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Parasitologia CISTICERCOSE - PARTE 2

CISTICERCOSE - PARTE 2 · O diagnóstico será realizado com base nos aspectos clínico-epidemiológicos, imunológicos e com exames de imagem. Considerando o principal quadro clínico

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Parasitologia

CISTICERCOSE - PARTE 2

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• INTRODUÇÃO

O Complexo Teníase / Cisticercose é constituído por duas entidades mórbidas distintas, causadas pelas mesmas espécies de cestódeos, porém em fases dife-rentes do seu ciclo de vida. A Teníase é conhecida popularmente como “solitá-ria”, enquanto que a Cisticercose é conhecida como “lombriga na cabeça”. Nes-te resumo, conheceremos melhor a Cisticercose. Sua classificação científica é a mesma da Teníase e se define por: Reino – Animalia; Filo – Platyhelmintes; Classe – Cestoda; Ordem – Cyclophyllidea; Família – Taeniidae; Gênero – Tae-nia; Espécie – Taenia sp.

• EPIDEMIOLOGIA

Trata-se de uma verminose cosmopolita, ou seja, pode ser encontrada em pra-ticamente qualquer lugar do mundo. Possui alta prevalência (10%) nos países em desenvolvimento, onde existem condições socioeconômicas desfavoráveis, saneamento básico precário e vigilância sanitária falha. O conjunto teníase / cisticercose representa um grande problema de saúde pública.

A América Latina recebe destaque por ser uma área com elevada prevalência de neurocisticercose, sendo relatada em 18 países latino-americanos, com uma estimativa de 350 mil indivíduos acometidos.

No Brasil, as espécies de Tênias são uns dos parasitas mais comuns, sendo en-contradas em cerca de 5% dos bovinos e suínos inspecionados. Sendo a sua prevalência variável dependendo da região e época investigadas. A provável baixa prevalência em algumas regiões pode ser explicada ou pela falta de noti-ficação ou porque os tratamentos são realizados nos grandes centros, como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Brasília, o que dificulta a investigação da procedência do local da infecção. Nas regiões Sul e Sudeste, a cisticercose tem sido cada vez mais notificada pelos serviços de neurologia e neurocirurgia.

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• DIAGNÓSTICO

O diagnóstico será realizado com base nos aspectos clínico-epidemiológicos, imunológicos e com exames de imagem.

Considerando o principal quadro clínico da cisticercose: neurocisticercose, a partir de um quadro neurológico sem explicação aparente, realizam-se exames de imagem para investigação diagnóstica. São muito utilizadas a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) do crânio.

A TC de crânio permitirá o diagnóstico em mais de 90% dos casos, demons-trando tamanho, quantidade, localização das vesículas com os cisticercos e cal-cificação. Ademais, pode revelar a presença ou não de hidrocefalia e edema cerebral.

A RM do crânio é considerada padrão-ouro para o diagnóstico da neurocisti-cercose, uma vez que permite a demonstração dos cisticercos mesmo quando completamente envoltos pelo líquido cefalorraquidiano (LCR), além da identifi-cação das diferentes fases de desenvolvimento da larva – demonstrando con-teúdo heterogêneo no interior da vesícula e impregnação periférica evidencian-do a reação inflamatória provocada.

Após evidências das lesões compatíveis com a cisticercose cerebral pelos exa-mes de imagens, são realizados estudos imunológicos específicos tanto no soro quanto no LCR, para confirmação diagnóstica.

Os ensaios imunoenzimático possuem elevada sensibilidade caso a quantidade de cistos no SNC seja superior a dois. As técnicas utilizadas são: ELISA (sensi-bilidade de 80%), imunofluorescência indireta (maior especificidade que sensi-bilidade) e imuno-eletroforese (menos resultados falso-positivos).

O exame do LCR pode fornecer elementos consistentes para o diagnóstico e auxílio a este, pois o parasito determina alterações compatíveis com o processo inflamatório crônico: pleocitose (com mais de 10 células / mm3 , com destaque

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para maior presença de eosinófilos) e hiperproteinorraquia (maior de 50 mg/dL). Além disso, permite avaliação do prognóstico da infecção: reatividade de anticorpos específicos contra o parasito indica infecção mais recente (menor que 10 anos) e maior possibilidade / eficiência de tratamento. Entretanto, a não reatividade de anticorpos indica infecção mais prolongada (maior de 10 anos), com possivelmente cistos já calcificados completamente (inviáveis) e, impossi-bilidade de tratamento.

A biópsia de tecidos, quando realizada, permite a identificação microscópica da larva Cysticercus celullosae.

• TRATAMENTO

O tratamento da neurocisticercose será indicado apenas nos casos onde exis-tem lesões com cistos viáveis, ainda apresentando escólex no seu interior. Há indicação de uso por longos períodos de antiparasitários associados a corticoi-des, pelo risco da piora da reação inflamatória, aumento do edema cerebral ou crises convulsivas. Trata-se de um tratamento difícil, com três objetivos:

1. Reduzir a inflamação associada à degeneração dos cisticercos documentada pela RM;

2. Evitar convulsões, se presentes ou se o risco alto – caso necessário, podem ser utilizados anticonvulsivantes;

3. Aliviar a elevação da pressão intracraniana, se presente.

Como opção de antiparasitário: Praziquantel, 50 a 60 mg/kg, por 21 dias jun-tamente com a refeição. No entanto, não deve ser utilizado em casos de cisti-cercos oculares e na coluna vertebral. Sua associação com corticoide faz com que o nível do metabólito ativo no LCR seja diminuído. Corticoide associado: Dexametasona, 6mg/ dia (iniciada 1 dia antes do antiparasitário).

Outra opção de antiparasitário: Albendazol, 15 mg/kg/dia, a cada 8 horas, du-rante 30 dias. No entanto, não deve ser utilizado em casos de cisticercos ocula-

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res e na coluna vertebral. Sua associação com corticoide faz com que o nível do metabólito ativo no LCR seja potencializado. Corticoide associado: Prednosolo-na, 100mg no 1º dia (iniciada 1 dia antes do antiparasitário) e 20 mg nos de-mais.

Opções de anticonvulsivantes: Diazepam, para a crise em atividade. Na persin-tência por mais de 10 minutos, Fenitoína.

A Cirurgia pode ser necessária para tratar hidrocefalia obstrutiva (decorrente de cisticercose intraventricular, incluindo aqueles do 4º ventrículo) ou cisticer-cose espinal ou ocular. Os cisticercos intraventriculares são removidos por via endoscópica, quando possível. Derivações ventriculares podem ser necessárias para reduzir o aumento da pressão intracraniana.

• VIGILÂNCIA E PROFILAXIA

A vigilância epidemiológica deve ser realizada visando manter constante articu-lação e trocas de informações entre a Vigilância Sanitária dos Setores de Saúde e as Secretarias de Agricultura, para adoção de medidas sanitárias preventivas. Embora os casos de cisticercose são sejam de notificação compulsória, devem ser informados aos Serviços de Saúde para mapeamento das áreas acometidas e implementação das medidas de controle e prevenção.

Um caso confirmado de cisticercose é aquele onde temos um caso suspeito com ou sem clínica, mas que apresenta sorologia reativa ou imagens sugestivas da presença dos cisticercos.

As medidas de controle são em torno do portador (identificação, tratamento e bloqueio dos focos de transmissão) e das condições de transmissão (educação em saúde com orientações sobre a doença e sua forma de transmissão e pre-venção, gerando mobilização comunitária, saneamento domiciliar e ambiental nos focos da doença; vigilância sanitária sobre os bovinos e suínos, bem como na qualidade das suas carnes. Reduzindo assim, ao menor nível possível, a co-mercialização ou o consumo da carne contaminada pelos cisticercos – impedin-

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do a teníase no ser humano, que será o hospedeiro intermediário na cisticerco-se; Orientação dos produtores sobre as medidas de aproveitamento da carcaça desses animais, reduzindo suas perdas financeiras e fornecendo segurança ao consumidor; Estímulo ao consumo de somente de carne bem cozida – também para impedir a teníase no ser humano, evitando a fonte para a cisticercose; fis-calização dos produtos de origem vegetal, onde a irrigação das hortas e poma-res pode ocorrer com água de rios e córregos que possam estar contaminados por esgotos ou outras fontes de águas contaminadas por fezes humanas, a fim de evitar a comercialização ou o uso desses vegetais contaminados pelos ovos da Taenia solium).