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Ce,"",o;r1iog ib~i o 11I1iil,ho lI!'ar.....Cultivar. Dezembro 2000 A ocorrência recente de severas epi- demias da cercosporiose (Cercas- para zeae-m<!ydis) na safra normal e na sa- frinha na região Sudoeste do estado de Goiás mobilizou todos segmentos ligados direta e indiretamente à cultura do milho no Brasil. A doença causou severas perdas na produção de milho naquela região ten- do sido constatada posteriormente na re- gião de Paracatú em Minas Gerais e em Dourados no Mato Grosso do Sul. Esta do- ença tem sido também uma das mais im- portantes na cultura do milho nos Estados Unidos da América (EUA) e em vários paí- ses da África. A doença foi identificada pela primeira vez em IlIinois nos EUA em 1924 (Tehon & Daniels, 1925) e tem aumentado a sua incidência e severidade a partir dos anos 1970. nas principais áreas de produção de milho do país. causando perdas significati- vas à produção na parte Leste e na região do "cornbelt" daquele país. estando este aumento associado à monocultura e ao au- mento na área de plantio direto Que con- tribui para aumentar o potencial de inócu- 10. através da preservação de restos cultu- rais infectados (Latterell & Rossl, 1983; Ayers et sl., 1985). A doença já havia sido relatada no Bra- sil. Peru. Colômbia. Trinidad. Costa Rica. México e Venezuela (Chupp. 1953; Boo- thryoíd, 1964; Latterell & Rossí, 1983) e é considerada uma doença de importância econômica (Coates & White. 1995). Na África a cercosporiose foi observada pela primeira vez na parte Sul. Central e Oeste no final dos anos 1980 e 1990. O patóge- no disseminou-se rapidamente no continen- te africano estando presente em Camarões. Quênia. Malawí, Moçambioue, Nigéria. África do Sul. Suazilândia. Tanzânía, Ugan- da. Zaíre, Zârnbía, e Zimbabwe (Nowe- 11.1997; Smit & Ward. 1997; Ward & No- well, 1998). Na África o milho constitui-se no principal alimento para peouenos pro- dutores. mineiros e para a população ur- bana. Há uma grande preocupação com perdas Que podem ser causadas pela doen- ça. considerando-se Que a África consume mais de um Quarto da produção de milho no mundo. o Que pode contribuir para o aumento da fome e desnutrição naquele continente.

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Ce,"",o;r1iogib~io 11I1iil,ho

lI!'ar.....Cultivar. Dezembro 2000

A ocorrência recente de severas epi-demias da cercosporiose (Cercas-

para zeae-m<!ydis) na safra normal e na sa-frinha na região Sudoeste do estado deGoiás mobilizou todos segmentos ligadosdireta e indiretamente à cultura do milhono Brasil. A doença causou severas perdasna produção de milho naquela região ten-do sido constatada posteriormente na re-gião de Paracatú em Minas Gerais e emDourados no Mato Grosso do Sul. Esta do-ença tem sido também uma das mais im-portantes na cultura do milho nos EstadosUnidos da América (EUA) e em vários paí-ses da África.

A doença foi identificada pela primeiravez em IlIinois nos EUA em 1924 (Tehon& Daniels, 1925) e tem aumentado a suaincidência e severidade a partir dos anos1970. nas principais áreas de produção demilho do país. causando perdas significati-vas à produção na parte Leste e na regiãodo "cornbelt" daquele país. estando esteaumento associado à monocultura e ao au-mento na área de plantio direto Que con-tribui para aumentar o potencial de inócu-10. através da preservação de restos cultu-rais infectados (Latterell & Rossl, 1983;Ayers et sl., 1985).

A doença já havia sido relatada no Bra-sil. Peru. Colômbia. Trinidad. Costa Rica.México e Venezuela (Chupp. 1953; Boo-thryoíd, 1964; Latterell & Rossí, 1983) eé considerada uma doença de importânciaeconômica (Coates & White. 1995). NaÁfrica a cercosporiose foi observada pelaprimeira vez na parte Sul. Central e Oesteno final dos anos 1980 e 1990. O patóge-no disseminou-se rapidamente no continen-te africano estando presente em Camarões.Quênia. Malawí, Moçambioue, Nigéria.África do Sul. Suazilândia. Tanzânía, Ugan-da. Zaíre, Zârnbía, e Zimbabwe (Nowe-11.1997; Smit & Ward. 1997; Ward & No-well, 1998). Na África o milho constitui-seno principal alimento para peouenos pro-dutores. mineiros e para a população ur-bana. Há uma grande preocupação comperdas Que podem ser causadas pela doen-ça. considerando-se Que a África consumemais de um Quarto da produção de milhono mundo. o Que pode contribuir para oaumento da fome e desnutrição naquelecontinente.

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A doençano BrasilNo Brasíl., há uma grande preocupação tan-

to por parte dos produtores. como por parte defito patologistas e melhoristas com potencial des-trutivo desta doença e com as perdas Que elapode vir a causar à cultura do milho no país. Quepodem ser bem maiores do Q!.Ieas Causados naúltima safra de milho no Centro-Oeste. Uma am-pla discussão sobre estratégias de manejo a se-rem adotadas no momento e sobre prioridadesde pesouisa Q!.Ievisem o desenvolvimento de umprograma de manejo Q!.Ie permita controlar adoença de forma sustentável é de suma impor-tância.

Conheçaos sintomasLesões desenvolvidas da cercosporiose apre-

sentam um formato retangular e são delimitadas.na largura. pelas nervuras principais da folha. Estaé uma característica Que todas as lesões causa-das pelo gênero Cercospora em hospedeiros dafamllia das gramíneas. As lesões apresentam umacoloração marron, até Que. sob condições de altaumidade relativa. há a formação de densa espo-rulação Que dá às lesões a coloração acinzentadacaracterística da doença.

As lesões apresentam um desenvolvimentomais lento. Quando comparadas àquelas produ-zidas por outros patógenos causadores de doen-ças foliares em milho. reouerendo de 2 a 3 se-manas para atingirem o seu total desenvolvimen-to. O período latente de C zeae-m<!)ldisé longo.Quando comparado ao de outros patógenos foli-ares do milho. podendo variar de 14 a 28 diasdesde a infecção até a produção de esporos. Le-sões plenamente desenvolvidas apresentam umcomprimento de I a 6cm com 2 a 4 mm delargura. a Qual é determinada pelo espaço entrenervuras.

Se áreas adjacentes são infectadas. duas oumais lesões isoladas podem coalescer dando aaparência de uma única grande lesão. As lesõesmais jovens podem ser confundidas com lesõescausadas por outros patógenos. mas apresentamum halo amarelado característico ouando obser-vadas através da luz. Dentro de um período de 2a 3 semanas estas lesões se alongam formandoestrias antes de atingirem a sua forma retangularcaracterística. Uma característica das lesões dacercosporiose Que a distinguem de outras doen-ças em milho é Que as lesões são tipicamenteparalelas às nervuras da folha.

Lesões no colmo são comuns em lavourasseveramente infectadas. através da bainha da fo-lha. Quando as lesões cobrem a maior parte daárea fotosslntétíca. a perda de água resultante.determina a deterioração do colmo e o acarna-

mento. Isto pode ocorrer Quando a infecção porC zeae-m<!)ldis ocorre muito cedo e há forma-ção de lesões foliares

na superfícíe do solo. Seguindo-se um períodode alta umidade. o fungo produz conídios nosrestos culturais os ouaís são disseminados pelovento indo infectar novas plantas de milho. sen-do as folhas inferiores os sítios primários de in-fecção. Sob condições ambientais favoráveis aslesões resultantes da infecção inicial produzemesporos Q!.Iesão transportados pelo vento ou porrespingos de chuva para as folhas superiores.

O patógeno tem um alto potencial de espo-rui ação e o número de lesões pode aumentar •••

Ciclo dadoençaCercospora zese-meydis infecta apenas o

milho e não há relatos de Q!.Ie o patógeno sejatransmitido pela semente. sendo um pobre com-petidor no solo Que. na ausência do hospedeiro.sobrevive melhor em restos de cultura presentes

BayerEBProteção das Plantas

Dezembro 2000 • Cultivar...•

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fectados Que permanecem na superfície do solopropiciam uma fonte de inóculo de grande im-portância para a produção de epidemias severasna cultura subseouente. Os componentes de pro-dução mais afetados pela doença são: o númerode grãos por espiga e o tamanho do grão. Asoito ou nove folhas superiores da planta de milhocontribuem com 75 a 90% dos nutrientes re-Queridos pela espiga durante o período de en-chimento dos grãos (Allisson & Watson. 1966)

ResistênciagenéticaA resistência genética é o meio mais eficien-

te de se manejar a cercosporiose. Contudo ne-nhum híbrido comercial atualmente disponível nomercado é totalmente resistente à doença. Aobtenção de materiais geneticamente resistentesà cercosporiose tem sido difícil mesmo para osEstados Unidos onde se convive com a doençadesde o início dos anos 1980. O mesmo ocorreem relação à África do Sul onde a doença foiconstatada em 1990. A resistência a C zeae-msydts é regulada por um pequeno número deloci Quantitativos com 5 ou mais genes envolvi-dos. os ouaís são herdados de forma aditiva. Tra-balhos realizados nos Estados Unidos da Améri-ca e África do Sul. têm demonstrado Que estaresistência apresenta uma alta estabilidade.

A resistência oligogênica dominante. apesarde poder ser rapidamente incorporada em linha-gens elites em programas de melhoramento atra-vés de retrocruzamentos. não tem apresentado umagrande estabilidade frente à população do patóge-no. Nas América Central e na América do Sul onúmero de fontes de resistência à cercosporiose

••• rapidamente indo atingir as folhas mais jovens naparte superior da planta. Durante períodos decondições ambientais desfavoráveis o patógenopode permanecer dormente e retornar rapida-mente ao seu desenvolvimento tão logo as con-dições sejam novamente favoráveis. A taxa abso-luta de aumento na severidade da cercosporioseem relação ao tempo é melhor descrita pelomodelo logístico em ®e a taxa absoluta de au-mento da doença (dy/dt) é uma função de ry (I-x) (31.43.44). Assim a taxa de desenvolvimen-to da cercosporiose é determinada por três fato-res oue interagem no tempo e no espaço: I.) aQuantidade inicial de inóculo ou de doença. don-de se conclui como é importante a sobrevivênciado patógeno nos restos culturais. 2.) a taxa dereprodução do patógeno em um mesmo ciclo dacultura e 3.) A proporção de tecido sadio a serinfectado. Verifica-se claramente. por estes parâ-metros. Que o aumento na área de plantio diretoao contribuir para a sobrevivência do patógenonos restos culturais sobre a superfície do solo.durante o período da ausência da cultura. contri-bui para o aumento na severidade da doença emuma mesma área.

Normalmente os danos causados pela cer-cosporiose são peouenos Quando a doença éintroduzida pela primeira vez em uma determi-nada área. Contudo as perdas podem ser signifi-cativas mesmo no primeiro ano se a Quantidadede restos culturais infectados transportada pelovento de áreas vizinhas for muito grande e se ascondições ambientais são altamente favoráveis aodesenvolvimento da doença.

Ainda Que as perdas na produção sejam pe-ouenas no primeiro ano. os restos culturais in-

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pode ser maior do aooele existente nos EstadosUnidos devido à possibilidade de germoplasmamaterial subtropical ®e tem um maior númerode genótipos resistentes do Que o germoplasmade clima temperado. Alguns destes germoplasmaspoderão ter uma utilização imediata em híbridos.o Que pode contribuir para. a médio prazo reduziro impacto desta doença nos países tropicais comono caso do Brasil.

Manejoda doençaInformações sobre a epidemiologia do pató-

geno e os fatores ®e afetam o desenvolvimentoda doença são importantes para oue medidas decontrole eficientes sejam aplicadas nos estádios maisvulneráveis do ciclo do patógeno e de desenvolvi-mento da doença. Um sistema de manejo integra-do inclui todas as práticas Que podem ser úteis nomanejo de determinada doença através da pre-venção e da redução da taxa de desenvolvimentoda doença. Tais práticas podem incluir alternativasoue contribuam para a redução da ouantídade deinóculo inicial. como a rotação de culturas. ou paraa redução da taxa de desenvolvimento da doença.como o uso de híbridos resistentes e aplicação defungicidas. Para o manejo adeouado da cercospo-riose a curto prazo sugere-se a utilização da rota-ção de culturas com espécies como soja. sorgo.algodão. girassol. etc.

Esta é uma prática de alta eficiência na redu-ção da Quantidade inicial de inóculo e relativamentefácil de ser implementada. considerando-se ®e omilho é o único hospedeiro de C zeae-m<!)ldís. Étambém importante Que o produtor diversifiQue asua lavoura. plantando cultivares diferentes e. sepossível. de empresas diferentes. Esta diversifica-ção deve ser feita tanto no espaço. ou seja. emuma mesma área. Quanto no tempo. ou seja. emépocas diferentes de plantio. Esta diversificaçãodificulta a adaptação do patógeno na medida em®e o produtor estará utilizando genes de resis-tência diferentes.

No Que diz respeito ao plantio de cultivaresresistentes. cabe a cada empresa produtora desementes a indicação das cultivares com maior ní-vel de resistência à doença e ao produtor. combase e sua experiência do ano anterior. cabe evitaro plantio daoueles híbridos reconhecidamente sus-cetíveis à doença. É importante frisar oue estaspráticas de manejo devem ser usadas de formaconjunta de acordo com as circunstâncias e condi-ções de cada região. É pouco provável Que práti-cas de manejo adotadas de forma isolada sejameficientes no controle da doença.

Carlos Roberto Case/a,Embrapa Milho e Sorqo