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24 JANEIRO DE 2002 PESQUISA FAPESP CIÊNCIA LABORATÓRIO LABORATÓRIO Como corrigir defeitos de nascimento STEFAN KOLUMBAN/PULSAR O cirurgião pediatra brasi- leiro Dario Fauza, da Fa- culdade de Medicina da Universidade Harvard, Es- tados Unidos, supervisio- nou duas pesquisas, uma com fetos de animais e ou- tra com fetos humanos, que envolvem o uso de cé- lulas do líquido amniótico como matéria-prima para a engenharia de tecidos fe- tais. O objetivo é a recons- trução cirúrgica para tratar certos defeitos de nasci- mento – como hérnia dia- fragmática e problemas nas paredes abdominal ou to- rácica – sem necessidade de tocar no feto. Em experi- mentos conduzidos pelo pesquisador Amir Kaviani, as células extraídas foram cultivadas e manipuladas in vitro na fase final da ges- tação, para a criação de uma bioprótese que possa ser implantada logo depois do parto. O conceito de enge- nharia de tecidos fetais tem sido aplicado com sucesso em experimentos com ani- mais para a reconstrução de deformidades de bexiga, pele e diafragma. As expe- riências são promissoras, embora haja riscos de le- sões no feto ou de indução a parto prematuro. Tecido fetal - “Uma apro- ximação menos invasiva para a obtenção de células fetais poderia tornar este conceito mais amplamente aplicável”, diz Fauza. Os pesquisadores partiram da hipótese de que células fe- tais humanas obtidas por amniocentese – punção no abdome materno para a retirada de líquido amnió- tico – podem ser isoladas e expandidas em laboratório para aplicações em enge- nharia de tecido fetal. Cé- lulas obtidas de mulheres entre 15 e 19 semanas de gestação foram cultivadas num meio contendo 20% de soro fetal bovino e fator de crescimento de fibro- blasto. Células morfologi- camente distintas foram isoladas do restante e ex- pandidas seletivamente. O estudo mostrou que o flui- do amniótico pode servir como fonte de células para engenharia de tecido fetal. “Nossos resultados indica- ram que uma amostra de 2 mililitros de fluido amnió- tico obtido por amnicentese pode conter células sufi- cientes para criar um teci- do pronto para a implanta- ção imediatamente após o nascimento”, explica Fauza. Ele afirma que o risco da amniocentese, conduzida por especialistas, é de uma taxa de aborto espontâ- neo de 1% ou menos. O pesquisador observa que a aplicação clínica requer mais estudos. Gestante: possibilidade de tratamentos menos invasivos Jaraguá: fuga de escorpiões S. BLAIR HEDGES/AFP O menor réptil do mundo Com seu 1,6 centímetro do nariz à ponta do rabo, o jara- guá cabe com folga dentro de uma moeda de dez centavos de dólar e tem de tomar cui- dado para não virar comida de lacraias e escorpiões – embora seja um lagarto, o Sphaerodactylus ariasae é pro- vavelmente a menor espécie de réptil do mundo, segundo seus descobridores, os biólo- gos Blair Hedges, da Universi- dade do Estado da Pensilvâ- nia, e Richard Thomas, da Universidade de Porto Rico. Eles encontraram o minúscu- lo lagarto em três pontos da Isla Beata, uma pequena ilha caribenha pertencente à Re- pública Dominicana, e acre- ditam que esse seja o único local do mundo habitado por essa curiosa espécie. A desco- berta foi relatada no Caribbe- an Journal of Science (n° 37). Segundo o pesquisador nor- te-americano Michael Smith, especialista em biodiversida- de caribenha, o achado pode se transformar numa bandei- ra preservacionista – o Caribe já sofre os efeitos do desmata- mento de 90% de sua mata original. Além do lagarto, o local é também é o hábitat dos menores pássaro, sapo e cobra do mundo.

CIÊNCIA LABORATÓRIO · 2015-03-13 · gestação foram cultivadas num meio contendo 20% de soro fetal bovino e fator de crescimento de fibro-blasto. Células morfologi-camente distintas

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24 • JANEIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

CIÊNCIA

L A B O R AT Ó R I OL A B O R AT Ó R I O

Como corrigir defeitos de nascimento

STEF

AN

KO

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N/P

ULS

ARO cirurgião pediatra brasi-

leiro Dario Fauza, da Fa-culdade de Medicina daUniversidade Harvard, Es-tados Unidos, supervisio-nou duas pesquisas, umacom fetos de animais e ou-tra com fetos humanos,que envolvem o uso de cé-lulas do líquido amnióticocomo matéria-prima paraa engenharia de tecidos fe-tais. O objetivo é a recons-trução cirúrgica para tratarcertos defeitos de nasci-mento – como hérnia dia-fragmática e problemas nasparedes abdominal ou to-rácica – sem necessidade detocar no feto. Em experi-mentos conduzidos pelopesquisador Amir Kaviani,as células extraídas foramcultivadas e manipuladasin vitro na fase final da ges-tação, para a criação de umabioprótese que possa serimplantada logo depois doparto. O conceito de enge-nharia de tecidos fetais temsido aplicado com sucessoem experimentos com ani-mais para a reconstruçãode deformidades de bexiga,pele e diafragma. As expe-riências são promissoras,embora haja riscos de le-sões no feto ou de induçãoa parto prematuro.

Tecido fetal - “Uma apro-ximação menos invasivapara a obtenção de célulasfetais poderia tornar esteconceito mais amplamenteaplicável”, diz Fauza. Ospesquisadores partiram dahipótese de que células fe-tais humanas obtidas por

amniocentese – punção noabdome materno para aretirada de líquido amnió-tico – podem ser isoladas eexpandidas em laboratóriopara aplicações em enge-nharia de tecido fetal. Cé-lulas obtidas de mulheresentre 15 e 19 semanas degestação foram cultivadasnum meio contendo 20%de soro fetal bovino e fatorde crescimento de fibro-blasto. Células morfologi-camente distintas foramisoladas do restante e ex-pandidas seletivamente. Oestudo mostrou que o flui-do amniótico pode servir

como fonte de células paraengenharia de tecido fetal.“Nossos resultados indica-ram que uma amostra de 2mililitros de fluido amnió-tico obtido por amnicentesepode conter células sufi-cientes para criar um teci-do pronto para a implanta-ção imediatamente após onascimento”, explica Fauza.Ele afirma que o risco daamniocentese, conduzidapor especialistas, é de umataxa de aborto espontâ-neo de 1% ou menos. Opesquisador observa que aaplicação clínica requermais estudos. •

Gestante: possibilidade de tratamentos menos invasivos

Jaraguá: fuga de escorpiões

S.B

LAIR

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/AFP

■ O menor réptil do mundo

Com seu 1,6 centímetro donariz à ponta do rabo, o jara-guá cabe com folga dentro deuma moeda de dez centavosde dólar e tem de tomar cui-dado para não virar comidade lacraias e escorpiões –embora seja um lagarto, oSphaerodactylus ariasae é pro-vavelmente a menor espéciede réptil do mundo, segundoseus descobridores, os biólo-gos Blair Hedges, da Universi-dade do Estado da Pensilvâ-nia, e Richard Thomas, daUniversidade de Porto Rico.Eles encontraram o minúscu-lo lagarto em três pontos daIsla Beata, uma pequena ilhacaribenha pertencente à Re-pública Dominicana, e acre-ditam que esse seja o únicolocal do mundo habitado poressa curiosa espécie. A desco-berta foi relatada no Caribbe-an Journal of Science (n° 37).Segundo o pesquisador nor-te-americano Michael Smith,especialista em biodiversida-de caribenha, o achado podese transformar numa bandei-ra preservacionista – o Caribejá sofre os efeitos do desmata-mento de 90% de sua mataoriginal. Além do lagarto, olocal é também é o hábitatdos menores pássaro, sapo ecobra do mundo. •

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PESQUISA FAPESP • JANEIRO DE 2002 • 25

■ O magnetismo oculto do gol

Depois de analisar os resulta-dos de 135 mil jogos de fute-bol, realizados entre 1999 e2001 nos principais campeo-natos internos de 169 países,físicos da Universidade deWarwick, em Coventry, In-glaterra, concluíram que golatrai gol. John Greenhough eseus colegas britânicos perce-beram que, durante uma par-tida, a chance de uma dasequipes mandar a bola para arede do adversário guarda re-lação direta com a quanti-dade de gols já marcados.Quanto mais dilatado estivero placar da disputa num de-terminado momento, maiora probabilidade de haver umnovo gol. Ou seja, é mais fácilmandar a bola para rede numjogo com escore parcial de 3 a3 ou 4 a 1 do que numa par-tida com placar temporáriode 0 a 0 ou mesmo 1 a 0. Se-gundo os cientistas, a regravale para o futebol praticadoem todo o planeta – menosna Inglaterra, onde goleadassão mais raras. As estatísticasdos físicos mostram que acada 300 jogos realizados nomundo um deles tem mais dedez gols. Os estudiosos de

Jogador inglês (de branco): defesa boa ou ataque ruim?

Os três anos de sucesso do programa Biota

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FP ■ As causas da “barriga de cerveja”

Um dos dramas masculinos,aquela adiposidade no abdo-me conhecida como “barrigade cerveja”, recebeu uma aju-da da ciência no mês passado,de acordo com o jornal norte-americano The Boston Globe(14 de dezembro de 2001).Pesquisadores do Centro Mé-dico Beth Israel Deaconess,em Boston, Estados Unidos,identificaram uma enzina emcélulas de gordura que as levaa se concentrar na região ab-dominal. Se for possível “des-ligar” essa enzima, provavel-mente será mais fácil eliminara gordura. O fato seria bem-vindo pelos médicos: essetipo de gordura está relacio-nado a várias doenças, comorisco de diabetes, hipertensãoe doenças cardíacas. •

Em março, o Biota-FAPESPcompleta três anos de su-cesso. A opinião é do Co-mitê Científico Consultivo,composto por pesquisado-res estrangeiros que avaliamanualmente os avanços doprograma. O Biota coorde-na cerca de 40 projetosdestinados a mapear a bio-diversidade e os recursosnaturais do Estado de SãoPaulo. “Em um ano, o pro-grama avançou muito e al-guns projetos já estão ama-durecendo”, afirmou FrankBisby, diretor do Centro deDiversidade de Plantas daUniversidade de Reading,Inglaterra, e coordenadordo projeto Species 2000,um esforço internacionaldestinado a catalogar todasas espécies de vegetais, ani-mais, fungos e micróbiosdo mundo. Bisby e outros

três membros do comitê –Arthur Chapman, do De-partamento de Meio Am-biente e Patrimônio da Aus-trália, Donald Potts, daUniversidade da Califór-nia, e Barry Chernoff, doField Museum of NaturalHystory, de Chicago – esti-veram em São Paulo em

dezembro para acompa-nhar o andamento do Bio-ta. Entre os fatos destaca-dos figuram a montagem eentrada em funcionamen-to de sua base de dados on-line, o sistema SinBiota, e acriação de seu jornal cien-tífico, a revista Biota Neo-tropica, também on-line. •

Planta da mata Atlântica: elogios ao programa

Warwick só não souberam res-ponder a uma questão: saempoucos gols nos campeonatoslocais por que os goleiros e asdefesas das equipes inglesassão muito boas ou por que osataques são muito ruins? •

■ Pata-de-vaca éinsulina vegetal

A espécie amazônica conhe-cida como pata-de-vaca (Bau-himia forficata link), usadapopularmente como plantamedicinal, tem fama de sereficaz no tratamento da dia-betes e apresentar proprie-dade purgativas e diuréticas.Agora, ela começa a ser estu-dada pela Universidade doAmazonas, com apoio daFundação de Apoio Institucio-nal Rio Solimões e financia-mento do Banco da Amazônia.Serão investigadas as substân-cias químicas de ação farma-cológica da planta e definidasformas de plantio, manejo ecoleta para a difusão do usofitoterápico. A pata-de-vaca éutilizada como uma espéciede insulina vegetal por regu-larizar a glicemia. •

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26 • JANEIRO DE 2002 • PESQUISA FAPESP

O perigo das pedras no espaçoNos livros e filmes de ficçãocientífica, os vôos espaciaispodem ser ameaçados porchoques com meteoritos,sabotagem e até ataquesalienígenas. Na vida real, osriscos podem ser mais pro-saicos, mas não menos des-trutivos. Uma das maiorespreocupações dos especia-listas da Nasa é evitar que osastronautas sofram com pe-dras nos rins, informa a re-vista New Scientist (10 denovembro de 2001). Quemjá teve, sabe: a dor provoca-da por um cálculo renalpode colocar fora de açãomesmo o ser humano maistreinado a suportar condi-ções adversas – e um únicomembro de tripulação espa-cial incapacitado pode pôr aperder toda a missão. Estu-

tas era significativamentemais baixo do que o normaldurante e até um mês apósas viagens. A perda de mas-sa óssea que ocorre em con-dições de microgravidade éuma das causas do proble-ma. O cálcio que é liberadodos ossos pode ir para a uri-na, levando à formação docálculo. Uma forma de tra-tamento e prevenção seriatomar litros de água e elimi-nar grande quantidade deurina, uma medida quaseimpossível de ser adotadano espaço. Uma soluçãomais prática pode estar nossuplementos de citrato depotássio e magnésio. O ci-trato, encontrado nas frutasfrescas de que os astronau-tas carecem, inibe a forma-ção dos cálculos. •

dos realizados na extinta es-tação espacial russa Mirmostram que os astronautassão mais susceptíveis a terpedras nos rins do que osseres humanos com os pésna terra. Nos vôos que du-ram mais de 18 dias o risco

é ainda maior. Foram cole-tadas amostras de urina deastronautas da Mir antes,durante e depois de váriasmissões realizadas entre1995 e 1999. Os pesquisado-res descobriram que o volu-me de urina dos astronau-

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Astronautas no espaço: cálculo renal pode abortar missão

imunoglobulina E (IgE),proteína-chave do processoalérgico, de acordo com a re-vista New Scientist (17 de no-

■ Irmão caçula espirra menos

Ser o mais novo numa famí-lia grande pode significarvestir sempre roupa usa-da e levar a pior nas brigas.E virar o xodó da mamãeé uma vantagem duvido-sa. Há, porém, uma outra:ser menos suscetível a aler-gias. As mudanças hormo-nais sofridas pelas mulhe-res após várias gestaçõespodem explicar por queos primeiros filhos têmmais tendência a desen-volver alergia do que oscaçulas. A tese é do pes-quisador Wilfried Kar-maus, da Univer-sidade do Estado doMichigan, Estados Uni-dos, que encontrou nosprimogênitos recém-nas-cidos níveis maiores da

vembro de 2001). O epidemi-ologista inglês David Stra-chan foi o primeiro a relatarmaior ocorrência de proces-

sos alérgicos como asma,febre do feno e eczemanos filhos mais velhos. Aprincípio, ele atribuiu ofenômeno a uma questãode higiene: o sistema imu-nológico dos primeiros fi-lhos ficaria desordenadose eles não fossem expos-tos aos desafios do ambi-ente desde cedo. Já os ca-çulas, convivendo com os

germes e poeira trazi-dos pelos irmãos, esta-

riam menos sensíveisaos potenciais alérge-nos. Agora, porém, aspesquisas de Karmaus

revelam que a vantagemdos caçulas pode começarainda mais cedo, no úte-ro materno. •

■ Reconstrução do Buda afegão

A estátua gigante de Buda,destruída em março de 2001quando o Taliban ainda domi-nava o Afeganistão, será recons-truída com ajuda de imagensem três dimensões usandofotografias com alta definiçãofeitas nos anos 70, informa arevista New Scientist (1º dedezembro de 2001). O traba-lho será feito por pesquisado-res da Universidade de Zuriquee Museu da Basiléia, ambosda Suíça, e artesãos do Insti-tuto Afegão. A imagem origi-nal tinha 53 metros de altura,mas a réplica terá 6 metros.Eles esperam que a cópia esti-mule a população afegã a semobilizar para recriar o Budade 53 metros, uma vez que opaís se torne politicamenteestável. •

LAU

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TRIZ

L A B O R AT Ó R I OL A B O R AT Ó R I O

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■ Confirmada datação de Lagoa Santa

A datação pelo método docarbono 14 de carvões asso-ciados às covas onde foramencontradas partes de trêsossadas humanas em sítiospré-históricos de Matozinhos,na região mineira de LagoaSanta, confirmou as previ-sões iniciais do bioarqueólo-go Walter Neves, do Institutode Biociências da Universi-dade de São Paulo (USP),que coordenou em julho de2001 uma expedição de 25pesquisadores aos ancestraiscemitérios da área: os frag-mentos de esqueletos desen-terrados em meados do anopassado têm entre 8.360 e8.800 anos. A obtenção de os-sadas na região é importantepara o trabalho de Neves, quedefende uma nova teoria so-

bre o povoamento da Améri-ca a partir da análise da mor-fologia cranial de antigos es-queletos resgatados em Lagoa

Santa. Para dar suporte aostrabalhos de campo do proje-to de Neves, financiado pelaFAPESP, uma base de apoio

é mantida oano todo emMatozinhos,com a ajudade cientistas eestagiários lo-cais. •

■ Castanha combate câncer de próstata

Estudo feito a partir da Uni-versidade Stanford, na Califór-nia, Estados Unidos, mostrouque as castanhas brasileiras e oatum ajudam a prevenir ocâncer de próstata. A pesqui-sa, publicada no Journal ofUrology (volume 166), da As-sociação Norte-Americanade Urologia, indicou que es-ses alimentos são ricos em se-lênio, substância químicocuja ausência está associada àmaior probabilidade de riscode contrair a doença. Deacordo com o autor do traba-lho, James Brooks, pesquisa-dor de Stanford, a falta de se-lênio no sangue aumenta dequatro a cinco vezes o riscode contrair esse tipo de cân-cer. O problema para os ho-mens mais velhos é que,quanto mais avançada a ida-de, menor a quantidade doelemento no sangue. O estu-do é promissor e vem em boahora: um outro trabalho feitocom 1.400 pessoas em setepaíses europeus (EstadosUnidos, Reino Unido, França,Alemanha, Itália, Espanha eSuécia) pelo centro de pes-quisas britânico NOP Heal-thcare indicou que apenas39% dos homens têm conhe-cimentos básicos sobre o pro-blema. O câncer de próstata éo segundo mais letal namaioria dos países ocidentaise em sua fase inicial não apre-senta sintomas. O problemasé que a pesquisa feita na Eu-ropa constatou que a maioriadas pessoas acha que é possí-vel perceber os sintomas dadoença ao urinar – não maisde 1% sabe que a doença nãose manifesta, no início. NoBrasil, o tumor na próstata sóé superado pelo câncer depele, de acordo com estimati-vas do Instituto Nacional doCâncer. •

PESQUISA FAPESP • JANEIRO DE 2002 • 27

A fórmula do canto

Uma equipe formada porcientistas norte-america-nos e argentinos conseguiutraduzir três notas do can-to de um canário em umafórmula física. O trabalhoé importante para ajudarna compreensão da pró-pria fala humana. Emborao canto de pássaros comoos canários, por exemplo,seja formado por comple-xos padrões acústicos, en-volvendo notas de muitasfreqüências e comprimen-tos, os pesquisadores daUniversidade Rockefeller,dos Estados Unidos, e Uni-versidade Ciudad, na Ar-gentina, afirmam que osprocessos físicos que pro-duzem esses sons são sur-preendentemente simples.Eles compararam o órgão

vocal dos pássaros, a sirin-ge, a um oscilador harmô-nico – aparelho baseadonuma partícula que oscilaem torno de uma posiçãode equilíbrio. À medidaque o pássaro expele ar, asiringe abre e fecha paraproduzir notas com fre-qüência entre 1 e 2 quilo-hertz. Dois fatores contro-lam como os sons sãoproduzidos – a pressão doar entrando no órgão e a

elasticidade do tecido queo reveste. Quando a pres-são do ar excede determi-nado nível, o tecido oscila.Os pesquisadores reconhe-ceram esse comportamen-to como semelhante aosmovimentos de um oscila-dor harmônico simples,como um peso em umamola, por exemplo. Então,eles usaram as equaçõesque descrevem tal fenôme-no para estudar variáveiscomo pressão do ar e elas-ticidade e criaram um mo-delo para descrever trêsnotas do repertório do ca-nário. A compreensão dosprocessos físicos pode aju-dar a desvendar o cantodos pássaros e, de quebra,o próprio fenômeno dafala humana, pois os pássa-ros aprendem a cantar exa-tamente como os bebêsaprendem a falar: ouvindoos adultos. •

Canário: fórmula física

Anzol (alto) e ponta delança: peças confirmam a teoria de Neves

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