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Relatório e Parecer Prévio sobre as Contas do Governo da República Ministro José Jorge, Relator Exercício de 2012 Fiscalização a serviço da sociedade

CG 2012_relatorio Completo

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  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as

    Contas do Governoda Repblica

    Ministro Jos Jorge, Relator

    Exerccio de

    2012

    Relat

    rio e Parecer Prvio

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    b

    lica

    Fiscalizao a servio da sociedade

  • Tribunal de Contas da Unio

    Ministros

    Ubiratan Aguiar, Presidente, Vice-Presidente

    Marcos Vinicios VilaaValmir Campelo

    Walton Alencar RodriguesAugusto NardesAroldo Cedraz

    Raimundo CarreiroJos Jorge

    Auditores

    Augusto Sherman CavalcantiMarcos Bemquerer Costa

    Ministrio Pblico

    Lucas Rocha Furtado, Procurador-GeralPaulo Soares Bugarin, Subprocurador-GeralMaria Alzira Ferreira, Subprocuradora-Geral

    Marinus Eduardo de Vries Marsico, ProcuradorCristina Machado da Costa e Silva, Procuradora

    Jlio Marcelo de Oliveira, ProcuradorSrgio Ricardo Costa Carib, Procurador

    Benjamin Zymler

    Andr Lus de CarvalhoWeder de Oliveira

    Repblica Federativa do Brasil

    Responsabilidade Editorial

    Secretaria-Geral de Controle ExternoSecretaria de Macroavaliao Governamental

    Adaptao Final

    Secretaria-Geral da PresidnciaInstituto Serzedello CorraCentro de Documentao

    Editora do TCU

    Capa

    Endereo para Contato

    TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIOSecretaria de Macroavaliao Governamental

    SAFS Quadra 4 Lote 1 Edifcio Anexo II Sala 45670.042-900 Braslia - DF

    Fones (61) 3316 7766/7285/5030Fax (61) 3316 7536

    Impresso pela Sesap/Segedam

    Pablo Frioli

    Ouvidoria do Tribunal de Contas da UnioFone 0800 644 1500

    Ministros

    Augusto Nardes (Presidente)

    Aroldo Cedraz de Oliveira (Vice-presidente)

    Valmir Campelo

    Walton Alencar Rodrigues

    Benjamin Zymler

    Raimundo Carreiro

    Jos Jorge

    Jos Mcio Monteiro

    Ana Arraes

    Ministros-sUBstitUtos

    Augusto Sherman Cavalcanti

    Marcos Bemquerer Costa

    Andr Lus de Carvalho

    Weder de Oliveira

    Ministrio PBlico jUnto ao tcU

    Paulo Soares Bugarin (Procurador-Geral)

    Lucas Rocha Furtado (Subprocurador-geral)

    Cristina Machado da Costa e Silva (Subprocuradora-geral)

    Marinus Eduardo de Vries Marsico (Procurador)

    Jlio Marcelo de Oliveira (Procurador)

    Srgio Ricardo Costa Carib (Procurador)

  • Ministro Jos Jorge, Relator Braslia, 2013

    Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica

    Exerccio de 2012

  • Copyright 2013, Tribunal de Contas de Unio www.tcu.gov.br

    Relatrio e parecer prvio sobre as contas do governo da repblica / Tribunal de Contas da Unio. - (2007)- . Braslia : TCU, 2007-

    v.

    Anual.

    Continuao de: Relatrio do Tribunal de Contas (1893-1950, 1954) ; Parecer prvio sobre as contas do presidente da repblica (1951-1961, 1970) ; Parecer prvio sobre as contas do governo da repblica (1962-1966) ; Parecer sobre as contas gerais da repblica (1968) ; Parecer sobre as contas do presidente da repblica (1969) ; Relatrio sobre as contas do presidente da repblica (1971) ; Relatrio e parecer prvio sobre as contas do governo (1972-1973) ; Relatrio e parecer sobre as contas do governo da repblica (1974-1992, 1994) ; Relatrio, concluso e projeto de parecer prvio sobre as contas do governo da repblica (1993) ; Relatrio e pareceres prvios sobre as contas do governo da repblica (2000-2006) ; Relatrio e parecer prvio sobre as contas do governo da repblica (1990, 1995-1999, 2007-).

    1. Contas do governo Brasil. I. Tribunal de Contas da Unio (TCU).

    Catalogao na fonte: Biblioteca Ministro Ruben Rosa

  • Introduo ................................................................................... 7

    2. dESEMPEnHo dA EConoMIA BrASILEIrA EM 2012 ................... 112.1 Atividade Econmica ..................................................................................................... 12

    2.1.1 Taxas de Inflao em 2012 ......................................................................................... 12

    2.1.2 Nvel de Emprego e Salrios ....................................................................................... 15

    2.1.3 Produto Interno Bruto (PIB) ........................................................................................ 17

    2.1.4 Poupana Nacional Bruta e Investimento ................................................................... 21

    2.1.5 Carga Tributria Nacional ........................................................................................... 22

    2.2 Poltica Macroeconmica ............................................................................................... 26

    2.2.1 Poltica Fiscal ............................................................................................................. 26

    2.2.2 Poltica Monetria ..................................................................................................... 27

    2.2.3 Poltica Creditcia........................................................................................................ 33

    2.3 Dvida pblica................................................................................................................ 35

    2.3.1 Dvida Bruta do Governo Geral (DBGG) ..................................................................... 36

    2.3.2 Dvida Lquida do Setor Pblico (DLSP) ....................................................................... 39

    2.3.3 Plano Anual de Financiamento (PAF) e Relatrio da Dvida Pblica Federal .................. 42

    2.3.4 Demonstrativo da Dvida Consolidada Lquida no Relatrio de Gesto Fiscal ............... 43

    2.4 Relaes Econmico-Financeiras com o Exterior ............................................................. 46

    2.4.1 Balano de Pagamentos e Reservas Internacionais ...................................................... 48

    3. PLAnEJAMEnto, orAMEnto E GESto FISCAL ....................... 553.1 Plano Plurianual PPA 2012-2015 .................................................................................. 57

    3.2 Lei de Diretrizes Oramentrias LDO 2012 ................................................................... 64

    3.3 Lei Oramentria Anual (LOA) ........................................................................................ 77

    3.3.1 Disponibilidades de recursos no exerccio de 2012 ..................................................... 77

    3.3.2 Receita ...................................................................................................................... 85

    3.3.2.1 Previso e Arrecadao de Receita ................................................................................85

    3.3.2.2 Desempenho da Arrecadao Federal .........................................................................88

    3.3.2.3 Recuperao de crditos ..............................................................................................94

    3.3.2.4 Arrecadao de Multas ...............................................................................................110

    3.3.3 Despesas ................................................................................................................. 121

    3.3.3.1 Despesas por Funo ................................................................................................123

    3.3.3.2 Despesas por rgo Superior ....................................................................................126

    3.3.3.3 Despesas por Categoria Econmica e Grupo de Despesa ...........................................128

    3.3.3.4 Despesas por Modalidade de Aplicao .....................................................................146

    3.3.3.5 Restos a Pagar Execuo em 2012 ..........................................................................148

    3.3.3.6 Anlise conjunta da execuo oramentria e de restos a pagar no processados ........154

    3.3.4 Oramento das Empresas Estatais ............................................................................ 155

    3.4 Renncias de Receitas: Benefcios Tributrios, Financeiros e Creditcios .......................... 168

    3.4.1 Benefcios Tributrios ............................................................................................... 170

    SuMrIo

  • 3.4.2 Benefcios Tributrios-Previdencirios ........................................................................ 175

    3.4.3 Benefcios Financeiros e Creditcios ........................................................................... 176

    3.5 Gesto Fiscal ............................................................................................................... 184

    3.5.1 Cumprimento das metas fiscais ................................................................................ 184

    3.5.1.1 O resultado primrio da Unio em 2012 .....................................................................187

    3.5.2 Receita Corrente Lquida .......................................................................................... 199

    3.5.3 Despesas com Pessoal ............................................................................................. 201

    3.5.4 Das Disponibilidades de Caixa .................................................................................. 204

    3.5.5 Inscrio em Restos a Pagar ..................................................................................... 206

    3.5.6 Limites para Movimentao e Empenho Contingenciamento ................................. 207

    4. Ao SEtorIAL do GoVErno ................................................ 2134.1 O Programa de Acelerao do Crescimento .................................................................. 214

    4.1.1 Anlise Geral ........................................................................................................... 214

    4.1.2 O PAC em 2012....................................................................................................... 219

    4.1.3 Transportes.............................................................................................................. 221

    4.1.4 Energia ................................................................................................................... 225

    4.1.5 Minha Casa Minha Vida ........................................................................................... 229

    4.1.6 gua e Luz para Todos ............................................................................................ 232

    4.1.7 Cidade Melhor ........................................................................................................ 234

    4.1.8 Comunidade Cidad ............................................................................................... 236

    4.1.9 Execuo Oramentria do PAC ............................................................................... 237

    4.1.10 Desoneraes e benefcios concedidos no mbito do PAC ........................................ 243

    4.2 Anlise dos Programas do PPA 2012-2015 .................................................................... 247

    4.3 Aes Setoriais ............................................................................................................. 252

    4.3.1 Funo Sade ......................................................................................................... 252

    4.3.2 Funo Previdncia Social ........................................................................................ 265

    4.3.3 Funo Assistncia Social ......................................................................................... 276

    4.3.4 Funo Educao ................................................................................................... 282

    4.3.5 Cultura .................................................................................................................... 297

    4.3.6 Funo Desporto e Lazer ......................................................................................... 308

    4.3.7 Segurana Pblica ................................................................................................... 314

    4.3.8 Defesa Nacional ...................................................................................................... 320

    4.3.9 Funo Trabalho ..................................................................................................... 324

    4.3.10 Funo Gesto Ambiental ........................................................................................ 330

    4.3.11 Funo Cincia e Tecnologia ................................................................................... 335

    4.3.12 Funo Agricultura .................................................................................................. 342

    4.3.13 Comunicaes ........................................................................................................ 348

    4.3.14 Funo Energia ....................................................................................................... 351

    4.3.14.1 Poltica Nacional de Combustveis ...............................................................................357

  • 4.3.15 Funo Transporte ................................................................................................... 377

    5. AudItorIA do BALAno GErAL dA unIo ............................ 3895.1 Introduo .................................................................................................................. 389

    5.2 Opinio de auditoria sobre o Balano Geral da Unio ................................................... 389

    5.2.1 Responsabilidade pela elaborao das demonstraes contbeis consolidadas da Unio . 389

    5.2.2 Responsabilidade do Tribunal de Contas da Unio .................................................... 390

    5.2.3 Fundamentos para a opinio com ressalva para as informaes patrimoniais ............ 390

    5.2.4 Fundamentos para a opinio com ressalva para

    as informaes oramentrias e financeiras .............................................................. 391

    5.2.5 Opinio com Ressalva .............................................................................................. 391

    5.2.6 nfases.................................................................................................................... 391

    5.3 Fundamentao tcnica para as opinies emitidas ....................................................... 392

    5.3.1 Opinio com ressalva para as informaes patrimoniais ............................................ 392

    5.3.1.1 Ausncia de registro contbil das provises matemticas previdencirias do RPPS dos

    servidores civis federais ........................................................................................392

    5.3.1.2 Retificao irregular de Restos a Pagar no processados ..............................................397

    5.3.1.3 Divergncias de R$ 135,4 bilhes, R$ 1,7 bilho e R$ 39,3 bilhes em saldos da Dvida Ativa .398

    5.3.1.4 Divergncia de R$ 53 bilhes em saldos de Crditos Parcelados ...................................402

    5.3.1.5 Divergncia de R$ 28,9 bilhes no saldo da Dvida Mobiliria Interna ..........................403

    5.3.1.6 Registro intempestivo dos aumentos de capital na Caixa Econmica Federal ................405

    5.3.1.7 Defasagem no registro da equivalncia patrimonial das participaes societrias ..........406

    5.3.1.8 Divergncia de R$ 933 milhes no saldo de bens imveis de uso especial ....................407

    5.3.1.9 Falha de divulgao sobre a aplicao de recursos da Finep na Conta nica ...............409

    5.3.1.10 Falha de divulgao de transaes com partes relacionadas ........................................411

    5.3.1.11 Falha de divulgao dos critrios de mensurao de rodovias .....................................412

    5.3.1.12 No implementao de entidade contbil especfica para o Fundo do RGPS ................413

    5.3.1.13 No contabilizao da depreciao de bens imveis ...................................................415

    5.3.1.14 Limitao de escopo relativa ao reconhecimento de crditos tributrios a receber ........416

    5.3.2 Opinio com ressalva para as informaes oramentrias e financeiras ..................... 417

    5.3.2.1 Recebimento de dividendos em condies no previstas no Estatuto do BNDES ..........417

    5.3.2.2 Efeitos no BGU do lucro lquido do BNDES aumentado em R$ 2,38 bilhes .................420

    5.3.2.3 Falha na classificao contbil de R$ 7 bilhes em Juros sobre Capital Prprio .............425

    5.3.2.4 Ausncia de contabilizao das renncias de receitas ..................................................426

    5.4 Assuntos que merecem nfase ..................................................................................... 428

    5.4.1 Expressivo montante de ordens bancrias emitidas em dezembro para saque em janeiro 428

    5.4.2 Aumento significativo do saldo de obrigaes registradas no passivo financeiro em razo

    de insuficincia de crditos oramentrios ................................................................ 429

    5.5 Deficincias nos controles internos contbeis ................................................................ 430

    5.5.1 Baixa confiabilidade do documento Declarao do Contador................................. 430

    5.5.2 Alto nmero de restries contbeis ........................................................................ 431

    5.5.3 Ausncia de setorial contbil especfica para a STN ................................................... 434

  • 5.6 Recomendaes para o aperfeioamento do BGU ....................................................... 435

    5.7 Balano Geral da Unio divulgado pela STN ................................................................. 437

    6. CrESCIMEnto InCLuSIVo ........................................................ 4456.1 Desenvolvimento Regional ........................................................................................... 449

    6.1.1 Projeto de Integrao do Rio So Francisco

    com Bacias Hidrogrficas do Nordeste Setentrional................................................... 464

    6.2 Educao Bsica .......................................................................................................... 471

    6.2.1 Introduo .............................................................................................................. 471

    6.2.2 Desigualdades educacionais .................................................................................... 472

    6.2.3 Principais planos da educao bsica ....................................................................... 476

    6.2.4 Destaques sobre o planejamento da educao bsica .............................................. 478

    6.2.5 Implementao dos planos de educao bsica ....................................................... 481

    6.2.6 Mecanismos de monitoramento do alcance das metas ............................................. 489

    6.2.7 Riscos que podem comprometer os objetivos e metas estabelecidos ......................... 490

    6.2.8 Concluso ............................................................................................................... 491

    6.3 Sade .......................................................................................................................... 493

    6.3.1 Introduo .............................................................................................................. 493

    6.3.2 Planejamento .......................................................................................................... 497

    6.3.3 Financiamento ........................................................................................................ 505

    6.3.4 Infraestrutura e oferta de servios na ateno bsica ................................................ 516

    6.3.5 Resultados alcanados pela ateno bsica em 2012 ................................................ 521

    6.3.6 Concluso ............................................................................................................... 526

    6.4 Previdncia Social ........................................................................................................ 529

    6.5 Infraestrutura: Energia ................................................................................................. 544

    6.5.1 Programa Nacional de Produo e Uso do Biodiesel (PNPB)

    como poltica de Incluso Social ............................................................................... 544

    6.5.2 O Programa Luz para Todos e a Incluso Social......................................................... 551

    6.6 Infraestrutura: Comunicaes Incluso Digital ............................................................ 555

    6.7 Infraestrutura: Transportes ............................................................................................ 565

    6.7.1 Aviao regional e crescimento inclusivo .................................................................. 565

    6.7.2 Transporte ferrovirio para incluso e desenvolvimento ............................................ 579

    6.8 Infraestrutura: Saneamento/PAC .................................................................................. 585

    7. rECoMEndAES do trIBunAL dE ContAS dA unIo nAS ContAS do GoVErno dA rEPBLICA dE 2011 E ProVIdnCIAS AdotAdAS ............................................................................... 5977.1 Recomendaes do TCU nas Contas do Governo da Repblica de 2011 ....................... 597

    8. ConCLuSo ............................................................................ 625

    9. PArECEr PrVIo SoBrE AS ContAS do PodEr ExECutIVo .... 645

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 7

    Introduo

    Pela 78 vez, o Tribunal de Contas da Unio desempenha a primeira das competncias que lhe so atribudas pela Constituio Federal: apreciar e emitir parecer prvio conclusivo sobre as contas da Presidente da Repblica. A anlise realizada pelo Tribunal subsidia o rgo de cpula do Poder Legislativo com elementos tcnicos para emitir seu julgamento poltico e, assim, atender a sociedade, no seu justo anseio por transparncia e correo na gesto dos recursos pblicos.

    Encaminhadas pelo Excelentssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional, Senador Renan Calheiros, no dia 25 de abril de 2013, as presentes contas referem-se ao perodo de 1 de janeiro a 31 de dezembro de 2012, segundo ano de gesto do governo da Excelentssima Senhora Presidente da Repblica Dilma Vana Roussef, e incluem os balanos gerais da Unio e o relatrio do rgo central do sistema de controle interno do Poder Executivo sobre a execuo dos oramentos de que trata o 5 do art.165 da Constituio Federal.

    Registro que o TCU emite parecer prvio apenas sobre as contas prestadas pela Presidente da Repblica, pois as contas atinentes aos Poderes Legislativo e Judicirio e ao Ministrio Pblico no so objeto de pareceres prvios individuais, mas efetivamente julgadas por esta Corte de Contas, em consonncia com a deciso do Supremo Tribunal Federal, publicada no Dirio da Justia de 21/8/2007, ao deferir medida cautelar no mbito da Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2.238-5/DF. Nada obstante, o Relatrio sobre as Contas do Governo da Repblica contempla informaes sobre os demais Poderes e o Ministrio Pblico, compondo, assim, um panorama abrangente da administrao pblica federal.

    O exame das contas do Governo da Repblica constitui a mais nobre, complexa e abrangente tarefa atribuda a esta Corte pela Constituio Federal e legislao correlata, seja por sua singular relevncia, por permitir sociedade o conhecimento do resultado da atividade do governo federal, seja pela amplitude dos temas tratados e profundidade das anlises realizadas por este Tribunal.

    Efetivados os trabalhos e concludo o Relatrio, passo a apresent-lo. No incio, consta uma breve sntese sobre o desempenho da economia brasileira no exerccio de 2012, sendo indicados alguns dos principais dados macroeconmicos que delimitam o contexto em que o governo precisou atuar. So apresentados dados sobre a atividade econmica, como taxa de inflao, nvel de emprego e salrios, produto interno bruto, poupana nacional bruta e carga tributria nacional. Ademais, so evidenciados os instrumentos de poltica fiscal, monetria e creditcia utilizados pelo governo durante o exerccio, bem como os impactos deles decorrentes sobre a dvida pblica. Por fim, so trazidos dados sobre as relaes econmico-financeiras do pas com o exterior.

    O captulo seguinte contm anlise dos principais instrumentos de planejamento e oramento Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Oramentrias (LDO) e Lei Oramentria Anual (LOA) , bem como da gesto fiscal realizada em 2012. A esse respeito, destacam-se: o exame realizado sobre o novo modelo do plano purianual, inaugurado com o PPA 2012-2015; o desempenho da arrecadao federal, incluindo a recuperao de crditos parcelados ou inscritos em dvida ativa; a execuo das despesas fixadas nos Oramentos Fiscal, da Seguridade Social e de Investimentos, bem como dos restos a pagar; e o expressivo montante das renncias de receitas decorrentes de benefcios tributrios, financeiros e creditcios.

    O ltimo item do terceiro captulo traz anlise da ao governamental sobre as receitas e despesas pblicas luz da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), com vistas a

  • Tribunal de Contas da Unio8

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    verificar o cumprimento dos limites nela fixados e as metas fiscais estabelecidas na LDO 2012. Ressalto, neste item, anlise sobre as operaes que levaram ao resultado fiscal apurado ao final de 2012.

    No quarto captulo, feito um balano do desempenho da gesto pblica em 2012, por meio da anlise dos resultados e da realizao de despesas oramentrias e gastos tributrios no Programa de Acelerao do Crescimento (PAC), nos programas temticos do PPA e nas diversas aes setoriais do governo federal. A anlise setorial concentra-se em quinze funes de governo, selecionadas por critrios de materialidade e relevncia, s quais se procura relacionar os programas temticos mais importantes, de modo a contribuir para a visualizao conjunta de resultados do PPA e da execuo oramentria por funes e subfunes. Nada obstante, os dados sobre a execuo oramentria das 28 funes e respectivas subfunes so apresentados no documento Execuo Oramentria por Funo e Subfuno, disponvel no portal do Tribunal de Contas da Unio (http://www.tcu.gov.br/contasdogoverno).

    O quinto captulo apresenta os resultados e as concluses da auditoria do Balano Geral da Unio (BGU) referente a 2012, realizada no intuito de verificar se o BGU reflete, em todos os aspectos relevantes, a situao patrimonial da Unio em 31/12/2012 e os resultados patrimonial, financeiro e oramentrio da Unio no exerccio. Assim, o escopo do trabalho restringiu-se verificao da confiabilidade das demonstraes contbeis consolidadas do governo federal. Em continuidade ao processo de aperfeioamento da auditoria do Balano Geral da Unio, o captulo traz inovaes na estrutura e na apresentao das constataes decorrentes da auditoria, aproximando-se ainda mais das Diretrizes de Auditoria Financeira da Organizao Internacional de Entidades Fiscalizadoras Superiores (Intosai) e das boas prticas internacionais de relato de auditoria de demonstraes financeiras governamentais

    O captulo subsequente trata do tema especial Crescimento Inclusivo, tendo em vista que a mensagem presidencial que encaminhou o projeto de lei do Plano Plurianual 2012-2015 ao Congresso Nacional elegeu como estratgia fundamental para o pas promover o crescimento econmico por meio da incluso social e regional. Nesse sentido, o Tribunal procurou aprofundar a anlise realizada no ano anterior, sobre os entraves ao crescimento consistente e duradouro, com nfase, em 2012, sobre as polticas inclusivas, que devem ser capazes de promover a insero produtiva de grupos sociais e regies brasileiras, atendendo proposta central do PPA. Nesse sentido, as anlises so estruturadas a partir do pressuposto de que polticas destinadas educao bsica, sade bsica, incluso digital e ao desenvolvimento regional, entre outras, tm um vis prioritariamente inclusivo, mas podem no alcanar seus melhores resultados por problemas de concepo, execuo ou acompanhamento.

    No captulo que antecede a concluso, apresentada sntese das providncias adotadas pelo governo para a correo das falhas apontadas nas recomendaes exaradas no Relatrio sobre as Contas referentes ao exerccio de 2011.

    Com o objetivo de alicerar a misso constitucional deste Tribunal e de assegurar a observncia dos princpios da legalidade, eficincia, legitimidade e economicidade na gesto pblica, so formuladas recomendaes aos dirigentes de diversos rgos e entidades da administrao pblica federal.

    Por derradeiro, submeto apreciao deste Egrgio Plenrio, na forma prevista no Regimento Interno desta Corte, dentro do prazo constitucional, o relatrio e o projeto de parecer prvio sobre as contas prestadas pela Chefe do Poder Executivo.

  • Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    2

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 11

    2. DESEMPENHO DA ECONOMIA BRASILEIRA EM 2012

    Em 2012, a produo de bens e servios no pas atingiu o patamar de R$4,4 trilhes, a preos correntes, representando um crescimento real de 0,9% em relao ao Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior. Esse resultado foi influenciado negativamente pela retrao de 2,3% no setor agropecurio, aliada queda de atividade suportada pelo setor industrial, da ordem de 0,8%. Como contraponto, a variao positiva do PIB foi capitaneada pelo setor de servios, que teve alta de 1,7% no ano.

    Sob a tica da demanda, contriburam positivamente para o crescimento do PIB os consumos do governo e das famlias (3,2% e 3,1%, respectivamente). O ponto negativo, nessa tica, ficou por conta da Formao Bruta de Capital Fixo (FBCF), que recuou 4,0% no ano.

    A despeito desse desempenho, a anlise da produo de bens e servios de cada trimestre do ano, em relao ao trimestre anterior, com ajuste sazonal, revela que a economia se encontra em ligeira recuperao. Embora no primeiro perodo do ano o PIB tenha se mantido praticamente estagnado, evoluindo apenas 0,1%, nos ltimos trs trimestres houve crescimento de 0,3%, 0,4% e 0,6%, respectivamente.

    O baixo dinamismo relativo da atividade econmica acarretou uma reduo na taxa de crescimento do emprego formal em comparao com o ano anterior (3,43%, contra 5,47% em 2011). No entanto, esse fato no impactou a taxa de desemprego observada no perodo, que finalizou o ano em 4,6%, tampouco a elevao dos rendimentos mdios mensais percebidos pelos trabalhadores (crescimento de 5,05% em relao a 2011).

    No que toca taxa de inflao, aferida pelo ndice de Preos ao Consumidor Amplo (IPCA), verificou-se que alguns grupos exerceram presso de alta ao longo do ano. Nesse sentido merecem destaque os grupos Alimentos, cujo subgrupo alimentos consumidos fora do domiclio teve variao positiva de 9,51%, e Despesas Pessoais, com variao de 10,17%. O grupo Transportes, por sua vez, contribuiu para reduo do indicador (variao de apenas 0,48%), mormente em razo da reduo das alquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre os automveis novos. Esse cenrio permitiu que o IPCA de 2012 encerrasse o ano em 5,84%, dentro dos limites fixados pelo Conselho Monetrio Nacional.

    Os emprstimos a pessoas fsicas e jurdicas, por seu turno, atingiram R$ 2,36 trilhes, correspondentes a 53,5% do PIB. Esse nmero revela uma continuidade na trajetria de expanso das operaes de crdito (16,2% em relao a 2011), com destaque, principalmente, para aquelas realizadas com recursos direcionados voltados para o setor habitacional, que cresceram, no perodo, 37,6%.

    Com relao a sua destinao, as operaes de crdito do sistema financeiro foram direcionadas, em sua maioria, ao setor privado, que respondeu por 95% dos emprstimos (R$2,24 trilhes). Das operaes ao setor pblico (R$118,8 bilhes), R$55,6 bilhes foram direcionados aos governos estaduais e municipais, enquanto R$63,3 bilhes tiveram como destinatrio o governo federal.

    No mbito externo, a economia mundial foi marcada pela recesso no continente europeu, pelo crescimento abaixo do previsto nos Estados Unidos e pela desacelerao nos pases emergentes. Em decorrncia desse cenrio adverso, as exportaes brasileiras sofreram reduo de 5,3% no perodo. A maior parcela de exportaes do pas teve como destino o bloco asitico, responsvel por 31,1% das exportaes. Dentro desse bloco, merece

  • Tribunal de Contas da Unio12

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    destaque a China, que, embora tenha reduzido suas aquisies em 7%, ainda continua sendo o principal importador do Brasil, concentrando 17% das exportaes.

    Sob a anlise por fator agregado, considerando-se a mdia diria, os produtos bsicos reduziram-se 7,4% e os industrializados 3,6%. A participao dos produtos bsicos no total exportado decresceu de 47,8%, em 2011, para 46,8%, em 2012, enquanto que a dos industrializados aumentou de 50,1% para 51,0%, no mesmo perodo.

    Passando ao Balano de Pagamentos, a conta Transaes Correntes encerrou o ano de 2012 deficitria em R$54,2 bilhes. Embora a Balana Comercial e o saldo das Transferncias Unilaterais Correntes tenham apresentado resultado positivo (US$ 19,4 bilhes e US$2,8 bilhes, respectivamente), no foram suficientes para compensar o dficit de Servios e Rendas, da ordem de US$76,5 bilhes.

    A despeito disso, o resultado do Balano de Pagamentos foi de US$18,9 bilhes, em decorrncia do desempenho da Conta Capital e Financeira (superavitria em US$72,8 bilhes), que rene, entre outros itens, os investimentos estrangeiros diretos no pas. Em decorrncia dessas operaes, o saldo das reservas internacionais sofreu aumento de 7,6% em 2012, quando comparado ao ano anterior, atingindo o montante de US$378,6 bilhes.

    No que tange Dvida Lquida do Setor Pblico (DLSP), houve aumento de R$41,5 bilhes de 2011 para 2012, atingindo o montante de R$1,55 trilho. No entanto, em percentuais do PIB, a DLSP reduziu cerca de 1,2 ponto percentual, passando de 36,41%, em dezembro de 2011, para 35,21%, ao final de 2012.

    Por fim, a taxa de risco-pas do Brasil, representada pelo indicador EMBI+, encerrou o ano de 2012 em 138 pontos, muito embora tenha atingido um pico de 246 pontos em junho daquele ano.

    2.1 AtividAde econmicA

    2.1.1 taxas de Inflao em 2012

    O Conselho Monetrio Nacional estabeleceu a meta de inflao para 2012 em 4,5% a.a., com margem de 2 p.p. para menos ou para mais. Ao Banco Central do Brasil compete executar as polticas necessrias para o cumprimento das metas fixadas, conforme dispe o art.2 do Decreto3.088/1999. O monitoramento da meta estabelecida realizado pelo Banco Central com base no ndice de Preos ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), que mede o consumo das famlias com renda de at 40 salrios mnimos. Durante o perodo de 2012, a taxa de inflao medida pelo IPCA foi de 5,84% a.a., inferior ao exerccio de 2011, que atingiu exatamente o limite da meta 6,50% a.a.

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 13

    Evoluo do IPCA (%)

    -0,1Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

    0

    0,1

    0,2

    0,3

    0,4

    0,5

    0,6

    0,7

    0,8

    0,9IPCA 2011 IPCA 2012

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

    O comportamento mensal do IPCA em 2012 se aproximou ao do ano anterior, com o primeiro trimestre tendo taxas inferiores s verificadas em 2011, e o segundo semestre apresentando taxas mensais ligeiramente superiores.

    O grupo Alimentao e Bebidas (23,93% do oramento das famlias) foi responsvel por 2,27 p.p., ou 39% do IPCA em 2012, com variao positiva de 9,86%. Verificou-se substancial impacto no ndice dentro desse grupo devido ao item alimentos consumidos fora do domiclio, que experimentou variao postitiva de 9,51% em 2012. Destaca-se, entretanto, que essa variao foi inferior quela observada em 2011 para o mesmo item, da ordem de 10,49%. J o item alimentos de consumo no domiclio passou de 5,43%, em 2011, para 10,04%, em 2012.

    Entre os grupos de maior peso que compem o IPCA est o de Transportes, com 19,52%. Esse grupo passou de 6,05%, em 2011, para apenas 0,48%, em 2012, contribuindo de forma inequvoca para a reduo do IPCA, em funo da reduo do imposto sobre produtos industrializados (IPI), que subtraiu 5,71% nos preos dos automveis novos, provocando impacto de -0,21 p.p. no ndice, o principal impacto para baixo no ano. Se acrescidos ao impacto de -0,18 p.p. dos automveis usados, em decorrncia da reduo de 10,68% nos preos, a reduo no ndice IPCA foi de 0,39 p.p. Da mesma forma que os preos dos automveis novos e usados contriburam para reduzir o IPCA, os combustveis tambm tiveram sua influncia, tendo em vista a reduo de 3,84% no litro do etanol e de 0,41% no da gasolina. Ainda dentro do grupo Transportes, os itens passagens areas, com 26%, seguro de veculo, com 7,78%, e tarifas de nibus intermunicipais e tarifas de nibus urbanos, com 6,35% e 5,26%, respectivamente, foram os destaques que pressionaram o ndice.

    O grupo de maior variao no IPCA foi Despesas Pessoais, com 10,17% de variao em 2012, e impacto de 1,01 p.p. no ndice. No ano anterior, o referido grupo teve variao de 8,61%.

    A inflao dos produtos com preos livres atingiu 6,56% em 2012 (6,63% em 2011), e a dos preos monitorados atingiu 3,65% (6,20% em 2011).

  • Tribunal de Contas da Unio14

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    IPCA Variao dos valores dos produtos com preos livres e com preos monitorados 2012(%)

    2012

    Preos livresMonitorados3

    Peso: 24,51Geral Comercializveis 1 No-comercializveis 2

    Peso: 75,49 Peso: 36,19 Peso: 39,30

    Jan 6,42 3,97 8,62 5,71

    Fev 5,98 3,77 7,97 5,48

    Mar 5,49 3,41 7,37 4,58

    Abr 5,63 3,36 7,69 3,73

    Mai 5,55 3,49 7,45 3,49

    Jun 5,34 2,97 7,52 3,77

    Jul 5,77 3,08 8,24 3,67

    Ago 5,75 2,96 8,33 3,77

    Set 5,93 3,37 8,28 3,44

    Out 6,23 4,00 8,27 3,23

    Nov 6,23 4,10 8,17 3,50

    Dez 6,56 4,47 8,46 3,65

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), elaborado pelo Depec/Coace. Pesos de janeiro 2012.

    1 Alimentos industrializados e semielaborados, artigos de limpeza, higiene e beleza, mobilirio, utenslios domsticos, equipamentos eletroeletrnicos, aquisio de veculos, lcool combustvel, cama/mesa/banho, fumo e bebidas, vesturio e material escolar.

    2 Produtos in natura, alimentao fora do domiclio, aluguel, habitao-despesas operacionais, veculos-seguro/reparos/lavagem /estacionamento, recreao e cultura, matrcula e mensalidade escolar, livros didticos, servios mdicos e servios pessoais.

    3 Servios pblicos e residenciais, transporte pblico, gasolina e leo diesel, plano de sade, produtos farmacuticos, pedgio, licenciamento.

    Embora no acumulado no ano de 2012 o IPCA tenha se mantido dentro da meta, o ndice de difuso da inflao (sem ajuste sazonal), que mede a proporo de itens com variao positiva no IPCA, em dezembro de 2012 foi de 70%. Assim, o custo de reverter as expectativas inflacionrias pode ser elevado, e demorar alm do pretendido.

    O ndice Nacional de Preos ao Consumidor (INPC), que pesquisa itens de consumo das famlias que recebem at seis salrios mnimos, apresentou variao de 6,20% em 2012, superior aos 6,08% de 2011. O grupo Alimentao e Bebidas, com variao de 10,41% em 2012, foi o principal responsvel pela elevao do ndice, com impacto de 2,94 p.p., ou 47% do INPC, a exemplo do ano anterior, quando a variao observada foi de 6,27%. O grupo Habitao, com variao de 6,59% em 2012, inferior aos 6,79% registrados em 2011, tambm causou impacto positivo relevante no ndice, com 1,11 p.p. A menor variao ocorrida no grupo Transportes, 1,24% em 2012, em comparao aos 6,83% ocorrida em 2011, produziu significativo efeito redutor no ndice, cujo impacto passou de 1,09 p.p., em 2011, para 0,22 p.p. (-80%), em 2012. O grupo Despesas Pessoais teve a maior variao entre os grupos dentro do ndice em 2012, com 10,04%, superior aos 6,96% registrados em 2011.

    Quanto ao ndice Geral de Preos (IGP-DI), que registra diversas alteraes de preos de matrias primas, bens e servios e, at o exerccio de 2012, foi tambm o indexador das

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 15

    dvidas dos estados e municpios com a Unio, a variao em 2012 foi de 8,10%, superior ocorrida em 2011, da ordem de 5,00%. A variao em 2012 do IPA (ndice de Preos ao Produtor Amplo), que corresponde a 60% do IGP-DI, foi de 9,14%. O IPC (ndice de Preos ao Consumidor), responsvel por 30% do IGP-DI, registrou elevao de 5,73% em 2012, inferior aos 6,36% registrados em 2011. O ndice Nacional de Construo Civil (INCC), que responde por 10% do IGP-DI, teve variao de 7,12% em 2012, tambm menor que em 2011, quando variou 7,49%. A maior variao do IGP-DI em abril, julho e agosto foi em parte devido s fortes valorizaes do IPA, com crescimento, naqueles meses, de 1,25%, 2,13% e 1,77%, respectivamente.

    Taxas de Inflao acumuladas no ano em 2011 e 2012

    ndice/Entidade Critrio 2011 2012

    IPCA/IBGE Famlias 1 a 40 s.m. 6,50% aa 5,84% aa

    INPC/IBGE Famlias 1 a 6 s.m. 6,08% aa 6,20% aa

    IGP-DI/FGV Famlias 1 a 33 s.m. 5,00% aa 8,10% aa

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e Fundao Getlio Vargas (FGV).

    A variao mensal dos ndices de preos no exerccio de 2012 est demonstrada no grfico adiante.

    Variao da Inflao (%) IPCA x INPC x IGP-DI 2012

    Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

    0

    -0,5

    1

    0,5

    1,5

    2

    IGP-DIIPCA INPC

    Fonte: Banco Central do Brasil (Bacen).

    2.1.2 nvel de Emprego e Salrios

    Ao longo do exerccio de 2012, verificou-se a reduo da taxa de desocupao, aliada elevao, em todos os meses, em relao ao exerccio anterior, do rendimento mdio real efetivamente recebido do trabalho principal. Por sua vez, a taxa de crescimento do emprego formal no exerccio analisado sofreu reduo em relao do exerccio de 2011.

    As taxas de desemprego mensal ao longo de 2012, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), elaborada pelo IBGE, foram inferiores s do exerccio anterior, conforme

  • Tribunal de Contas da Unio16

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    grfico adiante. A proporo de desocupados entre os economicamente ativos em 2012, ao final do exerccio, foi de 4,6%, inferior aos 4,7% registrados no encerramento de 2011.

    Taxa de Desocupao (%)

    20122008 2009 2010 2011

    5,0

    5,5

    4,0

    4,5

    6,0

    6,5

    7,0

    7,5

    8,0

    8,5

    9,0

    9,5

    10,0

    11,0

    10,5

    Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

    Os rendimentos mdios reais mensais efetivamente recebidos pelos trabalhadores ao longo dos exerccios de 2008 a 2012, a preos de dezembro do ltimo exerccio, registram contnua elevao na renda do trabalhador. Em dezembro de 2012, o rendimento recebido (R$2.332,73 ) foi 5,05% superior ao verificado no ano anterior (R$2.220,56).

    Rendimento Mdio Real Mensal (R$)

    1200,00

    1400,00

    1600,00

    1800,00

    2000,00

    2200,00

    2400,00

    Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

    20122008 2009 2010 2011Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 17

    De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o saldo do registro dos trabalhadores contratados com carteira assinada nos doze meses encerrados em dezembro de 2012 foi de 1,3 milho de pessoas, um crescimento de 3,4% em relao ao total de trabalhadores empregados no mesmo perodo em 2011. Devido a ajustes nas estatsticas feitas nos exerccios de 2011 e 2012, os dados obtidos nestes dois ltimos exerccios no podem ser comparados aos demais. Contudo, o cotejo entre esses dois exerccios revela que essa taxa de crescimento, embora positiva em 2012, foi inferior de 2011 (5,5%). Ainda que essa tendncia de queda no saldo de criao de empregos, a princpio, possa ser explicada pelo baixo crescimento do PIB, ela no tem impactado a taxa de desocupao que, consoante visto acima, decresceu no perodo. Tal comportamento sugere que os efeitos da menor criao de empregos tm sido arrefecidos por uma reduo do ingresso de pessoas no mercado de trabalho.

    Os setores de servios e comrcio, com a criao, juntos, de mais de um milho de empregos, lideraram a ofertas de vagas em termos absolutos. O setor da construo civil encerrou o ano de 2012 com saldo, entre admitidos e dispensados, de 149 mil trabalhadores. O setor da indstria de transformao registrou a criao de 86 mil postos de trabalho.

    Evoluo do Emprego Formal Setores da Economia 2012

    Tipo de Atividade N de empregos formais (saldo) Variao (%)

    Servios 666.160 4,32

    Comrcio 372.368 4,38

    Construo Civil 149.290 5,17

    Indstria de Transformao 86.406 1,06

    Extrativa MineralServio Indstria Utilidade PblicaAgropecuriaAdministrao Pblica

    10.92810.223

    4.9761.491

    5,282,710,320,19

    Total 1.301.842 3,43

    Fonte: Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE) Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

    2.1.3 Produto Interno Bruto (PIB)

    No Anexo de Metas Fiscais da Lei de Diretrizes Oramentrias (LDO) 2012, Lei 12.465/2011, foi projetada taxa de crescimento real anual do PIB de 5% para o exerccio. No entanto, o total dos bens e servios produzidos no pas em 2012, a preos correntes, foi de R$4,4 trilhes, com crescimento real de 0,9% em relao ao PIB de 2011, que atingiu R$4,14 trilhes. As taxas de crescimento dos trimestres acumulados em 2012, em relao aos mesmos perodos de 2011, mostram taxas menores que no exerccio anterior, mas estveis, equivalentes a 0,8%, 0,6%, e 0,7%. Ao se comparar cada trimestre de 2012, com ajuste sazonal, com o trimestre imediatamente anterior, observa-se, no incio do ano, uma economia estagnada, com taxa de 0,1%, mas que volta a crescer medida que o ano de 2012 evolui, como demonstrado pelas taxas de 0,3%, 0,4% e, finalmente, 0,6%, nos ltimos trs trimestres do ano, respectivamente.

  • Tribunal de Contas da Unio18

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    Produto Interno Bruto

    4,18

    0,9

    200420032002 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

    Taxas Reais de Crescimento - em %PIB - em valores de 2011

    2,94 2,97 3,14 3,24 3,37 3,58 3,76 4,03 4,14

    2,7

    1,1

    5,7

    3,2

    4,0

    6,1

    5,2

    0,3

    7,5

    2,7

    3,75

    2012

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Contas Trimestrais. Valores constantes de 2011.

    Em 2012, o valor do PIB per capita manteve-se praticamente estvel, com evoluo de 0,1% em relao a 2011, segundo estimativas populacionais do IBGE, passando a registrar o valor de R$22.402,00. Em dlares, o PIB per capita registrou o valor de US$11.484,26, ao dlar mdio de R$1,95 em 2012.

    PIB per capita - paridade do poder de compra

    US$ milhares

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    11

    12

    19901991

    19921993

    19941995

    19961997

    19981999

    20002001

    20022003

    20042005

    20062007

    20082009

    20102011

    2012

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

    Entre os pases pertencentes ao grupo dos BRICS, o Brasil, no acumulado do ano de 2012, teve o menor desempenho. A China registrou crescimento em seu PIB de 7,8%, a ndia de 5%, a Rssia de 3,4%, e a frica do Sul de 2,5%. Fora do grupo, o Mxico apresentou variao do PIB de 3,9%, o Japo de 1,9%, e os Estados Unidos e a Coreia do Sul de 2,2%. Se considerado, entretanto, o quarto trimestre, o Brasil s perdeu para o Mxico, que cresceu 0,8%, pois o 0,6% de crescimento observado foi superior ao de outros 13 pases, tais como Coreia do Sul (0,4%), Estados Unidos, onde no houve variao do PIB, Japo (-0,1%), Holanda (-0,2%), Reino Unido e Frana (-0,3%), Alemanha (-0,6%), Espanha (-0,7%), Itlia

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 19

    (-0,9%) e Portugal (-1,8%). O crescimento nesse perodo foi maior, tambm, que o da Unio Europeia, da ordem de -0,5%.

    Entre os pases da Amrica Latina, segundo dados da Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (Cepal), apenas o Paraguai teve desempenho inferior ao do Brasil, de -1,2%. Os dois pases, juntamente com El Salvador (1,6%) e Argentina (1,9%), situaram-se abaixo da mdia do PIB da regio, de 3,0%.

    No Brasil, a variao do PIB em 0,9%, em 2012, deveu-se, sobretudo, ao aumento do valor adicionado dos preos bsicos (0,8%) e dos impostos menos subsdios (1,6%). O aumento em volume do valor dos preos bsicos resultado da combinao entre o aumento, em volume, de 1,7% no setor de Servios, e as redues de 2,3% no setor de Agropecuria e de 0,8% na Indstria.

    Dentro do setor da Agropecuria, verificou-se fraco desempenho da atividade pecuria, e, principalmente, queda da produo anual e perda de produtividade de vrias culturas significativas, como a do trigo (-23,3%), feijo (-19,3%), fumo (-15,6%), arroz (-15,4%) e soja (-12,3%).

    Na Indstria, por sua vez, a atividade com maior crescimento foi a de Produo e Distribuio de Eletricidade, Gs, gua, Esgoto e Limpeza Urbana (3,6%), refletindo o consumo residencial e comercial de energia eltrica. Destacou-se, tambm, nesse setor, a atividade de Construo Civil, com variao positiva de 1,4%. Como contraponto, o subsetor Extrativista Mineral experimentou um encolhimento de 1,1%, decorrente da reduo na extrao de minrio.

    Entre os Servios, verificou-se variao positiva dos Servios de Informao (2,9%), e Administrao, Sade e Educao Pblica (2,8%). Houve crescimento, outrossim, dos subsetores Servios Imobilirios e Aluguel (1,3%) e Comrcio (1,0%).

    PIB e Subsetores - % em 2012

    Serv

    ios

    de

    Info

    rma

    o

    Inte

    rmed

    ia

    o fin

    ance

    ira, p

    revi

    dnc

    ia...

    Prod

    . e d

    istr

    ibui

    o

    deel

    etric

    idad

    e, g

    s e

    gu

    a

    Cons

    tru

    o c

    ivil

    Com

    rci

    o

    Extr

    ativ

    a m

    iner

    al

    Tran

    spor

    te, a

    rmaz

    enag

    em e

    cor

    reioPIB

    Adm

    inis

    tra

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    obili

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    s e

    alug

    uel

    Tran

    sfor

    ma

    o

    3,6

    2,9 2,8

    1,8

    1,4 1,31 0,9

    0,5 0,5

    -1,1 -2,5

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

  • Tribunal de Contas da Unio20

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    PIB - Setores e subsetores (%)

    20122010 2011

    Agrop

    ecu

    ria

    Extr

    ao

    Min

    eral

    Tran

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    Cons

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    Indstria Servios PIB

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

    Taxa Acumulada de Crescimento do PIB Variao em volume em relao ao mesmo perodo do ano anterior (%)

    Setor de Atividade 2011.IV 2012.I 2012.II 2012.III 2012.IV

    Agropecuria 3,9 0,8 1,5 0,8 -2,3

    Indstria 1,6 0,7 -0,4 -0,9 -0,8

    Extrativa Mineral 3,2 2,9 1,7 0,3 -1,1

    Transformao 0,1 -1,1 -2,9 -3,2 -2,5

    Construo Civil 3,6 3,1 2,9 2,3 1,4

    Produo e distribuio de eletricidade, gs, gua, esgoto e limpeza urbana

    3,8 3,5 3,7 3,3 3,6

    Servios 2,7 2,1 1,6 1,5 1,7

    Comrcio 3,4 2,5 1,2 1,1 1,0

    Transporte, armazenagem e correio 2,8 2,0 1,0 0,3 0,5

    Servios de informao 4,9 4,8 3,9 3,4 2,9

    Intermed. financeira, seguros, previdncia complementar e servios relacionados

    3,9 2,4 1,7 0,6 0,5

    Outros Servios 2,3 1,5 0,9 1,0 1,8

    Atividades imobilirias e aluguel 1,4 1,3 1,3 1,3 1,3

    Administrao, sade e educao pblicas

    2,3 2,3 2,4 2,6 2,8

    Valor Adicionado a Preos Bsicos 2,5 1,7 1,1 0,8 0,8

    Impostos lquidos sobre produtos 4,3 3,1 1,8 1,4 1,6

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Contas Nacionais Trimestrais (dados preliminares 4 Trimestre de 2012).

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 21

    A despesa de consumo das famlias, em 2012, alcanou R$ 2,74 trilhes, um aumento de 3,1% em relao ao ano anterior. Esse aumento decorrente do crescimento, em termos reais, de 6,7% da massa salarial dos trabalhadores, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, assim como da variao positiva do saldo de operaes de crdito com recursos livres s famlias. A despesa do consumo da administrao pblica, por sua vez, aumentou 3,2%, totalizando R$944,5 bilhes.

    A formao bruta de capital fixo (FBCF) somou R$ 798,7 bilhes, registrando decrscimo de 4,0%. Essa queda foi influenciada pela reduo de 9,1% em mquinas e equipamentos, correspondente a 50% da FBCF, nada obstante a construo civil, equivalente a 44% da FBCF, tenha se elevado em 1,9%.

    Por fim, verificou-se que as exportaes aumentaram 0,5%, num total de R$552,84 bilhes, enquanto que as importaes foram majoradas em 0,2%, gerando despesas no valor de R$615,77 bilhes. A variao de estoques, por sua vez, foi negativa em R$22,23 bilhes.

    PIB - Componentes da Demanda Taxa acumulada ao longo de cada ano (%)

    35,0

    -15,0Cons.

    FamliasCons.

    Adm. PblicaFBCF Exportao

    Bens e Servios

    ImportaoBens e

    Servios

    PIB

    15,0

    25,0

    -5,0

    5,0

    2009 2010 2011

    -0,6

    7,5

    2,70,9

    35,8

    9,7

    0,2

    -11,5

    21,3

    4,7

    4,0

    -10,3

    3,94,21,9

    3,24,2 4,1

    3,1

    6,9

    11,5

    4,5

    0,5

    -10,2

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Contas Nacionais Trimestrais (dados preliminares 4 Trimestre de 2012).

    2.1.4 Poupana nacional Bruta e Investimento

    A taxa de poupana nacional bruta (em relao ao PIB) foi de 14,7% em 2012, contra 17,2% no ano anterior. A taxa de investimento (capital fixo formao bruta) registrada em 2012 foi de 18,1% do PIB, inferior verificada em 2011, igual a 19,3%.

  • Tribunal de Contas da Unio22

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    Taxa de Poupana e de Investimento (% do PIB)

    Capital fixo - formao bruta em % do PIB

    Taxa de Poupana Nacional Bruta em % do PIB

    94 95 96 97 98 99 2000 01 02 03 04 05 06 07 07 09 2010 11 12

    20,7

    21,2

    15,5

    14,1 13,6

    13,0 13,5

    12,1

    14,0

    14,7

    16,0

    18,5

    17,3

    17,6

    18,118,8

    15,9

    17,517,2

    18,3

    16,9

    17,417,0

    15,7

    16,817,0

    16,4

    14,7

    16,1

    15,9

    16,4

    17,4

    19,1

    18,1

    19,5 19,3

    18,1

    14,7

    Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE).

    2.1.5 Carga tributria nacional

    A carga tributria, em uma acepo econmica, definida como o quociente entre a receita tributria total e o valor do Produto Interno Bruto do pas, em determinado exerccio fiscal. Representa a parcela de recursos retirados compulsoriamente dos indivduos e empresas pelo Estado para financiar o conjunto de atividades do governo.

    Nos clculos realizados nesta anlise, adota-se o critrio de carga tributria bruta (CTB), que considera as receitas tributrias sem dedues das transferncias ao setor privado da economia, como subsdios, benefcios da seguridade social e saques do Fundo de Garantia do Tempo de Servio (FGTS). Quando so feitas essas dedues, obtm-se a carga tributria lquida.

    A carga tributria bruta revela com mais clareza o nus imposto ao contribuinte. Ademais, existem dificuldades metodolgicas para se aferir a carga tributria lquida, como ausncia de informaes seguras sobre subvenes econmicas e sociais, subsdios e at mesmo sobre transferncias de renda do governo para a sociedade, concretizadas nos programas de assistncia, sade e previdncia, sobretudo nas esferas estadual e municipal. O clculo da carga tributria referente a 2012 contou com o apoio tcnico do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea). A autarquia apresentou inmeras sugestes que foram incorporadas ao trabalho, em especial quanto ao clculo da carga tributria estadual e municipal. Alm disso, para evitar distores na comparao com os valores da CTB dos anos anteriores, foram refeitos os clculos a partir de 2008, utilizando-se a mesma metodologia empregada para 2012.

    A estimativa do clculo do coeficiente da carga tributria brasileira em 2012 alcanou 35,41% do PIB, com discreto crescimento em relao ao exerccio de 2011 (0,1 p.p do PIB), conforme se demonstra na tabela a seguir, referente aos valores das receitas tributrias dos entes federados em comparao com o exerccio de 2011.

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 23

    Arrecadao das Receitas Federais, Estaduais, Municipais e Estimativas da Carga Tributria

    R$ milhes

    Tributos 2011Part.

    %% PIB 2012

    Part. %

    % PIB

    Evoluo %

    Da Arrec.Part.PIB

    Tributos Federais 999.752 68,34 24,13 1.044.361 66.98 23,72 4,46 -1,70

    Impostos, Taxas e Contribuies

    903.858 61,78 21,82 923.573 59,24 20,98 2,18 -3,84

    Receita de Dvida Ativa (*) 4.586 0,31 0,11 14.648 0,94 0,33 219,39 200,56

    Outras Contribuies 19.046 1,36 0,48 20.327 1,30 0,46 2,06 -3,95

    Sistema S 14.612 1,00 0,35 15.469 0,99 0,35 5,87 -0,37

    Outras Contribuies Sindicais

    2.700 0,18 0,07 3.331 0,21 0,08 23,36 16,09

    rgos fisc. Prof. regulament.

    1.734 0,18 0,06 1.527 0,08 0,03 -11,98 -17,17

    Contribuio para o FGTS 72.261 4,94 1,74 85.813 5,50 1,95 18,75 11,75

    Tributos Estaduais 375.664 25,68 9,07 414.095 26,56 9,41 10,23 3,73

    Tributos Municipais 87.554 5,98 2,11 100.662 6,46 2,29 14,97 8,19

    Total dos Tributos 1.462.969 100,00 35,31 1.559.118 100,00 35,41 6,57 0,29

    PIB (IBGE) 4.143.013 100,00 4.402.537 100,00 Evol.% PIB 6,26

    Coeficiente Tributrio 35,31 35,41 Evol.% CT 0,29

    Fonte: BGU, Ipea (estados e municpios), Caixa Econmica Federal, e Entidades (Sistema S e Conselhos Federais de Profisses).

    (*) Refere-se Dvida Ativa de impostos, taxas e contribuies.

    Verifica-se que, em 2012, a arrecadao total das receitas federais includas no clculo da carga tributria apresentou um crescimento nominal de 4,46%, em relao ao exerccio de 2011, enquanto no mesmo perodo, o PIB cresceu 6,26%, em termos nominais.

    A comparao, no entanto, mais precisa quando se consideram as variaes em termos reais. Ou seja, tomando-se como parmetro o deflator implcito das contas nacionais, que consiste na variao mdia dos preos no perodo em relao mdia dos preos no perodo anterior (5,35% em 2012 em relao a 2011, segundo dados provisrios do Ipeadata), a arrecadao federal apresentou crescimento real acumulado de 0,70% (RFB, Anlise da Arrecadao das Receitas Federais, dezembro de 2012) e o PIB, de 0,9%, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), em 1 de maro de 2013.

    Assim como a arrecadao federal, os tributos estaduais e municipais apresentaram crescimento no perodo de janeiro a dezembro de 2012, variando, nominalmente, no conjunto, 10,23% e 14,97%, respectivamente.

    O Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios (ICMS) rendeu, em 2012, R$323,6 bilhes aos cofres pblicos, representando alta nominal de 8,86%. O bom

  • Tribunal de Contas da Unio24

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    desempenho do ICMS era algo que vinha sendo apontado pela equipe econmica, como resultado de desoneraes feitas por meio do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e pela extenso da substituio tributria. Segundo os tcnicos da equipe econmica do governo, ao baixar o IPI para bens de consumo como veculos, artigos da linha branca e mveis, o governo, por um lado, estava deixando de arrecadar, mas, por outro, estimulando o consumo, o que refletiria no ICMS.

    Nesse mesmo perodo, os mais de 70 milhes de proprietrios de veculos de todo o pas pagaram R$ 26,9 bilhes de Imposto sobre Propriedade de Veculos e Automotores (IPVA), sendo que o estado de So Paulo apresentou a maior arrecadao, enquanto a menor foi registrada em Roraima. Em mdia, cada brasileiro pagou R$138,76 de IPVA em 2012.

    Nos municpios, a arrecadao do Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e do Imposto sobre Servios (ISS), aumentou, no ano de 2012, em torno de 10% e 16%, respectivamente, mantendo a mesma trajetria de crescimento observada em anos anteriores.

    Por sua elevada participao no coeficiente tributrio (66,98%), os tributos federais influenciam significativamente seu resultado. Nesse item, observa-se que o crescimento de 4,5% em relao ao ano anterior deve-se, principalmente, ao desempenho das receitas da Previdncia Social, que aumentaram R$ 29,9 bilhes em comparao com 2011. Ademais, contribuiu para o crescimento a arrecadao de impostos (aumento de R$7,2 bilhes em IRRF e de R$ 4,8 bilhes em IRPJ), de contribuies (acrscimo de R$ 16,4 bilhes na Cofins e de R$4,4 bilhes no PIS/Pasep), das receitas de dividendos (acrscimo de R$8,1 bilhes) e das receitas diretamente arrecadadas (crescimento de R$6,5 bilhes). Por outro lado, houve reduo de R$6,2 bilhes na arrecadao da Cide e de R$1,7 bilho nas receitas de concesses.

    Alm disso, especialistas econmicos apontam que, dentro da conjuntura de baixo crescimento e elevao das desoneraes federais, com base na observao da arrecadao mensal, houve uma desacelerao na arrecadao federal a partir de junho de 2012, o que contribuiu para um decrscimo de 1,70% dos tributos federais como participao no PIB do ano passado.

    Por fim, em 2012, houve um ajuste de R$23,5 bilhes, para fins de clculo da carga tributria, que foram redistribudos para os anos de 2009 a 2011, por conta da reclassificao dos tributos pagos em virtude da Lei11.941/2009 (Refis da Crise). Ocorre que, apesar de os tributos terem sido arrecadados nos anos de 2009 a 2011, no haviam sido apropriados nas respectivas espcies tributrias, pois os sistemas informatizados da RFB no estavam preparados para isso. Essas receitas estavam, pois, acumuladas em uma natureza a classificar, tendo o ajuste ocorrido apenas em junho de 2012.

    Carga Tributria Brasileira no Contexto InternacionalPara fins de comparao da carga tributria brasileira no mbito internacional,

    apresenta-se, no grfico a seguir, uma classificao por percentual da carga tributria considerando o ano de 2009. Foram selecionados 29 pases, sendo dezenove de economia avanada e dez de economias emergentes ou em desenvolvimento, conforme classificao divulgada pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI) em sua publicao World Economic Outlook.

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 25

    Ranking Carga Tributria 2009

    Venezuela

    Peru

    Colmbia

    Mxico

    Chile

    Uruguai

    China

    EUA

    Coria

    ustralia

    Japo

    Irlanda

    Russia

    Suca

    Portugal

    Espanha

    Israel

    Argentina

    N. Zelndia

    Canad

    Brasil

    Reino Unido

    Alemanha

    Frana

    Finlndia

    Noruega

    Itlia

    Sucia

    Dinamarca

    33,70%

    34,34%

    37,33%

    42,36%

    42,61%

    42,90%

    43,42%

    46,74%

    48,09%

    14,43%

    15,89%

    17,40%

    17,43%

    18,39%

    22,46%

    22,52%

    24,12%

    25,53%

    25,94%

    26,93%

    27,80%

    28,20%

    29,72%

    30,61%

    30,65%

    31,37%

    31,43%

    31,50%

    32,01%

    Fontes: Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), Eurostat, Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (Cepal), FMI e IBGE (Brasil).

    Como se depreende do grfico, a carga tributria brasileira ficou na 9 posio entre os 29 pases pesquisados, superando a de pases desenvolvidos como Sua, Canad, Estados Unidos, Austrlia e Japo.

    Alm disso, a carga do Brasil foi 5% superior da Rssia e mais de 10% superior da China, que juntamente com Brasil e ndia formam o BRIC. Observa-se, tambm, que a carga tributria brasileira superou a de todos os pases da Amrica Latina que compuseram a pesquisa, ficando 3% acima da carga observada na Argentina e 10% superior quela verificada no Uruguai.

    Na comparao entre a renda per capita e a carga tributria dos pases listados, interessante ressaltar que, conforme tabela a seguir, apesar de a carga tributria brasileira ter alcanado a 9 posio, a renda per capita brasileira ainda se encontra na 24 posio. Isso revela um nvel de tributao no pas compatvel com o dos pases mais ricos, mas ainda distante do mesmo nvel de produtividade e renda dessas naes.

  • Tribunal de Contas da Unio26

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    PIB per capita X CTB em 2009

    Pases PIB per capita CT (%) Pases PIB per capita CT (%)

    1. Noruega 76.542,54 42,90% 16. Nova Zelndia 27.292,76 31,50%

    2. Suica 63.579,55 29,72% 17. Israel 26.802,14 31,37%

    3. Dinamarca 56.051,59 48,09% 18. Portugal 22.094,80 30,61%

    4. Irlanda 50.159,82 27,80% 19. Coreia 17.110,09 25,53%

    5. Estados Unidos 45.348,46 24,12% 20. Venezuela 11.382,96 14,43%

    6. Finlandia 45.095,60 42,61% 21. Chile 9.484,02 18,39%

    7. Australia 45.034,38 25,94% 22. Uruguai 9.364,12 22,46%

    8. Suecia 43.403,92 46,74% 23. Rssia 8.545,39 28,20%

    9. Franca 42.017,83 42,36% 24. Brasil 8.360,33 33,70%

    10. Alemanha 40.446,70 37,33% 25. Mexico 8.174,31 17,43%

    11. Canada 39.727,77 32,01% 26. Argentina 7.732,80 31,43%

    12. Japao 39.458,72 26,93% 27. Colombia 5.206,61 17,40%

    13. Reino Unido 35.315,27 34,34% 28. Peru 4.361,44 15,89%

    14. Italia 35.250,81 43,42% 29. China 3.738,95 22,52%

    15. Espanha 32.030,27 30,65%

    Fontes: Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), Eurostat, Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (Cepal), FMI e IBGE (Brasil).

    Quanto composio da carga tributria, verificou-se que o sistema de tributao brasileiro concentra-se nos tributos sobre o consumo de bens e servios, o que tambm ocorre nos pases da Amrica Latina pesquisados. Por outro lado, nos pases desenvolvidos, em geral, os sistemas tributrios privilegiam a tributao sobre a renda e as contribuies para a seguridade social.

    No demais destacar que a concentrao da carga tributria sobre o consumo confere um carter regressivo ao sistema de tributao, ou seja, tende a onerar em maior grau os contribuintes com menor capacidade econmica. Nesse sentido, no foi sem razo que o secretrio executivo do Centro Interamericano de Administraes Tributrias, Marcio Ferreira Verdi, quando da divulgao do relatrio Estatsticas Tributrias na America Latina, em 13/11/2012, opinou pela necessidade de melhora na qualidade da tributao no Brasil, reduzindo impostos incidentes sobre o consumo e aumentando aqueles sobre a renda, tendo em vista que a tributao sobre o consumo tende a agravar a injustia social.

    2.2 PolticA mAcroeconmicA

    2.2.1 Poltica Fiscal

    No mbito do governo federal, a receita primria, lquida de transferncias a estados e municpios, alcanou o montante de R$880,8 bilhes, o que equivale a cerca de 20% do PIB, contra 19,74% em 2011. Quanto despesa primria, o montante foi substancialmente ampliado, alcanando o total de R$804,7 bilhes, ou 18,28% do PIB, contra 17,48% no ano anterior.

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 27

    No tocante s metas fiscais, estabelecidas em valores absolutos, e no mais em percentual do PIB, a Lei de Diretrizes Oramentrias para 2012 (LDO 2012), Lei 12.465/2011, estabeleceu meta de resultado primrio para a Unio em R$ 96,9 bilhes, integralmente atribuda aos Oramentos Fiscal e da Seguridade Social, vez que a meta para o Programa de Dispndios Globais (PDG) foi nula. A meta de resultado primrio, conforme art. 3 da LDO 2012, poderia ser reduzida em at R$40,6 bilhes, relativos aos dispndios do Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) constantes no Oramento Fiscal e no Oramento da Seguridade Social da Unio.

    2.2.2 Poltica Monetria

    A anlise tradicional de execuo de uma poltica pblica em um ambiente de incerteza distingue objetivos, instrumentos, metas intermedirias e indicadores de poltica.

    Os objetivos so os fins ltimos da poltica, tais como inflao e desemprego ou o comportamento do produto. Os instrumentos so as variveis que os formuladores de poltica podem controlar diretamente, tais como as operaes de mercado aberto, as exigncias de reservas requeridas dos bancos comerciais pela autoridade monetria, as alquotas de tributos e as compras governamentais. As metas intermedirias, por sua vez, tais como o comportamento da inflao em doze meses durante o ano calendrio, permitem aferir a eficcia dos instrumentos utilizados pela autoridade incumbida da execuo da poltica. Por ltimo, a avaliao da eficcia da autoridade monetria pelo pblico depende de quo prximo do centro da meta estipulada ficou a inflao, e de seus impactos sobre a estabilizao da produo. Nesse sentido, a meta inflacionria para 2012 foi definida pelo Voto 66/2010 do Conselho Monetrio Nacional (CMN), conforme divulgado pelo extrato da Ata da 921 Sesso, realizada em 22/6/2010, e explicitada no art. 1 da Resoluo BCB n 3.880, de 22/6/2010:

    Art. 1 fixada, para o ano de 2012, a meta para a inflao de 4,5%, com intervalo

    de tolerncia de menos 2,0 pontos percentuais e de mais 2,0 pontos percentuais, de

    acordo com o 2 do art.1 do Decreto n3.088, de 21/6/1999.

    Conforme estabelece o art. 4 do Decreto 3.088/1999, considera-se que a meta foi cumprida quando a variao acumulada da inflao, relativa ao perodo de janeiro a dezembro, situar-se na faixa do seu respectivo intervalo de tolerncia.

    Encerrado o exerccio de 2012, o ndice de preos ao consumidor amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), indicador utilizado para aferio do cumprimento da meta, alcanou 5,84%, valor 1,34% acima do centro da meta e 0,66% abaixo do limite superior. Cumprida, portanto, a meta de inflao para o ano calendrio, situando-se abaixo do valor de 6,5% realizado em 2011.

    O grfico seguinte apresenta uma perspectiva temporal do IPCA, desde a adoo do sistema de metas de inflao como regime de poltica monetria. Ele demonstra que a inflao efetiva situou-se abaixo do centro da meta em 2000, 2006, 2007 e 2009. Nos outros dez anos, a inflao observada ficou acima do centro da meta, sendo que em 2001 e 2002 ultrapassou, inclusive, a faixa superior, descumprindo o objetivo estipulado. Quanto s medidas estatsticas de posio e disperso, a mediana da inflao anual observada para os quatorze perodos foi de 5,94%, enquanto a mdia ficou em 6,7%, com um desvio-padro de 2,39.

  • Tribunal de Contas da Unio28

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    Histrico de Metas, Faixa Inferior e Superior e Inflao Efetiva

    200420032002200120001999

    8,94

    5,97

    7,67

    12,53

    9,30

    2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 20120,0

    2,0

    4,0

    6,0

    8,0

    10,0

    12,0

    14,0

    7,60

    5,69

    3,14

    4,46

    5,90 5,84

    5,91

    6,50

    4,31

    Variao do IPCA Mdia Mvel (2 perodos)Banda Inf. Banda Sup.

    Fonte: IBGE.

    Uma avaliao alternativa mais ampla da variao de preos o denominado deflator implcito do Produto Interno Bruto, que tambm considera os preos implcitos da administrao pblica. uma medida da razo entre o PIB nominal e o PIB real e , assim como o IPCA, calculado pelo IBGE. Por esse critrio de anlise, as medidas de posio e disperso para o mesmo perodo apresentaram mediana de 7,3, mdia de 7,6 e desvio-padro de 2,5. Importante enfatizar que a correlao entre o IPCA e o deflator implcito do PIB foi de 71,5% entre 1999 e 2012.

    A despeito do impulso fiscal expansionista de 2012, conforme especificado na Tabela 1 do boxe Resultado Estrutural do Governo Geral, constante do Relatrio de Inflao de maro de 2013, publicado pelo Banco Central do Brasil (Bacen), o crescimento do PIB foi de 0,9%, inferior aos 2,73% de 2011. Esse resultado ficou aqum do crescimento de 2,7% estimado para a Amrica do Sul, em 2012, pela Comisso Econmica para a Amrica Latina e Caribe (Cepal).

    Quando se desdobram os principais componentes do PIB, constata-se que os dois itens mencionados cresceram, respectivamente, 3,2% e 3,1% em 2012. Em paralelo, o setor de servios, as exportaes e as importaes de bens e servios cresceram, respectivamente, 1,7%, 0,5% e 0,2%. Como contraponto, a indstria, a agropecuria e a formao bruta de capital fixo recuaram, respectivamente, 0,8%, 2,3% e 4,0%. O grfico a seguir ilustra a variao do PIB nos ltimos quatorze anos.

    Histrico de Variao do Produto Interno Bruto

    8

    7

    6

    5

    4

    3

    2

    1

    0

    -120001999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 20122011

    Crescimento Efetivo

    Mdia Mvel (2 perodos)

    0,25

    4,31

    1,31

    2,06

    1,15

    5,71

    3,13

    3,99

    6,09

    5,17

    -0,33

    7,53

    2,73

    0,90

    Fonte: IBGE.

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 29

    Por fim, o prximo grfico apresenta uma srie histrica da variao do PIB e do IPCA. Destaca-se que, no perodo, houve um a correlao negativa de 0,25 entre as mencionadas variaes.

    Histrico de Variao do Produto Interno Bruto e do IPCA

    200420032002200120001999

    8,94

    0,25

    4,31

    1,31

    2,66

    1,15

    5,71

    3,13 3,99

    6,09

    5,17

    -0,33

    7,53

    2,73

    0,90

    5,97

    7,67

    12,53

    9,30

    2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 20120

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    -1

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    8

    7

    6

    7,60

    5,69

    3,14

    4,46

    5,90

    5,84

    5,916,50

    4,31

    IPCA PIB

    Fonte: IBGE.

    Base MonetriaDurante o ano de 2012, a base monetria aumentou cerca de R$19,1 bilhes, o que

    representou uma expanso de 8,9% em relao ao saldo de dezembro de 2011, resultado do aumento de R$24,7 bilhes no montante de papel moeda emitido e da reduo de R$5,5 bilhes nas reservas bancrias.

    O quadro abaixo mostra os fatores que condicionaram referida variao, com destaque, por um lado, para as expanses proporcionadas: i) pelas operaes do setor externo (R$25,9 bilhes), que expressam, principalmente, as transaes de compra e venda de moeda estrangeira realizadas pelo Banco Central do Brasil no mercado interbancrio de cmbio; e ii) pelas operaes com ttulos pblicos federais (R$5,6 bilhes), as quais incluem os ajustes de liquidez efetuados pelo Bacen no mercado monetrio. Ressalta-se, por outro lado, a contrao monetria ocasionada pelas operaes do Tesouro Nacional (R$121,6 bilhes), as quais incluem os saques e depsitos na Conta nica do Tesouro junto ao Bacen, includas as movimentaes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

    Fatores Condicionantes da Base Monetria

    R$ milhes

    PerodoTesouro

    NacionalTt. Publ.Federais

    SetorExterno

    DepsitosInst. Financ.

    Derivativos e ajustes

    Outras contase ajustes

    Var. BaseMonetria

    2010 -51.204 249.513 75.553 -236.911 -1 3.830 40.780

    2011 -125.633 70.196 85.157 -24.388 -707 2.757 7.382

    2012 -121.649 5.653 25.897 118.729 -1.101 -8.393 19.136

    Fonte: Banco Central do Brasil Nota para Imprensa Poltica Monetria Maro/2012.

    (+) Expanso da base monetria / (-) retrao da base monetria.

  • Tribunal de Contas da Unio30

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    Saldo e Prazos das Operaes CompromissadasA principal funo das contrataes de operaes compromissadas realizadas pelo

    Banco Central do Brasil possibilitar o ajuste fino de liquidez da economia (dinheiro em circulao). Contudo, elas podem cumprir papis secundrios, quais sejam, contribuir para a construo de uma estrutura a termo da taxa de juros e enxugar a liquidez provocada por uma recusa do Tesouro de rolar dvida vincenda, cujas propostas no se coadunem com as expectativas de custo do dinheiro.

    Em 2012, o saldo global dos contratos de operaes compromissadas aumentou para R$ 497,5 bilhes, ante o montante de R$ 311,9 bilhes registrado em dezembro de 2011. As operaes de curtssimo prazo, responsveis pelo ajuste fino de liquidez, passaram a apresentar saldo negativo em R$61,9 bilhes, o que significa que tais operaes aumentaram a liquidez da economia ao final de 2012. De outro lado, as operaes com prazo de vencimento mais longo (acima de duas semanas) apresentaram significativo aumento de R$238,1 bilhes (R$559,3 bilhes em 2012, contra R$321,1 bilhes em 2011), o que mostra que as operaes compromissadas tm servido cada vez mais aos propsitos secundrios citados no pargrafo anterior.

    Operaes Compromissadas Prazos de Vencimento

    R$ milhes

    PerodoCurtssimo

    prazo2 semanas a

    3 mesesAcima de3 meses

    Total

    dez/09 31.846 316.634 79.394 427.874

    jun/10 25.853 231.049 93.827 350.729

    dez/10 - 116.509 142.739 259.248

    jun/11 6.924 147.218 167.398 321.540

    dez/11 -9.300 152.092 169.077 311.869

    jun/12 -15.290 300.124 129.832 414.665

    dez/12 -61.850 254.193 305.077 497.500

    Fonte: Banco Central do Brasil Nota para Imprensa Poltica Fiscal Janeiro/2012.

    Em 2012, o percentual da dvida mobiliria na carteira do Bacen comprometido com contratos de operaes compromissadas aumentou cerca de 60% em relao ao ano de 2011, alcanando o valor de 63,8%, ante os 41,5% de dezembro de 2011. Ainda assim, encontra-se em patamar inferior ao comprometimento mximo observado em outubro de 2009, quando alcanou 90,3%. O grfico abaixo mostra o comportamento esperado de referida relao.

    Operaes Compromissadas/Ttulos na Carteira do BCB

    0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

    100%

    jan/0

    4

    maio

    /04

    set/

    04

    jan/0

    5

    maio

    /05

    set/

    05

    jan/0

    6

    maio

    /06

    set/

    06

    jan/0

    7

    maio

    /07

    set/

    07

    jan/0

    8

    maio

    /08

    set/

    08

    jan/0

    9

    maio

    /09

    set/

    09

    jan/1

    0

    maio

    /10

    set/

    10

    jan/1

    1

    maio

    /11

    set/

    11

    jan/1

    2

    maio

    /12

    set/

    12

    Fonte: Banco Central do Brasil Nota para Imprensa Poltica Fiscal Janeiro/2013.

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 31

    Reservas Internacionais e o Resultado do BacenDesde o ano de 2006, os Relatrios sobre as Contas do Governo da Repblica

    tm evidenciado expressivas entradas de moeda estrangeira no pas, intensificadas, principalmente, a partir daquele exerccio. O grfico abaixo mostra o saldo, em US$ milhes, das reservas internacionais depositadas no Banco Central do Brasil ao final de 2012.

    Reservas Internacionais

    US$ milhes400.000

    350.000

    300.000

    250.000

    200.000

    150.000

    100.000

    50.000

    020042003 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    Fonte: Banco Central do Brasil Nota para Imprensa do Setor Externo.

    Para evitar que ocorra forte valorizao do Real frente s demais moedas, o Bacen adquire, no mercado interbancrio de cmbio, a maioria das referidas entradas de divisas. Esse fato, de imediato, produz dois efeitos sobre o patrimnio da autoridade monetria: aumento do ativo reservas internacionais e aumento do passivo base monetria.

    A tabela abaixo mostra as variaes anuais do saldo da base monetria ocasionadas pelas compras de divisas pelo Bacen (operaes do setor externo), desde o ano de 2006.

    Base Monetria 2006 a 2012

    R$ milhes

    Perodo Setor Externo

    2006 74.369

    2007 155.390

    2008 -12.124

    2009 62.937

    2010 75.553

    2011 85.156

    2012 25.897

    Fonte: Bacen Nota para Imprensa Setor Externo Janeiro/2013

    (-) reduo / (+) aumento

  • Tribunal de Contas da Unio32

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    Como o objetivo final da autoridade monetria no adquirir divisas, mas fazer com que a taxa de inflao convirja para o centro da meta de inflao estabelecida pelo Conselho Monetrio Nacional, necessrio, por intermdio de instrumentos de poltica monetria (operaes compromissadas, depsitos compulsrios etc.), reduzir o excedente de Reais levados economia em funo da aquisio das divisas. Caso contrrio, haveria uma presso por aumento de preos. A tabela abaixo mostra os saldos, ao final de cada exerccio, das operaes compromissadas e dos depsitos das instituies financeiras no Bacen.

    Operaes Compromissadas e Depsitos no Bacen 2006 a 2012

    R$ milhes

    PerodoOperaes

    CompromissadasDepsitos das

    Instituies FinanceirasTotal

    2006 60.030 83.165 143.195

    2007 165.813 102.245 268.058

    2008 300.491 55.887 356.378

    2009 427.874 63.292 491.166

    2010 259.248 315.013 574.261

    2011 311.869 371.253 683.122

    2012 497.500 273.987 771.487

    Fonte: Bacen Nota para Imprensa Poltica Fiscal Janeiro/2013.

    Como resultado desse processo, o patrimnio da autoridade monetria apresenta descasamento entre a taxa de remunerao de seus ativos e a de seus passivos. Isso porque, em geral, as obrigaes da autoridade monetria operaes compromissadas, depsitos compulsrios e outras so corrigidas pela taxa Selic ou pela moeda nacional, enquanto seus haveres formados, em sua maioria, por reservas em moeda estrangeira so corrigidos pela variao da taxa de cmbio.

    Significa dizer que o saldo dos ativos da autoridade monetria est mais sujeito a expressivas oscilaes do que seus passivos, em face da possibilidade de variaes significativas da taxa de cmbio, situao que se agrava em pocas de crises internacionais. Dado que o Bacen apura suas receitas e despesas de acordo com o regime de competncia e considerando o descasamento entre seus ativos e passivos, o resultado patrimonial apurado semestralmente pela autoridade monetria passou a sofrer maior volatilidade.

    Assim, em 2008, por intermdio da Medida Provisria 435/2008, posteriormente convertida na Lei 11.803/2008, foi concebida a operao de equalizao cambial, mecanismo destinado a reduzir a volatilidade do resultado patrimonial do Banco Central do Brasil, mediante a transferncia, para o Tesouro Nacional (TN), do resultado financeiro das operaes realizadas pelo Bacen com reservas e derivativos cambiais. A tabela abaixo mostra os valores semestrais do resultado da equalizao cambial, com posio do dia 31 de dezembro de 2012.

  • Relatrio e Parecer Prvio sobre as Contas do Governo da Repblica Exerccio de 2012

    Tribunal de Contas da Unio 33

    Resultado da Equalizao Cambial 2008 a 2012

    R$ milhes

    Item2008 2009 2010 2011 2012

    1 sem 2 sem 1 sem 2 sem 1 sem 2 sem 1 sem 2 sem 1 sem 2 sem

    Ganho - 171.416 - - - - - 90.240 32.210 -

    Perda - 44.798 - - 93.787 - 53.932 - 1.893 - 46.636 - 46.199 - - - 9.900

    Juros1 - 2.776 3.550 - 3.355 - 1.402 -104 - 2.910 - 5.536 - 1.778 - 631

    Semestre2 - 47.574 174.966 - 97.142 - 55.334 - 1.997 - 49.546 - 51.735 90.240 33.988 - 10.531

    Fonte: Bacen Demonstraes Contbeis.

    1 Juros incorridos entre a data da apurao do resultado com equalizao cambial (final de semestre) e a data do efetivo pagamento/recebimento.

    2 Valores (+) representam montante depositado pelo Bacen na Conta nica do TN; valores (-) representam montante coberto pelo TN via emisso de ttulos ao Bacen.

    De 2008 a 2012, as variaes na taxa de cmbio provocaram resultados semestrais positivos para o Bacen, no total de R$ 299,1 bilhes, montante j totalmente depositado pela autoridade monetria na Conta nica do TN. De outro lado, o Bacen recebeu do TN, a ttulo de cobertura do resultado negativo oriundo da equalizao cambial, cerca de R$303,3 bilhes em ttulos pblicos, restando cerca de R$10 bilhes a serem repassados autoridade monetria ao longo de 2013.

    Os ganhos econmicos obtidos pelo Bacen com variaes cambiais requerem ateno cuidadosa na gesto da poltica monetria e na sua coordenao com a poltica fiscal.

    Primeiro, porque, em regra, tais ganhos no so acompanhados pela correspondente contrao da base monetria, ou seja, no momento em que ocorrem, no vm necessariamente seguidos pela respectiva transferncia de recursos financeiros dos agentes econmicos para a autoridade monetria. Ademais, porque ganhos atuais obtidos em razo de variaes errticas da taxa de cmbio podem se transformar, em futuro prximo, em perdas expressivas para a autoridade monetria, e vice-versa.

    Por ltimo, se nos prximos perodos, o saldo das reservas internacionais continuar sua trajetria ascendente e a taxa de cmbio continuar oscilando, poder resultar em aumento do montante das equalizaes cambiais e, consequentemente, do total das transferncias de recursos monetrios do Bacen ao Tesouro Nacional, impactando a coordenao entre as polticas fiscal e monetria.

    2.2.3 Poltica Creditcia

    As operaes de crdito do sistema financeiro s pessoas fsicas e jurdicas, em 2012, com recursos livres e direcionados (provenientes de depsitos compulsrios e programas governamentais), alcanaram R$ 2,36 trilhes, o que corresponde a 53,5% do PIB.

  • Tribunal de Contas da Unio34

    Desempenho da Economia Brasileira em 2012

    Operaes de Crdito como percentual do PIB

    Jan/07

    30,7

    44,446,6

    49,1

    53,5

    34,7

    40,5

    Dez/07 Dez/08 Dez/09 Dez/11 Dez/12Dez/10

    Fonte: Banco Central do Brasil.

    Ao longo de 2012, registrou-se um aumento de 16,2% no total das operaes de crdito em relao ao ms de dezembro de 2011, destacando-se o aumento de 37,6% das operaes realizadas com recursos direcionados voltadas para o setor de habitao, cujos valores passaram de R$186, bilhes, em 2011, para R$256,7 bilhes ao final de 2012.

    As operaes de crdito contratadas com recursos direcionados junto ao BNDES tiveram uma elevao de 12,4% no mesmo perodo, alcanando R$471,8 bilhes ao final de 2012, ante os R$419,8 de 2011.

    Em 2012, do total das operaes de crdito, 37% foram contratadas com recursos direcionados e 63% com recursos livres.

    Operaes de Crdito - Recursos Livres e Direcionados

    R$ trilhes

    0,00

    0,50

    1,00

    1,50

    2,00

    jun/02

    dez/02

    jun/03

    dez/03

    jun/04

    dez/04

    jun/05

    dez/05

    jun/06

    dez/06

    jun/07

    dez/