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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO MESTRADO EM BIOÉTICA BIOÉTICA AMBIENTAL: FALTA DE AUTONOMIA SOBRE O AR RESPIRADO NA CIDADE DE SÃO PAULO – A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA COMO FATOR DETERMINANTE PARA A DIMINUIÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO. Fernanda Maria Ferreira Carvalho da Cruz SÃO PAULO 2007

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO

MESTRADO EM BIOÉTICA

BIOÉTICA AMBIENTAL: FALTA DE AUTONOMIA SOBRE O

AR RESPIRADO NA CIDADE DE SÃO PAULO – A POLUIÇÃO

ATMOSFÉRICA COMO FATOR DETERMINANTE PARA A

DIMINUIÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO.

Fernanda Maria Ferreira Carvalho da Cruz

SÃO PAULO

2007

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO

MESTRADO EM BIOÉTICA

BIOÉTICA AMBIENTAL: FALTA DE AUTONOMIA SOBRE O AR

RESPIRADO NA CIDADE DE SÃO PAULO – A POLUIÇÃO

ATMOSFÉRICA COMO FATOR DETERMINANTE PARA A

DIMINUIÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO.

Fernanda Maria Ferreira Carvalho da Cruz

Dissertação apresentada ao Centro Universitário São Camilo para obtenção do título de Mestre em Bioética, sob a orientação do Prof. Dr. Léo Pessini e co-orientação do Prof. Dr. Oswaldo Campos Jr.

SÃO PAULO

2007

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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Pe. Inocente Radrizzani

CRUZ, Fernanda Maria Ferreira Carvalho da Bioética Ambiental: falta de autonomia sobre o ar respirado na cidade de São Paulo: a poluição atmosférica como fator determinante para a diminuição da qualidade de vida da população / Fernanda Maria Ferreira Carvalho da Cruz. -- São Paulo: Centro Universitário São Camilo, 2007.

--p.

Orientação de Leocir Pessini e Oswaldo Campos Júnior.

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário São Camilo, Curso de Bioética, 2007.

1. Bioética 2. Meio ambiente 3. Impactos na saúde 4. Poluição ambiental / efeitos adversos I. Pessini, Leocir II. Campos Júnior, Oswaldo III. Centro Universitário São Camilo IV. Título.

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Fernanda Maria Ferreira Carvalho da Cruz

BIOÉTICA AMBIENTAL: FALTA DE AUTONOMIA SOBRE O AR

RESPIRADO NA CIDADE DE SÃO PAULO – A POLUIÇÃO

ATMOSFÉRICA COMO FATOR DETERMINANTE PARA A

DIMINUIÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO.

São Paulo, de junho de 2007.

______________________________________________

Professor Orientador: Prof. Dr. Léo Pessini.

_______________________________________________

Professor Co-orientador: Prof. Dr. Oswaldo Campos Jr.

________________________________________________

Professor Examinador I

________________________________________________

Professor Examinador II

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Dedico este trabalho a minha mãe, Adélia; minha avó,

Arminda e meu tio Aires, por estarem presentes, ainda hoje,

em minhas lembranças mais doces. Obrigada, de coração por

me fazerem acreditar em sonhos, mas, sobretudo me

ensinarem a batalhar por eles...

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Agradecimentos:

"Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade! ... “

(Raul Seixas)

Ao Edgard, meu marido e amigo, por compartilhar comigo os bons e maus

momentos da vida; por sua paciência, companheirismo e incentivo contínuos;

A meus pais, João e Belmira, por investirem em minha formação pessoal e

profissional;

A meus filhos: Adele, Bruna e Victor, por serem minha principal fonte de inspiração;

À reitoria, pró-reitoria e direção acadêmica do Centro Universitário São Camilo por

me possibilitarem o acesso ao Mestrado em Bioética;

A meu orientador, Pe. Léo Pessini, por sua amizade, pela preciosa colaboração

bioética e por aceitar-me como orientanda, apesar da agenda lotada;

Ao Oswaldo, meu co-orientador e amigo por incentivar-me a entrar no mestrado e

me colocar em contato com a Bioética Ambiental;

Aos professores componentes da banca de qualificação, pelas valiosas e oportunas

sugestões dadas;

À Márcia, por cuidar de meus filhos, organizar minha vida e manter a casa

funcionando há mais de vinte anos;

À minha “filha do coração”, Amarílis Seragini, por suas massagens, sua alegria, sua

amizade e exemplo de vida;

À Tati Gorska, por existir em minha vida, compartilhar bons e maus momentos e ser

meu grande exemplo de que “querer é poder”;

Aos amigos: Edson, Irai, Maykon e Terê, sempre presentes, mesmo que à distância;

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Ao Cláudio Carlos, por me socorrer prontamente na correção e revisão do trabalho;

Aos filhos e genro / nora “covers”: Elisa e Vinícius, Edgard Jr. e Patrícia, por

acreditarem que eu conseguiria e me incentivarem sempre;

Aos professores, funcionários da instituição e colegas da segunda turma do

mestrado em Bioética, pelos preciosos momentos que passamos juntos no decorrer

do curso.

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“Se é verdade que o gênero humano, cuja dialógica cérebro /

mente não está encerrada, possui em si mesmo recursos

criativos inesgotáveis, pode-se então vislumbrar para o terceiro

milênio a possibilidade de nova criação cujos germes e

embriões foram trazidos pelo século XX: a cidadania terrestre.

E a educação,que é ao mesmo tempo transmissão do antigo e

abertura da mente para receber o novo, encontra-se no cerne

dessa nova missão”.

Edgar Morin

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RESUMO

O presente trabalho consiste em uma revisão bibliográfica acerca da falta de autonomia sobre o ar respirado na cidade de São Paulo - SP e a conseqüente vulnerabilidade da população local, sem opção sobre o ar que respira diariamente. É um trabalho de Bioética Ambiental onde a Ecologia e a Bioética se fundem em prol de um bem maior que é a saúde da espécie humana e do planeta. Para tanto, foram realizados breves históricos da Ecologia e da Bioética e pesquisados os diversos conceitos existentes sobre autonomia e vulnerabilidade, visando comprovar que ambas estão intimamente ligadas e a autonomia não se refere apenas ao indivíduo, podendo também aplicar-se a comunidades, sociedades ou ao próprio planeta. Foram necessárias pesquisas sobre a poluição do ar na cidade e seus danos reais à saúde humana, principalmente aos grupos mais vulneráveis (crianças, idosos e populações carentes). Diversas foram as instituições pesquisadas, mas as que mais forneceram dados para o trabalho foram o Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Constatada a falta de autonomia e a conseqüente vulnerabilidade dos paulistanos, foram pensadas e pesquisadas formas de conscientizar a população, bem como propor mecanismos para minimizar essa situação de vulnerabilidade. Não há solução mágica a curto prazo, nem se pode esperar apenas que o governo tome providências; a responsabilidade é conjunta e cada um deve desempenhar o seu papel em busca de um meio ambiente mais saudável. A solução pode ser encontrada a médio ou longo prazo, através de uma educação de qualidade que forme cidadãos autônomos e críticos, conscientes de seu papel na sociedade e capazes de cobrar do poder público providências cabíveis para reverter a situação de adoecimento / morte em decorrência de um ar inadequado.

Palavras-chave: Bioética; Bioética Ambiental; Ecologia; Poluição; Autonomia; Vulnerabilidade.

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ABSTRACT

The present work consists of a bibliographical revision about the lack of autonomy regarding the polluted air breathed by people from the city of São Paulo - SP (Brazil) and the consequent vulnerability of the local population without option to choose the air that they breath daily. It is a Environmental Bioethics work where Ecology and Bioethics combine in favor of the greater good that it is the human beings and the planet’s health . Thus, brief Ecology and Bioethics descriptions had been carried out and diverse existing concepts searched for autonomy and vulnerability, aiming at proving that both are closely tied and autonomy is not associated with the individual, also being able to be associated with communities, society or our own planet. Researches were conducted on air pollution and its damages to the human being’s health mainly most vulnerable groups (children, aged people and low-income populations) in a real city. Several institutions were searched for but the Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo and the Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB) provided more data. However, it was evidenced that the lack of autonomy and the consequent vulnerability of the São Paulo citizens motivated us to develop new different ways of thought and research in order to provide knowledge and consciousness to population as well as mechanisms to minimize this situation of vulnerability. There is no short-term magical solution and we can not wait for the government takes steps either; responsibility lies with us and everyone must play a decisive role in the search for a more healthful environment. Medium and long term solutions can be found through quality education that forms independent, critical and conscientious citizens which have their role in society and capable to claim the public administration necessary steps to revert the situation involving disease/death as consequence of inadequate air quality.

Key-words: Bioethics, Environmental Bioethics, Ecology, Pollution, Autonomy, Vulnerability

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LISTA DE QUADROS, FIGURAS E GRÁFICOS

Quadro 1 - As propostas de Arne Naess e as suas diferenças frente à visão de mundo predominante.

39

Quadro 2 – Classificação dos poluentes atmosféricos. 58

Quadro 3 - Características e efeitos dos principais poluentes atmosféricos. 63

Quadro 4 - Principais efeitos respiratórios adversos associados aos poluentes do ar originados da queima de combustíveis fósseis.

97

Figura 1 – Esquema representativo da relação entre gravidade dos efeitos da poluição e o número de pessoas afetadas pela poluição em uma dada comunidade (adaptado de American Thoracic Society).

60

Figura 2 – Esquema representativo do processo de inversão térmica na cidade de São Paulo.

99

Gráfico 1 – Variação da população da RMSP nos últimos 15 anos. 87

Gráfico 2 – Variação relativa da população e da frota automotiva na RMSP nos últimos dez anos.

88

Gráfico 3 – Contribuição dos setores sócio-econômicos nas emissões do uso de energia pelo Município de São Paulo, em 2003 (%).

89

Gráfico 4 - Emissões do Uso de Energia pelo Consumo Direto de Combustíveis Fósseis e Energia Elétrica pelo Município de São Paulo, em 2003.

91

Gráfico 5 - Distribuição porcentual estimada das mortes evitadas pelo PROCONVE na Região Metropolitana de São Paulo durante o período de 1996 a 2005, separadas por tipo de causa mortis e por faixa etária.

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ABREVIATURAS E SIGLAS

CDB - Convenção da Biodiversidade.

CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental.

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente.

CNUMAD (Rio92 ou Eco92) - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.

CPTEC - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos

CVF - capacidade vital forçada.

DDT - Dicloro-Difenil-Tricloroetano (pesticida).

DPCC - doença pulmonar obstrutiva crônica (bronquitecrônica, asma e enfisema pulmonar).

FMI - Fundo Monetário Internacional.

EEUU (ou EUA) - Estados Unidos da América.

IAB - Associação Internacional de Bioética.

IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

IVAS - Infecções das vias aéreas superiores.

MMA - Ministério do Meio Ambiente.

MP - Material particulado / partículas em suspensão.

MSP - Município de São Paulo.

OMC - Organização Mundial do Comércio

OMS - Organização Mundial da Saúde.

ONU - Organização das Nações Unidas.

OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde.

OPS - Organización Panamericana de la Salud.

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PIB - Produto Interno Bruto.

PROAIM - Programa de Aprimoramento de Informações de Mortalidade.

PROCONVE - Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores.

PTS - Partículas totais em suspensão.

RMSP - Região Metropolitana de São Paulo.

SEMA - Secretaria de Estado do Meio Ambiente.

SMA - Secretaria do Meio Ambiente.

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

USP - Universidade de São Paulo.

VEF1 - volume expiratório forçado no primeiro segundo.

WHO - World Health Organization.

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SUMÁRIO

1 REFERENCIAL TEÓRICO __________________________________________________ 18

1.1 ECOLOGIA x ÉTICA AMBIENTAL ............................................................................ 19 1.1.1 Ecologia: do século XIX à década de 1970 _______________________________ 19

1.1.2 Ecologia, ética e preocupações sociais __________________________________ 24

1.1.3 GAIA: uma visão holística do planeta ___________________________________ 29

1.2 BIOÉTICA ...................................................................................................................... 34 1.2.1 Do surgimento à constatação da dupla paternidade _________________________ 34

1.2.2 Breve histórico da Bioética Ambiental ___________________________________ 40

1.3 AUTONOMIA E VULNERABILIDADE ...................................................................... 47 1.3.1 Os diversos conceitos de autonomia _____________________________________ 47

1.3.2 Os diferentes significados do conceito de Vulnerabilidade ___________________ 54

1.4 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA ....................................................................................... 59 1.4.1 Definição e breve histórico da poluição atmosférica ________________________ 59

1.4.2 Principais poluentes do ar e seus efeitos à saúde humana ____________________ 67

1.4.3 Catástrofes mundiais decorrentes da poluição atmosférica ___________________ 71

1.5 ECOSSISTEMAS ANTRÓPICOS (CIDADES) ............................................................ 76 1.5.1 Industrialização, progresso e poluição do ar _______________________________ 80

1.5.2 A industrialização no Brasil e os danos ambientais dela decorrentes ____________ 84

1.5.3 Industrialização e poluição atmosférica na cidade de São Paulo _______________ 88

1.5.4 Estudos que relacionam poluição atmosférica com morbidade / mortalidade das

populações mais vulneráveis no estado de São Paulo ____________________________ 98

2 DISCUSSÃO ____________________________________________________________ 109

3 CONSIDERAÇÔES FINAIS: _______________________________________________ 117

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________________________________________ 120

INTRODUÇÃO

“Comece por fazer o que é necessário, depois o que é possível e de repente estará a fazer o impossível.”

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São Francisco de Assis

O presente trabalho busca relacionar Bioética e meio ambiente, através de revisão

bibliográfica acerca da ação dos poluentes atmosféricos sobre a saúde da

população da cidade de São Paulo.

Iniciamos com o histórico da Ecologia, e muitos podem se perguntar o porquê de

traçarmos tal histórico se o trabalho consiste em uma análise bioética da ausência

de autonomia e conseqüente vulnerabilidade da população da cidade de São Paulo

frente ao ar respirado diariamente.

Ledo engano, a Bioética tem relação direta / indireta com a Ecologia, principalmente

com a Hipótese Gaia de Lovelock. Ambas surgidas na década de 1970, devido à

preocupação com os danos ambientais e a enorme devastação iniciada na década

anterior com a intensa industrialização existente e a conseqüente queda na

qualidade de vida da espécie humana.

Potter criou o neologismo Bioética em 1970, graças a sua preocupação com a íntima

relação existente entre o meio ambiente e a saúde / doença nas populações

humanas e assumidamente inspirou-se na obra Ética da Terra de Leopold (1989)

para a estruturação da nova ciência, considerando-o como o primeiro bioeticista.

Naess, em 1973 propôs o termo Ecologia Profunda, com o objetivo de resgatar a

importância do aprofundamento da reflexão dos aspectos éticos ligados à questão

ambiental, como uma resposta à visão dominante sobre o uso dos recursos naturais.

James Lovelock, entre 1969 e a metade da década de 1970, de forma metafórica,

mas, bastante lúcida, criou a hipótese Gaia, que descreve o planeta como um

grande organismo vivo, passível de adoecimento e morte, fornecendo uma visão

holística de Ecologia.

Do descrédito praticamente generalizado da comunidade científica quanto às

questões ambientais, nas décadas de 60 e 70, que priorizavam o avanço

econômico-científico-tecnológico e o fato da Bioética ter sido, na época, assumida

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pelas áreas da saúde, fez com que as questões referentes à ética ambiental

tivessem pouco destaque nos anos subseqüentes.

Nos anos 90, devido às sucessivas agressões ao meio ambiente que colocam em

risco a sobrevivência da espécie humana e do planeta e também à Conferência das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO92), Lovelock (1969),

Potter (1971), Naess (1973) e Leopold (1989) voltaram a ser lembrados e suas

teorias vistas não mais como utópicas, mas como necessárias ao bem estar

planetário.

Da união das duas ciências: Ecologia e Bioética surgiu a Bioética Ambiental, sem

uma data precisa de nascimento ou uma paternidade inquestionável, tendo Rachel

Carson, na década de 1960 e Potter, Leopold, Naess e Lovelock, na de 1970 como

seus precursores.

A seguir, ainda na Bioética, faz-se necessário conceituar tanto autonomia quanto

vulnerabilidade e para tanto buscou-se autores e conceitos diversos, alguns deles

até excludentes entre si, mas que foram necessários para se ter clareza de que a

autonomia pode estar intimamente ligada a questões individuais, mas também

coletivas e que não se pode pensar nela isoladamente, desconsiderando os

conceitos de vulnerabilidade, de grupos vulneráveis e do ambiente.

Autonomia e a vulnerabilidade são conceitos bioéticos inversos que podem ser

facilmente observáveis analisando-se a relação existente entre industrialização /

progresso e poluição atmosférica na cidade de São Paulo, onde os meios de

transporte mais utilizados e que existem em maior número (carros, motos,

caminhões e ônibus) são aqueles que contribuem decisivamente para a poluição do

ar e conseqüentes enfermidades da população local.

As principais referências consideradas entre os conceitos de autonomia pesquisados

vieram de Potter (1971) por enfatizar antes dos direitos individuais, as

responsabilidades pessoais, a partir da responsabilidade social e ambiental e de

Freire (1996), que em seu livro Pedagogia da Autonomia afirma que a espécie

humana é formada seres histórico-sociais, capazes de comparar, de valorar, de

intervir, de escolher, de decidir, de romper e de tornarem-se seres éticos.

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A vida no mundo industrializado / globalizado atual depende do uso de muita

energia, sendo sua grande maioria extraída de combustíveis fósseis, que, direta e

indiretamente causam doenças / óbitos numa parte significativa da população:

crianças e idosos (vulneráveis), não lhes permitindo acesso a uma vida saudável,

digna e ética, ecológica-social-econômica e culturalmente.

Para Pegoraro (2002) o homem do século XX, deslumbrado pelo progresso

científico, caiu na cilada de acreditar que pela tecnociência criaria a sociedade mais

feliz e uma vida melhor para cada ser humano. Já o filósofo grego Epicuro (341 -

270 a.C) não via no consumo de bens materiais uma forma de atingir a felicidade,

muito pelo contrário, ele seria hoje o primeiro a estigmatizar os nossos hábitos de

conforto, muitas vezes desnecessários, pois esses prazeres, que muitos de nós

colocamos no centro de nossas vidas, podem tornam-nos cegos sobre aquilo que

ele chamaria de felicidade: “a simplicidade voluntária” (DIVRY, 2006).

Nos países mais desenvolvidos, principalmente na Europa, a qualidade de vida hoje

em dia é muito mais identificada com ambiente do que com posse de bens de

consumo. Há países nórdicos, por exemplo, onde voluntariamente as pessoas

optam por não ter carro, ou têm um carro no condomínio, no quarteirão, e o usam

quando precisam. (SOBRAL, 2005).

Silva (2005) acredita que a sociedade atual não é apenas a quantidade de seres

humanos que responde pela rápida destruição do planeta, mas também, e

principalmente o seu modo de vida. As crises sociais, econômicas e financeiras, e os

conflitos de toda ordem indicam claramente que as dimensões individuais,

socioculturais e macroeconômicas de nosso futuro coletivo estão cada vez mais

fortemente ligadas. E a relação dos seres humanos entre si e com a natureza

conduz o debate em direção à ética / bioética.

1 REFERENCIAL TEÓRICO

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1.1 ECOLOGIA x ÉTICA AMBIENTAL

1.1.1 Ecologia: do século XIX à década de 1970

“A Ciência deve voltar a ser o que era para os antigos Gregos - percepção de harmonia, gozo estético, deleite espiritual, exercício intelectual...”

José Lutzemberg

Ao contrário do que muitos pensam a Ecologia não é uma “ciência da moda” ou uma

preocupação meramente atual, já nos escritos de Aristóteles havia referência à

biologia das populações (LORENZI, 2003).

De acordo com Rodrigues (2001), mesmo sendo mais recente que outras ciências

milenares como a matemática ou a física, desde a segunda metade do século XIX já

havia preocupação em se definir essa ciência que ganhava cada vez mais corpo e

preocupava os habitantes das grandes cidades do planeta.

Até então era de senso comum a idéia de o homem dominar o mundo natural, mas,

os valores com relação à natureza e aos ambientes, natural e urbano, começavam a

mudar, buscando-se conciliar as vantagens socioeconômicas da cidade com o

ambiente físico mais humano e agradável do campo. A consolidação da Ecologia

como ciência data do final do século XIX, quando se torna “autoconsciente”

(MCINTOSH, 1985).

Em 1866, Haeckel produz a primeira definição de Ecologia, criando um neologismo a

partir da etimologia da palavra “Economia”. Esta deriva das palavras gregas oikos,

que significa casa, e nomos, que significa gestão. Haeckel manteve a raíz oikos e

acrescentou-lhe a raíz grega logos, que significa conhecimento (como em Biologia

ou Geologia). Para Haeckel, a Ecologia era a economia da natureza (DOMINGOS,

2004).

A criação do termo e do conceito são atribuídos ao alemão Ernst Haeckel (1834 –

1919), discípulo de Darwin, que o utilizou pela primeira vez em 1866 em seu livro

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"Generelle Morphologie des Organismen" ((Morfologia Geral das Espécies e das

Variedades), o qual define ecologia como sendo a ciência que estuda a interação

entre os organismos e o meio (BEGON et. al., 1996). Posteriormente trocou-se a

primeira vogal na passagem da escrita germânica para a inglesa.

A Ecologia é o estudo de todas as inter-relações complexas consideradas por

Darwin como as condições da luta pela vida e formou durante muito tempo o

principal elemento do que é habitualmente considerado como história natural

(PRIETO, 2000).

Vieira (2003) relembra que no início, o foco da nova ciência era a interação dos

organismos com seu meio ambiente, tentando entender seu funcionamento no

contexto ambiental. Uma forte influência nesta mudança de foco foi o

estabelecimento da teoria de evolução por seleção natural. Foi Darwin (1809-1882)

quem deu esse passo, criando uma história científica da evolução das espécies.

As interações dos organismos com o meio passaram a ter papel importante para

compreender os processos evolutivos em maior detalhe, muitos inclusive citando

Darwin como um dos grandes expoentes da Ecologia (SPALDING, 1903 e

COWLES, 1984, em MCINTOSH, 1985).

Segundo Lovelock (2007), se Darwin ao desenvolver a Teoria da Evolução das

Espécies tivesse maior conhecimento sobre a química da atmosfera e dos oceanos,

saberia que a vida e o meio ambiente estão conectados de maneira tão íntima e

veria que evolução envolve não apenas os organismos vivos, mas a superfície

planetária como um todo.

Para Haeckel (1866) a palavra ecologia designava o conjunto de conhecimentos

relacionados à investigação de todas as relações entre os seres vivos e o seu

ambiente orgânico e inorgânico, incluindo suas relações, favoráveis ou não, com as

plantas e animais que tivessem com ele contato direto ou indireto. Ecologia seria

então o estudo das complexas inter-relações chamadas por Darwin de “condições

da luta pela vida” (PRIETO, 2000).

Segundo Giulianni (1998), era na origem da Ecologia que estava a vontade de

descobrir a ‘razão’ da natureza e de afirmar uma ordem lógica do mundo, as leis que

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o ordenam, cabendo a essa ciência o nascimento do projeto de inventariar o mundo

natural e a distribuição dos diferentes habitats do globo, nos quais, deve-se

sublinhar, o homem sempre esteve incluído.

Em seu livro Animal ecology de 1927, o ecólogo inglês Charles Elton definiu

Ecologia como “história natural científica”; já para o ecólogo americano Clements

(1944) ela seria a “ciência da comunidade”.

“Os trabalhos desenvolvidos por Clements e Cowles caracterizam uma ecologia dinâmica denominada Botânica / ecologia das sucessões. Tansley introduziu o termo ecossistema para caracterizar comunidades vegetais e animais. Shelford cria a noção de equivalência ecológica e, posteriormente, Elton, o conceito de nicho ecológico, ao propor que as espécies devem ser analisadas segundo o ‘endereço’ que possuem e segundo o ‘papel’ que desempenham como peças de uma dinâmica rede de transferência de materiais e energia” (LAGO, 1991).

De lá para cá, muitos anos e discussões depois, o conceito original evoluiu até o

presente, no sentido de designar uma ciência, parte da Biologia e uma área

específica do conhecimento humano que tratam do estudo das relações dos

organismos uns com os outros e com todos os demais fatores naturais e sociais que

compreendem seu ambiente.

Em 1957, o biólogo americano Eugene Pleasants Odum (1913 – 2002), formulou o

conceito de ecologia ainda hoje adotado por muitos ecólogos. Está em maior

consonância com a conceituação moderna definir “ecologia como estudo da

estrutura e da função da natureza, entendendo-se que o homem dela faz parte”

(ODUM, 1988).

“A partir da década de 60, com as viagens espaciais tripuladas, pela primeira vez o homem teve dimensão da “pequenitude” da Terra, apenas um entre incontáveis planetas, na imensidão do Universo e principalmente da insignificância do ser humano, apenas uma entre muitas espécies que aqui habitam. Foi Também na década de 1960, que surgiram os movimentos de contracultura como reação crítica ao modo de vida das sociedades altamente industrializadas, especialmente ao American way of life” (CARVALHO & BRUSSI, 2004).

Carson (2001), com seu livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), foi a primeira a

detalhar, em 1962 os efeitos nocivos da utilização de pesticidas e inseticidas

químicos sintéticos, iniciando o debate sobre as implicações da ação antrópica sobre

o ambiente e o custo ambiental dessa contaminação para as sociedades humanas.

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Ela advertia sobre a utilização de produtos químicos para o combate / controle de

pragas e doenças, pois isso estava interferindo nas defesas naturais do ambiente.

Sua mensagem era dirigida ao uso indiscriminado do DDT, na época, aclamado

como o “pesticida universal”.

Considerado um clássico na história do movimento ambientalista mundial, o livro

“Primavera Silenciosa”, alertava para a crescente perda da qualidade de vida

produzida pelo uso indiscriminado e excessivo dos produtos químicos e os efeitos

dessa utilização sobre os recursos ambientais (DIAS, 1992) – esse livro teve grande

repercussão, favorecendo o crescimento dos movimentos ambientalistas mundiais.

Apesar de nem todas as advertências contidas em seu livro terem se concretizado,

ele tornou-se um best-seller de projeção internacional. Sua morte em 1964, no

entanto, privou-a de acompanhar a revolução que ele causou. Seu testemunho em

favor da beleza e da integridade da vida continua inspirando novas gerações a lutar

pela preservação do mundo vivo e de todas as suas criaturas.

Juntamente com o biólogo René Dubos, Rachel Carson foi uma das pioneiras da

conscientização de que os homens e os animais estão em interação constante com

o meio em que vivem.

Embora tendo sido um dos pioneiros a advertir o mundo acerca dos possíveis

desastres ecológicos, Dubos, criticava os que pregavam o fim do mundo, por esse

motivo, não se engajou no movimento ambientalista dos anos setenta, que

considerava a natureza como vítima e o homem como agressor. Reconhecia que a

qualidade de vida estava se deteriorando, mas, mantinha sua fé na criatividade do

homem e no seu potencial para a renovação e a autotransformação.

O livro “Um animal tão humano: como somos moldados pelo ambiente e pelos

acontecimentos” valeu o prêmio Pulitzer em 1969, a Dubos, que devido a sua visão

ampla, foi escolhido juntamente com a economista Barbara Ward, para redigir o

relatório da Primeira Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente, realizada em

Estocolmo, em 1972. Ward & Dubos (1972), também lançaram juntos a obra “Uma

Terra Somente – A preservação de um pequeno planeta”.

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Lorenzi (2003) relembra que nesse momento, notava-se ainda uma ruptura entre as

ações humanas e as conseqüências destas no meio, o ser humano acreditava que

sua sobrevivência dependia muito mais da tecnologia do que dos recursos naturais.

“...mas não somos sonâmbulos nem ovelhas. Se os homens não se deram conta, até agora, do grau de sua interdependência planetária, isso se deve, ao menos em parte, a que esta ainda não existia em forma de fatos claros, precisos, físicos e científicos. A nova compreensão de nossa condição fundamental também pode tornar-se a compreensão de nossa sobrevivência, que talvez estejamos adquirindo no momento oportuno” (WARD & DUBOS, 1972).

O aumento crescente da destruição e da contaminação do ambiente passou a

constituir, pela primeira vez na história da humanidade, uma ameaça à

sobrevivência da espécie humana, iniciando-se um processo de conscientização

ecológica por parte de determinados setores da sociedade.

Para Lorenzi (2003), em decorrência dessa nova visão de ambiente, do crescimento

populacional, das formas de produção, do desemprego, entre outros problemas

sociais decorrentes do sistema capitalista e/ou socialista, surge, na década de 1970,

um grupo de ecólogos (cientistas que estudam a relação ser vivo / meio) e

ecologistas (leigos / amantes da causa) lutando por um sistema produtivo que tenha

como base uma economia relacionada com o modo de ser e não do ter, cuja

essência está no amor e aliança entre os seres humanos e, entre estes e o meio.

(...) Uma estratégia aceitável para o planeta Terra deve, então, levar explicitamente em conta o fato de que o recurso natural mais ameaçado pela poluição, mais exposto à degradação, mais propenso a sofrer um dano irreversível, não é esta ou aquela espécie; não é esta ou aquela planta ou bioma, ou habitat, nem mesmo a atmosfera livre ou os grandes oceanos. É o próprio Homem (WARD & DUBOS, 1972).

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1.1.2 Ecologia, ética e preocupações sociais

“Ambiente limpo não é o que mais se limpa e sim o que menos se suja”.

Chico Xavier

A princípio a preocupação básica da Ecologia era com o meio ambiente, para que

não fosse modificado / descaracterizado; as espécies não fossem extintas e fosse

mantido o equilíbrio dinâmico do grande ecossistema planetário. Essa visão

ambientalista, embora importante, pois procurava corrigir os excessos humanos, era

parcial, uma vez que enxergava a natureza como algo à parte do ser humano e da

sociedade.

“A partir de 1968 a Ecologia passou a ser uma questão da consciência humana sobre o ambiente, demonstrada internacionalmente, tanto pela comunidade científica como política, em junho de 1992, na cidade do Rio de Janeiro, na Eco-92” (DIAS, 1996).

Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

(CNUMAD), no Rio de Janeiro, em 1992, também conhecida por Rio92 ou Eco92 foi

constituída a Agenda 21 Global e firmados quatro acordos de enorme importância

ambiental: a Declaração do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das

Florestas, a Convenção sobre a Diversidade Biológica e a Convenção sobre

Mudanças Climáticas (MMA, 2007).

Com o passar do tempo, percebeu-se que a Ecologia deveria preocupar-se não

apenas com o ambiente e sua conservação / preservação, mas também com as

problemáticas sociais a ele ligadas; compreendendo a espécie humana como parte

da natureza e nela inserida. Ela deixou de integrar-se exclusivamente com as

ciências da área biológica para integrar-se, também, com a sociologia, economia,

ciência política e ciências exatas.

De uma subárea da Biologia, nas últimas décadas, a Ecologia ganhou status

diferenciado, devido às problemáticas ambientais urgentes que atingem o planeta e

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vem conquistando seu espaço no cenário mundial como disciplina de extrema

importância para o futuro da humanidade.

Esteves et al. (2004) acreditam que vivemos atualmente uma situação única na

história da humanidade com a ascensão da consciência ambiental. Até o final do

séc. XIX o homem acreditava que as fontes energéticas (recursos naturais) fossem

inesgotáveis; podendo ser consumidos indiscriminadamente, sem atentar para um

possível problema de escassez. No final do século XX evidenciou-se o uso irracional

dos recursos naturais de forma predatória.

Ainda hoje nosso modelo de desenvolvimento econômico se baseia no capitalismo,

que promove a produção de bens de consumo cada vez mais caros e sofisticados,

no extrativismo e na exploração da força de trabalho e isso esbarra na Ecologia, pois

não pode haver uma produção ilimitada desses bens de consumo. Os recursos

naturais têm se mostrado finitos, o progresso a qualquer custo não se justifica e o

desenvolvimento linear, não é universal, numa Biosfera, que cada vez mais se

mostra limitada.

Este modelo vem sendo questionado também pela sua perversidade do ponto de vista social, por ser um sistema extremamente desigual, onde o poder se concentra nas mãos de poucos, gerando, inclusive, uma alienação cultural sobre seus efeitos nocivos sobre a natureza e o próprio ser humano (ESTEVES et al., 2004).

É de suma importância começar a propor soluções aos diversos problemas

econômicos, sociais e ambientais proporcionados pelo modelo de desenvolvimento

capitalista (GUIMARÃES, 1998). As transformações provenientes dessas propostas

provavelmente exigirão que o homem seja capaz de estabelecer uma nova relação

com a natureza, substituindo a atual, dominador-dominado, pela preocupação com a

manutenção ou a melhoria da qualidade de vida das gerações futuras, buscando um

patamar de mais equilíbrio e eqüidade (BARTHOLO JR., 2001).

Lorenzi (2003) acredita que está em mudança a maneira de se visualizar as relações

entre os seres vivos e o meio, com a Ecologia passando a enfocar duas novas

concepções: comunidade e rede.

Capra, em seu livro, A teia da vida (1996), sustenta que qualquer comunidade

ecológica diversificada é uma comunidade elástica e não estática. Para ele, a

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concepção de rede foi a chave para os recentes avanços na compreensão científica

não apenas dos ecossistemas, mas também da própria natureza da vida.

Seria esse o papel que a diversidade étnica e cultural poderia vir a desempenhar, o

de abrir-se para o mundo, de tornar-se tolerante consigo mesma e com os outros,

reciclando-se constantemente em direção à construção de uma "consciência cívica

terrestre"; a consciência de habitar, com todas as extraordinárias diversidades

individuais e culturais, uma mesma esfera humana.

Segundo Boff (2005):

“A Ecologia Social luta por um desenvolvimento sustentável. É aquela que atende às carências básicas dos seres humanos de hoje sem sacrificar o capital natural da Terra, tomando em consideração também as necessidades das gerações de amanhã, pois elas têm direito à sua satisfação e a herdar uma Terra habitável, com relações humanas minimamente decentes”.

A preocupação com os aspectos sociais cada vez mais se justifica, mas, também

não pode ser única, deve fazer parte de um contexto maior, socioeconômico, e

atender não só a espécie humana, mas também as demais formas de vida, pois, na

imensa teia da vida, da qual fazemos parte, somos todos interdependentes e

importantes. Faz-se necessário um compromisso maior da espécie humana com

uma ética planetária.

Boff (2005) afirma que:

“a crise ecológica para ser superada, exige um outro perfil de cidadãos, com outra mentalidade, mais sensível, mais cooperativa, mais espiritual, uma Ecologia mental ou profunda”.

O progresso tecnológico deu-nos um grande orgulho intelectual, porém tornou-nos

menos reverentes e piedosos em relação às diferentes formas de vida do planeta.

Régnier (2006) afirma que “Queimamos e destruímos florestas, represamos e

obstruímos rios, criamos desertos, poluímos as águas, o ar e o solo, sacrificamos

animais, esgotamos as reservas minerais, envenenamos os vegetais, matamos e

oprimimos nossos semelhantes e, do alto de nossa prepotência, nos declaramos o

pináculo da evolução”.

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“Do início da agricultura aos dias atuais, muita coisa aconteceu. Já passamos por uma revolução industrial, por duas guerras mundiais e até pela visita do homem à Lua” (CUNHA & MONTANARI, 1996).

Antigamente, pelos conceitos biológicos tradicionais, a vida adaptava-se de maneira

mais ou menos passiva ao ambiente. Hoje, fatos como a intensa industrialização, a

grande necessidade de alimentos ou o aumento descontrolado da população no

planeta, têm levado muitos pesquisadores e cientistas a aprofundarem seus

conhecimentos ecológicos. Passou-se a ter uma visão integral de Ecologia, onde por

menor que seja a parte, faz parte de um todo organizado, onde suas partes são

articuladas dentro da totalidade e nela estão contidas.

“Os seres humanos participam dos ecossistemas tanto como organismos biológicos aparentados com outros organismos quanto como portadores de cultura, embora raramente a distinção entre os dois papéis seja precisa... os seres humanos nunca conseguiram viver num isolamento esplêndido, invulnerável. Eles se reproduzem, é claro, como outras espécies, e os seus filhos sobrevivem ou morrem de acordo com a qualidade do alimento, do ar, da água, e com a quantidade de microorganismos que constantemente penetram os seus corpos. Dessas formas e de outras, os seres humanos têm sido parte inseparável da ordem ecológica do planeta. Portanto, qualquer reconstrução dos ambientes do passado tem que incluir não apenas florestas e desertos, jibóias e cascavéis, mas também o animal humano e o seu sucesso ou fracasso no ato de se reproduzir” (WORSTER, 1991).

Souza (2003) insiste na importância de uma ética ecológica / planetária que nos

lembre que somos parte do equilíbrio e talvez até os responsáveis diretos por ele.

Para muitos a natureza existe para o bem-estar do homem, no entanto, esse bem-

estar não pode ser somente momentâneo, deve incluir as gerações futuras.

Divry (2006) considera que ainda hoje o pensamento de Epicuro merece destaque

no mundo atual; sua filosofia podendo ser vista como um convite para uma auto-

reflexão, um caminho para a felicidade. Vinte e cinco séculos depois de ter vivido,

percebemos ele tinha razão ao dizer que o consumo de bens materiais não leva à

felicidade.

Epicuro (341-270 a.C) provavelmente seria o primeiro a estigmatizar os nossos

hábitos de conforto, pois todos estes prazeres, que muitos de nós colocamos no

centro de suas vidas, tornam-nos cegos sobre aquilo que o filósofo grego chamaria a

felicidade: a simplicidade voluntária.

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Em nenhum momento achamos que as conquistas humanas devem ser

desconsideradas, mas sim que o consumo desenfreado deve ser repensado,

questionado e modificado, uma vez que é um dos grandes causadores dos

desequilíbrios ecológicos planetários.

De tradições epistemológicas diferentes, vários autores apontam para uma visão

mais holística da relação natureza x espécie humana. O filósofo Jacques Derrida

(2001) fala de “solidariedade dos seres vivos”, Edgar Morin (2000) e a “solidariedade

planetária”, Leonardo Boff (1998) e sua “civilização planetária”. O termo não é o

mais importante, o que realmente importa é a idéia de que urge se pensar no global,

sem desconsiderar o local, muito além das questões econômicas.

Uma ótima reflexão acerca da importância da ética ecológica / planetária ou Bioética

Ambiental é a metáfora proposta por Derrida (1997) em sua obra A farmácia de

Platão: “Vivemos em um mundo em que tudo é phármakon: o que é veneno pode

ser remédio, depende da dosagem e do paciente.

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1.1.3 GAIA: uma visão holística do planeta

“Apenas uma guerra é permitida à espécie humana: a guerra contra a extinção”.

Isaac Asimov

A primeira afirmativa de que a Terra seria viva, ocorreu no século XVIII, por parte do

geólogo James Hutton, numa palestra na Royal Society de Edimburgo (Escócia)

numa palestra para a Sociedade Real de Edimburgo na década de 1790 que

considerava a Terra um superorganismo (LOVELOCK, 1997).

Na década de 1970, James Lovelock, elaborou a “Hipótese Gaia”, que compara o

planeta a um organismo vivo; é um conceito mais amplo que o de "biosfera" e liga-se

a um dos mitos mais antigos da humanidade, o da “mãe-terra”.

O termo Gaia significa, no antigo mito grego, a terra viva. Para os gregos, Gaia era

uma divindade que teria surgido a partir de um redemoinho de névoa na escuridão

do nada (CAOS) e aos poucos se tornou mais visível e desenvolvida, formando

montanhas, vales, rios e o céu que a envolve (SAHTOURIS, 1991). Gaia ou Gea

(Geo em grego significa terra), segundo Hesíodo, poeta que viveu no século 8 a.C, é

a segunda divindade primordial, precedida apenas pelo Caos, o início de tudo

(LOVELOCK, 2007).

O termo foi sugerido por Golding em 1972 e aceito por James Lovelock para

denominar sua hipótese do “planeta Terra como um sistema ativo de controle”

(LOVELOCK, 1990).

Na concepção de Lovelock (1990), um planeta que não apresentasse vida seria

caracterizado por apresentar uma atmosfera próxima a um equilíbrio químico, visto

que esta seria determinada unicamente por fatores físico-químicos. Já a atmosfera

de um planeta que apresentasse organismos vivos estaria em um constante

desequilíbrio químico, porque estes organismos estariam sempre a utilizando como

fonte de matéria prima e depósito de resíduos.

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Essas características singulares do planeta Terra levaram-no a propor a hipótese

Gaia, na qual ele considera o planeta Terra como um sistema de autocontrole. Neste

sistema, a biosfera e o meio ambiente estariam acoplados e seriam inseparáveis:

Gaia é uma entidade complexa que envolve a atmosfera terrestre, a biosfera, os

oceanos e o solo.

Nessa hipótese, a Terra se comportaria como um só organismo vivo e teria a

capacidade de regular seu clima e temperatura, de eliminar seus detritos e combater

suas doenças, conseguindo assim, se auto-regular e manter-se saudável, através do

controle dos ambientes físico e químico. A evolução da vida se deveria então, à

combinação dos fenômenos físico-químicos com as atividades dos seres vivos. Tal

combinação faria da Terra um sistema que teria a faculdade de manter a sua

superfície como um espaço favorável à vida. Assim, seria vista como um organismo

vivo em homeostase, no qual a vida contribuiria para a manutenção das condições

necessárias à própria vida (LOVELOCK, 1991).

“Gaia foi o mito buscado para denominar o terceiro planeta do sistema solar, e identificá-lo com uma organização de elementos físico-químicos e auto-organizacionais que apenas um ser vivo poderia ter; um verdadeiro superecossistema onde os seres vivos, macro e microscópicos teriam papel fundamental na composição e manutenção da atmosfera” (LOVELOCK, 1985).

A partir dessa visão verdadeiramente holística, tornar-se-ia mais fácil a

compreensão do ambiente, aprender-se-ia a relevância das dimensões sociais

cotidianamente e daríamo-nos conta da necessidade de superarmos o

antropocentrismo, a importância de tudo integrar, na imensa teia da vida.

A Hipótese Gaia não afirmava que a Terra fosse inteira viva ou mesmo que “dirigisse

conscientemente” suas próprias atividades. Como sugeriu o próprio Lovelock, o

planeta poderia ser comparado a uma árvore, constituída 99% por madeira e cortiça

(matéria morta) e mantém-se viva graças às interações entre sua pequena “porção

viva” e suas “partes mortas”, e pelas interações entre ela e o ambiente externo.

Como a árvore, Gaia constituiria-se, na sua quase totalidade, de matéria não-viva,

recoberta pela biosfera, uma fina película de vida, que interagiria com sua parte não-

viva, regulando assim o conjunto (SILVA & SASSON, 2002).

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Encarar a Terra como um “superorganismo” pode ser romântico, sedutor e de forte

apelo, mas, não se pode simplesmente encará-la de uma forma tão simplista, uma

vez que mudanças radicais, que modificaram drasticamente o planeta, como os

eventos geológicos passados, de grande porte (cometas, erupções, glaciações,

etc.), também mexeram com seu equilíbrio e causaram grandes mudanças. Por

outro lado, não se pode também “esquecer” da ação predatória humana que cada

vez mais ameaça espécies diversas e o planeta como um todo, colocando em risco

até sua própria sobrevivência (SILVA & SASSON, 2002).

Hoje as crises são múltiplas: econômica, social, ética / moral, educacional, espiritual

energética e ecológica. Essas crises são apenas o reflexo da sociedade construída

ao longo das últimas décadas, no planeta como um todo; uma sociedade insana,

onde a distribuição de renda e de bens é totalmente injusta, onde poucos têm muito

e muitos localizam-se abaixo da linha de pobreza.

“O homem vem cometendo muitos erros, que têm gerado problemas seriíssimos ao usar a matéria e ao adaptar as energias da natureza para seu bem-estar. Por não conseguir ou não tentar prever as conseqüências de seus atos” (DUARTE, 2000).

Esse é um modelo que não consegue gerar riqueza sem ao mesmo tempo gerar

pobreza e simultaneamente produzir degradação ambiental, que não favorece a

solidariedade, mas a concorrência, que não alcança a justiça mediante a democracia

social.

O núcleo dessa sociedade, segundo Boff (2005) “não está construído sob a vida e o

bem comum, a participação e a solidariedade entre os humanos. A economia

orienta-se por um ideal de crescimento ilusório, onde os recursos naturais seriam

presupostamente ilimitados e o futuro indefinidamente aberto para a frente”.

A sociedade industrializada produz em grande escala: lixo, contaminação e poluição

diversos, a destruição das espécies e do meio natural. Há uma profunda diferença

qualitativa entre as antigas civilizações que se transformavam ou se extinguiam, sem

que a espécie fosse ameaçada, enquanto a civilização atual vive sob a ameaça da

catástrofe nuclear e da catástrofe ecológica global.

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Nos últimos três bilhões de anos nosso planeta manteve-se saudável e apto a

permitir o desenvolvimento da vida de forma natural. Mas nós o poluímos e

arranhamos em excesso, provocando-lhe “febre intensa” que hoje está se

transformando em “estado de coma”. Somos os responsáveis por essa nova onda

febril e sofreremos duramente as suas conseqüências (LOVELOCK, 2007).

“A crise ambiental não é apenas resultado de uma explosão demográfica ou de uma utilização desenfreada dos recursos naturais, mas sim a visibilidade maior de um modelo de civilização que se tornou globalizado. A crise ambiental é global porque abrange toda a humanidade e seu lugar de habitação, a Biosfera” (AGUIAR, 2003).

A emergência dos valores pós-materialistas acontece como uma “revolução

silenciosa” (INGLEHART, 1977). O novo paradigma ecológico deve afirmar os

princípios da complementaridade, da interdependência, da interação e da

complexidade do mundo, substituindo a idéia mecanicista do Universo funcionando

como uma máquina por uma concepção organísmica. Segundo esta representação,

cada uma das partes de uma totalidade é portadora de uma quantidade de

informação relativa ao todo (AGUIAR, 2003).

“Qualquer pessoa que acompanhe o debate atual sobre os temas ditos ecológicos nos meios de comunicação poderá verificar a grande distância que separa a modesta proposta original de Haeckel e a ampla gama de idéias, projetos e visões de mundo que reivindica hoje em dia o uso da palavra Ecologia” (LAGO & PÁDUA, 1998).

Hoje há maior consciência de que o social é parte do ecológico, no seu sentido

amplo e verdadeiro, não se podendo observar as partes como compartimentos

estanques. Com base de que conhecendo o funcionamento da natureza é possível

controlar e usar racionalmente seus recursos, respeitar seus limites e agir de acordo

com seus princípios, a Ecologia surge como ferramenta fundamental para guiar os

processos de intervenção humana na natureza ao propor alternativas ao sistema

tradicional de exploração dos recursos naturais.

Thielen (1992), em seu texto “Idéias para uma ecologia dialética-dialógica”, afirma

que a Ecologia atual alega valores e metas dentro da natureza e de seus

componentes, por e para si mesmos, independente de qualquer ação humana, um

sistema de estruturas e funções em equilíbrio dinâmico. Cita autores que

compartilham essa idéia (Ecologia Holística), como o físico Capra (1996), o

sociólogo Morin (2000) e o médico Maturana (1992).

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Não basta apenas o conservacionismo, o preservacionismo e o ambientalismo, pois

o ser humano, como os demais, é apenas mais um ser da natureza, com

características próprias, capacidade de mudar-se ou nela, intervindo,

potencializando-a ou agredindo-a. Pobreza e miséria são questões ecossociais e é

nesse contexto que emerge a exigência de uma ética sócio-ambiental.

O cansaço de Gaia é patente perante a magnitude da arquitetura da destruição que

vem se desenhando há três bilhões de anos no planeta. "Sabemos que, se

desejarmos continuar a viver na Terra com saúde e conforto, deveremos também

manter Gaia saudável" (FREEMAN, 1998).

“A ecologia é como um prisma de cristal; suas facetas iluminam o pensamento integralizado. Como ciência, mostra a interação das forças inanimadas e animadas; como filosofia, busca interpretar o lugar do homem e de outros animais na natureza... A ecologia não propõe soluções, sejam práticas ou idealistas, para os problemas de nosso tempo; seu objetivo mais profundo não é conhecer, mas sim conscientizar” (SCHWARZ & SCHWARZ, 1990).

A Teoria de Gaia entende a Terra como um superorganismo vivo e como tal pode

desfrutar de boa saúde ou simplesmente adoecer (LOVELOCK, 2007). O equilíbrio

de Gaia é fundamental para a coexistência ética dos humanos. Somente vitórias

éticas e virtudes públicas terão força para comprometer o lado inumano da

tecnologia e buscar a ampliação de uma justiça social de caráter planetário.

(CARVALHO, 1999).

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1.2 BIOÉTICA

1.2.1 Do surgimento à constatação da dupla paternidade

“Bioética se aprende por meio de bons exemplos.”Gabriel Oselka

Diversas são as definições possíveis para a palavra ética, variando entre autores,

períodos históricos e culturas / sociedades. Para Moore (1975), etimologicamente

ética é uma palavra de origem grega, "ethos", com duas origens possíveis: éthos,

com e curto, que pode ser traduzida por costume e éthos, porém com e longo, que

significa propriedade do caráter. A primeira serviu de base para a palavra latina

"morale", com o mesmo significado: conduta, ou relativo aos costumes; sendo,

portanto, etimologicamente palavras sinônimas (ROSAS, 2002), enquanto a

segunda é a que, de alguma forma, orienta a utilização atual que damos a palavra

Ética.

Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, ÉTICA é "o estudo dos

juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação

do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade,

seja de modo absoluto”.

Para Clotet (1986), a ética tem por objetivo facilitar a realização das pessoas,

enquanto para Valls (1993), ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que é,

mas que não é fácil de explicar, quando alguém pergunta.

“No início dos anos 60, surgiu de forma inesperada nos Estados Unidos e na Europa um súbito interesse pela ética aplicada. Dessas discussões, nasceram três novas disciplinas: a ética ambiental, que passou a merecer a atenção do mundo pelo temor das conseqüências nefastas das crescentes agressões sofridas pelo meio ambiente; a ética dos negócios (business ethics) na qual o lucro desenfreado e abusivo passou a ser questionado com muito mais vigor; e a bioética” (GARRAFA, 1997).

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Schramm (2002) considera a Bioética a forma de ética aplicada que mais representa

a condição humana contemporânea por dizer respeito aos principais conflitos que

surgem nas práticas que envolvem o mundo vivido e às tentativas de dar conta

deles.

Se procurarmos o verbete Bioética num dicionário ou enciclopédia teremos,

provavelmente, a desagradável surpresa de não achá-lo, por trata-se de um conceito

relativamente novo. Segundo Reich (1978) na Encyclopedia of Bioethics, a bioética

abarcaria a ética médica, mas não se limitaria a ela, estendendo-se muito além dos

limites tradicionais que tratam dos problemas deontológicos que decorrem das

relações entre os profissionais de saúde e seus pacientes.

A palavra bioética foi acrescida ao dicionário Houaiss da Língua Portuguesa apenas

em 1982 e seu significado não é uma unanimidade para os estudiosos da área

“estudo dos problemas e implicações morais despertados pelas pesquisas

científicas em biologia e medicina”.

Garrafa (1997), em seu texto Apresentando a Bioética, afirma que apesar da

conceitualização da jovem bioética ainda estar em constante evolução, está claro

que ela não significa apenas uma moral do bem e do mal ou um saber universitário a

ser transmitido e aplicado diretamente na realidade concreta, como a medicina ou a

biologia.

A palavra bioética com o sentido de “obrigações éticas não apenas com o homem,

mas com todos os seres vivos”, segundo Engel (2004) foi usada pela primeira vez

em trabalho publicado em 1927, por Fritz Jahr que definia o termo bioética como “a

emergência de obrigações éticas não apenas com o homem, mas a todos os seres

vivos”.

Schweitzer (1875-1965), ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1952, foi precursor

da Bioética, fundamentando o pensamento bioético em seu texto Ethics of

Reverence for Life, de 1923, que influenciou Jahr (1927), Potter (1971) e Leopold

(1989).

Na mesma década de 1970, em que se passou a encarar pela primeira vez o

planeta como um organismo vivo, surgiu nos Estados Unidos, pelas mãos do Van

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Rensselaer Potter (1911 - 2001), biólogo e pesquisador em Oncologia, a

denominação e o conceito de um neologismo derivado das palavras gregas bios

(vida) e ethike (ética), a Bioética, ou ética aplicada à vida.

O vocábulo Bioética foi por Potter (1971) assim justificado: “Escolho Bio para

representar o Conhecimento Biológico, a Ciência dos Sistemas Viventes, e Ética

para representar o Conhecimento dos Sistemas de Valores Humanos" (MIRANDA,

2005).

A idéia de Potter era a de uma proposta de longo alcance, que se acredita

corresponder ao conceito de paradigma, à medida que abarca todas as formas de

vida, de maneira não especista (MIRANDA, 2005)

.“Ele partiu de uma analogia: a de que os humanos estariam agindo sobre o mundo

natural da mesma maneira como as células cancerígenas agem sobre o organismo

humano” (SCHRAMM, 2002).

“Potter cunha o neologismo bioethics, utilizando-o em dois trabalhos: no artigo Bioethics, science of survival, e no livro Bioethics: bridge to the future. Esta publicação dedicada a Aldo Leopold, renomado professor da Universidade de Wisconsin, que pioneiramente começou a discutir uma “ética da terra”. O termo apareceu na mídia em abril de 1971 quando a revista Times publicou um longo artigo intitulado “Man into superman: the promisse and peril of the new genetics”, citando o livro de Potter” (PESSINI, 2005).

Potter, leitor das obras de Aldo Leopold (1989) sobre o futuro da humanidade e

sensibilizado pelas reivindicações do movimento ecologista sobre a qualidade da

vida, criou a metáfora "ponte para o futuro", para situar a bioética na interface entre

os "fatos" das ciências biológicas, amplamente entendidas, e "os valores" das

ciências humanas.

Westphal (2006), afirma que ela foi criada para designar a relação entre a vida

humana, a vegetal e a animal em sentido amplo, colocando toda a biosfera como

tema de sua preocupação, assim como Lovelock em sua hipótese Gaia.

Pela compreensão original do termo Bioética, segundo Potter (1971), ela deveria

preocupar-se com as questões ambientais e com a sobrevivência do planeta, pois

há uma relação direta entre as saúdes humana, animal e ambiental.

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Segundo Westphal (2006), as doenças em seres humanos são geradas, em grande

medida, por causa do desequilíbrio ambiental, provocado por sua vez, pelos seres

humanos. Ele também afirma que essa degradação favorece a disseminação de

outras catástrofes naturais sem precedentes, além de gerar o esgotamento das

fontes naturais, que são fundamentais para a sobrevivência humana.

Schweitzer (1964), dizia que uma ética que nos obrigasse somente a nos preocupar

com os homens e a sociedade não poderia ter essa significação. Somente aquela

que fosse universal e nos obrigasse a cuidar de todos os seres nos poria

verdadeiramente em contato com o Universo e a vontade nele manifestada.

Aldo Leopold (1887-1948), Engenheiro Florestal, pela Universidade de Yale, foi

professor universitário e considerado a figura mais importante da conservação da

vida selvagem dos EEUU, chegando a ser consultor da ONU nessa área. Em sua

obra mais conhecida, o Sand County Almanac (1949), lançou as bases para a ética

ecológica.

Potter considerava Leopold como o primeiro bioeticista, e inspirador na criação do

termo bioética, citando-o várias vezes em seu livro Bioethics, bridge to the future

(1971) e tendo suas idéias também presentes na formulação da Bioética Profunda

(1998).

A Bioética Ponte, de Potter (1970), baseava-se nas idéias de Leopold, e sua Ética

da Terra, incluindo temas de ética ambiental e de ética médica (POTTER, 1971,

apud MACER, 1994; PESSINI & BARCHIFONTAINE, 2002; GARRAFA, 1995).

“A ética da terra simplesmente amplia as fronteiras da comunidade para incluir o solo, a água, as plantas e os animais, ou coletivamente: a terra. Isto parece simples: nós já não cantamos nosso amor e nossa obrigação para com a terra da liberdade e lar dos corajosos? Sim, mas quem e o que propriamente amamos? Certamente não o solo, o qual nós mandamos desordenadamente rio abaixo. Certamente não as águas, que assumimos que não têm função exceto para fazer funcionar turbinas, flutuar barcaças e limpar os esgotos. Certamente não as plantas, as quais exterminamos, comunidades inteiras, num piscar de olhos. Certamente não os animais, dos quais já extirpamos muitas da mais bonitas e maiores espécies. A ética da terra não pode, é claro, prevenir a alteração, o manejo e o uso destes 'recursos', mas afirma os seus direitos de continuarem existindo e, pelo menos em reservas, de permanecerem em seu estado natural" (Leopold, 1989).

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Potter tinha uma grande preocupação com o problema ambiental e com a

repercussão do modelo de progresso preconizada na década de 1960. Ele almejava

criar uma nova disciplina que propiciasse uma verdadeira e dinâmica interação entre

o ser humano e o meio ambiente, perseguindo a intuição de Leopold e antecipando-

se ao que hoje se tornou uma preocupação mundial, que é a Ecologia (PESSINI,

2005).

Ele propôs a utilização do termo Bioética para a ética aplicada às questões que

envolvessem seres humanos e as questões ambientais, como forma de enfatizar os

dois componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão

desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores humanos.

“...Esta nova ciência, bioethics, combina o trabalho dos humanistas e cientistas, cujos objetivos são sabedoria e conhecimento. A sabedoria é definida como o conhecimento de como usar o conhecimento para o bem social. A busca de sabedoria tem uma nova orientação porque a sobrevivência do homem está em jogo. Os valores éticos devem ser testados em termos de futuro e não podem ser divorciados dos fatos biológicos. Ações que diminuem as chances de sobrevivência humana são imorais e devem ser julgadas em termos dos conhecimentos disponíveis e no monitoramento de ‘parâmetros de sobrevivência’ que são escolhidos pelos cientistas humanistas” (POTTER, 1971).

Outro pesquisador reivindica a paternidade do termo bioética, Andre Hellegers,

obstetra holandês, da Universidade de Georgetown, que seis meses após a aparição

do livro de Potter (1971), utilizou-a com um caráter inédito, ao fundar o Joseph and

Rose Kennedy Institute for the Study of Human Reproduction and Bioethics,

atualmente conhecido apenas como Instituto Kennedy de Bioética (PESSINI, 2005).

No instituto Kennedy, Hellegers, entendia sua missão em relação à bioética como

“uma pessoa ponte entre a medicina, a filosofia e a ética” e juntamente com médicos

e teólogos, via com preocupação ética os avanços médico-tecnológicos da época.

“Este legado é o que acabou conquistando maior notoriedade, tornando-se hegemônico, fazendo da bioética um estudo revitalizador da ética médica” (REICH, 1995).

A escola de Wisconsin, onde se originou o conceito, com Potter, entendeu a Bioética

no sentido global, envolvendo Biologia, Ecologia e meio ambiente. Já a escola de

Georgetown, Instituto Kennedy, viu a Bioética essencialmente como um ramo da

ética aplicada em relação à Medicina.

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Para Potter a bioética possuía um sentido macro e com forte conotação ecológica e

holística, para Hellegers ela dizia respeito especificamente ao ser humano e às

biociências humanas.

“...Fica claro que desde o momento de seu nascimento a bioética tem dupla paternidade e duplo enfoque, apontando perspectivas distintas: os problemas de macro ética, com inspiração na perspectiva de Potter; e, os conflitos da micro ética, ou bioética clínica, com clara inspiração no legado de Hellegers” (PESSINI, 2005).

Anjos (1997) afirma que, em ambas as percepções e ênfases fica evidenciada uma

abrangência global do termo bioética indo além das questões biomédicas. Segundo

as intuições de Potter e Hellegers, embora estes não empreguem os termos de

globalidade, a bioética é entendida como global em três sentidos: enquanto diz

respeito a toda a terra; enquanto conjunto includente de todos os temas éticos nas

ciências da vida e cuidados de saúde e enquanto visão abrangente dos métodos de

aproximação desses temas.

Na década de 1970 esta concepção abrangente de Bioética intuía a necessidade de

se pensar a vida incluindo a ética ecológica e ambiental bem como a ética da saúde.

Nas décadas de 80 e 90, ampliaram-se e desenvolveram-se as percepções dos

campos pretendidos por Potter e Hellegers, para construirmos uma sobrevivência

digna e de qualidade no planeta, uma Bioética Ambiental.

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1.2.2 Breve histórico da Bioética Ambiental

“A floresta é um organismo peculiar de benevolência ilimitada, que não faz nenhuma exigência para o seu sustento, e fornece generosamente os produtos de sua existência. Ela também abriga todos os seres, inclusive o lenhador que a destrói.”

Buda

A melhor maneira de entender o que é Bioética Ambiental com certeza é

acompanhar a evolução da definição de Bioética ao longo do tempo.

A Bioética foi definida por Potter (1971) como sendo a “ciência da sobrevivência

humana”, dando-lhe um sentido marcadamente ecológico, como designação de uma

"ciência da sobrevivência" (Bioética Ponte), já Hellegers restringiu-a a uma ética das

ciências da vida, particularmente consideradas ao nível do humano (PESSINI &

BARCHIFONTAINE, 2002).

Em 1988, Potter elaborou uma nova versão de Bioética, combinando conhecimentos

biológicos com conhecimentos humanísticos diversos constituindo uma ciência que

estabelece um sistema de prioridades médicas e ambientais para a sobrevivência

aceitável, a Bioética Global.

Ela deveria ter ampla abrangência, o que nada tinha a ver com o processo de

globalização. Era uma proposta abrangente, que visava englobar todos os aspectos

relativos ao viver, envolvendo tanto a saúde quanto as questões ecológicas e que

estabelecesse um sistema de prioridades médicas e ambientais para a

sobrevivência aceitável.

Engelhardt, médico e bioeticista de Houston / EEUU, defendeu a idéia de uma

Bioética pluralista, partilhando convicções religiosas cristãs e o desejo de ver

implantadas normas habituais justas, na medida do possível (LEPARGNEUR, 2004;

GOLDIM, 2001).

Idéias como "a mais importante característica de um organismo é a sua auto-

renovação interna conhecida como saúde” (LEOPOLD, 1989) vinham ao encontro

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da idéia de Potter, de uma Bioética que serviria de ponte entre as questões da

saúde e o ambiente e questionava a repercussão da visão de progresso existente na

década de 1960.

Leopold (1989), afirmava que a ética da terra não podia prevenir a alteração, o

manejo e o uso dos “recursos”, mas afirmava os seus direitos de continuarem

existindo.

Em 1997, Comte-Sponville, em seu livro Bom dia, angústia!, dizia que a Bioética não

era uma parte da Biologia e sim uma parte da Ética, uma parte de nossa

responsabilidade simplesmente humana; deveres do homem para com outro

homem, e de todos para com a humanidade.

Alguns autores entenderam o termo global como uma visão uniforme e homogênea

em termos mundiais, enquadrando-a no processo de globalização e não no sentido

abrangente, proposto por Potter, como Campbell (1981) deixa claro em seu livro

Bioética Global: sonho ou pesadelo?

Segundo Goldim (1999), o termo foi utilizado pela primeira vez por Peter J.

Whitehouse, da Universidade de Cleveland / Ohio. Esta utilização foi uma aplicação

à Bioética do conceito, proposto pelo filósofo norueguês Arne Naess, aplicando à

Bioética o conceito de Ecologia Profunda (Quadro 1).

“Em 1998, Potter expõe a idéia da bioética profunda, retomando o pensamento do prof. Peter Whitehouse, da Universidade de Cleveland (Ohio). Whitehouse assumiu a idéia dos avanços da biologia evolutiva, em especial o pensamento sistêmico e complexo que comporta os sistemas biológicos. A bioética profunda pretende entender o planeta como grandes sistemas biológicos entrelaçados e interdependentes, em que o centro já não corresponde ao homem como em épocas anteriores, mas em que o homem é somente um pequeno elo da grande rede da vida, parafraseando Fritjof Capra” (PESSINI, 2005).

Buscando resgatar sua reflexão original, Potter alterou novamente o conceito de

Bioética, definindo-a então como “nova ciência ética que combina humildade,

responsabilidade e uma competência interdisciplinar, intercultural e que potencializa

o senso de humanidade”, com o objetivo de resgatar a sua reflexão original, nascia

assim a Bioética profunda (CARVALHO et al., 2006).

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Naess propôs o termo Ecologia Profunda em 1974 com o objetivo de resgatar a

importância do aprofundamento da reflexão dos aspectos éticos ligados à questão

ambiental, como uma resposta à visão dominante sobre o uso dos recursos naturais.

Embora sua finalidade fosse produzir um “retorno ao sagrado”, isso não se fez

exclusivamente dentro dos marcos de um discurso religioso ou teológico, mas sim a

partir das perspectivas contemporâneas das ciências que interpretam o mundo pela

óptica da complexidade e da transdisciplinaridade.

“A Ecologia Profunda afirma que não se pode reduzir a crise ambiental exclusivamente a um conflito ético, pois ela requer uma mudança de paradigmas conceituais e de gestalt na percepção da configuração do mundo”. (JUNGES, 2004)

A seguir, uma visão comparativa da visão de mundo tida como predominante por

uma parcela significativa das sociedades atuais e a visão de mundo de acordo com

as idéias da Ecologia Profunda de Naess.

Quadro 1 – As propostas de Arne Naess e as suas diferenças frente à visão de mundo predominante. Disponível em: http://www.bioetica.ufrgs.br/ecoprof.htm (Acesso em: 16/08/2006)

Visão de Mundo Ecologia ProfundaDomínio da Natureza. Harmonia com a Natureza.Ambiente natural como recurso para os

seres humanos. Toda a Natureza tem valor intrínseco.

Seres humanos são superiores aos

demais seres vivos. Igualdade entre as diferentes espécies.

Crescimento econômico e material como

base para o crescimento humano.

Objetivos materiais a serviço de objetivos

maiores de auto-realização.Crença em amplas reservas de recursos. Planeta tem recursos limitados.Progresso e soluções baseados em alta

tecnologia.

Tecnologia apropriada e ciência não

dominante.Consumismo. Fazendo com o necessário e reciclando.

Comunidade nacional centralizada. Biorregiões e reconhecimento de tradições

das minorias.

É fundamental notar como era importante para Potter manter na Bioética as

características fundamentais - ampla abrangência, pluralismo, interdisciplinaridade,

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abertura e incorporação crítica de novos conhecimentos - em todas as suas

propostas de definições.

Engelhardt (1998) acreditava que um dos aspectos mais marcantes dessa nova

ciência seria o diálogo multidisciplinar em um contexto pluralista em que os seres

humanos se encontram como “estranhos morais”.

Nas décadas de 70 e 80, a expressão foi utilizada simultaneamente aos

desenvolvimentos da biotecnologia de terceira geração e, especialmente, das suas

aplicações na medicina, expressando um vasto campo de interesses, mais ou

menos disfarçados, de ordem religiosa, ideológica, legal, comercial, de legisladores,

de médicos, de cientistas, etc. (COLE-TURNER, 1995) e a concepção de Potter

ficou minoritária no panorama das várias concepções existentes durante

praticamente essas duas décadas.

Durante este período só teve certa influência na ética ambiental (considerada por

muitos pesquisadores como distinta e diferente da bioética), voltando a ocupar um

papel importante no cenário bioético mundial apenas na época do IV Congresso

Mundial da IAB no Japão (1998), quando a bioética já vinha se preocupando com as

implicações morais da Globalização (SCHRAMM, 2002).

Nos anos 90, os temas da ética ambiental ganharam destaque, principalmente com

as discussões em torno da Convenção da Biodiversidade (CDB) - assinada por 156

países, incluindo o Brasil, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92 ou Eco 92), e ratificada pelo Congresso

Nacional em 1994 (Convenção da Biodiversidade, 1992).

Durant (1995) fala da abordagem global peculiar à Bioética e lembra das dimensões

individuais e sociais desta reflexão. Ela se preocupa com casos individuais

(microética) e também com o impacto dessas decisões sobre a sociedade e com o

impacto da sociedade sobre os indivíduos.

A magnitude alcançada pela Bioética na atualidade vai sendo revelada pela

diversidade de tópicos, a qual floresce e evolui de modo acelerado e contínuo nos

eventos e debates específicos acontecidos em todo o mundo, descortinando o rol

das complexas preocupações de ordem moral existentes nos campos da medicina,

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da saúde humana e do meio ambiente (MICHAELIS, 1995; MACER, 1994; BREWIN,

1994; COLE, 1995; COUGHILIN & ETHEREDGE, 1995).

Em 2001 o Programa Regional de Bioética, vinculado á Organização Pan-Americana

de Saúde (OPAS), definiu Bioética igualmente de forma ampla, incluindo a vida, a

saúde e o ambiente como áreas de reflexão.

“Bioética é o uso criativo do diálogo para formular, articular e, na medida do possível, resolver os dilemas que são propostos pela investigação e pela intervenção sobre a vida, a saúde e o meio ambiente” (GOLDIM, 2001).

Segundo Junges (2004), o papel da Ecologia como ciência é um exemplo da

capacidade da espécie humana tomar decisões adequadas ao meio ambiente, pois

ensina a conhecer os níveis de interdependência dos diferentes componentes de um

ecossistema, preservando o equilíbrio e prevendo conseqüências de uma

intervenção humana. Assim, o conhecimento ecológico ajuda a esclarecer

preferências e a fundamentar decisões éticas.

Engel (2004) vê a Bioética como a reflexão ética sobre os seres vivos, incluído o ser

humano, tais como esses seres vivos se apresentam nas relações cotidianas do

mundo vivido e nos contextos teóricos bem como práticos da ciência e da pesquisa.

Junges (2004) em seu livro Ética Ambiental, fala na necessidade de se superar a

concepção do ser humano como espécie dominante e separada do mundo,

despojando-se do seu isolamento individualista, assumindo uma postura holística e

formas transpessoais em atitudes junto à natureza, surgindo assim um ser humano

ecóico em lugar de egoico.

No editorial do site da Universidade Estadual de Londrina, Siqueira (s/d) mostra que

o maior desafio para Bioética neste final de milênio é a justa distribuição dos

recursos na área da saúde numa sociedade contaminada pela globalização e pela

competitividade selvagem juntamente com a defesa de um meio ambiente saudável.

Para ele a visão cartesiana da saúde concebe os serviços médico-hospitalares

sofisticados e não percebe que os determinantes maiores de saúde ou doença são

de natureza ambiental. A questão central, portanto não é simplesmente ter hospitais

equipados com tecnologia de ponta, mas sim controlar a degradação do meio

ambiente.

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De acordo com Casado (2007), especialista em Bioética e Direito da Universidade

de Barcelona, Bioética Ambiental seria a análise do impacto das biotecnologias no

meio ambiente, pois muitos dos avanços biotecnológicos têm repercussões

ambientais.

Bocatto & Tittanegro (2005) analisam a importância da Bioética para a construção de

uma sociedade mais justa, preocupada não só com o ser humano, mas com todos

os seres vivos e com o meio ambiente, visto que ao destruir o meio ambiente

estamos nos destruindo, pois dependemos dele para “sobreviver” ou “viver”.

Se encararmos a Terra não apenas como o lugar onde moramos, mas como um

sistema vivo do qual fazemos parte, cuidando de sua “saúde” e evitando os diversos

tipos de poluição e a superexploração dos recursos naturais faremos bem para “o

todo” e para as partes que o compõe.

“Potter pensava a bioética como uma ponte entre a ciência biológica e a ética. Sua intuição consistiu em pensar que a sobrevivência de grande parte da espécie humana, numa civilização decente e sustentável, dependia do desenvolvimento e manutenção de um sistema ético” (PESSINI, 2005).

Hans Jonas (1998), em seu livro “Para uma ética do futuro” afirmou serem

necessárias duas tarefas preliminares a serem levadas a cabo por cidadãos que

buscam um mundo menos antropocêntrico e mais ecocêntrico: a maximização do

conhecimento das conseqüências de todas as formas de agir e a elaboração de uma

forma de conhecimento transdisciplinar e para tanto seria necessário pautar-se “pela

combinação do intelecto com a emoção, do necessário e do contingente, da

harmonia e do caos” (CARVALHO, 1999).

Segundo Silva (2005) a questão ética ou bioética entre o homem e a natureza está

presente na relação entre duas noções ecológicas, que são absolutamente

indissociáveis: biodiversidade e sociodiversidade.

Aceitando ou não as teorias / hipóteses acima descritas, é necessário refletir com

seriedade sobre a atuação antrópica no planeta, uma vez que nossa saúde e

sobrevivência estão em risco e dela dependemos, direta ou indiretamente.

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Morin & Kern no texto Agonia planetária de 2002, discutem a globalização e falam

que a crise ambiental atual talvez leve a nova solidariedade universal e que por

intermédio dela se consiga chegar ao caminho da paz e da solidariedade, pelo fato

de o destino de todos nós, habitantes do planeta, estar de certa maneira interligado.

Para Lepargneur (2004), “os comportamentos que passam a integrar o domínio da

bioética são chamados a dominar boa parte da vida da humanidade de amanhã”, e

nessa perspectiva, Ecologia e Bioética passam a ser anexas e parceiras na busca

por um mundo melhor.

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1.3 AUTONOMIA E VULNERABILIDADE

1.3.1 Os diversos conceitos de autonomia

“Se as coisas são inatingíveis... ora!Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos se não foraa mágica presença das estrelas!”

Mario Quintana

Desde o advento da modernidade todos os cidadãos são considerados iguais e

autônomos, impedindo, teoricamente, a exploração de uma pessoa por outra (BRAZ,

1999).

Segundo o dicionário Houaiss (2006), autonomia pode ser definida como a

capacidade de se autogovernar; direito de um indivíduo tomar decisões livremente;

liberdade, independência moral ou intelectual.

Semanticamente, "autonomia" vem do grego autonomia, palavra formada pelo

adjetivo pronominal autos - que significa ao mesmo tempo "o mesmo", "ele mesmo"

e "por si mesmo" (BLOCH & WARTBURG, 1968) - e nomos - que significa

"compartilhamento", "lei do compartilhar", "instituição", "uso", "lei", "convenção"

(CASTORIADIS, 1988).

Filosoficamente, autonomia “indica a condição de uma pessoa ou de uma

coletividade, capaz de determinar por ela mesma a lei à qual se submeter”

(LALANDE, 1972).

A autonomia, também conhecida por livre arbítrio, teve em Santo Agostinho seu

principal pensador, que na obra De libero arbítrio de 396 d.C., levantou o

questionamento referente à liberdade humana e à origem do mal. O bem e o mal

fariam parte da natureza humana.

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"Sem o livre arbítrio não haveria mérito nem demérito, glória nem vitupério, responsabilidade nem irresponsabilidade, virtude nem vício" (SANTO AGOSTINHO, 1995).

Para Espinosa, autor materialista do século XVII, filósofo judeu-holandês, a virtude

não era um bem, mas uma força que fazia o homem passar da paixão à ação,

agindo com autonomia e autonomia significaria a passagem da passividade à

atividade (MATOS, 2006). O homem autônomo seria ele próprio a causa interna de

seus atos, pensamentos e sentimentos, recusando a submissão a causas externas.

Em nome de uma política minoritária, expõem-se os membros do coletivo à

conformação das palavras e aos desejos de mando e de jugo de uns pelos outros

(ANDRADE FILHO, 2002).

“Descartes deslocou de Deus para o próprio homem a discussão referente ao livre arbítrio. É com ele que se desenvolve a questão da autonomia, tema até então inédito” (BRAZ, 1999).

O livre arbítrio de Descartes traz consigo uma nova noção - a do sujeito da

consciência. A identificação da subjetividade com a consciência, portanto, do

primado da razão, parece ser um ponto inabalável da filosofia moderna, assim como

a noção de autonomia.

"A experiência absoluta acontece independentemente da experiência do Absoluto, e essa certeza ontológica deixa-se confirmar como que de modo imediato pela perfeição maior que é a certeza do livre arbítrio" (BORNHEIM, 1997).

Com Kant (2003), o princípio da autonomia, o poder da escolha e o livre arbítrio se

consolidam e marcam a filosofia ocidental e a concepção do sujeito humano. Em sua

obra Fundamentos da Metafísica dos Costumes, Kant propôs o Imperativo

Categórico. De acordo com esta proposta a autonomia não é incondicional, mas

passa por um critério de universalidade.

Para Kant (2003) a autonomia da vontade seria a constituição da vontade, pela qual

ela é para si mesma uma lei - independentemente de como forem constituídos os

objetos do querer. Ela seria a capacidade apresentada pela vontade humana de se

autodeterminar segundo uma legislação moral por ela mesma estabelecida, livre de

qualquer fator estranho ou exógeno com uma influência subjugante. Foi graças a

Kant que a autonomia passou a ocupar lugar de destaque no campo da ética.

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“O princípio da autonomia que em sua essência corresponde ao de Kant, instaura o agente moral no centro de referência ética. A esse princípio Engelhardt chamou também de princípio de permissão, significando que, na esfera pessoal do agente moral, ninguém pode intervir sem seu prévio consentimento” (PEGORARO, 2002).

O Princípio da Autonomia não pode mais ser entendido apenas como sendo a

autodeterminação de um indivíduo. A inclusão do outro na questão da autonomia

trouxe, desde o pensamento de Kant, uma nova perspectiva que alia a ação

individual com o componente social. Desta perspectiva que surge a responsabilidade

pelo respeito à pessoa, que talvez seja a melhor denominação para este princípio.

Brito (1994) afirma que, para Kant a condição básica que possibilita à vontade dar a

si a sua própria lei é a autonomia, definida como “aquela propriedade graças à qual

ela é para si mesma a sua lei (...), é o fundamento da dignidade da natureza humana

e de toda a natureza racional (KANT, apud BRITO, 1994).

Uma das bases teóricas utilizadas para o princípio da Autonomia é o pensamento de

John Stuart Mill (1909) que propôs ser o indivíduo soberano sobre si mesmo, sobre

seu corpo e sua mente.

Na obra The Division of labour in society, de 1964, Emile Durkheim (1858 – 1917)

fundador da escola francesa de sociologia descreve a Autonomia como a

“interiorização das normas”.

A autonomia, em seu sentido ético, tem sua fundamentação no binômio: liberdade /

normas. Autores como Segre et al. (2001), Almeida (1989) e Rouanet (1994)

concordam que a construção do significado contemporâneo deste termo teve seu

ápice no período do movimento iluminista (século XVIII), durante o qual se

valorizava prioritariamente a racionalidade como possibilidade da conquista da

liberdade humana.

Nos EUA, em 1974, o Congresso, formou a National Commission for the Protection

of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research (Comissão Nacional para

a Proteção dos Seres Humanos da Pesquisa Biomédica e Comportamental), com o

objetivo de levar a cabo uma pesquisa e um estudo completo que identificassem os

princípios éticos básicos que deveriam dar direção à experimentação em seres

humanos nas ciências do comportamento e na biomedicina. Essa comissão

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demorou quatro anos para publicar o que passou a ser conhecido como Belmont

Report (Relatório Belmont), por ter sido realizado no Centro de Convenções Belmont

em Elkridge, no Estado de Mariland (PESSINI & BARCHIFONTAINE, 2002).

Os três princípios determinados pelo Relatório Belmont foram: respeito pelas

pessoas, beneficência e justiça (PESSINI & BARCHIFONTAINE, 2002).

Beauchamp e Childress (1994) reduziram o Princípio do Respeito à Pessoa para

Autonomia e admitem que a "autonomia tem diferentes significados, tão diversos

como autodeterminação, direito de liberdade, privacidade, escolha individual, livre

vontade, comportamento gerado pelo próprio indivíduo e ser propriamente uma

pessoa".

O princípio da autonomia está fundamentado na idéia de respeito às pessoas que

buscam a realização de seus objetivos, desde que estes não interfiram na vida de

outros indivíduos, e na idéia kantiana de que se deve respeitar o ser humano como

fim e não como meio (PETRY, 2004).

Para Ferraz (2001), a relevância do princípio da autonomia para a cultura atual é

indiscutível, visto que se relaciona com a causa ética da emancipação do sujeito em

direção à sua autodeterminação, causa essa que, em última instância, diz respeito à

afirmação da cidadania.

Segundo Kesselring (1993), Jean Piaget, caracterizava autonomia como a

capacidade de coordenação de diferentes perspectivas sociais com o pressuposto

do respeito recíproco. Para Piaget (1977), a constituição do princípio de autonomia

se desenvolve juntamente com o processo de desenvolvimento da autoconsciência.

Kamii (1991), seguidora de Piaget, afirma que autonomia não é a mesma coisa que

liberdade completa. Autonomia significa ser capaz de considerar os fatores

relevantes para decidir qual deve ser o melhor caminho da ação. Ela também a

coloca em uma perspectiva de vida em grupo: a autonomia significa o indivíduo ser

governado por si próprio. É o contrário de heteronomia, que significa ser governado

pelos outros. A autonomia significa levar em consideração os fatores relevantes para

decidir agir da melhor forma para todos. Não pode haver moralidade quando se

considera apenas o próprio ponto de vista.

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“...rebatizei o "princípio da autonomia" como o "princípio do consentimento" para indicar melhor que o que está em jogo não é algum valor possuído pela autonomia ou pela liberdade, mas o reconhecimento de que a autoridade moral secular deriva do consentimento dos envolvidos em um empreendimento comum. O princípio do consentimento coloca em destaque a circunstância de que, quando Deus não é ouvido por todos do mesmo modo (ou não é de maneira alguma ouvido por ninguém), e quando nem todos pertencem a uma comunidade perfeitamente integrada e definida, e desde que a razão não descubra uma moralidade canônica concreta, então a autorização ou autoridade moral secularmente justificável não vem de Deus, nem da visão moral de uma comunidade particular, nem da razão, mas do consentimento dos indivíduos. Nessa surdez a Deus e no fracasso da razão os estranhos morais encontram-se como indivíduos” (ENGELHARDT, 1998).

Charlesworth (1996) introduz uma perspectiva social para a autonomia do indivíduo,

podendo conduzir à própria noção de cidadania. Este autor afirma que ninguém está

capacitado para desenvolver a liberdade pessoal e sentir-se autônomo se está

angustiado pela pobreza, privado da educação básica ou se vive desprovido da

ordem pública.

Para Segre et.al (2001) a autonomia é uma abstração. Eles partem do pressuposto

de que ela exista. E que esse pressuposto é uma crença, transitando pelo terreno da

afetividade, não apenas do pensamento racional. Enquanto autonomistas, optaram

pela aceitação de um livre-arbitrismo, de um exercício da vontade, de um "self"

transcendente a todos os condicionamentos virtualmente recebidos.

Segundo Goldim (2005), Emanuel Lévinas, um dos mais importantes autores de

referência na reflexão moral contemporânea, tem como uma de suas idéias básicas

a da alteridade, isto é colocar o outro no lugar do ser. Em sua proposta, de certa

forma, inverte a proposta do Imperativo Categórico de Kant. Ao invés do indivíduo

agir frente ao outro como gostaria de ser tratado e que isto deveria ser uma norma

universal, é a descoberta do outro que impõe a conduta adequada.

Esta proposta rompe com a perspectiva autonomista individual para remetê-la a uma

visão de rede social. Deixa de ter sentido a máxima "A minha liberdade termina

quando começa a dos outros", sendo substituída pela proposta de que “a minha

liberdade é garantida pela liberdade dos outros” (GOLDIM, 2003).

O conceito de Autonomia adquire especificidade no contexto de cada teoria.

Virtualmente, todas as teorias concordam que duas condições são essenciais à

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autonomia: liberdade (independência do controle de influências) e ação (capacidade

de ação intencional) (GOLDIM, 2004).

Souza (2004) acredita que "a responsabilidade pelo outro que significa

responsabilidade por si mesmo enquanto negação da neutralidade", já para Neves

(2006), o princípio ético da autonomia não deve ser entendido apenas numa

acepção negativa, como direito a respeitar, mas também positiva enquanto exige do

outro o estabelecimento de condições para seu exercício.

Paulo Freire, em seu livro “Pedagogia da Autonomia” (1996) afirma que nós,

“Mulheres e homens, seres histórico-sociais, nos tornamos capazes de comparar, de

valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por tudo isso, nos fizemos

seres éticos... Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética,

quanto mais fora dela”.

“No sentido amplo, podemos entender por autonomia (de um indivíduo) o desenvolvimento de um leque de capacidades para atuar nos espaços públicos e privados da vida cotidiana, em consonância com determinado modo de viver e determinados valores sócio-culturais, com o intuito de afirmar seu espaço através do exercício do julgamento, da opinião e da tomada de decisões compatíveis com a resolução de conflitos e a potencialização de atividades nas diversas esferas” (RICHTER & CECHI, 1999).

Pessini (2005), com relação à autonomia, diz fazer-se necessário mais uma vez

voltarmos a Potter, cuja biografia é particularmente relevante para a história de uma

idéia – o conceito de autonomia – que desempenha até hoje papel importante na

ética biomédica e ambiental norte-americana. De acordo com sua visão, antes de

enfocar direitos individuais deve-se enfatizar as responsabilidades pessoais, a partir

da responsabilidade social e ambiental.

Conforme Muñhoz e Fortes (1998), a autonomia refere-se ao autogoverno, à

autodeterminação da pessoa para tomar decisões que afetem sua vida e suas

relações sociais, “uma condição que não se outorga a quem quer que seja: ou se

reconhece, ou se nega” (SEGRE & FERRAZ,1997).

A conquista da autonomia equivale à conquista da própria cidadania, uma vez que

passa pelo desenvolvimento da emancipação intelectual e da liberdade de

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expressão, não devendo apenas ser limitada ao indivíduo, mas também a uma

classe social, às sociedades e à espécie humana como um todo.

Hoje existe um forte apreço e apego à autonomia do sujeito, graças aos movimentos

de defesa dos direitos básicos da cidadania... Os cidadãos vão adquirindo a nítida

consciência de seu papel na sociedade, como agentes autônomos (Muños e Fortes,

1998).

Por isso a autonomia é o princípio da liberdade moral independente e deve ser

respeitada pelos que defendem outras posições éticas. Ela não é qualidade moral

absoluta, nem pode ser considerada total, devido à convivência com outros seres

humanos igualmente autônomos (PEGORARO, 2002), mas ela pode ser diminuída

ou perdida, temporária ou definitivamente, tornando o indivíduo ou grupo social

vulneráveis.

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1.3.2 Os diferentes significados do conceito de Vulnerabilidade

“Ao dormir, todos somos vulneráveis”.

William Shakespeare

Neves (2006) define vulnerabilidade é uma palavra de origem latina, derivando de

vulnus (eris) que significa “ferida”. Assim sendo, a vulnerabilidade é irredutivelmente

definida como susceptibilidade de se ser ferido. Esta significação etimológico-

conceitual, originária e radical, mantém-se necessariamente em todas as evocações

do termo, tanto na linguagem corrente como em domínios especializados, não

obstante o mesmo poder assumir diferentes especificações de acordo com os

contextos em que é enunciado e com a própria evolução da reflexão e da prática

bioéticas.

O termo vulnerabilidade, segundo Goldim (2004), pode ser considerado confuso e

ambíguo. Confuso, por ter vários termos de diferentes significados sendo usados

como se fossem sinônimos e, ambíguo, pois há vários significados diferentes para

esse mesmo termo. Ex: Vulnerabilidade como: exclusão protetora, redução da

voluntariedade, restrição à espontaneidade, exclusão protetora e redução da

capacidade, redução da capacidade e proteção adicional, proteção adicional,

redução da auto-determinação, redução da autonomia, redução da capacidade,

restrição à liberdade, proteção adicional, como susceptibilidade, diferente de

susceptibilidade, possibilidade de exploração, desigualdade, proteção em relação

assimétrica ou imperativo de cuidado e responsabilidade.

O enfoque do presente trabalho focará a vulnerabilidade como redução da

autonomia, baseando-se nas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas

Envolvendo Seres Humanos - Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,

que diz:

III.3 - A pesquisa em qualquer área do conhecimento, envolvendo seres humanos deverá observar as seguintes exigências:

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(...) j) ser desenvolvida preferencialmente em indivíduos com autonomia plena. Indivíduos ou grupos vulneráveis não devem ser sujeitos de pesquisa quando a informação desejada possa ser obtida através de sujeitos com plena autonomia, a menos que a investigação possa trazer benefícios diretos aos vulneráveis. Nestes casos, o direito dos indivíduos ou grupos que queiram participar da pesquisa deve ser assegurado, desde que seja garantida a proteção à sua vulnerabilidade e incapacidade legalmente definida;

A noção de vulnerabilidade foi introduzida no Relatório Belmont (The National

Commission For The Protection Of Human Subjects Of Biomedical And Behavioral

Research,1978) para classificar, de forma particular e em termos relativos tanto

pessoas como populações, na seção “avaliação sistemática de riscos e benefícios”,

que se encontrem numa situação de exposição agravada e que possam vir a ser

“feridas” (prejudicadas em seus interesses pelos de outra pessoa).

“Em 1998, na Declaração de Barcelona, sem que fosse rejeitada a idéia de princípios normativos e axiomáticos, a direção se volta a balizas antropológicas com admissão de outros princípios (conservado o de autonomia): dignidade, integridade, e vulnerabilidade. Tais princípios receberam consagração na Declaração Universal sobre Bioética e os Direitos do Homem, da UNESCO, de outubro de 2005” (ZUBEN, 2006).

A relevância do princípio de vulnerabilidade no âmbito do questionamento bioético

se alicerça na sua densidade heurística e se impõe pelas seguintes razões: evoca

duas categorias essenciais da condição humana: finitude e transcendência e se

relaciona dialeticamente como eixo articulador dos princípios da Bioética de

autonomia, dignidade e integridade.

Zuben (2006) crê que a vulnerabilidade pode ser compreendida como um caráter

existenciário absolutamente necessário para a percepção do ser humano, na medida

em que dá a entender a própria limitação da condição humana como mortal. Tanto

ela quanto os outros princípios a ela relacionados (autonomia, dignidade e

integridade) são princípios altamente antropológicos.

A vulnerabilidade tem se apresentado constantemente em bioética como um desafio

para a ação ética do sujeito autônomo frente aos indivíduos vulneráveis. Desta

maneira, se entende a vulnerabilidade como sendo “dos outros” e dificilmente do

próprio agente (ANJOS, 2006).

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Alves (1994) credita a origem do conceito de vulnerabilidade aos movimentos pelos

direitos humanos e o seu significado remete a indivíduos fragilizados, inseridos em

cenários de desigualdade.

Guilhem (2005) entende por vulnerabilidade o conjunto de fatores culturais, sociais,

políticos (programáticos) ou biológicos que impossibilitam a proteção de interesses,

no âmbito individual ou coletivo, o que levará a uma situação de autonomia reduzida

dessas pessoas e Nunes (2006) a encara como uma relação assimétrica entre o

fraco e o forte, demandando um compromisso ético de que o mais poderoso proteja

o mais fraco.

Para Anjos (2006), em sua consistência, a vulnerabilidade pode ser entendida como

condição humana persistente e como situação dada, por referência a sujeitos, pode

se referir a toda a humanidade, a grupos sociais concretos e indivíduos e por sua

qualidade, pode ser moral-ética ou operacional (quando se refere à falta não

deliberada de condições pessoais ou ambientais para o viver como sujeitos

humanos).

Quem são os vulneráveis? São pessoas que por condições sociais, culturais,

étnicas, políticas, econômicas, educacionais e de saúde têm as diferenças,

estabelecidas entre eles e a sociedade envolvente, transformadas em desigualdade.

A desigualdade, entre outras coisas, os torna incapazes ou pelo menos, dificulta

enormemente, a sua capacidade de livremente expressar sua vontade.

“Historicamente, subentendeu-se que os vulneráveis seriam os deficientes mentais, físicos, as crianças, os senis e os institucionalizados de qualquer ordem, mas foram deixadas de lado todas as pessoas que se encontram em situações de vulnerabilidade, como ocorre, por exemplo, com as populações subdesenvolvidas” (DINIZ & GUILHEM, 2000).

Neves (2006), diz que a qualificação de pessoas e populações como vulneráveis

impõe a obrigatoriedade ética da sua defesa e proteção, para que não sejam

“feridas”, maltratadas ou abusadas.

A condição de autonomia reduzida pode ser transitória, mas para eliminar a

vulnerabilidade é necessário que as conseqüências das privações sofridas pela

pessoa ou grupo social sejam ultrapassadas e que haja mudanças drásticas na

relação que mantém com o grupo social mais amplo em que são inseridas.

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A exacerbação da vulnerabilidade leva à redução ou perda total da liberdade

individual, pois os mesmos fatores que conduzem à vulnerabilidade contribuem para

impedir uma escolha livre.

O artigo 8 da Universal Declaration on Bioethics and Human Rights da UNESCO

enuncia o “respeito pela vulnerabilidade humana e pela integridade pessoal”,

acrescentando ainda que “indivíduos e grupos especialmente vulneráveis devem ser

protegidos”.

Glantz et al. (1998), afirmam que "os cidadãos de países em desenvolvimento

encontram-se comumente em situações de vulnerabilidade em nome de sua falta de

poder político, falta de educação formal, pouca familiaridade com as intervenções

médicas, extrema pobreza e ainda necessidade de saúde e nutrição...".

“São os países mais pobres e em piores circunstâncias e as pessoas mais pobres dos países ricos que correm muitos dos riscos de um meio ambiente doente” (CASADO, 2007).

Numa cidade tão heterogênea quanto São Paulo, com diferenças econômicas –

sociais – culturais – educacionais e de acesso e manutenção da saúde tão gritantes,

pode-se afirmar que há autonomia sobre o ar respirado? O quão vulneráveis somos

frente ao ar que respiramos?

Anjos (2006), em seu artigo A vulnerabilidade como parceira da autonomia

reconhece que a própria vulnerabilidade é o ponto de partida para uma construção

maior, possibilitando o encontro construtivo com o outro e os passos de superação

das próprias fragilidades e afirma que a Bioética latino-americana tem levado a sério

os desafios da vulnerabilidade social e as suas causas mais profundas, para que a

autonomia possa ser construída com consciência.

Branco (2003) em seu livro Educação Ambiental: Metodologia e prática do ensino vê

a preservação do meio ambiente como um problema que perpassa a história cultural

do Ocidente, capitalista, voltado para a tecnologia, que tem por meta a produção em

massa e a padronização e que dá a ilusão de um crescimento ilimitado, privilegiando

alguns segmentos da sociedade, em detrimento de outros, onde o poder político e

econômico são exercidos por uma classe organizada e dominante, que tem em vista

somente seu bem-estar econômico, cuja principal característica é o espírito

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competitivo e não-cooperativo, o que via de regra, leva à exploração e à destruição

dos recursos naturais.

O Código Civil Francês, em seu Art. 1383 diz que “cada um é responsável pelo

prejuízo que causou, não apenas pelo seu ato, mas também pela sua negligência ou

imprudência”.

A vulnerabilidade refere-se à propensão de uma sociedade ou de um grupo social

para sofrer danos a partir da ocorrência de um evento físico; tanto os desastres

ambientais, tanto os chamados naturais como os induzidos pela atividade antrópica.

(SARNEY FILHO, 2003).

Nas questões ambientais isso é facilmente observável, pois nem sempre somos os

agentes causadores de determinado dano ao ambiente, mas, com certeza, podemos

ser vulneráveis frente a esses danos ou responsabilizados ética e moralmente por

negligência e omissão cometidas.

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1.4 POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

1.4.1 Definição e breve histórico da poluição atmosférica

“O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem...”

Carta do chefe indígena americano Seathe.

No início do século XX eram conhecidas as agruras da falta de água potável e de

alimentos, mas julgava-se que o ar, necessário para a respiração dos seres

humanos e de outros seres vivos, nunca deixaria de estar disponível de forma

adequada à manutenção da vida. Contudo, a qualidade do ar tornou-se uma das

maiores preocupações nesta virada de século (RUSSO, 2003).

O que a população humana conhece como ar, os cientistas denominaram atmosfera.

Segundo o dicionário Houaiss (2006) atmosfera pode ser definida como: “a camada

de gases que envolve um planeta e é retida pela sua atração gravitacional”; “camada

de ar que envolve a Terra”; “conjunto de condições meteorológicas; tempo, ar, céu”.

“Romancistas e poetas usam condições da atmosfera para descrever o clima de sua criação artística: ‘o ar parado da noite’, ‘a fúria da tempestade’ ou o ‘pôr-do-sol encantador’. Também os produtores de cinema usam tempestades, ventos, trovões e relâmpagos para conferir maior dramaticidade a uma cena particularmente tensa ou assustadora... Nós até usamos a palavra atmosfera para descrever os sentimentos que temos sobre um lugar” (BAINES, 1994).

“A atmosfera contém elementos imprescindíveis para todos os seres vivos da

natureza. Em média, o ar considerado limpo é composto de nitrogênio (78%) e

oxigênio (21%). A porcentagem restante (1%) é formada por uma infinidade de

gases, entre eles o gás carbônico” (SMA / CETESB, 2004).

Ela tem um papel fundamental na manutenção das condições de vida no planeta e

na sobrevivência da espécie humana. Protege a Terra dos meteoritos e da radiação

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prejudicial à saúde; regula a temperatura e fornece o oxigênio e o dióxido de

carbonos necessários à vida animal e vegetal.

“O ar é o mais precioso recurso natural do homem. Sobrevivemos semanas e até meses sem comida, e sem água até por alguns dias. Mas poucos minutos sem ar põem em risco a nossa vida” (PORRIT, 1991).

Sabemos que a atmosfera cria padrões climáticos dos quais os agricultores

dependem para definir o período correto para o plantio e a colheita. Se dependesse

apenas da natureza, a atmosfera continuaria a oferecer todos esses importantes

serviços, mas a ação antrópica é extremamente danosa e a modifica continuamente,

utilizando-a como um verdadeiro depósito de lixo, onde se liberam gases tóxicos

produzidos para sustentar o modo de vida das sociedades humanas industrializadas.

“Desde que surgiram os primeiros ancestrais do homem, na superfície da Terra, há aproximadamente um milhão de anos, na porção mais ao sul do continente africano, estes têm atuado de forma transformadora e, muitas vezes, predatória sobre a natureza. A partir da descoberta do fogo, aproximadamente 800 mil anos antes de Cristo, o Homem passou a contribuir de forma atuante, porém não consciente, para a deterioração da qualidade do ar e a sofrer as conseqüências desse ato” (BRAGA et al. 2005).

O ar é um dos elementos que tem sido mais agredido pelo homem, mesmo sendo

indispensável para a vida. Provavelmente não recebeu maiores atenções por ser

abundante, mas isso vem se modificando ao longo da história do progresso da

humanidade.

A queima de biomassa, em ambientes externos e internos, utilizada desde a pré-

história para produção de energia, tem sido uma das importantes fontes

antropogênicas de poluição atmosférica. A partir da Revolução Industrial, surgiram

novas fontes de poluição do ar devido à queima de combustíveis fósseis nos

motores a combustão e nas indústrias siderúrgicas e, mais recentemente, nos

veículos automotivos (CANÇADO et. al., 2006).

A Lei Federal n° 6.938/81, que "dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação" define meio ambiente como "o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas" (art. 3°, inc. I) e poluição como "a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente" (art. 3°, inc. III, letra d, grifamos).

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A poluição ambiental pode ser considerada como a degradação do meio ambiente

resultante de atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde,

segurança e bem estar da população e afetem as condições sanitárias do meio

ambiente, lançando matéria ou energia em desacordo com os padrões de qualidade

ambiental estabelecidos (DERISIO, 1992). Braga et al. (2005), definem

resumidamente poluição como o acúmulo ambiental de resíduos sólidos, líquidos ou

gasosos decorrentes da atividade humana.

No manual Como defender a Ecologia (1991) a poluição do ar é vista como o

fenômeno que ocorre quando o ar limpo e respirável é “invadido” por poluentes – em

especial os compostos de enxofre, compostos de nitrogênio, hidrocarbonetos, óxidos

de carbono e os chamados “particulados”, como pode ser visto na tabela a seguir.

Quadro 2 – Classificação dos poluentes atmosféricos (Fonte: ASSUNÇÃO, 1998).

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Portugal (2005) diz que a poluição pode ser definida como a introdução na

atmosfera de qualquer substância que possa alterar as propriedades desse

ambiente, afetando ou podendo afetar a saúde de espécies animais ou vegetais que

dependam ou tenham contato com essa atmosfera, ou mesmo venham a provocar

modificações físicas e químicas nas espécies minerais com as quais tenham

contato. Almeida (1999) conceitua poluição atmosférica como uma gama de

atividades, fenômenos e substâncias que contribuem para a deteriorização natural

da atmosfera, sendo os poluentes atmosféricos considerados como substâncias que

geram esse efeito negativo ao ambiente.

Assunção (1998) define poluente atmosférico como qualquer forma de matéria

sólida, líquida ou gasosa e de energia que, presente na atmosfera, pode torná-la

poluída.

Para Landsberg (2006), a maior aberração atmosférica em relação às condições

naturais trazidas pela urbanização é causada por mudanças na composição da

atmosfera. O termo "poluição" abrange isto em uma única palavra.

Entende-se como poluição do ar, a mudança em sua composição ou em suas

propriedades, decorrentes das emissões de poluentes, tornando-o impróprio, nocivo

ou inconveniente à saúde, ao bem-estar público, à vida animal e vegetal e, até

mesmo, ao estado de conservação de determinados materiais. Diversos agentes

podem ser percebidos como contaminantes atmosféricos. Alguns exemplos de

agentes de origem natural são as brumas marinhas (bactérias e microcristais de

cloreto e brometos alcalinos), produtos vegetais (grãos de pólen, hidrocarbonetos e

alérgenos), produtos de erupções vulcânicas (enxofre, óxidos de enxofre, vários

tipos de partículas, ácido sulfúrico, dentre outros) e poeiras extra-terrestres (material

pulverizado de meteoritos que chegam à atmosfera); enquanto que os de origem

artificial podem ser representados pelos radionúcleos, derivados plúmbicos e os

derivados halogenados de hidrocarbonetos (COELHO, 1997).

Para Russo (2003), a poluição do ar passou a ser considerada um problema ligado à

saúde pública a partir da Revolução Industrial, quando começaram a ser adotadas

técnicas baseadas na queima de grandes quantidades de carvão, lenha e,

posteriormente, óleo combustível. O uso intensivo dessas técnicas acarretou a perda

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gradativa da qualidade do ar nos grandes centros urbano-industriais, com reflexos

nítidos na saúde de seus habitantes. Portanto, a qualidade do ar deixou de ser um

problema de bem-estar e passou a representar efetivamente um risco à população,

como pode ser verificado na figura 1.

Figura 1 – Esquema representativo da relação entre gravidade dos efeitos da poluição e o número de pessoas afetadas pela poluição em uma dada comunidade (adaptado de American Thoracic Society, 2000 e disponível no relatório de análise dos efeitos do PROCONVE sobre indicadores de mortalidade na região metropolitana de São Paulo versão 2 – abril de 2006).

A partir da segunda metade do século XX, a poluição atmosférica tornou-se tema de

diversas pesquisas científicas e despertou interesse da população à procura de

conhecimento sobre seus efeitos na saúde humana e nos ecossistemas. A poluição

do ar é uma conseqüência principalmente da atividade humana, destacando o

crescimento populacional nos grandes centros urbanos, atividades industriais e

emissão de gases provenientes dos veículos automotores (CETESB, 2004).

O decreto Estadual 8.468/76 considera como fontes de poluição todas e quaisquer

atividades, processos, operações ou dispositivos móveis ou não que,

independentemente do seu campo de aplicação, induzam, produzam ou possam

produzir a poluição do meio ambiente, tais como: estabelecimentos industriais,

agropecuários e comerciais, veículos automotores e correlatos, equipamentos e

maquinarias, e queima de material ao ar livre.

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Segundo a resolução CONAMA nº 3, de 28/06/1990, considera-se poluente

atmosférico qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em quantidade,

concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis estabelecidos,

e que torne ou possa tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde,

inconveniente ao bem estar público, danoso aos materiais, à fauna e à flora ou

prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades normais da

comunidade.

A CETESB (2004) classifica as fontes de emissão de poluentes na atmosfera como

móveis (veículos automotores) e fixas (indústrias e queima de resíduos sólidos) e

esses poluentes podem ser divididos, segundo Derisio (1992), quanto a sua origem

em: primários (aqueles emitidos diretamente pelas fontes de emissão) e secundários

(os que são formados através de reações químicas entre poluentes primários e / ou

constituintes naturais da atmosfera).

No município de São Paulo (MSP) são duas as fontes de poluentes atmosféricos: as

estacionárias (como as indústrias e processos de combustão) e as fontes móveis

(veículos automotores), havendo o controle quase que total da poluição industrial

(MARTINS et. al., 2001).

A partir da Lei nº 9.605 de Crimes Ambientais, de 30 de março de 1998, poluir

tornou-se criminoso. Causar poluição atmosférica, que provoque a retirada, ainda

que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas ou que cause danos diretos à

saúde da população, prevê reclusão de 1 a 5 anos. A lei tem o mérito de estabelecer

multas pesadas e criar a responsabilidade administrativa, civil e penal para pessoas

físicas, jurídicas e co-autores.

Raven et al. (1995), Botkin (1995) e Klumpp et al. (2001), as concentrações

elevadas de poluentes atmosféricos representam um risco à saúde humana,

danificam flora e fauna, monumentos históricos e construções modernas, além de

possíveis efeitos mutagênicos provenientes das misturas e reações de poluentes

atmosféricos nas cidades, o que tem causado grande preocupação.

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“Os efeitos da poluição atmosférica se caracterizam tanto pela alteração de

condições consideradas normais como pelo aumento de problemas preexistentes e

esses efeitos podem ocorrer em nível local e regional” (ALMEIDA, 1999).

A partir dos problemas locais que enfrentaram e dos danos causados pela poluição

atmosférica cada país criou sua própria legislação, culminando na década de 1980

com a formação do Clube dos Trinta, visando à diminuição de poluentes

atmosféricos.

“Os efeitos da poluição atmosférica em escala global são caracterizados pela

alteração da acidez das águas da chuva (chuva ácida), pelo aumento da

temperatura no planeta (efeito estufa) e pela modificação da intensidade da radiação

solar (depleção da camada de ozônio)” (ALMEIDA, 1999), problemas esses que

geram efeitos danosos à saúde humana, à vegetação, à fauna e ao planeta como

um todo.

Em Nosso futuro comum (1991), os cientistas estimam que devido à poluição do ar e

principalmente pelo efeito estufa, as temperaturas médias globais terão um aumento

entre 1,5 e 4,5º C se as emissões de poluentes, principalmente industriais, da

agricultura e dos veículos automotores, não forem suspensos ou diminuídos

sensivelmente.

“Um traço característico no clima do meio urbano é o de comportar-se como uma ilha de calor, com temperaturas médias superiores à de seus arredores. Isso é conseqüência da abundante presença de concreto (grande acelerador e conservador de calor); da menor incidência de ventos; da maior presença de poluentes e poeira na atmosfera (também são absorvedores de calor); e da existência de muitas indústrias de motores que geram o calor com a queima de combustíveis” (SARIEGO, 1994).

Tainter (1888) em sua obra O colapso das sociedades complexas diz que as

sociedades entram em colapso quando crescem indefinidamente sem considerar o

preço a ser pago pela sociedade e pelo meio ambiente, já Santos (1997) constata

que a poluição é essencialmente produzida pelo homem e está diretamente

relacionada aos processos de industrialização e à conseqüente urbanização da

humanidade, sendo esses os dois fatores contemporâneos que podem explicar

claramente os atuais índices de poluição existentes e são co-responsáveis pelo

colapso existente.

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A poluição do ar é um problema complexo, devido não somente às dificuldades de

identificar os reais efeitos dos contaminantes na saúde da população, mas ao

enorme número de atores sociais envolvidos. A busca por uma solução conta

obrigatoriamente com diversos setores da sociedade e esferas administrativas, tanto

em âmbito nacional quanto internacional. Torna-se, assim, uma tarefa árdua

desenvolver diretrizes de ação onde os mais variados interesses estão em questão

(RUSSO, 2003).

Os poluentes atmosféricos podem afetar a saúde humana de diversas formas. Os

efeitos indo do desconforto à morte, por esse e outros motivos a poluição

atmosférica é um dos maiores desafios para a gestão das cidades, devido

justamente aos diversos fatores de ordem natural, social e econômica envolvidos

(vide Quadro 3).

Quadro 3 - Características e efeitos dos principais poluentes atmosféricos. Montado a partir de informações da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), do Governo do Estado de São Paulo. (Disponível em: http://www.idec.org.br/biblioteca/mcs_transportes.pdf )

Poluentes Características Principais Fontes Efeitos gerais sobre a saúde humana

Partículas totais emsuspensão (PTS)* símbolo de micrometro– medida equivalente a 1/1 milhão de metros

É um conjunto de poluentesconstituído de poeira, fumaça e todo tipo de material sólido elíquido que se mantém suspensona atmosfera por causa de seupequeno tamanho.

Faixa de tamanho <100 µm*.

Resulta da queima incompleta de combustíveis e seus aditivos, de processos industriais e do desgaste de pneus e freios. Em geral são provenientesda fumaça emitida pelos veículos movidos a óleo diesel; da fumaça expelida pelas chaminés das indústriasou pelas queimadas; da poeira das ruas e dos resíduos de processos industriais que utilizam material granulado; deobras viárias ou que movimentam terra, areia etc.

Quanto menor o tamanho da partícula, maior o efeito sobre a saúde. Causam efeito danoso principalmente em pessoas com doenças pulmonares.

Partículas inaláveis (PI)e fumaça.

É um conjunto de poluentes constituído de poeira, fumaça e todo tipo de material sólido e líquido que se mantém suspensona atmosfera por causa de seu pequeno tamanho.

Faixa de tamanho <10 µm.

Resulta da queima incompleta de combustíveis e de seus aditivos, de processos industriais e do desgaste de pneus e freios. Em geral são provenientes da fumaça emitidapelos veículos movidos a óleo diesel; da fumaça expelida pelas chaminés das indústrias ou pelas queimadas; da poeira depositada nas ruas e dos resíduos de processos industriais que utilizam materialgranulado; de obras viárias ou que movimentam terra e areia.

As partículas mais grossas ficam retidas na parte superior do sistema respiratório, enquanto as maisfinas, devido ao seu tamanho, podem atingir os alvéolos pulmonares. Causam alergias, asma e bronquite crônica, além de irritação nos olhos e garganta, reduzindo a resistência às infecções.

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Poluentes Características Principais Fontes Efeitos gerais sobre a saúde humana

Dióxido de enxofre (SO2),também conhecido comodióxido sulfúrico

Gás incolor e com forte odor.Em combinação com a água e o oxigênio do ar, transforma-se em ácido sulfúrico, um dos principais formadores da chuva ácida.

Resulta da queima de combustíveis que contêm enxofre, especialmente o óleo diesel.

Agrava as doenças respiratórias preexistentes e também contribui para seu desenvolvimento. Irrita o sistema respiratório, provoca tosse, sensação de falta de ar, respiração curta, rinofaringites, diminuição da resistência orgânica às infecções, bronquite crônica e enfisema pulmonar.

Dióxido de nitrogênio(NO2)

Gás marrom avermelhado e com forte odor. Pode levar à formação de ácido nítrico e nitratos (que contribuem para o aumento das partículas inaláveis na atmosfera) e compostos orgânicos tóxicos.

Processos de combustão envolvendo veículos automotores, processos industriais, usinas térmicas queutilizam óleos e gases.

É um gás extremamente irritante, capaz de produzir irritação dos olhos e nariz, além de provocar enfisema pulmonar.

Monóxido de carbono(CO)

É um gás incolor e inodoro queinexistia na atmosfera antesdo homem.

Resulta da queima incompletade combustíveis.

Compete com o oxigênio na combinação com a hemoglobina dosangue. Quando uma molécula de hemoglobina recebe uma molécula de monóxido de carbono, forma-se a carboxihemoglobina, que diminui a capacidade do sangue para transportar oxigênio.Por ser um gás extremamente tóxico, pode causar sérios efeitos mesmo em baixa concentração.Provoca irritação dos olhos, nariz e garganta, envelhecimento precoce da pele, náusea, dor de cabeça, tosse, fadiga, aumento do muco, diminuição da resistência orgânica às infecções e agravamento de doenças respiratórias.

Ozônio (O3)

A luz solar promove a quebra das moléculas dos hidrocarbonetos liberados na combustão de gasolina, diesel e outros combustíveis.Quanto maior a luminosidade, maior a porcentagem de quebra de moléculas na atmosfera, que, combinadas com o óxido de nitrogênio, formam o ozônio, considerado o principal produto do ciclo fotoquímico.

Ainda pouco conhecida, a poluição por ozônio tem características próprias.Enquanto a de outros poluentes está relacionada diretamente com a emissão das fontes, a do ozônio tem forte relação com fatores climáticos, tendo a sua formação favorecida pela incidência de luz solar e ausência de vento.

O ozônio é tóxico quando está na faixa de ar próxima do solo, onde vivemos, mas na estratosfera ele tem a importante função de proteger a terra, como um filtro dos raios ultravioleta do sol.

1.4.2 Principais poluentes do ar e seus efeitos à saúde humana

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"O Homem vive preocupado em viver muito e não em viver bem, quando afinal não depende dele viver muito, mas sim viver bem."

Sêneca

Etimologicamente, saúde procede do latim sanitas, referindo-se à integridade

anátomo-funcional dos organismos vivos (sanidade) (SÁ JR, 2004).

Sá Jr. (2004) relembra a definição de saúde proposta pela Organização Mundial da

Saúde (OMS), organismo sanitário internacional integrante da Organização das

Nações Unidas, fundado em 1948, que seria o “estado de completo bem-estar físico,

mental e social, e não somente a ausência de enfermidade ou invalidez”. A

referência à ausência de enfermidade ou invalidez é componente essencial deste

conceito de saúde e dele não deve ser separado sob pena de reduzi-lo à total

utopia.

O primeiro significado de bem-estar pode ser a noção subjetiva de sentir-se bem,

não ter queixas, não apresentar sofrimento somático ou psíquico, nem ter

consciência de qualquer lesão estrutural ou de prejuízo do desempenho pessoal ou

social. Aí, bem-estar significa sentir-se bem e não apenas não se sentir mal.

Sá Jr. (2004), relembra que a definição consta no preâmbulo da Constituição da

Assembléia Mundial da Saúde, adotada pela Conferência Sanitária Internacional

realizada em Nova York (19 / 22 de junho de 1946) e assinada em 22 de julho de

1946, com vigor a partir de abril de 1948, não emendada desde então.

Essa definição, segundo Segre e Ferraz (1997), é até avançada para a época em

que foi realizada, mas no momento é irreal, ultrapassada e unilateral.

Em 1978, na Conferência de Alma-Ata, foi enfatizado que saúde é um estado

completo de bem-estar físico, mental e social; na I Conferência de Promoção da

Saúde (BRASIL, 2001), colocou-se que, para atingir esse estado, os indivíduos e

grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar

favoravelmente o meio ambiente.

Para Ferreira e Buss (2001), a saúde é produzida socialmente, determinada por

vários fatores: biológicos, ambientais, sociais, econômicos e culturais. Assim, sua

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manutenção ou promoção não deve ser somente responsabilidade do setor saúde,

mas resultado de ações intersetoriais, multidisciplinares e apoiadas por políticas

públicas saudáveis, promotoras de qualidade de vida.

Segundo Minayo et al. (2000), tornou-se lugar-comum, no âmbito do setor saúde,

repetir, com algumas variantes, a seguinte frase: “saúde não é doença, saúde é

qualidade de vida”.

Para alguns, a qualidade de vida seria a somatória de fatores decorrentes da

interação entre sociedade e ambiente, atingindo a vida no que concerne às suas

necessidades biológicas e psíquicas (COIMBRA, 1985).

Tal orientação, no sentido de priorizar as necessidades, tem sido geralmente aceita,

reconhecendo-se assim certo número delas. No estado atual da sociedade, formam

trama cada vez mais complexa, ao longo da qual se desenrola a vida humana.

Considerando-se as que são inerentes e as que são adquiridas, pode-se verificar a

sua distribuição pelas diferentes áreas, física, psicológica, social, de atuação,

material e estrutural. Dessa maneira, a qualidade de vida é definida como sendo o

grau de satisfação atingido, no âmbito de tais áreas (HÖRNQUIST, 1982).

Para Akerman et al. (1996), a relação existente entre saúde e qualidade de vida

pode ser observada a partir de parâmetros subjetivos (bem-estar, felicidade, amor,

prazer, realização pessoal) e, também, objetivos, cujas referências são a satisfação

das necessidades básicas e das necessidades criadas pelo grau de

desenvolvimento econômico e social de determinada sociedade.

Para Sobral (2005), apesar de já existir desde os primórdios da medicina, na obra de

Hipócrates, o conceito de saúde ambiental ampliou-se a partir da primeira

Conferência Internacional de Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, no Canadá

em 1986.

Sobral (2005) relembra a definição de saúde ambiental estabelecida pela

Organização Mundial da Saúde (OMS): é o campo de atuação da saúde pública que

se ocupa das formas de vida, substâncias e condições em torno do ser humano, as

quais possam exercer influência sobre a sua saúde ou o seu bem-estar. Trata-se,

portanto, da inter-relação entre saúde e ambiente.

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“No Brasil as preocupações com a relação saúde / meio ambiente aparecem também a partir da década de 80. A Constituição Federal de 1988 expressa essa inquietação em diversos artigos. Por exemplo, no Artigo nº 196, que encontramos a definição a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços, para as promoção e proteção. O artigo nº 225, específico sobre o meio ambiente, diz: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações”. (SOBRAL, 2005)

Entende-se como poluente atmosférico qualquer forma de matéria ou energia com

intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou características em desacordo

com os níveis estabelecidos e que torne ou possa tomar o ar: Impróprio, nocivo ou

ofensivo à saúde; inconveniente ao bem estar público; danoso aos materiais, à

fauna e flora; prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades

normais da comunidade (CONAMA, 1990).

Definem-se como "partículas em suspensão" (MP) todas as partículas sólidas ou

líquidas contidas no ar, de dimensão suficientemente reduzida para não se depositar

muito rapidamente por gravidade na superfície terrestre (OMS, 1987). Os

particulados incluem poeiras, fumos, nevoeiro, aspersão e cerração.

A composição das partículas em suspensão é complexa e altamente variável,

dependendo da natureza das fontes de emissão. Podem ser compostas por

carbono, hidrocarbonetos derivados do carvão a partir de combustão incompleta, por

cinzas inorgânicas produzidas pela combustão de combustíveis sólidos, por sulfato

de amônio (pela conversão de dióxido de enxofre) e, mais localizadamente, por

emissões industriais de óxido de ferro (procedentes de siderúrgicas) ou poeira de

cimento (pedreiras) (HOLLAND et al., 1979).

Alguns fatores básicos afetam a concentração destas partículas no ar: a taxa de

emissão do poluente, as condições meteorológicas e a topografia local.

Os cidadãos devem repensar as suas ações do dia a dia para promoção da saúde

individual e coletiva, bem como da saúde ambiental. Faz-se cada vez mais

necessário um compromisso de todos, para a construção de sociedades com mais

saúde em um planeta ecologicamente equilibrado, pois as saúdes individuais e

coletivas estão intrinsecamente ligadas à qualidade do ambiente.

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1.4.3 Catástrofes mundiais decorrentes da poluição atmosférica

“Há duas coisas infinitas: o Universo e a tolice dos homens”.

Albert Einstein

No último século tem-se assistido ao apogeu da intervenção do homem sobre o

planeta, com o surgimento dos motores a combustão (queima de combustíveis

fósseis), bem como das indústrias siderúrgicas e de produtos químicos. Estes

processos não foram acompanhados de análises que pudessem avaliar seu impacto

sobre o meio ambiental, a toxicidade dos resíduos produzidos ou os prováveis danos

à saúde. Por isso, nos últimos setenta anos, temos nos deparado com os resultados

desastrosos deste processo desordenado e lutado para entender o que são os

resíduos dessa corrida desenvolvimentista e evitar seus efeitos deletérios para o

planeta e seus habitantes (BRAGA et al., 2005).

O homem vem cometendo muitos erros, que têm gerado problemas seriíssimos ao

usar a matéria e ao adaptar as energias da natureza para seu bem estar, por não

conseguir ou não tentar prever as conseqüências de seus atos (DUARTE, 2000).

Para Dualibi (2004), formamos uma sociedade predatória, excludente, competitiva,

defensiva, fragmentária, discriminatória e autoritária; socialmente fascista e

ambientalmente irresponsável, onde se criam demandas fictícias que aumentam

ininterruptamente o consumo, desconhecendo a capacidade de suporte e

regeneração dos ecossistemas.

Para Braga et al. (2005), a poluição do ar tem sido, desde a primeira metade do

século XX, um grave problema nos centros urbanos industrializados, com a

presença cada vez maior dos automóveis, que vieram a somar com as indústrias,

como fontes poluidoras.

Episódios de poluição excessiva causaram aumento do número de mortes em

algumas cidades da Europa e Estados Unidos. Sabbatini (1996) relembra que

diversos incidentes desastrosos de inversão térmica ocorreram no passado, tais

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como o do Vale do Mosa, na Bélgica, em 1930; de Donora, Pensilvânia, em 1948; e

um dos piores que se teve notícia, em Londres, em dezembro de 1952. Este último

que durou quatro dias, causou a morte de 3 mil a 4 mil pessoas, em conseqüência

da poluição. Morreu também um número incontável de animais, inclusive gado de

raça. Entre as doenças mortais estavam a bronquite e a asma alérgica, as infecções

respiratórias, o agravamento de enfisemas, etc.

Na Bélgica, no Vale do Rio Meuse, entre as cidades de Huy e Liége, uma região

com grande concentração de indústrias, distribuídas em uma faixa de

aproximadamente vinte quilômetros de comprimento, de 1o a 5 de dezembro de

1930. Nos cinco primeiros dias do mês de dezembro, condições meteorológicas

desfavoráveis, como a ausência de ventos, impediram a dispersão dos poluentes,

que permaneceram estacionados sobre a região e uma espessa névoa cobriu essa

zona industrial, sendo a população acometida por sintomas como tosse, dores no

peito, dificuldade de respirar, irritação na mucosa nasal e nos olhos. Imediatamente

foi registrado um aumento do número de doenças respiratórias e um excesso de

mortes (60 mortes) até dois dias após o início do episódio (RUSSO, 2003).

“Alguns anos após, um episódio semelhante ao que ocorreu durante os últimos cinco dias do mês de outubro de 1948 na cidade de Donora, Pensilvânia. Os produtos da combustão das indústrias locais permaneceram sobre a cidade devido à ocorrência de inversões térmicas que impediram a dispersão destes poluentes. Inversão térmica é um fenômeno meteorológico onde ocorre a presença de uma camada de ar frio alguns metros acima da superfície que impede a dispersão e a movimentação de massas de ar mais quentes localizadas próximas do solo. Essa camada mais fria age como se fosse a tampa de uma panela concentrando vapor no seu interior. Durante este período foram observadas 20 mortes ao invés das duas mortes esperadas normalmente em uma comunidade de 14.000 pessoas” (BRAGA et al., 2005).

A partir de 1952, detectou-se, pela primeira vez na cidade de Los Angeles, um novo

tipo de poluição, chamado smog (smoke + fog, ou seja, fumaça mais neblina),

causado por uma reação fotoquímica entre os poluentes (SABATTINI, 1996)

Ainda no mesmo ano de 1952, no inverno, ocorreu o primeiro episódio grave de

poluição do ar causado por smog, em Londres. Um episódio de inversão térmica

impediu a dispersão de poluentes, gerados então pelas indústrias e pelos

aquecedores domiciliares que utilizavam carvão como combustível, e uma nuvem,

composta principalmente por material particulado e enxofre, permaneceu

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estacionada sobre a cidade por aproximadamente três dias, levando a um aumento

de 4.000 mortes em relação à média de óbitos em períodos semelhantes. Os efeitos

de uma “névoa negra” começaram a se manifestar através da proliferação de

diversas moléstias contraídas principalmente por portadores de problemas

pulmonares e circulatórios (SABATTINI, 1996).

Evelyn (1961) descreveu as condições do ar Londrino de forma muito sucinta:

"enquanto em todos os outros lugares o ar é muito puro e sereno, aqui é eclipsado

por uma espécie de nuvem sulfúrica que o sol sozinho dificilmente é capaz de

penetrar; e o viajante cansado, há muitas milhas de distância, primeiro cheira a

cidade, depois vê o que sentiu".

“A relação entre danos à saúde e poluição atmosférica foi estabelecida a partir de episódios agudos de contaminação do ar... A partir desses episódios, medidas de controle foram tomadas em diversos países, tendo como resultado a redução significativa dos níveis de contaminantes atmosféricos. Na década de 70 acreditava-se que os limites estabelecidos para os poluentes eram seguros” (FREITAS et al., 2004).

Isso levou à criação do Clean Air Act (Ato de ar limpo), que estabelecia diretrizes

para diminuir a emissão de partículas sólidas. Sabbatini (1996) relembra que após o

choque provocado pela tragédia de Londres, houve um grande movimento de

redução da poluição atmosférica, que caiu mais de 80% nas quatro décadas

subseqüentes.

A cidade de Nova York também já sofreu dramaticamente com a poluição

atmosférica, principalmente no período entre 1953 e 1966, quando chegou a parar

três vezes no período de uma semana para que a poluição se dissipasse. Em cada

um desses episódios morreram entre vinte e cinco e trinta pessoas por dia por

problemas respiratórios decorrentes dos gases dispersos na atmosfera.

Na década de 70 o alto custo do aluguel afastou as indústrias instaladas ao redor da

cidade, gerando o desemprego e alavancando a criminalidade, tornando Manhattan

um dos lugares mais perigosos dos Estados Unidos, prejudicando assim o turismo,

uma das principais fontes de renda locais.

Na década de 1980, a cidade começou a se reerguer e, nos anos 90, um projeto de

revitalização urbana tocado com firmeza livrou a cidade das últimas mazelas. Com a

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chamada tolerância zero, a Justiça passou a agir rigorosamente mesmo em

pequenos delitos. Os impostos diminuíram e o poder público assumiu o papel de

atrair novas empresas para a região. Nova York tornou-se limpa, bonita e

organizada e recebe em média 6 milhões de visitantes estrangeiros por ano, que

trazem consigo 24 bilhões de dólares anuais. Não deixa de ser uma esperança para

as problemáticas megalópoles do Terceiro Mundo (MEGALE, 2002).

“Muitos outros episódios caracterizados por elevados índices de poluição atmosférica têm sido registrados nos grandes centros urbanos do mundo, como: Cidade do México, Los Angeles, Detroit, São Paulo, Londres, Tóquio e Osaka. Nessas cidades, mesmo quando não são registrados episódios críticos, os níveis de qualidade do ar são tão ruins, que seus habitantes ficam permanentemente expostos a uma freqüência maior de doenças cardiorespiratórias” (RUSSO, 2003).

Para Landsberg (2006), episódios individuais como o do Vale Meuse em 1930, de

Donora (Pensilvânia) em 1948 e de Londres em 1952, foram largamente discutidos

por causa de suas desastrosas conseqüências. No entanto, eles foram apenas picos

em um contínuo e insidioso processo. A poluição afeta de forma adversa as plantas,

incluindo valiosas plantações, provoca incalculável dano por corrosão e é

indubitavelmente prejudicial à saúde humana.

Estudos realizados em seis cidades do Meio Oeste americano, entre 1977 e 1993,

pela Universidade de Harvard, concluíram que a poluição das grandes cidades pode

diminuir em até um ano e meio a expectativa de vida de seus habitantes e constitui a

maior evidência dos efeitos crônicos da poluição sobre o organismo humano

(SANTOS, 1997).

Em dezembro de 1984, ocorreu um dos mais graves desastres de origem industrial

do mundo, que resultou na morte de 1.700 pessoas na cidade de Bophal, na Índia,

em conseqüência da liberação de dioxina durante um vazamento em uma fábrica da

indústria química Union Carbide, hoje pertencente à indústria Dow Chemicals

(ROSEIRO, 2003).

“A disseminação do uso do computador, particularmente a partir da década de 80, permitindo a aplicação de técnicas estatísticas mais sofisticadas, contribuiu para a realização de estudos da relação entre poluição do ar e saúde em diversos centros urbanos do mundo. Esses estudos vêm mostrando que mesmo em baixas concentrações os poluentes atmosféricos estão associados com efeitos na saúde” (FREITAS et al., 2004).

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Apesar de todo o progresso alcançado na proteção do meio ambiente nas últimas

décadas, a poluição do ar ainda representa um dos principais problemas ambientais

dos centros urbanos (KLUMPP et al., 2001), sendo a poluição do ar a que mais afeta

a saúde de quem vive nas cidades (RODRIGUES, 1994).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem se preocupado com a poluição do ar e

seus efeitos sobre a saúde desde 1957, quando ocorreu uma conferência em Milão

sobre os aspectos da saúde pública relacionados com a poluição do ar na Europa

(BRANDÃO & RUSSO, 2000). Atualmente, a OMS estima que 100 milhões de

pessoas na América Latina estão expostas a níveis de contaminantes atmosféricos

que excedem os valores recomendados, incluindo, milhões de pessoas exposta à

contaminação do ar em interiores devido à queima de biomassa e de outras fontes

(OPS, 2000).

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1.5 ECOSSISTEMAS ANTRÓPICOS (CIDADES)

"O objetivo do consumidor não é possuir coisas, mas consumir cada vez mais e mais a fim de com isso compensar o seu vácuo interior..."

Érico Veríssimo

A cidade constitui ecossistema antrópico, onde o grau de artificialidade atinge seu

nível mais elevado. Ela é um produto da presença e da atividade humana que, por

possuir inteligência que lhe permite acumular conhecimentos, é o único ser vivo que

consegue provocar enormes alterações no meio ambiente e criou-a para atender as

suas necessidades e conveniências.

“Atualmente presencia-se o efeito do processo de urbanização, em cada vez maior número de núcleos, chegando a praticamente desvincular o ser humano de seu relacionamento com a natureza. Daí decorrem aspectos particularmente intensos e concentrados em áreas relativamente limitadas” (FORATTINI, 1991).

Segundo Ott (2004), a cidade se constitui como a forma que os seres humanos

escolheram para viver em sociedade e prover suas necessidades cotidianas.

Para Branco (1991), geralmente imagina-se o meio ambiente como sendo o espaço

que reúne as condições favoráveis à sustentação e ao desenvolvimento equilibrado

de um grande número de seres vivos. Esses múltiplos ambientes naturais se

formaram espontaneamente, ao longo de milhões de anos, por processos naturais,

ninguém escolheu os seres que deveriam ou não ser neles introduzidos.

Carreira e Gusmão (1990), acreditam que a cidade foi construída para facilitar as

atividades essenciais humanas do homem urbano que modifica os ambientes

naturais, adaptando-os às suas necessidades ou gostos. Não é auto-suficiente, não

é um ecossistema natural, necessita de matérias primas que vêm de fora e gera

subprodutos que precisam ser eliminados, do contrário, podem poluir o sistema.

Branco (1991) reforça a afirmação de que as cidades não constituem ecossistemas

verdadeiros, pois estes são ambientes naturais que se caracterizam pela auto-

suficiência, isto é, produzem tudo o que necessitam consumir.

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A preocupação da sociedade com a escassez de recursos naturais tem sido

sucessivamente reiterada e superada ao longo da história (BEZERRA, 1996) e

apenas recentemente, a preocupação com a escassez desses recursos naturais

passou a estimular sua valorização e proteção, dando nova dimensão à questão

ambiental (MOREIRA, 1999).

Ott (2004) lembra que a urbanização realizada sem limites atenta contra a

biodiversidade, ocupa áreas agrícolas produtivas favorecendo a degradação do solo,

promove o esgotamento das reservas de água doce em fontes específicas, gera

desperdícios que terminam no mar, contribui com aquecimento do planeta entre

outras responsabilidades de caráter global.

As cidades também geram problemas ambientais próprios dos ambientes urbanos,

como o crescimento desordenado, problema de saneamento, falta de moradias,

congestionamento de tráfego, poluição das águas, do ar, do solo, sonora, visual,

falta de permeabilidade do solo, enchentes, etc.

O conceito oficial de impacto ambiental, segundo a Resolução CONAMA 1/86, é "...

qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio

ambiente...". Mas, esse conceito é muito amplo: pode abranger desde uma simples

brisa até a explosão de uma bomba atômica, pois ambas alteram as propriedades

do ar, sendo necessário graduar ou qualificar o impacto ambiental.

Para ordenar o desenvolvimento urbano a Constituição Federal prevê nos artigos

182 e 183 a obrigatoriedade da elaboração do Plano Diretor para Municípios com

mais de 20.000 habitantes. Os Municípios devem legislar sobre as políticas urbanas

segundo suas peculiaridades locais, em especial o uso e ocupação do solo urbano e

gerenciar a aplicação dos instrumentos. À União e ao Estado cabe somente

conceber as diretrizes básicas sem impor um modelo padronizado.

O Estatuto da Cidade, Lei complementar aos artigos 182 e 183 da Constituição

Federal, fornece diretrizes básicas para que os Municípios elaborem os instrumentos

das políticas urbanas locais visando o desenvolvimento da cidade sustentável.

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Branco (1984) conceitua impacto ambiental como "... uma poderosa influência

exercida sobre o meio ambiente, provocando o desequilíbrio do ecossistema

natural”.

Quando da criação de uma cidade imediatamente percebe-se um impacto ambiental

considerável para o ecossistema local, destruindo flora e fauna, modificando o

percurso de rios e até o clima da região.

A dinâmica da urbanização produz um ambiente urbano altamente degradado, com

efeitos muito graves sobre a qualidade de vida de sua população. (JACOBI, 2006)

Para Moreira (1999), o que caracteriza o impacto ambiental, não é qualquer

alteração nas propriedades do ambiente, mas as alterações que provoquem o

desequilíbrio das relações constitutivas do ambiente, tais como as alterações que

excedam a capacidade de absorção do ambiente considerado, sendo as cidades

exemplos inegáveis de impacto ambiental.

Resumidamente, impacto ambiental pode ser definido como qualquer alteração

produzida pela espécie humana e suas atividades nas relações constitutivas do

ambiente, que excedam a capacidade de absorção desse ambiente (MOREIRA,

1999).

Saldiva et al. (2005), em seu texto Poluição Atmosférica e seus Efeitos na Saúde

Humana compara as grandes concentrações humanas que existem atualmente no

planeta, de forma metafórica, a organismos vivos. Ambos dependem de energia

para se manter, metabolizam esta energia para o seu funcionamento e produzem

resíduos como conseqüência dos seus processos vitais e o acúmulo destes

resíduos, seja por problemas de excesso de produção dos mesmos ou por

dificuldades na sua eliminação, resulta em poluição do meio.

Forattini (1991) conceitua a cidade como um ecossistema antrópico, onde o grau de

artificialidade atinge seu nível mais elevado. Seu desenvolvimento resulta em

intensa e profunda manipulação do ambiente. Daí decorrerem acentuados impactos

na comunidade e nos estados psicológico e fisiológico da população.

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A necessária reflexão sobre as possibilidades de tornar nossas cidades sustentáveis

(JACOBI, 1999) mostra o desafio teórico que está colocado em relação à formulação

de propostas que contribuam para alcançar objetivos de sustentabilidade nas

cidades. É cada vez mais notória a complexidade desse processo de transformação

de um cenário urbano crescentemente não só ameaçado, mas diretamente afetado

por riscos e agravos sócio-ambientais.

O principal desafio que se coloca nos dias atuais, segundo Jacobi (2006) é que a

cidade crie as condições para assegurar uma qualidade de vida que possa ser

considerada aceitável, não interferindo negativamente no meio ambiente do seu

entorno e agindo preventivamente para evitar a continuidade do nível de

degradação, notadamente nas regiões habitadas pelos setores mais carentes

(populações vulneráveis).

Uma cidade saudável, na definição da OMS,"... é aquela que coloca em prática de

modo contínuo a melhoria de seu meio ambiente físico e social utilizando todos os

recursos de sua comunidade". Portanto, considera-se uma cidade ou município

saudável aquele em que os seus dirigentes municipais enfatizam a saúde de seus

cidadãos dentro de uma óptica ampliada de qualidade de vida, visando diminuir ao

máximo os impactos ambientais locais.

Silva (2005) relembra que o avanço da tecnociência é proporcional à regressão ética

da consciência que o homem tem de si mesmo, do seu lugar na comunidade

humana e da sua relação com o habitat.

Jackson (2006) relembra que nos últimos duzentos anos a humanidade explorou

incessantemente a natureza, mas agora que os recursos já começaram a se

esgotar, a única maneira de sobrevivermos a longo prazo é retomarmos a

consciência de que somos uma comunidade mundial, uma grande família e todos

nós fazemos parte desse grande organismo que é a vida.

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1.5.1 Industrialização, progresso e poluição do ar

“Experiência não é o que acontece com um homem; é o que um homem faz com o que lhe acontece”.

Aldous Huxley

Nas sociedades modernas, as indústrias e o processo de urbanização passaram a

ser considerados imprescindíveis para atender às necessidades da população e

melhorar sua qualidade de vida.

Em seu livro Energia e meio ambiente, Branco (1993), explica rapidamente a

chamada Revolução Industrial, desenvolvida no século passado e que tanto marcou

o século presente, caracterizando-se essencialmente pelo domínio da energia.

“É o progresso, dizemos. Sem energia não há civilização, não há desenvolvimento! ...não disporíamos dos meios de transporte que tornam tão fácil a comunicação entre locais tão distantes e povos tão diferentes. Não continuaríamos com todo esse conforto que nos proporciona a mecanização dos costumes!” (BRANCO, 1993).

A industrialização teve seu início, no século XVIII, na Inglaterra, e por causa das

minas de carvão existentes no país, por volta de 1720, foram empregadas bombas a

vapor para extrair água de seus interiores. Mas foi apenas no fim daquele século

que os aperfeiçoamentos introduzidos por James Watt (1736 – 1819) permitiram o

uso desse princípio para movimentar máquinas industriais, embarcações e

locomotivas.

Junges (2004), faz uma breve reflexão acerca da preocupação e da sensibilidade

ecológica surgidas como reação a uma mentalidade predatória da natureza,

característica predominante da industrialização, onde se acreditava que os recursos

naturais estavam à disposição do desfrute ilimitado do ser humano.

Moralmente era aceita e estimulada a utilização do maior número de recursos

naturais possíveis visando proveito imediato e o mais rapidamente possível e essa

atitude moral acompanhou e justificou a conquista de terras selvagens, bem como

suas colonização e exploração, visando o lucro e enriquecimento dos

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“descobridores” e inspirou a ocupação do território brasileiro desde a chegada por

portugueses, mantendo-se até hoje.

Essa busca foi motivada pela ideologia do progresso, induzida pela possibilidade de

exploração descriteriosa dos recursos naturais. Acreditava-se em seu caráter

ilimitado, na produção intensiva, no incremento do consumo e no poder da técnica

para resolver os problemas ambientais.

Segundo Duailibi (2004), a procura incessante pelo acúmulo de riquezas materiais

vem exaurindo os recursos naturais do Planeta sem, no entanto, melhorar as

condições de vida de grande parte da população da terra.

O projeto desenvolvimentista da sociedade moderna está baseado em um sistema

de valores materialistas que visa apenas à acumulação infindável de bens materiais.

O problema ambiental decorre da “ideologia do progresso” que considera a natureza

como inesgotável, infinita, do ponto de vista dos recursos naturais e na sua

capacidade de suportar as atividades poluidoras.

Duailibi (2004), relembra que apesar de a partir dos anos 50, já haver nas esferas

governamental e científica, o conhecimento da gravidade das conseqüências que tal

modelo de civilização estava trazendo ao Planeta como um todo, a destruição da

natureza e a exclusão social prosseguiam ininterruptas. Carvalho e Brussi (2004),

vão além, retomando a ideologia dos movimentos de contracultura da década de

1960, como os hippies, e as pesquisas a respeito do futuro das sociedades

industriais – nos moldes das financiadas e divulgadas pelo Clube de Roma –

considerando-os como o primeiro vagalhão a romper um dos redutos mais

tradicionalmente destrutivos da natureza que se tem notícia em todo o mundo: o

modus faciendi brasileiro de crescimento econômico.

“Em todo o mundo, acentua-se a preocupação do homem com o meio ambiente, pois com a evolução tecnológica e o crescimento industrial, continuam surgindo problemas ambientais que vêm atingindo a saúde humana. Dentro desse contexto, torna-se importante e oportuna a avaliação dos poluentes atmosféricos em áreas de grande fluxo populacional” (CARVALHO et al., 2000).

Graças à industrialização, as cidades vêm se expandindo e alterando o ambiente

natural para torná-lo mais adequado à sobrevivência da população, cada vez mais

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crescente. Conseqüentemente, o meio urbano vem adquirindo feições e estruturas

próprias, que o caracterizam como um ecossistema artificial, com características

próprias e distintas dos ecossistemas naturais.

Um dos fenômenos mais marcantes da demografia nessa virada de milênio é a concentração populacional das cidades. A ONU calcula que cinco em cada dez habitantes do planeta vivam nelas hoje, três deles em grandes núcleos urbanos de países pobres. Dentro de trinta anos, seis em cada dez pessoas viverão em cidades. Cinco delas estarão empilhadas em megalópoles do Terceiro Mundo (MEGALE, 2002).

Uma das conseqüências desse processo acelerado de industrialização foi o

estabelecimento de boa parte dessa população carente e com baixo nível de

escolaridade, que vinha em busca de trabalho e melhoria em sua condição de vida

nas áreas periféricas dos grandes centros urbanos, como São Paulo, passando a

viver em condições precárias, em nichos insalubres e inseguros (GUILHERME,

1987; TORRES, 1993; BARBOSA, 1992).

A palavra crise provém do grego “krisis” que significa examinar e tomar decisões

frente um dilema moral. Curiosamente, opta-se na modernidade por outro significado

para o vocábulo, o de estar sem meios diante de uma decisão que não é fácil

(SIQUEIRA, 2006).

Guattari, em seu livro As três Ecologias, de 1991, dizia que o planeta Terra vivia um

período de intensas transformações técnico-científicas, das quais surgiam

desequilíbrios ecológicos que, se não fossem remediados, ameaçariam a vida em

sua superfície e paralelamente a tais perturbações, os modos de vida humanos

(individuais e coletivos) evoluiriam no sentido de uma progressiva deteriorização.

Em 2007 a obra de Guattari, mostra-se cada vez mais atual e pertinente, bem como

a “Hipótese Gaia” de Lovelock, e as três bioéticas de Potter (Ponte, Global e

Profunda), todas preocupadas com a crise planetária que ameaça sua homeostase e

coloca em risco a saúde do planeta e das espécies que nele habitam, inclusive a

espécie humana.

Os países desenvolvidos são altamente industrializados e os em desenvolvimento,

como o Brasil, estão se industrializando, sendo assim, a poluição atmosférica torna-

se uma preocupação planetária urgente, fazendo-se necessário compatibilizar os

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interesses dos países em desenvolvimento e as nações industrializadas, bem como

a difícil divisão de responsabilidades entre eles.

Um mundo que persiste em erros como a poluição, as guerras e a economia que

privilegia alguns em detrimento de muitos tem futuro?

Sahtouris (2007) acredita que sim. Para ela, todos esses problemas não passam de

percalços de uma etapa adolescente de nossa existência e, ao vencê-los, teremos

delineado os contornos de uma nova humanidade.

Faz-se cada vez mais necessária a retomada do significado original da palavra crise

que seria o de examinar e tomar decisões frente a dilemas morais, como a

industrialização e o progresso desenfreados e seus danos à saúde e ao meio

ambiente.

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1.5.2 A industrialização no Brasil e os danos ambientais dela decorrentes

“O futuro das organizações - e nações - dependerá cada vez mais de sua capacidade de aprender coletivamente”.

Peter Senge

No Brasil a evolução urbana, desde o período colonial, tem sido objeto de

numerosos estudos e publicações. A formação das cidades iniciou-se como

necessidade de estabelecer núcleos de colonização estáveis e de defesa militar

para, posteriormente e com o advento já tardio da era industrial, passar a refletir o

desenvolvimento econômico conseqüente. Isso foi particularmente significante no

caso de São Paulo, cuja capital, após as primeiras décadas deste século, teve seu

intenso crescimento como tradução desse desenvolvimento da economia local

(REIS FILHO, 1968; SINGER, 1968; RIGHI, 1983).

Desde o término da Segunda Guerra Mundial ocorreu um acentuado fenômeno de

urbanização. O desenvolvimento industrial fez crescer as cidades, necessitando de

mão de obra, que veio em boa parte do campo.

Até 1940 o Brasil era um país essencialmente rural, com 69% de sua população

vivendo no campo. Entre 1940 e 1970 seu perfil mudou completamente,

transformando-se num curto espaço de tempo em um perfil urbano (FORATTINI,

1991).

Para Ott (2004), o processo de transformação do Brasil de um país rural para urbano

foi essencialmente predatório e desigual gerando exclusão social da classe da

população sem condições para adquirir terrenos em áreas próximas às áreas

urbanas principais, ocupando em sua maioria, terrenos que deveriam ser protegidos

para preservação das águas, encostas, fundos de vale, entre outros.

Durante os últimos 50 anos, o crescimento urbano no Brasil transformou e inverteu a

distribuição da população no espaço geográfico. Segundo Acselrad (2001):

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Em 1945, a população urbana representava 25% da população total de 45 milhões. No início de 2000, a proporção de urbanização chegou a 82% do total de 169 milhões. Durante a última década, enquanto a população total aumentou cerca de 20%, o número de habitantes urbanos aumentou mais de 40%, particularmente nas nove áreas metropolitanas habitadas por um terço da população brasileira.

Assim como outros países em industrialização, o Brasil sofreu um processo de

intensificação de seu crescimento econômico entre os anos 60 e 80, ocorrendo

grande endividamento externo, aumento da participação de indústrias multinacionais

no processo de industrialização e forte intervenção do Estado na economia

(FREITAS et al., 2001).

“A atividade industrial no Brasil alcançou uma grande expansão nas últimas décadas, principalmente entre 1930 e 1980, especialmente em 1974, com a implantação do II Plano Nacional de Desenvolvimento, em que o objetivo da política econômica era o progresso, sem maiores preocupações com as questões ambientais” (MORAES & TUROLLA, 2004).

O modelo de desenvolvimento econômico adotado no período, sustentado pela

ausência de um sistema político e grandes transformações na sociedade

(concentração de capital, exploração da mão-de-obra e abandono ou omissão do

poder público no controle e prevenção dos riscos), resultou em rápida e

desordenada industrialização. Paralelamente, ocorreu um intenso processo de

urbanização, acompanhado de grande fluxo migratório das regiões mais pobres e do

campo, para os grandes centros urbanos, desconsiderando muitas vezes os

problemas sociais, humanos ou ambientais (BECKER et al., 1993; HOGAN, 1992).

Para Ott (2004), os centros urbanos cresceram e com eles cresceram os grandes

problemas sociais e desequilíbrios ambientais, com queda na qualidade de vida,

degradação ambiental acelerada e riscos de governabilidade.

“O desenvolvimento do meio urbano resulta em intensa e profunda manipulação do ambiente e dele decorrem acentuadas modificações que recaem sobre a paisagem, a comunidade, o estado psicológico e fisiológico dos habitantes, além de darem origem a fatores culturais, tanto econômicos como políticos que, isolada ou coletivamente, influem ou mesmo determinam a qualidade de vida da população ali residente” (FORATTINI, 1991).

Em sua grande maioria, as cidades brasileiras nasceram e se desenvolveram sem

nenhuma preocupação de adequada utilização do solo e do espaço. Conceitos como

sustentabilidade, qualidade do ar e da vida aqui por estas plagas são coisas

recentes, talvez impulsionados pela Rio-92 (GUERRA & CUNHA, 2001).

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Segundo Feldmann (2007) em vez de nos sentirmos cidadãos do mundo e de

agirmos segundo valores mais grandiosos, continuamos defendendo nossos

interesses nacionais imediatos. Essa posição vem de longo tempo, desde a

conferencia da ONU em Estocolmo, em 1972, quando o Brasil assumiu a tese de

que não aceitaria controlar a poluição para não afetar o seu crescimento econômico,

considerado um mecanismo fundamental para reduzir a miséria. O problema é que

essa postura defensiva tem sido mantida desde então.

Os desafios relacionados à crescente industrialização do Brasil e do mundo e ao

aumento populacional causaram e causam alterações significativas sobre o meio

ambiente, sendo muitas vezes associados apenas às falhas do sistema de mercado,

uma visão equivocada e centrada em preocupações meramente econômicas; mas, o

nosso futuro comum depende não somente do crescimento econômico, como

também da melhoria dos padrões de vida, especialmente para as populações mais

pobres, tendo como base a universalidade, solidariedade e eqüidade, que devem ser

mantidos, e orientar as decisões e ações sobre a poluição nos níveis global e local

(FILKENMAN, 1996).

Em decorrência de suas características geográficas, da diversidade de recursos

naturais e níveis distintos de industrialização, o Brasil convive hoje com problemas

ambientais bem diversos, como a poluição e a degradação de suas riquezas

naturais. Em suas grandes cidades as condições ambientais são nocivas e põe em

risco a qualidade de vida de seus habitantes.

Dentre os diversos problemas ocasionados pelo modelo de desenvolvimento

capitalista podemos mencionar a poluição atmosférica; problema esse cada vez

mais eminente nos grandes centros urbanos, como São Paulo.

Esteves et al. (2004), relembram que no começo da era capitalista, no período da

revolução industrial grande parte (se não a totalidade) da poluição atmosférica era

proveniente das indústrias, classificadas como fontes estacionárias. No entanto, o

surgimento dos motores de combustão interna provocou o surgimento de uma fonte

móvel que se disseminaria ao longo das décadas como objeto de desejo de todos os

seres humanos: o automóvel.

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A população urbana brasileira, principalmente a dos grandes centros urbanos, vive

constantemente em situação ambiental muito ruim. Tênues esforços públicos são

levados a cabo em véspera de desastre, para evitar o mal maior. Mas, de maneira

geral, o brasileiro não está educado nem conscientizado para a necessidade de

mudar de hábitos e efetivamente melhorar o ambiente e a qualidade de vida urbana,

em vez de só evitar o mal maior (GUERRA & CUNHA, 2001).

Para Sobral (2005) a redução da qualidade ambiental verificada nas últimas décadas

é conseqüência direta do crescimento econômico predatório.

Jackson (2006) acredita que nosso futuro seja viável, mas para isso é preciso rever

a visão de mundo que hoje se baseia ainda hoje nas metas de crescimento

econômico pregadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e pelo Fundo

Monetário Internacional (FMI)

No atual quadro urbano brasileiro, é inquestionável a necessidade de implementar

políticas públicas orientadas para tornar as cidades social e ambientalmente

sustentáveis como uma forma de se contrapor ao quadro de deterioração crescente

das condições de vida (JACOBI, 2006).

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1.5.3 Industrialização e poluição atmosférica na cidade de São Paulo

“A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente”.

Soren Kierkergaard

Localizado na Região Sudeste do Brasil, o Estado de São Paulo possui área

aproximada de 249.000 km², que correspondem a 2,9% do território nacional. O

Estado de São Paulo é a unidade da federação de maior ocupação territorial, maior

contingente populacional (em torno de 37 milhões de habitantes), maior

desenvolvimento econômico (agrícola, industrial e serviços), maior frota automotiva

(14,7 milhões de veículos automotores, dos quais 983 mil são movidos a diesel, 2,24

milhões são motocicletas e 11,48 milhões são veículos do ciclo – gasolina, álcool e

gás). Como conseqüência, apresenta grande alteração na qualidade do ar

(CETESB, 2006).

São Paulo é o maior pólo industrial da América Latina e a capital, embora tendo

perdido espaço e hoje sendo seu ponto forte o setor de serviços, ainda responde por

uma fatia significativa da produção industrial do país (FORATTINI, 1991).

A cidade de São Paulo, já na década de 1940 começava a verticalizar-se, com

prédios de escritórios e residenciais, multiplicando-se assim, pelos bairros os

edifícios de habitação coletiva ou de apartamentos. Era uma nova forma de morar!

(FORATTINI, 1991).

A partir da década de 1960 evoluiu o caráter urbano de São Paulo, evidenciando o

surto industrial da cidade, transformada no final dos anos 80 em uma das maiores

megalópoles do planeta, com conseqüências severas para a qualidade de vida de

seus habitantes (FORATTINI, 1991).

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A região metropolitana de São Paulo (RMSP) possui características geográficas e

climáticas desfavoráveis à dispersão de poluentes (CASTANHO, 1999), o que

acentua ainda mais a poluição atmosférica local.

A poluição atmosférica teve seu papel de destaque a partir da década de 1960, com

a grande industrialização e o surgimento de grandes centros urbanos (KLUMOO,

1994), sendo a industrialização e seus produtos os grandes responsáveis pela

poluição atmosférica, que afeta a saúde de quem neles vive.

Como o processo de industrialização é irreversível e não se pode estancar sua

ascensão econômica, deve-se executá-la visando o menor dano ambiental possível

e em conjunto encontrar medidas concretas de proteção climática para evitar o caos

ambiental através da partição responsável de todos os envolvidos.

Outra das características coletivas de vida na cidade de São Paulo reside no

processo de circulação. O índice de mobilidade da população, definido como a

relação entre o número de viagens motorizadas e o número de habitantes vem

decrescendo ano a ano, havendo precariedade no sistema de transporte público

paulistano e na qualidade do ar.

Gráfico 1 – Variação da população da RMSP nos últimos 15 anos (Disponível no Relatório de análise dos efeitos do PROCONVE sobre indicadores de mortalidade na região metropolitana de São Paulo, abril de 2006).

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A RMSP é um conglomerado urbano em contínuo processo de aumento

populacional, como pode ser visto no gráfico 1 e como tal, necessita de uma

demanda cada vez maior de meios de transportes, que em sua grande maioria

utiliza combustíveis não-ecológicos e despejam a cada ano quantidades cada vez

maiores de poluentes na atmosfera.

No gráfico 2, podemos fazer uma comparação entre a variação da população e a

frota automotiva na RMSP e percebemos que enquanto a população aumentou 15%

de 1996 a 2005, a frota, no mesmo período aumentou 60%.

Gráfico 2 – Variação relativa da população e da frota automotiva na RMSP nos últimos dez anos (Disponível no Relatório que analisa os efeitos do PROCONVE sobre indicadores de mortalidade na região metropolitana de São Paulo – abril de 2006)

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Já houve época em que a maior parte da poluição nas cidades da Grande São Paulo

era causada pelas indústrias, “de acordo com dados da CETESB (Companhia de

Tecnologia de Saneamento Ambiental), órgão da Secretaria Estadual do Meio

Ambiente, 90% da poluição da cidade é proveniente da frota de 7 milhões de

veículos que despeja no ar quantidades astronômicas de gases, como monóxido de

carbono, dióxido de enxofre e dióxido de nitrogênio, além de poeira, hidrocarbonetos

e gases que ao reagir na atmosfera produzem ozônio” (PEREIRA, 2005).

A RMSP é a área que apresenta maior degradação da qualidade do ar devido às

grandes emissões atmosféricas de cerca de 2.000 indústrias de alto potencial

poluidor e por apresentar uma frota de veículos que representa 1/5 da frota nacional

(CETESB, 2004), causando violação nos padrões de qualidade do ar,

principalmente, pelos gases provenientes dos veículos, motivo pelo qual tem se

dado grande ênfase ao controle das emissões veiculares (JACOBI, 2006), como

pode ser verificado no gráfico a seguir.

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Gráfico 3 – Contribuição dos setores sócio-econômicos nas emissões do uso de energia pelo Município de São Paulo, em 2003 (%) – (Disponível em: Inventário sobre emissão de gases de efeito estufa do município de São Paulo – julho / 2005).

Na cidade de São Paulo, estudos têm mostrado que os níveis de poluição são

danosos à saúde da população. Foram detectadas associações entre níveis diários

de poluentes atmosféricos e mortes em idosos (BASCON et al., 1996; GOUVEIA &

FLETCHER, 2000; SALDIVA et al., 1995); internações por doenças respiratórias na

infância (BRAGA et al., 1999; GOUVEIA, 2000); internações e mortes por doenças

cardiovasculares (GOUVEIA et al., 2003; LIN et al., 2003) e também mortes fetais

tardias (PEREIRA,1998), além da influência da quantidade de partículas no ar e

seus efeitos sobre a saúde, como: diabetes, colesterol alto, obesidade, hipertensão,

problemas pulmonares e a diminuição da expectativa de vida dos indivíduos

(SANTOS, 1997).

Nos locais em que a qualidade do ar é muito ruim, de elevado tráfego e com

condições desfavoráveis de dissipação de poluentes (zonas de muitos prédios,

poucos espaços abertos), uma longa e contínua exposição aos poluentes pode

provocar ou agravar problemas de saúde pré-existentes.

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A atual situação das condições de tráfego e poluição na RMSP requer medidas

complementares que considerem programas de inspeção veicular e melhoria da

qualidade dos combustíveis, planejamento do uso do solo, maior eficiência do

sistema viário e transporte público (JACOBI, 2006). Em decorrência disso, a

Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo propôs o estabelecimento de vigilância

dos efeitos na saúde decorrentes da poluição atmosférica. Aliado a isso, o órgão

responsável pelo controle da qualidade ambiental, CETESB, vem adotando medidas

de controle para a melhoria da qualidade do ar. (QUÉNEL et. al., 1999).

Apesar de a CETESB atestar que a emissão de gases poluidores está menor, os

moradores da Capital ainda sofrem com a má qualidade do ar (MARQUES, 2006).

Os meios de transporte têm um papel fundamental em nossa sociedade. Direta ou

indiretamente, dependemos deles para a maioria de nossas atividades cotidianas. O

problema é que boa parte dos transportes que utilizamos atualmente se move a

partir da queima de combustíveis fósseis, como a gasolina e o óleo diesel, lançando

grandes quantidades de gases tóxicos na atmosfera. Automóveis, ônibus,

caminhões e outros veículos motorizados são hoje a principal causa de poluição do

ar na maioria das cidades do mundo (IDEC, 2007).

No gráfico vemos a porcentagem de combustíveis fósseis e energia elétrica

utilizados pelo município de São Paulo em 2003 e visualizamos que a utilização

desses combustíveis foi próxima a 90%, enquanto o consumo de energia elétrica foi

de apenas 11,22%.

Gráfico 4 - Emissões do Uso de Energia pelo Consumo Direto de Combustíveis Fósseis e Energia Elétrica pelo Município de São Paulo, em 2003. (Disponível em: Inventário sobre emissão de gases de efeito estufa do município de São Paulo – julho / 2005).

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Reverter esse quadro é um desafio que deve envolver toda a sociedade: se não

podemos abrir mão de algo tão necessário como os meios de transporte resta-nos

tratar de encontrar formas de usá-los sem que prejudiquem a nós ou às gerações

futuras. Isto é o que chamamos de um transporte sustentável (IDEC, 2007).

Em todo o mundo, as megacidades com mais de 10 milhões de habitantes

enfrentam sérios problemas causados pela poluição veicular. Ao contrário do que se

poderia supor a poluição não é mais grave nos países mais ricos e desenvolvidos,

os países pobres ficam em desvantagem, por carecerem de investimentos em

transporte coletivo e outras medidas capazes de melhorar a qualidade do ar (IDEC,

2007).

Saldiva, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo em agosto de 2005, afirmou que

atualmente a poluição atmosférica mata indiretamente, em média, oito pessoas por

dia na cidade de São Paulo. A exposição aos diversos poluentes emitidos também

reduz a expectativa de vida dos habitantes em dois anos. Esses números já foram

maiores e chegaram a 12 mortes diárias indiretamente causadas por poluentes e

três anos de vida perdidos. Além das oito mortes diárias induzidas pela poluição,

uma pesquisa do laboratório indica que há um aborto por dia na cidade, depois do

quinto mês de gestação, em decorrência do problema.

“Em dias de poluição muito alta, a chance de quem já tem problemas no coração ir

parar no hospital aumenta em 18%” (SALDIVA, apud MARQUES, 2006).

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Os picos de poluição ocorrem pela manhã e à tarde, devido ao maior fluxo de

veículos nesses períodos, mas o problema existe o dia todo, principalmente pela

quantidade de ozônio produzido, cujo efeito é maior no meio do dia (BRAGA, apud

PEREIRA, 2005).

As grandes metrópoles brasileiras vivem uma crise ambiental severa, como

resultado de práticas gerenciais inadequadas das autoridades locais, assim como

também da falta de atenção, da omissão, da demora em colocar em prática ações

que reduziriam os problemas crescentes e prejudiciais, que estão vinculados às

seguintes questões: a redução de áreas verdes; a falta de medidas práticas mais

definidas, de curto prazo e de políticas para controlar a poluição do ar; uma

procrastinação séria na rede de transporte público, e em diversos casos de metrô e

de outras alternativas mais adequadas para o transporte público, de forma a

possibilitar uma redução no uso dos automóveis etc. (JACOBI, 2006)

Em uma tentativa de controlar a emissão de gases através dos automóveis foi

instituído o rodízio de veículos. No MSP foram implantados dois tipos de rodízio. O

primeiro foi o rodízio estadual obrigatório, que tinha como objetivo diminuir a

poluição atmosférica. Ele foi implantado em toda a região metropolitana de São

Paulo durante os períodos de inverno dos anos 1996 (em caráter experimental),

1997 e 1998, de segunda a sexta-feira, das 7h às 20h. “A restrição à circulação foi

definida de acordo com o final da placa dos veículos, excluindo-se de circulação os

veículos de dois finais de placa por dia” (MARTINS et. al., 2001).

“Em São Paulo o rodízio de veículos surgiu como uma solução de emergência para enfrentar o agravamento da poluição no inverno. Entre outras iniciativas, mencionava a introdução do pedágio eletrônico, a inspeção e a manutenção periódica dos veículos, o uso de combustíveis menos poluidores e de automóveis mais eficientes. A idéia seria transformar São Paulo numa espécie de Califórnia, que tem sido o estado americano mais atuante em termos de sustentabilidade” (FELDMANN, 2007).

No ano de 1999, por determinação da Secretaria de Estado do Meio Ambiente

(SEMA), a medida foi suspensa e passou a ter caráter excepcional, sendo ativada

apenas em situações emergenciais (CETESB, 1999).

Em 1997 implantou-se o rodízio municipal cujo objetivo primário era a redução de

congestionamentos. Ainda hoje os veículos não circulam das 7h às 10h e das 17h às

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20h, de segunda a sexta-feira, seguindo os mesmos critérios de restrição do rodízio

estadual. Outros grandes centros mundiais utilizam o rodízio de veículos como

medida de redução da concentração de poluentes (cidade do México e Santiago do

Chile) (MARTINS et. al., 2001). Feldmann (2007) relembra que o rodízio municipal

que está em vigor atualmente não é o seu.

Para Feldmann (2007) o rodízio teve o mérito de introduzir a idéia de que parte das

deficiências de infra-estrutura (sistema viário) pode ser resolvida com mudanças de

comportamento

O Brasil também foi o primeiro do mundo a produzir gasolina sem chumbo,

reduzindo as nocivas emissões de compostos desse metal, e a utilizar combustíveis

alternativos, como o álcool. Atualmente, não se usa mais gasolina pura nos veículos

rodoviários, e sim uma mistura de gasolina e álcool anidro, muito menos poluente.

Com essas medidas, a qualidade do ar tem melhorado nos últimos anos, mas isso

ainda não é suficiente para conter o efeito negativo de uma frota de veículos que

não pára de crescer. (IDEC, 2007).

Saldiva (2005), afirma que dados baseados em estudos do Laboratório de Poluição

Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP mostram que ações

como o PROCONVE (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos

Automotores) e o rodízio foram positivos para a melhoria da qualidade de vida na

capital, mas ainda se faz necessário criar alternativas para mitigar as emissões e,

depois, propor políticas públicas.

Saldiva em entrevista ao programa Terceiro milênio, em 1998, afirmou que a

diminuição da poluição depende de práticas do dia-a-dia que devem ser vistas

conjuntamente e não isoladas, como por exemplo, a regulagem dos carros. Essa

regulagem realmente melhora as condições do ar, mas, se visto isoladamente, pode

dar a falsa impressão que então, com o carro regulado, pode-se usá-lo, pois ele não

estará mais poluindo.

Iniciativas - tímidas - como o rodízio de carros particulares em São Paulo, entre 1996

e 1998, deram mostras de seu potencial em melhorar a qualidade do ar e de reduzir

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o caos no transporte, dois dos mais graves problemas paulistanos, porém,

esbarraram no individualismo da solução automotiva e do status que o carro tem na

nossa contemporaneidade (BUYS, 2001).

Estamos diante de um dos maiores desafios do mundo moderno, que é controlar o

consumo. Enquanto muitos enxergam a aquisição de bens como um direito pessoal

(como por exemplo, carros), é preciso lembrar que esse “direito” pode afetar a

qualidade de vida de maneira geral.

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1.5.4 Estudos que relacionam poluição atmosférica com morbidade / mortalidade das populações mais vulneráveis no estado de São Paulo

“Os cuidados paliativos me vieram à cabeça quando pensei nessa enferma tão querida, a nossa Terra, mãe de onde viemos e de quem dependemos. Se ela morrer, morreremos também”.

Rubem Alves

A relação entre o ambiente e o padrão de saúde de uma população define um

campo de conhecimento referido como “Saúde Ambiental” ou “Saúde e Ambiente”.

Segundo a Organização Mundial da Saúde esta relação incorpora todos os

elementos e fatores que potencialmente afetam a saúde, incluindo, entre outros,

desde a exposição a fatores específicos como substâncias químicas, elementos

biológicos ou situações que interferem no estado psíquico do indivíduo, até aqueles

relacionados com aspectos negativos do desenvolvimento social e econômico dos

países (OPS, 1990).

“A saúde de um ser humano e de uma sociedade é determinada por múltiplos fatores; por isso, a promoção da saúde também depende de ações em diferentes setores, além de ancorar-se no exercício da cidadania” (BYDLOWSKI, 2006).

Segundo a World Health Organization (WHO) (1992), as doenças respiratórias

representam grande proporção da morbidade na infância e, nessa medida, exercem

enorme pressão sobre os serviços de saúde tanto em países desenvolvidos como

em países em desenvolvimento.

Para Ojima et al. (2006) sem dúvida, entre os impactos mais graves da degradação

ambiental na qualidade de vida da população estão os relacionados à saúde. Mas se

ao longo dos últimos cem anos houve um declínio gradual das taxas de mortalidade,

porque seria um motivo de preocupação alguns poucos efeitos colaterais dos

avanços da sociedade moderna?

Saldiva (1998) afirma que seria um motivo de preocupação porque agressões

ambientais como a poluição do ar, podem causar problemas diversos à população,

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alguns praticamente imperceptíveis e difíceis de serem diretamente relacionados à

poluição, como sonolência e irritabilidade, ou sintomas visíveis, como irritação nos

olhos e garganta, ou agravar doenças respiratórias e cardíacas ou até levar à morte.

Croce et al. (1998) concorda com Saldiva (1998) e diz que diariamente, mobilizamos

de dez mil a vinte mil litros de ar, repleto de diversos tipos de poluentes, sejam

gasosos, particulados ou fibrosos, mas que as defesas respiratórias conseguem, na

maioria das vezes, evitar danos e manter a função pulmonar em equilíbrio, mas, a

poluição ambiental provoca uma série de transtornos na vida diária do ser humano,

como os acima citados.

Para Bydlowski (2006) o processo da manutenção da saúde envolve mudanças de

conceitos e formas de ação, propondo um conceito amplo de saúde, considerando

que ela é determinada por vários fatores – sociais, econômicos, ambientais – e não

só pela ausência de doença.

Atualmente, a preocupação na relação entre ambiente e saúde, se refere muito mais

à qualidade de vida do que aos óbitos relacionados aos aspectos ambientais. Assim,

se há um avanço progressivo na expectativa de vida da população mundial, torna-se

cada vez mais importante verificar sob que condições “ganha-se” esse tempo de

vida (OJIMA et. al., 2006).

Uma população tem boa qualidade de vida e saúde quando possui alimentação e

moradia adequadas, acesso a educação de qualidade, acesso aos serviços de

saúde, oportunidade de emprego, renda que garanta uma sobrevivência digna e um

meio ambiente saudável (BYDLOWSKI, 2006).

Na América Latina encontram-se algumas das metrópoles mais poluídas do mundo:

Santiago do Chile, Cidade do México e São Paulo. O problema tem reflexos diretos

sobre a saúde da população: alergias, irritação nos olhos, coceira na garganta,

tosse, além de problemas mais graves, como doenças respiratórias e até

cardiovasculares (IDEC, 2007).

Os problemas respiratórios representam importante causa de morbidade na

distribuição das doenças no Brasil. Dados do Ministério da Saúde apontam que

1.936.444 pacientes foram internados em hospitais da rede pública brasileira no ano

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2000, por problemas pulmonares, sendo 275.769 (14,24%) no estado de São Paulo.

Dentre os problemas de saúde gerados por essa exposição do homem no espaço

urbano, os agravos respiratórios ocuparam a segunda causa de morbidade

(DATASUS, 2002).

Embora a medicina ainda não tenha esclarecido muitos dos mecanismos pelos quais

as substâncias tóxicas presentes no ar afetam o organismo, várias pesquisas

científicas na área de saúde pública já demonstraram que a incidência de problemas

respiratórios e cardiovasculares e até de mortes aumenta quando os índices de

poluição chegam a patamares elevados (IDEC, 2007), conforme pode ser observado

no quadro 4.

Quadro 4 - Principais efeitos respiratórios adversos associados aos poluentes do ar originados da queima de combustíveis fósseis.

VEF1: volume expiratório forçado no primeiro segundo; CVF: capacidade vital forçada. (CANÇADO, 2006)

A. Aumento da mortalidade;

B. Aumento da incidência de câncer de pulmão;

C. Aumento da freqüência dos sintomas e das crises de asma;

D. Aumento da incidência de infecções respiratórias baixas;

E. Aumento das exacerbações em indivíduos já portadores de doenças cardiorrespiratórias ou outras;

1. Redução da habilidade de exercer as tarefas diárias (geralmente por piora da dispnéia ou da angina pectoris);

2. Aumento das hospitalizações, tanto na freqüência como na duração;

3. Aumento das visitas médicas e à emergência;

4. Aumento do uso de medicamentos;

F. Redução do VEF1 ou CVF associada a sintomas clínicos e ao aumento da mortalidade;

G. Aumento da prevalência de chiado;

H. Aumento da prevalência ou incidência de aperto no peito;

I. Aumento da prevalência ou incidência de tosse e hipersecreção pulmonar;

J. Aumento da incidência de infecções de vias aéreas superiores piorando a qualidade de vida;

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K. Irritação nos olhos, garganta e narinas podendo interferir na vida normal.

Desde o início do século passado, estudos na literatura médica têm documentado

uma significativa associação entre poluição atmosférica decorrente da emissão de

combustíveis fósseis e aumento de morbi-mortalidade em humanos nos países

desenvolvidos. Esses efeitos foram observados inclusive para níveis de poluentes

no ar considerados como seguros para a saúde da população exposta (BASCON et

al., 1996).

“A exposição total diária de um indivíduo aos poluentes atmosféricos é a soma dos contatos com os poluentes ao longo de diversas fontes durante todo o dia (em casa, na comunidade, nas ruas, etc). Pode ser estimada como sendo o produto da concentração do poluente em questão e o tempo gasto em cada exposição. A concentração é considerada como a constante durante o tempo em que a pessoa é exposta ao poluente. Exposição não deve ser confundida com dose, ou seja, com a quantidade de poluentes absorvidos. Tipos e concentrações de poluentes variam em ambientes internos e externos, de região para região e alguns poluentes são difundidos para grandes áreas” (ROSEIRO, 2003).

Esses dados científicos têm sido importantes para comprovar que a poluição do ar

não é apenas uma questão ambiental, mas também um problema de saúde pública

(IDEC, 2007).

Entre as razões do contínuo desenvolvimento da espécie humana encontra-se a

proteção à saúde. As mudanças físicas e biológicas ocorridas no ambiente devidas à

atividade humana resultaram em um enorme impacto sobre a saúde, porém, ainda

há uma lentidão na avaliação e implementação de medidas saneadoras quando se

trata da relação ambiente e saúde (ARBEX et al., 2004).

Ribeiro (1971) verificou a associação entre o número de atendimentos por infecções

das vias aéreas superiores (IVAS) e bronquite asmática em crianças menores de 12

anos, nos postos de saúde da Região de Santo André (SP) e as taxas mensais de

sulfatação e poeiras em suspensão, por um período de dois anos (entre agosto 1967

e agosto 1969). Foram constatadas correlações positivas significantes entre a

freqüência anual de IVAS e taxas médias anuais de sulfatos, assim como entre a

incidência de bronquite e os níveis de poeiras sedimentáveis. Também se concluiu

pela correlação negativa entre as IVAS e a velocidade dos ventos. Já o percentual

de calmarias esteve positivamente associado aos problemas respiratórios.

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Sobral (1988) continuou a investigar a saúde respiratória das crianças de Santo

André, confirmando os achados do estudo anterior. Relacionou, assim, as inversões

térmicas e o aumento de material particulado no ar com uma maior incidência de

crises de asma brônquica.

A Inversão térmica ocorre o ano todo em altitudes elevadas (mil metros), mas no

inverno ela é mais comum e se forma abaixo dos 200 metros. Trata-se de uma

bolha de ar quente retida pela massa de ar frio localizada acima que impede a

dispersão dos poluentes. O problema acontece mais nas metrópoles / megalópoles,

como São Paulo, onde há grandes frotas de veículos, provocando / acentuando

problemas diversos relacionados ao sistema respiratório (CPTEC – INPE, 2007).

Figura 2 – Esquema representativo do processo de inversão térmica na cidade de São Paulo. (retirado do site do CPTEC - INPE, disponível em: http://www.cptec.inpe.br/well_come/noticias/990913a.html)

Numerosos estudos, epidemiológicos e de registro ambiental, mostram um aumento

persistente de diversas doenças alérgicas, como a asma, nas últimas décadas.

Pesquisas realizadas no Japão e na Alemanha têm demonstrado que quanto maior

for a emissão de poluentes por veículos automotores, movidos a diesel, maior é a

incidência de rinoconjuntivite e bronquite (CROCE et. al., 1998).

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Mendes e Wakamatsu (1976) documentaram, pela primeira vez no Brasil, os efeitos

agudos de três episódios intensos de poluição do ar, ocorridos em São Caetano do

Sul (SP) em junho do mesmo ano. Através da revisão de 8000 atendimentos

médicos feitos durante aquele mês, observou-se que os picos de morbidade

coincidiram com os picos de poluição por partículas e SO2 acima dos padrões

internacionais. Viu-se, ainda, que o aumento de casos de doenças respiratórias e

cardiovasculares superou a elevação de atendimentos por outras causas. Também a

faixa etária de pré-escolares (um a quatro anos) foi bastante afetada.

Sobral (1988) aplicou uma versão brasileira do questionário utilizado nos EUA pelo

National Heart, Lung and Blood Institute em crianças entre 12 e 13 anos de três

áreas da Grande São Paulo: Juquitiba (semi-rural), Tatuapé (região central de São

Paulo) e Osasco (cidade industrial). A investigação foi feita nos meses de setembro,

outubro e novembro, de modo a evitar os meses de inverno. Dos 34 sinais e

sintomas pesquisados, a autora encontrou um gradiente nas taxas de prevalência

que acompanhava aproximadamente o gradiente de poluição das três áreas. Ao

controlar a influência dos fatores sócio-econômicos, viu-se que mesmo assim a

influência dos níveis de poluição permanecia significativa.

Segundo Graham (1990), em países em desenvolvimento, estima-se que 25% a

33% do total das mortes observadas nos cinco primeiros anos de vida sejam

causadas por infecções respiratórias agudas.

As pesquisas realizadas nos últimos 20 anos confirmaram que a poluição do ar

contribui para o aumento de morbidade e mortalidade independentemente da faixa

etária (SAMET, 2000; SÉGALA, 1999), e têm apontado que alguns efeitos

estudados estão relacionados a pequenas exposições e outros à exposição a longo

prazo (COHEN, 1997; ZHANG et al. 1999).

Vários são os fatores que contribuem, interferem ou guardam uma relação direta

com a concentração de poluentes na atmosfera. Sabe-se que fatores

meteorológicos, aspectos demográficos, índices de desenvolvimento humano,

urbanização, padrões de industrialização e pobreza, dentre outros, afetam a

qualidade do ar (WHO, 1999; PINTO, 1999).

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Alguns componentes da poluição do ar foram controlados nos últimos 30 anos,

porém continuam ocorrendo problemas de saúde em pacientes específicos como os

idosos, cardiopatas crônicos, mulheres grávidas, recém-nascidos e pneumopatas

(DICKEY, 2000).

Durante o período de 1991 a 1992, em São Paulo, ao ser investigada a mortalidade

intra-uterina e a concentração dos poluentes Dióxido de Nitrogênio (NO2), Dióxido

de Enxofre (SO2), Monóxido de Carbono (CO), Ozônio (O3) e Material Particulado

(MP), foi constatado que a associação entre NO2, SO2 e CO é muito mais

significativa ao se avaliar os três poluentes em conjunto ao invés de separadamente

(PEREIRA et al., 1998).

Freitas et al. (2004), realizaram o estudo Internações e óbitos e sua relação com a

poluição atmosférica em São Paulo, 1993 a 1997, que teve por objetivo investigar a

relação entre poluentes e internações por doenças respiratórias na infância e mortes

de idosos por todas as causas, exceto as causas externas. As análises efetuadas

serviram como base para o estabelecimento de vigilância dos efeitos na saúde

decorrentes da poluição atmosférica. Trabalhou-se com os grupos populacionais

mais sensíveis aos efeitos dos poluentes, identificados a partir de relatos da

literatura e os dados foram obtidos do Programa de Aprimoramento de Informações

de Mortalidade (PROAIM).

A existência de associação entre mortes totais de idosos e níveis de poluição

atmosférica já havia sido detectada em dois estudos anteriores realizados na cidade

de São Paulo (Saldiva et al., 1995) e em diversas cidades no mundo foram

encontrados resultados concordantes com esses achados como: Filadélfia

(SCHWARTZ, 1992) e Cincinati, nos Estados Unidos (SCHWARTZ, 1994), em Paris

e no sudoeste da França (FILLEUL et al., 2004; QUÉNEL et al., 1999).

Os resultados obtidos foram compatíveis com os encontrados na cidade de Santiago

(ILABACA, 1999) e em estudos anteriores na cidade de São Paulo (BRAGA et al.,

1999; GOUVEIA e FLETCHER, 2000; GOUVEIA et al., 2003), mostrando a

ocorrência de um aumento de 10% nas internações por doenças respiratórias de

menores de 15 anos devido a material particulado.

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A pesquisa Tendência secular da doença respiratória na infância na cidade de São

Paulo (1984-1996), teve por objetivo estimar a prevalência e a distribuição social da

doença respiratória na infância, estabelecer a tendência secular dessa enfermidade

e analisar sua determinação. O estudo revelou que todas as modalidades de doença

respiratória aumentam de freqüência nos meses do outono e do inverno e que a

freqüência máxima de crianças doentes ocorre entre os 6 e os 24 meses de idade.

Ainda na região metropolitana de São Paulo, no período de 1986 a 1998, foi

registrada correlação entre a distribuição geográfica da poluição do ar por SO2 e MP

e a distribuição de sintomas de doenças respiratórias em crianças de 11 a 13 anos

de idade (RIBEIRO, 1999).

Estudos recentes realizados em diferentes contextos urbanos (POPE, 1991; SAMET

et al., 1992; SCHWARTZ, 1994) incluindo a cidade de São Paulo (BRAGA, 1998;

GOUVEIA, 1997; LIN, 1997; SALDIVA, 1994) têm mostrado associações

importantes entre níveis de poluição do ar e atendimentos ambulatoriais,

hospitalizações e óbitos por doença respiratória.

Gráfico 5 - Distribuição porcentual estimada das mortes evitadas pelo PROCONVE na Região Metropolitana de São Paulo durante o período de 1996 a 2005, separadas por tipo de causa mortis e por faixa etária (disponível no relatório de análise dos efeitos do PROCONVE sobre indicadores de mortalidade na região metropolitana de São Paulo – abril de 2006).

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Como se pode depreender do gráfico 5, o nosso modelo projeta que o maior ônus

dos efeitos crônicos da poluição recai sobre as faixas etárias mais elevadas. No

entanto, há que notar que a poluição também cobra um preço alto de indivíduos

abaixo dos 65 anos de idade, com uma boa expectativa de vida pela frente

(SALDIVA et. al., 2006)

A poluição do ar é um dos problemas mais urgentes da época atual, ocupando

posição de destaque na saúde e bem-estar de toda a população (ROSEIRO, 2003),

causando problemas de saúde diversos em boa parte da população.

Recentemente, em 2004, a Sociedade Americana de Cardiologia (BROOK et. al.,

2004) publicou um documento reconhecendo a poluição atmosférica com um fator

de risco para o agravamento de doenças cardiovasculares, notadamente infarto

agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva e desenvolvimento de

arritmias. Idosos e portadores de doenças cardiovasculares prévias, situações cada

vez mais freqüentes na sociedade contemporânea, constituem populações mais

susceptíveis (vulneráveis), reforçando que, além do tabagismo, sedentarismo e

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dieta, a poluição do ar é um importante fator de risco a ser controlado (CANÇADO

et. al., 2006).

Nos últimos dez anos, estudos experimentais e observacionais têm apresentado

evidências consistentes sobre os efeitos da poluição do ar, especialmente do

material particulado fino, na morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares

(cardíacas, arteriais e cerebrovasculares). Tanto efeitos agudos (aumento de

internações e de mortes por arritmia, doença isquêmica do miocárdio e cerebral),

como crônicos, por exposição em longo prazo (aumento de mortalidade por doenças

cerebrovasculares e cardíaca) têm sido relatados (DOCKERY et. al., 2001; BROOK

et. al., 2004), conforme pode ser percebido no gráfico a seguir.

De maneira geral, os efeitos dos gases poluentes na saúde estão intimamente

ligados á sua solubilidade nas paredes do aparelho respiratório, afetando o

desenvolvimento dos pulmões aumentando o risco de doenças cardíacas (GOUVEIA

et al., 2002), sendo comum, nos grandes centros as pessoas sentirem tonturas,

vômitos, olhos ardendo e lacrimejando devido à poluição.

Estudos realizados com dados da American Cancer Society incluem neoplasias

pulmonares como um indicador de efeitos da poluição atmosférica. Finalmente,

alterações reprodutivas, tais como baixo peso ao nascer, abortamentos e alterações

da relação de sexos ao nascimento também foram incorporados ao conjunto de

indicadores de efeitos prejudiciais significantes da poluição do ar (SALDIVA et al.,

2006)

Saldiva et al. (2006) afirmam que o acima exposto, pode ser relacionados diferentes

efeitos adversos da poluição do ar sobre a saúde humana, alguns deles

manifestando-se de forma aguda – horas ou dias após a exposição – enquanto

outros são evidenciados somente após longos períodos de exposição – os

chamados efeitos crônicos. Tantos os efeitos agudos como os efeitos crônicos

podem exibir diferentes níveis de gravidade, abrangendo uma gama de efeitos

que oscilam do desconforto vago até (como desfecho de maior gravidade) a

morte.

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Segundo especialistas, a redução das emissões traria benefícios imediatos à saúde

da população: só nos Estados Unidos, isso poderia evitar 18.700 mortes e 3 milhões

de faltas ao trabalho por ano. Se nada for feito, segundo estimativa da OMS, até o

ano 2020 a poluição deverá matar 8 milhões de pessoas em todo o mundo (IDEC,

2007), fazendo-se então necessária a elaboração e a implementação de programas

de acompanhamento e controle sistemático dos poluentes do ar e seus efeitos sobre

a saúde humana, que gere resultados cientificamente corretos, e que retrate a

realidade, auxiliando na promoção de políticas públicas voltadas à melhoria da

qualidade de vida dos habitantes da Terra (CANÇADO et al., 2006).

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2 DISCUSSÃO

“A troca de idéias é o modo mais antigo e mais fácil de criar as condições para a mudança - mudança pessoal,

mudança comunitária e organizacional, mudança planetária”.

Margaret J. Wheatley

Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, onde grande parte da população

vive em condições de pobreza ou abaixo dela, há grandes problemas de saúde,

altas taxas de mortalidade decorrentes das más condições sócio-ambientais

existentes e os indivíduos vulneráveis são os mais afetados (MINAYO, 2001;

WHITEHEAD, 1990).

Para Bydlowski et al. (2004), essas situações podem ser consideradas injustas

quando comparadas ao resto da sociedade. Além de não ter oportunidade de

escolha, há total falta de controle dos indivíduos sobre a situação em que se

encontram, falta-lhes autonomia.

O que se propõe é que a eqüidade seja alcançada, que possam ser criadas

oportunidades para a justiça social, que sejam asseguradas condições mínimas para

uma sobrevivência digna e isso só pode ocorrer através do exercício da cidadania

tendo, como elemento essencial, o empoderamento da população: um processo de

capacitação que habilite a população a exercer o controle de seu destino,

promovendo a melhoria das suas condições de vida e saúde (WALLERSTEIN,

1992).

A ocorrência desse empoderamento, capaz de produzir mudanças reais nos

indivíduos, nos governos e na sociedade como um todo, só poderá ser realizado a

médio prazo, através de uma educação de qualidade, que estimule a autonomia /

cidadania e a consciência ambiental.

O tipo de “jogo” que jogamos e o uso que fazemos do poder, é condicionado pela

concepção que temos de cidadania e de autonomia, capazes de determinar o

sentimento de pertencer e a decisão de participar ou se omitir.

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Dependendo de como se percebe, se sente na organização, o cidadão, ator social,

joga o seu jogo usando as diferentes estratégias do exercício de seu poder:

participa, compromete-se, blefa, barganha, boicota, finge que não joga (SEB/ME).

Para Garrafa (2005) a palavra empoderamento foi traduzida livre e diretamente do

inglês para o português há alguns anos atrás e é através dela que a população da

cidade de São Paulo, através de uma eco-educação, pode reverter esse quadro

perverso que se impõe.

Sen (2000) acredita que para se tornar possível a superação da fome, da pobreza,

das ameaças ambientais e outras formas de iniqüidade, a sociedade deve adotar

uma postura de cumplicidade fortalecedora da idéia de liberdade (autonomia), da

qual ela mesma não pode se furtar.

Para Labonte (1994), isso só ocorrerá através de processos participativos que

promovam o desenvolvimento (de preferência de grupos) da capacidade dos

indivíduos de controlar situações, a partir da conscientização dos determinantes dos

problemas ou da formação do pensamento crítico, uma verdadeira “pedagogia para

a autonomia” (FREIRE, 1996).

Melhor qualidade de vida e saúde só são atingidas através da participação da

população de maneira ativa, o que pressupõe um relacionamento mais horizontal e

menos submisso e essa busca dos caminhos para o ideal de uma cidadania

planetária, segundo Epstein (2001) deve levar em conta os conflitos existentes, a

fragilidade das estruturas sócio-econômicas e culturais, as inseguranças e

instabilidades que ameaçam todas as formas de vida, considerando-se o pluralismo

e a complexidade dos seus códigos morais / sociais.

Segundo Garrafa (2005), a questão ética nesse início de século XXI não pode mais

ser considerada apenas como uma questão de consciência a ser resolvida na esfera

da autonomia, privada ou particular, de foro individual e exclusivamente íntimo.

A educação, a ética e a justiça ecológicas se apresentam como norteadoras destes

novos rumos, das transformações profundas que trazem em seu bojo prenunciando

uma nova era de mudanças em nosso mundo vivido a partir de nós – “um ser que

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compartilha” (BERG, 2003) e que não tenha recusada sua cidadania, o que ainda

ocorre com a maior parte da população brasileira (CHAUÍ,1996).

CAPRA (1996) propõe que os princípios básicos de ecologia sejam usados na

criação de comunidades humanas sustentáveis e se manifestem como princípios de

educação, administração e política. Na sua visão, a sobrevivência da humanidade

dependerá de um processo de alfabetização ecológica ou eco-alfabetização.

O desafio está em transformar o ecologismo atual num processo efetivo de

conscientização ecológica capaz de alterar a maneira como o ser humano interage

com o meio no qual está inserido. Pois, só quando compreendermos que “a maneira

apropriada de nos aproximarmos da natureza para aprender acerca da sua

complexidade e da sua beleza não é por meio da dominação e do controle, mas sim,

por meio do respeito, da cooperação e do diálogo” (CAPRA, 1996).

Os problemas ecológicos não dependem de uma simples solução técnica; pedem

respostas éticas, requerem mudanças de paradigmas na vida pessoal, na

convivência social, na produção de bens de consumo e, principalmente, no

relacionamento com a natureza (JUNGES, 2004).

Temos de nos assumir como participantes de uma “comunidade de destino”, que

envolve todo o planeta que habitamos, se aspiramos não só à correção ética, mas à

própria salvação, individual e coletiva, não podendo haver uma sem a outra” (CRUZ

& GUERRA, 2000).

Para Cascino (1999), construir uma nova educação, passando pelas graves e

urgentes questões ambientais, é tarefa inadiável... A luta por uma educação

ambiental livre e aberta é, antes de tudo, política e ética e Jaspers (1958), ao refletir

sobre o futuro da humanidade, afirmava que a mudança só pode acontecer por

intermédio de cada indivíduo, na maneira como vive, sendo cada pequena ação,

palavra e atitude, essenciais.

As palavras de Jaspers (1958) podem também ser aplicadas aos desastres

ecológicos presentes em nossos dias, como o aquecimento global e a poluição do

ar. A mudança está nas mãos de cada cidadão e é através de pequenas ações que

se podem construir as grandes mudanças...

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Educar é preparar para pensar certo, no sentido de tornar apto a agir, a mudar, a

criar, a inovar, a criticar, a cooperar, a recomeçar ou voltar atrás se for preciso, a ter

esperança e comprometimento com o futuro e, ainda, a buscar o conhecimento.

“Orientando-se por um novo sentido de viver e atuar valorizando acima de tudo a

vida” (LORENZI, 2003).

Para Capra (2003), o grande desafio do século XXI não é realizar descobertas

científicas sustentáveis, mas gerar uma modificação no sistema de valores hoje

predominantes e que esteja refletido nas políticas nacionais. E isso só será possível

a médio ou longo prazo, através de meios educacionais.

Para Sobral (2005) a educação ambiental, em todos os níveis, é de extrema

importância e enquanto ela não for efetivamente colocada em prática, qualquer tipo

de medida adotada será sempre um paliativo.

A autora ainda afirma que o compromisso assumido com as gerações futuras acerca

das questões ambientais não pode de forma alguma desconsiderar as gerações

presentes, onde parte significativa não tem acesso a um ambiente saudável, como é

garantido por nossa Constituição, ou pelo próprio conceito de desenvolvimento

sustentável: aquele que atende as necessidades do presente.

Morais (1993), fundamentado em Maturana (1992), ao refletir sobre alguns dos

aspectos concernentes às relações entre pessoas e meio ambiente, e às dimensões

da Ecologia, afirma que o necessário não é que destruamos o mundo que temos,

para construirmos um outro ideal; mas apenas entendermos que só teremos de fato

o nosso mundo com os outros, e que a razão só atinge seu real valor se mobilizada

pelo desejo da convivência. A autonomia não é individual, ela é coletiva e planetária.

Frente às idéias de Morais (1993) e Maturana (1992), podemos fazer

questionamentos diversos acerca da relação existente entre a poluição atmosférica

de origem veicular e a qualidade de vida (ou falta dela) na cidade de São Paulo.

“Por que nos sujeitamos a um meio de transporte que causa, só no Brasil, a morte

de 46 mil pessoas por ano? A troco de quê ajudamos a sustentar o mercado da

indústria automobilística e petrolífera que fomenta tantas guerras? Por que julgamos

tão necessário um veículo que é a maior causa da poluição atmosférica e do

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aquecimento global? Quantos ainda terão que se sacrificar para que alguns

desfrutem o conforto de seu carro em congestionamentos?” (LUDD, 2004).

No livro “Apocalipse motorizado - a tirania do automóvel em um planeta poluído”

aponta-se os problemas da poluição e destruição do meio ambiente pela obtenção

de energia para a produção e consumo do carro, denunciando o paradoxo ligado à

cultura do automóvel: "Ele é imprescindível para escapar do inferno urbano dos

carros. A indústria capitalista ganhou assim o jogo: o supérfluo tornou-se necessário"

(ILLICH & GORZ, 2004).

A falsa sensação de liberdade associada ao veículo é alimentada pela publicidade e

ironicamente, a máquina que é vendida por sua capacidade de dar liberdade de

movimentos e por sua capacidade de cobrir distâncias cria tanta distância quanto

atravessa. É a população mais vulnerável exatamente a que mais é prejudicada pela

frota imensa de veículos existentes na cidade de São Paulo e sofre “na pele” os

efeitos da poluição dela decorrente.

Diminuir a emissão de gás carbônico significa criar caminhos energéticos

alternativos e mudar hábitos de consumo de bilhões de pessoas. O uso racional dos

recursos naturais é imprescindível (PREUSSLER, 2004).

A sociedade moderna estimula o uso do transporte individual em detrimento ao

transporte coletivo o que contribui para a deterioração da qualidade do ar. O uso dos

automóveis aumenta o status quo decorrente da posse e uso desses veículos, tanto

na população de classe alta e média quanto na população menos favorecida, mas

ao mesmo tempo, o aumento desordenado da frota veicular tem sérias

conseqüências urbanísticas, econômicas e ambientais.

Araújo (2003) lembra que alguns fatores são primordiais para esses alarmantes

índices: falta de estímulo ao uso de transportes coletivos e a má qualidade do

mesmo; grande concentração, além do rápido e contínuo crescimento, da frota

circulante atualmente; na cidade de São Paulo, a média é de um veículo para cada

dois habitantes e sua preponderância como meio de locomoção.

Esteves (2004) lembra ainda que além dos problemas acima citados, ainda é preciso

considerar a baixa qualidade dos combustíveis usados nos veículos e a grande

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quantidade de veículos antigos existentes no total da frota circulante na cidade;

veículos esses que em sua maioria, não passam por manutenção periódica e

adequada.

A frota de motocicletas também tem aumentado de forma espantosa nos últimos

anos, devido às empresas de entrega (motoboys), a seu preço cada vez mais

acessível, a serem econômicas no combustível, serem mais ágeis e rápidas que o

transporte coletivo, etc.

Devido à frota de ônibus ser inadequada e deficiente, observa-se a disseminação

de vans, microônibus e lotações, como solução paliativa e altamente danosa ao ar

da cidade, uma vez que para transportar o número de passageiros de um ônibus,

são necessárias várias vans, nem todas devidamente regularizadas e em boas

condições de uso.

O incentivo ao uso dos transportes de massa, como ônibus, metrô e bicicleta, seria

outra boa alternativa para o problema, mas para isso a frota teria que ser ampliada e

sofrer fiscalização e manutenção periódicas.

No caso das bicicletas seria necessário um trabalho de conscientização maciço

quanto ao seu uso como meio de transporte alternativo, para percorrer curtas

distâncias, pois a população de São Paulo geralmente associa-a apenas à atividade

física e ao lazer.

Fica também evidente que a busca por tecnologias mais avançadas que

proporcionem uma menor emissão de gases poluentes é fundamental, mas, é

preciso também conscientizar a população quanto à necessidade de manutenções

preventivas periódicas nos veículos.

Os combustíveis utilizados atualmente precisam ser gradativamente trocados por

fontes energéticas alternativas (combustíveis limpos), menos poluentes, pois a

viabilização desses combustíveis possibilitaria a mudança dos tradicionais veículos

de combustão interna para os veículos limpos.

A qualidade do ar da Região Metropolitana de São Paulo vem apresentando uma

substancial melhora nas últimas décadas. Vários passos já foram dados pelo poder

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público para a diminuição da poluição atmosférica na cidade de São Paulo:

legislação específica que regula o funcionamento dos veículos automotores novos (o

programa de controle de emissões veiculares de longo prazo – PROCONVE), a

obrigatoriedade de catalisadores, introduzidos entre os anos de 1992 e 1996, a

mistura de álcool na gasolina (feita a partir de 1980) e o rodízio de veículos, mas,

esses passos ainda são pequenos frente aos danos ambientais e à saúde humana.

Segundo Sabbatini (1996), a culpa dos veículos automotores é gritante e cada vez

mais são bem vindas iniciativas como o rodízio de veículos, a proibição do tráfego

de automóveis no centro, multas e recolhimento de ônibus e caminhões que soltam

muita fumaça, o uso de catalisadores, o teste obrigatório de índices de poluição dos

motores, entre outras, podem reduzir consideravelmente esse problema de saúde

pública que é a poluição do ar, minorando a vulnerabilidade e o sofrimento de

milhares de pessoas, que todo inverno sentem vontade de mudar de São Paulo,

antes que a morte venha cedo demais...

Morin (2000) em seu livro Os sete saberes necessários à educação do futuro cita

Pascal, que já no século XVII, dizia: “Não se pode conhecer as partes sem conhecer

o todo, nem conhecer o todo sem conhecer as partes”; pensamento este,

completamente oportuno quando se pensa na questão da poluição atmosférica na

cidade de São Paulo, que não pode ser vista de forma fragmentada, pois é uma

problemática urgente e como tal deve ser trabalhada pelo governo e a sociedade em

geral de forma abrangente e multidisciplinar uma vez que envolve aspectos sócio-

econômico-culturais e ambientais.

A possibilidade de maior acesso à informação, notadamente dos grupos sociais mais

excluídos, pode potencializar mudanças comportamentais necessárias orientadas

para a defesa de questões vinculadas ao interesse geral. Cidadãos bem informados,

ao se assumirem enquanto atores relevantes têm mais condições de pressionar

autoridades e poluidores, assim como de se motivar para ações de co-

responsabilização e participação comunitária (JACOBI, 1999).

Rousseau (1981), afirmou que “O homem nasceu livre e está inteiramente

acorrentado. Há aquele que se acredita senhor dos outros, e não deixa de ser mais

escravo que estes”.

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Pegando de empréstimo sua fala referente à desigualdade entre os homens,

podemos constatar sua veracidade na problemática do ar nos grandes centros

urbanos, pois os mesmos homens que são indiretamente culpados pelas suas

péssimas condições, são aqueles homens que sofrem / sofrerão juntamente com a

população em geral os danos decorrentes de sua ação / omissão.

A população pode e deve fazer a sua parte para a diminuição da poluição

atmosférica na cidade de São Paulo, através de atitudes simples, tais como: evitar

usar o carro nos horários e locais de maior congestionamento ou para trajetos

curtos; compartilhá-lo com outras pessoas (carona); abastecê-lo à noite ou no início

da manhã (isso evita que os vapores emanados do tanque se transformem em

ozônio pela ação dos raios do sol); denunciar os veículos que emitem fumaça preta;

dar preferência aos transportes coletivos que não emitam gases tóxicos, como o

trem e o metrô etc., cabendo ao poder público, minimamente cumprir a Constituição

Federal que em seu Artigo 196, diz que:

“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços, para as promoção e proteção e o artigo nº 225, que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

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3 CONSIDERAÇÔES FINAIS:

“Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão.”

Paulo Freire

Após mostra de fatos, argumentações e discussão de toda a temática abordada por

esta dissertação, pudemos perceber que os diálogos, entre os diferentes saberes,

co-existem na pulsação da vida e morte do planeta (Gaia), em sua intricada teia que

agrega cultura e natureza.

Reafirma-se, portanto, que a Bioética Ambiental e a Educação Ambiental devem

trabalhar conjuntamente para contrapor-se ao etnocentrismo reinante nas

sociedades contemporâneas, cuja conseqüência é a padronização cultural e de

atitudes (nem sempre éticas ou ecologicamente corretas). A função de ambas se

complementa no esforço de compreender, preservar e valorizar a diversidade

sociocultural e ecológica.

Unindo-se os preceitos da Bioética Ambiental aos da Educação Ambiental através

de um trabalho multi e interdisciplinar, visa-se oferecer sugestões para o

desenvolvimento de alternativas viáveis de conservação da diversidade biológica e

das características socioculturais das populações humanas, buscando a reflexão, a

tomada de consciência e a ação em prol da qualidade de vida e do equilíbrio

planetário.

Faz-se imperioso reafirmar a necessidade da criação de políticas públicas que não

privilegiem apenas os aspectos econômicos, e sim focadas em uma utilização

sustentável do ambiente e na ruptura dos processos que diminuem a autonomia e

tornam vulneráveis determinados segmentos da população (idosos, crianças e

menos favorecidos) ao ar respirado diariamente na cidade de São Paulo.

Trabalhar com o conhecimento local, de forma crítica, visando a aquisição de maior

autonomia, torna-se uma bandeira de luta, pois quem mais está apto a demonstrar /

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vivenciar o uso sustentável do ambiente natural se não as próprias populações

locais?

Para isso, além do poder público e da educação ambiental, ambos de médio ou

longo alcance, são fundamentais campanhas de esclarecimento / conscientização

para que a população perceba que em seu dia-a-dia podem ser realizadas pequenas

ações de grande impacto para a melhoria das condições socioambientais. A ética é

um exercício diário e precisa ser estimulada / praticada no cotidiano. Só assim ela

pode se afirmar em sua plenitude em uma sociedade.

É imperativo educar ou reeducar as lideranças ativas e potenciais (crianças /

adolescentes / adultos), para que contribuam efetivamente com as dinâmicas sócio-

ambientais de um novo paradigma focado na sustentabilidade atual e das gerações

futuras.

As civilizações baseadas em combustíveis fósseis estão com os dias contados. As

sociedades atuais que foram construídas queimando carvão-mineral, rodando com

carros a gasolina / diesel e colocando fogo em florestas agora se apercebem que

isso compromete o equilíbrio dinâmico da Biosfera.

A superação da crise socioambiental atual certamente passa por uma mudança de

paradigmas: do paradigma tecnoindustrial para o de sustentabilidade e essa

mudança qualitativa na vida dos cidadãos só ocorrerá mediante uma formação que

integre conhecimento especializado de alta qualidade com valores éticos e

ecologicamente responsáveis.

Academicamente muito se tem feito, mas pouco é divulgado para a “grande massa”.

Empenhemos-nos para que autores, filósofos e cientistas de diversas áreas, como:

Capra, Morin, Pelicione, Epicuro, Boff, Potter, Naess, Leopold, Saldiva, Lovelock,

Freire e tantos outros sejam divulgados conjuntamente com os autores da academia

emergente de bioeticistas que cresce nestes últimos anos e que têm se voltado para

uma Bioética com preocupações socioambientais.

Os ianomâmis acreditam que somos criaturas efêmeras e quando passamos pela

Terra, devemos passar discretamente; intervir o mínimo possível naquilo que nos

cerca; tirar o estritamente necessário para a nossa sobrevivência e fazer com que

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nossa passagem, que já é por si só efêmera, também seja a mais discreta possível e

afete o mínimo possível o meio ambiente.

As idéias ianomâmis que a princípio podem parecer radicais para nossa sociedade e

contrárias aos nossos interesses, vêm de encontro às de Epicuro que não via no

consumo de bens materiais uma forma de atingir a felicidade.

A idéia de progresso a qualquer preço há muito caiu por terra e, no século XXI,

tomado de assalto por devastações diversas, boa parte delas causadas pela ação

antrópica, idéias tão simples ainda fazem sentido e são fundamentais para a

manutenção de nossa sobrevivência e a sinergia de Gaia.

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