Céu, Terra e Homem

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    O CÉU, A TERRA E O HOMEM

    Hoje nos parece inegável que o homem depende e interage com o Universo. Osmovimentos ecológicos nos mostraram que a Natureza pode influenciar e ser influenciada pelas nossas atitudes. Apesar da aparente novidade, tal fato já de dom!nio p"#lico a milharesde anos para os orientais. $as at onde vai essa intera%&o'

    Os antigos povos do Oriente sempre #uscaram as respostas (s suas d"vidas noUniverso ao seu redor. )studando a influ*ncia de determinados alinhamentos planetários nasatitudes dos seres humanos e codificando essas caracter!sticas ao longo de mil*nios, criaram aci*ncia da astrologia. +a intera%&o entre a Natureza e o Homem veio o eng-hui, a arte do paisagismo chin*s. Os jardins japoneses s&o outro e/emplo de integra%&o entre o Homem eseu meio. $as por trás de tudo isso e/iste mais. $uito mais.

    O CÉU0ara os Antigos o Universo era dividido #asicamente em 1u e 2erra, que

    representavam a #ipolaridade 3in43ang de todas as coisas. O 15u seria o 3ang, princ!pioativo, e a 2erra, o elemento 3in, princ!pio receptivo. 2odas as coisas do Universo teriam uma

    grande intera%&o entre esses dois princ!pios, sendo que nada poderia ser e/clusivamente 3angnem somente 3in. 2ampouco e/iste o t&o propalado 6antagonismo7 entre esses dois princ!pios, já que o que vale a sua complementariedade.

    1u, nessa concep%&o, n&o se trata necessariamente do espa%o sideral, mas do todoa#strato que e/iste no Universo. Aquilo que e/iste em todo lugar e penetra em todas ascoisas. Na )uropa, no sculo passado, foi cunhada uma e/press&o muito interessante paraesse princ!pio8 92):. N&o o produto qu!mico, claro, mas uma su#st;ncia imaterial queestaria em todo lugar e que interpenetraria toda a matria sólida. Os planetas do istemaolar, por e/emplo, seriam mantidos em suas ór#itas por estarem mergulhados neste 6ter7. Na poca essa teoria era muito interessante, pois eles precisavam de um meio material que permitisse e/plicar porque a luz e o calor do sol chegam ( 2erra, por e/emplo. 1om o

    advento das teorias eletromagnticas o ter foi descartado como elemento, mas serve comoe/emplo do que seria esse princ!pio do Universo8 o 1u.

    A TERRA1omo vimos, a 2erra representante do princ!pio 3in. )la 6fecundada7 pela energia

    3ang, do 1u e dá origem a todas as coisas, sendo a sua 6m&e7 . :ealmente, todas as coisasem nosso planeta vem da 2erra, sendo incitados a crescer e se desenvolver por uma for%adeconhecida dos Ocidentais8 o 1u.

    1omo a energia em nosso Universo polarizada, ocorre que todos os seres e toda amatria e/istente nele tam#m o . 9 sempre #om lem#rar que n&o e/iste em nosso Universonada que seja 3in ou 3ang, mas apenas casos em que prevelece um ou outro princ!pio. O seu complementar, portanto, sempre estará presente, ainda queimperceptivelmente.

    O homem, elemento masculino, ativo, possui como dominante o princ!pio 3ang,enquanto a mulher, elemento feminino, receptivo, possui o 3in dominante. 1om #ase nesse panorama, podemos comentar a primeira intera%&o do ser humano.

    O HOMEM E A TERRA  1ome%o com a intera%&o com a 2erra porque o elemento mais percept!vel para nós, por ser dominado pela matria vis!vel. 2odos os ha#itantes de nosso planeta ?e qualquer 

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    outro, aliás@ interagem entre si. Animais se alimentam de vegetais e de outros animais,e/cretando minerais que s&o utilizados pelo solo para alimentar microorganismos e outrosvegetais. 0rinc!pios masculinos e femininos ?machos e f*meas@ se encontram e interagem parase multiplicar e finalmente, os seres que aqui ha#itam alteram o seu meio am#iente paraadequá-lo (s suas necessidades, como contruir a#rigos e utens!lios. +estas intera%es a quemais nos chama a aten%&o entre macho e f*mea, s!m#olos da complementariedade.

    O ser humano possui sólidas ra!zes na 2erra. 9 dela que e/trai o necessário ( suaso#reviv*ncia. A sua import;ncia real%ada por todas as religies do mundo, como por e/emplo a B!#lia crist& que menciona o fato de que Ad&o teria sido feito de #arro ?2erra@ eadquirido vida com um sopro do 1riador ?1u@.

    O HOMEM E O CÉUA segunda intera%&o entre o Homem e o 1u. Afinal, o que diferencia o ser humano

    dos outros seres vivos de nosso mundo' imples8 auto-consci*nciaC O ser humano a "nicacriatura que possui consci*ncia de sua e/ist*ncia. O Homem evolui, mas de maneiraconsciente. )nquanto os animais e vegetais evoluem pela so#reviv*ncia, para melhor seadaptarem, o Homem busca alguma coisa a mais. A arte um #om e/emplo. Nenhum animal

    e/ecuta uma o#ra simplesmente pelo prazer de faz*-la, mas apenas por necessidade. Apenas oHomem #usca e/pressar sentimentos e aspira%es a fim de mostrá-los a outros humanos einteragir com eles. 0or que' Ora, todos procuram algo mais na vida, algo superior. $uitosquerem se desenvolver espiritualmente ou #uscar a +eus. )ssa dimens&o esotrica, m!stica, sóe/iste nos humanos. $as nada mais do que a necessidade de se fundir no princ!pio maior8 o1u. 2al caracter!stica, segundo estudiosos, v*m do fato de o Homem ser um #!pede ereto,com os ps na 2erra mas a ca#e%a voltada para o 1u, como veremos ( seguir.

    O CÉU, A TERRA E O HOMEM0ela sua própria natureza, o Homem está em liga%&o simultaneamente com o 1u e a

    2erra. Apesar de ter que tirar seu sustento da 2erra, ele percorre o 1u com seu olhar e anseia

     por conhecer as for%as que o sustentam. O mais velho sonho dos seres humanos n&o foi voar'Doando, ele se coloca entre o 1u e a 2erra, da! a sensa%&o e/tasiante que os pilotose/perimentam. ) quanto mais livre, melhor. 0rocure entrevistas com pilotos de asa delta, #alonistas e paraquedistas e sa#erá do que falo. $as n&o se pode tender muito para umelemento apenas. O ditado 6olhe para o cu mas mantenha os ps firmes em terra7 #emclaro. Eualquer aspira%&o que se tenha #enfica, desde que n&o se esque%a das o#riga%esnormais. 0ode-se voar muito, mas uma hora se tem que descer. A felicidade humana, t&oco#i%ada, se dá plenamente quando vivemos voltados para a espiritualidade, mas semesquecer onde estamos pisando. )ssa intera%&o entre material e espiritual a #ase de nossae/ist*ncia e n&o pode ser ignorada.

    O SIMBOLISMO

    Os povos antigos, principalmente no Oriente, sempre foram muito ligados aossim#olismos. Um s!m#olo a forma mais rápida e fácil de se aprender e transmitir algo. )m poucos tra%os pode estar oculto um significado enorme e profundo.

    O 1u normalmente representado por um c!rculo. O c!rculo sim#oliza o infinito, poisele n&o tem come%o ou fim. Ao mesmo tempo, todo c!rculo cont*m um espa%o interior. Assimcomo ele infinito, tam#m o receptáculo de tudo.

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    A 2erra sim#olizada pelo quadrado. Os quatro lados sim#olizam os pontos cardeais,elementos importantes por facilitarem a localiza%&o das coisas. Fsso nos leva a uma afirma%&oanterior, de que a 2erra material. Nada e/iste de mais material do que coordenadas delocaliza%&o, pois possi#ilitam encontrar qualquer coisa no espa%o. Ao vermos o quadradonotamos que ele tam#m encerra um espa%o interior. Assim, temos quatro lados e o interior, perfazendo os G elementos fundamentais8 gua, 2erra, ogo, $etal e $adeira.

    O Homem o tri;ngulo. ua ess*ncia tr!plice, pois ele e/iste entre o 1u e a 2erra.Os orientais definem o Homem como tendo tr*s ess*ncias8 o corpo f!sico, o corpo etrico ouastral e o esp!rito. O tri;ngulo possui uma #ase larga mas tam#m uma ponta voltada para o1u. Assim, temos que nos voltar para o Fnfinito, mas sem perder de vista onde estamos.

    ARTES MARCIAISO significado de tudo isso nas artes marciais muito importante. Atravs da intera%&o

    entre 1u e 2erra, o praticante pode desenvolver muito mais for%a e efici*ncia do que apenascom for%a f!sica. $uitas s&o as histórias de $estres velhinhos que so#repujaram oponentesmuito mais jovens e fortes. A for%a f!sica se vai, mas o Universo fica. +a! a for%a einvenci#ilidade de 3ang Iuchan, criador do 2ai 1hi 1huan estilo 3ang, e de $orihei Ueshi#a,

    fundador do AiJidK. Am#os eram guerreiros invenc!veis, que aca#aram se desinteressando doscom#ates e perseguindo outros ideais. 0ara eles, a intera%&o entre o Homem, o 1u e a 2erraera muito mais importante do que lutas e #atalhas, pois podiam ser utilizadas para melhorar avida de todas as pessoas.

    Lostaria de encerrar com uma história muito interessante so#re $estre Ueshi#a.+izem que no fim de sua vida, já muito idoso, tinha que ser carregado at o tatame para poder praticar a sua arte. Um dia, dois alunos muito fortes foram incum#idos da tarefa, masn&o conseguiram erguer o $estre nem um cent!metro sequer, apesar de intensos esfor%os. O$estre, ent&o, a#riu os olhos e sorriu8 6+esculpem-me. Havia esquecido de desatar o 1u e a2erra7. +epois de dizer isso, ele pode ser carregado facilmente.

     Lil#erto AntKnio ilva M jornalista e escritor especializado em cultura oriental e filosofiataoista. http8.laoshan.com.#r