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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ CURSO DE DIREITO EDILSON FERRO RIBEIRO A RESPONSABILIDADE DO ALIMENTANTE NO NOVO DIREITO DE FAMILIA MACAPÁ 2008

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ CURSO DE … · necessidade de ajuizamento de uma nova ação, visando à exoneração da obrigação alimentar, quando o alimentário completar

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ

CURSO DE DIREITO

EDILSON FERRO RIBEIRO

A RESPONSABILIDADE DO ALIMENTANTE NO NOVO DIREITO DE FAMILIA

MACAPÁ

2008

EDILSON FERRO RIBEIRO

A RESPONSABILIDADE DO ALIMENTANTE NO NOVO DIREITO DE FAMILIA

Monografia apresentada ao Curso de Direito do Centro de Ensino Superior do Amapá, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob a orientação da Profª. Helisia Costa Góes.

MACAPÁ

2008

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Dedico este trabalho monográfico a Deus, pela minha vida, aos meus pais Manoel e Sebastiana, pela minha educação, à minha esposa Alda, pelo apoio e paciência e ao meu filho Junior, pela ausência, que foi de suma importância para que pudesse ter êxito na elaboração deste trabalho.

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Agradeço a Professora e Orientadora Helisia Costa Góes, pelo apoio e encorajamento contínuo na orientação, aos demais Mestres do CEAP pelos conhecimentos transmitidos, e à Coordenação de graduação do Centro de Ensino Superior do Amapá pelo apoio institucional e pelas facilidades oferecidas.

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“A verdade alivia mais do que machuca. E estará sempre acima de qualquer falsidade como o óleo sobre a água”.

John Scully

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RESUMO Pelo novo Código Civil, ao se completar 18 (dezoito) anos, o alimentário

perderá o direito à percepção de alimentos decorrentes do Poder Familiar, mas

poderá continuar a recebê-los em razão do parentesco, que não se extingue

com a maioridade civil, podendo a obrigação se prolongar até os 24 (vinte e

quatro) anos, como ocorre hoje com o estudante de instituição de ensino

superior. A grande diferença entre o novo sistema e o do atual código está no

fato de que a partir dos 18 (dezoito) anos, o alimentário é que deverá provar a

necessidade de continuar a receber alimentos, em virtude do parentesco

existente entre ele e o alimentante. Há inversão do ônus da prova. Há

necessidade de ajuizamento de uma nova ação, visando à exoneração da

obrigação alimentar, quando o alimentário completar a maioridade civil, uma

vez que não se pode formular pedido novo em processo findo, por medida de

economia processual e justiça, entendendo-se que pode o alimentante, nos

mesmos autos em que foram fixados os alimentos, pleitear sua exoneração

dessa obrigação, cabendo ao juiz, intimar o alimentário para que se manifeste

sobre o pedido, ocasião em que poderá produzir prova de que a continuidade

do recebimento dos alimentos é necessária, o que reduziria as despesas e

dissabores de alimentantes e alimentários, com a demora do processo. Em

verdade, o art. 1.708 do Código Civil de 2002 traz em si muito mais que a

exoneração do alimentante. O art. 1.699 apenas diz que “poderá o interessado

reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, a exoneração”. Diferentemente,

e seguindo os passos do art. 29 da Lei do Divórcio, o art. 1.708 é taxativo,

determinando que, na hipótese aventada, “cessa o dever de prestar alimentos”.

Palavras-chave: Código Civil; Alimentos; Obrigação; Dever e Lei do Divórcio.

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ABSTRACT

For the new Civil Code, when completed 18 (eighteen) years, the food

industries will lose the right to the perception of food arising from the Power

Family, but could continue to receive them because of kinship, which is not

extinguished with the majority civilian, and may the obligation was extended

until the twenty-four (24) years, as happens today with students of higher

education institution. The big difference between the new system and the

current code is the fact that from 18 (eighteen) years, the food industries that

should prove the need to continue to receive food because of kinship between

him and alimentante. There reversal of the burden of proof. There is need for

filing of a new action, seeking the resignation of maintenance, when the food

industries complete the majority civilian, since you can not make a new

application process ended, by measure of procedural economy and justice,

understanding that can the alimentante, in the same file that were set in the

food, plead his resignation that requirement, leaving the court to instruct the

food industries in order to express on the request, when it can produce

evidence that the continuity of the receipt of food is needed , Which would

reduce the costs and difficulties of alimentantes and alimentários, with the delay

of the process. In fact, art. 1,708 of the Civil Code of 2002 brings in many more

that the dismissal of alimentante. The art. 1,699 only says that "he could claim

the judge, as the circumstances, the exemption." Unlike, and following the

footsteps of art. 29 of the Divorce Act, the art. 1,708 is exhaustive, determining

which, if reached, "ended the duty to provide food".

Keywords: Civil Code; Foods; Obligation; Duty; Law of Divorce.

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SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................. 06

ABSTRACT......................................................................................................... 07

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 09

Capítulo 1. BREVE PERCURSO SOBRE OS ALIMENTOS............................. 10

1.1 Conceituação............................................................................................... 10

1.2 Classificação................................................................................................ 11

1.3 Dever de alimentar....................................................................................... 15

1.4 Pressupostos da obrigação de alimentar................................................. 17

1.5 Naturezas do instituto dos alimentos........................................................ 20

Capítulo 2. EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR................................. 23

2.1 Considerações preliminares....................................................................... 23

2.2 Da execução de prestação alimentícia...................................................... 24

2.3 Procedimentos comuns a todas as modalidades executivas................. 26

2.3.1 Execução mediante desconto em folha de pagamento........................ 26

2.3.2 Execução mediante outros rendimentos do devedor........................... 28

2.3.3 Execução por quantia certa..................................................................... 28

Capítulo 3. DA OBRIGATORIEDADE DO PEDIDO DE EXONERAÇÃO.......... 31

3.1 Considerações preliminares....................................................................... 31

3.2 A maioridade dos filhos e a exoneração dos alimentos.......................... 34

3.3 Transmissibilidades da obrigação alimentar............................................ 37

CONCLUSÃO...................................................................................................... 40

REFERÊNCIAS................................................................................................... 43

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INTRODUÇÃO

Desde a entrada em vigor do novo Código Civil Brasileiro, no ano de 2002, uma

questão, mais que outras, causou dúvidas no meio jurídico. Essa questão diz

respeito à maioridade civil. No antigo Código Civil Brasileiro de 1916 (Lei n.

3.071) mais precisamente no art. 9º, determinou-se a maioridade aos 21 (vinte

e um) anos completos. Já no novo Código Civil brasileiro, de 2002, esse limite

ficou reduzido há (18) dezoito anos.

O ordenamento jurídico brasileiro prevê as modalidades de prestação

alimentícia com fundamento na necessidade de subsistência ou mantença do

alimentando. Em razão disso, a proposta central deste trabalho é o estudo da

exoneração de alimentos, em todas as modalidades, desde que o fundamento

seja a manutenção da pessoa.

O presente estudo foi conduzido, com base na pesquisa bibliográfica da

Doutrina e Jurisprudência para a compreensão mais efetiva sobre o tema

abordado, buscando obter informações sobre a situação atual do tema

pesquisado, por meio de publicações existentes sobre o assunto e os aspectos

que já foram tratados. Também direcionou-se a examinar os julgamentos

similares e aspectos relacionados ao tema da pesquisa, com os alimentos

prestados pelo laço de parentesco, os alimentos prestados a ex-cônjuges e os

alimentos prestados em decorrência de atos ilícitos, e tem por finalidade fazer

uma análise da responsabilidade do alimentante no novo Direito de Família.

Há mais de 20 (vinte) anos pago pensão alimentícia às minhas filhas, e sempre

tive uma série de dúvidas em relação à binômia necessidade-possibilidade

desta temática, sendo que no decorrer do curso tive oportunidade ímpar para

aprofundar meus conhecimentos dentro dos conteúdos ministrados, assim

como no decorrer das leituras direcionadas.

Por aproximadamente 01 (um) ano e meio tive a oportunidade de estagiar na

Defenap - Núcleo de Santana, onde convivi diariamente com o assunto em

epígrafe, pois saindo dos referenciais para a praticidade é que se cria um novo

olhar que nos leva a uma melhor absorção dos ensinamentos repassados em

sala de aula.

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Capítulo 1. BREVE PERCURSO SOBRE OS ALIMENTOS 1.1 Conceituação

A figura dos alimentos não é recente, existindo já nos princípios da

civilização, como um dever moral, concedidos pietatis causa15, sem que

houvesse uma regra jurídica a impor-lhe a prestação. Dever moral, officium

pietatis2, concedidos “pietatis causa”, originariamente, os alimentos não

apresentavam conotação de obrigação, dever inescusável, mesmo porque a

sociedade de então ainda não se apresentava estruturada nos mesmos moldes

da atual família.

De origem latina, a palavra alimento (alimentum), tem significado de

sustento, dar assistência, manutenção, subsistência, etc. Percebe-se que por

volta do séc. XII a.C. era função de solidariedade entre os parentes doar

alimentos uns para os outros.

Os gregos acreditavam que pais e filhos deviam se sustentar em um

sistema de mútua assistência, pois os filhos devem como forma de gratidão

alimentar seus pais quando estes chegassem a uma idade mais avançada.

Essa regra de cooperação entre pais e filhos era obrigatória por lei.

A idéia de que os membros de uma mesma família se devem

amparo recíproco, surge, naturalmente, como forma de preservar o

próprio grupo, cuja existência é muito importante para o ser humano,

considerando-se a sua condição de animal social.

Somente com a adoção de uma teoria que procurasse afortunar mais

a questão da consangüinidade entre os familiares que se passou observar a

família sobre uma nova ótica. Nesta nova visão da família, não se considerava

esta apenas como uma forma de agrupamento de pessoas que são submetidas

aos ditames de apenas um líder.

Nota-se que essa mudança na concepção da família acabou por

extinguir a figura do pater familias3, ou seja, aquele dever apenas moral de

alimentar passou a ser substituído pela obrigação jurídica legal, possibilitando

até mesmo a tutela por intermédio do cognitio extra ordinem4.

1- por causa da piedade 2- dever de afeição 3- poder de autoridade do pai 4- conhecimento extraordinário

17

Com a necessidade de regulamentação do pedido judicial de

alimentos, houve a criação da Lei n. 5.478/68, chamada de Lei dos Alimentos.

Essa lei vigorou até 1973, momento em que surgiu uma nova lei que

regulamentava a questão do rito de processamento dos assuntos pertinentes

aos alimentos. A Lei n. 6.014/73 versou também sobre a fixação provisória de

alimentos pelo juiz, além de regulamentar os meios de execução da obrigação

de alimentar.

Outras leis também regeram sobre a obrigação de alimentar, como a

Lei n. 8.971/94, chamada de Lei do Concubinato e da União Estável, que

dispunha sobre a existência de obrigação de alimentar entre pessoas que

conviviam através da união estável. Com a chegada do Novo Código Civil é

estabelecida uma nova forma de obrigação alimentar, caracterizada por ser

recíproca entre pais e filhos, sendo estendidos a todos os ascendentes e

descendentes, como parentes, cônjuges ou até mesmo companheiros.

Os alimentos abrangem todas aquelas importâncias, sejam em

dinheiro ou até mesmo aquelas prestações in natura, em que uma pessoa está

obrigada por virtude de lei, a prestar pensão em virtude de outra. Entretanto,

segundo Beviláquia, (1976, p. 154) “o instituto dos alimentos foi criado para

socorrer os necessitados e não para fomentar a ociosidade e favorecer o

parasitismo”.

A obrigação de alimentar no Direito de Família é dever moral de uma

pessoa para com outra de sua família que se ache necessitado. Entretanto,

esse dever moral é também, antes de tudo, dever legal, sendo que a pessoa

que tem a obrigação de prestar o alimento, caso não o faça por vontade própria

e sem justificativa, responderá legalmente pela omissão cometida.

1.2- Classificação

Distintas as causas geradoras do direito à alimentos, múltiplas

também são as estruturas jurídicas internas (materiais),

que as disciplinam, bem como os expedientes destinados a dinamizar sua

exigibilidade. A diversidade de tratamento e regramento da matéria leva em

conta a obrigação alimentar quanto à sua natureza, sua causa jurídica, sua

finalidade e o momento da sua prestação.

18

Em razão do próprio tratamento diversificado dado ao instituto, vê-se

que está repelida a unificação dos princípios aplicáveis às diversas

modalidades da obrigação, regulando-se cada uma delas segundo normas

específicas.

“Atualmente, existe uma forte tendência no sentido de se buscar uniformizar, pelo menos o tratamento procedimental acerca da exigibilidade dos alimentos, ainda que variadas as fontes da obrigação, constatando-se uma verdadeira migração normativa entre os vários ramos do direito.” (CAHALI,1999. p. 26).

Os alimentos podem ser classificados de várias maneiras, sendo que

a primeira delas se refere à natureza destes que pode ser civil ou natural.

Consideram-se como naturais aquelas prestações de alimentos que se tratam

de uma necessidade para a vida do titular dos alimentos, ou seja, aquelas que

se referem à necessitum vitae56.

Com relação à natureza civil, pode-se considerar como aquelas

formas de alimentos que abrangem além da obrigação de alimentar outros

variados fatores, que não são necessários para a sobrevivência do beneficiado,

ou seja, são aqueles necessarium personae6, como, por exemplo, a educação.

“Os alimentos podem ser naturais, se estritamente necessário à sobrevivência de uma pessoa, nos limites de necessarium vitae, e civis, se abrangem outras necessidades, intelectuais ou morais, compreendendo o necessarium personae”. (AZEVEDO, 2000. p. 49.)

É regra de acordo com o artigo 1.964, caput, do Código de Processo

Civil, que sejam fixados os alimentos de natureza civil como base da obrigação

de alimentar, pois estes são de extrema necessidade para a pessoa que

carece do beneficio. Não obstante, os alimentos naturais elencados nos arts.

1.694, § 2º e no art. 1.704 parágrafo único, são considerados como exceção a

essa regra.

5- necessidades de alimentos na vida 6- necessidade do ser humano

19

Discute-se, quanto à natureza jurídica da obrigação alimentar, se ela

se constitui em obrigação solidária, em caso de haver dois ou mais devedores.

É o caso, por exemplo, da mãe que, sem meios disponíveis para se manter,

possui dois filhos com possibilidades de prestar alimentos. É de se notar que o

nosso Código Civil não regulamenta essa situação.

Quanto à finalidade os alimentos podem ser provisionais, ou seja,

aqueles que são cedidos ao beneficiado ainda no decorrer da demanda, ou os

alimentos ad item7, que são aqueles alimentos estipulados em caráter definitivo

em que o juiz fixa, ou as partes acordam o valor da prestação em caráter

definitivo.

Rodrigues, (1996, p.245) abrilhanta essa afirmativa com o seguinte

parecer:

“Alimentos provisionais, também chamados ad litem, são constituídos por prestação reclamada por um dos litigantes contra outro, como preliminar das ações de destaque, de divórcio de anulação de casamento, de investigação de paternidade e de alimentos.”

Azevedo, (2000, p.49), em consonância afirma que:

Os alimentos quanto à finalidade podem ser provisionais, ou in litem, os concebidos para manutenção do alimentando ou dele e de seus filhos, na pendência do processo; os regulares ou definidos, são os fixados pelo juiz ou convencionados, por acordo das partes, com prestações periódicas e de caráter permanente.

Com basilar em tais afirmações pode-se concluir que os alimentos ad

litem são os alimentos que tem como principal função a garantia da integridade

do beneficiado até a conclusão do processo.

Sérgio Carlos Coelho (1998, p. 196), avalia os alimentos provisórios

como aqueles que "são fixados segundo o prudente critério do magistrado,

levando em consideração as necessidades do alimentando e as possibilidades

do alimentante".

7- para o processo

20

Provisório apresenta característica de não permanente, ou seja,

aquele que possui característica de liminar, sendo despachado pelo magistrado

para que haja a obediência à norma do artigo 4º da Lei n. 5.478/68, na seguinte

redação: “ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios

a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que

deles não necessita”.

Depois que são fixados os alimentos provisórios, estes são

considerados como devidos até que haja a tramitação em julgado do processo,

em que serão fixados os alimentos definitivos, desde que não haja uma revisão

cautelar. Com relação aos alimentos definitivos pode-se afirmar que é aquela

obrigação de alimentar dada depois de julgada a lide.

Os alimentos são classificados com relação à causa jurídica em:

Legítimos: compreende aqueles que são oriundos de uma obrigação

legalmente reconhecida, ou seja, aquela obrigação que se funda em uma

obrigação reconhecida pela consangüinidade, com relação ao parentesco.

De acordo com as afirmações de Cahali, (1999, p. 132), "só os

alimentos legítimos, assim chamados por derivarem ex dispositione juris8,

inserem-se no Direito de Família".

Volitivos: compreendem-se como aqueles que são estipulados após

uma convenção voluntária, sejam inter vivos ou através de causa mortis.

Segundo Cahali, (1999, 134), devem-nos bem nos seguintes termos:

“Voluntários são os que se constituem em decorrência de uma declaração de vontade, inter vivos ou causa mortis; resultantes ex dispositiones hominis, também chamados obrigacionais, ou prometidos ou deixados, prestam-se em razão de contrato ou de disposição de última vontade; pertencem, pelo que, ao Direito das Obrigações ou ao Direito das Sucessões, onde se regulam os negócios jurídicos que lhes servem de fundamento.”

Indenizatórios: compreende aqueles que são oriundos da prática de

algum ato ilícito pelo devedor, ou seja, pela pessoa que tem a obrigação de

prestar alimentos.

Os indenizatórios também são conhecidos como ressarcitórios ou ex

delicto9, pois possuem características de indenização.

8- por disposição do direito 9- dano causado por infração penal

21

Quanto ao momento da prestação, pode-se afirmar que os alimentos

são classificados em futuro e pretérito. Considera-se futuro aquela prestação

de alimentos que é acordado e homologado ou que decorra de sentença já

transitada em julgado.

Segundo a afirmação de Cahali (1999, p. 140), essa distinção possui

muita importância no setor jurídico, pois “na determinação do termo a quo a

partir do qual os alimentos se tornam exigíveis". Sendo assim, pode-se afirmar

que os alimentos possuem uma função ad futurum, não ad praeteritum, já que

estes devem suprir uma necessidade atual ou que irá ainda surgir e não uma

necessidade que já passou.

De acordo com Azevedo, (2000, p. 57).

“Quanto à modalidade o dever de alimentar pode ser próprio e impróprio. Próprio é aquele que compreende a prestação do que é indispensável, necessário, à manutenção da pessoa; Impróprio é a hipótese em que se fornecem meios idôneos à aquisição de bens necessários à subsistência.”

Com relação à modalidade, é atribuída a diferenciação entre alimento

próprio e impróprio. Consideram-se como próprios todos aqueles alimentos

extremamente necessários para a manutenção da saúde do beneficiado. Por

sua vez, os alimentos classificados como impróprios são aqueles que dão ao

beneficiado a condição de manter uma vida confortável.

1.3- Dever de alimentar

Entre parentes existe uma obrigação recíproca de alimentação, seja

em qualquer hipótese. Esta regra apenas recai sobre aquelas pessoas que

estão elencadas pelo artigo 1.694 do Código Civil vigente, podendo então

afirmar que apenas são amparados pelas normas os ascendentes e os

descendentes, sem que haja qualquer limitação de grau de parentesco, entre

os colaterais até o segundo grau e entre cônjuges e similares.

Entre os ascendentes, descendentes e colaterais, a obrigação é

outorgada devido a um e falta do outro, sendo preferencialmente os parentes

em graus mais próximos. Dessa forma, fica claro que aquela pessoa que vier a

22

necessitar de pensão alimentícia deverá recorrer e observar a ordem que é

preferencialmente elencado pela norma legal.

Entretanto, deve-se observar que o grau de parentesco pode ser

suspenso para obrigar que a prestação de dar alimentos seja cumprida pelo

parente que se encontrar em melhores condições financeiras, mesmo que o

parente mais pobre possa cumprir a obrigação, sem que haja prejuízo ao seu

sustento, mesmo que de forma parcial.

Entre os ascendentes e descendentes em linha reta não há nenhuma

limitação com relação ao grau de parentesco, e caso recaia sobre ascendente

ou descendente a obrigação de prestar alimentos, esta em falta de um parente

mais próximo, pode ser considerado como responsável pela prestação até

mesmo o tataraneto ou tataravô do alimentado.

Segundo Venosa, (2005, p.403).

“Atende-se processualmente ao princípio da divisibilidade da obrigação alimentícia, permitindo-se que, no mesmo processo, sejam outros alimentantes chamados para integrar a lide. A lei processual deve traçar normas concretas para possibilitar a eficiência do dispositivo. O dispositivo cria nova modalidade de intervenção de terceiros no processo, instrumento que merece toda a cautela do magistrado, pois pode se tornar expediente para procrastinar feitos.”

Os filhos de origem adotiva são possuidores dos mesmos direitos do

filho legítimo, sendo que a eles se aplicam as mesmas disposições alimentares

que há entre pais, filhos e colaterais. É ele o sujeito ativo e passivo da

obrigação de alimentar, podendo ser beneficiado e ser prestador de obrigações

alimentares.

Entre os parentes colaterais a obrigação de alimentar recai até o

segundo grau de parentesco, sem que haja qualquer distinção de natureza,

nem com relação aos irmãos unilaterais e adotivos.

Existe um dever mútuo de assistência entre os cônjuges, este é um

dos variados princípios que norteiam a relação matrimonial. Trata-se de um

dever mútuo pela imposição legal da assistência como um dos deveres do

casamento, pois ambos os cônjuges devem se auto-ajudarem.

23

É importante que esta obrigação não se caracterize como uma

obrigação de prestação de alimentos, mas sim uma prestação voltada para a

questão do auxílio ao cônjuge. Essa pensão se limitará ao valor que é

indispensável para a sobrevivência do cônjuge que foi considerado culpado

pela separação.

A união estável por sua vez, apresenta também a assistência como

um dos deveres entre os conviventes, já que de acordo com o art. 1.724 do

Código Civil no art. 19 e parágrafos da Lei n. 9.278/96, a essa forma de união

se aplica todos os dispositivos existentes na relação matrimonial.

1.4 - Pressupostos da obrigação de alimentar

O Novo Código Civil inseriu a obrigação alimentícia entre parentes ou

cônjuges no título referente ao direito patrimonial da Família que trata dos

deveres de mútua assistência, muito possivelmente objetivando, com isso, o

legislador, dar substrato ao tratamento técnico-jurídico que é

atinente à novidade que introduziu no instituto, com os alimentos

indispensáveis, cuja concessão a favor do necessitado, independerá da culpa.

A prestação de alimentos constitui objeto de obrigações jurídicas que

têm diferentes fontes. Com efeito, a obrigação alimentar pode resultar:

“Da lei, pelo fato de existir entre pessoas determinadas um vínculo familiar; Do testamento, mediante legado; Da sentença judicial condenatória do pagamento de indenização para ressarcir danos provenientes de atos ilícitos; Do contrato. Ponderando sobre as fontes das obrigações alimentares, estabelece a seguinte divisão: Obrigações alimentares legais resultantes do direito de família; Obrigações alimentares legais resultantes do ato ilícito; Obrigações legais convencionais”. Brum (1997, p. 26 e 27)

São legítimos os alimentos que se devem por um vínculo de

parentesco ou relação de natureza familiar, ou ainda, em decorrência do

matrimônio, em que pese não haver parentesco entre os cônjuges ou

conviventes.

24

A Lei do Divórcio dispõe sobre a obrigação alimentar dos pais para

com os filhos (art. 20), bem como o Estatuto da Criança e do Adolescente (art.

22), que estabelece o dever dos pais para com o sustento, guarda e educação

dos filhos. Com o advento da Constituição Federal de 1988, a proteção à

criança foi ampliada, inexistindo qualquer diferença entre filho legítimo,

ilegítimo, adulterino, adotado ou natural (art. 227, § 6º).

No concernente aos cônjuges, a obrigação alimentar origina-se no

dever a mútua assistência, como está no art. 231, III, do Código Civil, transcrito

para o art. 1.566, III, do Novo Código Civil. No caso de separação judicial ou

divórcio, o cônjuge tem assegurados os alimentos, conforme os arts. 19 e 30

da Lei

do Divórcio (Lei n. 6.515/77).

Pode-se perceber que por força da Lei n. 9.278/96, e agora, de

conformidade com as disposições do Novo Código Civil (art. 1.694 e 1.723), há

o dever de mútua assistência entre os companheiros, oriundos da

união estável ressalva que se faz também aos oriundos do concubinato puro,

como será visto mais adiante.

O vínculo de parentesco é considerado como o principal basilar para

que haja a obrigação de prestar alimentos. É importante que se ressalte que o

cônjuge e o convivente não são considerados pela justiça como parentes, por

disposição legal têm estes direito a alimentos, mesmo não sendo considerados

como parentes são indispensáveis para que haja a formação familiar. Sobre

este tema dispõe os seguintes artigos do Código Civil vigente:

“Artigo 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação”. Artigo. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. Artigo 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais”.

25

Trata-se de um pressuposto da prestação de alimentos a

necessidade de requerimento pela parte interessada ou seu representante.

Considera-se então, apto ao recebimento da pensão alimentícia somente

aquela pessoa que não possui nenhuma forma de renda que lhe garanta o

sustento da família.

A prestação de alimentos trata-se de uma prestação extensiva,

abrangendo todos os parentes em linha reta e os parentes em linha colateral

até o segundo grau, sempre dando preferência aos mais próximos. Portanto, se

o pai não tiver condições de prestar alimentos ao filho, essa obrigação

fatalmente será revertida ao avô se este tiver condições.

De acordo com a redação do artigo 1.694, § 1º, do Código Civil, a

prestação de alimentos deve ser compatível com a situação financeira de quem

recai a obrigação de alimentar, assim como as necessidades do alimentado.

No mesmo sentido salienta Venosa, (2005, p. 415):

“O pagamento é periódico, tendo em vista a natureza dessa obrigação. Nessa fixação reside a maior responsabilidade do juiz nessas ações. Nem sempre será fácil aquilatar as condições de fortuna do indigitado alimentante: é freqüente, por exemplo, que o marido ou pai, sabedor que poderá se envolver nessa ação simule seu patrimônio, esconda bens e se apresente a juízo como um pobre eremita. A prova dos ganhos do alimentante é fundamental. Não há norma jurídica que imponha um valor ou padrão ao magistrado. Quando se trata de pessoa assalariada regularmente, os tribunais têm fixado a pensão em torno de um terço dos vencimentos, mormente quando se trata de alimentos pedidos pela mulher ao marido. Os alimentos devem ser fixados com base nos rendimentos do alimentante, e não com fundamento em seu patrimônio. O sujeito pode ter bens que não produzem renda. Não há mínima condição de forçá-lo a vender seus bens para suportar o pagamento.”

A obrigação de alimentar é fixada caso a caso, de acordo com as

condições de quem lhe pede e de quem seja chamada a respondê-la. É

necessário que se aponte a necessidade de um valor razoável para a

prestação, pois esta deve atender pelo menos todas as necessidades básicas

da pessoa humana. Essa também não pode atingir um valor muito alto, que

possa vir a afetar a situação financeira do portador da obrigação. Caso não

advenha a prestação de alimentar de culpa do alimentante, esta prestação

26

deverá ser equilibrada, resumindo-se no necessário para a subsistência

saudável do alimentado.

Venosa, (2005, p. 416.) ressalta que:

“O artigo 1.701 (antigo, art. 403) também faculta ao devedor prestar alimentos sob a forma de pensão periódica ou sob a forma de concessão de hospedagem e sustento ao alimentando. O art. 25 da Lei n. 5.478/68 eliminara em parte essa faculdade do devedor, estabelecendo que a prestação não pecuniária só possa ser autorizada pelo juiz se com ela anuir o alimentando capaz. De qualquer modo, compete ao juiz estabelecer as condições dessa pensão, conforme as circunstancias. Na maioria das vezes, a obrigação alimentar gira em torno de uma quantia em dinheiro a ser fornecida periodicamente ao necessitado. O fornecimento direto de alimentos no próprio lar do alimentante caracteriza a denominada obrigação alimentar própria, pouco utilizada na prática, em razão das inconveniências que apresenta. Sem dúvida, duas pessoas que se digladiam em processo judicial não serão as melhores companhias para conviver sob o mesmo teto. Embora a lei faculte ao alimentante escolher a modalidade de prestação, o juiz poderá impor a forma que melhor atender ao caso concreto, de acordo com as circunstâncias, conforme estampado no parágrafo único do mencionado art. 1.701”.

Com relação à fixação do cumprimento da obrigação, esta pode se

dá através de prestações periódicas ou em espécie in natura, que caracteriza

as prestações de obrigação alimentar a concessão de hospedagem e sustento.

1.5 - Naturezas do instituto dos alimentos

O disciplinamento difuso do instituto, a necessidade de sua

sistematização é recomendada seja em razão das múltiplas alterações que são

introduzidas por um complexo de leis extravagantes, seja em razão da

reformulação de muitos de seus conceitos por ativa elaboração jurisprudencial.

A falta de unanimidade no trato da matéria é notada no

posicionamento tomado pelos doutrinadores, e, além de todos aqueles

estatutos legais específicos, ainda é prudente registrar, em que pese não

alcançados pelo objetivo deste estudo, a existência das prestações alimentícias

decorrentes da reparação pela prática dos atos ilícitos, o provimento advindo

do reconhecimento e da investigação da paternidade de filhos havidos fora do

27

casamento, conforme a Lei n. 8.560, de 29 de Dezembro de 1992, os alimentos

reservados aos pais que, na velhice ou enfermidade, restem sem condições de

prover suas necessidades básicas de subsistência, conforme reforçou a Lei n.

8.648/93.

De acordo com Cahali,(1999, p. 51).

“A lembrança histórica que uma nação organizada consegue preservar, acerca dos episódios mais significativos da sua trajetória, é responsável pelo padrão de qualidade e grau de desenvolvimento das suas instituições políticas, pela relevância das suas conquistas sociais e pelo aperfeiçoamento do seu sistema jurídico.”

É de justiça recordar que, além das então inovadoras e

corajosas decisões isoladas, atribuindo alimentos à companheira da

convivência de longos anos, foi à legislação previdenciária a pioneira em

reconhecer à concubina o direito de receber pensão em razão do passamento

do companheiro, daí muitos estudiosos afirmarem que a previdência social foi o

primeiro abrigo da companheira.

Existem controvérsias acerca da natureza da ação de alimentos, pois

há parte da doutrina que a considera como uma ação de estado e outros que

não lhe dão tal atribuição. Entretanto, há de se ressaltar que existe na ação de

alimentos uma característica de estado, pois esta está relacionada ao estado

de família, já que sua natureza funda-se no direito familiar.

Outra divergência esta relacionada à sua característica, parte da

doutrina que considera a ação de alimentos como uma ação com característica

de direito pessoal extrapatrimonial. Existe corrente doutrinária que a considera

como uma ação de natureza mista, tendo caráter patrimonial com finalidade

pessoal, como afirma Gomes, (1998, p. 234).

“O interesse ao alimentando não seria propriamente econômico e a prestação recebida não constituiria um valor que aumente seu patrimônio e sirva de garantia aos credores, nem a dívida se classificaria como uma verba do passivo de seu patrimônio. Sob a influência de Cicu, alguns definem o direito de alimentos, na órbita familiar, como um direito familiar público, mas a aceitação dessa construção implica uma adesão aos conceitos discutíveis sobre o próprio Direito de Família.

28

Mantida a posição clássica, que o enquadra no direito privado, a sua extrapatrimonialidade apresenta-se como uma das manifestações do direito à vida, que é personalíssimo, e, por isso mesmo, necessário e indisponível. A despeito dessas particularidades, não se pode negar a qualidade econômica da prestação própria da obrigação alimentar, pois consiste no pagamento periódico, de soma de dinheiro ou no fornecimento de viveres, cura e roupas. Apresenta-se conseqüentemente, como uma relação patrimonial de crédito-débito; há um credor que pode exigir de determinado devedor uma prestação econômica”.

Não se pode considerar o direito a alimentos apenas como direito

pessoal e extrapatrimonial, uma vez que se deve levar em consideração

também seu fundamento ético e social, isso porque o alimentado não tem

apenas um interesse econômico, já que a verba que lhe é dada não aumenta

seu patrimônio, nem dá garantia aos seus credores.

29

Capítulo 2: EXECUÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR 2.1 Considerações preliminares

Devido à importância que a obrigação de alimentar tem para o Direito

de Família, é cedida pela justiça ao credor de obrigação alimentícia uma

espécie de proteção especial, pois este tem ao seu dispor, quatro modalidades

de ações de caráter de execução para propor. Tais ações são ordenadas de

forma hierárquica e gradativa, para que assim se possa conscientizar o

devedor da importância do pagamento correto da prestação e da gravidade de

seu descumprimento, demonstrando ao credor todo amparo judicial para que

seja feito o recebimento.

De acordo com Filho, (1993, p. 87), disciplinadas

complementarmente pelas leis de Alimentos (Lei n. 5.478/68), Lei de Divórcio

(Lei n. 6.515/77), e pelo Código de Processo Civil as ações executivas da

obrigação de alimentar consistem:

1. No desconto efetuado direto na folha de pagamento do inadimplente (Lei n.

5.478/68, art. 16, c/c o art. 734 do CPC);

2. Em execução por meio de descontos em aluguéis ou outras formas de renda

do devedor (artigo 17 da Lei de Alimentos) que abarca a execução para a

entrega ao cônjuge, mensalmente de parte da renda líquida dos bens

comuns, administrados pelo devedor, se o regime de casamento for o da

comunhão universal de bens (Lei n. 5.478/68, art. 4º, parágrafo único);

3. Na execução por quantia certa (art. 732 do CPC);

4. Na prisão do devedor (art. 733 do CPC, e art. 19 da Lei n. 5.478/68).

A Lei n. 5.478/68 que também é conhecida no Brasil como “Lei de

Alimentos”, nos diz que existe uma ordem que coordena a utilização dos meios

de execução, sendo estes organizados da seguinte forma: o que ocorre em

primeiro lugar é a intervenção patrimonial, estando esta prevista no art. 734 do

Código de Processo Civil e arts. 16 e 17 da Lei de Alimentos, sendo estes

hierarquizados pelo legislador, ou seja, não pode o executor a escolha de qual

forma de execução irá adotar primeira.

30

De acordo com a redação dada pela Lei n. 6.014, de 27/12/73 artigo

16: “na execução da sentença ou do acordo nas ações de alimentos será

observado o disposto no artigo 734 e seu parágrafo único do Código de

Processo Civil”. Apresenta ainda o mesmo diploma legal em seus arts:

“Artigo 17. Quando não for possível a efetivação executiva da sentença ou do acordo mediante desconto em folha, poderão ser as prestações cobradas de alugueres de prédios ou de quaisquer outros rendimentos do devedor, que serão recebidos diretamente pelo alimentando ou por depositário nomeado pelo juiz. Artigo 18. Se ainda assim, não for possível a satisfação do débito, poderá o credor requerer a execução da sentença na forma dos artigos 732, 733 e 735 do Código de Processo Civil.

Artigo 19. O juiz, para instrução da causa ou na execução da sentença ou do acordo, poderá tomar todas as providências necessárias para seu esclarecimento ou para o cumprimento do julgado ou do acordo, inclusive a decretação de prisão do devedor de um (01) a três (03) meses”.

Caso não seja possível a efetivação da cobrança de forma direta

como, por exemplo, o desconto em folha de pagamento alugue etc., é aplicado

o que dispõe o artigo 18 supracitado. Nesse caso, é cedido ao credor o direito

de opção pelo meio executivo a utilizar, pois o digesto processual não

estabeleceu nenhuma forma de hierarquia entre ambos.

2.2 Da execução de prestação alimentícia

Ante o fato de que a prestação alimentícia tem a função essencial de

propiciar meios de subsistência a quem não possui condições de obtê-los por

iniciativa própria, é inegável a natureza publicística das normas de direito que

disciplinam o assunto, uma vez que a matéria, inegavelmente, interessa à

sociedade brasileira em geral.

Também é considerado um direito personalíssimo, eis que, visando

exclusivamente preservar a vida do indivíduo e as condições de dignidade

inerentes, os alimentos devem ser considerados um direito pessoal, no sentido

de que a sua titularidade não pode ser transferida a outrem, vez que não há

qualquer sentido em que tal coisa possa ocorrer, seja em razão de negócio ou

de fato jurídico.

31

“Também é considerado um direito personalíssimo, eis que, visando exclusivamente preservar a vida do indivíduo e as condições de dignidade inerentes, os alimentos devem ser considerados um direito pessoal, no sentido de que a sua titularidade não pode ser transferida a outrem, vez que não há qualquer sentido em que tal coisa possa ocorrer, seja em razão de negócio ou de fato jurídico. (CAHALI, 1999, p. 54)”.

Toda a ordem hierárquica não é pacífica entre todos os

doutrinadores, pois existe determinada corrente doutrinária que defende a

possibilidade do credor poder escolher de forma livre a medida de execução

que irá tomar contra o devedor. Se for feita à interpretação da disposição legal

acerca do assunto fica evidente que é necessário ao executor seguir uma

ordem de atos de execução, tendo que haver primeiramente o esgotamento de

todas as vias de execução que estão elencadas nos já citados artigos. 16 e 17.

Posteriormente a esse esgotamento de opções é que será aberta a

possibilidade de escolher quais das modalidades de ação de execução

elencadas no Código de Processo Civil o credor vai escolher, seja a execução

por quantia certa ou a execução mediante coerção em consonância com o

disposto nos artigos. 18 e 19 do diploma legal que versa sobre a ação

alimentícia.

O entendimento anteriormente apresentado ventila a valoração da

liberdade que o credor deve ter com relação à execução de alimentos, fulcrado

principalmente na questão da urgência que permeia em via de regras as ações

executivas de alimentos. Por essa relevante razão, existem situações que

tamanha é a necessidade do alimentado que não se pode esperar a adoção da

expropriação dos bens como ensina a lei.

“Não se cogita de qualquer dúvida sobre a prevalência das duas primeiras formas, desconto em folha de pagamento ou de aluguéis e outros rendimentos, sobre as últimas duas. Todavia, não se exaurindo o débito por nenhuma daquelas possibilidades iniciais, não se pode, como muitos já sustentaram, impedir a deflagração da ação executiva, com pedido de prisão, antes de esgotada a possibilidade da execução com penhora de bens. Na verdade, ainda que a execução deva ser sempre a menos gravosa para o devedor, neste caso, diante das peculiaridades do crédito exeqüendo, estimo que não haja qualquer hierarquia de uma forma sobre a

32

outra. Pelo contrário, tenho que o credor compete escolher a forma executiva mais conveniente aos seus interesses. Se duas interpretações se mostram razoáveis, deve-se optar pela que melhor atenda os fins sociais e ao bem comum. (BEBER, nº. 1, abr/jun,1999.)”

Deve-se fazer uma avaliação de sobrepeso entre bens jurídicos,

sendo que em determinadas situações a liberdade e a vida, “vencem” a

burocracia legal.

2.3 Procedimentos comuns a todas as modalidades executivas

A execução da prestação alimentícia terá abrangência sobre todas

as prestações passadas inadimplida, limitadas a três anos do vencimento, e as

vincendas, nos termos do artigo 290 do Código Civil Brasileiro.

Existe a garantia constitucional que versa com relação ao devido

processo legal, do direito que a pessoa possui de ampla defesa e do

contraditório, devendo todas estas garantias ser respeitadas, mesmo a

interposição de exceções substanciais, não importando qual seja a forma de

execução alimentar.

Pela importância que se dá a prestação de alimentos, terá o

alimentado exeqüente direito de investigação da vida particular do devedor,

com o intuito de obter informações que possam fazer transparecer algum

patrimônio de propriedade do alimentado que seja passível de execução. Essa

investigação pode ser iniciada mediante oficio as repartições públicas, sendo

incluída nessa lista até mesmo a Receita Federal.

De acordo com o artigo 20, Lei n. 5.478/68: “as repartições públicas,

civis ou militares, inclusive do Imposto de Renda, darão todas as informações

necessárias à instrução dos processos previstos nesta lei e à execução do que

for decidido ou acordado em juízo”.

2.3.1 Execução mediante desconto em folha de pagamento

Essa é a primeira das modalidades de execução que devem ser

utilizadas pelo credor que tem o direito a receber alimentos. Tal forma

executiva é portadora de preferências com relação às demais formas

33

executivas, sendo basicamente constituída pelo desconto do valor da

prestação na folha de pagamento do devedor, efetuado diretamente na fonte

pagadora.

Pode-se considerar essa forma de execução como a mais prática

das formas de execução que estão em atividade, pois não tem como o devedor

se apoderar do dinheiro. É também considerado como o meio mais rápido de

se conseguir a quantia devida, sendo esta utilizada contra devedores que

sejam funcionários, públicos, diretores ou gerentes de empresa, aposentados,

reformados e demais funcionários que estejam sujeitos aos ditames da

legislação trabalhista.

É um método de execução que atua cumulativamente pelo artigo 16

da Lei n. 5.478/68 com o artigo 734 do Código de Processo Civil, sendo que

através deste método executório o desconto na folha de pagamento do

devedor não depende de seu consentimento, nem estipulação através de

acordo judicial ou extrajudicial, ou decisão que fixe a obrigação alimentícia.

No caso de não pagamento da prestação, deve o alimentado fazer o

ajuizamento da ação de execução alimentícia, devendo constar o empregador

ou a fonte pagadora do devedor, pedindo a expedição de determinação que

autorize a feitura dos descontos da pensão do pagamento do devedor de forma

periódica, de acordo com a estipulação de valor que foi feita, não importando

se esta foi decretada na forma consensual ou litigiosa.

O devedor deverá ser citado de forma regular, sendo-lhe

demonstrado todo o conteúdo da ação de execução. Na execução de

prestação alimentícia por intermédio do desconto na folha de pagamento é

importante que se note que o desconto deverá ser equivalente ao valor da

penhora que dá basilar ao ajuizamento, pelo alimentante executor, dos

competentes embargos, que seguem o rito comum.

De acordo com a afirmativa, "essa modalidade de execução

comporta, perfeitamente, a cobrança de parcelas pretéritas, desde que

reservado ao alimentante valor necessário à sua sobrevivência" Assis (2002,

p.45). Pode-se compreender que existe a possibilidade de efetuação do

parcelamento da dívida pretérita, para que possa não haver prejuízo ao credor

na sua necessidade e nem ao devedor no cumprimento de suas obrigações.

34

2.3.2 Execução mediante outros rendimentos do devedor

Caso não haja a possibilidade de efetuação do desconto do valor da

prestação alimentícia diretamente na folha de pagamento do devedor, poderá

então o alimentado buscar a segunda forma de execução da prestação

alimentícia elencada no artigo 17 da Lei de alimentos. Tal forma de execução

se trata da captação de parte da renda do executado que equivale a prestação

de alimentos, sendo que esta colheita pode incidir sobre alugueis e outros

investimentos.

A execução que recai sobre os alimentos abrange também a forma

de execução que se encontra disciplinada no art. 4º, parágrafo único do mesmo

diploma legal, que tange a entrega do valor devido ao cônjuge pelo devedor de

parte de sua renda líquida dos bens comuns que foram por ambos ministrados,

caso o regime de casamento seja o de comunhão universal de bens.

É exigido que o devedor seja citado de todo o conteúdo da ação de

execução, depois que tiver conscrito o valor da renda mensal através de

aluguéis ou de investimentos, oferecer seus embargos correspondentes ao

caso. O procedimento citado se trata de um procedimento mais ágil e eficaz

que a penhora comum, que é disciplinada pelo Código de Processo Civil.

Caso não haja a possibilidade de recebimento de dinheiro suficiente

para que ocorra o pagamento dos créditos, poderão ser penhorados e leiloados

os bens e investimentos que possui o devedor, para que assim possa ser

efetuado o pagamento da prestação de maneira a liquidar o débito pendente.

Cabe ainda ressaltar que é permitido que o pagamento da dívida ocorra

através do usufruto em favor do alimentado. Não é permitido que sejam

descumpridos os descontos de locativos, vencimentos, dentre outros, pois

estes somente se dão através de ordem judicial, e tem obrigatoriamente que

ser cumprida. Contudo, o devedor pode apresentar sua defesa em caso de

resignação.

35

2.3.3 Execução por quantia certa

Caso ocorra a frustração da ação de execução da obrigação de

alimentar na forma de desconto na folha de pagamento, na captação de

percentual do rendimento do devedor ou na sua impossibilidade utilização,

conforme afirma:

“Poderá o credor eleger por qual meio executivo, dentre os disciplinados pelo Código de Processo Civil, prosseguirá a cobrança: se a coação pessoal pelo procedimento da coerção patrimonial exposta pelos artigos 732 e 735 do Código de Processo Civil, que remetem o credor à execução por quantia certa contra devedor solvente. (ASSIS, 2002, p.47)”.

A obrigação alimentar possui a característica de ser uma obrigação

de dívida líquida, certa, de caráter urgente, fixada judicial ou extrajudicialmente,

podendo ser objeto de execução forçada, seja através da expropriação ou da

apreensão dos bens do devedor para que possa haver a quitação da dívida.

O processo de execução é dividido em três fases distintas, sendo

organizada na seguinte ordem:

1. Proposição: consubstanciada na constituição da relação jurídico-processual;

2. Instrução: consubstanciada na apreensão e desapropriação dos bens;

3. Liquidação: consubstanciada na entrega do produto da arrematação, para

satisfação do crédito.

Caso a petição inicial esteja confeccionada de forma correta deverá

determinar o magistrado que se faça a citação do executado, sendo que tal

citação deverá ser efetivada por meio de mandado. No caso do executado ser

domiciliado em local incerto e não sabido, será este intimado pela via de edital.

Cabe ainda ressaltar que se faz incabível no processo de execução por quantia

certa contra devedor solvente a citação por hora certa ou por carta com aviso

de recebimento.

Deverá constar no mandato à determinação da citação do devedor

para que este efetue o pagamento com as devidas correções monetárias e

juros, assim como os honorários advocatícios e todas à custa processual, ou

nomeação de seus bens para que seja feita a penhora em prazo de vinte e

36

quatro horas. Importante se faz ressaltar que a contagem desse prazo se fará

da efetiva citação e não da juntada dos autos ao mandado. Caso não haja a

nomeação de bens a penhora por parte do autor da ação, serão nomeados

tantos quantos bens forem necessários para que haja a compensação do valor

da dívida, associada à custa processual. Em qualquer caso, recairá a penhora

em dinheiro. Os embargos apresentados não inibirão ou obstarão o

levantamento, pelo credor, do valor da pensão, independente de prestação de

caução.

37

Capítulo 3. DA OBRIGATORIEDADE DO PEDIDO DE EXONERAÇÃO

3.1- Considerações preliminares

O posicionamento quanto à obrigatoriedade do pedido de exoneração,

por vezes se iguala a uma determinada ala doutrinária, por vez, se coloca

contra, já que em seu entendimento: "cessada a menoridade, cessa ipso jure a

causa de a obrigação alimentar, sem que se faça necessário o ajuizamento,

pelo devedor, de uma ação exoneratória." (CAHALI, 1999, p.440).

Conclui-se que, o fato dos filhos alcançarem a maioridade civil não

importa na perda do direito de requerer amparo alimentar. Ao contrário, os

mesmos continuam com legitimidade para pleitear alimentos, todavia, fundada

na relação não mais filial, mas de parentesco, a qual se sujeita aos

pressupostos da prova da necessidade daquele que pede e da possibilidade

daquele que é chamado a dar.

Até a maioridade, em conseqüência e por força da paternidade,

nasce a obrigação de alimentar. Depois de alcançada a maioridade,

pressupõe-se que o filho consiga sobreviver por seus próprios recursos. O

surgimento do pedido de alimentos surge tão somente, nos casos previstos no

Novo Código Civil Brasileiro. O momento em que finda a obrigação de

alimentar e se inicia o dever de alimentos, que são situações distintas uma da

outra. O fim é o mesmo, contudo, a forma e o fundamento são diferentes.

No caso de haver exoneração da pensão alimentícia e, estando o

filho ainda a necessitar de tais recursos, mediante prova de suas

necessidades, sejam estas por estudo ou por doença, ou outro motivo plausível

qualquer, obterá, durante a nova ação de alimentos, a concessão de verba

provisória, consoante previsão contida na Lei n. 5.478/68.

Em caso singular, envolvendo a matéria em pauta, o TJDF (Tribunal

de Justiça do Distrito Federal), por via de mandado de segurança (n. 3.599),

cujo relator foi o Des. José Hilário de Vasconcelos acolheu o pedido formulado

pelo impetrante, para, em conseqüência, dar efeito suspensivo ao agravo de

instrumento interposto contra a decisão que recebeu o apelo do vencido no seu

duplo efeito. Tal acolhimento é um precedente que assim se fundamenta:

38

“Com o advento da maioridade, cessa para o pai o dever de sustentar o filho, notadamente se este se encontrar empregado, auferindo renda própria. Eventual necessidade de o filho poder reclamar novos alimentos, não mais fundados no pátrio poder, a qual deverá ser comprovada em ação própria. O cancelamento da pensão liminarmente é medida que se impõe. Des.Vasconcelos\TJDF, MS, n. 3.599”

Já bastante discutido neste trabalho, a questão do pedido de

alimentos sob a proteção do "dever de alimentar", mas há outra questão que se

mantém em discussão é em relação ao pedido de exoneração. Há a hipótese

de que não seja necessário o alimentante pedir a exoneração em juízo, e sim

deixar de fazê-lo de imediato, consoante a maioridade do alimentado.

Percebe-se que nesse caso, caberia ao segundo a tarefa de, em

juízo, comprovar sua real necessidade em continuar recebendo os alimentos,

agora já não mais por obrigação do alimentante, mas sim por dever deste.

O ônus da iniciativa do pedido de alimentos compete ao filho adulto,

e não ao pai, pois este já cumpriu com as obrigações decorrentes do pátrio

poder. A comprovação do binômio necessidade/possibilidade encontra-se

previsto no Código Civil Brasileiro. Vejam-se mais alguns julgados acerca do

tema:

“ALIMENTOS. REVISIONAL. ALEGAÇÃO DE MAIORIDADE DOS BENEFICIÁRIOS. CASAMENTO DE UM DELES. REDUÇÃO NEGADA. A simples maioridade civil do alimentando não é motivo, por si só, de redução ou exoneração da verba alimentar, notadamente se o seu quantum foi fixado de maneira única, abrangendo todos os beneficiários. (Ap. Cív. nº 29.781, de Joinville, Rel. Des. Eralton Viviani, DJE nº 7.743, de 10.04.89, pág. 15) AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS À VISTA DE MERO REQUERIMENTO DO ALIMENTANTE EM AUTOS DE EXECUÇÃO. RECURSO INCABÍVEL. DECISUM, ENTRETANTO, DECLARADO NULO DE OFÍCIO. A ação exoneratória, com observância fiel ao princípio do contraditório, constitui-se à luz dos preceitos legais incidentes, na via própria para a desoneração do alimentante quanto à obrigação alimentar que lhe foi imposta. Nulo é o decisum que, em sede de execução de alimentos, promovida pelo alimentário, através de carta de sentença, desonera o executado de sua obrigação, em atendimento a simples petição do mesmo, sobre a qual sequer foi ouvido o credor. (Agravo de Instrumento 97.001527-5, de Joinville, Relator Des. Trindade dos Santos, TJSC). A maioridade do filho, que é estudante e não trabalha, a exemplo do que acontece com as famílias abastadas, não justifica a exclusão da

39

responsabilidade do pai quanto ao amparo financeiro para os estudos. (RJTJSP 18/201). Não obstante ter completado 21 anos e tendo emprego onde percebe pouco, necessita a filha, ainda, dos alimentos prestados pelo pai, vez que nem sempre a maioridade é capaz de desobrigar os pais, pois, se por um lado, com o atingimento dela cessa o pátrio poder, isto não implica e acarreta a imediata cessação do dever de alimentar." (RJTJMG 178/64) Sendo o filho maior, estudante e sem emprego, tem-se-lhe reconhecido direito a alimentos pelo pai, isto por espírito de eqüidade, mas, para tanto, o descendente deverá provar que não pode trabalhar e que, conseqüentemente, necessita ainda do sustento paterno. Todo homem maior e capaz deve prover o próprio sustento, e, no caso do filho estudante, este deverá comprovar que em face do horário de suas aulas está impedido de trabalhar, e, assim não correndo, fica o pai exonerado de a obrigação alimentar. (RT 680/174) Ação de exoneração de alimentos. Alegada maioridade e condições de trabalho dos filhos beneficiados. Necessidade de citação dos mesmos. Anulação da sentença para que se complete a relação processual. (Ap. Cív. n. 33.368, de São José, Rel. Des. Protásio Leal, TJSC)”

Insensato seria o julgamento só da exoneração de alimentos para no

final processo informar ao impetrante que seu dever de sustento terminou com

a maioridade do filho, mas que pode se dá início a uma nova ação de

alimentos, a título de obrigação alimentar decorrente do parentesco. O correto

e o mais sensato que tanto uma, quanto outra questão seja discutida na ação

originária, evitando-se assim, a interposição de ação de exoneração de

alimentos, seguida da ação de pedido de alimentos pelo direito de relação de

parentesco.

Atendendo ao principio da economia processual, propõe-se a

dispensa da propositura de ação de exoneração de alimentos, lembrando

sempre que a maioridade não faz cessar o pagamento da pensão alimentícia,

mas também não há nenhuma necessidade de exigir-se que a questão seja

discutida em outro processo, mas sim no processo inicial.

A conclusão que se extrai da jurisprudência, é que a maioridade não

implica na extinção da pensão alimentícia devida pelos pais aos filhos. Em

verdade, ocorre apenas a mudança da causa da obrigação alimentar, que

deixa de ser o "dever de sustento" decorrente do "pátrio poder" e passa a ser o

"dever de solidariedade" conseqüência do parentesco.

40

3.2- A maioridade dos filhos e a exoneração dos alimentos

Em via de regra, pode-se afirmar que existe a possibilidade da parte

devedora se exonerar da obrigação de prestar alimentos, sendo quando o

alimentado não mais necessita da contribuição alimentar ou quando o

alimentante não tem mais condições de produzir alimentos necessários para

sua subsistência e a do alimentado. O motivo de não ter condições para pagar

a prestação alimentícia não é causa de exoneração da pensão alimentícia, mas

sim uma justificativa para a inadimplência em caráter temporário.

No mesmo sentido pode-se observar o seguinte labor

jurisprudencial:

“CIVIL – ALIMENTOS – DESEMPREGO DO ALIMENTANTE – SITUAÇÃO TRANSITÓRIA – EXONERAÇÃO INVIÁVEL – A modificação ou a exoneração da obrigação alimentar reclama uma relativa estabilidade das alterações supervenientes nas possibilidades do alimentante ou nas necessidades dos alimentados porque destinadas a incidir sobre entidade de prestação periódica. Bem por isso, o desemprego ocasional do alimentante não incapacita a prestação alimentícia para efeito de exoneração, podendo apenas justificar a inadimplência transitória. Recurso improvido”. (TJSC – AC 00.013642-5 – 2ª C.Cív. – Rel. Des. Vanderlei Romer – J. 08.02.2001)”

Em se tratando de obrigação de alimentar referente ao poder

familiar pode-se dizer que a obrigação somente se extingue com os completos

vinte e um anos de idade pelo alimentado, isto porque de acordo com o art.

1.635, III, do Novo Código Civil, quando o alimentado completa vinte e um anos

cessa-se o poder familiar referente a este.

Pode-se notar que existem discussões acerca desse dispositivo

legal, pois com o advento do mesmo diploma legal a maioridade que era de 21

(vinte e um) anos decaiu para a idade de 18 (dezoito anos).

O que se afirma no artigo 6º da Lei de Instrução ao Código Civil

(Decreto-lei n. 4.657/42), no seguinte dizer: "a lei em vigor terá efeito imediato e

geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”,

sem deixar de observar o tão ilustre art. 5º, XXXVI, da Lei Maior, no dizer de

41

que "a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa

julgada". Pode-se dizer que a lei se trata de uma lei retroativa, tendo esta

apenas ineficácia perante o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa

julgada.

A disposição que está presente no art. 5º do Novo Código Civil deve

ser de aplicabilidade imediata, sendo possibilitada a exoneração da prestação

alimentícia aos completos dezoito anos, mesmo que a sentença tenha sido

dada sobre a vigência do Código Civil anterior, não há porque haver ofensa ao

direito adquirido, nem mesmo a coisa julgada, pois a pessoa recebe a

prestação de alimentos até completar a maioridade legal, sendo esta

atualmente de dezoito anos, e não mais de vinte um.

Ocorre a ofensa ao direito adquirido do alimentado se na sentença

referente à obrigação de prestação alimentícia do alimentante para com o

alimentado, constou que os alimentos deveriam ser prestados até os completos

21 (vinte e um) anos de idade, e não até completar a maioridade civil.

Deve-se observar que nessa mudança não há que se falar em

retroação da lei, pois tal mudança apenas se deu com a vigência do Código

Civil de 2002, sendo que todos os filhos que eram menores de vinte e um

tinham a expectativa de receber a prestação até os vinte e um anos, não

caracterizando retroação da lei. Isso porque de acordo com o direito a mera

expectativa, apesar de ser legítima, não tem garantia alguma em face de nova

lei.

A diferenciação entre o direito adquirido e expectativa de direito no

seguinte dizer:

“Diante de uma lei que exclui da sucessão os colaterais a partir do 4º grau, um parente nessas condições, que já herdou porque a sucessão abriu-se antes da nova lei, tem um ‘direito adquirido’, e a nova lei não o atinge. Enquanto no caso de não ter havido ainda a sucessão, os colaterais do 4º grau têm apenas ‘expectativa de direito’; são por isso alcançado pela nova lei e excluído da sucessão. (MONTORO, 1999, p.393)”.

Pode-se afirmar que a mesma coisa deve ocorrer com relação à

pensão alimentícia que decorre de poder familiar, ou seja, esta se extingue

com o alcance da maioridade civil por parte do alimentado, sendo lógico que a

obrigação de alimentar também deva cessar com o alcance da referida idade,

42

tendo em vista que a mudança na lei terá efeito erga omnes, ou seja, terá

alcance sobre todas as pessoas, sendo irrelevante se a sentença foi decretada

em momento anterior ou posterior a entrada em vigor da nova lei.

Devem-se observar as situações em que mesmo com a chegada da

maioridade civil a pensão deve continuar a ser prestada, sendo este, o caso do

filho que estuda, pois nesse caso pode-se afirmar que o Código Civil de 2002,

não apresentou nenhuma modificação. Tanto os estudiosos quanto os

operadores do direito clamam por uma uniformização na sistematização da

matéria atinente a alimentos, uma vez que muitos são os diplomas legais e

fórmulas jurisprudenciais que, admitindo-se ou não, regram e balizam o

assunto.

“Ao se estabelecer que a pensão deva ser fixada ‘inclusive para atender às necessidades de sua educação’ (art. 1694), fácil será sustentar a subsistência da obrigação mesmo depois de alcançada a capacidade civil aos 18 anos, quando destinado o valor para mantença do filho estudante. (CAHALI, 2001, p.196 e 197)”.

Além de tudo, ainda deve-se observar que a efetivação do direito

de receber prestação alimentícia para o filho que possui idade entre dezoito e

vinte e quatro anos não é oriundo do poder familiar, mas sim da relação de

parentesco que há entre eles. Sobre o mesmo tema tem-se o seguinte labor

jurisprudencial do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em 24/10/2002:

“EMBARGOS À EXECUÇÃO. PENSÃO ALIMENTÍCIA. MAIORIDADE CIVIL DA ALIMENTADA. ESTUDANTE. VÍNCULO DE PARENTESCO. Ainda que se reconheça que a obrigação decorrente do pátrio poder tenha se encerrado com a emancipação da filha, por força do vínculo de parentesco, determinado pelo artigo 397, do Código Civil brasileiro, persiste o direito à prestação de alimentos, mormente se a alimentada estiver cursando faculdade, e não tiver condições de arcar sozinha com seus custos”.

Deve-se observar sobre a pensão de alimentos que esta é de direito

do filho para estudar após ter completado a sua maioridade civil, mas esta fica

sujeita a exoneração por parte do pai ou da mãe se por acaso estes não tiver

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condições ou tiver sua condição reduzida de maneira que torne impossível o

cumprimento de tal prestação sem que haja prejuízo a sua subsistência.

3.3- Transmissibilidades da obrigação alimentar

O art. 402 do Código Civil de 1916 estabelecia que “a obrigação de

prestar alimentos não se transmite aos herdeiros do devedor”, isto em razão do

caráter personalíssimo da obrigação alimentar. É, ademais, o que determinava

o art. 928 do mesmo Código, que afirmava que a obrigação, não sendo

pessoalíssimos, opera assim entre as partes, como entre seus herdeiros.

“Se uma pessoa obrigada a alimentar o pai morre, deixando descendentes, estes não herdam o dever de prosseguir fornecendo aqueles alimentos, que ordinariamente caberá a seus tios paternos. Não havendo parentes mais próximos, os descendentes do de cujus podem ser chamados a alimentar o avô, mas por nova obrigação, não por sucessão da obrigação de seu pai. (RODRIGUES, 1999,p.367)”.

A Lei do Divórcio, inovando a matéria, dispôs, no “Art. 23, A

obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na

forma do art. 1.796 do Código Civil”.

Não cabe mais repetir toda a divergência doutrinária que este

dispositivo criou na doutrina e na jurisprudência. Isto porque o art. 1.700 do

novo Código, repetindo a regra do citado art. 23, revogou expressamente o art.

402 do velho estatuto civil. Agora se pode afirmar com segurança: a obrigação

de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor.

Segundo Veiga (1983, p.53):

“O mais hilariante do absurdo é o fato traduzido em mulher vivendo à custa de outra mulher, quando esta se confunde como herdeira. Até certo ponto compreensível já que queriam macular a perfeição jurídica antevista no Código Civil (art. 402 [do CC de 1916]), deveriam ressalvar a jocosidade. (PEREIRA, v. 5, 1997, p.297). O marido que se divorcia da mulher e com outra casa, morrendo esta outra, entendível que o marido continue a prestar alimentos à primeira, porque a obrigação é pessoal. Ao revés, se morrendo o marido, os filhos deste ou segunda mulher, se herdeira, vai sustentar a primeira. Maior teratologia

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jurídica é que a dívida pessoal do de cujus transmite-se aos herdeiros. Aí, a pena civil é em maior dose do que a penal, que é individual e com uma conotação ímpar contra de cujus. A obrigação alimentícia é personalíssima, diga-se era: Atualmente, é familiaríssima. (VEIGA, 1983, p.53)”.

Aceita a transmissibilidade da obrigação alimentar, pode ocorrer, por

exemplo, que a segunda esposa de um divorciado seja obrigada a alimentar

sua esposa anterior. Basta, para tanto, se considerar que, com o divórcio,

tenha ele ficado com a obrigação de alimentar sua ex-esposa. Casando-

se novamente e, em seguida, morrendo sem deixar descendentes ou

ascendentes, esta obrigação se transmitirá, nos limites das forças da herança,

ao seu cônjuge atual.

O legislador não atentou para as conseqüências de seu ato. Tal

transmissibilidade tem um limite: as forças da herança. O art. 23 da Lei do

Divórcio deixava isto claro ao se referir ao art. 1.796 do Código Civil de 1916. O

novo Código, contudo, fez incorreta referência ao art. 1.694. Deve-se entender

que a referência correta é ao art. 1.997, que corresponde ao art. 1.796 do velho

Código. De acordo com Oliveira e Muniz, (1999, p.74).

“Não se trata, a rigor, de uma obrigação alimentar transmitida por morte. Neste caso, o credor de alimentos vê assegurado o direito de ser alimentado à custa dos rendimentos dos bens deixados pelo devedor, como sucede, por exemplo, com o apanágio do cônjuge sobrevivente no Direito português. O cônjuge separado judicialmente ou divorciado que tinha direito a alimentos, em vida, conserva-o sobre os rendimentos da herança. Os herdeiros não são obrigados pessoalmente pela dívida de alimentos do autor da sucessão. Fala-se de encargo que atinge os bens da herança em termos reais (ônus real)”.

Percebe-se que para fazer valer seu direito, cabe ao alimentando,

porém, habilitar-se nos autos do inventário, antes da partilha, a fim de que seja

computada, entre as dívidas do espólio, a pensão a que tem direito. Parece

haver transmissão da obrigação inclusive na hipótese de

herança vacante, quando então a Fazenda Pública, assumindo os bens da

herança, assume também a obrigação de continuar a prestar os alimentos.

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Duas outras questões se colocam. Primeiramente, se o devedor

falecido deixa pensão previdenciária, com o que já se beneficiará o credor da

pensão, aplica-se o art. 1.700\CC, para transmitir a obrigação alimentar aos

herdeiros? Embora uma coisa e outra não se confundam, parece não poder o

credor ser beneficiado duplamente, até porque, recebendo pensão

previdenciária, não necessitará, em regra, de pensão alimentícia, deixando de

existir um de seus fundamentos.

Embora não se encontre na doutrina solução para esta questão

específica, parece-nos que, à luz do que aponta a doutrina para as obrigações

criadas pelo testamento, não poderá a legítima ser atingida pela transmissão

desta obrigação alimentar.

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CONCLUSÃO O ordenamento jurídico nacional consagra o direito aos alimentos,

entendidos estes em uma concepção ampla, abrangendo tudo quanto é

necessário para satisfazer as necessidades humanas, ou seja, não apenas o

necessário para a alimentação, mas, também ao vestuário, moradia, saúde etc.

Alimentos são, pois, as prestações devidas, feitas para que quem as receba

possa subsistir, isto é, manter sua existência, realizar o direito à vida, tanto

física, como a intelectual e moral.

Na legislação brasileira, este direito está consagrado no Código Civil,

que, em seus artigos 396 a 405, prevê a possibilidade de os parentes exigirem

alimentos uns dos outros. E a Lei n. 5.478/68, regula o procedimento da ação

de alimentos para os casos em que já há prova documental do parentesco. A

clareza da legislação neste aspecto torna indiscutível o direito de os filhos

menores pleitearem que seus pais lhes prestem alimentos, caso não estejam

cumprindo esta obrigação, quer por tê-los abandonado ou por outra razão

qualquer. Os pais têm a obrigação legal de sustentar os filhos menores, e estes

têm o direito de serem mantidos pelos pais até que possam fazê-lo por seus

próprios meios.

Este é um direito de tal importância que o não pagamento da pensão

alimentícia devida por força de decisão judicial gera a mais grave conseqüência

em matéria civil, que é a prisão do devedor inadimplente. É uma das poucas

exceções à regra de que a privação da liberdade pela prisão só pode ocorrer

em virtude de cometimento de crime. A prisão pelo não pagamento de pensão

judicial está autorizada pela própria Constituição Federal de 1988, em seu art.

5º, inciso LXVII. Esta grave conseqüência é plenamente justificada em face do

bem jurídico protegido, que no caso é a sobrevivência digna de seres humanos

incapazes de prover o próprio sustento.

Percebe-se que os pedidos de alimentos efetuados por filhos

menores aos seus pais assumem importância ainda maior ao se verificar a

elevada freqüência com que ocorrem na realidade. Os processos envolvendo

pensão alimentícia figuram entre os mais numerosos no Poder Judiciário de

todo o país. Não obstante, as inúmeras causas submetidas a julgamento, um

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dos problemas de mais difícil solução nas questões de alimentos ainda não têm

tido uma solução satisfatória: a correta fixação do valor da pensão.

A lei determina que os alimentos sejam fixados "na proporção das

necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada" (art. 400 do

Código Civil). Este dispositivo consagra os dois critérios fundamentais

utilizados para determinar o valor da pensão, quais sejam:

· As necessidades do "reclamante" (aquele que promove a ação, também

denominado de "alimentário" ou "alimentado", isto é, aquele que recebe ou

pretende receber a pensão);

· As possibilidades do "reclamado" (aquele contra quem a ação é promovida,

também denominado de "alimentante", ou seja, aquele que deve pagar a

pensão).

Os critérios estabelecidos pela lei, embora justos, não são precisos

na medida em que, de um lado, as necessidades, entendidas amplamente para

incorporar não apenas as prerrogativas biológicas, mas também as demais

necessidades fundamentais dependem de fatores culturais, geográficos e do

próprio status sócio-econômico da família. De outro, as condições financeiras

do reclamado são de difícil mensuração. Em termos práticos, as principais

dificuldades enfrentadas pelo Juiz para decidir o valor da pensão são as

seguintes:

· Conhecimento preciso das possibilidades do alimentante;

· Dificuldade de o alimentário provar o exato valor dos ganhos do

alimentante;

· Conhecimento das reais necessidades do alimentário.

No que tange às duas primeiras dificuldades, excetuando-se os

casos em que o alimentante tem salário fixo, nas demais situações utilizam-se

métodos indiretos para se obter elementos que permitam avaliar as

possibilidades do reclamado, como o depoimento de testemunhas, a

verificação do padrão de vida por meio da análise de dados relativos a cartões

de crédito, movimentação de conta bancária etc. No que diz respeito à terceira,

valores vêm sendo utilizados empiricamente com base em dados pouco

sistemáticos e não adequados.

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Na grande maioria dos casos a fixação do valor da pensão

alimentícia torna-se assim um problema difícil, envolvendo questões de ordem

ética e econômica, com implicações importantes para as partes envolvidas e

que vem sendo resolvida, basicamente, pelo bom senso da Justiça, dada a

falta de elementos objetivos que permitam trazer maior segurança às decisões.

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