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CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO CAMPUS ENGENHEIRO COELHO TRADUTOR E INTÉRPRETE GUILHERME DA SILVA ABLE ISABELLE LOURA PESSANHA A TRADUÇÃO AUDIOVISUAL DE“THE BIG BANG THEORY”: COMPETÊNCIAS TRADUTÓRIAS ENGENHEIRO COELHO 2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO

CAMPUS ENGENHEIRO COELHO

TRADUTOR E INTÉRPRETE

GUILHERME DA SILVA ABLE

ISABELLE LOURA PESSANHA

A TRADUÇÃO AUDIOVISUAL DE“THE BIG BANG THEORY”:

COMPETÊNCIAS TRADUTÓRIAS

ENGENHEIRO COELHO

2016

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GUILHERME DA SILVA ABLE

ISABELLE LOURA PESSANHA

A TRADUÇÃO AUDIOVISUAL DE“THE BIG BANG THEORY”:

COMPETÊNCIAS TRADUTÓRIAS

Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo, do curso de Tradutor & Intérprete, sob a orientação da Profª Drª Ana Maria de Moura Schäffer.

ENGENHEIRO COELHO

2016

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Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo

do curso de Tradutor e Intérprete apresentado e aprovado em 30 de novembro de

2016.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Maria de Moura Schäffer

Segunda Leitora: Prof.ª Creriane Nunes Lima

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter nos ajudado a vencer mais essa etapa concluída;

À nossa orientadora, Professora Ana Schäffer, por toda a ajuda, paciência e

disposição durante todo esse processo, e pelo exemplo dado.

À Professora Creriane Nunes Lima, pela disposição e alegria demonstrada ao

nos ajudar com esse trabalho como a nossa segunda leitora.

Aos nossos pais, irmãs e amigos, por todo o apoio e ajuda para que fosse

possível a conclusão deste projeto;

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RESUMO

Cientes de que o humor e as séries de televisão estão fazendo parte cada dia mais do nosso cotidiano e que cada vez mais estudos são realizados nesse meio, nos propusemos a estudar sobre esse assunto e realizar uma pesquisa, procurando os estudos mais relevantes sobre essa área e sobre as questões a se considerar quando se traduz esse tipo de série que é “The Big Bang Theory”. Para isso, Hurtado Albir (2005) e Santiago (2002) foram alguns dos autores escolhidos para a parte teórica da competência tradutória. Partimos do pressuposto de que sem estudos aprofundados sobre o assunto específico, no caso de traduções audiovisuais, quem traduz muitas vezes não sabe como agir para poder realizar a combinação apropriada do humor e do assunto específico, deixando passar o efeito cômico. Com isso em mente, questionamos neste estudo: quais seriam as competências necessárias que um profissional deve adquirir para traduzir esse tipo de série? Elaboramos a hipótese de que a falta de conhecimento técnico dos profissionais de tradução nas áreas da física, engenharia, astrofísica e informática seriam prejudiciais para uma tradução adequada da série “The Big Bang Theory”, tornando impossível um trabalho que seja aceitável para o público de chegada. Sendo assim, o conhecimento linguístico não seria suficiente para que houvesse um resultado que possa ser adequado na tradução audiovisual. Como objetivos, buscamos discutir e problematizar a tradução audiovisual na combinação de física e humor nerd e discorrer sobre a importância de o tradutor procurar obter um amplo conhecimento teórico para realizar esse tipo de tradução, reconhecendo as competências necessárias para uma tradução adequada.

Palavras-chave: Tradução audiovisual; Competência em tradução; Humor nerd.

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ABSTRACT

Aware that humor and TV series are being an increasingly part of our daily lives and that more and more studies have been carried out in this mean, we set out to study about this subject and perform a research, looking for the more relevant studies about this area, and questions to be considered when translating this type of TV series that is “The Big Bang Theory”. In order to do so, Hurtado Albir (2005) e Santiago (2002) were a few of the authors chosen for the theoretical part of the competence in translating. We started by assuming that without specific studies in the specific subject, in this case audiovisual translations, the translator frequently doesn’t know how to act in order to perform the appropriate combination of the specific subject alongside with humor, letting the comical effect pass by unnoticed. With this in mind, we question in this research: Which competences would be the necessary for a translator to acquire in order to translate this type of tv series? We elaborated the hypothesis that the lack of technical knowledge of the translators in the areas of physics, engineering, astrophysics and informatics would be detrimental to an adequate translation of the “The Big Band Theory” series, making it impossible for the work to be acceptable to the target public. Therefore, the linguistic knowledge wouldn’t be enough to have an adequate result in the audiovisual translation. The purpose is to question and problematize the audiovisual translation in the combination of physics and nerd humor, and discuss about the importance of seeking to obtain a wide theoretical to knowledge in order to perform this kind of translation, acknowledging the competences needed for such adequacy.

Keywords: Audiovisual Translation; Translation Competence; Nerd Humor.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 6

2 AS COMPETÊNCIAS COMUNICATIVAS E TRADUTÓRIAS ............................................. 9

2.1 Competência: algumas noções ...................................................................................... 10

2.2 Competência em tradução ............................................................................................. 11

2.3 Competências necessárias para tradução audiovisual ................................................... 13

2.3.1 Subcompetências para se traduzir seriados que fogem ao convencional.................... 14

2.4 Sobre as máximas de Grice e as teorias de humor ........................................................ 16

2.4.1 Máxima de quantidade ................................................................................................ 16

2.4.2 Máxima da qualidade .................................................................................................. 17

2.4.3 Máxima da relação ...................................................................................................... 17

2.4.4 Máxima de modo ........................................................................................................ 18

2.5 Teoria do Humor ............................................................................................................ 21

3 METODOLOGIA DA PESQUISA E TRADUÇÃO DE SÉRIES NO BRASIL ...................... 24

3.1 Procedimentos de análise .............................................................................................. 24

3.2 Séries no Brasil .............................................................................................................. 24

3.2.1 Resumo da Série ........................................................................................................ 25

4 ANÁLISE .......................................................................................................................... 26

4.1 A tradução do humor geek e nerd na prática ................................................................. 26

4.2 Análise da Teoria da Superioridade na cena 2 ............................................................... 29

4.3 Análise da Teoria do Alívio na cena 3 ............................................................................ 30

4.4 Análise da Teoria da Incoerência na cena 4 .................................................................. 32

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 35

6 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 36

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1 INTRODUÇÃO

Informados de que as séries de televisão estão cada vez mais presentes no

nosso meio, propusemo-nos a realizar uma pesquisa que irá abranger os meios da

legendagem e a tradução audiovisual. Hoje em dia as séries de televisão estão cada

vez mais presentes no cotidiano e influenciam milhões de pessoas no mundo todo; a

série “The Big Bang Theory” é uma delas.

Cientes de que a legendagem é uma área que vem crescendo muito no ramo

da tradução e que vem fazendo parte do entretenimento de muitas pessoas hoje em

dia, escolhemos realizar uma pesquisa sobre as dificuldades que podem ser

encontradas nesse tipo de tradução e em específico a série “The Big Bang Theory”. A

série em análise foca na área da engenharia, física, astrofísica e informática

combinando humor nerd com os termos técnicos utilizados nessas áreas.

Como será explicitado mais detalhadamente no capítulo 2, a série “The Big

Bang Theory” se caracteriza por um tipo de humor nerd e geek, que, segundo Galvão

(2009), não há concordância quanto à origem do termo nerd, mas consenso geral de

que o termo teria sido inventado pelo escritor Seuss (1950 apud GALVÃO, 2009), em

sua obra “If I Ran to the Zoo” (Se eu fosse ao Zoológico), na qual o autor descreve o

nerd como sendo uma pessoa alta, magra e vesga. Conforme define Galvão (2009),

o termo nerd costumava significar alguém que tinha uma admiração pelos estudos ou

que possuía uma intelectualidade maior que a média, com dificuldade nos

relacionamentos, no geral. Geralmente utilizavam óculos, aparelhos dentários, tinham

muitas espinhas, eram tímidos, sem muita autoconfiança, além de parecerem

inocentes e ingênuos.

Diante disso, daremos ênfase às competências e subcompetências

necessárias para se traduzir o tipo de humor combinado com termos das áreas

específicas de física, engenharia, astrofísica e informática. Após uma breve busca na

área, descobrimos que a tradução audiovisual é um ramo que precisa de atenção dos

tradutores, e que cada vez mais merece atenção de pesquisa, visto que é uma área

que tem crescido muito e que tem vários adeptos e é uma prestação de serviços que

precisa ser de qualidade e também por se tratar de um tema do qual temos um

interesse especial, por almejarmos atuar na área.

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Formulamos a hipótese de que a falta de conhecimento técnico dos

profissionais de tradução nas áreas da física, engenharia, astrofísica e informática

seriam prejudiciais para uma tradução adequada da série “The Big Bang Theory”,

tornando impossível um trabalho que seja aceitável para o público de chegada. Sendo

assim, o conhecimento linguístico não seria suficiente para que houvesse um

resultado que possa ser adequado na tradução audiovisual. Uma questão é levantada:

O tradutor precisa de um conhecimento abrangente sobre o assunto que está sendo

tratado na série “The Big Bang Theory” para fazer uma legendagem que responda às

expectativas de quem gosta desse tipo de série com termos científicos?

Diante disso, o objetivo deste trabalho é, após a realização de um estudo sobre

as competências tradutórias e o humor, discutir e problematizar a tradução audiovisual

na combinação de física e humor nerd, já que a série trata de personagens que são

nerds. Para isso, escolhemos os episódios treze, catorze e quinze da terceira

temporada da série “The Big Bang Theory”.

Seria inapropriado falar em tradução audiovisual, sem dizer os nossos

conhecimentos em estudos que são ligados a este assunto e que podem trazer

contribuições tanto para professores como para alunos. Entre esses estão autores

como: Santiago (2002), Cintas e Anderman (2009), Cintas e Remael (2010), Pilar

Orero (2004), entre outros. Santiago (2002) confirma a importância da área, ao afirmar

que:

A tradução por meio de legendas é a interpretação condensada ou não das falas de um filme ou programa de televisão. É atualmente muito utilizado no Brasil nos diferentes meios de comunicação. Antes da popularização dos canais a cabo, esse método de tradução audiovisual aparecia apenas nos cinemas e nos vídeos domésticos. Atualmente, as legendas podem ser vistas também na televisão fechada, onde a legendagem é mais comum do que a dublagem (SANTIAGO, 2002, p. 1).

Desejamos que este trabalho contribua com mais pesquisas e desperte o

interesse de tradutores que encontram dificuldades na tradução audiovisual de filmes

ou séries que possam conter termos técnicos referentes à física, astrofísica,

engenharia e informática combinados com o humor nerd. Conscientes de que a

legendagem é um serviço que pode ser prestado a um determinado público, é

importante ressaltar o dever que o/a tradutor/a tem e as suas responsabilidades

específicas ao executar esse serviço e trazer esses termos de uma forma que possa

alcançar o seu principal objetivo na língua de chegada, mantendo o sentido da série.

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O trabalho está dividido em quatro partes, além da introdução e as

considerações finais. Na segunda parte (cap. 2), apresentamos considerações sobre

as competências comunicativas e tradutórias a partir da perspectiva de Hurtado Albir

(2005) e Pym (2003), uma fundamentação teórica que embasa a análise é apontada,

considerando-se as máximas de Grice e as teorias de humor, a fim de familiarizar os

leitores sobre a importância dessas noções para esse gênero textual; na terceira parte

(cap.3), esboçamos um breve histórico sobre a tradução de séries no Brasil, como a

crítica tem se manifestado em relação à tradução audiovisual e também ao

profissional tradutor que se dedica a essa área, além de trazer um resumo histórico

sobre o conteúdo da série e apresentar um subtópico sobre a metodologia seguida

para pesquisa e análise; na quarta parte (cap. 4), o recheio de nosso trabalho, no qual

tecemos comentários pertinentes à análise feita, em que alguns resultados de

pesquisa se sobressaem.

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2 AS COMPETÊNCIAS COMUNICATIVAS E TRADUTÓRIAS

Neste capítulo discutiremos as competências e subcompetências relacionadas

à área de tradução a partir do olhar de dois teóricos clássicos da área: Hurtado Albir

(2005) e Pym (2003). Abordaremos também as máximas de Grice, uma vez que são

empregadas na análise, além de sucintamente apontarmos considerações sobre as

teorias de humor, a partir da perspectiva Hobbes (apud HU, 2012, p.1), Freud (1976,

apud HU, 2012, p.1). e Kant (2000).

Na área dos Estudos da Tradução, quando se vai traduzir algo seja de que

gênero for, quem for realizar tal trabalho deve ter pelo menos um certo entendimento

sobre o que está prestes a traduzir. O entendimento cultural e linguístico das duas

línguas também é importante para se realizar as traduções, mas é necessário que

essa compreensão seja tanto da língua de chegada como da língua de partida. Mas

com base em estudos de pesquisadores (HURTADO ALBIR, 2005; PYM, 2003)

descobriu-se que não é apenas isso que é necessário para que se realize uma

tradução; requer algo mais: a competência tradutória.

As competências tradutórias são baseadas em conhecimentos linguísticos,

textuais, temáticos, culturais, porém muitos autores têm as suas próprias visões a

respeito disso, como por exemplo Pym (2003) que cita as habilidades e destrezas

tradutórias como sendo parte das competências necessárias para se tornar um bom

tradutor; já Hurtado Albir (2005) citam alguns autores que falam sobre habilidades e

destrezas tradutórias.

Pym (2003) destaca a habilidade de gerar diferentes opções e de selecionar

uma única delas em função dos fins específicos e do destinatário de tradução. Muitos

outros autores como Bell (1991) e Hansen (1997), também têm as suas definições

importantes e específicas sobre competências tradutórias que podem muitas vezes

também ser esclarecedoras. Alguns dizem que a diversidade de pensamentos sobre

o funcionamento da competência tradutória demostra a complexidade de sua

descrição e a variedade de componentes que fazem parte, além das dificuldades que

existem na tentativa de elaboração de um modelo de competência tradutória

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2.1 Competência: algumas noções

Pensando então sobre noção de competência, Chomsky (1965, apud

HURTADO ALBIR, 2005, p.20) faz uma boa distinção entre competência e

desempenho linguístico. Com base nisso, surgiram algumas pesquisas com a

intenção de se aprofundar mais sobre a noção de competência; contudo, essas

pesquisas não vão de acordo com o que Chomsky estava querendo dizer, mas

aumentam a sua abrangência em alguns aspectos que o próprio Chomsky julgava

próprios do desempenho e também a habilidade para o uso linguístico. Com isso

foram surgindo ainda mais pesquisadores envolvidos em saber o que seria

competência comunicativa, entre eles estão Hymes (1967 apud HURTADO ALBIR,

2005, p.20), Canele-Swain (1980, apud HURTADO ALBIR, 2005, p.20), Canale (1983,

apud HURTADO ALBIR, 2005, p.25), Widdowson (1989, apud HURTADO ALBIR,

2005, p.20), Spolsky (1989, apud HURTADO ALBIR, 2005, p.20) e Bachman (1990,

apud HURTADO ALBIR, 2005, p.20).

Oliveira (2007) autor pouco mais moderno do que os citados, compreende essa

competência que Chomsky mostra como uma abordagem geral por se apoiar em um

conhecimento gramatical e estrutural. O linguista contribui também dizendo que as

competências podem se apoiar também nas comunicativas sendo elas: a competência

gramatical, que está ligada aos conhecimentos que um falante-ouvinte tem das regras

e outras características da sua própria língua; há também a competência

sociolinguística, que envolve o entendimento das regras socioculturais do uso da

língua; competência discursiva, que se relaciona a algumas regras do discurso, e a

competência estratégica, que é a competência da pessoa que fala de utilizar métodos

verbais e não verbais para poder neutralizar algumas falhas que podem vir a ocorrer

nas outras competências citadas.

Com base nisso, podemos perceber que o entendimento da teoria que envolve

essas competências é muito importante não apenas para esse estudo, mas também

para possíveis trabalhos a serem feitos como tradutores. Percebemos a sua

importância também quando vimos que foram as teorias de Chomsky que fizeram com

que outros pesquisadores se aprofundassem para formular os seus próprios conceitos

sobre o que seriam as competências necessárias na área da tradução.

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De acordo com essas observações e conhecimentos sobre os vários tipos de

competência em tradução, escolhemos então procurar identificar quais são as

competências necessárias para se utilizar no desenvolvimento de uma tradução de

um seriado que trabalha nas áreas de física, engenharia, astrofísica e informática

combinados com o humor nerd e para isso vamos usar os autores supracitados e suas

pesquisas, nas quais falam de forma precisa sobre a competência tradutória.

2.2 Competência em tradução

Ao fazermos uma breve pesquisa sobre a área em questão, percebemos que

não havia muitos estudos realizados sobre a competência tradutória, mas foi possível

notar que existe uma grande variedade de sugestões de como abordar tais

competências. Algumas destas contribuições feitas por estudiosos se destacam assim

como as de Harris e Sherwood (1978, apud HURTADO ALBIR, 2005, p.25), Toury

(1995), Shreve (1997, apud HURTADO ALBIR, 2005, p.25) e Chestermann (1997,

apud HURTADO ALBIR, 2005, p.26).

Harris (1973, apud HURTADO ALBIR, 2005, p.25) e Harris e Sherwood (1978,

apud HURTADO ALBIR, 2005, p.25) apontam que existe uma habilidade de tradução

natural, uma habilidade que seria inata e de caráter universal que qualquer falante

bilíngue possuiria. Os dois desenvolveram um estudo sobre o funcionamento da

tradução natural e mostram que seria uma habilidade que surge nos jovens e que vai

evoluindo. Podemos considerar essa habilidade uma das bases da competência

tradutória.

Já Toury (1995, p. 241-258) propõe um modelo de conversão de um bilíngue

em um tradutor e intitula esse processo de socialização da tradução. Segundo ele, o

ponto crucial é de como a pessoa bilíngue se cria através do tradutor e, acima de tudo,

se ele está fora do sistema educacional.

Shreve (1997) acredita que a competência tradutória não é nada mais que uma

especialização da competência comunicativa, com uma diferença, a de que nem todas

as pessoas possuem a competência tradutória.

Já Chestermann (1997) remete aos cinco passos que são: novato, iniciante

avançado, apto, proficiente e experiente. Então a obtenção da competência tradutória

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seria algo gradativo e automatizado. À medida que a sua experiência aumenta, a sua

habilidade também aumenta.

Hurtado Albir define a tradução como um processo interpretativo e

comunicativo que consiste na reformulação de um texto com os meios de outra língua

que se desenvolve em um determinado contexto social e com uma finalidade pré-

determinada (HURTADO ALBIR, 2005, p.41).

O PACTE é um grupo de pesquisas (Process in the Acquisition of Translation

Competence and Evaluation) da universidade autônoma de Barcelona que realiza

uma investigação empírico-experimental sobre a competência tradutória e sua

aquisição Hurtado Albir (1999, apud PACTE, 1998, 2000, 2001, 2002ª, 2002b, 2003;

HURTADO ALBIR, 2005, p.39) e como grupo funciona desde 2002, sendo

reconhecido pelo Generalitat de Catalunya. Foi esse grupo o primeiro a desenvolver

um modelo de como identificar, desenvolver e por em práticas as competências

tradutórias. O modelo parte do pressuposto que a competência tradutória é diferente

da competência bilíngue; que é composta por vários componentes linguísticos, que

são componentes de vários níveis de conhecimento epistêmicos, operacionais e que

a estratégia tem grande valor dentro desse modelo.

A primeira versão deste modelo foi apresentada em 1998 (PACTE, 1998, 2001; HURTADO ALBIR, 1999b, 2001: 394-401). A partir de um estudo exploratório realizado em 2000 com seis tradutores, este modelo foi revisado, propondo-se algumas modificações na descrição das subcompetências e tornando-se mais precisa a definição de competência tradutória. No modelo de 2003, considera-se que a competência tradutória é um conhecimento especializado que consiste em um sistema subjacente de conhecimentos, declarativos e, em maior proporção operacionais, necessários para saber traduzir, que está composto de cinco subcompetências (bilíngue, extralinguística, conhecimentos sobre a tradução, instrumental e estratégica) de componentes psicofisiológicos (HURTADO ALBIR 2005, p. 28).

De acordo com Hurtado Albir (2005, p. 29), a subcompetência bilíngue inclui

conhecimentos, basicamente operacionais, que são importantes para a comunicação

em ambas as línguas; são eles conhecimentos pragmáticos, sociolinguísticos, textuais

e léxico-gramaticais; contudo essas subcompetências só se transformam em

competências tradutórias quando estão inteiramente e integradas entre si em todo ato

de traduzir.

Já a subcompetência extralinguística é formada por conhecimentos,

basicamente declarativos, acerca do mundo em geral e de competências particulares

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como: entendimentos culturais, com abrangência a um vasto conhecimento sobre o

assunto.

Quanto à subcompetência estratégica, conforme Hurtado Albir (2005), é feita

de conhecimentos operacionais para ter certeza de que o processo tradutório será

eficaz. Possui um caráter central, uma vez que comanda o processo tradutório e tem

a função de preparar e estruturar o processo tradutório, analisar o processo e a

repercussão adquirida para o principal objetivo traçado; estimular as diversas

subcompetências e equilibrar a carência entre elas; discernir os dilemas de tradução

e impor os métodos para sua solução. Essas subcompetências trabalham de modo

integralizado para construir a competência tradutória e se comunicam entre si em toda

prática de tradução.

2.3 Competências necessárias para tradução audiovisual

Com um mercado de trabalho da tradução audiovisual cada vez mais exigente

é preciso investir em conhecimento e especializações para se ter sucesso. Vemos

frequentemente em programas de televisão traduções inadequadas, que falham ao

entregar o verdadeiro sentido de uma frase; mas então quais são as competências

necessárias para se ter uma boa tradução audiovisual?

Obviamente o conhecimento da língua tanto de partida quanto de chegada é

essencial, porém há algumas especificações. A competência tradutória, domínio das

técnicas de traduções, noções de informática, grande conhecimento da língua de

chegada e suas peculiaridades e um notável conhecimento da língua e cultura da

língua fonte são requisitos mínimos para a performance do tradutor audiovisual.

Autores como Cintas e Remael (2007) sugerem que alunos que queiram entrar

para esse ramo se matriculem em disciplinas de tradução audiovisual depois de

passarem um ou dois semestres estudando no exterior para adquirir um conhecimento

mais profundo da cultura do país para o qual farão as legendas, geralmente em países

de língua inglesa, já que a maioria dos programas de televisão são cheios de

coloquialismos nessa língua, pois retratam o cotidiano das pessoas.

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Segundo Hurtado Albir (2005), existem alguns objetivos específicos na

tradução audiovisual como por exemplo: compreender o fim comunicativo da tradução

audiovisual (a importância do que é verdadeiro); entender quão importante é o modo

do discurso; saber como ler os scripts/roteiros; entender a excelência de ver de forma

conjunta o texto e a imagem; ter conhecimento sobre os elementos básicos da escrita

de um script/roteiro; compreender a dinâmica da proporção tradutória na tradução

audiovisual; saber diferenciar e qualificar os gêneros audiovisuais.

No tópico seguinte, aprofundaremos as duas subcompetências referidas por

Hurtado Albir (2005), para entender melhor como proceder à tradução de materiais

incomuns, como no caso, humor científico.

2.3.1 Subcompetências para se traduzir seriados que fogem ao convencional

Além do conhecimento técnico de legendagem que se faz necessário para ser

um bom tradutor audiovisual, algumas séries em especial demandam uma gama de

conhecimentos específicos e terminológicos de determinadas áreas profissionais,

fazendo com que apenas o conhecimento técnico em legendagem não seja suficiente

para o desenvolvimento de um bom trabalho. As séries como “Greys Anatomy”, “Mr.

Robot”, “How to Get Away With Murder” e no caso “The Big Bang Theory” que

demandam um conhecimento de medicina, tecnologia da informação, direito e no caso

de “The Big Bang Theory” física, astrofísica, engenharia e informática respectivamente

combinado com o humor nerd, são algumas delas.

Muitas vezes esses trabalhos são desempenhados por profissionais das áreas

que as séries retratam, porém muitas vezes não têm formação em tradução

audiovisual, mas tem um ótimo conhecimento da área em que a série é fundamentada,

seja ela física, química, engenharia, direito, informática, etc. Além disso as próprias

barreiras da tradução audiovisual tornam o desafio ainda maior, devido ao pequeno

número de caracteres que podem ser utilizados, a questão da sintetização dos

sentidos e da sincronia labial.

Uma das subcompetências que se encaixa aqui é a subcompetência

extralinguística já que é a partir dela que o tradutor é capaz de fazer uma tradução

com base no seu conhecimento basicamente declarativo, conhecimento sobre o

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mundo em geral. Mas é a partir dessa subcompetência que o tradutor desenvolve uma

competência particular que o torna capaz de fazer melhor o seu trabalho que é o

entendimento cultural e entendimento adequado que abrange um amplo

conhecimento sobre o assunto, que no caso aqui é a área de física, engenharia,

astrofísica e informática, que foge muito ao convencional.

A subcompetência bilíngue citada por Hurtado Albir (2005), também se encaixa

aqui porque o tradutor já faz o uso dela mesmo sendo um conteúdo específico ou não.

Essa subcompetência faz com que a comunicação entre as duas línguas se torne

possível e com ela também o tradutor possui os conhecimentos pragmáticos,

sociolinguísticos, textuais e léxico-gramaticais que são importantes para uma boa

escrita tanto da língua de chegada quanto da língua de partida.

Normalmente, em séries como “The Big Bang Theory”, os tradutores

necessitam de glossários para que haja uma tradução que consiga usar, de uma certa

maneira, os mesmos termos que eles usam no dia a dia da área científica, que

possuam o mesmo significado e que não fuja do sentido que está querendo ser

passado ali. A série “The Big Bang Theory”, é uma série com linguagens específicas

sobre uma área mais científica, já que ela não é uma série como “FRIENDS” que trata

apenas sobre o cotidiano em que os amigos vivem em Nova Iorque. A série “The Big

Bang Theory” vai na direção contrária: o profissional de tradução, nesse caso, deve

desenvolver uma subcompetência importante para poder atingir seu objetivo de

passar a informação para o público, no caso aqui, o brasileiro. É importante que ele

saiba não apenas sobre a cultura, como muitos acham que é o bastante, mas aqui ele

também precisa ter um conhecimento adequado que engloba um vasto conhecimento

sobre as áreas de física, engenharia, astrofísica e informática para que não haja tanta

dificuldade em se traduzir, já que a série é sobre esse assunto.

A série “The Big Bang Theory” foi criada com essa intenção, de mudar o foco

para um público específico. Muitas séries já falam tanto sobre o cotidiano das pessoas,

coisas normais que muitas vezes não nos agregam tanto valor, mas “The Big Bang

Theory” veio com a intenção de romper esse paradigma e mostrar um lado que muitas

vezes as pessoas não percebem. Ela veio com a meta de dar atenção e importância

aos nerds, que, às vezes, são esquecidos pela sociedade ou sofrem algum tipo de

bullying por serem diferentes e por não saberem lidar com as situações do cotidiano,

pois ocasionalmente a sociedade é diferente da comunidade que eles realmente

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vivem. E é aqui onde a série entra para fazer com que o público passe a se interessar

por esses nerds, que têm muito conhecimento sobre muitas áreas científicas, são

extremamente inteligentes, mas possuem dificuldades de interagir com pessoas que

não dominam os mesmos assuntos que eles. Mostra que eles têm muito a oferecer,

não são apenas nerds, são pessoas normais que querem de alguma maneira entender

como a vida funciona fora do pequeno mundo onde vivem.

Para uma melhor compreensão sobre a tradução de séries, no próximo tópico

iremos abordar mais um pouco sobre essas traduções e sobre como o público recebe

as legendas.

2.4 Sobre as máximas de Grice e as teorias de humor

Neste tópico, discutimos sucintamente algumas máximas de Grice (1975 apud

WINSSMAN 2004, p. 2-10) das quais nos valeremos para a análise e as teorias de

humor, com o intuito de familiarizar os leitores sobre a importância dessas noções

para gênero textual tradução audiovisual. Para uma melhor compreensão, trazemos

exemplos simples para ilustrar o funcionamento das máximas.

Grice (1975 apud WINSSMAN 2004, p. 2 e 3) em sua teoria sobre o princípio

de cooperação (ou princípio cooperativo) fala sobre as máximas conversacionais que

se fazem essenciais para um bom diálogo. Essa teoria diz que quando há um diálogo

você deve contribuir com palavras que façam sentido com o assunto que está sendo

falado. Foi com esse intuito que Grice criou então as Máximas Conversacionais (de

Quantidade, Qualidade, Relevância e Modo).

2.4.1 Máxima de quantidade

Conforme propõe Grice, esta máxima remete a uma situação em que se quer

contribuir com algo informativo e necessário, sem exageros, como se pode ver no

próprio nome dessa máxima conversacional. Deve-se prestar atenção na quantidade

de informação que se oferece ao interlocutor. Consideremos o exemplo:

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Ex.:

– Bruno, quanto você tirou na prova?

– Bem, como eu não sou muito bom nessa matéria, eu passei dias estudando para a prova e consegui tirar um 7,9.

No exemplo acima, o interesse estava apenas no resultado da prova, porém a

resposta ignora a máxima da quantidade e traz mais informações do que perguntado

primeiramente.

2.4.2 Máxima da qualidade

Essa máxima sugere que sua contribuição, caso seja feita, deve ser verdadeira;

não se pode afirmar algo que não seja verdade e que não possua evidências

suficientes para o que está sendo falado.

Ex.: O pai não gosta da roupa que o filho, bem gordinho, comprou para ir à festa de aniversário de um colega e diz:

– Ficou muito boa essa roupa em você meu filho, ficou bem legal.

O pai neste caso está violando a máxima da qualidade, pois percebe-se que

não acredita no que está dizendo, porém mesmo assim o faz para que o filho não se

sinta magoado.

2.4.3 Máxima da relação

A máxima de relação afirma que tudo o que for falado deve ser relevante,

insistindo em que apenas se fale aquilo que tenha relação com o que está sendo

falado, sem dar contribuições que se desviem do tópico da conversa.

Ex.:

–Você comprou o pão que eu te pedi?

– O tempo está parecendo que irá chover.

Aqui pode-se notar que a resposta à pergunta feita fugiu totalmente do seu foco

inicial violando assim, a máxima de relação onde deve-se contribuir com algo que não

fuja do tópico da conversa.

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2.4.4 Máxima de modo

Essa máxima insiste na clareza da comunicação, para que possa haver

brevidade, organização e lógica no discurso, evitando assim ambiguidades e

incertezas de expressão.

Ex.:

– Oi amigo, você sabe onde tem um banco por aqui?

– Sei.

Por mais que a resposta dada esteja sendo breve, não está sendo clara, pois a

pergunta era apenas com a intenção de saber as direções para encontrar o banco e

não apenas se sabia onde o banco ficava, e na resposta falhou em respondê-la.

As não observâncias dessas máximas de Grice se aplicam à nossa análise e

descrevem como as dificuldades de comunicação que os personagens da série

possuem se encaixam em uma forma de humor geek e nerd. Iremos mostrar alguns

exemplos sobre os tipos de não observâncias que acontecem no episódio 13, 14 e 15

da terceira temporada de “The Big Bang Theory”.

A não observância de máxima qualidade ocorre quando o falante diz algo que

é vagamente inverídico ou quando há falta de evidência adequada.

Exemplo1

Howard – Ah, está bem, você foi vítima de um crime. Mas isso faz parte da vida. Quando meu tataravô veio para esse país, ele depositou todos os seus sonhos e esperanças em um açougue que abriu no Lower East Side, em Nova York. Sabe o que aconteceu? Todos os clientes que entraram no açougue e pediram um quilo de fígado foram roubados. Mas as pessoas superaram, é o que você devia fazer.

Sheldon – Eu estou superando. Vou ser um Bozita.

Leonard – Eles se chamam de Bozitas?

Sheldon – Deveriam. É uma das primeiras ideias que quero dar quando chegar.

A máxima quantidade declara que uma contribuição deve fornecer informação

suficiente, mas não muita. Em “The Big Bang Theory”, os geeks frequentemente

fornecem muito mais informação do que o suficiente para serem socialmente

adequados. A sua incapacidade social cria, com frequência, surpresa para o ouvinte,

assim como para o público e, por consequência, o efeito cômico é produzido.

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Exemplo 2

Bernadette: –Muito bem, Sheldon. O que acontece com os neuroreceptores quando não temos sono REM suficiente?

Sheldon - Eles perdem a sensibilidade à serotonina e à norepinefrina.

Bernadette - Que leva a…?

Sheldon - Uma função cognitiva deficiente.

Bernadette - Isso mesmo, então entre lá, escove os dentes e vá para a cama.

Sheldon - Mas eu não quero ir para a cama.

Bernadette - Vou contar até três. Um...

Sheldon - Ai, está bem!

Leonard - Foi incrível como você lidou com ele.

Bernadette - Sei lidar com crianças teimosas. Minha mãe tinha uma creche ilegal no porão dela.

Aqui neste caso, Sheldon está tendo dificuldades de dormir porque não

consegue desvendar um mistério da física, então Bernadette, que também é nerd, se

comunica com ele de maneira que ele entenda bem, e ele age como criança teimosa.

Bernadette mostra que sabe como lidar com crianças teimosas, mas acaba falando

demais, deixando o clima um pouco constrangedor no ambiente. Além de fornecer

informação desnecessária, outro tipo de não observância da máxima modo, ocorre

quando o falante fornece menos informação que o suficiente.

Exemplo 3

Penny - Sheldon, o que você quer?

Sheldon - Vim aqui para dizer que encontrei a resposta.

Leonard - É mesmo? Você resolveu o problema do grafeno?

Sheldon - Não, não, ainda estou travado nele, infelizmente. Mas já percebi como vou resolvê-lo.

Leonard - Do que você está falando?

Sheldon - Einstein.

Leonard - Certo, preciso de um pouco mais.

Sheldon - Albert Einstein.

Leonard - Continue.

Sheldon - Quando Albert Einstein criou a teoria restrita da relatividade... estava trabalhando no escritório de patentes.

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Aqui Sheldon está querendo dizer para o seu amigo Leonard que ele descobriu

como encontrar a resposta para o mistério da física que ele tanto quer saber, mas ao

contar para Leonard há uma falta de informação, fazendo com que Leonard não

entenda exatamente o que ele está falando e automaticamente ele pede por mais

informações para poder entender sobre o que Sheldon falava.

Já a não observância de máxima relação é explorada quando o falante dá uma

resposta ou faz uma observação que é muito irrelevante ao tópico falado.

Exemplo 4

Leonard - O que você e a Bernadette vão fazer no Dia dos Namorados?

Howard - Vão fazer um rodízio especial por US$ 39.95 no P.F. Chang’s. É, com enroladinhos, pastéis, refogado. E você pode tirar uma foto no cavalo de mármore da entrada.

Sheldon - Já que São Valentim foi um padre romano do século III que foi apedrejado e decapitado, não seria uma comemoração mais apropriada para o dia levar a namorada para testemunhar um assassinato brutal?

Howard - Entendo o seu ponto de vista, mas, dada a outra opção, judeus sempre vão de comida chinesa.

O que Sheldon acrescentou aqui foi algo muito irrelevante para Howard. Para

Sheldon, o que ele conhece na teoria por ser algo mais apropriado para o dia dos

namorados, na verdade não é algo que a sociedade comum pensa como algo

adequado para o dia dos namorados. Sheldon não consegue associar qual a

necessidade das pessoas de comemorarem o dia dos namorados.

A não observância de maneira máxima ocorre quando o falante pode vir a usar

uma linguagem desconhecida ou desordenada, quer seja por escolha ou não.

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Exemplo 5

Assistente de emprego - Então, Sr. Cooper, está procurando emprego.

Sheldon - Um emprego humilhante. Como o seu.

Assistente - Obrigada por notar. Sou a empregada mais humilhada do mês. Você tem alguma área de interesse específica?

Assistente - Então, Sr. Cooper, está procurando emprego.

Sheldon - Um emprego humilhante. Como o seu.

Assistente - Obrigada por notar. Sou a empregada mais humilhada do mês. Você tem alguma área de interesse específica?

Sheldon - Tenho. Por milhares de anos as classes mais baixas da raça humana passaram suas vidas trabalhando para erguer monumentos sob as chicotadas de seus superiores até finalmente caírem no chão e se tornarem um só com a poeira onde se arrastavam. Você tem algo assim?

Assistente: Não.

Sheldon: Não é melhor checar a base de dados?

Assistente (toca no teclado algumas vezes) - Não.

Sheldon - Você não digitou de verdade.

Assistente - Eu não precisei.

Nesta cena, Sheldon está à procura de um emprego, mas quando ele vai

descrever para a assistente qual o tipo de trabalho que ele está procurando, ele acaba

usando uma linguagem um pouco desordenada deixando a assistente com a

impressão de que ela não estava falando com uma pessoa igual a todas as outras.

2.5 Teoria do Humor

Neste tópico vamos abordar sobre o humor, considerando o que Hobbes (apud

HU, 2012, p.1), Freud (apud HU, 2012, p.1) e Kant (2000) dizem sobre o assunto. O

humor é algo que contagia a todos sempre de alguma maneira. Muitos estudiosos se

interessam em estudar e pesquisar esse mistério que é o humor, algo que traz alegria,

um sentimento agradável para as pessoas. Os estudos nessa área abrangem

literatura, psicologia, filosofia e linguística. Entre as teorias que se destacaram ao

longo do tempo, temos a Teoria da Superioridade, a Teoria do Alívio e a Teoria da

Incoerência.

Hobbes (apud HU, 2012, p.1), criou a própria teoria sobre o humor: a Teoria da

Superioridade. Ele afirma que “O riso é um tipo de glória repentina”, usando “glória”

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com o sentido de “autoestima”. Temos a tendência de rir do infortúnio dos outros, ou

do próprio infortúnio. Essa teoria defende que temos um prazer em ver, por exemplo,

um vídeo de alguém caindo, o que nos dá uma sensação de superioridade em relação

à pessoa que caiu e acabamos julgando-a como inferior; é possível que esta seja a

razão de o humor nos dar satisfação.

Já Freud (1976, apud HU, 2012, p.1). em sua Teoria do Alívio, diz que o humor

questiona as exigências sociais e convencionais. Em suas pesquisas no campo da

psicanálise, descobriu que o humor é causador de grande alívio, por causa da

liberação de sentimentos retidos que ele provoca. Ao contrário da teoria do alívio

Freudiana, a Teoria da Incoerência garante que o que é fundamental para o humor é

a combinação de duas ideias que congregam o que você sente e o que é insensato.

Kant (2000) diz que o humor vem da “transformação repentina de uma grande

expectativa para o nada”, por isso que o humor acontece quando há uma quebra de

expectativa nas atitudes e falas, sejam emocionais ou físicas.

Na série “The Big Bang Theory” percebe-se um humor menos convencional, no

entanto as teorias aqui discutidas nos ajudam a entender as categorias percebidas na

série. A série “The Big Bang Theory” se caracteriza por um tipo de humor nerd e geek

o humor nerd e geek é muito usado já que os personagens são nerds e geeks. Mas

quem são os geeks e os nerds, e por que são assim caracterizados?

Segundo Galvão (2009), não há um consenso sobre a origem do termo nerd.

Existem algumas teorias de como a palavra teria sido inventada pelo escritor Galvão

(2009, apud SEUSS, 1950), em sua obra “If I Ran to the Zoo” (Se eu fosse ao

Zoológico), onde descreve o nerd como sendo uma pessoa alta, magra e vesga. Então

a palavra nerd teria passado a ser sinônimo de pessoas que utilizavam os famosos

óculos “fundo de garrafa”, fãs de tudo que envolve computadores e tecnologia, sempre

preferindo ficar em casa, ou alegando que possuem aversão ao sol.

De acordo com Galvão (2009) a palavra nerd costumava significar, alguém que

instigava uma admiração pelos estudos ou que possuía uma intelectualidade maior

que a média e que tinha dificuldades em se relacionar com as pessoas. Geralmente

utilizavam óculos, aparelhos dentários, tinham muitas espinhas, eram tímidos, não

tinham muita autoconfiança e eram inocentes, ingênuos.

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Atualmente os nerds se caracterizam como pessoas que possuem alguma

obsessão por determinado tópico, colecionando coisas, escrevendo sobre

determinado assunto, se interessam por computação e tecnologia (os chamados de

Geeks), HQs (histórias em quadrinhos), games e ficção científica. De acordo com essa

definição atual, os nerds não obrigatoriamente são antissociais e não possuem a

aparência do nerd clássico, é possível que tenham uma aparência cafona, moderna

ou até desleixada.

Esse conceito afirmado por Galvão (2009) diz que durante muito tempo o nerd

era visto com um certo tipo de preconceito e isso o tornava mais enraizado nos seus

hábitos não tão comuns na sociedade. Hoje, na sociedade da era da informação eles

são populares, pessoas que geralmente são consultadas e que todos querem ser

amigos.

Por essas razões, os personagens da série “The Big Bang Theory” são

considerados geeks e nerds. Eles possuem dificuldades de interagir com o mundo

social, daí a dificuldade de se traduzir essa série, pois o humor trabalhado foge ao

comum, visto que quem traduz precisa ter competências específicas para alcançar os

efeitos de sentido na língua chegada. Por outro lado, considerando que esse grupo

encontra dificuldades no relacionamento com o mundo social, o efeito humorístico

acha-se exatamente nas barreiras enfrentadas na comunicação com aqueles que não

fazem parte do seu grupo.

Diante disso, os diferentes tipos de humor supracitados exigem que haja

competências também variadas para se traduzir. Podemos observar que existem

diferentes tipos de humor envolvidos ao decorrer da série, a partir disso realizaremos

uma análise sobre a série em questão em relação com as teorias do humor.

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3 METODOLOGIA DA PESQUISA E TRADUÇÃO DE SÉRIES NO BRASIL

Neste trabalho iremos realizar uma análise de conteúdo de três episódios da

série “The Big Bang Theory”. A partir das teorias do humor, iremos analisar como

essas teorias combinam com o humor nerd e como isso provoca um efeito cômico.

Iremos analisar também, a partir das competências tradutórias, como o profissional

que traduz irá proceder na tradução audiovisual, ao se deparar com situações de

humor nerd que venham a exigir dele uma elaboração mais específica. Trazemos

também informações que julgamos pertinente sobre as séries no Brasil, de modo

geral, além de considerações sobre a audiência de “The Big Bang Theory” e seu estilo

nerd. O estudo seguirá os moldes de pesquisa qualitativa e analítico-descritivo.

3.1 Procedimentos de análise

Para essa pesquisa selecionamos de duas a três cenas de cada episódio

escolhido. Os episódios selecionados foram, para a cena 1, Temporada 03, Episódio

14 – The Einstein Approximation, e para a cena 2,3 e 4, Temporada 03, Episódio 15

– The Large Hadron Collision. A maneira como iremos realizar a análise se dará assim:

na primeira análise apresentaremos um resumo de cada cena selecionada com base

nas competências tradutórias, uma proposta de tradução para a legenda e explicando

o efeito cômico perdido. Já nas análises seguintes, iremos apresentar um breve

resumo sobre cada cena, logo depois as teorias do humor e as máximas que explicam

a cena. Em seguida explicamos o porquê do efeito cômico causado.

3.2 Séries no Brasil

No Brasil, a série “The Big Bang Theory” teve uma audiência de 23,73 milhões

de telespectadores. No entanto mesmo com tanta audiência, a legenda da série

conforme Sayuri (2011), incomodou estudiosos que assistiam à série por serem das

áreas de física, astrofísica, engenharia e informática. Para os estudiosos dessas áreas

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as legendas possuem “falta de precisão científica, negligência com trocadilhos e

expressões erradas”.

Como estamos falando nesse trabalho sobre a série “The Big Bang Theory”,

iremos abordar no próximo subtópico um resumo sobre a série, uma contextualização

sobre o que exatamente estamos falando quando nos referimos a série “The Big Bang

Theory”.

3.2.1 Resumo da Série

“The Big Bang Theory” é uma série de TV norte-americana, do canal CBS, que

é exibido pela Warner Channel no Brasil, em que o físico experimental Leonard

Hofstadter e o físico teórico Sheldon Cooper, vivem juntos em um apartamento em

Pasadena, Califórnia e trabalham no Instituto de Tecnologia da Califórnia – Caltech.

Penny que mora do outro lado do corredor, mas não tão inteligente quando os dois

gênios; é uma garçonete e aspirante a atriz que mais tarde se torna uma representante

farmacêutica. Sheldon e Leornard têm dois amigos: Howard Wolowitz e Rajesh

Koothrappali. Howard é um engenheiro aeroespacial e Raj é um astrofísico e também

trabalham no Caltech. Eles são geeks socialmente desajeitados. Os seus hábitos e

intelecto são diferentes da sociedade, e isso entra em contraste em relação ao efeito

cômico com habilidades sociais e o senso comum da vizinha Penny; por isso eles

acabam aprendendo coisas importantes da vida social com a garçonete que não tem

o mesmo nível de inteligência deles.

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4 ANÁLISE

Apresentamos uma amostra de análise dos episódios selecionados da série

“The Big Bang Theory”. Segue na Tabela 1, a série selecionada juntamente com os

episódios e a temporada, a partir dos quais serão analisadas cenas onde o humor

geek e nerd aparecem, em que se pode aplicar as teorias do humor; além disso,

buscamos identificar as competências tradutórias empregadas na elaboração da

tradução audiovisual.

The Big Bang Theory Temporada/ Episódio

Cena 1 S03E14 – The Einstein Approximation

Cena 2,3 e 4 S03E15 – The Large Hadron Collision

Tabela 1

4.1 A tradução do humor geek e nerd na prática

Resumo da cena 1: Sheldon não consegue solucionar o problema do Grafeno

e isso o atormenta, ele não consegue realizar mais nada além de pensar em meios

para solucionar esse problema. Howard então tem a curiosidade de saber por quanto

tempo ele está travado nisso, e Leonard brinca dizendo que ele está assim

intelectualmente por umas trinta horas, mas que emocionalmente cerca de vinte nove

anos. Logo depois, Horward brinca como se Sheldon fosse um computador e pergunta

para Leonard se ele já tentou reiniciar o Sheldon, mas ele responde ainda brincando,

que não, que acha que pode ser um problema de Firmware.

Podemos perceber que a tradução escolhida aqui pelo tradutor foi em usar algo

que as pessoas em geral pudessem compreender, mas essa escolha acabou tirando

um pouco do humor nerd inserido nas falas dos personagens. Embora entendamos o

porquê da escolha feita pelo tradutor, cremos que talvez possa existir uma forma mais

adequada de se atingir o efeito de sentido da legenda de partida. Vemos aqui que

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Sheldon está claramente passando por dificuldades de assimilar todas as suas ideias

para solucionar o problema do grafeno.

Figura 1: Cena 1 – parte 1. The Big Bang Theory (LORRE, PRADY, 2009).

Figura 2: Cena 1 – parte 2

Nesta cena podemos aplicar a subcompetência referida por Hurtado Albir

(2005), como extralinguística, que diz que é a partir dela que o tradutor é capaz de

fazer uma tradução com base no seu conhecimento sobre o mundo em geral, e que é

a partir dessa subcompetência que o tradutor desenvolve uma competência particular

que o torna capaz de fazer melhor o seu trabalho; isto é, busca o entendimento cultural

que o capacite a entender o assunto, que no caso aqui, é a área que abrange os

assuntos de tecnologia e computação. Nesta cena o efeito cômico se dá pelo sentido

que Howard impôs, quando perguntou para Leonard se ele já havia tentado reiniciar

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Sheldon. Leonard entra no jogo cômico nerd de Howard e responde à altura a

brincadeira, ao dizer que acha que pode ser um problema de firmwere. Como se vê

na cena a seguir (Tabela 2), o tradutor não utilizou os termos usados na área de

computação, fugindo à proposta do humor nerd tão presente na série.

Inglês Português Proposta de tradução

Howard - Have you tried rebooting him?

Leonard - No, I think it’s a firmware problem.

Howard – Já tentou resetar?

Leonard – Não, acho que é um defeito permanente.

Howard – Já tentou reinicia-lo?

Leonard – Não, acho que é um problema de firmware.

Tabela 2

Os nerds estão acostumados a lidar com esse tipo de termo, mesmo sendo

eles em inglês. No entanto, ao olharmos a legenda do DVD, mesmo cientes dessa

linguagem, a tradução brasileira não parece ter se dado conta dessa linguagem

específica, uma vez que deixou de lado o firmware traduzindo-o por “defeito

permanente”. Se formos levar em consideração a subcompetência extralinguística,

consideramos que teria sido mais adequado deixar o termo em inglês, conforme

proposta acima. Firmware são instruções funcionais projetadas diretamente no

hardware de um equipamento eletrônico, o que um nerd da área, no geral, tem

conhecimento. O efeito cômico não parece ter sido contemplado, mesmo Howard e

Leonard compararem o personagem Sheldon a uma máquina, visto estar fora de si;

ou seja, as instruções operacionais programadas diretamente no hardware (seu

cérebro) não estão funcionando como deveriam.

Outro caso, trata-se do verbo reboot (reiniciar), utilizado por Howard;

entendemos pela pesquisa e por conhecermos os termos específicos da área de

informática, que não se trata de “resetar”, cujo correspondente em inglês é o verbo

reset. Entretanto, a tradução não parece ter feito a diferença entre reiniciar (um

computador, celular, etc.), onde você apenas faz o processo de desligar e ligar

novamente, com as configurações permanecendo as mesmas; quando se “reseta” um

aparelho, você modifica as suas configurações. São situações parecidas, mas com

fins diferentes.

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4.2 Análise da Teoria da Superioridade na cena 2

Resumo da cena 2: Leornad foi convocado pela universidade a ir para Suíça

no dia dos namorados com direito a um acompanhante. Sheldon se vê como a escolha

mais óbvia, mas como é dia dos namorados, Leornad acha que a escolha mais óbvia

é levar a sua namorada Penny. Sheldon não se conforma com a escolha de Leornad

e não consegue convencê-lo do contrário, então ele vai procurar Penny para ver se

consegue convencê-la a não ir. Nisso, Sheldon mostra, em uma apresentação de

PowerPoint feita por ele, como ele é superior a Penny e como ele merece ir para a

Suíça mais do que ela.

Vamos analisar um trecho da terceira temporada, no episódio 15, e identificar

a teoria do humor que se aplica na cena e por que essa cena causou efeito cômico no

público.

Figura 3: Cena 2 parte 1.

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Figura 4: Cena 2 parte 2.

Sheldon, ao realizar a apresentação mostra superioridade em relação a Penny,

julgando ser muito mais apropriado que ele vá a Suíça do que ela. Sheldon por ser

um cientista, acha muito mais justo que ele vá para uma viagem promovida pela

universidade onde trabalha, para realizar seu sonho de criança em ver o Grande

Colisor, no CERN, na Suíça, do que Penny, que é apenas uma garçonete que não

possui tanta inteligência como ele, para presenciar algo que seria tão importante em

sua carreira, o que ele vê como desperdício de informação importante.

Na cena, a Teoria da Superioridade se exemplifica no momento em que

Sheldon mostra que é superior a Penny. O público, tem a propensão de rir quando

alguém é menosprezado ou passa por um episódio humilhante, isso gera uma

sensação de superioridade em relação ao outro, provocando o humor e causando a

satisfação.

4.3 Análise da Teoria do Alívio na cena 3

Resumo da cena 3: Sheldon faz um café da manhã com os principais elementos

que Leonard gosta com o intuito de tentar convencê-lo, de que deveria ser o escolhido

para acompanhar Leonard na viagem a Suíça. Os dois conversam sobre o quanto são

grandes amigos, porém ao final da conversa, Leonard diz a Sheldon que ainda

pretende levar sua namorada Penny. Após o insucesso de seus esforços vai até a

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lavanderia onde Penny está dobrando as roupas que acabara de lavar. Sheldon

aparece com o intuito de falar com ela a respeito da viagem.

Iremos analisar um trecho da terceira temporada, no episódio 15, e identificar

a teoria do humor que se aplica na cena e por que essa cena causou efeito cômico no

público.

Figura 5: Cena 3, parte 1

Figura 6: Cena 3, parte 2

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Figura 7: Cena 3, Parte 3

Ao responder a fala de Sheldon, Penny na parte 2 e 3 da cena 2, faz um

comentário sarcástico de que acredita que Sheldon estaria ali, se referindo ao planeta

terra para descobrir as fraquezas dos humanos e reportar estas fraquezas para as

autoridades alienígenas, insinuando que ele é um extraterrestre, de forma pejorativa.

De acordo com a teoria do alivio, o humor questiona as exigências sociais e

convencionais. Quando Penny insinua que Sheldon é um alienígena, de maneira

sarcástica, fugindo da maneira social e convencional que seria ao conversar com

alguém que não faz parte do seu grupo social, o efeito cômico é produzido pois a

personagem se refere a Sheldon como alguém que é fora dos padrões que temos por

“humanos”.

4.4 Análise da Teoria da Incoerência na cena 4

Resumo da cena 3: Leonard decide que Penny irá com ele para a Suíça,

independente de todo o esforço que Sheldon fez para ir, mas de última hora, Penny

fica doente e não pode mais viajar com Leonard. Leonard então, no dia da viagem,

oferece a vaga de acompanhante para Sheldon que, com muito entusiasmo aceita ir,

mas ele também está doente e é obrigado a ficar em casa com Penny.

Vamos analisar um trecho da terceira temporada, no episódio 15, e identificar

a teoria do humor que se aplica na cena e por que essa cena causou efeito cômico no

público.

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Figura 8: Cena 4 parte 1.

Figura 9: Cena 4 parte 2.

Raj um astrofísico indiano que trabalha na mesma universidade de Leonard e

Sheldon tem dificuldades de falar com as mulheres e por isso ele nunca teve uma

namorada; no início do episódio menciona a sua infelicidade de estar sozinho no dia

dos namorados.

Como Penny e Sheldon eram as duas opções mais óbvias de acompanhantes

para Leonard, ficaram doentes, era de se esperar que Leonard apareceria sozinho no

quarto de hotel na Suíça, mas não foi o que aconteceu. Para a surpresa do público,

quem aparece entrando no quarto com Leonard é Raj, que não era uma opção óbvia.

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Na parte 2 da cena 3, Raj mostra muita alegria em estar naquele lugar, por

nunca ter tido a oportunidade de passar o dia dos namorados acompanhado, nem que

essa companhia fosse um dos seus amigos. Então o personagem tem uma atitude

inesperada ao demostrar a sua felicidade com um ato imaturo para um astrofísico,

sendo que o propósito da viagem não era para fins pessoais, mas acadêmicos.

A Teoria da Incoerência pode ser identificada no momento em que Leonard

chega com Raj no quarto de hotel, e quando Raj expressa a sua felicidade ao pular

na cama. A Teoria diz que o humor aparece quando existe uma combinação de duas

ideias que associam o que você sente com o que é insensato e isso ocorre no

momento em que Raj pula na cama. O humor aqui ocorreu também pela quebra de

expectativa quando é Raj quem aparece no quarto.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na problemática levantada na introdução deste trabalho, elaboramos

a hipótese de que o profissional na área da tradução audiovisual demandaria o

desenvolvimento das competências tradutórias. Percebemos por meio dos autores

aqui citados, como Hurtado Albir (2005) e Pym (2003), que a competência bilíngue,

linguística e extralinguística provém da soma das subcompetência tradutórias que

juntas podemos chamar de competência tradutória.

Para a tradução do humor nerd percebemos que seria necessário que a

competência extralinguística deve ser algo que o tradutor precisa considerar em

adquirir além da sua criatividade, para que os efeitos cômicos não se percam, por se

tratar de uma área com muitos termos que fogem ao convencional, pois o profissional

de tradução terá que lidar com situações que irão muito mais além do texto escrito,

questões relevantes que irão ter grande peso na hora da tradução.

Ocasionalmente podemos nos defrontar com alguns jogos de palavras que

podem abranger o contexto da fala do personagem e como tradutores, estamos

cientes da importância de saber averiguar todos os aspectos que envolvem o contexto

da cena antes de se realizar a tradução.

No nosso capítulo de análise, demostramos que é importante que o tradutor

tenha um conhecimento sobre o assunto a ser falado na série para que o público, que

no caso aqui estamos nos referindo em sua maioria os nerds, por ser um programa

voltado para esse público, possa compreender o sentido e o efeito cômico que é

produzido, muitas vezes, no jogo de palavras utilizado com termos das áreas

específicas. Ao realizar a legenda, temos que ter certeza de que o humor contido na

série foi contemplado e observado pelo público alvo.

Concluímos com este trabalho que o profissional de tradução deve atentar não

apenas para as competências tradutórias, mas com tudo que envolve a tradução

audiovisual, como se trata de tradução de humor nerd, é necessário que quem traduz

esteja atento a todas as possibilidades envolvidas que melhor retratam o contexto

para a cultura específica que se traduz.

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