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Ciclo de Literatura Oswald de Andrade Autor Homenageado da Flip 2011

Ciclo de Literatura Oswald de Andrade 2011

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Feito para um ciclo de literatura a ser realizado com professores de Paraty pela Associação Casa Azul, esse encarte trata do autor Oswald de Andrade, homenageado da Flip 2011. Para auxiliar os professores com suas aulas e ajudá-los a inteirar seus alunos acerca do homenageado da 9a Festa Literária, a peça traz a biografia de Oswald, trechos de sua obra, bibliografia de livros dele e sobre ele, além de uma pequena análise feita pelo curador da Flip, Manuel da Costa Pinto, sobre a trajetória do escritor modernista.

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Ciclo de LiteraturaOswald de Andrade

Autor Homenageado da Flip 2011

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Oswald de Andrade aos nove meses de idade, ca. 1890

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RealizacãoAssociação Casa Azul

As imagens usadas neste impresso foram gentil-mente cedidas pelo Fundo Oswald de Andrade - CEDAE/Unicamp

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A nona edição da Flip terá como autor homenageado Oswald de Andrade. Você certamente já conhece o escritor paulista, um dos criadores da Semana de Arte Moderna de 1922, autor do Manifesto da poesia pau brasil (e do livro de poemas Pau brasil), do Mani-festo antropófago e dos romances Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande.

Mas também existe um Oswald menos conhecido: o romancista da Trilogia do exílio, o escritor engajado que procurou fazer um panorama crítico da burguesia em Marco Zero, o dramaturgo e o pensador que, partindo do Movi-mento Antropófago, fez uma leitura antropológica (e também antropofá-gica) da cultura brasileira – além da personalidade vulcânica, provocadora, que agitou a cena cultural do país.

Não é exagero dizer que, na litera-tura brasileira, existe um antes e um depois da antropofagia. E se o autor de O rei de vela ajudou a descobrir outro Brasil, fundindo o primitivo e o moderno, que tal redescobrir Oswald de Andrade com a Flip?

Autor homenageado Oswald de Andrade

Pra começo de conversa, é bom lembrar que Oswald se pronuncia Osváld e não Ôslvad. Ele herdou o prenome composto do pai, assim batizado numa home-nagem da avó, que viveu na mineira Baependi e era leitora de um romance francês do século XIX (Corina, de Madame de Staël), em que a heroína cai de amores pelo lorde escocês Oswald Nevil. No divertidíssimo artigo “Oswáld, Oswaldo, Ôswald” (reproduzido como prefácio da autobiografia oswaldiana Um homem sem profissão), o crítico Antonio Candido lembra que, nessa miscelânea de nacionalidades, a forma inglesa “se manteve na família do nosso escritor por três gerações, sempre pronunciada Oswáld, à brasileira (como certamente pronunciaria também, mas aí à francesa, Madame de Staël)”.

Retrato de Inês Henriqueta de Souza Andrade, mãe de Oswald de Andrade, ca. 1888

Retrato de José Oswald Nogueira de Andrade, pai de Oswald de Andrade, ca. 1912

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Da esquerda para a direita, montados nos camelos: Luizinha de Souza, Cláudio de Souza, Biela Arantes, Altino Arantes, José Oswald Antônio de Andrade (Nonê), Dulce Amaral Pinto, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, Cairo, ca. 1926

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O devorador do BrasilVida e obra de Oswald de Andrade

José Oswald de Souza Andrade nasceu em São Paulo, em 11 de janeiro de 1890. Típico filho da elite paulistana, descendente do escritor para-ense Inglês de Souza (autor de O missionário), estudou na tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, mas logo enve-redou pelo jornalismo e pela boemia literária. Em 1911, fundou a revista humorística O Pirralho, onde assinava textos em português “macarrô-nico” sob o pseudônimo Annibale Scipione, numa paródia do linguajar dos imigrantes italianos que já apontava para sua verve humorística. No ano seguinte, Oswald viaja para a Europa, onde conhece Henriette Denise Boufflers (Kamiá) e toma contato com as vanguardas artísticas de Paris, especialmente o Mani-festo futurista do poeta italiano Marinetti.

De volta ao Brasil com Kamiá – com quem teria seu primeiro filho, José Oswald Antônio de Andrade (Nonê) –, envolve-se com a bailarina Carmen Lídia (Landa Kolbach), que conhe-cera na viagem de ida à Europa. Nessa época, frequentava a Villa Kyrial, reduto aristocrático em que o magnata e mecenas José de Freitas Valle acolhia artistas consagrados internacional-mente – como o tenor italiano Enrico Caruso e a atriz francesa Sarah Bernhardt –, mas também patrocinava jovens com ideias transformadoras, como os pintores Lasar Segall, o escultor Victor Brecheret e o poeta Guilherme de Almeida.

A São Paulo do período é uma cidade que enri-quecera rapidamente com o boom do café e ia perdendo seu aspecto provinciano com a chegada da luz elétrica e dos trilhos de bonde. Com a eclosão da Primeira Guerra, compa-nhias de teatro e de dança fazem tempo-radas na América do Sul e os salões literários da nascente metrópole procuram reproduzir o ambiente da Belle Époque francesa.

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Oswald de Andrade, ca. 1915

Pablo Neruda e Oswald de Andrade, ca. 1945

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José Oswald Antônio de Andrade (Nonê) e Oswald de Andrade, Lausanne, ca. 1925

Patrícia Galvão (Pagu), Rio de Janeiro, ca. 1931

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Oswald de Andrade participou intensamente desse momento de efervescência cultural. Porém, espírito irrequieto, criou seu próprio palco, que foi um verdadeiro laboratório do modernismo: a garçonnière, ou “retiro de rapazes”, em que se reunia com os amigos (entre eles Menotti del Picchia e Guilherme de Almeida). No aparta-mento da rua Líbero Badaró, no centro da cidade, havia um caderno que em que todos deixavam anotações e comentários. Nesse diário coletivo, composto por colagens e poemas – e que seria publicado com o título O perfeito cozinheiro das almas deste mundo –, Oswald exercitava seu talento de frasista, de inventor de sentenças lapidares, prenunciando o autor dos manifestos.

Em 1917 conhece Mário de Andrade e, em janeiro do ano seguinte, sai em defesa da pintora Anita Malfatti, cuja exposição de quadros afinados com a estética cubista e expressionista havia provo-cado reações iradas (entre elas, o célebre artigo “Paranoia ou mistificação?”, de Monteiro Lobato).

A intervenção de Oswald, somada às ideias vanguardistas que trouxera da Europa, amal-gamou o Grupo dos Cinco, formado por ele, Anita, Mário, Guilherme de Almeida e Menotti del Picchia. Nesse momento, começavam a ser preparados os eventos comemorativos do centenário da Independência do Brasil, e eles conceberam aquele que seria o acon-tecimento capital da literatura brasileira no século XX: a Semana de Arte Moderna de 22.

No mesmo ano, ele publica Os condenados (primeira parte da Trilogia do exílio) e, em 1924, o romance Memórias sentimentais de João Miramar e o Manifesto da poesia pau brasil – no qual propõe, em frases telegráficas e cheias de humor, “ver com olhos livres” (ou seja, rompendo com os padrões estabelecidos) nossa cultura híbrida.

A realização poética desse programa estético foi o livro Pau brasil, que ele lançou em 1925, antes de viajar à Europa com a pintora Tarsila do Amaral, por quem se apaixonara após a Semana. De volta ao país, Oswald publica Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade (1927) e cria em 1928 a Revista de Antropofagia, cujo primeiro número traz o Manifesto Antropófago.

A quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, abala a economia mundial e leva a oligarquia brasileira à bancarrota, encerrando o período mais glamouroso da vida de Oswald.

A Revolução de 30 dá início a um período de radicalização política. Oswald se une à escri-tora e militante política Patrícia Galvão (Pagu), com quem teve seu segundo filho, Rudá – e com quem edita o jornal O Homem do Povo. O casamento termina em 1934, ano seguinte à publicação de Serafim Ponte Grande. Entre 1936 e 1942, Oswald vive com a poeta Julieta Bárbara Guerrini e escreve a peça teatral O rei da vela (1937). Casa-se em 1943 com Maria Antonieta d’Alckmin, sua última esposa, com quem vive por onze anos e tem dois filhos: Antonieta Marília (1945) e Paulo Marcos (1948).

No período final da vida, Oswald de Andrade publica os dois volumes de Marco Zero (afresco sobre a sociedade paulista), profere palestras, mantém uma intensa atividade jornalística e escreve ensaios de fôlego, que sistematizam sua visão antropofágica da cultura brasileira (em especial A crise da filosofia messiâ-nica) – além do livro de memórias Um homem sem profissão – sob as ordens de mamãe, publicado às vésperas de sua morte, em São Paulo, no dia 22 de outubro de 1954.

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Os capítulos a seguir narram, de maneira elíptica, o embarque de Miramar no navio Martha e sua a viagem pela Europa:

Memórias Sentimentais de João Miramar

28 Porto Saído

Barracões de zinco das docas retas no sol pregaram-me como um rótulo no bulício de carregadores e curiosos pois o Martha largaria só noite tropical.

A tarde mergulhava de altura na palidez canalizada por trampolins de colinas e um forte velho. E brutos carregavam o navio sob sacos em fila.

Marinheiros dos porões fecharam os mastros guindastes e calmos oficiais lembrando ombros retardatários.

A barriga tesa da escada exteriorizou os lentos visitantes para ficar suspensa ao longo dos marujos loiros.

Grupos apinharam o cais parado.

29 Manhã no Rio

O furo do ambiente calmo da cabina cosmoramava pedaços de distância no litoral.

O Pão de Açúcar era um teorema geométrico.

Passageiros tombadilhavam o êxtase oficial da cidade encravada de crateras.

O Martha ia cortar a Ilha Fiscal porque era um cromo branco mas piratas atracaram-no para carga e descarga.

Desenho feito por Oswald de Andrade para o poema “Anacronismo”, do Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, publi-cado em 1927

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39 Cerveja

Empalada na límpida manhã a Alemanha era uma litografia gutural quando os corações meu e de Madô desceram malas em München.

Paredes enormes davam comida a portais góticos. Um príncipe de Baviera chegou para as calçadas perfiladas e gordas hurrarem a carruagem que entrou no povo por mitrados cavalos sólidos.

E um bardo garganteou entre bocks na fumaça sonora de valquírias.

40 Costeleta Milanesa

Mas na limpidez da manhã mendiga cornamusas vieram sob janelas de grandes sobrados.

Milão estendia os Alpes imóveis no orvalho.

43 Veneza

Descuidosas coisas novas pingaram dias felizes na cidade diferente dos doges.

Descidos da janela do hotel o estrangulamento de palácios minava sob relógio de vidro negro com horas áureas na direção da praça bizantina.

O campanile cercado de pombas era um fuso brônzeo bá-om!

Pequenas ruas ostentavam durante o dia um comércio completo de cidade visitada com serenatas noturnas.

Cristais joias couros lavrados marfins caíam com xales italianos de cores vivas nos canais de água suja.

Gondolamos graciosamente na Ponte de Rialto e suspiramos na outra.

Mas São Marcos era uma luz elétrica noturna de banho turco num disparate de mundiais elegâncias aviadoras rodeando concertos servidos com sorvetes.

48 Chuva de Pedra

Estiadas amáveis iluminavam instantes de céus sobre ruas molhadas de pipilos nos arbustos dos squares. Mas a abóbada de garoa desabava os quarteirões.

E um dia o dinheiro chegou de mais dentro dum telegrama com resposta paga de minha rápida volta.

46 Anglomania

Tomamos board-house francesa em Albany Street não longe do Hyde Park.

Durante o dia almoçávamos a cidade visitando entre jardins múmias do British Museum.

Chegava a noite pontual e policemen corriam pesados stores do céu para alexandrinais poetas compatriotas percorrerem de tube o famoso astro da metrópole cor de cinza.

Fechávamos-lhe a porta à cara branca e alugávamos com Musset e Murger aconchego de rendas em cortinas insones.

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Oswald de Andrade, ca. 1948

Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, ca. 1927

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“Bruta sacudidela nas artes nacionais! [...] Enchente de tintas, vulcões de lama, saraivada de calúnias. Muito riso e pouco siso.” Assim Mário de Andrade descreveu a Semana de Arte Moderna de 1922 – verdadeira convulsão que sintonizou o país com as vanguardas europeias e buscou criar para a cultura brasileira uma linguagem própria, que fundisse o primitivo à civilização técnica.

Nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, subiam aos palcos do Theatro Municipal autores já vete-ranos, como Graça Aranha (autor do romance Canaã e membro da Academia Brasileira de Letras), que no primeiro sarau fez a conferência “A emoção estética na Arte Moderna”, e jovens como Ronald de Carvalho, Sérgio Milliet, Mário e Oswald de Andrade, que recitaram trechos de prosa e poesia para ilustrar a conferência “Arte moderna”, de Menotti del Picchia.

No saguão do teatro, acontecia uma exposição com esculturas de Victor Brecheret e pinturas de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Oswaldo Goeldi e do suíço John Graz. E as apresentações literárias alternavam-se a recitais dos pianistas Guiomar Novais e Ernani Braga com obras de Villa-Lobos.

A mais ruidosa participação foi justamente a de Oswald. Recebido com “uivos, gritos, patea- das no assoalho”, sua leitura de trechos de Os condenados se confundia com o alarido geral, como descreveu Menotti del Picchia:

“Como um herói numa trincheira visada por todos os lados pela fuzilaria inimiga e revi-dando com o esvaziar da única arma, Oswald, calmo, com o sorriso mordaz com que fazia suas travessuras literárias, continuava a ler a história de Alma, das criaturas fatalizadas e torturadas que torturavam seu romance Os condenados. Ao terminar, o estrondo de vaias aumentou.”

O curioso é que esse livro, que seria publi-cado no mesmo ano, não continha ainda os elementos mais transgressivos de sua obra, que apareceriam em Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande, romances de quadros descontínuos e com uma linguagem que pode ser considerada “experi-mental”, expressando melhor a sensibilidade moderna que eclodiu na Semana de 22.

Uivos e gritosOswald na Semana de 22

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O banquete antropofágico

De todas as obras de Oswald de Andrade, a mais controvertida, que provoca calorosos debates, é certamente o Manifesto antropó-fago – o que prova a persistência das ques-tões que ele formula com violência e humor.

“Só a antropofagia nos une. Socialmente. Econo-micamente. Filosoficamente.” Assim começa a sequência de frases-relâmpago do manifesto, com referências que vão das línguas indígenas e Montaigne (o escritor francês do século 16 que escreveu um ensaio sobre os canibais brasileiros) a Freud, o criador da psicanálise.

O que Oswald quis dizer com o termo antropo-fagia? Que a cultura brasileira tem uma forma peculiar de lidar com a cultura, devorando as influências externas para recriá-las? Ou será que a antropofagia é uma maneira de descrever a vida moderna, com sua sucessão vertiginosa de rupturas com o passado, de “canibaliza-ções” típicas da era das metrópoles industriais, que destroem e reciclam as tradições?

Quando ele proclama que “Só a antropofagia nos une”, refere-se à união de nós, brasileiros, ou nós, modernos de todo o mundo? Enfim, a antropo-fagia define uma identidade nacional brasileira ou é o modo como, a partir do Brasil, podemos ver uma sensibilidade moderna que não é só nossa?

Talvez a melhor maneira de responder à questão seja deixá-la sem resposta, preservando seus enigmas, mas ao mesmo tempo examinando os diferentes elementos que ajudaram o home-nageado da Flip a escrever o manifesto.

Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral em festa a fantasia a bordo do navio Capitão Apolonio, a caminho da Europa, ca. 1925

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FatigadoDas minhas viagens pela terraDe camelo e táxiTe procuroCaminho de casaNas estrelasCostas atmosféricas do BrasilCostas sexuaisPara vos fornicarComo um pai bigodudo de PortugalNos azuis do climaAo solem nostrumEntre raios, tiros e jaboticabas.

Veja abaixo trechos de “Fim de Serafim”, um dos últimos capítulos do romance, que narra o retorno do protagonista ao Brasil após seu périplo marítimo:

Serafim Ponte Grande

Pregação e disputa do natural das Américas aos sobrenaturais de todos os Orientes.

– Tudo é tempo e contratempo! E o tempo é eterno. Eu sou uma forma vitoriosa do tempo. Em luta seletiva, antropofágica. Com outras formas do tempo: moscas, eletroéticas, cataclismas, polícias e marimbondos! Ó criadores das elevações artificiais do destino eu vos maldigo! A felicidade do homem é uma felicidade guerreira. Tenho dito. Viva a rapaziada! O gênio é uma longa besteira.

Chave de ouro

A cidade das casas contrafortes e a igreja com uma porção de cônegos de espartilho no terreiro rios e o pendão do pontão.

A população das entradas padreava o subsolo mas construíram os primeiros arredores para a meta dos costura-céus. E abriram e fecharam o vínculo dos veículos das ruas do central cabresto de São Paulo com grilos, campânulas e arrebóis.

Desenho feito por Oswald de Andrade para o poema “O filho da comadre esperança”, do Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, publicado em 1927

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Poemas

Relicário

No baile da corteFoi o conde d’Eu quem dissePra Dona BenvindaQue farinha de SuruíPinga de ParatiFumo de BaependiÉ comê bebê pitá e caí

(Pau Brasil)

Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmaresOnde gorjeia o marOs pássaros daquiNão cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosasE quase que mais amoresMinha terra tem mais ouroMinha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosasEu quero tudo de láNão permita Deus que eu morraSem que volte para lá

Não permita Deus que eu morraSem que volte pra São PauloSem que veja a Rua 15E o progresso de São Paulo

(Pau Brasil)

Erro de português

Quando o português chegouDebaixo duma bruta chuvaVestiu o índioQue pena!Fosse uma manhã de solO índio tinha despidoO português

(Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade)

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Vai aqui uma sugestão: leia o Manifesto antropófago e depois analise cada uma de suas passagens levando em conta que, quando Oswald o escreveu, o tema do cani-balismo e da antropofagia já estava no ar.

Por exemplo: no primeiro livro de Mário de Andrade, Há uma gota de sangue em cada poema, de 1917, havia um poema sobre a Primeira Guerra Mundial intitulado “Os carní-voros”. Em 1920, o poeta francês Francis Picabia (um dos criadores do dadaísmo) lançou o Mani-festo Canibal Dadá e a revista Canibal. Em 1924, o poeta argentino Oliverio Girondo, no Manifesto Martín Fierro, define a vanguarda de seu país pela “fé em nossa fonética, em nossa visão, em nossos modos, em nosso ouvido, em nossa capacidade digestiva e de assimilação”. E em 1928, mesmo ano do Manifesto antro-pófago, quando Tarsila do Amaral presenteou Oswald com sua tela mais famosa, ele e Raul Bopp enxergaram ali “o homem plantado na terra” e batizaram o quadro de Abaporu – que em tupi-guarani significa “homem que come”.

Nada disso tira a originalidade de Oswald: foi ele quem, mais do qualquer outro, trans-formou a ideia de antropofagia num conjunto de reflexões sobre os mecanismos antropofá-gicos da cultura – “Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago” –, deixando porém em aberto a questão: essa lei diz respeito apenas à identidade cultural brasi-leira ou é a lei da própria cultura moderna?

Esboços de panfletos para propaganda da candidatura de Oswald de Andrade a deputado federal, cb. 1950

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Oswald além de Oswald

A obra de Oswald de Andrade é tão pode-rosa que acabou influenciando diferentes tendências artísticas. Com sua prosa “cons-trutivista”, cheia de frases elípticas, e com os célebres poemas-piada, compostos por pequenos jogos de palavras, Oswald acabou sendo uma fonte importante, nos anos 1950, para a poesia concreta de Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos, que explora justamente os aspectos formais da palavra.

Oswald foi também uma influência assumida pelos tropicalistas: “A alegria é a prova dos nove”, uma das frases lapidares do Mani-festo antropófago, é reproduzida num dos versos de “Geleia geral”, de Torquato Neto e Gilberto Gil, e em seu livro de memórias, Verdade tropical, Caetano Veloso discute a importância das ideias oswaldianas.

A encenação de O rei da vela por José Celso Martinez Corrêa, em 1967, foi não apenas um marco para a dramaturgia de Oswald de Andrade, mas também abriu uma nova vertente no trabalho do Teatro Oficina.

E a prosa urbana fragmentária de escritores contemporâneos como Fernando Bonassi e Luiz Ruffato certamente dialoga com o “cubismo” de Memórias sentimentais de João Miramar e com as bricolagens de Serafim Ponte Grande.

Da esquerda para a direita: Paulo Marcos Alkmin de Andrade, Maria Antonieta D’Alkmin, Antonieta Marília de Oswald de Andrade e Oswald de Andrade, São Paulo, ca. 1950

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Manifesto Antropófago

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi or not tupi that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.

Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.

Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.

O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.

Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.

Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.

Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.

Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o sr. Lévy-Bruhl estudar.

Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.

A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.

Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Où Villegaignon print terre. Montaigne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos.

Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.

Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.

Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.

O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.

Só podemos atender ao mundo orecular.

Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem.

Contra o mundo reversível e as ideias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.

Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.

O instinto Caraíba.

Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia.

Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo.

Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.

Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro.

Catiti CatitiImara NotiáNotiá ImaraIpeju*

A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais.

* “Lua Nova, ó Lua Nova, assopra em Fulano lembranças de mim”, O selvagem, de Couto Magalhães.

Oswald de Andrade, ca. 1948

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Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comi-o.

Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso?

Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César.

A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue.

Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas.

Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida.

Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti.

Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais.

Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário.

As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo.

De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia.

O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas + fala de imaginação + sentimento de autoridade ante a prole curiosa.

É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à ideia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci.

O objetivo criado reage com os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso?

Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.

Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de d. Antônio de Mariz.

A alegria é a prova dos nove.

No matriarcado de Pindorama.

Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.

Somos concretistas. As ideias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as ideias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas.

Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a corte de d. João VI.

A alegria é a prova dos nove.

A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura – ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modus vivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos.

Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema – o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo.

A nossa independência ainda não foi proclamada. Frase típica de d. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.

Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.

Oswald de Andrade Em PiratiningaAno 374 da Deglutição do Bispo Sardinha(Revista de Antropofagia, Ano 1, n. 1, maio de 1928.)

Oswald de Andrade, ca. 1949

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Livros de Oswald de Andrade

PoesiaPau-Brasil (1924), editora Globo, 2003.

Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade (1927), editora Globo, 2006.

O santeiro do mangue e outros poemas – inclui “Cântico dos cânticos para flauta e violão” (1944), “Poemas menores” (1945), “Canto do pracinha só” (1945), “O escaravelho de ouro” (1947), “O santeiro do mangue” (1950), dentre outros – Editora Globo, 1991.

FicçãoOs condenados – Trilogia do exílio: I. Alma (1922), II. A estrela de absinto (1927), III. A escada vermelha (1934). Publicação em volume único, editora Globo, 2003.

Memórias sentimentais de João Miramar (1924), editora Globo, 2004.

Serafim Ponte Grande (1933), editora Globo, 2007.

Marco zero I – A revolução melancólica (1943), editora Globo, 2008.

Marco zero II – Chão (1945), editora Globo, 2008.

Teatro O rei da vela (1937), editora Globo, 2003.

Panorama do fascismo (inédito em livro até 2005) / O homem e o cavalo (1934) / A morta (1937), editora Globo, 2005.

Manifestos e ensaios A utopia antropofágica – inclui “Manifesto da poesia pau-brasil” (1924), “Manifesto antropófago” (1928) e “A crise da filosofia messiânica” (1950) – editora Globo, 1995.

Estética e Política, org. de Maria Eugênia Boaventura, editora Globo, 1992.

Crônicas e memóriasPonta de lança (crônicas publicadas nos jornais Folha da Manhã, O Estado de S. Paulo e Diário de São Paulo entre 1943 e 1944), editora Globo, 2004.

Telefonema (crônicas publicadas no Correio da Manhã entre 1945 e 1954), org. de Vera Maria Chalmers, editora Globo, 2007.

Feira das sextas (artigos publicados entre 1943 e 1945), org. de Gênese Andrade, editora Globo, 2004.

Dicionário de bolso (conjunto de verbetes escritos por Oswald nos anos 1930 e 1940), editora Globo, 2007

Um homem sem profissão - 1. Sob as ordens de mamãe (1954), editora Globo, 2002.

Os dentes do dragão (entrevistas publi-cadas nos jornais Correio Paulistano, Folha da Manhã, Diário de S. Paulo, Diário de Minas e O Estado de S. Paulo, entre 1924 e 1954), editora Globo, 2009.

O perfeito cozinheiro das almas deste mundo, editora Globo, 1992.

Livros sobre Oswald

BOAVENTURA, Maria Eugenia. O salão e a selva. Uma biografia ilustrada de Oswald de Andrade. Campinas: Ex Libris / Editora da Unicamp, 1995.

BRITO, Mário da Silva. As metamorfoses de Oswald de Andrade. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1972.

– História do modernismo brasileiro. São Paulo: Edição Saraiva, 1958.

CAMPOS, Haroldo de. Miramar na Mira. In: Memórias sentimentais de João Miramar. 2.ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964.

– Uma poética da radicalidade. In: Poesias reunidas de Oswald de Andrade. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1966.

CÂNDIDO, Antônio. Estouro e libertação. In: Brigada Ligeira. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2004, (3ª edição, revista pelo autor) p. 11-27.

– Digressão sentimental sobre Oswald de Andrade In: Vários escritos. São Paulo: Livraria Duas Cidades e Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2004 (4ª edição, reorganizada pelo autor), p. 33 - 61.

– Oswald viajante. In: Vários escritos. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1995 (3ª edição, revista e ampliada).

ELEUTÉRIO, Maria de Lourdes. Oswald: itinerário de um homem sem profissão. Campinas: Editora da Universidade de Campinas, 1989.

FONSECA, Maria Augusta. Oswald de Andrade: o homem que come. São Paulo: Brasiliense, 1982.

– Oswald de Andrade, 1890-1954: biografia. São Paulo: Globo, 2007.

– Por que ler Oswald de Andrade. São Paulo: Globo, 2008.

Bibliografia

GARDIN, Carlos. O teatro antropofágico de Oswald de Andrade: da ação teatral ao teatro de ação. São Paulo: Annablume, 1993.

HELENA, Lúcia. Totens e tabus da modernidade brasileira: símbolo e alegoria na obra de Oswald de Andrade. Rio de Janeiro/Niterói: Tempo Brasileiro/UFF, 1985.

JACKSON, K. David. A prosa vanguardista na literatura brasileira: Oswald de Andrade. São Paulo: Perspectiva, 1978.

NUNES, Benedito. Oswald Canibal. São Paulo: Perspectiva, 1979.

ROCHA, João Cezar de Castro & RUFFINELLI, Jorge (Orgs.). Anthropofhagy today? Nuevo Texto Crítico, n. 23/24, Departamento de Espanhol e Português, Universidade de Stanford, EUA, 1999.

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