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Departamento de Comunicação Social Cinema e literatura na era digital: interseções Aluna: Carolina Taveira Callegari Orientador: Vera Lúcia Follain de Figueiredo Introdução As relações entre literatura e cinema brasileiro são bastante antigas e esse diálogo a cada momento teve feição específica. O Cinema Novo muitas vezes foi buscar na literatura modernista a base para seus roteiros. Vidas secas, obra de Graciliano Ramos de 1938, é a adaptação mais representativa desse período. Em 1963, o clássico foi para as telas com a direção de Nelson Pereira dos Santos, que justificou a escolha da literatura dos anos 30 a ser adaptada por ter quebrado a idealização trazida pelo Romantismo. O olhar europeizado foi posto de lado na busca de dar expressão aos problemas do povo. O cinema queria fazer uso de uma linguagem próxima à realidade da população, adquirindo representatividade cultural. Na contemporaneidade a relação de migração de suporte se realiza de outro modo. Com o desenvolvimento tecnológico surgiram novos meios de comunicação e com eles surgiram novas plataformas para as quais os textos deslizam. Dos folhetins à internet, o escritor teve que se modificar para acompanhar essas mudanças. Aurélio Orth de Aragão resume essa evolução e seu efeito: No que diz respeito especificamente à relação entre cinema e literatura, ou entre imagem e texto, há uma radical transformação com a entrada de outros atores em cena. A televisão, a publicidade, os quadrinhos e a internet transformam os sinais da equação que antes tinha como termos essenciais apenas o cinema e a literatura (ARAGÂO, 2010, p.27). Além da maior possibilidade de adaptação, novas relações se estabelecem. Se nos anos 60 o cinema buscava a consagrada literatura modernista, agora a obra literária que inspira a criação do filme pode nem mesmo estar finalizada, sendo os dois textos escritos ao mesmo tempo. Esse novo modo de ver a adaptação reforça a importância de usar o texto inicial apenas como base, e não ter obrigação de segui-lo perfeitamente. Cada plataforma tem suas particularidades, que devem ser ponderadas e exploradas. José

Cinema e literatura na era digital: interseções Aluna: Carolina ......O filme Nome Próprio seguiu um caminho diferente até chegar aos cinemas. A escritora Clarah Averbuck, autora

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  • Departamento de Comunicação Social

    Cinema e literatura na era digital: interseções

    Aluna: Carolina Taveira Callegari

    Orientador: Vera Lúcia Follain de Figueiredo

    Introdução

    As relações entre literatura e cinema brasileiro são bastante antigas e esse

    diálogo a cada momento teve feição específica. O Cinema Novo muitas vezes foi buscar

    na literatura modernista a base para seus roteiros. Vidas secas, obra de Graciliano

    Ramos de 1938, é a adaptação mais representativa desse período. Em 1963, o clássico

    foi para as telas com a direção de Nelson Pereira dos Santos, que justificou a escolha da

    literatura dos anos 30 a ser adaptada por ter quebrado a idealização trazida pelo

    Romantismo. O olhar europeizado foi posto de lado na busca de dar expressão aos

    problemas do povo. O cinema queria fazer uso de uma linguagem próxima à realidade

    da população, adquirindo representatividade cultural.

    Na contemporaneidade a relação de migração de suporte se realiza de outro

    modo. Com o desenvolvimento tecnológico surgiram novos meios de comunicação e

    com eles surgiram novas plataformas para as quais os textos deslizam. Dos folhetins à

    internet, o escritor teve que se modificar para acompanhar essas mudanças. Aurélio Orth

    de Aragão resume essa evolução e seu efeito:

    No que diz respeito especificamente à relação entre cinema e literatura, ou

    entre imagem e texto, há uma radical transformação com a entrada de outros

    atores em cena. A televisão, a publicidade, os quadrinhos e a internet

    transformam os sinais da equação que antes tinha como termos essenciais

    apenas o cinema e a literatura (ARAGÂO, 2010, p.27).

    Além da maior possibilidade de adaptação, novas relações se estabelecem.

    Se nos anos 60 o cinema buscava a consagrada literatura modernista, agora a obra

    literária que inspira a criação do filme pode nem mesmo estar finalizada, sendo os dois

    textos escritos ao mesmo tempo.

    Esse novo modo de ver a adaptação reforça a importância de usar o texto

    inicial apenas como base, e não ter obrigação de segui-lo perfeitamente. Cada

    plataforma tem suas particularidades, que devem ser ponderadas e exploradas. José

  • Carlos Avellar considera necessário não se prender a detalhes da obra literária e deixar

    que ocorram modificações para melhor fazer o filme.

    É só deixar-se estimular pelo livro, pelo prazer da leitura, e deste prazer tirar

    um filme. Mas “é preciso deixar a cabeça solta”, não filmar o texto ao pé da

    letra. “Por um lado você fica muito preso ao livro, mas, por outro, é

    importante desligar um pouco, deixar as ideias brotarem, ficar atento às

    associações feitas por acaso, às imagens que surgem” (AVELLAR, 2007,

    pág. 47).

    O escritor transformou-se junto com a tecnologia da comunicação e

    aprendeu a produzir o mesmo conteúdo para as diferentes plataformas. A possibilidade

    de escrever um roteiro e um livro ao mesmo tempo impulsionou o surgimento do

    escritor multimídia. Segundo Aurélio de Aragão “aquele que antes seria o autor literário

    hoje transita com impressionante fluidez entre livros, quadrinhos, cinema, televisão,

    publicidade e teatro” (2010, pág. 27). A era da internet fez nascer, então, um novo tipo

    de escritor, que vê no mundo online uma linguagem própria, um espaço de produção e

    publicação. Partindo desse novo meio e da migração de seu conteúdo para o livro e para

    o cinema, buscou-se refletir, nesta pesquisa, sobre a maior fluidez da fronteira entre as

    diversas plataformas, tomando como objeto de estudo o livro Os Famosos E Os

    Duendes Da Morte, de Ismael Caneppele, e o filme homônimo, de Esmir Filho, assim

    como o filme Nome Próprio, de Murilo Salles, e o blog oficial do longa-metragem.

    O primeiro conjunto de obras é exemplo da adaptação atual. O livro estava

    inacabado quando o roteiro começou a ser escrito. Ismael trabalhou nas duas

    plataformas simultaneamente – retrato do escritor multimídia - e admitiu que escrever

    para o cinema influenciou na finalização do texto literário.

    Já pertencentes à geração do computador, Ismael e Esmir usaram a internet

    como elemento primordial na realização do filme. Os atores escolhidos também fazem

    parte dessa nova geração e foram encontrados online. Henrique Larré, que interpreta o

    protagonista, e Tuane Eggers, que faz o papel da menina Jingle Jangle, tinham contato

    com esse mundo virtual e disponibilizavam conteúdos próprios em blogs e fotologs.

    A proximidade dos atores com a internet foi primordial, já que o recente

    meio de comunicação é um dos pontos centrais da narrativa. Larré e Eggers

    reproduzem, como personagens, suas atuações no universo online: publicar fotos e

    textos próprios. Assim também foi com a trilha sonora, criada pelo cantor gaúcho Nelo

    Johann, que divulga seu trabalho em sites, e foi descoberto por Esmir.

  • A mediação feita com a internet é constante nas duas obras. Como já citado,

    cada plataforma tem suas limitações e cabe a elas aproveitarem suas vantagens.

    Enquanto o filme mostra os vídeos que o protagonista assiste no computador, o livro

    traz o endereço eletrônico – link – para que o leitor possa acessar, por exemplo.

    O filme Nome Próprio seguiu um caminho diferente até chegar aos cinemas.

    A escritora Clarah Averbuck, autora do livro Máquina de Pinball, vendeu os direitos de

    adaptação de sua obra a Murilo Salles e não participou do desenvolvimento do roteiro

    do longa-metragem. Considerada uma das blogueiras mais conhecidas e influentes do

    Brasil, sendo uma das precursoras deste estilo de escrita na internet, Clarah também viu

    textos de seus blogs embasarem o material usado na narrativa ficcional da personagem

    Camila.

    O diretor Murilo Salles fez nove versões do roteiro até conseguir finalizá-lo

    e tirou proveito da temática abordada – a internet – para levar a obra para além do

    cinema. Com o site oficial em formato de blog, Murilo conseguiu dar continuidade ao

    projeto no meio virtual. Em outra plataforma ganhou espaço para colocar o que não

    coube nas grandes telas.

    A escolha de ter um blog como site oficial não se restringiu ao uso de um

    novo suporte do texto, mas iniciou a busca pela aproximação com o público,

    estimulando a participação no espaço. Se o baixo orçamento impôs limites à produção

    cinematográfica, a internet permitiu ampliar a fluidez das fronteiras da adaptação.

    O livro virou filme e o filme virou livro

    A obra literária Os Famosos E Os Duendes Da Morte foi adaptada para o

    cinema antes de estar concluída. O diretor e roteirista Esmir Filho se interessou pelos

    romances de Ismael Caneppele após ler o livro de estreia Música Para Quando As

    Luzes Se Apagam. Depois de ler os rascunhos inconclusos de Os Famosos E Os

    Duendes Da Morte, Esmir Filho propôs que o texto fosse finalizado junto com a

    produção do roteiro, que seria escrito em parceria pelos dois.

    Embora a produção do material para as duas plataformas tenha sido

    simultânea, o livro tem um adesivo na capa em que é afirmado que o texto literário “deu

    origem ao filme de Esmir Filho”. Em contrapartida, para mostrar a influência da obra

  • cinematográfica sobre a literária, na capa estão Ismael Caneppele – que interpreta

    Julian, o misterioso namorado de Jingle Jangle – e Tuane Eggers – que interpreta a

    menina (anexo 1).

    Para desenvolver os dois textos, Esmir Filho e Ismael Caneppele moraram

    durante nove meses na pequena cidade de influência alemã, no Rio Grande do Sul. Ficar

    no lugar para concluir as obras era fundamental para que Caneppele voltasse à

    adolescência que o inspirou e para que Esmir Filho conseguisse observar os costumes

    de uma parte do Brasil tão pouco retratada pelo cinema nacional, que dá destaque ao

    cotidiano das grandes metrópoles.

    O contato com os moradores do lugar foi tão importante que muitos tiveram

    papéis no longa, interpretando os amigos, parentes e vizinhos. Conviver com os

    adolescentes que moram na cidade ajudou a moldar o característico perfil da geração Y

    – ou geração da internet – que é desenvolvido através do protagonista e da menina dos

    vídeos que é sua paixão platônica.

    Na contracapa do livro a nota assinada por Esmir Filho traz a explicação de

    que o livro e o filme se complementam e que não são um mero processo de adaptação

    do texto. A temática sobre o comportamento do adolescente de hoje é tão complexa que

    são necessários vários recursos, nas diversas plataformas, para representar esse cenário.

    O seguinte trecho da nota resume a pretensão da obra em estar presente nas

    plataformas:

    (...) A ideia não era adaptá-lo, e sim criar um diálogo entre as palavras do

    livro e as imagens do filme, buscando sentimentos análogos para o

    leitor/espectador. É por isso que não existe essa bobeira de ler o livro

    primeiro, para depois ver o filme, ou saber o final, etc. É mais do que isso.

    Tudo dialoga e se complementa. Um retrato das inquietações do adolescente

    atual e sua relação com a internet, na eterna busca de uma identidade, onde os

    pixels são uma realidade e vida real não tem fronteiras (FILHO in

    CANEPPELE, 2010, contra capa).

    Fluidez entre as telas do cinema e do computador

    Murilo Salles tomou conhecimento da obra de Clarah Averbuck ao ler uma

    entrevista com a escritora sobre o lançamento de seu primeiro livro, Máquina de

    Pinball. O texto com características da blogosfera despertou interesse no diretor para

    adaptá-lo ao cinema. A escrita do roteiro do longa-metragem Nome Próprio demorou

    seis anos para chegar à versão final. Ao longo do tempo, o material dos blogs pessoais

  • de Clarah – brasileira!preta e adiós lounge – ajudaram a construir a personalidade da

    protagonista Camila e a entender o universo da escrita online.

    A internet como temática rendeu mais frutos do que o esperado. O ambiente

    formado por pixels foi aproveitado como plataforma de interação com o público

    espectador, antes e após a estreia. Divergindo do modelo tradicional de sites oficiais de

    filme, Murilo optou por um blog. Para romper com o padrão, a página, homônima ao

    filme, não era usada somente para divulgação. Conteúdos exclusivos, como fotos de

    bastidores, textos escritos pela equipe acerca do projeto e, até mesmo, cenas excluídas

    no último momento de edição, dialogavam com a obra cinematográfica ao

    complementá-la.

    Em entrevista, o diretor de arte do projeto Pedro Paulo de Souza, ganhador o

    prêmio de Direção de Arte em Gramado pelo longa-metragem, falou sobre a forma de

    abordar as particularidades do espaço virtual em Nome Próprio, que retoma o começo

    da blogosfera no início dos anos 2000.

    “Nome Próprio” também discute formato – o filme não tem película, a

    captação foi toda direta em HD; discute plataforma de comunicação... foi um

    filme lançado através de um blog, em que pudemos construir uma conversa e

    passar adiante a discussão que tivemos. Foi além da projeção na tela e isso

    tem a ver com internet, linguagem e suporte. Tivemos esse cuidado desde o

    início.1

    No espaço de discussão aberto nos comentários dos posts ressurgiu o debate

    sobre a adaptação fiel de um texto para outros suportes. Leitores da Clarah

    argumentavam que a obra havia sido descaracterizada por não incluir alguns

    personagens e não seguir diálogos à risca, por exemplo, enquanto, em contrapartida,

    espectadores de Murilo defendiam que a forma de narrativa é adequada para o cinema e

    que o uso de determinados elementos, como sons do teclar no computador e as palavras

    que se sobrepunham às imagens, como forma de expressão da blogosfera.

    A escritora ganhou espaço no blog Nome Próprio e publicou um texto em

    que expressa sua opinião sobre a adaptação da obra. Para Clarah, o filme ganhou

    dimensões maiores durante o processo de construção da personagem Camila, encenada

    pela atriz Leandra Leal. Todos os envolvidos no projeto influenciaram, aos menos um

    1 Entrevista com o diretor de arte de Nome Próprio, Pedro Paulo de Souza:

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/08/entrevista-com-pedro-paulo-de-souza.html. Acessado

    em julho de 2012.

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/08/entrevista-com-pedro-paulo-de-souza.html

  • pouco, a personalidade da protagonista e, o próprio espectador, destaca determinadas

    características que geram identificação.

    Esse filme não é meu, mas é claro que eu estou lá. E a minha Camila

    também, junto com outras pessoas, outras Camilas, tantas Camilas que

    existem por aí, junto com a direção de arte, com a trilha, com a fotografia.

    Este filme se chama ‘Nome Próprio’ e tem sua vida própria, que não é minha,

    nem do diretor, nem de ninguém. É dele. E eu espero que vocês gostem.2

    Vale ressaltar que Máquina de Pinball, lançado em 2002, pode ser adquirido

    gratuitamente no site da editora Conrad que o disponibilizou o texto integral do

    romance de estreia de Clarah Averbuck. Para ter acesso à obra, o leitor deve se cadastrar

    no site da editora e logo em seguida tem o direito de fazer o download do arquivo em

    formato PDF. Embora esteja à venda em sites e livrarias o livro é acessível de graça,

    não sendo uma cópia ilegal, o que, de certo modo, reforça o modelo de blog, em que o

    material fica disponível para que qualquer um o visualize. O novo tipo de escritor,

    proveniente de outras plataformas, interfere nos meios tradicionais de leitura, assim

    como afirma Vera Figueiredo:

    (...) a atual revolução dos suportes, modificando a maneira de ler, afeta o

    modo de escrever, pois os próprios autores de livros estão inseridos nesse

    novo contexto em que se transformam de modo radical as formas de recepção

    dos textos, e toda uma tradição da prática da leitura cede lugar a outros

    modos de ler (FIGUEIREDO, 2010, pág.15).

    Fronteiras diluídas e o avanço com a internet

    A adaptação de textos literários para o cinema não é um fenômeno recente.

    Atendo-se apenas ao Brasil da segunda metade do século passado, o exemplo mais

    marcante é o livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos, de 1938, adaptado pelo diretor

    Nelson Pereira dos Santos, em 1963. Além do esforço da produção cinematográfica

    manter ao máximo a fidelidade aos detalhes do livro, outro ponto de contraste do que

    hoje se vê é a busca da literatura canonizada para ser adaptada. O modernismo literário

    deu o embasamento necessário aos diretores brasileiros quando decidiram começar a

    retratar o verdadeiro Brasil.

    2 Texto do diretor Murilo Salles: http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/05/um-

    nome-que-no-meu.html. Acessado em julho de 2012.

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/05/um-nome-que-no-meu.htmlhttp://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/05/um-nome-que-no-meu.html

  • O cinema procurava na literatura aquilo que faltava em si. A linguagem do

    cinema francês não era a direção certa para a construção de um modelo tipicamente

    brasileiro. José Carlos Avellar explica essa relação fortalecida entre o Cinema Novo e a

    literatura modernista, em que um tentava encontrar no outro o que faltava:

    Para compreender melhor o entrelaçamento entre cinema (em especial o que

    começamos a fazer na década de 1960) e a literatura (em especial a que

    começamos a fazer na década de 1920), talvez seja possível imaginar um

    processo (cujo ponto de partida é difícil de localizar com precisão) em que os

    filmes buscavam nos livros temas e modos de narrar que os livros apanharam

    em filmes; em que os escritores apanham nos filmes o que os cineastas foram

    buscar nos livros; em que os filmes tiram da literatura o que ela tirou do

    cinema; em que os livros voltam aos filmes e os filmes aos livros numa

    conversa jamais interrompida (AVELLAR, 2007, pág. 8).

    Assim, pouco a pouco, deixou-se de lado a pretensão de que fazer uma boa

    adaptação era sinônimo de respeitar todos os detalhes da obra - sem modificar ou

    excluir elementos da trama. A perfeita repetição dos mínimos detalhes não permite que

    o cinema consiga usufruir de seus recursos específicos da melhor maneira possível.

    Cada plataforma tem modos únicos de expor o texto e isso deve ser aproveitado. Deixar

    a obra imóvel pode prejudicar a boa adaptação por não conseguir extrair o máximo dos

    recursos do meio que a transmite. Temer que a obra fique descaracterizada e evitar que

    fuja do texto original limita o trabalho de desenvolvimento. O diretor ou escritor deve

    poder, e saber, trabalhar dando ênfase aos pontos em que certos momentos não foram

    bem explorados devido às limitações da plataforma em que estava. José Carlos Avellar

    resume essa outra forma de pensar a adaptação: “Apenas parte do que se expressa num

    texto (e não necessariamente o mais importante) está nas ações e objetos descritos com

    maior ou menor quantidade de detalhes” (AVELLAR, 2007, pág. 55).

    Os Famosos E Os Duendes Da Morte mostra que cada plataforma deu foco

    a determinados pontos da narrativa para usar recursos a seu favor, possibilitando a

    melhor forma de expressar o conteúdo fazendo uso de suas características únicas.

    No livro, o autor Ismael Caneppele descreve longamente a importância e a

    história de como somente um adesivo de estrela sobrou no teto do quarto. O

    protagonista se detém a explicar como antes era o sentimento de vergonha quando

    levava os amigos em casa, o temor de ser caçoado por causa dos adesivos, a decisão de

    tirar todas as estrelas coladas no teto, a dúvida sobre se foi ou não a escolha certa e a

    lembrança constante do pai falecido ao ver que sobrou somente uma pequena estrela.

  • Enquanto na literatura essa história é contada com detalhes, no filme o

    menino apaga e acende, várias vezes, a luminária do quarto. O personagem tem o olhar

    fixo no teto, que tem marcas das estrelas que não estão mais coladas. Para o espectador

    que não leu o livro, a falta de conhecimento sobre os adesivos não interfere na

    compreensão da cena. O longa não perde qualidade por não trazer esse detalhe. O filme

    e o livro, inúmeras vezes, se complementam conversando entre si.

    O diretor Esmir Filho admite que é necessário construir um diálogo entre as

    duas obras. Na atualidade, o texto circula, estimulando-se o público a ir para outro

    suporte em busca de desdobramentos da narrativa primeira, assim como define Vera

    Figueiredo: “Merece atenção especial o fenômeno de deslizamento das narrativas de um

    meio para outro, de um suporte para outro – o processo contínuo de reciclagem das

    intrigas ficcionais, recriadas para circular por diferentes plataformas” (FIGUEIREDO,

    2010, pág. 11).

    O filme consegue aproveitar muito bem o recurso de imagem de que dispõe.

    O livro por vezes traz o endereço eletrônico – link – a que o protagonista assiste no

    computador. Já no longa, o espectador vê, junto com o ator, os vídeos da menina Jingle

    Jangle.

    Tanto o livro como o filme estimulam o público a procurar o conteúdo na

    internet. Enquanto a obra literária traz o link, o filme mostra a página do site, e por

    vezes deixa aparecer os nomes, permitindo que o espectador consiga encontrar o

    material no meio online. As fotos e vídeos que aparecem no longa ainda podem ser

    encontrados no Flickr de Tuane Eggers e no canal do YouTube feito para a personagem

    Jingle Jangles. O público se sente estimulado a buscar por novas informações sobre o

    romance no meio virtual.

    Esmir Filho define Os Famosos E Os Duendes Da Morte não como um

    simples trabalho, mas como um movimento, por conseguir integrar diversas plataformas

    que não só repetem o conteúdo, mas complementam a narrativa de modo que um

    suporte dê espaço para o outro ter um desenvolvimento da melhor forma.

    Não só a literatura e o cinema conseguem manter um diálogo nesse caso,

    mas também a internet – elemento mais recente no campo de adaptação de conteúdo. O

    site oficial do filme traz uma parte de interação, além de conter os links para as páginas

    pessoais da atriz Tuane Eggers e do cantor e compositor Nelo Johann que foram

    encontrados na plataforma virtual.

  • A internet teve papel fundamental, não só por ser a temática do romance,

    como por ser o caminho para encontrar o elenco principal e o responsável pela trilha

    sonora e conseguir material que influenciou na produção do filme. O modelo de

    fotografia e vídeo feito por Tuane Eggers foi aproveitado, e ela é a responsável pela

    gravação das partes em que aparece. Os vídeos usados para representar aquilo que

    circula no meio virtual são totalmente inspirados no trabalho amador de Eggers. A

    entrada dessa nova plataforma, que trouxe um número bem maior de possibilidades,

    facilitou o deslizamento do texto para outros suportes.

    Um pequeno trecho do filme é dividido em partes que podem ter a ordem

    alterada no site oficial, proporcionando que o público monte do modo que desejar. O

    vídeo disponível para a interação é produzido em baixa qualidade, do mesmo modo dos

    que são usados no longa para dar a sensação de que foi realmente feito de forma caseira

    para ser disponibilizado na internet, assim como os que o protagonista visualiza.

    As fronteiras entre os campos da produção cultural não são rígidas,

    permitindo que haja, além da troca de informação entre os meios, a complementação do

    texto que migra de uma plataforma para a outra, como resume Vera Figueiredo: “Assim,

    um dos efeitos da atuação do mercado como grande mediador, intensificado com os

    avanços da tecnologia da comunicação, é o embaralhamento das linhas divisórias entre

    os diversos campos da produção cultural” (FIGUEIREDO, 2010, pág. 52).

    O texto nas duas plataformas é trabalhado de maneira diferente. Enquanto

    na literatura ele é mais descritivo, abordando os detalhes, no filme o diretor Esmir Filho

    faz uso de planos longos, parados, sem som. O expectador tem a chance de analisar o

    momento de um modo subjetivo. O cinema faz uso da imagem para conseguir o instante

    de reflexão que o escritor Ismael Caneppele consegue através das palavras. O modo de

    abordagem é diferente já que os suportes não são iguais e apresentam características

    únicas, assim como explica Vera Figueiredo:

    O estudo da relação entre narrativas literárias e cinematográficas, portanto,

    não se restringe ao campo do que se convencionou chamar de ‘adaptação’,

    não se limita à análise dos procedimentos formais utilizados para recriar,

    através de uma arte mista como o cinema, uma intriga inicialmente tecida

    apenas com palavras, embora a quantidade de filmes baseados em obras

    literárias seja praticamente incontável. O fenômeno de leitura/reescritura de

    textos literários pelo cinema tem permitido várias abordagens, que, por

    diferentes vias, contribuíram não só para que se pensassem os pontos de

    contato entre as duas artes, mas também suas particularidades

    (FIGUEIREDO, 2010, pág. 18).

  • Há momentos em que o livro deixa subentendido quando o personagem está

    publicando no blog. A formatação do texto é diferente da do corpo narrativo. No filme,

    o recurso sonoro é bem aproveitado, sendo, por vezes, mais expressivo do que a

    imagem. Na medida em que o menino fala o texto que escreve, mesmo sem aparecer a

    tela do computador ou o texto sendo digitado, é possível ouvir o barulho das teclas.

    Somente depois aparece parte do texto sendo finalizado, escrito ao mesmo tempo em

    que o menino fala; logo em seguida, o botão “Publicar” é mostrado e selecionado.

    As conversas no programa de mensagem instantânea também são

    exploradas de melhor maneira com o recurso visual do cinema. No livro, o leitor tem

    que ficar atendo ao contexto. Na página 51, o início da conversa é sinalizado com o

    trecho: “O canto do monitor piscou”, em referência ao funcionamento do programa para

    conversas online. Em outro exemplo, na página 61, o leitor percebe que o diálogo

    acontece no computador por causa da estrutura com que é apresentado. Não há

    marcação de que a conversa é no computador, sendo antecedida pela frase “Entrei em

    casa e fui direto para o meu quarto ‘E.F.’ estava lá.”.

    Já no filme, é simples compreender quando é o menino que se comunica

    com alguém no computador. A janela do programa aparece com as frases que cada um

    escreve. A imagem facilita o entendimento do diálogo. Além do som que é ouvido

    quando cada mensagem chega de um amigo de longe.

    A música Mr. Tambourine Man, de Bob Dylan, é um dos elementos

    primordiais do filme. Além do recurso de tocá-la em diversos momentos, a menina

    Jingle Jangle aparece cantando um pequeno trecho, o protagonista adota o nome da

    canção como apelido na internet - que é focalizado em diversos momentos - e alguns

    versos aparecem escritos na prova de química que o menino faz na escola.

    O livro faz muitas referências ao cantor do folk americano já que tem mais

    liberdade de fazer menção ao artista. Um dos exemplos é a citação “How does it feel?”,

    na página 70, quando o menino escuta um casal tendo relações em uma das cabines do

    banheiro em que ele está. Essa é a frase inicial do refrão da música Like A Rolling

    Stones. A continuação do trecho, que não está escrito, “How does it feel / To be without

    a home / Like a complete unknown / Like a rolling stone?” define como o menino se

    sente ao ver o casal junto enquanto ele, em todo o momento do romance, se sente só.

    Outra alusão ao cantor é a última frase do livro: “The answer is blowing in

    the wind.”. O trecho faz referência à música Blowin’ In The Wind, que foi gravada em

  • julho de 1962. A canção trata de questionamentos sobre o que ainda é necessário fazer

    para conseguir o que se quer alcançar. No fim do romance, o menino decide, enfim, sair

    da cidade e vai embora.

    No longa, houve limitações devido ao alto valor cobrado pelos direitos

    autorais. O diretor Esmir Filho, em entrevista ao programa televisivo Notícias MTV,

    declarou que totalizou o gasto de 70 mil reais nos momentos em que há alusão ao

    músico, como nos exemplos citados anteriormente.

    Para contornar a situação da falta de recursos para pagar mais por direitos

    autorais pelo trabalho de Bob Dylan, a solução encontrada foi adotar como trilha sonora

    as canções do músico gaúcho Nelo Johann, que tem um estilo parecido com o do cantor

    americano. Assim como os atores principais, Johann foi convidado a integrar a equipe

    do filme após Ismael Caneppele ter encontrado o material disponível na internet.

    Uma característica muito forte, não só dos atores e de Nelo Johann, mas

    também de Ismael Caneppele e Esmir Filho é o fato pertencerem à geração Y – ou

    geração da internet. O conhecimento e a interação cotidiana com o meio virtual

    permitiram que o diálogo do livro e do filme com a recente plataforma fosse feito de

    maneira natural.

    A resistência à adaptação não literal

    Embora seja cada vez mais comum a liberdade com que se trabalha a

    adaptação de um texto da literatura para o cinema, tendo flexibilidade em modificar

    elementos que compõem a narrativa inicial, parte do público ainda se mostra resistente a

    esse modelo de adequação da obra para outro suporte. José Carlos Avellar explica,

    tomando como exemplo Vidas secas, o que é, na verdade, o processo de adaptação de

    um material literário para o cinema.

    Digamos mais uma vez: um filme não se reduz a transpor e ilustrar o livro em

    que se inspira (“adaptação não é uma cadeia, é uma referência que faz chegar

    a grandes descobertas”), nem mesmo quando, como em Vidas secas, os fatos

    narrados são exatamente aqueles contados no livro (“permanecer com estas

    referências, a essência do livro e sua estrutura narrativa, é um estímulo. Mas

    transformar um livro em filme significa recriar o universo do autor em outra

    forma de expressão”). O que Nelson faz a partir de Graciliano é uma livre

    invenção de imagens cinematográficas a partir da leitura e compreensão do

    texto. Invenção livre e em perfeita sintonia com o romance porque a relação

    viva entre a literatura e o cinema (como qualquer relação viva entre duas

    diferentes formas de arte) só se realiza quando uma estimula e desafia a outra

    a se fazer por si própria (AVELLAR, 2007, pág. 54).

  • Antes que Máquina de Pinball chegasse aos cinemas e voltasse para a

    internet, Clarah Averbuck viu seu livro adaptado para o teatro. Roteirizado por Antônio

    Abujamra – que teve grande interesse no texto e, inclusive, escreveu seu prefácio – e

    Alan Castelo, o espetáculo homônimo, que estreou em 2003, reafirmou a fluidez das

    fronteiras nas diferentes plataformas. Mesmo sem poder usar elementos trabalhados em

    outros suportes, Máquina de Pinball chegou aos palcos. O fato remete ao processo de

    adaptação feito antes do surgimento de novas tecnologias, como afirma Vera

    Figueiredo:

    Ao abordar as interseções entre diferentes campos da produção cultural,

    assim como o trânsito de narrativas por vários meios e suportes, não se deixa

    de levar em conta, entretanto, que tais fenômenos não são novos embora

    tenham chegado ao paroxismo com as tecnologias digitais (FIGUEIREDO,

    2010, pág. 12).

    Atualmente, os cruzamentos entre os meios artísticos passam a acontecer de

    maneira ainda mais intensa. A entrada de novas plataformas, como a internet,

    reconfiguraram as possibilidades de deslizamento dos textos, permitindo que a obra seja

    trabalhada de diversas maneiras, podendo desdobrar-se e ampliar seu espaço de

    desenvolvimento narrativo. O texto inicial é reconstruído de acordo com o que de

    melhor se pode aproveitar do suporte em que será veiculado.

    O diretor Murilo Salles expandiu Máquina de Pinball não somente para o

    cinema, mas para a internet também, através do blog oficial. Murilo percebeu que a

    história da personagem Camila não se esgotava no livro, nem no filme e nem nos blogs

    de Clarah. Novos elementos, que não cabiam nos suportes citados, foram

    implementados ao espaço virtual. Além da divulgação do longa-metragem, o endereço

    online traz fotos, prévia de algumas cenas, assim como material exclusivo que não

    compõe a versão final. E, o que merece maior destaque na maneira com que a narrativa

    continua online, é a interação com o público, que se mantém em contato com a equipe

    de produção – responsável pela manutenção e alimentação da página com material novo

    –, e em constante diálogo através dos comentários. Além de promoções realizadas no

    blog para ganhar ingressos da pré-estreia de Nome Próprio, usuários do site MySpace

    tiveram a oportunidade de assistir no site, gratuitamente, o filme antes da estreia em

    circuito nacional, no dia 18 de julho de 2008. A narrativa que ganha espaço nas grandes

  • telas tem a chance de crescer ainda mais no espaço virtual, assim como afirma Vera

    Figueiredo:

    Textos deslizam para as telas, ameaçando a centralidade do suporte impresso,

    filmes são finalizados no computador e distribuídos em DVD ou pela

    internet. Enfim, Toda produção midiática moderna converge para o

    computador, que, funcionando como um metameio, a armazena e distribui.

    Trazidos em dados numéricos, filmes, fotografias, textos e músicas inserem-

    se numa rede não hierárquica de circulação. Como o sentido de uma obra

    depende de seus aspectos materiais, formais e de conteúdo, que são

    indissociáveis, ao serem liberados dos suportes físicos tradicionais, como, por

    exemplo, o papel e a película, as formas culturais pré-digitais passam por

    transformações que as reconfiguram (FIGUEIREDO, 2010, pág. 18).

    A trilha sonora do filme, composta e tocada por artistas brasileiros, recebeu

    o maior número de reclamações dos fãs da literatura de Clarah Averbuck. A influência

    do rock n’ roll tanto no cotidiano da personagem Camila como na vida e obra da autora,

    não teve destaque no cinema. O motivo: o baixo orçamento. Com verba de R$ 1,2

    milhão, a equipe optou por não pagar direitos autorais a bandas estrangeiras, nem

    mesmo para os americanos do The Strokes, grupo que apareceu até na dedicatória do

    livro Máquina de Pinball. A alternativa foi disponibilizar no blog uma lista de músicas

    de acordo com o que Camila ouviria. Nomes importantes como The Beatles, Rolling

    Stones, The Clash e Janis Joplin fazem parte do repertório. Na obra literária, trechos de

    músicas, sempre em inglês, antecedem os capítulos, como uma pequena introdução ao

    assunto a ser tratado.

    Durante entrevista com Murilo Salles sobre a elaboração do roteiro, o

    jornalista Felipe Messina afirmou que as sequências de imagens deixam uma série de

    ‘lacunas’, em que o espectador não tem tudo explicado, podendo criar, por si mesmo, o

    que não foi dito. Murilo respondeu que o filme foi pensado de modo que estivesse de

    acordo com o universo da trama. O público do cinema recebe o mesmo tratamento que o

    leitor do blog: o roteiro, assim como o texto, apresenta recortes de acordo com o ponto

    de vista de uma pessoa, a história não é totalmente destrinchada. Assim como nos textos

    de Camila, algumas partes ficam implícitas.

    Mas, eu concordo: poderíamos ter ordenado esse filme de diversas formas.

    Só acho que aprendi com esse filme que quando escolho uma palavra, uma

    cena, estou fazendo uma opção de recorte, um recorte pessoal daquele

    universo. O que tomei mais cuidado no roteiro foi para construir uma

    narrativa de uma narrativa. Não filmamos com esse intuito, isso não foi

    inventado na montagem.3

    3 Segunda parte da entrevista do jornalista Felipe Messina com o diretor Murilo Salles:

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/08/2-pergunta-murilo-salles.html. Acessado em julho de

    2012.

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/08/2-pergunta-murilo-salles.html

  • Esse recorte estimula a busca do preenchimento das lacunas nos outros

    suportes, a fim de entender a totalidade da obra. O que foi omitido na narrativa não pode

    criar um abismo, prejudicando o entendimento de parte da trama. Devem ser supridos

    detalhes que enriquecem a obra e não que sejam essenciais para seu entendimento.

    Para Murilo, a opção de lançar um blog do filme – e não um site oficial nos

    padrões convencionais – era a oportunidade perfeita para aproveitar as vantagens da

    plataforma e permitir que a obra continuasse fora das telas.

    Foi junto com o Beto que percebi que a pertinência do lançamento desse

    filme era ter essa unidade de linguagem; de fazer o filme continuar num blog,

    dele se perpetuar no relato e na relação direta com as pessoas. Foi nessa

    época que eu assumi e comprei a idéia de lançar o filme inteiramente através

    do blog.4

    Aproveitando o espaço de interação, no dia 20 de maio de 2008, a

    publicação Roteiro5 trazia o link da primeira tentativa de adaptação feita pela roteirista

    Elena Soárez. O arquivo ainda está disponível para visualização e cópia no site Box6. No

    dia 2 de junho de 2008, pouco mais de um mês antes do lançamento em circuito

    nacional, a equipe do blog divulgou o roteiro final, na publicação 9º tratamento: roteiro

    filmado. No texto, a equipe explicava o porquê da decisão de divulgarem a parte escrita

    do projeto. Rendeu tanto que resolvemos disponibilizar agora a última versão do roteiro,

    a nona, escrita pelo Murilo. Essa foi a que foi filmada mesmo, pra que vocês

    possam comparar agora o que existia no papel e o que ficou no filme. É super

    interessante ver como as palavras viraram imagem, e no caso desse filme,

    como elas continuaram palavras mesmo – só que escritas na tela.7

    Atualmente, o endereço eletrônico no site Lcweb8 em que constava a versão

    final do roteiro está fora do ar, não sendo acessível para leitura ou cópia.

    O final do filme pode ser considerado o ponto alto da boa adaptação da

    literatura para o cinema. Murilo fez uso da dúvida que Clarah deixa no final do livro. Na

    última página, ela escreveu: “É mentira, mas é tudo verdade. Qualquer semelhança com

    a realidade não terá sido mera coincidência” (2002, pág. 79). A escritora tenta confundir

    o leitor, fazendo-o perguntar-se sobre a veracidade daquilo que acabou de ler: o que, na

    4 Quarta parte da entrevista do jornalista Felipe Messina com o diretor Murilo Salles:

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/08/4-pergunta-murilo-salles.html. Acessado em julho de

    2012.

    5 Publicação Roteiro, em blog Nome Próprio:

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/05/roteiros.html/. Acessado em julho de 2012. 6 Primeira versão do roteiro Nome Próprio disponível para leitura e cópia:

    https://www.box.com/shared/o2q2iao00w. Acessado em julho de 2012. 7 Publicação A última versão do roteiro, no blog Nome Próprio:

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/06/ltima-verso-do-roteiro.html. Acessado em julho de

    2012.

    8 Endereço eletrônico em que estava disponível a última versão do roteiro do filme Nome Próprio:

    http://www.lcweb.com.br/nomeproprio/roteiro_filmado.doc. Acessado em julho de 2012.

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/08/4-pergunta-murilo-salles.htmlhttp://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/05/roteiros.html/https://www.box.com/shared/o2q2iao00whttp://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/06/ltima-verso-do-roteiro.htmlhttp://www.lcweb.com.br/nomeproprio/roteiro_filmado.doc

  • obra, é ficcional e o que realmente aconteceu? No site da editora Conrad, um

    questionamento inicia o resumo sobre o livro: “Tudo começa quando a personagem

    Camila (ou seria a própria Clarah?) (...)”.

    Alter-ego, ou não, da autora, a personagem Camila de Murilo Salles

    também deixa dúvidas quanto ao que o espectador acabou de assistir. Nos momentos

    finais da trama, pela primeira vez o texto que aparece escrito sobreposto à imagem está

    em terceira pessoa e se refere à protagonista:

    Camila foi embora da festa tentando disfarçar sua dor. Logo que ficou

    sozinha, chorou. Chorou no elevador, chorou no corredor e na rua. Caminhou

    até o ponto de ônibus mais próximo. Pegou o primeiro que a deixasse mais

    perto de casa. Chorou no ônibus. Em casa, sentou-se, e acolhida pelo pufe,

    aquietou.9

    Quando a personagem entra em seu apartamento, o ambiente está

    modificado, tendo mais mobílias. Uma mulher, igual a ela, está no computador e digita

    o texto citado acima enquanto observa Camila se movimentar pela sala. As duas ficam

    lado a lado olhando para a câmera e, então, o filme acaba. O jogo de imagem, com as

    personagens idênticas, representa a relação entre o escritor e a personagem por ele

    criada, na qual se desdobra.

    Murilo fala sobre o ato de se entregar à obra, de descobrir durante o

    processo de adaptação que ele tinha que se identificar com a personagem, encontrar o

    que dela tinha nele para então poder dirigir o longa. A Camila da história também é uma

    parte do que está dentro dele: “(...) com muito esforço e concentração, me tornei a

    melhor Camila. Eu sou a melhor Camila. Tinha que estar no filme, só assim viraria uma

    história real, ia ganhar sentido, identidade”.10

    Geração Y e a internet como plataforma

    A internet trouxe um novo jeito de pensar, de agir. A chamada geração Y –

    composta por pessoas que nasceram entre a década de 1980 e início dos anos 90 – está

    inserida no acelerado processo de atualização dos meios de comunicação. Essa geração

    se comporta de maneira diferente das outras, tendo facilidade com o uso de tecnologia,

    9 Trecho do filme Nome Próprio (2008), de Murilo Salles.

    10 Em http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/05/no-incio-o-verbo.html

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/05/no-incio-o-verbo.html

  • linguagem própria – influenciada fortemente pela internet –, acesso a maior rede de

    referências culturais, individualismo, imediatismo e busca de significado.11

    Segundo Vera Figueiredo, “O computador é, então, algo mais que um

    simples atravessador, ou operador de passagens, é o ponto de partida para a constituição

    de uma cultura eletrônica com características próprias” (2010, pág. 18). O surgimento

    do computador não só proporciona uma nova plataforma de suporte para o texto. Com o

    aparecimento da internet, uma geração é influenciada pelo novo meio, que tornou a

    comunicação mais rápida e inovadora.

    A facilidade trazida pelo recente meio de comunicação proporcionou a

    ampliação da carga de informações que era impossível de conseguir em qualquer outro

    suporte. Por isso, a geração Y tem amplo acesso a referências culturais de procedência

    diversa. Essa característica fica muito explícita na obra Os Famosos E Os Duendes Da

    Morte com a relação criada entre o menino e o ídolo Bob Dylan. O músico, que

    começou a carreira em 1959, é dos Estados Unidos.

    O menino adota como apelido na internet, o nome de uma das músicas de

    Dylan. O protagonista fica empolgado com o show que o cantor fará em uma cidade

    maior. Há também a preocupação, e dúvida, sobre o que fazer para conseguir ir ao

    evento. A todo o tempo o amigo de longe, que se comunica através do computador,

    instiga o menino a viajar para realizar o sonho de ver o ídolo tocar ao vivo.

    Um dos exemplos de referências culturais é a cena do filme em que o

    “amigo de longe” envia um vídeo para o protagonista. No material enviado, há menção

    ao clipe Subterranean Homesick Blues, de Bob Dylan, em que o cantor segura cartazes

    com a letra da música. No vídeo que o menino assiste, ao invés da canção, o que

    aparece escrito é o convite para ele viajar para assistir ao show fora da pequena cidade.

    Como acontece na internet, na obra Os Famosos E Os Duendes Da Morte

    Ismael Caneppele e Esmir Filho não se inspiram somente em grandes artistas. Como já

    citado, Tuane Eggers é quem faz os vídeos em que aparece. Como já tinha

    conhecimento sobre como produzir o material, pois já fazia antes em sua página pessoal

    no site Flickr, ela foi convidada a também ter essa função, além de atuar.

    11

    Dados retirados de http://www.administradores.com.br/informe-se/informativo/a-geracao-y-chega-ao-

    mercado-de-trabalho/19461/ Acessado em julho de 2011.

    http://www.administradores.com.br/informe-se/informativo/a-geracao-y-chega-ao-mercado-de-trabalho/19461/http://www.administradores.com.br/informe-se/informativo/a-geracao-y-chega-ao-mercado-de-trabalho/19461/

  • Na página pessoal, Eggers adotou o nome de Jingle Jangle, assim como no

    canal do YouTube, onde o público pode assistir aos vídeos mostrados no filme, que são

    os mesmos dos links que estão no livro. O material tinha que parecer ter sido feito de

    forma amadora para a internet. Por isso são tremidos, granulados (de baixa qualidade) e

    com enquadramentos ruins. No filme, essa queda na qualidade dos vídeos é, também,

    para diferenciar, dentro da narrativa, o que é virtual e o que é real. O espectador

    consegue diferenciar os vídeos que, junto ao protagonista, os visualiza no computador.

    O fato de Ismael Caneppele ter convidado Tuane Eggers para atuar e gravar

    os vídeos vai contra a opinião da professora do protagonista que não vê a internet como

    um meio confiável de conseguir informações:

    O texto terminou. Os últimos garotos pararam de rir. O eco triste da minha

    voz ainda desafinava os ouvidos quando a professora perguntou o nome do

    autor.

    - Jingle Jangle.

    - Quem é Jingle Jangle?

    - Não sei.

    - Como não sabe? O que falava sobre o autor na orelha do livro?

    - Esse texto não é de um livro. É da internet.

    - Da próxima vez pesquisa mais sobre autores de internet. Talvez eles nem

    existam. De qualquer forma eu preciso do nome completo dos autores lidos

    em conselho.

    O que mais importa para as pessoas de lá é o nome completo (CANEPPELE,

    2010, pág. 13).

    O diálogo entre o menino e a professora questiona a legitimidade do

    material, principalmente o textual, encontrado na internet. A professora desconfia da

    autenticidade do texto por ser assinado por uma pessoa que usa um apelido no meio

    virtual e que não disponibiliza informações a seu respeito.

    A conversa confirma o lugar superior que a literatura conseguiu alcançar e a

    internet não. Se na escrita de livros os autores podem usar pseudônimos, permitindo que

    eles não sejam identificados, sem gerar desconfiança, no meio virtual não há esse

    mesmo espaço. O texto publicado em um livro alcança um lugar mais alto na hierarquia

    das plataformas de suporte.

    Uma característica da geração Y, bem expressada pelo protagonista é o

    conforto que, em certa medida, sente com as pessoas com que se comunica no meio

    virtual em contrapartida com o desconforto que sente quando está próximo da própria

    família.

    O menino por vezes se sente deslocado durante os diálogos com a mãe, que

    lhe pergunta sobre assuntos comum como, por exemplo, sobre a rotina na escola ou os

  • relacionamentos com garotas. O protagonista grava um vídeo para se comunicar com os

    “amigos de longe” sobre a ausência que sente do pai que morreu. No momento em que

    ele faz isso, a mãe dele está dormindo. Ele não consegue estabelecer uma conversa com

    a mãe, mas fala com “E.F.” sobre os sentimentos que tem quanto a sair da pequena

    cidade e sobre a ausência de sentido na vida.

    Há uma valoração da amizade entre o protagonista e os “amigos de longe”,

    que quando não é correspondida também causa desconforto. O menino deposita

    confiança na relação que construiu com as pessoas do mundo virtual, mas reconhece

    que esta não é semelhante ao sentimento que a mãe tem por ele, como na passagem: “Li

    os recados deixados para “E.F.” na sua página e outras pessoas também queriam saber

    detalhes sobre o show. Fiquei com ciúmes porque eu não era o único. Eu nunca seria.

    Menos para a minha mãe” (CANEPPELE, 2010, pág. 51).

    O sentimento de não pertencer a nenhum lugar caracteriza o personagem,

    que vive a todo o tempo incomodado com a sensação de não pertencimento à pequena

    cidade, mas algumas vezes também não se sente confortável por ser diferente dos

    amigos da internet. Esse sentimento é demonstrado no fragmento: “Não havia nenhuma

    resposta de “E.F.”, nem de ninguém. Minha mãe esperava por mim. Eles eram os meus

    amigos e nenhum deles me dava resposta, pista, indício de que poderia ser. Eles não

    dividiam. O mundo deles não era o meu” (CANEPPELE, 2010, pág. 50).

    O protagonista se sente deslocado tanto do mundo real a sua volta como do

    mundo virtual que conheceu através do computador. Essas pessoas têm rotinas

    diferentes, dão a entender que são mais livres por não viverem aprisionados à

    monotonia da pequena cidade de descendentes alemães. A vida das pessoas de longe

    cativa e é vista como um bom modelo a ser seguido, como no trecho:

    Quando liguei o computador, o vento frio entrou pelas frestas da janela e

    ninguém estava do outro lado. Era cedo e as pessoas do longe dormem

    durante o dia para poder viver à noite. É isso o que eles me. Era assim que

    eles. Devia ser essa a lógica na vida deles e deveria ser essa a lógica da

    minha vida se eu não morasse longe deles. Eu também tentava viver durante

    o dia (CANEPPELE, 2010, pág. 41).

    O personagem recebe tanta influência desse mundo externo ao dele que não

    sente vontade de participar da típica festa junina ao estilo alemão. Ao mesmo tempo,

    conhece o trabalho do cantor e compositor Bob Dylan, se inspirando na música Mr.

    Tambourine Man, gravada em 1965. O menino se sente perdido ao ser convidado pelos

  • “amigos de longe” para ir ao show, enquanto o único amigo da cidade não está disposto

    a deixar a cidade para acompanhá-lo ao evento.

    Para poder tentar fazer parte do estilo de vida que os amigos de longe têm,

    era necessário passar de uma fase para outra. Era preciso crescer e abrir mão de coisas e

    pessoas que seriam deixadas para trás. A ponte, onde ocorre o suicídio das pessoas da

    cidade, é como um personagem devido à importância que recebe em quase personificar

    a travessia que é necessário fazer.

    A ponte é uma metáfora que representa o caminho que as pessoas devem

    seguir. É necessário deixar um lugar para trás para que se possa encontrar outro

    caminho. Quem tenta atravessar e não consegue acaba ficando fora de si, e cometendo

    suicídio. As pessoas que se jogam da ponte param na parte mais alta, que fica no meio

    da travessia. Quem se arrisca a trilhar um caminho de direção diferente deve ter certeza

    que não vai desistir durante o trajeto. O protagonista, quando decide ir embora tem que

    atravessar a ponte e o faz de modo determinado, ao sumir em meio à neblina.

    Já no site, a janela da ponte traz o link dos sites pessoais da atriz Tuane

    Eggers e do cantor e compositor Nelo Johann, onde eles foram encontrados. A página

    na internet faz a conexão entre realidade e ficção do trabalho de adaptação da obra. O

    filme se entrelaça com a temática e com o seu próprio desenvolvimento.

    Para conseguir fazer a ligação da realidade de quem costuma viver na

    internet, do modo típico da geração Y, com o personagem criado por Ismael Caneppele,

    Esmir Filho, ao encontrar Henrique Larré e Tuane Eggers, conversou com eles durante

    um período somente através do computador para depois encontrá-los pessoalmente. O

    diretor afirmou - durante entrevista ao programa televisivo Notícias MTV - que queria

    ter o choque, para comprovar, que essa geração parece viver em dois mundos diferentes,

    ora o virtual, ora o real – fora da internet – e que cada lugar tem suas particularidades.

    Esmir Filho buscou tão a fundo as características da geração Y que é ele

    mesmo quem conversa online com o protagonista, por isso o “amigo de longe” tem o

    apelido de E.F., as iniciais do diretor. O livro traz esse mesmo apelido para o amigo da

    internet, sendo mais uma comprovação de que a obra literária foi influenciada pelo

    roteiro.

    O diretor Murilo Salles, de Nome Próprio, justificou o uso do blog como

    ferramenta de integração com seu público, a geração y, que está inserida no universo da

  • blogosfera. Acostumados à linguagem do ciberespaço, Murilo sentiu necessidade de

    dialogar com esse grupo específico fora do cinema.

    Um blog, não um site, pra gente poder trocar, bater papo, levantar questões,

    tudo vivo, ativo, quente.

    Vai ser assim: aqui no blog você vai poder ver trechos exclusivos do filme,

    ler textos escritos especialmente pra cá pelas pessoas ligadas à produção,

    saber em primeira mão das novidades, se cadastrar pra assistir a sessões do

    filme e até fazer a sua própria versão do trailer!12

    A equipe de produção do longa-metragem seguiu um rumo diferente com o

    tratamento dado aos leitores do blog Nome Próprio, enquanto as páginas da personagem

    Camila e da escritora não tinham espaço para comentários, não permitindo o diálogo

    com o público. No caso de Clarah, que criou a protagonista, o site é usado como uma

    espécie de diário, servindo para registrar pensamentos e desabafos, por isso ela não

    espera, e nem deseja, interagir. Em contrapartida, a equipe do filme estimula tanto a

    participação que pede para que as pessoas enviem textos de autoria própria ao estilo dos

    que são publicados por Camila na trama. Pierre Lévy fala sobre a mudança no

    comportamento online:

    Enfim, o suporte digital permite novos tipos de leituras (e de escritas)

    coletivas. Um continuum variado se estende assim entre a leitura individual

    de um texto preciso e a navegação em vastas redes digitais no interior das

    quais um grande número de pessoas anota, aumenta, conecta os textos uns

    aos outros por meio de ligações hipertextuais (LÉVY, 1996, pág. 43).

    Além de promoções para assistir gratuitamente a sessões do filme, o blog,

    no dia 2 de junho de 2008 trouxe a competição13

    em que o internauta poderia montar

    um trailer, de até 2 minutos, a partir de cena escolhidas do longa e de sua trilha sonora,

    cedidas através de links para download. Os três melhores vídeos podiam ser assistidos

    no blog e recebiam votos do público. O vídeo que ficasse em primeiro lugar na votação

    entraria como material extra no DVD do filme.

    Para o concurso foi oferecido um passo a passo explicando as etapas a

    serem seguidas para participar.

    1) Baixe as imagens em http://sharebee.com/a15a5614

    12 Trecho da publicação Nome Próprio, o blog, em blog Nome Próprio:

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/05/nome-prprio-o-blog.html. Acessado em julho de 2012.

    13 Anúncio da competição de melhor trailer feito pelo público, em blog Nome Próprio:

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/06/monte-seu-trailer.html. Acessado em julho de 2012.

    http://sharebee.com/a15a5614http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/05/nome-prprio-o-blog.htmlhttp://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/06/monte-seu-trailer.html

  • 2) Baixe as músicas em http://sharebee.com/c625598a

    3) Monte um trailer de até 2 minutos em seu software preferido

    4) Publique o vídeo em http://vids.myspace.com

    5) Mande o link e seus dados completos para [email protected] até o dia

    15 de junho

    6) O resultado sai no dia 20 de junho.

    O blog procurou integrar seu público motivando a participação por meio de

    uma tarefa em que as pessoas já estão acostumadas a realizar: o uso de programas de

    edição para vídeos caseiros. De acordo com a perspectiva cinematográfica dos

    participantes os vídeos eram sendo reorganizados de formas diversas. Essa cooperação

    dos fãs comprova a possibilidade da constante releitura das obras, assim como afirma

    Vera Figueiredo:

    Cada vez mais a ideia de uma obra-prima acabada, fechada em sua perfeição,

    cede espaço para a do texto em contínua reelaboração, que se quer flexível,

    de modo a facilitar o deslizamento por diferentes meios e suportes. O artista,

    cuja formação tende a ser multimídia, torna-se um orquestrador, trabalhando

    com mensagens de diversas séries: literárias, visuais, musicais

    (FIGUEIREDO, 2010, pág. 45)

    Para Murilo, o blog tinha que ser tomado como um local de discussão, não

    somente sobre a obra em si, mas o que ela retrata e representa: o escritor online e a

    criação de vínculos com quem está distante. O que é falado e escrito ganha corpo, as

    letras que surgem na tela sobrepõem-se à imagem, não a deixando totalmente legível. A

    palavra ganha destaque, quase ocultando a personagem.

    Murilo Salles, em um jogo de câmera, por vezes põe o espectador junto de

    Camila em seu pequeno apartamento, ao filmar o computador tempo suficiente para

    que se leia, junto com ela, os e-mails recebidos. A personagem está inserida de uma

    maneira tão rígida no ambiente virtual que, até mesmo, quando está escrevendo seus

    textos à mão, é possível ouvir o barulho de digitação. Na crítica publicada na Revista

    Cinética, a escrita no ambiente virtual e seus colaboradores, tanto o autor como o leitor,

    ganham destaque:

    No entanto, o fato é que Nome Próprio talvez seja um dos melhores filmes

    nacionais a se voltar para os personagens jovens em muito tempo, criando ao

    mesmo tempo um mergulho radical numa subjetividade sem estereótipos (ou,

    pelo menos, sem mais do que o tanto deles que nós mesmos acabamos

    vivenciando no dia a dia) e uma capacidade de traçar um painel de

    http://sharebee.com/c625598ahttp://vids.myspace.com/mailto:[email protected]

  • personagens que nunca soa como “exemplificante”, e sim um universo

    particular.14

    A internet, o virtual e o real

    Por tratar da internet, a obra Os Famosos E Os Duendes Da Morte faz, a

    todo o tempo, referência a essa plataforma. Por vezes o significado de virtual aparece

    como o oposto de real, diferentemente da definição deste vocábulo apresentada por

    Pierre Lévy:

    Consideramos, para começar, a oposição fácil e enganosa entre real e virtual.

    No uso corrente, a palavra virtual é empregada com frequência para significar

    a pura e simples ausência de existência, a “realidade” supondo uma efetuação

    material, uma presença tangível. O real seria da ordem do “tenho”, enquanto

    o virtual seria da ordem do “terás”, ou da ilusão, o que permite geralmente o

    uso de uma ironia fácil para evocar as diversas formas de virtualização

    (LÉVY, 1996, pág. 15).

    Dessa maneira, o virtual estaria em oposição com o que é atual, à medida

    que é algo ainda a ser conquistado. No trecho abaixo, o menino reflete sobre a internet

    ser uma maneira de fugir da realidade da pequena cidade em que vive. Ele vê que estar

    conectado, em contato com as pessoas que moram longe, faz com que ele se desprenda,

    um pouco, do que vive. No momento em que essas pessoas deixam o mundo virtual ao

    se desconectarem, a idealização de ter outro lugar termina no mesmo instante:

    Estar perto não era físico, mas eles não conseguiam entender. Não entendiam

    os que precisavam se isolar da cidade para sair da realidade ou para conhecer

    um instante de vida, mesmo que ele terminasse assim que a conexão caísse

    ou que o nome passasse do verde para o vermelho e a janela indicasse off line

    (CANEPPELE, 2010, pág. 11).

    Mesmo dividido entre os dois mundos, o menino não deixa de manifestar,

    em vários momentos, um forte sentimento de pertencimento ao mundo que conheceu na

    internet, sentindo-se deslocado na pequena cidade onde vive. Em algumas passagens, o

    protagonista adota o universo da internet como sua realidade de tão forte que é a relação

    com as pessoas desse espaço. A falta de interação com o meio em que realmente vive

    quase inclui a cidade em um plano imaginário, fazendo-o duvidar sobre sua existência,

    14

    Crítica publicada na Revista Cinética: http://www.revistacinetica.com.br/nomeproprio.htm. Acessado

    em julho de 2012.

    http://www.revistacinetica.com.br/nomeproprio.htm

  • como no trecho a seguir: “Passam comigo a noite para eu não me sentir sozinho nas

    manhãs, quando a cidade fica ainda mais gelada, pequena e tão longe do mundo real que

    eu chego a me perguntar se ela existe de verdade” (CANEPPELE, 2010, pág. 15).

    O mundo virtual da internet pode ser sentido tão presente que não parece

    constituído do que ainda virá a ser. É como se esse espaço fosse o real, o que realmente

    acontece. Um modelo de vida é criado e adotado, assim como descrito na crítica do site

    Cineweb, “Tal qual praticamente toda a sua geração, a janela para o mundo é formada

    por pixels e bites (...).”

    A janela para o mundo é a tela do computador. O mundo real a ser vivido é

    o que foi criado dentro da internet, o que pode ser notado, por exemplo, no trecho “O

    Diego fumando devagar como se toda a vida não esperasse por nós dentro dos

    computadores” (CANEPPELE, 2010, pág. 25). O menino tem o sentimento de

    pertencimento a esse espaço.

    A constante visualização dos vídeos de Jingle Jangle mantém a história da

    menina e o sentimento que o protagonista tem por ela. O personagem se sente tão

    próximo dela que ele a trata como se ela ainda estivesse viva. Jingle Jangle não parece

    pertencer ao passado, sua presença é forte ao longo da trama, como na passagem: “Tu

    sorrindo para mim, dentro do monitor, era eu sabendo de tudo sem precisar viver. Estar

    perto não é físico. Nunca foi. Nunca será” (CANEPPELE, 2010, pág. 74).

    A lembrança da menina através dos vídeos é real. Embora sejam de

    momentos passados, as gravações estão disponíveis para serem visualizadas. A qualquer

    momento o material pode ser acessado. A menina, em si, não mais existe. Ela está

    morta, não faz parte do presente e nem pode se concretizar no futuro, como na lógica do

    virtual, de algo que venha a ser. A ausência de Jingle Jangle pode ser definida no trecho

    em que Pierre Lévy descreve o que pode estar além do real e do virtual: “Assim que a

    subjetividade, a significação e a pertinência entram em jogo, não se pode mais

    considerar uma única extensão ou uma cronologia uniforme, mas uma quantidade de

    tipos de espacialidade e de duração” (LÉVY, 1996, pág. 22).

    Os vídeos da menina a tornam virtual. Há diferença entre ela em si existir e

    a imagem dela estar presente na plataforma. Embora Jingle Jangle tenha morrido, ainda

    pode ser vista porque foi virtualizada. As gravações não seguem a mesma lógica do

    espaço e tempo do mundo real, sendo possível acessá-las quando quiser, até o momento

  • em que elas ainda estiverem disponíveis online. A desterritorialização no virtual é

    definida por Pierre Lévy:

    Quando uma pessoa, uma coletividade, um ato, uma informação se

    virtualizam, eles se tornam “não-presentes”, se desterritorializam. Uma

    espécie de desengate os separa do espaço físico ou geográfico ordinários e da

    temporalidade do relógio e do calendário. É verdade que não são totalmente

    independentes do espaço-tempo de referência, uma vez que devem sempre se

    inserir em suportes físicos e se atualizar aqui ou alhures, agora ou mais tarde

    (LÉVY, 1996, pág. 21).

    Na virtualização, outro universo é criado de forma completa. Como o virtual

    é algo a ser materializado ele é construído por vários fatores. O lugar idealizado pelo

    menino é a internet. O personagem fala do meio como se fosse um espaço físico, de

    tanto que crê ser o real. No fragmento o menino fala do computador – o outro lado da

    tela - como uma fronteira para chegar ao mundo que ele imagina:

    Eu devia ter ido embora naquela hora. Naquela noite. Eles me esperavam do

    outro lado da tela. Textos do blogue. Janelas piscando. Notícias de longe.

    Eles esperavam do outro lado. Fotografias de lugares distantes. Confissões.

    Segredos. Webcamn. Eles. Tu. Tu sem eu saber que também estava lá

    (CANEPPELE, 2010, pág. 25).

    Pierre Lévy descreve toda a estrutura criada para dar embasamento ao

    virtual que é criado para futuramente se concretizar:

    A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade

    num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um

    deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto considerado: em

    vez de se definir principalmente por sua atualidade (uma “solução”), a

    entidade passa a encontrar sua consistência essencial num campo

    problemático (LÉVY, 1996, pág. 17).

    A distância que separa o menino dos amigos virtuais não é um empecilho

    para a relação de afetividade e confiança que é criada. O personagem faz da frase “Estar

    perto não é físico.” uma marca para o entendimento do sentimento que ele constrói com

    as pessoas que estão longe, mas parecem próximas por causa da sensação de

    encurtamento da distância que a internet traz. A recente plataforma consegue juntar as

    características dos outros meios de comunicação. É possível se comunicar através de

    textos, como nas cartas, por meio de voz, como no telefone, e por vídeo, que dá melhor

    percepção de proximidade.

    A relação no meio virtual se constitui de maneira tão forte que o público não

    sabe o nome ou apelido dos personagens principais. O menino na internet tem o apelido

    de Mr. Tambourine Man e a menina, de Jingle Jangle. Embora pseudônimos adotados

    por eles, pelo menos é uma identidade adquirida. Na vida real dos personagens não há

  • indícios de qualquer identificação, de quem eles realmente são. Há uma inversão de

    valores em que na internet os dois personagens conseguem ser únicos, mas fora, eles

    não são nem ao menos nomeados, como se não houvesse importância de diferenciá-los

    de outras pessoas.

    Em Nome Próprio, o computador ganha importância de grandes dimensões,

    quase se transformando em um personagem. É na internet, ainda discada no início dos

    anos 2000, que Camila busca refúgio para seus desabafos e suas desavenças amorosas.

    Constantemente repetido que a protagonista é feita de palavras, é no blog pessoal que

    encontra espaço para expressar suas angústias em forma de escrita. Nenhuma ação

    escapa aos dedos que transformam em pixel os pensamentos do cotidiano. Não colocar

    para fora, em formato de texto, é como se as coisas não fossem concretas, reais. Durante

    o longa-metragem, Camila afirma: “Os dias passam, meu corpo apodrece. Corpos

    apodrecem. Por isso nada sua se não palavras. Quando escrevo, me afirmo. Quando

    falo, ganho sentido. Quando penso, ganho corpo. Meu corpo é letra e linha. Meu corpo

    palavra”.

    Na música tema, homônima ao filme, composta pela banda brasileira Porcas

    Borboletas, o trecho “Quando você tira a roupa algo se revela” expressa o ato de se

    mostrar, de não tentar se esconder. A atriz Leandra Leal declarou que durante as

    filmagens, mesmo quando estava vestida, sentia-se nua ao encenar a personagem pelo

    grau de exposição através das palavras. A escrita é o despir-se, mesmo que não registre

    somente verdades. Durante o processo o escritor põe muito de si no papel, ou no

    computador. Na capa do DVD (anexo 2), a atriz Leandra Leal está nua, mas diversas

    frases impedem que seu corpo seja visto claramente. O texto escrito na capa de maneira

    desconexa e embaralhada é o mesmo que aparece ao longo do filme sobre as cenas.

    A publicação do blog oficial, intitulado Nem virtual, nem real, para dentro,

    traz a mistura de espaços em que o espectador acompanha Camila.

    Real, virtual e mental se confundem, trocam de lugar, se revezam. Pulamos

    de um para o outro a cada mudança de parágrafo. Estamos na dimensão do

    pensamento, da linguagem, da palavra.

    Vemos a Camila ou vemos o que ela escreve?

    Não importa.

    Estamos sempre nem e no mesmo lugar, na cabeça de Camila.15

    15

    Trecho da publicação Nem virtual, nem real, para dentro, em blog Nome Próprio:

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/07/nem-virtual-nem-real-para-dentro.html. Acessado em

    julho de 2012.

    http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/2008/07/nem-virtual-nem-real-para-dentro.html

  • Durante uma entrevista com Murilo Salles, o jornalista Felipe Messina faz

    uma reflexão sobre ‘os espaços construídos no filme’, em que estão ‘o espaço das

    relações pessoais, o espaço da criação artística e o espaço físico do mundo e seus

    cubículos de cimento’. O diretor então explica:

    Como você mesmo coloca, Felipe, essa é uma parábola da

    contemporaneidade; uma falsa sensação de universalidade que a gente tem

    através da Internet. Esse paradoxo acaba criando uma clausura de verdade.

    Nós somos obrigados a estar fixados à tela do computador para estarmos

    conectados com o mundo, e isso é um paradoxo. Hoje em dia, com a internet

    mudando para o celular, talvez isso mude. Mas, no momento em que o filme

    se passa, em 2001, não havia jeito, para ganhar a liberdade virtual você tinha

    que perder a real, tinha que ficar confinado.

    Para Pierre Lévy, o avanço das tecnologias proporciona sensações tão reais

    de proximidade física que há maior percepção e interação com o que está longe do que

    com o que está realmente próximo:

    Graças às máquinas fotográficas, às câmeras e aos gravadores, podemos

    perceber as sensações de outra pessoa, em outro momento e outro lugar. Os

    sistemas ditos de realidade virtual nos permitem experimentar, além disso,

    uma integração dinâmica de diferentes modalidades perceptivas. Podemos

    quase reviver a experiência sensorial completa de outra pessoa (LÉVY, 1996,

    pág. 28).

    A personagem cria um espaço de fuga através da escrita online. Em diversos

    momentos ela recebe e-mail com elogios ao blog e declaração de pessoas que se

    identificam e admiram sua trajetória de vida contada online. Segundo Pierre Lévy, uma

    comunidade se forma também virtualmente por causa de um interesse em comum.

    Mesmo sem terem contato direto, as pessoas partilham dos mesmos sentimentos e

    tendem a se ‘reunirem’ para expressá-los:

    Uma comunidade virtual pode, por exemplo, organizar-se sobre uma base de

    afinidade por intermédio de sistemas de comunicação telemáticos. Seus

    membros estão reunidos pelos mesmos problemas: a geografia, contingente,

    não é mais nem um ponto de partida, nem uma coerção. Apesar de “não-

    presente”, essa comunidade está repleta de paixões e de projetos, de conflitos

    e de amizades. Ela vive sem lugar de referência estável: em toda parte onde

    se encontrem seus membros móveis... ou em parte alguma (LÉVY, 1996,

    pág. 20).

    Conclusão

    Como já tratado, a internet criou uma nova cultura, que traz consigo suas

    particularidades expressas pela geração Y. A liberdade, que o meio oferece, de todos

  • serem o que quiserem deixa maior espaço para as pessoas interagirem entre si e criarem,

    naturalmente, um lugar de convívio com regras próprias. Pierre Lévy defende que essa

    nova cultura é nômade, já que o território virtual é descentralizado devido às suas

    características: “A virtualização reinventa uma cultura nômade, não por uma volta ao

    paleolítico nem às antigas civilizações de pastores, mas fazendo surgir um meio de

    interações sociais onde as relações se reconfiguram com o mínimo de inércia” (LÉVY,

    1996, pág. 20).

    A possibilidade de ser quem se deseja na internet abre espaço para que a

    pessoa represente o que pensa que é realmente e que não demonstraria na vida real. O

    personagem do romance reflete sobre o jeito como deseja agir no espaço de total

    liberdade, onde não há represálias: “Assim passavam as horas: deitado na cama,

    olhando para o teto e escolhendo, entre todos os eus, aquele que melhor eu seria. (...)

    Aquele era o meu segredo: permanecer imóvel para viver o que não existia – o que

    ainda não e o que nunca mais” (CANEPPELE, 2010, pág. 20).

    Na cultura nômade, tudo se desloca incessantemente, inclusive as narrativas,

    e as identidades nada mais são que narrativas. É esse deslocamento contínuo que

    imprime novas configurações às relações entre cinema e literatura.

    Se antes era necessário se apoiar na literatura consagrada para fazer uma boa

    adaptação, a ideia de pegar o livro inacabado e criar o roteiro junto à finalização do

    texto era impensável. O espelho usado pelo cinema deveria ser uma obra que já tivesse

    alcançado lugar de destaque na hierarquia de valores no campo literário.

    Abandonar a visão de que a adaptação deveria ser a cópia fiel do texto

    inicial proporcionou que cada plataforma explorasse ao máximo suas características

    únicas para reproduzir a obra. A percepção de que os suportes deveriam se

    complementar permitiu que a narrativa se desdobrasse, por ter mais espaço e recursos

    para serem trabalhados. O livro não é necessariamente o suporte central, mas uma das

    plataformas de apresentação da narrativa que é veiculada em outros meios. O cinema

    passa a ser parte do processo de desenvolvimento e não somente mero reprodutor do

    texto inicial.

    A liberdade de poder explorar determinadas partes da narrativa na literatura

    mais do que no cinema, e vice e versa, possibilitou que cada suporte conseguisse

    desenvolver o que há de melhor. O fato de não estar preso a um modelo inalterável

    permite que o público se sinta motivado a buscar por mais informações em outros

  • meios. Não é mais aplicada a lógica de que ler o livro ou ver o filme é o suficiente para

    entender a narrativa. Pensar que o livro conta o final da história e por isso não há

    motivo para assistir ao filme é um erro. Tanto a obra literária como a cinematográfica

    conversam entre si para que cada uma possa explorar detalhes que ficaram

    subentendidos na outra plataforma.

    A rapidez com que é feita a adaptação também é um elemento novo. A obra

    nem está acabada e já é pensada e produzida para diversos meios. Como no caso

    apresentado do desenvolvimento de Os Famosos E Os Duendes Da Morte, à medida

    que o livro era finalizado, o roteiro também era escrito. E quando o longa estava sendo

    filmado, as páginas virtuais relacionadas à sua produção eram alimentadas com

    conteúdos textuais e vídeos.

    A mudança na velocidade com que o texto desliza nas plataformas é

    fundamental para o processo de intercâmbio entre as produções. No momento em que a

    narrativa está sendo criada, já se pensa em como conseguir fazê-la dialogar com os

    outros meios. Em Os Famosos E Os Duendes Da Morte, os vídeos mostrados no filme

    são os mesmos dos links presentes no livro, que antes da conclusão da obra literária já

    tinham que estar postados na internet. A obra é apresentada como tendo sido iniciada na

    literatura, mas, claramente, deixou-se influenciar pelos outros suportes que a

    constituem.

    Para conseguir criar essa rede de ligações, em que um meio completa o

    outro é fundamental ter o autor e o diretor trabalhando juntos. Embora cada um seja

    responsável por levar o texto a uma plataforma, é primordial que o escritor,

    independente do suporte, possa transitar de um meio para o outro, por isso é tão

    importante a figura do escritor multimídia. O entrosamento do autor e do cineasta foi

    essencial para criar as duas obras em conjunto.

    Já o caso da adaptação do livro Máquina de Pinball, de Clarah Averbuck,

    mostrou que a narrativa pode ser constantemente reciclada, a fim de deslizar para outras

    plataformas. Inspirado no material de um blog, transformado em literatura, ocupando os

    palcos e sendo exibido nas telas de cinema antes de voltar para a internet, o texto passou

    por um processo de deslocamento que pretendíamos examinar nesta pesquisa.

    O uso de novos recursos, rompendo com modelos tradicionais de

    reprodução, reinventa, então, não só o desencadear da narrativa como também a forma

    como o público recebe o conteúdo. A criação de um blog oficial expandiu, ainda mais, o

  • alcance da obra de Murilo Salles, que não se encerrou no espaço do cinema. O público

    que ficou motivado a buscar por mais elementos teve à disposição um leque maior de

    opções que se somaram ao texto inicial.

    Bibliografia

    ARAGÃO, Aurélio Orth de. Por onde anda o autor? A trama da autoria entre cinema e

    a literatura brasileiros contemporâneos. Rio de Janeiro: PUC, 2010. Dissertação

    de Mestrado.

    AVELLAR, José Carlos. O chão da palavra: cinema e literatura no Brasil. Rio de

    Janeiro: Rocco, 2007.

    AVERBUCK, Clarah. Máquina de Pinball. São Paulo: Conrad, 2002.

    CANEPPELE, Ismael. Os Famosos E Os Duendes Da Morte. São Paulo: Illuminuras,

    2010.

    FIGUEIREDO, Vera Lúcia Follain de. Narrativas migrantes: literatura, roteiro e

    cinema. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: 7Letras, 2010.

    LÉVY, Pierre. O que é o virtual?. São Paulo: Ed. 34, 1996.

    Filmografia

    Os Famosos E Os Duendes Da Morte. Esmir Filho, 2009. 101mim.

    Nome Próprio. Murilo Salles, 2008. 120mim.

    Fontes

    Site oficial do filme Os Famosos e Os Duendes Da Morte:

    http://wwws.br.warnerbros.com/osfamososeosduendesdamorte/

    Flickr de Tuane Eggers: http://www.flickr.com/photos/uncolortv/

    Canal do YouTube de J. Jingle Jangle: http://www.youtube.com/user/JJingleJangle

    Perfil de Nelo Johann no site Last.fm:

    http://wwws.br.warnerbros.com/osfamososeosduendesdamorte/ponte.php?url=lastfm

    Perfil de Nelo Johann no site MySpace: http://www.myspace.com/bangbangjesus

    http://wwws.br.warnerbros.com/osfamososeosduendesdamorte/http://www.flickr.com/photos/uncolortv/http://www.youtube.com/user/JJingleJanglehttp://wwws.br.warnerbros.com/osfamososeosduendesdamorte/ponte.php?url=lastfmhttp://www.myspace.com/bangbangjesus

  • Entrevista de Esmir Filho no programa televisivo Notícias MTV, exibido em 9 de abril

    de 2010: http://mtv.uol.com.br/noticiasmtv/entrevistas/noticias-mtv-090410-caze-

    entrevista-o-cineasta-esmir-filho-confira Acessado em junho de 2011.

    Texto de Ismael Caneppele, publicado por Mr. Fork em Colherada Cultural:

    http://www.colheradacultural.com.br/content/20091028013330.000.9-C.php Acessado

    em junho de 2011.

    Blog oficial do filme Nome Próprio: http://nomepropriofilme.blogspot.com.br/

    Primeiro blog da Clarah Averbuck: http://www.brazileirapreta.blogspot.com.br/

    Segundo blog da Clarah Averbuck: http://adioslounge.blogspot.com.br/

    Myspace do filme. http://www.myspace.com/nomepropriofilme

    Editora Conrad:

    http://www.lojaconrad.com.br/lojas/conrad/__Detalhes.cfm?produto=RQ19374

    Gazeta Do Povo:

    http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=798346

    Entrevista com Clarah:

    http://revistamarieclaire.globo.com/Marieclaire/0,6993,EML1683662-1740,00.html

    Blog da banda ‘Porcas Borboletas’ (música tema):

    http://porcasborboletas.blogspot.com.br/

    http://mtv.uol.com.br/noticiasmtv/entrevistas/noticias-mtv-090410-caze-entrevista-o-cineasta-esmir-filho-confirahttp://mtv.uol.com.br/noticiasmtv/entrevistas/noticias-mtv-090410-caze-entrevista-o-cineasta-esmir-filho-confirahttp://www.colheradacultural.com.br/content/20091028013330.000.9-C.phphttp://nomepropriofilme.blogspot.com.br/http://www.brazileirapreta.blogspot.com.br/http://adioslounge.blogspot.com.br/http://www.myspace.com/nomepropriofilmehttp://www.lojaconrad.com.br/lojas/conrad/__Detalhes.cfm?produto=RQ19374http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=798346http://revistamarieclaire.globo.com/Marieclaire/0,6993,EML1683662-1740,00.htmlhttp://porcasborboletas.blogspot.com.br/