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Charles de Gaulle
Julian Jackson
Charles de GaulleUma biografia
Tradução:Berilo Vargas
Copyright © 208 by Julian Jackson
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.
Título original A Certain Idea of France: The Life of Charles de Gaulle
Capa Violaine Cadinot
Foto de capa Tallandier/ Bridgeman Images/ Fotoarena
Preparação Diogo Henriques Angela Ramalho Vianna Rachel Botelho Bárbara Reis
Índice remissivo Gabriella Russano
Revisão Eduardo Monteiro Édio Pullig
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)
Jackson, JulianCharles de Gaulle : uma biografia / Julian Jackson ; tradução Berilo Vargas.
– a ed. – Rio de Janeiro : Zahar, 2020.
Título original: A Certain Idea of France (The Life of Charles de Gaulle)Bibliografiaisbn 978-85-378-885-5
. França – Política e governo – Século 20 2. Gaulle, Charles de, 890-970 3. Generais – França – Biografia 4. Presidentes – França – Biografia i. Vargas, Berilo. ii. Título.
20-3583 cDD-944.0836924
Índice para catálogo sistemático: . França : Presidentes : Biografia 944.0836924Maria Alice Ferreira – Bibliotecária – crb-8/7964
[2020]Todos os direitos desta edição reservados àeDitora schwarcz s.a.Praça Floriano, 9, sala 300 — Cinelândia2003-050 — Rio de Janeiro — rjTelefone: (2) 3993-750www.companhiadasletras.com.brwww.blogdacompanhia.com.br facebook.com/editorazaharinstagram.com/editorazahartwitter.com/editorazahar
Sumário
Lista de imagens 9Mapas 4
Introdução 27
parte um De Gaulle antes de “De Gaulle”, 890-940
. Primórdios, 890-908 43
2. “Um remorso que nunca me abandonará”, 908-8 72
3. Reconstruir uma carreira, 99-32 95
4. Deixar uma marca, 932-39 24
5. A Batalha da França, setembro de 939-junho de 940 56
parte Dois Exílio, 940-44
6. Rebelião, 940 89
7. Sobrevivência, 94 23
8. A invenção do gaullismo 262
9. No palco mundial, setembro de 94-junho de 942 280
0. Em luta contra a França, julho-outubro de 942 308
. Lutas pelo poder, novembro de 942-novembro de 943 33
2. A construção de um Estado no exílio, julho de 943-maio de 944 372
3. Libertação, junho-agosto de 944 409
parte três Passagens pelo poder, 944-58
4. No poder, agosto de 944-maio de 945 437
5. De libertador a salvador, maio de 945-dezembro de 946 475
6. O novo messias, 947-55 505
7. No “deserto”, 955-58 546
8. O 8 Brumário de Charles de Gaulle, fevereiro-junho de 958 576
9. Président du Conseil, junho-dezembro de 958 604
parte quatro Monarca republicano, 959-65
20. “Esta questão que nos absorve e paralisa”, 959-62 64
2. Momento decisivo, 962 685
22. A busca da grandeza, 959-63 706
23. Tornar-se global, 963-64 746
24. Monarca modernizador, 959-64 769
25. Intervalo para descanso, 965 803
parte cinco Perto do fim, junho de 968-novembro de 970
26. Sacudir o tabuleiro, 966-67 833
27. Rendimentos decrescentes 860
28. Revolução, 968 878
29. O fim, junho de 968-novembro de 970 92
30. Mito, legado e realizações 94
Nota bibliográfica 959Biografias 97Notas 005Agradecimentos 057Índice remissivo 059Sobre o autor 079
9
Lista de imagens
Itens nos Archives de Gaulle, Paris, são reproduzidos com autorização da família De Gaulle.
Lista de lâminas
. Henri de Gaulle, 886. Archives de Gaulle, Paris/Bridgeman Images2. Jeanne Maillot, segurando uma foto dos quatro filhos, c.920. Archives de Gaulle,
Paris/Bridgeman Images3. Charles de Gaulle com os irmãos, Lille, c.889-900. Archives de Gaulle, Paris/
Bridgeman Images4. Charles de Gaulle e o pai na aula de retórica no Collège de l’Immaculée-Con-
ception, rue Vaugirard, 904-05. Archives de Gaulle, Paris/Bridgeman Images5. De Gaulle como estudante do Lycée Stanislas, 909. Archives de Gaulle, Paris/
Bridgeman Images6. Capa do Journal des Voyages com ilustração para o conto de De Gaulle La Fille
de l’Agha, 6 de fevereiro de 907. Monumento em Le Bourget, 9, cartão-postal. Coleção particular8. Capitão De Gaulle em convalescença, depois de janeiro de 95. Archives de
Gaulle, Paris/Bridgeman Images9. Mapa feito por De Gaulle de sua primeira fuga de Rosenberg, 97. Archives de
Gaulle, Paris/Bridgeman Images0. Casamento de Charles de Gaulle com Yvonne Vendroux, Calais, 6 de abril de
92. Archives de Gaulle, Paris/Bridgeman Images. Capitão De Gaulle lecionando em Saint-Cyr, caricatura de Triomphe, 92. Ar-
chives de Gaulle, Paris/Bridgeman Images2. De Gaulle com Anne na praia em Bénodet, c.933. Archives de Gaulle, Paris/
Bridgeman Images
10 Charles de Gaulle
3. Anne de Gaulle com a governanta Marguerite Potel, na Villa “Les Oliviers”, Argel, 943. Archives de Gaulle, Paris/Bridgeman
4. Capa de Vers l’Armée de Metier, primeira edição francesa, 934. Coleção particular5. Coronel Emile Mayer, 935. Acervo familiar.6. De Gaulle com o presidente Albert Lebrun, 939. Photo12/Alamy7. O gabinete de Paul Reynaud, maio de 940. Roger-Viollet Collection/Getty Images8. De Gaulle na BBC, 940. Musée Nicéphore Niépce, Ville de Chalon-sur-Saône/adoc-
photos9. Cartaz pela França Livre, Londres, julho de 940. Roger-Viollet Collection/
TopFoto20. De Gaulle em Carlton Gardens, Londres, 94. Photo12/Alamy2. De Gaulle jantando com o major-general sir Edward Spears, Londres, verão
de 940. Hulton Archive/Getty Images22. De Gaulle inspecionando tropas francesas em Whitehall, Londres, 4 de julho
de 940. Topical Press/Getty Images23. De Gaulle e Yvonne em sua biblioteca em Rodinghead House, Little Gaddes-
den, perto de Berkhamsted, 94. Bettmann/Getty Images24. Pose para a imprensa no jardim em Rodinghead, 94. Pictorial Press/Alamy25. Falsos documentos de identidade de Jean Moulin na sua chegada a Londres,
94. © Mémorial Leclerc-Musée Jean Moulin/Roger-Viollet/TopFoto26. Legionários das Forças Francesas Livres atacam as linhas alemãs em Bir
Hakeim, Líbia, junho. Museu Imperial de Guerra, Londres. © IWM (E 333)27. De Gaulle com líderes aliados em Anfa, Marrocos, 25 de janeiro de 943. FDR
Presidential Library & Museum (6-465/22)28. O Comitê Nacional Francês, Carlton Gardens, Londres, maio de 943. Apic/
Getty Images29. De Gaulle parte para Bayeux, 4 de junho de 944. adoc-photos/Getty Images30. De Gaulle cumprimenta civis em Bayeux, 4 de junho de 944. Museu Imperial
de Guerra, Londres. © IWM (B 5482)3. Discurso de De Gaulle em Bayeux, 4 de junho de 944. Lt. S J Beadell IWM/
Getty Images32. Desfile na Champs-Elysées comemorando a Libertação de Paris, 26 de agosto
de 944. Robert Doisneau/Gamma-Rapho/Getty Images33. De Gaulle com a multidão na Champs-Elysées, 26 de agosto de 944. © Robert
Capa © International Center of Photography/Magnum Photos34. De Gaulle com o primeiro-ministro Winston Churchill e o ministro das
Relações Exteriores britânico Anthony Eden, Paris, de novembro de 944. AP Photo/Rex Shutterstock
Lista de imagens 11
35. De Gaulle e Churchill, de novembro de 944. Camera Press, Londres36. De Gaulle chega à estação em Moscou, dezembro de 944. Roger-Viollet/TopFoto37. Molotov assina o Tratado Franco-Soviético, de dezembro de 944. Apic/
Getty Images
38. De Gaulle, Antibes, janeiro de 946. The LIFE Images Collection/Getty Images39. De Gaulle fala num comício do RPF, Vincennes, 947. Gamma/Keystone-France/
Getty Images
40. De Gaulle em visita a Lille, 949. Maurice Zalewski/adoc photos4. Madame de Gaulle vai às compras em Morgat, Finistère, junho de 949. Rex
Shutterstock
42. Vista aérea de Colombey-les-deux-Eglises, 956. Ullsteinbild/Getty Images43. Primeiro rascunho das Memórias de guerra, na caligrafia de De Gaulle. Text
© Plon, 1954, reproduzido com autorização da família De Gaulle. Bibliothèque Na-
tionale de France, Paris.
44. Primeira página do L’Echo d’Oran, 5 de junho de 956. Centre de documentation Historique sur l’Algérie, Maroc et Tunisie, Aix-en-Provence
45. Os quatro generais golpistas, Argel, 29 de abril de 96. Hulton Archive/Getty Images
46. Transmissão televisiva de De Gaulle condenando o golpe na Argélia, 23 de abril de 96. Hulton Archive/Getty Images
47. Michel Debré, 959. Maurice Zalewski/adoc-photos48. Georges Pompidou, 958. AFP/Getty Images49. Maurice Couve de Murville com De Gaulle na Polônia, 967. © Bruno Barbey/
Magnum Photos
50. André Malraux com De Gaulle numa exposição de arte mexicana, Paris, 962. Paris Match Archive/Getty Images
5. Presidente Ahmadou Ahidjo, dos Camarões, deixa o Palácio do Eliseu, com Jacques Foccart ao fundo, 967. AFP/Getty Images
52. De Gaulle no monumento à França Livre, Mont-Valérian, 8 de junho de 964. Gamma-Rapho/Getty Images
53. A “panthéonization” de Jean Moulin, Paris, dezembro de 964. RogerViollet/ TopFoto
54. De Gaulle com multidão embevecida, Millau, Midi-Pyrénées, 96. © Henri Cartier-Bresson/Magnum Photos
55. Na campanha eleitoral, Seine-et-Oise, 965. Gamma-Rapho/Getty Images
12 Charles de Gaulle
56. De Gaulle saúda Konrad Adenauer em sua chegada a Colombey, setembro de 958. Ullsteinbild/TopFoto
57. Os De Gaulles em visita aos Macmillans em Birch Grove, East Sussex, novem-bro de 96. Georges Menager/Paris Match Archive/Getty Images
58. Discurso de De Gaulle vetando pedido de entrada da Grã-Bretanha na Comu-nidade Europeia, 4 de janeiro de 963. adoc-photos
59. Visita oficial ao México, março de 964. Paul Slade/Paris Match Archive/Getty Images
60. Visita oficial a Moscou, 966. Rex Shutterstock6. Desfile militar no Estádio Olímpico, Phnom Penh, Camboja, agosto de 966.
Georges Menager/Paris Match Archive/Getty Images62. Visita oficial a Quebec, Canadá, julho de 967. Alain Nogues/Sygma/Getty Images63. Barricadas de rua, Paris, maio de 968. Bettmann/Getty Images64. “Salários leves, tanques pesados”, cartaz mostrando De Gaulle como Hitler, Paris,
maio de 968. Gamma-Rapho/Getty Images65. “Procurado! Charly Grandão”, “mandado” expedido pela Universidade de Caen,
maio de 968. akg-images66. De Gaulle retorna à França proveniente de Baden-Baden, Alemanha, 29 de
maio de 968. Henri Bureau/Sygma/Getty Images67. Manifestação de apoio a De Gaulle, praça do Trocadéro, Paris, 30 de maio de
968. © Bruno Barbey/Magnum Photos68. Os De Gaulles na praia de Kerrynane, condado de Kerry, Irlanda, 4 de maio
de 969. Kennelly Archive, Irlanda (www.kennellyarchive.com)70. France Soir anuncia a morte de De Gaulle, 0 de novembro de 970. Ullsteinbild
Ilustrações de texto
p.42. De Gaulle, 927. Archives de Gaulle, Paris/Bridgeman Imagesp.88. De Gaulle, 942. Rex Shutterstockp.22. Charles de Gaulle, The Army of the Future, edição inglesa, 94. Coleção par-
ticularp.229. Avec ce De Gaulle là, vous ne prendrez rien, cartaz publicado pela Liga Anti-
britânica Francesa, 940. Bibliothèque Nationale, Paris/Bridgeman Imagesp.229. Le vrai visage de la France libre: Le général Micro, fourrier des juifs!, cartaz, 94.
Rex Shutterstock
Lista de imagens 13
p.43. ‘Mon grand!’, charge de autoria de Jean Effel (François Lejeune) no France Soir, 30 de dezembro de 944. Collection Jonas/Kharbine-Tapabor, Paris. © ADAGP, Paris and DACS, Londres, 2018
p.436. De Gaulle, 956. Ullsteinbild/Getty Imagesp.52. Cartaz do discurso de De Gaulle em Estrasburgo, 7 de abril de 947, publi-
cado pelo RPF. Alamyp.530. “Abaixo o fascismo. Viva a República”. Cartaz antigaullista de autoria de Fou-
geron lançado pelo Partido Comunista Francês, 95. Rex Shutterstockp.640. De Gaulle, 959. Jean-Marie Marcel/Getty Imagesp.772. “On engage au Palais”, charge de Roland Moisan em Le Canard enchaîné, 28
de fevereiro. Collection Jonas/Kharbine Tapabor, Paris. © ADAGP, Paris and DACS, Londres, 2018
p.779. “Conférence de presse”, charge de Roland Moisan em Le Canard enchaîné, 968. Collection Jonas/Kharbine-Tapabor, Paris. © ADAGP, Paris and DACS, Londres 2018
p.78. “‘Il me semble avoir entendu, au fond de la salle…’”, charge de Jacques Faizant, 6 de maio de 96. © Espólio de Jacques Faizant
p.832. De Gaulle, 969. Henri Bureau/Corbis/Getty Imagesp.942. Desenho sem título da Marianne e uma árvore tombada, de autoria de
Jacques Faizant, 0 de novembro de 970. © Espólio de Jacques Faizantp.944. Desenho sem título da Cruz de Lorena, de autoria de Jacques Faizant, 2
de novembro de 970. © Espólio de Jacques Faizant
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Hôtel La PérouseHôtel La Pérouse
Square Desaix nº14Square Desaix nº14
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Residências de De Gaulle1890-92: Avenue de Breteuil nº151892-1908: Avenue Duquesne nº241908-14: Place Saint-François-Xavier nº31921-22: Rue de Grenelle nº991922-29: Square Desaix nº141931-37: Boulevard Raspail nº1101944-46: Route du Champ d’Entraînement nº4
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Lyons(12-29 set 1914)(12-29 set 1914)
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Le Mont-Doré(13 Mar. – 7 May 1915)
Le Mont-Doré(13 Mar. – 7 May 1915)
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Dinant(15 Aug. 1915)Dinant(15 Aug. 1915)
Mesnil-les-Hurlus (fev-mar 1915) (fev-mar 1915)
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Paris(c. 20 ago-12 set 1914)(c. 20 ago-12 set 1914)Paris(c. 20 ago-12 set 1914)
Pontavert(Dec. 1915)Pontavert(Dec. 1915) Douaumont
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Seamore Grove no7-8oSeamore Grove no7-8
Grosvenor Square no15Grosvenor Square no15Grosvenor Square no15
O x f o r d S t r e e t
O x f o r d S t r e e t
Frognal no99oFrognal no99
Connaught HotelConnaught Hotel
CommissariatNational de I’Intérieur
CommissariatNational de I’Intérieur
BCRABCRA
Rembrandt HotelRembrandt Hotel
Royal Albert HallRoyal Albert Hall
Força Aérea da França LivreForça Aérea da França Livre
Hyde Park HotelHyde Park Hotel
0 1000 jardas
0 500 m
A França Livre em Londres
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M A R Y L
P A D D I N G T O N
W E S
Grosvenor Square no15
O x f o r d S t r e e t
Frognal no99
Connaught Hotel
Hyde Park Hotel
CommissariatNational de I’Intérieur
BCRA
Rembrandt Hotel
Royal Albert Hall
Força Aérea da França Livre
Seamore Grove no7-8
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H O L B O R NH O L B O R N
Carlton Gardens nº4Carlton Gardens nº4
Serviços de Inteligência FrancesesServiços de Inteligência Franceses
Downing Street nº10Downing Street nº10
St Stephen’s HouseSt Stephen’s House
ParlamentoParlamento
Palácio de BuckinghamPalácio de Buckingham
Abadia de WestminsterAbadia de Westminster
Marinha da França LivreMarinha da França Livre
Rubens HotelRubens Hotel
Bush HouseBush House
Casa de RadiodifusãoCasa de Radiodifusão
S tr a
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S tr a
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The SavoyThe Savoy
The WaldorfThe Waldorf
The RitzThe Ritz
Coq d’OrCoq d’Or
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H O L B O R N
Carlton Gardens nº4
Coq d’OrServiços de Inteligência Franceses
National Gallery
Downing Street nº10
St Stephen’s House
Parlamento
Palácio de Buckingham
Abadia de Westminster
Marinha da França Livre
Rubens Hotel
The Ritz
The Savoy
The WaldorfBush House
Casa de Radiodifusão
Residências de De Gaulle17-20 jun 1940: Seamore Grove nº7-820-30 jun 1940: Rubens Hotel(jul-set 1940: Birchwood Road nº41, Pettswood)out 1940-set 1941: Grosvenor Square nº15set 1941-set 1942: Connaught Hotelset 1942-30 mai 1943: Frognal Lane nº99, Hampstead
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Grosvenor Square no15Grosvenor Square no15Grosvenor Square no15
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Connaught HotelConnaught Hotel
CommissariatNational de I’Intérieur
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Rembrandt HotelRembrandt Hotel
Royal Albert HallRoyal Albert Hall
Força Aérea da França LivreForça Aérea da França Livre
Hyde Park HotelHyde Park Hotel
0 1000 jardas
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Serviços de Inteligência FrancesesServiços de Inteligência Franceses
Downing Street nº10Downing Street nº10
St Stephen’s HouseSt Stephen’s House
ParlamentoParlamento
Palácio de BuckinghamPalácio de Buckingham
Abadia de WestminsterAbadia de Westminster
Marinha da França LivreMarinha da França Livre
Rubens HotelRubens Hotel
Bush HouseBush House
Casa de RadiodifusãoCasa de Radiodifusão
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The SavoyThe Savoy
The WaldorfThe Waldorf
The RitzThe Ritz
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Downing Street nº10
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Marinha da França Livre
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The WaldorfBush House
Casa de Radiodifusão
Residências de De Gaulle17-20 jun 1940: Seamore Grove nº7-820-30 jun 1940: Rubens Hotel(jul-set 1940: Birchwood Road nº41, Pettswood)out 1940-set 1941: Grosvenor Square nº15set 1941-set 1942: Connaught Hotelset 1942-30 mai 1943: Frognal Lane nº99, Hampstead
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TrípoliTrípoli
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LibrevilleLibreville
BrazzavilleBrazzaville
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Paris(Lib. 23–5 Aug.)
(25 Aug.)
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0 100 milhas
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0 100 km
A Libertação da França, junho-novembro de 1944
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Strasbourg(Lib. 23 Nov.)Strasbourg(Lib. 23 Nov.)
Mulhouse(Lib. 21 Nov.)
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Langres(Lib. 13 Sept.)
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Introdução
De Gaulle está em toda parte
Na França, hoje, Charles de Gaulle está em toda parte: em lembranças, em nomes de ruas, em monumentos, em livrarias. No cômputo mais recente, mais de 3600 localidades tinham um espaço público – rua, avenida, praça, rotatória – batizado em sua homenagem. Isso põe De Gaulle à frente de Pas-teur, que ocupa o segundo lugar (300), e de Victor Hugo, o terceiro (2258).1 O espaço mais grandioso de Paris, onde fica o Arco do Triunfo de Napoleão, foi rebatizado como place de l’Etoile-Charles de Gaulle imediatamente após a morte do general. Saindo dali a pé pela Champs-Elysées logo se chega a uma estátua de De Gaulle andando resolutamente na mesma direção. Dobrando então à direita, atravessa-se o Sena para o Hôtel des Invalides, o museu do Exército da França, que abriga um museu à parte dedicado exclusivamente a De Gaulle. Entrar nesse Historial Charles de Gaulle é como cruzar a soleira de um espaço sagrado gaullista.
Quando uma pesquisa de opinião em 200 pediu que os franceses classifi-cassem as figuras mais importantes de sua história, 44% puseram De Gaulle no topo (acumulando 70% das escolhas), bem à frente de Napoleão, que ficou em segundo lugar com 4% (38%).2 Todos os políticos, de esquerda ou de direita, invocam o nome de De Gaulle. Nas eleições presidenciais de 202, ele foi citado como exemplo tanto pelo socialista François Hollande como por seu adversário de direita Nicolas Sarkozy (supostamente gaullista) – e por praticamente todos os demais. Até mesmo o Front National, de extrema direita, cujo fundador Jean-Marie Le Pen foi um visceral antigaullista, agora exalta o legado de De Gaulle. Mas nenhum outro político francês contempo-râneo buscou inspiração em De Gaulle de maneira mais consciente do que Emmanuel Macron, que em sua fotografia oficial como presidente aparece
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diante de uma mesa com um livro aberto em cima: a edição da Pléiade das Memórias de guerra de De Gaulle.
De Gaulle aos poucos se livra das amarras da história da qual foi prota-gonista. Livros recentes incluem uma divertida sátira sobre um encontro na Irlanda entre ele e Jean-Paul Sartre (os dois nunca se encontraram); uma fábula em que se imagina De Gaulle voltando do mundo dos mortos para salvar a tradicional maionese francesa e defender os direitos dos gays; uma tirinha de humor sobre ele na praia; um “Dicionário de um amante de De Gaulle”, cujo autor visita lugares gaullistas como se refizesse os passos de um santo.3
Ninguém poderia prever essa extraordinária unanimidade na França quando De Gaulle deixou o poder, em 969. Ela obscurece o fato de que, ao longo de sua carreira, ele foi uma figura brutalmente desagregadora. Durante seus trinta anos de vida política, De Gaulle foi o personagem mais reveren-ciado da história francesa moderna – e o mais odiado. Em igual medida, foi vilipendiado e idealizado, desprezado e adorado. Outros políticos franceses do século XX foram odiados, mas não com tamanha intensidade. Para al-guns, odiá-lo dava sentido à vida; outros ficavam loucos de fúria. Esta foi a sina do político conservador Henri de Kérillis, que começou como seguidor entusiástico de De Gaulle, rompeu com ele em 942 e passou seus anos de declínio nos Estados Unidos, uma figura arruinada e patética, convencido de que agentes gaullistas o espreitavam em cada esquina, prontos para atacá-lo. O estranho caráter da patologia antigaullista fica evidente já nos títulos de livros publicados de 964 a 970 por um ex-membro da Resistência gaullista, André Figueras, que depois se voltou contra o antigo herói: Charles le dérisoire (Charles, o irrisório), Le Géneral mourra (O general vai morrer), Les Gaullistes vont en enfer (Os gaullistas vão para o inferno), De Gaulle impuissant (De Gaulle, o impotente). Há muito mais nessa veia no catálogo de Figueras. Quando De Gaulle renunciou, em 969, um jornal de extrema direita publicou a seguinte manchete: “A fera está morta, mas o veneno ainda vive.”
O ódio ia além das palavras. De Gaulle foi alvo de cerca de trinta sérias tentativas de assassinato, duas das quais – em setembro de 96 e agosto de 962 – quase foram bem-sucedidas. Para alguns antigaullistas, a fixação em De Gaulle incorporava-se de tal maneira à personalidade que os motivos ori-ginais para desejar matá-lo eram eclipsados pelo ódio que ele inspirava. Isso ocorreu, por exemplo, com André Rossfelder, que planejou a última tentativa
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séria de assassiná-lo, em 964. Como muitos fanáticos antigaullistas, ele o odiava por ter aceitado a independência argelina em 962. Mas, mesmo depois de perdida essa batalha, Rossfelder continuou conspirando para eliminar De Gaulle. Quando lhe perguntaram por quê, ele respondeu: “Porque ele ainda está aí; simplesmente para que eu não tenha mais que pensar no tirano.”4 No outro extremo estavam aqueles cuja reverência por De Gaulle se situava entre a lealdade a um senhor feudal e a fé num líder religioso. Sobre o romancista André Malraux, um gaullista escreveu: “Como todos nós, ele entrou no pro-jeto gaullista como se entra numa religião.”5
Se a vida dos franceses esteve tão apaixonadamente enredada em suas relações com De Gaulle, isso aconteceu porque ele foi o principal ator em duas guerras civis no país no século XX. A primeira delas resultou da derrota da França para a Alemanha em 940, quando o governo do marechal Pétain assinou um armistício com Hitler. Recusando-se a aceitar tal decisão, De Gaulle partiu para Londres a fim de continuar a batalha. Esse ato de desafio fez dele um rebelde contra o governo legal chefiado pela figura mais reveren-ciada da França: os primeiros tiros disparados pelos soldados que apoiaram De Gaulle tiveram como alvo outros soldados franceses, não os alemães. Nos quatro anos seguintes, De Gaulle afirmava de Londres que ele, e não Pétain, representava a “verdadeira” França. Ele retornou ao país em 944, aclamado como herói nacional, e chefiou um governo provisório até renunciar ao poder em janeiro de 946.
Outro conflito explodiu em novembro de 954, quando nacionalistas ar-gelinos lançaram sua campanha para se tornarem independentes da França. A Guerra da Argélia, que durou oito anos, levou De Gaulle de volta ao poder em 958 e culminou na independência argelina quatro anos depois. Embora tenha sido manifestamente uma guerra de descolonização, o conflito teve as características de uma guerra civil. Em termos administrativos, a Argélia era parte da França, sendo “francesa” desde 830, por mais tempo do que a cidade de Nice (francesa desde 860). Os que desejavam reter a região africana gabavam-se de que o Mediterrâneo atravessava a França como o Sena atraves-sava Paris. Muitos dos europeus da Argélia, que somavam mais de milhão de pessoas, viviam no local havia gerações. A Argélia era genuinamente a sua casa, e para eles sua perda foi ainda mais traumática do que a derrota da França para a Alemanha em 940.
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Além do papel central que desempenhou nesses dois conflitos, De Gaulle contestava a forma tradicional de os franceses pensarem sua história e sua política. Após retornar ao poder em 958, ele transformou radicalmente as instituições políticas da França, rompendo com palavras de ordem da tradição republicana herdada da Revolução de 789. Sua visão do lugar da França no mundo, encapsulada no esquivo conceito de “grandeza”, era admirada por alguns e vista por outros como pose nacionalista. Por fim, em maio de 968, no crepúsculo de sua carreira, De Gaulle foi alvo da mais espetacular agitação revolucionária da história francesa do século XX.
Alguns dos que o reverenciaram entre 940 e 944 se opuseram a ele na questão da Argélia; outros se opuseram nos dois conflitos; outros, ainda, o apoiaram em ambos; e, por fim, houve os que a ele se opuseram entre 940 e 944 e apoiaram sua volta ao poder em 958, antes de novamente se voltarem contra ele. O antiamericanismo de sua política externa de grandeza atraía gente de esquerda que ao mesmo tempo se opunha ao seu estilo autoritário de governar. Há certa verdade no dito espirituoso de De Gaulle segundo o qual “todo mundo é, foi ou será ‘gaullista’”.6 Mas também há verdade no comentário de um observador na véspera da eleição presidencial de 965: “À exceção dos ultrafiéis, todo mundo foi, é ou será antigaullista. O pior é que todos somos gaullistas e antigaullistas ao mesmo tempo, e que a divisão atravessa a consciência de cada um de nós.”7
Os admiradores de De Gaulle incluem tanto Henry Kissinger como Osama bin Laden. Ele tem sido comparado por admiradores e detratores a figuras francesas tão diferentes como Carlos Magno, Joana d’Arc, Richelieu, Henrique IV, Luís XIV, Danton, Saint-Just, Napoleão I, Chateaubriand, Na-poleão III, o general Boulanger, Léon Gambetta e Georges Clemenceau; e a figuras não francesas tão diversas como Bismarck, Franco, Kerensky, Mus-solini, Salazar, Mao, Bolívar, Fidel Castro e Jesus Cristo. A amplitude dessas comparações reflete as extraordinárias contradições de De Gaulle: um soldado que passou a maior parte da carreira às turras com o Exército; um conserva-dor que costumava falar como um revolucionário; um homem de paixão que achava quase impossível expressar emoções.
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“No princípio era o verbo?”
Tanto o ódio inspirado por De Gaulle como a adulação atual criam dificul-dades para o biógrafo. Há uma “lenda negra” que deixou suas marcas: meias verdades e calúnias agarram-se à sua memória como cracas. Mas escapar da hagiografia dos dias atuais não é menos difícil. A “desmistificação” sistemática perderia muita coisa, porque, como escreveu Alain Peyrefitte, o ministro da Informação de De Gaulle durante os anos 960, “a verdade do general está em sua lenda”.8 Com isso ele quis dizer que uma das maiores conquistas de De Gaulle foi o mito que construiu em torno de si (o que também é verdade sobre Napoleão). Isso está dito de forma mais poética pelo historiador Pierre Nora, que observou que aqueles que escrevem sobre De Gaulle não conseguem escapar facilmente do contexto de referências que o próprio De Gaulle impôs àqueles que o esquadrinham – “como um quadro de Vermeer, onde a luz que parece iluminar a pintura na verdade vem da própria pintura”.9
No caso de De Gaulle, a “luz” vem de suas palavras. Na epígrafe de um livro que publicou em 932, ele cita o Fausto de Goethe: “No princípio era o verbo? Não, no princípio era o ato.” Com De Gaulle, “verbo” e “ato” são in-separáveis. O “ato” que o lançou em 940 foi um discurso – um discurso que a rigor quase ninguém ouviu. Mas discursos subsequentes tiveram melhor sorte, e para milhões de franceses entre 940 e 944 “De Gaulle” existia como uma voz ouvida no rádio. Nos anos 950, o general construiu sua lenda nas Memórias de guerra. Nos anos 960, quando era presidente da França, costu-mava-se dizer que ele governava pela magia da retórica e pelo domínio que tinha da televisão.
Qualquer biógrafo de De Gaulle se arrisca a ser apanhado como uma mosca na teia de suas palavras. Falando com jornalistas em 966, ele comentou:
As coisas que eu quero que sejam conhecidas, que considero importantes, eu
penso nelas durante muito tempo. Anoto-as. Decoro-as … Isso me custa um
esforço terrível … São as únicas coisas que a meu ver importam. E existem
outras coisas que eu digo, que deixo escapar sem planejamento, sem realmente
ter pensado nelas, sem tê-las aprendido, que falo para ninguém em particular …
Nada disso tem importância ou valor algum para mim. Mas vocês, jornalistas,
também noticiam esses comentários.10
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De Gaulle policiava atentamente esse registro oficial de “coisas que impor-tam”. Além dos quatro volumes de suas Memórias (três volumes de memórias de guerra publicados nos anos 950 e um volume cobrindo os anos 958-62 publicado em 970), ele autorizou a publicação de cinco volumes de discursos selecionados nos quais corrigia obsessivamente a colocação de cada vírgula. Mas essa coleção de discursos deve ser tratada com espírito crítico – o que se pode fazer examinando apenas as seis primeiras páginas. Ela começa com o discurso mais famoso de todos: o de 8 de junho de 940. O que lemos é certamente o discurso que De Gaulle queria fazer; mas, por pressão britânica, as duas primeiras sentenças do discurso que ele de fato proferiu são diferentes. O discurso seguinte na coleção traz a data de 9 de junho de 940. A verdade, porém, é que De Gaulle não fez discurso nenhum em 9 de junho de 940 – porque os britânicos não permitiram. E o suposto discurso de 9 de junho ali publicado contém referências a acontecimentos posteriores a essa data. Por-tanto, deve ter sido escrito depois, e nunca proferido. A coleção, em seguida, nos dá dois discursos que De Gaulle pronunciou em 22 de junho e 24 de junho, mas deixa de fora outro, breve, de 23 de junho, que retrospectivamente De Gaulle preferiu omitir, porque anunciava a formação de um comitê sob sua liderança que jamais viu a luz do dia, em virtude da oposição britânica. Dessa maneira, nas seis primeiras páginas dos discursos oficialmente coligidos de De Gaulle, temos um discurso que foi proferido, mas não na forma em que nos é apresentado; um discurso que nunca foi proferido (nem mesmo escrito no dia em que supostamente foi feito); e a ausência de um discurso de fato proferido.
Após a morte de De Gaulle, seu filho começou a publicar em ordem cro-nológica dez volumes de cartas, cadernos e memorandos dos seus arquivos oficiais e documentos de família. Essa coleção é uma fonte essencial para o estudo de De Gaulle, e supostamente se enquadraria na categoria de docu-mentos “escritos” aceitos pelo próprio general por terem “valor para mim”. Mas esses volumes também têm problemas. Por exemplo, contêm um famoso discurso feito por De Gaulle em 6 de junho de 958, mas no qual faltam as palavras finais “Vive l’Algérie française”. Tenha ou não escrito essas palavras, ninguém nega que ele as pronunciou.
Além da massa de textos escritos já publicados, há uma imensa coleção de conversas registradas. Durante a vida inteira, De Gaulle deu entrevistas não destinadas à publicação para jornalistas de quem gostava. Uma das primeiras
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fontes usadas para estudá-lo (ainda hoje útil) foi uma série de livros produzi-dos quando ele ainda era vivo pelo bem-informado jornalista Jean-Raymond Tournoux, frequente beneficiário das confidências e bons mots de De Gaulle. Philippe, filho do general, diria depois que Tournoux era um homem que escutava conversas pelo buraco da fechadura, mas a verdade é que nesse caso não era preciso, porque a porta tinha sido escancarada pelo próprio De Gaulle, que achava esses encontros extraoficiais vantajosos para os seus objetivos.11 Foi Tournoux quem divulgou pela primeira vez a famosa boutade de De Gaulle
“Como governar um país que tem 258 tipos de queijo?”. Esses comentários tendem a ganhar vida própria, existindo numa espécie de éter, onde nunca se sabe direito o que foi dito ou mesmo se foi dito (o número exato de tipos de queijo, por exemplo, varia imensamente, em diferentes versões do comen-tário). Isso é mais importante no caso da Argélia, sobre o qual De Gaulle fez tantos comentários sentenciosos privados para visitantes tão diferentes nos anos 950 que fica difícil decifrar o que ele de fato pensava.
Após a morte de De Gaulle, a maioria desses comentários de autoria desco-nhecida acabou se revelando “autêntica” por aparecer em outras importantes fontes “gaullianas”: a torrente de livros de memórias e diários de pessoas que trabalharam próximas a ele. Desses, os mais vastos são as 2 mil páginas de conversas – monólogos, mais precisamente – publicadas por Alain Peyrefitte e as 500 páginas de conversas publicadas por Jacques Foccart, conselheiro de De Gaulle para assuntos africanos, que o viu quase todos os dias ao longo dos anos 960. Que importância deve ser atribuída a esse material? Ele não oferece, necessariamente, uma “verdade” maior do que as declarações escritas oficiais ou os comentários extraoficiais para jornalistas. A conversa de De Gaulle era quase sempre uma performance; “ele tocava suas escalas”, como disse um assessor. Mas seria um erro ir para o outro extremo e desprezar esse material só porque De Gaulle não o “escreveu” literalmente. Todas essas fontes nos permitem escutar os diferentes registros de sua voz.
No livro sobre liderança que publicou em 932, De Gaulle escreveu que grandes líderes precisam exibir mistério, manha e hipocrisia. Por outro lado, Stálin – usando-se aqui, é verdade, um padrão de desonestidade difícil de alcançar – comentou com Churchill que De Gaulle era um homem direto. De Gaulle elevou o mistério a uma arte de governar, mas costumava ser mais transparente do que pretendia, ou desejava, ser. É notável a frequência
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com que, apesar de sua reputação de dissimulado, há uma coerência entre as declarações públicas e privadas de De Gaulle – mesmo quando o tom é diferente. Nos últimos anos, historiadores tiveram acesso pela primeira vez aos arquivos do general. Mas isso não altera, fundamentalmente, o nosso conhecimento dele. Seu filho já tinha prestado um bom serviço ao selecionar para publicação os documentos mais importantes. O que ainda nos falta é a correspondência privada de De Gaulle com a família. Parte dela já veio à luz, mas provavelmente há muito mais coisas que talvez ajudem a elucidar esse fenômeno opaco: De Gaulle, o homem privado. Mas, para compreender a carreira política de De Gaulle, não devemos esperar revelações extraordiná-rias que venham a surgir. Nosso desafio é interpretar o material já disponível.
De Gaulle e seus biógrafos
Como os biógrafos de De Gaulle têm lidado com essas questões? A literatura sobre De Gaulle atingiu proporções colossais. Já se escreveu mais sobre ele do que sobre qualquer outra figura da história francesa moderna, exceto Na-poleão. Existe uma instituição, a Fondation Charles de Gaulle, inteiramente dedicada a estudá-lo. Criada logo depois da sua morte, até 20 a Fondation tinha publicado as atas de mais de quarenta conferências a ele dedicadas. Al-gumas dessas conferências examinam momentos particulares de sua carreira; outras tratam de temas como “De Gaulle e a medicina”, “De Gaulle e a ciên-cia”, “De Gaulle e a mídia”, “De Gaulle e o direito”, “De Gaulle e a religião”,
“De Gaulle e os jovens”, e assim por diante. De Gaulle, homem, lenda, símbolo, é agora também uma indústria acadêmica.
Entre as inúmeras biografias, três se destacam. Em primeiro lugar, os três monumentais volumes publicados por Jean Lacouture entre 985 e 988. Ao longo de três décadas, Lacouture foi um brilhante jornalista de esquerda que passou grande parte da carreira cobrindo o Terceiro Mundo como um leal partidário da descolonização. Em 965, durante a presidência de De Gaulle, ele produziu uma curta biografia na qual seu “respeito” pelo De Gaulle de 940, que rejeitara a derrota, e pelo De Gaulle de 962, que aceitara a independência da Argélia, era contrabalançado pela hostilidade à “jactância nacionalista” do De Gaulle “reacionário” de meados da década de 960. Três anos depois, numa
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segunda edição, Lacouture intensificou a crítica, descrevendo De Gaulle como “uma personalidade prisioneira de xenofobia alucinatória”. Embora o secreta-riado de De Gaulle achasse o livro “desagradável” demais para ser mostrado ao chefe, o general era feito de material mais duro. Ao ler o livro, ele fez um comentário inestimável: “O autor certamente não compreendeu toda a dimensão da personalidade.”12
Essa crítica não se aplicaria às 3 mil páginas que Lacouture dedicou a De Gaulle ao voltar ao assunto vinte anos depois – uma expiação de sua irreverência anterior. Àquela altura ele se tornara um biógrafo prolífico, que começara por Nasser e Ho Chi Minh e depois abordara ícones da esquerda francesa como Léon Blum e Pierre Mendès France. Essa escolha de objetos dá uma ideia do panteão esquerdista onde o autor agora tentava enfiar De Gaulle. Lacouture não costumava manifestar constrangimento algum sobre a necessidade de admirar seus biografados, mas, como De Gaulle não era uma escolha inteiramente natural, o livro soa como um diálogo prolongado entre o autor e o objeto. Todo biógrafo de De Gaulle precisa explicar até que ponto ele foi influenciado, quando jovem, pelas ideias do escritor de extrema direita Charles Maurras, cujo jornal L’Action française tinha como missão opor-se à República parlamentar da França. Fosse qual fosse a opinião de De Gaulle sobre Maurras, uma pergunta que precisa ser feita é quando ele se tornou
“republicano”, e que tipo de republicano se tornou. Lacouture passa por cima dessas dificuldades. Por exemplo, ao discutir a atitude de De Gaulle em re-lação à Alemanha de Hitler nos anos 930, ele nos diz que “no grande debate entre ditadura e democracia, De Gaulle não hesitava sobre a decisão a ser tomada”; era um “adversário decidido do fascismo”. Na verdade, De Gaulle, apesar de certamente nunca ter sido “fascista”, não estava, nesse período, especialmente preocupado com o fascismo – ou interessado na democracia. Era, antes e acima de tudo, adversário da Alemanha.13
Quando rotulado de gaullista, Lacouture respondia com irritação que não era “nem um gaullista irredutível, nem um gaullista flexível … mas um firme a-gaullista”. Seu jeito de resumir o assunto era dizer: “Montaigne admirava os romanos – mas de longe, e certamente sem pretender apresentar Catão como modelo para seus concidadãos.”14 “A-gaullista” ou não, não há como ocultar a imensurável admiração e o “entendimento” intuitivo de Lacouture por seu objeto de estudo. Mas essa admiração com frequência tende a criar mitos –
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como em sua descrição do encontro crucial entre De Gaulle e Churchill no número 0 de Downing Street, em 7 de junho de 940:
O grande olho de predador de Churchill tinha reconhecido o “homem do des-
tino” e o governador da França naquele gigante até então taciturno. Já em Briare
[quando se encontraram poucos dias antes] ele examinara atentamente aquela
face que parecia saída de uma saga plantageneta, cingira-a com um elmo … e
a admitira na távola redonda onde os descendentes dos Malboroughs acolhiam
um grupo seleto de cavaleiros.15
É esplêndida prosa de efeito; não é história. Não sabemos se Churchill teve essas alucinações, uma vez que ele nem sequer se dignou a mencionar o encontro com De Gaulle em suas memórias. O mais provável é que o britâ-nico, feliz por receber qualquer francês disposto a continuar lutando, tenha distraidamente feito a De Gaulle uma promessa, sem compromisso, de lhe dar permissão para falar pelo rádio e o despachado o mais depressa possível, para cuidar de assuntos mais importantes.
Ou vejamos agora o relato de Lacouture sobre o discurso feito por De Gaulle em 25 de agosto de 944, dia em que Paris foi libertada:
Essa figura, elevando-se sobre faces voltadas para cima como numa Ascensão de
El Greco, os braços em forma de lira, a face de gigante jogada para trás como
para uma consagração … Ali De Gaulle falava de fato para a nação; era o eco
dos grandes oradores cristãos e dos membros da Convenção convocando um
levante das massas.16
O discurso é de fato comovente, mas foi cuidadosamente calculado, e mui-tos ouvintes então tiveram uma amarga decepção, e é certo que não acharam que De Gaulle estivesse falando para eles ou para a nação. No fim, apesar de toda a verve, há mitificação demais em Lacouture para que seu relato de De Gaulle seja satisfatório.
A segunda grande biografia de De Gaulle é de autoria do jornalista-his-toriador Paul-Marie de la Gorce. Diferentemente de Lacouture, De La Gorce orgulhava-se de ser gaullista, mas de uma estranha subespécie conhecida como “gaullistas de esquerda”.17 Ele escreveu uma primeira biografia em
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965, quando De Gaulle ainda era presidente. De Gaulle leu as provas e fez sugestões e comentários. Em 999, trinta anos depois da morte do general, De La Gorce apresentou uma nova versão do texto, com quase 500 páginas.18 Enquanto Lacouture vive às turras com o seu biografado, De La Gorce sabe muito bem por que reverencia De Gaulle: “Na obra realizada pelo general De Gaulle, a descolonização permanecerá, sem dúvida, como a marca mais indelével deixada por ele na história do século.”19 O autor com frequência confunde o mágico poder da retórica de De Gaulle com a realidade de suas políticas. Para o homem que quase declarou guerra contra a Grã-Bretanha em 945 porque queria defender o Império francês na Síria; cujo governo presidiu um massacre de nacionalistas argelinos em Sétif em 945; que depois arrastou os franceses para uma guerra impossível de vencer a fim de salvar a Indochina Francesa em 946; e que, depois que a França abandonou seu Império africano, imaginou novas e criativas maneiras de preservar a influência na África, a imagem de descolonizador exige sérias ressalvas.
A terceira biografia de De Gaulle – e a mais recente (2007) – não poderia ser mais diferente, salvo no tamanho (mil páginas). O autor, Eric Roussel, adquiriu sua reputação com uma biografia de Jean Monnet, famoso como arquiteto da Comunidade Europeia, partidário do supranacionalismo europeu e atlanticista convicto – ideias às quais De Gaulle tinha aversão. Roussel escre-veu ainda uma biografia laudatória do segundo primeiro-ministro e sucessor de De Gaulle, o pragmático conservador Georges Pompidou. Mas, no fim da vida de De Gaulle, Pompidou afastara-se tanto de seu antecessor que alguns gaullistas o chamavam de o “anti-De Gaulle”.20 Assim, as escolhas biográficas anteriores de Roussel dão uma ideia de suas afinidades e divergências: as de um liberal conservador, federalista europeu e atlanticista. A contribuição trazida por seu livro está no amplo uso que faz de arquivos americanos, bri-tânicos e canadenses e de novos arquivos franceses. Sua visão de De Gaulle é menos francocêntrica do que as de Lacouture e De La Gorce. Das biografias de De Gaulle, é a que conta com a pesquisa mais rigorosa, e está plenamente ciente da “dimensão” da personalidade. Mas, através do acúmulo de peque-nas pinceladas, Roussel pinta um retrato sutilmente negativo. Vejamos como ele trata a renúncia de De Gaulle em janeiro de 946. Conjectura-se muito sobre por que De Gaulle renunciou e como esperava voltar ao poder. O que Roussel nos sugere sobre esse episódio são duas páginas de comentários ca-
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racteristicamente insanos feitos pelo ardoroso gaullista André Malraux ao embaixador britânico. Malraux previa sangue nas ruas e declarou que De Gaulle voltaria como ditador para salvar o Ocidente. Como esse é o único comentário da época sobre a renúncia que Roussel fornece, o leitor é levado a acreditar que isso reflete o pensamento de De Gaulle: “É de duvidar que Malraux se expressasse dessa maneira … sem a concordância, pelo menos tácita, do general.”21 Ou, para citar outro exemplo, quando De Gaulle foi promovido a general em junho de 940, Roussel cita grandes trechos de um artigo elogioso em L’Action française – culpa por associação? – e sugere que o tom ditirâmbico do artigo dá fundamento ao boato de que De Gaulle tinha sido, sob pseudônimo, correspondente militar desse jornal monarquista. Não há provas dessa afirmação improvável.22 Com insinuações sutis desse tipo, Roussel constrói subliminarmente o retrato de De Gaulle como um anacrô-nico nacionalista de direita. Portanto, a melhor biografia do general é também insidiosamente hostil ao biografado.
O campo de batalha De Gaulle
Todo biógrafo deve resistir à tentação de impor uma coerência excessiva ao biografado.23 A tentação é maior ainda no caso de De Gaulle, porque parece haver uma consistência granítica em sua personalidade e em suas crenças. A frase mais famosa que ele escreveu é a que abre suas Memórias de guerra:
“Minha vida inteira [os itálicos são meus] tive certa ideia da França.” Um his-toriador apresentou uma interpretação interessante, que vê na Constituição de 958 a encarnação das ideias católicas liberais que De Gaulle herdou da família no fim dos anos 890 – na suposição de que as ideias políticas de De Gaulle jamais mudaram.24 Mas a base probatória dessa teoria intrigante é tênue. Nos anos 960, diplomatas estrangeiros e políticos franceses, num es-forço desesperado para compreender as imprevisíveis políticas de De Gaulle, costumavam buscar pistas no pequeno livro sobre liderança que ele tinha publicado quarenta anos antes. Mas esse livro não traz nenhuma doutrina, nenhuma opinião explícita sobre política. É o retrato do que deveria ser um líder, e pode ser lido como um autorretrato antecipado – mas não nos diz nada de específico sobre o que um líder deveria fazer. A rigor, uma de suas
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principais mensagens é a importância do fato inesperado na política. Isso levou um astuto (e embevecido) comentarista de De Gaulle a falar do “vazio ideológico do gaullismo: uma postura e não uma doutrina; uma atitude e não um conjunto coerente de dogmas; um estilo sem muita substância”.25
As ambiguidades de De Gaulle não só deixavam as pessoas inseguras sobre como responder a ele em diferentes estágios de sua carreira, como também provocavam muitas conjecturas em torno do que ele acreditava. Foi assim, por exemplo, com um grupo de socialistas franceses que estavam em Londres durante a guerra. Como De Gaulle, eles também se opunham ao marechal Pétain, mas muitos desconfiavam também do general, apesar de perceberem que, gostassem ou não, ele aos poucos se tornava um poderoso símbolo de resistência na França. Os debates sobre a atitude que deveriam ter em relação a ele eram intermináveis. Um dos que decidiram, não sem muita hesitação, lhe dar apoio explicou suas razões durante uma dessas angustia-das discussões: “Mesmo desconfiando de De Gaulle, precisamos lutar para transformar algo que realmente existe [ou seja, De Gaulle], e que representa, goste-se ou não, a realidade da Resistência do povo da França.”26 De Gaulle, claro, não era uma folha em branco, e os que se julgavam capazes de “trans-formá-lo” geralmente sofriam grande decepção, mas às vezes provavam estar certos. De Gaulle pode ter tido certa ideia da França “a vida inteira”, mas nem sempre foi a mesma ideia.
Quando De Gaulle voltou ao poder em 958, ninguém sabia quais eram suas intenções sobre a Argélia, e comentaristas derramaram rios de tinta tentando descobrir o que ele “realmente” pensava. Historiadores e biógrafos faziam o mesmo. A verdade é que, embora tivesse alguma ideia do que não queria fazer na Argélia, De Gaulle era muito receptivo quanto ao resto. Como em 940, ele podia ser transformado pelo contexto. Durante o tenso mês de maio de 958, quando o Exército francês na Argélia se rebelava contra o go-verno de Paris e parecia possível que paraquedistas aterrissassem a qualquer momento na França, Jean Lacouture, na época jornalista do Le Monde, ligou para Jean-Marie Domenach, amigo jornalista que editava a revista Esprit. Do-menach estava preocupado com o que De Gaulle faria se assumisse o poder com o apoio dos militares. Seria necessário entrar numa nova Resistência – dessa vez contra De Gaulle? Lacouture foi tranquilizador: “De Gaulle não é um general, é um campo de batalha.”27 Ele queria dizer que o resultado seria
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determinado não só pelas decisões tomadas por De Gaulle, mas pelas forças políticas sobre as quais ele tinha controle limitado.
Tendo De Gaulle assumido o poder, e a Argélia se tornado independente, o novo estilo de gaullismo que surgiu durante os anos 960 foi resultado não apenas das escolhas feitas pelo próprio presidente, mas daquelas impostas por economistas, outros especialistas e funcionários públicos, muitos dos quais tinham feito oposição ao seu retorno, mas agora achavam que podiam transformá-lo em alguma coisa. Como disse um deles: “De que serve a boa sorte de ter De Gaulle aqui, se essa oportunidade não for aproveitada para resolver … [certos] problemas?”28 Ao longo de sua carreira política, De Gaulle desempenhou com brio o papel de líder carismático, cujo retrato ele mesmo traçara nos anos 920, e abraçou certas ideias fixas sobre o mundo que carre-gou consigo a vida toda. Mas era também uma figura por intermédio da qual os franceses disputavam sua história e sua política, e eles o influenciaram tanto quanto ele os influenciou.29
parte um
De Gaulle antes de “De Gaulle”, 890-940
Não houve um momento sequer em minha vida no qual eu não tivesse certeza de que um dia estaria chefiando a França … Mas as coisas ocorreram de um jeito que eu não tinha previsto. Sempre achei que seria ministro da Guerra, e que tudo o mais viria disso …
De Gaulle, maio de 946, em Claude Mauriac, Un autre De Gaulle, p.99
43
. Primórdios, 890-908
Uma voz de Londres
De Gaulle foi uma voz antes de ser um rosto. Entrou na história através de uma curta transmissão da BBC, a partir de Londres, no começo da noite de 8 de junho de 940. Seis semanas antes, o Exército alemão tinha lançado o seu ataque contra a França. Os franceses foram destruídos com extraordinária rapidez, e em 7 de junho o chefe do governo francês, o marechal Philippe Pétain, anunciou na rádio nacional que ia pedir um armistício à Alemanha. O discurso de De Gaulle no dia seguinte foi um desafio ao derrotismo de Pétain:
Os líderes que há muitos anos estão à frente dos exércitos franceses formaram
um governo.
Esse governo, alegando que nossos exércitos estão derrotados, entrou em
contato com o inimigo para cessar o combate.
Certamente fomos derrotados pelas forças mecanizadas do inimigo, em terra
e no ar.
Infinitamente mais do que seu número, foram os tanques, os aeroplanos, as
táticas dos alemães que nos obrigaram a recuar. Foram os tanques, os aeropla-
nos, as táticas dos alemães que pegaram nossos líderes de surpresa, a ponto de
reduzi-los ao que são hoje.
Mas a última palavra foi dita? Deve a esperança desaparecer? É definitiva a
derrota? Não!
Acreditem em mim, sou alguém que lhes fala com pleno conhecimento dos
fatos, e eu lhes digo que nada está perdido para a França. Os mesmos meios que
nos conquistaram podem um dia nos trazer a vitória.
Pois a França não está só! Ela não está só! Não está só! Há um vasto Império
atrás dela. Ela pode associar-se ao Império britânico, que controla os mares e