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Trabalho técnico em laboratórios de pesquisa e desenvolvimento em saúde: um estudo de caso Technical work in health-care R&D laboratories: a case study Mareia de Oliveira Teixeira* Tânia C. M. Nunes** José Manoel C. de Mello*** *Pesquisadora visitante da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) no convênio Fiocruz/Faperj e-mail: brmarciat@dcc001 .cict.fiocruz.br **Professora, diretora da EPSJV, doutoranda em saúde pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) ***Professor doutor do Instituto Luiz Coimbra, da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Av. Brasil 4365 21045-000 Rio de Janeiro — RJ Brasil TEIXEIRA, M. de O.; NUNES, T. C. M e MELLO, J. M. C. de: 'Trabalho técnico em laboratórios de pesquisa e desenvolvimento em saúde: um estudo de caso'. História, Ciências, SaúdeManguinhos, IV(3): 493-512 nov. 1997-fev. 1998. Este artigo pretende discutir algumas questões em torno do processo de trabalho dos técnicos de nível médio, a partir do estudo de dois laboratórios de pesquisa e desenvolvimento (P&D) pertencentes à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Essa discussão, contudo, não pode ser dissociada da análise, mesmo que parcial, dos demais processos de trabalho envolvidos nas atividades de P&D no interior dos laboratórios. Assim, a identificação desses atores, de suas atividades e especificidades é parte constituinte dessa investigação. A partir da incorporação de técnicas de análise de cunho etnográfico, conhecemos as interações entre os diversos atores, suas atividades, além da organização do trabalho no interior dos laboratórios. Através da análise da distribuição de atribuições, e das interações entre os atores, identificamos algumas tendências no(s) processo(s) de trabalho nos laboratórios de P&D em saúde. PALAVRAS-CHAVE: processo de trabalho em saúde, estudos de laboratórios, ciência e tecnologia em saúde. TEIXEIRA, M. de O.; NUNES, T. C. M e MELLO, J. M. C. de: Technical work in health-care R&D laboratories: a case study'. História, Ciências, SaúdeManguinhos, IV(3): 493-512 nov. 1997-feb. 1998. Based on the study of two R&Dlaboratories belonging to the Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), the article discusses questions concerning bigb-school-graduate lab technicians. A necessary pan of such an analysis is the identification of other actors involved in K&D work within the labs and of their activities and singularities. Using methods from ethnographic analysis, we observed interactions between activities and work organization. Combined with analysis of the distribution of duties, this examinationpointed up some tendencies in work processes. KEYWORDS: work processes within health care, laboratory studies, science and technology in health care.

Ciências, Saúde - scielo.br0D/hcsm/v4n3/v4n3a05.pdf · Ciências, Saúde—Manguinhos, IV(3): 493-512 nov. 1997-fev. 1998. ... da análise, mesmo que parcial, dos demais processos

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Trabalho técnicoem laboratórios de

pesquisa edesenvolvimento

em saúde: umestudo de caso

Technicalwork in health-careR&D laboratories: a

case study

Mareia de Oliveira Teixeira*Tânia C. M. Nunes**

José Manoel C. de Mello***

*Pesquisadora visitante da EscolaPolitécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV)

no convênio Fiocruz/Faperje-mail: brmarciat@dcc001 .cict.fiocruz.br

**Professora, diretora da EPSJV, doutoranda emsaúde pública da Escola Nacional de Saúde

Pública (Ensp/Fiocruz)

***Professor doutor do Instituto Luiz Coimbra, daCoordenação de Programas de Pós-Graduação

em Engenharia (Coppe) da Universidade Federaldo Rio de Janeiro (UFRJ)

Av. Brasil 436521045-000 Rio de Janeiro — RJ Brasil

TEIXEIRA, M. de O.; NUNES, T. C. M eMELLO, J. M. C. de: 'Trabalho técnico emlaboratórios de pesquisa e desenvolvimentoem saúde: um estudo de caso'. História,Ciências, Saúde—Manguinhos,IV(3): 493-512 nov. 1997-fev. 1998.

Este artigo pretende discutir algumas questõesem torno do processo de trabalho dostécnicos de nível médio, a partir do estudode dois laboratórios de pesquisa edesenvolvimento (P&D) pertencentes àFundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Essadiscussão, contudo, não pode ser dissociadada análise, mesmo que parcial, dos demaisprocessos de trabalho envolvidos nasatividades de P&D no interior doslaboratórios. Assim, a identificação dessesatores, de suas atividades e especificidades éparte constituinte dessa investigação.A partir da incorporação de técnicas deanálise de cunho etnográfico, conhecemos asinterações entre os diversos atores, suasatividades, além da organização do trabalhono interior dos laboratórios.Através da análise da distribuição deatribuições, e das interações entre os atores,identificamos algumas tendências no(s)processo(s) de trabalho nos laboratórios deP&D em saúde.

PALAVRAS-CHAVE: processo de trabalho emsaúde, estudos de laboratórios, ciência etecnologia em saúde.

TEIXEIRA, M. de O.; NUNES, T. C. M eMELLO, J. M. C. de: Technical work inhealth-care R&D laboratories: a case study'.História, Ciências, Saúde—Manguinhos,IV(3): 493-512 nov. 1997-feb. 1998.

Based on the study of two R&D laboratoriesbelonging to the Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz), the article discusses questionsconcerning bigb-school-graduate labtechnicians. A necessary pan of such ananalysis is the identification of other actorsinvolved in K&D work within the labs and oftheir activities and singularities. Using methodsfrom ethnographic analysis, we observedinteractions between activities and workorganization. Combined with analysis of thedistribution of duties, this examination pointedup some tendencies in work processes.

KEYWORDS: work processes within health care,laboratory studies, science and technology inhealth care.

1 'Processo cie trabalhoem laboratórios: umaanálise da condição ciostécnicos em unidadescie pesquisa ciaFiocruz', desenvolvidojunto ao Departamentocie FormaçãoProfissional em Ciência& Tecnologia emSaúde cia EPSJV, com oapoio cio convênioFiocruz/Faperj.

Introdução

E ste artigo discute algumas questões em torno do processo detrabalho dos técnicos de nível médio, a partir do estudo de

dois laboratórios de P&D pertencentes à Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz). Assim sendo, relata parte do percurso seguido por umprojeto,1 realizado entre outubro de 1994 e agosto de 1996, pelaEscola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), uma dasunidades técnico-científicas da Fiocruz. Esse projeto concentrou-se na análise do conjunto de práticas, processos intelectuais erelações sociais conformadores do mundo de trabalho dessestécnicos (Teixeira, 1994). Essa discussão, contudo, não pode serdissociada da análise, mesmo que parcial, dos demais processosde trabalho envolvidos nas atividades de pesquisa e desen-volvimento (P&D) no interior dos laboratórios. Por conseguinte, aidentificação desses atores, de suas atividades e especificidades éparte constituinte dessa investigação. A partir do resgate das práticascotidianas e das interações entre atores heterogêneos, identificamosalgumas tendências do trabalho técnico, as quais expressammovimentos do processo de P&D no campo da saúde.

A descrição das diferentes atividades desenvolvidas pelostécnicos foi utilizada como via de acesso às suas interações comos demais atores. Esses atores (pesquisadores/auxiliares depesquisa/estagiários) compõem os laboratórios, conformando umarede de atores heterogêneos, através da qual os conhecimentostecnocientíficos são construídos. A investigação nos laboratóriosselecionados foi marcada pelo esforço simultâneo de registrar asatividades dos técnicos de nível médio, e entender a dinâmicados projetos de pesquisa, aos quais eles estão de algum modovinculados. Construímos um acesso que nos possibilita conheceras interações entre os técnicos e os demais atores envolvidos noprocesso da pesquisa, e a organização interna do trabalho.

A interação com os técnicos foi norteada pelos seguintes pontos:a) como o processo de trabalho está organizado no interior dolaboratório; b) os produtos do trabalho técnico, e do própriolaboratório; c) as interações entre os diferentes atores; d) as etapasunitárias do processo de trabalho, e seu lugar em relação aosdemais processos; e e) os mecanismos de avaliação e controle.

No intuito de entender o lugar do trabalho técnico no processode construção dos conhecimentos tecnocientíficos, incorporamosà análise dos processos de trabalho em saúde as proposições dasociologia da ciência, em particular, as sugeridas pelos chamadosestudos de laboratório (Knorr-Cetina, 1981; Latour e Woolgar,1989). A necessidade de incorporar novos referenciais teórico-metodológicos se deve à singularidade de nosso objeto, diantede referenciais pautados na análise dos processos de trabalho

realizados dentro dos serviços de saúde, os quais têm privilegiadoos profissionais de nível superior, sobretudo médicos. Os estudosde laboratório mostraram-se perfeitamente adequados às intençõesdessa investigação, pois, ao sustentarem que os conhecimentostecnocientíficos são construções contextuais e contingenciais, sebaseiam na microanálise das práticas tecnocientíficas (análise dosmicroeventos/microações que constituem o processo de pesquisatecnocientífica), utilizando-se, para tanto, das técnicas de pesquisasetnográficas.

Seleção da amostra e trabalho de campo

O desafio inicial enfrentado por um projeto com essas caracte-rísticas, que se depara com a diversidade interna da Fiocruz,retratada pelos variados perfis de suas unidades e departamentos,é a escolha da amostra. Optamos por circunscrever um subcampoformado pelos campos de estágio utilizados pelo curso técnicode segundo grau, integrante do leque de cursos oferecidos pelaEPSJV. Partindo dos dados encontrados nas fichas individuais dosalunos habilitados em histologia e patologia clínica, escolhemoslaboratórios cujas áreas de atuação estivessem em consonânciacom as áreas de interesse da escola e que possuíssem, pelomenos, dois técnicos de nível médio.

Três laboratórios foram selecionados como campo de observaçãodesse projeto. Os laboratórios serão identificados através das siglasLp L2, e L3 e os respectivos departamentos como D1 e D2, sendoque os dois primeiros laboratórios (l e 2) pertencem ao mesmodepartamento (D^.

Dj é formado por um complexo de laboratórios, e desenvolveatividades de assistência, pesquisa, treinamento e produção, tendoentre suas linhas de pesquisa: imunologia das infecçõesmicobacterianas; memória imunológica e infecção; mecanismosimunopatológicos: mediadores e sua interação com células e matriz;infecção experimental pelo BCG em camundongos infectados ounão pelo Mycobacterium leprae. Como apoio às atividades depesquisa, dispõe de um ambulatório, atendendo a pacientes dacomunidade, e realizando, eventualmente, exames patológicos,em pacientes encaminhados por médicos da rede pública de saúde.Os pesquisadores podem contar com um leque amplo de casos,pré-selecionando grupos de pacientes adequados aos diversosprojetos, e acompanhando o desenvolvimento desses grupos durantetodo o tratamento, caracterizado pela longa duração.

Os dois laboratórios selecionados (L1 e L2) apoiam o atendimentoambulatorial, desenvolvendo análises laboratoriais empregadasno diagnóstico e no acompanhamento da resposta de cada pacienteao tratamento. Esses resultados constituem um banco de dados,

O plano cie carreiracie ciência e tecnologiaCC&T), promulgado em1993, define carreirasde órgãos e entidadesque atuam na P£D.Técnicos e tecnologistasconstituem cargos dacarreira ciedesenvolvimentotecnológico. A carreiracie técnico, por suavez, subdivide-se em:—Técnico 3: 12 anos

de experiência naexecução cie tarefas;— Técnico 2: seis anoscie experiência naexecução cie tarefas;— Técnico 1: um ano,no mínimo, cieexperiência emprojetos de P&D.Enquanto a cie auxiliartécnico, extinta naFiocruz, exige:— Técnico 2: seis anoscie experiência;— Técnico 1: terconhecimentosespecíficos inerentes àclasse.

juntamente com o histórico de cada paciente, bastante utilizadopelos pesquisadores.

Segundo dados fornecidos durante a realização das entrevistascom os responsáveis pelo laboratório, o corpo técnico contava nobiênio 1994-95 com quatro técnicos de nível médio e três auxiliarestécnicos, dos quais um, com as alterações promovidas pelo Planode Carreira de P&D, passou a técnico.2 Embora, oficialmente,disponha de sete técnicos, na prática apenas três encaixavam-se noperfil desejado. Os demais, ainda segundo os entrevistados, nãomais executam atividades técnicas. Com mestrado concluído, ou emconclusão, aproximam-se mais do perfil do assistente de pesquisa.

Sendo assim, dos três técnicos apontados pela direção optamospor dois, um do laboratório LI e o outro do L2. O primeiro, aquiidentificado como Tp é técnico em patologia clínica, tendo iniciadosuas atividades no laboratório como agente de saúde. Enquanto osegundo (T2) não teve formação técnica regular, tendo sidoformado no próprio trabalho.

O terceiro laboratório selecionado (L3) dedica-se às atividadesde pesquisa e ensino, contando com um número maior de técnicos,todos desenvolvendo atividades de apoio à pesquisa. Entre asprincipais linhas de pesquisa do laboratório, citamos: pesquisa emdoenças urbanas e emergentes; caracterização de moléculas-alvoenvolvidas na invasão da célula hospedeira pelo Trypanosomacruzi] análise dos fenômenos iniciais na interação Trypanosomacruzi-célula muscular.

A seleção dos técnicos ocorreu em um primeiro encontro como chefe do laboratório, durante o qual fizemos uma breveapresentação dos objetivos do projeto, a partir da descrição sucintadas atividades de cada um. Selecionamos um técnico (T ) quedesenvolve apenas atividades de rotina do laboratório, atendendoindistintamente a todos os projetos, e um segundo (T^) vinculadoa um projeto específico. Nesse projeto, T4 está encarregado dodesenvolvimento experimental.

T3, a exemplo de tantos outros técnicos, migrou do setor deapoio para a área de laboratório, não tendo educação técnicaformal. T^, por outro lado, distingue-se dos demais pela sólidaformação técnica, sendo egresso do curso pós-secundário debiologia parasitária, oferecido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC)unidade tecnocientífica da Fiocruz. Ao contrário dos demaistécnicos selecionados para compor essa amostra, todos funcionáriosefetivos da fundação, T^ é bolsista do Programa de Apoio Técnicodo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), forma de absorção utilizada com freqüênciapelo seu laboratório.

O trabalho de campo foi estruturado em quatro etapas,intimamente interligadas, cuja ordenação não foi rigorosa, mas

obedeceu à própria dinâmica da interação dos atores envolvidosno processo de pesquisa. O ritmo dessa dinâmica foi ditado, emparte, por fatores essencialmente subjetivos, refletindo também aprópria organização interna do laboratório, e a nossa capacidadede entender suas áreas temáticas, formando um painel, mesmoque geral, de suas atividades.

Didaticamente, podemos reorganizar essas etapas introduzindo,para tanto, uma distinção entre um conjunto caracterizado pelareunião de informações básicas e a pesquisa em si no interior doslaboratórios. Integram o primeiro bloco: a realização de ummapeamento dos laboratórios em torno de suas linhas de pesquisa,principais órgãos financiadores, acordos de cooperação, e estruturaadministrativa; e um levantamento bibliográfico, que nosfamiliarizou com as temáticas aglutinadoras de todas as linhas depesquisa do laboratório.

O levantamento inicial nos dois laboratórios de D{ detevê-senas manifestações da doença em si, nas principais tendências notratamento, nas formas de diagnóstico e prevenção (como o uso daBCG), e nas recentes pesquisas em torno do desenvolvimento deuma vacina. Em L esse levantamento prendeu-se às técnicas básicasde microscopia eletrônica, incluindo todo o processo de preparaçãodo material, além de uma introdução à relação parasita-hospedeiro.

Esse mapeamento foi complementado com entrevistas como(s) pesquisador(es) diretamente ligado(s) aos técnicos, as quaisseguiram um roteiro previamente elaborado. Essas entrevistascumpriram um duplo objetivo. Procuramos, por um lado, preencheralgumas lacunas suscitadas pelo levantamento anterior, além deformar um quadro de referência com as diferentes concepçõesdo trabalho técnico, e de suas interações com os demais processosde trabalho no interior do laboratório.

No segundo bloco, enfocamos o trabalho junto aos técnicos nolaboratório, estruturado em encontros, nunca inferiores a três diaspor semana, nos quais os acompanhamos em sua rotina diária.Descrevemos suas funções, tanto a partir da observação direta,quanto de sua narrativa. Seguindo-os em sua jornada cotidiana,tivemos oportunidade de conhecer suas próprias visões de mundo;suas representações acerca do mundo do trabalho, dos demaisatores, do controle e avaliação de seu desempenho profissional.

A descrição e a explicação das atividades desempenhadaspelos técnicos conduziu todo o diálogo, pois optamos por evitarao máximo a formulação de perguntas diretas. Acreditando que aproblematização de alguns pontos pelos próprios técnicos seconstituía em parte integrante de sua compreensão do universode relações de seu laboratório. Durante esses encontros, ouvimosdiferentes explicações para situações idênticas. Essas diferençaspodem ser entendidas a partir da especificidade cios laboratórios,

Competências,operadas pelos atoresem diferentessituações, sãoconstruídas a partir ciaarticulação cieconhecimentos teóricoscom vivências práticas.Desse modo,expressam o domíniocie conhecimentoscientíficos universais, eos específicos cie umcampo cioconhecimento (Dosi,1988), bem como asexperiênciasacumuladas pelosatores ao longo cie suavida.

e das próprias diferenças entre os técnicos selecionados, marcadospor suas vivências pessoais, níveis de escolaridade, idade e tempode trabalho nos laboratórios da fundação (Becker, 1994; Coulon,1995).

Procuramos, como parte essencial dessa análise, entender astraduções realizadas por esses atores, a partir das quais formulamsuas estratégias de ação (Coulon, 1995; Denzin, 1994; Teixeira,1994). Traduzir eqüivale a atribuir sentidos, a partir de um exercíciode associação de atores humanos e não-humanos, de situações,códigos e atividades. Sugerida pela teoria do ator-rede, essa noçãopossibilita a constituição de redes de relações, marcadas pelaextrema heterogeneidade de seus atores, diversidade de formasde interação, e instantaneidade (Law, 1986; Latour, 1990). Asestratégias de ação apóiam-se nessas traduções/associações, bemcomo nas competências práticas operadas pelos atores emdiferentes situações. Essas competências,3 construídas a partir davivência prática dos atores em múltiplas redes de relações, sãoacionadas e associadas para que o ator possa agir em diferentessituações.

A organização do trabalho nos laboratórios

Os laboratórios são formados pela interseção de muitos elementos— pesquisadores, técnicos, auxiliares técnicos, equipamentos ediferentes materiais —, cuja unidade é fornecida pelas linhas depesquisa. Logo, podem ser analisados como um campo relacionai,formado pela ação conjunta desses atores heterogêneos,caracterizados pela diversidade de interesses, visões de mundo emodos de conduta.

A heterogeneidade dos atores, bem como a complexidade dasredes de relações por eles conformadas, estabelece uma diferençaentre esse estudo e outros trabalhos desenvolvidos dentro docampo de estudos de laboratório. Não observamos atores tãoacentuadamente heterogêneos nos três laboratórios selecionados,quando comparados aos analisados em alguns estudos (Latour,1989). Tratamos, assim, de atores heterogêneos, mas pertencentesao 'campo' restrito da ciência e tecnologia (C&T) em saúde(laboratórios de P&D), ao contrário de outros estudos que enfocamas relações entre esse grupo estrito e os atores que circulam emum campo ampliado da C&T — parlamentares, empresários,imprensa, ativistas de organizações não-governamentais (Ongs),representantes de organismos governamentais —, sem os quaisos laboratórios não se efetivam como centros de construção doconhecimento. Essa diferença expressa a centralidade da análiseda dinâmica das redes internas — laboratórios restritos — necessáriaà discussão de nosso objeto, qual seja o processo de trabalho de

1 O estabelecimentodesses diferentes níveisde complexidadetécnica implicaidentificarconhecimentos teóricosnecessários à execuçãodas práticas, dificuldadedas técnicasempregadas, tipo cieequipamento utilizado,competênciasnecessárias.

^ A noção de ator não-humano também podeser considerada comouma cias principais daanálise sócio-técnica ciaconstrução deconhecimentos eartefatostecnocientíficos.Contudo, pela próprianatureza cie nossainvestigação, não seráexplorada nesse artigo.Ver Gallon C1989).

um dos atores envolvidos na construção dos conhecimentostecnocientíficos no campo da saúde. Ao enfatizarmos o laboratóriorestrito, a noção de complexidade das redes sócio-técnicas,amplamente discutidas em vários estudos de caso, também sofreum esvaziamento, perdendo parte do sentido atribuído nos estudosde laboratório. A complexidade terminou sendo utilizada aquiem um sentido mais limitado, referindo-se à impossibilidade deentendermos o trabalho dos técnicos de nível médio dissociando-o dos demais. Ela relata a extrema interdependência entre atividadescom diferentes níveis de complexidade técnica,"1 executadas porprofissionais com competências e perfis profissionais tambémdiferenciados.

Essa centralização também tangenciou a descrição doslaboratórios selecionados. Os estudos tradicionais de laboratórioenfatizam as microações e os microeventos que compõem oprocesso de construção dos enunciados tecnocientíficos,descrevendo, para tanto, com uma minuciosa gama de detalhes ocotidiano dos laboratórios pesquisados. Prendemo-nos, porimposição de nosso objeto, à organização dos laboratórios e aomodo como suas práticas estão divididas entre os diferentes atoresque os compõem.

Ator é qualquer entidade humana (pesquisadores, técnicos,auxiliares) ou não-humana5 (equipamentos, animais de laboratório,materiais), capaz de atrair (mobilizar) para sua área de influênciaoutros atores, tornando-os membros de sua rede de relações(enredamento) por meio de processos de negociação. Esses processosenvolvem, por exemplo, a realização de um projeto de pesquisa, aexecução de ensaios, ou ainda a conclusão de um artigo científico.Através desse exercício cie mobilização e enredamento os atoresconstróem redes complexas de relações, caracterizadas pelaheterogeneidade, identificadas aqui com os próprios laboratórios, ecujo objetivo final é a construção de conhecimentos tecnocientíficos(Gallon, 1989a, 1989b; Law, 1992, 1989a).

A imagem de uma rede de relações demonstrou ser adequadapara descrever o cotidiano dos laboratórios, onde nos deparamoscom uma cadeia contínua de rotinas, intimamente relacionadasentre si (Law, 1989b). Basicamente, os processos de trabalho, queconvivem paralelamente no interior dos laboratórios, assumem quatrocaracterísticas: a convivência de uma multiplicidade de atores; aextrema interligação e interdependência das atividades; a existênciade atores múltiplos exercendo as mesmas atividades; e o esforçopara a construção de uma base técnica comum, compartilhada edominada pelo corpo técnico, pelos pesquisadores e pelosassistentes de pesquisa.

A convivência de múltiplos atores em interação no interior doslaboratórios sobressai como primeira característica desse mundo

É um conjunto deatividades ou práticasnecessárias aodesenvolvimentoexperimental de todosos projetos de umdeterminadolaboratório. Podemoscitar, como exemplo, opreparo de soluções.

de trabalho. Distinguimos pesquisadores, técnicos com formaçãotécnica regular e os formados no trabalho, além de uma diversificadagama de assistentes de pesquisa, organizados em dois grandesgrupos: graduandos e graduados. Esses assistentes são incorporadosatravés de recursos provenientes de programas de fomento àpesquisa, promovidos por agências governamentais, instituiçõesde fomento internacionais e programas internos da Fiocruz.

No início da pesquisa, privilegiamos as relações técnicos-graduandos (bolsistas de iniciação científica), uma vez que suasatividades se complementam, e na maior parte das situações seconfundem. O trabalho desses bolsistas está vinculado às atividadesde algum projeto desenvolvido pelo laboratório. Em geral, atuamno desenvolvimento de alguns ensaios experimentais, realizampesquisas bibliográficas, além de participarem de eventoscientíficos. Atuam, igualmente, na realização de uma série deatividades de apoio, consideradas básicas para o desenvolvimentodas pesquisas, como a organização do material, o preparo desoluções e o manuseio de animais de laboratório. No desempenhodessas funções mais rotineiras, confundem-se com os técnicos denível médio.

Os bolsistas de aperfeiçoamento (graduados) também participamdo desenvolvimento experimental dos projetos e dos eventoscientíficos. Geralmente, são encarregados da execução de práticasque exigem um maior domínio dos conhecimentos teóricos epráticos. A exemplo dos bolsistas de iniciação científica, desem-penham funções as quais formam a rotina6 desses laboratórios.

Os alunos de pós-graduação compõem o segundo grupo dosassistentes de pesquisa com graduação. Os mestrandos e osdoutorandos, em sua maior parte, estão vinculados aos cursos depós-graduação em biologia celular, molecular e parasitáriaoferecidos pelo IOC. Suas teses estão articuladas a uma das linhasde pesquisa de algum laboratório do instituto, participando departe do desenvolvimento teórico e prático de alguns projetos.No desempenho de suas atribuições, costumam contar com oauxílio de bolsistas de iniciação científica, técnicos de nível médioe bolsistas de apoio técnico.

A articulação entre esses processos de trabalho se distinguecomo segunda característica. A despeito das diferenças na formaçãoprofissional desses atores, do fato de internamente as rotinas estaremdistribuídas, e de participarem de diferentes projetos, suas atividadessão reciprocamente dependentes. Elas formam uma cadeia detradução operada por atores heterogêneos. A ruptura de um únicoelo, ocasionada pela contaminação de um meio de cultura, umafalha no processo de emblocamento do material, a obtenção deum volume insuficiente de parasito para a infeção de culturascelulares, determina o reinicio de todo o experimento.

Outras atividades, como a produção de artigos científicos, aparticipação em eventos acadêmicos, também integram essa redeinterna de traduções. Se essa produção depende dos resultadosobtidos nas bancadas, a continuidade dos projetos, em parte, édeterminada por essa produção acadêmica. Dela dependem aobtenção de recursos externos, o aumento na cota de bolsas depesquisa, as quais possibilitam a incorporação de outros profissionais(Law, 1986).

Essa interdependência é mais evidente em L3: as atividadesde rotina reúnem imediata ou mediatamente uma rede de atorescomposta por pesquisadores, técnicos, estagiários com diferentesformações e níveis de escolaridade. O corte de material paramicroscopia eletrônica no ultramicrótomo, realizado por T , searticula com o desempenhado pelos técnicos que fazem oemblocamento do material, uma vez que a qualidade dos cortestambém sofre influência do emblocamento. As culturas de células,por sua vez, dependem do preparo de soluções dentro de padrõesrígidos, para evitar a contaminação, da obtenção de massaparasitária em quantidade suficiente para infectar a cultura, paratomarmos apenas uma parte do processamento. Tanto a massaparasitária, quanto o preparo das várias soluções necessárias àexecução dessa prática são desempenhadas por atores distintos.

A execução dessas atividades é definida nas escalaspreviamente organizadas. Considera-se quem está apto paraexecutá-las, tomando-se como referencial a disponibilidade detempo e o grau de consumo da solução, pois os bolsistasgeralmente trabalham em tempo parcial. A realização das práticasde rotinas (como a passagem de cepas, o emblocamento, o corte,a coloração e o preparo de soluções) constrói canais entrecruzadosde comunicação no interior dos laboratórios, nos quais as funçõespodem ser permutadas. Por outro lado, os técnicos dependem dacomunicação permanente com os demais atores, para avaliar seusexperimentos, tirar dúvidas em relação aos protocolos, receberas especificações sobre um determinado material ou combinaralguma alteração na rotina, definida pelo chefe do laboratório oupelo coordenador da linha de pesquisa à qual ele está ligadonaquele momento.

A terceira característica é a convivência de múltiplos atores,com formações diferenciadas, desempenhando as mesmasfunções. Ela é mais facilmente identificada quando analisamos aspráticas de rotina, tais como a passagem de cepa in vivo, acoloração, infecção de cultura celular, corte de material emontagem de lâminas. A execução dessas atividades, que formama rotina de um determinado laboratório, está organizada em tornode escalas semanais ou mensais. Assim, um ator (B) é encarregadodo preparo de determinada solução, enquanto um outro (A) dedica-se à

passagem de cepa. Nessas escalas, encontramos diferentes perfisprofissionais exercendo um mesmo conjunto de atividades e,portanto, compartilhando um mesmo conjunto de competências.Elas são a forma mais aguda e visível da justaposição de atividadese competências, a qual caracteriza o trabalho no interior doslaboratórios.

Essas três características apontam para a existência de práticasque reúnem todos os atores, eliminando aparentemente, naqueleinstante, suas diferenças. Encontramos, todavia, práticas nas quaisas diferenças são (re)acentuadas, e alguns atores, excluídos.

Portanto, a justaposição no desempenho cie atividades nãoelimina completamente as diferenças entre esses atores. Algumasatividades exigem a manipulação de conhecimentos específicos.Os técnicos de nível médio e os bolsistas de iniciação desem-penham atividades que não exigem um domínio maior dosconhecimentos práticos e teóricos. Desse modo, não participamda análise dos dados resultantes dos ensaios, nem da execuçãodaqueles que envolvem conhecimentos técnicos mais complexos.Os bolsistas de aperfeiçoamento, por seu turno, aliam a execuçãode atividades rotineiras, similares às desempenhadas pelo grupoanterior, ao desenvolvimento de algumas dessas técnicas maiscomplexas. Técnicas que exigem um domínio mais aprofundadode conhecimentos teóricos e da capacidade de analisar um númeromaior de variáveis.

Uma outra diferença é a participação nos seminários internoscoordenados pelos chefes do laboratório. Com exceção dos técnicose auxiliares, todos os demais atores participam, obrigatoriamente,desses seminários internos. Neles, artigos científicos sãoapresentados e discutidos pelo grupo, sendo que geralmente alguémfica encarregado de conduzir a discussão. Os bolsistas graduandos,os graduados e os pós-graduandos também são estimulados aparticipar de seminários e congressos. Essa exigência reflete apreocupação com a formação de futuros pesquisadores, sencloutilizada também como critério de avaliação pelos laboratórios eagências de fomento.

Essas diferenças não se subordinam apenas às competênciastécnicas próprias a cada grupo, mas às diferenças internas doslaboratórios. Os alunos de pós-graduação não integram as escalasem L3, apesar de, em muitas ocasiões, prepararem as soluçõesnecessárias aos seus experimentos e executarem outras atividadesde apoio. Essa ausência está diretamente relacionada à intensaatuação dos bolsistas de iniciação e aperfeiçoamento, além ciofato desse laboratório contar com técnicos de nível médio ebolsistas de apoio técnico.

Nos laboratórios L1 e L2 não encontramos essa complemen-taridade, pois não oferecem bolsas de iniciação e aperfeiçoamento,

Do ponto de vista chieducação técnicaregular, a necessidadede padronização dastécnicas utilizadas, bemcomo as diferençasentre os procedimentose modos ciemanipulação adotadospor cada laboratório,torna necessária aetapa de treinamento,mesmo para osegressos cie cursos quegozam cie credibilidadena formação detécnicos.

nem contam com a colaboração de pós-graduandos. Comportamentoatribuído ao próprio caráter desses laboratórios, mais voltados aofornecimento de dados para a realização de pesquisas do quepropriamente para o seu desenvolvimento. Um outro fator a serconsiderado é a existência de técnicos de nível médio disponíveise aptos para atuar nesses laboratórios.

A quarta característica, qual seja, o esforço para a construçãocie uma base técnica comum, está intimamente relacionada àsegunda característica. Os técnicos e os assistentes devem aprenderos procedimentos e as técnicas básicas antes de se especializaremem um conjunto mais limitado de atividades, constituindo planosde trabalho individualizados.

É o domínio compartilhado do conjunto de técnicas, dosconhecimentos e dos procedimentos básicos de um determinadolaboratório que permite a convivência de atores heterogêneos.Atores que desempenham as mesmas atividades simultaneamente,ou realizam atividades complementares. Esse domínio é construído,e continuamente (re)atualizado, a partir do procedimento depadronização das técnicas, que consiste na repetição das técnicasrecém-introduzidas no laboratório, antes delas serem adotadaspor um projeto de pesquisa como procedimento técnico básico.A repetição visa eliminar as possíveis diferenças entre osexecutores dessas técnicas, seja em relação à manipulação deequipamentos e/ou substâncias, seja em relação à utilização dospadrões técnicos fixados internacionalmente.7 A padronização éparte fundamental do processo de cientifização dos conhecimentostecnocientíficos (Latour, 1990). Ela assegura a adequação de umlaboratório às normas de conduta, às regras de sistematização eapresentação dos dados e aos padrões técnicos próprios de seucampo de pesquisa.

No interior dos laboratórios, a padronização atende a um outroconjunto de fatores, contribuindo para afastar a ocorrência dediferenças muito acentuadas nos resultados dos experimentos,resultantes da manipulação por atores distintos. A preocupaçãocom a padronização na manipulação de substâncias e na execuçãode procedimentos técnicos aparece sempre como elementofundamental nas relações entre os atores, atuando como padrãoreferenciado de comportamento para os técnicos, pesquisadorese assistentes de pesquisa. Por um lado, no frasco de cada soluçãoconsta a identificação do ator, o que possibilita o controle dequalidade das atividades de todos. Paralelamente, busca-se anularo efeito dessa individualização, padronizando-se o modo de agir.Assim, garante-se a obtenção de produtos dentro dos rigorosospadrões estabelecidos, necessários à sua ratificação.

A sistemática da organização de escalas desempenha papelessencial na construção dessa base técnica comum. Seus integrantes

praticam as técnicas mais básicas, revisando igualmente os princípiosteóricos que embasam as diferentes atividades do laboratório.

Essas quatro características, apontadas para caracterizar oprocesso de trabalho no interior dos laboratórios, podem apresentar-se de modo diferenciado, em função das especificidades de cadalaboratório. Em Dv observamos uma organização diferente daencontrada usualmente nos laboratórios de P&D, atribuída à própriasingularidade dos laboratórios selecionados. Não temos aqui umarotina articulada ao desenvolvimento experimental de cada projeto,mas sim um conjunto de procedimentos que formam oprocessamento de material para a realização das análises. Ostécnicos, em especial os de L2, uma vez que o de 1̂ trabalhaatualmente sozinho com o apoio de um biólogo, possuem domíniode todas as etapas do processamento, mesmo que teoricamenteexerçam apenas uma fração do mesmo. A coordenação dasatividades, como em L3, é desempenhada por profissionais comnível superior. A rigorosa observação dos padrões técnicos tambémé uma constante, sendo que um outro ator aparece aqui comoelemento preponderante, seja na definição das etapas do processode trabalho, seja na sua avaliação: o médico. Os técnicos não sãoregulados apenas pelas normas científicas, mas pelos própriospadrões dos serviços médicos oferecidos por D1 à comunidade.

A invisibilidade do trabalho técnico

A partir da identificação da organização do trabalho no interiordos laboratórios, como analisar o trabalho dos técnicos de nívelmédio? Qual o lugar desses técnicos no processo de P&D emsaúde?

Diante da dificuldade de reconstruir a trajetória dos técnicos aolongo da história, Shapin (1991) fala-nos da invisibilidade dostécnicos nos laboratórios de P&D. Uma invisibilidade manifestada,por um lado, pela não referência aos técnicos, colocados invaria-velmente como elementos secundários, ou periféricos, mesmosendo responsáveis pela execução da parte experimental dosprojetos. A invisibilidade remete-se ao não reconhecimento daessencialidade do trabalho realizado pelos técnicos de nível médio,para a construção dos conhecimentos tecnocientíficos. Essainvisibilidade é acentuada por abordagens centradas na discussãoda construção do conhecimento a partir da trajetória dos pesqui-sadores, secundarizando a dimensão coletiva do trabalho de pesquisa.A reconstrução das diversas trajetórias, envolvidas no processo deconstrução desses conhecimentos, tornou-se possível graças àsabordagens que privilegiam a análise das práticas tecnocientíficas,concentrando-se na descrição do cotidiano dos laboratórios (Latoure Woolgar, 1989; Law, 1989).

Uma outra forma de invisibilidade, revelada durante a pesquisajunto aos laboratórios selecionados, é a dificuldade de circunscre-vermos um determinado conjunto de atividades e conhecimentosespecíficos aos técnicos de nível médio. Atividades e conhecimentoscapazes de distingui-los dos demais atores, envolvidos nas atividadesde P&D. Dificuldade, por conseguinte, de definir de imediato oprocesso de trabalho próprio dos técnicos de nível médio.

Todavia, essa dificuldade não se restringe aos técnicos denível médio, manifestando-se também quando nos concentramosna definição do processo de trabalho de outros atores. Os limitese as diferenças entre os assistentes de pesquisa com graduação eos graduandos, por vezes, são pouco precisos. Essa imprecisãose deve à convivência de múltiplos atores, à articulação de seusprocessos de trabalho, e à existência de práticas executadas pordiferentes atores simultaneamente. Tentamos romper essesobstáculos, delineando algumas características básicas, diferenciadorasdos diversos atores envolvidos na produção de conhecimentostecnocientíficos. Ao longo desse processo, identificamos um outromovimento, o de substituição dos técnicos de nível médio porassistentes de pesquisa, sobretudo graduandos, no desempenhode atividades antes executadas essencialmente pelos primeiros.

A invisibilidade sugerida por Shapin (1991) é efeito de umconjunto de fatores: a desvalorização histórica dos técnicos de nívelmédio frente aos pesquisadores (nível superior); ao fato de oslaboratórios distinguirem-se pela presença de múltiplos atores,desempenhando funções em alguns casos complementares, e emoutros idênticas; e a substituição dos técnicos de nível médio porprofissionais de nível superior. A distinção das atividades queconformam o processo de trabalho dos técnicos e o entendimentodo processo de substituição se tornaram cruciais para a análise doprocesso de trabalho em laboratórios de P&D em saúde.

Algumas motivações do processo de substituição

Até o início da década de 1970, os processos de trabalho nointerior dos laboratórios se distinguiam pela intensa vinculaçãoentre os pesquisadores e técnicos, motivada fundamentalmentepelos seguintes fatores: a) os técnicos, com pouca ou nenhumaeducação técnica formal, eram capacitados no interior doslaboratórios, auxiliando os pesquisadores ao longo de todo oprocesso experimental da pesquisa, inclusive na coleta de material;b) os pesquisadores, por seu turno, dependiam completamentedesses técnicos para o desenvolvimento experimental, reco-nhecendo neles seus mais permanentes e íntimos colaboradores;e c) os laboratórios não contavam, como os atuais, com um grandevolume de bolsistas de iniciação e aperfeiçoamento científico,

bem como com os alunos de mestrado e doutorado, fruto depolíticas governamentais intensificadas a partir da segunda metadeda década de 1980.

A própria pós-graduação, até a década de 1970, era uma opçãomais restrita, notadamente o doutorado. As políticas de estímuloà capacitação de recursos humanos para a pesquisa, envolvendoinstituições não universitárias, correspondeu ao período deaposentadoria, ou até falecimento, de muitos desses técnicoshistóricos, e ao fechamento das instituições públicas à entrada denovos funcionários, através de concursos públicos. A incorporaçãode técnicos de nível médio tem esbarrado, nos últimos anos, naprópria disponibilidade desses profissionais, cada dia mais restrita.

Os programas de iniciação e aperfeiçoamento científico e deestímulo à pós-graduação abriram novas possibilidades frente ãcarência generalizada de quadros nos laboratórios. Entretanto,alteraram profundamente as relações entre pesquisadores e técnicos,as quais perderam parte de sua complementaridade, passando aser mediadas por uma série de novos interlocutores. Ospesquisadores prescindem dos técnicos para o desenvolvimentoexperimental dos projetos, pois grande parte das atividades sãoexecutadas por biólogos, graduados ou não.

O alvo privilegiado da formação de recursos humanos nasbancadas já não é o técnico, como nas décadas passadas, e sim,os bolsistas de iniciação e aperfeiçoamento, além dos própriosalunos dos programas de pós-graduação oferecidos pela fundação.Ao privilegiar a formação de graduandos, os pesquisadores nãorelevam apenas a facilidade de capacitar indivíduos com umasólida base teórica, mas a possibilidade desses bolsistas secandidatarem à pós-graduação, optando por temáticas articuladasàs linhas de pesquisa dos laboratórios; gerando teses, artigos,participando de acordos de cooperação e comunicações emeventos tecnocientíficos (Latour e Woolgar, 1989; Law, op. cit.).Procuram, por conseguinte, investir em um profissional apto paradesempenhar funções técnicas, enquanto exerce atividadespróprias à carreira acadêmica.

Assim, o fenômeno da substituição introduz uma outra variávelpara pensarmos o processo de P&D sob o ponto de vista ciotrabalho, das relações de trabalho. Pois, como demonstramos, separece inegável que as atividades básicas, historicamenteidentificadas com os técnicos de nível médio, são essenciais parao desenvolvimento das pesquisas, não podemos afirmar o mesmoacerca da presença dos técnicos de nível médio nos laboratóriosde P&D em saúde. Até que ponto, diante da dinâmica assumidapelo trabalho nesses laboratórios, com a incorporação de umamplo e heterogêneo leque de atores, os técnicos não estão setornando prescindíveis?

A aparente contradição de suas atividades não terem perdido ocaráter de essencialidade desfaz-se quando identificamos que ascompetências anteriormente singulares aos técnicos de nível médioatualmente estão incorporadas, e associadas, às competências deoutros atores: bolsistas (graduandos e graduados) e pós-graduandos.A substituição pode ser entendida como manifestação da tendênciade privilegiar a admissão de profissionais com nível superior, depreferência com pós-graduação, para a execução de atividadesanteriormente realizadas por técnicos de nível médio.

A competência específica, necessária para agir em um deter-minado laboratório, expressa a associação dos conhecimentosteóricos à construção de uma outra competência, eminentementeprática, relacionada às práticas de bancada, à manipulação deequipamentos e de materiais. A tradicional forma de aprendizagem,empregada pelos laboratórios, baseada no rodízio de atividades ena estruturação de escalas, é essencial para a incorporação, pelosnovos atores, dessa competência prática e dos conhecimentosque as informam, possibilitando, portanto, a incorporação dascompetências práticas, antes identificadas apenas com os técnicosde nível médio, por outros atores.

Ao invés de pensarmos o espaço dos técnicos a partir de umúnico referencial — a pequena disponibilidade desses pro-fissionais, sempre evocada pelos pesquisadores —, sugerimosanalisá-la a partir do próprio aumento da disponibilidade dosprofissionais de nível superior. Para entendermos a opção deempregar profis-sionais com nível superior no desempenho deatividades antes atribuídas aos técnicos de nível médio, é necessárioentendermos a lógica operativa que transforma essa opção emestratégia de ação dos laboratórios.

Partindo do discurso dos próprios pesquisadores e de nossasobservações, o maior potencial para aprender novos conhecimentose técnicas se apresenta como um primeiro fator. Principalmentese consideramos o movimento de 'tecnologização', presente emalguns laboratórios. Esse movimento expressa-se através daincorporação de técnicas de bancada aos equipamentos, utilizaçãomaciça de kits, introdução de novas técnicas de bancada, e cieequipamentos computadorizados. Todavia, na execução das práticaslaboratoriais, essas inovações se entrelaçam às técnicas e aosequipamentos mais tradicionais, exigindo, portanto, que o corpotécnico tenha um domínio das técnicas e equipamentos de últimageração, bem como dos tradicionais.

Em muitos laboratórios, contudo, o fenômeno da tecnologizaçãoé tímido, e as transformações mais profundas restringem-se àinterlocução com outras áreas de conhecimento, formando camposhíbridos. O pólo mais dinâmico nesse último caso é a análise deresultados, que afeta, gradualmente, as competências específicas

dos pesquisadores. O efeito dessa interlocução nem sempre éimediato. A convivência de técnicas e equipamentos tradicionaiscom os de última geração no interior dos laboratórios assegura asobrevivência de competências específicas, que não são abaladaspela incorporação de novos conhecimentos ou tecnologias.

La e L2 retratam essa tendência. Eventualmente, pesquisasrealizadas em outros laboratórios do departamento (D^ introduzempequenas alterações no processamento do material, como a utilizaçãode uma nova solução corante, o prolongamento nos períodos defixação, ou no processo de congelamento. Essas alterações, todavia,não demandam a construção de novas competências, ou mudançassubstantivas no processo de trabalho nos dois laboratórios. Em L3, aincorporação de novas competências está associada à incorporaçãode algumas técnicas executadas por doutorandos e à análise deresultados. A quase totalidade das técnicas empregadas no laboratórioainda depende de equipamentos e conhecimentos tradicionais.Por conseguinte, esse primeiro fator e nossas ponderações nãopodem ser desconsiderados. Entretanto, eles nos permitem entreverapenas parte da lógica operativa hegemônica nos laboratórios (Beato,1995).

O domínio de determinadas competências, como as necessáriasà operação de um equipamento ou ao domínio de uma área deconhecimento (biologia molecular, por exemplo) por membrosdo laboratório, pode assegurar sua associação com diferentesredes de relações, conformadoras de outros laboratórios. Essascompetências novas, construídas através de cursos de pós-graduação,intercâmbio de pesquisadores, estágios em outras instituições sãomobilizadas por profissionais de nível superior, e, na maior partedas vezes, com mestrado ou doutorado. Pelo domínio dosconhecimentos teóricos e práticos envolvidos na construção deconhecimentos no interior de seus laboratórios, esses profissionaisdistinguem-se pela capacidade de incorporar novos conheci-mentos, associá-los a competências já construídas, fundando novaslinhas de pesquisa e interlocuções com outras áreas de conhecimento(Latour, 1990).

A possibilidade de se introduzirem nos laboratórios, ainda durantesua formação acadêmica básica, auxilia os bolsistas de iniciação naconstrução de competências específicas para agirem em uma áreade pesquisa e, sobretudo, na incorporação de estratégias de açãoinformadas pelos códigos, valores e condutas identificadas com acarreira de pesquisador. Suas ações são orientadas pelo calendáriode eventos científicos, considerados mais estratégicos; mantêm-seafinados com as inovações, através da leitura de periódicos eparticipação nos "clubes de revistas" organizados pelos laboratórios;e procuram publicar artigos, apropriando-se da linguagem adequadaa sua área de pesquisa. Esses profissionais em breve serão iden-

tificados como porta-vozes legítimos de seus laboratórios,mobilizando aliados em seu nome, e consolidando novas parcerias,através da orientação de trabalhos, publicações, trabalhos emconjunto com outras instituições, consultorias e transferência detecnologias (Gallon, 1989a). Tornam-se, desse modo, feixes deforça estratégicos para os laboratórios, pela capacidade decapitalizar suas múltiplas competências específicas para aconsolidação de associações, estendendo o poder de influênciado laboratório em seu próprio campo de pesquisa, formado pelainterseção de diferentes áreas de pesquisa, e instituições (Latour,1990; Law, 1989).

Quando nos concentramos na análise das estratégias de açãodos laboratórios, a opção de privilegiar profissionais com nívelsuperior e pós-graduação encontra fundamento na busca de novasalianças, e na necessidade de constantemente redefinir e consolidaras existentes, portanto, dos laboratórios atraírem profissionais(novas competências) capazes de estender suas ligações e áreasde influência por um número sempre ampliado de instituiçõesde pesquisa e desenvolvimento (Latour e Woolgar, op. cit.).Profissionais singularizados pela capacidade de manipular técnicasde bancada, conhecimentos específicos, equipamentos tradicionaise de última geração, que aliam a execução de atividades básicasà elaboração de artigos científicos, sistematizando os dadosresultantes das análises.

Conclusão

A identificação de um conjunto de atividades próprias aostécnicos de nível médio torna-se difícil, dada a diversidade depossíveis variações na distribuição de funções. O processo desubstituição pelos assistentes de pesquisa também é afetado poressa diversidade. Entre os fatores que concorrem para essadiferenciação destacamos: as linhas de pesquisa do laboratório ea complexidade dos procedimentos técnicos utilizados; o domíniode conhecimentos específicos (teóricos e práticos), necessáriosao desempenho das atividades pelos técnicos; e a disponibilidadede recursos para a incorporação de assistentes de pesquisa e/outécnicos de nível médio.

Essa dificuldade é mais acentuada em Ly O laboratório trabalhacom um conjunto mais ampliado de procedimentos. Apesar de sebasearem em técnicas de bancada e equipamentos tradicionais,esses são associados às técnicas e conhecimentos de últimageração. Essa associação reflete-se na qualificação da força detrabalho. Quando nos concentramos nas técnicas e equipamentosde última geração, a formação de um perfil profissional é maisprecisa: nível superior, de preferência doutorando. Entretanto,

quando nos voltamos para o campo das técnicas mais tradicionais,o estabelecimento de um perfil torna-se complexo, encontramosbolsistas de iniciação e aperfeiçoamento científico, mestrandos etécnicos de nível médio envolvidos na execução cias mesmasatividades.

A rotina subordinada ao ambulatório, a manipulação de um conjuntomenos complexo e pouco flexível de técnicas fazem com queencontremos nos laboratórios 1̂ e L2 um perfil mais preciso para ostécnicos. Esses laboratórios empregam técnicas consideradas maduras,dado o grau de consolidação em seu campo de pesquisa. Por outrolado, não encontramos nesses laboratórios a convivência cie profis-sionais com perfis variados executando as mesmas atividades,dificultando o estabelecimento da relação atividades-competências.

Todavia, a despeito dessa diversidade, é possível determinarmosalgumas características mais gerais do trabalho técnico, a partir ciolevantamento realizado nesses laboratórios. E, assim, melhorar oentendimento do lugar desse processo de trabalho nos laboratóriosde P&D em saúde. Utilizamos um caminho tortuoso para determinaro lugar dos técnicos no processo de P&D: partindo da identificaçãodos demais atores envolvidos no trabalho de P&D e cio processode substituição pelos assistentes de pesquisa para alcançar,finalmente, os técnicos.

Retornando à caracterização do trabalho nos laboratórios de P&D,encontramos como primeiro ponto a convivência de umamultiplicidade de atores. E, em especial, a presença de técnicosformados no trabalho e cie técnicos com formação técnica regular,cujos processos de trabalho se articulam no interior dos laboratórios.Essa convivência esclareceu-nos das atividades desempenhadaspelos técnicos, e, portanto, algumas características assumidas peloseu trabalho.

O trabalho técnico é sempre identificado como trabalho deapoio, complementar ao desenvolvido pelos demais atores.Executam geralmente atividades básicas, identificadas à rotina ciolaboratório. Ao longo desse trabalho, descrevemos, ao analisarmoso processo de substituição, como essa relação de complemen-taridade é mediada por outros atores. Mediação possibilitada pelomovimento de incorporação de competências e conhecimentos,que embasam as atividades dos técnicos, por profissionaisgraduados e graduandos.

Além de desempenharem atividades de apoio, os técnicos emgeral se concentram na execução de técnicas de bancada e naoperação de equipamentos considerados tradicionais. Essaconcentração revela uma outra dimensão desse processo cietrabalho, o desempenho de atividades que não exigem um domínioampliado dos conhecimentos específicos, e cios universaisenvolvidos na execução dessas práticas.

Os técnicos de nível médio, com algumas exceções, pelasdeficiências na sua formação básica ou ausência de formaçãotécnica regular, apresentam lacunas no entendimento das técnicasempregadas e, sobretudo, cias áreas de conhecimento imbricadasnas atividades desenvolvidas pelos respectivos laboratórios. Anão-participação em discussões internas, promovidas pelospesquisadores, sob a forma de seminários, acentua essasdeficiências. Esses espaços não constituem fóruns de capacitaçãopara o corpo técnico, a exemplo do que ocorre com os estagiáriose alunos da pós-graduação. Quando avaliamos a capacidade cieL3 discutir seu trabalho, seu domínio das técnicas e ciosconhecimentos que informam suas atividades, percebemos queela é efeito cie sua formação técnica, mas, também, daoportunidade de discutir os resultados e as etapas da pesquisa,tendo como subsídio sua experiência na bancada e os textosdiscutidos nos seminários internos dos quais participa ativamente.

Devemos insistir, entretanto, que esse exercício de definiçãode características é sempre provisório, pois elas se manifestamde modo diferenciado, estando sujeitas à dinâmica de cadalaboratório e a outras análises complementares dos fenômenosobservados, que poderão ser aprofundadas em futurosdesdobramentos dessa pesquisa. Apontamos, por conseguinte,características gerais e algumas tendências, capazes de orientar adiscussão do processo de trabalho técnico em laboratórios deP&D em saúde.

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