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Cidadania no Brasil o longo caminho Professor: Elson Junior Santo Antônio de Pádua, agosto de 2017

Cidadania no Brasil o longo caminho · O autor demonstra que no Brasil não houve um atrelamento dessas três dimensões políticas: – O direito a esse ou àquele direito, não

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Cidadania no

Brasil – o longo

caminho

Professor: Elson Junior

Santo Antônio de Pádua, agosto de 2017

Palavra cidadania:

– Utilizada por políticos, jornalistas,

intelectuais, líderes sindicais, dirigentes de

associações, simples cidadãos de modo geral.

Ela substituiu o próprio povo na retórica

política.

Noção de cidadania tão bem usada no

discurso político, não caminha tão bem

em certas áreas , que terminam por

revelar os problemas centrais de nossa

sociedade.

– violência a urbana,

– o desemprego,

– o analfabetismo,

– a má qualidade da educação,

– a oferta inadequada dos serviços de saúde e saneamento, e

– as grandes desigualdades sociais e econômicas ou continuam sem solução, ou se agravam, ou, quando melhoram, é em ritmo muito lento.

– Mecanismos e agentes do sistema democrático, como as eleições, os partidos, o Congresso, os políticos, se desgastam e perdem a confiança dos cidadãos

– Sentimento de descrença dos cidadãos

Para Carvalho (2002) a cidadania é um conceito complexo e historicamente definido (Apenas a liberdade e a participação não levam automaticamente à resolução de problemas sociais na sociedade)

A cidadania inclui várias dimensões, algumas delas podem estar presentes sem as outras.

Cidadania possui várias dimensões → (T. A. Marshall)

Marshall afirma que:

– a cidadania, se desenvolveu na Inglaterra com muita lentidão.

Primeiro vieram os direitos civis, no século XVIII;

No século XIX, surgiram os direitos políticos;

Os direitos sociais foram conquistados no século XX.

o conceito tem sequência cronológica e logica

• Cidadania composta por → direitos civis, políticos

e sociais. Assim:

“O cidadão pleno seria aquele que fosse titular

dos três direitos”

Direitos Civis

– “são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei.

– Eles se desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis, de não ser condenado sem processo legal regular.

– São direitos cuja garantia se baseia na existência de uma justiça independente, eficiente, barata e acessível a todos. São eles que garantem as relações civilizadas entre as pessoas e a própria existência da sociedade civil surgida com o desenvolvimento do capitalismo”.

BASE = liberdade individual

É possível haver direitos civis sem direitos políticos

– Pode haver direitos civis sem direitos

políticos, o contrário não é viável

“Sem os direitos civis, sobretudo a liberdade

de opinião e organização, os direitos

políticos, sobretudo o voto, podem existir

formalmente mas ficam esvaziados de

conteúdo e servem antes para justificar

governos do que para representar cidadãos”.

– têm como instituição

principal os partidos e um

parlamento livre e

representativo.

– São eles que conferem

legitimidade à organização

política da sociedade”.

• Sua base é a ideia de

autogoverno.

Direitos

Políticos

– Garantem a participação na riqueza coletiva.

– Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria.

– A garantia de sua vigência depende da existência de uma eficiente máquina administrativa do Poder Executivo.

– Em tese eles podem existir sem os direitos civis e certamente sem os direitos políticos.

– Permitem às sociedades politicamente organizadas reduzir os excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo e garantir um mínimo de bem-estar para todos.

– A ideia central em que se baseiam é a da justiça social.

Direitos Sociais

Marshall → destaca a questão da

educação popular

– Ela é definida como direito social mas tem

sido historicamente um pré-requisito para a

expansão dos outros direitos

– permitiu às pessoas tomarem conhecimento

de seus direitos e se organizarem para lutar

por eles.

– A ausência de uma população educada tem

sido sempre um dos principais obstáculos à

construção da cidadania civil e política.

Surgimento sequencial dos direitos é um

fato histórico

– caminhos da cidadania são distintos e nem

sempre seguem linha reta.

– Pode haver também desvios e retrocesso.

Brasil não se aplica o modelo inglês.

(Ele nos serve apenas para comparar e

contrastar)

Modelo inglês – serve de exercício analítico

comparativo

Caso Brasileiro tem pelo menos 02 diferenças: – maior ênfase em um dos direitos, o social, em relação aos outros

– alteração na sequência em que os direitos foram conquistados

(direito social)

Etapas de formação dos direitos de Cidadania/ Modelo

Inglês:

Etapas de formação dos direitos de Cidadania/ Modelo

Brasileiro:

Civis Políticos Sociais

Sociais Políticos Civis

Lógica da sequência descrita por Marshall foi invertida no Brasil, segundo Carvalho (2002);

– a pirâmide dos direitos foi colocada de cabeça para baixo. Aqui,

primeiro vieram os direitos sociais, nos anos 1930, implantados em período de supressão dos direitos políticos e de redução dos direitos civis por Getúlio Vargas, ditador que se tornou popular

Questão Estado-nação;

– Cidadania tem a ver com a relação das pessoas com o Estado e

com a nação. As pessoas se tornavam cidadãs à medida que passavam a se sentir parte de uma nação e de um Estado.

– Crise do Estado Nação coloca em risco a questão da cidadania:

reduz também a relevância do direito de participar.

Competição internacional acaba afetando o emprego e os gastos do governo, do qual dependem os empregos e os gastos do governo, do qual dependem os direitos sociais;

O autor demonstra que no Brasil não houve um

atrelamento dessas três dimensões políticas:

– O direito a esse ou àquele direito, não garantiu o

direito a outros direitos.

Tem-se gerado historicamente uma cidadania

inconclusa no Brasil;

Brasil não se segue a ordem inglesa, assim dificilmente

se tem o povo no comando de suas demandas políticas;

– Essa responsabilidade acaba por ficar a cargo de

outras instituições. No caso brasileiro, essa tarefa

tem sido desenvolvida pelo Estado.

Brasil imperial (1822) até 1930 na Primeira Republica: A proclamação da República, em 1889, trouxe pouca mudança para questão da cidadania;

– o conjunto de direitos, civis, sociais e políticos, que poderiam gerar um Estado de cidadãos, praticamente inexistia.

– A própria independência não foi capaz de introduzir mudanças radicais no conjunto desses direitos. Apesar de constituir um avanço no que se refere aos direitos políticos, a independência, feita com a manutenção da escravidão, trazia em si grandes limitações aos direitos civis.

A Constituição republicana de 1891 tinha caráter excludente: somente os mais abastados e letrados estariam aptos a participar do processo político. (exclusão do voto dos analfabetos, das mulheres, dos mendigos, dos soldados, dos membros das ordens religiosas).

Do ponto de vista do avanço da cidadania, em especial relativo aos direitos sociais, destaca-se o movimento que pôs fim à Primeira República, em 1930;

A única alteração importante que houve quanto ao avanço da cidadania foi a abolição da escravidão (1888) que ignorada pela Constituição Liberal de 1824, desde a independência do país até os anos de 1930;

A limitação dos direitos civis, até os anos 30, obstaculizou a conquista dos direitos sociais no pós-libertação dos negros escravizados ;

Escravidão e latifúndio = não propiciam ambiente favorável a cidadania:

– Negros escravizados não eram cidadãos, não tinham os direitos civis básicos à integridade física (podiam ser espancados), à liberdade e, em casos extremos, à própria vida, já que a lei os considerava propriedade do senhor.

– Existia uma população legalmente livre:

Mas a que faltavam quase todas as condições para o exercício dos direitos civis, sobretudo a educação. Ela dependia dos grandes proprietários para morar, trabalhar e defender-se contra o arbítrio do governo e de outros proprietário.

• Senhores não eram cidadãos. Eram, sem dúvida, livres, votavam e eram votados nas eleições municipais. Eram os "homens bons" do período colonial. Faltava-lhes, no entanto, o próprio sentido da cidadania, a noção da igualdade de todos perante a lei;

Cidadãos do novo pais não tinha noção do que era governo representativo:

– Os brasileiros tornados cidadãos pela Constituição eram as mesmas pessoas que tinham vivido os três séculos de colonização nas condições que já foram descritas. Mais de 85% eram analfabetos, incapazes de ler um jornal, um decreto do governo, um alvará da justiça, uma postura municipal. Entre os analfabetos incluíam-se muitos dos grandes proprietários rurais. Mais de 90% da população vivia em áreas rurais, sob o controle ou a influência dos grandes proprietários. Nas cidades, muitos votantes eram funcionários públicos controlados pelo governo.

Muito votavam em função do domínio publico local estar em jogo. O votante não agia como parte de uma sociedade política;

Ausência de poder público que pudesse ser garantia de igualdade entre todos (garantia de direitos civis);

Descaso com educação primária;

Ausência de sociedade politica , ausência de cidadãos: – Os direitos civis beneficiavam a poucos, os direitos políticos

a pouquíssimos, dos direitos sociais ainda não se falava, pois a assistência social estava a cargo da Igreja e de particulares.

Raras manifestações cívicas (exceção das revoltas escravas – palmares);

As Revoltas sociais eram oriundas de setores dominantes:

Inconfidência Mineira 1789

Revolta dos alfaiates 1798

Revolta de 1817 Pernambuco

Brasil - pós-1930: baixíssimo impacto do exercício da cidadania no Brasil, no pós-1930. Dado pelo fato dos direitos sociais terem sido introduzidos antes da expansão dos direitos civis. – Os avanços trabalhistas, longe de serem conquistados, foram

doados por um governo cooptador e posteriormente ditador, já que eram ligados às elites tradicionais, sem vinculação com causas populares.

– A expansão dos direitos trabalhistas/sociais significou efetivamente um avanço da cidadania na medida em que trazia as massas para a política, porem criou uma massa de reféns da União e de seus tentáculos regionais direitos fossem percebidos pela população como um favor, colocando os cidadãos em posição de dependência perante os líderes.

Enaltecimento do Executivo, seu menosprezo aos demais poderes.

o Estado passa a ganhar certa supremacia sobre a sociedade civil, – dessa relação é extraída a possibilidade de organização livre e

independente das massas, para a conquista dos direitos.

Período democrático entre 1945 e 1964 caracterizou-se

pelo oposto ao governo de Vargas ampliação dos

direitos políticos e avanço lento dos direitos sociais.

– os direitos civis foram relegados ao segundo plano

O cidadão em construção ainda não teve tempo de

aprender a ser cidadão, mas a prezar por líderes fortes,

geralmente o chefe do Executivo.

– Ex. Getúlio Vargas eleito senador por dois Estados,

nesse período, e 'voltaria nos braços do povo', em

1951, à presidência da República.

Em 1964, os direitos civis e políticos seriam novamente sufocados por duras medidas de repressão.

Após 1985, em função da queda do regime militar, foram recuperados os direitos civis (liberdade de expressão, imprensa e organização), embora muitos deles, a base da sequência de Marshall, continuem inacessíveis à maioria da população

A agudização dos problemas sociais do final da década de 90 revela que não há atrelamento necessário entre aquelas três dimensões políticas, gerando o retrocesso ou o avanço de um ou de outro direito, determinado pela conveniência da ocasião.

Segundo modelo de Marshall, a introdução de um direito estava atrelado ao exercício pleno de outro.

O diferencial entre a nossa cidadania e a dos ingleses é que o tripé que compõe a cidadania (direitos políticos, civis e sociais) foi por aquele povo conquistado, e a nós ele foi doado (?), segundo os interesses particulares dos governantes