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CIDADANIA E CONSTRUÇÃO DA AGENDA PÚBLICA Luis Fernando Iozzi Beitum 1 ([email protected]), Arie Storch 2 ([email protected]) 1. Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, CP 174, 14800-901 Araraquara- SP – PET Administração Pública 2. Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, CP 174, 14800-901 Araraquara- SP – PET Administração Pública Palavras-chave: cidadania, política pública, agenda pública INTRODUÇÃO Este trabalho debate as formas de atuação do Estado para garantir os direitos de cidadania. Para tanto, pretende-se discutir a conceituação de políticas públicas como um instrumento de ampliação de todos os direitos e deveres provenientes da atuação integral do indivíduo na comunidade. Diversos são os modelos de formulação e análise de políticas públicas. Dentre eles, o modelo utilizado nesta argumentação é o do ciclo da política pública. A partir dele estabelecemos relações entre a política pública e a promoção e manutenção da cidadania. No modelo do ciclo da política pública, a política pública é tida como um ciclo de decisão e deliberação formado por etapas. São etapas a definição da agenda, identificação de alternativas, avaliação e seleção das opções, implementação e avaliação. OBJETIVO Este trabalho tem como objetivo a definição da agenda pública a partir do debate do conceito de cidadania proposto por Marshall (1967) e utilizado por Carvalho (2003) para analisar o caso brasileiro. Tal discussão se faz necessária para esclarecer a vinculação da análise sociológica dos autores supra citados com a proposta técnica referente ao aparato público-governamental. METODOLOGIA A metodologia adotada é a da revisão bibliográfica e do embate das idéias apontadas pelos autores selecionados. A revisão bibliográfica se pauta pela análise dos clássicos no exterior, a partir da leitura crítica de Marshall, que analisa especificamente o caso da construção dos direitos na Inglaterra. Porém, faz-se necessária a transfiguração das discussões propostas para o caso brasileiro. Abordam-se, nesse caso, os embasamentos de Carvalho, que discute os variados caminhos da cidadania no Brasil.

Cidadania e construção da agenda pública

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Resumo expandido apresentado no XII Encontro Nacional de grupos PET - ENAPET, em Belém-PA, 2007.Autores: STORCH, Arie ; BEITUM, Luis Fernando Iozzi

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CIDADANIA E CONSTRUÇÃO DA AGENDA PÚBLICA

Luis Fernando Iozzi Beitum1 ([email protected]), Arie Storch2 ([email protected]) 1. Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, CP 174, 14800-901 Araraquara-SP – PET Administração Pública 2. Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, CP 174, 14800-901 Araraquara-SP – PET Administração Pública Palavras-chave: cidadania, política pública, agenda pública

INTRODUÇÃO

Este trabalho debate as formas de atuação do Estado para garantir os direitos de cidadania.

Para tanto, pretende-se discutir a conceituação de políticas públicas como um instrumento de

ampliação de todos os direitos e deveres provenientes da atuação integral do indivíduo na

comunidade.

Diversos são os modelos de formulação e análise de políticas públicas. Dentre eles, o

modelo utilizado nesta argumentação é o do ciclo da política pública. A partir dele estabelecemos

relações entre a política pública e a promoção e manutenção da cidadania. No modelo do ciclo da

política pública, a política pública é tida como um ciclo de decisão e deliberação formado por

etapas. São etapas a definição da agenda, identificação de alternativas, avaliação e seleção das

opções, implementação e avaliação.

OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo a definição da agenda pública a partir do debate do

conceito de cidadania proposto por Marshall (1967) e utilizado por Carvalho (2003) para analisar o

caso brasileiro. Tal discussão se faz necessária para esclarecer a vinculação da análise sociológica

dos autores supra citados com a proposta técnica referente ao aparato público-governamental.

METODOLOGIA

A metodologia adotada é a da revisão bibliográfica e do embate das idéias apontadas pelos

autores selecionados. A revisão bibliográfica se pauta pela análise dos clássicos no exterior, a partir

da leitura crítica de Marshall, que analisa especificamente o caso da construção dos direitos na

Inglaterra. Porém, faz-se necessária a transfiguração das discussões propostas para o caso brasileiro.

Abordam-se, nesse caso, os embasamentos de Carvalho, que discute os variados caminhos da

cidadania no Brasil.

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A partir da literatura de cidadania, utilizou-se de um modelo de análise de política pública

para apontar os caminhos possíveis de inserção do tema da cidadania dentro dos contextos estatal e

governamental.

DISCUSSÕES

Para entender o conceito de cidadania, utilizaremos a explanação proposta por Marshall,

para quem “a cidadania é um status concebido àqueles que são membros integrais de uma

comunidade” (p. 76). Desta forma, o autor propõe a fragmentação do conceito em três vertentes:

cidadania civil, política e social.

A primeira delas, oriunda do século XVIII, compõe-se de direitos imprescindíveis à

liberdade individual. O direito político, já no século XIX, envolve a participação nas decisões

políticas a partir do voto, participação em sindicatos e do próprio poder político. Por sua vez, o

enfoque social da cidadania só transpareceu no século XX. Nesta interpretação Marshall aponta o

“mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participar, por completo, na herança

social e levar a vida de um ser civilizado” (p. 63-4).

Contudo, segundo Carvalho, “a cronologia e a lógica da seqüência descrita por Marshall

foram invertidas no Brasil” (p. 219). Em virtude dos diversos períodos ditatoriais na história do

Brasil, não faltaram momentos em que os direitos políticos foram suprimidos. Simultaneamente, os

direitos civis viam-se pormenorizados à medida que os direitos políticos eram cassados. Desta

forma, diferentemente do contexto inglês, no Brasil a implantação dos direitos sociais se deu antes

dos demais, por “um ditador que se tornou popular” (p. 219). A análise que Carvalho faz é que “a

pirâmide dos direitos foi colocada de cabeça para baixo” (p. 220).

O Estado como fonte de garantia de direitos e deveres utiliza-se de políticas públicas como

meios para atingir seus objetivos. Cabe-se aqui a ressalva feita por Souza de que “não existe uma

única, nem melhor, definição sobre o que seja política pública” (p. 4). Assim, adotaremos aqui a

conceituação de política pública como um conjunto de ações do governo voltadas para setores

específicos da sociedade. Contudo, entende-se governo de uma forma mais ampla, incluindo-se

então a administração pública indireta, onde se encontram as universidades e as autarquias.

Dentro da tipologia das políticas públicas, nos interessa aqui o modelo de formulação e

análise de políticas públicas conhecido como o ciclo da política pública. Nesta tipologia, a política

pública é tida como um ciclo de decisão e deliberação formado por etapas. São etapas a definição da

agenda, identificação de alternativas, avaliação e seleção das opções, implementação e avaliação.

Contudo, o principal debate a ser feito a respeito do ciclo da política pública questiona a inserção

dos temas dentro da agenda pública.

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Para Souza (2005), existem três maneiras utilizadas pelos governos para pautar suas

agendas. Assim, focalizar os problemas é a primeira forma de apontar a atuação governamental. Isto

acontece quando se reconhece, define e atua sobre os problemas apresentados. A segunda forma é a

construção da consciência coletiva como um instrumento para o enfrentamento do problema. Tal

construção se dá pela relação das ideologias com os grupos de interesse e essa relação é explicitada

via processo eleitoral e mudanças nas ideologias. Já a terceira maneira, ainda segundo Souza, são os

participantes visíveis que definem a agenda e os invisíveis que propõem alternativas. Para ela, são

participantes visíveis “políticos, mídia, partidos, grupos de pressão”, dentre outros. Por outro lado,

os acadêmicos e os tecno-burocratas seriam os participantes invisíveis.

De acordo com Souza, a forma de definição de agenda pública, feita pelos participantes

visíveis, encontra-se no mesmo campo prático de atuação abordado por Marshall para a obtenção

dos direitos sociais. As atribuições do direito político citadas por Marshall contemplam a construção

da consciência coletiva apontada por Souza para definir a agenda pública. Assim, o voto é tido

como característica da cidadania política. Por sua vez, os direitos civis compõem-se dos direitos e

necessidades individuais. Estes são fatores indispensáveis para que se focalize um problema a entrar

em pauta de discussão na agenda pública.

Outrossim, conclui-se que a análise técnica feita pelo modelo do ciclo da política pública

encontra parâmetros sociológicos no contexto definido por Marshall no desenvolvimento da

cidadania. Desta forma, o meio sociológico se coloca como fundamental para se chegar às demais

etapas do ciclo da política pública. Não podemos, portanto, ignorar o contexto de cidadania pelo

qual passamos para que o ciclo seja coerente com seus objetivos. Assim, a construção da política

pública tem necessidade de estar em acordo com os princípios da cidadania, caracterizados pelas

conquistas dos elementos civil, político e social.

BIBLIOGRAFIA

1) CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho / 2003. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 4ª edição.

2) MARSHALL, T. H. Cidadania, Classe social e status / 1967. Rio de Janeiro, Zahar 3) SOUZA, C. Políticas Públicas: conceitos, tipologias e sub-áreas / 2002. Salvador: Fundação

Luís Eduardo Magalhães, Workshop sobre Políticas Públicas e Avaliação, mimeo