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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE – FaC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ANNA BERLLY DANIEL LOPES. ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: ANÁLISE DOS FATORES SOCIAIS QUE CONTRIBUEM PARA REINCIDÊNCIA DE ATOS INFRACIONAIS. FORTALEZA – CE 2013.2

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE – FaC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ANNA BERLLY DANIEL LOPES.

ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: ANÁLISE DOS FATORES SOCIAIS QUE CONTRIBUEM PARA REINCIDÊNCIA DE

ATOS INFRACIONAIS.

FORTALEZA – CE

2013.2

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ANNA BERLLY DANIEL LOPES

ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: ANÁLISE DOS FATORES SOCIAIS QUE CONTRIBUEM PARA REINCIDÊNCIA DE ATOS INFRACIONAIS.

Monografia submetida à aprovação do Curso de Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense – FaC, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Ms. Eliane Nunes Carvalho.

FORTALEZA – CE

2013.2

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ANNA BERLLY DANIEL LOPES

ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI: ANÁLISE DOS FATORES SOCIAIS QUE CONTRIBUEM PARA REINCIDÊNCIA DE ATOS INFRACIONAIS.

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelas professores.

Data de aprovação: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Prof.ª Ms. Eliane Nunes Carvalho

(Orientadora)

___________________________________________________________________

Prof.ªMs. Valney Rocha Maciel

___________________________________________________________________

Prof.Ms. Jefferson Falcão Sales

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“Para realizar grandes conquistas devemos não apenas agir, mas também sonhar, não apenas planejar, mas também acreditar.”

Anatole France.

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Dedico esse trabalho a Deus que está sempre comigo nos momentos mais difíceis. Aos meus familiares, em especial, a minha mãe, meu padrasto e minha irmã. Aos amigos, colegas de curso, professores e adolescentes que me compartilharam suas histórias de vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por estar sempre comigo nos momentos mais

difíceis, pelas graças concedidas durante toda a minha vida, por colocar no meu

caminho pessoas maravilhosa que me auxiliaram durante esses quatro anos de

jornada acadêmica, e por iluminar minhas escolhas e decisões.

A minha mãe, Rita Maria Daniel Lopes, e ao meu padrasto, Júlio César Camurça

Lopes, meus maiores exemplos de vida. Sou grata a eles por tudo o que sou, por

tudo que venho conquistando, pelo amor que tem por mim, e por estarem sempre ao

meu lado em todos as ocasiões. Amo vocês.

A minha irmã, Julita Brenda Camurça Lopes, minhas primas, Leidiane Holanda,

Andréa Abreu e Artemiza Nogueira, por todo o amor que demonstram ter por mim, e

que eu tenho por elas, e por estarem sempre na torcida para me verem feliz e

plenamente realizada.

Aos meus familiares, avós, tios, primos, por todo o afeto, e por me ajudarem a ser

sempre alegre e de bem com a vida, e em especial a minha tia, Sandra Regina, e ao

meu primo, Fernando Filho, por terem me acolhido na sua casa durante a trajetória

acadêmica, e sempre terem me tratado tão bem, com muito afeto e carinho. Só

tenho a agradecer a vocês, por tudo de melhor que fazem por mim.

Ao meu noivo, Wellyton Pinheiro, pela compreensão e paciência nos momentos em

que estive ausente, quando não podia dar a atenção que merecia, por todo apoio a

mim concedido durante os quatros anos de academia, e por me ajudar a ultrapassar

as dificuldades advindas, e aos seus familiares, por todas as coisas boas que fazem

por mim, por estarem sempre ao nosso lado, torcendo pela nossa felicidade e por

desejarem sempre tudo de mais lindo para nós.

As minhas amigas, Maria Helena, Eduarda Azevedo, Denise Azevedo e Débora

Rodrigues, que permanecem fielmente e lealmente ao meu lado, por estarmos

sempre juntas compartilhando as tristezas e as alegrias. Agradeço pela linda

amizade que construímos e por saber que posso contar sempre com o apoio de

vocês. Amo muito vocês.

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Aos meus amigos especiais, Carlos Soares, por ter me tratado e me recebido tão

bem na sua residência, cuidando de mim como um pai cuida de uma filha, estando

sempre ao meu lado nos momentos de dificuldades, e Reginaldo Barros, que está

sempre disposto a me ajudar, sem medir esforços, nas horas de desespero, pela

bela amizade construída, e por todas suas demonstrações de carinho.

As minhas friends lindas, Nayane Felix, Bruna Suellen e Graziele Valente, pelas

nossas felizes tardes de estágio, pelas alegrias compartilhadas, por terem me

passado tanto da meiguice de vocês,pela confiança que depositaram em mim, e

pela nossa amizade, que mesmo apesar da distância, quero que se fortaleza cada

vez mais.

A minha querida supervisora de campo, Jeniusa Rodrigues, um exemplo de

profissional, dedicada ao que faz, e que além de me instruir para vida profissional,

me ensinou também várias coisas boas, para que eu pudesse me aperfeiçoar nos

aspectos relacionados a minha vida pessoal.

A toda a equipe do CESF, psicólogas, pedagogas, socioeducadores, instrutores de

oficinas, secretárias, pela forma amorosa que me receberam, desde o dia 19 de

março de 2012, meu primeiro dia na unidade,pelo apoio e por me ajudarem na

concretização do meu trabalho. Ao coordenador de disciplina Raimundo Neto e ao

diretor, Joaquim Jacomé, por permitirem a realização da minha pesquisa sem

nenhuma restrição.

Aos adolescentes que aceitaram participar da pesquisa, e que em mim depositaram

sua confiança, para compartilharem sua vida pessoal, problemas e as dificuldades

que enfrentam cotidianamente.

Aos queridos professores que tive o prazer de conhecer durante esses quatro anos,

e em especial, ao professor Jefferson Sales e professora Valney Rocha, por terem

aceitado o convite para participar da minha banca, o que pra mim é um imenso

prazer, e portão gentilmente nos auxiliarem nessa caminhada.

A minha orientadora, Eliane Nunes, por toda paciência e dedicação em me ajudar, e

por confiar e acreditar na minha capacidade de apresentar esse trabalho ainda

nesse semestre.

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RESUMO

O presente trabalho monográfico busca fazer uma análise sobre os fatores que influenciam e repercutem na reincidência do ato infracional tipificado como roubo, por adolescentes de 16 e 17 anos, que se encontra em regime de internação provisória, em face do crescente aumento de atos infracionais cometidos por adolescentes na atualidade. O estudo a seguir faz um resgate sobre o avanço dos direitos conquistados historicamente e que são inerentes à criança e ao adolescente, realiza um levantamento sobre o índice de reincidência dos adolescentes que estão envolvidos com a prática de atos infracionais e uma análise das possíveis causas que levam o adolescente a reincidir. A pesquisa, de natureza qualitativa, foi realizada no Centro Educacional São Francisco- CESF, compreendendo a fase de campo, integrada por pesquisas bibliográfica e documental, que permitiram colher dados e aprofundar os questionamentos elencados na pesquisa, teve como instrumento para a coleta de dados entrevista semiestruturada, contendo dezoito perguntas, sendo entrevistados seis adolescentes.Este estudo é de suma importância, pois consiste no desvelamento das determinações que repercutem no acontecimento da reincidência na prática de atos infracionais por adolescentes, uma vez que esse entendimento é condição primordial para o desenvolvimento das ações educativas voltadas para esta população específica, bem como de ações preventivas tanto por parte da sociedade como do Estado. Os resultados da pesquisa mostraram que existem vários fatores externos que contribuem para a reincidência do ato infracional, principalmente os que se referem à precarização social e econômica que vivenciam esses adolescentes, como a dependência do uso de drogas, a evasão dos estudos, inserção precoce no mercado de trabalho, e outras situações de construção social que influenciam o cometimento do ato infracional.

Palavras-chave:Adolescente. Ato infracional.Reincidência. Questão Social.

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ABSTRACT

This monograph seeks to make an analysis of the factors influencing and impacting recurrence of offenses criminalized as theft, for teens 16 and 17 years who are in provisional detention, given the increasing number of offenses committed for teens today. The study then do a rescue on the advancement of the rights achieved historically and which are inherent to the child and adolescent, conducts a survey on the recidivism rate of teens who are involved in the commission of illegal acts and an analysis of possible causes lead adolescents to reoffend. The research of a qualitative nature, was held at the San Francisco - CESF Educational Center , comprising the field phase , composed of bibliographic and documentary research , which allowed collecting data and deepen the questions listed in the survey , had the instrument for data collection semistructured interview containing eighteen questions , being interviewed six adolescents . This study is extremely important because it is the unveiling of the determinations that impact the event of recurrence in the practice of illegal acts by teenagers, since this understanding is paramount to the development of targeting this specific population educational initiatives condition, as well as preventive actions both by society and the State. The results showed that there are several external factors that contribute to the recurrence of the violation, especially those relating to social and economic precariousness experiencing these adolescents , the dependence of drug use , avoidance of studies , early entry into labor market , and other situations of social construction that influence the commission of the offense.

Keywords:Teenager. Offense. Recurrence.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAOPIJ- Centro de Apoio Operacional da Infância e da Juventude

CEDECA- Centro de Defesa da Criança e do Adolescente

CESF- Centro Educacional São Francisco

CONANDA- Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

DCA- Delegacia da Criança e do Adolescente

DMF- Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário

DPJ- Departamento de Pesquisas Judiciárias

ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente

FEBEM- Fundação Estadual de Bem- Estar do Menor

FUNABEM- Fundação Nacional do Bem- Estar do Menor

LA- Liberdade Assistida

PNAD- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNAS- Política Nacional de Assistência Social

PSC- Prestação de Serviço à Comunidade

PSE- Política Social Especial

SAM- Serviço de Assistência ao menor

SINASE- Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

STDS- Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................12

1- ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA.

1.1- Aproximação com o objeto de pesquisa.........................................................15 1.2- Percurso metodológico...................................................................................20 1.3- Os Centros Educacionais no Estado do Ceará..............................................23 1.4- O lócus da pesquisa: Centro Educacional São Francisco..............................25 1.5- Cotidiano dos adolescentes............................................................................30 1.6- Perfil dos adolescentes entrevistados.............................................................32

2- CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS INERENTES À CRIANÇA

E AO ADOLESCENTE.

2.1- Adolescência e período de transição: período peculiar de desenvolvimento....36 2.2- Código de menores: Doutrina da situação irregular...........................................41 2.3- Estatuto da Criança e do Adolescente: Uma luta implementada à doutrina da

proteção integral................................................................................................44 2.3.1- Sobre as medidas socioeducativas.................................................................45 3- PRINCIPAIS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL QUE REPERCUTEM

SOBRE A REINCIDÊNCIA DE ATOS INFRACIONAIS POR ADOLESCENTES

EM REGIME DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA NO CESF.

3.1- Configurações da Questão Social: Breve análise histórica................................50

3.2- Contexto do adolescente em conflito com a lei e a relação com a reincidência:

expressões da Questão Social...................................................................................53

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................62

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS...........................................................................65

APÊNDICES...............................................................................................................73 ANEXOS....................................................................................................................76

DECLARAÇÃO DE CORREÇÃO .............................................................................79

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INTRODUÇÃO

Refletindo a respeito de aspectos sociais, tais como, adolescência, ato

infracional, a importância da mídia no processo de reflexão da sociedade e os

organismos de segurança pública inerentes aos direitos da infância e da juventude,

encontrei-meem total excitação acerca de tais questionamentos. Desta forma, faz-se

necessário um processo de pesquisa específico para compreender estes

fenômenos. Entretanto, as meditações acerca das expressões da Questão Social,

estudadas no curso de Serviço Social, fizeram-me compreender que tais fenômenos

não são imediatos, mas possuem uma construção social de relevância especializada

em cada caso, em cada história de vida, em cada adolescente, compreendendo a

sua realidade.

A questão dos adolescentes em conflito com a lei é um tema que vem sendo

discutido por vários estudiosos no Brasil, ocasionado pela visibilidade destes sujeitos

pela mídia, quando o assunto é aumento da violência praticada por eles ou contra

eles.

Os meios de comunicação, muitas vezes transformam em espetáculos os

acontecimentos de violência, principalmente os cometidos por adolescentes,

passando para os telespectadores informações sem um contorno crítico, o que gera

na população pânicos e preconceitos contra estes jovens que acabam por se tornar

metáforas da violência (Espíndula, 2006).

O interesse em investigar essa temática surgiu a partir da experiência de

estágio no Centro Educacional São Francisco, onde pudemos perceber, através do

conhecimento da realidade de cada um dos adolescentes atendidos, que a violência

estava emaranhada em seu cotidiano, fazendo parte de seus territórios, da sua

comunidade, ou dentro da sua composição familiar, como forma de repreensão pela

sua conduta ilícita.

A prática de estágio cotidiano com estes adolescentes nos fez refletir sobre a

importância do trabalho institucional que se propõe à ressocialização como

preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente, tal não acontece na maioria das

instituições designadas para este fim, visto que não oferecem estrutura adequada

para que tal fato ocorra, além disso, o Estado, um dos responsáveis legais por estes

continua a se omitir desta responsabilidade, sem proporcionar uma rede de

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socialização adequada e eficaz após o desligamento dos adolescentes dos centros

educacionais. Por estes motivos é tão comum que o adolescente infrator não

consiga refletir superando sua condição, enfim mude de vida, ocasionando assim a

reincidência.

Através desse contexto, vi a extrema necessidade de me aproximar desses

adolescentes que cometeram condutas ilícitas, e analisar os acontecimentos e

experiências vivenciados em seu meio social, de saber o que pensam, de ouvir o

que sentem, o que planejam, desejam, sonham e pensam, por fim, conhecer os

motivos pelos quais se envolvem em práticas delituosas.

Esses questionamentos apareceram a partir das indagações e reflexões que

discorriam sobre a redução da maioridade penal, da ineficácia e inexistência de uma

legislação que resguarda apenas “malandro”, e ao mesmo instante contestando a

impotência de uma lei que prever e garante direitos inerentes à criança e ao

adolescente.

A partir desse contexto, empreendi minha pesquisa com os seguintes

objetivos: de modo geral compreender quais as expressões da Questão Social que

repercutem sobre a reincidência do ato infracional tipificado como roubo, por

adolescentes de 16 e 17 anos, em regime de internação provisória no CESF, e

especificamente traçar um perfil socioeconômico dos adolescentes internos no

CESF; analisar quais expressões da Questão Sociais mais recorrentes na

reincidência do ato infracional; identificar quais as perspectivas de vida futura dos

adolescentes após saírem do Centro Educacional.

Os resultados desta pesquisa estão dispostos em três capítulos da seguinte

forma: o primeiro capítulo que tem como título “Aspectos metodológicos da

pesquisa”, alude-se ao percurso metodológico utilizado para a realização da

pesquisa e sua concretude, os sentimentos do pesquisador, os passos percorridos,

os desafios enfrentados para efetivação e resultado da pesquisa, constando também

as motivações e o desejo de discutir tal temática, a caracterização da Instituição -

Centro Educacional São Francisco - CESF - e o perfil dos interlocutores.

O segundo capítulo intitulado “Contextualização histórica dos direitos

inerentes à criança e ao adolescente” faz uma breve descrição dos fatos históricos

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que resultaram no antigo código de menor e atual ECA, relatando seus objetivos e

principais características. Busca caracterizar a adolescência em suas diversas faces,

inclusive na modernidade, situando os adolescentes em conflito com a lei nesta fase,

traçando um histórico do atendimento legal de crianças e adolescentes da

passagem da situação irregular à Doutrina da proteção integral, defendida pelo ECA.

O terceiro e último capítulo, intitulado “Principais expressões da Questão

Social que repercutem sobre a reincidência de atos infracionais por adolescentes em

regime de internação provisória no CESF”, faz uma contextualização histórica sobre

a intensificação da Questão Social no Brasil e busca analisar as suas principais

refrações que incidem e influenciam a reincidência do ato infracional tipificado como

roubo.

Os principais autores que corroboraram para a realização da pesquisa foram,

Costa (2005), discutindo sobre o que é atos infracional e como se dá a sua

repercussão dentre os meios de comunicação, Calligaris (2000), traz uma discussão

sobre a definição da adolescência e as dificuldades enfrentadas por esse grupo

específico, que vivencia um período peculiar de desenvolvimento, Iamamoto (2004),

Netto ( 2001), Castel (1998), Rosavallon (1998), que fazem uma discussão acerca

das definições, manifestações e fundamentações da Questão Social na atualidade.

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1- ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA.

1.1 Aproximação com o objeto de pesquisa.

A situação dos adolescentes que cometem o ato infracional se impõe como

uma questão social, que preocupa e acarreta desafios para o sistema de justiça,

para o estado e para a sociedade civil. Trata-se, logo, de uma temática

contemporânea, de importância social, jurídica, política e profissional, haja vista que

envolve questões de ordem estrutural, conjuntural, jurídica e social (Tomazelli,

2007).

O cometimento de atos infracionais cometidos por adolescentes é um

fenômeno complexo que vem se destacando na sociedade contemporânea. As

motivações são várias, há determinações sociais e condições individuais que

influenciam um adolescente a tornar-se um autor de ato infracional.

De acordo com Costa (2005), o ato infracional exercido por jovens é um

assunto muito presente no cotidiano e dentre os meios de comunicação, atualmente.

Nessa conjuntura, há o espanto por causa do crescimento dos atos infracionais

cometidos pela população jovem e as propagações da mídia a respeito deste tipo de

violência provocam os requerimentos de medidas mais repressivas por parte da

sociedade, para adolescentes autores de atos infracionais.

Desperta-se na sociedade um sentimento de pavor quando um adolescente

comete um ato infracional, e isto é despertado na população e representado na

mídia de forma escandalosa, colocando esse sujeito como grande violador de

direitos e indivíduos de má índole. Isto é transmitido para sociedade sem uma

profunda reflexão do acontecimento. Sem que se tenha a sensibilização de se

perceber que este sujeito é uma pessoa em desenvolvimento, em processo de

construção de identidade. Não remeto a falar em sensibilidade no sentido de causar

um sentimento de pena e compaixão do autor do ato infracional, tirando sua

responsabilidade por ter cometido um ato ilícito, mas discorro que é necessário

compreendê-lo através do meio social em que está inserido e as motivações ao

cometimento do ato infracional.

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Desse modo, de acordo com Sartórioand Rosa (2010), desconsidera-se que

os adolescentes encontram-se em uma fase peculiar de desenvolvimento. A

avaliação do ‘desvio de caráter’ dos jovens nos leva para uma visão moralista, que

se pauta em aspectos “patológicos” e individuais, desconsiderando, assim, aspectos

sociais que permeiam a prática infracional. (Apud, Schuch, 2005. p. 215). Assim, “o

contexto social, político, econômico, e o pertencimento étnico, de classe, de gênero,

[...] ficam silenciados por uma retórica que privilegia aspectos individualizantes do

conflito”.

Atualmente, quando constatada a prática do ato infracional empreendido por

adolescentes, a legislação brasileira, por meio do Estatuto da Criança e do

Adolescente - ECA (Lei 8.069/90) estabelece a aplicação das medidas

socioeducativas, como forma de reparar os comportamentos tipificados como crime

ou contravenção penal, cometidos por adolescentes (Art.103), considerados pelo

Estatuto pessoas entre 12 a 18 anos incompletos. Dessa forma, é imposto ao

adolescente uma das seguintes medidas socioeducativas: Advertência, Obrigação

de reparar o Dano, Prestação de Serviço à Comunidade (PSC), Liberdade Assistida

(LA), que são medidas em meio aberto, em que o adolescente não fica privado de

sua liberdade. Há, também, as medidas de regime semiaberto ou fechado,

semiliberdade e internação, em que os adolescentes são privados de sua liberdade.

Segundo Mario Volpi (2001), existe duas concepções extremistas sobre o

adolescente em conflito que comete o ato infracional, a saber:

A primeira origina-se de uma concepção do adolescente como vítima de um sistema social ou então como produto do meio, sendo, portanto, a prática do delito encarada como uma estratégia de sobrevivência ou uma resposta mecânica do adolescente a uma sociedade violenta e infratora para com os seus direitos mais elementares; a segunda visão caracteriza por excluir qualquer responsabilidade do meio na produção do delito, atribuindo ao infrator responsabilidade exclusiva e definitiva. Formulada perversamente como categoria pretensamente científica, advoga que a índole, isto é, a tendência, a motivação interna, o caráter e a personalidade do individuo apresentam a propensão à prática do mal, do delito (VOLPI, 2001:19).

Muitos jovens se envolvem na prática de atos infracionais por busca de

reconhecimento, como no engajamento em gangues e disputa de território, por

influência do consumo de drogas, desejo de comprar roupas e sapatos de marca,

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facilidade de se ter dinheiro mesmo arriscando a própria vida, como forma de

inclusão social que muitas vezes lhe é negada, ou até mesmo como um vício e etc.,

como mostra Oliveira (2001):

O que está permanentemente evocado pelo adolescente suburbano em suas escolhas de ingresso na criminalidade é a esperança de uma mudança de lugar pelo acesso ao significante-dinheiro como mediador do reconhecimento buscado. Uma forma mais ágil, embora com mais riscos à própria vida, de conseguir a inclusão social que lhe é negada. (OLIVEIRA, 2001:61)

Através de meus anseios presenciando diariamente nos programas policiais

de Fortaleza as mais variadas formas de violência: a tipificação das violências

criminais na cidade, como roubo, homicídio, latrocínio, porte de arma de fogo, tráfico

ilícito de drogas, vistos diariamente nos programas televisivos, violência como forma

de romper com a violência, ao vermos condutas brutas e repressoras por parte das

autoridades, utilizadas como forma de coibir a violência. Observei que o número de

notícias envolvendo adolescentes como praticantes de atos ilícitos aumentava a

cada dia, gradativamente, a ênfase dos meios de comunicação em relação a estes

casos, que repercutem muito e chamam bastante atenção dos telespectadores, cria

sentimentos de raiva e ódio, contra os adolescentes que cometem infração.

No que se referem às exposições dos programas policiais exibidos pelos

meios de comunicação do Estado do Ceará, como: “Rota 22”, “Comando 22”, “Barra

Pesada”, “Os malas e a Lei" e “Cidade 190”, percebe-se que os apresentadores

estimulam uma reflexão sobre tais práticas cometidas por adolescentes, reflexões

que induzem a prática da brutalidade, do tormento, da agressão, baseada em

repreensões de outros países como forma de solucionar tais problemas. Por

algumas vezes, mostram o linchamento e a violência como sensacional, justificando

o comportamento violento do policial ou da população, motivando a efetivação de

práticas violentas, para que desta forma esse público fosse corrigido de forma justa,

além disso, alertam aos telespectadores quanto ao perfil dos infratores, e bem como

estereotipam seu território.

O relato dos programas televisivos é de que crianças e adolescentes são os

grandes responsáveis pelo acréscimo da violência, entretanto, defendem a redução

da maioridade penal, colocando que o meio mais eficaz para a redução da violência

seria a punição. Todavia, um estudo realizado pela Secretaria da Segurança Pública

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e Defesa Social do Ceará sobre o número de jovens entre 12 e 17 anos apreendidos

por tipo de ato infracional no Ceará, no ano de 2013, solicitado pelo Jornal “O Povo”,

torna visível que existe um aumento dos números de crianças e adolescentes

envolvidos em práticas infracionais, porém, esses não são os principais

responsáveis pelo aumento da criminalidade, inclusive são vítimas da violência

praticamente na mesma percentagem em que são autores de atos infracionais (O

Povo online, 2013).

Outro aspecto que deve ser divulgado é sobre a gravidade dos delitos

cometidos por adolescentes, dentre os quais, os crimes contra o patrimônio são os

mais praticados. É o que também se conclui ao analisar o estudo feito pela

Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), em que o crime de roubo

ficou em torno de 1.065 casos em Fortaleza, no ano de 2006, havendo, porém, um

aumento do número dos crimes de homicídio, latrocínio, porte ilegal de arma de fogo

e tráfico de drogas, no Ceará, em mais de 10%, no mesmo ano, comparado a 2005,

dado fornecido pela Unidade de Recepção Luís Barros Montenegro, e que de 2.744

internos, na cidade de Fortaleza,1.442 não estudavam, mostrando uma realidade de

quase 50% de jovens fora da escola.Nesse sentido, a STDS revela que a

reincidência verificada em Fortaleza, no ano de 2006, era alta, quase 50% dos

jovens analisados 1, porém no ano de 2008, a reincidência já está em torno de 70% 2 .

Em uma matéria do jornal O Povo(2007), a Delegacia da Criança e do

Adolescente - DCA - CE dita: “O aumento no número de crimes graves está ligado

ao fácil acesso às armas”, já que o próprio órgão denuncia que, no ano de 2006,

apreendeu 719 armas (561 armas de fogo e 158 armas brancas), sendo um número

quatro vezes maior que o de 2003, quando se recolheram 203 armas.

No que se refere à situação social e econômica das famílias cearenses, um

estudo realizado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios(PNAD), no ano

de 2005, nos mostra que 62% dessas famílias com crianças de 0 a 14 anos vivem

com uma renda per capita de até ½ salário mínimo, o que é bem inferior média

nacional.Outros indicadores sobre o nosso Estado são importantes para o estudo:

1Jornal O POVO em 05/03/2007. ADOLESCENTES: número de infrações graves aumenta 10%.

2 Jornal O POVO em 02/04/2008. USO modifica perfil das infrações.

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4.570.485 de cearenses vivem abaixo da linha de pobreza, representando 56,3% da

nossa população, sendo o 6º mais pobre da federação em termos proporcionais.

2.388.389 pessoas residentes no estado vivem abaixo da linha de indigência, o que

representa 29,46% da população cearense. Isso significa o 10º estado com o maior

Índice de indigentes em termos proporcionais no país. Em relação ao Índice de Gini,

que mede a concentração de renda do estado - sendo que quanto mais próximo de

1 mais concentrada será a renda - foi da ordem de 0,5961, colocando o estado em 6°

em termos de concentração da riqueza no país. De acordo com a PNAD 2005, entre

os anos de 2002 e 2005, o desempenho do Ceará em desconcentração de renda foi

inferior média dos Estados do Nordeste e do Brasil. Com relação a renda média

familiar per capita o Estado do Cear· tem a 4º pior

O número de adolescentes no Brasil, conforme dados do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE) referentes aos anos de 2005 e 2006, mostra que o

país tinha 24.461.666 adolescentes entre 12 e 18 anos. Desse total, apenas 0, 1425%

representavam a população de adolescentes em conflito com a lei. Tal porcentagem,

em números absolutos, significa 34.870 adolescentes autores de atos infracionais

cumprindo algum tipo de medida socioeducativa em todo o Brasil. 3

Ao analisarmos o perfil do adolescente infrator no Brasil temos: 98% não

completaram o Ensino Fundamental (embora 77% tenha idade suficiente, ou seja,

são maiores de 15 anos), sendo que 15 % são analfabetos e 61% não frequentavam

a escola. Ou seja, diante de uma condição desprivilegiada tanto de mobilidade

quanto de reconhecimento social. Se levarmos em conta mais uma vez este perfil de

internos em instituições de privação de liberdade, a exclusão é evidente: 99%

provêm de famílias que ganham menos de seis salários mínimos (quando a

proporção desta faixa salarial na população geral é menos de 50%) 4.

Um dado importante a ser citado é o fato de a maioria dos infratores do Brasil

são do sexo masculino. Uma pesquisa realizada pela Fundação Casa em São

Paulo5 mostra que 96% dos infratores daquele estado eram do sexo masculino e

apenas 4% eram do sexo feminino. O que de fato acontece aqui em Fortaleza onde

3 Estatísticas coletadas no site: www.promenino.org.br 4 Pesquisa realizada em 1997, com âmbito nacional. In: VOLPI, Mário; SARAIVA João Batista Costa. Os adolescentes e a lei. Brasília: ILANUD, 1998. 5 Site fundação casa: Disponível em: http://www.casa.sp.gov.br/files/pdf/PesquisaFebem/PesquisaInternos.pdf

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pode se observar o fato de haver seis unidades de atendimento socioeducativo para

adolescentes do sexo masculino, enquanto existe apenas uma unidade destinada ao

sexo feminino.

1.2- Percurso metodológico.

Depois de definido o objeto de estudo, identificação das expressões da

Questão Social que repercutem sobre a reincidência do ato infracional tipificado

como roubo, foi utilizado a Pesquisa Qualitativa através da construção dos relatos

dos sujeitos na realização da entrevista. Esse tipo de pesquisa foi escolhido por ser

baseada em valores, motivações, procurando compreender os fenômenos segundo

a perspectiva dos sujeitos, permitindo compreender os significados atribuídos pelo

sujeito às suas experiências sociais, que segundo Chizzoti (2003):

A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vinculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos atribuindo-lhe um significado. (CHIZZOTI, 2003: 79)

Nossa análise será do tipo explicativo, “que pode ser a continuação de outra

descritiva, posto que a identificação de fatores que determinam um fenômeno exige

que este esteja suficientemente descrito e detalhado”. (Gil, 2007, p. 43).

De acordo com Silva e Menezes (2001):

A pesquisa explicativa aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o “porquê” das coisas. Quando realizada nas ciências naturais, requer o uso do método experimental, e nas ciências sociais requer o uso do método observacional. Assume, em geral, a formas de Pesquisa Experimental e Pesquisa Expost-facto. (SILVA E MENEZES, 2001: 21)

No que se refere ao instrumento de coleta de dados o presente estudo usou

três tipos: a coleta documental: realizada por meio de materiais que ainda não

receberam tratamento analítico, como, por exemplo, documentos oficiais,

reportagens, cartas, contratos, diários, filmes, fotografias, gravações, entre outros. A

análise também pode ser feita naqueles documentos considerados de segunda mão,

tais como relatórios de pesquisa, tabelas estatísticas, relatórios de empresa, entre

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outros casos(Silva e Menezes, 2001); observação direta: método que parte de uma

observação espontânea e é através desta que se obtêm dados necessários para a

produção. Através da observação direta que o pesquisador tem a conveniência de

notar os acontecimentos e retratar o contexto histórico e social deste (Cunha, 1982);

e entrevista semiestruturada, que:

Obedece a um roteiro que é apropriado fisicamente e utilizado pelo pesquisador. Por ter um apoio claro na sequência das questões, a entrevista semiaberta facilita a abordagem e asseguram sobretudoaos investigadores menos experientes, que suas hipóteses ou seus pressupostos serão cobertos na conversa (MINAYO, 2010, P. 267).

Foi utilizada na pesquisa perguntas semiestruturadas, que foram gravadas

com a autorização dos entrevistados, sempre preservando o sigilo dos sujeitos

pesquisados. Estes, antes do inicio das entrevistas, foram questionados se estariam

a vontade para participar desta pesquisa sendo esclarecidos que se tratava de um

trabalho de conclusão de curso e que o sigilo sobre suas identidades seria

garantido. As entrevistas foram repassadas em arquivo de áudio para o computador

para depois serem transcritas com fidelidade extrema àquilo respondido pelos

entrevistados. Através da entrevista os adolescentes se expressaram livremente,

utilizando gestos e vocabulários próprios do seu cotidiano, pois a entrevista

semiestruturada envolve a liberdade na fala do sujeito, o pesquisador deve analisar

as entrelinhas, os gestos, o modo que o sujeito da pesquisa se retrata a tal assunto,

ou seja, o pesquisador deve ter o olhar sensível, mas ao mesmo tempo, este deve

se direcionar para que o interesse na entrevista, para não se tornar algo monótono e

repetitivo.

A pesquisa de campo foi realizada na segunda quinzena de novembro e

primeira quinzena de dezembro, do ano de 2013, tendo como campo empírico, o

CESF, que atende em regime de internação provisória adolescentes do sexo

masculino autores de atos infracionais, enquanto aguarda a conclusão do processo

de apuração do ato infracional pelo Juizado da Infância e da Juventude, e lhe

sejaaplicada alguma medida socioeducativa. Foram selecionados um total de 6

adolescentes, todos autores de roubo e reincidentes no CESF, representando 5,8 %

dos adolescentes internos naquela ocasião. Foram feitas 17 perguntas

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semiestruturadas para todos os adolescentes participantes, num total de 102

perguntas.

Por já ter estagiado na instituição, tive livre acesso e total apoio de toda a

equipe que compõe a unidade para a realização deste trabalho monográfico.

Durante a primeira visita, fiquei apenas observando a rotina dos técnicos e dos

adolescentes que já estavam no Centro e dos recém-admitidos. Na segunda visita,

fiz uma análise do livro utilizado pelo setor social, que consta o nome de todos as

adolescentes internos, a tipificação do seu ato infracional, o dia da admissão e o dia

do extrapolamento de prazo dos adolescentes, para selecionar aqueles que iam

participar das entrevistas. Depois de selecionados, analisei o prontuário de cada um

deles, para já ter um breve conhecimento sobre a realidade e a vida de cada um,

antes de fazer as entrevistas. Na terceira visita as entrevistas foram realizadas com

os adolescentes, na sala da psicologia, cedida pela psicóloga da unidade. Todas as

visitas foram tranquilas, pois por já ter passado um ano e meio estagiando na

instituição e ter um pouco de conhecimento sobre a dinâmica instituída no Centro,

me senti muito segura para fazer a pesquisa e realizar as entrevistas. A forma como

fui recebida por todos os profissionais do CESF e a plena participação de todos os

adolescentes selecionados, também corroboraram para a minha segurança e

tranquilidade na concretude da pesquisa.

O delineamento para a fundamentação teórica deste trabalho monográfico

utilizou a pesquisabibliográfica, que:

É feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto (FONSECA, 2002, p: 32).

Para a realização deste trabalho, foi realizada pesquisa de campo, uma vez

que possibilitou a coleta de dados relevantes para a investigação, através da

utilização do campo para o aprofundamento dos questionamentos com os

adolescentes internos no CESF, uma pesquisa qualitativa, para identificação e

escuta das percepções, sentimentos e experiências dos próprios adolescentes

envolvidos nesse processo. Para fundamentar as análises fiz um estudo bibliográfico,

embasado na leitura, análise e interpretação de livros e artigos já publicados e uma

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pesquisa documental, que possibilitou, através de vídeos e programas policiais, a

análise de como esses interlocutores são vistos pelos meios de comunicação.

Foram utilizados também as legislações e os prontuários para coleta de dados

específicos e individuais dos adolescentes.

1.3- Os centros educacionais no Estado do Ceará.

As unidades de atendimento socioeducativo são administradas pela STDS –

Secretaria do trabalho e Desenvolvimento Social que tem como uma das

competências:

Coordenar e executar as ações técnicas e administrativas nas áreas de

proteção integral e medidas socioeducativas, garantindo a assistência ao

adolescente em conflito com a lei de acordo coma Lei 8.069 (Estatuto da

Criança e do Adolescente-ECA), e proteção social integral à criança a ao

adolescente que se encontram sob custódia do Estado, inclusive as vítimas

de violência e exploração. (Coordenadoria da Proteção Social Especial -

Células das Medidas Socioeducativas, 2009)

Por meio da Coordenadoria da Proteção Social Especial está diretamente

ligada uma Célula de Atendimento Sócio Educativo, que é responsável pelo

acompanhamento da rede de unidades que formam o sistema socieducativo do

Estado do Ceará, nas áreas de privação de liberdade e meio aberto.

O Estado também é responsável pela execução das medidas privativas de

liberdade na capital e municípios onde estão implantados os Centros de

Semiliberdade Regionais, localizados em Crateús, Sobral, Iguatu e Juazeiro do

Norte, cabendo aos municípios a responsabilidade pela execução das medidas

socioeducativas em meio aberto.

Atualmente existem seis unidades de atendimento socioeducativo para o

atendimento de adolescentes em conflito com a lei no Estado do Ceará. Sendo que

cinco destas são destinadas a adolescentes do sexo masculino e apenas uma para

o sexo feminino.

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As unidades de atendimento da Capital Fortaleza são:

• Unidade de Recepção Luís Barros Montenegro (URLBM) – Unidade para recepção

e acolhimento de natureza transitória ao adolescente acusado da prática de ato

infracional, foi inaugurada em 1990. Esta unidade recepciona ambos os sexos, na

faixa etária de 12 à 18 anos, proveniente da Delegacia da Criança e do Adolescente e

das comarcas do interior do estado, que deverá ser apresentado ao Judiciário.

• Centro Educacional São Miguel (CESM) – Unidade de internação provisória para 60

(sessenta) adolescentes do sexo masculino, na faixa etária de 16 e 17 anos. O tempo

de permanência máxima é de 45 dias, período no qual deverá haver a conclusão do

processo para apuração do ato infracional pelo Juizado da Infância e da Juventude.

• Centro Educacional São Francisco (CESF) – Mais uma unidade de internação

provisória para 60 (sessenta) adolescentes do sexo masculino, na faixa etária de 16 e

17 anos. O tempo de permanência máxima é de 45 dias, período no qual deverá

haver a conclusão do processo para apuração do ato infracional pelo Juizado da

Infância e da Juventude. Esta unidade foi criada em 1997, com a mesma finalidade

do CESM, diferenciando-se, pois foi inaugurada para atender os adolescentes

primários, de menor porte físico e atos infracionais de menor gravidade.

• Centro educacional Dom Bosco (CEDB) – Unidade de internação masculina com

capacidade para atender 60 (sessenta) adolescentes de 12 à 15 anos, envolvidos

com a prática de ato infracional de natureza grave, encaminhados por ordem judicial,

para cumprir medida socioeducativa de internação e internação- sanção.

Permanecem na unidade por no mínimo três meses e no máximo três anos.

• Centro Educacional Pativa do Assaré (CEPA) – Unidade de internação com

capacidade para atender 60 (sessenta) adolescentes do sexo masculino, na faixa

etária de 17 anos, autores de ato infracional de natureza grave, encaminhados por

ordem judicial para cumprir medida socioeducativa de internação e internação-

sanção. Permanecem na unidade por no mínimo três meses e no máximo três anos.

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• Centro Educacional Cardeal Aluisio Lorscheider (CECAL) – Unidade inaugurada em

2000 para internação masculina de jovens adultos de 18 à 21 anos, autores de ato

infracional de natureza grave, encaminhados por ordem judicial. A unidade tem

capacidade para 60 (sessenta) internos e desenvolve uma programação de

atividades lúdicas, culturais, esportivas e religiosas que visam apoiar e orientar o

jovem no seu processo de transição para o meio aberto.

• Centro de Semiliberdade Mártir Francisca (CSMF) – Unidade de Semiliberdade,

inaugurada em 2001, para adolescentes do sexo masculino na faixa etária de 12 à 21

anos. A grande maioria desta população encontra-se neste regime como progresão

de medida.

• Centro educacional Aldaci Barbosa Mota (CEABM) – è a única unidade destinada ao

atendimento de adolescentes do sexo feminino, autoras de ato infracional, na faixa

etária de 12 a 18 anos e até 21 anos, conforme exceção prevista no ECA, em regime

de internação provisória, semiliberdade e privação de liberdade encaminhadas por

ordem judicial.

Há também quatro unidades de atendimento regionalizadas, todas

inauguradas em 2002:

• Centro de Semiliberdade de Crateús

• Centro de Semiliberdade de Sobral

• Centro de Semiliberdade de Iguatu

• Centro de Semiliberdade de Juazeiro do Norte

Todas estas unidades são destinadas ao atendimento de 25 adolescentes

de ambos os sexos, na faixa etária de 12 á 18 anos e, excepcionalmente, até os 21

anos, autores de atos infracionais, procedentes dos municípios da região.

1.4- O lócus da pesquisa.

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De acordo com regimento interno do CESF, elaborado no ano de 2010, e

encontrado no próprio centro, a instituição foi inaugurada em 16 de dezembro de

1996. Este Centro Educacional tinha por objetivo atender adolescentes em conflito

com a lei que estavam cumprindo medida de internação provisória (Art. 108 do

ECA), que compreende a internação antes da sentença, podendo se estender até o

prazo máximo de quarenta e cinco dias, em que o juiz terá que julgá-los para

aplicação de alguma medida socioeducativa. Contudo, por causa da necessidade

das outras unidades de cumprimento de medidas socioeducativas, no que se refere

à superlotação, o CESF passou a receber também adolescentes sentenciados à

internação definitiva, Internação- Sanção, passando por algumas mudanças em seu

público- alvo. Entretanto, nos dias atuais, é destinado a atender o público

inicialmente proposto, adolescentes do sexo masculino, que cumprem medida de

internação provisória.

A instituição foi construída com capacidade para atender sessenta

adolescentes, mas devido à superlotação, o número de adolescentes internos,

normalmente, contabiliza o dobro de sua capacidade. Durante o período de janeiro a

maio de 2013, o Centro trabalhou com cerca de 120 a 150 adolescentes

mensalmente, sendo mais de 100% da sua capacidade.

As ações dos Centros Educacionais deve se nortear por três documentos:

Política Nacional de Assistência Social (PNAS), Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA) e Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE),

pois neles constam os objetivos e ações que precisam ser implementadas para um

acompanhamento eficaz dos adolescentes no processo de privação de liberdade.

O CESF é uma unidade de privação de liberdade atrelada à Proteção Social

Especial, que atualmente está sob responsabilidade do Programa de Proteção

Social e Medidas Socioeducativas da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento

Social. De acordo com a Política Nacional de Assistência Social a Proteção Social

Especial é:

[...] a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e

indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por

ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual,

uso de substancias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas,

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situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras (BRASIL, 2004,

p.31).

Este serviço oferece acompanhamento individual e apoio que assegure

“qualidade na atenção protetiva e efetividade na reinserção almejada” (PNAS, p.31,

2004). Os serviços de proteção especial podem ser de média complexidade e alta

complexidade.

Os serviços de média complexidade proporcionam atendimentos às famílias e

sujeitos que tem seus direitos violados, porém seus vínculos familiares e

comunitários não foram rompidos. Dessa forma, necessitam de uma estruturação

operacional especializada e individualizada, através de acompanhamentos

contínuos, nos seguintes serviços e medidas: serviços de orientação e apoio

sociofamiliar; plantão social e abordagem de rua; cuidado no domicílio; serviços de

habilitação e reabilitação na comunidade das pessoas com deficiência; medidas

socioeducativas em meio aberto- Prestação de Serviço à comunidade- PSC e

Liberdade Assistida- LA- (PNAS, 2004).

Os serviços relacionados à alta complexidade têm como objetivo a proteção

integral, conglomerando famílias e indivíduos com vínculos familiares rompidos, em

situação de ameaça e sem referência, necessitando afastar- se do convívio

sociofamiliar. De acordo com a Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, que

dispõe sobre a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, quatro serviços

compõem a PSE de Alta Complexidade: Serviço de Acolhimento Institucional (que

poderá ser desenvolvido nas modalidades de abrigo institucional, casa-lar, casa de

passagem ou residência inclusiva); Serviço de Acolhimento em República; Serviço

de Acolhimento em Família Acolhedora; Serviço de Proteção em situações de

Calamidade Pública e de Emergência; e Medidas Socioeducativas de privação de

liberdade -Semiliberdade, internação provisória, internação sanção e internação sem

prazo- (BRASIL, 2009).

Através da Coordenadoria de Proteção Social Especial da Secretaria do

Trabalho e Desenvolvimento Social, busca- se garantir o atendimento e a proteção

integral aos adolescentes em conflito com a lei, que se pauta pelo Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA) e pelo Sistema Nacional de Atendimento

socioeducativo (SINASE).

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O ECA dispõe dos procedimentos técnicos- operativos e jurídicos que

deverão ser aplicados a crianças e adolescentes, estabelecendo os direitos

fundamentais desse público e tendo como princípio primordial a prioridade absoluta.

Vale salientar que o Estatuto deixa evidente, em seus capítulos que se referem aos

atos infracionais, que os adolescentes autores de atos ilícitos possuem direitos

individuais e garantias processuais, entendendo esses atores como sujeitos em

desenvolvimento e que qualquer medida a ser aplicada deve considerar essa

peculiaridade bem como prezar por atitudes de caráter socioeducativo que

possibilitem ao adolescente um retorno ao convívio sócio- familiar.

O SINASE é um documento que foi aprovado em 2006 pelo Conselho

Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e constitui- se como

um guia de auxílio para a implementação de medidas socioeducativas, possuindo

um conjunto de regras, critérios e princípios, de caráter jurídico- pedagógico, que

prima por um processo educativo que oportunize aos adolescentes construções de

novas atitudes, valores e uma postura crítica e reflexiva diante de sua situação,

possibilitando que o mesmo elabore e construa um novo projeto de vida.

Os adolescentes são admitidos no CESF através de uma determinação

judicial, que de acordo com o ato infracional praticado os encaminha à internação

provisória (ECA Art. 108). Na ocasião de sua apreensão o adolescente é

encaminhado à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), para prestar

esclarecimentos, momento em que é ouvido pela autoridade judiciária que atua no

projeto Justiça Já, que tem como objetivo agilizar os processos pertinentes à criança

e ao adolescente no que se refere à garantia de seus direitos previstos no ECA, bem

como, a implantação de uma justiça imediata na simplificação de procedimentos

infracionais.

Após a implementação do “Projeto Justiça Já” no Ceará, foi criado uma vara

de execuções especializada nas medidas socioeducativas, 5ª Vara da Infância e da

Juventude, ficando responsável também por adolescentes oriundos de outras

comarcas. As demais Varas (1ª, 2ª, 3ª e 4ª) da Infância e da Juventude se

responsabilizam em apurar os procedimentos dos adolescentes em conflito com a lei

da comarca de Fortaleza- CE. Após a promulgação da sentença, os processos

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passam a adquirir o caráter de execução e são distribuídos para as varas

especializadas, citadas acima.

A internação provisória, período máximo de 45 dias, é determinada para que

aconteçam a investigação e a iniciação do processo, quando haverá audiências em

que os adolescentes deverão ser ouvidos, bem como as vítimas e testemunhas.

Durante todo o processo a família deverá estar presente e ciente do que acontecerá

com o adolescente, como também qual a medida socioeducativa ele deverá cumprir.

Quando o limite de 45 dias é extrapolado e não havendo a finalização do

processo, ou seja, o juiz não tenha ainda protelado a sentença, deve-se desligar o

adolescente do centro educacional e entregá-lo mediante termo de responsabilização

para os seus pais ou responsáveis, para que o adolescente aguarde a finalização do

processo em liberdade. Pois, segundo o ECA, “a internação, antes da sentença, pode

ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.” (Art. 108).

A equipe técnica é multidisciplinar, formada por assistentes sociais, psicóloga,

pedagoga, advogada, médico e dentista. O setor de Serviço Social e o de Psicologia

fazem atendimentos sistemáticos aos adolescentes e suas famílias, fazendo sempre

os encaminhamentos necessários. O setor Jurídico acompanha toda a parte dos

processos dos adolescentes, esclarecimentos jurídicos necessários aos internos e às

famílias como também fazem o acompanhamento desses jovens às audiências.

Quando a demanda é muito grande o setor de serviço social também colabora nas

demandas jurídicas. Já o setor Pedagógico encaminha os socioeducandos no

engajamento em salas de aula do EJA, correspondentes ao período em que eles se

encontravam na escola e também em oficinas profissionalizantes de Serigrafia,

Informática, Artes, Música e/ Bijuterias.

Quanto ao vínculo familiar, este é mantido através das visitas feitas por

familiares, sendo permitida a entrada apenas dos pais, irmãos maiores de 18 anos e

avós, que os visitam duas vezes por semana. Os dias são estabelecidos pelos

próprios visitantes. Outros parentes só podem visitar em caso de não haver nenhum

vínculo com pai e mãe ou no caso de serem falecidos. Já no caso de companheiras,

estas só visitam uma vez por semana e se houver filho registrado com o adolescente

ou se estiver comprovadamente grávida, através do exame de pré-natal. Caso

passem um período superior a quinze dias sem visitas, os internos têm direito a fazer

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uma ligação telefônica. Já os jovens cujas famílias residem no interior têm direito a

fazer uma vez por semana contato telefônico com sua parentela.

Na instituição, a rotatividade de adolescentes é intensa, e isso acaba por

dificultar na obtenção de um trabalho mais efetivo, pelo fato de ser uma unidade de

internação provisória, que os adolescentes permanecem apenas 45 dias. Porquanto,

o período da internação provisória, se comparado ao período que os adolescentes

permanecem nas unidades de medidas socioeducativas, é relativamente curto. Pois

todos os dias entram e saem adolescentes primários e reincidentes, de diferentes

localidades e pelo cometimento de diversos tipos de atos infracionais.

Com isso, há dificuldades na implementação de ações mais eficazes, o que

não têm permitido superar o estigma da predição de fracasso e aumento da

reincidência atribuído aos adolescentes autores de ato infracionais e ao próprio

sistema socioeducativo.

1.5- Cotidiano dos adolescentes no CESF.

A unidade é composta por uma equipe multidisciplinar que acompanha o

adolescente durante todo o período de internação provisória, composta por

advogados que presta atenção jurídica, psicólogos que realizam atividades e

encaminhamentos, pedagogos responsáveis por inscrever os adolescentes nas

atividades pedagógicas e oficinas profissionalizantes dentro da unidade, como

também assistentes sociais, responsáveis por realizar atendimentos sistemáticos

aos adolescentes e as famílias.

Ao ser encaminhado pelo Juizado da Infância e da Juventude e admitido na

unidade, os adolescentes são atendidos, primeiramente, pela direção e\ou pelo

coordenador de disciplina, função criada pela coordenação das Medidas

Socioeducativas da STDS, que tem por objetivo auxiliar a Direção dos Centros

Educacionais no que se refere aos problemas disciplinares dos adolescentes. Neste

atendimento são esclarecidas todas as normas da instituição, a dinâmica e o

cotidiano estabelecido pelo Centro. O adolescente é orientado sobre as regras de

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convivência com os instrutores educacionais, a equipe técnica, bem como com os

outros adolescentes. Neste instante também é informado o dormitório em que será

engajado. Esta decisão da Direção é estabelecida por meio dos critérios de

compleição física do adolescente, localidade em que reside e ato infracional

cometido.

Posteriormente, o adolescente é atendido pelo Setor Social, neste momento a

equipe preenche uma ficha sumária contendo seus dados telefônicos, para que o

mesmo possa manter contato com os familiares, e de identificação. Neste

atendimento é esclarecido ao adolescente os procedimentos referentes ao regime

de internação provisória, as audiências que deverá comparecer e as medidas

socioeducativas que o juiz pode aplicar para que este cumpra medida

socioeducativa correspondida ao ato infracional praticado.

No decorrer dos dias na unidade, o adolescente é atendido pela equipe do

Serviço Social, para que seja realizado um atendimento mais aprofundado sobre a

sua situação sociofamiliar. Neste atendimento, o adolescente costuma expor um

pouco acerca de sua infração, seu relacionamento com os familiares, com a

comunidade, seus envolvimentos em outras situações de risco e uso de substâncias

psicoativas. Através das demandas sociais requerentes, como a tentativa de

localizar os familiares dos adolescentes, quando estes não têm o contato telefônico

dos pais, transferência para outros Centros Educacionais ou para abrigos e

instituições de acolhimento, quando verificado que o adolescente estava em

situação de rua antes de ser apreendido, encaminhamento para unidades de

tratamento, que acolhem adolescentes que fazem uso de substâncias psicoativas, a

equipe pode tomar as providências cabíveis e apresentá-las ao juiz da vara que está

responsável pelo processo do adolescente, através de um relatório feito por uma

equipe multidisciplinar (Assistente Social, Pedagoga e Psicóloga),caso necessário,

solicitado ou determinado.

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1.6- Perfil dos adolescentes entrevistados

O critério utilizado para escolher os adolescentes entrevistados se deu a partir

da reincidência do ato infracional tipificado como roubo, por adolescentes de 16 e 17

anos, que estão em cumprimento de regime de internação provisória no Centro

Educacional São Francisco. Com o objetivo de organizar melhor as informações, foi

feita a consideração do perfil socioeconômico dos adolescentes. A pesquisa foi

realizada na segunda quinzena de novembro e primeira quinzena de dezembro do

ano de 2013.

Entretanto, os nomes para identificar as falas dos adolescentes serão fictícios,

com o intuito de resguardar a imagem dos adolescentes que compartilharam de

suas experiências vividas, respeitando assim, o sigilo de suas identidades. Desta

forma, apresento- lhes os interlocutores da pesquisa que participaram das

entrevistas.

Ivo, 17 anos, negro, da comarca de Horizonte, reincidente, cessou as atividades

escolares no sexto ano, nível fundamental II, nunca trabalhou, é filho de pais

separados, seu genitor mora em Quixeramobim, o adolescente reside com a

genitora e dois irmãos, não possuem casa própria, são contemplados com o

programa Bolsa Família, não recebe pensão do genitor, a renda familiar é

proveniente da atividade laboral de sua mãe e seu irmão, que é de

aproximadamente dois salários mínimos. Alega ter iniciado o envolvimento com atos

infracionais a partir dos 16 anos de idade, após a morte de seu irmão, que foi a óbito

por causa do envolvimento com o tráfico ilícito de drogas. O adolescente em

epígrafe já esteve no CESF por quatro vezes no ano de 2013, uma vez por tentativa

de homicídio, tentativa de latrocínio e duas vezes por roubo. Verbaliza fazer uso de

maconha há aproximadamente um ano, faz parte de uma gangue chamada

“condomínio” e relata ter reincidido no roubo para suprir o vício pelo uso do

psicotrópico, para comprar roupas, equipamentos eletrônicos e alimentação para

seus familiares. Quanto ao cotidiano da unidade, descreve como positivo e alega

que sua apreensão foi justa, pois não considera errado ser punido pelo ato

cometido. Diz que pretende, ao sair da unidade, voltar a estudar.

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Anderson, 16 anos, da comarca de Canindé, negro, reincidente, cessou as

atividades escolares no primeiro ano, nível fundamental I, para ir trabalhar com o

avô no roçado, de acordo com suas palavras, “sem ganhar nada” (SIC), é filho de

pais separados, o pai mora em Fortaleza, afirma ter uma boa relação com o mesmo,

mas não se comunicam com frequência porque o adolescente não tem um bom

relacionamento com a madrasta. Reside com sua genitora, seu padrasto e três

irmãos, em uma residência alugada, os familiares são contemplados com o

Programa Bolsa Família, o adolescente não recebe pensão do seu genitor, a renda

familiar é provida por sua mãe, que exerce sua atividade laboral no mercado

informal de trabalho, e por seu padrasto, que trabalha como pedreiro, que é de

aproximadamente dois salários mínimos. Afirma ter iniciado o envolvimento com atos

ilícitos com 13 anos de idade, por causa da influência dos amigos da comunidade.

Já esteve no CESF por três vezes por causa do ato infracional tipificado como

roubo, cumpriu medida socioeducativa de internação – sanção no CEDB, durante

três meses, alega fumar maconha desde os doze anos de idade, por isso reincide no

ato infracional para suprir o vício. Relata ter vontade de ajudar o padrasto na sua

atividade laboral ao sair do Centro Educacional.

Benildo, 17 anos, da comarca de Fortaleza, negro, reincidente, cessou as

atividades escolares no oitavo ano, ensino fundamental II, já trabalhou como

montador de circo, ajudante de pedreiro e ajudante de pintor, é filho de pais

separados, mantém um bom relacionamento com o genitor, tem nove irmãos, reside

com sua genitora e mais cinco irmãos, todos menores de idade, em uma casa. A

renda familiar é proveniente da pensão que recebe de seu pai, no valor de cem

reais, do Programa Bolsa Família, e da atividade de sua mãe no mercado informal

de trabalho, que corresponde há aproximadamente um salário mínimo. No que se

refere ao seu envolvimento com atos infracionais, afirma ter iniciado com 16 anos,

para sustentar o vício por substâncias psicoativas, pois o adolescente relata usar

maconha desde os dez anos de idade, e para comprar alimentos para a sua

residência, que por sua vez, possui apenas dois cômodos. Já esteve no CESF por

três vezes por causa do ato infracional tipificado como roubo e antes de terminar de

cumprir a medida socioeducativa de LA foi apreendido pela terceira vez. Quanto ao

cotidiano da unidade, afirma ser positivo, e diz que tem como perspectiva para o

futuro ser jogador de futebol.

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Luciano, 16 anos, da comarca de Fortaleza, branco, reincidente, cessou as

atividades escolares no sétimo ano, ensino fundamental II, nunca trabalhou.

Residecom seus genitores em uma casa própria, mais duas irmãs e com uma tia

materna. A renda familiar é proveniente das atividades laborais que sua genitora

exerce no mercado formal de trabalho, como advogada, do seu genitor, que trabalha

na vigilância de um condomínio, e pela aposentadoria de sua tia, o que soma,

aproximadamente, cinco salários mínimos. Em relação ao seu envolvimento com

condutas ilícitas, afirma ter cometido o primeiro ato infracional com quinze anos de

idade, já esteve no CESF por duas vezes, por roubo, e alega ter iniciado o

envolvimento com o ato infracional por ter uma relação com o pai permeada por

conflitos, pelo fato de o genitor ter abandonado a família durante um ano. Afirma,

também, que rouba para comprar drogas, pois usa cocaína há dois anos. Quanto ao

cotidiano da unidade, afirma ser negativo, pois profere já ter sido agredido por um

socioeducador. Verbaliza que ao sair do Centro Educacional pretende fazer um

curso profissionalizante, não reincidir no roubo e findar o uso de psicotrópicos.

Breno, 16 anos, da comarca de Fortaleza, negro, reincidente, findou as atividades

escolares no oitavo ano, ensino fundamental II, já trabalhou com o avô em uma

oficina de trator. Reside com seu genitor e seus avós paternos, não possuem casa

própria e afirma não conhecer sua genitora. Esta foi morar em outro Estado após o

nascimento do adolescente. A renda familiar é de dois salários mínimos, provida por

seu pai, que trabalha em uma fábrica e por seu avô, que possui uma oficina, como

mencionado acima. No tocante ao seu envolvimento com ato infracional, o

adolescente já foi encaminhado ao CESF por três vezes, uma vez por porte ilegal de

arma de fogo e duas vezes por roubo, também já cumpriu medida socioeducativa de

internação - sanção durante três meses, no CEDB. Alega que rouba para comprar

roupas, ir ao shopping, frequentar festas, tendo em vista que, segundo ele, sua

família não tem condições de lhe proporcionar estes momentos de lazer. Afirma que

outro motivo que lhe influencia a roubar é o uso de drogas, já que expõe usar rivotril

há um ano. Quanto ao cotidiano da unidade relata ser positivo, mas diz que sua

apreensão foi injusta, e que não devia estar naquela unidade apenas pelo fato de ter

cometido um “simples roubo” (SIC). Relata que pretende retomar os estudos e voltar

trabalhar com o avô, após sair do Centro Educacional.

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Railson, 16 anos, da comarca de Fortaleza, pardo, reincidente, parou de estudar no

sétimo ano, ensino fundamental II, já trabalhou em um lava- jato durante quatro

meses, para obter uma renda semanal de R$100,00, trabalhando de oito horas da

manhã até às seis horas da noite. Reside com seus pais e com um irmão, em um

domicílio alugado. A renda familiar é de, aproximadamente, um salário mínimo,

provida pela atividade que sua genitora exerce no mercado informal de trabalho. O

adolescente em alusão já esteve no CESF três vezes, por ter cometido o ato

infracional tipificado como roubo, e alega reincidir neste ato infracional por precisar

de dinheiro para comprar seus bens pessoais, como roupas, sapatos, celular e para

prover o uso de substâncias psicoativas. Railson usa maconha desde os onze anos

de idade. Verbaliza não se arrepender de ter cometido a conduta ilícita, pois afirma

que é curto o tempo em que fica na “engorda” (SIC), pois é assim que o adolescente

se refere, ao mencionar o Centro Educacional. Relata como positivo o cotidiano da

unidade, e afirma que não pretende voltar a estudar após findar o seu regime de

internação provisória.

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2- CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS INERENTES À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE:

2.1- Adolescência e período de transição: período peculiar de desenvolvimento.

A palavra adolescência vem do latim “adolescer”, tem como significado

desenvolver- se, tornar-se maior, crescer e por fim, atingir a maioridade. (TIBA,

1996). O novo dicionário Aurélio, da língua portuguesa, diz que o adolescente é

aquele que “está no começo, que ainda não atingiu todo o vigor.”(Ferreira, 1975,

P.39)

O adolescente de acordo com o ECA é o indivíduo que tem entre 12 e 18

anos incompletos de idade, mas em casos expressos em lei, este estatuto aplica-

se, em casos extremos e excepcionais, às pessoas entre dezoito e vinte e um anos

de idade, no caso de prolongamento da medida de internação até os 21 anos e

quando verificada a necessidade da assistência judicial para os maiores de 16 e

menores de 21 anos, previstos nos artigos 121 e 142 do ECA. O Estatuto reconhece

que o adolescente necessita de proteção e cuidados especiais, em virtude da sua

ausência de maturidade, corroborando, desta forma, para o harmonioso

desenvolvimento de sua personalidade, inclusive a devida proteção legal, antes e

após seu nascimento, que se materializa através do ECA.

O ordenamento jurídico brasileiro estabelece o Estatuto da criança e do

adolescente, que objetiva a proteção integral da criança e do adolescente e se

configura como marco regulatório de seus direitos e preconiza que:

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze

anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre doze e dezoito

anos de idade.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais

inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata

esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as

oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,

mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

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Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de

negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,

punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus

direitos fundamentais.

Calligaris (2000) define a adolescência como um fenômeno

contemporâneo, caracterizado pela instauração de uma moratória. O adolescente é

definido como alguém que teve tempo de assimilar os valores mais banais e mais

bem compartilhados na comunidade, cujo corpo chegou à maturação necessária

para que ele possa efetiva e eficazmente se consagrar as tarefas que lhe são

indicadas por esses valores, competindo de igual para igual com todo mundo, mas

para quem nesse exato momento a comunidade impõe uma moratória: um

adiamento de seu reconhecimento como adulto. Ou seja, para Calligaris a

adolescência como moratória significa que:

Uma vez transmitidos os valores sociais mais básicos, há um tempo de

suspensão entre a chegada à maturação dos corpos e a autorização de

realizar os ditos valores. Essa autorização é postergada. E o tempo de

suspensão é a adolescência. (CALLIGARIS, 2000:16)

Sendo assim, de acordo com Calligaris (2000), os adolescentes ficam

cheios de incertezas, indefinições sobre o seu próprio lugar como sujeitos, que

dependendo das circunstâncias, a família, as instituições e a sociedade ora os

reconhecem como responsáveis e suficientemente maduros quando se trata das

obrigações, ora tratam como crianças, quando se tratam dos direitos e autonomia.

Ainda citando Calligaris (2000) o adolescente caracteriza-se como:

Um sujeito capaz, instruído e treinado por mil caminhos – pelaescola, pelos

pais, pela mídia – para adotar os ideais de comunidade. Ele se torna um

adolescente quando, apesar de seu corpo e seu espírito estarem prontos

para a competição, não é reconhecido como adulto. (CALLIGARIS, 2000:18)

A adolescência, portanto, é o período de busca da autonomia e

reconhecimento social no mundo dos adultos. Nessa busca de reconhecimento,

pertencer a um grupo ajuda o adolescente a encontrar sua identidade dentro de um

contexto social, ou seja,

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O grupo funciona como estratégia de reconhecimento dos traços

identificatórios, através da pertinência extra-familiar, uma vez que: os

adolescentes se tornam gregários porque lhes é negado o reconhecimento

dos adultos. Por isso, inventam grupos em que possam encontrar e trocar o

que os adultos recusaram ou pediram que fosse deixado para mais tarde

(CALLIGARIS, 2000:37).

A passagem para fase adulta é um período peculiar de desenvolvimento, e

por isso o ECA preconiza que os direitos das crianças e dos adolescentes devem

ser garantidos com absoluta prioridade, de acordo com seus artigos, que dizem:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do

poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos

referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,

à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à

convivência familiar e comunitária.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de

negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,

punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus

direitos fundamentais.

Pertencer a um grupo ajuda o adolescente a encontrar sua identidade dentro

de um contexto social, de acordo com Ferraris “durante os anos em que a identidade

individual é incerta, o grupo dos amigos – mas também a gangue, ou a seita

religiosa – pode fornecer uma identidade mais estruturada e tranquilizante (...).”

(Ferraris, 2005, p. 54).

A adolescência é uma importante etapa de desenvolvimento do ser humano,

onde ocorrem as maiores modificações do processo vital, resultante de fatores

socioculturais. Neste sentido, a família tem papel de grande importância no processo

de socialização e maturação desta categoria, segundo Violante:

A família nuclear é o primeiro agente socializador da criança, constituindo o

primeiro e um dos mais importantes pontos de referência que servem para

localizar e nortear o indivíduo no mundo, sob o ponto de vista cognitivo e

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afetivo. Cabe a este grupo social fazer a mediação entre a realidade social

mais ampla e o indivíduo. (VIOLANTE, 1983:45)

Portanto, a família é a rede de socialização primária da criança e do

adolescente, devendo ser dadas a ela condições de cuidar e educar seus filhos em

todos os aspectos da vida social. Daí a importância de se implantar Políticas Sociais

para trabalhar junto às famílias, onde acontece o processo de socialização dos

adolescentes, ou seja, a estruturação da vida subjetiva (Violante, 1983). Desta forma,

a maneira como os jovens desenvolvem suas relações cotidianas dependem de

como foi elaborado todo esse processo de crescimento e desenvolvimento, e

também dos aspectos culturais, ambientais, econômicos e sócios- familiares.

Para Becker (1994), a adolescência é estar em uma fase conflituosa de

mudança de identidade e da personalidade, sendo o adolescente encarado pelos

adultos como um ser em desenvolvimento e conflito. Fase ocorrida depois da

infância vista como uma pedra no caminho para a entrada na vida social, havendo

uma separação devido a pressa em chegar à vida adulta.

Sendo assim, a adolescência é um processo em que o ser humano passa por

um desenvolvimento, uma fase de suma importância na vida de qualquer indivíduo,

em que ocorrem mudanças biológicas e psicológicas para formação da identidade,

relacionando-se também com fatores socioeconômico, histórico e cultural. É um

processo de transformação e crescimento que leva o jovem a chegar até a

maioridade, tornando- se adulto, ou seja, a adolescência sucede na passagem da

fase da criança para a fase adulta, sendo o momento em que a pessoa sofre

modificações no comportamento, apresentando muitas vezes, expressões de

dúvidas, rebeldia e curiosidades.

De acordo com Brêtas (2008), o processo da adolescência é tratado como um

período da vida de diversas mudanças e transformações vivenciadas pelos

adolescentes nesta fase peculiar de desenvolvimento. O adolescente vivencia uma

nova fase na sua vida, que o leva a definir qual será o seu papel dentro da

sociedade em que está inserido, em que surgirão novas relações interpessoais que

poderão se estabelecer através da interação no interior de um grupo de semelhantes

ou iguais. Portanto, podemos afirmar que o adolescente é aquele indivíduo que está

em transformação, ou seja, passou da fase infantil para a adolescente, e prepara- se

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para a fase adulta, de amadurecimento, de aumento de responsabilidades e

desafios (Gorges, 2008).

Paladino (2005) percebe que esta fase de crescimento não se restringe

somente as mudanças corporais, oriundas do processo biológico, mas sim a um

crescimento interior, a um desenvolvimento psíquico, a uma construção da

personalidade e da identidade.

A identidade é, então, algo formado ao longo do tempo por intermédio de processos

inconscientes, e não algo inato, existentes na consciência no momento do

nascimento. […] Ela permanece sempre incompleta, sendo sempre formada. O

processo de identificação seria este processo, eternamente em andamento

(PALADINO, 2005, p. 35).

Sendo a adolescência caracterizada por sentimentos diversos, ao qual não

podemos descrever e explicar, os desejos e as ações dos adolescentes são

imprescindíveis e dinâmicos, em que o bom de hoje pode ser o ruim de amanhã. Em

meio a essa diversidade de sentimentos, o adolescente vai criando a sua própria

identidade e o seu próprio mundo, sobre o qual esclarece Aberastury (1992),

afirmando que a estabilização da personalidade não ocorre sem que o sujeito passe

por certo grau de conduta patológica, que é extremamente normal nessa etapa da

vida, de acordo com a análise psicológica, mas reconhecendo que existem outros

fatores, como por exemplo, fatores sociais e biológicos, que incidem na conduta

específica de cada adolescente.

No que se refere aos aspectos sociais, podemos citar que a vivência da

adolescência para uma pessoa de classe média- alta é diferente daquela de uma

pessoa pobre, se considerarmos os fatores externos que propiciam o acesso a uma

melhor qualidade de vida. A primeira tem acesso à educação, à cultura, aos meios

de saúde, etc e a segunda tem o acesso aos seus direitos por muitas vezes negados

e violados. É “a lógica da exclusão das camadas inferiores da nossa ordem

econômica, política e cultural em todos os níveis” (Luz, 1993).

Nesta perspectiva, Amparo (2010) explica que as comunidades marcadas por

altos índices de desemprego e pobreza estão vulneráveis as desestabilizações

psicológicas que atingem não somente aos adultos e sim aos demais integrantes da

família como os adolescentes e as crianças.

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Assim, os adolescentes dessas famílias demonstram, às vezes com atos

violentos, sua insatisfação e sua falta de credibilidade no pacto social, o que os

levam a comportamentos que seriam vistos como desamparo e sofrimento pela

ausência da perspectiva inserção social (Amparo, 2010).

2.2: Código de menores: Doutrina da situação irregular.

Historicamente, a adolescência começou a ser diferenciada das outras faixas

etárias no período da Revolução Industrial, pois antes crianças e adolescentes eram

vistos como adultos pequenos e não tinham diferenciação alguma e nenhuma lei

que garantisse seus direitos ou que os diferenciasse dos adultos (Santos and Silva,

2011).

Inicialmente, era a Igreja que se incumbia de oferecer assistência a infância e

adolescência abandonada e pobre, através de algumas instituições, entre elas as

santas casas de misericórdia, que desenvolviam atos voltados aos enfermos, órfãos

e pessoas em situação de vulnerabilidade . Quando o Brasil ainda era colônia de

Portugal, o império português designou à irmandade da misericórdia esta

responsabilidade, que instalou no País a roda dos expostos (Santos and Silva, 2011).

No ano de 1896, a roda, sistema usado pelos conventos da época para o

recebimento de donativos, também conhecida como a “roda dos expostos” ou a

“roda dos enjeitados” consistia num mecanismo utilizado para abandonar recém-

nascidos que ficavam aos cuidados de instituições de caridade. Este mecanismo

tratava- se de uma forma de deixar crianças sem que os pais fossem descobertos.

Era um tambor embutido numa parede, que foi construído de tal forma que aquele

que expunha a criança não era visto por aqueles que a recebiam(Santos and Silva,

2011).

A Roda dos Expostos tinha o objetivo de amparar as crianças e recolher

donativos, como também atendia àquelas famílias oriundas de famílias

ricas, que precisavam esconder os filhos nascidos fora do casamento, ou

seja, vítimas do abandono moral (CONANDA, 2001-2005 p.16).

A partir do final da década de 1920, no Brasil há uma intervenção diferenciada

por parte do Estado em relação à infância pobre, quando esta se torna uma

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preocupação pública. Deu-se então a criação do Código de Menores em 1927 e do

Serviço de Assistência ao Menor (SAM) em 1941, e com isso a sociedade civil e o

Estado reconhecem a “problemática do menor” como um problema social (Santos

and Silva, 2011).

O que veio a consolidar toda uma legislação sobre crianças, até então

originária de Portugal, do Império e da República, foi o Código de Menores,

em 1927. Este código consagrou o sistema de atendimento à criança

atuando especificamente sobre os chamados efeitos da ausência, atribuindo

ao Estado a tutela sobre o órfão, o abandonado e aqueles cujos pais

fossem tidos como ausentes, tornando disponíveis seus direitos de pátrio

poder. (Espíndulaand Santos, 2004, p.359).

O objetivo do SAM era de proporcionar em todo território nacional, uma

assistência social, sob qualquer forma, aos menores carentes e infratores da lei

penal (MPAS/FUNABEM, 1984). Os objetivos dessa instituição não se

materializaram por falta de investimento financeiro e por uma pedagogia repressiva

de coerção, disciplina e maus tratos (Santos and Silva, 2011).

O Código de Menores de 1927 tinha como intuito tutelar sob responsabilidade

do Estado, crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, em situação de desamparo,

quando não tivessem residência fixa, seus pais fossem falecidos ou declarados

inábeis, estivessem presos há mais de dois anos, fossem mendigos ou exercessem

trabalhos proibidos. O Código considerou os menores de sete anos como expostos e

os menores de 18 como abandonados. Assim, as crianças em situação de rua

passaram a ser chamados de vadios, aqueles que pediam esmolas ou vendiam

objetos pelas ruas eram mendigos e aqueles que frequentavam casas de

prostituição, libertinos (Espíndulaand Santos, 2004).

O código de menores não era para todas as crianças e adolescentes,

apenas para aquelas consideradas em situação irregular, que se

encontravam abandonadas ou consideradas delinquentes, conforme definia

em seu artigo 1º, a quem se destina a lei: “O menor, de um ou outro sexo,

abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade, será

submetido pela autoridade competente às medidas de assistência e

proteção contidas neste Código”. (Santos and Silva, 2011, 361).

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O artigo 68 do Código ocupou-se em denominar e tratar o menor como

“delinquente”; distinguiu os menores de 14 anos daqueles com idades entre 14

completos e 18 incompletos, confirmando a aptidão do juiz para determinar todos os

processos em relação a eles e a seus pais. Instituiu também a obrigatoriedade da

dissociação dos “menores delinquentes” dos adultos que eram condenados.

(Espíndulaand Santos, 2004).

Em 1940 foi proclamado o Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei n.º 2.848/40),

aplicando a inimputabilidade criminosa do menor de 18 anos, regulamentada em

seguida pelo Decreto-Lei n.º 3.914/41, que estar em vigor até os dias atuais. Para os

infratores que fossem maiores de 16 anos, designou-se a probabilidade de liberdade

vigiada, na qual a família ou os tutores seriam responsáveis pela sua regeneração,

sendo obrigados a reparar os danos causados e apresentarem mensalmente o

menor em juízo. O Código de Menores estendeu o domínio do juiz sobre os

adolescentes/jovens de 18 a 21 (termo ainda utilizado peloECA) outorgando- lhes

atenuante frente ao Código Penal, mas determinando seu recolhimento em lugares

carcerários pelo prazo de um a cinco anos(Espíndulaand Santos 2004).

A mudança do código de 1927 para o de 1979 deu-se através da criação da

Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM). As Fundações Estaduais

de Bem-Estar do Menor - FEBEMs e a FUNABEM foram instituídas com a finalidade

de terem autonomia financeira e administrativa, acionando todos os arcabouços do

Serviço de Assistência ao Menor dos estados, incluindo o atendimento aos carentes,

desamparados e infratores. Estas instituições foram criadas durante a reforma que

ocorreu no período da ditadura militar de 1964, o que fez com que a política de plano

nacional de atendimento ao “menor”, passasse a ser abordado a partir da esfera da

doutrina de segurança nacional. Por meio desta percepção que o menor de 18 anos

de idade voltou a se destacar, passando a ser tratado como um problema de cunho

estratégico, saiu do âmbito da jurisdição do poder judiciário para o executivo. Dessa

forma, o Brasil adotou um sistema de internação de carentes e desamparados até os

18 anos. (Espíndulaand Santos, 2004).

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2.3- Estatuto da Criança e do Adolescente: uma luta implementada à

doutrina da proteção integral.

Depois de vários estudos sobre esta categoria e da promulgação da

Constituição de 1988, deu-se uma nova concepção da infância onde se defendia a

proteção e os direitos. Com isso, deu-se a passagem da situação irregular para a

proteção integral com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990.

O referido estatuto veio substituir o antigo Código de Menores, que tinha uma

visão classista, e era voltado apenas para crianças e adolescentes das classes mais

carentes, aplicados métodos punitivos e repressivos.

A partir da promulgação do ECA, em 13 de julho de 1990, foi inaugurada a

concepção de proteção integral a todas as crianças e adolescentes. A partir daí,

passam a ser consideradas seres humanos em condição peculiar de

desenvolvimento, sujeitos de direitos, que devem ter e ser prioridade absoluta da

família, da sociedade e do Estado.

O sistema de garantias de direitos previstos pelo ECA compreende: a política

de atendimento, controle e vigilância, defesa e responsabilização. Em relação as

políticas sociais básicas, o estatuto preconiza no que tange a saúde e o direito de

proteção à vida, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, ao respeito, à

liberdade, à convivência familiar e comunitária, mediante a efetivação de políticas

sociais públicas que permitam o desenvolvimento sadio e harmonioso em condições

dignas de existência. Vale lembrar que a família é a primeira rede de socialização da

criança e do adolescente, devendo esta, receber e ter garantida as condições

adequadas para educar e cuidar de seus filhos em todos os aspectos da vida social.

Após a criação do ECA se dá uma nova fase, na qual a adolescência vem

sendo trabalhada e discutida como categoria de grande importância, bem como no

tratamento de adolescentes autores de atos infracionais.

Há uma mudança de perspectiva no que concerne à adolescência em conflito

com a lei, a partir da ótica da Doutrina de Proteção Integral defendida pelo ECA, o

que exigiu um reordenamento de todo o complexo institucional criado para atender

os adolescentes que cometeram ato infracional, no sentido de assegurar o caráter

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sócioeducativo e não tutelar/punitivo das intervenções institucionais, culminando

com o movimento pela extinção das FEBEMs.

Dentre as principais mudanças podemos destacar: repudia-se o termo “menor”

de caráter estigmatizante e discriminador; ampliam-se a concepção de infância e

adolescência entendendo-os como cidadãos, sujeitos de direitos, que precisam ser

considerados como pessoas em desenvolvimento e tratados com prioridade

absoluta; caracteriza também, no atendimento à adolescentes em conflito com a lei,

a ideia de responsabilização; as medidas socioeducativas surgem após a criação do

Estatuto da Criança e do Adolescente e somente os adolescentes entre 12 e 18

anos de idade são responsabilizados através do cumprimento de medidas

socioeducativas pela prática de atos infracionais.

Com a concepção assumida pelo ECA de que crianças e adolescentes são

sujeitos de direitos e merecedores de cuidados especiais e prioritários,

redirecionaram-se as atribuições do Estado e o papel das famílias e da sociedade

em relação a eles. Neste novo contexto o adolescente é responsabilizado por suas

ações. No entanto, ao invés de cumprirem penas como os adultos, ao cometerem

um ato infracional os adolescentes infratores, cumprem medidas socioeducadivas

determinadas pelo Juiz da Infância e da Juventude. Estas medidas têm por objetivo

não de punição e sim de reinserção social, de fortalecimento dos vínculos familiares

e comunitários. Essas medidas devem ser aplicadas de acordo com a gravidade do

ato e do contexto inserido.

A aplicação da medida deve buscar uma maior individualização, no sentido de

sua adequação à história de cada adolescente em particular, ao invés de adequar-se

apenas à infração cometida. Visa-se uma ação pedagógica sistematizada, mesmo

quando se trata da medida de privação de liberdade.

2.3.1- Sobre as medidas socioeducativas,

A partir da instauração do ECA criou-se as medidas socioeducativas para a

responsabilização dos adolescentes em face de uma transgressão cometida. O

Estatuto esclarece que os adolescentes são inimputáveis pela sua condição peculiar

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de desenvolvimento, mas que são responsabilizados penalmente, cumprindo medidas

socioeducativas.

Estas medidas serão aplicadas de acordo com a gravidade, circunstância e

repercussão social do ato praticado tendo sido assegurado, durante o processo, o

direito a defesa, levando em consideração o adolescente como um ser

emdesenvolvimento, assim como o caráter de brevidade e excepcionalidade das

medidas. Portanto, devem compreender ações de natureza pedagógica e inclusiva.

Em Lei, estas medidas estão explicitadas no artigo 112 do Estatuto da Criança

e do Adolescente (1990), e ainda completa:

“§ 1° - A medida aplicada ao adolescente levará em conta sua capacidade de

cumpri-las, as circunstâncias e a gravidade da infração. § 2° - Em hipótese

alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado. §

3° - Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão

tratamento individual e especializado, em local adequado as suas condições.”

As medidas socioeducativas são divididas em: as cumpridas em meio aberto

(advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço a comunidade e

liberdade assistida), e em meio fechado (semiliberdade e internação), ou qualquer

uma das previstas no art. 101. I a VI, que são:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

• Advertência

A medida socioeducativa “Advertência” consiste na admoestação verbal, sendo

o adolescente entregue à responsabilidade dos pais ou responsáveis, que devem

assinar um termo de compromisso perante um juiz. É a primeira das medidas

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aplicadas ao infrator em práticas de pequena gravidade: pequenos furtos, vadiagem,

agressões leves etc.

Embora nem sempre sejam alcançadas respostas positivas, essa medida

torna-se importante quanto a suas possibilidades de eficácia porque demonstra

credibilidade na capacidade de reeducação do adolescente infrator em seu próprio

meio de convívio social e familiar.

• Obrigação de reparar o dano

Conforme o art. 116 do ECA, esta medida deve ser aplicada quando o ato

infracional provocar algum tipo de dano ao patrimônio, no qual o Juiz poderá

determinar que o adolescente restitua ou compense o prejuízo ocasionado à vítima,

pelo ato ilícito cometido.

Tal medida tem como finalidade demonstrar, na prática, as consequências da

infração cometida, e possibilitar a reeducação por meio da reparação do dano.

• Prestação de Serviços a Comunidade

A prestação de serviços a comunidade consiste na realização de tarefas

gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, com jornada de

oito horas semanais, junto a entidades assistenciais, hospitais , escolas e outros

estabelecimentos congêneres, bem como programas comunitários ou

governamentais (Art. 117, ECA). Na sua aplicação, devem ser levadas em

consideração a habilidade prática e a tendência dos adolescentes em relação à

realização de algumas tarefas.

• Liberdade Assistida

A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais

adequada para fim de acompanhar, auxiliar e a orientar o adolescente (art. 118, ECA).

Nessa medida o adolescente será acompanhado por uma equipe multidisciplinar que

dentre outras coisas supervisionará a frequência escolar e o comparecimento

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sistemático ao programa, além de direcionar o mesmo a profissionalização, visando à

inserção no mercado de trabalho.

• Semiliberdade

Esta medida pode ser determinada desde o início ou como forma de transição

para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas,

independentemente de autorização judicial (art. 120, ECA). O regime de

Semiliberdade é uma medida restritiva de liberdade, devendo ser cumprida numa

instituição exclusiva onde os adolescentes devem ter garantido a escolarização e a

profissionalização, e sempre que possível devem ser utilizados os recursos

comunitários. Possibilita, no entanto, que o jovem trabalhe e/ou estude durante o dia,

retornando à noite para a instituição de cumprimento da medida. Esta não comporta

prazo determinado.

• Internação

Esta medida está disposta no Art. 121 do ECA, ela constitui uma medida

privativa de liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e

respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Só poderá ser aplicada quando tratar-se de ato infracional cometido sobre

grave ameaça ou violência à pessoa, por reiteração no cometimento de outras

infrações graves, por descumprimento reiterado e injustificável da medida

anteriormente imposta (Art.122, ECA). A internação só deverá ser aplicada em último

caso, quando não houver outra medida mais adequada.

É importante salientar que deve ser cumprida em estabelecimento exclusivo

para adolescentes com separação rigorosa por idade, porte físico e gravidade da

infração, respeitando os preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente,

objetivando a sua ressocialização na sociedade.

A internação tem motivado grandes embates quanto a sua eficácia e constitui

problema a ser enfrentado pela sociedade e pelo Poder Público ao se questionar o

real sentido desta medida. É mister dizer que como discurso, as ações estejam

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atreladas ao estabelecimento de vínculos familiares, reingresso escolar, como

também inserção em cursos visando a profissionalização.

Segundo Constantino (2000, p.28), “a instituição pretende ajustar o indivíduo

à sociedade, mas acaba produzindo o efeito contrário, o de reafirmação de sua

marginalidade”. O mesmo pode ser visto em outros pensadores onde a ineficácia

institucional acaba se transformando em reprodutora de crimes e delitos.

Por maiores que tenham sido os avanços no que concerne ao atendimento de

adolescentes em conflito com a lei, ainda há um grande caminho a ser percorrido.

Observa-se que ainda é muito grande o número de adolescentes que reincidem,

comprometendo ainda mais as pequenas possibilidade de reinserção. (Constantino,

2008.

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3-PRINCIPAIS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL QUE REPERCUTEM

SOBRE A REINCIDÊNCIA DE ATOS INFRACIONAIS POR ADOLESCENTES EM

REGIME DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA NO CESF.

3.1- Configurações da Questão Social: Breve análise histórica.

“A questão social expressa as desigualdades econômicas, políticas e culturais

das classes sociais” (Iamamoto, 2004). A questão social aparece no seio da

sociedade capitalista, que se mediatiza através das relações de acumulação e

dominação de uma classe sobre outra, nas relações entre capital e trabalho,

expressando a lei da acumulação do capital.

Há uma consonância entre os autores em volta da expressão questão social e

de sua gênese histórica, que se configura como uma expressão de uma nova

dinâmica do pauperismo. Há uma conformidade de que ela é posta para sociedade a

partir da ameaça que a classe operária passou a representar para a manutenção da

ordem social burguesa (Nascimento, 2004).

Com a acentuação da pobreza na sociedade capitalista, o fenômeno da

questão social tem uma expressão mais aprofundada e caráter de divisão de classe.

De acordo com Iamamoto (2004), a questão social é indissociável da forma de

organização da sociedade capitalista, e diz respeito ao conjunto de expressões das

desigualdades sociais nela engendradas, passando a exigir a intermediação do

Estado.

A questão social vem sendo discutida por diversos autores que concordam e

discordam entre si sobre os seus atuais fundamentos. Iamamoto (2003, 2004), Paulo

Netto (2001), Nascimento (2004), Santos (2004), Pastorini (2004), defendem a

questão social na atualidade como sendo uma velha questão social, com diferentes

expressões e manifestações no atual contexto, mas estabelecidas na relação entre

capital e trabalho. Pereira (1999, 2003), Castel (1998), Rosanvallon (1998), apontam

que perante uma nova sociedade, com novos atores e problemas evidenciaria-se

umanova questão social.

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Iamamoto (2003) afirma que atualmente se presencia uma renovação da

velha questão social, que hoje se configura sob novas roupagens e novas e

condições sócio históricas de sua reprodução na sociedade atual, novas expressões

decorrentes de processos históricos que a redimensionam na contemporaneidade,

intensificando as contradições da sociedade capitalista.

Desta forma, há novas mediações na atual conjuntura que agravam a questão

social, a regressão das políticas sociais públicas, flexibilização dos processos de

trabalho e dos direitos trabalhistas, desemprego, a ampla redução dos postos de

trabalho, expandindo o processo de pauperização (Iamamto, 2004).

Rosanvallon (1998) designa sobre a nova questão social, o acontecimento

que, amparado no desemprego e na exclusão social de parcela dos trabalhadores,

contribui para o enfraquecimento da condição salarial constituída com o Estado

Social. Castel (1998) identifica o centro da nova questão social determinada com

base no desemprego, numa lógica onde os trabalhadores são denominados de

supranumerários, desnecessários, supérfluos.

De acordo com Pastorini (2004), apesar de existirem novas expressões da

questão social que levam a pensar que ela é nova, a autora entende que têm

inovações nas manifestações da questão social, o que é bem distinto de afirmar que

ela é outra, pois isso pressupõe afirmar que a antiga questão social foi superada.

Para Santos (2004) o cerne da questão social na contemporaneidade

continua, isto é, a contradição que existe entre capital e trabalho. Para a autora, o

que se nomeia hoje nova questão social se estabelece numa nova maneira de

solucionar problema antigo. Assim sendo, a modernização da questão social se

expressa na conjuntura de desemprego que gera pobreza extrema, na contração

das garantias e direitos sociais ou na sua reformulação para adaptar-se ao novo

contexto.

Não existe uma nova questão social, mas a manifestação de novas

expressões dela, dadas pela complexidade da exploração do capitalismo, que se

expressa no cotidiano das famílias mais pobres (Paulo Netto, 2001).

De acordo com Montaño (2005), a questão social apresenta novas refrações

e expressões, e o que muda é a resposta que é dada à questão social, como a de

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responsabilização por parte do Estado, para investir nas causas sociais, a

desoneração do capital e a responsabilização da sociedade civil para intervir nessas

questões.

A procedência da questão social se relaciona às modificações nas áreas

econômica, social e política, vindas da Revolução Industrial, sendo esse um

momento da história marcado por problemas provenientes das novas maneiras de

organização social que se vinculam ao trabalho no setor industrial e urbano

(Nascimento, 2004).

Através do processo de industrialização vai aparecendo na sociedade uma

série de novos problemas, atrelados às novas condições de trabalho urbano, e de

pobreza, como um fenômeno produzido socialmente (Pereira, 1999).

Esse novo fato social de pauperismo gerado pelo modo de produção

capitalista exigia a intervenção de um Estado que mediasse e regulasse essa

relação direta existente entre capital e trabalho. Essa Instituição necessitava

empreender ações sólidas como resposta ao processo de pauperização e de

desorganização social (Geremek apud Leite, 2001). Essas iniciativas originaram a

política social, como forma de enfrentar os problemas advindos do processo de

pauperização, mas da forma de assistência aos necessitados e coerção violenta

contra os indivíduos vistos como vagabundos (Leite, 2001).

No Brasil era destinado às classes pobres um tratamento repressor e

assistencial, pois eram vistos como desordeiros. Foi assim que se cristalizou na

sociedade a imagem da pobreza como sendo vinculada à criminalidade incidindo no

processo de criminalização da pobreza.

Verificando a história, vemos que a preocupação com os pobres remonta os

séculos passados. A ajuda às pessoas carentes era prestada pela igreja, baseada

na meritocracia, na beneficência e no favor, cuja atitude era assistencialista. Na

Idade Média, a desigualdade era vista como fenômeno natural, e por isso não

demandava intervenções muito sistematizadas, pois não se tinha a intenção de

modificar algo imaginado socialmente como sina de alguns. Já na modernidade, com

o advento da revolução industrial, os pobres começaram a ser vistos como

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problema. Começou o processo de constituição de um novo tipo de miséria,

característico do processo de proletarização do trabalhador (Leite, 2001).

Com a intensificação da pobreza na sociedade capitalista, a questão social

tem uma expressão mais profunda e caráter de divisor de classe. Para Iamamoto

(2004) a questão social está diretamente relacionada a forma de organização da

sociedade capitalista, e diz respeito ao conjunto de expressões das desigualdades

sociais nela produzidas, passando a requerer a intermediação do Estado.

A miséria e a disparidade social como expressões da questão social ganham

espaço na esfera pública a partir de sua expressão nos movimentos de contestação

dos trabalhadores que reivindicavam e se manifestavam em prol de melhores

condições de vida. Passam a ser reconhecidos como um problema na medida em

que os indivíduos pauperizados se organizam, e resistem às más condições de vida

decorrentes de sua condição de trabalhadores (Santos 2004). Portanto, foram as

lutas sociais que passaram a exigir a intermediação do Estado para reconhecer e

legalizar direitos e deveres dos sujeitos sociais, consubstanciados nas políticas

sociais (Iamamoto, 2004).

De acordo com Pereira (1999), a política social não pode ser analisada como

uma função apenas das necessidades do desenvolvimento capitalista ou como

resultado apenas das lutas políticas da classe trabalhadora organizada, pois isto

significa negligenciar a unidade contraditória dentro da qual se processa. Assim,

como enfrentamentos à questão social organizam-se as políticas sociais, como uma

resposta do Estado para controle dos problemas sociais, como resultado da

organização e reivindicações das classes operárias.

3.2- Contexto do adolescente em conflito com a lei e a relação com a

reincidência: expressões da Questão Social.

O Código Penal, em seu artigo 63, destaca a reincidência quando “o agente

comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no

estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.” (BRASIL, 1984). De acordo com

Capez (2001), o caráter jurídico da reincidência é de um contexto agravante

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genérico, possuindo caráter subjetivo, de modo que não se comunica aos partícipes

ou coautores. O Código Penal, em seu artigo 30, prescreve que: "Não se comunicam

as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do

crime" (BRASIL, 1984).

Pesquisa divulgada pelo Correio Braziliense, no ano de 2009, mostra a fala do

Promotor da Infância e da Juventude Renato Varalda. Este acredita que a

reincidência advém da impunidade, para ele as medidas socioeducativas adotadas

atualmente geram, muitas vezes, um sentimento de impunidade nos adolescentes, o

que os levaria a repetir as infrações. O promotor entende que a ausência de políticas

públicas intensivas, como esporte, educação e lazer, são pontos importantes para o

aumento registrado pela polícia.

Segundo opinião de Varalda, o mesmo acredita que a reincidência advém da

impunidade. Averígua-se, no ponto de vista do Promotor, que existe um elevado

índice de reincidência nos atos infracionais praticados por adolescentes, o que vem

alarmando toda a sociedade, tendo em vista as propostas e tratamentos

diferenciados, apoio jurídico e social, acompanhamento individual, mas mesmo

assim, por fragilidades na aplicabilidade das leis, os adolescentes encontram

respaldo nas mesmas se favorecendo e permanecendo a praticar condutas ilícitas

até alcançarem a maioridade. Isto se materializa na fala do adolescente abaixo da

seguinte forma: “A vida do crime é fácil, é só roubar, ai se vinher pra cá, passa 45

dias no engorda e sai e rouba novamente, né. Aqui não muda nada não porque a

gente só come e dorme.” (Luciano).

Tomazelli (2007) se posiciona partindo do pressuposto de que o que

reincidesão as instituições, uma vez que estas abordam sempre da mesma forma o

adolescente e suas diferentes formas de expressar sua dimensão individual diante

de um Estado que não é capaz nem de garantir efetivamente as políticas sociais

básicas.

De acordo com pesquisa noticiada pelo jornal “O Povo”, em 2013, sobre

índices de adolescentes infratores no estado do Ceará, o número de adolescente

que cometeram ato infracional cresceu 25% de 2010 a 2012. A matéria divulga que

em 2012, segundo dados do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude

(CAOPIJ), do Ministério Público Estadual, as infrações mais recorrentes foram roubo

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(1.524), tráfico de drogas (688), porte ilegal de arma de fogo (662). Foram

registrados também 132 homicídios, oito homicídios qualificados, três estupros, 30

latrocínios. Na mesma reportagem a promotora e coordenadora do CAOPIJ, Antônia

Lima, destaca que antes do cometimento do ato infracional houve alguma violação

de direitos, principalmente das políticas sociais básicas.

Segundo opinião da coordenadora do Centro de Defesa da Criança e do

Adolescente (CEDECA) do Ceará, os índices de reincidência apregoam que o

Estado não praticou o que determina o ECA. Segundo ela, nem Prefeitura, nem

Estado têm as medidas socioeducativas como prioridades. Mais da metade dos

adolescentes é reincidente. Para ela, é essencial refletir uma “política que seja

libertadora, em que o adolescente tenha possibilidade de reconstruir valores para

uma convivência familiar e em sociedade.” E este alto índice de reincidência é visto

através do histórico de atos infracionais cometido por cada adolescente:

Primeiro ato infracional foi com 16 anos, foi assalto, primeira vez que eu roubei fui preso e fui pra DCA ai fui solto, voltei, a segunda foi esse ano também, foi por roubo também, ai vim pra cá pro centro educacional, todas as quatro vezes foi esse ano e a terceira vez fui lá pro São Miguel, depois fui pro Dom Bosco, me mandaram, passei três meses lá. A quarta vez é essa, estou aqui no São Francisco por roubo. Tudo esse ano mesmo com 16 anos. (Breno).

Já fui apreendido 5 vezes. Na primeira vez eu tinha 13 anos. Eu vim pra cá, a segunda eu tinha 14 fui pro Dom Bosco. Tudo foi por roubo,aí só passei por aqui e pelo Dom Bosco. Eu cumpri LA. Passei 11 meses e 23 dias na internação. (Anderson).

Buscou-se perceber, no conteúdo da fala dos entrevistados, os significados

que atribuem à reincidência, ou seja, o significado que esta adquire em suas vidas.

A produção da reincidênciarevelou-se a partir da indagação na entrevista a respeito

da história de vida dos adolescentes, e dos fatos mais marcantes durante sua

passagem no Centro Educacional. Os adolescentes se referiram à construção da

reincidência em suas vidas envolvendo diversos aspectos:

Eu faço novamente porque eu quero mesmo, não quero sair do crime. Porque eu vivo na favela e a vida que eu tenho lá é assim. Tem envolvimento com outros, ai vê, ai quer ganhar dinheiro também (Railson).

Eu continuei quatro vezes, em um ano, a roubar, foi pelas amizades que não prestava, eu tô em casa, ai os amigos chega com o revotril, ai da vontade, ai roubo pra comprar roupa (Bruno).

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As drogas me influenciaram, e as brigas lá em casa por conta do meu pai, não me dou com ele, ele me abandonou, né, ai a mulher deu um fora nele, ai depois ele voltou, veio dar uma de pai, tem um ano já, ai eu não me entendo com ele. Ele não é bom com ninguém, só vive brigando (Luciano).

Uma das questões que mais repercutiram na fala de todos os adolescentes foi

a influência do uso de drogas, que segundo Oliveira apud Fraga (2004) os jovens

carentes da periferia e que se envolvem com o uso de drogas além de estarem

excluídos do mercado formal de trabalho, tenha vista a sua condição educacional,

são também portadores de um estigma, passando a ser considerados como pessoas

ameaçantes socialmente, como verificado na fala de Luciano:

Minha vida mudou depois do ato infracional, porque ninguém me olha como eu era antes né, agora o povo me vê com outros olhos, me chama de ladrão no pensamento dela e não confia mais em mim,né. Mas isso não me incomoda, não me importo.

O tráfico e sua indústria têm uma ampla competência de incorporar

segmentos dos mais variados estratos sociais, devido a sua flexibilidade, poder e

extensão, não se limitando apenas às periferias. Não há relação causal entre

criminalidade e pobreza, no entanto, não se pode negar que os adolescentes das

periferias são incorporados nessas redes complexas, geralmente agindo em regiões

onde as drogas são guardadas e distribuídas (Fraga, 2004). A não limitação da

pobreza à criminalidade se materializa na fala de Luciano, quando expõe que:

O consumismo não influencia não, porque minha família tem condições, né. Nunca trabalhei, minha mãe é professora e advogada. Eu roubo mesmo pra comprar droga pra mim, pra não pedir né. Se eu quiser uma roupa, um celular, eu roubo, eu peço a ela [mãe] às vezes, e ela não me dar, eu roubo pra conseguir. (Luciano).

O problema do uso de drogas se refere a uma concepção estrutural originada

socialmente pelo modo de produção capitalista. É imprescindível uma análise que

considere todos os elementos presentes, a droga, o sujeito e o contexto, para que

não haja o risco da supervalorização da droga ou somente a atribuição de um peso

elevado ao indivíduo (Silva and Soares, 2004).

O universo das drogas relaciona o consumo com a atividade econômica do

tráfico. Em seguida, a precisão de obter as drogas para ingestão, ou para expandir o

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acesso a outros bens, faz com que os adolescentes envolvam-se em outras

condutas ilícitas, as quais também vão evoluindo em gravidade na medida em que

evolui seu envolvimento com o uso de droga, que está iniciando cada vez mais

cedo. (COSTA, 2005).

Eu fui influenciado pelas amizades e também quando eu comecei a usar as drogas, revotril, ai decidi roubar. Eu tava mais usando não, passei 16 dias sem usar, ai nessa vez agora que decidi usar, fui preso novamente. Uso desde 2012 ganhei a liberdade no dia 1º de outubro, ai passei um dias e voltei usar novamente e cometi um roubo. (Breno).

Os motivos que me influencia a roubar é pra sustentar o vício. Eu uso maconha e só desde os 10 anos de idade, meu envolvimento com a droga foi pela companhia dos amigos, a influência deles. (Benildo).

De acordo com a pesquisa “Panorama Nacional, a Execução das Medidas

Socioeducativas de Internação” realizada pelo Departamento de Monitoramento e

Fiscalização do Sistema Carcerário (DMF) e pelo Departamento de Pesquisas

Judiciárias (DPJ), e exibidas no G1, no ano de 2012, 75% dos jovens infratores no

Brasilsão usuários de drogas. Como mostra o estudo, o roubo foi causa de 36% das

internações pelo país. Dos jovens entrevistados, 74,8% faziam uso de drogas ilícitas.

Dentre as substâncias utilizadas pelos adolescentes, a maconha foi a droga mais citada

(89%), seguida da cocaína (43%), com exceção da Região Nordeste, em que o crack foi

a segunda substância mais utilizada (33%). Esses dados se configuram na fala dos

adolescentes entrevistados da seguinte forma:

As drogas me influenciaram. Eu roubo mesmo pra comprar droga pra mim, pra não pedir né. O motivo que me leva a roubar mesmo é a droga, por isso que roubo e volto. (Luciano).

Comecei a usar a maconha desde os 12 anos. As influências dos amigos, as más amizades me influenciou a cometer atos, eu roubo pra fumar maconha mesmo. (Anderson).

Outro fator preponderante, e de suma importância para ser analisado foi a

relação da reincidência para a aquisição de bens materiais, pois hoje em dia, com a

globalização, criou-se um estereótipo do adolescente onde o consumismo, ligado a

vontade de aparecer, também como a busca de liberdade e de poder são

características primordiais de suas vidas. A cultura contemporânea tanto coloca a

juventude como objeto de mais alta aspiração, quanto também idealiza a autonomia,

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transformando osonho de liberdade em ideal social. (Oliveira, 2001). De acordo com

o relato de Railson, este anseio pela autonomia, pela liberdade e pela independência

se configura como um dos fatores que incidem na reincidência da seguinte forma:

“Não tive influência de amigos, eu quis mesmo, não queria depender da minha mãe,

é fácil mais não é certo. Não é certo não. O que me influenciou foi querer ganhar

dinheiro pra não depender dos meus pais.” Já Ivo relata: “Eu roubo pra comprar

roupa, eu gasto com bebidas, eu compro as coisas pra mim. Já roubei pra levar

alimentação pra casa.”

Oliveira (2001) retrata um aspecto a ser considerado na caracterização da

juventude contemporânea: “a estética juvenil globalizada”, na qual o mercado se

encarregou de transformar a adolescência em modelos de consumo, de tal forma

que consumir os produtos ofertados passa a ser um modo de existir e de ser notado

na vida pública.

Roubo pra comprar roupa, preciso nem comprar droga que eles dão,só quando quero comprar mesmo peço dinheiro a mãe, ela dar, mas ela não sabe pra que é não, ai roubo também pra ir ao cinema no North Shopping. (Breno).

O consumo passa a ser uma ferramenta de inclusão, mas também de

exclusão para aqueles que não são potencialmente consumidores. Isso gera um

problema maior quando se trata deadolescentes de baixa renda que moram em

periferias, que não conseguem acompanhar essa sociedade do consumo. Esta

realidade, muitas vezes, causa nestes adolescentes sentimentos de humilhação,

revolta e ressentimento com o outro, provocando danos às vezes irreparáveis.

(Oliveira, 2001). Railson afirma que “O consumismo influencia muito, porque a

pessoa vai querer ter e como vai conseguir dinheiro, se eu vou querer ter uma coisa

eu tenho que ir conseguir de qualquer jeito.” (Railson).

O que está evocado pelo adolescente no seu ingresso na criminalidade é a

esperança de uma mudança de lugar pelo acesso ao significante-dinheiro como

mediador do reconhecimento buscado. Uma forma mais ágil, embora com mais

riscos à própria vida, de conseguir a inclusão social que lhe é negada. (Oliveira,

2001). Esta busca pelo dinheiro se consolida da seguinte maneira na fala do

adolescente: “Eu queria ganhar dinheiro né, dinheiro fácil queria trabalhar com o

mais fácil. Dinheiro fácil é muito mais do que a pessoa trabalhando.” (Railson).

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Uma das consequências produzidas pela lógica da sociedade brasileira é a

incorporação de pessoas com renda baixa em uma escala de consumo inconciliável

com seus recursos, “ampliando a impressão de privação relativa, imprimindo a

marca de desiguais, pois a sedução do mercado é, simultaneamente, a grande

igualadora e a grande divisora” (Bauman apud Costa, 2005: 31).

No que se refere à questão do direito à educação de crianças e adolescentes,

a lei propõe os mecanismos protetivos por parte dos diversos autores. Aos pais e

responsáveis cabe a tarefa de matricular e zelar pela matrícula dos filhos na escola.

A escola também é responsável por zelar pela frequência e pelo processo de ensino

e aprendizagem. Ao Estado compete o dever de oferecer vagas suficientes para que

todos os estudantes tenham acesso e condições de estudar, bem como prover o

funcionamento pleno da escola. Ao aluno compete o direito e o dever de frequentar

as aulas (Sartório, 2007).

O relatório feito pela ANCED/FÓRUM DCA (2004) assinalou uma expressiva

diminuição da qualidade do ensino e do aproveitamento dos conteúdos, numa

defasagem dos estudantes concluintes do ensino fundamental e médio. O mesmo

relatório divulgou que o dado alusivo à escolaridade e à ocupação dos 13.489

adolescentes em privação de liberdade no Brasil, é de que 51% não frequentavam a

escola quando cometeram o ato infracional, 49% não trabalhavam e metade dos

adolescentes internos não tinha concluído ensino fundamental, mesmo com idade

suficiente para isso.

No relato dos adolescentes entrevistados, verificou-se que não estavam

frequentando a escola, e alguns tinham deixado os estudos muito cedo, como no

caso de Anderson, que cessou os estudos no primeiro ano do nível fundamental I,

Railson, que findou os estudos no 8ª ano do nível fundamental II, proferindo que:

“Estava estudando. eu parei de estudar esse ano. Parei de estudar porque eu me

envolvi e não quis mais não.” E Ivo, que proferiu: “Quando sair daqui eu vou ficar lá

na comunidade mesmo, quero estudar não, se for estudar tem que ser em outro

canto, porque se eu for pra escola vão me matar no caminho.”

O estudo realizado destacou o trabalho infantil como fator decisivo no

desempenho escolar dos estudantes, dado que os estudantes trabalhadores têm

uma atuação menor nos estudos em relação àqueles que não trabalham. Ocorreu

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também uma redução dos recursos destinados à educação pública (ANCED/FÓRUM

DCA, 2004). Isto se materializa na fala dos adolescentes da seguinte forma: “tava

trabalhando num lava jato, passei 4 meses, a experiência não compensava,

trabalhava muito e ganhava pouco, trabalhava de 8 as 6 da noite, trabalho puxado.

Eu ganhava no lava jato 120 por semana, só” (Railson); “Eu já fiz só trampo mesmo,

ajudante de servente, ganhava 50,00 reais por dia, tinha dia que era 40,00, 45,00, foi

ano passado,antes de roubar.” (Benildo); “Eu já trabalhei no roçado ajudando meu

avô, passei um mês, mas num ganhava nada.” (Anderson).

As alterações e as novas configurações da questão social refletem no arranjo

familiar e nas suas táticas de sobrevivência, juntamente com seus filhos. O quadro

social aponta um aumento no empobrecimento das famílias brasileiras que vivem

em condições precárias de trabalho e de vida, que sofrem as implicações do

emprego precário, violência, desigualdade, desemprego, o que dificulta a elas

promoverem a segurança de que seus filhos precisam para terem um

desenvolvimento saudável pleno.

Relatório divulgado pela ANCED/FÓRUM DCA (2004) revela que dos 13.489

adolescentes privados de liberdade no Brasil, no que se refere aos rendimentos dos

familiares, 66% dos internos eram procedentes de famílias cuja renda mensal

variava entre menos de um até dois salários mínimos à época, 81% dos

adolescentes moravam com a família e 40% viviam em situação de extrema

pobreza. “A renda da minha família é um salário da minha mãe que trabalha em

casa de família, meu pai não trabalha, e meu irmão trabalha em restaurante servindo

bebida.” (Railson); “dentro de casa as condições tem dia que é bom, tem dia que é

ruim, o bom é quando rouba e entra coisa em casa e traz as comida tudo, o leite

pros meninos.” (Benildo); “moro com minha mãe e meus quatro irmãos. Minha casa

tem um cômodo e a gente dorme tudo lá.” (Benildo).

Verifica-se no contexto do adolescente em conflito com a lei, em alguns

casos, a culpabilização da família pela situação de infração. Isto ocorre em relação

às famílias mais vulneráveis socialmente e comumente se agrega à imagem de que

sua forma de organização é "desestruturada", contrapondo-se a uma ideia de

existência de um modelo ideal de família, adequado aos padrões sociais e morais

(Szymanski, 2005). No tocante as influências da família para a condição de infrator

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do filho têm o relato de dois adolescentes, que proferiram: “me envolvi com ato

depois que mataram meu irmão, mataram ele porque ele não podia andar em outra

área. Depois disso comecei a aprontar, comecei a roubar.” (Ivo).

As drogas me influenciaram, e as brigas lá em casa, por conta do meu pai. Não me dou com ele, ele me abandonou, né, ai a mulher deu um fora nele, ai depois ele voltou, veio dar uma de pai. Tem um ano já, ai eu não me entendo com ele. Ele não é bem com ninguém, não. Só vive brigando. (Luciano).

O termo famílias desestruturadascontinua sendo usado recorrentemente nos

relatórios técnicos de profissionais que operam na prestação de serviços às famílias.

Este termo está sendo empregado para nomear as famílias que “fracassaram” no

desempenho das funções de cuidado e proteção dos seus membros, expressos

pelas falhas familiares, como violências, alcoolismo e abandonos (Mioto, 2004).

É necessário reconhecer que toda família é estruturada de acordo com seus

próprios princípios e valores, de acordo com a sua inserção cultural e social. Não

existe uma família, mas sim múltiplas famílias que encontram distintos modos de se

organizar e se inserir na sociedade. A concepção de família ideal induz a sociedade

a desconsiderar as formas distintas de famílias, colocando nestas a culpabilidade

pelos insucessos dos filhos na escola, por uso da violência e de drogas. Difunde-se

o aspecto negativo presente nas dinâmicas familiares que seguem outra lógica que

não a do modelo tido socialmente como ideal. É importante salientar que várias

famílias, organizadas dentro dos padrões idealizados pela sociedade, também

encontram dentro de sua estrutura casos de uso de drogas, rebeldias juvenis,

violência. (Sartório, 2007).

A importância da família como responsável pelo carinho, atenção e cuidado

aos filhos não deve ser ignorada, mas valorizada no transcorrer do processo

educativo dos adolescentes que cometeram condutas ilícitas. Porém, entende-se ser

necessária também a ativa participação do Estado na promoção de políticas

públicas e que tanto as famílias quanto os adolescentes necessitam estar incluídos

num sistema de proteção aos direitos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Dentre as questões apresentadas, percebe-se que ao investigar as

circunstâncias do momento em que o adolescente pratica o ato infracional,

aparecem causas imediatas, e diversos fatores que contribuem e repercutem

diretamente para a reincidência do ato infracional.

A evasão escolar é um dado relevante quando se fala em adolescentes em

conflito com a lei e as motivações para isso são muitas, como por exemplo: a falta

de estímulo no ambiente familiar, trabalho precoce no mercado informal, uso de

drogas, inserção em gangues, dentre várias outras causas.

A dependência no uso de drogas também tem grande influência na prática

reiterada de roubos, pois de acordo com os relatos dos adolescentes, é perceptível

que estes fazem qualquer coisa para consumir a droga, inclusive, por algumas vezes,

põem em risco a própria vida, e por não terem condições de comprar essas

substâncias psicoativas,usam de práticas delituosas para ter acesso aos mais

variados tipos de drogas.

Outro fator preponderante é a inserção precoce do adolescente no mercado

de trabalho informal, em que este sofre com as péssimas condições de vida de sua

família, para ajudar no sustento ou para consumir os bens almejados.

O quadro de desemprego estrutural que afeta estes jovens e seus pais pode

se constituir em um dos fatores que oferecem a opção pelo tráfico ou por outros

tipos de atos infracionais. Observa-se que os adolescentes trabalham no mercado

informal e este não se constitui numa opção de trabalho consistente que ofereça

respostas às necessidades e que muitas vezes os adolescentes, mesmo

trabalhando, voltam a praticar ilicitudes.

O que podemos observar é que os adolescentes procuram no ato infracional o

acesso mais imediato ao consumo. Em geral utiliza o dinheiro proveniente de suas

práticas para comprar roupas, para gastar com diversão e lazer ou qualquer outra

forma de consumo imediato. Ou seja, os adolescentes de classe baixa têm os

mesmos desejos que possuem os adolescentes da classe média e alta.

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Também não podemos deixar de lado o fato de que indistintamente os

adolescentes buscam, cada vez mais, o reconhecimento e a autonomia. E alguns

deles encontram como porta de entrada a prática de atos ilícitos, buscando

reconhecimento no envolvimento em gangues, no consumo insaciável. Parece que

cometer roubos representa para alguns adolescenteso poder e pertencimento ao

grupo e a comunidade.

Outra questão relevante quando se trata de adolescentes autores de roubo é

o fato de que mesmo após cumprirem medidas socioeducativas, fica evidenciado a

dificuldade que estes têm em não reincidir. A grande questão é se estas medidas

estão tendo resultado esperado ou não, pois o que se observa é o alto índice de

reincidência.

Nesse sentido, a STDS revela, através de uma matéria publicada no Jornal “

O Povo”, em 2007, que a reincidência verificada em Fortaleza, no ano de 2006, era

alta, quase 50% dos jovens analisados reincidiam. Uma segunda matéria, também

divulgada por este jornal em 2008, mostrou que a reincidência já estava em torno de

70%. Isto mostra que os adolescentes não se sentem motivados em mudar suas

atitudes, continuando com práticas ilícitas mesmo depois de serem apreendidos, e

acabam muitas vezes naturalizando esta prática.

A falta de qualidade da escola pública, a influência de grupos e gangues, a

fragilidade dos laços familiares, as baixas condições de vida causada pela

desigualdade social, afetam bastante no retorno do adolescente à comunidade. Os

adolescentes muitas vezes retornam ao lugar de origem e percebem que nada

mudou em seu cotidiano e que agora ainda carregam o estigma de ter “puxado

FEBEM”.

O ato do roubo demonstra sentimentos e pensamentos antes e após a prática

deste ato infracional. Foi mostrado que as vantagens de roubar estão em ter dinheiro,

sendo também, uma forma de obtê-lo facilmente e assim poder ir às festas, ao

shopping, comprar roupas, usar drogas, manter as necessidades básicas dos

familiares e etc.

Mostrou também que a prisão não influencia a reincidência e que não há

mudanças significativas durante o período de internação. Fora da instituição tais

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mudanças não acontecem por conta do cotidiano, da influência das amizades e dos

condicionantes da realidade social que estão inseridos.

Os adolescentes reconhecem a necessidade da punição como perda da

liberdade. Quanto as perspectivas para o futuro, os pesquisados pensam em vários

assuntos, e tem alguns planos como conseguir um emprego, retomar o estudo,

cessar as práticas e condutas ilícitas e findar o uso de drogas.

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APÊNDICES

APÊNDICE A

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FACULDADE CEARENSE – FAC CURSO: SERVIÇO SOCIAL

ROTEIRO DE ENTREVISTA APLICADO AOS ADOLESCENTES.

IDENTIFICAÇÃO.

Nome:

Data de nascimento:

Naturalidade:

Escolaridade:

Cor (Etnia):

HISTÓRICO DE INFRAÇÕES.

Antecedentes institucionais e motivo do encaminhamento (apreensões anteriores e

atual, entrada em unidades, cumprimento de outras medidas socioeducativas).

Como você se envolveu com atos infracionais?

passou a cometer atos infracionais?

Quais motivos lhe influenciaram a cometer atos infracionais.

Qual a sua compreensão sobre sua apreensão?

O que levou você a reincidir?

O que você acha sobre reincidência?

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SITUAÇÃO FAMILIAR E SOCIOECONÔMICA.

Com quem você mora?

Você trabalha?

Qual a renda familiar? Quem prover?

Recebe algum benefício do governo?

Estrutura da moradia ( nº de cômodos)?

Estrutura da comunidade? Possui equipamentos sociais? (Posto de saúde,escola, saneamento básico, instalações de água e luz)

Como é a sua relação com os familiares, sofre algum tipo de violência? (Situação conjugal dos pais, número de irmãos, relacionamento familiar)

Como é a sua relação com a comunidade? (Vivência de rua, participação em gangues)

Quais as suas perspectivas para o futuro?

O que mudou sua vida depois do cometimento do ato infracional?

O que você acha do atendimento e do cotidiano dentro da unidade?

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ANEXOS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.

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Prezado(a) participante:

Sou estudante do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense. Estou realizando uma

pesquisa sob supervisão do(a) professor(a) Eliane Nunes Carvalho, cujo objetivo é Compreender

quais as expressões da Questão Social que repercutem sobre a reincidência de atos infracionais por

adolescentes em regime de internação provisória no CESF.

Sua Participação envolve uma entrevista, que será gravada se assim você permitir, e que tem

a duração aproximada de quinze minutos.

A participação nesse estudo é voluntária e se você decidir não participar ou quiser desistir de

continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.

Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no mais rigoroso.

Serão omitidas todas as informações que permita identifica-lo (a).

Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você estará contribuindo

para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico.

Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pelo(a) pesquisador(a), fone

(85) 96240965, ou pela entidade responsável- Faculdade Cearense, fone (85) 3201.7000

Atenciosamente

_____________________________ ________________________

Assinatura do(a) estudante. Local e data.

Matrícula.

_____________________________________________________

Nome e assinatura do professor(a), supervisor(a)/orientador(a)

Matrícula:

Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia deste termo de

consentimento.

____________________________ __________________________

Assinatura do participante. Local e data.

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D E C L A R A Ç Ã O

Eu, Verônica Sandréa Leite Medeiros, RG LP. CO2611/07, Nº 210 livro: CLE – 04 folhas 105, graduada em Língua Portuguesa e especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, declaro ter realizado a análise e correção ortográfica da Monografia, tendo como título: “Adolescente em conflito com a lei: Análise dos fatores sociais que contribuem para a reincidência de atos infracionais”, da aluna: Anna Berlly Daniel Lopes do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense - FaC.

Atesto que o trabalho encontra-se bem redigido, em português conciso e adequado, gramaticamente correto, estando apto para o uso que a referida instituição julgue conveniente.

Maracanaú, 08 de Fevereiro de 2014.