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Em 2011, o Flamengo con- tratou Ronaldinho Gaúcho e resgatou o jogador após anos de sucesso na Europa. Na época, o acordo milionário foi justificado pela capacidade do astro em captar parceiros. Nesta semana, o ciclo do jogador no Atlético Mineiro se encerrou e, provavelmente, sua segunda passagem pelo Brasil também. Mas, em quatro anos, ele nunca se mostrou altamen- te interessante ao mercado. A expectativa do Flamengo tinha algum fundamento. Em 2006, o jogador havia passado David Beckham como o joga- dor mais bem pago no mundo publicitário. Empresas como Nike, Oi e Nutrilite pagavam milhões pela imagem do bra- sileiro. Em 2009, o Corinthians fechou com Ronaldo, o Fenô- meno, e multiplicou seus patro- cínios, assim como o atleta. O plano era seguir a mesma linha. Na prática, porém, Ronaldinho se mostrou uma péssima aposta. Ainda que tenha movimentado o mercado e fechado acordos diversos, o Flamengo ficava em posição delicada quando en- volvia negócios com o jogador. A Duracell, por exemplo, fez uma ativação para iluminar a estrela do clube, no uniforme. O gaúcho foi o único atleta do elenco que se recusou a parti- cipar. Contratos futuros, como a Móbil, já nem o incluíam. O fracasso do modelo de negócio fez o Flamengo trans- ferir Ronaldinho para o Atlético Mineiro, em 2012, que foi para o clube motivado apenas pela questão técnica. Em Minas, se foi bem dentro de campo, Ronaldi- nho quase sucumbiu fora dele. A Coca-Cola cancelou um patrocínio ao jogador, após ele conceder uma entrevista coletiva ostentando lata da Pepsi, patro- cinadora do clube. A perda do apoiador principal além da Nike foi seu maior revés publicitário. Desde então, mesmo sendo o líder da conquista da inédita Copa Libertadores, Ronaldi- nho só conseguiu um acordo com o BMG e outro, muito mais exótico, com um preser- vativo brasileiro, a Sex Free. Ronaldinho deixa o Atlético como ídolo da torcida pelo que fez na Libertadores. Mas, para o mercado, ele perdeu o jogo. Ciclo de Ronaldinho acaba sem sucesso fora de campo 62 B O L E T I M 29/08/2014 OFERECIMENTO NÚMERO DO DIA R$ 2,5 bi é a estimativa do tamanho da dívida com o governo dos principais clubes do Brasil 1 POR DUDA LOPES

Ciclo de Ronaldinho acaba sem sucesso fora de campo · 2015-06-12 · Nike, Oi e Nutrilite pagavam milhões pela imagem do bra-sileiro. Em 2009, o Corinthians ... mais para o clube

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Page 1: Ciclo de Ronaldinho acaba sem sucesso fora de campo · 2015-06-12 · Nike, Oi e Nutrilite pagavam milhões pela imagem do bra-sileiro. Em 2009, o Corinthians ... mais para o clube

Em 2011, o Flamengo con-tratou Ronaldinho Gaúcho e resgatou o jogador após anos de sucesso na Europa. Na época, o acordo milionário foi justificado pela capacidade do astro em captar parceiros.

Nesta semana, o ciclo do jogador no Atlético Mineiro se encerrou e, provavelmente, sua segunda passagem pelo Brasil também. Mas, em quatro anos, ele nunca se mostrou altamen-te interessante ao mercado.

A expectativa do Flamengo tinha algum fundamento. Em 2006, o jogador havia passado David Beckham como o joga-

dor mais bem pago no mundo publicitário. Empresas como Nike, Oi e Nutrilite pagavam milhões pela imagem do bra-sileiro. Em 2009, o Corinthians fechou com Ronaldo, o Fenô-meno, e multiplicou seus patro-cínios, assim como o atleta. O plano era seguir a mesma linha.

Na prática, porém, Ronaldinho se mostrou uma péssima aposta. Ainda que tenha movimentado o mercado e fechado acordos diversos, o Flamengo ficava em posição delicada quando en-volvia negócios com o jogador. A Duracell, por exemplo, fez uma ativação para iluminar a estrela do clube, no uniforme.

O gaúcho foi o único atleta do elenco que se recusou a parti-cipar. Contratos futuros, como a Móbil, já nem o incluíam.

O fracasso do modelo de negócio fez o Flamengo trans-ferir Ronaldinho para o Atlético Mineiro, em 2012, que foi para o clube motivado apenas pela questão técnica. Em Minas, se foi bem dentro de campo, Ronaldi-nho quase sucumbiu fora dele.

A Coca-Cola cancelou um patrocínio ao jogador, após ele conceder uma entrevista coletiva ostentando lata da Pepsi, patro-cinadora do clube. A perda do apoiador principal além da Nike foi seu maior revés publicitário.

Desde então, mesmo sendo o líder da conquista da inédita Copa Libertadores, Ronaldi-nho só conseguiu um acordo com o BMG e outro, muito mais exótico, com um preser-vativo brasileiro, a Sex Free.

Ronaldinho deixa o Atlético como ídolo da torcida pelo que fez na Libertadores. Mas, para o mercado, ele perdeu o jogo.

Ciclo de Ronaldinho acaba sem sucesso fora de campo

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B O L E T I M

2 9 / 0 8 / 2 0 1 4

O F E R E C I M E N T O

N Ú M E R O D O D I A

R$ 2,5 bié a estimativa do tamanho

da dívida com o governo dos principais clubes do Brasil

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POR DUDA LOPES

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Clubes brasileiros passam a ser discretos para apresentar camisas

Neste mês de julho, uma série de clubes brasileiros apresentou novos uniformes, seguindo o padrão euro-peu de temporada 2014/2015. Hoje, os times já têm clara preocupação em exibir os modelos de forma mais intensa, com comunicações personalizadas. Ainda assim, comparada com alguns exemplos europeus, a discri-ção ainda é a palavra de ordem. Veja como alguns clubes lançaram suas novas peças para o restante do ano:

POR DUDA LOPES

Fez um teaser com jogadores históricos caminhando até o estádio Old Trafford. A gravação levava a um hotsite em vários idiomas, que apresentou a nova camisa, que é a primeira com a marca Chevrolet e a última com a Nike.

Fechou uma casa de eventos em Recife para apresentar os novos uniformes, que terão numeração fixa. Foi a primeira camisa lançada no contrato firmado com a Umbro.

MANCHESTER UNITED

NÁUTICO

Lançou camisa listrada, em referência a um modelo usado na década de 1970. Para apresentar, usou a parceria com a GoPro e gravou vídeo do time com o novo uniforme.

L Á F O R A

N O B R A S I L

REAL MADRID

CORITIBACORINTHIANS

BOTAFOGO PALMEIRAS

Na fachada do estádio Santiago Bernabéu, fez proje-ções com efeitos tridimensionais diante de milhares de torcedores. O evento apresentou o diferente modelo de camisa rosa que o time usará nesta temporada.

Usou a rede social snapchat para exibir partes do novo uniforme. O teaser, nesse caso, testou o uso de uma nova rede. O pedaço da camisa era exposto por apenas três se-gundos ao torcedor.

Em crise dentro e fora de campo, fez um evento discreto com jogadores e ex-jogadores, na sede do clube, para apresentar a quarta camisa, da Puma.

A camisa azul cele-bra o centenário do clube. A Adidas, no entanto, optou por uma apresentação tímida, divulgando a imagem exclusiva para a imprensa.

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Fluminense muda de proposta e decide encarecer os ingressos

Todo este “muda, não muda” do Flu em relação a ingressos pega mal de-mais para o clube. A começar porque mudar de ideia publicamente deixa impressão de amadorismo e incoe-rência. Se havia quem discordasse da estratégia internamente e se ela po-deria ser revista em tão pouco tempo, não havia por que divulgá-la e fazer pose de bom moço com a torcida.

Não prosseguir é para se lamentar. Num futebol com arquibancadas tão vazias quanto o brasileiro, a iniciativa de levar mais gente ao estádio era para, no mínimo, ser testada e apri-morada com carinho. Aproximar o torcedor do clube é a primeira etapa para fazê-lo consumir alimentos den-tro da arena e produtos fora dela.

Financeiramente, não era mau ne-gócio. Em quatro jogos do Flu no Bra-sileiro de 2014, a receita líquida foi de R$ 673 mil. O Flamengo, em três par-tidas, lucrou R$ 881 mil. A diferença entre rivais existe, mas não é catastró-fica, tampouco incomum.

Quanto a sócios, o argumento de que preços baixos desestimulam as-sociação tem lógica, mas é raso. Há modos de atraí-lo: prioridade na com-pra de ingressos (em um Maracanã lotado, ela ganha relevância), descon-tos no consumo dentro do estádio e experiências variadas.

No fim das contas, dependendo dos novos valores, o Flu trocou está-dio cheio e possíveis novas receitas por estádio quase vazio com pouco a mais em bilheteria e sócios-torcedor.

Igualou-se a todo o resto.

O Fluminense era raridade no que diz respeito a preços de in-gressos no futebol brasileiro. Era, ao lado do São Paulo, o único a contrariar uma tendência de encarecimento acentuada pela Copa do Mundo e a estabelecer uma tabela de preços de R$ 10 a R$ 30, que variava conforme o rival. Era. A diretoria do clube carioca mudou de ideia e voltou atrás da decisão de baratear os tíquetes.

A tática de baixar preços havia sido montada por Carlos Eduardo Moura, gerente de arenas que tratava da relação entre o time e o consórcio gestor do Maracanã. A lógica dele era que o estádio pre-cisaria se tornar um templo, atrair mais torcedores e ganhar com outras receitas, como venda de produtos dentro da arena. A política havia sido implementada entre a saída de Idel Halfen e a entrada de Rodrigo Terra na diretoria executiva de marketing.

Agora, Moura foi colocado para escanteio pela nova diretoria de marketing, composta também pelo vice-presidente da pasta, Mar-cello Gonçalves, e a filosofia foi totalmente revista.

O principal argumento para encarecer tíquetes tem a ver com só-cio-torcedor. O raciocínio é: se um torcedor comum paga R$ 10 para ir ao Maracanã, por que pagaria R$ 35 por mês para se tornar asso-ciado? A nova diretoria acredita haver prejuízo duplo: com bilhete-rias e sócios. A Máquina do Esporte conversou com dirigentes do Fluminense, mas nenhum topou falar da mudança abertamente. O Maracanã respondeu que não tem ingerência na precificação dos in-gressos que cabem ao clube. Cláusulas do contrato, porém, obrigam o time a seguir preços “praticados pelo mercado”. Esse item havia gerado insatisfação entre as partes por causa da redução.

POR RODRIGO CAPELO

FLU DÁ LIÇÃO DO QUE NÃO SE DEVE FAZER

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DA REDAÇÃORodrigo Capelo é

chefe de redação da

Máquina do Esporte

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Campeão da Bundesliga em 2010/2011 e 2011/2012 após qua-se falir em meados da década de 2000, o Borussia Dortmund está atrás de investidores para tentar diminuir o abismo financeiro entre ele e o rival Bayern de Munique.

Os gestores do Borussia que-rem vender duas participações de pelo menos 5% para “parceiros estratégicos” até o fim de setem-bro. Em junho, já foi comercializa-da uma participação de 9% para as indústrias químicas Evonik.

“Não precisa ser necessaria-mente para uma companhia alemã ou para um de nossos atuais patrocinadores”, disse Hans-Joachim Watzke, diretor geral da equipe alemã, em uma entrevista à Bloomberg concedi-da no fim do mês de julho. “Este parceiro estratégico não precisa

ser um fundo, mas um investidor que tenha um interesse de longo prazo”.

A Evonik, bem como a Puma, atual fornecedora de ma-teriais esportivos, e a seguradora Signal Iduna são empresas que estão tentando fazer o Borussia sair da “sombra” do Bayern, de longe o clube de futebol melhor sucedido da Alemanha.

Para que se tenha uma ideia da discrepância financeira entre os dois times, em 2012/2013 o Bayern de Mu-nique faturou 432,8 milhões de euros, quase o dobro dos 219,9 milhões de euros que o Borussia

Dortmund arrecadou. A vanta-gem do clube amarelo e preto é o ritmo avassalador de cresci-mento: duas temporadas antes, em 2010/2011, a receita havia sido de 127,5 milhões de euros.

Borussia busca investidores para diminuir abismo para Bayern

POR RODRIGO CAPELO

Primeiro clássico na Arena Corin-thians bate recorde de audiênciaA vitória do Corinthians sobre o Palmeiras registrou a maior audiência do Brasileiro, supe-rando marcas da própria equi-pe alvinegra. Foram 20 pon-tos da Globo, líder no horário, contra seis da Band, quarta no ranking. O último Derby, pelo Paulista, havia anotado 28 pon-tos na soma das duas emissoras.

Fluminense eleva audiência, mas TV ligada cai contra Atlético-PRO confronto contra os parana-enses marcou 18 pontos e 32% de participação nas televisões li-gadas no Rio. Em relação à úni-ca transmissão dominical pelo Brasileiro, o clube carioca me-lhorou a pontuação, mas piorou o share. Na ocasião, a derrota para o Grêmio havia somado 16 pontos e 37% de participação.

GP da Hungria de F-1 repete au-diência de sua última transmissãoO GP da Hungria rendeu à Globo nove pontos e 28% de participação nas televisões liga-das. Na última vez em que a eta-pa húngara foi exibida ao vivo, em 2012, a emissora anotou a mesma pontuação. Em 2013, a Globo trocou o GP pela visita do Papa Francisco ao Brasil. Na reprise, a prova teve 5 pontos.

C U R T A S