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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS-CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA ALIMENTOS GRAVÍDICOS: Aspectos destacados à luz do ordenamento jurídico brasileiro BRUNA MARIA DE CARVALHO CIVINSKI Orientador: Prof. MSc. Gilson Amilton Sgrott Itajaí [SC], maio de 2010.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS-CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

ALIMENTOS GRAVÍDICOS: Aspectos destacados à luz do ordenamento jurídico brasileiro

BRUNA MARIA DE CARVALHO CIVINSKI

Orientador: Prof. MSc. Gilson Amilton Sgrott

Itajaí [SC], maio de 2010.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS-CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

ALIMENTOS GRAVÍDICOS: Aspectos destacados à luz do ordenamento jurídico brasileiro

BRUNA MARIA DE CARVALHO CIVINSKI

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. MSc. Gilson Amilton Sgrott

Itajaí [SC], maio de 2010.

iii

AGRADECIMENTOS:

A Deus pelo dom da vida e

principalmente por estar sempre me

acompanhando e trilhando meu

caminho.

À minha família e meu namorado, por

terem tolerado minha ausência e meus

medos, além de me ensinarem, com

dignidade, que a família é à base de

tudo.

Ao Professora Gilson Amilton Sgrott, pelos

seus ensinamentos e dedicação.

iv

Dedico este trabalho:

Aos meus amados pais,

que sempre estiveram ao meu lado,

apoiando-me, torcendo e

acreditando em mim e no meu

potencial, entendendo minhas faltas,

medos e preocupações.

v

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de

Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela

Graduanda Bruna Maria de Carvalho Civinski, sob o título Alimentos

gravídicos: aspectos destacados à luz do ordenamento jurídico brasileiro,

foi submetida em 06 de maio de 2010 à Banca Examinadora composta

pelos seguintes Professores: MSc. Gilson Amilton Sgrott (Orientador e

Presidente da Banca) e Prof. Eduardo Erivelton Campos (Membro), e

aprovada com a nota 10,0 (dez).

Itajaí [SC], 06 de maio de 2010.

Prof. MSc. Gilson Amilton Sgrott

Orientador

vi

DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total

responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho,

isentando a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do

Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer

responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí [SC], 06 de maio de 2010.

BRUNA MARIA DE CARVALHO CIVINSKI

Graduanda

vii

ROL DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS

Rol das categorias1 que a Autora considera

importantes a sua pesquisa, juntamente com seus respectivos conceitos

operacionais2.

ALIMENTOS: Alimentos são importâncias em dinheiro ou prestações in

natura que uma pessoa, chamada de alimentante, se obriga, por força

da lei, a prestar a outra, chamada alimentando. Os alimentos não se

referem apenas à subsistência, material, mas também à formação

intelectual, à educação, enfim3.

ALIMENTOS GRAVÍDICOS: São as importâncias em dinheiro ou prestações

in natura que compreenderão os valores suficientes para cobrir as

despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela

decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a

alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames

complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições

preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de

outras que o juiz considere pertinentes4.

ALIMENTOS PROVISIONAIS: alimentos provisionais ou acautelatórios, são os

concedidos concomitantemente ou antes da ação de separação judicial, 1 Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. (PASOLD, 2002, p.40).

2 Conceito operacional (=cop) é uma definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos. (PASOLD, 2002, p.56).

3 ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário básico de direito Acquaviva, p. 50. 4 Lei 11.804/08, art. 2º.

viii

de nulidade ou anulação de casamento ou de alimentos, para manter o

suplicante ou sua prole na pendência da lide, tendo, portanto, natureza

antecipatória ou cautelar5.

ALIMENTOS PROVISÓRIOS: alimentos provisórios, se fixados incidentalmente

no curso de um processo de cognição ou liminarmente em despacho

inicial, em ação de alimentos, de rito especial, após prova do parentesco,

casamento, ou união estável. Tem natureza antecipatória6.

CONCEPÇÃO: é o início da gravidez, quando um óvulo é fertilizado por um

espermatozóide7.

NASCITURO: o feto durante a gestação; não é ele ser humano - não

preenche ainda o primeiro dos requisitos necessários à existência do

homem, isto é, o nascimento; mas, desde a concepção, já é protegido;

no terreno patrimonial, a ordem jurídica, embora não reconheça no

nascituro um sujeito de direitos, leva em consideração o fato de que,

futuramente, o será e, por isso, protege, antecipadamente, direitos que

ele virá a ter quando for pessoa física8.

OBRIGAÇÃO ALIMENTAR: é o dever de prestar alimentos que impera entre

membros da família, sejam parentes consangüíneos ou por afinidade. Para

tanto, há um dever legal de assistência familiar.

5 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 435. 6 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 435. 7 Disponível em: http://www.msd-brazil.com/msd43/m_manual/mm_sec22_243.htm. 8 ALVES, José Carlos Moreira. Direito romano, p. 533.

ix

SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................... xii

INTRODUÇÃO .......................................................................................... 1

Capítulo 1

DOS ALIMENTOS

1.1. CONCEITO DE ALIMENTOS................................................................................4

1.2. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS ALIMENTOS .....................................7

1.3. ESPÉCIE DE ALIMENTOS .....................................................................................9

1.3.1. Quanto à natureza.......................................................................................11

1.3.1.1. Alimentos naturais ou côngruos .............................................................13

1.3.1.2. Alimentos civis ou necessários ...............................................................13

1.3.2. Quanto à causa jurídica .............................................................................14

1.3.2.1. Em razão da lei..........................................................................................14

1.3.2.2. Em razão da vontade...............................................................................15

1.3.2.3. Em razão do delito ....................................................................................15

1.3.3. Quanto à finalidade ....................................................................................16

1.3.3.1. Alimentos provisionais..............................................................................16

1.3.3.2. Alimentos regulares ..................................................................................18

1.3.4. Quanto ao momento da prestação .........................................................19

1.3.4.1. Alimentos futuros .......................................................................................19

1.3.4.2. Alimentos pretéritos ..................................................................................20

1.3.5. Quanto à modalidade da prestação .......................................................20

Capítulo 2

DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

x

2.1. NATUREZA DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR ......................................................22

2.2. FONTES DE OBRIGAÇÃO ALIMENTAR ............................................................24

2.2.1. Obrigação alimentar decorrente da lei...................................................26

2.2.2. Obrigação alimentar decorrente da vontade........................................29

2.2.3. Obrigação alimentar decorrente do ato ilícito ......................................31

2.3. CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR ........................................33

2.3.1. Direito personalíssimo..................................................................................33

2.3.2. Direito irrenunciável.....................................................................................34

2.3.3. Direito irrestituível .........................................................................................34

2.3.4. Direito incompensável ................................................................................35

2.3.5. Direito impenhorável ...................................................................................35

2.3.6. Direito intransmissível...................................................................................36

2.3.7. Direito imprescritível ....................................................................................37

2.3.8. Direito não transacionável .........................................................................37

2.3.9. Direito variável..............................................................................................38

2.3.9. Direito periódico..........................................................................................38

2.3.10. Direito divisível ............................................................................................39

2.4. SUJEITOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.........................................................40

Capítulo 3

ALIMENTOS GRAVÍDICOS:

Aspectos destacados da Lei 11.804/2008

3.1. O NASCITURO: ASPECTOS DESTACADOS......................................................41

3.2. LEI 11.804/08: ANÁLISE GERAL .......................................................................46

3.3. NECESSIDADES A SEREM SUPRIDAS - PROPORCIONALIDADE ....................47

3.4. A NECESSIDADE E A POSSIBILIDADE DOS ALIMENTOS E O PRAZO DE

CONCESSÃO ...................................................................................................50

3.5. DEFESA DO ALIMENTANTE ...............................................................................54

xi

3.6. OS VETOS OPOSTOS QUANDO DO SANCIONAMENTO DA LEI DOS

ALIMENTOS GRAVÍDICOS ..............................................................................55

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................60

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS...................................................62

ANEXOS...................................................................................................66

xii

RESUMO

A presente monografia tem como principal objetivo a análise da

Lei de Alimentos Gravídicos – Lei 11.804, de 5 de novembro de 2008.

Busca-se nesta pesquisa, verificar se, na história evolutiva dos alimentos, é

possível identificar o dever de prestação de pensão alimentícia ao

nascituro; e, ainda, se a lei em estudo possibilita maior proteção e acesso

facilitado do nascituro às suas necessidades básicas. Portanto, o objeto da

pesquisa é analisar o instituto dos alimentos ao longo do tempo e, suas

transformações com a edição e vigor da Lei de Alimentos Gravídicos. Para

a investigação foi utilizado o método dedutivo. Nas fases desta pesquisa,

foram utilizadas as técnicas do referente, das categorias, dos conceitos

operacionais e da pesquisa bibliográfica, estando dividida em três

capítulos, os quais versam sobre os alimentos, a obrigação de alimentar e

a Lei de Alimentos Gravídicos.

INTRODUÇÃO

O objeto desta pesquisa, que tem como tema A

análise da Lei de Alimentos Gravídicos, é o produto final da pesquisa

jurídica, apresentando uma abordagem doutrinária e jurisprudencial à luz

do ordenamento jurídico brasileiro, acerca do assunto em foque.

O principal objetivo da pesquisa é obter minuciosa

análise da Lei 11.804/08, verificando seus aspectos positivos e negativos, as

mudanças que trouxe ao ordenamento jurídico e a proteção jurídica à

figura do nascituro com base nos dispositivos da referida norma legal.

A pesquisa será formulada utilizando o método

dedutivo9, as técnicas10 do referente, das categorias11 e dos conceitos

operacionais12, aliado à bibliográfica13, tais como consultas em obras, e

revistas eletrônicas.

9 O método dedutivo consiste em estabelecer uma formulação geral, e em seguida,

buscar as partes do fenômeno de modo a sustentar a formulação geral. (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 104).

10 Técnica é um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma instrumental para realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas investigatórias. (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 107).

11 Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 40).

12 Conceito operacional (=cop) é uma definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos. (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 56).

13 “Conjunto diferenciado de informações, reunidas e acionadas em formas instrumental, para realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas de pesquisa” [PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 243].

2

Para a elaboração desta pesquisa foram abordados os

seguintes problemas:

a) Na história evolutiva dos alimentos, é possível

identificar o dever de prestação de pensão alimentícia ao nascituro?

b) A lei em estudo possibilita maior proteção e acesso

facilitado do nascituro às suas necessidades básicas?

A partir destes problemas foram levantas as seguintes

hipóteses:

a) Durante o processo evolutivo do instituto dos

alimentos, ainda que houvesse o dever moral do genitor de prestar

alimentos aos descendentes, não se vislumbrava obrigação legal de

prestá-la aos nascituros;

b) b) A Lei 11.804/08, ao estabelecer normas

diretamente ligadas ao dever do provável genitor de prestar alimentos

durante o período de gestação possibilitou ao nascituro proteção e

acesso fácil e eficaz às obrigações paternas de assistência e sustento.

O objetivo institucional da presente pesquisa é produzir

Monografia para a obtenção do grau de bacharel em Direito pela

Universidade do Vale do Itajaí.

Para o desenvolvimento escrito da presente pesquisa,

adotou-se a metodologia da obra de Colzani14 e Pasold15, sendo a

presente monografia distribuída em três capítulos.

14 COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho científico.

3

Para tanto, no primeiro capítulo traz-se o conceito de

alimentos; a origem e a evolução histórica deste instituto; e suas espécies

(quanto à natureza, quanto à causa jurídica, quanto à finalidade, quanto

ao momento da prestação e quanto à modalidade de prestação).

O segundo capítulo trata da obrigação alimentar:

discorre sobre sua natureza jurídica, aponta aonde se localiza no

ordenamento jurídico brasileiro e discorre suas principais características.

No terceiro e último capítulo discorre sobre o direito do

nascituro aos alimentos e, após, analisa a Lei 11.804/08, apontando as

inovações que trouxe ao Direito Brasileiro, apontando as necessidades que

devem ser supridas pelo instituto dos alimentos gravídicos; os princípios da

necessidade e possibilidade, aplicáveis também aos alimentos de que

trata a lei em estudo; também, o princípio da proporcionalidade de

recursos dispensados por cada um dos genitores; aspectos de

procedimento, como o prazo para defesa e conversão dos alimentos

gravídicos em alimentos regulares; e, por fim, expõe e explica os artigos da

Lei 11.804/08 que foram vetados.

A presente pesquisa encerrar-se-á com as

considerações finais, que serão verificados os problemas apresentados no

decorrer da pesquisa e conseqüentemente comparados com as hipóteses

mencionadas.

Esta investigação não possui o intuito de finalizar o

tema abordado, sendo tal pretensão impossível de ser realizada,

especialmente devido às interpretações doutrinárias divergentes, bem

como a modificação constante do direito e do fato social.

15 PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica.

4

Capítulo 1 DOS ALIMENTOS

1.1. CONCEITO DE ALIMENTOS

A categoria alimento, no senso comum, significa tudo

aquilo que o ser humano necessita consumir de modo que consiga

manter-se vivo e, assim, subsistir.

Segundo Buarque16 alimento “é toda substância que,

ingerida por um ser vivo, o alimenta ou nutre; é mantimento, sustento,

alimentação; aquilo que faz subsistir, conserva alguma coisa”.

Nas palavras de Aulete17, “em fisiologia, alimento é

toda substância que, introduzida no aparelho digestivo, deve servir para a

nutrição, tudo o que serve para conservar a existência”.

Conforme leciona Castro18:

Alimento, na acepção vulgar e comumente usada, significa

tudo aquilo que necessário à nutrição humana [e que em

sede de Direito, alimento abrange as coisas não só

imprescindíveis à satisfação das necessidades fisiológicas do

indivíduo, como também o que se prende à sua qualidade

de membro da agrupação humana, socialmente

organizada, e civilizada.

16 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o Dicionário da Língua Portuguesa, p. 99.

17 AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa, p. 162. 18 CASTRO, A. Mendes de Oliveira. Repertório enciclopédico do direito brasileiro, p. 199.

5

Quando trata-se de alimento na seara do Direito - e,

nesses casos, geralmente a expressão aparece no plural, alimentos -,

indica, segundo Buarque19: “(...) recursos considerados indispensáveis ao

sustento, que se devem aos parentes até certo grau, impossibilitados de os

prover, e entre os quais se incluem habitação, vestuário, assistência

médica, e, caso seja menor o alimentando, auxílio para sua educação e

instrução”.

Nas palavras de Acquaviva20:

Alimentos são importâncias em dinheiro ou prestações in

natura que uma pessoa, chamada de alimentante, se

obriga, por força da lei, a prestar a outra, chamada

alimentando. Os alimentos não se referem apenas à

subsistência, material, mas também à formação intelectual,

à educação, enfim.

Percebe-se, assim, que, quando trata-se de alimentos -

seja no significado comum da palavra ou no ramo do Direito – sempre

haverá a figura do alimentante - que é o que provê os meios de

subsistência – e a figura do alimentado – que é o que recebe o alimento.

Acerca do assunto bem leciona Venosa21:

O ser humano, desde o nascimento até sua morte, necessita

de amparo de seus semelhantes e de bens essenciais ou

necessários para a sobrevivência. Nesse aspecto, realça-se

a necessidade de alimentos. Desse modo, o termo

alimentos pode ser entendido, em sua conotação vulgar,

como tudo aquilo necessário para sua subsistência.

19 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o Dicionário da Língua Portuguesa, p. 99.

20 ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário básico de direito Acquaviva, p. 50. 2121 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família, p. 351.

6

Acrescentemos a essa noção o conceito de obrigação que

tem uma pessoa de fornecer esses alimentos a outra a

chegaremos facilmente à noção jurídica. No entanto, no

Direito, a compreensão do termo é mais ampla, pois a

palavra, além de abranger os alimentos propriamente ditos,

deve referir-se também à satisfação de outras necessidades

essenciais da vida em sociedade.

A este posicionamento, acrescenta Cahali22:

A palavra alimentos vem a significar tudo o que é

necessário para satisfazer aos reclamos da vida; são as

prestações com as quais podem ser satisfeitas as

necessidades vitais de quem não pode provê-las por si; mais

amplamente, é a contribuição periódica assegurada a

alguém, por um título de direito, para exigi-la de outrem,

como necessário à sua manutenção.

Almeida23 assevera que alimentos são, pois, as

prestações devidas, feitas para que quem as recebe possa subsistir, isto é,

manter sua existência, realizar o direito à vida, tanto física (sustento do

corpo) como intelectual e moral (cultivo e educação do espírito, do ser

racional).

Na mesma linha, Clóvis24 explica que “a palavra

alimentos tem, em Direito, uma acepção técnica, de mais larga extensão

do que na linguagem comum pois compreende tudo o que é necessário

à vida: sustento, habitação, roupa e tratamento de moléstias”.

22 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 16. 23 ALMEIDA, Estavem de. Direito de Família, p. 314. 24 BEVILÁQUA, Clóvis. Direito de Família, p. 535.

7

Lopes Costa25 defende que “alimentos é expressão

que compreende não só os gêneros alimentícios, os materiais necessários

a manter a dupla troca orgânica que constitui a vida vegetativa (cibaria),

como também habitação (habitatio), o vestuário (vestiarium), os remédios

(corporis curandi impedia)”.

O dever de alimentar e o direito de ser alimentado, por

ser de grande relevância social, atualmente, é regrado juridicamente na

grande maioria da sociedade.

A obrigação de alimentar, mais comumente deriva das

relações de parentesco, mas a incidência dos alimentos pode provir

também de temas ligados à previdência social e até mesmo ser

conseqüência da responsabilidade civil.

Os alimentos, portanto, devem ser entendidos como

coisa básica, recurso elementar, responsável a propiciar a manutenção

da vida, esta última considerada bem de maior grandeza, seja qual for a

escala, o parâmetro, a ciência através da qual se possa fazer sua

abordagem26.

1.2. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS ALIMENTOS

Para Venosa27 o ser humano “desde o seu nascimento

até a sua morte, necessita de amparo de seus semelhantes e de bens

especiais ou necessários para a sobrevivência”.

25 COSTA, Alfredo Araújo Lopes. Medidas preventivas, p. 110. 26 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 21.

27 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito de família. p. 371.

8

Cahali28 explica que a obrigação alimentar nas

relações familiares teve omissão durante o período republicano e arcaico,

pois é reflexo da constituição da família romana onde o poder familiar era

exercido pelo pai.

A época em que a obrigação alimentar foi inserida foi

no período justinianeu, sendo esta obrigação familiar recíproca entre

ascendentes e descendentes em linha reta ao infinito, conclui Cahali29.

Dias30 esclarece que:

O modo como a lei regula as elações familiares acaba

refletindo no tema alimentos. Em um princípio momento, o

poder familiar – com o nome pátrio poder – era exercido

pelo homem. Era o cabeça do casal, o chefe da sociedade

conjugal. Assim, era dele a obrigação de prover o sustento

da família, o que se convertia em obrigação alimentar

quando do rompimento do casamento.

Dias31 continua afirmando que com o nítido intuito de

proteger a família, o Código Civil de 1916, quando de sua edição, acabou

perpetrando uma das maiores atrocidades contra crianças e

adolescentes:

(...) simplesmente não permitia o reconhecimento dos filhos

ilegítimos, ou seja, os filhos havidos fora do casamento. Com

isso, não podiam eles buscar a própria identidade nem os

meios para prover a sua subsistência. Somente 30 anos após

foi permitido ao filho de homem casado promover, em

28 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 46. 29 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 44. 30 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 455. 31 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 455.

9

segredo de justiça, ação de investigação de paternidade,

apenas para buscar alimentos. Embora reconhecida a

paternidade, a relação de parentesco não era declarada,

o que só podia ocorrer depois de dissolvido o casamento do

genitor. Somente em 1989 é que foi admitido o

reconhecimento dos filhos “espúrios”, em face do princípio

da igualdade entre filhos, consagrado pela Constituição

Federal. (grifos no original)

Venosa32 explica que a legislação complementar, por

força das sensíveis transformações sociológicas da família, introduziu várias

nuanças na regulamentação do instituto. “Anote-se também, que há

interesse público nos alimentos, pois se os parentes não atenderem as

necessidades básicas do necessitado, haverá mais um problema social

que afetará os cofres da Administração”.

1.3. ESPÉCIES DE ALIMENTOS

São distintas as causas geradoras do direito a alimentos

e também são diversas as fontes de direito que as disciplinam, bem como

os procedimentos tomados para alcançar sua exigibilidade.

Essa pluralidade de tratamento e regramento leva em

conta a obrigação alimentar quando à sua natureza, sua causa jurídica,

sua finalidade e o momento de sua prestação33.

Atualmente, apesar de que múltiplas as fontes de

obrigação quando se trata do assunto alimentos, há uma forte tendência

à uniformização do procedimento no que concerne à exigibilidade de

alimentos.

32 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito de família, p. 373. 33 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 34.

10

São várias as fontes que criam a obrigação de prestar

alimentos. Tem-se, por exemplo, as pensões alimentícias provenientes da

responsabilidade civil, inclusive nos casos de responsabilidade objetiva; as

pensões advindas de acidente de trabalho, bem como as decorrentes de

benefícios previdenciários; as pensões resultantes de indenização por ato

ilícito e, ainda, a mais natural delas, que é a pensão em razão do

parentesco.

Seja qual for o fator que deu causa à obrigação

alimentar, todas guardam semelhanças no que diz respeito a fixação de

seu quantum e a obrigação periódica do alimentante.

Como já demonstrado, os alimentos “constituem uma

modalidade de assistência imposta por lei, de ministrar os recursos

necessários à subsistência, à conservação da vida, tanto física quanto

moral e social do indivíduo”34, sendo que compreende “tudo o que for

necessário ao sustento, à habitação, à roupa (vestimenta, calçado), ao

tratamento de moléstias e, se o alimentário for menor, todo o

indispensável às despesas de criação e educação”35.

Dessa forma, considerando que existem diversas formas

de prestações, classificam-se os alimentos a partir da observação de

critérios básicos para o compreensão de sua finalidade, quais sejam: a

finalidade, o momento da prestação e a modalidade da prestação.

34 GARCEZ FILHO, Martinho. Direito de Família, p. 209. 35 MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de Direito Privado, p. 207.

11

1.3.1. Quanto à natureza

A doutrina costuma distinguir os alimentos naturais ou

necessários, aqueles que possuem alcance limitado, compreendendo

estritamente o necessário para a subsistência; e os alimentos civis ou

côngruos, isto é, convenientes, que incluem os meios suficientes para a

satisfação de todas as outras necessidades básicas do alimentando,

segundo as possibilidades do obrigado36.

Segundo explica Cahali37:

Quando se pretende identificar como alimentos aquilo que

é estritamente necessário para a mantença da vida de

uma pessoa, compreendo tão-somente a alimentação, a

cura, o vestuário, a habitação, nos limites assim do

necessarium vitae, diz-se que são alimentos naturais;

todavia, se abrangentes de outras necessidades,

intelectuais e morais, inclusive recreação do beneficiário,

compreendendo assim o necessarium personae e fixados

segundo a qualidade do alimentando e os deveres da

pessoa obrigada, diz-se que são alimentos civis.

Nessa mesma esteira, é o entendimento de Herrera38,

com a ressalva da nomenclatura diversa - côngruos e necessários:

Por alimentos côngruos entende-se o dever de ministrar

comida, vestuário, habitação e demais recursos

econômicos necessários, tomando-se em consideração a

idade, a condição social e demais circunstâncias

pertinentes ao familiar em situação de necessidade; de

36 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família, p. 352. 37 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 18. 38 LOPES HERRERA, F. Derecho de Familia, p. 123.

12

modo diverso, os alimentos necessários, se bem que

igualmente compreensivos da comida, do vestuário, da

habitação, reclamados pelo alimentando, devem ser

calculados à base do mínimo indispensável para qualquer

pessoa sobreviver, sem tomar em consideração as

condições próprias do beneficiário.

Acerca do assunto, Cahali39 colheu da jurisprudência:

Segundo Espíndola, denominam-se alimentos, na linguagem

jurídica, os auxílios prestados a uma pessoa para prover às

necessidades da vida. Essa noção ampla consoa com a

clássica divisão de Lafayette entre alimentos naturais e civis;

naturais, diz o mestre, são os estritamente necessários para a

mantença da vida; civis os que são taxados segundo os

haveres e a qualidade das pessoas. Os alimentos agora

pleiteados pela autora inserem-se entre os civis, pois o que

ela deseja é dispor de suficiente provisão em dinheiro para

gastos pessoais ou seus alfinetes, como então dizia, segundo

a posição que ocupa na sociedade. Passeios e diversões

incluem-se ainda entre as mais exigentes necessidades da

vida atual. (TJSP, 3ª CC, 29.03.1979, RJTJSP 57/41)

E, no mesmo sentido:

A subsistência do ser humano não se constitui simplesmente

de alojamento e comida. As necessidades também se

medem pelo padrão possível de vida, a condição social da

alimentada e “segundo a faculdade do patrimônio”, na

expressão das Ordenaçoes. Por isso mesmo, Lafayete dividiu

os alimentos em naturais, os estritamente necessários para a

mantença da vida, e os civis, taxados segundo os haveres e

a qualidade das pessoas. A situação social da autora exige

que se lhe custeiem o lazer e outros bens de ordem cultural

ou de natureza voluptuária. Não importa, dessarte, que a

autora perceba o necessário para viver com decência.

(TJSP, 3ª CC, 01.04.1980, RJTJSP 67/32).

39 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 18.

13

1.3.1.1. Alimentos naturais ou côngruos

Como já explicitado, os alimentos naturais são os que

suprem as mais básicas necessidades do alimentando.

Nas palavras de Gastaldi Buzzi40 “são aqueles que se

referem às necessidades elementares do alimentando, ao básico à

mantença da vida da pessoa, observando os limites das carências

primárias”.

Complementa o mesmo autor, sobre o tema:

Atualmente, ainda que se admitam ressalvas a respeito, há

quem inclua também nesta modalidade de provimento, ou

seja, alimentos naturais, aqueles exclusivamente

indispensáveis à sobrevivência, eis que nos moldes do art.

1.694, par. 2º, do Código Civil, são devidos a bem daquele

considerado culpado pelo rompimento da vida em comum,

desde que não conte com parentes, rendimentos de bens

que possam lhe garantir a subsistência, ou aptidão para o

trabalho, conforme esclarece o parágrafo único do art.

1704, do mesmo atual diploma legal antes citado.

1.3.1.2. Alimentos civis ou necessários

Estes abrangem, além das necessidades básicas do

alimentando, as necessidades morais, intelectuais, culturais e de

recreação do alimentando, devendo-se sempre tentar manter a

condição social do alimentando, dentro da possibilidade da pessoa

obrigada.

40 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 34.

14

Segundo Bahena41 referem-se a outras necessidades,

“incluindo, entre elas o próprio estudo (art. 246, CP), abrangendo, dessa

forma, o necessário para a pessoa manter-se com dignidade, no meio da

sociedade da qual faz parte, mantendo o mesmo padrão de vida, o

mesmo status, que tinha antes da necessidade da propositura do pedido

de alimentos”.

1.3.2. Quanto à causa jurídica

Atualmente, o dever de alimentar é regulado por lei.

Assim, como destacado anteriormente, mesmo indivíduos que não

tenham qualquer elo de parentesco podem ser obrigados a prestar

alimentos.

Dessa forma, pode-se afirmar que a obrigação

alimentar tem sua fonte na lei - art. 1.724 do Código Civil - e resulta: da lei,

da vontade ou do delito.

1.3.2.1. Em razão da lei

Diz-se dos alimentos que resultam diretamente da lei

alimentos legítimos, e são aqueles devidos em razão de uma imposição

legal.

Segundo Cahali42:

Como legítimos, qualificam-se os alimentos devidos em

virtude de uma obrigação legal; no sistema do nosso direito, são aqueles

41 BAHENA, Marcos. Alimentos – concubinato – união estável, p. 32. 42 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 22.

15

que se devem por direito de sangue (ius sanguinis), por um vínculo de

parentesco ou relação de natureza familiar, ou em decorrência do

matrimônio; só os alimentos legítimos, assim chamados por derivarem ex

dispositione iuris, inserem-se no Direito de Família.

A respeito do assunto, acrescenta Buzzi43:

São alimentos oriundos do ius sanguinis, face às relações de

parentesco ou familiares (alimenta famílias), face ao dever

moral de amparo entre aqueles cuja união, íntima ou

prolongada, tenha-se originado parceria, companheirismo,

cumplicidade até, independentemente de eventuais

demonstrações públicas de afeto, da existência, ou não, de

prole, matrimônio, etc.

1.3.2.2. Em razão da vontade

Os alimentos convencionais ou voluntários são aqueles

devidos por força de uma declaração de vontade, inter vivos ou causa

mortis; resultantes ex dispositione hominis, também chamados

obrigacionais, ou prometidos ou deixados, prestam-se em razão de

contrato ou disposição de última vontade; pertencem, pelo que, ao

Direito das Obrigações ou ao Direito das Sucessões, onde se regulam os

negócios jurídicos que lhes servem de fundamento44.

1.3.2.3. Em razão do delito

Os alimentos devidos em razão de uma infração legal

ou do cometimento de um delito têm natureza indenizatória, não estando,

portanto, inseridos dentro das obrigações familiares.

43 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 39

44 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 22.

16

Expõe Oliveira que:

O direito de alimentos pode surgir em prol do beneficiário

sem que ele próprio tenha concorrido intencionalmente

para o resultado, podendo nascer tanto da atividade desta

como a atividade de terceiro. Nessa categoria se insere a

obrigação resultante do “ato ilícito”, que é devida por

alguém que cometeu o delito, tendo a prestação alimentar,

em tal caso, a natureza indenizatória.

Buzzi45 bem explica que:

(...) os alimentos indenizatórios, ou devidos em razão do

cometimento de algum delito ou infração legal, podem ser

estabelecidos voluntariamente, frente a acordo ou

disposição de vontade unilateral, ou em virtude de

imposição judicial, e assim, determinados em sentença,

quando, via de regra, é ordenada a constituição de um

capital, por parte do devedor, de modo que garanta,

quando possível, o pagamento futuro das prestações, caso

o alimentante venha a cair em estado de insolvência.

1.3.3. Quanto à finalidade

Quando à sua finalidade, os alimentos são classificados

como sendo provisórios - ou seja, aqueles estabelecidos no trâmite de

uma ação judicial -, ou regulares - que são os estabelecidos

definitivamente.

1.3.3.1. Alimentos provisionais

Podem ser também chamados de alimentos provisórios

e serão fixados em preliminar ou concomitantemente à ação principal.

45 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 40.

17

Estabelece Buzzi46 que são fixados, via de regra, “nas

hipóteses de ação de separação, divórcio, anulação de casamento, ou

mesmo, no caso da própria ação de alimentos. São fixados

provisoriamente, destinando-se à manutenção do requerente, bem como

para fazer frente aos gastos com a própria ação que visa estabelecer a

obrigação alimentar”.

Venosa destaca que:

(...) denominam-se alimentos provisionais ou provisórios

aqueles que precedem ou são concomitantes a uma

demanda de separação judicial, divórcio, nulidade ou

anulação de casamento, ou mesmo ação de alimentos.

Sua finalidade é propiciar meios para que a ação seja

proposta e prover a mantença do alimentando e seus

dependentes durante o curso do processo.

Embora já esteja aceito, atualmente, a equivalência

de significados entre alimentos provisionais e provisórios, parte da doutrina

ainda os diferencia.

Maria Helena Diniz47, por exemplo, defende que:

(...) alimentos provisionais ou acautelatórios, se concedidos

concomitantemente ou antes da ação de separação

judicial, de nulidade ou anulação de casamento ou de

alimentos, para manter o suplicante ou sua prole na

pendência da lide, tendo, portanto, natureza antecipatória

ou cautelar; alimentos provisórios, se fixados

incidentalmente no curso de um processo de cognição ou

liminarmente em despacho inicial, em ação de alimentos,

46 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 41.

47 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 435.

18

de rito especial, após prova do parentesco, casamento, ou

união estável. Tem natureza antecipatória.

1.3.3.2. Alimentos regulares

Denominam-se regulares, ou definitivos, os alimentos

fixados pela vontade dos interessados ou das partes, mediante ato

unilateral ou através de acordo, bem como por decisão judicial, com

prestações periódicas de caráter permanente, admitindo revisão. São,

assim, os alimentos estabelecidos ao final das tratativas, ou ao final da

ação judicial, com ânimo definitivo, portanto48.

Conforme leciona Diniz49 “alimentos regulares ou

definitivos, se estabelecidos pelo magistrado ou pelas partes (no caso de

separação judicial consensual), com prestações periódicas de caráter

permanente, embora sujeitos à revisão”.

Nas palavras de Venosa50 “são regulares ou definitivos

os alimentos estabelecidos como pensão periódica, ainda que sempre

sujeitos à revisão judicial”.

E de Cahali51 “dizem-se regulares, ou definitivos,

aqueles estabelecidos pelo juiz ou mediante acordo das próprias partes,

com prestações periódicas, de caráter permanente, ainda que sujeitos a

eventual revisão”.

48 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 42.

49 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 435. 50 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família, p. 357. 51 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 27.

19

1.3.4. Quanto ao momento da prestação

Há dois momentos para a prestação dos alimentos. Por

vezes, prestam-se através de decisão judicial ou acordo homologado, por

outros são prestados anteriormente a este momento.

Para Gastaldi Buzzi52 “esta classificação, em alimentos

futuros ou pretéritos, tem significação ou relevância, quando se pretende

determinar o termo a quo a contar do qual os alimentos passam a ser

exigíveis e, assim, se são devidos desde a sua fixação, isto é, do

estabelecimento para o futuro, ou se englobam termo já passado”.

1.3.4.1. Alimentos futuros

Classificam-se como alimentos futuros aqueles que

derivam de uma decisão judicial ou um acordo.

Conforme Cahali53 “alimenta futura são os alimentos

que se prestam em virtude de decisão judicial ou de acordo, e a partir

dela”.

E, na mesma esteira, afirma Buzzi54 “alimentos futuros

são os devidos a contar do estabelecimento deles em acordo, ou

determinação judicial, a partir de tais marcos”.

52 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 42.

53 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 27. 54 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 42.

20

1.3.4.2. Alimentos pretéritos

Enquadram-se nesta modalidade aqueles alimentos

estabelecidos antes de formulação de acordo ou proferimento de

decisão judicial.

Nas palavras de Cahali55 “alimenta praeterita são as

anteriores a qualquer desses momentos (decisão judicial ou acordo)”.

E de Gastaldi Buzzi56 “alimentos pretéritos são aqueles

estabelecidos em momento anterior ao acordo de vontades ou à

determinação judicial”.

1.3.5. Quanto à modalidade da prestação

Neste campo, evidenciam-se duas modalidades de

prestação alimentar: a obrigação alimentar própria e a imprópria.

Obrigação alimentar própria é aquela que engloba

tudo o que é diretamente necessário à manutenção da pessoa.

Já a imprópria é aquela que tem como conteúdo o

fornecimento dos meios idôneos à aquisição de bens necessários à

subsistência57.

Melhor explica Gastaldi Buzzi58 “a obrigação alimentar

imprópria trata da obrigação alimentar cumprida mediante a prestação

55 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 27. 56 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 42.

57 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 28.

21

dos meios indispensáveis a que o alimentando possa satisfazer suas

necessidades, inclusive, se for o caso, o direito a garantia do crédito

pertinente à pensão, respaldado pelo patrimônio do alimentante”.

E, acerca do assunto, complementa Fachin:

pode-se afirmar que o humanismo e solidariedade

constituem a base da assistência entre cônjuges e

conviventes que, como visto, serviram de lastro desta

instituição [os alimentos] tanto ao advento da sua fundação

originária, ainda antes do pater famílias, como ao

ressurgimento, agora, das cinzas, tal qual fênix, para, outra

vez, alicerçar o estabelecimento da obrigação alimentar,

resgatando-se as bases humanísticas da formação moral

que a sociedade tecnológica de consumo não obteve

sepultar; restando, no dever alimentar “o compromisso

sócio-afetivo.

Concluída a parte dos alimentos, trazendo aspectos

destacados acerca dos mesmos, passar-se-á ao próximo capítulo, que

tratará acerca do instituto da obrigação alimentar.

58 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 43.

22

Capítulo 2

DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

2.1. NATUREZA DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

O dever de prestar alimentos deve imperar entre

membros da família, sejam parentes consangüíneos ou por afinidade. Para

tanto, há um dever legal de assistência familiar.

Segundo Rizzardo59:

As razoes que obrigam a sustentar os parentes e a dar

assistência ao cônjuge transcendem as simples justificativas

morais ou sentimentais, encontrando sua origem no próprio

direito natural. É inata na pessoa a inclinação, como que

fazendo parte de nossa natureza, e se manifestando como

uma necessidade. Todo ser humano sente

espontaneamente a tendência não só em procriar, mas

sobretudo em produzir, amparar, desenvolver, proteger, dar

e doar-se.

Dito isto, destaca-se que a obrigação alimentar funda-

se sobre o princípio de preservação da vida humana. Motivo pelo qual o

Estado oferece uma estrutura própria para assegurá-la.

Assim, os instrumentos legais que disciplinam este

direito, e os meios específicos reservados para a sua consecução,

revestem de um caráter publicístico a obrigação alimentar60.

59 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família, p. 717. 60 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família, p. 718.

23

Acerca do tema, complementa Rizzardo61: “o Estado

tem interesse na fiel observância das normas que tratam da matéria, e

oferece meios capazes e eficazes para o seu cumprimento, como o

desconto em folha de pagamento, ou a prisão do devedor contumaz. Há

um interesse público familiar”.

Para Cahali62:

Por essa razão, orienta-se a doutrina no sentido de

reconhecer o caráter de ordem pública nas normas

disciplinadoras da obrigação legal de alimentos, no

pressuposto de que elas concernem não apenas aos

interesses privados do credor, mas igualmente ao interesse

geral; assim, sem prejuízo de seu acentuado conteúdo

moral, a dívida alimentar veramente interest reu publicae;

embora sendo o crédito alimentar ligado à pessoa, sua

conservação e sobrevivência, como direitos inerentes à

personalidade, normas de ordem pública, ainda que

impostas por motivo da humanidade, de piedade ou

solidariedade, pois resultam do vínculo de família, que o

legislador considera essencial preservar.

Pelo fato de ser a ação de alimentos uma ação de

estado, por vezes, afasta-se o interesse particular e a disponibilidade

acerca da forma e da manutenção dos alimentos.

Pereira63 afirma que a ação de alimentos:

É uma ação de estado. Com efeito, as ações relativas ao

estado das pessoas são aquelas que ao mesmo tempo se

referem, diretamente, ou dele dependem ou derivam, ou,

61 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família, p. 718. 62 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 20. 63 PEREIRA, Sergio Gischkow. Ação de alimento, p. 43.

24

ainda, são aquelas que se relacionam com o estado das

pessoas. Nesse sentido, a ação de alimentos se relaciona

com o estado das pessoas – estado de família – e isso

porque o deferimento dos alimentos importa reconhecer tal

estado. É uma ação fundada no estado das pessoas.

2.2. FONTES DE OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

Na sua função ou finalidade, os alimentos visam

assegurar ao necessitado aquilo que é preciso para a sua manutenção,

entendida esta em sentido amplo, propiciando-lhe meios de subsistência,

se o mesmo não tem de onde tirá-los ou se encontra impossibilitado de

produzi-los64.

Sob esse prisma, estabelece o art. 1694 do Código Civil:

Art. 1694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros

pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para

viver de modo compatível com a sua condição social,

inclusive para atender às necessidades de sua educação.

§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das

necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa

obrigada.

§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à

subsistência, quando a situação de necessidade resultar de

culpa de quem os pleiteia.

Verifica-se, desta forma, que impõe-se a uma pessoa o

dever de prestar alimentos à outra para sua mantença, podendo

abranger, inclusive, as despesas com educação, saúde, lazer, entre

outras.

64 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 38.

25

Segundo Rizzardo65, “sem dúvida, cuida-se de um

instituto básico no direito de família, considerado de ordem pública e

protegido de modo especial pelo Estado, em razão do destaque que

ocupa o grupo familiar dentro do ordenamento jurídico de qualquer

sistema político”.

Bittar66 destaca que relacionada ao direito à vida e no

aspecto de subsistência, a obrigação alimentar:

(...) é um dos principais efeitos que decorrem da relação do

parentesco. Trata-se de dever, imposto por lei aos parentes,

de auxiliar-se mutuamente em necessidades derivadas de

contingências desfavoráveis da existência. Fundada na

moral (idéia de solidariedade familiar) e oriunda da

esquematização romana (no denominado officium pietatis),

a obrigação alimentar interliga parentes necessitados e

capacitados na satisfação de exigências mínimas de

subsistência digna, incluindo-se, em seu contexto, não só

filhos, mas também pessoas outras do círculo familiar.

Integra, portanto, as relações de parentesco em geral,

incluída a de filiação, havida ou não se casamento, e tanto

sob o aspecto natural, ou biológico, como civil (famílias

natural e substitutiva, Lei no 8.069/90, arts, 25 e segs, e 28 e

segs).

Nogueira67 estabelece que a dívida de alimentos

provém de várias fontes, quais sejam: “i) a do parentesco); ii) a do

casamento; iii) a do ato ilícito, em que o causador do dano fica obrigado

a pensionar a vítima; iv) a do contrato entre concubinos com a obrigação

alimentar em escritura pública”.

65 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família, p. 713. 66 BITTAR, Carlos Alberto. Direito de Família, p. 252. 67 NOGUEIRA, Paulo Lúcio Nogueira. Lei de Alimentos comentada, p. 28.

26

Como já analisado, Cahali68 aponta diversas espécies:

i) Quanto à natureza: naturais e civis;

ii) Quanto à causa jurídica: a lei, a vontade, o delito;

iii) Quanto à finalidade: provisionais e regulares;

iv) Quanto ao momento da prestação: futura e pretérita;

v) Quanto às modalidades: própria e imprópria.

Assim, considerando a classificação de Cahali, segue a

análise das fontes de obrigação alimentar provenientes da lei, da vontade

e do delito.

2.2.1. Obrigação alimentar decorrente da lei

A obrigação alimentar decorrente da lei está

diretamente ligada ao direito de família.

Nessa espécie de obrigação alimentar, os alimentos

são devidos em razão de vínculo familiar - parentesco -, a, ainda em razão

do casamento ou da união estável.

Segundo afirma Monteiro69 “a obrigação alimentar é

de natureza legal, a cargo das pessoas expressamente designadas, de tal

forma que se deve ter a sua indicação por taxativa e não enunciativa”.

São diversos os diplomas legais que trazem a

obrigação alimentar desta natureza. Senão vejamos:

A constituição Federal traz, em seu art. 229:

68 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 18. 69 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: direito de família, p. 292.

27

Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os

filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e

amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

A redação do parágrafo 6º do art. 227 da Constituição

Federal estabelece a igualdade entre os filhos:

Art. 227. (...)

§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento,

ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,

proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à

filiação.

O Código Civil dispõe que podem os parentes,

cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos que

necessitem (art. 1.694, CC).

Do mesmo diploma legal, extrai-se, ainda:

Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os

pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo

seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se

reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário

ao seu sustento.

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco

entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes,

recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em

falta de outros.

Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos

descendentes, guardada a ordem de sucessão e, faltando

estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro

lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o

encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato;

28

sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas

devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e,

intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser

chamadas a integrar a lide.

Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na

situação financeira de quem os supre, ou na de quem os

recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as

circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do

encargo.

Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos

herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694.

Tem-se, assim, que as pessoas obrigadas a prestar

alimentos em razão do parentesco e, por ordem de preferência, são: a)

pais e filhos, reciprocamente; b) na falta desses, os ascendentes mais

próximos; c) os descentes mais próximos, excluído o direito de

representação; d) os irmãos, unilaterais ou bilaterais.

Além disso, o Código Civil estabelece a obrigação

alimentar entre os cônjuges:

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:

III - mútua assistência.

Destaca-se, nesse ínterim, que a lei 9.278/96 estendeu

aos companheiros (oriundos a união estável e do concubinato puro o

dever de mútua assistência, pelo que, estão também obrigados a prestar

alimentos.

O estatuto da criança e do adolescente, Lei 8.069 de

13 de julho de 1990, dispõe que:

29

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e

educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no

interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as

determinações judiciais.

A lei do divórcio, por sua vez, fala sobre a obrigação

alimentar dos pais para com os filhos e, também, entre os próprios

cônjuges:

Art. 19. O cônjuge responsável pela separação judicial

prestará ao outro, se dela necessitar, a pensão que o juiz

fixar.

Art. 20. Para manutenção dos filhos, os cônjuges, separados

judicialmente, contribuirão na proporção de seus recursos.

2.2.2. Obrigação alimentar decorrente da vontade

A obrigação alimentar pode decorrer da vontade das

partes, e pode ser manifestada através de contrato ou testamento.

Bem leciona Brum70 que: “a atividade humana, como

causa da obrigação, resulta de atos voluntários ou de fatos jurídicos,

elencando-os como inter vivos e causa mortis, regidos pelo Direito das

obrigações e pelo direito das sucessões”.

Para Cahali71:

Voluntários são os que se constituem em decorrência de

uma declaracao de vontade, inter vivos ou causa mortis.

[...] A aquisição do direito resulta de ato voluntário sempre

que os sujeitos pretendem a criação de uma pretensão

70 BRUM, Jader Maurício. Comentários à lei de alimentos, p. 29. 71 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 22.

30

alimentícia; a obrigação assim estatuída pode sê-lo a

benefício do próprio sujeito da relação jurídica ou a

benefício de terceiro; se se pretendeu a constituição de um

direito de alimentos em favor de terceiro, o ato jurídico

toma a forma de ato jurídico a título gratuito quanto àquele

que instituiu o benefício, com a outra parte assumindo o

encargo de prestar alimentos ao terceiro necessitado, a

qual se obrigou a socorrer; se, ao contrário, mediante ato

jurídico, o necessitado visou constituir para si um direito

alimentar, o ato jurídico, criador da obrigação de prestar,

assume o caráter de ato jurídico oneroso.

No que diz respeito aos atos voluntários causa mortis, o

Código Civil dispõe em seus artigos:

Art. 1.920. O legado de alimentos abrange o sustento, a

cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além

da educação, se ele for menor.

Art. 1.921. O legado de usufruto, sem fixação de tempo,

entende-se deixado ao legatário por toda a sua vida.

Art. 1.922. Se aquele que legar um imóvel lhe ajuntar depois

novas aquisições, estas, ainda que contíguas, não se

compreendem no legado, salvo expressa declaração em

contrário do testador.

Parágrafo único. Não se aplica o disposto neste artigo às

benfeitorias necessárias, úteis ou voluptuárias feitas no

prédio legado.”

Gastaldi Buzzi72 afirma que “o direito de alimentos pode

surgir em benefício do necessitado, tanto mediante sua atuação quanto

em razão da atividade de terceiro, sem que tenham buscado tal

finalidade; nesta categoria, estariam incluídas a obrigação do donatário e

a obrigação resultante do ato ilícito.”

72 BUZZI, Marco Aurélio Gastaldi. Alimentos Transitórios: uma obrigação por tempo certo, p. 51.

31

Orlando Gomes73 registra que na obrigação

convencional, mediante negócio jurídico bilateral “a obrigação tanto

pode ser objeto principal do contrato, como resultar de uma exigência

legal quanto ao comportamento superveniente de uma das partes em

relação à outra; esta última hipótese configura-se no contrato de doação

(...).

E conclui:

(...) o donatário, não sendo a obrigação remuneratória, é

obrigado a prestar ao doador os alimentos de que este

venha a necessitar, pois, se não cumprir esta obrigação,

dará motivo à revogação da doação por ingratidão, a

menos que não esteja em condições de os ministrar (art.

1.183, IV, CC, art, 577); entende-se que, embora a lei não

estatua expressamente a obrigação do donatário de

prestar alimentos ao doador, a referência indireta pela

inclusão da recusa injustificada entre as causas de

revogação da doação deve ser interpretada no sentido de

que tal obrigação existe independente de ter sido

estipulada no contrato ou resultar de vínculo familiar; tratar-

se-ia, em suma, de cláusula implícita de todo contrato de

doação74.

2.2.3. Obrigação alimentar decorrente do ato ilícito

A obrigação alimentar que decorre da prática de um

ato ilícito representa uma forma de indenização do dano ex delicto.

Dispõe o art. 948, II do Código Civil:

73 GOMES, Orlando. Direito de Família, p. 324. 74 GOMES, Orlando. Direito de Família, p. 324.

32

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem

excluir outras reparações:

(...)

II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os

devia, levando-se em conta a duração provável da vida da

vítima.

Cahali75 afirma que:

Tem-se pretendido que, distintas as causas geradoras do

direito de alimentos, igualmente o seriam as obrigações de

distintas causas, seja na sua estrutura interna, seja na sua

disciplina jurídica, impossibilitando desse modo uma

regulamentação unitária para todas; e, se repelindo, assim,

a pacificação dos princípios aplicáveis às modalidades ora

consideradas, regulando-se cada uma delas segundo

normas específicas.

Neste campo, mais que em qualquer outro, se não se

reconhece a existência de uma disciplina unitária para as obrigações

alimentares resultantes de diversas causas (o que, efetivamente, mostra-se

inviável), admite-se, pelo menos, uma certa migração normativa entre os

vários ramos do direito, com fulcro na analogia justificada pela unicidade

na destinação do benefício.

E complementa:

Em realidade, embora haja consenso na doutrina e na

jurisprudência no sentido de que a “pensão de alimentos”,

mencionada no art. 948, II do Código Civil, serve apenas

como referencial ou parâmetro na fixação do dano

indenizatório decorrente do ato ilícito, não se confundindo

com os alimentos do Direito de Família, é certo que alguns

dos pontos de semelhança ou de divergência têm sido

anotados pelos tribunais.

75 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 23-25.

33

Sobre o tema, explica Silvio Rodrigues76:

A prestação de alimentos pode advir de ato ilícito. É o que

ocorre na hipótese em que o causador do dano fica

obrigado a pensionar a vítima. Exemplo característico é o

do art. 948, II do Código Civil, que sujeita o autor do

homicídio a prestar alimentos às pessoas a quem o defunto

os devia.

É óbvio que não se trata de alimentos devidos por força do

parentesco. Entretanto, a jurisprudência, de forma

torrencial, e considerando dívida de valor a decorrente da

responsabilidade civil, tem ordenado seu reajuste, em

correspondência com a desvalorização monetária.

2.3. CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

2.3.1. Direito personalíssimo

Segundo Diniz77 “O direito à prestação alimentícia é

um direito personalíssimo por ter por escopo tutelar a integridade física do

indivíduo, logo, sua titularidade não passa a outrem”.

Afirma Gomes78

Que é direito personalíssimo, eis que, visando

exclusivamente preservar a vida do indivíduo e as

condições de dignidade inerentes, os alimentos devem ser

considerados um direito pessoal, no sentido de que a sua

titularidade não pode ser transferida a outrem, vez que não

há qualquer sentido em que tal coisa possa ocorrer, seja em

razão de negócio ou de fato jurídico.

76 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil – direito de família, p. 421. 77 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 502. 78 GOMES, Orlando. Direito de Família, p. 328.

34

2.3.2. Direito Irrenunciável

Dispõe o art. 1.707 do Código Civil:

Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém, lhe é vedado

renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito

insuscetível de cessão, compensação ou penhora.

Acerca do assunto registra Dantas79 como não se pode

renunciar à própria vida, “também não se pode renunciar ao direito aos

alimentos, uma decorrência lógica do que, embora se recusando hoje

uma prestação alimentar e outra amanhã, sempre se está em condições

de, a qualquer momento, retornar o exercício do direito de exigir alimentos

dos parentes que os devem”.

E Diniz80 afirma que “é irrenunciável, uma vez que o

Código Civil, art, 1.707, primeira parte, permite que se deixe de exercer,

mas não que se renuncie o direito de alimentos. Pode-se renunciar o

exercício e não o direito; assim, o necessitado pode deixar de pedir

alimentos, mas não renunciar a esse direito”.

2.3.3. Direito Irrestituível

Explica Venosa81 que:

Não há direito à repetição dos alimentos pagos, tanto os

provisionais como os definitivos. Desse modo, o pagamento

dos alimentos é sempre bom e perfeito, ainda que recurso

venha a modificar decisão anterior, suprimindo-os ou

79 DANTAS, San Tiago. Direitos de Família e das Sucessões, p. 332. 80 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 503. 81 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Famílias. 360.

35

reduzindo seu montante. No entanto, como sempre, toda

afirmação peremptória em direito é perigosa: nos casos

patológicos, com pagamento feitos com evidente erro

quanto à pessoa, por exemplo, é evidente que o solvens

terá direito à restituição.

2.3.4. Direito incompensável

O Código Civil dispõe expressamente que as

obrigações alimentares não se compensam (art. 373, II).

Segundo Venosa82

Tendo em vista a finalidade dos alimentos, qual seja a

subsistência do necessitado, a eventual compensação dos

alimentos com outra obrigação anularia esse desiderato,

lançando o alimentando no infortúnio. Temos entendido,

contudo, que se admite compensação com prestações de

alimentos pagas a mais, tanto para os provisórios, como

para os definitivos.

E, ainda, leciona Diniz83: “se se admitisse a extinção da

obrigação por meio de compensação, privar-se-ia o alimentando dos

meios de sobrevivência, de modo que, nessas condições, se o devedor da

pensão alimentícia tornar-se credor do alimentando, não poderá opor-lhe

o crédito, quando lhe for exigida a obrigação”.

2.3.5. Direito impenhorável

Nas palavras de Cahali84:

82 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família, p. 361. 83 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, p. 504. 84 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 101-102.

36

Tratando-se de direito personalíssimo, destinado o respectivo

crédito à subsistência da pessoa alimentada, que não

dispõe de recursos para viver, nem pode prover às suas

necessidades pelo próprio trabalho, não se compreende

possam ser as prestações alimentícias penhoradas;

inadmissível, assim, que qualquer credor do alimentando

possa privá-lo do que é estritamente necessário à sua

subsistência.

Importante ressaltar que a impenhorabilidade não

atinge aos frutos.

2.3.6. Direito intransmissível

Arnaldo Rizzardo85 ensina que “não se transmitem

alimentos. Com a morte, extingue-se a obrigação, sem qualquer direito de

sucessores”.

E ilustra com um exemplo de Oliveira e Muniz “A

recebe de seu pai, B, pensão alimentar. A tem um filho C, incapaz de

manter-se por si mesmo e que vive em sua companhia. A morre. O direito

a alimentos não se transmite a C. C só pode pedir alimentos ao seu avô

em nome pessoal, desde que reunidas as condições da lei. Trata-se, assim,

de um novo crédito alimentar”.

No mesmo sentido é o posicionamento de Cahali86:

Ainda que em princípio os herdeiros sucedem nos direitos do

de cujus, a obrigação alimentar se extingue com a morte

do credor de alimentos, não podendo seus herdeiros, nessa

quantidade, demandar do primitivo devedor a

85 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família, p. 723. 86 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 52-53.

37

continuidade da prestação alimentar; se os herdeiros do

falecido forem igualmente necessitados, poderão reclamar

alimentos apenas como parentes da pessoa que seja

obrigada, invocando um direito próprio, originário, se o

tiverem, e não como sucessores daquele.

2.3.7. Direito Imprescritível

Segundo reza o art. 206, parágrafo 2º do Código Civil,

as prestações alimentícias prescrevem em dois anos. O direito a alimentos,

entretanto, é imprescritível.

Segundo Venosa87:

A qualquer momento, na vida da pessoa, pode esta vir a

necessitar de alimentos. A necessidade do momento rege o

instituto e faz nascer o direito à ação (actio nata). Não se

subordina, portanto, a um prazo de propositura, no entanto,

uma vez fixado judicialmente o quantum, a partir de então

inicia-se o lapso prescricional. A prescrição atinge

paulatinamente cada prestação, à medida que cada uma

delas vai atingindo o biênio.

2.3.8. Direito não transacionável

Bem explica Venosa88 que “assim como não se admite

renúncia ao direito de alimentos, também não se admite transação. O

quantum dos alimentos já devidos pode ser transigido, pois se trata de

direito disponível. O direito, em si, não o é. O caráter personalíssimo desse

direito afasta a transação”.

87 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família, p. 361. 88 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família, p. 361.

38

E na mesma esteira, Diniz leciona “não pode ser objeto

de transação o direito de pedir alimentos (CC, art. 841), mas o quantum

das prestações vencidas ou vincendas é transacionável”.

2.3.9. Direito variável

A pensão alimentícia é variável, segundo as

circunstâncias dos envolvidos à época do pagamento.

Para Rizzardo89 a pensão alimentícia é variável:

(...) segundo as circunstâncias vigentes à época do

pagamento. A situação econômica das pessoas modifica-

se facilmente, ora aumentando os rendimentos

econômicos, ora diminuindo. As necessidades também não

permanecem estáticas. Crescem quando o filho avança

nos estudos, ou quando o alimentando, por fatores alheios à

sua vontade, deixa de exercer atividade lucrativa. Mesmo

as doenças, as crises econômicas que se abatem em

determinadas ocasiões, a inflação, a retração de

empregos, refletem profundamente sobre as condições

econômicas do alimentante e do alimentado.

2.3.9. Direito periódico

Leciona Venosa90 que:

O pagamento da obrigação alimentícia deve ser periódico,

pois assim se atende à necessidade de se prover a

subsistência. Geralmente, cuida-se de prestação mensal,

mas outros períodos podem ser fixados. Porém não se

admite que um valor único seja pago, nem que o período

89 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família, p. 729. 90 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família, p. 361.

39

seja longo, anula ou semestral, porque isso não se coaduna

com a natureza da obrigação. O pagamento único poderia

ocasionar novamente a penúria do alimentando, que não

tivesse condições de administrar o numerário.

2.3.10. Direito divisível

Dispõe o art. 1.698 do Código Civil:

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro

lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o

encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato;

sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas

devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e,

intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser

chamadas a integrar a lide.

Sobre o tema, afirma Rizzardo91:

A obrigação alimentar, justamente em face da inexistência

da solidariedade, apresenta-se divisível por ser possível o seu

pagamento por vários parentes a uma só pessoa, fixando-se

a quota de cada obrigação proporcionalmente à

respectiva capacidade econômica. Estabelece-se uma

pluralidade de devedores, ou seja, “quando várias pessoas

estão obrigadas a pagar alimentos a um mesmo indivíduo.

Verifica-se, assim, que vários parentes podem contribuir

com uma quota para alimentos, de acordo com sua capacidade

econômica, sem que ocorra solidariedade entre eles92.

91 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família, p. 734. 92 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família, p. 362.

40

2.4. SUJEITOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

O direito à prestação de alimentos, no âmbito do

direito de família, é recíproco entre os parentes elencados na legislação.

A doutrina é pacífica ao elencar os obrigados a prestar

alimentos e também os que os podem reclamar.

Assim, nas palavras de Rodrigues93:

São chamados a prestar alimentos, em primeiro lugar, os

parentes em linha reta, recaindo a obrigação nos mais

próximos em grau, uns em falta dos outros. Assim, se por

causa de idade ou moléstia, a pessoa não pode prover a

sua subsistência, deve reclamar alimentos de seu pai, ou de

seus filhos. A estes, desde que os possam, incumbe fornecer

alimentos, ainda que haja netos, ou bisnetos, com recursos

muito mais amplos. Só não havendo filhos é que são

chamados os netos a prestar alimentos, e assim por diante,

porque a existência de parentes mais próximos exclui os

mais remotos da obrigação alimentícia.

Não havendo parentes em linha reta, são chamados a

prestar alimentos os irmãos, tanto unilaterais como

germanos. Observe-se, desde logo, que o legislador não

chama os colaterais além do segundo grau para prestar

alimentos, embora defira a sucessão legítima aos colaterais

até o quarto grau.

Vencidas tais questões, entende-se que até pouco

tempo, o direito a alimentos ao nascituro era bastante controvertido,

entretanto, com a edição e vigência da Lei 11.804 de 5 de novembro de

2008, o tema passou a ter abordagem diferente, conforme será abordado

no próximo capítulo. 93 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil – direito de família, p. 422-423.

41

Capítulo 3

ALIMENTOS GRAVÍDICOS:

Aspectos destacados da Lei 11.804/2008

3.1. O NASCITURO: ASPECTOS DESTACADOS

A personalidade civil da pessoa começa do

nascimento com vida, conforme dispõe o art. 2º do Código Civil:

Art. 2. A personalidade civil da pessoa começa do

nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a

concepção, os direitos do nascituro.

Da redação deste dispositivo legal extrai-se que o

marco inicial da personalidade é o nascimento com vida, entretanto, os

direitos do nascituro ficam resguardados desde a concepção.

Para Ferreira94 a concepção “é o ato ou o efeito de

conceber ou de gerar (no útero); geração”.

A concepção (ou fecundação) é o início da gravidez,

quando um óvulo é fertilizado por um espermatozóide95.

Segundo a Enciclopédia Barsa96 a fecundação se dá

da seguinte maneira:

94 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o Dicionário da Língua Portuguesa, p. 519.

95 Disponível em: http://www.msd-brazil.com/msd43/m_manual/mm_sec22_243.htm. 96 Nova enciclopédia Barsa. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações. V. 18. 200. P. 94/95.

42

A união do óvulo, ou célula sexual feminina, com o

espermatozóide, que é a célula sexual masculina, constitui a

fecundação. O sêmen, líquido que contém uma

concentração de espermatozóides, deposita-se no fundo

da vagina, ao redor do colo uterino. As células masculinas

passam através da cavidade do útero, chegam à trompa

de falópio e alcançam o óvulo na parte mais afastada do

corpo uterino. O primeiro espermatozóide que penetra no

óvulo desencadeia uma reação que impede a entrada de

outros. Ao se unirem, óvulo e espermatozóide fundem seus

cromossomos (estruturas situadas no núcleo celular que

contém os genes, ou unidades genéticas transmissoras da

herança). De tal fusão surge o ovo ou zigoto. Assim, no

momento mesmo da fecundação, são determinados o sexo

e as características particulares do indivíduo.

Para o direito, portanto, os direitos do nascituro já ficam

resguardados desde este momento. Dizia-se, entretanto, que o nascituro

tinha direitos em estado potencial, já que estava sempre sob a condição

suspensiva nascimento com vida para dar eficácia a tais direitos. Até

pouco tempo, como será verificado, havia uma grande discussão acerca

deste assunto.

Alves97 defendia que o nascituro é o que irá nascer:

(...) em outras palavras, o feto durante a gestação; não é

ele ser humano - não preenche ainda o primeiro dos

requisitos necessários à existência do homem, isto é, o

nascimento; mas, desde a concepção, já é protegido; no

terreno patrimonial, a ordem jurídica, embora não

reconheça no nascituro um sujeito de direitos, leva em

consideração o fato de que, futuramente, o será e, por isso,

protege, antecipadamente, direitos que ele virá a ter

quando for pessoa física.

97 ALVES, José Carlos Moreira. Direito romano, p. 533.

43

Sobre o disposto no art. 2º do Código Civil, o Senador

Nelson Carneiro apresentou proposta de emenda, criando um artigo nos

seguintes termos: “A mulher grávida, sem meios de prover seu sustento,

poderá requerer ao pai do nascituro, concebido fora do casamento, o

necessário à própria subsistência, durante os seis meses anteriores e

posteriores ao parto.”

Contudo, o parecer sobre este artigo teve resposta

negativa:

Alega a justificação que dispositivo semelhante figurava na

legislação portuguesa de 1910, e que a prestação, no caso,

não é devida ao filho, mas à sua genitora. É temerário

estabelecer obrigação desta índole, na incerteza dos fatos

e da responsabilidade pretendida. Como salientado na

emenda anterior, o Projeto já prevê garantia de recursos

aos cônjuges separados e necessitados. Sobre a união

estável, emenda do relator inclui dever de assistência98.

Pontes de Miranda99 pretendia que a obrigação de

alimentos pode começar antes do nascimento e depois da concepção

“pois, antes de nascer, existem despesas que tecnicamente se destinam à

proteção do concebido e o direito seria inferior à vida se acaso recusasse

atendimento a tais relações inter-humanas, solidamente fundadas em

exigências de pediatria”.

Outro caso, em que o nascituro pode figurar como

autor na ação de alimentos, é aquele que se depreende do art. 1.537, II

da lei civil brasileira100, explica Pontes de Miranda101:

98 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos, p. 533. 99 MIRANDA. F. C. Pontes de. Tratado de direito privado,p. 215. 100 Código Civil de 1916.

44

(...) onde se estabelece que a indenização por homicídio

consiste não só no pagamento das despesas com o

tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família, como

também na “prestação de alimentos às pessoas a que o

defunto os devia”. No CC alemão, parágrafo 844,

explicitamente se diz que a obrigação de reparar também

cabe quando o terceiro, ao tempo da concepção, estava

concebido, porém ainda não nascido. O legislador alemão

procurou extrair das relações sociais (jurídicas, na espécie) a

regra, que se inseriu como última alínea do parágrafo 844. O

princípio da identidade do método científico aponta-nos o

mesmo caminho; e diante das relações que no Brasil

surgiam com o art. 4º havemos de chegar aos mesmos

resultados. Durante a gestação, pode ser preciso à vida do

feto e à vida do ente humano após o nascimento outra

alimentação e medicação. Tais cuidados não interessam à

mãe; interessam ao concebido. Por outro lado, há despesas

para roupas e outras despesas que têm de ser feitas antes

do nascimento, dela podendo exigir a pessoa logo ao

nascer.

Rizzardo102 entende que durante a gravidez, inúmeras

as situações que comportam a assistência econômica do pai. Assim, o

tratamento ou acompanhamento médico; a conduta de repouso

absoluto à mãe em muitos casos de gravidez de risco; os constantes

exames médicos e medicamentos; o tipo de alimentação que deve seguir

a gestante; a sua própria subsistência se for obrigada a se afastar do

trabalho remunerado que exercia.

A linha que negava os alimentos desde a concepção

fixava-se na teoria natalista, que é aquela que defende o início da

personalidade com o nascimento; ou na teoria da personalidade

101 MIRANDA. F. C. Pontes de. Tratado de direito privado, p. 215. 102 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família, p. 758.

45

condicional, que é aquela que, embora reconheça a personalidade

desde a concepção, só tem eficácia se a criança nascer com vida.

De outro norte, os que defendiam o direito desde a

concepção, assim como Rizzardo103, esclarecem que de acordo com a

posição que melhor se adapta a realidade e justifica os direitos:

(...) a proteção deve partir desde a concepção (teoria

concepcionista), pois somente desta forma se explicam

inúmeros dispositivos da lei civil, que tratam da proteção a

começar da concepção, ou têm referência ao nascituro.

Nesta ordem, o art. 1.778, quanto à autoridade di curador

sobre a pessoa e os bens do nascituro; o art. 1.597, relativo

ao status de filho considerado como concebido durante o

casamento; o art. 1.779, no tocante à curatela do nascituro.

E Rizzardo104, muito bem defendia:

Justamente por existir um direito à personalidade, isto é, aos

direitos do nascituro, há de ser por a salvo certas

necessidades para o bom desenvolvimento da pessoa intra-

uterina do ser humano. Para tanto, todo o ambiente

propício para evoluir com normalidade o ser concebido

deve assegurar-se à mãe. A ela cabe o direito a uma

adequada assistência médica pré-natal, além de outros

cuidados e providências, com o que não se poderá furtar

em colaborar o pai da criança em formação.

Colhia-se, inclusive da jurisprudência, alguns

entendimentos nesse sentido105.

103 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. Rio de Janeiro: Forense, 2006. P. 759 104 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. Rio de Janeiro: Forense, 2006. P. 759 105 UNIÃO ESTÁVEL. ALIMENTOS PROVISÓRIOS. EX-COMPANHEIRA E NASCITURO. PROVA.

Evidenciada a união estável, a possibilidade econômica do alimentante e a necessidade da ex-companheira, que se encontra desempregada e grávida, é

46

Muito embora parte da doutrina e dos operadores do

direito já entendessem existir os direitos ligados à figura do nascituro,

somente com a edição da Lei 11.804/08 é que a questão foi pacificada.

3.2. LEI 11.804/08: ANÁLISE GERAL

O Art. 1º. Dispõe que:

Art. 1º. Esta Lei disciplina o direito de alimentos da mulher

gestante e a forma como será exercido.

Em análise a este primeiro artigo, verifica-se uma

questão importante no que diz respeito a titularidade dos alimentos

gravídicos. Somente pela leitura deste artigo, pode-se dizer que a

legitimidade ativa para pleitear os alimentos gravídicos é da gestante.

Entretanto, Danoso106 entende que: “É preciso ter

atenção, no entanto, ao que prevê o art. 6º e seu parágrafo único, da

LAG, pelo qual os alimentos gravídicos perdurarão até o nascimento da

criança, após o que ficam convertidos em pensão alimentícia em favor do

menor até que uma das partes solicite a sua revisão.”

Segundo o mesmo operador do direito107, o direito seria

da própria gestante e, após o nascimento com vida haveria uma

cabível a fixação de alimentos provisórios em favor dela e do nascituro, presumindo-se seja este filho das partes. (TJRS, 7ª Câmara Cível, AI 70017520479, rel. Des. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES, j. 28.3.2007, v.u.).

106 DANOSO, Denis. Alimentos gravídicos: Aspectos materiais e processuais da Lei nº 11.804/2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12219>. Acesso em: 05 de abril de 2010.

107 DANOSO, Denis. Alimentos gravídicos: Aspectos materiais e processuais da Lei nº 11.804/2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12219>. Acesso em: 05 de abril de 2010.

47

conversão de titularidade, de modo que os alimentos gravídicos

passariam à qualidade de pensão alimentícia em favor do menor –

momento em que, então, a postulação em juízo seria do filho menor com

a representação da mãe.

Danoso108 ainda complementa:

Não me parece, contudo, sem razão a formação de um

litisconsórcio (mãe e nascituro) ou o pedido feito direta e

exclusivamente pelo nascituro, na medida em que a edição

da nova lei não é suficiente para afastar as conclusões a

que cheguei logo acima, quando tratei dos "direitos" do

nascituro e sua proteção judicial. Como se não bastasse, o

objetivo da lei é dar suporte à gestação. A proteção se

dirige, portanto, ao próprio nascituro (que, embora ainda

despido de personalidade jurídica, é titular de um sistema

especial de proteção de direitos).

Desse modo não se afasta o pedido autônomo de

alimentos da própria mãe.

3.3. NECESSIDADES A SEREM SUPRIDAS - PROPORCIONALIDADE

O artigo 2º da lei 11.804/2008 trata das reais

proporcionalidades a serem supridas.

Art. 2º. Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão

os valores suficientes para cobrir as despesas adicionais do

período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da

concepção ao parto, inclusive as referentes a alimentação

especial, assistência médica e psicológica, exames

complementares, internações, parto, medicamentos e

108 DANOSO, Denis. Alimentos gravídicos: Aspectos materiais e processuais da Lei nº 11.804/2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12219>. Acesso em: 05 de abril de 2010.

48

demais prescrições preventivas e terapêuticas

indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz

considere pertinentes.

Parágrafo único. Os alimentos de que trata este artigo

referem-se à parte das despesas que deverá ser custeada

pelo futuro pai, considerando-se a contribuição que

também deverá ser dada pela mulher grávida, na

proporção dos recursos de ambos.

É necessário salientar, que apesar de que as despesas

acobertadas pelo pagamento dos alimentos gravídicos sejam bem

diferentes daquelas previstas no Código Civil, não se pode deixar de

aplicar nesse âmbito, e deve ser considerada a condição da

proporcionalidade como parâmetro ao julgador.

Vale destacar, que o rol apresentado no artigo acima

destacado não é exaustivo, ou seja, pode o pagamento dos alimentos

gravídicos servir para cobrir despesas outras que não aquelas expostas no

art. 2º da Lei.

Para Danoso109 não é exagero imaginar que a mãe

possa, então, “pedir autonomamente os alimentos gravídicos (para

assegurar financeiramente a gestação) e também os alimentos

‘convencionais’, desde que preencha todas as condições necessárias

para tanto”.

Continua Danoso110:

109 DANOSO, Denis. Alimentos gravídicos: Aspectos materiais e processuais da Lei nº 11.804/2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12219>. Acesso em: 05 de abril de 2010.

110 DANOSO, Denis. Alimentos gravídicos: Aspectos materiais e processuais da Lei nº 11.804/2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12219>. Acesso em: 05 de abril de 2010.

49

Este pleito autônomo se justifica ao se lembrar que os

alimentos gravídicos serão convertidos em pensão

alimentícia ao recém-nascido. A mãe não poderia, nesta

situação, ficar desamparada, caso necessitasse dos

alimentos.

Na prática, contudo, será difícil traçar uma linha divisória

entre o que é da mãe e o que é do nascituro e a tendência

– arrisco o palpite – é a fixação de uma parcela única, que

pode ser desmembrada após o nascimento com vida.

A proporcionalidade entre a necessidade do

alimentado e a possibilidade do alimentante é fator primordial para a

fixação dos alimentos, conforme descrito no parágrafo 1º do artigo 1.694

do Código Civil111:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou

companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que

necessitem para viver de modo compatível com a sua

condição social, inclusive para atender às necessidades de

sua educação.

§ 1º. Os alimentos devem ser fixados na proporção das

necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa

obrigada. (grifo nosso)

Os alimentos devem ser prestados por aquele que os

forneça sem desfalque do necessário ao próprio sustento. Não encontra

amparo legal que a prestação de alimentos vá reduzi-lo a condições

precárias, ou lhe imponha sacrifício para a sua condição social, explica

Silva Pereira112.

111 MARANGON, César Augusto. Os alimentos gravídicos e a possibilidade de sua

concessão entre pessoas do mesmo sexo. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7087>. Acesso em: 26 de abril de 2010.

112 SILVA PEREIRA. Caio Mário. Instituições de Direito Civil: Direito de Família, p. 498.

50

Contudo, não se pode esquecer que a

proporcionalidade conforme o próprio parágrafo único do artigo 2º traz,

ou seja, os alimentos de que trata este artigo são referentes as despesas

que deverão ser arcadas pelo futuro pai, devendo considerar a

contribuição que deverá ser dada pela grávida, observando a proporção

dos recursos de ambos.

Com isso chega-se à conclusão que, a

proporcionalidade se configura por respeitar as condições pessoais e

sociais do alimentante e do alimentado. “Não pode aquele requisitar um

valor exacerbado pelo simples fato deste ter uma renda respeitável, e não

pode este pagar uma quantia elevada pelo fato daquele ter

necessidades maiores que sua possibilidade”113.

3.4. A NECESSIDADE E A POSSIBILIDADE DOS ALIMENTOS E O PRAZO DE

CONCESSÃO

A responsabilidade alimentar recebe no Código Civil

tratamento uniforme, Dias114 esclarece que “inexiste distinção de critérios

para a fixação do valor da pensão em decorrência da natureza do

vínculo obrigacional”.

Dias115 continua:

A regra para a fixação (CC 1.694 § 1º e 1.695) é vaga e

representa apenas um standard jurídico. Dessa forma, abre-

113 MARANGON, César Augusto. Os alimentos gravídicos e a possibilidade de sua

concessão entre pessoas do mesmo sexo. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7087>. Acesso em: 26 de abril de 2010.

114 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 493. 115 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 493.

51

se ao juiz um extenso campo de ação, capaz de possibilitar

o enquadramento dos mais variados casos individuais. Para

definir valores, há que se atentar ao dogma que norteia a

obrigação alimentar: o princípio da proporcionalidade. Esse

é o vetor para a fixação dos alimentos.

Conforme disposto no parágrafo único do artigo 2º da

Lei, que os alimentos de que trata este artigo referem-se à parte das

despesas que deverá ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a

contribuição que também deverá ser dada pela mulher grávida, na

proporção dos recursos de ambos.

E também descrito no artigo 6º da mesma lei:

Art. 6º. Convencido da existência de indícios da

paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que

perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as

necessidades da parte autora e as possibilidades da parte

ré.

Parágrafo único. Após o nascimento com vida, os alimentos

gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em

favor do menor até que uma das partes solicite a sua

revisão.

Este dispositivo é de extrema importância. De sua

redação infere-se que o binômio necessidade/possibilidade deve ser

também observando em relação aos alimentos gravídicos, já que dispõe

que devem ser consideradas as necessidades da parte autora – no caso,

a gestante e o nascituro, bem como as possibilidades da parte ré, que

arcará com o pagamento dos alimentos116.

A jurisprudência gaúcha intensifica o posicionamento

que devem ser fixados os alimentos de forma a contribuir para a

116 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 493.

52

mantença da gestante, porém, de maneira que sejam observados as

possibilidades do alimentante e sem sobrecarregá-lo em demasia117.

Outra questão importante acerca do dispositivo em

comento é a conversão da pensão à título de alimentos gravídicos em

pensão alimentícia após o nascimento da criança.

Sobre o tema, o Desembargador Sérgio Fernando de

Vasconcellos Chaves118 se manifesta:

Essa nova lei confere direito à mulher grávida, casada ou

não, de receber alimentos desde a concepção até o parto,

mediante ação própria movida contra o futuro pai. E, para

que sua pretensão seja acolhida, a lei prevê que cabe ao

juiz decidir sobre a fixação de alimentos com base em

indícios de paternidade, sendo que esses alimentos, uma

vez fixados, permanecem em vigor até que ocorra o

nascimento com vida, quando então serão convertidos em

pensão alimentícia em favor do filho, ocasião em que

poderão ser revistos, por provocação de qualquer das

partes.

Este artigo dispõe, ainda, que convencido da

existência dos indícios de paternidade o juiz fixará os alimentos de que

trata a lei.

Essa convicção de que trata o artigo gerou diferentes

posicionamentos na jurisprudência, como pode-se observar:

117 Agravo de Instrumento Nº 70033927104, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do

RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 24/03/2010. 118 Agravo de Instrumento Nº 70033927104, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 24/03/2010.

53

(...) para a fixação de alimentos gravídicos, basta apenas a

existência de fortes indícios de paternidade para embasar o

convencimento do juiz, o que está demonstrado nos autos,

pois as fotografias juntadas revelam que a autora mantinha

relacionamento afetivo público e íntimo com o réu, de

quem era colega de profissão, havendo forte possibilidade

de que efetivamente seja o pai do nascituro119.

O parágrafo único do art. 6º dispõe que após o

nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos em

pensão alimentícia em favor do menor até que uma das partes solicite a

sua revisão.

Após este período é realizado o exame pericial para a

verificação se é ou não filho biológico do suposto pai, para então

converter os alimentos gravídicos em pensão alimentícia.

Porém, conforme explica Pimenta120, não se pode

confundir, porém:

(...) os alimentos gravídicos com o instituto da pensão

alimentícia. Esta é devida em razão de parentesco, de

casamento e da união estável. Exige-se, portanto, a prova

do parentesco ou da obrigação. Já os alimentos devidos ao

nascituro, os alimentos gravídicos, são devidos pela simples

existência de indícios de paternidade. E é justamente esse

um dos pontos mais questionados em relação a essa

legislação, já que tal pressuposto para o pagamento de

alimentos fere veemente o Princípio da Presunção da

Inocência, previsto na Constituição Federal.

119 Agravo de Instrumento Nº 70033927104, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 24/03/2010.

120 PIMENTA, Natália Cristina M.. A importância social da lei dos alimentos gravídicos.

Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/40288>. Acesso em 16 de abril de 2010.

54

Um aspecto importante de se destacar na pesquisa é

que a condenação ao pagamento dos alimentos gravídicos se restringe a

duração da gravidez, e com o nascimento, com vida, do nascituro,

converte-se em pensão alimentícia121.

3.5. DEFESA DO ALIMENTANTE

No tocante a defesa do alimentante, o art. 7º da Lei

expressa que deve ser em 5 (cinco) dias:

Art. 7º. O réu será citado para apresentar resposta em 5

(cinco) dias.

Contudo, o Código de Processo Civil dispõe que o

prazo de resposta do réu seria de 15 (quinze) dias, conforme especificado

no art. 297:

Art. 297. O réu poderá oferecer, no prazo de 15 (quinze)

dias, em petição escrita, dirigida ao juiz da causa,

contestação, exceção e reconvenção.

Esse artigo dispõe sobre uma regra de procedimento.

Explica que, após intentada e recebida a ação de alimentos gravídicos, o

juiz determinará a citação do réu para que apresente resposta em cinco

dias.

Isso significa que o réu pode apresentar quaisquer dos

tipos de respostas previstas no Código de Processo Civil, entretanto, a lei

121 LOMEU, Leandro Soares. Alimentos gravídicos avoengos. Disponível em:

<http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=505>. Acesso em: 12 de abril de 2010.

55

diminuiu o prazo para resposta do réu para cinco dias, o que torna o

procedimento muito mais célere122.

Cumpre esclarecer que, os alimentos são devidos

desde o despacho da petição inicial, e não desde a citação do réu,

conforme nos outros procedimentos processuais.

Para a obtenção dos alimentos gravídicos deve-se

observar alguns requisitos, tais como o foro competente, ou seja, o

domicílio do alimentado, no caso, a autora da ação; precisa de indícios

da paternidade; seja comprovada a necessidade da gestante e a

possibilidade do suposto pai; a duração dos alimentos gravídicos é o

período da gravidez, e nascendo com vida será convertida em pensão

alimentícia; a resposta do réu é de 5 dias contados do despacho da

inicial123.

3.6. OS VETOS OPOSTOS QUANDO DO SANCIONAMENTO DA LEI DOS

ALIMENTOS GRAVÍDICOS124

O texto original da lei dos alimentos gravídicos,

recebeu vetos do Presidente da República.

O art. 3º, que previa a aplicação, para a fixação do

foro competente para a ação respectiva, do art. 94 do CPC (Código de

Processo Civil). De acordo com a mensagem de veto apresentada, o

dispositivo, ao prever a competência do domicílio do réu, mostrava-se em

122 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 495. 123 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias, p. 496. 124 PEREIRA, Clovis Brasil. Os alimentos gravídicos: um importante passo na plena proteção

da infância. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/37077>. Acesso em: 10 de abril de 2010.

56

desacordo com a sistemática adotada pelo ordenamento jurídico pátrio,

que prevê como foro competente para processar e julgar ações de

alimentos o do domicílio do autor, o alimentado.

As razões do veto foram as seguintes:

O dispositivo está dissociado da sistemática prevista no

Código de Processo Civil, que estabelece como foro

competente para a propositura da ação de alimentos o do

domicílio do alimentando. O artigo em questão

desconsiderou a especial condição da gestante e atribuiu a

ela o ônus de ajuizar a ação de alimentos gravídicos na

sede do domicílio do réu, que nenhuma condição especial

vivencia, o que contraria diversos diplomas normativos que

dispõem sobre a fixação da competência125.

Já o art. 4º fala que na petição inicial,

necessariamente instruída com laudo médico que ateste a gravidez e sua

viabilidade, a parte autora indicará as circunstâncias em que a

concepção ocorreu e as provas de que dispõe para provar o alegado,

apontando, ainda, o suposto pai, sua qualificação e quanto ganha

aproximadamente ou os recursos de que dispõe, e exporá suas

necessidades.

Entretanto, foi igualmente vetado pelas seguintes

razões:

O dispositivo determina que a autora terá,

obrigatoriamente, que juntar à petição inicial laudo sobre a

viabilidade da gravidez. No entanto, a gestante,

independentemente da sua gravidez ser viável ou não,

necessita de cuidados especiais, o que enseja dispêndio

financeiro. O próprio art. 2o do Projeto de Lei dispõe sobre o 125 PLANALTO. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/Msg/VEP-853-

08.htm>. Acesso em: 10 de abril de 2010.

57

que compreende os alimentos gravídicos: ‘valores

suficientes para cobrir as despesas adicionais do período de

gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao

parto, inclusive referente à alimentação especial,

assistência médica e psicológica, exames complementares,

internações, parto e demais prescrições preventivas e

terapêuticas indispensáveis (...)’. Esses gastos ocorrerão de

qualquer forma, não sendo adequado que a gestante

arque com sua totalidade, motivo pelo qual é medida justa

que haja compartilhamento dessas despesas com aquele

que viria a ser o pai da criança126.

O art. 5º prescrevia que recebida a petição inicial, o

juiz designará audiência de justificação onde ouvirá a parte autora e

apreciará as provas da paternidade em cognição sumária, podendo

tomar depoimento da parte ré e de testemunhas, e requisitar

documentos.

O Ministério da Justiça e a Advocacia-Geral da União

manifestaram-se pelo veto do dispositivo, com base no fato

de que, na legislação brasileira, a designação de audiência

de justificação não é obrigatória em nenhum

procedimento. Assim, de acordo com o entendimento

firmado, ao impô-la como fase necessária à concessão dos

alimentos gravídicos, a nova Lei causaria um retardamento

desnecessário ao processo127.

O art. 8º, que previa, na hipótese de oposição à

paternidade, o condicionamento da procedência do pedido de

alimentos à realização de exame pericial.

126 PLANALTO. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/Msg/VEP-853-

08.htm>. Acesso em: 10 de abril de 2010. 127 PEREIRA, Clovis Brasil. Os alimentos gravídicos: um importante passo na plena proteção

da infância. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/37077>. Acesso em: 10 de abril de 2010.

58

“Segundo a mensagem de veto, a realização de

exame pericial não pode ser imposta como condição para a

procedência da demanda, mas, apenas, como elemento de prova”128.

Já o art. 9º, determinava a incidência dos alimentos

desde a citação teve seu veto pelo motivo de que:

O art. 9o prevê que os alimentos serão devidos desde a data

da citação do réu. Ocorre que a prática judiciária revela

que o ato citatório nem sempre pode ser realizado com a

velocidade que se espera e nem mesmo com a urgência

que o pedido de alimentos requer. Determinar que os

alimentos gravídicos sejam devidos a partir da citação do

réu é condená-lo, desde já, à não-existência, uma vez que

a demora pode ser causada pelo próprio réu, por meio de

manobras que visam impedir o ato citatório. Dessa forma, o

auxílio financeiro devido à gestante teria início no final da

gravidez, ou até mesmo após o nascimento da criança, o

que tornaria o dispositivo carente de efetividade129.

E, por fim, o art. 10, previa a responsabilização da

gestante, por danos morais, quando do resultado negativo da

paternidade, e, por este motivo, foi vetado, pois, tal dispositivo trata de

norma intimidadora, pelo fato de criar hipótese de responsabilidade

objetiva em detrimento ao exercício regular de um direito130.

128 PEREIRA, Clovis Brasil. Os alimentos gravídicos: um importante passo na plena proteção

da infância. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/37077>. Acesso em: 10 de abril de 2010.

129 PLANALTO. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/Msg/VEP-853-

08.htm>. Acesso em: 10 de abril de 2010. 130 PEREIRA, Clovis Brasil. Os alimentos gravídicos: um importante passo na plena proteção

da infância. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/37077>. Acesso em: 10 de abril de 2010.

59

Entende-se, que a presente pesquisa não tem o intuito

de esgotar-se, porém, deixa aberto espaço para futuras discussões sobre a

matéria dos alimentos gravídicos, a fim de impulsionar novas pesquisas.

60

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei dos Alimentos Gravídicos, de 05 de novembro de

2008, veio no intuito de dar maior proteção e segurança ao nascituro,

facilitando o acesso do mesmo, através de sua genitora, aos alimentos a

que tem direito durante o período da gestação, para ajudar a cobrir

eventuais despesas geradas por essa condição.

Ao longo da pesquisa, verificou-se que, embora já

existissem entendimentos no sentido de resguardar os direitos do nascituro,

somente com a edição da Lei em estudo é que essa questão foi

pacificada.

Para melhor compreensão da Lei em análise, no

primeiro capítulo estudou-se o conceito dos alimentos, sua evolução

histórica e suas espécies quanto à natureza, à causa jurídica, à finalidade

e ao momento da prestação.

No segundo capítulo, tratou-se sobre a obrigação

alimentar, discorrendo sobre sua natureza, suas fontes, características e

sujeitos obrigados.

Restou evidenciado que o direito à prestação de

alimentos, no âmbito do direito de família, é recíproco entre os parentes

elencados na legislação, entre os que estão incluídos os nascituros,

conforme disposição legal do art. 2º do Código Civil.

Comprovou-se que, durante o processo evolutivo do

instituto dos alimentos, ainda que houvesse o dever moral do genitor de

61

prestar alimentos aos descendentes, não se vislumbrava obrigação legal

de prestá-la aos nascituros.

É certo, entretanto, que mesmo antes da vigência da

Lei dos Alimentos Gravídicos existiam entendimentos doutrinários e

jurisprudenciais resguardando os direitos do nascituro quando da

gestação. Porém, é necessário destacar que não existia, no ordenamento

jurídico, dispositivo que efetivamente obrigasse o genitor.

No terceiro capítulo, efetuou-se detida análise da Lei

dos Alimentos Gravídicos, considerando as inovações que trouxe ao

ordenamento jurídico brasileiro.

Observou-se, então, que a Lei 11.804/08, ao

estabelecer normas diretamente ligadas ao dever do provável genitor de

prestar alimentos durante o período de gestação possibilitou ao nascituro

proteção e acesso fácil e eficaz às obrigações paternas de assistência e

sustento.

Assim, confirmadas as hipóteses apresentadas,

verificou-se, ainda, que a legislação estudada é de suma importância no

resguardo dos direitos do nascituro – principalmente porque a maioria das

ações com este enfoque tratam de pais que não convivem com a

genitora -, tendo em vista que facilita o acesso ao genitor, garantindo a

proteção necessária.

Verificou-se, além disso, que apesar de ser a lei em

estudo muito recente, a jurisprudência tem se manifestada bastante a

respeito do assunto, principalmente no que tange à prova da paternidade

e a proporcionalidade da obrigação de cada um dos genitores, de

acordo com as necessidades do nascituro e a possibilidade de cada um

deles.

62

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63

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65

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família. São Paulo: Atlas, 2009.

66

ANEXO I

UNIÃO ESTÁVEL. ALIMENTOS PROVISÓRIOS. EX-COMPANHEIRA E NASCITURO. PROVA. 1. Evidenciada a união estável, a possibilidade econômica do alimentante e a necessidade da ex-companheira, que se encontra desempregada e grávida, é cabível a fixação de alimentos provisórios em favor dela e do nascituro, presumindo-se seja este filho das partes. 2. Os alimentos poderão ser revistos a qualquer tempo, durante o tramitar da ação, seja para reduzir ou majorar, seja até para exonerar o alimentante, bastando que novos elementos de convicção venham aos autos. Recurso provido em parte.

AGRAVO DE INSTRUMENTO

SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70 017 520 479

COMARCA DE PORTO ALEGRE

R.C.S.C. ..

AGRAVANTE

L.H.S.M. ..

AGRAVADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Sétima Câmara

Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, dar parcial

provimento ao recurso.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes

Senhores DES.ª MARIA BERENICE DIAS (PRESIDENTE) E DES. LUIZ FELIPE BRASIL

SANTOS.

Porto Alegre, 28 de março de 2007.

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES, Relator.

RELATÓR IO

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (RELATOR)

68

Trata-se da irresignação de RENATA C. S. C. com a r. decisão

que indeferiu o pedido de fixação de alimentos provisionais, nos autos da

ação de dissolução de união estável, cumulada com alimentos, que

move contra LUIS HENRIQUE S. M.

Sustenta a recorrente a existência de elementos de convicção

suficientes a comprovar a união estável havida entre as partes,

mencionando as declarações já acostadas e a inscrição em plano de

saúde do varão. Argumenta, ainda, ter demonstrado a necessidade de

perceber alimentos, para si e para o nascituro, na medida em que está

grávida e desempregada, não podendo arcar com o próprio sustento,

assim como diz ter comprovado a capacidade do varão em lhe alcançar

alimentos, eis que juntou contracheque do mesmo. Narra que a decisão

deixou de apreciar pedido liminar de manutenção da recorrente como

beneficiária em plano de saúde oferecido pela empresa empregadora do

ex-companheiro. Pede seja agregado efeito suspensivo ativo ao recurso,

com a fixação do pensionamento e a mantença dela como dependente

no plano de saúde do varão.

O recurso foi recebido em sede de plantão pelo eminente

DESEMBARGADOR RICARDO RAUPP RUSCHEL, que fixou alimentos em 30%

sobre os ganhos líquidos do recorrido (fl. 26).

Com vista dos autos, lançou parecer a douta Procuradoria de

Justiça opinando pelo conhecimento e parcial provimento do recurso.

O recorrido compareceu espontaneamente aos autos e

ofereceu as suas contra-razões, argüindo em preliminar carência da ação

diante da ausência de pressupostos do artigo 1.723 do Código Civil,

afirmando não ter ficado configurada a existência de união estável. No

mérito, salientou a dúvida quanto à paternidade do nascituro e disse não

69

possuir condições para arcar com os alimentos arbitrados em sede

recursal. Menciona ter um filho menor para prover o sustento, além de

referir que a recorrente reside com o genitor e percebe mensalmente os

locativos de imóvel de propriedade do pai no valor de um salário mínimo,

não necessitando da pensão. Pede o desprovimento do recurso.

Com nova vista dos autos, lançou parecer a douta

Procuradoria de Justiça opinando pela rejeição da preliminar suscitada

pelo agravado, e ratificando manifestação anterior pelo conhecimento e

parcial provimento do recurso.

É o relatório.

VOTOS

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (RELATOR)

Estou dando parcial provimento ao recurso.

Inicialmente, tenho que os pedidos de que seja mantida a

autora no plano de saúde do varão e de que lhe seja concedido o

benefício da assistência judiciária gratuita, não devem ser apreciados no

presente recurso, pois não foram alvo da decisão recorrida.

Ou seja, tais questões deverão ser submetidas à apreciação

do ilustre julgador a quo, tendo havido apenas a dispensa do preparo.

Quanto à questão preliminar argüida pelo recorrido LUIS, no

sentido de não ter ficado configurado os requisitos da união estável, tenho

que tal matéria se confunde com o mérito, motivo pelo qual passo

imediatamente ao exame da questão de fundo.

70

Com efeito, o cabimento do encargo alimentar decorre do

reconhecimento da existência da relação jurídica de companheirismo,

que agasalha a obrigação alimentar, e da condição de necessidade da

alimentanda.

No caso, a recorrente afirma ter mantido união estável com o

recorrido durante aproximados seis meses, isto é, de dezembro de 2005 a

maio de 2006 (fls. 10/11), fato esse que deve ser reputado verdadeiro, pois

também é admitido pelo recorrido, que aponta o período como sendo de

18 de janeiro a 13 de junho de 2006.

De outra banda, é certo que a alimentanda conta hoje mais

de seis meses de gravidez (fl. 03), sendo provável, inclusive, que já tenha

nascido a criança. A gravidez também não é desmentida pelo recorrido,

que apenas se limita a dizer que tem dúvida acerca da paternidade,

tanto que pede a realização de exame de DNA. Claro que esse pedido é

descabido, tanto no recurso como no próprio processo, mas comprova à

saciedade a existência da relação íntima havida entre o casal.

Sendo assim, tenho que efetivamente é cabível a fixação de

alimentos, como obrigação decorrente do dever de mútua assistência

entre companheiros, pois a ruptura é recente e ficou comprovada a

condição de necessidade, pois a recorrente está desempregada e

grávida.

Cumpre lembrar, pois, que o artigo 2º da Lei nº 9.278 de 1996

já previa o dever de mútua assistência entre os conviventes, disposição

essa que veio acolhida de forma mais explícita pelo Código Civil de 2002,

referindo no artigo 1.694 que “podem os parentes, os cônjuges ou

71

companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para

viver de modo compatível com a sua condição social”.

No caso em exame, embora as provas sejam ainda singelas,

são suficientes para comprovar a existência da união estável havida entre

os litigantes – ou seja, a existência de convivência pública, notória e

duradoura de um homem e uma mulher que vivem como se casados

fossem.

Observo que existem também declarações de pessoas

próximas ao casal, tais como a prima e a tia de LUIS (fls. 17/19),

corroborando a tese da autora, assim como foi juntado aos autos cópia

da carteira de saúde de LUIS, onde RENATA consta como sendo sua

dependente (fl. 22).

Soma-se a isso, ainda, os exames acostados às fls. 20 e 21, e

datados de maio e agosto de 2006, que comprovam a gravidez da

recorrente e o uso do plano de saúde do recorrido.

Assim sendo, é forçoso convir que a recorrente necessita dos

alimentos não apenas para prover o próprio sustento como também para

os gastos próprios da gestação, ao parto e sustento do filho – que, friso,

presume-se seja do casal...

Com esse enfoque, é pertinente a assertiva da douta

PROCURADORA DE JUSTIÇA IDA SOFIA S. DA SILVEIRA no sentido de que a

agravante necessita do pensionamento por estar grávida e

desempregada, “sendo certa a dificuldade da mulher, em casos que tais,

de obter emprego e suprir o sustento próprio e do nascituro, pois em

decorrência dos direitos trabalhistas conquistados, licença gestante,

maternidade e lactante, não há empregador que se proponha a admitir

empregada nesta situação”.

72

Observo que os alimentos devem ser fixados de forma a

atender as necessidades da companheira e do nascituro, mas dentro das

possibilidades do alimentante. E, no caso, observo que LUIS é viúvo e tem

um filho de nove anos, exercendo a função de motorista em empresa de

transportes coletivos, percebendo a remuneração mensal de R$ 1.416,60

brutos (fl. 23), sendo-lhe perfeitamente possível suportar o encargo

alimentar fixado em sede de liminar pelo eminente DESEMBARGADOR

RICARDO RAUPP RUSCHEL.

A fixação do encargo alimentar provisório foi de 30% dos

ganhos líquidos do alimentante, isto é sobre o valor bruto menos os

descontos legais obrigatórios, que são destinados à companheira e ao

nascituro, o que me parece bastante razoável, não sobrecarregando em

demasia o alimentante, e, por essa razão, fica mantido.

Destaco, finalmente, que se trata de fixação alimentos

provisórios, que poderão ser revistos a qualquer tempo, durante o tramitar

da ação, seja para reduzir ou majorar, seja até para exonerar o

alimentante, bastando, para tanto, que novos elementos de convicção

venham aos autos.

ISTO POSTO, dou parcial provimento ao recurso para fixar os

alimentos em 30% sobre os ganhos líquidos do recorrido.

DES.ª MARIA BERENICE DIAS (PRESIDENTE) - De acordo.

DES. LUIZ FELIPE BRASIL SANTOS - De acordo.

DES.ª MARIA BERENICE DIAS - Presidente - Agravo de Instrumento nº

70017520479, Comarca de Porto Alegre:

73

"PROVERAM EM PARTE. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: PATRÍCIA HOCHHEIM THOME

74

ANEXO II

75

ALIMENTOS GRAVÍDICOS. LEI Nº 11.804/08. DIREITO DO NASCITURO. PROVA. POSSIBILIDADE. 1. Havendo fortes indícios da paternidade apontada, é cabível a fixação de alimentos em favor do nascituro, destinados ao amparo da gestante, até que seja possível a realização do exame de DNA. 2. Os alimentos devem ser fixados de forma a contribuir para a mantença da gestante, mas dentro das possibilidades do alimentante e sem sobrecarregá-lo em demasia. Recurso parcialmente provido.

AGRAVO DE INSTRUMENTO

SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70 033 927 104

COMARCA DE CAMPO BOM

C.D.E.G. ..

AGRAVANTE

J.C.O.G. ..

AGRAVADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Magistrados integrantes da Sétima Câmara Cível

do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, dar parcial provimento

ao recurso.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente),

os eminentes Senhores DES. ANDRÉ LUIZ PLANELLA VILLARINHO E DR. JOSÉ

CONRADO DE SOUZA JÚNIOR.

Porto Alegre, 24 de março de 2010.

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES,

Relator.

RELATÓR IO

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (RELATOR)

76

Trata-se da irresignação de CARIN D. E. G. com a r. decisão

que indeferiu pedido de antecipação de tutela nos autos de alimentos

gravídicos que move contra JULIO CÉSAR O. G.

Sustenta a recorrente que não possui condições financeiras de

suportar os custos da gravidez sozinha, ainda mais por necessitar de

cuidados e medicamentos por se tratar de uma gravidez com risco de

aborto. Pretende seja fixada a verba alimentar em 30% dos vencimentos

do recorrido. Pede o provimento do recurso.

O recurso foi recebido no efeito devolutivo.

Sem contra-razões por não angularizada a relação processual.

Com vista dos autos, lançou parecer a Douta Procuradoria de

Justiça pugnando pelo conhecimento e parcial provimento do recurso.

É o relatório.

VOTOS

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (RELATOR)

Estou acolhendo em parte o pleito recursal.

Com efeito, para a fixação de alimentos gravídicos, basta

apenas a existência de fortes indícios de paternidade para embasar o

convencimento do juiz, o que está demonstrado nos autos, pois as

fotografias juntadas revelam que a autora mantinha relacionamento

77

afetivo público e íntimo com o réu, de quem era colega de profissão,

havendo forte possibilidade de que efetivamente seja o pai do nascituro.

A pretensão da autora está embasada na Lei nº 11.804/2008,

que disciplina o direito aos alimentos gravídicos, bem como a forma como

devem ser exercidos os direitos do nascituro.

Essa nova lei confere direito à mulher grávida, casada ou não,

de receber alimentos desde a concepção até o parto, mediante ação

própria movida contra o futuro pai. E, para que sua pretensão seja

acolhida, a lei prevê que cabe ao juiz decidir sobre a fixação de alimentos

com base em indícios de paternidade, sendo que esses alimentos, uma

vez fixados, permanecem em vigor até que ocorra o nascimento com

vida, quando então serão convertidos em pensão alimentícia em favor do

filho, ocasião em que poderão ser revistos, por provocação de qualquer

das partes.

No caso em exame, como já salientei, o relacionamento entre

as partes litigantes era público, pois restou comprovado pelas fotos

acostadas nos autos, as quais foram tiradas em diversos momentos e com

amigos diferentes, demonstrando muita intimidade entre eles. Além disso,

o recorrido é policial militar, colega de farda da autora, e tem sua

capacidade econômica comprovada, motivo pelo qual deve ser

concedida a pensão alimentícia postulada.

Todavia, observo que o valor pretendido se mostra

exagerado, sendo mais adequada a fixação no patamar de 20% dos

ganhos líquidos do recorrente, isto é, sobre os vencimentos líquidos, que

correspondem ao valor bruto menos os descontos legais obrigatórios, não

incidindo, também, sobre eventuais verbas indenizatórias. É que os

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alimentos devem ser fixados de forma a contribuir para a mantença da

gestante, mas dentro das possibilidades do alimentante e sem

sobrecarregá-lo em demasia.

ISTO POSTO, dou parcial provimento ao recurso.

DES. ANDRÉ LUIZ PLANELLA VILLARINHO - De acordo com o(a) Relator(a).

DR. JOSÉ CONRADO DE SOUZA JÚNIOR - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES - Presidente - Agravo

de Instrumento nº 70033927104, Comarca de Campo Bom:

"PROVERAM EM PARTE. UNÂNIME."