Cidade Revista

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  • 2 Edio Ano 2013

    A Cidade do Futuro: Viver ou Sobreviver?

    Carros do futuro maisperto do que nunca

    Automveisdo amanh

    Cidades no mar: uma alternativa?

    Construo Inteligente

    So Paulo, Rio de Janeiro,Stuttgart e Baden-Wrttemberg

    Artigos Cidades e Estados

    revista

    engenharia brasil alemanha

  • www.wecreatechemistry.com

    Ns transformamos a qumica que faz lares aconchegantes terem paixo por ventania.

    Turbinas elicas produzidas com solues inovadoras da BASF so capazes de resistir a ventos de alta velocidade e condies climticas severas. Nossos produtos auxiliam na fabricao e instalao de turbinas elicas com maior eficincia e durabilidade, desde sua base at a ponta das hlices. Assim, contribumos para o desenvolvimento da energia elica como uma fonte energtica que respeita o clima. Quando os ventos fortes significam energia limpa porque, na BASF, ns transformamos a qumica.

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  • setembro 2013 | revista engenharia brasil alemanha | 1

    O tema A Cidade do Futuro: Viver ou Sobre-viver?, definido para o nosso Dia da Engenharia Alem, que acontece no dia 17 de outubro de 2013, est sendo abertamente discutido e abordado por todos os brasileiros que moram nas grandes cida-des. Obras de infraestrutura, algumas delas impos-tas pela FIFA para os eventos esportivos de 2013 e 2014, outras em razo da presso dos eleitores, esto modernizando nossas cidades para facili-tar a vida de seus moradores. Os problemas nas grandes cidades so muitos, os quais so herana de sua prpria histria, mas os horizontes so pro-missores. Nunca se investiu tanto na infraestrutura das grandes cidades como nos ltimos anos: im-portantes aspectos como mobilidade, saneamento, energia, segurana, educao e sade so tratados e discutidos diariamente.

    So Paulo , hoje, a cidade com os maiores desa-fios: possui, por exemplo, quase cinco (5) milhes de veculos, cerca de 25% da frota nacional. So realizados cerca de 30 milhes de deslocamentos por dia. Uma pesquisa divulgada pela Organizao Internacional do Trabalho mostra que 23,2% dos paulistanos levam mais de uma (1) hora para che-gar ao trabalho contra uma mdia de 9,5% dos bra-sileiros. Este exemplo mostra claramente que algo tem de mudar, em especial nas grandes cidades.

    O Dia da Engenharia Alem e a revista Enge-nharia Brasil-Alemanha da VDI-Brasil tratam exatamente deste importante assunto e buscam apresentar novas tcnicas e tecnologias para me-lhorar a qualidade de vida, o ambiente de traba-lho, a moradia e a forma de viver dos habitantes das cidades grandes. A 2 edio da revista Enge-nharia Brasil-Alemanha, que acompanha o maior evento da nossa Associao dos Engenheiros Bra-sil-Alemanha, o Dia da Engenharia Alem, esto em destaque novas ideias, novos planos e arrojadas propostas para vencer os desafios do planejamento urbano. A revista contempla exemplos bem suce-didos de modernizao implementados nas cida-des de Singapura, Masdar City, Stuttgart, Rio de Janeiro e Grande So Paulo. Tambm abordamos ideias surpreendentes, como criar uma cidade em uma ilha artificial em alto mar.

    A maioria das empresas j entendeu o desafio das grandes cidades e j traba-lha com diversos projetos para melhorar a qualidade de vida, ao menos dentro da empresa. Muitas ativida-des j foram implementadas ou encontram-se em fase de teste ou projeto-piloto. Melhorias constantes nas empresas aumentam a produtividade na indstria, a qual figura como palavra-chave para o sucesso das mesmas a longo prazo. Na indstria, oportu-nidades so levadas a srio e j se fala at em In-dstria 4.0 (prxima revoluo industrial), com a introduo de mquinas inteligentes na produo. Conceitos semelhantes podem ser aplicados na or-ganizao das grandes cidades. O futuro j come-ou e est em plena mudana precisamos somen-te trabalhar juntos para superar os entraves de uma burocracia e legislao do milnio passado.

    A revista Engenharia Brasil-Alemanha uma contribuio da nossa associao para o fomento das discusses sobre o futuro das cidades do Brasil. Neste ano, estamos celebrando o Ano da Alema-nha no Brasil, e a cooperao com a Alemanha, em especial, tem como objetivo mostrar tendncias fu-turas no desenvolvimento tcnico dos dois pases.

    A VDI-Brasil no realiza somente o Dia da En-genharia Alem. Em diversos eventos, cursos, en-contros tecnolgicos, entre outros, apresentamos as mais inovadoras tecnologias que esto sendo desenvolvidas no Brasil, na Alemanha e no mundo. Convidamos voc a fazer parte da nossa associao e visitar nosso site www.vdibrasil.com.br

    Estamos honrados em poder t-lo como leitor da nossa revista e ficaremos felizes em receber um re-torno com propostas e comentrios sobre esta edio.

    Christian MllerPresidente da VDI-Brasil

    Editorial

  • 42 Apartamentos e casas que pensam

    46 A construo de edifcios inteligentes

    52 CasaE, um desafio em eficincia energtica

    56 Carros do futuro, mais perto do que nunca

    62 O automvel do futuro: previden-te, inteligente e compreensivo

    69 O hidrognio guia o futuro que j est acontecendo

    72 A construo do amanh comea agora

    76 Distribuio urbana: um desafio para o setor de alimentos

    80 Internet na logstica de uma cidade

    04 Gnese das cidades

    08 So Paulo, terra do empreendedorismo

    11 A construo de um legado para o Rio

    14 Ideias verdes para uma cidade verde

    18 Baden-Wrttemberg, Estado alemo de inovao

    22 Masdar City - emisso, energia e lixo zero! - Uma cidade proveta de experimentao

    26 Viso da Morgenstadt, cidade do amanh

    30 Reurbanizao espetacular de Singapura

    34 Cidades no mar: uma alternativa?

    38 Edifcios do futuro para o presente

    Sumrio

    23 39 44

  • 84 A horta urbana: uma soluo inteligente

    88 Rio de Janeiro vigiada

    90 Desafio dotar de inteligncia ruas e vias expressas

    94 Transporte Pblico: mais do que um simples transporte

    98 Braslia, nascida do nada vive drama metropolitano

    102 Avanos da TI fazem do trabalhador seu prprio chefe

    106 Tecnologia a favor do planeta: automao para o tratamento de gua

    110 gua potvel, presente e futuro de um recurso escasso

    114 A VDI-Brasil: em ao com foco no sucesso

    Revista Engenharia Brasil-Alemanha uma publicao da VDI- Brasil - Associao de Engenheiros Brasil-Alemanha.

    CONSELHO EDITORIALEdgar Horny (Presidente de Honra VDI-Brasil)Christian Mller (Presidente VDI-Brasil)Matthias Neisser (Diretor Executivo VDI-Brasil)Thomas Timm (Tesoureiro VDI-Brasil)Eckart Michael Pohl (Diretor de Comunicao Social Mercosul AHK)

    JORNALISTA RESPONSVELAna Paula Calegari - MTB 13477

    REDAOVladimir Goitia (Reportagens e Textos)Ana Paula Calegari e Julia P. Dnner (Textos e Reviso)Julia P. Dnner e Renata Dias Mundt (Traduo)Giselle Botelho Soares (Colaborao)

    FOTOS DE CAPAIstockphoto / dblight e Loveguli

    PRODUO GRFICAFlvia Viana (Layout e Diagramao) Willian Marcucci e Stella Braga (Tratamento de Imagens)

    IMPRESSOIntergraf Solues Grficas

    COORDENAO COMERCIAL/ ADMINISTRATIVOTatiane Milani - Tel.: (+55 11) 5180-2316Giselle Botelho Soares - Tel.: (+55 11) 5180-2325

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    Gnese das cidades

    H alguns anos, as cidades esto de novo no centro de uma mudana radical. Isso se explica, principalmente, pelo fato de que, h aproximada-mente cinco anos, mais pessoas passaram a mo-rar nas cidades do que no campo. E essa migrao continua aumentando. Em poucos anos, 70% das pessoas estaro morando em centros urbanos.

    Essas mudanas so fundamentais, pois no se trata apenas da construo de mais edifcios e ruas, porm do desenvolvimento econmico, ecolgico, tcnico e social, alm de complexos de arquitetura diferenciados. Esse movimen-to no novo: ele comeou na Antiguidade e, agora, tem sua continuidade. No entanto, pelo ponto de vista global, interessante para ns ob-servar a rapidez com que ele est ocorrendo.

    Assim, a necessidade de assentamento em re-as urbanas crescer nos prximos 20 anos. O nmero de pessoas pular dos atuais 3,5 bilhes para cerca de 5,6 bilhes. Ou seja, mais de 2 bi-lhes num perodo de duas dcadas.

    importante apontar, entretanto, que edifcios, ruas e infraestruturas urbanas no podem ser construdos to rapidamente quanto Smartpho-nes, computadores ou outros bens de consumo para os quais essas quantidades de produo j

    so normais. O desenvolvimento de um espao urbano demanda muito mais tempo, alm de exigir uso excessivo de energia, matrias-primas e capital. Alm disso, os ciclos de vida das infra-estruturas urbanas, edifcios e ruas tambm so muito mais longos.

    Para uma cidade que se desenvolve de maneira lenta e evolucionria, isso, com certeza, no ser um problema, j que haver tempo o suficiente para reagir s mudanas na tecnologia e na eco-nomia. Com a atual velocidade do crescimento econmico global, no entanto, ns corremos o risco de desvincular o crescimento da cidade do desenvolvimento nas reas de energia e de tec-nologia da construo e do trfego, de maneira a perder a nica chance que o desenvolvimento urbano traz.

    Isso porque, quanto mais denso o centro ur-bano, menos energia ele consome. Isso se deve, por um lado, a um consumo claramente menor de rea ocupada por pessoa, mas tambm a tra-jetos mais curtos em transporte e trnsito por pessoa. Alm disso, com a aglomerao, surge tambm maior densidade de potencial criativo, a qual pode formar a base para uma nova socie-dade econmica.

    Evoluo das Cidades

    Por Dr.-Ing. Alexander Rieck - Arquiteto / Fraunhofer IAO

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    Economia das cidades

    Por este motivo, todo o desenvolvimento glo-bal e histrico deve ser inicialmente considera-do em relao ao cenrio econmico da cidade. Pois todas as cidades possuem, antes de tudo, um teor profundamente comercial.

    Na Antiguidade, as cidades eram erguidas em locais estrategicamente importantes. Em pri-meiro lugar, pensava-se sempre na proviso su-ficiente de gua (s margens de rios e lagos), nas vantagens militares estratgicas (montanhas, baas, passagens) e na importncia do entorno comercial. Estes podiam ser rotas de comrcio e de transporte que geravam benefcios econ-micos com impostos e taxas alfandegrias ou com o descarregamento e a transferncia de mercadorias, as quais poderiam ser recursos naturais como o sal, cobre ou ferro. Conse-quentemente, esses assentamentos tornavam-se atrativos para assaltos inimigos, o que levou instituio instalaes de proteo militar. Essa proteo, por sua vez, tornou-se interessante tambm para as pessoas da regio que, se ne-cessrio, poderiam se refugiar nas fortificaes. Com isso, as cidades dominavam seu entorno regional, tanto do ponto de vista econmico quanto militar e, consequentemente, poltico. As primeiras entidades polticas fortes foram cidades-estados com amplo entorno rural- econmico. Centros como Constantinopla ou Roma eram, por exemplo, os centros do mun-do. O provrbio Todos os caminhos levam a Roma deixa isso bem evidente.

    Na fase de imigrao dos povos, as cidades fo-ram ameaadas e, em parte, dizimadas por po-pulaes mais nmades. Por isso, seguiu-se uma poca marcada por atividades rurais e agrrias. O aumento da populao europeia e asitica precisava cada vez mais de reas frteis para su-prir o aumento da demanda por alimentos.

    No perodo seguinte, a Idade Mdia, surgiu um equilbrio com a existncia de grandes centros urbanos protegidos militarmente, cuja base eco-nmica se fundamentava quase sempre no co-mrcio e em manufaturas, enquanto, do outro lado, cidades menores, tambm militarmente protegidas, cresciam como centros rurais secun-drios de uma sociedade agrria.

    Neste ponto interessante notar que, em di-versas cidades, devido grande densidade de-mogrfica, foi possvel criar uma subcultura baseada em uma nova educao, conhecimento e poltica. Assim, por exemplo, as corporaes regulamentavam o convvio entre as pessoas e a transmisso de conhecimento de forma inde-pendente do clero e da nobreza. A afirmao O ar da cidade liberta representa esse movimento.

    Esta liberdade deu vazo a novas foras criati-vas e foi adicionalmente promovida pelo fim do servilismo. Isso estimulou mais uma nova fora criativa e econmica. O comrcio e a manufa-tura prosperaram e se tornaram cada vez mais importantes para a sociedade.

    Na Idade Moderna, com o Iluminismo, esse desenvolvimento se expandiu cada vez mais. As cidades passaram a formar fortes espaos econ-micos, ainda cercados militarmente por muros, e apostaram no comrcio e nas manufaturas, concorrendo com outras cidades.

    Com o incio da era industrial, o desenvolvi-mento lento e balanceado da cidade e do campo teve como experincia a primeira grande acele-rao. A partir do crescimento cuidadoso das manufaturas artesanais, surgiram fbricas com uma enorme demanda de mo de obra e de es-pao para instalaes industriais.

    Os ltimos muros foram demolidos, j que, de-vido avanada tecnologia militar (canhes, por exemplo), a cidade no pde mais ser protegida por muros. Agora, o desenvolvimento urbano apostava na infraestrutura. As ruas comearam a ser ampliadas e as canalizaes de gua e es-goto acabaram substituindo os velhos cursos de gua naturais.

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    A cidade moderna

    Com o incio da modernidade, o desenvolvi-mento das cidades mudou mais uma vez. Isso, curiosamente, atribudo a alguns fatores: Aampliaodasruassedeveaocrescimento

    do trfego individual Edifciossoconstrudoscomoblocosagre-

    gados e se tornam alvo de investidores. Cidades no se incendeiam to facilmente.

    A experincia do bombardeio na Alemanha um argumento contra ruas estreitas e casas muito prximas.

    A cidade moderna pode ser mais facilmentecontrolada politicamente e, portanto, tambm bastante apreciada em Estados absolutistas.

    Cidadesmodernastmumfluxomelhordear. Locaisdemoradia e trabalho so separados

    (devido s altas emisses da indstria).Devido ao crescimento vertiginoso das cida-

    des, o trnsito aumentou significativamente. Ca- da vez mais, a cidade moderna se transformou em uma cidade moldada para carros. Vias de trfego cortaram bairros inteiros e se conecta-ram a outras regies. Com isso, a cidade perdeu seu centro expandido. O crescimento desorde-nado foi acompanhado por gigantescos gastos em infraestrutura e altos custos de transporte.

    O tempo gasto diariamente com o deslocamento at o trabalho, ou para ir s compras, por exem-plo, aumentou excessivamente. A qualidade de vida piorou.

    Passado e futuro

    As ltimas grandes vises e ideias sobre a ci-dade foram desenvolvidas pensando em siste-mas urbanos utpicos, comparveis a mquinas. Estes eram to evidentemente inumanos que as pessoas descartaram a crena que tinham at en-to no avano e na tecnologia, e a esperana de um futuro melhor desapareceu. Isso ficou claro principalmente nas imagens negativas de cida-des de fico como as vistas no filme Blade Run-ner. Politicamente, isso tambm ficou visvel na postura crescente de rejeio s usinas nucleares e atual ameaa geral de guerra atmica.

    Agora, esses avanos negativos parecem ter sido superados. Fizemos as pazes com a tecno-logia e utilizamos ingnua e naturalmente robs, Smartphones e a Internet, depositando nossa confiana na capacidade de sensores e compu-tadores para cuidarem do nosso dia-a-dia. Com isso, a cidade do futuro est novamente em voga. Est claro que uma cidade sustentvel s pode ser desenvolvida com o uso de novas tecnolo-gias, em vista da populao crescente.

    Mas com isso est claro, tambm, que a cidade do futuro ser mais complexa. Sistemas digitais penetraram em estruturas existentes e demanda-ram, em grande parte, uma nova concepo. Ao mesmo tempo, nossas demandas por bem-estar, segurana, conforto e qualidade tambm aumen-taram. Nesse sentido, ainda no existe nenhuma previso de como sero as cidades no futuro.

    Alm de questes energticas e da tecnologia ambiental, h mais uma mudana importante: com o uso de TI e de robs, a base industrial de nossa sociedade global est se modificando. Qual ser, ento, a base econmica da cidade do futuro? Com o que as pessoas vo se ocupar e como ganharo seu sustento? O que a cidade do futuro oferecer ao homem?Maisumavez,acidade,portanto,umreflexo

    da sociedade.

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    So Paulo

    Artigos Cidades e Estados

    Geraldo Alckmin

    Governador do Estado de So Paulo

    ainda o Estado mais cosmopolita da Amrica do Sul, com cerca de trs milhes de imigran-tes, de 70 diferentes nacionalidades. Sua capi-tal, So Paulo, foi citada entre as 40 cidades que faro diferena na vida das pessoas no futuro de acordo com recente ranking divulgado pela McCann Worldgroup, rede mundial de agncias de propaganda. A cidade foi lembrada por en-contrar solues originais para transformar pro-blemas urbanos tpicos das megalpoles. Se for considerada a regio metropolitana, ou seja, os 38 municpios que circundam a capital, a popu-lao chega a aproximadamente 19 milhes de habitantes.Logoabaixo,umdepoimentodogo-vernador Geraldo Alckmin sobre o Estado mais rico do Brasil.

    Terceira unidade administrativa mais populosa da Amrica do Sul, superada apenas pelo prprio Bra-sil e ligeiramente pela Colmbia, frente da Argentina e de todos os outros pases sul-americanos, So Paulo responsvel por mais de 31% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Com isso, legitima o status de motor econmico do Pas. Tem a melhor infraestrutu-ra em todo o territrio brasileiro, conta com mo de obra qualificada, fabrica produtos de alta tecnologia e abriga o maior parque industrial e a maior produo econmica.

    Foto: Ministrio do Turismo / Jefferson Pancieri

    So Paulo, terra do empreendedorismo

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    Infraestrutura

    impossvel falar sobre o Estado de So Paulo sem abordar nmeros superlativos. Aqui esto instaladas as principais indstrias mundiais. J somos 42 milhes de habitantes. Nosso Produto Interno Bruto (PIB) maior que o da Noruega e quase o dobro do argentino. Responde por um tero do PIB nacional, a segunda maior econo-mia da Amrica do Sul e a terceira maior da Am-ricaLatina,depoisdoprprioBrasiledoMxico.

    Se fssemos um pas, seramos a 18 maior eco-nomia do mundo, com um investimento anual que quintuplicou na ltima dcada, chegando, em 2013, a R$ 24 bilhes. So Paulo concentra a produo industrial de servios e agrcola, o que explica o grande nmero de municpios entre os maiores PIBs brasileiros. este cenrio de pu-jana econmica e franco desenvolvimento que faz de nosso Estado o destino mais atraente para o empreendedorismo.

    Aqui, o empresrio encontra condies reais de competitividade, a comear pela posio de vanguarda no modelo de Parcerias Pblico-Pri-vadas (PPPs). As PPPs abrem um leque de opor-tunidades que somam mais de R$ 40 bilhes em investimentos nas reas de mobilidade urbana, transportes, saneamento, habitao, energia, sade e segurana.

    So mais de 30 projetos que esto ampliando uma infraestrutura que j oferece as melhores condi-es logsticas do Pas. Aqui esto, por exemplo, as melhores estradas, portos e aeroportos. a garan-tia do escoamento e barateamento da produo.

    Capacitao

    Todo esse trabalho estrutural no tem sentido se no for complementado com aes direciona-das capacitao de nossa gente. E isso feito com o ensino de excelncia oferecido em nossas Escolas Tcnicas (ETECs), nas Faculdades de Tecnologia (FATECs), pelos cursos como o Via Rpida Emprego e nas trs melhores universida-des pblicas do Pas.

    Mas todo esse trabalho estrutural tambm no tem sentido se no for complementado com aes

    direcionadas capacitao das pessoas. Criamos o programa Via Rpida Emprego com cursos de qualificao de curto prazo em reas de grande demanda. Nossas 207 ETECs e 56 FATECs ofere-cem um total de 147 mil vagas para a formao de profissionais de ponta para a rea de tecnologia.

    Tambm temos trs das melhores universida-des pblicas do Brasil, entre elas a Universidade de So Paulo, eleita pelo terceiro ano por uma instituio de pesquisa como a melhor da Am-ricaLatina.

    A formao profissional e a inovao tm o re-foro das descobertas cientficas feitas por ins-tituies de renome internacional, como o Ins-tituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo (IPT), e so incentivadas por linhas de crdito especiais, como a So Paulo Inova, pela Fundao de Amparo Pesquisa (FAPESP). E nossas agncias de apoio e fomento oferecem toda a assessoria institucional e tcnica ao novo empreendedor, alm de linhas de crditos espe-ciais para empresas com base na inovao.

    Respeito jurdico

    Outro fator importante para a atrao de inves-timentos est em nossa segurana jurdica e a ca-pacidade de sobreviver a fortes crises econmicas mundiais. No por acaso, So Paulo o Estado

    Da esq./ dir.: Thomas Timm, Edgar Horny, Geraldo Alck-min e Weber Porto. Alckimin recebe o Manual de Transfe-rncia de Tecnologia Brasil-Alemanha da VDI-Brasil.

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    brasileiro com o melhor grau de investimento, segundo agncias de risco internacionais.

    Paralelamente, avanamos na desonerao de impostos para diversos setores, como o courei-ro-caladista, o agroindustrial, entre outros seg-mentos. E acabamos de criar o Comit Paulista de Competitividade, que tem por objetivo trazer o setor privado para desenvolver, em conjunto com o governo estadual, polticas pblicas de es-tmulo ao empreendedorismo no Estado.

    So conquistas que se somam grande capaci-dade, ao esforo e ao suor dos paulistas e, juntos, formamos uma colmeia de trabalho no sentido da cooperao mtua e harmonia na convivn-cia cotidiana. Uma unio que fortalece ainda mais as engrenagens desse grande Estado em-preendedor que So Paulo.

    Outras medidas do governo do Estado

    Mobilidade urbana sobre trilhos- At 2015, a previso investir R$ 45 bilhes

    no transporte sobre trilhos. No momento, o governo estadual executa obras em quatro li-nhas do Metr, simultaneamente, incluindo a implantao do monotrilho, para melhorar o atendimento dos 7,3 milhes de passagei-ros que utilizam os trilhos todos os dias em So Paulo.

    - O Veculo Leve Sobre Trilhos (VLT), emconstruo na Baixada Santista, beneficiar a locomoo de mais de 85 mil pessoas por dia.

    Logstica e transportes: hidrovia e aeroportos- Com investimentos de mais de R$ 1,5 bilho,

    o governo est expandindo, fortalecendo e melhorando o trecho paulista da Hidrovia Tiet-Paran. Isso facilitar o transporte de cargas desde a regio oeste do Estado por mais de 2.400 km de extenso at prximo ao Porto de Santos.

    - Os aeroportos estaduais (31 ao todo, no in-cluindo os administrados pela Infraero) tam-bm esto sendo modernizados e ampliados. Isso aumentar a movimentao de passagei-ros que, em 2012, chegou a quase 3 milhes.

    Logstica e transportes: rodovias e Rodoanel - A capacidade de trfego e a segurana das

    principais rodovias do Estado tambm es-to sendo ampliadas com a construo de novas faixas e implantao de melhorias. Somente na Euclides da Cunha, uma exten-sa rodovia que cruza a regio norte do Es-tado, o governo est duplicando um trecho de 158 km, com investimentos de mais de R$ 770 milhes.

    - O Rodoanel Mario Covas, a maior obra viria do Pas, est sendo construdo em quatro eta-pas e, com dois trechos j em funcionamento, est criando rotas mais rpidas, seguras e eco-nmicas, assim como encurtando caminhos entre a regio metropolitana de So Paulo e as principais rodovias do Estado.

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    Rio de Janeiro

    Eduardo Paes

    Prefeito da cidade do Rio de Janeiro

    2012, a sua paisagem foi considerada Patrim-nio Cultural da Humanidade pela UNESCO. No toa, a cidade brasileira mais conheci-da no exterior. ainda a maior rota do turismo internacional e principal destino turstico na AmricaLatina.Hoje,oRiodeJaneiro,quefoicapital do Brasil entre 1763 e 1960, quando o governo transferiu-se para a recm-construda Braslia (ver reportagem na pgina 98), funcio-na como um espelho ou um retrato nacio-nal, seja positiva ou negativamente. A seguir, o atual prefeito, Eduardo Paes, faz consideraes importantes a respeito do futuro da segunda maior metrpole do Pas.

    No auge de seus quase 450 anos, a cidade do Rio de Janeiro a sede dos Jogos Olmpicos e Paraolm-picos de 2016. Considerada centro intelectual e cultural do Pas, o Rio trabalha todos os dias para cele-brar, em 27 dias de competies, a maior festa do esporte mundial. Quem for para a cidade nesse pe-rodo poder reviver a histria do Brasil ao andar pelas suas ruas. Prdios antigos do centro e arre-dores carregam a lembrana de grandes momentos do Pas. Em

    Foto: Marcos Silva Pereira

    Artigos Cidades e Estados

    A construo de um legado para o Rio

  • 12 | revista engenharia brasil alemanha | setembro 2013

    Reinveno

    O Rio de Janeiro vive um momento nico em toda sua histria. Um momento de renascimen-to, renovao e transformao. A cidade olm-pica est se reinventando para receber, de bra-os abertos, grandes eventos internacionais nos prximos anos. A realizao da Copa do Mun-do de Futebol, em 2014, e dos Jogos Olmpicos, em 2016, so o smbolo mximo desta nova era. Para ns, essa janela histrica uma chance de mudar a cidade para melhor. O legado precisa ser real e trazer benefcios diretos e indiretos para o cotidiano de todos os cariocas.

    Nossa prioridade estruturar um processo de desenvolvimento sustentvel de longo prazo e atu-ante para a cidade. A maior parte dos investimen-tos que consideramos olmpicos no se destina aos atletas nas competies, mas melhoria da vida do carioca. So recursos em transporte, habi-tao, meio ambiente e infraestrutura. E, sobretu-do, em pessoas, um grande e importante elemento das cidades e do Rio de Janeiro, em especial.

    Os Jogos Olmpicos nos permitem acelerar e ampliar a escala de investimentos na cidade. Des-ta forma, no paramos um s minuto de pensar em estruturas e possibilidades que possam me-lhorar a vida da populao carioca e dos turistas.

    Patrimnio da humanidade

    O patrimnio natural um dos principais ativos econmicos do Rio de Janeiro. A exuberncia tro-pical da metrpole com 12 milhes de habitantes

    ao redor das duasmaiores florestas urbanas domundo e um litoral de mais de cem quilmetros de extenso fazem parte de uma caracterstica ur-bana singular. Tudo isso uma vantagem compe-titiva que temos de preservar e valorizar cada vez mais. O Rio de Janeiro a cidade ideal para se vi-ver, para trabalhar, para festejar e para visitar.

    E no apenas a riqueza ambiental que nos dis-tingue quando enfatizamos a sustentabilidade. Tambm temos liderana e protagonismo em po-lticas pblicas. H duas dcadas, sediamos a Rio-92, considerada a maior conferncia da histria das Naes Unidas, na qual o conceito de desenvolvi-mento sustentvel surgiu em um debate multilate-ral. Em 2012, revivemos essa discusso. A cidade voltou a receber uma conferncia mundial sobre meio ambiente. Durante a Rio+20, avaliamos a evoluo do planeta e traamos os prximos pas-sos, pensando sempre numa poltica de desenvol-vimento sustentvel para uma grande metrpole.

    Metas ambientais

    E as aes no ficaram somente no papel. A Prefeitura do Rio de Janeiro acabou com a ver-gonha ambiental que era o Aterro de Gramacho, que, durante anos, ficou localizado beira da Baa de Guanabara, poluindo um dos mais belos cartes postais da cidade. Ganhamos o moderno Centro de Tratamento de Resduos, em Serop-dica, onde tratamos o lixo com a melhor tecno-logiadaAmricaLatina.

    Tambm estamos expandindo o saneamento na Zona Oeste, regio carente de infraestrutura urbana, alm de reverter a tendncia de reduo dacoberturavegetaledobrarataxadereflores-tamento urbano da cidade. Estas so algumas das medidas que estamos realizando para redi-recionar a cidade em uma trajetria de desenvol-vimento sustentvel.

    No estamos encobrindo a realidade das mu-danas climticas e seus impactos. Pelo contr-rio, as estamos enfrentando com seriedade. Te-mos objetivos de redues de emisses de gases do efeito estufa. At 2016, queremos reduzi-las em at 16% e, em 2020, em at 20%, comparan-do com as emisses da cidade em 2005. Estas so

    Foto:SXC/LuisLu

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  • setembro 2013 | revista engenharia brasil alemanha | 13

    metas indicativas para fomentar o desenvolvi-mento de uma economia de baixo carbono, que representa o futuro do Rio e da humanidade.

    Mobilidade

    No setor de transporte, a cidade est passando por uma transformao profunda na mobilidade urbana. A implantao dos quatro corredores de nibus de BRT (Bus Rapid Transit) uma gran-de revoluo. Esses investimentos iro reverter dcadas de abandono da expanso de mobilida-de da cidade, que prejudicou muito a qualidade de vida dos cariocas.

    A Transoeste uma realidade e j mudou a vida do cidado que precisa ir de Santa Cruz at a Barra da Tijuca. So 220 mil passageiros trans-portadospordiapeloLigeiro.ATranscarioca,a Transolmpica e a Transbrasil tambm fazem parte desta rpida e transformadora expanso de transporte coletivo de alta capacidade da hist-ria. Em oito anos, vamos entregar populao 152 quilmetros de BRTs.

    Durante a Rio+20, a liderana do Rio de Janei-ro no quesito desenvolvimento sustentvel foi essencial para recebermos a Cpula dos Prefei-tos evento do C40, rgo que rene as maiores cidades do planeta. Durante esta conferncia, as cidades se comprometeram e anunciaram o compromisso de reduzir 1,3 bilho de toneladas de carbono at 2030.

    Favelas

    A cidade tambm passa por outro processo de transformao. Todas as comunidades com ocu-paes informais, conhecidas como favelas, sero urbanizadas at 2020, atravs do projeto Morar Carioca. Pela primeira vez, assumimos este gran-de desafio e traamos um plano para alcanar o nosso objetivo. Sabemos que temos muito traba-lho pela frente, mas temos a certeza de que vamos conseguir. J avanamos muito com a recupera-o de territrios que, no passado, infelizmente, estiveram sob o domnio do crime organizado. O prximo passo aumentar cada vez mais a quali-

    dade de vida nas comunidades e equalizar as re-as mais carentes s mais ricas.

    Nada disso que alcanamos durante estes qua-tro primeiros anos de gesto teria sido realizado sem uma gesto fiscal responsvel e incentiva-dora do desempenho. No incio, medidas duras foram tomadas para recuperar a sade fiscal do municpio. Cortes de despesas correntes foram adotados para ampliar a capacidade de investi-mento ao longo prazo. Este ajuste foi combinado com polticas pblicas e sociais estruturantes. A mquina se modernizou com a adoo de pr-mios por desempenho e estmulo meritocra-cia. Hoje, a Prefeitura do Rio modelo em vo-lume de investimentos no Pas e promove, com eficincia, evoluo nas reas sociais.

    Medalha Olmpica

    Os desafios so to grandes quanto o orgulho que o carioca voltou a sentir da sua cidade. As barrei-ras no caminho no so poucas e tambm no so simples. Mas promovemos uma transformao cultural, urbana, econmica e social e assumimos compromisso com prazos, metas e transparncia.

    Sabemos que a necessidade de recursos gran-de, mas est ao nosso alcance. Vontade e empre-endedorismo fazem parte do nosso dia-a-dia. A pouco mais de trs anos dos Jogos Olmpicos, caminhamos em direo de um futuro promis-sor, e as mudanas so evidentes. At 2016, te-nho certeza de que conquistaremos a medalha mais sonhada por todos: a construo de uma cidade melhor para se viver.

    Foto: Ministrio do Turismo / Rio Convention Visitours Bureau

  • 14 | revista engenharia brasil alemanha | setembro 2013

    los, tecnologia de produo e servios (IT, inds-tria criativa). A diversidade de setores, a densa rede de conexo das empresas com universida-des e, principalmente, a capacidade de inovao so os pontos fortes de sua economia. Agora, eu os convido a me acompanharem por um pas-seio por Stuttgart.

    Cidade verde

    Stuttgart considerada a metrpole mais verde da Alemanha. A metade de toda a rea urbana consiste em vincolas, bosques, parques, cam-pos com rvores frutferas e jardins. No centro da cidade, os parques formam uma paisagem

    Stuttgart uma cidade cosmopo-lita, tolerante e internacional, onde pessoas de mais de 170 naes con-vivem pacificamente. Ela oferece uma alta qualidade de vida e o motor econmico do Estado de Ba-den-Wrttemberg, assim como um dos importantes centros comerciais da Europa. A cidade ainda lder mundial na rea de engenharia, e dispe de tecnologias ambientais fundamentais e precursoras.

    Alm de todas essas caractersti-cas, Stuttgart conta tambm com uma rede nica de valor agregado industrial em montagem de vecu-

    Fritz Kuhn

    Prefeito de StuttgartStuttgart

    Foto: Divulgao

    Artigos Cidades e Estados

    Ideias verdes para uma cidade verde

  • setembro 2013 | revista engenharia brasil alemanha | 15

    verde contnua para lazer e eventos. Alm dis-so, Stuttgart possui depois de Budapeste a maior reserva de gua mineral da Europa com 19 fontes e trs balnerios medicinais, os quais oferecem relaxamento e recuperao.

    O tema Urban Gardening (criao de reas verdes por cidados), tambm paira no ar da cidade. E as primeiras iniciativas privadas j comearam. Assim, o telhado de um estaciona-mento no centro da cidade, por exemplo, dever ser transformado em um jardim acessvel. Alm disso, a administrao municipal tambm est avaliando algumas possibilidades para disponi-bilizar espaos verdes urbanos.

    Vantagens competitivas

    A renda per capita da regio est acima da m-dia das metrpoles alems. A indstria local ga-nha mais do que um em cada dois euros fora do pas. O nvel de educao tambm marcante. Uma quantidade acima da mdia dos emprega-dos tem grau acadmico. Quase 36% de todos os funcionrios trabalham no setor de servios na rea do conhecimento. Em nenhum outro lugar da Alemanha h tantos engenheiros quanto em Stuttgart. Alm disso, a regio tem instituies excepcionais de educao superior e de pesquisa.

    Aqui se encontram duas dzias de universida-des, faculdades de ensino tcnico e academias com mais de 54 mil estudantes, quatro Institutos Fraunhofer, dois Institutos Max-Planck, inme-ros centros de renome de pesquisa e desenvolvi-mento; alm disso, mais de uma dzia de centros regionais de competncia e inovao esto insta-lados na cidade.

    O principal foco dos centros cientficos : nanotecnologia, pesquisa de estado slido, micro e nanorobtica, tecnologia de superf-cie, automatizao, cincia dos materiais, en-genharia de processos biolgicos, fsica e tec-nologia da construo.

    Toda essa rede de formao e educao supe-rior faz de Stuttgart uma das cidades mais fortes da Europa em termos de pesquisa e desenvolvi-mento. Em cada 10 mil empregados, por exem-plo, 321 so pesquisadores.

    O poder econmico

    Entre as 500 principais companhias alems, 26 delas tm sua sede na regio. Alm das grandes empresas, inmeras pequenas e mdias em-presas de inovao, voltadas para o mercado mundial, reforam a estrutura econmica da regio. Depois de Frankfurt, Stuttgart tambm o segundo mais importante centro financei-ro da Alemanha. Mais de 100 bancos tm suas sedes aqui. Cerca de 450 milhes de euros so negociados diariamente na bolsa de Stuttgart. 28 seguradoras e fundos de penso, assim como a maior empresa europeia de seguro de vida, com-pletam o cenrio financeiro.

    Viso principal: modernizao ecolgica

    A modernizao ecolgica a viso que nor-teia o desenvolvimento econmico futuro de Stuttgart. Temos know-how cientfico e tecno-lgico para conseguir uma extraordinria e moderna tecnologia energtica e novas tecno-logias para mobilidade e produo ambiental. As empresas j caminham nessa direo. Que-remos estruturar e colocar Stuttgart na lideran-a mundial em tecnologias verdes. Em 15 anos, Stuttgart no vai exportar apenas automveis, mas tambm sistemas de transporte do futuro.

    Construo e urbanismo verde

    Na dcada de 1920, Stuttgart era considerada a cidade mais moderna da Alemanha. O teste-munho disso o bairro Weissenhofsiedlung, construdo em 1927, e hoje reconhecido como um dos mais importantes monumentos arqui-tetnicos da Nova Arquitetura. Nesse perodo, surgiraminmerasoutrasobrasqueinfluencia-ram esse movimento no mundo inteiro, como o novo mercado municipal de Martin Elssser e a torre do jornal Tagblatt, de Ernst Otto Osswald. As destruies da Segunda Guerra, assim como as monstruosidades arquitetnicas do pero-do ps-guerra adulteraram muito a imagem da cidade. Justamente as inovaes arquitetnicas

  • 16 | revista engenharia brasil alemanha | setembro 2013

    das ltimas dcadas do a Stuttgart agora um cenrio moderno. Entre elas, esto a Staatsgale-rie (Galeria nacional), o Kunstmuseum Stuttgart (Museu de Arte de Stuttgart), o Museu da Mer-cedes e o da Porsche, a Biblioteca Municipal ou o novo Centro de Viagens Espaciais da Universi-dade de Stuttgart.

    Meu objetivo tornar Stuttgart ainda mais atraente, cuidar dos traos inconfundveis da cidade, assim como obter um balano ecolgi-co excelente. Assim, a cidade deve se aproximar mais do rio, o Neckar deve estar mais acessvel para os cidados. Precisamos desenvolver novos bairros para a vida urbana e o trabalho. Bairros que produzam mais energia do que consomem.

    Um bairro modelo pode ser o Neckarpark. As pessoas devem se encontrar no local onde mo-ram e trabalham. O projeto Stuttgart 21, que prev a transformao do terminal de trem em uma estao de passagem subterrnea, polmi-co devido aos custos e s intervenes no desen-volvimento da cidade. No entanto, ela pode ge-rar novas perspectivas de moradia, de trabalho e de descanso no centro da cidade.

    Outra meta o saneamento energtico dos edifcios j existentes. Queremos minimizar o consumo de energia e gerar energia adicional no fssil. Por exemplo, por meio de geoter-mia e absorvedores solares e fotovoltaicos em combinao com um controle individual das residncias ou dos edifcios. Para a economia e para os institutos de pesquisa, trata-se, portanto, de desenvolver novas tcnicas financiveis para

    economia e gerao de energia, com o intuito de estabelec-las no mercado.

    Alm disso, queremos criar espaos residen-ciais que possam ser pagos. A partir do outono de 2013, um conceito comercial estratgico, o Morar em Stuttgart, abrir novos caminhos. Devem ser construdos mais prdios residen-ciais em reas de desenvolvimento urbano. Isso significa que, alm dos prdios sociais subven-cionados, haver tambm um maior apoio para moradores com remunerao mdia. A mistura social dos bairros faz a vitalidade da cidade.

    Mobilidade ecolgica

    Stuttgart e sua regio esto entre as mais im-portantes localidades do mundo em termos de mobilidade. Aqui, a Daimler e a Maybach cria-ram o primeiro veculo motorizado do mundo, o primeiro barco a motor e o primeiro caminho. Ferry Porsche desenvolveu o fusca. Queremos manter essa tradio inovadora sob o aspecto de uma nova cultura de mobilidade.

    Carros com emisso zero, controle inteligente do trfego, assim como uma rede de meios de transporte ecolgicos, devem tornar Stuttgart pioneira em mobilidade ecolgica.

    Hoje, a maior frota da Alemanha de carros eltricos, os 300 E-Smarts da Daimler Car2Go, transita em Stuttgart. A nossa cidade uma das maiores regies-modelo da Europa para a mo-bilidade do futuro. A partir de 2016, por exem-plo, ser criado um carto de mobilidade. Com ele, a populao poder alugar carros eltricos, andar de nibus, de metr ou bonde, ou se des-locar pela cidade com uma bicicleta eltrica Pedelec. Paralelamente, esse Stuttgart Service Card facilitar tambm a rotina de usurios das bibliotecas da cidade ou dos balnerios. O car-to inclui tambm uma plataforma intermodal de informaes e reservas, e um sistema que vai funcionar tambm como App para Smartpho-nes. A ampliao da rede cicloviria, a criao de melhores condies de trnsito para pedestres, e um conceito para a reduo das partculas de xido de azoto so outros componentes impor-tantes da mobilidade ecolgica.

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  • setembro 2013 | revista engenharia brasil alemanha | 17

    Minha meta que, em 15 anos, as empresas de Stuttgart exportem os melhores veculos livres de emisses e, ao mesmo tempo, os conceitos de mobilidade mais inteligentes e de fcil utilizao pelo usurio.

    Energia verde

    A mudana energtica est associada arquite-tura verde e mobilidade ecolgica. At 2020, a populao de Stuttgart dever contar com ener-gia renovvel de centrais de cogerao de calor e eletricidade. O primeiro passo foi a inaugurao de nosso provedor de energia comunal prprio, o Stadtwerke Stuttgart Vertriebsgesellschaft mbH. Ele oferece exclusivamente energia ecolgica, gs natural e um produto inovador de biogs. Com isso, a qualquer momento, a populao pode par-ticipar financeiramente de projetos como esta-es fotovoltaicas ou estaes de energia elica.

    Alm disso, os primeiros pilotos na rea de cogerao de calor e eletricidade e de produ-o da prpria energia sero iniciados ainda este ano. As chamadas usinas de poro so centrais de cogerao de calor e eletricida-de (BHKW) para residncias particulares nas quais no apenas a eletricidade, mas tambm o calor gerado aproveitado.

    Se forem conectadas de forma inteligente, es-sas usinas de poro podero disponibilizar, no futuro, a energia de compensao necessria e, prospectivamente, substituir as grandes usinas de gerao.

    Eu poderia ainda contar muitas outras aes impressionantes sobre Stuttgart. Por exemplo, sobre nosso interessante cenrio cultural, nossas formas de participao cidad, nossos produ-tos culinrios tpicos ou nossas festas populares mundialmente famosas. Se eu tiver conseguido despertar o seu interesse, sugiro que venha nos visitar. Voc ser sempre bem-vindo.

    rea da capital do Estado Stuttgart: 207,348 kmrea da regio de Stuttgart: 3.654 kmStuttgart a capital do Estado de Baden-WrttembergA regio de Stuttgart inclui 179 comunidades e corresponde a 16% do Estado de Baden-WrttembergHabitantes da capital do Estado Stuttgart: 580.089Habitantes da regio de Stuttgart: cerca de 2,7 milhesPorcentagem de estrangeiros na capital do Estado: 23%Estimativa de habitantes: para 2025, cerca de 594.500 habitantesPorcentagem de desemprego na capital do Estado: 5,4% Porcentagem de desemprego na regio de Stuttgart: 4,5%

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  • 18 | revista engenharia brasil alemanha | setembro 2013

    Ministro, porque Baden-Wrttemberg co-nhecido como a regio da inovao?A Comisso Europeia, rgo executivo da

    Unio Europeia, imps, no mbito do plano Estratgia Europa 2020, a aplicao de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisas e desenvolvimento em toda a Europa at 2020. A Alemanha, e especialmente Baden-Wrttem-berg, j est bem posicionada nesse sentido. Nosso Estado a regio mais forte em termos de inovao em toda a Europa. Cerca de 4,8% do PIB investido em pesquisa e desenvolvi-mento. Com isso, Baden-Wrttemberg j est bem acima daquele objetivo de 3% determina-do e, claramente, acima do valor mdio da Ale-manha, que, em 2010, era de 2,8%. Alm disso,

    O Estado de Baden-Wrttem-berg conhecido como centro de inovaes. E isso no de hoje. Por exemplo, o automvel foi de-senvolvido l por Gottlieb Daim-ler. Agora, a regio abriga empre-sas como Bosch, Festo, Mercedes, Schuler, Voith, Zeiss, ZF e muitas outras, alm do famoso Mittel- stand, grupo de companhias ino-vadoras de mdio porte. Nesta entrevista, o ministro de Finanas e Economia de Baden-Wrttem-berg, Nils Schmid, conta sobre os segredos desta histria de sucesso da inovao.

    Dr. Nils Schmid

    Ministro de Finanas e Economia de Baden- Wrttemberg

    Baden-Wrttemberg

    Foto: Centro de Turismo Alemo

    Artigos Cidades e Estados

    Baden-Wrttemberg, Estado alemo da inovao

  • setembro 2013 | revista engenharia brasil alemanha | 19

    Institutos Max-Planck. As instituies de pesqui-sas que trabalham em Baden-Wrttemberg so o corao do sistema de transferncia de tecnologia aqui existente, o qual est voltado principalmen-te para as pequenas e mdias empresas (PMEs). Fazem parte do sistema de transferncia tambm os quase 500 centros de transferncia da Stein-beis Stiftung fr Wirtschaftsfrderung (Fundao Steinbeis de Fomento da Economia), cujo espec-tro de ofertas se estende da gesto de tecnologias, consultoria e treinamento ao apoio a projetos de desenvolvimento. A transferncia regional de tec-nologia relevante para empresas e para localida-des operada principalmente pelas Cmaras.

    Quais campos e setores de crescimento esto em foco?O governo estadual concordou em concentrar-

    se nos campos de crescimento do futuro e em uma poltica industrial mais intensa. So cita-dos como campos de crescimento dinmicos a mobilidade sustentvel, tecnologias ambientais, energias renovveis e eficincia de recursos, sa-de e cuidados, assim como tecnologias da infor-mao e comunicao (TIC), Green IT e produ-tos inteligentes. A eles se somam outros ncleos inovadores como aeronutica, logstica e econo-mia cultural e criativa.

    A questo bsica da poltica de inovao do Es-tado a continuao da ampliao de pesquisas relevantes para a economia, tais como:

    cerca de 80% da pesquisa e desenvolvimento em Baden-Wrttemberg direcionado para o setor produtivo.

    E como o Estado consegue ser to bem-sucedido?Em Baden-Wrttemberg h diversos fato-

    res que, juntos, o transformam em uma regio inovadora. A estrutura econmica do Estado caracterizada por setores industriais de alta tecnologia, como a indstria automotiva e de mquinas, a eletrotcnica, tecnologias da infor-mao e comunicao, a intralogstica, e as reas de tecnologias para medicina, de medio, de controle e regulagem, assim como tica. Os se-tores industriais de alta tecnologia, por exemplo, empregam quase 18% dos empregados do Esta-do (na Europa, apenas 7%). Em 2012, o nme-ro de patentes (132 registros para cada 100 mil habitantes) foi cinco vezes maior que a mdia europeia. O capital futuro de Baden-Wrttem-berg tem em suas bases um grupo empresarial diversificado, uma boa rede de instituies de conhecimento e educao, um amplo espectro de clusters e centros de competncia que contri-buem decisivamente para a criao de uma rede de cincias e economia. Alm disso, tem uma grande abertura para a inovao, avano tecno-lgico e esprito de cooperao.

    E o que acontece na pesquisa?O cenrio de pesquisas em Baden-Wrttemberg

    um importante fator local na concorrncia mun-dial. Ele caracterizado no apenas por universi-dades focadas na pesquisa de base, mas tambm por uma infraestrutura bastante ampla na rea de instituies de pesquisa suprauniversitrias. Entre as instituies de pesquisa subsidiadas pelo Estado, que realizam pesquisas relevantes para a economia, esto mais de 30 institutos. Entre eles, os institutos da Innovationsallianz Baden-Wrt-temberg (Aliana pela Inovao), da Fraunhofer- Gesellschaft (FhG Sociedade Fraunhofer) e do Deutsches Zentrum fr Luft- und Raumfahrt (DLR Centro Aeroespacial Alemo). Essas institui-es de pesquisa, com trabalhos relevantes para a economia, tm um oramento anual de cerca de 500 milhes de euros. J entre outras institui-es de pesquisa suprauniversitrias esto doze F

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  • 20 | revista engenharia brasil alemanha | setembro 2013

    - Novos sistemas de propulso, tecnologias de processamento na construo leve e automa-tizao na medicina e biotecnologia so temas de trs grupos de projetos recm-criados nas Sociedades Fraunhofer de Stuttgart, Karlsruhe e Mannheim. Eles sero promovidos pelo Es-tado na fase de ampliao com durao de cin-co anos. Alm disso, o Estado resolveu adotar, em 2012, uma ofensiva, aplicando cerca de 130 milhes de euros em inovaes nas institui-es Fraunhofer de Baden-Wrttemberg.

    - Na rea de eletromobilidade, o governo estadual refora seu envolvimento com reas temticas de solues futuras para veculos e mobilidade com a iniciativa Eletromobilidade II, e promove este campo temtico com 50 milhes de euros adi-cionais at 2015. Um ponto central neste caso a consultoria para a alterao estrutural de peque-nas e mdias empresas, assim como a promoo de pesquisas relevantes para a economia. Alm de inmeros projetos de pesquisa, ser patrocinada, por exemplo, a construo de um centro de pes-quisas em mobilidade em Stuttgart, o chamado Senseable Mobility Lab, no Instituto Fraunhofer de Economia do Trabalho e Organizao (IAO), em cooperao com o Massachusetts Institute of Technology (MIT). Alm disso, o Estado apoia o cluster de ponta subsidiado pelo governo federal Elektromobilitt Sd-West (Eletromobilidade Su-doeste), que pesquisa os questionamentos refe-rentes industrializao da eletromobilidade. A avaliao de novas tecnologias eletromveis, as-sim como de conceitos de mobilidade e modelos

    de negcios correspondentes, ser realizada pela vitrine tambm patrocinada pelos governos fede-raleestadualLivingLabBWe-mobil.

    - No centro de pesquisas sobre baterias do Zentrum fr Sonnenenergie-und Wasserstoff- Forschung(eLABCentrodePesquisassobreEnergia Solar e Hidrognio), em Ulm, ser desenvolvida e montada uma fbrica piloto de baterias de ltio e ons. Enquanto o governo federal financia a infraestrutura tcnica e os trabalhos de pesquisa concomitantes, Baden- Wrttemberg assume os custos das constru-es necessrias.

    - No Deutsche Institute fr Textil-und Faserfor- schung (DITF Institutos Alemes de Pesquisas sobre Tecidos e Fibras) est sendo construdo umCentrodeFibrasdeAltoDesempenho.Ldevem ser concentradas todas as atividades de pesquisa realizadas at ento na rea de fibras de carbono e de cermica de alto desempenho. O novo edifcio com infraestrutura de equipa-mentos condio prvia para uma intensifica-o dos trabalhos de pesquisa, principalmente na rea de uma nova gerao de fibras de carbo-no a base de lignina (Green Carbon Fibres).

    - A construo leve e inteligente considerada uma das tecnologias futuras mais significativas, com alto potencial de inovao, principalmen-te para a fabricao de veculos, mquinas e equipamentos. Por isso, o desenvolvimento su-prassetorial da industrializao de tecnologias para esse novo tipo de construo e a qualifica-o da mo-de-obra especializada continuar a ser estimulado no Estado por meio de um pa-cote de medidas. Entre elas, a criao de uma nova agncia estadual independente para a construo leve como interlocutor central para todas as atividades que envolvam essa novida-de no Estado. Alm disso, h um programa de pesquisas integradas e validao, assim como medidas para a estruturao de ofertas espec-ficas de cursos de formao e especializao no campo da construo leve e inteligente.Diante disso, nosso Estado deve continuar sen-

    do, no futuro, a regio mais forte em termos de inovao na Europa. Por isso, queremos conti-nuar fortalecendo Baden-Wrttemberg como Estado inovador.

  • Freude, schner Gtterfunke.

    A flash of inspiration can change the world and of course

    the future of a company. From a statistical viewpoint, what tends

    to happen elsewhere rather rarely is the order of the day in Baden-

    Wrttemberg. In no other part of Germany are more ideas per

    resident produced. Nowhere are so many patents registered. For

    here in these parts, good ideas are no coincidence. Friedrich Schiller

    and Robert Bosch already had great ideas here. Their visions still

    live on today and encourage us never to stand still. So its no wonder

    that Baden-Wrttemberg is the number one innovation region in

    Europe. Inventive genius and creative power become an unbeatable

    combination here. Where the best minds and most industrious

    hands push progress forward, your investments will also pay off.

    Do you feel inspired? You can obtain more good information

    about the advantages of Baden-Wrttemberg at:

    www.bw-invest.de, tel. +49 (0) 711-22 78 70

    www.baden-wuerttemberg.de, tel. +49 (0) 711-12 30

  • 22 | revista engenharia brasil alemanha | setembro 2013

    emisso, energia e lixo zero!Uma cidade proveta de experimentao

    Masdar City

    ficientes. Entretanto, com a corrida dos diversos projetos imobilirios no Golfo, no havia muito tempo. Tudo tinha de ser feito rapidamente. As-sim, decises tomadas durante o projeto e que mais tarde se revelaram errneas no podiam mais ser corrigidas.

    Quando chegou a crise financeira internacio-nal,deflagradaaofinalde2008,osinvestidoresacabaram limitando seus financiamentos. Com isso, os projetos acabaram sendo reduzidos. Assim, comeou a ser construda apenas uma parcela da cidade. Da que a maior parte de Masdar, que quer dizer fonte em rabe, foi de-senvolvida com especificaes energticas bem modificadas.

    Entretanto, os conhecimentos adquiridos du-rante seu planejamento ficaram e, hoje, so uti-lizados em vrios projetos ao redor do mundo para serem aprimorados.

    Ns fazamos parte da equipe de Masdar, razo pela qual, ainda hoje, nos sentimos parte de uma famlia de especialistas que puderam cooperar

    Ponto de partida

    O desenvolvimento do projeto da cidade susten-tvel de Abu Dhabi, a Masdar, ocorreu em uma poca em que muitas coisas pareciam possveis no Oriente Mdio: ilhas no mar, como as Palm Is-lands 1, 2 e 3, e outros projetos ambiciosos, como o edifcio mais alto do mundo, o Burji Khalifa.

    Naquele perodo havia dinheiro suficiente dis-ponvel nos pases do Golfo e os projetos preci-savam ser cada vez mais excntricos. Tudo pare-cia factvel.

    Um projeto desse tipo ia, num primeiro mo-mento, contra essa corrente. Mas o lema de criar a the most sustainable city precisaria corres-ponder, no mnimo, ao esprito da poca.

    No entanto, com a escolha de uma equipe de planejamento, chegaram especialistas que esta-vam convencidos de sua factibilidade, at por-que os conceitos eram bastante sensatos.

    A complexidade do planejamento demandava profissionais de alto nvel, dinheiro e tempo su-

    Cidades: Exemplos de Sucesso

    Para que logo fique claro, Masdar, um ambicioso projeto no deserto dos Emirados rabes, no est sendo construdo dessa forma. Mesmo assim, o conceito de cidade sustentvel, incluindo a meta de tornar-se neutra em CO2, faz sentido.

    Como arquitetos, ficamos decepcionados quando um projeto no construdo como foi planejado. Mas, como cientistas, es-tamos acostumados a aprender com quaisquer tipos de experi-mentos e a adquirir sabedoria muito alm deles.

    Ambas as coisas aconteceram em Masdar.Por Dr. Alexander Rieck, Instituto Fraunhofer IAO Sttutgart

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  • setembro 2013 | revista engenharia brasil alemanha | 23

    com esse projeto. O esprito da cidade susten-tvel saiu da garrafa e, recentemente, inspirou outro projeto: o Morgenstadt (cidade do ama-nh)dogovernofederalalemo.Leiaamatriasobre o assunto na pgina 26.

    A situao global

    As mudanas ao redor do mundo foram desen-cadeadas por fenmenos globais amplamente conhecidos, como o enorme crescimento popu-lacional nos pases emergentes e o forte aumento do consumo de matrias-primas e recursos natu-rais, diretamente associados a esse crescimento.

    Com isso, os parmetros vm mudando signifi-cativamente. Nos prximos vinte anos, os prog-nsticos preveem um crescimento global dos centros urbanos de mais dois bilhes de pessoas, acrescido aos cerca de 3,2 bilhes j existentes.

    Essas mudanas dramticas no podem mais ser administradas com o sistema tradicional de

    cidade moderna espelhada no modelo america-no. A cidade adaptada ao trfego de automveis, inventada nos anos cinquenta, e que servia de exemplo para todas as cidades at agora, coisa do passado.

    Mas como sero ento as cidades que vo abri-gar a populao nas prximas dcadas? Como elas iro funcionar? Como elas iro lidar com a disponibilidade limitada de recursos naturais e de matrias-primas?

    Masdar

    Masdar significa fonte ou origem. Por-tanto, um nome adequado para um projeto de planejamento urbano com ideias to ambiciosas.

    A maior meta de Masdar era a neutralidade em carbono, o que, em si, j uma ambio gigan-tesca. Alm disso, levar adiante um projeto como esse no calor do deserto do Golfo e sem proviso natural de gua, era especialmente difcil.

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  • 24 | revista engenharia brasil alemanha | setembro 2013

    Num primeiro concurso, a vencedora foi uma equipedearquitetosdaFoster+Partner,deLon-dres, junto com a Transsolar, da Alemanha. O re-sultado foi um projeto de cidade compacta, aper-tada, que lembrava as cidades da Idade Mdia.

    Isso foi resultado da ideia de que, quanto mais densa, menos energia ela consumiria. Poderia se chegar a vrias reas e regies a p. Alm disso, as casas faziam sombras umas s outras devido s vielas estreitas.

    A orientao da cidade est virada 45 graus em relao posio estritamente norte-sul para, assim, bloquear o vento quente do deserto e le-var a brisa fresca. Os projetistas tinham clareza de que a construo de Masdar dessa forma, to apertada, no corresponderia s demandas lo-gsticas de uma cidade grande e moderna.

    Alm disso, estava previsto que alguns projetos de infraestrutura seriam modificados nos anos seguintes e, portanto, deveriam ser construdos deformamaisflexvel.Porisso,originalmente,acidade foi planejada para ficar em cima de uma espcie de pdio. Dessa forma, ela poderia ser adaptada aos avanos da tecnologia.

    Foi decidido, assim, que o trfego de veculos eletromveis seria subterrneo e parcialmente autnomo, o chamado Personal Rapid Transport. Alm do concurso para os projetos urbanos, do Masdar Institute of Science and Technology e da sede principal de Masdar, foi realizado um ter-ceiro para o centro da cidade de Masdar. O es-critrioLAVA,quefoiovencedor,passouaser

    responsvel pelo projeto do Cen-tro de Conferncia, do hotel e da praa central.

    Ns tentamos entender, no incio, como uma cidade pode-ria funcionar para pessoas que trabalham com a troca de co-nhecimento. Como resultado de nossos estudos, percebemos que essa cidade precisaria de lo-cais de comunicao e de pon-tos de encontro.

    Para que o intercmbio de conhecimento e de know-how acontea, necessrio o encon-tro casual de pessoas e um in-

    tercmbio de ideias entre elas. Ao pesquisar, percebemos que, na clssica cidade da Europa Central, existem vrios locais assim. Mas no clima quente do Golfo, isso seria difcil.

    Como poderamos, ento, criar um local p-blico onde pessoas poderiam se encontrar nas condies climticas de Abu Dhabi?

    Propusemos, a utilizao de grandes guarda--sis centrais que se abririam durante o dia para criar sombras, e se fechariam noite para dissi-par o calor. Tambm aproveitaramos a energia gerada por clulas fotovoltaicas sobre os guar-da-sis para resfriar o local.

    Outra meta era que as edificaes consumis-sem apenas a energia gerada pela instalao fo-tovoltaica sobre os telhados. Alm da gerao sustentvel de energia, no entanto, a eficincia energtica tambm seria uma medida central.

    Novos sistemas de fachada permitiriam baixa irradiao solar, absorvendo o mximo possvel do calor. Sendo assim, seria necessrio, alm de um planejamento adequado, uma grande expe-rincia em qualidade de construo.

    Para que isso fosse assegurado, o Instituto Fraunhofer foi encarregado da criao de um centro de teste de fachadas. Assim, os mdulos de fachada para toda a regio deveriam ser tes-tados e avaliados.

    Enfim, mesmo que, agora, Masdar no seja mais concluda como desejamos e pensamos, o valordainflunciadelasobreacidadedofuturono poderia ser melhor.

  • 26 | revista engenharia brasil alemanha | setembro 2013

    Desafios da sociedade moderna

    As cidades so as maiores estruturas criadas pelo homem. Hoje, mais da metade das pesso-as no mundo passa grande parte de suas vidas nelas, e o desenvolvimento da Alemanha, apesar de uma diminuio da populao nas prximas dcadas, prev um crescimento contnuo de seus centros urbanos. Alm disso, vivemos atual-mente em uma poca de alteraes decisivas em inmeras reas, muitas vezes devido ao uso de novas tecnologias, como, por exemplo, o Smart- phone na comunicao cotidiana e no trabalho.

    A est o grande desafio para os protagonistas de hoje, que disponibilizam tecnologias, pro-dutos, servios ou processos: enquanto somos capazes de fornecer prognsticos tecnolgicos relativamente confiveis para alguns setores, muitas vezes sabemos apenas vagamente quais novos potenciais e interaes surgiro em outros setores. Nas cidades, que so ao mesmo tempo residncia, espao econmico e suporte tecnol-gico da sociedade moderna, isso se torna bvio.

    Cidades e a inovao tecnolgica

    Nas prximas dcadas, as cidades no mundo todo tero de lidar com um salto de inovao tecnolgica e organizacional, em cujo cerne est a relao entre informaes, recursos, produtos e usos. Ser preciso repensar tanto o planeja-mento quanto a aplicao de conceitos urbanos, j que as cidades so sistemas complexos nos quais diversos subsistemas energia, constru-es, infraestrutura, mobilidade e transporte, suprimentos, segurana, sade e organizao urbana esto estreitamente entrelaados.

    Atividades na rea de eletromobilidade tam-bm tero implicaes diretas na reestruturao de nosso suprimento de energia. Investimentos em construes sustentveis demandam novos modelos de negcios, e investimentos em infra-estrutura para o trfego urbano s funcionam associados a novos processos de participao. Alm disso, a crescente digitalizao dos pro-cessos e dados, o que nos leva a uma cidade in-teligente e conectada, cria as bases tecnolgicas

    cidade do amanhViso da Morgenstadt,Por Steffen Braun, Coordenador de Equipe de Urban Systems Engineering, Fraunhofer IAO

    Cidades: Exemplos de Sucesso

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  • setembro 2013 | revista engenharia brasil alemanha | 27

    para novas plataformas de informao e comu-nicao para uma verdadeira cidade do futuro, conectada e voltada para o usurio.

    Morgenstadt, cidade do futuro

    Para uma cidade sustentvel do futuro, na qual possa valer a pena viver, a combinao sis-temtica de todos esses temas deve ser conside-rada. Nesse sentido, a iniciativa Morgenstadt representa um dos projetos centrais de futura Estratgia Hightech 2020 do governo federal alemo. O objetivo criar um mercado norte-ador de sistemas urbanos sustentveis do futu-ro, aprofundar a colaborao entre a cincia e a economia, e melhorar ainda mais as condies gerais para as inovaes.

    Nesse sentido, projetos voltados para o futuro buscam atingir metas concretas de desenvol-vimento cientfico e tecnolgico em um pero- do de dez a quinze anos. Sob a coordenao do professor Hans-Jrg Bullinger, presidente da Sociedade Fraunhofer, foram desenvolvidos fundamentos para esse projeto futurista no Gr-mio Consultor Alemo de Cincia e Economia (Forschungsunion Wirtschaft Wissenschaft). Para apoiar o projeto A cidade livre em CO2, energeticamente eficiente e adequada ao clima, a Sociedade Fraunhofer, junto com inmeros outros institutos, criou a iniciativa Morgenstadt,

    a qual contribui para uma viso de cidades sus-tentveis e habitveis na Alemanha.

    O objetivo de longo prazo o desenvolvimen-to de estudos de sistemas com uma abordagem aberta, junto com outros protagonistas da inds-tria, de pesquisa, de rgos municipais e da socie-dade, para a criao de diversos sistemas urbanos e novos conceitos de tecnologia, assim como pro-cessos e modelos de criao de valor relevantes. Outro objetivo da iniciativa fornecer um pa-norama de possveis solues para as cidades de amanh sob a perspectiva da pesquisa aplicada.

    Cincia e pesquisa podem indicar solues, identificar necessidades futuras e desenvolver conceitos suprassetoriais para sistemas e tecnolo-gias urbanos de amanh. Num primeiro momen-to, 40 especialistas de doze Institutos Fraunhofer, sob a coordenao do Instituto de Economia do Trabalho e Organizao (IAO, em alemo), reu-niram suas experincias nas reas de tecnologia, processos e necessidades de uma cidade do futu-

    Fbrica em Stuttgart-Fellbach / Wittenstein A.G

    LogodainiciativadaSociedadeFraunhofer,Mor-genstadt

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  • 28 | revista engenharia brasil alemanha | setembro 2013

    ro. Com isso, desenvolveram trs princpios es-tratgicos que apresentam cenrios futuros con-sistentes e possveis vises da cidade do amanh. Sobre essa base, foi criado o projeto de coope-rao em pesquisa Morgenstadt: City Insights.

    Vises para a cidade do amanh

    Considerando que as cidades so os merca-dos mais importantes para tecnologias urbanas do futuro, os conceitos e solues que unirem diversos setores, tecnologias e produtos de for-ma inteligente sero bem sucedidos. Alm da adequao de produtos para o uso individual, no futuro, o desenvolvimento de solues para sistemas urbanos ser uma questo central. Por isso, as redes e cooperaes so fatores essenciais para o sucesso nos mercados do futuro.

    Os edifcios e infraestruturas na cidade do amanh vo regular, como um complexo org-nico, suas necessidades de energia e recursos de forma inteligente e com o mnimo de perdas possvel. As novas construes vo disponibili-zar energia para a residncia e, inclusive, para a eletromobilidade, como pequenas usinas eltri-cas. Fachadas com superfcies multifuncionais, reatores de algas integrados e mdulos para vertical farming vo disponibilizar importan-tes recursos para a cidade.

    O trfego na cidade do amanh funcionar como sistema de mobilidade intermodal e to-

    talmente interconecta-do, o qual gerar grande parte da energia que ele prprio utilizar por exemplo, por meio de infraestruturas de trfe-go que funcionam como usinas eltricas regene-radoras. Regular ainda, em tempo real, as neces-sidades de mobilidade do cidado, na medida em que diversos meios de transporte sero combinados de forma inteligente e fluda. Isso

    tambm pressupe novos conceitos em veculos e processos de criao de valor que sejam adequados ci-dade do amanh.

    A caminho da gesto multi-disciplinar da tecnologia

    A cidade do amanh surge com tecnologias, solues e necessida-des futuras. O desafio a trans-formao da infraestrutura atual, das redes e locais de residncia existentes. Disciplinas como ges-to de tecnologia e planejamento urbano devem, portanto, trabalhar futuramente em cooperao mais estreita, aplicando solues ade-quadas s necessidades da cidade do amanh. A grande chance est em uma gesto de tecnologia mul-tidisciplinar que antecipe as ne-cessidades volteis do usurio, que mostre solues tecnicamente rea-lizveis e apropriadas ao mercado do futuro e que antecipe modelos de negcios e estratgias de aplica-o comunitrias. Para isso, ne-cessrio desenvolver novas vises e estratgias junto com os setores e stakeholders relevantes.

    Corte do cenrio Morgenstadt / Fraunhofer IAO / FBB

  • setembro 2013 | revista engenharia brasil alemanha | 29

    Para a iniciativa da Sociedade Fraunhofer, Morgenstadt, inmeros Institutos Fraunhofer renem suas experincias para o desenvolvimento de uma viso global aplicada pes-quisa em tecnologias, produtos, procedimentos e servios sob demanda para a cidade do amanh sustentvel, habit-vel e capaz de mudanas a Morgenstadt. Esta iniciativa coordenada pelo Instituto Fraunhofer de Economia do Trabalho e Organizao (IAO) e pelo Instituto de Fsica da Construo (IBP). Mais informaes podem ser encontra-das em www.morgenstadt.de

    Retrato-falado

    Cenrio Morgenstadt / Fraunhofer IAO

  • espetacular deReurbanizao

    Singapura

    Centenas de milhares de pessoas se renem em volta da gua em 9 de agosto, no Dia Na-cional, quando explodem fogos de artifcio. O lema das comemoraes deste ano Amar Singapura, nosso lar. Um show de raios la-ser na gua e nos edifcios ao redor per-

    feitamente sin-cronizado com sonoras bombas lanadas de bar-cas e do topo de arranha-cus prximos. Reu-nidas no est-dio, autoridades de planejamento urbano olham

    para cima e sorriem, mal acreditando nas mu-danas que fizeram.

    Em menos de uma dcada, a rea de 360 hec-tares passou de um terreno sujo e ermo, pelo qual as pessoas evitavam caminhar, a um pon-to central vibrante de uma cidade em ascen-so. Bem-vindo a Marina Bay, a cidade em um jardim, totalmente fabricada e meticulo-samente planejada. Um lugar que abriga tanto residentes como turistas, e onde podem fazer negcios e compras, se divertir, jogar e visitar o novo parque Gardens by the Bay de 1 bilho de dlares de Singapura (SGD, sigla em ingls). A mudana de tirar o flego, especialmente quando se leva em conta que tudo isso est em uma rea recuperada.

    Nosso enfoque urbanstico em Singapura sem-pre foi guiado pela necessidade de administrar a escassez. Somos uma cidade-Estado de ape-nas 710 quilmetros quadrados, sem rea para expanso nem recursos naturais, ressalta Ng Lang,Executivo-chefedaURA.Pornecessida-de, adotamos um enfoque sustentvel em nosso planejamento e desenvolvimento desde a dcada de 1960, quando nos tornamos Estado indepen-dente, muito antes do conceito entrar na moda.

    Orientao ao

    O desenvolvimento de Marina Bay um bom exemplo do que a URA chama de enfoque in-tegrado e empenho de mltiplos rgos. Ela conduziu o desenvolvimento ao adotar um en-foque holstico na concepo do plano diretor, coordenando e implementando infraestruturas- chave com o objetivo de cumprir a viso de vida, trabalho, diverso. De acordo com o plano di-retor, a URA ficou responsvel pela construo de projetos importantes para pedestres (a ponte The Helix e o calado beira dgua em Marina Bay so alguns exemplos), assim como a da pon-te Bayfront. Marina Bay possui ruas e passagens de superfcie, bem como infraestruturas subter-rneas, tais como transporte sobre trilhos, lojas e passagens de pedestres que ligam o Distrito Cen-tral de Negcios rea recm-desenvolvida.

    Depois, o PUB, rgo nacional de guas de Singapura, entrou em cena para criar a baa em

    Por Glenn van Zutphen *

    Marina Bay o novo centro de Singapura, fruto de um plane-jamento espetacular. Por trs desse desenvolvimento est a Urban Redevelopment Autho-rity (URA), conselho que co-manda a superviso da reur-banizao.

    Cidades: Exemplos de Sucesso

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  • si, um reservatrio de gua doce no corao da cidade. A Barragem da Marina uma represa construda no Canal da Marina, que bloqueia o acesso ao mar aberto e cria o Reservatrio da Marina. Esse projeto tem a dupla vantagem de aumentar a autossuficincia de Singapura em recursos hdricos ao ampliar a rea de captao de gua e elevar em 10% o suprimento total de guadacidade.Eletambmeliminouainflun-cia da mar, mantendo o nvel dgua constante e transformando o local em um ambiente seguro para atividades recreativas.

    A Administrao de Construes e Edificaes incentiva projetos e construo de edifcios eco-lgicos e sustentveis, que promovam a econo-mia de gua e energia, ambientes internos mais saudveis e mais reas verdes. A URA est reali-zando estudos sobre como refrescar a cidade por meio do aproveitamento dos ventos existentes e, assim, baixar as temperaturas.

    O plano conceitual

    Com esse enfoque coordenado de planejamen-to e construo, o gramado aberto e deserto , agora, depois de poucos anos, uma regio vi-brante de trabalho e diverso. Por si s, o com-

    plexo de cassinos, convenes e compras gera uma receita de centenas de milhes de dla-res a cada trimestre para o go-verno de Singapura.

    Nosso objetivo planejar para que Singapura mantenha a prosperidade econmica, continuando, ao mesmo tem-po, a respeitar o meio ambien-te e a ser um bom lugar para viver. Na prtica, tentamos atingir esse equilbrio atravs do uso do Plano Conceitual, um enfoque que adotamos em

    1971, acrescentaNgLang.Eleexplica que se trata de um plano de grande alcance que orienta

    as decises estratgicas de longo prazo sobre o uso dos terrenos para habitao, indstria, co-mrcio, lazer, espaos verdes e transporte.

    A cada dez anos, os principais rgos do gover-no se renem para analisar o Plano Conceitual, definir prioridades e discutir compensaes pelo uso dos terrenos. A implementao efetiva do plano envolve achar solues inovadoras, como fizemos no passado. Por exemplo, a partir de ago-ra, medida que nossa densidade populacional aumenta, uma rea importante qual precisare-mos prestar muita ateno ser a de transporte e mobilidade, afirma.Ng Lang observa que o governo estabeleceu

    planos para dobrar o sistema de transporte rpi-do at 2020 e est descentralizando as atividades econmicas de forma a aproximar os emprega-dos de suas casas, na esperana de reduzir o tem-po de deslocamento e diminuir a presso sobre a rede de transporte.

    Em 2009, a cidade-Estado anunciou seu Proje-to de Desenvolvimento Sustentvel. Entre outras coisas, ele define os objetivos de aumentar a efi-cincia energtica em 35%, atingir uma taxa de reciclagem de 70% e abrir 900 hectares de reser-vatriose100quilmetrosdeviasfluviaisparalazer. Alm disso, pretende criar 0,8 hectare de espao verde para cada mil pessoas e aumentar para 50 hectares a vegetao em edifcios altos. E tudo isso deve ser feito at 2030.

    Reservatrio de gua doce no corao de Singapura. Fotos: Divulgao

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  • 32 | revista engenharia brasil alemanha | setembro 2013

    O que velho volta a ser novo

    Vamos voltar a 1822 e terceira e ltima via-gem feita a Singapura por seu fundador, Sir Stamford Raffles. Conta-se que ele estava muito descontente com o progresso da ento Colnia da Coroa. Por isso, fundou o primeiro Comi-t de Planejamento Urbano e encomendou O Plano da Cidade de Singapura 1822, que defi-nia ruas e distritos. Pode-se dizer que seu co-mit foi uma espcie de predecessor da URA.

    Singapura no topo do ndice de cidades verdes da sia

    Rica e com cerca de 5 milhes de habitantes, Singapura tem um PIB per capita de US$ 36.500 e uma das mais abastadas entre as 22 cidades selecionadas e analisadas no ndice das Cidades Verdes da sia, que mede e classifica o desempe-nho ambiental. No entanto, Singapura a nica cidade a receber uma pontuao acima da mdia no resultado geral. Obteve timos resultados em categorias essenciais, como gesto de resduos e qualidade da gua. A cidade tambm est entre

    nico nvel de governo

    Grande parte do sucesso dessa estrutura tem avercomoqueNgLangdenominanicon-vel de governo, que leva a decises mais rpi-das e permite experimentar ideias novas com mais facilidade que a maioria das cidades. H tambm a prpria estrutura de planejamento. A administrao aplica um enfoque de longo prazo na elaborao de planos estratgicos, como o Plano Conceitual e o Plano Diretor, para orientar de forma sustentvel o desenvol-vimento de Singapura. Um fato que tambm contribui para isso que a URA o principal agente governamental de vendas de terrenos, em um lugar onde a maior parte deles perten-ceaoEstado.NgLangtambmobservaqueamanuteno de edifcios mais velhos um as-pecto fundamental. Afinal, trata-se de uma ex--colnia britnica, com grande quantidade de belas estruturas antigas.

    Tradio se mescla modernidade: o bairro chins de Singapura e o novo distrito de Marina Bay com o Sky Park, que inclui uma piscina ao ar livre situada no topo de trs arranha-cus.

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  • setembro 2013 | revista engenharia brasil alemanha | 33

    as melhores em qualidade do ar, saneamento e governana ambiental. Em gesto da energia e de CO2, Singapura fica em segundo lugar, atrs apenas de Tquio. Em sistema de transporte, perde s para Osaka.

    Tecnologia ajuda cidades brasileiras a enfrentar o crescimento acelerado

    Em 2007, o nmero de habitantes em cidades superou o de zonas rurais. At 2050, segundo projees da ONU, mais de 65% da humanida-de deve morar em cidades. No Brasil, essa tendncia tem pre-ponderado mais do que em qualquer outro lugar do mun-do, com 85% da populao vivendo em centros urbanos. Mais de 20 regies metropo-litanas do Pas agregam mais de um milho de moradores cada uma e, somadas s cinco maio-res, j renem mais de 40 milhes de pessoas, ou um quinto da populao.

    Essa realidade tem exigido solues para lidar ou atenuar os problemas causados por um cres-cimento acelerado, sem planejamento e que colocam em xeque a sustentabilidade. Grandes cidades brasileiras tm apostado na tecnologia e em solues inteligentes, e j comeam a se tornar referncia global na gesto de servios pblicos.

    Em So Paulo, a Companhia de Sanea- mento Bsico do Estado de So Paulo (Sabesp), responsvel pela distribuio de gua tratada para mais de 20 milhes de pessoas, adotou um mecanismo que os es-pecialistas do mercado chamam de smart water. O sistema permite, por exemplo, o controle automtico dos nveis dos reser-vatrios, alm do controle de vazo para equilbrio e proteo do sistema contra possveis faltas de gua.

    Outro exemplo o sistema para os trens da Linha 4-Amarela do metr de SoPaulo, desenvolvido pela Siemens e ope-rado pela concessionria ViaQuatro. Trata-se do sistema de sinalizao mais moderno do mundo

    Vamos precisar prestar muita ateno ao transpor-teemobilidade,NgLang,Executivo-chefe da URA

    para essa modalidade de transporte, e a primeira frota sem condutor baseada no conceito de au-tomao integral em comunicao (CBTC). Essa soluo permite a operao remota dos trens e um menor tempo de espera para o usurio na es-tao, reduzindo o intervalo de circulao entre as composies. NoRiodeJaneiro,aSiemens,juntocomaLi-

    ght (empresa de energia), iniciou um projeto para o fornecimento e instalao de um sistema de automao. Ele ser responsvel pela super-viso e pelo controle remoto de 500 cmaras subterrneas, onde esto situados os proces-

    sadores da rede de energia. Quando pronto, em 2015, o sistema evitar situaes de risco relacionadas a explo-ses, incndios, inundaes e intruso, assim como con-trolar e comandar os ele-

    mentos ativos dentro da cmara, como transfor-madores e interruptores. Alm do projeto das cmaras subterrneas, a Siemens est moderni-zando o sistema de distribuio de energia, com a automao de mais de 25 subestaes.

    A modernidade de Singapura tem como base o respeito ao meio ambiente para ser um lugar melhor para viver.

    * Glenn van Zutphen jornalista h 26 anos, tendo trabalhado para veculos como CNN Internacional, CNBC sia e a ABC News Radio.

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    Cidades no mar:uma alternativa?

    Construo Inteligente

    Finalmente, o mar agitado se acalmou. Apesar do enorme ganho de energia elica dos ltimos dias ter completado a carga das baterias e dos tanques de hidrognio, possvel reparar no rosto de Alan Green uma enorme preocupao. Como estaro as suas estufas de cultivo de alface e tomate, agora que voltaram a balanar suave-mente sobre as ondas? E quais tero sido os pre-juzos sofridos pelas culturas aquticas de seu companheiro Paul, cujas bioalgas, dourados e camares so importantes produtos de exporta-o de sua cidade no meio do Oceano Pacfico?

    Esta pequena narrao ilustra resumidamente o mundo futuro e o forte impacto das tempes-tades, hoje um dos maiores desafios naturais e tcnicos para os seasteader, um movimento que vem trabalhando arduamente para criar micro-estados permanentes no mar, totalmente fora do alcance reivindicado por qualquer governo de qualquer nao em terra. A central de co-

    mando deste grupo o Instituto Seasteading, em So Francisco (EUA), fundado em 2008 pelo bilionrio da internet Peter Thiel, junto com Patri Friedmann, neto do Prmio Nobel Milton Friedmann.

    Assim como as start-ups, empresas geralmente recm-criadas que gostam de experimentar, in-vestigar e desenvolver ideias inovadoras, os Es-tados start-ups precisam criar novas formas de governo incrustadas em experincias polticas e sociais. Para Friedmann, isso s pode funcionar no mar. Em terra, todas as regies [do planeta] j foram distribudas. S existe espao para fun-dar naes de forma pacfica com constituies, leis e vises prprias fora das guas territoriais dos pases, afirma.

    Da que o Instituto Seasteading, o brain trust dos seasteader, j vem estudando os fundamen-tos tcnicos, jurdicos, econmicos e sociais para Estados que podem vir a ser criados no

    O Instituto Seasteading, em So Francisco (EUA), vem criando bases concretas para a colonizao de oceanos. Microestados sobre platafor-mas residenciais modulares devem desafiar posies polticas e empre-sariais, alm de concorrer com sistemas de governo tradicionais em terra. Os planos e estudos tcnicos preliminares j so espantosamente reais. Tanto que, recentemente, o instituto adquiriu um navio de cru-zeiro desativado que servir de laboratrio para o primeiro cl de pio-neiros que vai morar, trabalhar e gerar energia em alto mar.

    Autor: Peter Trechow | Texto gentilmente cedido pela VDI nachrichten

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    mar.Entretanto,paraescapardainflun-cia dos pases litorneos, os colonizadores martimos precisam se instalar em alto mar, onde a profundidade superior a mil metros. No custa lembrar que, at 200 milhas nuticas (370 km), as naes lito-rneas ainda tm poder sobre habitantes marinhos e recursos minerais.

    quela distncia, a ancoragem no leito do mar to impossvel quanto a co-nexo com as redes de eletricidade, gua ou dados. Mas sob essas condies que precisaro ser abastecidos centenas e, mais tarde, vrios milhares de habitantes que iro morar e trabalhar nas plataformas modulares. A meta oferecer-lhes confor-to como se estivessem em terra. Uma con-dio bsica para que tudo isso seja pos-svel e vivel tentar minimizar as aceleraes horizontais e verticais determinadas pela condi-o do mar e dos reinos insulares, de tal forma que as pessoas no sintam, por exemplo, enjoos. Alm disso, as monstruosas estruturas precisaro ser erguidas para aguentar tempestades centen-rias na regio marinha onde sero instaladas.

    Para criar os primeiros projetos, o instituto realizou concursos de arquitetura e design. Pa-ralelamente, comprou um navio de cruzeiro inutilizado, no qual, em breve, o primeiro cl de pioneiros deve ir para o mar. Mas pesquisadores do instituto no descartam um modelo da Mari-ne Innovation & Technology (MI&T), de Berke-ley, na Califrnia. Ele prev uma plataforma quadrada de 120m x 120m para residncias e es-critrios, fixada com cabos de ao a quatro pila-res. Cada um deles com 40m de altura e 12m de dimetro, parcialmente preenchidos com gua de lastro, e submersos 20 metros na gua. As partes que ficam acima do nvel do mar servem como ncleos estveis dos blocos de edifcios.

    O grande problema que no existem estaleiros que possam montar estruturas dessa dimenso. Os engenheiros da MI&T estudam pr-fabricar quatro mdulos laterais com edifcios e pux-los comrebocadoresparaumabaa.L,elespode-riam ser fundidos a uma estrutura de trama en-tre os quatro pilares. Em seguida, placas de base seriam fixadas com cabos de ao. E s depois da

    montagem as plataformas sairiam para o mar, onde os pilares seriam submersos. O custo de um colosso residencial como esse, no entanto, estimado em US$ 115 milhes.

    Em outra frente, para preparar para a coloni-zao marinha, o Instituto Seasteading vem se valendo de uma lista interminvel de especialis-tas de diversas disciplinas. Designers, arquitetos, hidrlogos, engenheiros navais e especialistas em quebra-mares, culturas aquticas e energias renovveis. Alm disso, cientistas especializados em materiais de todas as partes do mundo se-guem um plano de desenvolvimento para desen-volver os fundamentos de engenharia das ilhas artificiais, mantendo sempre em mente a sua exequibilidade e viabilidade financeira.

    Outra grande preocupao com a autonomia energtica.Porisso,GeorgeL.Petrie,engenhei-ro-chefe do instituto, mandou averiguar que tipo de turbinas elicas horizontais, verticais ou flutuantes, ou quais usinas solares oumovidas fora das ondas, oferecem a melhor relao custo/benefcio. O aproveitamento do calor do mar (Ocean Thermal Energy Conversion - OTEC) tambm desempenha um papel central nas vi-ses de Petrie, ex-professor de engenharia naval e consultor da indstria offshore.

    Os pesquisadores estudam, tambm, o cultivo de biomassa no mar. Cultivo de algas e seastea-ding so uma combinao promissora. Se cultiva-

    Espessostapetesdealgasemtornodascidadesflutuantespo-deriam no apenas supr-las com alimentos, mas tambm for-mar uma espcie de zona segura em torno das mesmas, contri-buindo para a sua segurana.

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    Mundial, detm os fundamentos do cultivo de plantas no mar.

    Alm de sistemas baratos de cultivo de plantas aquticas, macroalgas e al-gas, ele tambm desenvolveu procedi-mentos para cultivar alface e tomate em canteiros flutuantes com fundoimpermevel. No se sabe, entretanto, se esse passo na direo do mar daria certo com os sistemas de plantao de Radulovich. O prprio professor con-sidera o cultivo martimo no apenas uma contribuio autonomia ali-mentar e energtica, mas tambm segurana das cidades ocenicas.

    No entanto, os seasteader no con-tam apenas com isso. O FDN Group, da Holanda, especializado em cons-

    truesflutuantes,tambmestcooperando.Ogrupo desenvolveu quebra-ondas de concreto que protegem portos contra ondas em muitas partes do mundo. Se for possvel instalar anis desses quebra-ondas flutuantes em torno dasplataformas, os colonizadores ocenicos teriam uma preocupao a menos. Os primeiros estu-dos de viabilidade esto em curso para escla-recer se esses anis conseguiriam resistir, por exemplo, s violentas tempestades, e a que custo.

    das em grande estilo, as algas poderiam contri-buir no apenas para o provimento de alimentos e energia, mas tambm podem ser exportadas, explica Petrie. De qualquer forma, os engenheiros precisam investigar as necessidades de energia a serem supridas. Alm de iluminao, aquecimen-to, dessalinizao da gua do mar, tecnologia de construo e comunicao, os motores das pla-taformas flutuantes precisaro constantementede energia. At porque ser necessrio manter a posio em qualquer situao climtica.

    Para a viabilidade econmica de manuteno das plataformas, os pesquisadores estudam a instalao de atividades comerciais, como hotis de luxo, centros de tecnologia e at clnicas que cuidem de pacientes-turistas a preos mais aces-sveis do que a concorrncia em terra. A vanta-gem de uma menor e melhor regulamentao estatal poderia atrair tambm biotecnlogos, malabaristas financeiros e institutos de tecno-logia. Eles imaginam uma cultura martima de start-ups onde tudo seria ainda mais concentra-do do que no Vale do Silcio.

    Outra boa possibilidade econmica seria a criao sustentvel de peixes, mexilhes e al-gas. Ricardo Radulovich, que h muitos anos realiza pesquisas como professor da Universi-dade da Costa Rica, em parte para projetos pa-trocinados pelas Naes Unidas e pelo Banco

    UmcolossoresidencialflutuantecomoestepoderiaseradquiridoporUS$ 115 milhes. Em 2017 devem haver conceitos palpveis e, nos prximostrintaanos,asprimeirascidadesflutuantes jdevemestarinstaladas no mar.

    O Instituto Seasteading lanou concursos de arquitetura e design para receber o maior nmero possvel de ideias para suas cidades flutuantes. Recentemente, comprouum navio de cruzeiro desativado, no qual logo o primei-ro cl de pioneiros deve se instalar no mar.

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    A ilha REM, a 6 km da costa holandesa, tambm teve uma curta histria em 1964. A plataforma residencial montada no Mar do Norte abrigava emissoras piratas de rdio e TV. O governo holands reagiu mal ao e ps um fim ilha aps poucos meses.

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