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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL FABRÍCIA MARIA PINHEIRO QUEIROZ OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA IMPLEMENTAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO FORTALEZA 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

FABRÍCIA MARIA PINHEIRO QUEIROZ OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

NA IMPLEMENTAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO

FORTALEZA

2013

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FABRÍCIA MARIA PINHEIRO QUEIROZ

OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

NA IMPLEMENTAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientador: Professora Ms. Joelma Freitas

FORTALEZA

2013

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FABRÍCIA MARIA PINHEIRO QUEIROZ

OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

NA IMPLEMENTAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO

Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense - FAC, tendo sido aprovada pela Banca Examinadora. Data de Aprovação: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Profª. Ms. Joelma Freitas

Orientadora

_____________________________________________

Profª. Ms. Mayra Rachel Examinadora

_____________________________________________

Profº. Ms. Mário Henrique Examinador

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Dedico esta monografia a todos que dela

fizeram parte, aos meus pais, que nunca

deixaram de me apoiar, à minha

orientadora, que acreditou no meu

trabalho desde o início, aos professores

que passaram por minha vida acadêmica

e aos amigos que sempre estão comigo.

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AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho não seria possível sem a colaboração de muitas pessoas. Agradeço primeiramente a Deus, por me conceder discernimento, me iluminando e me dando sabedoria ao longo desta etapa que se concretiza. Ele nunca me abandonou, mesmo nos momentos mais difíceis, sendo meu amparo e refúgio. À pessoa que mais me apoiou nesta jornada, minha mãe Fátima, que me deu amor e compreensão, não me deixando desistir em hipótese alguma e em nenhum momento. A você todo o meu amor e agradecimento. Ao meu pai Evando, exemplo de homem íntegro, que de forma batalhadora demonstrou todo o apoio para a concretização deste sonho. Amo-te muito. Ao meu irmão preferido, Berg, que sempre me deu incentivo, carinho e atenção. Ao meu amado noivo, Carlos Augusto, pela cumplicidade amorosa, engraçada e bagunçada que desenvolvemos. Obrigada por acreditar no meu sucesso e por me apoiar em todas as minhas escolhas. Aos meus familiares, sem os quais não teria sido possível minha inserção e manutenção nesta Faculdade. Sei que me apoiaram com sacrifícios. Obrigada por todo carinho dedicado! À minha querida orientadora, Joelma Freitas, por suas valiosas contribuições acadêmicas, como professora e pesquisadora, mas também pela pessoa generosa e sensível que é, capaz de sempre nos surpreender com sua consideração e carinho. Não posso deixar de registrar meu respeito e admiração por ela, pois é um ser humano espetacular que me auxiliou no desenvolvimento desse trabalho em um pequeno prazo e por ter aceitado tal desafio na orientação, fazendo-o com muito empenho e responsabilidade profissional. Meus sinceros agradecimentos. A professora Ms. Mayra Rachel, e ao professor Ms. Mário Henrique, que me deram o prazer em compor a banca, agregando mais conhecimento ao meu trabalho. É um imenso prazer tê-los como examinadores. Às minhas queridas amigas e companheiras de curso e de tantos momentos inesquecíveis compartilhados juntos nesses quatro anos, em especial Fabíola, Diana, Natália, Natacha e Rosana, pela sincera amizade. Quero salientar o enorme carinho que tenho por vocês, sentirei muitas saudades das nossas discussões sobre os trabalhos, das angústias pré-provas, como também dos momentos de alegria e troca de conhecimento. Esses momentos ficarão para sempre em minha memória e em meu coração. Vocês simplesmente... não existem! A todas às pessoas que contribuíram e participaram da reflexão e realização deste trabalho, de modo particular ao meu amigo Alfredo, que me ajudou com material específico sobre o tema e me apresentou os sujeitos da pesquisa, viabilizando e

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proporcionando condições necessárias para as observações e entrevistas realizadas na construção da presente monografia. Aos sujeitos da pesquisa, que se dispuseram a responder às perguntas para a realização deste trabalho. Enfim, agradeço a todos que fizeram parte desta construção, que me custou dedicação, desejo, disciplina e que fez parte da realização de um grande sonho, sonho este pessoal e familiar.

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“Você deve ser a mudança que deseja ver no mundo”.

Mahatma Gandhi

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RESUMO

O trabalho profissional do Serviço Social sempre foi uma das dimensões discutidas pela profissão, assim, considerando-se as configurações atuais da sociedade, o Assistente Social encontra-se inserido em diversos campos de trabalho, e um deles é na implementação da medida socioeducativa de internação dentro de Centros Educacionais para adolescente autor de ato infracional. Na sociedade contemporânea, existem vários problemas de ordem social, dos quais podemos ressaltar um problema bastante específico e crescente, que é o aumento da violência praticada por adolescentes, os quais convivem cotidianamente com a violência social. Dessa forma, a reflexão que aqui apresentamos vai abordar e discutir sobre as condições de trabalho do Assistente Social na implementação da medida de internação. Para tanto, realizamos uma pesquisa de campo de caráter qualitativa, através de entrevistas, de uma observação da dimensão etnográfica, e de diários de campo, no período de cinco dias, dentro de um Centro Educacional em Fortaleza. O objetivo geral era analisar a atuação profissional do Serviço Social no cumprimento e execução da medida socioeducativa de internação. E como objetivos específicos, temos: compreender e analisar a rotina do Assistente Social na execução da medida socioeducativa; conhecer as formas de mediações do trabalho do Assistente Social; e conhecer as competências e atribuições do Assistente Social nesta área de atuação, na perspectiva do projeto ético-político. Obtivemos os dados através de entrevistas semiestruturadas, e a partir dos dados obtidos, foram levantadas hipóteses, no intuito de entender a atuação do Assistente Social junto aos adolescentes autores de ato infracional. Pode-se concluir a importância de conhecer a conjuntura social que o adolescente está inserido e a necessidade de práticas concomitantes às leis instituídas para esse público. O Assistente Social, na dinâmica institucional, encontra várias alternativas que possam orientar o trabalho, na perspectiva da garantia do direito, mas para isso é preciso se situar na instituição de forma participativa e investigativa, enxergando na instituição oportunidades para o desenvolvimento de práticas emancipatórias e efetivas. Isso requer compromisso profissional do Assistente Social, pois essa participação na realidade da instituição pode ser considerada como a prática política do Assistente Social, pois é uma das condições de viabilizar a concretização dos direitos.

Palavras-chave: Adolescente autor de ato infracional. Trabalho do Assistente Social. Projeto ético-político do Serviço Social.

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RESUMÉN

El servicio profesional del Trabajo Social siempre fue una de las dimensiones discutidas por la profesión. Así, considerando las configuraciones actuales de la sociedad, el trabajador social se encuentra inserido en diversos campos de trabajo, y uno de ellos es la implementación de la medida socioeducativa de internación dentro de Centros Educacionales para adolecente autor de infracción. En la sociedad contemporánea existen varios problemas de orden social, entre los cuales podemos resaltar un problema bastante específico y creciente que es el aumento de la violencia practicada por adolecentes, los cuales conviven cotidianamente con la violencia social. De esa forma, la reflexión que aquí presentamos va a abordar y discutir las condiciones de trabajo del trabajador social en la implementación de la medida de internación, Para tanto, realizamos una pesquisa de campo de carácter cualitativo, a través de entrevistas, una observación en la dimensión etnográfica y diarios de campo en el periodo de cinco días dentro de un centro educacional en Fortaleza. El objetivo general era analizar la actuación profesional del Trabajo Social en el cumplimiento y ejecución de la medida socioeducativa de internación. Y como objetivos específicos, tenemos: comprender y analizar la rutina del trabajador social en la ejecución de la medida socioeducativa; conocer las formas de mediaciones del servicio del trabajador social y conocer las competencias y atribuciones del trabajador social, en esta área de actuación en la perspectiva del proyecto ético-público. Obtuvimos los datos a través de entrevistas semi-estructuradas y a partir de los datos obtenidos, fueron levantadas hipótesis, en el intuito de entender la actuación del asistente social junto a los adolecentes autores de infracción, pudiéndose concluir la importancia de conocer la coyuntura social en la cual el adolecente está inserido y la necesidad de prácticas concomitantes a la Leyes instituidas para ese público. El trabajador social en la dinámica institucional encuentra varias alternativas que pueden orientar el trabajo en la perspectiva de la garantía de derecho, pero para eso es necesario situarse en la institución de forma participativa e investigativa vendo en esta institución oportunidades para el desarrollo de prácticas emancipadoras y efectivas. Eso requiere compromiso profesional del trabajador social, pues esa participación en la realidad de la institución puede ser considerada como la práctica política del asistente social, visto que es una de las condiciones para viabilizar la concretización de los derechos.

Palabras-llave: Adolecente autor de infracción; servicio del trabajador social; proyecto ético-político del Trabajo Social.

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LISTA DE SIGLAS CAPS - Centro de Atenção Psicossocial

CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

CE - Centro Educacional

CFAS - Conselho Federal de Assistentes Sociais

CFESS - Conselho Federal de Serviço Social

CF - Constituição Federal de 1988

CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

CRAS - Centro de Referência de Assistência Social

CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social

DUDH - Declaração Universal dos Direitos da Criança

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

FEBEM - Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor

FUNABEM - Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ONG - Organização Não Governamental

PIA - Plano Individual de Atendimento

PNAS - Política Nacional de Assistência Social

PNBEM - Política Nacional do Bem-Estar do Menor

PPP - Projeto Político Pedagógico

SAM - Serviço de Assistência ao Menor

SDH/PR - Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da

República

SINASE - Sistema de Atendimento Socioeducativo

STDS - Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social

UECE - Universidade Estadual do Ceará

UFC - Universidade Federal do Ceará

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13

1 ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE A CRIANÇA E O ADOLESCENTE: UMA

ÊNFASE SOBRE A CATEGORIA ADOLESCÊNCIA E ATO INFRACIONAL

NO CONTEXTO SOCIAL MULTIFACETADO ................................................. 21

1.1 Uma reflexão sobre a temática adolescente autor de ato infracional ................ 21

1.2 Um breve resgate histórico sobre a legislação da criança e do adolescente: do Código de Menores ao ECA ...................................................................................... 25

1.3 Ato infracional .................................................................................................... 29

2 AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E O SISTEMA NACIONAL DE

ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO (SINASE): UM FOCO NA MEDIDA DE

INTERNAÇÃO .................................................................................................. 32

2.1 As medidas socioeducativas: a medida de internação ..................................... 32

2.2 A proposta do SINASE ..................................................................................... 38

2.3 Uma descrição preliminar do Centro Educacional (CE) .................................... 43

3 UMA ABORDAGEM SOBRE O SERVIÇO SOCIAL NA

CONTEMPORANEIDADE: DA CATEGORIA TRABALHO AOS

INSTRUMENTAIS PARA UMA PRÁXIS PROFISSIONAL .............................. 46

3.1 A profissão de Assistente Social como trabalho: um breve resgate histórico ... 46

3.2 O Projeto ético-político do Serviço Social: fundamentos teórico-metodológicos, ético-político e técnico-operativo da profissão........................................................... 51

3.3 O trabalho do Assistente Social no espaço sócio-ocupacional do Centro Educacional ............................................................................................................... 55

3.4 A instrumentalidade e a mediação: instrumentos para práxis profissional. ....... 58

4 UMA OBSERVAÇÃO DENTRO DA DIMENSÃO ETNOGRÁFICA DO

TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL EM UM CENTRO EDUCACIONAL

DE FORTALEZA .............................................................................................. 63

4.1 O cenário do Centro Educacional: a estrutura e o corpo técnico ...................... 63

4.2 O trabalho do Serviço Social dentro de uma unidade de internação: a realidade “nua e crua” do Centro Educacional .......................................................................... 73

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 85

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 92

APÊNDICES ............................................................................................................. 97

ANEXOS..................................................................................................................103

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INTRODUÇÃO

O objeto de estudo do nosso trabalho é compreender como o profissional

de Serviço Social realiza a interface teoria e prática dentro de um Centro

Educacional em Fortaleza. Visamos conhecer o trabalho desse profissional,

observando se as práticas estão sendo válidas para que os adolescentes voltem ao

convívio familiar e social, e se o trabalho do Assistente Social nesse campo está

seguindo o que rege o Código de Ética da Profissão de 1993. Buscamos identificar

as formas de mediação do trabalho do Assistente Social para a implementação da

medida, salientando as demandas e dificuldades que o profissional enfrenta para

colocar em prática o projeto ético-político da profissão.

Dessa forma, na sociedade contemporânea existem vários problemas de

ordem social, dentre os quais podemos ressaltar um problema bastante específico e

crescente que é o aumento da violência praticada por adolescentes, os quais

convivem cotidianamente com a violência social. Dentre vários fatores intrínsecos à

relação violência/adolescência, podemos citar o processo de marginalização

crescente das classes menos favorecidas com sérias carências socioeconômicas e

culturais, e, portanto, sem acesso aos bens e serviços.

Procuramos realizar uma discussão sobre a problemática do adolescente

autor de ato infracional, enfatizando a reflexão sobre a garantia de direitos, sob a

égide da legislação brasileira. A Constituição de 1988 foi intitulada cidadã porque

buscou atender significativo número de reivindicações dos mais diversos setores da

sociedade civil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado em

1990, pode ser considerado um grande avanço nessa perspectiva.

Antes do ECA, as ações direcionadas para os adolescentes estavam

pautadas na doutrina da situação irregular1, a partir da sua promulgação essa

realidade teve grande mudança, com a adoção da doutrina de proteção integral

1 Conforme o artigo 2º, da Lei 6.697/79: “Para os efeitos deste Código, considera-se em situação

irregular: privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em ração de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração de atividade contrária aos bons costumes; privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável;com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; autor de infração penal.”

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compreendendo a criança e o adolescente como pessoa em condições peculiares

de desenvolvimento.

O ato infracional cometido pelos adolescentes, em sua grande maioria, se

consubstancia devido à disparidade social e a miséria, pois estes sujeitos vêm

acumulando desde a sua gênese privações econômicas, sociais e políticas. Esta

desigualdade é apresentada e enfatizada de forma deturpada pela mídia em alguns

de seus programas apelativos que, em sua grande maioria, ressaltam e procuram

tornar verdadeira a ideia simplista de que estes indivíduos são totalmente culpados

pelo que está acontecendo.

Por trás do ato infracional cometido por adolescentes, existe uma história

de vida que, na maioria das vezes, é desconhecida e desconsiderada. Por isso,

além de considerar o adolescente sujeito em desenvolvimento, não podemos atribuir

ao mesmo a total responsabilidade pela criminalidade. O que deve ser levado em

consideração é a grande importância do papel da família, do Estado e da sociedade,

os quais devem assegurar a esses adolescentes a efetivação dos direitos, tais como

a saúde, educação, esporte e lazer, estabelecidos pelo ECA.

Não obstante, as tendências de ordem capitalista tem no cerne do seu

desenvolvimento o constante movimento de metamorfosear o processo de trabalho

culminando em ações repetitivas e fragmentadas. Isso pode refletir na realidade do

Serviço Social no ambiente profissional através das práticas cotidianas e pelas

várias demandas institucionais.

O Serviço Social tem na questão social o elemento central do projeto da

profissão, a qual se particulariza no dia a dia da intervenção, de variadas formas,

portanto, para trabalhar nas várias expressões da questão social, o profissional deve

estar ancorado na construção dos fundamentos históricos, teóricos e metodológicos

que a profissão vem desenvolvendo. Existe um grande esforço da categoria em

garantir as várias conquistas que se expressam no atual Código de Ética

Profissional de 1993, na Lei 8.662/93, que regulamenta a profissão e nas Diretrizes

Curriculares.

A sociedade civil conquistou através de lutas sociais o Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA) e o Sistema de Atendimento Socioeducativo

(SINASE), e concomitantemente a essas conquistas, o profissional de Serviço Social

deve, no seu trabalho cotidiano, articular com as conquistas da profissão para que o

trabalho seja efetivamente interventivo.

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Dessa forma, dentro de um centro educacional no âmbito jurídico,

inegavelmente constitui-se em um locus emblemático para a significação do ethos

societário e das possibilidades de incidência ética dos Assistentes Sociais, através

do seu processo de trabalho, nas relações de conflitos que reclamam e provocam a

intervenção do Estado através do aparato judicial. Interessante salientarmos que o

trabalho do Assistente Social dentro do Centro Educacional na implementação da

medida de internação, se consubstancia entre o campo sócio-jurídico e o campo da

assistência social, pois ele atua tanto vinculado a Proteção Social Especial no

âmbito da Política Nacional de Assistência Social (PNAS),, quanto junto à Vara da

Criança e do Adolescente.

A proposta socioeducativa almeja a reinserção social dos adolescentes,

para tanto os sujeitos desse processo necessitam de um aparato técnico, no qual o

profissional de Serviço Social está inserido na busca de estimular os

socioeducandos para uma consciência crítica, fundamentado em valores que

contribuam para o crescimento pessoal, repercutindo nas ações e tomadas de

decisões vindouras, com ganhos sociais.

O trabalho realizado pela unidade de internação tem como pressuposto

básico a garantia de atendimento integral ao adolescente, oferecendo educação,

profissionalização, cultura, esporte lazer, entre outros para efetivação do projeto

socioeducativo.

Portanto, o Assistente Social tem como missão garantir direitos sociais, e

dentro dessa concepção o seu trabalho se estabelece também no acompanhamento

na execução da medida socioeducativa. É nesse âmbito que o profissional tem a

possibilidade de contribuir com o atendimento do adolescente e de sua família,

dando a eles condições de entender a medida socioeducativa e o processo no qual

estão inseridos.

Diante do cenário que acabamos de abordar, podemos afirmar que a

nossa aproximação com o tema foi gradativa, pois logo no início do curso, de

maneira alguma imaginávamos trabalhar com adolescente autor de ato infracional,

essa era uma possibilidade descartada dos nossos objetivos. Entretanto, a área

jurídica e o tema criança e adolescente encontrava-se na nossa lista de afinidades, o

que se caracteriza contraditório, uma vez que a questão do ato infracional faz parte

desse âmbito.

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Julgávamos então que éramos consumidos pelo medo, algo que nos

mantinham afastados do tema. A partir dos conhecimentos adquiridos através da

cadeira de Políticas Setoriais, onde fomos instigados através da equipe com a qual

realizávamos os trabalhos em grupo para apresentarmos um seminário, cujo tema

era adolescente autor de ato infracional, começamos a entender melhor e a ter

proximidade com esse mundo, pois tivemos que fazer um documentário, e para

tanto realizamos entrevistas com o assistente social, com a delegada da Delegacia

da Criança e do Adolescente (DCA), além de entrevistar também alguns

adolescentes.

O momento foi muito propício para desmistificar o medo aparente e

mostrou que o trabalho do assistente social é de suma importância nesse âmbito.

Foi a partir de então que esse tema, adolescente autor de ato infracional, nos foi

instigante, tanto no que regem as legislações quanto ao trabalho profissional com

estes sujeitos, culminando na dedicação ao estudo sobre esse assunto, o qual é

bastante prazeroso a cada conhecimento adquirido.

Outro fator instigante que nos levou a estudar ainda mais sobre o tema foi

e são as situações colocadas pela mídia, que nos inquietavam e nos deixavam

cheios de indagações a respeito do tema, logo porque os fatos mostrados através de

alguns programas de televisão são visões imediatistas e fatalistas do assunto

adolescente autor de ato infracional, e era mais um estímulo para pesquisar e ter

uma apropriação sobre o tema. Portanto, a nossa trajetória acadêmica nos permitiu

conhecer a realidade de forma não fatalista, procurando sempre entender o que está

nas entrelinhas daquilo que a realidade nos mostra.

Muitos motivos nos levaram a pesquisar este tema bem recorrente na

sociedade brasileira: um deles é o importante papel do Assistente Social, pois há

uma grande relevância para a profissão, levando em consideração a sua importância

na atuação desse fenômeno sendo um profissional capacitado em desvelar a

realidade concreta que está encoberta. Tendo em vista este fator, é imprescindível a

preocupação com aqueles que nos sucederão, ou seja, o adolescente, buscando

formas eficientes para capacitá-los a reflexão da conjuntura social.

O foco deste trabalho monográfico está na busca pelo entendimento da

realidade do exercício profissional dentro de um Centro Educacional na

implementação da medida socioeducativa de internação. Buscamos refletir sobre a

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práxis profissional, oportunizando um espaço de discussão através de uma

descrição da prática dos assistentes sociais em seu exercício profissional.

A pesquisa é muito importante para conhecermos as ações estabelecidas

pelo Assistente Social quanto às condições e formas de trabalho. Não obstante, tem

o intuito de realizar ações e propostas pedagógicas para a volta ao convívio familiar

desses adolescentes. Podemos inferir que junto à comunidade acadêmica a

pesquisa se revela como mais um estudo que se estabelece na socialização de

como esses profissionais estão atuando na execução da medida socioeducativa. Já

para o Serviço Social, é sempre necessário o ato investigativo e de pesquisa para

avaliar se a atuação está condizendo com o que estabelece o projeto da profissão.

Contudo, o objetivo geral desta pesquisa foi analisar a atuação

profissional do Serviço Social no cumprimento e execução da medida socioeducativa

de internação. E como objetivos específicos, temos: compreender e analisar a rotina

do Assistente Social na execução da medida socioeducativa; conhecer as formas de

mediações do trabalho do Assistente Social e conhecer as competências e

atribuições do Assistente Social, nesta área de atuação na perspectiva do projeto

ético-político.

Dessa forma, decidimos pesquisa esse tema bem recorrente na

sociedade e chegamos às seguintes indagações: Como se dá a aplicação da Lei,

especificamente, o ECA e o SINASE, das medidas socioeducativas pelos

Assistentes Sociais? O que estes profissionais pensam sobre o que fazem? Como

garantem os direitos nesta área de atuação dentro da dimensão do Código de Ética

para colocar em prática o projeto profissional?

Para respondê-las, realizamos uma pesquisa de natureza qualitativa, que

abordou a realidade social como construção e atribuição de significados de caráter

processual e reflexivo. Estudamos os fenômenos, segundo a perspectiva do trabalho

do Assistente Social na execução de Medidas Socioeducativas com adolescentes

autores de ato infracional, situando a nossa interpretação desses fenômenos

apresentados e estudados, de forma descritiva com o objetivo de descrever as

características e identificar os fatos que determinam ou que contribuem para a

ocorrência dos fenômenos.

Dessa forma, a pesquisa qualitativa expressa um universo de significados

que “implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos

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de pesquisa, para extrair significados visíveis e latentes que somente são

perceptíveis a uma atenção sensível” (CHIZZOTTI, 2006, p. 28).

Contudo, a pesquisa qualitativa foi escolhida por trabalhar com as

relações sociais, já que ela busca a compreensão e a explicação de tais relações

bastante complexas repletas de significados. A pesquisa trabalha com o cotidiano,

vivências e experiências, o que nos privilegiou enquanto pesquisadores, pois nos

possibilitaram perceber a realidade de acordo com a visão dos sujeitos,

especificamente os assistentes sociais.

Para o desenvolvimento deste trabalho, utilizamos primeiramente a

pesquisa do tipo bibliográfica para adquirirmos um maior conhecimento e

embasamento teórico sobre todo o processo histórico dos direitos sociais e do

trabalho do Serviço Social brasileiro, o qual foi realizado a partir de pesquisas

anteriores. Portanto, utilizamos, de forma contextual, as ideias dos principais

autores: Volpi (1997), Iamamoto (2011) e Guerra (2011), em relação às seguintes

categorias: adolescente e ato infracional, o trabalho do Assistente Social e direitos

sociais. O trabalho foi norteado nas ideias do estudo dos autores mencionados,

porém, será embasado em um contexto geral, também em outros autores não

menos importantes que serão mencionados no decorrer do trabalho.

A amostra escolhida foi de duas Assistentes Sociais atuantes no trabalho

com adolescente autor de ato infracional, no âmbito do Centro Educacional com

medida de internação em Fortaleza. A pesquisa de campo ocorreu no mês de

outubro, durante cinco dias corridos, de 08:00 às 17:00 horas; no decorrer desse

período realizamos entrevista semiestruturada com as Assistentes Sociais e uma

observação dentro da dimensão etnográfica. Ressaltamos que dentro da dimensão

etnográfica os atos de olhar e ouvir são formas peculiares pelas quais o pesquisador

busca interpretar “a sociedade e a cultura do outro „de dentro‟, em sua verdadeira

interioridade” (OLIVEIRA, 2000, p. 34).

Para enfatizarmos o que foi mencionado anteriormente, Oliveira (2000, p.

31) salienta que:

Entendo que para se elaborar o bom texto etnográfico, deve-se se pensar as condições de sua produção a partir das etapas iniciais da obtenção dos dados – olhar e o ouvir -, o que não quer dizer que ele deva emaranhar-se na subjetividade do autor/pesquisador.

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Assim, tanto o olhar como o ouvir cumpre uma função básica na pesquisa

empírica, e a partir de então distante da realidade observada é que surge o

momento mais propício da pesquisa que é o escrever, quando se textualiza a

realidade que o pensamento revela pela criatividade.

Nesse período, realizamos a leitura de relatórios sociais, instrumento de

trabalho do Assistente Social, objetivando esclarecer e compreender o discurso e a

intervenção dos profissionais. A observação nos possibilitou um contato constante

com os atores da pesquisa, bem como em anotações em diário de campo,

importante instrumental que nos permitiu conhecer informações possíveis de

análises posteriores.

Salientamos que o trabalho do pesquisador consiste não apenas em

reproduzir o que seu olhar captou do real, mas em tentar ir mais longe, recorrendo a

imagens captadas por seu olhar interior, aguçando sua percepção e sua

sensibilidade, de modo a ver além daquilo que está à sua frente, de enxergar o que

até então não se revelara diante de seus olhos.

Assim, a observação foi de grande importância na pesquisa, porém não

nos detivemos nela, realizamos também entrevistas com duas Assistentes Sociais

na própria Instituição. As entrevistas foram realizadas no ambiente da Instituição,

onde as entrevistadas foram orientadas acerca dos objetivos das informações

coletadas, as quais seriam utilizadas no nosso trabalho de conclusão de curso. É

importante registrar a receptividade e adesão das entrevistadas à pesquisa, o que

facilitou bastante o processo.

As entrevistas ocorreram de forma bastante tranquila e significativa, pois

se tornou um momento rico de reflexões tanto para nós quanto para as Assistentes

Sociais entrevistadas. Utilizamos gravadores durante a entrevista, pois auxilia no

registro das informações e de elementos de comunicação, garantindo originalidade

ao conteúdo, aumentando a veracidade dos dados coletados.

Para a orientação das entrevistas foi utilizado um roteiro inicial com

questões abertas, o que qualifica a pesquisa como eminentemente qualitativa. O

modelo da entrevista encontra-se disponível no apêndice desse trabalho.

Na análise dos dados foi usada a técnica de análise de conteúdo, ou seja,

o nosso foco na análise não se encontra na coerência e coesão expressas ou não

pelas entrevistadas, mas as significâncias com os objetivos do trabalho. As

informações obtidas nas entrevistas foram minuciosamente anotadas para

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alcançarmos os dados almejados. Destarte, através da observação, pudemos

conhecer como se desempenham as atividades dentro de um Centro Educacional de

Fortaleza.

Para expormos as falas das entrevistadas de forma a preservar pelo

sigilo utilizamos nomes de pedras preciosas, respectivamente, Rubi e Safira.

Ressaltamos aqui que o leitor vai observar no desenvolver do trabalho as falas dos

sujeitos entrevistados, cabe aqui registrarmos também o cuidado que tivemos na

manutenção original do conteúdo de cada resposta. Dessa forma, apresentamos os

sujeitos da nossa pesquisa:

Eu me formei em março de 2011, tem 2 anos, conclui minha especialização esse ano em Serviço Social, Políticas Públicas e Direitos Sociais na UECE. Já pensei em fazer mestrado, fiz a seleção, passei, mas meu foco é concurso! Então, joguei tudo pro alto, estou estudando para concurso, quando eu passar no concurso volto pro mestrado ou então faço outro curso, tenho muita vontade de fazer história na UFC, também. Sempre foi na área da infância e da adolescência, assim! Desde a época do estágio. Meu primeiro estágio foi no Centro Educacional Patativa do Assaré, depois com um tempo, pedi transferência e fui para o CREAS regional de Fortaleza, que trabalhava muito essa questão da violência contra a criança e lá era o meu foco de pesquisa. Com 8 meses de Patativa, eu fui transferida pro CRAS, e lá fiquei até o final do contrato, e assim que concluí a faculdade, eu fui chamada para trabalhar aqui. Sempre aparece oportunidade, por exemplo, recentemente fui chamada para um CREAS, mas estou esperando ainda, mas é sempre nessa área, através da seleção daqui de Fortaleza (RUBI, 2013).

Minha colação foi no final de agosto, quando foi em outubro eu fui convidada pela STDS pra executar um projeto com adolescentes em conflito com a lei e com as famílias deles lá no Patativa do Assaré. O projeto durou 3 meses, então eu passei esses 3 meses lá. Em fevereiro desse ano, eu comecei um projeto também pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário, passei 4 meses nesse projeto, e quando foi em junho, retornei pra STDS, pras medidas socioeducativas. Fui pro Passaré, passei 3 meses lá e há 1 mês e pouco vim pra cá. Aqui estou 1 mês como Assistente Social, eu já tinha tido experiência de 2 anos aqui como estagiária. Tenho 1 ano e 2 meses, eu me formei no meio do ano passado 2012.1. Não faço nada, meus planos é pra que no próximo ano eu comece, eu quero uma especialização, mas ainda tô vendo. Assim, eu já vi algumas na Pótere e também já vi na UECE, enfim, estou me programando, mas a ideia é começar no próximo ano (SAFIRA, 2013).

Atentamos que os dados que obtivemos no campo estão sendo

apresentados em todo o texto, ou seja, desde o primeiro capítulo foi realizado a

interfase com as categorias de análise. Assim, a exposição dos resultados

alcançados foi dividido em quatro capítulos, com o objetivo de apresentar a atual

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conjuntura do trabalho das Assistentes Sociais no âmbito do Centro Educacional na

implementação da medida sócio educativa de internação.

No primeiro capítulo, intitulado Aspectos históricos sobre a criança e o

adolescente: uma ênfase sobre a categoria adolescência e ato infracional no

contexto social multifacetado, abordamos a categoria adolescente autor de ato

infracional, uma fase muito complexa para estes sujeitos. Destacamos os períodos

históricos nas lutas pela garantia dos direitos da criança e do adolescente, as

conquistas realizadas após lutas sociais. E nos detemos, especificamente, no ato

infracional cometido pelo adolescente autor de ato infracional.

No segundo capítulo, As medidas socioeducativas e o Sistema Nacional

de Atendimento Socioeducativo (SINASE): um foco na medida de internação,

discutimos a medida socioeducativa de internação instituída desde o Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA), defendida pela doutrina de proteção integral, até a

Lei 12.594/12, que aprimora os parâmetros pedagógico e arquitetônicos para uma

efetiva implementação da medida socioeducativa. O capítulo finaliza com uma breve

contextualização e apresentação do locus da pesquisa.

Tanto as discussões abordadas no capítulo I quando as realizadas no

capítulo II são necessárias para termos uma maior compreensão da constituição

histórica da política de atendimento aos adolescentes autores de ato infracional,

para entendermos de que forma ocorriam e ocorrem a participação profissional

nesta expressão da questão social levando em consideração o momento histórico

que se estabelece.

Já no terceiro capítulo, Uma abordagem sobre o Serviço Social na

contemporaneidade: da categoria trabalho aos instrumentais para uma práxis

profissional, nos detemos no trabalho do Assistente Social, mas, primeiramente,

situamos o leitor quanto o processo histórico da profissão no Brasil, através de um

breve resgate histórico, para adentrarmos na instrumentalidade e mediação,

categoria importante para uma práxis profissional.

No quarto capítulo, Uma observação dentro da dimensão etnográfica do

trabalho do Assistente Social em um Centro Educacional, detalhamos os diários de

campo mostrando a atual situação do Centro Educacional, sua estrutura e os

sujeitos que compõem o corpo técnico que trabalham de forma interdisciplinar com

as Assistentes Sociais. Logo depois nos detemos em apresentar a realidade nua e

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crua do trabalho do Assistente Social frente às múltiplas demandas impostas pela

instituição.

Para atingirmos o objetivo proposto neste trabalho, houve a necessidade

do estudo das categorias citadas para analisarmos a atuação do Assistente Social

frente à implementação da medida socioeducativa de internação no âmbito do

Centro Educacional, pois essas categorias possibilitaram uma ampla leitura sobre a

complexa realidade em que os adolescentes autores de ato infracional estão

inseridos nos possibilitando conhecer e entender a realidade encoberta.

Enfim, após todas as abordagens realizadas no decorrer deste trabalho,

podemos salientar que construímos as considerações finais, cientes da ampla e

complexa realidade que o trabalho do Assistente Social está inserido, dentro da

abordagem socioeducativa diante das várias demandas e burocratização da

instituição de atendimento aos adolescentes autores de ato infracional.

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1 ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE A CRIANÇA E O ADOLESCENTE: UMA ÊNFASE SOBRE A CATEGORIA ADOLESCÊNCIA E ATO INFRACIONAL NO CONTEXTO SOCIAL MULTIFACETADO

Destacaremos neste capítulo, a categoria adolescência referenciando

uma abordagem mais específica sobre o adolescente autor de ato infracional, o qual

está inserido na dinâmica do contexto social e das relações sociais. Vamos destacar

também, os períodos históricos que consubstanciam a construção e consolidação

dos Direitos da Criança e do Adolescente sob a ótica da legislação brasileira.

Esta abordagem vai destacar o percurso social na luta pela garantia dos

direitos e os principais avanços para a consolidação destes, os quais foram

conquistados devido às problemáticas no que diz respeito à criança e adolescente,

em específico os dos adolescentes autores de ato infracional.

1.1 Uma reflexão sobre a temática adolescente autor de ato infracional

A fase da adolescência sucede a passagem da fase da criança, sendo

este o momento em que as pessoas em processo de formação, para a fase adulta,

sofrem transformações tanto no corpo quanto na mente. Segundo Aberastury

(1980), a adolescência é uma fase de transição, em que há um constante

questionamento, os adolescentes apresentam muitas incertezas sobre o que

escutam e acabam se rebelando.

No processo de construção de sua identidade, o adolescente, busca

referências naqueles de seu convívio, os seus pares, por isso, têm necessidade de

um intenso convívio em grupos, que se aproximam por motivos diferentes, em

diversos espaços sociais, devido a diferentes temas e propósitos. É nesta fase que

surgem dúvidas, muitas inquietações, curiosidade dos mais diferentes aspectos, ou

seja, são sujeitos que ainda não tem uma personalidade formada que perpassa por

várias transformações até a formação da identidade (ABERASTURY,1980).

O ECA, no seu artigo 2º, afirma que criança é a pessoa de até 12 anos

incompletos, enquanto que o adolescente é o individuo maior de 12 anos e menor de

18 anos de idade. O adolescente é considerada pessoa peculiar em

desenvolvimento, ou seja, tem todos os direitos e necessita de uma proteção

especial, considerada uma prioridade absoluta.

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O adolescente passa por várias etapas de desenvolvimento como,

alterações físicas, psíquicas e sociais, cujas peculiaridades merecem atenção. Os

aspectos físicos são componentes da puberdade vivenciados de forma semelhante

por todos os indivíduos. Quanto às dimensões psicológicas e sociais, estas são

vivenciadas de maneira diferente em cada sociedade, em cada geração e em cada

família, sendo singulares até mesmo para cada indivíduo (ABERASTURY,1980).

Assim, Campos (1987, p. 257) afirma que:

[...] Ruth Benedict, antropóloga americana, formulou a teoria do condicionamento cultural. Ela oferece uma maneira teórica de relacionar o sistema de vida de uma determinada sociedade ao crescimento e desenvolvimento da personalidade individual.

Portanto, as ações e posicionamento que os adolescentes tomam são

construídos a partir das interações socioculturais. Para a psicologia, nessa fase tem-

se a influência dos fatores culturais no desenvolvimento da personalidade desses

indivíduos2.

Vivemos em uma sociedade capitalista com interesses que se norteiam

no capital, a partir de então, observamos que os adolescentes que estão inseridos

nessa sociedade têm princípios e objetivos cada vez mais específicos, marcados

pela desigualdade social. Estes, muitas vezes, contrariam as “ideias” do mundo

adulto; dessa forma, criticam todas as regras e atitudes dos adultos, constituindo-se

uma rebeldia, desafiando a todo o momento os mais velhos. Assim, citamos Safira

(2013):

São adolescentes que, muitas vezes, não têm limites pra o que fazem, pra o que querem; muitas vezes, as mães chegam aqui dizendo eu não sei onde foi que eu errei, porque eu fiz tudo o que ele queria eu dei tudo o que ele pedia, mas pra mim não é a forma correta de educação, porque nem todo mundo pode dar tudo, então vai chegar uma hora que eu não posso dar; eu sempre dei o que meu filho quis, mas aí vai chegar uma hora que eu não consiga dar o que ele quer, então ele vai buscar meios pra conseguir aquilo.

O que mais importa de tantos questionamentos sobre o que venha a ser

adolescente, o porquê de ser adolescente, é sabermos que hoje este indivíduo

ocupa um lugar na sociedade. Mas o fato de sabermos que ele é possuidor de uma

2 Na atual conjuntura social, a questão social reflete as expressões concretas das desigualdades

sociais, econômicas, culturais e políticas presentes na realidade de inserção dos adolescentes na sociedade.

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subjetividade e precisa de atenção, principalmente dos adultos, podem nos facilitar,

e muito, a conhecer o seu mundo e questionar qual o motivo de estarem, muitas

vezes, tão alienados3 e violados pela sociedade contemporânea. Sobre esse

assunto, diz Rubi (2013):

Assim, eu já escutei muito e não concordo com essa fala, mas escutei muito de várias pessoas aqui dentro, de pessoas que estão na STDS, em cargos superiores, dizerem a gente trabalha com o resto da sociedade, e o adolescente se reconhece quanto a isso, porque é tratado dessa forma. Mas pra mim, o adolescente autor de ato infracional é um ser humano com várias questões que devem ser trabalhadas, como a gente, mas que não teve as mesmas oportunidades que nós tivemos.

É no convívio familiar que o indivíduo começa a enraizar laços sociais,

porém, é no convívio social que o indivíduo vivencia todos os padrões da sociedade;

é nesse processo que o mesmo aprende a ser membro da sociedade. Quanto à

permanência de adolescentes de classe média no Centro Educacional, destacamos

o relato de Rubi (2013):

[...] os meninos de classe média é porque a família não aguenta mais, é tipo querer transferir a responsabilidade pro Centro Educacional, embora assim, lógico, ele num está aqui a troco de nada, tem a questão da droga, a questão mais da falta de controle da família do que de um menino pobre que admite que roubou pra comprar roupa porque em casa não tem, eu roubei pra compra droga, totalmente diferente, porque a gente teve um menino aqui que a mãe era enfermeira concursada de um hospital aqui de fortaleza; esse menino tinha ido pra Disney, o celular desse menino é o meu salário,e ele diz: não, eu tô aqui porque não tenho limite, minha mãe não me dá limite e eu faço o que eu quero. Menino de 14 anos que dirige, quando queria pegava o dinheiro e ia lá comprar a droga. Mas aí chegou um ponto que a mãe não aguentou mais, foi lá na 5° Vara e expôs a situação. E aí o menino veio pra cá.

A família, na contemporaneidade, imersa nas transformações sociais, vem

sofrendo grandes mudanças e participando dessas transformações dos

adolescentes. Diante disso, estes são os que mais exprimem a falta de orientação

familiar em atos que culminam em infringir as leis. Com a concepção de família

contemporânea, observam-se novas configurações de relação entre seus membros,

existindo vários fatores como econômico e social que contribuem na alteração da

vida familiar.

3 No sentido que os sujeitos não têm interesse em ouvir opiniões alheias e apenas se preocupam com

o que lhe interessa, por isso são pessoas alienadas.

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Segundo Minuchin (1982, p. 134) “a família sempre tem passado por

mudanças que correspondem às mudanças da sociedade. Tem assumido ou

renunciado a função de proteção e socialização de seus membros em resposta as

necessidades da cultura”.

Com as várias mudanças sociais, atualmente existe uma heterogeneidade

familiar, culminando com as grandes rupturas das tradições que têm propiciado uma

grande quebra nas relações vinculares, ou seja, apresenta-se um grande desarranjo

do ritmo familiar, transformando laços em deslaces.

No trabalho com adolescentes autores de ato infracional, a família tem um

papel muito importante, pois ela é responsável pelos vínculos afetivos que venham

favorecer o desenvolvimento e o bem estar dos seus componentes. Ela influencia

seus membros de todas as formas. É na família que se constitui o comportamento e

o sentido de identidade. Assim, a forma que se concebe as relações familiares vai

interferir na formação da identidade pessoal e social. “A família não é o único canal

pelo qual se pode tratar questão da socialização, mas é, sem dúvida, um âmbito

privilegiado, uma vez que este tende a ser o primeiro grupo responsável pela tarefa

socializadora” (VITALE, 2006, p. 90).

De certa forma, esses adolescentes autores de ato infracional estão à

margem da sociedade, são “excluídos” devido ao elevado nível de desigualdade

social e o contínuo ritmo de concentração de riqueza. A exclusão social, segundo

Castel (2000), é uma expressão que inclui todas as modalidades de miséria do

mundo, como o desemprego recorrente ou de longa duração, o jovem da periferia, o

sem domicílio fixo, ou seja, “(...) toda situação ou condição social de carência,

dificuldade de acesso, segregação, discriminação, vulnerabilidade e precariedade

em qualquer âmbito” (ESCOREL, 1999, p. 23).

O trabalho social com o adolescente, através do resgate dos valores

éticos e morais é um desafio para os educadores, em específico para o profissional

de Serviço Social. E é nesse contexto totalmente contraditório, que é a realidade

vivida por adolescentes autores de ato infracional, que a profissão de Serviço Social

se insere em grande dimensão, já que o Assistente Social é o profissional que pode

analisar criticamente a singularidade desses adolescentes, intervindo através de

mediações sociais em suas singularidades.

Para darmos continuidade, vamos destacar no próximo tópico os períodos

históricos que consubstanciam a construção e consolidação dos direitos das

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Crianças e dos Adolescentes, desde o Código de Menores de 1927 ao Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA).

1.2 Um breve resgate histórico sobre a legislação da criança e do

adolescente: do Código de Menores ao ECA

Primeiramente, vamos adentrar no processo de construção dos direitos

da criança e do adolescente no Brasil, pois existe a necessidade de algumas

considerações históricas sobre o tratamento destinado a esta questão. Realizaremos

um resgate histórico desde o Código de Menores ao Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA).

Ao abordarmos as políticas de atenção à criança e ao adolescente do

século XX, podemos identificar que os atendimentos realizados a este público

aconteciam mais no sentido de sanar as necessidades emergenciais. Muitas vezes,

partiam da igreja católica a qual atendia crianças pobres, assim como idosos,

doentes e viúvas.

Em meados do século passado aquelas crianças e adolescentes que

eram pobres, sofriam a intervenção por parte do Estado, por meio da inserção do

trabalho de instituições religiosas e filantrópicas, que se caracterizavam pelo

controle das classes populares mais subalternas (RIZZINI, 2011).

A partir da Legislação intitulada Direito do Menor, tanto a assistência

quanto a proteção às crianças e aos adolescentes, por parte do Estado, ganham

maior visibilidade, marcada pela instauração das políticas sociais no Brasil.

De todo o processo histórico sobre a questão da criança e do

adolescente, foi o Código de Menores, promulgado em 1927 através do decreto n°

17943-A, conhecido por Código Mello Mattos, que consubstanciou responsabilidade.

Este Código atribuiu ao Estado a tutela sobre o abandonado, órfão e aqueles que de

qualquer forma tivessem a ausência dos pais, ou seja, aqueles “menores em

situação irregular”. Sobre este assunto, Rizzini & Pilotti (2011, p. 25) dizem que:

A primeira tentativa do governo em regulamentar a „assistência e proteção aos menores abandonados e delinqüentes‟, no início da década de 1920, legitimou a intervenção do Estado na família, não só através da suspensão do Pátrio Poder, mas também pela apreensão dos menores ditos abandonados, mesmo contra a vontade dos pais. Tal medida foi consequência da percepção que certos setores da sociedade tinham das famílias pobres.

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Destarte, o Código de 1927 se caracterizou por ser a primeira legislação

brasileira para crianças e adolescentes, existindo várias contribuições como de

juristas, pedagogos e parlamentares, “incorporando tanto uma visão higienista4 de

proteção do meio e do indivíduo, como uma visão jurídica repressiva e moralista”

(FALEIROS apud RIZINNI & PILOTTI, 2011, p. 47).

Destacamos que o Código de Menores era destinado, principalmente,

àqueles desprovidos de bens, ou seja, a classe subalterna, sendo este pioneiro no

tratamento diferenciado aos menores infratores5, pois desde então eram proibidos os

internamentos destes em prisão convencional para pessoas adultas. Quanto a essa

questão, destacamos:

[o que mudou] Acho que é a legislação, mas acho que a mentalidade até de alguns funcionários é de sistema prisional. Pra você ter uma ideia, teve uma época nos presídios que todos os agentes eram terceirizados, e aí depois do sindicato intervir teve vários sucessivos concursos, teve até um recentemente. E aí, com isso, essas pessoas que eram terceirizadas, que não passaram nos concursos foram absorvidas pelos Centros Educacionais. Então, dentro do centro educacional você vai ver muito ex-agente penitenciário com aquela mentalidade que aqui ele está num presídio (RUBI, 2013).

A partir de então, nesse período, observamos o desencadear de muitas

discussões referentes à criança e ao adolescente quanto à atuação do Estado,

levando a questão infância ser reconhecida pela sociedade como um problema

social, existindo um maior destaque para a questão daqueles abandonados ou

delinqüentes, ou seja, os que ameaçavam a ordem social. Quando a essa questão,

Souza (2012, p. 25-6) explica:

Estava presente, nesse momento, a pretensão de controle absoluto da infância e juventude, devido aos apelos sociais, à ordem moral e cívica estabelecida. Ficava totalmente a cargo do juiz definir o caminho a ser trilhado pelos abandonados ou delinqüentes, sem preocupação com o núcleo familiar, objetivando oferecer-lhes o apoio e a proteção necessários para reordenar suas trajetórias de vida.

Entre as décadas de 1930 e 1945, há o crescimento do centralismo do

Estado assistencialista, principalmente na organização dos serviços públicos no que

4 Preocupação com a saúde, onde a família era concebida como um terreno de intervenção médica.

5 Termo empregado as crianças e aos adolescentes que tinham as práticas de “vadiagem” e

“gatunagem” ou aqueles filhos de famílias pobres, que poderiam ser consideradas desabilitadas para educar os filhos de acordo com os padrões morais vigentes na época (SOUZA, 2012, p. 24).

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diz respeito aos atendimentos. Nesse período instaurou-se na sociedade o chamado

“estado social” que atendia muitas reivindicações dos trabalhadores, como a

legislação trabalhista e a seguridade social, marcando ênfase na assistência. Uma

forma de “acalmar” os ânimos da sociedade que reivindicavam melhores condições

de trabalho de vida. (RIZZINI, 2011)

Em 1941 foi criando o Serviço de Assistência ao Menor (SAM),

implantado no governo de Getúlio Vargas, através do decreto lei 3.733/41, o qual

tinha um caráter correcional e repressivo. O SAM tinha estrutura de casas de

correção para adolescentes infratores, escola de aprendizagem de ofícios urbanos

para menores carentes e abandonados. Para Faleiros (apud RIZZINI; PILOTTI,

2011), a implantação do SAM teve uma maior relação com a questão da ordem

social do que com a assistência propriamente dita.

De acordo com Faleiros (apud RIZZINI; PILOTTI, 2011), muitos

segmentos sociais condenavam as práticas do SAM, as críticas começavam a

emergir tanto por parte de atores governamentais como da sociedade, muitas

pessoas diziam que o SAM era uma fábrica de delinquentes, escola do crime e lugar

inadequado. Muitas críticas advinham também da mídia, que propagava a criação

dessa imagem.

A partir da década de 1950, tiveram início debates que tinham o objetivo

de reformular a legislação para criança e para o adolescente, também impulsionada

pela Declaração Universal dos Direitos da Criança (DUDH), mas logo foi

interrompida pelo golpe militar de 1964. (RIZZINI, 2011).

No período da ditadura militar no Brasil se intensificou a extinção do SAM,

culminando com a criação de um novo órgão. Através da Lei 4.513, foi criada a

Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), substituindo o SAM.

Portanto, começa a se intensificar uma mudança significativa no objetivo e na forma

de tratamento dos sujeitos, pois a Lei tinha sua atuação baseada na Política

Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM), a qual priorizava a família como peça

fundamental na vida das crianças e dos adolescentes. De acordo com Rizzini (2011,

p. 27):

Invocando sempre o primado da prevenção e reintegração social, no ambiente familiar e/ou na comunidade, FUNABEM e PNBEM favoreceram, no entanto, a internação, em larga escala e no país inteiro (através das FEBENS e de entidades privadas de assistência), desses „irregulares‟ do desenvolvimento com segurança nacional.

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Portanto, nesse período de autoritarismo o modelo repressivo e carcerário

foi mantido através das atividades exercidas pelas Fundações Estaduais do Bem-

Estar do Menor (FEBEM). Em 1979, após vários debates e movimentação jurídica,

houve uma revisão do Código de Menores de 1927, o qual foi substituído pelo Novo

Código de Menores, através da Lei 6.697, com o objetivo de consagrar a noção de

“menor em situação irregular”. Segundo Arantes (apud RIZZINI; PILOTTI, 2011) o

Novo Código de Menores cobria todo o universo da criança pobre de família

“desestruturada”, aqueles tidos perigosos ou em perigo, abandonados, infratores,

doentes, ociosos, entre outros.

No que rege o Novo Código de Menores, as crianças que pudessem

apresentar esses comportamentos tidos “irregulares” eram passíveis de serem

enviadas às instituições de recolhimento, ou seja, a ideia era de que se a família não

tinha condições de manter essas crianças de forma sociável, o Estado tomava para

si esta função através do Juiz de Menor (RIZZINI, 2011).

A partir da década de 1980, todos esses fatores começaram a ser

questionados, como a noção de irregularidade. Os movimentos sociais começam a

questionar o tipo de “assistência” que era dada às crianças e aos adolescentes; os

movimentos sociais entraram em cena reivindicando os direitos de cidadania para

essa parte da população (RIZZINI, 2011).

Com as reivindicações destes movimentos, há um grande avanço nas

conquistas políticas para as crianças e adolescentes. Conseguiram inscrever as

suas propostas na Constituição de 1988, através do artigo 227, “que manda

assegurar, com absoluta prioridade, os direitos de crianças e adolescentes,

incumbido desse dever a família, a sociedade e o Estado, aos quais cabe,

igualmente, protegê-las contra qualquer forma de abuso” (RIZZINI, 2011, p. 29).

Substituindo as anteriores concepções de criança e adolescente, como a

de “menor em situação irregular”, a inclusão do artigo 227 na Constituição de 1988,

designa a concepção de criança como sujeito de direitos, fundamentada na Doutrina

de Proteção Integral6. Assim, a questão da criança e do adolescente foi

6Embasada no artigo 227 da Constituição de 1988: É dever da família, da sociedade e do Estado

assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

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descentralizada, incluindo também responsabilidade da sociedade civil e começando

a integrar as políticas sociais.

. Doravante, como resultado do processo de redemocratização, o Código

de Menores (1979) foi revogado e começou a entrar em vigor em 1990, o Estatuto

da Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela Lei Federal n° 8.069. Esta Lei

adota, expressamente, em seu artigo 1°, a Doutrina da Proteção Integral,

reconhecendo a criança e o adolescente como sujeitos de direitos e dando

prioridade em suas garantias, articulando o Estado com a sociedade civil nas tarefas

das políticas para a infância com a criação de Conselhos de Diretos, dos Conselhos

Tutelares e dos Fundos geridos por esses Conselhos (FALEIROS apud RIZZINI;

PILOTTI, 2011).

Portanto, com os avanços sociais já mencionados, ou seja, com a

promulgação da Constituição de 1988 e do ECA, em 1990, tem-se o início de

grandes conquistas, como a desinstitucionalização da criança e do adolescente.

Caracterizando assim, a implementação de uma nova política baseada em uma

legislação que rompe com paradigmas de atenção à criança desamparada.

Podemos destacar que o século XX foi marcado por várias práticas de

intervenção e muita preocupação social com as questões relacionadas à criança e

ao adolescente. Muitos avanços são realizados ao longo da trajetória política. Antes

de darmos continuidade sobre as legislações e abordagem ao ECA, é importante

aprofundarmos a discussão na caracterização do ato infracional.

1.3 Ato infracional

Entre os vários comportamentos que os adolescentes apresentam no

processo da formação de identidade, muitos destes perpassam na violação das leis

sociais culminando nos atos infracionais. Segundo o artigo 103 do ECA, considera-

se ato infracional toda conduta praticada por criança ou adolescente definida como

contravenção ou crime. Assim, para Volpi (1997, p. 15):

Ao assim definir o ato infracional, em correspondência absoluta com a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, o ECA considera o adolescente infrator como uma categoria jurídica, passando a ser sujeitos dos direitos estabelecidos na Doutrina da Proteção Integral, inclusive do devido processo legal.

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Muitos adolescentes divergem dos padrões estabelecidos pela sociedade,

dessa forma, Straus (1994) caracteriza o adolescente autor de ato infracional como

pessoa com sérias deficiências e habilidades sociais, tendo um sentimento de

inferioridade, adotando dessa forma comportamento bastante divergente do adotado

pelos cidadãos que respeitam a lei. Assim, Rubi (2013) e Safira (2013) caracterizam,

respectivamente:

É um ser humano com várias questões que eu tenho, você tem, mas a situação dele é agravada pela situação de vida dele mesmo, de pobreza, pela própria imagem que a sociedade faz dele. Ele se coloca dentro dessa imagem de às vezes chegar aqui e dizer que não é um cidadão, que é um ladrão, que roubou um trabalhador, então ele não é cidadão.

É um adolescente que antes de estar privado de liberdade, já teve alguns outros direitos bloqueados, já foi privado de alguns outros direitos. São adolescentes que muitos estão fora da sala de aula, não estudam, são, de maneira geral, de classe média baixa.

Porém, devemos salientar que não estamos diante de um indivíduo autor

de ato infracional, mas sim de um adolescente que, por várias circunstâncias do

meio, cometeu ato infracional, o que nos leva a considerar toda conjuntura

econômica, social e psicológica que podem favorecer à prática do ato infracional

(COSTA, 1996).

Na busca pela autoafirmação, os adolescentes tentam provar que seus

desejos podem modificar o real imposto pela sociedade, e quando não conseguem

articular os seus desejos com as imposições sociais, se utilizam de atitudes violentas

na prática do ato infracional (SOUZA, 2013). Ou seja, são complexas e variadas as

circunstâncias que levam um adolescente a ser autor de um ato infracional.

Em um levantamento realizado pela Secretaria Especial de Diretos

Humanos da Presidência da República (SDH/PR)7, no ano de 2010, identificou-se na

Região Nordeste, que a internação de adolescentes é maior no cometimento do ato

infracional roubo, com 37%; homicídio, 20%; tráfico de drogas, 11%; e furto, 8%. Ou

seja, vivemos em uma sociedade do consumismo e a problemática do ato infracional

é uma das expressões da desigualdade.

Devemos considerar a relação do adolescente com o mundo capitalista, e

por sua vez consumista, assim, o ato infracional se estabelece em situações

7 Panorama Nacional à Execução das Medidas Socioeducativas de Internação – Programa Justiça ao

Jovem. Disponível em: <www.cnj.jus.br/2002>.

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vivenciadas sendo uma forma do adolescente responder aos problemas que lhes

são impostos, e as alternativas por eles encontradas que se constituem em infringir

a lei (GARCIA; AZEVEDO, 2008). Muitos dos adolescentes realizam esse tipo de ato

infracional, tanto para uso de drogas como também para ter acesso à roupa de

marca, ao celular da moda, entre outros.

São adolescentes que querem consumir, tanto de droga, como também do celular, da roupa de marca, que pra eles, a roupa de marca é muito importante, é o poder, ter dinheiro no bolso pra poder comprar o que quiser, na hora que quiser, pra impressionar a namorada. Então, é esse o adolescente, que quer impressionar, que quer ter dinheiro, é o que quer estar com a roupa da marca, da moda, é o que quer tá com o tênis bacana; é o que, muitas vezes, não tem acompanhamento familiar dentro de casa, muitas vezes, não é instruído pelos familiares, pelos responsáveis (SAFIRA, 2013).

Portanto, destacamos que o adolescente autor de ato infracional é um

sujeito de direito capaz de responder através das medidas socioeducativas pela

atitude ilícita que tenha cometido. Ou seja, não é pelo fato de estarmos vivendo em

uma sociedade capitalista, norteada pelo consumo, que os adolescentes que estão

imersos nessa conjuntura de poucas condições, ou famílias em situação de

vulnerabilidade podem violar as leis para usufruir de bens de consumo.

Para darmos concretude, baseado no que rege as leis já estabelecidas

socialmente, no próximo capítulo apreciaremos uma abordagem sobre o ECA, em

especial, o que rege as medidas socioeducativas e o Sistema de Atendimento

Socioeducativo (SINASE).

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32

2 AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E O SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO (SINASE): UM FOCO NA MEDIDA DE INTERNAÇÃO

Neste capítulo, abordaremos as medidas socioeducativas, em específico

a medida de internação, que foram instituídas na Lei 8.069/90, as quais são

defendidas pela Doutrina de Proteção Integral. Destacaremos também, a Lei

12.594/12, que estabelece parâmetros pedagógicos e arquitetônicos do atendimento

socioeducativo.

E para apresentaremos o locus da pesquisa, realizaremos uma breve

abordagem sobre o Centro Educacional (CE) que se destaca, em Fortaleza, por ser

uma unidade de privação de liberdade que atende adolescentes autores de ato

infracional.

2.1 As medidas socioeducativas: a medida de internação

A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), tem-se um novo

método de responsabilização do autor de ato infracional, que assim como a

Constituição Federal de 1988, dispõe dos mesmos direitos à vida e à saúde, à

liberdade, ao respeito e à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à cultura,

ao lazer e ao esporte, à profissionalização e à proteção no trabalho. A prática de ato

infracional também está legislada no ECA, que pode culminar em sanções, como as

medidas específicas de proteção para crianças e medidas socioeducativas para

adolescentes.

Com estas mudanças sociais, todas as crianças de até 12 anos e

adolescentes de até 18 anos são tratados como cidadãos, sem distinção, possuindo

direitos pessoais e sociais na condição peculiar em desenvolvimento, extinguindo

assim, as terminologias antes empregadas a ele, como menor, infrator e

abandonado.

O ECA estabeleceu que o ato ilícito que tenha sido praticado pelo

adolescente seja considerado como ato infracional e não mais como uma infração

penal. O estatuto determina as medidas de proteção, aplicadas tanto para crianças

quanto para adolescentes que apresentem uma situação de vulnerabilidade ou

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violação de direitos, e as medidas socioeducativas se aplicam somente ao

adolescente que tenha cometido algum ato infracional.

De acordo com o artigo 103 do ECA, o ato infracional é definido como

conduta descrita como crime ou contravenção penal, em decorrência ao princípio de

inimputabilidade penal aos cidadãos em idade inferior a 18 anos.

No que cerne as medidas socioeducativas para adolescente autor de ato

infracional, vemos o disposto no artigo 112 do ECA8:

I. Advertência - Consiste na admoestação verbal, que será reduzida a

termo e assinada (Artigo 115).

II. Obrigação de reparo ao dano - Designa ao adolescente

restituição/ressarcimento do dano. Não havendo a possibilidade de se

colocar em prática tal medida, a mesma poderá ser substituída por outra

adequada (Artigo 116).

III. Prestação de serviços à comunidade - Consiste na realização de

tarefas gratuitas de interesse geral, por um período não excedente a seis

meses, junto a entidades assistenciais (Artigo 117).

IV. Liberdade assistida - Prevista no Artigo 118, do ECA, designa o

acompanhamento, auxílio e reorientação do adolescente, que será

acompanhado por uma pessoa capacitada, designada pela autoridade.

Deverá ser nomeado um orientador, a quem incumbirá a supervisão na

escola e diligenciar a profissionalização. O prazo mínimo é de seis meses

e deverá ser apresentado relatório de acompanhamento. A medida

poderá ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida.

V. Inserção em regime de semiliberdade - Está prevista no Artigo 120 do

ECA. É designado no início ou como forma de progressão para o meio

aberto, possibilitando a realização de atividades externas

independentemente de autorização judicial. É de cunho obrigatório, tanto

a escolarização quanto a profissionalização. Não comporta prazo

determinado, devendo ser aplicadas as disposições a respeito da

internação, no que couber.

8 Verificada a prática do ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as

seguintes medidas: I- Advertência; II- Obrigação de reparo ao dano; III- Prestação de serviço à comunidades; IV- Liberdade assistida; V – Inserção em regime de semiliberdade; VI- Internação em estabelecimento educacional.

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VI. Internação - Artigo 121, do ECA. É medida privativa de liberdade, sujeita

aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição

peculiar de pessoas em desenvolvimento. Esta medida é a mais severa

de todas as medidas previstas no ECA, por privar o adolescente de sua

liberdade. Deve ser aplicada somente aos casos mais graves, em caráter

excepcional e com a observância do devido processo legal, conforme

prescreve o ditame constitucional e o ECA. A medida tem prazo máximo

de três anos, com avaliação a casa seis meses.

Contudo, devemos salientar que existe a necessidade de que, para o

cumprimento dessas medidas, deve-se levar em consideração a capacidade do

adolescente. De acordo com o artigo 121 do ECA, a aplicação da internação deve

obedecer os princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição

peculiar de pessoa em processo de desenvolvimento. Estaremos nos deleitando um

pouco mais sobre a medida socioeducativa de internação, pois esta se estabelece

no locus da pesquisa que teve sua realização em um Centro Educacional de

internação.

O princípio de brevidade determina que a medida deva ser cumprida pelo

adolescente logo após o cometimento do ato infracional, devendo ter sua

durabilidade no menor espaço de tempo. Conforme o artigo 121, a medida de

internação não tem prazo determinado podendo durar no mínimo seis meses, não

excedendo o período de três anos, exceto o de internação provisória9 e de

internação sanção10, que podem durar, respectivamente, de 45 a 90 dias.

Na internação de no máximo três anos, a cada seis meses deve ser

realizada uma avaliação por parte de toda a equipe da instituição para ser

identificado à atual situação do adolescente, culminando em um relatório que é

redigido por todo corpo técnico e emitido um parecer técnico ao juiz, para auxiliar na

sua decisão quanto à saída ou permanência do adolescente na unidade. Dentro do

prazo de internação, que é de até três anos, o adolescente poderá ser posto em

liberdade, podendo ser aplicada a medida socioeducativa de semiliberdade ou

9 Artigo 108 do ECA - A internação provisória consiste na internação realizada antes da sentença,

trata-se de medida cautelar para apuração do ato infracional. 10

Artigo 122 do ECA – O ECA também prevê um tipo de internação chamado internação-sanção por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta (Artigo 122, III).

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liberdade assistida. Porém, a liberação se torna obrigatória quando o adolescente

completa 21 anos11.

De acordo com o princípio de excepcionalidade, a medida deve ser

aplicada apenas em casos extremos, quando a infração for grave e quando

nenhuma das outras medidas forem adequadas, já que uma medida mais branda

pode torna-se ineficaz.

A medida socioeducativa de internação deve ser levada em consideração

para sua efetivação como uma última opção na hierarquia da menos grave para a

mais grave, sendo destinada a adolescentes que possam ter cometido ato

infracional grave, pois ao falarmos de internação significa falarmos de um programa

de privação de liberdade. “Assim sendo, aos que forem submetidos à privação de

liberdade só o serão porque a sua contenção e submissão a um sistema de

segurança são condições sine qua non para o cumprimento da medida

socioeducativa” (VOLPI, 1997, p. 28). Destarte, a medida socioeducativa de

internação deve limitar a liberdade do exercício pleno do direito de ir e vir e não de

outros direitos constitucionais, não o limitando da condição cidadã (VOLPI, 1997).

Quanto a isso, nos relata Safira (2013):

No caso da liberdade, aqui se contrapõe a situação em que os meninos estão vivendo, e aqui é o que a gente coloca pra eles, além da liberdade de ir e vir, que eles perdem, é a liberdade no sentido enquanto pessoa puder tá só, [...] a todo momento eles estão com outro adolescente, quer seja no dormitório, quer seja na sala de aula, que seja na oficina no momento de visitas, também não é uma coisa privada, reservada. Então assim, nesse sentido, a liberdade se contrapõe, apesar de que a gente prega por conta da privação de liberdade ela não acontece. A todo momento são vistoriados e fiscalizados, a todo momento estão sendo monitorados de alguma forma, tá no dormitório tem alguém pastorando; se a gente pede pra algum atendimento, vem com o instrutor, se está na visita, tem um instrutor do lado; se vai pro médico, tem um instrutor. Então assim, a liberdade, pra eles aqui, infelizmente não existe nesse sentido de ir e vir, no sentido de fazer o que quiser.

Segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da

República (SDH/PR), foi realizado um mapeamento nacional mostrando os tipos de

internações por região, e destacamos que na Região Nordeste, dos adolescentes

que cumprem medida socioeducativa de internação tem-se 59% dos casos, 27%

medida provisória, e 5% de medida internação-sanção. Verificamos que apesar do

11

Em todos os casos, a liberação deverá ser realizada apenas sob autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

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ECA reger que a medida socioeducativa de internação deve ser a última opção na

hierarquia da aplicação da medida, sendo está a utilizada na maior parte das

decisões judiciárias.

Essas medidas devem garantir ao adolescente autor de ato infracional

acesso à educação formal, profissionalização, saúde, lazer e demais direitos que lhe

são assegurados legalmente. O Estado, a sociedade e a família são responsáveis

pela garantia dos direitos à vida, à educação, à saúde, à profissão, à cultura, ao

lazer, ao convívio familiar à criança e ao adolescente, de acordo com as diretrizes

fundamentada no artigo 227 da Constituição Federal.

Os regimes socioeducativos, em meio fechado, produzem ações

punitivas, educativas e fortalecem vínculos sociais de forma diferenciada.

Observamos que no que se refere ao adolescente, tem-se a proteção integral,

recebendo medidas socioeducativas não punitivas. Entretanto, para Volpi (2006, p.

42):

As medidas socioeducativas devem ser aplicadas em conformidade com as características e grau de gravidade da infração, circunstâncias familiares e a disponibilidade de programas específicos para o atendimento do

adolescente infrator, garantindo-se a reeducação e a ressocialização.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE

(2010)12, do total da população adolescente brasileira, a população de adolescentes

autores de ato infracional representa 0,1583%. Ou seja, menos de 0,2% de toda a

população adolescente do país é responsável pela prática de ato infracional.

É nesse contexto social que se apresenta a realidade dos adolescentes

autores de ato infracional, que além de outros profissionais, como psicólogos,

pedagogos e sociólogos, o profissional de Serviço Social deve se inserir em grande

dimensão, após a consolidação do ECA e do Sistema de Atendimento

Socioeducativo (SINASE). Trata-se de um sistema articulado com princípios da

Constituição Federal e do ECA, constituindo-se um norte para a efetivação e

implementação das medidas socioeducativas preconizadas pelo ECA objetivando a

inclusão social dos adolescentes autores de ato infracional. Existe a necessidade da

articulação para analisar criticamente a singularidade destes adolescentes,

intervindo através das medidas sociais em suas particularidades.

12

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: < www.ibge.gov.br>.

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Destacamos que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

possibilitou avanços e grandes conquistas no que concerne aos direitos das crianças

e dos adolescentes como a proteção integral e universalização dos direitos sociais,

priorizando a criança e o adolescente como seres em desenvolvimento e

merecedores de proteção integral por parte do Estado, da sociedade e da família.

Porém, existe uma grande disparidade no que rege a lei e no que é praticado

socialmente. Volpi (2006, p. 48) afirma que “há uma dicotomia entre a produção

teórica sobre a criança e o adolescente e o atendimento dispensado aos mesmos”.

O grande foco e finalidade primordial das medidas socioeducativas é de

promover o convívio social do adolescente autor de ato infracional, visto como

pessoa inimputável e em formação, rege que sejam consideradas em dois objetivos

principais o punitivo e o regenerativo.

A ideia de se trabalhar através de medidas educativas a reinserção social

de adolescente autor de ato infracional, é muito importante para que se constitua

uma sociedade mais digna, para não haver ocorrência de reincidência desses

adolescentes. Entretanto, é necessário que o Estado organize as políticas públicas

destinadas aos adolescentes autores de ato infracional, já existentes, de forma a se

concretizarem realmente.

[...] Acho sim que poderia existir mais políticas públicas voltadas pra adolescentes, voltada pra infância, onde eles pudessem estar ocupados. Isso de adolescente estar ocioso em casa, sem fazer nada, sem ter um acompanhamento de algum adulto responsável, acho que facilita pra poder acabar se envolvendo com o ato infracional. Tem a questão da droga, que essa sim merecia uma atenção muito grande, porque a gente que está aqui trabalhando com esses adolescentes, a gente vê que 95% deles fazem uso de drogas, e matou porque estava muito drogado, ou roubou porque queria dinheiro pra comprar droga, então assim, a droga tem uma influência muito grande sobre esses adolescentes (SAFIRA, 2013).

Para reafirmarmos e dar maior concretude ao que estabelece o ECA no

que diz respeito às medidas socioeducativas foi instituído o Sistema Nacional de

Atendimento Socioeducativo (SINASE), devido a necessidade de uma

sistematização da lei que garantisse direitos aos adolescentes que cometessem

algum ato infracional. Estaremos abordando mais detalhadamente sobre o SINASE

no próximo tópico.

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2.2 A proposta do SINASE

As transformações nas relações sociais que assolam o país também

podem ser percebidas no tratamento e na preocupação com os adolescentes

autores de ato infracional.

[legislações que embasam o trabalho do Assistente Social no CE] A priori, a gente tem que ter um maior conhecimento sobre o ECA que é o que a gente mais trabalha, não trabalhamos com criança, mas trabalhamos com adolescentes já que são eles o público aqui. A constituição, em alguns artigos bem mais básicos, de maneira geral, quando ele prega a saúde, a educação, enfim, pra todo mundo, alguns parâmetros, publicações de conselhos nacionais, conselho estadual que são emitidos após alguns eventos, quando eles deliberam alguma coisa , o SINASE, que virou lei no ano passado. Assim, de maneira geral, as tops são ECA e SINASE a gente trabalha com adolescentes em conflito com a lei, essas duas são as mais básicas (SAFIRA, 2013).

Um grande avanço na história que marca a construção do direito da

criança e do adolescente no Brasil é a Lei 12.594, de 18 de janeiro de 2012, Lei do

Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Foi implantado através

do Projeto de Lei 1627/07, proposto pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos

(SDH) da Presidência da República e pelo Conselho Nacional dos Direitos da

Criança e do Adolescente (CONANDA). Tem como objetivo consolidar uma nova

divisão de atribuições e de responsabilidades, tanto no âmbito estatal como também

na sociedade civil, referentes às questões relacionadas aos adolescentes autores de

ato infracional (SOUZA, 2012).

Mas, o que é o SINASE?

Entende-se por SINASE, o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, políticas e programas específicos de atendimento a adolescente em conflito com a lei (Lei 12.594/2012, Artigo 1°, § 1º).

Após a implantação do ECA, foram observadas muitas necessidades,

uma delas foi de uma maior sistematização da lei que garantisse direitos ao

adolescente autor de ato infracional. A sua construção e implementação tem o foco

em estabelecer e dar concretude ao que já tinha sido preconizado pelo ECA, ou

seja, a garantia da proteção integral à infância e ao adolescente (SOUZA, 2012).

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O SINASE reúne princípios, regras e critérios para a execução de

medidas socioeducativas e programas de atendimento aos adolescentes de 12 a 18

anos, e excepcionalmente jovens até 21 anos de idade, a quem se atribui a prática

do ato infracional, desde o momento da apuração até a execução das medidas

socioeducativas. Interessante salientar, que o SINASE veio fortalecer as formas

específicas para execução das medidas socioeducativas, tanto no âmbito da

estrutura das instituições quanto aos profissionais que atuam nessa área (SOUZA,

2012).

Considerado um avanço na proposta de atendimento aos adolescentes, o

SINASE traz em seu bojo propostas de mudanças democráticas e procedimentos

mais justos, evitando a arbitrariedade dentro dessas medidas socioeducativas

atuais. Essas medidas, através da lei, instituem os direitos fundamentais desses

indivíduos, priorizando o papel familiar, como medida de ressocialização, em vez da

tutela de instituições estatais (SOUZA, 2012).

De acordo com Veronese (2009), o SINASE é um instrumento jurídico-

político que complementa o Estatuto da Criança e do Adolescente no que se refere

ao ato infracional e medidas socioeducativas. Trata-se de um documento que impõe

obrigações e a corresponsabilidade da família, da sociedade e do Estado, para a

efetivação dos direitos fundamentais dos adolescentes que cometeram ato

infracional. E ao Estado, principalmente, cabe a função de investir em políticas

sociais que facilitem a concretização desse importante instrumento normativo.

O SINASE estabelece que o adolescente deva ser respaldado de várias

ações socioeducativas que possam vir a contribuir, efetivamente, na sua formação,

para que assim, o mesmo possa vir a ser um cidadão capaz de se relacionar com os

outros e consigo mesmo, sem voltar a reincidir no ato infracional. E assim, possa

desenvolver a capacidade de tomar decisões aprendendo com as experiências

acumuladas socialmente e individualmente, aguçando sua competência pessoal,

cognitiva e produtiva.

É muito importante salientar que para que seja alcançado tal objetivo se

faz necessária a participação da família, da comunidade e das organizações da

sociedade civil, todos voltados com o objetivo de garantir a defesa dos direitos das

crianças e dos adolescentes, pois na ação socioeducativa todos esses elementos se

tornam fundamentais para a efetivação do SINASE.

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O SINASE vem para proporcionar uma nova conjuntura, no que diz

respeito à execução das medidas socioeducativas como, por exemplo, dar

prioridade na aplicação da medida socioeducativa em meio aberto ao invés da

privação de liberdade, como a internação não retirando o adolescente do convívio

familiar. É muito importante ressaltar alguns princípios do SINASE:

1. Respeito aos direitos humanos; 2. Responsabilidade solidária da família; 3. Adolescente como pessoa em situação peculiar de desenvolvimento, sujeito de direitos e responsabilidades; 4. Prioridade absoluta; 5. Legalidade; 6. Respeito ao devido processo legal; 7. Excepcionalidade, brevidade e respeito a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento; 8. Incolumidade, integridade física e segurança; 9. Respeito à capacidade do adolescente de cumprir a medida; as circunstancias; a gravidade das infrações às necessidades pedagógicas do adolescente na escolha da medida, com preferência pelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. 10. Incompletude institucional; 11. Garantia de atendimento especializado para adolescentes com deficiência; 12. Municipalização do atendimento; 13. Descentralização político administrativa.

O SINASE vem normatizar a forma como devem ser tratados os

parâmetros de ação e gestão das medidas socioeducativas, desde o atendimento

inicial ao adolescente autor de ato infracional. Uma inovação trazida pelo SINASE é

a determinação da existência em cada unidade de atendimento de uma Proposta

Político Pedagógica (PPP), definindo assim, o papel da unidade e das atividades

pedagógicas que devem ser realizadas. A PPP é uma importante ferramenta para a

organização do trabalho, assegurando o comprometimento de todos os envolvidos

com as novas práticas pedagógicas.

Inicialmente, na unidade de atendimento, deve ser elaborado o Plano

Individual de Atendimento (PIA) para as hipóteses de acolhimento institucional ou

familiar, visando à reintegração familiar do adolescente autor de ato infracional. O

PIA deve ser elaborado pela equipe técnica da unidade de atendimento com a

participação do adolescente, seus pais ou responsáveis. Segundo Souza (2012,

p.85), deverão constar neste Plano:

Informações sobre os resultados da avaliação interdisciplinar; os objetivos declarados pelo adolescente; a previsão de suas atividades de integração

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social e/ou capacitação profissional; atividades de integração e apoio à família; formas de participação da família para efetivo cumprimento do plano individual; e as medidas específicas de atenção à sua saúde.

Através de uma relação de proximidade entre o que rege a política pública

e o que se coloca em prática nas unidades de atendimento, pode ser evidenciado

que o PIA é um dos instrumentos que engloba um conjunto de propostas de

intervenção articuladas entre si, que tem por objetivo possibilitar um pacto das metas

com o adolescente e sua família, que possibilitem organizar o cumprimento da

medida, com a intenção de um futuro rompimento com a prática do ato infracional.

Porém, sobre o PIA nos relatou Rubi (2013):

[...] Se cogita uma possibilidade de se fazer um PIA, mas o PIA que eu tive acesso, que eu vi, é preencher papel, porque o que eu entendo de Pia, o Pia é um projeto de vida que você vai construir junto com o adolescente. O que não está acontecendo, se cogita, foi feito reunião, a pessoa que deu a reunião e que construiu o PIA, é uma pessoa de fora e não conhece a nossa realidade. Na verdade, o PIA que ela trouxe são os instrumentais que a gente já utiliza, que fale se o menino é reincidente, se ele usa droga, só marcar sim ou não, duas linhas para porque, mas um projeto de vida que é o que se propõe o SINASE não é feito.

Um fator fundamental para que seja efetivada a proposta pedagógica,

segundo o SINASE, é a participação da familiar e da sociedade em geral no

processo da reintegração do adolescente ao seio familiar e social, através de

atividades que possam fortalecer esses vínculos.

Para o atendimento na Unidade de Atendimento, o SINASE no artigo 12°,

determina a composição da equipe técnica do programa de atendimento que deverá

ser interdisciplinar, com no mínimo profissionais da área da saúde, educação e

assistência social. Cada área deverá ter clareza nas suas atribuições, para que

exista uma completude e não uma sobreposição de intervenção na Unidade de

Atendimento. No artigo 35, no que se refere à execução das medidas

socioeducativas, temos como princípios:

I- Legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso do que conferido ao adulto; II- Excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas, favorecendo-se meios de autocomposição de conflitos; III- Prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre que possível, atendam as necessidades das vítimas. IV- Proporcionalidade em relação à ofensa cometida; V- Brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em especial o respeito ao que dispõe o art. 122 da Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990 ( Estatuto da Criança e do Adolescente);

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VI- Individualização, considerando-se a idade, capacidades e circunstâncias pessoais do adolescente; VII- Mínima intervenção, restrita ao necessário para a realização dos objetivos da medida; VIII- Não discriminação do adolescente, notadamente em razão de etnia, gênero, nacionalidade, classe social, orientação religiosa, política ou sexual, ou associação ou pertencimento a qualquer minoria ou status; e IX- Fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no processo socioeducativo.

Especificamente, nos casos de medida socioeducativa de internação,

podemos destacar as determinações contidas nos artigos 15, 16 e 17.

Especificamente no artigo 15, têm-se os requisitos específicos para a inscrição de

programas de regime de semiliberdade ou internação:

I- A comprovação da existência de estabelecimento educacional com instalações adequadas e em conformidade com as normas de referência; II- A previsão do processo e dos requisitos para a escolha do dirigente; III- A apresentação das atividades de natureza coletiva; IV- A definição das estratégias para a gestão de conflitos, vedada a previsão de osilamento cautelar, exceto nos casos previstos no parágrafo 2° do artigo 49 desta Lei; e V- A previsão de regime disciplinar nos termos do artigo 72 desta Lei.

Já no artigo 16, se estabelece no SINASE a estrutura física necessária da

unidade devendo esta ser compatível com as novas referências da política. E no

artigo 17, estabelece que para o exercício da função de dirigente de programa de

atendimento em regime de semiliberdade ou internação, além dos requisitos

específicos previstos no programa, é necessário formação de nível superior

compatível com a natureza da função, comprovada experiência no trabalho com

adolescente de no mínimo 2 anos e reputação ilibada13. Ou seja, a política se

respalda de uma boa formulação na estrutura, com objetivos e meios definidos para

proporcionar sua execução.

Para a aplicação da medida de internação, não podemos deixar de citar e

levar em consideração o caráter de excepcionalidade, ou seja, o adolescente só

pode ser privado de liberdade como última medida, apenas nos casos em que o ato

infracional for cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa; por

reiteração no cometimento de outras infrações graves e por descumprimento

13

Reputação ilibada: é a situação em que a pessoa não teve, e não tem contra si, antecedentes de processos penais transitados em julgado ou processos judiciais criminais em andamento.

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reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. No que diz respeito à

política podemos citar o que diz SOUZA (2012, p. 87):

O SINASE vem desde 2006 se afirmando como um referencial para a construção definitiva de um novo sistema socioeducativo que de fato realize a proteção integral nas suas várias facetas, ou seja, no atendimento digno ao adolescente que cumpre medida socioeducativa, no respeito e apoio aos seus familiares, na oferta e inclusão dos adolescentes nas políticas públicas que impossibilitaram historicamente sua participação e na unificação de um modelo de atenção em âmbito nacional.

Contudo, devemos considerar que o SINASE ainda enfrenta muitas

dificuldades para a sua implementação, devendo ser representada como uma

ruptura com práticas conservadoras e ultrapassadas no que diz respeito à garantia

dos direitos da criança e do adolescente em cumprimento de medidas

socioeducativas.

Para complementarmos as ideias do capítulo e conhecermos na prática

instituições que trabalham na perspectiva da implementação do que regem o ECA e

o SINASE, estaremos apresentando o Centro Educacional.

2.3 Uma descrição preliminar do Centro Educacional (CE)

O Centro Educacional é uma unidade de privação de liberdade que

atende adolescentes autores de atos infracionais do sexo masculino. Com

capacidade para atender 60 adolescentes de 12 a 16 anos, nos casos de internação

de seis a três anos, e de internação-sanção sentenciados por descumprimento de

medida, com o período de permanência no máximo de noventa dias, todos

envolvidos com a prática do ato infracional de natureza grave, encaminhados por

ordem judicial.

A Instituição de privação de liberdade é vinculada à Proteção Social

Especial, prevista na Política Nacional de Assistência Social (PNAS), que é de

responsabilidade do Programa de Proteção Social e Medidas socioeducativas da

Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS). Dessa forma, segundo a

Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004, p. 31) a Proteção Social

Especial é:

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A modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras.

Através de informações colhidas dentro do Centro Educacional sobre o

regimento interno da Instituição, esta tem por objetivo estimular, através de

atendimentos e atividades sócio/psico/pedagógicas, a reflexão de adolescentes

autores de ato infracional na sociedade, possibilitando que o mesmo retorne ao

ambiente sociofamiliar munido de valores sociais e exercendo sua cidadania, além

de trabalhar juntamente com os adolescentes as possibilidades para suas mudanças

comportamentais e oportunidades para superação de sua atual situação de vida.

Segundo dados da STDS (2013)14, existem indicadores de desempenho

que socializam os dados do CE, onde o número de adolescentes atendidos de

janeiro a agosto de 2013: foi de 401; adolescentes engajados em atividades de arte

e cultura: é de 401; adolescentes engajados em oficinas produtivas: é de 401;

adolescentes engajados em curso de iniciação profissional: é de 401; adolescentes

engajados na escola formal: é de 158; adolescentes desligados por transferência: é

de 82; adolescentes desligados por retorno à família: é de 192.

Atualmente, a instituição não desenvolve nenhum programa ou projeto, o

que disponibiliza são atividades como as escolares, onde os socioeducandos

possuem acesso aos conteúdos referentes ao Ensino Fundamental e Médio, às

oficinas pedagógicas e de iniciação profissional, onde são ofertados cursos,

tecelagem e marcenaria; e às atividades esportivas, por exemplo, o futebol, que

ocorre diariamente na quadra esportiva da unidade.

A Instituição conta com uma equipe multiprofissional, composta por uma

advogada, duas assistentes sociais, dois psicólogos, dois pedagogos, um educador

físico, uma auxiliar de enfermagem e um médico, bem como uma secretária que

auxilia nos procedimentos administrativos da unidade. A direção fica responsável por

toda a dinâmica do Centro Educacional, e os instrutores educacionais pelo

acompanhamento e supervisão dos adolescentes em todas as atividades internas e

externas da unidade.

14

Disponível em: <www.stds.gov.br>.

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Com relação à infraestrutura, além dos setores técnicos, o CE se

apresenta, atualmente, com estrutura de cinco salas de atendimento, e

disponibilidade de uma sala para as reuniões, existe a sala da direção, da secretaria,

o almoxarifado, a cozinha e a lavanderia. Para os adolescentes existem alas de

convivência, dormitórios, salas de aula, salão para atividades lúdicas (extras),

quadra esportiva, refeitório e salas para as oficinas.

Não percebo mudanças depois que o SINASE virou lei, as coisas permanecem do mesmo jeito que eram: mesmo estilo de visita, o mesmo motivo pro adolescente sair do Centro Educacional, os mesmos tipos de atendimento, os mesmos trabalhos pedagógicos os mesmo eventos. Não percebo mudanças (SAFIRA, 2013).

Os adolescentes possuem além desses deveres os seguintes direitos:

atendimento nos setores social, jurídico, pedagógico e psicológico; atendimentos

médico-odontológico; contato telefônico semanalmente com seus familiares; receber

visitas dos pais, avós, tios e irmãos. A companheira ou esposa pode visitá-lo apenas

uma vez por semana, sob autorização do responsável do adolescente, como

também do responsável desta, caso a mesma tenha entre 12 e 17 anos, e somente

no caso de terem filhos registrados por ambos; tirar documentos e atendimento no

Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) sempre que necessitar.

Discutiremos no próximo capítulo, sobre o trabalho profissional do

Assistente Social, o qual está imerso na conjuntura social com o objetivo de garantir

que os direitos conquistados ao longo da história sejam efetivados, mesmo na

contracorrente do sistema econômico e social da atualidade.

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3 UMA ABORDAGEM SOBRE O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE: DA CATEGORIA TRABALHO AOS INSTRUMENTAIS PARA UMA PRÁXIS PROFISSIONAL

Neste capítulo, abordaremos as várias exigências e demandas que a

profissão exige na dinâmica social. Retrataremos a profissão de Serviço Social como

trabalho, através de um breve resgate histórico para abordarmos a relevância da

instrumentalidade para uma prática crítica. Apresentaremos os instrumentos da

práxis profissional para o exercício pleno da profissão dentro do CE, concernente ao

que determina o projeto ético-político profissional.

3.1 A profissão de Assistente Social como trabalho: um breve resgate histórico

Primeiramente, é de muita valia abordarmos a categoria trabalho a partir

de Karl Marx, pois o trabalho do Serviço Social e as propostas de qualificação da

profissão se consubstanciam na acepção ontológico-marxista que tem como

elemento inicial o ser social, uma categoria estruturante das relações entre os

homens e a natureza.

Marx (2008) esclarece que a atividade que diferencia o homem do animal

é o trabalho, é através deste que o homem pode transformar tanto a natureza

quanto a si mesmo. O trabalho atribui ao homem o poder de dominação das forças

naturais, é uma atividade pela qual o homem se cria a si mesmo (KONDER, 1998).

Através da dimensão teleológica15, o trabalho especifica o homem que o

faz através de atividades prático-consciente, elevando sua atividade laborativa, o

que lhe dá subsídios para interagir com a natureza para provimento de suas

necessidades. É através desta atividade que o homem diferencia-se do animal, pois

o homem modifica a forma inicial de algo em resposta as suas carências materiais.

De acordo com Konder (1998, p. 24):

Foi com o trabalho que o ser humano „desgrudou‟ um pouco da natureza e pôde, pela primeira vez, contrapor-se como sujeito ao mundo dos objetos

15

O ser teleológico é aquele que pensa o seu trabalho, projeta a sua atividade laborativa antes de confeccioná-la. Segundo Marx, o homem não transforma apenas o material sobre o qual realizou alguma atividade, mas imprime ao material o projeto que tinha conscientemente pensado.

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naturais. Se não fosse o trabalho, não existiria a relação sujeito-objeto. O trabalho criou para o homem a possibilidade de ir além da pura natureza.

Podemos afirmar que a condição teleológica é o que nos permite

desenvolver criticidade em relação às atividades desempenhadas, mas a empiria

contemporânea, proporcionada pelo modo capitalista, camufla essa percepção.

Através do trabalho que se constituiu a sociabilidade humana, pois foi através dele

que se construíram, historicamente, as relações sociais.

Contudo, o trabalho pode alienar16 o homem que estabelece como

prioritário a vida econômica em detrimento da vida humana, o que acaba

escravizando-o. Dessa forma, a apropriação dos meios de produção por uma

pequena parcela da população, permanecendo os demais sob exploração e venda

de sua força de trabalho, concretiza a situação de alienação e estranhamento do

trabalhador. O trabalho alienado está vinculado diretamente ao capitalismo que

emergiu na sociedade a partir da revolução industrial no século XVIII, através da

divisão social do trabalho, da apropriação privada das fontes de produção e,

principalmente, com o aparecimento das classes sociais, culminando com a

apropriação de bens e serviços e do poder nas mãos de pouco (KONDER, 1998).

A transformação do homem emergiu a partir do trabalho e das relações

sociais. O trabalho não se estabelece através de apenas um indivíduo, mas da

cooperação entre os homens que responde às necessidades sócio-históricas,

produzindo a “interação humana como a linguagem, as representações e os

costumes que compõem a cultura” (BARROCO, 2010, p. 27). Dentro da formação

social capitalista, o trabalho se constitui e tem por finalidade a transformação tanto

do homem quando das relações de trabalho. Segundo Iamamoto (2012, p. 60):

Por meio do trabalho o homem se afirma como ser criador, não só como indivíduo pensante, mas como indivíduo que age consciente e racionalmente. Sendo o trabalho uma atividade prático-concreta e não só espiritual, opera mudanças tanto na matéria ou no objeto a ser transformado, quanto no sujeito, na subjetividade dos indivíduos, pois permite descobrir novas capacidades e qualidades humanas.

16

Marx (2002, p. 112) diz: “O trabalhador põe sua vida no objeto; porém agora ele já não lhe pertence, mas sim ao objeto. Quanto maior a sua atividade, mais o trabalhador se encontra no objeto. Assim, quanto maior é o produto, mais ele fica diminuído. Quanto maior valor o trabalhador cria, mais sem valor e mais desprezível se torna”.

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Por ser um sistema econômico, o capitalismo tem sua dinamicidade e,

historicamente, tem se apresentado de várias formas na sociedade, como em

grandes crescimentos econômicos e várias crises que desestruturaram as mais

diversas organizações e instituições políticas e sociais.

Contudo, é nessa sociedade dinâmica que se estabelece o trabalho do

Assistente Social, como uma expressão particular do trabalho coletivo imersa na

sociedade capitalista. Realizaremos um breve resgate historio do Serviço Social

para nos apropriarmos ainda mais da sua imersão no contexto atual.

Inicialmente, na década de 1930, o Serviço Social brasileiro se

desenvolveu através de práticas assistencialistas, existindo uma relação bastante

estreita com a Igreja, que tinha total domínio sob a caridade e a filantropia, sendo

apoiadas pela ordem burguesa da época (NETTO, 1991).

No Brasil, a partir dos anos 1940-1950, com o advento da

industrialização, com o processo de urbanização e as migrações, nascia a

necessidade de fiscalizar a classe operária, pois esta reivindicava por alimentação,

moradia, saúde, salários mais justos entre outros pontos, o que culminou com a

união entre o Estado e Igreja Católica e as novas estratégias de controle social

(NETTO, 1991).

Em meados da década de 1960, têm-se início ao movimento de

reconceituação17 do Serviço Social com o intuito de dar novos horizontes à profissão

em decorrência as várias transformações econômicas e sociais que perpetuavam o

país. O que abriu margem para o debate e para o início da reflexão crítica,

procurando uma ruptura com o tradicionalismo e com o conservadorismo, trazendo

muitas contribuições para o Serviço Social.

Um fato muito importante e histórico para o Serviço Social foi o III

Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), em 197918, um marco na

redefinição do Serviço Social brasileiro que a partir de então, assume compromisso

com a classe trabalhadora.

17

O Movimento de Reconceituação do Serviço Social, iniciado na década de 1960, representou uma tomada de consciência crítica e política dos Assistentes Sociais de toda a América Latina, não obstante, no Brasil as condições políticas em que ele ocorreu trouxeram elementos muito diversos dos traçados em outros países.

18 O III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais foi realizado nos dias 23 a 28 de setembro,

promovido pelo Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS), conhecido hoje como Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), em São Paulo.

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Nos anos de 1980, o Serviço Social tem um grande avanço que pode se

estabelecer uma superação do marxismo vulgar, redefinindo a ética profissional,

possibilitando o amadurecimento do Serviço Social, principalmente, por meio do

pensamento de Marx e Gramsci que deu um novo direcionamento à formação e a

prática profissional (NETTO, 1991).

Salietamos que o Serviço Social no Brasil experimentou um profundo

processo de renovação, que se desenvolveu no âmbito da teoria e da prática. O

Código de Ética Profissional, de 1986, foi uma expressão de muitos ganhos e

conquistas a partir da negação ao tradicional, e a partir da afirmação de um novo

perfil profissional, não mais subalterno e executor, mas um profissional competente

propositivo teórico, técnico e politicamente (NETTO, 1991).

Com a ascensão do neoliberalismo, no início da década de 1990, surge o

agravamento da desigualdade social e, em consequência, a expansão das diversas

expressões da questão social, que é objeto de trabalho do Serviço Social. É nesta

perspectiva que este profissional passou a atuar sempre atento às mudanças que

ocorrem na sociedade.

Um dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano (IAMAMOTO, 2012, p. 20).

Destarte, existe um debate entre muitos estudiosos e profissionais acerca

da profissão quanto esta ser ou não considerada trabalho. A profissão é inserida na

divisão social e técnica do trabalho, exercendo a função de profissional moderador

das mazelas produzidas pelo capitalismo. Embora seja regulamentada como

profissional liberal, o Serviço Social tem se inserido de modo majoritário nas esferas

estatais, em decorrência da grande expansão dos espaços de execução dos

diversos projetos, programas e serviços voltados para o enfrentamento das

expressões da questão social.

O Serviço Social no Brasil foi chamado a trabalhar junto ao Estado, que

requisitou sua atuação profissional junto à sociedade, funcionando como um canal

de regulação entre esta e o Estado, e é neste momento que se constituiu a

institucionalização da profissão. Nesse momento a profissão ganha espaço, pois, o

Estado percebe que a profissão tem um diferencial, porque o profissional tem uma

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maior proximidade e contato com a realidade cotidiana dos sujeitos. A partir de

então, o Serviço Social, historicamente, vai deixando de ser distribuidor de ajuda e

de caridade transformando-se em um dos mecanismos de execução das políticas

sociais (IAMAMOTO, 2012).

Na dinâmica social, o capitalismo teve várias vertentes e uma delas foi o

padrão fordista-taylorista, em meados dos nos 1970, que diversificou a estrutura

econômica do processo de produção. Estabeleceu uma sociedade de mercado e

uma forte onda de privatização da coisa pública, culminando em uma mentalidade

individualista da sociedade enfraquecendo o sentimento de solidariedade e

coletividade. E é neste cenário que o Serviço Social se inseriu através de programas

finalizadores e seletivos, os quais substituíram as políticas sociais. Assim, a atuação

do Serviço Social viu-se em duas formas de contratação, o formal19 e o

terceirizado20. Podemos destacar a fala de Rubi (2013), a qual evidencia que:

Aqui na unidade, como nas outras unidades de atendimento, as Assistentes Sociais são terceirizadas, no caso uma ONG contrata a gente e terceiriza o serviço. Eu sou contratada pelo Conselho Comunitário Parque São José e estou aqui como terceirizada, mas assim, eu vim por indicação de outra colega que foi chamada, mas não teve interesse (RUBI, 2013).

Por estar imerso na sociedade e inserido na atual conjuntura de trabalho,

não sendo diferenciado dos demais trabalhadores, o Assistente Social vive a

flexibilização, a precarização e o subemprego dos contratos temporários.

Culminando na exigência da adequação do trabalho do Assistente Social com as

exigências do mercado formal, exigindo a perspicácia do profissional para em meio

às grandes dificuldades que se apresentam no cotidiano possa garantir os direitos

sociais.

Apesar dos entraves para a sua colocação no mercado de trabalho e com

a precarização deste na atual conjuntura social, o profissional deve considerar um

conjunto de habilidades que articulem as dimensões teórico-metodológicas,

ético‐políticas e técnico‐operativa. Portanto, formando um todo articulado e

indissociável para intervir de forma coerente com o projeto da profissão na

19

Relação de trabalho que garante os direitos trabalhistas já instituídos, como férias, décimo terceiro, aposentadoria por tempo de serviço, licenças, entre outros. 20

O trabalhador tem vínculos com empresas contratadas, desprovidos de seus direitos sociais.

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construção do perfil profissional, capaz de decifrar a realidade e intervir de forma

crítica e propositiva. É o que vamos abordar no próximo tópico.

3.2 O Projeto ético-político do Serviço Social: fundamentos teórico-metodológicos, ético-político e técnico-operativo da profissão

O movimento de reconceituação21 buscou superar a visão unilateral que

tinha a profissão de Serviço Social, pois antes desse grande avanço a profissão

tinha apenas na dimensão técnica a garantia da eficácia e competência profissional

(SOUZA, 2008). Ou seja, a partir desse movimento houve o rompimento com o

Serviço Social tradicional, instigando a produção do conhecimento crítico da

realidade social para que tivéssemos como responder às demandas sociais.

A atuação profissional pressupõe uma finalidade social (teleológica), a

qual se desenvolve em espaços sócio-ocupacionais distintos e contraditórios, que

deve se estabelecer e ter uma relação estreita com as conquistas dos direitos

sociais, mesmo na conjuntura do capitalismo que estabelece limites para o agir

profissional.

As mudanças ocorridas na profissão foram acompanhadas pelas

transformações econômicas, políticas e sociais. Os rumos acadêmicos do Serviço

Social, nas duas últimas décadas do século XX, tiveram grande ascensão em um

dos momentos importantes que foi a crítica e a recusa do conservadorismo

profissional (NETTO, 1991).

Nesse contexto, grandes legislações foram conquistadas para respaldar a

atuação da profissão, são elas: a Lei n° 8.662/93, que regulamenta a profissão; o

Código de Ética Profissional, de 1993, e as Resoluções do Conselho Profissional,

Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). Com relação ao Código de Ética

Profissional, Barroco (2010, p. 201) fala:

Ao indicar a centralidade do trabalho na (re) produção da vida social, o Código revela a base objetiva de constituição das ações ético-morais: as capacidades que, desenvolvidas a partir da práxis, objetivam a sociabilidade, a consciência, a liberdade e a universalidade do ser humano-genérico. Em função dessas capacidades objetivas explicitam-se os valores éticos fundamentais: liberdade, equidade e justiça social, articulando-os à democracia, à cidadania.

21

Conf. Nota 3.

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Contudo, dentro da realidade do trabalho do Assistente Social, na

complexidade de um centro educacional para adolescentes autores de ato

infracional, os sujeitos da pesquisa têm consciência que trabalham dentro da

perspectiva do código de ética da profissão, como também na dimensão de outras

leis que auxiliam no fazer profissional. Segundo Safira (2013):

A priori, a gente tem que ter um maior conhecimento sobre o ECA, que é o que a gente mais trabalha, não trabalhamos com criança, mas trabalhamos com adolescentes, já que são eles são o público aqui. A constituição de 1988, em alguns artigos bem mais básicos, de maneira geral, quando ele prega a saúde e a educação, enfim, pra todo mundo, alguns parâmetros publicações de conselhos nacionais, conselho estadual que são emitidos após alguns eventos, quando eles deliberam alguma coisa, o SINASE que virou lei no ano passado. Assim, de maneira geral, as tops são ECA e SINASE, a gente trabalha com adolescentes em conflito com a lei, essas duas são as mais básicas.

O Assistente Social deve sempre estar ativo nos encontros e discussões

da categoria sobre o fazer profissional, pois as pesquisas e trocas de experiências

profissionais sempre aprimoram o cotidiano, de forma a muni-lo de mais

conhecimentos sobre as legislações já estabelecidas e as novas.

O projeto profissional do Serviço Social produzido coletivamente pela

categoria delimita e prioriza os objetivos e funções da profissão, estabelecendo

balizas da sua relação com os usuários e com as outras profissões. Esse projeto é

indissociável dos projetos da sociedade, pois são estruturas dinâmicas que

respondem às necessidades sociais. Segundo Netto (1999, p. 94), “os projetos

societários são projetos coletivos; mas seu traço peculiar reside no fato de se

constituírem projetos macroscópicos, em propostas para o conjunto da sociedade”.

Podemos ressaltar que o projeto ético-político da profissão tem sua

peculiaridade pelos determinantes sócio-históricos, pelo posicionamento a favor da

classe trabalhadora, norteada pela dimensão política e pelo interesse de caráter

coletivo. Portanto, a profissão “após a aprovação do Código de Ética de 1993

conseguiu articular compromissos éticos, políticos e o exercício da prática

profissional, reconhecendo as mediações necessárias entre projeto societário e

profissional” (PIANA, 2009, p. 22).

Dessa forma, o projeto profissional afirma compromisso com o projeto

societário propondo uma nova construção da ordem societária, sem dominação,

exploração de classes, etnia e gênero. Assim, o desafio maior para a efetivação do

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projeto ético-político, na atualidade, é torná-lo presente em todas as práticas do

exercício profissional. O código de ética da profissão foi fruto de grandes

organizações e articulação dos profissionais que possibilitou a formulação de

respostas qualificadas frente à questão social. Dessa forma, o profissional assume

posição frente à reprodução das relações sociais.

É respaldado desse processo de renovação o pluralismo, que instaurou

dentro da categoria e, a partir de então, teve início a construção do projeto ético-

político da profissão, o qual tem sua materialidade no Código de Ética, na Lei que

Regulamenta a Profissão e nas propostas Curriculares para a Formação Profissional

em Serviço Social. O Código de Ética do Assistente Social elenca direitos e deveres,

segundo princípios e valores humanistas, guia para o exercício cotidiano, dentre os

quais se destacam:

• O reconhecimento da liberdade como valor ético central, que requer o reconhecimento da autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais e de seus direitos; • A defesa intransigente dos direitos humanos contra todo tipo de arbítrio e autoritarismo; • O posicionamento a favor da equidade e da justiça social, que implica a universalidade no acesso a bens e serviços e a gestão democrática; • O empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, e a garantia do pluralismo; • O compromisso com a qualidade dos serviços prestados na articulação com outros profissionais e trabalhadores. (CÓDIGO DE ÉTICA, 1993).

O profissional deve ter a capacidade teórico-metodológica, ético-política e

técnico-operativa para desenvolver uma atuação que possa intervir na realidade

social. O projeto ético-político expressa uma articulação dessas dimensões e está

intimamente ligado a transformação social, tendo como valor ético central a

liberdade.

• Competência ético-política – o Assistente Social não é um profissional “neutro”. Sua prática se realiza no marco das relações de poder e de forças sociais da sociedade capitalista – relações essas que são contraditórias. Assim, é fundamental que o profissional tenha um posicionamento político frente às questões que aparecem na realidade social, para que possa ter clareza de qual é a direção social da sua prática. Isso implica em assumir valores ético-morais que sustentam a sua prática – valores esses que estão expressos no Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais (Resolução CFAS nº 273/93), e que assumem claramente uma postura profissional de articular sua intervenção aos interesses dos setores majoritários da sociedade; • Competência teórico-metodológica – o profissional deve ser qualificado para conhecer a realidade social, política, econômica e cultural com a qual

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trabalha. Para isso, faz-se necessário um intenso rigor teórico e metodológico, que lhe permita enxergar a dinâmica da sociedade para além dos fenômenos aparentes, buscando apreender sua essência, seu movimento e as possibilidades de construção de novas possibilidades profissionais; • Competência técnico-operativa – o profissional deve conhecer, se apropriar, e, sobretudo, criar um conjunto de habilidades técnicas que permitam ao mesmo desenvolver as ações profissionais junto à população usuária e às instituições contratantes (Estado, empresas, Organizações Não Governamentais, fundações, autarquias entre outras), garantindo, assim, uma inserção qualificada no mercado de trabalho, que responda às demandas colocadas tanto pelos empregadores, quanto pelos objetivos estabelecidos pelos profissionais e pela dinâmica da realidade social. (TONIOLO, 2008, p. 121-2).

A articulação entre as três dimensões é um grande desafio para os

profissionais, para um agir profissional conivente com o que rege e propaga o

Projeto Ético-Político. Caso contrário, o agir profissional recai na fragmentação e na

burocratização do fazer profissional. Dentro dessa perspectiva Safira (2013) nos

relata que:

O código de ética da profissão de Serviço Social também prega a cidadania. A gente busca fazer com que os meninos, por estar nesse período em desenvolvimento, tenha o momento de lazer; busca a cidadania para os meninos por meio da retirada de documentos, muitas vezes, os adolescente chegam sem documentos, apenas com a certidão de nascimento e muitos nem isso tem. Na questão da democracia, aqui não tem muito essa ideia democrática, tendo em vista que a gente está no regime de medida socioeducativa, onde os adolescentes são impostos nessa condição e judicialmente não tem como sair, vejo aqui que não há discriminações de nenhuma forma, já vi sim adolescentes que tem algum tipo de deficiência, já vi adolescentes homossexuais, mas não vi nenhuma discriminação por conta disso são respeitados de maneira igual. No caso da liberdade, aqui se contrapõe a situação em que os meninos estão vivendo e aqui é o que a gente coloca pra eles, além da liberdade de ir e vir, que eles perdem, é a liberdade no sentido enquanto pessoa puder tá só, onde quer, tipo, nesse momento quero estar reservado sozinho, eles não tem isso, aquela coisa que eu tenho de chegar em casa e me trancar no meu quarto e estar só, eles não tem, a todo momento eles estão com outro adolescente quer seja no dormitório quer seja na sala de aula que seja na oficina no momento de visitas também não é uma coisa privada reservada. Então assim, nesse sentido a liberdade se contrapõe, apesar de que a gente prega por conta da privação de liberdade ela não acontece. A todo momento são vistoriados e fiscalizados, a todo momento estão sendo monitorados de alguma forma, se estão no dormitório tem alguém pastorando, se a gente pede pra algum atendimento vem com o instrutor, se está na visita tem um instrutor do lado, se vai pro médico tem um instrutor, então assim a liberdade pra eles aqui infelizmente não existe nesse sentido de ir e vir, n o sentido de fazer o que quiser.

Muitas vezes, as instituições nas quais o profissional atua não abrem

margem para que as atribuições e princípios do Serviço Social sejam colocados em

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práticas, um fator desafiante para a atuação profissional. Para tanto, as exigências

contemporâneas para o exercício profissional perpassam fundamentalmente pelas

três dimensões, no compromisso ético-político, no conhecimento teórico-

metodológico e na capacitação técnico-operacional (CFESS, 2011).

Contudo, articular essas três dimensões coloca um desafio fundamental, e que vem sendo um tema de grande debate entre profissionais e estudantes de Serviço Social: a necessidade da articulação entre teoria e prática. Investigação e intervenção, pesquisa e ação, ciência e técnica não devem ser encaradas como dimensões separadas – pois isso pode gerar uma inserção desqualificada do Assistente Social no mercado de trabalho, bem como ferir os princípios éticos fundamentais que norteiam a ação profissional. (TONIOLO, 2008, p. 122)

Vale salientar a existência do desafio de consolidar este projeto

profissional em meio às ameaças do projeto neoliberal, pois se vive um momento de

instabilidade no cenário mundial que repercute nos segmentos sociais. O que reflete

na atuação do assistente social, exigindo deste profissional uma melhor qualificação

para que o projeto ético-político seja posto em prática ao mesmo tempo em que seja

um profissional não só executivo, mas propositivo.

O Serviço Social no fazer profissional se mostra muito importante, a partir

do momento que atua diretamente no cotidiano das classes sociais e tem a total

possibilidade de produzir conhecimento sobre essa mesma realidade. A partir desta

abordagem, no próximo tópico, conheceremos o trabalho do assistente social

terceirizado dentro da instituição de internação, suas demandas e exigências para a

efetivação do trabalho profissional nesse espaço sócio-ocupacional.

3.3 O trabalho do Assistente Social no espaço sócio-ocupacional do Centro Educacional

Como já dissemos, o Serviço Social tem na questão social o elemento

central do projeto da profissão, a qual se particulariza no dia a dia da intervenção, de

variadas formas. Esse trabalho se desenvolve, nos diferentes espaços institucionais

que ocupa, é composto por um objeto integrante e formado pela realidade social,

que aparece, via de regra, por meio da violência interpessoal e intrafamiliar, pela

negligência, pela ausência ou insuficiência de políticas sociais universalizantes e

redistributivas, situações que muitas vezes são permeadas por conflitos e

rompimentos de vínculos na esfera familiar.

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Na inserção do trabalho do assistente social no espaço sócio-ocupacional

do Centro Educacional, tivemos a oportunidade de identificar, através da pesquisa

de campo, que existe a necessidade de entender que a particularidade é

fundamental nesse processo, uma vez que consiste no campo da intervenção

profissional. Através da reflexão é necessário elevar o singular ao universal, sendo a

particularidade que mediará este processo, através do olhar crítico do profissional,

permitindo um rompimento com a visão imediatista (BARROCO, 2010). Para

Iamamoto (2007, p. 11):

O exercício profissional tem sido abordado em sua dimensão de trabalho concreto, útil: em seu valor de uso social, como uma atividade programática e de realização que persegue finalidades e orienta-se por conhecimentos e princípios éticos, requisitando suportes materiais e conhecimentos para sua efetivação. Em outros termos, a produção recente acumulada que tem o Serviço Social como objeto de estudo centra-se, sobretudo, na qualidade desse trabalho – ou na sua diferencialidade – e identifica seus portadores como dotados de uma força de trabalho dotada de capacitação específica: capazes de criar um tipo trabalho concreto distinto e particular. O que não dispõe de centralidade nessa mesma literatura é a identidade do trabalho do assistente social com o do conjunto dos trabalhadores: enquanto trabalho abstrato, como parte alíquota do trabalho socialmente produzido.

O assistente social, por ser considerado um profissional que está

diretamente ligado às transformações sociais, econômicas, políticas e culturais deve

sempre estar sintonizado com as novas exigências que surgem na conjuntura da

sociedade contemporânea. E dentro da instituição há essa exigência do profissional,

em decorrência das inúmeras demandas que se apresentam no cotidiano do

trabalho neste espaço. Nesse aspecto, a narrativa de Rubi nos revela a

precariedade das condições de trabalho:

São péssimas, desde o vínculo que é frágil, a gente tem dificuldades de estar se impondo nas coisas porque a gente sabe que se falar demais pode ser colocada pra fora. Como já vi algumas vezes acontecer em outras unidades, no caso da Assistente Social ver uma agressão com relação ao adolescente, se impor e no outro dia ser demitida. É questão salarial de passar 4 anos na faculdade, tendo especialização e ganhando muito pouco. O valor do salário é o mesmo, independente de você ter apenas graduação, ou graduação, mestrado e doutorado, o salário é o mesmo. Porque aqui nós não somos funcionários do Estado, a gente presta serviços terceirizados, então o Estado não tem nenhum tipo de responsabilidade com a gente (RUBI, 2013).

Esses profissionais estão inseridos neste campo com o papel

fundamental de articular estratégias de intervenção, sendo responsável pela análise

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da realidade social e institucional procurando intervir na realidade social de

adolescentes autores de ato infracional, buscando garantir os mínimos direitos

(GARCIA; AZEVEDO, 2008). Dessa forma, os sujeitos da pesquisa nos relatam

sobre os atendimentos realizados dentro da instituição:

Aqui, no Setor Social, a gente, diferentemente dos outros setores, atende tanto o adolescente quanto a família, então assim, pode ser que a família venha para fazer uma carteirinha, algo burocrático. Mas daquela carteirinha ela coloca alguma demanda que o adolescente é ameaçado, que o adolescente perdeu o contato com a mãe, que ela não quer mais saber dele, então a gente tem que resgatar os vínculos, é a questão de uso de drogas, ela expõe aqui e aí a gente vai fazer um trabalho, encaminha para a psicologia para fazer um trabalho e um tratamento futuro. Do adolescente é mais essa questão de admissão, ele coloca algumas questões também, essa questão de que está sendo ameaçado, um abrigo, porque em casa não tá dando mais, é atendimento para relatório, mais ou menos isso (RUBI, 2013).

O atendimento do Setor Social é um atendimento com as famílias, quer seja para tirar dúvidas, quer seja para fazer carteirinha pra poder visitar, quer seja pra solicitar alguma coisa, pra informar alguma coisa sobre o adolescente. É um atendimento inicial, ou atendimento pra relatório, são reuniões com os outros setores da unidade que, ás vezes, a gente discute algum caso. É uma visita domiciliar, que quando necessário a gente realiza, por vezes, a gente acompanha também adolescentes em audiências [...]. A gente faz ligações para as famílias dos adolescentes, às vezes, eles solicitam porque a mãe não está vindo, querendo saber porque ela não vem, daí a gente liga pra família pra saber porque que não está vindo, se está acontecendo alguma coisa, a gente entra em contato com a rede socioassistencial, a gente liga pro CRAS de uma cidade, liga para o Conselho Tutelar de outra, liga pra núcleos, por exemplo; em Sobral tem o núcleo de menores, então a gente liga para o núcleo pra pedir alguma informação do adolescente, liga pro CREAS. Assim, tem essa articulação que acaba também sendo uma das atribuições do Setor Social, essa articulação pra buscar vínculos com os adolescentes (SAFIRA).

Esse cotidiano é composto pelos instrumentos (ou meios) dos quais o

Assistente Social lança mão para o exercício do seu trabalho, e pela atividade do

seu trabalho em si, a qual é direcionada por uma finalidade. Isto é, o trabalho

realizado comporta um conteúdo e é guiado por uma intencionalidade, com vistas a

um resultado. Uma direção que não é neutra, não é anistórica, ela é condicionada

pela visão de mundo, pelos valores, crenças, hábitos, fundamentos teóricos,

princípios éticos que constroem o agir profissional.

O modo de ser e de se constituir o Serviço Social são determinações

sócio-históricas externas à sua constituição, às metodologias e ao instrumental

técnico-político, enquanto elementos fundamentalmente necessários à objetivação

das ações profissionais compõem o projeto profissional. Estabelecem, inicialmente,

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a partir de necessidades a serem satisfeitas para as quais os agentes dispõem

finalidades, definem os meios mais adequados, determinam o modo de operar. No

próximo tópico vamos detalhar as categorias que o Serviço Social utiliza para a

instrumentalidade para uma atuação profissional conivente com o que prega a

profissão para uma prática interventiva nas várias expressões da questão social.

3.4 A instrumentalidade e a mediação: instrumentos para práxis profissional.

De acordo com Guerra (2011), a instrumentalidade é uma propriedade ou

um determinado modo de ser que a profissão adquire no interior das relações

sociais, no confronto entre as condições objetivas e subjetivas do exercício

profissional. Ao contrário do que muitos pensam a instrumentalidade não se reduz a

aplicação dos instrumentais técnicos visando atingir os objetivos profissionais, mas

sim a capacidade e a qualidade com que o fazer profissional resultante do confronto

entre as condições subjetivas22 e as condições objetivas23.

A profissão vai se modernizando e atualizando o fazer profissional frente

ao processo histórico da profissão, porém a ordem burguesa reafirma a lógica de

dissociação entre teoria e prática do exercício profissional. Ao serem repassados

para as teorias os parâmetros das formas de pensar da burguesia, a realidade

aparece deformada. A consequência é que entre as formulações teóricas,

apreendidas sob a lente da ideologia burguesa, a prática social e histórica dos

homens reais estabelece-se uma defasagem que põe em risco a unidade entre

ambas.

Se muitas das requisições da profissão são de ordem instrumental (em nível de responder às demandas – contraditórias – do capital e do trabalho e em nível de operar modificações imediatas no contexto empírico), exigindo respostas instrumentais, o exercício profissional não se restringe a elas. Com isso, queremos afirmar que reconhecer e atender às requisições técnico-instrumentais da profissão não significa ser funcional à manutenção da ordem ou ao projeto burguês. Isso pode vir a ocorrer quando se reduz a intervenção profissional à sua dimensão instrumental (GUERRA, 2000, p. 59).

Importante salientarmos que Guerra (2011) alerta para que a competência

profissional não fique restrita ao atendimento das demandas institucionais, e a

22

As condições subjetivas são as propriedades sócio-históricas da profissão. 23

As condições objetivas são as produções materiais da sociedade.

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intervenção profissional não se identifique com a adoção de procedimentos formais,

legais e burocráticos. Assim, ressaltamos o que diz Safira (2013):

Nós utilizamos como instrumentos técnicos, o atendimento admissional, a folha sumária de identificação, o relatório de avaliação que é feito por todo o corpo técnico após 6 meses. O segundo relatório de avaliação, porque a cada 6 meses é feito um novo relatório. Evolução do caso, se necessário, nem todos os adolescentes têm, por exemplo, se acontecer alguma coisa, alguma informação que achar relevante eu posso fazer uma evoluçãozinha de caso e anexar ao prontuário dele, mas nem todos tem só quando necessário. A folha de controle de atendimento, onde tudo que acontece desde a sua chega, a ligação pra família, recebimento de documento, audiência do adolescente, recebimento de alguma informação da família, isso todos os técnicos tem acesso. Acaba que são informações coletivas (SAFIRA, 2013).

Dessa forma, frente às várias demandas que são designadas ao Setor

Social, salientamos a dificuldade em realizar uma prática instrumentalizada, o que

não se limita ao simples preenchimento de fichas ou formulários, mas sim uma

mediação efetiva para com os sujeitos sociais. Uma das dificuldades para que

aconteça efetivamente a práxis profissional, a qual possa realizar sua intervenção de

forma a atingir os objetivos profissionais é a precarização do trabalho, como já

falamos.

Em oposição às práticas ou procedimentos que venham a ser executados

mecanicamente em detrimento da Instituição, de forma burocratizada a utilização do

instrumental técnico-operativo, deve apoiar-se em conhecimentos científicos

correspondentes, em um constante processo de escolhas conscientes e reflexivas.

Se as demandas com as quais trabalhamos são totalidades saturadas de determinações (econômicas, políticas, culturais, ideológicas), então elas exigem mais que ações imediatas, instrumentais, manipulatórias. Elas implicam intervenções que emanem de escolhas que passem pelos condutos da razão crítica e da vontade dos sujeitos que se inscrevam no campo dos valores universais (éticos, morais e políticos). Mais ainda, ações que estejam conectadas a projetos profissionais aos quais subjazem referenciais teóricos e princípios ético-políticos (GUERRA, 2000, p. 59).

Portanto, na atualidade, há exigências da criação de “novos”

instrumentos de ação da profissão, como também de “recriação” dos instrumentais

utilizados pelo Serviço Social para atuar frente à conjuntura social.

Consubstanciando na atribuição de novas qualidades no agir profissional

reconhecendo a natureza das demandas que aparecem no cotidiano, exigindo que o

profissional detenha capacidade técnica e intelectual mantendo o compromisso

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político com a classe trabalhadora (GUERRA, 2011).

.A energia dos agentes potencializada no instrumental permite a

operacionalização do projeto profissional, dessa forma, os agentes profissionais,

enquanto desenvolvem uma atividade, não são apenas técnicos como também

críticos, já que o domínio do instrumental requisita-lhe um conhecimento das

finalidades e das formas de alcançá-las. E estas não se encerram na razão de ser

do Serviço Social, pois antes incorporam a razão de conhecer a profissão, suas

condições e possibilidades. Ao atribuir autonomia às metodologias de ação e ao

instrumental técnico, ao separá-los e torná-los independentes do projeto profissional,

o assistente social acaba por transformar o que é acessório em essencial.

Para tanto, existem condições subjetivas que dão concretude a

instrumentalidade, existindo a necessidade de um arcabouço teórico-metodológico24

e ético-político25 que possa dar intencionalidade na elaboração do instrumento de

trabalho. Na medida em que os profissionais utilizam, criam, adequam as condições

existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das

intencionalidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. Deste modo, a

instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho social quanto

categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho.

Como já dissemos pelo processo de trabalho os homens transformam a

realidade, transformam-se a si mesmo e aos outros homens. Assim, os homens

reproduzem material e socialmente a própria sociedade. A ação transformadora que

é a práxis, cujo modelo privilegiado é o trabalho, tem uma instrumentalidade. Portanto, o uso dessa instrumentalidade por parte do profissional de Serviço Social

permite, no nível do cotidiano, que haja mudança nas suas próprias condições

objetivas e subjetivas, como também nas relações sociais, dessa forma os

assistentes sociais estão dando instrumentalidade às suas ações (GUERRA, 2000).

Como o profissional está inserido na divisão social e técnica do trabalho

há grande exigência que este desenvolva ações instrumentais que possibilite a

24

Trata-se de conhecimentos à respeito da teoria social, adquirido através do processo de formação profissional. Segundo José Paulo Netto (1991), a teoria reproduz conceitualmente o real, é, portanto, construção intelectual que proporciona explicações aproximadas da realidade e, assim sendo, supõe uma forma de autoconstituição, um padrão de elaboração: o método. 25

O Assistente Social possui uma dimensão política, no sentido gramisciano, como catarse, ou seja, transição do momento de ignorância para a tomada de consciência. A ética e a política, portanto, mediatizam o processo de desalienação (IAMAMOTTO, 2011).

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passagem das teorias às práticas. Dessa forma, um meio fundamental para que

essa passagem aconteça é através da mediação, necessária a objetivação da

intervenção profissional. Segundo Pontes (1995, p. 43):

Recorde-se que o Serviço Social é uma das profissões inscritas na divisão sociotécnica do trabalho na ordem social capitalista madura e caracteriza-se por ser uma profissão interventiva. Por isso necessita, além de conhecer a realidade na sua complexidade em criar meios para transformá-la na direção de determinado projeto profissional. Essa dupla dimensão que caracteriza o Serviço Social desafia os profissionais a enfrentá-la cotidianamente no complexo tecido das organizações sociais em que atuam.

É dessa forma que a mediação aponta grande contribuição para o

desvelamento dos fenômenos e a intervenção profissional, ou seja, seu significado

nem sempre é explicitado sendo revelado pela direção que o profissional executa

sua intervenção. A mediação tem sua base na apreensão do real, o que ocorre

através de sucessivas aproximações, se estabelecendo não apenas através da

reflexão como também através de um processo prático-concreto (PONTES, 1996). É

uma categoria utilizada pelo Assistente Social para dar direção e qualidade à prática,

sendo esta baseada no método dialético marxista, resultado de um processo

dinâmico. Esse viés investigativo da prática profissional deve partir de um processo

que tem início na apreensão dos fatos, pois somente após serem analisados que é

possível chegar a uma resposta interventiva. E dessa forma, conseguir superar a

aparência e chegar à essência dos fatos, partindo do singular (concreto aparente),

mediado pelo particular (concreto pensado) para chegar à concretização do

universal.

A utilização dos instrumentos da práxis profissional (instrumentalidade e

mediação) na sua totalidade viabiliza que o profissional de Serviço Social uma

atuação verdadeiramente transformadora. O que traz ao bojo da profissão qualidade

e legitimidade na atuação da realidade social junto às demandas que lhes são

impostas, permitindo a compreensão dos fenômenos não como fatos isolados, mas

como parte do complexo social, o qual sofre influências nos campos, econômicos,

sociais, políticos, entre outros.

Para tanto, a instrumentalidade se evidencia através do trabalho, ou seja,

é por meio da prática profissional que se é possível exercer a instrumentalidade,

incorporando as perspectivas teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa

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do Serviço Social. No próximo capítulo, vamos detalhadamente, apresentar a

pesquisa de campo que realizamos sobre prática profissional do Assistente Social

na implementação da medida socioeducativa de internação na Instituição.

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4 UMA OBSERVAÇÃO DENTRO DA DIMENSÃO ETNOGRÁFICA DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL EM UM CENTRO EDUCACIONAL DE FORTALEZA

Como já dissemos na introdução deste trabalho, realizamos uma

observação etnográfica dentro de um centro educacional no período de cinco dias,

no mês de outubro. Neste capítulo, a análise que vamos nos deter no primeiro tópico

é da estrutura do Centro Educacional, e também apresentaremos os profissionais

que compõem o corpo técnico e que no momento da pesquisa trabalhavam na

Instituição.

Analisaremos a estrutura da unidade de internação sob respaldo e

fundamentação da legislação do SINASE, que estabelece parâmetros para

aplicação da medida de internação, a qual já foi explorada no item 2.2. No segundo

item, detalharemos a realidade “nua e crua” do trabalho do Assistente Social frente

às demandas da Instituição.

4.1 O cenário do Centro Educacional: a estrutura e o corpo técnico

A vida cotidiana é um espaço onde o acaso, o inesperado, algo que, em

um dia qualquer, de repente é descoberto, eleva os homens dessa cotidianidade,

possibilitando o seu retorno de forma modificada. É na relação prática social e de

vida cotidiana que o Serviço Social se faz todos os dias, nos seus vários campos de

atuação, em específico nesta pesquisa, na vida de adolescentes dentro de um

Centro Educacional (NETTO; FALCÃO, 1989).

Portanto, toda prática social é inerente ao cotidiano. Como estamos

especificamente tratando da prática social desenvolvida por agentes profissionais do

Serviço Social, através dos nossos diários de campo, vamos relatar o cotidiano

observado onde pudemos identificar os limites e as possibilidades de uma ação

transformadora, a práxis profissional.

No dia 07/10/2013, às 08h15min, ao adentrarmos a portaria da instituição, tivemos a impressão que a estrutura da unidade tinha semelhança com um presídio, muitas grades e muitos senhores que ficam na portaria com cara de “poucos amigos”, se mostrando pouco simpáticos com as pessoas que aguardavam para entrar, e muitos cartazes informativos colados nas paredes da Instituição. Logo na entrada, já tinham muitos familiares querendo realizar visitas. Salientamos que a maioria são mulheres, cada

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uma com uma sacola com objetos para os adolescentes, meio impacientes com a espera e ansiosas para adentrar a Instituição e ver o adolescente. Enquanto esperávamos a autorização para entrar na Instituição observamos que quatro adolescentes estavam entrando em uma Kombi e saindo da Instituição, bastante alegres, cabelos molhados, roupas limpas e bastante descontraídos uns com os outros, sendo escoltados por educadores. Logo depois ficamos sabendo pela assistente social que eles iam para atendimento odontológico, o qual é realizado uma vez por semana em outro centro educacional próximo. Quando conseguimos autorização para entrar na Instituição, sentimos o clima bastante pesado, e logo que passamos da primeira grade vimos um espaço comum a todos, com umas cadeiras, centro de mesa com flores, porém ninguém usufruindo desse ambiente; corredores estreitos e mal iluminados onde circulavam o corpo técnico. Passamos pela sala da secretaria, pela sala do diretor, pela sala do médico, pela sala do setor jurídico, até chegarmos à sala do Setor Social (DIÁRIO DE CAMPO, 2013).

No contato com o campo, tivemos a oportunidade de conhecer todas as

dependências do Centro Educacional, desde as salas do corpo técnico até as alas

onde os adolescentes ficam. Apresentaremos, no primeiro momento, as

dependências do Centro Educacional, que além das cinco salas de atendimento dos

setores técnicos, possui a sala da direção, que é a maior dentro da Instituição

(percebemos então, a correlação de força e o poder que emana daquele que está na

direção da Instituição), a sala da secretaria, o almoxarifado, a cozinha e a

lavanderia.

No primeiro dia de pesquisa, tivemos a oportunidade de sermos apresentadas a algumas pessoas que compõem o corpo técnico e às dependências da Instituição. Primeiramente, conhecemos bem a sala do Setor Social, que por sinal é bem pequena, onde se acomodam a Assistente Social e a Estagiária; a sala tem quatro birôs, dois computadores, um armário, um flanelógrafo informativo, ar condicionado e dois móveis com três gavetas. Como dissemos, o espaço é bem pequeno e em um primeiro momento, não conseguimos entender como as profissionais realizam atendimento, o qual necessita de sigilo. O telefone que fica na sala é bastante “disputado” pelos outros setores, muitos outros técnicos vinham à sala em busca do mesmo; então, o “entra e sai” da sala é a todo instante, tanto para pegar o telefone quanto para deixá-lo na base. Fomos conhecer o diretor da Instituição, pois o mesmo deveria ser informado quanto a pesquisa que estaríamos realizando naquele período. Fomos muito bem recebidas pelo diretor, que se mostrou muito simpático e não colocou nenhum empecilho para a realização da pesquisa. Quando entramos na sala do diretor, tivemos a impressão que ali sim seria o modelo de sala que poderia proporcionar um bom atendimento àqueles que dele necessitam: uma sala bem iluminada. Logo pensamos que aquela seria a sala ideal para o Setor Social, pois tem a capacidade de divisão para proporcionar uma maior efetivação dos princípios que regem a profissão; acreditamos que dariam duas salas para o Setor Social (DIÁRIO DE CAMPO, 2013).

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Para o trabalho da Assistente Social, a unidade disponibiliza uma sala

bem pequena para o atendimento às famílias e aos adolescentes, para que seja

realizado o trabalho juntamente com os demais profissionais. Ressaltamos que cada

setor tem sua sala de atendimento. Enfatizando o que relatamos no diário de campo,

apresentaremos o que a Assistente Social Safira (2013) nos relatou:

Aqui, infelizmente, não tem a privacidade que a profissão exige durante um atendimento com o adolescente ou com a família, a gente não tem. Acaba que o sigilo profissional que é pregado, muitas vezes, escapa, porque a sala do Setor Social só tem uma sala aqui, é uma sala de muito movimento; é uma sala onde todo mundo entra e pede um atendimento, outro pede um favor, outro faz uma pergunta, o telefone toca. É, então assim, a sala do Setor Social é a mais movimentada dentre os setores técnicos, eu vejo isso como uma dificuldade, eu vejo a falta de profissionais também como dificuldade; é uma demanda de atendimentos muito grande, é muita coisa pra fazer pra pouco profissional, naquele determinado espaço de tempo, são muitos adolescentes, são muitos relatórios, a demanda da família é grande. Então assim, é muita coisa pra pouco tempo. Vejo a dificuldade salarial, é um salário pequeno (SAFIRA, 2013).

Para os adolescentes, existem as alas de convivência, as salas de aula,

o salão para atividades lúdicas, a quadra esportiva, o refeitório e as salas para as

oficinas. Alguns adolescentes têm aula todos os dias e participam de oficinas; logo

mais vamos discorrer sobre a dinâmica da Instituição. Segundo informação da

Assistente Social, há aqueles que não participam de oficinas e permanecem dentro

dos dormitórios, assistindo televisão ou jogando carta/dominó; eles mesmos

procuram meios para passar o tempo, e como eles podem receber da família

aparelho de MP3, também passam o tempo ouvindo música. Não tivemos a

oportunidade de passar muito tempo visitando as alas para discorrermos com

precisão essa dinâmica, pois com a presença feminina os adolescentes ficam muito

exaltados e procuram chamar atenção gritando ou batendo nas grades.

A dinâmica da unidade deve ser obedecida pelos adolescentes e os

seguintes horários são impostos: 07:00h às 07:30h – despertar/higiene pessoal;

07:30h às 08:00h – café da manhã; 08:00h às 09:30h – sala de aula/oficina/esporte;

09:30h às 09:45h – lanche; 09:45h ás 11:00h – sala de aula/oficina/esporte; 11:30h

ás 12:00h – banho; 12:00h às 12:30h – almoço; 12:30h às 13:45h – repouso; 14:00h

às 15:30h – sala de aula/oficina/esporte; 15:30h às 15:45h – lanche; 15:45h às

17:00h – sala de aula/oficina/esporte; 17:00h às 18:00h – banho e lazer no interior

das alas; 18:00h – recolhimento geral; 19:15h – jantar; 21:00h – banho; 21:30h –

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ceia; 22:00h - encerramento geral. Todas as atividades que mencionamos podem

ser interrompidas desde que algum setor técnico solicite a presença do adolescente

para atendimento individual, o que deve ocorrer nos horários de 08:00 às 11:00 e

das 14:00 às 17:00 horas.

Na Instituição existem seis alas que acomodam os adolescentes em

dormitórios e são divididas de acordo com a peculiaridade do ato infracional

cometido. As alas de 1 a 4 abrigam os adolescentes ditos “normais”, aqueles que

cometeram ato infracional mediano, como por exemplo tentativa de roubo. A ala 5 é

chamada de contenção ou tranca, onde acomoda aqueles que não podem manter

contato com os outros adolescentes por motivo de segurança, pois cometeram

alguma violação dentro da Instituição, desrespeito, brigas entre eles ou entre os

instrutores, tornando-se uma medida punitiva dentro da Instituição. Já a ala 6 é

chamada ala dos “empescoçados”, nela se encontram adolescentes que não são

aceitos pelos demais, pois cometeram ato infracional como estupro e homicídio;

estes são alvos constantes dos demais adolescentes e por isso são isolados como

forma de protegê-los. Dessa forma, utilizamos a nossa impressão do lugar:

Após a Assistente Social Safira nos apresentar a algumas pessoas que trabalham na Instituição e aos setores técnicos, conhecemos o coordenador de disciplina, o qual nos disponibilizou conhecer as alas onde os adolescentes ficam. Interessante que nesse momento a Assistente Social gostou da ideia, pois não tinha tido a oportunidade de ir conhecer as alas, um fator que nos causou surpresa, pois a mesma já tinha sido estagiária da Instituição durante o período de dois anos e não tinha tido a oportunidade ou até mesmo o interesse de ter essa proximidade com os usuários. As 10:30h fomos conhecer as alas com a companhia de um instrutor; passamos por outra grade para adentrar no espaço reservado para os adolescentes. O lugar é bastante limpo, uma área muito verde e existe um espaço para atividades extras e lúdicas. De início, conhecemos a sala onde os adolescentes fazem as ligações para os pais e responsáveis; naquele momento, estavam um adolescente e um instrutor que fica cronometrando o tempo da ligação, que se limita a 5 minutos; observamos que a sala é minúscula e o adolescente fica sentado em um birô de frente para o instrutor, não existindo aí nenhuma privacidade, tanto que o adolescente que estava fazendo a ligação ficava de cabeça baixa falando baixinho. Depois conhecemos a cozinha, onde alguns adolescente estavam participando do curso de doces e salgados; como estava na hora do almoço, os adolescentes das alas 1 e 2 estavam indo para o refeitório, mas como o refeitório não comporta todos os adolescente da unidade, muitos deles recebem sua refeição nas próprias alas; chegamos a presenciar alguns instrutores passando com bandejas para deixar o almoço, especificamente das alas 3, 4 e 5. Muitos meninos ficaram curiosos com a nossa presença, alguns conversavam e pediam pra serem chamados na sala do Setor Social; outros gritavam ou batiam nas grades para chamar atenção. Dentro das alas, muitos colchões e garrafas de água, dentro de cada dormitório comportava de 5 a 7 adolescentes, um ambiente aparentemente limpo. Em cada ala tem uma televisão comum a todos que é

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controlada pelo diretor, ou seja, o que os adolescentes vão assistir é controlado e determinado pelo diretor da Instituição. Do outro lado da área de convivência ficam as salas de aula com cadeiras escolares e uma lousa. As salas das oficinas também são pequenas e existe uma sala de leitura com alguns livros, porém não são utilizados por falta de interesse dos adolescentes; há uma sala desocupada onde era a Fábrica da Pena, que hoje está desativada devido a uma rebelião que aconteceu no mês de agosto, onde os adolescentes destruíram todos os materiais, o que culminou com o desinteresse da fábrica, pois a perda do material foi total. Salientamos que as alas que pudemos ver de perto foram somente as alas 1 e 2, devido ao forte barulho que os adolescentes faziam, o instrutor nos limitou a conhecer apenas as duas primeiras alas. Pudemos constatar que o caráter punitivo é bem evidente, pois no momento da nossa visita nenhuma oficina estava funcionando e a maioria dos adolescentes estava dentro dos dormitórios sem fazer nada. Isso reflete na superlotação, pois a estrutura física e do corpo técnico não comporta as necessidades do número de adolescentes (DIÁRIO DE CAMPO, 2013).

Por motivo de segurança, quando realizamos a visita às alas não

pudemos adentrar na ala 5, que é intitulada “tranca”, o que nos deixou bastante

curiosas, pois nesse local os adolescentes ficam sozinhos dentro de um dormitório.

Conversamos com uma das Assistentes Sociais que nos relatou que na “tranca” os

adolescente não recebem nada que os familiares levam, não tem colchão, não

usufruem de MP3 e só se alimentam com comida da própria Instituição, além de não

receberem visitas.

Tendo em vista que o Serviço Social, no marco de sua renovação crítica,

vem afirmando compromisso com os interesses do usuário e com a qualidade dos

serviços prestados, a postura da Assistente Social, mencionada no diário de campo,

não está direcionada nos parâmetros da profissão, pois sem ter conhecimento da

conjuntura da Instituição na qual trabalha, não tem respaldo nem domínio na efetiva

intervenção e em uma prática transformadora. A mediação só é realizada quando o

profissional consegue realizar o desvelamento da realidade imposta. Para

reafirmarmos o que já apresentamos até aqui, podemos salientar o que vimos com o

relato da Assistente Social que está trabalhando todos os dias dentro da Instituição.

Então, é uma casa que está superlotada; por conta da superlotação, não tem espaço e acaba não tendo uma estrutura física adequada para os adolescentes dormirem. É aquela coisa do adolescente ter o seu colchão, mas não tem o espaço da cama, pois são de alvenaria, ou seja, tem que colocar o colchão no chão. Então, um dormitório que tem espaço para duas camas, você encontra cinco adolescentes, então, ou ele vai dividir a cama com outro adolescente ou ele vai colocar o colchão dele no chão (SAFIRA, 2013).

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Até o último dia da pesquisa de campo, obtivemos a informação de que a

unidade abrigava 169 adolescentes, mais do que o dobro da capacidade, que é de

60 adolescentes, um fator culminante para a precariedade de acompanhamento de

caráter individual e efetivo. Dessa forma, Volpi (2006, p. 39) salienta que:

De acordo com o espírito do ECA, fortemente centrado no aspecto pedagógico a avaliação contraria aos grandes internatos do passado, que já demonstraram a sua ineficácia, recomenda-se que o internato seja feito em pequenas unidades para capacidade para 40 adolescentes infratores.

O SINASE reafirma essa questão quanto ao número de adolescentes por

unidade, que deve alojar até 40 adolescentes, porém a unidade pesquisada ainda

tem as mesmas instalações de quando construída na década de 1970, sob o caráter

repressivo da doutrina da situação irregular. Salientamos que não houve nenhuma

reestruturação da unidade que continua com suas instalações desde sua fundação,

e como já dissemos, a Instituição se encontra com um quantitativo de adolescentes

mais do que o dobro de sua capacidade. Dessa forma, nos relatou Rubi (2013):

A estrutura da unidade está toda errada no geral, porque essa unidade surgiu em 1978, surgindo como FEBEM no Código de Menores, e aí as legislações foram mudando, mas a unidade não mudou, ela tem a mesma estrutura de quando começou, então assim, aquele perfil de FEBEM. Não houve nenhuma mudança, é tanto que é tudo muito velho, muito arcaico, não comporta mais a realidade, coisa que no Centro a capacidade é para 60 adolescentes, nós temos 169; não comporta mais a realidade.

No Centro Educacional, o número de adolescentes em cada dormitório se

estabelece em média de cinco a sete adolescentes; porém conforme o SINASE, o

número de adolescentes em cada dormitório não deve ultrapassar três

adolescentes. Portanto, os dormitórios se encontram superlotados e não existe

privacidade, pois o banheiro se constitui apenas de um buraco no chão do

dormitório, protegido por duas paredes que chegam à altura do peito do

adolescente, não apresentando nenhuma privacidade para esses indivíduos. Para

tanto, existe a necessidade que entendamos que a infraestrutura do Centro

Educacional é um importante meio para a efetivação de um projeto pedagógico, no

qual o Assistente Social está inserido e que a “arquitetura reflete da mesma forma

uma concepção de mundo e de organização social” (VOLPI, 2006, p. 38).

Dentro do Centro Educacional, o adolescente recebe escolarização, o que

garante o seu regresso ou continuidade no processo de ensino que é dividido em

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quatro níveis, os quais se distinguem de acordo com o grau de escolaridade de cada

adolescente. Além da escolarização normal, a legislação preceitua que dentro da

unidade o adolescente deve realizar cursos de profissionalização, e sempre que

possível, incluídos em oportunidades de trabalho remunerado.

No momento da pesquisa, estava sendo realizado um curso de doces e

salgados e as oficinas de marcenaria, vime e artes, onde a cada três peças

produzidas, uma é de propriedade do adolescente. Salientamos que algumas

oficinas não estão funcionando por falta de estrutura ou até mesmo porque os

próprios adolescentes, quando realizam alguma rebelião, quebram os

equipamentos, tornando inviável o funcionamento; uma delas é a de informática.

Tem alguns adolescentes que acabam não participando, porque assim, aqui tem oficinas de artes, marcenaria, às vezes o adolescente só quer ir pra oficina de artes e aí a oficina de artes está lotada, e aí ele se recusa a ser locado em outra oficina. Aqui, por exemplo, nesse momento, está tendo curso de doces e salgados, então os adolescentes estão aprendendo a fazer bolo, salgadinhos, mas é uma turma pequena que não abrange todo mundo ou nem todos querem participar. A oficina de informática, os meninos têm muito interesse nessa área de informática, mas diversas vezes, por mais que o menino queira, a oficina já está lotada e aí ele não pode ir, então acaba meio que desperdiçando todo aquele interesse, aquela curiosidade, aquela vontade que o adolescente tem de estar ali com o computador, de estar aprendendo, de estar abrindo o computador, vendo o problema, sabendo fechar, ou então executando os programas do computador. Mas assim, nem sempre todos são abarcados com o que o Centro tem para oferecer (SAFIRA, 2013).

A partir de então, podemos perceber a dificuldade do trabalho profissional

no intuito de trazer dignidade, resgate da autoestima, condições para uma

socioeducação, além das dificuldades de atribuir à efetivação do projeto profissional.

Assim, a não inclusão do adolescente em oficinas que possam ajudar na

socioeducação suprime muitas formas de incentivo para que no futuro o adolescente

possa vir a não reincidir no ato infracional, negando, assim, a forte ideia da

socioeducação que vem sendo pouco priorizada dentro dessa Instituição. Pelo que

pudemos perceber, outros tipos de oficinas que pudessem ser atrativas para os

adolescentes, como por exemplo, de hip hop e grafite, não são ofertadas, tanto pela

falta de interesse da Instituição, quanto pela falta de espaço, salas que pudessem

comportar essas atividades.

Para manter contato com a família, os adolescentes podem receber

visitas duas vezes por semana: uma de segunda a sexta e outra no sábado ou

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domingo. As visitas podem ser realizadas pela família, e no caso das companheiras,

é restrita para as que são casadas no civil e para as que possuem filhos registrados

no nome do adolescente; se a companheira for menor de idade, tem que ter a

autorização do responsável da mesma. A duração das visitas é de 1 hora para os

adolescentes da capital e os do interior podem permanecer o dia todo, porém,

devem respeitar o horário do almoço. Essas visitas acontecem em um espaço

pequeno que comporta no máximo 8 adolescentes e suas famílias, o que causa

transtorno e insatisfação dos familiares que não usufruem do tempo e nem de

privacidade.

A família é um componente importantíssimo no trabalho socioeducativo,

pois esta influencia seus membros de diversas formas, assumindo um relevante

papel na transmissão de valores, normas e modelo de conduta. Um dos elementos

mais importantes entre os pais/responsáveis e o filho é a afetividade, o que ajuda o

adolescente a assimilar e a conscientizar-se das normas sociais. O que nos mostra

que o momento da visita é um momento importantíssimo, cheio de possibilidades de

acesso à família e na contribuição para a socioeducação desses adolescentes.

Portanto, citamos o nosso diário de campo:

Não tivemos a oportunidade de observar as visitar em si, mas observamos muitas mães de adolescentes sendo impedidas de realizar a visita, porque o adolescente estava na “tranca”, e o fator mais agravante não é o fato da Instituição determinar quem vai pra “tranca” ou não, mas sim a passividade da Assistente Social quanto aos casos. Sabemos que cada caso é um caso e merece tratamento particular. No dia 09/11/13, ás 09:00hs, pais de um adolescente vindos de Quixadá não conseguiram ter a oportunidade de realizar a visita ao filho, pois no dia anterior o mesmo tinha discutido com outros adolescentes e foram todos para a tranca. Porém, a Assistente Social não tentou questionar com o diretor a situação dos pais do adolescente, pois por uma briga dentro da Instituição os pais, que vinham de longe, não conseguiram contato com o filho. Após o atendimento a família, a Assistente Social Rubi nos confidenciou que, muitas vezes, elas têm conhecimento que dentro da Instituição os instrutores usam da força para conter os adolescentes. A partir de então, muitos que sofrem agressão são encaminhados para a “tranca” para não receberem visitas e os familiares não terem conhecimento das agressões através dos hematomas. Um fator que nos deixou bastante inquietas, pois percebemos que isso é tratado como algo normal e natural dentro da Instituição (DIÁRIO DE CAMPO, 2013).

Vale salientar que a profissão dispõe de uma relativa autonomia na

efetivação do seu trabalho, em que o Assistente Social depende, na organização da

atividade, da instituição em que trabalha, a qual viabiliza aos usuários o acesso aos

serviços fornecendo meios para a sua efetivação, “estabelecem prioridades a serem

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cumpridas, interferem na definição de papéis e funções que compõem o cotidiano do

trabalho institucional” (IAMAMOTTO, 2012, p. 63). Porém, a instituição não é um

condicionante a mais para o trabalho; ela organiza o processo de trabalho que o

Assistente Social participa. Levando em consideração que o profissional não

consegue realizar seu trabalho isoladamente, mas como parte de um trabalho

coletivo inserido na equipe multiprofissional da unidade, a inserção do Serviço Social

é parte de um conjunto de especialidades que são acionadas para a efetivação do

seu trabalho. Vamos nos respaldar quanto a essa posição inerte da Assistente

Social no que diz Iamamotto (2012, p. 64):

Dentro dessa perspectiva, a instituição não é condicionante externo e muito menos um obstáculo para o exercício profissional. Dada a condição de „trabalhador livre‟ o assistente social detém a sua força de trabalho especializada, força essa que é mera capacidade. Ela só se transforma em trabalho quando consumida ou acionada, quando aliada às condições necessárias para que o trabalho se efetive, aos meios e objetos de trabalho.

Além das visitas, o adolescente tem direito de realizar ligações para as

famílias uma vez por semana, para o pai, a mãe ou responsável, no limite de cinco

minutos, o que acontece em uma saleta específica para tal ação, próximo às alas ou

no Setor Social. Salientamos que todas as atividades que os adolescentes fazem

são acompanhadas pelos instrutores do Centro Educacional.

Para trabalhar nesta conjuntura que apresentamos, é necessário um

quadro de recursos humanos para compor o corpo técnico que deve conter os

seguintes profissionais: assistentes sociais, psicólogos, médicos, psiquiatras,

pedagogos, instrutores e educadores, os quais devem atuar em uma equipe

interdisciplinar baseada no conteúdo pedagógico.

É uma relação bem próxima, onde todo mundo se ajuda; às vezes, o que o adolescente quer é com o Setor Social, aí ele chega e quando a gente começa o atendimento, a gente já percebe que é uma coisa mais jurídica, por exemplo; aí a gente diz que essas coisas que ele tá querendo saber é melhor perguntar ao Setor Jurídico, porque eles vão saber informar melhor, isso questões de audiência ou ao que ele está respondendo. Então assim, a gente encaminha para o Setor Jurídico, acontece o mesmo com a pedagogia, quando o adolescente quer sair da oficina em que participa e quer entrar em outra, não é uma atribuição nossa, então a gente encaminha para a pedagogia. Quando ele chega dizendo que não consegue dormir, ou tá se tremendo porque tá com falta da droga, é porque tá vendo coisas, também não é uma atribuição do Setor Social, e sim do Setor Psicológico, é do Setor Médico, a gente encaminha para os outros setores. A integração é boa com todos os outros setores, com os instrutores também, com a direção, com a coordenação, tem atribuições que cabe a coordenação,

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quando o adolescente solicita mudar de dormitório ou quer sair da ala, não é o Setor Social é com a coordenação, a gente encaminha para a coordenação. De maneira geral, com todos os setores, eu vejo uma boa ligação, é aquela coisa de troca de favores. Às vezes o Setor Jurídico não tá pudendo fazer aquilo, tem que ligar pra família pra comunicar da audiência pede pra gente, ou também pede pra outros setores. Aqui entre o corpo técnico a dinâmica da unidade é bem tranquila, são ajudas bem recíprocas. Com a direção em si, os técnicos têm abertura, têm facilidade de contato de conversa com a direção (SAFIRA, 2013).

Com tantos desgastes dentro da conjuntura do Centro Educacional,

pudemos identificar um trabalho em conjunto dos profissionais que atuam nesse

contexto, através de encaminhamentos, e até o último dia de pesquisa não tivemos

nenhum conhecimento de atividades entre os setores. Atualmente, consta no quadro

profissional do Centro Educacional os seguinte profissionais: 2 assistentes sociais (3

estagiárias), 2 psicólogas (2 estagiários), 2 pedagogas, 1 advogada ( 1 estagiário), 1

médico, 1 diretor, 1 coordenador de disciplina, 35 educadores/instrutores e 1

secretária para atender às múltiplas demandas que surgem no Centro Educacional.

Vale salientar que esse quadro profissional condiz com o que o SINASE aponta para

o atendimento de 40 adolescentes.

No trabalho com o adolescente autor de ato infracional, cada profissional

tem suas atribuições específicas para atender às múltiplas demandas da Instituição.

As atribuições do Setor Psicológico é avaliar os adolescentes e oferecer

atendimento psicoterapêutico em qualquer modalidade que se adeque melhor ao

diagnóstico e tratamento específico para cada adolescente. Já o Setor Pedagógico,

dentre várias atribuições, podemos destacar o atendimento inicial para avaliar a

situação escolar atual do adolescente, para engajá-lo nas atividades de acordo com

a sua capacidade. O Setor Jurídico tem a atribuição de informar ao adolescente a

situação processual e o acompanhamento do processo na Vara da Infância e

Juventude. Com relação à situação estrutural da unidade, destacamos a fala de

Safira (2013):

É uma unidade superlotada, é uma unidade onde a quantidade de profissionais, tanto de psicólogos, quanto de assistente social, pedagogos, advogado, instrutores, é um numero deficiente, não é um número que condiz com as necessidades da unidade. Não acho que o SINASE esteja tão bem desenvolvido aqui, em alguns aspectos sim, no aspecto do atendimento, o adolescente tem atendimento médico, pedagógico, tem o acompanhamento de sala de aula, de oficinas, de capacitação como o SINASE fala; tem o atendimento psicológico, médico, tema alimentação, mas em muitas outras coisas é aquém. A estrutura física da unidade é uma estrutura antiga que ela poderia sim ser melhorada, estar em melhores

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condições. Vale destacar que, muitas vezes, ou é sucateada pelo tempo, ou sucateada pelos próprios adolescentes quando acontecem rebeliões, quando eles quebram as coisas, mas não justifica continuar assim. Acho que poderia estar bem melhor, tanto a estrutura física, a estrutura aqui para os atendimentos, como falei no início, não tem uma sala específica pra atendimentos, então se eu estou aqui atendendo um adolescente, por mais sigiloso que seja aquilo, entra a psicóloga e pega alguma coisa ou fala alguma coisa, entra o rapaz da secretaria, entra o porteiro pra perguntar se pode atender família, então assim, estamos tanto estruturalmente quanto fisicamente falando que a unidade não está adequada ao SINASE. Em termos numéricos, a quantidade de adolescentes, profissionais e instrutores, por esse lado também não está adequado.

O Setor Social, o qual é o cerne da nossa pesquisa, tem a atribuição de

garantir os direitos fundamentais dos adolescentes em cumprimento de medida

socioeducativa, estimular o fortalecimento dos vínculos familiares e sociais,

procurando promover a cidadania. Vale salientar que cabe ao Assistente Social

atuar de acordo com sua especificidade, priorizando o diálogo com os outros

setores, sem esquecer o que é particular do Serviço Social.

Dentro dessa realidade, o Assistente Social é para estar sendo instigado

e desafiado para atuar junto aos adolescentes buscando o fortalecimento e o

estabelecimento dos vínculos familiares e sociais, através do trabalho que

desenvolve dentro do Centro Educacional. As atividades deviam estar amparadas e

embasadas a partir do conhecimento teórico, entendendo que o adolescente é um

sujeito em desenvolvimento.

No próximo tópico vamos detalhar o cotidiano do trabalho das Assistentes

Sociais. Vamos conseguir responder algumas questões que nos são propícias

quanto à possibilidade de intervenção das profissionais diante da falta de

investimentos do Estado, tanto no âmbito material (estrutura) quanto no pessoal

(número conivente de profissionais com o número de adolescentes).

4.2 O trabalho do Serviço Social dentro de uma unidade de internação: a realidade “nua e crua” do Centro Educacional

É necessário que estabeleçamos uma relação estreita com o que regem

as legislações e a prática cotidiana, espaço da práxis realizada pelo Assistente

Social, na implementação da medida socioeducativa de internação. O dia a dia do

trabalho do Assistente Social é dinâmico e multifacetado, pois não atua em apenas

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uma necessidade humana, mas sim em todas as necessidades humanas de uma

dada classe social, mais especificamente da classe que vive do trabalho.

Dentro da unidade de internação, o trabalho do Assistente Social no

Centro Educacional tem início às 08:00 horas e uma das atividades primordiais do

setor é a elaboração de relatórios abordando aspectos socioeconômicos, familiares

e o desenvolvimento do adolescente durante o cumprimento da medida, sendo estes

destinados ao juiz da Vara da Infância e da Juventude.

A cada seis meses, cada adolescente é encaminhado para uma

audiência, onde o juiz identifica qual a situação atual do adolescente, designando-os

a uma progressão de medida ou não. Para tanto, os profissionais recebem um

calendário mensal das audiências de cada adolescente, e dessa forma devem

elaborar um relatório que servirá de fundamentação para a avaliação da autoridade

judicial.

Todo relatório é composto por um parecer técnico, mas este é dividido

entre os profissionais. O diretor e o coordenador de disciplina, em comum acordo,

decidem qual medida deve ser sugerida no parecer técnico; todos os setores

recebem uma lista com essas sugestões. Segundo dados colhidos junto às

Assistentes Sociais, no mês de outubro tinham 27 relatórios a serem elaborados por

todos os profissionais, porém o parecer técnico é dividido entre eles, nos quais 4

foram designados para o Setor Jurídico, 8 para o Setor Social, 8 para a Pedagogia e

7 para a Psicologia.

Ele é dividido por toda a equipe, então tem parecer que quem faz é a psicóloga, tem parecer que é a pedagogia e eles mesmos assinam se responsabilizando pelo parecer. Antes só fazia a gente e aí começou a ser dividido e a gente começou a ensinar, a gente ensinou do jeito que a gente sabia fazer. Como é um parecer técnico, todos podem fazer, se fosse o social era só a gente. Isso mudou com o novo diretor, porque a gente ficava muito atribulada. Digamos só na internação são 32 relatórios, a gente dividia, aí ficava 12 e 11 para cada uma, enquanto que cada setor só fazia o relatório e ficava morto de folgado. Enquanto que a gente tinha família, admissão e esse telefone tocando direto. Enfim, e aí, de tanto a gente bater na tecla que a gente tava muito atribulada e que esse tipo de atividade poderia ser realizada pelos outros setores, a gente começou a dividir. É claro, que se eu tivesse fazendo um laudo social ou uma perícia social, seria no caso um parecer social, e aí seria meu. O ideal era que nós utilizássemos o nosso instrumental mesmo, um laudo social, estudo social desse adolescente, mas é um mero relatório e o parecer não é muito embasado, é pelo que eles falam pra gente, muito vago (SAFIRA, 2013). Essa questão da decisão do parecer, geralmente, fica com o coordenador de disciplina, com a direção e com a advogada, depois eles repassam pra gente e a gente faz um texto lindo e maravilhoso, se for uma progressão de medida, ou então sei lá. A gente não tem acesso aos adolescentes, então,

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por exemplo, fulano de tal, eu não conheço fulano pra fazer realmente um parecer firme. Assim que tem embasamento, então eu vou pelo o que me falam. Ahh!! O fulano possui um bom comportamento, tranqüilo, ou não ele se envolveu na rebelião, e a partir daí eu vou construir um parecer, mas é muito vago. Eu acho muito vago (RUBI, 2013).

Diante desse jogo de forças dentro da unidade, é dever ético do

Assistente Social buscar meios para entender e interpretar criticamente a realidade

que está imposta, com capacidade de transformá-la. Uma categoria central da

dialética é a mediação, a qual já abordamos no capítulo anterior; ela está inscrita no

contexto da ontologia do ser social. É através da mediação que se expressa pelos

instrumentos, recursos e técnicas, que o profissional toma conhecimento que pode

penetrar nas entrelinhas da realidade imposta com possibilidade de transformá-la.

Interessante ressaltar que a realidade que vivenciamos é cada vez mais instigante, e

requer do profissional a coragem de transformar o nosso conhecimento silencioso

em conhecimento partilhado (MORAES; MARTINELLI, 2011).

No primeiro dia de observação, presenciamos uma situação bem peculiar:

a Assistente Social Safira questionava com a Assistente Social Rubi como era que

iria sugerir no parecer técnico uma progressão de medida para Liberdade Assistida,

se o adolescente tinha participado de rebelião e não progrediu dentro do Centro

Educacional. As duas não concordavam com tal sugestão do diretor, mas

procuraram meios através da legislação para fundamentar tal sugestão, pois,

acreditam que por não terem estrutura de acompanhamento efetivo com os

adolescentes, não têm total domínio na decisão da sugestão.

Assim, eu não tenho o meu trabalho aqui como um acompanhamento, eu acompanharia se aqui tivesse de acordo com o SINASE e eu tivesse 20 adolescentes sob minha responsabilidade, aí eu acompanharia, porque eu iria fazer visita domiciliar de todos, eu iria realizar um atendimento sucinto com a família, com o adolescente. Quando ele tivesse perto de sair daqui, eu iria fazer todos os encaminhamentos, aí seria um acompanhamento! Eu não me sinto realizando um acompanhamento, porque eu não tenho condições. No caso do adolescente que no atendimento pra relatório que diz que tanto faz, é matar ou morrer e que vai voltar, aí tem uma grande questão que também o ECA responde que a gente deve respeitar o princípio de brevidade e excepcionalidade da internação. Então assim, se aquele adolescente não cometeu um ato infracional grave, libera. A gente já chegou a dizer que não ia fazer o parecer porque não concordo, e conversando com o diretor consegue alterar; chegar na direção e dizer esse menino não tem a mínima condição de sair daqui e ele concordar e dizer mude o parecer para uma semiliberdade, e aí a gente faz essa alteração. Esse diálogo é muito difícil, porque como aqui está lotado, a ideia é expulsar o maior número de adolescentes que você puder, aí é complicado porque a gente se sente na berlinda (RUBI, 2013).

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Como foi citado por um dos sujeitos da pesquisa, anteriormente o parecer

era realizado apenas pelo Setor Social e era chamado de parecer social, que é

peculiar ao trabalho do serviço social. Porém, frente à grande demanda da unidade,

por definição da direção, foi subdividida essa tarefa sendo intitulado parecer técnico,

algo que não era mais atribuição apenas do serviço social, mas de todo o corpo

técnico.

O espaço do Setor Social, que já é bem pequeno, se torna ainda mais,

pois todos os técnicos adentram à sala para solicitar o telefone ou as chaves do

arquivo, onde ficam os prontuários de todos os adolescentes. Salientamos que

dentro do Centro Educacional existem apenas dois telefones, um na sala do serviço

social e outro na sala da secretaria. No caso da chave do arquivo, nem todos os

outros setores tem, mas parece mais um hábito utilizar as chaves que ficam no Setor

Social. Dessa forma, necessitamos destacar o que presenciamos no momento da

pesquisa:

Hoje, o “entra e sai” da sala está bem pior do que nos outros dias. A Assistente Social Safira está realizando atendimento para relatório com um adolescente e a Psicóloga entra na sala para perguntar se o telefone está na sala; a Safira responde que sim, a Psicóloga pega o telefone, agradece e sai da sala. Enquanto isso, o adolescente olha pra todos sem entender o que acontece, fica meio que perdido. Retomam os questionamentos, sem continuar o que já tinham conversado, ou seja, houve uma quebra na conversa. Logo o coordenador de disciplina entra na sala para perguntar quem está com o telefone, interrompendo mais uma vez o atendimento. Passados 5 minutos, o porteiro bate na porta perguntando se pode mandar familiar entrar para atendimento. Ou seja, é muito difícil o atendimento dentro da sala do Setor Social. Um fator que nos chamou atenção, foi que o adolescente que estava sendo indagado para o relatório, vai contando quem veio visitar, relação com a família, oficinas realizadas, entre outros. Percebemos a falta de acompanhamento efetivo quando o adolescente diz que nunca participou de uma oficina e que „gostaria que colocasse aí no papel que ele desejava aprender informática‟. Nessa hora, percebemos o quanto é falha e solta a ideia de socioeducação e acompanhamento, pois a Assistente Social não sabia que ele não participava de nada dentro da Instituição (DIÁRIO DE CAMPO, 2013).

Dentre os vários problemas que se apresentam no cotidiano do Centro

Educacional, o fato de não ser disponibilizado dentro do Setor Social o sigilo

profissional, tem sido um dos mais graves e recorrentes. Não existe uma sala

exclusiva para o atendimento dos adolescentes e para as famílias. Observamos que

durante um atendimento seja à família ou ao adolescente, o “entra e sai” de pessoas

na sala é constante, muitas vezes, por ser interrompida, a conversa toma outro rumo

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ou o que o adolescente ia falar no momento anterior, depois da interrupção não era

mais propício.

Aqui, infelizmente, não tem a privacidade que a profissão exige durante um atendimento com o adolescente ou com a família, a gente não tem. Acaba que o sigilo profissional que é pregado, muitas vezes escapa, porque a sala do Setor Social, só tem uma sala aqui, é uma sala de muito movimento. É uma sala onde todo mundo entra e pede um atendimento, outro pede um favor, outro faz uma pergunta, o telefone toca, então assim, a sala do Setor Social é a mais movimentada dentre os setores técnicos (SAFIRA, 2013).

Contudo, nos respaldamos na resolução do Conselho Federal de Serviço

Social (CFESS), n° 493, de 21 de agosto de 2006, que dispões sobre as condições

éticas e técnicas do exercício profissional. O artigo 2°, diz que o local de

atendimento destinado ao Assistente Social deve ser dotado de espaço suficiente

para abordagens individuais ou coletivas. Dentre as características do espaço

necessário, tem-se a necessidade de recursos que garantam a privacidade do

usuário naquilo que for revelado durante o processo de intervenção profissional. No

artigo 3°, ele discorre que o atendimento realizado pelo Assistente Social deve ser

feito de portas fechadas, de forma a garantir o sigilo profissional. Podemos observar

que o que rege a Resolução é bastante claro e evidente quanto às necessidades

para uma efetiva atuação do Assistente Social no atendimento ao adolescente autor

de ato infracional e à sua família, para a efetivação e garantia dos direitos; porém,

esse direito ao sigilo dentro da Instituição é totalmente violado, pois as condições

não são favoráveis para sua efetivação.

Diante do que acabamos de relatar, podemos inferir que a categoria

mediação não é totalmente utilizada para uma ação transformadora, pois a

Assistente Social deve se colocar como ator social, interagindo no interior do campo

institucional, intervindo de forma efetiva no interior da Instituição, fortalecendo os

poderes dos usuários, buscando resgatar a cidadania, autoestima, e os valores

individuais e coletivos dos mesmos.

Outro fator bem recorrente é o atendimento inicial ao adolescente; na

maioria das vezes, acontecem dias depois da sua entrada no Centro Educacional,

pois muitas demandas são colocadas para o Setor Social que necessitam de

atendimento imediato. Uma delas é o atendimento à família, o que acontece

diariamente. Para realizar visita ao adolescente, a família precisa ir ao Setor Social e

solicitar a carteirinha de visita para definir o dia que vai ficar visitando-o, ou até

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mesmo mudar o dia da visita. Outras vezes, a família vai até o Setor Social relatar

algum problema que acontece com o adolescente dentro da unidade ou até mesmo

solicitar informações do comportamento deste. As únicas pessoas que não são

revistadas para entrar no Centro Educacional são as mães dos adolescentes,

segundo as Assistentes Sociais; isso aconteceu sempre, pois é uma forma de

respeito à mãe.

Diante do que vem acontecendo, eu não concordo, porque assim, tudo bem, ahh, não queremos que nossas mães sejam revistadas, então vamos trabalhar pra que isso continue. Eu tava falando com o diretor que já era a terceira vez que entra droga no Centro e teve uma das vezes que ele foi agredido e um funcionário morreu, então eu disse: todas às vezes que entra droga no CE, a gente sofre as consequências. Está na hora deles sofrerem prezando muito pela essa questão da mãe não ser revistada, então vamos começar a revistar pra eles sentirem também a questão da responsabilidade que eles têm. Mas aí, tem um grande problema, porque quem faz as vistorias na unidade é a auxiliar de serviços gerais, que não tem preparo nenhum, então tudo bem! Tem a revista com as mães, mas que tenha uma pessoa preparada para realizar essas vistorias, e até mesmo porque ela fica sobrecarregada, porque ela está aqui limpando uma coisa e quando chega visita ela larga tudo pra fazer vistoria (RUBI, 2013).

Segundo dados internos colhidos no livro de controle de

internação/sanção do setor social, 95 adolescentes internos no centro eram do

interior e 74 da capital. Observamos a presença de muitas famílias vindas do interior

para visitar os adolescentes. Um caso muito peculiar que nos foi presenciado, foi à

vinda de um casal da cidade de Quixeramobim, tios de um adolescente, solicitando

a carteirinha para ter acesso à visita ao sobrinho, porém tiveram a informação que

não poderiam visitá-lo, pois o mesmo teria ido para a “tranca” no dia anterior, por ter

agredido outro adolescente; receberam a informação de que ele iria permanecer 15

dias nessa ala e que o setor poderia atualizar o telefone de contato para mantê-los

informados e a carteirinha para futuras visitas. A tia do adolescente ficou muito

emotiva, pois tinha muitas saudades do adolescente. Por coincidência, o

coordenador de disciplina tinha ido deixar o telefone na base que fica no Setor

Social e explicou toda a situação do adolescente. Os tios do adolescente voltaram

para sua cidade sem visitar o adolescente.

Pois é, eu já conversei com o coordenador de disciplina sobre isso, que qualquer movimentação de adolescente de que seja pra onde for, me repasse pra eu entrar em contato com a família imediatamente pra explicar a situação, porque aí se a família vem lá da “caixa prega” pra ver o

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adolescente e ele tiver na “tranca”, tem que dar um jeito. Já aconteceu uma vez de eu ir falar com o diretor e ele concedeu 10 min aqui na sala de SS e o menino veio todo machucado. É uma briga que você tem que travar todo dia, pra realizar seu trabalho, é assim que eu me sinto. Minha alternativa agora é essa: assim que o menino for pra “tranca”, ser informada pra comunicar a família pra que a família não se desloque pra cá (RUBI, 2013).

Quase todos os dias, chegavam à sala do Setor Social uma lista de três a

cinco adolescentes que foram levados para a “tranca”, para que fosse informado

para a família e não houvesse o constrangimento de irem visitar o adolescente e

este não poder recebê-los. Presenciamos algumas vezes esse fato, da família estar

indo para o Centro ou chegando à unidade saber que o adolescente não poderia

receber visitas. Quando os adolescentes estão na “tranca”, não podem receber os

objetos ou alimentos que os familiares mandam, eles recebem apenas o necessário,

como apenas comida da própria Instituição. Assim, fortalecemos o que dissemos

com a fala da Safira (2013):

Quando o adolescente está em regime de contenção na “tranca”, ele fica incomunicável com a família, a não ser que seja em casos extremos, aí sim, existe alguma forma de comunicação, mas durante esse período, ele se comunica normalmente com os outros adolescentes que estão com ele, se comunica com o coordenador da unidade, com os demais instrutores. A família fica ciente quando o adolescente tá na contenção e que por x dias não vai poder visitar o adolescente. Mas as famílias ficam geralmente ligando pra gente pra saber como é que está o adolescente. Nesse caso, a gente percebe que há sim essa incomunicabilidade com a família, quando ele está em regime de contenção, depois que os adolescentes cometem alguma infração dentro da unidade.

Após presenciarmos e identificarmos esse fator “tranca” como algo que

distancia e não perpetua para uma socioeducação, fomos procurar no ECA se

existia algum artigo que pudesse nos ajudar no entendimento de tal conduta.

Conseguimos observar que no parágrafo 1º, do artigo 124, diz que em nenhum caso

haverá incomunicabilidade, o que abre margem para várias interpretações, e ainda

mais no parágrafo 2º, nos diz que a autoridade judiciária poderá suspender

temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsáveis, se existirem motivos

sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente. De acordo

com Rubi (2013):

No caso, como eu vejo essa incomunicabilidade, é que independente do que ele fizer é que ele não pode ficar incomunicável, seja com a equipe técnica ou até mesmo com os familiares, ele não pode. Então assim, essa questão de ahh, foi pra tranca e não tem visita familiar, a família não vê por

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tantos dias está indo contra. Está indo contra os direitos regidos no ECA. No meu entendimento, é isso, é a questão das visitas, que ele não pode ficar incomunicável com a família, porque o que é a “tranca”, na verdade, se eu não me engano, no SINASE tem falando que deve haver um espaço reservado para o adolescente caso ele seja ameaçado dentro do centro, isso já vem de muito antes, então, eles pegaram essa situação e transformaram na” tranca” que é quando os adolescentes fizerem alguma coisa vai pra “tranca”, só que a gente, muitas vezes, percebe que a “tranca”, os meninos vão pra “tranca” porque apanham e aí eles não querem que a família veja; então, durante esses 10 dias os hematomas vão sumir e aí sim ele vai poder ver a família.

Salientamos que o que está sendo exposto aqui foi observado todos os

dias de formas distintas, pois cada adolescente e família têm sua peculiaridade. Os

atendimentos ocorrem aleatoriamente, ou seja, não têm hora específica para

atendimento da família e de adolescente, vai depender da demanda do dia. O

atendimento inicial ao adolescente que foi encaminhado para o Centro, como já

falamos, nem sempre é realizado no primeiro dia que este chegou à unidade. A

Assistente Social encaminha para o coordenador ou até mesmo para um dos

instrutores uma lista com alguns nomes de adolescentes que necessitam

comparecer a sala do Setor Social para o atendimento inicial. Muitas vezes, o

adolescente não é encontrado ou está na “tranca”, fatores que tardiam ainda mais o

atendimento e o primeiro contato com a família.

Quando o adolescente é encaminhado para o Setor Social para que seja

realizado o atendimento inicial, a Assistente Social faz uma entrevista com o

adolescente preenchendo alguns documentos que servem para registrar o

adolescente dentro da Instituição. No atendimento, a profissional preenche uma

folha sumária de identificação constando os dados pessoais do adolescente, os

documentos apresentados, a data de admissão dentro da unidade e o nome dos

visitantes. Após essas informações, a Assistente Social preenche também a folha do

atendimento inicial, esta é mais complexa, pois procura saber do próprio

adolescente por qual motivo foi encaminhado para o Centro, com quem ele morava,

como era a casa, o relacionamento com a família, com a comunidade e qual a

escolaridade. Existe também uma folha comum a todos os setores, que é o controle

de atendimento; nela constam todas as informações do cotidiano e aquelas

necessárias de serem registradas, como o dia da chegada, as ligações que realiza,

os documentos recebidos e até o dia da saída. De acordo com Rubi (2013), o

atendimento ao adolescente se estabelece da seguinte forma:

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No mesmo dia que ele chega, ele não é atendido por conta da demanda, são duas Assistentes Sociais. No próprio ECA diz que para cada 20 adolescente tem que ter uma equipe, e aí hoje em dia a gente está com 169 adolescentes pra duas Assistentes Sociais, então assim, a demanda é absurda pra gente estar realizando essas atividades, e aí, muitas vezes, por exemplo, a gente tem as prioridades, tem os relatórios que são prioridades, não tem o que discutir, e aí no meio disso a gente tenta fazer as admissões; às vezes demora um pouco, e aí, é complicado, porque é na admissão que a gente faz o primeiro contato com a família, então eles cobram muito, tem essa ligação, tem esse atrativo, mas aí demora um pouco para estar fazendo esse atendimento, ás vezes demora 3 a 4 dias. Quando o adolescente vem ao setor e realizamos o preenchimento do instrumental, que é a informação básica de identificação, ficha de identificação e um atendimento e aí passa também pelos outros profissionais que identificam as demandas como drogas, se já fazia atendimento no CAPS, às vezes a família não sabe nem que o adolescente está aqui preso, o adolescente não sabe o telefone de casa, então já é uma demanda pra visita domiciliar

Após o atendimento inicial, a Assistente Social entra em contato com a

família informando que o adolescente está na unidade e deixa que o adolescente

converse com o familiar. Outro tipo de atendimento é aquele solicitado pelo

adolescente, ou seja, ele já está algum tempo e quer saber de alguma informação

ou dizer algum problema que esteja acontecendo. Pudemos presenciar várias

situações desse tipo de atendimento, um adolescente querendo realizar ligação para

a avó, pois não estava recebendo visitas e desejava muito falar com ela. Outro caso

foi do adolescente que queria saber quanto tempo faltava para sua audiência, a

Assistente Social solicitou que ele pedisse atendimento junto ao Setor Jurídico.

Dentro dessa dimensão, as demandas se constituem aparências que

necessitam ser desmembradas para culminar na mediação, ou seja, para

ultrapassar o imediato da demanda faz necessário compreendê-la. Os atendimentos

que estamos discorrendo têm um complexo rico permitindo ao profissional propor

criticamente no desvendamento do complexo de forças presentes no dia a dia da

prática profissional.

Existe também o atendimento para relatório, como já falamos

anteriormente, quando está próximo à audiência do adolescente, o corpo técnico

tem que emitir um relatório e um parecer técnico. Ou seja, os contatos que a

Assistente Social tem com o adolescente são estes, através do atendimento inicial,

do atendimento solicitado pelo próprio adolescente e do atendimento para relatório.

Quanto ao atendimento às famílias, em geral, o atendimento se dá pelo

acompanhamento das visitas, oportunidade que o profissional busca esclarecer as

dúvidas das famílias no que se refere à situação processual do adolescente.

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Devido à grande demanda e um pequeno número de profissionais dentro

da unidade, não acontece um acompanhamento sistemático do adolescente, o que

prejudica muito o trabalho socioeducativo. Considerados instrumentos primordiais

para atendimento e intervenção dentro da dimensão da medida socioeducativa de

internação e que cada sujeito tem sua peculiaridade e particularidade, pudemos

constatar e reafirmamos aqui a inexistência do PIA dentro da unidade de

atendimento; os instrumentais que acabamos de apresentar são os únicos utilizados

pelas Assistentes Sociais.

Em todos os espaços que trabalha o Assistente Social é para existir

meios para propiciar a materialização do projeto ético-político da profissão; assim

deve ser feito no Centro Educacional, que trabalham com a execução de medidas

socioeducativas, procurando intervir para a garantia dos direitos sociais. Podemos

observar que o processo de trabalho no qual o Assistente Social está inserido, na

condição de assalariamento e da flexibilização das condições de trabalho, dentro da

unidade, é constante presenciarmos a falta de uma atuação dentro da perspectiva

do que rege o código de ética da profissão.

Mesmo que alguns dos procedimentos que acabamos de elencar

pareçam simplesmente rotineiros, é possível identificar poucas possibilidades de

trabalho na perspectiva da garantia de direitos. Mesmo que o adolescente esteja

privado de liberdade é preciso garantir que essa privação de liberdade não seja

também privação dos direitos. Um dos princípios fundamentais do código de ética

pressupõe a ampliação e consolidação da cidadania, o que na Instituição é realizado

através da retirada de documentos do adolescente, muitas vezes, estes chegam à

unidade sem identidade e carteira de trabalho, somente com a certidão de

nascimento; quando é possível, os adolescentes participam de oficinas

profissionalizantes adquirindo conhecimento, ou através da escola normal e através

de cursos.

Outro princípio é o reconhecimento da liberdade como valor ético central,

entendendo que a aplicação da medida de internação está relacionada

principalmente à privação da liberdade de ir e vir e jamais privar o adolescente do

direito de escolha e comunicação. Neste caso, eles têm o direito de comunicar-se

com os familiares uma vez por semana, por meio de telefonemas, e duas vezes

receber visitas; são direitos garantidos dentro da unidade.

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O Assistente Social dentro do Centro Educacional tem um contato direto

com a realidade dos sujeitos. Se este profissional não tiver uma visão crítica sobre

essa realidade, se não for propositivo e apresentar ao diretor algumas demandas

que lhe são impostas, acabará simplesmente reproduzindo mecanicamente suas

atividades, não promovendo mudanças significativas. Salientamos que a

instrumentalidade no Serviço Social não é apenas a aplicação dos instrumentos

técnicos do trabalho, mas sim a capacidade e a propriedade de fazer, é uma

interação com a teoria, com os princípios éticos-políticos da profissão, para a

efetivação do projeto ético-político.

Dessa forma, destacamos o descontentamento dos sujeitos da nossa

pesquisa quanto à sobrecarga do trabalho na implementação da medida

socioeducativa de internação dentro do Centro Educacional.

Demais, eu me sinto muito sobrecarregada, com o trabalho, com a dinâmica, com a disparidade, com a prática profissional e a prática daqui (RUBI, 2013).

Sim. Sinto-me sobrecarregada da demanda da Instituição, dos inúmeros relatórios, atendimento à família, atendimento ao adolescente. Muitas vezes, eu levo três a quatro relatórios pra digitar em casa porque aqui não dá tempo, o que acontece frequentemente aqui na unidade (SAFIRA, 2013).

Apesar das demandas e dificuldades apresentadas, pudemos perceber

que os sujeitos da pesquisa se apresentam um pouco de contentamento e gostam

de trabalhar na execução da medida socioeducativa de internação.

Têm alguns problemas, tipo a questão salarial, a sobrecarga de trabalho, mas eu gosto desse tema, me sinto bem aqui. Gosto da unidade em si, não tenho nenhum problema com ninguém aqui da unidade, então a relação de trabalho pra mim é bacana (SAFIRA, 2013).

Mulher, eu gosto muito da área, trabalhar com as medidas socioeducativas, aqui eu já me frustrei muito por essa questão da realidade, embora eu entenda que existem os limites funcionais e tudo, mas ultimamente eu me sinto muito frustrada com as coisas que acontecem. Essa questão da disparidade enorme entre o meu projeto ético-político e a cabeça das pessoas da unidade. Num é nem que eu não goste, gosto da área, gosto de trabalhar com os adolescentes, eu costumo dizer que é mais fácil trabalhar com os adolescentes do que com os instrutores, mas hoje em dia eu me sinto frustrada com o meu trabalho (RUBI, 2013).

Porém, em meio às contradições e dificuldades, a prática do Serviço

Social pede que os profissionais sejam críticos, conscientes e comprometidos com a

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responsabilidade social, atuando sempre na perspectiva da pesquisa para uma nova

forma de atuação de instrumentos de intervenção.

Apesar de muitas vezes a realização de determinadas ações serem

regidas pela Instituição, o profissional deve sempre lembrar que tem uma lei que

regulamenta suas atividades e que precisa socializar dentro da instituição, pois os

sujeitos precisam entender que a profissão tem um direcionamento ético, político e

social.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo principal deste trabalho foi compreender como o Assistente

Social trabalha na implementação da medida socioeducativa de internação dentro de

uma instituição do Centro Educacional. Conseguimos responder às indagações que

nos inquietavam através da pesquisa que realizamos dentro de um Centro

Educacional de Fortaleza, a qual foi muito importante para sabermos e conhecermos

as condições de trabalho do Assistente Social frente à estrutura e a rotina da

unidade, realizadas a partir dos instrumentos jurídicos que amparam os

adolescentes autores de ato infracional, como também as que amparam o trabalho

do Assistente Social.

Analisar a atuação profissional nos foi bastante curioso, visto a

importância destes na vida institucional dos adolescentes. A pesquisa de campo nos

possibilitou uma aproximação com a intervenção profissional, principalmente através

da observação participante e das anotações em diários de campo.

Primeiramente, reafirmamos que no âmbito do projeto ético-político do

Serviço Social há necessidade de releituras da própria intervenção, porém, para

isso, é fundamental se respaldar no aspecto histórico, destarte para uma efetiva

atuação do profissional de Serviço Social existe a necessidade de conhecer quem

são os adolescentes autores de ato infracional.

Dessa forma, destacamos que os sujeitos atendidos na Instituição em sua

trajetória de vida são marcados por exclusões, com fragilidades familiares, presença

de drogas, a curiosidade do crime, maus-tratos e negligências, culminando no

cometimento do ato infracional por esses sujeitos. Esta atitude do adolescente é

uma forma de sobrevivência, de se sobressair, de se sentir parte do mundo,

ganhando visibilidade na sociedade onde são marginalizados e excluídos. Não é que

esses sujeitos não sejam responsáveis também pelo o que acontece em sua vida,

mas a conjutura social tem sua parcela de culpa.

É preciso considerarmos que pela ausência ou ineficiência das políticas

setoriais, ainda existem famílias abandonadas a própria sorte pelas esferas públicas.

O aumento do cometimento dos atos infracionais, tornou-se bastante discutido pela

sociedade que começou a cobrar do Estado mudanças, através de ações que

pudessem diminuir esses números.

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Contudo, compreendemos que a conjuntura social é parte integrante no

desenvolvimento dos adolescentes, pois estão inseridos nesse meio e, portanto,

influenciado por ele. Entendemos o ato infracional cometido pelo adolescente como

algo muito além das explicações dadas em programas policiais. A prática do ato

infracional não é algo inerente à identidade do adolescente, mas sim uma

circunstância que pode e deve ser modificada.

Para o senso comum é muito difícil juntar a ideia de segurança e

cidadania, reconhecer no adolescente autor de ato infracional um cidadão parece

ser uma exercício difícil para alguns inapropriados. É nesse contexto que crescem

os preconceitos e alastram-se muitas explicações simplistas, ficando a sociedade

exposta a informações desconcertantes que são usadas como estratégia de

criminalização da pobreza.

Esses fatores, o qual o alarde social se estabelece especificamente pelo

cometimento de ato infracional, têm uma grande possibilidade no comprometimento

do conjunto das políticas sociais para adolescentes, mas também a não efetivação

das leis já garantidas a esse público, como o ECA e o SINASE deficiente pode trazer

consequências desastrosas no retrocesso social, como a redução da maior idade

penal e a aplicação indiscriminada das medidas privativas de liberdade.

Salientamos que são várias as dificuldades que a sociedade enfrenta para

que as leis estabelecidas sejam efetivamente cumpridas. A falta de esclarecimento e

definição das competências dos diversos órgãos e das diferentes esferas do poder

público em relação ao cumprimento das medidas socioeducativas são apenas

alguns exemplos. Outro fator agravante é a falta de orientações técnicas daqueles

que trabalham diretamente com o adolescente autor de ato infracional e

pedagógicas, pois não existe ainda um projeto pedagógico, regido pelo SINASE,

sendo seguido pela Instituição. Tudo isso são dificuldades e distanciam uma efetiva

implementação de uma medida socioeducativa em meio fechado.

Dessa forma, o Assistente Social não pode trabalhar com os adolescentes

a partir de conceitos, mas considerá-los sujeitos reais inerentes a uma realidade

histórica, existe a necessidade de entender a conjuntura à qual estão submetidos,

levando em conta principalmente a sua singularidade e suas características

enquanto adolescentes as quais devem ser respeitadas.

Conhecer a conjuntura a qual o adolescente esta inserido é muito

importante para a atuação do Serviço Social, mas outro fator preponderante para a

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efetivação e garantia dos direitos a esses sujeitos sociais, são as práticas efetivas

concomitantes a implementação das leis. Quando realizamos a pesquisa de campo,

tivemos a oportunidade de conhecer os processos realizados dentro da Instituição.

Detalhamos no capítulo V tanto a estrutura e o corpo técnico quanto o trabalho

específico do Assistente Social no cotidiano de suas práticas.

Dentro das várias dificuldades encontradas na socioeducação desses

adolescentes, destacamos a superlotação como um problema de grande dimensão.

Como já dissemos, no momento da pesquisa tinham 169 adolescentes, enquanto a

capacidade do Centro Educacional é para 60 adolescentes, ou seja, a estrutura

precária da unidade não é propícia ao número de adolescentes na unidade, o que

acaba comprometendo esse caráter socioeducativo, no qual o acompanhamento

não é realizado com assiduidade.

Salientamos que um fator muito preocupante dentro do Centro

Educacional é o tratamento dispensado aos adolescentes, principalmente pelos

orientadores/instrutores, que reflete uma prática repressiva, e os castigos existentes,

como o fator “tranca”, que descaracterizam totalmente a proposta pedagógica das

medidas socioeducativas. Quanto à escolarização e profissionalização, muitos

cursos são oferecidos, porém pouco atrativos ou se restringem a um pequeno

número de adolescentes em decorrência da quantidade de internos.

Observamos que os adolescentes da Instituição se encontram em

condições subumanas o que aproxima a realidade do Centro Educacional às prisões

adultas, pois os dormitórios se assemelham a celas com muitos adolescentes que

dividem um espaço mínimo.

Dessa forma, visualizamos uma grande dicotomia entre o que rege a lei

do SINASE e a sua execução, onde a medida socioeducativa de internação não é de

fato realizada já que não existem condições necessárias para o seu cumprimento,

configurando, portanto, a continuidade da prática repressiva de antigamente.

A medida socioeducativa de internação necessita de projeto pedagógico e

de estrutura adequada ao seu cumprimento, garantindo os direitos dos

adolescentes. É evidente que apenas a existência de uma lei não é suficiente para a

transformação social e para a garantia dos direitos. Queremos dizer que o ECA e o

SINASE, por exemplo, por si só não resolvem os problemas, a solução requer uma

aparato maior como a intersetorialidade e a articulação de todas as políticas.

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A partir de então, observamos a necessidade que haja uma maior

responsabilização do Estado mediante a inserção de condições estruturais para que

se consolidem as práticas pedagógicas em detrimento das punitivas. É nesse

contexto que entendemos ser fundamental a atuação multiprofissional, para auxiliar

o adolescente em cumprimento da medida socioeducativa e, dessa forma, colocar

em prática muitos dos seus direitos contribuindo para a sua formação.

Um dos atores na busca pela garantia dos direitos dos adolescentes

autores de ato infracional é o trabalho do Assistente Social, que é para atuar junto

aos adolescentes no resgate, fortalecimento ou estabelecimento de vínculos

familiares e sociais, priorizando nos atendimentos individuais.

Para travar uma relação intimista com o projeto profissional e a realidade

do Centro Educacional, o Assistente Social deve sempre ter claro que o

compromisso fundamental é com a população atendida, nesse caso, o adolescente

autor de ato infracional, e é para este sujeito que suas práticas devem ser

direcionadas. A práxis profissional dentro de um centro educacional deve ter como

alvo esses sujeitos os quais devem estar no centro das propostas do trabalho

profissional.

Uma das principais dificuldades enfrentadas pelo Assistente Social no

Centro Educacional se consubstancia nas relações de forças, percebemos uma

hierarquia nas tomadas de decisões, existindo uma forte concentração de poder da

direção da Instituição, que determina o andamento das atividades, o que muitas

vezes dificulta o trabalho da equipe técnica. Esse tipo de hierarquia observada

dentro do Centro Educacional é ocasionada por alguns fatores de nossa herança

histórica, marcada tanto pelo coronelismo quanto pelo patriotismo. Na oportunidade

que tivemos, percebemos essa hierarquia bem clara, pois os técnicos não têm

autonomia para a sugestão de progressão de medida realizada no parecer técnico,

sendo este determinado pelo diretor da Instituição.

A instituição é bastante dinâmica, o reduzido número de Assistentes

Sociais e o elevado número de adolescentes reduz a qualidade de atendimento a

esses indivíduos, culminando em atendimentos superficiais e esporádicos.

Os limites impostos pela Instituição também dificultam o trabalho efetivo

do Serviço Social, na perspectiva da garantia dos direitos, porém essa realidade

deve instigar o Assistente Social a procurar meios para efetivação e execução do

seu projeto profissional. É preciso que esses profissionais sintam a necessidade de

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ultrapassar essas dificuldades impostas pela unidade, através de diálogos com os

seus superiores mostrando-os quais as reais necessidades do setor as atribuições e

projeto da profissão. Muitas vezes, os gestores e diretores não têm dimensão da

importância do trabalho do Assistente Social. Não devem aceitar todas as condições

que lhes são impostas, pois nem sempre condizem com o que prega o código de

ética da profissão.

Podemos citar como exemplo a sala do diretor da Instituição, é a maior e

só comporta ele e o coordenador de disciplina. Pelo que pudemos perceber, o

Centro Educacional não tem espaço para sua expansão, ou seja, não tem

possibilidades de uma reforma para melhorar as condições para a equipe técnica

trabalhar conforme o SINASE. Como isso está longe de acontecer, pois não existe

nem mesmo projeto para a reestruturação do Centro Educacional, podemos pensar

que a sala do diretor seria a sala ideal para melhorar as condições de trabalho do

Setor Social. Para a efetivação do sigilo profissional, são necessárias salas

exclusivas para atendimento, o que não existe atualmente. Como o diretor não tem

essa necessidade, acreditamos que a sala que hoje ele ocupa daria para ser dividida

em duas, onde uma delas seria exclusiva para atendimento. Porém, para que isso

possa acontecer existe a necessidade um diálogo reflexivo entre Setor Social e

diretoria.

Sabemos que é pouco provável que essa mudança ocorra, mas

permanecer inerte frente às dificuldades também não ajuda em nada. O Assistente

Social deve ser um profissional que luta e argumenta de forma coerente por uma

causa. E a situação atual do Centro Educacional se torna um campo bastante

minado para o entrave das constantes lutas pela garantia dos diretos dos

adolescentes autores de ato infracional.

Em consequência da correlação de forças dentro da Instituição e da

precarização do trabalho do Assistente Social, inserido na Instituição através de

contrato de trabalho terceirizado, percebemos o não interesse em questionar muitas

situações se posicionando contrários à forma imposta de trabalho.

O desafio de enfrentar teoricamente a questão prática institucionalizada é

tão complexa quanto à atuação, o que nos leva a pensar como fazer na Instituição

para responder aos interesses dos adolescentes sem perder o emprego “levar a

cabeça” sem cair no assistencialismo e no controle. Dentro desse quadro, o

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Assistente Social deve procurar meios, travando pequenas lutas diárias para a

consolidação do projeto ético-político.

Uma forma muito peculiar que o Assistente Social pode estar executando

é através da participação do “jogo de forças” que se estabelece, aprimorando seus

conhecimentos, realizando pesquisa, participando de comissões, conselhos,

reuniões para a elaboração de planos de ação, entre outros.

O Assistente Social pode encontrar na dinâmica institucional várias

alternativas que possam orientar o trabalho, na perspectiva da garantia do direito,

mas para isso é preciso se situar na Instituição de forma participativa e investigativa,

enxergando no local oportunidades para o desenvolvimento de práticas

emancipatórias e efetivas. Isso requer compromisso profissional do Assistente

Social, pois essa participação na realidade da instituição pode ser considerada como

a prática política do Assistente Social, pois é uma das condições de viabilizar a

concretização dos direitos.

Salientamos que na luta pela garantia dos direitos de adolescentes

autores de ato infracional dentro de um centro educacional, o Assistente Social tem

um grande desafio de grandes proporções, pois esses direitos, muitas vezes, não

são garantidos de forma efetiva. Uma real mudança requer tempo, enquanto isso

não ocorre, cabe aos profissionais, que trabalham nessa Instituição buscarem

mecanismos que contribuam para a modificação de algumas práticas. O que requer

do Assistente Social ações direcionadas pelo projeto ético-político da profissão.

O próprio projeto ético-político profissional institui e reforça a teoria crítica

como fundamentação para a ação profissional. Mas essa teoria não naturaliza a

realidade, não se conforma com o que está imposto, mas sim pressupõe prática que

possam articular necessidade e possibilidades de enfrentamento. Uma prática

embasada teoricamente, possibilidade o profissional ultrapassar o imediatismo e se

distanciar de ações que culminem em práticas focalizadas, imediatistas e repetitivas.

Esse profissional deve ter consciência que a sua qualificação contínua e uma ação

investigativa permite uma maior compreensão das mudanças sociais e da essência

dos problemas.

Muitas pessoas que não conhecem a fundo o trabalho do Assistente

Social qualifica o trabalho desse profissional como fácil, pois não conhecem o real

sentido da profissão. Um dos fatores para tal pensamento vem de alguns próprios

profissionais que acreditam que a prática é sinônimo de uma simples realização de

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atividades, procedimentos como se a prática fosse suficiente para uma atuação, o

que nega o vasto conhecimento teórico-metodológico da profissão reduzindo ao

simplismo do senso comum. Porém, a profissão é bem mais complexa, o Serviço

Social tem a função de intervir mediando as construções, instigando alternativas que

darão origem a várias outras alternativas as quais são elaboradas com criticidade,

visando a superação da realidade concreta.

Dessa forma, a mediação é uma das categorias mais utilizadas na prática

pela profissão, pois seu significado nem sempre é explicitado. Romper com as

práticas burocráticas e com o assistencialismo significa comprometimento e

direcionamento da prática buscando a superação.

Para finalizarmos, vamos enfatizar o que diz uma das principais

estudiosas do Serviço Social, com a qual comungamos com seus pensamentos. De

acordo com Iamamoto (2000), o Assistente Social é um profissional que contribui,

juntamente com outros profissionais, na transformação social, e que tem ousado

sonhar, resoluto no combate pela garantia de direitos, resistindo às dificuldades e

construindo o futuro, no presente, o que se coloca como um desafio no atendimento

à medida socioeducativa de internação.

Enfim, construímos as considerações finais cientes da ampla e complexa

realidade que se estabelece na implementação da medida socioeducativa de

internação pelo profissional do Serviço Social, o que abre margem para contribuir

com futuras pesquisas, a fim de aprimorar o trabalho dessa profissão

importantíssima na perspectiva da garantia dos direitos.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - Roteiro inicial para entrevista semiestruturada

Nome:____________________________________________________

Sexo:_____________________________________________________

Idade:_____________________________________________________

Religião:__________________________________________________

Estado civil:_______________________________________________

Filhos:____________________________________________________

1. Quanto tempo de formação?

2. Faz alguma especialização, mestrado ou doutorado?

3. Como se deu sua trajetória profissional?

4. Há quantos anos você integra o Centro Educacional?

5. Como chegou a área sócio-jurídica?

6. Quais as competências necessárias para atuar na Instituição?

7. Qual a principal importância do trabalho do AS? Como se dá essa atuação?

8. Quais são as condições de trabalho?

9. Quais as principais dificuldades e exigências para o exercício profissional?

10. De que forma você se apropria dos princípios e parâmetros de atuação

inseridos no Código de Ética da profissão e no projeto ético-político?

11. Quais outras legislações são importantes para a sua atuação profissional?

12. Fale um pouco do seu cotidiano na unidade.

13. Sabemos que a discussão sobre redução da maior idade penal é algo muito

atual, qual a sua opinião sobre as propostas dessa redução? Você acredita que

muitos problemas sociais serão resolvidos com essa redução da maior idade?

14. Qual a participação do Assistente Social na elaboração do Plano de

Atendimento Socioeducativo?

15. Como é feito o atendimento inicial com o adolescente autor de ato infracional?

16. Enquanto não é elaborado o Plano Pedagógico, como fica o atendimento aos

adolescentes?

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17. Como foi elaborado o Plano Individual de Atendimento (PIA)?

18. Qual a participação da família e dos adolescentes na elaboração do PIA no

Centro Educacional?

19. Quem é o adolescente autor de ato infracional? Como você o caracteriza?

20. Que tipo de relação existe entre o Serviço Social, o adolescente e a família?

21. Qual a relação do Serviço Social com os demais setores do Centro

Educacional?

22. A Instituição tem algum programa/projeto que procure intervir na realidade

dos adolescentes autores de ato infracional?

23. A estrutura da Instituição está concernente ao que rege o SINASE?

24. O SINASE veio instituir e enfatizar as Medidas Socioeducativas, contudo,

quais mudanças ocorreram na unidade após a instituição da Lei?

25. No cotidiano do trabalho como Assistente Social, você acredita que a medida

de internação e internação/sanção realmente são socioeducativas?

26. O Código de Ética da profissão expressa o amadurecimento teórico-político

conquistado pela categoria reafirmando o compromisso com a democracia, liberdade

e com a justiça social. A partir de então, descreva como é feito o trabalho no Centro

Educacional baseado no Código de Ética.

27. A Instituição conhece e respeita todas as atribuições privativas do SS?

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APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA IMPLEMENTAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO

Prezado(a) Senhor(a):

Chamo-me FABRÍCIA MARIA PINHEIRO QUEIROZ, sou graduanda (8° semestre)

em Serviço Social pela Faculdade Cearense – FAC. Estou realizando uma pesquisa

para o meu Trabalho de Conclusão de Curso – TCC.

Por esta razão, gostaria de convidá-lo (a) a participar da pesquisa, que será

realizada no Centro Educacional. O objetivo da pesquisa é Analisar a atuação do

profissional de Serviço Social no cumprimento e execução da medida

socioeducativa de internação.

A sua participação é muito importante e ela se daria através de entrevistas

semiestruturadas e estudo etnográfico (de forma a responder algumas perguntas,

permitir ser observado (a) e a ter depoimentos gravados).

Gostaria de esclarecer que sua participação é totalmente voluntária, podendo você

recusar-se a participar, ou mesmo desistir, a qualquer momento, sem que isto

acarrete qualquer ônus ou prejuízo à sua pessoa. Informo ainda que as informações

serão utilizadas somente para os fins desta pesquisa e serão tratadas com o mais

absoluto sigilo e confidencialidade, de modo a preservar a sua identidade.

Esclareço que apesar de priorizar o sigilo absoluto, preservando sua identidade, o

Centro Educacional conta com um reduzido número de profissionais de Serviço

Social o que pode dificultar o sigilo absoluto. Porém, na minha pesquisa o sigilo vai

prevalecer, uma vez que seu nome será substituído de forma aleatória.

Se depois de consentir com sua participação o Senhor(a) desistir de continuar

participando, tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer

fase da pesquisa, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo

e sem nenhum prejuízo a sua pessoa. O (A) Senhor(a) não terá nenhuma despesa e

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também não receberá nenhuma remuneração. Os resultados da pesquisa serão

analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada.

Se tiver alguma dúvida a respeito dos objetivos da pesquisa e/ou método utilizado

na mesma, estarei à disposição na Faculdade Cearense, Av. João Pessoa, 3884 –

Damas, curso de Serviço Social, no horário da noite 18:30 às 22:00 nas terças e

quintas-feiras. Este termo deverá ser preenchido em duas vias de igual teor, sendo

uma delas, devidamente preenchida, assinada e entregue ao (a) senhor (a). Desde

já agradeço.

_______________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

Declaro estar ciente do inteiro teor deste TERMO DE CONSENTIMENTO e estou de

acordo em participar do estudo proposto, sabendo que dele poderei desistir a

qualquer momento, sem sofrer qualquer punição ou constrangimento. Recebi uma

cópia assinada deste formulário de consentimento.

Fortaleza, ____ de ___________________ de 2013.

____________________________________________

Participante da Pesquisa

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APÊNDICE C – Termo de Consentimento Pós-Esclarecido Pelo presente instrumento que atende ás exigências legais, eu,

_________________________________, portador (a) da cédula de identidade

____________________________, declaro que, após leitura minuciosa do Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), concordo em participar de forma

voluntária do estudo como sujeito. Fui devidamente informado (a) e esclarecido (a)

pelo (a) pesquisador (a) ______________________________ sobre a pesquisa, os

procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios

decorrentes de minha participação. Foi-me garantido o sigilo das informações e que

posso retirar meu consentimento a qualquer momento. Firmo o meu consentimento

livre e esclarecido em participar de forma voluntária desta pesquisa.

E, por estar de acordo, assino o presente Termo.

Fortaleza,_____ de _________________de 2013.

______________________________________________

Assinatura do participante

____________________________________________

Fabrícia Maria Pinheiro Queiroz

Pesquisadora

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ANEXOS

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