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CESÁRIO VERDE

CESÁRIO VERDE. Colégio de São Gonçalo2011/2012 Português Professor Jorge Afonso A Poesia de Cesário Verde Grupo VI : - António João; - Diogo Mesquita;

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CESÁRIO VERDE

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Colégio de São Gonçalo 2011/2012

Português

Professor Jorge Afonso

A Poesia de Cesário Verde

Grupo VI : - António João; - Diogo Mesquita;- Lourenço Freitas;- Moisés Sá;- Ricardo Torrejon.

Amarante, Maio de 2012

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José Joaquim Cesário Verde foi um poeta português, sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, mas apenas o frequentou alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais) e as atividades de comerciante herdadas do pai.

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Características da sua poesia

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- Parnasianismo: “arte pela arte” Tendência artística que procura a confeção perfeita através da poesia descritiva. Preocupação com a perfeição, o rigor formal, a regularidade métrica, estrófica e rimática. Retorno ao racionalismo e às formas poéticas clássicas. Busca da impessoalidade e da impassibilidade.- Impressionismo: acumula pormenores das sensações captadas e recorre às sinestesias. As palavras antecipam a simbolismo.- Poeta-pintor: capta as impressões da realidade que o cerca com grande objetividade; transmite as perceções sensoriais.

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CARACTERÍSTICAS MODERNISTAS

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A poesia de Cesário Verde reflete a crise do naturalismo e o desencanto

pela estética realista;

O poeta empenha-se no real, é certo, porém a instância da visão

subjetiva é marcante ao ponto de fazer vacilar a conceção de Cesário

Verde como poeta realista;

A realidade é mediatizada pelo olhar do poeta, que recria, a partir do

concreto, uma super-realidade através da imaginação transfiguradora,

metamorfoseando o real num processo de reinvenção ou

recontextualização precursora da estética surrealista.

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CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS

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A estrutura deambulatória que configura uma poesia itinerante: a

exploração do espaço é feita através de sucessivas deambulações, numa

perspetiva de câmara de filmar, em que se vão fixando vários planos ;

É uma espécie de olhar itinerante e fragmentário, que reflete o passeio

obsessivo pela cidade(e também no campo em alguns poemas); uma poesia

transeunte, errante;

  O olhar seletivo: a descrição/evocação do espaço é filtrada por um juízo

de valor transfigurador, profundamente sinestésico;

O poeta é como um espelho em que vem repercutir-se a diversidade do

mundo citadino

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CARACTERÍSTICAS TEMÁTICAS

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Oposição cidade/campo, sendo a cidade um espaço de morte e o campo um

espaço de vida;

Valorização do natural em detrimento do artificial. O campo é visto como um

espaço de liberdade, do não isolamento; e a cidade como um espaço castrador,

opressor, símbolo da morte, da humilhação, da doença;

Oposição passado/presente, em que o passado é visto como um tempo de

harmonia com a natureza, ao contrário de um presente contaminado pelos

malefícios da cidade;

A questão da inviabilidade do Amor na cidade;

A humilhação (sentimental, estética, social);

A preocupação com as injustiças sociais;

O sentimento anti burguês;

O perpétuo fluir do tempo, que só trará esperança para as gerações futuras;

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POEMAS DE CESARIO VERDE

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1) Desastre;

2) Loira;

3) Vaidosa;

4) Esplêndida;

5) Arrojos;

6) Cinismos;

7) Heroísmos;

8) Lúbrica;

9) Eu e Ela;

10) Manias;

11) Pró Pudor;

12) Lágrimas;

13) Impossível;

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14) Frígida;

15) Noite Fechada;

16) Flores Velhas;

17) Noites Gélidas;

18) Num bairro moderno;

19) A débil;

20) Contrariedades;

21) Responso;

22) Humilhações;

23) Ironias do Desgosto;

24) Meridional;

25) Setentrional;

26) Deslumbramentos.

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ANÁLISE DO POEMA “ SETENTRIONAL”

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Setentrional

Talvez já te não lembres, triste Helena, Dos passeios que dávamos sozinhos, À tardinha, naquela terra amena, No tempo da colheita dos bons vinhos. 

Talvez já te não lembres, pesarosa, Da casinha caiada em que moramos, Nem do adro da ermida silenciosa, Onde nós tantas vezes conversamos. 

Talvez já te esquecesses, ó bonina, Que viveste no campo só comigo, Que te osculei a boca purpurina, E que fui o teu sol e o teu abrigo. 

Que fugiste comigo da Babel, Mulher como não há nem na Circássia, Que bebemos, nós dois, do mesmo fel, E regamos com prantos uma acácia. 

Talvez já te não lembres com desgosto Daquelas brancas noites de mistério, Em que a Lua sorria no teu rosto E nas lajes campais do cemitério. 

Talvez já se apagassem as miragens Do tempo em que eu vivia nos teus seios, 

Quando as aves cantando entre as ramagens O teu nome diziam nos gorjeios. 

Quando, à brisa outoniça, como um manto, Os teus cabelos de âmbar, desmanchados, Se prendiam nas folhas dum acanto, Ou nos bicos agrestes dos silvados. 

E eu ia desprendê-los, como um pajem Que a cauda solevasse aos teus vestidos, E ouvia murmurar à doce aragem Uns delírios de amor, entristecidos. 

Quando eu via, invejoso, mas sem queixas, Pousarem 'borboletas doidejantes Nas tuas formosíssimas madeixas, Daquela cor das messes lourejantes. 

E no pomar, nós dois, ombro com ombro, Caminhávamos sós e de mãos dadas, Beijando os nossos rostos sem assombro, E colorindo as faces desbotadas. 

Quando Helena, bebíamos, curvados, As águas nos ribeiros remansosos, E, nas sombras, olhando os céus amados Contávamos os astros luminosos. 

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Quando, uma noite, em êxtases caímos Ao sentir o chorar dalgumas fontes, E os cânticos das rãs que sobre os limos Quebravam a solidão dos altos montes. 

E assentados nos rudes escabelos, Sob os arcos de murta e sobre as relvas, Longamente sonhamos sonhos belos, Sentindo a fresquidão das verdes selvas. 

Quando ao nascer da aurora, unidos ambos Num amor grande como um mar sem praias Ouvíamos os meigos ditirambos Que os rouxinóis teciam nas olaias. 

E, afastados da aldeia e dos casais, Eu contigo, abraçado como as heras, Escondidos nas ondas dos trigais. Devolvia-te os beijos que me deras. 

Quando, se havia lama no caminho, Eu te levava ao colo sobre a greda, E o teu corpo nevado como arminho Pesava menos que um papel de seda. 

Talvez já te esquecesses dos poemetos, Revoltos como os bailes do Cassino, E daqueles byrónicos sonetos Que eu gravei no teu peito alabastrino. 

De tudo certamente te esqueceste, 

Porque tudo no mundo morre e muda, E agora és triste e só como um cipreste, E como a campa jazes fria e muda. 

Esqueceste-te, sim, meu sonho querido, Que o nosso belo e lúcido passado Foi um único abraço comprimido, Foi um beijo, por meses, prolongado. 

E foste sepultar-te, ó serafim, No claustro das Fiéis emparedadas, Escondeste o teu rosto de marfim No véu negro das freiras resignadas. 

E eu passo tão calado como a Morte Nesta velha cidade tão sombria, Chorando aflitamente a minha sorte E prelibando o cálix da agonia, 

E, tristíssima Helena, com verdade, Se pudera na terra achar suplícios, Eu também me faria gordo frade E cobriria a carne de cilícios. 

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O poema pode dividir-se em três partes : 1ª a 6ª estrofe – “eu / Tu”; da 7ª à 10ª estrofe – “nós” ; da 11ª à 13ª , de novo o “eu / tu” agora separados pelos muros do convento e na cidade…

O tempo presente é o tempo da narrativa ou da escrita, o “eu” e a rapariga estão ambos na cidade . Os verbos e alguns deíticos de proximidade mostram-nos esse presente ( « E eu passo » ; « nesta» , « e é contrastado com o tempo passado que é apenas recordado pelo eu através da memória ( verbos no pretérito perfeito e imperfeito – viveste, osculei, fui, fugiste, sorria, via, caminhávamos… ).

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Neste poema, aparece-nos já o binómio cidade / campo. Campo é símbolo

do amor e da felicidade no passado; Cidade é símbolo da confusão no amor

e da infelicidade- no presente. No presente , ao campo opõe-se não só a

cidade onde vive o eu poético, mas também o convento, onde vive a mulher

amada. Cidade e convento identificam-se: para o eu poético a cidade é a

morte e é qualificada com vocábulos de carga semântica negativa « velha »,

« tão sombria » e nela o eu sente-se triste « chorando aflitamente » e «

prelevando o cálice da agonia ». Para a mulher amada o convento em que se

recolheu é uma sepultura « foste sepultar-te …», é um refúgio « escondeste

o rosto de marfim » e a vida lá dentro é uma resignação « Freiras

resignadas».

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A mulher bonita , no campo , vive com alegria e na cidade / convento vive

tristíssima : « Tristíssima Helena» .

O “eu” aparece-nos no tempo que viveu no campo como um homem muito

apaixonado « te osculei » , « fui o teu sol e o teu abrigo ». No presente recorda

com tristeza e com melancolia o tempo passado e mostra dúvidas ( advérbio

de dúvida – talvez a iniciar o texto ) quanto ao que a mulher sentirá no

presente. No final do texto, mostra-se sarcástico, irónico.

A cidade é a Babel que provoca a ambos infelicidade. Na Bíblia Sião

era a pátria perdida e à qual se desejava regressar e Babel era o

desterro, o espaço de sofrimento e de saudade da pátria.

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O campo onde o “eu” viveu com a mulher aparece associado à felicidade, à

vida em comum , aos beijos, ao sol, ao refúgio, aos sorriso , às mãos dadas à

união entre os dois « viveste no campo só comigo », « te osculei a boca

purpurina », « a lua sorria no teu rosto »,« caminhávamos sós e de mãos

dadas, « Eu contigo abraçado »

No texto notam-se movimentos de fuga e de regresso à cidade e esses

movimentos tem consequências no sentimento de amor. O movimento de fuga

« fugiste comigo de babel »; o movimento de regresso « E foste sepultar-te

…/ no claustro das fiéis emparedadas» . O regresso à cidade causa

sofrimento, associa-se À separação . A fuga para o campo resulta num

ambiente de amor, de beijos, de gestos e atitudes ternas em diversos tempos

e espaços.

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No campo o eu e a amada estiveram unidos « num amor grande como um mar

sem praias» ( comparação )Esta comparação que caracteriza o amor deles , como

algo sem limites, como algo intemporal. O campo como espaço livre permitiu que o

amor fosse assim vivido em plenitude , sem barreiras, um amor sem limites;

A natureza campestre é descrita neste põem com sentimentalismo romântico «

os meigos ditirambos dos rouxinóis » , « os bicos agrestes dos silvados », «

nascer da aurora ».

A mulher é descrita com « bonina », boca purpurina », « cabelos de âmbar », «

Formosíssimas madeixas ( superlativo absoluto sintético para revelar a superior

beleza dos cabelos da amada não comparáveis a mais nenhuns ); « da cor das

messes lourejantes »« corpo nevado como arminho ( comparação para realçar a

brancura da mulher ), « rosto de marfim ( metáfora – associação entre a cor do

rosto e o marfim – efeito visualizante )

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São vários os recursos estilísticos presentes no texto:

- Ironia – última estrofe , quando ele ironicamente fala dos padres . A

ironia funcionava em alguns poemas como um tempero para o

romantismo às vezes exagerado do resto do texto. O poeta que

embalara no sentimentalismo procura temperar com a critica mordaz.

- Várias apóstrofes- «Ó bonina », « Mulher como não há outra na

Circássia »,« Ó serafim » ( anjo ), « Tristíssima Helena » - estas

apóstrofes mostram-nos que o eu se dirige ao tu ao invocar a vida de

ambos, antes , durante e depois do amor. Ele tenta recordá-la porque

pensa que ela se poderá ter esquecido.

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- A comparação- « corpo nevado como arminho» ( comparação para realçar a

brancura da mulher ), « como um pajem » mostrando a submissão do eu ao tu, «

amor grande como um mar sem praias », « contigo abraçado como as heras », «

pesava menos que um papel de seda »- noção de magreza, de fragilidade

- A metáfora- « rosto de marfim ( metáfora – associação entre a cor do rosto e o

marfim – efeito visualizante ), « bebemos do mesmo fel » – os desgostos são

comparados a fel , algo amargo, dando a sensação que a vida deles na cidade fora

triste .« cabelos de âmbar », « messes lourejantes » - metáfora impressionista ,

remete-nos para a cor das searas; « faces desbotadas », « ditirambos/ que os

rouxinóis teciam » …

- Adjetivação impressionista ( associada a cor, luz ) – «purpurina» - dando-nos

conta do vermelho sedutor dos lábios ; brancas noites » ,« desbotadas », « nevado »