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CIÊNCIA DA CARNE AUTOR DESCONHECIDO GORDURAS Nos lipídios presentes na carne, predominam os ácidos graxos livres e esterificados. Os ácidos graxos são de cadeias de 2 a 30 carbonos, saturadas ou insaturadas, podendo ainda estar esterificados com glicerina, como é o caso dos triglicerídeos, diglicerídeos e monoglicerídeos. Os lipídios depois das proteínas são os componentes encontrados em maior concentração nas carnes. Suas funções vão desde o seu uso como reservatório de energia (9 Kcal/g), servindo para preencher espaços vazios entre os tecidos, além de proporcionar ao corpo um recurso ante choque ou isolamento térmico e fonte de calor. Dos princípios nutritivos da carne, a gordura é a que está submetida a flutuações mais amplas. Os lipídios da carne encontram- se basicamente armazenados no organismo animal de três maneiras: intracelular, intermuscular e intramuscularmente. As gorduras intermusculares podem ser apreciadas a simples vista, ao passo que a intramuscular faz parte dos tecidos que constituem os músculos sob a forma de fibras muito finas. As gorduras intramusculares e intermusculares caracterizam o marmóreo da carne. Os diversos tipos de gordura citados se encontram intercalados no tecido conectivo. O organismo possui ainda uma pequena quantidade de gordura representada por pequenas gotas no líquido intercelular, isto é, no suco da carne. Os lipídios da carne podem-se dividir em lipídios do tecido muscular e do tecido adiposo. Lipídios do tecido adiposo O tecido adiposo se localiza nos depósitos subcutâneos e nos depósitos intermusculares. Os depósitos subcutâneos geralmente estão bem definidos, sendo que inclusive, sua exploração manual (palpação) por especialistas permite estimar o nível de "engraxamento" do animal. Estes depósitos subcutâneos representam, por exemplo, nos suínos, 70% de todo o tecido adiposo. Os lipídios do tecido adiposo participam dos processos metabólitos fundamentais: lipólise e lipogêneses. Ao contrário do que se pode pensar, o tecido adiposo não é um depósito passivo de

Ciência Da Carne - Gorduras

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CINCIA DA CARNEAUTOR DESCONHECIDOGORDURAS Nos lipdios presentes na carne, predominam os cidos graxos livres e esterificados. Os cidos graxos so de cadeias de 2 a 30 carbonos, saturadas ou insaturadas, podendo ainda estar esterificados com glicerina, como o caso dos triglicerdeos, diglicerdeos e monoglicerdeos.

Os lipdios depois das protenas so os componentes encontrados em maior concentrao nas carnes. Suas funes vo desde o seu uso como reservatrio de energia (9 Kcal/g), servindo para preencher espaos vazios entre os tecidos, alm de proporcionar ao corpo um recurso ante choque ou isolamento trmico e fonte de calor.

Dos princpios nutritivos da carne, a gordura a que est submetida a flutuaes mais amplas. Os lipdios da carne encontram-se basicamente armazenados no organismo animal de trs maneiras: intracelular, intermuscular e intramuscularmente.

As gorduras intermusculares podem ser apreciadas a simples vista, ao passo que a intramuscular faz parte dos tecidos que constituem os msculos sob a forma de fibras muito finas. As gorduras intramusculares e intermusculares caracterizam o marmreo da carne.

Os diversos tipos de gordura citados se encontram intercalados no tecido conectivo. O organismo possui ainda uma pequena quantidade de gordura representada por pequenas gotas no lquido intercelular, isto , no suco da carne.

Os lipdios da carne podem-se dividir em lipdios do tecido muscular e do tecido adiposo.

Lipdios do tecido adiposo O tecido adiposo se localiza nos depsitos subcutneos e nos depsitos intermusculares. Os depsitos subcutneos geralmente esto bem definidos, sendo que inclusive, sua explorao manual (palpao) por especialistas permite estimar o nvel de "engraxamento" do animal. Estes depsitos subcutneos representam, por exemplo, nos sunos, 70% de todo o tecido adiposo.

Os lipdios do tecido adiposo participam dos processos metablitos fundamentais: liplise e lipogneses. Ao contrrio do que se pode pensar, o tecido adiposo no um depsito passivo de gordura, sendo um tecido metabolicamente ativo, muito rico em enzimas, que participa do metabolismo de lipdios alm do metabolismo intermedirio.

Os lipdios armazenados no tecido adiposo resultam da lipogneses, heptica ou adipcita. Quando sua origem heptica, os cidos graxos se incorporam s lipoprotenas, que os transportam at os adipcitos, onde atua uma lipoprotena lipase, liberando-os e permitindo seu depsito no adipcito.

O adipcito capaz de sintetizar cidos graxos a partir de diversos substratos. Assim nos animais monogstricos, a glicose o percursor por excelncia, enquanto que os ruminantes so os cidos graxos volteis, fundamentalmente o actico e o propinico.

A atividade lipognica do tecido adiposo depende da idade, da espcie e da localizao do tecido adiposo.

Lipdios do tecido muscularSubdividem-se em: lipdios intramusculares e intracelulares.

a) Lipdios intramusculares: formam parte das fibras musculares. E do o aspecto marmreo da carne. Representam de 16 a 35% da massa muscular.

A composio similar a do tecido adiposo, porm a gordura intramuscular mais facilmente alterada ao estar em contato com substncias do msculo com atividade oxidante.

b) Lipdios intracelulares: formam parte das mitocndrias, membranas, etc. Se compem principalmente de fosfoglicerdios e lipoprotenas.

Os triglicerdeos predominam na gordura da carne, ainda que estas possam conter pequenas quantidades de mono e diglicerdeos. Em pequenas propores a gordura da carne contm tambm outras substncias como fosfolipdeos, esteris, protenas, cidos graxos livres, vitaminas A, D, E e K, gua, e outros componentes.

Os lipdios da poro magra contm maiores propores de fosfolipdeos, sendo os cidos graxos dos fosfolipdeos mais insaturados que os correspondentes triglicerdeos. Dos fosfolipdeos totais do bovino, a lecitina compe aproximadamente 62%, as cefalinas 30 % e a esfingomielina menos de 10 %.

A composio dos cidos graxos alm de ser importante para a consistncia da carne influi tambm na qualidade organolptica. Quanto maior o ndice de cidos graxos insaturados, maior probabilidade a carne tem de sofrer oxidaes, perdendo a qualidade.

Os cidos graxos saturados e monoinsaturados so predominantes na gordura da carne. Dentre os cidos graxos saturados encontrados com mais frequncia nas gorduras animais, pode-se citar o palmtico e o esterico e dentre os cidos graxos insaturados podemos citar o oleico.

Fatores que influenciam na quantidade de cidos graxos saturados e insaturados: A quantidade de cidos graxos saturados ou insaturados varia muito com a espcie. O suno possui uma gordura mais saturada que os ovinos e esses possuem mais gordura saturada do que os bovinos. A espcie que mais possui gorduras insaturadas so as aves.

A composio dos cidos graxos depende tambm da alimentao do animal, principalmente nos animais monogstricos como os sunos, devido no possurem capacidade de decompor os lipdios como os ruminantes, se, por exemplo, se alimentarem com 1% de cido graxo insaturado, vo incorpor-los em seu tecido.

Tambm influem as condies climticas, apresentando mais gordura insaturada as carnes provindas de regies mais frias.

Fatores que influenciam na quantidade de gordura: Sexo: em relao quantidade de gordura, tem influncia o sexo do animal, sendo que as fmeas possuem maior susceptibilidade gordura, seguido pelos machos castrados e machos no castrados so os que menos possuem gordura.

A idade tambm influi, as carnes de animais mais jovens contm maiores propores de umidade e menor de gordura, protenas e sais minerais.

Raas: as raas Britnicas de corte so mais propensas ao acmulo de gordura que as raas continentais europeias e o zebu.

Gordura X Colesterol, doenas cardiovasculares e obesidadeO colesterol embora um componente quantitativamente pequeno, tem foras fisiolgicas importantes e aparece em todo o tecido animal na forma livre ou esterificada com um cido graxo. Nos pases ricos em energia do ocidente industrializado, o contedo lipdico da carne se associa tambm com obesidade e arteriosclerose. A exemplo, o EUA com uma ingesto altamente energtica, que excede muito os requerimentos, aumentando o problema da obesidade. Em relao carne, seu consumo pelos americanos claramente alto e ainda h a tendncia do consumo de produtos com muita gordura como os hambrgueres. Alm disso, o problema em muitos casos aumentado pelo trabalho sedentrio e a ausncia de exerccios fsicos. Inclui-se que as causas principais da obesidade so os hbitos dietticos globais e o estilo de vida, mais do que o contedo lipdico da carne por si.

cidos graxos mega-3 e sua relao com a carneOs cidos graxos polinsaturados mega-3 so essenciais para o crescimento e desenvolvimento ao longo da vida. Muitas investigaes sugerem que os cidos graxos mega-3 intervm no desenvolvimento do crebro, nas respostas imunolgicas, nas funes vitais, presso arterial, viscosidade do sangue e preveno a enfermidades cardacas. Algumas fontes alimentcias destes cidos so os vegetais verdes, as algas, azeite de soja, canola e o pescado.

Os megas3 causam reduo da quantidade de lipdios e colesterol no soro. Este efeito pode ser resultado de uma modificao na forma que o fgado e o corpo fazem o intercmbio de lipdios. Uma teoria possvel que os megas-3 inibem a sntese de cidos graxos, triglicerdeos e de apoprotenas no fgado, enquanto que aumentam a atividade dos receptores das clulas para consumir maior quantidade destes compostos.

Os cidos graxos polinsaturados mega-3 e mega-6 reduzem o LDL (lipoprotena de baixa densidade), o mau colesterol, diminuindo os nveis de triglicerdeos circulantes. J os megas-3, alm do efeito anterior, podem aumentar o HDL (lipoprotena de alta densidade), o bom colesterol.

Uma nova tecnologia est em a mo dos produtores de carne de suno e aves. Com suplementao alimentcia das dietas destes animais com cidos graxos mega-3, que ao serem includos na dieta, melhoram o contedo de mega-3 na carne e no ovo.

Marmorizao da carne suna Para a indstria de carnes, o valor de um suno abatido depende do peso da carcaa, do percentual de carne magra, do rendimento de corte e qualidade da carne. Atualmente no Brasil os produtores de sunos so pagos pelo peso e j comeam a ser remunerados pelo percentual de carne magra da carcaa, estimado a partir da espessura do toucinho.

Os produtores de sunos e a indstria de processamento de carne tm feito enormes esforos no sentido de obter carcaas de sunos com alto teor de carne magra e menor percentual de gordura. Ainda se enfatiza muito o rendimento da carcaa, dos cortes e o percentual de carne magra, porm esta seleo intensa de sunos pode ter, direta ou indiretamente, provocada depresso da qualidade da carne e alta incidncia da condio conhecida como PSE. Em relao s qualidades organolpticas, a crena de que necessrio um alto ndice de gordura na carne para proporcionar qualidades sensoriais ideais, no comprovada cientificamente. Em 1980 na Dinamarca, pesquisadores concluram ser necessrio um nvel de 1,8 2% de gordura intramuscular (marmorizao) para manter as qualidades sensoriais. Nos ltimos anos, empresas de gentica e instituies de pesquisas vm trabalhando para reduzir ainda mais a espessura de toucinho e aumentar o percentual de carne magra, concomitantemente preservando a qualidade da carne.

Uma das maneiras encontradas para atender esta condio consiste no desenvolvimento, seleo e cruzamento de linhagens, cujos animais, medida que a espessura de toucinho reduzida a nveis to baixos como 10 14 mm, ou at menores, mantm um ndice adequado de gordura intramuscular entre 1,2 2,8%.

Entre as raas e linhagens sunas mais utilizadas em programas de melhoramento gentico, os sunos Duroc, puros ou hbridos, apresentam esta condio especial de aliar carcaas de alto valor (reduzida espessura de toucinho e alto percentual de carne magra) com carne de excelente qualidade, que representa um bom ndice de marmorizao.

Por outro lado, sunos da raa Pietrain, de reconhecido valor por produzirem carcaas com elevados percentuais de carne magra, caracterizam-se tambm por produzirem carne de qualidade inferior, com baixos ndices de marmorizao (em torno de 1,2%) e maiores perdas na indstria de processamento.

De certo modo nos ltimos anos, h um conflito entre o produtor e o processador, j que nos ltimos anos os programas de melhora esto centrados na velocidade de crescimento e no rendimento em detrimento da qualidade. A utilizao dos beta-adrinrgicos e a somatotropina porcina como suplementos alimentares para conseguir uma percentagem de carne magra tambm provoca perdas na qualidade. Esses suplementos so mais utilizados nos EUA, porm no muito na Europa.

Marmorizao a gordura visvel presente entre os feixes de fibra muscular. Acredita-se que ela possui a capacidade de tornar a carne macia.

possvel que a marmorizao atue como lubrificante durante a mastigao e deglutio, mantendo assim a aparente maciez da carne. A marmorizao provavelmente exerce efeito benfico mais intenso sobre a suculncia e flavor (sabor+aroma) da carne. Isto devido liquefao da gordura intramuscular durante o aquecimento e sua liberao durante a mastigao (juntamente com parte dos lquidos da carne), dando a sensao de suculncia.

O ndice de marmorizao da carne est relacionado com o ndice de refletncia, ou seja, quanto maior a % de marmorizao, menor nvel de refletncia e maior a quantidade de carne que se apresenta macia, com maior rendimento durante o preparo.

A gordura contribui na palatabilidade do produto e tambm na sua estabilidade, como o caso dos embutidos. Sem dvida no se pode adicionar gordura indiscriminadamente aos produtos para beneficiar seus atributos sensoriais. Por exemplo, as regulamentaes para embutidos preveem limite de 30% de gordura a ser adicionada em embutidos cozidos.

Fatores que provocam alteraes nas gorduras da carne Existem duas formas de alterao das gorduras da carne: hidroltica e oxidativa:

Alterao hidroltica: consiste na liberao de cidos graxos pela ao lipases e fosfolipases e principalmente por microrganismos. Esta alterao influi sobre o sabor e desprendimento de gordura observado durante a coco (principalmente fritura), proporcional a quantidade de cidos graxos livres presentes.

Alterao oxidativa: na carne a alterao oxidativa se apresenta em duas formas: autooxidao e oxidao cataltica.

Autooxidao: ocorre pela formao de radicais livres seguido da formao de perxidos devido a catalizadores como oxignio, calor, luz e metais divalentes. A reao entre radicais livres e outros lipdios formam compostos de cadeias curtas (aldedos, cetonas, steres, etc.) que comunicam o odor de rano caracterstico.

Oxidao cataltica: exige um hidroperxido prvio e a interveno dos grupos hemo. Provocando a oxidao do grupo hemo da mioglobina.