26
FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO JOSEFRAN ALVES FILGUEIRAS LEI Nº 5.478, DE 25 DE JULHO DE 1968: “LEI ESPECIAL DE ALIMENTOSE OS ASPECTOS RELEVANTES FRENTE A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR EM SITUAÇÃO DE PENÚRIA CABEDELO-PB 2015

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

JOSEFRAN ALVES FILGUEIRAS

LEI Nº 5.478, DE 25 DE JULHO DE 1968: “LEI ESPECIAL DE ALIMENTOS” E OS ASPECTOS RELEVANTES FRENTE A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR EM SITUAÇÃO DE PENÚRIA

CABEDELO-PB

2015

Page 2: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

2

JOSEFRAN ALVES FILGUEIRAS

LEI Nº 5.478, DE 25 DE JULHO DE 1968: “LEI ESPECIAL DE ALIMENTOS” E OS ASPECTOS RELEVANTES FRENTE A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR EM SITUAÇÃO DE PENÚRIA

Trabalho de Conclusão de Curso em forma de Artigo científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Área: Direito Civil Orientadora: Prof.ª Ms. Luciane Gomes

CABEDELO-PB

2015

Page 3: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

3

JOSEFRAN ALVES FILGUEIRAS

LEI Nº 5.478, DE 25 DE JULHO DE 1968: “LEI ESPECIAL DE ALIMENTOS” E OS ASPECTOS RELEVANTES FRENTE A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR EM SITUAÇÃO DE PENÚRIA

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

APROVADO EM _____/_______2015

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Prof.ª Ms. Luciane Gomes ORIENTADORA- FESP

___________________________________________ Prof. Esp. Moisés de Souza Coelho Neto

MEMBRO- FESP

___________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Cavalcanti Andrade de Araújo

MEMBRO- FESP

Page 4: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

4

Agradeço а Deus, pois sem ele еυ não teria forças para essa longa e árdua jornada, agradeço aos meus professores, аоs meus colegas de “batalha”, qυе mе ajudaram nа conclusão do curso e na elaboração do meu artigo.

Page 5: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

5

AGRADECIMENTOS

As minhas tias, Joselita e Josenira, heroínas qυе mе dеram apoio, incentivo

nаs horas difíceis, de desânimo е cansaço, pois foram essenciais na minha vida e

consequentemente na formação profissional e como ser humano.

A minha amiga, companheira, cúmplice, namorada e esposa, Lucineide pelo

amor, incentivo, apoio e paciência com todos os meus problemas, preocupações e

dilemas ao longo do curso.

Aos funcionários da Fesp Faculdades, em especial a Maria, por toda paciência,

compreensão e vontade de me ajudar em todos os momentos da minha convivência

acadêmica.

A minha orientadora, Professora Luciane Gomes, pela paciência, dedicação e

interesse no bom desempenho deste trabalho.

A Professora Socorro pelas correções e formatação do texto desse trabalho

científico dentro das normas da ABNT.

Enfim, a todos que contribuíram e torceram pela efetivação deste sonho que

ora se concretiza com a construção deste TCC.

Page 6: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

6

“Eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância. Eu não substituo a fé pela supertição, a realidade pelo ídolo”.

Rui Barbosa

Page 7: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

7

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 8

2 ALIMENTOS.......................................................................................................10

2.1 OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.................................................................................11

2.2 ORIGEM DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR............................................................12

2.3 ESPÉCIES DE ALIMENTOS...............................................................................13

3 MEIOS EXECUTIVOS DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTAR...............................14

3.1 MEIOS EXECUTIVOS.........................................................................................14

3.2 EFICÁCIA DA COERÇÃO SOBRE O DEVEDOR DE ALIMENTOS...................16

3.3 ANÁLISE DOS PRINCÍPIOS EM CONFLITO.....................................................17

4 DA PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA...............18

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 22

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 23

Page 8: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

8

LEI Nº 5.478, DE 25 DE JULHO DE 1968: “LEI ESPECIAL DE ALIMENTOS” E OS ASPECTOS RELEVANTES FRENTE A PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR EM SITUAÇÃO DE PENÚRIA

Josefran Alves Filgueiras* Luciane Gomes**

RESUMO A noção de alimentos encontra uma maior amplitude no ordenamento jurídico hodierno, eis que engloba não mais somente a ideia de sustento físico da pessoa, mas, primordialmente vincula-se ao dever de cuidado de uns para com os outros, de maneira que o afeto possa potencializar o intento de nutrição do indivíduo de maneira mais completa e condigna. Assim, os alimentos se prestam não só para suprir as necessidades nutricionais do ser vivo, mas também contribuem para o mínimo existencial qualitativo da pessoa humana, haja vista que compõem a noção de assistência material e moral, este último subsumindo-se nas noções de arrimo espiritual e afetivo. A execução de prestação alimentícia dá ensejo à única hipótese de prisão civil admitida no ordenamento jurídico brasileiro. A coerção pessoal, como forma de levar o devedor de alimentos a satisfazer sua obrigação, é utilizada desenfreadamente na prática forense, levando ao cárcere muitos indivíduos que não tem sequer o mínimo para sua própria subsistência. O objetivo deste trabalho é abordar o cabimento e a eficácia desta modalidade executória nos casos em que o alimentante é financeiramente hipossuficiente, sem condições de adimplemento do dever alimentar. Palavras-chave: Execução. Alimentos. Prisão Civil. Situação de Penúria.

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho almeja a exposição de uma interpretação da Lei 5.478, de

25 de julho de 1968, a chamada “Lei especial de alimentos” e os aspectos relevantes

à prisão civil do devedor em situação de penúria, em especial das normas legais

pertinentes à espécie, voltada para os fins sociais e às exigências do bem comum.

O caráter primordial dos alimentos, segundo institui a Lei dos Alimentos

(5.478/68) que autoriza a ação de alimentos é o de ser emergencial e atual. A sua

impetração deve ser feita no rito especial objetivando a agilidade da prestação

jurisdicional em matéria de alimentos e tem como requisito a existência da relação

obrigacional de alimentar, portanto o credor deverá dispor de prova pré-constituída da

obrigação.

*Aluno concluinte do Curso de Bacharelado em Direito da Fesp Faculdades, semestre 2015.2. e-mail:[email protected].

**Mestre em direito, Procuradora Federal, Professora da Fesp Faculdades, atuou como orientadora desse TCC. e-mail: [email protected]

Page 9: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

9

Mesmo que seja um regramento que busca fornecer orientações para os

procedimentos relativos à Ação de Alimentos, a Lei 5478/68 em seu artigo 24 delibera

que a parte obrigada a prestar alimentos, demonstrando que se preocupa com a

subsistência de quem tem direito de ser alimentado, poderá cumprir a sua obrigação

voluntariamente, sem a coação de uma exigência judicial propondo a Ação de

Oferecimento de Alimentos. Há um grande número de dispositivos específicos de leis

que ampara este grupo formado especialmente pelo parentesco, inclusive estão

protegidos os filhos adotivos e os havidos fora do casamento ou da convivência

reconhecidos por somente um, ou o pai ou a mãe.

A Lex Suprema assegura, dentre as garantias fundamentais do cidadão, o

direito de liberdade, consoante as disposições preconizadas no caput do artigo. 5°.

De conseguinte, somente será lícito tolher a liberdade do indivíduo, direito

fundamental, resguardando determinados limites, legitimamente estabelecidos pelo

Ordenamento Constitucional e Legislação Ordinária. Prisão é o vocábulo tomado para

exprimir o ato pelo qual se priva a pessoa de sua liberdade de locomoção, de ir e vir

recolhendo-a um lugar seguro e fechado.

Os direitos aos alimentos provisórios e aos alimentos provisionais, muito

embora parecidos, não podem ser confundidos. Os dois constituem-se em direitos a

alimentos, mas, com natureza e objetividades jurídicas diferentes. Trata-se de direitos

(alimentares) diferentes, com origens e obrigações diferentes, bem como, também

diferentes as objetividades jurídicas a serem protegidas. Disto resulta que a tutela a

ser buscada pela via judicial também deve ser diferente, por isso, o sistema jurídico

brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a

854, do CPC) e a via especial (Lei nº 5478/68) e ordinária (arts. 732 a 735 do CPC

para a tutela do direito aos alimentos provisórios.

A prisão civil do devedor de alimentos, autorizada pela Constituição Federal de

1.988, no artigo. 5°, inc. LXVII, está plenamente justificada em face do bem jurídico

protegido, que no caso é a sobrevivência digna de seres humanos incapazes de

prover seu próprio sustento. Também o uso da prisão civil do responsável por dívida

alimentar encontra-se previsto no artigo 733 e seguintes do Diploma Instrumental Civil,

e nos dispositivos 18 e 19 da Lei de Alimentos n° 5.478/68.

Assim, buscamos refletir sobre a aplicação desenfreada da medida na prática

forense, muitas vezes manejada não como forma de efetivar o pagamento, mas como

Page 10: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

10

instrumento de vingança pessoal do credor ou de seu representante contra o devedor,

em circunstâncias onde outros meios executórios se mostrem mais eficazes e menos

gravosos para o alimentante.

O escopo principal do artigo é levar o magistrado, e também o exequente, à

reflexão de que é inócua a prisão do hipossuficiente para constranger-lhe a pagar

pensão alimentícia, simplesmente pelo fato de que isso dificultará ainda mais o

adimplemento da prestação, já que o cárcere o afastará do trabalho e tenderá a

agravar sua situação. Essa não é, entretanto, a única ferramenta processual para se

cobrar o crédito em face ao inadimplemento de tal natureza, havendo outras formas

de se proceder à efetivação do direito do alimentando, a saber: a expropriação e o

desconto em folha de pagamento.

2 ALIMENTOS

Ao se falar em alimentos, dá-se a ideia de que são apenas as substâncias

necessárias para a sobrevivência do ser humano. É verdade que o termo "alimentos"

está diretamente ligado ao controle da fome e a forma de se manter a pessoa

alimentada. No entanto, sob o ponto de vista jurídico, não se pode limitar à simples

satisfação da fome, senão incluir na expressão alimentos outros itens que completam

a necessidade humana.

No passado, talvez, pudesse ver os alimentos como simples meio de saciar a

fome, mas hoje, precisa-se ir mais longe e adicionar outros elementos; entre eles a

liberdade. A expressão liberdade que alimenta o espírito humano, representa o estado

psíquico de viver da sociedade com liberdade para agir. Isto somente acontece

quando a pessoa recebe uma porção de benefícios que vão muito além dos simples

alimentos para matar a fome (FIDELIS DOS SANTOS, 2009).

Em verdade o ser humano não tem fome só de comida, mas a de aprender, do

saber, exercer, executar atividades, trabalho, lazer e atividades sociais, morar, vestir,

proteção à saúde etc. Isso só se alcança quando se interpreta a necessidade de

alimentos de forma extensiva. O direito a alimentos vai muito além da simples comida:

esta alimenta apenas o corpo, mas, o ser humano precisa também de alimentos para

o espírito.

Page 11: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

11

Hoje, a expressão direito a alimentos já não mais condiz com a realidade, pois,

para a sobrevivência o ser humano precisa de muito mais para suprir as necessidades

básicas, entre elas vestuários, moradia, estudos, atividades sociais. Melhor seria que

esta expressão fosse substituída por outra mais abrangente, tais como: "direitos à

satisfação das necessidades básicas" ou então, por direito de socorro.

A concessão de alimentos consistente somente no fornecimento de comida

pode, no muito, alimentar o corpo, mas, certamente não alimentará a alma. O maior

alimento da alma é a liberdade, e esta somente se conquista, com o estudo,

aprendizado e fruição do mínimo existencial necessário ao exercício da cidadania.

Sem o exercício da cidadania não há liberdade e sem liberdade não há vida

digna. Para uma vida digna é preciso a fruição do mínimo existencial necessário. Em

se tratando de alimentos provisionais a legislação processual brasileira, amplia o

leque dos benefícios anunciados, passando a integrar na expressão "alimentos

provisionais", as despesas processuais (art. 852, parágrafo único, do CPC).

Deve ficar bem claro que a expressão "despesas processuais" abrange custas

judiciais, porte de remessa e retorno, despesas com diligências, tais como, perícias

avaliações, citações, intimações entre outras, bem como, honorários

advocatícios contratos pela parte necessitada para a propositura da ação ou de

defesa, que nada tem a ver com as verbas sucumbências ao final (DIDIER JR, 2011).

2.1 OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

Toda obrigação nasce da lei. O direito existe mesmo sem lei, mas, a obrigação

é imposta por lei. Mas a lei aparece como representação do direito objetivo (abstrato

e geral), exigindo para a sua complementação uma razão fática para transformar o

direito o direito abstrato (objetivo) em direito concreto (direito subjetivo).

Como toda obrigação nasce da lei, assim também se dá com a obrigação

alimentar que deve ser imposta por lei, somada a uma circunstância fática. A

obrigação de alimentos deriva sempre da lei que prevê uma determinada situação

fática de necessidade na qual se encontra uma pessoa que não pode prover à sua

manutenção, o que se acrescenta também a necessidade da existência fática de uma

situação favorável ao obrigado, colocando-o em condições prestar alimento.

Page 12: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

12

A obrigação alimentar pode ter caráter definitivo quando oriundo direito de

família ou de ato ilícito, o que se pode falar que tem origem em direito substancial,

como aqueles previstos no Código civil ou na lei especial de alimentos. Também existe

obrigação alimentar de natureza processual e de caráter tipicamente transitório, que

tem duração limitada e vinculada à existência do processo, desaparecendo quando o

processo principal é extinto. É originária do direito processual (art. 852-854, do CPC),

nascendo com o processo e se encerrando com a sua extinção, constituindo-se nos

chamados alimentos provisionais (BRASIL, 2007).

Os alimentos provisionais são sempre transitórios e somente são devidos

durante a existência de outro processo principal. Por isso guardam a natureza

processual, não se exigindo vínculo de parentesco e nem a prática de ato ilícito. Sua

origem é tipicamente processual, para a manutenção parte durante o processo o

principal, por isso, será concedido sempre pela via cautelar incidental.

2.2 ORIGEM DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

A obrigação alimentar pode ter origem em várias circunstâncias fáticas, sempre

tipificadas estes fatos estejam tipificados em lei. Entre estas tipificações está a relação

parental, caso em que os parentes mais próximos devem alimentos àquele que deles

necessitar. Outra fonte da obrigação alimentar está na convenção ou acordo em uma

pessoa assume por meio de contrato o dever pagar alimentos para outrem. Ainda

existe a obrigação alimentar oriunda de ato ilícito que muito se aproxima da obrigação

indenizatória. Pode-se dizer que existe obrigação alimentar civil com origem legal na

relação de parentesco e outra sem origem no parentesco, como aquela oriunda de ato

ilícito. Uma por imposição de lei (como são os casos de parentesco e de ato ilícito) e

outra por vontade de quem assume tal obrigação (MONTENEGRO FILHO, 2012).

Além de obrigação alimentar civil oriunda do direito material (CC e Lei de

alimentos), existe ainda a obrigação alimentar processual, esta oriunda do direito

processual civil (arts. 852-854 do CPC). A obrigação alimentar civil que pode ter

origem familiar é aquela com origem em prejuízo por ato ilícito, são regidas pelas leis

civis e podem ser pleiteadas em forma de tutela antecipada (art. 273 do CPC) sempre

dentro de um mesmo processo.

Page 13: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

13

Já a obrigação alimentar processual (provisional) que tem origem na ação

principal sempre exige dois processos: sendo um processo principal em que se

alberga o pedido principal (que pode ser de alimentos e outro qualquer, como

indenização, investigação de paternidade, separação, dissolução de sociedade,

partilha, entre outros) e, um processo secundário em que se busca a tutela cautelar

de alimentos provisionais (MONTENEGRO FILHO, 2012).

A obrigação alimentar civil tem caráter duradouro e persiste até que algum fato

novo surja para modificação ou extinção, tais como a morte de quem paga ou de quem

recebe, ou ainda, a modificação do estado de necessidade de quem recebe ou de

possibilidade de pagar por quem está obrigado a prestá-los. A obrigação alimentar

processual (provisional) é sempre, delimitada pelo processo, e, já se sabe de antemão

que durará somente enquanto durar o processo. Em outros termos, ela nasce com o

processo e se encerra com a extinção deste. Poderiam até mesmo serem chamados

de alimentos processuais. Não visam, é bem verdade, a alimentar a pessoa, mas

alimentar o processo, fornecendo meios para a prática dos atos e diligências

processuais, para garantir a quem deles precisa, o acesso à justiça, com pleno

contraditório e ampla defesa (DIAS, 2010).

2.3 ESPÉCIES DE ALIMENTOS

É certo que somente os alimentos legais são de direito de família, de modo que

somente a eles se aplica a regulação da prisão civil por não pagamento.

Alimentos definitivos são os permanentes, embora passíveis de revisão, podendo ser

fixados em sentença ou em acordo entre os envolvidos, homologados judicialmente,

salvo hipótese de estabelecimento em divórcio consensual por escritura pública.

Os alimentos provisionais, ao contrário, pedidos em medida cautelar

preparatória ou incidental de divórcio, separação, alimentos, ou nulidade/anulação de

casamento. Para deferimento, sujeitam-se à caracterização dos requisitos das

cautelares em geral, quais sejam, fumaça do bom direito e perigo na demora. Ainda

que haja previsão legal de não cabimento no curso da ação de investigação de

paternidade, autorizando-se sua fixação somente na sentença (art. 5º, Lei 883/49),

fato é que tal fere a igualdade constitucionalmente assegurada. Assim, devem ser

admitidos retroagindo-se a citação, e mesmo liminarmente, se houverem indícios

efetivos de paternidade (BRASIL, 2011).

Page 14: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

14

Os alimentos Pretéritos referem-se a período anterior a propositura da ação,

os atuais, a partir do ajuizamento e os futuros a partir da sentença, sendo certo que

os primeiros são afastados pelo direito brasileiro. Por este critério e de acordo com o

processualista Gonçalves (2009, p.461). “São pretéritos quando o pedido retroage a

período anterior ao ajuizamento da ação; atuais, os postulados a partir do

ajuizamento; e futuros, os devidos somente a partir da sentença”.

Os alimentos provisórios que são requeridos ou concedidos de oficio dentro do

processo único, sempre através de decisão interlocutória, cujo decisório jamais

produzirá coisa julgada. Quando do julgamento deste o juiz pode revogá-los ou

transformá-los em definitivo. Somente quando se tornam definitivos por julgamento

final que pode ser sentença ou acórdão, serão qualificados pela coisa julgada material.

No caso dos alimentos provisionais isto é impossível, pelos menos por duas razões:

a) porque no seio do processo principal o juiz não modificar o decido em outro

processo que é o cautelar de alimentos provisionais; b) não pode transformá-los em

definitivos, por que os alimentos provisionais jamais se tornarão definitivos, pois, se

encerram exatamente com a extinção do processo principal (BRASIL, 2011).

Desta forma, pode se ver que os alimentos provisórios são, em muito,

diferentes dos alimentos provisionais. Os alimentos provisórios podem se tornar vidual

e permanente, circunstância que jamais ocorrerá com os alimentos provisionais. A

obrigação e os direitos aos alimentos civis existem antes e independente de processo,

mas o direito e obrigação aos alimentos provisionais, somente existem se houver

processo principal que mereça resguardo ao acesso à justiça para a parte sem

condições de custear as despesas do processo. A parte pode fazer jus aos alimentos

provisionais para custear as despesas do processo, muito embora tenha condições

de se manter e custear as despesas pessoais fora do processo.

3 MEIOS EXECUTIVOS DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTAR

3.1 MEIOS EXECUTIVOS

Page 15: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

15

A prisão civil do alimentante é medida extrema de cobrança da dívida. Dúvidas

surgem quanto ao poder concedido ao credor para escolher a forma de execução. A

execução de prestação alimentícia é disciplinada pelo Código de Processo Civil, arts.

732 a 735 e pela Lei n° 5.478/68, arts. 16 a 20. Para a correta abordagem do tema,

afigura-se imperioso consignar, inicialmente, quais as formas de execução da

prestação de alimentos. O cunho alimentar da prestação, de satisfação imediata e

indispensável para assegurar o direito à vida, ou seja, atender à necessidade de uma

pessoa que não pode prover a sua subsistência, faz com que seja utilizado meios

executivos diferenciados ou específicos (SANTOS; SÁ, 2009).

Por esses quais sejam: a) desconto em folha de pagamento, com previsão

observada tanto na Lei de Alimentos (art. 16) como no C.P.C. (art. 734), com eficácia

para os casos de alimentantes empregados, militares, funcionários públicos, etc. b)

desconto de aluguéis ou quaisquer outras formas de rendimentos do devedor (art. 17

da Lei 5.478/68), opção viável quando o devedor for profissional liberal, empresário

ou vinculado ao mercado informal; c) na impossibilidade de satisfação do crédito

através das duas primeiras formas, poderá o alimentando optar pela execução na

forma do art. 733 do C.P.C. e art. 18 da 25 Lei 5.478/68, com prisão do devedor; d)

execução por quantia certa contra devedor solvente(art. 732 e 735 do CPC; art. 18 da

Lei 5.478/68) (DIAS, 2009).

Na expropriação, o patrimônio do devedor é invadido, segregado e

posteriormente alienado, entregando-se ao credor, ao final, o produto da alienação

em pecúnia; no desconto em folha, o pagamento é feito por um terceiro – geralmente

empregador do alimentante – que desconta o valor devido diretamente da folha de

pagamento devedor; na constituição de capital, o valor é descontado de rendimentos

do devedor em geral. Pode ser retirado de um valor que aquele receba a título de

aluguel, de resultados de aplicação financeira e de arrendamento rural.

Deve-se indagar, então, quando será cabível a utilização da coerção pessoal

em face às modalidades comuns de “cobrança”; em qual cenário fático será

necessária e útil a restrição da liberdade do devedor; quando não será viável e quais

são os princípios Constitucionais e infraconstitucionais atingidos. Há que se buscar a

intenção do legislador, tendo como norte o texto Constitucional, que é o legitimador

maior desta única forma de prisão civil admitida no ordenamento pátrio (DINIZ, 2008).

Esse assunto é complexo, haja vista envolver a sobrevivência do alimentado

de um lado, e do outro, o direito de ir e vir do alimentante devedor, por tanto, a prisão

Page 16: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

16

é uma medida extrema e lesiva aos direitos fundamentais do devedor ao atingir a sua

liberdade. Gerando um conflito entre direitos fundamentais (direito à tutela efetiva x

direito a liberdade). Portanto, só através da análise cuidadosa do caso concreto,

aplicando o princípio da proporcionalidade, é que será possível averiguar a utilização

da prisão civil, se decretada logo ou se usado primeiramente outro meio executivo

(DINIZ, 2008).

A legislação não traça linha obrigatória, mas garante ao executado a proteção

de sua liberdade na medida em que não prejudique o alimentado, promovendo

também a este a opção pelo caminho mais conveniente. Conclui-se, ao analisar de

forma conjugada os dispositivos referente ao assunto em questão, que no direito

brasileiro, a tutela executiva das prestações alimentícias pode realizar-se de meios

executivos diferenciados, utilizados com observância ao princípio da

proporcionalidade.

Convém salientar, que o princípio da proporcionalidade, denominado, também,

mandamento da proibição de excesso, é empregado pelo juiz quando este encontra-

se analisando a questão em deslinde. Tal princípio visa essencialmente a preservação

dos direitos fundamentais, buscando a solução de um conflito gerado entre princípios

e direitos fundamentais, bem como dos interesses e bens jurídicos.

3.2 EFICÁCIA DA COERÇÃO PESSOAL SOBRE O DEVEDOR DE ALIMENTOS

Por todo o exposto, é forçoso reconhecer a ineficácia da coerção pessoal sobre

o devedor de alimentos em situação de penúria. Apesar de toda a preocupação do

legislador em assegurar ao credor alimentício um mecanismo apto a imprimir eficácia

à execução de dívida alimentar, inútil é a prisão civil sobre aquele insolvente. É

evidente que a miséria se trata de um problema social, com profundos reflexos que

desaguam no Poder Judiciário.

O quantum devido a título de prestação alimentícia deve ser bem fixado pelo

magistrado em sede de processo de conhecimento, em observância à necessidade

do alimentando e à possibilidade do alimentante. A falta de atenção às condições

pessoais do devedor no momento da fixação da prestação, seja por negligência do

julgador, seja por superveniência da piora financeira daquele, seja por insucesso na

Page 17: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

17

prova da real situação do réu, não pode ser resolvida em sede de execução. Em uma

situação bilateral de miséria, é impossível que as partes se socorram reciprocamente.

Relativamente à expressão alimentos é imperioso destacarmos os

ensinamentos de Madaleno (MADALENO, 2010, p.19) "a vida é o mais importante de

todos os direitos"' e a questão dos alimentos está ligada diretamente à própria

sobrevivência do alimentado que sempre se vê obrigado a esperar pela sua prestação.

A prisão civil do devedor de alimentos, autorizada pela Constituição Federal de 1.988,

no artigo. 5°, inc. LXVII, está plenamente justificada em face do bem jurídico protegido,

que no caso é a sobrevivência digna de seres humanos incapazes de prover seu

próprio sustento. Também o uso da prisão civil do responsável por dívida alimentar

encontra-se previsto no artigo 733 e seguintes do Diploma Instrumental Civil, e nos

dispositivos 18 e 19 da Lei de Alimentos n° 5.478/68.

Toda a questão se resolveria por meio da simples interpretação literal do artigo

5ºoque exige a voluntariedade e inescusabilidade do inadimplemento para a utilização

da prisão civil. Como bem observa Mendes, Coelho e Branco (2009). Por se tratar de

prisão civil, ela não significa uma reprimenda estatal a uma infração penal cometida

pelo réu, mas sim um meio processual de coerção do inadimplente, do qual o estado

lança mão para execução da dívida. Não há caráter retributivo. A execução de

alimentos é, na verdade, uma espécie de execução por quantia certa contra devedor

solvente, que, porém, recebe um tratamento especial.

Ainda, o art. 733 do CPC afirma que o réu será citado para efetuar o pagamento

ou justificar a impossibilidade de fazê-lo. Como o legislador não faz uso de palavras e

expressões inúteis, deve-se ter que, na parte final do dispositivo, há margem para que

o inadimplemento justificado obste o encarceramento. Neste ínterim, a insolvabilidade

do devedor é justificativa suficiente para impedir a coerção pessoal. O devedor em

situação de penúria não é inadimplente porque quer, mas sim porque não pode pagar.

Assim, há uma escusa legítima, justificável, assim como não há voluntariedade no

débito, o que, por si só, permite concluir pela ilegalidade da prisão do devedor de

alimentos em situação de penúria.

3.3 ANÁLISE DOS PRINCÍPIOS EM CONFLITO

Page 18: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

18

O tema analisado é permeado e sofre a incidência de vários princípios, não

apenas relacionados ao processo executivo, mas também princípios de envergadura

Constitucional. Partindo da Carta Magna, fundamento de validade de todo o

ordenamento jurídico pátrio – nela se encontram os princípios reitores do Direito pátrio

(BRASIL, 2011).

A dignidade da pessoa humana é o princípio matriz e está elencado como

fundamento do estado democrático de direito, impregnando todo o ordenamento

jurídico. Seria este um princípio “de valor pré-constituinte e de hierarquia

supraconstitucional, sendo considerado também um princípio orientador do direito de

família. Tal caracterização como princípio supraconstitucional gera discussão

doutrinária acerca da possibilidade ou não da ponderação desse princípio em face de

outros de ordem constitucional (PIOVESAN, 2010, p.92).

Desse “superprincípio” decorrem os direitos à liberdade, à vida, ao mínimo

existencial e vários outros. Só haveria liberdade verdadeira, plena, quando existem

condições materiais mínimas. Ou seja, ao ser preso um descumpridor da obrigação

alimentar, estar-se-ia retingindo sua liberdade, inerente a sua dignidade, para garantir

as condições materiais ao alimentando, necessidade também oriunda da dignidade.

Estar-se-ia restringindo uma liberdade em proteção de uma outra liberdade

(ANDRADE, 2009, p.9).

Quando há fixação de alimentos, seja qual for sua origem, busca-se assegurar

a determinada pessoa, condições mínimas para a manutenção de sua condição

social, de sua alimentação, vestuário, educação. Se o devedor de alimentos se

encontra em situação de miséria, de penúria, sem condições financeiras sequer para

manter dignamente sua alimentação, vestuário e lazer impor-lhe o pagamento de

pensão mediante restrição da liberdade importaria em violação de seus direitos

fundamentais ao mínimo existencial e à liberdade.

O que se observa na aplicação da medida é a proteção de um lado da relação

jurídica em detrimento da desproteção da outra parte. Em nível infraconstitucional, há

princípios específicos do processo de execução que também devem ser lembrados,

tais como o da máxima efetividade do processo executivo, da menor onerosidade para

o devedor, e da boa-fé processual. É vidente que o legislador, quando criou o processo

de execução, buscou prever meios eficazes para que se possa dar cumprimento aos

títulos executivos de maneira mais célere, eficiente, etc.

Page 19: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

19

4 DA PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA

A prisão civil, diferente da penal, não tem o caráter apenatório e é um meio de

coerção utilizado na jurisdição civil como forma de forçar o devedor a cumprir a

obrigação pecuniária. A Constituição Federal no art. 5º, LXVII previa que só haverá

prisão civil por dívida a responsável por inadimplemento voluntário e inescusável de

obrigação alimentícia e do depositário infiel (BRASIL, 2011).

Vale ressaltar que a prisão civil do depositário infiel não é mais admitida em

nosso ordenamento jurídico, tendo em vista que a Convenção Interamericana de

Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), incorporada em nosso direito

positivo pelo Decreto n. 678/92, somente admitiu a prisão civil em caso de débito

alimentar (FARIAS; ROSENVALD, 2011, p. 859).

O Supremo Tribunal Federal também já se posicionou sobre o assunto e desde

o ano de 2008, depois de dois anos de discussão sobre o tema, pôs fim à prisão por

dívida financeira no Brasil. Por unanimidade, os ministros da corte acabaram com a

prisão do depositário infiel em três hipóteses: em contratos de alienação fiduciária, em

contratos de crédito com depósito e em casos de depositário judicial. Sendo assim,

desde dezembro de 2008, o único caso de prisão civil ainda possível no país é a por

falta de pagamento de pensão alimentícia.

No que se refere à possibilidade de prisão do devedor de pensão alimentícia,

tem-se, majoritariamente, o seguinte entendimento doutrinário:

Somente as três últimas parcelas devidas e as que venceram no curso do processo podem ser cobradas pelo rito processual da prisão. O débito alimentar acumulado por período superior a três meses, perde o seu caráter alimentar” (GONÇALVES, 2009).

A prisão civil do devedor de pensão alimentícia, medida considerada de

natureza excepcional, encontra guarida na Constituição Federal de 1988, cujo

enunciado pertinente é retrato da política internacional protetora dos direitos humanos,

com fulcro no artigo 7º, item 7, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos -

Pacto de San José da Costa Rica -, de 22 de novembro de 1969: "Ninguém deve ser

detido por dívidas. Este princípio não limita os mandatos de autoridade judiciária

competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar”

(BRASIL, 2011).

Page 20: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

20

Nossa Carta Magna de 1988 tornou elementar a infração legal acrescentando

os termos “voluntário e inescusável”, para que ocorra o enquadramento na presente

tipificação. Sendo assim, é necessário que o agente devedor de alimentos não arque

com sua responsabilidade de pagar por mera liberalidade unilateral e sem qualquer

justo motivo que ratifique o inadimplemento. A Magna Carta, no seu artigo 5º, inciso

LXVII, estabelece:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel (BRASIL, 2011, grifos nossos);

O entendimento jurisprudencial sobre o tema também já foi firmado, tendo o

Superior Tribunal de Justiça editado a Súmula 309, in verbis:

STJ Súmula nº. 309 - Débito Alimentar - Prisão Civil - Prestações Anteriores ao Ajuizamento da Execução e no Curso do Processo. O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo (SUPREMO, 2005).

Além da Constituição Federal, outros textos normativos disciplinam a prisão

civil do devedor de alimentos. São eles: a Lei de Alimentos (Lei nº. 5.478, de 25 de

dezembro de 1968, artigo 19) e o Código de Processo Civil (Lei nº. 5.869, de 11 de

janeiro de 1973, artigo 733, § 1º), expressos a seguir:

Art. 733. Na execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos provisionais, o juiz mandará citar o devedor para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.

§ 1o Se o devedor não pagar, nem se escusar, o juiz decretar-lhe-á a prisão

pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses. Lei de Alimentos: Art. 19. O juiz, para instrução da causa, ou na execução da sentença ou do acordo, poderá tomar todas as providências necessárias para seu esclarecimento ou para o cumprimento do julgado ou do acordo, inclusive a decretação de prisão do devedor até 60 (sessenta) dias (BRASIL, 2011).

Na obrigação de família baseia-se a prisão do devedor de alimentos fixados em

atenção ao princípio da proporcionalidade que deve permear a relação jurídica

Page 21: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

21

mediante o equilíbrio entre a necessidade do alimentado e possibilidade do

alimentante. Sobre o tema, leciona Gagliano (2003, p.1)

Nessa ordem de ideias, entendo que a prisão civil decorrente de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentar, face à importância do interesse em tela (subsistência do alimentando), é medida das mais salutares, senão necessária, por se considerar que boa parte dos réus

só cumpre a sua obrigação quando ameaçados pela ordem de prisão.

Pelo poder discricionário conferido ao poder judiciário, temos decisões em

nossa jurisprudência que em total desrespeito a dignidade da pessoa humana do

devedor de pensão alimentícia, é determinada manutenção da prisão de devedor de

pensão desempregado, sob a alegação de que o fato do executado se encontrar

desempregado não é causa suficiente para evitar o cumprimento da obrigação. A

respeito, faz jus trazer a baila, importante voto do Ministro do STJ, Ministro Barros

Monteiro. No seu voto:

Há a afirmativa de que “o paciente já declarara não possuir emprego, vivendo de favor na casa de sua madrasta e de que havia postulado o parcelamento do débito”. Há também a informação de que o mesmo exerce suas funções como pedreiro sem vínculo formal e a incoerente alegação de que o paciente não se encontra totalmente impossibilitado de solver as parcelas devidas pelo fato de ter proposto o parcelamento das mesmas. Ora, quem pede parcelamento de dívida está, em primeiro lugar, disposto a pagá-la e em segundo incapacitado de pagá-la no valor mensal em que a mesma se encontra. O objetivo do parcelamento de uma dívida é adequá-la a capacidade financeira do devedor e possibilitar o seu adimplemento de forma mais alongada. Entendemos absurda a manutenção da prisão civil do devedor por tais alegações, visto que preso não poderá o mesmo solver suas dívidas, pois nesta condição não poderá sequer exercer labor para saldá-las. Além do mais, a proposta de parcelar a dívida existente não pode ser utilizada como meio para se afirmar que o devedor tem como solver as parcelas devidas. Como acima afirmado, propor parcelamento pode demonstrar a capacidade do credor de saldar uma dívida, porém é necessário entender que deverá haver uma novação desta dívida, prolongando o seu adimplemento por um tempo maior que o originalmente acordado. Dito isto insistimos na pergunta: onde está a eficácia da prisão para casos como este? Cabe finalmente abordar um aspecto que é indubitavelmente um problema do Direito de Família, porém entendemos caber ser aqui abordado. Trata-se da relação afetiva familiar. Devemos reconhecer que a prisão do pai representará para ele e sua família o alargamento do abismo que normalmente se estabelece quando de uma separação, tornando talvez insustentável uma futura convivência amena e pacífica entre aquele que passou pela desagradável situação de ser preso a pedido de seu ente familiar. Sabemos que a relação paterna ou materna deve prevalecer independente dos problemas advindos dos descontentamentos e dificuldades da separação conjugal, mas para quem passa por este infortúnio deverá haver um maior e mais grave estremecimento nesta relação. (HC 22489 – RJ, 4ª turma do STJ, rel. Min. BARROS MONTEIRO, j.17.9.2002, DJ 2.12.2002, p.312, em transição parcial).

Page 22: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

22

É alinhado com esta posição e defendendo a absoluta excepcionalidade da

prisão do devedor de pensão alimentícia em situação de desemprego que

discorremos alternativas a esta prisão, sendo cediço que se pode elencar outros

mecanismos processuais para efetivação do crédito alimentar.

Não podemos admitir nem concordar com decisão da prisão decretada pura e

simplesmente para um devedor que está desempregado ou não é assalariado e vive

no mercado informal. É preciso dar uma dose de humanidade às questões que

envolvem a relação familiar e não as tratar unicamente à luz do que está codificado

ou normatizado. A prisão civil é meio executivo de finalidade econômica, prende-se o

executado não para puni-lo, como se criminoso fosse, mas para forçá-lo a

indiretamente pagar, supondo-se que tenha meios de cumprir a obrigação e queira

evitar a sua prisão, ou readquirir a liberdade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação do art. 733 do Código de Processo Civil, que permite a decretação

da prisão do devedor inadimplente de obrigação alimentar ocorre muitas vezes de

maneira equivocada, já que é tida por muitos como um mandamento absoluto que

deve ser observado em toda e qualquer hipótese, deixando o julgador de ver que no

outro polo da relação jurídica há também uma pessoa a qual deve ser garantida a

dignidade e a liberdade.

A existência apenas do indispensável à mantença do alimentante torna injusto

obriga-lo a sofrer maiores privações apenas para socorrer o parente necessitado. Se

diante da miséria do alimentante não deve haver direito alimentar, conforme exposto

acima, com menos razão deverá haver execução sobre o miserável. Se ao tempo da

imposição da obrigação alimentar já havia a privação do necessário, esta fixação não

deveria ter ocorrido. Se a redução à miséria ocorreu supervenientemente, não se deve

expropriar o mínimo patrimonial do devedor, muito menos recolhê-lo ao cárcere.

O tema escolhido, além de ser muito importante para ordenamento jurídico

brasileiro, no que diz respeito à área do direito de família, também foi uma experiência

vivida, e nesse sentido verificamos as discordâncias e as “lacunas” na

supramencionada lei. É de extrema relevância para sociedade, uma vez que este se

relaciona intimamente com o próprio direito à vida e à dignidade humana. É

Page 23: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

23

inquestionável a relação que se estabelece entre o direito a alimentos, a possibilidade

de “pagá-los” e a dignidade da pessoa humana.

A obrigação alimentar consiste num dever mútuo, fundado na solidariedade

familiar, ligando os parentes necessitados aos capacitados, de forma que estes

auxiliem aqueles em momentos desfavoráveis da vida. Assim, satisfazem-se

necessidades fundamentais para uma existência com dignidade. Para o Direito, falar-

se em alimentos, o dever de prestá-los ou impossibilidade, juridicamente, deve-se

compreendê-los como a satisfação de necessidades da vida em sociedade. Dessa

forma, alimentos, no vocabulário normativo-jurídico, denota sentido amplo,

abrangendo, por exemplo, além da alimentação, o que for necessário à moradia,

vestuário, assistência médica e instrução.

LAW No. 5478, OF 25 JULY 1968: “SPECIAL LAW OF FOOD" AND RELEVANT ISSUES FACING THE CIVIL DEBTOR’S PRISON IN FAMINE SITUATION

ABSTRACT

The notion of food is a greater extent in today's legal system, here encompassing not only the idea of physical person's livelihood, but primarily linked up to each of duty of care to others, so that the affection can enhance the purpose of nutrition of the individual more complete and dignified manner. Thus, foods lend themselves not only to meet the nutritional needs of the living, but also contribute to the qualitative existential minimum of the human person, considering that make up the notion of material assistance and moral, the latter subsuming on the notion breadwinner spiritual and emotional. Execution of food provision gives rise to civil imprisonment only hypothesis admitted to the Brazilian legal system. Personal coercion as a way to bring the maintenance debtor to meet its obligation, it is wildly used in forensic practice, leading to jail many individuals who do not even have the minimum for their own subsistence. The objective of this study is to discuss the appropriateness and efficacy of this modality enforceable where the alimentante is financially a disadvantage without due performance of conditions of the alimentary duty.

Keywords: Execution. Food. Civil Prison. Shortage Situation.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, André Gustavo Corrêa de. Dano moral e indenização punitiva. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. ASSIS, Araken de. Da execução de alimentos e prisão do devedor. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

Page 24: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

24

BUENO, Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FDT, 2000. BRASIL. Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968. Dispõe sobre ação de alimentos e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br> Acesso em 23 de set de 2015. BRASIL. Código de Processo Civil de 1973. Vade Mecum compacto. 11. ed. atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 2011. _______. Constituição Federal de 1988. Vade Mecum compacto 11. ed. atual. ampl. São Paulo: Saraiva, 2011.

_______. Senado Federal. Biblioteca Digital. Viana, Marco Aurélio S. Alguns

aspectos sobre a obrigação alimentar. Data da publicação: v.16; RT nº62. P.191-210.1979. Revista de informação legislativa. Disponível em: <http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/181065>. Acesso em: 12 ago 2015. _______. Sinopses Jurídicas 2. Direito de Família. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. v. 2. 23 ed. São Paulo: Atlas, 2014. CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos- 6. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. DIAS, Maria Berenice. A execução de alimentos frente as reformas do CPC. Disponível em:<http://www.mariaberenice.com.br/uploads/29__a_execu%E7%E3o__ dos_alimentos_frente_% E0s_reformas_do_cpc.pdf.> Acesso em: 30 ago. 2015. DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. DIDIER JR., Fredie. Curso de processual civil: execução. 4 ed. São Paulo: Juspodivm, 2011.

DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos reais. 7 ed. São Paulo:

Lumen, 2011. FIDÉLIS DOS SANTOS, Ernane. Manual de direito processual civil . São Paulo, Saraiva, 2009. GAGLIANO, Pablo Stolze. Prisão civil do devedor de alimentos. Diário do Poder Judiciário do Estado da Bahia. 2003. [on line] Disponível no site http://www.flaviotartuce.adv.br/secoes/artigosc/Pablo_prisao.doc. Acesso em 24 de outubro de 2015. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: Direito de família. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

Page 25: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

25

MADALENO, Rolf. Responsabilidade civil na conjugalidade e alimentos compensatórios. Revista Magister de Direito de Familia e Sucessões. V. 13. Dez/janeiro, 2010. MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Martires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil: medidas de urgência, tutela antecipada e ação cautelar, procedimentos especiais. 8. ed. São Paulo. Atlas, 2012. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional Internacional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

SANTOS, Marcos Wasum, SÁ, Leo Mauro Ayub de Vargas. Prisão civil no ordenamento jurídico brasileiro. Web Artigos publicado em 10 de jun. de 2009 em: <http://www.webartigos.com/artigos/a-prisao-civil-no-ordenamento-juridico-brasileiro/19540/>. Acesso em: 11. jul. 2015. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. v. 2. 49 ed. São Paulo: Forense, 2014.

VANUCCI, Rodolpho. Execução de alimentos do direito de família: Um estudo atualizado e sistematizado em vista das recentes reformas legisla. 1. ed. São Paulo: Notadez, 2011.

Page 26: CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA – UNIPÊ - Josefran... · brasileiro consagra a via cautelar para a tutela dos alimentos provisionais (arts. 852 a 854, do CPC) e a via especial

26

F478l Filgueiras, Josefran Alves. Lei 5.478 de 25 de julho de 1968: lei especial de alimentos e os aspectos

relevantes frente a prisão civil do devedor em situação de penúria. / Josefran Alves Filgueiras. – Cabedelo, 2015.

25f. Orientadora: Profª. Ms.. Luciane Gomes. Artigo Científico (Graduação em Direito).Faculdades de Ensino Superior

da Paraíba – FESP

1. Execução. 2. Alimentos. 3. Prisão Civil. 4. Situação de Penúria. I.

Título

BC/Fesp CDU: 347 (043)