84
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ELENICE ARAÚJO ANDRADE AS PERSPECTIVAS DOS USUÁRIOS DE CRACK EM TRATAMENTO EM UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA NO PROCESSO DE REINSERÇÃO SOCIAL FORTALEZA 2014

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ELENICE ARAÚJO ANDRADE

AS PERSPECTIVAS DOS USUÁRIOS DE CRACK EM TRATAMENTO EM UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA NO PROCESSO DE

REINSERÇÃO SOCIAL

FORTALEZA 2014

Page 2: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

2

ELENICE ARAÚJO ANDRADE

AS PERSPECTIVAS DOS USUÁRIOS DE CRACK EM TRATAMENTO EM UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA NO PROCESSO DE

REINSERÇÃO SOCIAL

Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social da Faculdade Cearense - FaC, como requisito para obtenção do título de bacharelado. Orientadora: Verbena Paula Sandy

FORTALEZA – CE 2014

Page 3: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

A553p Andrade, Elenice Araujo

As perspectivas dos usuários de crack em tratamento em uma

comunidade terapêutica no processo de reinserção social /

Elenice Araujo Andrade. Fortaleza – 2014.

83f. Orientador: Prof.ª Esp. Verbena Sandy Paula.

Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.

1. Crack – dependência química. 2. Comunidade terapêutica.

3. Reinserção social. Paula, Verbena Sandy. II. Título

CDU 364

Page 4: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

3

ELENICE ARAÚJO ANDRADE

AS PERSPECTIVAS DOS USUÁRIOS DE CRACK EM TRATAMENTO EM UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA NO PROCESSO DE

REINSERÇÃO SOCIAL

Monografia apresentada como exigência para a obtenção do título de bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada

pela banca examinadora composta pelos professores.

Data de aprovação:____/___/____

__________________________________________ Professora Orientadora: Esp. Verbena Sandy Paula

____________________________________________ Prof.Ms.Jefferson Falcão Sales

______________________________________________ Prof.ª. Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos

Page 5: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

4

AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, obrigada, Senhor, por tudo.

Ao meu amor Fernando, que sempre me incentivou e me apoiou em todos os

momentos.

A minha mãe, que foi meu pai também, e as minhas irmãs.

A Emille, Sara e Mirella, obrigada pelo amor e carinho.

A minha filha amada, Débora Andrade.

Agradeço a todas as minhas amigas de turma, em especial a Gerlânia, Helane

e Ana Maria, por me aturarem, pelo apoio no dia a dia, sem as quais não seria

possível chegar até aqui.

As minhas colegas de estágio, Vanessa, Ilana e Iana, o qual foi uma

experiência ímpar.

A todos os profissionais do Desafio Jovem, em especial meu amigo Jan Diego,

muito obrigada.

A todos os sujeitos da minha pesquisa pela disponibilidade e confiança.

A minha supervisora de campo Natalia Fialho, pela sua contribuição

importantíssima.

A minha orientadora Verbena Sandy, pela disponibilidade, compreensão e

paciência.

Aos meus queridos mestres, com carinho.

Aos professores que participaram da minha banca meu imenso agradecimento.

Page 6: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

5

Ao Sistema de Saúde Escola órgão ligado à Prefeitura Municipal de Fortaleza,

pela contribuição importantíssima neste processo.

Agradeço a todos que contribuíram de forma direta ou indireta para a

realização deste trabalho.

Page 7: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

6

“A sociedade, qualquer que seja seu nível, quer falar, quer discutir, quer aprender sobre drogas. Quer, sobretudo, partilhar medo. Não é justo, nem estratégico, colocar em cima desse pânico o discurso de terror. Não podemos reduzir a percepção do problema. Devemos compreender, sempre, que se trata de uma questão multifatorial e complexa” (CAVALCANTE,1997,p.14).

Page 8: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

7

RESUMO

O consumo de substâncias psicoativas ocorre desde os primórdios da civilização. Inicialmente, o homem recorria a produtos naturais, e eram poucas as variações dos tipos de drogas, o que se alterava na verdade era a maneira de usar e as motivações que levam a isto. A evolução da sociedade e o desenvolvimento de novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder de dependência, dentre elas, pode-se destacar o crack. Atualmente no Brasil, o uso de crack tem crescido de forma desenfreada. Tal fenômeno ganhou grande visibilidade e tem se tornado um problema social e de saúde pública. Especialmente, porque há, por parte dos dependentes dessa substância, uma quebra de vínculos sociais e comunitários, com consequente comprometimento das relações familiares e sociais. Sendo assim, o presente trabalho busca responder aos seguintes questionamentos: qual a percepção dos indivíduos sobre o processo de Reinserção Social? Qual a contribuição deste modelo de tratamento para processo de Reinserção Social? Quais dificuldades que envolvem o processo de Reinserção? Tem-se como objetivo geral conhecer as perspectivas dos usuários de crack em tratamento na Comunidade Terapêutica Desafio Jovem do Ceará Dr. Silas, no que concerne ao processo de reinserção social. Trata-se de uma de uma pesquisa qualitativa, descritiva e bibliográfica. Para atingir o objetivo proposto, se recorreu a entrevistas semiestruturadas, as quais foram, posteriormente, analisadas em paralelo com a literatura pertinente ao tema. A amostra foi composta de quatro residentes do sexo masculino, em tratamento residencial na Comunidade em questão. Conclui-se que o processo de reinserção social é lento e perpassa por várias etapas.

Palavras chave: Crack. Dependência química. Comunidade Terapêutica. Reinserção Social.

Page 9: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

ABSTRACT

The consumption of psychoactive substances occurs since the dawn of civilization . Initially , the man resorted to natural products , and there were few changes in the types of drugs , which was actually changed the way you use and the motivations that lead to this. The evolution of society and the development of new technologies , however, eventually contributing to the emergence of increasingly powerful drugs and with great power dependency , among which we can highlight the crack . Currently in Brazil , the use of crack cocaine has grown rampant . This phenomenon has gained great visibility and has become a social and public health problem. Especially because there is , by the dependents of that substance , a breakdown of social ties and community , with consequent impairment of family and social relationships . Thus , this paper seeks to answer the following questions : what is the perception of individuals about the process of Probation ? What is the contribution of this treatment model for Social Reintegration process? - Difficulties which involve the process of reintegration ? Has as main objective to know the prospects of crack users in treatment in Therapeutic Community Youth Challenge of Ceará Dr. Silas , regarding the social reintegration process. This is one of a literature search , qualitative, descriptive and exploratory nature. To achieve the proposed objective , we used the semi-structured interviews, which were subsequently analyzed in parallel with the pertinent literature. The sample consisted of four male residents in residential treatment in the community in question . We conclude that the reinsertion process is slow and permeates several steps .

Keyword: Crack. Chemical dependency. Therapeutic Community. Probation

Page 10: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

LISTA DE SIGLAS

ANVISA – Agencia Nacional Vigilância Sanitária

AIDS - Síndrome da imunodeficiência adquirida

CAPS - Centro Atendimento Psicossocial

CAPS _ Centro de Atenção Psicossocial

CEBRID- Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas

CT- Comunidade Terapêutica

CID-10- Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas

Relacionados com a Saúde.

DSM IV – O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic

and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM)

DST – Doença Sexualmente Transmissível

FIO CRUZ- Fundação Oswaldo Cruz

MS- Ministério da Saúde

OBID – Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas

OMS – Organização Mundial de Saúde

PNAD - Política Nacional sobre Drogas

SENAD- Secretaria Nacional Anti-Droga

SUS – Sistema Único de Saúde

SPA – Substância Psicoativa

Page 11: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11

1 USO DE DROGA NA HUMANIDADE .................................................................... 19

1.1 Breve histórico do uso de drogas ............................................................ 19

1.2 Conceituando a dependência, o uso e o uso/nocivo de substâncias

químicas .................................................................................................. 24

1.3 Aspectos Socioculturais do consumo de crack no Brasil ........................ 28

2 POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS ............................................................ 33

2.1 Legislações sobre drogas no Brasil ......................................................... 34

2.2 Rede de atenção aos usuários de crack e outras drogas ....................... 44

2.3 Comunidade terapeutica como rede de apoio ......................................... 48

3 REINSERÇÃO SOCIAL DO DEPENDENTE QUÍMICO ......................................... 52

3.1 O cenário ................................................................................................. 52

3.2 História dos sujeitos ............................................................................... 56

3.3 Tratamento residencial como possibilidade ............................................. 61

3.4 Dificuldades e possibilidades que envolvem o processo de reinserção

social....................................................................................................... 65

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 66

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 68

APÊNDICES .............................................................................................................. 76

ANEXOS ................................................................................................................... 82

Page 12: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

INTRODUÇÃO

O uso de drogas1 é um fato tão antigo quanto a própria humanidade. A história

mostra que o homem faz uso de substâncias alteradoras da consciência desde os

primórdios da humanidade; o que se altera é o motivo, a substância e o modo de

uso dela. No entanto, a relação entre o homem e a droga é histórica e se perpetua

entre gerações (BUCHER, 1992).

Na atual sociedade, entre as drogas mais conhecidas e mais usadas estão: o

álcool, a maconha, o tabaco, a cocaína e seus derivados. Do ponto de vista legal,

são classificadas em lícitas (permitidas por lei) e ilícitas (proibidas por lei). Quanto a

sua origem, são classificadas em três grupos: naturais (plantas contêm drogas

psicoativas), semissintéticas (resultado de reações químicas realizadas em

laboratório nas drogas naturais) e sintéticas (produzidas, unicamente, por

manipulações químicas em laboratórios, não dependendo, para sua confecção, de

substâncias vegetais ou animais como matéria-prima). Já em relação ao consumo,

distingue-se por: uso, abuso e dependência (FRANKENBERGER, 2009).

Conforme Duarte e Morihisa (2011), existem diferenças entre uso, abuso e

dependência de drogas. O uso, segundo os autores, é o consumo de alguma

substância psicoativa; torna-se abusivo quando há uma ingestão cada vez maior em

doses elevadas ocasionando problemas de ordem física, psíquica e danos sociais.

Já a dependência, se caracteriza pelo prejuízo ou sofrimento significativo.

Para diagnosticar a dependência, destacam Duarte e Morihisa (2011, p. 48), é

importante observa a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e o Manual

Diagnóstico e Estatístico (DSM - IV), que a classificam como sendo: “um mal-

adaptativo com prejuízo ou sofrimento clinicamente significativos”.

Nessa mesma linha, seguem Ribeiro e Rezende (2013, p. 37), os quais

destacam que, para diagnosticar a dependência, a CID-10 aconselha se observar a

1 De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga é qualquer substancia não

produzida pelo organismo que tem propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento.

Page 13: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

12

presença de pelo menos três fatores por um período de um ano. Dentre eles, pode-

se destacar:

a) um forte desejo ou senso de compulsão para consumir a substância; b)

dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de

seu início, término e níveis de consumo; c) um estado de abstinência³ fisiológica

quando o uso da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por:

síndrome de abstinência para a substância ou o uso da mesma substância (ou de

uma intimamente relacionada) com a intenção de aliviar ou evitar sintomas de

abstinência.

Segundo Costa (2001), para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a

dependência química é considerada uma doença, por estar associada a fatores de

ordem psíquica e social, não tendo uma causa definida. Ela surge em decorrência

de múltiplos fatores, tendo mais influência em determinados indivíduos que em

outros.

No contexto do crack, conforme Perrenoud e Ribeiro (2012, p. 34), a

dependência é um fenômeno relativamente novo, surgido na década de 80 nas

periferias dos Estados Unidos. Nesse sentido, o autor relata: “[...] essa substância

produzia uma euforia de grande magnitude e curta duração, seguida de fissura

intensa e desejo por uma nova dose [...].” Além do efeito da droga, dizem os autores,

outro grande atrativo era o preço baixo em relação às outras substâncias

psicoativas. Assim, o número de adeptos do crack cresceu consideravelmente.

Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ. 2013), existem no

Brasil atualmente cerca de 370 mil usuários de crack; tal informação é de extrema

relevância quando colocada em confronto com realidade do aumento do índice de

violência no Brasil, pois pesquisas indicam que o crack funciona como

potencializador das agressões.

De acordo com Sapori (2010, p. 4), o fenômeno crack envolve impactos mais

profundos nas relações sociais, por se tratar de uma droga que produz efeitos

peculiares na vida de seus usuários. Nesse sentido, as consequências são danosas

Page 14: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

13

tanto a nível individual e familiar quanto no contexto da sociedade, pois tem

influência direta sobre o aumento da violência e da criminalidade. In verbis:

A entrada do crack em Belo Horizonte é seguida de uma epidemia de homicídios que atingiu a cidade a partir de 1997. Os resultados obtidos pela pesquisa mostram que há uma forte evidência de que o crescimento das ocorrências de homicídios em Belo Horizonte a partir de 1997 possa ser explicado, em grande medida, pela intensificação dos conflitos relacionados ao tráfico de drogas.

Para Ganev e Lima (2011), reinserir essa população dentro dos padrões

comportamentais esperados pela sociedade é um desafio multidisciplinar,2 de modo

que diversos saberes e práticas envolvidos garantam a coesão do atendimento.

Diante do exposto, há a necessidade de uma atenção diferenciada no que diz

respeito ao tratamento, à recuperação e à reinserção social dos dependentes de

crack.

Buscando dar uma resposta às mobilizações sociais com necessidades

advindas de uma nova realidade brasileira, surgiram vários mecanismos para

responder uma problemática cada vez maior e complexa. Neste sentido, foi criada a

Rede de Atenção psicossocial aos usuários de crack e outras drogas, a fim de

garantir um tratamento mais humanizado que se difere do anterior.

Neste sentido, há muito tempo já atua no Ceará uma das instituições pioneiras

a qual elegemos como campo de pesquisa; é o Desafio Jovem do Ceará Dr. Silas

Munguba, denominada de comunidade terapêutica, baseada no modelo psicossocial

e espiritual, que trabalha com a convivência entre pares. Tal entidade atua na área

da dependência química, na perspectiva de cuidar do indivíduo em sua totalidade,

na prevenção, tratamento e reinserção social, atuando desde 1975, há quase quatro

décadas no município de Fortaleza, atendendo pessoas de todo o Brasil, localizada

na av. Dedé Brasil, 565, no bairro da Parangaba.

A aproximação do campo de pesquisa e o interesse pelo tema se deu a partir

da nossa vivência enquanto estagiária na instituição, quando observava e

2 [...] é preciso insistir que, se falamos em tratar para reinserir socialmente indivíduos dependentes de

drogas, é porque tal dependência, de algum modo, teve por consequências (para além dos aspectos meramente físicos e psíquicos): isolamento, rompimentos, desfiliação face a pessoas, lugares, circunstâncias, instituições, atividades [...] (GANEV; LIMA, 2011, p. 114).

Page 15: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

14

acompanhava o trabalho da assistente social daquela instituição nos atendimentos

com os residente e as suas respectivas famílias durante todo o processo de

tratamento, recuperação e ao retorno ao lar, enquanto estagiária de Serviço Social

tivemos o prazer de acompanhar muitos casos.

Neste sentido, a grande inquietação era entender o universo dos usuários de

crack que chegavam à instituição de uma maneira tão comprometida em todos os

aspectos, seja com a família, com emprego, com o próprio sujeito, seja em relação

ao físico ou ao psicológico. Há uma fragilização em todos os aspectos. Ao aderirem

ao tratamento, surge a possibilidade de recomeçar uma vida diferente da anterior. O

objeto geral deste trabalho é analisar as perspectivas dos usuários de crack em

tratamento a nível residencial no Desafio Jovem do Ceará no processo de

Reinserção Social.

Busca-se responder, portanto, aos seguintes objetivos específicos: conhecer a

percepção dos indivíduos sobre o processo de Reinserção Social; verificar a

contribuição deste modelo de tratamento para processo de Reinserção Social; e

apontar as dificuldades que envolvem o processo de Reinserção.

Definiram-se como critério para participar da pesquisa os residentes há mais de

três meses no Desafio Jovem do Ceará, do sexo masculino, com idade mínima de

16 anos e que tenham sido usuários de crack. O lapso temporal de três meses foi

adotado, porque, ao completar esse período, iniciam-se os processos de interação

entre residentes na instituição e seus familiares.

Essa interação se caracteriza por visitas periódicas do usuário aos seus

familiares, momento marcado por grandes expectativas para os sujeitos envolvidos

nesta dinâmica. A equipe de profissionais também é tomada por inquietações

recorrentes; nesse contexto, busca-se saber: como pensam estes indivíduos? Como

reagem ao voltar para o mesmo ambiente depois de algum tempo livre do uso de

drogas? Quais as perspectivas, os sonhos e os anseios em recomeçar uma nova

vida longe das drogas?

Inicialmente, a pesquisa contou com 15 (quinze) residentes da Comunidade

Terapêutica (CT), porém, no decorrer do processo, alguns sujeitos, por motivos

Page 16: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

15

diversos,3 deixaram de participar do estudo. Desse montante inicial, apenas quatro

alunos deram continuidade ao tratamento. Todavia, o número elevado de

desistência e a não adesão ao tratamento para dependência do crack é, conforme

relata Laranjeira (2012), um dos principais problemas enfrentados pelas

comunidades que se dedicam a essa tarefa.

Visando resguardar a identidade dos sujeitos pesquisados, estes serão

apresentados com nomes fictícios. Assim, foi adotada a sugestão de que os sujeitos

envolvidos na pesquisa foram alcunhados com nomes de pedras preciosas:

Turmalina, 23 anos, solteiro, estudou até o 3º ano do ensino médio, iniciou

consumindo álcool e tabaco por volta dos 15 anos de idade, Seu primeiro contato

com a “pedra” foi aos 16 anos de idade. Está em tratamento residencial há quatro

meses.

Topázio, 24 anos, solteiro, estudou até a 5ª série do ensino fundamental.

Começou a beber com 11 anos de idade. Usou maconha, cocaína, mesclado e, aos

18 anos de idade, conheceu o crack. Está em tratamento residencial há quatro

meses.

Diamante, 33 anos, solteiro, estudou até a 3ª série do ensino fundamental.

Usuário de álcool, maconha, cocaína e crack. Aos 14 anos de idade iniciou sua

jornada no submundo da dependência, fazendo uso de substancias alteradoras de

consciência por quase duas décadas. Está em tratamento residencial há quatro

meses.

Rubi, 33 anos, solteiro, estudou até 5ª série do ensino fundamental. Usuário

de álcool, maconha, mesclado, cocaína, psicotrópico e crack. Seu primeiro contato

com as droga foi aos 13 anos de idade. Nos últimos sete anos, o crack passou a ser

a droga que mais consome. Está em tratamento há seis meses.

A idade dos sujeitos pesquisados variou entre 23 e 33 anos e a média de idade

para o ingresso no consumo de substâncias alteradoras de consciência foi de 13

3 Dos 15 (quinze) sujeitos que iniciaram a pesquisa 3 (três) abandonaram o tratamento; 5 (cinco)

foram transferido para outra modalidade de tratamento; 3 (três) tiveram alta a pedido.

Page 17: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

16

anos. No concernente à escolaridade, apenas um dos pesquisados completou o

ensino médio, dois cursaram até a 5ª série e um fez até a 3ª série do ensino

fundamental. Em relação às drogas, percebe-se que todos citaram terem feito uso

de múltiplas substancias psicoativa, porém o crack era a principal droga de

consumo.

O percurso metodológico do presente trabalho foi desenvolvido a partir de uma

pesquisa bibliográfica, da leitura de livros, revistas, material impresso, internet,

dentre outros que abordam o tema; qualitativa, uma vez que tem como meta

compreender e interpretar a percepção dos sujeitos envolvidos; descritiva, pois, o

registro e a interpretação dos fatos do mundo físico sem a interferência do

pesquisador; e exploratória, realizada através de entrevistas semiestruturadas.

A pesquisa bibliográfica é o ponto inicial de todo e qualquer trabalho científico,

e é desenvolvida com base em material já elaborado constituído principalmente de

livros e artigos científicos. Conforme Gil (2002, p. 44): “[...] a principal vantagem da

pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma

gama de fenômenos muita mais ampla do que aquela que poderia pesquisar

diretamente.” Sendo assim, para que alcançássemos os objetivos deste trabalho, foi

necessário um levantamento bibliográfico a respeito do tema.

A pesquisa qualitativa se caracteriza por um conjunto de diferentes técnicas

interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema

complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar os sentidos dos

fenômenos do mundo social. Minayo (2010, p. 22), ao discorrer acerca desse

método de estudo, destaca que “a abordagem qualitativa se aprofunda no mundo

dos significados. Esse nível de realidade não visível precisa ser exposta e

interpretada, em primeira instância, pelos próprios pesquisados”.

Segundo Velho (2008), é na pesquisa qualitativa que o pesquisador faz uma

análise profunda do indivíduo e do seu meio social, daí a importância do contato do

pesquisador com a realidade pesquisada, onde o sujeito pesquisado poderá ser

observado de diferentes maneiras. Portanto, o método qualitativo se mostra eficaz

para os objetivos traçados para este trabalho.

Page 18: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

17

Já a pesquisa descritiva faz uso de dados ou fatos colhidos da própria

realidade, tendo a coleta de dados como uma das suas tarefas principais.

Desenvolve-se principalmente nas ciências humanas e sociais. No presente

trabalho, o instrumento utilizado foi a entrevista semiestruturada, com o intuito de

compreender a realidade de maneira reflexiva.

A entrevista semiestruturada, segundo Minayo (2010), combina perguntas

fechadas e abertas, em que o entrevistador tem a possibilidade de discorrer sobre o

tema em questão sem ter que apresentar a indagação formulada, as entrevistas

foram gravadas e o sigilo, garantido; ocorreram entre os meses de agosto e

setembro de 2013. A adesão à pesquisa se deu de forma voluntária, com a entrega

e esclarecimento do termo de livre consentimento, explicado o objetivo da pesquisa

e que a não participação não causaria nenhum prejuízo aos residentes e que a

recusa não será motivo de nenhuma restrição futura de acesso aos serviços

prestados no Desafio Jovem do Ceará e, caso consentissem em participar, a

qualquer momento poderiam desistir e se retirar, sem nenhum constrangimento.

No primeiro capítulo, fez-se um breve histórico sobre o uso de droga pela

humanidade, como esse uso foi se alterando até chegar aos dias atuais.

Conceituamos a dependência química como doença que acarreta problemas

psicossociais e é considerada atualmente um problema de saúde pública e foram

feitas considerações sobre os aspectos socioculturais do uso do crack no Brasil.

No segundo capítulo, houve uma exposição sobre a trajetória da Política Sobre

Drogas no Brasil, deu-se ênfase na criação da Lei 11.343/06 que estabelece o

Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas – SINASD; fez-se alusão à elaboração

do Plano Crack, que prevê parcerias do Estado com as Comunidades Terapêuticas

e os equipamentos disponibilizados pelo Estado para tratar pessoas com problemas

em decorrência do crack e outras drogas.

No terceiro capítulo, as considerações foram em relação ao campo da

pesquisa, trata-se de uma CT, no município de Fortaleza, Desafio Jovem do Ceará,

instituição pioneira na área da dependência química, baseada no modelo

psicossocial e espiritual, que trabalha com a convivência entre os membros.

apresentou-se o trabalho desenvolvido pela instituição, o modelo de tratamento, as

Page 19: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

18

principais atividades trabalhadas com os residentes e análises dos dados da

pesquisa.

Page 20: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

1 USO DE DROGA NA HUMANIDADE

A evolução do consumo de drogas nas sociedades ocidentais pode ser

analisada quanto à sua incidência cultural. Porém, nos últimos trinta anos, estudos

indicam uma significativa mudança, entre os níveis de consumo e as consequências

danosas deste uso abusivo, cada vez mais presente em nossa sociedade, são,

principalmente, o aumento da criminalidade, um maior índice de acidente de trânsito

em decorrência do consumo de drogas. Assim, são vários os problemas sociais e

familiares em decorrência do uso de drogas lícitas e ilícitas. Sendo assim, cabe

distinguir entre uso e abuso de drogas no mundo atual do modelo antigo.

1.1 Breve histórico do uso de drogas

O uso de substâncias alteradoras de consciência pelo homem não é um

fenômeno recente; tem-se registro desse ato em diversos períodos da civilização,

variando de uma cultura para outra. As relações estabelecidas entre o homem e as

substâncias psicoativas, bem como o significado atribuído a elas, ganham

dimensões diferentes a partir das transformações sociais e históricas que ocorreram

no mundo. Duarte e Morihisa (2011, p. 42) caminham nesse sentido ao afirmarem

que o uso de drogas

[...] é fenômeno antigo e perpassa diversas culturas, seu uso se dá desde por razões culturais, religiosas, por recreação ou como forma de enfretamento de problemas, para transgredir ou transcender, como meio de ressocialização ou para se isolar; o homem sempre se relacionou com drogas [...].

Niel (2011, p. 139) afirma que diversos registros históricos comprovam o uso

de substâncias entorpecentes pelo homem, seja com objetivos farmacológicos ou

ritualísticos. Segundo o autor, por volta do ano 2.000 a.C., verifica-se o uso da

papoula (ópio) e da Cannabis (maconha), com finalidades terapêuticas e

ritualísticas. Diz ainda que esse hábito foi muito difundido principalmente na China,

na Índia e no Egito, 4.000 anos a.C. Conforme o autor, na atual região do Irã, os

sumérios lançavam mão da papoula de ópio, conhecida como “planta da alegria”,

como uma forma de obter contato com os deuses.

Page 21: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

20

Bergeron (2012) também relata que alguns povos que viviam na Mesopotâmia,

há 3.000 a.C., já faziam uso de substância psicoativas, para alguns fins, porém,

segundo o autor, durante a Idade Média, no ano de 1.500 a.C., houve um aumento

significativo do plantio do ópio por camponeses europeus, resultando na

diversificação das finalidades do consumo dessa substância. Nesse novo contexto, o

uso do ópio assumia um caráter terapêutico, analgésico e anestésico, para

proporcionar a sensação de bem-estar e euforia, sendo mais frequente no meio da

elite burguesa europeia.

Conforme Bucher (1992), por volta de 1800 d.C., o uso da cocaína

(Erythroxylum coca) alcançou grandes proporções. De início, diz o autor, por causa

das propriedades analgésicas e anestésicas; depois, seu consumo adquiriu maiores

dimensões. Dentre outros fins, a substância era usada como tonificante e fortificante

de vinho (uma mistura de álcool com folhas de coca), e como remédio para a

dependência da morfina.

Nesse sentido, assevera Bucher (1992), Sigmund Freud, foi o primeiro médico

a usá-la como antídoto para a dependente de morfina quando receitou a substância

para um amigo que fazia uso contínuo da morfina. A droga, inicialmente ministrada

como antidepressiva e analgésica, diz o autor supramencionado, se destacou por

provocar reações adversas, tais como: alteração de humor, agressividade e

dependência. O que culminou com a sua proibição. Ao refazer a história dessa

substância, o autor relata que

[...] ela foi extraída das folhas da coca meados do século passado; em 1860, o químico alemão Niemann conseguiu isolar, entre os seus numerosos alcaloides, o alcaloide principal (80%) e os chamou de “cocaína”. Em 1898 foi descoberta a exata fórmula de sua estrutura química; em 1902, Willstatter (posteriormente prêmio Nobel) produziu cocaína sinteticamente em laboratório. Sob forma de cloridrato de cocaína, ela forma um pó branco cristalino „neve‟ [...] (BUCHER, 1992, p. 118).

Embora consumida em larga escala pelos povos andinos, o uso da cocaína

pela via pulmonar era desconhecido na América do Sul antes dos anos de 1970.

Somente a partir desta década foi que se popularizou o consumo inalado da

substância, tanto nos países produtores quanto nos Estados Unidos da América. Na

transição para os anos 80, dizem Perrenoud e Ribeiro (2012, p. 33), surge nos

Estados Unidos da América a cocaína na forma base livre,

Page 22: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

21

[...] ou freebasing, sintetizada a partir da adição de éter sulfúrico a cocaína refinada em meio aquoso altamente aquecido [...] assim como o consumo da pasta básica o freebasing é considerada o precursor do crack nos Estados Unidos [...]

O uso de substancias alteradoras de consciência pelos povos brasileiros

também não é um fenômeno recente. Segundo Figueiredo (2002), relatos históricos

mostram que foram os escravos africanos que trouxeram a maconha (cannabis) para

o Brasil, como uma maneira de cultivar algo que já lhes era familiar. Posteriormente,

o cultivo foi disseminado por todo o país, o que facilitou o uso entre as diferentes

etnias: negros, índios e brancos.

Durante a ditadura militar, diz Buscher (1992), o Brasil teve sua maior fase de

repressão contra o uso da maconha, em 1933 aconteceram várias prisões referentes

ao comércio ilegal de maconha. Em 1938, o Presidente da República Getúlio

Vargas, lança o Decreto-Lei de nº. 891 que proíbe o plantio, cultivo, colheita e

exploração da maconha, em todo território nacional.

Outro fato que Buscher (1992) destaca é que, a partir da década de 1950, a

indústria farmacológica ganha destaque com a formulação de vários medicamentos

dentre eles os barbitúricos, largamente utilizados como sedativo, uso esse que,

devido ao elevado risco de suicídio, foi banido após a criação dos

benzodiazepínicos. Porém, diz o autor, a partir dos anos de 1960, se propaga a ideia

da contracultura e a ideologia hippie, que divulga o uso de substâncias psicoativas

como modo de vida essencial à dinâmica de se viver na contemporaneidade.

[...] a contestação hippie deu um tom aos movimentos alternativos, a busca do belo, do prazeroso, do flower-power na terra. A fé nos ideais idílios de pureza e de bondade juntava-se a experiências psicodélicas. A efervescência das discussões políticas, a intensidade da agitação cultural, o entusiasmo pela abertura de novos caminhos cosmopolíticos associavam-se ao florescimento de um novo misticismo, oscilante entre o fervor religioso da ingenuidade e o fanatismo sectário de ideologia de partido (BUSCHER, 1992, p. 28).

No entanto, com as mudanças econômicas e sociais, o movimento hippie perde

um pouco sua influência e o encanto, conforme Buscher (1986, p. 133): “[...] a

recusa do modelo dos pais, a exaltação de novos modos de viver e militantismo

cordial cederam a um desencanto cada vez mais radical [...].‟‟ A busca por uma vida

alternativa aos poucos foi cedendo lugar ao modo de viver da atual sociedade.

Page 23: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

22

Bergeron (2012, p. 29), entretanto, se refere a uma diversificação das drogas, o

que, consequentemente, causou a alteração do perfil destes usuários:

[...] primeiramente, os produtos utilizados se diversificam: depois da maconha, que começa a ser cada vez mais consumida nos anos 1960, é a heroína (nos anos 1970), em seguida a cocaína e o crack (a partir dos anos 1980) é finalmente, as anfetaminas e o esctasy, nos anos 1990, que, juntos passam a formar o essencial dos produtos ingeridos [...] atualmente além dos estudantes, são os jovens dos meio menos favorecido, os desempregados, os operários ou os trabalhadores sem qualificação que usam drogas. Mas também os empregados ou outros membros das classes médias [...].

Nesse contexto, fica evidente a disseminação e a democratização do acesso e

do consumo de substâncias psicoativas que, nos últimos anos, tem estado presente

em todas as camadas sociais. Para Bergeron (2012), esse fenômeno, em última

instância, tem relação direta com os altos índices de violência.

Nesse sentido, diz Nicastri (2011), as drogas estimulantes do Sistema Nervoso

Central (SNC) são capazes de aumentarem a capacidade das atividades de

determinados neurônios, o que traz como consequências um estado de alerta

exagerado, insônia e aceleração psíquica.

O uso indiscriminado de substâncias psicoativas, especialmente o crack, dizem

Guimarães et al. (2008), se tornou um importante problema de saúde pública, uma

vez que elas têm sido apontadas como sendo a principal causa de internações em

hospitais psiquiátricos. A dependência dessa droga é também interpretada pelos

autores como um fator potenciador da violência, pois a análise dos antecedentes

criminais dos 30 (trinta) sujeitos por eles pesquisados mostrou que é frequente a

presença de crimes em dependentes de crack e esta variável está relacionada a

mais ansiedade, depressão e fissura.

Ao se analisar a dependência química do crack no contexto da saúde pública,

Borini, Guimarães e Borini (2003) demonstram entendimento semelhante aos de

Guimarães et al. (2008), pois associam a alta prevalência de internações de

indivíduos menores de idade, em hospitais psiquiátricos, ao uso de crack, com ou

sem associação com outras drogas. Contudo, ressaltam os autores

supramencionados, os dependestes desta substância química, têm perfis

psicoemocionais e comportamentais diverso dos executivos consumidores de álcool,

Page 24: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

23

o que acarreta problema para os hospitais que estão voltados para o tratamento do

alcoolismo. In verbis:

A maioria das hospitalizações se faz para desintoxicação, embora uma proporção significativa delas seja de indivíduos, em geral menores de idade, encaminhados por autoridades do ministério público, seja por cometerem pequenos delitos ou por solicitação dos familiares, que se sentem impotentes para controlar a situação. Esses novos clientes, com perfis psicoemocionais e comportamentais bastante diferentes dos usuários exclusivos de álcool, têm trazido problemas para as instituições hospitalares adaptadas para tratamento de alcoolistas (BORINI; GUIMARÃES; BORINI, 2003, p. 172).

Cabe aqui um aparte para ressaltar que as substâncias psicoativas (SPA)

podem ser divididas em depressores (álcool, sedativos/hipnóticos, solventes

voláteis), estimulantes (nicotina, cocaína, anfetaminas, ecstasy), opióides (morfina e

heroína) e alucinógenos (PCP, LSD, Canabis). Dentre as mais conhecidas, segundo

a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2013, online), estão as anfetaminas e a

cocaína, bem como o seu derivado, o crack.

Formigoni, Galduroz e Micheli (2009, p. 3), ao falarem sobre os efeitos das

substâncias psicoativas no organismo, ressaltam que “cada droga tem seu

mecanismo de ação particular, mas todas as drogas de abuso agem, direta ou

indiretamente em um mesmo local do cérebro.” Porém, a dependência química é um

fator muito comum entre os usuários de drogas.

De acordo, com Duarte e Morihisa (2011), atualmente no Brasil são utilizados

dois sistemas de classificação de doenças para diagnosticar o uso, o abuso, ou uso

abusivo, e a dependência de substâncias psicotrópicas: a Classificação Internacional

de Doença (CID-10) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mental

(DSM-IV), da Associação Psiquiátrica Americana.

Ambos os sistemas classificatórios, dizem Duarte e Morihisa (2011, p. 45),

refletem nos seus critérios para dependência os conceitos de Síndrome de

Dependência do Álcool, essa validação, dizem os autores, “permitiu que os sistemas

classificatórios atuais operacionalizassem o conceito psicopatológico da

dependência ao utilizar critérios práticos e confiáveis”, possibilitando um bom

diagnóstico, etapa primeira, antes de qualquer abordagem.

Page 25: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

24

Cumpre, pois, a partir desse momento, traçar algumas considerações acerca

do que se entende atualmente sobre os termos: dependência, uso e uso/abusivo, ou

nocivo, de substâncias psicoativas.

1.2 Conceituando a dependência, o uso e o uso/nocivo de

substâncias químicas

Tecendo algumas considerações acerca do que se deve compreender por

dependência, Ribeiro e Marques (2012, p. 212) destacam ser importante distinguir-

se os conceitos para entender cada uma dessas categorias. Nesse sentido

destacam: “o [...] consumo não é por si só um critério de uso problemático, nocivo,

tampouco de dependência.” Porém, como os padrões de consumo e a capacidade

de se autorregular são fatores individuais, ou seja, variam de pessoa para pessoa; o

uso de substâncias psicoativas torna-se preocupantes, pois, na maioria das vezes,

ele evolui da ingestão leve à dependência.

A dependência química é uma doença complexa, caracterizada pelo uso

compulsivo de drogas. Embora cada droga produza efeitos físicos distintos, todas as

substâncias químicas podem alterar permanentemente o funcionamento do cérebro

e a personalidade do dependente. Lemos e Fonseca (2011, p. 31), asseveram que:

Quando falamos em Dependência Química (DQ), estamos nos referindo a uma doença psiquiátrica de ordem biológica, psicológica e social, portanto, um transtorno biopsicossocial. Trata-se de uma doença causada por drogas psicotrópicas, drogas lícitas e ilícitas, que afetam nosso cérebro e, consequentemente, nosso comportamento.

Conforme Niscastri (2011) a dependência química se manifesta pela

necessidade psíquica e/ou física do uso de determinadas substâncias que alteram

ou modificam o funcionamento do organismo de forma descontrolada e imprevisível,

causando danos e alterações a todo o corpo, em especial ao Sistema Nervoso

Central (SNC).

Nesse contexto, a droga tem como característica a potencialização das

sensações que ativam o sistema ou circuito de recompensa do indivíduo,

acarretando no uso repetitivo, mesmo que as perdas recorrentes deste

Page 26: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

25

comprometam e ameacem a vida do sujeito. Laranjeira (2013), em entrevista ao Dr.

Dráuzio Varela, sobre a dependência química, esclarece que:

O sistema de recompensa do cérebro que é acionado pelas drogas, representa uma área encarregada de receber estímulos de prazer e transmitir essa sensação para o corpo todo, como por exemplo, temperatura agradável, emoção gratificante, alimentação, sexo. Essa área do sistema de recompensa foi evoluindo com o tempo no homem e a interferência das drogas ocorre por uma espécie de curto circuito na mesma, provocando uma ilusão química de prazer que induz a pessoa a repetir seu uso compulsivamente. Com a repetição do consumo, todas as fontes naturais de prazer perdem o significado e só interessa o prazer imediato propiciado pela droga, independente das consequências.

Conforme Duarte e Morihisa (2011), a autoadministração de qualquer

quantidade de substância psicoativa pode ser definida em diferentes padrões de uso

de acordo com suas possíveis consequências. Nesse contexto, tem-se: uso

experimental, recreativo, controlado e uso social de drogas (BRASIL, 2013).

O uso experimental, de acordo os autores, se caracteriza pelos primeiros

poucos episódios de contato de uma droga específica, algumas vezes incluindo

tabaco ou álcool, extremamente infrequentes ou não persistentes (BRASIL, 2013).

O uso recreativo, diz o Ministério da Justiça (2013), é o consumo de uma

droga, em geral ilícita, em circunstâncias sociais ou relaxantes, sem implicações

com dependência e outros problemas relacionados. Contudo, vale ressaltar, há

aqueles que discordem desse posicionamento, asseverando que, no caso de droga

ilícita, não seja possível este padrão devido às implicações legais relacionadas

(BRASIL, 2013).

O uso controlado, segundo o Ministério da Justiça (2013), refere-se à

manutenção de um consumo regular, não compulsivo e que não interfere com o

funcionamento habitual do indivíduo. Termo também controverso, pois se questiona

se determinadas substâncias permitem tal padrão. Já o uso social, pode ser

entendido, de forma literal, como o consumo em companhia de outras pessoas e de

maneira socialmente aceitável, mas também é usado de forma imprecisa, querendo

indicar os padrões acima definidos (BRASIL, 2013).

Marques e Ribeiro (2007, p. 20) afirmam que o Abuso/Uso Nocivo é quando o

indivíduo apresenta problemas associados ao consumo, com isso “é caracterizado

Page 27: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

26

pela presença de danos físicos e mentais decorrentes do uso. Geralmente, tal

padrão é criticado por outras pessoas e acarreta consequências sociais para o

usuário.” É importante percebe que há fatores de risco que desencadeiam o uso

para o uso nocivo, os fatores podem ser de risco ou de proteção conforme

mencionado anteriormente.

Um dos critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mental

(DSM IV, 2013) em relação ao consumo abusivo de drogas é “o uso recorrente, que

resulta em fracasso em cumprir obrigações importantes relativas a seu papel no

trabalho, na escola ou em casa”.

Já o Código Internacional de Doenças (CID-10), considera como o uso nocivo

quando há indícios nítidos de danos físicos ou psicológicos em decorrência do uso.

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2004), com base no CID-10, destaca que a

dependência de substâncias inclui seis critérios dos quais o sujeito na presença de,

pelo menos, três deles pode ser considerado dependente:

1. Um desejo forte e compulsivo para consumir a substância; 2. Dificuldades para controlar o comportamento de consumo de substancias em termos de inicio, fim ou níveis de consumo; 3. Estado de abstinência fisiológica quando o consumo é suspenso ou reduzido, evidenciado por: síndrome de abstinência característica; ou consumo da mesma substancia (ou outra muito semelhante) com a intenção de aliviar ou evitar sintomas de abstinência; 4. Evidencia de tolerância, segundo a qual ha necessidade de doses crescentes da substancia psicoativa para obter-se os efeitos anteriormente produzidos com doses inferiores; 5. Abandono progressivo de outros prazeres ou interesses devido ao consumo de substancias psicoativas, aumento do tempo empregado em conseguir ou consumir a substancia ou recuperar-se de outros efeitos; 6. Persistência do consumo de substancias apesar de provas evidentes de consequências manifestamente prejudiciais, tais como lesões hepáticas causadas por consumo excessivo de álcool, [...].. Devem fazer-se esforços para determinar se o consumidor estava realmente, ou poderia estar, consciente da natureza e da gravidade do dano

Nesse contexto, a dependência química surge como uma relação alterada

entre um indivíduo e o modo de consumir uma substância psicoativa. É o consumo

de maneira exagerada e continua um impulso que leva a pessoa a usar uma droga

frequentemente para obter prazer. Para Ribeiro e Marques (2012, p. 213) a

dependência química é

Page 28: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

27

[...] Um padrão de consumo compulsivo, geralmente voltado para o alivio ou a evitação de sintomas provocados pela abstinência. Ela se torna mais importante do que parte ou mesmo a totalidade das atividades e compromissos sociais do individuo, que passa a tratá-los com negligência ou abandono a fim de privilegiar o uso [...].

Conforme Mauricio (2013), a dependência química é o uso frequente e

exagerado da droga, com quebra de laços sociais e afetivos, é a perda de poder

decidir em relação ao não uso da droga (licita ou ilícita) na qual o organismo já se

adequou anteriormente, portanto é uma doença de uso progressivo um hábito

impossível de romper sem causar sofrimento. Cavalcante (1997, p. 22) vê a

dependência química como uma relação que o indivíduo forma com as substâncias

psicoativas, de difícil quebra de vínculos. Nesse sentido, destaca: “é um hábito

impossível de romper sem sofrimento”.

Quando a dependência química está relacionada ao crack, o uso traz prejuízos

em diversas áreas, que vão desde dificuldades para aprendizagem a perturbações

mentais, conforme explicitam Schnnorr e Hess (2012, p. 4):

[...] uso crônico do crack provoca prejuízos nas funções cognitivas, nas áreas de atenção e flexibilidade mental, capacidade de controle, concentração, aprendizagem entre outros que podem durar longos prazos ou torna-se irreversível [...].

Segundo Alves, Ribeiro e Castro (2011, p. 171), o crack é uma droga feita a

partir da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio e ácido sulfúrico,

sendo uma forma impura de cocaína. Uma das suas principais características é a

intensidade do efeito de euforia em um curto espaço de tempo. “[...] a utilização

produz uma euforia de grande magnitude e de curta duração, seguida de intensa

fissura e desejo de repetir a dose. Logo se percebeu o potencial altamente

dependógeno dessa nova forma de administração da droga.”

Ainda conforme, o autor citado acima, o crack é geralmente fumado, o nome

deriva do verbo "to crack", que, em inglês, significa "quebrar", devido aos pequenos

estalidos produzidos pelos cristais (as pedras) ao serem queimados, como se

quebrassem e muitos dos seus usuários desenvolvem um consumo de forma tão

compulsiva que passam a viver em função apenas da droga.

[...] muitos dos dependentes de crack passam a noite ou mesmos dias seguidos consumido a droga até a completa exaustão, sem dormir e sem se

Page 29: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

28

alimentar minimamente e isso implica obviamente uma grande vulnerabilidade a doenças clinicas, desnutrição e, comportamento impulsivos, violento, e promiscuidade no sentido de obtenção da droga ou de dinheiro para a droga (ALVES, RIBEIRO; CASTRO, 2011, p. 172).

De acordo com Alves, Ribeiro e Castro, (2011, p. 174), o crack, por ser uma

droga, usada de forma fumada, provoca uma capacidade maior de dependência, em

relação às demais, os efeitos de euforia e bem estar leva o individuo a querer fazer

uso cada vez mais e de forma interrupta

[...] magnitude e a duração dos efeitos ocasionados influenciam o desejo de repetir o consumo e a suscetibilidade do individuo ao abuso e à dependência [...] o usuário de crack se expõe mais ao risco de dependência porque utiliza a droga com mais frequência, em maior quantidade e tem mais sensibilidade aos efeitos das substâncias. A associação com dependência de álcool e maconha, bem como déficit de atenção, hiperatividade e transtorno da personalidade antissocial, aumentam o risco de dependência entre os usuários [...] (PERRENOUD; RIBEIRO, 2012, p. 47).

Conforme Marques e Ribeiro (2011, p. 109), o uso de crack é sempre

complexo, devido às complicações implícitas, vai desde o consumo leve/moderado

até o uso nocivo/dependência. Para Santos Junior e Fiks (2012, p. 109), “[...] o crack

é uma droga reconhecida por ser muito deletéria para o organismo e devastadora

para o psiquismo.”

1.3 Aspectos Socioculturais do consumo de crack no Brasil

Entre as drogas mais devastadoras, está o crack, que surge na periferia das

grandes cidades dos Estados Unidos, como Los Angeles, Nova York e Miami.

Segundo Guimarães (2008), estudos feitos no Brasil comprovam que os usuários de

crack estão inseridos em um contexto maior de violência e vulnerabilidade social

resultando em diversos problemas relacionados à saúde, morte, criminalidade e

efeito do próprio crack.

Conforme Ribeiro (2012), o histórico do uso de crack no Brasil passou por

consideráveis mudanças tanto no perfil do usuário como nos índices cada vez

maiores de consumo. Nos últimos vinte anos, tornou-se uma questão de saúde

pública; estudo recente nos leva a crer que o uso do crack perpassa todos os níveis

Page 30: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

29

econômicos e sociais, mas tendo uma maior visibilidade nas classes menos

favorecidas, devido os efeitos devastadores que provoca.

O crack surge no Brasil, segundo Ribeiro (2012), na década de 1990, em

especial na cidade de São Paulo; um dos atrativos era o preço muito baixo em

relação à cocaína, outro era o efeito mais intenso. Além disso, alguns usuários de

cocaína injetável abandonaram essa via de administração com temor da

contaminação do HIV e passaram a fazer uso do crack.

Um dos primeiros estudos relacionados ao consumo do crack no Brasil,

segundo Ribeiro (2012), foi realizado no município de São Paulo, cujo perfil do

usuário era homem com baixa escolaridade, idades inferior a 30 anos, advindo de

famílias de baixo poder aquisitivo. Outro estudo, no estado de Minas Gerais, ainda

segundo o autor, nesta mesma época, trata a respeito do grande número de

mortalidade dos usuários de crack, devido ao tráfico.

Segundo pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre

Drogas (CEBRID) o uso de crack quase dobrou nos últimos anos. De acordo com o

órgão em tela, os levantamentos sobre usuários de crack, feitos em 2001 e 2005,

contemplaram cerca de 8 mil pessoas de 12 a 65 anos de idade. No período entre

as duas pesquisas, o percentual dos que já haviam experimentado crack passou de

0,4% para 0,7%. Isso evidencia o aumento do consumo dessa droga (CEBRID,

2013).

Relevante destacar que, segundo o Cebrid (2013), a tendência de aumento,

visto na expansão do consumo de crack, foi registrada para praticamente todos os

tipos de drogas, especialmente as de maior consumo, grupo em que estão álcool,

tabaco, maconha e cocaína. Nesse sentido, Ribeiro (2012, p. 36) destaca que o

Brasil é o maior mercado consumidor da América do Sul:

O uso de crack vem sendo observado em idades cada vez mais precoces em todo o país e em todas as classes sociais trata-se de uma droga de fácil obtenção, cujo consumo em geral é precedido pelo consumo do álcool e /ou tabaco. Desse modo as Políticas Públicas brasileiras precisam ser direcionadas para a prevenção do consumo nessas populações, visando primeiramente programas efetivos de prevenção do consumo de drogas licitas [...].

Page 31: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

30

Dentre os riscos mais frequentes está a overdose, que é o uso em maior

quantidade da droga podendo causar a morte do/a usuário/a, risco de criminalidade,

pois a droga está diretamente associada aos maiores índices de homicídios, por si

só, trata-se de algo ilícito e que está sempre em conflito seja com a polícia ou com

os traficantes, sendo os riscos que são consequências do uso da substância como

insônia, problemas psicológicos e problemas familiares.

O crack tem sido associado a aumento de risco de reações tóxicas, como problemas cardíacos, paralisia respiratória, psicose paranóide, disfunção pulmonar, e com aumento da incidência de uma variedade de doenças sexualmente transmissíveis (NAPPO, 2004, p. 17).

Pesquisa semelhante à realizada pelo Cebrid, entre 2001 e 2005, foi feita pela

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entre 2011 e 2013, na qual também se traçou o

perfil dos usuários de crack no Brasil. Os dados desse novo estudo mostram que a

população de usuários dessa droga é constituída por pessoas com uma média de

idade de 30 anos, do sexo masculino, geralmente, de cor preta ou parda e oriundas

de um contexto de vulnerabilidade social. São ainda, predominantemente, solteiros e

com pouca escolaridade. Dentre os usuários de crack, mostra a pesquisa, é

expressivo o número dos que vivem em situação de rua ou passavam parte do

tempo na rua (FIOCRUZ, 2013).

Ainda no contexto do crack, de acordo com a pesquisa supramencionada, a

maioria dos entrevistados não tinham um trabalho formal, cerca de 65% eram

autônomos ou diziam fazer algum tipo de “bico”, 7,5% dos entrevistados disseram

fazerem uso de sexo em troca da droga. Outra fonte para obtenção do crack,

segundo o grupo pesquisado,é o envolvimento ilícito com o tráfico, sendo que 6,4%

praticavam roubo/furto. Relevante ressaltar ainda que, geralmente, os usuários de

crack fazem uso de outras drogas, conforme mostram Perrenoud e Ribeiro (2012, p.

37):

[...] o perfil dos consumidores de crack no país – jovens, desempregados, com baixa escolaridade e baixo poder aquisitivo, provenientes de famílias desestruturadas, com antecedentes de uso de múltiplas drogas e comportamento sexual de risco [...].

Diante desse quadro, fica evidente que são vários os problemas sociais

desencadeadores da dependência química, em especial do crack, o que tem como

Page 32: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

31

consequência problemas como: a violência, o envolvimento com tráfico de droga, a

situação de rua, dentre outros fatores potencializadores de desajuste social. Verifica-

se, igualmente, que é comum os usuários de crack trocarem o corpo por droga ou

por dinheiro para adquirir a “pedra”. Nesse contexto, surge uma população em

potencial risco de exposição a Doenças Sexualmente Transmitidas (DST) ou mesmo

à gravidez indesejada, conforme ponderam Nappo, Sanchez e Ribeiro (2012, p.

572):

Agrega-se a esse quadro desolador o fato de essas mulheres estão sob o efeito da droga, de fissura ou paranoia, não havendo a menor possibilidade de coerência em relação ao quesito preservativo. Esquecem-se de utilizá-lo ou mesmo aceitam passivamente a recusa do parceiro em fazer seu uso, uma vez que há urgência em terminar o ato para comprar a “pedra” e reiniciar o ciclo.

A vulnerabilidade social dos usuários de crack é de uma complexidade e um

desafio enorme para a efetivação das políticas sociais envolvendo essa

problemática, pois muitos são os casos em que esses sujeitos passam a usar

drogas de forma compulsiva e, como consequências, tais indivíduos podem ter seus

vínculos familiares e sociais fragilizados ou totalmente rompidos, no sentido de eles

próprios saírem de casa para as ruas, de a família abandoná-los por não terem mais

possibilidades de conviverem com a situação da dependência química,

principalmente nos casos envolvendo o uso do crack, já que essa droga é a que tem

o maior poder de provocar a dependência do sujeito.

Vale salientar que, além dessas implicações do uso de drogas envolvendo a

família e o usuário, outro aspecto que é atingido por tal problemática é a vida social

desse indivíduo, onde há um afastamento da sociedade para com os dependentes

de drogas, de modo que esse sujeito acaba sendo estigmatizado no âmbito social,

nessa realidade há, portanto, uma dissociabilidade entre o dependente químico e a

sociedade, sendo que esse sujeito passa na maioria dos casos a se “autoexcluir”

como pode se verificar na citação abaixo:

O uso crônico do crack, segundo os estudos a respeito, deteriora o individuo cognitivamente, promovendo um baixo índice de funcionamento mental. Os prejuízos cognitivos do uso crônico da droga contribuem para seu isolamento e para o abandono por parte da família (GUIMARAES; ALELUIA, 2012, p. 427).

Page 33: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

32

Segundo Bessa (2012), estudos apontam que a experimentação de drogas na

fase da adolescência é um caso “normal”, porém alguns fatores contribuem para que

certos indivíduos se tornem dependentes ou não dessas substâncias psicotrópicas.

Para Bessa (op. cit., p. 622), fatores como a personalidade do indivíduo, o

ambiente familiar em que ele está inserido e a substância que experimentou são

relevantes para o desencadeamento da dependência. Nesse sentido, ressalta: “[...]

se a experimentação ocorrer com a cocaína, em especial na forma de crack, o risco

de jovem se tornar dependente é muito grande [...].”

Essa constatação é de grande relevância, pois é sabido que o uso de drogas

por jovens é um dos fatores desencadeadores de problemas de saúde mental e

comorbidades associadas ao uso de drogas, como, por exemplo, a evasão escolar e

o envolvimento com o crime. Nesse contexto, o grande desafio do Estado e da

sociedade é no sentido de consolidação das Políticas Públicas, no sentido de

garantir o acesso desses indivíduos a serviços públicos de qualidade, seja no que

diz respeito a prevenção, tratamento e a reinserção social.

Page 34: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

33

2 POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

De acordo com Santos e Oliveira (2012), entende-se por políticas públicas o

conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais,

configurando um compromisso público que visa dar conta de determinada demanda,

em áreas diversas.

Segundo Pereira (2005) e Souza (2006), nos estados modernos, as políticas

públicas se converteram em instrumento essencial no processo de construção das

sociedades, pois codificam normas e valores sociais, influenciando a conduta dos

sujeitos, contendo, a partir dos textos normativos, modelos de sociedade.

As Políticas Públicas Sobre Drogas no Brasil durante muito tempo tratavam de

modo semelhante os usuários ocasionais e os traficantes de substâncias

psicoativas. As legislações sobre o tema não levavam em consideração o princípio

da dignidade da pessoa humana, fato que sofreu considerável transformação a partir

de 1988, por ocasião da XX Assembleia Geral das Nações Unidas, que encontrou

respaldo na Constituição Federal que entrou em vigor neste mesmo ano. Nesse

sentido, é o entendimento de Duarte e Dalbosco (2013, p. 218).

A partir de 1998, o Brasil consolida uma política nacional específica sobre o tema da redução da demanda e da oferta de drogas. Foi depois da realização da XX Assembleia Geral das Nações Unidas, na qual foram discutidos os princípios diretivos para a redução da demanda de drogas, aderidos pelo Brasil, que as primeiras medidas foram tomadas. O então Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN) foi transformado no Conselho Nacional Antidrogas (CONAD) e foi criada a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), diretamente vinculada à, então, Casa Militar da Presidência da República.

De acordo com o conceito dado por Teixeira (2002, p. 2), ao se tratar sobre

Políticas Públicas, está se falando de um princípio que norteia a ação do poder

público em relação à sociedade.

[...] Políticas públicas são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos [...].

Page 35: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

34

Nesse sentido, pode-se afirmar que a Política Nacional Sobre Drogas (PNAD) e

a Política Nacional Sobre o Álcool são marcos legais que embasam a ação do

Estado em relação à realidade brasileira.

2.1 Legislações sobre drogas no Brasil

Seguindo o modelo internacional de combate às drogas, encabeçado pelos

Estados Unidos, o Brasil desenvolve ações de combate e punição para reprimir o

tráfico. Essa tendência, porém, não é algo recente, vem desde os tempos de

colônia. De acordo com Avelino (2010), as Ordenações Filipinas, de 1603, já

previam penas de confisco de bens e degredo para a África para os que portassem,

usassem ou vendessem substâncias tóxicas. O título LXXXIX da respectiva

codificação determinava que

Nenhuma pessoa tenha em sua caza para vender, rosalgar branco, nem vermelho, nem amarello, nem solimão, nem água delle, nem escamoneá, nem ópio, salvo se for Boticário examinado, e que tenha licença para ter Botica, e usar do Officio. E qualquer outra pessoa que tiver em sua caza alguma das ditas cousas para vender, perca toda sua fazenda, ametade para nossa Câmera, e a outra para quem o accusar, e seja degradado para África até nossa mercê. E a mesma pena terá quem as ditas cousas trouxer de fora, e as vender a pessoas, que não forem Boticários. 1. E os Boticários as não vendão, nem despendão, se não com os Officiaes, que por razão de seus Officios as hão mister, sendo porem Officiaes conhecidos per elles, e taes, de que se presuma que as não darão á outras pessoas. E os ditos Officiaes as não darão, nem venderão a outrem, porque dando-as, e seguindo-se disso algum dano, haverão a pena que de Direito seja, segundo o dano for. 2. E os Boticários poderão metter em sua mezinhas os ditos materiaes, segundo pelos Médicos, Cirurgiões, e Escriptores for mandada. E fazendo o contrario, ou vendendo-os a outras pessoas, que não forem Officiaes conhecidos, pola primeira vez paguem cincoenta cruzados, metade para quem accusar, e descobrir. E pola segunda haverão mais qualquer pena, que houvermos por bem.

O texto evidencia o rigor característico das disposições presentes nas

Ordenações Filipinas. Considerando crime certos desvios meramente morais,

cominando penas corporais, infamantes e cruéis, e até mesmo a pena de morte para

diversas condutas, tal codificação representa bem a ideologia vigente a seu tempo.

O país continuou nessa linha com a adesão à Conferência Internacional do Ópio, de

1912 (AVELINO, 2010).

Page 36: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

35

A vinda da Família Real portuguesa para o Brasil, em 1808, salvo a edição de

algumas leis de natureza processual penal, em nada alterou a vigência das

Ordenações Filipinas no país. Essa realidade, diz Avelino (2010), somente foi

modificada com a proclamação da independência por Dom Pedro I, em 1823, e a

consequente outorga da Constituição de 1824, influenciada pelos ideais do

Liberalismo que emanavam da França e dos Estados Unidos.

Nesse sentido, diz Pierangeli (2001), em seu artigo 179 a Constituição do

Império estabelecia regras de cunho liberal que deveriam ser observadas quando da

criação do sistema penal genuinamente pátrio. Em seus diversos itens, diz o autor,

tal diploma legal trazia diretrizes que ainda hoje fundamentam o Direito Penal

brasileiro, como os princípios da irretroatividade, da igualdade e da pessoalidade da

lei, e ainda a abolição da aplicação de penas cruéis.

Ainda de acordo com Pierangeli (2001), o Código Penal do Império promulgado

em 1830 estava fundamentado em preceitos iluministas, tendo sofrido influência por

parte do projeto Mello Freire,4 encomendado por D. Maria I para reformular as

Ordenações Filipinas, e pelo projeto de Código Penal elaborado por Edward

Livingston,5 em 1825, para o Estado de Louisiana.

Embora o Código Penal do Império não tratasse da questão relativa às drogas

em seu texto, diz Pierangeli (2001), o regulamento de 29 de setembro de 1851

abordou o assunto ao regular a venda de substâncias e medicamentos e ao tratar de

política sanitária.

De acordo com Avelino (2010), o Código Penal de 1890, diferentemente do

anterior, foi marcado por erros. Em seu artigo 159, inserido no Capítulo III, que

tratava dos crimes contra a saúde pública, do Título III, o qual se referia aos crimes

contra a tranquilidade pública, abordava a questão relativa às drogas ao dispor: “Art.

159. Expor à venda, ou ministrar, substâncias venenosas, sem legítima autorização

4 Pascoal José de Melo Freire dos Reis (1738 – 1798) - autor de um projeto de Código Penal a ele

encomendado pela rainha D. Maria I ao qual deu o título de Ensaio do Código Criminal. 5 Edward Livingston (1764 - 1836) - figura influente na elaboração do Código Civil Louisiana de 1825,

um código civil baseado em grande parte no Código Napoleônico.

Page 37: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

36

e sem as formalidades prescriptas nos regulamentos sanitários: Pena – de multa de

200$000 a 500$000.”

Buscando efetivar o combate ao crescente uso das chamadas “substâncias

venenosas”, foi editado em julho de 1921, sob a inspiração da Convenção de Haia

de 1912, o Decreto n.º 4.294, regulamentado pelo Decreto n.º 14.969. Segundo

Avelino (2010), os dispositivos em comento abordavam não apenas aspectos

criminais, como a cominação de pena de 1 a 4 (quatro) anos para as infrações de

venda e uso de entorpecentes, mas também medidas relativas ao controle do

comércio, necessidade de prescrição médica e normas de registro.

Editado em 11 de janeiro de 1932, o Decreto n.º 20.930 passou a utilizar a

expressão “substâncias tóxicas” para englobar entorpecentes como o ópio, a

cocaína e a maconha, além de atribuir ao Departamento Nacional de Saúde a

função de classificar as substâncias capazes de alterar comportamentos (AVELINO,

2010).

Tecendo considerações sobre o assunto, Pedrinha (2009, p. 5491) destaca que

a visão de que as drogas seriam tanto um problema de saúde quanto de segurança

pública, desenvolvida pelos tratados internacionais da primeira metade do século

passado, foi paulatinamente traduzida para a legislação nacional. Até que, em 1940,

o Código Penal nacional confirmou a opção do Brasil de não criminalizar o consumo:

Quando sobreveio o Código Penal de 1940, firmou-se a opção por não se criminalizar o consumo de drogas. No contexto histórico da redemocratização, após o Estado Novo, foi se delineando, a partir de 1946, um eixo moralizante, que foi se aderindo ao discurso da droga, o que continuaria até 1964 [...].

Nesse contexto, segundo Pedrinha (2009), estabeleceu-se uma “concepção

sanitária do controle das drogas”, pela qual a dependência é considerada doença e,

ao contrário dos traficantes, os usuários não eram criminalizados, mas estavam

submetidos a rigoroso tratamento, com internação obrigatória. Porém, diz a autora, o

golpe militar de 1964 e a Lei de Segurança Nacional deslocaram o foco do modelo

sanitário para o modelo bélico de política criminal, que equiparava os traficantes aos

inimigos internos do regime:

Page 38: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

37

[...] Para Nilo Batista, este ano significou a baliza divisória da ruptura do modelo de política criminal, que se translocou do sanitário para o bélico. Todavia, se percebem algumas permanências, vinculadas à construção do estereótipo da dependência e da doença. O marco foi justamente o ano do golpe militar, e não sem motivo. Pois este regime passou a ter ingerência sobre a condução de toda a política criminal no Brasil (PEDRINHA, 2009, p. 5491).

Não por acaso, analisa Pedrinha (2009. p. 5491), a juventude associou o

consumo de drogas à luta pela liberdade:

[...] da Europa às Américas, a partir da década de 60, a droga passou a ter uma conotação libertária, associada às manifestações políticas democráticas, aos movimentos contestatórios, à contracultura, especialmente as drogas psicodélicas, como maconha e LSD.

Momento em que, segundo Batista (1996), entrou em cena a guerra fria, com o

capitalismo industrial de guerra, propiciando a militarização das relações

internacionais, no campo da geopolítica. Para o governo militar, diz a autora, a droga

era tida pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS)6 como elemento de

subversão, uma arma da guerra fria, associada a uma estratégia comunista para

destruir o Ocidente

e as bases morais da civilização cristã. Nessa direção, os

investimentos foram se tornando cada vez mais vultuosos no combate ao uso de

substâncias entorpecentes.

Ainda nesse sentido, relevante destacar o posicionamento de Carvalho (2013),

o qual destaca que, após a aprovação da Convenção Única sobre Entorpecentes,

pelo Decreto nº 54.216, de 1964, a adesão belicista passou a ser plena, com a

expansão da repressão. Em 1968, logo após o Ato Institucional nº 5, o Decreto nº

385 modificou o artigo 281 do Código Penal em vigor na época, acrescentou outros

verbos criminalizadores. O Decreto-lei nº 753 de 1969, diz o autor, reforçou a

fiscalização sobre o uso das drogas ilícitas.

No ano de 1971, entrou em vigor a Lei nº 5.726 que, em seu primeiro artigo, já

esboçava a preocupação com o combate ao tráfico. Demonstrava ser este um dever

de todos. De acordo com Pedrinha (2009, p. 5492), a lei em questão transpôs, no

6 O Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), criado em 1924, foi o órgão do governo

brasileiro, utilizado principalmente durante o Estado Novo e mais tarde no Regime Militar de 1964, cujo objetivo era controlar e reprimir movimentos políticos e sociais contrários ao regime no poder.

Page 39: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

38

âmbito penal, aqueles que seriam os espectros da Lei de Segurança Nacional (Lei nº

7.170, de 1983) e impôs grande repressão:

Nas campanhas iniciais de Lei e Ordem os traficantes se coadunavam ao inimigo interno, quando eram jovens sucumbiam ao cancelamento da matrícula escolar e ainda eram incentivados a delatar outros envolvidos com drogas. Professores e diretores da rede de ensino deveriam delatar também, tinham o dever jurídico de encaminhar os alunos suspeitos de envolvimento com drogas, fato que consistia em prestação de serviço relevante. Cabia aos infratores medida de recuperação com internação para tratamento psiquiátrico. A Lei 5.726 de 1971 estabeleceu a equiparação entre usuário e traficante, com até 6 anos de pena privativa de liberdade e trouxe a tipificação da quadrilha composta por dois membros. Nesse contexto, foi se moldando uma política criminal bélica.

A década de 1970, assevera Carvalho (2013), foi marcada pela política de

criminalização das drogas. Nesse sentido, o autor destaca as modificações da

Convenção Única de Estupefacientes realizadas em 1972, seguida da visita do

grupo de estudos do Congresso Americano à América Latina sobre Estupefacientes

e Psicotrópicos, em 1973, ano em que o Brasil aderiu ao Acordo Sul-Americano

sobre Estupefacientes e Psicotrópicos (ASEP) e, com base nele, baixou a Lei nº

6.368, de 1976, que separou as figuras penais do traficante e do usuário. Além

disso, a lei fixou a necessidade do laudo toxicológico para comprovar o uso.

De acordo com Pedrinha (2009, p. 5493), a Lei nº 6.368 de 1976 possibilitou um

elevado aumento nas tipificações de tráfico de drogas. Tal diploma, diz a autora, retirou

o termo combate, contido no primeiro dispositivo legal e o substituiu por prevenção e

repressão e distinguiu as figuras penais do tráfico e do usuário, especialmente no

tocante à duração das penas:

Nesse sentido, as penas podiam variar de 3 a 15 anos de reclusão e multa para o tráfico e de detenção de 6 meses a 2 anos e multa para o uso. Nesta última espécie cabia a substituição por pena alternativa e sursis. Além disso, esta lei fixou a necessidade do laudo toxicológico, retirou o trancamento da matrícula dos usuários e a delação no que tange aos agentes da área da educação. Verificou-se, ainda, o chamado fenômeno da multiplicação dos verbos, sinalizado por Zaffaroni, o qual deu-se através dos crescimento dos tipos penais incriminadores, ao longo dos anos.

As mudanças políticas e econômicas que ocorreram ao longo da década de

1980, mais uma vez, tiveram influência direta no tratamento legal das drogas. Com o

fim da Guerra Fria, diz Pedrinha (2009), novas potências econômicas passaram a

atuar de modo hegemônico. Acompanhou-se a internacionalização das corporações,

Page 40: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

39

o desmantelamento do Estado, a desregulamentação dos mercados e a

liberalização financeira. Esse panorama favoreceu o empobrecimento das camadas

sociais, o aumento das taxas de desemprego e a marginalização social, que deram

propiciaram o Estado Policial. Nesse cenário, a funcionalidade mítica da droga

incidiu, mais especificamente, sobre o setor pauperizado da sociedade:

O discurso legitimante mostra-se apto a conjugar argumentos políticos, morais, religiosos e acuradamente legais. [...], as mistificações ideológicas retratam uma elaboração conceitual teórica que ganha relevo midiático, pelo dogma da ilicitude ontológica da droga. Contudo, faz-se necessário ir além dos estereótipos esboçados grosseiramente, desmistificá-los, para se perceber, em muitos casos, a vulnerabilidade dos personagens, como: as mulitas e os traficantes famélicos, que magicamente se transformam em temíveis inimigos.

A Constituição de 1988, segundo Pedrinha (2009), determinou que o tráfico de

drogas seria crime inafiançável e sem anistia. Medida fortemente questionada por

conflitar com períneos insculpidos na própria Carta Magna. Ainda nessa seara,

surgiu no cenário nacional a Lei nº 8.072, de 1990, a chama Lei de Crimes

Hediondos, que proibiu o indulto e a liberdade provisória nos crime de tráfico de

drogas, além de dobrar os prazos processuais, com o objetivo de aumentar a

duração da prisão provisória.

A Convenção de Viena, em 1991 foi aprovada pelo Congresso brasileiro; tal

atitude reforçou o viés punitivo que vinha se delineando ao longo dos últimos anos.

Assim, em meados da década de 90, o Governo brasileiro criou o Programa de Ação

Nacional Anti-Drogas (PANAD), que tem como objetivo geral: “Planejar,

supervisionar, coordenar, articular e promover ações judiciais e medidas

administrativas de prevenção ao uso, tratamento ao dependente ou usuário, e à

repressão ao comércio de drogas ilícitas” e a Secretaria Nacional Anti-Drogas

(SENAD).

Nos anos de 1994 e 1995, veio ao Brasil uma Comissão de Fiscalização das

Nações Unidas (ONU) com o objetivo de analisar o andamento de ações no tocante

à impunidade e à dificuldade de repressão. Segundo Pedrinha (2009), ambas as

comissões teceram severas críticas ao governo brasileiro. Diante da tentativa de

Page 41: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

40

melhor atender às críticas da ONU, o Brasil partiu para um novo paradigma na

política criminal de drogas, o da militarização.

A Lei de Drogas (Lei 11.343/06) eliminou a pena de prisão para o usuário e o

dependente, ou seja, para aquele que tem droga ou a planta para consumo pessoal.

A legislação também passou a distinguir o traficante profissional do eventual, que

trafica pela necessidade de obter a droga para consumo próprio e que passou a ter

direito a uma sensível redução de pena.

Já a criação da Força Nacional de Segurança e as operações nas favelas do

Rio de Janeiro, iniciadas em 2007 e apoiadas pelas Forças Armadas, seguidas da

implantação das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), reforçaram a repressão e

levaram a presença do Estado a regiões antes entregues ao tráfico, não apenas

atendendo às críticas internacionais, como também como preparação para a Copa

do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

As discussões em torno das leis que tratam do tráfico e dependência de drogas

continuam a ser feitas no Congresso, envolvendo ainda aspectos como o aumento

de impostos e o controle do álcool e do cigarro. A Resolução de nº 03, que o

Conselho Nacional Antidrogas (CONAD), aprovou institui a Política Nacional sobre

Drogas, no dia 27 de outubro de 2005, A Secretaria Nacional Antidroga (Senad),

órgão responsável por coordenar e integrar as ações do governo relativo a redução

da demanda.

A Política Nacional sobre Drogas estabelece os fundamentos, os objetivos, as diretrizes e as estratégias indispensáveis para os esforços, voltados para a redução da demanda e da oferta de drogas, possam ser reduzidos de forma planejada e articulada (DUARTE; DALBOSCO, 2011, p.219)

Dentre outros pressupostos da Política Nacional sobre Drogas (PNAD),

destacam-se: a) buscar incessantemente, atingir o ideal de construção de uma

sociedade protegida do uso de drogas ilícitas e do uso indevido de drogas lícitas; b)

reconhecer a diferença entre usuário, a pessoa em uso indevido, o dependente e o

traficante de drogas, tratando-os de forma diferenciada.

Nessa perspectiva e de acordo com a nova reformulação da PNAD, é

imprescindível tratar de maneira diferente o dependente químico do traficante, ou

Page 42: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

41

seja, estabelece o aumento de pena para o traficante e o tratamento para o

dependente químico.

[...] Se por um lado as atividades de repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas são acentuadas, com definição de novos crimes correlatos e o aumento das penalidades previstas, por outro lado, distingue a condição de usuários e dependentes de drogas e aborda, de forma mais extensiva que as leis anteriores, as atividades de prevenção ao uso indevido, atenção à saúde e reinserção social [...] (SANTOS; OLIVEIRA, 2012, p. 88).

Ainda de acordo com a da Política Nacional sobre Drogas, é importante

destacar que o seu principal objetivo está centralizado na busca de implantar e

implementar a rede

Implantar e implementar rede de assistência integrada, pública e privada, intersetorial, para pessoas com transtornos decorrentes do consumo de substâncias psicoativas, fundamentada em conhecimento validado, de acordo com a normatização funcional mínima, integrando os esforços desenvolvidos no tratamento.

Para que tal objetivo fosse efetivado, o Governo criou vários mecanismos

para estruturar a rede de atendimento à pessoa com problemas do uso decorrente

de abuso de substâncias psicoativa. Em relação ao Tratamento, Recuperação e

Reinserção social, a PNAD traçou algumas diretrizes dentre as principais.

2.1.4 na etapa da recuperação, deve-se destacar e promover ações de reinserção familiar, social e ocupacional, em razão de sua constituição como instrumento capaz a de romper o ciclo consumo/tratamento, para parte dos envolvidos, por meio de parcerias e convênios com órgão governamentais, assegurando a distribuição descentralizada de recurso técnica e financeira. (BRASIL. 2006).

Segundo Santos e Oliveira (2012), as Politicas públicas atuais atuam na

perspectiva de prevenção e promoção da saúde, cuja finalidade é fortalecer os

fatores de proteção e diminuir os riscos para o uso, pois se entende que tão

importante como tratar os indivíduos já em uso é preciso proteger os que ainda não

entraram em contato para se trabalhar.

A Legislação atual do Brasil compreende a dependência química como um

problema de saúde pública, em conformidade com a Politica Nacional Sobre Drogas,

a legislação é inovadora e coloca o Brasil em evidência no cenário mundial ao criar o

SISNAD que traz como um dos seus princípios. “I - O respeito aos direitos

Page 43: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

42

fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto à sua autonomia e a sua

liberdade”.

Diferente das legislações anteriores, que não diferenciavam o

usuário/dependente do traficante, o projeto de Lei (PL), nº 115/02 do Senado tornou-

se a Lei nº 11.343/06 e substituiu as leis nº 6.368/76 e nº 10.409/02 assim a Lei

passa a compreender que os dependentes químicos necessitam ser tratados e

reinseridos na sociedade, aumentar a pena de detenção para traficantes. Desta

forma, o Art. 1º da Lei 11.343/06 trata a respeito da criação do SISNAD:

Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - SISNAD; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. (BRASIL, 2006)

O SISNAD foi instituído com a intenção de articular, integrar, organizar e

coordenar as atividades que tratem a respeito da prevenção do uso indevido, a

atenção e a reinserção social de usuários e dependentes químicos como medidas

de reprimir a produção ilegal de droga, um dos seus objetivos é: “I - Contribuir para a

inclusão social do cidadão a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamento de

risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico e outros comportamentos

correlacionados.” Em relação à prevenção, a Lei traz como um dos principais

objetivos

I- O reconhecimento do uso indevido de drogas como fator de interferência na qualidade de vida do indivíduo e na relação com a comunidade a qual pertence; III- promover a integração entre as Políticas de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e repressão a sua produção não autorizada ao tráfico ilícito e as políticas publicas. (BRASIL, 2006).

A Lei dispõe de alguns critérios que são tidos como atividades de reinserção

social de usuários ou dependentes de drogas, aquelas que são direcionadas para a

integração ou reintegração das redes sociais.

Diante do aumento do número de usuário de crack e suas consequências,

relacionada à violência e à criminalidade, noticiadas diariamente pela mídia,

necessita de uma resposta por parte do Estado. Neste sentido, foi instituído o

Page 44: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

43

decreto de nº 7.179, em maio de 2010. O Plano Integrado De Enfrentamento Ao

Crack e Outras Drogas, e cria o eu Comitê Gestor com a finalidade de destinar

recursos de forma intersetorial e descentralizada.

O Plano Crack está articulado em eixos como prevenção, cuidado e segurança

publica, é um conjunto integrado de ações atuando em segmentos diferente para

beneficia a sociedade brasileira.

§ 1o As ações do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras

Drogas deverão ser executadas de forma descentralizada e integrada, por meio da conjugação de esforços entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, observadas a intersetorialidade, a interdisciplinaridade, a integralidade, a participação da sociedade civil e o controle social( BRASIL, 2010).

Dentre os objetivos previstos no Plano está a estruturação da Rede

I - estruturar, integrar, articular e ampliar as ações voltadas à prevenção do uso, tratamento e reinserção social de usuários de crack e outras drogas, contemplando a participação dos familiares e a atenção aos públicos vulneráveis, entre outros, crianças, adolescentes e população em situação de rua (BRASIL, 2010).

São previstas no Plano ações imediatas e ações estruturantes; a primeira diz

respeito à ampliação do número de leitos para desintoxicação de dependentes de

crack e outras drogas, traz também ações de combate ao tráfico articulações entre

as policias e capacitação, prevenção , tratamento e reinserção social. “I - ampliação

do número de leitos para tratamento de usuários de crack e outras drogas.”

A segunda faz referência à ação estruturante que prevê a integração e

mobilização de boas práticas para atender o usuário e/ou dependentes de crack e

outras drogas no que diz respeito à prevenção, tratamento e reinserção social.

O Decreto Presidencial admite parcerias entre Estado e Comunidades Terapêuticas

conforme para que

Art. 7o

- A. Para a execução do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas poderão ser firmados convênios, contratos de repasse, termos de cooperação, ajustes ou instrumentos congêneres com órgãos e entidades da administração pública federal, dos Estados (BRASIL, 2010).

Page 45: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

44

2.2 Rede de atenção aos usuários de crack e outras drogas

Conforme Ribeiro e Lima (2012), o número de usuários de crack no Brasil tem

aumentado nos últimos anos, e com isso surgem os enormes problemas sociais e de

saúde: como o alto índice de violência urbana e mortalidade entre jovens

usuários/as de substâncias psicoativas, o aumento do índice de doenças como,

tuberculose, DST/HIV, hepatites, complicações cardiovasculares, problemas

psíquicos associados. Neste mesmo pensamento, seguem Gigliotti, Presman e

Aguilera (2012, p. 608), que apresentam que “os dependentes químicos têm o maior

risco de contrair alguma doença relacionada ao tabaco quando comparada a

população em geral”.

A dependência química é uma problemática complexa e diferente que

engloba não apenas área da saúde, mas devem estar articuladas com as demais

áreas das Politicas sociais como Saúde, Educação, Segurança Pública, Habitação,

Assistência Social enfim, devem ser um conjunto de ações integradas para a

diminuição dos impactos pessoais e sociais do dependente químico.

O Brasil vem ao longo dos anos avançando no modelo de saúde mental, na de

criação de Leis que garanta uma humanização no atendimento a pessoas com

transtorno mental e problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativas, o

movimento de saúde mental que culminou com a reforma psiquiátrica, a criação de

Leis e Portarias que substituem o modelo anterior dito asilar e hospitalocêntrico em

serviços como os Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), Centro Atendimento

Psicossocial Álcool e Droga. (CAPS-AD) e os (CAPS-AD 24h), Consultório na Rua,

Leitos nos Hospitais Gerais, Comunidades Terapêuticas (CTs) dentre outros.

A partir do ano de 1992, os movimentos sociais, inspirados pelo Projeto de Lei Paulo Delgado, conseguem aprovar em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental. É a partir deste período que a política do Ministério da Saúde para a saúde mental, acompanhando as diretrizes em construção da Reforma Psiquiátrica, começa a ganhar contornos mais definidos. É na década de 90, marcada pelo compromisso firmado pelo Brasil na assinatura da Declaração de Caracas e pela realização da II Conferência Nacional de Saúde Mental, que passam a entrar em vigor no país as primeiras normas federais regulamentando a implantação de serviços de atenção diária, fundadas nas experiências dos primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-dia, e as primeiras

Page 46: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

45

normas para fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos (BRASÍLIA, 2005).

Um dos avanços considerados importante em relação à saúde mental no

Brasil foi a promulgação da Lei de nº 10. 216 de 2001, que garante proteção a

pessoas portadoras de transtornos mentais e modifica o modelo assistencial de

saúde mental existente, nesse sentido, o Ministério da Saúde, avança e estabelece

normas como a portaria de n.º 336/2002, a fim de criar equipamentos públicos para

atender de forma humanizada sujeitos com transtornos mentais.

Art. 1º Estabelecer que os Centros de Atenção Psicossocial poderão constituir-se nas seguintes modalidades de serviços: CAPS I, CAPS II e CAPS III, definidos por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional, conforme disposto nesta Portaria; (BRASÍLIA, 2001)

De acordo com este novo modelo de Atenção voltado para desospitalização e

reabilitação psicossocial da pessoa com sofrimentos psíquicos, o Governo lança a

portaria de nº 3.088, instituindo a rede de Atenção Psicossocial para Pessoas com

Sofrimento ou Transtorno Mental e com Necessidades Decorrentes do Uso de

Crack, Álcool e outras Drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde com a

intenção de oferecer um suporte de cuidados, acolhimento e acompanhamento

contínuo a esta população.

Como componente importante da Rede estão os (CAPS-AD), que oferecem

serviços para tratar pessoas com problemas relacionados ao álcool e outras drogas.

[...] estes centros especializados desenvolvem um conjunto de atividades que vão desde o atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação entre outros) atendimento com grupo ou oficina terapêutica e visitas domiciliares. Também devem oferecer condições para o repouso, bem como para a desintoxicação de paciente que necessitem desse tipo de cuidado e que não demandem atenção clinica hospitalar (CARVALHO; CHAIBUB; MIRANDA, 2010, p. 237).

Assim, os CAPS-AD 24h são unidades referência ao atendimento do

dependente e dos familiares, em um contexto de maior vulnerabilidade social e de

agravamento da crise decorrente do uso abusivo ou recaídas, abstinência, ameaças

de morte, ou outro problema. Os serviços disponibilizam atendimento para adultos

ou crianças e adolescentes no sentido de garantir cuidados clínicos contínuos. O

(CAPS-AD 24h), tem até 12 leitos para observar e monitorar, durante 24 horas. O

Page 47: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

46

funcionamento ocorre diariamente e nos finais de semanas, incluindo feriados;

indicado para municípios ou regiões com população acima de 200.000 habitantes.

De acordo com Laranjeira (2012), as Políticas Públicas estabelecem serviços

especializados na área da dependência química, porém existem problemas para a

efetivação e funcionamento destes equipamentos, como; a falta de profissionais

qualificados, escassez de recursos para os profissionais desenvolverem suas

atividades, a demanda elevada e a falta de condição de trabalho, um dos piores

agravantes é a falta destes equipamentos em muitas cidades brasileiras, outra critica

que o autor faz é em relação a casos graves da dependência do crack, pois em

muitos centros não existem diretrizes claras em relação à intervenção psicoterápica

ou familiar, assim, segundo o autor “[...] esses centros existentes devem ser

otimizados por meio da criação de programas específicos para os usuários de

crack”.

Embora tendo suas limitações, a rede vem se estruturando desde a década de

90 e atualmente dispõe de um leque de equipamentos, dentre eles os Consultórios

na Rua, que tem como proposta levar os profissionais da área da saúde, mais perto

dos indivíduos em especial os usuários de crack, álcool e outras drogas no sentido

de oferecer o primeiro acolhimento, um suporte clínico imediato, no cuidado aos

primeiros socorros dos adictos, a equipe trabalhar no sentido de ser um suporte a

mais na redução de danos aos dependentes, conforme a portaria nº 122, de 2011 do

Ministério da Saúde.

Nesse sentido, a rede tem sido ampliada para atender caso mais simples com

cuidados paliativos até mais complexos, que demande tempo para desintoxicação

do uso abusivo de álcool, crack e outras drogas; este serviço disponibiliza vagas em

Hospital Geral, funciona diariamente e recebe demanda através de

encaminhamentos dos outros serviços da rede. Atualmente, são diversas as

modalidades, de atendimento e de tratamento oferecido aos dependentes químicos

conforme relata a autora abaixo.

As propostas e formas de atendimento terapêutico variam de acordo com a visão de mundo e perspectiva política, ideológica e religiosa dos diferentes grupos e instituições, governamentais e não governamentais, atualmente nesta área. Da abstinência total á redução de danos, do internamento ao atendimento ambulatorial, dos grupos de autoajuda ao tratamento

Page 48: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

47

medicamentoso, de programas governamentais a comunidades terapêuticas, o usuário de substancias psicoativas, que deseja ou necessita de tratamento, tem uma variedade de alternativas, optando por aquela mais adequada ao seu perfil e/ou necessidades. (COSTA, 2009, p.2).

Assim, podemos perceber que há por parte do governo Federal, iniciativa

para tentar amenizar as implicações do uso abusivo de crack e outras drogas, em

maio de 2010, lançou o Plano Crack que tem como meta ampliar a rede de

atendimento, dentre outros, prevê parceria com as Comunidades Terapêuticas

(CTs). As Comunidades Terapêuticas são instituições que há muito já desenvolvem

um trabalho com dependentes químicos e familiares, com objetivo de tratar o

individuo e a família que sofre com o uso abusivo de drogas, conforme Fracasso

(2011, p.64) relata:

Serviços de atenção a pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de substâncias psicoativas (SPA), em regime de residência ou outros vínculos de um ou dois turnos, segundo modelo psicossocial, são unidades que têm por função a oferta de um ambiente protegido, técnica e eticamente orientados, que forneça suporte e tratamento aos usuários abusivos e/ou dependentes de substâncias psicoativas, durante período estabelecido de acordo com programa terapêutico adaptado às necessidades de cada caso. É um lugar cujo principal instrumento terapêutico é a convivência entre os pares. Oferece uma rede de ajuda no processo de recuperação das pessoas, regatando a cidadania, buscando encontrar novas possibilidades de reabilitação física e psicológica, e de reinserção social (Serviços urbanos ou rurais conhecidos como CTs).

Por meio dessa abordagem, em que o dependente é o principal responsável

pela sua cura, denominado de (CTs), é um ambiente saudável com horários

definidos, regras claras, com plano terapêutico individual, levando em consideração

não apenas o tratamento, mas todo o processo de reinserção social.

[...] O paciente é tratado como o principal protagonista de sua cura. Trata-se de um sistema estruturado, com limites precisos e funções bem delimitadas, regras claras e afetos controlados, através de normas, horários e responsabilidades. Todas estrutura é para que o paciente se situe totalmente no tratamento, sendo assim, o trabalho, tanto pela equipe profissional, quanto pelos pacientes (SABINO; CAZENAVE, 2005, p168).

De acordo com Fracasso (2011), a diferença dessa modalidade de tratamento

é que as (CTs) utilizam como agente chave a própria comunidade para o processo

de recuperação, ou seja, tem como base a filosofia de tratamento através da

linguagem, a difusão de vivência.

Page 49: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

48

[...] o principal instrumento terapêutico é a convivência entre os residentes, surgiram no cenário brasileiro, ao longo dos últimos quarentas anos, antes mesmo de existir qualquer política pública de atenção a dependência no país (COSTA, 2009, p. 2).

De acordo com Vidal, Bandeira e Gontijo (2007) a formulação da Rede de

Atendimento psiquiátrico tem conseguido avanços importantes nas últimas décadas

em relação à melhora na qualidade de vida das pessoas atendidas. Porém, não

podemos deixar de mencionar as fragilidades existentes no atendimento aos

usuários de crack e outras drogas, como; a falta de articulação entre as políticas

sociais, os serviços oferecidos pela área da saúde são precarizados, a demanda é

considerável, a falta de profissional especializado na área são questões que

devemos considerar num processo de reinserção social do dependente químico.

O SUS formal corresponde ao que está estabelecido pela Constituição Federal, constituições estaduais, leis orgânicas, decretos, portarias, resoluções, pactos e regulamentos, embora muito distante da realidade dos serviços públicos, em que prevalece o SUS real e o SUS para pobre (PAIM, 2009, p 73).

Para o autor a elaboração de Leis, são medidas que legitimam, porém não há

uma efetivação delas; o que existe é um sucateamento dos serviços públicos

brasileiro, no sentido da lógica do mercado que favorece cada vez mais para a

desigualdade social, não tendo políticas efetivas que de fato garantam educação de

qualidade, serviços de saúde acessíveis a toda a população, saneamento básico,

assistência social ao alcance de todos são questões básicas que a Constituição já

garante desde 1988, mas ainda está muito longe da realidade brasileira,

necessidades que devem ser levada em consideração no processo de reinserção

social para uma população desprovida do básico.

2.3 Comunidade terapêutica como rede de apoio

A origem das Comunidades Terapêuticas, segundo Fracasso (2008), se dá

em decorrência da organização religiosa chamada Oxford; este movimento religioso

tinha por objetivo um modo de vida mais próximo do idealizado por Cristo.

[...] este grupo, conhecido como Grupo de Oxford, buscava um estilo de vida mais fiel aos ideais cristãos: se encontravam várias vezes por semana para ler e comentar a Bíblia e se comprometiam reciprocamente a serem

Page 50: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

49

honestos. Entre 10 e 15 anos depois, constataram que 25% dos seus participantes eram alcoolistas em recuperação (FRACASSO, 2008, p. 10).

De acordo com a autora citada acima, foi nos Estados Unidos, na cidade de

Santa Mônica, que um pequeno grupo de alcoolistas em recuperação decidiram

viver juntos para se manterem em abstinência e na busca de um novo estilo de vida.

Desta forma, nasceu à primeira (CT), denominada de Synanon, cujo modo de viver

era a convivência harmoniosa entre seus membros.

No dia 18 de setembro de 1958, Chuck Dederich e um pequeno grupo de alcoolistas em recuperação decidiram viver juntos para, além de ficarem em abstinência, buscarem um estilo alternativo de vida [...] adotaram um sistema de relacionamento direcionado em uma atmosfera quase carismática, o que para o grupo foi muito terapêutico [...] (FRACASSO, 2008, p. 10).

No ano de 1963, o Monsenhor William Bórbrien e David Deitch fundaram a

(CT) cujo nome era Daytop Village, passaram a tratar não somente indivíduos

alcoolistas, mas também pessoas usuárias de outras substâncias psicoativas.

Surge, então, o modelo para as futuras Comunidades Terapêuticas em todo o

mundo que só se aperfeiçoaram no decorrer do tempo.

Segundo Fracasso (2008), assim como em Oxford, as (CTs), surgiram no

Brasil através de um movimento religioso liderado por um pastor cujo nome era

Edmundo, portanto foi na cidade de Goiânia que surgiu a primeira Comunidade

Terapêutica, designada de Desafio Jovem, somente no ano de 1978, na cidade de

Campinas (SP), que as (CTs) ganharam maior visibilidade com a Fazenda do

Senhor Jesus, liderada por padre Haroldo Rham. Esta (CT) foi precursora no Brasil

em relação à abordagem psicossocial no quadro funcional.

Segundo Costa (2001), as (CTs) chegaram ao Brasil, antes mesmo que

houvesse Políticas públicas sobre drogas. A proposta era prestar serviço aos

indivíduos que têm problemas com o uso e abuso de Substâncias Psicoativas

(SPAs). O surgimento das Comunidades Terapêuticas, de acordo ainda com a

autora, se dá a partir de duas grandes lacunas deixada pelo Estado.

Em primeiro lugar, a questão do uso, para autora, estaria na dimensão da

repressão, somente depois dos anos 60 é que a população teve como opção os

hospitais mentais e as clínicas particulares, época que começam a surgir no Brasil

Page 51: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

50

as (CTs). Ainda conforme a autora citada, a segunda proposta passaria pelo âmbito

das questões religiosas, no intuito de evangelizar, como a finalidade de oferece uma

resposta aos que necessitavam de ajuda para se livrar do uso abusivo de drogas

lícitas ou ilícitas.

De início, o desenvolvimento das (CTs) se deu a partir de trabalho filantrópico

sem recursos do Estado, com os avanços das Políticas na área da dependência

química o Governo cria mecanismos políticos para as comunidades terapêuticas a

fim de integrá-las a rede socioassistencial; para tal, foi necessária uma resolução da

ANVISA a fim de regular o funcionamento de todas as Comunidades Terapêuticas.

Cresceram baseadas no serviço voluntário, na prática assistencialista e no ensino religioso, mas cresceram! E mais: alcançaram resultados, enquanto as políticas públicas passavam ao largo da questão da dependência química, pois esta era um „caso de policia‟ e não de „política de saúde publica‟ (COSTA, 2009, p. 6).

A preocupação do governo era principalmente em relação à clandestinidade e

ao mau funcionamento de algumas (CTs); em virtude disso, em 2001 lançou a

Resolução RDC. Nº 101 da ANVISA, o regulamento para o funcionamento das

Instituições que tratam de pessoas com problemas decorrente de álcool e outras

drogas, em consonância a RDC anterior em 2011 divulga a RDC-29, onde o

regulamento é refeito, considerando elementos importantes em favor das

Comunidades Terapêuticas. Para Fracasso e Landre (2012), “[...] as comunidades

deixaram de se adequar às normas gerais de um serviço de saúde. Tal qual um

hospital ou centro de tratamento, em favor de seu caráter residencial e de convívio

família[...]”, tem por objetivo

Parágrafo único. O principal instrumento terapêutico a ser utilizado para o tratamento das pessoas com transtornos decorrentes de uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas deverá ser a convivência entre os pares, nos termos desta Resolução.(Resolução da ANVISA RDC de Nº 29)

A Resolução traz critérios claros em relação ao funcionamento da CTs, à

infraestrutura, a gestão de funcionários, enfim orienta em relação a vários critérios

que devem ser considerados no cotidiano de uma CT.

Devido ao redimensionamento técnico-operacional, as comunidades

terapêuticas passaram a integrar a Rede de Atenção Psicossocial, considerado um

Page 52: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

51

instrumento a mais para atender uma demanda crescente de usuários de

substâncias psicoativas, embora sendo alvo de muitas críticas, por várias questões

que não vamos nos aprofundar, mas vamos apenas citar superficialmente como a

questão religiosa, a abstinência total e pelo fato de as CTs fazerem parte do terceiro

setor.

No entanto, as críticas não tiram o mérito dessas Instituições que já

desenvolvem um trabalho há décadas, antes mesmo que o Estado compreendesse

a questão da dependência como doença. A abordagem é resgatar a dignidade de

indivíduos que perderam tudo em virtude do uso de drogas, neste sentido as (CTs),

proporcionam um ambiente saudável para o processo de tratamento, recuperação e

reinserção social. Conforme Fracasso (2009), “[..] capaz de oferecer a oportunidade

de interagir, escutar, aprender, projetar e crescer de maneira que reflita a

capacidade e o potencial individual e coletivo das pessoas [...]” com regras claras,

uma equipe de profissionais qualificados para atender de forma ampla esta

população.

Page 53: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

52

3 REINSERÇÃO SOCIAL DO DEPENDENTE QUÍMICO

Diante de uma realidade envolvendo o usuário de crack e as mais diversas

complexidades no âmbito familiar e sociais já apresentadas nesse estudo,

trataremos a partir de então das perspectivas de reinserção social de ex-usuários de

crack residentes na Comunidade Terapêutica Desafio Jovem do Ceará, sendo

imprescindível situarmos/considerarmos os seguintes aspectos no processo de

reinserção social: Quem são estes sujeitos, qual o contexto em que viviam antes do

tratamento, como era a relação sócio-familiar, o que pensam sobre o Programa de

Acompanhamento Terapêutico (tratamento a nível residencial) e quais suas

perspectivas de futuro/vida após concluírem o tratamento.

A reinserção social decorre de ações que implicam em reconstruir as perdas,

a sociabilidade, a cidadania, aspectos sociais e comunitários que foram deixados em

consequência do uso de crack. De acordo, com o Observatório Brasileiro de

Informações sobre Droga - OBID, o termo reinserção Social significa “o

estabelecimento ou regaste de uma rede social inexistente ou comprometida pelo

período de abuso da droga”.

No tocante, o processo de reinserção social do usuário de crack a Senad

orienta que deve ser um processo permanente que envolve vários atores sociais,

logo, reinserção social diz respeito não somente a altruísmo do dependente químico,

frente a questões de se manter em abstinência, mas faz referência a uma gama de

possibilidades disponíveis para não retroceder a situação de uso, nesse sentido

reinserção social deve ser garantido como um direito social.

3.1 O cenário

O Desafio Jovem do Ceará Dr. Silas Munguba é uma Instituição filantrópica

sem fins lucrativos, sob proc. N° 28977.011868/94-34 de Utilidade Pública Federal,

atualmente denominada de Comunidade Terapêutica, criada por Dr. Silas Munguba,

na década de 70, devido à preocupação com o aumento do número de jovens

usuários de drogas. Sensível à causa, procurou estudar sobre o tema e difundir a

prevenção entre diversos setores da sociedade, culminado na criação de uma das

Page 54: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

53

mais respeitosas instituição que trata de pessoas com problemas relacionados a

álcool e outras drogas.

De acordo com Regulamento interno da instituição, denominado de manual do

aluno, assim começou a jornada no que diz respeito à fundação de uma das

instituições mais conhecida no Estado do Ceará; foi na década de 1970, que Dr.

Silas decidiu cuidar das pessoas que sofriam devido o uso de substâncias

psicoativas, já era conhecido por causa das palestras que ministrava no Brasil para

prevenção do uso de drogas.

No entanto, a inquietação do médico passou a ser outra: como tratar as

pessoas que já sofrem devido ao uso? Neste sentido, a autora revela que ele

resolve unir forças com outro membro de sua Igreja, na qual já havia desenvolvido

outro projeto parecido na cidade de Brasília, João Furtado e Silas decidiram criar

uma casa de Recuperação; nascia ali uma das Instituições pioneiras no Estado do

Ceará, em relação ao tratamento, recuperação e reinserção social de pessoas com

problemas referentes ao álcool e /ou outras drogas.

Conforme Rodrigues (2010), durante 20 anos, o DJC atendeu os dependentes

químicos e alcoolistas apenas no Programa de Acompanhamento Terapêutico

através do Núcleo de Internamento. No ano de 1998, nascia o Núcleo de

Assistência Ambulatorial, hoje denominado de Programa de Assistência

Psicossocial, com o objetivo de atender dependentes químicos e alcoolistas que

precisam e desejam o tratamento, mas não podem ser internados por não

desejarem ou não estarem dentro do perfil, a modalidade é destinada também a

mulheres e a ex residentes da Instituição.

O Desafio Jovem do Ceará se consolida no tratamento de dependentes

químicos, possibilitando-lhes alcançarem um bem estar físico, mental, espiritual e

social. A entidade atualmente dispõe de duas modalidades de tratamento, sendo

estas: o Programa de Assistência Psicossocial e o Programa de Acompanhamento

Terapêutico. Esses tratamentos possuem atividades diferenciadas com a mesma

equipe atuante.

Page 55: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

54

O Programa de Assistência Psicossocial7 é desenvolvido através de grupos

temáticos, preparação para o internamento, atendimentos individual e aulas no

supletivo, a equipe composta por profissionais de diversas áreas como: da

orientação cristã, do Serviço Social, da Terapia Ocupacional, da Psicologia e de

professores da Educação Básica. Essa modalidade de tratamento é destinada às

pessoas que são transferidas do internamento e/ou aqueles que possuem um nível

menor de comprometimento.

A outra modalidade é o Programa de Acompanhamento Terapêutico, é um

modelo voltado para atender exclusivamente homens acima dos 16 anos, por um

período pré-estabelecido de até nove meses, tendo todo suporte psicossocial,

contando com uma equipe multidisciplinar, no qual desenvolvem atividades como:

de grupos, laborterapia, supletivo, terapia ocupacional, esporte, orientação cristã,

atendimento individual no sentido de proporcionar uma mudança no estilo de vida,

desde interrupção do uso total de drogas a sua reinserção à sociedade.

Assim, a Comunidade Terapêutica Desafio Jovem do Ceará tem como missão

“trabalhar o ser humano em toda sua essência na prevenção e no tratamento ao uso

indevido de drogas” como filosofia de trabalho: a prevenção do uso de drogas, o

tratamento para os dependentes químicos e familiares.

Para que tal objetivo seja cumprido, o trabalho oferecido pela Instituição é no

sentido de conscientizar, criar mecanismo para mudanças no estilo de vida dos

dependentes, a metodologia desenvolvida pelos profissionais tem como meta

proporcionar novos interesses, hábitos saudáveis, responsabilidade por si e pelo

outro, direcionar para novos padrões de vida longe das drogas, para que haja uma

reinserção tanto a nível social como familiar.

Considerando que a CT é um ambiente de tratamento, as interações entre os membros são planejadas para serem terapêuticas dentro do contexto das normas que demandam de cada membro o exercício de um papel duplo. O objetivo do tratamento não é somente ajudar o dependente a começar a sair das drogas, mas ajudá-lo também a desenvolver um estilo de vida que sustente uma existência sóbria (FRACASSO, 2008, p. 20).

7 Programa de Assistência Psicossocial (tratamento a nível ambulatorial)

Page 56: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

55

Logo, o Desafio Jovem do Ceará trabalha com uma equipe multiprofissional

composta por psicólogo, assistentes sociais, terapeuta ocupacional, coordenadores,

educadores cristãos, professores, educador físico e um grupo de agentes

terapêuticos. A equipe multidisciplinar trabalha para proporcionar ao dependente

químico e alcoolista a sua reintegração social nas cinco áreas, a saber: física,

psicológica, espiritual, social e cognitiva.

Na área física, são desenvolvidas atividades ligadas à saúde do corpo como: a

prática da educação física, esportes e laborterapia.

[...] o exercício físico aeróbicos de alta intensidade parece ser eficaz e de grande utilidade no tratamento dos usuários de substancias psicoativas, especialmente de cocaína. a forma física e os níveis de energia dos ex. usuários em recuperação melhoram durante a prática esportiva, modificando positivamente sua percepção corporal, equilibrando seu senso de autocontrole e favorecendo a interação com seus pares [...] (RIBEIRO, OLIVEIRA; MIALICK, 2012, p. 501).

Área psicológica: trabalha com o dependente químico e seus familiares, com

propósito de identificar e tratar os conflitos psíquicos inerentes a cada ser humano.

Os pacientes aprendem que há diferentes caminhos para mudanças de comportamento e que o terapeuta poderá ajudá-los a encontrar esses caminhos por intermédios de técnicas clinicas. Ao longo do tempo, o tratamento pode ser considerado mais uma “jornada de descoberta” pessoal, não apenas uma recuperação (PADIM, 2012, p. 325).

Os profissionais que trabalham a área espiritual objetivam através dos

ensinamentos de Cristo uma mudança no estilo de vida dos dependentes químicos,

ou seja, é através da Bíblia que eles têm subsídios teóricos para garantir uma vida

longe das drogas.

[...] a reunião, de cunho religioso, utiliza-se da bíblia ou de outro livro religioso a caba agindo como terapia de grupos, permitindo que seus frequentadores dividam com o grupo suas angustias e recebam sugestões de como superá-las. Sentem-se apoiados, sem serem julgados pelos atos errôneos que porventura possam ter cometido durante os anos em que as drogas definiam os rumos de sua vida [...] (SANCHEC; RIBEIRO, 2012, p. 486).

Ao se trabalhar a área social dos dependentes químicos, tem como objetivo

fortalecer e/ou restabelecer os vínculos familiares e comunitários dos residentes,

orientar e encaminhar os mesmos para o processo de reinserção social. “[...] a

participação da família no tratamento está diretamente relacionado ao grau de

Page 57: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

56

necessidade de mudança por parte do usuário, de manutenção da abstinência e da

continuidade do processo de recuperação [...]” (FRACASSO; LANDRE, 2012, p.

510)

A área cognitiva está ligada à área de aprendizagem, e acontecer na instituição

a partir do convênio firmado com a Secretaria de Educação do Ceará, fica a cargo

dos professores de educação permanente que têm a função de ensinar os

indivíduos que não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos ou que nunca

estudaram em decorrência do uso de (SPAs), logo é uma possibilidade de ter

acesso com profissionais gabaritados na área.

[...] os mais jovens, quando têm condições e são apoiados pela família ou companheiros, retornam aos estudos. Quando isso acontece, é a retomada do ciclo natural da vida, da capacidade de investir na esperança de melhores dias e de não mais voltar à desesperança das drogas e do álcool (COSTA, 2001, p. 239).

O trabalho que a Instituição desenvolve é no sentido de tratar, recuperar e

reinserir o dependente químico nas diversas atividades desenvolvidas por uma

equipe multiprofissional, através de modalidades diferenciadas de tratamento,

voltada para atender o individuo em sua integralidade colaboram para melhoria da

qualidade de vida e o exercício pleno de cidadania, a pretensão é torná-lo um sujeito

autêntico capaz de fazer escolhas longe das drogas.

3.2 História dos sujeitos

Turmalina, 23 anos de idade, solteiro, ensino médio completo, costureiro,

nunca teve problemas com a justiça, não tem histórico de situação de rua, mas

passava boa parte do tempo na rua em busca do crack, tem parentes próximos que

faz uso de drogas lícitas, a saber, o álcool, advindo de uma relação conflituosa com

o pai, está na 4ª internação, usou pela primeira vez álcool e tabaco por volta dos 15

anos de idade, a relação com o crack ocorreu em virtude da influência de amigos e

da curiosidade. Experimentou a “pedra” com 16 anos; de início, fumava apenas

quando usava álcool, no decorrer dos anos o crack passou a ser a primeira e única

opção, vivendo apenas em função de usar, inúmeras foram as consequências do

uso do crack: contraiu tuberculose, abandonou as relações sociais com amigos e

familiares, em relação ao emprego não tinha vínculo formal de trabalho, fazia

Page 58: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

57

apenas bico numa facção e já estava preste a sair; em relação ao HIV, nega que

tenha ocorrido em detrimento do uso da “pedra”, está em tratamento residencial há

quatro meses.

Topázio, 24 anos, solteiro, estudou até a 5ª série do ensino fundamental, não

tem problemas com a justiça, não tem histórico de situação de rua. Tem familiares

que fazem uso de substância psicoativa, começou a beber com 11 anos de idade,

usou maconha, cocaína, mesclado, mas a preferência era pelo crack que conheceu

com 18 anos, em decorrência de amizades; no início, associava o álcool com o

crack, em virtude disso, perdeu a companheira e vendeu tudo que possuía como

geladeira, fogão, cama, celular etc.; as relações familiares muito fragilizadas, com

conflitos constantes com os pais, passou a viver isolado somente em função do uso

compulsivo do crack, em tratamento residencial acerca de quatro meses.

Diamante, 33 anos, solteiro, estudou até a 3ª série do ensino fundamental,

não tem filhos, não tem problemas com a justiça, não viveu em situação de rua,

usuário de álcool, maconha, cocaína e crack, do qual tem preferência; o primeiro

contato com álcool foi através de amigos; a maconha foi em torno dos 14 anos de

idade através do seu genitor, que era dependente químico e alcoolista, a saber

(maconha e álcool), o uso da cocaína era esporádico; aos 17 anos de idade, por

curiosidade e influência de amigos usou crack pela primeira vez, fazendo uso por

quase duas décadas; nos últimos anos, o uso ficou descontrolado, acarretando com

problemas psíquicos e sociais, a fissura o levava à prática de assaltos para comprar

a “pedra”, dívidas com traficante era outro agravante; o relacionamento com a

família era complicadíssimo, não conseguia emprego formal, os bicos que fazia

eram apenas para comprar o crack; está em tratamento a nível residencial há

quatro meses.

Rubi, 33 anos, artesão, tem uma companheira, sem filhos, não viveu em

situação de rua nem tem problemas judiciais, tem familiares que são usuários de

maconha e cocaína, usuário de álcool, maconha, mesclado, cocaína, psicotrópico e

crack. Segundo ele, o crack é uma droga poderosa e alucinante, usou pela primeira

vez há treze anos por curto espaço de tempo, nos últimos sete anos passou a ser a

droga de preferência, usava de forma cada vez mais compulsiva, cometendo

Page 59: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

58

pequenos furtos dentro de casa; chegou a vender a roupa do corpo para adquirir a

“pedra”, logo, houve um agravamento dos problemas sócio-familiares em

decorrência do uso compulsivo; está em tratamento há seis meses.

Percebe-se que o perfil dos entrevistados não é diferente dos dados

divulgados recentemente pela Fio Cruz(2013), que apontou o perfil dos usuários de

crack no Brasil: são adultos jovens, solteiros, com baixa escolaridade, com relações

familiares fragilizadas, percebe-se que há por partes dos dependentes químicos, a

busca por uma droga cada vez mais forte e que os efeitos sejam capazes resolver

seus problemas seja de ordem psíquica, familiar ou econômica, no entanto, no

decorrer do tempo o uso abusivo acarreta maiores transtornos .

De acordo com os relatos dos entrevistados, o primeiro contato com as

drogas foi através de amigos ou familiares próximos, todos foram unânimes em

afirmar que o primeiro contato com as drogas foi na adolescência; conforme Bessa

(2012), a adolescência é uma fase na qual há transformações no próprio corpo como

a nível psíquico, segundo o autor estudos comprovam a tendência de

experimentação de drogas nesta fase da vida, podendo levar a desenvolver

inúmeros problemas pra algumas pessoas e outras não.

O primeiro contato com as substâncias ocorre muitas vezes por “pressão do

grupo” no qual o indivíduo faz parte, ou no contexto familiar vulnerável, com

presença de uso de alguma substância psicoativa, o que Ribeiro, Yamguchi e

Duailibi (2012), dizem ser fatores de riscos os “componentes individuais e sociais

que influencia positivamente ou negativamente para o consumo”.

Nesse sentido, existem inúmeros fatores de risco e também de proteção, pois

os sujeitos são indivíduos que vivem em interação com os demais, em especial

nesta fase onde a busca pelo “novo”, por novas sensações, a falta de expectativas

em relação ao futuro e tendo nas drogas a possibilidade de “algo a mais”, conforme

Bessa (2012), “o uso de substância psicoativa que passa a ser muito atraente nesta

fase”. Portanto, é imprescindível para nossa compreensão que as drogas surgem

nesta etapa com um elemento desestabilizador para a vida dos indivíduos que

buscam “prazer”, conforme a fala deles.

Page 60: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

59

[...] incentivos de amigos, as amizades, primeiro foi o álcool a maconha, os amigos incentivaram ai veio a curiosidade, achava aquilo ali legal, que quem fazia aquilo ali era massa e tal. (RUBI, 33 anos).

[...] eu não gostava de drogas ele dizia borá macho é bom experimenta, ai experimentei e todo dia tava fumando mais ele (TOPÁZIO, 24 anos).

As motivações do consumo são as mais variadas: a busca pelo prazer,

problemas inerentes ao próprio indivíduo, busca por “autonomia social”, afirmação

da identidade, a disponibilidade das drogas lícitas/ilícitas no mercado, o uso

recreacional que tende a levá-los para a dependência. Conforme Bucher (1992), “ a

passagem de uma etapa para outra não segue o mesmo ritmo em todas as

pessoas”, assim percebe-se nas falas que os motivos que o levaram a usar pela

primeira vez não são os mesmos que os fizeram permanecer, de forma gradativa e

isolada nota-se que cada sujeito pesquisado passou de uma etapa para outra

conforme o discursos dos próprios entrevistados:

Curiosidade; um vizinho meu, ele disse, que era bom, 17 anos, comecei a usar e fiquei gostando e fiquei com aquela fissura de mais e mais, foi indo não deixei mais (TOPÁZIO, 24 anos).

[...] fazia coisa que eu nunca tinha feito, eu nunca pensei que um dia eu podia fazer né por causa da droga, mas o crack fez eu fazer isso ai, fez eu desinteressar pelo trabalho, fez com que eu quase perdesse minha família, minha mulher, trouxe muitas consequências (RUBI, 33 anos).

Percebe-se, nas falas, o modo pelo qual viviam os residentes, antes do

tratamento no DJC, de forma tão comprometida com a droga que os problemas

ultrapassavam as questões individuais e familiares. Havia, por parte dos indivíduos,

desinteresses e abandono por questões práticas do cotidiano, abandono de

emprego, risco de morte, conflitos familiares uma desfiliação em todos os aspectos

da vida, comprometimento considerável culminando com o isolamento social. As

consequências de ter o crack como droga de preferência são as mais diversas

conforme eles citam:

[...] a tuberculose foi através do crack, o HIV não, mas influenciar devido à baixa imunidade [...], os problemas sociais que o crack tirou de mim foi o prazer de viver as amizades né, nem foi que meus amigos se afastarão de mim, aconteceu de eu me afastar deles primeiro entendeu? [...] eu perdi esse convívio social com as pessoas, com a minha família, também eu tinha perdido esses laços, nem mesmo tava perto deles, porque eu passava boa parte do tempo na rua do que dentro de casa (TURMALINA, 23 anos)

Page 61: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

60

Vários problemas, perdi a mulher que eu tinha [...], fui e disse pra ela que eu usava, perdi ela separemos, muitas coisas na vida boa que eu perdi, também, que por exemplo minha família que isolaram mais eu, me deixaram mais distante, dizia que não era vida pra mim e eu quer saber de nada... muito é bom (TOPÁZIO, 24 anos )

A dependência perpassa por momentos de quebra de vínculos sociais e

comunitários, em que os sujeitos ficam excluídos dos aspectos básicos de

sociabilidade, pressupondo uma reinserção social que Ganev e Lima (2011, p.115),

denomina de que “consequências da dependência de drogas são, elas mesmas, os

pressupostos da necessidade de reinserção social”, devido o grau de

comprometimento dos indivíduos com as substâncias psicoativas, percebendo-se

nas falas dos sujeitos que houve um afastamento das questões do cotidiano como,

estudar, trabalhar , passear, enfim cuidar da família, os sujeitos se encontram tão

afetados que não tem domínio sobre o uso e suas implicações com isso acarreta

inúmeras consequências como isolamento, alienação do ser, problemas familiares,

conforme relatos abaixo:

[...] fazia coisa que eu nunca tinha feito, eu nunca pensei que um dia eu podia fazer né por causa da droga, mas o crack fez eu fazer isso ai, fez eu desinteressar pelo trabalho, fez com que eu quase perdesse minha família, minha mulher, trouxe muitas consequências (RUBI, 33 anos)

[...] eu trabalhava em função do crack, como eu falei nunca me envolvi com polícia nem cheguei a mora na rua, graça a Deus, mas em compensação tudo que eu ganhava no meu trabalho era para o crack, eu já não conseguia ter mais objetos pessoais, como roupa, calçado, celular coisas que meus amigos tinham[...] eu passei também a não querer mais me divertir, eu trocava momentos com meus amigos para ficar usando crack, eu não dava mais importância em sai com eles (TURMALINA, 24 anos).

A percepção dos entrevistados referente ao tratamento residencial, referiram-

se às dificuldades e as possibilidades que o tratamento dispõe, em relação às

dificuldades está a questão de lidar com abstinência8 e a fissura9 principalmente nos

primeiros dias dentro da casa; em relação à adaptação, todos relataram a grande

8 Abstinência A síndrome de abstinência é um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da falta da

substância no organismo, caracterizando-se por sensações de mal-estar e diferentes graus de sofrimento mental e físicos que variam de acordo com cada tipo de droga. 9 Fissura refere-se a um desejo profundo de consumir uma substancia psicoativa, associado a

intenção de repetir a experiência dos efeitos. Sendo geralmente, acompanhada de alteração do humor, do comportamento e da cognição.

Page 62: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

61

contribuição dos profissionais da instituição em relação ao manejo da fissura

principalmente nos primeiros dias, quando acontece uma maior evasão.

As atividades utilizadas pelos profissionais no início do tratamento dizem

respeito à compreensão dos efeitos das drogas no organismo, levando-os a refletir

os motivos do uso, desenvolvem atividades com a finalidade de “controlar” o desejo

para não usarem, são questões trabalhadas nos grupos que acontecem diariamente

na instituição, mas segundo Ribeiro (2012) afirma que “a vulnerabilidade crônica a

recaídas é um desafio no tratamento do dependente químico”, neste sentido o

tratamento requer além de técnicas o uso de farmacológicos.

3.3 Tratamento residencial como possibilidade

Na percepção dos entrevistados, o trabalho desenvolvido dentro da instituição

não contempla apenas ficar longe das drogas, mas implica em recuperar o tempo

perdido, ter metas, voltar a acreditar em si mesmo, logo, é neste sentido que eles

abordam a importância das atividades ligadas à área educacional, a convivência, a

recuperação da autoestima e da sociabilidade em todos os aspectos, de acordo com

as falas dos próprios residentes “a ajuda dos profissionais, o interesse pelos estudos

e a convivência boa que eu tive sempre na casa” (Rubi, 33 anos), demonstram que o

tratamento oferecido tem impactos na vida dos indivíduos que tem problemas

relacionados com o crack “no início foi difícil que tinha fissura, falei com os

profissionais, ai já tava querendo ir embora, ai eu disse pra Dra. aqui e ela disse que

ia passar e realmente passou” (Diamante, 33 anos).

Ao serem perguntados em relação às atividades desenvolvidas, mencionaram

as que mais tinham afinidade.

[...] as atividades que eu mais gostava era a Terapia ocupacional, e a laborterapia, podia me colocar em qualquer canto que eu gostava, de pintura [...] (Diamante, 33 anos)

[...] uma coisa que eu não faço mais é menti...isso ai que fez eu aprender nos cultos, ser sincero falar a verdade mesmo que doa, eu tô bem espiritualmente...(Rubi, 33 anos)

Embora tenha percebido que há um número considerável de alta administrativa

nos primeiros dias de “internação” seja alta a pedido ou por terem sido desligados

Page 63: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

62

por infligirem as normas de convivência da instituição, há um consenso com Ribeiro

(2012) em relação ao esse perfil que os “usuários dessas substâncias apresentam

maiores índices de abandono e, quando internados, apresentam piores índices

sociais”. Percebe-se uma complexidade em relação à busca pelo tratamento e

também em relação à continuidade, isso ocorre por causa da ação do crack no

sistema nervoso central.

Quando indagados em relação às primeiras saídas, mostraram-se

entusiasmados e otimistas, relatando que foram recebidos pelas famílias, com muito

amor, carinho e compreensão. Portanto, percebe-se nas falas e no semblante deles

que foram tratados de maneira afetiva, embora advindos de um contexto fragilizado

e relações adoecidas por causa do uso, a volta ao lar depois de alguns meses

afastado é uma possibilidade de inicio de vida ou período longe do mundo das

drogas. Conforme informe dos próprios entrevistados que segue:

Eu senti tudo diferente, tudo novo, quando cheguei em casa minha mãe de boa comigo, mais carinhosa, tratado super bem, pela minha mãe, antes eu não tinha esse afeto, carinho por ela, ela sempre teve mas eu não ligava, não dava tanta importância pra essas coisas não- só quando tá aqui dentro a gente vai saber o valor né [...] (DIAMANTE, 33 anos)

[...] a sensação era boa de alivio você chegar em casa não ter ninguém com a cara emburrada pra você, não ter ninguém pra dizer coisa, discutir, criticar que nem antigamente tinha né! Foi uma sensação muito boa (TOPÁZIO, 24 anos)

Segundo Ganev e Lima (2011), mencionam que o fato dos indivíduos estarem

sóbrios não significa que haja um resgate das relações que foram anteriormente

rompidas por causa da situação de uso e suas alusões como mentira, raiva,

ressentimento, ciúme, mas é importante ressaltar aqui, a importância do trabalho

desenvolvido junto às famílias, no sentido de ter nesta o referencial de

comportamento, atitudes e apoio para continuidade no processo de tratamento e

reinserção social, logo é ter na família uma possibilidade de ficar “seguro”.

De acordo com as falas dos entrevistados, houve mudanças significativas em

relação às atitudes dos familiares. Mudaram o modo de agir, passaram a tratá-los de

forma carinhosa com atitude de respeito, havia mudança até na maneira de olhar,

assim passaram a viver de forma harmoniosa, não apenas por causa da abstinência,

os motivos vão além, segundo os mesmos, isso ocorre por parte dos familiares, por

Page 64: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

63

compreenderem que existe um compromisso, uma busca pela superação, por um

novo estilo de vida longe das drogas.

Logo, compreendemos a importância do trabalho desenvolvido dentro da

instituição com os familiares, sendo considerado primordial para o sucesso do

tratamento. Assim, é imprescindível e notório o acompanhamento das famílias por

parte da equipe técnica, em especial dos assistentes sociais que atuam nos

atendimentos individuais e grupais no sentido de restabelecer, fortalecer e

acompanhar todo o processo de tratamento, recuperação e reinserção a nível

familiar, conforme menciona Domingos e Machado (s/d, p.1) “com a questão do uso

e abuso de drogas se percebe o alcance cada vez maior de consequências

generalizadas na vida social das pessoas, na desagregação familiar”. Portanto,

percebe-se que a família tem sua responsabilidade no sentido de influência tanto em

nível de experimentação do uso como sendo responsável no positivamente para

cuidar.

3.4 Dificuldades e possibilidades que envolvem o processo de

reinserção social

Questionados sobre as dificuldades que envolvem o processo de reinserção

social, os entrevistados, de início, não compreendiam o significado do termo

“reinserção social”, em que se fez necessária uma explicação breve, e discorreram

sobre as principais dificuldades, dentre elas todos foram unânimes em admitir o

medo da recaída, a dificuldade perpassa pela falta de oportunidade em arrumar

emprego, “eu não sei não, qualquer hora lá fora muitas tentação né, eu ainda fico

com aquele receio, a falta de uma ocupação é difícil [...]” (Rubi,33 anos). Outro fator

de grande inquietação é em relação às amizades; disseram ter receio e

demonstraram não saber como lidar com essa situação, “minha maior dificuldade é

os amigos...” (Topázio, 24 anos) as falas descrevem o medo de voltar a usar e

abordam acerca das estratégias possíveis para não voltar à situação de uso.

A fuga, o evitamento, ter uma ocupação com alguma atividade que substitua o

uso da droga, a determinação pessoal de não voltar ao consumo, o apoio da família,

foram algumas considerações feitas pelos jovens como principais motivos para

Page 65: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

64

permanecer longe das drogas. Neste sentido, conclui-se que a ocupação do tempo

com atividades que proporcionem algum tipo de prazer/ satisfação e a continuidade

no atendimento com profissionais da área são prerrogativas para um processo

contínuo de reinserção social, destaque para as falas deles.

[...] eu tenho medo sim, esse medo venha pra me despertar isso, querer distancia do crack e consequência do mundo que o crack, envolve que é as pessoas que usam, os lugares e quando alimento isso em mim, eu acredito que vai dar certo (TURMALINA,23 anos)

Conforme Ganev e Lima (2011), “reinserção social inicia-se no primeiro

atendimento quando o dependente busca ajuda” neste sentido percebe-se nas falas

dos entrevistados que houve um regaste de vida, possibilidade de voltar a acreditar

em si mesmo, é visível o compromisso dos profissionais do DJC no atendimento

aos dependentes químicos de forma integral, sem discriminação com a finalidade de

trabalhar questões relacionadas ao restabelecimento ou regaste sócio familiar.

A abordagem acontece de forma clara; a relação desenvolvida pela equipe

multidisciplinar, no trato com os residentes, conhecer suas percepções em relação

ao desejo de parar ou não de usar drogas, nos atendimentos individuais e de grupo,

é considerado a história de vida de cada indivíduo, oriundo das mais complexas

realidades sociais, de ambientes conflituosos, com relações familiares arrasadas,

indivíduos excluídos socialmente, neste sentido o trabalho desenvolvido perpassa

para possibilidade do individuo voltar a acreditar primeiro em si mesmo, conforme

relata a citação abaixo que, a partir dos primeiros dias em tratamento, os

dependentes vão fazendo planos para o futuro.

À medida que vão resgatando o vigor físico, intelectual e emocional, redescobrem-se como sujeitos capazes de transformar a própria realidade e retomam a capacidade de fazer planos, sonhar e ter esperança em reconstituir suas vidas, seus casamentos, suas famílias...A volta aos bancos escolares e a conquista de um emprego, tão logo saiam da Instituição, geralmente faz parte desses sonhos (COSTA, 2001,p. 238).

Diante disso, ao serem abordados em relação às perspectivas para o futuro,

todos falaram em trabalhar, constituir família, estudar e ficarem longe das drogas

conforme as falas abaixo:

Page 66: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

65

[...] eu queria colocar um negócio pra mim, não queria trabalhar pros outros, uma coisinha que eu não gosto é de ficar todo tempo sendo mandado [...] (DIAMANTE).

[...] Pretendo trabalhar e comprar uma casa pra mim, depois comprar uma moto e arrumar uma pessoa pra mim se casar é isso que pretendo [...] uma vida sossegada, sem bebida e sem drogas [...] (TURMALINA).

[...] meus planos para o futuro é terminar meus estudos, conseguir um emprego, e arrumar uma casa para construir família [...] expectativa em arrumar um emprego, minha estratégia é essa arrumar um emprego [...] meu maior medo é voltar de novo e fazer mais nada da minha vida! já tá boa assim sem usar, quero mais não, essa desgraça não, não me trouxe nada de bom, mas as vezes vou mentir não bate uns pensamento[...] (RUBI).

Neste cenário de novas possibilidades, é necessário entendermos, segundo

Ganev e Lima (2011), que há duas questões importantes que devem ser analisadas:

a primeira diz respeito ao isolamento do próprio sujeito, “que ocorre a partir do

dependente consigo mesmo”, devido a dependência, em especial a do crack, e a

outra é a exclusão social que é “ o alijamento de milhões de cidadãos de condições

mínimas de trabalho, educação , moradia, saúde , transporte” e assim, o dependente

químico se encontra numa maior vulnerabilidade, estando excluído das duas

dimensões.

Logo, faz-se necessário pensarmos em uma dupla dimensão de reinserção, a

primeira diz respeito ao próprio individuo, a autotransformação sendo protagonista

das suas escolhas, no restabelecimento da auto estima e da rede social, questões

que foram trabalhadas durante o período de tratamento, e a exclusão social é a

dimensão estrutural que a sociedade moderna impõe a uma classe. Assim,

percebemos nas falas, que há uma expectativa e uma pretensão, sendo objetivos ou

vontades inerentes aos próprios sujeitos em tratamento, que devem ser otimizadas

pelos profissionais.

Page 67: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta monografia almejava investigar as perspectivas dos usuários de crack em

tratamento residencial na comunidade terapêutica Desafio Jovem do Ceará Dr. Silas

Munguba, a respeito do processo de reinserção social. O objetivo era conhecer a

percepção dos indivíduos sobre o processo de Reinserção Social. - verificar a

contribuição deste modelo de tratamento para processo de Reinserção Social. -

apontar as dificuldades que envolvem o processo de Reinserção Social.

Percebe-se na construção desse trabalho, que o surgimento do fenômeno

crack a cerca de vinte anos no Brasil acarretou inúmeros problemas em todas as

áreas, seja na saúde, na educação, segurança pública e está mais visível na

população despossuída do básico.

A dependência química é considerada uma doença progressiva, incurável, e

com danos psicossociais para os indivíduos que a desenvolvem. No entanto, só

ocorre a dependência se houver experimentação, e como relatos dos entrevistados

no capitulo anterior, é na adolescência que acontece “a descoberta da droga” que

pode acarretar na dependência ou não, varia conforme a personalidade do individuo,

a família, o meio no qual está inserido são fatores decisivos para desenvolver o uso

abusivo.

Um fato que nos chama muito a atenção é a relação dos dependentes

químicos com as substâncias psicoativas desde muito cedo, por diversos fatores a

disponibilidade da droga no mercado “negro”, o fácil acesso, a influência de amigos,

a negligência da família são questões que merecem uma reflexão para discutimos o

processo de reinserção social.

Em relação ao tratamento, é importante situar que o usuário de crack, na

maioria das vezes não busca por tratamento no inicio do uso, mas ao serem

“convencidos” por familiares dos problemas que os envolve, tende a aceitar o

tratamento, porém é importante dizer que para tal ato é necessário um

comprometimento maior em todas as dimensões da vida dos individuo.

Page 68: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

67

Logo, o tratamento residencial, em uma Comunidade Terapêutica, surge como

uma possibilidade de tratar o usuário de crack, no manejo com a fissura, no regaste

de laços sociais, construção de projeto de vida, é de suma importância o trabalho

desenvolvido pela instituição, pela equipe principalmente nos primeiros dias, pois

são considerados os mais difíceis devido a consequências do crack no organismo. A

equipe trabalha com os residentes no sentido de que os efeitos sejam amenizados;

ressaltam-se aqui os grupos e atendimentos individuais feitos pela equipe ao

estabelecimento de metas para que os objetivos finais que é o projeto de vida sejam

atingidos.

Assim, em relação às perspectivas no que concerne às dificuldades que

envolvem o processo de reinserção social, percebe-se que são vários os fatores

desafiadores, como a manutenção do tratamento, há uma inquietação em relação às

amizades da ativa, o medo da recaída, a falta de emprego, são fatores muito

presente nas falas dos residentes, assim percebe-se que há uma preocupação do

seu retorno ao lar após o tratamento residencial, há um receio por parte dos

residentes, no que diz respeito a falta de oportunidade no mercado de trabalho, ao

ciclos de amizades, novos hábitos, novos vínculos sociais e comunitário, são

questões que implicam um acompanhamento diferenciado.

Nesse sentido, no que diz respeito à reinserção social, percebemos que os

residentes da Comunidade Terapêutica Desafio Jovem são homens jovens que

abandonaram os estudos há muito tempo e não têm uma qualificação profissional,

começaram a fazer uso de droga muito jovens e apresentam um comprometimento

com o crack. Ao aderirem ao tratamento, eles têm a oportunidade de concluírem os

estudos, na expectativa de conseguirem um emprego e transformar a própria

realidade social.

No entanto, não é um processo fácil, mas é lento e gradual. Faz-se necessário

o apoio da família e Políticas públicas efetivas que garantam a esta população o

direito de começar uma nova etapa da vida, longe das drogas. Nota-se que o

processo de reinserção social requer uma compreensão para além dos aspectos

individuais; ela perpassa por várias dimensões, familiares e sociais dos indivíduos

envolvidos com a problemática do crack.

Page 69: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

REFERÊNCIAS

ALVES, Harmer Nastasy; RIBEIRO, Marcelo; CASTRO, Daniel Sócrates. Cocaína e Crack. In: DIEL, Alessandra, CORDEIRO, Daniel C.; LARANJEIRA, Ronaldo. (Porto Alegre: Artemed, 2011. p. 170 -186.

AVELINO, Victor Pereira. A evolução da legislação brasileira sobre drogas. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2440, 7 mar. 2010 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/14470>. Acesso em: 23 jan. 2014.

BATISTA, Vera Malaguti. Drogas e criminalização da juventude pobre no Rio de Janeiro. Revista Discursos Sediciosos: crime, direito e sociedade. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, nº. 2, 1996.

BERGERON, Henri. Sociologia da droga. São Paulo: Ideia e Letras, 2012.

BESSA, Marco Antonio. O adolescente usuário de crack. In: RIBEIRO, Marcelo; LARANJEIRA, Ronaldo. (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre. Artemed, 2012. p. 619-630.

BORINI, Paulo; GUIMARÃES, Romeu Cardoso; BORINI, Sabrina Bicalho. Usuários de drogas ilícitas internados em hospital psiquiátrico: padrões de uso e aspectos demográficos e epidemiológicos. Jornal Brasileiro de psiquiatria, v. 52, n. 3, p.: 171-179, 2003.

BRASIL. Decreto de nº 7179, de 20 de maio de 2010. Institui o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil03/Ato2007-2010/2010/Decreto/D7179.htm>. Acesso em: 23 nov. 2013.

BRASIL. Decreto nº 7.179, de 20 de maio de 2010. Disponível em: <www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto>. Acesso em: 10 jul. 2013.

BRASIL. Inovação e participação. Relatório de ações do governo na área da redução da demanda de drogas. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2006. Disponível em: <http://www.obid.senad.gov.br/portais>. Acesso em: 15 ago. 2013.

BRASIL. Lei nº 6.368, de 21 de outubro de 1976. Lei de entorpecentes. DOU de 22/10/1976. Disponível em: <http://www3.dataprev.gov.br/SISLEX/paginas/ 42/1976/6368.htm>. Acesso em: 23 dez. 2013.

BRASIL. Lei de nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Disponível em: <www.brasilsus. com.br/legislacoes/leis/14246-10216.htm>. Acesso em: 10 jun; 2013.

BRASIL, Lei nº 10.409, de 11 de Janeiro de 2002. Disponível em: <http:// presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/100000/lei-10409-02>. Acesso em: 23 out. 2013.

Page 70: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

69

BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui a nova política nacional sobre drogas. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/ 2006/lei/l11343.htm>. Acesso em: 19 set. 2013.

BRASIL. Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008. Disponível em: <http://lfg.jusbrasil. com.br/noticias/34500/lei-n-11705-2008-tolerancia-zero-aplicada-ao-codigo-de-transito-brasileiro>. Acesso em: 10 nov. 2013.

BRASIL. Ministério da Justiça. Informações sobre drogas: padrões de uso. Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas – OBID. 2013 [s.l]. Disponível em: <http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/index.php>. Acesso em: 20 ago. 2013.

BRASIL. Política Nacional sobre Drogas. Brasília: Presidência da República, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2010.

BRASIL. Política Nacional Sobre Drogas. Brasília: Secretaria Nacional sobre drogas, 2008.

BRASIL. Portaria GM/MS de nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Disponível em: <http://www.brasilsus.com.br/legislacoes/ gm/111276-3088.html>. Acesso em: 02 set. 2013.

BRASIL. Portaria GM/MS de nº 336, 19 de fevereiro de 2002. Regulamenta o funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Disponível em: <portal.saude.gov.br/.../pdf/Portaria%20GM%20336-2002.pdf>. Acesso em: 05 ago. 2013.

BUCHER, Richard. Drogas e drogadição no Brasil. Porto Alegre: Artes Medicas, 1992.

BUCHER, Richard. O consumo de drogas: evoluções e respostas recentes. Rev. Psicologia, teoria e pesquisa, Brasília, v.2, n. 2, p. 132-144, maio/ago., 1986.

BUCHER, Richard. Visão histórica e antropológica das drogas. In: FIGUEIREDO, Regina Mª M. D. de (Org.). Prevenção ao abuso de drogas em ações de saúde e educação: uma abordagem sócio-cultural e de redução de danos. São Paulo: NEPAIDS, 2002.

CARVALHO, Salo de. A política criminal de drogas no Brasil: do discurso oficial às razões da descriminalização. 6. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2013.

CARVALHO, Denise Bomtempo Birche de; CHAIBUB,Juliana Rochet Wirth; MIRANDA, Daniel Augusto Carneiro de. Legislações e politicas de saúde relacionadas ás diretrizes da Politica Nacional Sobre Drogas. In: Prevenção ao uso indevido de drogas: capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias. 2. ed. Brasília: Presidência da Republica. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, 2010. p. 230- 239.

Page 71: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

70

CAVALCANTE, Antonio Mourão. Drogas, esse barato sai caro: os caminhos da prevenção. 2. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos tempos, 1997.

CHAVES, Edmundo Muniz; CHAVES Eugênia Maria. O papel da comunidade terapêutica na atual conjuntura. In: Revista Comunidade Terapêutica e Dependência Química em Pauta. Cruz Azul do Brasil. Blumenau, Ano I, n. 2, s/d.

CENTRO Brasileiro de Informações sobre Drogas – CEBRID. Perfil do consumo de crack no Brasil. Em Discussão, 2013 [s.l]. Disponível em: <http://www.senado. gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/dependencia-quimica/aumento-do-consumo-de-drogas/perfil-do-consumo-de-crack-no-brasil.aspx>. Acesso em: 10 nov. 2013.

COSTA, Selma Frossard. As políticas públicas e as comunidades terapêuticas no atendimento à dependência química. Serviço Social em Revista, Londrina, v. 11, n. 2, p. 1-14, jan./jul., 2009.

COSTA, Selma Frossard. O processo de reinserção social do dependente químico a pós completar o ciclo de tratamento em uma comunidade terapêutica. Serviço Social em Revista, Londrina, v.3, n.2, p. 215-242, Jan./Jun, 2001.

DESAFIO, Jovem; Regulamento interno; Manual do Aluno.

DOMINGOS, Rosa Maria Soares Domingos; MACHADO, Ednéia Maria. Reflexão

sobre a prática profissional do serviço social na universidade estadual de Maringá : a

dependência química como expressão da questão social. Disponível

>http://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&q=http%3A%2F%2Fcac-

php.unioeste.br%2Fprojetos%2Fgpps%2Fmidia%2Fseminario1%2Ftrabalhos%2FAs

sistencia%2520Social%2Feixo3%2F90RosaMariaSoaresDomingos.pdf&btnG=&lr=

acesso 20 de agosto 2013

DUARTE, Cláudio Elias; MORIHISA, Rogério Shigueo. Experimentação, uso, abuso e dependência de drogas. In: Prevenção ao uso indevido de drogas: capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias. 4. ed. Brasília: Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, 2011. p. 41- 49.

DUARTE, Paulina do Carmo A. V.; DALBOSCO, Carla. A política e a legislação brasileira sobre drogas. In: Prevenção do uso de drogas: capacitação para conselheiros e lideranças comunitárias. 5. ed. Brasília: Ministério da Justiça / Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, 2013. p. 218-230.

FIGUEIREDO, Regina M. Mac Dowell de. (Org.). Prevenção ao abuso de drogas em ações de saúde e educação: uma abordagem sócio-cultural e de redução de danos. Brasília: NEPAIDS, 2002.

FORMIGONI, Maria Lucia Oliveira de Souza; GALDURÓZ, José Carlos Fernandes; MICHELI, Denise de. Álcool: efeitos agudos e crônicos no SNC e em outros sistemas orgânicos. In: Encaminhamento, Intervenção breve, Reinserção Social e

Page 72: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

71

Acompanhamento. Módulo 2, cap. 2. Sistema para Detecção do Uso Abusivo e Dependência de Substâncias Psicoativas – SUPERA: Secretaria Nacional Antidrogas, 2009. p. 1-18.

FRACASSO, Laura; LANDRE, Mauricio. Comunidade Terapêutica. In: RIBEIRO, Marcelo; LARANJEIRA, Ronaldo. (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artemed, 2012. p. 503-513.

FRACASSO, Laura. Comunidades terapêuticas. In: DIEL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel C.; LARANJEIRA, Ronaldo. (Orgs.). Dependência química: Prevenção, Tratamento e Políticas Publicas. São Paulo: Artemed, 2011.

FRANKENBERGER, Alexandre Jordão. Classificação das drogas. O assunto é drogas, ago. 2009 [s.l]. Disponível em: <http://oassuntoedroga.blogspot.com.br/ 2009/08/classificacao-das-drogas.html>. Acesso em: 20 nov. 2013.

FUNDAÇÃO Oswaldo Cruz – FIOCRUZ. Maior pesquisa sobre crack já feita no mundo mostra o perfil do consumo no Brasil. Disponível em: <http://portal.fiocruz. br/pt-br/content/maior-pesquisa-sobre-crack-j%C3%A1-feita-no-mundo-mostra-o-perfil-do-consumo-no-brasil>. Acesso em: 10 nov. 2013.

GABATZ, Ruth Irmgard Bärtschi; SCHMIDT, Airton Luis; TERRA, Marlene Gomes; PADOIN, Stela Maris de Mello; SILVA, Adão Ademir da; LACCHINI, Annie Jeanninne Bisso. Percepção dos usuários de crack em relação ao uso e tratamento. Rev. Gaúcha Enferm. v. 34, n.1, p. 140-146, 2013.

GANEV, Eliane; LIMA, Wagner de Lorence. Reinserção social: processo que implica continuidade e cooperação. Revista Serviço Social e Saúde. Unicamp Campinas, v. X, n. 11, jul. 2011.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GIGLIOTTI, Analice; PRESMAN, Sabrina; AGUILERA, Paz Amarílis Tapia. Tabagismo entre usuários de crack. In: RIBEIRO, Marcelo; LARANJEIRA, Ronaldo. (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artemed, 2012. p.607-618.

GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Record, 2000.

GUIMARÃES, Angela; ALELUIA, Gisele. Intervenção familiar no tratamento do dependente de crack . In: RIBEIRO, Marcelo; LARANJEIRA, Ronaldo. (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artemed, 2012. p. 420-433.

GUIMARAES, Cristian Fabiano; SANTOS, Daniela Vender Vieira dos; FREITAS, Rodrigo Cavalari de; ARAUJO, Renata Brasil. Perfil do usuário de crack e fatores relacionados à criminalidade em unidade de internação para desintoxicação no Hospital Psiquiátrico São Pedro de Porto Alegre (RS). Rev. Psiquiátrica. Rio Grande do Sul, v. 30, n. 2, p. 101-108, 2008.

Page 73: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

72

LARANJEIRA, Ronaldo. Dependência química. Dr. Dráuzio, 2013 [s.l]. Disponível em: <http://drauziovarella.com.br/dependencia-quimica/dependencia-quimica/>. Acesso em: 30 dez. 2013.

LARANJEIRA, Ronaldo. Legalização de drogas no Brasil: em busca da racionalidade perdida. 2001 [s.l]. Disponível em: <http://www.sobresites.com/dependencia/pdf/ LegalizacaoXRacionalidade.pdf>. Acesso em: 02 jul. 2013.

LEMOS, Tadeu; FONSECA, Vilma Aparecida. Anfetamina. In: DIEL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel C; LARANJEIRA, Ronaldo (Orgs.). Dependência química: prevenção, tratamento e políticas publicas. São Paulo: Artemed, 2011. p. ___-____.

MANUAL Diagnostico e Estatístico de Transtorno Mental - DSM IV. Abuso de substâncias. Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx? area=ES/VerClassificacoes&idZClassificacoes=260>. Acesso em: 05 dez. 2013.

MARQUES, Ana Cecília Petta Roselli; RIBEIRO; Marcelo (org.). Guia prático sobre uso, abuso e dependência de substâncias psicotrópicas para educadores e profissionais da saúde. São Paulo: Secretário Especial para Participação e Parceria, 2007.

MAURÍCIO, Francisco Elton Lopes. A reinserção do dependente químico no convívio social. Monografia (2013) 64f. Graduação em Direito pela Universidade de Fortaleza, 2013.

MINAYO, Maria. Cecília. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 29. Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.

NAPPO, Solange Aparecida. Comportamento de risco de mulheres usuárias de crack em relação às DST/AIDS. São Paulo: Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas – CEBRID, 2004.

NAPPO, Solange A; SANCHEZ, ZilaVan; RIBEIRO, Marcelo. Troca de sexo por crack. In: RIBEIRO, Marcelo; LARANJEIRA, Ronaldo. (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artemed, 2012. p. 566-584.

NICASTRI, Sérgio. Drogas: classificação e efeitos no organismo. In: Prevenção ao uso indevido de drogas: capacitação para conselheiros e lideranças comunitárias. 4. ed. Brasília: Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, 2011. p. 17-38.

NIEL, Marcelo. Aspectos históricos sobre o uso de drogas. In: DIEL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel Cruz; LARANJEIRA, Ronaldo (Col.). Dependência química: prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 2011. p.

ORGANIZAÇÃO Mundial de Saúde – OMS. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

ORGANIZAÇÃO Mundial de Saúde – OMS. Neurociências: consumo e dependência de substâncias psicoativas. Genebra: OMS, 2004 [s.l]. Disponível em:

Page 74: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

73

<http://www.who.int/substance_abuse/publications/en/NeuroscienceP.pdf>. Acesso em: 05 dez. 2013.

PADIM, Maria de Fatima Rato.Terapia Cognitivo-Comportamental. In: RIBEIRO, Marcelo; LARANJEIRA, Ronaldo. (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artemed, 2012. p.324-336.

PAIM,Jairnilson Silva. O que é o SUS. Rio de Janeiro:Fiocruz,2009.

PEDRINHA, Roberta Duboc. Notas sobre a política criminal de drogas no Brasil: elementos para uma reflexão crítica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

PEREIRA, Orlando Petiz. Políticas públicas e coesão social. Estudios Económicos de Desarrollo Internacional. Asociación Euro-Americana de Estudios de Desarrollo Económico (AEEADE), v. 5, n. 2, p.: 123-142, 2005.

PERRENOUD, Luciane O.; RIBEIRO, Marcelo. Histórico do consumo de crack no brasil e no mundo. In: RIBEIRO, Marcelo; LARANJEIRA, Ronaldo. (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artemed, 2012. p. 33-49.

PIERANGELI, José Henrique. Códigos penais do Brasil: evolução histórica. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

POSSA, Terezinha; DURMAN, Solânia. Processo de ressocialização de usuários de substâncias lícitas e ilícitas. SMAD, Revista Electrónica en Salud Mental, Alcohol y Drogas, 2007 [s.l]. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=80303 206>. Acesso em: 10 ago. 2013.

PRATTA, Elisângela M. M ; SANTOS, Manoel A. O processo Saúde- doença e a dependência química. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 25, n. 2, p. 203-211, abr./jun., 2009.

RODRIGUES, Vanessa Kelly Soares. Guia institucional de análise; Fortaleza, uece,2010.

RIBEIRO, Luciana; SANCHEZ, Abeidzila M.; NAPPO, Solange Aparecida. Estratégias desenvolvidas por usuários de crack para lidar com os riscos decorrentes do consumo da droga. 2010 [s.l]. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/ jbpsiq/v59n3/a07v59n3.pdf>. Acesso: 07 jul. 2013.

RIBEIRO; Marcelo; MARQUES, Ana Cecília Petta Roselli. Diagnóstico clínico e motivacional. In: _______; LARANJEIRA, Ronaldo (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 211-225.

RIBEIRO; Marcelo; YAMAGUCHI, Shirley; DUALIBI, Ligia Bonacim.Avaliaçao dos fatores de proteção e de risco. In: _______; LARANJEIRA, Ronaldo (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 226-238.

RIBEIRO, Marcelo. Histórico do consumo de crack no Brasil e no mundo. In: _______; LARANJEIRA, Ronaldo (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 33-38.

Page 75: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

74

RIBEIRO, Marcelo; OLIVEIRA, Marcio Luiz Souza; MIALICK, Edilene Seabra. Atividade física aplicada ao tratamento da dependência química. In: _______; LARANJEIRA, Ronaldo (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 495-502.

RIBEIRO, Marcelo; LIMA, Luciana Pires. Mortalidade entre usuários de Crack. In: RIBEIRO, Marcelo; LARANJEIRA, Ronaldo. (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artemed, 2012. p. 92-107.

RIBEIRO, Marcelo; REZENDE, Elton Pereira. Critérios para diagnóstico de uso nocivo, abuso e dependência de substâncias. In: ZANELATO, Neide A.; LARANJEIRA, Ronaldo (Orgs.). O tratamento da dependência química e as terapias cognitivo – comportamentais: um guia para terapeutas. Porto Alegre: Artmed, 2013. p. 33-42.

SABINO, Nathali D. M; CAZENAVE, Silvia O.S; Comunidades terapêuticas como forma de tratamento para a dependência de substancias psicoativa, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?pid=s0103-66x2005000200006& script=sci_arttext>.

SANTOS JUNIOR, Andres; FIKS, José Paulo. Cultura da violência e uso de crack. In: RIBEIRO; Marcelo; LARANJEIRA, Ronaldo (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 108-115.

SANCHEZ, Zila Van Der Meer; RIBEIRO, Luciana Abeid; NAPPO, Solange. A Religiosidade e Espiritualidade. In: RIBEIRO; Marcelo; LARANJEIRA, Ronaldo (Orgs.). O tratamento do usuário de crack. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 483-494

SANTOS, J.A.T., OLIVEIRA, M.L.F..Políticas públicas sobre álcool e outras drogas: breve resgate histórico. J Nurs Health, Pelotas (RS) 2012 jan/jun; 1(2): 82-93

SANTOS, Jessica Adrielle Teixeira; OLIVEIRA, Magda Lúcia Félix de. Políticas públicas sobre álcool e outras drogas: breve resgate histórico. J Nurs Health, Pelotas (RS), v. 1, n. 2, p. 82-93, jan./jun., 2012.

SAPORI, Luis Flavio. A problemática do crack na sociedade brasileira: o impacto na saúde pública e na segurança pública. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica – PUC, 2010.

SAYAGO, Cristina Beatriz W; Características de Usuários de Crack Internado sem Serviços Especializados de Porto Alegre. 95 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - UFRGS, Porto Alegre, 2011.

SCHNORR, Analu; HESS, Adriana Raquel Binsfeld. Perspectivas do usuário de crack ao término do tratamento em comunidades terapêuticas quanto a sua reinserção social. 2012 [s.l]. Disponível em: <https://psicologia.faccat.br/moodle/ pluginfile.php/197/course/section/102/analu.pdf>. Acesso em: 20 maio 2013.

SCHMIDT Al. percepção dos usuários de crack em relação ao tratamento (monografia). três de maio (RS) :Bacharelado em enfermagem, sociedade Educacional três de Maio;2010.

Page 76: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

75

SILVA, Claudio Jerônimo. Critério de diagnóstico e classificação. In: DIEL, Alessandra; CORDEIRO, Daniel C.; LARANJEIRA, Ronaldo. (Orgs.). Dependência química: Prevenção, Tratamento e Políticas Publicas. São Paulo: Artemed, 2011.

SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8, nº 16, p. 20-45, jul/dez. 2006.

TEIXEIRA, Elenaldo Celso. O papel das políticas públicas no desenvolvimento local e na transformação da realidade. DireitoNet. AATR, 2002 [S.l]. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/aatr2/a_pdf/03_aatr_pp_papel.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2013.

VELHO, Gilberto. Individualismo e cultura: nota para uma antropologia da sociedade contemporânea. 8. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

VIDAL, Carlos Eduardo Leal; BANDEIRA, Marina; GONTIJO, Eliane Dias: Reforma psiquiátrica e serviços residenciais terapêuticos. Bras Psiquiatr. 2008. Disponivel em: http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v57n1/v57n1a13.pdf>. Acesso em:19 agosto.2013.

Page 77: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

76

APÊNDICE

Page 78: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

77

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Elenice Araújo Andrade, vou desenvolver uma pesquisa para obtenção

do título de graduada em Serviço Social na Faculdade Cearense (FAC), junto ao

residente do Desafio Jovem do Ceará. Convido-o a participar, mas você não é

obrigado a isso. Você tem o direito de não participar desta pesquisa. A sua recusa

não será motivo de nenhuma restrição futura de acesso aos serviços prestados no

Desafio Jovem do Ceará e, caso consinta em participar, a qualquer momento poderá

desistir e se retirar sem nenhum constrangimento.

A pesquisa tem como objetivo: Analisar as perspectivas dos usuários de

crack em tratamento em uma comunidade terapêutica acerca do processo de

reinserção social as informações serão obtidas através de uma entrevista, realizada

em sala reservada e os seus dados pessoais serão mantidos totalmente sob sigilo.

A entrevista constará de perguntas a respeito de seu tratamento no Desafio

Jovem do Ceará, sua percepção sobre o processo de reinserção social, as

dificuldades que envolvem este processo a contribuição das atividades promovidas

por este modelo de tratamento para o seu processo de Reinserção Social. Terá a

duração de cerca uma hora. As entrevistas serão gravadas para melhorar a

qualidade dos dados. A gravação da entrevista é imprescindível para sua

participação neste projeto. As entrevistas serão transcritas. Seu nome não será

gravado nem será usado na transcrição da entrevista. Não usaremos nenhum tipo

de informação que possa levar à sua identificação. Você pode desistir de participar a

qualquer momento e a entrevista será desgravada na hora.

Esta pesquisa não oferece qualquer risco para sua relação social, familiar,

profissional e de segurança nem para a sua saúde. Mas como benefício, poderá

contribuir para a ampliação do conhecimento na área da dependência química que

se refere à Reinserção Social; e para o aperfeiçoamento de Politicas Públicas que

beneficie a esta população a prática profissional do Assistente Social que atua nessa

área. Como responsável pela coleta de dados, estarei disponível para esclarecer

suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, no telefone (85) 3052-7211 e

através do e-mail [email protected] você preferir, também pode

Page 79: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

78

contatar minha orientadora Professora Verbena Paula Sandy, professora da

Faculdade Cearense através do telefone (85) 3052 7212

Consentimento Pós–Informação

Eu,___________________________________________________________,

fui informado sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha

colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar do projeto,

sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. Este documento

é emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador,

ficando uma via com cada um de nós.

________________________________________Data: ___/ ____/ ____

Assinatura do Participante

__________________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

Fortaleza, ____de_________de 2013.

Page 80: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

79

CARTA DE APRESENTAÇÃO Á PRESIDENTA DO DESAFIO JOVEM DO CEARÁ

ATT: Tereza Cristina Henriques Munguba

Estamos encaminhando ao Desafio Jovem do Ceará o protocolo exigido

para aprovação do projeto de pesquisa: “as perspectivas dos usuários de crack em

tratamento em uma comunidade terapêutica acerca do processo de Reinserção

Social”.

Os pesquisadores envolvidos são: Verbena Paula Sandy (Responsável) e a

Elenice Araújo Andrade (participante). Este trabalho é pré-requisito para conclusão

do curso de graduação em Serviço Social, da faculdade Cearense (FAC), que está

sob coordenação de Elaine Nunes de Carvalho.

Esta pesquisa tem por objetivo analisar as Perspectivas dos Usuários de

Crack em tratamento em uma Comunidade Terapêutica acerca do processo de

reinserção social. Nesse sentido, temos por objetivos específicos: conhecer a

percepção dos indivíduos sobre o processo de Reinserção Social. - verificar a

contribuição deste modelo de tratamento para processo de Reinserção Social. -

apontar as dificuldades que envolvem o processo de Reinserção Social.

Ratificamos, enquanto pesquisadores, nossa responsabilidade acerca das

informações teórico-metodológicas expressas nos documentos apresentados.

Estamos cientes do que nos compete quanto ao objetivo e resultados da pesquisa.

Page 81: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

80

Portanto, solicitamos o parecer da presidenta para a realização da pesquisa.

Caso haja parecer desfavorável ou pendência, nos disponibilizamos para correções

e alterações.

__________________________________________

Elenice Araújo Andrade

(Orientanda)

Eu, Verbena Paula Sandy, orientador (a), declaro estar ciente do projeto de

pesquisa supracitado, me comprometendo a orientar a pesquisadora acima.

Page 82: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

81

TERMO DE COMPROMISSO PARA UTILIZAÇÃO

DE DADOS DE PRONTUÁRIOS

Os pesquisadores do projeto de pesquisa “As Perspectivas dos Usuários de

Crack em tratamento em uma Comunidade Terapêutica acerca do processo de

reinserção social” Se comprometem a preservar a privacidade dos participantes

cujos dados serão coletados em prontuários, bases de dados do Desafio Jovem do

Ceará. Concordam, e assumem a responsabilidade, de que estas informações serão

utilizadas única e exclusivamente para execução do presente projeto.

Comprometem-se ainda a fazer divulgação das informações coletadas somente de

forma anônima.

Fortaleza, 19 de agosto de 2013.

Verbena Paula Sandy

Orientadora

-----------------------------------------------------------------------

Elenice Araújo Andrade

Orientanda

-----------------------------------------------------------------------------

Page 83: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

82

ANEXOS

Page 84: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · novas tecnologias, entretanto, acabaram por contribuir para o surgimento de drogas cada vez mais potentes e, com grande poder

83

DESAFIO JOVEM DO CEARÁ

DECLARAÇÃO

Eu, Tereza Cristina Henriques Munguba, presidente da Instituição Desafio

Jovem do Ceará, declaro para devidos fins, que Elenice Araújo Andrade está

autorizada a realizar pesquisa nesta Instituição para fins de estudo, estando ciente

quanto aos objetivos e resultados da mesma.

Fortaleza, 03 de Setembro de 2013.

_______________________________________________

Tereza Cristina Henriques Munguba

Presidente da Instituição,