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CHICO MINEIRO Fizemos a última viagem foi lá pro sertão de Goiás. Fui eu e o Chico Mineiro também foi o capataz. Viajamos muitos dias pra chegar em Ouro Fino. Aonde nós passamo a noite numa festa do Divino. A festa tava tão boa, mas antes não tivesse ido. O Chico foi baleado por um homem desconhecido. Larguei de comprar boiada mataram meu companheiro. Acabou-se o som da viola acabou-se o Chico Mineiro. Despois daquela tragédia fiquei mais aborrecido. Não sabia da nossa amizade porque nós dois era unido. Quando vi seu documento me cortou meu coração. Vim saber que o Chico Mineiro era meu legítimo irmão. SAUDADES DE MINHA TERRA De que me adianta viver na cidade, se a felicidade não me acompanhar? Adeus, paulistinha do meu coração, lá pro meu sertão, eu quero voltar. Ver a madrugada, quando a passarada fazendo alvorada, começa a cantar. Com satisfação, arreio o burrão, cortando estradão, saio a galopar. E vou escutando o gado berrando, sabiá cantando no jequitibá. Por Nossa Senhora, Meu sertão querido, vivo arrependido por ter deixado Esta nova vida aqui na cidade. De tanta saudade, eu tenho chorado. Aqui tem alguém, diz que me quer bem, mas não me convém, eu tenho pensado eu fico com pena, mas esta morena não sabe o sistema que eu fui criado

Chico Mineiro

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cHICO MINEIRO

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Page 1: Chico Mineiro

CHICO MINEIRO

Fizemos a última viagem foi lá pro sertão de Goiás. Fui eu e o Chico Mineiro também foi o capataz.

Viajamos muitos dias pra chegar em Ouro Fino. Aonde nós passamo a noite numa festa do Divino.

A festa tava tão boa, mas antes não tivesse ido. O Chico foi baleado por um homem desconhecido.

Larguei de comprar boiada mataram meu companheiro. Acabou-se o som da viola acabou-se o Chico Mineiro.

Despois daquela tragédia fiquei mais aborrecido. Não sabia da nossa amizade porque nós dois era unido.

Quando vi seu documento me cortou meu coração. Vim saber que o Chico Mineiro era meu legítimo irmão.

SAUDADES DE MINHA TERRA

De que me adianta viver na cidade, se a felicidade não me acompanhar?Adeus, paulistinha do meu coração, lá pro meu sertão, eu quero voltar.Ver a madrugada, quando a passarada fazendo alvorada, começa a cantar.Com satisfação, arreio o burrão, cortando estradão, saio a galopar.E vou escutando o gado berrando, sabiá cantando no jequitibá.

Por Nossa Senhora, Meu sertão querido, vivo arrependido por ter deixadoEsta nova vida aqui na cidade. De tanta saudade, eu tenho chorado.Aqui tem alguém, diz que me quer bem, mas não me convém, eu tenho pensadoeu fico com pena, mas esta morena não sabe o sistema que eu fui criadoTô aqui cantando, de longe escutando, alguém está chorando com o rádio ligado.

Que saudade imensa do campo e do mato, do manso regato que corta as Campinas.Aos domingos ia passear de canoa nas lindas lagoas de águas cristalinas.Que doce lembrança daquelas festanças onde tinham danças e lindas meninas.Eu vivo hoje em dia sem ter alegria, o mundo judia, mas também ensina.Estou contrariado, mas não derrotado, eu sou bem guiado pelas mãos divinas.

Pra minha mãezinha já telegrafei e já me cansei de tanto sofrerNesta madrugada estarei de partida pra terra querida que me viu nascer.Já ouço sonhando o galo cantando, o nhambu piando no escurecer.A lua prateada clareando as estradas, a relva molhada desde o anoitecerEu preciso ir pra ver tudo ali, foi lá que nasci, lá quero morrer.

MEU REINO ENCANTADO

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-Eu nasci num recanto feliz, bem distante da povoaçãoFoi ali que eu vivi muitos anos com papai mamãe e os irmãos.Nossa casa era uma casa grande na encosta de um espigãoUm cercado pra apartar bezerro e ao lado um grande mangueirão.-No quintal tinha um forno de lenha e um pomar onde as aves cantavamUm coberto pra guardar o pilão e as traias que papai usava.De manhã eu ia no paiol uma espiga de milho eu pegavaDebulhava e jogava no chão num instante as galinhas juntava.-Nosso carro de boi conservado, quatro juntas de bois de primeiraQuatro cangas, dezesseis canzis encostados no pé da figueira.Todo sábado eu ia na vila fazer compras para semana inteiraO papai ia gritando com os bois, eu na frente ia abrindo as porteiras.-Nosso sítio que era pequeno pelas grandes fazendas cercadoPrecisamos vender a propriedade para um grande criador de gadoE partimos pra a cidade grande a saudade partiu ao meu ladoA lavoura virou colonião e acabou-se meu reino encantado.-Hoje ali só existem três coisas que o tempo ainda não deu fim:A tapera velha desabada e a figueira acenando pra mimE por ultimo marcou saudade de um tempo bom que já se foi:Esquecido em baixo da figueira, nosso velho carro de boi.

IPÊ FLORIDO

Quando há muitos anos fui aprisionado nesta cela friaDo segundo andar da penitenciária lá na rua eu viaQuando um jardineiro plantava um ipê e ao correr dos diasEle foi crescendo e ganhando vida enquanto eu sofria.

REF.: Meu ipê florido junto a minha cela hoje tem a altura de minha janelaSó uma diferença há entre nós agora: aqui dentro as noites não tem mais aurora; Quanta claridade tem você lá fora!

Vejo em seu tronco cipó parasita te abraçando forte enquanto te abraça, suga a tua seiva te levando a morteAssim foi comigo ela me abraçava, depois me traía por isso a matei e agora só tenho sua companhia.

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