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CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE TORTA DE FILTRO NO SOLO NA PRESENÇA DE CÁDMIO E NÍQUEL LUCIA PITTOL FIRME Dissertação apresentada à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Agronomia, Área de Concentração: Solos e Nutrição de Plantas. P I R A C I C A B A Estado de São Paulo – Brasil Fevereiro – 2005

cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

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Page 1: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE TORTA DE FILTRO NO SOLO NA PRESENÇA DE

CÁDMIO E NÍQUEL

LUCIA PITTOL FIRME

Dissertação apresentada à Escola Superior de

Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de

São Paulo, para obtenção do título de Mestre

em Agronomia, Área de Concentração: Solos

e Nutrição de Plantas.

P I R A C I C A B A

Estado de São Paulo – Brasil Fevereiro – 2005

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CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE TORTA DE FILTRO NO SOLO NA PRESENÇA DE

CÁDMIO E NÍQUEL

LUCIA PITTOL FIRME Engenheiro Agrônomo

Orientador : Prof. Dr. ARNALDO ANTONIO RODELLA

Dissertação apresentada à Escola Superior de

Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de

São Paulo, para obtenção do título de Mestre

em Agronomia, Área de Concentração: Solos

e Nutrição de Plantas.

P I R A C I C A B A

Estado de São Paulo – Brasil Fevereiro – 2005

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

DIVISÃO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - ESALQ/USP

Firme, Lucia Pittol Cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na presença de cádmio

e níquel / Lucia Pittol Firme. - - Piracicaba, 2005. 74 p.

Dissertação (Mestrado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2005. Bibliografia.

1. Cádmio 2. Cinética química 3. Metal pesado no solo 4. Microbiologia do solo 5. Níquel 6. Resíduos agrícolas I. Título

CDD 631.46

“Permitida a cópia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte – O autor”

Page 4: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

OFEREÇO À toda minha família,

em especial à meus pais Ivaldo e Angela,

pela confiança, dedicação e apoio em todos os meus dias.

À minha irmã Lilian,

pelo seu incentivo incondicional,

companheirismo e busca incessante por minha felicidade

DEDICO

Page 5: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

Agradecimentos

Ao meu orientador Prof. Dr. Arnaldo Antonio Rodella, pela sua

orientação, presença e amizade.

À coordenação do Curso de Pós-Graduação em solos e Nutrição de

Plantas, pela oportunidade.

À CAPES, pela bolsa concedida.

Aos professores do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas da

ESALQ, pelos ensinamentos.

Aos professores do setor de Química Analítica do Departamento de

Ciências exatas, pela atenção e colaboração.

Á Banca Examinadora de Qualificação, pelas sugestões.

Aos meus amigos de pós-graduação, Fabiana Felix, Cristiano Andrade,

Estêvão Mellis, Letícia Altafin, Jonas Chiara, Marcio Chiba, Gláucia Santos,

Laércio Carvalho, Aline Genu, Miriam Costa, Tiago Ozorio, Valdomiro Souza,

Felipe Gomes, Simão Lindoso, Juliano Cury e Fernando Zambrosi, pela troca

de experiências e pelos momentos agradáveis que me proporcionaram.

Aos funcionários do setor de Química Analítica do Departamento de

Ciências Exatas, Rita de Castro, Lenita Pacheco, Gertrudes Fornaziér, Angélica

Bernadino, Ana Maria, Armelinda Tuono e Janaina Truffi, pela colaboração e

amizade que me dedicaram.

Aos funcionários do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas, pelo

apoio e amizade.

Aos amigos das Repúblicas, BatKverna, Vira Latas, Zona Rural, Uspeão,

Arado, Caminho do Céu, Deus Quis e Blue House, pelas inúmeras integrações.

Page 6: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

v

Aos meus amigos que freqüentaram a minha casa, pela convivência

agradável em Piracicaba.

À toda a minha família, que mesmo distante me encorajaram e não

permitiram que eu desanimasse.

Às minhas irmãs de republica, Michelle, Juliana e Karina, pela amizade e

carinho

À todos que de alguma forma contribuíram para a realização desse

trabalho.

À Deus, por ter iluminado o meu caminho nos momentos mais difíceis.

“Os amigos

são a forma de

Deus cuidar de nós”

MUITO OBRIGADA

Page 7: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

SUMÁRIO

Página

RESUMO ........................................................................................................... viii

SUMMARY ........................................................................................................ x

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................ 3

2.1 Metais pesados ................................................................................. 3

2.1.1 Cádmio ........................................................................................... 4

2.1.2 Níquel ............................................................................................. 6

2.2. Extração de metais pesados do solo ............................................... 8

2.3 Matéria orgânica ............................................................................... 10

2.4 Torta de filtro ..................................................................................... 11

2.5 Respirometria .................................................................................... 14

2.6 Modelo de cinética de primeira ordem .............................................. 15

2.7 Reação do solo ................................................................................. 17

3 MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................... 19

3.1 Ensaio de respirometria .................................................................... 19

3.1.1 Solo ................................................................................................ 19

3.1.2 Fontes de matéria orgânica ........................................................... 20

3.1.3 Fontes de metais pesados ............................................................. 20

3.1.4 Tratamentos estudados ................................................................. 21

3.1.5 Avaliação do CO2 produzido pela atividade microbiológica ........... 23

3.2 Análise das amostras de solo após incubação.................................. 25

3.2.1 Obtenção das amostras secas........................................................ 25

Page 8: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

vii

3.2.2 pH ................................................................................................... 25

3.2.3 Extração de cádmio e níquel solúvel em extrator DTPA-TEA pH

7,3 ................................................................................................... 25

3.3 Análise estatística ............................................................................. 25

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................... 27

4.1 Decomposição de torta de filtro sob aplicação de cádmio ................ 27

4.1.1 pH do solo ao final do experimento de incubação ......................... 27

4.1.2 Cádmio extraído pela solução DTPA-TEA pH 7,3 ......................... 30

4.1.3 Produção acumulada total de CO2 ................................................. 33

4.1.4 Parâmetros cinéticos ...................................................................... 36

4.2 Decomposição de torta de filtro sob aplicação de níquel .................. 43

4.2.1 pH do solo ao final do experimento de incubação ......................... 43

4.2.2 Níquel extraído pela solução DTPA-TEA pH 7,3 ........................... 45

4.2.3 Produção acumulada total de CO2 ................................................. 47

4.2.4 Parâmetros cinéticos ...................................................................... 50

4.3 Considerações gerais sobre o efeito de cádmio e de níquel ............ 55

5 CONCLUSÕES .................................................................................... 60

ANEXOS ................................................................................................. 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 64

Page 9: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE TORTA DE FILTRO NO SOLO NA PRESENÇA DE CÁDMIO E NÍQUEL

Autor: LUCIA PITTOL FIRME

Orientador: Prof. Dr. ARNALDO ANTONIO RODELLA

RESUMO

Avaliou-se o efeito das doses dos metais, cádmio e níquel, na velocidade

de degradação da matéria orgânica adicionada ao solo através de torta de filtro

em ensaios de respirometria. O solo utilizado, Latossolo Vermelho Amarelo de

textura média, foi amostrado a uma profundidade de 0-20 cm. Foram aplicadas

doses de 0; 28; 56; 112 e 200 mg kg-1 de cádmio e 0; 62,5; 125; 250 e 500 mg

kg-1 de níquel como CdCl2.2,5H2O e NiCl2.6H2O, respectivamente. As doses de

torta de filtro foram de 0, 40, 80 e 120 Mg ha-1, definidas com base nas doses

normalmente aplicadas no cultivo de cana. Na instalação dos experimentos, as

massas requeridas dos metais foram adicionadas a 800 g de solo, após a

incorporação da torta de filtro. Foram empregados potes de vidro com tampa

vedante e capacidade de 2 L, contendo solo umedecido para atingir 80% da

capacidade máxima de retenção de água. A incubação foi conduzida à

temperatura de 28oC durante 72 dias. Os dois ensaios de incubação, um para

cádmio e outro para níquel, foram conduzidos em esquema fatorial 5 x 4, em

delineamento inteiramente casualizado, com 3 repetições. O CO2 liberado do

solo foi absorvido em solução de NaOH e quantificado por método

Page 10: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

ix

condutimétrico. No solo, após o período de incubação, foram determinados: pH

(H2O) e a fração do metal extraído por solução DTPA-TEA pH 7,3. Curvas de

respiração foram estabelecidas a partir das quantidades acumuladas de CO2

liberado e ajustadas ao modelo duplo de cinética de primeira ordem. O efeito

dos metais foi avaliado em função das constantes de velocidade obtidas nos

ajustes. Considerando-se o pH do solo, medido no final da incubação,

observou-se tendência de elevação do pH em função das doses de cádmio

aplicadas nas maiores doses de torta de filtro. Para o níquel, na ausência de

torta de filtro ou na dose de 40 Mg ha-1 não ocorreu resposta, por outro lado,

observou-se um efeito mais expressivo a elevação do pH na dose de 120 Mg

ha-1 de torta de filtro e na presença de 500 mg kg-1 de níquel. De maneira geral,

a extração de cádmio do solo, ao final do experimento, através da solução

DTPA-TEA pH 7,3 foi maior que a de níquel. A torta de filtro afetou mais a

eficiência de extração do níquel do que do cádmio. A produção total de CO2

acumulada foi afetada negativamente tanto pelo cádmio como pelo níquel em

proporção direta às doses dos metais. Observou-se ainda um efeito positivo dos

metais sobre a velocidade de degradação, ou seja, os parâmetros cinéticos

indicaram que, sob efeito dos metais estudados, a torta de filtro é degradada

em menor proporção, mas de maneira mais rápida. Considerando-se a

porcentagem de degradação da matéria orgânica, conclui-se que o efeito

negativo de cádmio e níquel estudados foi similar, com uma redução de 46 e 48

%, respectivamente. O efeito do cádmio na degradação foi mais pronunciado na

dose de 50 mg kg-1, enquanto que o efeito do níquel variou linearmente com o

aumento das doses do metal.

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FILTER CAKE MICROBIOLOGYCAL DEGRADATION KINETICS IN SOIL ON THE PRESENCE OF CADMIUM AND NICKEL

Author: LUCIA PITTOL FIRME

Adviser: Prof. Dr. ARNALDO ANTONIO RODELLA

SUMMARY

It was evaluated the effect of doses of nickel and cadmium on the

degradation of the organic matter applied to soil by means of filter cake in a

respirometry trial. Soil employed was Latossolo Vermelho Amarelo, sampled in

the field at depth of 0-20 cm. It were applied doses of 0; 28; 56; 112 and 200 mg

kg-1 Cd and 0; 62,5; 125; 250 and 500 mg kg-1 Ni as CdCl2.2,5H2O and

NiCl2.6H2O, respectively. The filter cake doses were 0, 40, 80 e 120 Mg ha-1,

defined in a sugarcane crop basis. In the start of the experiment, a require

metals mass was added to 800g soil mass, after filter cake incorporation. It were

applied 2 liter glass flask with a closed stopple. Soil moisture was adjusted to

80% of the water holding capacity value and the incubation carried out at 28

degrees Celsius during 72 days. The two trials, one for nickel and the other for

cadmium, were established in a 5 x 4 factorial and fully randomized design with

3 replications. The CO2 gas evolved from soil due to microbial respiration was

absorbed in a fixed volume of NaOH solution and its amount was then estimated

by a condutometric method. After the incubation period the soil pH and the metal

content extracted by the DTPA-TEA pH 7,3 solution were determined.

Page 12: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

xi

Respiratory curves were established through the accumulated amount of CO2

evolved from soil using a double phase first order kinetics model and the metal

effect was analyzed with basis on the first order rate constants. The metals

effect was evaluated in constant velocity role obtained by adjusts. Considering

the soil pH, measured at the end of the incubation period, it was observed a

trend of pH increasing as doses of cadmium increase, applied on the greater

filter cake doses. Concerning nickel, in filter cake absence or in the 40 Mg ha-1

dose of there was no response and the most expressive effect of pH rising

occurred in dose of 120 Mg ha-1 of filter cake in the presence of 500 mg kg-1

nickel. In general the extraction of cadmium in the soil, at the end of the

experiment, by solution DTPA-TEA pH 7,3 was greater than nickel. The filter

cake affected more the efficiency extraction of nickel than cadmium. The

accumulated total CO2 production was affected negatively as cadmium as for

nickel in direct ratio to the doses of the metals. It was still observed a positive

effect of metals on the degradation speed of filter cake organic matter. The

kinetic parameters indicated that, under effect of studied metals, the filter cake is

degraded in a lesser ratio, but in a faster manner. Considering the percentage of

organic material degradation, it was concluded that the negative effect of

cadmium and nickel was similar, with a reduction of 46 and 48 %, respectively.

The cadmium effect on the degradation was more pronounced with 50 mg kg-1,

while the nickel effect rose linearly with metal doses increase.

Page 13: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

1 INTRODUÇÃO

O estudo do comportamento dos metais pesados no solo tem grande

importância para a recuperação de áreas agrícolas degradadas, as quais

tiveram suas características alteradas devido ao uso incorreto de fertilizantes,

corretivos, resíduos industriais, resíduos das estações de tratamento de esgoto

e lixo urbano. Estes materiais, são utilizados com freqüência na atividade

agrícola podendo apresentar teores significativos de metais pesados em sua

composição química e, assim, poluir o solo que é o meio de sustentação da

vida.

A disponibilidade de metais pesados no solo é um dos fatores que

influencia negativamente o processo de degradação da matéria orgânica do

solo. Deste modo, a manutenção do material orgânico na pedosfera é afetada,

pois ela depende do balanço entre entradas e saídas de carbono do sistema.

A matéria orgânica apresenta papel fundamental na fertilidade dos solos

agrícolas, bem como na sustentabilidade da produção agrícola no tempo. Uma

prática utilizada para a manutenção da matéria orgânica do solo é o uso de

resíduos orgânicos, preferencialmente daqueles provenientes de processos que

utilizam produtos agrícolas como matéria prima. Nesta situação, os resíduos

tendem a refletir em sua composição, os constituintes absorvidos pela própria

cultura que lhes deu origem, sendo mais rara a ocorrência.

Experimentos denominados respirométricos, baseados na liberação de

CO2 em função do tempo, tem sido utilizados para avaliar a transformação do

carbono orgânico do solo pela atividade microbiana. Este estudo é de grande

importância porque a microbiota do solo é a sua porção viva, responsável pela

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2

ciclagem dos nutrientes essenciais, além de sofrer diretamente com os

impactos causados pelas atividades antrópicas.

O objetivo geral deste trabalho foi avaliar de forma distinta, o efeito das

doses dos metais, cádmio e níquel, na velocidade de degradação da matéria

orgânica adicionada ao solo pela aplicação de torta de filtro.

A hipótese básica levantada para o estudo admiti que, o ajuste de um

modelo de cinética de primeira ordem aos dados obtidos em ensaio de

respirometria, fornece parâmetros representativos para se avaliar os efeitos dos

metais pesados, cádmio e níquel, sobre o processo de degradação de um

resíduo orgânico importante, a torta de filtro.

A hipótese foi avaliada através de ensaios em laboratório e após o

período de incubação foram determinados os valores de pH (H2O), o teor de

cádmio e níquel extraídos do solo pelo extrator DTPA-TEA pH 7,3 (ácido

dietilenotriaminopentacético-trietanolamina) e as constantes de velocidade de

degradação da matéria orgânica da torta de filtro, através do ajuste das curvas

de respiração pelo modelo duplo de cinética de primeira ordem.

Page 15: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Metais pesados

O termo metal pesado é aplicado a um grupo heterogêneo de elementos

incluindo metais, semi-metais e não metais (Melo et al., 1997), que possuem

número atômico maior que 20 ou peso específico maior que 5 g cm-3

(Malavolta, 1994). O fato de um elemento ser classificado como metal pesado

não significa que seja necessariamente tóxico em qualquer concentração, pois

alguns deles como Fe, Mn, Cu, Zn e Ni, são nutrientes de plantas e de seres

humanos (Garcia et al., 1990).

Dentre os metais pesados destacam-se, pelo potencial de toxicidade

para plantas e animais, cinco elementos: Ni, Cr, Cd, Pb e Hg. O níquel e o

cromo são tóxicos, principalmente, às plantas; o cádmio é tóxico para plantas e

animais, inclusive o homem e o chumbo e mercúrio são tóxicos para o homem

(Raij, 1991).

Os fatores que afetam a distribuição química dos metais pesados no solo

controlam sua solubilidade e mobilidade no ambiente, influindo diretamente na

disponibilidade desses elementos às plantas e animais (Borges, 2002). Dentre

os fatores diretamente relacionados ao solo, destacam-se: pH, textura,

composição mineral, capacidade de troca de cátions (CTC), teor e qualidade

dos compostos orgânicos na fase sólida e na solução do solo, competição por

sítios de adsorção e quelatização, além das propriedades específicas de cada

metal (Korcak & Fanning, 1985; McBride, 1994; Hooda & Alloway, 1998).

Page 16: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

4

Segundo Borges (2002), são considerados prontamente disponível para

plantas e outros organismos os metais sob formas solúveis, dissolvidos na

solução do solo, ou na forma trocável, adsorvido às cargas do solo. Os metais

precipitados, ocluídos e formando quelatos pouco solúveis com a matéria

orgânica não estão disponíveis, mas podem passar para a solução do solo pela

mineralização dos ligantes orgânicos ou mudanças drásticas de pH ou potencial

redox ( Emmerich et al., 1982; Coke & Mattews, 1983; Alloway, 1990). A preocupação com metais pesados em solos e os possíveis efeitos

prejudiciais a eles associados, teve início a partir do uso de lodo de esgoto em

solos agrícolas. Entretanto, metais pesados não ocorrem exclusivamente

nesses resíduos, uma vez que fertilizantes, corretivos, defensivos e outros

materiais usados na agricultura podem contê-los (Mattiazzo-Prezzoto et al.,

2001).

O conhecimento do comportamento dos metais pesados no solo, é de

extrema importância para a avaliação do impacto ambiental provocado pela

disposição de um resíduo contendo esses elementos em solos agrícolas

(Sposito et al., 1982). Um exemplo de tal importância é o impacto dos metais

pesados na microbiota do solo, a qual é responsável pela maioria dos ciclos dos

nutrientes essenciais como: C, N e P (Jenkinson & Ladd, 1981).

2.1.1 Cádmio

O cádmio (Cd) é um metal de transição, número atômico 48, massa

específica 8,7 g cm-3, que pertence ao grupo IIB da tabela periódica e possui

alta capacidade de hidratação. É um metal pesado, relativamente raro na

litosfera, isto é, não existem minerais que contenham cádmio em quantidades

comerciais, sendo a greenoquita (sulfeto de cádmio) o único mineral específico.

Ocorre apenas em seu estado de valência 2+ na forma de sulfeto de cádmio

(CdS), óxido de cádmio (CdO), hidróxido de cádmio (Cd(OH)2), fluoreto de

Page 17: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

5

cádmio (CdF2) e cloreto de cádmio (CdCl2). Em soluções ocorre como

[Cd(H2O)6]2+ (aq) e alguns outros complexos.

As fontes antropogênicas que emitem ou processam o cádmio são as

indústrias eletrometalúrgicas, eletrolaminação, ligas, soldas, baterias Ni-Cd;

produção de carvão; mineração e lodos de esgotos.

Estudos mostram que o cádmio apresenta efeito tóxico na biomassa e na

atividade microbiana do solo. Portanto, provavelmente, ele não é requerido por

qualquer processo biológico conhecido (Renella et al., 2004).

O cádmio é um dos mais perigosos poluentes do solo, pois pode

facilmente se mover em seu perfil devido a sua pouca afinidade com os

colóides do solo (Alloway, 1995). Como conseqüência, pode ser absorvido

pelas raízes das plantas e quantidades razoavelmente grandes podem ser

acumuladas nos tecidos vegetais, podendo assim entrar na cadeia alimentar e

afetar a saúde humana. Tristemente célebre é o caso de envenenamento de

centenas de pessoas no Japão (Adriano, 1986) e desde então, o cádmio tem

sido investigado nas áreas de mineração, pois, no evento citado, a cultura de

arroz estava sendo irrigada com água de rios poluídos por operações de

mineração (Moreno et al., 2002).

Outro caso de contaminação com cádmio no solo foi observado no Brasil

por Ribeiro Filho et al. (1999), no pátio da Companhia Mineira de Metais, em

Três Marias, M.G., onde ao contrário dos demais elementos contaminantes (Zn,

Cu e Pb), o cádmio apresentou-se predominantemente na forma trocável no

solo, representando grande obstáculo para a revegetação e séria ameaça ao

meio ambiente.

A matéria orgânica pode atuar como um agente amenizador da

disponibilidade do metal cádmio no solo reduzindo seu impacto ambiental, pois

este material possui considerável capacidade de complexar ou quelatizar este

cátion divalente, tornando-o indisponível para as plantas e animais. McClean

(1976), comparou dois tipos de solos similares que diferiram na porcentagem de

carbono orgânico (2,17% e 15,95%), observando que a concentração de

Page 18: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

6

cádmio era menor em plantas colhidas no solo com maior teor de carbono.

Costa et al. (1993) também constataram redução da absorção de cádmio por

alface, com o aumento das doses de compostos orgânicos de esterco bovino e

restos de vegetais em solo previamente contaminado com cádmio.

O acúmulo de material orgânico pode ocorrer em solos contaminados

com metais pesados, o que inibiria a decomposição microbiológica e chegaria a

prejudicar a disponibilidade de nutrientes para as plantas.

O lodo de esgoto, por exemplo, tem sido aplicado aos solos com intuito

de melhorar sua fertilidade (Garcia et al., 1994). Porém, esse manejo pode

contribuir para a poluição do solo com metais pesados (Adriano, 1986; Alloway,

1995), bem como afetar a mobilidade do metal pesado no solo (Saviozzi et al.,

1983).

Seaker & Sopper (1988), defendem a aplicação do lodo de esgoto, pois

observaram o aumento da biodiversidade dos microrganismos no solo e de

suas atividades metabólicas. Isso pode favorecer a seleção de microrganismos

resistentes ao metal pesado com o tempo (Kandeler et al., 2000). Além disso,

as substâncias húmicas do lodo de esgoto contribuem para a complexação e

adsorção de cádmio, restringindo o movimento deste metal pesado no perfil do

solo e no lençol freático (Saviozzi et al.,1983). Entretanto, Moreno et al. (2002),

relatam que este material orgânico não pode ser considerado como uma

solução definitiva para solos contaminados com cádmio, porque este metal

pesado ainda permanece no solo e sua biodisponibilidade pode mudar com o

tempo.

2.1.2 Níquel

O níquel (Ni) é um metal de transição, com densidade de 8,9 g cm-3,

número atômico 28, que pertence ao grupo VIII da tabela periódica.

Relativamente abundante na natureza, sob diferentes compostos químicos, sua

forma elementar apresenta cor branca prateada com tons amarelos. Destaca-se

Page 19: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

7

pelo magnetismo, que o transforma em ímã quando em contato com campos

magnéticos. Possui relativa resistência à oxidação e à corrosão, é mais duro

que o ferro, é mau condutor de calor e eletricidade e forma ligas com diversas

utilizações na indústria. Tem como principal origem geoquímica às rochas

magmáticas (máficas e ultramáficas) que contém até 3600 mg kg-1 do elemento

e sua forma mais comum na solução do solo é como o aquocomplexo

Ni(H2O)62+.

O níquel pode ser incorporado ao solo através de emissões atmosféricas

provenientes principalmente de combustão do petróleo, através do uso de

calcários e fertilizantes fosfatados, e também através da aplicação de

biossólidos, cujas concentrações de níquel são, em geral, elevadas e variam

conforme a proveniência (McGrath, 1995).

A deposição de metais incluindo níquel, tem ocorrido com freqüência no

ambiente do solo, onde eles se acumulam e persistem, exercendo efeito tóxico

quando em elevadas concentrações (McEnroe et al., 2001). Os fatore bióticos e

abióticos do solo determinam a sua biodisponibilidade e consequentemente a

toxicidade destes metais (Baath, 1989).

Mattiazzo-Prezzoto (1994), estudando a influência do pH na disponibilidade

de alguns metais, inclusive o níquel, em diversos solos, observou o efeito do pH e

da influência dos teores de carbono orgânico na disponibilidade dos metais. Concluiu

que, a atividade dos metais na solução do solo diminui com o aumento do pH e

com o aumento da concentração dos ligantes orgânicos e inorgânicos

responsáveis pela formação de complexos.

O impacto sobre o acúmulo de liteira em florestas de pinus aumenta com

o tempo, indicando o efeito da poluição de níquel na fase de decomposição das

acículas (Fritze, 1988; Fritze et al., 1989). O metal influencia na taxa dos

processos microbiológicos de decomposição dos resíduos vegetais, que são

essenciais para a manutenção da fertilidade do solo e ao longo do tempo, da

produtividade das florestas (McEnroe et al., 2001).

Page 20: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

8

A magnitude da decomposição da matéria orgânica do solo pode ser

afetada pelas elevadas aplicações de níquel devido a toxicidade aos

decompositores microbianos, ocorrendo inclusive a inibição da atividade das

enzimas que participam da decomposição dos resíduos vegetais (Babich &

Stotzky, 1985). Entretanto, os metais complexados na matéria orgânica podem

ser menos biodisponível do que os metais na forma livre.

2.2 Extração de metais pesados do solo

Ao longo das duas últimas décadas, consideráveis esforços têm sido

dedicados para o desenvolvimento de soluções extratoras adequadas para

avaliar o estado nutricional dos solos. Dessa forma, técnicas de extração vêm

sendo desenvolvidas para as várias combinações de metais, tipos de solos,

espécies de plantas e ambientes, que muitas vezes são limitadas mas de

proveitosas aplicações. A escolha dentre os diversos extratores, normalmente,

se dá relacionando-se quantidades extraídas e crescimento de plantas ou

quantidades adsorvidas, pois a maioria dos métodos é baseada na busca de

uma correlação significativa entre quantidades de metais pesados extraídos e

metais contidos nas plantas (Krishnamurti et al., 2000). Os extratores mais

utilizados podem ser agrupados de acordo com suas propriedades e modo de

ação. Geralmente são classificados como: extratores salinos (CaCl2, NaNO3,

Ca(NO3)2), extratores ácidos (HCl 0,1 mol L-1, HNO3 0,1 mol L-1, Mehlich 1,

Mehlich 3) e ligantes orgânicos (EDTA e DTPA) (Borges, 2002).

King & Hajjar (1990) utilizaram os extratores DTPA-TEA pH 7,3 e

Mehlich-3 para conhecer, em condições de casa de vegetação, o efeito residual

do lodo de esgoto sobre a concentração de metais pesados em plantas de

tabaco e amendoim, cultivados em solo podzólico de textura média, sob três

diferentes níveis de pH (5,2; 5,8 e 6,4). Os melhores resultados foram obtidos

para Cd, Cu, Ni e Zn extraídos do solo com DTPA-TEA pH 7,3. Resultados

similares, para um solo onde havia sido adicionado lodo de esgoto, foram

Page 21: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

9

obtidos por Mulchi et al. (1991) que observaram correlações entre os teores de

Cd, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn extraídos por DTPA-TEA pH 7,3 e Mehlich 1 e 3 e

teores absorvidos por plantas de tabaco. Especialmente, para a extração com

solução DTPA-TEA pH 7,3 as melhores correlações foram observadas para o

Cd, Cu, Ni e Zn.

O extrator DTPA-TEA pH 7,3 foi proposto originalmente por Lindsay &

Norvell (1978) consistindo de ácido dietilenotriaminopentacético (DTPA) 0,005

mol L-1, trietanolamina (TEA) 0,1 mol L-1 e CaCl2 0,01 mol L-1, sendo a solução

ajustada a pH 7,3. O modo de ação para extrair metais pesados do solo, se dá

através da formação de quelatos com os metais livres na solução. Desta forma,

ocorre a diminuição da atividade dos metais e quantidades adicionais dos

mesmos são liberadas para o solo até que seja atingido o equilíbrio, o que em

suma permite estimar a concentração do metal disponível no solo (Amacher,

1996).

O emprego de CaCl2 e de TEA foi preconizado para manter a

concentração de Ca2+ próxima àquela encontrada nos solos neutros ou

alcalinos e o pH do meio relativamente constante. Essas condições foram

criadas com o objetivo de retardar a dissolução de CaCO3 em solos calcários e

de obter um filtrado límpido pela floculação das partículas coloidais do solo

(Borges, 2002).

A solução extratora DTPA-TEA pH 7,3 tem sido extensamente usada na

avaliação da fitodisponibilidade de metais pesados em solos de reação próxima

à neutralidade ou acima dela. Contudo, têm sido encontradas evidências que

esse extrator é também eficiente para estimar metais em solos ácidos. Segundo

Abreu et al. (1995), ele apresenta baixa eficiência na avaliação da

disponibilidade de cádmio, chumbo, crômio e níquel, em solos cuja ocorrência

desses elementos não é devida à adição antropogênica. São solos que

apresentam concentrações abaixo do limite de determinação do método

analítico geralmente empregado, que é a espectrometria de emissão em

plasma de argônio induzido.

Page 22: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

10

2.3 Matéria orgânica do solo

O termo matéria orgânica é empregado para designar o conjunto de

compostos orgânicos, ou seja, aqueles que contém carbono orgânico presentes

em um determinado material.

A matéria orgânica do solo é composta essencialmente de:

- restos frescos de vegetais (folhas, raízes) e animais, capazes de sofrer

decomposição e liberar nutrientes;

- húmus, que incluí uma gama de compostos orgânicos resistentes à

decomposição, portanto estáveis. O húmus apresenta alta capacidade de troca de

cátions e contribuí para a CTC do solo.

Os estoques de matéria orgânica do solo em qualquer agroecossistema

são definidos pela interação dos fatores que determinam sua formação e

aqueles que promovem sua decomposição (Leite et al., 2003). Deste modo, o

teor de carbono orgânico do solo resulta do balanço entre os processos de adição

e decomposição de compostos orgânicos relacionados com o solo, como por

exemplo restos de culturas.

A decomposição da matéria orgânica é um processo fundamental na

ciclagem dos elementos essenciais dentro do ecossistema (Cotrufo et al., 1995)

e atua de forma primordial na estruturação do solo, promovendo uma melhor

agregação e arranjamento das partículas sólidas, aumentando a porosidade,

facilitando a infiltração e o armazenamento de água, além de promover

aumento na capacidade de troca de cátions.

Diversas são as fontes de matéria orgânica adicionada ao solo, tais

como: restos de cultura na superfície do solo, restos de animais, renovação do

sistema radicular das plantas, principalmente gramíneas na camada superficial

por apresentar sistema radicular fasciculado, células de microrganismos, entre

outros.

Page 23: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

11

O termo matéria orgânica engloba diferentes tipos de compostos

químicos, com graus variáveis de decomposição no solo. Materiais da indústria

sucroalcooleira mais simples, como a vinhaça, são mais rapidamente

decompostos do que a palha e o bagaço de cana (Caldeira, 1997).

Vanlawe et al. (1994) estudaram o fracionamento da matéria orgânica de

folhas de milho cultivado em câmaras de crescimento, sob atmosfera contendo 14CO2. Visando separar frações de diferentes graus de resistência à

decomposição, obtiveram as seguintes frações: solúvel, correspondendo a 48%

da matéria seca, constituída essencialmente por carboidratos não polimerizados

e proteínas, consideradas prontamente decomponível; resistente, composta de

hemicelulose e celulose (46,7% da matéria seca), considerada resistente à

decomposição e uma fração referente à lignina e compostos relacionados,

definida como recalcitrante, correspondendo à apenas 1% da matéria seca.

A velocidade de decomposição dos materiais orgânicos depositados no

solo depende, dentre outros fatores, de sua relação C/N (Zilbilske, 1987), da

forma em que se encontra o seu carbono (Rodella et al., 1983), das

características físico-químicas e biológicas do solo e da temperatura

(Alexander, 1967).

Nesta relação, quanto maior o seu valor maior será o tempo de

decomposição, ou seja, quanto menor a quantidade de N no processo, mais

lentamente ela ocorrerá. Entretanto, a incorporação ao solo de material com

alto conteúdo de carbono orgânico provoca imediata redução de O2 e aumento

de CO2 do ar do solo, acelerando assim a velocidade de decomposição da

matéria orgânica do solo.

2.4 Torta de filtro O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, seguido por

Índia e Austrália. Esta gramínea é cultivada no Centro-Sul e no Norte-Nordeste,

o que permite dois períodos de safra, de abril a novembro e de setembro a abril

Page 24: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

12

(Nunes Junior et al., 1998). O parque sucroalcooleiro nacional é constituído por

307 unidades industriais, usinas e destilarias, das quais 128 estão em São

Paulo, utilizando uma área de 4,5 milhões de hectares de terra (Unica, 2003).

O aumento da produção de açúcar e de álcool resulta obrigatoriamente

no aumento da produção de resíduos originado no processo de fabricação dos

mesmos, como vinhaça, torta de filtro, águas residuárias, cinzas de caldeira,

fuligem, entre outros. Deve-se reconhecer que o setor sucroalcooleiro foi

pioneiro na reciclagem de resíduos, promovendo o uso racional dos mesmos

na cultura da cana-de-acúçar.

O processo industrial para a fabricação de açúcar de cana possui várias

etapas e uma delas, denominada de clarificação, consiste, essencialmente, na

purificação do caldo obtido da moenda.

Nesse processo de purificação adiciona-se ao caldo aquecido de cana

uma suspensão de hidróxido de cálcio, que promove elevação de pH e, como

conseqüência, a floculação de colóides orgânicos, bem como a precipitação de

sais de cálcio, sobretudo fosfato. A suspensão obtida no processo descrito é

deixada decantar, resultando em caldo límpido e uma borra, formada pelos

compostos orgânicos e inorgânicos que foram insolubilizados.

A borra obtida, ainda contém uma grande quantidade de caldo clarificado

que deve ser recuperado por um processo de filtração ou prensagem. Como a

borra não tem consistência apropriada para ser trabalhada ela é misturada a

bagaço de cana finamente moído. Em seguida, a mistura é submetida à

filtração a vácuo resultando num material com umidade em torno de 75% que

se denomina torta de filtro.

A composição da torta de filtro varia de acordo com diversos fatores:

variedade da cana, tipo de solo, maturação da cana, processo de clarificação

do caldo e outros. Dentre os nutrientes principais, nota-se uma predominância

de nitrogênio orgânico, cálcio, e fósforo que são precipitados, sendo o teor de

potássio mais baixo devido à solubilidade dos seus sais. A composição química

média do resíduo pode ser observada no Tabela 1.

Page 25: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

13

Tabela 1. Composição média da torta de filtro rotativo, expressa na de matéria

seca (umidade = 75%).

C/N Mat.Org. Corg N P2O5 K2O CaO MgO Cinzas

g kg-1

26,1 85,1 36,5 1,4 1,0 0,7 5,5 0,6 14,9

Fonte: Copersucar (1988)

É preciso esclarecer que a matéria orgânica da torta de filtro recém

preparada é constituída essencialmente por bagaço de cana fresco, que

apresenta em sua composição 11% de lignina, 34% de hemicelulose e 38% de

celulose, com uma pequena fração mineral onde predomina o silício. Trata-se

de material com relação carbono-nitrogênio muito elevada, característica de

materiais altamente carbonáceos como palhas, entretanto, a inclusão na torta

de filtro dos compostos orgânicos nitrogenados, floculados do caldo, faz com

que o teor de nitrogênio do material se eleve, determinando uma relação C/N

como o valor médio 26,1 da Tabela 1, a qual é comparável a das leguminosas e

de estrume, que se situa entre 20 a 30:1 (Brady & Weil, 2002). Adicionalmente,

o fato do bagaço de cana ser finamente moído tem influência benéfica sobre a

decomposição do produto quando aplicado ao solo.

Rodella et al. (1990) mostrou que a torta de filtro aplicada em área total

em quantidade de 100 Mg ha-1 promoveu alterações nas propriedades químicas

do solo, como o aumento de fósforo, cálcio, carbono orgânico e CTC e a

diminuição do alumínio trocável.

A torta de filtro é um resíduo orgânico muito valorizado na adubação da

cultura da cana-de-açúcar. Para se ter uma idéia da importância do mesmo,

considerem-se os valores citados por Rodella et al. (1990) que relacionou uma

produção de 3,3 milhões de tonelada de torta de filtro à produção de 9 milhões

de toneladas de açúcar. Mesmo produzido nestas grandes quantidades, o

resíduo é, em geral, utilizado integralmente na adubação das próprias lavouras

da unidade industrial que o produz.

Page 26: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

14

2.5 Respirometria

A quantificação do CO2 desprendido de amostras de solo, incubadas

com materiais orgânicos em laboratório dentro de respirometros é utilizada para

a avaliação da atividade microbiológica do solo, incluindo o cálculo de

biomassa microbiana (Sparling, 1992), bem como para a determinação de

taxas de decomposição de materiais adicionados. Além disso, estudos desta

natureza permitem obter informações sobre o comportamento de materiais

orgânicos no solo, num curto intervalo de tempo (Cerri, et al., 1994).

Pode ser realizada tanto para a avaliação do consumo de O2 quanto pela

produção de CO2, sendo esta última mais usada para a medida da

decomposição de compostos orgânicos no solo (Doelman & Haanstra, 1984).

O O2 pode ser fornecido sem fluxo de ar, com retenção passiva de CO2,

e com fluxo de ar, contínuo ou intermitente, pelo sistema chamado de aeração

forçada. O primeiro processo é de simples utilização, principalmente quando se

tem um grande número de tratamentos envolvidos, porém pode se tornar

limitante em ensaios prolongados (Caldeira, 1997).

O CO2 liberado no sistema é captado, normalmente, por uma solução

alcalina hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio, de modo a estabelecer um

sistema de equilíbrio ácido-base, no qual predominam íons OH- e CO32-. A

quantificação desse CO2, em geral, é efetuada através de titulação com solução

padrão ácida, após a precipitação do íon carbonato presente. Métodos

instrumentais como à espectrometria de infravermelho ou cromatografia gasosa

também podem ser empregadas para aquela finalidade (Rodella, 1996).

O método condutimétrico desenvolvido por Saboya & Rodella (1995) é

uma alternativa interessante para a medida do CO2 liberado do solo. Ela se

baseia no decréscimo da condutividade elétrica de uma solução alcalina à

medida que o CO2 é absorvido, pois o íon OH- reage com o CO2 para produzir

CO32-. O fenômeno ocorre porque a mobilidade do íon hidróxido é bem mais

Page 27: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

15

elevada do que a da maioria dos ânions, inclusive do íon carbonato (Saboya &

Rodella, 1995).

Diversos autores (Anderson & Domsch,1990; Wolters and Joergensen,

1991; Hassink, 1993) tem usado a velocidade de produção de CO2 (atividade

respiratória) e a biomassa, para o melhor entendimento das funções da

população decompositora e sua relação com as condições do ambiente. Dessa

forma, o grau de funcionamento da microbiota pode ser expresso com base no

seu nível de respiração e o efeito de metais pesados nesse processo pode ser

avaliado pela mudança ocorrida quando comparado com um solo controle

(Doelman & Haanstra, 1984). De acordo com Chander & Brookes (1991, 1993),

estes parâmetros podem ser usualmente indicadores das mudanças nas

condições do solo devido à poluição química.

2.6 Modelo de cinética de primeira ordem

Para melhor entender as transformações que sofre a matéria orgânica

no solo é importante que se considere a cinética das reações de

decomposição de substratos orgânicos. Para tanto, podem ser empregados

modelos matemáticos bastante simples tal como, o modelo de cinética de

primeira ordem (Equação 1), largamente utilizado nos estudos de degradação

da matéria orgânica (Jenkinson & Rayner, 1977):

Y = A (1- e-k t) (1)

onde:

Y = quantidade total acumulada de CO2 liberada no tempo t de incubação;

A = indica a quantidade de CO2 produzida num tempo infinito, ou, em termos

práticos, a quantidade total do CO2 produzida quando a liberação desse gás

deixa de ter acréscimos mensuráveis após um período de incubação;

k = constante de velocidade de primeira ordem da reação de degradação.

Page 28: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

16

Este modelo baseia-se no princípio de que a velocidade de

decomposição de determinado substrato, em determinado instante, é

diretamente proporcional à quantidade de substrato presente neste mesmo

momento (Lathan, 1974). Como a quantidade de substrato é máxima no início e

diminui com o tempo, a velocidade de decomposição é decrescente.

A constante k, em termos práticos, constitui-se em uma forma de

comparar-se a degradabilidade de materiais orgânicos. Por meio da constante

k é ainda possível calcular-se a meia-vida do material orgânico estudado (t1/2)

de acordo com a Equação 2:

t1/2 = ln2 / k (2)

sendo o seu valor definido como o período de tempo necessário para que

metade da quantidade de material, inicialmente considerada, se degrade.

A matéria orgânica é um sistema complexo, formado via de regra por

uma gama de compostos orgânicos diferentes, constituindo diferentes

compartimentos, aos quais se pode atribuir velocidades de degradação

diferenciadas. Nesse sentido, pode-se adotar um modelo estendido de cinética

de primeira ordem considerando-se mais de uma fase, como mostrado na

Equação 3.

Y = A1 (1 - e-k1t ) + A2 (1 - e-k2t ) (3)

Reddy et al. (1980), descreveram que o carbono orgânico de alguns

substratos orgânicos se decompõem em duas ou três fases. O carbono

solúvel é decomposto durante a fase inicial e o carbono mais complexo, na

fase posterior, mais lentamente. As constantes de velocidade de primeira

ordem para a decomposição da palha de arroz, em condições aeróbias,

encontradas pelos autores foram: para a primeira fase 0,0054 dia-1 e para a

segunda fase 0,0013 dia-1, já em condições anaeróbias, encontraram valores de

0,0024 dia-1 e 0,0003 dia- 1 respectivamente para a fase 1 e 2.

Page 29: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

17

Na avaliação do comportamento da matéria orgânica no solo é

conveniente de ajustar um modelo de cinética, pois através de parâmetros

numéricos, como constante de velocidade, o processo pode ser relacionado

com diferentes variáveis (Reis & Rodella, 2002).

2. 7 Reação do solo

Os solos podem ser naturalmente ácidos devido à própria pobreza em

bases do material de origem, ou então a processos de formação que favorecem

a remoção de elementos como K, Ca, Mg e Na. Além disso, os solos podem ter

sua acidez aumentada por cultivos e adubações (Lopes et al., 1990). Os

principais fenômenos associados ao assunto de concentração de íons

hidrogênio, são: deficiência de cálcio, fósforo e molibidênio e quantidades

excessivas no solo de alumínio e manganês (Moniz, 1975).

Freqüentemente, a concentração de hidrogênio iônico na solução do solo

é o principal fator que afeta os processos químicos e biológicos que ocorre nos

sistemas naturais. A inibição do crescimento microbiano em valores de pH

considerados desfavoráveis, resulta não só do efeito direto da elevada

concentração de H+ ou OH-, mas também da influência indireta do pH na

penetração nas células microbianas de compostos tóxicos presentes no meio

(Tsai et al. 1992).

A maioria dos metais pesados tem sua disponibilidade acentuada, para

as plantas, em meio ácido e por outro lado reduzida pela elevação do pH (Raij,

1991). A atividade de ligantes orgânicos e inorgânicos responsáveis pela

formação de complexos com metais é também freqüentemente dependente do

pH do meio.

Os ligantes orgânicos são componentes da matéria orgânica cuja

decomposição, libera para o meio, metabólitos ácidos que provocam a

diminuição do pH do solo. Esse processo pode influenciar a mobilidade dos

Page 30: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

18

íons tóxicos presentes na solução do solo e, conseqüentemente, afetar a

atividade da microbiota.

Portanto, é de grande importância considerar o pH bem como outros

atributos do solo, pois os mesmos controlam a disponibilidade química dos

metais, cujo efeito se manifesta na população microbiana do solo (Kabata-

Pendias & Pendias, 1984; Hattori, 1992).

Page 31: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Ensaio de respirometria 3.1.1 Solo

O solo, classificado como Latossolo Vermelho Amarelo, foi amostrado a

uma profundidade de 0-20 cm, na Fazenda Sertãozinho, da Escola Superior de

Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP. Este solo pode ser considerado como

representativo de áreas cultivadas com cana-de-açúcar.

A análise química de rotina foi realizada de acordo com métodos

empregados pela EMBRAPA (1997), como mostra a Tabela 2. A análise

granulométrica foi conduzida conforme preconiza Camargo et al. (1986) a qual

definiu a textura do solo como média, pois o mesmo apresentou 280 g kg-1 de

argila, 650 g kg-1 de areia e 60 g kg-1 de silte nas profundidades de 0-20 e 60-80

cm .

Tabela 2. Resultado da análise química de rotina no solo empregado no

experimento

pH C P K Ca Mg Al H + Al CTC V

CaCl2

(0,01 mol L-1) g dm-3 mg dm-3 mmolc dm-3 %

4,6 9,2 3,7 1,1 13,0 5,0 2,7 31,0 50,1 38

Page 32: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

20

O experimento foi conduzido no Laboratório de Química do Departamento

de Ciências Exatas, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP. A

massa de solo necessária foi, seca ao ar, teve restos de raízes removidas

manualmente, foi destorroado e passado em peneira de 4 mm de abertura de

malha.

3.1.2 Fonte de matéria orgânica

A torta de filtro, fonte de matéria orgânica utilizada, foi coletada em usina

de açúcar da região de Piracicaba. Sua composição química se encontra

discriminada na Tabela 3.

Tabela 3. Composição química da torta de filtro utilizada no experimento P K Na Ca C N Mg Cd Co Mn Zn Ni CTC C/N

g kg-1 mg kg-1 mmolc kg-1

9,9 6,1 0,4 13,0 370 33,3 4,6 tr 49 1246 166 5 528,3 11,1

tr = < 0,1 mg kg-1

As doses de torta de filtro foram definidas com base nas doses do

resíduo normalmente utilizadas no cultivo da cana, da ordem de 80 a 100 Mg

ha-1 in natura quando aplicadas em área total. Foram utilizadas no experimento

massas de 0; 3,2; 6,6 e 9,8 g de torta de filtro (base seca) por pote contendo

800g de solo, as quais equivalem às doses de 0, 40, 80 e 120 Mg ha-1 de torta

de filtro in natura.

3.1.3 Fontes de metais pesados

Como fontes de metais pesados foram utilizados os sais CdCl2.2,5H2O

(cloreto de cádmio hidratado) e NiCl2.6H2O (cloreto de níquel hidratado), na

forma de reagentes analíticos (p.a.).

Segundo Thalmann (1968) altas concentrações de cloreto são comuns

Page 33: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

21

nos extratos da solução do solo. Entretanto, a variação na quantidade de sal de

cloreto pode afetar o grau de complexação dos metais pesados no solo

(Doelman et al., 1984). Nesse sentido, através do programa de especiação

iônica Minteq (Gustafsson, 2004) foram determinadas as porcentagem das

espécies químicas de cádmio e níquel nas soluções de concentrações variáveis

empregadas nos experimentos.

A partir de experimentos preliminares, foi avaliada a magnitude do efeito

negativo de níquel e de cádmio manifestado sobre a microbiota do solo. Doses

de 0; 28; 56; 112; 200 mg kg-1de cádmio e 0; 62,5; 125; 250; 500 mg kg-1 de

níquel foram definidas.

A CETESB (Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental do

Estado de São Paulo) estabeleceu valores orientadores de teores de cádmio e

níquel no solo para: referência, alerta, intervenção agrícola, intervenção

residencial e intervenção industrial, cujos valores são respectivamente: < 0,5, 3,

10, 15, e 40 mg kg-1 para o cádmio e 13, 30, 50, 200 e 300 mg kg–1 para o

níquel (Casarini et al., 2001). Como se observa, as doses estabelecidas para

cada metal no presente trabalho, estão compatíveis com os valores

orientadores indicados.

As doses dos metais foram adicionadas aos 800 g de solo, após a

incorporação da torta de filtro, por meio de volumes apropriados de soluções

dos sais citados.

3.1.4 Tratamentos estudados

Porções de 800 g de solo foram transferidas para potes de vidro de 2 L,

com boca larga, provido de tampa plástica vedante, com 10 cm de diâmetro e 17

cm de altura. À essa porção, foi incorporada torta de filtro na dose

correspondente de aplicação. As massas requeridas dos metais na forma de

CdCl2.2,5H2O e NiCl2.6H2O (p.a.), foram posteriormente adicionadas à amostra

de solo, o qual foi umedecido com um volume de água deionizada adequado

Page 34: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

22

para elevação da capacidade máxima de retenção de água a 80%. A incubação

foi conduzida à temperatura de 28oC durante 72 dias.

Os dois ensaios de incubação, um para cádmio e outro para níquel,

tiveram seus tratamentos estabelecidos em esquema fatorial 5 x 4, em

delineamento inteiramente casualizado, com 3 repetições, totalizando 20

parcelas experimentais. As combinações de cinco doses do sal de cádmio ou

de níquel com quatro doses de torta de filtro são mostradas na Tabela 4.

Tabela 4. Tratamentos empregados nos experimentos de decomposição de

torta de filtro (TF) sob adição de metais

Adição de Cd Adição de Ni TF in natura

(Mg ha-1) Cd (mg kg-1) TF in natura (Mg ha-1) Ni (mg kg-1)

0 0 0 0 0 28 0 62,5 0 56 0 125 0 112 0 250 0 200 0 500

40 0 40 0 40 28 40 62,5 40 56 40 125 40 112 40 250 40 200 40 500

80 0 80 0 80 28 80 62,5 80 56 80 125 80 112 80 250 80 200 80 500

120 0 120 0 120 28 120 62,5 120 56 120 125 120 112 120 250 120 200 120 500

Page 35: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

23

3.1.5 Avaliação do CO2 produzido pela atividade microbiológica

Sobre a superfície do solo, em cada pote de incubação, foi colocado um

frasco plástico de 50 mL de capacidade contendo 40 mL de solução de NaOH

de concentração exatamente conhecida, aproximadamente 0,5 mol L-1, para

absorver o CO2 liberado do solo pelo processo de retenção passiva. Os

frascos eram trocados por outros contendo solução de NaOH recém preparada,

isenta de íons carbonato, para a captação de CO2 durante um novo período.

Esses frascos foram trocados a cada 12 horas, no início da incubação, e

posteriormente a cada 72 horas, pois o objetivo foi impedir que a capacidade

de absorção de CO2 pela solução de NaOH fosse ultrapassada.

O CO2 liberado foi estimado por método condutimétrico (Rodella &

Saboya, 1999). Nesse método, a calibração foi efetuada preparando-se

soluções padrão de NaOH e Na2CO3 obtendo-se concentrações equivalentes

em carga de ânions. Cada solução pode ser relacionada à uma hipotética

quantidade de CO2 que, se efetivamente absorvida, resultaria nas mesmas

concentrações de CO32-.

As medidas de condutividade elétrica foram efetuadas em

condutivímetro marca DIGIMED, modelo CD21, empregando célula com valor

de constante próxima a 1 cm-1, com correção de temperatura de leitura para

25°C. A quantidade em miligramas de CO2 absorvido (m) foi calculada pela

expressão:

m = V x M x 22.005 x (CE1-CEx)

(CE1-CE2)

onde V e M são respectivamente, o volume de solução de NaOH empregada na

absorção do CO2 e sua concentração em mol L-1; CEx é a condutividade elétrica

da amostra; CE1 é a medida da condutividade elétrica da solução padrão de

NaOH; e CE2 é a medida da condutividade elétrica da solução padrão de Na2CO3.

Aos dados experimentais de produção de CO2 foi aplicado o modelo de

Page 36: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

24

cinética de primeira ordem. Apesar de inúmeros modelos de cinética poderem ser

aplicados (Alexander & Scow,1989), optou-se por este modelo, por sua

simplicidade, pois, através de um único parâmetro, a constante de velocidade,

pode-se avaliar diretamente a intensidade da degradação do material orgânico

no solo.

As curvas do CO2 emanado, dos tratamentos, foram obtidas

descontando-se a contribuição da testemunha, para se obter a curva

representativa da degradação apenas da torta de filtro sobre os efeitos dos

metais em estudo. Esse desconto admite que a matéria orgânica nativa do solo

se decompõe da mesma forma tanto na ausência ou na presença da torta, ou

seja, não contempla o chamado efeito priming. Esse efeito pode ser positivo ou

negativo e se traduz, respectivamente, pela aceleração ou inibição da

decomposição da matéria orgânica nativa em resposta à adição de resíduos

orgânicos ao solo e ele somente pode ser devidamente avaliado em

experimentos conduzidos com carbono marcado. Assim, como esta técnica é

de uso restrito, o efeito priming normalmente não é considerado em medidas de

decomposição de materiais orgânicos complexos (Minhoni et al., 1990).

Em todos os ajustes foi usado o modelo de cinética de primeira ordem

que considera duas fases, obtendo-se então duas constantes de velocidade.

Rodella & Firme (2004), destacaram alguns aspectos do ajuste de

modelos de cinética de primeira ordem à produção de CO2 pela degradação

biológica de lodo de esgoto no solo e concluíram que o modelo duplo de

primeira ordem foi útil para evidenciar a inclusão de CO2 inorgânico na

quantidade total de CO2 liberado do lodo tratado com cal, ou seja, o modelo

duplo de cinética de primeira ordem considera a liberação de CO2 por dois

compartimentos distintos, cada um obedecendo à cinética de primeira ordem

(Saviozzi et al.,1997).

É interessante ressaltar que essas duas etapas, por vezes identificadas

como 1 e 2, não são subseqüentes, mas sim simultâneas. Contudo, como uma

delas é muito mais rápida que a outra, uma etapa mais lenta domina a maior

Page 37: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

25

parte da degradação da matéria orgânica do material orgânico em estudo.

3.2 Análise das amostras de solo após incubação

3.2.1 Obtenção das amostras secas

Após o período de incubação, as amostras do solo foram retiradas dos

potes, levadas para estufa à 65º C até peso constante e em seguida foram

peneiradas em peneira de 2mm de abertura de malha.

3.2.2 pH

O pH foi medido em extrato solo-água preparado na proporção de 1:2,5

(Catani & Jacintho , 1974).

3.2.3 Extração de cádmio e níquel solúvel em extrator DTPA-TEA pH 7,3

Para a extração de cádmio e níquel do solo foram empregados 10 g de

amostra seca e 20 ml da solução extratora DTPA-TEA a pH 7,3 (Amacher,

1996). A suspensão foi agitada por duas horas a 180 ciclos/min e em seguida o

material foi filtrado, obtendo-se o extrato. A determinação de Cd e de Ni no

extrato foi efetuada por espectrometria de absorção atômica em chama de ar-

acetileno.

3.3 Análise estatística

Os dados de produção de CO2 foram ajustados ao modelo duplo de

primeira ordem através do programa CurveExpert versão 1.37 (Hyams, 1993).

Através dele foram determinadas duas constantes de velocidade de primeira

ordem, as quais serão relacionadas aos tratamentos estudados.

As análises de variância dos dados de quantidade total acumulada do

CO2 produzido, pH (H2O) e teores de níquel e cádmio extraídos pela solução

Page 38: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

26

DTPA-TEA pH 7,3 foram efetuadas pelo programa estatístico SANEST segundo

Pimentel-Gomes (1990).

Para se obter a produção liquida de CO2 na degradação da torta de filtro

é necessário se descontar a contribuição da matéria orgânica do solo,

admitindo-se que o efeito priming não ocorra, conforme já mencionado

anteriormente. Esse desconto só pode ser efetuado através da operação de

subtração com médias das três repetições consideradas nos ensaios de

respirometria, uma vez que não é possível se relacionar uma determinada

repetição de testemunha a uma repetição especifica de tratamento. Deste

modo, valores de porcentagem de degradação da torta de filtro e parâmetros

cinéticos foram estimados a partir de valores médios. Assim, não foi possível

computar as repetições para se efetuar uma análise estatística no esquema

fatorial, como foi efetuado para os outros parâmetros.

Page 39: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dois ensaios de respirometria conduzidos durante 72 dias,

forneceram os resultados que serão discutidos a seguir. Os efeitos da aplicação

do cádmio e do níquel na degradação da torta de filtro serão considerados

separadamente. Os resultados das análises de variância efetuadas são

apresentados nos Anexos.

4.1 Decomposição de torta de filtro sob aplicação de cádmio

O cádmio não apresenta nenhuma função biológica que o caracterize

como elemento essencial ou mesmo benéfico. Ao contrario, como observaram

Bonnet et al. (1999) em experimento que simulava em laboratório as condições

de tratamento de esgoto doméstico, o cádmio em solução sob concentração de

60 e 300 µg L-1 reduziu a população de protistas e de bactérias, bem como

afetou a atividade enzimática.

4.1.1 pH do solo ao final do experimento de incubação

O pH é um atributo do solo que reflete a ação de inúmeros fatores. No

presente estudo efetuou-se a aplicação de torta de filtro, um material

predominantemente orgânico, mas com concentração relativamente elevada de

cálcio. A fração orgânica sofreu prontamente a ação dos microrganismos e sua

decomposição está geralmente relacionada a variações de acidez. Somando-se

a isso, se teve a adição da solução de cloreto de cádmio, levando a várias

Page 40: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

28

possibilidades de interação entre cátion metálico, matéria orgânica e atividade

microbiológica.

O pH determinado no solo, após o término do experimento, foi afetado de

modo interativo pelas doses de cádmio e de torta de filtro (Tabela 5). A Figura 1

permite visualizar mais facilmente o efeito interativo destes dois fatores, que foi

detectado com significância estatística na análise de variância.

Tabela 5. Interação entre doses de cádmio (X) e torta de filtro (TF) no pH do

solo medido ao final da incubação (Y)

TF (Mg ha-1) Equação de Regressão F R2

0 Y = 4,87- 0,0028 X + 0,000015 X2 16,59** 0,99

40 n.s. - -

80 Y = 5,10 + 0,00053 X 6,41* 0,65

120 Y = 5,22 - 0,00038 X + 0,0000075 X2 30,78** 0,87

* significância a P ≤ 0,05 ** significância a P ≤ 0,01 n.s. : não significativo

Figura 1 - Resposta do pH das amostras de solo, após incubação, em função

da interação entre doses de cádmio e de torta de filtro

4,7

4,8

4,9

5

5,1

5,2

5,3

5,4

5,5

0 50 100 150 200 250

Cd (mg kg-1)

pH

0 Mg kg-140 Mg kg-180 Mg kg-1120 Mg kg-1

Page 41: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

29

Observa-se que na ausência de cádmio o efeito das doses de torta de

filtro tendem a aumentar o pH do solo ao final da incubação. Dee et al. (2003),

pesquisando a resposta da adição de três tipos de resíduos da indústria

sulcroalcooleira na acidez do solo encontraram que, o pH do solo aumenta com

a adição destes resíduos, na ordem de: cinzas da caldeira > fuligem > torta de

filtro. Para todos os resíduos, este efeito apresentou-se geralmente maior na

dose de 20 Mg ha-1 do resíduo adicionado, isto é, na dose mais alta.

Considerando o efeito das doses aplicadas de cádmio, nota-se que, na

ausência de torta de filtro as menores doses daquele metal, tenderam a abaixar

o pH. Wilke (1991), mostra que o pH do solo pode sofrer redução com a adição

dos metais. A redução do pH em solos poluídos já tinha sido observada por

Wilke (1982), onde supõe que este efeito ocorra devido a troca de cargas do íon

H+ adsorvido pelos íons metálicos, formando assim os quelatos organo-

metálicos (Stevenson, 1975). Contudo, a tendência de abaixamento se reverteu

e quando a maior dose do metal permitiu que o valor de pH do solo voltasse ao

nível original.

A aplicação de 40 Mg ha-1 de torta de filtro não teve efeito significativo

sobre o pH do solo, mas pode constatar que, na verdade, essa dose foi

responsável pela eliminação do efeito negativo das doses de cádmio sobre o

pH das amostras de solo. Para as doses de 80 e 120 Mg ha-1 de torta de filtro,

observa-se apenas a tendência da elevação do pH em função das doses de

cádmio aplicadas.

A aplicação de torta de filtro em geral beneficia as características

químicas e físicas do solo aumentando o pH, diminuindo a conteúdo de

alumínio trocável e aumentando o teor de carbono orgânico e de fósforo.

Portanto, é de se supor que sob a aplicação de torta de filtro ao solo se

possibilite um cenário onde o comportamento de um metal tóxico como o

cádmio seja completamente modificado.

Page 42: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

30

4.1.2 Cádmio extraído pela solução DTPA-TEA pH 7,3 O teor de cádmio extraído do solo pela solução DTPA-TEA pH 7,3 foi

afetado pelos fatores estudados de forma independente, pois não se observou

significância estatística para a interação entre doses do metal aplicado e doses

de torta de filtro.

Figura 2 - Relação entre o cádmio extraído pela solução DTPA-TEA pH 7,3 e

doses aplicadas de torta de filtro (TF)

A disponibilidade de cádmio no solo diminuiu linearmente com o aumento

da dose de torta de filtro (Figura 2), efeito esse que é esperado, uma vez que a

matéria orgânica apresenta elevada capacidade de complexar metais (Adriano,

1986).

Pode-se considerar, contudo, que, nas condições do estudo, o efeito das

doses de torta de filtro sobre o teor de cádmio no solo não foi de magnitude

y = -0,053x + 66,18R2 = 0,78

58

59

60

61

62

63

64

65

66

67

0 20 40 60 80 100 120 140

TF (Mg ha-1)

Cd

extr

aído

(m

g kg

-1)

Page 43: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

31

particularmente expressiva. Estima-se que a adição de 120 Mg do resíduo por

hectare proporcione uma redução de cerca de 6 mg kg-1 no teor do metal.

A disponibilidade de cádmio, expressa pelo extrator DTPA-TEA pH 7,3

aumentou linearmente com o incremento na dose do metal adicionado (Figura

3). A partir da equação que correlaciona o teor de cádmio esperado no solo

com os teores extraídos pelo DTPA-TEA pH 7,3, observou-se que o extrator

extraiu cerca de 80% do metal aplicado.

Figura 3 - Relação entre os teores de cádmio extraídos pelo DTPA-TEA pH 7,3

e as doses de cádmio adicionadas

Essa última observação está de acordo com a idéia expressa

anteriormente. O fato do extrator DTPA-TEA pH 7,3 conseguir extrair grande

parte do metal presente no solo, reflete o efeito pequeno da torta de filtro na

extração do cádmio pelo extrator mencionado.

y = 0,809x - 1,0716R2 = 0,99

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

0 50 100 150 200 250

Cd (mg kg-1)

Cd

extr

aído

(mg

kg-1

)

Page 44: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

32

King & Hajjar (1990), avaliaram a eficiência do extrator DTPA-TEA pH 7,3

através de estudo do efeito residual do lodo de esgoto sobre a concentração de

metais pesados em plantas de tabaco e amendoim. Usando um solo podzólico

de textura média, os autores obtiveram os melhores resultados de extração de

cádmio do solo com DTPA-TEA pH 7,3.

Portanto, mesmo se o cádmio interagir com a matéria orgânica da torta

de filtro, formando complexos durante o período de condução do experimento, o

extrator DTPA-TEA pH 7,3 que apresenta características complexantes,

consegue extrair o metal do solo. Esta observação está de acordo com Borges

(2002), quando relata que o DTPA-TEA pH 7,3 tem como característica a

extração de elementos ligados a matéria orgânica e a ligantes orgânicos livres.

Este efeito resultaria do DTPA-TEA pH 7,3 formar um complexo mais estável

com o cádmio do que aqueles formados com ligantes orgânicos presentes na

matéria orgânica da torta de filtro.

A complexação de cádmio pela torta de filtro é bastante viável de ocorrer.

A incorporação de torta de filtro criou um diferencial expressivo no teor de

carbono no solo, adequado para que se manifestasse o efeito da matéria

orgânica sobre a disponibilidade de metais. A matéria orgânica da torta de filtro

recém coletada nas usinas é constituída basicamente por bagaço de cana

praticamente in natura. Contudo, ao ser armazenada para posterior aplicação

ao solo, o resíduo sofre decomposição relativamente intensa com

desprendimento de grande quantidade de calor de modo a resultar em uma

matéria orgânica mais ativa conforme demonstra o valor da capacidade de troca

catiônica 528,3 mmolc kg-1 obtido para a torta de filtro usada no presente

estudo.

O teor de carbono adicionado está relacionado com a capacidade de

troca catiônica que, por sua vez, influencia na fixação do cádmio adicionado.

Singh (1979) e Petruzzelli et al. (1985), verificaram que solos com maior teor de

matéria orgânica e consequentemente maior capacidade de troca catiônica

mostraram maior adsorção de cádmio.

Page 45: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

33

Gray et al. (1998) e Filius et al. (1998), relataram que em baixos valores

de pH, o íon Cd+2 encontra-se ligado aos sítios de baixa afinidade, ou seja,

nestas condições o íon é facilmente extraído. As condições do presente estudo

são diferentes, com elevação de pH, associada a um aumento de cargas

negativas devido a adição da matéria orgânica pela torta de filtro, ocorre

aumento do número de sítios de alta afinidade ocupados pelo íon Cd+2, sendo

assim o efeito complexante dificultaria a extração do metal.

4.1.3 Produção acumulada total de CO2

A produção total acumulada de CO2 ao final do período de incubação de

72 dias, discutida neste item, corresponde ao gás carbônico emanado da

matéria orgânica nativa do solo e da matéria orgânica da torta de filtro

conjuntamente. Essa produção foi afetada de modo interativo pelas doses de

cádmio e de torta de filtro (Tabela 6). A interação é ilustrada graficamente na

Figura 4.

Na ausência de cádmio, a quantidade total acumulada final de CO2

produzido está diretamente correlacionada a quantidade de torta de filtro

incorporada ao solo, conforme era de se esperar, uma vez que a contribuição

do solo pode ser considerada como constante.

Tabela 6. Interação entre doses de cádmio (X) e torta de filtro (TF) na produção

acumulada total do CO2 ao final da incubação (Y)

TF (Mg ha-1) Equação de Regressão F R2

0 Y = 1621,43 – 0,877 X 10,61* 0,91

40 Y = 3070,91 – 10,56 X + 0,0300 X2 40,32** 0,99

80 Y = 4059,71 – 10,89 X + 0,0271 X2 33,00** 0,98

120 Y = 5129,67 – 16,37 X + 0,0439 X2 86,38** 0,97

* significância a P ≤ 0,05 ** significância a P ≤ 0,01

Page 46: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

34

Figura 4 - Produção do total de CO2 acumulado ao final do experimento em

função da interação das doses de cádmio e de torta de filtro

O cádmio afetou negativamente a produção de CO2 em relação direta

com sua dose. O decréscimo foi tanto maior em termos absolutos quanto maior

a produção de CO2. Em outras palavras o efeito deletério do cádmio dependeu

da dose de torta de filtro aplicada.

Uma idéia do grau de decomposição da torta de filtro em função dos

tratamentos estudados pode ser obtida na Tabela 6. Os valores da citada tabela

são calculados a partir da produção líquida de CO2 nos tratamentos com torta

de filtro e a produção teórica esperada de CO2 em função do teor de carbono

orgânico da torta de filtro.

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

0 50 100 150 200 250

Cd (mg kg-1)

mg

de C

O2

0 Mg kg-140 Mg kg-180 Mg kg-1120 Mg kg-1

Page 47: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

35

Tabela 7. Degradação da torta de filtro sob efeito de Cd, estimada a partir da

produção de CO2 esperada do teor do carbono orgânico da torta de

filtro (TF)

TF (Mg ha-1) Cd (mg kg-1) 40 80 120 %

0 33,4 28,1 27,1

28 26,4 23,7 22,4

56 20,6 21,0 19,8

112 18,5 19,8 18,6

200 15,5 16,8 15,9

De maneira geral, pode parecer que uma fração relativamente pequena

da torta de filtro foi decomposta, pois, na melhor condição, foi emanado cerca

de 33% do CO2 teoricamente produzível, se toda a massa de carbono orgânico

presente fosse convertida no gás. Deve-se considerar, entretanto, que, após a

incorporação de materiais orgânicos no solo parte de seu carbono orgânico

pode permanecer inalterado e parte transformado mas incorporado à biomassa

microbiana, sem contribuir para o CO2 evoluído do solo (Reis & Rodella, 2002).

A relação C/N da torta de filtro empregada nos experimentos de

respirometria do presente estudo foi de 11,1, que pode ser considerado como

relativamente baixo para este resíduo, tomando-se como base os valores

médios citados na literatura. Estes valores se referem, em geral, ao material

recém produzido no processo de clarificação do caldo de cana-de-açúcar. A

torta de filtro armazenada no campo, pronta para ser usada na adubação, sofre

decomposição de sua fração orgânica menos resistente e, conseqüentemente,

apresenta queda na relação C/N. Materiais orgânicos com relação C/N entre 10

a15 podem ser considerados como estabilizados e tendendo a mostrar uma

menor velocidade de decomposição microbiológica no solo.(Moreira & Siqueira,

2002). Neste sentido, Santos et al.(2002) obtiveram cerca 55% de degradação

para uma torta de filtro com relação C/N de 26. Observe-se que uma relação

Page 48: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

36

C/N da ordem de 10 ainda propicia condições para degradação em torno de

20% da matéria orgânica, promovendo evolução de CO2, como detectado nos

experimentos no presente estudo.

Ainda que sem contar com apoio da estatística, observa-se que, na

ausência da aplicação de cádmio, a porcentagem de degradação tende a

diminuir com o aumento da dose de torta de filtro incorporada ao solo. Isso é

observado com mais ênfase no aumento da dose de 40 para 80 Mg ha-1 de

torta de filtro. Este fato é decorrência de se ter um aumento na carga orgânica

para ser degrada por uma mesma população microbiana.

A aplicação de cádmio tende a afetar negativamente a porcentagem de

degradação do carbono orgânico, sendo esse efeito praticamente independente

dos níveis de torta de filtro para doses de cádmio superiores a 28 mg kg-1.

Killham (1985), sugeriu que os microrganismos do solo, sobre o estresse

causado pela presença de metais pesados no solo, desviam a energia

reservada para o seu crescimento para a manutenção funcional das suas

células. Portanto, esta observação pode ser plausível para a explicação da

diminuição do CO2 produzido em solos contaminados com metais pesados.

4.1.4 Parâmetros cinéticos

Os valores de massa acumulada de CO2 produzida durante a incubação

da torta de filtro no experimento de respirometria, foram relacionados aos

respectivos intervalos de tempo de incubação, empregando-se o modelo de

cinética de primeira ordem em duas etapas (Figura 5). Essa escolha se mostrou

adequada pois para todas as equações obtidas, o coeficiente de determinação

(R2) foi superior a 0,99.

Na Tabela 8 são mostrados os parâmetros cinéticos referentes ao ajuste

do modelo duplo de primeira ordem. Para dose zero de torta de filtro o que se

observa são parâmetros cinéticos relativos à decomposição da matéria orgânica

nativa do solo. Os dados relativos às doses de torta de filtro correspondem a

Page 49: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

37

produção de CO2 apenas da torta, pois a contribuição da matéria orgânica do

solo foi descontada.

O modelo de cinética adotado permitiu identificar uma etapa de

decomposição relativamente rápida, cuja meia vida variou entre 1 e 5 dias

(Tabela 8). A quantidade de CO2 produzida nessa primeira etapa, estimada a

partir do parâmetro A1, pode representar 8,6 a 28,6 % da quantidade total

produzida, dependendo do tratamento considerado. Levando-se em conta todos

os tratamentos em conjunto, a meia vida da fase lenta de decomposição variou

de 16,3 a 157,5 dias (Tabela 8).

De acordo com Tauk (1990), no solo ocorre uma rápida decomposição

inicial do material lábil e, posteriormente, num processo mais lento, a

decomposição de materiais resistentes. A mesma autora explica que, esta fase

lenta pode ocorrer devido ao mecanismo de adsorção, à estabilização dos

metabólitos e à queda da taxa de biomassa no solo.

Page 50: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

37

Figu

ra 5

- Q

uant

idad

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de C

O2

liber

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8.

Dos

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e Cd

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ha-1

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TF (t

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0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

010

2030

4050

6070

80Di

as

CO2 (mg)

0 m

g kg

-1

28 m

g kg

-1

56 m

g kg

-1

112

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kg-1

200

mg

kg-1

Dos

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e C

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40 M

g ha

-1 d

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0

200

400

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1000

1200

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CO2 (mg)

0 m

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-1

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g kg

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g kg

-1

112

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Cd

e 80

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TF

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

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CO2 (mg)

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g kg

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kg-1

Dose

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0 M

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0

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1000

1500

2000

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3500

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010

2030

4050

6070

80

Dias

CO2 (mg)

0 m

g kg

-128

mg

kg-1

56 m

g kg

-111

2 m

g kg

-120

0 m

g kg

-1 38

Page 51: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

39

Tabela 8. Parâmetros cinéticos relativos ao ajuste do modelo duplo de cinética

de primeira ordem à degradação da torta de filtro sob efeito de Cd*

Cd TF A1 A2 k1 k2 t1/2 (1) t1/2 (2)

mg kg-1 Mg ha-1 mg de CO2 dia-1 dias

0 0 463,0 1748,4 0,3397 0,0143 2,0 48,5

28 0 447,1 1910,7 0,3438 0,0124 2,0 55,9

56 0 454,3 1916,0 0,3378 0,0122 2,1 56,8

112 0 414,8 1875,1 0,3383 0,0115 2,0 60,3

200 0 429,5 2248,1 0,2753 0,0082 2,5 84,5

0 40 386,8 4047,4 0,1955 0,0044 3,5 157,5

28 40 325,2 1216,4 0,1996 0,0163 3,5 42,5

56 40 207,2 867,1 0,2640 0,0233 2,6 29,7

112 40 192,5 717,0 0,3207 0,0293 2,2 23,7

200 40 125,5 596,7 0,6225 0,0392 1,1 17,7

0 80 636,8 3034,0 0,2049 0,0134 3,4 51,7

28 80 559,9 2229,3 0,1970 0,0163 3,5 42,5

56 80 375,4 1687,4 0,2472 0,0289 2,8 24,0

112 80 255,5 1605,5 0,4224 0,0361 1,6 19,2

200 80 194,8 1377,9 0,6091 0,0374 1,1 18,5

0 120 943,6 3932,0 0,1801 0,0158 3,8 43,9

28 120 1223,7 2455,6 0,1399 0,0173 5,0 40,1

56 120 302,5 2421,3 0,5473 0,0396 1,3 17,5

112 120 221,5 2322,5 0,6677 0,0425 1,0 16,3

200 120 182,7 2026,8 1,4215 0,0401 0,5 17,3

*Y = A1 (1- e -k1t) + A2 (1- e-k2t)

( O índice 1 se refere à fase rápida e o índice 2 se refere à fase lenta de decomposição)

Page 52: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

40

A soma dos parâmetros A1 e A2, se aproxima bastante da quantidade

total medida de CO2 emanado ao final dos 72 dias de incubação. Como os

parâmetros A1 e A2 estimam a quantidade de CO2 produzida em tempo infinito,

é possível concluir que a liberação de CO2 medida até 72 dias, representou um

processo de decomposição que praticamente se completou, correspondente a

um compartimento da matéria orgânica de torta de filtro passível de se degradar

nas condições do experimento.

É digno de menção, que o efeito das doses de Cd sobre a decomposição

da matéria orgânica do solo tendem a ser opostos ao da matéria orgânica da

torta de filtro, que serão discutidos mais adiante. O metal praticamente não

afeta a fase rápida de decomposição, mas para a fase lenta, o incremento na

adição do metal ao solo induz um aumento na quantidade de CO2 evoluído e

um efeito negativo sobre as constantes de velocidade, nítido principalmente

quando se considera a fase lenta de degradação. Torna-se difícil se encontrar

uma explicação plausível para este fato. De concreto, pode apenas se

considerar que na ausência da aplicação de torta de filtro se tem uma massa

menor de carbono orgânico e que este se encontra num estágio mais avançado

de estabilização do que aquele presente na torta de filtro. Em que medida isso

poderia afetar o efeito das doses de cádmio sobre a degradação microbiologia

da matéria orgânica é ainda obscuro.

Na ausência da aplicação de cádmio, as constantes de velocidade de

primeira ordem da fase rápida não variaram apreciavelmente com a dose de

torta de filtro (Tabela 8). Com relação à fase lenta, apenas para a dose de 40

Mg ha-1 se obteve um valor relativamente mais baixo que para as demais

doses.

Assim, como a produção total de CO2 foi afetada pelo cádmio, conforme

já mencionado em 4.1.2, é compreensível que os parâmetros A1 e A2 também

sejam afetados negativamente pelo incremento na aplicação de cádmio ao solo,

conforme pode ser observado na Tabela 8.

Page 53: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

40

Figu

ra 6

-

Rel

ação

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re d

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Cd

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velo

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0,9

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100

150

200

250

Cd

(mg

kg-1

)

k1 (dia-1

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120

Mg

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0,9

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0,02

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050

100

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250

Cd

(mg

kg-1

)K2 (dias

-1)

40 M

g ha

-180

Mg

ha-1

120

Mg

ha-1

41

Page 54: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

42

As constantes de velocidade referentes a cada uma das etapas do

modelo de cinética de primeira ordem também foram afetadas pelas doses de

metal estudadas. Observa-se que com o aumento da dose de cádmio aplicada

ocorre um aumento nos valores da constante velocidade. Essa variação ocorre

segundo uma tendência linear para a fase rápida e obedece a uma tendência

quadrática para a fase lenta (Figura 6).

Surge daí uma interpretação que pode parecer conflitante para avaliar o

efeito do cádmio sobre a degradação da matéria orgânica da torta de filtro. O

metal afeta negativamente a massa de carbono orgânico decomposta, mas

afeta positivamente a velocidade dessa degradação. Em outras palavras, a

aplicação de cádmio resulta na degradação mais rápida de uma quantidade

menor de carbono orgânico. O conflito citado pode ser superado ao se aceitar

que uma maior velocidade de degradação não implica necessariamente em

uma quantidade maior de carbono degradado.

Wilke (1991) verificou que nos primeiros 2 dias de incubação com a

adição de 100 mg kg-1 de cádmio ao solo a produção de CO2 aumentou.

Comumente, alguns microrganismos morrem com a adição do metal e a

sobrevivência dos demais é garantida pela mineralização das células que

morreram.

No presente estudo, para explicar melhor o comportamento das

constantes de velocidade, seria de grande valia dispor de maiores informações,

provavelmente relacionadas à dinâmica da população microbiana responsável

pela decomposição do carbono durante o experimento.

Giller et al. (1998), comentam que as características do crescimento

microbiano dependem do tipo de substrato adicionado ao solo, pois este pode

diferenciar a estrutura da comunidade microbiana do solo devido as mudanças

causadas nas condições fisiológicas do meio.

Com relação ao efeito do cádmio na velocidade de decomposição é

possível especular que a interação entre o metal e a matéria orgânica restrinja a

Page 55: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

43

sua fração passível de ser decomposta e, assim, esta passa a ser consumida

mais rapidamente.

Outra tendência digna de menção é que a constante de velocidade de

degradação da fase lenta aumenta com a dose de cádmio aplicada, mas a dose

necessária é menor com o aumento da dose de torta de filtro. Para as doses de

torta de 40, 80 e 120 t ha-1 o nível de cádmio necessário para a máxima

velocidade seria <100; 160 e 180 mg kg-1 Cd, respectivamente.

4.2 Decomposição de torta de filtro sob aplicação de níquel

Ao contrario do cádmio, cuja presença em qualquer meio imediatamente

induz a idéia de toxicidade, para o níquel este aspecto está ligado a sua

concentração. Como mostraram Amir & Pineau (2003) em solos australianos, a

população de microrganismos tolerantes ao níquel está altamente

correlacionada ao teor solúvel, tendo sido também determinada uma ação

solubilizante do metal pela microflora do solo.

4.2.1 pH do solo ao final do experimento de incubação

O pH do solo medido ao final do período de incubação de 72 dias foi

afetado de modo interativo. Na Tabela 9, são apresentadas as equações de

regressão entre pH e doses de níquel para cada dose de torta de filtro

empregada. A Figura 7, permite uma analise mais clara desse efeito.

Page 56: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

44

Tabela 9. Interação entre doses de níquel (X) e torta de filtro (TF) no pH do

solo ao final da incubação (Y)

TF (Mg ha-1) Equação de Regressão F R2

0 n.s. - -

40 n.s. - -

80 Y = 5,12 – 0,00104 X + 0,0000028 X2 8,98* 0,72

120 Y = 5,29 – 0,00063 X + 0,0000021 X2 5,01* 0,76

*: significância a P ≤ 0,05 n.s. : não significativo

Figura 7 - Interação entre as doses de níquel e as doses de torta de filtro sobre

o pH das amostras de solo ao final da incubação

O efeito das doses de torta de filtro, na ausência de níquel, foi elevar o

pH do solo medido ao final do experimento, efeito esse observado em

diferentes trabalhos. Nesse contexto, a presença de ácidos orgânicos é

considerada um fator importante na elevação do pH do solo (Slatter et al.,

1991). Geralmente resíduos de plantas contém excesso de cátions e o balanço

4,9

5

5,1

5,2

5,3

5,4

5,5

5,6

0 100 200 300 400 500 600

Ni (mg kg-1)

pH

80 Mg ha-1

120 Mg ha-1

Page 57: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

45

é mantido pela síntese de ânions de ácidos orgânicos como: oxalato, citrato,

malato e outros (Noble et al. 1996). O mesmo autor explica que, durante a

decomposição microbiológica dos resíduos de plantas, os ácidos orgânicos são

decarboxilados e isto resulta no consumo de prótons e na elevação do pH.

Não se detectou significância estatística para o efeito das doses de

níquel adicionadas na ausência de torta de filtro. Este resultado contraria o que

foi observado por Speir et al. (1999), que verificaram decréscimo acentuado do

pH do solo para doses de 0 a 40 mmol kg-1 do metal adicionado, efeito esse

que foi minimizado quando se aplicou de 40 a 100 mmol kg-1 do metal.

Também para a dose de 40 Mg ha-1 de torta de filtro não houve efeito

estatisticamente significativo sobre o pH.

Para as doses de 80 e 120 Mg ha-1 de torta de filtro foi detectada

significância estatística para o efeito quadrático das doses de níquel, contudo, o

efeito mais expressivo foi a elevação do pH do solo para a aplicação de 500 mg

kg-1 de níquel.

4.2.2 Níquel extraído pela solução DTPA-TEA pH 7,3

O teor de níquel extraído do solo pela solução DTPA-TEA pH 7,3, foi

afetado pelas doses de níquel e torta de filtro de forma interativa (Tabela 10). O

efeito da interação detectado como estatisticamente significativo na análise de

variância , pode ser mais bem visualizado na Figura 8.

Page 58: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

46

Tabela 10. Interação entre doses de níquel (X) e torta de filtro (TF) na extração

de níquel do solo por DTPA-TEA (Y)

TF (Mg ha-1) Equação de Regressão F R2

0 Y = - 5,54 + 0,6484 X 1164,66** 0,99

40 Y = - 1,03 + 0,5886 X 959,78** 0,99

80 Y = 5,07 + 0,5399 X 807,55** 0,99

120 Y = 3,47 + 0,5465 X 827,62** 0,99

** significância a P ≤ 0,01

0

50

100

150

200

250

300

350

0 100 200 300 400 500 600

Ni (mg kg-1)

Ni e

xtra

ído

(mg

kg-1

)

0 Mg ha-140 Mg ha-180 Mg ha-1120 Mg ha-1

Figura 8 - Efeito Interativo entre doses de níquel e de torta de filtro sobre a

extração do metal do solo por DTPA-TEA pH 7,3

A disponibilidade de níquel no solo expressa pelo extrator DTPA-TEA pH

7,3 aumentou linearmente com a dose do metal adicionado (Figura 8). Na

ausência de torta de filtro cerca de 65% do metal aplicado foi extraído, como

evidencia o coeficiente angular de equação de regressão mostrada na Tabela

10.

Page 59: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

47

Pelo mesmo raciocínio, quando a torta de filtro foi aplicada na dose de 40

Mg ha-1 observou-se que a extração do níquel foi diminuída em 18%. As demais

doses de torta, contudo, não proporcionaram diminuições adicionais na

eficiência do extrator. Assim de maneira geral, o DTPA conseguiu extrair entre

55 e 65% do níquel adicionado ao solo.

A matéria orgânica pode afetar, negativamente ou positivamente, a

disponibilidade do metal pesado através da formação de quelatos ou complexos

com os mesmos (Mellis et al., 2004). No caso, pode-se considerar que uma

quantidade relativamente elevada de níquel permaneceu disponível ao final do

experimento.

4.2.3 Produção acumulada total de CO2

A produção acumulada total de CO2 devido à respiração dos

microrganismos no solo durante 72 dias de incubação, também neste

experimento, correspondeu ao gás carbônico emanado da matéria orgânica

nativa do solo e da torta de filtro. Essa produção foi afetada de modo interativo

e estatisticamente significativo pelos fatores estudados, níquel e torta de filtro,

como mostram a Tabela 11 e a Figura 9.

Tabela 11. Interação entre doses de níquel (X) e torta de filtro (TF) na produção

acumulada total do CO2 ao final da incubação (Y)

TF (Mg ha-1) Equação de Regressão F R2

0 Y = 1655,60 – 3,65 X + 0,00504 X2 21,23** 0,84

40 Y = 2574,07 – 4,94 X + 0,00583 X2 28,31** 0,99

80 Y = 3605,06 – 7,27 X + 0,00809 X2 54,65** 0,96

120 Y = 4508,41 – 9,06 X + 0,01016 X2 86,09** 0,98

** significância a P ≤ 0,01

Page 60: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

48

Figura 9 – Efeito interativo das doses de níquel e de torta de filtro sobre a

produção total de CO2 acumulado ao final da incubação

A produção total de CO2 acumulada, na ausência de níquel está

diretamente correlacionada à quantidade de torta de filtro incorporada ao solo,

admitindo a contribuição do solo como constante.

O efeito do níquel na produção de CO2 foi o mesmo obtido para o

cádmio, ou seja, ambos os metais afetaram negativamente o CO2 emanado

com a aplicação de doses crescentes dos metais, sendo este efeito tanto maior

quanto maior a dose de torta de filtro. Observa-se ainda, que o efeito é mais

acentuado até a aplicação de 250 mg kg-1 de níquel (Figura 9).

Com base na produção total de CO2 foi possível estimar a porcentagem

de degradação da torta de filtro, nos mesmos moldes como efetuado para o Cd

e apresentado no item 4.1.3

A Tabela 12 apresenta valores da porcentagem de degradação da torta

de filtro em função dos tratamentos estudados. De maneira geral, pode parecer

que uma fração relativamente pequena da torta de filtro foi decomposta, pois,

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

5000

0 100 200 300 400 500 600

Ni (mg kg-1)

mg

CO

20 Mg ha-140 Mg ha-180 Mg ha-1120 Mg ha-1

Page 61: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

49

na melhor condição, foi emanado cerca de 22% do CO2 teoricamente

produzível, se toda a massa de carbono orgânico presente fosse convertida no

gás. Esse valor, contudo, deve ser analisado considerando as condições

especificas do experimento de respirometria, no qual não se tem renovação

contínua do CO2 produzido.

Tabela 12. Degradação da torta de filtro sob efeito de níquel, estimada a partir

da produção de CO2 esperada do teor do carbono orgânico da torta

de filtro (TF)

TF (Mg ha-1) Ni (mg kg-1) 40 80 120 % 0 18,0 22,1 21,2

62,5 21,4 19,4 19,3

125 19,7 16,9 16,4

250 11,5 14,2 13,7

500 11,0 10,0 10,6

Apesar de não se contar também neste caso com o apoio de uma análise

estatística vale a pena mencionar que, na ausência de níquel, a porcentagem

de degradação não foi expressivamente afetada pela torta, mas apenas

aumentou ligeiramente quando se elevou a dose de 40 para 80 Mg ha-1 de torta

de filtro.

Considerando o efeito da aplicação das doses de níquel, verificou-se

uma tendência de diminuição da taxa de degradação do carbono orgânico.

Esse efeito, tal como para o cádmio, foi praticamente independente dos níveis

de torta de filtro para doses de níquel superiores a 62,5 mg kg-1. Portanto, altas

concentrações de metais pesados podem apresentar efeitos prejudiciais à

decomposição da matéria orgânica e nos processos biológicos do solo,

provocando assim o acúmulo do resíduo orgânico no solo e a imobilização dos

nutrientes essenciais (Cotrufo et al., 1995).

Page 62: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

50

4.2.4 Parâmetros cinéticos

A quantificação do CO2 desprendido das amostras de solo, incubadas

com doses de níquel e doses de torta de filtro, durante 72 dias, foram

relacionadas aos respectivos intervalos de tempo de incubação, empregando-

se o modelo duplo de cinética de primeira ordem (Figura 10). Este ajuste

forneceu os parâmetros cinéticos relacionados na Tabela 13.

De maneira geral, o modelo duplo de cinética de primeira ordem ajustou-

se eficientemente aos dados experimentais, conforme demonstrado pelos

coeficientes de determinação (R2) obtidos, cujos valores foram sempre

superiores a 0,99.

As constantes de velocidade (k1 e k2) se referem apenas à fração

mineralizada do resíduo orgânico adicionado via torta de filtro. Portanto, os

valores da meia-vida (t1/2), calculados com base nas respectivas constantes,

devem ser interpretados como indicativos da mineralização da referida fração

(Reis & Rodella, 2002).

O modelo de cinética adotado permitiu identificar uma etapa de

decomposição relativamente rápida, cuja meia vida variou entre 0,61 e 4,20

dias (Tabela 13). A quantidade de CO2 produzida nessa primeira etapa,

estimada a partir do parâmetro A1, representou 9,3 a 33,2 % da quantidade total

produzida, dependendo do tratamento considerado.

Como já mencionado no item 4.1.4, as duas etapas de decomposição

identificadas como 1 e 2, não são subseqüentes, mas sim simultâneas. E

também no estudo com níquel se observa que uma delas é mais rápida que a

outra, pois quando se consideram todos os tratamentos em conjunto a meia-

vida da fase lenta de decomposição variou de 16,5 a 239,0 dias (Tabela 13).

Page 63: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

50

Figu

ra 1

0 -

Qua

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13

Dos

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Mg

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)

020

040

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080

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010

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4050

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CO2 (mg)

0 m

g kg

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g kg

-112

5 m

g kg

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g kg

-150

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200

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6070

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Dia

sCO2 (mg)

0 m

g kg

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g kg

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g kg

-1

51

Page 64: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

52

Tabela 13. Parâmetros cinéticos relativos ao ajuste do modelo duplo de cinética

de primeira ordem à degradação da torta de filtro sob efeito de Ni*

Ni TF A1 A2 k1 k2 t1/2 (1) t1/2 (2)

mg kg-1 Mg ha-1 mg de CO2 dia-1 dias

0 0 537,8 1702,7 0,2985 0,0178 2,3 38,9

62,5 0 362,9 1245,2 0,3620 0,0201 1,9 34,5

125 0 375,9 1141,3 0,3142 0,0190 2,2 36,5

250 0 348,4 1142,9 0,2810 0,0178 2,5 38,9

500 0 332,5 1126,5 0,2632 0,0156 2,6 44,4

0 40 202,6 1019,2 0,2575 0,0131 2,7 52,9

62,5 40 176,4 862,2 0,3056 0,0322 2,3 21,5

125 40 290,1 3064,9 0,1868 0,0029 3,7 239,0

250 40 94,4 459,0 0,7473 0,0332 0,9 20,9

500 40 95,1 441,6 0,5087 0,0332 1,4 20,9

0 80 629,3 3439,2 0,1741 0,0071 3,1 97,6

62,5 80 365,9 1546,0 0,2372 0,0298 2,9 23,3

125 80 164,5 1403,1 1,0489 0,0419 0,7 16,5

250 80 189,0 1142,8 0,7829 0,0397 0,9 17,5

500 80 165,9 829,7 0,6724 0,0299 1,0 23,2

0 120 942,5 3091,5 0,1649 0,0137 4,2 50,6

62,5 120 297,5 2395,2 0,5412 0,0410 1,3 16,9

125 120 205,4 2071,2 1,1439 0,0417 0,6 16,6

250 120 267,9 1740,2 0,7022 0,0329 1,0 21,1

500 120 213,4 1337,7 0,7374 0,0330 0,9 21,0

*Y = A1 (1- e -k1t) + A2 (1- e-k2t)

( O índice 1 se refere à fase rápida e o índice 2 se refere à fase lenta de decomposição)

Page 65: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

53

A soma dos parâmetros A1 e A2, que estimam a quantidade de CO2

produzida em tempo infinito para as duas etapas de decomposição, se

aproximou bastante da quantidade total medida de CO2 liberado ao final dos 72

dias de incubação.

Considerando o efeito do níquel apenas sobre a matéria orgânica do solo

nota-se que foi menos expressivo que o do cádmio, observando-se uma ligeira

tendência de diminuição na velocidade de degradação.

Na ausência de aplicação de níquel, a constante de velocidade de

primeira ordem da fase rápida diminuiu com o aumento da dose de torta de

filtro. Com relação à fase lenta, apenas para a dose de 80 Mg ha-1 se obteve

um valor relativamente mais baixo do que as demais doses (Tabela 13).

Conforme já mencionado em 4.2.3, assim como a produção total de CO2

foi afetada pelo níquel, é compreensível que os parâmetros A1 e A2 também

sejam afetados negativamente pelo incremento na aplicação de níquel ao solo

(Tabela 13).

Vale ainda considerar como as constantes de velocidade referentes a

cada uma das etapas do modelo de cinética de primeira ordem foram afetadas

pelas doses de níquel aplicadas ao solo. Para facilitar a discussão foram

excluídos os dados referentes à dose de 40 Mg ha-1 de torta. Assim,

restringindo-se às doses de 80 e 120 Mg ha-1, nota-se tendência no sentido de

aumento na velocidade de degradação para doses em torno de 100 mg kg-1 de

níquel, com uma ligeira diferença de comportamento, conforme se considere a

etapa rápida e a etapa lenta (Figura 11).

Page 66: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

53

Figu

ra 1

1 -

Rel

ação

ent

re d

oses

de

Ni e

con

stan

tes

de v

eloc

idad

e da

s et

apas

do

mod

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dupl

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a de

prim

eira

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just

ado

aos

dado

s de

dec

ompo

siçã

o da

torta

de

filtro

no

solo

Etap

a rá

pida

0

0,2

0,4

0,6

0,81

1,2

1,4

010

020

030

040

050

060

0

Ni (

mg

kg-1

)

k1 (dias-1

)

80 M

g ha

-1

120

Mg

ha-1

Etap

a le

nta

0

0,00

5

0,01

0,01

5

0,02

0,02

5

0,03

0,03

5

0,04

0,04

5

010

020

030

040

050

060

0

Ni (

mg

kg-1

)

k2 (dias-1

)

80 M

g ha

-112

0 M

g ha

-1 54

Page 67: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

55

Assim como ocorreu no experimento com adição de cádmio o

conhecimento mais detalhado das variações na microbiota, decorrentes dos

tratamentos, poderia fornecer subsídios para um melhor entendimento dos

efeitos detectados.

A população microbiana apresenta respostas diferenciadas na presença

de metais pesados nos solos. De acordo com Fließbach et al. (1994), a

produção de CO2 em solos contaminados por metais pesados aumentou, mas a

taxa de degradação do material celulolítico diminuiu. Comparando com o

presente trabalho, esta resposta ocorreu de forma contrária.

Além disso, segundo Tauk (1990), existe a complexidade física e química

dos resíduos orgânicos que desfavorece a ocorrência de um processo

degradativo bioquimicamente simples.

4.3 Considerações gerais sobre o efeito de cádmio e de níquel

Uma análise conjunta dos efeitos dos metais níquel e cádmio sobre a

degradação da matéria orgânica da torta de filtro parecem mostrar mais

similaridades que diferenças.

De início, uma diferença básica de comportamento de cádmio e níquel

em solução deve ser discutida, ou seja, as espécies iônicas sob as quais esses

metais ocorrem em solução aquosa.

A adição de diferentes quantidades de metais ao solo foi efetuada

através de volumes iguais de soluções a diferentes concentrações.

Dependendo da concentração, soluções do sal cloreto de cádmio hidratado

(CdCl2 2,5H2O), apresentam teores variáveis da forma catiônica Cd+2 sobretudo

devido à formação de clorocomplexos. Empregando-se o programa de

especiação iônica Minteq, é possível calcular as concentrações das espécies

químicas sob as quais o elemento ocorre, conforme mostrado na Tabela 14.

Page 68: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

56

Tabela 14. Espécies químicas de Cd e níquel em soluções de concentrações

variáveis de seus respectivos cloretos

Concentração empregada (mol L-1) Espécies de Cd 1,25.10-4 2,50.10-4 5,00.10-2 8,88.10-3 %

Cd+2 97,83 95,98 65,75 55,66

CdCl+2 2,12 3,97 33,33 42,49

CdOH+ 0,05 0,04 0,00 0,00

CdCl2 0,00 0,00 0,92 1,85

Concentração empregada (mol L-1) Espécies de Ni 5,31.10-3 1,06.10-2 2,12.10-2 4,25.10-2

%

Ni+2 99,75 99,59 99,33 98,91

NiCl+ 0,24 0,40 0,66 1,08

NiOH+ 0,01 0,00 0,00 0,00

Observa-se que para os dois menores valores de concentração usados

no experimento, destinados a adicionar ao solo 28 e 56 mg Cd kg-1, mais de

95% estava na forma catiônica. Entretanto, a fração do íon Cd+2 em solução

diminuiu drasticamente quando as concentrações se elevaram.

Como em geral se admite que a forma catiônica é aquela mais

prontamente biodisponível, pode-se argumentar que a especiação do metal

pode ser um fator importante que afeta o seu comportamento no solo e sua

influência na degradação microbiológica da torta de filtro. Nesse sentido Evan et

al. (1991), mostraram que a redução na adsorção de metais, na presença de

íon cloreto, está diretamente relacionado à capacidade dos metais em formar

clorocomplexos.

Garcia-Miragaya & Page (1976), notaram que a adsorção de Cd+2 na

presença de íon cloreto é fortemente afetada pela força iônica, pelo fato do

coeficiente de atividade do Cd+2 ser baixo em altas concentrações de sais,

como também por formar espécies como CdCl+ e CdCl20, além de outras.

Page 69: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

57

Portanto, as espécies de cádmio ligadas ao cloreto não são adsorvidas tão

fortemente aos colóides do solo quanto o Cd+2 (Borges, 2002).

Ao contrário do cádmio, soluções do sal cloreto de níquel hidratado

(NiCl2.6H2O) não apresentaram teores variáveis da forma catiônica Ni+2, ou

seja, não houve formação de clorocomplexos (Tabela 14).

Para todos os valores de concentração usados no experimento

destinados a adicionar ao solo 62,5, 125, 250 e 500 mg kg-1 de níquel,

observou-se que mais de 98% estava na forma catiônica (Tabela 14). A

diminuição da fração do íon Ni+2 foi muito pequena quando as concentrações se

elevaram, o que não acontece para a fração do íon Cd+2.

É necessário que se ressalte, contudo, que não se está analisando a

especiação do metal no solo, mas da solução através da qual o mesmo foi

adicionado. Uma vez no solo, outros ligantes orgânicos e inorgânicos serão

importantes para a especiação do metal, mas, de qualquer modo, não se pode

ignorar que o íon cloreto foi adicionado em quantidades relevantes para afetar

pelo menos o comportamento do cádmio.

Dessa forma, observou-se um efeito negativo similar do níquel (48%) e

do cádmio (46%), na redução da porcentagem de degradação da torta de filtro.

Observando-se a Figura 12, conclui-se que a maior proporção do efeito

negativo do cádmio já se manifesta para a dose de 50 mg kg-1 de cádmio. Para

o níquel o efeito negativo se manifesta de modo continuo com a dose do metal.

Page 70: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

58

Figura 13 - Efeito de doses de cádmio e níquel na degradação de torta de filtro

Ambos os metais por outro lado, manifestaram um inesperado efeito de

diminuir quantidade de CO2 evoluído, perturbando obviamente a atividade

microbiológica, mas acelerando a velocidade de degradação. A diferença

observada entre os metais foi que esse efeito aumentou com o aumento das

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 50 100 150 200 250

Cd (mg kg-1)

% d

e de

grad

ação

da

TF40 Mg ha-180 Mg ha-1120 Mg ha-1

0

5

10

15

20

25

0 100 200 300 400 500 600

Ni (mg kg-1)

% d

e de

grad

ação

da

TF

40 Mg ha-180 Mg ha-1120 Mg ha-1

Page 71: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

59

doses de cádmio aplicadas, mas atingiu seu máximo logo para as primeiras

doses de níquel.

A disponibilidade de metais avaliada através da solução DTPA-TEA

indicou que esse extrator conseguir mobilizar de 54 a 68% do níquel

adicionado, dependendo da dose de torta aplicada, mas, em contraste, extraiu

cerca de 80% do cádmio adicionado. Esses dados indicam uma diferença de

afinidade entre níquel e cádmio para com a matéria orgânica que, no caso do

experimento, era o principal compartimento de retenção de metal. MacBride

(1989) sugeriu a seguinte seqüência de afinidade do metal com a matéria

orgânica: Cu >níquel > Pb > Co > Ca > Zn > Mn > Mg, qual indica elevada

tendência do níquel em formar complexos com ligantes orgânicos do solo

A disponibilidade de um metal no solo depende da sua interação com as

fases sólidas do mesmo e, em solução, com componentes que atuam como

ligantes e formam complexos solúveis. Isso pode ser considerado ao se

analisar a similaridade dos efeitos de níquel e cádmio sobre a degradação da

torta de filtro, que chega a ser surpreendente, por se tratar de elementos

bastante diferentes do ponto de vista químico. Embora o cádmio tenha menor

afinidade que o níquel para com a matéria orgânica e, assim, pudesse ocorrer

em concentração mais elevada em solução, sua disponibilidade pode ser ainda

afetada pela interação com ligantes em solução, sobretudo íons cloreto. Assim

fatores que agem de modo diverso em fases distintas do sistema solo se

conjugam uma conjugam para definir um comportamento similar para níquel e

cádmio.

Page 72: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

5 Conclusões - cádmio e níquel afetaram negativamente a quantidade de matéria orgânica de

torta de filtro degradada em experimento de respirometria;

- para os intervalos de doses estudados, o efeito global do níquel foi similar ao

de cádmio em termos de prejuízo na degradação da matéria orgânica da torta

de filtro;

- a dose de 50 mg kg-1 de Cd já determinou a maior proporção do efeito

prejudicial de cádmio;

- os parâmetros cinéticos evidenciaram que o efeito das doses dos metais se

manifestou no sentido de uma menor parte da matéria orgânica da torta se

degradar com velocidade mais rápida;

- a degradação da matéria orgânica nativa do solo foi afetada pelo cádmio de

modo diferente da matéria orgânica adicionada através da torta de filtro.

Page 73: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

Anexos

Page 74: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

62

A – Análise de variância do experimento com adição de cádmio.

pH das amostras de solo no final do experimento.

Causa da

variação G. L. S. Q. Q. M. Valor de F Prob. >F

TF 3 1,74 0,582 179,06 0,00001

Cd 4 0,13 0,032 9,84 0,00006

TF* Cd 12 0,10 0,009 2,65 0,01052

Resíduo 40 0,13 0,003

Total 59 2,11

Extração do metal pela solução DTPA-TEA pH 7,3 no final do experimento.

Causa da

variação G. L. S. Q. Q. M. Valor de F Prob. >F

TF 3 430,75 143,58 4,00 0,01386

Cd 4 197200,42 49300,11 1373,48 0,00001

TF* Cd 12 370,83 30,90 0,86 0,59128

Resíduo 40 1435,77 35,89

Total 59 199437,78

Total acumulado do CO2 produzido.

Causa da

variação G. L. S. Q. Q. M. Valor de F Prob. >F

TF 3 64476098,95 21492032, 98 3936,30 0,00001

Cd 4 6886692,78 1721673,20 315,33 0,00001

TF* Cd 12 2027586,65 168965,55 30,95 0,00001

Resíduo 40 218398,20 5459,96

Total 59 73608776,58

Page 75: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

63

B – Análise de variância do experimento com adição de níquel.

pH das amostras de solo no final do experimento.

Causa da

variação G. L. S. Q. Q. M. Valor de F Prob. >F

TF 3 1,24 0,41 51,13 0,00001

Ni 4 0,30 0,08 9,26 0,00008

TF* Ni 12 0,27 0,02 2,74 0,00855

Resíduo 40 0,32 0,01

Total 59 2,13

Extração do metal pela solução DTPA-TEA pH 7,3 no final do experimento.

Causa da

variação G. L. S. Q. Q. M. Valor de F Prob. >F

TF 3 982,47 327,49 1,94 0,13817

Ni 4 633546,57 158386,64 936,03 0,00001

TF* Ni 12 5022,09 418,51 2,47 0,01585

Resíduo 40 6768,46 169,21

Total 59 646319,58

Total acumulado de CO2 produzido.

Causa da

variação G. L. S. Q. Q. M. Valor de F Prob. >F

TF 3 39734375,78 13244791,93 1197,95 0,00001

Ni 4 13751653,98 3437913,50 310,95 0,00001

TF* Ni 12 2436347,82 203028,98 18,36 0,00001

Resíduo 40 442250,05 11056,25

Total 59 56364627,63

Page 76: cinética de degradação microbiológica de torta de filtro no solo na

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