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MARIA ENEIDA MATOS DA ROSA
O cânone literário e o ensino de literatura
Primórdios da literatura
Na Antiguidade grega: LITERATURA = POESIA (épica ou dramática).
A Ilíada e a Odisséia, de Homero – caráter moralizante;
Origem da propensão educadora da literatura;
Interesse coletivo acima do privado.
A despeito de considerarem a escrita em determinados momentos perigosa (vide a tragédia Hipólito) os gregos não desmereceram seu poder. Importaram um alfabeto dos fenícios, acrescentaram alguns signos para representar as vogais e trataram de difundi-lo via escola.
Os estudos nas escolas atenienses incluiam quatro assuntos básicos: linguagem (grammatike), literatura (mousike), aritmética (logistike) e atletismo (gymnastike).
A literatura no Renascimento
Literatura – a poesia tinha caráter íntimo e particular;
Na Antiguidade – predomínio do caráter comunitário e público;
A educação passou a ser gerenciada pelas escolas. Deixa de ser um lugar facultativo para a aprendizagem e torna-se obrigatório;
A literatura foi integrada ao currículo escolar, dissolvendo-se entre a Gramática, a Lógica e a Retórica.
Só após a Revolução de 1789, os franceses introduzem na escola a literatura nacional;
A literatura não podia perder sua força educativa;
A literatura se modificou – deixou de ter finalidade intelectual e ética;
A literatura adquire cunho linguístico;
A escola foi veículo de difusão – consagrar os poetas de língua nacional.
A literatura no Brasil
O ensino da literatura oscila entre: conhecer a norma linguística nacional e ao mesmo tempo a história da nação.
Desejo de expressão nacional.Literatura + identidade nacional –
fio condutor das histórias da literatura (cunho ideológico).
A literatura no Brasil
As principais manifestações literárias surgiram com a ocupação do território brasileiro. Literatura destinada ao público leitor curioso pelas descrições da terra;
Carta de Pero Vaz de Caminha, carta escrita em 1500 e publicada em 1507;
Anchieta (1553) – escola voltada para a catequese e ensino da língua portuguesa e escrita.
A literatura no Brasil
Ensino da literatura – cunho catequético mais sistemático;
O caramuru (1781), de Santa Rita Durão ilustra essa situação;
Exposição do projeto educacional da Companhia de Jesus.
A literatura no Brasil
“Durão converte Diogo Alvares Correia num pedagogo exemplar que, impressionado com a ferocidade dos índios, antropófagos e sanguinários, dispõe-se a educá-los, resgatando a suposta humanidade dos índios” (LAJOLO & ZILBERMAN, 2002, p. 20)
Papel da escola e da literatura no Brasil
Escola na literatura– local de punição;
Literatura como escapismo;
Literatura – leitura obrigatória;
Papel da escola e da literatura no Brasil
Exemplos na literatura nacional: Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, Conto de escola e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis e O Ateneu, de Raul Pompéia.
O texto literário como metalinguístico.
Papel da escola e da literatura no Brasil
“Franco era silencioso, como arreceado de todos, tristonho, de uma melancolia parente da imbecilidade; tinha acessos refreados de raiva, queixas que não sabia formular. Os livros, causa primeira de seus desgostos, faziam-lhe horror. A necessidade de escrever por castigo promovera nele a habilidade dos galés: adquirira um desembaraço pasmoso na faina de encher de garranchos páginas e páginas. Esta interminável escrita fizera-lhe calos aos cantos das unhas [...]” (p. 108).
Papel da escola e da literatura no Brasil
É no espaço Grêmio Literário Amor ao Saber, que os alunos entram em contato maior com os livros de forma mais prazerosa e sem obrigações escolares, bem como põem em prática suas idéias num periódico:
“Na interessante publicação apareciam quadrinhas místicas do Ribas e sonetos lúbricos do Sanches. Barreto publicara meditações, espécie de harpa do crente em prosa arrebentada. O rodapé-romance era uma imitação d’O Guarani, emplumada de vocábulos indígenas e assinada – Aimbiré” (p. 143).
A leitura...
Para Ricardo Piglia (2006), “a leitura é ao mesmo tempo a construção de um universo e um refúgio diante da hostilidade do mundo” (p. 29);
Papel da escola e da literatura no Brasil
Problema do final do século XIX = problema atual;
Leituras obrigatórias na escola;Lista de livros mais lidos;Eleição do cânone – seleção e
exclusão promovida pelas histórias da literatura;
Papel da escola e da literatura no Brasil
O escritores em suas obras também fazem uma espécie de seleção de seus pares . N’O Ateneu, na abertura solene do Grêmio, o palestrante Dr. Cláudio, escolhe o que para ele, seria o melhor de nossa literatura. Com efeito, elenca os seguintes nomes e movimentos literários: “[a] galhofa de Gregório de Matos e Antônio José, a epopéia de Durão, o idílio da escola mineira, a unção de Sousa Caldas e São Carlos, a influência de Magalhães, os ensaios do romance nacional, a glória de Gonçalves Dias e José de Alencar” (p. 151).
Papel da escola e da literatura no Brasil
Obras não-eruditas são consideradas imperfeitas e inferiores.
“...a Grande Literatura convive com outras literaturas, de menor prestígio, mas de grande apelo. Entre um e outro conjunto de livros (consagrados e não consagrados), a escola tende a aproximar-se da opinião dos intelectuais e esquecer – ou pior, estigmatizar – o gosto das pessoas comuns” (ABREU, 2006, p. 110).
Possíveis soluções
Mudanças no critério de avaliação na eleição do canône;
Discutir o que é literatura, pois ela é um fenômeno cultural e histórico e, portanto, passível de receber diferentes definições em diferentes épocas e por diferentes grupos sociais;
Levar em conta o horizonte de expectativas do leitor – Estética da Recepção;
Possíveis soluções
Trazer à baila textos escritores por mulheres (sobre mulheres), negros, pobres, enfim toda a sorte de temas e gêneros marginalizados e que fazem parte do cotidiano de muitas pessoas que afirmam não gostar da literatura. Solução proposta por Márcia Abreu e que parece se coadunar com a intenção dos Estudos Culturais (identidade, temas raciais e sexuais);
Ler os clássicos, mas antes oportunizar que outros textos também façam parte do sistema literário;
Possíveis soluções: novos suportes
Escrita e leitura não se ressentirão da mudança de suporte?
Novos suportes implicam novas opções. Por exemplo, a simultaneidade evidencia mais propriamente o trabalho em hipertexto. O fazer literário alcança a interatividade com o usuário.
A lógica do capitalismo, fundada na obsolescência programada, sugere que o livro não vai desaparecer, porque encontrará seu nicho no sistema. Talvez se torne ainda mais elitizado; ou, pelo contrário, ameaçado de desaparecimento, providencie no barateamento do custo e à renovação da popularidade.
Possíveis soluções
“É preciso dessacralizar a literatura liberá-la de seus tabus sociais, abrindo caminho para o segredo de sua potência. Então talvez será possível refazer não a história da literatura, mas a história dos homens em sociedade, segundo o diálogo dos criadores de palavras, mitos e idéias com seus contemporâneos e com a posteridade, que agora chamamos literatura” (ESCARPIT)
Referências bibliográficas
ABREU, Márcia. Cultura letrada. Literatura e leitura. São Paulo: Editora Unesp, 2006.
CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. São Paulo: T.A Queiroz Editor, 2000.
ESCARPIT, Robert. Sociologia de la literatura. Espanha: Oikos Tau, s.d.
LAJOLO, M. & ZILBERMAN, R. O preço da leitura. Leis e números por detrás das letras. São Paulo: Ática, 2001.
PIGLIA, Ricardo. O último leitor. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
POMPÉIA, Raul. , 1981. O Ateneu. Crônica de Saudades. Organização de Afrânio Coutinho. V. II. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira.
_____. A leitura rarefeita. Leitura e livro no Brasil. São Paulo: Ática, 2002.
ZILBERMAN, Regina. A leitura e o Ensino da Literatura. São Paulo: Contexto, 1988.