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Centro Universitário de Belo Horizonte - UniBH Bruno Novais Projeto Jovem Cidadão do Mundo: um futuro caso de cooperação e desenvolvimento Belo Horizonte Junho de 2010

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Centro Universitário de Belo Horizonte - UniBH

Bruno Novais

Projeto Jovem Cidadão do Mundo:

um futuro caso de cooperação e desenvolvimento

Belo Horizonte Junho de 2010

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Bruno Novais

Projeto Jovem Cidadão do Mundo:

um futuro caso de cooperação e desenvolvimento

Monografia apresentada ao Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Professor Leando Rangel

Belo Horizonte Junho de 2010

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Resumo

O presente artigo tem como objetivo fazer uma análise teórica acerca do papel das

Organizações Não-Governamentais e das associações criadas no seio da sociedade civil. Além

do respaldo teórico, pretende-se demonstrar como um projeto social específico para a

educação avançada de Ensino Médio pode contribuir para a melhoria na qualidade de vida e

na instrução de inteiras comunidades da cidade de Belo Horizonte.

Palavras-chave

Organizações Não-Governamentais – desenvolvimento social – globalização –

Interdependência Complexa – governança – accountability – educação

Abstract

The present article aims to produce a theoretical analysis on the role of the Non-

Governmental Organizations and associations created in the core of civil society. Aside from

this theoretical base, it is intended to demonstrate how a specific social project for advanced

High School education may contribute to the improvement in life quality and instruction of

entire communities in the city of Belo Horizonte.

Key-Words

Non-Governmental Organizations – social development – globalization – Complex

Interdepence – governance – accountability – education

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Agradecimentos

Um agradecimento especial ao Professor Leandro Rangel

pela orientação cheia de boas idéias. Agradeço também ao

Professor Leonardo Ramos pela ajuda dada no sétimo período, fez

toda a diferença. O mesmo agradecimento vai ao colega Jean Pierre

Kirsch, que não me deixou jogar a toalha. Sou também muito grato

ao Professor Dawisson Belém Lopes, que insistiu com toda a turma

que deveríamos escolher temas que nos estimulassem. Graças a este

conselho consegui eleger um tema que permitiu que eu

aprofundasse meu conhecimento sentindo o real prazer do estudo

neste último ano e meio.

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Projeto Jovem Cidadão do Mundo:

um futuro caso de cooperação e desenvolvimento

Bruno Novais1

Leandro de Alencar Rangel2

Globalização, interdependência complexa e a necessidade pela filantropia do

desenvolvimento

O presente trabalho tem como finalidade demonstrar, por meio da teoria da

interdependência complexa, como está cada vez mais em voga e premente o trabalho das

organizações de indivíduos privados, membros da sociedade civil que se organizam para

formar grupos de ação em distintas áreas de interesse.

Pretende-se explicar como é possível realizar intervenção social de forma a gerar uma

“win-win situation”3 entre empresas privadas, o governo e o conjunto de pessoas a serem

beneficiadas por um projeto de educação avançada.

Primeiramente, é necessário argumentar que a noção de cidadania, desde que

movimentos sociais começaram a ganhar força na década de 1970, passou a ser algo distinto

daquilo que era considerado antes (GAMBLE; KENNY, 2005). Cidadania passou a ter um

sentido mais amplo, que vai além das necessidades mais básicas do ser humano por alimento

e às mínimas condições de saúde: o novo conceito de cidadania é ampliado, deixa-se de

pensar tanto em atitudes “curativas”, a passa-se a ter um raciocínio mais profilático em

desenvolvimento. A nova ação social está pensando um passo à frente da atitude imediatista

de projetos sociais que prestam serviços de urgência à comunidade, e procura gerar melhoria

de forma mais em longo prazo, com resultados mais tardios, porém benefícios mais sólidos à

sociedade.

A melhoria na qualidade de vida causada por este projeto, inicialmente seria a um

número limitado de pessoas, no entanto este projeto visa um impacto que vá para além

1 Graduando em Relações Internacionais do Centro Universitário UNI-BH 2 Professor Orientador do Curso de Relações Internacionais do Centro Universitário UNI-BH 3 Win-win situation: expressão em inglês que designa situações em que não há lado perdedor, uma que é benéfica para ambos (ou todos) os lados.

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daquele vivenciado pelos próprios participantes. O objetivo é que estes jovens sejam agentes

para o desenvolvimento de toda a sociedade, gerando mudanças locais que colaborem para

influenciar mudanças sistêmicas, através de políticas públicas que favoreçam cada vez mais

aquela parcela da população. (KISIL in EVELYN 2005 p. 132). Este tipo de mudança, as de

cunho sistêmico, tem o poder de perpetuar seus efeitos e benefícios através do tempo,

contribuindo de maneira ímpar para a sociedade.

Para Kisil,

“a Mudança Estrutural é uma transformação fundamental de alguma atividade ou instituição a partir de um estado anterior. [...] É necessário reconhecer-se que as mudanças estruturais geralmente exigem o abandono de velhas instituições, relacionamentos e procedimentos e a sua substituição por outros totalmente novos.” (p. 140.)

A afirmação acima nos leva a pensar no caso do projeto proposto, que tem sua

originalidade e seu rompimento com o tradicional no próprio fato de que levar um grande

número de estudantes de escola pública para o exterior para programas como este é algo que

ainda não foi feito no nosso país. E que talvez seja deste tipo de modernização dos processos

de melhoria da educação que o nosso sistema público de ensino está precisando. Esta idéia

também é defendida por Ruth Cardoso quando ela diz que a maior contribuição do Terceiro

Setor é a de buscar e experimentar, ajudando a trazer soluções inovadoras para os problemas

que ele se propõe a enfrentar. (CARDOSO, 2005, p. 10)

Uma possível mudança causada nestes estudantes pode ser como eles irão passar a

exercitar sua cidadania, como tratar de maneira política os problemas de sua comunidade e

com isto organizar a mesma de maneira a cobrar de maneira mais eficiente seus governantes.

(KISIL in EVELYN 2005 p. 132).

Não se pretende, com o argumento de que alguns projetos não busquem a mudança

sistêmica, desdenhar ou ofuscar a importância de projetos sociais que socorrem os

necessitados por comida, saúde básica ou outra carência de grande premência. A idéia é

somente demonstrar que este tipo de ajuda apenas evita a catástrofe social última, que é a não

manutenção da vida. Fica aberta uma lacuna da demanda que há para projetos que tratem de

políticas de melhoria da educação, do desenvolvimento lento, porém progressivo, enfim:

ações cujos resultados se vêem ao longo de um período de tempo mais longo. Este tipo de

ação social, segundo a análise que irei tecer neste trabalho, tem melhores chances de deixar

resultados positivos permanentes e com o potencial de alastramento.

Uma característica importante na qual se baseia o cerne desta discussão é a ocorrência

de múltiplos canais que conectam as sociedades (KEOHANE; NYE, 1999). Um destes canais,

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para os autores são de fato as organizações não-governamentais, que se tornam grupos de

pressão para a formulação de políticas, e também se inserem no jogo político por meio de

negociação e lobby. Outros canais em que se conectariam as sociedades seriam as elites

governamentais e os acordos feitos pelos escritórios diplomáticos no além-mar (KEOHANE;

NYE, 1999). Aqui os autores levam em consideração não somente aqueles que pertencem ao

Estado, como uma análise realista faria. Aqui o Estado é colocado em possível pé de

igualdade com as elites governamentais e com as organizações da sociedade civil, as elites

não-governamentais. A hierarquia entre estes três seria determinada sempre pontualmente, e

pesaria de forma concomitante para todos os lados, sem nenhum tipo de simetria.

Seja qual for a natureza dos atores, a interdependência complexa converge com o

grande corpo teórico positivista em Relações Internacionais que o objetivo primordial de cada

um deles é a maximização de seus ganhos em relação à alternativa de cooperação escolhida

por eles.

“It is important to guard against the assumption that measures that increase joint gain from a relationship will somehow be free of distributional conflict. Governments and nongovernmental organizations will strive to increase their shares of gains from transactions, even when they both profit enormously from the relationship.” (KEOHANE; NYE, 1999, p. 309)

Ou seja, sempre existirá conflito entre os participantes na cooperação sobre a

distribuição dos ganhos da mesma. Os Estados, ou mesmo as organizações não-

governamentais, todos buscam o máximo aproveitamento da relação com o(s) outro(s). Isto

significa que, para que um projeto social de uma associação civil tenha parceiros, ele

necessita ter algo a oferecer para que ele tenha outros participantes na realização do projeto. É

necessário que haja uma vantagem para quem estiver disposto a contribuir, para que possa se

dar uma “win-win situation”. De outra forma, a cooperação pode estar comprometida.

Sobre esta preocupação dos atores em maximizar ganhos, Keohane e Nye (1999)

acreditam que as instituições tendem a ter mais parceiros, e não concentrar todas as suas

apostas em um único “provedor”, e que isso diminui sua vulnerabilidade.

“Some organizations or groups may interact with other societies or with other governments to increase their benefits from a network of interaction. Some actors may therefore be less vulnerable as well as less sensitive to changes else where in the network than are others, and this will affect patterns of political action.” (KEOHANE; NYE, 1999, p. 315)

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Estes autores são especialmente otimistas em relação à cooperação, e por isso esta

análise se alinha tanto com os pensamentos dos acadêmicos americanos supracitados. Isto,

pois a análise tratada neste trabalho de conclusão de curso parte do pressuposto otimista de

que é possível criar desenvolvimento social e filantropia a partir de relações bem sucedidas

entre atores privados auto-interessados e uma organização não governamental, que em se

tratando de uma associação civil com fins filantrópicos neste caso, deverá absolutamente

tratar-se de uma instituição que não seja auto-interessada.

Se a teoria de Keohane e Nye estiver coerente com a realidade no que diz respeito à

formação de agenda para a Interdependência Complexa, as chances de sucesso de um projeto

social por meio da cooperação são ainda maiores: para eles, a agenda será feita por temas

diferentes, cada um com sua importância, mas de qualquer forma havendo a influência de

atores não estatais na geração desta agenda, o que colabora para que passem a incluir temas

como a filantropia em lugar proeminente na hierarquia de discussões. (KEOHANE; NYE,

1999, p. 317)

A globalização pode ser pensada como um facilitador para o funcionamento de

projetos de intervenção social, a partir do momento em que ela simplifica o processo de

transferência de capital entre países, e gera com isso uma interdependência entre economias

que é responsável por criar uma ordem internacional pacífica:

“Globalization, it suggests, is both inexorable and a natural extension of the propensity for capital to move across artificial national boundaries. With increasing economic interdependence and exchange, these economic liberals suggest, there emerges the prospect of a more peaceful international order as various outlying states and illiberal political regimes find their populations drawn to the benefits of global capitalism and liberal democracy.” (GAMBLE; KENNY, 2005 p. 28)

Ainda sim, há fortes criticas sobre o real impacto das associações na sociedade civil

internacional. Adeptos a teorias menos otimistas têm o hábito de diminuir as atividades das

organizações não governamentais (GAMBLE; KENNY, 2005 p. 20)

Se utilizarmos a terminologia de Nicholas Onuf, chamaremos as organizações não-

governamentais de “agentes”. Agentes são aqueles que participam ativamente na construção

das regras, regras estas que restringem os campos de atuação, ou seja, não se pode nunca jogar

em todos os campos (ONUF, 1989, p. 58). Portanto, cada agente tem seu escopo de

possibilidades, e tópicos da agenda que pertencem ao seu leque de temas relacionados. Assim

sendo, uma organização não-governamental de apoio a agricultores de cana de açúcar no

Tocantins muito dificilmente será da mesma rede de conexões que uma associação de

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educação para o desenvolvimento social em Belo Horizonte. E o tema de um não chega a

tocar o assunto do outro, portanto fica impossível que se haja uma “partida” no jogo político

entre elas, por falta absoluta em convergência de temas. Mas, enquanto houver convergência

entre suas agendas, no jogo político todas as associações, bem como toda e qualquer parte

relacionada, buscará o máximo possível de ganhos, como discutido anteriormente.

Nicolas Onuf explica como o poder de agência pode ser conquistado por meio das

próprias regras do jogo, jogo no qual o objetivo é o de se alcançar algum nível de efetividade

das intenções daquele que o joga:

“Ordinarily, we think of agents as people who act on behalf of other people. Considering the matter more abstractly, we see that rules make it possible for us to act on behalf of social constructions, which may be ourselves, other human beings, or even collections of people along with the rules, the practices and the actual things that was make and use. Conversely, agents need not be individual human beings to be able to act on behalf of others. Agency is a social condition”. (ONUF, 1989, p. 60)

Tudo isto posto, nota-se que uma considerável parte do corpo acadêmico de Relações

Internacionais4 acredita muito no poder das instituições, e crê na eficácia de seus métodos,

vendo nelas um real agente de formulação de política, e parte integrante do jogo de tomada de

decisão. Portanto, abre-se um importante caminho para que instituições formadas dentro da

sociedade civil busquem seus espaços, visando alcançar metas que não sejam auto-

interessadas da mesma forma como buscam os outros atores. Claro que existe auto-interesse

dentro de instituições, mas o ponto neste artigo é demonstrar que ele decorre na verdade de

um desejo altruísta das pessoas que gerem a instituição no sentido de impulsionar mudança

social por meio de ação local.

Existem diversos tipos de ONG: “as ambientalistas e de desenvolvimento,

universitárias, a comunidade científica, as organizações feministas, os camponeses, a

juventude, os sindicatos, os povos autóctones e a indústria.” (LE PRESTE, 2000 p. 135). Esta

tipificação do autor está contida na Agenda 21 ao longo dos capítulos 23 a 32.

A ação das ONGs pode ser global, buscando uma mudança sistêmica, ou ela pode ser

local, buscando impacto concentrado em determinada comunidade. No entanto, as

possibilidades de se ajudar comunidades carentes são infindas, e o mais importante passa a ser

a essência da idéia que rege cada projeto, já que há uma homogeneidade metodológica entre

as organizações, como será discutido mais adiante, no tema do isomorfismo institucional.

4 Para mais, ler Gamble & Kenny 2005, Keohane & Nye 1999, Anheier, 2005,

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Este trabalho pode servir de crítica ao Realismo no momento em que acredita que

instrumentos que não a força podem interagir com diferentes unidades não-governamentais

para gerar impacto dentro da sociedade, premissa para qual temos que levar em consideração

uma predominante estratificação dentro do Estado. Este fato por si só, de tirar-se dos ombros

dos Estados a responsabilidade de realizar toda e qualquer mudança social, tem também em si

só uma contradição ao modelo realista que vê no Estado o ator último capaz de gerar este tipo

de política. (KEOHANE; NYE, 1999, p. 310)

Proposta de política pública

A proposta contida neste trabalho é a de desenvolver um projeto de política pública

que visa à integração cultural e a inserção de jovens em situação de risco social em melhores

oportunidades de estudo e trabalho. Esta inserção se dará por um projeto de intercâmbio

cultural em um país estrangeiro, o que em geral é um benefício para poucos, já que devem ser

levados em conta elevados custos para a realização do mesmo. Os jovens que formam o

público-alvo deste projeto são estudantes de escolas públicas de Belo Horizonte, a serem

selecionados ao final do Ensino Fundamental, para que partam para seus programas na

metade do segundo ano do Ensino Médio.

O projeto em questão terá a função de mostrar aos jovens de escolas públicas a

realidade de países desenvolvidos, sendo inseridos em contextos que os ensinariam a partir da

experiência de educação que estes países hospedeiros podem fornecer-nos. Este tipo de

política pública poderia ajudar os adolescentes participantes a criar uma visão diferente do

mundo onde vivem, o que traz grande potencial de que estes jovens sejam atores chave no

desenvolvimento de suas comunidades ao retornar ao contexto pobre de onde partiram

inicialmente. Ver de perto a experiência bem sucedida de outros países os faria ver como

existem alternativas para os problemas aos quais não somente eles, mas toda a sociedade

brasileira demonstra já ter se acostumado. Desta forma, o objetivo é que estes estudantes

voltem às suas comunidades com uma visão crítica e idéias que enriqueçam, contribuam para

projetos já existentes, ou até mesmo criem novos projetos de desenvolvimento dentro das

comunidades.

Os jovens que serão objetos deste projeto (aqueles de escolas públicas de Belo

Horizonte, a serem selecionados no final do Ensino Fundamental por méritos acadêmicos e

comportamentais) seriam agraciados com uma visão de mundo globalizado que ainda é muito

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pouco desenvolvida em jovens de baixo poder aquisitivo, por terem menos acesso a meios de

comunicação como internet, cinema, canais de televisão paga e tampouco acesso a viagens.

Portanto, ao dar esta oportunidade a jovens em situação de risco, estaríamos diminuindo o

hiato que há entre adolescentes de diferentes estratos sociais, podendo significar o inicio de

uma mudança comportamental que pode ser preponderante na melhoria e no desenvolvimento

de comunidades pobres da capital em questão.

Segundo Ritha Sousa, Chairperson Voluntária do Rotary Youth Exchange, o

amadurecimento destes estudantes e a cultura adquirida por eles durante o programa ajudam

na formação deles e também na sua empregabilidade. Ela aconselha que os estudantes façam

todos os cursos possíveis durante o programa, pois isso ajuda muito na elaboração do

currículo deles. (SOUZA, Ritha. O projeto do Rotary Youth Exchange. Belo Horizonte:

entrevista concedida ao autor do projeto, 2010.)

O Rotary Youth Exchange patrocina todo ano o programa de intercâmbio de um

jovem carente. Ao ser perguntada se há diferença no desempenho entre estudantes de escola

pública e privada, Sousa responde que os estudantes em situação sócio-econômica menos

favorável em geral se sobressaem no programa, ainda mais que os jovens de alta renda.

Segundo ela isto se dá, pois eles enxergam neste evento da vida deles uma oportunidade

única, a qual ele deverá usar para adquirir sucesso profissional e financeiro posteriormente,

enquanto os jovens pagantes em geral não vêem com tanto entusiasmo a sua participação no

programa. Além disto, os jovens ajudados sentem que têm que fazer jus à oportunidade

cedida, também como forma de agradecimento às suas famílias por elas terem apostado na

educação deles.

A experiência do Rotary Youth Exchange com intercambistas de baixa renda é

encorajante para a implementação do Projeto Jovem Cidadão do Mundo. Esta experiência

demonstra como as barreiras educacionais e sociais que poderiam quiçá dificultar a

participação de jovens de escolas públicas no programa tradicional de intercâmbio cultural na

verdade não somente não atrapalham, como ajudam no desempenho deles. A experiência

demonstra como os jovens se engajam firmemente na tarefa de aprender o máximo possível, e

ganham confiança e conhecimento para seguir em frente na busca de aspirações maiores de

vida.

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O papel e a classificação das instituições neste processo

Para realizar políticas públicas deste cunho, costumava-se pensar somente no poder

estatal como meio para atingir tais objetivos. O poder público era pensado estritamente como

a máquina do Estado como o ator que poderia realizar este tipo de intervenção social

(KEOHANE; NYE, 1999, p. 310). O poder executivo local iria cuidar para que houvesse

projetos de inserção cultural e educacional, consumindo-se assim dinheiro público para

implementar projetos em determinadas áreas. Naturalmente, observar-se-ia o dinheiro de

impostos destas comunidades retornando em forma de política social, o que é perfeitamente

compreensível e saudável dentro de uma sociedade. No entanto, é fato conhecido que no

Brasil as divisas de impostos pagos frequentemente têm destinos um tanto quanto duvidosos,

e se torna difícil crer de fato que o governo esteja visando o bem coletivo na aplicação de

todos estes recursos. Não somente a corrupção e a falta de profissionalismo da política dentro

do Estado, percebe-se também que ele falha em abarcar diversas áreas do desenvolvimento

social, senão por falta de vontade, também por falta de conhecimento específico que contribua

para o sucesso de tais políticas.

“A não-presença do Estado de Bem-Estar Social (welfare state) incorre na necessidade

de atores para além do Estado que se ocupem de trabalhar no sentido de melhorar a divisão de

bens culturais e financeiros na sociedade.” (SZAZI, 2006, p.31), Assim, as chamadas

Organizações Não-Governamentais exercem o papel de estar onde “as mãos” do Estado tem

mais dificuldade de agir, seja por falta de recursos financeiros como recursos intelectuais e

técnicos. Estas organizações têm a função, atualmente, de auxiliar o Estado em cumprir

tarefas às quais este se demonstra incapaz de agir. Um exemplo disto são as ONGs para a

moradia na Índia, que sozinhas “fizeram com que 160 famílias mudassem seus barracos para

10 metros longe das linhas de trem, e com seus próprios fundos construíram um muro

separando a ferrovia do novo assentamento” (RAMANATH, 2008, p. 62). Neste caso, o

governo indiano não estava conseguindo ser provedor e falhou em gerar resultados por si

próprio. A força das associações civis fez com que algo fosse realizado, tal qual o Estado nem

mesmo existisse.

Para Ruth Cardoso (2005), o Brasil é um país que sofre com uma forte herança de

desigualdade e marginalização, e que, portanto o Terceiro Setor deve perpetrar ações que

venham a corrigir as distorções e equilíbrios a que estamos submetidos. Para ela,

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“o fortalecimento da sociedade civil e de sua atuação no campo do desenvolvimento social é o caminho correto para que possamos superar essa herança pesada de injustiça e exclusão. [...] Não se trata disso [que o este seria o melhor caminho por aliviar a tarefa do governo], mas sim de reconhecer que a ação do Terceiro Setor no enfrentamento de questões diagnosticadas pela própria sociedade nos oferece modelos de trabalho que representam modos mais eficazes de resolver problemas sociais.” (CARDOSO, 2005, p. 10)

Em um país como o Brasil, o governos federal bem como os locais acabam por ocupar

suas mãos majoritariamente com questões inerentes à vida em sociedade como saúde,

segurança, transportes e economia. (COHEN, FRANCO, 2008). Outras questões passam,

portanto a serem negligenciadas, como esportes, entretenimento, cultura e desenvolvimento

social em longo prazo. O que diferencia desenvolvimento social em longo prazo de

desenvolvimento social em curto prazo, neste caso, é que o Estado pode lançar mão mais

facilmente de políticas que mostrem resultados em menos de quatro ou oito anos, para que

sejam atendidas necessidades eleitoreiras de personalidades políticas. Projetos que visem a

melhoria em médio e longo prazo são expendiosos e geram pouco retorno em popularidade

imediata a políticos de cargos eletivos. Por isso, será sugerido para este projeto, como a

criação de uma Organização Não Governamental pode ser a saída para a implementação do

projeto anteriormente mencionado.

Antes de iniciar a discorrer sobre a evolução histórica das ONGs e de qual é seu papel

na sociedade, será elaborada uma nova construção terminológica: será evitada a partir daqui

neste artigo a expressão ONG, pois este termo, ao invés de descrever de fato o que são estas

organizações, acaba por explicar aquilo que ela não é: são organizações que não são

articuladas pelo Estado e são trabalhadas no seio da sociedade civil com diversos possíveis

propósitos. Seus propósitos são acerca da melhoria de esferas em que o Estado é pouco

presente, especialmente em questões de desenvolvimento social e proteção ambiental.

Para Norbert Götz (2008), não é possível assegurar com total certeza de fato como o

termo “Organizações Não Governamentais” foi cunhado, mas sabe-se que ele é relativamente

jovem, e passou a ser difundido por acadêmicos de Relações Internacionais pela necessidade

de um jargão que definisse estes atores não estatais que passaram a servir de influência e

exercer pressão em determinadas esferas da política. Além disto, o uso do atributo ‘não-

governamental’ traz muito mais uma sensação de instrumentalidade do que uma de

cooperação entre setores.

No entanto, este próprio autor nos leva a crer que na realidade o termo surgiu a partir

de uma necessidade das Nações Unidas de criar algum tipo de nomenclatura a determinados

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grupos de pressão e lobby atuantes no seio desta Organização Internacional. Enquanto os

Estados representam as principais forças regentes da ONU, era inegável desde o início dela

que alguns grupos para-estatais colaboravam para a criação de políticas bem como algumas

mudanças na tomada de decisões de alguns Estados membros. E daí surgiu a necessidade de

se nomear estes órgãos (associações, fundações etc.). Portanto a Organização das Nações

Unidas simplesmente as descreveu em seus documentos oficiais como “Organizações Não-

Governamentais” (GÖTZ, 2008).

A Carta das Nações Unidas foi o primeiro documento oficial a trazer uma descrição da

função das ONGs naquela Organização Internacional, nos artigos 70 e 71 do capítulo X. O

artigo 70 dá o direito à estas organizações de deliberar junto ao Conselho Econômico e Social,

como órgãos especializados mas sem voto. O artigo 71 é mais especifico em relação às

funções das ONGs:

“O Conselho Econômico e Social poderá entrar em entendimentos convenientes para a consulta com organizações não governamentais que se ocupem de assuntos no âmbito da sua própria competência. Tais entendimentos poderão ser feitos com organizações internacionais e, quando for o caso, com organizações nacionais, depois de efetuadas consultas com o membro das Nações Unidas interessado no caso.” (Carta da ONU, art° 71)

Embora à época o termo não tenha sido bem recebido por dirigentes de organizações

não governamentais, por ser um termo excessivamente condescendente e minimalista, ficou

claro que dentro das Nações Unidas que qualquer ator transnacional deveria aceitar o rótulo

“ONG” para participar (GÖTZ, 2008).

Ainda segundo o autor, um dos problemas para o uso da expressão organização não

governamental é que o “não” da expressão (em inglês “non”), pode ser traduzido para outros

idiomas como anti, ou significar que há deficiência em relação ao que se refere como

governamental, ou pela expressão ser baseada em um pensamento corporativista, associado à

manipulação de interesses sociais por elites políticas (GÖTZ, 2008).

Atualmente há uma tendência a usar-se o termo “sociedade civil”, pois ele traz uma

importante distinção entre ONGs – que detêm a privilegiada posição de consultora dentro de

Organizações Internacionais como a ONU – e associações que tenham objetivos mais

localizados de intervenção social. Além disto, o termo também traz uma diferenciação entre

organizações de impacto estritamente local, e aquelas que buscam realizar algum tipo de ação

mais global (GÖTZ, 2008).

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Por outro lado, expressões como “associação” são mais relacionáveis ao projeto a ser

descrito neste texto, já que uma associação “pode ser definida como uma pessoa jurídica

criada a partir da união de idéias e esforços de pessoas em torno de um propósito que não

tenha finalidade lucrativa” (SZAZI, 2000, pg. 29).

Por estas razões, durante o presente artigo usar-se-á expressões que são alternativas à

“Organização Não Governamental”. Aqui, “associação” (que traz uma noção de ação local,

que será o caso do projeto de intervenção social a ser descrito e analisado sob a ótica teórica)

será mais adequado para descrever um organismo criado no seio da sociedade civil com o

intuito de gerar ação de melhoria em uma camada desfavorecida da mesma. A nomenclatura

para citar o projeto será Projeto Jovem Cidadão do Mundo, ainda que este nome não seja

definitivo para a futura realização desta tarefa.

As associações, ao mesmo tempo em que preenchem lacunas onde o Estado não

consegue estar presente, trabalham também sob uma ótica diferente do Estado, pois elas não

existem por compulsoriedade. Elas não buscam finalidades lucrativas, e por esta razão pode-

se pensar nelas como atores pouco (ou nada) auto-interessados, possibilitando assim que haja

um real interesse altruísta em suas ações.

É importante lembrar que as associações são entidades de pessoa jurídica, e que,

portanto, são regidas por regras que objetivam restringir as ações de seus membros àquilo que

consta nas diretrizes oficiais de cada organização. Desta forma, o desejo auto-interessado de

membros que possam vir a tê-los é mais facilmente solapado pelo conjunto de regras da

associação que visem praticar a filantropia propriamente dita. De qualquer forma, o simples

fato de que pessoas se engajem em uma empreitada não-compulsória, por vontade própria, já

significa que há menos probabilidade que a corrupção permeie associações, diferente do que

se passa com a máquina estatal, onde indivíduos encontram maneiras para usufruir da farta

fonte de desvio de verbas que ela pode representar.

As associações para o Direito Internacional

Para o Direito Internacional, as associações são organismos que detêm poder de

agência, sendo as chamadas Organizações Não-Governamentais um tipo de ator que pode não

somente opinar em distintos temas da agenda de discussão em Organizações Internacionais,

como também exercer pressão e até mesmo poder de voto, como nos casos em que algum

Estado chancela suas idéias e os autoriza a se pronunciar por eles (SANDS, 2003). Portanto,

quando uma associação local passa a realizar ações de algum impacto internacional, nota-se

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que os olhos de alguns atores passam a não somente observar seus atos, como até mesmo

fazer dos atos de determinadas associações, os seus próprios. Deste modo, observa-se que as

associações de diferentes áreas de atuação podem falar em alta-voz em agendas específicas.

Por isto nota-se que o GreenPeace, por exemplo, pode ser levado mais a sério do que

potências do sistema internacional como os Estados Unidos e a China em temas de meio

ambiente, por ter uma orientação consideravelmente mais altruísta em relação a este tema. No

caso, já está claro para todo o sistema internacional que os maiores poluidores do mundo

preferem deixar o tema do aquecimento global em um patamar de low politics, para evitar os

altos custos financeiros que seriam acarretados pela implementação de políticas de drástica

diminuição de emissão de gases poluentes, já que a indústria leva suas economias a reboque.

Assim sendo, nota-se que embora as associações sejam fortes em determinadas agendas para

serem determinantes em certas situações, quando há uma grande contrapartida financeira, os

Estados tentam ao máximo – e em geral logram – sobrepujar as tentativas das associações de

realizar alguma mudança. Estas ações estatais que bloqueiam o trabalho de organizações não-

governamentais são discutidas com mais profundidade na próxima seção, que trata de

accountability e governança.

No caso do Projeto Jovem Cidadão do Mundo, no entanto, não há grande risco de

boicote por atores mais fortes. O projeto, a ser mais bem descrito posteriormente neste

trabalho de conclusão de curso, não possui nenhum cunho político que traga ônus a nenhuma

camada da sociedade civil ou do cenário político. Muito antes pelo contrário, projetos como

este em questão tem sido muito encorajados por todas as esferas da sociedade e tem sido cada

vez mais freqüentes. Basta notar o crescente número de organizações não-governamentais

existentes no planeta, e também os crescentes incentivos fiscais que são oferecidos a

entidades privadas que se engajam neste tipo de empreitada.

Accountability e Governança nas Organizações Não-Governamentais Um aspecto que deve ser discutido no estudo da atuação e dos impactos de

Organizações Não-Governamentais é a extensão da responsabilidade das mesmas, e de para

quem ela deverá prestar contas. A este conjunto de fatores se denomina accountability. Esta

não é a mesma para Estados, Organizações Internacionais, Organizações Não-

Governamentais, atores privados e indivíduos. As obrigações são próprias de cada esfera.

Jordan e Tuijl (2007, p. 21) afirmam que

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“in general, NGO advocacy does not trigger a need for external accountability to the community and, in any event, no clear accountability holder exists. Certainly, one should not expect NGOs to be accountable to governments. Nevertheless, NGOs do need to be internally accountable (to directors, members and management), so it is wrong to say that NGOs are accountability-free actors.”

As responsabilidades organizacionais, que incluem a transparência na tomada de

decisão e a contabilização da eficiência de suas operações, além de realizar seus trabalhos

dentro da legalidade com transparência, são comuns a todas as associações (JORDAN;

TUIJL, 2007, p. 4). Como estas associações têm sempre uma missão, como por exemplo, a de

promover os direitos dos mais pobres, esta própria passa a ser uma diretriz de sua

responsabilidade.

É necessário haver um comprometimento de cada organização do Terceiro Setor com

sua própria accountability, já que os meios disponíveis de vigilância não são tão eficazes.

Portanto, cabe aos próprios dirigentes destas organizações desenvolverem práticas mais

responsáveis de atuação delas mesmas. (JORDAN; TUIJL, 2007, p. 5)

Segundo Tuijl e Jordan, isto ajudaria a diminuir as possíveis críticas e

questionamentos estatais à credibilidade das organizações, tornando-as menos vulneráveis ao

poder solapador dos governos, pois este tem o poder de dificultar suas ações se assim o

quiser.

“The growing NGO sector has attracted massive amounts of funding. […] NGOs have been the darling of social service delivery, preferred by donors over state entities. The attraction of more and more funds has also prompted calls for accountability mechanisms”. (JORDAN; TUIJL, 2007, p. 4)

O discurso da governança é construído junto a instituições atuantes em diferentes

áreas como meio ambiente, terrorismo, paz, internet, Direitos Humanos entre outras

(JORDAN; TUIJL, 2007, p. 13), sendo a governança o nome que se dá à relação entre

instituições formais e a sociedade civil.

Na educação naturalmente a noção de governança em um país como o Brasil perpassa

esferas não estatais: aqui o Estado detém controle de algumas das principais universidades,

que, ainda que sejam tradicionalmente universidades de alta qualidade, sofrem

frequentemente com a falta de recursos tecnológicos e as melhores condições de trabalho,

estudo e pesquisa. Isto faz de algumas universidades privadas atores de grandiosa participação

na educação superior brasileira. No caso das Escolas Fundamentais e Médias, no entanto, o

pêndulo da autoridade pende bem mais claramente para o lado das escolas privadas. Salvo

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exceções, as melhores escolas para nossas crianças e adolescentes pertencem à parcela

privada de centros de ensino. Portanto, já se nota a necessidade de novos atores que exerçam

governança em educação no Brasil, havendo definitivamente espaço e premência da criação

de um projeto como Jovem Cidadão do Mundo.

No caso deste projeto, a influência causada na comunidade impactada objetiva ser a

abertura de horizontes intelectuais nas pessoas, gerando cidadãos mais preparados para

questionar o trabalho dos governos, da prefeitura, e das lideranças locais. A melhoria da

educação a que estas pessoas terão acesso deverá ajudá-las a se tornarem mais atentos ao

trabalho do setor público, e cobrar de maneira política sua melhoria, além de contribuírem

com projetos que abarquem áreas de necessidade na comunidade.

Classificação morfológica dos tipos de associações

Associações podem ser classificadas quanto à suas áreas de atuação, sendo divididas

em organizações para a educação, para o desenvolvimento, para a cultura, para a saúde,

direitos do consumidor, amparo a carentes, deficientes físicos ou mentais enfim, inúmeros

temas da agenda social. Portanto estes são exemplos de associações em prol do

desenvolvimento da sociedade. As associações para a preservação do Meio Ambiente também

realizam um trabalho social muito forte, mas por serem referentes a questões técnicas

ambientais, estão alocadas sob uma classificação distinta. Philippe Le Preste (2000) cita em

seu livro “Ecopolítica Internacional” que há uma lista destas áreas na Agenda 21, conforme

será demonstrado posteriormente.

O Projeto Jovem Cidadão do Mundo é um projeto de cunho social em sua forma

clássica, agindo junto a comunidades de baixo poder aquisitivo de forma a aperfeiçoar a

educação e o engrandecimento delas, para que se possa observar a melhoria da qualidade de

vida das pessoas. Além de melhorar diretamente a vida dos jovens a serem selecionados e

também das suas famílias, o conhecimento adquirido por eles poderá também agregar valor e

conhecimento aos projetos em sua comunidade aos quais eles hão de se integrar após seu

retorno ao país. Localmente, estes adolescentes/jovens adultos causarão um impacto favorável

no sentido de abrir os olhos de suas comunidades para o que há para além delas, e ampliar as

possibilidades de obtenção e cultura internacional por parte de seus moradores. Nos países

hospedeiros, os adolescentes que teriam contato com nossos jovens de baixa renda teriam

acesso ao conhecimento de uma realidade muito distinta da que eles conheceram, portanto

oferecendo uma excelente oportunidade a aculturação deles. O que um jovem americano,

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inglês ou australiano de classe média poderia aprender sobre o mundo exterior à sua realidade

com um colega brasileiro – de baixa renda - também pode ser muito útil em gerar uma cultura

de aceitação das diferenças para as comunidades que hospedariam nossos nacionais.

Na Europa e nos Estados Unidos nota-se uma maior cultura filantrópica - o que

também será muito útil para o sucesso do projeto Esta diferença cultural tanto é verdade que

há teorias que dividem as próprias Organizações Não Governamentais entre “NNGOs

(Northern NGOS) que são baseadas nas democracias industriais, e SNGOs (Southern NGOs),

baseadas em países em desenvolvimento”. (AHMED; POTTER, 2006, p. 8). Esta divisão se

refere, por um lado, ao tipo de atuação: as SNGOs se fazem presente em lacunas de

providências estatais que sequer existem em países desenvolvidos, como o socorro à fome e

ao abandono social. Por outro lado, a divisão supracitada se refere ao diferente ambiente em

que NNGOs e SNGOs se sustentam e se proliferam: no norte há mais incentivos e facilidades

para que a sociedade e o setor privado invistam/colaborem com quantias mais expressivas,

enquanto ainda há muito que se possa fazer do ponto de vista legislativo5 para que tenhamos

um terceiro setor avançado e provido de capacidade como se nota nos países desenvolvidos

do norte (ver tabela anexa 1.1). Seja no contexto das SNGOs como das NNGOS, educação é

uma das áreas prediletas para o investimento de diversas camadas da sociedade. Tanto

empresas privadas como indivíduos que podem doar apenas sua força de trabalho em geral

tendem a simpatizar com programas de cunho educacional, talvez pela crença de que a

mudança gerada pela melhoria na educação seja mais essencial e mais duradoura (ver tabelas

1.2 e 1.3 anexas).

A idéia é que não somente os jovens aprendam sobre a filantropia no mundo

desenvolvido, mas também os dirigentes do Projeto. Se houver conexões entre a base local do

projeto com associações filantrópicas além-mar, poder-se-ia haver um intenso intercâmbio

cultural entre elas, o que poderia ser útil para todos os organismos a serem integrados para a

realização dos trabalhos. Este seria um impacto tanto nacional quanto internacional do

projeto, que se daria no plano institucional. O aprendizado seria não somente das pessoas,

como também das organizações.

Além do intercâmbio entre atores não governamentais ter um enorme potencial de

aprendizado mútuo, a interação dos atores poderá também incluir esferas do poder público.

Quanto mais cooperação existir entre o Projeto e o Estado, melhor. Seja este Estado o

5 Crítica defendida em: CARDOSO, Ruth. Fortalecimento da Sociedade Civil. In.: EVELYN, Ioschpe (org.). 3º Setor: desenvolvimento social sustentado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

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brasileiro ou o Estado hospedeiro, o projeto teria muito a se beneficiar com a colaboração de

secretarias de educação, de cultura, de desenvolvimento social, além das prefeituras, governos

estaduais e federais. Estas interações poderiam trazer importantes benefícios ao Projeto em

relação à obtenção de recursos com atores privados mediante chancela do(s) governo(s) que

o(s) apóia(m). Empresas se sentiriam mais confortáveis e seguras fazendo doações a um

projeto reconhecido pelo governo por sua utilidade social. Esta chancela governamental

significa maior tranqüilidade na doação dos recursos, e também maior valor publicitário para

que uma organização privada associe seu nome a determinado projeto.

Naturalmente, o Estado também pode ser fonte de verbas que complementem o

orçamento do projeto, já que o dinheiro do contribuinte também pode (e deve) ser revertido

em apoio ao desenvolvimento social. Além da ajuda financeira direta, os governos também

podem lançar mão de atitudes facilitadoras à filantropia, como isenção de determinadas taxas

ou impostos, como também acesso a certas vantagens, como o uso de instalações das escolas

públicas para centros de trabalho para a realização do projeto, ajuda junto a gráficas para a

impressão de livros, que serão usados nas capacitações em Belo Horizonte antes da vigem dos

adolescentes, entre outros benefícios que o Estado poderia prover.

Projeto estrutural do programa e o isomorfismo institucional

Um projeto filantrópico, por mais inovador que seja na essência da sua idéia – como é

o Projeto Jovem Cidadão do Mundo – muito pouco provavelmente encontrará êxito se tentar

ser instituído de forma tão original quanto é seu escopo. Instituições tendem a funcionar de

maneira parecida entre elas, seja pelo aprendizado adquirido por experiências anteriores, seja

pelo fato de que instituições precisam ter determinados pontos de similaridade ou

convergência para funcionarem em conjunto.

“As more such NGOs come under pressure to cooperate with the state, neoinstitutional theorists have informed us that it would be reasonable to expect that organizations (NGOs) will become more homogeneous, or more similar in their ‘structure and output’. This is referred to as isomorphism.” (DIMAGGIO; POWELL apud. RAMANATH, 2008 p. 52).

A citação de DiMaggio e Powell feita por Ramanath em seu artigo nos demonstra que

é natural que instituições de tipos semelhantes tenham funcionamentos (estruturas)

semelhantes. Portanto, o Projeto Jovem Cidadão do Mundo pode ser previsto em moldes

muito semelhantes a projetos já existentes na área de desenvolvimento social: apresentarão

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uma estrutura organizacional composta por hierarquia, departamentos, tecnologias e processos

organizacionais relativos a estratégias e táticas. (RAMANATH, 2008 p. 53). Além disto, o

projeto terá uma missão, e terá que passar por todos os trâmites legais, ter uma ata de

constituição, estatutos sociais, ata da eleição da Diretoria, e um requerimento de registro em

cartório, além do Cadastro de Pessoa Jurídica (CNPJ) e um cadastro na Prefeitura.

(BARBOSA;OLIVEIRA. 2001 p. 15). Também é usual realizar-se uma análise SWOT das

fraquezas e oportunidades do projeto, como se faz com empresas que possuem fins lucrativos.

(BARBOSA;OLIVEIRA. 2001, p. 32).

Como salientado por Ramanath, Meyer e Rowan, defende-se que haja três importantes

maneiras do ambiente institucional gerar efeitos nas organizações:

“(a) it causes organizations to incorporate formal structural elements that are externally legitimated rather than those based solely on efficiency; (b) organizations seek to minimize inspection and evaluation and to protect their formal structures and organizations “decouple” elements of their structure from activities; and (c) it causes organizations to begin maintaining face and creating an aura of confidence by relying on the confidence and good faith of their internal and external constituents.” (MEYER; ROWAN apud RAMANATH 2008 p. 53)

O contexto em que Ramanath escreve diz respeito a organizações com objetivos muito

diferentes daqueles incorporados pelo Projeto Jovem Cidadão do Mundo: ele tece sua análise

observando três organizações não-governamentais em Mumbai na Índia que tem como

objetivo construir e melhorar casas nas zonas de gueto da cidade, como iniciativa de melhorar

a urbanização nela. A análise destas três instituições pode nos fornecer um bom insight para

ver-se que o isomorfismo institucional não precisa ser entre instituições de objetivos

parecidos nem em regiões próximas. Sendo assim, se o Jovem Cidadão do Mundo terá

aspectos organizacionais em comum com ONGs de outra área do desenvolvimento social

localizadas em uma cidade completamente distinta na Índia, muitas lições podem ser

aprendidas por organizações deste tipo em Belo Horizonte, que também tem como objetivo a

melhoria da educação das escolas públicas. Projetos nacionais como o Rondon6, e também

internacionais como o do Rotary Club e o Programa Jovens Embaixadores da Embaixada

6 O Projeto Rondon, do Ministério da Defesa e com extenso apoio privado visa a integração entre povos por meio da ‘”participação voluntária de estudantes universitários na busca de soluções que contribuam para o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes e ampliem o bem-estar da população e busca aproximar esses estudantes da realidade do País, além de contribuir, também, para o desenvolvimento das comunidades assistidas.” (https://www.defesa.gov.br/projeto_rondon/index.php?page=projeto_rondon, consultado em 01/06/2010 às 16:33)

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Americana7 para intercâmbio cultural podem apontar uma série de atalhos para a obtenção dos

resultados desejados. Naturalmente o Rotary tem uma longa história de relações com

Organizações Internacionais, e, portanto usufruem de muitas facilidades para aproveitar-se de

acordos de cooperação. Este clube tem, desde sua fundação, estabelecido acordos com a ONU

e diversas de suas agências e comissões como a UNESCO, além de Organizações

Internacionais como o Fundo Internacional para o Desenvolvimento agrícola, a União

Africana, o Conselho Europeu a Organização dos Estados Americanos o Fundo Mundial,

entre outras8.

Sem usar o termo isomorfismo entre instituições, Nicholas Onuf expressa muito bem

como as instituições necessitam ser da mesma natureza organizacional para que possam

comunicar-se entre si:

“Exercising choices, agents act on, and not just in the context within which they operate, collectively changing its institutional features, and themselves in the process. Nevertheless, from any agent’s point of view, society consists of diverse institutions that seem, for the most part, to be held in place by rules linking them to other institutions. Any stable pattern of institutions (including agents of all sorts) is also an institution” (ONUF, 1989, p. 61)

Posta a questão do isomorfismo, cabe demonstrar como o funcionamento imaginado

para este Projeto não diverge muito da grande maioria de projetos que fazem trabalhos na área

educacional. No caso, a originalidade não estará na forma de chegar a objetivos, mas sim no

conteúdo dos objetivos a serem alcançados. Em um mundo contemporâneo de constantes

transformações e cada vez maior acesso à informação, maior fica o espaço para a criatividade,

que pode ser a grande diferencial institucional que trará êxito no alcançar dos resultados.

Projeto Jovem Cidadão do Mundo

Para que se possa saber, após longa análise teórica acerca do papel das instituições no

processo de mudança social, como o projeto imaginado neste trabalho de conclusão de curso

deveria funcionar, esta sessão se dedica a contar cada passo de como ele funcionará.

7 Este programa é o que mais se assemelha o Projeto aqui tratado no que se refere aos pré-requisitos dos estudantes, no entanto ele envia apenas 25 estudantes por ano, que permanecem nos Estados Unidos não mais de 14 dias, não servindo portanto a propósitos tão profundos (http://www.embaixada-americana.org.br/index.php?action=materia&id=4388&submenu=102&itemmenu=21 consultado em 01/06/2010 às 17:50) 8 Rotary.org: http://www.rotary.org/pt/AboutUs/RotaryInternational/WhoWeWorkWith/Pages/Representativenetwork.aspx. Consultado em 30/10/2009 às 15:30

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Missão9:

Colaborar para o desenvolvimento de comunidades de baixa renda de Belo Horizonte

por meio de um programa de educação avançada e intercâmbio cultural, para gerar jovens

mais bem formados, informados, experientes e questionadores. 10

O staff:

O Projeto terá uma equipe mista entre membros voluntários e membros remunerados.

Os membros que terão direito a salário serão aqueles que se dispuserem ao projeto em

dedicação exclusiva – aqueles que trabalharem 40 horas por semana – e seus salários serão

parte do orçamento previsto, e serão pagos pelas empresas privadas que virão a patrocinar o

projeto. Também serão remunerados possíveis estagiários de curso superior que serão

incluídos na equipe para apoio com alto volume de trabalho dos funcionários em dedicação

exclusiva, e que terão direito a uma bolsa-salário compatível com o mercado de estágios.

Estes estudantes deverão ceder 30 horas por semana para o Projeto, como determina a lei.

Entre os membros remunerados, teremos quatro cargos: o do Diretor-Geral, que será

responsável pelo planejamento estratégico, pelas decisões executivas e pela coordenação

central de atividades. Haverá também a necessidade por um Diretor Financeiro/Contábil e um

Diretor Operacional, que será responsável pelas questões burocráticas e legais relacionadas à

documentação dos estudantes e dos processos envolvidos na preparação para a viagem. Em

adição a estes três cargos, deverá haver um Secretário Executivo, que será responsável pela

prospecção e facilitação de parcerias e patrocínios.

Além destes quatro cargos de gerência, o projeto deverá buscar colaboradores

voluntários, para exercer determinadas funções para as quais a proficiência deles será

necessária, com a capacitação dos estudantes durante sua preparação pré-viagem. Conta-se

com a colaboração de 10 professores universitários, que irão dispor de 10 horas de trabalho

trimestrais, que irão ministrar mini-cursos em áreas pertinentes ao melhor aproveitamento do

intercâmbio dos estudantes. Se este objetivo for concretizado, já se poderão garantir 2 horas

de aulas por dia de diversos assuntos como Geografia Política, História das Relações

9 Esta missão é imaginada e provisória, pois ela deve ser elaborada por um conselho da Associação, que naturalmente não existe ainda. (BARBOSA;OLIVEIRA, 2001) 10 O questionamento desejado dos estudantes é definido pelo “modo como uma pessoa exercita sua cidadania ou o modo como ela executa um trabalho específico, alterando seu comportamento no trabalho individual; por exemplo, quando as pessoas decidem valorizar uma necessidade particular para fazer dela um assunto político, que exige trabalho voluntário para ficar organizado, ou fazer lobby com seu representante no congresso” (KISIL in. EVELYN. 2005 p. 141)

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Internacionais, Política Internacional Contemporânea, Curso Básico de Direito Internacional

Público, curso Básico e Intermediário de Direito Internacional Privado, Fundamentos de

Economia, História do Brasil e Economia Brasileira. Mini-cursos direcionados a estas áreas

tão pertinentes de Relações Internacionais irão torná-los aculturados como poucos alunos de

Ensino Médio de muitas escolas particulares do nosso país, e nos permitirá enviar estudantes

que irão levar uma imagem favorável do Brasil, de sua origem, e especialmente irá

potencializar as chances de que a experiência tenha sucesso para o jovem, para o Projeto e

para a Comunidade em que ambos estão presentes. O estrago causado pelos principais meios

midiáticos em operação no país pode ser revertido, ainda que em pequena escala, pela

possibilidade do acesso à informação de nossos jovens estudantes.

Outra possível porção voluntária da equipe poderá ser composta por professores de

inglês que se dispuserem a dar aulas do idioma aos jovens, que precisarão muito da ajuda de

tutores para chegarem preparados para se comunicar efetivamente em seus países de destino.

Preferencialmente, no entanto, haverá uma escola parceira para o ensino de línguas, como

será discutido em outra seção.

Além dos profissionais do ensino, serão buscados voluntários para diversos serviços

importantes para o bom estado de saúde e mental dos estudantes, como médicos e psicólogos.

Já existem duas interessadas em voluntariar no projeto: a pneumologista Dra. Eliane Mancuzo

se ofereceu para fazer uma avaliação de saúde nos estudantes, para que qualquer situação

relacionada a enfermidades possam ser curadas, ou acompanhadas por profissionais,

aumentando a segurança dos participantes e diminuindo possíveis custos durante a viagem

(embora os estudantes venham a ter acesso a planos de saúde internacionais, conforme página

23). Outra pessoa que se ofereceu para voluntariar no projeto é Ritha Sousa, que já trabalha

como voluntária para o Rotary. Sua promessa é a de ser ativa na preparação e orientação dos

estudantes em relação estritamente ao intercâmbio cultural. Esta etapa é fundamental para o

bom aproveitamento do estudante, e Ritha possui anos de experiência que serão uma doação

generosa ao Projeto Jovem Cidadão do Mundo.

As assembléias gerais serão abertas a todos os membros, incluindo os estagiários e

todos os voluntários envolvidos. Todos os presentes terão direito a voto nas assembléias, no

entanto os membros em dedicação integral e os estagiários terão voto com peso duplo (o

equivalente a dois votos de voluntários). Esta diferença se deve ao maior grau de

envolvimento dos funcionários que irão dedica 30 ou 40 horas à associação, que naturalmente

estarão mais interados acerca do desenvolvimento dos trabalhos em sua plenitude.

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O financiamento do Projeto:

Há várias maneiras possíveis de se buscar financiamento para projetos do Terceiro

Setor, e várias distintas interpretações de qual maneira seria mais apropriada para cada tipo de

instituição. Após extensa pesquisa sobre os diversos meios de financiamento, vários exemplos

além do próprio contexto brasileiro neste mercado, chega-se a conclusão que a melhor

alternativa seria a de se buscar o patrocínio de grandes empresas privadas. No entanto,

conforme defendido por Kisil, quando um problema social é identificado, indivíduos e

organizações normalmente decidem solucioná-lo através de uma série de ações articuladas

(2005 p. 140). Isto significa que somente o patrocínio de uma grande empresa privada não

resolveria toda a questão da receita, já que esta pode ser não somente monetária, como

também em tempo e serviços. (ANHEIER, 2005, p. 204). Portanto, haveria uma grande

contribuição de indivíduos e instituições menos robustas em serviços que de outra forma

teriam que ser contratados, e, portanto pagos. Este tipo de doação será a base de sustentação

de uma série de benefícios dos estudantes: aulas de inglês fornecidas por professores

voluntários ou por escolas doadoras que aceitariam estes estudantes gratuitamente em suas

salas de aula, professores universitários voluntários para dar cursos preparatórios, plano de

saúde internacional gratuito que poderia ser doado por uma das seguradoras presentes no

mercado, acompanhamento médico, psicológico e odontológico por médicos e cínicas

voluntárias, as instituições estrangeiras que darão o suporte no exterior, e as próprias famílias

que irão receber os estudantes. Todos são exemplos de colaboradores do projeto, sendo de

indispensável ajuda. Isto demonstra como há a necessidade de combinar esforços de diversos

indivíduos e instituições para que objetivos tão almejados sejam alcançados.

Um aspecto positivo que se nota no tocante ao patrocínio financeiro, é o fato de que o

campo da educação é um dos que mais logra captar recursos no Terceiro Setor (vide gráficos

anexos FIGURA 4.16 – Anheier, 2005, p. 83 -, e FIGURA 4.11 - Anheier, 2005, p. 75) Em

alguns casos perde somente para as doações a entidades religiosas. Imagina-se que a educação

seja um dos setores de preferência para doações por ser aquele no qual mais se aposta que

poderá realizar mudanças permanentes, em campos tão prementes.

Seleção dos estudantes:

Ao final do Ensino Fundamental, cinco estudantes de cada uma de 20 escolas públicas

participantes na região metropolitana de Belo Horizonte serão selecionados a partir de

critérios acadêmicos e comportamentais. Portanto, além de serem analisadas as notas dos

estudantes, será analisado também seu comportamento perante os outros alunos, sua disciplina

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em relação aos estudos e em sua relação com professores. Para a seleção, serão incluídas

provas que atestem não somente o valor do aluno como tal, mas também testes qualitativos

que demonstrem a aptidão psicológica do estudante para passar pelo programa.

Vale lembrar que é muito importante uma correta seleção dos estudantes, pois a partir

do momento de admissão ao programa, no final do Ensino Fundamental, eles serão parte

integrante do mesmo ainda por quatro anos e meio, no mínimo.

Treinamento dos estudantes:

Antes de partirem para seus programas de intercâmbio no exterior, os estudantes

devem ser devidamente preparados: irão ter, naturalmente sem custo pessoal algum, aulas de

diversos temas antes de partirem para seus programas. A língua essencial escolhida para o

projeto é o inglês, por sua vastíssima aplicação prática contemporânea. Portanto os alunos

seriam preparados para passar um ano em países onde se fala inglês e que tenham um alto

índice de desenvolvimento humano, para que o aprendizado esperado para ele possa ocorrer.

Os países hospedeiros ideais são Austrália, Canadá, Escócia, Estados Unidos, Irlanda, Reino

Unido e Nova Zelândia. Portanto eles terão basicamente, além dos cursos de inglês, cursos

que contenham conhecimentos sobre a cultura anglo-saxônica, por ser ela a espinha dorsal

que une culturalmente de alguma forma todos os países citados acima.

Estes cursos servirão ao propósito de diminuir a enorme diferença de pensamento que

existe entre os hábitos e costumes de uma camada necessitada da região metropolitana de

Belo Horizonte para com os seus futuros hospedeiros, jovens de escolas públicas de todos

estes países de cultura inglesa. Estas aulas teriam como finalidade preparar o estudante para o

fato de que ele está sendo inserido em um ambiente diferente, mas com o qual ele pode

interagir de forma muito proveitosa, e usando a diferença cultural em seu favor para converter

de forma positiva a experiência. Sem este treinamento, a programa pode ser traumático para

um estudante mal-informado a respeito da cultura de quem o recebe.

Outros cursos de extrema importância que os jovens deverão freqüentar antes de

partirem para seus programas de intercâmbio são aulas de Geografia Política, Política

Internacional Contemporânea, Direito Internacional, Fundamentos de Economia, Economia

Brasileira e História do Brasil. Estes cursos terão como finalidade preparar o estudante para

que ele entenda as diferenças culturais entre ele e o outro. Ao entender a história daqueles

países, os alunos aperfeiçoarão seu entendimento das diferenças culturais que lhes serão

ensinadas, e o estudante tendo entendimento da história do país receptor poderá também

surpreender sua família e escola hospedeiras com um bom conhecimento a respeito da história

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de seus povos. Qualquer país hospedeiro sempre fica positivamente impressionado com

jovens que vêm aos seus países com conhecimento e respeito por suas culturas.

Curso de Geografia Política:

Este curso terá como finalidade apresentar ao estudante noções básicas de conflitos

internacionais, fluxos de pessoas e mercadorias, em uma análise concisa de como funciona a

política sobre o globo terrestre. A idéia deste curso seria a de mostrar ao estudante um pouco

de como têm interagido o mundo contemporâneo, para que ele possa ver o que se passa no

mundo fora dos confins da política externa brasileira, e também para além do conhecimento

específico que ele ganhará sobre os países de língua inglesa alvos do projeto. Esta abertura de

paradigmas é muito importante de se fazer junto aos estudantes, pois eles já embarcarão para

a experiência com muito mais conhecimento sobre o mundo, e muito mais confiança para

explorá-lo do que teriam um ano e meio antes, no momento de sua seleção.

A preparação dos estudantes é essencial, pois ela inaugura um processo de aculturação

de jovens que passarão por um intenso processo de transformação pessoal, processo este que

se espera terá um impacto positivo para a comunidade de onde vem este jovem. Somente com

muito preparo o estudante poderá extrair o melhor de sua experiência no exterior.

História das Relações Internacionais:

Esta ementa deverá ajudar o estudante a entender os acontecimentos passados mais

importantes do país para onde vão, além da Inglaterra e da Europa em geral. Entender um

pouco sobre o passado remoto e as antigas civilizações, e melhor conhecimento das guerras

mais importantes da Europa, as duas Grandes Guerras e a Guerra de Secessão Americana.

Estes conhecimentos naturalmente seriam importantes para o melhor entendimento do

estudante acerca do lugar para onde ele irá viajar, além de torná-lo mais aculturado em um

sentido geral.

Política Internacional Contemporânea:

Este curso irá fornecer aos estudantes informações para que eles possam entender as

diretrizes das decisões atuais em Política Externa dos países-alvo, conceito de “balança” ou

“equilíbrio de poder”, e também noções de unipolaridade, bipolaridade e multipolaridade e

como estes termos se aplicam a determinados momentos da história das Relações

Internacionais.

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Com estes conhecimentos espera-se que os estudantes sejam apresentados ao tema, e

criem em si o interesse pela indagação deste plano do conhecimento, sempre o ajudando em

relação à sua própria visão acerca desta experiência vivida.

Curso Básico de Direito Internacional Público, curso Básico e Intermediário de

Direito Internacional Privado:

O curso básico de Direito Internacional Público irá somente complementar os cursos

de Política Internacional Contemporânea e de História das Relações Internacionais,

delineando uma simples linha temporal de como surgiu o Direito Internacional. E será uma

introdução para dois cursos mais elaborados de Direito Internacional Privado, que irão ensinar

aos estudantes como eles se enquadram durante este programa de intercâmbio. É importante

que eles conheçam seus direitos e deveres para terem um bom comportamento no ano em que

passarão no exterior.

Fundamentos de Economia:

O aluno passará a entender os impactos da economia para a relação dos Estados, e

quais são as bases da Economia de Mercado, do Socialismo, do Liberalismo e do

contemporâneo Neoliberalismo, além de eventos históricos, sejam nacionais, sejam

internacionais, que revelem a realidade macroeconômica.

Economia Brasileira:

Além de dados gerais da Economia do país, os estudantes terão contato com dados do

Comércio Exterior do mesmo, podendo informar as comunidades receptoras sobre os

principais produtos de exportação do Brasil.

História do Brasil:

Este curso é de vital importância para que enviemos um estudante para o exterior que

possa representar bem o país de onde vem, podendo fornecer aos estrangeiros com quem terá

contato dados suficientes sobre a História do Brasil. Por serem estrangeiros eles próprios

durante o ano do programa, eles serão perguntados alguns dados e fatos básicos acerca do seu

país, e devemos dar-lhes instrumentos para que eles possam executar esta tarefa com maior

facilidade.

Curso de Inglês:

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Os estudantes deverão ter intenso contato com a língua, pois em geral estarão partindo

das noções básicas. No entanto, deverão chegar até o ponto de ter aulas de conversação em no

máximo um ano e meio. Pretende-se conseguir alguma escola parceira que aceite os alunos

gratuitamente e os coloque em turmas equivalentes a seus conhecimentos.

O ano do programa:

Durante o ano de intercâmbio, o estudante estará nas mãos da família hospedeira, da

escola que o recebe e do representante do programa no país hospedeiro que o apoiará. No

entanto, este apoio será dado a certa distância, para que o estudante sinta que sua experiência

no exterior é sua, para que ele possa vivê-la da maneira que ele preferir. Presumidamente as

ferramentas para que ele tome as escolhas melhores já lhe foram passadas durante todo o

processo de preparação pré-embarque.

Durante o ano, o estudante será monitorado quanto ao seu desempenho escolar

(informação a ser passada por sua escola), quanto a seu amadurecimento pessoal (informação

a ser obtida junto família hospedeira e professores) e quanto ao nível de aprendizado como

um todo, a ser testado em encontros bimestrais do estudante com e sem a família hospedeira

com um representante do projeto no exterior, que irá avaliar como o estudante está

psicologicamente, e como a família está lidando com o visitante estrangeiro.

Estas medidas não são originais do projeto idealizado no presente trabalho. Estas

diretrizes são seguidas por qualquer programa de intercâmbio cultural em funcionamento no

mundo. Este isomorfismo institucional demonstra-se necessário, pois já houve muito

aprendizado acerca do assunto feito por organizações do mesmo gênero no passado, e hoje em

dia esta fórmula para programas de intercâmbio já foi incorporada como o modelo que melhor

funciona para a realização do mesmo.

O Retorno do Exterior:

Os estudantes deverão estar vinculados por contrato com o projeto por dois anos após

o seu retorno ao Brasil. O intuito desta regra é que o jovem não se instale permanentemente

no país hospedeiro, como uma forma de retenção de talentos. Se hipoteticamente mandarmos

um estudante para os Estados Unidos e descobrirem que ele tem uma grande habilidade

pessoal, seja em alguma disciplina escolar ou em algum esporte, corre-se o sério risco de que

sejam oferecidas oportunidades para este aluno que sejam mais interessantes do que sua volta

para seu contexto pobre onde ele deverá trabalhar para gerar melhoria da qualidade de vida

das pessoas que o cercam. Por isso, deve-se haver um compromisso do estudante de que ele

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irá voltar e seguir carreira acadêmica no Brasil. Não se pretende com isto que os estudantes

não se aproveitem de oportunidades no exterior que possam surgir como resultado do

programa. O ideal é que estes estudantes posterguem possíveis possibilidades de estudo ou

trabalho em outros países em nome de sua completa participação no programa. No caso de

jovens particularmente talentosos, a tarefa de mantê-los será árdua, mas a tentativa irá ser

feita por um relacionamento aberto e de cooperação entre a direção do projeto e cada um dos

participantes.

Como incentivo, poder-se-ia imaginar o apoio de alguma universidade que oferecesse

um determinado número de bolsas de estudo para estes estudantes, para que aqueles que

tiverem melhor desempenho durante o programa já voltem ao menos com vagas garantidas

em cursos de graduação de suas escolhas. Isto evitaria boa parte do “turn-over” 11 do projeto.

Para os alunos que não conquistarem este privilegio, poder-se-ia pensar em apoios de

cursinhos preparatórios para o ENEM e vestibulares que recebam gratuitamente o restante dos

alunos regressados de seus programas.

Após o retorno do aluno, ele deverá se vincular a projetos de melhoria de vida em suas

comunidades, e trabalhar em prol da exata localidade que os formou. Após a intensa

experiência no exterior, espera-se que o jovem tenha adquirido maturidade e conhecimento

em temas que seus colegas não tiveram a oportunidade, o que torna-los-ha jovens

diferenciados para participarem destes programas. Estes programas, no entanto, não são de

livre escolha do estudante: o Jovem Cidadão do Mundo irá buscar os outros projetos

existentes nas correspondentes comunidades, e irá fazer uma analise acerca dos fins e dos

meios de cada projeto a fim de certificá-los, de forma a ter-se certeza de que o estudante se

engaja em projetos cujos objetivos estejam em relativa consonância com os objetivos do

Projeto Jovem Cidadão do Mundo.

Conclusão

Com o crescente poder nas mãos de atores não-estatais na construção da sociedade e

do desenvolvimento da mesma, o Projeto Jovem Cidadão do Mundo, se aplicado com

fidelidade aos moldes nos quais foi imaginado, poderá trazer um impacto muito positivo em

comunidades em situação de risco de Belo Horizonte e sua região metropolitana. O Projeto

Jovem Cidadão do Mundo se apresenta como uma proposta não-assistencialista de ajuda,

11 Turn-over: neste caso se refere a um alto número de desistências entre os participantes.

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onde adolescentes de baixa renda irão ter uma longa experiência de aprendizado. Projetos de

cunho assistencialista, no lugar de “ensinar a pescar,” presenteiam famílias com peixes que

rapidamente se perdem, enquanto o projeto idealizado aqui não pretende ter impacto tão

efêmero na vida das pessoas: pelo contrário, pretende gerar desenvolvimento em longo prazo

por meio da educação em seu estágio mais avançado. O Diretor-Presidente do Instituto C&A

de desenvolvimento, Antônio Carlos Martinelli concorda com este ponto quando diz que em

muitos casos

“o primeiro doa algo ao segundo, definido por ele mesmo, sem qualquer referencia às prioridades do outro, A relação daí decorrente pouco traz de beneficio permanente ao parceiro, mantendo-o em dependência crônica, quando não há manipulação intencional de um sobre o outro.” (MARTINELLI in. EVELYN 2005. 81)

Conforme defendido na primeira seção deste trabalho, a Teoria da Interdependência

Complexa nos serve de ponto de apoio para o argumento de que Organizações Não-

Governamentais já ocupam uma posição importante, não somente no estudo de Relações

Internacionais como também no funcionamento da sociedade brasileira. O mesmo ocorre em

muitos outros Estados e também no cenário internacional.

Bibliografia

Livros

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2006.

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Setor: desenvolvimento social sustentado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

COHEN, Ernesto; ROLANDO, Franco. Avaliação de Projetos Sociais. Petrópolis: Vozes,

2008.

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MARTINELLI, Antonio Carlos. Empresa-Cidadã: Uma visão inovadora para uma ação

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Janeiro, FGV Editora, 1997.

Documentos oficiais

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Sítios eletrônicos

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http://www.embaixada-

americana.org.br/index.php?action=materia&id=4388&submenu=102&itemmenu=21

http://www.rotary.org

Entrevistas

SOUZA, Ritha. O projeto do Rotary Youth Exchange. Belo Horizonte: entrevista

concedida ao autor do projeto, 2010.

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ANEXOS

Figura 1.1

Fonte: ANHEIER, 2005 p. 81.

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Figura 1.2

Fonte: ANHEIER, 2005 p. 83.

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Tabela 1.3

Fonte: ANHEIER, 2005 p. 74.

Belo Horizonte, 27 de maio de 2010, 16’30”

Entrevista com Ritha Souza – Rotary Youth Exchange

Boa tarde Ritha, gostaria de agradecer novamente por me ceder esta entrevista. Gostaria primeiramente de saber em qual contexto surgiu o programa do Rotary. O programa começou com o pai de Ana Maria, atualmente diretora do Rotary que foi a primeira intercambista do Rotary (brasileiro). O pai dela era Rotariano e leu em uma revista da instituição sobre o intercâmbio na Europa e EUA. Ele escreveu para o Rotary Internacional, e começou a fazer o projeto aqui também. No primeiro ano foram 5 homens e uma mulher para programas de um ano nos Estados Unidos. Mas a história do Rotary mesmo começou acho que na Dinamarca, para programas de curta duração. Outros países se interessaram, o programa foi aprimorado, ampliado e continua até hoje. A idéia era mesmo a de estender o trabalho do Rotary, que é um clube de serviço à comunidade, então tem uma área voltada a instituições sociais como creches, asilos. Há também uma área voltada para o profissional, e tem também esta área internacional com o intercâmbio, que serve inclusive para divulgar, para que os meninos tenham uma experiência e de levar sua cultura para o exterior, com o fim último de promover a paz entre os povos. Portanto se faz um “intercâmbio” no strictu senso da palavra.

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Exatamente, pois estudantes vão e vem. Nosso intuito é justamente que os estudantes tenham o papel de “embaixadores”, é uma preocupação de fato com a diplomacia, para aproximar as pessoas de diferentes culturas. Inclusive brincávamos na época dos ataques da Al Qaeda aos Estados Unidos em 2001, que se Bin Laden tivesse feito intercâmbio ele não teria perpetrado os ataques de 11 de setembro. O programa de Intercâmbio do Rotary tem uma missão formal? Propagar a paz mundial Quantos estudantes viajam por ano pelo Distrito 4760? Em média por ano mandamos 60 a 65 estudantes para o programa de longa duração e de 10 a 20 estudantes para programas de curta duração, e recebemos um número sempre parecido com o numero de estudantes enviados para cada tipo de programa. E quantos estudantes viajam em média do Brasil e para o Brasil? E quantos circulam por ano no mundo? O número fica em torno de 700 do Brasil para mais de 40 países, e em troca recebemos quase este número de estudantes de diversas nacionalidades. Pelo mundo são mais de 8.600 estudantes por ano. Quais você acha que são os impactos positivos do programa para a vida do estudante? Sem dúvida o amadurecimento e a cultura de aluno, adquiridas pela imersão dele em outro contexto. E também a formação do profissional, em relação à empregabilidade. Eu inclusive aconselho aos estudantes que eles façam todos os cursos que tiverem possibilidade enquanto estão fora, e que tragam os comprovantes, pois quando você elabora o seu currículo, isso faz a diferença. E também os alunos passam a valoriza rmais a família. Pois mesmo que seja uma experiência boa, eles passam aperto, há dias que não são fáceis. Por melhor que seja a família hospedeira, há dias em que não é fácil estar longe. Então para mim o mais legal é o aluno valorizar as coisas que ele tem aqui. E para a família, o que há de mais positivo? É saber que seu filho dá conta, é independente. Eu já estive nos dois lados da moeda, e digo que é muito mais difícil para família do que para o estudante. O estudante encontra diversas coisas novas, aprende, tudo é novidade. Mas ficar aqui na rotina faz a família sentir muita falta, não é fácil ficar longe do filho. Mas a gente aprende a conhece-lo melhor. E quais seriam os aspectos negativos pros estudantes? Eu acho que quando o estudante é bom não há nada negativo. Eu ia perguntar dos aspectos negativos para a família, mas creio que você já tenha respondido isto.

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Você também já respondeu a minha próxima pergunta que seria se existe no programa a participação de jovens menos favorecidos. Mas agora eu quero saber se há diferença no desempenho destes alunos que freqüentam escolas públicas? Nenhuma. Pelo contrário, eles se sobressaem. E porque você acha que eles se sobressaem (estando sujeitos a condições sociais e de estudo menos favoráveis)? Pois eles têm consciência de que é uma oportunidade que eles têm para mudar a própria vida. Por isto eles se empenham mais. Você ou eu tínhamos e temos certa condição. Ainda que sempre queiramos ter sucesso também, é diferente de uma pessoa que vai precisar mais daquilo, pra ter sucesso no trabalho, na vida. Por isso acho que eles se empenham mais pra aproveitar a oportunidade de ter ganhado a bolsa. Eles sentem que tem que fazer jus àquilo. E acho também que você mostrar que foi bem para a família é muito importante. A família investiu na sua educação, portanto ele ter sucesso no programa é uma maneira de agradecer pelo que foi feito por ele. Você acha que as escolas públicas dão base o suficiente para que possamos submeter estudantes destas escolas a um programa como este? Sim. Tanto que esta menina que vai gratuitamente para o Canadá estuda no Colégio Militar. Há escolas melhores que outras, assim como entre as escolas particulares, em que há grandes diferenças na qualidade de ensino. E acredito que quando o aluno é aplicado, a escola acaba não influenciando tanto. Como é o financiamento do programa de intercâmbio do Rotary? Eu sou voluntária, minha renda não tem nada a ver com o Rotary. Há duas encarregadas que são pagas, uma contratada e outra estagiária. Os estudantes pagam uma taxa que atualmente custa R$ 4.200,00, com a qual pagamos o correio, telefone, e outros custos cotidianos. Além disto, o dinheiro patrocina um estudante, além de ser destinado também para a reunião de todos os estudantes que vem no programa inbound. Esta reunião é totalmente paga com este dinheiro. Hotel, alimentação e o evento em si. E neste programa tem algum dinheiro de instituições privadas? Não. Nenhum. Eles pagam esse R$ 4.200,00 que creio seja bem menos que outros programas que há por aí. Quanto você diria que fica o gasto total com um estudante por todo o ano, incluindo os gastos feitos aqui, e também durante o programa? Bom, quando fazemos a orientação, eu não falo em gastos. Eu falo em “investimento”. O valor para este investimento na educação do filho fica em torno e USD 6.000,00. Neste custo está incluída a passagem, mas nós conseguimos a emissão dos bilhetes para estudante, o que faz cair muito o preço. A taxa do programa são R$4.200,00, totalizando mesmo uma média de USD 6.000,00 pelo programa.

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Inclusive já tivemos uma passagem doada pela Air Canadá a um estudante que viajou gratuitamente pelo Rotary. A sua idéia de pedir ajuda à TAM pode ser facilitada, pois com certeza as empresas que doarem terão abatimentos nos seus impostos de renda. O que você acha da idéia de mandar um numero expressivo de estudantes da baixa renda em programas de intercâmbio similares ao do Rotary? Eu acho muito bacana esse seu projeto, é uma ótima idéia. O mais importante eu acho que é o fato de que isso vai ajudar muita gente. A idéia é ajudar não somente os estudantes, mas também as comunidades. Exatamente! Porque a experiência vai mudar a vida do estudante. Por exemplo, agora pouco saiu daqui a garota que vai para o Canadá, que não está pagando nada. Isto vai mudar a vida dela. Quando seu projeto estiver todo pronto, pode contar comigo para me ajudar com o treinamento dos estudantes. [...] Se podemos ajudar alguém a mudar, vale a pena. ■