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CICLO EVOLUTIVO DO HEPATOZOON TRIATOMAE (SPOROZOA, HAEMOGREGARINIDAE) PARASITA DE TRIATOMÍNEOS Eduardo Olavo da Rocha e Silva * RSPU-B/277 ROCHA E SILVA, E. O. da — Ciclo evolutivo do Hepatozoon triatomae (Sporozoa, Haemogregarinidae) parasita de triatomíneos. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 9:383-91, 1975. RESUMO: Relata-se o encontro no Estado de São Paulo, Brasil, de triato- míneos e lagartos, respectivamente o Triatoma arthurneivai e Tropidurus tor- quatus, parasitados por uma hemogregarina semelhante a Hepatozoon triatomae (Osimani, 1942) Reichenow, 1953. São apresentados aspectos da sua morfologia e estudadas as diversas fases do seu ciclo evolutivo, este inteiramente repro- duzido em laboratório. UNITERMOS: Sporozoa. Hepatozoon triatomae. Triatoma. Tropidurus. * Da superintendência de Controle de Endemias da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo — Rua Tamandaré, 649 — São Paulo, SP — Brasil. Do Departamento de Epidemiolo- gia da Faculdade de Saúde Pública da USP — Av. Dr. Arnaldo, 715 — São Paulo, SP — Brasil. INTRODUÇÃO Talice 10 (1929) ao examinar exempla- res do Triatoma rubrovaria, foi quem observou pela primeira vez, formas es- porozoitas livres, representativas da fase esporogônica de uma hemogregarina, no conteúdo intestinal dos triatomíneos. Foi ainda no Uruguai (Maldonado) que Osi- mani 5 (1942) encontrou novos exempla- res da mesma espécie, infectados simulta- neamente pela hemogregarina e Trypano- soma cruzi, identificando na ocasião o hos- pedeiro definitivo do esporozoário, um la- garto (Tupinambis teguixin) e classifican- do o parasita como sendo a Haemogrega- rina triatomae. Mais recentemente, no Arizona (USA), Bice 1 (1965), ao examinar exemplares do Triatoma rubida uhleri, capturados em abrigos de roedores silvestres, os encon- trou infectados com hemogragarina, con- siderada pelo autor como a mesma desco- berta por Osimani, agora reclassificada como Hepatozoon triatomae (Osimani, 1942) Reichenow, 1953. Os habitáculos naturais do Triatoma ar- thurneivai Lent et Martins, 1940, foram descobertos por Corrêa e col. 2 (1965) ao deparerem com ovos, ninfas e alados da espécie, sob lascas de granito róseo (gra- nito de Itu), nas proximidades da cidade de Sorocaba, Estado de São Paulo. Sa- lientaram no trabalho, a presença nesses ecótopos de grande número de lagartos (Tropidurus torquatus Wied.) e roedores. A associação alimentar triatomíneo-la- certídeo, especificamente no caso, T. ar- thurneivai T. torquatus, foi sugerida por Forattini e col. 3 (1968) quando descre- veram aspectos do comportamento deste triatomíneo, observado em Votorantim,

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CICLO EVOLUTIVO DO HEPATOZOON TRIATOMAE (SPOROZOA,HAEMOGREGARINIDAE) PARASITA DE TRIATOMÍNEOS

Eduardo Olavo da Rocha e Silva *

RSPU-B/277

ROCHA E SILVA, E. O. da — Ciclo evolutivo do Hepatozoon triatomae (Sporozoa,Haemogregarinidae) parasita de triatomíneos. Rev. Saúde públ., S. Paulo,9:383-91, 1975.

RESUMO: Relata-se o encontro no Estado de São Paulo, Brasil, de triato-míneos e lagartos, respectivamente o Triatoma arthurneivai e Tropidurus tor-quatus, parasitados por uma hemogregarina semelhante a Hepatozoon triatomae(Osimani, 1942) Reichenow, 1953. São apresentados aspectos da sua morfologiae estudadas as diversas fases do seu ciclo evolutivo, este inteiramente repro-duzido em laboratório.

UNITERMOS: Sporozoa. Hepatozoon triatomae. Triatoma. Tropidurus.

* Da superintendência de Controle de Endemias da Secretaria da Saúde do Estado de SãoPaulo — Rua Tamandaré, 649 — São Paulo, SP — Brasil. Do Departamento de Epidemiolo-gia da Faculdade de Saúde Pública da USP — Av. Dr. Arnaldo, 715 — São Paulo, SP —Brasil.

I N T R O D U Ç Ã O

Talice10 (1929) ao examinar exempla-res do Triatoma rubrovaria, foi quemobservou pela primeira vez, formas es-porozoitas livres, representativas da faseesporogônica de uma hemogregarina, noconteúdo intestinal dos triatomíneos. Foiainda no Uruguai (Maldonado) que Osi-mani5 (1942) encontrou novos exempla-res da mesma espécie, infectados simulta-neamente pela hemogregarina e Trypano-soma cruzi, identificando na ocasião o hos-pedeiro definitivo do esporozoário, um la-garto (Tupinambis teguixin) e classifican-do o parasita como sendo a Haemogrega-rina triatomae.

Mais recentemente, no Arizona (USA),Bice 1 (1965), ao examinar exemplaresdo Triatoma rubida uhleri, capturados emabrigos de roedores silvestres, os encon-trou infectados com hemogragarina, con-

siderada pelo autor como a mesma desco-berta por Osimani, agora reclassificadacomo Hepatozoon triatomae (Osimani,1942) Reichenow, 1953.

Os habitáculos naturais do Triatoma ar-thurneivai Lent et Martins, 1940, foramdescobertos por Corrêa e col.2 (1965) aodeparerem com ovos, ninfas e alados daespécie, sob lascas de granito róseo (gra-nito de Itu), nas proximidades da cidadede Sorocaba, Estado de São Paulo. Sa-lientaram no trabalho, a presença nessesecótopos de grande número de lagartos(Tropidurus torquatus Wied.) e roedores.

A associação alimentar triatomíneo-la-certídeo, especificamente no caso, T. ar-thurneivai — T. torquatus, foi sugerida porForattini e col.3 (1968) quando descre-veram aspectos do comportamento destetriatomíneo, observado em Votorantim,

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município vizinho a Sorocaba. Ressal-te-se que nossas observações identificaramum duplo sentido nesta relação alimentar.

Uma vez caracterizado os ecótopos natu-rais do T. arthurneivai, novos focos daespécie foram paulatinamente detectadosnos contrafortes extremos da Serra daMantiqueira que alcança alguns dos mu-nicípios paulistas, situados na região ad-ministrativa-5, Campinas: Bragança Pau-lista, Socorro, Águas de Lindóia, SerraNegra, Pinhal, Santo Antônio do Jardim,Águas da Prata, São João da Boa Vista,Vargem Grande do Sul, São Sebastião da

Grama, São José do Rio Pardo, Divinolân-dia e Caconde.

A suscetibilidade deste triatomíneo aoT. cruzi, embora bem caracterizada emlaboratório por Forattini e col.3, somenteuma vez foi observada na natureza, emque pese as centenas de exemplares exa-minados (Tabela 1). Foi, aliás, essa pro-cura que possibilitou o encontro da hemo-gregarina (Rocha e Silva e Pattoli9,1970), objetivando este trabalho, o esta-belecimento do seu ciclo evolutivo em la-boratório e considerações sobre sua mor-fologia.

MATERIAL E MÉTODOS

Na observação do ciclo evolutivo da he-mogregarina na natureza, foram utilizadosexemplares do T. arthurneivai procedentesdo Bairro Lavras de Cima e Fazenda San-to Antonio, Município de Socorro. Sa-

liente-se que apenas um exemplar infecta-do pelo esporozoário foi até agora encon-trado em ecótopo artificial; trata-se de umalado macho, capturado numa sala, emuma das casas da fazenda Santo Antonio.

Para o estabelecimento do ciclo experi-mental em laboratório, foram utilizados

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exemplares de colônias, alimentadas emaves, mantidas em insetário.

Os T. torquatus encontrados infectadosna natureza, procederam unicamente dascitadas localidades, capturados entre las-cas e vãos de pedra (granito de Itu), jun-tamente com exemplares de T. arthurnei-vai, a única espécie de triatomíneo obser-vada na área.

Os lacertídeos utilizados nos trabalhosvisando completar em laboratório o cicloevolutivo da H. triatomae, procederam delocalidades do município de Águas da Pra-ta, onde não foi até então observado oparasitismo em pauta. Em cativeiro, oslagartos foram mantidos vivos durante vá-rios meses, alimentados com larvas de Te-nebrio molitor (Coleoptera) e termitas.

O material colhido da luz intestinal dosT. arthurneivai, inicialmente era examina-do ao microscópio, a fresco em gotas desoro fisiológico, com aumento de 400 ve-zes. Quando positivo, imediatamente fi-xado com soro humano inativado e depoisde seco, corado pelo May-Grünwald-Giem-sa. A hemolinfa era obtida arrancando-sena altura do trocanter uma das patas dopar anterior do triatomíneo, gotejada emlâmina bem limpa, para depois de secaser fixada pelo álcool metílico e coradapelo Giemsa.

O sangue dos lacertídeos, obtido atra-vés de punção intracardíaca, era goteja-do em lâminas para a preparação de es-fregaços finos que depois de secos eram fi-xados pelo álcool metílico e corados peloGiemsa (17 minutos). Só então o mate-rial era examinado ao microscópio comlente de imersão (1.000X).

Alguns lagartos foram mortos visandoa retirada de porções de órgãos internos,especialmente do fígado, pulmões e cora-ção, com os quais por compressão entrelâminas, foram preparadas algumas im-pressões de órgãos que devidamente co-radas pelo Giemsa, se prestaram aos nos-sos estudos (Tabela 2).

Foi com este material, obtido no decor-rer de trabalhos que se prolongaram porquatro anos, que realizamos nossas obser-vações sobre as diversas fases do ciclo evo-lutivo da hemogregarina, de distribuiçãorestrita, cujo hospedeiro intermediário éum triatomníeo silvestre e seu hospedeirodefinitivo um lagarto que freqüenta o mes-mo ecótopo representado pelo espaço si-tuado entre as fendas ou lascas do granitoróseo, na região considerada.

RESULTADOS E COMENTÁRIOS

Fase esquizogônica (Figura 1)

Nos tecidos de vários órgãos internosdo T. Torquatus foram encontrados cistosesquizogônicos da hemogregarina, porémo órgão mais atingido foi sempre o fíga-do, vindo a seguir os pulmões. Obser-vou-se dois tipos de cistos: os macrocistoscontendo muitos micromerozoitas, denomi-nados por Mackerras4 (1962) de esqui-zontes X e os microcistos que albergamno seu interior alguns poucos macromero-zoitas ou esquizontes Y. Pessoa 6, 7, quevem realizando amplo estudo das hemogre-garinas encontradas em serpentes brasi-leiras, observa não ter sido esclarecidaainda a origem e destino desses cistos.Em nosso material, os cistos esquizogôni-

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cos foram encontrados nas diferentes fa-ses do seu processo evolutivo: na fase ini-cial do processo (Fotos 1, 2 e 3), commacroesquizontes bem formados (Foto 4),com microesquizontes (Foto 5) e cistosenvolvidos numa cápsula protetora (Fo-to 6). Observamos também com algumaslâminas, formas livres no fígado, algumasarredondadas ou ligeiramente alongadas(esquizontes tissulares — Foto 7) e ou-tras nitidamente alongadas (gametócitosjovens — Foto 8).

No sangue, as formas intraglobularesse apresentam encapsuladas (Foto 9), oque muitas vezes impede a visualizaçãonítida do gametócito no interior. Outrasvezes, no entanto, observa-se o gametócitoe seu núcleo; este situado no terço médio,apresentando-se ora concentrado com umacoloração viva (Fotos 10 e 11), outrasvezes menos nítido de tonalidade pálida

(Foto 12). Se isso representa diferencia-ção de sexo do gametócito, não nos foipossível apurar. O número de gametóci-tos presentes no sangue circulante, nas in-fecções naturais, se situou em torno de umgametócito por 100 a 200 campos micros-cópicos observados. No início da invasãodo sangue pelo parasito e especialmentenas poucas infecções experimentais gravespor nós observadas, encontramos formasintraglobulares com morfologia diferentedos gametócitos, fato também observadopor Mackerars4 (1962) nas hemogrega-rinas de lagartos australianos e conside-radas por ele como sendo esquizontes tis-sulares (Fotos 13 e 14). Em raríssimasocasiões foram observadas, também, finasformas extraglobulares, livres no sangue,Quanto às modificações sofridas pelas he-mácias, devido à presença da hemogrega-rina, destaca-se o deslocamento do núcleo

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para um dos lados ou extremidade (Fotos9 a 12). A prevalência da infecção nosangue, entre os 112 exemplares do T.torquatus examinados, procedentes dasduas localidades citadas, situou-se em tor-no dos 12% (Tabela 3), variando po-rém dos vinte e dois ao zero por cento,no decorrer das diversas capturas realiza-das entre 1971 e 1974.

Fase esporogômica (Figura 1)

Vinte e quatro a quarenta e oito horasapós a ingestão pelo T. arthurneivai, dosangue de lacertídeos apresentando game-tócitos intraglobulares, estes já podem servistos livres na luz do intestino médio dotriatomíneo. Posteriormente, são obser-vados gametócitos em divisão, originandogametas menores (Foto 15), alguns ligei-ramente recurvados e outros não. Os ga-

metos tendem a se aproximar como vemosnas Fotos 16 e 17, podendo representara fase inicial da reprodução pelo processo

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de sisígia, segundo Pessoa8. Raramentesão observadas formas alongadas, maiorescomo mostramos na Foto 18. O ovo,quando corado ( ? ) apresenta núcleo bemnítido e vacúolos contendo massas esbran-quiçadas separadas entre si por nítidosseptos. As membranas externas são pou-co visíveis (Fotos 19 e 20). Osimani5

também não observou a presença de for-mas arredondadas com nítida dupla mem-brana, como as relatadas por Talice10 efotografadas por Bice1.

Os esporoblastos na fase inicial, dificil-mente são observados, quer na luz intes-tinal, quer na hemocele dos triatomíneos.Na Foto 21, apresentamos como ele é vistoa fresco, no intestino, em pequeno au-mento.

Os esporocistos são as formas do para-sito mais observadas nos triatomíneos, po-dendo ser encontradas tanto na luz intes-tinal (maior número) como na cavidadegeral, em diferentes fases de desenvolvi-

mento e mostrando a fresco a presençade dupla membrana externa (Foto 22).O número e aspecto dos esporozoitas con-tidos no seu interior é variável, oscilandoem torno dos vinte. O mesmo podendoser dito do número de esporocistos pre-sentes em cada triatomíneo infectado, no-tando-se, no entretanto, maior número de-les, nos exemplares do T. arthurneivai me-nos ingorgitados (Foto 23).

Os esporocistos quando maduros serompem com facilidade, libertando os es-porozoitas (Foto 24). Estes por contra-ções partidas da região central e dirigidaspara as extremidades, movimentam-se len-ta porém livremente no meio líquido, sen-do vistos em conseqüência, em tamanhosdiversos e quase sempre em crescente.

A prevalência da infecção entre osexemplares do T. arthurneivai, captura-dos no bairro Lavras de Cima e fazendaSanto Antonio, foi de aproximadamente20%.

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ROCHA E SILVA, E. O. da — Ciclo evolutivo do Hepatozoon triatomae (Sporozoa, Haemo-gregarinidae) parasita de triatomíneos. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 9:383-91, 1975.

Fotos 15, 16 e 17 — Gametos livres, com tendência a se juntarem.Foto 18 — Rara forma alongada.

Fotos 19 e 20 — Ovo (?)Foto 21 — Esporoblasto observado a fresco (aumento de 400 X).

Foto 22 — Esporocistos a fresco, apresentando dupla membrana externa (aumento de 400 X).Foto 23 — Aglomerado de esporocistos corados (aumento de 400 X).

Foto 24 — Esporocisto e esporozoitas livres.

Infecções experimentais

Em cativeiro, a alimentação de exem-plares do T. torquatus com triatomíneos,não é fácil de ser obtida. Apesar disso,conseguimos infectar uma dezena de la-certídeos através do repasto em T. ar-thurneivai, infectados com a H. triatomae.Saliente-se que esses lagartos foram cap-turados em localidades limpas e antes dorepasto infectante foram examinados mais

de uma vez. Decorrido um mês da re-feição infectante, já podem ser observa-dos no fígado desses animais os primeiroscistos esquizogônicos. A presença dosprimeiros gametócitos intraglobulares nosangue, como já observara Osimani5, so-mente foi constatada ao se completarem60 dias. De uma maneira geral, a pre-sença dos gametócitos no sangue é prece-dida pela passagem de esquizontes tissu-

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lares, extra ou intraglobulares, como setenta mostrar na Tabela 4.

Aparentemente, a H. triatomae causadanos ao hospedeiro vertebrado. Umapossível queda nos níveis imunitários de-ve ter ocorrido, pelo desencadeamentosimultâneo em alguns exemplares, de pa-rasitemias maláricas (Plasmodium tropi-duri) anteriormente não observadas, le-vando um de nossos lagartos à morte, pos-sivelmente em conseqüência da maciça in-fecção mista constatada.

A infecção dos triatomíneos em labora-tório não chegou a ser realizada porOsimani 5, pelas inúmeras dificuldadesque apresentam. Depois de dezenas detentativas, conseguimos completar o ciclode desenvolvimento da hemogregarina emduas ninfas do 5.° estádio, do T. arthur-neivai, alimentadas até então exclusiva-mente em aves. Elas se infectaram atra-vés de repasto realizado em um lacertídeo,procedente de área limpa (município deDivinolândia) e infectado experimental-mente pela ingestão de triatomíneos na-turalmente infectados, capturados na fa-

zenda Santo Antonio, município de Socor-ro. No exame realizado 60 dias após aingestão do sangue infectante, revelaramalto índice de esporocistos maduros e pre-sença de esporozoitas livres. Além dessasduas, outras poucas ninfas se apresentaraminfectadas, porém não completaram o ciclo,devido entre outros fatores aos examesrealizados. Além do T. arthurneivai fo-ram testados exemplares de outras espé-cies, destas, apenas alguns Rhodnius ne-glectus chegaram a alimentar nos lagar-tos.

C O N C L U S Õ E S

As observações aqui relatadas, fruto nãoapenas de investigações realizadas commaterial procedente do campo, mas tam-bém de estudos experimentais em labora-tório, permite-nos concluir que em duaslocalidades do município de Socorro —Estado de São Paulo, foi constatada apresença de um esporozoário (Adeleida--Haemogregarinidae) parasito cujo ciclode vida tem como hospedeiro definitivoum lacertídeo, o Tropidurus torquatusWiedman e como hospedeiro intermediá-rio um triatomíneo, o Triatoma arthur-neivai Lent et Martins, 1940.

As características do ciclo evolutivo eos aspectos gerais da morfologia do pa-rasita, nas várias fases, assemelham-se aoda hemogregarina encontrada por Tali-ce 10 e Osimani 5, no Uruguai, parasitandoo Triatoma rubrovaria e o Tupimambisteguixim. Fotos que nos permitem suporse tratar da hemogregarina reclassificadapor Reichenow, como sendo a Hepatozoontriatomae.

A G R A D E C I M E N T O S

À Diretoria de Combate a Vetores daSUCEN pelas facilidades proporcionadase aos servidores (auxiliares-técnicos) : Jo-sé de Campos Camargo, Antenor do Nas-cimento Ferraz Filho e Nuno Lopes Pe-reira, pela colaboração prestada.

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RSPU-B/277

ROCHA E SILVA, E. O. da — [Evolution cycle of the Hepatozoon triatomae(Sporozoa, Haemogregarinidae), parasite of triatominea]. Rev. Saúde públ.,S. Paulo, 9:383-91, 1975.

SUMMARY: The author relates the discovery of Triatoma arthurneivai andTropidurus torquatus, in the localities of Lavras de Cima and Santo Antonio,State of São Paulo, Brazil, infected by a hemogregarine similar to Hepatozoontriatomae (Osimani, 1942) Reichenow 1953. He presents certain aspects of itsmorphology and also studies the several phases of its evolution cycle, whichwere completed in the laboratory.

UNITERMS: Sporozoa. Hepatozoon triatomae. Triatominae. Tropidurus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Recebido para publicação em 06-06-75Aprovado para publicação em 30-06-75