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Praia da Aventura,pormenor de uma pin-tura de Weenix,mostrando a Torre deBelém e o ancoradourodo Restelo, colecçãoprivada, Lisboa.

CIRCUITO I

A Praia da Aventura

Primeiro dia

I.1 LISBOAI.1.a Mosteiro dos JerónimosI.1.b Museu de MarinhaI.1.c Torre de BelémI.1.d Museu Nacional de Arte AntigaI.1.e Portal da igreja da Conceição VelhaI.1.f Casa dos BicosI.1.g Castelo de São Jorge

Pedro Dias, Dalila Rodrigues, Nuno Vassallo e Silva, Fernando Grilo

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A Praia do Restelo foi verdadeiramente aPraia da Aventura. Aqui fundou o Infante D.Henrique uma capela para prestar assistên-cia espiritual e moral aos navegadores quechegavam ou partiam. E se o mar aindahoje impõe respeito e temor, como eranesse tempo em que os monstros do ima-ginário medievo apenas começavam a servarridos dos horizontes dos que se aven-turavam pelas ondas adentro?A pequena capela cresceu, ainda em tempodo Infante fundador, passando a igrejaparoquial para, com D. Manuel I, se trans-formar num imenso complexo monástico,hino à glória do Rei mas, sobretudo, ex-voto à Virgem da Estrela ou de Belém,pelo sucesso da viagem de Vasco da Gamae dos proventos futuros, em ouro e emalmas, que ela haveria de trazer.

Vista geral de Lisboa.

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Foi aqui que o imortal Camões passeou ovelho de longas barbas que recriminavaquantos se aventuravam mar adentro. OVelho do Restelo do épico, passado a ima-gem pelo não menos genial Columbano,mitificou-se e acompanhou a História Por-tuguesa como personificação de quantospreferiam ficar a partir.Não é só no Restelo propriamente ditoque há excepcionais memoriais manueli-nos ou, mais genericamente, da época dosDescobrimentos. Na verdade, está aqui oMosteiro dos Jerónimos, a Torre de Beléme o Museu de Marinha, mas, não longe,outros motivos lembram esses tempos.Belém, então como hoje, era uma exten-são de Lisboa, a capital do Reino e cabeçado grande Império Marítimo de Qui-nhentos. Com o castelo a coroar a sua

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mais alta colina, sob sedimentos de umaocupação romana, visigoda e árabe, osbairros de cristãos e judeus espalharam-se até ao rio Tejo e subiram depois, paraAlfama, Bairro Alto e outros subúrbios.O tempo e as catástrofes naturais derruba-ram muitos dos magníficos edifícios levan-tados durante a época, engolindo o fogo eas águas os tesouros que havia dentro deles,mas, apesar de tudo, ainda há alguns vestí-gios que, com imaginação, nos permitemreconstituir essa terra das “muitas edesvairadas gentes”.

I.1 LISBOA

Lisboa é a capital portuguesa, hoje comcerca de 1 milhão de habitantes, cidade de

longa história, cujas origens remontam amuitos milénios atrás. Mas foi a épocaromana e depois a época islâmica que aconformaram e lhe deram as estruturasque permitiram que, nos alvores da épocaModerna, em tempos do reinado de D.Manuel I, fosse um dos principais centrosurbanos da Europa e charneira entre oVelho Continente e as terras recém-descobertas.Depois da conquista árabe de 711 a 713,conheceu um desenvolvimento acentuado,conformando-se ao morro do Castelo e aAlfama e vindo até às margens do Tejo,atingindo os 30 hectares de área e umapopulação de cerca de 25 000 almas.A Reconquista Cristã que teve na tomadade Coimbra, em 1064, um dos seusmomentos altos na direcção do Sul,

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Lisboa

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meio, a capital continuava em Coimbra.Lisboa crescia, com mercadores, estabe-lecimentos de ordens religiosas e umaactividade portuária constante. D. Afon-so III estabeleceu a Corte no Castelo daAlcáçova e a cidade nunca mais perdeu oestatuto de cabeça do Reino. Ao finar aIdade Média, era já a cidade das “muitas edesvairadas gentes”, com a vida a centrar-se em torno do Paço da Ribeira, paraonde, após 1498, D. Manuel I se mudarae junto ao qual se levantaram os armazéns

obrigou à criação de grandes dispositivosde defesa, mas a História estava do lado doscristãos que, sob o comando do primeirorei português, D. Afonso Henriques, recu-perou a urbe, em 1147, estabelecendo anova fronteira ao longo do Tejo.O jovem monarca percebeu a importân-cia da cidade, a excelência do seu porto emudou-se para aqui, fortalecendo mura-lhas, refazendo o seu palácio e construin-do igrejas e até uma nova Sé Catedral.Mas, oficialmente, por mais século e

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Lisboa

Mosteiro dos Jeróni-mos, fachada princi-pal, Lisboa.

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da Casa da Índia, o Arsenal, a Ribeira dasNaus, e donde saiam as vias estruturantesque ligavam ao Rossio e aos bairros cir-cundantes, de Alfama, da Mouraria, doCastelo e de Vila Nova de Andrade, maisconhecido por Bairro Alto. Depois, espa-lhou-se ao longo do rio, onde a nobrezaerigiu residências secundárias e fundouquintas, onde monges e monjas fizeramos seus conventos que, pouco a pouco, seforam unindo com o crescimento docasario de populares, até formar um

aglomerado único que engloba diversosconcelhos, praticamente, de Vila Francade Xira a Cascais, Loures e Odivelas, e deAlmada e Barreiro, na outra banda.

I.1.a Mosteiro dos Jerónimos

Belém, Praça do Império, telef. 21 3620034.Classificado como Monumento Nacional.Inscrito na Lista do Património Mundial daUnesco, desde 1983. É permitido fotografar. O acesso ao claustro, ao refeitório e ao coro-

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alto é pago. Horário: das 10h às 18h30 deMaio a Setembro, e das 10h às 17h, de Outu-bro a Maio. A última entrada realiza-se 30minutos antes do horário de fecho. Encerra àsegunda-feira e nos feriados de 1 de Janeiro,Páscoa, 1 de Maio e 25 de Dezembro. A igre-ja encontra-se aberta ao culto.

O Mosteiro dos Jerónimos ocupa o lugardominante na Praça do Império, comuma fachada de quase 200 m virada ao rioTejo. Desconhecemos quem foi o autordo plano original, que sofreu posterior-mente alterações, pelo menos em 1510 eem 1516. O essencial, isto é, a igreja, oclaustro real e grande dormitório viradoà praia, deve-se a Boytac, mas a cobertu-

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ra da igreja e as grandes empreitadas pos-teriores a 1517 estiveram a cargo de Joãode Castilho. É evidente que, nas décadasseguintes, quando vigoravam outros esti-los, da renascença aos revivalismos român-ticos, foram continuadas obras de engran-decimento e de modernização.A poente da igreja fica o enorme dormi-tório dos frades, de dois andares, ondehoje estão instalados o Museu Nacional deArqueologia e o Museu de Marinha. Aestrutura é, no essencial, a que foi projec-tada e começada a construir por mestreBoytac, antes de 1514, mas teve acrescen-tos neomanuelinos, em meados do séculoXIX, que se estenderam às duas torres eà cúpula com que o templo propriamentedito termina desse lado.A igreja dos Jerónimos tem dois portaisprincipais, em lioz, os quais apesar decomeçados em 1517 e executados emsimultâneo, revelam inspirações diferen-tes e distintos modos de compreender aarte da escultura. Ambos exibem clara-mente as principais características da artemanuelina. Talvez por isto, embora sendopossível distinguir o trabalho de váriosartistas, há uma notável uniformidade deinspiração e de execução que bem nosrevela o nível dos artistas, de diferentesnacionalidades, que mestre João deCastilho chamou para a obra régia deBelém.O portal sul, o que está virado para o Tejo,tem sido sistematicamente descrito comouma jóia da escultura portuguesa de Qui-nhentos, para o que certamente contribuia profusão de imagens e de motivos deco-rativos que nele podem ser observados.Sem fugir a influências patentes noutrosportais anteriores, como o do Convento

Mosteiro dos Jeróni-mos, portal sul, Lisboa.

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de Cristo, em Tomar, ou mesmo deexemplos além-fronteiras, dos quais re-flecte de um modo geral a organização, oportal sul organiza-se numa escala semqualquer paralelo na arte portuguesa daépoca, como um verdadeiro retábulo quecelebra Nossa Senhora de Belém, assistidapor apóstolos, sibilas e evangelistas, masque igualmente entroniza a figura emble-mática do Infante D. Henrique, O Navega-dor, representado no mainel central doportal.O portal axial, canonicamente o maisimportante, foi a primeira obra executa-da em Portugal pelo mestre francês Nico-lau Chanterene. Artista polifacetado, ho-mem de cultura superior e, desde a suachegada ao nosso país, protegido pelo rei,introduziu aqui algumas das característi-cas mais importantes da escultura do re-nascimento, nomeadamente, nos retratosde D. Manuel I e D. Maria, apresentadospelos santos protectores que se dispõemem mísulas a ladear o vão central. Denotar igualmente a qualidade dos relevosdos apóstolos e das cenas da Infância deCristo, no segundo registo.O templo é a mais perfeita igreja-salãoportuguesa e uma das mais notáveis detoda a Europa, com finíssimos pilaresrecobertos por grutescos renascentistas asustentar uma abóbada de nervuras quaseplana, lançada por João de Castilho, em1522. Sob o coro-alto, um pouco poste-rior, mas ainda tardogótico, estão o túmu-lo de Camões e o túmulo de Vasco daGama, da autoria de Costa Mota, ambosneomanuelinos, do final do século XIX. No transepto ficam os dois excepcionaispúlpitos, tardogóticos, feitos pelos auxi-liares de João de Castilho. Também aí se

abre a porta que comunica com a sacris-tia, com uma belíssima abóbada, suporta-da por um pilar médio, tudo coberto porgrutescos da primeira renascença.A capela-mor e os dois braços do transeptoforam remodelados em estilo maneiristapelo arquitecto Jerónimo de Ruão. Inau-gurada em 1572, alberga os túmulos dosreis D. Manuel I, D. João III, esposas e suadescendência. O grande retábulo possuium conjunto notável de pinturas manei-ristas da autoria de Lourenço Salzedo. Osreis D. Sebastião e D. Henrique ficaramnas capelas do transepto, bem como outrosinfantes.

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Igreja do Mosteiro dosJerónimos, interior,Lisboa.

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melhor peça da marcenaria maneiristaportuguesa, e também um excepcional egigantesco Cristo Crucificado, oferecidopelo Infante D. Luís e executado peloescultor flamengo Philippe de Vries.Do piso térreo do claustro real tem-seacesso ao refeitório, de estrutura góticafinal e que foi edificado pelo empreiteiroLeonardo Vaz; e a Sala do Capítulo, comum belíssimo portal esculpido por Rodri-go de Pontezilla e que, no seu interior,guarda o túmulo neogótico do grande his-toriador oitocentista Alexandre Herculano.

I.1.b Museu de Marinha

Praça do Império, junto ao Mosteiro dos Jeróni-mos, telef. 21 3620019. É permitido fotografar.A entrada é paga. Horário: das 10h às 18h,nos meses de Verão, e das 10h às 17h de Outu-bro a Maio. Encerra à segunda-feira e nosferiados nacionais.

O Museu de Marinha fica instalado na alaocidental do antigo dormitório do Mos-teiro dos Jerónimos, e também em insta-lações mais modernas. Aqui pode ver-seum conjunto de miniaturas de naviosdesde a Idade Média até à actualidade,com principal destaque para os navios dosDescobrimentos. Guardam-se muitos instrumentos náuticos, armamento, espéciesiconográficas ligadas ao mar, bem comolápides, padrões e outras peças originaistrazidas de praças-fortes e cidades ultra-marinas. Há ainda muitos mapas e cartasnáuticas, bem como a imagem de São Ra-fael que foi num dos navios que fez a via-gem inaugural à Índia comandada porVasco da Gama. Na zona nova estão ex-

O claustro real possui dois andares, deestrutura tardogótica, com decoraçãonaturalista manuelina a alternar comtemas já da renascença. As empreitadas deBoytac, João de Castilho e Diogo de Tor-ralva sucederam-se, devendo-se a esteúltimo o programa renascentista da pla-tibanda do andar alto.Daqui acede-se ao coro-alto onde se con-serva o cadeiral feito por Diego de Zarza,sob projecto de Torralva, por 1550, a

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Museu de Marinha,interior, Lisboa.

Mosteiro dos Jeróni-mos, Claustro Real,Lisboa.

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postas as galeotas reais e outras embarca-ções, bem como o avião Lusitânia em queGago Coutinho e Sacadura Cabral fizerama primeira travessia do Atlântico Sul.

I.1.c Torre de Belém

Zona de Belém, junto ao rio Tejo, telef. 21 36-20034. Classificada como Monumento Nacio-nal. Inscrita na Lista do Património Mundialda Unesco, desde 1983.É permitido fotografar.A entrada é paga. Horário: das 10h às 18h30,de Maio a Setembro, e das 10h às 17h deOutubro a Abril. Encerra à segunda-feira e nosferiados 1 de Janeiro, Páscoa, 1 de Maio e 25de Dezembro. A última entrada realiza-se 30minutos antes do horário de encerramento.

A Torre de Belém é um dos monumentos

emblemáticos da arquitectura manuelina.Construída a escassa distância do Mos-teiro dos Jerónimos e menos ainda dopalácio real que D. Manuel I mandou

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Lisboa

Torre de Belém, vistageral, Lisboa.

Torre de Belém, por-menor de rinoceronte,Lisboa.

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I.1.d Museu Nacional de Arte Antiga

Rua das Janelas Verdes, telef. 21 3912800.O Museu encontra-se instalado no antigo Palá-cio dos Condes de Alvor, edifício classificadocomo Imóvel de Interesse Público. Serviços decafetaria e de restaurante.A entrada é paga. Horário: de quarta-feira adomingo, das 10h às 18h, e à terça-feira, das14h às 18h. Encerra à segunda-feira, à terça-feira de manhã e nos feriados de 1 de Janeiro,Páscoa, 1 de Maio e 25 de Dezembro.

O Museu Nacional de Arte Antiga con-serva as mais importantes colecções por-tuguesas manuelinas e, mais generica-mente, da época dos Descobrimentos,bem como de peças que são o fruto doencontro de culturas, da cultura europeiacom as dos povos da África, das Américase da Ásia.

fazer, mas que nunca foi acabado, serviade defesa à barra do Tejo, jogando fogoscom a fortaleza velha de Outão. O seuplano e direcção das obras ficaram adever-se a Francisco de Arruda e decor-reram entre 1515 e 1519. É constituídapor um baluarte moderno, poligonal eacasamatado e por uma torre como as ve-lhas torres de menagem medievais quetinha uma função de vigia e também, cer-tamente, poderia servir para a Corte assis-tir às cerimónias de partida e chegada dasarmadas.Uma profunda reforma feita a partir de1848 alterou a sua decoração, conferindo-lhe um ar festivo que inicialmente nãotinha, dotando-a, nomeadamente, de mer-lões em forma de escudos com a Cruz deCristo, belas varandas rendilhadas e guari-tas de gosto árabe que são exclusivamentefruto da imaginação delirante dos restau-radores oitocentistas.

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Painéis de São Vicente:a) Painel dos Frades; b)Painel dos Pescadores;c) Painel do Infante; d)Painel do Arcebispo; e)Painel dos Cavaleiros;f) Painel da Relíquia.

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Painéis de São Vicente

Redescobertos em finais do século XIX,pertenceram originalmente ao altar deSão Vicente da Sé de Lisboa e são um dosmais extraordinários registos da históriada pintura ocidental. Embora tenhamdado origem, ao longo do século XX, auma acesa polémica historiográfica,desenvolvida em torno da identidade doseu autor, da sua localização original, dasua cronologia e, fundamentalmente, daidentificação das personagens representa-das ou do seu sentido e significação, trans-formaram-se num emblema dos Desco-brimentos portugueses.Todas as informações disponíveis apontamno sentido de que Nuno Gonçalves, pin-tor de D. Afonso V, activo entre 1450 e1492, tenha sido o autor desta magistralencomenda régia, muito provavelmentedestinada a enaltecer a protecção de São

Vicente nos feitos heróicos dos por-tugueses em Marrocos, no tempo daque-le rei. O santo surge nos dois painéis cen-trais como personagem tutelar, em tornoda qual se dispõem figuras com evidenteprotagonismo nesta acção colectiva. Emplanos escalonados, e também comdestaque para as duas personagens que,ocupando respectivamente os primeirosplanos, figuram apenas com um joelhoem terra, a inserção das figuras, num sim-ples registo perspectivado em quadrículae com fundo escuro, não é arbitrária.No Painel do Infante assiste-se a uma cenaáulica, e a um acto que é legítimo enten-der como de juramento ou veneração dafamília real, já que São Vicente dá a ver aum dos protagonistas, muito provavel-mente ao rei D. Afonso V, o livro dosEvangelhos. Com uma muralha de rostosprofundamente expressivos, que se pro-longa pelos restantes painéis, o santo sur-

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Jorge Afonso, “Ado-ração dos Reis Magos”,retábulo provenientedo Convento da Madrede Deus, óleo sobremadeira, c. 1515,Museu Nacional deArte Antiga, Lisboa.

Painel dos Cavaleiros, como no da esquer-da, o Painel dos Pescadores, reforça-se o sen-tido de representatividade e envolvimen-to da sociedade portuguesa na acção, quecorresponderá, com muita probabilidade,às campanhas militares ocorridas no rei-nado do Africano em Alcácer Seguer, em1458, e Arzila e Tânger, em 1471. Inserindo-se de forma coerente nesteconjunto, e em evidente correspondênciamútua, os dois painéis colocados nas ex-tremidades introduzem novos elementosde significação e imprimem um novo sen-tido à obra. De facto, no Painel da Relíquiae no Painel dos Frades figuram elementosiconográficos que, numa leitura emboranão consensual, se relacionam directa-mente com o culto a São Vicente, desig-nadamente o madeiro, que aparece noprimeiro, e a relíquia e o caixão, que seencontram no segundo. Os poderosos e inovadores recursosexpressivos de Nuno Gonçalves, centradoem valores de verosimilhança representa-tiva, ressaltam neste magistral discursopictórico, datável de cerca de 1470-1480.

Pintura do período manuelino

Uma nova dinâmica criada em torno dapintura poderá ter conhecido um impul-so significativo a partir de meados doséculo XV, mas os seus resultados visíveis,e num quadro já manifestamente diversodaquele, traduzem-se no período que cor-responde ao reinado de D. Manuel I. Além das pinturas importadas, maiori-tariamente flamengas, que se encomen-daram ou se adquiriram no mercado livre,e das quais se podem ver extraordináriosexemplares na colecção deste museu – o

ge ladeado pelas figuras que se supõemcorresponder a retratos do Infante D. Hen-rique, de D. Isabel, Duquesa da Borgo-nha, e do Príncipe D. João, futuro rei D.João II, além da rainha D. Isabel, em di-recta correspondência com o rei.No Painel do Arcebispo é visível uma icono-grafia de exaltação guerreira. São Vicentesegura o bastão de comando, já com olivro fechado, enquanto as principais per-sonagens figuram com traje militar e ar-madas de lanças e de uma espada, numaalusão concreta ao poder militar e à guerrasob o beneplácito da Igreja, cuja hierar-quia está amplamente representada nestee nos restantes painéis do políptico.Os quatro painéis de menores dimensões,que se dispõem lateralmente, inserem-senuma lógica de continuidade com os cen-trais, tanto no plano dos valores formaiscomo no da significação. Antes de mais,nos dois seguintes, tanto no da direita, o

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São Jerónimo de Albrecht Dürer e a Virgemcom o Menino de Hans Memling, o Retábuloda Paixão, de Quentin Metsys, a que sepode juntar o Políptico da Misericórdia doFunchal, de Jan Provost – foi também avinda para Portugal de pintores com amesma origem e a formação de portugue-ses nessas oficinas, que provocou um deci-sivo processo de viragem dos meios ex-pressivos.Das grandes empreitadas que decorreramsob o patrocínio de D. Manuel, da rainhaviúva D. Leonor e de altos dignitários doclero regular e secular, restam algunsimportantes exemplares nesta colecção,expostos isoladamente ou agrupados deacordo com o que se supõe ter sido aprimitiva organização retabular de algu-mas séries, maioritariamente saídas dasoficinas do círculo cosmopolita de Lisboa,seja de pintores portugueses, seja de fla-mengos activos em Portugal.Dirigido pelo pintor régio Jorge Afonso,activo entre 1504-1540, o grande retábu-lo proveniente do Convento da Madre deDeus, de que restam sete painéis, podeser eleito como um bom exemplo do quede melhor se produzia nas oficinas de Lis-boa do ciclo manuelino e do impacto queos processos da pintura flamenga tiveramsobre elas. Num dos mais expressivosexemplares desse conjunto, o que figurao Aparecimento de Cristo à Virgem, encontra-sea data de 1515.Do mesmo convento, e também feito sobo patrocínio da mesma mecenas, a rainhaD. Leonor, embora de autoria incerta,procedem os painéis do Retábulo de SantaAuta, que pertenceu à capela que guarda-va as suas relíquias. No que representa aChegada das Relíquias a Lisboa reproduz-se

com aparente verosimilhança o factohistórico: o cenário real e todo o cerimo-nial da recepção, ao qual assiste a própriarainha, situada no palanque, à esquerda.Paradoxalmente, é a sedutora figura damártir Santa Auta, tratada com todo orealismo, que ocupa o primeiro plano.Os pintores portugueses que no períodoatingiram maior notoriedade, represen-tados através de importantes exemplaresdesta colecção, relacionam-se com o in-fluente mestre Jorge Afonso, em cujaoficina se formaram muitos deles. Cris-tóvão de Figueiredo, de que se expõeuma Deposição de Cristo no Túmulo, que era

Jorge Leal e GregórioLopes, “Adoração dosReis Magos”, doretábulo de São Bento,óleo sobre madeira decarvalho, c. 1524-25,Museu Nacional deArte Antiga, Lisboa.

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de outro pintor de origem nórdica, con-vencionalmente designado por Mestre daLourinhã, a quem se atribui, entre outros,o belíssimo São João em Patmos, do Con-vento das Berlengas, e o Retábulo da Vidade Santiago, proveniente da igreja doCastelo de Palmela.

Ourivesaria

No campo da ourivesaria é a Custódia deBelém, celebrizada pelo nome do mostei-ro que a conservou após a morte do reiD. Manuel, sem dúvida, uma das obrasmais celebradas da ourivesaria manuelinae da arte portuguesa em geral.O testamento régio, datado de 1517, per-mite conhecer o nome do seu autor, GilVicente, a cuja oficina o Venturoso confiouo ouro do primeiro tributo do Reino deQuíloa, trazido por Vasco da Gama, em1503. Durante três anos o ourives e osseus oficiais trabalharam nesta obra queficou terminada em 1506 como reza ainscrição na base: O MUITO ALTO. PRICIPE

de Santa Cruz de Coimbra; GregórioLopes, também nomeado pintor régiopor D. Manuel e confirmado por D. JoãoIII, de que o Retábulo de São Bento e oRetábulo de Santos-o-Novo são das obrasparadigmáticas; Garcia Fernandes, de quedestacamos a Apresentação no Templo. Anote-se ainda o prestigiado flamengoFrancisco Henriques, representado comtábuas do Retábulo de São Francisco de Évora,que juntamente com os três anterioresmantinham com o pintor régio relaçõesde parentesco e, sobretudo os três pri-meiros, associação de trabalho, mais oumenos constantes. Assim, uma aparentehomogeneidade nos meios expressivos deum significativo número de obras justifi-ca-se também à luz do habitual regime detrabalho em equipa.Neste percurso, assinale-se também apresença das obras do frade-pintor deorigem flamenga Frei Carlos, nomeada-mente, a Anunciação, a Ressurreição e o BomPastor, que mantinha a sua oficina no Con-vento do Espinheiro, em Évora; e ainda

Autor desconhecido,“Inferno”, óleo sobremadeira de carvalho,séc. XVI, MuseuNacional de Arte Anti-ga, Lisboa.

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E. PODEROSO. SENHOR. REI. D’. MANUEL.I. A. MDOU. FAZER. DO. OURO. DAS.PARIAS. DE QUILOA. AQUABOU. CCCCCVI.A estrutura da custódia integra-se na pro-dução ibérica do tardogótico, caracteri-zada pelo uso de um viril cilíndrico ver-tical. A base é elipsoidal, com seislóbulos gomados com meios relevos deouro esmaltado com frutos, flores,caracóis e pavões. No nó surgem seisesferas armilares, empresa de D. Manuel.O corpo superior, eminentemente arqui-tectónico, possui na base os doze apósto-los ajoelhados cercando o cilindro decristal, onde se expunha o SantíssimoSacramento. Nas duas pilastras queladeiam este grupo, em minúsculas figu-ras, surge a Anunciação, com o Anjo SãoGabriel e a Virgem. No plano superior, notriplo baldaquino, surge a Pomba repre-sentando o Espírito Santo, e mais acimaa figura do Pai Eterno abençoando.Esta custódia, descrita na própria Cróni-ca de D. Manuel, é um dos testemunhosmais pujantes da mensagem político-reli-giosa do monarca. Símbolos do seupoder, como as esferas armilares e a le-genda da base, associam-se à esfera reli-giosa, que marca a estrutura superior dacustódia. Outras peças de grande qualidade daépoca manuelina merecem destaque,nomeadamente, a ampulheta de pratacom as armas reais e a esfera armilar; ogrande porta-paz do Convento do Espi-nheiro, de Évora, com a data de 1515; eo relicário do Santo Lenho, da rainha D.Leonor, em forma de templete, de ouro,esmaltes e pedras preciosas, já de estilorenascença, executado muito provavel-mente por Mestre João.

Ampulheta manuelina,Museu Nacional deArte Antiga, Lisboa.

Oficina de Gil Vicente,Custódia de Belém,ouro e esmalte em“ronde-basse”, 1503-06, MuseuNacional de Arte Antiga, Lisboa.

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IPM/J.P.

J.B.

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CIRCUITO I A Praia da AventuraLisboa

Arte Antiga possui um importante con-junto de obras importadas de África,Índia, China e Japão, após o evento dosDescobrimentos portugueses. Aquisiçõese doações várias complementaram estenúcleo, dos mais importantes do Museu,incontornável para todos os que desejamconhecer a arte da África e do Oriente.Os contactos dos portugueses com a SerraLeoa são documentados por três obras demarfim, dois olifantes, um dos quais orna-mentado com a Cruz da Ordem de Cristoe a base de um saleiro, onde se destacamfiguras de portugueses, um dos quais acavalo, figura que serve de tampa da peça.A Arte realizada na Índia constitui semdúvida, o mais numeroso e rico conjuntodo Museu. Alfaias religiosas de prata eouro, cofres de filigrana e tartaruga, mo-biliário de todas as tipologias, imagens demarfim e paramentos pintados e borda-dos, ilustram a evolução de uma arte aolongo de quatro séculos. De entre as

Escultura

Das colecções de escultura manuelinadestacamos as obras das oficinas deCoimbra, sobretudo da autoria de DiogoPires-o-Velho, como o belo São Tiago depedra de Ançã polícroma; de DiogoPires-o-Moço, o caso de um fantástico SãoMiguel; obras flamengas de grande nível,como o São Mateus assinado por Cornelisde Holanda e sobretudo as esculturas dosDella Robbia, um conjunto de tondi e ofrontal de sacrário que pertenceram aoConvento da Madre de Deus e à colecçãode D. Leonor, e as estátuas de São Leonar-do e de Nossa Senhora da Estrela, oferecidaspelo papa Leão X a D. Manuel I e queestiveram no Mosteiro dos Jerónimos.

Arte luso-africana e luso-oriental

Tendo recebido o espólio dos conventosextintos, em 1834, o Museu Nacional de

Atribuído a KanoDomi, biombo “nam-ban”, folhas com pintura a têmperasobre papel-de-arrozrevestido a ouro,1593-1600, MuseuNacional de Arte Antiga, Lisboa.

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obras mais recuadas e importantes desta-ca-se o Tesouro do Convento da Vidi-gueira, constituído por um oratório-reli-cário, uma estante de missal e um porta-paz,todos em prata, oferecido a este conven-to alentejano pelo Padre André Coutinho,que as trouxe da Índia nos finais do sécu-lo XVI. Da Índia destaca-se o mobiliáriode madeiras exóticas com embutidos demarfim, contadores, escritórios, mesas,e a estatuária de marfim, em que avultamos Menino Jesus Bom-Pastor.As porcelanas constituem o mais ricoconjunto de obras provenientes da longín-qua China. Existindo um bom conjuntode porcelanas azuis e brancas, datáveis dadinastia Ming, são no entanto na porce-lana de exportação polícroma, do séculoXVIII, que o museu revela exemplares degrande importância. Associam-se obraslacadas e esmaltes realizados em oficinasde Cantão, especialmente elaboradas paraas clientelas europeias.Do Japão, de cujos contactos com Portugalresultou uma bela manifestação artística, aArte Namban, salienta-se o par de biombosque documentam a chegada dos portugue-ses ao Japão. Datam de finais do século XVIe descrevem a partida das naus de Goa e suachegada ao Japão. Para além destes biom-bos, o museu possui um bom conjunto delacas namban, referência aos Namban-jin ouseja Bárbaros do Sul, designação por que osportugueses eram conhecidos, com cofres,escritórios, tabuleiros, entre outras peças.

I.1.e Portal da igreja da ConceiçãoVelha

Rua da Alfândega, na Baixa Pombalina, telef.

21 8870202. Classificada como MonumentoNacional. É permitido fotografar.Horário: das 8h às 18h, ao sábado das 8h às13h e ao domingo das 10h às 13h. O serviçoreligioso realiza-se de terça a sexta-feira às12h10. Habitualmente encerra em Agosto.

A igreja da Conceição Velha pertenceuaos Cavaleiros da Ordem de Cristo queno século XVI a engrandeceram de formaque a tornaram numa das mais notáveisde Lisboa. O terramoto de 1755 deixoupouca coisa de pé, sendo de destacar oportal, executado logo a seguir a 1518,pelo que é muito provável que a campan-ha de obras que o erigiu tenha sido com-posta por alguns dos artistas que anterior-mente haviam trabalhado no Mosteiro dosJerónimos, sob a direcção de João deCastilho. É composto por um arco a pleno centrocom duas arquivoltas finamente esculpidas,limitando por isso um tímpano e um vãocentral dividido a meio por mainel esculpi-do. A ladear o portal, dois pilares tipica-

Igreja da ConceiçãoVelha, portal, Lisboa.

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CIRCUITO I A Praia da AventuraLisboa

IPM/C.M.

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I.1.f Casa dos Bicos

Rua dos Bacalhoeiros, telef. 21 8810900/ 218884827. Classificada como MonumentoNacional. É utilizada para a realização deexposições temporárias.Horário: dias úteis, das 9h30 às 17h30.

Caminhando para leste, ao longo do anti-go Terreiro do Trigo, encontramos a Casados Bicos, exemplar notabilíssimo daarquitectura do início do século XVI. Foimandada construir por Brás Afonso deAlbuquerque, filho do governador daÍndia, Afonso de Albuquerque, sobre olocal onde havia umas salgas antigas eencostada à velha muralha altomedieval.O revestimento foi feito com pedras face-tadas, em ponta de diamante, em bico,como se fizera noutros locais da Europa,nomeadamente em Ferrara e em Segóvia,o que lhe deu o nome porque hoje é co-nhecida. Em 1755, os andares superioresruíram e, em 1983, foram reconstruídoscom apoio de iconografia antiga, masfazendo-se as molduras dos vãos emmetal, para não confundir os observa-dores menos atentos.

I.1.g Castelo de São Jorge

O acesso ao castelo efectua-se pela porta de SãoJorge, na Rua do Chão da Feira. Telefone: 218877244 /21 8882831.Classificado como Monumento Nacional. Horário: das 10h às 18h, no Inverno, e das10h às 21h, no Verão. Dispõe de serviços de restauração.Na Olissipónia, situada no local do antigoPaço Real, pode assistir a um espectáculo mul-

mente manuelinos albergam nichos combaldaquino em que se representa a Anun-ciação. No entanto, é na representação deNossa Senhora da Misericórdia que vamosencontrar o conjunto escultórico maisinteressante. Estamos diante da obra deescultor de grande qualidade, de que des-conhecemos a identidade, mas que souberepresentar muito bem o essencial dotema ao colocar sob a protecção do mantoda Senhora diversos tipos sociais; de umlado, representantes do clero, aí figuran-do um papa, um cardeal e bispos e, dooutro, o imperador, reis e outros mem-bros da nobreza.

Casa dos Bicos, vistageral, Lisboa.

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CIRCUITO I A Praia da AventuraLisboa

M.A.

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timédia onde se fala da história da cidade deLisboa, o qual se realiza diariamente das 10hàs 18h, excepto no dia 1 de Janeiro, 1 de Maioe 25 de Dezembro. No castelejo, situa-se a Torre de Ulisses onde,através da utilização de um periscópio, é pro-porcionada a observação da cidade de Lisboanuma amplitude de 360º. Funciona diaria-mente das 10h às 16h30, excepto nos feriadosde 1 de Janeiro, 1 de Maio e 25 de Dezembro.

O Castelo de São Jorge remonta ao perío-do da Lisboa islâmica e era o local daalcáçova que ocupava cerca de 4 hectares.Daí saíam as muralhas do complexodefensivo da urbe, as muralhas mouras,como são conhecidas e de que restamalguns pequenos trechos, nomeadamente

do lado nascente, junto à igreja do Meni-no Deus. Depois da reconquista de 1147,foi aqui que viveram os reis portuguesesos quais transformaram profundamente asinstalações habitacionais, decorrendo aúltima grande reforma, já em tempo deD. Manuel que, no entanto, nos primeirosanos de Quinhentos, viria a habitar noPaço da Ribeira. Ainda assim, algunsmonarcas, como D. Sebastião, continua-ram a preferir o velho castelo, para tem-poradas mais ou menos longas.

Para se dirigir a Sintra de automóvel, deveráseguir pelo IC 19 (25 km). Poderá ainda uti-lizar o comboio, com partida da estação doRossio, em Lisboa (45 minutos).

Castelo de São Jorge,vista aérea, Lisboa.

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CIRCUITO I A Praia da AventuraLisboa

A.C.

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CIRCUITO I

A Praia da Aventura

Segundo dia

I.2 SINTRAI.2.a Palácio da VilaI.2.b Palácio da Pena

I.3 CHELEIROSI.3.a Igreja de Cheleiros

I.4 TORRES VEDRASI.4.a Castelo de Torres VedrasI.4.b Igreja de São PedroI.4.c Convento do Varatojo

D. Manuel I

Pedro Dias, Dalila Rodrigues, Nuno Vassallo e Silva, Fernando Grilo

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I.2 SINTRA

Sintra era uma importante povoação árabeque figura nos principais itinerários doGharb. Em 1147 caiu em poder dos exérci-tos de D. Afonso Henriques que guarne-ceu de homens de armas o Castelo dosMouros – que remontava ao século XI – eo Palácio da Vila, uma construção fortifi-cada, também da mesma época.A beleza da paisagem sintrense, a amenidadedo clima e a caça que abundava nas serranias,fizeram da vila local de eleição dos monar-cas portugueses, sobretudo da Baixa IdadeMédia. Estes, pouco a pouco, foram aumen-tando o palácio e fomentando a instalaçãode serviçais, a ponto de Sintra se tornarnuma vila próspera, já no século XV.

Na época manuelina, o Paço de Sintra erajá assumidamente uma instalação com-plementar do Paço da Ribeira, em Lisboa,onde a Corte pousava, durante grandesperíodos, sendo então construídas oureconstruídas em derredor igrejas e con-ventos, de que se destacam o da Pena e oda Penha Longa, não faltando, natural-mente, a Casa da Câmara, a Gafaria emuitos palácios da principal nobreza doReino.No século XIX, com a acção de D. Fer-nando II, o Rei Romântico, Sintra ganhounovo alento, povoando-se de construçõesneogóticas ou noutros estilos revivalistasque encantaram viajantes como Byron eespíritos cultos como o da rainha D.Amélia. Os últimos três reis portuguesesvoltaram a animar o Paço da Vila, fazen-do dele uma residência privilegiada.

Sintra, vista geral.

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CIRCUITO I A Praia da Aventura

Sintra

R.C.

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Palácio da Vila, Sintra.

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CIRCUITO I A Praia da Aventura

Sintra

I.2.a Palácio da Vila

Largo Rainha D. Amélia, em pleno centro deSintra, telef. 21 9106840/2. Classificadocomo Monumento Nacional.A entrada é paga. Horário: das 10h às 17h30.A última entrada realiza-se 30 m antes dofecho. Encerra à quarta-feira e nos feriados de1 de Janeiro, Páscoa, 1 de Maio, 29 de Junhoe 25 de Dezembro.

Esta construção tem origem muçulmanae foi aproveitada pela Coroa portuguesa,logo após a reconquista de 1147. Sabemosque sofreu grandes obras de reforma eampliação, no tempo de D. João I, nosprimeiros anos do século XV e, pelomenos, duas outras intervenções orde-nadas por D. Manuel I, uma das quais logoque subiu ao trono. Foram elas que lheconformaram o aspecto actual, pese em-bora as melhorias introduzidas por D. JoãoIII e, depois, após o terramoto de 1755.

Na fachada virada à praça pública destaca-se o coroamento de ameias mudéjares degosto cordovês e as janelas duplas de saca-da com umas molduras no mais exube-rante manuelino naturalista. Grandesarcos ogivais dão acesso às escadas quelevam ao andar nobre.Destaca-se, no exterior, o volume dasduas grandes chaminés das cozinhas,podendo ainda perceber-se a complexi-dade e a evidente falta de ordem da cons-trução, aliás, várias construções justapos-tas ao longo dos séculos. A ligar cadabloco há pátios com lagos e fontes, jardinse recantos de fresco, como o Pátio dosCisnes, o Pátio da Carranca e o Jardim daPreta, o que se deve ao desejo do rei D.Manuel de fazer aqui um palácio mudéjar,como os que tinha visto em Castela, esobretudo em Aragão, e na Andaluzia.Por isso a capela tem um tecto mudéjar delaçaria e por todo o lado as paredes estãorevestidas por azulejos mudéjares de fabri-

A.C.

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CIRCUITO I A Praia da Aventura

Sintra

co sevilhano, como na bela Sala da Sereiae na Sala dos Árabes, onde nem falta umapequena e elegante fonte central.No Jardim da Preta fica o Esguicho, umpilar torso de pedra com decoração natu-ralista, envolto em vegetação exótica.Destacamos a Sala das Pegas pelo exóti-co da sua decoração, essas mesmas avesno tecto e azulejos de aresta a conformaros lambris, onde não falta um fogão demármore renascentista italiano e, parti-cularmente, o tecto da Sala dos Brasões,um completíssimo armorial da nobrezamanuelina. Outras construções do sécu-lo XVI que merecem destaque são o átrioe a Sala das Galés, cujo tecto está deco-rado com a pintura de embarcações por-tuguesas.

I.2.b Palácio da Pena

Estrada da Pena, no alto da Serra, a 2 km asul de Sintra, telef. 21 9105340. Classifica-

do como Monumento Nacional. O percursodesde o portão da propriedade até ao Paláciopode ser efectuado a pé ou em mini-autocarros. A entrada é paga. Horário: das 10h às 17h,no Inverno, e das 10h às 18h30, no Verão.Encerra à segunda-feira e nos feriados 1 deJaneiro, Sexta-Feira Santa, Páscoa, 1 de Maio,29 de Junho e 25 de Dezembro. Diariamente,a partir das 10h20 e com intervalos regularesde 40 minutos, dispõe de um serviço de auto-

Palácio da Vila, pátio,Sintra.

Palácio da Pena, vistageral das construçõesrevivalistas, Sintra.

R.C.

R.C.

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CIRCUITO I A Praia da Aventura

Sintra

tia e o claustro, obras que se podem atri-buir ao Mestre Boytac e que, no essencial,estavam acabadas por 1511.O retábulo da capela foi executado a par-tir de finais de 1528 e constitui uma obra-prima da escultura do renascimento.Esculpido por Nicolau Chanterene, pro-tegido desde 1517 por D. Manuel I, foiobjecto de um cuidado muito especial porparte do escultor que para aqui concebeuum discurso formal recheado de italianis-mos. O alabastro em que foi esculpido foipropositadamente comprado na melhorpedreira peninsular e justificou até aviagem do escultor a terras de Aragão.Composto por quatro registos em altura,salienta-se a qualidade técnica dos relevosda predela, onde o artista régio esculpiunum relevo baixíssimo a Última Ceia ou aDescida ao Limbo; é também de sublinhara importância do sacrário, verdadeiroensaio de micro-arquitectura classicizante,onde não faltam as colunas, os frontões eaté uma pequena cúpula. Notáveis, igual-mente, os relevos do segundo e terceiroregisto, com especial importância para aAnunciação e para a Adoração dos Reis Magospela profusão de figuras e pelo sentido demovimento que conseguem suscitar. Ameio, Cristo Amparado por Dois Anjos reve-la-nos um escultor no melhor da sua arte,com um domínio perfeito da represen-tação do corpo humano. De excelentequalidade plástica é a imagem de NossaSenhora in sedia, que consegue manter oirrequieto Menino ao colo.

Para se dirigir a Cheleiros deverá seguir pelaEstrada N 9.

carro, o nº 434 que, saindo da estação de com-boios de Sintra, passa no centro da Vila, noCastelo dos Mouros e no Palácio da Pena,regressando à estação.

O Palácio da Pena, com a sua estruturacomplexa, garrida policromia e formasextravagantes, foi uma invenção do rei D.Fernando II e do seu fidelíssimo braço-direito o barão Von Eschwege que o deli-nearam e cujas obras dirigiram, dentro doespírito romântico do tempo. Porém, apro-veitaram as estruturas manuelinas do con-vento que teve o patrocínio de D. ManuelI. Conservaram a igreja, o coro, a sacris-

Nicolau Chanterene,retábulo renascentistada capela do Palácioda Pena, alabastro,1529-32, Sintra.

IPM/J.R.

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Região de Mafra e Torres Vedras

A norte da Serra de Sintra, junto à costaatlântica, com constantes mas suaves ele-vações entre campos férteis, fica a regiãosaloia ou região do Oeste, como hoje écomum designar-se. Desde o final daIdade Média que foi de grande importân-cia económica, pela fertilidade dos cam-pos e pela criação de gado com que sealimentava Lisboa. Foi esta, aliás, a razãopara o desenvolvimento das vilas deMafra, Torres Vedras e Ericeira. Por aquiestabeleceram-se diversas ordens reli-giosas, particularmente franciscanos, quederam também um contributo decisivopara o bem-estar das gentes da região,aforando as suas propriedades que zela-vam com rigor de bons administradores.Assim, até Alenquer, Caldas da Rainha eÓbidos, era uma terra de fartura, de pãoe vinho, carnes e peixe abundante.

I.3 CHELEIROS

I.3.a Igreja de Cheleiros

Junto à Estrada Nacional. Classificada comoImóvel de Interesse Público. Para efectuar a mar-cação de visita deve contactar a Sr.ª D. GuiomarBaleia, na Rua do Arco da Ponte, 16, ou pelotelefone 219 670052, de segunda a sexta-feiradas 9h às 12h30 ou durante o fim-de-semana,ou, em alternativa, a Sr.ª D. HermenegildaMaria, na Rua do Chafariz, ou pelo telefone219 270281, no mesmo horário.A igreja abre para celebração de missa à quar-ta-feira às 19h30 e ao domingo às 13h.

A igreja de Cheleiros representa o tem-plo típico das povoações de dimensãomédia no tempo de D. Manuel I. Portalbem traçado, de cantaria aparelhada,corpo comprido coberto de madeira e,

Igreja de Cheleiros.

Igreja de Cheleiros,planta ao nível docoro. D.G.E.M.N.

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Cheleiros

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depois, a capela-mor com novos primoresconstrutivos, com a sua bem lançadaabóbada de nervuras de traçado aindagótico.

Para seguir em direcção a Torres Vedras deveráretomar a Estrada N 9 no sentido de Alcainça/ Malveira. Continue pela Estrada N 8 emdirecção a Gradil / Turcifal até Torres Vedras.

I.4 TORRES VEDRAS

I.4.a Castelo de Torres Vedras

O Castelo de Torres Vedras, cuja origemé anterior à Nacionalidade, mantém, noessencial, a estrutura manuelina. Foi con-quistado por D. Afonso Henriques, em1147, que logo o mandou reconstruir. Foiaumentado e melhorado por D. Dinis epor D. Fernando. Destacam-se os dois bastiões ou baluartesredondos que cingem a porta de armas,onde se identificam as armas e a empresado rei D. Manuel I. A campanha de obrasmanuelina decorreu por volta de 1516.Sobranceiro à vila, defendia-a e era,simultaneamente, a residência do Alcaide.

I.4.b Igreja de São Pedro

Largo de S. Pedro, telef. 261 322386. Classificada como Monumento Nacional.Horário: das 8h30 às 12h e das 15h às 19h.

Cá em baixo, na várzea, estendia-se ocasario do povo e também as igrejas,

Castelo de TorresVedras.

Igreja de São Pedro,portal principal, Torres Vedras.

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CIRCUITO I A Praia da Aventura

Torres Vedras

R.C.

R.C.

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como a de São Pedro, que ainda conservaimportantes vestígios manuelinos, comoé o caso do portal, de um naturalismoexuberante. No interior, pode admirar-setambém uma edícula tardogótica onde estáa arca tumular de João Lopes Perestrelo.Se bem que ainda quinhentista, o corpotem arcaria já renascença e outros mo-tivos decorativos dos períodos subse-quentes, nomeadamente azulejos barro-cos e talhas rococó.

I.4.c Convento do Varatojo

Lugar do Varatojo, telef. 261 314120. Classificado como Monumento Nacional.Horário: das 9h às 12h e das 15h às 18h30.

Antigamente no aro da vila de Torres,mas hoje já praticamente integrado no seu

centro urbano, fica o Convento do Vara-tojo. Foi fundado por D. Afonso V, sendocolocada a primeira pedra em 1470; noessencial, as instalações primitivas foramacabadas em quatro anos. O que se con-serva dessa época e do período manueli-no já não é muito, mas ainda assim hápara admirar o átrio, coberto por umtecto de laçaria mudéjar e o portal que aíse abre, no melhor gótico final de tradi-ção batalhina.Dentro da casa religiosa é notável o claus-tro, tardogótico, já do início do séculoXVI e, seguramente, patrocinado pelopróprio rei D. Manuel I. Um dos elementos mais curiosos de todoo conjunto construtivo é uma janela decanto, com uma moldura gótica, chama-da “janela de D. Afonso V” mas que, naverdade, é já bem característica domanuelino.

Convento do Varatojo,claustro e portal, Torres Vedras.

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Torres Vedras

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Reis Católicos que foi declarada herdeirapresuntiva dos tronos de Leão, Castela eAragão, e da qual haveria de ter um filho,D. Miguel da Paz, nascido em Saragoça,mas que pouco tempo sobreviveu aofalecimento da sua mãe. Casou, depois,em 1500, com a cunhada, D. Maria, daqual teve larga descendência, entre aqual se contou o herdeiro e futuro rei D.João III. Enviuvando de novo, em 1517,consorciou-se com D. Leonor, irmã deCarlos V.D. Manuel I foi um dos mais notáveispolíticos portugueses de sempre. Souberodear-se de homens cultos e empreende-dores que o aconselharam e auxiliaram nagrande tarefa de modernização do Estadoe na reforma das estruturas administrati-vas, judiciais e económicas do país. Teveuma enorme sabedoria em aproveitar assuas vitórias ultramarinas para se afirmarna política europeia, vindo a ser um par-ceiro efectivo das outras grandes Coroasdo Velho Continente. Continuou a mis-são do seu tio-avô, o Infante D. Henrique,e do seu primo e antecessor D. João II,fomentando as actividades da Marinhariae apoiando sem reservas as experiênciasneste campo. No seu tempo, e sob a suaorientação pessoal, os portugueses atin-giram a China e os confins das Américas,tornando-se simultaneamente na maiorpotência marítima do tempo e estabele-cendo uma talassocracia como a Histórianão conhecera ou conheceria outra.Foi um dos mais entusiastas mecenas e umprotector de artistas e letrados, que cha-mou de toda a parte para a sua Corte e quenos legaram um património notabilíssimo.

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D. MANUEL I

D. Manuel I subiu ao trono de Portugalpor um daqueles acasos da História emque a improbabilidade supera todas asprobabilidades. Foi o nono filho de D.Fernando, o Duque de Beja, que erairmão do rei D. Afonso V, e de D. Brites,filha do Infante D. João e, portanto, tam-bém bisneta de D. João I. O herdeiro deD. João II, o Príncipe D. Afonso, morreu,num estúpido acidente, pois caiu do cava-lo quando passeava; o filho natural do rei,o Senhor D. Jorge, foi afastado, pelasintrigas palacianas, sobretudo pela RainhaD. Leonor, ela mesma irmã de D. Manuel;os seus dois irmãos mais velhos forammortos, após conjurarem contra o mo-narca seu primo; e o pai também faleceuprematuramente. Quando D. João II, oPríncipe Perfeito, se finou, apenas comquarenta e cinco anos de idade, o jovemDuque de Beja e administrador da Ordemde Cristo, viu-se na posse da Coroa e doCeptro. A verdade é que se mostrou àaltura desses símbolos, honrando-os edando-lhes um lustro como nunca antestiveram nem nunca mais, depois dele,voltariam a ter.Nasceu em Alcochete, a 31 de Maio de1469, e morreu, em Lisboa, a 13 deDezembro de 1521. Quando o seu irmãoD. Diogo foi executado, D. Manuel foifeito Duque de Beja, Senhor de Viseu,Covilhã e Vila Viçosa, Condestável doReino e Governador do Mestrado daOrdem de Cristo. Foi aclamado e juradoRei em Alcácer do Sal, a 27 de Outubrode 1495.Em 1497 casou-se com a viúva doPríncipe D. Afonso, D. Isabel, a filha dos

Pedro Dias

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Garcia Fernandes, “Casamento de D. Manuel I”, óleo sobre madeira, séc.XVI, Museu de São Roque, Lisboa.

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IPM/A.N.