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Carlos Bernardo González Pecotche RAUMSOL LOGOSOFIA ciência e método Técnica da formação individual consciente EDITORA LOGOSÓFICA

ciência e método LOGOSOFIA - logosophy.info · Atributos da nova ciência – O caminho da evolução consciente – Características fundamentais do conhecimento logosófico –

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Carlos Bernardo González Pecotche RAUMSOL

LOGOSOFIAciência e métodoTécnica da formação individual consciente

EDITORA

LOGOSÓFICA

L O G O S O F I Aciência e método

As penetrantes verdades da Logosofiaestão destinadas a revolucionar as idéiasque, até o presente, existiram sobre apsicologia humana.

Como ciência integral, a Logosofia se vale de suas próprias concepções,expondo com clareza os conhecimentosque delas emanam. Cada inteligênciapode facilmente apreciar seus valores, ecada alma captar o significado profundode seu aparecimento nestes momentoscruciais para a humanidade.

A verdade logosófica traça um roteiroseguro, chamando à realidade aqueles queviveram à margem dela e confundiram averdadeira orientação psicológica com asabstrações metafísicas.

Os filósofos e psicólogos sinceros,aqueles que não especulam com a ignorância humana, terão neste livro aoportunidade de examinar os conteúdosdesta ciência e deles extrair as conclusõesditadas pelo acerto com que o fizerem.Desdenhá-los seria fechar os olhos a umarealidade que, além de visível, é palpável.

A Logosofia marca o princípio deuma nova cultura, nascida naRepública Argentina, pátria do autor.Não veio do estrangeiro, com resso-nâncias européias ou exóticas, quetanto seduzem e, ao mesmo tempo,apequenam a mentalidade nativa. Pela primeira vez em nossa história,não foi necessário importar de outrasculturas a “matéria-prima”. As “jazidas”da Logosofia são inesgotáveis e haverãode abastecer o mundo inteiro. É elauma nova energia mental que iluminao homem por dentro, permitindo-lheconhecer a si mesmo nos mais recôn-ditos meandros de sua psicologia.

A Fundação Logosófica, instituiçãoonde é ministrado e praticado o ensinodesta nova ciência, expande-se atualmente por vários continentes e,com suas sedes culturais, tem presençaoficializada em muitos países.

É este um livro de estudo que

abre rumos seguros ao

encaminhamento da atenção para

os grandes objetivos prefixados

pela Logosofia: o conhecimento

de si mesmo, dos semelhantes,

dos mundos mental e metafísico,

e, acima de tudo, o acercamento à

Sabedoria Eterna, pelo

enriquecimento da consciência e

pela elevação do espírito até sua

verdadeira e integral formação,

determinada pela conexão do

homem com seu Criador mediante

a identificação entre o espírito e o

ente físico ou alma.

www.editoralogosofica.com.br

LOGOSOFIAciência e método

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Colección de la Revista Logosofía (tomos IV, V), 649 págs., 1982.

(1) Em português.

(2) Em inglês.

(3) Em esperanto.

(4) Em francês.

(5) Em catalão.

(6) Em italiano.

(7) Em hebraico.

Reimpressão da 11ª ediçãoEditora Logosófica

2005

Carlos Bernardo González Pecotche RAUMSOL

LOGOSOFIAciência e método

Técnica da formação individual consciente

Título do originalLogosofía. Ciencia y metodoCarlos Bernardo González Pecotche RAUMSOL

Revisão da traduçãoJosé Dalmy Silva Gama

Projeto GráficoAdesign

Produção GráficaAdesign

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

González Pecotche, Carlos Bernardo, 1901-1963.

Logosofia : ciência e método : técnica da

formação individual consciente / Carlos Bernardo

González Pecotche (Raumsol) ; [revisão da tradução

José Dalmy Silva Gama]. -- São Paulo : Logosófica,

2005.

Título original: Logosofia : ciência y método

1ª reimpr. da 11. ed. de 2003.

ISBN 85-7097-053-6

1. Logosofia I. Título.

05-8239 CDD-149.9

Índices para catálogo sistemático:1. Logosofia : Doutrinas filosóficas 149.9

COPYRIGHT DA EDITORA LOGOSÓFICA

www.editoralogosofica.com.brwww.logosofia.org.bre-mail: [email protected]/fax: (11) 3885 7340Rua Coronel Oscar Porto, 818, Paraíso CEP 04003-004 – São Paulo - SP - Brasil,da Fundação Logosófica (Em Prol da Superação Humana) Sede central: SHCG/NORTE Quadra 704 – Área Especial de Escolas CEP 70730-730 – Brasília – DF – Brasil

Vide representantes regionais na última página.

Uma verdade é inefável quando sentida e compreendida noíntimo do ser. Nesse instante, o espírito recebe o eflúvio daluz cósmica e experimenta, como entidade consciente, a sen-sação de eternidade ainda em seu físico existir.

SUMÁRIO

PRÓLOGO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9

LIÇÃO IA LogosofiaAtributos da nova ciência – O caminho da evolução consciente –Características fundamentais do conhecimento logosófico – A reação psi-cológica de um hábito – Virtualidade dos novos conceitos – Um poderosoreconstituinte psicológico e espiritual – A firmeza na determinação desuperar-se – Bases para a capacitação logosófica . . . . . . . . . . . . . . .15

LIÇÃO IIO processo de evolução conscienteA grande prerrogativa humana – O processo de evolução consciente –O processo interno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33

LIÇÃO IIIO sistema mentalSua estrutura – As duas mentes – Ação coordenada das faculdades dosistema mental – A função de pensar no processo de evolução cons-ciente – A percepção consciente no ato de pensar – Guia para o ades-tramento mental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43

LIÇÃO IVOs pensamentosSua natureza – Como nasce um pensamento na vida mental –Reprodução de pensamentos – Individualização de pensamentos –Classificação e seleção – Disciplina mental – Aspectos da organizaçãodo sistema mental – O pensamento-autoridade . . . . . . . . . . . . . . . .55

LIÇÃO VO sistema sensívelSua configuração – A sensibilidade – Os sentimentos – As faculdadessensíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .71

LIÇÃO VI O sistema instintivoSua definição e atividade como força energética – As energias do instin-to a serviço do espírito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79

LIÇÃO VIIO ensinamento logosóficoSuas particularidades e atributos – Seu valor – Dois aspectos do poderfecundante do ensinamento – Requisito para sua assimilação – Comoadaptar a mente ao ensinamento – Norma indeclinável de conduta .85

LIÇÃO VIIIO método logosóficoSuas qualidades e alcances – Estrutura e função do método – Um aspec-to de seu exercício prático – O método logosófico no conhecimento de simesmo – Campo experimental do conhecimento logosófico . . . . . . . .99

LIÇÃO IXDiretrizes que ajudam no aperfeiçoamento individualA condução consciente da vida – Defesas para a mente – A pergunta,fator de indagação – A dieta mental – Trabalho de interpretação do ensi-namento – As diretrizes do conhecimento transcendente não devem seralteradas – O ambiente no desenvolvimento da vida interna – A edifi-cação do permanente no homem – O valor do tempo – A paciência ativae consciente – O afeto, princípio fixador das relações humanas . . .113

PARTE FINAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .141

PRÓLOGO

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PRÓLOGO

A idéia de sistematizar o ensinamento logosófico –ajustando-o a um ordenamento didático de fácil assimi-lação, que permita aprofundar em seu conteúdo semprévio conhecimento de nosso método – chegou a cris-talizar-se neste livro, cuja publicação responde à urgên-cia exigida pelo rápido avanço do movimento logosófi-co de superação humana, ao estender-se resolutamentepelos países do continente americano e ainda por al-guns da Europa*.

Ao concretizá-la em nove lições, destinadas, como dis-semos, a favorecer seu estudo e aplicação, tivemosmuito particularmente em conta os pontos vitais à ori-entação da conduta individual para a sua total harmo-nização com o processo de evolução consciente.

É este um livro de estudo que abre rumos seguros aoencaminhamento da atenção para os grandes objetivosprefixados pela Logosofia: o conhecimento de si mes-mo, dos semelhantes, dos mundos mental e metafísico,e, acima de tudo, o acercamento à Sabedoria Eterna,pelo enriquecimento da consciência e pela elevação doespírito até sua verdadeira e integral formação, deter-minada pela conexão do homem com seu Criadormediante a identificação entre o espírito e o entefísico ou alma.

* N.T.: Em vida do autor, a última edição desta obra data de 1962. Atualmente, omovimento logosófico se expande por diversos continentes, com presença jáoficializada em vários países.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

De um fato poderá o leitor estar plenamente certo, aopercorrer estas páginas, e é o de achar-se na presençade uma realidade que o coloca na rara e singular situa-ção de optar por seguir ignorando as riquezas quepodem surgir de uma vida aproveitada em suasmáximas prerrogativas, ou por ser um a mais que sesoma ao número dos que hoje desfrutam tão impor-tante oportunidade.

O segredo do êxito pessoal, nesta nova ordem de estu-do e experimentação científicos, reside no fato de quenela se deve proceder de dois modos diversos, indis-pensáveis ambos para assegurar a eficiência da condu-ta: o individual, em que cada um encara o próprio pro-cesso e abre as portas de seu mundo interno, e o coleti-vo, que oferece ao logósofo um formoso campo experi-mental, em que lhe é dado verificar o acerto ou de-sacerto de suas interpretações ou compreensões sobreo ensinamento que deverá começar a ter intensa partici-pação em sua vida interna e de relação.

Múltiplos fatores contribuem para aumentar as van-tagens desse campo experimental coletivo, em quetudo colabora para ampliar o conhecimento da verdadelogosófica, fortalecer a vontade e fazer cada dia maisefetiva e ampla a participação da vida nessa corrente deamizade estabelecida nele e cimentada nos altospropósitos de bem que cada participante persegue,com o concurso do ensinamento.

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PRÓLOGO

O benefício é, pois, imponderável de qualquer pontode vista, e o exercício e a prática dos conhecimentosque por esse meio são adquiridos facilitam grande-mente a realização do processo de evolução consciente,que, como dissemos, leva ao exato conhecimento de simesmo, dos semelhantes e do verdadeiro mundometafísico.

Aprender Logosofia é conhecer uma técnica nova paraencarar a vida com auspiciosos resultados. Para essa fi-nalidade conduz o pensamento logosófico, exposto naspáginas deste livro, que o autor oferece a quantos quei-ram experimentar por conta própria tudo o que neleestá dito.

C. B. G. P.

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LIÇÃO I

A LogosofiaAtributos da nova ciência O caminho da evolução conscienteCaracterísticas fundamentais do conhecimento logosóficoA reação psicológica de um hábito Virtualidade dos novos conceitosUm poderoso reconstituinte psicológico e espiritualA firmeza na determinação de superar-seBases para a capacitação logosófica

ATRIBUTOS DA NOVA CIÊNCIA

A Logosofia é sabedoria criadora, porque os conhe-cimentos que dela emanam lhe são consubstanciaisem sua totalidade: formam um todo indivisível e imu-tável. Sustenta seus ensinamentos com o extraordi-nário vigor de sua força estimulante e apóia cadauma de suas verdades na evidência mesma de suarealidade incontestável.

Seu nome reúne numa só palavra os elementos gregoslogos e sofia, que o autor adotou, dando-lhes a signifi-cação de verbo criador ou manifestação do sabersupremo, e ciência original ou sabedoria, respectiva-mente, para designar uma nova linha de conhecimentos,uma doutrina, um método e uma técnica que lhe são emi-nentemente próprios.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

A Logosofia não vai em busca das causas ou princí-pios, como a filosofia. Percorre em sentido inverso ocaminho, constituindo-se ela própria em fonte deexplicação das causas, dos princípios e de toda outraindagação apresentada à inteligência humana. Parteda verdade mesma e vai até o indivíduo, diferindo,assim, das demais ciências, cujos cultores devempartir em sua busca.

A sabedoria que a caracteriza surge espontânea e purís-sima da própria Criação. Nela teve origem a idéia-mãeque engendrou seus conhecimentos, de transcendênciasem-par para a vida do homem.

A Logosofia não desconhece o valor que puderam terou representar os diferentes sistemas que compõem oacervo filosófico; mas afirma, sim, que nenhum delesconstituiu um caminho propriamente dito para oconhecimento de si mesmo e do mundo transcendente.Serviram, mais precisamente, para sustentar a moral,que de época em época corria o perigo de desabar, sen-do cada sistema, sem dúvida, um degrau que se acres-centava para que os homens o pudessem escalar, depo-sitando nele novas esperanças, enquanto experimenta-vam, até onde era possível, o que havia de certo, deprático e vantajoso na teoria ou no método de maisrecente surgimento.

Ao trazer à luz os conhecimentos que surgem de suaprópria fonte, a Logosofia prescinde de todas as teoriasconhecidas, e o faz deliberadamente por duas razões

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A LOGOSOFIA

essenciais: 1o ) porque sua originalidade mesma lhe im-põe isso; 2o) para evitar a confusão, que perturbaria olivre desenvolvimento do campo mental, ao produzir-se a mistura de sementes de distintas origens, já que ado “celeiro” logosófico é especialmente selecionadapara oferecer maior rendimento em menor tempo.

A Logosofia é uma ciência nova e concludente, querevela conhecimentos de natureza transcendental econcede ao espírito humano a prerrogativa, até hojenegada, de reinar na vida do ser a quem anima. Con-duz o homem ao conhecimento de si mesmo, de Deus,do Universo e de suas leis eternas. No que diz respeitoao estudo discernente dos problemas que ela expõe edas soluções que oferece, assim como aos processos eorientações que prescreve e à realização dos ensina-mentos que a fundamentam, deverá tudo isso cumprir-se à semelhança do que ocorre nas outras ciências, nosentido da adaptação ao método e às disciplinas queregem e ordenam toda atividade.

O CAMINHO DA EVOLUÇÃO CONSCIENTE

A busca da verdade tem durado séculos; dizendomelhor, milênios. Entretanto, embora os frustradosesforços e ilusões de muitos fossem ficando pelosdiversos caminhos percorridos com esse propósito, achama inextinguível da esperança nunca deixou dealentar as almas das pessoas.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

O homem sempre pressentiu um algo além, uma pro-longação indefinida de sua existência, capaz de chegaraté mesmo a identificá-lo com a própria divindade queanima a Criação. Para sua desdita, pretendeu internar-senessas zonas profundas, e de difícil acesso a toda inteli-gência carente de ilustração superior, sem os conheci-mentos que haveriam de auxiliá-lo nessa realização.

A Logosofia proporciona, com seus conhecimentos, oingresso nessas zonas, cujo percurso o homem haveráde iniciar – como é lógico – a partir da primeira partedo grande processo evolutivo consciente.

Esse processo ou caminho excepcional, traçado pelaLogosofia, percorre-se em virtude do método que lhe épróprio.

Sua sólida e reta construção tem sido posta à provadurante anos de incessante e esforçado trabalho, e éum caminho que está aberto a todos, sem exceção, ain-da que por ele não possam marchar os que pretendamlevar sobre os ombros o peso de seus preconceitos, de suascrenças ou de suas dúvidas.

Por essa razão, a Logosofia estabeleceu o percurso deum prudente trecho preparatório, que, ao ser cobertocom verdadeiro anelo de superação, permite o des-prendimento gradual dos preconceitos e a eliminaçãodas dúvidas.

O caminho logosófico é tão longo como a eternidade,porque é o caminho determinado pela lei de evolução,

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A LOGOSOFIA

que impera sobre todos os processos que se realizamdentro da Criação. Eis sua extraordinária virtude. Ohomem comum anda por esse caminho alheio às prer-rogativas que essa lei lhe concede, e seu avanço é tar-dio e penoso, mas poderá percorrê-lo conscientementetão logo seus passos sejam guiados pelas luzes doconhecimento transcendente. Seu trajeto só está veda-do à ignorância humana, mas não aos que deixarampara trás as etapas preparatórias desse conhecimento.

CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DO

CONHECIMENTO LOGOSÓFICO

Em geral, o ser humano ignora que, além da instruçãoque recebe – compreendendo até mesmo a mais esme-rada educação e a ilustração que é possível obter nauniversidade em matéria de especialização técnica ecientífica –, existem uma cultura e uma ciência cujosconhecimentos, não sendo semelhantes aos ministra-dos nos centros oficiais de estudo, têm de ser adquiri-dos fora deles, pelo esforço pessoal e dedicação intima-mente estimulados e postos a serviço de um ideal cujaconcepção escapa às considerações e juízos correntes.

Para empreender tarefa de tão vastos alcances, nada sedeve ignorar do que concerne à própria constituiçãopsicológico-mental e, além disso, cumpre conhecerprofundamente o mistério dos pensamentos; mistério

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

que deixará de sê-lo tão logo a inteligência atue sobreeles, dominando-os e fazendo-os servir aos propósitosde uma cabal superação, isto é, tão logo o ser estejacapacitado para proceder a um reajustamento cons-ciente e efetivo de sua vida.

Não será possível ao homem, por mais empenho e boavontade que ponha nisso, criar dentro de si uma novaindividualidade, com características que a façam supe-rior à que possui, se não adquirir e utilizar para essefim conhecimentos como os oferecidos pela Logosofia,que constituem toda uma especialidade.

Dizemos que constituem uma especialidade porque sãode índole ou natureza diferente se comparados aosconhecimentos de uso corrente; de uma diferençasubstancial, pois compreendem um sistema ainda des-conhecido para o mundo da ciência. Se estivessem emseu acervo, sem dúvida já teriam sido empregados.

Tais conhecimentos promovem no espírito humano umnovo gênero de vida, que proporciona enormes satisfa-ções e permite colocar o entendimento muito acima daconduta comum e das apreciações generalizadas. Éfundamental sua força estimulante e construtiva; esti-mulante, pelos benefícios imediatos que traz; construti-va, porque organiza a vida, a fim de cumprir ciclos deevolução muito superiores ao processo lento que ahumanidade tem seguido até agora.

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A LOGOSOFIA

A Logosofia recomenda, como algo muito essencial,que o ser não deixe malograr dentro de si a ação de seuensinamento, se na verdade quer obter dele resultadossatisfatórios. Isso o conduz, ao mesmo tempo, a acertarcontas consigo mesmo, a fim de estar a par do adquiri-do em conhecimento, o que vem a ter um valor imen-so, sobretudo na vida diária, na qual quem sabe o quepode leva considerável vantagem sobre aquele que desco-nhece seus recursos.

Do esforço e da dedicação dispensados ao estudo logo-sófico dependerá que o processo de superação integralse desenvolva sem dificuldades, enquanto se produz aadaptação gradual da vida às modalidades próprias dacultura superior que se trata de adquirir. Procurar-se-á,ao mesmo tempo, não estar em desarmonia com osdeveres, obrigações e exigências inerentes às tarefasdiárias e à convivência social ou familiar, em cujo cum-primento a conduta terá também de elevar seu nível.

Um dos fatos salientes da preparação logosófica é aque-le que garante que esta nova ciência, ao bastar a si mes-ma, poupa o estudante de toda sobrecarga mental quepoderia resultar da constante consulta a fontes de outraorigem, cujas águas, turvadas pela confusão de idéiasopostas entre si, também poderiam contribuir, sem tra-zer vantagem alguma, para fomentar a dúvida e o ceti-cismo diante dos problemas do espírito e da natureza.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

A REAÇÃO PSICOLÓGICA DE UM HÁBITO

A psicologia humana é tão curiosa quanto original, esua tendência mais pronunciada é a que aparece deline-ando-se em torno de suas características mais salientes:ansiedade indefinida, inquietude inata, desconfiança,desorientação, etc., que predispõem o homem a umceticismo agudo, refratário a tudo o que não seja deimediato acesso a seu entendimento.

A norma ou atitude generalizada foi sempre a de aceitaraquilo que mais conviesse às necessidades e interessesdo indivíduo, toda vez que as vantagens ou benefíciosdo novo já tivessem sido evidenciados sobre o velho,gasto ou inservível, posição esta que, com certeza, nãopodia ser mais cômoda.

Inclinada a permanecer em seus hábitos, seus antiqua-dos moldes ou fórmulas, a psicologia humana tende areagir contra toda inovação que lhe demande algum es-forço, o que geralmente considera como algo desnecessárioou além de suas forças ou possibilidades. Daí que amaioria sempre prefira, por natural reação psicológica,que sejam os demais os que experimentem e com-provem os resultados daquilo que lhe é oferecido paraseu exclusivo bem, só então resolvendo aceitá-lo. Mas

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A LOGOSOFIA

ainda assim costuma preferir a companhia do velho adecidir-se por uma realidade que, em muitos casos,chegou a ser-lhe inevitável. Contudo, a experimentaçãodo novo deve ser feita, já que é imprescindível paracomprovar sua eficácia, sua utilidade ou, pelo menos,as vantagens que representa para o homem sobre o jáconhecido e generalizado.

VIRTUALIDADE DOS NOVOS CONCEITOS

Ninguém ousará negar, sem contrariar a lógica, que, àmedida que o homem avance na conquista do saber, osconceitos sejam suscetíveis de evoluir. Negá-lo serianegar a própria evolução, que é sinal de superação eaperfeiçoamento; seria pretender a permanência dohomem na ignorância de suas grandes prerrogativashumanas e espirituais.

A Logosofia, ao anunciar que chegou a hora daevolução consciente, modifica radicalmente os con-ceitos que nesta ordem de idéias foram adotados comosatisfatórios às exigências intelectuais e às necessidadesespirituais de cada época. A desorientação atual é sinalinconfundível de que tais conceitos já não conseguemsatisfazer a essas exigências, e o espírito humano hojeclama, imperativamente, por uma solução para o in-trincado e sombrio problema que paira sobre a vida decada indivíduo.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

Já dissemos que o homem tem experimentado duranteséculos a necessidade de vincular-se metafisicamente aDeus. Na falta de conhecimentos que lhe permitissemrealizar essa esperança, permitiu a falácia e o absurdode crenças e promessas que, ao contrário, adormeceramsua alma. O avanço do tempo o foi despertando dessesonho pernicioso, e ele, erguido de novo, inquieto e an-sioso, reclama com insistência cada vez mais firme oconhecimento orientador de sua existência.

Os novos conceitos, os conceitos logosóficos, haverãode ir se impondo inevitavelmente, porque consubstan-ciam verdades inatacáveis e estão sustentados por umaexcepcional força lógica, que impele o homem a com-provar por si mesmo sua transcendental realidade. Maseste deverá abrir os olhos; não fechá-los, como osfanáticos, que não querem ver nem ouvir. Deverá abriros olhos ao eflúvio benéfico e construtivo dos novosconhecimentos, destinados a iluminar a vida e libertá-lada opressiva escravidão em que foi submergida pelo blo-queio dos velhos conceitos.

Todo conceito que o homem não modifica com suaevolução se torna um preconceito, e os preconceitos acor-rentam as almas à rocha da inércia mental e espiritual.

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A LOGOSOFIA

UM PODEROSO RECONSTITUINTE

PSICOLÓGICO E ESPIRITUAL

O conhecimento logosófico age como tal no interior doser, ao propiciar, animar e estimular pensamentos quetransformam a vida indiferenciada e comum em vidade plenitude.

Se pensamentos de ordem corrente podem levar ohomem a realizar um estudo ou uma viagem; se essesmesmos pensamentos podem carregá-lo até um teatro,um baile, uma reunião, etc., ou impulsioná-lo aqualquer atividade sem repercussão positiva na vida deseu espírito, o pensamento logosófico, em virtude desua força construtiva, pode conduzi-lo – com sobejarazão – a assistir com verdadeiro interesse à própriatransformação. Esta se vai produzindo mediante a apli-cação desse mesmo pensamento aos movimentos inter-nos e externos da vida; isto equivale a dizer que, en-quanto se aprofunda no ensinamento e se aperfeiçoapor meio dele o mecanismo pensante, vão sendo leva-das a cabo as mais extraordinárias mudanças que o serhumano pode experimentar dentro de si.

Essa transformação se evidencia num sem-número demanifestações, que ultrapassam as possibilidades de an-tes e ampliam o campo de projeção do espírito, coisaque influi muito favoravelmente, e com fundados moti-vos, sobre o ânimo. Não sente inexprimível satisfaçãoaquele que adquire uma porção de terra para acrescen-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

tar à que já possui, sobretudo se esta é pequena? E essaampliação de seus domínios não o faz acalentar perspec-tivas econômicas maiores ou, pelo menos, um aumentode seus modestos rendimentos? Pois bem; o que nãohaverá de experimentar, então, quem amplia osdomínios de sua inteligência e acrescenta, ao que já lheé próprio, uma extensão a mais, e depois outra, e aindaoutra, permitindo a seu espírito sentir-se dono dessecampo mental em que desenvolve progressivamentesuas atividades?

Tal como as montanhas, o homem guarda dentro de siriquezas ignoradas, que haverá de descobrir e utilizar,se quiser atingir os elevados fins destinados à sua existên-cia. Sabendo que dentro dele existe esse potencial es-tático, deverá preparar-se para a tarefa de imprimir-lhemobilidade, cultivando com consciência as qualidadesde seu espírito.

O conhecimento logosófico ensina a cultivar essasqualidades, instruindo sobre o uso que delas se devefazer, para que a mente, num pleno adestramento, sub-traindo-se ao excesso das coisas triviais que envolvem avida, se beneficie com as excelências de uma atividadena qual a inteligência toma um forte impulso evolutivo. To-das as sugestões que o conhecimento logosófico desper-ta, acaso não levam a modelar aptidões que evidenciamuma real superação?

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A LOGOSOFIA

A FIRMEZA NA DETERMINAÇÃO

DE SUPERAR-SE

É norma de fundamental importância, para favorecer aação edificante do conhecimento logosófico, não des-cuidar um só instante o cultivo da vinculação intelectu-al e espiritual que se tenha conseguido estabelecer comele. Isso contribuirá para que tal vinculação se cimentesobre as sólidas bases das comprovações que, gradual epacientemente, se vão obtendo por meio de seu estudoe prática.

Respondendo à reflexão que isto poderia suscitar, dire-mos que o cultivo dessa vinculação requer – como pas-so inicial, e efetuadas as primeiras observações sobre simesmo – que seja definida a posição interna que, comperfis inequívocos, se manifestará ao exame lúcido dainteligência. Se essa posição interna mostra a firme de-terminação de realizar o processo consciente deevolução, nada mais lógico, então, que manter inalterávelessa posição, enquanto se cumprem os altos objetivosinstituídos como ideal.

Inteirado desse requisito, o ser seguramente se verá di-ante da seguinte pergunta: “Como fazer, e de que meiosdeverei me valer, para realizar o plano de evoluçãoconsciente que me propus?”

Seja-nos permitido tomar o interessado – e este, porsua vez, considere-se também assim – como uma massainforme, na qual deverá esculpir os traços preeminentes

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

da imagem arquetípica do homem. Mais adiante se en-vasará, por transubstanciação, o melhor e mais belo quenele exista, juntamente com o mais formoso e melhorque tenha ido extraindo para si da vida universal plas-mada em signos de sabedoria, por ser ela modelo in-substituível para todas as inspirações do pensamento.

Com esse fim, terá sempre presente que, desde ocomeço do trabalho, será necessário exercer um grandedomínio sobre as próprias ações, isto é, desde o princí-pio terá de lutar contra uma tendência muito comum,caracterizada pela forma sutil com que se manifesta;referimo-nos à inconsciência, essa cortina de fumaça que,por momentos, costuma obscurecer as visões mais claras, asconcepções mais puras e os pensamentos mais brilhantes.

A inconsciência não é outra coisa que o antigo hábi-to, por demais arraigado, de permitir que os fatos, ascoisas e mesmo os pensamentos flutuem sempre nasuperfície do pequeno mundo individual, sem pene-trar em seu interior e, muito menos, em suas profun-dezas, como nos casos em que a consciência atua. Éassim que, dominada a vida pela pressão de ambientescontrários ou pouco propícios às aspirações internas desuperação e aperfeiçoamento, o homem se deixa levaramiúde por pensamentos que o entretêm em coisas pue-ris, que a nada conduzem, salvo a debilitar a vontade eeclipsar a inteligência mediante a sugestão do fácil e oartifício das aparências, nos múltiplos aspectos de quese reveste.

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A LOGOSOFIA

O desconhecimento em que o homem permaneceuacerca da prerrogativa de evoluir conscientemente comque o Criador o distinguiu, foi acentuando nele umaresistência que obstinadamente abate seu ânimo, todavez que se propõe encaminhar seus esforços para aconquista de tão apreciado bem. Daí que as solicitaçõesdo espírito se vejam com freqüência postergadas. Contraessa tendência funesta que oprime a vida, sub-mergindo-a numa inércia suicida, dever-se-á lutarcom empenho e valentia, pois do triunfo surgirá aforça que haverá de impedir os esmorecimentos e asreações céticas do temperamento.

Para não sofrer os padecimentos da angústia moral, avida humana deverá ser preenchida com o bem, comesse bem imenso que se desprende generosamente davida universal, e que o conhecimento logosófico põe aoalcance do homem. Levando isso em conta, fácil seráceder às solicitações do espírito, dispondo-se com per-severança a satisfazer suas exigências. Isso significa dar àvida um conteúdo inestimável.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

BASES PARA A CAPACITAÇÃO LOGOSÓFICA

Aquele que se propõe construir um edifício necessita,para assegurar sua estabilidade e solidez, conhecer an-tes a firmeza do terreno sobre o qual levantará os alicerces,bem como a qualidade do material que empregará paralevar isso a cabo; com igual lógica podemos dizer que aobtenção de uma capacitação psicológica e mental,como a que a Logosofia demanda, deve basear-se nasolidez a toda a prova do terreno mental e no conheci-mento prévio dos elementos que haverão de integraressa capacitação.

Ao considerá-la subordinada em parte à qualidade eharmonia do conjunto das faculdades centrais domecanismo mental, é razoável pensar que se deverácomeçar por conhecer como funcionam tais faculdades,ou, melhor ainda, como haverá de funcionar o sistemamental próprio. Oportunamente, ao nos referirmos aodito sistema e à função de pensar, explicaremos o quese relaciona com esses pontos.

A Logosofia já mencionou, em mais de uma opor-tunidade, a tendência do homem para o fácil, afirman-do que a causa dessa propensão reside na falta de ca-pacidade para enfrentar as dificuldades que se apresen-tam, provenham elas de problemas, projetos, situações,etc. Isso obedece quase sempre à ausência de um treina-mento que possibilite realizar com êxito o esforço queessas dificuldades demandam; resumindo, tal inaptidãose revela pela carência dos estímulos positivos que a

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A LOGOSOFIA

própria capacidade proporciona diante de qualqueremergência.

Postas às claras as causas que dão origem a essa aversãoque o ser experimenta a tudo o que lhe exige algum es-forço – de modo particular o esforço mental –, chega-mos à conclusão de que, para emancipar-se dessa pro-pensão ao fácil, acentuadamente negativa, deve ele ca-pacitar-se, adestrar-se e criar estímulos.

Capacitar-se significa dar lugar na mente a elementosque habilitam o ser para desempenhar-se com ido-neidade e independência. O adestramento, por serum exercício da capacitação, aumenta a agilidademental, predispondo o ânimo ao feliz desenvolvi-mento da vida, a qual constitui por si uma fonte cria-dora de estímulos que movem a vontade para umaatividade fecunda, necessária em alto grau à realiza-ção, sem maiores tropeços, do processo de evoluçãoconsciente que o aperfeiçoamento integral do próprioser reclama.

Assim, pois, com o conhecimento da deficiência assi-nalada, e mantendo-a sempre à vista, afastar-se-á todaidéia de realização fácil, para encarar os estudos com se-riedade e, assim, propiciar o despertar do entusiasmo,que se manifestará tão logo o ser comece a internar-seno vasto campo da sabedoria logosófica.

Cada característica que destaquemos como particu-laridade comum deverá ser tomada, por quem se dedi-que a estes estudos, como uma alusão à psicologia

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

própria, e, dessa posição, que é a mais acertada, formu-lará as reflexões que surjam de seu enunciado.

Ansiedade indefinida significará, por exemplo, essabusca afanosa sem saber o que na verdade se quer. Existeno ser uma incitação interna que o move para a ob-tenção de algo que ele não sabe definir, e que sentecomo uma necessidade; algo que pugna por manifestar-se, mas que, não encontrando o campo mental prepara-do, permanece dentro dele como força potencial, à es-pera do elemento favorável que permita sua expansão.Esse elemento a que fazemos alusão é aquele cuja pre-sença se percebe por sinais inequívocos provocados so-bre o ânimo.

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LIÇÃO II

O Processo de EvoluçãoConscienteA grande prerrogativa humana O processo de evolução conscienteO processo interno

A GRANDE PRERROGATIVA HUMANA

Nunca existiu, até o presente, sistema ou ensinamentoque revelasse ao homem o caminho do aperfeiçoamen-to mediante a ação lúcida e continuada da consciên-cia. Pela primeira vez, pois, na história da hu-manidade, é encarada a realização do processo deevolução consciente, único meio real e seguro de tiraro homem do ostracismo mental e psicológico em quepermaneceu até aqui e elevá-lo a níveis de superaçãoextraordinários; a prova disso é que ninguém jamaismencionou tão importante assunto, nem deu notíciade progressos dessa ordem que tivessem sido alcança-dos. Aceitar-se-á, então, a afirmação de que fora da ór-bita de nossos conhecimentos não é possível levar acabo tal realização.

Como ponto inicial para a consumação de tão alto obje-tivo, a Logosofia ilustra a inteligência acerca da confor-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

mação mental-psicológica que habilita o ser humanopara satisfazer o desiderato – tantas vezes mencionadoe jamais alcançado – de conhecer-se a si mesmo. Pre-cisamente nesse conhecimento se condensa a ciência doaperfeiçoamento, desde o instante em que o homem,arrostando as partes perfectíveis do ente moral e psi-cológico que configura seu ser físico e espiritual, dis-põe-se a superá-las.

O desenvolvimento dessa possibilidade é impulsionadopela força renovadora e construtiva do método logosó-fico, no cumprimento das altas realizações conscientesque o magno processo de evolução exige.

Esse processo transforma a vida e a enriquece pro-gressivamente, até o fim dos dias, com inestimáveisconhecimentos que o espírito cultiva, ampliando seucampo de ação.

A fonte da sabedoria logosófica não está vedada a nin-guém, mas não se chega a ela senão pelo avanço gradu-al nesse processo que exige ser cumprido com toda a exa-tidão e em que o esforço é compensado com o eflúvio dasgrandes verdades que chegam até o homem na proporçãode seus merecimentos.

O fato, registrado pela história do mundo, de apare-cerem grandes espíritos – não precisamente escalandoas elevadas regiões, mas delas descendo para ajudar oavanço da humanidade – não prova uma exceção à re-gra. Basta-nos saber que o mecanismo mental-psi-

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O PROCESSO DE EVOLUÇÃO CONSCIENTE

cológico do homem, perfeito em sua concepção origi-nal, mas travado pela ignorância do respectivo donoacerca de tão admirável sistema, pode ser restituído ànormalidade de seu funcionamento e alcançar essasprerrogativas, o que se revela na dimensão das con-cepções da inteligência, na força incontível da palavra,na vastidão da sabedoria, no exemplo da própria vida.

O PROCESSO DE EVOLUÇÃO CONSCIENTE

O processo de evolução consciente se define por suaparticular característica integral. Queremos com issodizer que se desenvolve sob a fiscalização direta do enten-dimento e na plena consciência de cada um dos estados quese vão alcançando, o que significa que, em obediência a esseprocesso, o ser efetua por si mesmo as constatações de seumelhoramento, precisando com inteiro discernimento asvantagens comprovadas.

A evolução realizada através do tempo estimado para aexistência do homem – sem a verificação pessoal decada um dos movimentos que o espírito consegueefetuar com relação ao grau de conhecimento em quese encontrava ao enfrentar a vida – é monótona eenormemente demorada em seu avanço. Esta é aevolução inconsciente, que conduz os seres a um destinointranscendente.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

O processo de evolução inconsciente cessa por vontadeexpressa do próprio ser, ao começar ele o processo deevolução consciente, auspiciado, estimulado e sustenta-do pelo auxílio constante do ensinamento logosófico.

A evolução consciente implica mudar de estado, de modalidadee de caráter, conquistando qualidades superiores queculminem com a anulação das velhas tendências e como nascimento de um novo modo de ser.

O processo que a ela conduz é o caminho da supe-ração humana pelo conhecimento, que amplia a vida,alarga os horizontes e fortalece o espírito, enchendo-ode felicidade.

No percurso desse caminho, o homem deve formar-se integralmente na consciência de seu caráter mo-ral e espiritual, e o avanço ou altura que nele cheguea conquistar dependerá, em muito, do esforço e dograu que alcance na sua identificação com tão im-portante empresa.

O processo de evolução consciente obedece a um desti-no prefixado: vencer as limitações da ignorância e daimperfeição, por intermédio de uma atitude vigilante arespeito de tudo o que penetra nos domínios da consciên-cia, até abarcar, pela capacitação e pelo esforço progres-sivos, as mais apreciáveis áreas do entendimento. Emsuma, a evolução consciente só se pode verificar sobum rigoroso exame dos pensamentos e dos atos, comvistas à seleção daquilo que mais a favoreça.

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O PROCESSO DE EVOLUÇÃO CONSCIENTE

Sua realização torna imprescindível, pois, afastar cuida-dosamente tudo quanto possa afetá-la, devendo-serecorrer, pelo contrário, aos potentes estímulos que aju-dem a substanciar a vida, propiciando a cristalização daquiloque ainda permaneça em caráter de anelo. Para conseguirisso, servirá de auxílio toda manifestação interna e ex-terna que se harmonize com esse propósito1.

O pintor fixa sua mente naqueles motivos que, ao inspirá-lo, facilitam a execução de sua obra, e permanece atentoa seus detalhes para poder reproduzir nela os múltiplosaspectos que a realidade lhe oferece. Busca do mesmomodo o ambiente adequado e deixa-se absorver, enquan-to trabalha, pela corrente da inspiração que pugna por seperpetuar na obra; identifica-se, enfim, mental e espiri-tualmente com aquilo que tomou por modelo de suaideação. De maneira semelhante deverá atuar quem as-pire ao conhecimento, desde o instante em que começaseu processo de evolução consciente.

1 As manifestações internas de caráter estimulante são determinadas pela emoçõesprovenientes dos movimentos que se verificam dentro de cada um, respondendo aosesforços feitos no sentido do bem, como é igualmente o caso do entusiasmo, da dis-posição para o estudo por efeito da atividade mental consciente, dos atos da vontadetendentes a consolidar os propósitos, etc. Quanto às manifestações externas, são con-sideradas dentro desta ordem as circunstâncias ou os fatos que repercutem favoravel-mente sobre o ânimo, o resultado útil das observações sobre os semelhantes, o feliz de-senvolvimento das coisas que direta ou indiretamente se relacionam com a própriavida, etc., etc.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

O PROCESSO INTERNO

A Logosofia aplica o termo processo à vida interna,dando a entender com isso a série ininterrupta demudanças positivas que o ser experimenta dentro desi, a partir do momento em que se inicia na práticado conhecimento logosófico; são mudanças que evi-denciam os sintomas inequívocos de uma evoluçãoprogressiva que o próprio ser propicia e encaminhaconscientemente.

Esse processo se inicia em virtude de uma necessidadeinterna, de uma inquietude, de um pensamento queincita a mente e o ânimo à sua realização. Quem nãosabe que, para conhecer a fundo alguma das tantasverdades semeadas pelo mundo, é indispensávelaproximar-se dela, deixando-se atrair pela influênciaque exerce sobre o espírito? Não é um impulso ir-reprimível aquele que, firmando a vontade, se vale daspróprias forças e impele o ser rumo à verdade mesmaque ele queira conhecer? Suponhamos, por exemplo,que nos digam que, em tal ou qual ponto do país,existe um lugar extraordinariamente formoso, na con-templação do qual a alma se extasia. De mil que issoescutem, uns hoje, amanhã outros, recordando a notí-cia, serão atraídos para o local onde haverão de confir-mar o juízo que lhes fora transmitido, ou seja, irão atéali onde comprovarão a verdade encarnada no fatomesmo. Os incômodos e as dificuldades não diminuema intensidade do propósito; isso até contribui para in-

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O PROCESSO DE EVOLUÇÃO CONSCIENTE

tensificar o afã natural de levá-lo a termo. Pois o mes-mo costuma acontecer a quem, atraído pela verdadelogosófica, sente em seu interior essa necessidade, essainquietude de que falávamos; e se é viva e intensa aatração, assim será a celeridade e o interesse com quese disporá a ir em busca de sua fonte. De nossa parte,acrescentamos que tampouco neste caso deve di-minuir a intensidade do propósito e dos esforços de-mandados pela aproximação ou pela posterior vincu-lação a ela, já que desse contacto direto é muitoprovável que surjam para a vida insuspeitadas possi-bilidades de índole superior.

O processo interno rege e abarca a vida toda do ser.Partindo da realização consciente, encerra em sua totalidadeas atividades do pensamento em relação a tudo quanto digarespeito à vida em sua tríplice configuração: espiritual, psi-cológica e física.

Seu início se dá no instante em que, por própria decisão,o ser começa a experimentação logosófica e se aplica aoestudo e prática daquilo que, para tal fim, recebe denossa ciência, acelerando-se seu avanço quando, fa-miliarizado com ela, reforça seus propósitos e dedica à realiza-ção desse processo uma parte maior de tempo e de atençãoque a dispensada até então.

Entender-se-á, pois, que à primeira etapa do aprendiza-do na condução da vida interna se seguirão outras deaperfeiçoamento, nas quais o próprio processo irá propici-ando e consolidando mudanças substanciais na vida do ser.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

Geralmente, por lógico império da própria razão, édestinado ao encaminhamento do processo o melhordo entusiasmo e das energias, mas é também muitocerto que esse entusiasmo e essas energias nem sem-pre são aproveitadas em sua totalidade. Como é natu-ral, isso deve ser evitado, aumentando-se o acervo deelementos de ilustração que concorram para o bomjuízo e tornem mais eficiente e completo o adestra-mento das faculdades mentais. Isso quer dizer que talperda deve ser anulada pela reflexão compreensiva so-bre os atos internos, reduzindo-se o entusiasmo e as ener-gias às proporções exigidas pela realização logosófica, au-mentando-os depois paulatinamente, de acordo com oavanço obtido no conhecimento de novas verdades, o queinfluirá positivamente sobre os diferentes aspectos queconfiguram a vida do ser.

As primeiras realizações do processo interno se cum-prem de forma gradual e firme, como se fosse o proces-so pré-natal do ser. Tal semelhança está também deter-minada por numerosas circunstâncias, nas quais é fácilcomprovar a existência de uma nova vida, que pugna pormanifestar-se na realidade de singulares aspectos e qualidades,antes não existentes no ser.

A ação renovadora, vitalizadora e permanente dosconhecimentos logosóficos modifica substancialmenteas características que conformavam a vida anterior. Oque antes interessava, agora não interessa; o que antesnão se via, agora se vê, chamando poderosamente a

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O PROCESSO DE EVOLUÇÃO CONSCIENTE

atenção o fato de se haver permanecido indiferente oualheio a essa realidade tão próxima das possibilidadesindividuais.

Sendo, pois, o processo interno o meio natural para a re-alização consciente de uma evolução que se cumpre emvirtude dos conhecimentos transcendentes que se ad-quirem, fácil será admitir que nossos mais qualificadospensamentos deverão ser postos a serviço dessaevolução, em cuja efetiva realização a inteligência haveráde participar de forma ativa e constante, como força es-sencial que impulsiona e concretiza cada passo, cadaato, na busca da perfeição.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

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LIÇÃO III

O Sistema MentalSua estruturaAs duas mentesAção coordenada das faculdades do sistema mentalA função de pensar no processo de evolução conscienteA percepção consciente no ato de pensarGuia para o adestramento mental

ESTRUTURA DO SISTEMA MENTAL

Nossa ciência concede um maior grau de hierarquia àmente humana, ao apresentá-la numa concepção que aeleva à categoria de sistema.

Tal sistema está configurado por duas mentes: a superiore a inferior, ambas de igual constituição, mas diferentes emseu funcionamento e em suas prerrogativas.

A primeira tem possibilidades ilimitadas e está reserva-da ao espírito, que dela faz uso ao despertar a consciên-cia à realidade que a conecta ao mundo transcendenteou metafísico. O destino da segunda é atender às ne-cessidades de ordem material do ente físico ou alma, eem suas atividades pode intervir a consciência.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

As duas mentes, a superior e a inferior, têm exatamenteo mesmo mecanismo, constituído pelas faculdades depensar, de raciocinar, de julgar, de intuir, de entender,de observar, de imaginar, de recordar, de predizer, etc.,as quais são assistidas em suas atividades por outrasfaculdades que chamaremos de acessórias, e que têmpor função discernir, refletir, combinar, conceber, etc.Todas as faculdades juntas formam a inteligência. ALogosofia a chamou de faculdade máxima*, porqueabrange a todas em conjunto.

As faculdades de ambas as mentes funcionam indepen-dentemente, embora possam fazê-lo de forma combinada.

Integram também o sistema mental, na zona dimen-sional que lhes corresponde em cada mente, os pensa-mentos, entidades psicológicas animadas que cumpremum papel preponderante na vida humana

Quando o sistema mental é usado pelo ente físico oualma em atividades de natureza exclusivamente comumou material, permanece limitado ao funcionamento damente inferior; quando as atividades físicas ou comunsse enlaçam com as requeridas pela vida superior, ambasas mentes participam, ou seja, o sistema em conjunto;quando é o espírito que se vale dele, obedecendo aexigências de ordem transcendente, usa apenas a mentesuperior, mas sem privar o ente físico de usar a que correspondeao atendimento de suas necessidades comuns.

* N.T.: No original, “facultad cumbre”.

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O SISTEMA MENTAL

Salta à vista, nos dois últimos casos, a harmoniosa com-binação do sistema mental, quando o processo de seudesenvolvimento e exercício não sofre alterações nem éinterceptado por pensamentos que se opõem a seu fun-cionamento normal.

AS DUAS MENTES

Estabelecida a semelhança entre ambas as mentes noque diz respeito à sua estruturação, apontaremos demodo breve as peculiaridades que determinam seudiferente funcionamento.

A mente inferior ou comum tende em geral para o conhe-cido, para o exterior, e, salvo exceções, funciona semintervenção direta da consciência, ou só com sua par-ticipação circunstancial. Isso poderá ser mais bem com-preendido tão logo se avance no estudo dos temas queaprofundam esta matéria.

Quando a mente inferior se supera em suas funções –referimo-nos aos casos em que permanece fora dos auspí-cios do conhecimento transcendente –, pode acercar-sedos domínios da mente superior e ainda penetrar neles,em virtude da relação que existe entre ambas, participan-do em certo grau dos elementos que assistem a esta últi-ma; mas, por altos que sejam os níveis que alcance em seudesenvolvimento, suas prerrogativas são sempre limitadas.

A mente superior se organiza em função dos conheci-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

mentos transcendentes, cuja finalidade essencial é pôr ematividade a consciência. A influência desta mente sobre odestino da vida humana se faz sentir quando esses conheci-mentos começam a traduzir-se numa conduta que coincidecom as disposições de seus elevados preceitos..

A atividade criadora da mente superior se inicia com odespertar da consciência, o que significa que seu funci-onamento se acelera em razão do estímulo crescenteque a consciência, ilustrada no conhecimento, exercesobre ela.

AÇÃO COORDENADA DAS FACULDADES DO

SISTEMA MENTAL

À medida que as atividades da inteligência se orga-nizam dentro da mente inferior, respondendo às dire-trizes do método logosófico, as faculdades da mente su-perior, abandonando sua imobilidade, iniciam gradual-mente suas funções, e dessa forma as atividades de am-bas as mentes se enlaçam; queremos dizer com issoque, ao produzir-se o contacto das faculdades inferi-ores, adestradas nas disciplinas do conhecimento transcen-dente, com as faculdades superiores, ativadas peloavanço consciente, estabelece-se a coordenação harmo-niosa dos movimentos que articulam o mecanismo dasduas mentes.

A inteligência da mente comum, ao assimilar os conheci-

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O SISTEMA MENTAL

mentos logosóficos com os quais a consciência individualse vai integrando, estende os limites de suas possibilidadesaté tomar contato com a esfera da mente superior, queamplia por sua vez o volume de sua capacidade cria-dora e cognoscitiva, tanto quanto o permita a evoluçãoque o ser vá realizando.

A FUNÇÃO DE PENSAR NO PROCESSO DE

EVOLUÇÃO CONSCIENTE

A função de pensar, praticada como ensina a Logosofia,manifesta-se quando o ser, ao efetuar por força do novosaber as primeiras reflexões, percebe que nessa função,na qual começa a exercitar-se, sua vontade intelectivaatua respondendo à direção manifestamente lúcida daconsciência. Sente, ao mesmo tempo, que pensa sob osauspícios de uma nova concepção psicológica humanae observa que suas reflexões adquirem maior ampli-tude. Esta primeira confirmação da verdade que o saberlogosófico lhe anuncia, promove seu primeiro entusiasmo.

Há uma diferença fundamental entre esta nova formade exercer a função de pensar e a correntemente prati-cada. Essa diferença se apóia no fato de que, enquantoa última responde quase que exclusivamente a ne-cessidades do momento, atendendo a reclamos ouurgências de ordem material ou intranscendente, afunção de pensar, quando orientada pelo método lo-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

gosófico, obedece invariavelmente a um plano de vas-tos alcances na ordem mental, psicológica e espiritual;em outras palavras, obedece à realização do processoconsciente de evolução humana. A faculdade de pen-sar não atua aqui isoladamente; ao contrário, con-duzida pelo próprio método, conecta cada esforçoque realiza a uma perspectiva ou oportunidade media-ta ou imediata, que deverá ser preparada com anteci-pação para o seu aproveitamento.

Utilizemos, para maior ilustração, o caso similar do in-divíduo que respirou, durante toda a sua vida, sempensar nisso a não ser em circunstâncias isoladas, nasquais até se impôs a prática de algumas inspiraçõesprofundas, para levar com mais amplitude o ar a seuspulmões. Em determinado momento, decide submeter-se à direção de um especialista para poder realizar, commétodo, exercícios respiratórios convenientes à suasaúde e à sua conformação física. Até esse instante, nãohavia pensado nos benefícios de um adestramento des-sa natureza, mas, agora, ao praticá-lo visando a um re-sultado já previsto, seu pensar analisa as vantagens doprocedimento e comprova os frutos desse empenho,manifestados num maior volume torácico, numa melhorirrigação do cérebro e num enriquecimento da correntesangüínea. Sua respiração contém, pois, o impulso pro-fundo da ação mental consciente.

Pois bem; desliguemos este fato da função comparati-

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O SISTEMA MENTAL

va que acaba de cumprir, e passemos a considerá-locomo um dos tantos que se produzem na vida do sercomum, tais como são, por exemplo, os referentes aoesforço que se dedica ao cumprimento de um dever,ao cultivo de um hábito, de um estudo, de uma arte,de uma vocação, etc., etc. É indubitável que a con-seqüência da ação mental consciente fica estabeleci-da, em tais atividades ou esforços, pelo aproveita-mento das energias internas dirigidas para um fim,mas temos de ressaltar que, por positiva que sejaessa conseqüência, sempre estará circunscrita ao pla-no físico, e a ação consciente se esfumará tão logo opropósito venha a ser alcançado.

Algumas palavras mais bastarão para concretizar edefinir melhor o pensamento que nestes momentosgerou a imagem plasmada. A Logosofia estabelece quea consciência nunca deve permanecer sujeita oureduzida em seus alcances, porque o homem deve pro-jetar para um futuro de ilimitadas possibilidades o po-tencial dinâmico da consciência, por ser ela que sustém,em razão de sua essência incorruptível, a vida dohomem como principal figura da criação terrena. Issosignifica que os resultados obtidos por meio dafunção mental consciente, por bons que sejam, care-cem de virtude diante das prerrogativas que a Logoso-fia oferece, ao faltar a realização que rompe a estreitezafísica e conecta cada esforço à aspiração de alcançar oaperfeiçoamento transcendente.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

É de vastas projeções para a vida – e fala ao entendi-mento com uma eloqüência capaz de conduzir a per-cepções mais amplas – saber que a mente pode funcio-nar com uma lucidez acima da habitual; e acaso tam-bém não o é, com mais justa razão ainda, saber que,além daquilo que se pensa no momento de fazer usodessa faculdade, pode-se conhecer o que se pensaráamanhã, em virtude de uma preparação adequada damente, que o ser levará a cabo por si próprio, utilizan-do à vontade os recursos com que conta? Em outras pa-lavras, o que se pensará amanhã estará sempre relacio-nado intimamente com o que hoje se pensa, e existirátambém a certeza de que o pensar futuro será um com-plemento que vai melhorar o que a faculdade de pensarse ache atualmente elaborando.

A PERCEPÇÃO CONSCIENTE NO ATO DE

PENSAR

Tão logo concebemos a idéia de fazer uma viagem, por-ventura não nos vêm à mente os meios de que nos valere-mos para realizá-la, os recursos econômicos com quecontamos, os inconvenientes mais imediatos, as pessoasque poderiam nos acompanhar e um sem-número deimplementos relacionados com a idéia de viajar: rou-pas, malas, objetos, etc.?

Nisso não interveio, entretanto, a função de pensar; o

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O SISTEMA MENTAL

que ocorreu foi simplesmente um ato prévio a essafunção, já que os elementos que com tanta precipitaçãoacorreram à mente não poderiam ter sido elaboradospor ela, sendo, sem dúvida, conhecidos ou quiçá osmesmos que intervieram noutra oportunidade, emanáloga circunstância.

Na maioria das pessoas, este fato permanece estranho àpercepção interna, do mesmo modo que tais pessoaspermanecem estranhas às sensações de sua consciênciacom relação à função de pensar, que entra em ação,por exemplo, quando, ao tomarmos uma determi-nação, nos vemos na necessidade de amadurecer opropósito mediante o exame reflexivo de tudo o quehaverá de intervir em sua execução, buscando, entreos elementos à vista de nosso juízo, os que melhor seajustem à circunstância.

Pois bem; os movimentos mentais, seja qual for sua ín-dole, não deverão passar despercebidos àquele que segueestes estudos, que tratará de ser consciente de todaatividade que sua mente desenvolva. Quando lhe surgiro propósito de realizar algo, não deixará esse ato, queprecede à preparação de um projeto, entregue a movi-mentos involuntários, automáticos; ao contrário, pre-disporá sua mente por própria vontade e, ao selecionardepois os elementos que considere úteis ou necessáriosà finalidade que persegue, fará isso experimentando acerteza de estar assistido por sua consciência.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

GUIA PARA O ADESTRAMENTO

MENTAL

Do que dissemos se conclui que o esforço deverá seraplicado a um novo gênero de disciplina, em cujo adestra-mento serão utilizados os conhecimentos logosóficos namaior extensão possível.

Quando se queira concentrar a atenção em seu estudo,proceder-se-á de modo a eliminar da mente, durante otempo dedicado a esse trabalho, todo pensamento oupreocupação que a embargue, a fim de deixar livre o es-paço mental para o desenvolvimento das idéias.

Isto quanto ao estudo do ensinamento tendo em vis-ta a aplicação que dele se há de fazer, mas quando setratar de levá-lo à prática, a fim de que promova eoriente com eficácia o processo interno de supe-ração, será preciso conceder por mais tempo ao co-nhecimento logosófico uma autoridade que não sofradiminuição em momento algum. Isso significa que,daí por diante, ele deverá presidir todas as palavras eatos do estudante, pois só assim este conseguirátomar consciência de tudo quanto faça ou lhe ocor-ra, bem como das respectivas causas.

A prática de tais instruções deverá ser acompanhadapela observação de seus resultados, e estes, anotadoscuidadosamente para que sirvam de orientação.

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O SISTEMA MENTAL

O domínio do campo mental próprio permite que o sertranscenda sua limitação e desenvolva sua vida em planosde consciência mais elevados. Nisso se baseia o segredoda realização humana.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

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LIÇÃO IV

Os PensamentosSua natureza Como nasce um pensamento na vida mentalReprodução de pensamentos Individualização de pensamentosClassificação e seleção Disciplina mentalAspectos da organização do sistema mentalO pensamento-autoridade

OS PENSAMENTOS E SUA NATUREZA

Apesar de filósofos e sábios, tanto da Antigüidade comoda idade moderna e contemporânea, haverem exercidoa faculdade de pensar, nenhum deles jamais atribuiuvida própria aos pensamentos, nem declarou quepudessem reproduzir-se nem ter atividades dependentese independentes da vontade do homem.

A Logosofia, ao expor seus conhecimentos, apresenta oque se refere aos pensamentos como um dos mais transcen-dentes e de vital importância para o homem.

Afirma serem entidades psicológicas que se geram namente humana, na qual se desenvolvem e ainda alcançamvida própria. Ensina a conhecê-los, identificá-los, sele-cioná-los e utilizá-los com lucidez e acerto. Tais entidadespsicológicas animadas constituem forças ativas de or-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

dem construtiva a partir do instante em que ficamsubordinadas às diretrizes da inteligência, ou seja, apartir de quando são submetidas, pelo processo deevolução consciente, a uma rigorosa fiscalização, quepermite dispor delas a serviço exclusivo da inteligência.

Os pensamentos, apesar de sua imaterialidade, sãotão visíveis e tangíveis como se fossem de naturezacorpórea, já que, se é possível ver com os olhos epalpar com as mãos físicas a um ser ou objeto destaúltima manifestação, os pensamentos podem ser vis-tos com os olhos da inteligência e palpados com asmãos do entendimento, capazes de comprovar plena-mente sua realidade subjetiva.

COMO NASCE UM PENSAMENTO

NA VIDA MENTAL

Os pensamentos nascem na vida mental como frutode um anelo, uma inquietude, uma necessidade, umaaspiração, um sentimento. A faculdade de pensar temo encargo de sua elaboração e dará depois nascimentoa um pensamento que chamaremos de pensamento-propósito. Este se nutre a princípio com o elementopsicológico que lhe deu vida, ou seja, com o anelo, ainquietude, a necessidade, etc., até aparecer final-mente com um perfil psicológico que o distingue

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OS PENSAMENTOS

como descendente ou rebento daquele elemento doqual provém.

Tratando-se de propósitos edificantes, não deverá serpreocupação única da inteligência atender e nutrir essedescendente, esse rebento, e proporcionar a ele o ambientemental necessário para que não morra; mais que isso, de-verá dar-lhe condições para que possa crescer vigoroso,tomar corpo e alcançar sua finalidade.

Não são poucos os casos em que os pensamentos queassumem caráter de projetos inquietam permanente-mente o espírito, mantendo desperta a aspiração detransformá-los em realizações; não obstante, tais proje-tos nunca chegam a manifestar-se em fatos reais. Isso sedeve ao escasso vigor das energias que promovem o im-pulso, ou à incompleta formação desses pensamentos.Idênticos motivos são os que influem nas interrupçõesque se produzem, uma vez iniciado o movimento desti-nado a dar-lhes efetividade.

REPRODUÇÃO DE PENSAMENTOS

A reprodução de pensamentos na mente se realiza poruma necessidade natural e em obediência à lei de con-servação.

Suponhamos que a aspiração de cultivar uma ciência,uma arte ou uma profissão tenha chegado a concreti-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

zar-se num pensamento-propósito. Esse pensamento,para poder conservar em permanente ação o motivocentral que lhe dá alento, necessita reproduzir-se, epara tanto procriará novos pensamentos, umas vezespor próprio e espontâneo concurso, e outras pelo con-curso dos pensamentos que sustentam a ciência, a arteou a profissão escolhida.

Ao culminarem os esforços na etapa final de seu desen-volvimento, o conhecimento adquirido será o frutohereditário do pensamento-propósito que deu origemaos pensamentos-conhecimentos, dos quais a inteligência seservirá daí por diante para desenvolver suas atividadesno campo correspondente à especialidade cultivada.

O exposto será suficiente para se compreender que nãobasta criar um propósito, por ser ainda necessário dotá-lo de tudo quanto possa contribuir para seu desenvolvi-mento, até sua total execução.

A reprodução de pensamentos aumentará, assim, a ener-gia mental que a realização de uma aspiração demanda,e permitirá ao pensamento-propósito abarcar uma zona damente cada vez mais extensa.

INDIVIDUALIZAÇÃO DE PENSAMENTOS

Os pensamentos, conforme seja sua natureza, exercemfunções específicas dentro da mente. Se observarmos oque ordinariamente ali ocorre, encontraremos – além

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OS PENSAMENTOS

dos pensamentos relacionados com as tarefas de umaprofissão, seja ela qual for, e os quais denominamospensamentos-conhecimentos – aqueles outros direta-mente vinculados às necessidades da existência, casoem que tomam a forma característica das preocupaçõeseconômicas; encontraremos os que promovem inqui-etudes pelo próprio futuro ou o da família; os que incli-nam o ser às viagens, aos esportes, às diversões ou àsespeculações, e, também, os que impulsionam as açõesem benefício do próximo e da humanidade. Quando osconhecimentos transcendentes passam a participar des-sas atividades, vemos aparecer pensamentos que ele-vam e configuram a classe superior, isto é, os que dãoao homem possibilidades e vantagens que os demaispor si sós não lhe podem oferecer.

Em contraposição aos pensamentos de natureza constru-tiva, encontraremos também os negativos, ou seja,aqueles que, de forma manifesta ou encoberta, fazemincorrer em erro e, continuamente, atentam contra apaz interior e a integridade moral. Vamos nos referirapenas aos que, sob esse rótulo, aparecem em segun-do plano, como a vaidade, a intolerância, a excessivaauto-estima, o ceticismo, a negligência, etc., porque osque ocupam o primeiro – a exemplo dos de ódio,luxúria, avareza e outros, cuja audácia em muitos ca-sos chega a utilizar a vida inteira do ser para levar acabo seus fins – quase sempre sufocam no homemtoda tentativa de reforma. Tal é o caso do jogador, dobebedor e do ladrão, a cada um dos quais os respecti-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

vos pensamentos dominantes arrastam para os lugaresde suas torpes inclinações.

Estabelecido um princípio, este rege todas as com-preensões que se suscitem dentro da linha por eletraçada. Isso significa que, tomando por base as expli-cações precedentes, facilmente se poderá chegar à iden-tificação dos pensamentos próprios, devendo-se, paratanto, começar pelos que costumam preocupar a menteou atrair em maior grau a atenção da inteligência. Aprática desse exercício permitirá individualizá-los gra-dativamente, trabalho este que ajudará, ao mesmo tem-po, a fazer a seleção conveniente aos fins do melhora-mento psicológico e moral que se busca.

CLASSIFICAÇÃO E SELEÇÃO DE

PENSAMENTOS

Individualizados os pensamentos, segundo acabamosde indicar, passar-se-á a classificá-los por ordem deatividade e de contribuição. Aparecerão assim os úteis,que respondem às necessidades diárias e de cujo con-curso não se pode prescindir; os que servem aos altosobjetivos da inteligência, participando no desenvolvi-mento das preferências do espírito; os que não contri-buem praticamente com nada; os contrários a toda ten-tativa de aperfeiçoamento.

Efetuada a classificação de pensamentos que a princípio

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OS PENSAMENTOS

se consiga fazer, já não será difícil proceder à suaseleção, que se realizará de plena conformidade com ospropósitos de bem que tenham sido traçados e com aimprescindível assistência do conhecimento logosófico.

A seleção deverá ser seguida por uma superação constantede tais pensamentos, com base no estudo e nas ex-periências que surjam à medida que destes se faça usono curso do processo de evolução que se inicia. Seráfácil inferir que a seleção de pensamentos deverá ser prati-cada permanentemente, a fim de que os mais construtivosincidam mais sobre a consciência.

O exame detido e contínuo dos pensamentos, que re-comendamos praticar desde o início do labor, será maisadiante aliviado, porque a assistência do conhecimentologosófico nas atuações individuais contribuirá, paulatina-mente, para que a seleção se faça de forma espontânea.

DISCIPLINA MENTAL

Esta disciplina tem por objetivo assinalar tudo quantose relaciona com a atividade do sistema mental. Seusresultados imediatos se concretizam num aproveita-mento efetivo das energias internas, num volume cadavez mais amplo da capacidade intelectual e numa con-siderável economia de tempo, cujo valor se tornainestimável quando usado para consumar esforçadasjornadas de evolução consciente.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

Já que a disciplina mencionada abarca o sistema mentalem conjunto, é lógico que ela alcance também os pen-samentos. Por exemplo, ao atendermos somente àque-les de que em determinado momento necessitamospara esta ou aquela atividade mental, imobilizaremosos que não nos servirão para esse fim. Fica entendido,por certo, que estes terão sua vez de intervir quando,em qualquer outra atividade que a mente empreenda,se requeira sua participação. A contínua repetição detais movimentos, tendentes ao ordenamento dasfunções mentais, irá fixando nela os resultados fa-voráveis dessa disciplina.

A concentração da energia mental, no momento de sefazer uso da faculdade de pensar para levar a cabo o examede um assunto – tal como o exige, por exemplo, asolução de uma dificuldade ou o estudo de um conheci-mento –, assinala, pois, um esforço consciente determi-nado pela disciplina mental.

Quando a vida se encaminha dentro do processo deevolução consciente, essa disciplina simultaneamentese organiza, por força natural desse mesmo processo.Pode-se com facilidade deduzir que existe uma correspondên-cia direta entre o sistema mental e o processo da vida, poiseste, obedecendo ao mandado daquele, gira em torno desuas diretrizes e formaliza a disciplina, fazendo com queo sistema mental se converta em mecanismo reguladordo próprio ser.

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OS PENSAMENTOS

ASPECTOS DA ORGANIZAÇÃO DO

SISTEMA MENTAL

A mente pode criar pensamentos que permanecemdentro dela a serviço do ser. A prerrogativa de criá-los corresponde – como já dissemos – à faculdade depensar, cuja intervenção também permite discernirsituações, pronunciar juízos sensatos, analisar comacerto fatos e palavras, promover acontecimentos epropiciar toda atividade construtiva1. Mediante a referi-da faculdade, pode-se efetuar um rigoroso exame dospensamentos que habitam a mente e alcançar maior ca-pacidade na sua seleção, pois é ela que ajuda a distin-guir e rechaçar os improdutivos e indesejáveis, bemcomo a escolher os que dão seu apoio aos propósitosde superação2.

A fim de que se possa aprofundar no conhecimento dosvalores com que se conta para levar adiante o auto-aperfeiçoamento, que progredirá de acordo com a orga-nização do sistema mental próprio, daremos a seguir

1 Ao nos referirmos à função desempenhada pela faculdade de pensar em tais casos,não excluímos, como é natural, a intervenção das outras faculdades, as quais – sepa-radamente ou em conjunto, e toda vez que as circunstâncias o exigem – prestam seuconcurso, participando ora na formação, ora na seleção, ora na coordenação dos ele-mentos que dão origem à criação de um pensamento ou intervêm em seu desenvolvi-mento, seja numa investigação, num pronunciamento, etc.

2 Ver O Mecanismo da Vida Consciente, do autor.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

noções mais detalhadas sobre os pensamentos nasrespectivas classes.

Em suas atuações, o homem se conduz usando querpensamentos próprios – ou seja, elaborados ou criadospela própria mente, graças ao saber adquirido com oestudo e a experiência –, quer alheios ou provenientes deoutras mentes, os quais, impressos em livros ou periódi-cos, ou transmitidos por meio da expressão oral, sãoaceitos e usados freqüentemente como próprios.

Intervêm também nas ditas atuações os pensamentoscom vida própria, ou seja, aqueles que se movem e desen-volvem suas atividades prescindindo da intervenção damente que os abriga. Tais pensamentos, que tanto podemter-se gestado nela como proceder de outras mentes,atuam independentemente do juízo pessoal e aindachegam a exercer absoluto predomínio nas determi-nações do ser. A influência destes pensamentos sobre avontade pode chegar a ser tal, que o homem só age im-pulsionado por esses agentes estranhos à sua consciên-cia e alheios, por conseguinte, a seu conhecimento. Issoacontece quando os pensamentos que atuam no recintomental – sejam próprios ou provenham de fora – nãosão orientados e disciplinados pela inteligência, que de-verá fazê-los servir a fins úteis e louváveis.

A Logosofia estabelece que a mente pode ser capacitadapara alcançar a máxima expressão de seu conteúdoconsciente, isto é, que a influência dos pensamentos

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OS PENSAMENTOS

que costumam governá-la é suscetível de ser neutraliza-da, e até mesmo anulada, ao funcionar o sistema mental emconcordância com a ação consciente.

A intervenção da consciência no esclarecimento dasfunções que cada pensamento desempenha na mente é,pois, essencial, porque permite distinguir com toda aexatidão quais são os pensamentos produzidos pela própriamente, quais os adotados ou de procedência alheia incorpo-rados ao acervo individual, e quais os que têm vida própria,ou seja, os que atuam com autonomia ou com prescindênciada mente que os abriga. Nem seria preciso dizer que aconsciência facilita grandemente a identificação dospensamentos inúteis ou estéreis, bem como dos maus, quetêm quase sempre parte ativa em cada uma das três catego-rias citadas.

Aquele que seguir estes estudos deverá, como primeiramedida, ocupar-se destes últimos, por serem os que di-ficultam e até tornam impossível levar à realização todopropósito elevado. E será bom ter especialmente emconta que a esses pensamentos negativos deverão sersomados os alheios de igual característica, prontos apenetrar na mente a qualquer instante, por intermédiodas versões defeituosas – quando não malévolas – deconhecidos ou de estranhos. Tais pensamentos se in-troduzem na mente como se entrassem num ônibus.Situados nela, falam, persuadem, convencem e, quandojá não têm o que fazer ali, saem do veículo mental emque viajam, mas não sem antes deixar para trás um

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

sedimento cujos efeitos se fazem sentir ao menor sinalde desordem, confusão ou falta de vigilância mental.

Além disso, o ser se empenhará em distinguir, com amaior clareza possível, a diferença substancial que existeentre os pensamentos que comumente ocupam aatenção e os que provêm do conhecimento logosófico,pensamentos estes que, ao serem incorporados aopatrimônio pessoal, haverão de ocupar na mente umlugar de especial preferência.

Ao criar seus pensamentos, aquele que estuda o faráobedecendo sempre à idéia central do projeto em vista.O bom uso que faça dos pensamentos que animam osensinamentos da Logosofia lhe permitirá experimentaros benefícios da força construtiva que contêm, já queestes pensamentos, enquanto intervêm como auxiliaresda reflexão, facilitam a elaboração das compreensões,com as quais haverão de ser gestados os pensamentospróprios, que forjam as convicções do ser.

Na formação dos pensamentos que a mente vá criandoentrará a própria inspiração, sem que isso signifiqueque, para tanto, não possam prestar seu concurso ospensamentos alheios, os quais, neste caso, seriam osque provêm dos novos conhecimentos. Mas, insisti-mos, quem aprende a utilizar os conhecimentos lo-gosóficos deverá saber diferençar os pensamentos pró-prios dos alheios, porque, não fazendo isso, será levadoa confundi-los e, em alguns casos, a crer sejam todosde propriedade pessoal. A razão dessa discriminação

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OS PENSAMENTOS

reside no fato de que os pensamentos próprios devem,invariavelmente, destacar uma linha de conduta que tendaao melhoramento constante das qualidades e à maior elevaçãode propósitos.

Cada pensamento que sejamos capazes de criar deveráter um conteúdo e haverá de concorrer para os altosfins da superação individual, como também para a aju-da a ser dada nesse sentido ao semelhante.

A esta altura do labor, em que são focalizados aspectosfundamentais da psicologia humana, o estudante poderáavaliar, diante do quadro íntimo de seus pensamentos,até que grau estes dominam sua vida e em que grau éele que os governa.

Ao dissipar-se a confusão que antes nele reinava a respeitoda função de pensar, e apoiado agora num conhecimen-to maior dos pensamentos quanto a suas qualidades e àsfunções que desempenham – os próprios, os alheios e osautônomos –, poderá estabelecer sem grande esforçoqual desses fatores é o que opera nos diferentes movi-mentos e atividades de seu sistema mental, e agir deforma conseqüente, exercitando-se no manejo de suamente e no dos pensamentos que nela atuam.

A clara visão das perspectivas mentais possibilita apli-car com segurança o método logosófico e, ao mesmotempo, exercer um pleno domínio sobre os pensamen-tos. E quando toda a atividade desenvolvida consiga es-tar dentro das diretrizes conscientes do sistema mental,

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

o espírito estará seguramente preparado para internar-se no mundo mental transcendente, ao qual faremosreferência mais adiante.

O PENSAMENTO-AUTORIDADE

A vida consciente há de ser concebida como uma ne-cessidade vital do espírito, o qual, reagindo diante dodesvio, da insegurança e da desorientação em que seencontra a vida do ser que ele anima, adquire inusitadaforça de expressão ao se abrirem para este as portas deum mundo que lhe oferece a possibilidade de levar acabo realizações extraordinariamente fecundas.

Para se aproximar dessa realidade, será necessário esta-belecer na mente um pensamento com autoridade sufi-ciente para dirigir todas as atividades compreendidasna realização do plano que se pretenda seguir. O pensa-mento-autoridade será, daí em diante, o representantedireto da consciência e aquele que, encarnando as aspi-rações e decisões do ser, manterá a ordem, apesar dasargumentações da dúvida, da impaciência e da resistên-cia dos velhos hábitos, fazendo cumprir a disciplina exigi-da pelo trato contínuo com os pensamentos que,provindos das fontes do conhecimento logosófico, acor-rem em auxílio do ser. Dessa maneira, serão evitadas in-terferências incômodas e inoportunas, ou a intromissãode tendências estranhas aos altos fins da evolução.

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OS PENSAMENTOS

O homem reflexivo rara vez se deixa levar por seuspensamentos, e até nos momentos mais críticos costu-ma amparar-se na serenidade, para não atuar levadopor nenhum impulso, ou seja, sob a sugestão de pensa-mento algum ao qual não tenha concedido, por íntimarelação com ele, sua confiança e seu prévio consenti-mento em tê-lo como solução.

Na nobre luta que terá de enfrentar no campo da vidaconsciente, o ser deverá se valer ao máximo de suasforças internas; afastará assim os perigos do desânimonas freqüentes e arriscadas alternativas pelas quais haveráde passar, enquanto conquista as posições firmes que,por sua vez, darão consistência às razões em que sebaseia sua conduta e sua determinação.

O repasse consciente dos pensamentos que tomamparte nas atividades de sua mente e o exame dos re-sultados do trabalho que realiza, dar-lhe-ão a pautados adiantamentos obtidos; a partir dessa posição,caso seja vantajosa, preparará seu ânimo, como noscampos de batalha, para realizar futuros avanços emdireção a progressos cada vez maiores no caminho daevolução consciente.

Uma vez que se consiga experimentar as satisfações ín-timas produzidas pelo triunfo dos esforços feitos dentroda ordem citada, tudo começará a mudar sob o impériode concepções mais amplas, que iluminarão progressi-vamente o entendimento pelo caminho da mais bela de

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

todas as realidades: a de saber-se capaz de conhecer a simesmo e compreender a finalidade da existência.

O empenho inteligente é, em toda atuação, fator detriunfo.

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LIÇÃO V

O Sistema SensívelSua configuração A sensibilidade Os sentimentos As faculdades sensíveis

CONFIGURAÇÃO DO SISTEMA

SENSÍVEL

O sistema sensível está configurado na parte anímica doser humano e tem sua sede no coração, órgão sensívelpor excelência e centro regulador da vida psíquica dohomem.

Divide-se em dois campos ou zonas, demarcados comexatidão. Uma dessas zonas pertence à sensibilidade,integrada pelas faculdades de sentir, de querer, deamar, de sofrer, de compadecer, de agradecer, de con-sentir e de perdoar. A outra corresponde aos senti-mentos; é o espaço dimensional em que eles nascem,vivem e atuam.

Nessa segunda zona, as faculdades sensíveis geram, in-crementam e consolidam os sentimentos que, depois,presidem os atos do homem, apresentando-se como ex-pressões espontâneas da sensibilidade.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

Do que ficou dito se pode inferir que os pensamentos eos sentimentos atuam de forma alternada dentro do ser, im-pulsionando as alavancas da vontade e orientando as ações.

O conhecimento logosófico põe em atividade todas asfaculdades do sistema sensível e as habilita para cumprir,com amplitude, a função altamente construtiva a queestão destinadas.

O adestramento no uso consciente de tais faculdadescapacita o ser para dar um conteúdo superior aos senti-mentos que elas geram.

A SENSIBILIDADE

Constituída, como dissemos, pelo conjunto das faculdadesdo sistema, a sensibilidade, além de criar sentimentos e in-tervir em sua formação, é que sustenta o indivíduo em seu as-pecto anímico e dispõe das energias internas, equilibrando avida psíquica em todas as circunstâncias em que se acentuamas preocupações que, de um modo ou de outro, a afetam.

As faculdades sensíveis entram em ação em resposta àscausas que as excitam: impressões, emoções, estímulos,necessidades internas, exigências do espírito e influên-cias dos pensamentos. Tais causas comovem primeira-mente a sensibilidade, articulando-se então o funciona-mento das faculdades chamadas a intervir.

Seja qual for a faculdade que entre em ação, a sensibilidade

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O SISTEMA SENSÍVEL

como um todo parece contrair-se e concentrar-se nomotivo que a ativou. A faculdade cumpre, enquantoisso, seu trabalho peculiar, assistindo o sentimento nasdiferentes fases do processo formativo que haverá delevá-lo a alcançar existência sensível.

No curso desse processo, a inteligência, em combi-nação com o sistema sensível, vela pela qualidade epureza do sentimento que se acha em via de consumarsua formação.

OS SENTIMENTOS

São os agentes diretos da região sensível e os que esta-belecem, em definitivo, as qualidades da alma; em outraspalavras, são os agentes virtuais da sensibilidade.

Recebem o influxo vital do mundo mental, mas subor-dinados a seu sistema.

Como os pensamentos, os sentimentos requerem umaconsagração íntima por parte daquele que se dedique aseu cultivo, devendo esforçar-se por conservá-los e in-crementá-los, enobrecendo-os gradualmente.

Os sentimentos se perpetuam pelo estímulo incessante dacausa que lhes deu origem. Em virtude desse estímulo,eles se enraízam e se afirmam na alma e, ao contrário,se debilitam ou se anulam quando esse estímulo se des-vanece ou perde o influxo vital que o animava. Daí ver-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

mos tão freqüentemente o declínio de sentimentos quepareciam inalteráveis. A falta de uma coerência conscienteé quase sempre o motivo desse singular episódio davida sensível.

Sendo o homem suscetível de esquecer as causas que oinstaram a dedicar-se a eles com uma acendrada firme-za, explica-se a instabilidade de seus sentimentos, queele muda com a mesma freqüência com que muda depensamentos. Isso explica, também, por que tãoamiúde maltrata mesmo aqueles que são mais caros aseu espírito. O pesar e a contrariedade costumam ser aconseqüência de tais atitudes, quando, mais tarde,restabelecida a calma, o ser percebe o erro de não havermantido seus sentimentos resguardados das flutuaçõesmentais ou psicológicas que atentam contra a sua esta-bilidade no coração.

Ficará assim subentendido que, enquanto o ser hu-mano permaneça sujeito às variações oriundas de suaindisciplina, os esforços que isoladamente realize paraprosseguir o processo de formação consciente de umsentimento, sob as diretrizes do método logosófico, nãoconseguirão dar a ele firmeza como existência sensível,porquanto isso requer continuidade.

Temos de frisar, ainda, que o simples fato de alguémconhecer mentalmente esta concepção do sistema sen-sível não significará haver alcançado a consciência dosmovimentos que se realizam nele, nem tampouco darálugar a pensar isso a prática de uma conduta mais ou

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O SISTEMA SENSÍVEL

menos acorde com o ensinamento. Chega-se à consciên-cia dessa realidade quando se segue, passo a passo, oprocesso prescrito para a assimilação do conhecimento.Impõe-se – é óbvio – a execução de um estudo profun-do e constante dos elementos que acionam e articulamo sistema sensível, a fim de poder seguir, por meio dasmanifestações que dele procedem, cada um dos movi-mentos promovidos internamente.

O conhecimento das funções que, separadamente ouem conjunto, as faculdades sensíveis cumprem, per-mitirá experimentar uma nova e mais íntima realidadedo conteúdo interno da vida.

AS FACULDADES SENSÍVEIS

A fim de não nos afastarmos da finalidade que este livrodeve cumprir, que é a de encaminhar o estudo logosófi-co em seus trechos iniciais – de per si importantes pelareativação psicológica que promovem –, limitamo-nos aassinalar aqui, muito sumariamente, as funções queparticularizam algumas faculdades sensíveis, dentre asquais escolhemos só aquelas que, por sua denomi-nação, talvez pudessem se tornar menos acessíveisao entendimento.

Começaremos pela faculdade de sentir, cuja função guar-da uma semelhança apreciável com a desenvolvida,dentro do respectivo sistema, pela faculdade de pensar,

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

pois é ela a que promove a gestação e o nascimento dossentimentos e fortifica a sensibilidade. Quando é dirigi-da conscientemente, sustenta de forma elevada os senti-mentos, e não só faz com que eles contribuam para obem próprio, mas também os faz servir à causa do bemhumano e universal.

A faculdade de querer se distingue por sua complexi-dade. No dinamismo de sua ação intervêm, com particu-lar intensidade, as faculdades da mente e a vontade,embora sua fonte de energia esteja na própria sensibilidade.É excitada pelos estímulos internos e externos que for-mam os anelos, as aspirações, etc., e toma força em vir-tude da reiteração dos motivos que a ativam em suafunção de dar impulso e consistência ao sentimento, afim de que suporte bravamente todas as dificuldadesque se oponham à conquista de um objetivo.

A faculdade de consentir é uma das mais sutis do sistemasensível. Atua com prescindência da razão, faculdadeda inteligência que – antes de consentir ou aprovar –analisa, pesa, calcula, etc. Percebe por afinidade sensívelaté as manifestações mais imperceptíveis do amor, dasimpatia, da bondade, etc., que descobre no semelhante,e consente toda vinculação e amizade.

A faculdade de sofrer utiliza, ao atuar, as reservas inter-nas, sempre prontas para suportar a dor das desgraçasou da desventura. Quando a força moral acumuladadurante a vida é grande, a capacidade de resistência àdor é imponderável. A resignação costuma, então, com-

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O SISTEMA SENSÍVEL

pensar a falta de compreensão – caso ocorra – sobre aadversidade que oprime a vida. Mas cabe à faculdade desofrer uma possibilidade ainda maior, que é a de revelarao homem uma prerrogativa inerente à natureza huma-na, explicando-lhe em essência a reconfortante condutado espírito quando, governando este a vida1, deve fazerfrente à intensidade ou magnitude do sofrimento.

Observemos agora a faculdade de amar em duas fases dodesenvolvimento consciente de suas funções. Suponha-mos que, ao tomar contato com alguém – pode ser estequem for –, a sensibilidade seja comovida por uma sen-sação de simpatia ou atração. Quando a sensibilidadeestá assistida permanentemente pela consciência, a facul-dade de amar – movida, ao atuar, pela simpatia oupelas razões favoráveis que pudessem assisti-la – contri-bui para criar, incrementar ou perpetuar o sentimentoafetivo com que procura vincular-se ao semelhante. Se,pelo contrário, a sensação recebida pela sensibilidade éde rechaço, e essa sensação de rechaço, longe de estarjustificada por alguma razão válida, obedece a uma pre-

1 Não sendo matéria destas lições o esclarecimento deste ponto, transcrevemos oseguinte parágrafo de nosso livro O Mecanismo da Vida Consciente, considerandoque, de certo modo, proporcionamos com isso um auxílio ao leitor: “A primeiragrande verdade, o homem haverá de achá-la dentro de si; uma verdade que está repre-sentada por todas as etapas que deverá cumprir, com esforço e adestramento, atéidentificar-se com seu espírito e assegurar sua efetiva e permanente intervenção notranscendente processo que está realizando. Ao chegar a esse ponto, o espírito assumiráo governo da vida e atuará com inteira liberdade na vigília, conseguindo o ser físicotal segurança e acerto em seu pensar e em sua atuação, que lhe será evitado cair noengano ou no equívoco...”

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

disposição negativa do próprio ser, a faculdade deamar, atuando em colaboração com a inteligência e avontade, procede à elevação do sentimento, até livrá-lodessa manifestação estranha a ele, que lesa sua essência.

O conhecimento logosófico desperta e ativa – comodissemos – as faculdades do sistema sensível, medianteo processo de evolução consciente, durante o qual o serse familiariza com elas e se adestra no saudável exercí-cio do seu manejo.

Quanto maior seja a elevação moral e espiritual alcança-da, maior será também a segurança adquirida a respeitodesse manejo.

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LIÇÃO VI

O Sistema InstintivoSua definição e atividade como força energéticaAs energias do instinto a serviço do espírito

SUA DEFINIÇÃO E ATIVIDADE COMO

FORÇA ENERGÉTICA

Que mistério envolve o instinto? Já que não é um órgãonem uma célula, e não podendo ser definido como sedefine o pensamento ou o sentimento, de que se com-põe ele? Que força o move?

Vamos explicar o assunto dando apenas uma noção geraldo papel que o instinto desempenha na conformaçãopsicológica humana.

Constituído em sistema, o instinto configura uma dastrês partes em que se dividem as energias psicológicasdo indivíduo; isso quer dizer que essas energias sãoconstitutivas dos três sistemas: o mental, o sensível e oinstintivo.

Conta este sistema com as energias que o homem preci-sou utilizar em sua defesa nas primeiras idades, incita-do pelas exigências naturais da vida primitiva.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

Foi necessário o transcurso de milhares de séculos paraadaptar essa força – que no princípio o resguardou davoracidade das feras e da inclemência dos fenômenoscósmicos – aos meios menos rudes que a vida civilizadaia paulatinamente criando em torno dele. Mas, à medi-da que o rigor das primeiras épocas perdia intensidade,o homem, longe de encaminhar essas energias do instin-to na direção que seu desenvolvimento mental e espiri-tual lhe indicava, foi cedendo a seu influxo, que o inci-tava a se voltar contra tudo o que era nobre, sadio ebom contido em sua natureza. Alterado assim o proces-so que ele devia ter seguido em seu desenvolvimentointegral, o predomínio do sistema instintivo sobre osoutros sistemas, ao invés de se debilitar enquanto ohomem ia transpondo épocas e idades, acentuou pro-gressivamente seu império sobre a vontade, manifestan-do-se cada vez mais numa luta aberta contra os altosfins para os quais o ser humano foi criado.

As energias que movem este sistema sempre se opuseramàs demandas circunstanciais dos outros dois sistemas,sendo isso motivo para as grandes perturbações que naordem interna e externa o homem veio sofrendo atéaqui.

Fora da função geradora específica que o coloca aserviço da conservação do indivíduo, o instinto se carac-teriza pelas manifestações ardentes que sua atividadefunesta sempre desencadeou na natureza humana.

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O SISTEMA INSTINTIVO

Convertido em força dominante dessa mesma natureza,vem mantendo o homem escravizado, preso em sua po-derosa rede, cujos fios, se alguma vez se afrouxam, porcerto não é para lhe devolver a liberdade, mas paraoprimi-lo mais vigorosamente ainda.

Superadas as situações prementes que de início lhederam supremacia na conformação psíquica humana, osistema instintivo se define, em nossos dias, comoreações psicoemocionais de características violentas eignóbeis. O ódio, a vingança, a cobiça, a inveja, aluxúria, o ciúme, as ânsias de domínio, os desejos in-sanos, a falsidade, a maledicência e todas as formas deimpiedade humana aparecem, hoje, aguçando-se naregião instintiva do homem, transformadas em paixõesque lhe aviltam a vida, com perigo de perdê-la irreme-diavelmente.

Os comumente chamados maus sentimentos não sãotais, porque não se pode denominar sentimento o quefoi gestado pelas paixões inferiores do homem, respon-dendo, em conseqüência disso, aos impulsos desenfrea-dos de sua parte mais inculta: o instinto. São monstren-gos psicológicos malignos, a serviço da paixão que lhesdeu vida e os sustenta.

É o instinto, pois, que os fomenta, enquanto conduz ohomem pelos obscuros caminhos do mal. Dono absolu-to dos pensamentos que lhe são afins, os quais ele mes-mo perverte ou atrai para a órbita do ser, chega a debili-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

tar a tal extremo as potências do sistema mental, que oser humano se entrega indefeso à sua influência,avançando sem sentimentos e sem moral para a ruína.

Felizmente, e para honra de nosso gênero, são muitasas pessoas de bem, honradas e cultas, nas quais oequilíbrio psíquico tempera as manifestações instinti-vas, que, debilitadas ou aplacadas pela força dos senti-mentos, só chegam a se efetivar em características de-feituosas mais ou menos salientes, mais ou menos incô-modas ou torturantes, passíveis de fácil encaminha-mento sob as diretrizes do bem.

AS ENERGIAS DO INSTINTO A SERVIÇO

DO ESPÍRITO

O processo de evolução consciente, propugnado peloconhecimento logosófico, induz o ser a concentrar todaa sua atenção no ordenamento de uma nova vida, quecomeça para ele ao iniciar-se a atividade consciente dossistemas mental e sensível. Isso implica o despertarpara uma realidade não imaginada, que impele aavançar nos estudos que conduzem ao conhecimentodesse maravilhoso mecanismo do espírito, cuja investi-gação deve ser integral e conduzir às profundidadesmais recônditas da essência humana.

Entregue o ser a semelhante tarefa, o instinto cede emsua resistência, perdendo pouco a pouco sua caracterís-

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O SISTEMA INSTINTIVO

tica negativa; isso significa que a evolução consciente, aovinculá-lo aos centros superiores de energia, vai liberando-odos aspectos que o inferiorizam. Ao pôr-se em contatocom as energias mentais e sensíveis conscientementeativadas, as energias do instinto são aproveitadas comgrandes resultados no próprio aperfeiçoamento, porquecontribuem para robustecer as forças do espírito, colabo-rando na realização dos sucessivos encargos que o processode superação impõe.

A formação moral e espiritual consciente contrabalançaos impulsos passionais do instinto. Sua consolidaçãoequivale ao afastamento da nociva participação deste navida do ser.

A influência do instinto jamais pode alcançar a mentesuperior, cujo funcionamento se relaciona rigorosa-mente com a emancipação do ser em relação aos moti-vos que o impedem de elevar-se.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

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LIÇÃO VII

O Ensinamento LogosóficoSuas particularidades e atributos Seu valorDois aspectos do poder fecundante do ensinamentoRequisito para sua assimilaçãoComo adaptar a mente ao ensinamentoNorma indeclinável de conduta

PARTICULARIDADES E ATRIBUTOS

DO ENSINAMENTO

Nosso ensinamento é a expressão cabal do saber transcen-dente contido no conhecimento logosófico, cujas pro-fundas verdades ele expõe e explica com simplicidade eclareza.

Cada uma delas guarda em si um conjunto de elemen-tos que correspondem a uma finalidade específica:aproximar o conhecimento ao homem.

O ensinamento logosófico não teoriza, não argumenta, nãoformula hipótese de espécie alguma. Vai de um modo diretoà vida do homem para assisti-lo em seus múltiplos proble-mas. É medular para a razão humana.

Manifesta-se em tudo o que está expressado pela Logoso-fia, pois tudo no vocabulário desta ciência tem um con-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

teúdo ajustado estritamente aos princípios fundamentaisque a alentam e lhe infundem a força de suas incontestáveisverdades.

Atua diretamente sobre a consciência individual, con-vertendo-se numa necessidade imperiosa do espírito.

Caracteriza-se e distingue-se por levar em si a forçamodificadora dos conhecimentos que o inspiram.

Com a sua viva e penetrante ação e o poder de seusmúltiplos estímulos, tende a despertar, orientar e de-senvolver ao máximo as potências adormecidas da in-teligência.

Proporciona ao homem os elementos que ele não pos-sui ou que lhe faltam para seu aperfeiçoamento, e tem avirtude de corrigi-lo e encaminhá-lo, tal como exige oprocesso que o conduz a esse aperfeiçoamento.

Ao corrigi-lo e encaminhá-lo, debilita gradualmente aconsistência de suas deficiências e imperfeições psi-cológicas, até eliminá-las totalmente.

Cada pensamento criado pelo saber logosófico é um ensina-mento que, associado à vida, permite experimentar seusbenefícios.

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O ENSINAMENTO LOGOSÓFICO

VALOR DO ENSINAMENTO LOGOSÓFICO

Pelas profundas verdades que encerra, por sua formasingular de expressão e pela virtude de sua força as-similável, o valor do ensinamento logosófico é, em to-dos os sentidos, inestimável.

Esse valor é comprovado tão logo o ser se aprofunda noensinamento, já que, ao penetrar nele, surge à sua vistao que, no curso dos séculos, permaneceu como umanebulosa para o entendimento humano, isto é, asolução das grandes questões apresentadas à inteligên-cia, em cuja busca tiveram de se declarar impotentestodos aqueles que trataram de encontrá-la.

A sabedoria que anima o ensinamento logosófico pre-side o pensamento de todo aquele que o institui comonorte de sua vida, para quem o mundo e as coisas setornam cada vez menos incompreensíveis, ou melhor,se explicam ao seu entendimento; com isso vão sendofulminados os fantasmas da mente e, em conseqüência,eliminados os motivos que debilitam a vontade e esterilizama vida.

Ao atuar diretamente na consciência individual, o ensi-namento desperta no ser a necessidade de uma atividadeininterrupta no sentido de seu melhoramento, favore-cendo com isso a livre expressão da consciência e o de-senvolvimento amplo e regular das faculdades da in-teligência; em outras palavras, por meio dessa atividadese tende a eliminar as sombras da mente e a permitir o

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

acesso a ela dos conhecimentos que projetam claridadesobre o entendimento.

Em suma, os valores enunciados como atributo do en-sinamento logosófico se manifestam com toda a evidên-cia no fato de originarem e impulsionarem, no ser, umasérie de mudanças psicológicas de importância cres-cente, que o afastam do estado inseguro e confuso emque se encontrava antes de adotá-lo; manifestam-se igual-mente no suporte que, mediante a assistência constanteda fonte geradora de seus princípios, prestam ao desen-volvimento pleno das faculdades e das condições supe-riores da existência.

Por meio do ensinamento logosófico se reconstrói avida, devendo-se entender, porém, que isso acontece propor-cionalmente ao grau de boa vontade e de resolução com quecada um seja capaz de contribuir para tão elevado fim.

DOIS ASPECTOS DO PODER FECUNDANTE

DO ENSINAMENTO

O processo de fecundação mental promovido pelo conheci-mento logosófico apresenta, ainda em sua fase inicial,aspectos que estimulam o labor de quem estuda.

A atividade que a energia mental passa a ter, comoefeito dessa ação fecundante, é de todo evidente, cum-prindo-se com isso um dos propósitos do ensinamento,

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O ENSINAMENTO LOGOSÓFICO

que é o de estimular a função intelectual, de forma que,gradualmente, aumente a capacidade para encarar osproblemas superiores que se apresentam no vasto cam-po da ciência logosófica. Isto nos revela um importanteaspecto do processo de fecundação mental, configuradona ampliação de possibilidades que, por meio do estu-do logosófico, a inteligência experimenta, ajustando-seimediatamente, após a verificação de cada avanço, àgrata tarefa de criar para si condições mais elevadas,auspiciosas para a evolução de suas idéias.

É freqüente observar como, sob a ação fertilizante doconhecimento logosófico, as idéias ou os projetos queontem brotaram defeituosos da mente que se dedica a es-tes estudos, hoje se manifestam, ao serem novamenteelaborados, com marcante aperfeiçoamento em relaçãoaos anteriores, tanto na questão dos detalhes como em suaconcepção de conjunto. Desta maneira, ao desenvolver-sea capacidade intelectual, simultaneamente são criadas ap-tidões para encarar novas fases do conhecimento transcen-dente, até então inacessíveis à inteligência.

Tais mudanças de posição interna, conforme se com-preenderá, não se produzem de golpe, mas sim de for-ma gradual, à medida que o conhecimento logosófico éassimilado com maior consistência, numa confirmaçãodos princípios que ele sustenta. Amiúde se pensa que oensinamento atua de forma instantânea no ser e que,em conseqüência, este experimenta mudanças imedia-tas. Isso depende – como é lógico – das condições ou

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

aptidões de cada um, embora tampouco seja difícildeduzir que, ao se instituir o processo de evolução conscientepara o aperfeiçoamento do homem, foi necessário tam-bém estabelecer um tempo prudencial para sua realiza-ção, em cujo transcurso haveriam de ir ocorrendo asmudanças e as transformações que essa evolução propõecumprir. Nunca se deverá esquecer que na Criação nadafoi ou é feito bruscamente, senão por meio de um desen-volvimento gradual, tal como a natureza mostra, demonstrae seguirá demonstrando sempre.

Outro aspecto da ação estimulante do processo de fe-cundação mental é constituído pela variada série de in-dagações que aparecem na mente, aspecto este que de-fine um dos primeiros movimentos que ocorrem aocontato com o ensinamento. Tal fato poderia muitobem ser definido como o renascer da vida interna.

Na maioria dos casos, o conhecimento logosófico des-perta no ser recordações de coisas que noutra épocapreocuparam sua mente, de noções incompletas queem vão tentou ampliar, recordações que permaneciamestáticas dentro dele, por falta de estímulos que as man-tivessem ativas, ou por outras causas que talvez o próprioser não conheça. O ensinamento, atuando como fatorde reativação das energias mentais, desperta essas re-cordações, que de novo impelem a buscar a explicaçãodo que se tinha esquecido, explicação esta que agoraacorre ao entendimento, atraída pelos motivos que, reani-mados, se pronunciam em forma de perguntas. Mas,

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O ENSINAMENTO LOGOSÓFICO

mesmo que a resposta não fosse facilitada por intermé-dio desse movimento que acabamos de explicar, a in-teligência nunca insistirá em vão ao indagar à sabedorialogosófica sobre esses mesmos pontos, ou sobre quaisqueroutros de interesse para a vida.

É muito comum, por outro lado, que se queira resolvercom premência os problemas que tais indagações apre-sentam, mas, toda vez que isso acontecer, a Logosofiaconvidará o ser a realizar um minucioso e amplo estu-do, colocando-o primeiro frente a frente com a própria realidadeinterna, e, quando já esteja em pleno desenvolvimento,porá em suas mãos mentais – ou seja, nas mãos de seuentendimento – a resposta precisa.

Certamente, terá sido possível apreciar como as inda-gações intervêm em tais movimentos, atuando comoforças propulsoras da vontade.

REQUISITO PARA A ASSIMILAÇÃO

DO ENSINAMENTO

Pela índole de seu conteúdo, o ensinamento logosóficocumpre uma função eminentemente criadora, impos-sível de atribuir-lhe quando não se possui a compreen-são cabal de seus valores.

Seu objetivo não pode reduzir-se, pois, a promover naalma que raciocina um simples interesse por sua leitu-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

ra, ou um ou mais movimentos de meditação; tampoucocumprirá sua missão, caso se faça dele tão-somente obje-to de um detido estudo. O propósito do ensinamento édespertar na mente as mais sãs inquietudes a respeito dofuturo da vida e, ao mesmo tempo, servir de elementoconstrutivo em toda atividade tendente ao melhoramen-to das qualidades psíquicas e morais, bem como ao aper-feiçoamento das condições em que a inteligência se de-senvolve. Daí que cada ensinamento contenha umaquantidade de elementos que, mesmo comprimidosnuma síntese em razão de sua natureza, se abrem empródigas e eloqüentes reflexões ao entendimento que vaiem sua busca. Assemelha-se, vale a comparação, à essên-cia que se extrai das flores, a qual, ao combinar-se comos ingredientes que formam o buquê, inebria com seuperfume o gosto daqueles que costumam usá-la.

Os olhos do entendimento deverão pousar repetidamente so-bre cada ensinamento, se se quer receber o eflúvio de suaforça edificante e, com seu auxílio, substanciar pensamentos eidéias de elevada hierarquia. Isso equivale a dizer que cadaensinamento deverá ser considerado como um agenteativo, que operará no ser interno de forma permanente,sempre que a inteligência, recorrendo com freqüência aele, abra sem restrições a válvula de suas inspirações.

É precisamente no momento de aplicar o ensinamentoà vida que se experimenta sua grande força edificante,pois, ao mesmo tempo que encaminha os movimentosda mente, fertiliza o campo da compreensão, servindode orientação e de fundamento para o futuro.

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O ENSINAMENTO LOGOSÓFICO

O ensinamento logosófico é um facho cuja luminosidade ori-enta e estimula aqueles que fazem dele seu norte e seu guia.Isso explica por que sua função essencial não terminacom a simples leitura, nem com umas poucas interpre-tações. Essa função essencial prossegue indefinida-mente, como fonte que é de energia mental, que, reno-vando-se sem interrupção pela força de seu impulsocriador, brota clara e fresca para satisfazer a sede dosque nela bebem.

Tudo no ensinamento concorre para definir um rumo,para descobrir, em prol da felicidade do homem, umcaminho que há de levá-lo com absoluta segurança aoencontro dos grandes recursos que cada vida contémem reservada latência.

A perseverança e a lealdade às próprias confissões desinceridade, postas a serviço da investigação que o ensi-namento logosófico promove, são condições indispen-sáveis. Aqueles que assim procederem terão asseguradoo êxito no trabalho empreendido.

COMO ADAPTAR A MENTE AO ENSINAMENTO

O ensinamento logosófico, em virtude de sua apertadasíntese, requer uma concentração mental especial porparte de quem o estuda.

Se se tem em conta que uma coisa é o ensinamento em

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

si, e outra a interpretação que dele se deve fazer, teremosestabelecidas duas posições: a do ensinamento com respeitoao valor de seu conteúdo, e a que assinala o grau de ca-pacidade da mente para extrair esse valor.

É freqüente que, por insuficiência desse grau de ca-pacidade, sejam suscitadas divergências no princípiodos estudos, cujas causas nem sempre se percebem.Isso nada mais é que a dificuldade que a mente encon-tra para penetrar em seu conteúdo; dificuldade,

aliás,

muito compreensível, por ainda não ter sido exercitadao suficiente para captar seu alto significado.

A posição da mente que busca o ensinamento e procurainterpretá-lo nem sempre corresponde, desde o princí-pio, às condições reclamadas por sua parte viva1. Poder-se-ia, de certo modo, fazer uma comparação com a luvaou o sapato, quando dificultam a entrada da mão ou dopé, mas que, adaptados com o tempo aos respectivosmembros, permitem a um e outro sentir-se cômodosnos movimentos e ações. Isso quer dizer que, suporta-dos os primeiros desconfortos, o ser tem a compen-sação de levar consigo um elemento útil.

Algo parecido, repetimos, acontece com a mente a respeitodo ensinamento, já que, conseguida a adaptação que sesegue ao esforço mental para assimilar o conhecimentoque o anima, o ensinamento propulsiona dentro da

1 Ao dizer parte viva do ensinamento, referimo-nos à força ativa que lhe é própria.

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O ENSINAMENTO LOGOSÓFICO

mente uma atividade que a agiliza e a predispõe paraatuar com desenvoltura e acerto.

É de todo necessário que o ensinamento penetre namente sem que esta lhe oponha maior resistência. Essaresistência comumente se define pela presença de precon-ceitos ou conceitos que se contrapõem à compreensão que setrata de alcançar. Isso não quer significar que se devaprescindir do livre exame; pelo contrário, o ensinamen-to mesmo assim o exige, mas o exame deve ser – comoexpressamos – livre, quer dizer, isento de toda trava oupreconceito que impeça a razão de emitir seus ditames complena independência de juízo.

NORMA INDECLINÁVEL DE CONDUTA

Os olhos do entendimento devem estar sempre atentos atudo quanto concerne à evolução do ser. Se os olhos físi-cos se interpõem aos do entendimento, a razão se nubla,distorcem-se as coisas e surgem a confusão e o caos.

Pois bem, as leis que regem a Criação são inexoráveisem suas determinações. A sabedoria, regida por essasleis, ao ofertar-se à inteligência humana por via doconhecimento, exige também, como é natural, umaconduta de cujo cumprimento não se pode fugir.

Ao ofertar-se por essa via à inteligência humana, a sabe-doria manifesta o maior gesto de altruísmo. Em conse-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

qüência, o conhecimento não pode ser recebido egoisti-camente; não deve em absoluto servir para especulaçãopessoal, nem para outros usos indevidos.

A Logosofia previne contra a tendência comum à co-biça, nem sempre excluída das apetências negativas doser, ainda que se trate do conhecimento transcendente.Deseja-se às vezes sua posse como se desejam as jóias,para exibi-las, afagando-se com isso a vaidade pessoal.

Quando não se tem consciência do valor dos conheci-mentos obtidos e menos ainda de sua aplicação, ocorreque, depois de muito desejar sua posse, não se sabe emque utilizá-los, pondo-os de lado com indiferença. Essaatitude de manifesta incompetência predispõe a vonta-de ao ceticismo, pois uma coisa é o bem que se podealcançar mediante a posse real do conhecimento2, e ou-tra o que ficou frustrado dentro do ser como efeito desua pretensão.

O bom investigador, aquele que busca junto com oconhecimento a forma de realizar o próprio aperfeiçoa-mento, encontra em cada aquisição uma nova fontede recursos, que o conduzem a superar suas aptidõesindividuais.

O aprendido pouco ou nada poderá significar, em ter-mos de consciência, se aquele que estuda – seja, por

2 Chamamos posse real do conhecimento ao domínio consciente que dele se tenhacomo potência ativa.

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O ENSINAMENTO LOGOSÓFICO

exemplo, medicina, direito ou engenharia – não co-ordena os conhecimentos, fruto de seu estudo, servin-do-se deles para sua experiência e prática. Quandomuito, o adquirido ficará na superfície de sua personalidade,como índice de uma ilustração que não progrediu alémdas exigências universitárias.

Tratando-se do conhecimento transcendente, não seconcebe, por exigência de sua natureza, falta de lucidezsobre o uso que dele se deve fazer. É como se, depoisde trabalhar com empenho para juntar um capital, nãose soubesse então dar-lhe um emprego útil. Abundantessão os ensinamentos que ilustram sobre a aplicação doconhecimento transcendente, motivo pelo qual não serádifícil para ninguém, guiado por eles e também pre-venido por estas advertências, aprender a administrarcom acerto seu pequeno cabedal logosófico, preparan-do assim o campo das possibilidades para manejar nofuturo somas maiores.

Posse indica direito, mas ao mesmo tempo responsabilidade einiciativa; ter um bem, seja de que índole for, assim o exige.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

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LIÇÃO VIII

O Método LogosóficoSuas qualidades e alcances Estrutura e função do métodoUm aspecto de seu exercício práticoO método logosófico no conhecimento de si mesmoCampo experimental do conhecimento logosófico

SUAS QUALIDADES

E ALCANCES

O método logosófico, único em sua essência, possui aqualidade extraordinária de adaptar-se a cada mente,oferecendo-lhe a parte de conhecimento que a ca-pacidade individual pode abarcar.

O exame das aptidões e das condições de assimilaçãosão fatores que ele tem muito especialmente em conta.Sua artéria principal, a que faz palpitar o ensinamento naalma de quem aprende, é a que prescreve, como principalfunção do conhecimento que ministra, a necessidade de umafamiliarização íntima com o ensinamento, até identificar-secom ele por sua associação à vida. Consegue-se, assim,dar completa finalidade à relação estabelecida entre oensinamento logosófico e a inteligência que o recebe.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

Para maior clareza, convirá deixar estabelecido quenosso método não está contido em moldes rigorosos oudogmáticos.

Não sobrecarrega nem exige, como os métodos cor-rentes, que se preencha uma medida inflexivelmenteprefixada. Não tortura a mente com o espectro de miltemas que a memória deve por força dominar em todaa sua extensão.

É amplo em seus alcances, pois considera com profun-didade de visão cada uma das possibilidades humanasnos respectivos quadros psicológicos e mentais, e deforma individual. Caracteriza-se, desse modo, como ummétodo sui generis.

Em resumo, o método logosófico é uma fonte de dire-trizes e conselhos que cumpre, com acerto, sua funçãoem todos aqueles que o aplicam com boa disposição eespírito de estudo e superação.

ESTRUTURA E FUNÇÃO DO MÉTODO

LOGOSOFICO

O método logosófico projeta a bondade de seus resulta-dos no ser humano, mediante a ação combinada daspartes em que se divide: exposição, aplicação e aper-feiçoamento.

1) Método de exposição: Os ensinamentos que ordenam

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O MÉTODO LOGOSÓFICO

o desenvolvimento gradual dos estudos logosóficos, pordesunidos ou desconexos que possam parecer à primei-ra vista, entrelaçam e coordenam seus conteúdos com tantaexatidão, que se torna fácil, para uma mente regularmentetreinada nesse labor, descobrir o ponto de contato que umensinamento guarda com outro.

Por meio das mais variadas, sutis e singulares formasdidáticas, os ensinamentos encadeiam fragmentos deconhecimento que, com original ordenamento, seunem progressivamente até se completarem de formaperfeita na mente, tudo isso sem desgaste algum do in-telecto, que amplia o raio de sua atividade, enquanto seexercita prazerosamente na tarefa de articulá-los, com-preendendo-os. Cada um desses conhecimentos é, porsua vez, parte inseparável de outros que, em númeroinfinito, cumprem a função de ilustrar e encaminharpara o aperfeiçoamento.

Pelas causas expostas, não é tarefa fácil a sistematizaçãodo ensinamento logosófico, e, embora ao ordená-loneste livro nos tenha animado o propósito de fazê-lomais acessível aos leitores, isso não é em absoluto indis-pensável para dar maior perfeição à parte expositiva denosso método, pois a acomodação do ensinamento a umalinha ascendente de ilustração é levada a cabo dentro daprópria mente, em virtude da forma singular que ele tem dese explicar.

Prevendo as dificuldades lógicas que surgem ao seremabordados conhecimentos desta natureza, o método

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

logosófico buscou as formas e os meios mais simplespara suas figuras pedagógicas. Provido de um sem-número de elementos e propiciando o estímulo em todasas suas formas construtivas, aproxima às possibilidadesintelectuais de cada um tudo quanto é preciso para queelas se ampliem e a capacidade compreensiva cresçagradualmente de volume, até onde o permita, logica-mente, a evolução que por essa via se vá realizando.

Quando se faz do estudo logosófico um hábito, estabelece-se a familiarização com o conteúdo intrínseco do ensina-mento. Isso é o que com maior empenho se deve buscar,porquanto é aí que se descobre a essência do saber logosó-fico e, com isso, o poder de sua força fertilizante.

2) Método de aplicação: Neste sentido, o método não érígido nem mecânico, causa pela qual não promove emtodos os casos o mesmo resultado; isso significa que respei-ta o livre-arbítrio individual e, ao apoiar-se nos elemen-tos que emprega para cumprir sua função, permite acada um servir-se deles segundo as próprias aptidões ede acordo com as possibilidades de adaptar a conduta asuas diretrizes.

Leva em consideração os diferentes graus de evolução ede capacidade, e procede tendo muito em conta as cir-cunstâncias que envolvem cada psicologia. Não atuapartindo sempre dos mesmos pontos, senão de onde es-tes têm mais imediata e prática aplicação, em razão dostraços que caracterizam o indivíduo. O interessado osadota de conformidade com a interpretação que deles

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O MÉTODO LOGOSÓFICO

consiga fazer, com o grau de estimação depositado emseus valores e na medida de suas necessidades e de seuesforço.

3) Método de aperfeiçoamento: Ao avançar no trabalhoconstrutivo que haverá de fixar na consciência do sercada conhecimento que ele assimile mentalmente, ométodo completa esse trabalho, ora efetuando oportunosreajustes internos, que modificam erros que possam terficado de sua aplicação, ora concedendo a segurançaabsoluta a respeito de seus bons resultados.

Será possível apreciar a importância que nosso métodoadquire ao término das três fases correspondentes àaquisição de cada conhecimento, já que, além de atuarconstrutivamente no ser interno, confere segurançaquanto ao processo seguido, que ensina a cumprir compleno conhecimento de seu mecanismo.

Cada ensinamento logosófico é de per si parte inseparável dométodo, e todos, sem exceção, convergem para o mesmo fim:a evolução consciente do indivíduo e sua elevação até o máxi-mo de conhecimento humano na ordem transcendente. Astrês partes do método estão, por sua vez, intimamente ligadasentre si e, juntas, concorrem para a finalidade apontada.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

UM ASPECTO DO EXERCÍCIO PRÁTICO

DO MÉTODO

Se o ensinamento logosófico nos diz que para evoluirconscientemente devemos estar atentos a tudo quantopensamos e fazemos durante o dia, relacionando nossospensamentos e ações ao motivo instituído como objeti-vo da vida, deveremos exercitar de modo particular afaculdade da observação, a fim de que ela se mantenhaativa enquanto dura nossa vigília. A princípio, isso noscustará bastante, e ainda incorreremos em descuidosindesculpáveis, mas, se permanecermos atentos às indi-cações do método que estamos aprendendo a aplicar,poremos empenho em nos opor à interferência dospensamentos que nos distraem com o fim de nos im-pedir o cumprimento do propósito que tenhamos for-mulado. Essa atitude, repetida uma ou mais vezes, se-gundo sejam os casos, permitirá que observemos comose ativa o movimento defensivo da mente, e como ospensamentos que favorecem nosso trabalho acodemnum fluxo cada vez mais ágil ao nosso chamado, sendotambém de melhor qualidade. Essa será a mais seguracomprovação de que o método foi aplicado com êxito,e será, do mesmo modo, a evidência de que tivemos atodo o momento consciência de nossos pensamentos eatos; se a isso acrescentamos o fato de que nada foi cir-cunstancial, mas sim o resultado de algo realizado emobediência ao plano de evolução de nossa pessoa emsua conformação psíquica, mental e espiritual, teremosainda maiores motivos de satisfação.

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O MÉTODO LOGOSÓFICO

O MÉTODO LOGOSÓFICO NO

CONHECIMENTO DE SI MESMO

Temos dito, ao longo deste livro, que o ensinamentopropõe o conhecimento de si mesmo; assim sendo, émuito lógico que haja interesse em saber o que deve serfeito para se chegar a tão fundamental aquisição.

Nosso método aconselha, para esse fim, que se faça,tão logo seja possível, um inventário dos bens men-tais, morais e espirituais que se possuem. O exameque se leve a cabo com esse objetivo será deficiente aprincípio, e é quase certo que será preciso voltar a ele,pois se perceberá, logo após internar-se na orientaçãodo ensinamento logosófico, que nosso conceito acercadesses três pontos difere do comum, causa pela qualserá necessário, como dizíamos, um posterior pronun-ciamento.

1) Os bens mentais são os relativos ao tesouro que, emmatéria de conhecimento, tenhamos sido capazes de re-unir e utilizar com acerto, não só em proveito daprópria superação, mas também na ajuda dispensadanesse sentido aos demais.

2) Os bens morais, logosoficamente considerados, são osconstituídos pelo conceito que tenhamos formado denossa dignidade através da conduta seguida ao longoda vida; conceito que deverá refletir-se em todos os quenos conhecem e conosco se relacionam. Recomenda-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

mos sermos justos e serenos neste julgamento, a fim denão nos enganarmos com ingênuas evasivas, facilmenteatribuíveis à memória.

3) O patrimônio espiritual está representado pelos doisprimeiros, aos quais há de somar-se o conhecimentoque se tenha do próprio espírito1, pois o tratamentoque lhe tenhamos dispensado muito haverá de influirna apreciação que façamos dele como bem próprio eindividualmente alcançado.

Partindo do ensaio proposto, o método logosóficoguiará o ser para conhecer mais a fundo a própriamente na totalidade de seu complexo funcionamento.Eis o princípio do conhecimento de si mesmo; mas seránecessário ainda ir em busca de outro aspecto impor-tantíssimo dessa investigação: o conhecimento daspróprias deficiências psicológicas, que obstruem ou dificul-tam, com sua presença, a evolução consciente.

Temos, pois, que a Logosofia convida o homem a realizarum estudo pleno de sua psicologia: seu caráter, suastendências, seus pensamentos, suas qualidades, suasdeficiências e tudo quanto direta ou indiretamente en-tre no jogo de suas faculdades mentais e tenha o quever com os estados de seu espírito. Esse estudo será acredencial com que se introduzirá no interior de seuser, mas sob a condição de conduzir-se, a partir desse

1 Ver O Mecanismo da Vida Consciente e O Espírito, do autor.

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O MÉTODO LOGOSÓFICO

instante, de acordo com as normas estabelecidas pelométodo logosófico. Tais normas determinam uma linhade conduta que não deve ser alterada; daí que o conheci-mento de si mesmo requeira uma paciente e constanteobservação, enquanto são aplicados os ensinamentosque facilitam o labor discriminativo e fixam os marcosdo caminho a ser percorrido.

Nosso método consiste precisamente nisto: guiar o serpara uma nova e sólida conduta quanto ao atendimentoa si próprio. Já não se trata de investigar a psicologiados demais, posição muito cômoda, por certo. É a psi-cologia de si mesmo a matéria de estudo, e é com vistasa realizar esse estudo, sem equívocos nem omissões,que o método leva com mão segura às partes mais es-senciais desse conhecimento, para que o ser possa aliabrir a arca da investigação e extrair dela os valoresmais recônditos, mediante uma busca íntima que se es-tende ao longo de toda a vida.

Sempre se caminhou para fora; caminhemos agora paradentro. O método logosófico é a lanterna que iluminaaté mesmo as mais obscuras profundidades. Sua apli-cação pressupõe a posse dos conhecimentos que oconstituem.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

CAMPO EXPERIMENTAL DO

CONHECIMENTO LOGOSÓFICO

Nosso ensinamento tem duas fases inconfundíveis einegáveis em seus fundamentais objetivos: a teórica e aexperimental. A primeira cumpre sua função desde quecomeça o processo mental-mnemônico até o instante delevá-lo à prática. A experiência se encarrega, depois, decompletar as partes não compreendidas a fundo, alcançan-do-se assim o pleno domínio do ensinamento e, comisso, sua incorporação definitiva ao acervo pessoal.

Sendo o conhecimento logosófico algo tão real como aprópria vida, requer ele – para sua manifestação maispura e, ao mesmo tempo, para evidenciar a indiscutívelverdade que contém – um campo experimental em queaquele que se dedica a seu exercício possa comprovarseus altos méritos, sua utilidade prática e seu valor in-comparável como agente auxiliar da inteligência.

Esse campo experimental, no qual o método logosóficoassume ativa participação e prova a alta eficácia de seumecanismo, está representado por quatro espaços quese complementam entre si: o mundo interno, o mundologosófico, o mundo corrente ou circundante, e o mun-do metafísico.

1) O mundo interno, de acordo com as constatações ob-tidas pelo ser já nos começos de seu avanço nestes estu-dos, coloca-o ante uma nova realidade: conseguir

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O MÉTODO LOGOSÓFICO

conscientemente efeitos positivos em benefício de simesmo, por meio das mudanças que se vão realizandonele, graças ao novo acondicionamento mental, sensívele espiritual que define sua verdadeira e particular psi-cologia. Em tão importante espaço do campo experi-mental, a consciência registra os fatos, os pensamentos,as palavras, etc. Tudo é examinado e guardado ordenada-mente nesse arquivo histórico individual, que conserva ecustodia as intimidades da alma e permite que as referên-cias que provêm dele sejam fiéis, úteis e oportunas.

2) O mundo logosófico está constituído pelos centrosdidáticos onde nosso ensinamento é estudado a fundo,num ambiente de compreensão e de afeto que obriga ànobre reciprocidade. Nele se confrontam as verificaçõespessoais com as obtidas pelos demais, o que confereuma segurança maior sobre a aplicação dos conheci-mentos logosóficos e seus resultados, que devem ser iguaisem todos os que cumprem sua realização com o mesmograu de capacidade, de compreensão e de empenho.Por outra parte, é nele que a faculdade de observar al-cança um amplo desenvolvimento. O ser conta ali comtodos os elementos de juízo que lhe oferece cada umdaqueles que, como ele, também estudam, e com osquais compartilha suas inquietudes espirituais.

3) O mundo corrente ou circundante apresenta-se igual-mente pródigo à observação individual, embora ponhaà disposição do ser um campo muito diferente para seuexercício, já que nele a observação deverá focalizar os

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

estados psicológicos e mentais das pessoas que, den-tro desse meio, estão à sua volta ou mantêm circunstan-ciais contatos com ele. Percebe, então, como tais pes-soas se mantêm em geral imutáveis em seus cos-tumes, idéias ou crenças, sem modificação através dotempo, como que estáticas. Ali, enquanto exercita aconduta, flexibilizando-a em favor de uma melhorconvivência, analisa as vantagens das mudanças in-ternas experimentadas, estabelecendo comparaçõescom aqueles que, ao longo da vida, permanecem nomesmo lugar, tal como as árvores, que terminam suavida onde nascem.

4) O mundo metafísico compreende a parte mais for-mosa do campo experimental. Nele se completam,por assim dizer, as experiências obtidas nos demaismundos. Acha-se tão intimamente ligado ao mundointerno, que por vezes pareceria que ambos se con-fundem entre si. Isso se deve ao fato de que, nometafísico, o mental atua como principal agente detudo quanto existe. Progredindo no processo deevolução consciente, consegue-se descobrir dessaposição o mecanismo das leis universais, na relaçãoque guardam com a vida do homem. Penetrar nomundo metafísico não é fácil nem tampouco difícil.Requer tempo, paciência e saber. Com isso ficarão su-perados, passo a passo, os inconvenientes apresenta-dos pela limitação dos recursos próprios, ao se en-frentar tal missão.

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O MÉTODO LOGOSÓFICO

Em resumo, o campo experimental é constituído pelavida mesma em todos os seus aspectos, bem como portodos os ambientes que possam oferecer ao homem apossibilidade imediata de levar o conhecimento à ex-periência, pela qual se confirma sua força e solidez, ex-traindo-se dela, ao mesmo tempo, o conhecimento que,por indução do próprio ensinamento, flui no entendi-mento como elemento de inestimável utilidade paracompletar estudos e ampliar o raio de ação da in-teligência. Isso quer dizer que, pela experimentação doque se estuda e pelo estudo do que se experimenta, ficaestabelecido, num movimento recíproco, o fluxo e re-fluxo entre o sujeito e o objeto (conhecimento), até aidentificação entre ambos como efeito da soma de apre-ciáveis valores, que vão formando o patrimônio dosbens eternos.

As primeiras experiências logosóficas, simples e singe-las, surgem no ser ao se produzirem as mudanças lógi-cas promovidas pela nova atividade que ordena a vida,organizando a mente e exercendo domínio sobre ospensamentos.

A Logosofia beneficia enormemente o homem quandoele leva à realização o que o ensinamento lhe sugere ouinsinua, e é precisamente de sua prática, de sua experi-mentação, que ele há de extrair o fruto dos esforços nocampo mental, como sucede nos aspectos comuns davida, ao se recolher da experiência aquilo que a teorianão pôde fornecer.

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

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LIÇÃO IX

Diretrizes que ajudam noaperfeiçoamentoindividualA condução consciente da vida Defesas para a menteA pergunta, fator de indagação A dieta mentalTrabalho de interpretação do ensinamentoAs diretrizes do conhecimento transcendente não devem ser alteradasO ambiente no desenvolvimento da vida internaA edificação do permanente no homem O valor do tempoA paciência ativa e conscienteO afeto, princípio fixador das relações humanas

A CONDUÇÃO CONSCIENTE DA VIDA

O processo individual de aperfeiçoamento, sobre cujodesenvolvimento no ser interno viemos informando, re-aliza-se em virtude da evolução que o conhecimentologosófico propugna. Esse processo requer sejam tidosmuito em conta todos os fatos e circunstâncias que comele se relacionam, já que é essencial favorecê-lo,analisando com plena consciência a importância e osignificado de tudo quanto se promova no seu percur-so. Tal análise, realizada serenamente, permite chegar aconclusões terminantes, que se traduzem em conheci-

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mentos de um valor imponderável, porquanto servirãode auxiliares em atuações posteriores, cada vez maiscomplicadas e difíceis, mas sempre relacionadas com aprópria capacidade, aumentada pelo adestramento epela perseverança.

A prática da referida conduta permite apreciar o con-traste que surge entre ela e o que ocorria antes de ini-ciar-se o processo de evolução consciente, quando avida não tinha outro conteúdo além do propiciado pelareflexão corrente, e não podia desenvolver-se senão àmercê das eventualidades que continuamente nelaocorrem. A maioria das circunstâncias passam ali des-percebidas ao entendimento, e as experiências quedelas surgem, mesmo quando vividas com intensidade,possuem um valor insignificante, relativo ou nulo, aonão se aplicar a regra analítica que a Logosofia oferece,com a qual se pode seguir o fio delas sem perdê-lo eminstante algum. Ao faltar a observação, as experiênciaspassam sem que seja possível extrair seu valor in-trínseco e, portanto, sem obter as conseqüências úteisdessas fases que aparecem e se sucedem ininterrupta-mente no curso da existência do homem.

A condução consciente da vida, através das dificuldadesde toda ordem que o amplo campo experimental domundo oferece, exige a intervenção permanente e conscientedo próprio juízo. O conhecimento logosófico, ao expli-car as razões dos fatos e das situações que ali se apre-sentam, permite evitar tais dificuldades com toda a

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eficácia e, ainda, dominar muitas das circunstânciasque com freqüência tendem a anular a vontade do ser.Há ocasiões em que o caminho é obstruído por incon-venientes que é preciso saber eliminar a tempo. Umfato simples e corriqueiro poderá nos servir para definiruma das tantas condutas que podem neutralizar tais in-convenientes: se uma copiosa chuva inunda a estradapela qual avançamos conduzindo nosso veículo, issonão significará que tenha fracassado em definitivo opropósito de chegar a determinado lugar; quandomuito, poderá tratar-se de um atraso. Provaremos, en-tão, os meios a nosso alcance para sair da emergência,um dos quais seria comunicarmo-nos com quem nospudesse auxiliar, visto que não haverá de ser difícil queocorra o que tantas vezes ocorre, isto é, que outros nosajudem a atravessar a zona inundada, até chegarmos aoponto de onde prosseguiremos a marcha por meiospróprios. Pois bem, é similar o que acontece freqüente-mente na rota dos estudos superiores: nela não faltamos “temporais” do ceticismo ou do esmorecimentomental, os quais, inundando de desânimo a existência,detêm o ser, às vezes sem que ele atine a pensar quepoderia também recorrer a outros que, estando emmelhores condições, o ajudariam a ultrapassar o mo-mento difícil.

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DEFESAS PARA A MENTE

O método logosófico recomenda alistar na mente umnúmero sempre crescente de pensamentos, constituin-do-os em pensamentos-soldados, a cargo dos quais es-tará a defesa dela. Como nas instituições militares, taispensamentos pertencerão a diversos regimentos. Se exer-cessem em sua totalidade a mesma atividade, ou se suaespecialidade abarcasse só um aspecto do conhecimen-to, os outros pontos da fortaleza mental ficariam vul-neráveis a qualquer ataque.

As deficiências que comumente são observadas no as-pirante ao conhecimento se devem à ausência desseexército de pensamentos-soldados, o qual, ainda quefosse pequeno e não organizado como corresponde, po-deria não obstante entrar eficazmente em ação, bastan-do que estivesse adestrado no cumprimento dasprimeiras disciplinas.

O estudante deverá, pois, reunir um grande número depensamentos, disciplinando-os e adestrando-os segundoconvenha à organização defensiva de sua mente. Destemodo, nunca lhe faltarão as reservas mentais, queacudirão com presteza em sua ajuda nos casos depremência, para impedir a invasão de pensamentos es-tranhos a seus propósitos e perturbadores da paz e daharmonia internas.

É muito importante chegar a ser dono de si mesmo,contar com forças mentais suficientes para rechaçar

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tudo quanto pretenda criar obstáculos ao livre movi-mento da vontade. Eis o ser dominando a vida própriae fazendo com que sua existência seja regida por leisque lhe sejam benignas; não cruéis, como seguiriamsendo se os pensamentos, mesmo estando impregnadosdo espírito da verdade logosófica, deixassem a menteexposta a todas as contingências, por carecerem da dis-ciplina e do treinamento que tanto facilitam o governosobre eles.

A PERGUNTA, FATOR DE INDAGAÇÃO

O método logosófico prescreve que as perguntas for-muladas pelo estudante àqueles que o assessoram emseu labor, devem responder a uma necessidade inquisi-tiva de seu ser interno. Isso significa que tais perguntasnão poderão responder a uma simples curiosidade,nem ser feitas a esmo – sem pensar –, nem tampoucocom o objetivo de evitar o esforço de encontrar cadaum por si a resposta, atitude esta que por certo não aju-da a alcançar uma melhor compreensão.

É tendência comum preferir a ociosidade mental ao tra-balho sincero de investigação; isso é, justamente, o quenos move a ressaltar o valor e o mérito que a perguntaassume quando, comprovada a impossibilidade de re-solver uma incógnita ou de penetrar num conhecimen-to cujo conteúdo ou significado nos preocupe, subsisteainda o afã de consegui-lo.

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Que mérito teria para quem investiga achar as respostasprecisas, se nisso não interveio seu juízo ou seu dis-cernimento? Nenhum, na verdade. Seria estéril semearem terra não cultivada, mas não assim em terra tra-balhada e preparada convenientemente para receber asemente que, em forma de resposta, germinará vigorosae louçã no entendimento.

Daí que recomendemos ao estudante parar, antes deemitir uma pergunta, para fazer a si mesmo a seguinteconsulta: “Já fiz alguma coisa para encontrar o que bus-co? Que passos dei nesse sentido? Procurei por própriaconta onde penso que poderia achar a solução?” Se oesforço aqui sugerido pela reflexão se mostrasse in-frutífero, então teria chegado o momento de pedir oauxílio de uma mente mais apta.

Aquele que, após reunir todo elemento logosófico quetenha a seu alcance, se dedica a estudá-lo detidamentee com seriedade, comprova amiúde, nos casos em quenão encontra as respostas satisfatórias, como sua constân-cia não tarda em colocá-lo diante de elementos de juízoque solucionam suas indagações. Recolhe, assim, frutosapreciáveis que, por seu turno, o orientam em buscasmaiores ou de mais vastas proporções, já que, ao se fa-miliarizar com o estudo logosófico, cada um dos ensi-namentos – pelo fato de estarem todos eles intimamenteligados ou irmanados – faz perceber a presença imediatade outros conhecimentos afins, prontos a desdobrar-se deseu conteúdo.

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Ao evoluir conscientemente, o ser experimenta aimanência da verdade que o ilumina, e suas ne-cessidades de saber se ajustam ao esforço que realizapara obter a luz do conhecimento. O esforço é aquia expressão da vontade que derruba obstáculos e per-mite que sejam alcançados os objetivos do saber a quese aspira.

Por último, devemos expressar que, diante do enormecaudal de ensinamentos que fluem do conhecimentologosófico, seria uma ingenuidade buscar em outrasfontes resposta às indagações que o próprio estudo sugere,pois nada fora desses ensinamentos tem algo a ver como propósito-raiz que – ao contato com o que eles ex-pressam – atrai o ser, que é o de constituir-se em operárioinfatigável do próprio destino.

A DIETA MENTAL

Todo novo conhecimento que nos proponhamos ad-quirir deve penetrar na mente, na qual sua assimilaçãohaverá de se verificar; é lógico, pois, que esta deva sermotivo de preocupação. Pelas razões expostas em pági-nas anteriores, há de se tornar compreensível para oestudante o fato de que, em se tratando de um conheci-mento como o logosófico, a mente deva, com maiorrazão ainda, constituir-se em objeto de cuidadosaatenção. Este é um requisito imposto por nosso

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método, já prevendo os inconvenientes que apontamosmais adiante.

É muito comum que as pessoas, ao entrar em contatocom o conhecimento logosófico, o relacionem com oque sabem acerca da ciência oficial ou das correntesfilosóficas que estiveram ou estão atualmente em voga.Já deixamos claro que consideramos errônea essaposição intelectual, estando aí a causa de prevenirmossobre suas inconveniências.

Isso não significa que nos oponhamos a que se faça umexame exaustivo de seus conteúdos, caso se queira; masfazemos notar que aquilo que o ensinamento logosóficoleva a examinar por dentro, jamais poderá ser vistonem apreciado por fora. Nem é preciso dizer, então,que, sem haver conseguido isso, dificilmente poderãoser feitas comparações ou confrontos.

Pelo próprio fato de se tratar de conhecimentos inteira-mente novos, compreender-se-á que não podem terpontos de referência com nada conhecido; constituemuma família de pensamentos de natureza tão particular,que será muito difícil, se não impossível, fazê-los as-sumir parentesco com os demais. Os pontos de referên-cia mencionados, cada um deverá buscá-los, pelo con-trário, dentro de si mesmo, ali onde o conhecimento logosó-fico se liga às potências estáticas do ser, que esperam essecontato para se manifestarem em gradual progressão comoforças construtivas.

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Eis as razões por que aconselhamos ao estudante umadieta mental, a ser aplicada a si próprio durante operíodo inicial de sua aproximação à fonte logosófica;dieta que consiste em não ocupar a mente com a leiturade obras filosóficas, psicológicas ou teológicas. Tal leituradificulta o livre acesso das verdades logosóficas aosdomínios da inteligência, e ainda é provável que pro-mova confusão, cuja dissipação requererá muito em-penho e não menos paciência. Tempo teve cada umpara conhecer tudo quanto já se disse sobre o homem,sua psicologia, seu destino, etc.; é, pois, chegada a horade não perdê-lo mais – é este o nosso conselho –, e simde aproveitá-lo para encarar o maior e mais completode todos os estudos, especialmente na esfera do conheci-mento de si mesmo e do mundo transcendente.

A dieta mental alcança também os pensamentos que hátempos figuram como senhores da mente, ou gozam,pelo menos, do privilégio de serem tidos em conta nomomento de se dispor o ânimo para a realização do es-forço que ativa a faculdade de pensar. Recomendamos,muito especialmente, cuidar para que tais pensamentosnão invadam a ampla zona mental em que se realizará oprocesso de evolução consciente, processo que é, tam-bém, o da renovação da vida. Com isso, ressaltamos aconveniência de manter afastado todo pensamento ouidéia que não concorra para facilitar a tarefa de familiariza-ção com os conhecimentos logosóficos da primeira eta-pa do processo, já que estes haverão de ser os elemen-

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tos que cada um deverá usar para abrir as portas de seumundo interno.

Como é de supor, a dieta mental não inclui a leitura dejornais, revistas ou qualquer outra publicação destinadaa distrair nos momentos de lazer que cada um queira seproporcionar. E com base nisso vem muito a propósitoa seguinte advertência, embora nos afaste um pouco dotema tratado:

O descanso mental implica uma folga dos pensamen-tos, e é algo que deve ser propiciado, porém de formaadequada, já que, quando os pensamentos têm de exer-cer a função que lhes foi designada, sobretudo se essafunção requer o máximo de esforço, seria descabidopermitir-lhes distrações, porquanto isso poderia acar-retar desagradáveis conseqüências, perdas de tempo oulamentáveis fracassos.

TRABALHO DE INTERPRETAÇÃO

DO ENSINAMENTO

Para que nosso ensinamento proporcione ao estudantemaior utilidade e benefício, aconselhamos recorrer aoconstrutivo trabalho de interpretação por escrito.

Uma das inquestionáveis vantagens desse trabalho é ade deixar registrados no papel, com as datas correspon-dentes, os resultados colhidos, o que permitirá maisadiante o cotejo dos primeiros trabalhos com os efetua-

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dos posteriormente sobre os mesmos temas, fazendo-seassim a verificação dos progressos obtidos na investi-gação e na evolução do pensamento. Em outras pala-vras, os trabalhos escritos constituem, para quem os re-aliza, a memória do desenvolvimento de seus estudos ede sua compreensão; é um testemunho escrito que per-mite comprovar os próprios adiantamentos e prepara oprograma das atividades futuras. Estes poderão ser con-siderados como uma espécie de prólogo, ao qual seseguirão estudos realizados cada vez mais a fundo, que,ao apresentarem aspectos mais sugestivos e interes-santes do ensinamento, convidam a internar em suaspartes mais profundas, estendendo assim uma ponte deunião entre a mente e o conhecimento. Ao lado disso,tais escritos põem à nossa disposição, para que os revi-vamos na memória sempre que o quisermos, qualquerum dos pontos abordados, evitando com isso que o es-quecimento prejudique o normal desenvolvimento dasatividades da inteligência.

Cada tema escolhido deverá ser examinado exercendo-se uma prática constante da reflexão; isso irá dandomaior suficiência à mente para aprofundar os conteú-dos logosóficos.

Os trabalhos de interpretação por escrito suscitam – eos casos não são poucos – resistências à sua realização;aquele que estuda nem sempre se acha disposto atomar da pena e conduzi-la pela área branca do papel,pois a pouca familiaridade com os conceitos logosófi-cos, por um lado, e a falta de adestramento nesse trabalho,

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por outro, obrigam com freqüência a detê-la, seja para retifi-car a idéia em si que se quis expressar, seja para corrigir oque se expôs de modo deformado ou incompleto.

Esse fato, entretanto, longe de constituir um obstáculo,deve levar à meditação sobre a necessidade de aper-feiçoar o processo que vai desde a gestação da idéia oupensamento até sua manifestação escrita. Ao refletir so-bre isso, ter-se-á também em conta que tais imper-feições só foram percebidas ao virem os pensamentos àluz, o que significa que, enquanto permaneciam namente, sem se manifestar, tais imperfeições se oculta-vam ou se mantinham dissimuladas por um ou outrodos tantos recursos que a inteligência tem sempre à suadisposição para combinar imagens de uso próprio.

E será bom considerar, por outra parte, que, se o própriojuízo não se viu satisfeito ao apreciar o resultado do tra-balho, o juízo dos demais, mesmo sem ser mais exi-gente, adotará, caso intervenha, a mesma atitude, todavez que o escrito não tenha sido melhorado de modo aoferecer uma imagem acabada e clara do pensamento.É, pois, indubitável que, ao avaliar os valores do trabalhode interpretação por escrito, será preciso considerar aimportância de seu aperfeiçoamento, não só ante opróprio juízo, mas também ante o juízo alheio.

Compreendido o conceito logosófico ou o ensinamen-to, na medida permitida a cada um segundo suas ap-tidões, será ele levado à prática. Dessa forma se propi-ciará a experiência, que completará ou retificará a com-

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preensão obtida, porquanto o observador inteligentepoderá perceber a série de detalhes que lhe passarampor alto no estudo teórico. De tais experiências semprehaverão de surgir conclusões úteis, que por sua vezcontribuirão para aumentar o valor do que foi com-preendido, seja confirmando-o ou robustecendo-o, sejacorrigindo aquilo que tivesse significado uma errôneaou deficiente interpretação do ensinamento.

Tendo em vista que quem se propõe evoluir consciente-mente deve realizar uma ampla e continuada investi-gação sobre si próprio, é lógico que deva documentar,para posterior recordação e análise, tudo quanto vá acon-tecendo em seu interior, isto é, mudanças evolutivas fa-voráveis, progressos na compreensão do que se propõerealizar, verificação dos avanços conquistados em cadauma das etapas de seu aperfeiçoamento, etc., etc. Comoo ensinamento logosófico conduz ao estudo de si mes-mo, deverá ficar compreendido que do trabalho interpre-tativo que dele se faça haverá de formar parte, inegavel-mente, esse afazer interno que se realiza enquanto sãoabsorvidas porções maiores de conhecimento.

A Logosofia sempre preveniu contra a tendência especu-lativa, geralmente pronunciada no tipo psicológico decaracterística intelectual, que não incorpora os conheci-mentos transcendentes como elementos destinados ex-clusivamente ao ser interno. Teoriza com eles, buscan-do imediato benefício, ou, ao fazê-lo, os associa ao quejá possui, tão-somente para aumentar sua erudição. Em

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tais casos não se produz, pois, a integração dos conheci-mentos logosóficos ao seio da vida e, portanto, aevolução consciente não pode prosperar, detendo-se alionde começou a especulação.

O estudo do ensinamento logosófico deve ser intensivoe profundo, pois abarca o conhecimento da vidaprópria, ou seja, o conhecimento de si mesmo, do qualse parte para o conhecimento do mundo transcendente,ambos estreitamente vinculados.

Já advertimos que ninguém poderá fazer um trabalhosério sobre nosso ensinamento, nem servir-se dele comeficácia, mediante sua simples leitura, porque os ele-mentos ativos e singularmente fecundos que o integramescaparão a toda perspicácia.

Assinalamos, além disso, que o trabalho de interpre-tação do ensinamento logosófico não deve ser aprecia-do só do ponto de vista do adestramento mental; essetrabalho deve demonstrar que se penetrou no conjuntode suas qualidades essenciais. A compreensão dele obti-da, para considerar-se tal, há de estar revestida de umverdadeiro caráter assimilativo; em termos mais claros,o referido trabalho, ao exercitar a função de pensar deacordo com o método logosófico, deve dar por resulta-do o domínio técnico na aplicação de nossos conheci-mentos à vida.

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AS DIRETRIZES DO CONHECIMENTO

TRANSCENDENTE NÃO DEVEM SER

ALTERADAS

As dificuldades que aparecem no curso do processo deevolução consciente obedecem, exclusivamente, a defi-ciências no modo de encarar os estudos, pois não selhes proporciona o auspício necessário para que pos-sam realizar sua elevada missão. Em geral, tais dificul-dades sobrevêm por inexperiência ou por descuido naobservância da fórmula logosófica para o aperfeiçoa-mento individual. Misturam-se os novos conceitos comoutros que lhes são estranhos; desviam-se inconscientementeos propósitos para outros objetivos; deixam-se as atuações àmercê da influência de hábitos, tendências ou modalidadesainda não modificadas; etc.; etc.

Sobre esse particular, convirá seguir rigorosamente atécnica usada nos laboratórios: quando são associados ecombinados, de acordo com uma fórmula, os elemen-tos que a integram e que especificam seu uso, essa fór-mula é seguida ao pé da letra, sem introduzir em suacomposição nada que possa alterá-la. Disso se deduziráque, para realizar a fórmula do aperfeiçoamento individu-al, devem ser buscados os elementos que determinem suavirtude, a fim de que, combinados no exercício diário, sir-vam com eficácia ao propósito.

Comprovada a bondade da fórmula, tudo consistirá emnão alterá-la, caso se queira evitar resultados adversos.

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Assim, por exemplo, conhecidos os elementos que a in-tegram, vigiar-se-á, no caso de ser sentido, o irresistívelimpulso de introduzir melhoras nela, modificando-a aobel-prazer, já que, se isso ocorrer, será fácil prever asinevitáveis conseqüências.

É imperioso saber que, se são misturados elementos in-compatíveis com a fórmula interna, ocorrerão pertur-bações, serão criados conflitos, energias se perderão, e oaspirante ao conhecimento, mesmo que trabalhe a vidainteira, não conseguirá absolutamente nada.

O AMBIENTE NO DESENVOLVIMENTO

DA VIDA INTERNA

O ensinamento logosófico recomenda, com insistência,cercar-se de pensamentos que apóiem a determinaçãode superar-se. Pois bem; se o ser, descuidando dessepropósito, ao começar o dia se levanta com pensamen-tos contrários a ele, esses pensamentos o levarão a outrosfins, caso nada faça para impedi-lo. Atraído por eles,preso à sua influência, seguramente se desviará paraambientes hostis àqueles que haverão de facilitar o tra-balho fertilizante e ativador do ensinamento. Isso lhecriará, por seu turno, conflitos internos, alterações, lu-tas mentais; em poucas palavras, perderá o tempo, e aprodução de sua inteligência diminuirá sensivelmente.

Seguindo o que a Logosofia aconselha para alcançar o

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auto-aperfeiçoamento, deverá ser criado um clima fa-vorável aos altos propósitos concebidos intimamente, oque significa ser necessário evitar o contato com ambi-entes distintos ou opostos a essa atitude. Isso é muitocompreensível, pois os pensamentos que o ensinamen-to logosófico prodigamente oferece sofrem se tais inter-posições se produzem, e podem até se ver obrigados arecuar ante o avanço dos que não lhes são afins. Entãoo ser entenderá que – depois de um trabalho profundo,no qual se instrua sobre a forma de guiar a vida para arealização de uma evolução verdadeiramente consciente,cujo objetivo imediato, pela própria essência dos ele-mentos que vão fazer parte dela, é a criação de umanova individualidade –, será preciso velar pela ma-nutenção desse estado interno. Se assim não for feito,tal estado mudará, ao ficar sob o predomínio de pensa-mentos adversos, já que no meio mental, bruscamentealterado, surgirá a confusão e o desânimo.

A própria natureza nos adverte de que cada existêncianecessita do ambiente favorável ao seu desenvolvimen-to; do contrário, essa existência se debilita, se distorceou deforma. Tomando, pois, a natureza por guia, culti-var-se-á o campo interno, proporcionando-lhe um am-biente adequado, como é o caso do próprio lar, e tam-bém de todo lugar grato ao espírito, sem omitir a ocu-pação diária, que haverá de ser convertida gradual-mente, como todas as demais coisas, em campo propí-cio à observação e à experiência. Se, por exemplo, sevai a um restaurante, caberá ali a reflexão sobre um en-

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sinamento, ou um comentário a seu respeito, ou entãoa análise de tal ou qual fato vinculado a um ou outroqualquer, sem prejuízo de tentar a solução de algumproblema de ordem econômica, moral, social, etc.

Um ensinamento antiqüíssimo diz que, enquanto o serinteligente ama o corpo por sua beleza física, o corpo,por instinto, admira e ama seu ser inteligente. Disso sepode concluir que é necessário cuidar do ser físico, masnão com tanto carinho e mimo a ponto de fazer comque o espírito se ressinta.

O exposto permitirá, sem dúvida, formar uma idéia exa-ta do que corresponde realizar na vida, de acordo como ideal logosófico. Ser circunspecto e, acima de tudo,manter o ambiente que há de favorecer aquilo que o espíritotanto busca e que, em íntimas reflexões, a consciência nostenha confiado.

A EDIFICAÇÃO DO PERMANENTE NO HOMEM

Um dos traços defeituosos que mais custa eliminar da psi-cologia humana é a propensão ao superficial, por serdaqueles que maior resistência opõem ao trabalho de re-construção interna. Disso se pode deduzir como é grandea predisposição humana ao engano, ao ilusório, ao irreal.

A parte instável que o ser carrega consigo impede a pre-sença nele das coisas estáveis. Com facilidade muitas

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vezes extrema, admite o enganoso, oferecendo, ao con-trário, firme oposição ao verídico, quase sempre pelofato de este não conter a sedução daquilo que estárevestido com o colorido do aparente.

O conflito que isso cria no ser nasce da oposição deduas tendências naturais: a que impele a descobrir averdade e a que dificulta esse propósito. Da luta entreessas duas tendências deve surgir, porém, o critério de-finitivo que, uma vez adotado, evitará que o dito confli-to se apresente com perspectiva de não se resolver.

A Logosofia traz como mensagem universal a edificaçãodo permanente no homem; mensagem formada em suatotalidade pelas concepções do saber real, que se mani-festa ao entendimento em palavras de verdade, cria-doras, que não podem atuar na mente como as fasci-nantes palavras do engano.

Quando não se sente dentro de si, profundamente, aimanência do conhecimento transcendente, não sepode experimentar a sensação de possuí-lo; quandoesse conhecimento não consegue iluminar de formapermanente o cenário da razão individual, sua luz seapaga e desaparece na penumbra do esquecimento,como desaparece um fugaz raio de luz depois de nosiluminar por um instante.

Pois bem; se o ser, seguindo o impulso instintivo emsuas andanças em busca das luzes falazes da irrealidade,ocupa-se de mil coisas pueris, e não de alcançar um

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firme e conseqüente desenvolvimento de suas facul-dades; se distrai a atenção com o superficial, quandomais aguçada e consciente devia ser a observação sobresi mesmo, como poderá se conduzir com segurança,sem tropeços e sem demora, por essa senda de verdadena qual se comprova a realidade dos passos através daevolução que aperfeiçoa?

As imagens apresentadas pela Logosofia têm a propriedadede enlaçar tudo de positivo com esse princípio ativo cha-mado consciência, que vibra no mais fundo do ser hu-mano. É o conhecimento, pois, o que permite ao homemavançar sem extravios pelos caminhos da existência.

Cada conhecimento logosófico é um veículo seguro paraviajar sem entorpecimentos pela rota aberta às possibilidadesdo homem; um veículo que ele deverá ir utilizando demaneira oportuna, enquanto procura avançar em direçãoà meta que é seu propósito alcançar.

O conhecimento superior ou transcendente põe fim atodas as inquietudes e também satisfaz a todas as aspi-rações da alma. Daí que tanto recomendemos evitartranstornos ou interrupções ali onde começa a aurorada expansão espiritual, precedendo a claridade que aCriação projeta sobre o entendimento humano, per-mitindo-lhe contemplar uma visão que jamais se apa-gará através dos séculos.

Toda interrupção altera e até pode malograr os propósi-tos que surgem da inspiração íntima que impulsiona

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DIRETRIZES QUE AJUDAM NO APERFEIÇOAMENTO INDIVIDUAL

rumo a um alto objetivo; toda interrupção equivale aum retrocesso, a um desgaste de energias, e pode che-gar a significar a postergação indefinida de toda opor-tunidade no caminho do aperfeiçoamento.

A constância no empenho é, pelo contrário, a força quevarre as dificuldades e tudo quanto se oponha à vontade.

Para triunfar é necessário vencer, para vencer énecessário lutar, para lutar é necessário estar preparado,para estar preparado é necessário prover-se de umagrande inteireza de ânimo e de uma paciência a toda aprova. Isto requer, por sua vez, levar constantemente ao ín-timo da vida o incentivo da suprema esperança de alcançaraquilo que se anela como culminação feliz da existência.

O que a Logosofia ensina não deve ser relegado ao es-quecimento. O que se aprende deve permanecer dentrodo ser como salvaguarda dos conhecimentos acumula-dos, para que estes não desapareçam, deixando o ser àsescuras depois de havê-lo iluminado. Cada um seria,nesse caso, o responsável direto pela própria infelicidade.

O VALOR DO TEMPO

O tempo tem para a Logosofia um valor que se acharepresentado em todos os atos da vida; com isso quere-mos dizer que por seu aproveitamento o homem é ca-paz de ser e de fazer muito ou nada. Daí que sempre

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aconselhemos não se deter além do necessário nas pre-ocupações da vida corrente, a fim de não ocupar semproveito esse tempo, cujo valor pode ser multiplicadose o utilizamos na busca do que há de dar satisfaçõesduradouras, o que ao mesmo tempo ajuda a resolver osproblemas que nos afetam intimamente, problemas quenão podem ser resolvidos quando as preocupações co-muns embargam quase todo o tempo da vida mental.

A vida não deve ser colocada dentro dos problemas,mas os problemas dentro da vida.

Uma vez bem compreendido que a função primordialda existência não é a refletida na atividade diária, seráfácil ver como o tempo pode se perder, tornando-sedifícil sua recuperação; também se verá como esse tem-po nos oferece muitas oportunidades felizes, se, ao pas-sar a nosso lado, aceitamos seu convite e fazemos delebom uso.

Buscar o tempo que já está submerso no passado é tarefaárdua; menos difícil é sair ao encontro do que ainda nos ficapor viver e oferecer-lhe espaço dentro de nós para que, consti-tuindo-se no hoje, e mais tarde no amanhã, faça florescer avida em sua mais formosa ideação e realidade.

O tempo é a essência oculta da vida; é a própria vida emtodo o seu percurso. Olhemos o tempo perdido comovida que se foi de nós sem ser vivida em sua plenitude,e aprenderemos a viver na consciência do verdadeiroexistir, prolongando-a indefinidamente, ao deter o tem-

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po e fazê-lo servir aos fins da evolução. Por acaso não éisso o que sucede quando fazemos hoje o que muitosfarão meses, anos ou séculos depois? Ensaie-se o gover-no do tempo, de acordo com nosso método, e se veráquantas satisfações íntimas serão obtidas.

Sabemos perfeitamente que nem sempre o indivíduoestá em condições de compreender num instante a pa-lavra logosófica, que às vezes excede sua capacidademental; entretanto, com esforço, com perseverança eboa vontade, ele consegue penetrar nela e cada diadescobrir elementos indispensáveis para a própriaevolução.

A PACIÊNCIA ATIVA E CONSCIENTE

Ninguém ignora – vamos dar isto como certo – que oser humano é de per si impaciente. É esta uma das defi-ciências do caráter que mais dificultam e até impedem aohomem levar adiante seus propósitos de melhoramento.

Aquele que por sua causa se encolhe sob a impressãoda impotência e do desalento aniquila as própriasforças. Em tais condições, a luta se torna dura e é muitofácil, vencido já, cair na desesperança. Esse é o fim dosimpacientes, dos que não souberam coordenar as forçasinternas para enfrentar a adversidade, que a cada instanteoferece um novo campo de luta.

A paciência, considerada como fator de êxito nos em-

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

pregos úteis do esforço, não deve sofrer limitação emsua expressão dinâmica, caso se queira obter por meiodela o que cada circunstância exige como tributo detempo. Para poder apreciar isto, é preciso entenderclaramente que a paciência não é uma virtude quandose apresenta sob as formas da passividade, o que acon-tece quando o homem se limita a esperar que as coisasse resolvam por si mesmas, pretendendo que aProvidência lhe sorria e que, como prêmio à constânciade esperar sem fazer nada, lhe chegue o que deveria serfruto da razão e do empenho.

A paciência, como virtude, deve ser ativa e consciente.Para dotá-la de tais qualidades, é necessário estabeleceruma ordem no domínio das realizações, porque a elabo-ração de um plano há de preceder a condução pacientee inteligente do esforço que deve intervir em sua execução.Essa paciência há de acompanhar o ser até o resultadofinal, por ser a energia que sustém o esforço até suafeliz culminação.

Mais de uma vez já dissemos que a paciência cria a in-teligência do tempo; ficará entendido, por certo, quenos referimos à paciência de quem sabe esperar. Issosignifica que, quanto melhor compreendamos o valorde tal virtude, maior será a eficácia com que o temponos servirá, dando-nos, por outra parte, uma se-renidade de espírito que o impaciente não conhece.

O homem que pratica a paciência sob a influênciabenéfica de sua consciência sabe que para ele nada ter-

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DIRETRIZES QUE AJUDAM NO APERFEIÇOAMENTO INDIVIDUAL

mina. Tudo ao contrário disso é o que sucede comquem, carecendo dela, põe fim por si mesmo àquiloque não devia excluir de suas possibilidades. Para oprimeiro, cada coisa pode seguir existindo em sua razãopelo tempo que a conquista de seu objetivo exige; parao segundo, cessa toda continuidade.

Pode-se dizer com justiça que o segredo dos êxitos queo homem já conseguiu obter na conquista do bem re-sidiu sempre na paciência ativa, manifestada na perse-verança, no trabalho ininterrupto, na consagração e,também, nessa fé consciente que se vai enraizando naalma, favorecida pelas próprias comprovações.

O AFETO, PRINCÍPIO FIXADOR

DAS RELAÇÕES HUMANAS

A Logosofia, ao encarar a realização da obra que sepropõe, estabelece o afeto como meio insubstituívelpara seu cumprimento e perenidade. Configurada desseângulo, situa o homem no próprio centro de suas possi-bilidades, fazendo que incidam nele os conteúdos bási-cos do sentimento humano.

Sendo a evolução consciente seu mister essencial,ocorre que aqueles que recebem sua assistência, ao sevincularem entre si pelo próprio conhecimento que elaprodigaliza, ampliam o raio de alcance de sua obra, es-tendendo-a à humanidade. O afeto intervém nisso

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LOGOSOFIA CIÊNCIA E MÉTODO

como princípio fixador das relações humanas, deven-do entender-se que ele só constitui uma realidade quan-do é conscientemente sentido e praticado entre os se-melhantes.

Para esse fim tende o conhecimento logosófico, pelacompreensão universal e mútua das razões, dos direitose experiências afins com a existência que palpita na Cri-ação. Todos os seus objetivos convergem na unificaçãodo sentimento humano em suas manifestações mais pu-ras, correspondendo, com isso, aos altos princípios deconfraternização universal.

O próprio aperfeiçoamento que conduz ao conhecimentode si mesmo não teria maior andamento se não se achasseassistido pela idéia de ajudar o semelhante, de quem cadaum necessitará, por sua vez, durante longo trecho de seuprocesso de evolução consciente, para poder levar a cabosuas observações e realizar cotejos e confrontos de sumautilidade nos reajustes internos individuais.

Permitirá apreciar melhor a vantagem que isso traz paraa realização do aperfeiçoamento o fato de saber que,quando observarmos uma deficiência alheia, deveremosao mesmo tempo estabelecer a relação que ela possa tercom as nossas. Isso evitará a intransigência, já que commuita freqüência comprovaremos a presença em nós dadeficiência observada, circunstância que nos porá anteos demais na mesma atitude daquele que tinha sidomotivo de nossa observação. Cria-se, assim, uma dis-posição à tolerância, o que auspicia o afeto com que de-

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DIRETRIZES QUE AJUDAM NO APERFEIÇOAMENTO INDIVIDUAL

vemos tratar nosso próximo e manifesta um sinal deboa ética, porque mostra as excelências de um compor-tamento inegavelmente sadio e edificante.

Os conhecimentos logosóficos, ao se desprenderem dafonte que os gera, permanecem ligados entre si. Por isso,não permitem o isolamento por parte de quem os pratica.O saber vincula, irmana, une. Quando assim não acon-tece, deve expulsar-se da mente o pensamento reacionário,porque está infringindo uma lei. Tal coisa expressa bemclaramente como deve conduzir-se aquele que recebe estesconhecimentos, e que uso deve fazer deles no que con-cerne à convivência com seus semelhantes.

O ensinamento logosófico estabelece que tudo quanto ohomem pense e faça deve, necessariamente, estar influí-do por essa força interna que se chama afeto, e ensinaque todo estudo deve ser realizado com sentimento al-truísta, a fim de que o esforço individual contribua paraa elevação e felicidade do gênero humano.

Definiremos melhor o afeto se dissermos que é a partedo amor feito consciência; é óbvio, pois, que sua esta-bilidade não periga como a daquele, sujeito sempre avariações e mudanças.

Cabe-nos acrescentar que o método logosófico re-comenda inumeráveis condutas, como as enunciadasna presente lição, todas de rigorosa aplicação interna,dentre as quais tomamos as indispensáveis aos fins queeste livro cumpre.

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Se nossas palavras não caírem no vazio mental, terão avirtude de auxiliar eficazmente o entendimento dequem as recolher; seria pena se, por alguma impre-visão, se malograsse o esforço que se tivesse realizadopara compreendê-las.

Talvez não tenha sido difícil para o leitor perceber quea força do conhecimento logosófico é, ao ensinar, pode-rosa, por ser a manifestação do pensamento que animae estimula a vida, como o Sol, que aparece todos osdias e dá luz e calor ao ser humano, mesmo que estenão volte para ele seus olhos; que girou por todos osespaços, que viu levantar e cair tantos impérios, queiluminou a solidão dos primeiros dias do mundo e ilu-minará as horas finais da última geração sobre a Terra.

Se o conhecimento logosófico decidiu fazer escutar nes-ta hora sua voz, difundindo-a por todos os âmbitos domundo, é com a esperança de que muitos a ouçam, deque muitos se encham, ao ouvi-la, de entusiasmo e deestímulo, e de que muitos, também, possam sentir maistarde essa voz dentro de si, confundida com a alegria depronunciá-la tal como foi escutada: com a mesma niti-

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dez, com a mesma fecundidade, com o mesmo vigor,com a mesma luminosidade.

É forçoso arrancar o homem das sombras formadaspelo desconhecimento de si próprio e levá-lo nadireção do conhecimento que haverá de iluminar suarealidade. De um ser destinado a esterilizar-se numavida sem projeções surgirá o verdadeiro ser, conscientede sua missão e do que pode realizar em cumprimentodos altos desígnios que o Criador lhe assinalou.

Ninguém poderá negar a importância da verdade ex-pressada nas páginas deste livro, e todos poderão com-provar como cada conhecimento que nele se expressa,transportado para a vida, é um novo momento de feli-cidade e de alegria que se experimenta. Nenhum outromotivo poderá ser mais grato ao espírito, porque elesabe que cada conhecimento que passa a fazer parte dosaber individual o aproxima um passo a mais daGrande Verdade que ele tanto anela alcançar.

Essa Grande Verdade é a concepção suprema de todopensamento ou pensamento de Deus, e é, ao mesmotempo, Deus mesmo, porque é a razão de ser e a causaeficiente de todas as coisas.

Se buscarmos a razão de ser de nossa entidade humana,faremos isso seguindo tal pensamento até a própria raizde nossa origem, e a própria raiz de nossa origem está,logicamente,

no que denominamos a Grande Verdade.

De modo que, buscando-se cada um a si mesmo, en-

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PARTE FINAL

contrará no final de sua busca a seu próprio Criador, ese converterá, ao identificar-se com Ele, em criador desi mesmo e em colaborador direto da Criação.

Tudo faz supor, pois, que, se é possível manejar forçascom a inteligência e com o conhecimento, as que sejamadicionadas para aumentar as forças do espírito haverãode representar a conquista gradual dessa felicidade quecomumente se busca por todas as partes, menos ondeem realidade ela se encontra.

Representantes Regionais

Belo HorizonteRua Piauí, 742 - Funcionários30150-320 - Belo Horizonte - MGFone (31) 3273 1717

BrasíliaSHCG/NORTE - Quadra 704 - Área Especial de Escolas70730-730 - Brasília - DFFone (61) 3326 4205

ChapecóRua João Cândido Marinho, 574 E - Saic - Caixa Postal 28789807-090 - Chapecó - SCFone (49) 3322 5514

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FlorianópolisRua Deputado Antonio Edu Vieira, 150 - Pantanal88040-000 - Florianópolis - SCFone (48) 3333 6897

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São PauloRua Gal. Chagas Santos, 590 - Saúde04146-051 - São Paulo - SPFone (11) 5584 6648

UberlândiaRua Alexandre de Oliveira Marquez, 113 - Vigilato Pereira38400-256 - Uberlândia - MGFone (34) 3237 1130