Chum Binho

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  • Revista Eletrnica de Farmcia Suplemento Vol 2 (2), 29 - 31, 2005. ISSN 1808-0804

    INTOXICAES POR CHUMBINHO (ALDICARB)

    PROVOCADA POR DETENTOS EM AGNCIA PRISIONAL (GO) PARA TENTATIVA DE FUGA

    AZEREDO, Flaubertt Santana de1; CUNHA, Luis Carlos2; BARROSO, Ana Valria Santos3; MORATO, Adelvanio Francisco3; COSTA, G.N.F. 3; NICOLUCCI, A.C. 3; OLIVEIRA, Jos Lino3; ARRUDA, Joo Sanderson3.

    Palavras-chave: chumbinho, aldicarb, intoxicao aguda, detentos.

    1. INTRODUO Os inseticidas carbamatos so produtos bastante utilizados para o combate de insetos, nematdeos e outras pragas na agricultura. Agem inibindo, reversivelmente, as colinesterases plasmtica, eritrocitria e do SNC Dentre os mais conhecidos est o carbofuran (Furadan) e, atualmente, o ALDICARB (Temik ). Este, de colorao cinza-chumbo, sem odor caracterstico, conhecido popularmente como chumbinho e utilizado, clandestinamente, como rodenticida. Desde ento, vem se erguendo uma onda de suicdios, homicdios e intoxicaes acidentais por esse produto (Lima & Pereira, 1996). O SINITOX relata muitos casos de intoxicao pelo mesmo no Brasil, particularmente na Bahia e no Esprito Santo. Em Gois, h poucos relatos no CIT, nos ltimos cinco anos, com tendncia de incremento. Por exposio aguda, o Aldicarb um dos ingredientes ativos mais txicos encontrados entre os defensivos agrcolas no mercado (DL50 em ratos igual a 1mg/kg de peso corpreo), Encontra-se registrado que uma dose oral de 0,26mg/kg de peso corpreo em um voluntrio humano, produziu intoxicao aguda sendo necessrio atropinizar o indivduo (Machemer & Pickel, 1994). O Aldicarb prontamente absorvido por via oral, amplamente distribudo e rapidamente biotransformado no organismo. Seus produtos de biotransformao so excretados principalmente na urina (80%) dentro de 24 horas, no ocorrendo armazenamento nos tecidos. Tem rpido inicio da ao e alta letalidade (no Hospital de Urgncias de Goias, HUGO, cerca de 30%), devido a demora da entrada do paciente (e.g. suicida) no pronto-atendimento. Produz intensos sinais e sintomas de sndrome colinrgica (efeitos muscarnicos e nicotticos). H dificuldades tcnicas para o manejo destes pacientes, que inclui dificuldade para a anlise da quantidade e do tipo de agente, ou para a dosagem da atividade da enzima colinesterase, e que nem sempre esto disponveis na rotina clnica; alm do suporte ventilatrio, muitas vezes necessrio, e que normalmente s possvel em grandes hospitais (Moraes, 1999). O presente artigo tem como objetivo relatar um caso de intoxicao intencional aguda para a tentativa de fuga.

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    2. METODOLOGIA Sujeitos: 11 (onze) reeducandos da Agncia Prisional de Gois (APG), todos julgados e condenados, em ala de alta periculosidade. Exposio: O aldicarb entrou no presdio, provavelmente, levado por algum parente e foi distribudo aos 11 envolvidos junto com refrigerante sabor cola, para que pudessem apresentar sinais e sintomas de intoxicao e serem transferidos para um hospital e serem resgatados da priso. Conduta clinica: foram descritos e avaliados os sinais, sintomas e tratamento realizados pela equipe de sade da Agencia Prisional de Goinia (AGP), orientada pelo Centro de Informao Toxicolgica de Gois (CIT-GO). 3. DISCUSSO DO CASO Todos os envolvidos manifestaram, durante 1-3 horas, em maior ou menor grau, sinais colinrgicos como sudorese, nuseas, vmitos, salivao intensa, palidez cutnea, lacrimejamento, clicas abdominais, viso embaada, diarria, cibras e dispnia. No foi relatado o horrio da ingesto. Notou-se que alguns reeducandos estavam forando o aparecimento de certos sinais. A deciso da Diretoria do presdio foi a de no transferir os presos para ambiente hospitalar, primando pelo altssimo risco de fuga e pela segurana aos pacientes do hospital a escolher. Orientados pelo CIT, a equipe de sade da APG (o mdico e o pessoal de enfermagem) tratou os detentos com soluo fisiolgica. Um detento requereu cuidados mais profundos e recebeu bicarbonato de sdio, por gotejamento e soluo salina (7 L/24 h). Atropina no foi administrada. Colheram-se amostras de sangue para hemograma, colinesterase, Na, K, uria, creatinina. 4. CONCLUSO Apesar da falta de condies de tratamento, internao e antidotismo, todos sobreviveram. Por se tratar de intoxicaes leves e moderadas, descaracterizou-se a inteno de suicdio ou homicidio, e sim, induo de intoxicao por doses leves para obter uma tentativa arriscada de fuga. Verifica-se, assim, que alguns detentos, de alguma maneira, possuem conhecimento toxicolgico da dose e dos sintomas da intoxicao por carbamatos. 5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BALALI-MOOD, M., SHARIAT, M. Treatment of Organophosphate Poisoning. Experience of Nerve Agents and Acute Pesticide Poisoning on the Effects of Oximes. J. Physiology, 92: 375-378, 1998.

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