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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL RAQUEL MALHAS MIRANDA A CONTRIBUIÇÃO DO ESPORTE NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA:UMA ANÁLISE SOBRE A PERCEPÇÃO DOS ATLETAS INTEGRANTES DO PROJETO PARADESPORTIVO EDIVALDO PRADO FORTALEZA 2013

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ ......O esporte adaptado surge como uma das formas de integrar e incluir esses sujeitos à vida social de modo que estes se redescubram como pessoas

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

RAQUEL MALHAS MIRANDA

A CONTRIBUIÇÃO DO ESPORTE NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA

CIDADANIA:UMA ANÁLISE SOBRE A PERCEPÇÃO DOS ATLETAS

INTEGRANTES DO PROJETO PARADESPORTIVO EDIVALDO PRADO

FORTALEZA

2013

RAQUEL MALHAS MIRANDA

A CONTRIBUIÇÃO DO ESPORTE NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA

CIDADANIA: A PERCEPÇÃO DOS ATLETAS INTEGRANTES DO PROJETO

PARADESPORTIVO EDVALDO PRADO

Monografia apresentada ao curso de Graduação em

Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará

da Faculdade Cearense, como requisito parcial para a

obtenção do grau de Graduação em Serviço Social.

Orientação: Prof.ª Ana Paula da Silva Pereira

FORTALEZA 2013

RAQUEL MALHAS MIRANDA

A CONTRIBUIÇÃO DO ESPORTE NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA

CIDADANIA: A PERCEPÇÃO DOS ATLETAS INTEGRANTES DO PROJETO

PARADESPORTIVO EDVALDO PRADO

Monografia como pré-requisito para

obtenção do título de Bacharelados

em Serviço Social, outorgado pela

Faculdade Cearense – FaC,

tendo sido aprovada pela banca

examinadora composta pelos

professores.

Data da aprovação:___/___/_____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

Professora Ms. Ana Paula da Silva Pereira (Orientadora)

______________________________________________

Professora Ms. Vaney Rocha Maciel

______________________________________________

Esp. Camila Augusta de Oliveira Sá

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, autor de todas as coisas, razão do meu viver,

pelo seu amor, pela sabedoria, força, fé e perseverança; por ter me concedido

mais esta conquista.

Aos meus pais Martinho Neto e Aila Malhas, exemplos de vida, maiores

incentivadores, pelo apoio, investimento, e por acreditarem na minha vitória.

À minha orientadora Ana Paula Pereira, exemplo de profissionalismo, pela

dedicação, incentivo e conhecimentos partilhados, imprescindíveis à minha

formação profissional.

Ao Edvaldo Prado, por ter aberto as portas de seu Projeto, para que eu pudesse

realizar esta pesquisa, e aos atletas que gentilmente concederam as entrevistas.

Que Deus os abençoe sempre.

A todos os professores que contribuíram nesses quatro anos para minha

formação.

À banca examinadora pela disponibilidade em fazer parte de um dos momentos

mais importantes da minha vida.

Dedico este trabalho a Deus, pois sem Ele, nada podemos fazer, e aos meus pais, por estarem comigo em toda esta jornada.

“Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel. Porque eu, o SENHOR, teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo: Não temas, que eu te ajudo”. (Isaías 41:10-13)

RESUMO

A pessoa com deficiência, desde os tempos primórdios, sofreu preconceitos por sua condição física. Devido a estes preconceitos a pessoa com deficiência se resignava à reclusão social e, consequentemente, não exercia seu papel de cidadão. O esporte adaptado surge como uma das formas de integrar e incluir esses sujeitos à vida social de modo que estes se redescubram como pessoas detentoras de direitos e deveres como todo cidadão. O objetivo desta pesquisa é, portanto, analisar a percepção do paratleta sobre a contribuição do esporte no processo de construção da sua cidadania. Sob uma abordagem quanti-qualitativa, esta pesquisa foi desenvolvida no Centro Paradesportivo Edivaldo Prado na qual participaram seis atletas, com diferentes classificações de deficiência. Através dos dados coletados surgiram três categorias analíticas: deficiência, cidadania e inclusão social. A pesquisa demonstra que a prática do esporte significa muito mais do que ganhar medalhas, representa o seu reconhecimento enquanto cidadão, e sua prática contribui para o enfrentamento das barreiras físicas e sociais, e coopera para o aumento da autoconiança, independência, autoestima. Palavras Chaves: Pessoa com Deficiência, Cidadania, Esporte Adaptado, Inclusão Social

ABSTRACT

The person with disabilities from the earliest times suffered prejudice by their condition. Due to these prejudices to the disabled resigned to social isolation and consequently did not exercise their role as citizens. The adapted sport emerges as one of the ways to integrate and include those subject to social life so that they rediscover themselves as persons holding rights and duties as any other citizen. The objective of this research is therefore to analyze the perception of paratleta on the contribution the sport in the construction of citizenship. From a quantitative and qualitative approach, this study was developed at the Center Paradesportivo Pippa Prado attended six athletes with different classifications of disability. Through the collected data emerged three analytical categories: disability, citizenship and social inclusion. The research shows that the practice of sport means more than winning medals, is its recognition as a citizen, and his practice contributes to confront the physical and social barriers, and work together for increased self-confidence, independence, self-esteem. Keywords: Person with Disability, Citizenship, Adapted Sports, Social Inclusion

LISTA DE SIGLAS AIPD- Ano Internacional das Pessoas Deficientes

ANDE -Associação Nacional de Desportos para Deficientes

COI-Comitê Olímpico Internacional

CORDE- Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência

FEBEC-Federação Brasileira de Entidades de e para Cegos

FENEIS-Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos

IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP-Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

INES- Instituto Nacional de Educação de Surdos

INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

LIBRAS- A Língua Brasileira de Sinais

MEC- Ministério da Educação

MORHAN- Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase

MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra

MVI- Movimento de Vida Independente

NID- Núcleo de Integração dos Deficientes

SDH- Secretaria de Direitos Humanos

ONU-Organizações das Nações Unidas

SUMÁRIO

1.CAPITULO I....................................................................pág 6

HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO DA CIDADANIA

1.1 História da Deficiência.................................................................................pág.6

1.2 O Reconhecimento da pessoa com deficiência como ser social.................pág. 15

1.3 A Origem, ampliação e desenvolvimento da cidadania para as pessoas com

deficiência............................................................................................................pág.25

2.CAPITULO II.....................................................................pág 29

PROTEÇÃO LEGAL À PESSOA COM DEFICIÊNCIA

2.1 Declaração dos Direitos da Pessoa com Deficiência.......................................pag 29

2.2 Da criação à efetivação: a negação dos direitos e a Constituição de 1988.....pág.33

2.3 Lei de Incentivo ao Esporte.............................................................................pág. 42

3.CAPITULO III......................................................................pág.47

O PAPEL DO CENTRO PARADESPORTIVO EDIVALDO PRADO NO

PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE CIDADANIA DA PESSOA COM

DEFICIÊNCIA

3.1.Percurso Metodológico..............................................................................pag 44

3.2 Perfil dos Atletas...............................................................................................pág.47

3.3 A percepção do esporte adaptado como forma de integração e de superação das

dificuldades impostas pela deficiência......................................................................pág

3.4 O papel do Centro Paradesportivo Edivaldo Prado no processo de promoção da

cidadania das pessoas com deficiência.................................................pág.50

4.CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.ANEXOS E APÊNDICES

INTRODUÇÃO

Atualmente, a participação da pessoa com deficiência tem sido

constante em todos os espaços ocupacionais. A questão dos Direitos Humanos

relacionada à igualdade de oportunidades tem se expressado através dos

movimentos sociais, nos quais esses segmentos buscaram a construção de uma

sociedade justa e igualitária.

A inclusão social ocorre de forma gradativa, ainda hoje se vê

resquícios do preconceito e discriminação trazidos desde os tempos primitivos

onde a deficiência era considerada uma maldição, e por esta razão a pessoa com

deficiência era executada ou resignada ao isolamento.

Segundo Fávero(2004) deficiência são limitações físicas, sensoriais

ou mentais; a incapacidade para realizar alguma coisa(andar, subir escadas, ver,

ouvir etc.) é uma consequência da deficiência que deve ser vista de forma

localizada, pois não implica em incapacidades para outras atividades. Conforme

Fonseca(2005) A privação do direito de ir e vir são vistos quando a falta de

acesso, por meio das adaptações arquitetônicas, aos bens e serviços tais como:

saúde, lazer, educação dentre outros segmentos é mínimo ou não existem.

Todas as pessoas têm direito de exercer sua cidadania e de ser

tratado com igualdade assim como predispõe a Declaração Universal dos Direitos

Humanos(1948), artigo 1°, ‘todos os seres humanos nascem livres e iguais em

dignidade e em direitos’. Isso não ocorre efetivamente devido à falta de

esclarecimentos quanto a esses direitos. Os reforços de ideias preconceituosas

que ainda permanecem em nossa estrutura social fortalecem a discriminação

desse segmento.

Portanto, a participação das pessoas com deficiência nos debates é

fundamental, uma vez que eles próprios dão legitimidade e representativa para o

alcance dos seus direitos. Apesar de representarem um segmento de grande

expressividade da população brasileira, as pessoas com deficiência não

compartilham dos mesmos direitos das outras pessoas, seja no trabalho, saúde,

educação e lazer, a igualdade de garantias fundamentais como estas são negadas

por sua condição física e pela idealização de que este individuo não é capaz de se

adaptar às dinâmicas da instituição ou desenvolver relações interpessoais. A partir

da década de 80 as pessoas com deficiência se articulam em organizações

representativas da categoria, a fim de obter legitimidade e igualdade de direitos

enquanto cidadão que vive em uma sociedade plural.

Ao analisar a participação da pessoa com deficiência na sociedade e

a inclusão gradativa nos espaços públicos, pode-se perceber a crescente

visibilidade que essa população está adquirindo ao longo do tempo. Seja em

universidades, mercado de trabalho, política e militância em prol dos seus direitos,

a pessoa com deficiência conquista notoriedade e minimiza o estigma da reclusão

e o sentimento de caridade que predominou desde a antiguidade. A exemplo,

segundo dados do Governo Brasileiro¹ (2012) a inserção da pessoa com

deficiência cresceu 9,30% até o ano de 2010.Em 2000 o quantitativo de

estudantes foi de 2.173 e no ano de 2010 consta 20.287 universitários nas redes

públicas e privadas. Dentre as áreas sociais em que a pessoa com deficiência

vem alcançando destaque é na prática do esporte, a priori como tratamento

terapêutico de reabilitação e manutenção da saúde, e logo após como forma de

inclusão social que possibilita o crescimento pessoal por meio da busca de

superação de seus limites. Para Marques(2009) essa vertente do esporte se

apresenta sob diversas formas, na qual se destaca os Jogos Paraolímpicos, sendo

este o principal meio de divulgação dos jogos adaptados. Os Jogos Paraolímpicos

representam umas das formas de inserção, sendo que por meio da adaptação dos

jogos às necessidades e limitações essa população adquire autonomia para

superar suas barreiras físicas, sociais e exercer a cidadania.

________________________________________________

¹ Portal Governo Brasileiro.<www.brasil.org.br>.Acesso em 12 de Junho 2013

Os atletas paraolímpicos são exemplos vivos na busca por alcançar o

reconhecimento, que vai além de conquistar medalhas; esse reconhecimento se

encontra na oportunidade de superar seus limites, sendo considerados como

exemplo de força e perseverança.

No município de Maracanaú o número de pessoas com deficiência que

se inserem em espaços sócios ocupacionais tem sido cada vez mais crescente,

esta afirmação se constata no levantamento do IBGE (2010) no qual em

Maracanaú residem cerca de 57.895¹ pessoas com deficiência, sendo que 42%

desta população encontram-se inseridos no mercado de trabalho. A preocupação

em inserir essa população no mercado de trabalho, universidades, na política,

enfim, nos âmbitos gerais da sociedade, demonstra a necessidade de se ampliar

oportunidades de inclusão social.

A realização da pesquisa é relevante, pois Maracanaú abrange mais de

cinquenta e sete pessoas mil com deficiência, e sendo este um número

significativo diante de uma população de 209 mil habitantes², a proposta de

inclusão social e cidadania através de iniciativas como o Projeto Paradesportivo

Edivaldo Prado traz a responsabilidade social e o compromisso de integrar

ações efetivas de políticas públicas para investir na valorização da pessoa com

deficiência.

_________________________________________________

¹ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.< www.ibge.gov.br>. Acesso em 12 de Junho 2013

² Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.< www.ibge.gov.br>. Acesso em 14 de Maio 2013

O Projeto Edivaldo Prado abrange pessoas com deficiência que participam

de competições esportivas, tendo a prática da natação e do tênis de mesa como

ferramentas de inclusão social e cidadania. Atualmente, o projeto beneficia 70

pessoas de diferentes faixas etárias que competem dentro e fora do Ceará.

O objetivo desta pesquisa é compreender a contribuição do esporte no

processo construtivo de cidadania na percepção das pessoas que integram o

Centro Paradesportivo a partir de tais elementos: identificar o esporte como

meio de inclusão social; verificar a importância do Centro para os integrantes,e

analisar o incentivo do Centro na busca pela promoção da cidadania.

Dessa forma, para entender o percurso da pessoa com deficiência em busca

da igualdade de direitos e o pleno gozo da cidadania será explanado nesta

pesquisa um pouco da história da deficiência; a elaboração de estratégias para se

alcançar o reconhecimento enquanto indivíduo; as legitimidades alcançadas; a

inserção da pessoa com deficiência na prática do esporte e influências do Projeto

Edvaldo Prado no processo de inclusão e promoção destes sujeitos enquanto

cidadãos participativos.

As categorias analisadas nesta pesquisa serão: Deficiência, Cidadania e

Inclusão Social.

Deficiência - Entendida como uma limitação que acomete o indivíduo desde os

tempos primitivos. Foi considerada como deficiência, pois não atendia aos

padrões exigidos para o trabalho. Nesta categoria serão abordadas as

concepções e explanações acerca da deficiência, segundo Otto Silva(1986).

Cidadania- Produto das lutas sociais empreendidas com a finalidade de obter

direitos tais como: igualdade e liberdade. A cidadania se expande quando o

Estado é capaz de atribuir direito de igualdade aos cidadãos durante o processo

de construção dos Direitos Humanos. A conceituação e elementos que envolvem

a cidadania será abordada partindo dos embasamentos teóricos de Evelina

Dagnino(1994) e Maria da Glória Gohn(2012).

Inclusão Social- É a participação social, econômica e política adquirida pelo

indivíduo através dos direitos civis, políticos, econômicos e sociais. Portanto, para

que haja inclusão é fundamental que as leis vigentes para pessoas com

deficiência estejam em consonância com as leis fundamentais dos Direitos

Humanos. Esta categoria será embasada a partir das considerações do autor

Romeu Sassaki (1991).

Esse trabalho se estrutura em três capítulos. No primeiro capítulo será

descrita a história da deficiência em diferentes contextos sociais, abordando suas

expressões mais significativas como aceitação, luta pela igualdade de

oportunidades e reconhecimento cidadão, a partir do século XX. No segundo

capítulo será abordado a questão de legislação da pessoa com deficiência a qual

atribui proteção, igualdade, inclusão e efetivação de direitos a esse segmento. A

efetividade da legislação se deu principalmente através dos movimentos sociais

onde se buscou a igualdade de direitos e participação social das pessoas com

deficiência. No terceiro capitulo abordaremos o perfil dos atletas integrantes do

Projeto Edivaldo Prado, as transformações surtidas no comportamento dos

mesmos depois da inserção no projeto e a contribuição do esporte na construção

de cidadania sob a percepção dos paratletas maracanauenses.

1

CAPÍTULO I

1.1 A HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA E O DESENVOLVIMENTO DA

CIDADANIA

Deficiência é entendida como, “a perda de estrutura ou função que atinge o

corpo de forma parcial ou integral, impedindo que o indivÍduo execute algo dentro

dos padrões normais’’. (Decreto n° 3.298 Art. 4° de 1999 da Legislação Brasileira).

A presença da pessoa com algum tipo deficiência é constatada desde a

história antiga e cada sociedade atribuía formas de lidar com as pessoas ditas

diferentes, seja pela rejeição, eliminação ou pelo assistencialismo e piedade. Na

Roma Antiga, desde os nobres até os plebeus tinham a permissão de sacrificar os

nascidos com algum tipo de deformidade. Segundo Silva:

“Anomalias físicas ou mentais, deformações congênitas, amputações traumáticas, doenças graves e de consequências incapacitantes, sejam elas de natureza transitória ou permanente, são tão antigas quanto à própria humanidade” (Silva, 1986, p. 21).

Desde a sociedade primitiva até os dias atuais é reconhecido que houve

pessoas com alguma limitação desde seu nascimento ou adquirida durante sua

vida. Por muito tempo, o único sentimento que existiu para com estas pessoas foi

de indiferença e discriminação.

Na Era Neolítica, por exemplo, objetos ornamentais como vaso e urnas

eram muitas vezes decorados com imagens de homens deformados dos quais os

mais comum eram: concurdas, anões, coxos e amputados. Segundo Silva(1986)

esses objetos da primitiva arte neolítica significavam que esses homens

sobreviviam até a idade adulta e poderiam ter algum valor, seja por motivos de

superstições, seja por real utilidade, para merecer sua representação num

utensílio permanente e de vital utilidade para os grupos sociais de então.

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Na época primitiva havia duas atitudes tomadas em relação à pessoa com

deficiência: a de aceitação, tolerância e apoio; a outra era representada pela

eliminação, menosprezo ou destruição.

“O que sucedia com os grupos que precisavam coletar alimentos, pescar e caçar

era que, apesar de haver um bom tratamento para com doentes e deficientes e mesmo para com os mais idosos de seus membros, de um modo especial na garantia da alimentação, o grupo maior tinha necessidade de livrar-se do peso que significavam as dificuldades na movimentação geral quando do escasseamento da caça, da pesca e dos outros tipos de alimentos”. (Silva,1986,p.27)

Apesar da distinção das culturas no posicionamento tomado frente às

pessoas com deficiência, segundo Silva(1986) raramente as causas de morte e

rejeição ocorre por discriminação ou ostracismo, mas sim pelas dificuldades em

períodos escassos de alimentação.

No Egito Antigo, há indícios mais seguros quanto à existência de pessoas

com deficiência. Nesse período, os anões eram tratados de forma igual aos

homens normais. Se fossem ricos poderiam até ocupar lugares importantes na

sociedade. Os de classe desfavorável eram adquiridos pelos faraós ou ricos

senhores, contudo não deixavam de ser respeitados.

Os registros dos males incapacitantes bem como a forma de tratamento

das pessoas que possuíam alguma limitação física são apresentados nesta época

em papiros. Uma dessas limitações é descrita como cegueira, ocasionada pela

infecção nos olhos que constantemente acometiam seus habitantes e por esta

razão o Egito ficou conhecido por muito tempo como a Terra dos Cegos.

A grande fertilidade das terras e as diversas possibilidades de trabalho

permitiram às pessoas com deficiências alcançar alguma ocupação e com isso

poder suprir suas necessidades.

Na Grécia Antiga, os pais não tinham o direito de criar o filho nascido com

problemas. Segundo as leis do local todo recém-nascido, independente de ter

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problemas ou não, era levado à uma comissão oficial. Nesta comissão os anciãos,

autoridade reconhecida, ao avaliar que a criança era normal e saudável devolvia

aos pais; caso contrário tomava a criança para si e levavam-na para um local

chamado “Àphotetai”. Este local tratava-se de um abismo onde a criança era

lançada para encontrar sua morte.

“Pois, tinham a opinião de que não era bom nem para a criança nem para a república que ela vivesse, visto como desde o nascimento não se mostrava bem constituída para ser forte, sã e rija durante toda a vida”.(Licurgo de Plutarco apud Silva,1986,p.105)

Diferente da cultura egípcia e da Grécia, em Roma não era obrigatório

executar crianças nascidas com má-formação, apesar de que em alguns casos

isso ocorresse. Segundo as leis, para os pais havia outra alternativa: deixar as

crianças em rios ou locais sagrados para que possivelmente fossem acolhidas por

famílias da plebe.

Ao serem resgatadas por famílias pobres essas crianças quando

cresciam, serviam como meio de exploração a fim de obter esmolas. Esse meio de

ganhar dinheiro era muito conhecido.

É nesta região que se vê pela primeira vez a utilização de pessoas com

deficiência para fins de prostituição e entretenimento das pessoas de maior poder

aquisitivo.

“Cegos, surdos, deficientes mentais e físicos e outros tipos de pessoas nascidas com má-formação eram também, de quando em quando, ligados às casas comerciais, tavernas e bordéis; bem como as atividades dos circos romanos, para serviços simples e às vezes humilhante”.(Silva, 1986, p.130)

Não obstante a condição de resignação frente à sociedade que julgava as

pessoas com deficiência como impróprias para atender aos padrões exigidos, os

mesmos se tornavam motivo de humilhação e subestimação à classe das pessoas

ricas que os menosprezavam por sua condição. O sentimento de inferioridade era

caracterizado pela sujeição destas pessoas às situações de constrangimento e

desrespeito que enfrentavam no cotidiano.

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O surgimento do Cristianismo caracterizou-se como uma nova forma de vê

e pensar os pobres, idosos e as pessoas com deficiência. A doutrina cristã

pregava os princípios da caridade, perdão e do amor ao próximo; fato que

conquistou os desfavorecidos.

Mais tarde outras classes foram aderindo a esta concepção, solidificando o

cristianismo por meio de um posicionamento mais justo entre os seres humanos.

O advento do Cristianismo influenciou também a criação de hospitais para abrigar

os viajantes enfermos, doentes crônicos e as pessoas com deficiência.

As atividades assistenciais, iniciadas pela Igreja Cristã, garantiam melhor

tratamento às pessoas pobres e deficientes, tendo como virtude a hospitalidade

advinda dos bispos. Estes se responsabilizavam por organizar e prestar

assistência aos pobres e enfermos. O atendimento à esta classe de pessoas foi

requerendo maior atuação prática.

“Pelas decisões conciliares (na verdade, a Igreja havia já organizado os concílios de Nicéa(325), Constantinopla (381), Éfeso (431) e Calcedonia (451), considerados como um dos mais importantes a dar abrigo e ajuda aos pobres e àqueles doentes que eram abandonados pelos parentes.(Silva,1986,p.178)

É certo que nos primeiros séculos da era cristã houve uma mudança de

olhar e tratar não só as pessoas com deficiência, mas também as pessoas

humildes e marginalizadas. Os hospitais e centros de abrigo continuaram a se

expandir com iniciativa principalmente de bispos e freiras.

No período da Idade Media houve um decrescimento na manutenção dos

abrigos e cuidados com os atendidos em decorrência do contínuo crescimento da

cidade. As pequenas regiões não tinham estrutura ou manutenção de recursos

voltados para saúde de sua população. A incidência de epidemias, causadoras de

graves sequelas, não foi controlada pelos médicos que não dispunham dos meios

básicos para eliminá-la.

“Muitas delas conseguiram salvar-se, mas com sérias sequelas, para ver o resto de seus dias passarem em situações de extrema privação e quase que absoluta marginalidade”.(Silva,1986,p.238)

5

Neste período, as crianças nascidas com alguma deformação não tinham

chances de sobreviver. As crenças de que estes bebês eram possuídos por

demônios foi transmitida para esta cultura. Se sobrevivessem, eram isoladas das

demais crianças. Em exceção, os anões e corcundas ganhavam destaque

significativo. Para a sociedade essas pessoas possuíam poderes contra o mau

olhado, pragas e epidemias que pudesse, porventura, afetar a população.

O predomínio das superstições e crenças de que essas pessoas com

defeito eram advindas de males sobrenaturais, afetou as pessoas com deficiência

que pela impossibilidade de garantir meios para sua sobrevivência se submeteram

a pedir esmolas.

“De seu lado, a população ligada aos vassalos e seus senhores, aos reis e

à nobreza toda, bem como os comerciantes e homens enriquecidos pela sorte ou pela aventura e mesmo o povo mais simples todos temerosos dos invisíveis e fantasiosos poderes malignos que esses seres deformados poderiam ter, faziam de tudo para afastá-los, mantendo-os longe de si em todas as ocasiões e por vezes até pagando por isso com comida ou com esmolas”. (Silva,1986,p.241)

Ao final deste período a questão das pessoas com deficiência se integrava

ao contexto de pobreza e marginalidade, onde se encontram boa parte da

população. Contudo, a atenção para estes problemas foram acentuados no

sentido de reconhecer a responsabilidade de cuidados e proteção à população

vulnerável da cidade.

A era do Renascimento marca uma fase de valorização do ser com o

princípio dos direitos universais caracterizados a partir da filosofia humanista.

“A Renascença surgia no mundo para tirar o homem de uma era de trevas,

ignorância e superstição, que foram os séculos da Idade Média”. (Silva,1986,p.248)

O desenvolvimento dos hospitais e abrigos demonstra uma nova forma de

vê a pessoa atingida por algum mal. A centralização dos cuidados para pessoas

com deficiência é esclarecida nesse período através de providências práticas.

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“Tanto a provisão de serviços individualizados quanto a indispensável garantia e manutenção permanente de serviços de saúde para as cidades, na Europa, durante os séculos XVI e XVII, firmaram-se e permaneceram como uma responsabilidade de cada comunidade e não do Estado como um todo”.(Silva,1986,p.248)

Nos séculos XVI e XVII, foram construídos hospitais específicos para o

atendimento das pessoas com deficiência. Aos poucos, essas pessoas eram

respeitadas e valorizadas como seres humanos. Por muitos anos, o Brasil foi

considerado um país atrasado em relação aos outros países que vinham se

modernizando e aprimorando suas respectivas culturas.

A chegada de homens vindos da Europa, interessados em residir no

Brasil ocasionou a tão esperada modernização. E em meio a esta reconceituação

cultural foram criadas três organizações para pessoas com deficientes tendo como

idealizador Dom Pedro II. São as tais:

Imperial Instituto dos Meninos Cegos- Diferentemente dos institutos que

apenas abrigavam os deficientes e aonde não havia nenhum interesse na

inserção destes na sociedade, o instituto surge como oportunidade de ensino

para os cegos. Essa iniciativa de Dom Pedro I foi influenciada por José Álvares

de Azevedo, jovem cego, passou sua infância e adolescência estudando na

França e retornou ao Brasil com o desejo de transmitir às pessoas cegas o

aprendizado que adquiriu.

Instituto dos Surdos-Mudos – Mais conhecido hoje como Instituto Nacional de

Educação de Surdos (INES), o instituto, na época, caracterizava-se pela

educação voltada para literatura e o ensino profissionalizante para os surdos-

mudos.A escola contava também com qualificados professores e recursos

materiais vindos da Europa, tornando-se referência no Brasil. Nesse instituto

eram admitidos crianças entre 7 a 14 anos, somente do sexo masculino, e

não era cobrado nenhuma taxa de contribuição.

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Asilo dos Inválidos da Pátria- Esta organização destinava-se ao abrigo e

proteção dos soldados mutilados em guerras. Este asilo representava não

somente um local de acolhimento e cuidados, significava uma retribuição de

gratidão e justiça aos representantes da pátria que se encontravam doentes

ou inutilizados para a vida militar e muitas das vezes para a vida civil.

Os avanços assistenciais voltados para as pessoas com deficiência foram

evidenciados em todos os anos do século XX. Não somente por ser uma questão

de filosofia social, mas pela preocupação da sociedade no bem-estar comum

verificado principalmente com os progressos científicos em todos os aspectos

sociais.

Princípios de proteção e educação especial, defendidos desde a

Renascença, foram aperfeiçoados e postos em prática. Além disso, houve

treinamentos profissionalizantes com a finalidade de oferecer meios de

sobrevivência às crianças deficientes em sua fase adulta.

A consciência humanizada foi experimentada nessa época com a adesão

de médicos e voluntários interessados em ajudar os mutilados das guerras e as

pessoas necessitadas. O crescimento tecnológico, através das informações a todo

momento, possibilitou os segmentos entender os problemas sociais e a partir

disso tratá-los.

“Em várias das nações mais civilizadas do mundo ocorreram nesses períodos de pós-guerra melhorias consideráveis nos sistemas de bem-estar social, chegando ao seguro social, à assistência pública, à promoção social e também, de um modo todo especial, às atividades totalmente

voltadas para a saúde pública”.(Silva,1986,p.323)

Numa trajetória imersa em altos e baixos que vai do menosprezo ao

tratamento específico de suas enfermidades, a pessoa com deficiência se reergue

na luta pelos seus direitos enquanto cidadãos. Embora a discriminação e o

preconceito em alguns casos sejam perpetuados até hoje, a inclusão destas

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pessoas na sociedade é bem aceita. A maturidade social, os temas pertinentes à

cidadania e os direitos humanos atentam para um novo modo de olhar e pensar a

pessoa com deficiência no contexto atual.

A ideia de incapacidade e improdutividade caracterizou a imagem do

deficiente nas mais diferentes civilizações; conforme Maciel (2000) a sociedade

sempre inabilitou a pessoa com deficiência marginalizando-o e privando-o da

liberdade, sendo este alvo de atitudes preconceituosas e piedosas.

Consequentemente, essas ações estigmatizaram a pessoa com deficiência em

toda sua vida considerando-a como incapaz e improdutiva para executar algo.

Tornou-se interesse do Estado modificar a realidade desse segmento, pois

segundo Aranha(1995) era grande o custeio em manter a população

institucionalizada na condição de improdutividade e concomitante ao discurso da

autonomia e produtividade se enfatizara a colocação num sistema, o mais próximo

possível, ao estilo de vida normal.

Apesar de estarem legitimadas desde 1975 com a Declaração dos Direitos

das Pessoas Deficientes, as transformações determinantes em relação à pessoa

com deficiência ocorre somente na década de 90, época de reivindicações sociais

que percorre em todos os contextos com a finalidade de construir uma sociedade

inclusiva não somente para os deficientes, mas todos os segmentos minoritários

existentes no período.

Como todo cidadão inserido em um sistema capitalista a pessoa com

deficiência precisa suprir suas necessidades básicas para sobreviver. No entanto,

as dificuldades tomam ampla dimensão quando as pessoas com deficiência

concorrem igualmente com os não deficientes: os recursos são inapropriadas para

atender as necessidades do indivíduo,pois o sistema de cotas não está inserido

em todas as empresas. Conforme Neri(2002) outros fatores colaboram para

exclusão dos deficientes no mercado de trabalho, as taxas de empregos formal

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em sua maioria são baixas e a falta de informação dos empregadores acerca dos

deficientes põem em desvantagem os deficientes em relação aos demais. Ainda segundo Neri(2002) é pouco o impacto da política de cotas sobre empresas nacionais, de grande porte, uma vez que a taxa de empregabilidade entre os indivíduos que apresentam algum tipo de

deficiência é de apenas 2,05%.

O sistema de cotas, embora elaborada como uma política de

empregabilidade reservada ao deficiente, não é efetivada dentro dos parâmetros

legais, desse modo, é fundamental avaliar políticas que promovam mudanças no

acesso à garantia de vagas no mercado profissional para esta população.A

possibilidade de uma sociedade para todos envolve as mudanças incisivas do

meio social em relação à pessoa com deficiência no provimento de recursos

materiais, psicológicos, sociais a fim de assegurar a participação dessa população

em seu meio social.

Nesse contexto atual, são muitos os determinantes que dificultam a

efetiva inclusão social, ainda que em menores proporções, a pessoa com

deficiência além de enfrentar as suas limitações, não alcança credibilidade quanto

a sua suficiência em atender as demandas do sistema capitalista. O processo de

exclusão na lógica capitalista em atribuir o deficiente como um fardo na sociedade

se intensifica quando conforme Aranha(1995) para este sistema, o mesmo não

produz e não atribui peso ao capital. Sob esta perspectiva Santos(2008) afirma:

“No país ainda a deficiência é compreendida como um fenômeno apenas patológico e não como uma expressão da diversidade humana. Essa compreensão dificulta, por exemplo, que a sociedade assuma responsabilidade em tratar a diferença com equidade, ao ajustar os ambientes sociais às diversidades corporais ou ao não promover políticas de trabalho, educação e assistência social específicas, reconhecendo as diferenças dessa minoria”. (Santos,2008.p,510)

Todo cidadão é livre e portador de direitos e deveres, para que estes

fatores estejam acessíveis ao cidadão é necessário a equidade de oportunidades

10

entre os mesmos, para que a realização pessoal e profissional não se restrinja

apenas à determinada parcela da população, mas que se desenvolva entre todos

sem distinção de condição física ou social.

11 1.2 O RECONHECIMENTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA COMO SER SOCIAL

A busca por reconhecimento dos direitos negados emerge de segmentos

minoritários num contexto de abertura politica evidenciados no final da década de

70. Os movimentos representam ações que transformam determinada estrutura

social; no contexto da década de 70 este movimento é constituído por atores

heterogêneos inseridos em um processo de redemocratização brasileira

impulsionados pela oportunidade de fazer política e da busca pela democracia. A

emergência dos movimentos traz para o Brasil outro significado de fazer política.

“A novidade dos movimentos sociais na cena politica representava,

portanto, nada menos que o ressurgimento da sociedade civil brasileira(...).A trajetória das relações entre sociedade civil e Estado, nas ultimas décadas aparece então, como dimensão privilegiada para compreender as conquistas, os dilemas tensões da construção democrática brasileira”.(Feltran,2006, p.372)

A nova vertente dos movimentos dá ênfase à democracia social com

ideais sólidos para se alcançar a justiça social em um sistema autoritário. Essa

estrutura vem, pois, requerer a participação popular junto ao governo em busca de

implementar a democracia e efetivar as transformações sociais almejadas.

As lutas sociais foram desde sempre movidas por segmentos excluídos ou

ignorados, a exemplos: o Movimento Feminista, Movimento dos Trabalhadores

Rurais sem Terra (MST), Movimento dos Negros; estes tinham ideais diferentes,

contudo, o objetivo era o mesmo: ser reconhecido. Dentre estes estão as pessoas

com deficiência, que buscam a garantia de seus direitos através do

reconhecimento de igualdade e cidadania.

O sentimento de inferioridade e a invisibilidade retrataram a condição de

resignação desse segmento em diferentes contextos sociais. A partir do século

XX, ao final da década de 70, época marcada por grandes movimentos sociais, a

inclusão social foi crescendo nos diversos setores, contudo a garantia de direitos

12

era mínima, o estigma da discriminação delimitava a participação efetiva dessa

população.

As primeiras organizações, antes da década de 70, surgiram com a

iniciativa das pessoas com deficiência que, sem projeto político definido, estatuto

ou lei que lhes amparassem, reuniam-se no intuito de trocar experiências de vida

e oferecer apoio mútuo. As organizações tomaram maiores proporções dando

lugar à consciência coletiva o que caracterizou a abertura dos caminhos para lutar

pelos seus direitos.

Não obstante à luta por reconhecimento, as pessoas com deficiência

reivindicam emancipação institucional e familiar numa perspectiva de

independência, as quais os mesmos adquiram autonomia quanto às suas

escolhas. A incumbência da família e sociedade em assumir o controle da vida e

tomar decisões em relação à pessoa com deficiência inibir o poder pessoal.Nesse

sentido Sassaki(1991) afirma que o movimento vida independente vem exigindo

que seja reconhecida a existência desse poder nas pessoas portadoras de

deficiência¹ e que seja respeitado o direito delas de usá-lo como e quando bem lhe

aprouver.

____________________________________________

¹ A expressão “pessoa portadora de deficiência” referenciada pelo autor Romeu Sassaki não é

mais utilizada. Segundo Silva(2009) a palavra portador reforça a ideia e segregação e exclusão

como também se remete a algo temporário. A partir da metade da década de 90 a nomenclatura

que remete ao deficiente é pessoa com deficiência, pois o indivíduo está acima de suas restrições

e antes de ter uma deficiência ele é uma pessoa.

13

A responsabilidade transferida para as mãos da família e sociedade

evidencia a condição de que a pessoa com deficiência, não sabe, não pode, não

está apta; são termos associados a este segmento que enfatiza a aparente

incapacidade, expressão que os mesmos desejam se desvincular.

Compreendemos, então, que as reivindicações expressavam um caráter libertário

no anseio de quebrar os paradigmas da tutela buscando a independência e o uso

do seu poder pessoal em decidir os rumos de sua vida.

Nos espaços de convivências as discussões voltadas para os direitos e

deveres dos mesmos enquanto cidadãos foram ganhando mais destaque. Este

fato incidiu na ação política em prol de seus direitos humanos. No final da década

de 70, esse movimento ganhou visibilidade, transformando essas pessoas em

agentes políticos de transformação social.

“O desejo de serem protagonistas políticos motivou uma mobilização

nacional. Essa história alimentou-se da conjuntura da época: o regime

militar, o processo de redemocratização brasileira e a promulgação, pela

ONU, em 1981, do Ano Internacional das Pessoas

Deficientes(AIPD)”.(Júnior,2010,p.36)

Após um período de estagnação, devido ao Regime Militar, os

movimentos sociais das pessoas com deficiência articulados às novas estratégias

de luta, organizam-se a fim de reivindicar igualdade de oportunidades e garantias

de direitos. O amadurecimento das discursões relevantes à inclusão e igualdade

respaldou este segmento que a partir da mobilização não se restringe à

conscientização dos próprios deficientes, mas a sociedade como um todo.

Nesse sentido, podemos compreender que a associação da pessoa com

deficiência e a forma como a sociedade está estruturada é que determina as

condicionalidades que lhes são atribuídas, tais como: exclusão, discriminação,

dificuldades (socais, físicas).

“A sociedade cria barreiras com relação a atitudes (medo, desconhecimento, falta de expectativas, estigma, preconceito), ao meio ambiente (inacessibilidade física) e institucionais

14

(discriminações de caráter legal) que impedem a plena participação das pessoas”.(Júnior,2010,p. 16)

Para tanto a conscientização torna-se relevante neste intuito: de se

fazer compreender e aceitar a participação igualitária de todos os segmentos

sociais numa mesma sociedade.

O movimento em prol do reconhecimento em ser cidadão não se

limitava as ações caritativas e assistências que se caracterizou por muito tempo

como elementos capazes de atender esse segmento. Eles aspiravam ao direito de

conduzirem suas próprias vidas. A causa dessas iniciativas foi reconhecida na

sociedade, no entanto, não há igualdade de direitos, o mercado de trabalho é

restrito e a qualidade dos empregos é mínima.

Os debates nas organizações em torno da sua participação social

permeiam as discussões nos encontros e manifestações públicas. O Núcleo de

Integração dos Deficientes (NID), representante de ações voltada para pessoas

com deficiência, norteada pela filosofia de integração, priorizava a participação de

todos no tocante às decisões sociais; em um de seus discursos se põe de maneira

crítica:

“Assim como não nos interessa escolas, cinemas, ônibus ou emprego só para deficientes, não nos interessa federações que excluem a participação de pessoas não deficientes(...) Ao que nos consta, nossa federação não congrega profissionais, mas pessoas(...) E pessoas se unem por objetivos fins, não por características físicas”.(Júnior,2010,p.42)

O Ano Internacional das Pessoas Deficientes (AIPD,1981) foi

fundamental no processo de eclosão nos encontros de discussão e debates sobre

a inserção da pessoa com deficiência no meio social. Esses encontros seguiram

não apenas nos locais das regiões brasileiras, mas ganharam espaço dentro e

fora do país. A consistência dos ideais e a proposição de diferentes temas

abordados nas discussões proporcionaram a construção de meios para

concretizar sua inserção na sociedade.

15

No final da década de 80 foi criado o Movimento de Vida

Independente(MVI) cuja finalidade está em incluir socialmente a pessoa com

deficiência a partir da sua independência individual. Organizado por pessoa com

deficiência, a bandeira de sua luta vai desde a não aceitação de permanecer à

margem da sociedade até a sua independência institucional e familiar. O MVI

conceitua a independência do individuo enfatizando a questão da autonomia

adquirida no dia a dia a fim de que a pessoa com deficiência se torne responsável

por suas próprias decisões.

Esse Movimento, de caráter reivindicativo, surge com a proposta

de modificar a predominante lógica da tutela, enfatizando uma vida independente.

Espelhado por movimentos de outros países, essa iniciativa repercute em todo

país abrangendo pessoas de vários lugares. Fundamentado dentro de uma

perspectiva que dissemina a independência e autonomia individual, esse

movimento além de reivindicar direitos, atuava na promoção de conscientização a

fim de que as pessoas com deficiência se transformassem em próprios agentes de

emancipação social.

Ao compreendermos os princípios que norteiam sua prática, apreendemos

os aspectos que embasam sua estrutura e traz a noção de vida independente.

São estes: Independência, Autonomia, Empoderamento, Autodeterminação e

Participação e Igualdade de Oportunidades.

Associando estas afirmações à analise de M.J.Spink e Medrado (1999) essa

gama de concepções é útil para entendermos a variabilidade encontrada nas

comunicações de cotidiano, obedecendo a uma linha de argumentação e

adotando um conceito de caráter polissêmico que caracterizam os vários sentidos

de seu discurso.

Portanto, conhecer os sentidos utilizados pelo MVI é compreender a

amplitude de termos variáveis que conceituam uma vida independente apesar das

suas limitações físicas. A utilização desses princípios como elemento

16

preponderante para se obter independência, representa a condição de aceitar ser

o protagonista de sua história e apropriar-se de sua cidadania, fatores que

refletem positivamente para sua afirmação pessoal e social.

Dentre esta, outras associações fizeram parte da construção coletiva

na luta pela inserção, igualdade de direitos e reconhecimento enquanto ser social.

Essas associações foram criadas com o intuito de atender necessidades

específicas, a exemplo: Morhan(O Movimento de Reintegração das Pessoas

Atingidas pela Hanseníase); Feneis(Federação Nacional de Educação e

Integração dos Surdos) e Febec(Federação Brasileira de Entidades de e para

Cegos).

Os movimentos representativos significaram a mudança de posição das

pessoas com deficiência na sociedade. O estigma da inferioridade e discriminação

deu lugar à conscientização de pertencer a um segmento digno de seu espaço

social. As representações passam a reivindicar participação ativa, respeito às

diferenças e meios para que seja possível alcançar a igualdade social.

Embora as dificuldades enfrentadas sejam inúmeras, as conquistas legais

representaram grandes avanços para esse segmento que visualiza a esperança

de ser reconhecido como cidadão digno de exercer seus direitos e deveres de

forma igualitária. Lana Junior(2010),destaca alguns avanços alcançados em lei

nos seguintes anos:

2004:Estabelecidas normas gerais e critérios básicos para a promoção da

acessibilidade arquitetônica e urbanística, de transportes, na informação e

comunicação e ajudas técnicas -resultado de debates, propostas, sistematizações

e consultas públicas (coordenação SDH).

2005: A Língua Brasileira de Sinais (Libras), meio legal de comunicação e

expressão, é incluída como disciplina curricular; simultaneamente, é

prevista e certificada a formação de professores e instrutores e garantida a

17

formação do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa; dados do Censo

Educação Superior/2008 (INEP/MEC) demonstram que a disciplina de Libras foi

ofertada em 7.614 cursos superiores; foram formados também 2.401 docentes

para o ensino da Libras e já existe um total de 2.725 intérpretes à disposição de

alunos surdos ou com deficiência auditiva (coordenação MEC).

2006: Garantido à pessoa com deficiência visual usuária de cão-guia o direito de

ingressar e permanecer com o animal em todos os locais públicos ou privados de

uso coletivo (coordenação SDH).

2007: Regulamentada a concessão de pensão especial às pessoas atingidas pela

hanseníase que foram submetidas a isolamento e internação compulsórios; o

Brasil é o primeiro país do ocidente a reconhecer essa ação como violação de

Direitos Humanos; foi instituída a Comissão Interministerial de Avaliação dos

requerimentos de indenização; 4.389 pessoas já foram beneficiadas com a

pensão, de dezembro de 2007 a dezembro de 2009 (coordenação SDH).

2008: Ratificados os textos da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com

Deficiência e seu Protocolo Facultativo. A Convenção, que cuida dos direitos civis,

políticos, econômicos, sociais e culturais dos cidadãos com deficiência, passa a

ser o primeiro tratado internacional de direitos humanos ratificado com

equivalência constitucional, nos termos da Emenda Constitucional 45/2004

(coordenação SDH).

2009 :Decreto n° 6.980- A Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da

Pessoa com Deficiência sucede a Coordenadoria Nacional para Integração da

Pessoa Portadora de Deficiência –CORDE. Com a estrutura maior e com o novo

status, o órgão gestor federal de coordenação e articulação das ações de

promoção,defesa e garantia de direitos humanos esse conjunto de 24,5 milhões

18

de brasileiros tem mais alcance, interlocução e capacidade de dar respostas às

novas demandas do segmento.

2010: Estabelecidas normas para o pagamento da indenização por dano moral às

pessoas que adquiriram deficiência física decorrente do uso da Talidomida. A

assinatura do Decreto contou como apoio do Poder Legislativo e foi resultado de

uma grande articulação política da assessoria parlamentar da Casa Civil e da

Secretaria de Direitos Humanos (SDH/PR). O Instituto Nacional do Seguro Social

(INSS) ficará responsável pela operacionalização do pagamento da indenização.

Os marcos legais que legitimam hoje a pessoa com deficiência é

creditado aos movimentos sociais representativos da categoria que, embutidos

pela transformação social, mobilizam-se em busca da garantia de seus direitos. O

caráter determinado e revolucionário do movimento pautado pela construção de

cidadania e Direitos Humanos reflete a condição de confronto contra práticas

meramente assistencialistas como a tutela assumida pela família e sociedade, e a

negação de direitos que apesar de estarem estabelecidos legalmente não eram

efetivados devido ao estigma do preconceito.

Dessa forma, compreendemos que a criação dos arcabouços legais

é fruto das lutas que se reconhece desde a década 70 e demarca um processo

de transição da ditadura militar para democracia através da participação da

sociedade civil, destacando os segmentos minoritários, na esfera política na busca

pela emancipação de direitos sociais e políticos.

A Iniciativa dos Movimentos Sociais reverte a posição de isolamento

que pessoa com deficiência estava condicionado. Haja vista as atitudes

predominantes do preconceito, estigma, submissão ainda deixem resquícios de

um passado recente, a pessoa com deficiência toma a posição de enfrentamento

e da não aceitação dos paradigmas de exclusão social.

19

O processo de reconhecimento ocorre quando as pessoas com

deficiência compartilham de interesses em comum e passam a exigir

transformação social, principalmente na forma de vê e pensar o deficiente como

ser social. Para Hegel (1991) os conflitos subjetivos são necessários para a

criação da consciência coletiva e a luta por reconhecimento acontece a partir

destes conflitos.

Para esmiuçar a forma como esses conflitos agridem a integridade

do indivíduo e a partir disso se torna um problema coletivo, Honnet estabelece três

formas de reconhecimento no qual os indivíduos se apropriam para alcançar os

seus objetivos. A primeira forma de reconhecimento refere-se ao respeito e

encorajamento oferecido pelos indivíduos ao qual o sujeito possui vínculos

afetivos e que condiciona ao sujeito autoconfiança e desenvolvimento de respeito

próprio.

A segunda forma de reconhecimento diz respeito à igualdade de

direitos no qual o indivíduo se apropria do seu posicionamento enquanto cidadão e

passa a requerer a efetivação legal do direito de igualdade. A terceira forma

estabelece o respeito e a aceitação de suas opiniões e escolhas dentro do seu

grupo, o que corresponde a uma relação de amparo e solidariedade.

“Somente quando o sujeito vivencia todas essas etapas e alcança a plena autoconsciência individual é que ele se reconhece como uma pessoa com direitos e poder de participação na vida social”.(Honnet,2003,p.119)

Ao observar a trajetória da pessoa com deficiência em busca do seu

reconhecimento social, percebe-se que a privação de direitos se colocou como o

grande entrave para o alcance dos avanços sociais e a formação de sua

identidade.

A consciência se sobrepõe a alienação a partir do momento em que a

coletividade incide sobre o indivíduo, permitindo a estruturação necessária para

que as alterações requeridas possam ser efetivadas. Portanto, o reconhecimento

social só é possível quando a coletividade identifica as variadas formas de

20

opressão, articulam-se de modo que haja tomada de consciência de sua condição

recriminada e a partir disso ocorra a luta pela igualdade de direitos e participação

social.

21

1.3 A Origem, ampliação e desenvolvimento da cidadania para as pessoas com deficiência

Com o crescimento acelerado da sociedade e seu desenvolvimento torna

-se imprescindível a criação do Estado a fim de assegurar os direitos e deveres

das pessoas. Logo, surge o conceito de cidadão. O primeiro registro do termo

cidadania se deu na Grécia, como um conceito político no qual se expressou como

direito e o dever de governar através da participação ativa na esfera política cujos

cidadãos permaneciam presentes e atentos aos rumos de sua sociedade.

Trazendo para o contexto atual cidadania se expressa no reconhecimento

do indivíduo em sua posição de legitimidade social e político, como diz Dagnino

(2004), a cidadania exerce um caráter de estratégia política, pois responde ao fato

de expressar um conjunto de seus interesses, desejos e aspirações de uma parte

significativa da sociedade.

Quando a negação de direitos, seja ele de ordem social, civil e política afeta

a condição de ser cidadão, inicia-se a luta pela sua afirmação, ou seja, incide os

movimentos sociais que, embasado em uma perspectiva inovadora, confronta

alguma estrutura social que esteja limitada ou não, supre as necessidades do

coletivo. Nesse sentido ainda conforme Dagnino (2004), nos movimentos sociais a

luta por direitos tanto o direito à igualdade como o direito às diferenças constitui a

base fundamental para a emergência de uma nova noção de cidadania.

Cidadania não está vinculada apenas a estratégias para obtenção de

direitos negados, sua dimensão assume caráter intrínseco na construção da

democracia, criação de novos atores sociais e a abertura nos espaços políticos.

De acordo com a Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos-Paraná,

cidadania é a expressão concreta do exercício da democracia, é a qualidade do

cidadão de poder exercer o conjunto de direitos e liberdade de seu país, é dever

da sociedade e do Estado democrático de direitos, zelar pela efetivação dos

direitos e cuidar para que não sejam violados. Para tanto, a participação ativa nas

22

discussões de cunho político, social, econômico e cultural que dizem respeito ao

presente e futuro de toda uma sociedade deve ser incentivada, pois todos são

sujeitos que serão diretamente afetados por estas decisões sejam elas boas ou

ruins.

A cidadania é fruto do processo histórico social que surge no Período

da Revolução Francesa (1789) com os princípios da igualdade, fraternidade e

liberdade em comum para todos os homens. O Estado burguês se estabelece

definindo um conceito de cidadania que se sobrepõem ao conceito clássico grego.

Cidadania passa ser a possibilidade de autonomia do indivíduo no processo de

sua apropriação ao mundo social produtivo.

Este Estado estabelecia as regras da cidadania, discriminava os seus

direitos e aferia a forma como deveriam ser desfrutados. A ideia de cidadania foi

estabelecida nas legislações dos Estados, em contraposição à declaração formal

de liberdade a exclusão de um grande segmento da sociedade era crescente em

todos os aspectos sociais. Como se vê a forma de cidadania plena não era

exercida pelos cidadãos uma vez que estes direitos eram monitorados pelo

Estado. Somente no século XIX, pensou-se na efetivação dos direitos sociais

como forma de minimizar as desigualdades.

“Tratou-se, então, já no século XIX, de se buscar os direitos sociais como ações estatais que compensassem aquelas desigualdades, municiando os desvalidos com direitos implantados e construídos de forma coletiva, em prol da saúde, da educação, da moradia, do trabalho, do lazer e da cultura de todos”.(Fonseca,2005).

A questão da cidadania se materializa com a Declaração Universal

dos Direitos dos Homens (1948), logo após a Segunda Guerra Mundial(1939-

1945), quando a violação dos direitos fundamentais afetam diretamente a

integridade do indivíduo acarretando uma necessidade de enfrentamento

juntamente com a viabilização de garantia e proteção de direitos.

23

É o momento que se oportuniza a possibilidade de consolidar a

valorização do indivíduo de forma universal como meio de minimizar as

desigualdades e acentuar a condição de cidadão participativo.

Segundo o autor Marshall(1967), o conceito de cidadania pode ser

classificado em três elementos distintos que nos permitem ter uma visão ampla

sobre seu significado. O Direito Civil consiste nos direitos necessários à liberdade

individual, liberdade de ir e vir, de imprensa, pensamento e fé, o direito à

propriedade e à justiça; o Direito Político diz respeito ao direito de participar no

exercício do poder político como um membro participante da autoridade política ou

como um eleitor de tal membro deste organismo; o Direito Social refere-se a tudo

que envolve o direito a um mínimo bem-estar econômico e segurança.

Apesar das dificuldades enfrentadas para que vigorasse suas leis, a

Declaração Universal dos Direitos dos Homens apresenta-se pela primeira vez

como uma ruptura das ideias do Estado Absolutista, trazendo a dimensão de

direitos para todos os indivíduos com o ideal de proporcionar o respeito, a

liberdade e cidadania.

“A partir das lutas travadas pela burguesia criou-se condições para a

instituição formal de um elenco de direitos que passariam a ser considerados como fundamentais para os seres humanos”. (Gonçalves,1994,p.17)

Numa perspectiva que abrange as necessidades mais amplas do

indivíduo, aprofundaremos nos Direitos Sociais que vai além dos direitos de

moradia, saúde, assistência ou previdência. Os Direitos Sociais se configuram

como as transformações exigidas pelos segmentos sociais que reivindicam

condições necessárias para usufruir de garantias e igualdades perante o Estado

de forma democrática.

“Trata-se, portanto, não apenas de enunciar direitos nos textos

constitucionais, mas também de prevê mecanismos adequados para a viabilização de suas condições de satisfação. Nesse campo o Estado passa a ser um agente promotor de garantias e direitos sociais”. ( Gonçalves apud Dornelles,1994,p. 30-31)

24

Tratando-se da pessoa com deficiência, os direitos sociais se encontram

na luta pela inclusão, garantias e igualdade de direitos que não são reconhecidos

na sociedade e por esta razão prejudica a integração efetiva desses sujeitos em

seu meio social.

A inserção nos setores públicos tais como cotas nas universidades,

reserva no mercado de trabalho, adaptação dos espaços públicos, garantia de

salário mínimo para aqueles que não podem suprir as suas necessidades, são

frutos das lutas históricas travadas há mais de vinte anos por entidades

organizativas que decidiram reivindicar a sua condição e a viabilização ao bem-

estar econômico, político e social.

Para que a pessoa com deficiência se aproprie de fato dos seus direitos

e exerça plenamente a cidadania, é necessário que haja a disseminação da

consciência social como um todo de modo que a pessoa com deficiência adquira

reconhecimento, autonomia e independência para fazer suas próprias escolhas.

Segundo Covre (1999), a cidadania é o próprio direito à vida no sentido

pleno. Trata-se do direito que precisa ser construído coletivamente, não só em

termos do atendimento às necessidades básicas, mas de acesso a todos os níveis

de existência, incluindo o mais abrangente, o papel do homem no universo.

Nesse sentido, para que a pessoa com deficiência goze dos seus direitos

civis, políticos, econômicos e sociais, ou seja, exerça cidadania, é necessário que

seja proporcionado a este: o acesso irrestrito ao trabalho, assistência e lazer de

maneira que a participação democrática abranja os diversos segmentos sociais,

principalmente as pessoas com deficiências, assegurando o respeito aos seus

direitos no âmbito da Sociedade, Estado e Poder Público.

25

CAPÍTULO II

PROTEÇÃO LEGAL À PESSOA COM DEFICIÊNCIA

2.1 Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) predispõe em seu

1º artigo que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e

direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às

outras com espírito de fraternidade’’. A afirmação desse direito condiz um

conjunto de elementos que prioriza a proteção de toda pessoa sob quaisquer

circunstâncias na qual esteja inserida. Apesar de estar inclusa neste artigo, a

pessoa com deficiência sofre com condutas preconceituosas que surgem da

sociedade e consequentemente afetam sua sobrevivência.

As pessoas com deficiência têm o direito de exercer o papel de cidadão

de forma igualitária aos demais, contudo para que isso se concretize se faz

necessário minimizar não somente as barreiras materiais que o deficiente enfrenta

em seu habitual cotidiano, mas principalmente com as barreiras sociais criadas

pela sociedade e reproduzidas sob diversas dimensões.

Para atender de forma mais específica, em 1975 a ONU(Organizações das

Nações Unidas) estabelece a Declaração dos Direitos das Pessoas com

Deficiência, fruto oriundo das lutas travadas pelas organizações da classe, a qual

determina e assegura direitos destinados à defesa da cidadania e bem-estar

desse segmento.

Eis os direitos dispostos da Declaração da Pessoa com Deficiência(1975):

- As pessoas independente de sua origem, natureza, ou gravidade têm os

mesmos direitos que os outros cidadãos;

- As pessoas com deficiência têm o direito de desenvolver capacidades que as

tornem autoconfiantes;

26

- O direito ao tratamento médico, psicológico e reparador, visando a sua

reabilitação, bem como o acesso a serviços que a habilitam a desenvolver

capacidades voltadas para sua integração e reintegração social;

- O direito à segurança social econômica e a um nível de bem-estar digno. Elas

têm o direito , segundo suas capacidades, ao emprego ou de participar de

ocupação útil e remunerada;

- O direito a que suas necessidades especiais sejam incluídas no planejamento

econômico e social;

- As pessoas com deficiência têm o direito de viver com sua família e de participar

das atividades sociais. Elas não serão submetidas, a tratamento discriminatório

necessário para melhorar o seu bem-estar;

- O direito à proteção contra toda e qualquer exploração;

- Direito ao apoio jurídico qualificado quando tal apoio mostra-se indispensável

para sua proteção, e

- As pessoas com deficiência, suas famílias e a comunidade devem ser

plenamente informadas, pelos meios apropriados, dos direitos contidos na

Declaração.

A Declaração foi criada com o intuito de proteger os direitos das pessoas

com deficiência considerando suas necessidades em todos os aspectos: sociais,

políticos e econômicos. O marco referencial pactuado por todas as nações que

têm assento na ONU, força essas nações elaborarem em suas realidades

específicas leis que façam cumprir os compromissos firmados na Assembléia

Geral da ONU, como forma de manter a condição de país signatário das

conquistas da Carta Universal dos Direitos Humanos.

27

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 traz em suas atribuições legais

os elementos dispostos nos artigos 7º, que trata dos Direitos Sociais; 23º que trata

da saúde, assistência e proteção aos deficientes;24º da integração social; 37º das

reservas de vagas no mercado de trabalho;201 vedar a diferenciação de

tratamento;208 inserção no ensino regular; 227 do atendimento especializado;

244 adaptação dos espaços públicos; estes dispositivos amparam a pessoa com

deficiência em suas necessidades específicas.

A Constituição é considerada um marco na história de luta, pois

estabelece leis que priorizam a proteção, a integridade e a condição de igualdade

social que há muito tempo tem sido requerida por este segmento.

Segundo Araújo(2001), apesar de se encontram legalmente amparadas,as

pessoas com deficiência enfrentam vários problemas para a efetivação, seja por

desconhecimento de seus direitos, ou por indiferença advinda do Estado ou

Sociedade em admitir as diferenças e promover a devida inclusão.

“Sob tal perspectiva a concretização do direito à igualdade importa a implementação de duas estratégias: o combate à discriminação e a promoção da igualdade”.(Araújo,2001, pag 7)

Para tanto é necessário que se destaque que garantias de direito

voltadas para esse segmento sem, no entanto, distinguir ou discriminá-lo por sua

condição. Ainda Conforme Araújo(2001) algumas medidas se tornam

indispensáveis para apropriar-se desses direitos: o direito ao respeito a sua

dignidade como pessoa humana; a adoção de medidas próprias a capacitá-las e

tornarem-se, quando possível, autoconfiantes; o direito a tratamento médico,

psicológico e funcional para desenvolvimento de capacidades e habilidades; à

segurança material em nível de vida decente, em atividades produtivas e

remuneradas de acordo com as aptidões.

28

O Estado é cobrado a dar vazão ao que é previsto na Carta Magna

brasileira, uma vez que estabelecidos meios de inclusão através dos marcos

legais é necessário analisar se o que está disposto em lei está sendo cumprido,

pois não haverá inclusão se não há observância da atuação do Estado. Para isso,

é preciso que haja a participação de todos, como um dever que parte da

coletividade, pois, embora estes direitos estejam contemplados pela Constituição,

não garante a efetiva integração social, segundo Rostelato (2012) a inclusão

social se constitui em processo para a construção de uma sociedade

transformada. Não obstando ser um dever apenas de responsabilidade do Estado,

mas que esse não pode se furtar a colocá-lo como fundamento nas ações que

garantam a efetivação dos direitos humanos. Sendo conduzido como preocupação

universal o redimensionamento das prioridades do governo para a efetivação dos

savalguardos direitos das pessoas com deficiência.

Portanto, para construir uma inclusão social não basta apenas a

iniciativa das pessoas com deficiência para fazer valer o seu acontecimento, é

preciso ações integrativas advindas da sociedade, visualizando o deficiente como

cidadão provido de direitos e obrigações, e que portanto, é digno de ter

oportunidades semelhantes aos demais, dessa maneira aquilo que é diferente não

é visto como desigual mas como parte constitutiva de uma sociedade

diversificada. Nesse sentido, Curioni (2004) ressalta a inclusão social como

princípio ético que se fundamenta no reconhecimento e respeito ao preceito de

oportunidades iguais perante a diversidade humana, diversidade esta que exige

peculiaridades de tratamentos, para não se transformar em desigualdade social.

29

2.2 A Evolução Histórica dos Direitos Humanos e a Deflagrada Violação

dos Direitos da Pessoa com Deficiência

O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, criado pela

Organização das Nações Unidas, instituiu-se como forma de sensibilizar a

sociedade mundial, de que as oportunidades da vida em sociedade devem ser

iguais a todos os indivíduos e em especial àqueles que apresentam características

específicas de ser. No entanto, mesmo com as diversas manifestações de

sensibilização e defesa, a violação dos direitos humanos e mais especificamente,

do direito das pessoas com deficiência, permanece como um grande desafio para

quem luta por essa causa. Compreendemos que os Direitos Humano são

partilhados por todos segmentos sociais, como afirma Staerklé, Delay, Gianettoni

& Roux(2007) os direitos não se encontram uniformemente distribuídos nas

hierarquias sociais, sendo mais fácil para os membros de alguns grupos usufruir

de um leque alargado de direitos, enquanto que os membros dos grupos

socialmente desfavorecidos têm acesso a um leque mais restrito.

Os Direitos Humanos, inicialmente, remetem aos direitos básicos de

qualquer indivíduo, fundamentais para garantir que a pessoa tenha uma vida

digna; no tocante aos direitos que remetem a uma condição específica, como é o

caso da pessoa com deficiência, é necessário uma mobilização mais enfática que

exige uma revisão nos aspectos culturais das sociedades, lócus oportuno para o

surgimento das atitudes preconceituosas e de viés excludente. Nessas

configurações, observa-se consequências que deságuam no descaso, nas

desigualdades sociais, na desmoralização do indivíduo enquanto cidadão e

aferem com maior proporção aos segmentos vulneráveis.

Há um certo agravamento quando se reporta às violações dos direitos

humanos das pessoas com deficiência, uma vez que, além de não ter seus

direitos garantidos, sofrem a exclusão social. Nesse sentido, compreendemos, que

a dignidade da

30

pessoa com deficiência não se concretizará enquanto a sociedade não assimilar e

apreender o seu conceito. Nessa compreensão Silva(2000) explica:

“Respeitar a diferença não pode significar “deixar que o outro seja como eu sou” ou “deixar que o outro seja diferente de mim tal como eu sou diferente(do outro)”, mas deixar que ele seja esse outro que não pode ser eu, que eu não posso ser; significa deixar que o outro seja diferente, deixar que não seja uma diferença entre duas identidades, mas diferença da identidade(...)”(Silva,2000)

Buscou-se, portanto, leis e artigos, ao longo da história, que amparassem

as pessoas com deficiência e que pudessem garantir a sua dignidade enquanto

ser humano, contudo seus dispositivos legais se apresentavam de modo amplo,

sendo insuficiente para abranger as especificidades dos deficientes. Nas

Constituições Brasileiras que se seguiram do ano de 1824 a 1967, as garantias

estabelecidas são mínimas, pois garantem a igualdade de todos, entretanto não

promovem a igualdade.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) em seu artigo 1º

dispõe “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direito”,

trazendo este artigo para realidade compreendemos que este direito é violado

quando a pessoa com deficiência é recriminada pela sua condição física, sendo

posta à margem da sociedade, o que pressupõe a predominância de

desigualdades da pessoa com deficiência em relação à sociedade. Esta violação

se concretiza nos espaços sociais quando as ações da sociedade reprimem o

desenvolvimento cognitivo, social e político destes indivíduos. Nesse sentido,

segundo o Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos das Pessoas com

Deficiência(2004) a ideia de igualdade significa tratar diferentemente os diferentes,

reafirmando seu direito à igualdade e possibilitando o direito de não ser diferente.

Será possível perceber que enquanto houver discriminação, negação à este

direito, as mais diferentes palavras serão incapazes de contemplar totalmente o

conceito e satisfazer aqueles que com ele lidam.

31

Os artigos contemplados na Declaração Universal dos Direitos

Humanos(1948) oportunizou a criação de outros órgãos que condicionassem a

dignidade desses indivíduos. Em seu artigo 1º a Declaração dos Direitos Humanos

dispõe: todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos;

em 1975, a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes no artigo 8º diz: as

pessoas têm o direito de ter suas necessidades especiais levadas em

consideração em todos os estágios de planejamento econômico e social. No ano

de 1982, a ONU elabora o Programa de Ação Mundial para as Pessoas com

Deficiência e se aprofunda na questão da igualdade para todos como se verifica

no parágrafo 12: a igualdade de oportunidades é o processo mediante o qual o

sistema geral da sociedade o meio físico e cultural, a habitação, o transporte, os

serviços sociais e de saúde, as oportunidades de lazer torna-se acessível a todos.

Nesse sentido, compreendemos que os meios para se legitimar a pessoa

com deficiência trazem consigo dispositivos relevantes para sua concretização, no

entanto, condicionar estas diretrizes à sua efetivação se torna inviável quando não

há uma apropriação destas ideias entre as partes, ou seja, sociedade e Estado.

A Constituição de 1988 veio consolidar todos esses direitos de modo

mais consistente, abrindo novas possibilidades para construção de uma sociedade

democraticamente justa entre todos os indivíduos. Partindo numa concepção de

Gramsci(2002), a constituição de 1988 pode ser analisada como um passo

importante no processo de revolução passiva que vem se processando no país, e

implica em dois momentos: o da restauração- pois trata-se de uma reação à

possibilidade de uma transformação efetiva e radical – e o da renovação – na

medida em que muitas demandas populares são assimiladas e postas em práticas

pelas classes dominantes.

À luz da Constituição de 88 compreenderemos como os direitos da

pessoa com deficiência são violados e que de maneira o arcabouço legal se

posiciona diante de seu descumprimento. O direito de ir e vir, constantemente

32

desrespeitado no Brasil, a dificuldade é encontrada quando não há meios

acessíveis para sua locomoção; seja em vias públicas ou nos meios de transporte.

Neste sentido a Constituição dispõe:

“Assegurar a eliminação de obstáculos arquitetônicos e a obrigação da regulamentação acerca da construção dos logradouros e dos edifícios de uso público, bem como da fabricação de veículos de transporte coletivo, é matéria de fundamental importância para as pessoas portadoras de deficiência, eis que o acesso adequado é, após a preliminar conscientização, literalmente, o próximo passo para alcançar os demais direitos”.(Constituição Federal,1988,Art.227 § 2)

A garantia de acessibilidade não se restringe apenas a assegurar o

direito, contudo, corrobora esse direito ao estabelecer normas relativas ao

desenvolvimento urbano, assegurar a erradicação de barreiras que impeçam a

sua liberdade de ir e vir. No artigo 141, paragrafo IV dispõe eliminação de

obstáculos arquitetônicos às pessoas portadoras de deficiência física.

Embora a Constituição garanta os meios para assegurar saúde de

qualidade e que abranja as especificidades de todos indivíduos, a pessoa com

deficiência enfrenta as violações desta natureza quando o há profissionais

despreparados, há falta de recursos humanos e matérias adequados às suas

especificidades, e quando não há um sistema que promova a prevenção de

deficiências. No artigo 23, paragrafo II a Constituição é clara quando determina o

cuidado com a saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas

com deficiência.

A violação ocorre também no acesso à educação. A inclusão de pessoas

com deficiência começou a ser idealizada com a Declaração de Salamanca, na

década de 90, a fim de romper com os paradigmas de exclusão e isolamento

desse segmento em sua vida social. Nesta percepção a educação inclusiva

promove a integração e valorização do diferente, buscando a inclusão de todos

sem distinção.

"O princípio fundamental da educação inclusiva é a valorização da diversidade e

da comunidade humana. Quando a educação inclusiva é totalmente abraçada, nós

33

abandonamos a ideia de que as crianças devem se tornar normais para contribuir

para o mundo”. (KUNC, 1992 apud CÂNDIDO, 2009).

No entanto, a educação inclusiva atende uma pequena parcela dessa

população, não contemplando a todos neste sistema educacional. As violações se

estabelecem através da falta de profissionais especializados para atender às

demandas específicas, quando não há adaptação para recebê-los e os

investimentos para efetivação deste sistema são mínimos.

A Constituição Federal preconiza a educação dentro dos padrões

regulares de ensino educacional, em seu artigo 208º, paragrafo III predispõe

atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino; “(...). Neste sentido compreende-se

que toda forma de distinção ao acesso e permanência das pessoas com

deficiência no ensino regular se caracteriza além de violação, um crime que se

constitui como uma infração penal .

De acordo com a Lei nº 7.716 de 1989 a qual define os crimes resultantes

de preconceito de raça ou de cor, caracteriza-se como um crime recusar, negar

ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público

ou privado de qualquer natureza, sob a pena reclusão de três a cinco anos.

O acesso ao trabalho, condição fundamental para que os indivíduos

possam obter meios para sobreviver, é um dos direitos mais violados e atingem

em maior proporção as pessoas com deficiência. A discriminação, a falta de

profissionalização, a recusa das empresas em incluir esses indivíduos em seu

quadro funcional, são condições relevantes que disseminam e causam a exclusão

social. Compreendendo que a inacessibilidade ao trabalho contribui para que a

pessoa com deficiência permaneça à margem da sociedade, e consequentemente

não exerça seu papel de cidadania, conforme Resende(1996) pode-se afirmar:

“Sem informação e sem recursos financeiros, envolvidos num contexto onde a sobrevivência é a luta principal, os portadores de deficiência ficam esquecidos num

34

canto pela família, pela sociedade e pelas autoridades. Ficam marginalizados do convívio social, sem cidadania, sem dignidade”.(Resende,1996,p.16)

Segundo dados do IBGE(2010), estima-se que no país existam 46

milhões de pessoas com deficiência e que compreende 24% da população

brasileira. Considerando que este número significativo engloba pessoas capazes

de ter uma vida laborativa normal dentro de seus limites, e que o preconceito

subestima a sua condição humana, violando seus direitos enquanto cidadão, fez-

se necessário observar a Constituição de 1988 que traz em seu arcabouço

normas que asseguram a integração do deficiente à vida social e ao mercado de

trabalho, como também diretrizes de criminalização contra práticas

discriminatórias.

O artigo 7º dispõe que são direitos dos trabalhadores urbanos e

rurais, além de outros que visem a melhoria de sua condição social, mais

adiante no § XXXI prediz acerca da proibição de qualquer discriminação no

tocante a salários e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência. A

Constituição, portanto estabelece normas de integração no intuito de agregar o

indivíduo na vida comunitária e dispõe de regulamentações que criminalizam

atitudes de negação ou recusa á efetivação destes direitos.

Pode-se dizer que estas violações são constantes no cotidiano destas

pessoas uma vez que como afirma Ribas (2004), não existe a consciência da

responsabilidade social para os empresários e a contratação ocorre apenas para

cumprir a lei, não existindo um real comprometimento com a empregabilidade.

Neste entendimento compreendemos que a pessoa com deficiência, na percepção

de empresários, não é vista como uma pessoa capaz para atender aos padrões

normativos da mesma, e em razão disto não irá trazer lucratividade à empresa.

Além disso, o nível baixo de escolaridade não permite o mesmo ser enquadrado

na instituição; observamos, pois, que além do direito ao trabalho ser violado

percebemos que antes disso foi violado outro direito : a educação, e torna-se uma

35

barreira quando não conseguem empregos, e quando conseguem ocupam cargos

pequenos.

Ainda conforme Ribas(2004), a legislação vigente não garante o

incentivo governamental para qualificar profissionalmente pessoas com deficiência

e, portanto, as empresas são cobradas a cumprir a legislação, que fixa uma

porcentagem de contratações, mas são muito pouco encorajadas com auxílios

estratégicos.

Nesta perspectiva, compreendemos que para haver trabalho qualificado,

as pessoas com deficiência devem qualificar-se profissionalmente para tanto,

todavia para que haja profissionalização é necessário investimentos na educação,

em cursos de capacitação, de modo a preparar o indivíduo para integrar-se em

todas as esferas da sociedade.

As declarações, leis, convenções que buscaram garantir os direitos das

pessoas com deficiência na sociedade desde os anos 40,mostraram-se

insuficientes para atender as especificidades destes indivíduos; somente no final

da década de 80 com a Constituição de 1988 incorporou-se garantias de direitos e

diretrizes determinantes para os crimes cometidos contra as pessoas com

deficiência.

A Constituição de 1988 representa até os dias atuais o instrumento mais

eficiente na viabilização dos direitos sociais, civis e políticos de todos os cidadãos,

sua legitimidade é enfatizada quando um dos seus conceitos fundamentais se

concretiza no princípio da isonomia e igualdade, na proibição de diferenças e

discriminação que ocorre nas diversas estruturas sociais. Portanto, percebemos

que a Constituição foi o marco no processo de redemocratização do país

oportunizando o comprometimento com os direitos coletivos e inovações legais

que absorviam os anseios dos cidadãos.

36

Conforme Piovesan (2007), a Constituição confere uma unidade de

sentido, de valor, e de concordância prática ao sistema dos direitos fundamentais.

E ela repousa na dignidade da pessoa humana, ou seja, na concepção que faz a

pessoa fundamento e fim da sociedade e do Estado.

A Constituição de 1988 não significou a resolução do todos os

problemas sociais, das dificuldades econômicas, ou da completa efetivação das

políticas públicas. No entanto, compreendemos que a Constituição foi fundamental

para reconhecer e atender as necessidades do cidadão, neste caso, ao se tratar

da pessoa com deficiência, as garantias de integração à vida e a adequação da

sociedade para atendê-los se constitui na conjuntura social como uma resposta

aos anos de luta contra a exclusão, as desigualdades e segregações a que eram

submetidos.

37

2.3 INCENTIVO AO ESPORTE

A proposta de inclusão para as pessoas com deficiência através do

esporte, surge em meados dos séculos XVIII e XIX como forma de combater a

reclusão, ocasionada principalmente pelo preconceito, advindo da sociedade.

Nesta perspectiva, o incentivo ao esporte amplia as possibilidades de interação

com o seu ambiente como também a oportunidade de redescobrir a vida social.

Segundo Wheeler et al. (1999), o esporte adaptado é desenvolvido em

quatro objetivos: reabilitação, oportunidade social, recrutamento e continuidade ao

esporte.

A sociedade se encontra diante de outra forma de praticar esporte. Este

se apresenta com novas formas de interpretações que se adaptam às

necessidades, objetivos e expectativas dos indivíduos envolvidos em sua prática.

Para Marques et al. (2009), o esporte adaptado insere a pessoa com deficiente a

partir do princípio de inclusão que consiste na incorporação dos corpos que se

encontram fora dos padrões da normalidade, e que necessitam de superação e

compreensão daqueles inseridos nos padrões na normalidade para serem

aceitos.

A idealização do esporte adaptado iniciou-se com incentivo do médico

neurologista Ludwig Guttmann¹, que visualizou no esporte a possibilidade de

reabilitação física e a capacidade de integração social da pessoa com deficiência.

_________________________________________________

¹ Médico neurologista, nasceu na Polônia em 1899,especialista em tratamento de pacientes com lesão

medular. Começou a usar o esporte para auxiliar na reabilitação de seus pacientes .A iniciativa deu certo,

logo depois criou os jogos Paraolímpicos, após a 2° Guerra Mundial, guerra que deixou milhares de

pessoas mutiladas ou marcadas por lesões corporais. Guttman acreditava que o esporte era parte

inseparável da reabilitação dos pacientes.

38

“O trabalho de reabilitação buscou no esporte não só o valor terapêutico, mas o poder de suscitar novas possibilidades, o que resultou na maior interação dessas pessoas. O esporte estava devolvendo à comunidade um deficiente, capaz de ser eficiente pelo menos no esporte”.(Araújo, 1997)

A busca pela qualidade de vida junto a oportunidade de efetivar a inclusão

social da pessoa com deficiência, fez com que em 1945 Guttmann fundasse o

programa organizado de esportes em cadeiras de rodas e em 1948 o I Jogos

Desportivos de Stoke Mandeville. Esta iniciativa repercute em diversos países de

modo que em 1960 surge os Jogos Paraolímpicos, contando com a participação

de 240 atletas de 23 países¹ .

Além de ser compreendido como um tipo de tratamento terapêutico os

Jogos Paraolímpicos representam também uma oportunidade para inclusão social.

“O movimento de inclusão é uma forma elaborada que procura, através de ações articuladas, adaptar a pessoa com deficiência à sociedade e vice-versa”.(Duarte e Santos, 2003)

As primeiras paraolimpíadas ocorreram em Roma tendo como organizador o

Comitê Olímpico Internacional (COI) que aderiu em suas competições o esgrima

,basquete, atletismo, tênis de mesa e arco-e-flecha. Nos anos posteriores, a

adesão aos esportes adaptados torna-se crescente de tal forma que foi fundado a

Federação Mundial dos Veteranos com a finalidade de regulamentar regras e

normas às competições que viriam a acontecer.

_____________________________________

¹ Movimento de Inclusão e Qualificação do Especial Independente

(MIQUEI).<http://http://blogdamiquei.blogspot.com.br/historiadasolimpiadas>.Acesso em 16

de Maio 2013.

39

A participação de brasileiros nas paraolimpíadas ocorre pela primeira vez

em 1972 na Alemanha, contudo somente em 1976 ,nas paraolimpíadas do

Canadá os brasileiros alcançariam medalhas, foram estes: Robson Sampaio de

Almeida e Luís Carlos "Curtinho" na modalidade Bocha².

Nos anos seguintes o Brasil se destaca, trazendo atletas de vários estados

que competem em diferentes modalidades. Das modalidades praticadas, as

principais são:

Atletismo: Consiste em competições de salto, corridas, lançamentos e

arremessos. Esta modalidade trouxe ao Brasil, desde 1984, um total de 73

medalhas, incluindo ouro, prata e bronze.

Basquete de cadeiras de rodas: Praticado principalmente por portadores de

deficiência física, ocorreu pela primeira vez em 1946.

Natação: Esta modalidade abrange homens e mulheres portadores de deficiência

física e visual em provas de estilo livre e peito, costas e borboletas. Em 2007 o

Brasil conquistou o segundo lugar nesta modalidade, ficando atrás dos Estados

Unidos.

Para muitos atletas o esporte adaptado significa o único sentido para

continuar vivendo. Há aqueles que vivem unicamente para o esporte, outros

conciliam sua vida entre o esporte e o trabalho. Na percepção de Brazuna e

Castro(2001), para muitos atletas o esporte define sua vida inteira, tendo um

sentido importante na sua identidade, fragilizada pelas pré-concepções de corpo

perfeito ou corpo eficiente.

² Esse esporte foi criado para priorizar as pessoas com grande comprometimento físico. Embora

seja uma modalidade criada para portadores de deficiência com comprometimento severo em sua função física, não deixa de ser um esporte puramente competitivo. Por esse motivo às perspectivas para o futuro desse esporte no país são as mais otimistas possíveis.A Bocha para portadores de deficiência foi trazida para o Brasil em 1995, pela ANDE (Associação Nacional de Desportos para Deficientes), e o número de atletas praticantes vem crescendo a cada ano. (Fundação Municipal dos Esportes- Cricíuma),<www.fme.cricuima.sc.gov.br> Acesso em 21 de Maio 2013)

40

A idealização de ser atleta assume caráter decisivo quando a eles é

permitido explorar suas capacidades físicas, competir em igualdade considerando

que o seu adversário é portador de determinada limitação física e por esta razão

encontram-se em condições semelhantes. A construção da ideia de ser atleta

mencionado por Goffman(1988), expressa-se como condutas que só podem ser

alcançados por eles mesmos, uma vez que as pessoas dentro dos padrões

normais não passaram pelas mesmas dificuldades. Ainda segundo

Goffman(1988), em seus menores atos, eles sentem, podem ser avaliados como

sinais de capacidades notáveis e extraordinárias nessas circunstâncias.

Nessa perspectiva compreende-se que o esporte adaptado está associado

à elevação da autoestima e a possibilidade de superar sua limitação num mesmo

nível de competição. Ainda segundo Brazuna e Castro(2001), o resultado mais

importante do esporte adaptado venha ser a construção da percepção de atleta ao

invés de “pessoa com deficiência’’; é importante ser visto não como uma pessoa

portadora de deficiência mas como um nadador ou um corredor, por exemplo.

Embora possuam a mesma estrutura organizacional dos jogos olímpicos,

os jogos paraolímpicos se diferenciam em suas idealizações. As paraolimpíadas

possuem características inclusivas que buscam melhorar a capacidade de

enfrentam os desafios, autocontrole e minimizarem o preconceito, promovendo o

respeito mútuo.

A priori o surgimento do esporte adaptado tem em sua gênese a

concepção de reabilitação e recuperação de sujeitos com lesão medular, constrói-

se para assistir às pessoas com deficiência que segundo Marques et al. (2009)

não surge como um diferenciador social, mas sim como um movimento de luta

pela inclusão social através da prática esportiva.

No entanto, a perspectiva do esporte adaptado se transforma ao longo dos

anos, partindo de uma intenção terapêutica e inclusiva para uma aproximação

com a prática competitiva em disputas paraolímpicas. Essa transformação supera

41

a capacidade de se vê como cidadão ativo e contribui na mudança de como a

sociedade percebe a pessoa com deficiência, auxiliando-os a transpor as suas

limitações e aperfeiçoar sua capacidades.

42

3.1. PERCURSO METODOLÓGICO

A presente pesquisa caracterizou-se de uma abordagem quanti-

qualitativa, em um estudo de campo e levantamento de dados como afirma

Minayo (2010), enquanto a pesquisa qualitativa trabalha com o universo dos

significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes

no qual o ser humano se distingue não só por agir, mas pensar sobre o que faz e

por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilha com seus

semelhantes; a pesquisa quantitativa, conforme Fonseca(2002) centra-se na

objetividade, considera que a realidade só pode ser compreendida com base na

análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos padronizados e

neutros. A pesquisa quantitativa recorre à linguagem matemática para descrever

as causas de um fenômeno, as relações entre variáveis etc. A utilização conjunta

da pesquisa qualitativa e quantitativa permite recolher mais informações do que se

poderia conseguir isoladamente. Os resultados são tomados como se

constituíssem um retrato real de toda a população alvo da pesquisa.

Nesse entendimento, a referida pesquisa utilizou as duas abordagens

supra, de modo a contemplar todas as etapas da pesquisa que vai desde o

conhecimento subjetivo do objeto ao levantamento e mensuração dos dados

obtidos. Para realização desta pesquisa participaram 06 atletas adultos com

diferentes tipos de deficiência, que integram o Projeto Paradesportivo Edivaldo

Prado no Município de Maracanaú-CE.

O instrumento de pesquisa foi a entrevista, possibilitando uma maior

apreensão das respostas do objeto pesquisado, a partir de dados que nos levarão

a conhecer a história de vida, as limitações enfrentadas e a inserção no esporte

como fator determinante para o enfrentamento da exclusão e preconceito.

43

Antes de iniciar a pesquisa de campo, entramos em contato com a

Instituição com o intuito de obter autorização para realização da pesquisa. Alguns

dias depois, recebemos autorização e foram entrevistados seis atletas na própria

instituição.

Os atletas propuseram-se a conceder entrevista sem nenhum receio,

contudo, foram-lhes entregue os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido

(Anexo) a fim de resguardarem suas falas exclusivamente para a realização da

pesquisa. Concomitante a aplicação do questinário, foram realizadas gravações

em áudio, mediante a autorização dos entrevistados.O recurso de gravação de

áudio em entrevistas, potencializa a fidedignidade da expressão do entrevistado.

Como afirmam Ludke e André(1986) que a gravação possui a vantagem de

registrar todas as expressões orais, deixando o entrevistador livre para prestar

atenção ao entrevistado.

O Percurso Metodológico desta pesquisa foi traçado a partir dos

instrumentos de apreensão do objeto que nos permitiram analisar a sua

problemática, o perfil e as subjetividades dos sujeitos, tornando-se fundamental

para compreensão das categorias analíticas e apresentar os resultados desta

pesquisa.

44

3.2 PERFIL DOS ATLETAS ENTREVISTADOS

Nesta pesquisa o perfil dos atletas foi traçado segundo os parâmetros de

sexo, idade, escolaridade e a modalidade do esporte praticado. A análise das falas

dos entrevistados busca desvendar a percepção de cidadania que estes

construíram após a inserção no projeto através do esporte. Aliado ao depoimento

dos entrevistados, as análises das categorias deficiência, cidadania e inclusão

social favorecem ao desvelamento da proposta. As entrevistas foram realizadas

com seis atletas que representaram o universo de setenta pessoas integrantes do

Projeto Edivaldo Prado. Os entrevistados receberam nomes fictícios, conforme

preenchimento do Termo de Consentimento de Entrevista que resguarda a

identidade dos mesmos.

Entrevistado Idade Sexo Tipo de Deficiência Modalidade Praticada

Leandro 46 M Anomalia nos membros inferiores Natação

Vitória 47 F Paraplegia Tênis de Mesa

Carlos 32 M Anomalia no membro superior direito Natação e Tênis de Mesa

Tereza 26 F Hemiparesia¹ Tênis de Mesa

Pedro 22 M Antebraço Amputado Natação e Tênis de Mesa

Gilberto 36 M Paralisia Infantil Natação

______________________________________________________________

¹ Hemiparesia é a paralisia parcial de um lado do corpo. Geralmente é causado por lesões

corticospinal (pertencente ao córtex cerebral e à medula espinal), responsável pelos movimentos

dos músculos do corpo e seus membros. <http://doencasneurologicas.blogs.sapo.pt>Acesso em

03 de Junho 2013.

45

Apresentamos a priori a caracterização dos sujeitos da pesquisa partindo dos

seguintes aspectos: dados pessoais, idade, sexo, classificação quanto ao tipo e

deficiência e por fim a modalidade esportiva praticada pelos mesmos. Através do

levantamento de dados(disposto no anexo), obtidos na pesquisa de campo,

analisaremos os resultados alcançados no percurso metodológico.

A pesquisa utilizou-se da abordagem quanti-qualitativa, em estudo de

campo, pois conforme Diehl(2004) a pesquisa quantitativa se faz necessário pelo

uso da quantificação, tanto na coleta quanto no tratamento das informações,

utilizando-se de técnicas estatísticas, objetivando resultados que evitem possíveis

distorções de análise e interpretação, possibilitando uma maior margem de

segurança.

Gráfico I

Gráfico 1-Porcentagem dos integrantes

Fonte:Pesquisa de Campo(2013)

46

O gráfico 1 expressa o quantitativo de integrantes do Projeto no qual

analisamos a predominância do sexo masculino, qual seja 80% de seus

integrantes composto por homens e 20% de mulheres. Nesta perspectiva

observamos um duplo desdobramento referente ao sexo feminino que se

desenvolve a partir de dois fatores: gênero e condição física.

A presença da mulher na sociedade foi marcada pela exclusão em

diferentes contextos sociais; o predomínio da figura masculina caracterizava a

cultura conservadora que trazia consigo uma estrutura constituída fortemente dos

preceitos patriarcais e que por esta razão restringia a participação feminina nos

espaços sociais; à mulher, estava condicionado o papel de cuidadora do lar e

reprodutora.

Dentro destes parâmetros sociais está a prática do esporte, pois além de

ser considerado impróprio para este sua condição, a mulher não poderia enfrentar

esforços, pois era um sexo frágil e havia o receio de que com o esporte a mulher

viesse a se masculinizar. Nesse sentido Alonso(2003) afirma: às mulheres não se

recomendava a prática de nenhuma atividade física, seja ela a corrida, exercícios

ginásticos ou modalidades esportivas por se acreditar em consequências

decorrentes, como por exemplo, o enrijecimento muscular, a diminuição da

gordura e a melhora da capacidade cárdio-respiratória , o que poderia afastar a

mulher de seu destino “natural” que era o casamento e a procriação.

A participação da mulher no esporte se consolida em meados dos anos

40 quando há uma preocupação médica quanto ao desenvolvimento de mudanças

e melhores condições de saúde e principalmente com o intuito de constituir uma

saudável nação, como afirma Pacheco(1998) é recomendada a prática da

atividade física com o claro intuito nacionalista: era tarefa da mulher, estereotipada

como figura materna, gerar o futuro "saudável, resistente e forte" do país, portanto

era preciso transformá-la em elemento sadio de procriação para que se

47

conseguisse o tão sonhado aprimoramento racial e cultural da nação. No século

XX, as mulheres ganham espaço nos jogos paraolímpicos, ganhando visibilidade

nas diversas competições.

Compreendemos, portanto, que a inserção da mulher na prática de

esporte ainda está se desenvolvendo, a exemplo do Projeto Edvaldo Prado. Seja

pela extensão de uma cultura conservadora da classe masculina seja pela

condição de ser mulher e deficiente, entendemos que o receio em estar inserida

nos espaços públicos é relevante,por outro lado observamos que as mulheres

integrantes do Projeto sentem-se capazes de superar seus limites, e absorvem

um ideal libertário que elevam sua condição de cidadã.

Gráfico II

Gráfico 2-Porcentagem Faixa Etária

Fonte:Pesquisa de Campo(2013)

48

O gráfico 2 apresenta a faixa etária dos integrantes do Projeto, o

levantamento de dados revelou que os deficientes de 10 a 20 anos compreendem

16%, 20 30 anos compõem 49% e os de 30 a 40 anos contabilizam

35%.Analisamos, neste aspecto, que o Projeto abrange as diversas fases da vida;

observamos também que é significativa a presença de pessoas deficientes com

mais de 30 anos na prática do esporte,o que demonstra a necessidade de buscar

o bem-estar físico, psicológico e a interação social com outros indivíduos.

Compreendemos, pois, que para a pessoa com deficiência a busca pelo

fortalecimento da autoestima é almejada por inúmeras razões, como por exemplo

a diminuição da depressão, nesse sentido conforme Cobo et al (2003) quanto

mais elevada a autoestima, o indivíduo apresenta mais possibilidade de sucesso,

uma vez que, caso a autoestima seja negativa em relação ao êxito de desejar

conquistar, o fracasso se assegurará muito antes do começo da atividade

desejada.

Gráfico III

Gráfico 3 - Porcentagem Escolaridade

Fonte:Pesquisa de Campo(2013)

49

Apresentamos no gráfico 3 grau de escolaridade e constatamos que

53% dos deficientes concluíram o ensino médio, 25 % possuem ensino

fundamental completo e 22% não chegaram a concluir o ensino fundamental

incompleto. Os dados levantados demonstram um dos mais importantes no que se

refere a inclusão do indivíduo, pois só é possível adentrar ao mercado de trabalho

se houver ensino básico; se por um lado há um déficit na educação como um todo

à pessoa com deficiência esta realidade torna-se mais agravante,pois as barreiras

latitudinais, como a não adaptação dos transportes públicos,as calçadas não são

acessíveis em seu trajeto, muitas escolas não se adaptam às necessidades dessa

população tanto em sua estrutura material(espaços acessíveis,matérias para

atender as diversas especificidades) e física(professores não estão preparados

para lidar com alunos deficientes).

Nesse sentido, é necessário viabilizar meios que estimulem o

desenvolvimento do indivíduo, de acordo com Ferreira (2005), o desenvolvimento

de qualquer sujeito está articulado com sua constituição orgânica, mas é fundado,

constituído na vida coletiva. É, pois, na coletividade, nas relações sociais que se

concretiza a aprendizagem. Dessa forma a escola pode ser concebida como um

espaço privilegiado de vivência compartilhada de atividades humanas.

No Projeto compreendemos a concentração de pessoas que concluíram o

ensino médio em maior proporção. Se por um lado, significativa parcela dessa

população superou os obstáculos arquitetônicos e sociais advindos em seu

cotidiano; de outro lado é possível perceber na fala daqueles que não

conseguiram terminar seus estudos, os motivos pelos quais não concluíram seu

ensino básico, e podemos compreender que o preconceito era fator prepoderante

para que o mesmo viesse abandonar a escola, outras já nos informam que não

havia condições para o deslocamento uma vez que a instituição de ensino era

distante de sua residência.

50

Entretanto, é perceptível nas falas de umas das entrevistadas o desejo de

concluir os estudos e até ingressar numa universidade, quando perguntamos o

motivo de sua desistência , na qual respondeu:

“Eu cresci numa família pobre,e com o meu problema as coisas ficaram mais

difíceis ainda, pois tinha que ir ao médico, fazer tratamento.Fui à escola até a 5º

série, a minha mãe me levava, depois não quis mais ir,e eu via o sacrifício que

ela fazia,eu sempre dizia que depois ia começar de novo ,mas nunca dava.Hoje

tenho o sonho de concluir os estudos e fazer um faculdade de Fisioterapia.

Tenho dois filhos, um faz faculdade de Fisioterapia e a menina faz Direito.Os

dois decidiram seguir essa profissão por minha causa,pra me ajudar.E eu sou

feliz porque sei que não estou sozinha”.(Vitória,47,paraplégica desde os 02

anos de idade,é casada, tem dois filhos).

Gráfico IV

Gráfico 4-Condição Sócio Ocupacional

Fonte:Pesquisa de Campo(2013)

51

No gráfico 4 analisamos a condição sócio ocupacional dos paratletas, a

qual observou um significativo percentual de pessoas ocupantes de diferentes

profissões. Na realidade do Projeto em análise, é comum que as pessoas

empregadas tenham adquirido emprego a partir da iniciativa das empresas

patrocinadoras, como se observa no gráfico. De um modo geral é oferecido o

cargo de assessor de telemarketing. O percentual de atletas do Projeto que estão

inseridos no mercado de trabalho é 53%, em contraposição aos 47% que

sobrevivem com a ajuda de custo do Projeto e com a renda da família.

Gráfico V

Gráfico 5-Localização(Residência)

Fonte: Pesquisa de Campo(2013)

Em relação à local de moradia, observamos que no Gráfico 5 , 57%

residem no Conjunto Carlos Jereissati I e II, 23% moram no Conjunto Timbó e

20% na Colônia Antônio Justa. A representação geográfica permitiu-nos analisar

52

as condições sócio econômicas dessa população. O Conjunto Carlos Jereissati,

bairro integrante da malha urbana do município de Maracanaú, é onde se

concentra a maior parte da população com melhor poder aquisitivo. É também

onde se localiza o Projeto, sendo assim visível a melhor acessibilidade para

inserção nesta política de integração.

Os participantes do Conjunto Timbó representam o segundo maior número

de pessoas que fazem parte do Centro, são pessoas que possuem uma condição

de vida razoável dentro dos padrões básicos para vida.

A Colônia Antônio Justa é o bairro mais distante do Projeto e os moradores deste

bairro são em sua maioria de origem humilde, não possuindo muitas condições de

vida. No entanto, há uma parcela de pessoas com deficiência que integram o

Projeto e permanecem, pois além do salário adquirido com o esporte, possuem

uma ajuda de custo para sair e retorna a sua moradia.

53

3.3 A PERCEPÇÃO DO ESPORTE ADAPTADO COMO FORMA DE

INTEGRAÇÃO E DE SUPERAÇÃO DAS DIFICULDADES IMPOSTAS PELA

DEFICIÊNCIA

A partir das expressões dos entrevistados, verifica-se que a compreensão

de que a prática do esporte adaptado proporciona à pessoa com deficiência

inúmeros benefícios que vai desde a melhoria da saúde até a capacidade de

ultrapassar barreiras físicas ocasionadas pela própria deficiência e barreiras

sociais advindas da sociedade é algo inconteste entre os entrevistados, as falas

dos entrevistados apontam para essa observação:

“É importante ‘pra’ saúde, ‘pra’ minha vida pessoal porque eu me

relaciono com os meus amigos de trabalho, né ? Converso com os meus

colegas de treinamento e tenho uma vida social bem ativa nesse ponto.”

( Tereza,26, possui hemiparesia, pratica tênis de mesa)

“A prática(do esporte)? É muito bom, porque através do esporte você tem

saúde, força de vontade, você tem uma série de coisas que só vai

beneficiar a você mesmo, porque ali você está fazendo o esporte, não é

isso?” ( Leandro,46, anomalia dos membros inferiores,pratica natação)

Em seus sentidos, é notório que a prática do esporte não está restrita às

competições que esses atletas participam, ela agrega um significado amplo no

qual o sujeito internaliza esporte no sentido de descobrir suas potencialidades e

externaliza quando se apropria de seus direitos, e quando se reconhece como

uma pessoa capaz de enfrentar as dificuldades impostas pela sua limitação e pela

sociedade.

A prática do esporte é atribuída a outro caráter singular, mas não menos

importante: a integração social, na qual Cruz(1996) aponta, a integração encontra-

se presente, de uma maneira geral, nos programas voltados para portadores de

necessidades especiais em suas especificidades, a ênfase se encontra no

desenvolvimento das condutas psicomotoras de base, além do desenvolvimento

afetivo, cognitivo e das qualidades físicas.

54

Sob esta afirmativa, entendemos que o esporte adaptado promove a

integração social a partir do momento em que a prática age na subjetividade do

indivíduo em diferentes aspectos quais sejam: aspecto motor(percepção auditiva,

visual e tátil; coordenação motora), aspecto cognitivo (adquire conhecimento),

aspecto social(relações interpessoais, interação, comunicação). Cabe destacar

outras características fundamentais no esporte adaptado na busca da integração e

o enfrentamento de suas limitações; são princípios que exprimem a capacidade

de se auto afirmar enquanto cidadão detentor de direitos e oportunidades iguais

aos outros cidadãos. É o principio da normalização e o princípio da

individualização.

Para Rosadas(1994), o princípio da normalização preconiza a proposição

de atividades que se aproximem o máximo possível das condições de

normalidade, enquanto o princípio da individualização se refere ao incremento das

potencialidades dos sujeitos em questão, sem perder de vista suas limitações e

dificuldades.

Nesta perspectiva, entendemos que os esportes adaptados caracterizam

pela integração por inserir a pessoa com deficiência na sociedade; pela

normalização quanto a adaptação de meios onde o mesmo se aproxima da

realidade e pela individualização, porque através das competições, atendendo e

adaptando à realidade individual e biológica de cada deficiente, alcançou-se a sua

participação em atividades físicas e desportivas.

Devemos entender que não obstante à essas preposições existem uma

serie de barreiras que se irrompem para que a inclusão da pessoa com deficiente

não seja totalmente efetivada.Através do principio da integração e inclusão é

necessários repensar novos caminhos a se percorrer em busca de uma atitude

superadora.

55

3.4 O PAPEL DO CENTRO PARADESPORTIVO EDIVALDO PRADO NO PROCESSO DE PROMOÇÃO DA CIADANIA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.

O Centro Paradesportivo Edivaldo Prado localizado no município de

Maracanaú, fundado em 2006, foi idealizado com a finalidade de inserir as

pessoas com deficiência residentes em Maracanaú, em práticas esportivas que

oportunizam a inclusão social e a cidadania dessa população na

sociedade.Embora represente a entidade de Maracanaú que mais investe na

pessoa com deficiência, com a finalidade de tornar a pessoa com deficiência um

atleta eficiente, o Projeto passou por grandes dificuldades para idealizar seus

objetivos.

O surgimento do Projeto Edivaldo Prado partiu da iniciativa do atleta

Edivaldo Prado, que adquiriu paralisia infantil aos oito meses de vida, contudo em

seu crescimento foi-lhe recomendado a prática da natação. O investimento no

esporte trouxe a ele 42 medalhas em conquistadas em competições nacionais e

internacionais , no entanto, Edivaldo absorvia o desejo de investir nas pessoas

com deficiência que como ele tivessem o desejo de se tornar atleta, no entanto, o

mesmo não detinha de condições financeiras para iniciar um projeto voltado para

esse público.

Edivaldo ficou conhecido nacionalmente, após conquistar o primeiro lugar

nos Jogos Parapanamerianos do México em 1999.Logo depois foi convidado por

uma emissora nacional para conceder entrevista no qual o mesmo falou sobre sua

vida, as dificuldades enfrentadas e sua carreira esportiva. Na oportunidade

afirmou à emissora que havia ganhado um terreno da Prefeitura de Maracacanaú

para edificar o Projeto e que precisava de R$ 10.000 para construir a piscina.

Depois que o programa saiu do ar dois patrocinadores contribuíram com os R$

10.000 .Ao perceber que a entrevista havia repercutido,Edvaldo tomou a atitude

de conversar com o então prefeito Júlio César , esse fato ocorreu no ano de 2000.

56

Em Maracanaú, nesse período, havia 10.800 pessoas¹ (IBGE) com algum

tipo de deficiência, desse modo, o referido prefeito doou o terreno, contudo, o

projeto precisava de uma estrutura que contemplasse todas as necessidades

dessa população.Em 2006, Edivaldo Prado conheceu a Fundação Beto Studart

que foi a pioneira das entidades financiadoras do projeto.

Desde então surgiram outras entidades financiadoras que, além de custear os

materiais,investem em professores qualificados para dar aulas de natação e tênis

de mesa, divulgam o projeto e reservam vagas no mercado de trabalho em

empresas filiadas. Dessa forma, o Projeto vem se desenvolvendo e ganhando

destaque tanto no município, como nacionalmente.

¹ Dados do IBGE(2000) disponível em <www.ibge.org.br.> Acesso em 17 Julho 2013

57

As principais fontes financiadoras do Projeto são:

Gerdau:Patrocínio de manutenção do centro para 120 crianças,

adolescentes e adultos, custeando a manutenção do centro com os pagamentos

de instrutoria de natação e tênis de mesa.

Fundação Beto Studart:Patrocinou com a construção da nossa sede.

Governo do Estado do Ceará: apoia com pagamentos de passagens

aéreas de nossos atletas que representam o estado em competições nacionais.

Coelce: apoia 10 paratletas para trabalharem como assistentes de marketingda empresa com carteira assinada aonde todos os salários são restritamente dos atletas.Patrocinou através da LEI de Incentivo ao Esporte em 2010.

Cepimar: apoia com ajuda de custo para compra de materiais de limpeza.

TotalDesk: apoia com a construção do nosso site e manutenção do mesmo.

Prefeitura de Maracanaú: ajudou com a doação do terreno para a nossa

sede.

Projeto Mão Amiga: apoiou em 2010 com o projeto custeando o pagamento

de um professor de natação e de materiais esportivos

SP: contratou um paratleta como assessor de marketing para divulgar a sua

empresa.

ABL têxtil: Faz doações de roupas uma vez por ano para fazermos bazar e

ajudar nossos beneficiados.

Fama investimentos:Ajuda o projeto com a manutenção apoiando o projeto

medalha de ouro aonde atendemos crianças com e sem deficiência do município

de Maracanaú e cidades circunvizinhanças.

Guanabara:Contratou 16 paratletas como assessores de marketing.

Serlares:Contratou 13 paratletas como assessores de marketing.

58

Com o advento do Projeto ao município, a visibilidade para este segmento

excluído avança a partir da promoção de oportunidades adquiridas com a prática

do esporte. A cidadania é construída a medida em que os mesmos se fazem

reconhecidos enquanto tal e trazem reconhecimento para sua cidade; segundo

Gohn(2012), a cidadania pressupõe a liberdade e a autonomia dos indivíduos em

um sistema de mercado,em que todos sejam respeitados e tenham garantias

mínimas para a livre manifestação de suas opiniões e da autorrealização de suas

potencialidades.Sob esta perspectiva a cidadania é evidenciada na capacidade do

atleta em desenvolver seu potencial através da prática do esporte, permite o

indivíduo descobrir outras qualidades, aperfeiçoá-las, superando suas limitações.

O compromisso do Projeto em promover cidadania não permanece

restrita somente à prática do esporte, mas na responsabilidade social em levar

estes atletas a adquirirem acessibilidade nos diversos âmbitos sociais que

estruturam -se sob novas dimensões.

Em uma de suas falas, a paratleta “Vitória”,47 anos, paraplégica desde os

02 anos de idade, atleta de tênis de mesa, destaca como a prática do esporte

modificou sua vida neste aspecto:

“Para mim a prática do esporte foi um diferencial,pois modificou o meu dia a dia.

Descobrir novas amizades, porque aqui as pessoas olham a gente de outra

maneira. O Projeto veio do céu, pois aqui há colegas igual a gente, há uma

identificação”

Neste sentido,ainda de acordo com Dagnino(1994), a construção de

cidadania se apresenta como um processo de aprendizado social, de construção

de novas formas de relações que inclui a constituição de cidadãos enquanto

sujeitos sociais ativos.

Compreendemos, portanto, que ao longo do processo histórico dos

movimentos, a pessoa com deficiência se apropria de uma nova identidade cuja

finalidade é revelada na negação de práticas de características discriminatórias e

59

caritativas que permaneciam até então enraizadas na sociedade. As novas

reivindicações são incumbidas de um novo sentido de cidadania que se estrutura

sob uma proposta de sociabilidade, encontram-se não somente no âmbito formal

da legalidade que determina seus direitos, todavia, na integração das relações

sociais em todos os níveis.

Quando se apreende o sentido de participação cidadã, o indivíduo se

desprende da atuação passiva, valoriza as relações interpessoais; compreende os

seus direitos de forma ampla, não mais como ações benéficas e caridosas. Nesta

pesquisa, exercer cidadania significa estar incluído socialmente por meio da

prática do esporte e representar sua categoria trazendo reconhecimento para sua

cidade. Na concepção de Gohn(2012), essa nova cidadania construída representa

mudanças e indicam transformações mais profundas que estão se operando no

seio da sociedade brasileira , qual seja, nas formas de representar as lutas e as

demandas da população.

Nas entrevistas pode-se verificar que os mesmos exercem cidadania por

meio do esporte, como se pode constatar nos relatos a seguir:

“Eu sei que exerço cidadania, quando posso contribuir ,trazendo reconhecimento pra cidade. Os empresários nos veem com outros olhos, o investimento no projeto nos possibilitou ser mais cidadãos através dos financiamentos em esportes. É assim que me sinto cidadão quando trago reconhecimento a minha cidade pelo que eu faço”. ( Leandro,46, anomalia dos membros inferiores, pratica natação)

“Depois que entrei no Projeto já me vejo mais como cidadã, pois estou batalhando por meus objetivos. Antes eu vivia em casa, não saía, agora já me

vejo diferente, hoje eu sei que posso ir além”.( Vitória,47,paraplegica,pratica tênis de mesa)

São, no entanto, novas demandas que se caracterizam através do

surgimento de novos atores sociais como outra perspectiva de vida e se traduz no

desejo de ser sujeito-participante na sua comunidade;é nesta compreensão que

Dagnino(1994) vem afirmar a nova cidadania como um projeto para uma nova

60

sociabilidade: não somente a incorporação no sistema político em sentido estrito,

mas um formato mais igualitário de relações sociais em todos os níveis, inclusive

novas regras para viver em sociedade (negociação de conflitos, um novo sentido

de ordem pública e de responsabilidade pública, um novo contrato social etc).

Percebe-se que os entrevistados se sentem cidadãos à medida em que são

reconhecidos pelo o que fazem e no momento em que se constituem como atores

sociais, pois compreendem que podem alcançar seus ideais mesmo diante de

uma limitação física. Neste sentido, para Dagnino(1994), essa cidadania requer a

constituição de sujeitos sociais ativos, definindo o que consideram ser seus

direitos e lutando para o seu reconhecimento enquanto tais.

Portanto a noção de cidadania transcende a questão do direito a ter

direitos, ela emerge das transformações exigidas, principalmente dos segmentos

excluídos, por uma nova estruturação de relações sociais.

Entendemos que cidadania não se faz com um individuo, ela é formada

por vários indivíduos que lutam por interesses em comum. Neste sentido, o

idealizador do Projeto que recebe seu nome, Edvaldo Prado, absorvido pela

vontade de proporcionar a inclusão e o reconhecimento dos deficientes residentes

de Maracanaú, buscou de vários meios para concretizar o seu sonho. As

empresas mantenedoras do projeto investem de maneiras distintas com o objetivo

de promover a inclusão, conscientização de igualdade para todos, permitindo que

eles exercem o direito de ser cidadãos.

O papel do Projeto Edivaldo Prado em busca da construção cidadã de

seus atletas provém da capacidade de articular a prática do esporte adaptado com

os benefícios alcançados a partir da prática. É perceptível nas falas dos

entrevistados as mudanças positivas ocorridas a partir da inserção no Projeto e

que se refletem nos cuidados com a saúde, na sua sociabilidade, no alcance de

trabalho onde não são discriminado, ter uma perspectiva de futuro; todos estes

elementos contribuem para uma nova expectativa de vida que acontece de dentro

61

para fora. O indivíduo internaliza a noção de cidadania, na qual ele reconhece que

é capaz de exerça-la porque participa de sua sociedade, ele entende a sua

diferença, mas compreende que a mesma não determina sua capacidade de

trabalhar, idealizar seus sonhos e de ser cidadão.

Para se alcançar e gozar de cidadania plena é preciso entender que ela

somente é possível através da inclusão social. Ampliaremos a noção de inclusão

segundo as teorias de Romeu Sassaki(1991) que explora amplamente a questão

desta categoria como uma demanda que emerge e se desenvolve a partir da

década de 80 após uma época de distintas práticas que vão da exclusão à

segregação, da integração à inclusão social.Para Sassaki(1991), esse movimento

tem por objetivo a construção de uma sociedade para todas as pessoas levando

em consideração os princípios: celebração das diferenças, direito de pertencer,

valorização da diversidade humana, solidariedade humanitária, igual importância

das minorias, cidadania com qualidade de vida.

Antes de entendermos como as pessoas com deficiência compreendem

a inclusão social em seu contexto, é preciso distinguir o conceito de integração e

inclusão social. Ainda conforme Sassaki(1991), integração consiste na inserção do

deficiente na sociedade desde que ele tenha alcançado um nível compatível com

os padrões da sociedade vigente de modo que esteja de alguma forma preparado

para superar as barreiras existentes na mesma. Na Inclusão Social, a sociedade

se adapta para incluir esses indivíduos, constitui, então, um processo bilateral no

qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam,em parceria, equacionar

problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para

todos.

Compreendemos, portanto que, a integração social não supera a ideia de

segregação uma vez que não satisfaz os direitos plenos do indivíduo, tendo em

vista que o mesmo é que deve se adaptar a sociedade e se estiver capacitado

para tanto. Por outra perspectiva, a inclusão social envolve a sociedade e o

62

indivíduo com deficiência de modo que a mudança ocorra por ambas as partes,

constitui-se sobre a construção de uma nova estrutura social através das

transformações desde o modo como as pessoas pensam e aceitam a pessoa com

deficiência até à estruturas maiores de forma que esta sociedade esteja adaptada

para receber estes indivíduos.

Sendo o esporte umas das formas de inclusão social, percebemos nas

falas dos atletas que a pratica esportiva é significativa em sua inserção, todavia

afirmam que ainda não há igualdade, pois a sociedade não conhece o papel do

Projeto dentro de Maracanaú, a sua importância social e por esta razão não existe

a inclusão social em seu sentido concreto.

Perguntado sobre a contribuição do esporte no processo de inclusão

social, destaco as falas mais marcantes:

“De várias formas porque como a gente tem contato com o mundo de trabalho, de

conhecer pessoas, principalmente aqui onde a gente trabalha, né? onde a gente

treina, eu conheço muita gente né, agente tem contato com pessoas de fora, visita

outros lugares, empresas e é importante nessa área de conhecer e viver com

outras pessoas”.(Tereza,26,possuia hemiparesia,pratica tênis de mesa)

“Com o esporte as pessoas já olham diferente, eles dizem: ah, você esta

praticando esporte?Isso é muito importante.(As pessoas)Vem, já conversam, dão

força É dessa maneira que tem que ser a gente não pode se sentir excluídos por

ser assim.Tem que superar”.(Pedro,22,antebraço amputado, pratica natação e

tênis de mesa)

Quando perguntandos se a partir desta inclusão havia igualdade, afirmam:

“Não. Muitas vezes isso não ocorre, ocorre sim no nosso convívio ali, mais fora as

pessoas de fora. Tem pessoas que veem agente como sei lá, não sei nem te

explicar qual a palavra que muitas pessoas lá fora usam né, mais é coisas que

agente deixa passar, releva porque se agente não relevar agente não vive

entendeu, ai fica complicado”.(Carlos,32, anomalia no membro superior

direito,pratica natação e tênis de mesa)

“Ainda não. Ainda existe diferença, pois não conseguimos trabalho com facilidade,

não somos atendidos de forma correta a atenção pra gente ainda é pouca, somos

vistos como desiguais. Sabe do que nós precisamos? Maior comunicação e

esclarecimento dos nossos direitos. Aqui em Maracanaú, que fosse mais divulgado

o projeto porque a partir daí a sociedade vai saber do que a gente precisa. Se o

63

estado ou mesmo os empresários quisessem saber mais sobre nós a questão da

igualdade seria real pois haveria investimento e incentivo é disso que a gente

precisa”.(Gilberto,36, tem paralisia infantil, pratica natação)

Portanto, compreendemos que os mesmos sentem-se incluídos, contudo,

não se veem iguais aos outros. Seguindo as concepções de Sassaki(1991),

consideramos, então, que os mesmos estão integrados na sociedade, ou seja,

estão “aptos” para viver na sociedade, todavia a sociedade não está adaptada

para incluí-los. Neste sentido, o esporte permite a integração e inclusão entre eles

mesmos e àqueles que lhes permitem conviver; também a possibilidade de

minimização das diferenças, criar autoestima, se apropriar-se do sentido amplo de

sua capacidade em realizar e, consequentemente, ser útil naquilo que faz.

Conforme Martins e Frois(2008), neste sentido o esporte se torna uma forma de

motivação da valorização do eu como uma das coisas mais procuradas e

importantes no que diz respeito à inserção.

Entendemos que o esporte adaptado constitui-se como uma forma de

inclusão social, pois se adequa para atender às necessidades da pessoa com

deficiência, entretanto, observamos que o que subsiste é a integração social, pois,

apesar de que a sociedade esteja mais aceitável, se comparado aos séculos

passados, está aquém de ser conceituada como uma sociedade inclusiva.

O Projeto Edivaldo Prado apreendeu o sentido de oportunizar o exercício

de cidadania para seus integrantes, em que atendeu desde sua fundação até hoje

mais de 750 pessoas, agregando não somente a prática do esporte, mas valores e

princípios inclusivos norteando uma sociedade inclusiva e capaz de acolher a

todos.

Na percepção dos atletas ainda há muito o que ser mudado na sociedade

em relação à pessoa com deficiência: as práticas discriminatórias, atitudes

vexatórias que inibem a capacidade de autonomia do deficiente, o

64

descumprimento da Politica de Cotas, o sentimento de piedade ;para os atletas

chega até ser humilhante.

São pessoas que não são aceitas, no seu sentido amplo, sentem-se sim

incluídas, mas no seu meio social junto com àqueles que sãos iguais a eles;

conceituam-se como cidadãos, no entanto a noção de cidadania ainda está restrita

à questão do trabalho, absorvem uma perspectiva para o futuro(fazer faculdade,

por exemplo), mas não há investimentos para concretizá-los.Iniciativas como esse

Projeto Social criam condições para construir a cidadania plena através da

superação, preparam cidadãos para enfrentar os desafios da vida, agem

predominantemente para minimizar as diferenças através de ações

transformadoras que são capazes de mudar o modo como esses indivíduos

enxergam a realidade.

Contudo, não é o bastante. A sociedade precisa naturalizar a presença

das pessoas com deficiência numa perspectiva de igualdade superando atitudes

diferenciadas que aferem a deficiência como algo repudiável. As conquistas das

lutas sociais do segmento, as políticas alcançadas, os avanços tecnológicos são

êxitos adquiridos com muita luta, no entanto essas conquistas parecem não ter

sido apropriadas pela sociedade.

A cidadania não pode ser exercida se não há meios para fazê-la, é

necessário ampliar as possibilidades de inclusão, tratar com igualdade mesmo

sendo diferente, desmitificar os estigmas retrocedentes às atitudes excludentes.

Não é possível exercer cidadania somente em documentos legais, é necessário

que ela seja respeitada; é direito de todos exercerem seus direitos, todavia, para

construir uma sociedade para todos é preciso que se abram as portas da

igualdade, da aceitação de maneira que todos nós possamos ser cidadãos de

verdade.

____________________________________________________

¹ Informações Disponíveis em <http://www.edivaldoprado.com.br> Acesso em 14 de Junho 2013

Considerações Finais

Vimos de uma sociedade em que os as atenções direcionadas às pessoas

com deficiência era mediada por práticas severas que iam da execução sumária à

classificá-los como de “coisas demoníacas”. Uma passagem que foi da

segregação à institucionalização, do assistencialismo para integração, ações que

demarcaram o deficiente em todos os contextos sócio históricos.

Os movimentos sociais, quando em suas reinvindicações, pontuaram a

participação das pessoas com deficiência que se inseriram nas lutas como forma

de possibilitar a construção da cidadania, invertendo a condição de atores

passivos para atores participantes em sua sociedade.

A pesquisa realizada torna-se relevante uma vez que pouco se conhece

sobre as influências do esporte adaptado a vida do deficiente, em especial por ser

uma experiência em um município da Região Metropolitana de Fortaleza – RMF.

Neste trabalho compreendemos que a sua prática não se limita apenas aos

benefícios proporcionados à saúde mas também no redescobrimento de ser

cidadão.

Destaca-se ainda a importância para o Serviço Social, por ser uma questão

intrinsecamente relacionada garantia e a defesa da cidadania. Marco referencial

da defesa de direitos e na busca pela igualdade dos indivíduos numa perspectiva

de enfrentamento e superação dos obstáculos impostos pela deficiência e pela

sociedade.

A proposta apresentada neste trabalho, pretendeu analisar o processo de

construção da cidadania a partir da percepção dos paratletas através da

contribuição do esporte. Elencando os benefícios promovidos pelo esporte, assim

como a importância do papel do Projeto nas possibilidades de inclusão social. O

desvelamento das transformações ocorridas na vida desses indivíduos, após o

cotidiano de práticas esportivas e como essas transformações conscientizam o

deficiente acerca de seus direitos; para se chegar a estes objetivos foram

entrevistados cinco atletas.

Percebemos que o esporte adaptado é importante para os atletas sob

diversos aspectos que se concretizam na autoestima elevada, autonomia,

satisfação pessoal; enfatizamos, ainda, nestes termos o exercício da cidadania,

identificada nas falas como o reconhecimento que eles trazem a sua cidade e a

inserção no mercado de trabalho.

A busca pela garantia e defesa da cidadania, não é um missão difícil, é

preciso entender que a sociedade não é feita somente de pessoas ricas ou

pobres, negros ou brancos heterossexuais ou homossexuais; ela abrange toda

uma diversidade que precisa ser atendidas em suas especificidades. A cidadania

é exercida quando os portais da inclusão e das oportunidades estão abertas para

aceitar a todos os segmentos, principalmente os minoritários.

Construir essa cidadania é fundamentar seus princípios em busca de uma

sociedade para todos, sem preconceito, diferenciação, estigmas e isso só é

possível quando encararmos esta realidade contraditória com a não aceitação,

negar e lutar para transformar.

Transformar no sentido de entender seus direitos, reivindicá-los e

compreender que a pessoa com deficiência não está mais vulnerável às condições

que lhe são postas, não aceitar mais tratá-lo como coitado ou incapaz. Este é sim,

um cidadão de direitos, contudo, por ser vitimado ainda pelas práticas

discriminatórias não conseguem usufruir da sua condição enquanto tal.

Considero a pesquisa no Centro Paradesportivo Edivaldo Prado de grande

importância para meu crescimento acadêmico e profissional, pois compreendendo

que o Serviço Social trabalha no enfrentamento às refrações da questão social,

mediando conflitos, como também no processo de reivindicações de direitos,

integração e inclusiva dos segmentos vulneráveis, julgo a iniciativa desse projeto

um marco na história das pessoas com deficiência em Maracanaú, pois são

pessoas que adentraram ao projeto sem nenhuma perspectiva de direitos, viviam

absorvidos pelo sedentarismo e restritos ao convívio familiar. No decorrer da

pesquisa exploratória, conhecendo melhor o cotidiano e o modo de viver

,compreendi que eles são pessoais iguais a todos, com sentimentos, ansiedades,

desejos, dentro de suas particularidades.

Dessa forma, assimilamos que é necessário articular com as demais

políticas públicas e sociais do município de modo que a pessoa com deficiência

seja inserida de verdade em todas as estruturas sociais; não somente no esporte,

mas, tornar o trabalho, a saúde, a educação meios que contribuam no processo

de construção da cidadania.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO A- TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA ENTREVISTA

TERMO DE CONSENTIMENTO E CESSÃO LIVRES E ESCLARECIDOS

Fui convidado a participar da pesquisa A CONTRIBUIÇÃO DO ESPORTE NO PROCESSO DE

CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA:UMA ANALISE SOBRE A PERCEPÇÃO DOS INTEGRANTES DO

PROJETO EDVALDO PRADO. Esta pesquisa está sendo desenvolvida sob a responsabilidade do

Prof/ª Ana Paula da Silva Pereira(orientador/a) e Raquel Malhas Miranda, aluna graduanda em

Serviço Social da Faculdade Cearense e tem a finalidade de conclusão de curso em 2013.1

Fui convidado/a:

( ) Prestar depoimento;

( ) Conceder entrevista;

( ) Fornecer materiais;

( ) Preencher formulário ou questionário;

( ) Participar de grupo de discussão;

( ) Ser filmado ou fotografado;

( ) Ceder os direitos patrimoniais sobre conteúdos fornecidos mediante depoimento, entrevista,

questionário, formulário, fotografia, gravação de som e imagem aos autores desta pesquisa;

( ) ....................... (outro).

Estou ciente que:

( ) Os conteúdos cedidos serão de uso exclusivo desta pesquisa;

( ) Terei minha identidade preservada;

( ) Não sofrerei riscos à minha saúde;

( ) Não terei ônus financeiro por tal participação;

( ) Não receberei remuneração, pois trata-se de colaboração voluntária;

( ) Serei livre para interromper a participação em qualquer momento;

( ) Receberei esclarecimentos sobre dúvidas que tiver a qualquer momento da pesquisa;

( ) Fui informado/a sobre endereços e telefones dos pesquisadores caso necessite utilizá-los.

Nestes termos, aceito prestar a/s colaboração/ões a mim solicitada/s.

Maracanaú, ......... de ................... de 201......

Participante da pesquisa

______________________________________________

Entrevistador