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NATHALIA DA CUNHA MURASAKI Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Engenharia São Paulo 2005 CINÉTICA DE INATIVAÇÃO TÉRMICA DA PEROXIDASE E DA POLIFENOLOXIDASE PRESENTES NA ÁGUA DE COCO VERDE POR PROCESSO TÉRMICO CONTÍNUO

Cinética de inativação térmica da peroxidase e da polifenoloxidase presentes na água de coco verde por processo térmico contínuo

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  • NATHALIA DA CUNHA MURASAKI

    Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do Ttulo de Mestre em Engenharia

    So Paulo 2005

    CINTICA DE INATIVAO TRMICA DA PEROXIDASE E DA

    POLIFENOLOXIDASE PRESENTES NA GUA DE COCO VERDE POR

    PROCESSO TRMICO CONTNUO

  • NATHALIA DA CUNHA MURASAKI

    CINTICA DE INATIVAO TRMICA DA PEROXIDASE E DA

    POLIFENOLOXIDASE PRESENTES NA GUA DE COCO VERDE POR

    PROCESSO TRMICO CONTNUO

    Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do Ttulo de Mestre em Engenharia

    rea de Concentrao: Engenharia Qumica

    Orientadora: Prof. Livre-Docente Carmen Ceclia Tadini

    So Paulo 2005

  • FICHA CATALOGRFICA

    Murasaki, Nathalia da Cunha

    Cintica de inativao trmica da peroxidase e da polifeno- loxidase presentes na gua de coco verde por processo trmico contnuo / N.C. Murasaki. -- So Paulo, 2005.

    78p.

    Dissertao (Mestrado) - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Departamento de Engenharia Qumica.

    1.Processos contnuos 2.Enzimas 3.Inativao trmica 4.gua de coco I.Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia Qumica II.t.

  • Aos meus pais Snia e Jacir,

    s minhas irms Adriana e Gabriela e

    ao Andr com carinho

  • AGRADECIMENTOS

    Ao bondoso Deus. Prof. Dra. Carmen C. Tadini pela orientao e dedicao com seus orientados. Ao Prof. Dr. Pedro Oliveira Vitoriano e Dr. Amauri Rosenthal pela importante

    contribuio durante a elaborao desse trabalho.

    Aos professores Dra. Beatriz Kilikian e Dr. Aldo Tonso pela orientao no PAE.

    Aos meus tios Jos Roberto Cardoso, Marisa Ortegosa da Cunha e Jos Nilson

    Machado pelo incentivo e exemplo.

    Aos colegas: Carolina Singer, Cynthia Ditchfield, Denise Tavares, Fabiana

    Hilsenrath, Gisele Miyashira, Ivan Nunes, Ktia Matsui, Laura Carr, Patrcia

    Hamano, Sandra Orosco, Tatiana Matuda, Tatiana Tribess, Vanessa Duarte e Prof.

    Dr. Jorge Gut, pelas grandes amizades, pelo incentivo, colaborao e horas de

    descontrao. Aos amigos Aurea Sugai e Bruno Esteves, que tambm foram os

    abridores oficiais de coco e Lucia Collet pela importante colaborao e ajuda na

    parte experimental.

    Ao Rodrigo Martins pela sua valiosa ajuda no incio da minha parte experimental. Aos meus pais Snia e Jacir e irms Adriana e Gabriela pelo incentivo e apoio. Ao querido Andr pela dedicao, incentivo e companhia. Aos amigos Mariana, Gustavo, Mrcia, Fernando, Priscila e Fbio pelos momentos

    de descontrao.

    A todos que, direta ou indiretamente, contriburam na execuo deste trabalho. Capes pela bolsa concedida.

  • RESUMO

    Considerando a necessidade da pasteurizao da gua de coco verde, aps a abertura

    do fruto, devido ao de microrganismos e das enzimas presentes, peroxidase

    (POD) e polifenoloxidase (PFD), o presente trabalho tem como objetivo estudar o

    comportamento da atividade dessas enzimas, atravs de processo trmico contnuo.

    Na primeira parte foi estudada a cintica de inativao trmica das enzimas em

    processo de pasteurizao da gua de coco, realizado em trocador de calor a placas

    (TCP) de laboratrio, ARMFIELD FT 43A, a temperatura de 90C em diferentes

    tempos de reteno. Amostras da gua de coco no processada e processada foram

    congeladas a 30 C para as anlises enzimticas. Na segunda parte, com base nos

    resultados obtidos de cintica, foram realizados processos a 90 C com tempos de

    reteno de 120, 180 e 200 s para o estudo do comportamento dessas enzimas

    durante o armazenamento. Anlises de pH, acidez, turbidez e atividade enzimtica

    tambm foram realizadas durante o tempo de armazenamento de amostras da gua de

    coco processada e no processada em temperatura ambiente, refrigerada (10 C) e

    congelada (- 20 C). Cada lote de gua de coco foi caracterizado pela densidade,

    teores de slidos totais e solveis, cinzas, pH, acidez e turbidez. Nos processos

    trmicos contnuos realizados a 90 C a POD e PFD presentes na gua de coco

    apresentaram pelo menos duas isoenzimas com estabilidades diferentes e a PFD

    mostrou-se mais termorresistente que a POD. A POD presente na gua de coco

    processada, durante o armazenamento a 30 C, apresentou-se mais estvel que a

    PFD. A gua de coco processada que apresentou maior estabilidade fsico-qumica e

    enzimtica foi a armazenada congelada.

  • ABSTRACT Considering the need for green coconut water pasteurization after opening the fruit

    due to microbial and enzymatic (peroxidase (POD) and polyphenol oxidase (PFD))

    action, the objective of this work is to study the behavior of the activity of these

    enzymes during continuous thermal processing. The first stage of the work was the

    study of the enzymes thermal inactivation kinetics during continuous pasteurization

    of coconut water, performed in a laboratory plate heat exchanger, Armfield 43 A,

    at a temperature of 90 C with different holding times. Samples of unprocessed and

    processed coconut water were frozen at - 30 C for enzymatic analyses. In the second

    stage, based on the results obtained, processing was performed at 90 C with holding

    times of 80, 120, 180 and 200 s for studying the behavior of these enzymes during

    storage. Analyses of the pH, titratable acidity, turbidity and enzymatic activity were

    conducted during storage in processed and unprocessed samples kept at ambient

    temperature, refrigerated (10 C) and frozen (- 20C). Each coconut water batch was

    characterized by density, total and soluble solids, ashes, pH, titratable acidity and

    turbidity. For the continuous thermal processes carried out at 90 C both POD and

    PFD presented at least two isozymes with different thermal stability, and PFD was

    more thermally resistant than POD. During storage at - 30C POD in processed

    coconut water was more stable than PFD. The highest physicochemical and

    enzymatic stability was achieved for processed coconut water under frozen storage.

  • SUMRIO

    LISTA DE TABELAS

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE SIGLAS

    LISTA DE SMBOLOS

    1. INTRODUO.....................................................................................................1

    1.1 OBJETIVO..........................................................................................................2

    2. REVISO DA LITERATURA............................................................................3

    3. MATERIAIS E MTODOS................................................................................23

    3.1 MATRIA PRIMA...............................................................................................23

    3.2 MATERIAL E EQUIPAMENTOS............................................................................23

    3.3 REAGENTES......................................................................................................26

    3.4 PARTE EXPERIMENTAL.....................................................................................26

    3.4.1 Processamento contnuo........................................................................26

    3.4.2 Amostragem...........................................................................................28

    3.4.3 Anlises..................................................................................................30

    3.4.3.1 Anlises fsico-qumicas.........................................................30

    3.4.3.2 Anlise da atividade enzimtica..............................................31

    4. RESULTADOS E DISCUSSO..........................................................................33

    4.1 CARACTERIZAO DOS LOTES DE GUA DE COCO............................................33

    4.2 CINTICA DE INATIVAO ENZIMTICA...........................................................35

    4.3 ATIVIDADE ENZIMTICA DA POD E PFD E ANLISES FSICO QUMICAS DA

    GUA DE COCO VERDE DURANTE TEMPO DE ARMAZENAMENTO......................40

    5. CONCLUSES.....................................................................................................71

    6. SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS..............................................73

    7. LISTA DE REFERNCIAS............................................................................... 74

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1

    Parmetros de cintica e as constantes de velocidade para

    mecanismos de uma reao de acordo com a equao:

    ( ) ( )tdbba -+-= 111 exp1 . k1 e k2 so as constantes de

    velocidade e 12 gg a razo das atividades molares das

    formas E1 e E2.......................................................................... 17

    Tabela 2.2 Mecanismo rvore demonstrando o carter diversificado da

    atividade enzimtica. Os mecanismos no mesmo nvel na

    rvore do perfis de atividade tempo idnticos,

    correspondentes a: a. para o 1 nvel: ( )tda -= 1exp ; b.

    para o 2 nvel: ( ) ( )tdbba -+-= 111 exp1 ; c. para o 3 nvel

    ( ) ( ) ( )tdbtdba --+-= 2111 exp1exp ; d. para o 4 nvel:

    ( ) ( ) ( )tdbtdbbba -+-+--= 221121 expexp1 ........................ 18 Tabela 3.4.1.1 Conjuntos de tubos de reteno utilizados no trocador de

    calor a placas para obteno dos tempos de reteno de 20,

    40, 80, 120, 160, 180 e 300 s, de acordo com a vazo do

    produto.................................................................................... 27

    Tabela 4.1.1 Correspondncia entre os lotes de gua de coco e as

    condies de processo.............................................................. 33

    Tabela 4.1.2 Valores mdios obtidos nas anlises de acidez, pH, cinzas,

    slidos totais, slidos solveis, densidade e turbidez da gua

    extrada dos cocos.................................................................... 34

    Tabela 4.2.1 Tempos reais dos processos realizados no trocador de calor a

    placas, de acordo com o volume dos tubos de reteno.......... 35

    Tabela 4.2.2 Valores da atividade residual da POD e PFD na gua de

    coco processada a 90 C em tempos de reteno variando

    entre 21,5 e 379,8 s.................................................................. 36

    Tabela 4.2.3 Parmetros do modelo multicomponente de primeira ordem

    com 2 e 3 parmetros para a POD e PFD, respectivamente.... 38

    Tabela 4.3.1 Valores mdios das atividades iniciais da POD e PFD na

    gua de coco processada e no processada.............................. 40

  • Tabela 4.3.2 Valores da atividade residual da POD na gua de coco no

    processada, armazenada congelada......................................... 43

    Tabela 4.3.3 Valores da atividade residual da PFD na gua de coco no

    processada, armazenada congelada.......................................... 45

    Tabela 4.3.4 Valores da atividade residual da POD presente na gua de

    coco processada, durante tempo de armazenamento sob

    refrigerao.............................................................................. 48

    Tabela 4.3.5 Valores da atividade residual da POD presente na gua de

    coco processada, durante o armazenamento congelado........... 49

    Tabela 4.3.6 Valores da atividade residual da PFD presente na gua de

    coco processada, durante o armazenamento sob

    refrigerao.............................................................................. 53

    Tabela 4.3.7 Valores da atividade residual da PFD presente na gua de

    coco processada, durante o armazenamento congelado........... 54

    Tabela 4.3.8 Valores de pH, acidez e turbidez da gua de coco no

    processada de acordo com a condio de armazenamento...... 57

    Tabela 4.3.9 Valores de pH, acidez e turbidez da gua de coco processada

    ao longo do tempo de acordo com a condio de

    armazenamento........................................................................ 63

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 2.1 Esquema cclico para a formao do composto e

    subsequente oxidao de substratos doadores de eltrons........ 8

    Figura 2.2 Reaes catalisadas pela PFD. (a) hidroxilao de monofenol

    em O-difenol; (b) dehidrogenao de O-difenol em O-

    quinonas.................................................................................... 12

    Figura 2.3 Mecanismo de formao da melanina da tirosina..................... 12

    Figura 3.2.1 Espectrofotmetro UV-VIS, marca FEMTO, modelo 700

    plus............................................................................................ 24

    Figura 3.2.2 pH-STAT, marca RADIOMETER, modelo PHM-290............ 24

    Figura 3.4.1.1 Trocador de calor ARMFIELD modelo FT-43, com tubo de

    reteno forma de S............................................................... 27

    Figura 3.4.2.1 Fluxograma de amostragem da gua de coco no processada

    e processada armazenada em trs condies de

    armazenamento (ambiente, refrigerada e congelada)............... 29

    Figura 4.2.1 Isoterma de inativao trmica a 90 C da POD e PFD,

    presente na gua de coco.......................................................... 39

    Figura 4.3.1 Dados da atividade enzimtica residual da PFD da gua de

    coco logo aps o processo comparados com os dados

    experimentais que geraram o modelo de cintica

    multicomponente de 1a ordem com 3 parmetros.................... 41

    Figura 4.3.2 Dados da atividade enzimtica residual da POD da gua de

    coco logo aps o processo, comparados com os dados

    experimentais que geram o modelo de cintica

    multicomponente de 1a ordem com 2 parmetros..................... 42

    Figura 4.3.3 Variao da atividade da POD presente na gua de coco no

    processada congelada, durante o tempo de armazenamento.... 47

    Figura 4.3.4 Variao da atividade da PFD presente na gua de coco no

    processada congelada, durante o tempo de

    armazenamento.........................................................................

    47

  • Figura 4.3.5 Atividade da POD presente na gua de coco processada,

    armazenada refrigerada............................................................

    51

    Figura 4.3.6 Atividade da POD presente na gua de coco processada,

    armazenada congelada.............................................................. 51

    Figura 4.3.7 Atividade da PFD presente na gua de coco processada, armazenada refrigerada........................................................... 55

    Figura 4.3.8 Atividade da PFD presente na gua de coco processada,

    armazenada congelada.............................................................. 55

    Figura 4.3.9 Valores da acidez medida na gua de coco no processada

    armazenada em temperatura ambiente, refrigerada e

    congelada.................................................................................. 60

    Figura 4.3.10 Valores do pH medido na gua de coco no processada

    armazenada em temperatura ambiente, refrigerada e

    congelada.................................................................................. 60

    Figura 4.3.11 Valores da turbidez medida na gua de coco no processada

    armazenada em temperatura ambiente, refrigerada e

    congelada.................................................................................. 60

    Figura 4.3.12 Variao da acidez da gua de coco no processada em

    relao ao tempo de armazenamento para cada condio

    (ambiente, refrigerada e congelada).

    61

    Figura 4.3.13 Variao do pH da gua de coco no processada em relao

    ao tempo de armazenamento para cada condio (ambiente,

    refrigerada e congelada)........................................................... 61

    Figura 4.3.14 Variao da turbidez da gua de coco no processada em

    relao ao tempo de armazenamento para cada condio

    (ambiente, refrigerada e congelada)......................................... 62

    Figura 4.3.15 Valores da acidez medida na gua de coco processada

    armazenada em temperatura ambiente, refrigerada e

    congelada..................................................................................

    66

    Figura 4.3.16

    Valores do pH medidos na gua de coco processada

    armazenada em temperatura ambiente, refrigerada e

    congelada..................................................................................

    66

  • Figura 4.3.17 Valores da turbidez medida na gua de coco processada

    armazenada em temperatura ambiente, refrigerada e

    congelada...... 67

    Figura 4.3.18 Variao da acidez da gua de coco processada em relao ao

    tempo de armazenamento para cada condio (ambiente,

    refrigerada e congelada)........................................................... 67

    Figura 4.3.19 Variao do pH da gua de coco processada em relao ao

    tempo de armazenamento para cada condio (ambiente,

    refrigerada e congelada)........................................................... 68

    Figura 4.3.20 Variao da turbidez da gua de coco processada em relao

    ao tempo de armazenamento para cada condio (ambiente,

    refrigerada e congelada)........................................................... 68

  • LISTA DE SIGLAS

    ABIA Associao Brasileira das Indstrias de Alimentao

    FPLC Cromatografia lquida de protena rpida

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PFD Polifenoloxidase

    POD Peroxidase

    UNICEF Fundo das Naes Unidas para a Infncia

  • LISTA DE SMBOLOS

    a Atividade da frao da isoenzima menos resistente em

    relao a atividade enzimtica total

    A0 Atividade enzimtica no tempo zero

    A Atividade enzimtica a qualquer tempo

    Coi Atividade da enzima por unidade de volume no tempo zero

    Ci Atividade da enzima por unidade de volume no tempo t

    D Forma inativa da enzima

    E1 Forma ativa nativa da enzima

    k Constante de reao (s-1)

    PFD0 Atividade da PFD presente na gua de coco no processada

    PFDi Atividade inicial da PFD

    POD0 Atividade da POD presente na gua de coco no processada

    PODi Atividade inicial da POD

    r Taxa de reao

    S Substrato

    gi Atividade especfica molar da isoenzima

  • 1

    1. INTRODUO

    A gua de coco verde, pela sua rica composio nutricional, atua como

    estimulante de vrios processos do trato digestivo, auxilia as funes cardacas e na

    reposio de sais minerais e gua perdidos por atletas, alm de ser recomendada para

    diabticos. Tais benefcios sade fazem da gua de coco um concorrente potencial

    a refrigerantes e bebidas isotnicas e segundo a Associao Brasileira das Indstrias

    de Alimentao (ABIA), em 2002 o consumo de gua de coco representou cerca de

    1,4 % desse mercado, estimado em 10 bilhes de litros/ano. Essa pequena

    participao no mercado d a dimenso das possibilidades de crescimento do

    consumo da gua de coco (PESSOA; SILVA; CAMARGO, 2002).

    O processo de pasteurizao, um dos mais empregados em alimentos

    lquidos, tem o objetivo de destruir os microrganismos patognicos e deterioradores e

    inativar enzimas presentes nesses alimentos que tenham uma ao indesejada e

    possam alterar as suas caractersticas. A obteno do melhor binmio tempo-

    temperatura importante para minimizar alteraes nas propriedades nutricionais e

    sensoriais do produto.

    Couto et al. (2004) realizaram um estudo de aceitao de gua de coco in

    natura, refrigerada e de duas marcas industrializadas (Ind. A e Ind. B), disponveis

    no mercado varejista. As amostras foram analisadas por 40 provadores, atravs do

    mtodo de escala hednica de nove pontos. Tanto a amostra Ind. B, quanto a amostra

    in natura diferiram significativamente das demais, sendo a mdia obtida para a Ind.

    B 5,8, inferior a in natura ( mdia 7,5). A gua de coco in natura foi a que obteve

    melhor aceitao pelos provadores, seguida pela Ind. B, no entanto a gua de coco

    Ind. A e refrigerada apresentaram tendncia para a rejeio. A justificativa para a

    maior aceitao da amostra in natura pode ser atribuda s caractersticas sensoriais

    (aparncia lmpida, aroma, sabor e textura homognea) descritas pelos provadores

    como sendo atributos caractersticos de gua de coco.

    A aplicao de tecnologias de processamento e conservao da gua de coco

    necessria, pois aps a abertura da fruta, alm de ficar exposta ao dos

    microrganismos presentes no ambiente, reaes qumicas acontecem devido ao

    de enzimas como a peroxidase (POD) e a polifenoloxidase (PFD) que provocam o

  • 2

    seu escurecimento, modificando as suas caractersticas sensoriais e seu valor

    nutricional.

    1.1. Objetivo

    Este trabalho teve como objetivo o estudo da cintica de inativao trmica

    das enzimas peroxidase (POD) e polifenoloxidase (PFD) presentes na gua de coco

    verde, por processo trmico contnuo em diferentes tempos de reteno.

    Objetivos especficos:

    - Obter dados de atividade residual da POD e PFD da gua de coco

    processada a temperatura de processo a 90 C, em 7 tempos de

    reteno (0; 20; 40; 80; 160; 180 e 300 s);

    - Ajustar os resultados obtidos da atividade residual das enzimas a

    modelos cinticos multicomponentes de 1a. ordem, existentes na

    literatura;

    - Verificar a influncia da condio de armazenamento (refrigerao e

    congelamento) sobre a atividade residual das enzimas presentes na

    gua de coco processada.

  • 3

    2. REVISO DA LITERATURA

    A gua de coco verde possui muitas aplicaes, alm de ser uma bebida

    refrescante utilizada na alimentao humana. Na biotecnologia, a gua de coco pode

    ser empregada como meio de cultura bacteriolgica e como meio de crescimento

    para fermentao de levedo e vinagre. Suas aplicaes medicinais tambm so

    importantes como no auxilio do tratamento de distrbios intestinais, na recuperao

    de problemas do estmago, na reduo do colesterol, no tratamento da artrite, no

    controle da presso arterial, na reduo da febre e tambm pode ser usado como

    calmante natural. Durante a segunda guerra mundial, a gua de coco era empregada

    na rehidratao oral e na perfuso intravenosa, substituindo o soro fisiolgico, para

    os soldados japoneses (ANZALDO et al., 1982); (DUPAIGNE, 1971); (JARMAN;

    GRIMWOOD, 1975); (SISON, 1977); (JASPER, 1979 apud MACIEL; OLIVEIRA;

    da SILVA, 1992); (PINTO, 1983 apud MACIEL; OLIVEIRA; da SILVA, 1992).

    O coco verde, com 6 a 7 meses de desenvolvimento, contm cerca de 400

    mL/fruto de uma deliciosa bebida, refrescante e nutritiva. A gua de coco uma

    mistura relativamente diluda, contendo 5% de slidos totais, apresentando um

    contedo de sais minerais e acares que a torna uma bebida isotnica. A gua do

    coco ano verde, com 7 meses, apresenta, em mdia: sacarose 280 mg/100mL;

    glicose 2378 mg/100mL; frutose 2400 mg/100mL; P 7,40 mg/100g; Ca 17,10

    mg/100g; Na 7,05 mg/100g ; Mg 4,77 mg/100g; Mn 0,52 mg/100g; Fe 0,04

    mg/100g; K 156,86 mg/100g; acidez 1,23 mEq/100g; pH 4,91; slidos solveis

    5Brix, vitamina C 1,2 mg/100mL; protena 370 mg/100g e valor calrico de 27,51

    Kcal/100g (PIERIS, 1971); (GONZALEZ, 1990 apud CAMPOS et al., 1996);

    (ROSA; ABREU, 2000).

    A composio eletroltica da gua de coco apresenta-se mais prxima do

    fluido intracelular do que do plasma extracelular. Os ctions predominantes so o

    potssio, clcio e o magnsio. uma soluo hipotnica mais cida, porm com

    densidade comparvel com o plasma sanguneo (CAMPBELL-FALCK et al, 2000).

    Apesar da alta concentrao de acares e potssio presentes na gua de coco,

    existe uma controvrsia sobre o seu uso para rehidratao oral. Inmeros estudos

    defendem seu uso, porm outros defendem o uso exclusivo do soro oral lanado pela

  • 4

    OMS (Organizao Mundial de Sade) e UNICEF (Fundo das Naes Unidas para a

    Infncia). Sua acidez, hipotonicidade e alto teor de potssio no fazem a gua de

    coco um soro ideal para ser utilizada por um longo tempo, mas uma alternativa em

    situaes de emergncia. Quando utilizada em pequenos volumes e por curto perodo

    de tempo, a gua de coco se apresenta eficaz na hidratao intravenosa,

    principalmente em regies onde falta soro e a gua de coco abundante e barata. Por

    ser boa fonte de potssio, cloreto e clcio, pode ser a melhor ind icao em situaes

    especficas em que o teor desses eletrlitos deva ser aumentado (CAMPBELL-

    FALCK et al, 2000).

    Os maiores constituintes da gua de coco so os acares e os minerais, que

    conferem o sabor agradvel gua e os menos presentes so as gorduras e as

    substncias nitrogenadas (ANZALDO et al., 1982); (JAYALEKSHMY et al., 1986

    apud MACIEL; OLIVEIRA; da SILVA, 1992); (JASPER, 1979 apud MACIEL;

    OLIVEIRA; da SILVA, 1992).

    De acordo com Anzaldo (1985); Jayalekshmy et al. (1986) apud Campos et

    al. (1996), a composio da gua de coco muda de acordo com o estgio de

    maturao do fruto. O nvel de acares totais, slidos totais e acidez total aumenta

    at o sexto ms de desenvolvimento e depois diminui enquanto que a concentrao

    de lipdios e protenas aumenta at o estgio final de desenvolvimento. Portanto, as

    diferenas encontradas na composio da gua de coco podem ser devido variedade

    do coco, o seu estgio de desenvolvimento, prticas de cultivo, bem como condies

    de transporte e armazenamento.

    Atualmente, o Brasil possui 90 mil hectares de rea plantada, trs vezes mais

    do que h cinco anos, dos quais menos de 50 % esto em produo efetiva, com isso

    o mercado nacional de gua de coco gira em torno de 600 milhes de litros ao ano

    (PAGEL, 2005).

    A gua de coco comercializada dentro do prprio fruto, apresenta problemas

    relacionados ao transporte, armazenamento e perecibilidade do produto. A gua de

    coco verde envasada insere-se na linha dos produtos de convenincia, apresentando

    praticidade no manuseio, transporte, estocagem, uma vida de prateleira prolongada,

    alm de permitir o seu consumo em locais fora das regies produtoras. Com o

  • 5

    desenvolvimento de mquinas para extrair a gua e tecnologia de envase, a venda da

    gua de coco em embalagem longa vida dobrou nos ltimos cinco anos, aumentando

    de 60 milhes para 120 milhes de unidades (ROSA; ABREU, 2000);(PAGEL,

    2005).

    De acordo com Manoel Cuenca, economista da Embrapa, o consumo da gua

    de coco na Europa e nos Estados Unidos ainda pequeno porque no h uma cultura

    de consumo do produto nesses pases. Ele tambm ressaltou que o maior problema

    enfrentado pelas empresas que exportam gua de coco para a Europa a conservao

    do produto (MAZENOTTI, 2004).

    A industrializao da gua de coco fundamental para evitar a deteriorao

    provocada pelos microrganismos presentes no ambiente e a alterao de suas

    caractersticas originais provocada pelas enzimas peroxidase (POD) e

    polifenoloxidase (PFD). Presentes naturalmente na gua de coco, essas enzimas

    possuem finalidades especficas e vitais para o fruto in vivo, porm, em contato com

    o ar atmosfrico, desencadeiam reaes indesejveis, principalmente no que diz

    respeito alterao de cor. O escurecimento enzimtico em frutas e vegetais

    normalmente devido a oxidao de compostos fenlicos em quinonas, que so

    polimerizadas em pigmentos marrom, vermelho e preto (GALEAZZI, 1984 apud

    CAMPOS et al., 1996); (ROSA; ABREU, 2000); (VALDERRAMA; CLEMENTE,

    2004).

    Com o objetivo de aumentar a vida de prateleira da gua de coco, diversas

    pesquisas esto sendo desenvolvidas. Como a esterilizao causa uma forte alterao

    no sabor, vrios tratamentos como: filtrao, pasteurizao, ajuste do teor de

    acares, pH, slidos totais, concentrao por osmose reversa e adio de

    conservantes esto sendo estudados para a preservao da gua de coco (REDDY;

    DAS; DAS, 2004).

    A ultrafiltrao representa uma alternativa aos processos convencionais de

    tratamento trmico, pois pode operar temperatura ambiente, no prejudicando as

    qualidades sensoriais e nutricionais do produto final (ARAGO, 2002 apud SOUZA

    et al, 2004).

    Souza et al. (2004) realizaram o processo de ultrafiltrao com uma

    membrana monotubo, com massa molar de 50 kDa, presso de transmembrana de 2,0

  • 6

    bar e velocidade tangencial de 5 m/s. A gua de coco desenvolveu uma cor rosada

    aps 24 horas, devido ao enzimtica. A ultrafiltrao apresentou uma reduo

    acentuada da carga microbiana inicial, porm no evitou a alterao de cor causada

    pela ao enzimtica (SOUZA et al., 2004).

    A aplicao de tratamentos auxiliares e a adio de aditivos especficos

    (conservantes, antioxidantes, acidulantes, etc.) permitem estender a vida de prateleira

    do produto para at seis meses. O pH tambm deve ser corrigido com acidulantes

    orgnicos adequados e mantido em valores inferiores a 4,5 (ROSA; ABREU, 2000).

    A pasteurizao deve ser conduzida de forma a reduzir os nveis de

    contaminao microbiolgica, numa faixa de temperatura de processo de 75 a 90 C

    e o binmio, tempo-temperatura, deve ser otimizado considerando os atributos

    sensoriais e o tipo de equipamento disponvel. Esta etapa executada em

    equipamentos do tipo trocadores de calor a placas, dotados de sistema de

    aquecimento e resfriamento (ROSA; ABREU, 2000).

    Campos et al. (1996) determinaram a composio qumica e fsico-qumica

    da gua de coco verde e estudaram a aplicao de alguns aditivos sobre a atividade

    enzimtica, sem afetar as propriedades sensoriais da gua de coco. Esses autores

    determinaram o efeito do tratamento trmico na atividade enzimtica da peroxidase e

    polifenoloxidase. Os testes foram realizados submergindo tubos contendo 10 mL de

    gua de coco em banho de gua termostatizado entre as temperaturas de 70 e 90 C.

    Assim que os tubos alcanavam a temperatura desejada, eram coletados no intervalo

    especfico de tempo e imediatamente refrigerados. Os aditivos estudados foram:

    cido ascrbico, cido srbico e benzico, metabissulfito de potssio, EDTA, cido

    ctrico, dixido de carbono e cistena.

    Os referidos autores relataram o pH 6,0 como o de maior atividade da PFD e

    pH 5,5 como o de maior atividade da POD em gua de coco verde. De acordo com

    esses valores, a gua de coco apresenta um pH favorvel para a atividade de ambas

    enzimas. Estes mesmos autores constataram que o tratamento trmico a 90 oC foi o

    mais eficiente, no entanto, tempos de reteno de 550 e 310 segundos foram

    necessrios para a completa inativao da polifenoloxidase e peroxidase,

    respectivamente, portanto a polifenoloxidase apresentou maior resistncia trmica

    que a peroxidase. Os experimentos realizados com os aditivos indicaram o cido

  • 7

    ascrbico como o inibidor mais eficiente para ambas enzimas. Os resultados obtidos

    na anlise sensorial indicaram que o melhor binmio tempo-temperatura, que no

    apresentou alterao nas propriedades sensoriais da gua de coco, foi 100 s a 90 oC

    (CAMPOS et al., 1996).

    Duarte; Coelho; Leite (2002) estudaram a determinao da atividade

    enzimtica da peroxidase e polifenoloxidase presentes na gua de coco verde fresca e

    caracterizaram essas enzimas por cromatografia lquida de protena rpida (FPLC) e

    eletroforese. Os autores obtiveram uma atividade de 0,3 U/mL para a POD e 5,0

    U/mL para a PFD, valores menores do que os encontrados por Campos et al. (1996),

    114,3 U/mL e 32,1 U/mL, respectivamente. Essa diferena pode ser explicada pela

    diferena na variedade, cultivares e desenvolvimento do fruto e procedimento de

    determinao da atividade enzimtica. Pela cromatografia, os tempos de reteno de

    0,30 min e 1,30 min foram obtidos para a peroxidase e polifenoloxidase,

    respectivamente. O mtodo de eletroforese apresentou um peso molecular para a

    peroxidase de 44,63 KDa e no foi possvel detectar o peso molecular da

    polifenoloxidase, esse fato pode ser explicado por uma baixa concentrao dessa

    enzima nas amostras analisadas.

    Tadini; Murasaki (2002) estudaram a inativao trmica das enzimas, POD e

    PFD, presentes na gua de coco verde em processo descontnuo nas temperaturas

    80 oC, 85 oC e 90 oC, durante tempos de inativao de 0 a 500 segundos. Isotermas

    de inativao trmica dessas enzimas apresentaram um desvio da cintica de primeira

    ordem, indicando a presena de isoenzimas, com fraes mais termorresistentes e

    fraes menos termorresistentes.

    De acordo com Robinson (1991), quanto maior for a estabilidade das

    isoperoxidases frente temperatura, mais no linear a curva de inativao trmica.

    Tadini; Murasaki (2003) observaram que para a POD presente na gua de coco,

    quanto maior a temperatura de inativao trmica em processo descontnuo, maior

    foi desvio da cintica de primeira ordem.

    Peroxidases e catalases so largamente distribudas nos reinos vegetal e

    animal, ambas na forma de hemoprotenas, utilizando o perxido de hidrognio como

  • 8

    substrato oxidante, porm a presena de ons metlicos, como selnio e vandio ou

    um grupo prosttico flavina j foi encontrada (ROBINSON, 1991).

    A peroxidade faz parte de um grande grupo de enzimas chamadas de

    oxidoredutoras. As peroxidases so encontradas nos tecidos vegetais em grupos de

    isoenzimas que podem ser separadas e detectadas em gis aps eletroforese. Em

    plantas consumidas como alimentos, as peroxidases podem ser responsveis pela

    perda de cor, sabor e textura, assim como atributos nutricionais. A atividade

    enzimtica da peroxidase vem sendo considerada importante na qualidade do

    processamento de alimentos, pela sua conhecida termostabilidade (ROBINSON,

    1991).

    Durante o amadurecimento das frutas e particularmente durante o climatrio,

    a atividade da peroxidase aumenta de acordo com a atividade de outras enzimas,

    como a poligalacturonase e a celulase, que esto normalmente associadas ao

    processo de amadurecimento. A peroxidase promove um grande nmero de reaes e

    conseqentemente possui uma versatilidade que no excedida por nenhuma outra

    enzima. A peroxidase no existe sozinha nas frutas e vegetais, como as outras

    enzimas nas plantas. Existem naturalmente vrios compostos fenlicos nos tecidos

    vegetais, que podem ser oxidados pela peroxidase na presena de uma pequena

    quantidade de hidroperxido. Devido diversidade dos compostos suscetveis

    oxidao causada pela peroxidase, a variedade de produtos formados muito

    extensa. As peroxidases utilizam tanto um substrato oxidante quanto um redutor. O

    oxidante usualmente um perxido ou um cido perxido, ROOH (ROBINSON,

    1991).

    Geralmente, as peroxidases so definidas como as enzimas que catalisam a

    seguinte reao peroxidativa global:

    ROOH + AH2 H2O + ROH + A-

    A primeira etapa da oxidao inicial do substrato doador (AH2) produz um

    radical (A-) livre. O perxido de hidrognio geralmente o substrato oxidante

    (ROOH).

    O composto I produzido pela adio de 2 eltrons forma nativa da

    peroxidase.

  • 9

    Per Fe V = 0 + e- + H+ Per Fe IV OH

    Composto I Composto II

    Per Fe IV OH + e- + H+ Per Fe III H2O

    Composto II Enzima nativa

    A Figura 2.1 apresenta a reduo do composto II resultando na reformao da

    peroxidase nativa no estado de oxidao III.

    As taxas de inativao e reativao da atividade da peroxidase dependem de

    vrios fatores, como temperatura, tempo de aquecimento, pH, concentrao salina e

    concentrao de sacarose (GIBRIEL et al., 1978) (ROBINSON, 1991).

    GIBRIEL et al. (1978) estudaram a cintica de inativao e reativao

    trmica da peroxidase em cenoura, damasco e espinafre. Nas cenouras processadas a

    70 C por diferentes perodos de tempo, o ganho da atividade enzimtica foi maior

    quando tempos menores foram utilizados. O ganho mximo da atividade foi obtido

    aps 1-2 horas de armazenamento aps aquecimento. Extratos armazenados a 5 C

    mostraram maior reativao enzimtica do que as amostras armazenadas a 4 ou 18C.

    interessante notar que, em todos os casos, a atividade da peroxidase aps 4 horas

    de armazenamento foi igual ou superior ao nvel original antes do aquecimento.

    Resultados obtidos no espinafre apresentaram um modelo semelhante aos

    obtidos no extrato de cenoura. No extrato de damasco, uma significante reduo da

    atividade da peroxidase foi observada durante o armazenamento.

  • 10

    Fig. 2.1 Esquema cclico para a formao do composto I e subsequente oxidao de

    substratos doadores de eltrons (ROBINSON, 1987 apud ROBINSON,

    1991).

  • 11

    A polifenoloxidase (PFD) tem recebido ateno contnua de pesquisadores,

    por estar envolvida no escurecimento enzimtico de frutas e vegetais, bem como em

    crustceos. Diferentes nomes tm sido associados a esta enzima como a tirosinase,

    creolase, catecolase, difenolase e fenolase, fato que reflete a habilidade desta enzima

    de utilizar diferentes compostos fenlicos como substrato (ZAWISTOWSKI;

    BILIADERIS; ESKIN, 1991).

    A estabilidade trmica e as propriedades trmicas da PFD tm sido citadas em

    diversos trabalhos, o problema que, em alguns so realizadas anlises em condies

    experimentais diferentes, para estudar as caractersticas das enzimas, em outros, o

    estudo sobre diferentes procedimentos de extrao e purificao e, portanto torna-

    se difcil uma comparao direta entre os resultados obtidos (WEEMAES et al.,

    1998).

    Apesar de investigaes sugerirem que o papel da PFD est relacionado com

    o mecanismo da respirao, ainda no h um consenso sobre o verdadeiro

    envolvimento que a PFD exerce sobre os tecidos vegetais, particularmente na

    biossntese de fenlicos de plantas (VAUGHN; DUKE, 1984a, apud

    ZAWISTOWSKI; BILIADERIS; ESKIN, 1991).

    A determinao precisa da PFD continua sendo um desafio, o que pode ser

    constatado nos numerosos mtodos descritos na literatura. Isto devido as quinonas

    formadas durante o curso da reao enzimtica, proveniente de reaes secundrias,

    substratos no reagentes, oxignio e outros constituintes da enzima. Estas reaes

    levam formao de molculas polimricas complexas interferindo na anlise. A

    existncia de outras enzimas com propriedades moleculares similares, tais como

    lacase e peroxidase, pode causar erro na medida da atividade da PFD.

    A PFD uma enzima contendo cobre capaz de catalisar dois diferentes tipos

    de reao: a hidroxilao de monofenis a O- difenis e a de hidrogenao de O-

    difenis a O-quinonas, conforme a Figura 2.2. Os ltimos produtos conduzem

    subseqentemente a uma srie de reaes no enzimticas que produzem pigmentos

    e melanina de cor marrom escura, conforme Figura 2.3.

  • 12

    Fig. 2.2 Reaes catalisadas pela PFD. (a) hidroxilao de monofenol em O-difenol;

    (b) dehidrogenao de O-difenol em O-quinonas (ZAWISTOWSKI;

    BILIADERIS; ESKIN, 1991)

    Fig 2.3 Mecanismo de formao da melanina da tirosina (MASON, 1984 apud

    ZAWISTOWSKI, BILIADERIS; ESKIN, 1991).

  • 13

    Ainda segundo Vmos-Vigyz (1981), apud Zawistowski, Biliaderis; Eskin

    (1991), a PFD geralmente considerada uma enzima de baixa termoestabilidade.

    Tratamentos trmicos de durao relativamente curta a 70-90 C so suficientes para

    reduzir substancialmente ou eliminar completamente a atividade da PFD, em

    produtos de origem vegetal. No entanto, a enzima relativamente estvel sob

    armazenamento a temperatura abaixo de zero.

    De acordo com diversos autores, a inativao da polifenoloxidase por

    tratamento trmico o mtodo mais eficaz para controlar o escurecimento

    enzimtico (WEEMAES et al, 1998). Tate et al. (1964) apud Weemaes et al (1998),

    ressaltaram a importncia de um rpido tratamento trmico, pois o processo lento

    resulta na ativao da PFD presente nos tecidos vegetais. Entretanto, o tratamento

    trmico pode ser responsvel por mudanas indesejveis na textura e sabor. Alm

    disso, o tratamento trmico para inativao da PFD em produtos com antocianinas

    no pode ser aplicado devido sua degradao.

    Weemaes et al. (1998) estudaram a estabilidade trmica da PFD em extrato

    de ma, abacate, uva, pra e ameixa. A inativao trmica das enzimas estudadas foi

    descrita como cintica de primeira ordem. No entanto, no caso da ameixa, uma queda

    na atividade enzimtica foi observada nos primeiros 30 segundos. Como a PFD

    presente na ameixa formada por pelo menos duas isoenzimas, possvel que o

    decaimento inicial rpido causado pelo aquecimento seja devido a isoenzima com

    menor termoestabilidade. O decrscimo mais lento foi decorrente da isoenzima mais

    termoestvel.

    Cano; Marin; Fster (1990) constataram que o efeito do congelamento de

    fatias de banana, sem um tratamento prvio, sobre a atividade da PFD e da POD,

    difere dependendo da maturidade da fruta e do sistema enzimtico. A peroxidase

    uma enzima ligada membrana celular e sua solubilidade afetada com a condio

    de congelamento do tecido vegetal. Quanto menor a umidade, maior o nmero de

    cristais de gelo no protoplasma e maior o dano causado, assim a disponibilidade da

    peroxidase pode aumentar tanto quanto sua atividade residual. Os autores tambm

    constataram que o valor da atividade residual da PFD no diminuiu em conseqncia

    do congelamento de fatias de banana nos primeiros dias de armazenamento, no

    entanto, foi observada aps 20 dias, uma atividade residual de 34%, sugerindo que o

  • 14

    processo de congelamento afeta diferentemente a atividade dessas duas enzimas

    (POD e PFD) presentes na banana.

    Cintica de inativao enzimtica:

    As reaes enzimticas nos alimentos normalmente ocorrem a uma taxa que

    limitada pela concentrao das enzimas presentes.

    Geralmente considerado que a inativao trmica de enzimas segue a

    cintica de primeira ordem, eq. (2.1a) e (2.1b) (TOLEDO, 1991):

    AkdtdA

    r =-= (2.1a)

    tkAA

    -=

    0

    ln (2.1b)

    em que:

    A0 a atividade enzimtica no tempo zero

    A a atividade enzimtica a qualquer tempo

    k a constante de velocidade de 1 ordem

    r a taxa de reao

    Desvios dessa cintica tm sido descritos por vrios pesquisadores. Modelos

    tm sido propostos para explicar as inativaes no lineares. Entre os modelos, um

    multicomponente de 1 ordem expresso como a soma da cintica de seus

    componentes, supondo que cada componente segue a inativao da 1 ordem durante

    o aquecimento. Este modelo tem sido estudado principalmente para a inativao

    trmica de enzimas consistindo de isoenzimas com estabilidades trmicas diferentes

    (CERF, 1977; BAILEY; OLLER, 1986 apud FUJIKAWA; ITOH, 1996).

    Teoria

    (TOLEDO, 1991); (HELDMAN; LUND, 1992); (FUJIKAWA; ITOH, 1996);

    (POLAKOVIC; VRBEL, 1996); (BOBROVNIK, 2000)

  • 15

    Considerando uma amostra de enzimas constituda de m componentes que so

    independentemente inativadas termicamente seguindo a cintica de 1 ordem sob

    certas condies:

    Por definio temos, eq. (2.2):

    ( )tkexpCC ii i -= 0 (2.2)

    iC0 e iC so as atividades da enzima por unidade de volume no tempo 0 e t,

    respectivamente, sendo k1>k2.......>km>0. Ento, eq. (2.3):

    =

    =m

    iiCC

    1

    , =

    =m

    ii

    CC1

    00 (2.3)

    Se a definido como a razo residual de 0CC no tempo t, a razo expressa

    usando as eq. 2.2 e 2.3, como segue:

    ( )

    =

    =

    -=

    m

    i

    m

    ii

    i

    i

    C

    tkCa

    10

    10 exp

    (2.4)

    Polakovic; Vrbel (1996) apresentam uma reviso sobre avaliao isotrmica

    de cintica de inativao de enzimas utilizando dados de literatura exibindo desvios

    da cintica de 1 ordem.

    Segundo os autores, a informao principal para elucidar a cintica da

    inativao enzimtica pela medida da atividade. A medida da atividade d uma

    informao ambgua se a enzima ativa representada por uma nica forma. A

    atividade total da enzima, A, geralmente igual soma das atividades das formas

    ativas da enzima, Ai, eq (2.5). :

    i

    m

    ii

    m

    ii CAA

    ====

    11g (2.5)

    em que ig so as atividades especficas molares das isoenzimas e so funo da

    concentrao do substrato S, temperatura T, pH e de outras variveis:

    ( ),.....,, pHSTfi =g (2.6)

  • 16

    A atividade usualmente dada como um valor relativo a atividade inicial i

    A0 ,

    definida pela eq.(2.4) e reescrita como:

    =

    =

    == m

    ii

    m

    iii

    iC

    C

    AA

    a

    10

    1

    0 g

    g (2.7)

    As eq. (2.5) a (2.7) refletem os problemas metodolgicos encontrados na

    anlise da cintica de inativao enzimtica. Como a inativao representada por

    um conjunto de reaes entre diferentes isoenzimas, para a avaliao da cintica seria

    altamente til conhecer o contedo de cada isoforma. Alm disso, no se conhece a

    atividade molar das isoformas. Ento, segundo Polakovic; Vrbel (1996), difcil

    decidir pela curva de inativao se uma reao reversvel ou irreversvel, se reaes

    paralelas tomam lugar sobre uma mesma isoforma ou no, ou se compostos

    intermedirios so ativos ou inativos.

    Tem sido demonstrado como equaes de cintica simples (principalmente

    cintica de 1 ordem) podem distinguir um comportamento cintico mais complexo.

    Considerando como exemplo o mecanismo reversvel simples:

    k1

    1E D (2.8)

    k2

    onde 1E a forma ativa nativa e D representa a forma inativa da enzima. Se somente

    1E est presente inicialmente, a seguinte relao da atividade a, no tempo t, obtida:

    ( )( )tkkkk

    kkk

    ka +-

    +

    -++

    = 2121

    2

    21

    2 exp1 (2.9)

    A eq. (2.9) representa matematicamente uma funo uniexponencial na forma

    de: ( ) ( )tdbba -+-= 111 exp1 (2.10)

    onde 21

    11 kk

    kb

    += e ( )211 kkd += , que tem um valor de 1 para 0=t e

    assimptoticamente aproxima um valor diferente de zero para tempo infinito.

    A Tabela 2.1 mostra que existem outros dois mecanismos cuja relao entre a

    atividade enzimtica e o tempo pode ser expressa na forma da eq. (2.10).

  • 17

    O nmero de mecanismos equivalentes aumenta consideravelmente se o

    mecanismo de inativao torna-se mais complexo. A Tabela 2.2 mostra que seis

    mecanismos, consistindo de duas reaes, correspondem eq. (2.11) escrita da

    seguinte forma (para duas isoformas):

    ( ) ( ) ( )tdbtdba --+-= 2111 exp1exp (2.11)

    que a equao integral mais comum aplicada s inativaes que apresentam desvios

    significativos da 1 ordem.

    Tabela 2.1 Parmetros de cintica e as constantes de velocidade para mecanismos

    de uma reao de acordo com a equao: ( ) ( )tdbba -+-= 111 exp1 .

    k1 e k2 so as constantes de velocidade e 12 gg a razo das atividades

    molares das formas E1 e E2.

    Mecanismo 1b 1d k2

    1E D D k1 21

    1

    kkk+

    21 kk +

    k2 1E D 2E

    k1

    -

    + 12

    21

    1 1gg

    kkk

    21 kk +

    1E " 2E

    k1 121

    gg

    - 1k

    Fonte: POLAKOVIC; VRBEL, 1996

  • 18

    Tabela 2.2 Mecanismo rvore demonstrando o carter diversificado da atividade

    enzimtica. Os mecanismos no mesmo nvel na rvore do perfis de

    atividade tempo idnticos, correspondentes a: a. para o 1 nvel:

    ( )tda -= 1exp ; b. para o 2 nvel: ( ) ( )tdbba -+-= 111 exp1 ; c. para o

    3 nvel ( ) ( ) ( )tdbtdba --+-= 2111 exp1exp ; d. para o 4 nvel:

    ( ) ( ) ( )tdbtdbbba -+-+--= 221121 expexp1 .

    Fonte: POLAKOVIC; VRBEL, 1996

    D E 1

    D E 1 2 1 1 D D E

    2 1 1 1 ; D E D E

    2 1 E E D E E 2 1

    2 2 1 1 ; D E D E

    2 1 1 D D E

    2 1 1 1 ; E E D E

    2 1 1 1 ; D E D E

    D E E 2 1

    3 2 1 E E E

    3 2 1 E E E

    2 2 1 1 ; D E D E

    2 2 1 1 ; D E D E D E E E 2 3 1 ;

    D E E E 2 3 1 ;

    D E E E 2 3 1 ;

    D E E E 2 3 1 ;

    4 2 3 1 ; E E E E

    4 2 3 1 ; E E E E

    4 2 3 1 ; E E E E

    2 1 E E

    D E E E 1 2 1 ;

    D E E E 1 2 1 ;

    3 1 2 1 ; E E E E

    3 1 2 1 ; E E E E

    D E E 2 1

    D E E 2 1 3 2 1 E E E

    3 2 1 E E E

  • 19

    Efeito da temperatura:

    Investigaes dos efeitos da temperatura sobre a inativao enzimtica so

    comumente conduzidas para obter as condies timas de processo. Se os parmetros

    de cintica so avaliados a cada temperatura, isto providencia uma oportunidade para

    melhorar a anlise do mecanismo e cintica de inativao. Isto consiste de: 1. o

    mecanismo de inativao deve ser validado a cada temperatura; 2. a equao de

    cintica deve conter parmetros que no devem mudar com a temperatura; 3. os

    parmetros dependentes da temperatura devem apresentar uma correlao

    consistente, como por exemplo, esperado que as constantes de velocidade

    obedeam a equao de Arrhenius.

    Exemplos de parmetros cinticos no dependentes da temperatura so a

    razo das atividades iniciais nos modelos das isoenzimas ou a razo das atividades

    molares nos modelos seqenciais.

    Murasaki; da Silva; Tadini (2004) estudaram a inativao trmica da POD e

    PFD presentes na gua de coco verde por processo trmico descontnuo. Os autores

    sugeriram que, no mnimo, duas isoenzimas da POD e da PFD, esto presentes com

    diferentes termoestabilidades. Um modelo multicomponente de primeira ordem de 3

    parmetros foi proposto para explicar a inativao trmica em processo descontnuo

    para a PFD e um modelo multicomponente de primeira ordem de 4 parmetros para

    explicar a inativao trmica em processo descontnuo para a POD. Os modelos

    indicaram que tempos de inativao superior a 400 s a 90 C no trouxeram

    benefcios em relao inativao da POD e PFD, no entanto, a gua de coco seria

    sobre-processada, diminuindo a sua qualidade nutricional e sensorial.

    A cintica de inativao da polifeno loxidase e peroxidase tambm foi

    estudada por Ditchfield; Tadini (2004). Os autores estudaram essas duas enzimas

    presentes no pur de banana, em trocador tubular com tempo de reteno variando de

    5,5 a 5,3 s e temperaturas de 69,8 a 100,1 C. As bananas foram despolpadas e

    acrescidas de cido ascrbico (0,2 %) e cido ctrico para reduzir o pH a valor

    inferior a 4,5. Aps o tratamento trmico do pur, as enzimas foram extradas

    segundo Cano; Marin; Fster (1990).

  • 20

    Os autores ajustaram os dados ao modelo multicomponente de primeira

    ordem, pois as enzimas apresentaram inativao bifsica indicando uma taxa de

    inativao na segunda fase menor que na primeira, devido presena de duas

    isoenzimas. A melhor condio de processo foi de 2,87 s na temperatura de

    referncia de 96,4 C, pois a partir dessa condio houve alterao da qualidade do

    pur e a reduo da atividade enzimtica no foi significativa.

    Soysal; Sylemez (2005) estudaram o tratamento trmico descontnuo da

    POD em cenoura. Foram imersos tubos contendo 2 mL do extrato cru da cenoura em

    banho de gua com temperatura variando de 35-75 C. As amostras foram retiradas

    em diferentes intervalos de tempo e rapidamente resfriadas em banho de gelo.

    O grfico mono-log da porcentagem da atividade residual pelo intervalo de

    tempo apresentou dois trechos lineares para temperaturas abaixo de 75 C, indicando

    a existncia de fraes mais e menos resistentes. Este resultado pode ser descrito por

    um modelo bifsico de primeira ordem. Esse modelo baseado na presena de 2

    grupos de isoenzimas com estabilidades trmicas distintas, uma frao menos

    resistente, que sofre uma rpida inativao e uma frao mais resistente que no foi

    inativada num curto perodo de tempo. A inativao trmica a 75 C apresentou-se

    monofsica, indicando a inativao da frao mais resistente (SOYSAL;

    SYLEMEZ, 2005).

    Esses autores tambm estudaram a inativao enzimtica por microondas.

    Um recipiente contendo aproximadamente 350 mL de gua e um suporte para os

    tubos foram colocados no centro do microondas e os tubos contendo 5 mL de extrato

    de enzima foram posicionados acima da superfcie da gua. A gua foi utilizada para

    dissipar o calor e impedir que a temperatura se elevasse muito. O aquecimento por

    microondas foi realizado a 70, 210, 350 e 700 W de potncia em tempos variando de

    15 s a 12 min. O extrato enzimtico foi imediatamente resfriado imergindo os tubos

    em banho de gelo.

    A inativao da POD pelo aquecimento por microondas seguiu a cintica de

    primeira ordem para todos nveis de microondas utilizados. O comportamento

    bifsico da inativao enzimtica foi observado no tratamento com microondas a 70

    e 210 W, sendo que a 350 e 700 W, a inativao foi monofsica. Como o controle de

    temperatura no foi aplicado ao sistema, a inativao da POD em cenouras pode ter

  • 21

    sido causada pela combinao da temperatura com o efeito das microondas. A fase

    monofsica para os altos valores de potncia pode ser explicada pela elevao da

    temperatura que inativou a frao mais resistente da enzima (SOYSAL;

    SYLEMEZ, 2005).

    Valderrama; Clemente (2004) estudaram a inativao da POD presente no

    extrato enzimtico da casca e polpa de mas tipo Gala e Fuji. Em ambos os tipos, a

    atividade da peroxidase foi maior na casca. O concentrado enzimtico extrado da

    casca e da polpa foi submetido a tratamento trmico a 65, 70, 75 e 80 C e a mxima

    inativao obtida foi de 70 % para a isoenzima aninica isolada da casca e da polpa

    em mas dos tipos Gala e Fuji. Entretanto, o mesmo tratamento aplicado a

    isoenzima catinica apresentou uma inativao mxima de 20 %. A inativao

    trmica da peroxidase mostrou-se no linear em relao aos fatores de tempo e

    temperatura, concluindo que as isoenzimas possuem diferentes resistncias trmicas.

    Collet et al. (2005) estudaram a cintica de inativao da pectinesterase (PE)

    em pasteurizao contnua de suco de laranja utilizando um trocador de calor a

    placas. Os experimentos foram realizados em trs temperaturas (82,5 C, 85,0 C e

    87,5 C) e tempos de reteno variando entre 11,1 e 8,5 s.

    Os autores observaram a influncia do pH do suco de laranja no processado

    na inativao da atividade enzimtica. Dessa maneira, os resultados obtidos foram

    classificados de acordo com o pH. Os autores ajustaram os dados referentes ao

    intervalo do pH do suco natural entre 3,8 3,9, a um modelo multicomponente de

    primeira ordem com trs parmetros, proposto por Fujikawa e Itoh (1996), que

    considera a presena de dois grupos de isoenzimas com termoresistncias diferentes.

    Comparando os modelos obtidos para as trs temperaturas, o processo a 82,5 C

    apresentou uma maior inativao enzimtica do que a 85,0 C, fato que pode ser

    explicado pela diferena na proporo das duas isoenzimas presentes no suco de

    laranja e seu diferente comportamento frente ao pH.

    Tadini; Tribess; Silva (2004) estudaram a correlao dos parmetros do

    modelo no- linear com o pH na inativao trmica da pectinesterase (PE) em suco de

    laranja minimamente pasteurizado, em trocador de calor a placas. Duas variedades de

    laranja, Citrus aurantium L. e Citrus aurantifolia, foram utilizadas para obter

    misturas de pH ajustado nos valores 3,6; 3,7; 3,8; 3,9; 4,0 e 4,1. Os sucos foram

  • 22

    processados em trs temperaturas diferentes (82,5 C, 85,0 C e 87,5 C) em 6

    tempos de reteno, para cada condio.

    Com os resultados de cintica obtidos, os autores propuseram um modelo de

    primeira ordem com trs parmetros, indicando a presena de duas isoenzimas com

    diferentes termoresistncias. O parmetro a (atividade da frao da isoenzima 1 em

    relao a inativao enzimtica total) para cada pH estudado, foi influenciado pela

    temperatura de processo, com um aumento da termolabilidade da frao da

    isoenzima com o aumento da temperatura. A constante de velocidade k1 variou de

    maneira similar em relao ao pH e temperatura, tendo pontos mnimos em pH 3,8 e

    3,9 em temperatura de 85,0 C. Os maiores valores da constante de velocidade foram

    encontrados nos valores extremos de pH e temperatura. Esses mesmos autores

    encontraram uma maior inativao no pH 3,6 e 85,0 C e pH 3,7 a 85,0 C e 87,5 C.

    Nesses casos 99,9% de inativao foi obtida em tempos de reteno menores que 15

    segundos. Com os dados de cintica obtidos, os autores observaram um ponto de

    inflexo na inativao da pectinesterase no pH 3,8, com mnima inativao.

  • 23

    3. MATERIAIS E MTODOS

    A parte experimental foi constituda de duas etapas. Na primeira etapa, a gua

    extrada de cocos verdes foi submetida a processo trmico contnuo em trocador de

    calor a placas. Foram realizados ensaios de pasteurizao contnua da gua de coco

    verde em trocador de calor a placas, a temperatura de 90C em tempos de reteno

    de 0; 20; 40; 80; 160; 180 e 300 s. Anlises fsico-qumicas e de atividade residual

    das enzimas na gua de coco no processada e processada foram conduzidas para

    cada ensaio.

    Na segunda etapa, medidas da atividade residual das enzimas presentes na

    gua de coco processada foram realizadas em amostras armazenadas refrigeradas

    (10 C) e congeladas (- 30 C). Tambm foram realizadas anlises fsico-qumicas

    (pH, acidez e turbidez) da gua de coco processada armazenada em trs condies

    diferentes (no ambiente, refrigerada a 10 C e congelada a - 20 C). Foram realizados

    4 processamentos a 90 C com tempos de reteno de 80 s, 120 s, 180 s e 200 s.

    Amostras de gua de coco no processada tambm foram analisadas para

    comparao dos resultados.

    3.1. Matria prima

    Coco verde adquirido no comrcio da cidade de So Paulo

    3.2. Material e Equipamentos

    Balana digital, marca CHYO, modelo JK-200, preciso 0,0001 g, 220V;

    Balana eletrnica de preciso, marca METTLER, modelo PE 11, preciso

    0,1g, 110V;

    Banho de gua termostatizado, marca MLW, modelo U2C, 110V, 0,95kW.

    Banho de gua termostatizado, marca QUIMIS, modelo Q-215 D2, 220V,

    1600W;

    Cronmetro analgico com preciso de 0,1s;

    Densmetro, preciso 0,001g/L;

  • 24

    Espectrofotmetro UV-VIS, marca FEMTO, modelo 700 PLUS, apresentado

    na Figura 3.2.1, provido de jaqueta acoplada em banho de gua termostatizado

    para manter a temperatura constante e cubetas de vidro tico 40 mm, marca

    HELLMA;

    Fig. 3.2.1 Espectrofotmetro UV-VIS, marca FEMTO, modelo 700 plus.

    Freezer horizontal, marca METALFRIO, modelo double action, 110 V,

    -20 C

    Freezer Plasma vertical, marca FANEM, modelo 349 FV, 220 V, -30 C,

    com indicador digital com preciso de 0,5 C;

    Mquina de cubos de gelo, marca DROPSGELO PROSDCIMO, 110 V;

    pH - STAT, marca RADIOMETER, modelo PHM-290, com auto bureta ABU

    901, preciso 0,001 pH, apresentado na Figura 3.2.2;

    Fig. 3.2.2 pH-STAT, marca RADIOMETER, modelo PHM-290.

  • 25

    Refratmetro, marca CARLZEISSJENA, modelo I, preciso 0,1 Brix.

    Refrigerador, marca PROSDCIMO, modelo C41, 110V, mantido a 10 C;

    Termmetro de alta preciso, marca INCOTERM, modelo 1056;

    Termmetro de alta preciso, marca INCOTERM, modelo 2079;

    Trocador de calor ARMIFIELD modelo FT-43 A, tipo placas, de laboratrio,

    com acessrios e componentes: unidade processadora de pasteurizao,

    console de controle, unidade de refrigerao modelo FT61-B, interface de

    aquisio de dados ARMFIELD, modelo FT43 A-90 IFD, transformador de

    voltagem (10A) de 110V para 220 V. A unidade processadora do trocador de

    calor a placas tem as seguintes especificaes:

    Bomba de alimentao: peristltica, construo sanitria e

    velocidade varivel, capacidade mxima 30 L/h;

    Controlador de temperatura: microprocessador com ao PID para o

    aquecedor de gua, faixa de 0 a 100 C;

    Placas lisas de ao inox AISI 316, com gaxetas em Teflon

    sanitrio;

    Sensores de temperatura: seis sensores semicondutores, providos de

    poo de ao inoxidvel para uso em nove possveis pontos de

    medio;

    Sistema de aquecimento: bomba centrfuga de circulao de gua

    quente aquecida por uma resistncia eltrica de capacidade 1,5 kW.

    A vazo de gua quente varivel atravs da vlvula de agulha do

    rotmetro at 1,5 L/min;

    Tanque de alimentao com capacidade de 4 litros;

    Tubos de reteno: S 75,8 cm3, Cilndrico 240,0 cm3, Kitassatos

    de 500 e 1000 cm3;

    Vlvula de desvio de ao inoxidvel, do tipo de trs vias;

    Vidraria comum de laboratrio

  • 26

    3.3. Reagentes

    Solues de hidrxido de sdio 0,001 M; 0,01 M; 0,1 M;

    Soluo tampo citrato 0,2M/fosfato 0,4M pH 6,5;

    Soluo tampo fosfato (0,2M) monobsico/dibsico pH 6,0;

    Soluo tampo cido ctrico/hidrxido de sdio/cido clordrico pH 4,0;

    Soluo tampo di-sdio hirogenofosfato/potssio di-hidrogenofosfato pH 7,0;

    Soluo tampo cido brico/cloreto de potssio/hidrxido de sdio pH 10,0;

    Soluo perxido de hidrognio 15 mL/L

    Substrato fenlico catecol, procedncia MERCK 1596140005;

    Substrato fenlico p-fenilenediamina 10 g/L, MERCK 8072460005

    3.4. Parte experimental

    3.4.1. Processamento contnuo

    Para o processamento contnuo foi utilizado o trocador de calor a placas da

    marca ARMFIELD modelo FT-43, Figura 3.4.1.1, provido de placas lisas com uma

    seo de regenerao com arranjo de dez passes de uma passagem, uma seo de

    aquecimento com arranjo de seis passes de uma passagem e uma seo de

    resfriamento com arranjo de quatro passes de uma passagem.

    Para cada tempo de reteno dos processos da gua de coco a 90 C foram

    utilizados diferentes tubos de reteno, como apresentado na Tabela 3.4.1.1. Os

    kitassatos foram imersos em banho de gua termostatizado, marca QUIMIS, para que

    no houvesse queda da temperatura durante a passagem do produto pelos tubos de

    reteno.

    Aps a montagem dos tubos de reteno no trocador de calor a placas, as

    mangueiras com os tubos foram soltos e cheios de gua. Os volumes dos tubos de

    reteno foram medidos em proveta.

  • 27

    Fig. 3.4.1.1 Trocador de calor ARMFIELD modelo FT-43, com tubo de reteno

    forma de S.

    Tabela 3.4.1.1 Conjuntos de tubos de reteno utilizados no trocador de calor a

    placas para obteno dos tempos de reteno de 20, 40, 80, 120,

    160, 180 e 300 s, de acordo com a vazo do produto.

    Para o estudo de cintica de inativao da POD e PFD foram utilizados 5

    lotes diferentes de gua de coco verde, sendo que os processos a 90C por 40 e 80 s

    foram realizados com o mesmo lote de gua de coco. Foi utilizado um lote diferente

    de gua de coco para cada processo realizado para o estudo da atividade enzimtica

    na gua de coco, durante o perodo de armazenamento.

    Os cocos de cada lote foram lavados e pesados antes e aps a abertura da

    fruta. A gua extrada foi recolhida num recipiente de ao- inoxidvel imerso em

    banho de gelo, para manter a atividade inicial das enzimas peroxidase e

    polifenoloxidase na alimentao do trocador durante todo o processo.

    V (cm3) Conjuntos

    84,80 tubo S + mangueiras

    306,67 tuboS+ tubo cilndrico+ mangueiras

    612,50 kitassato 500 + mangueiras

    780,00 tubo cilndrico+ kitassato 500 + mangueiras

    1220,00 Tubo cilndrico+ kitassato 1000 + mangueira

  • 28

    3.4.2. Amostragem

    Para o estudo de cintica de inativao enzimtica, para cada processamento,

    amostras de 2,5 mL de gua de coco no processada foram recolhidas em 6 tubinhos

    imersos em banho de gelo e imediatamente congelados para posterior anlise da

    atividade inicial da POD e PFD.

    Amostras de 2,5 mL da gua de coco processada foram recolhidas em tubinhos

    imersos em banho de gelo e imediatamente congelados para posterior anlise da

    atividade enzimtica da POD e PFD.

    Para a caracterizao de cada lote, gua de coco foi extrada de 40 cocos e

    anlises de densidade, slidos solveis, slidos totais, cinzas, pH, acidez e turbidez,

    foram conduzidas.

    O fluxograma, mostrado na Figura 3.4.2.1, apresenta a amostragem realizada

    para o estudo do comportamento da atividade das enzimas presentes na gua de coco,

    durante o tempo de armazenamento.

    Amostras de gua de coco processada e no processada foram recolhidas em

    garrafas de 250 mL para anlises fsico-qumicas (pH, acidez e turbidez) durante o

    tempo de armazenamento em temperatura ambiente, refrigerada e congelada.

    Amostras de 2,5 mL da gua de coco no processada foram recolhidas em

    tubinhos imersos em banho de gelo, para medida da atividade da POD e PFD. As

    amostras foram armazenadas congeladas a 30 C.

    Amostras de 2,5 mL da gua de coco processada foram recolhidas em tubinhos

    imersos em banho de gelo, para medida da atividade enzimtica da POD e PFD.

    Metade dos tubinhos foi armazenada em geladeira (10 C) e outra metade

    armazenada em freezer (-30 C).

    Em intervalos regulares (diariamente para as amostras no ambiente, 3 dias para

    as amostras armazenadas refrigeradas e 7 dias para as amostras congeladas) as

    anlises fsico-qumicas e/ou da atividade enzimtica foram conduzidas.

  • Figura 3.4.2.1 Fluxograma de amostragem da gua de coco no processada e processada armazenada em trs condies de armazenamento

    (ambiente, refrigerada e congelada).

    GUA DE

    COCO

    gua de coco no processada

    gua de coco processada

    Caracterizao do lote

    30 Garrafas de 250 mL

    30 Garrafas de 250 mL

    40 Tubinhos com 2,5 mL

    Ambiente

    Geladeira

    Congelador

    Anlises fsico-qumicas

    Congelador

    Anlise da atividade da POD e

    PFD

    80 tubinhos com 2,5 mL

    Geladeira

    Ambiente

    Congelador

    Congelador

    Geladeira

    Anlises fsico-qumicas

    Anlise da atividade da POD e

    PFD

    Atividade enzimtica

    inicial

  • 30

    3.4.3. Anlises

    3.4.3.1. Anlises fsico-qumicas

    Slidos solveis (Brix): Medido em refratmetro da marca Carlzeissjena,

    com correes de acidez e temperatura (KIMBALL, 1991).

    Slidos totais: obtidos segundo o mtodo da AOAC e Instituto Adolfo Lutz,

    secando 10g da amostra de gua de coco a 70C, sob baixa presso (< 100

    mmHg), com pesagens consecutivas em intervalos de duas horas, at peso

    constante (ESTADOS UNIDOS, 1995); (BRASIL, 1976).

    Cinzas: As anlises de cinzas foram realizadas logo aps o processo de

    slidos totais, segundo o Instituto Adolfo Lutz , em cpsulas de porcelana em

    mufla a 550C (BRASIL, 1976).

    Densidade: Medido com o densmetro com preciso 0,001g/L (BRASIL,

    1976).

    pH: As medidas de pH foram obtidas diretamente no pH-stat Radiometer,

    modelo PHM-29.

    Acidez titulvel: Realizado no pH-Stat at atingir pH de 8,2, referente a pH

    de mudana de colorao do indicador fenolftalena (ESTADOS UNIDOS,

    1995).

    Turbidez: Determinada por espectrofotometria a 610 nm (relativa gua

    destilada). No comprimento de onda, para cada amostra foi lida a

    Absorbncia (A). Os valores de Transmitncia foram calculados de acordo

    com a relao:

    Tr = (10 A)*100

    A turbidez foi calculada a partir de: T = 100-Tr

  • 31

    3.4.3.2. Anlise da atividade enzimtica

    Atividade da enzima peroxidase (POD)

    Preparao das solues utilizadas:

    A soluo tampo citrato 0,2M/fosfato 0,4M (pH 6,5) foi preparada a partir

    das solues de Na2HPO4 e cido ctrico. Essas duas solues foram misturadas na

    proporo de 2,45 mL Na2HPO4: 1 mL cido ctrico. O acerto para pH 6,5 foi feito

    pela adio da soluo de Na2HPO4 para aumentar o pH e cido ctrico para

    diminuir.

    A soluo de Na2HPO4 foi preparada adicionando-se 35,814 g de Na2HPO4

    com 250 mL de gua destilada em um balo volumtrico. A soluo de cido ctrico

    foi preparada adicionando-se 4,2016 g de cido ctrico com gua destilada em um

    balo volumtrico de 100 mL.

    A soluo de p-fenilenediamina foi preparada adicionando-se 0,25 g de

    p-fenilenediamina com gua destilada em um balo volumtrico de 25 mL. Como a

    soluo fenlica degrada com o tempo, foi preparada no dia da anlise.

    A soluo de perxido de hidrognio foi preparada adicionando-se 1,5 mL de

    perxido de hidrognio com gua destilada em um balo volumtrico de 100 mL.

    Procedimento:

    A metodologia utilizada para a anlise da POD foi adaptada da metodologia

    sugerida por Cano; Marin; Fster (1990), para anlise dessa enzima em banana.

    Em um tubo de ensaio, foram adicionados e homogeneizados: 10,8 mL de

    soluo tampo citrato 0,2 M/fosfato 0,4 M pH 6,5; 0,8mL de p-fenilinediamina

    10 g/L e 0,4 mL de perxido de hidrognio 15 mL/L. A mistura foi transferida para a

    cubeta de vidro tico e esta foi inserida na cmara de leitura provida de jaqueta

    acoplada a um banho de gua termostatizado ajustado temperatura de 25 C. Aps

    a obteno do valor de referncia (0,000 de absorbncia), 1mL de gua de coco foi

    adicionado na prpria cubeta e agitado com uma bagueta de vidro.

  • 32

    A absorbncia foi lida no espectrofotmetro ajustado ao comprimento de

    onda de 485 nm em intervalos de tempo de 10 segundos, pois a absorbncia variou

    muito rapidamente .

    Todas as anlises da atividade enzimtica foram realizadas em duplicata. A

    unidade da atividade da POD medida foi definida como: (U/s.mL.Brix) e a atividade

    residual como: (POD/PODi).

    Atividade da enzima polifenoloxidase (PFD)

    Preparao das solues ut ilizadas:

    A soluo tampo fosfato 0,2 M de pH 6,0 foi preparada em um balo

    volumtrico de 1L, adicionando-se 57 mL de soluo de NaOH 0,2 M e 500 mL de

    soluo de KH2PO4 0,2 M e completando o volume com gua destilada.

    A soluo de catecol 0,2 M foi preparada adicionando-se 0,5555 g de catecol

    com 25 mL de gua destilada em um balo volumtrico. Como a soluo fenlica

    degrada com o tempo, foi preparada no dia da anlise.

    Procedimento:

    Em um tubo de ensaio, foram adicionados e homogeneizados: 5,5 mL de

    soluo tampo fosfato 0,2 M (pH 6,0) e 1,5 mL de soluo de catecol 0,2 M. A

    mistura foi transferida para a cubeta de vidro tico e esta inserida na cmera de

    leitura provida de jaqueta acoplada a um banho de gua termostatizado ajustado

    temperatura de 25 C. Aps a obteno do valor referncia (0,000 de absorbncia),

    1 mL de gua de coco foi adicionado na prpria cubeta e agitado com uma bagueta

    de vidro.

    A absorbncia foi lida no espectrofotmetro ajustado ao comprimento de

    onda de 425 nm em intervalos de tempo de 30 segundos (PONTING; JOSLYN,1948

    apud CAMPOS et al.,1996).

    Todas as anlises da atividade enzimtica foram realizadas em duplicata. A

    unidade da atividade da PFD medida foi definida como: (U/s.mL.Brix) e a atividade

    residual como: (PFD/PFDi).

  • 33

    4. RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1 Caracterizao dos lotes de gua de coco

    A Tabela 4.1.1 apresenta a correspondncia entre os lotes de gua de coco e

    as condies de processo. Os lotes A, B, C, D e E foram utilizados nos processos

    para o estudo de cintica de inativao das enzimas POD e PFD, enquanto que os

    lotes F, G e I foram utilizados nos processos para o estudo do comportamento da

    atividade enzimtica da POD e PFD e anlises fsico-qumicas, da gua de coco no

    processada e processada durante o tempo de armazenamento em temperatura

    ambiente, refrigerada e congelada. A gua de coco do lote H a mesma utilizada no

    estudo de cintica, que corresponde ao processo a 90 C por 180 s e foram utilizadas

    duas nomenclaturas para o mesmo lote, para facilitar a identificao nos resultados

    que sero apresentados.

    Tabela 4.1.1 Correspondncia entre os lotes de gua de coco e as condies de

    processo.

    Os cocos de todos os lotes foram pesados antes e aps a extrao da gua de

    coco e o rendimento mdio foi de 27,8 %. Tambm foram medidos os volumes de

    gua extrada dos cocos e constatou-se uma variao de 270 a 960 mL de gua entre

    os cocos. Essa variao no foi apenas entre os lotes, mas tambm entre os cocos do

    mesmo lote.

    Lote Condio de processo

    A 90 C, 20 s B 90 C, 40 s B 90 C, 80 s C 90 C, 160 s

    D, H 90 C, 180 s E 90 C, 300 s F 90 C, 80 s G 90 C, 120 s I 90 C, 200 s

  • 34

    A Tabela 4.1.2 apresenta os valores mdios obtidos nas anlises de acidez,

    pH, cinzas, slidos totais, slidos solveis, densidade e turbidez, realizadas para a

    caracterizao dos lotes de gua de coco.

    Tabela 4.1.2 Valores mdios obtidos nas anlises de acidez, pH, cinzas, slidos

    totais, slidos solveis, densidade e turbidez da gua extrada dos

    cocos.

    Lote Acidez1

    (%) pH Cinzas

    (%) ST (%)

    SS2 (Brix)

    Densidade (g/mL)

    Turbidez

    (%)

    A 0,01+0,01 5,220+0,000 0,3615+0,0097 5,1976+0,0080 5,1+0,0 1,022+0,000 83,887

    B 0,13+0,00 4,993+0,007 0,4196+0,0056 3,1112+0,3692 5,1+0,0 1,021+0,001 54,003

    C 0,02+0,00 5,271+0,004 0,3699+0,0216 4,0370+0,0158 5,1+0,0 1,022+0,000 61,293

    D,H 0,12+0,03 4,925+0,002 0,3297+0,0454 5,1832+0,3848 5,0+0,0 1,021+0,000 37,037

    E 0,08+0,01 5,067+0,020 0,3542+0,0112 4,9229+0,0145 5,1+0,0 1,022+0,000 64,069

    F 0,09+0,00 4,989+0,004 0,3559+0,0056 5,8322+0,2464 5,4+0,0 1,023+0,000

    G 0,09+0,01 5,192+0,000 0,3721+0,0034 5,6365+0,0161 5,2+0,0 1,022+0,000 62,436

    I 0,05+0,01 5,320+0,002 0,3733+0,0020 6,0704+0,0103 5,6+0,0 1,022+0,000 51,600

    1 Acidez expressa em porcentagem de cido mlico 2 Teor de slidos solveis expresso em Brix corrigido pela temperatura e pela acidez

    A ANOVA foi aplicada a esses dados com intervalo de confiana de 95 %. A

    anlise indicou diferena significativa na acidez, pH, slidos totais e densidade entre

    os lotes. No houve diferena significativa para os dados de cinzas. Pelo fato de a

    anlise de turbidez no ter sido realizada em duplicata, seus dados foram analisados

    pelo teste pareado que indicou diferena significativa entre os lotes. Os valores de

    slidos solveis foram analisados pelo teste pareado, pois apesar de terem sido

    realizadas medidas em duplicata os resultados foram iguais. Os lotes A, B, C e E

    apresentaram o mesmo teor de slidos solveis e diferiram dos demais.

  • 35

    4.2 Cintica de inativao enzimtica

    Para o estudo da cintica de inativao enzimtica, foram processados os

    lotes A, B, C, D e E de gua de coco no trocador de calor a placas, conforme descrito

    no item 3.4.1. O tempo real de processo foi calculado de acordo com o volume dos

    tubos de reteno e a vazo do produto, como apresentado na Tabela 4.2.1. A

    temperatura mdia real de todos os processos realizados para o estudo de cintica de

    inativao da POD e PFD foi de 88,0 + 1,3 C.

    Tabela 4.2.1 Tempos reais dos processos realizados no trocador de calor a placas,

    de acordo com o volume dos tubos de reteno.

    Lotes Volume do arranjo (mL)

    Vazo (g/min)

    Tempo real (s)

    A 84,8 241,8 21,5 B 306,7 497,2 37,8 B 306,7 262,9 71,5 C 612,5 233,4 160,9

    D,H 780,0 281,8 169,6 E 1220,0 248,6 301,0 F 306,7 231,3 81,3 G 612,5 339,4 110,7 I 780,0 218,2 218,9

    A Tabela 4.2.2 apresenta os valores de atividade residual das enzimas

    presentes na gua de coco processada a 90 C por tempos de reteno variando entre

    21,5 s e 379,8 s. A modelagem de cintica foi baseada nos dados desse trabalho,

    juntamente com os dados obtidos por Murasaki; da Silva; Tadini (2004). O valor de

    atividade residual a razo entre a atividade enzimtica aps o processo e da gua de

    coco no processada. A atividade enzimtica inicial na gua de coco variou de

    4,6170x10-6 a 2,3033x10-3 (U/s.mL.Brix) para a POD e de 1,8695x10-5 a 5,7601x10-

    5 (U/s.mL.Brix) para a PFD.

  • 36

    Tabela 4.2.2 Valores da atividade residual da POD e PFD na gua de coco

    processada a 90 C em tempos de reteno variando entre 21,5 e

    379,8 s.

    Condio de processo

    POD/POD0 PFD/PFD0

    No processada 1,0000 1,0000

    90 C; 21,5 s 0,0353

    0,0343 0,3257

    90 C; 26,6 s 0,0303 0,5023

    0,0303 0,4027

    90 C; 37,8 s 0,1380 0,4191

    0,1287 0,4443

    90 C; 45,5 s 0,0175 0,2136

    0,0117 0,2136

    90 C; 71,5 s 0,0226 0,2592

    0,0210 0,2474

    90 C; 76,9 s 0,0126 0,3194

    0,0063 0,4161

    90 C; 138,9 s 0,0144 0,2087

    0,0096 0,2239

    90 C; 160,9 s 0,0328 0,3747

    0,0317 0,2715

    90 C; 169,9 s 0,0472 0,2238

    0,0184 0,2177

    90 C; 200,6 s 0,0150 0,1310

    0,0150 0,1416

    90 C; 287,5 s 0,0230 0,1376

    0,0230 0,1340

    90 C; 301 s 0,0377 0,2048

    0,0373 0,2065

    90 C; 379,8 s 0,0221 0,0924

    0,0221 0,1597

  • 37

    Esses valores de atividade residual foram ajustados segundo os modelos

    multicomponentes de primeira ordem propostos por Polakovic; Vrbel (1996).

    Segundo os autores, para a obteno da curva de cintica de inativao so

    necessrios pelo menos 6 pontos, excluindo o valor inicial .

    Os valores de atividade residual da POD foram ajustados ao modelo

    multicomponente de 1a ordem com 2 parmetros, apresentado na eq.( 4.2.1):

    A/A0 = (1-a) + a e-k1t (4.2.1)

    Onde: a a atividade da frao da isoenzima menos termorresistente em relao a

    atividade enzimtica total;

    k1 a constante de reao (s-1) da isoenzima.

    Os valores de atividade residual da PFD foram ajustados ao modelo

    multicomponente de 1a ordem com 3 parmetros, eq. (4.2.2):

    A/A0 = a e-k1t + (1-a) e-k2t (4.2.2)

    Onde: a a atividade da frao da isoenzima 1 menos termorresistente em relao a

    atividade enzimtica total;

    k1 a constante de reao (s-1) da isoenzima 1;

    k2 a constante de reao (s-1) da isoenzima 2, na mesma temperatura.

    A Tabela 4.2.3 apresenta os resultados da regresso no linear utilizando o

    mtodo de Marquardt, do programa estatstico Statgraphics V. 4.0, para o modelo da

    POD e PFD.

  • 38

    Tabela 4.2.3 Parmetros do modelo multicomponente de primeira ordem com 2 e 3

    parmetros para a POD e PFD, respectivamente.

    O modelo multicomponente de 1a ordem com 3 parmetros foi o que melhor

    elucidou a cintica de inativao da PFD a 90 C, assim como o modelo proposto por

    Murasaki; da Silva; Tadini (2004).

    Murasaki; da Silva; Tadini (2004) propuseram um modelo multicomponente

    de 1a. ordem com 3 parmetros para explicar a cintica de inativao da POD a

    90 C. Segundo Polakovic; Vrbel (1996) o modelo a ser escolhido deve ser o mais

    simples que apresenta uma boa correlao dos dados, por isso o modelo de 1a. ordem

    com 2 parmetros foi proposto, pois o coeficiente de determinao obtido

    (R2 = 97,16%) indicou um bom ajuste dos dados experimentais.

    A Figura 4.2.1 apresenta a isoterma de inativao trmica a 90 C da POD e

    PFD, com os dados obtidos experimentalmente e os modelos propostos.

    Parmetros do modelo

    a k1 (s-1) k2 (s-1) R2 POD 0,9688 0,2028 97,16 PFD 0,6367 0,0920 0,0028 83,28

  • 39

    Fig. 4.2.1 Isoterma de inativao trmica a 90 C da POD e PFD, presente na gua

    de coco.

    Os resultados obtidos neste trabalho confirmam a presena de duas

    isoenzimas POD e PFD presentes na gua de coco, apresentando termoestabilidade

    diferente. A PFD mostrou-se mais termorresistente do que a POD, quando a gua de

    coco foi submetida a processo contnuo a 90 C. Murasaki; da Silva; Tadini (2004)

    tambm observaram que a polifenoloxidase foi mais termorresistente do que a

    peroxidase em processo descontnuo da gua de coco verde.

    Pela Figura 4.2.1, observa-se que tempos superiores a 200 s a 90 C no

    causaram um acrscimo significativo na inativao da PFD, entretanto se tempos

    superiores a 200 s a 90 C forem empregados, poder causar maiores perdas

    sensoriais na gua de coco. Observa-se tambm que nessa condio (90 C, 200 s)

    uma inativao mxima de 80 % da PFD foi obtida, enquanto que para a POD a

    inativao foi da ordem de 97 %.

    Em funo desses resultados, foi proposta uma segunda etapa neste trabalho,

    para verificar a estabilidade enzimtica e fsico-qumica da gua de coco verde no

    processada e processada (90 C, 120 s; 90 C, 180 s; 90 C, 200 s) sob trs diferentes

    condies de armazenamento (no ambiente, refrigerada e congelada).

    Isoterma de cintica de inativao da POD e PFD a 90 C

    0.0000

    0.1000

    0.2000

    0.3000

    0.4000

    0.5000

    0.6000

    0.7000

    0.8000

    0.9000

    1.0000

    1.1000

    0.0 50.0 100.0 150.0 200.0 250.0 300.0 350.0 400.0

    Tempo de reteno (s)

    A/A

    i

    dados experimentais POD modelo POD dados experimentais PFD modelo PFD

  • 40

    4.3 Atividade enzimtica da POD e PFD e anlises fsico-qumicas da gua de

    coco verde durante o armazenamento

    Para o estudo da atividade enzimtica e anlises fsico-qumicas da gua de

    coco verde durante o armazenamento, a gua de coco dos lotes F, G, H e I foram

    processadas conforme descrito no item 3.4.1. A amostragem foi feita de acordo com

    a Figura 3.4.2.1. Essas condies de processo foram escolhidas com base no modelo

    de cintica obtido. A temperatura real mdia dos processos dos lotes G, H e I foi

    89,2+1.7 C, enquanto que a temperatura real mdia do processo do lote F foi 85,5 +

    3,2 C.

    A Tabela 4.3.1 apresenta os valores mdios das atividades iniciais da POD e

    PFD presentes na gua de coco processada e no processada.

    Os dados da atividade da POD presente na gua de coco do lote F, processada

    a 90 C por 80 s, no foram apresentados, pois as anlises foram prejudicadas por

    causa de problemas com o substrato.

    Tabela 4.3.1 Valores mdios das atividades iniciais da POD e PFD na gua de coco

    processada e no processada.

    Condio de processo (s)

    POD1 (U/s.mL.Brix) POD/POD0 PFD2 (U/s.mL.Brix) PFD/PFD0

    No processada 1,00 8,3209E-05 1,00 No processada 1,8600E-03 1,00 5,0568E-05 1,00 No processada 2,1346E-03 1,00 2,9852E-05 1,00 No processada 2,1607E-03 1,00 1,8696E-05 1,00

    85,5 C, 80 s 5,9837E-5+1,83325E-8 0,72+0,00 90 C, 120 s 1,0354E-4+9,1285E-6 0,05+0,00 8,8763E-6+1,0365E-6 0,30+0,04 90 C, 180 s 5,0005E-5+2,2405E-5 0,03+0,01 1,2817E-5+2,5555E-6 0,25+0,05 90 C, 200 s 7,0421E-5+7,1734E-6 0,03+0,00 5,9431E-6+1,5770E-7 0,32+0,01 1Atividade da enzima POD presente na gua de coco, expressa como Unidades de atividade por segundo por mL de gua de coco por graus Brix 2Atividade da enzima PFD presente na gua de coco, expressa como Unidades de atividade por segundo por mL de gua de coco por graus Brix

  • 41

    As Figuras 4.3.1 e 4.3.2 apresentam os dados de atividade residual da PFD e

    POD obtidos da gua de coco processada nas condies de processo indicadas na

    Tabela 4.3.1. Observa-se que exceo condio 85,5 C por 80 s (lote F), os dados

    obtidos da atividade enzimtica residual tanto para a PFD quanto para POD

    validaram os modelos de cintica propostos.

    O valor obtido da atividade residual da PFD referente ao lote F difere muito

    dos demais valores, pois a temperatura real de processo foi de 85,5 C e no 90 C,

    resultando em uma inativao enzimtica menor. Os valores obtidos da atividade

    residual referentes aos outros lotes (G, H e I) validaram o modelo proposto.

    Os valores da atividade residual da POD para os lotes G, H e I tambm

    validaram o modelo proposto de cintica de inativao. No foi possvel verificar a

    atividade residual da POD presente no lote F, pois as anlises dessa enzima foram

    prejudicadas por problemas no substrato.

    Fig. 4.3.1 Dados da atividade enzimtica residual da PFD da gua de coco logo aps

    o processo comparados com os dados experimentais que geraram o

    modelo de cintica multicomponente de 1a ordem com 3 parmetros.

    Atividade residual da PFD

    0.0000

    0.2000

    0.4000

    0.6000

    0.8000

    1.0000

    1.2000

    0 50 100 150 200 250 300 350 400Tempo de reteno (s)

    PFD

    /PFD

    0

    dados experimentais modelo validao lotes G, H e I lote F

  • 42

    Fig. 4.3.2 Dados da atividade enzimtica residual da POD da gua de coco logo

    aps o processo, comparados com os dados experimentais que geram o

    modelo de cintica multicomponente de 1a ordem com 2 parmetros.

    As Tabelas 4.3.2 e 4.3.3 apresentam os valores da atividade residual da POD

    e da PFD presentes na gua de coco no processada dos lotes F, G, H e I,

    armazenadas congeladas at 55 dias. A atividade residual da POD e PFD presentes

    na gua de coco no processada a razo da atividade da enzima determinada nos

    diferentes tempos de armazenamento pela atividade inicial da enzima nos dias de

    processo da gua de coco no processada extrada dos cocos.

    As Figuras 4.3.3 e 4.3.4 apresentam a atividade da POD e PFD presentes na

    gua de coco congelada, durante o tempo de armazenamento. Houve uma pequena

    variao da atividade da POD entre os dias de armazenamento e entre os lotes,

    comparado com a variao da PFD entre os dias e entre os lotes. A menor variao

    da atividade da PFD durante o tempo de armazenamento foi no lote I, lote que

    tambm apresentou a menor atividade enzimtica inicial, 4,5 vezes menor que do

    lote F. A variao na atividade enzimtica durante o tempo de armazenamento

    mostra que o congelamento em freeze