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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO Mestrado em Bioética Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA São Paulo 2010

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO Mestrado em Bioética

Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À

LUZ DA BIOÉTICA

São Paulo 2010

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Maristella Lopes Gianini O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À

LUZ DA BIOÉTICA

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Bioética do Centro Universitário São Camilo, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Bioética. Orientadora: Profª Dra Luciane Lucio Pereira Co-orientador: Prof. Dr. Pe. Marcio Fabri dos Anjos

São Paulo 2010

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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Pe. Inocente Radrizzani

Gianini, Maristella Lopes O enfermeiro e o relacionamento interpessoal da equipe do centro

cirúrgico: uma reflexão à luz da bioética / Maristella Lopes Gianini. -- São Paulo: Centro Universitário São Camilo, 2010.

122p.

Orientação de Luciane Lúcio Pereira e Márcio Fabri dos Anjos, Pe.

Dissertação de Mestrado em Bioética, Centro Universitário São Camilo, 2010.

1. Bioética 2. Centro cirúrgico hospitalar 3. Relações interpessoais I.

Pereira, Luciane Lúcio II. Anjos, Márcio Fabri dos, Pe. II. Centro Universitário São Camilo III. Título.

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DEDICATÓRIA

Dedico este estudo a todos que fizeram, fazem e farão parte da minha história.

Em especial ao meu querido pai Nilton, chamado carinhosamente de “vovô

Ni”, que apesar de não estar mais aqui conosco foi exemplo de integridade, honestidade e justiça tanto para mim e minha irmã Silvia, como para os meus filhos. Ainda hoje apesar da saudade que deixou se faz presente em todos os nossos momentos.

À minha querida mãe Thereza, chamada carinhosamente de “vovó Tita”,

mãe batalhadora, exemplo de alegria e força, incansável, sempre pronta a ajudar e a lutar por mim. Juntos, meus pais plantaram a semente do amor e da união em nossa família. Obrigada por tudo.

Aos meus três filhos Fernanda, Patrícia e Eduardo razão do meu viver, luz

dos meus dias, a paz e o sossego das minhas noites. Obrigada por compreenderem a minha ausência e auxiliarem nas minhas necessidades. Vocês são o amor e o meu orgulho.

Ao Eduardo, amor da minha vida, cujas virtudes e condutas éticas fazem

da nossa história e do nosso amor um exemplo aos nossos filhos. Obrigada por sempre estar ao meu lado.

À Silvia, João, Alessandra e André sempre presentes, exemplos de amor e

amizade que fazem a nossa família ser especial.

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AGRADECIMENTOS

Embora uma dissertação tenha uma finalidade acadêmica e seja um trabalho individual, existem muitas pessoas que contribuem de diversas maneiras para a sua realização, não podendo permanecer anônimas. Por essa razão quero expressar meus sinceros agradecimentos:

Primeiramente a Deus, meu pai eterno, meu amigo e confidente, presença constante em minha vida, que me dá força e coragem, e permite que eu faça dos meus sonhos uma realidade. À querida amiga e professora Dra. Luciane Lucio Pereira, exemplo de integridade e dignidade. Por meio dos seus ensinamentos e conduta ética possibilitou que eu alcançasse meu objetivo: com paciência e doçura, sempre me trouxe de volta à terra nas minhas “constantes viagens” . Obrigada pela amizade, carinho, compreensão e dedicação. Ao Professor Dr. Pe. Marcio Fabri dos Anjos, que me aconselhou e dirigiu este estudo para uma fundamentação teórica pertinente. Ao Professor Dr. Willian Saad Hossne, coordenador do Mestrado e Doutorado em Bioética do Centro Universitário São Camilo pela sua dedicação e exemplo profissional. Obrigada por nos fazer viajar no tempo e tornar nossas noites de sexta feira e manhãs de sábado momentos de contemplação. Aos professores do Mestrado, pela oportunidade de aprimoramento na fundamentação bioética que ampliaram o meu universo de saber. Aos professores Estella Regina Ferraz Bianqui e ao Padre Leocir Pessini pela importante colaboração em minha qualificação, com reflexões e ponderações pertinentes, permitindo a evolução qualitativa deste estudo. Ao Centro Universitário São Camilo, por meio da coordenação do Curso de Graduação de Enfermagem, Denise Augusto da Costa Lorencette, Lílian Cadah, e em especial à querida amiga Maria Inês Nunes pelo convite e oportunidade de ingressar no Centro Universitário São Camilo À Elenilde e Rosana, bibliotecárias, que incansavelmente saíam em busca dos meus pedidos. Vocês muito contribuíram na finalização desta dissertação.

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À Enfermeira chefe do Centro Cirúrgico, Laura, e ao Anestesiologista chefe do Centro Cirúrgico, Dr. Nigri, do Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia, pela ajuda na documentação deste trabalho, e a todos os profissionais que se sujeitaram à pesquisa e a tornaram possível. À toda a minha família, mãe, irmã, cunhados, sobrinhos, esposo e filhos pela paciência, compreensão e incentivo na execução deste trabalho. À amiga, Fúlvia Rodrigues Souza, que como um anjo surgiu no momento que eu mais precisava, dando-me todo apoio e ajuda para poder ingressar no mestrado. À amiga Cláudia D’Arco e Sheila Tosta pelos momentos de alegria e compartilhamento neste trilhar de descobertas. Aos meus colegas da 5ª turma do Mestrado em Bioética que tanto me encantaram com a singularidade de cada um. À Emari Andrade de Jesus pela minuciosa revisão da língua portuguesa e oportunidade de aprendizado. A todos que, embora não estejam citados, muito contribuíram para a realização desta pesquisa.

Meu muito obrigado.

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“O desafio da futura bioética é que possuímos mais do que nunca conhecimento científico e capacidade tecnológica, e não temos, entretanto, o menor senso de como utilizar esse conhecimento e essa tecnologia, (...) a crise de nossa era é que adquirimos um poder inesperado e devemos usá-lo no caos de um mundo pós-tradicional, pós-cristão e pós-moderno.”

H. T. Engelhardt

e

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”

Chico Xavier

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GIANINI, M. L. O enfermeiro e o relacionamento interpessoal da equipe do cc – uma reflexão à luz da bioética. 122f. Dissertação (Mestrado em Bioética) – Centro Universitário São Camilo, São Paulo, 2010. Equipes multiprofissionais cada vez mais têm sido formadas com o intuito de unir experiências e conhecimento científico em prol da saúde do individuo. A fragmentação assistencial exige hoje um novo modelo que favoreça a comunicação e o trabalho em equipe. A interação e a comunicação dessa equipe são de extrema importância no sentido de agregar conhecimento e promover ações interdependentes para atender o paciente com competência e segurança. A bioética surge com a responsabilidade de conduzir os profissionais de saúde a refletirem sobre seus atos no sentido de dar conta dos desafios decorrentes da necessidade de mesclar ética e técnica e as relações humanas. Esta pesquisa teve como objetivo analisar, à luz da Bioética, o relacionamento interpessoal da equipe multiprofissional que atua no CC; refletir quanto à existência de situações de conflito ético no trabalho desta equipe; identificar a atuação do enfermeiro do CC. Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva de abordagem qualitativa utilizando-se a técnica do estudo de caso. Após parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa foram realizadas entrevistas individuais, semi-estruturadas. Participaram deste estudo cirurgiões, anestesiologistas, enfermeiros e técnicos de enfermagem. A análise dos discursos foi feita segundo a proposta da análise de conteúdo de Bardin. Os resultados foram apresentados em categorias e subcategorias, sendo as categorias: Composição da equipe; Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional; Papel do Enfermeiro na Equipe; Conflito Ético; Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético; Autonomia Profissional do Enfermeiro. Os achados da pesquisa formaram a base para as considerações bioéticas. A composição da equipe do CC é multiprofissional e reflete uma consciência coletiva de interdependência. Os relacionamentos interpessoais no CC caracterizam-se por ações e comportamentos que promovem as relações, mas por outro lado, também caracterizam-se por fatores que as restringem. O enfermeiro é apontado como profissional mais apto a liderar e trazer coesão à equipe no CC necessita de competência e habilidades próprias para saber lidar com conflitos. Foi percebida a sua ausência dentro da sala de operações na qual traria maior segurança para a equipe. Os médicos são identificados como o grupo que com maior freqüência são os causadores de conflitos éticos e os problemas de relacionamentos. Considera-se que o trabalho em equipe é imperativo, as relações são difíceis, mas podem melhorar quando o respeito e o reconhecimento da vulnerabilidade forem a base dos relacionamentos. O aprofundamento do domínio da bioética e seus referenciais poderão contribuir para a reflexão acerca do modo de agir da equipe. A posição ideal do profissional autônomo no CC é aquela quando o enfermeiro percebe que algumas decisões dependem de critérios médicos e quando os médicos percebem que algumas decisões também dependem de critérios de enfermagem e que ambos influenciam e são influenciados pelo trabalho de toda a equipe. Considera-se ainda que determinantes históricos e situacionais promovam o avanço e o retrocesso no modelo de estrutura do CC centrado no cirurgião. Porém só se avança quando se incorpora uma ação interdisciplinar com reconhecimento dos saberes convergentes e a responsabilidade compartilhada.

Palavras-chave: Bioética. Centro cirúrgico hospitalar. Relações interpessoais.

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GIANINI, M. L. The nurse and the surgery room team’s interpersonal relationship: an analysis in the light of bioethics. 122f. Dissertation (Master’s Degree in Bioethics) – Centro Universitário São Camilo, Sao Paulo, 2010. Multiprofessional teams more and more each time are being formed due to join experiences and scientific knowledge for the individual’s health. The assistance fragmentation demands nowadays a new model that makes the communication and the teamwork easier. The interaction and the communication among these staff members are extremely important in order to aggregate knowledge and create interdependent procedures to attend the patients by offering them efficiency and safety. The Bioethics emerges with the responsibility of leading Health professionals to a reflection about their attitudes due to be able to notice their challenges of mixing ethics, techniques and human relationships. This research aimed at analyzing, in the light of Bioethics, the interpersonal relationship among multiprofessional team members that labor at Surgery Room (SR); ponder how ethical conflicts affect these team’s activities; identify the actuation of the SR nurse. It is an exploratory descriptive research, with qualitative aspects, and was done by using the particular cases technique. After the authorization of Comitê de Ética e Pesquisa (Ethics and Research Committee), individual semi-structured surveys were conducted. The participants of this research were Health laborers: surgeons, anesthesiologists, nurses and nurse assistants. The discourse content analysis was done according to Bardin’s framework. The results were classified in categories and subcategories; the categories are: Team Composition; Multiprofessional Team Interpersonal Relationship Perception; Nurse’s Role in the Team; Ethical Conflict; Nurse’s Professional Autonomy. The data found by this research have composed the basis for the bioethical considerations. The SR team is multi professionally composed and reflects a blanket conscience of interdependency. The interpersonal relationships at the SR are characterized by partnership, politeness, respect, willingness; on the other hand, they are also characterized by non-communication or miscommunication, disrespect, miscomprehension, insecurity and authoritarianism. The nurse is seen as the most able in the group to be the leader and to bring the team the cohesion everyone needs at the SR; nurses need expertise and own abilities to know how to deal with conflicts, but their absence at the SR has been felt and their presence would bring more confidence to the staff. The doctors are identified as the part of the SR staff that causes ethical conflicts and behavioral problems. The collaborative work is considered vital; the relationships have several difficulties, but they might improve when respect and vulnerability recognition become the basis of the relationships. The deep and serious study of Bioethics and its field may contribute to a reflection about the staff’s procedures and attitudes when working. The ideal posture for autonomous laborers at SR is nurses noticing that some decisions are the doctors’ decisions and doctors noticing that some decisions are the nurses’ decisions and both of them influence and have influences on the teamwork. Furthermore, historical aspects and situations are considered the most adequate path to promote progress and regression in the surgeon-centered model at SR. However, there is progress only when we have an interdisciplinary view, which is reached when we recognize the different scientific areas converge and responsibility must be shared. Keywords: Bioethics. Interpersonal relationship. Surgery room.

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GIANINI, M.L. El enfermero y El Relacionamiento Interpersonal del Equipo del Centro Quirúrgico – Una Reflexión a la luz de la Bioética. 122f. Disertación (Máster en Bioética) – Centro Universitário São Camilo, Sao Paulo, 2010. Cada vez más equipos multiprofesionales están siendo formados con el objetivo de unir experiencias y conocimientos científicos en favor de la salud del individuo. La fragmentación asistencial exige hoy en día un nuevo modelo que favorezca la comunicación y el trabajo en equipo. La interacción y la comunicación de ese equipo tienen extremada importancia en el sentido de aportar conocimiento y realizar acciones interdependientes para atender al paciente con la máxima eficiencia y seguridad. La Bioética surge con la responsabilidad de conducir a los profesionales de salud a que reflexionen sobre sus actos en el sentido de darse cuenta de los retos decurrentes de la necesidad de mezclar ética, técnica y las relaciones humanas. Esta investigación ha tenido como objetivo analizar, a la luz de la Bioética, el relacionamiento interpersonal del equipo multiprofesional que actúa en el CQ; reflexionar acerca de la existencia de situaciones de conflicto ético en el trabajo de dicho equipo; identificar la actuación del enfermero. Se trata de una investigación científica exploratoria, descriptiva, de abordaje cualitativo y con la utilización de la técnica del estudio de caso. Tras el parecer favorable del Comitê de Ética em Pesquisa (Comité de Ética en Investigaciones Científicas), se han realizado encuestas individuales y semi-estructuradas. Han participado de este estudio cirujanos, anestesiólogos, enfermeros; y técnicos de enfermería. El análisis de los discursos se ha hecho según la propuesta de análisis de contenido de Bardin. Los resultados han sido presentados en categorías y subcategorías. Las categorías son: Composición del Equipo; Percepción del Relacionamiento Interpersonal del Equipo Multiprofesional; Rol del Enfermero en el Equipo; Conflicto Ético; Actuación del Enfermero frente al Conflicto Ético; Autonomía Profesional del Enfermero. Los hallazgos de la investigación han formado la base para las consideraciones bioéticas. La composición del equipo del CQ es multiprofesional y refleja una consciencia colectiva de interdependencia. Las relaciones interpersonales en el CQ se caracterizan por acciones promotoras e restrictivas. Al enfermero lo apuntan como el profesional más apto a liderar y a brindarle cohesión al equipo en el CQ, por lo que necesita competencia y habilidades propias para saber lidiar con los conflictos; sin embargo, se ha sentido su ausencia dentro del CQ, y su presencia le brindaría más seguridad al equipo. Los médicos se identifican como el grupo que más causa conflictos éticos y problemas de relacionamiento. Se considera que el trabajo en equipo es imprescindible, las relaciones son difíciles, pero se pueden mejorar cuando el respeto y el reconocimiento de su vulnerabilidad son su base. La profundización del campo de la Bioética y sus referenciales podrán contribuir para la reflexión acerca del modo de actuar del equipo. La posición ideal del profesional autónomo en el CQ es aquella en que el enfermero se da cuenta de que algunas decisiones dependen de criterios médicos y cuando los médicos se dan cuenta de que algunas decisiones dependen también de criterios de enfermería y cuando ambos criterios influencian y son influenciados por el trabajo de todo el equipo. Se considera aún que determinaciones históricas y situacionales causen el avance y el retroceso en el modelo de estructura del CQ centrado en el cirujano. Pero sólo hay avances cuando se incorpora una acción interdisciplinaria con reconocimiento de los saberes convergentes y la responsabilidad compartida. Palabras-Clave: Bioética. Centro quirúrgico. Relaciones interpersonales.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Origem da Categoria Predeterminada – Composição da

Equipe do Centro Cirúrgico .................................................................................. 48

Figura 2 - Origem da Categoria Predeterminada – Percepção do

Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico ... 48

Figura 3 - Origem da Categoria Predeterminada – Papel do Enfermeiro

na Equipe do Centro Cirúrgico ............................................................................. 49

Figura 4 - Origem da Categoria Predeterminada – Conflito Ético em

Centro Cirúrgico ................................................................................................... 49

Figura 5 - Origem da Categoria Predeterminada - Atuação do Enfermeiro

Frente ao Conflito Ético em Centro Cirúrgico ....................................................... 49

Figura 6 - Origem da Categoria Predeterminada – Autonomia Profissional do

Enfermeiro do Centro Cirúrgico ............................................................................ 50

Figura 7 - Categoria 2: Percepção do Relacionamento Interpessoal

da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico. Subcategorias: Fatores

Promotores do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico; Fatores

Restritivos do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico ........................ 59

Figura 8 - Categoria 3: Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico

Subcategorias: Papel de Liderança; Papel Assistencial ....................................... 69

Figura 9 - Categoria 4: Conflito Ético em Centro Cirúrgico – Subcategorias: O

Conflito Ético Reconhecido e Conflito Ético Justificado ....................................... 74

Figura 10 - Categoria 5: Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético

em Centro Cirúrgico Subcategorias: Posicionamento do Enfermeiro; Enfermeiro

como agente mediador; Enfermeiro como agente causador do conflito ............... 79

Figura 11 - Categoria: Autonomia Profissional do Enfermeiro no Centro

Cirúrgico. Subcategorias: Autonomia exercida pelo enfermeiro; Autonomia

não exercida pelo enfermeiro e Autonomia Limitada do enfermeiro .................... 83

Figura 12 - Equipe do Centro Cirúrgico ............................................................... 89

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LISTA DE SIGLAS

BO Bloco Operatório CC Centro cirúrgico CoEP Comitê de Ética em Pesquisa CME Centro de Material e Esterilização HMSCP Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia I.P.A.R Instituto Paulista de Assistência Respiratória RPA Recuperação Pós-anestésica SAE Sistema de Assistência de Enfermagem SO Sala Operatória SOBECC Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro cirúrgico,

Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UTI Unidade de Terapia Intensiva

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SUMÁRIO Resumo

Abstract

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE SIGLAS

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 15

2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 20

2.1 Geral .............................................................................................................. 20

2.2 Específicos ..................................................................................................... 20

3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 21

3.1 Trajetória Histórica da Cirurgia ....................................................................... 21

3.2 O Hospital e o Centro Cirúrgico ...................................................................... 26

3.3 Atuação da Equipe Médica e de Enfermagem no Centro Cirúrgico ............... 27

3.4 A Filosofia, a Ética, a Bioética e o Centro Cirúrgico ....................................... 29

4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ..................................................................... 39

4.1 Opção pelo Método ........................................................................................ 39

4.2 Local de Estudo .............................................................................................. 40

4.3 Sujeitos da pesquisa ...................................................................................... 41

4.4 Coleta de Dados ............................................................................................. 42

4.5 Análise dos Resultados .................................................................................. 47

5 APRESENTAÇÃO DOS DADOS ...................................................................... 51

5.1 Caracterização do Local do Estudo ................................................................ 51

5.1.1 Caracterização da Instituição ...................................................................... 51

5.1.2 Caracterização do Centro Cirúrgico ............................................................ 52

5.1.3 Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa ................................................... 53

5.2 Apresentação das Categorias e Subcategorias ............................................. 55

5.2.1 Categoria 1: Composição da Equipe do Centro Cirúrgico ........................... 56

5.2.2 Categoria 2: Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe

Multiprofissional do Centro Cirúrgico ........................................................... 58

5.2.3 Categoria 3: Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico .............. 68

5.2.4 Categoria 4: Conflito Ético em Centro Cirúrgico .......................................... 73

5.2.5 Categoria 5: Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em Centro

Cirúrgico ...................................................................................................... 78

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5.2.6 Categoria 6: Autonomia Profissional do Enfermeiro no Centro Cirúrgico .... 82

6 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 88

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 105

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 111

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ........................................................................... 118

APENDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................. 120

APENDICE B - Roteiro da Entrevista ................................................................... 122

ANEXO A - Carta de Princípios das Entidades Camilianas

ANEXO B - Serviço de Anestesia do Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia

ANEXO C - Regimento Interno do Departamento Cirúrgico

ANEXO D - Carta do Comitê de Ética em Pesquisa (CoEP) do Centro Universitário

São Camilo

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15 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

1 INTRODUÇÃO

A idéia de realizar um estudo em Centro Cirúrgico (CC) surgiu da minha

experiência como enfermeira supervisora e assistencial ao longo de mais de duas

décadas, em Pronto Socorro (PS) e em CC. Enquanto profissional atuando no CC de

um Hospital Escola da grande São Paulo, tive o privilégio de ter no meu trabalho o

reconhecimento, a valorização profissional e o respeito da equipe multiprofissional e

dos pacientes. Em grande parte, atribuo esse reconhecimento ao fato desse

hospital, desde a sua inauguração, ter trabalhado no modelo do Sistema de

Assistência de Enfermagem (SAE), ferramenta imprescindível para a prestação de

uma assistência de enfermagem de qualidade.

No CC, várias especialidades médicas como anestesiologistas, cirurgiões

gerais, cardíacos, plásticos, ortopedistas, oftalmologistas, ginecologistas dentre

tantos outros, interrelacionam-se e trabalham conjuntamente com enfermeiros,

técnicos e auxiliares de enfermagem e instrumentadores cirúrgicos, num ambiente

dinâmico, fechado, considerado estressante, rodeado de mitos e rituais que tornam

o lugar diferenciado no contexto hospitalar. Diante da complexidade do ambiente a

interação e a comunicação dessa equipe são de extrema importância no sentido de

agregar conhecimento e promover ações interdependentes para atender o paciente

com a máxima competência e segurança. Dessa experiência surgiu o interesse em

estudar os relacionamentos nesse ambiente sob a ótica da bioética, que se constitui

como área do conhecimento pluralista, multi e interdisciplinar.

Médicos e enfermeiros lidam com situações nas quais, a vida, o risco e a

morte se relacionam numa faixa muito estreita de segurança, ou seja, os riscos

inerentes ao procedimento anestésico-cirúrgico que um paciente se submete ao

entrar no CC fazem parte da rotina de trabalho. Observo que a particularidade e a

especificidade das atividades desenvolvidas nesse setor caracterizam-no como um

local onde as pessoas, inclusive profissionais de outras áreas do próprio hospital,

sentem-se curiosos em conhecer.

Ao longo do meu trabalho, percebi que o CC é um ambiente de trabalho

complexo, onde profissionais de várias categorias sócio-culturais e de diferentes

padrões de moralidade trabalham conjuntamente empenhados num único propósito:

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16 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

atender e assistir ao cliente durante a cirurgia. Apesar de a finalidade ser a mesma,

os caminhos escolhidos pelos profissionais para atingir o êxito da cirurgia são

diferentes.

A sociedade gera um padrão de comportamento externo definido como

moralidade. Para Cohen e Segre (2004) moralidade é um sistema de valores do qual

resultam normas que são consideradas corretas por um determinado grupo social.

Uma vez que vivemos em uma mesma sociedade, observo diferentes

comportamentos, praticados pelos profissionais da saúde. Isto se exemplifica no

comportamento de alguns profissionais quando atitudes desrespeitosas são

presenciadas por várias pessoas sem nenhum constrangimento. Vozes alteradas

são percebidas em conseqüência da intolerância e inexperiência de alguns, palavras

de baixo calão são proferidas dentro de um ambiente de trabalho por indivíduos

considerados “bons profissionais”. Esses comportamentos são comuns e lícitos para

alguns e imorais e antiéticos para outros.

Concordo com Santa Rosa (2002, p.130), ao afirmar que o enfermeiro de CC:

“[...] deve se posicionar diante de situações que ferem princípios éticos e desta

forma, ele terá condições de exercer sua autonomia, ao escolher o caminho do seu

crescimento, enquanto cidadão e profissional”. De acordo com Zoboli e Sartório

(2006), a bioética vem se agregando à construção histórico-social da prática da

enfermagem, no sentido de dar conta dos desafios decorrentes da necessidade de

mesclar ética e técnica.

Percebo, ainda, a vulnerabilidade no que diz respeito ao relacionamento e a

comunicação, uma vez que também nas atitudes profissionais, as relações de poder,

e de saber, interferem no comportamento e também no desempenho do restante da

equipe, pois se observa respostas e atitudes diferentes para uma mesma situação.

Apesar disso, acredito que enfermeiros com boa capacidade de liderança,

experientes, atualizados, com conhecimento técnico científico para prestar uma

assistência de qualidade e segurança, conhecimento administrativo para gerenciar

as atividades realizadas, uma grande capacidade de trabalhar em equipe e uma boa

comunicação interpessoal contribuam para tornar esse ambiente mais harmonioso.

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17 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

Os pacientes, por sua vez, necessitam de um cuidado humanizado, pois se

encontram no momento crítico de seu tratamento. Por isso, necessitam de

profissionais responsáveis e competentes com valores morais e éticos, sensíveis e

capazes de perceber e atender as necessidades físicas e psicológicas desse

paciente. Necessitam de profissionais que, percebendo a vulnerabilidade dos

pacientes, estejam ao lado deles, conversando, segurando suas mãos, orientando e

fazendo-os interagir com as atividades necessárias ao procedimento, a fim de

promover um atendimento seguro e de qualidade.

Importante esclarecer que o termo responsabilidade é definido por Hans

Jonas como a capacidade individual de assumir antecipadamente pelo que se vai

fazer e ter consciência das conseqüências das suas ações e omissões (JONAS,

1995).

A idéia de o paciente cirúrgico ser “do cirurgião” implica num sentimento de

posse e nesse sentido, a atuação de uma equipe multiprofissional torna-se

assimétrica, atribuindo-se níveis de responsabilidade e comportamentos hierárquicos

e diferenciados. “O meu paciente”, frase ouvida no cotidiano hospitalar, tanto da

rede pública quanto privada, não reflete mais ao modelo assistencial prestado hoje

em dia. A partir do momento em que é necessária uma cirurgia, esse paciente passa

a ser alvo da atuação de muitos profissionais de saúde. Portanto a responsabilidade

do cirurgião é inquestionável, porém ela não é a única.

Durante minha atuação em CC, meu trabalho funcionava como um elo de

ligação entre todas as atividades multiprofissionais realizadas naquele local, pois

exercia diferentes funções: trabalhava com o cirurgião, anestesiologista e circulante

de sala dentro da SO assistindo ao paciente de forma integrada e compartilhada;

atuava “nos bastidores”, administrando a rotina cirúrgica, integrando as áreas afins,

Centro de Materiais e Esterilização (CME), familiares e pacientes em suas unidades

de origem de modo a providenciar sua chegada, equipamentos, pessoal

administrativo, entre outros; e ainda atuava com técnicos de enfermagem e

anestesiologistas na unidade de Recuperação Pós-anestésica (RPA) prestando

também um trabalho integrado e compartilhado.

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A minha trajetória profissional foi permeada por muitos desafios e

enfrentamentos, os quais serviram de impulso para a realização deste trabalho. A

urgência e prontidão que fazem parte da rotina da assistência ao paciente cirúrgico

exigem análise e rápida tomada de decisão com critérios para definir a ação.

Deparei-me com situações conflitantes, com perguntas sem respostas e com o não

saber como agir. Muitas vezes, precisei agir não da forma que era a mais correta,

mas a mais correta possível no momento. Precisar calar e procurar desculpas sem

sentido foram atitudes tomadas por mim e por muitos outros profissionais ao meu

redor para não correr o risco certo de perder o emprego.

A necessária exposição do corpo do paciente por alguns instantes dentro da

Sala Operatória (SO) é vista pela equipe como rotina, porém, na visão do paciente é

uma invasão à sua intimidade, e, portanto, esse momento deve ser acompanhado

com respeito. O não cumprimento do horário marcado para a cirurgia: a falta de

registro de ocorrências indesejáveis em SO como troca de medicação; acidente

intra-operátorio; queda do paciente da mesa cirúrgica; a suspensão da cirurgia por

falta de avaliação prévia; a falta de material solicitado em sala; a utilização

indiscriminada de celulares dentro da SO; as observações desrespeitosas feitas por

algum profissional sobre o paciente, achando que este não o está ouvindo, são

exemplos de situações de imperícia, imprudência e negligencia que se observam no

CC.

Tais situações podem afetar profundamente não só o paciente, mas também

as relações entre a equipe. Esses e outros tantos exemplos desrespeitam o ser

humano, comprometem a atuação profissional, interferem na sua autonomia e o

torna mais vulnerável. De certa forma, o respeito, a postura, a atitude profissional,

as dificuldades de relacionamento individual, o trabalho em equipe e a comunicação

estavam sempre permeando esses desafios.

Há três anos, ingressei no Centro Universitário São Camilo como supervisora

de estágio em CC, RPA e CME, da disciplina de Enfermagem na Saúde do Adulto,

do Curso de Graduação em Enfermagem. A partir da vivência em campo com os

estudantes de graduação em enfermagem do 5º semestre nos CCs de alguns

hospitais públicos e privados do Município de São Paulo e observando a sua

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dinâmica, era questionada pelos alunos sobre situações que observavam, as quais

diferiam das orientações dadas em sala de aula. Esses questionamentos se referiam

à presença do enfermeiro em SO diante de: práticas indevidas de instrumentadores

cirúrgicos, exposição do corpo e desrespeito ao paciente, grosserias dos cirurgiões

para com a equipe médica e principalmente com a enfermagem.

Importante ressaltar que a as atividades desses profissionais e suas atitudes

muitas vezes não são reconhecidas, nem por seus próprios colegas, como

comportamentos adequados. Percebendo que estas situações são identificadas,

relatadas e comentadas por profissionais de CC, por alunos e até pelos próprios

pacientes, acredito na relevância desta pesquisa de modo a refletir sob o olhar da

bioética neste ambiente e o interrelacionamento profissional dessa equipe.

O mestrado em bioética surge, em meu contexto de trabalho, como

ferramenta de enfrentamento e base para nortear e refletir os dilemas e conflitos

morais e éticos que possam emergir da observação dessas relações, observadas no

cotidiano do CC. O respeito, a justiça, o poder, a dignidade da pessoa humana, a

liberdade, a autonomia e a vulnerabilidade do paciente e do profissional, a

beneficência, a não maleficência fazem parte dos princípios e referenciais bioéticos

que acredito que devam estar sendo refletidos a cada ação profissional. É nesse

cenário que justifico a importância da presente pesquisa acreditando poder contribuir

para um ambiente de trabalho mais ético, harmonioso e integrado.

Vale a pena destacar que os estudos sobre relações interdisciplinares em CC

e Bioética ainda são poucos, por isso o tema está longe de ser esgotado. Até o

último acesso à Biblioteca Virtual BIREME, nas bases de dados LILACS, IBECS,

MEDLINE e SciELO em 15/06/2010 foram encontrados somente três artigos sobre a

temática, sendo dois nas bases de dados LILACS e um na SciELO. Após a leitura

dos resumos dos trabalhos, apenas um artigo foi selecionado correspondendo ao

estudo em questão.

Esta pesquisa se dispõe a lançar luz sobre determinados aspectos da

realidade e da vivencia dentro de um Centro Cirúrgico onde a Bioética servirá de

base para reflexão e foi proposta com os objetivos descritos a seguir.

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2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Analisar, à luz da Bioética, o relacionamento interpessoal da equipe

multiprofissional que atua no Centro Cirúrgico.

2.2 Específicos

Refletir quanto à existência de situações de conflito ético no trabalho desta

equipe.

Identificar a atuação do enfermeiro do Centro Cirúrgico.

Analisar a autonomia do enfermeiro na equipe do Centro Cirúrgico.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Trajetória Histórica da Cirurgia

Ao entender a história como memória de grupo humano, que influencia a

formação da consciência coletiva e desperta a atenção do indivíduo para o mundo,

pode-se dizer que um entendimento significativo do presente exige uma visão crítica

do passado (GRANGE; ARANTES, 2005).

Assim, para se entender os problemas da sociedade e desempenhar um

papel inteligente na construção da civilização, é preciso possuir um senso de

continuidade no tempo, ter consciência de ser impossível avançar para o futuro, sem

olhar para o passado.

Uma leitura histórica da cirurgia à luz da bioética leva a privilegiar alguns

aspectos notadamente éticos de sua trajetória. Segundo Paixão (1979), conhecer as

origens e a evolução de sua profissão deve despertar no indivíduo uma maior

compreensão dos seus deveres e lhe impõe mais entusiasmo pelo seu ideal.

Durante muitos séculos a medicina e a enfermagem foram privilégios

exclusivos dos sacerdotes e religiosos, pessoas consideradas de “elevado valor

moral e intelectual”. A história revela que nos períodos de fervor religioso, a

quantidade e a qualidade das pessoas a serviço dos enfermos faziam o diferencial

no processo de cura (PAIXÃO,1979, p.23).

Entre os aspectos éticos da trajetória histórica da cirurgia, podemos afirmar

que as exigências do cuidado a ser prestado ao paciente submetido a algum

procedimento cirúrgico provocam a consciência moral sobre a necessidade de uma

equipe multiprofissional. Identifica-se, nos relatos de Paixão (1979, p.22), que na

história da Índia do séc. VI a.C., dentro do Budismo, cuja doutrina de bondade era

um grande incentivo ao progresso, havia uma preocupação em prestar “uma

assistência inteligente”. Entre os médicos hindus, destacou-se Charaka, que foi o

primeiro a descrever muitas operações cirúrgicas como: catarata, hérnia e cesariana.

Charaka citado por Paixão (1979, p.22) afirma:

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O médico, as drogas, o enfermeiro e o paciente constituem um agregado de quatro. Devemos conhecer a qualidade de cada um na contribuição para a cura. [...] Conhecimento do preparo das drogas e de sua administração, inteligência, dedicação, pureza de corpo e espírito são as quatro qualidades do enfermeiro.

Qualidades de valor moral e ético e o trabalho com espírito de equipe é algo

que já se falava há mais de 28 séculos, sendo reforçado atualmente quando autores

como Barreto e Barros (2009) e Silva e Galvão (2007), afirmam que o

desenvolvimento do trabalho no CC exige uma integração harmoniosa, ética e

competente entre duas equipes, a saber, a médica e a da enfermagem.

Na história da enfermagem, Paixão (1979) ainda relata que objetivos como

dar conforto físico e moral ao doente, afastar dele os perigos e ajudá-lo a alcançar a

cura datam de tempos em que ainda não havia ciência. Nessa época, a mãe era

considerada, nas mais remotas eras, como a primeira enfermeira da família e os

conhecimentos sobre a enfermagem vinham acompanhados de assuntos médicos,

sociais e religiosos.

Dessa maneira, povos de todo mundo atribuíam as doenças como que

produzidas por espíritos malignos ou como castigo dos Deuses, de modo que a

medicina se prendia à Mitologia. Tempos depois felizmente, homens estudiosos e de

valor conseguiram desenvolver na sociedade da era pré-cristã, bases científicas

para o futuro da medicina. Hipócrates, 460 a.C., considerado o pai da medicina

enfrentou preconceitos com relação à dissecação de cadáveres, antes considerada

uma prática desrespeitosa. Apesar dos impecilhos sociais, Hipócrates explicava a

seus discípulos a verdadeira causa da dissecação (PAIXÃO, 1979).

A medicina e a enfermagem passaram por períodos de ascensão e

decadência. A Reforma Protestante do séc. XVI contribuiu para marcar um dos

piores períodos da enfermagem. Com a expulsão das religiosas dos hospitais, a

escassez de donativos e falta de pessoal preparado, um grande número de hospitais

precisou ser fechado. Os enfermos que conseguissem ficar em casa eram mais bem

cuidados, enquanto que nos hospitais os que se diziam enfermeiros não passavam

de pessoas da mais baixa classe social e moral duvidosa. Chegavam a extorquir

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dinheiro dos enfermos e, conforme afirma Paixão (1979, p.54), “deixavam os

doentes morrer ao abandono”. No mesmo período em que a enfermagem caía em

decadência, a ciência médica fazia conquistas notáveis (PAIXÃO,1979).

A enfermagem passa então a existir como profissão a partir do momento em

que Florence Nightingale (1820-1910), uma jovem intelectual da alta aristocracia

inglesa, imbuída de grande humildade e espírito humanitário passa a desenvolver no

séc. XX uma mentalidade mais social, trazendo para dentro dos hospitais

profissionais de elevado padrão cultural. De acordo com Paixão (1979), Florence foi

pioneira e renovadora ao abrir escolas de enfermagem às moças educadas e cultas

preparando, dessa maneira, as enfermeiras em bases mais científicas.

Florence ainda trabalhou intensamente na missão de cuidar dos feridos

durante a Guerra da Criméia (1854). Procedimentos cirúrgicos não faltaram e ações

para diminuir a mortalidade dos soldados foram aplicadas tanto com relação aos

aspectos organizacionais quanto aos assistenciais. Com essas práticas, conseguiu

diminuir a mortalidade dos feridos. Em 1956, Florence contrai tifo ao retornar da

Criméia, ficando impossibilitada de trabalhar com os doentes. Dedica-se então a

preparar profissionalmente as enfermeiras a exercer os serviços usuais da

enfermagem hospitalar e domiciliar. Segundo Paixão (1979), tinha grande

preocupação em desenvolver nas estudantes traços de caráter considerados

desejáveis como sobriedade, honestidade, lealdade, pontualidade, serenidade,

espírito de organização, correção e elegância uma vez que pretendia dissociar o

nome da enfermagem como uma “profissão” inferior.

Segundo Possari (2006), os médicos do séc. XVIII eram mais valorizados e

reconhecidos socialmente pela sua capacidade intelectual de tratar doenças. Na

época, acreditava-se que a denominada medicina interna, requeria mais reflexão,

estudos e percepção. Já as necessidades cirúrgicas eram tratadas por profissionais

chamados de cirurgiões barbeiros, os quais recebiam um aprendizado prático, não

universitário.

Durante muitos séculos a cirurgia atuou à sombra de vilões da medicina como

a dor, a hemorragia e a infecção. No séc. XIX, a dor passou a ser mais bem

controlada com a descoberta de equipamentos e novos agentes anestésicos. A

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tecnologia e a pesquisa no desenvolvimento de equipamentos e materiais usados

para hemostasia contribuíram com a medicina para atenuar as hemorragias durante

os procedimentos cirúrgicos (POSSARI, 2006).

A contribuição de Florence Nightingale é reconhecida como referência na

questão de infecção devido à sua preocupação com a organização, limpeza,

assepsia e o ambiente do cuidar, elementos que se tornam pontos indispensáveis na

cura dos doentes cirúrgicos e colaboram substancialmente para a diminuição das

infecções (PAIXÃO 1979).

O século XX foi considerado o século dos avanços tecnológicos e das

grandes revoluções e evoluções cientificas. Nas primeiras décadas desse século, a

cirurgia era realizada no próprio domicílio do paciente ou do cirurgião. A enfermeira

obedecia a uma escala hierárquica, sendo responsável por acalmar o paciente, pelo

preparo do ambiente e do instrumental cirúrgico.

Com o surgimento das instituições de saúde nas décadas de 1920 e 1930 as

cirurgias passaram a ser realizadas em salas de operação (SO). Nas décadas

seguintes com as descobertas de novas técnicas cirúrgicas e instrumentais, as

cirurgias passaram a se tornar mais complexas e especializadas. Dessa forma foram

criados os primeiros Centros cirúrgicos (GUIDO et al, 2008).

Segundo os mesmos autores, a Segunda Guerra Mundial também teve um

papel importante no cenário medico-cirúrgico e da enfermagem, pois com o aumento

do número de intervenções cirúrgicas nos hospitais, houve necessidade de trazer

para dentro das salas cirúrgicas o pessoal ocupacional. Esse pessoal inicialmente

sem preparo passou a ocupar o espaço do profissional de enfermagem, deixando as

atividades de coordenação dos recursos materiais e humanos e os aspectos

organizacionais e técnicos a cargo dos enfermeiros.

Nas décadas de 60 e 70 a alta tecnologia passa a fazer parte do dia a dia dos

enfermeiros de CC, de maneira que os transplantes e equipamentos sofisticados

passam a ser desafios a serem enfrentados. Surgem, assim, os conflitos de ordem

moral e ética e preocupações com a melhoria da qualidade da enfermagem em CC.

Grupos de estudos foram criados para discutir problemas relacionados às atividades

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de CC e em 1991 foi criada a Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro

Cirúrgico (SOBECC), com o objetivo de desenvolver estudos, fundamentar a prática

com pesquisas cientificas e permitir a socialização dos conhecimentos adquiridos,

organizando e promovendo eventos técnico-científicos.

Podemos dizer que o maior avanço do ponto de vista cirúrgico se deu no séc.

XX e continua nos dias de hoje. Passaram-se das cirurgias realizadas em ambientes

precários às cirurgias em salas de operação em ambiente hospitalar, ao

desenvolvimento de cirurgias vídeo-assistidas e, atualmente, cirurgias por robótica

com a possibilidade de serem realizadas à distância.

Esse rápido avanço tecnológico trouxe para a sociedade muitas mudanças de

paradigmas atropelando valores seculares, principalmente quando se observa que

vivemos hoje em uma sociedade mercantilista e capitalista, na qual o valor do ser

humano passa a ser questionável.

Com relação ao comportamento, objeto deste estudo, observam-se histórias

profissionais antagônicas partindo dos sujeitos analisados. Cunha, Acunã e Bispo

(2007) relatam que a classe médica era treinada para atuar preferencialmente

sozinha, obedecendo a um código deontológico, sentindo-se independente do

hospital e de sua estrutura organizacional. Afirmam que a tradição de seus valores,

baseada na autonomia de sua profissão e na responsabilidade pessoal, refletiam-se

num modelo artesanal em que o sucesso era inteiramente creditado ao médico,

enquanto eventuais fracassos eram atribuídos às debilidades dos pacientes ou

mesmo à infra-estrutura oferecida pela organização. Tal modelo atitudinal pode ser

observado no comportamento médico ainda nos dias de hoje.

Com relação à enfermagem, Germano (1993) ressalta que no passado sua

ideologia significava: abnegação, obediência e dedicação. Isso tornava a enfermeira

disciplinada e obediente em suas atitudes e responsabilidades. Nas três últimas

décadas, este cenário vem se transformando, pela chegada nas instituições de

saúde, de profissionais mais bem preparados.

Santa Rosa (2002) descreve o enfermeiro de hoje como agente

transformador, compromissado com a transformação do ambiente do CC no

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contexto social e que busca proporcionar uma prática fundamentada em valores

morais e éticos como responsabilidade, respeito, igualdade, solidariedade, e

princípios bioéticos como justiça, beneficência e autonomia.

3.2 O Hospital e o Centro Cirúrgico

O Hospital, segundo Oliveira (2002a), é considerado uma grande estrutura

integrada por mini-estruturas, que desempenham funções distintas, com o objetivo

único de prestar um serviço de qualidade. Dentre as diversas unidades da estrutura

hospitalar, destaca-se o CC, uma unidade que contém um conjunto de elementos

destinados às atividades cirúrgicas, constituindo, assim, o setor que tem como

prioridade prestar assistência de qualidade ao paciente: desde o recebimento na

fase pré-operatória, intra-operatória e pós-operatória na RPA com seu

encaminhamento à unidade de destino adequada. Reforça que é fundamental obter-

se condições adequadas ao ato anestésico-cirúrgico, tanto para segurança física e

psicológica do paciente quanto da equipe cirúrgica.

Já Barreto e Barros (2009) consideram o Bloco Operatório (BO), setor que

engloba as áreas de CC, CME e RPA, como o setor de maior importância do hospital

com áreas de acesso restrito, interligados com outras áreas hospitalares

necessitando de um trabalho interdependente. Também considera a unidade de

maior complexidade do hospital por sua especificidade, possibilidade de riscos a

saúde dos trabalhadores e dos pacientes, pelos custos, pela evidência dos

resultados, dramaticidade das operações e decisiva ação curativa da cirurgia.

A Unidade de CC também é considerada por Cunha e Caregnato (2008), um

dos setores críticos do hospital, pela sua exigência profissional em razão do

atendimento de alto risco, da geração de tensão e angústia. Nestas áreas, a autora

reforça que trabalham pessoas com formações e vivências diferentes e que isso

interfere nos relacionamentos interpessoais, e repercute na dinâmica do setor.

Em conseqüência das constantes descobertas e contribuições da pesquisa,

autores como Peniche e Araújo (2009), Guido et al. (2008) e Caregnato e Lautert

(2005) consideram que o conhecimento e a capacitação do profissional do CC

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podem estar ultrapassados em um curto período de tempo, deslocando este

profissional para a faixa perigosa da impudência, imperícia ou negligência, que

colocam em risco a vida do paciente. Dessa forma cabe ao profissional do CC

atualizar-se e capacitar-se continuamente.

3.3. Atuação da Equipe Médica e de Enfermagem no Centro Cirúrgico

Para Barreto e Barros (2009), a busca de amparo e solução para os

problemas de saúde, a dependência e a necessidade assistencial do paciente na

SO, depende de uma equipe multiprofissional que tem o dever ético e moral de

reconhecê-los e solucioná-los. Reforçam que, a partir da necessidade de uma

intervenção cirúrgica que pressupõe uma internação em ambiente hospitalar esse

indivíduo deixa de depositar sua confiança somente no médico e passa a depender

e a buscar competência também na equipe que irá cuidar dele.

Atualmente, o saber médico não figura solitário no cuidado à saúde. Equipes

multiprofissionais cada vez mais têm sido formadas com o intuito de unir

experiências e conhecimento científico em prol da saúde do individuo. Isso porque a

fragmentação assistencial exige hoje um novo modelo que favoreça a comunicação

e o trabalho em equipe, a fim de assegurar a melhor segurança do paciente

(CUNHA; ACUNÃ; BISPO, 2007).

Porém, Caregnato (2002), em seu estudo sobre a equipe multiprofissional,

relata que, tendo o CC seus próprios rituais, mitos e “deuses”, os cirurgiões

consideram-se semideuses, donos dos pacientes, com sabedoria e onipotência

superior aos demais profissionais membros da equipe. Assim eles consideram-se os

responsáveis pelo paciente. Os outros profissionais consideram ter grande

responsabilidade para com os pacientes, mas nunca assumem posição de chefia da

equipe. Os anestesistas acham-se responsáveis por controlar a dor dos pacientes,

as enfermeiras destacam a importância do seu papel de resolver problemas e se

auto definem como facilitadoras, enquanto os técnicos de enfermagem deixaram

evidente que fazem seu trabalho hierarquicamente, sendo dependente do cirurgião.

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Definir-se como agente facilitador não deve ser o objetivo do enfermeiro do

CC. A importância do trabalho que desenvolve vai além da simples tarefa de facilitar

o trabalho de outrem, pois exige assumir o seu papel de elo entre todas as equipes

atuantes em CC, arcando com as responsabilidades específicas do trabalho de

enfermagem. Importante ressaltar que a necessidade de reconhecimento dos

enfermeiros e demais membros da equipe de saúde, especialmente quanto aos

aspectos de cuidar, remetem a pensar sobre a valorização que se atribui aos pares e

ao trabalho em equipe. Na trajetória da prática, ressalta Castanha e Zagonel (2005),

dar visibilidade à profissão é também buscar parcerias, compartilhar

responsabilidades e tarefas.

Como esclarece Bianchi e Leite (2006), cada vez mais as instituições

hospitalares estão investindo na atuação do enfermeiro junto ao cliente, como

elemento essencial e participativo do desenvolvimento do ato anestésico cirúrgico. O

enfermeiro lida com os momentos críticos desse período, principalmente durante a

recepção do paciente no CC: o início e o término da anestesia; a colocação do

paciente na posição cirúrgica; a vigência de intercorrencias; o fim da cirurgia; o

transporte do paciente; a evolução e a alta do cliente da sala de operações; o

cuidado integral na recuperação anestésica; a evolução e alta da recuperação

anestésica.

Todavia, Peniche e Araujo (2009) alertam para o fato de que apesar do

exercício da enfermagem em CC ser de grande responsabilidade profissional, a

visibilidade do enfermeiro fica comprometida e, na maioria das vezes, passa

despercebida, principalmente quando o procedimento anestésico-cirúrgico é bem

sucedido. Relata ainda que o próprio paciente, por não ter tido um relacionamento

mais prolongado com a equipe de enfermagem do centro cirúrgico, desconhece que

o êxito de sua cirurgia deve-se, em parte, ao enfermeiro. O paciente ignora que

coube ao profissional da enfermagem a atividade assistencial e o gerenciamento de

recursos materiais, humanos e tecnológicos, o oferecimento à equipe da infra-

estrutura e o apoio logístico, indispensáveis para a realização da cirurgia.

Desconhece, ainda o sistema de assistência de enfermagem perioperatória

responsável por oferecer uma assistência de enfermagem de qualidade e promover

a segurança e o bem estar do paciente no período transoperatório.

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As mesmas autoras reforçam ainda a necessidade de o enfermeiro

reconhecer situações que possam causar riscos e danos aos clientes, atuando na

prevenção e propondo intervenções; uma vez que o CC é considerado um palco de

muitas ocorrências graves, tanto físicas como emocionais.

O trabalho em equipe é primordial, pois é no CC e principalmente dentro da

sala cirúrgica que existe em tempo real, que ocupam o mesmo espaço, trabalhando

num mesmo paciente, profissionais que necessitam de ações conjuntas,

dependentes e interdependentes, exigindo múltiplos conhecimentos, experiências e

julgamentos. Indubitavelmente, uma ação multiprofissional pautada no respeito na

valorização do profissional e no interesse do bem comum alcança resultados

melhores do que um conjunto de indivíduos que estejam atuando somente de

acordo com suas responsabilidades individuais, morais e éticas (PENICHE;

ARAUJO, 2009; SILVA; GALVÃO, 2007).

Caregnato e Lautert (2005) constataram em sua pesquisa, que os

profissionais sentem-se preparados para trabalhar tecnicamente com os pacientes,

porém não foram preparados para trabalhar o relacionamento interpessoal que

permeia a equipe multiprofissional.

Na opinião de Cunha e Caregnato (2008), as necessidades do CC devem ser

resolvidas imediatamente, pois, se isso não ocorrer, poderão surgir intolerâncias,

ansiedades, desrespeito e estrelismos individuais. Tomar decisões nesse ambiente é

complexo, pois envolvem restrições econômicas, questões sociais e respeito aos

direitos individuais e coletivos. “A decisão individual afeta o coletivo e a decisão

coletiva impõem restrições aos indivíduos”, desta forma deve-se respeitar as

diferenças individuais e coletivas, baseadas nos valores morais e éticos expressos

pela nossa sociedade (FERRAZ, 2009, p.49).

3.4. A Filosofia, a Ética, a Bioética e o Centro Cirúrgico

A bioética é um dos campos mais emergentes e dinâmicos da reflexão

filosófica atual. Apesar de pouco mais de três décadas de existência, a rapidez de

sua expansão e de seu amadurecimento fez com que assumisse uma influência

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direta, progressiva e irreversível na área da saúde. A sociedade globalizada, o

grande desenvolvimento da medicina, a morte instrumentalizada nos hospitais e a

influência dos aspectos econômicos e legais nas decisões médicas foram os

grandes responsáveis para que isso acontecesse.

Em sua definição, a bioética propõe uma análise do comportamento humano

frente às novas possibilidades que o conhecimento científico traz, podendo pensar

nas possíveis diferenças que surgem entre a própria ética e a ética do outro

(COHEN, 2008). Como bem colocam Grange e Arantes (2005), o homem de outrora

via no futuro uma vida moderna e cheia de facilidades. Hoje ele se vê atropelado

pela biotecnologia, preocupado em querer saber aonde ela o levará .

Dentro deste contexto apresentarei uma breve análise do processo

civilizatório e das descobertas científicas que influenciaram o desenvolvimento

humano e que trouxeram para o ambiente cirúrgico tantas inquietações. Para tanto,

não basta falar somente dos cientistas. A história é conhecida principalmente por

meio do pensamento dos que filosofavam (pensavam sobre a vida). Trago, então, na

figura de grandes filósofos a tradução do pensamento do homem e dos cientistas.

De acordo com Grange e Arantes (2005), para garantir a perpetuação da

espécie o fogo foi a primeira descoberta realizada por nossos ancestrais, frágeis e

desprotegidos, porém curiosos que, ultrapassando seus limites, perceberam que a

sua sobrevivência dependeria do domínio de suas descobertas. A partir de então a

evolução da humanidade tem seu ponto de partida e, como conseqüência, surgiram

as primeiras civilizações. Entre elas destaca-se a egípcia, cujo legado da descoberta

da escrita possibilitou a expansão geográfica e fez surgir as grandes civilizações,

fato que contribuiu para o desenvolvimento da humanidade no caminho do

entendimento da ciência. Os gregos, também deixaram sua marca como autores de

descobertas científicas. O grande pensador Sócrates, séc. IV ac., contribuiu para a

filosofia como educador público, tendo suas idéias perpetuadas através de outros

pensadores como Platão e Aristóteles.

Grange e Arantes (2005) discorrem que o poder daquela época se

concretizou na estrutura social à medida que as civilizações se organizavam em

Estados. A partir daí, por meio de uma hierarquia estabelecida, e muitas vezes

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injusta, surgiram os primeiros pensamentos que hoje designamos como éticos.

Sempre em busca da verdade, a ética de Aristóteles considerava que o homem

através da sua capacidade de raciocínio atrelava as descobertas cientificas a

realizações pessoais e de felicidade. Atribui-se então a Aristóteles um novo processo

na construção do pensamento centrado na razão e na experimentação, tornando

filósofos e cientistas porta–vozes das dúvidas existenciais dos seres humanos, os

experimentadores de idéias. Inicia-se, dessa forma, a construção do pensamento

científico, baseado em conhecimento, experimentação e ética.

Hossne (2002) destaca que a medicina ocidental se estrutura com Hipocrates,

o qual é referido como uma das grandes figuras da Grécia antiga juntamente com

Sócrates e Aristóteles. Ele era um asclepíade, isto é, membro de uma família que

durante várias gerações praticara os cuidados em saúde. Hipócrates compartilhava

a idéia segundo a qual a natureza das doenças só seria conhecida mediante o uso

da observação e da razão. O processo de observação e razão foi conhecido como

técnica médica que o latim traduziu como arte médica. Dessa forma surge o

fundamento do raciocínio clinico que poderia ser aprendido e ensinado.

Os médicos, sendo capazes de dominar a técnica e a arte, passam a ter um

poder amplo, abrangente e profundo, ditando ordens, regras e normas sobre a vida

de outro ser humano. Esse poder ou “competência”, como cita Hossne (2002),

mediante à visão hipocrática, deveria ser subordinado e condicionado a alguns

princípios contidos no “Juramento de Hipócrates”, que ao estabelecer os

fundamentos da técnica e da arte médica, deu enfoque especial à relação médico-

paciente. Esta relação deveria ser fundamentada na amizade e no amor a serviço do

doente. Atribui-se a Hipócrates a famosa frase Primum non nocere (antes de tudo,

não prejudicar).

A Idade Média se caracteriza como um período que gradativamente

desenvolve o conhecimento pela busca dos grandes valores que conferem sentido à

vida humana, em sua história e após a morte. Predominam as razões religiosas. Em

filosofia, desenvolve-se o conhecimento pela busca das essências e das causas

finais; propicia-se o reencontro com os clássicos da filosofia grega, particularmente

Aristóteles; faz-se berço para as universidades que proliferam na modernidade. Mas

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este modelo de pensamento entra em crise com a chegada da ciência moderna, que

a partir do renascimento desloca-se da busca das essências para o estudo das

particularidades e dos fenômenos. Esta transformação gera o saber tecnológico, que

chega aos nossos tempos com suas vantagens, interrogações e ambigüidades

(HOTTOIS, 2008).

Grange e Arantes (2005) ainda consideram que foi por meio do papel e da

imprensa que a humanidade passou a conhecer as invenções científicas. A

Revolução Industrial do final do séc. XVIII veio trazer ao homem a possibilidade de

produzir objetos de consumo não encontrados na natureza.

O progresso tecnocientífico que resultou desse processo, além dos inúmeros

benefícios, trouxe também problemas, particularmente quanto aos sentidos e valores

éticos que permeiam o uso dos recursos técnicos. O ser humano acabou tornando-

se refém de si mesmo, não sobrevivendo sem a máquina.

De maneira analógica, no ambiente hospitalar, em especial no CC, nada se

realiza sem a necessidade inquestionável de materiais e equipamentos, dando-se

sempre preferência aos mais modernos. Esta constante busca da superação dos

limites tecnológicos permitia, até pouco tempo, o exercício pleno da autonomia

científica, sem o devido questionamento ético das conseqüências inerentes a cada

descoberta para a humanidade (GRANGE; ARANTES 2005).

Caregnato (2002) aponta que o desenvolvimento científico e tecnológico não

conseguiu modificar o significado da cirurgia para o paciente e seus familiares de

maneira que ela continua sendo um evento marcante, que invade a intimidade das

pessoas.

De acordo com Urban (2003) o séc. XX foi a época da história da humanidade

em que mais se falou do homem e dos direitos humanos. Contudo, também foi o

tempo marcado pelas maiores violações desses mesmos direitos, pela crise de

valores, a partir da qual o homem não reconhece a sua própria dignidade (respeito a

si próprio) e não respeita a dignidade do seu semelhante.

O campo da ética médica, tradicionalmente marcado por uma ênfase quase

exclusiva do relacionamento médico-paciente (direitos e deveres), atualmente não é

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suficientemente abrangente, capaz de abraçar uma série de situações emergentes

no campo das ciências da vida (URBAN, 2003).

Sendo assim, é neste contexto sócio econômico e cultural complexo que se

conceitua a Bioética. A Bioética é interdisciplinar, sendo essa uma das suas

propriedades mais evidentes. Na opinião de Urban (2003), o conceito de Bioética

mais ideal e aceito atualmente está descrito na Encyclopedia of Bioethics:

Estudo sistemático das dimensões morais – incluindo a visão moral, as decisões, a conduta e as linhas que guiam – das ciências da vida e da saúde, com o emprego de uma variedade de metodologias éticas e uma impostação interdisciplinar (POST, 2004 p.246,247)

O mesmo autor coloca que três áreas contribuíram para a formação da

Bioética: a experimentação em seres humanos; o uso social da medicina e; o

emprego da alta tecnologia na prática médica. Vale salientar que esta última é muito

utilizada em áreas de atendimento de alta complexidade, onde se situa o CC.

A palavra bioética foi citada oficialmente por Van Rensselaer Potter,

oncologista norte-americano, em artigo publicado em 1970. Em 1971 Potter publicou

a obra que passou a ser referência inicial: “Bioética: Ponte para o Futuro” na qual

define bioética, como a ciência da sobrevivência humana, de forma a promover e a

defender a dignidade humana (o respeito ao ser humano) e a qualidade de vida

(POTTER, 1971).

Hoje, em tempos de novidades nunca sonhadas trazidas pela tecnologia, o

cenário bioético foi ampliado de modo que se observam calorosos debates quanto a

sua abrangência temática, seus paradigmas, sua fundamentação e seus princípios.

Hossne, Albuquerque e Goldim (2007) apontam para um primeiro aspecto que

pode ser considerado o campo de ação da Bioética. Afirmam que a Bioética é a ética

das (e nas) ciências da vida, da saúde e do meio ambiente. Um outro aspecto a ser

considerado corroborando com Urban (2006) é sua característica multi e

transdisciplinar, que a torna aberta à pluralidade. A reflexão bioética no sentido

multidisciplinar busca a participação de outras áreas de conhecimento além da ética,

e, sobretudo a transdisciplinaridade, que é a incorporação da visão ética de uma

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disciplina na visão das outras e vice e versa. É nessa linha de pensamento que a

presente pesquisa busca trazer uma contribuição para além da minha área

profissional e dialogando com outros saberes.

Na opinião de Caregnato (2002), a cirurgia passa a ser um ato em que o

paciente deposita sua total confiança e submissão em relação à equipe cirúrgica.

Diante desta afirmação, Santa Rosa (2002) ressalta que o agir nas relações requer a

aplicação de um instrumento de reflexão para nortear ações que surgem das

práticas do CC, que entram em conflito com a garantia dos direitos do paciente,

identificadas no comportamento da equipe multidisciplinar. As relações dentro de um

ambiente como o CC envolvem questões de honestidade, justiça, respeito,

autonomia e cumprimento de compromissos.

De acordo com Santa Rosa (2002), a bioética em CC está presente e

fundamentada na razão e no juízo moral, por utilizar-se de valores e princípios

morais.

Nesse sentido cabe ressaltar o principialismo, definido como uma teoria moral

aplicada ao campo dos dilemas e conflitos morais que surgem na área biomédica

formulada por Tom Beauchamp e James Childress, eles a descrevem em quatro

princípios orientadores de ação: O Princípio da Beneficência, da Não maleficência,

da Justiça e da Autonomia (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002).

No CC, esses princípios são essenciais, quando se observa que a segurança

da vida humana é o mais importante. Os valores individuais justificam e

fundamentam as ações e tomadas de decisões na formação de juízos morais na

prática profissional do enfermeiro. Porém, ainda na opinião da mesma autora, a

maneira como são aplicados pode diferir de uma instituição para outra (SANTA

ROSA, 2002).

Passos (2000) relata que no CC o importante é a tomada rápida das decisões

e a eficácia da ação, podendo-se deixar de lado os valores éticos, o que também

poderia insinuar a polêmica idéia de que os fins justifiquem os meios.

Precisamos ter consciência de que estamos no meio de uma das mais

dramáticas revoluções na história, que nada deixa intocado: nossas maneiras de

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trabalhar, de comunicar, de pensar e de agir (ALMEIDA; BRAGA, 2006). Em nenhum

momento da história humana, segundo Puggina e Silva (2005), a ciência e a

tecnologia colocaram tantos desafios à ética como hoje.

A explosão tecnológica da qual o CC é cenário constante exige dos

profissionais habilidades técnico-científicas e constantes atualizações. Segundo

Puggina e Silva (2005, p.573), as relações pessoais estão perdendo a densidade

ética e as estruturas sociais alterando paradigmas. A desumanização das relações

entre profissionais de saúde e os pacientes tem sido uma das principais causas

apontadas para o aumento de denúncias e processos de promoção de

responsabilidade jurídica contra os profissionais de saúde

Não nascemos éticos, mas nos tornamos éticos através do nosso desenvolvimento. Isso quer dizer que passamos dos direitos humanos a uma ética das relações que, não sendo inata, deve ser apreendida por todos os indivíduos que desejam se relacionar. (PUGGINA; SILVA, 2005, p.543).

Segundo Bronzatti, Ponteli e Ferretti (2008), o profissional de CC, baseado

num código de condutas morais, deve ter qualidades essenciais no exercício de sua

profissão, tais como conhecimento; compromisso; habilidade; estratégia; altruísmo;

justiça; competência; sigilo; prudência; coragem; perseverança; compreensão;

humildade; imparcialidade e otimismo, tendo de desenvolver suas atribuições com

responsabilidade, lealdade e iniciativa.

Para que se possa refletir sobre autonomia em bioética inserida no contexto

do CC, faremos previamente algumas considerações semânticas e filosóficas sobre

autonomia.

A “autonomia” no sentido semântico da palavra vem do grego formada pelo

adjetivo autos que significa “o mesmo”, “ele mesmo”, “por si mesmo” e nomos que

significa “compartilhamento”, “lei do compartilhar”, “instituição”, “lei”, “convenção”.

Nesse sentido autonomia significa a competência humana em “dar-se suas próprias

leis”.

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Quando se fala em autonomia não é possível deixar de mencionar Immanuel

Kant, grande filósofo alemão do séc. XVIII. A ele se atribuiu o valor incondicional da

pessoa humana e sua capacidade de autodeterminação, transformando-a em lei

universal: “Age como se a máxima da tua ação se devesse tronar, pela tua vontade,

em lei universal da natureza.” (KANT, 2005, p.59).

Porém, a autonomia não pode ser entendida tão somente como sendo

autodeterminação de um indivíduo. De acordo com Goldim (2000), a melhor

denominação para o princípio da autonomia está na perspectiva que surge quando

se entende que o conceito não é dirigido apenas a um indivíduo e sim quando a sua

ação vislumbra a responsabilidade pelo respeito à pessoa do outro.

A proposta da responsabilidade dirigida aos cientistas cunhada por Hans

Jonas filósofo alemão do início do séc. XX, defende, por assim dizer, que o cientista

deve estar imbuído do máximo de consciência possível e comprometido com a

defesa de uma autêntica humanidade. Acreditando que a tecnologia elimina a

consciência, elimina o sujeito e elimina a liberdade em proveito de um determinismo,

Hans Jonas foi levado a propor novas dimensões para a responsabilidade

articulando duas realidades: uma subjetiva na qual ocorre a fusão do sujeito e da

ação, e outra objetiva, em que a ação se revela com suas conseqüências. Assim o

princípio da responsabilidade fica definido de forma que “a ordem ética está

presente não como realidade visível, mas como um apelo previdente que pede

calma, prudência e equilíbrio.” (SIQUEIRA, 2005, p.139).

Costa (1996) ao considerar a autonomia como ação, afirma que devemos

entender que ela parte do pressuposto da intencionalidade, do conhecimento e da

ausência de controle externos.

Uma vez que uma ação pode sugerir uma implicação em relação ao outro,

encontramos na opinião de Anjos (2006) a parceria da autonomia com a

vulnerabilidade, cujo termo é derivado do Latim (vulnus: ferida). Tratando-se de

pessoas, expressa a possibilidade de alguém ser ferido tanto no sentido físico

quanto no sentido da ofensa moral quando uma ação é realizada. A vulnerabilidade

pode se referir a indivíduos, grupos e até a toda a humanidade, podendo estar

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sendo defendida ou explorada nas relações quando o sentido de vulnerabilidade

torna-se vulneração (ANJOS, 2006).

Durand (2003, p.176) conceitua que autonomia é “a capacidade de fazer as

próprias escolhas e realizar atos sem coação”, ou, no sentido ético é a capacidade

de decidir no sentido do bem e do que é justo:

A autonomia, portanto, opõe-se tanto à servidão em relação a leis externas (políticas ou morais) como a submissão em relação aos próprios desejos e caprichos individuais, subjetivos.(...) A autonomia remete, portanto, à capacidade ou, melhor, à responsabilidade de buscar o que constitui o bem, o que é racionalmente ético.(...)não é somente um atributo da pessoa, ela é um dever, uma responsabilidade. (DURAND, 2003, p.176-177).

O mesmo autor (2003, p.181) esclarece que podem existir diferentes graus de

autonomia, já que não há uma noção de autonomia perfeita. Porém, a falta de

autonomia pode ser completa quando há coação de qualquer forma. Entre estes

dois extremos, há múltiplos graus:

- autonomia perfeita (utópica)

- autonomia adequada

- assentimento

- não-oposição

- ausência completa de autonomia

O princípio da autonomia está intimamente relacionada com as atitudes. Na

ética, a maneira de como dizer e como fazer é tão importante quanto o conteúdo, o

que dizer e quando dizer. As atitudes por sua vez se relacionam com o ambiente e

os sujeitos, portanto a ética das relações (DURAND, 2003).

Para Santa Rosa (2002) a autonomia é o princípio que preceitua a liberdade

individual de determinar as próprias ações de acordo com a própria escolha, é

reconhecer suas decisões, tomadas de acordo com os seus valores e convicções

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pessoais. Entretanto, coloca que nos dias de hoje a ética é negligenciada por falta

de lealdade dos empregados, pelo uso da tecnologia a serviço da fraude. No CC, a

exemplo de situações enfrentadas pelos enfermeiros temos:

O encobrimento ou deturpação de registros de nomes de elementos da equipe cirúrgica, atuantes ou não, nos procedimentos cirúrgicos realizados; a exigência de uma obediência cega à autoridade, não importando se ela é antiética ou injusta; a negligencia da necessidades de pudor e privacidade de pacientes no período perioperatório [...] (SANTA ROSA, 2002, p.134).

A mesma autora ainda cita outros dilemas que a enfermeira enfrenta no

gerenciamento do BO:

[...] má qualidade no trabalho, decorrente de situações em que o profissional enfrenta o duplo vínculo, a dupla jornada de trabalho;...o sacrifício do mais fraco, para que as coisas sejam feitas levando a sobrecargas de uns em benefícios de outros; a supressão dos direitos de liberdade de expressão e de escolha de atividades, a depender da política de pessoal; o deixar de denunciar a ocorrência de práticas anti-éticas que tenha vivenciado no local de trabalho, por temer a perda do emprego; o bajular o superior hierárquico, em vez de fazer o trabalho bem feito; a promoção do empreendedor destrutivo, que deixa para trás os seus erros; a não cooperação com outras áreas do sistema;[...]atos de inverdade ou de omissão por parte dos dirigentes para com os empregados, sob a justificativa de serem pelo bem da instituição, não deixando claro seus propósitos; o não assumir a responsabilidade por práticas danosas, intencionais ou não. (SANTA ROSA, 2002, p.134).

É nesse contexto complexo, multifacetado que a presente pesquisa foi

desenvolvida seguindo a trajetória metodológica descrita a seguir.

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4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

4.1 Opção pelo Método

O caminho percorrido buscou se aproximar do universo dos valores, dos

significados e das crenças de um grupo multiprofissional que compartilha o mesmo

ambiente, o Centro Cirúrgico.

O processo do trabalho científico desta pesquisa foi o de construir

teoricamente as relações e os significados da realidade. Apropriamo-nos de Minayo

(2009), entendendo que por meio de uma abordagem qualitativa poderíamos

absorver essa realidade com seus subjetivismos.

Estudar no universo das ciências da saúde o comportamento e as relações

sociais a partir das quais os indivíduos se interagem formando grupos, equipes,

times, levou-me a optar pela pesquisa exploratória, descritiva de abordagem

qualitativa (MINAYO, 2009; GIL, 2009).

Ao analisar a natureza do problema a ser pesquisado, a abordagem

qualitativa se torna a mais adequada, uma vez que esta considera a existência de

uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito (CAREGNATO, 2002).

Segundo Oliveira (2002b), a pesquisa qualitativa possibilita a investigação de

situações complexas ou situações muito particulares. Preocupa-se em investigar o

fenômeno e não o fato, pois o fenômeno remete à interpretação subjetiva do fato

feita pelo observador.

Na pesquisa qualitativa, o pesquisador busca levantar as opiniões, as

crenças, o significado das coisas nas palavras, nos gestos e no comportamento dos

participantes da pesquisa. Busca explorar a compreensão das pessoas a respeito de

sua vida diária, ou seja, dar sentido ou interpretar fenômenos em termos das

significações que as pessoas trazem para elas (VIEIRA, 2008).

Há uma variedade de técnicas, caracterizações e desenhos segundo

Caregnato (2002), que possibilitam desvendar e discutir os problemas vivenciados e

sua prática. Neste estudo optamos por trabalhar com a técnica do “Estudo de Caso”,

pois segundo Minayo (2006), esse é um meio de se organizar dados de modo a

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preservar características individuais, permitindo também reunir informações em um

determinado campo, gerando conhecimento sobre características significativas de

eventos vivenciados, intervenções e processos de mudança. A mesma autora coloca

que este é o método indicado para responder ao “como” e ao “porque” determinado

fenômeno se apresenta. Eles exploram o contexto em que uma ação ocorreu ou

ocorre, as maneiras de interpretá-la com o objetivo de compreender os esquemas de

referência e as estruturas de relevância relacionadas a algumas situações por parte

de um grupo específico. Possibilita ainda apresentar modelos de análise replicáveis

em situações semelhantes.

De acordo com Kimura e Merighi (2003), o estudo de caso pretende relatar

uma configuração que, embora particular, funcione apenas como ponto de partida

para uma análise que busque o fortalecimento das relações sociais e que tem como

base o conhecimento que se inicia pela compreensão dos eventos particulares. A

autora coloca que, no estudo de caso, empregam-se vários métodos, incluindo a

entrevista, a observação participante e os estudos de campo. Acrescenta ainda que

para proceder a sua análise o pesquisador deve (p.18):

- depender de todas as evidencias relevantes;

- incluir todas as formas possíveis de interpretação;

- voltar-se para os aspectos mais relevantes do estudo de caso; e

- utilizar a habilidade e o conhecimento para promover a análise, priorizando os pontos a serem explorados.

4.2 Local de Estudo

O campo de pesquisa é considerado um recorte espacial feito pelo

pesquisador para representar a realidade que deseja estudar. A escolha do campo é

considerada como uma etapa essencial da pesquisa qualitativa, uma vez que os

pesquisadores selecionam os fatos a serem observados e o local em que serão

coletados (MINAYO, 2006).

Diante disso, foi eleito como campo de estudo o CC de um Hospital Geral

Privado da região oeste da cidade de São Paulo inaugurado em 1960. Trata-se do

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Hospital e Maternidade São Camilo unidade Pompéia, campo de estágio de alunos

de graduação em enfermagem do Centro Universitário São Camilo. O hospital

referido e a Instituição de Ensino Superior fazem parte de uma organização que

compartilha valores semelhantes apoiando-se na bioética, saúde e cidadania. Desta

forma a escolha do campo e dos sujeitos se justificou presumindo ser o ambiente do

CC e os profissionais que lá atuam adequados para a realização esta pesquisa.

4.3 Sujeitos da Pesquisa

De acordo com Deslandes e Gomes (2009), a seleção dos sujeitos deve ser

aquela que possibilita abranger o problema da pesquisa nas suas diferentes formas

de representação e também deve ser capaz de responder a uma determinada

pergunta. Neste estudo de caso, a indagação foi formulada da seguinte maneira:

Quem são os indivíduos que se relacionam e interagem dentro do CC capazes de

fornecer opiniões, dados, valores e vivências para serem analisadas?

Esta resposta foi identificada nos artigos escritos por Barreto e Barros (2009),

Peniche e Araujo (2009) e Silva e Galvão (2007) quando discorrem que o CC é

formado por uma equipe multiprofissional que desenvolve no seu cotidiano ações

dependentes e interdependentes integradas num mesmo ambiente, compartilhando

responsabilidades.

Levando-se em consideração o grande número de profissionais de distintas

áreas e especialidades que atuam no CC, optamos neste estudo por entrevistar os

anestesiologistas, cirurgiões, enfermeiros e técnicos de enfermagem considerados

representantes da equipe de CC. Outro motivo que levou-nos a essa escolha foi o

fato de que são eles que atuam com um único objetivo, no mesmo espaço, no

mesmo tempo e com o mesmo paciente, de forma rotineira. Portanto, tais

profissionais são aqueles considerados “informantes chaves.” (GIL, 2009).

Na pesquisa qualitativa não se pode quantificar previamente o número de

sujeitos de pesquisa, tendo em vista que o estudo se propõe a analisar as

representações, conhecimentos, atitudes e comportamentos. De acordo com

Deslandes e Gomes (2009), o número de sujeitos deve ser definido por “inclusão

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progressiva”, ou seja, os sujeitos vão sendo incluídos durante a fase das entrevistas

e à medida que se observa, a partir das respostas, uma regularidade, uma repetição

das explicações e dos sentidos das respostas, interrompe-se seguindo o critério de

saturação dos dados.

Em outras palavras Minayo (2006), coloca que o dimensionamento da

amostra em pesquisa qualitativa obedece ao “critério de saturação dos dados”, que

se entende como o conhecimento formado pelo pesquisador, no campo, do que

conseguiu compreender a lógica interna do grupo. A relevância, portanto, está no

empenho de enxergar a questão sob várias perspectivas e pontos de vista.

Uma vez definidas as quatro categorias profissionais, as entrevistas foram

realizadas e à medida que se observou a saturação dos dados, a amostragem

daquela categoria profissional foi interrompida. .

4.4 Coleta de Dados

O estudo de caso segundo Gil (2009) necessita de várias fontes de evidência

para se investigar e analisar o caso como um todo. Necessita, também, de múltiplas

técnicas de coleta de dados para que se possa garantir:

[...] a profundidade necessária ao estudo e a inserção do caso em seu contexto, ...conferir maior credibilidade aos resultados. Com a existência de dados obtidos mediante procedimentos diversos é que se torna possível a triangulação, que constitui um dos procedimentos mais indicados para obter a corroboração do fato ou do fenômeno. (GIL, 2009, p.55).

Procuramos como pesquisadora atentar também para as indicações de

Minayo (2006, 2009) quando coloca que no que tange à pesquisa qualitativa, a

interação entre o pesquisador e o sujeito pesquisado é essencial. Dessa maneira,

todo pesquisador precisa ser um curioso, um perguntador. Deve ser atento e

observador para captar nas respostas dos sujeitos significados que vão além da

palavra escrita. Deve saber ouvir, ser flexível, porém, sem perder o foco da

entrevista. Cabe ao pesquisador, ainda, saber também escolher o local do estudo,

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selecionar a amostra, fazer os contatos, elaborar e realizar entrevistas e analisar os

dados coletados.

Os instrumentos definidos para a coleta de dados deste estudo foram

entrevistas semi-estruturadas e com perguntas abertas, observação e análise

documental e científica (GIL, 2009).

Importante destacar que a consulta documental é imprescindível para o

pesquisador obter informações referentes à estrutura, organização, descrição de

cargos e funções (GIL, 2009).

O “Regimento Interno do Departamento Cirúrgico” (ANEXO A), fornecido pela

enfermeira chefe do CC, O Folheto do Serviço de Anestesia (ANEXO B), fornecido

pelo chefe da anestesia, bem como os sites da Sociedade Beneficente São Camilo,

do Hospital e Maternidade São Camilo e da União Social Camiliana serviram como

base documental analisada nesta pesquisa.

Considera-se que em entrevistas abertas e semi-estruturadas os

entrevistados apresentem uma fala relativamente espontânea, na qual a

subjetividade está muito presente. Ao discursar através do “eu” o entrevistado coloca

os seus próprios sistemas de pensamento, aflora o seu inconsciente, seus valores,

suas emoções e mesmo ao falar de outra pessoa ou de uma situação utiliza seus

próprios meios de expressão para descrever sua opinião, dando uma singularidade

individual à entrevista. Ao mesmo tempo, observa-se que as falas dos entrevistados

podem ser contraditórias, entrecortadas, desviadas do assunto, inseguras, com

clarezas enganadoras, atalhos, e recuos, o que demonstra “delicadeza” com que se

devem ser analisados esses discursos (BARDIN, 2008).

O roteiro da entrevista foi elaborado em duas partes: uma relativa aos dados

de identificação o outra com questões abertas (APÊNDICE B).

As entrevistas foram gravadas, conforme a recomendação de Gil (2009), que

considera este procedimento importante para que não se perca nenhum dado da

entrevista e para que o pesquisador possa observar nos gestos, nas pausas, na

comunicação não verbal, características individuais que não seriam conseguidas

através da tomada de notas.

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44 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

O projeto foi aprovado pela instituição em que se daria o local do estudo e

pelo CoEP – Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo em

outubro de 2009. A prova de qualificação da pesquisa foi marcada e realizada em

novembro de 2009. Em dezembro de 2010, alguns ajustes sugeridos na qualificação

foram realizados.

Houve um contato telefônico, em janeiro de 2010, com a chefia de

enfermagem do CC que já havia sido previamente informada da intenção do projeto.

Deste contato, firmou-se uma visita pessoal que aconteceu no mês seguinte, no

sentido de conhecer o local de estudo e a melhor forma de contato com os sujeitos

da pesquisa.

Na data marcada, reconheci o CC na companhia da enfermeira chefe, para

quem o projeto foi apresentado. Em seguida apresentou-se o projeto para o

anestesiologista chefe do CC. Foram-lhes apresentados o objetivo, a metodologia e

o parecer do CoEP aprovando a pesquisa. Ambos se mostraram empenhados e

interessados no tema. Cada um na sua área forneceu-me dados necessários para a

caracterização mais detalhada do local e dos sujeitos da pesquisa.

Em comum acordo com as chefias de enfermagem e anestesiologistas, optou-

se por realizar as entrevistas dentro do CC durante o período de trabalho. Tal opção

foi motivada por dois motivos: 1) considerar que seria desconfortável aos

profissionais se ausentarem do seu local de trabalho devido ao acesso restrito do

CC, o que demandaria troca da roupa privativa; e 2) considerar a dinâmica do setor,

onde os profissionais das diversas categorias seguem um agendamento cirúrgico

com horários previamente estabelecidos. Desta forma, nos intervalos entre um

procedimento e outro os profissionais que se encontravam disponíveis eram

identificados e convidados a participar da pesquisa. A amostra deu-se por

conveniência, conforme descrevo a seguir.

Foi realizado um total de 27 entrevistas. Como dependia-se da disponibilidade

da equipe, as entrevistas foram finalizadas após oito visitas ao CC. No dia 09/03

foram entrevistados dois enfermeiros e um técnico de enfermagem; dia 11/03, mais

três enfermeiros e dois técnicos de enfermagem. Com uma amostra de cinco

enfermeiros as gravações foram ouvidas e transcritas identificando-se a regularidade

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CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

e repetição das explicações, sem que nenhum dado novo fosse relatado. Dia 15/03

foram entrevistados quatro anestesiologistas. Dia 16/03 mais dois anestesiologistas

disponíveis foram entrevistados e um enfermeiro. Apesar do número da amostra dos

enfermeiros já ter sido considerada saturada, optou-se por entrevistar também este

enfermeiro por respeito à sua disponibilidade e por ser ele parte integrante dos seis

enfermeiros que atuam no CC durante o dia. Com seis anestesiologistas

entrevistados, realizei a escuta das entrevistas e da mesma forma que observei nos

enfermeiros, defini a amostragem com seis anestesiologistas suficientes e

satisfatórias. Dia 21/03 realizei entrevista com mais dois técnicos de enfermagem

que se encontravam disponíveis. A amostragem com os cinco técnicos de

enfermagem não me permitiu, através da escuta das entrevistas, observar respostas

regulares. Dia 22/03 foi entrevistado um cirurgião e mais dois técnicos de

enfermagem, que se encontravam disponíveis na ocasião. Com sete técnicos

entrevistados obteve-se o critério de saturação dos dados, fechando assim a

amostra do grupo de técnicos de enfermagem. Com apenas um cirurgião

entrevistado dia 23/3 foi realizada mais uma visita ao CC. Nesta data mais dois

cirurgiões foram entrevistados e me foram encaminhados mais dois técnicos de

enfermagem. Assim, também em respeito à disponibilidade dos profissionais, optei

por realizar as entrevistas e incluí-las nas análises, uma vez que os dados obtidos

vieram a reforçar os dados relatados dos outros entrevistados.

Considerando a proporcionalidade final dessa amostragem optamos por

entrevistar mais alguns cirurgiões a fim de garantir a equidade da participação das

diferentes categorias profissionais, embora não fosse intenção desta pesquisa

analisar separadamente as diferentes categorias. Realizei mais uma visita ao CC

que aconteceu dia 21/05 quando foram entrevistados mais três cirurgiões

disponíveis na ocasião.

O número dos sujeitos foi então fechado e definido através do critério de

saturação dos dados, ficando da seguinte maneira: seis enfermeiros denominados

aqui através da nomenclatura: E1, E2, E3, E4, E5, E6; nove Técnicos de

Enfermagem, denominados: T1, T2, T3, T4, T5, T6, T7, T8, T9; seis

Anestesiologistas, denominados: A1, A2, A3, A4, A5, A6, e seis Cirurgiões: C1, C2,

C3, C4, C5, C6.

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46 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

As entrevistas foram realizadas na sala da chefia de enfermagem do CC

cedida temporariamente para este fim.

Após as apresentações nominais, realizava um breve histórico profissional

informando aos entrevistados que o tema da pesquisa era “ O Relacionamento

Interpessoal da Equipe do Centro Cirúrgico – Uma Reflexão a Luz da Bioética” que

estava sendo desenvolvida por mim, enfermeira e mestranda Maristella Lopes

Gianini, sob a orientação da Profª Drª Luciane Lucio Pereira e co-orientação do Prof.

Dr. Pe. Marcio Fabri dos Anjos. Apresentei-lhes os objetivos do estudo, esclareci

quanto a metodologia a ser seguida, garantindo-lhe a privacidade das informações e

a preservação do anonimato de cada um. Informava também que poderia ser

fornecidos esclarecimentos sobre o estudo, bem como a retirada de seu

consentimento a qualquer momento, sem que isto o levasse a qualquer penalidade.

Deixava meu contato telefônico e email bem como o contato telefônico do

Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo caso houvesse

qualquer problema.

O aceite do entrevistado ficou registrado com a sua assinatura no TCLE

(Apêndice A) em duas vias, sendo que uma ficou em seu poder e outra em poder do

entrevistador.

Em seguida, iniciou-se a entrevista propriamente dita seguindo o roteiro pré-

estabelecido (Apêndice B). Neste momento, recolher os dados de identificação dos

sujeitos me auxiliaram para que eu pudesse iniciar um relacionamento interpessoal,

deixando entrevistados e entrevistador mais à vontade.

Ao término de cada entrevista, os sujeitos foram questionados se gostariam

de ter contato com a transcrição das mesmas antes da análise. Nenhum solicitou,

mas muitos demonstraram interesse no resultado final da pesquisa.

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Maristella Lopes Gianini

4.5 Análise dos Resultados

Após cada entrevista ser realizada, ela foi ouvida e transcrita. A releitura

completa e atenta de todas elas foi realizada continuamente para que eu pudesse

familiarizar-me com as respostas e obter uma visão geral do material (GIL, 2009).

As categorias de analise foram predeterminadas a partir do roteiro de

perguntas. Segundo Minayo (2009) a palavra categoria refere-se em geral a um

conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se

relacionam entre si. No caso do presente estudo a utilização de uma categoria

predeterminada foi utilizada com a idéia de estabelecer classificações, permitindo-se

agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito.

Muito embora os resultados permitissem usar um roteiro preestabelecido,

trabalhando com categorias predeterminadas, busquei a validação dessas

categorias considerando os critérios de análise de conteúdo de Bardin (2008), que

indica que as categorias devem ser excludentes. Ferreira (2000) corrobora com esta

idéia afirmando que, na construção das categorias, os discursos são classificados

em uma única categoria ou subcategoria, respeitando a regra de exclusividade, em

que um elemento não pode ser classificado em mais de uma categoria.

No processo de análise dos dados dos estudos de caso, Gil (2009) aponta

que não há uma seqüência a ser seguida para se interpretar os dados. Porém, é

necessário que na análise das entrevistas o pesquisador consiga suprimir trechos

menos relevantes e com significados iguais; explicar trechos contraditórios ou que

revelaram mais de um sentido; além disso, deve estruturar formalmente o material

de modo que se estabeleça relações com o objetivo da pesquisa.

Sendo assim foram definidas seis categorias identificadas a partir das

perguntas da entrevista como mostram as figuras abaixo:

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Figura 1 – Origem da Categoria Predeterminada – Composição da Equipe do Centro Cirúrgico

Figura 2 – Origem da Categoria Predeterminada – Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico

Categoria Pergunta 1

Composição da equipe do Centro Cirúrgico

Pra você quem é a equipe do CC

Categoria Pergunta 2

Percepção do Relacionamento Interpessoal da equipe multiprofissional do Centro Cirúrgico

Como você percebe o relacionamento interpessoal da equipe multiprofissional que atua no CC, quais os fatores condicionantes (restritivos e promotores)?

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Figura 3 – Origem da Categoria Predeterminada – Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico

Figura 4 – Origem da Categoria Predeterminada – Conflito Ético em Centro Cirúrgico

Figura 5 – Origem da Categoria Predeterminada - Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em Centro Cirúrgico

Categoria Em sua opinião como

você percebe a atuação do enfermeiro diante

destas situações?

Pergunta 5

Atuação do enfermeiro frente ao conflito ético em Centro Cirúrgico

Categoria Você identifica situações de conflito ético no trabalho desta equipe?

Pergunta 4

Conflito ético em Centro Cirúrgico

Categoria Pergunta 3

Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico

Em sua opinião qual o papel do enfermeiro nesta equipe?

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Figura 6 – Origem da Categoria Predeterminada – Autonomia Profissional do Enfermeiro do Centro Cirúrgico

Em seguida, dando continuidade à releitura das entrevistas foi possível

realizar o que Gil (2009) chama de codificação axial. Esta codificação permitiu

relacionar as categorias às suas subcategorias, cujo propósito foi o de relacionar e

reorganizar os dados de maneira que se pudesse identificar a idéia central e seus

desdobramentos. Nesta fase, também foi possível confirmar mais uma vez, por meio

das repetições das falas e seus significados, a saturação dos dados.

As codificações foram realizadas manualmente identificadas com cores

diferentes. A partir da primeira codificação, quem utilizou cores respectivas, foi se

extraindo através de corte e colagem dados significativos das respostas de todos os

entrevistados. Estas foram sendo agrupadas em suas respectivas categorias. Ao

utilizar-se sempre da releitura como forma de familiarização do conteúdo e

identificação da profundidade das respostas, as subcategorias foram sendo

identificadas.

Categoria 6. Como você

identifica a autonomia do enfermeiro?

Pergunta 6

Autonomia Profissional do enfermeiro do Centro Cirúrgico

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5 APRESENTAÇÃO DOS DADOS

5.1 Caracterização do Local do Estudo

5.1.1 Caracterização da Instituição

O Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia (HMSCP) é um dos 27

hospitais que são mantidos pela da Sociedade Beneficente São Camilo (SBSC),

juntamente com quatro clínicas e um plano de saúde, todos distribuídos por todo o

território nacional. A história deste hospital teve início em 1923 quando o Pe.

Inocente Radrizzani, criou um serviço assistencial gratuito para as pessoas menos

favorecidas do bairro de Vila Pompéia, na cidade de São Paulo.

Em 1932, construiu a Policlínica São Camilo com auxílio de donativos de

pessoas físicas e jurídicas. Em 23 de janeiro de 1960, a Policlínica deu lugar ao

Hospital e Maternidade São Camilo Pompéia. Hoje ele é um hospital geral,

filantrópico e de iniciativa privada que realiza desde partos até transplantes. Oferece

um atendimento de qualidade em todas as especialidades médicas, tendo um

completo centro de diagnóstico. A Unidade Pompéia é Acreditada com Excelência,

selo concedido pela ONA (Organização Nacional de Acreditação) e reconhecido pelo

Ministério da Saúde, mediante avaliação do Instituto Qualisa de Gestão (IQG). A

missão e valores do hospital são:

Proporcionar serviços na área da saúde, superando a expectativa

dos clientes, alicerçados na competência, tecnologia, humanização e

valorização da vida.

Através de valores éticos morais e culturais; espiritualidade;

comprometimento profissional e social; princípios éticos nas ações;

desenvolvimento profissional; valorização da vida e da saúde;

qualidade e humanização no atendimento; integração institucional;

gestão auto-sustentável. (PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA,

2005).

Atualmente, conta com 308 leitos de internação sendo que 257 leitos estão

ativos. Os 51 leitos restantes são considerados extras, por conta de reformas que

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estão sendo realizadas. Estes leitos são divididos em: 29 leitos de Maternidade; 20

leitos de Pediatria; 9 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal; 13 leitos

de UTI Pediátrica; 2 leitos de Berçário Patológico; 9 leitos de Transplante de Medula

Óssea (TMO); 11 leitos de Clínica Médica; 31 leitos de UTI Adulto; 131 leitos de

Clínica Médico-cirúrgica divididos em 7 andares” (1 comunicação pessoal).

O hospital segue os preceitos que regem a “Carta de Princípios das Entidades

Camilianas” (UNIÃO SOCIAL CAMILIANA, 2002) ANEXO A. Estes princípios são

alicerçados por valores éticos e cristãos cuja valorização da pessoa humana está

pautada na sua dignidade, no respeito e na valorização da vida e saúde.

5.1.2 Caracterização do Centro Cirúrgico

O Centro Cirúrgico está situado no sétimo andar do Bloco I e II. Neste mesmo

pavimento encontra-se a Central de Material e Esterilização e a Recuperação Pós-

Anestésica.

De acordo com a ideologia camiliana:

“O CC oferece um atendimento humanizado e a preocupação com o conforto

e comodidade do médico e do paciente são dois aspectos sempre presentes.”

(HOSPITAL E MATERNIDADE SÃO CAMILO, 2008).

O CC conta com 13 salas de cirurgia e 11 leitos de Recuperação Anestésica

totalmente equipada com aparelhos de alta tecnologia. Atende a cirurgias eletivas,

de urgência e emergência, de pequeno, médio e grande porte bem como cirurgias

especiais, nas diversas especialidades cirúrgicas, inclusive transplantes. As cirurgias

eletivas são pré-agendadas na Central de Pré-agendamento Cirúrgico que funciona

nas dependências do dentro do CC de 2ª feira à 6ª feira das 7 às 19hs. A agenda é

aberta, não há limitação de dia e horário para a realização das cirurgias eletivas,

porém há um pré-agendamento da cirurgia onde o pedido de equipamentos e

material especial deve seguir rotina específica. A descrição detalhada do material,

suas quantidades e o fornecedor devem ser encaminhados por email ou via fax. As

cirurgias de urgência devem ser agendadas no próprio centro cirúrgico pelo cirurgião

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ou outro membro da equipe de cirurgia. A média mensal de pacientes operados gira

em torno de 828, porém as cirurgias realizadas mensalmente são de 1024, uma vez

que é possível realizar mais de um procedimento cirúrgico num mesmo paciente.

Desta forma, 34 é a média de cirurgias realizadas diariamente. (FARAH, 2010).

5.1.3 Caracterização dos Sujeitos da Pesquisa

Ainda que os sujeitos desta pesquisa tenham diferentes vínculos

institucionais, consideram-se parte do “Time Camiliano”, de modo que:

[...] o time Camiliano trabalha comprometido com a responsabilidade pela manutenção do constante pensamento cultural da missão, visão e valores da instituição, alinhados à gestão estratégica pela qualidade, por meio de ações e programas que atingem a todas as categorias profissionais. Isso assegura o alinhamento dos processos de trabalho com os objetivos globais da instituição. (HOSPITAL E MATERNIDADE SÃO CAMILO, 2008).

Os médicos do CC são definidos neste estudo como anestesiologistas e

cirurgiões.

Para que um cirurgião possa utilizar o Hospital ele deve ser cadastrado na

instituição através da Diretoria médica e seguir as rotinas existentes. Os cirurgiões

cadastrados, alguns deles, fazem parte do corpo clínico do hospital, onde prestam

serviços nas diversas unidades (Unidade de internação, CC, CME, RPA e UTIs).

Outros ainda são apenas credenciados para utilizar os serviços oferecidos e adequar

às necessidades de seus pacientes que, no caso em questão, são as necessidades

cirúrgicas (FARAH, 2010).

Os anestesiologistas estão vinculados a uma empresa particular denominada

Instituto Paulista de Assistência Respiratória (I.P.A.R.). Esta empresa é formada por

cinco sócios, trinta e dois anestesiologistas, uma secretária e dois auxiliares

administrativos, os quais prestam serviços para o HMSCP nas unidades de CC, CO,

Hemodinâmica, Raio X, Tomografia e Unidade de Ressonância Magnética. A chefia

médica, ou seja, o anestesista chefe, o pessoal administrativo e os anestesiologistas

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estão locados nas dependências do CC. Por meio de uma escala predefinida

rodiziam-se para atender atividades relacionadas ao procedimento anestésico. O

número de anestesiologistas varia conforme o pré-agendamento cirúrgico.

Basicamente, é escalado um anestesiologista por cirurgião para as cirurgias eletivas

e mais dois para as cirurgias de urgência e emergência. Desta forma, a média diária

de anestesiologista durante o dia é de 12 a 14 profissionais. Ultimamente, criou-se

um plantão estendido até às 22 horas, conforme a necessidade da agenda cirúrgica.

Aos sábados, este número varia entre 8 e 9 profissionais. À noite e aos domingos há

2 anestesiologistas fixos com cobertura por radio à distância conforme informado

pelo chefe da anestesiologia (NIGRO, 2010).

Aos clientes é oferecido um folder explicativo (ANEXO B) a respeito da

anestesia e do Serviço de Anestesia do Hospital e Maternidade São Camilo

Pompéia. Nele é informado que a anestesia é aplicada por médicos especialistas em

anestesiologia, capacitados não somente para aplicar a anestesia, mas também

para oferecer ao cliente segurança, sem sofrimento e tranqüilidade para o cirurgião

realizar o trabalho dele (NIGRO, 2010).

Quanto à enfermagem, ela está vinculada diretamente ao quadro de

funcionários do hospital denominados colaboradores. Há uma enfermeira chefe

responsável pelo CC a qual, por seu caráter administrativo, cumpre 40 horas

semanais de 2ª a 6ª feira, sendo que o restante da equipe de enfermagem obedece

a um regime de trabalho de 36 horas semanais, 6 horas diárias, de 2ª feira a

domingo com uma folga semanal. O período de 6 horas obedece aos seguintes

horários: Manhã: das 7hs às 13hs; Tarde: das 13hs às 19hs e Noturno das 19hs às

7hs (FARAH, 2010).

Há oito enfermeiras distribuídas da seguinte maneira: duas no período da

manhã; duas no período da tarde; uma em cada noturno (par e impar); uma

denominada ferista, que cobre as férias, e que quando não está nesta cobertura

cumpre o horário das 18 às 24 h; e uma folguista que também quando não está

nesta cobertura cumpre o horário das 9 às 15hs. As atividades diárias das

enfermeiras que se auto-denominam “assistenciais” são exercidas em todo o CC, ou

seja: prestam assistência de enfermagem nos pacientes pós-operados; na

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Maristella Lopes Gianini

Recuperação Anestésica; organizam a dinâmica diária do CC com todos os

profissionais envolvidos; materiais e equipamentos; definindo horários, salas, equipe

de enfermagem; cumprem e fazem cumprir toda documentação e burocracia

exigida para a realização da cirurgia; atendem e assistem ao paciente e à equipe de

cirurgia dentro da SO (FARAH, 2010).

Há 29 técnicos de enfermagem distribuídos da seguinte maneira: 16 no

período da manhã; 15 no período da tarde; 3 em cada noturno (par e impar); 1

cumpre o horário das 18 às 24hs e 1 das 17 às 23hs. Os técnicos atuam nas salas

de cirurgia, sendo denominados circulantes de sala, e na Recuperação Anestésica.

Diretamente ligada à equipe de enfermagem propriamente dita há

quatro auxiliares de enfermagem que atuam como agentes de transporte. Eles

cumprem uma jornada de 8 horas diárias de trabalho de 2ª a sábado com horários

de entrada predefinidos: 6hs; 7hs; 10hs e 12hs (FARAH, 2010).

Subordinadas à chefia de enfermagem do CC há duas escriturárias; 1 auxiliar

de escritório e 2 auxiliares de guia responsáveis pela marcação das cirurgias, ou

seja, pelo pré agendamento cirúrgico (FARAH, 2010).

As atribuições dos colaboradores estão de forma mais detalhada no capítulo

V, Art. 10, 11, 12, 13, 14 e 15 do “Regimento Interno do Departamento Cirúrgico do

Hospital e Maternidade São Camilo unidade Pompéia”. (ANEXO C).

5.2 Apresentação das Categorias e Subcategorias

De acordo com o referencial metodológico as categorias foram

predeterminadas e as subcategorias emergiram através da relevância e da repetição

das idéias.

De maneira geral os dados foram observados no contexto de todas as

categorias profissionais, porém naquela em que o dado se mostrou muito relevante a

uma determinada categoria, este foi apontado.

As categorias predeterminadas e suas subcategorias foram:

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Categoria 1: Composição da equipe do Centro Cirúrgico;

Categoria 2: Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe

Multiprofissional do Centro Cirúrgico, constituída pelas

subcategorias: Fatores Promotores do Relacionamento

Interpessoal no Centro Cirúrgico e Fatores Restritivos do

Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico;

Categoria 3: Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico, constituída

pelas subcategorias: Papel de Liderança e Papel Assistencial;

Categoria 4: Conflito Ético em Centro Cirúrgico, constituída pelas

subcategorias: Conflito Ético Reconhecido e Conflito Ético

Justificado;

Categoria 5: Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético, em Cento

Cirúrgico, constituída pelas subcategorias: Posicionamento do

enfermeiro; Enfermeiro como agente mediador e Enfermeiro

como agente causador do conflito; e

Categoria 6: Autonomia Profissional do Enfermeiro de Centro Cirúrgico

constituída pelas subcategorias: Autonomia exercida pelo

enfermeiro; Autonomia não exercida pelo enfermeiro e

Autonomia Limitada do enfermeiro.

5.2.1 Categoria 1: Composição da Equipe do Centro Cirúrgico

Quanto à primeira categoria: “Composição da Equipe do Centro Cirúrgico”

as respostas obtidas foram semelhantes. Os relatos de formação da equipe do CC

foram observados através de respostas utilizando formas de expressão iguais ou

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Maristella Lopes Gianini

similares como: todo mundo, todos nós, equipe multiprofissional, multidisciplinar,

geral, um time grande.

Porém, vale ressaltar que a partir da primeira indagação observou-se uma

surpresa dos entrevistados em relação à pergunta e também às que vieram na

seqüência. A partir do primeiro questionamento, que era a composição da equipe, a

repetição da pergunta, de certa forma mostrou a convicção da resposta.

“Quem é a equipe? Todos nós!” A6

“Quem é a equipe? Todo mundo... “ E5

“Quem é a equipe do CC? Eh... É uma equipe multidisciplinar...” T4

A composição da equipe na fala dos sujeitos fica clara quando se identifica o

CC como um ambiente onde a dependência do trabalho de um, interfere no

desempenho profissional do outro. Desta forma a composição da equipe também se

definiu através da consideração de que o trabalho individual de cada um reflete no

trabalho do outro e no objetivo final. Isto pode ser observado nas seguintes falas:

“São todos na verdade, equipe é equipe... O CC é um dos poucos

lugares que depende de todos. Quando um falha pára tudo. ....

atuação de cada um deles influi no resultado final” C4

“...qualquer pessoa que sair da... da linha, me atrapalha, então pra mim é

todo mundo.” A6

Ainda com relação à equipe, à sua interdependência, houve citação direta

quanto à composição segundo as funções e atribuições que cada profissional

exerce, reforçando, assim, a idéia de equipe multiprofissional. As funções citadas

foram: ascensorista; maqueiro; enfermeiro; enfermeiro chefe; técnico de

enfermagem; circulantes de sala; anestesista; cirurgião; instrumentador cirúrgico;

pessoal da farmácia; da rouparia; da limpeza; da manutenção; da alimentação; da

central de materiais; pessoal que vem de fora:

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“atuação de cada um deles influi no resultado final:.. o maqueiro, pra pegar

o paciente, o ascensorista pra trazer o maqueiro com o paciente a

enfermeira pra organizar as vindas, a circulante de sala pra... recepcionar

e deixar isso pronto, o anestesista, o paciente e eu... e minha

instrumentadora” .C4

“médico cirurgião, que vem com a paciente pra operar, o paciente, e aí os

demais, a enfermeira...chefe, a enfermeira coordenadora, os técnicos,

anestesistas, se tiver, o auxiliar do anestesista, instrumentadora, os

colaboradores também da farmácia, equipe de limpeza, todo mundo que

está envolvido”.T7

“englobando todos... e... a parte de suporte todo... desde da, da, do

pessoal da faxina, do pessoal da alimentação acho que isso forma... um

CC funcionando”. A2

“Aqui a equipe do CC não é só a equipe de enfermagem... mas sim ah...

multiprofissional. Seria a equipe anestésica, farmácia, central de

materiais, o ah... pessoal da higiene também né?” E2

“Claro que tem a equipe que eu chamo de equipe fixa, que é aquela

equipe que tá éh... são os profissionais que estão todos os dias com a

gente, e o pessoal que vem de fora que agrega ao trabalho ao nosso

trabalho. Né?” E3

5.2.2 Categoria 2: Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico

Com relação à segunda categoria “Percepção do Relacionamento

Interpessoal da equipe multiprofissional do Centro Cirúrgico” foram observadas

respostas que levaram a identificar duas subcategorias: Fatores Promotores do

Relacionamento Interpessoal no CC; Fatores Restritivos do Relacionamento

Interpessoal no CC.

Quando os sujeitos discorrem sobre como percebem os relacionamentos

interpessoais no CC, eles apontam a realidade de interdependência que vivenciam

exemplificando-a com fatores promotores, e restritivos.

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Figura 7 - Categoria 2: Percepção do Relacionamento Interpessoal da Equipe Multiprofissional do Centro Cirúrgico. Subcategorias: Fatores Promotores do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico; Fatores Restritivos do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico.

Subcategoria: Fatores Promotores do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico

Os sujeitos se referem aos relacionamentos interpessoais no CC de forma

cuidadosa. As pausas, as falas entrecortadas entre uma consideração e outra

evidenciaram que houve um processo de elaboração da resposta. Algumas falas

relatam que no local do estudo o relacionamento é bom, discorrem sobre fatores que

o promovem e incluem nestes fatores as suas percepções de como as relações

poderiam ser melhoradas.

As falas dos sujeitos também demonstraram que um CC organizado, onde há

uma preocupação com a qualidade da assistência e as tarefas são definidas, o

relacionamento tende a ser bom, bem como a capacidade e a necessidade de um

entender e respeitar o trabalho do outro. Quando se conhece a rotina do local a

função que cada um desempenha e a idéia de que juntos formam uma equipe

multiprofissional interdependente e com o mesmo objetivo, as relações fluem de tal

forma que tornam o ambiente harmonioso.

“...Eu acho que o entrosamento entre as pessoas da casa é muito

bom”.A6

Fatores Promotores do Relacionamento

Interpessoal no Centro Cirúrgico

Percepção do

Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico

Fatores Restritivos do Relacionamento

Interpessoal no Centro Cirúrgico

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“em algumas instituições, incluindo aqui, ele é harmônico, em geral, né, as

pessoas têm éh... idéia... das suas funções, tem... clareza do que, do que

deve ser feito, se empenham”.C1

“Eu acho que na realidade.é... como eu falei, éh... além de você... ter o

interesse de se comunicar com a pessoa, né, de de,... é uma divisão de

tarefas, eu acho que você tem que saber mais ou menos as tarefas de

cada um pra... ter um... uma equipe organizada no CC... ... e saber que

cada um tem o seu papel, a sua função, independentemente do que, do

que ela se formou, do que ela fez “.A5

“...você tem que saber também da forma certa de fazer, né, que cada...

cada um tem o seu, o seu é... vamos dizer assim, o seu pedacinho ali...

então cada um tem que saber o que ta fazendo”.T6

“você tem que ter basicamente, respeito entre as,... entre as diferentes,...

entre os diferentes profissionais, eles tem que, atuar como uma

engrenagem”. C1

No hospital do estudo foi colocado que existem reuniões científicas

multiprofissionais, protocolos assistenciais e organizacionais consideradas

ferramentas que contribuem com a organização do serviço e que influem

diretamente na busca contínua em melhorar a qualidade de assistência prestada

trazendo união para a equipe.

“a questão de você conseguir atingir certos objetivos, com os estudos

feitos por esses grupos né... ..e uniu ainda mais a equipe

multiprofissional... eu sinto assim...”E3

“muitas dessas reuniões, mudaram a minha maneira de... orientar.

Conduzir isso, conduzir certos, certos assuntos [...] os profissionais de

enfermagem na sala são... bastante desenvoltos e bastante autônomos...

além do que eles contam com um mecanismo que é, um acesso que eles

tem ao centro de gerenciamento de casos quando eles vêem que tem

alguma coisa errada, eles comentam com a chefe deles e se eles quiserem

eles próprios fazem uma notificação de gerenciamento de caso”. A1

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“Pra mim o que promove é a partir da criação de alguns protocolos né?

porque na criação de protocolos tem um consenso com as lideranças

então eles se sentem inseridos e estão cientes do que tem que

acontecer”.E2

“tem que fazer toda uma checagem, rechecagem e um provisionamento

antes... prever que tudo esteja ali no momento pelo menos o que ele

pediu... mas não depende só do enfermeiro porque quem... lembrando que

quem parte o processo é a equipe cirúrgica... é ele que vai dizer o que ele

vai fazer com o paciente... qual que é o procedimento e qual que é o

equipamento e material que ele vai precisar na sala... na hora, de acordo

com a técnica que ele vai utilizar... O enfermeiro vai fazer... o enfermeiro

mesmo, ele vai fazer... de ter tudo ali na hora que ele solicitou... com o que

ele solicitou”.E1

Ter um canal de comunicação aberto entre todos os profissionais da

enfermagem inclusive com a chefia de enfermagem, onde haja troca, respeito,

orientações igualitárias também foram fatores citados como promotores de um bom

relacionamento.

“... acho que essa liberdade que eles tem de estar trazendo pra gente os

problemas e a gente solucionando esses problemas, eu acho que, que é

uma coisa positiva” E5

“eu acho que a chefia aqui, dá bastante abertura, e isso vai passando para

os seus colaboradores,... então todo mundo é aberto tem um bom

relacionamento...”T2

“aqui qualquer momento que você precisa, você fala com a sua chefia e

você é ouvida...”T1

Ser conhecido no CC e reconhecer no profissional sua maneira de ser, suas

limitações, seus gostos até mesmo suas exigências foi relatado como fator que

influencia positivamente nos relacionamentos:

“... ... o relacionamento é melhor quando você freqüenta mais...”C4

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“A primeira instância quando o médico vem... a gente as vezes... pelo

tempo a gente sabe quem é... ... as vezes vem o médico de fora, então...

[...] Então eu acho que cada um tem a sua particularidade... mas eu tento

tratar todo mundo igual, então assim, eu vou saber procurar saber quem é

o médico, converso com um...”T7

“Eu acho que, a... a medida que o tempo vai passando, que você vai... se

tornando conhecido na casa, e conhecendo as pessoas, esse

relacionamento tende a ser mais fácil. Éh, no começo, pelo fato de você

não conhecer as pessoas e vice e versa, é uma coisa um pouco mais...

difícil de se entender, isso foi uma coisa que eu percebi, comigo, com o

passar do tempo o relacionamento fica mais fácil, as pessoas conhecem a

maneira como você trabalha... como você prefere as coisas, enfim, então,

eu acho que isso é um fator importante, quer dizer, acho que quanto mais

uma pessoa tá vinculada a uma instituição, mais fácil é a relação entre

elas”.C2

Ainda como fatores promotores do relacionamento os profissionais destacam

que para iniciar um dia de trabalho deva-se começar com o cumprimento das

pessoas no momento de sua chegada. Desta forma, os relacionamentos se iniciam

e consegue-se perceber em um simples retorno de um cumprimento o humor dos

profissionais naquele dia. As relações dependem da disposição particular de cada

um no sentido de cooperação. Num ambiente dinâmico, como é o CC, estar

disponível para realizar alguma ação que não é da sua competência também auxilia

os relacionamentos, desde que estejam dentro dos padrões éticos de sua profissão.

A cordialidade, o modo de falar e agir influi diretamente no ambiente. Ter um canal

aberto entre as equipes médicas e de enfermagem também surgiu nas falas dos

sujeitos de modo que é possível no local do estudo a discussão de problemas

através do diálogo entre os profissionais. Foi possível perceber que o distanciamento

que existia entre o poder médico e a equipe de enfermagem vem diminuindo com a

mudança inclusive do papel social do médico e também com a profissionalização e a

melhora da qualidade de assistência de enfermagem. Assim, o relacionamento

através da aproximação de todos os profissionais tende a melhorar. Uma fala

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também apontada foi a de se “ter jogo de cintura”, fator que acaba alterando muitas

vezes o rumo de um conflito.

“Começar com um bom dia,... claro que com um bom dia você vai saber

se a pessoa ta bem ou não está”.T7

“é cordialidade, éh... discernimento daquilo que te compete fazer, e

disposição em fazer aquilo que não te compete também”. C1

“As relações que, eu acho que promovem... assim, a gente é a amizade,

que é um fator... essencial para você trabalhar e... assim, o modo de falar,

o modo de agir...”T6

“hoje não, hoje o poder do médico,... ele não existe mais né... do ponto de

vista até social,... antigamente talvez, o médico ele ganhava muito mais...

ele podia muito mais e ele devia muito menos, muito menos explicações

que hoje. Então hoje... há uma interação maior dos profissionais dentro do

hospital. Então assim... ... as relações, tendem a melhorar quando isso

acontece”.C4

“com relação ao relacionamento entre a enfermagem e médico nós, a

nossa relação aqui, é boa. Então a gente tem uma abertura... pra gente tá

...colocando os nossos pontos e vice e versa, então tem uma troca bem

interessante... tá tanto com as equipes da casa, quanto com os médicos

que vem de fora... a equipe da anestesia que trabalha aqui com a gente,

então o nosso relacionamento é bom, tem uma abertura boa pra...

trabalhando... pra discutir problemas”.E3

“você tem que ter basicamente, respeito entre a,... entre as diferentes...

entre os diferentes profissionais, eles têm que, atuar como uma

engrenagem...”C1

“Eu acho que é bem interessante, eu acho que o pessoal que a gente mais

lida que são os técnicos, eles têm uma boa vontade impressionante”.A6

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Subcategoria: Fatores Restritivos do Relacionamento Interpessoal no Centro Cirúrgico

As falas dos sujeitos contrapondo o lado positivo discorrem sobre um

relacionamento ruim, tendo que melhorar. As relações interpessoais em CC foram

apontadas como sendo relações que variam dependendo do momento, dos atores e

da dinâmica do CC. Segundo os entrevistados os relacionamentos são difíceis e

complicados e as relações tendem a ser desrespeitosas e conflituosas. Os

desentendimentos são atribuídos às situações de stress que são comuns neste

ambiente, dentre elas as situações de urgência e emergência, descumprimento de

horários principalmente por parte dos cirurgiões. A pressão dos cirurgiões é grande

porque querem chegar ao centro-cirúrgico e imediatamente iniciar a cirurgia,

desconsiderando, assim, a rotina estabelecida as normas da casa e a dinâmica

daquele momento. Atitudes como essas denotam falta de respeito com os demais

membros da equipe e com o paciente.

“então, então eu acho assim, que todo mundo é importante não existe um

mais importante que o outro, porque s... uma peça do, do jogo quebra,

todo mundo vai ter conseqüência, só que muitas vezes as pessoas não

percebem isso e aí acabam se desentendendo né?”. A4

“mas, pode ser conflituosa, em algumas situações ela pode ser conflituosa,

principalmente em situações de urgência e emergência...” C1

“Entre todos é um pouco conflituosa muitas vezes, principalmente da área

da anestesia com a área da enfermagem, porque o cirurgião, pressiona a

gente pra colocar o paciente na sala, e as vezes o anestesista não está na

sala, não preparou a sala, as vezes não tem anestesista disponível, aí o

serviço de anestesia cai em cima da gente, porque a gente colocou o

paciente na sala.. .é complicado”T9

“...principalmente nas trocas de sala e isso as vezes, pode gerar algum

ponto de de stress, dependendo do horário que você tiver... dos

compromissos que você tem... as vezes isso pode interferir.”C3,

“ele (o médico) chega aqui... quer fazer o que ele quer, quer chegar a

hora que ele quer...” E2

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“...os médicos, principalmente, não tem essa idéia, né? de que eles

precisam, de que cada pecinha esteja funcionando adequadamente e...

cada um tem a sua função”. C1

“as vezes você tem uma normativa da casa que as vezes é pré

estabelecida pelo próprio CRM ou pela ANVISA ou por qualquer órgão

legal, e que as vezes o profissional [cirurgião],... as vezes não quer seguir.

Porque ele entende que ele é dono do doente e ele pode tomar a conduta

sozinho”.E1

Alguns entrevistados resgataram o passado em suas respostas nas quais

eram observadas as relações baseadas na hierarquia, no exercício do poder dos

cirurgiões, submissão da enfermagem e pouco empenho em se desenvolver

profissionalmente. Essa percepção adveio ao observar-se citação do termo

“acostumado”, que foi usado para ligar a enfermagem a anestesistas antigos e com

vícios. As falas apontam também uma mudança deste aspecto que se observa na

realidade atual. Outras manifestações de poder que permeiam as relações

interpessoais foram citadas quando se percebem situações em que predomina o

egocentrismo médico. Assim sendo o relacionamento pode se tornar áspero, isso

porque a arrogância e a impaciência desrespeitam o profissional não médico. Em

contrapartida, com o ser conhecido no CC, o não ser conhecido, foi outra tradução

de restrição nas relações interpessoais nesse ambiente.

“... tudo girava, em torno da ordem do cirurgião, o cirurgião era a entidade

máxima. e ele dizia se atira no chão! e ele se atirava [o circulante de sala]

etc. etc. etc...”A1

“... hoje em dia, está havendo uma mudança, o cirurgião que grita, ele é

visto não como petulante e sim como inseguro,... então ele evita gritar,

evita fazer showzinho... porque antigamente... 20, 30 anos atrás... eram

traduzidos como poder...”.C4

“Eu acho que antigamente era diferente... a visão que todo mundo tinha

da enfermagem, do enfermeiro especificamente, não tinha muito que... não

tinha muita liderança, não tinha espaço, é... meio que ninguém dava muita

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importância, quem dominava o ambiente hospitalar eram os médicos... Eu

acho que isso vem mudando”.T5

“...a gente tinha uma grande dificuldade com os técnicos antigos, que vem

de uma época acostumados com anestesistas antigos, com vícios, que

não faziam as coisas então não por maldade mas eles estavam

acostumados...”A6

“eu vejo que os médicos geram muito conflito dentro do CC, e tornam o

ambiente mais difícil, mais hostil.” C1

“eu acho que os egos quando estão muito exaltados...Ai complica o

negocio né?” T9

A comunicação inadequada foi referenciada pelos entrevistados vista por

diferentes ângulos. Eles apontam aspectos especialmente em relação à enfermagem

e em relação aos médicos. Como, onde e quando falar faz toda a diferença na

manutenção de um bom relacionamento, tanto quanto a omissão de detalhes

técnicos necessários para o andamento do procedimento cirúrgico. A ausência do

enfermeiro nas atividades práticas com o paciente distancia a equipe

multiprofissional. Enquanto o enfermeiro assume o rigor administrativo os médicos o

colocam de lado. Prender-se a detalhes burocráticos foram referenciados como

empecilhos para uma boa comunicação e relacionamento adequados, em contra

partida, não se adequar às rotinas administrativas da unidade também parecem

dificultar o relacionamento.

“às vezes erro de comunicação de... algum “telefone sem fio” que pode, sei

lá, promover um desentendimento na hora, um disse me disse, mas dá pra

ser corrigido”.T5

“não é muito bom o relacionamento... Eu acho que há uma falta de

comunicação... uma falta de comunicação”.A5

“então às vezes eu percebo que... por um por uma comunicação

inadequada acaba acontecendo alguns conflitos”.E5

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“em relação a equipe médica o contato verbal é mais normal, com a equipe

da enfermagem, tem que ser tudo meio que por escrito... você colocou no

papel vira uma coisa sem nenhum relacionamento...”A2

“essa burocracia engessa e afasta, dificulta um pouco essa relação, do

enfermeiro com a equipe médica, eu vejo, o enfermeiro distante desse... da

parte prática”.C2

“A gente trabalha com imprevistos também... se você não sabe que às

vezes seria necessário,... um determinado equipamento, medicamento ou

material, e você tem que prever aquilo na hora, sem ter sido solicitado

antes, a coisa se complica um pouquinho então a comunicação entre os

três tem que ser bem clara e específica [...] por isso a ah... interação é

muito importante da equipe cirúrgica e anestésica”. E1

“as vezes tem cirurgião que... quer pular os protocolos, as vezes a gente

fica tentando seguir os protocolos que ta dando certo, pra evitar erros,

mas assim,... a pressão é grande dos cirurgiões pra cima dos enfermeiros

né,...”T9

“agora se você tem aquela sua chefia que só fica te pegando no pé, não te

elogia quando você merece ser elogiado ai... num... num vai pra

frente...”T1

“eu tive lugares que eu trabalhei e que eu não tinha como chegar na

chefia, conversar com a chefia, e isso atrapalhava muito...” T1

A estrutura administrativa e os convênios foram também apontados pelos

cirurgiões como fatores restritivos de um bom relacionamento. Os cirurgiões

percebem que a realização das cirurgias não está mais atribuída somente à sua

chegada no CC. A liberação de algum equipamento ou material necessário para a

realização da cirurgia, algum implante ou até mesmo a própria realização da cirurgia,

quando dependem de uma fonte financiadora, retira do cirurgião o poder de decidir

sobre a realização ou suspensão da cirurgia. A dependência fica então citada pelos

cirurgiões como um fator restritivo.

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“Convênios,...liberação de convênios, desse ou daquele material... ... torna

a relação mais difícil... ... hoje em dia a medicina é embasada nesse tipo

de, de comércio, em que o dono, vamos dizer assim, das decisões...está

fora do ambiente do CC... é uma... uma empresa.. .a liberação desse ou

daquele material pode atrapalhar o andamento ...do CC... da cirurgia.”C4

“Tive reclamações de atraso de cirurgia....mas nunca motivado...por motivo

pessoal...e sim pela estrutura administrativa, né , pela, pela demora na

internação, demora na chegada do paciente, demora do convênio em

autorizar a cirurgia...”C6

As relações podem se tornar difíceis quando há uma quebra no caminho a ser

percorrido pelo paciente desde sua chegada ao hospital até sua saída do CC. Se

houver um problema em alguma fase desse caminho ou com algum membro da

equipe multiprofissional, se não há disposição pessoal no desempenho de alguma

atividade, uma reação em cadeia pode ser deflagrada influenciando negativamente

as relações multiprofissionais.

“porque assim se a internação ta atrasando, atrasa o transporte do

paciente, atrasa a sala, a sala fica ocupa e ociosa, e aí fica uma bola de

neve!... e as relações vão ficando né... todo mundo com, com os nervinhos

a flor da pele, ai por exemplo se o pessoal do raio X, não ta disponível

naquele momento, ou tem muita coisa pra fazer, a cirurgia fica parada,

porque não tem o técnico na sala, ou o aparelho quebrou...”A4

“nos hospitais públicos em que eu trabalho uma animosidade, é essa a

palavra, de alguns colegas com alguns profissionais da enfermagem.

Então o que você gera: o paciente entra na sala, o técnico não vem, ou ele

trás metade das drogas, ou ele não te ajuda na fixação, ou ele espera você

pedir pra trazer...” A6

5.2.3 Categoria 3: Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico

A categoria “Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico” é constituída

por duas subcategorias: Papel de Liderança e Papel Assistencial.

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As falas demonstraram que o enfermeiro atua como base de sustentação de

todo o CC. Foi relatado que o papel de liderança que o enfermeiro tem de assumir, e

que, muitas vezes assume, é imperativo para o desempenho do CC.

A necessidade do enfermeiro também ser um líder assistencial, papel que ele

pouco assume, foi relatada e solicitada pela grande maioria dos cirurgiões,

anestesiologistas e técnicos de enfermagem. Já os enfermeiros pouco identificaram

seu papel de líder assistencial.

A figura abaixo demonstra a situação do enfermeiro de CC e a necessidade,

relatada pelos entrevistados, de que o enfermeiro precisa exercer o papel de

liderança juntamente com o papel assistencial.

Figura 8 - Categoria 3: Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirúrgico Subcategorias: Papel de Liderança; Papel Assistencial

Subcategoria: Papel de Liderança

Quanto ao papel de liderança, o enfermeiro é visto como o profissional mais

bem preparado para liderar o CC e trazer coesão e harmonia para a equipe. Esta

pesquisa identificou o enfermeiro como referência dentro da equipe multiprofissional.

“A liderança do CC na forma da enfermeira chefe, eu dei o nome de chefe

éh... vital para que haja a predominância de harmonia entre todas as

equipes.”A1

Papel de Liderança Papel Assistencial

Papel do Enfermeiro na Equipe do Centro Cirurgico

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“Pra mim num CC onde a enfermagem não funciona bem, o CC não

funciona. Ele é movido pela enfermagem. A enfermagem vê éh,... aonde tá

o paciente, se o paciente tá em condição de subir para o CC, é ela que

proporciona essa subida pro CC, ela faz o gerenciamento de sala de

material de material de, de, hoje em dia tem material de, de como é que eu

vou dizer... consignado, isso tudo é o enfermeiro que faz, gerencia, se o

enfermeiro não tiver uma equipe boa, não tem médico, anestesista, nada

que vá funcionar no CC”.A2

“Eu acho que o enfermeiro ele, ele é um, ele tem um poder enorme em

trazer coesão pra equipe, porque o enfermeiro é aquela,... é aquela figura,

aquele profissional que domina o CC, todo... então o enfermeiro, ele é o...

chefe do CC, a cabeça do CC. Porque o, o médico, ele tá ali, por exemplo

ele tá ali focado em fazer a técnica dele, em fazer a cirurgia dele , em usar

o tempo dele da forma mais éh econômica possível, o anestesista também

tá ali com aquela função especifica, mas a, o indivíduo que tem a visão

geral das coisas, que pode gerenciar e trazer... né ...e fazer com que a

coisa ande da melhor maneira possível, é o enfermeiro, na minha

opinião”.C1

“Eu acho que o enfermeiro nessa... ele tem a função e a capacidade de...

direcionar as coisas para o melhor resultado final. Tem coisa que depende

dele, única e exclusivamente. Talvez da vivência, talvez da perspicácia de

saber que a casa vai cair lá na frente, ele tem que ter meio que jogo de

cintura,... jogo de cintura é muito importante. Quando alguma coisa não vai

bem você tem que solucionar rápido, né pra não deixar éh... tumultuar o

negócio, então depende muito dele, as vezes não tem determinada... tá

faltando sala... por exemplo, aquele dia ta faltando uma sala pra operar... a

relação pessoal dele com quem ta esperando a sala, e a relação pessoal

dele com quem ta lá pra limpar a sala, ou pra montar... depende dele. Se

ele vai mal, a casa cai”. C5

Para que o enfermeiro possa realizar seu papel de liderança no CC, a fala dos

entrevistados demonstrou que através do diálogo o enfermeiro assume uma espécie

de ponte entre todos os envolvidos na dinâmica do CC, inclusive com o próprio

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71 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

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paciente. Dessa forma, ele tem de ter pleno conhecimento de gestão administrativa

e principalmente possuir habilidades próprias para saber lidar com conflitos e trazer

segurança para todos.

“é aquela peça chave que faz a acolhida de todos, então tudo ta centrado

no enfermeiro, é aquele que conversa primeiro com o médico, é aquele

que conversa primeiro com o paciente, é aquele que conversa com a gente

e nos conduz para as atividades pertinentes daquele dia, ou pra aquele

paciente, ou pra aquele médico.T7”

“Então, o enfermeiro...ela é tudo... aqui... se você não tiver jogo de cintura

com a equipe médica, a equipe anestésica e com a gente, porque ele tá ali

no meio, ele tá recebendo tudo e tá passando, entendeu, ele que tem que

ser o líder, tem que ...saber administrar, senão acaba dificultando muita

coisa.”T4

“...coordenar a distribuição do serviço para toda a equipe, fiscalizar para

que tudo esteja sendo feito conforme os protocolos, fiscalizar a segurança

do paciente, se a gente também tá cumprindo com as metas de segurança

do paciente, e ...dar aquela retaguarda quando a gente precisa né?”T9

“prezar pelo bom andamento de todo, todo o funcionamento do CC.”C3

“O enfermeiro é quem vai éh... mediante tudo o que foi se passado lá no

pré agendamento né... do que foi solicitado pela equipe,... é quem vai estar

fazendo a parte de organização e de atuação, pra que tudo ocorra da

melhor forma possível, desde que solicitado.”E1

“além da nossa liderança na parte funcional do setor... eu acho que que a

parte de comunicação, de conflitos ....do dia a dia.... de seres humanos de

culturas diferentes...”E5

Subcategoria: Papel Assistencial

Os sujeitos da pesquisa relataram a necessidade do enfermeiro estar mais

presente na SO, para estar mais próximo do paciente. Isso facilitaria para que

melhor aprendessem os problemas da realidade. Os entrevistados criticam a

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72 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

excessiva atuação dos enfermeiros na burocracia, indicando que a maior dedicação

deles à assistência traria maior segurança à equipe. Alguns relataram a carga

excessiva de atribuições.

“...Eu acho que o enfermeiro deveria entrar mais em sala, né pra ele poder

ter o contato mais direto no que realmente acontece. Pra ele poder

observar melhor o técnico dele, melhor o anestesista, melhor o cirurgião ,

pra ele como coordenador dessa equipe, éh..não médica, mas da

enfermagem, ele conseguir achar o gargalo, de cada equipe, onde está o

gargalo do que esta acontecendo, é o profissional dele, é o anestesista, é

a equipe, e daí conseguir manejar isso melhor, Eu sinto uma ausência do

enfermeiro na sala, e com isso você não consegue passar os problemas

pra ele”.A6

“Aqui! Burocrático, 100% burocrático. Sem dúvida nenhuma. 100%

burocrático... Eu sinto a falta de uma participação maior da enfermagem,

da das enfermeiras responsáveis, é na na , no contato direto com o

paciente. Eu fico com a sensação que elas estão muito presas, a questão

burocrática...porque prioriza a burocracia, isso afasta a enfermeira, que na

minha visão, é a quem deveria ter contato mais direto com o paciente da

equipe médica, então o contato muitas vezes é com o técnico que não tem

formação suficiente, pra isso, e, é cobrado por isso, em detrimento a

burocracia que a enfermeira fica presa”.C2

“o próprio técnico de sala, por exemplo, se sentiria mais seguro, tendo...

alguém superior... por perto, entendeu, ao invés do enfermeiro cobrá-lo por

não ter feito, o enfermeiro estar lá e fazer e mostrar - olha vamos fazer

isso assim, vamos fazer isso assado eu acho que acrescentaria inclusive

pro técnico, circulante de sala”.C2

“O papel do enfermeiro é assim, eh... ele tem que fazer o papel dele, mas

eu acho que ele também poderia ajudar agente assim, não ser técnico, não

sei se você ta me entendendo éh... tem enfermeiros que... ajuda a gente...

caminha... melhor, ...outro já ah to precisando de uma ajuda,... não vem...

então sei lá...” T1

“mas as vezes eu acho que elas esquecem de, de olhar uma coisa mais

prática, mais voltada ao ato cirúrgico e... as vezes eu acho que a tônica

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CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

fica esquecida nesse ponto, e fica muito focada em burocracia, mas eu

não sei como eu faria se estivesse nessa posição, então eu acho que, eu

não dou muito palpite porque eu também não sei como eu faria, se

estivesse nessa posição, né.”A4

”eles são poucos, e os problemas são muitos, então eles são muito

locados aqui pra resolver coisas mais... administrativas, falta papel, falta

material, faltou exame, então... eu acho que precisaria mais... o dobro da

equipe da enfermagem, de enfermeiros em CC com esse papel”.A6

“ele (o enfermeiro) tem que tá a par do material que tá sendo usado na

cirurgia, o que tá acontecendo nas salas, se teve algum problema na sala,

éh, e ele no caso: - o médico chamou o enfermeiro... ele já sabe o que tá

acontecendo dentro da sala, e não chegar perdido, e muitas vezes ele

acaba ficando ali na parte administrativa, e o assistencial....acaba deixando

um pouco pro lado”.T1

5.2.4 Categoria 4: Conflito Ético em Centro Cirúrgico

Na quarta categoria, “Conflito Ético em Centro Cirúrgico” foi observado que

falar sobre conflito ético não foi fácil. Mais uma vez notei a surpresa dos

entrevistados com relação à pergunta. A seqüência da entrevista gerou certo

desconforto, um cuidado e uma necessidade de elaborar mentalmente a pergunta

antes que esta fosse respondida. Essas demonstrações foram observadas nas

palavras e também no silêncio de alguns para a elaboração da resposta.

Na dificuldade dos entrevistados em dissertar sobre conflito ético duas

subcategorias foram identificadas: O conflito ético reconhecido e o conflito ético

justificado como demonstra a figura a seguir:

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Figura 9 – Categoria 4: Conflito Ético em Centro Cirúrgico – Subcategorias: O Conflito Ético Reconhecido e Conflito Ético Justificado

Subcategoria: Conflito Ético Reconhecido

Ao discursar acerca do conflito ético, as falas apareceram entrecortadas,

alguns se limitaram a responder sim ou não, outros preferiram contar casos, porém o

que ficou claro foi que os principais geradores de conflitos éticos reconhecidos são

os médicos principalmente da categoria dos cirurgiões. Tais profissionais, na

intenção de realizar a cirurgia a “qualquer preço” permitem-se agir contra princípios

éticos e morais de modo a incorrer ao risco de causar dano ao paciente e

restringindo, assim seu relacionamento com a equipe.

“É mais comum entre médicos. Conflitos éticos, entre colegas médicos [...]

às vezes o conflito ético é uma coisa velada, né, em geral entre cirurgiões,

entre anestesistas, entre cirurgiões e anestesistas, como a gente lida muito

com os colegas e, e são os profissionais com quem a gente tem mais

problema, é onde eu mais vejo conflito ético, entre colegas médicos”C1

“com o cirurgião já já notei... Eu acho que é um pouquinho de forçar a

barra.... na verdade....eu falo que eu tenho muito amor ao meu CRM, foi

muito difícil de conseguir...(risos), e eu pretendo não perdê-lo, então eu

sou muito zelosa em relação aos meus pacientes.”A3

“Aqui eu tive um caso na verdade que foi,... foi um caso mesmo assim,...

do tempo que eu to aqui, que é pouco, mas acabou...eu acabei preferindo

sair da, da história, e eu optei por não, não fazer a anestesia, pedi pra um

Conflito Ético Reconhecido

Conflito ético em Centro

Cirúrgico

Conflito Ético Justificado

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colega fazer, alguém que concordasse, que fosse de acordo com os

princípios dele e não era o meu”A3

“paciente assinou um termo de uma cirurgia e depois ele quer fazer outra...

e será que o familiar esta sabendo..., será que o paciente está

informando...será que ele esta esclarecido quanto ao que ele realmente vai

fazer dentro da sala...nesses momentos entra a parte de normativa da

instituição para você dar garantia e o paciente não sofrer riscos.”E1

O comportamento autoritário e desrespeitoso desses indivíduos que se julgam

acima de qualquer um gera situações antiéticas em relação à equipe e também em

relação ao próprio paciente. As falas que identificaram a enfermagem como

causadores de conflito ético, relataram um despreparo profissional em lidar com

situações difíceis. Ressaltaram, ainda, que “vozes de comando” em situações de

emergência não podem ser atribuídas a desrespeito profissional. Elas fazem parte

do momento emergencial e estressante que envolve todos os profissionais naquela

situação. Opinar sobre condutas que são exclusivamente de outra categoria

profissional e até mesmo realizá-las também foi apontado como conduta antiética.

“... ... ... uh... ... ... Essa é uma pergunta bem difícil!!!!!... ... ... Em alguns

lugares, eu vejo que sim[...] ... Eu acho que às vezes uma pessoa acha

que a... a... um ta fazendo a função do outro ou que ah... ta querendo ser

superior ao outro, coisa que eu acho que não...tem nada a ver”. A5

“chamo o enfermeiro e altero o meu tom de voz,... começo a desrespeitar a

pessoa,... eu acho que aí sim, é falta de ética,.não respeita o seu

espaço[...] Uma coisa é a gente saber falar em tom normal, conversar em

outro momento, não naquele momento, dentro da sala, com o paciente

acordado ainda, eu acho isso desagradável, eu acho que ai você ta

invadindo o meu espaço...” E6

“De repente, pra aquele procedimento, ele precisa de alguma coisa

específica que ele não pediu... e ai você tem que correr atrás na

emergência, você acaba expondo ao risco...com o anestesista a mesma

coisa, e com a enfermagem a mesma coisa que se ele pediu e aquilo não

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está disponibilizado, não é na hora que o paciente está na mesa que você

tem que falar” E1

“Às vezes um colega ta fazendo um procedimento inadequado, outro

colega chama a atenção na frente do paciente...”.T9

“Às vezes quando é conveniente[...]eu já vi acontecer casos, do

enfermeiro chamar atenção do seu técnico na frente de todo mundo. Aí eu

já não acho isso ético”.T7

“tem anestesista que chega e fala não, eu quero puncionar o acesso, de

repente o acesso já está puncionado, então gera aquele conflito e fala não,

isso aqui é função minha você não tem que se intrometer no meu

trabalho...”E3

“é uma infração ética quando a enfermeira ou circulante de sala, eh...

emite uma opinião, um juízo de valor técnico que é ... de outra área...”A1

“percebo diariamente. Tanto médico-médico, médico-enfermagem,

enfermagem-técnico de enfermagem, o tempo inteiro a gente percebe...

você dando... fugidinhas da ética”.A2

“Uh eu acho que... exigências com papeis, ah... ou com... é, assim, é mais

importante as vezes você chegar e assinar o papel do que recepcionar o

paciente..., conversar com a paciente, aqui no caso né, eu acho que existe

uma, uma tônica muito forte na burocracia, mas é uma instituição grande,

agora no... estado... nos outros hospitais que eu trabalho, eu acho também

que muitas vezes, elas esquecem de ajudar o pessoal da enfermagem, o

pessoal médico e ficam muito focadas em só administrar a parte...

burocrática”.A4

Subcategoria: Conflito Ético Justificado

As falas dos sujeitos, ao discorrer acerca do que é um conflito ético,

demonstraram que na interpretações em determinadas situações não como falha

ética não cabe, mas aparece de modo transformado, em desrespeito ou

comportamento inadequado.

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Foi relatado que alguns “comportamentos” influenciam toda a equipe ora

levando-os a assumir um papel que não é o dele ora expondo a equipe e o paciente

ao risco. Também foi citado que quando a enfermagem é tratada de forma

desrespeitosa dentro da SO por parte dos instrumentadores cirúrgicos e/ou dos

cirurgiões, essa postura é apontada como indesejável acarretando prejuízo na

dinâmica da sala.

“E tratar de ética... eu acho que é uma coisa muito... é delicada, porque as

pessoas confundem ética com varias coisas.”T7

“certas pessoas acharem que aquilo não é função dela fazer, e não ter

uma ,.. uma boa vontade ou então uma uma iniciativa de, assumir aquela

função pra resolver o problema de uma maneira mais rápida, e acaba

delegando pra ah , - isso não é da minha área, não vou fazer[...] uma

omissão de algumas... atitudes que seriam... benéficas para o bom

andamento do do procedimento cirúrgico, do funcionamento do CC... e que

algumas pessoas acham que não é função dela fazer... ai passa para o

outro, e isso, as vezes acaba gerando um atraso.”C3

“Agora as eu acho que as vezes falta um pouco de respeito do pessoal que

vem de fora, não com o médico, mas com o não médico, mas da área da

saúde, então... ou com o enfermeiro, com o técnico... uma questão de

hierarquia eu acho que isso é mau orientado, então, as vezes a

instrumentadora da equipe cirúrgica falta com o respeito, as vezes o

cirurgião falta com o respeito e agente fica meio na... encruzilhada, porque

a gente depende do circulante da sala, né, e se ele é mau tratado, é óbvio

que ele vai ter um desempenho diferenciado...A gente precisa que isso

flua bem.”A6

As falas justificam os conflitos como conseqüência do ambiente estressante,

com aceitação do desrespeito médico com a enfermagem, com a incompreensão

dos cirurgiões e a insistência dos mesmos em cima dos anestesiologistas e da

enfermagem em não suspender a cirurgia mesmo sabendo que esta pode ser

considerada uma atitude de negligência.

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“Identifico, é mais assim... como posso te dizer... quando tá o fluxo de

cirurgia no dia ta muito alta... então o nível de stress dá sempre uma

aumentada... que você tem que ter aquele ritmo para acompanhar, ser

rápido,... e às vezes isso... nesse momento de stress, a gente acaba

estourando um pouquinho”.T6

“Há muitos anos que eu não vejo um enfermeiro gritar com algum colega

no corredor. Medico é normal...isso acontece né...”eles podem”..........a

gente entre nos,.... da enfermagem faz muitas anos que eu não vejo.T9

“um paciente que não tinha nenhum exame. Vai conversar com o cirurgião,

por exemplo, o cirurgião acha que – Não!...nessa hora ele esquece

totalmente que o paciente tem que ter exame, tem protocolo e etc.,...ele

quer forçar a barra pra ter o procedimento entendeu... é até alguma coisa

que o colega anestesista fica meio forçado a fazer o procedimento pra não

atrasar a cirurgia pra não suspender a cirurgia[...] se você chegar e falar

pro cirurgião: - não vou anestesiar porque o paciente não está em

condições..., por exemplo, ele não tem como fazer nada, mas ele força um

pouquinho,... até um pouco, como eu te falei... a linha é meio tênue,... ele

testa um pouquinho, pra tentar ver se você faz o procedimento ou não”.A2

“Mas tem conflitos sim, tanto médico como enfermeiro, como técnico... a

maioria das vezes é quando falta alguma coisa que vai atrapalhar no

procedimento... aí geralmente a cirurgia estressa né... e daí ele [o

cirurgião] quer descontar em alguém,... e quem é que ele desconta, é

quem está na sala, que é o técnico, às vezes não é nem culpa dele, mais

ele acaba levando...”T6

5.2.5 Categoria 5: Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em Centro Cirúrgico

Na quinta categoria “Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em

Centro Cirúrgico”, os entrevistados apontam que os enfermeiros adotam posturas

diferentes dependendo da situação. Dessa forma, foram identificadas três

subcategorias: Posicionamento do enfermeiro; Enfermeiro como agente mediador; o

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Enfermeiro como agente causador do conflito conforme demonstrado na figura a

seguir:

Figura 10 – Categoria 5: Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em Centro Cirúrgico Subcategorias: Posicionamento do Enfermeiro; Enfermeiro como agente mediador; Enfermeiro como agente causador do conflito

Subcategoria: Posicionamento do Enfermeiro

As falas demonstram que o enfermeiro do CC tem uma preocupação em não

infringir a ética e que adotam uma postura de imparcialidade e respeito quando o

conflito é gerado entre médicos.

“os enfermeiros são muito bons em geral assim, eles tem muita noção de

não infringir essas coisas [...] Eles [os enfermeiros] são... assim, são muito

conservadores, né em relação a isso, eles procuram jamais interferir...

quando fazem diagnóstico do conflito, né”. C1

Porém há situações, nas quais o enfermeiro tem que se posicionar, não

havendo tempo para o diálogo. Essas situações são relatadas por eles de forma que

acabam por ter que decidir pela atitude que traga menos risco ao paciente, embora

Atuação do Enfermeiro Frente ao Conflito Ético em CC

Enfermeiro como agente Mediador

Posicionamento do Enfermeiro

Enfermeiro como agente causador

do Conflito

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sabendo ela que causará um desconforto para com a equipe e que depois o

problema terá de ser retomado.

Quando o diálogo não consegue solucionar a questão, o caso então é

passado às chefias.

“Bom eu acho que ele tem que ter postura ehhhh.... ver o que ta

acontecendo realmente,... que como eu disse, as vezes um conta uma

versão outro conta outra.... então, nada como sentar junto conversar e

esclarecer ... mas antes disso você tem que tomar um.... ....já tem

que ter um plano de ação rápido naquele momento, ....então você já

resolveu o problema. Foi o caso que eu contei, agora o que eu tinha que

fazer: uma coisa que eu não gosto, mas tive que fazer , que foi tirar o

técnico da sala, porque eu sabia que a cirurgia ia começar e iam ficar

discutindo e a cirurgia não ia funcionar.”E2

“É tem que chegar até a equipe médica e posicionar... olha o seu paciente

esta referindo que ele vai fazer a cirurgia A e não a B [...] Ele tem... se o

médico chegar e disser que ele não vai cumprir, que ele esta

desconsiderando o que o enfermeiro ta fazendo, a gente passa para uma

hierarquia maior que é a parte da diretoria. Principalmente a diretoria

médica”E1

Subcategoria: Enfermeiro como Agente Mediador

Quando acontece um conflito ético com a equipe, a postura do enfermeiro é

relatada como mediadora do conflito. O diálogo é apontado como ponto norteador

que deve ser tomado por eles na tentativa de resolver situação. As falas referem que

eles têm que avaliar a situação, saber ouvir ambas as partes com imparcialidade e

educação e assim elaborar um plano de ação. Uma vez que a causa do conflito foi

identificada o enfermeiro também atua como orientador no sentido de passar

informações necessárias para que o mesmo problema não se repita.

“É, o mediador que eu digo, é assim, ele tem que avaliar a situação, ver o,

o que pode ser feito pra resolver aquilo da melhor maneira possível, e

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atuar de maneira imediata principalmente no CC, pra que seja

resolvido.”C3

“E... nessas situações... há conflitos... os enfermeiros tentam argumentar,

justificar o porque de tal atitude durante o procedimento, e... ... acaba

assim, ...ele não se altera né..., segue todos os protocolos que tem que

seguir.”T9

“o enfermeiro tenta resolver [o conflito] da melhor maneira possível.”T6.

“Eu acho que assim: que o enfermeiro ele... tem essa situação. Eu já me

coloquei diante dessa situação: você escuta,... né, deixa a pessoa falar,...

porque naquele momento não adianta você querer justificar ou dar

explicação, tem que escutar o tempo inteiro e inclusive falar que a pessoa

esta até certa, entendeu?... pra num outro momento que você vê que saiu

daquela situação toda, você pega e até conversa, você tenta atender...

mediante todo o conflito que ta gerando, você tenta atender da melhor

forma possível, por mais que você esteja certa, e sendo agredida, a gente

tenta atender pra normalizar aquela situação, a gente tenta,... estar

atendendo,... a não ser que você vê que o negócio ta passando do limite,

ai você se impõe: - fala assim:

- Oh!, você agora ta me ofendendo, você para,ou o negocio não vai dar

certo! Eu to tentando fazer o meu melhor pra você, agora se você não, nos

ajudar pra conseguir resolver essa situação, aí vai ficar difícil,... e sai de

cena. Porque você sabe que o negócio vai piorar... e nunca deixar a

pessoa agressiva falando e dá as costas de imediato, porque ela vai se

sentir ofendida... e o negócio pode virar um turbilhão, né, ... então você

escuta o tempo inteiro,... até concorda num primeiro momento...e você vê

que depois quando a adrenalina baixar dá pra conversar e ai vocês sem

entendem.”E6

“... mediante circunstâncias eh.... problemáticas ou que gerou algum tipo

de stress a gente .... eh .. enxerga o problema né, tria o problema... e

passa a informação para o grupo como um todo, pra todo mundo falar a

mesma língua, pra que outras pessoas não passem pelo mesmo

problema.” E3

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Subcategoria: Enfermeiro como Agente Causador do Conflito

Alguns entrevistados apontam que a conduta da enfermeira pode ser a

geradora do conflito. Quando isso acontece a equipe atribui a uma postura de

exercício autoritário de poder assumida pelo enfermeiro. Também foi apontado que

há um certo despreparo emocional do enfermeiro diante de situações de emergência

para não ofender-se com palavras de comando.

“Mas eu vejo assim, que há uma certa distancia: você técnico e eu a

enfermeira, mas não é uma coisa que chega a prejudicar ninguém. E só

pra deixar claro que cada um, eu não gosto de falar isso, tem que estar

cada um no seu quadrado.”T7

“Então o que eu percebo é isso, éh essa ênfase em querer mandar”A4

“Isso acho que varia de pessoa para pessoa, mas acho que no geral o que

eu percebo..., é uma postura assim... de...se manter... naquele propósito,

né, naquela função que lhe é dada, ...sem baixar a cabeça pra nada”A5

“Eu acho que o emocional de algumas pessoas precisariam ser melhor

trabalhado, porque na faculdade de medicina você acaba tendo um

distanciamento do pessoal para o profissional, eu não sei como é a

formação da enfermagem em que nível isso acontece. Mas o médico no

geral, sabe muito bem que quando você tem uma discussão profissional, é

profissional”[...] Numa situação de emergência, entender que as vezes

uma palavra ríspida, uma coisa e outra ... é ... devido ao risco de vida ou

morte especifico da cirurgia, o que não acontece na enfermaria ou numa

RPA, é uma coisa muito imediata”.A6

5.2.6 Categoria 6: Autonomia Profissional do Enfermeiro no Centro Cirúrgico

Acerca da sexta e última categoria “Autonomia Profissional do Enfermeiro no

Centro Cirúrgico”, perceberam-se nas falas, atitudes assumidas pelo enfermeiro do

CC e outras atitudes que a equipe de profissionais consideram que deveriam ser

assumidas pelos enfermeiros. Desta forma, identificaram-se três sub-categorias:

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Autonomia exercida pelo enfermeiro; Autonomia não exercida pelo enfermeiro e

Autonomia Limitada do enfermeiro.

Figura 11 – Categoria: Autonomia Profissional do Enfermeiro no Centro Cirúrgico. Subcategorias: Autonomia exercida pelo enfermeiro; Autonomia não exercida pelo enfermeiro e Autonomia Limitada do enfermeiro.

Subcategoria: Autonomia Exercida pelo Enfermeiro

A autonomia que o enfermeiro exerce dentro do CC na fala dos sujeitos é

condicionada à necessidade de tomadas de decisões para que a dinâmica de

funcionamento do CC não seja prejudicada. Através da sua atuação ele promove

condições de trabalho adequadas para o bom desempenho da equipe e proporciona

um ambiente promotor de prestar uma assistência de qualidade no CC minimizando

e/ou impedindo qualquer situação que ofereça risco ao paciente.

“Ah! [enfermeiro] tem bastante autonomia, tem que tomar algumas

decisões antes de...do médico falar alguma coisa, tem que prever as

coisas aqui...então, tem bastante autonomia”.T4

Autonomia exercida pelo

enfermeiro

Autonomia Profissional

do Enfermeiro no Centro Cirúrgico

Autonomia não exercida pelo

enfermeiro

Autonomia limitada do enfermeiro

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“Eu acho que ele tem autonomia que ele tem que ter realmente,... ele tem

autonomia de chamar o paciente, ele tem autonomia de, de, éh... ele

gerencia alertas... isso é importante, por exemplo: detecta que um paciente

não tem jejum, gerencia isso pro cirurgião, pro anestesista; não tem vaga

de UTI, ele já consegue até um meio de começar um procedimento de

suspender a cirurgia; ele já gerencia essa parte de sangue; ele pede, aqui

no CC por exemplo, ela já: chega um paciente, que não foi detectado que

era uma cirurgia grande que precisa de sangue, vaga de UTI... precisa...

então aqui ...eu vejo que tem essa autonomia ...boa... e ele usa essa

autonomia pro melhor do paciente”.A2

“Bom... a autonomia do trabalho,... éh eu percebo pelo desempenho das

salas[...] Percebo autonomia, quando por exemplo há alguma

intercorrência.”A1

Os entrevistados ressaltam que o exercício da sua autonomia implica no

estabelecimento anterior de uma relação de confiança e respeito.

“pra você ter autonomia, você tem que ter o respeito né, você tem que ter

segurança no que você faz, você tem que saber o que está fazendo, e

passar essa segurança pro colaborador e pras equipes que vem aqui, né

porque a partir do momento que você se sente seguro e as pessoas

confiam no seu trabalho eu acho que facilita muito a questão da sua

autonomia ... e se impor, colocar qual o seu verdadeiro papel aqui”E3

Foi relatado que o papel da instituição mediante à compreensão do trabalho

que é realizado pelos enfermeiros no CC, também define ou não o poder a lhe ser

conferido para que possa exercer suas atividades no CC com autonomia.

“a instituição dá autonomia pra enfermeira estabelecer o seu lugar, a sua

função em determinados setores... Aqui eu vejo que sim... eh dentro do

seu ambiente, ela tem como delegar, como explicar, enfim, diante dos

médicos, de representantes, do pessoal da farmácia, da gente, eu acho

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que ela tem autonomia sim, pra mudar alguma coisa... eh...pra

determinar...eu acho que sim”.T5

“por exemplo, quando vai começar o procedimento, tá faltando o material

que ele quer: aí o enfermeiro atua, vai até lá e fala: - Olha, você não me

pediu em check list isto, então não queira reclamar”. T6

Subcategoria: Autonomia Não Exercida Pelo Enfermeiro

Os discursos que apontam a autonomia não exercida pelo enfermeiro passam

pela observação de que a instituição ou até mesmo o próprio profissional não

reconhece seu verdadeiro papel dentro da dinâmica do CC e o quanto a equipe

depende dele.

“Eu acho assim que: o importante,... o enfermeiro do CC,.... a instituição

reconhecer a importância dele dentro do bloco operatório, que não o

cirurgião. Não adianta delegar e sem saber que o CC é direcionado.

Quem vai fazer a distribuição, quem sabe qual é o melhor local, melhor

sala, a melhor pessoa pra ser direcionada para essa cirurgia, eu acho que

isso do dia a dia é o enfermeiro.E6

“Tem, mas não exerce. Tem, mas não exerce. É não sei se por, por eh por

iniciativa própria, ele não exercer, ou se por determinação da equipe

médica” C2

“existem enfermeiros e enfermeiros[...]eu acho que o enfermeiro tem que

ter pulso sim aqui, não porque o médico, ele é médico e o enfermeiro não

pode falar[...]não é bem por ai, eu acho que cada um tem que ter, se você

tem aquela autonomia de enfermeira que você pode fazer isso, isso, isso,

então você não deve abaixar a cabeça porque o médico falou mais alto”.T1

“eu acho que o, o enfermeiro ou enfermeira responsável pelo CC ele tem

autonomia, é,... sobre o comando e o funcionamento do CC, então ele que

determina[...]ele teoricamente é a autoridade máxima no CC, é ele que

define, quais salas vão entrar, é ele que tem que,...coordenar isso, então é

ele que... tem que... assumir essa responsabilidade e pra isso ele também

vai ser cobrado, então eu acho que ele tem autonomia[...] falei

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CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

teoricamente, é porque tem muito cirurgião, que acaba éh...se achando

mais importante e superior, e exigindo algumas coisas, que eventualmente,

não são possíveis naquele momento mas, éh, por isso que eu falo,

teoricamente, como deveria ser, o enfermeiro deveria ter essa autonomia

pra coordenar, o bom funcionamento do CC e agradar a todos e não

especificamente a um, cirurgião ou, ou a um funcionário, ou uma pessoa

especifica”.C3

Subcategoria: Autonomia Compartilhada do Enfermeiro.

Para alguns profissionais discorrer sobre autonomia, sofre interferência de

fatores relevantes às atividades praticadas no CC. Uma vez que o trabalho é

multiprofissional e interdependente a autonomia não é absoluta, ela é dependente.

Os relatos também apontam que a autonomia do enfermeiro sofre interferências de

profissionais que julgam ter um poder maior que os outros, principalmente da classe

médica.

“Existe sim a parte do cliente médico, existe cada profissional, embora seja

uma equipe multi.... tem um pedaço pra que tudo aconteça, eh...a gente

tem normas dentro da instituição que seguem uma legislação... expor o

paciente ao risco não tá dentro do que a instituição quer pra si, até por

conta das acreditações... a gente foi acabou de ser acreditado pela

Canadense, então eles viram muito essa parte de você estar... que o

paciente passe por riscos desnecessários... então a gente, acaba tendo

um respaldo da diretoria médica. Existe toda a importância de como você

se colocar para a equipe médica! que você tem que ter jogo de cintura... e

tal, porque o cirurgião, ele acaba pensando que ele é o dono do doente

porque é ele que acabou trazendo, mas se ele tiver um processo ou

alguma coisa a instituição vai responder junto e pior as vezes na mídia

você acaba tendo uma imagem prejudicada, porque as vezes você não

seguiu o que precisa... o mínimo necessário para que o paciente não

sofresse esse risco.”E1

“É, ...ele tem autonomia assim um pouco limitada né , porque depende do

cirurgião, se for um estrelão, aqueles... né... aí eles interferem muito na

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nossa, na nossa rotina de trabalho, dando opiniões, quer que muda de

sala,... de cirurgia porque aquela sala não é adequada, aquelas

coisas...”T9

“...Autonomia do enfermeiro então, eu acho, que ninguém é totalmente

autônomo no CC,.. ninguém, é muito entrelaçado, a coisa, porque não

existe um um personagem mais importante”.A4

“No CC eu acho que ficam um pouco.... restritos né porque ele tem que

manejar a disposição de sala, com as vontades do cirurgião, com o atraso

do cirurgião, o atraso do paciente, o atraso da internação, eu acho que

tudo isso cai neles. .A6aut limitada

Eu percebo,...que eles tem autonomia, mas poderiam ter mais autonomia,

as vezes o que a gente percebe é que eles ficam,.. éhhh muito reféns de

protocolos institucionais[...] tentando correr atrás e manter.... toda a

papelada em ordem, toda a parte administrativa em ordem, né [...] Eu

acredito assim, que o enfermeiro do CC tem muitas atribuições, e que não

é uma coisa simples pra ele gerenciar isso, tem que ter um bom senso

enorme, tem que ter um equilíbrio enorme, tem que saber gerenciar

conflitos, então.., eu acho que..... , como é que eu vou te dizer, eu acho

que eles tem, eles tem,... eles podem,.... eles deveriam ter mais

autonomia, na minha visão. Eu acho que a instituição, ainda tolhe um

pouco o enfermeiro, isso ai , ele acaba tendo eu acho que ele é...

massacrado por atribuições, o enfermeiro do CC, tem muitas atribuições, e

as vezes eles perdem o foco um pouco”.C1 autonomia limitada

“Total, ...deveria até,... por um pouco mais em prática. Tem uns médicos

que chegam, e tem que ser daquele jeito deles e...tem que ser uma coisa

conversada né...explicar porque não vai colocar assim,...então tem que

ter...Porque querendo ou não, é ele que tá coordenando a equipe inteira

dele, e a equipe não é pequena”.T8

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6 DISCUSSÃO

A “Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos”, aprovada na

Assembléia Geral da UNESCO em 19 de outubro de 2005, coloca que a saúde não

depende apenas dos progressos da investigação científica e tecnológica, mas

também de fatores psicossociais e culturais que envolvem o ser humano e suas

relações. Também declara que a sensibilidade moral e a reflexão ética devem fazer

parte integrante do processo de desenvolvimento científico e tecnológico e que a

bioética deve ter um papel fundamental nas escolhas do que é necessário fazer.

Desta forma considera que é necessário desenvolver novas formas de

responsabilidade social (UNESCO, 2006).

Esta pesquisa busca contribuir com a perspectiva apresentada por esse

documento, analisando o grupo social de profissionais que atuam no Centro

Cirúrgico. Inicio, assim, com a discussão sobre a composição desta equipe.

Quanto à formação da equipe os entrevistados demonstraram ter clara a

relação multiprofissional de interdependência como exigência básica para o

funcionamento da dinâmica do CC. As respostas com relação à formação da equipe

foram todas categoricamente respondidas e tão amplamente exemplificadas, de

modo não alimentar qualquer dúvida a respeito do assunto. Esta posição esclarecida

da composição da equipe do CC reflete uma consciência coletiva de

interdependência.

Desta forma, demonstro, na figura abaixo, a equipe do CC identificada nesta

pesquisa:

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Figura 12 - Equipe do Centro Cirúrgico

Foi também possível observar uma preocupação quanto à responsabilidade

social o que reafirma as considerações contidas na Declaração Universal sobre

Bioética e Direitos Humanos (2005) no seu artigo 5º sobre autonomia e

responsabilidade individual: “ A autonomia das pessoas no que respeita à tomada de

decisões, desde que assumam a respectiva responsabilidade e respeitem a

autonomia dos outros, deve ser respeitada.” (UNESCO, 2006).

Essas observações foram identificadas na fala dos entrevistados quando

discorriam acerca de suas percepções quanto às relações interpessoais da equipe

multiprofissional no CC, quanto ao seu caráter de interdependência profissional e a

necessidade de se respeitar o trabalho do outro.

Entretanto, para dar continuidade à discussão dessas relações interpessoais

é necessário fazer algumas considerações. O uso das palavras carrega uma

responsabilidade enorme. Como seres humanos, não podemos escapar da

linguagem. As palavras pensam por nós. Em bioética a responsabilidade de conduzir

os profissionais de saúde a refletirem sobre seus atos e suas ações constitui

atualmente um grande desafio. Nesse sentido, este estudo pôde desvelar que os

entrevistados demonstraram certa dificuldade em encontrar palavras ao emitirem

Maqueiro

Pessoal da alimentação

Pessoal da farmácia

Pessoal que vem de fora

Pessoal da rouparia

Enfermagem

Instrumentador Cirurgico

Clientes/ Pacientes

Ascensorista

Pessoal da limpeza

Equipes médicas

Central de materiais

Pessoal da manutenção

Nutrição

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suas opiniões principalmente quando indagados sobre como percebiam os

relacionamentos interpessoais e os conflitos éticos em CC.

Desta forma, para compor esta análise, encontro na teoria dos referenciais

uma fundamentação bioética e uma linguagem mais apropriada para dar

continuidade à discussão. Hossne (2006) esclarece que a teoria dos Princípios

pautados na Beneficência, Não Maleficência, Autonomia e Justiça torna-se

insuficiente para permitir uma reflexão ético filosófica de um determinado problema e

para tanto propõe com a teoria dos referenciais as pontes de referencia para a

reflexão bioética. Com isso me aproprio de alguns referenciais citados por este autor

devido a sua maior abrangência e contextualizações para as discussões deste

estudo como sabedoria, autonomia, vulnerabilidade, responsabilidade, liberdade e

serenidade.

A história influencia o processo de formação profissional, no sentido de que a

busca dos elos históricos compreende uma construção cultural com base na

construção do conhecimento. Essa construção cultural ilustra a representação dos

valores profissionais identificados nesta pesquisa, quando se observa o respeito que

se tem com relação à cultura médica, que é milenar. Esta pesquisa identifica a forte

presença do médico no ambiente do CC e o quanto o seu comportamento e suas

ações influenciam o trabalho da equipe multidisciplinar.

Também se percebe a necessidade da equipe em falar sobre as relações

interpessoais que permeiam a rotina do trabalho no CC. Esses profissionais estão

acostumados com uma rotina complexa, de alta demanda, com prazos e horários

determinados tendo pouca oportunidade de refletir e discutir sobre como se dão

suas relações interpessoais.

Marques e Vieira (2007) relatam que o trabalho multidisciplinar é fundamental

para a promoção da dignidade do doente, e que só trabalhando em equipe é que se

consegue centralizar e dirigir as atenções dos profissionais de saúde para a pessoa.

Segundo Hossne (2007, p.127), “[...] um violinista pode atuar como solista ou

como um dos componentes de uma orquestra. Um atleta pode ser um ginasta solo

ou um membro de uma equipe de esporte coletivo”. O que também ficou

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demonstrado nesta pesquisa é que os entrevistados reconhecem em alguns

médicos a característica da medicina do poder, na qual eles podem até achar que

são solistas ou ginastas solo, e agir como seres independentes. Entretanto, ao

agirem dessa forma no CC a conseqüência de suas ações causará prejuízo tanto no

seu relacionamento com a equipe, quanto riscos ao paciente, uma vez que seu

comportamento pode interferir na dinâmica de trabalho do grupo.

Neste estudo identificou-se que os relacionamentos no CC podem ser bons

ou ruins, porém todos os sujeitos buscam contribuir com exemplos para expor suas

opiniões sobre o que poderia ser considerado significativo para a melhora dessas

relações principalmente quando indicam que o objetivo maior de toda a equipe é o

êxito da cirurgia e a segurança do paciente. Relatam que quando os

relacionamentos são bons é porque encontram ações e comportamentos de

parceria, compartilhamento, educação, respeito, boa vontade e se relacionam

através de um canal de comunicação aberto e troca de informações. Já quando são

ruins, caracterizam-se pela má vontade, falta de comunicação ou comunicação

inadequada, desrespeito, incompreensão, insegurança e poder autoritário. Muitas

vezes esses momentos são marcados por situações estressantes próprias do

ambiente, situações de urgência e emergência e que levam a momentos de tensão.

O sentido de equipe e como se dão as relações interpessoais identificadas no

nosso estudo passa pelo comportamento do médico. Nas relações interprofissionais

relatadas nesta pesquisa identificam que o comportamento dos médicos

principalmente dos cirurgiões, contribuem com fatores restritivos ao relacionamento

em CC. As falas apontam que os cirurgiões são os grandes protagonistas do conflito

ético no CC, principalmente porque na maioria das vezes não sabem lidar com

limites.

Pereira Filho (1998) relata que a autonomia do médico, conquistada,

sobretudo nos séc. XIX e XX vem sofrendo profundas alterações conceituais nos

últimos 50 anos. Enquanto o médico era sujeito autônomo de todas as suas ações, a

autonomia do paciente sequer era respeitada. Como referido anteriormente onde há

assimetria de relações a bioética tem que ser discutida.

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92 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

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O mesmo autor coloca que hoje a relação médico paciente é muito mais

aberta e democrática, permitindo o compartilhamento da responsabilidade na

tomada de decisão. A mudança para este comportamento se deu através da

organização social e a conscientização democrática dos pacientes, o que acarretou

em uma melhor relação médico-paciente. Enquanto por um lado os pacientes

adquiriram mais autonomia, a autonomia médica sofreu prejuízos. Outros dois

fatores também são apontados pelo autor como responsáveis pela diminuição do

poder autônomo do médico: a organização empresarial da assistência médica e daí

entendem-se hospital e empresa prestadora de assistência médica (convênios); e o

avanço tecnológico. Reafirmam-se essas considerações quando observamos,

no relato dos cirurgiões, do presente estudo, que os convênios interferem nas

relações interpessoais de forma restritiva. Este foi um exemplo apontado por eles

como limitantes de sua atuação. Em outras palavras o poder decisório saiu das

mãos do medico e foi para “empresa.” (PEREIRA FILHO, 1998).

A liberação de algum equipamento ou material necessário para a realização

da cirurgia, algum implante ou até mesmo a própria realização da cirurgia, quando

dependem de uma fonte financiadora, retira do cirurgião o poder de decidir sobre a

realização ou suspensão da cirurgia. A interdependência fica então citada pelos

cirurgiões como um fator restritivo, de forma a comprometer sua autonomia. O que

se percebe, então é que o modelo mercantilista de organização dos sistemas de

saúde colocam a decisão dos custos de uma intervenção cirúrgica nas mãos das

empresas de saúde, tornando todos os incluídos nessa decisão vulneráveis.

Na análise das relações interpessoais observadas no presente estudo, em

incluir mais um fator restritivo ao poder médico atual, que é a inclusão e participação

de outras disciplinas na área da saúde reconhecidamente necessárias,

comprometidas e capacitadas. Acredito que alguns possam achar ser mais um

prejuízo em relação ao poder médico, porém considero oportuno apontar o lado

positivo desta questão quando os resultados desta pesquisa indicam uma

interdependência profissional necessária, e sobretudo, a importância do trabalho em

equipe no CC, mesmo que esse esteja condicionado ao trabalho interdependente de

cada um. As falas são claras ao apontar que o trabalho individual de cada um não

deve atrapalhar o desenvolvimento do trabalho do outro, e, mais que isso, destaca a

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base do trabalho em equipe no estabelecimento de metas, que só podem ser

alcançadas conjuntamente.

A relação hierárquica de poder, acerca das relações dos profissionais

apontados nesta pesquisa, comprovou que o profissional mais vulnerável desta

equipe é o técnico de enfermagem.

Foi relatado que a exposição do técnico de enfermagem constantemente

integrado e interagindo diretamente através da sua atuação na SO juntamente com

os anestesiologistas, cirurgiões e outros profissionais identificados na composição

da equipe, somando-se ao seu conhecimento técnico-científico, podem contribuir

para que ele seja o profissional mais vulnerável dessa escala. Isto pode acontecer

quando participam dessa dinâmica, profissionais que não reconhecem e nem

respeitam o trabalho deste profissional, bem como não respeitam a característica de

interdependência do trabalho deste setor. Nesse sentido Malagutti e Santos (2009)

afirmam que a atividade de circulação de sala, que é realizada pelo técnico de

enfermagem é bastante complexa, exigindo destreza da técnica e muita

concentração. Porém o ambiente e o comportamento da equipe podem contribuir

para o desenvolvimento de alterações do estado emocional do profissional,

influenciando assim a sua atuação dentro da SO.

Ainda como fator restritivo ao relacionamento da equipe, este estudo

identificou que a ausência do enfermeiro dentro da sala de operação traz

insegurança para a equipe como um todo e principalmente ao técnico de

enfermagem.

Apesar da observação citada anteriormente o que também ficou demonstrado

nesta pesquisa é que o enfermeiro tem um poder de trazer coesão para a equipe e

que por meio do seu comportamento e suas ações podem-se transmitir segurança e

harmonia ao ambiente do CC. Os relatos desta pesquisa apontam a ausência do

enfermeiro em SO, porém o ambiente é organizado onde há uma preocupação com

a qualidade da assistência e com a definição de tarefas, assim o respeito é apontado

como a base dessas relações.

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O respeito à pessoa é tema central na bioética. De acordo com Goldim

(2000), as características do princípio do respeito à pessoa são a privacidade a

veracidade e a autonomia. A utilização desses conceitos assume diferentes

perspectivas, desde as mais individualistas até as que inserem o indivíduo no grupo

social. É suficientemente indicativo do peso que se atribui aos aspectos bioéticos,

sobretudo no que diz respeito à dignidade do ser humano quando da avaliação do

comportamento do profissional. Este estudo evidencia esta análise exemplificando

alguns comportamentos no quais se percebe a assimetria da relação médico-

paciente, enfermeiro-paciente, quando se impõe determinada conduta e ação sem

levar em conta a escolha do paciente ou orientá-lo a respeito. A própria condição da

prática no CC, em que é permitido interrogar questões de foro íntimo, muitas vezes

sem a privacidade necessária, assim como examinar, realizar um contato físico

necessário à proposta cirúrgica, inclusive expondo o corpo do paciente, facilita esse

tipo de falha em profissionais que não compartilham o agir ético nas relações. Com

isso observa-se também nessa pesquisa a assimetria entre médico-enfermeiro,

médico-técnico de enfermagem, enfemeiro-técnico de enfermagem.

Já a autonomia segundo Beauchamp e Childress (2002) tem diferentes

significados, tais como: auto-determinação; direito de liberdade; privacidade; escolha

individual e livre vontade. De acordo com Costa, Anjos e Zaher (2007), é possível

conferir à autonomia vários significados, variando de acordo com o olhar que se

propõe a estudá-la, ou como respeitá-las nas pessoas. Porém todas as teorias

concordam que existam duas condições essenciais à autonomia: a liberdade e a

ação.

A autonomia identificada nesta pesquisa passa pela vontade do sujeito e, na

análise das relações, as ações e comportamentos livres dos sujeitos contribuem

favorecendo as relações interpessoais ou restringindo os relacionamentos, quando

ausente.

Segundo Imanuel Kant (2005, p.21-22) nada é possível pensar sem que haja

o pressuposto de um dom natural do ser humano que é o da “boa vontade”. Porém

essa boa vontade pode ser usada para o bem através do “discernimento, argúcia de

espírito, capacidade de julgar, coragem, decisão, constância de propósito” quando o

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caráter do indivíduo for bom, mas também pode ser prejudicial quando que esta boa

vontade parte da falta de caráter.

Ao analisar as relações interpessoais do CC descritas nos resultados deste

estudo através do referencial bioético da autonomia verifica-se também a

necessidade de discutir a vulnerabilidade dos atores. Importante lembrar que

vulnerabilidade é a possibilidade de alguém ser ferido tanto no sentido físico quanto

no sentido da ofensa moral quando uma ação é realizada (ANJOS, 2006).

Segundo Anjos (2006), é necessário entender que a consciência da

vulnerabilidade do sujeito autônomo é importante para se entender melhor o próprio

exercício da autonomia. O reconhecimento da própria vulnerabilidade é ponto de

partida para uma ação reflexiva dos problemas enfrentados. Nesta pesquisa foi

possível observar a vulnerabilidade dos profissionais. Eles se percebem autônomos

quando escolhem agir de uma determinada forma frente a alguma situação quer ela

seja técnica ou relacional, mas se tornam vulneráveis quando percebem que a sua

ação individual interdepende da ação do outro e vice e versa. Dessa forma esta

pesquisa identificou profissionais vulneráveis, mesmo não tendo conferido à palavra

vulnerabilidade o exemplo das suas percepções. Foi percebido principalmente nas

falas dos enfermeiros a necessidade de se retirar estrategicamente frente a alguma

situação ou até mesmo trocar o funcionário de sala para atender a uma determinada

cirurgia. Tais atitudes ocorrem em prol do objetivo final do CC, que é atender o

paciente de forma que se obtenha êxito da cirurgia mantendo a segurança do

paciente e o ambiente em harmonia, muito embora os relatos também apontam que

posteriormente a discussão de determinada situação deva ser retomada.

O desenvolvimento científico colocou o poder dos sujeitos humanos em

evidência. O homem através do conhecimento aliado à tecnologia no CC é capaz de

realizar cirurgias antes consideradas impossíveis. Esta pesquisa evidenciou que a

classe médica ainda detém o poder e que também as enfermeiras se utilizam de

algum poder. Este sentimento de poder, segundo Anjos (2006), não é o mesmo que

autonomia, já que essa é uma expressão do poder e corresponde a uma diminuição

de espaço para se admitir a fragilidade e a vulnerabilidade. Enquanto o poder e a

vulnerabilidade andam juntos, as sociedades sofrem sem limites. É possível

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perceber, portanto, que quando os profissionais do CC se percebem vulneráveis nas

suas ações e relações de interdependência é que eles contribuem positivamente

para obter e manter uma ambiente harmônico dentro do CC. Devemos então pensar

o que perceber nossa própria fragilidade nos torna fortes (ANJOS, 2006).

Houve alguns relatos nesta pesquisa que identificaram situações em que se

observaram vozes alteradas e comportamentos desrespeitosos. Esta observação

traduz um sentido de violência que também é reafirmada por Anjos (2006) ao colocar

que a violência demonstra a insegurança do poder, e que quando se percebe esse

poder inseguro, mais o indivíduo se cerca de medo e agressividade.”

Esta pesquisa demonstrou também que a equipe do CC de um modo geral

reconhece que as reuniões científicas multiprofissionais, os protocolos assistenciais

e organizacionais são ferramentas que contribuem com a organização do serviço e

diminuem a vulnerabilidade tanto dos profissionais quanto do próprio paciente. Esta

pesquisa identificou que os profissionais trabalham embasados nos protocolos

adotados para a segurança do paciente. (COREN Segurança do paciente). colocar

ref.

Esta conduta vem sendo adotada por vários serviços, utilizando uma lista de

verificação (checklist). O Brasil tornou-se signatário dessa estratégia da Organização

Mundial da Saúde (OMS) em 2008 e através da PROQUALIS, tomou como

referencia as ações do "Programa de Segurança do Paciente da Organização

Mundial da Saúde (WHO Patient Safety) que define, como uma de suas áreas

prioritárias de atuação, as Soluções para a Segurança do Paciente, que são

promovidas, disseminadas e coordenadas internacionalmente pelo Centro

Colaborador da OMS (WHO Collaborating Centre). A “cultura de segurança do

paciente” se embasa em estratégias voltadas para prevenir ou reduzir o risco de

dano ao paciente decorrente do processo de cuidado de saúde inseguro. As práticas

adotadas em CC para promover a segurança do paciente sofrem quando na visão

da equipe multiprofissional a adoção de mais um documento administrativo serve

para caracterizar somente a burocracia do CC, deixando de lado a reflexão dos

benefícios desta pratica, principalmente por parte dos médicos. Descrevo a seguir

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algumas práticas recomendadas que só alcançam êxito quando há um engajamento

da liderança gerencial e clínica e de todos os profissionais envolvidos no cuidado:

Realizar o procedimento correto na parte correta do corpo (Performance of Correct Procedure at Correct Body Site). Os casos de procedimentos ou cirurgias na parte errada do corpo ocorrem e são considerados totalmente evitáveis. Resultam de falhas de comunicação e informação, além de falta de padronização nos procedimentos. A principal estratégia para reduzir as ocorrências de dano aos pacientes relacionadas à cirurgia é a implantação do uso de uma Lista de Verificação (checklist), preparada por especialistas para auxiliar as equipes cirúrgicas. A lista padroniza os itens a serem garantidos nas seguintes etapas: antes da indução anestésica, antes da incisão na pele e antes de o paciente sair da sala cirúrgica. Para que obtenha êxito, essa solução requer o engajamento da liderança gerencial e clínica, além dos profissionais envolvidos no cuidado. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2010).

Esta pesquisa também visa a contribuir acerca das relações interpessoais no

CC e conflitos éticos e os comportamentos diante desses conflitos com a análise dos

códigos de ética médica e de enfermagem, pois eles são conjuntos de normas que

regulam o exercício de uma profissão incidindo sobre obrigações, responsabilidades

e direitos. Os códigos também incluem normas de caráter ético ou moral, que visam

a assegurar a integridade do profissional de caráter jurídico e administrativo para

assegurar o exercício da sua profissão (NEVES, s.d.).

Segundo Anjos e Siqueira (2007) na bioética brasileira há um ponto de

encontro entre a ética normativa e a ética aplicada, por meio das deontológias

profissionais. Tais autores relatam que os códigos antecedem ao aparecimento da

bioética, que surge em um contexto de crise da ética normativa, diante da falência

de valores universais para regrarem as condutas humanas. Fortes (1998) corrobora

com esta análise quando coloca que para a tomada de decisão ética existem duas

correntes: a dos resultados, denominada consequencialista, e a dos deveres,

denominada deontológica. O mesmo autor coloca que, na prática, as decisões são

tomadas mesclando as regras deontológicas uma vez que vêm de princípios

universais, com a avaliação das conseqüências que a ação pode implicar.

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Analisando, portanto, os códigos de ética, observamos que: a bioética tem

sido incluída nas diversas disciplinas de saúde por meio de seu conceito pluralista e

interdisciplinar. Ainda hoje, mesmo o mais recente Código de Ética Médica

(CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2010) não contempla efetivamente a

importância da interdisciplinaridade. Este código parece reforçar o critério de

independência e exclusividade profissional, que torna o médico tão vulnerável

quanto à equipe de saúde e o doente. Também não faz referencia a

interdependência necessária em algumas situações da saúde como é o caso das

atividades praticadas realizadas no CC.

A título de exemplificar esta inegável afirmação coloco a situação onde a

responsabilidade de fornecer uma caixa cirúrgica com o instrumental corretamente

esterilizado seguindo as normas específicas desse procedimento é do enfermeiro; a

responsabilidade de promover condições anestésicas necessárias ao procedimento

cirúrgico é do anestesiologistas e o procedimento cirúrgico em si é do cirurgião.

Qualquer falha de um desses profissionais durante o procedimento cirúrgico

vulnerabiliza o outro podendo trazer conseqüências ao paciente. A implicação

jurídica nesses casos pode ser de responsabilidade de todos.

Marques Filho (2006), ao dissertar sobre os processos de cassação do

exercício profissional médico do Conselho Regional de Medicina (CRM) do Estado

de São Paulo, afirma que as infrações cometidas pelos médicos condenados foram

mais por falhas eminentemente éticas do que por falhas envolvendo imperícia,

imprudência e negligencia. Desta forma coloca que é possível que uma parte

considerável dos médicos condenados tenha problemas relacionados mais ao

caráter e à honestidade do que a formação técnica.

O novo código de ética médica pouco menciona a importante característica

constatada nesta pesquisa que é a responsabilidade compartilhada que advém do

trabalho multiprofissional e interdisciplinar. Observa-se alguma menção a respeito no

XVII Princípio Fundamental do Capítulo I:

“As relações do médico com os demais profissionais devem basear-se no

respeito mútuo, na liberdade e na independência de cada um, buscando sempre o

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interesse e o bem-estar do paciente.” (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2010,

p.8).

Nesse sentido o Código de Ética da Enfermagem aprovado pela Resolução

do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) Nº 311/2007 que entrou em vigor a

partir de 12 de maio de 2007, coloca que a responsabilidade da prática

interdisciplinar é um direito, conforme descrito na Seção II das Relações com os

Trabalhadores de Enfermagem, Saúde e Outros,

DIREITOS

Art.36 - Participar da prática multiprofissional e interdisciplinar com

responsabilidade, autonomia e liberdade.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 38 - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades

profissionais, independente de ter sido praticada individualmente ou

em equipe.

E ainda por meio dos Princípios fundamentais aponta que:

“O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe

de saúde [...]”.

e, no Capitulo I das Relações Profissionais

Art. 1º o enfermeiro tem por direito:

Exercer a enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado

segundo os pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos

humanos. (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

Desta forma se estabelece deontologicamente o respeito entre os

profissionais e que na visão de Pessini (2005) incorpora-se à significação do

conhecimento e do cuidado pressupondo então a “interdependência colaborativa”. O

cuidado deve ser praticado por profissionais que demonstrem através dos seus

pensamentos e atitudes, uma consciência ética e um agir bioético segundo o qual as

tomadas de decisão devam perpassar por reflexões seguindo os referenciais

bioéticos.

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100 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

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Um outro aspecto ressaltado nos resultados dessa pesquisa afirmam que o

enfermeiro é o profissional mais indicado a liderar a equipe do CC, por ter um

domínio de todas as atividades realizadas no CC, e que suas atividades devem

contemplar a administração e a assistência ao paciente cirúrgico. O enfermeiro

apontado nesta pesquisa se aproxima das características de conhecimento,

competência, sabedoria, serenidade para tomar decisões em que faça escolhas em

nível de atuação profissional, especialmente no gerenciamento de conflitos, uma vez

que no trabalho que realiza ele é o profissional que tem um relacionamento mais

direto com todos os membros da equipe.

Se observarmos que as características de um líder perpassam sempre pela

necessidade de optar e de fazer escolhas, encontro no relato de Hossne (2007) o

quanto esta tarefa é difícil. Ele coloca que fazer escolhas é sempre angustiante para

o ser humano, a tal ponto, que por vezes, preferir não ter outra opção para que não

precise escolher. Este estudo mostrou que o trabalho no CC é sempre

interdependente, portanto, os profissionais que lá atuam estão constantemente

atuando e fazendo escolhas que influenciam diretamente no outro.

Diante disso, ao discutir o papel de liderança atribuído ao enfermeiro nesta

pesquisa, é necessário discorrer também acerca da competência que é descrita

como componente funcional e operativo da autonomia moral. Certas habilidades

psicológicas são obrigatórias para a tomada de decisões autônomas, sendo que tais

habilidades se estabelecem como parte do processo de desenvolvimento cognitivo

moral do indivíduo (URBAN, 2003).

Apesar de o objetivo ser sempre o paciente, a atuação direta do enfermeiro

com o paciente na SO foi pouco relatada pelos entrevistados, principalmente pelos

enfermeiros. Os profissionais percebem sua ausência não somente diante de

alguma atividade técnica dirigida diretamente ao paciente dentro da sala, como

também através daquele papel de ponte entre todos os envolvidos na cirurgia,

trazendo inclusive segurança para a equipe. Alguns justificam essa situação de

ausência pela carga excessiva de atribuições.

Segundo Farah (2010) o número insuficiente de profissionais para atender a

demanda do serviço, leva à sobrecarga de trabalho.

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101 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

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Todavia não é possível negar que esta situação de sobrecarga de trabalho e

numero insuficiente de enfermeiros em CC está posta na maioria do Centro

Cirúrgicos.

O enfermeiro de CC enfrenta uma crise compreendida entre a racionalidade

científica do modelo biológico de assistência à saúde e seus valores culturais,

sociais e éticos. Assim, em seu cotidiano, vê-se constantemente impulsionado a

transferir e adiar suas escolhas e ideais profissionais, entre as decisões tecnocratas

sentindo-se cada vez mais, como um instrumento de controle. Esse fato vem

pesando sobre si como uma grande e constante ameaça (BONFIM, 2009).

O que se percebe, é que a enfermagem é testemunha, em seu cotidiano, de

inúmeros problemas e conflitos relativos a questões morais e éticas, tais como

atitudes e comportamentos incorretos por parte da própria enfermagem, do corpo

médico e das instituições (WALDOW, 2001).

Os resultados desta pesquisa identificaram que a enfermagem tem uma

preocupação grande em não infringir a ética e não causar conflitos. Contudo,

também é apontada como causadora de conflito ético no que diz respeito às

relações quando assumem um comportamento autoritário e de desrespeito.

Nesta pesquisa pode ser observado que o enfermeiro de CC deve se

posicionar diante de situações que ferem princípios éticos e desta forma, ele terá

condições de exercer sua autonomia com responsabilidade ao escolher o caminho

do seu crescimento, enquanto cidadão e profissional. Siqueira (2003) e Matos Junior

e Bazzano (2010) colocam que segundo a nova ética da responsabilidade proposta

por Hans Jonas substitui os antigos “Imperativos Kantianos” p. 37, “Age de tal

maneira que o principio de tua ação transforme-se numa lei universal” por “Age de

tal maneira que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de

uma vida humana autentica”.

Passos (2000) relata que no CC o importante é a rapidez das decisões, e a

eficácia da ação, podendo-se deixar de lado os valores éticos", o que também

poderia insinuar a polêmica idéia de que os fins justifiquem os meios. Portanto o

enfermeiro do CC como líder administrativo deste ambiente deve seguir a

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responsabilidade como a capacidade individual de assumir antecipadamente pelo

que se vai fazer e ter consciência das conseqüências das suas ações e omissões.

Neste sentido, responsabilidade implica dever perante o frágil e o vulnerável, não

como mera consciência passiva, mas como o dever fazer de alguém, em resposta

ao dever ser (JONAS,1995).

Pautar-se na ética é potencializar as relações por meio da comunicação e

solução de conflitos a fim de defender e promover a vida de todos. As condutas dos

profissionais de enfermagem incidem não somente sobre o paciente visto como o

ser mais vulnerável no CC mas também na equipe que também é vulnerável.

(SELLI, 2000; ZOBOLI; SARTÓRIO, 2006).

Em bioética, a conduta ética resulta de um discernimento em que é

importante ter consciência do ponto de vista que se assume. Desta forma, obtém-se

através da contraposição ou soma de diferentes pontos de vista, a qualidade da

verdade ética. Hossne (2007) contribui com esta afirmação quando coloca que ao

refletir sobre dilemas e conflitos é necessário identificar o “depende”, e aí permitir o

equacionamento adequado, pondo em jogo a competência, e sobretudo, a crítica

fundamentada no interesse do outro ou de outrem. Esta consideração se tornou

necessária nesta pesquisa uma vez que houve questionamentos sobre conflitos

éticos e as perguntas não consideraram somente o julgamento dos entrevistados

sobre eles mesmos ou indivíduos da mesma categoria profissional. As perguntas

buscavam também as opiniões a respeito de outras categorias profissionais, de

modo que somando-se as respostas ou observando as contraposições chegou-se a

essa analise.

As falas apontam que o enfermeiro tem de utilizar a sua autonomia baseada

no seu conhecimento técnico científico, nas suas habilidades de relacionamento

interpessoal sem prejudicar ou agradar quaisquer que sejam as pessoas ou os

motivos.

A autonomia do enfermeiro é condicionada também à necessidade de

tomadas de decisões para que a dinâmica de funcionamento do CC não seja

prejudicada. Cabe a ele promover condições de trabalho adequadas para a equipe

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multiprofissional bem como para prever e atuar em qualquer situação que ofereça

risco ao paciente.

O papel da instituição mediante à compreensão do trabalho que é realizado

pelos enfermeiros no CC, também define ou não o poder a lhe ser conferido para

que possa exercer suas atividades no CC com mais autonomia.

Aliada a essas condições o que se identifica na nossa pesquisa é a

autonomia relacional que revela a nossa habilidade de nos relacionarmos com os

outros e nos mantermos nessas relações. De algum modo nossa autonomia é

paradoxal uma vez que nossa independência se faz por intermédio da

interdependência com outras pessoas. Se reconhecer como ser vulnerável nos leva

a elaborar decisões tendo em vista os limites e condicionamentos da nossa própria

liberdade (ANJOS, 2006).

Atualmente o conhecimento é tão abrangente e ao mesmo tempo fracionado

que carece do respeito multiprofissional (PESSINI, 2005, p.11):

O conhecimento científico se apresenta hoje como um conjunto de especializações, por vezes desconexas, em que acabamos sabendo sempre mais de cada vez menos, até chegarmos a saber quase tudo de quase nada. É um paradoxo! Esse conhecimento dificilmente transforma-se em sabedoria, se não honrar a contribuição da perspectiva multidisciplinar.

O conhecimento de uma disciplina deve vir a somar nas outras para que o

cuidado se torne eficiente. A respeito disso, Sá (2010) coloca que o mundo de hoje

exige não só o conhecimento técnico, mas também que a nossa inteligência seja

avaliada do ponto de vista emocional e no êxito das relações humanas. O conceito

de qualidade na área da saúde data do séc. XXI e está permeado por questões que

envolvem o emocional humano, o trabalho em equipe, a re-aproximação do

indivíduo aos valores humanos e à diminuição da intolerância em relação às

diversidades.

A análise bioética em uma pesquisa qualitativa requer um cuidado especial

para que um determinado conceito não se feche nele mesmo e ao seu autor. Não

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deixando de respeitar o rigor metodológico utilizado nesta pesquisa, mas ao

considerar o fato de que vivemos em uma era pós-moderna causada por um colapso

geral da confiança no poder da razão, é que concordo com a opinião de Campos

(1997) quando coloca que uma mesma situação pode ter várias verdades. Assim, o

movimento que acontece atualmente é no sentido de que não há mais a verdade

fundamental, da qual não se pode abrir mão.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho possibilitou estudar o relacionamento Interpessoal da equipe do

CC sob a ótica da Bioética.

Os referenciais bioéticos abordados ao longo de toda a pesquisa serviram de

base de sustentação das discussões, onde todas as condutas dos profissionais

incidem umas sobre as outras.

Este estudo trabalhou no universo da equipe multiprofissional do CC com

enfoque maior no enfermeiro e suas atitudes. Considerando que o princípio da

autonomia remete ao respeito mútuo e às relações que permeiam o trabalho desta

equipe podemos afirmar que as observações feitas por eles referindo-se a uma

determinada categoria profissional também foram observadas e analisadas como

referência aos outros.

O CC é local de grandes desafios para o homem. Não somente do ponto de

vista técnico cientifico como também das relações humanas que o constituem. A

ética também é uma dimensão fundamental na busca da humanização tão ncessaria

nos dias de hoje. O termo humanização vem sendo utilizado no âmbito da saúde,

sobretudo no que se refere à forma como está sendo tratada a pessoa doente nos

hospitais. Humanizar o cuidar é dar qualidade à relação do profissional da saúde e

paciente, acolhendo suas angústias diante de sua fragilidade (PESSINI et al., 2003).

É importante, também, ressaltar que a bioética e a ética postulam uma

atuação dos profissionais da saúde mais humanizada, focada na relação profissional

com o paciente. Contudo não se pode deixar de lembrar que as relações

interprofissionais vão influenciar diretamente o cuidado, já que no CC todas as

atividades se relacionam.

Neste estudo, os relatos que emergiram dos sujeitos entrevistados foram

organizados em categorias e os resultados permitiram as seguintes conclusões:

- A equipe do CC é multiprofissional e atua de forma interdependente.

- O CC mais especificamente a sala de cirurgia é o único local do hospital

onde de forma rotineira trabalham profissionais de diferentes formações técnicas ao

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mesmo tempo com um único paciente, onde a ação de um profissional dependente

da ação do outro.

- Os relacionamentos são bons quando se cultiva uma cultura de

responsabilidade compartilhada, de boa vontade, solidariedade, respeito e harmonia.

- Os relacionamentos são ruins quando se identifica má vontade, imposições

autoritárias e atitudes individualistas.

- O enfermeiro é apontado como o profissional mais bem preparado para

liderar o CC e trazer coesão e harmonia para a equipe. Ele é referência dentro da

equipe multiprofissional

- As decisões devem ser tomadas e justificadas. É reconhecida a importância

de um conjunto de comportamentos e documentos, bem fundamentados (protocolos

institucionais), que respaldam as decisões profissionais.

- A abordagem acerca de conflitos éticos causou um certo desconforto sobre

os sujeitos desta pesquisa e ao mesmo tempo trouxe relatos de que essa temática

necessita ser melhor identificada e exploradas.

- Os médicos são identificados como o grupo que com maior freqüência

causam os conflitos éticos e os problemas de relacionamentos, especialmente os

cirurgiões.

- A fragilidade da estrutura hospitalar, caracterizada pela sobrecarga de

trabalho, devido ao número insuficiente de profissionais corrobora com a limitação

da atuação do enfermeiro no CC especialmente em sua dimensão assistencial em

SO, porém há necessidade de maior investigação quanto ao fato dos próprios

enfermeiros não mencionarem essas atividades em suas falas.

Analisar uma reflexão sobre conflito ético apenas sob o referencial do código

de ética, que essencialmente é deontológico, pode levar a uma visão distorcida e

muito restrita da questão ética implicada. Portanto, deve ser imperativa a construção

da reflexão bioética, porém não se pode esquecer de que as ações de enfermagem

estão intrinsecamente ligadas à responsabilização profissional. Portanto, é preciso

que os profissionais de enfermagem estejam capacitando-se, científica, técnica e

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humanamente, para cumprir com esses direitos e atender às necessidades, ou seja,

prestar assistência com isenção de danos ou com sua minimização (FREITAS et al,,

2005).

Assim sendo, o aprofundamento do domínio da bioética e seus referenciais

por parte do enfermeiro deverá contribuir para uma maior exigência de reflexão

acerca do seu modo de agir. O enfermeiro de CC embasado nos referenciais

bioéticos como a sabedoria, autonomia, vulnerabilidade, responsabilidade, liberdade

e serenidade devem entender que suas ações precisam ser construídas seguindo

essa base de raciocínio. Com isso direitos, deveres, valores, compromissos éticos,

devem ser as linhas gerais que governam a sua conduta.

O profissional do CC percebe que faz parte de uma equipe e que as relações

interpessoais no CC refletem na assistência. É através do seu auto-conheciemento

reconhecendo suas forças e suas fraquezas e percebendo sua própria fragilidade e

vulnerabilidade, que este profissional se tornará forte e competente para atuar. Deve

também conhecer as atribuições dos outros profissionais para reconhecer e atuar

frente a interdependência.

Existem muitas questões éticas e bioéticas a serem trabalhadas e refletidas

em torno das práticas no CC e pelos membros que os integram. Este ambiente que

constantemente sofre transformações sociais e tecnológicas necessita ser melhor

investigado, abrir-se ao diálogo e ao conhecimento da sociedade.

Os resultados desta pesquisa permitem afirmar que no CC o trabalho em

equipe é imperativo, as relações são difíceis, mas podem melhorar quando o

respeito e o reconhecimento de sua vulnerabilidade forem a base dos

relacionamentos.

Apontado como profissional mais apto a liderar e trazer coesão à equipe no

CC, o enfermeiro necessita de competência e habilidades próprias para saber lidar

com conflitos e trazer segurança para todos. Sugiro então que ele procure embasar

suas ações e decisões através do que Hossne (2007) coloca que é exercício da

bioética: liberdade para optar por valores freqüentemente em conflito, a ausência

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de julgamentos preconceituosos, humildade para respeitar o outro e grandeza para

alterar a opção caso ela se mostre equivocada.

O enfermeiro experiente, atualizado, com conhecimento técnico científico para

prestar uma assistência de qualidade e segurança, conhecimento administrativo

para gerenciar as atividades realizadas, uma grande capacidade de trabalhar em

equipe e uma boa comunicação interpessoal, deve assumir uma espécie de ponte

entre todos os envolvidos na dinâmica do CC, inclusive com o próprio paciente.

De acordo com Anjos (2006), o desenvolvimento científico põe em evidência o

poder dos sujeitos humanos, em sua capacidade racional e operacional. Assim o

desenvolvimento do conhecimento humano coloca o saber como a forma mais

importante de poder, mas o poder não é o mesmo que autonomia, embora a

autonomia seja uma forma de poder muito valorizada no mundo moderno. O

enfermeiro do CC deve ter muito claro que o fato de ele ser líder de coesão e

harmonia no CC não lhe confere o poder sobre a autonomia dos membros da

equipe. Ele tem de ter consciência que sua autonomia está sempre relacionada com

as conseqüências de sua atuação de modo que sua conduta e tomadas de decisão

devam sempre ser buscadas através do seu discernimento, do equilíbrio e da boa

vontade em decidir para o bem.

Devemos discutir a importância do papel da enfermagem no CC e sua

visibilidade diante da sociedade. A enfermagem ainda não tem a verdadeira noção

do quanto à sociedade depende dela e de qual é o seu poder. Um hospital e mais

diretamente o CC, não funciona sem a enfermagem. Ela não entra apenas na

segurança e no cuidado do paciente, ela é a engrenagem de todo movimento no CC.

Para tanto, é também urgente que os administradores reconheçam este profissional.

O trabalho realizado pelo enfermeiro, do ponto de vista da equipe, não é

congruente com a expectativa institucional. O que ficou demonstrado nesta pesquisa

é que a instituição quer gerenciamento, mas a equipe quer também participação na

assistência dentro da SO. É preciso que as instituições percebam que a equipe do

CC identifica no enfermeiro a ponte técnico-administrativa e das relações que

permeiam todo o trabalho realizado no CC. Para tanto, e necessário oferecer

condições para que esse profissional possa atender essa expectativa. O contingente

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de pessoal de enfermagem, principalmente de enfermeiros é insuficiente para

atender essa necessidade. Também o número insuficiente de técnicos e

anestesiologistas dificultam a atuação do enfermeiro diante da distribuição de salas.

Diante dessa situação é premente que esse olhar administrativo seja revisto.

Este estudo propõe que o enfermeiro do CC, esteja embasado em

referenciais bioéticos para guiar sua conduta e nortear suas tomadas de decisão, de

modo a poder atuar como Ponte entre os saberes nas Relações Multiprofissionais.

Uma vez que esta pesquisa aponta que as relações interpessoais interferem

no ambiente e também na qualidade da assistência prestada ao paciente cirúrgico,

acredito que o enfermeiro deva fazer esse papel de ponte de ligação entre todos os

profissionais que atuam no CC. Desta forma no ambiente do CC onde a saúde

enfrenta tantos desafios e onde tantos profissionais se encontram para realizar um

trabalho interdependente, é imperativo que exista alguém que possa cumprir esse

papel. A visão bioética neste sentido transforma o enfermeiro em agente que

agrega e contribui positivamente para a manutenção da harmonia das relações e do

trabalho em equipe.

A posição ideal do profissional autônomo no CC é aquela quando o

enfermeiro percebe que algumas decisões dependem de critérios médicos e quando

os médicos percebem que algumas decisões também dependem de critérios de

enfermagem e que ambos influenciam e são influenciados pelo trabalho de toda a

equipe.

Nada substitui o que se assimila no contato direto com o paciente, com o

ambiente de trabalho e com as relações sociais. A competência resulta do

conhecimento e da experiência. A disciplina teórico-prática e mesmo a

especialização em CC não pode ser aprendida apenas em laboratório, com poucas

atividades práticas, ou por meio de livros e palestras. O aprendizado do enfermeiro

em CC tem que ser basicamente prático. Acredito que através do modelo de

residência poderemos proporcionar o aprendizado prático do enfermeiro no CC

aliado a princípios e referencias bioéticos, contribuindo, assim, para preparar melhor

esse enfermeiro a enfrentar seu futuro profissional no CC.

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Observa-se que determinantes históricos e situacionais promovem o avanço e

o retrocesso no modelo de estrutura do CC centrado no cirurgião. Porém só se

avança quando se incorpora uma ação interdisciplinar com reconhecimento dos

saberes convergentes e a responsabilidade compartilhada.

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120 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu,________________________________________,RG_________________,

abaixo assinado, concordo em participar do estudo intitulado “ O Enfermeiro e o

Relacionamento Interpessoal da Equipe do Centro Cirúrgico – Uma Reflexão a Luz

da Bioética” que será desenvolvido pela pesquisadora Maristella Lopes Gianini, sob

a orientação da Profª Drª Luciane Lucio Pereira e co-orientação do Prof. Dr. Pe.

Marcio Fabri dos Anjos, com o objetivo de analisar o relacionamento inter-pessoal da

equipe multiprofissional que atua no Centro Cirúrgico; Identificar a valorização

atribuída ao enfermeiro do Centro Cirúrgico e analisar a autonomia do enfermeiro

dentro da equipe do Centro Cirúrgico, em situações de dilemas e/ou conflitos éticos.

Fui devidamente informado(a) e esclarecido(a) pela pesquisadora, de forma clara e

detalhada, livre de qualquer coerção sobre a pesquisa e os procedimentos nela

envolvidos. Sei que serei entrevistado e a mesma será gravada em dispositivo

próprio para a utilização apenas nesse estudo.

Fui igualmente informado(a) que:

- terei liberdade de solicitar a qualquer momento

esclarecimentos sobre o estudo;

- estará garantida a retirada de meu consentimento a

qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade;

- será preservada minha identidade, permanecendo

confidencial nos dados coletados;

- as informações obtidas serão analisadas em conjunto a

dos demais pesquisados;

- terei o direito de saber a qualquer momento, sobre os

resultados parciais da pesquisa;

- não correrei quaisquer riscos quanto da minha

participação nesta pesquisa, principalmente no que se refere a

minha atuação profissional;

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121 O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO

CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

- não existirão despesas pessoais em qualquer fase do

estudo, nem qualquer compensação material ou financeira

relacionada à minha participação;

Qualquer dúvida entrar em contato com a pesquisadora Maristella Lopes Gianini,

pelo telefone (11) 5549-1520 ou celular (11) 9217-8218, ou pelo email

[email protected].

Em caso de qualquer problema ético entrar em contato com o Comitê de Ética em

Pesquisa do Centro Universitário São Camilo pelo telefone (11) 3465-2669

Local e data___________________________,________/___________.

Assinatura do sujeito de pesquisa.:_________________________________

Assinatura da pesquisadora.:______________________________________

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CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

APÊNDICE B

ROTEIRO DA ENTREVISTA

Código do Entrevistado:__________. Idade: ________anos.

Sexo:______________.

Formação profissional:________________________________________________.

Tempo de formado:__________________________________________________.

Tempo que trabalha em CC:___________________________________________.

Tempo que trabalha na instituição:_______________________________________.

Outros Locais de trabalho:_____________________________________________.

Funções que desempenha:____________________________________________.

1 – Pra você quem é a equipe do CC?

2 – Como você percebe o relacionamento interpessoal da equipe multiprofissional

que atua no CC, quais os fatores condicionantes (restritivos e promotores)?

3 – Em sua opinião qual o papel do enfermeiro nesta equipe?

4 – Você identifica situações de conflito ético no trabalho desta equipe?

Sim ou Não?

Quais?

5 – Em sua opinião como você percebe a atuação do enfermeiro diante destas

situações?

6 – Como você identifica a autonomia do enfermeiro?

7 – Você gostaria de fazer mais alguma colocação a respeito do que já foi falado?

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O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

ANEXO A

Carta de Princípios das Entidades Camilianas:

A Província Camiliana Brasileira da Ordem dos Ministros dos Enfermos - Padres e Irmãos Camilianos - declara publicamente seu compromisso de fidelidade aos ideais do fundador, São Camilo de Léllis, atualizando seu carisma e espiritualidade para servir, com amor evangélico e competência profissional, às novas gerações em suas múltiplas necessidades, dando atenção preferencial aos mais carentes e excluídos da sociedade. A missão profética que herdamos do nosso fundador, e que somos chamados a levar adiante, consiste em "testemunhar no mundo o amor sempre presente de Cristo para com os doentes", no respeito e na defesa incondicional dos valores humanos, cristãos e católicos. Em conformidade com esta missão, os Camilianos dão ênfase especial à valorização da vida e da saúde, da pessoa humana, de seus profissionais, e à competente e fiel administração de suas obras. Quanto à valorização da vida e da saúde, os Camilianos, seus profissionais e respectivas entidades respeitarão todas as suas dimensões - biológica, psíquica, social e espiritual. Empenhar-se-ão em promovê-las e cuidá-las, até o limite de suas possibilidades, segundo os valores éticos, cristãos e eclesiais, dentro de uma visão holística e ecumênica, repudiando tudo quanto possa agredir ou diminuir sua plena expressão. Quanto à valorização da pessoa, as entidades camilianas caracterizar-se-ão pelo reconhecimento e defesa da dignidade fundamental de todos os seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus. Os que atuam em instituições camilianas deverão primar pela atenção, pelo respeito, cuidado personalizado e amor efetivo para com todos os que utilizarem seus serviços, sem discriminação. Quanto à valorização de seus profissionais, as entidades camilianas reconhecerão neles seu principal e verdadeiro patrimônio, conscientes de que é por seu intermédio e graças à sua dedicação que serão preservados os valores ora professados em favor da vida e saúde da pessoa humana. Cientes do seu valor, as entidades camilianas desenvolverão e aplicarão uma política de recursos humanos que possibilite, de forma integrada, o desenvolvimento, a capacitação profissional e a formação espiritual de seus profissionais, propiciando um clima de união, fraternidade e co-responsabilidade entre todos os integrantes de suas instituições assistenciais, educacionais, sociais e religiosas. A eles seja oferecida e incentivada também a oportunidade de envolvimento na saúde comunitária e no engajamento voluntário. Quanto à administração, as entidades camilianas empenhar-se-ão na busca incessante de conhecimentos humanos, éticos, científicos, tecnológicos e pastorais capazes de garantir a utilização racional dos recursos disponíveis em benefício da humanização e da qualidade dos serviços na comunidade, segundo o ideal de São

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O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

Maristella Lopes Gianini

Camilo. Além da excelência administrativa, as entidades camilianas terão sempre presente o compromisso fundamental de respeito e preservação dos valores que professamos, colocando-se efetivamente a serviço da vida e da saúde das pessoas, sobretudo as mais carentes e excluídas, e valorizando seus profissionais. Dessa forma, a administração não terá um fim em si mesma, mas será um excelente instrumento para a viabilização da visão cristã de valores no mundo da saúde, bem como para o exercício eficiente e eficaz do carisma camiliano, tornando-nos agentes de transformação. As entidades camilianas estudarão e estabelecerão estratégias adequadas que possibilitem a avaliação de seus recursos e energias, para desenvolvê-los sempre mais, respeitadas suas respectivas áreas de atuação social, assistencial e educacional. Elas buscarão a integração, sinergia de esforços e recursos, mútua ajuda e colaboração, parcerias em áreas afins, fortalecendo-se na unidade e na missão, em vista da promoção e construção de uma sociedade mais saudável, justa e solidária. Fonte: www.camilianos.org.br

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O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

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ANEXO B

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O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

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O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

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O ENFERMEIRO E O RELACIONAMENTO INTERPESSOAL DA EQUIPE DO CENTRO CIRÚRGICO – UMA REFLEXÃO À LUZ DA BIOÉTICA

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ANEXO C – REGIMENTO INTERNO CENTRO CIRÚRGICO

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ANEXO D - CARTA DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA (COEP) DO CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO

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