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Manifesto de intelectuais e artistas aponta: PF indicia Temer e mais 10 por propina no Porto Pág. 2 Indústria volta a ter ‘crescimento’ negativo pelo terceiro mês: -0,3% Bolsonaro é ameaça franca ao patrimônio civ ili zatório primordial 19 a 23 de Outubro de 2018 ANO XXIX - Nº 3.677 Ibaneis: “Vamos colocar a rede pública de Saúde para funcionar” Nas bancas toda quarta e sexta-feira 1 REAL BRASIL “Estivemos juntos na reconstrução democrática. É preciso defendê-la agora”. Já são 190 mil assinaturas m manifesto lançado à Nação, cientistas, artis- tas, homens e mulheres que se dedicam à cultura, à ciência, ao Direito, afir- mam: “É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro repre- senta uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar for- ças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós”. O manifesto foi ini- ciado por 300 personalidades. Até a noite de quarta, 190 mil brasileiros já o haviam assina- do. “Somos diferentes. Temos trajetórias pessoais e públicas variadas. Votamos em pessoas e Guarda-costa do príncipe estava no esquartejamento de jornalista Chico Buarque, Drauzio Varella, Heloisa Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Pasquale Cipro Neto, Patricia Pilar estão entre os 190 mil que assinaram o manifesto partidos diversos. Defendemos causas, ideias e projetos dis- tintos para nosso país, muitas vezes antagônicos. Mas temos em comum o compromisso com a democracia. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação”. Página 3 Além do cônsul da Arábia Saudita que, segundo vídeo em poder da polícia turca, esteve presente durante a execução do jornalista Jamal Khashoggi, pelo menos cinco dos quinze agentes que o assassinaram são do círculo próximo ao príncipe herdeiro, Bin Salman, um deles, Maher Abdulaziz Mutreb, visto em diversas fotos ao lado prín- cipe, era seu guarda-costa. Os matadores deixaram a Turquia duas horas depois do crime. Há informações, di- vulgadas por jornais locais, de que Khashoggi foi torturado e começou a ser esquartejado quando ainda estava vivo. A polícia turca não conseguiu inspecionar na terça-feira a residência do cônsul saudita, que voltou para Riad. P. 6 O Banco Central (BC) divulgou na quarta-feira (17) o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), registrando uma variação na atividade da economia do país de 0,47% em agosto, na comparação com o mês ante- rior. Tendo como contribui- ção positiva principalmente os resultados trôpegos do setor de serviços - que variou 1,2% positivo em agosto - é difícil crer que o índice do Banco Central, chamado de prévia do PIB, esteja anteci- pando a variação do Produto Interno Bruto do país. Isso porque a participação e o de- sempenho da indústria – que pode garantir verdadeiro e sustentável desenvolvimen- to da economia do país – con- tinua em queda. Em agosto, a produção industrial foi reduzida em 0,3% sobre julho – com destaque para o impacto causado pela queda do setor produtivo paulista, de 0,9%. Página 2 O Ibope divulgou nesta quar- ta-feira (17) a primeira pesquisa do segundo turno para governa- dor de São Paulo. O resultado aponta um empate técnico entre João Dória (PSDB) com 46% e Márcio França cresce 25 pontos após eleição e empata com Dória, que subiu 21 pontos em S. Paulo Márcio França (PSB) com 42% das intenções dos votos totais. Em relação aos votos obtidos na eleição, Márcio França cresceu 25 pontos enquanto Dória subiu 21 pontos. Página 2 AFP ONU alerta que blo- queio do Iêmen pela Ará- bia Saudita ameaça 13 milhões de morte por ina- nição. O cerco, iniciado com os ataques de 2015 se agravou com o ataque ao porto de Hodeidah. Pág. 6 Bloqueio dos EUA-sauditas levam Yêmen a passar fome Um dos nomes mais conhe- cidos do grupo racista america- no Ku Klux Klan (KKK), David Duke comentou a situação da política brasileira em um pro- grama de rádio que foi ao ar no último dia 9, conforme noticiou a BBC. “Ele [Bolsonaro] soa Bolsonaro recebe apoio da KKK e recusa pensando que era piada como nós. E também é um candidato muito forte”, disse Duke, que frequentemente classifica o prêmio Nobel da Paz sul-africano Nelson Man- dela como um “terrorista”. Bolsonaro leu KKK e disse que não queria o apoio. Página 3 Questionado sobre suas propostas para saúde, o candidato a governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), criticou, du- rante entrevista ao DF2, da Rede Globo, a preferência da atual gestão com planos privados ao invés de inves- timento no serviço público. “Nós temos uma situação dos servidores públicos mui- to caótica. E está se gastan- do muito com o pagamento de plano de saúde e você poderia investir na saúde pública”, disse. Página 3 AFP Site Ibaneis

Chico Buarque, Drauzio Varella, Heloisa Buarque de …...Brasília (DF): SCS Q 01 Edifício Márcia, sala 708 - CEP 70301-000 Fone-fax: (61) 3226-5834 E-mail: [email protected] Belo

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Page 1: Chico Buarque, Drauzio Varella, Heloisa Buarque de …...Brasília (DF): SCS Q 01 Edifício Márcia, sala 708 - CEP 70301-000 Fone-fax: (61) 3226-5834 E-mail: hp.df@ig.com.br Belo

Manifesto de intelectuais e artistas aponta:

PF indicia Temer e mais 10 por propina no PortoPág. 2

Indústria volta a ter ‘crescimento’ negativo pelo terceiro mês: -0,3%

Bolsonaro é ameaça franca ao patrimônio civilizatório primordial

19 a 23 de Outubro de 2018ANO XXIX - Nº 3.677

Ibaneis: “Vamos colocar a rede pública de Saúde para funcionar”

Nas bancas toda quarta e sexta-feira

1REAL

BRASIL

“Estivemos juntos na reconstruçãodemocrática. É preciso defendê-laagora”. Já são 190 mil assinaturas

m manifesto lançado à Nação, cientistas, artis-tas, homens e mulheres que se dedicam à cultura, à ciência, ao Direito, afir-mam: “É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro repre-

senta uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório

primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar for-ças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós”. O manifesto foi ini-ciado por 300 personalidades. Até a noite de quarta, 190 mil brasileiros já o haviam assina-do. “Somos diferentes. Temos trajetórias pessoais e públicas variadas. Votamos em pessoas e

Guarda-costa do príncipe estava no esquartejamento de jornalista

Chico Buarque, Drauzio Varella, Heloisa Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Pasquale Cipro Neto, Patricia Pilar estão entre os 190 mil que assinaram o manifesto

partidos diversos. Defendemos causas, ideias e projetos dis-tintos para nosso país, muitas vezes antagônicos. Mas temos em comum o compromisso com a democracia. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação”. Página 3

Além do cônsul da Arábia Saudita que, segundo vídeo em poder da polícia turca, esteve presente durante a execução do jornalista Jamal Khashoggi, pelo menos cinco dos quinze agentes que o assassinaram são do círculo

próximo ao príncipe herdeiro, Bin Salman, um deles, Maher Abdulaziz Mutreb, visto em diversas fotos ao lado prín-cipe, era seu guarda-costa. Os matadores deixaram a Turquia duas horas depois do crime. Há informações, di-

vulgadas por jornais locais, de que Khashoggi foi torturado e começou a ser esquartejado quando ainda estava vivo. A polícia turca não conseguiu inspecionar na terça-feira a residência do cônsul saudita, que voltou para Riad. P. 6

O Banco Central (BC) divulgou na quarta-feira (17) o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), registrando uma variação na atividade da economia do

país de 0,47% em agosto, na comparação com o mês ante-rior. Tendo como contribui-ção positiva principalmente os resultados trôpegos do setor de serviços - que variou

1,2% positivo em agosto - é difícil crer que o índice do Banco Central, chamado de prévia do PIB, esteja anteci-pando a variação do Produto Interno Bruto do país. Isso

porque a participação e o de-sempenho da indústria – que pode garantir verdadeiro e sustentável desenvolvimen-to da economia do país – con-tinua em queda. Em agosto,

a produção industrial foi reduzida em 0,3% sobre julho – com destaque para o impacto causado pela queda do setor produtivo paulista, de 0,9%. Página 2

O Ibope divulgou nesta quar-ta-feira (17) a primeira pesquisa do segundo turno para governa-dor de São Paulo. O resultado aponta um empate técnico entre João Dória (PSDB) com 46% e

Márcio França cresce 25 pontos após eleição e empata com Dória, que subiu 21 pontos em S. Paulo

Márcio França (PSB) com 42% das intenções dos votos totais. Em relação aos votos obtidos na eleição, Márcio França cresceu 25 pontos enquanto Dória subiu 21 pontos. Página 2

AFP

ONU alerta que blo-queio do Iêmen pela Ará-bia Saudita ameaça 13 milhões de morte por ina-nição. O cerco, iniciado com os ataques de 2015 se agravou com o ataque ao porto de Hodeidah. Pág. 6

Bloqueio dosEUA-sauditas levam Yêmen a passar fome

Um dos nomes mais conhe-cidos do grupo racista america-no Ku Klux Klan (KKK), David Duke comentou a situação da política brasileira em um pro-grama de rádio que foi ao ar no último dia 9, conforme noticiou a BBC. “Ele [Bolsonaro] soa

Bolsonaro recebe apoio da KKKe recusa pensando que era piada

como nós. E também é um candidato muito forte”, disse Duke, que frequentemente classifica o prêmio Nobel da Paz sul-africano Nelson Man-dela como um “terrorista”. Bolsonaro leu KKK e disse que não queria o apoio. Página 3

Questionado sobre suas propostas para saúde, o candidato a governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), criticou, du-rante entrevista ao DF2, da Rede Globo, a preferência da atual gestão com planos privados ao invés de inves-timento no serviço público. “Nós temos uma situação dos servidores públicos mui-to caótica. E está se gastan-do muito com o pagamento de plano de saúde e você poderia investir na saúde pública”, disse. Página 3

AFP

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Rejeição ao projeto poderá inviabilizar as 4 privatizações realizadas por Temer

Propina dos por tos: Temer e mais 10 são indiciados pela Polícia Federal

Segundo a pesquisa, Dória aparece com 46% e M. França com 42%

Senado barra PL que privatiza 6 distribuidoras da Eletrobrás

P or 34 votos a 18, o Plenário do Senado rejeitou na terça-feira (16) o PLC

77/2018, que permitiria a privatização de seis distri-buidoras de energia con-troladas pela Eletrobrás.

“O povo do meu estado não quer essa privatiza-ção. Como o Senado pode votar um projeto que pe-naliza o povo do Amazo-nas?”, questionou o sena-dor Eduardo Braga, sobre a proposta de entrega da Amazonas Distribuidora de Energia.

Parlamentares da Re-gião Norte se posiciona-ram contrários à privati-zação das distribuidoras, no valor ínfimo de R$ 50 mil, cada uma.

Na verdade, quatro des-sas distribuidoras já foram entregues: Companhia de Eletricidade do Acre (Ele-troacre), Centrais Elétri-cas de Rondônia (Ceron) e a Boa Vista Energia, que atende Roraima, privati-zadas no último dia 30 de agosto em leilão promovi-do pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-mico e Social (BNDES). Em julho, já havia sido vendida a Companhia de Energia do Piauí (Cepisa).

Além dessas, o gover-no pretendia vender a Amazonas Energia e a Companhia Energética de Alagoas (Ceal).

O senador Eduardo Bra-ga disse que a rejeição do projeto impossibilita a con-cretização da privatização das outras distribuidoras vendidas neste ano, no Acre, Rondônia, Roraima e Piauí. “Foi a decisão mais acertada do Senado da República. Diante da insegurança jurídica que significa a não aprovação desse projeto de lei, muito provavelmente, não haverá a da assinatura dos [ou-tros] contratos”, afirmou.

Na avaliação do Insti-tuto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Ener-gético (Ilumina), é falso o alarde do governo Temer de que a não privatiza-ção das distribuidoras da Eletrobrás vai implicar em aumento das tarifas

de energia. O fato é que 25 geradoras ou distribui-doras foram privatizadas na década de 90, como Eletropaulo, Cerj, CPFL e parte da Cesp - e as tarifas aumentaram: “De 1995 até o ano 2000, [houve] um aumento de 60% acima da inflação. Estendemos os dados até 2004 porque, entre 2003 e 2004 [no go-verno Lula] ocorreram aumentos de mais de 30% nas tarifas residenciais em apenas um ano”.

O setor elétrico é estra-tégico ao desenvolvimento. O fato de hoje estar desor-ganizado, com tarifas de escorchas que comprome-tem a renda da população é um exemplo cabal de que as políticas do PSDB e PT não de diferem em nada.

Os problemas no setor começaram com as privati-zações durante a adminis-tração tucana, que condu-ziram ao apagão em 2001. Para não ficar por baixo, a administração petista não só manteve o modelo tucano como editou a Me-dida Provisória 579/2012, desagregando ainda mais a geração, transmissão e distribuição de energia.

A partir de 2015, todos os custos do setor foram transferidos integralmen-te à população. Conforme números da Aneel, em 2014, os encargos signifi-cavam 6% nas tarifas. Em 2017, essa participação chegou a 16%.

Temer seguiu na mesma batida com as bandeiras tarifárias, que oneram quem consome mais ener-gia. E para piorar, quer privatizar todo o grupo Eletrobrás, promovendo um verdadeiro desmonte, com redução de inves-timento, demissões e as privatizações das distri-buidoras a preço de carro usado: míseros R$ 50 mil.

A Federação Nacional dos Urbanitários também comemorou a “vitória da categoria”, destacando que os trabalhadores, a todo o tempo, pressio-naram os parlamentares contra a privatização das empresas.

Projeto foi rejeitado no plenário por 34 votos contra e 18 a favor

Monarca bolsonarista destila ódio a direitos

O Ibope divulgou nesta quarta-feira (17) a primei-ra pesquisa do segundo tur-no para governador de São Paulo. João Dória (PSDB) ficou com 46% e Márcio França (PSB) aparece com 42% das intenções dos vo-tos totais. 10% dos eleitores disseram que votam nulo ou branco e 2% não sabe em quem vai votar.

Considerando os votos válidos, Dória tem 52% e França chega a 48%. Segun-do o Ibope, os dois candida-tos já aparecem tecnicamen-te empatados, consideran-do-se a margem de erro da pesquisa, que é de 3% para mais ou para menos.

Márcio França chegou

em segundo lugar no pri-meiro turno com uma diferença de mais de 10% em relação o primeiro co-locado. No primeiro turno, Dória teve 6.431.555 de votos, ou 24,81% dos votos totais (25.921.320, fora as abstenções). E Márcio França teve 4.358.998 votos, ou 16,82% dos vo-tos. Agora, com 46% das intenções de voto, Dória cresceu 21 pontos percen-tuais, enquanto Márcio França, com 42%, cresceu 25 pontos, quatro a mais que o adversário.

Ainda segundo a pes-quisa, a rejeição de Dória é mais alta. 32% dos elei-tores consultados dizem

que não votariam nele de jeito nenhum. Para França esse índice é de apenas 20%.

A convicção do voto é praticamente idêntica entre os dois candidatos. 27% votariam com certeza em Dória e 26% estão con-victos no voto em Márcio França. Já o potencial de voto está mais para Fran-ça do que para Doria. 23% dizem que podem votar em França contra apenas 20% em Doria.

O levantamento foi rea-lizado entre os dias 15 e 17 de outubro e foram ouvidos 1.512 eleitores em 79 muni-cípios e a pesquisa tem um nível de confiança de 95%.

Múmias saídas de sarcófagos resolve-ram bafejar que o passado imperial, agrá-rio e escravista era o melhor dos mundos. Para esses açoitadores de negros, com sua prepotência, a vida naquela época, real-mente, era muito boa.

O defensor desses disparates, é nada menos que o filhote de monarca, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, herdeiro do trono, eleito deputado federal por São Paulo. Navegando na marola fascista, ele achou que tem espaço para sair das catacumbas e criticar, na Folha de São Paulo desta terça-feira (16), os ventos do Renascimento e todos os “progressistas” contemporâneos com sua “busca aflita por justiça social”.

Ele não está falando de progressistas de períodos recentes, criticando esse ou aquele avanço obtido no final do século XX ou início deste século. Ele está falando no geral de “mandos e desmandos” das leis. Ele é um advogado da barbárie, da lei das selvas, das trevas. “O aprendizado para todos é que os avanços da sociedade se devem mais em função das ações da própria sociedade, e não pelos mandos e desmandos da legislação”, reclama o mo-narquista. Ou seja, cada um por si e nada de poder público, nada de civilização e de direitos sociais.

Onde já se viu aprovar uma lei como a Lei Áurea, por exemplo? Onde já se viu leis protegendo direitos sociais? É o fim do mundo!

Para o nobre, os direitos individuais, de preferência os dele, têm que estar acima de qualquer outra coisa. “No Brasil de hoje, vemos como o direito de classes, agindo acima dos direitos individuais, exacerba a insegurança jurídica, não cria estabili-dade social e termina por não proteger as minorias que visa favorecer”, reclama. A “segurança jurídica” dele deve estar nos pelourinhos e a estabilidade, nas lápides dos cemitérios. Produziu um livro dizendo que a desgraça do Brasil são os direitos sociais.

Por falar em direito individual, o mo-narca acha que é um absurdo, por exem-plo, definir em lei coisas como o fim da escravidão, décimo terceiro e o valor do salário mínimo. Isso seria um sacrilégio. Um “arbítrio dos progressistas”. Mas, certamente, ele não abre mão da lei que definiu o laudêmio.

Lei para salário não pode, mas o laudê-miozinho todo mês é sagrado. Para os que não sabem, laudêmio é uma mordomia vitalícia recebida pelos parasitas da família real. Essa excrescência sobreviveu à Repú-blica. Sem fazer nada, sem produzir um pa-rafuso sequer, eles recebem mensalmente só por terem parentesco, mesmo distante, com D. Pedro e a família real.

Esse dinheiro, que vai para o bolso dos descendentes da decrépita monarquia, vem de impostos cobrados da população na cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. A Companhia Imobiliária de Petrópolis (CIP), empresa da família real que administra o laudêmio, estima que a média dos recursos recebidos por cada “nobre” seria de cerca de R$ 5 mil. Cinco vezes o salário mínimo! Sem fazer nada.

Até hoje, os “sangue azul”, afastados do poder há 129 anos, vivem de forma cômoda. Recebem o laudêmio – imposto sobre as transações de imóveis na região do centro histórico de Petrópolis. Em Petró-polis, existem cinco terras aforadas (área de concessão de privilégios), e a principal delas pertence à família real. A cada venda de apartamento no centro da cidade, 2,5% do valor são destinados à nobreza.

Se o nobre paulista recebe a sinecura real não sabemos porque houve um arran-ca-rabo na família na década de 1940. Eles se estapearam pelo dinheiro e os nobres de Petrópolis ficaram com a receita do laudêmio. Precisávamos ver, na declaração de bens do parlamentar, se ele declarou a mordomia ou não.

*Leia a matéria na íntegra em horadopovo.com.br

Na tentativa de an-tecipar os resultados do Produto Interno Bruto (PIB), o Banco Central (BC) divulgou na quarta-feira (17) o chamado Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), registrando uma variação positiva na atividade econômica do país de 0,47% em agosto na com-paração com o mês anterior.

Após as grandes oscila-ções de maio (-3,3%) para junho (+3,45%) e julho (+0,65%), o índice que é considerado uma “prévia” do PIB (este calculado oficialmente pelo Institu-to Brasileiro de Geogra-fia e Estatística – IBGE) apresentou um resultado parcial para o ano positivo em 1,28% - sem o ajuste sazonal.

A questão é que o IB-C-Br nem sempre mostra proximidade com os dados oficiais, uma vez que reflete as “tendências” do mercado e calcula a atividade de uma forma diferente do IBGE (muito menos complexa), levando em conta apenas as trajetórias variáveis dos setores da economia e não a somando os bens e serviços produzidos no país.

Tendo como contribuição positiva principalmente os resultados trôpegos do setor de serviços - que permanece no limbo da recessão - é difí-cil crer que os dados do BC tenham qualquer conexão com a realidade de desem-prego elevado e desmonte do setor produtivo.

Para o IBGE, que divul-gou recentemente o resul-

tado do PIB do segundo trimestre de 2018, o cresci-mento da economia foi pra-ticamente nulo (0,2%) nos três meses que antecedem a aposta otimista do BC.

SERVIÇOSOs resultados do setor de

serviços, também divulga-dos pelo IBGE, representa-ram a principal contribuição positiva para composição do índice prévio do BC. Em agosto frente ao mês ante-rior, houve crescimento de 1,2%. Contudo, o setor que tem hoje mais peso tem na formação do PIB, fica com resultado de -0,5% no acu-mulado de 2018.

“Em 2018, dos oito meses conhecidos, foram cinco de queda ou estabilidade e três de aumento do faturamento real do total dos serviços. Há poucos sinais, contudo, de que este resultado um pouco mais robusto vá dar início a uma se-quência de altas sucessivas”, avaliou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento In-dustrial (IEDI).

“Por ora, continua em recessão. Corre-se o risco, então, de os serviços terem seu quarto ano seguido de perda”.

Enquanto isso, a parti-cipação e o crescimento da indústria – que garantem verdadeiro e sustentável de-senvolvimento da economia do país – continua patético.

Em agosto, os dados foram de queda da produção indus-trial de 0,3% sobre julho – com destaque para o impacto causado pela queda do setor produtivo paulista, de 0,9%.

Michel Temer e outras 10 pessoas, incluindo sua filha Maristela, foram indiciados pela Polícia Federal (PF) por corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa no âmbito da investigação sobre o chamado “Decreto dos Portos”.

Após 13 meses de investi-gação, o inquérito foi encami-nhado ao Supremo Tribunal Federal na terça-feira (16). O ministro Luís Roberto Bar-roso, relator do caso no STF, enviou o resultado das inves-tigações à Procuradoria Geral da República (PGR), que tem um prazo de até 15 dias para se pronunciar a favor ou contra o oferecimento de denúncia.

O titular do inquérito, de-legado Cleyber Malta Lopes, também pediu a prisão de João Baptista Lima Filho, amigo de longa data de Temer, além de outras três pessoas: Carlos Alberto Costa, Maria Rita Fra-tezi (mulher do coronel Lima) e Almir Martins Ferreira. A PF requereu ainda o bloqueio de bens de todos os indiciados.

A investigação apurava se o setor portuário pagou propina em troca de um decreto, assi-nado pelo chefe do executivo no ano passado. A PF concluiu que, com a edição do documen-to, Temer beneficiou a empresa Rodrimar S/A, que atua no por-to de Santos, e outras empresas do setor como o Grupo Libra em troca de vantagens indevidas.

Em maio de 2017, o pre-sidente modificou o decreto 8.033, criado em 2013 pela sua antecessora, Dilma Rousseff,

para regulamentar a explora-ção de instalações portuárias no país. Uma das principais mudanças foi a alteração do artigo 19, que ampliou de 25 anos para 35 anos os prazos dos contratos de concessões e arrendamentos e permitiu que eles possam ser prorro-gados até o limite de 70 anos.

A suspeita do recebimento de vantagens indevidas em troca do decreto veio à tona após o ex-deputado federal e ex-assessor especial de Michel Temer no Palácio do Planalto, Rodrigo Rocha Loures, ter sido gravado em uma conversa telefônica com Temer na qual perguntava sobre o andamento do de-creto. Loures ficou conhecido por ter recebido uma mala com R$ 500 mil da JBS, do empresário Joesley Batista.

A PF também investigou uma reforma feita na casa da filha, Maristela Temer. O imóvel passou por obras en-tre 2013 e 2015 e a suspeita é de que pelo menos R$ 1 milhão gasto na obra tenha vindo do setor portuário.

Segundo relatório final da Polícia Federal, Michel Temer recebeu diretamente R$ 5,9 milhões de propina no setor portuário. A PF afirma que “o setor portuário sempre foi área de influência e interesse do MDB e do pre-sidente”.

O ministro Luís Roberto Barroso proibiu os alvos de pedido de prisão de deixa-rem o país, mas aguardará manifestação do MP para

decidir sobre bloqueio de bens e pedidos de prisão.

No despacho, ele cita que, de acordo com o relatório, “fo-ram produzidas, no âmbito do inquérito, provas de naturezas diversas, que incluíram colabo-rações premiadas, depoimen-tos, informações bancárias, fiscais, telemáticas e extratos de telefone, laudos periciais, informações e pronunciamen-tos do Tribunal de Contas da União, bem como foram apurados fatos envolvendo propinas em espécie, propi-nas dissimuladas em doações eleitorais, pagamentos de des-pesas pessoais por interpostas pessoas – físicas e jurídicas –, atuação de empresas de fachada e contratos fictícios de prestação de serviços, em meio a outros”.

Veja a lista completa dos indiciados:Michel Miguel Elias Temer Lulia / Maristela de Toledo Temer Lulia / João Baptista Lima Filho / Maria Rita Fra-tezi / Rodrigo Santos da Rocha Loures / Almir Martins Fer-reira (contador da Argeplan, empresa que pertencia ao coronel Lima) / Carlos Alberto Costa (sócio da Argeplan e ex-sócio da AF Consult Brasil, com Lima) / Carlos Alberto Costa Filho (ingressou na AF Consult do Brasil, após saída de seu pai) / Antônio Celso Grecco (presidente do grupo Rodrimar) / Ricardo Conrado Mesquita (diretor da Rodrimar) / Gonçalo Borges Torrealba (principal executivo do Grupo Libra)

São Paulo: Márcio França e Dória estão tecnicamente empatados, aponta Ibope

IBC-Br: PIB rasteja e varia 0,47% no mês de agosto

VALDO ALBUQUERQUE

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3POLÍTICA/ECONOMIA19 A 23 DE OUTUBRO DE 2018 HP

Artistas e intelectuais repudiam o atraso bolsonarista no país

Entre os que assinam o manifesto “Pela Democracia e pelo Brasil” estão Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilber to Gil, Cláudia Abreu, Eliane Giardini, Chico Diaz, Alexandre Nero, Hélio Santos, Wagner Moura, Draúzio Varella, Walter Salles, Walter Casagrande e outros

“Vamos colocar a rede pública de saúde para funcionar”, diz Ibaneis

Texto alerta para “candidaturas que flertam com o autoritarismo”

Dom Mauro Morelli defende CNBB e diz que da boca de Jair Bolsonaro “jorram asneiras e impropérios”

Jorge William/AOGCandidato do MDB ao governo do DF

Bolsonaro diz que os ricos estão no sufoco e rejeita taxá-los

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Cid Gomes pede “mea culpa”, “desculpas” e “humildade” do PT e recomenda voto em Haddad

Reprodução/DF2/TV Globo

Bolsonaro recebe o apoio entusiásticodo chefe do grupo racista Ku Klux Klan

Questionado sobre suas propostas para saúde, o candidato a governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), criticou, du-rante entrevista ao DF2 da Rede Globo, a pre-ferência da atual gestão com planos privados ao invés de investimento no serviço público.

“Nós temos uma situação dos servidores públicos muito caótica. E está se gastando muito com o pagamento de plano de saúde e você poderia investir na saúde pública. Vou dar um exemplo aqui: no caso da Polícia Militar. Existe o Hospital da Polícia Militar construído e equipado. E o governador, ao invés de abrir o hospital que poderia estar atendendo inúmeras pessoas e tirando das filas dos hospitais, mas a opção foi pagar R$ 28 milhões para uma empresa privada. Aí está o erro”, declarou.

Ibaneis destacou que “antes de construir qualquer hospital, nós vamos colocar a nossa rede para funcionar”. Segundo ele, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) são um “gran-de gargalo” porque o governo federal exige dos governos locais uma contrapartida alta para manter as unidades. “Aqui, se não tiver equipe completa, não repassa R$ 500 mil por mês. Então eu vou botar para funcionar para que, pelo menos, a gente receba esses R$ 500 mil.”

O candidato também comentou a promes-sa de que construiria um hospital exclusivo para atender aos servidores públicos da capital. Segundo ele, o plano existe, mas só será executado quando a rede atual – e geral – estiver funcionando plenamente.

“Esse é um grande problema que nós te-mos no Distrito Federal. Nós, primeiro, vamos colocar todos os nossos hospitais para funcio-nar. Nós temos uma rede hospitalar que está sucateada e que não funciona. Então, antes de construir qualquer hospital, nós vamos colocar a nossa rede para funcionar”, disse.

O candidato emedebista rebateu na en-trevista as acusações dos seus adversários que dizem que a promessa de doar dinheiro próprio para fazer obras públicas, se for elei-to, não é “compra de votos”. De acordo com Ibaneis, a doação viria dos cerca de R$ 30 mi-lhões a que ele tem direito como pagamentos de precatórios, que correspondem a 10% do valor das ações em que ele atuou, defendendo cidadãos e empresas contra governos locais e a União. O candidato reafirmou que a doação desses R$ 30 milhões em honorários de pre-catórios só será feita caso ele vença a eleição. Se o eleito no segundo turno for Rodrigo Rol-lemberg (PSB), o repasse do valor aos cofres públicos não acontecerá. “Exatamente. Não tem toma lá, dá cá nenhum, eu estou colo-cando uma proposta minha. Se eu vencer as eleições, eu vou doar para as escolas. Agora, se não vencer... tá aí”, disse ao entrevistador Antonio de Castro.

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Na terça-feira (16), o Dom Mauro Morelli, bispo emérito de Du-que de Caxias, chamou o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolso-naro, de “desequilibrado e vulgar”, por conta de um vídeo no qual chama a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de “parte podre” da Igre-ja Católica.

Tentando argumentar que as terras indígenas no Brasil ocupam terras de latifundiários “desampa-rados”, Bolsonaro afirmou, em um vídeo, que a política indigenista atual é levada a frente pela “parte podre” da Igreja Católica, como o Conselho Indigenista Mis-sionário (Cimi) e a CNBB.

Em seu Twitter, Dom Mauro Morelli respon-

deu que “o candidato Bolsonaro agrediu gra-vemente e de forma gra-tuita a Igreja Católica, taxando a CNBB de par-te podre da Igreja. De sua boca jorram asneiras e impropérios, revelando um homem desequilibra-do e vulgar. Se eleito, acabará defenestrado em pouco tempo”, com-pletou o bispo.

A Polícia Federal vai investigar as ameaças en-viadas pela internet contra a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber.

Através das redes so-ciais do TSE, um usuário se dirigiu a Rosa Weber para dizer que Bolsonaro já está “matematicamen-te eleito” e que, caso isso não se concretize nas urnas, “a senhora vai ver o povo na rua e os caminhoneiros parando este Brasil até que tenha novas eleições e com voto impresso”. “Espero que a sra. fique de olho. É só um aviso, com todo respeito”, diz o texto, em tom de ameaça.

Para o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, “obviamente, representa um delito, um crime, e tem de ser identi-ficado quem o fez para ser legalmente punido”. “A

Polícia Federal vai inves-tigar e nós vamos trazer um resultado”, continuou o ministro.

“O que eu sei de on-tem, na reunião que tive-mos com diretor-geral da PF [Rogério Galloro] e também com o secretário nacional da Segurança Pública, Brigadeiro Fio-rentini, é que ela [Rosa] fez essa queixa infor-malmente, e que iria for-malizar, e que a Polícia Federal imediatamente ia apurar para chegar aos responsáveis por essa ameaça, que obviamente representa um delito, re-presenta um crime, e tem de ser identificado quem o fez para ser legalmente punido”, disse Raul. “A resposta vai ser dada, a Polícia Federal vai investigar, e nós vamos trazer um resultado”, completou o ministro.

A Ordem dos Advo-

gados do Brasil (OAB) também saiu em defesa da ministra. O presiden-te nacional da entidade, Claudio Lamachia, disse que “são graves e preo-cupantes as mensagens em tom de ameaça en-dereçadas à presidente do TSE, ministra Rosa Weber. A apuração do caso deve ser prioritária e os responsáveis devem ser punidos de forma exemplar, de acordo com o rigor da lei”.

O próprio candidato à Presidência pelo PSL tem feito declarações incitan-do à violência, caso não seja eleito. Isso, segundo sua lógica, só poderia acontecer caso as urnas eletrônicas sejam frau-dadas. Ainda antes do primeiro turno, disse: “não dá pra gente aceitar passivamente na fraude, na possível fraude a elei-ção do outro lado”.

PF investigará ameaças de bolsonarista contra a presidente do TSE, Rosa Weber

Um dos nomes mais conhecidos do grupo ra-cista americano, Ku Klux Klan (KKK), David Duke comentou a situação da política brasileira em um programa de rádio que foi ao ar no último dia 9, conforme noticiou a BBC. “Ele [Bolsonaro] soa como nós. E também é um candidato muito forte”, disse Duke, que frequentemente classi-fica o prêmio Nobel da Paz sul-africano Nelson Mandela como um “ter-rorista”.

Duke disse, ainda, que

Bolsonaro é branco como um europeu e que ele “está falando sobre o desastre demográfico que existe no Brasil e a enorme crimina-lidade que existe ali, como por exemplo nos bairros negros do Rio de Janeiro”. ‘Ele soa como nós’, repetiu David Duke.

Como Bolsonaro tem divergências com a KKK, pelo fato dele apoiar Is-rael e o sionismo, que é repudiado pelo grupo racista norte-americano, ele disse que não queria o apoio da KKK. Afinal, Israel ajudou bastante,

com grana, a sua campa-nha. Entre um e outro…

Os KKK, como se tor-naram conhecidos, come-çaram a atuar em 1865 nos Estados Unidos. Frequen-temente usavam capuzes brancos para proteger sua identidade e fazer com que parecessem ainda mais assustadores para suas vítimas. O grupo, que de-fende a supremacia branca sobre os negros e judeus, foi responsável por muitas das torturas e linchamen-tos que ocorreram com os negros no país.

SÉRGIO CRUZ

Em ato de apoio à can-didatura de Haddad a pre-sidente, organizado pelo PT no Ceará na segunda--feira, o ex-governador e senador eleito Cid Gomes (PDT) pediu que aqueles que votaram nele e em seu irmão, Ciro Gomes, no pri-meiro turno, “façam mais um sacrifício”, votando no candidato do PT: “Eu estou falando a vocês para que compreendam, en-gulam os que me tiverem atenção, engulam, façam mais um sacrifício”.

Cid considerou que os petistas “nunca merece-ram um sacrifício, nunca mereceram, nunca deram nada em troca”.

E citou um aconteci-mento:

“Agora, faltando seis meses, quatro meses para a eleição, eu convidei a Dilma para ser candidata a senadora aqui no Estado

do Ceará. Eu convidei! E o Lula impediu que ela viesse, porque queria que o Eunício fosse eleito aqui no Ceará. O Lula!”.

Eunício Oliveira, la-vajatista do MDB e pre-sidente do Senado, não conseguiu se reeleger nas últimas eleições.

Apesar disso, Cid Gomes apontou que “o Brasil está numa encruzilhada. Dessa encruzilhada pode sair um mal terrível para o Brasil. Terrível! Que pode colocar em risco a liberdade das pessoas, a liberdade das pessoas de se expressarem, a liberdade das pessoas de fa-zerem a sua opção de vida, qualquer que seja ela”.

Por essa razão, reco-mendou voto em Haddad no segundo turno: “Muito bem, amigos e amigas que me têm atenção. Vamos re-levar, mais uma vez, mais uma vez, vamos relevar”.

(...)Cid Gomes, depois de

afirmar que apoiava Ha-ddad e recomendava o voto nele, pediu que o PT fizesse autocrítica de sua conduta no governo e depois de sair do governo:

“… se é para fazer a história, no segundo tur-no, tem que escolher um dos dois, eu conheço o Ha-ddad, é uma boa pessoa, eu tenho zero problema de votar no Haddad, o Ha-ddad é uma boa pessoa”.

“Mas aí, fica para algum companheiro do PT que me suceda aqui na fala, se qui-ser dar um exemplo para o país, tem que fazer um mea culpa, tem que pedir descul-pas, tem que ter humildade, tem que reconhecer que fizeram muita besteira…”.

Leia mais, inclusive o discurso na íntegra em www.horadopovo.org.br

C. L.

O candidato a pre-sidente Jair Bolsona-ro (PSL) afirmou, na terça-feira (16), que não se pode falar em “mais ricos” no Bra-sil. Sua fala ocorreu durante entrevista ao vivo ao SBT, ao ser questionado se aumentaria impostos para a parcela mais abastada da popula-ção. Segundo o pre-sidenciável, todos já estão “sufocados”.

“Eu acho que no Brasil você não pode falar em mais ricos, está todo mundo sufo-cado. Se você aumen-tar a carga tributária para os mais ricos, como a França fez

no governo anterior, o capital foi para a Rússia. O capital vai fugir daqui, a carga tributária é enorme. Quase tudo é pro-gressivo no Brasil”, declarou o candidato.

Bolsonaro também prometeu manter o chamado “tripé ma-croeconômico” – ba-seado em superávit primário, câmbio flu-tuante e metas de in-flação –, independên-cia do Banco Central, além de intensificar as privatizações, se-gundo ele “com res-ponsabilidade”.

“Vamos partir para as privatizações”, afirmou.

A visita de Jair Bolso-naro à sede do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope), em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro pode ser declarada cri-me eleitoral pelo Tribu-nal Superior Eleitoral (TSE). A visita do candi-dato a presidente do PSL ao quartel ocorreu na segunda-feira (15). Ele conversou com policiais da unidade e gravou um vídeo, que foi utilizado depois como propaganda de campanha.

Segundo o escritório Aragão e Ferraro, a prá-tica é vedada pela legisla-ção eleitoral, que proíbe atos de campanha dentro de prédios públicos.

O artigo 377 do Có-digo Eleitoral estabelece que “o serviço de qual-quer repartição, fede-

ral, estadual, municipal, autarquia, fundação do Estado, sociedade de eco-nomia mista, entidade mantida ou subvenciona-da pelo poder público, ou que realiza contrato com este, inclusive o respec-tivo prédio e suas depen-dências não poderá ser utilizado para beneficiar partido ou organização de caráter político”.

O presidenciável con-versou com integrantes da corporação e almoçou no local. Durante a visi-ta, o candidato também fez um discurso para a tropa, que durou cerca de duas horas.

A c a m p a n h a d o candidato petista à presidência, Fernan-do Haddad, pediu que o Ministério Público Eleitoral investigue a conduta do adversário.

Guilherme de Pádua, assassino de Daniella Perez, declara-se admirador e eleitor de Jair Bolsonaro

O assassino da atriz Daniella Perez, Guilherme de Pádua, do alto de sua respeitabilidade e autoridade moral, recomendou, na segunda-fei-ra, o voto em Jair Bolsonaro (PSL).

O valentão e assassino de mulheres deve se identificar inteiramente com o candidato que disse a uma mulher “não te estupro porque você não merece”. A covardia e o fascismo costumam andar de mãos dadas. Aliás, são as duas faces da mesma moeda.

O assassino disse que os “radi-cais estão colocando loucuras na cabeça de eleitores”. As “loucu-ras” a que o matador de Daniella se refere é o alerta que se faz

quanto às ameaças que pairam sobre a democracia do país, num suposto governo chefiado por figuras como Bolsonaro e Mourão.

“Gente, eu tô impressionado. Eu vi pessoas formadas, até com mestrado, sabe, pessoas assim que poderiam ter doutorado, acreditando que o Bolsonaro vai perseguir os negros e os gays como Hitler perseguiu os judeus”, disse o criminoso.

Ele, um matador de mulher, deve se achar um moderado: “quem está decidindo as eleições não são os radicais, nem de di-reita, nem de esquerda”. São os “moderados”. Como ele.

Na página cinco desta edição, o leitor poderá tomar conhecimento do manifesto, lançado por

cientistas, intelectuais, artistas – em suma, homens e mulheres da cultura e da ciência, brasilei-ros e brasileiras que se dedicam à arte, à pesquisa, ao Direito, sobre a ameaça que representa a camarilha que se reúne em torno de Bolsonaro para o país e para as conquistas civilizatórias que nós alcançamos em 500 anos de História do Brasil.

Lançado por 300 personalida-des, o manifesto foi, em seguida, aberto à assinatura do público – no início da noite de quarta--feira, dia 17/10, as assinaturas já chegavam a 190 mil (o leitor que desejar apor também a sua assinatura poderá fazê-lo em “Democracia Sim”).

“É preciso dizer, mais que uma escolha política, a can-didatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial.”, diz o manifesto.

A questão é essa: o que está em jogo é a civilização. O que Bolso-naro representa é a estupidez, o ódio à ciência, às artes e à cultura em geral – mas, especialmente, à cultura nacional que nós, em meio às vicissitudes de nossa História, conseguimos construir, com imenso esforço e a contri-buição dos melhores dentre nós, expressando o nosso ethos – essa mistura étnica que o general An-tonio Carlos de Andrada Serpa chamava de “raça cósmica”.

Há poucos dias, dissemos, aqui, que uma ditadura de Bol-sonaro e cia. seria muito pior do que a antiga ditadura.

Mas esquecemos de citar a maior prova disso: o grande especialista de Bolsonaro em questões educacionais – que, segundo corre, se eleito, ele colo-caria no Ministério da Educação – declarou que o “criacionismo” deve ser introduzido nas escolas.

O sujeito, chamado Aléssio Ribeiro Souto, que um dia foi general do Exército Brasileiro, declarou o seguinte:

“Cabe citar o criacionismo, o darwinismo, mas não cabe querer tratar que criacionismo não exis-te. Houve Darwin? Houve, temos de conhecê-lo. Não é para concor-dar, tem de saber que existiu.”

A obra de Charles Darwin, a evolução dos seres vivos, é uma das maiores descobertas científi-cas da História da Humanidade, uma das maiores revoluções no conhecimento humano já acon-tecidas neste Planeta.

O “cérebro” de Bolsonaro para a Educação está propondo, portanto, que se regrida 160 anos na História – e voltemos a um mundo imerso nas trevas, no medo, na superstição nas questões biológicas.

Não se trata de um problema religioso. Um sacerdote como o padre Teilhard de Chardin – cita-do pelo papa Francisco na encícli-ca “Laudato si” - não viu conflito entre a evolução de Darwin e suas convicções religiosas.

Não são os religiosos que que-rem introduzir o criacionismo – a concepção de que a vida foi cria-da, tal e qual é, por um fenômeno sobrenatural – nas escolas.

Pelo contrário, quem quer fazer isso são os obscurantistas que se travestem de religiosos para explorar o próximo – uma

parte grande da base de Bol-sonaro é composta por esses aproveitadores estúpidos e pelos que são aproveitados por eles.

Esta é, aliás, uma das razões do grau de imbecilidade que acomete certos bolsonaristas.

Porém, é necessário dizer algo mais: quando esse “educador” bolsonarista diz uma idiotice dessas, algo que parece anterior à civilização, não está apenas exibindo sua ignorância – e a ignorância que quer impor aos demais, a começar pelas crianças.

Está, também, macaquean-do o que há de pior nos EUA – aquelas seitas que saqueiam pobres coitados e que são a base da direita norte-americana mais delirante e os charlatães do “intelligent design”, que não tentam passar o criacionismo como religião, mas como ciência, o que, talvez, seja pior.

No Brasil, aliás, a separação entre o Estado e a religião – com sua consequência: a escola pú-blica laica – foi estabelecida pelo marechal Deodoro da Fonseca e pelo marechal Floriano Peixoto, após a aprovação da Constitui-ção de 1891.

Era, aliás, uma bandeira de Benjamin Constant e demais mi-litares positivistas que fizeram a República.

Desde essa época, ninguém contestou que o objetivo da esco-la era ensinar o que era ciência, para iluminar o caminho dos alunos, brasileiros em formação.

Nos EUA, essa questão se definiu com maior atraso – daí a repercussão do “caso Scopes” ou “julgamento do macaco” (Scopes Monkey Trial), ocorrido em 1925, na cidade de Dayton, Tennessee.

Nesse julgamento, um pro-fessor foi acusado de infringir a Lei Butler, que proibia “o ensino de qualquer teoria que negue a história da criação divina do ho-mem e a substitui pelo ensino de que o homem descende de uma ordem de animais inferiores”.

O caso rendeu uma bela peça e quatro belos filmes, todos intitulados “O Vento Será Tua Herança” (Inherit the Wind).

Pois o caso selou o fim das proibições, nos EUA, ao ensino da evolução das espécies.

Isso foi em 1925 – portanto, há 93 anos.

Desde essa época, somente aquele lixo intelectual – e, para ser preciso, social – cons-tituído por seitas ignorantes, composta por mentecaptos, geralmente com espertalhões usufruindo seu dinheiro, é que apareceu com o criacionismo como matéria escolar.

Não se trata, portanto, de uma questão religiosa – um cien-tista, muitas vezes, tem as suas crenças religiosas, como o pró-prio Darwin ou como Einstein.

Trata-se de obscurantismo.É esse tipo de botocudo men-

tal (que nos desculpem os ver-dadeiros botocudos) que povoa a campanha de Bolsonaro.

Aliás, começando pelo pró-prio, com aquele aspecto de que, até hoje, não abriu um livro – e, se abriu, não deve ter sido para ler.

O que, aliás, nada tem a ver, também, com a tradição de nossas Forças Armadas – com um Caxias, com um Benjamin Constant, com um Siqueira Campos, com um Lott.

CARLOS LOPES

Page 4: Chico Buarque, Drauzio Varella, Heloisa Buarque de …...Brasília (DF): SCS Q 01 Edifício Márcia, sala 708 - CEP 70301-000 Fone-fax: (61) 3226-5834 E-mail: hp.df@ig.com.br Belo

4 POLÍTICA/ECONOMIA HP 19 A 23 DE OUTUBRO DE 2018

O candidato à reelei-ção para governador de São Paulo, Márcio França (PSB), afir-

mou nesta segunda-feira, em entrevista à TV Globo, que retomará o crescimento do es-tado com a geração empregos. “Nós vamos voltar a estimular o crescimento aqui, gerando emprego, gerando renda, no-vos negócios”, disse França. “É daqui que nós vamos en-contrar a solução. Como foi na greve dos caminhoneiros. Todo o Brasil parou. De onde saiu a solução? Daqui de São Paulo. Das nossas mãos”, acrescentou.

O governador chamou a atenção para a gravidade do momento em que vive o Bra-sil e disse que São Paulo vai cumprir um grande papel para tirar o país da crise. “Depois de 1º de janeiro nós vamos ter que ter união. Eu convivo com todos. Tenho uma boa relação e acho que o Brasil precisa de alguém que possa cumprir esse papel. Isso vai se dar por São Paulo”, observou. “As pessoas vão ter que voltar a falar”, disse França.

Perguntado se ele é o herdei-ro político de Geraldo Alckmin, Márcio França disse que foi leal ao governador, deu seu apoio no primeiro turno, mas que Alckmin é do PSDB e que o partido tem candidato. “Não sou [herdeiro político de Alck-min] porque aqui em São Paulo o 45, que é o PSDB, é o partido do Doria”.

“Ele [Doria] tentou o tempo todo dar uma rasteira no Alck-min, ficou o tempo todo numa coisa absolutamente ruim. Isso não é didático”, explicou. “Por falar em didática. Hoje é dia dos professores. E um professor não ensina seu aluno a fazer isso que ele fez. Um pai não ensina um filho a fazer isso, a descumprir compromissos a dar rasteira na pessoa que te ajudou, que te deu a mão”, apontou França.

“Eu vi o Geraldo Alckmin chorar. Eu não me conformo com isso. As pessoas não podem fazer isso. Não é normal fazer isso”, prosseguiu o governador. “Outro dia o Alckmin chamou o Doria de impostor, hoje o Fer-nando Henrique falou a mesma

coisa. Isso por que? Porque ele não constrói relações verdadei-ras. Na vida você escolhe se você vai ter caráter ou não vai ter caráter. Você vai falar a verdade ou vai faltar com a verdade”, ponderou.

Ao falar dos apoios que vem recebendo no segundo turno, entre eles Paulo Skaf e o Major Olímpio, França disse que isto ocorre porque ele tem pala-vra. “Aqui em São Paulo nós juntamos todas as pessoas do nosso lado. E por que não ficou ninguém do lado do Doria? Ele não tem um único amigo de três anos, de cinco anos, de dez anos. Todo mundo foge do Doria. Al-guma coisa está errada. Parece uma candidatura gangorra”, criticou Márcio França.

Sobre problemas na segu-rança, ele foi categórico. “Nós temos que mudar a segurança. Isto está claro. Desde que eu assumi, eu fiz diversos gestos de apoio aos policiais que pre-cisam ter salários adequados, os melhores do Brasil. Isso porque São Paulo tem maior orçamento”, destacou.

“Autorizei que os sargen-tos saíssem com fuzil. Eu não consegui fazer tudo o que eu queria, mas só o fato de eu dar apoio, como eu fiz naquele caso da policial, daquela homena-gem. Um gesto de fazer uma homenagem a uma moça que reagiu ao assalto produziu nos policiais uma elevação da auto estima. Olha, ele está conosco, o governador está conosco”, ob-servou. “O resultado foi que os menores índices de toda a histó-ria de SP foram obtidos agora, nesses meses que eu estou no governo”, disse o candidato.

Márcio França falou de saúde, elogiou o empenho dos funcioná-rios e falou de habitação. Disse que Estado tem orçamento para enfrentar a falta de moradia. Ele reafirmou que “todo o funciona-lismo público de São Paulo vai ter o reajuste de 25%”. Ele disse que isso é necessário “porque du-rante três anos eles ficaram sem atualização monetária”. “Isso é errado. É injusto você deixar ele congelado três anos enquanto todo mundo teve algum tipo de sobrevivência”, observou França.

SÉRGIO CRUZ

“Vamos estimular o crescimento em São Paulo”, diz Márcio França

Witzel diz que empresas em seu nome não foram declaradas ao TRE-RJ por “mero esquecimento”

Candidato ao governo paulista destacou a geração de empregos e criticou a traição de Doria a Alckmin. “Tentou o tempo todo dar uma rasteira”, condenou

O candidato do PSC ao go-verno do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, falou sobre não ter de-clarado à Justiça Eleitoral que é sócio de duas empresas. Durante entrevista nesta terça-feira (16), ao jornal RJ2 da Rede Globo, o ex-juiz disse que se tratou de um “mero esquecimento”, e que as empresas estão inativas.

“As empresas estão inativas. Então, como a empresa está ina-tiva, foi um mero esquecimento. Então, já está sendo retificado. Isso daí é absolutamente irre-levante”, afirmou o candidato.

Entretanto, no site da Recei-ta Federal as duas companhias de Witzel constam como ativas.

Na HW Witzel Produções e Participações, aberta em 17 de outubro do ano passado, Witzel e a mulher Helena Alves Bran-dão são os sócios. A empresa tem capital social de R$ 100 mil. A atividade econômica é “Serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas”. Já na W & W Servicos Educacionais S/C Ltda, aberta em 2002, Witzel é o único sócio.

A assessoria do candidato diz

“Você escolhe se vai ter caráter ou não vai ter caráter”, disse, sobre o adversário

Segundo ele, empresas estão inativas. Receita desmente

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Rodrigo Leste

A TEIA DA ARANHA

DOURADA

(O tempo está encurtando para que a produção seja concluída. É terça--feira da terceira semana e desta vez, sem maiores delongas, a filmagem é feita no escritório de Pasqualle. O senador Cheiroso dirige-se ao ministro num tom muito agradável)

— Hoje é dia de estourar champa-nhe, ministro, tudo funcionou perfei-tamente. Sei do tanto que devemos ao senhor pelo sucesso alcançado.

(A imagem mostra o ministro fa-lando ao celular, usando headphone e microfone. Enquanto conversa, lixa displicentemente as próprias unhas)

— Fico lisonjeado com suas pa-lavras, senador, mas a modéstia me obriga a compartilhar o êxito com todos que articularam e levaram a cabo esta vitoriosa ação. E é claro que o amigo tem papel relevante em todo o processo, afinal o senhor é o líder, o comandante supremo do movimento que vai pôr ordem na casa.

— O que me envaidece, não há como negar isso, é saber que estamos destruindo essa canalha — o senador não consegue esconder sua euforia. — O Partido dos Trabalhadores nunca poderia governar um país da impor-tância do Brasil. Erramos muito, é preciso reconhecer, em deixar que crescessem tanto, alcançassem o poder nos levando a uma situação parecida à da Venezuela, Cuba, esses infernos do comunismo.

— A História é feita de muitos acidentes. Os governos petistas foram uns desvios de rota, talvez até necessá-rios, lamento dizer, para alcançarmos a maturidade necessária para que a democracia saia fortalecida de tudo isso — pondera o ministro, sempre ar-diloso. — Nós, que representamos as elites, tivemos que assimilar que não basta o poder econômico, temos que ter também o poder político, esta é a lição que tiramos desses infelizes anos.

— Perfeito! — o senador quase tem um orgasmo ao ouvir estas ultimas palavras. — O amigo sempre dá um show na sua maneira clarividente de enxergar os acontecimentos. Adorei o que vossa excelência disse: “não basta o poder econômico, temos que ter também o poder político.”

— Exato, amigo, esta é a lição que tiramos destes últimos anos. Agora, vamos voltar a pôr o trem nos trilhos.

— Com certeza, ministro, o pior já passou. Temos que aprender. Não podíamos ter deixado essa canalha assumir o poder e governar por tanto tempo...

— ...desgovernar, senador, desgo-vernar. A Dilma é uma barata tonta. Teimosa e egocêntrica, um estrupício que tivemos que engolir.

— Sem dúvida, ministro, com cer-teza. Agora é aproveitar o momento e fazer a limpeza, esmagar esse partido como se fosse um verme. Exterminar, não deixar que consigam se levantar de novo.

— Certamente, senador. O serviço tem que ser completo.

— Ministro, desculpe ter que tocar nisso, mas onde vamos fazer o repasse da mala desta vez?

— Senador, me perdoe, mas não é apropriado tratar disso ao telefone, já falei. Mande o emissário, como da última vez. Alguém da minha equipe vai tratar do assunto.

— Foi mal, ministro, desculpe, vou ser mais cuidadoso.

— Não há de ser nada, senador. Passar bem. Recomendações à esposa.

— Corta, corta! — Alfredo não esconde seu contentamento. — Sen-sacional, pessoal! Pasqualle, não sei o que você está fazendo nesse negócio de engenharia. Você tem é que jogar tudo pra cima e meter a cara na car-reira de ator.

— Canastrão, Fredo. Não é assim que vocês falam? Me sinto um puta canastrão interpretando esse tal mi-nistro — diz Pasqualle, sorrindo, mas intimamente orgulhoso.

— Odete! — Pasqualle chama a sua secretaria. — Uma rodada de uísque para todos. Ó, traz a garrafa nova, aquela vinte anos especial que eu trouxe na última viagem.

Fim do Episódio 10

No episódio 9, é filmada a cena mostrando o diálogo do presidente da Samarco com o Governador de Minas Gerais sobre o crime de Mariana.

Episódio 10

que a empresa W & W Serviços Educacionais ofereceu serviços na área de educação no passado. Segundo a assessoria, “o que o advogado da campanha infor-mou é que ela aparece porque não foi fechada, encerrada, mas qualquer empresa sem atividade por mais de um ano está inativa”.

Já a empresa HW Witzel, de acordo com a assessoria, foi formalizada em 2018, para a produção de eventos, mas ainda não iniciou suas atividades.

Witzel também foi questio-nado sobre o vídeo em que en-sina a outros magistrados como burlar a Justiça para acumular uma gratificação adicional de R$ 4 mil. No vídeo, o agora candidato, contra a “engenha-ria” realizada. “Expulsei o juiz substituto da minha Vara”, disse o ex-juiz à platéia.

O candidato justifica o con-teúdo afirmando que a lei prevê a concentração de rendimentos e que a regra permite que con-templar um juiz e promotor que estiverem e quiserem acumular vencimentos adicionais.

Doria culpa Alckmin por perder 1,6 milhão de votos na capital

Prefeito de Santos declara apoio a França. “Dória é um oportunista eleitoreiro”, disse

Não satisfeito em trair Geraldo Alckmin no primeiro turno das eleições, João Do-ria afirmou, em entrevista à Rede Globo, nesta terça-feira, que a culpa pela queda de sua votação na capital foi do ex--governador. “O Geraldo não foi bem e isso nos atrapalhou em São Paulo”, disse o ex--prefeito.

Questionado se o desastre não teria sido causado por ele ter abandonado a prefeitura, apesar de ter jurado que não sairia, Doria desconversou e continuou culpando Geraldo Alckmin pela queda. Doria teve uma queda de mais de um milhão de votos na capital – exatamente 1,6 milhão de votos a menos – em relação aos votos obtidos na eleição para prefeito.

O ex-prefeito também teve bastante dificuldade para ex-plicar as dezenas de viagens feitas durante sua gestão à frente da prefeitura. Ele ten-tou justificar suas frequentes ausências da cidade dizendo

O prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), declarou apoio a Marcio França (PSB) que disputa o governo do Es-tado de São Paulo contra o também tucano João Doria (PSDB).

O tucano prefeito de Santos afirmou que seu correligionário, João Do-ria, não representa os ide-ais do partido e é movido por oportunismo eleitoral. Paulo Alexandre disse ain-da que Doria traiu não só o seu eleitorado, quando não cumpriu o mandato, mas também o seu padrinho político, Geraldo Alckmin (PSDB), quando tentou

que tinha ido buscar investi-mentos no exterior.

O entrevistador lembrou que não houve nenhum inves-timento estrangeiro de monta na capital em todo o período de sua gestão e que, portan-to, essas viagens, segundo o seu modo de ver, se tinham mesmo esse objetivo de atrair investimentos, redundaram em mais um fracasso. Doria não conseguiu convencer Tramontina ao dizer que os investimentos demoram a chegar.

Doria afirmou, durante a entrevista, que sua atuação em São Paulo salvou o PSDB no estado “Nós salvamos o PSDB aqui em São Paulo [na eleição]. Felizmente fizemos alguns deputados estaduais, federais e a coligação foi muito bem”.

Mas a verdade não é essa. O PSDB teve desempenho bem inferior nas urnas em São Paulo em 2018 na com-paração com a última eleição, disputada em 2014, para os

ser o candidato à presidên-cia no seu lugar.

Doria teria sugerido que os infiéis a ele no partido deveriam ser expulsos. Ao responder sobre isso, Bar-bosa disse: “Sendo o crité-rio para expulsão a traição, João Doria é o primeiro da fila. Quem deve ser expulso é ele”, disse.

“No primeiro turno, ele flertou com Bolsonaro. Foram sinais claros. Aban-donou o legado do PSDB e o candidato do PSDB à Presidência. O movimento Bolsodoria é oportunista”.

Barbosa disse ainda que Doria “demoniza o Márcio como representando o PT.

mesmos cargos. A bancada estadual caiu de 22 deputados estaduais eleitos em 2014 para 8. A bancada federal caiu de 14 eleitos em 2014 para 6.

Outra mentira contada por Dória foi que sua tenta-tiva de colocar a “ração hu-mana” produzida de rejeitos da indústria na merenda das crianças da capital paulista “era exatamente o que a dou-tora Zilda Arns fez enquanto em vida no Brasil e quase ganhou o Prêmio Nobel da Paz exatamente pela fórmula da farinata”.

A farinata é um composto fabricado a partir de um processo industrial de liofi-lização, ou seja, de desidra-tação dos alimentos. Já a “multimistura” é uma com-binação de farinhas, cereais, sementes, pós de folha e casca de ovo usada para enriquecer a alimentação e combater a desnutrição e difundida desde os anos 1980 pela Pastoral da Criança, fundada pela médica Zilda Arns.

Em 2014, ele foi protago-nista na chapa que elegeu o PSDB ao governo de São Paulo como vice de Alckmin. Em 2016, ele coordenou a campanha de Doria para a prefeitura pelo PSDB. Ou seja, em 2014 e 2016, ele não era socialista nem petista. Agora em 2018, passou a vestir esse figurino? Isso é muita contradição e opor-tunismo eleitoral. É que-rer enganar a população. O PSB foi um bom aliado, é importante e legítimo que tenha candidatura. Esse é um dos erros do PSDB, achar que é sobe-rano”, concluiu.

Homenagem lotou o Pelourinho, em Salvador

O inquérito policial re-ferente ao assassinato do mestre de capoeira Ro-mualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê, foi concluído pelo Departamento de Homicí-dios e Proteção à Pessoa (DHPP) e encaminhado ao Ministério Público do Estado (MP-BA), nesta segunda-feira (17). A in-vestigação confirmou que o assassinato de Moa foi mo-tivado por briga política.

Mestre Moa foi morto com 12 facadas depois de uma discussão política contra um eleitor do candi-dato Jair Bolsonaro (PSL), no Bar do João, na locali-dade do Dique Pequeno, no Engenho Velho de Brotas, em Salvador. Moa frequen-tava o local e no momento do ocorrido estava com um irmão e um primo, pouco depois da meia-noite do dia 8 de outubro. Paulo Sérgio foi preso em flagrante pela PM e confessou o crime.

O próprio assassino, Paulo Sérgio, além do dono do bar e outras testemu-nhas confirmaram que posições políticas adversas iniciaram a discussão. As investigações apontam ainda que, após Moa ter dito que votou em Fer-

Assassinato do mestre Moa do Katendê teve motivação política, conclui o inquérito

nando Haddad (PT), Paulo discutiu com ele.

Familiares, amigos e ad-miradores prestaram ho-menagem ao mestre Moa do Katendê na noite desta terça-feira (16), no Largo do Pelourinho, Centro Históri-co de Salvador. Milhares de pessoas vestidas de branco, grupos de coletivo de enti-dades negras e capoeiristas participaram juntos da mo-bilização. Integrantes dos grupos Ilê Aiyê, Olodum e Filhos de Gandhy também marcaram presença.

Uma faixa grande com “Moa vive” foi colocada na fachada do Museu da Cidade.

O compositor, dan-çarino, capoeirista, ogã--percussionista, artesão e educador na propagação da cultura afro-brasileira completaria 64 anos de vida no dia 29 deste mês de outubro. No último sábado (13), pessoas próximas de Moá já tinham celebrado sua missa de sétimo dia, que ocorreu na Igreja de Nossa Senhora dos Rosá-rios dos Pretos.

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5GERAL19 A 23 DE OUTUBRO DE 2018 HP

Manifesto é encabeçado por personalidades, intelectuais, artistas e cientistas brasileirosEucalipto para produção de celulose

Movimento Monopólio Não pede investigação após Cade aprovar fusão Suzano-Fibria - (parte 2)

Mais de 190 mil assinam manifesto pela democracia e contra Bolsonaro

Em dois anos, Caixa Econômica e Banco do Brasil demitiram 21 mil funcionários

Entidades repudiam fala do candidato do PSL que defende fim do “ativismo” no Brasil

Somos diferentes. Te-mos trajetórias pesso-ais e públicas variadas. Votamos em pessoas e partidos diversos. De-fendemos causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos.

Mas temos em comum o compromisso com a de-mocracia. Com a liberda-de, a convivência plural e o respeito mútuo. E acre-ditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação.

Como todos os brasilei-ros, sabemos da profun-didade dos desafios que nos convocam nesse mo-mento. Mais além deles, do imperativo de superar o colapso do nosso siste-ma político, que está na raiz das crises múltiplas que vivemos nos últimos anos e que nos trazem ao presente de frustração e descrença.

Mas sabemos também dos perigos de preten-der responder a isso com concessões ao autorita-rismo, à erosão das ins-tituições democráticas ou à desconstrução da nossa herança humanista primordial.

Podemos divergir in-tensamente sobre os ru-mos das políticas econô-micas, sociais ou ambien-tais, a qualidade deste ou daquele ator político, o acerto do nosso sistema legal nos mais variados temas e dos processos e decisões judiciais para sua aplicação. Nisso, es-tamos no terreno da de-mocracia, da disputa legí-tima de ideias e projetos no debate público.

Quando, no entanto, nos deparamos com proje-tos que negam a existên-cia de um passado auto-ritário no Brasil, flertam explicitamente com con-ceitos como a produção de nova Constituição sem delegação popular, a mani-pulação do número de ju-ízes nas cortes superiores ou recurso a autogolpes presidenciais, acumulam declarações francamente xenofóbicas e discrimi-natórias contra setores diversos da sociedade, refutam textualmente o princípio da proteção de minorias contra o arbítrio e lamentam o fato das forças do Estado terem historicamente matado menos dissidentes do que deveriam, temos a cons-ciência inequívoca de es-tarmos lidando com algo maior, e anterior a todo dissenso democrático.

Conhecemos ampla-mente os resultados de processos históricos as-sim. Tivemos em Jânio e Collor outros pretensos

heróis da pátria, aventu-reiros eleitos como supos-tos redentores da ética e da limpeza política, para nos levar ao desastre. Conhe-cemos 20 anos de sombras sob a ditadura, iniciados com o respaldo de não poucos atores na socie-dade. Testemunhamos os ecos de experiências autoritárias pelo mundo, deflagradas pela expectati-va de responder a crises ou superar impasses políticos, afundando seus países no isolamento, na violência e na ruína econômica. Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram ori-ginalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibili-dade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos auto-ritários.

Em momento de crise, é preciso ter a clareza má-xima da responsabilidade histórica das escolhas que fazemos.

Esta clareza nos move a esta manifestação con-junta, nesse momento do país. Para além de todas as diferenças, estivemos juntos na construção de-mocrática no Brasil. E é preciso saber defendê-la assim agora.

É preciso dizer, mais que uma escolha políti-ca, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civi-lizatório primordial. É preciso recusar sua nor-malização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós.

Prezamos a democracia. A democracia que provê abertura, inclusão e pros-peridade aos povos que a cultivam com solidez no mundo. Que nos trouxe nos últimos 30 anos a es-tabilidade econômica, o início da superação de desi-gualdades históricas e a ex-pansão sem precedentes da cidadania entre nós. Não são, certamente, poucos os desafios para avançar por dentro dela, mas sabemos ser sempre o único e mais promissor caminho, sem ovos de serpente ou ilusões armadas.

Por isso, estamos pre-parados para estar juntos na sua defesa em qual-quer situação, e nos reu-nimos aqui no chamado para que novas vozes possam convergir nisso. E para que possamos, na soma da nossa pluralida-de e diversidade, refazer as bases da política e cidadania compartilha-das e retomar o curso da sociedade vibrante, plena e exitosa que precisamos e podemos ser."

IINDICAÇÕES POLÊMICAS

O plenário do Cade tem sete cadeiras, sendo composto por um presidente e seis conselheiros, todos com mandatos de qua-tro anos, vedada a recondução. Eles são escolhidos pelo presidente da República. Do atual quadro do plenário, o presiden-te e três conselheiros foram indicados por Michel Temer, enquanto outros três conselheiros foram indicações de Dilma Rousseff.

A indicação do superintendente-geral Alexandre Cordeiro Macedo foi polêmica. Ele tem ligações com o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), de quem foi vice-ministro das Cidades entre 2012 e 2013, e com o senador Ciro Nogueira (PI), ambos do PP, partido do dito “Centrão”.

Temer já havia enviado inicialmente o nome de uma técnica do órgão, Amanda Athayde, para o cargo – o que foi elogiado entre advogados pela experiência dela em negociação de acordos de leniência, uma das funções da superintendência. O pre-sidente, no entanto, mudou sua indicação por pressão do presidente do PP, Ciro Nogueira (PI).

Ciro Nogueira é presidente do PP. No fim de 2016, o senador foi denunciado pelo procurador-geral da República, Ro-drigo Janot, por corrupção e lavagem de dinheiro, no âmbito da Lava Jato.

Macedo está no Cade desde 2015 como conselheiro. Sobre a indicação à época, a assessoria de Macedo confirma o apadri-nhamento de Ciro Nogueira, do PP, mas afirma que sua nomeação é técnica.

Na função de superintendente, ele é responsável por firmar acordos de leni-ência, inclusive da Lava Jato – operação que atinge, entre outros partidos, o pró-prio PP.

A Superintendência Geral é a autorida-de que dá a palavra final em mais de 90% das fusões e aquisições notificadas por força da Lei de Defesa da Concorrência (Lei 12.529).

O atual presidente do Cade, Alexandre Barreto, nomeado por Temer, também veio do TCU, assim como o conselheiro Maurício Maia. Nesses dois casos, as indicações são atribuídas ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que nega. Temer também nomeou o procurador-geral do conselho, Walter de Agra Júnior, o primeiro no cargo que não veio da Advocacia Geral da União (AGU) desde 2005, o que gerou protestos da As-sociação Nacional dos Advogados Públicos Federais (Anafe).

Na escolha dos nomes de Alexandre Barreto de Souza e Mauricio Oscar Ban-deira Maia pesou mais a indicação de setores do PMDB do núcleo político de Temer que indicações feitas pelos ministé-rios da Fazenda e da Justiça, como ocorria tradicionalmente. Portanto, o critério que mais pesou na escolha dos dois futuros conselheiros foi político e não técnico.

Opovonews – 15/10/2018

Mais de 190 mil intelec tua is , artistas, cien-tistas, profes-

sores, etc, assinaram um manifesto em defesa da democracia e contra o candidato Jair Bolso-naro. Miguel Reale Jr, Washington Olivetto, Milton Hatoum, Drauzio Varela, os compositores Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil, Andrea Calabi, Bernard Appy, Cesar Callegari, Antônio Nóbrega, Fer-nanda Abreu e muitos outros uniram forças para se posicionarem contra o que chamaram de “ameaça franca ao pa-trimônio civilizatório”.

O texto foi intitulado “Pela Democracia, pelo Brasil” e reúne represen-tantes de diferentes áreas e posições partidárias, se-gundo os signatários, que

pretendem ressaltar “o ris-co de candidaturas que fler-tam com o autoritarismo”. “É preciso dizer, mais que uma escolha política, a can-didatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua norma-lização, e somar forças na defesa da liberdade, da tole-rância e do destino coletivo entre nós”, diz o manifesto.

Os signatários alertam que “líderes fascistas, nazis-tas e diversos regimes auto-cráticos” da História foram eleitos originalmente, sob promessa de “resgatar a autoestima e a credibilida-de” de nação. Em seguida, já no poder, submeteram as nações “aos mais variados desmandos autoritários”.

Leia abaixo a íntegra do documento ou no link https://democra-ciasim.com.br

“Pela Democracia e pelo Brasil”“Mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial”

Desembargadora reafirma: “chamar de movimento um golpe é tripudiar sobre a História brasileira”

Cerca de 3 mil organizações não-g o v e r n a m e n t a i s (ONG) e movimen-tos sociais nacionais e internacionais ma-nifestaram repúdio à fala do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), feita após a divul-gação dos resultados do primeiro turno (7/10), de que ele iria "botar um pon-to final em todos os ativismos no Brasil".

A carta, publi-cada no início desta semana (15), diz que a fala de Bolsonaro afronta a Consti-tuição Federal, que garante os direi -tos de associação e assembleia. “(...) a declaração refor-ça uma postura de excluir a sociedade civil organizada dos

Em dois anos, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil (BB) demitiram 21,2 mil funcionários em agên-cias de todo o país. Os cor-tes fazem parte da política do governo Temer, de des-montar empresas e estatais administradas pela União, através do enxugamento do quadro de funcionários, cortes de custos e venda de patrimônio.

Através de plano de “incentivo” de demissões voluntárias e de aposen-tadorias, o BB desligou 16 mil funcionários, sendo quase 12 mil apenas nos últimos dois anos, quando o quadro diminuiu em 10,9%. Já a Caixa demitiu 9,2 mil pessoas, queda de 9,7% em seu quadro de funcionários.

O governo alega que as demissões de funcionários da Caixa e BB fazem parte de uma readequação aos novos tempos no setor, cujo processo se faz pela redução de custos e mu-

dança da estrutura das empresas, para que se tor-nem cada vez mais pareci-dos com bancos privados.

Segundo depoimentos de diversos sindicatos de bancários, as demissões têm afetado diretamente a qualidade dos serviços pres-tados à população, o que tem gerado reclamações genera-lizadas dos clientes, além de aumentar a sobrecarga de trabalho nas agências.

Para a Federação Na-cional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), que lançou nesta semana a campanha, “Não tem sentido privatizar a Caixa”, “não tem sentido a sociedade brasileira abrir mão de uma empresa tão im-portante como a Caixa. Por isso, nós, todos os trabalha-dores da Caixa e trabalha-dores brasileiros, queremos que a Caixa continue firme e forte como ela está: uma empresa dedicada que tem um papel importantíssimo

na sociedade brasileira”, afirmou Jair Ferreira, pre-sidente da entidade.

A Confederação Nacio-nal dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) lembra que a Caixa não opera apenas com ativida-des financeiras, típicas dos bancos privados, o banco é responsável por políticas sociais como habitação, crédito popular, financia-mento público, etc. E por ter este caráter social, a Caixa não pode ter o mesmo parâmetro de eficiência dos bancos privados, que visam apenas o lucro. “O povo brasileiro vai pagar um preço muito caro por isto. Vai ter um alimento mais caro na mesa, vai financiar a casa própria com juros muito mais altos, porque é isso que os bancos privados querem, só visam os lucros. Os bancos públicos fazem o que os privados não fazem”, afirmou Juvandia Moreira, presidente da entidade.

debates públicos. Trata -se de uma ameaça inaceitável à nossa liberdade de atuação. Não será apenas a vida de mi-lhões de cidadãos e cidadãs ativistas e o trabalho de 820 mil organizações que se-rão afetados. Será a própria democracia brasileira. E não há democracia sem de-fesa de direitos”, diz o documento.

As organizações sociais também des-tacam a importância de "uma sociedade civil vibrante, atu-ante e l ivre para denunciar abusos, celebrar conquis-tas e avançar em di-reitos", assim como para a conquista de direitos e de melho-res condições de vida para a população.

A decisão do Correge-dor Nacional da Justiça, Humberto Martins, de pedir explicações à desembarga-dora Kenarik Boujikian, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), por seus co-mentários às declarações de Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o golpe de 1º de abril de 1964, é, no mínimo, esdrúxula – e, no limite, in-timidatória.

A desembargadora decla-rou, em evento público, na segunda-feira (15/10), que “um ministro do Supremo Tribunal Federal chamar de movimento um golpe reconhecido historicamente é tripudiar sobre a história brasileira. De algum modo é desrespeitar as nossas vítimas”.

A jurista comentava o que fora dito por Dias Toffoli, em conferência na Faculdade de Direito da USP: “Não foi um golpe nem uma revolução. Me refiro a movimento de 1964” (v. Juízes repudiam declarações de Toffoli sobre golpe de 1964).

Naturalmente, se há al-guém que está devendo ex-plicações é Toffoli – e não a desembargadora Kenarik Boujikian.

Esta apenas disse o que já passou para a História do Bra-sil. Quem está desrespeitando a História – e, inclusive, as vítimas da ditadura instalada pelo golpe de 64 – é Toffoli.

No entanto, o Corregedor deu 15 dias para que a de-

sembargadora se explique, baseado em que “a Cons-tituição proíbe os juízes de dedicar-se à atividade político-partidária e a Lei Orgânica da Magistratura Nacional veta ao magistrado manifestar, por qualquer meio de comunicação, opi-nião sobre processo penden-te de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo deprecia-tivo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judi-ciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do magistério”.

A desembargadora não exerceu nenhuma “ativida-de político-partidária” nem se manifestou sobre “proces-so pendente de julgamento” ou fez qualquer “juízo de-preciativo sobre despachos, votos ou sentenças”.

O que ela fez foi afirmar uma verdade – uma verdade histórica, que está em qual-

quer livro respeitável sobre o período; uma verdade que Toffoli tentou escamotear para bajular Bolsonaro e caterva.

Quando foi proibido aos juízes se manifestar em re-lação a acontecimentos his-tóricos ou travar polêmica sobre eles?

Em São Paulo, a desem-bargadora confirmou o que havia dito – que, realmente, é sua opinião que chamar o golpe de 1964 de movimento “é tripudiar a história bra-sileira, suas vítimas e toda a humanidade”. Acrescen-tou que considera o regime oriundo desse golpe uma ditadura.

Em Brasília, perguntado se sua declaração era um “aceno” para Bolsonaro e sua trupe, Dias Toffoli res-pondeu que “de maneira nenhuma”.

C.L.

Desembargadora Kenarik Boujikian, do TJ-SP

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INTERNACIONAL 19 A 23 DE OUTUBRO DE 2018HP6

Paraguai: promotor indicia juízes que libertaram os camponeses de Curuguaty

Macri fez gasto com tarifas públicas passar de 6% para 23,5% dos salários

Nos destaques, o príncipe seguido pelo guarda-costa Mutreb que atuou no crime

Yéni

Saf

ak

As contradições dentro da Casa Saud vieram à tona no assassinato em Istambul

Sauditas e EUA submetem Iêmen “à pior fome do mundo em cem anos”

Cerco pode levar 13 milhões à morte por inanição

A história contada a Trump pelo principe Bin Salman, de que ele não tinha conhecimento da violência contra o jornalista, fica difícil de sustentar após surgirem fotos e vídeo mostrando a relação entre ele e os assassinos

O saudita Khashoggi foi trucidado por agentes próximos ao príncipe

O jornalista saudita, Jamal Khashoggi, depois de tortura-do, foi assassinado

por esquartejamento que teve início com ele ainda vivo. O desmembramento começou pelo com corte dos seus dedos e a morte sobre-veio com sua decapitação. O corpo de Khashoggi foi feito em pedaços por uma serra óssea, forma encon-trada pelos agentes do go-verno da Arábia Saudita para se livrarem do cadáver, que teria sido levado em malas “diplomáticas” para fora do país onde o crime foi cometido.

Estes são alguns deta-lhes publicados por jornais turcos, a exemplo do Yénin Safak e Sobah, a partir do acesso a áudios e vídeos que estão em mãos da polícia turca.

Khashoggi que, por suas reportagens e posiciona-mentos questionadores do poder em exercício no regi-me saudita, temia por seu destino e havia deixado o país natal em 2017 para ir aos Estados Unidos, onde passou a escrever para o Washington Post.

“A Arábia Saudita deve encarar o dano dos últi-mos três anos de guerra no Iêmen. O conflito fez min-guarem a relações do reino com a comunidade interna-cional, afetou a dinâmica da segurança regional e danificou sua reputação no mundo islâmico”, escreveu Khashoggi em matéria pu-blicada no WP no dia 11 de setembro.

O que é fato é que ele nunca mais foi visto a partir do dia 2 de outubro, pouco depois da uma da tarde, quando entrou no consu-lado da Arábia Saudita em Istambul para pegar docu-mentos que comprovariam seu divórcio.

CÍRCULO

Na operação planificada para dar cabo da vida do jornalista, participaram 15 agentes que chegaram à Turquia poucas horas antes e partiram duas ho-ras depois da execução. Destes, pelo menos cinco foram identificados como integrantes do círculo pró-ximo ao príncipe herdeiro, Mohammed Bin Salman.

Um deles, Maher Abdu-laziz Mutreb, era guarda-costa do príncipe, como mostram fotos dois, em momentos distintos, publi-cadas na imprensa turca.

Segundo a mesma im-prensa, os áudios reve-lam que inclusive o cônsul, Mohammad al-Otaibi, par-ticipou do assassinato. Logo que o homicídio teve início, com o decepamento dos dedos, pode-se escutar a voz do cônsul dizendo: “Façam isso fora daqui. Vocês vão me criar problemas”, ao que foi admoestado por um dos elementos da operação: “Se quiser permanecer vivo quando voltar à Arábia Sau-dita fique quieto”.

Depois dos espancamen-tos, conta o jornal turco, Safak, que se deram na sala de despacho do cônsul, ele foi arrastado a uma sala de reu-niões onde havia uma mesa na qual foi deitado para que se desse início ao macabro procedimento de esquarteja-mento. Foram 7 minutos até a morte do jornalista.

Os policiais também in-formam que entre os 15 homens que chegaram à Turquia lá denominado de “esquadrão da morte” um deles era especialista em autópsias. Trata-se do diretor do departamento de medicina forense, Salah Muhammad al-Tubaigy.

Durante o esquarteja-mento, Tubaigy colocou fones de ouvido e passou a ouvir música e sugeriu ao cônsul e aos demais que fizessem o mesmo.

Aliás, logo antes da polí-

cia turca ser autorizada a vasculhar a casa do cônsul, este viajou de volta para seu país (dia 16). É o que revela a Agência Reuters que informa também que Otaibi foi destituído de suas funções e “investiga-do” por Riad. Será ele o “bode expiatório?”.

Não é a primeira vez que um episódio como este acontece. Por conta de suas relações privilegiadas com os Estados Unidos, integrantes da Casa Saud se sentem acima da lei. Em 1979, o jornalista Nasir AsSaid – um na-cionalista árabe defensor do secularismo, que saíra da Arábia Saudita para o Egito e depois para Bei-rute, que escreveu na forma de tablóide uma extensa história sobre a família real saudita, ex-pondo suas mazelas, até que Abu Az Za’im, ligado à inteligência jordaniana o seqüestrou em uma rua movimentada da capital do Líbano e de lá foi le-vado para embaixada da Arábia Saudita, onde teria sido torturado e morto. Seu corpo foi atirado de um avião sobre a região mais desabitada do deser-to saudita.

SEQUESTRO

Há pouco tempo, em no-vembro de 2017, foi seqües-trado Said Hariri, que partici-pava de negociações para for-mar um governo de coalizão nacional no Líbano, o que não interessava aos sauditas ao prestígio que o Bloco Patrió-tico, com forte participação do Hezbollah estava adquirindo. Sob pressão da Síria, Líbano e do governo francês, além da grita internacional Hariri foi colocado em um voo a Paris e de lá retornou ao Líbano, Hariri acabou formando com Michel Aoun, do Bloco Pa-triótico, um governo com ele como primeiro-ministro e Aoun como presidente. Mas o silêncio de Hariri, como se ele estivesse fora da vida pública, coloca sob questionamento o tipo de “conversa” que Hariri teria tido com os seqüestrado-res em Riad.

Quanto aos Estados Unidos, que têm na Ará-bia Saudita a principal base de apoio para suas intervenções no Oriente Médio, e acertou a venda de US$ 110 bilhões em armas, tenta resolver o impasse e ficar bem com os nobres sauditas no go-verno. Trump, que disse no primeiro momento que a Arábia Saudita sofreria punição exemplar, logo re-cuou para dizer que aceita as explicações do príncipe Bin Salman quando este diz que não tem nada com a morte do jornalista. Além disso, botou o secretário de Estado, Mike Pompeo, a viajar primeiro para a Arábia Saudita depois para a Turquia, com certeza munido de panos quentes, mas o caso já está rumoroso demais para ser abafado.

Norbert Roettgen, pre-sidente do comitê de As-suntos Internacionais do Parlamento Alemão criticou os comentários de Trump. “O fator decisivo agora é o comportamento do presi-dente dos Estados Unidos, que basicamente disse ao principe: estamos lhe dando total liberdade desde que compre as nossas armas e outros produtos de nós.

Já o governo saudita tem alertado que se fo-rem submeter o país a sanções, tomará contra-medidas, a exemplo da diminuição das vendas de petróleo, fazendo com que o barril tenha os preços catapultados, chegando a US$ 200 e aprofundando as negociações com a Rús-sia para aquisição de ar-mas e com o Irã aliviando o cerco sobre o país.

NATHANIEL BRAIA

A recente decisão do Jurado de Acusação de Magistrados (JEM) do Paraguai de pro-cessar os juízes Emiliano Rolón e Arnaldo Martínez Prieto – por terem revogado a sentença dos 11 camponeses condenados pelo massacre de Curuguaty – volta a mo-bilizar o país vizinho contra a vergonhosa manipulação do judiciário pelos grandes latifundiários.

A denúncia contra os dois magistrados foi formulada pela procuradora geral do Estado, Sandra Quiñónez, sob a alegação de “mal desempenho em suas funções”. Uma vez anunciada a absolvição dos cam-poneses presos políticos de Curuguaty, a procuradora ameaçou os juízes de que seriam ativados “todos os mecanismos legais” para que seu comportamento não ficasse impune.

Também perdendo a compostura, o promotor Jalil Rachid – filho de Blader Rachid, ex-presidente do Partido Colorado, do ditador Alfredo Stroessner (1954-1989) -, qualificou a libertação dos camponeses de “canalhice jurídica”. Boa parte da acu-sação aos camponeses foi orquestrada pela sua batuta criminosa, que convocou 240 testemunhas, a grande maioria agentes do Estado, dependentes do Ministério do Interior e do vice-Ministério de Segurança Interno, que a partir de 2016 passou a ser dirigido por Jalil. Após ter omitido infor-mações, fabricado declarações e feito sumir provas, foi devidamente premiado.

A reação contra a farsa montada pela Procuradoria Geral do Estado – e acatada pelo Jurado de Acusação – foi imediata. Como membro da Terceira Sala de Apelação no Civil e Comercial e integrante da Sala Penal do Supremo Tribunal de Justiça na causa, Arnaldo Prieto decidiu processar Sandra Quiñónez e propor sua inabilita-ção por estar agredindo a Constituição “ao atentar contra a independência do poder judiciário”, “em vez de velar pelo respeito dos direitos e garantias nela estabelecidos”.

RESPOSTANa mesma toada, o juiz Emiliano Rolón

respondeu à agressão de Quiñónez, dona de um tenebroso histórico de perseguição e criminalização a movimentos que lutam pela terra. “Como membros do Supremo Tribunal de Justiça, formos processados pelo JEM. Isso é inédito. Assumimos nossa res-ponsabilidade e, como Tribunal, tomamos a decisão de acordo com a lei e, agora, decidem nos processar. É uma contradição e afronta à República”, condenou.

No dia 15 de junho de 2012, em Marina Kue, Curuguaty, 324 policiais fortemente armados com fuzis, cavalos, escudos e até helicóptero cercaram um assentamento com menos de 60 camponeses – metade deles mulheres, crianças e idosos. A ação de franco-atiradores do Grupo Especial de Operações (GEO) – treinado por militares estadunidenses e por técnicos da CIA – causou a morte de seis policiais e 11 tra-balhadores rurais. O rio de sangue derramado, devidamente canalizado pela mídia, levou à derrubada do presidente Fernando Lugo uma semana depois. Tudo para que 2,5% dos pro-prietários, donos de 85% das terras cultiváveis, 94% delas destinadas à exportação, sigam man-dando e desmandando no país que alimenta 60 milhões de pessoas no planeta, enquanto oficialmente quase um terço da sua população de 6,7 milhões passa fome.

INJUSTIÇASem qualquer prova, os camponeses haviam

sido condenados a até 35 anos de prisão por “ho-micídio doloso, associação criminosa e invasão de imóvel alheio”. Conforme a perícia, todos os 17 mortos foram alvo de armas de grosso calibre, jamais encontradas com os camponeses. A única “associação” existente foi estimulada e legalizada pelo Instituto Nacional de Desenvol-vimento Rural e da Terra (Indert) para reivin-dicar a propriedade pública de dois mil hectares que a família do latifundiário Blas Riquelme até então insistia em dizer que era sua.

Para José Gil Ojeda, veterano dirigente das Ligas Agrárias Cristãs do Paraguai, preso e exilado pela ditadura de Stroessner, “assim como no caso da punição aos camponeses de Curuguaty o principal foi dissuadir a luta pela reforma agrária e infundir medo, não precisa ser um profissional do direito para ver que querem transformar esses dois juízes em bodes expiatórios”. “Tenho a convicção de que desde que Sandra Quiñónez foi nomeada, antes até, já havia este plano. Foi nomeada procuradora geral por quem elaborou o plano de processar e condenar os juízes, pois queriam uma revanche contra o triunfo que obtivemos com a nulidade do julgamento. Diante disso, sabemos perfei-tamente que não economizarão argumentos falsos, que buscarão validar com sua influência jurídica”, destacou. Da mesma forma, explicou, “Jalil Rachid foi escolhido a dedo e definido de antemão para encobrir os verdadeiros culpados e seus crimes”.

Oposição ao governo, a Frente Guaçu denunciou Sandra Quiñonez por “não só estar gerenciando o processo manipulado e viciado que levou camponeses inocen-tes injustamente à prisão, deixando ao mesmo tempo de investigar os fatos que conduziram à morte de compatriotas, como de estar sendo cúmplice da atuação delinquente de Jalil Rachid, que sustentou este aberrante processo judicial”.

O flerte carinhoso de Jalil Rachid com a família Riquelme – dona de Campos Morom-bi, com 75 mil hectares – e o ódio desmedido a quem põe em xeque seus interesses são dois lados de uma mesma moeda. Conforme denunciou há dois anos o advogado Dario Aguayo, “o latifúndio dos Riquelme é um bunker da atividade delitiva. Pretendiam anexar Marina Kue para ampliar seu mar de maconha e soja transgênica”. Simples assim.

LEONARDO WEXELL SEVERO

O Iêmen está sendo submetido à “pior fome do mundo em 100 anos” pela agressão movida pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos, parti-cularmente pelos bom-bardeios indiscriminados que comprometeram o conjunto da infraestrutu-ra do país e vitimam prin-cipalmente a população civil. O alerta foi reitera-do pelas Nações Unidas, que já tinha descrito a gravidade da situação: “a maior crise humanitária da atualidade”.

Qualquer ajuda aos cer-ca de 22 milhões de ieme-nitas, 18 milhões vivendo em insegurança alimentar e 13 milhões já famintos, segundo a ONU, tornou-se praticamente impossível em função da virulência da agressão da invasão, que já dura três anos.

C o n f o r m e H e r v e Verhoosel, do Programa Alimentar Mundial, “se esta situação persistir, poderemos ter um au-mento de três milhões e meio de pessoas em risco, gente que necessita ur-gentemente de assistência alimentar regular para evitar que passem para uma situação de fome”.

De acordo com a orga-

nização Save the Children, o número de crianças que sofre com a fome pode al-cançar a 5 milhões, caso os bombardeios continuem prejudicando a assistência humanitária.

O alvo prioritário dos agressores tem sido a zona do porto de Hodeida, que é a principal porta de entrada de ajuda ao país. Buscan-do submeter o Iêmen pela fome, a Arábia Saudita e EUA centraram fogo no mês de setembro nos armazéns do Programa Alimentar Mundial.

No último domingo o Co-ordenador Humanitário no

Iêmen das Nações Unidas (ONU), Lise Grande con-denou um novo ataque aé-reo saudita à província de Al-Hudaydah, no Iêmen ocidental, onde morrerram pelo menos 17 pessoas. “Os beligerantes devem fazer todo o possível para proteger os civis, não ferir, mutilar, ferir ou matar”, sublinhou.

As Nações Unidas de-fenderam repetidas vezes que o regime de Al Saud ponha fim a essa “guerra estúpida “, que já deixou mais de 11 mil mortos e 23 mil feridos, segundo balanço do Ministério da Saúde do Iêmen.

O peso dos serviços públi-cos sobre o salário mínimo na Argentina se multiplicou por quatro desde a chegada de Mauricio Macri ao governo. Estimativas realizadas pelo Observatório de Políticas Públicas da Universidade de Avellaneda (Undav), na Grande Buenos Aires, reve-lam que essas tarifas repre-sentam 23,5% do total do piso legal dos salários que hoje equivale a cerca de 350 dólares. Antes da mudança presidencial essa relação atingia apenas 6%. Segundo reportagem do jornal Página 12, a Argentina passou a ocupar o terceiro lugar entre os países sul-americanos com maior incidência das tarifas sobre os salários mínimos.

“A Argentina se posicio-nava como o país da região com as tarifas dos serviços públicos mais acessíveis. Porém a política econômica aplicada desde dezembro de 2015 levou os valores para níveis similares aos dos paí-ses com tarifas mais caras”, adverte o informe. O posicio-namento é encabeçado pela Venezuela onde, segundo as estimativas do observató-rio, as tarifas representam 36,5% do salário mínimo. A segunda posição é ocupada pelo Chile, onde os serviços

públicos gastam até 24,9% do piso salarial. A terceira é para a Argentina e no quarto lugar ficou o Brasil onde os serviços básicos consomem 20,6%. As estimativas rea-lizadas pelos investigadores da Undav consideraram os serviços residenciais de ele-tricidade, gás natural e água.

“De criticar o gasto em subsídios econômicos que melhorava a qualidade de vida das pessoas, passou-se a considerar natural o pa-gamento de juros que faz o Estado ao capital financeiro que, para o orçamento de 2019, superará os 560 bi-lhões de pesos”, expressam os pesquisadores, advertindo que “o endividamento que gerou a crescente carga de juros não modificou as con-dições nem a capacidade pro-dutiva do país, mas financiou a fuga de divisas”.

Os economistas do Obser-vatório de Políticas Públicas estimaram que os aumentos registrados ao longo dos últimos três anos atingi-ram 2.057% no gás natural, 1.491% na energia elétrica e quase 1.000% para o serviço de água potável. Em matéria de transporte, foram obser-vados aumentos de 677% em pedágios, 375% no bilhete do trem, 332% nos ônibus de

curta distancia e 177% na passagem de metrô.

“As empresas obtiveram taxas de lucro suculentas neste período, o que mostra a problemática de manter uma política de dolarização das tarifas de energia para os usuários, sejam residências ou empresas.

Em última instância o que acaba deteriorando-se são as condições do mercado interno que deve suportar maiores custos para pagar de sobremaneira um recurso que a Argentina tem à dispo-sição”, afirma o documento.

O Instituto Nacional de Estatística e Censos da Ar-gentina, INDEC, informou na terça-feira, 16, que a participação do salário sobre o total da economia diminuiu de 48,1% no segundo trimes-tre de 2017 para 45,2% no mesmo período deste ano. Ao mesmo tempo, a porção do ingresso nacional que se apropriam os empresá-rios subiu de 43,6% para 45,9%. Os assalariados mais prejudicados foram os da indústria manufatureira, administração pública e en-sino público, enquanto que os setores empresáriais mais beneficiados foram a minera-ção, os bancos, imobiliárias e serviços públicos privados.

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INTERNACIONAL19 A 23 DE OUTUBRO DE 2018 HP

Macron recauchuta ministériospara tentar frear impopularidade

ANTONIO PIMENTA

Em maio, 280 mil foram às ruas na França contra a política neoliberal de Macron

Com a “bolha de tudo” na sua cola, Trumppede a Fed que manere na alta dos juros

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ROSANITA CAMPOS

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Apagão deixa sem luz metade da Venezuela

“É factível dobrar o salário-mínimo”, afirmao indicado de Obrador para o BC do México

Pyongyang, Seul e comando das tropas dos EUA conversam sobre o desarme na fronteira

Pesquisa registra que só 6% acreditam que sua situação vai melhorar com Macron. Há meses sucedem-se grandes protestos contra o “presidente dos ricos” que só corta direitos

A República Popular Democrática da Co-reia – RPDC, a Coreia do Sul e o Comando da ONU, como é chamado o comando das tropas dos EUA que ocupam o sul da Coreia, começaram nesta terça-feira (16) conver-sações sobre o desarmamento da Área de Segurança Conjunta na fronteira na linha de demarcação militar.

A conversa a portas fechadas realizou-se na Casa da Liberdade em Panmunjom.

O desarmamento da área fez parte do acordo entre o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, e o máximo líder da RPDC, Kim Jong Un durante o encontro dos dois chefes de Estado em setembro em Pyongyang que contou com a participação e aprovação dos responsáveis pela Defesa do Norte e do Sul .

No dia primeiro de outubro, militares e técnicos especialistas nesse trabalho da RPDC e da Coreia do Sul começaram os trabalhos práticos em terreno para retirar as minas terrestres colocadas no local des-de 1953 quando se firmou o armistício que estabeleceu a trégua na Guerra da Coreia e criou a linha divisória entre Norte e Sul. A finalização da retirada das minas está pre-vista para o dia 20 de outubro.

Retiradas as minas, se passará à fase de retirada das tropas e as armas de fogo da área, segundo acordado anteriormente.

Concluído o desarmamento da Zona Desmi-litarizada, até aqui a zona mais militarizada do mundo, a Coreia Popular e a Coreia do Sul, cada uma, manterão na Área de Segurança Conjunta uma tropa 35 soldados e cinco oficiais que estarão todos desarmados.

Com a retirada das minas terrestres, a recuperação de estradas e ferrovias que ligam o Norte e o Sul e transformação da Zona Des-militarizada em Área de Segurança Conjunta verdadeiramente livre de armas, ou seja, com o fim das hostilidades entre Norte e Sul, cresce a chance de interligação e contatos mais regu-lares entre os dois lados do país ainda dividido.

Paralelamente, nesta terça-feira (16) iniciaram-se em Seul conversas entre os EUA e a Coreia do Sul para reavaliar os valores que a Coreia do Sul paga aos EUA pela manutenção das tropas de ocupação norte-americana. O tratado atual sobre os custos dessas tropas estrangeiras vence no final de 2018 e a Coreia do Sul quer dividir tais custos com os EUA.

Sim, é espantoso! Os EUA cobram da Co-reia do Sul os gastos que os EUA têm com a ocupação militar da Coreia do Sul.

Seul pagou aos EUA só neste ano 850 milhões de dólares para custear as tropas norte-americanas e as bases militares espa-lhadas pelo território sul-coreano, mas os EUA querem aumentar esse valor para 1 bilhão e 300 milhões de dólares, de acordo com a imprensa sul-coreana.

Com o avanço da distensão na Península Coreana e das melhorias nas relações inter-coreanas os EUA ficam sem a desculpa de que seus quase trinta mil soldados estejam ali para garantir a paz e o equilíbrio. Trump faz bons diálogos com Kim Jong Un, mas até agora não aceitou assinar um tratado de paz definitivo e não quer de jeito nenhum perder suas várias bases militares na Coreia do Sul.

Também nesta terça-feira (16) o porta-voz do Governo da Rússia reafirmou em Moscou o convite do presidente Putin ao máximo líder coreano, Kim Jong Un, para uma visita ao país.

Depois de duas se-manas sem uma penca de minis-tros, num sinto-

ma do definhamento de seu governo, o presidente francês Emmanuel Macron afinal conseguiu recau-chutar seu ministério, na tentativa de frear a impo-pularidade, que não recua, desde que ele cortou im-postos dos ricos e direitos dos trabalhadores, elitizou o acesso às universidades com o Parcoursup, assaltou conquistas de décadas dos trabalhadores das ferro-vias para facilitar a priva-tização da SCNF e acaba de abrir nova rodada de pilhagem dos aposentados e do seguro-desemprego.

Antes de sair batendo a porta, seu ex-ministro do Interior, Gérard Collomb, advertiu o banqueiro Ma-cron sobre sua desmedida arrogância, o que levou o apelido de “Júpiter” – o deus romano – a colar nele como uma tatuagem, e mais ainda o de “presiden-te dos ricos”. Chegou até mesmo a exasperar quase o país inteiro ao afrontar um desempregado, lhe dizendo que “se atravessasse a rua” conseguiria trabalho. A truculência de seu chefe de guarda pessoal também arranhou sua imagem. Há meses, sucedem-se as grandes manifestações de repúdio a Macron e suas políticas, a última delas, na semana passada, com 300 mil nas ruas no país inteiro e 50 mil em Paris.

Como assinalou um ana-lista francês, a demora na nomeação do ‘novo’ ministério se deve a que já não há filas de puxa-sacos deslumbrados enaltecendo Macron e sua “modernida-de”, e ficou difícil arranjar gente disposta a afundar junto com ele. Menos de dois anos após a apoteótica posse, Macron já sofre de rejeição maior do que a de Hollande, o breve, em igual período de mandato e seu partido prêt-à-porter, o Les Républicains En Marche, vai junto. Pesquisa regis-trou que só 6% acreditam que sua situação econômica vai melhorar com Macron.

O desdém com que Macron trata a gente co-mum só é ultrapassado por seu deslumbre ao lado de Trump, quase de mãos dadas, na Casa Branca. Ou seu enlevo diante de Merkel, a madrasta da austeridade na Europa. Ou seu saudosismo da França de Luiz XVI, aquela que a Revolução Francesa varreu aos brados de “liberdade, igualdade, fraternidade” e com a ajuda da guilhotina.

No discurso de anúncio da maquiagem do gabinete, Macron chegou a ensaiar um pedido de desculpas pelos “erros inevitáveis”, para em seguida asseverar que não vai “mudar de rumo” e que os franceses vão ter que engolir suas “reformas”. Ele manteve – o que chegou a ser posto em questão – o primeiro-ministro Edouard Philippe e nomeou como substituto de Collomb a Christopher Castaner, ex-socialista que aderiu ao macronismo e ex-porta-voz do governo.

Castaner contará ain-da com Laurent Nuñez, ex-chefe da inteligência interna, que recebeu a incumbência de atenuar a indignação dos policiais com a falta de reajuste de salários e de investimentos

– uma complicação quando cabe à instituição tentar conter, com gás lacrimogê-neo e bordoadas, a cólera que as infames políticas do banqueiro Macron causa a milhões de franceses.

Para tentar segurar os protestos dos agricultores franceses contra as pres-sões de Washington sobre a política agrícola comum da União Europeia, foi convocado o senador Didier Guillaume, que continua ‘socialista’. A pasta de Re-lações com o Parlamento será de Marc Fesneau, pre-sidente do partido aliado, MoDem, do centrão de lá.

Para aguentar o repu-xo das manifestações dos estudantes contra a re-forma elitista, o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, ganhou um se-cretário para questões da juventude, o deputado Ga-briel Attal. Franck Riester assume a Cultura e, no ministério da Coesão dos Territórios, entra Jacque-line Gouralt. A secretaria da Igualdade entre Mulhe-res e Homens, cuja titular é Marlene Schiappa, vai acumular a Luta Contra as Discriminações.

Mas apesar de todo o ala-rido sobre a reforma minis-terial, os postos chaves, com exceção do do Interior, não mudaram. Bruno Le Maire, que chegou a se ausentar da reunião do FMI em Bali, foi mantido na Economia e Finanças. Jean-Yves Le Drian permanece à frente das Relações Exteriores, Florence Parly, na Defesa, e Nicole Belloubet, na Justiça.

“Não estamos reclaman-do, estamos nos revoltan-do”, anunciou na semana passada a multidão que percorreu o centro de Pa-ris contra os ataques de Macron aos direitos sociais e democráticos. Como de-nunciou a convocatória, assinada por sindicatos, entidades de defesa dos direitos civis, organizações de aposentados e partidos progressistas, o desmonte de direitos tem de cessar, bem como a concentração desmedida da riqueza e o favorecimento aos agiotas.

SALÁRIOS E PENSÕES

A única maneira de fa-zer a economia deslanchar, apontaram os manifestan-tes, é aumentando os salá-rios, as aposentadorias e os gastos sociais e investimen-tos. As entidades também denunciaram que, em uma década, “as seis maiores fortunas francesas viram sua riqueza quadruplicar, enquanto são necessárias seis gerações para que uma família pobre alcance a renda média”. Os atos se estenderam a uma centena de cidades, na véspera da apresentação do novo plano para garfar os aposentados.

Partidos progressistas consideraram a maquia-gem de ministério cometida por Macron como mais um indício de que a coisa está indo para o brejo e o Fran-ça Insubmissa, partido do ex-candidato a presiden-te, Jean-Luc Mélenchon, que teve 20% dos votos no primeiro turno, está pro-pondo a antecipação das eleições legislativas para o ano que vem. Já para a gentalha desprezada pelo aristocrático presidente, a certeza é de que as moscas mudaram, mas Macron continua o mesmo.

Em entrevista à Fox News, o presidente Trump chamou o Federal Reserve de “a maior ameaça” à sua presidência porque “está elevando as ta-xas muito rapidamente”. Ele também se queixou do ex-cesso de “independência do Fed”. A taxa de juros básica do Fed já está no patamar pré-crise, depois que este ano o BC ianque aumentou o juro de curto prazo três vezes, e há outra alta prevista para dezembro. São aguardados, ainda, mais três aumentos em 2019 e um em 2020.

Desde fevereiro, o Fed é pre-sidido pelo banqueiro Jerome Powell, nomeado por Trump em substituição à acadêmica Janet Yellen, a indicada pelo antecessor Obama para inflar os bancos falidos com trilhões de dólares via ‘quantitative easing’ e outras falcatruas pró-escroques. Graças a isso, enquanto os salários foram mantidos no porão em Main Street, as ações subiram à estratosfera com a “bolha de tudo”, como descrito pelo New York Times anos atrás.

Na semana passada, dian-te da quarta pior perda de pontos da história da Média Industrial Dow Jones de Wall Street, com um tsu-nami de ordens de “venda’, Trump reagiu responsabili-zando o Fed, e disse que este “enlouqueceu”.

Reza a lenda em Wall Street que, quando as ta-xas de juros sobem, a casa

cai. A contrapartida para a derrubada nas ações foi a revoada para os Treasuries, os títulos do Tesouro, cujo rendimento já ultrapassou os 3% (nominais).

No início do mês, Powell, naquela linguagem típica de pitonisa de mercado, asseverou ver “pouco sinal de que a economia está su-peraquecendo” e defendeu o Fed das acusações de que as altas das taxas de juros estão muito “agressivas”.

Conforme o Departamen-to de Comércio, a inflação continua sob controle, com os preços gerais subindo 2,3% nos 12 meses até se-tembro, a menor variação em relação ao ano anterior desde fevereiro. A meta de inflação do Fed é de 2%. Já o salário mínimo não tem aumento há praticamente dez anos.

A cada tremor sísmico em Wall Street, surgem inevitavelmente as compa-rações com um “novo 1987”, ou um “novo 2001”, ou um “novo 2008” – e ainda há a guerra comercial para tor-nar os ânimos mais acirra-dos. Graças à superemissão de dólares para os bancos quebrados e os juros reais negativos, o Fed empurrou com a barriga a crise para a frente, ou como dizem os americanos, chutou a lata pelo caminho.

Como diria o poeta, no meio do caminho tinha uma bolha financeira, tinha uma

bolha financeira descomunal no meio do caminho. Grandes corporações se endividaram para inflar artificialmente as cotações da bolsa e, assim, seus acionistas auferirem parrudos dividendos. Muita gente duvida que o fracking se sustente se tiver de pagar juros normais.

Por fora do sistema ban-cário submetido a um mí-nimo de regras, há fundos de especulação que operam descontrolados e que cria-ram novas armas de des-truição financeira em massa durante esse longo período de juros reais negativos. O corte de impostos para os magnatas só jogou mais gasolina na quentura. O que só mantém a atualidade da “maldição de Manhattan” – e outubro ainda não acabou, e também há um outubro no próximo ano.

Trump tem insistido em que o Fed contenha a alta de juros, pedindo a Powell que considere “o que é bom para o país”. Enquanto este assevera que está tentando se equilibrar “entre os car-dumes do superaquecimento e do aperto prematuro” na economia e todos vão torcen-do para que a bolha estoure mais adiante. Como diz o site zerohedge, a crítica de Trump, é claro, “é apenas sua maneira de preparar o terreno para que o Fed leve a culpa durante a próxima contração, caso isso ocorra”.

O novo vice-presidente do Banco Central do México, Jonathan Heath, afirmou que “é factível duplicar o salário mínimo” e que tornou-se um “imperativo moral” lutar con-tra a violenta perda do poder aquisitivo dos trabalhadores, mantido por debaixo da li-nha da pobreza nas últimas décadas. Da mesma forma, acrescentou, “a meta de cres-cimento do país deve estar em torno de 4% e, num momento dado, deve ser inclusive mais”.

De acordo com o economis-ta, que assumirá seu posto no próximo primeiro de janeiro, “até princípios dos anos no-venta, o salário mínimo era um instrumento para tratar de reduzir a inflação”, com “uma grande quantidade de preços indexados a ele”. Isso mudou, já não há um vínculo,

avalia Jonathan, para quem é preciso deixar de lado o discurso e a prática conser-vadoras na questão salarial.

“Eu vejo alcançável e possível” a duplicação, rei-terou o economista, lem-brando que “temos uma Constituição que diz que o mínimo deve ser digno e não se pode ignorá-la, como se vem fazendo há anos. Precisamos respeitá-la”. “Esta é uma meta para ser alcançada em dois ou três anos”, frisou.

Jonathan lembrou que “não somente o salário mí-nimo está por debaixo dos outros países da região - uma das mais pobres do mundo - como também o salário médio”. “Parte da falta de crescimento econômico tem a ver com o fato de termos

um poder aquisitivo muito baixo. Não sou especialista, mas talvez devêssemos estu-dar o modelo chinês: como se passou de uma economia agrí-cola, de subsistência, a uma economia manufatureira com salários miseráveis e, depois, a uma economia que paga um salário médio superior ao do México”.

As declarações do novo presidente do México, Ló-pez Obrador, de que o país está vivendo os efeitos de uma “quebradeira moral”, na opinião do economista, dizem respeito “aos últimos 30 anos, desde que existe o modelo neoliberal, que não deu resultados”. Se trata mais especificamente, frisou, de um “capitalismo de com-padres, corrupção e falta de Estado de direito”.

Vinte e quatro horas após o apagão que deixou às es-curas mais da metade da Venezuela, em vários pontos do estado de Zulia ainda há moradores sem energia na quarta-feira (17), afirma o jornal El Nacional. O apagão, conforme anúncio do governo Maduro, atingiu 14 estados, após explosão seguida de incêndio na subestação La Arenosa, no estado de Cara-bobo, que recebe a energia em alta tensão da hidrelétrica de Guri e a retransmite para outros lugares. A geração de energia elétrica é feita pela estatal Corpoelec.

O problema teria sido agravado por forte tempes-

tade magnética no estado de Julia, e a previsão do ministro da Energia, Luis Motta Dominguez, de que o conserto estaria completo “2 a 3 horas” após a liberação da subestação pelos bombei-ros, não se concretizou.

Na maioria dos estados, a escuridão se prolongou por 12 horas, sendo que em Táchira, durou 16 horas, com a falta de energia causando a para-lisação de 60% das atividades comerciais e escolares e a sus-pensão de cirurgias eletivas.

Moradores de Zulia dis-seram ao jornal que a Cor-poelec vinha fazendo cortes de 2 a 4 horas por dia há três semanas, mas agora o

fornecimento foi restrito a 2 a 6 horas diárias, apesar do intenso calor, com temperatu-ras de até 36 graus Celsius. No entanto, conforme o Sindicato de Comércio e Serviços, só 20% a 30% dos estabelecimentos funcionaram e, sem acesso à internet, não há como fazer pagamentos por cartão.

O sindicalista Aléxis Ro-driguez, da Corpoelec, reco-nheceu que há um severo ra-cionamento em Zúlia, de pelo menos 12 horas, porque não há geração. Ele afirmou que a usina térmica de Ramón Laguna não produz “um quilowatt” e a Termozulia opera com dificuldades a 20% da capacidade.

O governo de extre-ma direita da Hungria colocou em vigor, na última segunda-feira, uma emenda consti-tucional que proíbe as pessoas de dormirem em espaços públicos, fazendo com que a po-lícia prenda ou obrigue os sem-teto a cumprir seis meses de trabalho forçado. Para isso, bas-ta que tenham recebi-do quatro advertências dentro de 90 dias.

“Qual é o crime que cometeram os sem-te-to? Somente o de tratar de sobreviver”, reagiu Leilani Farha, especia-lista em habitação, con-denando a postura do primeiro ministro Vik-tor Orban. Na avaliação de Leilani, a legislação é “cruel, incompatível com a lei internacional e com os próprios direi-tos humanos”.

Convocados pelo movimento “A cidade é para todos”, manifes-tantes se concentraram no domingo, em frente ao edifício do Parlamen-to, na Praza Kossuth, rechaçando a medida e levantando cartazes exigindo “dignidade para os sem-teto”.

A sétima emenda à Lei Básica, como pas-sou a ser chamada a Constituição húngara, foi aprovada pelos par-lamentares em junho. Além da violenta re-pressão contra os sem-teto, a emenda inclui artigos abertamente

Hungria: sem-teto que dormir na rua é preso e cumpre seis meses de trabalho forçado

xenófobos e persecu-tórios aos migrantes, como os que limitam ainda mais as possibi-lidades de que os refu-giados recebam asilo

As organizações de direitos humanos condenaram enfatica-mente a proibição e frisaram que a ameaça de prisão é inútil, uma vez que não resolverá os problemas de fundo, especialmente quando muitos dos indigentes necessitam também de atenção médica e psicológica. A nova legislação é ainda mais dura do que uma outra aprovada em 2013, que impunha multas a quem dormia na rua.

Conforme Zoltan Aknai, diretor da Fun-dação Albergue, “mui-tas dessas pessoas têm vícios e problemas men-tais ou psiquiátricos e o sistema atual de albergues não pode pro-porcionar tratamento adequado, pois carece de especialistas”.

Em todo o país, o governo admite a exis-tência de apenas 9.800 vagas para pernoitar em seus albergues, en-quanto as estimativas não-oficiais apontam que, apenas na capital, Budapeste, já existem 30 mil pessoas sem-teto. A chegada do inverno em dezembro, com tem-peraturas que chegam a dez graus negativos, só aumenta a preocupação com os indigentes.

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Lysâneas Maciel: “A deplorável herança política de Médici” (1)

LYSÂNEAS MACIEL

ESPECIAL

Em 1973, quando terminou o governo Médici, o mais sanguiná-rio da ditadura instalada em 1964, era preciso coragem – e não pouca – para fazer um balanço honesto de seu legado.

Porém, um deputado da opo-sição, eleito pelo antigo Estado da Guanabara, subiu à tribuna e fez esse balanço.

Seu nome era Lysâneas Maciel – e seu nome se tornaria um dos símbolos da resistência à ditadura.

O discurso abaixo foi publicado no Diário do Congresso Nacional, em 11 de setembro de 1973.

Seu autor deu a ele o título “A deplorável herança política de Médici”.

Há poucas semanas, o candi-dato a vice-presidente de Bolso-naro – aliás, repetindo o próprio – declarou, em entrevista a Globo-News, que o governo Médici foi o melhor que o Brasil já teve.

Pelo discurso do deputado Lysâneas Maciel, pode-se ver o que ele considera melhor

para o nosso país.Como o leitor poderá com-

provar, Lysâneas é obrigado a alguns exercícios – e mesmo a alguma ginástica – em sua linguagem, para dizer a verdade. Mas isso é uma prova da sua inteligência – e também, outra vez, da sua coragem.

Além disso, contou com a colaboração, através de apartes, de colegas, todos também heróis da luta contra a ditadura, como Marcos Freire, J.G. de Araújo Jorge e Freitas Nobre.

Lysâneas, eleito duas vezes para a Câmara dos Deputados, teve seu mandato cassado pela ditadura em 1976. Foi um dos fundadores do grupo autêntico do antigo MDB – e um de seus dínamos.

Derrubada a ditadura, Lysâ-neas foi eleito para a Assembleia Nacional Constituinte, pelo PDT de Leonel Brizola, e, depois, reeleito para a Câmara.

Faleceu em 1999, aos 72 anos.C.L.

SR. LYSÂNEAS MA-CIEL: Sr. Presidente, Srs. Deputados, agora que nos aproximamos da quarta tentativa de solução militar para o país, em que um gene-ral honesto e naciona-lista [Geisel] vai ser es-

colhido através de um processo profundamente ilegítimo, seria justo e oportuno perguntar a este Parlamento qual a herança que este general honesto vai receber do seu antecessor, o que vai colher o general Geisel do Governo que está prestes a findar-se.

Sr. Presidente, a Oposição tem procurado, desde o início de sua atuação, oferecer alter-nativas para este Governo, para que o Sr. General que ocupa a Presidência da República pudesse encontrar o caminho da normalidade e do respeito à democracia; para que, enfim, o Sr. General que ocupa a Pre-sidência da República pudesse reconduzir o país à normalida-de, conforme insistentemente prometera, conforme expres-samente declarara em todos os seus pronunciamentos.

Recordo-me, Sr. Presidente, que diversos membros da Opo-sição, muito embora usando linguagem enérgica, muito embora usando linguagem necessária nestas circunstân-cias para a Oposição, num regime de força, num regime de ditadura militar, sempre procuraram oferecer alter-nativas, a fim de que o país não ficasse eternamente na obscuridade de um regime de força, que não tem saída para si mesmo. Alternativas várias foram estudadas e sugeridas à douta bancada da Situação. Por diversas vezes encontramos até certa ressonância no espírito de alguns membros do partido majoritário, embora muitas ve-zes tivéssemos de profligar aqui que havia certa tendência, en-tre os ilustres componentes da Situação, para declamar para si mesmos belos conselhos, a títu-lo melancólico, e mais tarde não seguir nenhum deles. Dissemos que muitas vezes a central que se encontrava instalada nos próprios órgãos do Governo fechava todas as oportuni-dades para as manifestações legítimas de inconformismo da mocidade e sobretudo da classe trabalhadora, com sindicatos esmagados, com as diretorias purgadas, filtradas e, não obs-tante, muitas vezes destituídas de representação, porque na sua posse, como ocorreu na Guanabara, compareceu um deputado da Oposição.

Dissemos, muitas vezes, Sr. Presidente, que o MDB jamais entendeu fosse a violência o ca-minho adequado para a solução brasileira. O povo brasileiro é pacífico e tem tendência para sofrer resignadamente.

Pronunciamos inúmeros discursos nesse sentido, Srs. Deputados, pedindo, sugerin-

do e mesmo implorando que o Governo tivesse sensibilidade para esses problemas. Temos a certeza absoluta de que a inteli-gência e - por que não dizer? - a sensibilidade de alguns mem-bros do partido da Situação es-tão como que desfiguradas por uma pressão violenta do Poder Executivo e muitas vezes até por um autocondicionamento que nem mesmo pede este Po-der. Este Parlamento oferece tudo ao Governo, despe-se de suas prerrogativas normais, oferece ao legislador militar, ao Executivo, mais do que ele real-mente pede do comportamento do partido da Situação.

Hoje podemos dizer, Sr. Pre-sidente, Srs. Deputados, que talvez em nenhum período da história do Parlamento foi ele tão desfigurado em suas prer-rogativas. A marginalização do Parlamento brasileiro atingiu seu grau máximo. Perguntar-se-á: isso é exigido pelo Poder Executivo ou, na realidade, são orientações e diretrizes próprias de uma liderança que se está acostumando a ser con-duzida em discordância com os mais altos interesses deste país, que está oferecendo aos Srs. Generais que ocupam eventual e periodicamente a Presidência da República os caminhos para encontrar a verdadeira norma-lidade democrática?

Não cremos, Sr. Presidente, porque em muitos projetos, em muitos pronunciamentos, tivemos a certeza de encon-trar ressonância em forças vivas deste país, no sentido de conduzi-lo à normalidade democrática. Não fazemos a injustiça de dizer que um bloco monolítico das Forças Armadas quer este país permanentemen-te oprimido, sem liberdade de imprensa, sem liberdade para a sua juventude, sem liberdade sindical, sem liberdade de qual-quer espécie, porque muitas forças vivas também já estão entendendo que o fim da linha para essa anormalidade tem que ser encontrado sob pena de ressuscitarmos velhas múmias políticas que estão desterradas deste país.

Sr. Presidente, o grau de violação dos direitos humanos, cuja defesa deveria constituir uma prioridade para todo Par-lamento que se julgasse digno, que se julgasse merecedor do tí-tulo de um Parlamento altanei-ro e sobranceiro, está atingindo o limite máximo neste país.

Fizemos, recentemente, uma votação neste Plenário. Vota-mos a favor da Declaração dos Srs. Bispos, que entenderam que os direitos humanos neste país estavam sendo violados. E a Liderança da Maioria, com a habilidade e o brilhantismo que lhe são próprios, derrotou essa moção. Entendemos, em última análise, que votar a favor dos direitos humanos, no Brasil, era votar contra o Governo. Entendemos que os termos em que foi colocado o problema

definem bem a situação em que o país se encontra. Votar a favor dos direitos humanos é votar contra o Governo brasileiro.

Entendam V.Exas. a que ponto estamos chegando, qual é a escalada que estamos pal-milhando, qual é a herança que o Sr. General que vai ocupar a Presidência da República em março de 1974 vai herdar. Este o quadro, e não o daquelas pro-messas de restituição das liber-dades, de resguardo dos direitos primários da pessoa humana.

Sr. Presidente, lembro tam-bém outro episódio. Quando votávamos nesta Casa a desfi-guração do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana - organização que, para vergo-nha nossa, jamais completou uma diligência, nunca interro-gou uma testemunha e jamais concluiu um processo completa-mente, no sentido de que todas as providências processuais fossem seguidas -, entendendo o Governo que a sua composi-ção era perigosa, determinou fossem incluídos entre os seus membros alguns funcionários sem representatividade.

E isso ocorreu em virtude do impacto havido numa votação em que eram requeridas maio-res diligências para descobrir o paradeiro de um ex-parlamen-tar que talvez tivesse sentado nas mesmas cadeiras onde se assentam hoje ilustres mem-bros da bancada da Situação. A diligência foi votada quatro a quatro, mas o Governo en-tendeu que, assim mesmo, com tal resultado, era perigosa a composição do Conselho. Fez nele serem incluídos funcioná-rios sem representatividade, a fim de que fosse garantida a impunidade, fosse garantida a ineficácia de um Conselho já claudicante de acordo com a legislação existente. Foram feitas diversas inclusões no Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, e se ele, até a época, agia com ineficácia, é o caso de se perguntar hoje: que fez este Conselho até o presente momento?

O SR. MARCOS FREIRE: V.Exa. relembrou bem o episó-dio relativo à transfiguração do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, e foi em face daquelas alterações, absur-damente consagradas por esta Casa, que o partido da Oposição resolveu não mais a ele compa-recer. Igual atitude foi tomada pela ABI, enquanto a Ordem dos Advogados do Brasil julgou por bem testar a nova fase em que ingressava o Conselho. Parece-me que o resultado dessa tentativa feita por esse órgão de advogados do Brasil não tenha sido dos melhores. Talvez pela ocorrência de casos como aquele referente a Odígio Carvalho, jovem acadêmico que foi preso e morto na Secretaria de Segurança em Pernambuco,

Lysâneas Maciel discursa na Câmara dos Deputados (foto: Roldão Lessa/AE)

cujo processo esteve nas mãos do então presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Dr. José Neves, o qual, em face das inquirições que fez, chegou à conclusão de que dito processo deveria ser encaminhado ao procurador-geral para a neces-sária denúncia. O presidente da Ordem dos Advogados foi, no entanto, voto vencido, por unanimidade, em face da nova constituição desse Conselho, conforme V.Exa. já teve opor-tunidade de referir.

Talvez por isso e por muita coisa mais é que a imprensa noticiou a possibilidade de a Ordem dos Advogados do Brasil também se retirar das próxi-mas reuniões desse conselho, porque, como bem disse V.Exa., este órgão não está atingindo o objetivo a que se propôs e, na verdade, de defesa dos direitos da pessoa humana só tem a cognominação.

O SR. JOÃO LINHA-RES: Nobre deputado, permi-ta-me voltar alguns minutos na oração que V.Exa. pronuncia, quando fez alusão à votação re-alizada no Plenário da Câmara com relação àquele manifesto ou àquele estudo da CNBB referente a vários problemas do Brasil, apenas para consignar um reparo. A Aliança Renova-dora Nacional não votou contra a defesa dos direitos da pessoa humana. Insurgiu-se foi contra os lances políticos que o Movi-mento Democrático Brasileiro quis tirar daquele manifesto dos bispos. A Arena se insurgiu foi contra o teor e a justificação do requerimento que a Oposi-ção formulou na oportunidade. Traz V.Exa. novamente o pro-blema da alteração do Conselho de Defesa dos Direitos da Pes-soa Humana. V.Exa., que está criticando a alteração proposta pelo senador Ruy Santos, há de recordar que o então líder do MDB, deputado Pedroso Horta, e vários outros deputados da Oposição apresentaram emen-das ao projeto ampliando ainda mais a constituição do Conse-lho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e que - V.Exa. se lembrará, porque as sessões foram memoráveis na Comis-são de Constituição e Justiça -, em longo parecer do deputado Alceu Collares, que pedira vista do projeto, a Oposição tentou provar, por todos os meios e formas, a inconstitucionalidade do projeto Ruy Santos. Mas, no momento de votar as emendas, que eram semelhantes ao pro-jeto do senador Ruy Santos, pois igualmente aumentavam o número de membros daquele Conselho, votou pela constitu-cionalidade das mesmas, de-monstrando, dessa forma, uma incoerência impressionante. O raciocínio de V.Exa. nos leva a deduzir que, naquele momento, o MDB também votava contra a defesa dos Direitos da Pessoa

Humana. Mas também pedi o aparte a V.Exa. para citar um caso trazido a esta tribuna por eminentes deputados da Oposi-ção de Pernambuco. Não posso afirmar que o deputado Marcos Freire, naquela ocasião, relata-va a morte de um estudante na Secretaria de Segurança Públi-ca de Pernambuco. O deputado Marcos Freire e todos aqueles que compõem a Oposição, quem já foi advogado, quem pelo me-nos teve o trabalho de consultar a legislação que trata especifi-camente das arbitrariedades cometidas pelas autoridades, sabem perfeitamente que aque-le que deseja defender o direito do seu cliente - e nessa defesa, quantas vezes levamos em con-ta o nosso idealismo e a nossa posição ideológica - jamais ba-teria às portas do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, que não é um órgão do Poder Judiciário. Na legisla-ção que traçou os seus limites e as suas atribuições, não há um dispositivo que lhe permita sancionar quem quer que seja, mas única e exclusivamente re-comendar à autoridade respon-sável que instaure o processo competente. Se um secretário de Segurança ou um chefe de polícia comete uma arbitrarie-dade, existe em vigência uma lei rigorosa, a que trata dos crimes de responsabilidade. Deputado Lysâneas Maciel, sabemos que não é interessante para quem procura defender os direitos do seu cliente, ou de uma possível vítima, os limites humildes de uma sala de audiência. Ali não existe televisão, flashs, cobertura de imprensa, enfim não há publicidade. Há, única e simplesmente, o trabalho sério, e quantas vezes anônimo, do advogado que luta por defender os interesses dos seus clientes. O Conselho, não. É um órgão de expressão nacional, e uma petição a ele encaminhada, é evidente, ganhará as man-chetes dos jornais. Mas sabe o subscritor da representação que ele jamais cumprirá o que lhe foi outorgado no momento em que foi escolhido para defen-der os interesses do seu cliente. Jamais haverá punição para o autor da arbitrariedade. Bus-quemos o remédio na lei que define os crimes de responsabi-lidade e alcançaremos muitos e melhores efeitos.

O SR. LYSÂNEAS MA-CIEL: O discurso paralelo de V.Exa. teve alguns méritos.

O SR. JOÃO LINHARES: Perdoe-me, alonguei-me no aparte. V.Exa. foi condescen-dente.

O SR. LYSÂNEAS MA-CIEL: Mas eu gostei de ouvir V.Exa. Disse até que nossas de-núncias ganham as manchetes dos jornais do país. De que país está V.Exa. falando?

O SR. JOÃO LINHARES: Falo do Brasil, do qual V.Exa.

está esquecido.O SR. LYSÂNEAS MA-

CIEL: Tive a impressão de que V.Exa. não falava do Brasil. V.Exa, posso afirmar, jamais mi-litou nas auditorias militares. V.Exa., que é um crente nas medidas salutares de segurança adotadas pelo Governo, jamais teve a oportunidade de, na mo-déstia dos bancos das auditorias militares, defender esses pobres elementos que teriam o cami-nho adequado através da lei que define os crimes de responsa-bilidades e que garantiria seus direitos. Talvez V.Exa. esteja a expressar um anseio íntimo de que essas denúncias ganhem as manchetes dos jornais e a televisão. Quando, nobre depu-tado, uma denúncia da morte de um estudante, da prisão de um trabalhador, alcançou as manchetes dos jornais e as televisões neste país? Isso é uma brincadeira trágica. V.Exa., com um brilhantismo que lhe é pecu-liar, está brincando com cente-nas, milhares de trabalhadores que estão sendo torturados, que estão sendo mortos.

O SR. JOÃO LINHARES: Somente V.Exa. é que sabe des-se noticiário!

O SR. LYSÂNEAS MA-CIEL: Sente-se no banco das auditorias militares e veja as mães de estudantes e trabalha-dores mortos. Elas não querem mais saber onde estão seus filhos, querem apenas os corpos de seus filhos. Não vamos falar da modéstia de sentar em ban-cos de auditoria. V.Exa. não teve esse privilégio, que é um dever sagrado nosso.

O SR. JOÃO LINHARES: Sentei na auditoria do Tribunal Regional Militar, em Curitiba.

O SR. LYSÂNEAS MA-CIEL: Provavelmente para defender peculato.

O SR. JOÃO LINHARES: Tive sempre o princípio de não defender ladrões, quando fui advogado, e continuo militan-do. V.Exa. diz que os jornais não estampam manchetes dos casos que o MDB tem trazido ao conhecimento da Casa. Recen-temente se fez um verdadeiro cavalo de batalha da morte de um estudante em São Paulo e a imprensa paulista, especial-mente O Estado de S.Paulo, publicou em manchete uma nota do arcebispo de São Paulo. Lembro a V.Exa. que é um caso recente.

O SR. LYSÂNEAS MA-CIEL: Quero apenas dizer que V.Exa. está completamente equivocado. V.Exa é um deputa-do brilhante, tem boa memória.

O SR. JOÃO LINHARES: Muito obrigado.

O SR. LYSÂNEAS MA-CIEL: Quando foi denunciada aqui a morte de Alexandre Vanucchi, estava presente o deputado Cantídio Sampaio, e chamei à discussão do pro-blema a Liderança da Maioria. Naquele dia fez ela, inclusive, uma estatística macabra da série de atropelamentos que se sucediam e afirmava: este é mais um atropelamento que ocorreu no país. Esta a expli-cação que a Maioria deu, mas não teve a coragem de exibir o corpo massacrado daquele estu-dante. Essa a informação de um elemento da Maioria, Srs. De-putados, que conhece os porões e os desvãos dos IPMs. Notícias foram aqui trazidas que nem os advogados, nem a família do estudante massacrado tivera conhecimento. Apresentaram aqui, repito, estatísticas da sé-rie de atropelamentos, como se a morte daquele estudante tam-bém nelas estivesse incluída, morte que mereceu do cardeal de São Paulo, D. Evaristo Arns, a seguinte expressão: “Quando mataram Jesus Cristo devolve-ram o corpo. À família daquele estudante nem isso”.

Continua na próxima edição