisiológico, estímulos

ambientais, experiências vividas anteriormente e aprendizagem (Briffa, Sneddon & Wilson,

2015; Voith, 1992).

O eixo hipotálamo-hipófise é dos componentes mais complexos do sistema endócrino.

Ele é essencial na coordenação de toda a resposta endócrina, estabelecendo relações de

controle mútuo (feedback) sobre a maioria das glândulas endócrinas e controla diversos

aspectos da homeostasia corporal, como por exemplo, a liberação na corrente sanguínea de

hormônios associados tanto com o prazer (ocitocina), quanto com o estresse (cortisol) (De

Dreu & Kret, 2016; Kumsta, Hummel, Chen & Heinrichs, 2013; Stocche & Klamt, 2001).

A ocitocina é neuropeptídio composto por seis anéis de aminoácidos e três caudas de

aminoácidos, com um peso molecular de 1007 KDa (Carter, 2014). Ela é produzida nos

corpos celulares dos neurônios magnocelulares situados nos núcleos paraventriculares e

supraóticos do hipotálamo. Ela é conduzida ao longo dos axônios do sistema nervoso por

proteínas (proteína G) até a neuro-hipófise para ser armazenada e secretada na circulação

sistêmica quando pertinente. As interações entre os neurônios e a ocitocina secretada pela

hipófise (glândula pituitária) são coordenadas pelo hipotálamo (Brownstein, Russell &

Gainer, 1980; De Dreu & Kret, 2016). O sistema nervoso central é um neurorregulador que

promove a liberação do hormônio ocitocina por neurônios parvocelulares localizados em

diferentes regiões do cérebro (Buijs, Swaab, Dogterom & Van Leeuwen, 1978; Gimpl &

Farenholz, 2001; Campos & Gravetos, 2010). Deste modo, a ocitocina possui uma ação

periférica e uma ação central. A relação da ação periférica com a gestação e amamentação

está bem definida (Hahn-Holbrook, Holt-Lunstad, Holbrook, Coyne & Lawson, 2011;

Stocche & Klamt, 2001). Já a ação central tem característica neuromoduladora, através de

projeções de neurônios ocitocinérgicos, que influenciam nos comportamentos sociais,

reprodutivos, afiliativos e da ingestão alimentar (Bartz, Zaki, Bolger & Ochsner, 2011;

Campos & Gravetos, 2010; Carter, 2014; Dacome & Garcia, 2008; Tamma et al., 2009) com

efeito na memória, no humor, na integração sensorial olfativa e no apetite (Leng et al., 2007;

Numan, Numan & English, 1993).

O cortisol, conhecido também como hidrocortisona (forma sintética), é da classe dos

glicocorticoides e da categoria dos corticosteroides mais comum no organismo de mamíferos.

Ele é composto por quatro anéis carbônicos e está relacionado com as respostas do organismo

16

ao estresse, ao aumento da pressão arterial e da glicose do sangue, além de supressão do

sistema imune e a ação anti-inflamatória (Bueno & Gouvêa, 2012). O cortisol é produzido

zona fasciculata pelo córtex das glândulas suprarrenais (adrenal), sua síntese dá-se a partir do

colesterol que envolve uma série de reações químicas no âmbito mitocontrial e reticular

endoplasmático e envolve também a progesterona, precursor de hormônios esteróides

(Saraiva, Fortunato & Gavina, 2005). A produção e a secreção de cortisol são controladas

pelo hormônio adrenocorticotrófico, produzido pela adeno-hipófise (Bueno & Gouvêa, 2012).

A liberação do hormônio adrenocorticotrófico é estimulado pelo hormônio liberador de

corticotrofina, produzido no núcleo paraventricular do hipotálamo. Por sua vez, a glândula

adrenal é regulada e estimulada a sintetizar cortisol pelo hormônio adrenocorticotrófico

(Saraiva, Fortunato & Gavina, 2005; Bueno & Gouvêa, 2012). Após a sua síntese, o cortisol

difunde-se para a corrente sanguínea, onde por volta de 60% liga-se a proteínas (transcortina e

albumina) e os restantes ficam livres no plasma adotando sua forma ativa (Bueno & Gouvêa,

2012). A inibição da secreção de cortisol é controlada por uma alça de retroalimentação (feed-

back) negativa. O próprio cortisol circulante livre age nos receptores de glicocorticóide do

hipocampo, que por sua vez, inibe a secreção dos hormônios adrenocorticotrófico e liberador

de corticotrofina na hipófise e no hipotálamo respectivamente, causando a diminuição da

síntese de corticoide (Graeff, 2003).

Os glicocorticoides desencadeiam diferentes atitudes comportamentais, dependentes

da espécie e do tempo de exposição ao fator (Soma, Scotti, Newman, Charlier & Demas,

2008). Em cães, situações conflitantes com outros indivíduos induzem um aumento agudo de

cortisol pelas adrenais (eixo hipotálamo-hipófise-adrenal), podendo refletir em agressão ou

medo (Luescher & Reisner, 2008; Mikics, Barsy & Haller, 2007). O aumento das

concentrações de cortisol parece estar relacionado com o estado de estresse do animal perante

um ambiente imprevisível e inconsistente (Luescher & Reisner, 2008), com consequentes

alterações cardiovasculares, caracterizadas por taquicardia, hiperventilação, elevação da

pressão arterial, vasodilatação nos músculos estriados e vasoconstrições cutânea e visceral

(Chrousos, 2009). A ansiedade pode ser gerada por medo e apreensão devido a antecipação de

perigo (Dias, Cole, Lima, Fukahori, Silva, Regoet, 2012), com instantâneo aumento do

cortisol circulante (Bergamasco et al., 2010), da frequência cardíaca, da frequência

respiratória e da pressão sanguínea. Existe uma patologia associada à ansiedade que acomete

a maioria das espécies e frequentemente aos cães, a síndrome de ansiedade por separação

(SAS). Ela é caracterizada por sinais de sofrimento quando o cão é deixado sozinho ou é

separado de pessoas com quem ele possua algum vínculo afetivo forte (Soares, Pereira &

17

Paixão, 2010; Dias et al., 2012). Um sinal característico de cão ansioso são as vocalizações de

angústia excessivas (Sherman, 2008; Dias et al., 2012). Quando existem estressores geradores

de estímulos agudos, ocorre no organismo liberação de corticotrofina, vasopressina além de

neuropeptídeos reguladores (Chrousos & Gold, 1992). A corticotrofina estimula a adeno-

hipófise a promover a secreção do hormônio adrenocorticotrófico, o qual leva à secreção de

cortisol pelo córtex das adrenais e consequente aumento de seu nível plasmático (Smith et al.,

1998).

Já a ocitocina, além de dar a sensação de felicidade, é um hormônio relacionado ao

controle do estresse em mamíferos (Heinrichs, von Dawans & Domes 2009). Pois, através do

eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, ela está envolvida no controle neuroendócrino da secreção

do hormônio do estresse, o cortisol. Segundo Boutet, Vercueil, Schelstraete, Buffin e Legros

(2006), a relação da ocitocina com a redução do estresse se deve à atuação da mesma na

redução da secreção de hormônio adrenocorticotrófico e consequente diminuição de cortisol

circulante. Entretanto, o cérebro é capaz de interpretar os estímulos estressantes. Uma maneira

de atuação do sistema límbico é inibir a atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, ao

modular a via gabaérgica no núcleo paraventricular do hipotálamo (Herman & Cullinan,

1997). Através desse mecanismo o sistema límbico proporciona a liberação de ocitocina no

organismo com ação antiestressante (De Dreu & Kret, 2016). Há uma sobreposição de

atuação dos estímulos para a secreção dos hormônios cortisol e ocitocina. Pois, o sistema que

controla a liberação de cortisol, o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, age em neurônios do

hipotálamo localizados no núcleo paraventricular, mesma região responsável pela secreção de

ocitocina (Graeff, 2003; Bao, Meynen & Swaab 2007).

A vasopressina é armazenada na neuro-hipófise, mesmo local de armazenamento da

ocitocina, ambas também possuem quimioafinidade pelos receptores específicos umas das

outras (Brownstein, Russell & Gainer, 1980). Segundo Uzefovsky et al. (2015), os receptores

de ocitocina estão relacionados à empatia afetiva e os receptores de vasopressina estão

associados à empatia cognitiva. O estudo de Smith, Porges, Norman, Connelly e Decety

(2014) com homens expostos a estímulos visuais de lutas marciais (MMA - mixed martial

arts), mostrou uma relação entre o genótipo dos receptores de ocitocina e o comportamento

social. Indivíduos que possuem receptores homozigotos apresentaram níveis aumentados de

empatia em comparação aos portadores do alelo A (heterozigotos). Tendo em vista que a

ocitocina, a vasopressina e o cortisol possuem o mesmo centro regulador, a liberação de

ocitocina no organismo ocorre de forma antagônica a do cortisol e da vasopressina, nesse

sentido, quando indivíduos são confrontados com situações de estresse, a vasopressina age

18

como feedback positivo do hormônio liberador de corticotropina, que por sua vez, leva à

liberação de cortisol endógeno. Sendo assim, através de um sistema de feedback negativo, a

ocitocina, por via indireta, tem sua liberação na forma endógena em proporção inversa da

secreção de corticosteronas (cortisol) pela via gabaérgica (como visto, o GABA é um

neurotransmissor que atua de maneira inibitória no SNC). Ao inibir a secreção de cortisol, de

maneira inversamente proporcional, o GABA, estimula a secreção de ocitocina, o que confere

ao sistema nervoso central o principal mecanismo regulatório ao estresse (Brownstein et al.,

1980; Dacome & Garcia, 2008; Campos & Gravetos, 2010). Quando um indivíduo está sob

situação de estresse, a ação do GABA é inibitória para a secreção de cortisol ao inibir a

secreção de corticotropina no núcleo paraventicular, entretanto, ela é estimulatória para a

secreção de ocitocina. Desta maneira, quando níveis plasmáticos de ocitocina estão elevados,

os de corticosteroides (cortisol) estão baixos, e vice-versa (Dacome & Garcia, 2008).

Assim sendo, é possível afirmar que a secreção de ocitocina sistêmica diminui a

ansiedade e ocasiona um declínio na resposta do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal a estímulos

psicologicamente estressantes. Entretanto, o sentir medo ou estresse é essencial para a

manutenção da vida. Sem o receio, os indivíduos seriam incapazes de detectar o perigo e

adotar tomadas de perspectivas e decisões (Debiec & LeDoux, 2004). O problema surge

quando há o desequilíbrio homeostático entre os sentimentos do medo ou receio e as

interações neuroquímicas relacionadas a eles, esse fato destaca a importância da ocitocina, da

vasopressina e do cortisol para a continuidade da vida.

Uma vez que a ocitocina tem relação com as respostas do comportamento social, ela

desempenha um papel significativo no sistema límbico, sistema responsável pela percepção e

a regulação das emoções, incluindo a amígdala, região associada aos comportamentos sociais,

ao aprendizado emocional, a interações visuais com outro indivíduo e no reconhecimento do

medo na face dos outros. Na amígdala é possível encontrar receptores de ocitocina (Domes,

Heinrichs, Michel, Berger & Herpertz, 2007). Buijs e Swaab (1979) constataram, pelo meio

de análise microscópica imunoeletrônica, que no núcleo mediano da amígdala existem

sinapses contendo vasopressina e ocitocina. Além do mais, as sinapses desses peptídeos ali

encontradas não diferiram das sinapses existentes desses mesmos peptídeos no cérebro. Sendo

assim, a presença de ocitocina no sistema límbico indica uma relação central do efeito da

mesma sobre as emoções.

Por sua vez, essa correlação do sistema límbico com a emoção envolve-o diretamente

com a expressão empática em mamíferos. Já que, para diferentes expressões empáticas em

contextos diversos, é preciso reconhecer o estado emocional do outro. A definição clássica da

19

empatia a define como sendo capacidade para conhecer e entender a consciência de o

indivíduo por meio de um processo de imitação interna, colocando-se no lugar do outro,

sendo possível assim, a partir desse contexto, que os indivíduos compreendessem uns aos

outros. Em detrimento disso, ela é uma forma complexa de inferências psicológicas na qual a

observação, a memória, o conhecimento e o raciocínio são combinados para a compreensão

sobre os pensamentos e sentimentos dos outros (Ickes, 1997). Sendo assim, a empatia é

fenômeno multidimensional, que envolve diversos fatores fisiológicos, neuroquímicos e

psíquicos, com aspectos afetivos, cognitivos e comportamentais (Falcone et al., 2008).

Estudos de Nagasawa, Kikusui, Onaka e Ohta (2009), Petersson et al. (2017) e Olmert

(2009) sugerem que a ocitocina exerce a principal influência no estabelecimento do vínculo

homem-animal. Em cães, assim como em humanos, os receptores de ocitocina estão

associados com o controle nervoso central do estresse e ansiedade, além de comportamentos

relativos a interações sociais (Heinrichs, von Dawans & Domes, 2009). As medidas de efeitos

fisiológicos de cães e seres humanos durante interações positivas, seção de carinho, por

exemplo, mostram que, em ambas as espécies, ocorre a diminuição da pressão arterial, do

colesterol e do cortisol com concomitante aumento da ocitocina, da prolactina, da endorfina e

da dopamina (Handlin et al., 2011; Odendaal, 2000). Sabe-se que a ocitocina exerce

influência no comportamento social dos cães em relação às interações com os seres humanos.

O polimorfismo nos genes dos receptores de ocitocina em cães está associado à maneira com

que eles se dirigem aos seres humanos. Por exemplo, na procura de contato com pessoas não

familiares e conhecidas a eles, além de resposta amigável a aproximação de estranhos (Kis et

al., 2014). Acredita-se que um dos fatores que possibilitou aos cães interagirem dessa maneira

com consequências fisiológicas e comportamentais, sejam os processos de domesticação e de

coevolução social ocorrido entre ambas as espécies (Kis et al., 2014; Nagasawa et al., 2015;

Schleidt & Shalter, 2003).

Empatia e neurociências

A neurociência cognitiva social analisa os processos cognitivos de um ser humano

relacionados à presença e à convivência com outros seres humanos, podendo assim, inserir os

cães nesse cenário, tanto como agentes quanto como coadjuvantes (Cacioppo, Amaral,

Blanchard, Cameron & Carter, 2007; Guo, Meints, Hall, Hall & Mills, 2009; Nagasawa et al.,

2015). Para animais sociais, a exemplo os seres humanos e os canídeos, os rostos transmitem

uma imensa gama de informações extremamente importante na comunicação e identificação

20

das intenções e emoções de outro indivíduo (Martinez & Boere, 2011; Riedel et al., 2008).

Neurocientistas constataram que em cães, existe uma região específica do córtex cerebral,

ligada à inteligência social, responsável pela interpretação seletiva das faces humanas (Dilks

et al., 2015; Guo et al., 2009). Apesar da simetria dos rostos humanos, o lado direito do rosto

tende a enfatizar mais as expressões e emoções positivas, além de informações sobre o sexo e

a idade, apontando relativa dominânca para a detecção de movimentos faciais e julgamentos

(Burt & Perrett, 1997; Guo et al., 2009; Nicholls, Ellis, Clement & Yoshino, 2004). Na

pesquisa realizada por Guo et al. (2009) constatou-se que cães olham mais para o lado direito

do rosto quando veem rostos humanos, enquanto para objetos inanimados, rostos de outros

cães e de primatas, eles não demonstraram essa preferência. Durante a domesticação cães

podem ter afinado os mecanismos empáticos que estão presentes no reconhecimento da

expressão facial, cruciais para a cognição social (Besel & Yuille, 2010).

Desde a descoberta da relação entre a empatia e os ―neurônios espelho‖, estudos

passaram a investigar as bases biológicas da empatia como parte do novo campo da

neurociência social (Decety & Ickes, 2009). Os neurônios espelho são uma classe particular

de neurônios, descoberto no córtex pré-motor de macacos e atualmente sua presença é

constatada em diversas classes de mamíferos (Heyes, 2010; Macphail, 1996). Observou-se

que esses neurônios descarregavam sinapses de maneira similar quando os macacos faziam

uma ação em particular e quando observavam outros indivíduos fazer uma ação análoga a

essa (Gallese, Fadiga, Fogassi & Rizzolatti, 1996; Rizzolatti, Fadiga, Gallese & Fogassi,

1996). Essa semelhança na ativação neuronal leva as representações mentais que

normalmente estão relacionadas com experiências emocionais diretas a formarem o

mecanismo central entre a empatia e a ressonância afetiva (Ferrari & Rizzolatti, 2014; Lamm

& Majdandžić, 2015). Através da técnica de Ressonância Magnética Funcional, constatou-se

que as mesmas áreas cerebrais humanas onde há presença dos neurônios espelho, há também

comunicação com o sistema emocional ou límbico cerebral (Völlm et al., 2006; Williams,

Whiten, Suddendorf & Perrett, 2001). Entretanto, para Lamm e Majdandžić (2015), existem

situações em que a empatia ocorre sem o envolvimento de áreas do cérebro associadas aos

neurônios espelho. Sendo assim, o uso do termo espelhamento deve ser utilizado como uma

analogia para o processo de reprodução das experiências afetivas dos outros em nosso próprio

sistema nervoso relacionado com a emoção, não estando a empatia assim, exclusivamente

ligada aos neurônios espelho.

Desde que os neurônios espelho foram descobertos, surgiram grandes discussões sobre

seus potenciais efeitos sobre cognição social. Entretanto, há controvérsias entre as

21

similaridades de sua ação entre primatas e seres humanos, levando alguns teóricos a

questionar a existência de um sistema neuronal espelho em humanos. Essa dúvida ajuda a

explicar as diferenças entre humanos e primatas no que diz respeito à ativação desses

neurônios espelho, além de ajudar a saber o porque da ativação se encontrar fora da área

original do córtex parietal e pré-motor e do porquê os efeitos da ativação do centro espelho

não é determinante para uma função cognitiva social especifica (Heyes, 2010). Em um

experimento conduzido por Berns, Brooks e Spivak (2015) que avaliou através de ressonância

magnética funcional as respostas olfativas de cães perante cheiros de seres humanos

conhecidos e cães conhecidos, constatou-se que o núcleo caudado do cão apresentava maior

atividade quando ele era exposto ao cheiro humano ao invés do cheiro de outro cão. Esse

núcleo pode representar uma convergência de sinais vindos dos humanos, nesse contexto

sendo o sinalizador um aroma. Surpreendentemente, a resposta compensatória foi direcionada

com maior efetividade ao ser humano e não ao seu coespecifico.

Possivelmente, essa evidência está diretamente relacionada ao processo evolutivo

ocorrido entre ambas as espécies. Nesse contexto evolutivo, tanto os seres humanos quanto os

cães sofreram mudanças sinápticas no âmbito cerebral que permitiram a adaptação ao núcleo

familiar uns dos outros. Desse modo, o desenvolvimento e aprimoramento sináptico e

estrutural de regiões neurológicas empáticas em humanos e cães, é um dos fatores

fundamentais do sucesso evolutivo e adaptativo ao longo de milhares de anos de suas histórias

(Nagasawa et al., 2015; Paxton, 2000; Schleidt & Shalter, 2003).

Componentes da empatia

Atualmente, o tema da empatia é objeto de interesse de diversas disciplinas, como

filosofia, psicologia clínica, psicologia da saúde, psicologia do desenvolvimento, psicologia

social, psicologia da personalidade, psicologia cognitiva, neurociência cognitivo-afetiva,

biologia e psicologia evolucionista (Decety, 2015; Decety & Ickes, 2009; Lamm &

Majdandžić, 2015; Uzefovsky et al., 2015). Devido a diferentes definições a respeito dos tipos

e reações empáticas, o estudo se apropriou de três definições teóricas sobre a empatia quando

a mesma é estruturada por componentes: afetivo; cognitivo e comportmental. Em seu nível

básico a empatia pode ser considerada uma resposta afetiva para a percepção direta,

imaginável ou dedutível do estado sentimental do outro (Singer & Lamm, 2009). Batson

(2009) propôs oito modalidades para definir aspectos sobre o termo empatia. O primeiro

conceito diz respeito ao conhecimento do estado interno (pensamentos e sentimentos) de

22

outro indivíduo, definido como empatia cognitiva ou acurácia empática. A segunda condição

descrita foi a de adotar a postura, a expressão ou sincronizar-se com as respostas neurais do

outro indivíduo observado. Seria uma espécie de empatia facial, mimetismo motor ou

imitação. Já a terceira forma foi a de passar a sentir como o outro se sente, ou seja,

compartilhar das mesmas emoções, definida como ressonância emocional. Alguns autores a

classificam como contágio emocional ou angústia pessoal e a consideram uma forma

primitiva de empatia (Falcone et al., 2008; Singer & Lamm, 2009). A quarta modalidade

proposta por Batson foi a de projetar-se intuitivamente na situação vivida pelo outro, o que

remete a palavra em alemão Einfühlung sugerida por Theodor Lipps. A quinta definição sobre

empatia foi a de imaginar como o outro está se sentido e pensando, ou seja, tomar para si a

perspectiva do outro, também definida como empatia psicológica, tomada de perspectiva ou

projeção. A sexta forma sugerida foi a de se imaginar e deduzir como se sentiria caso

vivenciasse a situação do outro, seria a perspectiva de imaginar a si mesmo na outra situação,

ou seja, empatia projetiva. Já a sétima modalidade da empatia definida por ele foi a de sentir

aflição ao testemunhar o sofrimento alheio, também chamada de aflição empática ou aflição

pessoal. Diferente do terceiro conceito proposto por Batson, nesse caso o observador não se

sincroniza com o sentimento do outro e sim apenas sente aflição pelo estado do outro. Na sua

última proposta ele definiu a empatia como sendo uma preocupação empática, ou seja, sentir

por outra pessoa que está em sofrimento. Batson sugeriu que de todas as modalidades essa

seria a única voltada para o outro e não para si, sendo o pilar dentro da empatia para o

comportamento altruísta. Apesar das diferentes definições para cada um dos fenômenos e

modalidades empáticas citadas, elas geralmente ocorrem simultaneamente. Na maioria das

situações o mimetismo, o contágio emocional ou a tomada de perspectiva precedem a empatia

(Singer & Lamm, 2009). Complementarmente, Falcone (1999) adicionou ao contexto

empático a dimensão comportamental (Falcone, 2003), trazendo propriedades concisas para o

conceito de empatia. A dimensão da empatia afetiva ou sensibilidade afetiva (Falcone et al.,

2008) é a capacidade de sincronizar-se a outro indivíduo emocionalmente, ou seja, a

habilidade da percepção da reação emocional através de experiências vividas pelo outro

(Davis, 1994; Preston & De Waal, 2002). Ela é o compartilhamento vicário de afeto, podendo

ou não os agentes envolvidos estarem em um estado emocional afetivo similar. Entretanto,

existem processos psicológicos que fazem com que a pessoa tenha sentimentos mais

parecidos com o estado vivido pelo outro do que o dela mesma (Hoffman, 2000; Jacob, 2011).

Deve-se levar em conta a possibilidade da experiência ser apenas um contágio emocional, ou

seja, uma pessoa passa a sentir emoções similares à outra devido à mera associação. O

23

contágio emocional não requer o conhecimento de que essa experimentação ocorre devido à

vivência do outro. Um exemplo clássico de contágio emocional é quando um recém-nascido

chora ao escutar outro recém-nascido chorar. Esse fenômeno estaria relacionado com

processos rudimentares da empatia, uma vez que recém-nascidos não são capazes de

distinguir entre eles mesmos e os outros (Hoffman 2000).

Já a dimensão da empatia cognitiva é a compreensão da perspectiva psicológica ou do

estado mental de outro indivíduo. O componente cognitivo da empatia está intimamente

ligado à teoria da mente (ToM). Em sua pesquisa com chimpanzés, Premack e Woodruff

(1978) definiram o termo ToM como sendo a capacidade de um indivíduo atribuir estados

mentais a si próprio e aos outros (seja da mesma ou de espécies diferentes). O sistema

dedutivo pode ser usado para fazer predições sobre o comportamento de outros organismos

através de estados que não são diretamente observáveis. Ela é vista como uma teoria, pois

esses estados não são diretamente observáveis e o sistema pode utilizá-los para fazer

suposições sobre o comportamento dos outros. Portanto, a metacognição é a capacidade de

representar estados mentais, tais como crenças, intenções e desejos de outros indivíduos, sem

necessariamente sentir o mesmo que os outros (Caixeta & Nitrini, 2002; Premack &

Woodruff, 1978).

Segundo Falcone (1999; 2003) o componente comportamental da empatia consiste no

entendimento do sentimento e da perspectiva de outro indivíduo, fazendo com que ele se sinta

compreendido, seja através de posturas ou proximidade respaldadas por sinais e vocalizações,

que indicam permissividade e apreço pelo outro indivíduo (Falcone, 1999). Esse contexto é

um limitante para os animais, pois os mesmos não podem relatar de forma direta se sentiram

compreendidos ou compreenderam as ações do outro. Em suma, nesse componente a

percepção do estado do outro ativa no observador representações desse estado e elas

automaticamente geram respostas autonômicas e somáticas associadas a ele que suscita em

uma ação (Preston & De Waal, 2002). A terminologia do componente comportamental da

empatia foi primeiro empregada por Morse et al. (1992) em uma analise feita sobre a relação

entre o cuidadores das diferentes áreas médicas e os pacientes. Eles argumentam que a

empatia é um ajuste impraticável para as demandas da clínica prática, entretanto, é uma

resposta apropriada para pacientes que estão em crise e ainda não chegaram aos verdadeiros

termos decorrentes de suas patologias. Ou seja, o componente comportamental seria a

capacidade do cuidador em transmitir de volta aos pacientes a compreensão dessas emoções e

perspectivas inerentes à realidade vivida. Essa nova abordagem conceitua uma definição dada

por Truax em 1961, onde ele diz que uma empatia acurada envolve mais do que a habilidade

24

do terapeuta em perceber o mundo privado do paciente como se fosse o seu próprio mundo e

vai além de saber as pretensões do paciente perante a realidade. Para Truax, empatia acurada

envolve a sensibilidade para os sentimentos atuais e a facilidade verbal para comunicar esse

entendimento em uma linguagem sincronizada com os sentimentos do paciente (Truax, 1961).

Isto é, a empatia é tanto uma maneira de perceber (componente cognitivo), como de

comunicar (componente comportamental).

A empatia pode ser definida como uma compreensão ou apreciação de como o outro

sente. É ser afetado por um segundo indivíduo e compartilhar com ele seu estado emocional,

avaliar as razões para o estado do outro e identificar-se com o outro adotando sua perspectiva

e tomando alguma atitude direcionada a ele. Nessa perspectiva a empatia pode ser encarada

como uma habilidade social multidimensional que abrange três aspectos. Para esse estudo

conceituou-se os componentes da empatia da seguinte forma: afetivo (a capacidade de

imaginar as emoções e perspectivas do outro); cognitivo (capacidade intelectual de identificar

e compreender as emoções e perspectivas do outro); comportamental (capacidade de agir em

função da situação apresentada pelo outro a fim de suprir a necessidade do outro). A

capacidade de experimentar empatia com todas as suas dimensões é algo relativo à maioria

dos seres humanos. Contudo, ela pode variar substancialmente entre diferentes indivíduos

(Rodrigues, Peron, Cornélio & De Rezende Franco, 2014). Uma lacuna existente é se em

animais há a manifestação da empatia segundo essas três conceituações.

O outro lado da empatia

Uma forma simples de definir empatia é dizer que a mesma significa colocar-se no

lugar do outro e sentir o que o ele sente. Em uma primeira análise, podemos ficar com a

impressão de que essa capacidade é algo que acarreta sempre coisas boas para as pessoas. No

entanto, em algumas situações, isso pode não ser verdadeiro. Há circunstâncias nas quais uma

forte reação empática em relação a um indivíduo com um comportamento de ajuda pode se

mostrar injusto para com outro. Uma vez que, o indivíduo que empatiza absorve o momento

do outro podendo experimentar de sua dor, estresse, angústia e obter uma resposta psico-

fisiológica negativa em seu próprio organismo, alterando a homeostase ao aumentar os níveis

de cortisol, por exemplo, com consequências de curto-longo prazo (O‘Connor, Berry, Weiss

& Gilbert, 2002; Ratcliffe, 2014). Assim como, quem empatiza com apenas um indivíduo

dentro de uma sociedade, pode ao priorizá-lo, deixar de ajudar o conjunto, e assim, não

25

resolver um problema maior por não ter uma visão holística dos possíveis problemas ali

existentes (Bloom, 2016).

Ao considerar que a empatia gera consequências psico-fisiológicas negativas para o

indivíduo que empatiza, como um aumento de cortisol circulante, surgimento de ansiedade e

sentimento de culpa, os animais não estariam isentos dessas consequências negativas. Os

grupos de animais denominados de Animais de Terapia Assistida (ATA) que ajudam

enfermos humanos em sua recuperação pode de certo modo absorver parte da condição deles

e prejudicar em certo grau sua própria saúde (Glenk, Kothgassner, Stetina, Palme, Kepplinger

& Baran, 2013). Porém, nem toda interação entre seres humanos e animais pode ser

considerada terapêutica. Estudos apontam que durante a interação dependendo do tipo de

intervenção, cães do programa ATA podem elevar o nível de cortisol, sendo isso um

indicativo de estresse. Contudo, não está claro se essa elevação seja por conta de uma

interação empática ou devido ao trabalho exaustivo (Glenk et al., 2013; Haubenhofer &

Kirchengast, 2007; King, Watters & Mungre 2011). Entretanto, se for considerado que cães

empatizam com seres humanos, não se pode descartar que cães terapeutas sejam afetados pela

condição humana durante as interações. Ou seja, ao empatizar é possível que a ocitocina fique

de lado da reação fisiológica do organismo e dê lugar ao cortisol.

Em um contexto de tomada de decisão, segundo Bloom (2016), pessoas que utilizam a

razão sem serem levadas por mecanismos empáticos, tendem a ajudar grupos que precisam

mais ou que merecem mais e não apenas a um indivíduo. Pois, de modo geral, os seres

humanos quando se utilizam da empatia se importam mais com uma pessoa do que com um

conjunto. A racionalização e sincronização emocional estabelecida individualmente tende a

favorecer apenas a uma pessoa e não a um grupo (Slovic, 2007), as aflições emocionais do

outro tendem a ter um maior peso para a pessoa de fora, pois a mesma passa a visualizar a

situação transparecida pelo outro como sendo dela mesma. Bem como, para uma pessoa de

fora do círculo social ou que vem de uma nacionalidade distante, o grau de empatia pode ser

reduzido correspondentemente (Hoffman, 2000). Para Bloom (2016), a empatia é insensível a

diferenças numéricas e dados estatísticos, ela pode ser mais poderosa que o senso de justiça e

por isso em certas circunstâncias leva a pessoa a fazer escolhas tidas imorais, apoiar políticas

públicas ineficazes e praticar caridades que priorizam poucos indivíduos ao invés de um

conjunto da sociedade.

Um exemplo prático de como a empatia pode influenciar na tomada de decisão

política vem da opinião que as pessoas têm sobre o consumo de cães e gatos como fonte

proteica para humanos. Na Ásia cerca de 16 milhões de cães e quatro milhões de gatos são

26

consumidos a cada ano (Bartlett & Clifton, 2003). Atualmente existem diversas campanhas

internacionais que pedem a proibição dessa prática. Ao sediar a Copa do Mundo de Futebol

em 2002, a Coréia do Sul recebeu diversas críticas negativas da mídia internacional por

permitir o consumo de cães e gatos. Em sua extensa pesquisa, Podberscek (2009) constatou

que o consumo de cães na Coréia do Sul possui relação cultural com a identidade nacional e,

portanto, a maioria dos seus residentes não está de acordo com os pedidos internacionais de

proibição dessa prática. Isso independentemente de serem ou não tutores de animais de

estimação. Nesse caso, a empatia dos tutores de cães sul-coreanos para com os cães é

direcionada a grupos específicos de cães, como de companhia, uma vez que eles não se

importam que cães destinados ao consumo humano sejam comercializados e até mesmo

consumidos por eles mesmo. Já para tutores de cães ocidentais, essa prática é abominável e os

mesmos não conseguem aceitar ou compreender os motivos do consumo sul-coreano. Nesse

caso, a empatia para os sul-coreanos relacionada aos cães isola uma parte e não os fazem ver

o grupo de cães como unidade, privilegiando como animal de estimação um grupo específico.

Já para os ocidentais, a empatia perante aos cães não os permitem compreenderem a cultura

de outro país, pré-julgando as tradições alheias em nome da moralidade e verdades próprias.

Para Bloom (2016), em casos como esses, a manifestação dos mecanismos empáticos

exclusivamente emocionais ao invés de mecanismos racionais são o que dão conotações

negativas a empatia, uma vez que o grupo pode ser prejudicado ou deixado de lado em pró de

um único indivíduo. Segundo ele a empatia numa esfera política leva a injustiça social, pois

para resolver conflitos o olhar global e racional da situação é a única forma efetiva capaz de

minimizar tomadas de decisões equivocadas. Desta forma, tanto o medo e o ódio, quanto

sentimentos ternos podem motivar escolhas sombrias como atos vingativos e punitivos ao não

aceitar a cultura, religião ou princípios de alguém. Existem evidências que tanto em humanos

quanto em animais os neurohormônios, em especial a ocitocina (hormônio diretamente ligado

a respostas empáticas), medeiam comportamentos agressivos de cuidadores contra ameaças

para com sua prole ou seus companheiros (Buffone & Poulin, 2014). Portanto, a empatia pode

motivar violência contra certos grupos.

Ao racionalizar, talvez os ocidentais compreendessem os motivos que levam os

asiáticos a consumirem carne de cães. Assim como, talvez levassem os orientais a colocarem

todos os cães no mesmo grupo, seja de companhia, seja de consumo. Diferente dos

posicionamentos de Bloom, nessas abordagens a empatia é moralmente relevante, pois há

preocupação com o bem-estar dos outros. As possíveis consequências violentas não devem ser

atribuídas a mecanismos empáticos, uma vez que a motivação inicial não levou a atos

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violentos e sim a argumentos para tentar convencer o outro de mudar seus hábitos. Entretanto,

como visto, o fato de a empatia ser moralmente relevante não implica que as consequências

levem a boas decisões morais.

Empatia em animais

No passado a empatia era tida como uma habilidade exclusiva dos seres humanos,

sendo um fenômeno cognitivo de nível elevado na qual em animais as projeções, imitações e

imaginações não possuíam uma percepção direta. Preston e De Waal (2002) acreditam que a

empatia seja um fenômeno filogeneticamente contínuo com subclasses, ao alcance de todos os

mamíferos, como sugerido por Charles Darwin, há mais de um século (1871/1982). Acredita-

se que em seres humanos os comportamentos de confortar, de ajudar e de compartilhar sejam

motivados por mecanismos de empatia. Vários estudos com diferentes espécies de primatas

procuram por evidências destes comportamentos, como indicadores de empatia emocional

através do aprendizado vicário e modulação social (Edgar, Nicol, Clark & Paul, 2012). As

emoções possuem componentes comportamentais, neurofisiológicos, cognitivos e

conscientes, elas são processadas e controladas pelo sistema límbico, mesmo sistema

responsável pela ativação de respostas empáticas. Em animais, as emoções também têm sido

medidas através do componente comportamental ou neurofisiológico (Reimert, Bolhuis,

Kemp & Rodenburg, 2013).

No livro A era da empatia, Frans De Waal se apropria da lógica das bonecas russas

(Matryoshka) e utiliza essa metáfora para conceituar empatia (De Waal, 2010). Ele

considerou três estágios de desenvolvimento da empatia (contágio emocional; preocupação

simpática - consolação; tomada de perspectiva - ajudar o alvo). Sendo os níveis mais baixos

comuns a todos os animais. A ideia principal é a de que esses níveis estejam contidos uns nos

outros, do mais rudimentar (contágio emocional) para o mais complexo (tomada de

perspectiva), sendo este último a maior boneca da Matryoshka. De Waal diz que a empatia é

um processo em camadas que está em paralelo com as camadas evolutivas do cérebro. A

maioria das funções básicas do cérebro é encontrada em muitos animais, portanto, existem

muitas das camadas superiores que integram umas com as outras. Nas camadas superiores

estão animais que possuem autoconsciência como os seres humanos, os golfinhos, os

elefantes, os chimpanzés entre outros. A empatia explicada segundo De Waal (2010) pelo

modelo de bonecas russas de várias camadas possui no núcleo interno da boneca um

mecanismo de percepção e ação subjacente ao estado de correspondência e ao contágio

28

emocional. Em torno dessa base socio-afetiva nas camadas externas da boneca incluem

preocupação simpática e ajuda direcionada. A complexidade de empatia cresce com o

aumento das capacidades de tomada de perspectiva, que por sua vez dependem do

funcionamento neural pré-frontal, ligados ao mecanismo de percepção e ação.

Ao contrário das investigações sobre empatia em primatas, estudos com outros

mamíferos que avaliem comportamento de ajudar, confortar ou compartilhar, são muito raros

e quando existentes são restritos ao campo observacional (Edgar et al., 2012), porém alguns

estudos apontam similaridades sociais entre canídeos e primatas (Bräuer, Kaminski, Riedel,

Call & Tomasello, 2006; Cools, Van Hout & Nelissen, 2008; Palagi & Cordoni, 2009).

Três pontos podem ser apontados a respeito de cães e a sua capacidade de ―empatizar‖

com os seres humanos através de processos que vão além de contágio emocional: a evolução

da espécie com o aperfeiçoamento das interações sociais provindas de seu ancestral comum

(Cools et al., 2008; Gácsi et al., 2005); as mudanças psicobiológicas causadas pelo processo

de domesticação, que permitiram a adoção do novo nicho e uma habilidosa comunicação

interespecífica (Hare, Rosati, Kaminski, Bräuer, Call & Tomasello, 2010; Miklósi, 2007;

Miklósi & Gácsi, 2012; Serpell, 1995); e a seleção artificial, os seres humanos privilegiaram,

mesmo que inconscientemente, aqueles cães que melhor se comunicavam e compreendiam

suas intenções (Gácsi et al., 2005; Serpell, 1995; Miklósi, 2007; Wobber, Hare, Koler-

Matznick, Wrangham & Tomasello, 2009). É possível que esses fatores tenham levado ao

aprimoramento de formas cada vez mais complexas de empatia em cães, as quais se

assemelham a certos traços da comunicação cognitiva e emocional humana (Silva & de

Sousa, 2011).

Acredita-se que a percepção de justiça social, por resultados compensatórios, e a

empatia, sejam uns dos fatores passíveis de ter ajudado na evolução da cooperação mutua e da

detecção da intenção de outro indivíduo. (Fehr & Fischbacher 2003). Assim, a empatia é uma

característica universal dos seres humanos e ainda pode ser compartilhada, de alguma forma,

por outras espécies sociais, a exemplo dos cães. Essa capacidade empática dos cães pode

facilitar as estratégias para a sobrevivência e geração de bem-estar nos seres humanos que

podem ou não estar carentes ou necessitados de algum tipo de suporte emocional ou físico.

Um fenômeno intrigante cujo mecanismo e função ainda continuam desconhecidos é o bocejo

por contágio, ocorrido após ver ou escutar outro indivíduo bocejar. Enquanto algumas

pesquisas relacionam o bocejar ao perceber outro bocejando a mecanismos inatos, estudos

recentes focam no seu potencial papel na comunicação, interações sociais e empatia. Eles

sinalizam que esse fenômeno não está restrito aos seres humanos. Uma vez que, diferentes

29

primatas, cães e uma espécie de pássaro conhecida popularmente como periquito australiano

(Melopsittacus undulatus) são capazes de bocejar ao ver um coespecifico bocejar. Algumas

pesquisas com cães foram realizadas visando relacionar o fenômeno do bocejar ao ver ou

ouvir outro bocejar à empatia e ao contágio emocional. Esses trabalhos apresentaram achados

contraditórios, sem evidências que correlacionem o bocejo por contágio à empatia (Harr,

Gilbert & Phillips, 2009; O‘Hara & Reeve, 2011 ) e com evidências de modulação social

relacionada à empatia (Silva, Bessa & de Sousa, 2012). Recentemente, os achados de

Romero, Konno e Hasegawa (2013) deram base para defender a hipótese de que em cães o

bocejo por contágio possui relação direta com a empatia, descartando a relação do bocejo com

o nível de tensão vivida, pois a variação de batimentos cardíacos e a frequência cardíaca se

mantiveram constantes em todas as etapas do experimento. Nesse estudo o bocejo de seres

humanos motivou a mesma atitude em cães, eles concluíram que os laços sociais associados à

empatia regulam esse fenômeno.

Uma limitação dos estudos que investigam a empatia com dados puramente

observacionais em animais é a de que a avaliação sobre a percepção de um indivíduo a

respeito da situação emocional do outro não pode ser verificada, a menos que outros

parâmetros sejam associados a eles, como alterações fisiológicas ou atividades neuronais.

Atualmente, a neurociência tenta estabelecer um apoio para os questionamentos feitos por

filósofos, etólogos e psicólogos a respeito da empatia (Harris, 2003; Preston & De Waal,

2002; Singer & Lamm 2009). Ter um melhor entendimento a respeito de experiências

empáticas é uma ponte para a compreensão e aceitação de nós mesmos e de outros. Portanto,

investigações sobre a capacidade dos cães em estabelecer respostas empáticas para com os

seres humanos são válidas, uma vez que os cães possuem um sistema límbico bem

desenvolvido e um repertório complexo para a comunicação intra e interespecífica, além de

um conjunto de respostas comportamentais de fácil interpretação, ideais para a constatação de

empatia nessa espécie.

Relação cães e seres humanos

Domesticação dos cães

A domesticação é precedida de mudanças genotípicas podendo ou não ser

acompanhadas de mudanças fenotípicas, visando adaptar o animal ou o vegetal ao novo meio

e às necessidades humanas (Diamond, 2002). Assim, a domesticação é tanto um processo

30

evolutivo, quanto um fenômeno ambiental, com precisas contribuições das alterações

genéticas e do ambiente de cativeiro (Ervynck, Dobney, Hongo & Meadow, 2001). Ela pode

ser vista como mutualismo, onde tanto o domesticador e o domesticado se beneficiam das

alterações decorrentes dela (Zeder, 2015). Do ponto de vista do domesticador, o papel dos

seres humanos na domesticação é enfatizado e visto como único responsável por separar um

potencial alvo para domesticação de populações livres, assumindo então o controle sobre

todos os aspectos do seu ciclo de vida (Ervynck et al., 2001). A domesticação teve

consequências não previstas em dois conjuntos: o conjunto composto por animais e plantas e

o outro conjunto composto pelos seres humanos, acarretando em mudanças físicas e

comportamentais (Diamond, 2002).

A primeira espécie que os seres humanos domesticaram foi o ancestral comum do cão

doméstico (Canis lupus familiaris), espécies de lobos (Canis lupus) já extintas que também

deram origem aos lobos cinzentos modernos (Miklósi & Gácsi, 2012; Skoglund et al., 2015).

Inicialmente o cão serviu aos humanos como guardião e caçador, para posteriormente tornar-

se animal de companhia. Em seu processo evolutivo o cão associou-se à espécie humana e

tornou-se membro permanente de sua sociedade (Miklósi, 2007; Miklósi & Gácsi, 2012;

Serpell, 1996). Diferente da datação de achados paleontológicos de aproximadamente 14 mil

anos, estudos genéticos estimam que a separação entre o cão e o seu ancestral se deu há mais

de 100 mil anos atrás, (Skoglund et al., 2015; Vilà et al., 1997). Independente da datação

adotada, a domesticação e surgimento dos primeiros cães se deu pelo menos 21 mil anos antes

da domesticação do primeiro vegetal (Shipman, 2010), nesse período as populações humanas

se organizavam em pequenos núcleos de caçadores e coletores (Diamond & Bellwood, 2003).

A partir da domesticação dos cães, e posteriormente de vegetais e outros animais como ovinos

e suínos, ocorreram alterações estruturais nas sociedades humanas que mudaram o rumo

evolutivo e configuração ambiental de todo o mundo (Diamond & Bellwood, 2003; Ervynck

et al., 2001; Skoglund et al., 2015; Zeder, 2015).

Dentre as espécies domésticas modernas de animais, os cães apresentam a maior

variação morfológica (alturas e formatos de rosto e corpo) e comportamental (perfis

psicológicos e temperamentos) (Boyko et al., 2009; Vilà et al., 1999). Essas características

surgiram milhares de anos após a domesticação do seu ancestral comum. No entanto, em um

experimento que visava tornar raposas cinzentas (Vulpes vulpes) de cativeiro mansas, Belyaev

(1979) constatou um salto evolutivo que contrariava todas as teorias de domesticação e

evolução da época. Ao selecionar apenas raposas de temperamento dócil para o programa de

reprodução, em aproximadamente 20 anos de seleção a população experimental não

31

apresentava mais hostilidade a aproximação de seres humanos como faziam anteriormente.

Ao invés disso, esses animais procuravam desde cedo o contato com as pessoas e

apresentavam comportamentos similares aos de cães, como brincadeiras e expressões

corporais. Além disso, ocorreram mudanças no formato da cauda, passando a ficar enrolada,

apresentaram padrão de pelagem bicolor e ao nascer as orelhas não ficavam eretas. Belyaev

concluiu que ao selecionar o temperamento manso ocorreram mudanças comportamentais e

morfológicas devido a hormônios atuantes naqueles indivíduos de temperamento mais calmo.

A relação de cães e humanos é antiga e contraditória, passando desde a admiração

plena até a repulsa total (Serpell, 1995). Existem diversos estudos recentes comparativos

sobre o comportamento social e comunicativo entre humanos e cães (Howell et al., 2015;

Martinez & Boere, 2011; Miklósi & Gácsi, 2012; Nagasawa et al., 2015; Téglás, Gergely,

Kupán, Miklósi & Topál, 2012). Segundo Berns et al. (2015), a seleção artificial a qual os

cães foram submetidos ajudou a criar um vínculo natural e interespecífico com os seres

humanos mais forte que o próprio vínculo inato e intraespecífico existente entre os cães. Para

Howell et al. (2015), no processo evolutivo, cães e seus tutores humanos se beneficiam do

desenvolvimento de um forte laço social afetivo. A socialização quando começada cedo na

vida de um cão tem efeitos no longo prazo sobre o comportamento do cão adulto, sendo um

fator crucial para o desenvolvimento de relações positivas com os humanos (Lorenz, 1949).

Entretanto, não está claro o quanto de socialização é necessária para produzir um cão adulto

bem ajustado, ou seja, um cão equilibrado o qual manifesta seu repertório comportamental

dentro do esperado para a espécie. Vale salientar que o ambiente social humano providencia

um nicho natural para os cães e, desde filhotes, eles são predispostos a desenvolver contatos

estreitos com pessoas (Gácsi et al., 2005; Riedel, Schumann, Kaminski, Call & Tomasello,

2008; Topál, Miklósi & Csányi, 1997). Porém, caso esse contato com seres humanos não

ocorra antes das primeiras 14 semanas de vida dos filhotes de cães, eles demonstrarão com

frequência reações de medo perante a presença de pessoas, que podem permanecer durante a

vida adulta (Howell et al.,2015). A convergência dessa relação tem respaldo na coincidência

temporal e geográfica entre o aparecimento das primeiras sociedades humanas e o cão

doméstico (Paxton, 2000; Schleidt & Shalter, 2003). Evolutivamente ocorre uma

sobreposição entre o início das mudanças genéticas do lobo e o surgimento dos primeiros

Homo sapiens, assim como, o surgimento do primeiro cão e o aparecimento das primeiras

sociedades humanas. Tais aproximações interespecíficas agiram de maneira a ocasionar um

sinergismo entre o comportamento de ambas espécies, através de processos de

retroalimentação positiva tanto no âmbito evolutivo, quanto no epigenético. Por epigenético

32

compreende-se ―um processo biológico causador de mudanças hereditárias na expressão

gênica regulado por mitoses ou meioses, que não alteram a sequência de DNA, ou seja,

provoca mudanças estruturais no gene sem modificar o seu nucleotídeo‖ (Jablonka & Lamb,

2014).

A capacidade de formar elos sociais não está limitada aos humanos. Os mecanismos

subjacentes a eles são antigos e justificados com base em circuitos neurais e processos

endócrinos oriundos da própria evolução dos mamíferos (Hammock & Young, 2005; Hrdy,

1999). Dentre todas as espécies de animais domésticos, os cães possuem hoje o posto de

maior complexidade dentro da estrutura social humana (Miklósi, 2007; Serpell, 1996). Tal

papel social aumentou a disponibilidade dos cães e dos humanos para atender e compreender

uns aos outros e formar a base para a comunicação entre eles (Gácsi et al., 2009). A partir

dessa constatação, acredita-se que diferentes dos cães, outras espécies sociais menos

evoluídas ou com menor desenvolvimento social com os seres humanos, carecem de

habilidades que identifique com mais precisão a existência de reações empáticas com pessoas

(Caixeta & Nitrini, 2002).

Comunicação não-verbal e audiovisual em cães

A comunicação é o resultado de evolução filogenética e desenvolvimento

ontogenético, ou seja, com o novo ambiente social, os seres humanos e os cães passaram a

dividir o mesmo nicho ecológico, o que propiciou um desenvolvimento comunicativo único

entre ambas as espécies (Miklósi, 2007; Miklósi & Gácsi, 2011; Schleidt & Shalter, 2003;

Serpell, 1996). Canídeos como lobos, coiotes e raposas não latem em seu ambiente natural,

porém os cães adquiriram em um ambiente antropogênico uma vantagem seletiva sobre os

lobos e outros cães ao produzirem latidos mais atrativos para os seres humanos, até evoluir

pra sinais acústicos de utilidade universal. Os seres humanos são capazes de julgar o estado

interior de um cão apenas pelo seu latido, através de características acústicas, como

frequência, tonalidade e ritmo (Pongrácz, Molnár & Miklósi 2010). Durante a comunicação,

os seres humanos utilizam uma estrutura complexa de sinais comunicativos, como acústicos e

visuais. Também são aplicados certos sinais para iniciar e manter a comunicação, por

exemplo, contato visual, além de contar com várias pistas comportamentais para reconhecer a

atenção (Miklósi, Polgárdi, Topál & Csányi, 2000). O corpo é capaz de estabelecer e conduzir

mensagens através de gestos, postura física, ritmo corporal, vocalização e expressões faciais,

principalmente olhos e lábios, os quais permitem transmitir informações através de sua

33

tonalidade, ritmo e inflexão. Toda relação é baseada em signos, ou seja, comunicação não-

verbal. Há indicações de que os cães têm uma forte propensão para inicializar interações

comunicativas com os seres humanos, e para isso eles contam predominantemente com pistas

visuais (olhar e alternância de olhar fixo), que são funcionalmente semelhantes às usadas

pelos seres humanos. Este padrão de comportamento pode ser revelado em situações onde os

cães são expostos a problemas insolúveis na presença de seres humanos. Nestas

circunstâncias, os cães demonstram várias atitudes comportamentais (olhar, alternância de

olhar fixo, vocalização) que direcionam a atenção do ser humano para si ou para o problema a

ser resolvido (Miklósi et al., 2000).

As estruturas do olho humano e de cães são desenhadas de forma parecidas. Ambos

possuem córnea, pupila, lente e retina. A maior distinção está em como cada um percebe as

imagens. Para o cão a visão é fundamental para processar o movimento, uma habilidade vital

para a sobrevivência de seus ancestrais durante a caça ao focar nos movimentos de suas

presas, já as pessoas possuem uma visão mais holística (Coren, 2007). Outra diferença está na

percepção das cores, cães percebem menos cores que seres humanos. Isso se deve ao fato

deles terem menos cones sensíveis a cores (fotoreceptores) (Hirskyj-Douglas, Read &

Cassidy, 2017). Cães podem discriminar entre três cores primárias e o cinza, porém não

percebem as cores vermelha e verde (Hirskyj-Douglas, Read & Cassidy, 2017; Tanaka,

Watanabe, Eguchi & Yoshimoto, 2000).

Com o desenvolvimento da televisão, desde a metade do século XX mudou-se a

maneira com que as pessoas se relacionam com a esfera das imagens. A televisão estimula os

telespectadores com seus conteúdos diversificados, novidades e tramas intrigantes. Ela

permite conhecer diversas culturas e difunde desde então uma nova forma de comunicação

(Dias, 2017). Relatos de tutores a respeito de animais de estimação que assistem à televisão

são comuns ao redor do mundo. Desde então, cientistas passaram a pesquisar se animais

realmente eram estimulados pelas imagens projetadas. Testes com cães indicam que eles são

capazes de perceber cintilações de imagem em televisões que sequenciam imagens abaixo de

75 quadros por segundo (75 Hz). A troca de imagens em uma televisão comum ocorre em

média a cada 60 Hz, isso porque seres humanos são capazes de perceber a imagem cintilar em

velocidades de troca de imagem abaixo de 55 Hz (Coren, 2004). Filmadoras e televisores

modernos são capazes de filmar e apresentar a imagens a uma taxa superior a 100 Hz. Essa

nova tecnologia possibilita que cães assistam à televisão sem perceber a imagem cintilar,

proporcionando um aspecto de continuidade às cenas que as deixam mais próximas do real

(Laurijssen et al., 2018).

34

Cães e seres humanos escutam em frequências distintas, contudo, cães têm uma

melhor sensibilidade sonora. As faixas audíveis de seres humanos e cães em média variam de

20 Hz a 20.000 Hz e 15 Hz a 50. 000 Hz respectivamente. As frequências que os alto falantes

de televisões operam costuma variar entre 70 Hz e 20.000 Hz, faixa audível tanto para cães,

quanto para seres humanos. Provavelmente, assim como seres humanos, cães consigam

distinguir entre um som reproduzido ao vivo de outro reproduzido por alto falantes. Visto que,

cães podem associar imagens a informações acústicas, o que confere a eles um forte indício

de representação mental através de figuras (Adachi, Kuwahata & Fujita, 2007).

O cão como capital social

O capital social pode ser definido como características de uma organização social que

facilitem a cooperação para o benefício mútuo (próprio e de outros indivíduos), como por

exemplo, a participação cívica, normas de reciprocidade e confiança nos outros (Kawachi,

Kennedy, Lochner & Prothrow-Stith, 1997). O capital social pode funcionar como um

promotor de saúde seja ela física ou psíquica. Portanto, animais de estimação podem ser

relevantes no contexto de capital social como: facilitador de contato social e interação entre o

possuidor do animal e vizinhos e pessoas estranhas a ele (senso de comunidade); catalisador

de trocas de favores entre vizinhos (reciprocidade e redes); motivador de caminhadas e uso de

locais públicos abertos, como parques, produzindo queima de calorias e condicionamento

cardiovascular. O que por sua vez facilita o contato e cumprimentos entre pessoas que não

interagiria de outra maneira (promotor de saúde e percepção de confiança generalizada);

facilitador de participação comunitária em atividades organizadas e ocasionais, como

caminhadas programadas ou confraternizações pontuais (participação em eventos sociais);

fator de proteção para a saúde mental, o que, por sua vez, pode influenciar na participação na

comunidade local e na maneira com que se relaciona com as pessoas dessa comunidade

(promotor de saúde e trocas sociais); estimulador da participação em tomada de decisões e

formulação de regras para o interesse de grupos específicos. Por exemplo, regras de coleta de

excrementos de animais de estimação em vias públicas e local adequado para destinação do

mesmo (engajamento cívico).

Quanto maior o capital social, maior é o compromisso com uma comunidade e a

capacidade de mobilizar ações coletivas. Em geral, ele é visto como um efeito positivo das

interações entre os participantes em uma rede social (Helliwell & Putnam, 2004). Desta

maneira, o cão inserido no contexto de capital social, pode assumir o papel de capital social

35

positivo, ao promover a aproximação entre pessoas, melhorar o bem-estar de quem convive

com ele e ser um promotor de saúde. Para que isso ocorra, é necessário que haja empatia entre

os agentes, não podendo assim excluir o cão desse processo, pois a antipatia entre algum dos

participantes da relação geraria mal estar entre as partes e o consequente afastamento e

evitamento.

Para compreender os meandros e lacunas de análises empíricas da empatia em cães e

como a mesma pode ajudar a esclarecer evolutivamente a ocorrência em seres humanos, foi

proposto durante o desenvolvimento das metodologias responder as quatro questões de

Tinbergen. Ele alega que os problemas criados em biologia se resumem a quatro perguntas

sobre as características de um organismo: 1- Para que serve? (causa proximal) 2 - Como se

desenvolveu durante a vida do indivíduo? (ontogenia) 3- Como evoluiu durante a história da

espécie? (filogenia; evolução) 4- Como isso funciona? (valores de sobrevivência) (Bateson &

Laland, 2013; Tinbergen, 1963). Dado isso, as perguntas foram respondidas da seguinte

maneira: 1- A empatia está envolvida na dinâmica de diversos comportamentos sociais, ela

ajuda a estabelecer elos entre indivíduos através de respostas comportamentais pouco

evidenciadas em animais. 2- Cães convivem nos lares humanos desde o seu nascimento,

durante seu desenvolvimento eles incrementam de forma gradativa a comunicação peculiar

com seus tutores. Saber como pessoas interpretam essas ações pode abrir precedentes para o

desenvolvimento de novas abordagens empíricas. 3- Acredita-se que os neurônios espelho

estão presentes em respostas empáticas rudimentares e fazem parte do arcabouço cognitivo

tanto de seres humanos, quanto de animais. Na troca de nicho, o ancestral comum dos cães

iniciou um processo de mudanças adaptativas fenotípicas, genotípicas e funcionais que

beneficiou ambas as espécies e hoje permite a comunicação eficiente e bem elaborada entre

elas. Não se pode considerar evolução em via única, pois as transformações filogênicas

ocorridas resultaram em vantagens adaptativas para ambas as espécies. A avaliação de

respostas fisiológicas empáticas é um caminho para evidenciar a existência de processos

similares entre seres humanos e cães. 4- O valor adaptativo da empatia na relação ser

humano-cão permitiu o desenvolvimento de canais comunicativos interespecíficos capazes de

facilitar o convívio, entendimento e a interpretação da intenção. Entretanto, há pouco

conhecimento científico de como se deu esse facilitador.

A existência de empatia em animais é um tema recente debatido no meio científico,

em sua maioria há o consenso de que animais são seres empáticos, porém há muitos

questionamentos com relação à complexidade desses mecanismos em animais (Harr &

Phillips, 2009). Os cães nos últimos anos têm demonstrado ser excelentes objetos de estudos

36

comparativos para seres humanos. Após o processo de domesticação do cão há pelo menos 14

mil anos, cães e seres humanos passaram a trocar informações a fim de compreender a

intenção do outro através de uma nova forma de comunicação não verbal, resultante de

mudanças filogenéticas e comportamentais. Compreender esses processos pode ajudar a

esclarecer diversas lacunas evolutivas a respeito do empatia.

Nesse sentido, conforme apresentado ao longo dos capítulos anteriores, observa-se que

há uma compreensão parcial, por parte das pessoas, no que se refere à existência da empatia

em cães. Afinal, a empatia conforme definida envolve as dimensões de cognição, de

comportamento e de emoção, com a capacidade clara de compreender o estado mental e

emocional do outro, sentir como o outro e agir em direção ao outro de maneira congruente ou

empática dependendo do contexto.

A metodologia proposta procurou verificar se o comportamento dos cães em contextos

nos quais ele observa e responde a manifestações de um coespecífico, através de um aparelho

televisivo, pode ser entendido como empatia. Ao lado disso mostra-se necessário entender

como as pessoas compreendem a empatia em cães, uma vez que não é possível recolher

depoimento verbal de animais a respeito do que eles sentiram, racionalizaram e se propuseram

a fazer.

37

1 OBJETIVO E HIPÓTESE GERAIS

Os ensaios propostos tiveram como objetivo analisar evidências de empatia em cães,

através da visão de universitários e experimentação controlada. A hipótese testada foi a de que

cães apresentam um elevado grau de empatia, evidenciado nos resultados do experimento

empírico e dos questionários aplicados em estudantes universitários.

1.1 ESTUDO I Evidências empáticas em cães (Canis lupus familiaris) que assistem a

películas de outros cães.

1.1.1 Objetivos e hipóteses

Reações fisiológicas e comportamentais de pessoas ao ver filmes românticos ou de

suspense estão ligadas a empatia, uma vez que elas são capazes de se colocar no lugar dos

personagens televisíveis ou compreender os sentimentos vividos por esses agentes e reagir ou

não de forma emotiva (Ahn, Jin & Ritterfeld, 2012). Levando-se em conta os processos

evolutivos a que Darwin mencionou (seleção natural; herança; adaptação; modificações) os

processos básicos relacionados à empatia em cães poderiam também ser ativados através de

exposições audiovisuais. Sendo assim, é possível presumir que cães que assistem televisão

sejam capazes, assim como humanos, de reagir empaticamente.

Nesse estudo pretendeu-se evidenciar a capacidade empática de cães ao assistir a

filmes que mostravam o comportamento de outros cães. Os estímulos eram de natureza

audiovisual, projeções de películas dinâmicas através de um televisor. Para ter uma melhor

acurácia das reações empáticas fisiológicas e comportamentais, as respostas dos cães

experimentados foram avaliadas através de vivencias virtuais e reais. O estudo teve como

objetivo saber se os cães são capazes de entender, assimilar e dar respostas comportamentais e

fisiológicas frente a vivências de outro cão através de estímulos audiovisuais vivenciados

apenas pelo outro. A hipótese sugerida para o estudo foi a de que as respostas

comportamentais e fisiológicas do cão eram similares quando ele próprio vivenciava uma

situação e quando ele observa em vídeo essa mesma situação vivenciada por outro cão, ou

seja, ocorreriam alterações nos níveis de ocitocina e cortisol plasmático de acordo com cada

vivencia e vídeo transmissão, mensuradas e comparadas em ambas as situações, na real e na

virtual.

38

1.2 Materiais e métodos

1.2.1 Participantes

O ensaio experimental proposto contou com oito cães adultos, quatro cães eram de

porte grande da raça Rhodesian Ridgeback (duas fêmeas e dois machos) e quatro eram de

porte pequeno da raça Terrier Brasileiro conhecido também como Fox Paulistinha (duas

fêmeas e dois machos). Todos os oito cães residem na zona urbana de Brasília-DF, Brasil, em

quatro casas diferentes com acesso a quintal com área verde. Eles possuem convívio

harmônico com seus proprietários ou cuidadores, que também participaram das atividades.

Cada cão deste universo passou por todas as etapas propostas no ensaio. Os seguintes fatores

foram considerados para escolha da amostra: os cães serem conhecidos e relacionarem-se bem

com o pesquisador e a pessoa que os conduziram durante o experimento, além de não terem

histórico de agressividade, ansiedade ou compulsão. Para a produção dos vídeos houve a

participação de um cão adulto ―ator‖, o mesmo não era familiarizado com os cães

participantes da pesquisa.

1.2.2 Instrumentos

Para a gravação dos vídeos que foram reproduzidos durante o experimento e também

para reproduzir as situações vivenciadas em vídeo com os cães experimentais foram

escolhidos ambientes externos ao ar livre (área verde) e ambientes residenciais familiares aos

cães participantes (sala, varanda ou quintal, por exemplo). Para projetar os vídeos

experimentais, foram escolhidos ambientes isolados e livres de distrações visuais externas ao

vídeo e com presença de poucos ruídos. Para contenção dos cães foi utilizada uma guia

completa (coleira de pescoço e corda). Para amarrarem os cães em árvores ou postes, utilizou-

se uma corda comum de três metros de comprimento. Kits para coleta de sangue (tubos para

coleta de sangue com EDTA, tubo sem anticoagulante e eppendorf) cateter 20G e 24G,

seringas de três mililitros. Kit de ocitocina para amostra de plasma (OT elisa kit : Canine

Oxytocin, 1x96wells - com dosagem) fornecido pelo laboratório Science PRO. Kit de cortisol

para amostra de soro (kit da SIEMENS: quimioluminescência) fornecido pelo laboratório

Sabin Brasília. Um televisor com taxa de atualização de 100Hz. Uma câmera filmadora com

taxa de atualização de quadros entre 80-100Hz (GoPro Hero 5). Uma câmera filmadora

comum. Um tripé para a câmera filmadora.

39

1.2.3 Procedimentos

A pesquisa foi submetida ao comitê de ética Para o Cuidado e Uso de Animais

Experimentais do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes da UERJ com identificação

CEUA/043/2015 e foi aprovado no dia 24/11/2015. Entre os dias 11 de dezembro de 2016 e

10 de novembro de 2017, foram coletados dados comportamentais e fisiológicos dos cães

participantes do experimento. Os dados fisiológicos foram avaliados através de coleta de

sangue dos cães e processamento sanguíneo em laboratório credenciado. As amostras para o

cortisol foram enviadas e analisadas no laboratório Sabin Brasília através do soro sanguíneo e

as amostras para a ocitocina foram enviadas e analisadas no laboratório Science PRO São

Paulo através do plasma sanguíneo, porém, antes do envio das amostras, as mesmas passaram

por processos de centrifugação na velocidade de 1200rpm/10min e de congelamento a

temperatura de -20ºC no Laboratório de Patologia Clínica da Faculdade de Agronomia e

Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB).

O ensaio se deu em três etapas. Primeira etapa (vivência presencial): composta por

vivência presencial e subdividida em duas situações (situação-anti; situação-pró). Segunda

etapa (condicionamento): composta por condicionamento. Terceira etapa (teste): composta

por vivência virtual (audiovisual) e subdividida em três categorias (vídeo-neutro; vídeo-anti;

vídeo-pró). Todas as etapas ocorreram em dias diferentes com intervalo mínimo de 48 horas

entre o fim da primeira e o início da segunda e com intervalo mínimo de 48 horas entre as

realizações das subdivisões de cada etapa.

Para as segunda e terceira etapas foram produzidos vídeos audiovisuais com duração

de um minuto cada e contendo os seguintes conteúdos: vídeo de uma paisagem natural,

cachoeira (vídeo-natural); vídeo de um cão dormindo relaxado (vídeo-neutro) (Figura 5);

vídeo de cão amarrado a uma árvore e reagindo negativamente (vocalização através de latidos

e grunhidos; movimentação corporal constante) conforme se afasta dele uma pessoa de seu

convívio e que ele tenha uma relação positiva (vídeo-anti) (Figura 2); vídeo de um cão sendo

massageado (carinho) e com falas suaves (bom garoto, muito bom...) por uma pessoa de seu

convívio (vídeo-pró) (Figura 3). Os cães e os seres humanos que apareceram nos vídeos eram

desconhecidos do cão submetido ao experimento. Os mesmos vídeos foram apresentados para

todos os indivíduos testados experimentalmente. Essas duas etapas iniciaram da mesma

maneira: o cão adentrou o ambiente de experimentação de guia e acompanhado de seu

cuidador e parou a um metro de distância de frente para a televisão ligada transmitindo o

vídeo-natural (Figura 4).

40

Durante a primeira e a terceira etapas foram coletadas dos animais participantes

amostras de sangue por venopunção, acessadas pela veia cefálica através de um catéter over-

the-needle, totalizando um volume total de aproximadamente 3,0 ml/cão/coleta. O sangue

coletado foi direcionado para dois tubos coletores de sangue diferentes. Para a amostra de

cortisol o conteúdo foi depositado em um tubo estéril sem anticoagulante e armazenado no

local em recipiente com gelo e mantido sob refrigeração até chegar ao laboratório Sabin

Brasília para análise. Para a amostra de ocitocina o conteúdo foi depositado em um tubo

estéril com EDTA e armazenado em recipiente com gelo e mantido sob refrigeração até

chegar ao Laboratório de Patologia Clínica de Medicina Veterinária da UnB para ser

centrifugado, separado o plasma sanguíneo e refrigerado a -20°C até o envio para o

laboratório Science PRO em São Paulo. As amostras de ocitocina foram enviadas para São

Paulo refrigeradas em isopor contendo gelo seco para manter a temperatura de -20°C. Durante

a coleta o cão foi contido pelo seu cuidador, utilizando técnica apropriada, com tom de voz

suave e ambiente calmo, enquanto outra pessoa (Médico Veterinário) realizou a punção

venosa. O tempo de coleta foi suficientemente rápido (até 10 segundos após a exposição da

situação) para garantir que o nível de cortisol e ocitocina sanguíneos não foram

significativamente afetados.

1.2.3.1 Primeira etapa (vivência presencial)

Os cães foram expostos a duas situações com a presença física e interação com os seus

cuidadores: situação-anti (desamparo) e situação-pró (conforto). Em um primeiro momento

apenas uma das duas situações foi exposta ao cão. Após 48 horas do fim dessa primeira

exposição foi conduzida a outra situação (situação-anti; situação-pró). Para a escolha de qual

situação a ser primeira exposta ao cão realizou-se um sorteio aleatório simples.

Foram coletados separadamente dados comportamentais e fisiológicos para cada

situação. O registro das reações comportamentais fisiológicas ocorreu através da análise

sanguínea, antes e depois de cada situação. Bem como das reações comportamentais físicas

foram registradas em filme e observadas através das reações corporais, seguindo o protocolo

proposto pela British Small Animals Veterinary Association (BSAVA) no Manual of canine

and feline behavioural medicine. Os possíveis estados comportamentais do cão foram

agrupados em seis categorias (Figura 1):

1. Relaxado esboçando um comportamento neutro;

2. Alerta e atento a terceiros com o corpo de forma imponente;

41

3. Receptível a terceiros, curioso;

4. Temeroso e pacífico, porém ansioso com alguma situação;

5. Temeroso e agressivo na defensiva;

6. Aparente esboçando um ataque agressivo.

O cão somente participou dos testes quando antes do início do experimento o mesmo

encontrava-se calmo, classificado na categoria 1. Caso contrário o experimento teria início

somente após o cão acalmar.

A depender do nível de estresse ou de relaxamento, o cão foi categorizado em uma das

seis categorias supracitadas. Sinais de estresse: lamber os lábios repetidas vezes; ficar com

postura abaixada e com musculatura tensa; colocar o rabo entre as pernas; abaixar as orelhas;

alongar-se; cheirar o chão desviando o olhar do alvo; olhar fixo ao alvo; pêlos das costas

eriçados; respiração ofegante; olhos arregalados; latido agressivo. Sinais de relaxamento:

musculatura tênue, deitar com a cabeça sobre as mãos; respiração suave ou profunda; boca

fechada ou ligeiramente com lábios separados; som de grunhidos; cauda mexendo suavemente

e com postura continua ao corpo (Serpell, 1995; Cooper, Mullineaux, Turner & Greet, 2011).

O balançar da cauda também é um parâmetro para avaliar o estado comportamental dos cães.

Segundo Siniscalchi, Lusito, Vallortigara e Quaranta (2013) cães reagem ao abano de cauda

de outros cães de acordo com o lado que eles abanam a cauda. Eles ficam mais relaxados

quando veem cães abanar a cauda mais para a direita, pois os cães tendem a abanar a cauda

para a direita quando sentem emoções positivas. Em contrapartida, os cães ficam mais

ansiosos quando veem outros cães abanarem a cauda para a esquerda, pois os cães tendem a

abanar a cauda para a esquerda quando sentem emoções negativas. Sendo assim, no vídeo que

mostrou o cão ator em estado de relaxamento, cuidamos para que durante a filmagem não

houvesse balançar de cauda.

42

Figura 1 - Posturas corporais de

cães: adaptado de Priscilla Barrett

Cooper et al., 2011

1.2.3.2 Situação-anti

O cão foi conduzido com guia pelo seu cuidador dentro de um parque ou uma área

verde sem a presença de outros cães ou animais na proximidade. Após o cão explorar a área

durante no mínimo dez minutos e no máximo vinte minutos, o experimento teve início da

seguinte maneira: coletou-se a primeira amostra de sangue (basal), em seguida o cuidador

43

conduziu o cão na guia até uma árvore ou poste e a acoplou a uma corda presa a uma árvore

ou um poste limitando o espaço que o cão poderia percorrer em poucos metros (1 à 2m)

(Figura 2). A partir desse momento o cuidador ficou ao lado do cão sem tocá-lo ou esboçar

qualquer tipo de interação durante trinta segundos. Após esse tempo o mesmo se afastou sem

fazer contato visual ou verbal com o cão, a passos lentos, em linha reta e em uma direção

oposta ao ponto em que o cão se encontrava amarrado. Quando o cuidador estava há pelo

menos 20 metros de distância do cão ou fora de sua vista, realizou-se a segunda coleta de

sangue (reacional).

Figura 2 - Cão amarrado a uma árvore observando

e reagindo ao afastamento de seu cuidador

1.2.3.3 Situação-pró

Com o cão situado em local usual de seu dia a dia (na sala de casa ou no quintal, por

exemplo), coletou-se uma amostra de sangue (basal), em seguida o cuidador dava início a

uma secção de sutis caricias no cão com duração de cinco minutos, priorizando regiões que

ele se mostre mais relaxado, por exemplo, cabeça e barriga (Figura 3). Ao termino desse

período realizou-se a segunda coleta de amostra sanguínea (reacional).

Figura 3 - Cuidador acariciando o cão de

forma tranquila e emitindo sons suaves.

44

1.2.3.4 Segunda etapa (condicionamento)

Em ambiente familiar ao cão foi deixada uma televisão encostada em uma parede.

Cada cão foi treinado para ficar parado de frente para essa parede, direcionado para a

televisão ligada que passava o vídeo-natural a uma distância de um metro dela (Figura 4).

Durante o processo eles estavam com guia e acompanhado de um condutor familiar a eles e

responsável pelos exercícios de condicionamento. A técnica empregada para o ensinamento

foi a de reforço positivo através de carinho quando acertavam o exercício de ficar de frente

para a televisão. O tempo de treinamento dependeu da capacidade de aprendizagem de cada

indivíduo e não ultrapassou sete dias por cão. O treinamento ocorreu em dias alternados (um

dia de secções e outro de descanso) da seguinte maneira: secções de um minuto com o cão

parado dentro do ambiente de teste e virado para televisão transmitindo o vídeo-natural,

seguido de intervalo de cinco minutos fora da sala (com possibilidade de locomover, porém

na guia). Este treinamento foi repetido com intervalos mínimos de meia hora, foram feitas

cinco repetições por dia.

Figura 4 - Cão sentado de frente

para a televisão que transmitia os

vídeos.

1.2.3.5 Terceira etapa (teste)

Os cães foram expostos a três situações através de transmissão audiovisual. Em um

primeiro momento apenas uma das três situações foi exposta ao cão. Após 48 horas do fim da

45

primeira exposição foi exposta a situação seguinte (vídeo-neutro; vídeo-anti; vídeo-pró). Para

a escolha de qual situação a ser primeira exposta ao cão realizou-se um sorteio aleatório

simples.

Foram coletados separadamente dados comportamentais e fisiológicos para cada

situação, utilizando dos mesmos parâmetros apontados na Primeira Etapa. O registro das

reações comportamentais físicas ocorreu através da observação de reações corporais a serem

registradas em filme. Bem como das reações fisiológicas, através da análise sanguínea, antes e

depois de cada situação.

1.2.3.6 Vídeo-neutro

Momentos antes de o cão entrar na sala de teste realizou-se a primeira coleta de

sangue (basal). Após a coleta o cão foi posicionado de frente para a televisão transmitindo o

vídeo-neutro, de guia e conduzido por uma pessoa conhecida (Figura 4). Após dois minuto de

exposição do vídeo (Figura 5) foi feita a segunda coleta de sangue (reacional).

Figura 5 - Cão dormindo relaxado.

1.2.3.6.1 Vídeo-anti

A sequência dessa etapa ocorreu de forma idêntica à etapa de vídeo-neutro, porém a

exposição foi do vídeo-anti (Figura 2).

46

1.2.3.6.2 Vídeo-pró

A sequência dessa etapa ocorreu de forma idêntica à etapa de vídeo-neutro, porém a

exposição foi do vídeo-pró (Figura 3).

1.3 Justificativa do tamanho da amostra

O tamanho da amostra (oito cães experimentais) justifica-se pelo tempo de

treinamento para condicionar os cães a ficarem de frente para o televisor. A mão de obra

qualificada para esses ensinamentos é restrita ao próprio doutorando que possui formação

para a mesma. Além disso, cada cão contribuiu com vinte amostras de sangue (volume por

coleta aproximadamente de 1ml), totalizando 160 amostras para analisar em laboratórios.

Após uma vasta investigação de possíveis laboratórios com capacidade de analisar níveis de

ocitocina plasmático, foi encontrado em território nacional apenas um laboratório privado

capaz de fazer as análises em cães. O kit para análise de ocitocina é importado e com um

custo alto. Para a análise das amostras se fez necessário adquirir dois desses kits. A análise do

cortisol foi realizada por um laboratório privado que possui um programa de incentivo a

pesquisa, também com um custo considerável. As análises laboratoriais da pesquisa foram

financiadas por investimento próprio.

1.4 Delineamento experimental

Processou-se a análise estatística dos resultados através do software do programa

informático SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 22.0. Os níveis séricos de

cortisol e ocitocina foram analisados pelo teste não-paramétrico Wilcoxon para comparar os

níveis séricos de ocitocina e o de cortisol de antes/depois de cada experimento. O teste U de

Mann-Whitney foi usado para comparar os níveis séricos de ocitocina e de cortisol

encontrados no estudo entre os indivíduos machos e fêmeas. Ademais, tendo em vista que

medidas comportamentais frequentemente violam os pressupostos para testes estatísticos, as

análises do repertório comportamental dos ensaios foram obtidas através do método de

amostragens ad libitum e análise descritiva de frequência de comportamento.

47

1.5 Resultados

Os resultados do experimento estão representados nas tabelas a seguir:

Tabela 1 - Valores obtidos em Estudo Empírico Experimento Z p

1.1. Comparação dos valores de ocitocina na situação do cão amarrado na árvore ou

poste antes e depois do experimento

-1,96 0,05*

2.1. Comparação dos valores de ocitocina na situação do cão recebendo carinho antes e

depois do experimento.

-2,521 0,01*

3.1. Comparação dos valores de ocitocina na situação do cão assistindo televisão de

outro cão amarrado na árvore antes e depois do experimento.

-2,524 0,01*

4.1. Comparação dos valores de ocitocina na situação do cão assistindo televisão de

outro cão recebendo carinho antes e depois do experimento.

-2,521 0,01*

5.1. Comparação dos valores de ocitocina na situação do cão assistindo televisão de

outro cão dormindo antes e depois do experimento.

- 0,560 0,57

1.2. Comparação dos valores de cortisol na situação do cão amarrado na árvore ou poste

antes e depois do experimento.

-2,524 0,01*

2.2. Comparação dos valores de cortisol na situação do cão recebendo carinho antes e

depois do experimento.

2,028 0,04*

3.2. Comparação dos valores de cortisol na situação do cão assistindo televisão de outro

cão amarrado na árvore antes e depois do experimento.

-2,524 0,01*

4.2. Comparação dos valores de cortisol na situação do cão assistindo televisão de outro

cão recebendo carinho antes e depois do experimento.

-1,725 0,84

5.2. Comparação dos valores de cortisol na situação do cão assistindo televisão de outro

cão dormindo antes e depois do experimento.

-1,342 0,18

Nota. O (*) representa valores com significância estatística com p ≤0,05

As situações supracitas, comparado nas diferentes situações os níveis séricos de

ocitocina e de cortisol, quando correlacionais com o sexo dos animais não apresentam

diferenças significativas1.

No que tange a análise de comportamento do cão ao vivenciar a situação estar

amarrado a uma árvore ou a um poste sinalizou que 12,5% deles apresentaram características

de relaxamento, metade deles (50%) aparentaram sinais de alerta, outros 12,5% se mostraram

receptíveis, enquanto 25% esboçaram sinais de ansiedade.

A análise de comportamento do cão ao receber carinho de seu tutor ou cuidador

indicou que 37,5% expressaram-se relaxados, bem como 12,5% ficaram alertas e a metade

deles (50%) estava receptível durante o processo.

A análise de comportamento do cão ao assistir na televisão outro cão amarrado à

árvore sugere que 12,5% deles estavam relaxados, enquanto a metade (50%) exibiu expressão

1 (Z= -0,57; p= 0,56); (Z= 0,00; p= 1,00); (Z= 0,00; p= 1,00); (Z= -0,57; p= 0,56); (Z= -1,15; p= 0,24); (Z= -

1,15; p= 0,24); (Z= -1,15; p= 0,24); (Z= -0,28; p= 0,77); (Z= -0,57; p= 0,56); (Z= -0,28; p= 0,77); e de cortisol

(Z= -0,58; p= 0,55); (Z= -0,28; p= 0,77); (Z= -0,14; p= 0,88); (Z= -0,44; p= 0,65); (Z= 0,00; p= 1,00); (Z= -

0,86; p= 0,38); (Z= -0,73; p= 0,46); (Z= -1,70 ; p= 0,89); (Z= -1,31; ; p= 0,18); (Z= -0,29; p= 0,76).

48

alerta. Em contra partida 12,5% foram receptíveis a essa situação e 25% manifestaram reações

de ansiedade.

A análise de comportamento do cão ao assistir na televisão outro cão recebendo

carinho constatou que 75% deles estavam relaxados. Os outros 25% estavam igualmente

alerta ou receptíveis.

A análise de comportamento do cão ao assistir na televisão outro cão dormindo

revelou uma unanimidade entre eles, pois todos reagiram de forma tranquila.

Tabela 2 - Dados brutos de ocitocina de cada cão antes e depois da execução do experimento

em cada situação.

Situação Cão

A♂

Cão

B♀

Cão

C♂

Cão

D♀

Cão

E♂

Cão

F♀

Cão

G♂

Cão

H♀

Árvore

(AR) antes 40,12 26,56 46,23 40,73 199,8 115,4 65,7 56

Árvore

(AR) depois 45,74 26,81 29,75 26,31 31,8 51,1 28,7 51,1

Carinho

(CAR) antes 36,15 39,05 40,32 37,07 26,5 24,4 51,1 81,2

Carinho

(CAR) depois 51,41 46,86 50,45 47,5 35,5 32,1 79,9 197,7

Vídeo

(AR) antes 32,22 44,83 31,46 43,52 29,8 55,8 102,8 35,8

Vídeo

(AR) antes 26,25 29,75 26,19 31,01 29,2 52,2 66,7 32,2

Vídeo

(CAR) antes 38,39 37,27 40,12 36,74 41,8 25,8 45,5 101,5

Vídeo

(CAR) antes 46,02 46,3 45,74 45,81 46,5 29,1 48,7 145,7

Vídeo

(RELAX) antes 43,52 40,79 36,68 42,28 31,1 26,6 76,3 39,9

Vídeo

(RELAX) depois 41 42,49 42,9 42,63 32,9 25,5 65,5 53,8

Nota. Unidade dos níveis de ocitocina (pg/ml) e de cortisol (µg/dL).

49

Tabela 3 - Dados brutos de cortisol de cada cão antes e depois da execução do experimento

em cada situação.

Situação Cão

A♂

Cão

B♀

Cão

C♂

Cão

D♀

Cão

E♂

Cão

F♀

Cão

G♂

Cão

H♀

Árvore

(AR) antes 1,3 1 1,1 1,6 0,5 1 0,5 0,7

Árvore

(AR) depois 5,7 4,1 4,4 5,9 1,2 1,8 0,7 0,9

Carinho

(CAR) antes 1,4 1,1 2,8 1,4 0,5 1,5 0,7 0,6

Carinho

(CAR) depois 0,6 0,7 0,9 0,9 0,8 0,8 0,5 0,6

Vídeo

(AR) antes 1,2 1 1,4 0,7 0,5 0,8 0,5 0,6

Vídeo

(AR) antes 3,9 1,8 2,8 1,5 1,6 1,3 0,6 0,8

Vídeo

(CAR) antes 1,2 1,3 1 0,9 0,9 1,3 0,5 0,7

Vídeo

(CAR) antes 0,5 1,7 0,6 0,5 0,5 0,7 0,5 0,7

Vídeo

(RELAX) antes 0,9 1 0,8 2 0,8 0,9 0,5 0,7

Vídeo

(RELAX) depois 0,9 0,5 0,8 1,3 0,8 0,9 0,5 0,7

Nota. Unidade dos níveis de ocitocina (pg/ml) e de cortisol (µg/dL).

Tabela 4 - Variação simbólica de ocitocina e cortisol antes e depois e estado comportamental

de cada cão durante a execução do experimento em cada situação.

Situação

Cão

A♂

(o/c)

Cão

B♀

(o/c)

Cão

C♂

(o/c)

Cão

D♀

(o/c)

Cão

E ♂

(o/c)

Cão

F♀

(o/c)

Cão

G♂

(o/c)

Cão

H♀

(o/c)

Árvore

(AR) ↑/↑ 2 ↑/↑ 3 ↓/↑ 4 ↓/↑ 2 ↓/↑ 1 ↓/↑ 2 ↓/↑ 2 ↓/↑ 4

Carinho

(CAR) ↑/↓ 1 ↑/↓ 1 ↑/↓ 3 ↑/↓ 1 ↑/↑ 3 ↑/↓ 3 ↑/↓ 2 ↑/= 3

Vídeo

(AR) ↓/↑ 2 ↓/↑ 2 ↓/↑ 4 ↓/↑ 2 ↓/↑ 1 ↓/↑ 2 ↓/↑ 2 ↓/↑ 4

Vídeo

(CAR) ↑/↓ 1 ↑/↑ 3 ↑/↓ 1 ↑/↓ 1 ↑/↓ 1 ↑/↓ 1 ↑/≈ 1 ↑/= 2

Vídeo

(RELAX) ↓/= 1 ↑/↓ 1 ↑/= 1 ↑/= 1 ↑/= 1 ↓/= 1 ↓/= 1 ↑/= 1

Nota. As setas da esquerda e da direita representam respectivamente a variação (positiva ou negativa) de

ocitocina (o) e de cortisol (c) antes e depois da exposição. Os números são a representação do comportamento

durante a execução de cada exposição, onde cada número representa os seguintes estados: 1- Relaxamento; 2-

Alerta; 3- Receptividade; 4- Ansiedade.

50

Tabela 5 - Variação numérica de ocitocina e cortisol antes e depois do experimento para cada

cão em cada situação. Cão

A♂

(o/c)

Cão

B♀

(o/c)

Cão

C♂

(o/c)

Cão

D♀

(o/c)

Cão

E♂

(o/c)

Cão

F♀

(o/c)

Cão

G♂

(o/c)

Cão

H♀

(o/c)

Média Situação

Varia ↑/↑ ↑/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑

Árvore

(AR) Ocito -5,62 -0,25 16,48 14,42 168 64,3 37 4,9 37,4

Cort -4,4 -3,1 -3,0 -4,3 -0,7 -0,8 -0,2 -0,2 -2,08

Varia ↑/↓ ↑/↓ ↑/↓ ↑/↓ ↑/↑ ↑/↓ ↑/↓ ↑/=

Carinho

(CAR) Ocito -15,26 -7,81 -10,13 -10,43 -9 -7,7 -28,8 -116,5 -25,70

Cort 0,8 0,4 1,9 0,5 -0,3 0,7 0,2 0,0 0,52

Varia ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑

Vídeo

(AR) Ocito 5,97 21,08 5,27 12,51 0,6 3,6 36,1 3,6 11,09

Cort -2,7 -0,8 -1,4 -0,8 -1,1 -0,5 -0,1 -0,2 -0,95

Varia ↑/↓ ↑/↑ ↑/↓ ↑/↓ ↑/↓ ↑/↓ ↑/= ↑/=

Vídeo

(CAR) Ocito -7,63 -9,03 -5,63 -9,07 -4,7 -3,3 -3,2 -44,2 -10,84

Cort 0,7 -0,4 0,4 0,4 0,4 0,6 0,0 0,0 0,26

Varia ↓/= ↑/↓ ↑/= ↑/= ↑/= ↓/= ↓/= ↑/=

Vídeo

(RELAX

) Ocito 2,52 -1,7 -6,22 -0,35 -1,8 1,1 10,8 -13,9 -1,19

Cort 0,0 0,5 0,0 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,15

Nota. = antes-depois: Uma variação (vari) negativa ou positiva significa que o valor bruto de ocitocina (o;

ocito) ou cortisol (c; cort) aumentou ou diminuiu respectivamente. Unidade dos níveis de ocitocina (pg/ml) e de

cortisol (µg/dL).

Figura 6 - Média de cortisol e ocitocina em cada situação.

Nota. Média de todos os cães em cada situação. Para o cortisol multiplicou-se todas as

médias por 10 para melhor visualização.

51

Tabela 6 - Comparação das variações de ocitocina e de cortisol para cada cão, ocorridas e

esperadas para antes e depois do experimento em cada situação. Situação Esperado

♂/♀

(o/c)

Cão A♂

(o/c)

Cão

B♀

(o/c)

Cão

C♂

(o/c)

Cão

D♀

(o/c)

Cão

E ♂

(o/c)

Cão

F♀

(o/c)

Cão

G♂

(o/c)

Cão

H♀

(o/c)

Árvore

(AR)

↓/↑ ↑/↑ ↑/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑

Carinho

(CAR)

↑/↓ ↑/↓ ↑/↓ ↑/↓ ↑/↓ ↑/↑ ↑/↓ ↑/↓ ↑/=

Vídeo

(AR)

↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑ ↓/↑

Vídeo

(CAR)

↑/↓ ↑/↓ ↑/↑ ↑/↓ ↑/↓ ↑/↓ ↑/↓ ↑/≈ ↑/=

Vídeo

(RELAX)

=/= ↓/= ↑/↓ ↑/= ↑/= ↑/= ↓/= ↓/= ↑/=

1.6 Discussão

A principal questão abordada pelo estudo tenta elucidar se cães reagem de maneira

similar ao assistirem películas audiovisuais em televisão a quando eles vivenciam as mesmas

situações visualizadas. A proposta desse estudo visa observar se há a presença em cães dos

três componentes empáticos pré-definidos: afetivo; cognitivo; comportamental. A análise do

delineamento experimental sugere que o grupo de cães participante reage de forma similar em

ambas as condições: a de telespectador e quando vivenciam. De modo geral, a resposta

comportamental, apesar de ser limitada e sutil, pelo fato dos cães estarem contidos em guia e

coleira, foi condizente com as respostas fisiológicas apresentadas. Os indivíduos da pesquisa

foram capazes de empatizar com as situações observadas através de película audiovisual, uma

vez que houve tal sincronismo entre reações fisiológicas e comportamentais.

Os cães foram expostos a duas situações vivenciais e três situações virtuais que

geraram respostas fisiológicas com variações de ocitocina e de cortisol, além de respostas

comportamentais como mudanças de atitudes. Em uma das situações vivenciais o cão ficou

amarrado a uma árvore ou poste enquanto observava uma pessoa do seu convívio afastar-se.

Em circunstâncias como esta é esperado que o cão sinta angústia e desconforto por ser

deixado para trás por uma pessoa que ele tenha apreço (Tabela 3). Na avaliação

52

comportamental, metade dos cães permaneceu em estado de alerta e 1/4 deles tiveram reação

de ansiedade durante essa etapa (Tabela 3). Essas reações comportamentais ocorrem quando

cães estão incomodados ou querendo sair de alguma condição adversa. A análise estatística

assinalou diferenças significativas entre antes e depois da experimentação dos níveis de

ocitocina e de cortisol. Nessa situação a concentração de ocitocina variou de forma positiva

(37,4 pg/ml) e a concentração de cortisol variou de maneira negativa (-2,08 µg/dL) (Tabela

4). Ou seja, como esperado a concentração de ocitocina diminuiu e a de cortisol aumentou

significativamente (Figura 1). Apesar dessa condição não ser patológica, quando um cão é

exposto ao abandono, mesmo que temporário, ele pode desenvolver quadro esporádico de

SAS e apresentar alterações comportamentais, como ansiedade e estado constante de alerta, e

alterações fisiológicas, como aumento dos níveis plasmáticos de cortisol (Monteiro-Alves &

Titto, 2017). No estudo, os cães apresentaram sinais curtos, transitórios e não patológicos de

comportamento e alterações fisiológicas comuns a cães que sofrem de SAS na ausência de

seus tutores.

Na outra situação vivencial, o cão recebeu interação positiva em forma de carinho feita

por uma pessoa conhecida e com quem ele estabelecia bom relacionamento. As respostas

comportamentais foram todas positivas, uma vez que metade deles esteve receptível com a

interação feita, apenas um cão ficou em estado de alerta e o restante permaneceu relaxado

durante o processo. Como visto, estudos apontam que durante interação positiva com seus

tutores, em seções de carinho, por exemplo, os cães aumentam a concentração de ocitocina no

sangue. Ao mesmo tempo, essa interação diminui a concentração de cortisol plasmático e da

pressão sanguínea (Handlin et al., 2011). A concentração de ocitocina variou negativamente (-

25,70 pg/ml), enquanto a de cortisol variou positivamente (0,52 µg/dL). Em consonância com

a hipótese e a revisão bibliográfica, a concentração de ocitocina e cortisol aumento e diminuiu

respectivamente ao final da interação com o tutor (Figura 1).

Das cinco respostas, apenas na situação do cão assistir a um vídeo de outro cão

dormindo não houve diferença estatística significante com relação a antes e depois da

exposição, tanto para ocitocina, quanto para cortisol. Conforme apontado na Tabela 5, essa

situação era a esperada, uma vez que, no vídeo não ocorre nenhuma movimentação que

desperte interesse do cão telespectador. Desta forma, essa categoria de vídeo na pesquisa pode

ser considerada uma situação controle, o fato de não existir variação significativa dos níveis

de ocitocina e cortisol antes e depois da exposição naqueles animais, justifica-se. Um cão que

dorme e não se mexe ou vocaliza no vídeo, não provocou reações fisiológicas perceptíveis e

também não gerou uma reação de prazer, medo ou agressão nos cães telespectadores do

53

experimento. Concomitantemente a esse achado, a variação média de todos os cães para os

valores de ocitocina e de cortisol foi de -1,19 pg/ml e 0,15 µg/dL respectivamente (Tabela 4),

uma variação mínima e não significativa de aumento de concentração de ocitocina e

diminuição dos valores de cortisol (Figura 1). Com relação à resposta comportamental, todos

os cães durante a exposição do vídeo de outro cão dormindo expressaram estado de

relaxamento (Tabela 3), condizente como esperado para uma situação controle.

Em contrapartida, no vídeo em que os cães assistiram a outro cão amarrado em uma

árvore enquanto seu cuidador se afastava dele, houve diferença estatística significativa de

ambos os valores (ocitocina e cortisol) para antes e depois da exposição da película, que

confirma a hipótese alternativa (Tabela 5). A média da variação de ocitocina foi positiva no

valor de 11,09 pg/ml e a de cortisol foi negativa no valor de 0,95 µg/dL. Assim sendo, a

diminuição dos níveis de ocitocina e o aumento do cortisol (Figura 1) depois de assistirem ao

vídeo indicam que os cães se estressaram ao notar a condição do outro cão. Ao observar as

reações comportamentais ocasionadas pela exibição do material nota-se que a maioria dos

cães ou ficou em posição de alerta ou expressou sinais de ansiedade (50% e 25%

respectivamente), reações esperadas em indivíduos que assistem a outro em angústia. A

empatia nem sempre gera bem-estar ou sentimentos positivos, a própria ansiedade causada ao

obervar a dor do outro pode surgir da angústia em querer ajudar e não necessariamente por

sentir a angústia do outro, nesse caso o componente comportamental seria ativado ao invés do

componente afetivo. Os cães que participaram do projeto se sensibilizaram com a angústia do

cão ator no vídeo, apesar de não ser possível afirmar que esses cães tomariam uma atitude de

ajuda ao presenciar um evento desses ao vivo, é possível concluir que ao ver a angústia de

cão, mesmo que pela televisão, eles compartilham da dor do outro e respondem de forma

similar a de quando eles vivenciam a mesma situação, ocorrendo a ativação do componente

afetivo, cognitivo e comportamental da empatia.

Outra sequência de vídeo foi a de um cão a receber carinho de seu cuidador em um

ambiente calmo e silencioso. Para essa apresentação os cães reagiram de forma

estatisticamente significativa quanto à variação de ocitocina. Entretanto, a variação de cortisol

não mostrou diferença estatística significante, o esperado nesse caso seria a diminuição

significativa dos índices de cortisol sanguíneos. Contudo, esse resultado é aceito para o

objetivo do presente estudo, já que em uma interação prazerosa do outro a observação não

gera estresse no observador, podendo ou não diminuir seus níveis de cortisol sérico. Não

obstante, a média da variação de cortisol dos cães para antes e depois da mostra revelou-se

positiva (0,15 µg/dL), embora não significativa. Já a ocitocina variou de acordo com a

54

hipótese, com a média de variação entre antes e depois no valor de -10,84 pg/ml. Isso implica

que houve um aumento dos níveis de concentração de ocitocina após assistir ao vídeo. No que

tange a questão de respostas comportamentais a maioria dos cães obtiveram reações de acordo

com as variações fisiológicas. A maioria deles, 75%, permaneceu relaxado durante o

confronto audiovisual e 25% ou estavam receptivos ou estavam alerta, conotando prazer em

estar ali. Ao observar dois indivíduos trocarem afeto através do contato físico, pode gerar no

observador sensação de bem-estar, ao mesmo tempo ele pode compreender o que está

ocorrendo e ser afetado pela cena, ativando também nesse caso, os componentes cognitivos,

afetivos e comportamentais da empatia.

Em todas as situações testadas houve um sinergismo entre os dados fisiológicos e

comportamentais, isso confere ao estudo um embasamento teórico-prático satisfatório no que

diz respeito às respostas comportamentais e fisiológicas esperadas. Nas duas situações em que

se esperava uma resposta empática, todos os cães corresponderem satisfatoriamente. Ademais,

no modelo criado os receptores de ocitocina e de cortisol agiram de forma antagônica. Esse

fenômeno sugere haver uma forte relação regulatória central de liberação ou inibição desses

hormônios nos cães participantes. Assim sendo, ocorreu uma retroalimentação negativa entre

a liberação e a inibição de ocitocina e de cortisol, funcionando como hormônios regulatórios

um do outro.

O estudo apresentado sugere que em cães os fatores exógenos e endógenos que

desencadeiam variação hormonal estão associados a situações de estresse e relaxamento

vivenciadas por outro cão em ambiente controlado e virtual. Eles manifestaram alterações

comportamentais e hormonais equivalentes à condição presenciada e de forma equivalente a

manifestação comportamental do outro indivíduo. Desde o nascimento, filhotes de cães

procuram o contato com os seres humanos, essa interação precoce é fundamental para o

processo de socialização, criação de limites e apuração da interpretação de intenções do outro.

Saber interpretar o que o outro está passando e sentindo pode ser um dos processos evolutivos

que permitiu ao ancestral comum dos cães viver entre grupos de seres humanos e hoje ser o

animal doméstico de maior sucesso adaptativo.

1.7 Conclusão

Os resultados do presente estudo devem ser interpretados com cautela tendo em vista o

baixo número de participantes (n=8 cães). Ainda assim, as respostas comportamentais e

fisiológicas do cão são similares quando ele próprio vivencia uma situação e quando ele

55

observa em vídeo essa mesma situação vivenciada por outro cão. Portanto, o estudo evidencia

que cães que assistem televisão podem ser afetados cognitivamente e emocionalmente pelo

conteúdo exposto, tanto de forma positiva, quanto de forma negativa. Um dos pontos fortes

do estudo é o seu desenho inusitado, onde foram avaliadas respostas comportamentais e

fisiológicas de cães frente a imagens audiovisuais. As respostas dadas pelos cães foram

eficientes e permitiram a identificações de componentes da empatia nesses animais. O

componente afetivo foi identificado através da variação hormonal apresentada por eles em

cada situação, já o componente comportamental convergiu positivamente com o tipo de

exposição, mesmo com a limitação da oportunidade de manifestação plena do mesmo, pois os

cães estavam de coleira que limita o movimento. Levando em conta que o componente

comportamental seja resultante do entendimento do que o outro está vivenciando, nesse caso é

possível inferir que houve a ativação neurológica de componente cognitivo. Assim como em

seres humanos, os cães expostos a vídeo sofrem influência do conteúdo programático exposto.

O inovador delineamento da pesquisa destaca que as implicações resultantes da análise

podem ser úteis na abordagem clínica de cães diagnosticados com SAS, uma vez que a

televisão pode ser utilizada como uma ferramenta amenizadora da ausência do tutor por um

determinado período. Os mecanismos empáticos identificados em cães que assistem televisão

podem ajudar futuras pesquisas a respeito dos processos empáticos em animais e seres

humanos, hoje amplamente utilizados em estratégias adotadas por corporações a fim de

acessar um mercado específico de pessoas que assistem televisão. Uma ―TVcão‖ pode ser um

canal de comunicação com aqueles animais que passam longos períodos fechados em

residências, evitando problemas comportamentais ocasionados pelo abandono temporário.

56

2 ESTUDO II ESTUDO PILOTO DO ESTUDO III

Para a melhor elaboração das perguntas e tipos de respostas presentes no questionário

desenvolvido, um estudo piloto foi realizado com um grupo de estudantes e de profissionais

da área de medicina veterinária. Os resultados e críticas a respeito do questionário piloto

(Apêndice A) foram úteis para mudanças pontuais de redação e modelos de respostas as quais

contribuíram para o aperfeiçoamento da proposta em alcançar os objetivos desejados na

pesquisa. Os resultados do estudo piloto foram apresentados no 26th Human Behavior and

Evolution Society Conference com o título de: EMPATHY: A PRELIMINARY STUDY

ABOUT VETERINARIANS‘ POINT OF VIEW e encontram-se descritos no Apêndice D

deste documento.

57

3 ESTUDO III ANÁLISE SOBRE O PONTO DE VISTA DE GRUPOS DE

UNIVERSITÁRIOS SOBRE A EMPATIA COMPARATIVA EM CÃES

Além da abordagem da população em geral, abordar o ambiente universitário é ideal

para procurar por perguntas e respostas, uma vez que nesse ambiente a informação é mais

bem lapidada e as pessoas em sua maioria são questionadoras, além de grande parte da

população brasileira ter contato diretamente ou indiretamente com cães e outros animais

(IBGE, 2013). Devido à presença de diferentes áreas do conhecimento, a universidade, como

um sistema voltado para a aprendizagem e as relações interpessoais, constitui-se num

contexto por excelência para a construção e consolidação de conceitos. Através da

externalização de suas opiniões, alunos universitários podem contribuir para o entendimento

de processos biológicos e sociais. Nesse contexto e pelo fato da população de cães

domiciliados no Brasil ser estimada em 52,2 milhões, o que indica uma média de 1,8 cachorro

por domicílio em âmbito nacional (IBGE, 2013), é possível em um ambiente universitário

agregar informações combinadas sobre processos empáticos existentes em cães. Além do

mais, compreender como as pessoas entendem a capacidade cognitiva e empática de animais é

um importante passo na ajuda para decifrar algumas situações sobre o tema ainda ocultas no

meio científico. Pois, as pessoas podem contribuir com testemunhos a respeito de suas

percepções as quais podem não terem sido testadas empiricamente.

3.1 Objetivos e hipóteses

Levando em conta a natureza multidimensional da empatia, questionários são capazes

de acessar tanto a empatia cognitiva, como a afetiva (Van Noorden, Haselager, Cillessen &

Bukowski, 2015). O presente estudo tem como objetivo identificar a capacidade de três

populações universitárias, em perceber as habilidades empáticas e entender a empatia como

um processo intrínseco em alguns animais, especialmente cães. A hipótese é a de que a

maioria dos participantes tem ou já tiveram contato estreito com cães e outros animais e

apontam os cães como seres capazes de ―empatizar‖.

3.2 Materiais e métodos

3.2.1 Participantes

Foram abordados (402) estudantes universitários matriculados em diferentes cursos de

nível superior da Universidade de Brasília (UnB). Os entrevistados foram categorizados em

58

três grupos, correlacionados com as grandes áreas do conhecimento (biológicas; tecnológicas;

sociais). Na UnB existe uma população ativa de 34.577 alunos de graduação distribuída nas

três grandes áreas sendo: 6.800 (19,67%) alunos das ciências biológicas; 12.430 (35,95%)

alunos das ciências tecnológicas; 15.347 (44,38%) alunos das ciências sociais. Onde 48,65%

são do sexo masculino e 51,35% do sexo feminino (Universidade de Brasília, 2017).

3.2.2 Instrumentos

Foi aplicado um questionário estruturado com 32 perguntas (Apêndice B). A

disponibilidade do questionário ocorreu de forma eletrônica, através da rede mundial de

computadores (Internet).

3.2.3 Procedimentos

Para identificar a capacidade de diferentes populações em perceber as habilidades

empáticas em animais, principalmente em cães, foi proposta a criação de um questionário.

Para isso, um estudo piloto (Apêndice D) foi aplicado em um grupo de médicos veterinários

para adequar as perguntas e opção de respostas do questionário sugerido. Após os resultados

encontrados, o questionário inicial (Apêndice A) foi modificado (Apêndice B). No estudo

piloto ficou evidente que as perguntas e opção de respostas abordavam o respondente de

forma direta (Apêndice A). Sendo assim, após a reformulação das perguntas e opções de

resposta, ambas passaram a ter um caráter indireto (Apêndice B).

A pesquisa foi submetida ao comitê de ética com identificação

CAAE: 57761416.1.0000.5260 e foi aprovado pelo comitê de ética da UERJ - Instituto de

Medicina Social/Universidade do Estado do Rio de Janeiro no dia 17/12/2016. Durante os

dias 22 de novembro de 2017 e 04 de fevereiro de 2018 o formulário em formato virtual

esteve disponível através de um endereço eletrônico (link:

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfqZ0B0GLV71QWpH9pKwlR3mXTEyeaPysjP

IEVyf7SFAF5x9A/viewform?c=0&w=1). Para contemplar pessoas do universo da UnB

páginas sociais da instituição foram identificada na rede social Facebook, entre elas:

(https://www.facebook.com/groups/grupounb/;

https://www.facebook.com/groups/568948233298614/;

https://www.facebook.com/groups/106318072794991/;

59

https://www.facebook.com/groups/1454595311509796/;

https://www.facebook.com/groups/162857807113999/).

O endereço eletrônico com o formulário foi enviado para os participantes de duas

maneiras: através da publicação aberta do formulário em cada grupo virtual específico da

UnB e via mensagem privada e individual para os integrantes dos grupos através da

ferramenta de mensagens do Facebook. No cabeçalho do formulário havia o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice E). Na publicação aberta qualquer

membro do grupo pôde acessar o link com o formulário. Entretanto, aqueles formulários que

constavam conclusão do curso superior ou não início de curso foram eliminados da

amostragem. Portanto, 42 formulários foram eliminados da análise, pois 41 deles declararam

ter concluído o curso de graduação e um declarou não ter iniciado. A escolha do membro do

grupo para o envio do formulário via mensagem privada ocorreu de forma aleatória. Para o

envio da mensagem com o link o participante deveria ser aluno regular de graduação da UnB,

não houve a preocupação com qual curso específico o mesmo estava matriculado. Através da

auto-declaração do perfil do membro constatou-se que o mesmo era aluno regular de

graduação da UnB. Nenhum missing data foi constatado nessa forma de envio, ou seja, todos

os alunos que responderam eram alunos de graduação regular da UnB. Entretanto, foi enviado

mensagem para 1017 alunos de graduação regular com um retorno de resposta de 303

formulários. Tanto no envio individual, quanto na publicação aberta nos grupos, ao enviar o

endereço virtual para o questionário frisou-se que só deveria responder se o mesmo fosse

aluno regular de graduação da UnB. Para definir a quantidade de mensagens privadas

enviadas para os membros do grupo, foi realizado um cálculo de amostra (n=381) baseado na

população universitária em nível graduação da UnB. Quando se constatou que o número de

formulários chegou a 381 alunos regulares respondentes, o formulário on-line foi retirado da

rede.

3.3 Delineamento experimental

Para testar se houve correspondência estatística significante entre as respostas dadas

pela unidade respondente, foi aplicado o teste estatístico qui-quadrado de independência (χ²).

Exceção foram os itens com possibilidade de múltiplas respostas. As variáveis independentes

trabalhadas foram as seguintes: sexo; idade; grande área do conhecimento; período

acadêmico; ter ou não animal de estimação; ter ou não cão como animal de estimação; ter ou

não sido atacado por um cão. Para saber se houve diferença estatística significativa entre as

60

variáveis independentes citadas, os seguintes tratamentos foram empregados: para aquelas

perguntas com possibilidade de respostas escalonadas, tipo Likert, foi realizado o teste não-

paramétrico Mann-Whitney para duas amostras independentes ou Kruskal-Wallis para k

amostras independentes. Optou-se pelo teste de Mann-Whitney para analisar amostras de

repostas do tipo dicotômicas. Para as demais, com múltiplas opções de respostas, empregou-

se o Coeficiente de Pearson, após definido os conjuntos de múltiplas respostas.

3.4 Resultados

A maioria dos respondentes era do sexo feminino, 59,5% (Figura 6) e tinha idade entre

17 e 24 anos, 81,8% (Figura 7). No que diz respeito a grande área do conhecimento, 39,6%

frequentam cursos da área Biológica, 34,1% da área Sociais e 26,4% da área Tecnológica

(Figura 8). Mais da metade, 66,2%, cursa até o 6º período acadêmico (Figura 9). Quanto a já

ter possuído cães, 91,8% dos entrevistados afirmam que sim (Figura 10), enquanto 40,3%

relatam já ter sofrido ataque de cão (Figura 11). Outros animais já fizeram parte do convívio

de 94,3% dos respondentes. A maior parte dos participantes acredita que cães tem uma alta ou

média capacidade de sentir o que os seus tutores sentem, 51,5% e 41,8% respectivamente

(Figura 12). O teste Qui-quadrado para cada item apontou diferença estatística significativa

para todas as questões analisadas (Tabela 67).

Figura 7 - Representação proporcional dos respondentes e sexo.

61

Figura 8 - Representação proporcional dos respondentes e faixa etária.

Figura 9 - Representação proporcional dos respondentes e período

letivo acadêmico em curso.

Figura 10 - Representação proporcional dos respondentes e período letivo

acadêmico em curso.

62

Figura 11 - Representação proporcional dos respondentes já ter

possuído cão como animal de estimação.

Figura 12 - Representação proporcional dos respondentes de ter

sofrido ataque de algum cão.

Figura 13 - Representação proporcional dos respondentes e grau que

cães empatizam com pessoas.

63

Tabela 7 - Diferença estatística para

opções de respostas dentro de cada

pergunta para todos os participantes

(Qui-quadrado). (χ

2) geral df (p) geral

Q1 14,368 1 0,000*

Q2 708,806 3 0,000*

Q3 10,582 2 0,005*

Q4 73,701 11 0,000*

Q5 315,264 1 0,000*

Q6 280,836 1 0,000*

Q7 15,134 1 0,000*

Q8 586,219 3 0,000*

Q9 481,781 3 0,000*

Q10 283,846 4 0,000*

Q11 500,015 4 0,000*

Q12 195,338 4 0,000*

Q13 765,836 4 0,000*

Q14 1022,896 3 0,000*

Q15 193,746 4 0,000*

Q22 1012,453 4 0,000*

Q23 936,209 4 0,000*

Q24 353,000 4 0,000*

Q25 284,567 4 0,000*

Q26 336,746 5 0,000*

Q27 171,821 5 0,000*

Q28 96,179 5 0,000*

Q29 182,328 5 0,000*

Q30 171,791 5 0,000*

Q31 186,955 5 0,000*

Q32 311,015 3 0,000*

Nota. O (*) representa valores com significância

estatística com p<0,05. As Questões de 1 a 33

podem ser identificadas no Apêndice B.

A preferência dos universitários participantes é por cão sem raça definida, 77,1%; e

com função de companhia, 69,9%. Cães de abrigo e cães de rua são sofredores para 61,1% e

90,8% dos respondentes respectivamente, sendo que 38,3% discordam parcialmente que cães

de abrigo sofram mais que cães de rua e 32,8% deles não concordam e nem discordam com

essa indagação. Dos participantes, 89,8% estão dispostos a adoção de cães abandonados e

98,2% não concordam com o ato de abandono de animais, sendo que apenas 0,5% crê que o

abandono é aceitável a depender do motivo.

Com relação à eutanásia de animais feita de forma ética e quando indicada por um

profissional da área, houve uma predominância de concordância dos estudantes, 73,4%. Ao

ver um cão de rua ferido ou magro 82,8% das pessoas responderam que ficam totalmente

angustiadas perante a situação e 12,9% ficam parcialmente, totalizando 95,7% de respostas de

64

indivíduos de sentimento de angústia. Em contrapartida, 80,1% dos universitários ficam

totalmente felizes ou se sente bem ao ver um filhote de cão brincalhão, enquanto 15,2%

parcialmente feliz ou se sentindo bem, totalizando 95,3% de respostas de indivíduos que tem

bons sentimentos nessa situação. Para 84,6% deles, cães são capazes de absorver e

compartilhar dos mesmos sentimentos que os seus tutores estão sentindo, assim como, para

com outro cão, 73,6%.

Mais da metade dos entrevistados acreditam que cães são mais capazes que outros

animais em sentir o mesmo que pessoas quando comparados com peixes (70,9%) e bovinos

(55,8%) (Tabela 8) (Figura 13). Quando a comparação foi com felinos, houve um equilíbrio

entre as respostas, 30,7% discordam, 25,4% não concordam e nem discordam e 42,1%

concordam (Tabela 8) (Figura 14). Para o restante dos animais (suínos; papagaios; equinos)

há um maior número de pessoas que não concorda e nem discorda dessa capacidade

comparado com as outras opções de resposta (Tabela 8).

Tabela 8 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães serem mais capazes que outros

animais em sentir o mesmo que pessoas sentem.

Peixes

(%)

Bovinos

(%)

Suínos

(%)

Papagaios

(%)

Equinos

(%)

Felinos

(%)

Discordo totalmente 3,2 8,7 10,9 8,5 12,7 16,4

Discordo parcialmente 3,2 7,0 7,0 10,0 11,2 14,4

Não concordo nem

discordo 20,4 26,4 35,8 34,1 35,6 25,4

Concordo parcialmente 28,1 28,9 23,9 27,4 25,4 26,4

Concordo totalmente 42,8 26,9 20,4 18,4 13,4 15,7

Nenhum dos dois é capaz 2,2 2,2 2,0 1,7 1,7 1,7

Figura 14 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães serem

mais capazes que outros animais em sentir o mesmo que pessoas sentem.

65

Figura 15 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães serem

mais capazes que gatos em sentir o mesmo que pessoas sentem.

Figura 16 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães

perceberem antecipadamente o retorno inesperado de seus tutores

Figura 17 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães

bocejarem ao ver um ser humano bocejar.

66

Figura 18 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães consolarem pessoas.

Figura 19 - Perspectiva dos respondentes com relação aos cães que se

alimentam apenas na presença de seus tutores.

Figura 20 - Perspectiva dos respondentes com relação a uma cadela que

leva alimento para outros animais de seu convívio.

67

Figura 21 - Perspectiva dos respondentes com relação a cães que salvam

pessoas de ataques de outros cães ou animais.

Figura 22 - Perspectiva dos respondentes com relação capacidade de

animais em sentir o mesmo que pessoas.

Houve diferenças estatísticas quando as variáveis independentes analisadas foram: o

sexo; ter animal de estimação; ter cão de estimação; ter sido atacado (Tabela 7). Ao analisar a

amostra com o sexo como variável independente, notou-se diferenças estatísticas significantes

nos seguintes itens (Tabela 9): faixa etária; possuir ou ter possuído algum animal de

estimação; tipo de raça de cão preferida; cães de rua são sofredores; adotaria um cão se tiver

condições para mantê-lo; abandonar um cão na rua é aceitável; é correta a prática de eutanásia

de animais; sentir angústia ao ver um cão magro na rua; cães serem capazes de absorver e

compartilhar dos sentimentos de seus tutores.

68

Tabela 9 - Sexo como variável independente. Sexo Feminino (%) Masculino (%)

Faixa Etária

De 17 a 24 anos 63,20 36,80

De 25 a 35 anos 45,60 54,40

De 36 a 50 anos 36,40 63,60

A partir de 51 anos 20,00 80,00

Ter Animal de Estimação

Ter 60,2 39,8

Não ter 51,5 48,5

Preferência tipo de cão

De raça 45,5 54,5

Sem raça definida (vira-lata) 53,1 46,9

sem Preferência 61,6 38,4

não gosto de cães 68,8 31,3

Cão de Rua Sofre

Discordo totalmente 33,3 66,7

Discordo parcialmente 50 50

Não concordo nem discordo 45 55

Concordo parcialmente 55,7 44,3

Concordo totalmente 63,7 36,3

Adotaria um cão

Discordo totalmente 66,7 33,3

Discordo parcialmente 37,5 62,5

Não concordo nem discordo 38,1 61,9

Concordo parcialmente 45,2 54,8

Concordo totalmente 64,2 35,8

Eutanásia de animais é correto

Discordo totalmente 68,2 31,8

Discordo parcialmente 64,5 35,5

Não concordo nem discordo 63,0 37,0

Concordo parcialmente 63,9 36,1

Concordo totalmente 51,7 48,3

Sinto angústia com cão sofrendo

Discordo totalmente 0,0 100,0

Discordo parcialmente 20,0 80,0

Não concordo nem discordo 50,0 50,0

Concordo parcialmente 38,5 61,5

Concordo totalmente 64,0 36,0

Cães podem sentir o que o tutor sente

Discordo totalmente 50,0 50,0

Discordo parcialmente 58,3 41,7

Não concordo nem discordo 50,0 50,0

Concordo parcialmente 56,2 43,8

Concordo totalmente 66,5 33,5

O fato de possuir ou ter possuído animal de estimação, como variável independente,

indicou diferenças significantes nas afirmações a seguir (Tabela 10): sexo (visto

anteriormente); possuir ou ter possuído cão como animal de estimação; tipo de raça de cão

preferida; cães de abrigo sofrer mais que cães de rua; adotaria um cão se tiver condições para

mantê-lo; abandonar um cão na rua é aceitável; é correta a prática de eutanásia de animais;

sentir-se mais leve ou feliz ao ver um filhotinho de cachorro brincalhão; cães quando veem

outro cão feliz, triste ou com medo, são capazes de absorver e também apresentar esses

estados; cães mais do que gatos são capazes de sentir o mesmo que pessoas estão sentindo.

69

Tabela 10 - Possuir ou não algum animal de estimação como variável independente.

Possuir animal de estimação Possui

(%)

Não possui

(%)

Ter cão de estimação

Ter 98,6 1,4

Não ter 45,5 54,5

Preferência tipo de cão

Companhia 95,0 5,0

Guarda 90,5 9,5

Pastoreio 100,0 0,0

Sem função específica 92,8 7,2

Cães de Abrigos sofrem + que de Rua

Discordo totalmente 96,0 4,0

Discordo parcialmente 98,1 1,9

Não concordo nem discordo 91,7 8,3

Concordo parcialmente 88,6 11,4

Concordo totalmente 66,7 33,3

Adotaria um cão

Discordo totalmente 75,0 25,0

Discordo parcialmente 62,5 37,5

Não concordo nem discordo 90,5 9,5

Concordo parcialmente 95,2 4,8

Concordo totalmente 96,0 4,0

Eutanásia de animais é correto

Discordo totalmente 100,0 0,0

Discordo parcialmente 100,0 0,0

Não concordo nem discordo 96,3 3,7

Concordo parcialmente 94,4 5,6

Concordo totalmente 91,4 8,6

Sinto bem com filhotinho brincalhão

Discordo totalmente 66,7 33,3

Discordo parcialmente 100,0 0,0

Não concordo nem discordo 76,9 23,1

Concordo parcialmente 91,8 8,2

Concordo totalmente 95,7 4,3

Cães podem sentir o que o tutor sente

Discordo totalmente 100,0 0,0

Discordo parcialmente 82,4 17,6

Não concordo nem discordo 90,7 9,3

Concordo parcialmente 95,8 4,2

Concordo totalmente 96,2 3,8

Cães + que Gatos sentem o que as pessoas sentem

Discordo totalmente 98,5 1,5

Discordo parcialmente 94,8 5,2

Não concordo nem discordo 96,1 3,9

Concordo parcialmente 94,3 5,7

Concordo totalmente 87,3 12,7

Nenhum dos dois é capaz 85,7 14,3

Por fim, houve diferenças estatísticas significativas entres os participantes no tema ter

sofrido ataque de cão, como variável independente, em (Tabela 12): tipo de função de cão

preferida; cães de rua ser sofredores; adotaria um cão se tiver condições para mantê-lo; sentir

angústia ao ver um cão magro na rua.

70

Tabela 11 - Ter ou não sofrido algum ataque de cão como variável independente. Ser atacado por cão Sofreu ataque

(%)

Não sofreu ataque

(%)

Função de cão preferida

Companhia 36,3 63,7

Guarda 61,9 38,1

Pastoreio 33,3 66,7

Sem função específica 47,4 52,6

Cães de Rua são sofredores

Discordo totalmente 100,0 0,0

Discordo parcialmente 57,1 42,9

Não concordo nem discordo 65,0 35,0

Concordo parcialmente 41,2 58,8

Concordo totalmente 35,9 64,1

Adotaria um cão

Discordo totalmente 66,7 33,3

Discordo parcialmente 50,0 50,0

Não concordo nem discordo 57,1 42,9

Concordo parcialmente 43,5 56,5

Concordo totalmente 37,1 62,9

Sinto angústia com cão sofrendo

Discordo totalmente 100,0 0,0

Discordo parcialmente 40,0 60,0

Não concordo nem discordo 90,0 10,0

Concordo parcialmente 42,3 57,7

Concordo totalmente 38,1 61,9

Tabela 12 - Diferenças estatísticas quando as variáveis independentes são: o sexo; ter animal

de estimação; ter cão de estimação; ter sido atacado. (Mann-Whitney). Z

(sexo)

p

(sexo)

Z

(estimação)

P

(estimação)

Z

(ter cão)

P

(ter cão)

Z

(ataque)

p

(ataque)

Q1 -2,479 0,013* -0,968 0,333 -0,685 0,493

Q2 -3,344 0,001* -0,603 0,547 -1,460 0,144 -1,827 0,068

Q3 -1,829 0,067 -1,752 0,080 -1,523 0,128 -0,569 0,570

Q4 -0,351 0,726 -1,392 0,164 -1,575 0,115 -1,120 0,263

Q5 -2,479 0,013* -12,589 0,000* -0,555 0,579

Q6 -0,968 0,333 -12,589 0,000* -0,260 0,795

Q7 -0,685 0,493 -0,555 0,579 -0,260 0,795

Q8 -2,233 0,026* -3,261 0,001* -2,191 0,028* -0,255 0,799

Q9 -1,412 0,158 -0,924 0,355 -0,313 0,755 -2,315 0,021*

Q10 -0,287 0,774 -0,003 0,998 -0,286 0,775 -1,578 0,115

Q11 -2,218 0,027* -0,886 0,376 -0,393 0,695 -2,648 0,008*

Q12 -0,245 0,806 -2,925 0,003* -1,170 0,242 -1,270 0,204

Q13 -3,198 0,001* -3,021 0,003* -1,893 0,058 -2,418 0,016*

Q14 -3,093 0,002* -3,367 0,001* -0,846 0,398 -1,929 0,054

Q15 -2,278 0,023* -2,367 0,018* -0,708 0,479 -1,721 0,085

Q22 -4,065 0,000* -1,671 0,095 -1,124 0,261 -2,121 0,034*

Q23 -1,754 0,079 -2,561 0,010* -2,128 0,033* -0,237 0,812

Q24 -2,305 0,021* -1,646 0,100 -1,696 0,090* -1,069 0,285

Q25 -0,402 0,687 -2,135 0,033* -1,372 0,170 -1,340 0,180

Q26 -0,993 0,321 -0,868 0,385 -1,034 0,301 -0,653 0,514

Q27 -0,397 0,691 -0,315 0,753 -0,894 0,371 -0,519 0,604

Q28 -0,546 0,585 -2,603 0,009* -1,181 0,238 -0,539 0,590

Q29 -0,578 0,563 -0,277 0,782 -0,119 0,905 -0,129 0,898

Q30 -1,699 0,089 -1,012 0,311 -1,375 0,169 -0,873 0,382

Q31 -1,466 0,143 -1,364 0,172 -0,618 0,537 -0,305 0,760

Q32 -1,658 0,097 -1,204 0,229 -1,781 0,075 -1,009 0,313

Nota. O (*) representa valores com significância estatística com p<0,05.

71

A análise da variável independente grande área do conhecimento resultou em

diferença significativa para as variáveis: sexo; idade; cães de abrigo são sofredores; cães de

rua são sofredores; concordar com eutanásia de animais feita quando necessária e por um

profissional da área (Tabela 14). A área tecnológica teve mais respondentes homens, 39,9%,

que as outras áreas. Já para mulheres, esse fenômeno ocorreu na área biológica, 51,5%

(Tabela 13). Alunos da faixa etária 17 a 24 anos cursam em sua maioria na área biológica,

enquanto as outras faixas possuem concentração nos cursos de áreas sociais, 49,1% (de 25 a

35 anos) e 72,7%. (de 36 a 50 anos) (Tabela 13). Quando se questionou se cães de abrigo são

sofredores, apenas um item, concordo totalmente, concentrou as respostas na área social, para

as demais a concentração esteve na área biológica (Tabela 13). Para as respostas sobre cão ser

sofredor, a maioria que discorda totalmente é da área tecnológica, discordo parcialmente teve

igual peso para biológicas e sociais, não concordo e nem discordo encontra-se também na

tecnológica e concordo parcialmente e totalmente concentraram na área biológica. A opinião

sobre achar correta a eutanásia em animais concentrou-se em todos os itens na área biológica.

Entretanto, no item concordo totalmente houve um equilíbrio entre as áreas tecnológicas,

biológicas e sociais, 34,4%, 32,5% e 33,1% respectivamente (Tabela 13).

Tabela 13 - Grandes áreas do conhecimento como variável independente. Tecnológicas Biológicas Sociais

Sexo

Feminino 17,2 51,5 31,4

Masculino 39,9 22,1 38,0

Idade

De 17 a 24 anos 26,1 43,5 30,4

De 25 a 35 anos 29,8 21,1 49,1

De 36 a 50 anos 0,0 27,3 72,7

A partir de 51 anos 60,0 20,0 20,0

Cães de abrigo são

sofredores

Discordo totalmente 28,6 71,4 0,0

Discordo parcialmente 31,6 45,6 22,8

Não concordo nem discordo 30,4 35,9 33,7

Concordo parcialmente 23,0 41,2 35,8

Concordo totalmente 26,2 26,2 47,6

Cães de rua são sofredores

Discordo totalmente 66,7 0,0 33,3

Discordo parcialmente 28,6 35,7 35,7

Não concordo nem discordo 55,0 20,0 25,0

Concordo parcialmente 28,2 38,9 32,8

Concordo totalmente 22,2 42,3 35,5

Eutanásia em animais é

correto

Discordo totalmente 9,1 54,5 36,4

Discordo parcialmente 22,6 45,2 32,3

Não concordo nem discordo 31,5 35,2 33,3

Concordo parcialmente 19,4 45,1 35,4

Concordo totalmente 34,4 32,5 33,1

72

Tabela 14 - Diferença estatística para opções de respostas quando as variáveis independentes

são: idade; grande área do conhecimento; período acadêmico. (Kruskal-Wallis). (χ

2)

Idade

df P

idade

(χ2)

Área

df p

área

(χ2)

Período

df p

Período

Q1 12,098 3 0,007* 41,27

9

2 0,000* 22,237 11 0,023*

Q2 14,13

8

2 0,001* 52,958 11 0,000*

Q3 11,892 3 0,008* 10,071 11 0,524

Q4 28,120 3 0,000* 0,631 2 0,730

Q5 3,145 3 0,370 3,593 2 0,166 15,955 11 0,143

Q6 2,442 3 0,486 2,365 2 0,306 12,501 11 0,327

Q7 4,502 3 0,212 0,782 2 0,676 10,472 11 0,488

Q8 2,497 3 0,476 0,978 2 0,613 5,133 11 0,925

Q9 4,325 3 0,228 4,361 2 0,113 9,473 11 0,578

Q10 0,912 3 0,823 7,503 2 0,023* 6,468 11 0,840

Q11 6,374 3 0,095 7,031 2 0,030* 16,354 11 0,129

Q12 9,291 3 0,026* 1,992 2 0,369 13,577 11 0,257

Q13 1,432 3 0,698 3,922 2 0,141 15,504 11 0,161

Q14 2,396 3 0,494 1,972 2 0,373 5,554 11 0,901

Q15 2,458 3 0,483 6,633 2 0,036* 14,444 11 0,209

Q22 0,234 3 0,972 4,805 2 0,090* 8,901 11 0,631

Q23 0,903 3 0,825 4,066 2 0,131 6,347 11 0,849

Q24 7,196 3 0,066 3,175 2 0,204 12,064 11 0,359

Q25 1,328 3 0,722 3,576 2 0,167 4,195 11 0,964

Q26 1,038 3 0,792 1,283 2 0,527 5,76 11 0,889

Q27 2,596 3 0,458 3,933 2 0,140 10,341 11 0,500

Q28 2,966 3 0,397 9,702 2 0,008* 21,238 11 0,031*

Q29 2,068 3 0,558 3,470 2 0,176 8,38 11 0,679

Q30 1,373 3 0,712 0,333 2 0,847 24,746 11 0,010*

Q31 3,599 3 0,308 0,903 2 0,637 11,665 11 0,389

Q32 6,405 3 0,093 12,03 2 0,002* 13,93 11 0,237

Nota. O (*) representa valores com significância estatística com p<0,05.

Ao analisar as diferença estatística para opções de respostas múltiplas, foi encontrada

significância em (Tabela 15): sexo; idade; grande área do conhecimento; período acadêmico;

ter animal de estimação; ter cão de estimação; ter sido atacado por cão. A respeito da opinião

de mulheres e homens a sobre os motivos que levam um cão a bocejar após ver uma pessoa

bocejar indicou diferença significante. A diferença pode estar nas respostas (Tabela 16): as

pessoas se fazem compreendidas pelos cães através do bocejo (73,1% mulheres e 26,9%

homens); essa reação é aleatória, não tem relação direta com o bocejo humano (79,2%

mulheres e 20,8% homens); nenhum fator específico (14,3% mulheres e 85,7% homens).

Mulheres e homens também discordam dos motivos que levam uma cadela a dividir e levar

comida para outros animais do seu convívio, nas prováveis afirmações (Tabela 16): a cadela

entendeu e sentiu que os animais do seu convívio estavam com fome e precisavam de

alimento (65,4% mulheres e 34,6% homens); a cadela tem predisposições inatas para a

realização de ações intuitivas, sem reflexão (63,7% mulheres e 36,3% homens). Outra

diferença está na resposta nenhum fator específico (0% mulheres e 100% homens). Por fim,

73

eles também discordam dos motivos que levam alguns cães a perceberem o retorno de seus

tutores para casa de forma antecipada, sendo nas afirmações a seguir o local das prováveis

diferenças: os cães podem entender racionalmente quando seu dono está retornando para casa

(63,8% mulheres e 36,2% homens); os cães podem sentir que seu dono está retornando para

casa (69,5% mulheres e 30,5% homens); nenhum fator específico (0% mulheres e 100%

homens).

Tabela 15 - Diferença estatística para opções de respostas múltiplas, quando variáveis

independentes: sexo; idade; grande área do conhecimento; período acadêmico; ter animal de

estimação; ter cão de estimação; ter sido atacado por cão. Sexo Idade Grande

área

Período

letivo

Animal

estimação

Cão de

estimação

Ataque

de cão

Bocejar (χ2) 18,329 14,774 16,997 82,177 13,571 9,735 7,858

Df 8 24 16 88 8 8 8

P

0,019* 0,927 0,386 0,655 0,094 0,284 0,447

Dividir (χ2) 17,295 28,743 13,288 90,787 16,519 10,432 18,591

Df 9 27 18 99 9 9 9

P

0,044* 0,373 0,774 0,710 0,057 0,317 0,029*

Comer (χ2) 10,788 14,312 18,347 59,246 16,132 18,332 7,932

Df 7 21 14 77 7 7 7

P

0,148 0,856 0,191 0,934 0,024* 0,011 0,339

Empatizar (χ2) 16,875 22,722 12,476 103,601 23,271 12,935 9,207

Df 9 27 18 99 9 9 9

P 0,051 0,700 0,822 0,356 0,006* 0,166 0,418

Heroísmo (χ2) 10,183 26,756 22,298 124,868 30,437 13,433 11,613

Df 9 27 18 99 9 9 9

P

0,336 0,477 0,219 0,040* 0,000* 0,144 0,236

Retornar (χ2) 21,344 21,634 16,111 84,857 23,147 19,141 11,597

Df 8 24 16 88 8 8 8

P

0,006* 0,601 0,445 0,575 0,003* 0,014 0,170

Animais (χ2) 3,412 22,089 19,272 77,618 19,361 15,240 12,145

Df 9 27 18 99 9 9 9

P

0,946 0,733 0,375 0,945 0,022* 0,085 0,205

Nota. O (*) representa valores com significância estatística com p<0,05.

Tabela 16 - Sexo como variável independente nas questões de múltiplas respostas. Mulheres

(bocejo%)

Homens

(bocejo%)

Mulheres

(cão divide%)

Homens

(cão divide%)

Mulheres

(retorno%)

Homens

(retorno%)

1 57,1 42,9 53,5 46,5 63,8 36,2

2 56,9 43,1 65,4 34,6 69,5 30,5

3 73,1 26,9 59,0 41,0 57,1 42,9

4 61,5 38,5 54,1 45,9 59,3 40,7

5 57,1 42,9 63,7 36,3 62,0 38,0

6 79,2 20,8 55,6 44,4 60,0 40,0

7 14,3 85,7 0,0 100,0 0,0 100,0

8 61,5 38,5 52,5 47,5 45,2 54,8

Nota. Os números da primeira coluna representam as possíveis respostas para as perguntas realizadas no

questionário (Apêndice C).

74

Para as respostas dos entrevistados sobre possuir ou ter possuído algum animal de

estimação em algum momento da vida houve diferença estatística para todas as perguntas com

opção de múltiplas respostas (Tabela 17).

Tabela 17 - Ter animal de estimação como variável independente nas questões de múltiplas

respostas. Sim(%/N)

(comer)

Não

(%)

comer

Sim(%/N)

(empatia)

Não

(%)

empa

Sim(%/N)

(herói)

Não

(%)

herói

Sim(%/N)

(retorno)

Não

(%)

retor

Sim(%/N)

(animais)

Não

(%)

anim

1 96,9/125 3,1 98,0/96 2,0 95,1/116 4,9 98,3/57 1,7 88,0/22 12,0

2 97,3/181 2,7 96,5/223 3,5 96,7/266 3,3 97,6/163 2,4 94,3/150 5,7

3 95,2/100 4,8 96,1/146 3,9 93,9/123 6,1 96,4/27 3,6 93,9/62 6,1

4 93,5/43 6,5 93,3/42 6,7 93,8/45 6,3 95,2/260 4,8 95,8/273 4,2

5 87,5/43 12,5 94,4/68 5,6 97,9/92 2,1 94,1/223 5,9 95,8/229 4,2

6 100,0/14 0,0 93,1/27 6,9 97,4/37 2,6 98,5/64 1,5 95,1/351 4,9

7 88,9/10 11,1 100,0/2 0,0 100,0/1 0,0 66,7/2 33,3 96,3/131 3,7

8 0,0/72 0,0 81,1/30 18,9 80,5/3 19,5 83,9/26 16,1 96,4/135 3,6

Nota. Os números da primeira coluna representam as possíveis respostas para as perguntas realizadas no

questionário (Apêndice C).

A diferença entre quem já foi atacado por um cão e de quem não foi atacado foi

encontrada na situação em que uma cadela retorna para casa com comida e a divide com

outros animais do seu convívio. Os animais de seu convívio se fizeram compreendidos pela

cadela através de sua situação de fome (30% atacado e 70% não-atacado); a cadela tem a

intenção de estocar alimento para ela, mas é surpreendida pelos animais de seu convívio

(27,8% atacado e 72,2% não-atacado); nenhum fator específico (100% atacado).

Tabela 18 - Ter sofrido ataque de cão como variável

independente nas questões de múltiplas respostas

sobre a cadela que divide alimento.

Foi atacado (%) Não foi atacado (%)

1,00 47,5 52,5

2,00 38,5 61,5

3,00 30,0 70,0

4,00 36,7 63,3

5,00 33,0 67,0

6,00 27,8 72,2

7,00 100,0 0,0

8,00 47,5 52,5

Nota. Os números da primeira coluna representam as possíveis

respostas para as perguntas realizadas no questionário

(Apêndice C).

75

Quando as variáveis independentes foram: faixa etária; grande área do conhecimento

do curso de graduação; se possui ou já possuiu cão como animal de estimação. Não houve

diferença estatística entre as múltiplas opções de respostas (Tabela 15).

3.5 Discussão

Por meio dos resultados é possível traçar o perfil dos respondentes. A predominância é

de mulheres, com quase 20% a mais que homens (Figura 6). A maioria tem idade entre 17 e

24 anos (Figura 7), são estudantes de cursos da área biológica (Figura 8) e frequentam do 2°

ao 5° semestre de faculdade (Figura 9). Mais de 90% dos participantes já tiveram cães (Figura

10) ou outros animais de estimação. Quase a metade dos estudantes alega ter sofrido algum

tipo de ataque de cão (Figura 11). Os respondentes são jovens e familiarizados com animais

com função de estimação, ou seja, há um conhecimento de causa através de rotina criada e

comunicação interespecífica com animais. Deste modo, as análises comparativas realizadas

levaram em conta as variáveis que compõe esse perfil dos participantes (sexo; idade; curso;

período; ter ou não cães; ter ou não outros animais domésticos; ter sofrido ou não ataque de

cão).

A maior parcela dos estudantes acredita que cães possuem um alto grau de empatia

(Figura 12). Ao levar em consideração que um médio grau é satisfatório, o conjunto chega a

93%. Entre pessoas que convivem com cães ou outros animais é comum relatos de que eles

podem sentir e racionalizar o que outros sentem. Cães costumam consolar seus tutores quando

eles estão tristes ou aflitos, eles descrevem que seus cães se aproximam quando eles choram e

procuram o contato físico, ato que remete a ideia de consolar. Novos estudos a respeito de

comportamentos pró-sociais em animais dão embasamento empírico para essas crenças.

Diferentes pesquisas sugerem que cães são capazes de interpretar a intenção de seres

humanos, além de seguir dicas não verbais por apontamento ou olhar, por exemplo. Para tal,

os participantes acreditam que cães podem absorver e compartilhar dos mesmos sentimentos

que os seus tutores estão sentindo em determinados momentos, assim como são capazes do

mesmo com relação a outros cães. Contudo, ao serem confrontados se cães são mais capazes

que outros animais de sentir o mesmo que pessoas sentem em um dado momento, apenas para

peixes e bovinos a maioria dos respondentes acreditam que sim. Ademais, eles nem

concordaram e nem discordaram dessa capacidade em cães quando comparado a suínos,

papagaios e equinos (Figura 13). Com relação aos gatos, houve uma maior homogeneidade

das respostas (Figura 14). Felinos, assim como os cães estão presentes em diversos lares

76

brasileiros (IBGE, 2013) e foram domesticados há pelo menos 10 mil anos (Beaver, 2003).

Sendo assim, é de se esperar que pessoas tenham afinidade e conhecimento de causa para com

os gatos, já que provavelmente a maioria já teve contato positivo com eles em algum

momento de suas vidas.

Os universitários preferem cães sem raça definida, o popular ―vira-lata‖, e dentro das

diversas funções que os cães podem exercer como guarda, pastoreio, caça ou sem função

específica, a maioria prioriza cães para ser de companhia. Essas preferências condizem com a

opinião da maioria com relação ao abandono e adoção de cães, eles não consideram aceitável

abandonar cães quando há um problema de qualquer natureza. Além disso, adotariam um cão

se tivessem condições de o criar, nesse contexto o cão pode ser definido como um capital

social positivo para novas interações. Ao adotar um cão resgatado da rua que não tinha

melhores perspectivas para a sobrevivência, a pessoa passa a ser bem vista por parte da

sociedade e o facilitador cão pode abrir precedentes para conhecer novas pessoas e ser

admirada por elas.

O questionário foi aplicado em estudantes de uma universidade federal em Brasília,

cidade esta, segundo Lacerda, Tomas & Marinho‐Filho (2009), em que há presença de grupos

de cães errantes e ferais que por definição são cães sem raça específica por sofrerem pressões

da seleção natural. Portanto, entre os estudantes, há um nicho potencial de pessoas dispostas a

minimizar os efeitos problemáticos em nível de saúde pública e ecológico da presença de cães

errantes nas ruas. Uma vez que, quase a totalidade dos entrevistados considera que cães de rua

sofrem por estar nessa condição e mais da metade crê que cães de abrigo não se encontram em

piores condições que cães de rua. Cães destinados para adoção normalmente são oriundos da

rua, porém foram resgatados e vivem em lares temporários equivalentes a abrigos. Grande

parte dos estudantes concorda com a eutanásia de animais, quando a mesma é feita por um

profissional da área e o enfermo está acometido por uma condição incurável e sujeito a

intoleráveis sofrimentos físicos ou psíquicos. Ao ver um cão ferido ou magro os universitários

sentem angústia por isso, esse motivo por si só não seria plausível para prática de eutanásia

em cães (Martins, 2014). Não tendo assim, também nesse estudo nenhuma correlação

estatística entre elas que justificasse a prática da mesma para um cão nestas condições. Por

manifestar compreensão sobre o que os cães sentem, evidentemente, era de se esperar que a

maioria dos respondentes relatasse experimentar de bons sentimentos ao ver um filhote de cão

feliz e brincalhão.

Respostas dadas a perguntas pautadas sobre as reações de cães para com as pessoas em

diferentes situações enfatizaram a percepção dos universitários sobre cães e a existência de

77

habilidades empáticas bem definidas e manifestadas em diferentes contextos abrangendo os

três componentes da empatia (afetivo, cognitivo e comportamental). Sendo assim, para os

alunos da UnB, cães que se aproximam de pessoas quando elas estão tristes podem sentir o

mesmo que elas estão sentindo, ativando assim a dimensão afetiva da empatia. Além disso,

para eles pessoas podem ser compreendidas pelos cães através dessa condição (Figura 17).

Neste caso há claramente uma relação do ato de aproximação com a intenção de ajudar o

outro. Para os estudantes os cães possuem a capacidade da ativação do componente

comportamental da empatia uma vez que através do ato há a tentativa de acalmar ou tirar a

angústia presente no indivíduo. Em outra situação para os entrevistados os cães podem

entender e sentir que uma pessoa está bocejando e bocejar por contágio, esse fenômeno está

ligado a processos rudimentares da empatia que levam a respostas equivalentes devido à

presença de neurônios espelho. Contudo, para eles os cães podem também aprender esse

comportamento por repetições e imitação. É sabido que cães possuem uma facilidade de

aprendizado por condicionamento, é possível que ao bocejar um reforço positivo vindo das

pessoas relacionado ao ato leve os cães a o repetir a fim de receber ou perceber novamente o

tal estímulo (Figura 16).

Registros de telejornais e jornais impressos relatam diversos ataques de cães e de

outros animais contra seres humanos em áreas urbanas ou rurais. Quando questionados sobre

cães que salvam pessoas desses ataques mencionados a maior parte dos respondentes afirma

que essa atitude se baseia na capacidade dos cães em entender e sentir que uma a pessoa está

em sofrimento e com dificuldade (Figura 20). Nesse caso há a ativação do componente

comportamental, pois ao entender e sentir a condição do outro uma atitude foi tomada a fim

de evitar consequências negativas que gerariam sofrimento ao outro.

Com relação aos cães que se alimentam somente na presença de seus tutores os

universitários afirmam que eles podem entender e sentir que estes tutores estão fora e pela

falta de trocas emotivas positivas passam a não sentir fome e com isso compreendem

racionalmente a situação que leva ao desenvolvimento de ansiedade a qual inibe o apetite

(Figura 18). Nesse mesmo contexto, as trocas positivas entre os cães e pessoas leva a

liberação de hormônios do prazer, entre eles a ocitocina e na ausência dessas trocas há a

liberação de cortisol, hormônio capaz de inibir o apetite. Trocas emocionais estão ligadas ao

componente afetivo, cognitivo e comportamental, uma vez que a interação entre dois

indivíduos gera bem estar em ambos de proporções semelhantes. Além disso, os universitários

creditam o ato de uma cadela levar alimento para outros animais de seu convívio ao fato dela

entender e sentir que eles estão com fome e precisam de alimento, uma vez que ela mesma

78

poderia ter ingerido sozinha todo o alimento (Figura 19). Em uma atitude como essa há

ativação do componente comportamental da empatia, pois além dela compreender que os

outros animais estavam com fome, ela se propôs a tomar uma atitude a fim de sanar a fome

dos mesmos.

Em outra situação descrita a maioria dos respondentes acredita que cães são capazes

de perceber antecipadamente o retorno inesperado de seus tutores, pois eles são capazes de

notar sinais imperceptíveis aos sentidos humanos e também de aprender um comportamento

por repetições (Figura 15) não havendo então uma relação direta com empatia. Ou seja, a

audição e olfato apurado dos cães pode conferir a eles uma vantagem com relação aos seres

humanos em perceber o retorno de uma pessoa. Além disso, por condicionamento os cães são

capazes de aprender a rotina ou ritual de chegada de alguma pessoa.

Segundo os universitários, os cães não são os únicos animais capazes manifestar

empatia pelas pessoas (Figura 21). Porém, dentre os diferentes grupos de animais, os cães

foram os animais mais citados em ter a capacidade de sentir o que as pessoas sentem,

seguidos de gatos e cavalos. Cães e gatos são os animais domésticos presentes em maior

número em residências brasileiras (IBGE, 2013). Portanto, é de se esperar que através do

conhecimento adquirido devido ao convívio prolongado com esses animais, as pessoas sejam

capazes de notar peculiaridades em ambas as espécies. Como, por exemplo, a capacidade

desses animais em interpretar intenções e comunicar-se com outros indivíduos, habilidades

fundamentais na manifestação de respostas empáticas. Já os cavalos são amplamente

conhecidos como animais de terapia que dão suporte a pessoas com necessidades especiais,

mudando de atitude conforme a característica de quem o monta. Para isso, é necessário

comunicação, entendimento e ação com provável ativação de todos os componentes da

empatia uma vez que o movimento pendular dependerá da estabilidade física e emocional de

quem o conduz.

Proporcionalmente, mais mulheres do que homens de 17 a 35 anos e mais homens que

mulheres de 36 a 51 anos responderam ao questionário (Tabela 9). Na amostra, as mulheres

têm ou tiveram mais animais de estimação, declararam mais vezes não ter preferência por

algum tipo específico de cão, discordam totalmente mais vezes sobre a prática de eutanásia de

animais e consideraram a adoção mais do que homens (Tabelas 9). Outra ponderação foi a de

que mais vezes que eles, elas também acham que cães são capazes de sentir o que seus tutores

sentem em determinadas situações. A análise isolada destes resultados sugere que mulheres

empatizam com cães mais que homens. Para Baez et al. (2017), não se pode afirmar que

mulheres são mais empática, apesar delas externalizarem mais os sentimentos. Porém, apesar

79

da maioria dos respondentes serem mulheres (Figura 6), ficou claro no questionário que

homens e mulheres divergem em alguns aspectos, porém muito mais em intensidade do que

ter opiniões opostas. Por exemplo, mais homens do que mulheres discordam tolamente que

cães de rua são sofredores, em adição, ambos concordam parcialmente na mesma proporção

desse fato. Além disso, as demais proporções são de valores muito próximos (Tabela 9).

Fenômeno também visto em possibilidade de adotar um cão e em concordar que sentem

angústia ao ver um cão sofrendo (Tabela 9). Os homens da pesquisa discordaram mais que

mulheres sobre sentir angústia ao ver cães sofrendo, porém eles concordam parcialmente em

maior frequência, enquanto elas em concordar totalmente (Tabela 9). Há uma crença cultural

de que mulheres expressam mais seus sentimentos e são mais sensíveis emocionalmente, em

contrapartida os homens seriam mais agressivos e menos reativos (Simon & Nath, 2004),

sinais não identificados na investigação com relação à empatia sentida pelos seres humanos

por cães.

Entretanto, mulheres mais que homes acreditam que as pessoas podem se fazer

compreendidas por cães através do bocejo. A relação do bocejo e empatia é motivo de

diversos estudos científicos, se sabe que há influencia de neurônios espelho nesse fenômeno e

que esses neurônios estão presentes de forma determinante em respostas empáticas. Nesse

tópico diferente dos homens, mulheres percebem uma melhor relação entre o bocejo e a

capacidade cognitiva dos cães em esboçar uma resposta evolutiva e não aleatória. O ato

reflexivo de uma cadela que retorna para seu lar com comida para outros animais de seu

convívio, inclusive de outras espécies, foi interpretado por mais mulheres como uma

capacidade da cadela em racionalizar a condição do outro e tomar uma atitude para sanar a

preocupação, neste caso, a fome. Essa manifestação quando verdadeira, possuí relação direta

com o componente comportamental da empatia, uma vez que após racionalizar a condição do

outro, algo foi feito para ajudar a superar a dificuldade. Concomitante, mais mulheres creem

que essa atitude partiu de predisposições inatas para a realização da ação intuitiva, sem

reflexão, seria assim, uma resposta instintiva. Fêmeas de diversas espécies são capazes de

adotar filhotes de outras fêmeas que elas não conceberam e apresentar cuidados parentais

como se os filhos fossem seus (Segata, 2012). Quanto ao ato de perceber com antecedência o

retorno do tutor para casa, mais mulheres que homens afirmam que os cães são capazes de

entender racionalmente ou sentir o retorno deles. Cães possuem uma capacidade auditiva mais

apurada que os seres humanos, em um ambiente controlado como o lar é de se esperar que os

cães escutem com antecedência considerável sons emitidos pelos tutores. Por exemplo,

barulho do motor do carro ou do transporte que é utilizado rotineiramente. Eles podem

80

também identificar a forma que as pessoas pisam ao chão e o sons emitidos por esse fato.

Portanto, em um local que esteja um cão e um ser humano, é provável que os cães captem

dicas e informações a respeito do outro, antes da percepção das mesmas pelas pessoas ao seu

redor. Pode-se dizer, portanto, que no grupo universitário tanto mulheres, quanto homens

identificam sinais de empatia em cães e outros animais. Porém, mulheres levam uma

vantagem ao interpretar manifestações empáticas em animais.

Cabe ressaltar que pessoas que tem ou tiveram animais de estimação possuem ou já

possuíram mais cães que qualquer outro animal, proporção esperada segundo fontes do IBGE

(2013). O cão está inserido culturalmente e estruturalmente no contexto familiar dos

brasileiros e na maioria dos lares há mais cães do que crianças. As pessoas do estudo que não

possuem cães são indiferentes ao fato de cães de abrigo sofrerem ou não mais que cães de rua,

além de concordarem totalmente com a eutanásia de animais. Muitos cães que se encontram

em condição de abrigos públicos no Brasil são submetidos à eutanásia como forma de

controle populacional. Após pressão de grupos da sociedade de proteção a animais, diversos

municípios e estados brasileiros veem abolindo essa prática como solução para o problema de

superpopulação canina (Santana & Oliveira, 2006). Mesmos as pessoas que não possuem

animais de estimação criam a consciência cívil em prol do direito de existir dos animais.

Independente de ter sofrido ataque por algum cão, os respondentes concordam que cães de rua

são sofredores, adotariam um cão se tivessem a oportunidade e ambos concordam igualmente

que sentem angústia em ver cães em sofrimento (Tabela 10). Aparentemente o fato de ter

sofrido ataque por um cão não gerou na vítima um sentimento de hostilidade ou ressentimento

para com os cães e tão pouco influencia na percepção de manifestações empáticas feitas por

eles.

Por sua vez, pessoas que já tiveram algum animal de estimação afirmam que o fato de

cães comerem somente na presença dos seus tutores, cães que salvam e protegem pessoas do

ataque de outros cães ou animais e cães que se aproximam de seus tutores quando a pessoa

está triste, se deve, pois, os cães são capazes de entender racionalmente o que o indivíduo está

sentindo e passando. Outro argumento apresentados por eles é que os cães podem sentir o que

pessoas sentem. E por último que as pessoas podem se fazer compreendidas pelos cães através

da situação. Para os estudante que tiveram animais de companhia é possível deduzir que os

fatores relacionados aos componentes afetivo, cognitivo e comportamental da empatia estão

presentes nessas manifestações de comportamento o que explicaria a atitude de se aproximar

de uma pessoa triste, de defesa e a falta de apetite na ausência do tutor e do retorno da

vontade de comer na presença dele. Durante a coevolução, cães e seres humanos

81

desenvolveram uma comunicação não verbal formando através dela elos de trocas e

processamentos neurológicos bem elaborados. A previsão antecipada do retorno do tutor para

a casa, não parece ter uma relação com mecanismos empáticos para pessoas que possuem

animais de estimação, já que eles alegam que cães podem sentir o retorno e perceber sinais

imperceptíveis aos seres humanos, além de aprender o comportamento por repetições. Como

visto, cães possuem o sentido da audição mais apurado que os seres humanos e também são

capazes por condicionamento de estimar horários precisos de chegada de pessoas com rotinas

bem definidas.

3.6 Conclusão

Para os estudantes da Universidade de Brasília com acesso a internet e cadastrados na

rede social Facebook, os cães manifestam empatia. Eles enxergam os cães como seres

sencientes, capazes de compreender sentimentos e situações vividas pelas pessoas. O

questionário desenvolvido permitiu aos respondentes refletir sua percepção das habilidades

empáticas dos animais. Eles consideraram os cães como um animal altamente empático capaz

de manifestar comportamentos pró-sociais de ajuda, de proteção e de consolo.

Apesar das mulheres demonstrarem um entendimento maior do que os homens a

respeito de respostas empáticas em cães, ambos acreditam que cães e outros animais são

capazes de se manifestar empaticamente. Para eles, cães compreendem situações vividas pelo

outro e ao presenciar o outro em determinadas condições, são capazes de ativar em si mesmos

os três componentes básicos da empatia (afetivo, cognitivo e comportamental). Mesmos

aqueles alunos que já sofreram ataques de cães concordaram que em termos cognitivos, os

cães são capazes de interpretar e sentir o que os seres humanos sentem. Para esses estudantes,

as habilidades dos cães em colocar-se no lugar do outro são reais e extremamente refinadas.

82

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ambos os estudos confirmaram a capacidade empática dos cães. O estudo empírico

permitiu constatar a presença dos principais componentes da empatia como parte do

repertório comportamental de cães. A capacidade empática de cães vai além de sentir e

entender o que o outro está passando em sua presença. Cães são capazes de sentir o que o

outro sente através da interpretação de imagens audiovisual transmitida por uma televisão.

Essa habilidade, até então restrita aos seres humanos, abre precedente para novas pesquisas a

respeito de comportamentos pró-sociais em cães e humanos. A constatação de empatia em

cães é uma ferramenta valorosa para profissionais tanto da área de pesquisa como da área

clínica, pois permite entender desordens comportamentais caninas e humanas, uma vez que o

comportamento alterado de uma das partes pode influenciar o comportamento da outra.

Em consonância com esses achados, o questionário aplicado no universo universitário

revelou que alunos da UnB são capazes de relacionar experiências relatadas ou vividas com

os animais às teorias comportamentais e cognitivas. Para eles cães são seres capazes de

empatizar, inclusive com outras espécies animais, entre elas o próprio ser humano, espécie

com a qual eles se relacionam familiarmente há milhares de anos. O fato da maioria dos

respondentes afirmarem que já possuíram cão agrega e embasa a teoria à prática.

Atualmente, os cães possuem status de membros da família em muitos lares brasileiros

e lares por todo o mundo. Pesquisas como a desenvolvida são fundamentais para a

compreensão de como os cães alcançaram mais que outros animais uma adaptação de êxito

capaz de acelerar alguns processos evolutivos em um curto prazo. As respostas encontradas

auxiliam o entendimento da evolução das habilidades comunicativas e intuitivas da própria

espécie humana, uma vez que todos os processos biológicos fazem parte de uma cadeia

evolutiva. Ao trocar a vida em matilha pela proximidade de núcleos familiares humanos, cães

e seres humanos gradativamente consolidaram seus laços sociais, passando a ter uma relação

simbiótica de codependência emocional e entendimento mútuo.

83

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APÊNDICE A – Questionário Médicos Veterinários

1) Qual é o seu gênero?

□ Feminino □ Masculino

2) Você possui ou já possuiu algum animal de estimação?

□ Sim □ Não

3) Você possui ou já possuiu algum cão?

□ Sim □ Não

Gostaríamos de saber o quanto você concorda ou não com cada uma desses questionamentos.

4) Você concorda com trabalhos que são desenvolvidos por ONGs de resgate de animais?

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

5) Você acha que cães de abrigos são sofredores?

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

6) Você acha que cães de rua são sofredores?

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

7) Você acha que cães de abrigos sofrem mais do que cães de rua?

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

8) Você é a favor da eutanásia (sacrifício) de animais?

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

9) Você adotaria um cão abandonado ou de rua se tivesse condições de criá-lo?

96

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

10) Você já visitou ou financia alguma instituição que abriga cães abandonados?

□ Sim □ Não

Para responder os itens subsequentes considere a seguinte afirmação:

Empatia é a capacidade que um indivíduo tem de compreender o sentimento ou reação de

outro indivíduo, colocando-se no lugar do outro. Ou seja, ―sentir o que o outro sente‖.

11) Cães apresentam que grau de empatia?

□ Nenhum □ Baixo □ Médio □ Alto

Gostaríamos de saber o quanto você concorda ou não com cada um desses questionamentos.

12) Você acredita que outros animais mamíferos, não humanos, têm empatia?

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

13) Ao ver um cão na rua magro ou ferido, você sente alguma angústia?

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

14) Ao ver um filhotinho de cachorro brincalhão, você se sente mais leve ou feliz?

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

15) Quando o proprietário de um cão está feliz ou triste, você acha que o cão dele é capaz de

absorver esses estados e compartilhar dos mesmos?

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

16) Quando um cão vê outro cão feliz, triste ou com medo, você acha que ele é capaz de absorver

e também apresentar esses estados?

□ Discordo totalmente

97

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

Para as perguntas 18 a 22 considere as afirmações a seguir:

Empatia: capacidade que um indivíduo tem de compreender o sentimento ou reação de outro

indivíduo.

Condicionamento: ensinamento muitas vezes por repetição, igual a ―adestramento‖.

Sexto sentido (premonição): capacidade de perceber acontecimentos através de habilidades

ocultas.

Instinto: predisposições inatas para a realização de determinadas sequências de ações

comportamentais. São respostas inconscientes, com padrões herdados.

Escolha um único item que em sua opinião represente o motivo mais provável para a

manifestação do comportamento exemplificado.

17) Alguns cães são capazes de perceberem antecipadamente o retorno inesperado de seus donos

para casa. O principal fator associado a esse evento seria?

□ Empatia □ Condicionamento

□ Sexto sentido (premonição) □ Instinto

□ Nenhum fator específico □ Não sei afirmar

18) É comum seres humanos bocejarem ao ver outro bocejar. Esse fenômeno também é relatado

entre cães e pessoas. O principal fator associado a esse evento seria?

□ Empatia □ Condicionamento

□ Sexto sentido (premonição) □ Instinto

□ Nenhum fator específico □ Não sei afirmar

19) Alguns proprietários relatam que seus cães somente comem em sua presença, podendo ficar

dias sem comer quando o mesmo está viajando. O principal fator associado a esse evento

seria?

□ Empatia □ Condicionamento

□ Sexto sentido (premonição) □ Instinto

□ Nenhum fator específico □ Não sei afirmar

20) Uma cadela em São Paulo ficou famosa ao aparecer na TV. Ela mora em um local com

poucos recursos, todos os dias ela atravessa a cidade para receber de uma voluntária uma

sacola com comida. Sem ter sido ensinada ela retorna ao seu lar e oferece o alimento para

animais de seu convivo, entre eles seus filhotes, outros cães e gatos. O principal fator

associado a esse evento seria?

□ Empatia □ Condicionamento

□ Sexto sentido (premonição) □ Instinto

□ Nenhum fator específico □ Não sei afirmar

21) É comum ver em jornais notícias de cães heróis que salvaram e protegeram pessoas do ataque

de outros cães ferozes. O principal fator associado a esse evento seria?

□ Empatia □ Condicionamento

□ Sexto sentido (premonição) □ Instinto

□ Nenhum fator específico □ Não sei afirmar

98

Considerando empatia em animais, o quanto você está de acordo com as afirmações a seguir?

22) Cão tem mais empatia que Gato.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

23) Cão tem mais empatia que Canário ou Periquito.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

24) Cão tem mais empatia que Cavalo.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

25) Cão tem mais empatia que Porco.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

26) Cão tem mais empatia que Boi e Vaca.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

27) Cão tem mais empatia que Peixe.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

99

APÊNDICE B – Questionário Universitários UnB

1) Qual o seu sexo?

□ Feminino □ Masculino

2) Qual a sua faixa etária?

□ Até 17 anos

□ De 18 a 24 anos

□ De 25 a 35 anos

□ De 36 a 50 anos

□ A partir de 51 anos

3) Considerando apenas três grandes áreas do conhecimento (tecnológicas; biológicas; sociais).

Em qual delas o curso superior que você frequenta se enquadra?

□ Tecnológicas □ Biológicas □ Sociais

4) Em que fase acadêmica você se encontra

□ 1° período da graduação □ 2° período da graduação

□ 3° período da graduação □ 4° período da graduação

□ 5° período da graduação □ 6° período da graduação

□ 7° período da graduação □ 8° período da graduação

□ 9° período da graduação □ 10° período da graduação

□ 11° período da graduação □ 12° período da graduação

5) Você possui ou já possuiu algum animal de estimação?

□ Sim □ Não

6) Você possui ou já possuiu algum cão?

□ Sim □ Não

7) Você já sofreu ataque de algum cão?

□ Sim □ Não

8) Que tipo de cão você prefere?

□ De raça

□ Sem raça definida (vira-lata)

□ Sem preferência (gosta dos dois)

□ Não gosto de cães

9) Que tipo de função para um cão você prefere?

□ Companhia

□ Guarda

□ Pastoreio

□ Caça

□ Sem função específica

Gostaríamos de saber o quanto você concorda ou não com cada uma dessas afirmações.

10) Cães de abrigos são sofredores.

100

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

11) Cães de rua são sofredores.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

12) Cães de abrigos sofrem mais do que cães de rua.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

13) Eu adotaria um cão abandonado ou de rua se tivesse condições de criá-lo.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

14) Quando há um problema, é aceitável abandonar cães na rua.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

15) Acho certa a prática de eutanásia de animais. (Eutanásia é a prática pela qual se abrevia a vida

de um enfermo incurável quando sujeito a intoleráveis sofrimentos físicos ou psíquicos de

maneira controlada e assistida por um especialista).

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

Para as questões 12 a 17 escolha um ou mais itens que em sua opinião represente o(s)

motivo(s) para a manifestação do comportamento exemplificado.

16) Alguns cães são capazes de perceberem antecipadamente o retorno inesperado de seus donos

para casa. Qual ou quais fatores estão associados a esse evento?

□ Os cães podem entender racionalmente quando seu dono está retornando para casa

101

□ Os cães podem sentir que seu dono está retornando para casa

□ Os cães podem prever que seu dono está retornando para casa

□ Os cães são capazes de perceber sinais imperceptíveis aos sentidos humanos

□ Os cães são capazes de aprender um comportamento por repetições

□ Os cães têm predisposições inatas para a realização de ações intuitivas, sem reflexão

□ Nenhum fator específico

□ Não sei afirmar

17) É comum seres humanos bocejarem ao ver outro bocejar. Esse fenômeno também é relatado

entre cães e pessoas. Qual ou quais fatores estão associados a esse evento?

□ Os cães podem entender racionalmente quando uma pessoa boceja e imitar

□ Os cães podem entender e sentir que uma pessoa está bocejando e bocejar por contágio

□ As pessoas podem se fazer compreendidas pelos cães através de seu bocejo

□ Os cães podem aprender esse comportamento por repetições e imitação

□ Os cães têm predisposições inatas para a realização de ações intuitivas, sem reflexão

□ Essa reação é aleatória, não tem relação direta com o bocejo humano

□ Nenhum fator específico

□ Não sei afirmar

18) Algumas pessoas relatam que quando estão tristes, chorosas, os seus cães se aproximam delas

e ficam quietos ao seu lado. Qual ou quais fatores estão associados a esse evento?

□ Os cães podem entender racionalmente o que o seu dono está sentindo

□ Os cães podem sentir que seu dono está sentindo

□ As pessoas podem se fazer compreendidas pelos cães através de suas situações

□ Os cães podem aprender esse comportamento por repetições

□ Os cães têm predisposições inatas para a realização de ações intuitivas, sem reflexão

□ Cães tendem a ficar próximo de seus donos, porém não percebem seu estado emocional

□ Nenhum fator específico

□ Não sei afirmar

19) Alguns tutores relatam que seus cães somente comem em sua presença, podendo ficar dias

sem comer quando o mesmo está viajando. Qual ou quais fatores estão associados a esse

evento?

□ Os cães podem entender racionalmente quando o seu dono está fora e por isso sentem

ansiedade que inibe o apetite

□ Os cães podem entender e sentir que seu dono está fora e pela falta de trocas emotivas

positivas não sente fome

□ As pessoas podem se fazer compreendidas pelos cães através de suas presença o que os

deixa calmo e estimula o apetite

□ Os cães podem aprender esse comportamento por repetições

□ Quando estão sozinhos os cães priorizam outras atividades

□ Nenhum fator específico

□ Não sei afirmar

20) Uma cadela em São Paulo ficou famosa ao aparecer na TV. Ela mora em um local com

poucos recursos, todos os dias ela atravessa a cidade para receber de uma voluntária uma

sacola com comida. Sem ter sido ensinada ela retorna ao seu lar e oferece o alimento para

animais de seu convivo, entre eles seus filhotes, outros cães e gatos. Qual ou quais fatores

estão associados a esse evento?

102

□ A cadela entendeu racionalmente que os animais do seu convívio estavam com fome e

precisavam de alimento

□ A cadela entendeu e sentiu que os animais do seu convívio estavam com fome e precisavam

de alimento

□ Os animais de seu convívio se fizeram compreendidos pela cadela através de sua situação

de fome

□ A cadela aprendeu esse comportamento por repetições

□ A cadela tem predisposições inatas para a realização de ações intuitivas, sem reflexão

□ A cadela tem a intenção de estocar alimento para ela, mas é surpreendida pelos animais de

seu convívio

□ Nenhum fator específico

□ Não sei afirmar

21) É comum ver em jornais notícias de cães heróis que salvaram e protegeram pessoas do ataque

de outros cães ou animais ferozes. Qual ou quais fatores estão associados a esse evento?

□ Os cães podem entender racionalmente quando uma pessoa está em perigo

□ Os cães podem entender e sentir que uma a pessoa está em sofrimento e com dificuldade

□ As pessoas podem se fazer compreendidas pelos cães através de suas situações (perigo)

□ Os cães são capazes de aprender um comportamento por repetições

□ Os cães têm predisposições inatas para a realização de ações intuitivas, sem reflexão

□ Os cães interferem por achar que a agressão seja contra eles mesmos

□ Nenhum fator específico

□ Não sei afirmar

Gostaríamos de saber o quanto você concorda ou não com cada uma dessas afirmações.

22) Sinto angústia ao ver um cão na rua magro ou ferido.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

23) Sinto-me mais leve ou feliz ao ver um filhotinho de cachorro brincalhão.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

24) Quando o proprietário de um cão está feliz ou triste, o cão dele é capaz de absorver esses

estados e compartilhar dos mesmos.

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

25) Quando um cão vê outro cão feliz, triste ou com medo, ele é capaz de absorver e também

apresentar esses estados.

□ Discordo totalmente

103

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

26) Cães mais do que peixes são capazes de sentir o mesmo que pessoas estão sentindo

(felicidade; tristeza; medo).

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

□ Nenhum dos dois é capaz

27) Cães mais do que bois são capazes de sentir o mesmo que pessoas estão sentindo (felicidade;

tristeza; medo).

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

□ Nenhum dos dois é capaz

28) Cães mais do que gatos são capazes de sentir o mesmo que pessoas estão sentindo (felicidade;

tristeza; medo).

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

□ Nenhum dos dois é capaz

29) Cães mais do que papagaios são capazes de sentir o mesmo que pessoas estão sentindo

(felicidade; tristeza; medo).

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

□ Nenhum dos dois é capaz

30) Cães mais do que cavalos são capazes de sentir o mesmo que pessoas estão sentindo

(felicidade; tristeza; medo).

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

□ Nenhum dos dois é capaz

104

31) Cães mais do que porcos são capazes de sentir o mesmo que pessoas estão sentindo

(felicidade; tristeza; medo).

□ Discordo totalmente

□ Discordo parcialmente

□ Não concordo nem discordo

□ Concordo parcialmente

□ Concordo totalmente

□ Nenhum dos dois é capaz

32) Em que grau os cães podem sentir e compreender o que pessoas estão sentindo (felicidade;

tristeza; medo)?

□ Nenhum □ Baixo □ Médio □ Alto

33) Qual desses animais é mais capaz de sentir o mesmo que pessoas estão sentindo (felicidade;

tristeza; medo)?

□ Nenhum □ Papagaio □ Peixe □ Gato

□ Cavalo □ Cão □ Porco □ Boi

105

APÊNDICE C – Representação dos números nas Tabelas 10, 11 e 12

Presente na Tabela 16 e Tabela 17

1.Os cães podem entender racionalmente quando seu dono está retornando para casa

2.Os cães podem sentir que seu dono está retornando para casa

3.Os cães podem prever que seu dono está retornando para casa

4.Os cães são capazes de perceber sinais imperceptíveis aos sentidos humanos

5.Os cães são capazes de aprender um comportamento por repetições

6.Os cães têm predisposições inatas para a realização de ações intuitivas, sem reflexão

7.Nenhum fator específico

8.Não sei afirmar

Presente na Tabela 16

1.Os cães podem entender racionalmente quando uma pessoa boceja e imitar

2.Os cães podem entender e sentir que uma pessoa está bocejando e bocejar por contágio

3.As pessoas podem se fazer compreendidas pelos cães através de seu bocejo

4.Os cães podem aprender esse comportamento por repetições e imitação

5.Os cães têm predisposições inatas para a realização de ações intuitivas, sem reflexão

6.Essa reação é aleatória, não tem relação direta com o bocejo humano

7.Nenhum fator específico

8.Não sei afirmar

Presente na Tabela 17

1.Os cães podem entender racionalmente o que o seu dono está sentindo

2.Os cães podem sentir que seu dono está sentindo

3.As pessoas podem se fazer compreendidas pelos cães através de suas situações

4.Os cães podem aprender esse comportamento por repetições

5.Os cães têm predisposições inatas para a realização de ações intuitivas, sem reflexão

6.Cães tendem a ficar próximo de seus donos, porém não percebem seu estado emocional

7.Nenhum fator específico

8.Não sei afirmar

Presente na Tabela 17

1.Os cães podem entender racionalmente quando o seu dono está fora e por isso sentem

ansiedade que inibe o apetite

2.Os cães podem entender e sentir que seu dono está fora e pela falta de trocas emotivas

positivas não sente fome

3.As pessoas podem se fazer compreendidas pelos cães através de suas presença o que os

deixa calmo e estimula o apetite

4.Os cães podem aprender esse comportamento por repetições

5.Quando estão sozinhos os cães priorizam outras atividades

6.Nenhum fator específico

7.Não sei afirmar

106

Presente na Tabela 16 e Tabela 18

1.A cadela entendeu racionalmente que os animais do seu convívio estavam com fome e

precisavam de alimento

2.A cadela entendeu e sentiu que os animais do seu convívio estavam com fome e precisavam

de alimento

3.Os animais de seu convívio se fizeram compreendidos pela cadela através de sua situação de

fome

4.A cadela aprendeu esse comportamento por repetições

5.A cadela tem predisposições inatas para a realização de ações intuitivas, sem reflexão

6.A cadela tem a intenção de estocar alimento para ela, mas é surpreendida pelos animais de

seu convívio

7.Nenhum fator específico

8.Não sei afirmar

Presente na Tabela 17

1.Os cães podem entender racionalmente quando uma pessoa está em perigo

2.Os cães podem entender e sentir que uma a pessoa está em sofrimento e com dificuldade

3.As pessoas podem se fazer compreendidas pelos cães através de suas situações (perigo)

4.Os cães são capazes de aprender um comportamento por repetições

5.Os cães têm predisposições inatas para a realização de ações intuitivas, sem reflexão

6.Os cães interferem por achar que a agressão seja contra eles mesmos

7.Nenhum fator específico

8.Não sei afirmar

107

APÊNDICE D – Resultados apresentados no 26th Human Behavior and Evolution Society

Conference (apresentação oral)

Empatia: um estudo preliminar sobre o ponto de vista de médicos veterinários

Empathy: a preliminary study about veterinarians‘ point of view.

Edilberto Martinez*, Angela Oliva Donato*

*Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Psicologia Social e

Institucional, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

1. Resumo

Cães e humanos dividem o mesmo nicho há pelo menos 30 mil anos. Pesquisas

sugerem que a empatia pode ser uma característica universal dividida por ambos. O objetivo

desse estudo foi estimar como veterinários entendem a empatia como um processo que faz

parte do comportamento de alguns animais, especialmente o cão. Cinquenta questionários

foram aplicados para estudantes e profissionais de veterinária. A maioria dos entrevistados já

tiveram cão como animal de estimação ou outros tipos de animais domésticos, por exemplo,

gatos. A maioria das respostas apontam que: cães possuem alto desenvolvimento empático;

cães são capazes de assimilar o estado emocional de seus tutores e de outros cães; outros

mamíferos não-humanos são capazes de ter empatia com o outro; cães demonstram mais

empatia que gatos. Apesar das semelhanças nas respostas, as mulheres, mais que os homens

associaram o comportamento de proteção dos cães à empatia. Apesar das poucas diferenças,

parece que profissionais e estudantes da área de veterinária tem ideias parecidas a respeito da

empatia em animais. Há uma concordância geral de que cães possuem mecanismos empáticos

mais afinados que outros grupos de animais domésticos. Talvez os longos anos de

coexistência com humanos permitiu a eles aprimorarem suas habilidades empáticas pré-

existentes.

Palavras-chaves: empatia, cães domésticos, psicologia evolucionista.

2. Abstract

Dogs and humans share the same niche for at least 30,000 years. Research suggests

that empathy can be a universal characteristic shared by both. The aim of this study was to

108

estimate how veterinarians understand empathy as an existing process underlying some

animals, especially in dogs. Fifty questionnaires were applied to veterinary students and

professionals. Most interviewed has owned dog as a pet or other domestic animals, such as

cats. The main results indicated indicate that: Dogs have a high empathic development; dogs

can assimilate emotional state of their owners and other dogs; other non-human mammals

have empathy to another; dogs show more empathy then cats. Although the similarities in

answers, women, more than men, attribute to empathy mechanism the protective behavior in

dogs. Despite a few differences, it seems that veterinary students and professionals have

similar ideas about empathy occurring in animals. There is a general agreement that dogs have

higher and more accurate empathy skills than other groups of domestic animals. Perhaps years

of coexistence with humans allowed them to improve their pre-existing empathic abilities.

Keywords: empathy, domestic dogs, evolutionary psychology

3. Introdução

O estudo da empatia de animais está em ascensão e tem recebido grandes

contribuições da perspectiva evolucionista. Preston e De Waal (2002) acreditam que a

empatia seja um fenômeno filogeneticamente contínuo com subclasses, ao alcance de todos os

mamíferos, como sugerido por Charles Darwin, há mais de um século atrás (1871/1982). Para

os seres humanos, atividades de confortar, ajudar e compartilhar podem ser motivadas por

respostas empáticas. Desde a descoberta da relação entre a empatia e os ―neurônios espelho‖,

estudos passaram a investigar as bases biológicas da empatia como parte do novo campo da

neurociência social (Decety & Ickes, 2009). A empatia pode ser subdividida de acordo com

Falcone (1999; 2003) em três dimensões: afetiva, cognitiva e comportamental. Em animais, as

emoções também têm sido medidas através do componente comportamental ou

neurofisiológico (Reimert, Bolhuis, Kemp & Rodenburg, 2013). Vários estudos com

diferentes espécies de primatas procuram por evidências destes comportamentos, como

indicadores de empatia emocional através do aprendizado vicário e modulação social (Edgar,

Nicol, Clark & Paul, 2012; Suchak & De Waal, 2012). Assim, a empatia pode ser uma

característica universal dos seres humanos e ainda ser compartilhada, de alguma forma, por

outras espécies sociais, a exemplo a dos cães (Canis lupus familiaris) (Silva & de Sousa,

2011). Existe uma relação direta entre o comportamento altruísta e empatia (Wilhelm &

Bekkers, 2010), apesar de relatos em noticiários de comportamentos de ajuda em cães e

outros animais, não existem estudos empíricos capazes de comprovar esse fenômeno.

109

A abordagem para além da empatia nos seres humanos, atualmente na literatura há um

controverso debate a respeito da empatia e da motivação do bocejo por contágio em cães.

Existem basicamente duas linhas, uma que aponta indícios de mecanismos empáticos

relacionados ao bocejo em cães (Demuru & Palagi, 2012) e outra que argumenta não existir

evidências concisas que levem a essa crença (O‘Hara & Reeve, 2011). Entretanto alguns

pesquisadores defendem a existência de formas rudimentares de empatia nesse fenômeno,

uma vez que os cães ajustam seus comportamentos aos dos seres humanos através da

modulação, decodificação e aprendizado dos sinais interespecíficos adquiridos durante os

milhares de anos de seleção e evolução (Hare & Tomasello 2005; Joly-Mascheroni, Senju &

Shepherd, 2008; Madsen & Persson, 2013; Romero, Konno & Hasegawa, 2013; Silva &

Sousa, 2011; Silva, Bessa, Sousa, 2012; Topál, Miklósi, Csányi & Dóka, 1998). Seria, pois,

em cães, o bocejo por contágio, modulado por componentes afetivos do comportamento,

levando a crer que formas rudimentares da empatia estão presentes. Durante a co-evolução

ambas as espécies desenvolveram de formas semelhantes dispositivos primitivos da relação

empatia-bocejo, permitindo o sincronismo do bocejo entre elas (Romero & Hasegawa, 2013).

O lobo (Canis lupus) é o ancestral comum do cão moderno (Pollinger et al., 2010;

Serpell, 1995). Há mais de 100 mil anos em diferentes regiões do mundo houve de forma

espontânea a aproximação entre os seres humanos e os lobos (Schleidt & Shalter, 2003;

Serpell, 1995; Vilà et al., 1997). As alterações posteriores a esse feito em ambas as espécies

são melhores compreendidas como coevolução social (Faragó et al., 2014; Miklósi & Gácsi,

2012; Miklósi & Topál, 2013; Schleidt & Shalter, 2003; Wang et al., 2013) que pode ser

entendida como alterações ocorridas no âmbito sócio ambiental, que levou ambas as espécies

a modificar a maneira com a qual elas interagiam com o ambiente e indivíduos do seu

convívio, ao passarem a trocar experiências para a sobrevivência e estruturas da composição

familiar, levando inclusive a mudanças gênicas. Como resultado desta evolução física e

social, os cães adquiriram a capacidade de compreender e comunicar com os humanos, sendo

mais bem sucedido do que qualquer outra espécie moderna (Berns, Brooks & Spivak, 2012).

Umas das primeiras evidências do vínculo emocional entre ser humano e cão ocorreu

em uma região do Oriente Médio, onde diversos fosseis de humanos abraçados com cães

foram encontrados e datados de 14 mil anos (Morey, 1994; Tchernov & Valla, 1997). Desde

sua domesticação os cães foram selecionados para diferentes funções, entre elas, proteção de

grupos humanos, pois afastavam e enfrentavam predadores ou alarmavam sobre a presença

deles nas cercanias das pessoas (Vilà et al., 1999). Apesar das controvérsias sobre a

domesticação dos cães (Lopes, 2012; Serpell, 1995), é provável que nossos ancestrais ao

110

saírem para caçar deixassem seu núcleo familiar sob os cuidados das mulheres. Nesse

contexto, os cães passaram a ter um importante papel social de proteção dos humanos. Existe

a possibilidade de o maior contato com mulheres ter influenciado a ontogênese desses animais

predispondo-os a interagirem mais com elas. Devido a processos histórico-sociais, existe

diferença na comunicação verbal entre homens e mulheres, tendo estas últimas maior

predisposição em empregar a linguagem como uma ferramenta relacional (Prato‐Previde,

Fallani & Valsecchi, 2006). Ainda segundo esses autores, as mulheres usam um número

maior de expressões verbais do que os homens e esse fenômeno também pode ser observado

na relação humano-cão. Complementando essa ideia, alguns trabalhos relatam que cães de

abrigo reagem mais defensivamente e agressivamente a homens desconhecidos do que a

mulheres desconhecidas e que mulheres tendem a se relacionar mais afetivamente com cães

do que homens (Lore & Eisenberg 1986; Wells & Hepper 1999; Blouin, 2012). Apesar do

sistema nervoso ocitonérgico ser equivalente entre homens e mulheres, os hormônios

esteroides femininos exercem grande influencia na liberação de ocitocina (Uvnas-Moberg &

Petersson, 2005). Estímulos emocionais estão diretamente ligados a liberação endógena de

ocitocina, isso explica as diferenças entre sexo e interpessoais sobre os efeitos da ocitocina no

comportamento do indivíduo (Argiolas & Gessa, 1991). Nas mulheres os comportamentos de

apego, afeto e cuidado relacionados a cães são mais desenvolvidos que em homens (Miura,

Bradshaw & Tanida, 2000; Prato‐Previde et al., 2006), de acordo com Paul e Podberscek

(2000), a diferença de opinião e atitude entre homens e mulheres para com os animais é um

fenômeno comum independentemente da cultura.

Diversas pesquisas sugerem que estudos com cão doméstico podem ajudar a explicar a

evolução da capacidade comunicativa humana, mediante as similaridades funcionais no

comportamento sóciocognitivo de ambos, como uma consequência das pressões seletivas

ambientais sofridas entre essas duas espécies (Cooper et al., 2003; Faragó et al., 2014;

Kubinyi, Virányi & Miklósi, 2007; Kuhl, 2011; Miklósi & Gácsi, 2012; Miklósi & Topál,

2013; Serpell, 1995; Wang et al., 2013). Seres humanos e os cães compartilham o mesmo

nicho a milhares de anos e desde então cães participam e interagem socialmente com eles,

desenvolvendo trocas e mecanismos recíprocos para o estabelecimento da comunicação

(Miklósi & Topál, 2013). A troca de nicho feita pelo lobo só poderia ser atingida se fosse

acompanhada por mudanças comportamentais. Deve-se ter em mente que em condições

ambientais similares há a possibilidade do surgimento de traços comportamentais

semelhantes, mesmo entre espécies distantes evolutivamente (Lorenz, 1974) que

compartilham do mesmo meio socioambiental. A seleção natural conduzida pelas

111

convergentes pressões ambientais pode ter funcionado de forma similar na configuração de

alguns genes no genoma de ambas as espécies (Wang et al., 2013). Os processos seletivos

durante a coevolução permitiu o amansamento dos cães e a capacidade de compreender pistas

humanas e seus estados emocionais. É possível presumir que as alterações ocorridas entre os

lobos e os cães, tenha sido um passo evolutivo no que diz respeito ao aumento das habilidades

de sociabilidade, cooperativas e comunicativas, similares às observadas no ancestral comum

do Homo sapiens (Kubinyi, Virányi & Miklósi, 2007). Ambas as espécies compartilham

semelhanças sociais, no que diz respeito aos cuidados com o núcleo familiar e provisão de

recursos alimentares e abrigo para sua prole e membros de seu convívio (Morey, 1994). A

seleção artificial agiu diretamente sobre a capacidade cognitiva de cães, atuando diretamente

nos genes envolvidos em processos neurológicos (Wang et al., 2013). Assim como, alterações

em componentes auxiliares de comportamento podem ter facilitado a manifestação das

habilidades cognitivas pré-existentes em um ambiente antropogênico (Cooper et al., 2003),

uma vez que ações dos seres humanos alteraram tanto o meio ambiente quanto características

filogenéticas dos cães.

Embora seja um constructo mental, a empatia influencia nas relações interpessoais e

entre pessoas e animais (Silva & Sousa, 2011). Os estudos de Custance e Mayer (2012) e

Spinka (2012) destacam que tanto animais quanto seres humanos são capazes de se relacionar

por trocas emocionais. Nos últimos anos ocorreu um aumento do uso de terapia animal em

pacientes acometidos por diferentes patologias dentro de algumas clínicas e hospitais por todo

o mundo (Koivusilta & Ojanlatva, 2006). Os resultados com esses pacientes indicam um

aumento no comportamento social e uma diminuição no comportamento agressivo ou na

melhora de índices fisiológicos durante o contato com cães e outros animais (Adams, 2010;

Chandler, 2012; Marcus et al., 2012; Perkins, Bartlett, Travers & Rand, 2008; Pichot, 2013;

Silva & de Sousa, 2011; Wells, 2009). Em cavalos, o sistema límbico bem desenvolvido está

relacionado com a capacidade em demonstrar afetividade. As variadas formas comunicativas

em cavalos permite a seres humanos criar um canal de linguagem convencional e acessível a

eles (Lermontov, 2004). Roberts (2002) observou a estrutura social dos cavalos e constatou

um sistema matriarcal no qual as éguas educam os jovens potros através da linguagem

corporal condicionada a respostas comportamentais e emocionais. Esse tipo de comunicação

foi apropriado por diversos centros terapêuticos como, por exemplo, a equoterapia terapia

com o uso do cavalo, onde esses animais são utilizados para a reabilitação psicomotora de

seres humanos (Janura, Peham, Dvorakova, & Elfmark, 2009; Medeiros & Dias, 2003).

Estudar a empatia em cães e outros animais pode ajudar a compreender características

112

humanas (Miklósi & Gácsi, 2012; Miklósi & Topál, 2013; Silva & de Sousa, 2011; Wang et

al., 2013), mas essa investigação é recente, além de controversa. Por não ser consensual,

mesmo em estudiosos da área podemos encontrar ideias díspares.

Tendo em vista estudos recentes sobre empatia, principalmente quando se pensa sobre

animais não humanos, fica-se com a duvida se há por parte de profissionais e técnicos de

áreas biológicas a incorporação de um constructo estudado inicialmente por psicólogos. A

empatia como uma ferramenta a ser trabalhada pode atuar além dos consultórios e dinâmicas

desenvolvidas por psicólogos e ser incluída como ferramenta, também, pelos os médicos

veterinários. No estudo de Tréz e Nakada (2008) sobre a percepção de professores e alunos

com a experimentação de animais, constatou-se que ao agrupar diferentes espécies em termos

de preferência para uso em experimentação, há uma prioridade para retirada de mamíferos dos

procedimentos e a sua substituição por insetos, anfíbios e répteis, sendo o cão o primeiro da

lista ausente. Claramente eles levaram em conta a familiaridade e relações mais próximas dos

grupos de animais com os seres humanos. Embora haja muitas pesquisas sobre o tema, não se

sabe o real impacto que elas têm na formação de profissionais que trabalham diretamente com

animais. Por essa razão, considera-se relevante fazer um mapeamento preliminar das

―opiniões‖ de profissionais que têm acesso à leitura especializada e, de certo modo, estariam

relativamente informados sobre esse tema. O objetivo do presente estudo foi fazer um

levantamento em uma população de estudantes e profissionais de medicina veterinária com a

finalidade de saber como eles entendem a empatia em alguns animais. A ideia norteadora

desta investigação foi descrever, de certo modo, o grau de conhecimento e crença que eles

apresentam sobre os mecanismos empáticos, especialmente em cães.

4. Material e Métodos

4.1 Participantes

A amostra foi constituída por estudantes de qualquer período, ex-alunos e professores

universitários, sendo 62% do sexo feminino e 38% do sexo masculino, do curso de Medicina

Veterinária da Universidade de Brasília (UnB) totalizando 50 entrevistados, aqueles

respondentes que não se encaixaram nesse perfil foram eliminados da amostra. Destaca-se que

há uma tendência de majoração do sexo feminino no curso: segundo Brasil (2013), em 2012,

72% dos alunos regulares eram mulheres.

113

4.2 Instrumentos

Foi aplicado um questionário estruturado com 27 perguntas de múltiplas escolhas e

com 17 opções de respostas do tipo Likert, quatro respostas dicotômicas e seis categóricas,

todas de resposta única e mutuamente exclusivas, sendo 10 delas do que diz respeito a

intimidade do entrevistado com cães e condições impostas a eles, e outras 17 eram sobre

empatia ou evidências dela em cães, assim como em outros animais. Os dados foram

coletados por via eletrônica, através da rede mundial de computadores (Internet).

4.3 Procedimentos

Uma página eletrônica da comunidade universitária de medicina veterinária da UnB

foi identificada em uma rede social de computadores, o Facebook. Durante os dias 22 de abril

de 2014 a 27 de abril de 2014, foi enviado e disponibilizado para a página o formulário

através de um endereço eletrônico para documentos no Google Doc. No cabeçalho do

formulário havia um termo de consentimento livre e esclarecido, além de uma solicitação na

qual enfatizava que apenas estudantes e profissionais de medicina veterinária deveriam

participar da pesquisa. Essa comunidade do Facebook é um grupo fechado e apenas médicos

veterinários com vínculos na UnB e estudantes ou ex-alunos de medicina veterinária da UnB

podem ser membros. A participação era livre e nenhum tipo de remuneração ou vantagem

pessoal foi oferecido para os participantes.

4.4 Análises Estatísticas

Foi realizada estatística descritiva dos dados e para testar se houve diferença estatística

entre os respondentes, para cada questão foi aplicado o teste estatístico qui-quadrado (χ²). Foi

aplicado o teste Mann-Whitney para saber se as amostras possuíam distribuições diferentes

quando considerados: o sexo; o participante com animal de estimação; o participante com cão

como animal de estimação.

5. Resultados

As respostas dos participantes foram agrupadas e analisadas segundo quatro

condições: respostas de todos os entrevistados; respostas dependentes do sexo dos

114

respondentes; respostas dependentes de ter em determinado momento o cão como animal de

estimação; respostas dependentes de ter em determinado momento algum animal de

estimação. Foram encontradas diferenças estatísticas em diversas respostas de todos os

entrevistados. Entretanto, quando o sexo era a variável em questão apenas no item relacionado

a trabalhos desenvolvidos em ONG‘s houve diferença estatística significativa. Porém, para as

situações de ter animal de estimação (seja cachorro ou outro) não foi encontrado nenhum item

com diferença estatística significativa entre os respondentes. A maioria dos respondentes

(98%) possui ou já possuiu algum animal de estimação, sendo o cão presente em 92% dos

lares (Tabela 1). A totalidade dos respondentes adotaria um cão abandonado ou de abrigo se

tivesse oportunidade. Todos informaram que ficariam comovidos ao ver um cão em

sofrimento e todos se sentem bem ao ver um filhote brincalhão. Mais de 90% deles acreditam

que mamíferos não humanos manifestam empatia e afirmam que cães são capazes de

assimilar estados emocionais de seus donos e de outros cães (Tabela 1).

Tabela 1. Opinião de todos os respondentes sobre a ocorrência de empatia em animais,

principalmente cães.

Características e opiniões dos respondentes % Z; χ2

Sexo Feminino 62 2,88; p>0,05

Possui animal de estimação 98 46,08; p<0,05

Possui cão 92 35,28; p<0,05

Concorda com ONG‘s 86 62,68; p<0,05

Cão de abrigo não sofre mais do que cão de rua 68 27,16; p<0,05

Adotaria cão abandonado 100 -

Concordam com eutanásia 84 58,84; p<0,05

Comovem-se com cães (brincalhões ou sofrendo) 100 -

Mamíferos manifestam empatia 94 82,84; p<0,05

Cães tem alto grau empático 72 37,96; p<0,05

Cães assimilam estados emocionais de outros 98 46,08; p<0,05

Ao serem questionados sobre situações verídicas, envolvendo cães, ocorridas em

diferentes situações do cotidiano, boa parte dos respondentes atribuiu à empatia a motivação

para a manifestação do comportamento exibido pelo cão em cada uma das situações.

Consideraram que é graças à capacidade empática que cães: protegem seres humanos de

agressão de outros animais; compartilham alimentos com membros do grupo sejam eles cães

ou não; comem apenas na presença de seus cuidadores; bocejam ao ver uma pessoa bocejando

(Tabela 2).

115

Tabela 2. Opinião de todos os respondentes sobre situações reais vivenciadas por cães e/ou

pessoas e qual a natureza da ação que os impulsionam.

(%) Empatia

Condicio-

namento

Premo-

nição

Nenhu

m Fator

Não sabe

afirmar

Z;

χ2

Proteger de ataques 74 6 4 4 12 92,20;

p<0,05

Levar comida 58 16 4 4 18 49,40;

p<0,05

Bocejar ao ver outro 32 12 0 10 46 17,68;

p<0,05

Comer na presença 40 2 36 6 16 29,8;

p<0,05

Retorno de pessoas 18 32 22 6 22 8,8;

p>0,05

A maior parte dos respondentes considera que cães apresentam e expressam mais

empatia quando comparados com aves e peixes (Tabela 3). Entretanto, na comparação com

gatos houve uma polarização e a diferença foi evidenciada apenas para os indecisos (Tabela

3). Já para equinos, bovinos e suínos não houve diferença estatística significativa entre as

respostas (Tabela 3).

Tabela 3. Opinião de todos os respondentes sobre a comparação entre cães e outros animais

quanto a habilidades empáticas.

Cães possuem

mais empatia que Concorda(%)

Não concorda

e nem

discorda(%)

Discorda(%) Z;χ2

Aves 58 22 20 13,72; p<0,05

Peixes 68 24 8 49,40; p<0,05

Gatos 54 10 36 14,68; p<0,05

Equinos 38 24 38 1,96; p>0,05

Suínos 48 30 22 5,32; p>0,05

Quando analisados por sexo: 62% das mulheres e 26% dos homens concordaram com

trabalhos desenvolvidos por ONG‘s de resgate de animais (U=208,50, Z= -2,85 e p<0,05),

sendo que 10% dos homens discordam dos trabalhos desenvolvidos nesses locais, enquanto

nenhuma mulher discordou.

116

6. Discussão

Por suposto, médicos veterinários e estudantes de medicina veterinária têm afinidade

por animais e possuem embasamento teórico sobre diferentes aspectos inerentes a eles em

geral. Quase a totalidade dos respondentes já possuiu algum tipo de animal de estimação

sendo o cão o mais comum entre eles (Tabela 1). A formação acadêmica e a proximidade com

esses animais respaldam os entrevistados na ponderação de assuntos ligados ao

comportamento e modo de vida dessas espécies.

Para a maioria dos entrevistados, cães de rua passam por mais dificuldades que cães

situados em abrigos (Tabela 1). É possível que a motivação dessa resposta seja fundamentada

no fato de, enquanto profissionais da área, saberem que o abrigo deve ser um local com

higiene e recursos alimentares básicos adequados para esses cães. Cães de rua urbanos devem

cobrir extensas áreas para encontrar recursos alimentares e guaridas seguras, além de competir

com outros cães por território e alimentos, por exemplo. Ao perambularem muitos correm os

riscos de serem atropelados, sofrerem outros tipos de traumas e injúrias, além de serem

acometidos por enfermidades devido seu crítico estado nutricional e de saúde. Por entenderem

que esse modo de vida não é ideal para esses animais, todos os entrevistados afirmaram que

adotariam cães de abrigo ou abandonados se tivessem oportunidades e meios adequados para

isso. Apesar da polêmica do tema, eutanásia de animais, assim como no estudo de Manzano et

al. (2007), a maioria dos entrevistados é favorável a prática desse método (Tabela 1). Isso

mostra que médicos veterinários estão cientes das suas obrigações, dos princípios básicos de

saúde pública, legislação de proteção aos animais e normas definidas pelo Conselho Federal

de Medicina Veterinária, onde se considera que a eutanásia, quando um procedimento

necessário, deve ser empregada de forma científica e tecnicamente regulamentada, e que deve

seguir preceitos éticos específicos (Conselho Federal de Medicina Veterinária, 2012).

A totalidade dos entrevistados respondeu que compartilha de sentimentos parecidos e

empatiza com cães em situações distintas como, por exemplo, quando expressam angústia

devido alguma injúria, ou em condição de brincadeiras (Tabela 1). Esses tipos de trocas

sociais entre pessoas e cães estimulam mecanismos relacionados com a dimensão emocional

da empatia. Quando positiva pode gerar bem-estar nos envolvidos, esse é um dos princípios

levados em conta na terapia animal com pacientes humanos, cães e outras espécies são

utilizados em alguns centros médicos para confortar e auxiliar na recuperação tanto física

quanto mental de pessoas lá internadas. Quase todos os entrevistados acreditam que

mamíferos não humanos são capazes de expressar empatia e afirmam que cães têm alto ou

117

médio grau dela e atribuem a eles a capacidade de assimilar estados emocionais de seus donos

e de outros cães (Tabela 1). Essas habilidades em cães podem ser explicadas devido à própria

evolução da espécie. Apesar da carência de estudos a respeito de contágio emocional em cães,

em acordo com dados empíricos, teóricos e de conhecimento popular, os entrevistados

consideram que eles possuem a capacidade de adquirir contágio emocional e são equipados

com uma complexa estrutura cognitiva.

A maioria dos respondentes considerou que cães agem em defesa de seres humanos

que estão sendo atacados ou prestes a sofrerem um ataque por outro animal, pois conseguem

compreender o perigo eminente e tomam a decisão de interferir em defesa de um ser humano

(Tabela 2). A percepção dos entrevistados sobre essa condição caracteriza a capacidade dos

cães em manifestar empatia cognitiva, pois de certa forma compreendem o cenário e tomam

uma atitude sem necessariamente sentir as mesmas sensações do outro e pode ter influência

da maneira que os mesmos foram domesticados para proteção do núcleo familiar contra

predadores. Esse comportamento é um benefício resultante da evolução social. Cães

modernos podem conter resquícios desses comportamentos e proteger pessoas de ataques de

outros animais instintivamente. Caso seja considerada a relação de proximidade e afeto entre

os envolvidos no exemplo a cima, talvez como em seres humanos, em cães, a empatia afetiva

pode ser complementada por componentes cognitivos que despertam e nutrem o envolvimento

afetivo presente em relações fortes.

A maioria dos entrevistados afirmou que a atitude da cadela de buscar comida para

membros de seu convívio, entre filhotes de cães e outros animais como gatos, se deve a

comportamentos empáticos (Tabela 2). O impulso altruísta relacionado a esse evento seria

uma resposta emocional e de ajuda imediata, como forma de solucionar a ansiedade pela fome

física do grupo. Em animais e humanos esses impulsos estão relacionados a aspectos

emocionais e comportamentais da empatia. Há também a possibilidade de essa resposta de

ajuda espontânea ter ocorrido devido ao altruísmo aprendido, resultante da aprendizagem

social e ao reforço positivo do comportamento.

No presente estudo a maioria dos respondentes não soube relacionar a algum

fenômeno específico o fato de cães bocejarem ao verem pessoas bocejando (Tabela 2).

Entretanto, quase um terço dos entrevistados está de acordo com alguns autores e

concordaram que a relação entre o bocejo e empatia não é exclusivo para os humanos. Ao ser

confrontados com a capacidade de alguns cães perceberem antecipadamente o retorno

inesperado de seus donos para casa, a maioria dos entrevistados justificou esse acontecimento

como uma resposta ao condicionamento (Tabela 2). Os respondentes consideram que os

118

animais podem sincronizar seus comportamentos com a rotina de pessoas de seu convívio

alterando seu estado nos horários próximos ao retorno delas para casa. Contudo, uma parcela

considerável dos entrevistados afirmou que cães o fazem devido a habilidades telepáticas

(premonição) (Tabela 2). De acordo com Sheldrake (1998), muitos proprietários de cães

acreditam que eles são capazes de perceber antecipadamente quando um membro humano de

seu convívio está por chegar a casa. Entretanto, deve-se levar em conta que cães possuem

sentidos como audição e olfato mais desenvolvidos que humanos, podendo então perceber o

retorno de alguém conhecido e não necessariamente antecipar de forma telepática.

Em nosso estudo ao comparar os cães com outros animais, os entrevistados acreditam

que as habilidades empáticas são maiores em cães do que em aves domésticas e peixes

(Tabela 3). É certo presumir que cães, mais que qualquer outra espécie doméstica, possuem

com os seres humanos um maior desenvolvimento cognitivo e comunicativo. Entretanto essa

mesma visão não foi constatada quando comparados com outras classes de animais

domésticos, como de companhia (gato) e de produção (suínos, bovinos e equinos). No geral,

os entrevistados não acreditam haver um maior desenvolvimento empático em cães que

nessas espécies (Tabela 3). Criadores de animais de companhia muita vezes são rotulados de

adoradores de cães ou adoradores de gato, sendo muito comum ver em notícias de internet a

polêmica entre eles, julgando qual animal é mais companheiro, fiel, brincalhão entre outras

qualidades. Essa mesma polarização ficou evidente no julgamento dos entrevistados a respeito

de quem tem mais empatia, cão ou gato (Tabela 3). Assim como os cães, os gatos convivem

há milhares de anos com os seres humanos e acredita-se que a separação com seu ancestral

comum se deu há mais de 10 mil anos (Beaver, 2003). Sendo assim, é esperado que

mecanismos parecidos que permitiram o desenvolvimento dos cães, agiram também nos

gatos, o que leva a pessoas sentirem e perceberem esses mesmos mecanismos empáticos em

gatos.

Com relação a animais de produção não houve diferença entre as opções de resposta

(Tabela 3). Talvez para bovinos e suínos um possível confundidor seja o fato de os

entrevistados serem estudantes ou profissionais médicos veterinários e terem testemunhado ou

aprendido que esses animais, por exemplo, percebem o sofrimento de um semelhante que está

na linha de abate em abatedouros. Ao ver um coespecífico ser abatido os animais se estressam

e como resultado instantâneo há o comprometimento da qualidade da carne a ser

comercializada. Isso ocorre devido a liberação em níveis altos de cortisol na corrente

sanguínea desses animais. Uma das normas do abate humanitário é a de que o animal

antecessor na linha de abate não veja o atual sofrer ou morrer (Ludtke et al., 2012). Já com

119

relação a cavalos, os entrevistados podem ter o conhecimento apurado de que eles vivem em

manadas e foram domesticados para atender a seres humanos há milhares de anos e se

comunicam através de uma desenvolvida linguagem corporal e emissão de sons. Os

entrevistados consideram que os cavalos e os cães não possuem diferença na acuidade dos

mecanismos empáticos (Tabela 3).

Segundo Kret e De Gelder (2012) as diferenças sexuais devem ser consideradas em

pesquisa que abordem o desenvolvimento afetivo, principalmente no âmbito da neurociência

afetiva, entretanto, foi encontrada diferença significativa de opiniões entre o sexo dos

respondentes em apenas um item. Um dado interessante é que nenhuma mulher declarou ser

contra os trabalhos desenvolvidos em ONG‘s. Concomitantemente, uma pequena parcela dos

homens se declarou contra esses trabalhos. Talvez por razões políticas e não afetivas

relacionadas a esse tipo de instituições. Quando os dados foram analisados quanto à posse de

cão ou de outro animal de estimação na vida particular, a maioria dos entrevistados afirmou

que já possuíram, entretanto, o fato de não ter possuído em nenhum momento da vida, não foi

um diferencial no que diz respeito às opiniões apresentadas. Nesta pesquisa, em geral, os

entrevistados independentes do sexo e da posse de cães ou de outro animal de estimação,

mantiveram o mesmo padrão de respostas.

A proximidade e afinidade de estudantes e profissionais médicos veterinários com

animais, em sua maioria antes mesmo do inicio do curso superior, permite a eles desenvolver

durante sua trajetória profissional um senso crítico bem elaborado sobre aspectos relacionados

a estados clínicos e psíquicos dos animais, uma vez que para compreender a fundo uma

patologia se faz necessário entender e observar como funciona o organismo como um todo. O

presente estudo corrobora a ideia de que esses profissionais e estudantes de maneira geral

estão de acordo que animais são capazes de reconhecer o estado de outros indivíduos. Para

eles, em cães, essa habilidade é mais apurada do que em outros grupos de animais. Estudos

mais específicos devem ser feitos para avaliar a profundidade do conhecimento técnico de

profissionais relacionados com estudos de animais sobre fatores relacionados a empatia para

gerar uma melhor condição de vida e bem-estar de animais domésticos e silvestres, além de

proporcionar um entendimento desses mesmos mecanismo em seres humanos, abrangendo

estados socioculturais relacionados a empatia.

120

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125

APÊNDICE E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE

O (a) Senhor(a) está sendo convidado(a) a participar do projeto: Análise sobre o ponto

de vista da empatia comparativa em cães. O presente estudo tem como objetivo identificar a

capacidade de pessoas em perceber as habilidades empáticas e entender a empatia como um

processo intrínseco em alguns animais, especialmente cães. O seu nome não aparecerá e será

mantido o mais rigoroso sigilo através da omissão total de quaisquer informações que

permitam identificá-lo(a). O questionário será aplicado através de um formulário eletrônico.

Não existe obrigatoriamente um tempo pré-determinado para responder o questionário.

Informamos que o(a) senhor(a) pode desistir de participar da pesquisa em qualquer momento

sem nenhum prejuízo pessoal. Os dados e materiais utilizados na pesquisa ficarão sob a

guarda do pesquisador. Se o(a) senhor(a) tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por

favor telefone para: Edilberto Nobrega Martinez, da instituição Universidade do Estado do

Rio de Janeiro, telefone: (21) 99930-0306. Este projeto foi Aprovado pelo Comitê de Ética

em Pesquisa. Ao aceitar participar da pesquisa eletrônica, o(a) senhor(a) aceitará o TCLE.

O(a) senhor(a) não terá despesas e nem será remunerado(a) pela participação na pesquisa.

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APÊNDICE F – Identificação dos cães participantes

Balu, macho (Terrier Brasileiro) e Lulu, fêmea (Terrier Brasileiro)

Skinner, macho (Terrier Brasileiro) e Luna, fêmea (Terrier Brasileiro)

Draco, macho (Rhodesian Ridgeback) e Maia, fêmea (Rhodesian Ridgeback)

Bruck, macho (Rhodesian Ridgeback) e Kayla, fêmea (Rhodesia Ridgeback)