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CENTRO UNIVERSITÁRIO HERMÍNIO DA SILVEIRA
IBMR - LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES
CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
BRUNA DE MATOS MARTINS
THAÍS MOREIRA SUSEWIND
Efeitos do treinamento de força na gestação
Rio de Janeiro
2017
BRUNA DE MATOS MARTINS
THAÍS MOREIRA SUSEWIND
Efeitos do treinamento de força na gestação
ORIENTADOR: Prof. Roberto Poton
Rio de Janeiro
2017
Monografia apresentada ao IBMR – Laureate
International Universities como requisito
parcial para a obtenção do grau de Bacharel
em Educação Física
BRUNA DE MATOS MARTINS
THAÍS MOREIRA SUSEWIND
Efeitos do treinamento de força na gestação
Monografia apresentada ao IBMR- Laureate
Universities como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Educação
Física.
ORIENTADOR: Prof. Roberto Poton
Aprovado em: ___ de _______ de 2017.
Grau obtido ______
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Prof. Ddo. Bruno Ramalho Oliveira
_____________________________________________
Prof. Msc. Carlos Eduardo Vicentini
AGRADECIMENTOS
Agradeço pela realização deste trabalho, primeiramente, a DEUS por me sustentar até
aqui, pois sem Ele não seria nada. Ao meu noivo Bruno Curzio, por total companheirismo e
apoio para que tudo desse certo. À minha mãe, que sempre foi e é a minha maior
incentivadora. Māe, essa conquista também é sua, CONSEGUIMOS!
À minha colega de curso e dupla neste trabalho Thaís Susewind, pela parceria e por
me aturar nos momentos de angústias. Ao meu colega de faculdade Tarcísio Lima que, com
sua infinita bondade, sempre se colocou à disposição para tirar todas as minhas dúvidas.
Agradeço também ao meu orientador Roberto Poton, por nos auxiliar nessa pesquisa, e
a todos meus professores que, ao longo desses 4 anos, contribuíram para meu aprendizado e
“bagagem”.
Dedico este agradecimento por esse trabalho também a minha tia Dione (In
Memorian), pois sei que onde ela estiver, ela estará feliz por essa conquista!
À Vera Lúcia, o meu total carinho e gratidão, pois sem ela eu não teria dado pontapé
inicial.
Bruno Curzio, Maria Antônia, Joāo Carlos, Vera Lúcia, dedico esse trabalho a vocês,
pois sem vocês este e muitos dos meus sonhos nāo se realizariam... TUDO POR VOCÊS!
MUITO OBRIGADA POR TUDO!
Bruna de Matos Martins
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pois acredito que através d’Ele se fez possível chegar até aqui.
Agradeço também aos meus pais, Walter e Sílvia Susewind, meu irmão Diogo e minha avó
Esmeralda (in memorian), e toda a minha família, por ajudarem a construir o ser humano que
sou hoje e por apoiarem todos os meus sonhos, e me incentivarem a nunca desistir de torná-
los realidade.
À minha colega de turma e parceira neste trabalho, Bruna Martins, por toda confiança
e cumplicidade ao longo desta trajetória acadêmica, por encarar junto comigo os desafios e
por não desistir mesmo diante das nossas limitações. Com certeza, não foi fácil, mas tudo
valeu a pena!
Aos meus amigos que permanecem comigo desde os tempos de escola, Monique,
Marina, Luciana, Bárbara e Caio, que sempre apoiam minhas ideias e contribuem para que eu
busque sempre ser uma pessoa melhor. Vocês são especiais e eternos na minha vida, obrigada
por tudo! Agradeço especialmente à minha amiga e irmã Luiza Regazzi, por todo o apoio
acadêmico e companheirismo no meu caminho de profissionalização, e às minhas irmãs
Monique Lima, Nayara Alves e Roberta Rodrigues, que com certeza foram fundamentais para
que eu me mantivesse segura e prosseguisse até o fim deste ciclo.
Aos amigos que tive a oportunidade de cultivar durante a faculdade e espero levar para
a vida, por todos os momentos incríveis e dificuldades que enfrentamos, sempre juntos!
Aos professores do estágio profissional, por todo apoio e aprendizado. Obrigada por
serem exemplos de pessoas que amam o que fazem!
Ao meu orientador e professor, Roberto Poton, pela paciência em responder todas as
nossas perguntas, elucidando nossas dúvidas com calma e nos ajudando a conduzir o trabalho
da melhor maneira.
Ao corpo docente do IBMR, em especial os professores do curso de Educação Física e
Fisioterapia, por abrir nossos horizontes através do conhecimento. Obrigada por tanto
acrescentarem em minha vida acadêmica! Ao coordenador do curso, Sandro Carpenter, por
sua dedicação e disponibilidade em ajudar sempre que necessário.
Thaís Moreira Susewind
RESUMO
MARTINS, B. M., SUSEWIND, T.M. Efeitos do treinamento de força na gestação. 2017.
33 folhas. Monografia – IBMR – Laureate Internacional Universities.
Rio de Janeiro, 2017.
O treinamento de força (TF) envolve a manipulação de diversas variáreis, como intensidade,
volume e intervalo de recuperação entre os exercícios e as sessões de treinamento. A prática
desta modalidade apresenta benefícios consistentes, e pode ser indicada para diversas
populações, incluindo gestantes. Alguns estudos reportam benefícios morfofisiológicos da
prática do TF por gestantes, mas ainda existem dúvidas a respeito da influência no
desenvolvimento do feto ou parto prematuro. O objetivo deste estudo é identificar os efeitos
do TF em gestantes sedentárias e ativas fisicamente, bem como na saúde do feto, e verificar as
prescrições adequadas de intensidade-volume e restrições para o TF. O método utilizado foi
estudo descritivo de revisão integrativa da literatura utilizando-se artigos científicos
atualizados, pesquisados nas bases de dados PubMed, SciELO e LILACS. Foram
selecionados três artigos que abordam o tema. Os trabalhos demonstram que o TF tem efeitos
positivos para a saúde da gestante, se praticado em intensidade leve a moderada, e não gera
efeitos negativos ao desenvolvimento do feto.
Palavras-chaves: Gestação; treinamento de força.
ABSTRACT
MARTINS, B. M., SUSEWIND, T.M. Effects of strength training in pregnancy.2017.
33 sheets. Monograph – IBMR – Laureate Internacional Universities.
Rio de Janeiro, 2017.
Strength Training (TF) involves manipulating various variables, such as intensity, volume and
recovery interval between exercises and as training sessions. The practice of this modality
presents consistent benefits, and can be indicated for diverse populations, including pregnant
women. Some studies report morphophysiological benefits of TF practice by pregnant
women, but there are still doubts of influence on fetal development or premature birth. The
aim of this study is to identify the effects of TF in sedentary and physically active pregnant
women, as well as fetal health, and to verify how appropriate volume-intensity prescriptions
and restrictions for TF. The method used for the descriptive study of the integrative review of
the literature using updated scientific articles, searched in PubMed, SciELO and LILACS
databases. Three articles were selected that address the theme. The studies show that TF has
positive effects on the health of the pregnant woman, if practicing in moderate intensity, and
don’t shown negative effects in fetal development.
Keywords: Pregnancy; strength training.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
TF – Treinamento de Força
ACOG - American College of Obstretricians and Gynecologists
PA – Pressão arterial
PAS – Pressão arterial sistólica
PAD – Pressão arterial diastólica
FC – Frequência cardíaca
PSE – Percepção subjetiva de esforço
VO2 – Consumo de oxigênio
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Contraindicações absolutas e relativas para a prática do TF durante a gestação
(adaptado de Artal et al., 1991 e ARTAL & O’TOOLE, 2003)......................................19
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Escala de Borg..........................................................................................................18
Figura 2: Fluxograma...............................................................................................................21
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Tabela descritiva dos estudos incluídos na presente revisão...............................22
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13
2. OBJETIVOS .................................................................................................................... 15
2.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 15
2.2 Objetivos específicos ....................................................................................................... 15
3. DESENVOLVIMENTO ................................................................................................. 13
3.1 Gravidez.............................................................................................................................. 13
3.1.1 Considerações gerais ....................................................................................................... 13
3.1.2. Principais modificações .................................................................................................. 13
3.2 Exercício físico e Gestação................................................................................................. 15
3.2.1 Considerações gerais ....................................................................................................... 15
3.2.2 Treinamento de força (TF) .............................................................................................. 16
3.2.3 Prescrição do TF para gestantes ...................................................................................... 17
3.2.4 Avaliação e Monitoramento ............................................................................................ 17
3.2.5 Restrições e contraindicações .......................................................................................... 18
1 METODOLOGIA ........................................................................................................... 20
1.1 Critérios de elegibilidade ............................................................................................... 20
5. RESULTADOS ................................................................................................................... 20
5.1 Resultados Principais .......................................................................................................... 23
5.2 Resultados Secundários ...................................................................................................... 23
6. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 24
7. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 26
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 27
13
1. INTRODUÇÃO
O treinamento de força (TF) envolve a manipulação de diversas variáveis, como
números de séries, números de exercícios, número de repetições, intensidade e intervalo de
recuperação entre cada série e entre as sessões de treinamento, sendo passível de ser realizado
em máquinas, elásticos, pesos livres ou até mesmo com o próprio peso corporal (AZEVEDO
et al., 2012), por meio de contrações repetitivas de caráter concêntrico e/ou excêntrico
(CHEN et al., 2017).
Dentre os diversos benefícios que podem ser alcançados com a prática regular do TF,
o aumento de força muscular (PADILHA et al., 2015), potência (ROW et al., 2012),
resistência muscular (DORGO et al., 2009), hipertrofia (CHEEMA et al., 2014)e redução no
percentual de gordura (RADAELLI et al., 2015; SIMÃO et al., 2008), se apresentam como
alterações consistentes dessa modalidade. Logo, a prática do TF pode ser indicada para
diversas populações, sejam àquelas que apresentam algum tipo de condição clínica
(hipertensos, diabéticos, cardiopatas, etc.) ou outras particularidades, como diferentes faixas
etárias (crianças, adultos e idosos), atletas ou gestantes (ACOG, 2002; WOOD, O’NEIL,
2012; FILHOL et al., 2013; WALKER et al., 2013; CHEEMA et al., 2014; VIKMOEN et al.,
2016; MYERS et al., 2017).
Nesse contexto, a prática do TF por gestantes consiste desde sempre em um tema
polêmico, pois apesar de alguns trabalhos científicos reportarem benefícios morfofisiológicos
para a gestante, como redução dos sintomas de desconforto durante a gravidez, controle da
ansiedade e depressão, menor tempo de evolução do trabalho na hora do parto, e menor índice
de cesarianas (CONTTI et al., 2003), ainda existem diversas dúvidas que não foram
elucidadas, como exemplo, se a prática regular do TF durante a gestação poderia influenciar
negativamente o desenvolvimento do feto, aumentar as chances de nascimento prematuro e/ou
provocar abortos indesejados. WHITE et al. (2014), por exemplo, ao investigarem os efeitos
do TF em gestantes, identificaram diminuição da prevalência de disfunções hipertensivas e
diabetes mellitus nas gestantes que praticaram o TF combinado aos exercícios aeróbicos.
Contudo, os pesquisadores, não investigaram os efeitos isolados do TF em gestantes, o que
impossibilita maiores discussões.
14
Além disso, a literatura vigente ainda carece de informações sintetizadas e consensuais
sobre qual a melhor dose-resposta (intensidade-volume) do TF para melhoria da força e
resistência muscular na gestante, aspectos neuromusculares fundamentais para contribuição
da manutenção da saúde de modo geral, bem como quais exercícios do TF são
contraindicados (FIERIL et al. 2014; BGEGINSKI et al., 2015). BARAKAT et al. (2015),
como exemplo, ao submeterem gestantes a um programa de 85 sessões de exercício resistido,
apesar de apresentarem medidas pré e pós treinamento, não controlaram a intensidade
aplicada durante as sessões de TF.
Outro aspecto importante a ser esclarecido, diz respeito às diferentes respostas
fisiológicas que podem ser identificadas em gestantes que apresentem diferentes níveis de
condicionamento. FIERIL et al. (2014), por exemplo, ao investigarem gestantes que eram
adeptas ao TF antes da gestação, evidenciaram que as gestantes apresentaram elevado
controle neural, com consequente capacidade coordenativa alta na realização dos exercícios, o
que poderia em partes, favorecer a continuidade das adaptações morfofisiológicas e auxiliar
na autoconfiança e diminuição da ansiedade. Já BARAKAT et al. (2009), ao investigarem
gestantes que eram sedentárias antes do período gestacional, observaram um período
refratário para as alterações morfofisiológicas, uma vez que, a adaptação neural precede
adaptações musculoesqueléticas, sugerindo então que o TF quando praticado em intensidades
leves (≤60% da FC máxima) pode favorecer a adaptação muscular além de não impactar
negativamente na saúde da gestante.
Com isso, considerando que a literatura vigente ainda apresenta importantes lacunas a
serem esclarecidas, o presente trabalho tem como objetivo revisar a literatura a respeito dos
efeitos do TF em gestantes ativas e sedentárias, na saúde do feto e identificar qual a dose-
resposta mais indicada para promoção dos benefícios, bem como quais exercícios resistidos
deveriam ser restritos a essa população.
15
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Identificar os efeitos do TF em gestantes sedentárias e ativas fisicamente.
2.2 Objetivos específicos
Verificar as prescrições adequadas de intensidade-volume para o TF;
Apresentar os principais efeitos físicos e psicológicos em gestantes através da prática
do TF;
Identificar as restrições para a prescrição do TF para a gestante;
Identificar os efeitos que a prática do TF por gestantes causa à saúde do feto.
3. DESENVOLVIMENTO
3.1 Gravidez
3.1.1 Considerações gerais
Compreende-se como gravidez o período de mudanças morfofisiológicas na mulher,
com duração de aproximadamente nove meses. Tal processo, inicia-se com o óvulo fecundado
pelo espermatozoide e se encerra com o processo de parto. Normalmente, a gravidez é
dividida em três trimestres, sendo o primeiro trimestre responsável por promover
modificações hormonais na gestante importantes para o crescimento fetal e desenvolvimento
de seus órgãos (GUYTON, 1988). Mais ainda, os sintomas clássicos da gestação como mal-
estar, enjoos, tontura, oscilações no humor e sonolência tendem a se pronunciar também neste
período (PINTO et al, 2015). Já os trimestres seguintes (após os três meses iniciais e os três
últimos meses) caracterizam o período em que o organismo da gestante sofre expressivas
mudanças morfofisiológicas, as quais devem ser monitoradas regularmente para garantir a
saúde da mãe e o desenvolvimento saudável do feto (ARTAL et al., 2000).
3.1.2. Principais modificações
Durante a gestação surgem modificações impactantes na fisiologia da mulher, com
efeitos sistêmicos, que devem ser monitorados para identificar potenciais alterações
16
indesejadas que podem apresentar risco de vida para a mãe e/ou para o feto. São mudanças
adaptativas hormonais, cardiorrespiratórias e de termorregulação (FOSS & KETEIYAM,
2000). Nesse sentido, Artal et al. (2000) destacaram as principais alterações que ocorrem na
gestante, como aumento do seu peso corporal total, entre 10 e 14kg, e aumento nos níveis
hormonais estrogênios.
Destacam-se também, modificações no sistema cardiorrespiratório da gestante, devido
à maior demanda de oxigênio durante este período, tais como: aumento nos níveis de débito
cardíaco de repouso de até 50%; aumento do volume hemodinâmico e na frequência cardíaca
(FC), bem como no fluxo de sangue que é direcionado ao útero. Aumenta-se também o
volume-minuto respiratório, o que acarreta numa queda de pressão de CO2 alveolar. No
último trimestre, ocorre considerável aumento de consumo de oxigênio (VO2), chegando a ser
30% maior em relação às mulheres não-grávidas. (PINTO et al. 2015).
De acordo com Foss e Keteyiam (2000), no que diz respeito às adaptações
metabólicas, destaca-se o aumento do metabolismo da grávida em repouso, entre 5% e 10%,
aproximadamente, devido à maior demanda nutricional para que o feto se desenvolva
adequadamente. Os hormônios que são produzidos em maior quantidade durante a gravidez,
principalmente a progesterona e estrogênio, podem acarretar em mudanças psicológicas,
como por exemplo: oscilações de humor (GOMES E COSTA, 2013), aumento de
sensibilidade e ansiedade, além de inseguranças relacionadas à sua autoestima e às incertezas
a respeito dos cuidados com o feto em desenvolvimento (BRAGA E AMAZONAS, 2005).
Quanto às adaptações termorreguladoras, a gestante tende a apresentar aumento da
temperatura corporal, devido ao maior acúmulo de gordura ao longo do período gestacional.
(LIMA & OLIVEIRA, 2005). Com isso, a temperatura do ambiente deve ser considerada para
os cuidados com a temperatura corporal da gestante (NASCIMENTO et al., 2014) e,
consequentemente, no monitoramento dos efeitos sobre o feto, especialmente nas alterações
da FC (BGEGINSKI et al., 2015).
Diante disso, é válido conhecer essas modificações no organismo da mulher durante o
período da gestação, para que seja possível realizar as devidas adaptações em suas atividades
de vida diária, bem como a possibilidade de incluir um planejamento de exercícios físicos
para a manutenção da sua saúde e melhora na qualidade de vida e autoestima (BOTELHO &
MIRANDA, 2011).
17
3.2 Exercício físico e Gestação
3.2.1 Considerações gerais
Exercício físico é um tipo de atividade física estruturada que envolve a manipulação
de diversas variáveis, como intensidade, volume, intervalo de recuperação e tipo de exercício,
que visa melhora da aptidão física com repercussão na saúde de forma geral em todas as
populações (DANTAS, 2003).
Com isso, o acesso a estes benefícios para a saúde fez aumentar a busca pela prática de
exercícios físicos ao longo dos anos, sobretudo por gestantes (MONTENEGRO, 2014).
Diversos estudos indicam diretrizes e benefícios à gestação associados à prática de exercícios
físicos regulares (ACOG, 2002; GUSZKOWSKA, 2013), especialmente no que diz respeito
aos exercícios aeróbicos (ARTAL & O’TOOLE, 2003; EVENSON et al, 2014)como
prevenção de complicações decorrentes de uma gestação sedentária (BACIUK et al., 2006).
Para além disso, vale lembrar que outras modalidades também são mencionadas para a prática
da gestante, como por exemplo: Pilates, hidroginástica, caminhada, yoga, alongamento e
treinamento funcional (PORTAL EDUCAÇÃO FÍSICA, 2011; SALES et al, 2014).
Por outro lado, o exercício físico só poderá representar um papel fundamental para o
sucesso da gestação e do momento do parto, sobretudo o natural (NASCIMENTO et al, 2014)
se realizado de forma regular, segura e específica (SILVEIRA & SEGRE, 2012), de modo que
a gestante apresente redução do sofrimento com as modificações que estão ocorrendo no
corpo, menor risco de complicações durante o parto e melhor recuperação pós-parto, o que
tende a apresentar maior bem-estar e melhor relacionamento com o seu bebê (COSTA,
2004).
Sendo assim, o profissional de Educação Física deve ter consciência da fundamental
importância acerca do conhecimento de tudo o que envolve a gravidez e suas adaptações
anatômicas e fisiológicas, pois estas irão delimitar as características dos exercícios a serem
prescritos.
18
3.2.2 Treinamento de força (TF)
O TF pode ser definido como uma atividade em que se utilizam exercícios de contra-
resistência (AZEVEDO et al., 2012), por meio da manipulação de diversas variáveis (SIMÃO
et al., 2007) que pode ser indicado para diferentes populações, que possuam algum tipo de
condição clínica ou outras particularidades (WOOD, O’NEIL, 2012; CHEEMA et al., 2014).
Nesse contexto, o TF vem apresentando um número crescente de adeptos (ARRUDA et al.,
2010), justamente por proporcionar diversos benefícios para a saúde, como: a prevenção de
doenças e lesões, aumento da massa óssea, aumento da força e/ou massa muscular, melhora
na coordenação motora, reabilitação de lesões, melhora no desempenho de atletas e melhoras
na composição corporal pela redução do percentual de gordura (CARVALHO et al., 1996;
SANTARÉM, 1999; DIAS et al., 2007; CHEEMA et al., 2014; RADAELLI et al.,2015).
Deve-se entender o trabalho de força de uma maneira global, entendendo que o
movimento exige não somente do músculo, mas envolve também estruturas como tendões,
ligamentos, ossos e articulações (CARVALHO et al., 1998). Estas estruturas respondem de
formas distintas a determinado estímulo. Por esta razão, é necessário respeitar o intervalo de
recuperação após oferecer algum estímulo por meio do exercício físico (KRAEMER; FLECK,
2009). Outro fator importante a ser considerado, é a individualidade biológica, a sobrecarga e
a proporção volume-intensidade, para elaborar um treinamento adequado para cada indivíduo,
de acordo com suas condições físicas e objetivos (DIAS et al., 2007).
Além disso, segundo AZEVEDO et al. (2012), o TF não se resume ao trabalho em sala
de musculação com máquinas e pesos livres, sendo passível de ser aplicado com acessórios
como elásticos, além do próprio peso corporal. Entretanto, exercícios livres, por solicitarem
grupamentos musculares estabilizadores exigem mais estabilidade articular em comparação
aos exercícios realizados em máquinas (SCHWANBECK et al., 2009; REISER et al., 2014),
o que pode conferir maior dificuldade de execução.
19
3.2.3 Prescrição do TF para gestantes
Embora exista um posicionamento oficial do Colégio Americano de Obstetrícia e
Ginecologia (ACOG, 2002), o qual recomenda de maneira generalista a prática de exercícios
em intensidades moderadas a prática do TF durante a gravidez provavelmente constitui um
assunto polêmico, gerando diversas discussões acerca do treinamento físico para grupos
especiais, devido à escassez de estudos científicos consensuais a respeito deste tema (FIERIL
et al, 2014). Alguns estudos por exemplo (BATISTA et al., 2003), consideram o TF uma
modalidade não recomendável para as gestantes, enquanto outros estudos (ARTAL et al,
2000; MATSUDO, 2004) abordam o TF como um exercício físico de risco moderado,
ressaltando que pode ser realizado, desde que sejam realizadas algumas adaptações.
Segundo Matsudo & Matsudo (2000), a prescrição do TF para gestantes deve ser
realizada com base nas alterações biológicas específicas da gestante, como por exemplo:
alterações no equilíbrio e mobilidade devido ao peso corporal redistribuído com o avanço da
gestação (MANN et al., 2010) e possibilidade de surgimento de um estado hiperglicêmico,
que pode ser provocado se a gestante for submetida a situações que causem fadiga em
excesso, fenômeno que poderia acarretar efeitos negativos ao feto.
3.2.4 Avaliação e Monitoramento
O monitoramento das variáveis do TF é importante para verificar a eficácia do
planejamento dos exercícios para o indivíduo de modo geral (MANN et al., 2010) e, ao
realizar a prescrição para gestantes desta modalidade, algumas formas de avaliar e monitorar
devem ser adaptadas devido às suas limitações neste período (BATISTA et al. 2003). Como
ferramenta prática e adequada de controlar as cargas e avaliar os níveis de intensidade dos
exercícios, recomenda-se utilizar a escala de percepção subjetiva de esforço (PSE) proposta
por Borg (1998), a qual tem sido utilizada normalmente para controlar a intensidade de
exercícios aeróbios. Contudo, não há na literatura informações que limitam o uso dessa escala
(figura 1) como forma de avaliação e controle da intensidade em exercícios anaeróbios. Nesse
sentido, recomenda-se que os valores de esforço subjetivo da gestante esteja entre os níveis 9
e 11 (“fácil” e “relativamente fácil”), correspondendo aos exercícios de estímulos leves
(RODRIGUES, 2008).
20
Figura 1 : Escala de Borg
Fonte: Borg & Noble, 1974
Outros fatores a serem considerados durante a avaliação e monitoramento da gestante
no TF é a respiração durante a execução dos exercícios e a FC. Segundo Costa (2004), o
método continuado é indicado como melhor para a grávida na prática do TF, pois a praticante
respira normalmente durante o movimento, sem a preocupação com as fases de inspiração e
expiração; como costuma fazer ao executar uma atividade cotidiana. Em contrapartida, a
"Manobra de Valsalva", que consiste na apneia respiratória, não é recomendada para gestantes
durante a execução dos exercícios (NASCIMENTO et al.¸2014). Quanto a FC, é indicado a
monitoração contínua, para assegurar à gestante uma zona de treinamento eficiente e segura
para ela, bem como para o feto (ARTAL & O’TOOLE, 2003).
3.2.5 Restrições e contraindicações
Para que a gestante realize os exercícios do TF de forma segura e eficaz é necessário
considerar algumas particularidades próprias da modalidade, que devem ser adaptadas ou
mesmo evitadas para que a praticante não ofereça riscos à saúde do feto e à sua própria saúde
(FISCHER, 2003). O profissional de Educação Física deve ter conhecimento acerca destas
contraindicações relacionadas à prática do TF no período gestacional (LIMA; OLIVEIRA,
21
2005). Primeiramente, deve-se estar atento aos potenciais acidentes que podem ocorrer no
ambiente da academia, devido à disposição de pesos livres, como halteres e barras, por
exemplo, que podem ser utilizados próximo da região abdominal, podendo ocorrer algum tipo
de acidente de natureza traumática à gestante (ACSM, 2010). A temperatura do local também
deve ser considerada, pois o sistema termorregulatório sofre algumas alterações durante a
gestação, o que poderia acarretar em desconforto para a praticamente e também para o feto
(LIMA & OLIVEIRA, 2005). Por fim, outro ponto importante a ser considerado diz respeito
ao sistema respiratório, pois durante o TF a gestante pode apresentar alterações no seu padrão
ventilatório, como exemplo a execução da “Manobra de Valsalva” (COSTA, 2004;
(NASCIMENTO et al.¸2014), que poderia provocar aumento de pressão intra-abdominal,
resultando em alterações pressóricas e hemodinâmicas prejudiciais ao feto, como déficit de
suprimento sanguíneo e oxigênio (MANN et al. 2009). Além disso, Artal & O’Toole (2003),
apontam que determinadas condições de saúde devem ser consideradas para a prática do TF
na gravidez, conforme descritas no Quadro 1:
Quadro 1: Contraindicações absolutas e relativas para a prática do TF durante a gestação (adaptado de Artal et
al., 1991 e ARTAL & O’TOOLE, 2003).
Limitações para a prática do TF durante a gestação
Contra indicações absolutas Contra indicações relativas
• Doenças miocárdicas,
• Suspeita de estresse fetal,
• Insuficiência cardíaca congestiva,
• Enfermidade hipertensiva grave,
• Enfermidade cardíaca reumática,
• Tromboflebite,
• Retardo de crescimento intra-uterino,
• Embolismo pulmonar recente,
• Gestação múltipla,
• Enfermidade infecciosa aguda,
• Risco de parto prematuro.
• Falta de controle pré-natal,
• Hipertensão arterial essencial,
• Diabetes mellitus,
• Obesidade excessiva ou peso baixo extremo,
• Anemia e outras alterações sanguíneas
Fonte : ARTAL et al.,2003; ARTAL & O’TOOLE, 2003 (adaptado)
Aliado a estas informações, o ACOG (2003) recomenda que se interrompa
imediatamente os exercícios mediante à sintomas, como: perda de líquido amniótico,
contrações uterinas, hemorragias, dispneia, cefaleia, lombalgias ou dores na região pubiana,
fraqueza muscular, tontura e diminuição de movimento fetal.
22
4. METODOLOGIA
Foi realizada revisão da literatura com base em artigos pesquisados através dos bancos
de dados do Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PubMed),
Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS). As buscas foram realizadas nas línguas inglesa e portuguesa,
sem filtro para a data inicial e até novembro de 2017.
Os seguintes descritores foram utilizados para as buscas: “pregnancy”, “strength
training”, “resistance training”, gestação, treinamento de força e treinamento resistido.
4.1 Critérios de elegibilidade
Foram considerados todos os artigos cujos estudos foram randomizados e controlados,
que utilizaram o TF como modelo de intervenção em gestantes. Apenas estudos crônicos, sem
critérios de tempo de duração, e realizados em mulheres adultas foram incluídos nessa
revisão.
Foram excluídos dessa revisão sistemática: (A) estudos onde as intervenções não
avaliaram os efeitos do TF; (B) trabalhos onde não foi possível determinar, através da leitura
do título ou do resumo, a presença da gestação; (C) estudos em crianças e adolescentes; (D)
estudos agudos, onde o período de treinamento não foi explicitado; (E) estudos em animais;
(F) artigos de revisão.
O fluxograma PRISMA modificado detalhando o processo de busca dos artigos
encontra-se ilustrado na Figura 2
5. RESULTADOS
Um total de 456 artigos foram identificados nas bases de dados PUBMED, SciELO e
LILACS dos quais, após a remoção dos duplicados (n=188) e análise de título e resumo
(n=202), três foram incluídos na revisão por contemplarem os critérios de elegibilidade
previamente descritos (O’ CONNOR et al., 2011; WARD-RITACCO et al, 2016;
BGEGINSKI et al. 2015), sendo incluídos na presente revisão (Figura 2).
23
Estudos mantidos após análise de título e resumo
(N=84)
Estudos excluídos com base no título e resumo
(N=202)
Estudos incluídos na revisão (N=3)
Estudos acessados na íntegra a partir dos critérios iniciais de
elegibilidade (N=22)
Razões de exclusões após leitura na íntegra: - que não avaliaram os efeitos do
TF; - que não abordaram a presença
da gestação; - em crianças e adolescentes; - estudos agudos, onde o
período de TF não foi explicitado;
- estudos em animais; - artigos de revisão.
(N=19)
Iden
tifi
caçã
o
Tria
gem
El
egib
ilid
ade
In
clu
ído
s
Estudos identificados através das bases
de dados:
Pubmed = 443
Scielo = 5
Lilacs = 8
(N=456)
Estudos removidos por duplicatas
(N=188)
24
Tabela 1 - Tabela descritiva dos estudos incluídos na presente revisão
Autores Descrição do estudo
Objetivos Métodos Resultados
O’Connor et
al., 2011
Segurança e eficácia do
TF de intensidade de
baixa a moderada na
gestante
32 gestantes saudáveis
TF durante 12 semanas; 2x/semana; ~45min duração.
5min de aquecimento na esteira;
Leg press, cadeira flexora, puxada costas, extensão lombar,
cadeira extensora.
Endurance de extensão lombar submáximo nas semanas 5,
10 e 13. A carga utilizada no primeiro teste (17.2 ± 2.9 kg)
foi mantida nos 3 testes para cada sujeito.
Não ocorreram lesões musculoesqueléticas.
Sintomas potencialmente adversos (por exemplo, tonturas) foram
infrequentes (2,1% das sessões).
A pressão arterial permaneceu inalterada;
Ocorreu aumento da força muscular de 36%, 39%, 39%, 41% e 56% para
leg press, puxada costas, cadeira flexora, extensão lombar e cadeira
extensora, respectivamente;
Aumento de 14% na resistência lombar.
Ward-
Ritacco,
Christieet
al., 2016
Encontrar evidências
de que o treinamento
resistido para mulheres
grávidas é eficaz para
diminuir os sintomas
de fadiga e cansaço e
melhorar a energia.
26 gestantes saudáveis;
TF com intensidade baixa a moderada; 2x/semana durante as
semanas 23ª a 35ª da gravidez (12 semanas);
Exercícios: aquecimento de 5min na esteira; Cadeira
extensora, leg press, puxada costas, extensão lombar e
abdominal (ativação transverso do abdome).
Medidas de energia física e fadiga mental foram feitas antes
e após cada treino utilizando EFS-Scale.
Aumento da energia física e mental percebida (92% a 96% dos exercícios,
respectivamente;
Redução da fadiga física e mental percebida (79% a 88% dos exercícios,
respectivamente);
Bgeginski,
R. et al.,
2015
Identificar as respostas
cardiorrespiratórias
20 mulheres saudáveis;
Grupo 1 – 10 grávidas e Grupo 2 – 10 não-grávidas;
Uma sessão de familiarização com os equipamentos; e quatro
sessões para determinação das respostas cardiorrespiratórias
durante a execução dos exercícios de cadeira extensora e
pec-deck fly (crucifixo anterior);
1 e 3 séries de 15 repetições, 50% de 1RM estimada;
PAS, PAD e PA média foram menores (p=0,029, 0,018, 0,009,
respectivamente) no grupo grávidas;
Aumento da FC durante o exercício de cadeira extensora (grávidas:
109.40±10.75 bpm; não grávidas: 108,51±19,05 bpm) em comparação
com pec-deck fly (grávidas: 101,59±14,83 bpm; não grávidas:
100,37±12,36 bpm).
Aumento de FC no exercício de cadeira extensora (grávidas: 114.70±13.58
bpm, não-grávidas: 121,29±10,86 bpm), PAS (grávida: 124,50±17,32
mm/Hg, não-grávidas: 136,00±17,79 mm/Hg), PAD (grávidas: 68,10±8,23
mm/Hg; não grávida: 77,89±15,25 mm/Hg) e PA média (grávidas:
86,90±10,38 mm/Hg; não-grávida: 97,73±12,64 mm/Hg), ventilação
(grávidas: 12,88±4,05 L.min-1, não grávida: 15,02±4,19 L.min-1) e VO2
(grávidas: 0,41±0,08 L.min-1, não-grávidas: 0,42±0,09 L.min-1) em
comparação com o pec-deck fly.
A resposta à pressão não foi afetada pela gravidez e o TF mostrou-se
seguro durante o desempenho dos exercícios.
25
5.1 Resultados Principais
A tabela 1 apresenta as características da amostra, os procedimentos metodológicos e
os principais desfechos desses estudos. As amostras dos estudos variaram entre 20 e 32
sujeitos sedentários, sendo grávidas saudáveis com idade média amostral de 27,9 anos e idade
gestacional média de 22,85 semanas. O período médio de intervenção foi de 12 semanas,
exceto no estudo realizado por Bgeginski et al (2015), em que utilizaram somente cinco
sessões de treinamento para avaliar as respostas cardiorrespiratórias das gestantes através do
TF. Foram aplicados, em média, um total de seis exercícios para membros superiores
(crucifixo anterior e puxada costas), para a região do tronco (extensão de coluna e abdominal
“em pé” para ativação do abdome transverso) e para membros inferiores (leg press, cadeira
extensora, cadeira flexora), com volume de uma a três séries de 15 repetições, três vezes por
semana.
5.2 Resultados Secundários
Apenas um estudo (WARD-RITACCO, 2016) aponta os efeitos psicológicos do TF
em gestantes, baseados em escala de percepção subjetiva. Os principais resultados deste
estudo apontaram aumento de 89% na sensação de energia física e mental, enquanto
reportaram diminuição da fadiga física em 77% e fadiga mental em 81%.
Os três estudos analisados utilizaram intensidades leve a moderada, sendo dois deles
(O’CONNOR et al, 2011; WARD-RITACCO, 2016) realizados através de PSE
(“relativamente fácil” = intensidade baixa; “algo forte” = intensidade moderada,
respectivamente), enquanto o estudo restante (BGEGINSKI et al, 2015) mensurou a
intensidade através da estimativa de 1RM e estabelecendo 50% desse valor. Da mesma
maneira, todos os estudos monitoraram as participantes para que evitassem a manobra de
Valsalva durante os exercícios, além de terem características semelhantes para possível
interrupção ou restrição de treinamento em cada sessão, caso alguma participante apresentasse
alguma contraindicação relativa, como aumento da PA, tonturas, enjoos, entre outros.
Dois dos três estudos (O’CONNOR et al., 2011; BGEGINSKI et al., 2015) avaliaram
a PA durante os exercícios e verificaram que o TF não alterou significativamente a PA.
26
6. DISCUSSÃO
Os artigos analisados tiveram como objetivo identificar e avaliar a eficácia e segurança
do TF praticado por gestantes, respostas cardiorrespiratórias e sensações de fadiga e cansaço
durante as sessões de treinamento.
Dois avaliaram a pressão arterial (PA) durante as sessões de TF (O’CONNOR et al,
2011; BGEGINSKI et al, 2015), enquanto o estudo realizado por Ward-Ritacco et al. (2016)
avaliou as sensações de energia física e mental, através de escala de percepção subjetiva
(Escala Mental e Física do Estado de Energia e Fadiga - EFS-Scale, na sigla em inglês), antes
e depois de cada sessão. Como resultados, Ward-Ritacco et al. (2016) identificaram que o
exercício resistido foi capaz de aumentar a energia física e mental percebida de forma aguda
(89% dos exercícios), e não apresentar diferenças significativas ao longo das sessões do TF.
Com isso, sugere-se que intensidades baixa a moderada para o TF (baseadas na PSE – escala
entre 11 e 13) durante a gravidez é efetiva para melhorar transitoriamente as sensações de
energia e fadiga.
Apenas um estudo (BGEGINSKI et al., 2015), utilizou amostras comparativas entre
grávidas e não-grávidas, com o objetivo de avaliar as respostas cardiorrespiratórias durante o
exercício. Os autores identificaram que o TF é considerado um exercício seguro para a mãe e
o feto, não havendo alterações prejudiciais da FC. O estudo mostrou que a PA do grupo de
gestantes sofreu redução durante o exercício, e o autor atribui este resultado à reação protetiva
do sistema cardiovascular, que já tende a diminuir a PA durante a gestação devido à redução
da resistência vascular periférica. Todos os resultados foram estatisticamente significativos
quanto ao bem estar físico da gestante através do TF.
O estudo realizado por O’Connor et al. (2011) avaliou as sessões de TF com o teste de
resistência lombar (também em intensidade moderada, baseada na PSE), para verificar a
segurança e eficácia em gestantes, e se o aumento da resistência poderia melhorar a dor
lombar. Ao final das sessões, os autores identificaram aumento de 14%, entretanto, essa
melhora não pode ser atribuída somente pelo programa de TF, pois a ausência de grupo
controle para comparação limita o estudo.[AGF1] Nesse sentido, Garshasbi & Zadeh (2005)
ratificam os achados de O’Connor, considerando que o fortalecimento da região da coluna
lombar poderia melhorar a sustentação corporal e atenuar dores típicas durante o período
27
gestacional que ocorrem com o aumento do peso corporal e crescimento do feto (SILVEIRA
& SEGRE, 2012; AZEVEDO et al., 2011). Mais ainda, não foram identificados nesse estudo
resultados indesejáveis, como: lesões musculoesqueléticas durante as sessões de treino e
sintomas que poderiam ser considerados adversos, como enjoo, mal estar e vertigens. Os
autores atribuíram ao fato de que a intervenção foi realizada sob supervisão de profissionais
especializados, que monitoraram os sintomas e ensinaram técnicas dos movimentos e
respiração para a execução dos exercícios, além de terem sido executados em intensidades
moderadas.
Por fim, vale ressaltar que, apesar de os estudos incluídos nesta revisão não analisarem
os efeitos do TF utilizando altas intensidades, outros autores consideram potencialmente
prejudiciais à gestante, devido a diversos fatores, tais como: lesões articulares e embolia
pulmonar, entre outras complicações (BATISTA et al, 2003). Além disso, ocorre aumento da
temperatura corporal, o que pode ser prejudicial também para o feto, restringindo o fluxo
sanguíneo para a placenta, já que há aumento da demanda de circulação sanguínea para a
região da musculatura exigida durante o exercício (COSTA, 2004). Isso pode acarretar em
grandes riscos que afetariam o seu crescimento, gerando alterações cardíacas ao feto
(bradicardia transitória) após o treinamento em alta intensidade. Como consequência disso,
ocasionaria em aborto espontâneo e/ou parto prematuro (SILVEIRA & SEGRE, 2012).
Por fim, os três estudos são consensuais no que diz respeito à necessidade de controlar
os possíveis riscos que podem prejudicar a prática da gestante no TF, como por exemplo,
evitar a manobra de Valsalva e posições supinadas (decúbito dorsal). Todas as intervenções
realizadas nos três estudos utilizaram exercícios em posição sentada e um exercício em pé.
Artal & Clapp (2000) corroboram com estas recomendações, principalmente no segundo e
terceiro trimestres, pois a posição supinada pode comprimir o útero na veia cava, o que
restringiria o fluxo sanguíneo que deveria ser enviado para o feto, limitando a oxigenação
para o feto. Diante isso, uma adaptação simples que pode ser eficaz é a prescrição de
exercícios em posição inclinada. Além disso, devido às mudanças morfofisiológicas no corpo
da mulher ao longo da gestação, como por exemplo o aumento da região abdominal, o seu
ponto de gravidade é modificado e, com isso, o seu equilíbrio é afetado. Por este motivo,
deve-se atentar para exercícios que proporcionem maior estabilidade e evitem movimentos
que causem riscos de desequilíbrio, e consequentemente, evitem traumas na região uterina
(COSTA, 2004; ACOG, 2003; MONTENEGRO, 2014).
28
7. CONCLUSÃO
O TF pode ser considerado uma modalidade segura e eficaz para a prática de
gestantes, pois, em intensidades leve a moderada, é capaz de proporcionar aumentos
significativos de energia física e mental e diminuir a fadiga, além de ganho de força muscular.
Estes fatores são benéficos à saúde da gestante, e apesar de os estudos analisados não
avaliarem diretamente os efeitos do TF no feto, por não apresentarem efeitos adversos, pode-
se concluir que, mantendo a segurança da mãe, contribui também para a saúde do feto. Ainda
assim, faz-se necessário que mais estudos investiguem com maior profundidade os efeitos da
prática no desenvolvimento do feto.
Quanto à melhor dose-resposta para diferentes níveis de condicionamento, presente
estudo sugere que novas pesquisas sejam elaboradas a respeito da comparação dos efeitos do
TF em gestantes ativas e sedentárias, pois não foram utilizadas amostras comparativas nos
estudos analisados.
Por fim, baseado nos resultados achados nos estudos incluídos nesta revisão, suger-se
um protocolo de exercícios de TF durante a gestação, de acordo com as diretrizes
estabelecidas por um órgão oficial (ACOG, 2003): 1-2 sessões por semana, em dias não-
consecutivos, e em cada sessão, oito a dez exercícios para grandes grupamentos musculares;
entre 8 e 12 repetições, utilizando cargas moderadas (estabelecendo a relação inversamente
proporcional entre cargas e repetições (volume X intensidade).
ncyandthe post partumperiod.Clinobstgynecol, 2003.
29
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