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1 OUTUBRO DE 2015 N 12, ANO 7 (DISTRIBUIÇÃO GRATUITA)

Ciência para Todos - Outubro / 2015 N.12, ANO 7

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Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)

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outubro de 2015n 12, ano 7(distribuição gratuita)

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Reserva Ducke - A Biodiversidade Amazônica Através de Uma Grade Márcio L. Oliveira, Frabício B. Baccaro, Ricardo Braga-Neto, Willian E. Magnusson Editora INPA, 2011. ISBN: 978-85-211-0076-8. Páginas: 166

R$ 35,00

Noções Básicas de Nutrição e Higiene Lucia K. O Yuyama, Lílian Pantoja Editora INPA, 2011. ISBN 978-85-211-0071-3. Formato 20x20cm Páginas 48. Ilustrado colorido.

R$ 10,00

Observando borboletas - uma experiencia para o monitoramento de fauna em unidades de conservação Rosemary S. Vieira, Catarina Motta, Daniela Brito Agra Editora INPA, 2011. ISBN 978-85-211-0058-4. Formato 12x22cm Páginas 40. Ilustrado colorido.

R$ 10,00

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Av. André Araújo - 2936 - Petrópolis - CEP 69067-375. Manaus-AM, Brasil. Cx. Postal 2223 - CEP 69080-971

Fone 92 3643 3223, Fax 92 3642 3438. site http://acta.inpa.gov.br. E-mail [email protected]

Guia de Samambaias e Licófitas da REBIO Uatumã - Amazônia Central Gabriela Zuquim, Flávia R. C. Costa, Jefferson Prado, Hanna Tuomisto Editora INPA, 2012. Páginas: 316

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Frutos Nativos da Amazônia: comercializados nas feiras de Manaus Afonso Rabelo Editora INPA, 2011. ISBN 978-85-211-0073-7. Formato 16x23cm Páginas 390. Ilustrado colorido.

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Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos Adalberto Luis Val, Geraldo M. dos Santos Editora INPA, Formato: 16x23cm.

R$: 20,00 un.

Manual de árvores de várzea da Amazônia Central: taxonomia, ecologia e usoManual of trees from Central Amazonian varzea floodplains: taxonomy, ecology and use Florian Wittmann, Jochen Schöngart,

Joneide M. De Brito, Astrid de Oliveira

Wittmann, Maria Teresa Fernandez

Piedade, Pia Parolin, Wolfgang

J. Junk & Jean-Louis Guillaumet

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Editora Inpa, 2010. ISBN: 978-85-

211-0067-6. Formato: 21x29,7cm.

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Manual de Criação de Matrinxã (Brycon amazonicus) em Canais de Igarapés Jorge Daniel Indrusiak Fim, Sérgio Fonseca Guimarães, Atílio Storti Filho, Avemar Gonçalves Bobote, Gabriel da Rocha Nobre Filho INPA, 2009. ISBN: 978-85-211-0055-3. Formato: 24x17 Páginas: 48

R$ 15,00

Peixes comerciais de Manaus Geraldo Santos, Efrem Ferreira, Jansen Zuanon Editora INPA, 2006. ISBN 85-7300-211-5. Formato 27x21cm Páginas 144. Ilustrado colorido.

R$ 60,00

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Luiz Renato de FrançaDiretor do Inpa

Luis Antonio de OliveiraDiretor Substituto do Inpa

Coordenador de Ações Estratégicas – COAE

Sérgio Fonseca GuimarãesChefe de Gabinete

Beatriz Ronchi TelesCoordenadora de Capacitação – COCP

Hilândia Brandão da CunhaCoordenadora de Pesquisas e

Acompanhamento das Atividades Finalísticas – CPAF

Cristhiane OkawaCoordenadora de Administração –

COAD

Carlos Roberto BuenoCoordenador de Extensão – COEX

Fernanda FariasAssessora de Comunicação

Editora- chefe

Caroline RochaCimone BarrosLuciete Pedrosa

Redação

Aline CardosoJosiane SantosJuan Matheus Raiza Lucena

Colaboradores

Acervo PesquisadoresAscom/InpaFotografias

Josiane SantosRevisão

Paulo CesarProjeto GráficoDiagramação

Felipe CumaruJuliana LimaDenys SerrãoPaulo Cesar

Artes e Ilustrações

EXPEDIENTE

NOSSA CAPA

torre attogigante da amazônia: torre de pesquisa mais alta do mundo

Vivemos num momento onde as mudanças climáticas cada vez mais afetam o cotidiano da sociedade, a exemplo da seca do Estado de São Paulo que deixou milhares de pessoas sem água, e também a enchente na região norte que deixou centenas de famílias desabrigadas. Várias ações da humanidade contribuem de forma significativa para que a degradação aos recursos naturais aumente, como queimadas e desmatamento, ações corriqueiras aqui na região amazônica. Para que os efeitos negativos dessas ações sejam mitigados, as pesquisas voltadas para o entendimento da interação da biosfera com a atmosfera se fazem necessárias. Vendo isto, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) juntamente com Institutos de Química e de Biogeoquímica do Max Planck da Alemanha, fizeram uma cooperação entre os dois governos federais para criar a maior torre de monitoramento climático do mundo, a Torre ATTO. Os benefícios das pesquisas para a compreensão do clima trarão melhorias para todos os aspectos que envolvem a Amazônia, tanto para as florestas como os rios, que carregam uma diversidade enorme de peixes e demais seres da biota aquática. Muitos desses rios são poluídos por metais, seja de forma natural ou pela ação do homem, que acabam contaminando algumas espécies de peixes, dessa forma podendo causar malefícios também para seus consumidores. As pesquisas dos laboratórios precisam levar desenvolvimentos e conhecimentos reais para a população, assim como a sustentabilidade para as comunidades ribeirinhas da região amazônica. A exemplo do “Flutuante Amigos do boto-vermelho”, que agrega o desenvolvimento da pesquisada ao turismo, sustentabilidade e educação ambiental. Todas essas realizações nos mostram que é de suma importância, não apenas a realização das pesquisas, mas também a sua divulgação para a sociedade, para que de fato a Ciência seja para Todos.

EDITORIAL

Gigante da Amazônia: Torre de pesquisa mais alta do mundo trará benefícios globais

Ciência para todosTecnologia e Inovação - Produto à base de resíduos de pirarucu enriquece alimentos com baixo teor de proteína

Sociedade - Corante à base de fungos e prometem benefícios com menos impacto ambiental

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BIODIvERSIDADE - metais em rios da amazônia contaminam traíras.

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40 DINâmICA AmBIENTAL - gigante da amazônia: torre de pesquisa mais alta do mundo trará benefícios globais

sociedade - aspectos socioambientais das unidades de conservação

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SOCIEDADE - corante à base de fungos

prometem benefícios com menos impacto ambiental

22ARTIgO - física, ciência, poesia e a busca da verdade

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TECNOLOgIA E INOvAçãO - produto à base de resíduo de

pirarucu com alto teor proteico

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40 DINâmICA AmBIENTAL - gigante da amazônia: torre de pesquisa mais alta do mundo trará benefícios globais

CuRumIm E CuNhATã - bate papo com a boo

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FIquE CIENTE - curiosidades sobre tudo

no mundo da ciencia

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BIODIvERSIDADE - Sustentabilidade,

turismo e qualidade de vida num só lugar

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ENTREvISTA - conceitos , desafios e

aplicabilidade da economiasolidaria no brasil

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Aspectos socioambientais das Unidades de Conservação

O livro “Morar e Viver em Unidades de Conservação no Amazonas: Considerações Socioambientais para os Planos de Manejo” editado pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Maria Inês Gasparetto Higuchi e Niro Higuchi, e a pesquisadora-bolsista, Camila Carla de Freitas, aborda pesquisas que descrevem as Unidades de Conservação (UC)

no Amazonas de modo técnico e socioambiental, com o intuito de que a vida de moradores seja levada em consideração na formulação de um plano de manejo para essas áreas.“Acredito que o livro apresenta um universo não só voltado para o uso de recursos, mas traz a riqueza do que existe na vida além de morar nas unidades de conservação, mostra quais as relações históricas

A parceria entre o Laboratório de Manejo Florestal e o Laboratório de Psicologia e Educação Ambiental resultou em uma publicação inovadora e relevante para formulação dos planos de manejos nas Unidades de Conservação. O livro une conhecimentos técnicos e sociais de cinco UCs do estado do Amazonas

Por raiza Lucena

foto: acervo pesquisador

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e culturais entre eles. Muitas vezes essas questões não são levadas em consideração na gestão desse tipo de território” explica Freitas, uma das editoras do livro.Para entendermos a relevância que esta publicação pode acarretar aos moradores tradicionais das Unidades de Conservação, vamos à alguns conceitos. As Unidades de Conservação foram alternativas criadas pelo governo brasileiro como estratégia para enfrentar questões ambientais. Essas questões podem ser a perda de biodiversidade, as mudanças climáticas, a conservação de recursos naturais e a manutenção de serviços ambientais.O marco legal para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação brasileiras é estabelecido pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Este Sistema classifica as UCs em dois grupos: o de uso sustentável e o de proteção integral, sendo o primeiro a conciliação humana com os recursos naturais (consumo, coleta, pesca, etc) e o segundo uma área restrita de preservação, permitindo apenas a intervenção para pesquisa científica entre outras atividades de baixo impacto. O SNUC também estabeleceu mecanismos que regularizam a participação da sociedade na gestão das UCs social da população tradicional, Unidades de Conservação de uso sustentável podem ser dividas em Área de Proteção Ambiental (APP), Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie), Floresta Nacional (Flona), Reserva Extrativista (Resex),

Reserva de Fauna (RF), Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN). As mais abordadas no livro foram as Resex e a Flona, todas localizadas no estado do Amazonas.A gestão é feita por um conselho gestor que tem a representação de órgãos públicos e da sociedade civil. Os Conselhos Gestores podem ser consultivos ou deliberativos. Cabe aos conselhos abrirem espaços para discussões de questões em que problemas são levantados e propostas discutidas.Dentre a manutenção e gestão das UCs, deve se reconhecer o papel das populações tradicionais naproteção ambiental. São estas que têm o conhecimento das áreas, sabem suas necessidades, expectativas e modos de viver; e, por isso, as decisões tomadas para pelas UCs devem sempre compatibilizar com modo vida dos moradores e a proteção da natureza.

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Essa compatibilização deve ser feita através do plano de manejo, um documento em que as atividades da unidade sejam direcionadas ao manejo dos ecossistemas ou a atividades de proteção. É elaborado através de vários estudos que inclui diagnósticos do meio físico, biológico e social.“Dificilmente você faz um plano de manejo sem a cumplicidade dos ribeirinhos. Só que esta abordagem você só consegue se souber lidar com as questões sociais entendendo, ao mesmo tempo, o modo de vida dos comunitários. Este livro é o resultado da ação conjunta dos grupos de pesquisas em manejo florestal e educação ambiental em torno de propostas para planos de manejo em unidades de conservação.”, explana o pesquisador Higuchi.

CARACTERÍSTICAS DO LIVROA publicação mostra todos os aspectos sociais das seguintes UCs: Resex do Baixo Juruá (Juruá e Uarini), Resex Auati-Paraná (Fonte Boa, Japurá e Marãa), Resex do Lago Capanã Grande (Manicoré), a Flona do Pau-Rosa (Maués) e a Resex do Rio Jutaí (Jutaí), todas geridas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),desde estrutura das casas, móveis, localização, até a composição familiar, educação e saúde que as populações tradicionais recebem.“As pesquisas ocorreram em vários anos: a primeira em 2004 e outras 2013. Esse livro sintetiza uma série de trabalhos de pesquisas científicas feita da parceria entre o Laboratório de Psicologia e Educação Ambiental (Lapsea) e o Laboratório de Manejo Florestal (LMF). O objetivo é mostrar que qualquer plano de manejo deve ter essa dimensão social, ou seja, a visão dos povos que habitam essa realidade em torno da UC, uma vez que tanto a preservação quanto o uso dos recursos naturais dependem dessas pessoas. A importância dada por eles, o tipo de necessidade, a vida social, todos esses fatores são condições que, de alguma forma, determinam um melhor aproveitamento dos recursos naturais” afirma Gasparetto.Dividido em 11 capítulos, o livro apresenta informações técnicas, como aparatos legais que regulamentam o sistema de unidades de conservação brasileiro e as categorias existentes, passando por informações sociais

[…] qualquer plano de manejo deve ter essa dimensão social, ou seja, a visão dos povos que habitam essa realidade em torno da UC, uma vez que tanto a preservação quanto o uso dos recursos naturais dependem dessas pessoas. (Maria Inês Gasparetto Niguchi)

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como conceitos, estruturas, cultura, percepções das UCs e capítulos individuais e específicos que tratam de cada UC pesquisada, incluindo informações atuais para o acompanhamento das modificações ocorridas ao longo do tempo.A transição de status territorial das terras ocupadas para o domínio das unidades de conservação requer uma mudança na dinâmica dos moradores que devem se adaptar às novas normas regidas pelo órgão gestor. A publicação traz aspectos sociais que explicam essa dinâmica e estrutura estabelecidas culturalmente por suas populações.Foram 28 pesquisadores que contribuíram com as pesquisas de ‘Morar e Viver em Unidades de Conservação no Amazonas: considerações Socioambientais para os Planos de Manejo’. O público-alvo é definido por gestores de UC e aos interessados no assunto.

PERCEPÇÕESDestaque para o capítulo 8: ‘Significado de morar e viver numa Unidade de Conservação’ que mostra as percepções dos moradores em relação aos significados, pertencimento e apego aos seus lugares de moradia. No capítulo há relatos dos moradores e gráficos que quantificam suas opiniões nas UCs pesquisadas, reforçando assim, o propósito do livro de lembrar que aspectos sociais importam e que modificá-los de forma brusca pode ser prejudicial ao modo de viver e a cultura dessas famílias

“A transformação do status territorial de terras tradicionalmente ocupadas (Almeida 2008) para Unidades de Conservação (UCs) traz um novo movimento, uma nova dinâmica que se instala na vida das comunidades residentes, substituindo aquela pré-existente. A instauração dessa nova ordem legal requer dos gestores um entendimento da história vivida pelas comunidades, para que a meta de conservação dos recursos naturais seja efetivamente consolidada. Isso garantiria também a real possibilidade dessas pessoas se sentirem incluídas num processo de melhoria social mais efetivo.” (Página 189)

“Para acessarmos a percepção ambiental de um indivíduo ou grupo de pessoa, podemos começar com a denominação dada ao lugar. A identificação dos elementos que compõem um ambiente não é uma mera formalidade léxica, isto é, o nome ou termo em si, mas, sobretudo um conhecimento que, inevitavelmente, está subjacente a tudo que se faz referência a este ambiente. Qualquer denominação relacionada a um lugar tem sempre significados e valores atrelados a ele, seja a partir das imagens mentais ou das vivências ocorridas nesse espaço. A percepção ambiental é um caminho para acessar esse conjunto de cognições e afetividades relacionado à relação pessoa-ambiente, portanto um meio para compreender o comportamento humano nesse ou para aquele lugar. (Página 214)

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METAIS EM RIOS DA AMAZÔNIA CONTAMINAM TRAÍRAS

Os rios da Amazônia, além de conter uma variedade extensa de animais, carregam consigo outro tipo de componentes: os metais. Seja por meios naturais ou por ação do homem, é fato que a biodiversidade que interage com as águas dos rios sofre as consequências do o acúmulo desses elementos, os quais, ao alcançarem determinadas concentrações nos organismos animais, podem se tornar

verdadeiros “venenos” para a vida. Procurando entender melhor como ocorre a contaminação da biota, isto é, dos animais aquáticos presente nos afluentes da bacia do Rio Negro e do Rio Solimões, um estudo de mestrado do pesquisador formado em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Mailson Rafael Ferreira , orientado e coorientado pelas

Função da pesquisa foi determinar a concentração dos metais cobre, cobalto, cromo, chumbo, ferro, manganês, mercúrio, níquel e zinco nas partes comestíveis do pescado

Por Juan Matheus

foto: acervo pesquisador

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pesquisadoras, Maria Cláudia Gross e Fabíola Valdez Domingos, teve como foco o estudo da concentração de metais e seus efeitos genotóxicos em peixes carnívoros da espécie Hoplias malabaricus, popularmente conhecida como traíra.A traíra é encontrada com muita facilidade em quase todos os igarapés, açudes, lagos, lagoas e rios da Amazônia. A pesquisa se concentrou estudar essa espécie nos afluentes dos rios Negro e Solimões.Com esse estudo, foi possível determinar se a composição físico-química desses ambientes interferia na bioacumulação, ou seja, na ingestão desses metais no organismo desses peixes.De acordo com Ferreira, mediante essas diferenças que existem entre a água preta e branca, por exemplo, o rio Negro tem muita concentração de carbono orgânico dissolvido e pH ácido. Já os afluentes do Rio Solimões têm muito material em suspensão, como argila, restos de materiais que vem da erosão, muita quantidade de sais cálcio e bicarbonato e suas águas possuem o pH neutro.“Na região amazônica esses rios são intensamente contaminados de duas maneiras: natural ou pela ação do homem. No primeiro caso, desde o processo de cheia e seca,lavagem do solo – que levam vários compostos químicos do solo pra própria água. No segundo caso, pelas grandes cidades com deposição de poluentes nos rios. Uma vez que esses poluentes chegam às águas eles podem ser ingeridos pela biota aquática”, explica o pesquisador.

foto: acervo pesquisador

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Metais nos riosOs rios da Amazônia são ricos em metais que são intensamente absorvidos pelos organismos aquáticos, e pelos seres humanos. A função da pesquisa foi determinar a concentração dos metais: cobre, cobalto, cromo, chumbo, ferro, manganês, mercúrio, níquel, zinco, nos tecidos comestíveis da traíra.Ainda de acordo com Ferreira, uma vez absorvidos, os metais podem sofrer bioacumulação, que consiste no aumento dos níveis de substâncias químicas nos tecidos dos peixes. Quando absorvidos em grande quantidade, o organismo desses peixes não consegue eliminar 100% desses metais e eles acabam acumulando em seu tecido branco, ou seja, na parte comestível.“A medida que se aumenta essa absorção pela cadeia alimentar, ocorre um processo chamado de biomagnificação que, basicamente, é quando há o aumento dos níveis de acumulação de alguns metais ao longo da cadeia alimentar afetando as espécies de níveis superiores em maior intensidade. O peixe que é predador absorve ,além dos metais presentes na água, também os metais que sua presa tinha em seus tecidos”, esclarece o pesquisador.

Apesar de contaminantes, alguns metais são essenciais para o organismo, como o zinco e o ferro, e outros não possuem função, como o cromo e o mercúrio. Os metais que possuem função se tornam tóxicos quando ingeridos em concentrações acima do

necessário pelo organismo. Já os metais que não possuem função nos organismos são tóxicos mesmo se ingeridos em pequenas concentrações.

BiomonitoramentoPara realizar o biomonitoramento das traíras da bacia amazônica, foram utilizados alguns biomarcadores, tais quais, concentração de metais no tecido branco dos peixes, que é o tecido consumível pela população, e biomarcadores de genotoxicidade, a partir dos quais foram avaliadas a ocorrência de anormalidades na estrutura nuclear e do material genético dos peixes.Como na região amazônica e nas regiões ribeirinhas os peixes são intensamente consumidos como fonte de alimentos, a utilização de traíras como bioindicadores se tornou mais viável. “A população que se alimenta desses peixes pode acumular esses metais. O risco é: se eles forem genotóxicos para os peixes , também tenderão a ser tóxicos para a população humana. As consequências da ingestão desses peixes contaminados com metais vão desde defeitos genéticos e neurológicos à má-formação de bebês”, exemplificou o pesquisador.As coletas dos peixes foram realizadas em oito pontos no rio negro: três pontos durante a cheia e cinco pontos durante a seca, que iam da capital Manaus ao município de Santa Isabel do Rio Negro, percorrendo mais de 700 quilômetros ao longo do rio. Já no Rio Solimões foram coletados traíras em seis pontos durante a seca, que iam das regiões do Rio Madeira até o município de Fonte

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Boa, no alto rio Solimões, com mais de 900 km percorridos.“Coletamos para análise um total de 180 peixes. As coletas eram realizadas com o auxilio de pescadores locais e só pegávamos peixes acima de 15 centímetros de comprimento, por que sabemos que a partir de 12 cm de tamanho as traíras são estritamente carnívoras, então estavam acumulando os metais dos peixes que ingeriam. Todas as coletas foram feitas com a autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, e com a aprovação do Comissão de Ética no Uso de Animais do Inpa”, frisou Mailson.

Maior concentração e danos genotóxicosSegundo os resultados obtidos por Ferreira, de todos os tipos de metais estudados, foi observados que o zinco e o ferro são os metais mais presentes nas carnes das traíras, entretanto, levando em consideração que esses metais apresentam função dentro dos organismos, então o resultado pode ser considerado normal.Já o Cobalto somente foi encontrado nos peixes da bacia do Solimões( aonde também se verificou maior concentração de Cobre e Cromo em tecido de traíras em relação aos peixes da bacia do rio Negro). Nos Rios

foto: acervo pesquisador

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Japurá e Juruá o nível de cromo está maior que o permitido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ou seja, quem consome os peixes dessa região está consumindo o metal além do que permite a legislação brasileiraO cromo apresentou toxicidade para as células, provocando danos bioquímicos, e genéticos e atrapalhando o desenvolvimento embrionário, caso ingerido por uma mulher grávida. Os demais metais apresentaram concentrações dentro dos limites da Anvisa. Os peixes da bacia do rio Negro por sua vez apresentaram mais mercúrio e zinco do que os peixes de água branca, estando o mercúrio acima dos limites recomendados pela anvisa nos peixes coletados no rio

Teia, no alto rio Negro.A principal crítica à pesquisa foi que a legislação vigente precisa ser revisada, rediscutida e reformulada, com especial atenção para a região amazônica, na qual a população consome muito mais peixe diariamente do que o restante do país.O projeto durou dois anos, e envolveu pesquisadores do Laboratório de Biologia Ambiental da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), com a análise dos peixes com mercúrio, Laboratório de Ecossistemas Aquáticos do inpa, com a análise da água e Laboratório de Biogeoquímica da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

A população que se alimenta desses peixes pode acumular esses metais. O risco é: se eles forem genotóxicos para os peixes, também tendem a serem tóxicos para a população humana. As consequências da ingestão desses peixes contaminados com metais vão desde defeitos genéticos e neurológicos a má-formaçãode bebês

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Produto à base de resíduo de pirarucu com alto teor proteico enriquece alimentos

O produto gerado está protegido pelo Inpi e espera o interesse do empresariado para a produção e comercialização no mercado

Por Luciete Pedrosa

foto: acervo pesquisador

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As Carcaças de pirarucu (Arapaima gigas) são matérias-primas utilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) para a elaboração de uma substância líquida capaz de enriquecer alimentos com baixo teor proteico, como pães e biscoitos, além de ajudar na produção de outros alimentos especiais para pessoas alérgicas a proteínas do leite. De quebra, a tecnologia ajuda a minimizar a poluição ambiental deixada pelo resíduo gerado no processamento industrial do pirarucu. A substância é o hidrolisado proteico de pirarucu desenvolvido no Laboratório de Química e Fisioquímica do Inpa em parceria com o Laboratório de Micologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Segundo o pesquisador do Inpa, o doutor em Ciência de Alimentos e líder da área de tecnologia de alimentos, Rogerio Souza de Jesus, os hidrolisados proteicos são resultados da hidrólise (quebra) das proteínas que podem apresentar propriedades funcionais úteis para a indústria alimentícia.O pedido de patente do hidrolisado de proteína de peixe já foi depositado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e está à disposição dos empreendedores para a produção e comercialização no mercado. Para o pesquisador, a produção de hidrolisado proteico de pescado destaca-se como alternativa de aproveitamento dos resíduos sólidos provenientes da indústria pesqueira. “Esses resíduos são uma matéria-prima de alta qualidade biológica, gerando produtos que podem atingir um conteúdo proteico de até 90% com propriedades funcionais das proteínas do

pescado intensificadas”, diz. O pescado é um importante alimento na nutrição humana como fonte de proteínas, lipídios, vitaminas, minerais e componentes bioativos, capaz de reduzir o risco de doenças crônicas pela presença de ácidos graxos poliinsaturados do tipo ômega-3. Em comparação com alimentos de origem animal, os peixes contêm grandes quantidades de vitaminas, principalmente das lipossolúveis, em especial as vitaminas A e D, além de ser fonte de vitaminas do complexo B. O pescado também é considerado uma excelente fonte de minerais, incluindo cálcio, fósforo, ferro, cobre e selênio. A carcaça é um resíduo pouco aproveitado da espécie após a retirada das mantas (filés). Ela contém uma quantidade de carne que não serve para ser filetada, mas que pode ser utilizada na produção de carne mecanicamente separada de pescado e servir de matéria-prima para elaboração de produtos de pescado. Para a produção do hidrolisado de pirarucu, a matéria-prima utilizada foi a carne mecanicamente separada de carcaças do peixe.Dela, foram desenvolvidos dois produtos: um hidrolisado proteico de pirarucu produzido com extrato enzimático comercial (pancreatina) e, outro, com enzima microbiana bruta do fungo Aspergillus flavo-furcatis. “Os resultados mostraram que, no hidrolisado proteico com enzima comercial, o teor proteico foi de 73,47%, enquanto o hidrolisado feito com a enzima microbiana foi de 58,03%”, disse Flavia de Carvalho Paiva,

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Aplicações Hidrolisado Os hidrolisados proteicos de pirarucu possuem diversas aplicações na indústria farmacêutica e na alimentação humana e animal. Segundo o pesquisador Rogério de Jesus, os produtos podem ser empregados em suplementos de cereais, produtos de panificação, sopas e alimentos para crianças. De acordo com o pesquisador, tam- bém são utilizados na fabricação de alimentos especiais para pes- soas com alergia a proteínas do leite, na suplementação dietética de idosos, na nutrição de espor-

tistas e crianças prematuras, na alimentação de pessoas com gastroenterite, má absorção e fenilcetonúria (doença que faz com que os alimentos que tenham uma substância chamada fenilalanina intoxique o cérbro causando retardo mental).O pirarucu é comercializado na forma de manta fresca, conge- lada, seco-salgada e defumada. Por ser um peixe grande e pela sua crescente comercialização, o beneficiamento do pirarucu gera muitos resíduos como, por exemplo, cabeça, vísceras, nadadeiras, escamas e couro, os quais podem ser

foto: acervo pesquisador

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reaproveitados como subprodutos afim de agre gar valor à produção e proporcio- nar novos produtos provenientes de pescado. O pirarucu chega a medir 3,5 metros e pesar 350KgO estudo desenvolvido no Inpa foi a dissertação para obtenção do título de mestre em Ciência de Alimentos da Ufam de Flavia de Carvalho Paiva, orientada pelo pesquisador do Inpa, Rogerio Souza de Jesus. Flávia foi co-orientada pela doutora em Biotecnologia e Professora Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Larissa de Souza Kirsch. O trabalho foi publicado recentemente na revista Pesquisa Agropecuária Tropical, em parceria com outros autores.

um hidrolisado proteico de pirarucu produzido com extrato enzimático comercial (pancreatina) e, outro, com enzima microbiana bruta do fungo Aspergillus flavo-furcatis. “Os resultados mostraram que no hidrolisado proteico com enzima comercial o teor proteico foi de 73,47%

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foto: acervo pesquisador

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Luz, Ciência e Vida

XII Semana Nacional de Ciência e T ecnologia INP A

2015

19 a 25 de outubr o

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Luz, Ciência e Vida

XII Semana Nacional de Ciência e T ecnologia INP A

2015

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Corantes naturais a partir de fungos trazem benefícios para a saúdeOs fungos foram capazes de produzir corantes de interesse industrial e apresentam importantes atividades biológicas

Por caroLine rocha

foto: caroline rocha

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Fungos retirados do solo da Amazônia são bons produtores de corantes naturais. É o que mostra pesquisa realizada no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e publicada na revista inglesa Process Biochemistry, com o título Bioprospecting of Amazon soil fungi with the potential for pigment production.“Quando comparado aos corantes sintéticos, os corantes naturais são menos tóxicos, menos nocivos ao ambiente e podem ser utilizados muitas vezes como antibióticos e antioxidantes”, afirma o biotecnologista, João Vicente Braga de Souza, responsável pelo Laboratório de Micologia do Inpa e coordenador da pesquisa.Além do tecnologista, a pesquisa foi desenvolvida pelos alunos de mestrado e doutorado do Inpa, Jessyca dos Reis Celestino, Loretta Ennes de Carvalho e Alita Moura Lima. A pesquisa também teve como autores os pesquisadores do Inpa, Maurício Ogusku, responsável pela identificação por DNA do fungo, e Maria da Paz Lima, responsável pela identificação química dos corantes.Depois de coletar pequenas amostras de solos das localidades do Instituto, o biotecnologista usou os métodos de estudos de bioprospecção (método utilizado para explorar recursos genéticos e bioquímicos em seres vivos) para encontrar fungos capazes de produzir as cores: amarelo, laranja claro, laranja escuro e vermelho.

Souza explica que foram isolados 50 microrganismos das amostras de terra para investigação. Des -ses, apenas cinco fungos produziram cores interessantes com potencial para serem usados como corantes.

Vantagens e desvantagens

Os corantes fúngicos, além de possuírem a função de colorir, podem também apresentar importantes atividades biológicas, como ações anticancerígenas, antivirais, imunossupressora, antioxidantes, e antimicrobianas. Alguns podem ainda, ajudar na redução do colesterol.

Segundo Souza, tratando-se de sustentabilidade, os produtos à base de corantes naturais são facilmente reconhecidos pelo meio ambiente, e por isso causam menos impactos ambientais. “Um fator importante é que os corantes naturais, de modo geral, são menos tóxicos em comparação aos de origem sintética”, afirmou Souza.

Por outro lado, a degradação rápida pode ser uma desvantagem para a indústria. A mudança de cor e pouca durabilidade é uma barreira grande para as empresas que pretendem adotar corantes naturais.

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foto: carolinerocha

“ Quando comparado aos corantes sintéticos, os corantes naturais são menos tóxicos, menos nocivos ao ambiente e podem ser utilizados muitas vezes como antibióticos e antioxidantes

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No mercadoA procura por corantes naturais é cada vez maior por parte das indústrias alimentícias e farmacêuticas, que utilizam o produto por ter maior valor medicinal e possuir baixas propriedades tóxicas para o homem e para o meio ambiente.Segundo o biotecnologista, durante muito tempo corantes foram produzidos de forma sintética, ou seja, criados em laboratórios e derivados de petróleo ou de reações químicas, o que aumentava a toxicidade e prejudicava a saúde do homem.Souza conta que os fungos da classe Monascus são mais utilizados pelas indústrias na fabricação de corantes e pigmentos pela produção em larga escala, mas as micotoxinas

(substâncias químicas tóxicas produzidas por fungos) reduzem o valor comercial e impedem a sua aplicação como corantes nos Estados Unidos ou em países da União Europeia e parte da Ásia.

“O Brasil já tem algumas restrições de uso de corante sintético na indústria farmacêutica e alimentícia”, afirmou. Já em países desenvolvidos, o uso de corantes naturais é amplamente disseminado.

Novas pesquisas estão sendo feitas com o fungo Penicillium sclerotiorum 2AV2 para aumentar a quantidade de corantes para escala industrial e explorar as suas potencialidades biológicas.

foto: carolinerocha

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Fronteiras

O Programa ProAmazônia, criado pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) propõe combater tráficos de minerais nas fronteiras da Amazônia Ocidental e desenvolver estudos científicos em lugares mais remotos da região. Outros objetivos do ProAmazônia são oferecer infraestrutura e suporte logístico para os pesquisadores e alunos. A previsão é que até 2022, o ProAmazônia apresente resultados eficazes na defesa da fronteira e da floresta e reduza exponencialmente o tráfico. O Programa foi apresentado oficialmente durante a 67º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

FIquE CIENTE

Mais investimentos

O Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) consegue alavancar para cada 1 real investido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) quase 19 reais de investimentos para os seus projetos, que são convertidos em pesquisas para entender o clima e as consequências das mudanças climáticas na região. Todo semestre, o programa divulga o LBA em Números. O informativo apresenta os dados quantitativos e de transparência sobre o programa. Entre os projetos desenvolvidos pelo LBA, está o Go Amazon e a Torre ATTO (Amazon Tall Tower Observatory). Ao todo são 843 pesquisadores e bolsistas envolvidos em 33 projetos.

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Nova Lei da Biodiversidade Agora conhecida como Marco Legal da Biodiversidade, a Lei 13.123/2015, vai incentivar e facilitar as pesquisas sobre espécies da flora e fauna brasileira e proteger os conhecimentos dos povos tradicionais brasileiros, e permitir que o país avance na área de biotecnologia. O benefício da Lei também se estende aos serviços agrícolas e mais fomento para as produções de novos produtos biocosméticos. Comparado ao texto anterior, a Medida Provisória 2.186-16 de 2001, vai reduzir a burocracia no acesso ao patrimônio genético. A Lei foi sancionada pela Presidente da República, Dilma Rousseff, no primeiro semestre de 2015.

Mais investimentos

O Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) consegue alavancar para cada 1 real investido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) quase 19 reais de investimentos para os seus projetos, que são convertidos em pesquisas para entender o clima e as consequências das mudanças climáticas na região. Todo semestre, o programa divulga o LBA em Números. O informativo apresenta os dados quantitativos e de transparência sobre o programa. Entre os projetos desenvolvidos pelo LBA, está o Go Amazon e a Torre ATTO (Amazon Tall Tower Observatory). Ao todo são 843 pesquisadores e bolsistas envolvidos em 33 projetos.

Raridade amazônica Considerado “vulnerável” de acordo com a lista de espécies ameaçadas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o cachorro-vinagre (Speothos venaticus) foi registrado nas florestas de Igapó na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no município de Maraã, interior do Amazonas. Em três anos de amostragem, apenas três registros da espécie foram feitos. Os estudos foram realizados pelo pesquisador associado do Instituto Mamirauá, o biólogo Daniel Gomes da Rocha. O registro inédito só foi possível com a instalação de armadilhas fotográficas em diversos pontos da reserva.

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Dia NacionalDas Aves

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Foto: Anselmo d'A�onseca

“�guinha-do-mangue”Conirostrum bicolor

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Por: Josiane Santos

Dia NacionalDas Aves

05/10

Foto: Anselmo d'A�onseca

“�guinha-do-mangue”Conirostrum bicolor

foto: Anselmo D’AffonsecA

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EntrevistaMyrian Nydes Monteiro da Rocha

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Conceito, desafios e aplicabilidade da economia solidária no BrasilPOR JOSIANE SANTOS

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Ciência para todos: Qual o conceito de economia solidária (E.S)?Myrian Nydes Monteiro da Rocha: O conceito mais amplamente aceito e divulgado é o do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) que trata a economia solidária como sendo o conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadores (as) sob a forma coletiva e autogestionária. Este conceito traz em si os elementos caracterizadores sem os quais não é possível falar em economia solidária e são eles: a atividade econômica viável, ou seja, um conjunto de atividades de uma coletividade humana relativas à produção e consumo de riquezas; a solidariedade, entendida como partilha de mesmos interesses, opiniões e sentimentos numa relação de auxílio mútuo; a forma coletiva, entendida como um conjunto de pessoas numa relação de cooperação e; por fim, a forma autogestionária em que a prática do gerenciamento é feito por todos numa relação sem hierarquias.CT: Quando a economia solidária criou força no Brasil?MR: A economia capitalista em sua dinâmica opressiva, deixou como marcas a exploração do homem e de sua força de trabalho, a degradação do ambiente e a exclusão dos menos favorecidos. No caminho da mudança e da transformação dessa realidade cruel que alija gerações e gerações de todos os bens produzidos pela humanidade, surge a economia solidária, que, por sua vez, cria uma nova lógica onde o homem, a preservação e a sustentabilidade estão na centralidade e não na periferia das questões. O tecido socioeconômico que serviu de pano de fundo para o surgimento da economia solidária foi a crise econômica dos anos 80/90. A partir do final do século XX, tem início a expansão de instituições e entidades de apoio às iniciativas comunitárias e articulações populares, são constituídas as cooperativas populares, as feiras de cooperativismo e as redes de produção e comercialização. É neste momento que a economia solidária cria força no Brasil. A criação do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) e da SENAES em 2003, por iniciativa do Governo Federal, oportunizou a criação de fóruns locais e regionais para debater e promover a economia solidária, abrindo campo para a sua consolidação. É fato que há muito o que se fazer numa estrada quase sem

fim de desafios e dificuldades para que possamos viver uma economia cuja base seja a solidariedade, o que por sua vez, pressupõe que as relações estejam baseadas no auxílio mútuo.CT: Quais são os exemplos de empreendimentos de economia solidária? MR: Os empreendimentos solidários não estão adstritos a um ou outro segmento da economia, ou seja, podem ser encontrados em todos os setores da economia. Veja que economia solidária é uma forma de se organizar que pressupõe a viabilidade econômica, a solidariedade, a cooperação e a autogestão. Estes pressupostos são também características e não fatores impeditivos ou limitadores. Querem dizer que na economia solidária inexiste a exploração da força de trabalho, porque todos são, ao mesmo tempo, “donos” e “trabalhadores”, e porque todos são “donos” serão todos eles que farão a gestão do empreendimento. Desse modo é possível encontrar empreendimentos solidários com a natureza jurídica de simples associações formais e informais ou grupos de produção e clubes de trocas, até grandes cooperativas centrais compostas por cooperativas e associações menores. É possível encontrar ainda, empreendimentos solidários que realizam atividades de produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de crédito como as cooperativas de crédito e os fundos rotativos e ainda comercialização e consumo solidário, cooperativa de catadores, comunidades que usam moeda social em seus clubes de troca e ainda empresas falidas e recuperadas.Existem empreendimentos solidários produtivos nas mais diversas áreas econômicas como associações ou cooperativas agropecuárias, agroindustriais, industriais, de transporte, de artesanato, de reciclagem de resíduos sólidos e até mesmo ecovilas.CT: No sistema capitalista, que é o caso do Brasil, quais principais desafios para aplicação da E.S?MR: Inicialmente, é preciso considerar que uma economia solidária precisa de consumidores solidários. Uma nova economia precisa de novos consumidores. Ideias novas ou práticas novas precisam de formação e informação. Com isto quero dizer que um dos desafios é a implementação de um amplo processo de educação e informação e, neste particular, entrevistas como esta são importantíssimas. Outro desafio é a ressignificação

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do mundo do trabalho que historicamente esteve vinculado a uma economia capitalista altamente competitiva e excludente, evidenciando, inclusive, que economia solidária não se trata apenas de geração de trabalho e renda, nem mesmo é uma proposta para os excluídos do mundo do trabalho, mas para todos sem distinção alguma. Vale destacar, contudo, que de forma dicotômica, dados evidenciam que o principal motivo para a criação de empreendimentos solidários ainda é a busca de alternativas para fazer frente ao desemprego. No que se refere aos empreendimentos solidários propriamente ditos os desafios são de outra ordem e são basicamente três, segundo o Mapeamento Nacional de Economia Solidária: dificuldade de comercialização, dificuldade de acesso ao crédito e falta de assistência ou apoio técnico. Neste contexto o grande desafio é a comercialização. Algo em torno de 70% dos empreendimentos solidários informam que este é o seu maior problema.Mas eu quero chamar a atenção para outro desafio que não aprece no mapeamento nacional, mas que emerge de forma muito significativa no Mapeamento dos Empreendimentos Econômicos Solidários feito no Rio de Janeiro e que a nossa experiência corrobora, que é a fragilidade em relação ao gerenciamento econômico dos empreendimentos. Para que se faça uma ideia, cerca de 30% dos empreendimentos solidários existentes hoje realizaram, no ano de 2013, estudo de viabilidade econômica, estudo de mercado ou mesmo realizaram seu plano de negócio. Fica claro assim que há inúmeros desafios colocados à frente da economia solidária, mas em momento algum estes desafios imobilizaram ou imobilizam aqueles que nela acreditam.CT: Qual o papel das instituições e centros de pesquisas na formação de uma E.S no país?MR: Para melhor tratarmos do papel das instituições e centros de pesquisa precisamos, inicialmente, falar de tecnologia social e sua importância. Há um relativo consenso em torno de um conceito de tecnologia social que afirma ser ela um conjunto de atividades relacionadas a estudos, planejamento, ensino, pesquisa, extensão e desenvolvimento de produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, que representem soluções para o desenvolvimento social e melhoria das condições de vida da população. Partindo deste conceito, percebemos claramente que tais tecnologias são de suma importância, pois podem vitalizar, dinamizar, preencher lacunas, trazer respostas aos muitos desafios colocados para a

economia solidária. Desse modo, fica igualmente claro a importância das instituições de ensino (universidades) e centros de pesquisas como produtores dessa nova matriz tecnológica. Eu diria mesmo que desempenham um papel vital ao desenvolverem ações nas várias modalidades de apoio direto junto aos empreendimentos solidários, tais como capacitação, assessoria, incubação, pesquisa acompanhamento, fomento a crédito, assistência técnica e organizativa. Um exemplo do que estou falando é a Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (Rede de ITCPs), criada em 1998 por seis incubadoras (UFRJ, UFC, USP, UFPR, UNEB, UFRPE) e que hoje conta com 41 incubadoras com o objetivo de apoiar a formação e consolidação de empreendimentos solidários e ainda prestar assessoria e formação aos empreendimentos e grupos já existentes. Nada menos que cerca de 200 docentes e pesquisadores e 750 estudantes estão vinculados às incubadoras, desenvolvendo tecnologia social e fazendo a diferença que permite aos empreendimentos solidários permanecerem vivos. Vale ressaltar que a Coordenação Regional Norte, da Rede de ITCPs, está representada pela Universidade Federal do Tocantins (UFT).CT: A quem deseja implantar economia solidária na sua comunidade ou região quais são pontos a considerar e estudar antes da implantação? MR: Dificilmente alguém abraça uma ideia sem um mínimo de informação ou esclarecimento. Aderir a uma nova economia prescinde de conhecimento. Economia solidária é uma nova forma de fazer economia e por isso mesmo é um fenômeno social novo, com características particulares, inerentes ao contexto histórico em que nasceu. Como é muito jovem é ainda pouco conhecida e sua lógica é diametralmente oposta à lógica do capitalismo que todo mundo conhece, então antes de implantar economia solidária numa comunidade ou região é preciso estratégias focadas na informação e na formação em economia solidária. É preciso alargar horizontes, formar mentalidade solidária e construir uma cultura de cooperação e autonomia. É fato, contudo, que tudo isto exige tempo, muito tempo, até porque o que se deseja com a economia e o desenvolvimento solidário é a melhoria da comunidade como um todo e não de alguns. Quanto aos empreendimentos solidários em si é preciso considerar que todo e qualquer empreendimento econômico, quer seja solidário ou não, exige

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planejamento. Não é possível imaginar que se possa chegar a um lugar seguro sem que se saiba de onde partir, por onde passar, com que meios contar, quais as possíveis opções e por fim, aonde chegar. A viabilidade econômica é uma das características essências de um negócio solidário. Desse modo, o plano de negócio, o estudo de viabilidade econômica, o estudo de mercado e até mesmo o estudo para a formação de preço são tão importantes para um empreendimento solidário, como para qualquer outro negócio numa economia capitalista.CT: Quais são os desafios para aplicação da E.S aqui na região amazônica?MR: A globalização e a consolidação de doutrinas neoliberais trouxeram como consequência o desemprego, que por sua vez tornou-se um grande problema da atualidade. O que se pode verificar foi uma significativa massa de desempregados, bem como a deterioração da qualidade de vida dos trabalhadores pela perda de conquistas sociais históricas. Esta consequência, o desemprego, foi sentida e percebida sem maiores dificuldades na chamada Zona Franca de Manaus e seus reflexos puderam ser vistos e sentidos na produção e reprodução do espaço urbano fragmentado por bolsões de pobreza que foram se formando na periferia de Manaus (AM). Em que pese as políticas públicas compensatórias o que se tem é uma exclusão crescente de uma parcela cada vez maior da população, especialmente a urbana, e isto por si só é desafiador e traz contornos de complexidade à efetiva aplicação da economia solidária na região amazônica. Outro aspecto são as distâncias continentais característica da região amazônica. Tudo e todos estão gigantescamente distantes e por vezes num quase completo isolamento. Neste contexto, é desafiador pensar em formar uma cultura baseada no consumo ético e na mudança de paradigmas, fundada no novo e destinada a promover pessoas e coletividades sociais. Mas vale ressaltar que importantes experiências solidárias no Amazonas tiveram início nas décadas de 1950/60 com iniciativas cooperativadas, mas somente nos anos 1980/90 é que surgiram as cooperativas de crédito e de trabalho. Com isto, quero dizer que, se de um lado há desafios a serem superados, por outro há uma disposição e abertura para o novo, para soluções solidárias e autogestionárias.

CT: Quais exemplos bem sucedidos que a sra. pode citar no Brasil?

MR: São vários os exemplos de empreendimentos solidários bem sucedidos. Podemos citar alguns como a Cooperativa Artemãos criada por mulheres do bairro de Águas Claras em Salvador (BA), que produzem bonecas e vários produtos de tecido e a Associação Ciranda Cirandinha, na Paraíba, que existe desde 1972, produzindo artesanato e com loja no Mercado Municipal de João Pessoa. Um exemplo importantíssimo é o Banco Palmas, situado na periferia de Fortaleza (CE), tem como missão implantar programas e projetos de trabalho e geração de renda, utilizando sistemas econômicos solidários, na perspectiva de superação da pobreza urbana. Este Banco é um caso exemplar por oferecer crédito tanto para o consumo como para a produção, por meio de uma moeda social e desta forma gerar renda localmente e assim mudar para melhor a realidade das pessoas que moram ali. Inúmeros empreendimentos solidários surgiram a partir do apoio do Banco Palmas.Outro exemplo é a Rede Justa Trama, criada em 2005 e formalizada em 2008. Ela é uma cooperativa central, composta por sete cooperativas ou associação singulares e reúne cerca de 600 trabalhadores e trabalhadoras, de empreendimentos autogeridos situados em Rondônia onde a Cooperativa Açaí produz botões e acessórios, no Ceará onde o algodão nas cores cru, mesclado e marrom são cultivados e no Mato Grosso do Sul onde o algodão nas cores verde e rubi são plantados, todos de maneira ecologicamente correta, em Minas Gerais onde os fios e os tecidos são produzidos, em Santa Catarina e Rio grande do Sul onde as tecelãs e costureiras das cooperativas Fio Forte, Inovarte e UNIVENS produzem as roupas para serem vendidas em lojas situadas principalmente nos aeroportos brasileiros. Como exemplo de empresas recuperadas, temos o caso da recuperação da Usina Catende, em

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Pernambuco, por seus trabalhadores e trabalhadoras, considerado por muitos, como a maior experiência brasileira em economia solidária.CT: Ainda há preconceito em relação ao que se produz na economia solidária? Como romper ou amenizar essa barreira?MR: Por um lado o que se percebe é que há hoje um nível de exigência muito grande quanto à qualidade de produtos ou serviços e dessa forma não é qualquer coisa que serve para o consumidor. Busca-se qualidade, além de um bom preço, acesso a crédito, diversidade e criatividade, independentemente de ser um produto ou serviço originário de uma relação capitalista ou solidária e os empreendedores solidários não estão alheios a esta realidade.Por outro lado é sabido que os empreendimentos solidários recebem apoio, porém de forma pulverizada, não representando políticas ou programas específicos para a economia solidária e o que se tem é a reduzida oferta de acesso a apoio, assessoria e capacitação. Quando se analisa os dados referentes às necessidades apontadas pelos empreendimentos solidários, disponíveis por meio de mapeamentos, percebe-se que não há, nem mesmo citação de designer, criação de linhas e produtos para atender demandas do consumidor. Ora, desse modo, é claro que os seus produtos e serviços terão enorme dificuldade em ocupar lugar nas prateleiras de supermercados, ou vitrine de lojas em shopping, por exemplo, ficando, na maioria das vezes adstrita a espaços solidários

de comercialização, razão pelas quais inúmeros empreendimentos solidários têm vida curta.

O processo de reversão deste quadro é longo e difícil exigindo tempo e esforço, além de ações voltadas a atender tanto às demandas dos empreendimentos solidários, quanto de formação do novo consumidor comprometido com a solidariedade, com a sustentabilidade e com o respeito ao outro

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Física, ciência, poesia e

As fases da evolução, tendo o cosmos e o ser humano como referência, perpassam em sequência pela física, química, biologia e cognição e, embora não tenhamos ainda ciência plena, outras fases certamente virão. Em sua bela obra O Universo Numa Casca de Noz, o grande físico teórico Stephen William Hawking, numa alusão “Shakespeareana” da peça Hamlet, menciona que, “Poderia viver encerrado numa casca de noz e julgar-me o rei do espaço infinito”, ou “Embora nós, seres humanos, sejamos muito limitados fisicamente, nossas mentes estão livres para explorar todo o universo, e irmos intrepidamente até onde mesmo a jornada nas estrelas teme avançar – se os sonhos atormentados permitirem”.

Aos quinze anos de idade e num momento de reflexão escrevi que “A vida é a eterna busca do equilíbrio”. Posteriormente, quando estava cursando pós-graduação, acrescentei que “Nessa busca percebemos que sempre podemos ser melhores do que nós mesmos”. Talvez esta grande busca tenha mesmo iniciado cerca de 15 bilhões de anos atrás com o Big Bang e, como somos parte da mesma energia, desde o Big Bang até o momento atual, e pelo mundo e tempo afora,w tudo seja mais do mesmo, e sempre será. Assim, provavelmente, não é por acaso que um dos luminares da ciência moderna, Carl Edward Sagan, que foi um dos primeiros cientistas a estudar o efeito estufa em escala planetária, tenha definido o termo cosmos como sendo “Tudo o que já foi, tudo o que é e tudo que será”. Ainda, certamente toda a energia do cosmos, incluindo-se aquela dos seres vivos e pensantes, deve estar homeostática e filogeneticamente conectada, como sugere a física quântica e o nosso livre pensar. Pois, a energia nunca é criada nem destruída e sim, poeticamente, “vagueia por aí” em diferentes roupagens e quânticas embalagens. Ademais, a partir do senso lógico e de muita imaginação do grande filósofo Anaxágoras (500 a 428 a.c.), considerado o precursor do desenvolvimento da teoria atômica, talvez possa ser intuído que no processo evolutivo a consciência seja o universo em nossa mente. Da mesma fascinante

escola filosófica e “atomicista”, Demócrito e Leucipo consideravam de forma instigante que, a existência de nosso mundo (cosmos) e da humanidade não é especial e sim inexorável. E como tudo está interconectado, o que acontece em algum lugar afeta o que acontece em toda parte. Ideia essa aventada no entrelaçamento quântico, que incrivelmente oferece uma maneira de transmitir informação mais rápido do que a velocidade da luz, a qual é até o presente momento nosso ponto máximo de referência quanto a rapidez.

Continuando neste diapasão, o belíssimo, complexo e infindável cosmos é bem retratado na agradável obra de Marcelo Gleiser Criação Imperfeita, na qual o autor menciona que, “A beleza está na assimetria e se não fosse por ela não existiríamos, pois haveria somente radiação no universo”. Esta assimetria talvez possa ser vislumbrada como a diversidade tão bem representada pela região Amazônica, que tem o imprint” do universo (nossa galáxia), o DNA de nosso planeta, o fenótipo do Brasil e características epigenéticas próprias que simbolicamente se apresentam como diferentes cores, texturas, aromas e sabores, que se encontram presentes nos mais variados e exuberantes ecossistemas de nossa Casa Mater, a Terra. No entanto, apesar de toda a sua exuberância e imensidão em áreas inundadas e alagáveis a Amazônia tem sede. Sede de desenvolvimento, que necessita da criação de uma matriz (momentum) adequada à sua realidade, pois a saga pelo desenvolvimento (movimento) é na realidade uma batalha natural contra a inércia e/ou atraso. Num paralelo, ao formular a lei da gravidade, Newton demonstrou que todo o universo é governado pelas mesmas leis, as quais podem ser modeladas, obviamente se tivermos a intuição, o conhecimento e as ações adequadas para tal, sem egos ou vaidades desnecessárias. Com esse nobre espírito o recém-criado Programa ProAmazônia, idealizado pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) na pessoa de seu ilustre Comandante, o General Guilherme Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, veio para desenvolver esta nova matriz adequada e

luiz renato de frança

diretor do inPa a busca da verdade

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Física, ciência, poesia e

necessária a tão negligenciada região Amazônica. O INPA tem o privilégio de ser um importante parceiro desta grandiosa iniciativa.

Os processos químicos são a essência da vida. A título de exercício e reflexão, gostaria de citar a publicação recente de Nick Lane - A questão vital: energia, evolução e as origens da vida complexa (2015) - na qual o autor especula de maneira muito interessante o que teria tornado possível o grande florescer da biodiversidade. Nesta instigante obra, a partir de ideias evolucionistas, Nick Lane considera que a origem da vida teria ocorrido num acaso fortuito há bilhões de anos, quando um microrganismo passou a viver dentro de outro. Esse evento não foi uma divisão da árvore evolucionária, mas uma fusão com consequências profundas. O novo inquilino (mitocôndria) forneceu energia para o hospedeiro, pagando aluguel químico em troca de habitação segura. Com a renda extra, a célula hospedeira pôde se dar ao luxo de fazer investimentos em comodidades biológicas mais complexas. A união prosperou, replicou e evoluiu. Em função da mitocôndria, células complexas têm quase 200 mil vezes mais energia por gene, abrindo espaço para genomas maiores e evolução irrestrita. Portanto, na minha opinião, está aí representado o resultado de um grande desafio e de empreendedorismo bem sucedido. Citando o médico, psicanalista e tri-campeão mundial de futebol, Eduardo Gonçalves “Tostão”, de certa forma os grandes desafios estão em evitar o provincianismo, a visão estreita e viciada, a falta de conhecimento e de reconhecimento do que existe de melhor pelo mundo e, tentar enxergar o que não é espelho. Ademais, no que concordo plenamente, os empreendimentos bem sucedidos são a vitória da poesia e da prosa, da forma e do conteúdo, da invenção e da razão. Tudo tem a sua lógica, porém as lógicas são muitas. Mas as ideias grandiosas não surgem do nada. E, não arriscar, é arriscar tudo (Al Gore).

Nosso planeta, aí se incluindo obviamente a região Amazônica, é uma entidade muito dinâmica e,

como tal, por ações naturais e/ou antropogênicas, encontra-se em constante modificação. De acordo com dados recentes, pela primeira vez na história humana a concentração do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera passou a marca das 400 ppm (partes por milhão). A última vez que tanto gás-estufa estava presente na atmosfera foi há muitos milhões de anos, quando o Ártico não era coberto de gelo, o Saara era coberto por savana e o nível do mar era até 40 metros mais elevado do que hoje. Neste cenário, os corais sofreram um processo grande de extinção, enquanto as florestas cresceram perto do Ártico, onde hoje existe tundra. De acordo com Bob Ward, diretor do Instituto Grantham de Pesquisa de Mudança Climática, da Escola de Economia de Londres, “É como fazer 50 anos: é um alerta para tudo o que está acontecendo na sua frente o tempo todo. Estamos criando um clima pré-histórico em que sociedades humanas enfrentarão riscos enormes e potencialmente catastróficos”. Sem adentrar aqui nos efeitos nefastos das poluições e da ganância humana, temos que integrar expertises científicas vigentes comprometidas com o melhor para a raça humana e tentar compreender o que irá ocorrer e desenvolver modelos adequados à mitigação ou mesmo prevenção do que há por vir. Pois, a exuberante diversidade amazônica como um todo corre grande risco. Localmente e em grande escala, o INPA já desenvolve grandes projetos neste sentido. Mas, certamente, esforços maiores e em escala global serão necessários e há que se integrar os olhares de dentro para fora com aqueles que perscrutam e descortinam de fora para dentro, propiciando, através de ações mais ousadas, atrair entusiasmados pesquisadores nacionais e internacionais que queiram contribuir de forma ímpar com o desenvolvimento da região amazônica. Isto permitirá que o Brasil siga adiante e desempenhe o real papel de liderança e de referência que se espera de um País de intrínseca grandeza natural como o nosso. No entanto, desnecessário seria dizer que o homem e a natureza deverão ser o foco principal das ações e dos benefícios dos desenvolvimentos científico-tecnológicos gerados.

a busca da verdade

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Numa outra vertente, talvez mais psicanalítica e humanística, tanto na vida quanto na natureza o acaso também desempenha importante papel e, embora exista uma lógica maior, existem muitas maneiras de ser e poucas maneiras ainda para se definir os fenômenos e as complexidades que permeiam a alma humana e o cosmos. Neste contexto, não se deve perder a capacidade de se observar e de se perceber as subjetividades e o que não está claro ou patente. Pois, muito do que existe se passa nas entrelinhas não sendo, portanto, fácil de se mensurar e de se perscrutar os encantos e a complexidade da natureza. Neste sentido, o conhecimento de forma abrangente amplia a nossa capacidade de perceber, refletir e de se propor soluções. Principalmente pelo fato de que, neste contínuo, desde o grande início ou despertar dos mundos, tudo é mais do mesmo e a percepção do olhar é que faz a diferença. E, este contínuo integrador de identidades foi bem expressado pela grande poetisa brasileira Cora Coralina ao mencionar “Venho do século passado e trago comigo todas as idades”. Ainda neste amplo contexto, o médico e psicanalista Eduardo Gonçalves “Tostão” escreveu recentemente que “Freud, antes de criar a psicanálise, foi biólogo, médico, neurologista. Após longa carreira, disse que os grandes poetas e escritores já tinham imaginado muitas das coisas que ele aprendera e descobrira, e que ele só aprofundou e organizou cientificamente os conhecimentos”. Portanto, uma de nossas nobres missões como pesquisadores e gestores é a de ampliarmos cada vez mais a nossa percepção e conhecimentos e, humildemente, vislumbrarmos o que é melhor para a Amazônia, o Brasil e o nosso

frágil e ainda resiliente planeta Terra. Não devemos, no entanto, perder o foco no desenvolvimento e nas ações que preservam a dignidade humana. Pois, se é possível ousar e sonhar, o futuro é agora, e o melhor está sempre por vir. E, tanto na vida quanto na ciência, procuramos a verdade (conhecimento). No entanto, não existe uma verdade única e universal e sim verdades. E quando encontramos uma verdade isto nos dá a possibilidade de procurarmos outras verdades, sucessiva e indefinidamente. Pois, a verdade é incognoscível (o que não se pode conhecer). Ademais, de acordo com o escritor e jornalista Millôr Fernandes, existem muitas meias verdades e “O perigo de uma meia verdade é que se diga exatamente a metade que é mentira”.

Por fim, em sua imensidão, o Brasil e particularmente a Amazônia são ainda muito carentes. Portanto, em grande parte, neste importante momento da evolução humana a nossa busca pela verdade e pelo conhecimento é, na realidade, a busca pela liberdade de pensamento, justiça, honra, dignidade e amor próprio e, por consequência, de desenvolvimento pleno. A natureza que aí está levou milhões e milhões de anos para se adaptar às condições nas quais ela se encontra e viceja, pronta para que a decifremos e usufruamos do aprendizado por ela árdua e sabiamente conquistado. Assim, em nossos sonhos migratórios e peremptórios, talvez estejamos procurando muito longe o que provavelmente esteja tão perto e ao “nosso alcance”, se os sonhos atormentados permitirem.

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Amazônia tem maior torre de

pesquisa do mundo

A maior torre de monitoramento climático do mundo fica no meio da floresta amazônica e

trará benefícios para todo o planeta, por meio de pesquisas que ajudarão a compreender os efeitos

das mudanças climáticas na região amazônica e ainda a influência da Amazônia para o mundo

por fernandafarias

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Maior que a torre Eiffel em Paris, a torre ATTO (Amazon Tall Tower Observatory), com 325 metros, servirá para que os pesquisadores compreendam ainda mais sobre a interação entre o clima e a floresta. O projeto também será responsável pelo monitoramento dos efeitos das mudanças climáticas globais na floresta amazônica.Conhecido também como observatório de Torre Alta da Amazônia, o projeto ATTO está localizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, no município de São Sebastião do Uatumã (150 quilômetros de Manaus), Amazonas. A ATTO é uma parceria entre Brasil e Alemanha, por meio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e os Institutos Max Planck de Química e Biogeoquímica.

Expectativas

O coordenador pela parte brasileira, o pesquisador do Inpa Antonio Manzi, conta que a ideia inicial de construir a torre veio do Instituto Max Planck da Alemanha, que já construiu uma torre de monitoramento na Sibéria, com 300 metros. Mas segundo ele, o Brasil propôs ampliação das áreas de pesquisas de ponta, como na área de química da atmosfera (para medir trocas gasosas, arressóis e reações químicas), na área de física de nuvens (formação de chuvas), e na área

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de processos de transporte de energia e matéria (entre a floresta e a atmosfera).“Outra linha de pesquisa que conseguimos inserir, com a utilização da torre ATTO, foi a de observação direta da dinâmica dos ecossistemas de floresta de terra firme. Também pretendemos, em longo prazo, medir os efeitos das mudanças climáticas globais na região amazônica, por meio das medições das interações entre a atmosfera e a biosfera. Com isso, a torre se tornará referência mundial em pesquisas sobre florestas tropicais úmidas”, comentou.

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Ainda de acordo com o

coordenador, quatro torres de 80

metros cada uma, ao redor da

torre ATTO, serão construídas com

o intuito de auxiliar a medição dos

dados da torre principal. “Estamos

contando que a torre funcione sem

parar durante uns 20, 30 anos,

24h por dia”, informou Manzi.

O investimento da cooperação

científica entre Brasil e Alemanha

foi de R$ 26 milhões, rateados

em 50% para cada governo, para

a construção da Torre ATTO, que

faz parte do Programa de Grande

Escala da Biosfera-Atmosfera na

Amazônia (LBA) do Inpa. Do lado

brasileiro, o projeto está sendo

financiado pelo Ministério Federal

da Ciência, Tecnologia e Inovação

(MCTI) e pelo Governo do

Amazonas, e do lado alemão, pelo

Ministério Federal de Educação

e Pesquisa (BMBF). Cerca de

vinte instituições brasileiras e

instituições de outros países estão

envolvidas no projeto.

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Inauguração da Torre

No dia 22 de agosto aconteceu a cerimônia de inauguração do projeto ATTO, na reserva do Uatumã, onde esteve presente o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Aldo Rebelo, várias autoridades das instituições parceiras, e a mídia nacional e internacional.

foto: fernanda

farias

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O b j e t i v o s da torre de monitoramento climático

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- Medir a eMissão e a absorção de gases do efeito estufa na floresta.

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- CoMpreender Melhor a influênCia da região aMazôniCa para CliMa global

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- estudar partíCulas eM suspensão que proMoveM a forMação de nuvens, os aerossóis.

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- investigar o transporte de Massas de ar por quilôMetros.

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Sustentabilidade, turismo e qualidade de vida num só lugar

O Flutuante Amigo do Boto-vermelho servirá como uma base para pesquisas dos botos aliando turismo e educação ambiental. A plataforma ainda reabilita crianças com necessidades especiais e promove a conservação da espécie.

foto: fernanda farias

Por caroLinerocha

Ameaçados de extinção, os botos vermelhos (Inia geoffrensis) ganharam um lugar especial na Amazônia. Localizada a mais de 80 quilômetros de Manaus, no município de Iranduba, a plataforma “Flutuante Amigo do Boto-vermelho” aproxima o homem da natureza, unindo sustentabilidade, lazer e

qualidade de vida para os

turistas e para as crianças com deficiências físicas e mentais. A educação ambiental e a valorização dessas espécies também são um dos objetivos do projeto.O local vai servir de base para pesquisas e conservação dos botos vermelhos. O projeto, Ecoturismo Amigo do Boto-vermelho da Amazônia, também

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leva capacitação no ramo de Ecoturismo Amigo do Boto-vermelho da Amazônia, também leva capacitação no ramo de turismo, promovendo a melhora do serviço na região e também a educação ambiental para as 15 famílias de São Thomé. Mais de 100 pessoas da comunidade serão beneficiadas. A plataforma também oferece atividades específicas para ajudar na reabilitação de crianças com necessidades especiais.No amazonas já existem outros quatro flutuantes que realizam atividades de interação com botos amazônicos, mas nenhum possui regulamentação de horários ou informações sobre a espécie. Um diferencial do flutuante (uma espécie de casa sobre as água) será a implementação de horários de funcionamento e informações contidas em banners e folders sobre a conservação da espécie. O flutuante é uma parceria entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e a Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa).De acordo com a pesquisadora do Inpa, Vera Silva, a ideia da plataforma é regulamentar os horários de visitação nos flutuantes e estabelecer normas de interação com os botos que resultem em baixo impacto ambiental para a espécie. “Queremos mostrar que é possível fazer um turismo bem estruturado e organizado, onde os visitantes tenham consciência da importância deles para o meio ambiente”, explicou a pesquisadora.

Para o diretor executivo da Ampa, Jone Silva, o flutuante irá despertar interesse nos turistas e chamar atenção para a conservação e valorização dos botos, por meio de placas didáticas e informações bilíngues (português e inglês) que explicam mais sobre o animal, hábitat e ameaças. “O turista não vai apenas interagir com os botos, ele também passará a ter mais conhecimento sobre a espécie”, afirmou Silva, ao revelar que novos cursos são preparados para a comunidade.Construído com madeira de manejo florestal, retiradas das Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) da região do baixo Rio Negro, o flutuante possui um sistema de tratamento de efluentes, que purifica os resíduos gerados no banheiro para depois despejar no rio com aspectos semelhantes às águas do rio. O empreendimento é uma realização da Ampa, com apoio do Inpa e financiamento da Oi Futuro.

Alerta Vermelho Dócil e curioso, o boto vermelho (Inia geoffrensis) é um mamífero aquático e símbolo da Amazônia. Nas últimas duas décadas a espécie tem sido ameaçada de extinção, pois sua carne é utilizada como isca para a pesca do peixe piracatinga (Calophysus macropterus), popularmente conhecido como “douradinha”. Atualmente o número de botos mortos por ano varia entre 2.500 a 4.000 na Amazônia.

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Boo é a Trichechus inunguis mais antiga do Parque Aquático Robin C. West, dentro do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). Você já viu um Trichechus

inunguis? Talvez você conheça pelo nome popular de peixe-boi e Boo. A entrevistada desta edição é uma fêmea de peixe-boi da Amazônia, espécie exclusiva dos rios

Amazônicos. Boo ainda era �lhote quanto sua mãe foi morta. Antes de ser resgatada e levada ao

Inpa/MCTI ela estava sendo criada como animal de estimação pelo �lho de um pescador, no interior do Amazonas, na década de 70. Nessa época a biologia desse mamífero

aquático ainda era pouco conhecida e a chegada de Boo ajudou os pesquisadores a entender melhor sua espécie.

Para que você conheça e aprenda mais sobre esse animal magní�co, con�ra nossa reportagem.

Claro! Eu, um peixe-boi da Amazônia, sou um mamífero que vive na água. Nós podemos pesar mais de 400 quilos e medir até 3 metros. Nosso couro, muito espesso, é cinza escuro e temos uma mancha branca ou rosada na barriga. Estudos estimam que nossa expecta-tiva de vida possa chegar aos 40 anos, em cativeiro. Na natureza esse número pode variar devido à ameaça humana, alimentação escassa ou doenças. Vivendo aqui no Inpa/MCTI eu consegui chegar aos 41 anos de idade.

Você pode contar para as crianças que ainda não conhecem um peixe-boi quais as características gerais da sua espécie? Aqui no parque aquático, onde moro, eu e

meus amigos somos cuidados com muito carinho pela Associação Amigos do Peixe-boi da Amazônia (AMPA) e pelo laboratório dos Mamíferos Aquáticos (LMA/Inpa). Nossa água é trocada duas vezes por semana e passamos por exames a cada três meses para veri�car nossa saúde. Os �lhotes, por sua vez, possuem uma rotina mais agitada que a nossa. Todos os dias a água de seus tanques é trocada. Como estão em fase de crescimento, são amamenta-dos até seis vezes por dia! Semanalmente passam pela biometria para acompanhar seu desenvolvimento.

O que você faz o dia inteiro?

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Como sou um animal herbívoro, alimento-me apenas de plantas. Aqui no Inpa a dieta dos adultos é variada. Tem cenoura, repolho, cará, feijão de corda e abóbora. Uma vez por semana nós recebemos um carrega-mento delicioso de macró�tas, que são plantas aquáticas encontradas na natureza. Minha preferida é o mureru, também conhecida como aguapé. Para manter minha estatura física preciso consumir mais de 10% do meu peso em comida diariamente, por isso passo várias horas comendo. Meu corpo armazena tudo em forma de gordura, razão pela qual sou rechonchuda.

Como é a sua alimentação? Alguma comida preferida?

Como é a sua alimentação? Alguma comida preferida?

Sim, eu sou mãe e tive três �lhotes aqui no Inpa. O meu primeiro bebê, chamado Erê, foi gerado e nascido aqui em 1998. Depois dele eu tive um �lhote que infelizmente nasceu morto. Mas logo adotei os órfãos Tapajós e Manaós. Eles �caram comigo bastante tempo e todos �caram felizes com esse feito. Em 2004 tive outro bebê, Kinja. Em 2010 nasceu meu terceiro bebê, Ayrumã. Logo em seguida adotei minha terceira �lha, Erapuã.

Como é a sua casa no Inpa?

Moro num grande tanque azul com outros da minha espécie. Aqui somos muito bem tratados. Veterinários, pesquisadores e cuidadores nos alimentam, limpam a água e confer-em a nossa saúde periodicamente, além de conversarem muito com a gente. É assim que sabemos das novidades, quando tem um novato chegando, por exemplo.

A convivência aqui é bastante pací�ca. Apesar de sermos grandes, somos animais dóceis. É óbvio que há um cuidado parental no qual a mãe protege a cria e a defende, mas no geral é bem raro apresentarmos um comportamento agressivo.

Órfãos? Isso é preocupante. E por que isso acontece?

Somos cobiçados e muito caçados, mesmo sendo proibido. Os caçadores criam redes especiais para capturar peixes-bois. Fêmeas grávidas ou que acabaram de dar à luz são visadas por terem mais gordura, que junto com a carne são itens de comercialização mais lucrativos. Há muitas décadas essa matança vem acontecendo. Tanto que, no ano de 2000, entramos para lista vermelha da IUCN (sigla em inglês da União Internacional para Conservação da Natureza). Isso signi�ca que estamos vulneráveis, em extremo perigo. Somos uma espécie muito caçada ou que tem seu habitat destruído pode desaparecer. A situação é séria.

E se tentássemos aumentar a população de peixes-bois? Se nascessem mais �lhotes?

É uma ótima ideia! Todavia nossa biologia não permite que isso ocorra com tanta rapidez, pois nosso ciclo reprodutivo é longo. As fêmeas só atingem a maturidade sexual aos seis anos de idade. Cada gestação dura um ano inteiro com apenas um bebê. Casos de gêmeos são raros. Esse �lhote �ca conosco por dois anos para aprender tudo e ser amamenta-do. Juntando tudo, só temos condições de procriar a cada três ou quatro anos. Devo ressaltar algo sobre essa situação perigosa que vem ocorrendo nos rios da Amazônia: quando uma fêmea é caçada, é bem provável que haja um �lhote junto a ela. A sobre-vivência dele sem os cuidados da mãe é incerta – a maioria não consegue. Quando dão sorte, são resgatados a tempo e têm uma chance de sobreviver.

O que acontece depois de resgatar esses animais?

O �lhote recém-chegado é mantido em quarentena para o acompanham-ento veterinário. Depois desse período, ele passa a compartilhar um tanque com outros �lhotes. O convívio permite que eles interajam e, a partir disso, se acostumem à mamadeira, pois é comum observá-los imitando uns aos outros.Os 15 anos de existência da AMPA somam mais de 200 �lhotes órfãos de peixe-boi da Amazônia resgatados e trazidos ao Inpa/MCTI para os cuidados necessários. Podemos dizer que a reabilitação aqui é um grande sucesso. Para você ter um exemplo, recentemente um desses �lhotes, já adulto, virou embaixador da Amazônia no Aquário de São Paulo. Outros quatro foram transferidos para um semi-cativeiro, em Manaca-puru (AM), aguardando a reintro-dução à natureza, por meio do Programa de Soltura de Peixes-bois da Amazônia, patrocinado pela Petrobras.

Sim. Tem os amigos que vivem nos rios amazônicos e outros peixes-bois de água salgada: o marinho, também conhecido como manati e o peixe-boi africano. As diferenças entre nós três é que eu não possuo unhas nas minhas nadadeiras e eles não têm a mancha branca na barriga. Também há o fato de que a minha espécie é a menor de todas, porém apenas nós, os peixes-bois da Amazônia, vivemos em água doce, então podemos ser encontrados em todos os rios da bacia Amazônica.

Você tem amigos fora do Inpa?

Você tem amigos fora do Inpa?Olha, são 54 no total. Alguns moram aqui há tanto tempo que passaram da idade para voltar à natureza. Outros mais jovens estão se prepa-rando para a soltura. Conosco há 11 �lhotes, vários são órfãos resgatados dos rios amazônicos. Para que eles sobrevivam sem o cuidado de suas mães, o Laboratório de Mamíferos Aquáticos aqui do Inpa desenvolve uma alimentação especial nutriciona-lmente semelhante ao leite materno, no entanto eles também comem verduras de vez em quando.

Em sua opinião, como podemos contribuir para fazer do mundo um lugar mais seguro e saudável para os peixes-bois?

A presença humana precisa ser uma aliada e não inimiga da nossa existên-cia. É necessário que se aprenda a admirar a natureza em seu esplendor em vez de destruí-la para satisfazer uma necessidade pessoal. Isso vale para toda a fauna e �ora. O mundo só pode ser completo se suas criaturas viverem em harmonia, respeitando ao próximo, mesmo que este seja um animal ou planta.

Rios e �orestas devem ser mantidos livres de poluição. Seja um defensor da natureza! Encoraje esse sentimen-to em sua família e entre seus amigos! São as pequenas boas, ações tomadas diariamente, que vão transformando a nossa realidade. Deixe que as próximas gerações tenham o privilégio de conhecer os animais ainda vivos e não apenas por fotos em livros. Se você testemunhar maus tratos, caça ilegal, apreensão de animais silvestres, denuncie!

Como sou um animal herbívoro, alimento-me apenas de plantas. Aqui no Inpa a dieta dos adultos é variada. Tem cenoura, repolho, cará, feijão de corda e abóbora. Uma vez por semana nós recebemos um carrega-mento delicioso de macró�tas, que são plantas aquáticas encontradas na natureza. Minha preferida é o mureru, também conhecida como aguapé. Para manter minha estatura física preciso consumir mais de 10% do meu peso em comida diariamente, por isso passo várias horas comendo. Meu corpo armazena tudo em forma de gordura, razão pela qual sou rechonchuda.

Como é a sua alimentação? Alguma comida preferida?

Como é a sua alimentação? Alguma comida preferida?

Sim, eu sou mãe e tive três �lhotes aqui no Inpa. O meu primeiro bebê, chamado Erê, foi gerado e nascido aqui em 1998. Depois dele eu tive um �lhote que infelizmente nasceu morto. Mas logo adotei os órfãos Tapajós e Manaós. Eles �caram comigo bastante tempo e todos �caram felizes com esse feito. Em 2004 tive outro bebê, Kinja. Em 2010 nasceu meu terceiro bebê, Ayrumã. Logo em seguida adotei minha terceira �lha, Erapuã.

Como é a sua casa no Inpa?

Moro num grande tanque azul com outros da minha espécie. Aqui somos muito bem tratados. Veterinários, pesquisadores e cuidadores nos alimentam, limpam a água e confer-em a nossa saúde periodicamente, além de conversarem muito com a gente. É assim que sabemos das novidades, quando tem um novato chegando, por exemplo.

A convivência aqui é bastante pací�ca. Apesar de sermos grandes, somos animais dóceis. É óbvio que há um cuidado parental no qual a mãe protege a cria e a defende, mas no geral é bem raro apresentarmos um comportamento agressivo.

Órfãos? Isso é preocupante. E por que isso acontece?

Somos cobiçados e muito caçados, mesmo sendo proibido. Os caçadores criam redes especiais para capturar peixes-bois. Fêmeas grávidas ou que acabaram de dar à luz são visadas por terem mais gordura, que junto com a carne são itens de comercialização mais lucrativos. Há muitas décadas essa matança vem acontecendo. Tanto que, no ano de 2000, entramos para lista vermelha da IUCN (sigla em inglês da União Internacional para Conservação da Natureza). Isso signi�ca que estamos vulneráveis, em extremo perigo. Somos uma espécie muito caçada ou que tem seu habitat destruído pode desaparecer. A situação é séria.

E se tentássemos aumentar a população de peixes-bois? Se nascessem mais �lhotes?

É uma ótima ideia! Todavia nossa biologia não permite que isso ocorra com tanta rapidez, pois nosso ciclo reprodutivo é longo. As fêmeas só atingem a maturidade sexual aos seis anos de idade. Cada gestação dura um ano inteiro com apenas um bebê. Casos de gêmeos são raros. Esse �lhote �ca conosco por dois anos para aprender tudo e ser amamenta-do. Juntando tudo, só temos condições de procriar a cada três ou quatro anos. Devo ressaltar algo sobre essa situação perigosa que vem ocorrendo nos rios da Amazônia: quando uma fêmea é caçada, é bem provável que haja um �lhote junto a ela. A sobre-vivência dele sem os cuidados da mãe é incerta – a maioria não consegue. Quando dão sorte, são resgatados a tempo e têm uma chance de sobreviver.

O que acontece depois de resgatar esses animais?

O �lhote recém-chegado é mantido em quarentena para o acompanham-ento veterinário. Depois desse período, ele passa a compartilhar um tanque com outros �lhotes. O convívio permite que eles interajam e, a partir disso, se acostumem à mamadeira, pois é comum observá-los imitando uns aos outros.Os 15 anos de existência da AMPA somam mais de 200 �lhotes órfãos de peixe-boi da Amazônia resgatados e trazidos ao Inpa/MCTI para os cuidados necessários. Podemos dizer que a reabilitação aqui é um grande sucesso. Para você ter um exemplo, recentemente um desses �lhotes, já adulto, virou embaixador da Amazônia no Aquário de São Paulo. Outros quatro foram transferidos para um semi-cativeiro, em Manaca-puru (AM), aguardando a reintro-dução à natureza, por meio do Programa de Soltura de Peixes-bois da Amazônia, patrocinado pela Petrobras.

Sim. Tem os amigos que vivem nos rios amazônicos e outros peixes-bois de água salgada: o marinho, também conhecido como manati e o peixe-boi africano. As diferenças entre nós três é que eu não possuo unhas nas minhas nadadeiras e eles não têm a mancha branca na barriga. Também há o fato de que a minha espécie é a menor de todas, porém apenas nós, os peixes-bois da Amazônia, vivemos em água doce, então podemos ser encontrados em todos os rios da bacia Amazônica.

Você tem amigos fora do Inpa?

Você tem amigos fora do Inpa?Olha, são 54 no total. Alguns moram aqui há tanto tempo que passaram da idade para voltar à natureza. Outros mais jovens estão se prepa-rando para a soltura. Conosco há 11 �lhotes, vários são órfãos resgatados dos rios amazônicos. Para que eles sobrevivam sem o cuidado de suas mães, o Laboratório de Mamíferos Aquáticos aqui do Inpa desenvolve uma alimentação especial nutriciona-lmente semelhante ao leite materno, no entanto eles também comem verduras de vez em quando.

Em sua opinião, como podemos contribuir para fazer do mundo um lugar mais seguro e saudável para os peixes-bois?

A presença humana precisa ser uma aliada e não inimiga da nossa existên-cia. É necessário que se aprenda a admirar a natureza em seu esplendor em vez de destruí-la para satisfazer uma necessidade pessoal. Isso vale para toda a fauna e �ora. O mundo só pode ser completo se suas criaturas viverem em harmonia, respeitando ao próximo, mesmo que este seja um animal ou planta.

Rios e �orestas devem ser mantidos livres de poluição. Seja um defensor da natureza! Encoraje esse sentimen-to em sua família e entre seus amigos! São as pequenas boas, ações tomadas diariamente, que vão transformando a nossa realidade. Deixe que as próximas gerações tenham o privilégio de conhecer os animais ainda vivos e não apenas por fotos em livros. Se você testemunhar maus tratos, caça ilegal, apreensão de animais silvestres, denuncie!

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Como sou um animal herbívoro, alimento-me apenas de plantas. Aqui no Inpa a dieta dos adultos é variada. Tem cenoura, repolho, cará, feijão de corda e abóbora. Uma vez por semana nós recebemos um carrega-mento delicioso de macró�tas, que são plantas aquáticas encontradas na natureza. Minha preferida é o mureru, também conhecida como aguapé. Para manter minha estatura física preciso consumir mais de 10% do meu peso em comida diariamente, por isso passo várias horas comendo. Meu corpo armazena tudo em forma de gordura, razão pela qual sou rechonchuda.

Como é a sua alimentação? Alguma comida preferida?

Como é a sua alimentação? Alguma comida preferida?

Sim, eu sou mãe e tive três �lhotes aqui no Inpa. O meu primeiro bebê, chamado Erê, foi gerado e nascido aqui em 1998. Depois dele eu tive um �lhote que infelizmente nasceu morto. Mas logo adotei os órfãos Tapajós e Manaós. Eles �caram comigo bastante tempo e todos �caram felizes com esse feito. Em 2004 tive outro bebê, Kinja. Em 2010 nasceu meu terceiro bebê, Ayrumã. Logo em seguida adotei minha terceira �lha, Erapuã.

Como é a sua casa no Inpa?

Moro num grande tanque azul com outros da minha espécie. Aqui somos muito bem tratados. Veterinários, pesquisadores e cuidadores nos alimentam, limpam a água e confer-em a nossa saúde periodicamente, além de conversarem muito com a gente. É assim que sabemos das novidades, quando tem um novato chegando, por exemplo.

A convivência aqui é bastante pací�ca. Apesar de sermos grandes, somos animais dóceis. É óbvio que há um cuidado parental no qual a mãe protege a cria e a defende, mas no geral é bem raro apresentarmos um comportamento agressivo.

Órfãos? Isso é preocupante. E por que isso acontece?

Somos cobiçados e muito caçados, mesmo sendo proibido. Os caçadores criam redes especiais para capturar peixes-bois. Fêmeas grávidas ou que acabaram de dar à luz são visadas por terem mais gordura, que junto com a carne são itens de comercialização mais lucrativos. Há muitas décadas essa matança vem acontecendo. Tanto que, no ano de 2000, entramos para lista vermelha da IUCN (sigla em inglês da União Internacional para Conservação da Natureza). Isso signi�ca que estamos vulneráveis, em extremo perigo. Somos uma espécie muito caçada ou que tem seu habitat destruído pode desaparecer. A situação é séria.

E se tentássemos aumentar a população de peixes-bois? Se nascessem mais �lhotes?

É uma ótima ideia! Todavia nossa biologia não permite que isso ocorra com tanta rapidez, pois nosso ciclo reprodutivo é longo. As fêmeas só atingem a maturidade sexual aos seis anos de idade. Cada gestação dura um ano inteiro com apenas um bebê. Casos de gêmeos são raros. Esse �lhote �ca conosco por dois anos para aprender tudo e ser amamenta-do. Juntando tudo, só temos condições de procriar a cada três ou quatro anos. Devo ressaltar algo sobre essa situação perigosa que vem ocorrendo nos rios da Amazônia: quando uma fêmea é caçada, é bem provável que haja um �lhote junto a ela. A sobre-vivência dele sem os cuidados da mãe é incerta – a maioria não consegue. Quando dão sorte, são resgatados a tempo e têm uma chance de sobreviver.

O que acontece depois de resgatar esses animais?

O �lhote recém-chegado é mantido em quarentena para o acompanham-ento veterinário. Depois desse período, ele passa a compartilhar um tanque com outros �lhotes. O convívio permite que eles interajam e, a partir disso, se acostumem à mamadeira, pois é comum observá-los imitando uns aos outros.Os 15 anos de existência da AMPA somam mais de 200 �lhotes órfãos de peixe-boi da Amazônia resgatados e trazidos ao Inpa/MCTI para os cuidados necessários. Podemos dizer que a reabilitação aqui é um grande sucesso. Para você ter um exemplo, recentemente um desses �lhotes, já adulto, virou embaixador da Amazônia no Aquário de São Paulo. Outros quatro foram transferidos para um semi-cativeiro, em Manaca-puru (AM), aguardando a reintro-dução à natureza, por meio do Programa de Soltura de Peixes-bois da Amazônia, patrocinado pela Petrobras.

Sim. Tem os amigos que vivem nos rios amazônicos e outros peixes-bois de água salgada: o marinho, também conhecido como manati e o peixe-boi africano. As diferenças entre nós três é que eu não possuo unhas nas minhas nadadeiras e eles não têm a mancha branca na barriga. Também há o fato de que a minha espécie é a menor de todas, porém apenas nós, os peixes-bois da Amazônia, vivemos em água doce, então podemos ser encontrados em todos os rios da bacia Amazônica.

Você tem amigos fora do Inpa?

Você tem amigos fora do Inpa?Olha, são 54 no total. Alguns moram aqui há tanto tempo que passaram da idade para voltar à natureza. Outros mais jovens estão se prepa-rando para a soltura. Conosco há 11 �lhotes, vários são órfãos resgatados dos rios amazônicos. Para que eles sobrevivam sem o cuidado de suas mães, o Laboratório de Mamíferos Aquáticos aqui do Inpa desenvolve uma alimentação especial nutriciona-lmente semelhante ao leite materno, no entanto eles também comem verduras de vez em quando.

Em sua opinião, como podemos contribuir para fazer do mundo um lugar mais seguro e saudável para os peixes-bois?

A presença humana precisa ser uma aliada e não inimiga da nossa existên-cia. É necessário que se aprenda a admirar a natureza em seu esplendor em vez de destruí-la para satisfazer uma necessidade pessoal. Isso vale para toda a fauna e �ora. O mundo só pode ser completo se suas criaturas viverem em harmonia, respeitando ao próximo, mesmo que este seja um animal ou planta.

Rios e �orestas devem ser mantidos livres de poluição. Seja um defensor da natureza! Encoraje esse sentimen-to em sua família e entre seus amigos! São as pequenas boas, ações tomadas diariamente, que vão transformando a nossa realidade. Deixe que as próximas gerações tenham o privilégio de conhecer os animais ainda vivos e não apenas por fotos em livros. Se você testemunhar maus tratos, caça ilegal, apreensão de animais silvestres, denuncie!

Como sou um animal herbívoro, alimento-me apenas de plantas. Aqui no Inpa a dieta dos adultos é variada. Tem cenoura, repolho, cará, feijão de corda e abóbora. Uma vez por semana nós recebemos um carrega-mento delicioso de macró�tas, que são plantas aquáticas encontradas na natureza. Minha preferida é o mureru, também conhecida como aguapé. Para manter minha estatura física preciso consumir mais de 10% do meu peso em comida diariamente, por isso passo várias horas comendo. Meu corpo armazena tudo em forma de gordura, razão pela qual sou rechonchuda.

Como é a sua alimentação? Alguma comida preferida?

Como é a sua alimentação? Alguma comida preferida?

Sim, eu sou mãe e tive três �lhotes aqui no Inpa. O meu primeiro bebê, chamado Erê, foi gerado e nascido aqui em 1998. Depois dele eu tive um �lhote que infelizmente nasceu morto. Mas logo adotei os órfãos Tapajós e Manaós. Eles �caram comigo bastante tempo e todos �caram felizes com esse feito. Em 2004 tive outro bebê, Kinja. Em 2010 nasceu meu terceiro bebê, Ayrumã. Logo em seguida adotei minha terceira �lha, Erapuã.

Como é a sua casa no Inpa?

Moro num grande tanque azul com outros da minha espécie. Aqui somos muito bem tratados. Veterinários, pesquisadores e cuidadores nos alimentam, limpam a água e confer-em a nossa saúde periodicamente, além de conversarem muito com a gente. É assim que sabemos das novidades, quando tem um novato chegando, por exemplo.

A convivência aqui é bastante pací�ca. Apesar de sermos grandes, somos animais dóceis. É óbvio que há um cuidado parental no qual a mãe protege a cria e a defende, mas no geral é bem raro apresentarmos um comportamento agressivo.

Órfãos? Isso é preocupante. E por que isso acontece?

Somos cobiçados e muito caçados, mesmo sendo proibido. Os caçadores criam redes especiais para capturar peixes-bois. Fêmeas grávidas ou que acabaram de dar à luz são visadas por terem mais gordura, que junto com a carne são itens de comercialização mais lucrativos. Há muitas décadas essa matança vem acontecendo. Tanto que, no ano de 2000, entramos para lista vermelha da IUCN (sigla em inglês da União Internacional para Conservação da Natureza). Isso signi�ca que estamos vulneráveis, em extremo perigo. Somos uma espécie muito caçada ou que tem seu habitat destruído pode desaparecer. A situação é séria.

E se tentássemos aumentar a população de peixes-bois? Se nascessem mais �lhotes?

É uma ótima ideia! Todavia nossa biologia não permite que isso ocorra com tanta rapidez, pois nosso ciclo reprodutivo é longo. As fêmeas só atingem a maturidade sexual aos seis anos de idade. Cada gestação dura um ano inteiro com apenas um bebê. Casos de gêmeos são raros. Esse �lhote �ca conosco por dois anos para aprender tudo e ser amamenta-do. Juntando tudo, só temos condições de procriar a cada três ou quatro anos. Devo ressaltar algo sobre essa situação perigosa que vem ocorrendo nos rios da Amazônia: quando uma fêmea é caçada, é bem provável que haja um �lhote junto a ela. A sobre-vivência dele sem os cuidados da mãe é incerta – a maioria não consegue. Quando dão sorte, são resgatados a tempo e têm uma chance de sobreviver.

O que acontece depois de resgatar esses animais?

O �lhote recém-chegado é mantido em quarentena para o acompanham-ento veterinário. Depois desse período, ele passa a compartilhar um tanque com outros �lhotes. O convívio permite que eles interajam e, a partir disso, se acostumem à mamadeira, pois é comum observá-los imitando uns aos outros.Os 15 anos de existência da AMPA somam mais de 200 �lhotes órfãos de peixe-boi da Amazônia resgatados e trazidos ao Inpa/MCTI para os cuidados necessários. Podemos dizer que a reabilitação aqui é um grande sucesso. Para você ter um exemplo, recentemente um desses �lhotes, já adulto, virou embaixador da Amazônia no Aquário de São Paulo. Outros quatro foram transferidos para um semi-cativeiro, em Manaca-puru (AM), aguardando a reintro-dução à natureza, por meio do Programa de Soltura de Peixes-bois da Amazônia, patrocinado pela Petrobras.

Sim. Tem os amigos que vivem nos rios amazônicos e outros peixes-bois de água salgada: o marinho, também conhecido como manati e o peixe-boi africano. As diferenças entre nós três é que eu não possuo unhas nas minhas nadadeiras e eles não têm a mancha branca na barriga. Também há o fato de que a minha espécie é a menor de todas, porém apenas nós, os peixes-bois da Amazônia, vivemos em água doce, então podemos ser encontrados em todos os rios da bacia Amazônica.

Você tem amigos fora do Inpa?

Você tem amigos fora do Inpa?Olha, são 54 no total. Alguns moram aqui há tanto tempo que passaram da idade para voltar à natureza. Outros mais jovens estão se prepa-rando para a soltura. Conosco há 11 �lhotes, vários são órfãos resgatados dos rios amazônicos. Para que eles sobrevivam sem o cuidado de suas mães, o Laboratório de Mamíferos Aquáticos aqui do Inpa desenvolve uma alimentação especial nutriciona-lmente semelhante ao leite materno, no entanto eles também comem verduras de vez em quando.

Em sua opinião, como podemos contribuir para fazer do mundo um lugar mais seguro e saudável para os peixes-bois?

A presença humana precisa ser uma aliada e não inimiga da nossa existên-cia. É necessário que se aprenda a admirar a natureza em seu esplendor em vez de destruí-la para satisfazer uma necessidade pessoal. Isso vale para toda a fauna e �ora. O mundo só pode ser completo se suas criaturas viverem em harmonia, respeitando ao próximo, mesmo que este seja um animal ou planta.

Rios e �orestas devem ser mantidos livres de poluição. Seja um defensor da natureza! Encoraje esse sentimen-to em sua família e entre seus amigos! São as pequenas boas, ações tomadas diariamente, que vão transformando a nossa realidade. Deixe que as próximas gerações tenham o privilégio de conhecer os animais ainda vivos e não apenas por fotos em livros. Se você testemunhar maus tratos, caça ilegal, apreensão de animais silvestres, denuncie!

Como sou um animal herbívoro, alimento-me apenas de plantas. Aqui no Inpa a dieta dos adultos é variada. Tem cenoura, repolho, cará, feijão de corda e abóbora. Uma vez por semana nós recebemos um carrega-mento delicioso de macró�tas, que são plantas aquáticas encontradas na natureza. Minha preferida é o mureru, também conhecida como aguapé. Para manter minha estatura física preciso consumir mais de 10% do meu peso em comida diariamente, por isso passo várias horas comendo. Meu corpo armazena tudo em forma de gordura, razão pela qual sou rechonchuda.

Como é a sua alimentação? Alguma comida preferida?

Como é a sua alimentação? Alguma comida preferida?

Sim, eu sou mãe e tive três �lhotes aqui no Inpa. O meu primeiro bebê, chamado Erê, foi gerado e nascido aqui em 1998. Depois dele eu tive um �lhote que infelizmente nasceu morto. Mas logo adotei os órfãos Tapajós e Manaós. Eles �caram comigo bastante tempo e todos �caram felizes com esse feito. Em 2004 tive outro bebê, Kinja. Em 2010 nasceu meu terceiro bebê, Ayrumã. Logo em seguida adotei minha terceira �lha, Erapuã.

Como é a sua casa no Inpa?

Moro num grande tanque azul com outros da minha espécie. Aqui somos muito bem tratados. Veterinários, pesquisadores e cuidadores nos alimentam, limpam a água e confer-em a nossa saúde periodicamente, além de conversarem muito com a gente. É assim que sabemos das novidades, quando tem um novato chegando, por exemplo.

A convivência aqui é bastante pací�ca. Apesar de sermos grandes, somos animais dóceis. É óbvio que há um cuidado parental no qual a mãe protege a cria e a defende, mas no geral é bem raro apresentarmos um comportamento agressivo.

Órfãos? Isso é preocupante. E por que isso acontece?

Somos cobiçados e muito caçados, mesmo sendo proibido. Os caçadores criam redes especiais para capturar peixes-bois. Fêmeas grávidas ou que acabaram de dar à luz são visadas por terem mais gordura, que junto com a carne são itens de comercialização mais lucrativos. Há muitas décadas essa matança vem acontecendo. Tanto que, no ano de 2000, entramos para lista vermelha da IUCN (sigla em inglês da União Internacional para Conservação da Natureza). Isso signi�ca que estamos vulneráveis, em extremo perigo. Somos uma espécie muito caçada ou que tem seu habitat destruído pode desaparecer. A situação é séria.

E se tentássemos aumentar a população de peixes-bois? Se nascessem mais �lhotes?

É uma ótima ideia! Todavia nossa biologia não permite que isso ocorra com tanta rapidez, pois nosso ciclo reprodutivo é longo. As fêmeas só atingem a maturidade sexual aos seis anos de idade. Cada gestação dura um ano inteiro com apenas um bebê. Casos de gêmeos são raros. Esse �lhote �ca conosco por dois anos para aprender tudo e ser amamenta-do. Juntando tudo, só temos condições de procriar a cada três ou quatro anos. Devo ressaltar algo sobre essa situação perigosa que vem ocorrendo nos rios da Amazônia: quando uma fêmea é caçada, é bem provável que haja um �lhote junto a ela. A sobre-vivência dele sem os cuidados da mãe é incerta – a maioria não consegue. Quando dão sorte, são resgatados a tempo e têm uma chance de sobreviver.

O que acontece depois de resgatar esses animais?

O �lhote recém-chegado é mantido em quarentena para o acompanham-ento veterinário. Depois desse período, ele passa a compartilhar um tanque com outros �lhotes. O convívio permite que eles interajam e, a partir disso, se acostumem à mamadeira, pois é comum observá-los imitando uns aos outros.Os 15 anos de existência da AMPA somam mais de 200 �lhotes órfãos de peixe-boi da Amazônia resgatados e trazidos ao Inpa/MCTI para os cuidados necessários. Podemos dizer que a reabilitação aqui é um grande sucesso. Para você ter um exemplo, recentemente um desses �lhotes, já adulto, virou embaixador da Amazônia no Aquário de São Paulo. Outros quatro foram transferidos para um semi-cativeiro, em Manaca-puru (AM), aguardando a reintro-dução à natureza, por meio do Programa de Soltura de Peixes-bois da Amazônia, patrocinado pela Petrobras.

Sim. Tem os amigos que vivem nos rios amazônicos e outros peixes-bois de água salgada: o marinho, também conhecido como manati e o peixe-boi africano. As diferenças entre nós três é que eu não possuo unhas nas minhas nadadeiras e eles não têm a mancha branca na barriga. Também há o fato de que a minha espécie é a menor de todas, porém apenas nós, os peixes-bois da Amazônia, vivemos em água doce, então podemos ser encontrados em todos os rios da bacia Amazônica.

Você tem amigos fora do Inpa?

Você tem amigos fora do Inpa?Olha, são 54 no total. Alguns moram aqui há tanto tempo que passaram da idade para voltar à natureza. Outros mais jovens estão se prepa-rando para a soltura. Conosco há 11 �lhotes, vários são órfãos resgatados dos rios amazônicos. Para que eles sobrevivam sem o cuidado de suas mães, o Laboratório de Mamíferos Aquáticos aqui do Inpa desenvolve uma alimentação especial nutriciona-lmente semelhante ao leite materno, no entanto eles também comem verduras de vez em quando.

Em sua opinião, como podemos contribuir para fazer do mundo um lugar mais seguro e saudável para os peixes-bois?

A presença humana precisa ser uma aliada e não inimiga da nossa existên-cia. É necessário que se aprenda a admirar a natureza em seu esplendor em vez de destruí-la para satisfazer uma necessidade pessoal. Isso vale para toda a fauna e �ora. O mundo só pode ser completo se suas criaturas viverem em harmonia, respeitando ao próximo, mesmo que este seja um animal ou planta.

Rios e �orestas devem ser mantidos livres de poluição. Seja um defensor da natureza! Encoraje esse sentimen-to em sua família e entre seus amigos! São as pequenas boas, ações tomadas diariamente, que vão transformando a nossa realidade. Deixe que as próximas gerações tenham o privilégio de conhecer os animais ainda vivos e não apenas por fotos em livros. Se você testemunhar maus tratos, caça ilegal, apreensão de animais silvestres, denuncie!

Page 58: Ciência para Todos - Outubro / 2015 N.12, ANO 7

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PEIXEBOIFILhOTEAmAZÔNIAABÓBORAINTEgRAçãONATuREZA

CATIvEIROmãEAmPATANquESONECAREChONChuDA

a m ã r o p a c g b q a ç ã ó u z q x ó e c b n m hp q s o n e c a b d s h j k a m a z Ô n i a m b c ze l j y u r d x v r u i ó q g b d o ó l h a g h y ej u ó l p f d ç d c v b n k l c v b n m a a q t r um b s c x z v b h f y j r e r ç j k h d m d e ã k jp e i x e b o i h r t j e u y t e q a s p d f g h lz x c v f d h j u k o l c y r g s ó m k a a q j k yf y t h ó q d ç g ã h j h n ç v f s e t ó f a k á pf á p x f h j n v t c h o k l f p r y ç j q a m g hj z x v a b ó b o r a ó n ç i i n t e g r a ç ã o pk q ã f h j k l i o t e c t u l á l p f g s a e z ci q f g h k ç l o p i t h d e h h k l d ç f v c v ác ó a z á h u ã o l v d u á e o b y ã d c l o ç t ga s á f h b c x b m e a d q h t j k l á o t i u g dç f g h ó x v ã n n i k a p t e g f e d x a s ã h ys ç f g h j k l l h r t y ó u i o p ç p j n h g f dz x c v b ç n m l k o j g f d s ã a q r t q u i ã os n a t u r e z a q e r ã t ç y u i o ç h u g f d ad á s f f g h ó j k l ç m n b v c ó x z a e d f g h

Page 59: Ciência para Todos - Outubro / 2015 N.12, ANO 7

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RESPOSTA

s o n e c a a m a z Ô n i a

ar m

p e i x e b o i e pc ah

c o f ma b ó b o r a n i n t e g r a ç ã o

t c l ei h hv u oe d t ti a e ar no q

n a t u r e z a ue

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