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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL JÉSSICA LIMA DE SOUSA OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES NA OPERACIONALIZAÇÃO DO PAIF- SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA NO CRAS ACARACUZINHO/MARACANAÚ-CE FORTALEZA-CE 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

JÉSSICA LIMA DE SOUSA

OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES NA OPERACIONALIZAÇÃO DO PAIF-

SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA

NO CRAS ACARACUZINHO/MARACANAÚ-CE

FORTALEZA-CE

2013

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JÉSSICA LIMA DE SOUSA

OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES NA OPERACIONALIZAÇÃO DO PAIF-

SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA

NO CRAS ACARACUZINHO/ MARACANAÚ-CE

Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação.

Orientadora: Ms. Karlene Gonçalves Marinho

FORTALEZA-CE

2013

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JÉSSICA LIMA DE SOUSA

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense-FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.

Data de aprovação: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Ms. Karlene Gonçalves Marinho

Orientadora

______________________________________________________

Profª. Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves

Faculdade Cearense

___________________________________________________

Profº. Ms. Emanuel Bruno Lopes de Sousa

Faculdade Cearense

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A Deus pela dádiva da vida e a minha família pelos ensinamentos, pela dedicação, confiança e apoio na realização dos meus sonhos.

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AGRADECIMENTOS

Inicio os meus sinceros agradecimentos primeiramente a Deus, por iluminar e

abençoar todos os meus caminhos e escolhas da minha vida.

À minha mãe, Maria Artemisia, pela dedicação, carinho e amor que me fizeram

chegar à concretização deste sonho.

Ao meu pai, Benedito Joelson, pelo amor e dedicação à realização deste sonho.

À minha irmã, Jeysa Lima, pelo apoio e carinho durante esta longa caminhada.

Ao meu namorado, Marcelo Gondim, pelo apoio, pela compreensão e carinho em

todos os momentos ao seu lado.

Às minhas amigas, Inácia Bastos, Jamille Ximenes, Maíra Rodrigues, Germana

Vasconcelos, Janielle Lira e Maria Vilderlane pelos grandes e felizes momentos

compartilhados durante os quatros anos de minha formação profissional, as levarei

por toda minha vida como símbolo de uma verdadeira amizade.

À minha grande amiga e assistente social, Priscila Gonçalves, pelo apoio, dedicação

e ensinamentos grandiosos à minha formação profissional e realização deste sonho

e pelo exemplo de uma grande profissional.

À minha orientadora, Ms. Karlene Gonçalves, pela dedicação, esforço e

disponibilidade na construção deste estudo.

À equipe do PAIF do CRAS Acaracuzinho/Maracanaú-CE, pela atenção,

participação e disponibilidade em fornecer informações importantes para a

concretização desta pesquisa.

À banca examinadora composta pelo profº. Ms. Emanuel Bruno e pela profª. Ms

Rúbia Cristina, pela disponibilidade e dedicação em contribuírem com o processo de

concretização deste sonho;

A todos os amigos e familiares, pelo apoio e carinho e por se fazerem presentes

durante a caminhada rumo à concretização desta pesquisa.

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“A grande generosidade está em lutar para que, cada vez mais, essas mãos, sejam de homens ou de povos, se estendam menos em gestos de súplicas. Súplica de humilde a poderosos. E vão se fazendo, cada vez mais, mãos humanas, que trabalham e transformam o mundo”.

(Paulo Freire)

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RESUMO

O objetivo geral deste estudo é identificar os limites e as possibilidades na operacionalização do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), a partir das percepções da equipe técnica do Centro de Referência de Assistência Social-CRAS Acaracuzinho, localizado no município de Maracanaú-CE. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa, tendo como instrumento de coleta de dados a aplicação de entrevistas semi-estruturadas com os profissionais que compõe a equipe técnica de nível superior. Os resultados revelam que a equipe busca alcançar os objetivos preconizados através de suas qualificações profissionais e dispõe de um espaço físico compatível com a garantia do sigilo profissional. O fato de serem estatutários favorece a continuidade do Serviço, além disso, o trabalho interdisciplinar é percebido como uma troca de saberes que propicia um atendimento mais qualificado. No entanto, os limites impostos com a insuficiência do quantitativo de profissionais gera uma sobrecarga de tarefas e prejudica na efetivação a contento de todas as ações do PAIF e na disponibilidade para momentos de reflexão das ações. A intersetorialidade e articulação em rede devem ser fortalecidas para atender às múltiplas demandas que uma Política por si só não consegue responder. O processo de planejamento, monitoramento e avaliação das ações apresentam-se fragmentados e insuficientes para identificar as contribuições do PAIF às famílias. Com isso, como questões conclusivas, apesar dos consideráveis avanços da Política de Assistência Social, ainda faz-se necessário diversos investimentos e um maior compromisso dos entes federativos com a qualidade da oferta, com as condições de trabalho e com os recursos humanos para que se vislumbre uma Política de fato protetiva e garantidora do atendimento integral às famílias, através de respostas efetivas às suas demandas.

Palavras-chave: Política de Assistência Social, família, vulnerabilidade

social,matricialidadesociofamiliar.

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ABSTRACT

The general objective of this study is to identify the limits and possibilities in operationalising Protection Service and Integral Care of Family ( PAIF ), from the perceptions of the team of the Reference Center for Social Assistance-CRAS Acaracuzinho, located in Maracanaú-CE. For this, we carried out a qualitative research, with the instrument of data collection application of interviews with professionals who make up the team of the upper level. The results reveal that the team seeks to achieve the recommended goals, through their professional qualifications and have a compatible with the guarantee of professional secrecy physical space. The fact that they were statutory favors the continuity of service, in addition, interdisciplinary work is perceived as an exchange of knowledge that provides a more qualified service. However, the limits imposed by the insufficient quantity of professionals creates an overload of tasks and impairs the effectiveness to the satisfaction of all shares of the PAIF and availability for moments of reflection actions. The intersectoriality and networking should be strengthened to meet the multiple demands that a policy alone can not answer, as the process of planning, monitoring and evaluation of actions, present themselves fragmented and insufficient to identify the contributions of the PAIF families. With this as conclusive issues, despite considerable advances in Social Assistance Policy still makes many investments are required and a greater commitment of federal entities with the quality of supply, with the working conditions and human resources for that glimpse a policy for protective apparel and guarantor of comprehensive care to families through effective responses to their demands.

Keywords :social assistance policy, family, social vulnerability, social-family main.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AVISA - Área de Vigilância à Saúde

BPC - Benefício de Prestação Continuada

CBCISS - Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais

CFP - Conselho Federal de Psicologia

CF/88 - Constituição da República Federativa do Brasil/1988 Federal

CFESS - Conselho Federal de Serviço Social

CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social

CNSS - Conselho Nacional de Serviço Social

CRAS - Centro de Referência de Assistência Social

CREAS - Centro Especializado em Assistência Social

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

FAC- Faculdade Cearense

FHC - Fernando Henrique Cardoso

FNAS - Fundo Nacional de Assistência Social

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LBA - Legião Brasileira de Assistência

LOAS - Lei Orgânica de Assistência Social

LOPS - Lei Orgânica da Previdência Social

LOS - Lei Orgânica da Saúde

MDS - Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MPAS - Ministério de Previdência e Assistência Social

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NAF - Programa Núcleo de Apoio à Família

NOB/SUAS - Norma Operacional Básica/ Sistema Único de Assistência Social

NOB-RH/SUAS - Norma Operacional de Recursos Humanos

PAA - Programa de Aquisição de Alimentos

PAIF - Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família

PAEFI - Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos

PBF - Programa Bolsa Família

PCS - Programa Comunidade Solidária

PNAS - Política Nacional de Assistência Social

PND - Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República

PNAIF - Plano Nacional de Atendimento Integral à Família

PNI - Política Nacional do Idoso

PNIPD - Política Nacional de Integração da Pessoa com Deficiência

PRONATEC - Programa Nacional de acesso ao Ensino Técnico e Emprego

PSB - Proteção Social Básica

PSE - Proteção Social Especial

SASC - Secretaria de Assistência Social e Cidadania

SUAS - Sistema Único de Assistência Social

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

1 DESDOBRAMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

1.1 Primeiras aproximações ao objeto de estudo ................................................. 17

1.2 Delimitação do cenário da pesquisa ............................................................... 20

1.3 A escolha do caminho metodológico ............................................................... 25

1.4 Sujeitos da pesquisa ....................................................................................... 30

2 A FAMÍLIA NO FOCO DE INTERVENÇÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA

SOCIAL

2.1 A Família brasileira: aspectos conceituais e históricos ................................... 32

2.2 A Família nas Políticas Sociais: tendências contemporâneas ........................ 36

2.3 A trajetória da Política de Assistência Social Brasileira: do assistencialismo e

focalização em segmentos específicos da população à política pública e a

matricialidade sociofamiliar ................................................................................... 41

2.3.1 O SUAS e Matricialidade sociofamiliar: a primazia da família na Política de

Assistência Social ............................................................................................... 55

3 O SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA-PAIF: A

EXPERIÊNCIA NO CRAS ACARACUZINHO

3.1 PAIF: aspectos conceituais ............................................................................. 58

3.2 O PAIF e a experiência no CRAS Acaracuzinho: limites e possibilidades ...... 63

3.2.1 Relevância social do PAIF ........................................................................ 65

3.2.2 Equipe técnica e recursos humanos ......................................................... 66

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3.2.3 Capacitação continuada e articulação entre gestão e operacionalização 74

3.2.4 Infraestrutura e recursos materiais ........................................................... 76

3.2.5 Trabalho interdisciplinar ............................................................................ 79

3.2.6 Articulação com a rede socioassistencial e a intersetorialidade ............... 81

3.2.7 Planejamento, monitoramento e avaliação das ações .............................. 84

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 88

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 92

APÊNDICES ............................................................................................................. 97

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INTRODUÇÃO

O objeto desta pesquisa consiste em um estudo acerca dos limites e das

possibilidades na operacionalização do Serviço de Proteção e Atendimento Integral

à Família (PAIF) no contexto do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), a

partir das percepções da equipe técnica do Centro de Referência de Assistência

Social-CRAS Acaracuzinho, no município de Maracanaú-CE.

O Serviço de Atendimento Integral à Família (PAIF) configura-se como

principal Serviço de Proteção Social Básica implementado nos Centros de

Referência de Assistência Social (CRAS), o qual consiste no trabalho social com

famílias, desenvolvido a partir de pressupostos éticos, conhecimento teórico-

metodológico e técnico-operativo, com a finalidade de favorecer a convivência, o

reconhecimento de direitos e possibilidades de intervenção na vida social das

famílias – um conjunto de pessoas, unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ou

de solidariedade- a partir do reconhecimento do papel do Estado na proteção às

famílias e aos seus membros mais vulneráveis (Orientações técnicas sobre o PAIF,

2012b).

O interesse por este estudo foi despertado pelo contato e envolvimento no

período de maio de 2012 a maio do ano corrente enquanto estagiária de Serviço

Social no CRAS Acaracuzinho, lócus desta pesquisa, como elemento indispensável

no processo de formação do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense (FAC).

Nesse período, a referida pesquisadora atou diretamente no Serviço de Proteção e

Atendimento Integral à Família (PAIF) juntamente com a equipe técnica de

referência do referido equipamento socioassistencial.

A aproximação e atuação no âmbito do PAIF despertaram o

desenvolvimento deste estudo, particularmente ao considerar sua relevância para as

famílias atendidas e acompanhadas no território de abrangência do CRAS

Acaracuzinho.

A fim de que se possa compreender o desenvolvimento do PAIF, bem

como os limites e as possibilidades presentes no cotidiano institucional em seu

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processo de operacionalização, fez-se necessário, neste ensaio monográfico, uma

breve discussão de fundamentações importantes para o desenrolar desta pesquisa.

Nesta perspectiva, com o intuito de aprofundar o referido objeto de estudo

e de desvendar o principal objetivo traçado, o qual consiste em identificar os limites

e as possibilidades na operacionalização do PAIF, a partir das percepções da equipe

técnica de referência, foram estabelecidos objetivos específicos que subsidiarão o

evolver deste trabalho.

Pretendeu-se ao analisar a centralidade dada à família no âmbito da

Política de Assistência Social, por meio do eixo matricialidade sociofamiliar no

desenvolvimento de seus serviços, programas, projetos e benefícios, fazer uma

breve explanação histórica da Assistência Social até seu despertar enquanto Política

Pública de direito. Diante disto, o presente estudo buscou, também, desenvolver

primeiramente uma sucinta discussão sobre os aspectos conceituais e históricos da

família na sociedade brasileira, bem como acerca da relação Família-Estado no

processo de proteção social por meio das Políticas Sociais, compreendendo as

principais tendências contemporâneas. Por fim, compreender como é constituído o

PAIF, suas ações, objetivos e seu processo de operacionalização no contexto

institucional.

É válido ressaltar que a Assistência Social no Brasil, por um longo

período, teve seu percurso permeado por práticas filantrópicas e benemerentes,

caracterizadas pelo viés da solidariedade e da ajuda aos considerados incapazes e

pobres. Somente nos anos 1930, com o agravamento da questão social1, o Estado

passa a regular e a conduzir ações voltadas à área da Assistência Social. Desde

então, foram empreitadas ações focalizadas a segmentos específicos da população,

estes considerados

1 Compreende-se por questão social neste estudo o que coloca Pastorini (2010, p. 100-101): “Se

partirmos do pressuposto de que a ‘questão social’ tem sua gênese na forma como os homens se organizam para produzir numa determinada sociedade e num contexto histórico dado, e que essa organização tem suas expressões na esfera da reprodução social [...] está elementarmente determinada pelo traço próprio e peculiar da relação capital/trabalho- a exploração [...], ou seja, as principais manifestações da ‘questão social’- a pauperização, a exclusão, as desigualdades sociais- são decorrentes das contradições inerentes ao sistema capitalista [...]”.

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excluídos da relação capital-trabalho e incapazes de garantir o próprio sustento,

tendo como intuito a legitimidade junto à população pobre, disseminando, assim,

práticas instituídas pelo viés assistencialista e autoritário centralizador.

É somente com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que a

Assistência Social é instituída no campo da Seguridade Social2, juntamente com a

Política de Saúde e a Política de Previdência Social, compondo assim o Sistema de

Proteção Social brasileiro. Desse modo, passa a ser constituída uma Política Social

de direito.

Posteriormente, com a promulgação da Lei Orgânica de Assistência

Social (LOAS), Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, a Assistência Social é

regulamentada de fato enquanto política pública não contributiva, ao passo que

também frisa a primazia do Estado em sua condução. Com a vigência da Política

Nacional de Assistência Social (PNAS), a partir da Resolução nº 145, de 15 de

outubro de 2004, e conseguinte a instituição do Sistema Único de Assistência Social

(SUAS), através da Resolução nº 130, de 15 de julho de 2005, houve uma

ampliação de seus serviços, programas, projetos e benefícios. Além disso, passa a

ser estruturada em duas modalidades, Proteção Social Básica e Proteção Social

Especial.

A Proteção Social Básica, dada ênfase neste estudo, tem como objetivos

o desenvolvimento de serviços, programas, projetos e benefícios que buscam

prevenir situações de vulnerabilidade e risco social, estes operacionalizados

prioritariamente no âmbito dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS).

Segundo a LOAS (1993, p. 17):

O CRAS é a unidade pública municipal, de base territorial, localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada à articulação dos serviços socioassistenciais no seu território de abrangência e à prestação de serviços, programas e projetos socioassistenciais de proteção social básica às famílias.

2 Conforme a Constituição Federal de 1988 “A Seguridade Social compreende um conjunto integrado

de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

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Diante disso, são nos CRAS que, de forma territorializada, ocorre a

implementação e operacionalização do Serviço de Proteção e Atendimento Integral

à Família (PAIF), principal Serviço de Proteção Social Básica da Política de

Assistência Social e que tem a família, nas suas diversas configurações, seu

principal público alvo.

São através dessas unidades públicas que as demandas das famílias são

registradas e atendidas. Além disso, configuram-se enquanto equipamentos sociais

responsáveis por prestar informações, referenciar famílias e possibilitar o acesso à

rede socioassistencial e a outras políticas públicas setoriais, através da

implementação de serviços, programas, projetos e benefícios.

Este trabalho foi então estruturado em três capítulos. O primeiro, intitulado

“Desdobramentos Metodológicos da Pesquisa”, consiste em discorrer acerca do

contexto em que está inserido o objeto de estudo, as primeiras aproximações com o

objeto e a justificativa pelo interesse e escolha da temática, assim como, delimita-se

o cenário em que foi desenvolvida a pesquisa. Contempla, também, o percurso

metodológico, bem como os instrumentos técnicos para a coleta dos dados

utilizados para a fundamentação da pesquisa; e, por fim, o perfil biográfico dos

sujeitos da pesquisa.

O segundo capítulo, por sua vez, chamado de “A família no foco de

intervenção da Política de Assistência Social”, centra-se em uma discussão da

centralidade dada à família no âmbito da Política de Assistência Social, por meio do

eixo matricialidade sociofamiliar. Para tanto, fez-se necessário compreender os

aspectos conceituais e históricos da família brasileira, bem como das principais

tendências contemporâneas no processo de Proteção Social. Busca-se discorrer

sobre o percurso histórico da Assistência Social, do assistencialismo até o seu

despertar enquanto política pública de direito e como primazia de intervenção à

família.

No terceiro capítulo, por seu turno, intitulado de “O Serviço de Proteção e

Atendimento Integral à Família (PAIF): a experiência no CRAS Acaracuzinho”, serão

destacadas as questões conceituais do PAIF, suas ações e objetivos, a partir dos

documentos “Orientações Técnicas sobre o PAIF”, e por fim, por meio das

percepções da equipe técnica que o operacionaliza, analisar os principais limites,

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entraves, avanços e possibilidades identificados em seu processo de

operacionalização no CRAS Acaracuzinho.

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1 DESDOBRAMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Reconhecendo o caráter problematizante da metodologia, decorre ser mister aceitar que tudo em ciência é discutível, sobretudo nas ciências sociais. Não há teoria final, prova cabal, prática intocável, dado evidente. Isto é uma característica, não uma fraqueza, o que funda, ademais, à necessidade inacabável da pesquisa, seja porque nunca esgotamos a realidade, seja porque as maneiras como a tratamos podem sempre ser questionadas. (DEMO, 2011, p. 11).

1.1 Primeiras aproximações ao objeto de estudo

Apropriar-se das questões pertinentes ao contexto histórico da

Assistência Social no Brasil até seu despertar enquanto política pública, bem como

dos avanços conquistados por esta Política com a promulgação da nova Política

Nacional de Assistência Social (PNAS) em 2004 e a implantação do Sistema Único

de Assistência Social (SUAS) em 2005, implica no reconhecimento da perspectiva

universalista da Assistência Social e da família como foco de intervenção desta

Política, no desenvolvimento de seus serviços, programas, projetos e benefícios.

O SUAS, por meio do seu eixo estruturante matricialidade sociofamiliar,

coloca a família como ator principal de intervenção da Política de Assistência Social,

no qual busca possibilitar o atendimento de suas demandas sociais, o fortalecimento

do convívio familiar e comunitário e apoiá-las no desempenho da sua função de

proteção e socialização de seus membros.

Conforme a PNAS (2004), a centralidade dada à família na condução da

Política de Assistência Social ganha ênfase, ao considerar que para que a família

possa ter condições de prevenir, proteger, promover e incluir seus membros, é

importante lhe dar condições de sustentabilidade.

A própria Constituição Federal de 1988, já fazia menção à família, ao

afirmar que “A família, a base da sociedade, tem especial proteção do Estado.” (Art.

226).

Logo, os serviços, programas, projetos e benefícios desenvolvidos no

âmbito da Política de Assistência Social passam a ser implementados tendo como

foco de intervenção o contexto familiar, com vistas a “[...] contribuir com a inclusão e

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equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e

serviços socioassistenciais básicos e especiais [...]” (PNAS, 2004), além do

desenvolvimento das potencialidades das famílias em situação de vulnerabilidade

social decorrente dos múltiplos desdobramentos da questão social.

A PNAS/2004 não traz o conceito de vulnerabilidade social, mas aponta

que as situações de vulnerabilidade podem decorrer: da pobreza, privação ou

ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, por calamidade

pública, fragilização de vínculos afetivos, comunitários e de pertencimento social

decorrentes de discriminações etárias, étnicas, de gênero, relacionadas à

sexualidade, deficiência, entre outros, a que estão expostas famílias e indivíduos, e

que dificultam seu acesso aos direitos e exigem Proteção Social do Estado.

Segundo Bronzo (2009, p. 173):

Vulnerabilidade relaciona-se, por um lado, com a exposição ao risco e, por outro, com a capacidade de resposta, material e simbólica que indivíduos, famílias e comunidades conseguem dar para fazer frente ao risco ou ao choque [...]. As políticas e os programas inserem-se nesse campo como elementos que podem fortalecer a capacidade de resposta das famílias e de seus membros e reduzir-lhes a vulnerabilidade.

O Serviço de Atendimento Integral à Família (PAIF), norteado pelo eixo

matricialidade sociofamiliar tem como principais objetivos, o fortalecimento da função

protetiva da família, prevenindo a ruptura dos vínculos familiares e comunitários; o

desenvolvimento das potencialidades, autonomia e protagonismo das famílias; o

acesso à rede de proteção social e a outras políticas públicas, contribuindo para a

promoção dos direitos socioassistenciais, além de possibilitar a participação das

mesmas em espaços coletivos de troca e vivências familiares.

São incontestáveis os avanços conquistados pela Política de Assistência

Social que é ainda tão nova, no entanto, apesar dos diversos avanços e conquistas

no cenário de Proteção Social com a abertura democrática, mais precisamente a

partir da promulgação da Constituição Federal em 1988, Pereira e Siqueira (2010)

destacam que o modelo de Proteção Social, guiado pelos princípios de

universalidade, igualdade, equidade e justiça distributiva, vem sendo fragilizado,

desde o final dos anos 1990. Ganha destaque a redefinição de interesses, estes

voltados prioritariamente aos setores econômicos e privados, que impõem limites à

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concretização dos direitos via políticas públicas universais, direcionando as Políticas

Sociais à ações pontuais e compensatórias.

As mesmas autoras afirmam que se destacam nas Políticas Públicas

contemporâneas, permeadas por concepções e influências neoliberais, a focalização

na pobreza, a centralização dos programas de transferências de renda e a

privatização das Políticas Sociais. Estes caracterizam por reduzir a pobreza a cortes

de renda, desconsiderando a garantia dos mínimos sociais preconizados pela

Política de Assistência Social. Neste sentido, a prestação de serviços

socioassistenciais é enfraquecida por uma ideologia compensatória e seletiva.

Considerando a conjuntura socioeconômica atual, o presente estudo, ao

descrever e analisar o desenvolvimento do Serviço de Proteção e Atendimento

Integral à Família (PAIF), busca identificar os principais entraves, limites e

possibilidades percebidas pela equipe técnica que o operacionaliza.

Foi dentro desta perspectiva que o interesse por este tema foi despertado,

a partir de uma experiência desta pesquisadora enquanto estagiária de Serviço

Social no CRAS Acaracuzinho, através da participação efetiva no cotidiano da

instituição, bem como no desenvolvimento de seus serviços, programas, projetos e

benefícios.

A participação interventiva no âmbito do PAIF foi primordial para a

escolha do referido objeto de pesquisa. A escolha do objeto de pesquisa se deu

também por acessibilidade, pois de início o interesse centrava-se em analisar as

contribuições na realidade das famílias acompanhadas pelo PAIF do CRAS

Acaracuzinho, a partir das percepções das próprias famílias. No entanto, tendo em

vista a dificuldade de acesso, pela necessidade de deslocamento até suas

residências, o que demandaria a necessidade de um automóvel para locomoção e

considerando a dificuldade de acesso a algumas localidades do território, foi

percebido que a pesquisa não seria exequível dessa forma e nesse momento.

Assim, foi decidido mudar o objeto, focando no universo interventivo que perpassa o

Serviço e das condições operacionais disponibilizadas à equipe que o

operacionaliza.

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O contato direto com a realidade do Serviço, bem como com seu público-

alvo, despertou, então, questionamentos e inquietações de conhecer e pesquisar de

forma crítica e abrangente os limites e as possibilidades em sua operacionalização,

a partir das percepções da equipe técnica de referência, esta correspondente aos

profissionais de nível superior do CRAS Acaracuzinho, composta por duas

assistentes sociais, uma psicóloga, uma pedagoga e pela coordenadora do

equipamento, com formação em Serviço Social.

Ocorre que, ao passo que foi ocorrendo o contato com as ações e

operacionalização do PAIF no âmbito do CRAS, bem como com as famílias

referenciadas, logo ficou perceptível alguns impasses e limitações no cotidiano

institucional que acabam por dificultar o alcance de alguns objetivos propostos pelo

Serviço. Ao mesmo tempo, é válido ressaltar que, apesar dos limites impostos à

execução das ações do PAIF, este possui possibilidades e alcance social definidos

por suas diretrizes e objetivos, bem como pela atuação profissional que o

operacionaliza, a partir de suas qualificações teórico-metodológica, ético-política e

técnico-operativa.

Ademais, é válido e enriquecedor a relevância deste estudo, tanto para o

âmbito acadêmico como também para a dimensão operacional, ao passo que busca

analisar e gerar conhecimentos a partir da ótica dos próprios profissionais atuantes

na Política de Assistência Social, por meio dos seus discursos, percepções e

fundamentações teórico-metodológicas e ético-políticas, bem como de suas

intervenções profissionais, além de propiciar o conhecimento dos entraves e

possibilidades presentes no cotidiano institucional no processo interventivo do PAIF.

1.2 Delimitação do cenário da pesquisa

Conforme anteriormente citado, constitui-se como o cenário desta

pesquisa o Centro de Referência de Assistência Social-CRAS Acaracuzinho,

localizado à Rua 101, nº 17 – Bairro Acaracuzinho, vinculado à Secretaria de

Assistência Social e Cidadania (SASC) do município de Maracanaú, localizada à Av.

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II, nº 150 – Bairro Jereissati I, responsável pela gestão da Política de Assistência

Social no município de Maracanaú-CE.

Neste sentido, a fim de uma melhor compreensão do objeto de estudo,

faz-se necessário uma breve exposição do contexto histórico, político, econômico e

social do município de Maracanaú.

Segundo dados constantes do Diagnóstico Socioterritorial do CRAS

Acaracuzinho (2013), o município de Maracanaú está localizado a 22km de

Fortaleza, capital cearense, e compõe um dos municípios da Região Metropolitana

de Fortaleza. Sua extensão territorial compreende a 106Km² e está situado entre as

serras de Maranguape e Aratanha, além de constituir-se como um importante pólo

industrial do Estado. Sua emancipação do município de Maranguape ocorreu em

1983, caracterizando-se assim por ser um município relativamente novo. Tem uma

população estimada em 209.478 habitantes, concentrada majoritariamente na zona

urbana, com apenas 0,31% na área rural.

No município de Maracanaú, apesar deste contemplar o maior pólo

industrial do Estado do Ceará, cerca de 70% da população não usufrui da riqueza

produzida pelo município. Neste contexto, a população maracanauense convive com

um intenso cenário de pobreza e violência urbana (DIAGNÓSTICO, 2013). Assim,

fica evidente a relevância e urgência de uma maior intensificação por parte do poder

público na oferta de serviços públicos, bem como a expansão da Política de

Assistência Social, a fim de propiciar às famílias a garantia de seus direitos e a

devida Proteção Social.

Após a emancipação do município, a Assistência Social era implementada

pela Secretaria de Promoção Social e tinha como titular a primeira-dama do

município. A Assistência Social neste período era compreendida por ações

descontinuadas e de caráter filantrópico e assistencialista. Destacavam-se ações

com idosos e com creches conveniadas com as entidades comunitárias

(DIAGNÓSTICO, 2013).

Posteriormente, com a aprovação da Lei nº 795, de 18 de dezembro de

2000, a Secretaria foi renomeada para Secretaria de Saúde e Ação Social, na qual a

Assistência Social passou a ser constituída como uma Coordenadoria vinculada à

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Secretaria de Saúde. Neste contexto, a Assistência Social acabou por desenvolver

ações fragmentadas e serviços restritos à assessoria jurídica e aos departamentos

de apoio comunitário e o de apoio à criança e ao adolescente (DIAGNÓSTICO,

2013).

Somente em 2005, a partir da Lei nº 986, de 7 de janeiro de 2005, ocorreu

a criação da Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC), agora dissociada

da Secretaria de Saúde, em meio a um cenário de mudanças e avanços,

decorrentes da instituição da nova Política Nacional de Assistência Social (PNAS)

em 2004 e da implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em 2005

(DIAGNÓSTICO, 2013).

A partir de então, a nova gestão municipal da Política de Assistência

Social, ao buscar consolidar o preconizado no Sistema Único de Assistência Social,

tendo em vista a garantia da Proteção Social às famílias, passa a estruturar-se em

Proteção Social Básica e Proteção Social Especial, e a expandir, a partir de 2006, a

implementação de Centros de Referência de Assistência Social para a prestação

direta dos serviços, programas, projetos e benefícios (DIAGNÓSTICO, 2013).

Atualmente, a SASC além de estruturar-se em Proteção Social Básica e

Proteção Social Especial, possui ainda em sua estrutura a Coordenadoria de Ações

Complementares, constituída pela Política de Segurança Alimentar e Nutricional e

pela Inclusão Produtiva e tem como Secretária de Assistência Social uma

profissional de carreira com formação em Serviço Social, buscando assim

desconstruir a presença do primeiro-damismo que se fez presente por um longo

período na Assistência Social do Município.

Segundo dados do DIAGNÓSTICO (2013), em 2012 o município passou a

contar com 01 (um) Centro de Referência Especializado em Assistência Social

(CREAS), 10 (dez) Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), 01 (um)

Centro de Convivência do Idoso, 01 (um) abrigo, 01 (um) Centro de Referência

Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), 01(um)

Restaurante Popular, 05 (cinco) Cozinhas Comunitárias e 01 (um) Banco de

Alimentos.

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Em outubro de 2011 ocorreu a implantação do CRAS Acaracuzinho,

demandado pelas famílias que residiam nos bairros: Acaracuzinho, Novo oriente,

Santo Sátiro e Jardim das Maravilhas, as quais eram atendidas pelo CRAS Alto

Alegre, pelo fato de terem que atravessarem uma rodovia estadual para acessarem

o referido CRAS. Desse modo, após diversas discussões entre a Proteção Social

Básica e o CRAS Alto Alegre, ficou definido que o CRAS Acaracuzinho teria como

área de abrangência os bairros: Alto Alegre I, Acaracuzinho, Novo Oriente, Santo

Sátiro, Jardim das Maravilhas, Vila Vintém, Vila Buriti, Vila da Paz e DI 2000

(DIAGNÓSTICO, 2013).

Contudo, como não havia um imóvel disponível para a implantação do

CRAS Acaracuzinho, este ficou locado, por um certo período, juntamente com o

CRAS Alto Alegre. Posteriormente, em novembro de 2011, após análise da

Coordenadoria de Proteção Social e da Diretoria de Gestão Integrada, o Centro de

Convivência Social Pólo Acaracuzinho encerrou suas atividades e o prédio passou a

ser a sede do CRAS Acaracuzinho (DIAGNÓSTICO, 2013).

Assim, o CRAS Acaracuzinho passa de fato a desenvolver, de forma

territorializada, os serviços, programas, projetos e benefícios às famílias, com vistas

a dar respostas às diversas demandas sociais. Inicia a implementação de ações

preventivas e atividades voltadas à promoção social e, por meio da rede de Proteção

Social Básica, passa a atender/acompanhar as famílias em situação de

vulnerabilidade social, através do desenvolvimento de potencialidades e o

fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.

Para tanto, é válido salientar que atualmente cerca de 5.000 famílias são

referenciadas em seu território de abrangência e que desenvolve ações por

demanda espontânea, por busca ativa e encaminhamentos. Apresenta como

principal serviço socioassistncial o PAIF e, concomitantemente, desenvolve o

Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e adolescentes

de 7 a 14 anos; Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para jovens

adolescentes de 15 a 17 anos e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de

Vínculos para Idosos. Além de prestar atendimento referente ao Cadastro Único e

Programa Bolsa Família, disponibiliza benefícios eventuais e socioassistenciais

como auxílio natalidade, auxílio funeral, 2ª via da certidão de nascimento,

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encaminhamento para casamento civil, passe-livre para deficiente e transporte de

mudança.

São disponibilizados, também, para as famílias referenciadas, cursos

profissionalizantes do Programa Nacional de acesso ao Ensino Técnico e Emprego

(PRONATEC), bem como encaminhamentos a serviços, programas, projetos e

benefícios da rede socioassistencial e demais políticas públicas.

As famílias referenciadas também buscam no CRAS orientações e

encaminhamento ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), para obtenção

do Benefício de Prestação Continuada (BPC), assegurado pela Lei Orgânica da

Assistência Social (LOAS) aos idosos e pessoas com deficiência provenientes de

famílias com renda per capita inferior a um quarto do salário mínimo.

E ainda, de forma intersetorial com a Política de Segurança Alimentar e

Nutricional, através da Cozinha Comunitária, são ofertadas em média 120 refeições

por dia para famílias em situação de insegurança alimentar e nutricional e ainda é

operacionalizado o Programa de Aquisição de Alimentos- PAA Leite, em que cerca

de 130 famílias são beneficiadas com o recebimento de leite integral.

No ano de 2012, seu quadro de profissionais foi ampliado após concurso

público realizado no município, o que favoreceu a ampliação e uma melhor

qualidade nos serviços, programas, projetos e benefícios prestados às famílias.

Quanto à descrição e análise socioeconômica das famílias residentes no

território de abrangência do CRAS, conforme dados do Diagnóstico Socioterritorial

do CRAS Acaracuzinho (2013), extraídos do banco de dados do Cadastro Único de

Maracanaú, atualizado em novembro de 2012 (modificado em 07 de janeiro de

2013), da folha de pagamento gerada em janeiro de 2013 e da listagem do BPC

2012, cerca de 4.714 famílias são cadastradas no Cadastro Único para Programas

Sociais do Governo Federal, totalizando 15.879 pessoas, sendo que dessas

famílias, 2.210 recebem algum benefício de transferência de renda. Da população

cadastrada, 55,7 % é do sexo feminino e 44,3 % do sexo masculino.

Outro fator identificado, a partir dos dados cadastrais das famílias do

território do CRAS Acaracuzinho, refere-se ao considerável quantitativo de pessoas

com idade superior a 18 anos que não estão inseridos em nenhuma atividade

laboral, seja no mercado formal ou informal, seguido por 61,3% dos que exercem

alguma atividade informal sem contribuir com a previdência social e os assalariados

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com carteira de trabalho, que representam 31,3% desse universo. Ressalta-se,

ainda, que 1,16% das famílias têm o idoso como provedor.

Quanto aos rendimentos dessas famílias, os dados mostraram que das

4.714 famílias cadastradas, cerca de 3.030 famílias têm sua renda familiar per capita

de até R$140,00 mensais e as demais de R$141,00 a R$545,00 mensais. Percebe-

se assim um quantitativo considerável de famílias que se encontram na linha da

extrema pobreza e da pobreza. A questão educacional é outro aspecto observado,

em que 15,6% das pessoas cadastradas são analfabetos, 11,3% não concluíram o

ensino fundamental e apenas 19,6% concluíram o ensino médio regular.

Considerando esse cenário, fica evidente a importância territorial do

CRAS Acaracuzinho para as famílias as quais referencia. E por considerar sua

relevância social para as famílias, leva ao seguinte questionamento: como o PAIF

vem sendo operacionalizado e quais são as condições disponibilizadas para sua

efetivação?

1.3 A escolha do caminho metodológico

Ao tratar do percurso metodológico deste estudo, primeiramente é

importante ressaltar as considerações que permeiam a concepção do conceito de

metodologia. Minayo (2007) faz referência à metodologia como o caminho do

pensamento e um processo de abordagem da realidade. Ou seja, o processo

metodológico inclui um conjunto de abordagens de métodos, teorias e técnicas que

propiciam o conhecimento e estudo da realidade. A autora ainda faz menção à

dimensão criativa do pesquisador, permeada por suas experiências, vivências e

sensibilidade no processo investigativo.

De acordo com Demo (2011), para alguns a pesquisa constitui-se em um

processo de coleta de dados, sistematização e posteriormente uma descrição da

realidade. Outros, voltados a uma concepção mais teórica, entendem por pesquisa o

processo de estudo e produção de quadros teóricos de referência, para que possam

desvendar e explicar a realidade. Outros mais acreditam que o processo de

pesquisa envolve teoria e prática, ao passo que suas junções levam à compreensão

e ao mesmo tempo à intervenção da realidade.

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Minayo (2007) faz menção à pesquisa como um mecanismo básico da

ciência para dar respostas às indagações e construção da realidade. Ainda enfatiza

a vinculação entre pensamento e ação no processo da pesquisa.

Gil (2011), em suas considerações, retrata que o objetivo fundamental da

pesquisa é possibilitar a apreensão de respostas e solução de problemas mediante

procedimentos científicos. Partindo dessa compreensão, o autor define a pesquisa

social como o processo, permeado por procedimentos metodológicos, que permite a

obtenção de novos conhecimentos acerca da realidade social. Esta compreendida

em seu sentido amplo, envolve todos os aspectos relativos ao homem em suas

múltiplas relações com outros homens e com as diversas instituições da sociedade.

Nesta direção, a fim de apreender e conhecer a realidade na qual está

inserido o referido objeto de estudo, foram utilizadas técnicas e procedimentos

metodológicos, tendo em vista o embasamento abrangente dos objetivos propostos.

Ao considerar esta pesquisa inserida no contexto da pesquisa social, pressupõem-

se, enquanto técnica de coleta de dados, procedimentos no qual pesquisador além

do contato com a realidade empírica, pudesse estar em interação com os sujeitos

pesquisados. Diante desta consideração, Baptista (1999, p. 35-36) ressalta que,

[...] A realidade é uma construção social da qual o investigador participa. Os fenômenos são compreendidos dentro de uma perspectiva histórica e holística – componentes de uma dada situação estão inter-relacionados e influenciados reciprocamente, e se procura compreender essas inter-relações em um determinado contexto. O pesquisador e o pesquisado estão em interação em um processo multidirecionado no qual há ampla interação entre sujeito e o objeto do conhecimento. Os valores estão presentes no processo de investigação [...] Há uma preocupação hermenêutica – no significado que os sujeitos dão a sua vida.

Neste sentido, o desvelar metodológico desta pesquisa configura-se por

sua natureza qualitativa, método indispensável para a apreensão empírica do real,

que não pode ser traduzida ou reduzida a fatores quantitativos. Minayo (2007)

destaca que a pesquisa qualitativa responde a questões bem específicas, pelo fato

de apreender-se a um nível de realidade que não pode ser quantificado, pois

trabalha com o universo dos significados, das percepções, dos valores, dos motivos,

das crenças e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é compreendido

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como parte integrante da realidade social, pois são diversos os modos de pensar,

agir e interpretar a realidade vivida e partilhada com seus semelhantes.

Assim, ao considerar os objetivos elencados neste estudo, a pesquisa

de cunho qualitativo possibilita uma apreensão acerca de elementos subjetivos dos

sujeitos pesquisados, suas percepções e concepções do objeto direcionam a

compreensão de sua realidade.

No que se refere ao desenvolvimento desta pesquisa e para o

enriquecimento e credibilidade das análises, fez-se primordial a existência de

fundamentações teóricas a partir de estudos bibliográficos e documentais,

apreendendo-se de ideias e reflexões de diversos autores, pesquisadores e de

documentos legais sobre o objeto de estudo, por intermédio da pesquisa

bibliográfica e documental, realizadas antes e no percorrer do processo empírico.

Durante a pesquisa de campo, foi utilizada, como técnica de coleta de dados

empíricos, a aplicação de entrevistas semi-estruturadas.

No que concerne à realização da pesquisa bibliográfica, foram utilizados

uma gama de acervos bibliográficos, tais como, livros, artigos científicos e demais

trabalhos que abordam as categorias estudadas. A aproximação à pesquisa

documental se deu por intermédio de leis constitucionais, regulamentações,

documentos oficiais, relatórios e diagnóstico da instituição.

A segunda etapa desta pesquisa constitui-se na pesquisa de campo, que

por sua vez, “consiste em levar para a prática empírica a construção teórica

elaborada na primeira etapa.” (MINAYO, 2007, p. 26). Nesta fase, foram feitas

observações, registros e realização das entrevistas semi-estruturadas com os

sujeitos da pesquisa, quais sejam: a Coordenadora técnica do CRAS Acaracuzinho,

as duas assistentes sociais, a psicóloga e pedagoga da referida unidade,

profissionais que compõem a equipe técnica de referência do PAIF; a fim de coletar

dados necessários para o conhecimento da realidade institucional em que o referido

Serviço é operacionalizado, através de suas percepções, posicionamentos e

inquietações em relação ao cotidiano institucional.

A relevância dada à entrevista, como instrumento e técnica de coleta de

dados, deu-se pelo fato, conforme explana Neto (1994), da entrevista ser o

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procedimento mais usual no âmbito da pesquisa de campo, o qual possibilita que o

pesquisador obtenha, através da fala dos atores sociais envolvidos, informações que

subsidiarão o conhecimento da realidade pesquisada.

Para Minayo (2010) a entrevista é uma fonte de informações que fornece

dados secundários e primários de duas naturezas. A primeira, o pesquisador poderia

conseguir por meio de outras fontes, como dados estatísticos, censos, registros e

outros. A segunda refere-se diretamente ao sujeito pesquisado, através de suas

reflexões sobre a realidade que vivencia, trata-se de suas subjetividades que só

podem ser conseguidos por meio de sua contribuição.

A entrevista semi-estrutura conforme a referida autora, “combina

perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de

discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada” (p. 261-

262).

O processo de inserção no campo se deu primeiramente, após aprovação

do projeto de pesquisa pela Secretaria do Município, através do setor Gestão do

Trabalho, que após análise, disponibilizou uma carta de encaminhamento para a

realização da pesquisa de campo.

A pesquisa então teve início em setembro do ano corrente. O primeiro

contato com o campo se deu através de uma visita na qual foi apresentado aos

profissionais, sujeitos da pesquisa, o objeto de estudo. Foram também feitas as

marcações das entrevistas, através da disponibilidade de cada profissional, pois

estas foram realizadas no CRAS.

As realizações das entrevistas se deram mediante apresentação de um

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A) para cada entrevista

realizada, os quais foram assinados pela pesquisadora, pela orientadora e pela

profissional, como forma de firmar a participação na pesquisa, lhes sendo

resguardado o sigilo de suas identidades e a devida permissão para que fossem

gravadas.

Com o auxílio de um Formulário de Entrevista (Apêndice B) foram

realizadas em média duas entrevistas por dia, nos períodos em que os profissionais

já haviam terminado o atendimento às famílias e na sexta-feira, em que não havia

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expediente externo, das quais quatro entrevistas forma realizadas nas salas de

atendimento e apenas uma na sala da Coordenação.

Durante o processo não foi encontrada nenhuma restrição ou dificuldade

na concretização das entrevistas, nem mesmo no que se refere aos termos técnicos

utilizados pelos profissionais, pelo fato da pesquisadora já possuir uma apropriação

com a Política de Assistência Social, bem como com o equipamento

socioassistencial. Ficou notório, durante as entrevistas, o quanto os profissionais se

sentiram dispostos a fornecer o máximo de informações acerca do objeto de estudo.

As observações foram realizadas concomitantemente no período das

realizações das entrevistas e se destinaram às questões físicas e materiais

disponibilizados no CRAS, aspecto que se buscava analisar.

Foram obtidos também, durante o processo da pesquisa de campo, dados

importantes referentes ao PAIF, como quantitativo de famílias atendidas, em

acompanhamento sociofamiliar e referenciadas pelo CRAS Acaracuzinho e ainda

disponibilizado o diagnóstico socioterritorial do CRAS Acaracuzinho, necessários

para obtenção do processo histórico do CRAS e para obtenção de informações

importantes sobre os perfis das famílias referenciadas.

É valido ressaltar que no processo da pesquisa é preciso que o

pesquisador relativize as suas concepções de mundo, cultura, valores e

experiências do que lhe é familiar de certa forma, pois poderá comprometer o

conhecimento concreto sobre a realidade. É necessário, portanto, um

distanciamento crítico e compreender o ponto de vista do outro, sem preconceitos e

prejulgamentos. Assim como ressalta Velho (1999, p. 127):

[...] dispomos de um mapa que nos familiariza com os cenários e situações sociais de nosso cotidiano, dando nome, lugar e posição aos indivíduos. Isso, no entanto, não significa que conhecemos o ponto de vista e a visão de mundo dos diferentes atores em uma situação social nem as regras que estão por detrás dessas interações [...].

Por fim, foi desenvolvida a sistematização dos dados coletados e análise

dos resultados obtidos dialogando com as fundamentações teóricas consultadas

anteriormente e no decorrer do processo investigativo, resultados estes que poderão

ser visualizados no decorrer deste trabalho.

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1.4 Sujeitos da pesquisa

A fim de que se possa compreender o processo de operacionalização do

Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) situado no atual

contexto da Política de Assistência Social, bem como com a implantação do Sistema

Único de Assistência Social (SUAS), busca-se, no decorrer deste trabalho, propiciar

diálogos entre os referencias teóricos levantados e as percepções dos sujeitos da

pesquisa acerca do objeto de estudo.

Os sujeitos desta pesquisa consistem nos profissionais que compõe a

equipe técnica de nível superior do PAIF do CRAS Acaracuzinho, intitulados neste

estudo conforme a seguir:

Profissional 1;

Profissional 2;

Profissional 3;

Profissional 4;

Profissional 5.

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2 A FAMÍLIA COMO FOCO DE INTERVENÇÃO NA POLÍTICA NACIONAL DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL

A família, no processo de desenvolvimento da humanidade, sempre se

apresentou como uma importante instância de proteção social. Atualmente na

sociedade brasileira, em que diferentes projetos de proteção social encontram-se em

constantes tensões e disputas, a compreensão acerca do lugar da família no âmbito

das Políticas Sociais não pode ser desconsiderada.

Mais precisamente nos anos 1990, a família apresenta-se como foco

central de intervenção no âmbito das Políticas Sociais brasileiras, a partir do

contexto de reestruturação do Estado, o qual se caracteriza por uma retração

contínua de um Estado interventor e protecionista e a adesão aos princípios da

doutrina neoliberal, fortalecendo o Estado mínimo. Desse modo, o mercado, o setor

privado e filantrópico vão ganhando espaço e fortalecendo suas ações na estrutura

econômica e social. Neste contexto, Pereira-Pereira (2010, p. 30-31) ressalta que:

A expansão do consumo de massa – com a ajuda da industrialização, do crescimento das atividades produtivas e da distribuição de bens e serviços, realizada por um Estado garantidor de direitos sociais e trabalhistas – entrou em declínio. Da mesma forma, o compromisso estatal com o pleno emprego (fortalecedor dos sindicados), com a segurança no trabalho, com a oferta de políticas sociais universais e com a garantia geral de estabelecimento de um patamar mínimo de bem-estar, vem se desfazendo a passos largos.

Diante deste cenário, a família assume centralidade nas Políticas Sociais

brasileiras, em especial, na Assistência Social, o que acaba por demandar o

desenvolvimento de serviços, programas, projetos e benefícios com vistas ao

fortalecimento das potencialidades das famílias em situação de vulnerabilidade

social decorrente da pobreza, da ausência de acesso a serviços públicos, da

privação de acesso a renda, dentre outros fatores.

No entanto, para chegar a este patamar, um longo caminho foi percorrido

pela Assistência Social no Brasil, que somente com a promulgação da Constituição

Federal de 1988 foi instituída uma Política Pública de direito social. Posteriormente,

com as promulgações da LOAS (1993), da PNAS (2004) e do SUAS (2005), é então

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materializada enquanto Política Pública, ao passo que promoveram reordenamentos

institucionais; definiram objetivos e responsabilidades; territorializaram a proteção

social oferecida; ampliaram seu público alvo; definiram formas de financiamento,

gestão e de controle social.

Neste sentido, discutir questões relativas à organização e

operacionalização do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF)

no contexto de implementação do SUAS, implica recorrer a marcos conceituais e

históricos imbricados na instituição família, bem como da relação expressa entre a

Família e o Estado no processo de Proteção Social, sobretudo das tendências

contemporâneas das Políticas Sociais frente às demandas familiares, dando ênfase

nesta pesquisa especificamente ao desenvolvimento da Política de Assistência

Social no cenário brasileiro, enquanto Política Pública de direito que tem como foco

de intervenção a família, a partir do eixo estruturante matricialidade sociofamiliar.

Para isso, este capítulo centra-se primeiramente em uma reflexão sobre

os aspectos conceituais e históricos da família brasileira. Posteriormente, busca-se

realizar uma análise das tendências contemporâneas acerca da relação Família e

Políticas Sociais, ao considerar a existência de dois projetos em disputa no cenário

contemporâneo, a “proposta familista” e a “proposta protetiva”, para, por fim, discutir

a trajetória da Política de Assistência Social, do assistencialismo até seu despertar

enquanto política pública, destacando o eixo matricialidade sociofamiliar, pelo qual a

família ganha centralidade no desenvolvimento de seus serviços, programas,

projetos e benefícios, aspectos importantes para compreensão do desenvolvimento

do PAIF na atual configuração desta Política.

2.1 A Família brasileira: aspectos conceituais e históricos

Pretende-se aqui apreender os caminhos percorridos pela categoria

família, bem como os processos de transformação da família no cenário brasileiro

até a contemporaneidade. É válido ressaltar que, historicamente a instituição família

é definida por suas funções e modelos. Mas, afinal, o que é família?

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Os estudos da história cultural das famílias no Brasil ainda são recentes e

encontram-se fragmentados. Desse modo, pretende-se explanar de forma breve

alguns apontamentos sobre as principais organizações familiares na sociedade

brasileira. A relevância da apreensão dos aspectos conceituais e históricos são

imprescindíveis para o entendimento de como a família vem se modificando ao

longo do tempo.

No cenário brasileiro, ao ser considerado sua extensão territorial e as

diversas culturas e etnias que povoaram o Brasil, percebe-se as diversificidades

culturais e, por consequência, a existência de modelos distintos de famílias. Apesar

disto, a cada período histórico, predominou-se um modelo específico de família.

Desde a colonização brasileira, percebe-se a existência de modelos e

funções familiares intrínsecas na sociedade. Segundo Costa (1989, apud COSTA,

2006) a formação do modelo de família patriarcal rural brasileira, originou-se da

adaptação do modelo de família trazida pelos portugueses ao modelo

socioeconômico vigente no país no início da colonização, no qual Costa (2006, p.

13) especifica suas principais características:

Voltada para seus próprios interesses, a família funcionava como um verdadeiro clã. O pater famílias, chefe da família, concentrava as funções militares, empresariais e afetivas. Sob o seu poder viviam sua mulher, filhos, parentes, escravos e agregados. Essa característica senhorial foi absorvida também pelas famílias não proprietárias, funcionários públicos, militares e profissionais liberais.

Percebe-se neste período a hegemonia do modelo de família patriarcal,

tradicional, extensa e sob a dominação masculina, em que todos os agregados,

parentes, afilhados e escravos viviam sob o mesmo teto, nas chamadas “casas

grandes”. Gueiros (2002, p. 107) denomina a família patriarcal como

[...] a família na qual os papéis do homem e da mulher e as fronteiras entre público e privado são rigidamente definidos; o amor e o sexo são vividos em instâncias separadas, podendo ser tolerado o adultério por parte do homem e a atribuição de chefe da família é tida como exclusivamente do homem.

No século XIX, a Proclamação da República em 1889 introduziu no Brasil

diversas transformações, caracterizadas por aspectos de modernização e pelo fim

do trabalho escravo, iniciava-se o processo de industrialização/urbanização do país.

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Diante das diversas mudanças que adquiriram um caráter de modernização

conservadora, caracterizando-se ainda por um viés de controle político e social

excludente, começa, então, a se desenvolver a família moderna, evocando-se o

padrão de organização burguês, com novas práticas de sociabilidade, inspirada no

modismo da belle-époque francesa (NEDER, 2010).

O casamento passa a ser uma escolha dos parceiros, baseado no amor,

na superação da dicotomia entre o amor e sexo e em novos papéis para o homem e

a mulher no âmbito do casamento (GUEIROS, 2002). Neste contexto, surgem novas

concepções sobre o lugar da mulher nos eixos da moral familiar e social. A nova

mulher “moderna” deveria ser educada para exercer o papel de mãe e educadora

dos filhos e dar suporte para que o homem designasse sua função de provedor

(NEDER, 2010).

Evidentemente, este projeto voltava-se para a modernização da família branca, de origem européia, e inscrevia-se no quadro das modificações da família tradicional, que tendia a alterar-se com a urbanização e os modismos que impunham mimeticamente novos padrões de comportamento, uma vez que o país estava inserido no mercado mundial (NEDER, 2010, p. 32).

Fica evidente a predominância por um longo período no contexto

brasileiro da família designada nuclear, reduzida a pai, mãe e filhos, e com papeis

bem definidos, em que o homem era responsável pelo sustento da família e a mãe

pela educação dos filhos e dos cuidados com o lar.

Contudo, ao se refletir sobre a família hoje, é preciso considerar as

diversas mudanças sociais, econômicas, políticas, culturais ao longo dos tempos, e

pensá-la inserida nesta nova conjuntura, permeada por uma série de mudanças nas

relações de gênero e nos comportamentos e configurações das famílias. Fatores

como a inserção da mulher no mercado de trabalho, bem como o uso de métodos

anticoncepcionais, a fragilização dos laços matrimonias, decorrente no aumento dos

divórcios e separações, a escolha do casamento entre os próprios parceiros, a união

entre pessoas do mesmo sexo são determinantes nas significativas mudanças na

dinâmica da instituição família, e, portanto, novas formas de ser família. “Refletir

sobre a família é, portanto, refletir sobre uma unidade relacional plural e mutável [...]”

(GUEIROS e SANTOS, 2011, p. 80).

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Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,

2012), no período de 2001 a 2011, houve modificações consideráveis na distribuição

dos arranjos familiares, a família formada por pai, mãe e filhos ainda continua

predominando na sociedade brasileira, apesar de seu percentual estar diminuindo

ao longo dos anos, (de 53,3% para 46,3%) e, consequente aumento dos casais sem

filhos (de 13,8% para 18,5%), paralela a um aumento no percentual de famílias

unipessoais, formada por uma única pessoa. Com relação às famílias

monoparentais femininas, teve uma baixa redução, não muito significativa de 17,8%

para 16,4%. Outro fator que vale destacar, se refere ao aumento do percentual de

outros tipos de famílias, de 5,6% em 2001 para 6,1% em 2011.

A presença ainda significativa de famílias chefiadas por mulheres, acaba

sobrecarregando-a, pela somatória de papeis e funções. Muitas vezes acabam

assumindo múltipla jornada de trabalho, o trabalho fora e o cuidado com sua própria

casa e com os filhos. Conforme dados do IBGE (2012), 44,6% das famílias

monoparentais, tendo a mulher como provedora, tinham uma renda familiar per

capita de até meio salário mínimo em 2011. Nesse contexto, as famílias sob

responsabilidade feminina geralmente são marcadas pela precariedade de renda e

condições de subsistência, como destaca Rosa (2006, p. 10):

[...] a quase totalidade destas famílias sofrem dificuldades para enfrentar e resistir à profunda desigualdade social modelada por um padrão econômico que suscita cada vez mais valores e ações individuais, levando-as à exclusão não apenas no acesso aos diversos equipamentos existente na cidade, mas sobretudo, na possibilidade de escolhas, de autonomia sobre si mesma.

As famílias conviventes, caracterizada pela presença de mais de uma

família em um mesmo domicílio; as famílias recompostas, formadas por um dos pais

e seus filhos, caracterizada geralmente pela segunda união dos cônjuges, cujos

filhos coabitam, vivendo em um ambiente fraterno, cujos laços são afetivos e não

consangüíneos; e as famílias homoafetivas, formada pela união entre pessoas do

mesmo sexo, são apenas alguns dos novos arranjos familiares presentes na

contemporaneidade.

Dentre as diversas transformações que implicam em novos arranjos e

configurações familiares, bem como novas formas de pensar a família, no âmbito da

perspectiva jurídica, a promulgação da Constituição Federal de 1988, além de

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garantir a igualdade entre gêneros, amplia a concepção de família ao reconhecê-la

como uma comunidade formada por pais ou por um dos pais e seus descendentes.

A amplitude do conceito de família é outro aspecto importante a ser

considerado, o qual permite defini-la como um grupo social unido por laços

consanguíneos ou por afinidade e/ou solidariedade, com suas especificidades

culturais e de classes sociais. Assim destacado por Gueiros e Santos (2011, p. 82):

Assumindo a perspectiva de que esse primeiro espaço de acolhimento do indivíduo é múltiplo e está em constante transformação, diríamos que a família é uma unidade de convivência, formada a partir de vínculos de parentesco, de afinidade e de reciprocidade, cuja história e percurso social singulares demarcam sua forma de organização interna e de intercâmbio com a sociedade naquele dado momento e lugar e, em consequência, a socialização, o cuidado e a proteção de seus membros.

A família contemporânea é apontada não somente como instância de

sobrevivência dos indivíduos, mas também como fonte de proteção e socialização

de seus membros, de transmissão de aspectos culturais, bem como de relações de

gêneros e gerações. É também apontada como uma instituição de redistribuição

interna de recursos importantes na satisfação das necessidades básicas de seus

membros (CARVALHO e ALMEIDA, 2003, p. 109).

A família brasileira tem passado por diversas transformações, decorrentes

dos acontecimentos históricos, econômicos, sociais e demográficos nos últimos

anos, o que possibilita não mais destacar um único modelo de família, mas diversas

configurações e arranjos familiares.

Desse modo, ao se pensar em família é preciso compreendê-la como

uma categoria inserida numa conjuntura social complexa e que os problemas vividos

pelos seus integrantes são advindos de todo um contexto social, econômico e

cultural.

2.2 A Família nas Políticas Sociais: tendências contemporâneas

Segundo Mioto (2010a), pensar a família no âmbito da Proteção Social

implica reconhecer que a família em sua dimensão simbólica, em suas diversas

configurações e formas de organizações é importante à medida que auxilia na

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compreensão do lugar que vem ocupando na agenda das Políticas Sociais, em

determinado momento histórico. Particularmente, compreender a maneira que é

incorporada às Políticas Sociais, quais são as famílias incorporadas e os impactos

que provocam em suas vidas.

De acordo com a referida autora, estão em disputa na atualidade duas

grandes tendências no campo das Políticas Sociais, das quais consiste na “proposta

familista” e na “proposta protetiva”. A proposta familista pressupõe a satisfação das

necessidades dos indivíduos por meio da família e do mercado, via trabalho.

Somente quando ocorre a “falência” da família no provimento de recursos materiais,

afetivos e de socialização de seus membros, que há interferência do Estado por

meio de Políticas Sociais, estas acontecem prioritariamente de forma compensatória,

temporária e residual. Correspondendo a uma menor provisão de bem-estar por

parte do Estado.

A idéia de falência é entendida como incapacidade das famílias gestarem

e otimizarem seus recursos materiais, afetivos e de socialização de seus membros,

e portanto, de firmarem estratégias de sobrevivência e de convivência. Conforme

Mioto (2010b, p. 51):

Na categoria das capazes incluem-se aquelas que, via mercado, trabalho e organização interna, conseguem desempenhar com êxito as funções que lhes são atribuídas pela sociedade. Na categoria de incapazes estariam aquelas que, não conseguindo atender às expectativas sociais relacionadas ao desempenho das funções atribuídas, requerem a interferência externa, a princípio do Estado, para a proteção de seus membros. Ou seja, são merecedores da ajuda pública as famílias que falharam na responsabilidade de cuidado e proteção de seus membros.

Ao contrário da perspectiva familista, a proposta protetiva, configura-se

pela afirmação da Proteção Social através da garantia dos direitos sociais

universais, que consolidem de fato a cidadania, a equidade e a justiça social. (Mioto,

2010a). Nesta perspectiva, as Políticas Públicas são formuladas e implementadas

com o intuito preventivo e protetivo às vulnerabilidades e riscos sociais, voltadas ao

desenvolvimento da promoção social e fortalecimento das potencialidades de

proteção social das famílias. A exemplo disso, como enunciado anteriormente, a

Constituição Federal Brasileira de 1988, instituiu em seu art. 226 que “a família, base

da sociedade, tem especial proteção do Estado”.

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Contraditoriamente, no Brasil, mais precisamente a partir dos anos 1990,

a adesão à ideologia neoliberal impactou a configuração de padrões universalistas e

redistributivos proteção social conquistada com a CF/88, caracterizando-se pela

intensificação dos interesses econômicos e privados. Mudanças significativas

ocorreram no papel do Estado em dar respostas as demandas e manifestações da

questão social. Conforme Pereira-Pereira (2010), diante deste cenário, presencia-se

uma nova tendência em torno das Políticas Sociais, denominado de pluralismo de

bem-estar social, em que consiste na participação mais ativa da iniciativa privada e

de organizações não governamentais (terceiro setor), decorrente de uma quebra da

centralidade do Estado na provisão de bem-estar, exigindo da sociedade e da

família maior comprometimento. Segundo Carvalho (2002, p 17):

Na América Latina e Brasil, em particular, sempre se conjugou um frágil Estado-Providência com uma forte Sociedade-Providência. É assim que nestes países já há uma larga tradição da vigência do chamado Welfare MIX: a partilha de responsabilidades entre Estado, sociedade civil (com forte referência a suas organizações solidárias agrupadas sob o rótulo de terceiro setor) e a iniciativa privada.

Segundo Mioto (2010a) a crítica mais significativa na afirmação da família

como referência das Políticas Sociais na atualidade, deve-se à regressão do Estado

na provisão de bem-estar social, por meio da garantia dos direitos sociais através de

Políticas Públicas universais, ganhando evidência a focalização das Políticas

Públicas na população mais pauperizada, enquanto fortalece o mercado como uma

instância de provisão de bem-estar social e a organização da sociedade civil como

provedora. “[...] nessa configuração a família é chamada a reincorporar os riscos

sociais e, com isso, assiste-se um retrocesso em termos de cidadania social.”

(MIOTO, 2010a, p. 170).

[...] A maior expectativa é de que ela produza cuidados, proteção, aprendizado dos afetos, construção de identidades e vínculos relacionais de pertencimento, capazes de promover melhor qualidade de vida a seus membros e efetiva inclusão social na comunidade e sociedade em que vivem. No entanto, estas expectativas são possibilidades, e não garantias. A família vive num dado contexto que pode ser fortalecedor ou esfacelador de suas possibilidades. (CARVALHO, 2002, p. 15).

Diante disso, segundo Pereira-Pereira (2010) a família deve ser encarada

como uma unidade que simultaneamente apresenta-se como forte e fraca. Forte, no

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sentido que se constitui um lócus imprescindível de solidariedades e refúgios contra

o desamparo e as diversas inseguranças. É no seio familiar que se desenvolve a

reprodução humana, a socialização dos seus membros e a troca de vivências,

experiências e ensinamentos importantes para a vida dos seus membros. No

entanto, também apresenta-se por ser frágil, pelo fato de não estar livre de rupturas,

violências, contradições e desencontros.

Mioto (2009) destaca que a Proteção Social no Brasil configurou-se ao

longo da história fortemente influenciada pelo princípio, por ela denominado de

“familismo”, no qual considera a família como ator indispensável na provisão de

bem-estar de seus membros.

[...] no processo de ‘familiarização’ a satisfação das necessidades das famílias passa a depender cada vez mais da participação de seus membros na esfera mercantil. Então assiste-se o atrelamento da possibilidade de provisão de bem-estar das famílias à renda que conseguem obter no mercado e, portanto, é ela que vai determinar a qualidade de vida dos indivíduos, enquanto membros de uma família. Consequentemente, esta condução reforça possibilidades diferentes de provisão, ou seja, de acesso a bens e serviços, e incremento as desigualdades entre classes sociais. (MIOTO, 2009, p. 139-140).

Torna-se assim imprescindível, diante destas tendências

contemporâneas, que no processo de planejamento e operacionalização das

Políticas Sociais sejam consideradas as diversas mudanças da instituição família e

da conjuntura socioeconômica contemporânea.

As mudanças nas organizações e dinâmica das famílias, decorrente das

novas configurações e arranjos familiares e o agravamento da questão social que

interferem diretamente na dinâmica familiar, a fragiliza como instância e provedora

de proteção social. Para tanto, a família precisa de cuidados e proteção para cumprir

sua função protetiva. Desse modo, conforme Itaboraí (2006, p. 4):

As novas formas de família, ao lado das mudanças no mercado de trabalho, potencializam um contexto que exige estudos não só das realidades familiares, mas também dos impactos das políticas públicas que nelas se apóiam ou são focalizadas. Sabe-se que os custos sociais dos processos econômicos não atingem igualmente os tipos de família (segundo as etapas do ciclo de vida familiar e a posição das famílias na estratificação social, por exemplo) e nem os indivíduos no interior das famílias. Deve-se destacar que a absorção de responsabilidades pelo bem-estar individual pela família não é equanimente distribuída dentro do grupo familiar, mas tende a

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sobrecarregar as mulheres, para quem se conjuga mais facilmente o verbo cuidar: cuidar das crianças, idosos, doentes, etc.

Outra tendência contemporânea no cenário das Políticas Públicas é a

sobrecarga de tarefas e expectativas nas mulheres, devido ao quantitativo

considerável no Brasil de famílias monoparentais femininas, ou seja, formada pela

mulher e seus filhos, nos quais os homens, principalmente quando os laços

conjugais são rompidos, presencia-se um processo de desresponsabilização.

Nesta direção, ao ser considerado o cenário conflituoso das Políticas

Públicas, que por um lado consiste no processo de institucionalização das Políticas

Sociais tendo como primazia o Estado em sua implementação ao afirmar o que é

preconizado pela Constituição Federal de 1988, e por outro lado na regressão do

Estado na condução das Políticas Públicas, através da focalização das Políticas

Sociais e afirmação do pluralismo de bem-estar social e da presença da família

como parceira em sua condução, Mioto (2009, p. 144) destaca que:

[...] considerando que nem a sociedade e nem o Estado são blocos monolíticos e que as relações estabelecidas nesses âmbitos são contraditórias e expressam conflitos existentes entre diferentes concepções de proteção social, a questão da centralidade da família passa a ocupar um lugar importante no confronto entre os diferentes projetos. Projetos que buscam colocar em movimento estratégias sociopolíticas diferentes e que disputam a hegemonia tanto no plano da direção política de seus formuladores, quanto nos espaços de gestão e execução das políticas públicas. Tanto naquelas que mantém o seu caráter de universalidade, quanto naquelas de caráter focalizado.

Conforme Ferrari e Kaloustian (2010), a família além de ser afetada pelo

processo de desenvolvimento social e econômico, é também impactada pelas ações

desenvolvidas pelo Estado, por meio de Políticas Econômicas e Sociais. Nesta

direção, a família demanda Políticas que levem em consideração suas

especificidades e, portanto, suas particularidades.

Faz-se necessário, portanto, o desenvolvimento de serviços, programas,

projetos e benefícios que atendam de forma integral e universal as demandas

sociais das famílias brasileiras. E que estas não sejam culpabilizadas pela situação

socioeconômica que vivenciam, mas que sejam inseridas em Políticas Sociais que

de fato garantam seus direitos sociais e o exercício da cidadania. “A família deve se

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tornar referência central nos programas sociais, ganhar um lugar de visibilidade

social, tornando-se alvo de políticas que realmente levem em consideração as novas

configurações da questão social no país.” (ALENCAR, 2010, p.64).

2.3 A trajetória da Política de Assistência Social Brasileira: do

assistencialismo e focalização em segmentos específicos da população à

política pública e a matricialidade sociofamiliar

A trajetória histórica da Assistência Social brasileira caracterizou-se por

muito tempo por ações descontínuas e residuais, marcadas pelo favoritismo político,

por práticas clientelistas e pela caridade cristã aos mais pobres. A ajuda ao próximo

e as práticas de caridade e solidariedade perpetuaram por um longo período na

Assistência Social até seu despertar enquanto Política Pública, com a promulgação

da Constituição Federal de 1988. Nesta direção, Yazbek (2004, p. 16-17) ressalta

que:

Historicamente a assistência social brasileira se estruturou acoplada ao conjunto de iniciativas benemerentes e filantrópicas da sociedade civil. Mais do que isso, a assistência social brasileira se desenvolveu mediada por entidades do setor filantrópico, bem como acompanhada dessas formas filantrópicas, caritativas e benemerentes de socorrer os pobres, que se constituíram em mediações fundamentais para o exercício da assistência social (não apenas no Brasil).

A Assistência Social por um longo período, longe de ser instituída como

uma Política Social desenrolou-se como doação de auxílios, caracterizada pelo

imediatismo e assistencialismo. Direcionada a segmentos excluídos da sociedade e

longe da perspectiva cidadã, caracterizou-se mais como uma forma de controle e

alívio, ao neutralizar demandas e reivindicações (MESTRINER, 2011).

Historicamente, esta área vai se estruturando nas relações com a sociedade civil e no interior do Estado, pois se constituem em práticas passíveis de serem tratadas com ‘sobras’ de recursos, diferentemente da política, que exige responsabilidade, compromisso e orçamento próprio. Assim, o Estado vai persistentemente resistir em fazê-la emergir de forma clara como política, o que só virá a acontecer no Brasil com a Constituição federal de 1988. (MESTRINER, 2011, p. 16)

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Desse modo, o caráter assistencial no cenário brasileiro foi marcado pela

desvinculação de um compromisso estatal, cujos principais atores por um longo

período foram entidades religiosas e filantrópicas sem fins lucrativos.

É somente nos anos 1930, durante o Estado Novo no governo de Vargas,

com a criação do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS) em 1938, que se

percebe uma das primeiras ações governamentais voltadas à área da Assistência

Social. Apesar de que, conforme Iamamoto e Carvalho (1995), a Constituição de

1934 já fazia referência à obrigatoriedade do Estado em assegurar assistência aos

desvalidos e fixar 1% das rendas tributáveis à maternidade e infância. “Desde

então, o CNSS, hoje CNAS3, deveria analisar as adequações das entidades sociais

e de seus pedidos e subvenções e isenções, além de dizer das demandas dos ‘mais

desfavorecidos’.” (SPOSATI, 2007, p. 15).

Segundo Iamamoto e Carvalho (1995), o Conselho Nacional de Serviço

Social (CNSS) não chegou a ser um organismo de fato relevante e atuante no

âmbito da Assistência. Constituiu-se mais em um campo de manipulação de verbas

e de mecanismo de práticas clientelistas. Estando assim, apenas direcionado à

centralização e organização das obras assistenciais públicas e privadas.

Constitui-se de fato, num conselho de auxílios e subvenções, cumprindo, na época, o papel do Estado, de subsidiar a ação das instituições privadas. Não se refere à assistência social tratada como política social, mas da função social de amparo, em contrapondo ao desamparo disseminado que as populações, principalmente urbanas, traziam explícitas pela conformação da ‘questão social’. (MESTRINER, 2011, p. 62-63).

Nesse contexto, o CNSS caracterizou-se mais em avaliar as organizações

da sociedade civil que prestavam amparo social na época para a concessão por

parte do Estado de auxílios e subvenções, confirmando o caráter benemerente do

Estado.

De fato, a primeira e grande instituição nacional de assistência social foi

instituída como Legião Brasileira de Assistência (LBA), em 1942, durante o Governo

3 Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), instituído na Lei Orgânica de Assistência Social

(LOAS), Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.

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Vargas, dirigida pela esposa do então presidente, Darcy Vargas, “[...] com o objetivo

de assistir, primeiramente, às famílias dos pracinhas que foram para a guerra, e logo

depois estender seu trabalho à população pobre, principalmente com programas na

área materno-infantil [...]” (COUTO, 2010, p. 103).

Percebe-se, portanto, no que diz respeito à Legião Brasileira de

Assistência (LBA), a forte presença do primeiro-damismo no âmbito da Assistência

Social da época, a qual em outubro daquele ano, de acordo com (SPOSATI, 2007),

acaba tornando-se uma sociedade civil sem fins lucrativos, com o intuito de

‘congregar as organizações de boa vontade’. Amplia seu campo de ação ao passo

que estende suas ações ao grande quantitativo de famílias não asseguradas pela

Previdência Social, quando da ocorrência de calamidades públicas.

Desse modo, conforme Sposati (2007), a Assistência Social desenvolvida

na época, longe de tornar-se um direito de cidadania, era caracterizada como um ato

de boa vontade, com o desenvolvimento de ações pontuais, imediatistas e

assistencialistas.

Segundo Mestriner (2011), a Legião Brasileira de Assistência (LBA), no

ano de 1969 é transformada em uma Fundação e passa a ser vinculada diretamente

ao Ministério do Trabalho e Previdência Social, agregando em sua estrutura a

implantação e execução de uma gama de novos projetos e programas.

Dentre os principais programas desenvolvidos pela LBA, destacaram-se

as creches-casulo, assistência educacional à família, programa nacional do

voluntariado, registro civil, ações comunitárias, assistência aos idosos e aos

excepcionais (TEIXEIRA, 2008).

Ainda segundo Mestriner (2011), após o II Plano Nacional de

Desenvolvimento em 1974, foi estabelecido um documento que salientava a

problemática da Assistência Social no Brasil, bem como a necessidade de

superação desta situação. Desse modo, naquele ano é criado o Ministério da

Previdência e Assistência Social (MPAS), o qual continha em sua estrutura uma

Secretaria de Assistência Social, órgão a qual foi atribuída responsabilidade pela

formulação da política de enfrentamento à pobreza.

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Ainda neste período é realizado em Petrópolis um Seminário organizado

pelo Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS),

com o intuito de subsidiar a iniciativa governamental. Desse modo, foi discutida a

necessidade da vinculação da Assistência Social ao MPAS e a necessidade

imediata de inovação neste campo, fugindo do caráter assistencialista e de simples

complementação à Previdência Social (MESTRINER, 2011).

Conforme ainda a referida autora, a integração da Fundação LBA ao

MPAS, designa a Assistência Social uma nova concepção, agora entendida como

promoção social.

Todavia, o cenário brasileiro via-se em um processo acelerado de

pauperização demandando do Estado respostas às demandas sociais. Entretanto,

Mestriner (2011, p. 170) ressalta que:

[...] O Estado vai criando um aparato burocrático pesado, consumindo mais recursos com sua máquina administrativa e exercendo cada vez maior seletividade junto ao usuário. A criação de novos organismos segue a lógica do retalhamento social, criando-se serviços, projetos e programas para cada necessidade, problema ou faixa etária, compondo uma prática setorizada, fragmentada e descontínua [...].

Diante deste contexto, ganham visibilidade diversos programas

fragmentados e centralizados, voltados a segmentos específicos da população, os

considerados carentes e incapazes de prover suas próprias necessidades sociais

básicas. Destaca-se, portanto, a focalização a segmentos que demandavam atenção

especial e que estavam fora da relação capital-trabalho, no caso, as crianças e

adolescentes, idosos, pessoas com deficiência, pessoas em situação de rua e

mulheres. Neste aspecto Teixeira (2008, p. 44) destaca que:

[...] Trata-se, portanto, de uma relação de cidadania invertida, já que o indivíduo passa a ser beneficiário do sistema pelo motivo mesmo do reconhecimento de sua incapacidade de exercer plenamente a condição de cidadão. Nesta condição política de cidadania invertida, o indivíduo entra em relação com o Estado no momento em que se reconhece como um não-cidadão. Os seus atributos jurídicos e institucionais são, respectivamente, a ausência de uma relação formalizada de direito ao benefício, o que se reflete na instabilidade das políticas sociais nesta área, e uma base institucional inspirada em um modelo de voluntariado das organizações de caridade, mesmo quando são instituições estatais (por exemplo, o exercício da presidência da LBA foi tradicionalmente reservado às primeiras-damas do país).

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Conforme Sposati (1995), a assistência social sempre representou para

os segmentos progressistas da sociedade uma prática não-política, a qual

carateriza-se pela falta da capacidade de modernização e por ações arcaicas e

marginais.

Percebe-se, portanto, um período com baixa densidade de um projeto

político que de fato desse consistência à Assistência Social brasileira,

[...] e, com isto, a assistência é enxergada não só como a irracionalidade

das primeiras-damas mas como tática e estratégia no interior das políticas sociais brasileiras. Contudo, na condição de estratégia de dominação, permanece a sua análise negada no contexto social e político brasileiro do final da década, que busca a ruptura do regime ditatorial. (SPOSATI, 1995, p. 10).

Assim, como enfatiza Sposati (2007) somente em 1985, com o fim da

ditadura militar e por meio do I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova

República (I PND) observa-se uma tímida tentativa de instituição da Assistência

Social enquanto Política Pública, ao reconhecer o usuário como sujeito de direitos,

além de sugerir a ampliação de sua participação e a ruptura com ações caritativas e

assistencialistas presentes por um longo período em seu contexto histórico.

O I PND da nova república refere-se ao enfrentamento da pobreza e miséria crescentes, com um discurso voltado para o social, a partir da definição de três metas estratégicas de ação: reformas, crescimento econômico e combate à pobreza [...], propõe ações na perspectiva de complementação alimentar para gestantes e nutrizes, distribuição de leite para crianças, creches, assistência aos excepcionais, aos idosos, ao menor, aperfeiçoamento ocupacional, erradicação do analfabetismo, saneamento etc. (YAZBEK, 2007, p. 46).

Nesse contexto, diversos movimentos, debates, estudos, articulações e

lutas sociais a favor de um Sistema de Proteção Social Brasileiro, foram empreitadas

no cenário brasileiro. A promulgação da Constituição Federal brasileira aprovada em

outubro de 1988, possibilitou uma nova concepção acerca da Assistência Social no

Brasil ao integrá-la no campo da Seguridade Social, juntamente com as Políticas de

Saúde e Previdência social.

A Constituição Federal (CF) brasileira de 1988, ao afiançar os direitos humanos e sociais como responsabilidade pública e estatal, operou, ainda que conceitualmente, fundamentais mudanças, pois acrescentou na agenda

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dos entes públicos um conjunto de necessidades até então consideradas de âmbito pessoal ou individual. (SPOSATI, 2009, p. 13).

A Constituição Federal de 1988 dispõe nos artigos 203 e 204 a

Assistência Social enquanto política pública não contributiva,

[...] voltada para aqueles cujas necessidades materiais, sociais e culturais não podem ser asseguradas quer pelas rendas do trabalho, quer pela condição geracional – infância e velhice -, quer por necessidades físicas e mentais [...] (MOTA, 2010, p. 15).

As disposições expressas na Constituição Federal de 1988, por sua vez,

possibilitaram um cenário de mudança no contexto brasileiro ao instituir um Sistema

de Proteção Social na órbita dos direitos sociais e de cidadania. Apesar disso,

diversos foram os entraves para a concretização do foi preconizado. Conforme

analisa Mestriner (2011, p. 191):

[...] apesar de todo processo de reforma e de debates sobre as políticas sociais, as práticas efetivas dentro do Estado terão dificuldade de se libertar do padrão imposto pelo regime militar, em vigor por mais de vinte anos. Só gradativamente algumas delas vão abandonando as relações clientelistas, patrimonialistas e autoritárias, bem como os sérios problemas de mau direcionamento e aplicação do recurso público.

É somente com a promulgação da Lei Orgânica de Assistência Social

(LOAS), de nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que a Assistência Social vai ganhar

maior visibilidade enquanto uma política social não contributiva. É valido destacar

que sua promulgação foi repleta de tensões e contratempos impostos por uma

conjuntura política e econômica de interesses privados. Conforme Sposati (2007), o

primeiro projeto de instituição da LOAS foi vetado em 1990 pelo Presidente

Fernando Collor de Melo, argumentando que os princípios propostos não condiziam

com uma Assistência Social responsável.

A LOAS vem fortalecer a concepção de que a Assistência Social é

“[...]direito do cidadão e dever do Estado[...]” (Art. 1º). Sua promulgação visa a

ampliação da cidadania, propondo uma Assistência Social universalista a quem dela

necessitar, por meio de ações integrais e intersetoriais com outras políticas sociais.

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A promulgação da LOAS é responsável pelo desmonte do antigo CNSS

(Conselho Nacional de Serviço Social-1938-1993), ao criar os Conselhos Municipais,

Estaduais e Nacional de Assistência Social, de caráter paritário entre o poder público

e a sociedade civil, responsáveis por controlar, avaliar e propor diretrizes para o

aperfeiçoamento e efetivação da Política (YAZBEK, 2004).

Neste contexto, a Assistência Social com a promulgação da CF/88,

juntamente com a instituição da LOAS, vai avançar enquanto Política Pública, ao

inserir-se no campo dos direitos sociais, da universalidade dos acessos e da

primazia da responsabilidade do Estado em sua condução, bem como no

estabelecimento da importância da participação social em seu processo de

implementação e controle. Nestas condições, a Assistência Social ganha novas

roupagens e direcionamentos, apesar de que em suas características históricas

estavam presentes ações clientelistas e de tutela, que encontram-se ainda como um

dos grande desafios a serem superados por esta Política. Desse modo, Couto et. al.

(2010, p. 34) apontam que

[...] a LOAS inovou ao apresentar novo desenho institucional para a assistência social, ao afirmar seu caráter de direito não contributivo, (portanto, não vinculado a qualquer tipo de contribuição prévia), ao apontar a necessária integração entre o econômico e o social, a centralidade do Estado na universalização e garantia de direitos e de acessos a serviços sociais e com a participação da população. Inovou também ao propor o controle da sociedade na formulação, gestão e execução das políticas assistenciais e indicar caminhos alternativos para a instituição de outros parâmetros de negociação de interesses e direitos de seus usuários. Parâmetros que trazem a marca do debate ampliado e da deliberação pública, ou seja, da cidadania e da democracia.

No entanto, diante da abertura neoliberal empreitada no cenário brasileiro

a partir dos anos 1990, destaca-se uma conjuntura social, política e econômica que

coloca em xeque os avanços conquistados no âmbito das políticas sociais por meio

da promulgação da CF/88 e que até hoje repercutem em sua efetivação. Desse

modo, Batinni e Costa (2007, p. 39) ressaltam que:

Analisando a reforma do Estado, durante a década de 1990, constata-se que houve uma direção privatizante, conservadora, subordinada às pressões do grande capital (externo e interno). O impasse na efetivação dos direitos sociais, consagrados pela Constituição Federal de 1988, demonstrou uma ofensiva do capital no sentido de desregulamentar o mercado de trabalho e reduzir os gastos públicos com a área social.

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48

Neste aspecto, a Reforma do Estado, baseado por fortes concepções

neoliberais, desencadeou no cenário brasileiro uma retração do Estado para com os

gastos sociais e com a garantia dos direitos sociais, caracterizando-se, por sua vez,

pelo pensamento privatista e do cidadão consumidor, através do desenvolvimento

de políticas sociais seletivas, focalizadas e compensatórias. Presencia-se um

cenário de deresponsabilização do Estado ao transferir suas responsabilidades para

o mercado e para a sociedade civil, através de organizações não governamentais

filantrópicas. Diante disso, Couto et. al. (2010, p. 34) destacam que

[...] se por um lado, os avanços constitucionais apontam para o reconhecimento de direitos e permitem trazer para a esfera pública a questão da pobreza e da desigualdade social, transformando constitucionalmente essa política social em campo de exercício de participação política, por outro, a inserção do Estado brasileiro na contraditória dinâmica e impacto das políticas econômicas neoliberais coloca em andamento processos desarticuladores, de desmontagem e retração de direitos e investimento no campo social.

De acordo com Yazbek (2004) é neste contexto de expansão das

iniciativas solidárias que se percebe a evidência dada às ações do Estado no âmbito

neoliberal, em que as respostas às necessidades sociais caracterizam-se por

programas e ações descompromissadas, privatistas, seletivas, compensatórias,

centradas em situações-limites em termos de sobrevivências e direcionadas aos

mais pobres dos pobres, incapazes de competir no mercado.

É no âmbito dessas tendências que fica claro no governo de Fernando

Henrique Cardoso a imposição de concepções conservadoras acerca da Assistência

Social, ao dissolver a antiga LBA e constituir o Programa Comunidade Solidária

(PCS) em 1995, o qual “contribui largamente para dificultar e impedir o avanço do

paradigma da assistência social sob a égide do avanço dos direitos sociais.”

(YAZBEK, 2004, p. 35).

Uma das características desse período é a retomada da matriz da solidariedade, como sinônimo de voluntarismo e de passagem da responsabilidade dos programas sociais para a órbita da iniciativa privada, buscando afastar o Estado de sua responsabilidade central, conforme a Constituição de 1988, na garantia desses direitos. (COUTO, 2010, p. 150).

Lopes (2006) destaca que o Programa Comunidade Solidária foi uma

opção de sentido contrário às concepções e disposições que colocavam a

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Assistência Social no novo patamar de direito, ao caracterizar-se por um viés de

redução de direitos sociais e de refilantropização ensejada pela reforma do Estado.

Percebe-se, portanto, um período caracterizado pelo desmonte da

Seguridade Social brasileira, no qual a Assistência Social foi palco dos maiores

retrocessos. Sitcovsky (2010) destaca que nos governos de Fernando Henrique a

Assistência Social é influenciada por concepções de solidariedade, voluntariado e de

parcerias privadas. A exemplo disso é válido ressaltar que os recursos destinados

ao PCS superavam os recursos destinados ao Fundo Nacional de Assistência Social

(FNAS), contraponto o que a LOAS preconizava.

Efetivamente, o Programa Comunidade Solidária caracterizou-se por grande apelo simbólico, com ênfase em ações pontuais, focalizadas em “bolsões de pobreza”, direcionadas apenas aos indigentes, aos mais pobres entre os pobres [...] (COUTO et.al. 2010, p. 36).

Ficou claro que o plano de governo FHC foi marcado pelo desrespeito ao

que era preconizado constitucionalmente, em meio a uma tradição de superposição

decorreu na fragilização e desqualificação da Assistência Social no país

(MESTRINER, 2011).

Ainda neste contexto, Couto et. al. (2010) ressalta que a primeira Política

Nacional de Assistência Social só foi aprovada em 1998, cinco anos após a

regulamentação da LOAS e, diante da predominância do Programa Comunidade

Solidária, apresentou-se insuficiente e confrontada pela evidência do Programa.

Na busca pela efetivação dos pressupostos contidos na CF/88 e as

disposições da LOAS, Lopes (2006) ressalta que a realização da IV Conferência

Nacional de Assistência Social em 2003, no governo Lula, recolocou em evidência a

importância da instância deliberativa no processo de recondicionamento da

Assistência Social no cenário brasileiro. Dentre as muitas deliberações, ganhou

destaque a decisão coletiva de implantação do Sistema Único de Assistência Social

(SUAS), a partir de concepções de universalização do direito à proteção social

fundado na cidadania, contrário a ideias tutelares e subalternas, ao compreender os

sujeitos como seres de direitos.

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50

Através da aprovação em 2004 da nova Política Nacional de Assistência

Social (PNAS), por meio da Resolução nº 145, de 15 de outubro de 2004, pelo

Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), são definidas as bases para a

implantação do novo modelo de gestão para a Política de Assistência Social,

resultando na instituição, em 2005, do Sistema Único de Assistência Social (SUAS),

no qual foi possível

[...] explicitar e tornar claras as diretrizes para efetivação da Assistência Social como direito de cidadania e responsabilidade do Estado, apoiada em um modelo de gestão compartilhada pautada no pacto federativo, no qual são detalhadas as atribuições e competências dos três níveis de governo na provisão de atenções socioassistenciais em consonância com o preconizado na Loas [...] (COUTO et. al. 2010, p. 38).

A vigência da PNAS/2004 permitiu inúmeras mudanças na estrutura

organizativa, bem como nos mecanismos de controle, gestão e avaliação da nova

política. Além disso, preconiza os princípios e diretrizes já enunciados na LOAS, tais

como

(...) a referencialidade às necessidades sociais; a universalização do acesso para os que necessitam da assistência; o respeito à dignidade, à autonomia, aos serviços de qualidade; a igualdade de direitos; a dimensão pública dos serviços. O mesmo ocorre com as suas diretrizes: descentralização político-administrativa; participação da população; primazia da responsabilidade do Estado [...] (MOTA et. al. 2010, p. 191).

Couto (2009) destaca que a primazia do Estado na condução da Política

Pública tem o caráter de assegurar o atendimento de quem dela necessitar,

garantindo os princípios de igualdade de acesso, transparência administrativa e

investimentos públicos para o social.

Ao reafirmar a relevância da articulação com outras políticas setoriais,

considerando as desigualdades socioterritoriais, e tornar clara a importância de

ações múltiplas e integradas no enfrentamento da questão social, bem como na

garantia dos mínimos sociais e da universalização dos direitos sociais, a PNAS

apresenta como objetivos:

Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que dela necessitam;

Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural;

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Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária. (PNAS, 2004, p. 33).

Desse modo, a intersetorialidade no âmbito da Política de Assistência

Social deve expressar a articulação e agregação de diferentes Políticas Sociais, por

meio do desenvolvimento de serviços e programas integrados no enfrentamento das

desigualdades sociais identificadas nas diversas Políticas. Busca-se, assim, a

superação de ações fragmentadas no atendimento às necessidades sociais da

população (COUTO et. al. 2010).

[...] a territorialização da rede socioassistencial, baseada na lógica da proximidade do cidadão, na articulação intersetorial, na integração público-privado, ampliam-se as possibilidades de completude das atenções e da cobertura às várias seguranças previstas – de acolhida, de sobrevivência ou renda, de convívio familiar, comunitário e social, de sobrevivência a riscos circunstanciais e de desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social. (CAPACITA SUAS, 2008, p. 19).

Outro aspecto que cabe destacar refere-se a ampliação do público alvo

da Política de Assistência Social, ao eleger como unidade de intervenção a família

como um todo, na perspectiva de romper com ações fragmentadas contidas nas

abordagens por segmentações específicas, tais como crianças, adolescentes,

idosos e mulheres. Assim sendo, constitui-se então o público usuário da Política de

Assistência Social,

[...] cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade social e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos ético, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar; grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social. (PNAS, 2004, p. 33).

Como destaca Couto et. al. (2010) a PNAS reafirma a Assistência Social

enquanto uma Política de Proteção Social não contributiva, assim como direciona o

desenvolvimento de suas ações à proteção dos cidadãos contra riscos sociais, bem

como no atendimento de necessidades individuais e sociais.

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Tendo em vista a efetivação dos objetivos elencados, segundo as

orientações da PNAS e da Norma Operacional Básica/SUAS, a Proteção Social sob

responsabilidade do Sistema Único de Assistência Social passa a ser dividida entre

Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE), que por sua vez, é

subdivida em Média e Alta Complexidade. É válido ressaltar que este trabalho

centra-se em um estudo mais aprofundado acerca da Proteção Social Básica, visto

que o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF) é o principal

Serviço desenvolvido no âmbito da PSB, através do Centro de Referência de

Assistência Social (CRAS), caracterizado por ser um equipamento social de base

territorial e primário para o desenvolvimento dos serviços, programas, projetos e

benefícios.

Isto posto, a Proteção Social Básica caracteriza-se por seu aspecto

protetivo e de inclusão social ao definir como objetivos:

[...] prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, entre outros) e/ou fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiência, entre outras). (PNAS, 2004, p. 33).

Além da implementação de serviços, programas e projetos de

acolhimento e de convivência familiar e comunitária, são dispostos no âmbito da

Proteção Social Básica a concessão de benefícios, tais como: o Benefício de

Prestação Continuada (BPC), previsto na LOAS, destinado a idosos a partir de 65,

bem como a pessoas com deficiência que não podem prover sua própria

subsistência, nem tê-la provida por sua família, cuja renda per capita não ultrapasse

a ¼ do salário mínimo. Assim como os benefícios eventuais, dispostos no art. 22 da

LOAS, que visam ao pagamento de auxílio por natalidade ou morte, ou em situações

de vulnerabilidade temporária e de calamidade pública e os de transferência de

renda, “ [...] programas que visam os repasses diretos de recursos dos fundos de

assistência social aos beneficiários, como forma de acesso à renda, visando o

combate à fome, à pobreza e outras formas de privação de direitos [...]” (COUTO,

2009, p. 210).

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Como destaca Couto (2009, p. 211), os serviços, programas, projetos e

benefícios de Proteção Social Básica “[...] serão referenciados nos Cras e serão

compostos também por uma rede formada por entidades e organizações

assistenciais da área de abrangência dos Cras”.

O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é uma unidade

pública estatal de base territorial, localizado em áreas de vulnerabilidade social, com

objetivo de executar serviços de PSB, organizar e coordenar a rede local de serviços

socioassistenciais locais. Atua com famílias e indivíduos visando favorecer a

convivência familiar e comunitária (PNAS, 2004).

O principal Serviço de Proteção Social Básica, implementado

necessariamente nos CRAS, é denominado de Serviço de Proteção e Atendimento

Integral à Família (PAIF), o qual

[...] consiste no trabalho social com famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura dos vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida. Prevê o desenvolvimento de potencialidades e aquisições das famílias e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, por meio de ações de caráter preventivo, protetivo e proativo [...] (TIPIFICAÇÃO, 2009, p. 6).

Os Serviços de Proteção Social Especial destinam-se a famílias e

indivíduos que tiveram seus direitos violados, os vínculos familiares e comunitários

foram rompidos e se encontram em situação de alta vulnerabilidade social,

decorrente de abandono, privação, perda de vínculos, exploração, violência, etc.

(COUTO, 2009).

Ressalta-se que a Proteção Especial é dividia em Média Complexidade e

Alta Complexidade, em que o primeiro destina-se a famílias e indivíduos que tiveram

seus direitos violados, mas os vínculos familiares e comunitários não foram rompidos

e o último, respectivamente, assegura proteção integral – moradia, alimentação,

higienização e trabalho protegido a famílias e indivíduos que necessitam ser

retirados de seu núcleo familiar e comunitário (PNAS, 2004).

A Política de Assistência Social ao constituir-se enquanto uma política de

Proteção Social, deve no âmbito dos serviços, programas, projetos e benefícios

garantir um conjunto de seguranças, estas são: de acolhida, de renda, de

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convivência familiar, comunitária e social e de autonomia. Neste aspecto, Jaccoud

et. al. (2008) ressalta que quanto às seguranças a serem garantidas, a Política de

Assistência Social pretende atender as demandas em sua amplitude e

especificidade, superando uma visão fragmentada e centrada no indivíduo e na

pobreza. Desse modo, seus objetivos vão além da garantia de renda, e expandem-

se para a oferta de serviços voltados à defesa dos direitos sociais, à socialização, à

proteção e ao desenvolvimento da autonomia.

Nesta perspectiva, o estabelecimento do SUAS é responsável pela

regulação e organização das ações socioassistenciais da Política de Assistência

Social em todo o território nacional, a partir de um modelo de gestão descentralizado

e participativo. Prever, ainda, a gestão compartilhada, o co-financiamento entre as

três esferas de governo e o estabelecimento das competências técnico-políticas de

cada ente federativo. Busca ainda fortalecer a participação social, no processo de

implantação, implementação e controle da referida Política. Além disso, estabelece

[...] o território como base de organização do sistema, na qual a oferta capilar de serviços é baseada na lógica da proximidade do cidadão e na localização dos serviços nos territórios com maior incidência de vulnerabilidades e riscos sociais para a população; o trabalho com famílias como princípio matriarcal e ordenador das ações a serem desenvolvidas pelo poder público no âmbito da política de assistência social [...] (LOPES, 2006, p. 83-84).

Para Mota et. al. (2010), a implementação do SUAS vai dar possibilidade

de superar a história assistencialista da Assistência Social, da ideologia do favor, da

ajuda, do nepotismo e patrimonialismo presentes nas classes dominantes, através

de sua institucionalização e referencias legais que instituem parâmetros técnicos e

afirmam a profissionalização na execução da Assistência Social.

Apesar disso, diversos são os entraves e desafios postos à

implementação do SUAS no cenário brasileiro, seja pela ideologia neoliberal ou pela

postura do Estado na condução da Política de Assistência Social. Como destaca

Pereira e Siqueira (2010), enquanto as prioridades do Estado se centrarem no

desenvolvimento econômico e do mercado, na liberalização da economia e na

apropriação da pobreza enquanto ausência de renda, haverá o crescimento

contingente das desigualdades sociais e da redução da Proteção Social, como

direito.

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Ainda segundo as autoras, um aspecto que ganha destaque no âmbito da

Política de Assistência Social refere-se à participação cada vez mais residual do

Estado no desenvolvimento de medidas assistenciais, colocando em evidência

políticas de transferência direta de renda, com o discurso de aliviar as necessidade

sociais e diminuir a pobreza nacional. Trata-se de uma ação emergencial e não se

configura de fato como um direito, embora tenha uma significação diante de um

cenário crescente dos índices de pobreza e das desigualdades sociais, e de

apresentar como uma das condicionalidades para o benefício a frequência escolar

das crianças e adolescentes das famílias atendidas.

[...] o excessivo protagonismo desses programas acentua a focalização, favorece a criação de estigmas e cria falsos elos entre políticas governamentais baseadas em condicionalidades, atrofiando relações institucionais que seriam diretamente fortalecidas se praticassem, concomitantemente, a oferta de serviços sociais. (PEREIRA e SIQUEIRA, 2010, p. 223).

Neste aspecto, percebe-se no cenário brasileiro a centralidade dada aos

programas de transferência de renda em detrimento da efetivação de uma Política

voltada a oferta de serviços, programas e projetos sociais que possam dar respostas

às diversas necessidades sociais das famílias, estas, não necessariamente,

relacionadas à renda.

A PNAS e o SUAS propõem o desenvolvimento de diversos serviços,

programas, projetos e benefícios que devem ser ofertados diretamente nos CRAS,

dentre eles como já citado, o PAIF e o próprio Programa Bolsa Família.

No entanto, é preciso fortalecer a articulação entre a oferta de serviços

socioassistenciais e os programas de transferência de renda, contribuindo

concomitantemente para a convivência, o reconhecimento de direitos e

possibilidades de intervenção na vida social. E que as famílias possam ter acesso às

informações, aos direitos socioassistenciais e às demais políticas setoriais. Serem

atendidas, portanto, em sua completude.

2.3.1 O SUAS e a Matricialidade sociofamiliar: a primazia da família na Política de

Assistência Social

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Ao ser analisada a trajetória histórica da Assistência Social no Brasil,

percebe-se que suas ações por um longo período não estiveram voltadas para

atender a família como um todo, e sim voltadas para atender necessidades

individuais, por meio de medidas pontuais e emergenciais.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a Assistência

Social é instituída como uma política pública de Seguridade Social e passa a ter

como um de seus objetivos a proteção à família. A partir de então, foram surgindo

outras legislações responsáveis pela materialização da Assistência Social enquanto

Política Pública de direito, até recentemente ser implementado um Sistema Único de

Assistência Social (SUAS) no país.

Assim, em 1993, a promulgação da LOAS, além de dispor sobre a

organização da Assistência Social reafirma em seus objetivos a proteção à família. A

aprovação da PNAS em 2004 reitera a relevância da família na Política de

Assistência Social, ao colocar como uma de suas diretrizes a “centralidade na

família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e

projetos.” (p. 33).

Por sua vez, o SUAS, por meio da Norma Operacional Básica

(NOB/SUAS) enuncia como um de seus eixos estruturantes a matricialidade

sociofamiliar, no qual a família é percebida como um importante núcleo de

protagonismo social, convívio e sociabilidade, e, portanto, precisa de apoio e

proteção para desempenhar seu papel.

O SUAS, por meio do eixo matricialidade sociofamiliar, no qual tem a

família como centralidade, busca romper com a lógica individualista na prestação de

serviços públicos. Conforme disposto na PNAS (2004 p. 40-41):

[...] Por reconhecer as fortes pressões que os processos de exclusão sociocultural geram sobre as famílias brasileiras, acentuando suas fragilidades e contradições, faz-se primordial sua centralidade no âmbito das ações da política de assistência social, como espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser cuidada e protegida.

O princípio de matricialidade sociofamiliar no âmbito da Política de

Assistência Social amplia a concepção de família, ao ser entendida como um grupo

social de pessoas com laços consanguíneos e/ou alianças de afinidades, cujos

vínculos circunscrevem obrigações recíprocas, e está organizada em relações de

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gênero e de geração. É também compreendida como um lócus básico de acolhida,

socialização, aprendizagens, sustentabilidade e protagonismo social (NOB/UAS,

2005).

Nesta direção, a Política de Assistência Social busca superar a ideia

tradicional e idealizada de família, ao compreender o universo familiar a partir de sua

variedade de modelos, configurações, arranjos, estruturas e dinâmicas. “[...]

sobressaem as singularidades das famílias, suas dinâmicas, suas redes e também

suas possibilidades e potencialidades. Lembrando ainda que a família é também um

espaço de conflitos e tensões.”( ANDRADE e MATIAS, 2009, p. 220).

Ao defender a centralidade da família como princípio e superação da

focalização e fragmentação, parte da premissa de que para a família prevenir,

proteger, promover e incluir seus membros, é necessário dar condições de

sustentabilidade para tal (PNAS, 2004).

[...] as famílias são o palco no qual a política de assistência social finca seus alicerces e busca, junto com esses sujeitos, engendrar possibilidades de inserção social, para garantir sua sobrevivência, o acolhimento de suas necessidades e interesses e o convívio familiar e comunitário – enfim, a proteção social. (GUEIROS e SANTOS, 2011, p. 85).

Nesse sentido, a família no âmbito da Política de Assistência Social é

percebida como uma instituição que necessita de condições de sustentabilidade e

proteção social para que possa cumprir com o seu papel de unidade de proteção

primária e de cuidado, o qual a coloca na condição de sujeito de direitos sociais e

não só de deveres e que, portanto, “o fortalecimento de possibilidades de convívio,

educação e proteção social, na própria família, não restringe as responsabilidades

públicas de proteção social para com os indivíduos e a sociedade” (NOB/SUAS,

2005, p. 90).

Mediante o exposto, foi criado o primeiro e principal Serviço da Política de

Assistência Social denominado Serviço de Proteção e Atendimento Integral à

Família (PAIF), que consiste no trabalho social com famílias por meio de ações

socioassistenciais de caráter continuado. Com base no princípio da matricialidade

sociofamiliar, é fruto do amadurecimento e consolidação do SUAS e constitui-se

como o Serviço essencial à Proteção Social Básica do SUAS, o qual será

aprofundado no seguinte capítulo.

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3 O SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA-

PAIF: A EXPERIÊNCIA NO CRAS ACARACUZINHO

Este capítulo centra-se na análise e apresentação do material e dados

obtidos no processo da fase exploratória da pesquisa, através das observações, das

informações colhidas nos documentos e registros e das entrevistas semi-

estruturadas realizadas com os interlocutores desta pesquisa.

Contempla, também, uma breve explanação sobre os aspectos

conceituas acerca do PAIF, para melhor compreensão da sua estrutura, objetivos e

ações.

3.1 PAIF: aspectos conceituais

Conforme o documento Orientações Técnicas sobre o PAIF (2012a), o

desenvolvimento do trabalho social com famílias teve início no ano de 2001, através

de um projeto piloto denominado Programa Núcleo de Apoio à Família (NAF). Tendo

em vista a expansão e qualificação dessa experiência, em 2003 foi lançado o Plano

Nacional de Atendimento Integral à Família (PNAIF). Em 2004, o referido Plano foi

aprimorado e adequado às diretrizes da Política Nacional de Assistência Social

(PNAS) e instituído como Programa de Atenção Integral à Família (Portaria nº 78, de

08 de abril de 2004), o qual se tornou a principal referência para o usuário do

Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Por meio do Decreto nº 5.085, de 19

de maio de 2004, o PAIF tornou-se “ação continuada da assistência social”, sendo

sua oferta obrigatória e exclusiva nos Centros de Referência de Assistência Social

(CRAS).

Em 2009, com a aprovação da Tipificação Nacional de Serviços

Socioassistenciais pelo Ministério de Desenvolvimento e Combate a Fome, o

referido programa ganhou status de serviço de caráter continuado, com recursos

garantidos e com obrigatoriedade de co-financiamento compartilhado entre as três

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esferas de governo, passando a denominar-se Serviço de Proteção e Atendimento

Integral à Família.

Segundo o documento Orientações Técnicas sobre o PAIF (2012b, p. 15)

o PAIF tem como objetivos:

Fortalecer a função protetiva da família e prevenir a ruptura dos seus vínculos, sejam estes familiares ou comunitários, contribuindo para melhoria na qualidade de vida nos territórios; Promover aquisições materiais e sociais, potencializando o protagonismo e autonomia das famílias e comunidades; Promover acessos à rede de proteção social de assistência social, favorecendo o usufruto dos direitos socioassistenciais; Promover acessos aos serviços setoriais, contribuindo para a promoção de direitos; Apoiar famílias que possuem, dentre seus membros, indivíduos que necessitam de cuidados, por meio da promoção de espaços coletivos de escuta e troca de vivências familiares.

Com a promulgação da PNAS, e por meio dos eixos estruturantes do

SUAS, matricialidade sociofamiliar e territorialização, o PAIF passa a materializar

no território a centralidade dada a família no âmbito da Assistência Social. Busca

romper com ações fragmentadas, reconhecendo as famílias e seus membros em

suas diversas configurações e arranjos como sujeitos de direitos, tendo por foco as

potencialidades e vulnerabilidades presentes no território.

Espera-se que o PAIF desenvolva ações de caráter preventivo, protetivo e

proativo às famílias, para além da atenção a situações emergenciais, prevenindo a

ocorrência de situações de risco social a que as famílias vulnerabilizadas estão

sujeitas, em decorrência da situação de pobreza, ausência de renda, precário

acesso a serviços públicos, fragilização dos vínculos familiares e comunitários,

situações que extrapolam a dimensão econômica, exigindo intervenções que

trabalhem aspectos objetivos e subjetivos relacionados à função protetiva da família

e ao direito à convivência familiar, adequadas às experiências, situações e

realidades vividas pelas famílias.

Conforme a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (2009, p.

7), o referido Serviço visa atender, em especial:

Famílias beneficiárias de programa de transferência de renda e dos benefícios assistenciais;

Famílias que atendem os critérios dos programas de transferência de renda e benefícios assistenciais, mas que ainda não foram contempladas;

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Famílias em situação de vulnerabilidade em decorrência de dificuldades vivenciadas por algum de seus membros;

Famílias com pessoas com deficiência e/ou pessoas idosas que vivenciam situações de vulnerabilidade e risco social.

O PAIF deve ser ofertado necessariamente nos CRAS, por consistir em

uma unidade pública, descentralizada, localizada em territórios de maior

vulnerabilidade social, com o objetivo de ofertar serviços, programas, projetos e

benefícios que articulem as diversas ações da Assistência Social, por meio da

interação com os serviços da rede socioassistencial do território e demais políticas

públicas setoriais, a fim de prevenir a ocorrência de situações de vulnerabilidade e

riscos sociais em seu território de abrangência.

A capilaridade territorial do Cras deve aproximar as intervenções da política de assistência social à realidade de vida de indivíduos e famílias e suas necessidades sociais. No horizonte, se coloca sua articulação em rede socioassistencial, com as políticas públicas de seguridade social e outras políticas, como possibilidade de garantir direitos de segurança humana e social. (YAZBEK et. al. 2010, p. 153).

O CRAS, além de ofertar serviços e ações de proteção social básica,

também é responsável pela gestão territorial da rede socioassistencial de Proteção

Social Básica, promovendo a interação e articulação das unidades a ele

referenciadas e o gerenciamento dos processos nele envolvidos, de forma a não

atuar isoladamente, conhecendo as condições de vida da população, bem como as

vulnerabilidades e potencialidades presentes no território, além de ofertar

obrigatoriamente o PAIF. Os demais serviços de Proteção Social Básica, quando

não possíveis de serem ofertados no CRAS, por questões de estrutura física e

equipe técnica insuficiente, podem ser operacionalizados na rede socioassistencial

do território. Conforme Yazbek et. al. 2010, p. 152:

O Cras realiza concomitantemente as funções de proteger famílias, defender direitos e de vigilância das exclusões e violações sociais podendo, dessa forma, captar necessidades de proteção social e agir preventivamente antecipando-se à ocorrência de riscos e aos agravos a vida.

Diante do desenvolvimento das ações de prevenção e proteção no âmbito

do PAIF a vigilância social do território é fundamental para esse processo, pelo fato

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de ser responsável pela “[...] produção, sistematização de informações, indicadores

e índices territorializados das situações de vulnerabilidade e risco pessoal e social

que incidem sobre famílias/pessoas [...]” (PNAS, 2004, p. 39-40).

O PAIF, além de constituir-se no desenvolvimento do trabalho social com

famílias, é considerado pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à

Fome (MDS) o principal serviço da Proteção Social Básica e a porta de acesso a

outros serviços desenvolvidos no território e a outras políticas sociais setoriais.

Conforme o documento Orientações Técnicas sobre o PAIF (2012b) as principais

ações desenvolvidas no âmbito do PAIF são:

Acolhida-consiste no primeiro contato da família com o PAIF através de uma escuta qualificada desenvolvida pela equipe técnica. É a etapa em que se busca coletar informações sobre a vida familiar, suas vulnerabilidades e potencialidades. Sua realização pode ser feita de forma particularizada ou em grupo (duas ou mais famílias), em que são disponibilizados às famílias informações gerais sobre o Serviço, escuta das demandas gerais e publicização e discussão de assuntos de interesse das famílias, informações sobre o Programa Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC), inclusão produtiva, outras políticas públicas, etc.

Oficinas com famílias-consiste na realização de encontros em que são trabalhadas temáticas de interesse das famílias, com objetivos de curto prazo, sob a condução de técnicos de nível superior do PAIF, sobre vulnerabilidades e riscos, ou potencialidades, identificados no território, contribuindo para o alcance de aquisições, fortalecimento dos vínculos comunitários, acesso a direitos e à participação social.

Ações comunitárias-ações de caráter coletivo, voltadas para a dinamização das relações no território. Devem mobilizar um número maior de participantes, e agregar diferentes grupos do território a partir do estabelecimento de um objetivo comum.

Ações particularizadas-tem por princípio conhecer a dinâmica familiar de forma mais aprofundada e prestar um atendimento mais específico. Podem ser realizadas no CRAS ou na unidade residencial da família, através de visita domiciliar.

Encaminhamentos-consiste no processo de orientação e direcionamento das famílias para acesso a serviços e/ou benefícios da rede socioassistencial do território, da Proteção Social Especial e/ou a outras políticas setoriais.

Além dessas ações desenvolvidas no âmbito do PAIF, o desenvolvimento

do trabalho social com famílias pode ocorrer por meio de dois processos:

atendimento às famílias e acompanhamento sociofamiliar.

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O atendimento às famílias refere-se a uma ação mais imediata de

prestação ou oferta de atenção, com vista a uma resposta qualificada da demanda

da família. Significa a inserção da família em alguma das ações do PAIF

(Orientações técnicas sobre o PAIF, 2012b).

O acompanhamento sociofamiliar é direcionado às famílias que, devido

ao agravamento das situações de vulnerabilidades sociais vivenciadas, demandam

uma intervenção contínua e diferenciada. Consiste, pois, em um

[...] conjunto de intervenções desenvolvidas de forma continuada, a partir do estabelecimento de compromissos entre famílias e profissionais [...] objetiva-se [...] contribuir para ampliar espaços de participação e diálogo com instituições para o alcance de maiores graus de autonomia, para a capacidade de vocalização das demandas e necessidades, para o desenho de projetos de vida. (Orientações técnicas sobre o PAIF, 2012b, p. 57).

Em decorrência da situação de vulnerabilidade, devem ser priorizadas no

acompanhamento do PAIF:

Famílias contrarreferenciadas ao CRAS, pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), após trabalho realizado pelo PAEFI (Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos, da Proteção Social Especial);

Famílias com beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC) de até 18 anos, fora da escola, devido às barreiras: ausência de acompanhante para levar o beneficiário até a escola; ausência de iniciativa da família para estimular o convívio sociofamiliar; ausência de cuidadores familiares; dificuldade dos beneficiários em acessar a rede de serviços; e dificuldades da família em acessar a rede de serviços;

Famílias cujo descumprimento de condicionalidades do Programa Bolsa Família (PBF) decorre de situações de vulnerabilidade social;

Famílias do Plano Brasil sem Miséria; e

Demais famílias que, segundo avaliação dos profissionais, requerem processo de acompanhamento familiar para desenvolvimento de capacidades, acesso a direitos, proteção de um ou mais de seus membros, bem como superação das situações de vulnerabilidade vivenciadas,

conforme realidade local (Orientações técnicas sobre o PAIF, 2012b, p. 57-

58).

A realização do acompanhamento sociofamiliar pode ser desenvolvida de

forma particularizada e em grupo. O acompanhamento particularizado é realizado

quando as famílias em situação de vulnerabilidade social demandam uma atenção

imediata, por risco de retornar à situação de extrema pobreza ou recair em risco

social; quando as famílias apresentam dificuldades de locomoção ao CRAS, por

diversos aspectos, como localização, membro que necessita de cuidados, entre

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outros; quando a situação demanda sigilo; quando algum membro necessita de

proteção; e quando a família não se sente à vontade em participar de grupos

(Orientações técnicas sobre o PAIF, 2012b).

O acompanhamento em grupo é indicado para dar respostas às

vulnerabilidades sociais vivenciadas pelas famílias com grande incidência no

território. Propicia a troca de vivências, fortalecimento dos vínculos comunitários,

participação social e protagonismo social, empoderamento das famílias, apropriação

de informações e encaminhamentos importantes para a superação da situação de

vulnerabilidade, além de responsabilização do poder público por uma rede de

proteção social e garantia de direitos (Orientações técnicas sobre o PAIF, 2012b).

Diante disso, a efetivação do trabalho social com famílias no âmbito do

PAIF se dá através do processo de redução da ocorrência de vulnerabilidade social

no território de abrangência do CRAS, da prevenção da ocorrência de riscos sociais,

aumento do acesso a serviços socioassistenciais e setoriais e melhoria na qualidade

de vida das famílias, através da sua função protetiva e fortalecedora de

potencialidades das famílias e do território, tendo em vista garantir as seguranças

afiançadas pela Política de Assistência Social, tais como, acolhida, renda,

convivência familiar e comunitária, desenvolvimento da autonomia e protagonismo

social. Busca-se, assim, materializar o direito das famílias à proteção do Estado.

3.2 O PAIF e a experiência no CRAS Acaracuzinho: limites e possibilidades

Como anteriormente colocado neste estudo, o CRAS Acaracuzinho foi

implantado em outubro de 2011, como uma demanda das famílias que não tinham

condições de acessar o CRAS que as referenciavam, pela distância e pelo fato de

terem que atravessar uma rodovia estadual. Desse modo, com a implantação do

CRAS Acaracuzinho e assim, a implementação do PAIF, as famílias residentes nos

bairros Acaracuzinho, Alto Alegre I, Novo Oriente, Santo Sátiro, Jardim das

Maravilhas, Vila Vintém, Vila Buriti, Vila da Paz e DI 2000, passaram a ser

referenciadas de forma mais efetiva, dispondo de uma maior acessibilidade e

proximidade com suas realidades.

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A operacionalização do PAIF no CRAS Acaracuzinho conta com uma

equipe técnica de nível superior, composta por duas assistentes sociais, uma

psicóloga, uma pedagoga que começou a se inserir de forma mais efetiva no Serviço

há dois meses da realização da referida pesquisa e a Coordenadora do

equipamento, responsável pela organização gerencial do CRAS, bem como do PAIF

no território de abrangência. A equipe de nível médio atualmente conta com uma

assistente administrativa, responsável pelas ações administrativas do Serviço. Os

dois educadores sociais não compõem a equipe técnica do PAIF, pois estão na

execução de outras atividades do CRAS.

Os profissionais que compõem a equipe técnica de nível superior são

responsáveis pelos atendimentos individualizados, pelos acompanhamentos

sociofamiliar particularizados e em grupo, pela realização de oficinas, acolhida,

vistas domiciliares, entre outras atividades inerentes ao PAIF.

No período de realização da pesquisa, estavam em desenvolvimento os

seguintes grupos de acompanhamento sociofamiliar: grupo das gestantes, tendo

como técnica de referência a Psicóloga; Grupo das famílias beneficiárias do PAA na

modalidade Leite e das Famílias inseridas na Cozinha Comunitária, tendo como

técnica de referência a Assistente Social 2 e o Grupo das famílias em

descumprimento de condicionalidades do Programa Bolsa Família, tendo como

técnica de referência a Assistente Social 1.

Considerando que este trabalho busca compreender os principais limites

e possibilidades no processo operacional do PAIF no CRAS Acaracuzinho, os quais

estão diretamente relacionados à efetivação do Serviço junto às demandas das

famílias usuárias, este estudo foi organizado a fim de que se possa analisar os

principais fatores e provisões indispensáveis na garantia da efetividade do trabalho

social com famílias, em que a partir das definições presentes nos documentos

Orientações Técnicas sobre o PAIF, foram pesquisados os seguintes fatores, em

termo de aderência e divergência entre o preconizado e o realizado, conforme a

percepção dos profissionais responsáveis pela sua execução:

Relevância social do PAIF;

Equipe técnica e recursos humanos;

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Formação continuada e articulação entre gestão e operacionalização;

Infraestrutura e recursos materiais;

Trabalho interdisciplinar;

Articulação com a rede socioassistencial e a intersetorialidade;

Planejamento, monitoramente e avaliação das ações.

3.2.1 Relevância social do PAIF

Conforme as Orientações Técnicas sobre o PAIF (2012a), a

implementação do PAIF no âmbito do SUAS, a partir da perspectiva de proteção

integral, é responsável pela materialização da responsabilidade do Estado em

garantir proteção às famílias.

Quanto à implementação do PAIF no CRAS Acaracuzinho, sua relevância

para as famílias e para o território de abrangência é percebida e relatada pelos

profissionais que o operacionalizam e que estão cotidianamente em contato com a

realidade do território, bem como com as realidades e demandas das famílias. A

acessibilidade a um equipamento de referência no território e a possibilidade de

acesso a um Serviço em que as famílias possam ser escutadas, atendidas,

orientadas e acompanhadas é visto como um avanço de grande importância para o

empoderamento e autonomia das famílias referenciadas pelo CRAS Acaracuzinho.

O CRAS Acaracuzinho trouxe um direito a uma comunidade específica que tinha antigamente a dificuldade de acesso [...] ele está realmente próximo da população, principalmente com relação a orientação, com relação aos encaminhamentos, o empoderamento das famílias, com a informação que é essencial pra qualquer processo de busca de autonomia das famílias [...]. As famílias hoje conhecem o equipamento, conhecem os técnicos que tão aqui há mais de um ano, então, o acesso a informação, o fato também do PAIF ter proximidade com outros serviços, o Serviço de Convivência, os serviços ofertados pelo Cadastro ou por outras políticas como a Segurança Alimentar, então [...] a proximidade do PAIF com as famílias, hoje ela existe. (Profissional 1).

[...] quando o equipamento não existia aqui, como é que essas famílias íam ser vistas, como é que essas famílias íam ser buscadas, como é que eu ia saber que essas famílias existiam aqui, e o equipamento sendo aqui no

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território a gente sabe que certas famílias precisam de um acompanhamento mais direto pelo PAIF, se o CRAS não estivesse aqui as demandas das famílias não seriam solucionadas. (Profissional 3).

Conforme Relatório Mensal do CRAS Acaracuzinho, referente ao mês de

setembro do ano corrente, a equipe técnica do PAIF realizou cerca de 125

atendimentos individualizados às famílias do território. Segundo os dados, 94

famílias encontram-se em acompanhamento sociofamiliar, das quais 58 são famílias

beneficiárias do Programa Bolsa Família; 07 são famílias com membro beneficiário

do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e 24 famílias em descumprimento de

condicionalidades do Programa Bolsa Família.

O PAIF tem um importante papel na compreensão das particularidades de

cada território, das vulnerabilidades e potencialidades existentes e no processo de

reflexão sobre a situação de vida das famílias, através de uma leitura crítica da

realidade e do contato e escuta qualificada junto às famílias e grupos sociais ali

presentes, dando assim possibilidades de serem implementados instrumentos

metodológicos com base nas especificidades dos sujeitos, de suas necessidades,

desejos, demandas e realidade social, cultural e histórica.

3.2.2 Equipe técnica e recursos humanos

A questão das condições de trabalho dos trabalhadores do SUAS é um

dos grandes desafios a serem enfrentados na efetivação de uma Política Pública

voltada a atender as necessidades sociais e compromissada com a qualidade da

prestação dos serviços aos usuários, portanto, para que de fato o PAIF alcance os

objetivos propostos, é preciso que os profissionais tenham condições adequadas

para que possam desenvolver ações qualificadas e, portanto, darem respostas

efetivas às demandas das famílias.

O trabalho social com famílias no âmbito do PAIF consiste em um

conjunto de procedimentos implementados por profissionais, a partir de

pressupostos éticos, conhecimento teórico-metodológico e técnico-operativo. Logo,

é a partir do olhar técnico sobre o território que se dá o desenho do trabalho social a

ser desenvolvido com as famílias do PAIF.

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67

Segundo documento Parâmetros para atuação de assistentes sociais e

psicólogos (as) na Política de Assistência Social do Conselho Federal de Psicologia

(CFP) e do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS, 2007) um dos requisitos

exigidos para atuação nos CRAS é o conhecimento das legislações sociais que irão

nortear as ações das equipes. Orienta também que as equipes do SUAS estejam em

constante processo de atualização acerca dos marcos legais, dentre eles:

Constituição Federal (CF/1988); Lei Orgânica da Saúde (LOS/1991); Lei Orgânica

da Previdência Social (LOPS/1992); Lei Orgânica da Assistência Social

(LOAS/1993); Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/1990); Estatuto do Idoso

(Lei 10741/2004); Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004); Política

Nacional do Idoso (PNI/1995); Política Nacional de Integração da Pessoa com

Deficiência (PNIPD/1999); Norma Operacional Básica de Assistência Social

(NOBSUAS/2005); Novo Código Civil; Norma Operacional Básica de Recursos

Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS/2006); Decretos e Portarias do Ministério de

Desenvolvimento Social; Programa Brasil sem Homofobia.

Com relação a estes aspectos, percebe-se que o conhecimento da equipe

é visto como algo satisfatório, existe o comprometimento e interesse pela

apropriação de novos conhecimentos, aspectos percebidos como favoráveis à

operacionalização do PAIF.

A compreensão da equipe com relação ao PAIF deixa a gente mais tranquila pra operacionalizar, e esse pra mim é um dos aspectos melhores. Se você perguntar assim, o que é que tem de melhor no CRAS, eu acho que é a compreensão da minha equipe, do quê que é realmente o Serviço, [...] o diálogo que tem entre os profissionais, [...] eu acho que o PAIF caminha muito bem por conta disso. A gente consegue parar e sentar com as meninas e as meninas tem realmente uma compreensão do que realmente é o programa, se apropriam do que chega, não colocam dificuldade pra tá debatendo um assunto ou pra tá voltando atrás de uma concepção [...]. (Profissional 5).

Assim como destaca Couto et. al. (2010, p. 58):

Por ser uma área de prestação de serviços, cuja mediação principal é o próprio profissional, o trabalho da assistência social está estrategicamente apoiado no conhecimento e na formação teórica, técnica e política do seu quadro pessoal, e nas condições institucionais de que dispõe para efetivar sua intervenção.

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68

A coordenação do equipamento e a gestora municipal são vistas como

uma referência, um apoio para que o Serviço seja prestado com qualidade.

[...] a gente também tem uma coordenação que entende da Política, entende do serviço, e isso favorece pra questão de tirar as dúvidas, essas questões de orientações, às vezes a gente não conhece uma coisa que tem no município a gente pode procurar o suporte da coordenação, e pelo fato de ela ser uma profissional de carreira também é muito importante pra essa operacionalização [...] a gente tem uma gestora que é assistente social, profissional de carreira, a gestora do município, sabe que existem as limitações, mas acho que isso é importante por entender que não se trata apenas de um cargo político, mas sim um cargo técnico, você precisa ter o entendimento, não é qualquer um que acha que pode fazer a Política de Assistência, é só dá cesta básica, é só dá aquilo, é só dá isso, não, não é assim. Nós temos um sistema integral e hierarquizado, então a Política de Assistência ela se estruturou muito, ela precisa de profissionais que tenham competência técnica, teórica, ético-política pra lidar com essa política e com as demandas que sejam pertinentes a ela. (Profissional 2).

Segundo Raichelis (2010), a Norma Operacional Básica de Recursos

Humanos (NOB-RH/SUAS,) instituída pela Resolução CNAS nº 269, de 13 de

dezembro de 2006, representou um ganho político muito significativo na luta por

melhores condições materiais, técnicas e éticas de trabalho nos órgãos gestores,

nos CRAS e CREAS e nas entidades de Assistência Social vinculadas ao SUAS.

Conforme a NOB-SUAS/RH (2006), a composição da equipe de

referência do CRAS para a execução dos serviços e demais ações no âmbito da

proteção social básica depende do porte do município e do número de famílias

referenciadas pelo CRAS, assim definida:

Pequeno Porte I Pequeno Porte II Médio, Grande,

Metrópole e DF

Até 2.500 famílias

referenciadas

Até 3.500 famílias

referenciadas

A cada 5.000 famílias

referenciadas

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2 técnicos de nível

superior, sendo um

profissional assistente

social e outro

preferencialmente

psicólogo

3 técnicos de nível

superior, sendo dois

profissionais

assistentes sociais e um

preferencialmente

psicólogo

4 técnicos de nível

superior, sendo dois

profissionais assistentes

sociais, um psicólogo e

um profissional que

compõe o SUAS

2 técnicos de nível

médio

3 técnicos de nível

superior

4 técnicos de nível

médio

Fonte: NOB-SUAS/RH (2006).

Todos os profissionais que compõem a equipe técnica de nível superior

do PAIF do CRAS Acaracuzinho são estatutários, os quais ingressaram por

concurso público realizado em 2011. As duas assistentes sociais possuem uma

carga horária de 30 horas semanais e os demais profissionais 40 horas semanais.

Quanto à composição da equipe técnica de nível superior do PAIF do

CRAS Acaracuzinho, esta atende às disposições de equipe mínima exigidas pelo

MDS, assim como relata a Profissional 5 do equipamento:

A gente tem dentro do CRAS uma equipe mínima que o MDS coloca lá, se a gente for ver dentro do padrão do MDS a gente tá ok [...]. Só que o volume de atividades do PAIF é muito maior e essa equipe mínima não dá conta, são muitas famílias pra acompanhar e a gente não tem pernas pra isso, porque não dá, é humanamente impossível você fazer o acompanhamento das famílias com esse número de profissionais, sendo que esses mesmo profissionais têm que está no atendimento individual, tem que tá fazendo visita domiciliar, enfim, tá envolvido nas outras atividades, então não dá conta, não tem como.

Conforme já enunciado nesta pesquisa, o CRAS Acaracuzinho, segundo

dados do DIAGNÓSTICO (2013), conta com quase 5.000 famílias referenciadas no

território de abrangência. Dados que demonstram a necessidade de um maior

quantitativo de profissionais na composição da equipe técnica, a fim de que se

possa ir além de ações imediatas e proporcionar de forma efetiva um atendimento

integral às famílias, como relatam os profissionais:

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A equipe do PAIF, ela é mínima, é a que é orientada pelo Governo Federal, então dá resposta aos problemas imediatos, [...] então, também tem sido um limite a questão técnica, da necessidade sim de mais técnicos. Mas aí realmente pra Política de Maracanaú é o que é ofertado, equipe mínima ou menos do que a mínima, o nosso CRAS é um dos que segundo informações, tá com equipe mínima completa, existem equipamentos que nem a equipe mínima tem. (Profissional1).

[...] a demanda pelo menos aqui no CRAS Acaracuzinho é muito grande, eu vejo assim uma boa divisão de trabalho, mas é insuficiente, por exemplo, pra o número de visitas que é necessário fazer, pra o acompanhamento efetivo das famílias, porque pra o atendimento dentro do equipamento é suficiente, mais isso não é um atendimento, uma atenção integral à família. Então, neste sentido nós não temos condições de atendermos quase 5.000 famílias [...], nós precisávamos sim de mais pessoas pra tá fazendo esse

tipo de acompanhamento [...]. (Profissional 4).

A partir dos relatos, percebe-se que a equipe mínima enfrenta

cotidianamente no espaço institucional diversos entraves e dificuldades para

desenvolver todas as atribuições e ações importantes para a efetivação do PAIF. O

baixo quantitativo de profissionais no processo interventivo resulta no acúmulo e na

sobrecarga de tarefas, devido à grande demanda de atendimentos, principalmente

por demanda espontânea, trazendo prejuízos na realização de outras ações no

processo de desenvolvimento do Serviço, indispensáveis na efetivação do caráter

protetivo, preventivo e proativo.

São quase 5.000 famílias referenciadas, aí você tem esses três profissionais pra atender [...] claro que essas 5.000 famílias não vão buscar o atendimento do CRAS, mas o quantitativo que vem às vezes realmente fica sobrecarregado, fica realmente cansativo pra os profissionais que acabam não conseguindo realizar o acompanhamento devido, às vezes naquele atendimento você ver que aquela família necessita de um acompanhamento maior, de um acompanhamento mais particularizado, você precisa fazer um plano com aquela família [...]. (Profissional 2).

[...] se eu for olhar um objetivo seria realizar o acompanhamento também sistemático dos beneficiários de BPC com deficiência priorizando os menores de 18 anos pra acesso a escola que é pra ser prioridade, porém, com os descumprimentos de condicionalidades, tendo um período de acompanhamento fixo, não tem como eu mudar, são dois meses de acompanhamento, não permite o acompanhamento realmente sistemático das famílias com BPC [...] ofertar esse Serviço com qualidade. (Profissional 1).

Os limites impostos pelo tamanho reduzido da equipe técnica diminuem o

alcance quanto ao número de famílias atingidas e quanto à qualidade do trabalho no

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que se refere ao acompanhamento sociofamiliar e a realização de busca ativa4 no

território.

Um dos aspectos preconizados pela NOB-RH/SUAS (2006) refere-se à

realização de concurso público como o principal meio de acesso aos cargos das

equipes de referência dos CRAS e CREAS. A rotatividade dos profissionais dentro

de um equipamento socioasssistencial como o CRAS acaba trazendo prejuízos à

continuidade, qualidade e efetividade dos serviços, programas e projetos. Além

disso, o trabalho social com famílias exige um processo contínuo das ações, o

conhecimento do território por parte dos profissionais e o estabelecimento de

compromissos e vínculos entre famílias e profissionais, os quais o processo de

rotatividade acaba prejudicando.

Mesmo após a realização de um concurso público no ano de 2011, em

que diversos profissionais foram convocados para atuar no SUAS e compor as

equipes técnicas, ainda se percebe que o quantitativo de profissionais é insuficiente

para implementar de forma integral e com qualidade as ações do PAIF. A

sobrecarga de atividades entre os profissionais é um dos motivos que dificultam a

operacionalização do referido Serviço.

“É sabido que a produtividade e a qualidade dos serviços ofertados à

sociedade no campo das políticas públicas estão relacionadas com a forma e as

condições como são tratados os recursos humanos.” (PNAS, 2004, p. 53).

Segundo Couto et. al. (2010), a questão dos recursos humanos constitui-

se em um desafio para toda a administração pública, e de forma mais específica na

Assistência Social, pela sua trajetória histórica caracterizada como não-política,

pouca institucionalização e reduzido investimento na formação de equipes

profissionais permanentes e qualificadas que possam romper com as concepções

voluntárias e subalternas que marcaram historicamente o trabalho nessa área.

4 Segundo o documento O CRAS que temos, o CRAS que queremos (MDS, 2011), a busca ativa “[...]

refere-se à procura intencional, realizada pela equipe de referência do CRAS, das ocorrências que influenciam o modo de vida da população em determinado território. Tem como objetivo identificar as situações de vulnerabilidade e risco social, ampliar o conhecimento e a compreensão da realidade social [...] tal atividade pode ser efetuada por meio do deslocamento da equipe no território; troca de informações com os atores sociais locais [...]” (p. 52).

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Segundo o documento Orientações Técnicas sobre o PAIF (2012b), o

desenvolvimento do trabalho social do PAIF no âmbito do SUAS eleva a concepção

desse trabalho à necessidade de procedimentos qualificados, através de um

arcabouço de saberes profissionais, apoiados em princípios éticos, teóricos e

finalidades a serem alcançadas.

Percebe-se que conseguir atender as demandas das famílias é de suma

importância para a equipe técnica. No entanto, o acúmulo de competências e até

mesmo as cobranças por respostas quantitativas acabam trazendo prejuízos à

efetivação de suas ações.

[...] eu vejo a assistência também preocupada em relação a quantidade né, então não interessa se o meu acompanhamento tá bom ou tá ruim, mas interessa quantos acompanhamentos eu tô fazendo nesse CRAS. Não interessa se os meus usuários de acompanhamento PAIF estão inscritos nos cursos do PRONATEC, interessa quantas pessoas do PRONATEC eu tenho, não interessa se aqueles usuários de acompanhamento são os beneficiários da Segurança Alimentar, interessa quantos beneficiários da Segurança Alimentar eu tenho. Até entendo assim, porque o Governo Federal pede muito essa questão de quantidade, até pra repassar recursos, mais eu acho que ao mesmo tempo que isso tem que ser cobrado, também tem que ser visto mais profundamente essa qualidade né. (Profissional 3).

Segundo Raichelis (2010, p. 765):

É preciso, pois, fazer a crítica e resistir ao mero produtivismo quantitativo, medido pelo número de reuniões, número de visitas domiciliares, de atendimentos, sem ter clareza do sentido e da direção social ético-política

do trabalho coletivo.

No caso da Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC) do

município de Maracanaú, e mais especificamente do CRAS Acaracuzinho, o fato da

grande maioria dos profissionais serem concursados é visto como um aspecto

positivo à operacionalização do PAIF, em que possibilita uma maior apropriação por

parte dos profissionais da realidade em que estão atuando, favorecendo a

continuidade do Serviço e a possibilidade de planejamentos a curto, médio e longo

prazos, como destacam os profissionais:

[...] o fato da equipe ser hoje quase que 100% concursados, então nós temos uma equipe teoricamente fixa no município, embora possa ter rotatividade dentro do equipamento, mas a gente não vai sair da realidade do município, então nos dá a competência que a gente conhece o território,

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[...] não existe mais a rotatividade de profissionais que tinha antes [...] (Profissional 1).

[...] as questões dos contratos acaba favorecendo a rotatividade dos profissionais, às vezes a descontinuidade do serviço, o fato de nós termos profissionais concursados, profissionais de carreira, isso vislumbra um acompanhamento maior, você pode fazer um plano a curto, médio e longo prazo, daqueles acompanhamentos, daqueles atendimentos, porque, quando toda vida chega um novo profissional vai ter se apropriar, se um profissional contratado sai outro contratado vem, até ele se apropriar da realidade, até ele conhecer as famílias que mais necessitam de acompanhamento, só isso vai ser um período de tempo, acaba gerando essa descontinuidade do serviço. (Profissional 2).

Como já citado anteriormente neste estudo, a Política de Assistência

Social no Município de Maracanaú desenvolve ações complementares, por meio da

articulação com a Política de Segurança Alimentar e Nutricional, através da

implementação do PAA Leite Fome Zero e das Cozinhas Comunitárias; e com ações

de inclusão produtiva, por meio do PRONATEC. Ações estas que precisam ser

referenciadas pelos profissionais que atuam no PAIF. Cerca de 130 famílias são

beneficiadas com o PAA Leite Fome Zero no território de abrangência do CRAS

Acaracuzinho.

Os relatos dos profissionais deixam claro a sobrecarga de atividades que

essas ações acabam gerando, repercutindo em limitações e dificuldades na

prestação de um atendimento mais qualificado e integral às famílias, como preconiza

o Serviço.

[...] isso acaba me consumindo muito, [...] são 130 famílias só das famílias que recebem o leite, então assim, eu não tenho como acompanhar essas 130 famílias [...], além disso, existem as famílias faltosas no leite, que a gente também precisa saber quais são os motivos, porque que estão faltando, quais são as razões, porque às vezes está escondendo uma questão social, uma problemática que está perpassando a família e às vezes a gente não sabe [...] existem também coisas administrativas, coisas burocráticas que eu tenho que lidar, [...] eu tenho que me preocupar com a questão da lista de recebimento [...] de entregar isso no prazo, de entregar um relatório, e aí assim, isso acaba realmente me consumindo, e eu não consigo realizar tantos outros acompanhamentos pelo PAIF que sejam independentes da questão do leite [...] (Profissional 2).

[...] em vez de estar me preocupando em tá fazendo dois, três grupos [...] um grupo de PAIF dos usuários do Serviço de Convivência, em vez de eu tá me preocupando em fazer isso, eu tó me preocupando de está vendo o email se estar chegando mais cursos do PRONATEC, estou me preocupando se estar tendo inscrição do PRONATEC, se a divulgação está sendo feita, se tão pregando cartaz do PRONATEC [...] a questão de número de profissionais é um limite que tá aí visível, [...], porque a gente não tá 100% do nosso tempo [...] fazendo alguma coisa em relação a

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somente ao PAIF. Isso às vezes prejudica o usuário que é o público principal, é o que a gente deve se preocupar mais. (Profissional 3).

Conforme relato dos profissionais, percebe-se que além do CRAS ter um

quantitativo mínimo de profissionais na operacionalização do PAIF, estes ainda

estão exercendo outras funções que não são próprias do PAIF, o que acaba

prejudicando a oferta do Serviço. Os profissionais têm grande parte do seu tempo de

trabalho destinado à organização burocrática dessas ações, interferindo no

desenvolvimento de diversas outras atividades do PAIF.

[...] tem semanas aqui, que a gente atende, atende e não consegue registrar o que atendeu naquele momento dos atendimentos no relatório, no prontuário de atendimento e vai tudo deixando para sexta-feira que seria um momento mais ideal pra ter esses encontros, essas reuniões. A sexta acaba sobrecarregada com essas atividades que a gente não conseguiu fazer durante a semana, tem sexta que a gente nunca consegue se reunir pra pelo menos falar de uma situação de um acompanhamento. (Profissional 3).

O acúmulo das atividades desenvolvidas no cotidiano institucional ocupa

grande parte do tempo da equipe, impossibilitando momentos de reflexão sobre o

cotidiano profissional e de discussões e debates acerca de suas ações.

3.2.3 Formação continuada e articulação entre gestão e operacionalização

O principal instrumento de desenvolvimento do trabalho social com

famílias são os profissionais (NOB-RH/SUAS, 2006), desse modo, torna-se

imprescindível um processo contínuo de qualificação e formação para a

compreensão de um conceito mais moderno e ampliado de família, que os tornem

aptos a intervir sob uma realidade complexa e a partir de seus conhecimentos

desenvolver instrumentos metodológicos que possam reafirmar a Assistência Social

e a proteção social às famílias como direito de cidadania.

É preciso [...] centrar esforços na formação específica e capacitação continuada dos agentes da ponta, executores do trabalho social com famílias, bem como proporcionar a troca de experiências com os demais agentes. Os profissionais e gestores devem ter muito claro que o acompanhamento familiar não deve se uma ação modeladora de comportamentos, lembrando que a importância dada à qualidade das condições de trabalho (o que inclui sua educação permanente) dos agentes

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se reflete na qualidade da política de acompanhamento familiar. (ANDRADE e MATIAS, 2009, p. 225).

Acerca do suporte e apoio da gestão no processo operacional do PAIF, foi

enfatizada a necessidade do fortalecimento entre a gestão municipal e a execução

territorial do PAIF no CRAS Acaracuzinho, para que de forma conjunta possam

pensar estratégias e novos direcionamentos para a efetividade do Serviço.

[...] não tem esse suporte da gestão [...] não é só pensar em instrumentais é ouvir mesmo a equipe, traçar estratégias dentro das equipes de CRAS, fazer um momento juntos, onde pudéssemos pensar as atividades juntas, eu acho que seria bem mais rico, do que cada CRAS fazer da forma que acha que deve, que acha que pode, às vezes você tem uma ideia que pode complementar com o de outro equipamento, eu acho que falta muito isso, esse apoio da gestão às equipes de PAIF. Eu vejo isso como um grande entrave que sendo fortalecido poderia realmente trazer resultados mais efetivos pra efetivação do PAIF. (Profissional 2).

[...] a Secretaria deveria tá dando suporte, falta da Secretaria essa capacitações, esses encontros, essa formação continuada, porque não é só abrir um livro e o profissional ler, não, tem que ter um encontro, um momento de debater, porque se não acaba acontecendo o que às vezes a gente percebe que em um CRAS a compreensão da equipe é uma, no outro CRAS a equipe tem outra compreensão, age de outra forma [...] então eu acho que isso é um entrave essa questão da gente não sentar e discutir pelo menos os pontos mais cruciais do PAIF. (Profissional 5).

A aproximação e maior participação da gestão municipal no processo de

aperfeiçoamento do trabalho social com famílias junto com os profissionais

executores desse trabalho é visto como um aspecto que poderia contribuir para sua

consolidação no território. É preciso que a gestão esteja de forma contínua

favorecendo e disponibilizando às equipes momentos de encontros e capacitações,

assim como relatam os profissionais:

[...] o monitoramento da Secretaria, não pode ser pontual, tem que ser uma coisa planejada e contínua, eu acho fundamental a proximidade da Secretaria com o equipamento, é aqui que as coisas são operacionalizadas, então eles precisam estar mais presente no equipamento. (Profissional 5).

[...] a gente tem pouca orientação da Secretaria, pra vim se reunir com a gente, pra ouvir o que está acontecendo, para ver como é que estão as coisas, geralmente quando vem já é pra repassar alguma coisa pra a gente, nesse momento a gente aproveita para falar, mas nunca vem para saber o que tá acontecendo, o que tá faltando [...] (Profissional 3).

[...] a gente trabalha muito no eu vou fazer da forma como eu sei fazer, se a gente for ter contato real da equipe técnica do PAIF da Secretaria, a gente vai ver que existe algumas diferenças [...] (Profissional1).

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É necessário um diálogo mais estreito com as equipes, o suporte ao

enfrentamento das principais dificuldades e entraves existentes no cotidiano

operacional do Serviço.

3.2.4 Infraestrutura e recursos materiais

O CRAS Acaracuzinho está instalado em um imóvel da própria prefeitura

com amplo espaço, onde anteriormente funcionava o Pólo de Convivência do

Acaracuzinho. Sua estrutura física é formada por recepção, sala da coordenação,

sala de apoio para técnicos, duas salas utilizadas para atendimento individual, uma

sala para grupos com capacidade para 15 a 20 pessoas, sala para o Cadastro

Único, duas salas para o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de 7

a 14; de 14 a 17 e para idosos, um anfiteatro para atividades de dança, teatro e

ações em grupos maiores com capacidade acima de 30 pessoas, uma quadra de

esportes que não está coberta, três banheiros, um almoxarifado e uma cozinha

comunitária. As salas são bem iluminadas e refrigeradas e garantem acessibilidade

aos usuários.

[...] antes a sala de atendimento era somente a sala do Pólo, três profissionais atendiam dentro de uma mesma sala sem ter a questão mínima do sigilo, sem que você conseguisse garantir minimamente o sigilo daquele atendimento e aí quando foi feita essas separações, eu acredito que isso foi um grande avanço. Então, faz mais de um ano que houve essa reforma, que foram divididas as salas de atendimento, a sala dos técnicos, uma sala de grupo, eu acho que isso favoreceu muito o trabalho [...] (Profissional 2).

Aqui no CRAS Acaracuzinho a gente caminhou um pouquinho a questão do espaço físico, porque a gente já consegue ter algumas salas com divisões, ter salas onde a gente consegue ter um atendimento individualizado que garante a privacidade, o sigilo das informações, as meninas já conseguem fazer esse atendimento como tem que ser, como estar previsto no nosso Código de Ética. [...] a gente ainda falta caminhar um pouco na questão do atendimento em grupo, porque ainda falta um espaço onde a gente possa fazer esse atendimento sem tá mexendo nas outras atividades do CRAS, quando a gente tem que reunir um número maior de pessoas precisa tá tirando as meninas do Serviço de Convivência do anfiteatro porque é o espaço maior que a gente tem [...] (Profissional 5).

Quanto à estrutura física do equipamento, segundo os discursos, houve

avanços significativos no decorrer do último ano, apesar de algumas limitações nos

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espaços disponíveis à realização de grupos maiores, devido o anfiteatro, espaço

para ações com maior quantitativo de usuários, ser dividido para ações tanto do

PAIF como do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos e da Política de

Segurança Alimentar e Nutricional.

A efetividade do sigilo nos atendimentos através da divisão das salas para

atendimento individualizado é um dos aspectos com relação à estrutura física que

mais trouxe avanços às ações do PAIF. Antes, os atendimentos eram realizados em

uma mesma sala, onde algumas vezes três profissionais realizavam os

atendimentos ao mesmo tempo. Além disso, não havia um espaço adequado para

os técnicos, tampouco para o arquivamento dos documentos e prontuários das

famílias acompanhadas.

No tocante aos equipamentos e recursos materiais necessários ao

desenvolvimento do Serviço, tais como: mobiliário, computadores, entre outros,

como preconiza a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (2009), o

CRAS Acaracuzinho dispõe de um mobiliário ainda regular, existe um bom

quantitativo de computadores, no entanto, apresentam uma série de defeitos que os

deixam inutilizáveis. Segundo os relatos, de seis computadores existentes apenas

dois estão funcionando, os quais todos os profissionais do equipamento utilizam

para acesso à internet, ao sistema do Cadastro Único, realização de relatórios

sociais, entre outras atividades.

[...] os computadores que existem nas duas salas são novos, mas vieram com problema, um veio sem algum componente, ou um teclado faltando ou um mouse, então, tá tentando ser solucionado. Como a gente não tem acesso a internet, a não ser na sala dos técnicos e aí, é uma grande dificuldade, porque, você levar em consideração que são quatro técnicos e o assistente administrativo que utiliza esse computador, que é o que tá com acesso a internet próximo a gente, tem gerado dificuldade, é muita gente que utiliza ele, fora o Cadastro Único que utiliza ele também. (Profissional 1). [...] a idéia é ter um computador em cada sala de atendimento que pudessem ser feitas as consultas aqui, relativo ao Cadastro Único, relativo a situação da família no SICON, que é o Sistema de Condicionalidades, no Sistema de benefícios, porque um dos públicos prioritários do atendimento e acompanhamento do CRAS são as famílias beneficiarias pelo Bolsa Família, além do que, seria um material super necessário para que os atendimentos fossem feitos com maior qualidade. [...] às vezes fica uma fila pro computador, porque o outro computador também do cadastro não ta funcionando e aí lá na coordenação, fica distante, a gente tem que deixar o usuário só [...] é muito diferente eu poder mostrar a tela pra ele pra explicar, é muito diferente você dispor de recursos materiais, como computadores,

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como mesas, cadeiras confortáveis, eu acho que isso é essencial pra que você promova um atendimento de qualidade. (Profissional 2).

Percebe-se então, que os recursos materiais, principalmente a

disponibilidade de computadores para o acesso a informações cadastrais das

famílias e elaboração de relatórios, ainda é um entrave no cotidiano institucional,

que afeta diretamente a qualidade da prestação e desenvolvimento do PAIF.

Outra questão refere-se à disponibilização do veículo no CRAS

Acaracuzinho, é percebido pela equipe técnica como um entrave, principalmente na

realização efetiva do acompanhamento sociofamiliar, o qual demanda

periodicamente a realização de visitas domiciliares.

A visita domiciliar deve compor de forma regular e sistemática o quadro

de atividades do PAIF. Segundo o documento O CRAS que temos, o CRAS que

queremos (MDS, 2011), a realização de visitas domiciliares possibilita aos técnicos

conhecer a realidade do território, as formas de convivência e arranjos familiares,

informações importantes para adequar e aprofundar as ações do PAIF ao alcance

do seu caráter preventivo, proativo, protetivo e garantidor de direitos.

[...] agora que a gente voltou a ter um transporte, a gente ficou desde outubro do ano passado até meados deste ano sem transporte e aí como é que a gente realiza os acompanhamentos, como é que a gente realiza as visitas, como é que a gente realiza os outros tipos de intervenção que a gente precisa do carro, agora que a gente tá começando a retomar de novo essas atividades, mas a gente não pode dizer que o transporte está realmente assegurado [...] às vezes a gente se programa para as visitas de acompanhamento, deixo tudo organizado, no outro dia cadê o carro, nada do carro [...]. Isso precisa se resolver, de fato isso atrapalha muito o andamento com qualidade do serviço, sobretudo dos acompanhamentos particularizados [...] às vezes é um idoso, uma pessoa com deficiência que precisa de um acompanhamento mais particularizado e às vezes você, por falta do transporte não consegue realizar. (Profissional 2).

[...] não é o carro para o PAIF, é o carro para o CRAS, o CRAS ele tem o Cadastro inserido em seu espaço, o Serviço de Convivência ofertado no CRAS, então existe a divisão do carro pra vários profissionais, não só para os de superior, como os de nível médio, que trabalham na orientação social, então, a gente tem essa dificuldade do acompanhamento do PAIF, que a gente precisa fazer em lócus, né. A gente tem que ter o contato com o usuário no seu ambiente, na sua casa, então assim, às vezes tem sido um limite o carro, né, a gente não ter ele 100% pro PAIF. (Profissional 1).

Conforme relatos dos profissionais, a divisão do carro com outras

atividades de outros serviços, programas e projetos desenvolvido no CRAS, e ainda

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cedido uma vez por semana a outro equipamento, afeta consideravelmente a

regularidade das visitas domiciliares, importantes nos processos de

acompanhamento sociofamiliar e demais ações do PAIF.

Outro aspecto de suma importância no processo de operacionalização do

PAIF refere-se às concessões de benefícios eventuais, previstos no art. 22 da LOAS

e dos benefícios socioassistenciais deliberados pelo Conselho Municipal de

Assistência Social de Maracanaú.

Os benefícios eventuais buscam atender as necessidades sociais

advindas de situação de vulnerabilidade temporária, calamidade pública, nos casos

de nascimento por meio do auxílio natalidade ou no caso de morte, por meio do

auxílio funeral. Quanto aos benefícios socioassistenciais, no período da pesquisa

estavam disponibilizados às famílias os benefícios de 2ª via da certidão de

nascimento, casamento civil, passe-livre para deficiente, passagens interurbanas e

transporte para mudança.

Acerca disso, os profissionais relatam que a insuficiência nas concessões

das solicitações dos referidos benefícios às famílias que demandam fragiliza a

legitimidade das ações, além de não garantir a proteção integral, preconizado pelo

Serviço.

[...] mesmo quando esses benefícios eventuais eles chegam ao CRAS eles são em número insuficiente, não condizem com a demanda que nós temos, por exemplo, o auxílio natalidade, nunca vem o quantitativo e quando vem as gestantes já ganharam o bebê [...] isso acaba interferindo na própria legitimidade do próprio CRAS, porque assim, o usuário vai achar que não vai conseguir resolver a demanda dele no CRAS [...] (Profissional 2).

[...] não adianta se eu tenho dois, três grupos de gestantes, elas estão vindo, aí estão sendo trabalhados temas socioassistenciais, temas socioeducacionais com elas e no final de tudo o que é de direito delas não vai existir. Não adianta a gente tá dizendo o que é o direito e no final não tá proporcionando esse direito. (Profissional 3).

3.2.5 Trabalho interdisciplinar

Segundo Rosa (2006), o desenvolvimento do trabalho com famílias,

sobretudo aquelas em situação de vulnerabilidade social, exige uma equipe de

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profissionais qualificados e de diferentes conhecimentos, formações e olhares,

através de um trabalho interdisciplinar.

A atuação interdisciplinar requer construir uma prática político-profissional que possa dialogar sobre pontos de vista diferentes, aceitar confrontos de diferentes abordagens, tomar decisões que decorram de posturas éticas e políticas pautadas nos princípios e valores estabelecidos nos Códigos de Ética Profissionais. A interdisciplinaridade, que surge no processo coletivo de trabalho, demanda uma atitude ante a formação e conhecimento, que se evidencia no reconhecimento das competências, atribuições, habilidades, possibilidades e limites das disciplinas, dos sujeitos, do reconhecimento da necessidade de diálogo profissional e cooperação. (CFP; CFESS, 2007 p. 39).

Considerando que as equipes de referência são compostas por diferentes

categorias profissionais e que um dos aspectos preconizados à execução do PAIF,

consiste no desenvolvimento de uma prática interdisciplinar entre os profissionais,

por meio da troca de conhecimentos e favorecendo a produção de novos saberes,

os profissionais relatam que:

O trabalho interdisciplinar é essencial para que o PAIF aconteça [...]. No CRAS Acaracuzinho eu acho que a gente consegue fazer isso direitinho, [...] cada uma com o seu saber, elas conseguem sentar, dialogar, conseguem atender juntas. Então assim, eu acho que aqui dentro do CRAS a gente conseguiu que esses profissionais, esses saberes eles dialogassem e que chegassem num consenso, cada um respeitando a opinião do outro. (Profissional 5).

[...] esse trabalho interdisciplinar é essencial, pra que realmente o serviço aconteça com qualidade. Você fazer um atendimento e poder contar com o olhar de uma pedagoga, o olhar de uma psicóloga, poder fazer o acompanhamento e o planejamento desse acompanhamento com outros profissionais vai me permitir outros olhares e coisas que você não observaria, competências que você não tem, informações que você não tem que só o outro olhar de outro profissional vai lhe dar [...] (Profissional 1).

[...] é muito interessante quando a gente faz um atendimento em conjunto, quando eu faço um atendimento com a pedagoga , a gente percebe o olhar diferenciado, ela consegue visualizar outras coisas que eu não consigo [...]. Realmente é muito rico essa perspectiva diferenciada de cada profissional, a visão de cada profissional sobre aquela situação, sobre aquela família, se a gente conseguisse trabalhar mais ainda a interdisciplinaridade com certeza o atendimento seria bem melhor, daria bem mais resultados [...] (Profissional 2).

Quanto à interdisciplinaridade, as falas apresentam semelhança ao

afirmarem que trabalhar de forma interdisciplinar com outros profissionais é visto de

maneira positiva e enriquecedora, como uma troca de saberes e experiências que

ajudam no trabalho e na operacionalização das ações do PAIF. Possibilita propiciar

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as famílias um atendimento mais qualificado e com maior qualidade teórico-

metodológica, ético-política e técnico-operativa de cada categoria profissional.

3.2.6 Articulação da rede socioassistencial e a intersetorialidade

A articulação com a rede socioassistencial e a intersetorialidade com

outras políticas sociais é prevista pela Tipificação Nacional de Serviços

Socioassistenciais (2009) como fator indispensável ao alcance dos objetivos dos

serviços socioassistenciais, no qual indica a conexão entre os serviços, programas e

projetos da própria Política de Assistência Social, com as instituições não

governamentais e governamentais, bem como com outras políticas sociais setoriais,

a fim de desenvolver ações que buscam a integralidade do atendimento às famílias

e a garantia de seus direitos.

A articulação dos serviços socioassistenciais do território com o PAIF garante o desenvolvimento do trabalho social com as famílias dos usuários desses serviços, permitindo identificar suas necessidades e potencialidades dentro da perspectiva familiar, rompendo com o atendimento segmentado e descontextualizado das situações de vulnerabilidade social vivenciadas. (TIPIFICAÇÃO, 2009, p. 6).

Busca-se superar a fragmentação no âmbito das políticas públicas, tendo

em vista uma visão integrada dos problemas sociais e de suas soluções, através do

estabelecimento de parcerias e diferentes formas de comunicação.

Conforme Sposati (2009), a intersetorialidade constitui-se em um princípio

organizativo da Política de Assistência Social, sob a concepção de ser a porta de

entrada para outras políticas. Destaca que nenhuma política possui resolutividade

plena em si mesma e que, portanto, faz-se necessário a construção de uma relação

de complementaridade entre as políticas.

A proteção social somente conseguirá universalizar seu atendimento de forma equânime e efetiva se implementada de modo intersetorial. A efetividade do trabalho social está vinculada à capacidade de articulação entre os setores da política de assistência, pois somente assim se alcança a convergência da ação governamental, como pacto de ação coletiva, necessária ao alcance da cidadania. Todavia a idéia de intersetorialidade somente pode ser viabilizada se houver efetiva garantia de provimento dos serviços setoriais. (ANDRADE e MATIAS, 2009, p. 226).

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Com relação à articulação com a rede socioassistencial e a

intersetorialidade com as demais políticas públicas, as falas dos profissionais

demonstram a fragilidade desse processo no município, trazendo, assim, limitações

ao desenvolvimento das ações do PAIF, que acabam se resumido em ações

pontuais e em encaminhamentos.

Eu acho que no âmbito do município às vezes a gente desconhece ações da própria Política de Assistência quanto dirá da rede socioassistencial e intersetorial né [...] quando a gente precisa de algum atendimento no âmbito da saúde, por sorte eu tenho uma amiga que trabalhou comigo, que é assistente social, que trabalha na Política de Saúde, e aí a gente tem essa possibilidade maior de eu fazer um encaminhamento, de um atendimento que ela possa realizar, mas isso não deve ser assim [...] precisa fortalecer a rede intersetorial mesmo, fazer um mapeamento não só de saber quem são essas instituições, mas sentar, conversar, fazer visitas institucionais, saber os projetos que são desenvolvidos, quais são os tipos de atividades que a gente pode encaminhar os usuários pra lá, às vezes a gente tem outras ações que a gente pode encaminhar dentro do próprio território, um projeto que esteja acontecendo [...]. As Políticas Sociais elas tem que andar juntas pra que a gente possa vislumbrar algum horizonte de melhora na qualidade de vida dessas famílias e aí isso só se dá com o fortalecimento da rede socioassistencial e intersetorial. (Profissional 2).

Quando a gente convida pra vir para as reuniões, a gente convida 8. 10, 12 vêm 2, 3, então esse diálogo ainda é muito complicado. Com as outras políticas, é complicado porque assim, depende da gestão. A gente consegue ter um diálogo com a saúde, porque a gente tem amizade com a pessoa que tá na gerência da AVISA5 que coordena os postos de onde nós estamos e tal, se você faz um convite para o gerente dos postos ele não vem, mas se você liga pra gerente da AVISA você consegue ter essa resposta, parece coisa doméstica a relação e isso é em todo município. Então aqui no Acaracuzinho a gente ainda não conseguiu esse fortalecimento não, a gente tem tentado, mas a gente não conseguiu, é muito complicado. (Profissional 5).

O apoio, atuação e articulação das entidades socioassistenciais da

sociedade civil e organizações não governamentais com o PAIF, ainda é insuficiente

para atender as demandas da Assistência Social. Percebe-se através dos relatos

dos profissionais uma frágil relação e articulação do PAIF com os serviços,

programas e projetos desenvolvidos pelas instituições que compõem a rede

socioassistencial do território e com as demais políticas setoriais. A realidade

pesquisada, portanto, não condiz com o preconizado pelo SUAS, o qual coloca que:

Os serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica deverão se articular com as demais políticas públicas locais, de forma a

5 AVISA-Área de Vigilância à Saúde (Organização territorial do Município para as Políticas de Saúde).

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garantir a sustentabilidade das ações desenvolvidas e o protagonismo das famílias e indivíduos atendidos, de forma a superar as condições de vulnerabilidade e a prevenir as situações que indicam risco potencial. (PNAS, 2004, p. 34-35).

A fragilidade dessa articulação interfere na efetividade dos objetivos do

PAIF, pois como colocado, a Política de Assistência Social ou qualquer outra

política, isoladamente, é incapaz de ser eficiente e eficaz para amenizar ou resolver

as complexas situações de vida a que essas famílias estão submetidas. A realização

de ações setoriais isoladas, não é capaz de dar respostas efetivas às demandas

sociais.

O que se percebe são ações ainda fragmentadas e isoladas, onde os

contatos ocorrem entre os próprios profissionais através dos vínculos de amizade,

quando se tem a necessidade de manter articulações sistemáticas e planejadas com

outros setores, para que haja uma intervenção na fonte dos problemas.

Acerca desses aspectos, a Profissional 3 relata que:

[...] isso só vai prejudicar o usuário, porque eu não consigo dá uma orientação para o usuário, porque ele vem com uma demanda de um certo lugar, aí você tem que dizer que tem que ir lá procurar, quando eu poderia pelo menos já ter um início de alguma resposta pra ele, até porque às vezes ir lá pra ele é muito difícil, então assim, essa articulação realmente não tá tendo. E eu acho que boa parte de não tá tendo, é por conta de terem poucos profissionais, tanto na assistência, como nas outras áreas também pra dá conta de uma demanda muito grande.

Conforme Orientações Técnicas sobre o PAIF (2012b) o órgão gestor

municipal ou do distrito federal da Política de Assistência Social é responsável pela

materialização da intersetorialidade com as demais políticas setoriais, decidindo as

articulações necessárias e possíveis, bem como consolidando-as e gerenciando-as.

“Ao CRAS, cabe, portanto, cumprir as determinações quanto às articulações em

rede definidas pelo órgão gestor, em seu território de abrangência.” (p. 66).

Essa intersetorialidade ela não existe porque ela não existe nas Secretarias, essa ação ela deveria acontecer de uma Secretaria para outra [...]. O CRAS faz uma reunião com a saúde ou com a educação, ou com a rede, ou com todo mundo e não vem ninguém, porque, porque não tem uma orientação nesse sentido, uma orientação de cada Secretaria, as Secretarias é que

deveriam trabalhar em rede e aí os equipamentos conseguiriam [...] o atendimento às pessoas ele fica precarizado, né, porque você precisa tá o tempo todo intervindo em determinados acompanhamentos de saúde, de educação, que poderiam acontecer de uma forma mais tranquila, todos os

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equipamentos conhecendo todos os programas, com todos os equipamentos sabendo a importância de cada um. (Profissional 4).

Portanto, para que o PAIF possa garantir o efetivo acesso das famílias

aos seus direitos, é preciso que a gestão da Assistência Social no município

promova ações de articulação com os serviços socioassistenciais de proteção social

básica e proteção social especial; com os serviços públicos locais de educação,

saúde, trabalho, cultura, esporte, segurança pública, entre outros; com os Conselhos

de políticas públicas e de defesa de direitos de segmentos específicos; com

programas e projetos de inclusão produtiva e capacitação profissional e dentre

outros, conforme necessidade. Cabendo ao CRAS o estabelecimento e

fortalecimento das articulações da rede socioassistencial e da rede intersetorial no

seu território.

A ação intersetorial precisa ser construída em médio e longo prazo,

através de esforços, saberes e recursos das equipes e da gestão para atuar sobre

questões multifacetadas de forma a superar as práticas isoladas.

3.2.7 Planejamento, monitoramento e avaliação das ações

Segundo Orientações Técnicas sobre o PAIF (2012b) o Coordenador do

CRAS é o profissional responsável pela função de organização gerencial do PAIF,

em que deve de forma contínua desenvolver os processos de direção, planejamento,

organização, monitoramento, avaliação e readequação das atividades juntamente

com a equipe técnica e com a participação das famílias usuárias do Serviço.

Segundo o documento, o funcionamento satisfatório desses processos depende

também da vigilância social, na disponibilização de informações importantes acerca

do território, que auxiliam na identificação das potencialidades e vulnerabilidades

existentes, subsídios necessários para o processo de planejamento e organização

das ações do PAIF.

O referido documento faz as seguintes considerações acerca do

planejamento, monitoramento e avaliação das atividades dos PAIF:

Planejamento constitui ferramenta que visa administrar os acontecimentos futuros, com vistas ao alcance de objetivos determinados.

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São atos do planejamento: análise da situação atual, decisão pelas ações a serem executadas, deliberação de recursos necessários, entre outros;

Monitoramento é o processo de acompanhamento contínuo das ações executadas, aferindo cada etapa de seu processo de operacionalização, com vistas à tomada de medidas corretivas de modo a cumprir as finalidades preestabelecidas;

Avaliação é a análise dos aspectos de efetividade, eficácia e impactos de uma ação em relação à finalidade inicialmente traçada, subsidiando seu aprimoramento ou o seu redirecionamento, com vistas ao cumprimento dos objetivos estabelecidos.

Referente a esses processos, anualmente ocorre na Secretaria de

Assistência Social e Cidadania (SASC) do município o planejamento geral das

atividades do PAIF, realizado pela equipe de gestão juntamente com as equipes

técnicas do PAIF de todos os CRAS. No último planejamento referente ao ano de

2013, foi realizado um diagnóstico socioterritorial, com informações pertinentes ao

território e às famílias usuárias do PAIF. No processo de desenvolvimento do

referido diagnóstico ocorreram reuniões com as famílias, para que as mesmas

colocassem suas demandas e que se pudesse identificar as principais

potencialidades e vulnerabilidades do território.

A Coordenadora relata também que são realizadas reuniões periódicas

com a equipe para a discussão das informações levantadas, acerca do que foi

satisfatório e o que pode ser aperfeiçoado. Relata, também, a importância dos dados

quantitativos do total de famílias atendidas, acompanhadas, os encaminhamentos

realizados, as famílias inseridas e desligadas do acompanhamento, quantitativo de

famílias participantes dos grupos do PAIF, entre outras informações que são

consolidados mensalmente pelos profissionais, como uma possibilidade de visualizar

e identificar o desenvolvimento das ações. Como coloca a Profissional 5:

Eu acho que a gente caminhou, mas a gente ainda é falho. A gente fez o nosso planejamento e a gente não parou ainda pra avaliar ele. É complicado querer que a gente desse conta do que a gente planejou diante da realidade que a gente encontrou no início desse ano, de nova gestão, o primeiro semestre é como se não existisse [...]. A gente consegue parar às sextas-feiras pra fazer as nossas reuniões, ver o que tá pegando, ver onde é que a gente precisa estudar, modificar [...]. A questão do monitoramento eu acho que o relatório mensal ele me dá essa ferramenta, quando as meninas me repassam as informações do relatório mensal e quando eu sento pra sintetizar tudo e mandar pra Secretaria eu consigo ver o que é que tá caminhando a contento.

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No entanto, a Profissional 2 do PAIF, entende que os dados e

informações colhidas de forma quantitativa são questões importantes, mas não

suficientes para identificar a efetividade e os impactos das ações.

[...] o monitoramente e essa avaliação se dá mais no feedback da coordenação com relação às ações que a gente teve com as famílias, você tem a avaliação como um instrumental de avaliação do trabalho de grupo que você fez e até mesmo o prontuário da família que você coloca se você cumpriu as metas, se você acha que atingiu os objetivos, mas acho que isso aí ainda é muito falho, precisa ter mais momentos com a equipe mesmo de gestão do PAIF, onde se possa se debruçar mais sobre essa questão, não somente de relatório mensal das atividades, [...] isso é importante, mas e aí a qualidade dessas ações, será que ela tá tendo alguma efetividade, será que realmente ela tá trazendo algum impacto, algum resultado, eu acho que essa questão do planejamento, monitoramente e avaliação das ações ela precisa ser melhor fortalecida de fato no âmbito do PAIF.

Percebe-se a fragilidade da articulação desses processos, principalmente

pela questão da equipe mínima encontrar dificuldades e entraves em estarem

disponíveis para traçarem melhores estratégias de planejamento, monitoramento e

avaliação das ações. Conforme Cury (2001, p. 40):

Ter em conta a existência dessa interdependência entre planejamento, implementação e avaliação é, portanto, não só desejável, mas absolutamente necessário a eficiência, eficácia e efetividade no desenvolvimento e nos resultados de qualquer projeto social.

O processo avaliativo das ações permite o aprimoramento, no qual os

profissionais têm a oportunidade de repensar as suas práticas e identificar novas

possibilidades e recursos necessários para qualificar o Serviço. Além disso, a

participação das famílias usuárias é fundamental no processo de planejamento,

monitoramento e avaliação, para que se possa definir estratégias e ações

adequadas as suas realidades e contribuir no processo e conquista do

empoderamento, autonomia e protagonismo social.

No tocante ao planejamento, monitoramento e avaliação das ações do

PAIF no CRAS Acaracuzinho, em que consiste em um processo que gera

informações sobre a execução e a qualidade do Serviço, possibilitando identificar os

objetivos alcançados e realização de novas adaptações necessárias para sua

efetividade, percebe-se que ainda é um processo descontínuo e fragmentado e que,

portanto, precisa avançar e ser mais bem organizado.

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No mais, a questão de como a Política de Assistência Social vem sendo

situada, direcionada, materializada, planejada e conduzida a oferta de seus serviços,

programas e projetos, é percebido como um dos principais desafios postos ao

desenvolvimento do trabalho social com famílias no âmbito do PAIF, em garantir a

equidade e universalização das ações.

[...] a gente esbarra realmente numa questão bem maior, que é a própria Política de Assistência hoje ser essa Política focalizada, essa Política que é ofertada pra quem necessita e a gente tem que tirar quem mais necessita [...] se a gente tivesse uma resposta no nível federal, no nível estadual e realmente o município em si passasse a responder de acordo com que é preconizado, com certeza, isso daí aumentaria significativamente a qualidade do Serviço. (Profissional 1).

[...] o que poderia contribuir seria que se pensasse nisso, numa Secretaria de Assistência Social autônoma com interesse de realizar os seus programas de acordo com as orientações técnicas e tendo as estruturas necessárias pra efetivar isso. Então, pra melhorar a gente tem que quebrar completamente essa Política bairrigida, pequena, de um Prefeito achar que tem uma Secretaria pra tirar e colocar quem ele quer na hora que ele quer. A Secretaria dever ser técnica e estruturada para ter capacidade de desenvolver o que é para desenvolver dentro dela. (Profissional 4).

Em suma, percebe-se, que ainda são diversos os desafios e entraves na

condução da Política de Assistência Social que interferem diretamente na

implementação do que é preconizado. Apesar dos avanços conquistados, o que se

percebe é que a trajetória assistencialista ainda deixam marcas em sua estruturação

e nos investimentos destinados à sua efetivação, gerando limites e entraves na

prestação de serviços de qualidade, na garantia dos direitos socioassistenciais e nas

possibilidades de enfrentamento das situações de vulnerabilidades e riscos a que

estão expostas as famílias.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao buscar identificar os principais limites e possibilidades na

operacionalização do PAIF no CRAS Acaracuzinho/Maracanaú-CE, decerto, foi

constatado que são incontestáveis os avanços trazidos pela Política Nacional de

Assistência Social em sua estrutura e organização, ao constituir-se enquanto uma

Política Social de direito e de proteção social, institucionalizada, descentralizada e

que tem exigido profissionais qualificados em sua operacionalização.

Contudo, apesar dos avanços empreitados por esta Política ainda tão

nova, vale destacar que o PAIF por consistir no desenvolvimento do trabalho social

com famílias, além de demandar profissionais qualificados, necessita de condições

institucionais mais favoráveis à efetividade da intervenção e alcance dos objetivos

propostos pelo Serviço.

Vale ressaltar que as demandas e vulnerabilidades sociais a que estão

expostas as famílias, são decorrentes de questões múltiplas e complexas e que,

portanto, extrapolam as ações propriamente da Política de Assistência Social,

através de seus serviços, programas e projetos.

A efetividade no alcance dos objetivos e resultados esperados, vai além

da realidade da equipe que operacionaliza e do município estudado, e para além de

uma Política que não possui resolutividade em si mesma. Há a necessidade de se

efetivar a articulação com a rede socioassistencial e com as demais políticas

setoriais, para que possam traçar estratégias que, de forma isoladas e fragmentadas

não são capazes de proporcionar mudanças significativas e de propiciar resultados

de impacto na vida da população atendida.

Faz-se necessário o compromisso não somente em nível municipal, mas

também das esferas estadual e federal, no processo de fortalecer ações

intersetoriais e articuladas, ganhando destaque o papel dos gestores nesse

processo.

Durante a pesquisa foi identificado, por meio das análises dos relatos dos

sujeitos da pesquisa e das observações realizadas, que a equipe técnica não mede

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esforços em, através de suas qualificações e conhecimentos teórico-metodológicos,

alcançarem os objetivos preconizados pelo Serviço. Destacam-se diversos aspectos

favoráveis, tais como: o bom relacionamento entre os profissionais; a compreensão

e fundamentação teórica da equipe técnica acerca da Política de Assistência Social

e demais legislações sociais que norteiam as ações; o fato de serem profissionais

estatutários, o que possibilita a continuidade do Serviço e o estabelecimento de

vínculos entre as famílias e os profissionais e o próprio trabalho interdisciplinar, o

qual é visto como algo importante e que possibilita o desenvolvimento de ações

qualificadas e com maior qualidade, além da possibilidade de troca de saberes e

experiências.

A qualificação profissional é indiscutível em um Serviço que demanda

ações tão complexas e intervenção sob diversas realidades e modelos distintos de

famílias, no qual não é possível uma abordagem metodológica preestabelecida de

intervenção. É necessário um processo contínuo de formação e qualificação

profissional, para que os profissionais possam ser aptos a compreender e intervir

sob a realidade, através de uma concepção crítica, questionando e elaborando

estratégias para modificá-la.

Quanto à estrutura física disponibilizada no CRAS para o

desenvolvimento do Serviço, houve avanços, principalmente na garantia do sigilo

profissional, com a adequação das salas para atendimento individualizado, sendo,

portanto, compatível com o trabalho social com famílias.

Os recursos humanos no âmbito da Política de Assistência Social é um

dos aspectos que precisa ser reordenado, apesar do quantitativo estar em

conformidade com o exigido. Entretanto, considerando sua indiscutível relevância

na qualidade dos serviços prestados, a equipe mínima não é suficiente para o

quantitativo de ações que desempenha, ações estas do PAIF e de outras políticas

setoriais, o que acaba por gerar um acúmulo e sobrecarga de tarefas,

impossibilitando momentos de estudos e discussões sobre o cotidiano profissional.

Uma Política, na qual os profissionais são os principais mediadores, exige

o compromisso e apoio dos gestores no processo de identificar e atender as

principais demandas dos profissionais e de possibilitar momentos de reflexão e

articulação entre as equipes e gestão do município, para que em conjunto possam

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estabelecer estratégias e redefinir as ações, buscando propiciar de fato um

atendimento integral às famílias usuárias.

Os recursos materiais, de uma maneira geral, constituem provisões

necessárias para que os serviços socioassistenciais se materializem, no caso mais

especifico da implementação do PAIF, a insuficiência de computadores para o

desenvolvimento das ações e acesso aos dados das famílias é um dos fatores que

interferem na qualidade da prestação do Serviço e que geram dificuldades e

entraves no cotidiano profissional.

O processo de planejamento, monitoramento e avaliação das ações do

PAIF, indispensável para identificar resultados e estabelecer redefinições, ainda é

um processo fragmentado e não sistemático, comprometendo a identificação dos

impactos e resultados das ações que foram planejadas.

Apesar da realização de reuniões periódicas com a equipe para a

discussão das informações e identificação do que foi satisfatório e o que pode ser

aperfeiçoado, e dos dados informados nos relatórios mensais acerca das ações

desenvolvidas, ainda necessitam ser aprimorados. Percebe-se que as famílias

pouco participam desse processo, o que fragiliza o direito à participação social.

Além disso, o insuficiente quantitativo de profissionais e de garantia da

disponibilização de um automóvel para a execução das atividades acaba

prejudicando o processo operacional de todas as ações preconizadas pelo Serviço e

diminuindo o alcance quanto ao número de famílias atingidas e à qualidade do

trabalho no que se refere ao acompanhamento sociofamiliar e ao monitoramento e

avaliação das ações.

É preciso, pois, para que os profissionais possam desenvolver e

aprimorar metodologias que atendam e fortaleçam a função protetiva do PAIF à

dinâmica e demandas do território e das famílias, o compromisso dos gestores, tanto

municipais, estaduais, quanto federal, com a qualidade da oferta, garantindo

espaços adequados e condições de trabalho; a aproximação e organização da

gestão com o âmbito operacional; a formação continuada e o estímulo à troca de

conhecimentos entre equipes; e a promoção de diálogo com as demais políticas

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públicas, de forma a dar respostas integradas, que alterem qualitativamente a vida

das famílias vulneráveis.

A centralidade da família no âmbito da Política de Assistência Social deve

direcionar e fortalecer uma Política interventiva e que favoreça o protagonismo social

e de autonomia das famílias, indo de encontro com as concepções de

responsabilização da família sob a situação que vivencia, compreendendo a

realidade social em que está situada, dando assim, respostas efetivas às suas

demandas.

Como foi visualizado neste estudo, apesar dos avanços da Política de

Assistência Social, sendo hoje uma Política institucionalizada, com princípios,

diretrizes e financiamento, os desafios ainda são expressivos; faz-se necessário

romper com ações fragmentadas, compensatórias e residuais que ainda permeiam a

Política de Assistência Social no cenário brasileiro. De certo, é necessária a

intensificação de diversos investimentos para que a Política de Assistência Social

possa ser de fato uma Política protetiva e universalista.

Ao considerar o campo do conhecimento um universo imensurável e

inesgotável, seria oportuno o desenvolvimento de outras pesquisas a fim de

identificar questões que não foram possíveis de ser abordadas neste estudo.

Espera-se que o resultado deste trabalho possa propiciar o estímulo à produção do

conhecimento científico e de alguma forma contribuir no processo pesquisa-

aprendizagem.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A- Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a) participante,

Eu Jéssica Lima de Sousa, sou estudante do curso de graduação de

Serviço Social da Faculdade Cearense-FAC. Estou realizando uma pesquisa sob a

orientação da Ms. Karlene Gonçalves Marinho, cujo objetivo é analisar os limites e

as possibilidades na operacionalização do Serviço de Proteção e Atendimento

Integral à Família–PAIF a partir das percepções da equipe técnica de referência do

CRAS Acaracuzinho/Maracanaú-CE. Sua participação será através de uma

entrevista, que será gravada, se assim você permitir.

A participação neste estudo é voluntária e se você decidir não participar

ou quiser desistir de continuar a qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-

lo. Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no

mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo

(a).

Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você

estará contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para produção do

conhecimento cientifico.

Atenciosamente,

Contatos da pesquisadora: (85) 8633-0646/ [email protected]

_________________________________ _____________________

Nome e ass. da estudante Local e data

_________________________

Nome e ass. da orientadora

Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia deste

termo de consentimento.

________________________________ _____________________

Nome e ass. do participante Local e data

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APÊNDICE B- Formulário de entrevista

I- Dados pessoais

Nome:

Idade:

Naturalidade:

Estado civil:

Formação:

Cargo:

II- PAIF – Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família: limites e

possibilidades

1. Quais são suas competências e atribuições privativas no âmbito do PAIF?

2. Além do PAIF, é responsável pela operacionalização de outros serviços,

programas, projetos e benefícios no âmbito do CRAS? Se sim, compreende isso

como um aspecto dificultador para a operacionalização do PAIF? Por quê?

3. Acerca dos espaços físicos e recursos materiais e humanos disponíveis para

a operacionalização do PAIF, quais são os limites e as possibilidades percebidas?

4. Quais são os aspectos favoráveis à efetivação e operacionalização do PAIF no

âmbito do CRAS Acaracuzinho?

5. Quais os entraves institucionais e as dificuldades enfrentadas pela equipe técnica

que limitam a implementação das ações do PAIF no CRAS Acaracuzinho?

6. Quais são os objetivos e metas esperadas pela equipe técnica do PAIF com a

efetivação de suas ações destinadas às famílias referenciadas?

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7. De que forma você analisa a articulação com a rede socioassistencial e a

intersetorialidade com as demais políticas públicas na execução do PAIF? Quais são

as possibilidades e os entraves enfrentados?

8. Na sua concepção, qual a relevância do PAIF para as famílias

atendidas/acompanhadas no território de abrangência do CRAS Acaracuzinho?

9. Como você analisa o processo de planejamento, monitoramento e avaliação das

ações do PAIF no CRAS Acaracuzinho?

10. Como você analisa o desenvolvimento do trabalho interdisciplinar no âmbito do

PAIF?

11. Quais aspectos poderiam contribuir para melhorar a efetivação do PAIF no

CRAS Acaracuzinho?