88
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA, CONSERVAÇÃO E BIOLOGIA EVOLUTIVA PPG GCBEv Citogenética clássica e molecular de espécies neotropicais de serpentes da família Boidae (Gray, 1825) Patrik Ferreira Viana Manaus, AM - Fevereiro de 2015

Citogenética clássica e molecular de espécies neotropicais ...bdtd.inpa.gov.br/bitstream/tede/1716/5/Dissertação_Patrik... · realizar minhas pesquisas; Dona Lucia por arrumar

Embed Size (px)

Citation preview

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA, CONSERVAÇÃO E BIOLOGIA

EVOLUTIVA – PPG GCBEv

Citogenética clássica e molecular de espécies neotropicais de

serpentes da família Boidae (Gray, 1825)

Patrik Ferreira Viana

Manaus, AM - Fevereiro de 2015

ii

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA, CONSERVAÇÃO E BIOLOGIA

EVOLUTIVA – PPG GCBEv

Citogenética clássica e molecular de espécies neotropicais de

serpentes da família Boidae (Gray, 1825)

Patrik Ferreira Viana

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva.

Orientadora: Eliana Feldberg, Dra. – INPA

Coorientadora: Maria Claudia Gross, Dra. – UFAM

Manaus, AM - Fevereiro de 2015

iii

FICHA CATALOGRÁFICA

Sinopse

Com intuito de investigar os mecanismos de evolução cariotípica em serpentes da Amazônia, uma caracterização citogenética foi realizada em diferentes espécies de Boidae da região Neotropical. Para isso, foram estudadas três espécies e três subespécies, usando diferentes marcadores citogenéticos clássicos e moleculares, como a detecção das regiões organizadoras de nucléolo e DNAr 18S, detecção das regiões de heterocromatina constitutiva e sequências teloméricas. As três subespécies de Boa constrictor bem como as duas espécies de Eunectes mostraram um cariótipo similar com 2n=36 cromossomos, com diferenças no número de braços cromossômicos. Corallus hortulanus, por sua vez, mostrou uma composição cariotípica totalmente diferenciada para a superfamília Booidea com 2n=40 cromossomos e um possível sistema heteromórfico de determinação sexual. A composição cromossômica dessas serpentes de linhagem basal não é tão conservada quanto se imaginava e futuramente algumas subespécies poderão ser elevadas à categoria de espécie.

Palavras-chave: Booidea, Mapeamento cromossômico, FISH, Cariótipos espécie-específicos.

Viana Patrik Ferreira

Citogenética clássica e molecular de espécies neotropicais de serpentes da família Boidae (Gray,

1825) / Patrik Ferreira Viana. --- Manaus: [s.n.], 2015.

xvi, 67 f. : il. color.

Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2015. Orientadora: Eliana Feldberg. Coorientadora: Maria Claudia Gross. Área de concentração: Genética, Conservação e Biologia Evolutiva.

1. Booidea. 2. Heterocromatina. 3. Sequências repetitivas. 4. Mapeamento

cromossômico. I. Título.

iv

Dedico aos meus pais, às serpentes

que tiveram que morrer e ao professor

Willy Beçak pela grandiosa contribuição

à citotaxonomia da Herpetofauna

Brasileira.

v

“Se você irá se render por tão pouco, as razões que guiam os seus atos são igualmente insignificantes.”

Asmita de Virgem

“Você pode até encontrar as coisas que perdeu, mas nunca as que abandonou.”

Mithrandir

vi

A realização deste estudo foi possível devido:

Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), ao programa de pós-

graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva (GCBEV) e aos laboratórios

de Genética Animal (INPA) e de Citogenômica Animal (UFAM).

Aos financiamentos fornecidos pelo Centro de Estudos de Adaptações da Biota

Aquática da Amazônia – ADAPTA (INCT/CNPq/FAPEAM 573976/2008-2); Projetos–

(Pronex/FAPEAM/CNPq 003/2009 - Processo: 653:2009);

MCT/CNPq/MEC/CAPES/FNDCT – Ação Transversal/FAPs Nº 47/2010 - Rede

“Genômica comparativa de peixes amazônicos frente a diferentes desafios ambientais”

e pesquisa para ampliação do conhecimento sobre a biodiversidade de vertebrados da

Amazônia brasileira com aplicações sobre seu uso e conservação – Rede BioPHAM;

Programa Pró-Amazônia: Biodiversidade e Sustentabilidade, Edital Nº 047/2012, Área

Temática Contemplada: Recursos (produtos) naturais – “Estudos citogenéticos e

citogenômicos da biodiversidade da Amazônia, com implementação de avanços

técnicos”. À Fundação de Amparo à Pesquisa do estado do Amazonas (FAPEAM) pela

concessão da bolsa de estudo durante a realização deste estudo.

vii

Agradecimentos

Em especial para minha mãe, que caminhou comigo ao longo dessa jornada. Ela

que foi herpetóloga, mateira, barqueira, cozinheira, psicóloga, diplomata e acima de

tudo mãe.

A todos os colegas de laboratório: Marajozin; Lucas; KK; Ramão; Masseo;

Carlão; Natália; Thatá pela companhia na madrugada; Eduardo; minha prima Milena;

Maelin pela companhia noturna, dicas gerais e troca de experiências; Leilinha que tanto

me ajudou e ensinou nessa caminhada; professor Jorge Porto pelo apoio logístico em

algumas ocasiões; Celeste por adivinhar os momentos em que estava precisando de

uma palavra de apoio e pelas diversas bandejas de salgadinhos; Arlindo pelos

conselhos, conversas e experiência; minhas chefas Eliana Feldberg e Cláudia Gross

por tudo .

Aos colegas da minha divertida turma de pós: Camila; Jéssica; Nayara; Érico

pelas conversas produtivas; Elciomar (Pará) pela vivência em campo e de forma

indireta mostrar como lidar com gente que não presta, é muito gente boa e tenho um

grande apreço; Shizuka e Valdirley pelas risadas espontâneas; Martinha que me

ajudou nos primeiros passos do laboratório; Fabrício (Gaúcho) pelas conversas

divertidas em campo. Em especial Erika, Vanessa e Mayara, foi muito bom ter a

companhia de vocês.

À minha prima Deyla que tanto gosto; Priscila pela alegria de sempre; aos

pescadores Astro e Mario; ao Dick-Vogt pela primeira “permiso” que me concedeu para

realizar minhas pesquisas; Dona Lucia por arrumar minha bagunça o ano inteiro; os

motoristas João Bosco e Orlando que sempre me levaram para minhas coletas e nunca

reclamaram de nada; seu Juruna pelas idas divertidas ao campo; Dona Elci que

sempre me ajudou com a parte burocrática que tive que resolver na secretaria do

GCBEv, a Coleção de Herpeto do INPA.

À prefeitura de Manaus; CETAS; CIGS; Fundação Zoobotânica de Belo

Horizonte; Jibóias Brasil; soldados do CIGS que me ajudaram a conter as anacondas; a

viii

coleção de herpeto do INPA e seus componentes; professor Chalkidis da FIT; professor

Ronis, por me ajudar em momentos iniciais; Laérzio por me passar tanta experiência;

George Myller por me ajudar muito em Belo Horizonte; Camila, Kayan e Ronaldo por

me receberem de portas abertas em sua casa.

À professora Marta Svartman que cedeu seu laboratório com tanta boa vontade;

Mathias, Carla e demais que me ajudaram no laboratório da UFMG; Luiz; Fernanda

Blandy e Herlandes pela ajuda com as serpentes em BH; Raquel por me ajudar com a

papelada no Zoo. “Povo mineiro é bão demais da conta!”

Aos amigos George; Diego; Camila Tekila; Little Sister pela companhia nos

primeiros meses da pós-graduação. Ao mestre Obed por tanto estimular meu senso

crítico; ao meu eterno mestre Rato de Fraga por ensinar quase tudo que sei sobre a

herpetofauna amazônica. A professora Maria José pelas dicas iniciais e a professora

Jeniffer Marshal A. Graves por sempre me mandar os artigos que não tinha como

pagar.

Em especial aos prezados professores Willy Beçak da Universidade de São

Paulo no Brasil, José Maria Gutiérrez do Instituto Clodomiro Picado na Costa Rica e

Ettore Olmo da Università Politecnica delle Marche na Itália, pioneiros na citotaxonomia

da herpetofauna Neotropical e mundial, pelas palavras e cumprimentos de sucesso.

Sei que devo ter esquecido de alguns nomes, mas deixo aqui o meu muitíssimo

obrigado a todos que me ajudaram. E um muitíssimo obrigado às serpentes que foram

material deste.

ix

Resumo

A família Boidae (Gray, 1825) compreende serpentes de uma linhagem basal

que podem ser encontradas nas Américas do Norte, Central e do Sul. Muitas espécies

são divergentes tanto morfologicamente quanto biogeograficamente e mesmo com

muitos estudos evolutivos sendo propostos para algumas espécies ao longo dos

últimos anos, muitos aspectos ainda permanecem desconhecidos. Para uma melhor

compreensão das relações evolutivas dessas serpentes, uma caracterização

citogenética clássica e molecular foi realizada em 44 exemplares pertencentes a três

gêneros, sendo três subespécies de “Jiboias” (Boa contrictor constrictor, Boa contrictor

amarali e Boa contrictor occidentalis), duas espécies de “Anacondas” (Eunectes

murinus e Eunectes notaeus) e uma espécie de “Suaçubóia – Amazon Tree Boa”

(Corallus hortulanus), que além de evidenciar um novo panorama para o entendimento

da evolução cromossômica dos Boideos Neotropicais, revelou três cariótipos inéditos e

uma técnica diferenciada para a obtenção de cromossomos em répteis na Amazônia.

As três subespécies de Jiboias, bem como as duas espécies de Anacondas, mostraram

um cariótipo muito similar com 2n=36 cromossomos, no entanto apresentaram

diferenças de tamanho e no número de braços cromossômicos (NF). As subespécies

de Jibóias apresentaram um NF=48, enquanto as duas espécies de Anacondas

apresentaram um NF=52. A Suaçubóia (Amazon Tree Boa), por sua vez, mostrou uma

composição cariotípica totalmente diferenciada para a superfamília Booidea com 2n=40

♀ com NF=62 e 2n=39 ♂ com NF=60, o que além de revelar um heteromorfismo

cromossômico entre fêmeas e machos, evidenciou uma dupla heterogametia. Os

padrões de distribuição da heterocromatina constitutiva e a localização de sequências

teloméricas, além de revelarem novos insights sobre a evolução cromossômica de

boídeos Neotropicais, mostraram-se como eficientes marcadores espécie/específicos

para os táxons de Boidae analisados. Isso também revelou que a composição

cromossômica dessas serpentes de linhagem basal não é tão conservada quanto se

presumia e que, futuramente, algumas subespécies de “Jibóias” poderão de fato serem

elevadas à categoria específica.

x

Abstract

Boidae (Gray, 1825) family comprehends snakes from a basal lineage, which

may be found in North, Central and South America. Many of these species are both

morphologically and biogeographically divergent, and even with the several evolutionary

studies being proposed for some species along the last years, many aspects remain

unknown. For a better understanding of the evolutionary relationships of these snakes,

a classic and molecular cytogenetic characterization was performed in 44 exemplars

belonging to three genera. It has included three Jiboia subspecies (Boa constrictor

constrictor, Boa constrictor amarali and Boa constrictor occidentalis), two Anaconda

species (Eunectes murinus and Eunectes notaeus) and one species of Amazon Tree

Boa (Corallus hortulanus). The three Jiboia subspecies and the two Anaconda species

presented a very similar karyotype, with 2n=36 chromosomes, with subtle differences in

the number of chromosomes arms. Amazon Tree Boa, however, presented a totally

different karyotype composition for the Booidea superfamily, with 2n=40 chromosomes

♀ and FN=62 and 2n=39 ♂ and FN=60. The constitutive heterochromatin patterns and

the telomeric sequences location, besides revealing new insights on the chromosome

evolution of Neotropical Boidae, were efficient markers for the analyzed taxa. It has also

shown that the chromosome composition of these basal lineage snakes is not as

conserved as it was supposed and that, eventually, some of the subspecies might be

elevated to the species category, as well as the description of new species.

xi

Sumário

1.0 Introdução ................................................................................................................. 1

1.1 Considerações sobre Boa, Corallus e Eunectes .................................................. 3

1.2 Citogenética em Serpentes .................................................................................. 7

1.3 Citogenética molecular em Reptilia..................................................................... 12

2.0 Objetivos ................................................................................................................. 14

2.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 14

2.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 14

3.0 Material e Métodos.................................................................................................. 15

3.1 Material ............................................................................................................... 15

3.2 Métodos ...............................................................................................................16

3.2.1 Coleta dos Animais .......................................................................................... 16

3.2.2 Obtenção de cromossomos mitóticos.............................................................. 19

3.2.3 Detecção das regiões organizadoras de nucléolo (Ag-RON) .......................... 19

3.2.4 Detecção das regiões de heterocromatina constitutiva (Banda C) ..................20

3.2.5 Extração de DNA ............................................................................................. 20

3.2.6 Isolamento de sequências repetitivas ..............................................................21

3.2.7 Hibridização in situ fluorescente (FISH) .......................................................... 22

3.2.8 Análise cariotípica ........................................................................................... 24

4.0 Resultados .............................................................................................................. 25

4.1 Boa constrictor .................................................................................................... 25

4.2 Eunectes ............................................................................................................. 31

4.3 Corallus hortulanus ............................................................................................. 34

5.0 Discussão ............................................................................................................... 37

5.1 A macroestrutura cromossômica em Boideos Neotropicais ............................... 37

5.2 Evolução das famílias gênicas ........................................................................... 41

5.3 Cromossomos sexuais ....................................................................................... 44

5.4 Evolução cromossômica em Booidea ................................................................ 48

5.3 Estrutura cromossômica em Corallus hortulanus e Corallus grenadensis.......... 54

6.0 Conclusões ............................................................................................................. 56

xii

7.0 Referências Bibliográficas ...................................................................................... 57

xiii

Lista de Figuras

Figura 1. Origem da diversidade em Boídeos na região Neotropical (Colston et al.

2013) .................................................................................................................. 1

Figura 2. Árvore filogenética para Booidea baseada em caracteres moleculares

proposta por Reynolds et al. (2014) ................................................................... 2

Figura 3. Diversidade dos padrões de manchas da pele de Corallus hortulanus .......... 5

Figura 4. Mapa de coleta ............................................................................................. 18

Figura 5. Prancha de cariótipos de Boa constrictor em coloração convencional, região

organizadora de nucléolo e localização de DNAr 18S ..................................... 26

Figura 6. Prancha de cariótipos de Boa constrictor evidenciando as regiões de

heterocromatina constitutiva ............................................................................ 28

Figura 7. Prancha de cariótipos de Boa constrictor evidenciado o padrão de

distribuição de sequências teloméricas ........................................................... 30

Figura 8. Prancha de cariótipos de Eunectes em coloração convencional, região

organizadora de nucléolo e localização de DNAr 18S ..................................... 32

Figura 9. Prancha de cariótipos de Eunectes evidenciado as regiões de

heterocromatina constitutiva ............................................................................ 33

Figura 10. Prancha de cariótipos de Eunectes evidenciado o padrão de distribuição de

sequências teloméricas ................................................................................... 34

Figura 11. Prancha de cariótipos de Corallus hortulanus em coloração convencional,

região organizadora de nucléolo e localização de DNAr 18S .......................... 35

Figura 12. Cariótipo de fêmea de Corallus hortulanus evidenciando as regiões de

heterocromatina constitutiva ............................................................................ 36

Figura 13. Cariótipo de fêmea de Corallus hortulanus evidenciando o padrão de

distribuição de sequências teloméricas ........................................................... 37

Figura 14. Idiogramas representando alguns tipos de cromossomos sexuais em

serpentes ......................................................................................................... 46

Figura 15. Hipótese de evolução cromossômica em boideos Neotropicais, proposta por

Beçak (1965) .................................................................................................... 48

xiv

Figura 16. Hipótese de evolução cromossômica em boideos Neotropicais, proposta por

Gorman e Gress (1970) ................................................................................... 49

Figura 17. Compilação de dados cromossômicos em filogenia de Booidea proposta por

Reynolds et al. (2014) ..................................................................................... 51

Figura 18. Idiograma representando hipótese de cariótipo ancestral para Pythonoidea e

Booidea ........................................................................................................... 53

Figura 19. Cariótipo de Corallus grenadensis conforme Gorman e Gress (1970)

......................................................................................................................... 55

Lista de Tabelas

Tabela 1. Dados cromossômicos para Booidea ............................................................. 8

Tabela 2. Espécies, localidade, sexo e número de indivíduos analisados .................. 16

Tabela 3. Material testemunho, número tombo e coleção ........................................... 19

xv

Lista de Abreviações e Termos

µL – Microlitros

2n – Número Diplóide

Ag-NOR – Região organizadora de nucléolo

xvi

Água mili-Q – Água ultrapura (deionizada e dessalinizada)

Banda C – Técnica de detecção de heterocromatina constitutiva

DNA – Ácido desoxirribonucleico

DNAr – DNA ribossomal

dNTP – Desoxirribonucleotídeo

EDTA – Ácido etilenodiaminotetracético

FISH – Hibridização fluorescente in situ

HCl – Ácido clorídrico

Homeólogo – Mesmo cromossomo em espécies distintas

KCl – Cloreto de potássio

MgCl2 – Cloreto de magnésio

mL – Mililitro

NaCl – Cloreto de Sódio

Nick translation – Deslocamento de corte

PBS – Tampão de Bloqueio

PCR – Reação em cadeia da polimerase

Primer – Oligonucleotídeos iniciadores

RNAse – Enzina que degrada o ácido ribonucleico

Rpm – Rotações por minuto

SSC – Solução Salina

Taq – Enzima termoestável derivada da bactéria Thermus aquaticus

1

1. Introdução

A família Boidae (Gray, 1825) compreende serpentes pertencentes a uma

linhagem basal (Kluge 1991; Burbrink 2004; Pyron et al. 2013; 2014; Reynolds et al.

2014), que tiveram origem durante o final do período Cretáceo (Noonan e Chippindale

2006; Burbrink e Pyron 2008; Vidal et al. 2009) e que, possivelmente, começaram a

divergir no período Terciário entre o Mioceno e Plioceno no Neógeno (Figura 1), devido

a grandes eventos dessa época como as incursões marinhas, soerguimento dos Andes

e rompimento do Istmo do Panamá (Vidal et al. 2005; Hoorn e Wesselingh 2010;

Colston et al. 2013; Reynolds et al. 2014).

Figura 1. Figura moficada de Colston et al. 2013, representando um cronograma de origem e

diversificação dos táxons de Boidae na região Neotropical.

Em recente estudo, Pyron et al. (2014), com base em dados morfológicos e

moleculares, elevaram as seis subfamílias que compreendiam Boidae a famílias

plenas, ou seja, Calabariidae, Candoiidae, Sanziniidae, Charinidae, Erycidae e Boidae,

as quais compõem a superfamília Booidea. Atualmente compreendem

aproximadamente 58 espécies, distribuídas nas Américas do Norte, Central e do Sul,

África, Ásia, Europa e algumas ilhas do Pacífico (Reed e Rodda 2009; Pyron et al.

2

2014; Reynolds et al. 2014; Uetz e Hosek 2014). Essas famílias são distintas tanto

morfologicamente quanto biogeograficamente (Underwood 1967; Kluge 1991), sendo

que Candoiidae está restrita a países da Oceania; Sanziniidae está restrita a

Madagascar; Charinidae tem ocorrência predominantemente nas Américas Central e

do Norte (exceto uma única espécie ocorrente na Colômbia); Erycidae ocorre na

Europa, Oriente Médio; norte da África, parte central e sul da Ásia; e Boidae tem sua

distribuição na região neotropical (Figura 2) (Uetz e Hosek 2014; Pyron et al. 2014;

Reynolds et al. 2014).

Figura 2. Figura adaptada de Reynolds et al. 2014, representando filogenia que compreende os atuais

táxons para Booidea, baseada em genes mitocondriais e nucleares.

3

Aparentemente, as seis famílias que compõem Booidea, constituem um grupo

monofilético (Pyron et al. 2014), sendo a família Boidae a mais numerosa, com 29

espécies, em cinco gêneros (Boa, Corallus, Chilabothrus, Epicrates e Eunectes),

distribuídas principalmente nas Américas Central e do Sul (McDiarmid et al. 1999;

Burbrink 2004; Noonan e Chippindale 2006; Uetz e Hosek 2014; Pyron et al. 2014;

Reynolds et al. 2014), como sendo parte da radiação sul-americana das serpentes

desta superfamília (Reed e Rodda 2009; Pyron et al. 2013).

1.1 Considerações gerais sobre Boa, Corallus e Eunectes

As espécies de Boa (Jiboia) e Corallus (Amazon Tree Boa) apresentam hábitos

arborícolas e terrestres e são mais ativas no crepúsculo e à noite. Possuem uma dieta

variada, consumindo aves, mamíferos, lagartos e anfíbios, que geralmente predam por

constrição (Henderson 1993a; b; Tolson e Henderson 1993; Henderson et al. 1995;

Stafford e Henderson 1996; Monroy-Vilchis et al. 2011). Devido à diversidade de

padrões de coloração e manchas na pele, tamanho, resistência e docilidade relativa, as

espécies destes gêneros têm sido muito difundidas no comércio de “pets” exóticos

(Fogel 1997; Bonny 2007; Russo 2007).

O gênero Boa (Linnaeus, 1758) é monotípico (Boa constrictor) e até

recentemente era composto por nove subespécies, que divergem em diversas

características como dieta, ecologia, comportamento, tamanho, padrões de manchas e

coloração (Reed e Rodda 2009; Boback e Lynn 2010).

Hynková et al. (2009), a partir da análise do gene Citocromo b em seis

subespécies de Boa constrictor, detectaram 67 haplótipos em dois clados, sendo um

para a América Central e outro para a America do Sul e sugeriram a elevação da

subespécie Boa constrictor imperator à espécie plena. Reynolds et al. (2013; 2014)

também encontraram apoio para o reconhecimento de Boa imperator, bem como para

a realocação de Boa constrictor sabogae, como subespécie de Boa imperator (Figura

2).

Esses animais apresentam uma ampla distribuição desde o norte do México até

o sul da América do Sul (Ernest e Zug 1996; Reed e Rodda 2009).

4

Boa constrictor compreende animais de médio a grande porte, podendo

ultrapassar 4m de comprimento. Seu corpo cilíndrico é comprimido nas laterais, o que

evidencia sua forte musculatura constritora (Reed e Rodda 2009). Para o Brasil são

conhecidas duas subespécies: Boa constrictor constrictor, com ampla distribuição na

região amazônica, e Boa constrictor amarali, distribuída na região nordeste, sudeste e

sul (Reed e Rodda 2009).

Corallus (Daudin, 1803) é composto por nove espécies com ampla distribuição

ao longo das Américas Central e do Sul (Henderson et al. 2009). As relações evolutivas

para esse gênero têm sido bem abordadas ao longo dos últimos anos, sendo elas

baseadas em caracteres morfológicos e moleculares (Kluge 1991; Henderson e

Hedges 1995; Henderson 1997; Vi dal et al. 2005; Colston et al. 2013; Pyron et al.

2014; Reynolds et al. 2014). Três espécies podem ser encontradas tanto na América

Central quanto na América do Sul (Corallus blombergi, Corallus annulatus e Corallus

ruschenbergerii); duas endêmicas às Antilhas (Corallus cookii e Corallus grenadensis)

e quatro ao longo da América do Sul (Corallus cropanii, Corallus caninus, Corallus

batesii e Corallus hortulanus), sendo essas últimas encontradas no Brasil. Com

exceção da raríssima Corallus cropanii, as outras espécies ocorrentes no Brasil são

simpátricas e encontram-se amplamente distribuídas na região amazônica (Henderson

et al. 2009; Colston et al. 2013; Pyron et al. 2014). Apresentam o corpo levemente

comprimido lateralmente, dentes bem desenvolvidos na região anterior da boca e

fossas labiais bem visíveis (Henderson 1993b).

As espécies desse gênero apresentam uma infinidade de variações de padrões

de manchas da pele (Figura 3) e coloração com tons que podem ou não ser mistos de

amarelo, vermelho, laranjado, marrom, preto, caramelo, cinza, bege, entre outras.

Esses padrões de coloração e manchas na pele podem estar relacionados a mutações

em vários genes responsáveis pela coloração em vertebrados (Bennett e Lamoreux

2003; Hoekstra et al. 2006; Hubbard et al. 2010; Johnson 2012), porém, mais

frequentemente estão associados a mutações nucleotídicas na sequência do

codificador de melanocortina (Mc1r), podendo essas variações, ser intra e

interespecificas (Rosenblum et al. 2004; 2010). Embora essas variações nucleotídicas

5

já tenham sido bem documentadas em alguns grupos de vertebrados (Ritland et al.

2001; Eizirik et al. 2003; Rosenblum et al. 2004; Mundy et al. 2004; Corso et al. 2012;

Cox et al. 2013), as razões pelas quais há a ocorrência desses polimorfismos de

coloração ainda não estão muito claras, sendo que os mesmos podem estar

associados a eventos epigenéticos ou à presença de elementos transponíveis. Essas

variações de coloração também podem estar associadas à dinâmica de seleção sexual

em diferentes grupos de vertebrados, incluindo os répteis (Sinervo e Lively 1996; Gray

e McKinnon 2006), mimetismo ou adaptabilidade ao meio, como “background” (Mallet e

Joron 1999; Hoekstra et al. 2006; Rosenblum et al. 2010).

Figura 03. Figura retirada de Henderson (1997), representando alguns exemplos das variações

de padrões de manchas da pele de Corallus.

6

Espécies de Corallus normalmente ocorrem em uma ampla variedade de

habitats, podendo ser comumente encontradas na floresta amazônica, em regiões

arbóreas com alta taxa de umidade, como ambientes de várzea, florestas de terra firme

e em zonas secas como o cerrado (Henderson et al. 1995; Martins e Oliveira 1999;

Huang 2006).

Eunectes (Wagler, 1830) é composto por quatro espécies de serpentes

conhecidas popularmente como Anacondas: Eunectes notaeus e Eunectes

deschauenseei consideradas anacondas amarelas; Eunectes murinus e Eunectes

beniensis, as anacondas verdes (Dirksen e Böhme 1998). São serpentes

predominantemente aquáticas, que apresentam ampla distribuição na América do Sul

(Strüssmann e Sazima 1993; Dirksen 2002; Bisplinghoff e Bellosa 2007; Waller et al.

2007). São consideradas as maiores serpentes do mundo em massa, podendo

ultrapassar os 300 quilos (Murphy 1997). Possuem tanto os olhos quanto as narinas

voltadas para a parte dorsal do corpo, o que lhes permite uma melhor eficiência em

suas estratégias de forrageamento em lugares alagados, como pântanos e lagos

(Thorbjarnarson 1995; Murphy e Campbell 1997; Rivas e Owens 2001).

No Brasil são encontradas as espécies E. notaeus, E. deschauenseei e E.

murinus. Apenas a última é simpátrica em relação às demais (Reed e Rodda 2009;

Uetz e Hosek 2014). As anacondas são animais de grande porte e possuem uma dieta

eurifágica (Beebe 1946; Henderson et al. 1995; Murphy e Campbell 1997; Martins e

Oliveira 1999), podendo incluir peixes, tartarugas, jacarés, serpentes aquáticas, aves

aquáticas, roedores e até mesmo carniça (Strussmann e Sazima 1991; Strüssmann

1997; Dirksen 2002; Waller et al. 2007). Foram muito impactadas por causa do

comércio de seu couro (Strimple 1993) e utilização de sua gordura na medicina

tradicional (Rivas 1999). O contato com o ser humano quase sempre resulta na morte

desses animais, por serem capturados em anzóis (Boos 2001) e em redes de pesca

(Martins e Oliveira 1999; Duellman 2005).

7

1.2 Citogenética de Serpentes

Os dados citogenéticos são de grande importância para a compreensão da

evolução de um grupo, podendo atuar em conjunto ou de forma complementar na

sistemática e taxonomia. Em serpentes, a citogenética e evolução cromossômica não

têm sido abordadas de forma integral como em outros grupos de vertebrados, sendo

que a maioria dos estudos restringe-se a descrições cariotípicas em coloração

convencional, existindo poucos estudos com o emprego de bandeamentos

cromossômicos (Mengden e Stock 1980; Moreno et al. 1987; Porter et al. 1991; 1994;

Camper e Hanks 1995; Olmo e Signorino 2005; Aprea et al. 2006; Garcia e Hernando

2007; Pinthong et al. 2013), os quais são fundamentais para se discutir a evolução

cromossômica de um grupo.

Os cariótipos, para a grande maioria das espécies de lagartos, aves, tartarugas

e serpentes são assimétricos, separados em macrocromossomos e

microcromossomos, os quais diferem em relação ao tamanho físico e morfologia

(Beçak e Beçak 1969; Singh 1972a; Bickham e Carr 1983; Sasaki et al. 1984;

Trajtengertz et al. 1995; Matsuda et al. 2005; Matsubara et al. 2006; Ledesma et al.

2006; Fantin e Monjeló 2011; Pokorná et al. 2011; Pinthong et al. 2013).

Os dados citogenéticos para a superfamília Booidea, para as seis famílias,

limitam-se à descrição do número diploide em coloração convencional para algumas

espécies, descrição da região organizadora de nucléolo apenas para a subespécie B.

constrictor constrictor e descrição do padrão de heterocromatina constitutiva para

Sanzinia madagascariensis (Tabela 1).

8

Tabela 1. Dados citogenéticos para a superfamília Booidea compilados da literatura (2n=número diploide;

FC=Fórmula cromossômica; M=macrocromossomos; mi=microcromossomos; Banda C=pares com

heterocromatina; RON=região organizadora do nucléolo).

Família Espécie 2n/FC Cromossomos

Sexuais

Banda

C

RON

Localidade Referência

Sanziniidae Sanzinia

madagascariensis

34/18 M-

16 mi

- 4, 7, 10 - Madagascar Mengden e Stock 1980

Acrantophis dumerilii 34/16 M-

18 mi

ZZ/ZW - Madagascar

Charinidae Lichanura trivirgata 36/16 M-

20 mi

- - El Cajon -

Califórnia

Gorman e Gress 1970

Charina bottae 36/16 M-

20 mi

- - Pinecrest -

Califórnia

Erycidae Eryx conicus 34/16 M-

18 mi

- - Índia Singh et al. 1970

Eryx johnii 34/16 M-

18 mi

- - Índia

9

Eryx jaculus 34/16 M-

18 mi

- - Israel Werner 1959

Candoiidae Candoia bibroni 36/16 M-

20 mi

- - Austrália Mengden 1982

Candoia paulsoni 36/16 M-

20 mi

- - Austrália

Boidae

Boa constrictor

amarali

36/16 M-

20 mi

- Um par

micro

São Paulo -

Brasil

Beçak 1965; De Smet

1978; Camper e Hanks

1995

Boa constrictor

constrictor

36/16 M-

20 mi

- - Rondônia -

Brasil

Beçak et al. 1962;

Bianchi et al. 1969

Corallus caninus 44/24 M-

20 mi

- - Pará - Brasil Beçak 1966

Corallus grenadensis 40/20 M-

20 mi

- - Grenada - West

Indies

Gorman e Gress 1970

Eunectes murinus 36/16 M-

20 mi

- - São Paulo -

Brasil

Beçak 1965; De Smet

1978

10

Epicrates crassus 36/16 M-

20 mi

- Um par

micro

Brasil Beçak 1965; Viana,

comunicação pessoal

Epicrates assisi 36/16 M-

20 mi

Um par

micro

Minas Gerais -

Brasil

Viana, comunicação

pessoal

Epicrates cenchria 36/16 M-

20 mi

Um par

micro

Pará - Brasil Viana, comunicação

pessoal

Chilabothrus striatus 36/16 M-

20 mi

- - Leogane - Haiti Gorman e Gress 1970

11

Camper e Hanks (1995) descreveram a localização e o número de regiões

organizadoras de nucléolo (Ag-RON) para 21 espécies de serpentes, pertencentes a

cinco famílias, dentre essas, a serpente Boa constrictor constrictor, representante da

família Boidae, que apresentou Ag-RON em um par de microcromossomos, sendo este

muito conservado no genoma das serpentes (Burt et al. 1999; Smith et al. 2000).

Embora Ag-RON simples seja considerada uma característica plesiomórfica dentro da

subordem Serpentes, rearranjos como fusões e translocações podem ocorrer entre

macrocromossomos e microcromossomos envolvendo essa região (Baker et al. 1971;

Olmo 2008).

Além do número diploide, fórmula cariotípica e Ag-RON, a descrição do padrão

de heterocromatina constitutiva em serpentes pode contribuir de forma significativa

para o entendimento dos processos evolutivos no grupo. Mengden e Stock (1980)

descreveram o padrão de banda C para oito espécies de serpentes pertencentes às

famílias Colubridae e Boidae, onde verificaram que inúmeros rearranjos

cromossômicos em macrocromossomos e microcromossomos, bem como diferenças

significativas de blocos heterocromáticos e variações na morfologia do cromossomo W

estão presentes, tanto em linhagens primitivas, quanto em linhagens derivadas de

serpentes. Também verificaram que rearranjos cromossômicos e adição de

heterocromatina podem ter sido responsáveis pela diferenciação cromossômica sexual

em Acrantophis dumerili, sendo o primeiro registro de cromossomos sexuais

diferenciados na superfamília Booidea. Estes rearranjos cromossômicos também foram

revelados com a análise do bandeamento G, evidenciando que o cromossomo W é

uma das partes mais variáveis do genoma das serpentes (Beçak 1965; Mengden e

Stock 1980; Aprea et al. 2006; Oguiura et al. 2009; Pinthong et al. 2013).

Estudos cromossômicos com técnicas citogenéticas mais avançadas mostram-

se importantes para a compreensão da taxonomia das espécies de Boidae, bem como

para o entendimento dos mecanismos de evolução cariotípica em serpentes. Tais

mecanismos foram bem documentados para a família Elapidae, onde Micrurus

apresenta inúmeros rearranjos cromossômicos, resultando em diferentes cariótipos,

12

como fusões em microcromossomos para espécies da América Central e fissões para

as espécies da América do Sul, segundo hipótese de Serafim et al. (2007). Para as

espécies que ocorrem na América Central, o número diploide variou entre 2n=26

(Micrurus nigrocinctus, Micrurus ruatanus e Micrurus browni), 2n=30 (Micrurus

mosquitensis, Micrurus diastema, Micrurus elegans, Micrurus hippocrepis), 2n=32

(Micrurus fulvius) e 2n=34 (Micrurus mipartitus, Micrurus alleni) (Graham 1977;

Gutiérrez e Bolaños 1979; Gutiérrez et al. 1988; Luykx et al. 1992) e as da América do

Sul variou entre 2n=38 (Micrurus surinamensis), 2n=40 (Micrurus corallinus), 2n=42

(Micrurus ibiboboca) (Beçak e Beçak 1969; Gutiérrez et al. 1988; Serafim et al. 2007).

Essas grandes variações do número diploide também são descritas para outros

gêneros como Naja e Ophiophagus (Singh 1972a; Ray-Chaudhuri e Singh 1972; Olmo

e Signorino 2005), as quais também podem ser evidenciadas com técnicas de

citogenética molecular.

1.3 Citogenética Molecular em Reptilia

A citogenética molecular, que envolve mapeamentos cromossômicos de

sequências de DNA, é útil no esclarecimento de questões relacionadas à evolução

cromossômica (Bickham e Rogers 1985; King et al. 1986; Amemiya et al. 1993; Porter

et al. 1991; 1994; Srikulnath et al. 2011), à origem de cromossomos sexuais e acima de

tudo sobre a organização genômica, fornecendo novos insights sobre a evolução dos

vertebrados (Matsuda et al. 2005; Ezaz et al. 2005; 2006; Matsubara et al. 2006; 2014

Kawai et al. 2007; Rhen e Schroeder 2010; Pokorná et al. 2011).

Em serpentes, genes ribossomais (DNAr) foram evidenciados em

microcromossomos de diferentes populações de Bothrops neuwiedi (Viperidae) e

também em macrocromossomos dessa serpente, evidenciando um possível evento de

translocação de microcromossomo para macrocromossomo (Trajtengertz et al. 1995).

Ainda, o mapeamento de sequências do gene ribossomal 28S em quatro espécies de

serpentes pertencentes às famílias Viperidae e Colubridae mostrou variabilidade

cariotípica com relação à localização do DNAr nestas serpentes. Crotalus viridis

(Viperidae) apresentou marcações de DNAr em dois pares de microcromossomos;

13

Masticophis flagellum (Colubridae) apresentou marcações em apenas um par de

microcromossomos; Nerodia fasciata e Tamnophis marcianus (Colubridae)

apresentaram marcações em um par de macrocromossomos (Porter et al. 1991).

Abordagens mais avançadas como pintura cromossômica e mapeamento de

genes de cópia única também têm se mostrado como ótimas ferramentas para a

compreensão dos mecanismos de determinação do sexo em répteis e evolução de

cromossomos sexuais. Ezaz et al. (2005) conseguiram identificar em Pogona vitticeps a

existência de microcromossomos sexuais através da hibridização in situ com sondas a

partir de um cromossomo W microdissectado. Matsubara et al. (2006) a partir do

mapeamento de genes responsáveis pela determinação do sexo (RAB5A, DMRT1 e

SOX9) conseguiram identificar os cromossomos sexuais em três espécies de

serpentes, dentre elas Python molurus (Pythonidae), serpente de linhagem basal que

apresentou sequências do RAB5A no braço longo em um par “homomórfico” de

macrocromossomos (número 4) como sendo o par sexual do tipo ZW.

Assim, o mapeamento de sequências de DNA, repetitivas ou não, em

cromossomos de serpentes, tais como DNAr e sequências teloméricas, pode oferecer

importantes insights à cerca da organização genômica desses animais, sendo esta

abordagem ainda insipiente para espécies da família Boidae.

14

2. Objetivos

2.1 Objetivo Geral

Caracterizar, utilizando marcadores cromossômicos clássicos e moleculares,

espécies de serpentes neotropicais da família Boidae.

2.2 Objetivos Específicos

Investigar a existência de homomorfismo de cromossomos sexuais em espécies

de serpentes neotropicais da família Boidae, pela técnica de banda C.

Mapear sequências repetitivas de DNAr 18S e DNA telomérico em espécies de

serpentes neotropicais da família Boidae.

Investigar se existe variação intraespecífica entre indivíduos provenientes de

diferentes localidades.

15

3. Material e Métodos

3.1 Material

Para o presente estudo foram coletados indivíduos de Boa constrictor constrictor

(ambiente natural), Boa constrictor amarali e Boa constrictor occidentalis (cativeiro),

Eunectes murinus (ambiente natural), Eunectes notaeus (cativeiro) e Corallus

hortulanus (ambiente natural). Os animais foram obtidos de diferentes locais, por meio

de coleta ativa ou de cativeiro (Tabela 2 e Figura 4).

Tabela 2 – Espécies, localidade, sexo e número de indivíduos analisados no presente trabalho.

Espécie Localidade Sexo N° de indivíduos

Boa constrictor constrictor

Manaus – AM 7♂ 8 ♀ 16

FLONA do Tapajós – PA 1 ♀

Boa constrictor amarali

Belo Horizonte – MG (cativeiro) 4 ♀ 6 ♂ 10

Boa constrictor occidentalis

Jibóias Brasil – MG (cativeiro) 1 ♂ 1

Corallus hortulanus

PARNA Anavilhanas – AM 2 ♂ 2 ♀

6 FLONA do Tapajós – PA 1 ♀

ESEC Juami-Japurá – AM 1 ♂

Eunectes murinus

Manaus – AM 3 ♀ 2 ♂

10

Lago Catalão – AM 1♀

Novo Aripuanã – AM 1♀

APA Acariquara – AM 1 ♂

FLONA do Tapajós – PA 1 ♂

Belo Horizonte – MG (cativeiro) 1 ♂

Eunectes notaeus Belo Horizonte – MG (cativeiro) 1 ♀ 1

16

3.2 Métodos

3.2.1 Coleta dos animais

Algumas serpentes foram provenientes de coletas do Projeto

SISBIOTA/BIOPHAM e outras foram coletadas sob a autorização ICMBIO – SISBIO de

número 45275-1 (Tabela 3). O presente estudo foi submetido e aprovado pelo comitê

de ética do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, com o protocolo: 013/2014

em 14/07/2014.

O método de coleta ativa consistiu na procura de exemplares durante os

períodos diurno e noturno em florestas de terra firme e em matas ciliares ao longo de

rios e igarapés. Os indivíduos foram capturados de forma manual com o auxílio de

gancho herpetológico, pinção, lanternas e sacos de pano para transporte e trazidos

para uma base laboratorial mais próxima para coleta sanguínea e cultura de linfócitos.

A colheita de sangue deu-se a partir da veia dorsal do animal, utilizando seringas

descartáveis contendo anticoagulante do tipo heparina sódica (hepamax®), sendo

quantidades entre 1ml e 5ml, dependendo do tamanho do animal. Como material

testemunho, os animais provenientes no projeto SISBIOTA foram depositados nas

coleções herpetológicas da Universidade Federal do Amazonas - UFAM ou do Instituto

Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA.

Tabela 3. Material testemunho: espécies, número de registro e coleção.

Espécie Número de Registro Coleção

Boa constrictor constrictor

INPA-H 3096 Coleção de Anfíbios e Répteis / INPA

Boa constrictor constrictor

INPA-H 34712 Coleção de Anfíbios e Répteis / INPA

Boa constrictor constrictor

CTGA-C 84 SISBIOTA / UFAM

Boa constrictor amarali ♀ ------------------------ Zoobotânica - BH

Boa constrictor amarali ♀ ------------------------ Zoobotânica – BH

17

Boa constrictor amarali ♀ ------------------------ Zoobotânica – BH

Boa constrictor amarali ♀ ------------------------ Zoobotânica – BH

Boa constrictor amarali ♂ 9630060000024237 Zoobotânica – BH

Boa constrictor amarali ♂ 963006000024240 Zoobotânica – BH

Boa constrictor amarali ♂ ------------------------ Zoobotânica – BH

Boa constrictor amarali ♂ ------------------------ Zoobotânica – BH

Boa constrictor amarali ♂ ------------------------ Zoobotânica – BH

Boa constrictor amarali ♂ ------------------------ Zoobotânica - BH

Boa constrictor occidentalis

BCOM02 Criadouro - Jiboias Brasil

Corallus hortulanus ♂ CTGA-C 269 SISBIOTA / UFAM

Corallus hortulanus ♀ CTGA-C 95 SISBIOTA / UFAM

Corallus hortulanus ♂ INPA-H 34713 Coleção de Anfíbios e Répteis / INPA

Eunectes murinus ♀ INPA-H 34561 Coleção de Anfíbios e Répteis / INPA

Eunectes murinus ♀ INPA-H 34550 Coleção de Anfíbios e Répteis / INPA

Eunectes murinus ♂ 963006000023750 Zoobotânica - BH

Eunectes murinus ♂ 982009106701490 CIGS - AM

Eunectes murinus ♂ 982009206722122 CIGS - AM

Eunectes murinus ♀ 963006000102214 CIGS – AM

Eunectes murinus ♀ 963006000102023 CIGS – AM

Eunectes murinus ♀ 982009106707295 CIGS - AM

Eunectes notaeus ♀ ------------------------ Zoobotânica - BH

18

Figura 4: Mapa da região Norte do Brasil, indicando os locais de coleta para os animais não provenientes de cativeiro: (1) Manaus, AM; (2) Flona

do Tapajós; (3) Arquipélago de Anavilhanas; (4) Juami-Japurá; (5) Rio Aripuanã. Corallus hortulanus (2,3, 4); Boa constrictor constrictor (1, 2, 3) e

Eunectes murinus (1, 2, 5).

19

Citogenética Clássica

3.2.2 Obtenção de cromossomos mitóticos

Para obtenção das preparações cromossômicas, foi realizada a cultura de

linfócitos de sangue periférico, baseado no protocolo de Beçak et al. 1963, com várias

modificações, que consistiram em:

Adicionar ao frasco de meio de cultura completo para cariótipo com RPMI (5mL) da

marca cultilab®, 0,5 mL de sangue total, misturando-se delicadamente. O frasco foi

incubado em estufa a 29 °C por 96 horas. Após esse período foi adicionado a este

frasco, contendo a cultura de sangue, 0,5 ml de colchicina a 0,025% por 40 minutos.

Em seguida, o material foi transferido para um tubo de centrífuga de 15 ml e

centrifugado por 10 minutos em 1200 rpm. O sobrenadante foi descartado e adicionou-

se uma solução hipotônica de cloreto de potássio (KCL 0,075M). Feito isso, o material

foi homogeneizado e incubado em estufa a 37 °C por 45 minutos. Logo após esse

período, foi acrescentado à solução cerca de 500 µl de fixador Carnoy (metanol 3:1

ácido acético) e homogeneizado novamente. Essa solução foi centrifugada, o

sobrenadante descartado e 8mL de fixador acrescentados, ressuspendida e

centrifugada novamente. Esses passos foram repetidos por mais duas vezes. Após a

última centrifugação, o sobrenadante foi descartado e adicionado 1,5 mL de fixador. O

material foi transferido para um microtubo identificado com o número do indivíduo e

guardado em freezer (-10 °C) até a preparação das lâminas.

As lâminas foram preparadas gotejando-se de duas a três gotas da suspensão

celular em uma lâmina de vidro limpa (aquecida em água destilada a 45 °C), a uma

altura de 40-50 cm, deixando-se secar em temperatura ambiente. Em seguida, as

lâminas foram coradas com solução de Giemsa, diluída a 5% em tampão fosfato pH

6,8, por 7 minutos, lavadas e secas em temperatura ambiente.

3.2.3 Detecção das Regiões Organizadoras de Nucléolo (RON)

As RON foram detectadas utilizando a técnica de impregnação por nitrato de

prata (Ag-RON), descrita por Howell e Black (1980), que consistiu em gotejar sobre a

20

lâmina com a preparação cromossômica uma gota de solução aquosa de gelatina a

2%, acrescida de ácido fórmico na proporção de 1mL/100mL de solução, e duas gotas

de solução aquosa de nitrato de prata (AgNO3) a 50%. A lâmina foi agitada levemente,

coberta com lamínula, colocada em câmara úmida e levada ao banho-maria ou estufa a

60 °C, por um período de dois a quatro minutos, ou até que a lâmina apresentasse uma

coloração marrom-dourada. Em seguida, as lâminas foram lavadas em água destilada,

permitindo que a lamínula e o excesso das soluções fossem removidos, sendo

posteriormente deixadas secar ao ar.

3.2.4 Bandeamento C

Para a caracterização da heterocromatina constitutiva utilizou-se o protocolo

descrito por Sumner (1972), com modificações. A lâmina contendo a preparação

cromossômica foi submetida a um tratamento com solução ácida HCl 0,2 N, 45 °C, por

4 minutos; em seguida foram lavadas com água destilada e deixadas secar ao ar. As

lâminas posteriormente foram incubadas em solução básica de hidróxido de bário

octahidratado (Ba (OH)2.8H2O) 5%, por um período que variou entre 8 e 90 segundos,

a 45 °C. Após este tratamento, as lâminas foram lavadas rapidamente em solução de

HCl 0,2 N, em temperatura ambiente e posteriormente lavadas, várias vezes, em água

destilada e novamente deixadas secar ao ar; em seguida incubadas em solução

2XSSC (cloreto de sódio 0,3M e citrato trissódico 0,06M em pH 6,8) a 60 °C, por 25

minutos. Após isso, as lâminas foram lavadas, secas ao ar e coradas com Giemsa

diluído a 5% em tampão fosfato pH 6,8, por 15 minutos.

Citogenética Molecular

3.2.5 Extração de DNA total

A extração de DNA foi realizada a partir de amostras sanguíneas das serpentes,

utilizando o protocolo de Sambrook et al. (1989), com algumas modificações. Para

tanto, 500 μL de sangue foram transferidos para um tubo de volume de 1,5 mL. Em

seguida, foram adicionados 500 μL de tampão de lise (Tris-HCl 10 mM, pH 8,0, NaCl

0,3M, EDTA 10 mM, SDS 1%). Posteriormente foram acrescentados: 15 μL de

21

proteinase K (10 mg/mL) e 6 μL de RNAse (10 mg/mL). As amostras foram incubadas a

60 ºC por aproximadamente 1 hora para que o tecido fosse totalmente digerido. Foram

adicionados 100 μL de acetato de amônio 3M, 1 volume (600 μL) de fenol-clorofórmio

(1:1) e agitado por inversão durante alguns minutos. Após isso as amostras foram

centrifugadas por 30 minutos a 14.000 rpm em temperatura ambiente. O sobrenadante

foi transferido para um novo tubo. Em seguida adicionou-se 600 μL de clorofórmio e

misturou-se, cuidadosamente, por inversão, durante 1 minuto. A mistura foi então

centrifugada por 20 minutos a 14.000 rpm. O sobrenadante foi transferido para um

novo tubo e acrescentou-se 100 μL de acetato de amônio 3M, 1 volume (600 μL) de

isopropanol gelado e misturado por inversão. O precipitado foi deixado a -20 °C por

cerca de 14 horas. O material foi retirado do freezer e centrifugado por 30 minutos a

14.000 rpm, descartando-se o sobrenadante. O pellet foi lavado com 1 mL de etanol

70% e centrifugado por 20 minutos a 14.000 rpm. O sobrenadante foi descartado

novamente e o pellet foi seco em estufa a 55 °C, ressuspendido em 100 μl de ou água

milli- Q e deixado eluindo por 14 horas. Para possibilitar a análise da quantidade e

integridade do material, o DNA extraído foi quantificado em espectrofotômetro

NanoDrop 2000 (Thermo Scientific).

3.2.6 Isolamento de sequências repetitivas de DNA por PCR (Polymerase Chain

Reaction)

O isolamento das sequências repetitivas de DNAr foi efetuado por meio de

Reação da Polimerase em Cadeia (Saiki et al. 1988), utilizando DNA genômico extraído

do sangue das diferentes espécies e os seguintes pares de primers: a) DNAr 18S: IpF

5’CCGCTTTGGTGACTCTTGAT e IpR 5’CCGAGGACCTCACTAAACCA (Gross et al.

2010). As reações de PCR foram feitas em um termociclador Eppendorf - Mastercycler

Gradient, para volume final de 15 μL (1 μL de DNA genômico (100 ng); 1,5 μL de

Tampão 10X com cloreto de magnésio (1,5 mM); 0,15 μL de Taq DNA polimerase

(5U/µl); 3,0 μL de dNTP (1 mM); 0,6 μL de cada primer (5 mM); água milli-Q para

completar o volume). Para sequências teloméricas, as amplificações foram feitas em

ausência de DNA com os primers (TTAGGG)5x e (CCCTAA)5x (Ijdo et al. 1991).

22

Os ciclos de amplificação seguiram as seguintes etapas:

a) DNAr 18S: 2 minutos a 94 ºC (desnaturação inicial); 35 ciclos de 1 minuto a 95

ºC (desnaturação), 1 minuto a 55 ºC (anelamento dos primers), 1 minuto e 40

segundos a 72 ºC (extensão); 7 minutos a 72 ºC (extensão final);

b) DNA Telomérico: 4 minutos a 94 °C (desnaturação inicial), 12 ciclos de 1 min a

94 °C (desnaturação), 45 segundos a 52 °C (anelamento dos primers) e 1

minuto e 30 segundos a 72 °C (extensão); 1 minuto a 94 °C (desnaturação), 1

minuto e 30 segundos a 60 °C (ligação dos primers) e 1 minuto e 30 segundos a

72 °C(extensão); 7 minutos a 72 ºC (extensão final).

Os produtos de PCR foram utilizados como sondas na hibridização fluorescente in

situ após marcação pelo método de nick translation, utilizando biotina 14-dATP (Bionick

labeling system-Invitrogen) e/ou digoxigenina-11-dUTP (Dig-Nick Translation mix

Roche). Para tanto, em um tubo eppendorf de 1,5 mL, foi preparada uma solução

contendo 1 μL de Mix dNTP 10x; 1 μL de sonda de DNA (200 ng/ μL); 1 μL de Mix de

enzima 10x; 6 μL de água milli-Q, totalizando 9 μL para cada lâmina que foi hibridizada.

Esta solução foi homogeneizada, centrifugada brevemente e incubada a 16 ºC por 90

minutos no termociclador. Em seguida, para interromper a reação foi adicionado 1 μL

de stop buffer contendo 1 μL de acetato de sódio 3M e posteriormente mantida em

freezer para posterior utilização.

3.2.7 Hibridização in situ por fluorescência (FISH)

Foi realizada a técnica de hidridização in situ por fluorescência (FISH) descrita

por Pinkel et al. (1986) com algumas modificações:

Tratamento das lâminas:

As lâminas foram lavadas em tampão PBS 1x por 5 minutos, em temperatura ambiente

e desidratadas em série alcoólica gelada 70, 85 e 100% durante 10 minutos cada. Em

seguida, tratadas com 90 μl de RNase 10 μg/mL (5 μL de RNase 10 mg/mL e 975 μL

de 2XSSC) por 1 hora em câmara úmida a 37 ºC. Após, as lâminas foram lavadas três

23

vezes em 2xSSC por 5 minutos cada e posteriormente lavadas em PBS 1x durante 5

minutos.

Fixação

As lâminas foram fixadas em formaldeído 1% em PBS 1X/50mM MgCl2 durante 10

minutos à temperatura ambiente. Posteriormente, lavadas em PBS 1x por 5 minutos.

Após, as lâminas foram novamente desidratadas em série alcoólica gelada (70, 85 e

100%) durante 5 minutos cada e deixadas secar ao ar.

Pré-hibridização

As lâminas foram desnaturadas em formamida 70% em 2xSSC a 70 ºC por 5 minutos e

novamente desidratadas em etanol gelado 70, 85 e 100% por 5 minutos cada.

Solução de hibridização:

Em um tubo tipo eppendorf foram adicionados 4 μl de sonda 1, 4 μl de sonda 2,

20 μl de formamida, 8 μl de sulfato de dextrano 50% e 4 μl de 20xSSC. As sondas

foram desnaturadas a 99 °C por 10 minutos e transferidas imediatamente ao gelo.

Hibridização:

Foram colocados 40 μl de solução de hibridização sobre uma lamínula e a

lâmina alocada invertida sobre a lamínula. As lâminas foram mantidas com o material

voltado para baixo em câmara úmida (água destilada) a 37 °C por cerca de 14 horas.

Lavagens:

As lamínulas foram removidas das lâminas e, em seguida lavadas uma vez em

formamida 15% a 42 °C durante 5 minutos. Em seguida as lâminas foram lavadas em

solução Tween 0,5% durante 5 minutos à temperatura ambiente.

Detecção:

As lâminas foram incubadas em tampão NFDM (NonFat Dry Milk) por 15

minutos. Após isso foram lavadas duas vezes com solução Tween 5% por 5 minutos à

temperatura ambiente. Foram colocadas sobre cada lâmina 20 µL de anti digoxigenina-

rodamina e 100 µL de solução contendo tampão NFDM e estreptavidina (2 μL de

estreptavidina estoque em 998 μL de NFDM). Em seguida, foram cobertas com

lamínula e deixadas por 60 minutos em câmara úmida com água destilada.

Posteriormente as lamínulas foram removidas e as lâminas lavadas três vezes em

24

solução Tween 5% por 2 minutos cada a temperatura ambiente. As lâminas foram

desidratadas em série alcoólica 70, 85 e 100% durante 5 minutos cada e esperou-se

secar.

Montagem das lâminas:

Foi adicionada, a cada lâmina, solução de DAPI diluído em antifade VectaShield

Vector (20 µL de antifade e 1 µL de DAPI).

3.2.8 Análise cariotípica

As preparações cromossômicas foram analisadas em microscópio óptico

Olympus BX 51 com objetiva de imersão. Contou-se um mínimo de 10 metáfases para

cada indivíduo, com o intuito de se estabelecer o número diploide (2n) e o número

fundamental (número de braços do cariótipo) de cada indivíduo. As melhores

metáfases tiveram suas imagens capturadas com câmera digital acoplada (Olympus

DP71), utilizando o software Image-Pro MC 6.3.

Para a montagem dos cariótipos utilizou-se o software Adobe Photoshop CS6

previamente licenciado, onde os cromossomos metafásicos mitóticos foram recortados,

emparelhados, medidos e colocados em ordem decrescente de tamanho. Os cariótipos

foram divididos em macrocromossomos e microcromossomos e a morfologia para os

macrocromossomos foi determinada de acordo com Levan et al. (1964), com base no

índice de relação de braços (RB= comprimento do braço maior/comprimento do braço

menor), podendo ser metacêntricos (RB= 1,0-1,7), submetacêntricos (RB=1,71-3,0),

subtelocêntricos (RB=3,01-7,0) e acrocêntricos (RB> 7,00). Na determinação do

número de braços (NF) foram considerados os metacêntricos, submetacêntricos e

subtelocêntricos como tendo dois braços e os acrocêntricos e microcromossomos

como tendo apenas um braço.

25

4. Resultados

4.1 Boa constrictor

Para esta espécie foi possível analisar três subespécies: Boa constrictor

constrictor, Boa constrictor amarali e Boa constrictor occidentalis e todos os

exemplares apresentaram um número diploide igual a 36 cromossomos, com fórmula

cariotípica igual a 6m+2sm+4st+4a+20mi e número de braços (NF) igual a 50, sem

heteromorfismo de cromossomos sexuais e sem diferenças entre as subespécies, em

coloração convencional. Também não foi detectada nenhuma diferença entre os

exemplares de diferentes localidades.

A organização dos cromossomos em ordem decrescente de tamanho evidenciou

que os três primeiros pares de cromossomos são bem maiores, quando comparados

aos outros cinco pares de macrocromossomos. O primeiro, terceiro e quarto pares são

metacêntricos, o segundo par é submetacêntrico, os pares cinco e seis são

subtelocêntricos e os pares sete e oito são acrocêntricos. Com relação aos

microcromossomos, não foi possível determinar com precisão a morfologia para todos

e nem realizar o emparelhamento dos homólogos, devido ao tamanho reduzido dos

mesmos. Portanto, foram organizados em ordem decrescente de tamanho (Figura 5 A,

B, C).

A impregnação com nitrato de prata (Ag-RON) evidenciou a região organizadora

de nucléolo em apenas um par de microcromossomos nas três subespécies. Em

algumas ocasiões, os microcromossomos portadores da região organizadora de

nucléolo foram vistos em associação. O mapeamento da sequência de DNA ribossomal

18S, nas três subespécies, revelou apenas um par de microcromossomos os

portadores da região de DNAr 18S, confirmando as marcações obtidas pela

impregnação por nitrato de prata (Figura 5 A, B, C, em destaque).

26

Figura 5 – Cariótipos de Boa constrictor: (A) Boa constrictor constrictor; (B) Boa constrictor amarali; (C) Boa constrictor occidentalis com suas respectivas regiões organizadoras de nucléolo em um par de microcromossomos, detectada por Ag-NO3 e pela FISH com DNAr 18S (sinais em vermelho).

27

A heterocromatina constitutiva foi evidenciada principalmente nos

macrocromossomos das três subespécies, sendo que alguns microcromossomos

apresentaram marcações difusas, impossibilitando a localização exata desses blocos.

Entretanto, o padrão de banda C foi distinto para cada subespécie.

Boa constrictor constrictor apresentou blocos heterocromáticos principalmente

nos pares 2, 4, 5, 7 e 8, sendo que nos pares 2 e 4 os blocos heterocromáticos

encontram-se na região centromérica; no par 5 a heterocromatina está na região

terminal do braço longo e nos pares 7 e 8, as marcações são biteloméricas (Figura 6

A). Nenhuma diferença foi detectada entre exemplares de diferentes localidades e

entre machos e fêmeas.

Boa constrictor amarali apresentou os blocos nos pares 2, 4, 7 e 8, sendo que

nos pares 2 e 4, assim como em Boa constrictor constrictor, encontram-se em posição

centromérica, já no par de número 7 os blocos estão na região distal do braço curto e

no par de número 8 encontra-se na região terminal do braço longo (Figura 6 B).

Boa constrictor occidentalis apresentou os blocos nos pares 2, 4 e 5, sendo que

nos pares 2 e 4, assim como nas outras duas, encontram-se em posição centromérica,

enquanto o par de número 5 apresenta blocos heterocromáticos biteloméricos (Figura 6

C).

28

Figura 6 – Cariótipos de Boa constrictor: (A) Boa constrictor constrictor; (B) Boa constrictor amarali; (C)

Boa constrictor occidentalis, com suas respectivas regiões heterocromáticas evidenciadas pelo

bandeamento C.

29

O mapeamento cromossômico de sequências teloméricas, além de revelar

marcações terminais em todos os cromossomos do complemento, também evidenciou

sequências teloméricas repetitivas intersticiais (ITS) e padrão distinto para cada

subespécie. O mapeamento foi repetido para confirmação desses padrões e as

marcações foram iguais para animais provenientes de diferentes localidades

Boa constrictor constrictor apresentou ITS nos pares 2 e 4, sendo que no par 2

(sm) as marcações foram observadas nos braços curtos, adjacentes ao bloco de

heterocromatina constitutiva. Já no par 4 (m), a ITS localizou-se na região do

centrômero, coincidindo com o bloco de heterocromatina constitutiva (Figura 7 A).

Nenhuma diferença foi detectada entre os exemplares de diferentes localidades.

Boa constrictor amarali apresentou ITS nos pares 1, 2 e 6, onde o par número 1

apresenta uma ITS na região proximal tanto do braço longo como do curto. No par 2 há

a presença de duas ITS na região intersticial do braço curto e duas ITS na região

proximal do braço longo. Já, o par 6 (st) apresenta uma ITS na região intersticial do

braço longo (Figura 7 B).

Boa constrictor occidentalis apresentou ITS nos pares 2, 4 e 8, sendo que no par

2, a ITS foi proximal no braço curto, adjacente ao bloco de heterocromatina constitutiva,

no para 4 a ITS está na região centromérica coincidente com o bloco de

heterocromatina e no par 8, a ITS foi proximal no braço longo (Figura 7 C).

30

Figura 7 – Cariótipos de Boa constrictor: (A) Boa constrictor constrictor; (B) Boa constrictor amarali; (C), Boa constrictor occidentalis hibridizados com sonda telomérica, evidenciando as ITSs específicas para cada subespécie (sinais em vermelho).

31

4.2 Eunectes

Para este gênero foram analisadas duas espécies: Eunectes murinus (anaconda

verde) e Eunectes notaeus (anaconda amarela).

Todos os exemplares de ambas espécies apresentaram um número diploide

igual a 36 cromossomos, com fórmula cariotípica igual a 6m+2sm+8st+20mi e número

de braços (NF) igual a 52, sem heteromorfismo de cromossomos sexuais e sem

diferença entre as espécies, em coloração convencional. Também não foi detectada

nenhuma diferença entre os exemplares das diferentes localidades. A organização dos

cromossomos em ordem decrescente de tamanho evidenciou que, assim como em

Boa, os três primeiros pares de macrocromossomos são bem maiores, em comparação

aos demais pares de macro. Os pares 1, 3 e 4 são do tipo metacêntricos, o par 2 é

submetacêntrico e os pares 5, 6, 7 e 8 são do tipo subtelocêntricos. Os

microcromossomos foram ordenados em ordem decrescente de tamanho devido à

impossibilidade de afirmar com exatidão sua morfologia e emparelhamento dos

homólogos (Figura 8 A, B).

A impregnação com nitrato de prata (Ag-RON) evidenciou a região organizadora

de nucléolo em apenas um par de microcromossomos nas duas espécies. Em algumas

ocasiões, os microcromossomos portadores da região organizadora de nucléolo foram

encontrados em associação para ambas as espécies, porém houve uma diferença

notável de tamanho entre os microcromossomos de Eunectes notaeus. O mapeamento

da sequência de DNA ribossomal 18S, em ambas espécies, revelou apenas um par de

microcromossomos portador da região de DNAr 18S, confirmando as marcações

obtidas pela impregnação por nitrato de prata (Figura 8 A, B em destaque).

32

Figura 8 – Cariótipos de Eunectes: (A) Eunectes murinus e (B) Eunectes notaeus, com suas respectivas regiões organizadoras de nucléolo em um par de microcromossomos, detectada por Ag-NO3 e pela FISH com DNAr 18S (sinais em vermelho).

A heterocromatina constitutiva foi evidenciada principalmente nos

macrocromossomos das duas espécies, sendo que alguns microcromossomos

apresentaram marcações difusas, impossibilitando a localização exata desses blocos.

Entretanto, o padrão de banda C foi distinto para cada espécie.

Em Eunectes murinus, além de marcações biteloméricas, o par 1 tem um bloco

heterocromático intersticial no braço curto e dois blocos intersticiais no braço longo. O

par 2 também apresenta blocos biteloméricos e um bloco intersticial no braço curto. O

par 3 apresentou blocos heterocromáticos na região centromérica e biteloméricas. Os

pares 4, 6, 7 têm marcações biteloméricas, enquanto os pares 5 e 8 apresentam

marcações centroméricas (Figura 9 A).

Em Eunectes notaeus, o par número 1, assim como em Eunectes murinus

apresentou marcações biteloméricas, um bloco na região intersticial do braço curto e

33

dois blocos na região intersticial do braço longo. O par 2 apresentou blocos

biteloméricos, centromérico e na região intersticial do braço longo. O par 3 apresentou

marcações centromérica e terminal no braço curto. O par 4 apresentou blocos terminais

no braço curto. Os pares 5 e 6 apresentaram marcações apenas centroméricas e os

pares 7 e 8 apresentaram blocos em posição bitelomérica (Figura 9 B).

Figura 9 – Cariótipos de Eunectes: (A) Eunectes murinus e (B) Eunectes notaeus, com suas respectivas regiões heterocromáticas, evidenciadas pelo bandeamento C.

O mapeamento cromossômico de sequências teloméricas, além de revelar

marcações terminais em todos os cromossomos do complemento, também evidenciou

sequências teloméricas repetitivas intersticiais (ITS) em Eunectes murinus, que

apresentou ITS nos pares 1, 2 e 6. No par 1 as marcações foram evidenciadas em

região pericentromérica, do braço curto. No par 2 foram encontradas duas ITS, uma na

região intersticial do braço curto e a outra do braço longo. No par 6 a ITS foi

evidenciada na região intersticial do braço longo (Figura 10 A). Eunectes notaeus, por

34

sua vez não apresentou nenhum vestígio de ITS, o que consequentemente culmina em

dois padrões distintos de sequências teloméricas para Sucuris (Figura 10 B).

Figura 10 – Cariótipos de Eunectes: (A) Eunectes murinus e (B) Eunectes notaeus, hibridizados com

sonda telomérica, evidenciando as ITS em apenas uma das espécies (sinais em vermelho).

4.3 Corallus hortulanus

Para essa espécie, as fêmeas apresentaram número diploide igual a 40

cromossomos com fórmula cariotípica igual a 6m+16st+18mi e número de braços (NF)

igual a 62, enquanto os machos apresentaram número diploide igual a 39

cromossomos com fórmula cariotípica 5m+16st+18mi e número de braços (NF) igual a

60. Os pares 1 e 5 são metacêntricos e os demais subtelocêntricos. Entretanto, as

fêmeas apresentaram mais dois cromossomos metacêntricos, sendo um de tamanho

35

médio (com seu correspondente nos machos) e um pequeno, mas de forma bem

definida, diferenciando assim dos microcromossomos. Esta diferença cromossômica

entre macho e fêmea sugere tratar-se de um sistema heteromórfico de determinação

do sexo. Entretanto, os dois sexos se apresentam heterogaméticos (Figura 11 A, B).

A impregnação com nitrato de prata (Ag-RON) evidenciou a região organizadora

de nucléolo em apenas um par de microcromossomos em ambos os sexos. Em

algumas ocasiões, os microcromossomos portadores da região organizadora de

nucléolo foram encontrados em associação. O mapeamento da sequência de DNA

ribossomal 18S revelou apenas um par de microcromossomos portador da região de

DNAr 18S, confirmando as marcações obtidas pela impregnação por nitrato de prata

(Figura 11, em destaque).

Figura 11 – Cariótipos de Corallus hortulanus: (A) Fêmea e (B) Macho, com suas respectivas regiões organizadoras de nucléolo em um par de microcromossomos, detectada por Ag-NO3 e pela FISH com DNAr 18S (sinal em vermelho).

36

A heterocromatina constitutiva foi evidenciada principalmente nos

macrocromossomos, sendo que alguns microcromossomos, assim como as outras

espécies analisadas, apresentaram marcações difusas, impossibilitando a localização

exata desses blocos. Entretanto, não houve diferença significativa entre macho e

fêmea. Nos pares 1 e 5, metacêntricos, as marcações foram no centrômero,

biteloméricas e um bloco intersticial no braço curto. Nos demais pares, as marcações

foram biteloméricas, com exceção do par 3 que também apresentou um bloco

intersticial no braço longo. Para o suposto par sexual, o cromossomo metacêntrico

maior apresenta um bloco heterocromático centromérico, já o pequeno não apresentou

heterocromatina evidente (Figura 12).

Figura 12 – Cariótipo de Corallus hortulanus, com suas respectivas regiões heterocromáticas, evidenciadas pelo bandeamento C.

O mapeamento cromossômico de sequências teloméricas para Corallus

hortulanus, além de revelar marcações terminais em todos os cromossomos do

complemento, também evidenciou sequências teloméricas repetitivas intersticiais (ITS)

em um par de macrocromossomos. O par 2 apresentou uma ITS em posição intersticial

do braço longo que não coincide com heterocromatina constitutiva (Figura 13).

37

Figura 13 – Cariótipo de Corallus hortulanus Fêmea, hibridizado com sonda telomérica, evidenciando

uma ITS (sinais em vermelho).

5. Discussão

5.1 A macroestrutura cromossômica de Boidae

O estudo cromossômico em serpentes não tem ocorrido de forma ampla como

em outros grupos de vertebrados, sendo que a maioria dos estudos restringe-se a

descrições cariotípicas em coloração convencional. Para a Amazônia, em particular,

estes estudos são ainda mais restritos. Como já é sabido, o cariótipo, bem como os

marcadores cromossômicos são de grande utilidade para a sistemática e para a

definição de espécies, principalmente quando características morfológicas não são

suficientes para que problemas taxonômicos sejam esclarecidos. Ainda, com o avanço

da citogenética molecular, que oferece diferentes abordagens, tem sido possível

verificar diferenças na estrutura do genoma e responder perguntas sobre a biologia

evolutiva nos mais diversos grupos de vertebrados (Bickham e Rogers 1985; King et al.

1986; Porter et al. 1991; 1994; Matsuda et al. 2005; Ezaz et al. 2005; 2006; Matsubara

et al. 2006; 2014; Pokorná et al. 2011; Srikulnath et al. 2011).

No presente trabalho, ocorreu uma caracterização citogenética de três espécies

e três subespécies, com a descrição de três cariótipos inéditos de serpentes da família

Boidae, com variações intraespecíficas de coloração e manchas da pele.

Características cromossômicas foram evidenciadas com mais acuracidade, uma vez

38

que, preparações cromossômicas foram obtidas por meio de cultura de sangue, o que

perimitiu um maior alongamento e um melhor espalhamento dos cromossomos.

Os cariótipos foram assimétricos, com macro e microcromossomos, como já

descrito na literatura para serpentes. Para as espécies/subespécies de Boidae, aqui

analisadas, uma característica observada, e mantida, é quanto ao tamanho dos três

primeiros pares de macrocromossomos, que são bem maiores em relação aos outros

macrocromossomos do complemento, à exceção de Corallus hortulanus em que os

mesmos decrescem de forma gradual. Esse padrão já foi observado em outras

espécies de serpentes (Beçak et al. 1964; Beçak e Beçak 1969; Carr e Bickham 1981;

Reed et al. 1991; Garnero et al. 2006), em tartarugas, como a espécie Phrynops

geoffroanus (Viana, comunicação pessoal), em lagartos (King e King 1975) e anfíbios

(Sessions 2008).

A presença e manutenção dos microcromossomos nos Boidae analisados não é

um fato incomum dentro da classe Reptilia, onde a grande maioria apresenta um

complemento cromossômico dividido em macrocromossomos e microcromossomos

(Beçak 1965; Stock 1972; Mengden e Stock 1980; Pellegrino et al. 1999; Srikulnath et

al. 2011) porém, também são encontrados em outras classes de vertebrados, variando

em tamanho e quantidade (Morescalchi 1979; Nanda et al. 2002; Ledesma et al. 2006;

Sessions 2008). Para serpentes, praticamente todas as espécies apresentam a

característica de um cariótipo bimodal, no entando existem algumas exceções como

espécies da família Colubridae, dos gêneros Thamnodynastes, Hydrodnastes,

Erythrolamprus (Beçak e Beçak 1969). O mesmo já foi relatado para quelônios da

família Podocnemididae (Fantin e Monjeló 2011) e em Crocodylia (King et al. 1986).

No presente estudo, foi descrito pela primeira vez o cariótipo de Boa constrictor

occidentalis, que assim como as outras duas subespécies de jiboias pertencentes ao

complexo Boa constrictor, que já tinham seu cariótipo descrito, apresentou o mesmo

complemento cariotípico, ou seja número diploide igual a 36 cromossomos, com 16

macrocromossomos e 20 microcromossomos (Beçak et al. 1963; Beçak 1966; Camper

e Hanks 1995). Entretanto, diferenças quanto às fórmulas cariotípicas foram

39

observadas entre os exemplares das três subespécies de Boa constrictor aqui

analisados e os exemplares de B. c. amarali e B. c. constrictor analisadas por Beçak et

al. (1963). Esta deveu-se à separação dos cromossomos submetacêntricos e

acrocêntricos, onde Beçak et al. (1963) consideraram 6m+2sm+8a+20Mi e no presente

estudo considerou-se 6m+2sm+4st+4a+20mi. Essa diferença dos tipos cromossômicos

foi devida, provavelmente, ao grau de compactação diferencial dos cromossomos e

qualidade da preparação cromossômica.

Interessante notar que, em coloração convencional e pela região organizadora

do nucléolo, os cariótipos das três subespécies são muito semelhantes e nenhuma

diferença em relação a cromossomos sexuais diferenciados foi evidenciada. A família

Boidae ocupa uma posição basal entre as serpentes e heteromorfismo de

cromossomos sexuais é encontrado, mais frequentemente, nos táxons derivados

(Beçak e Beçak 1969; Singh 1972a, 1972b; Gorman 1981; Olmo e Signorino 2005;

Oguiura et al. 2009; Pithong et al. 2013), porém há exceções como Acrantophis

dumerili (Sanziniidae), que apresenta cromossomos sexuais diferenciados (Mengden e

Stock 1980).

No caso de Eunectes, em coloração convencional, as duas espécies de

Anacondas analisadas no presente estudo só se diferenciaram das três subespécies de

Boa pela presença de dois pares a mais de macrocromossomos do tipo

subtelocêntricos que nas subespécies de Boa são do tipo acrocêntricos. Por outro lado,

Corallus hortulanus tem um cariótipo totalmente diferenciado, tanto em relação ao

número diploide como à fórmula cariotípica. O número de microcromossomos é menor

e a diferença no número diploide entre machos (39) e fêmeas (40) sugere a presença

de cromossomos sexuais múltiplos.

O padrão de bandeamento C descrito para B. constrictor constrictor, Boa

constrictor occidentalis e Boa constrictor amarali, mostrou uma baixa quantidade de

heterocromatina constitutiva, principalmente quando comparado ao tamanho dos

macrocromossomos. Pode-se dizer que há uma ampla variação quanto ao padrão de

bandeamento C em serpentes basais, onde por exemplo, Boa apresenta pouca

40

quantidade de heterocromatina constitutiva e Sanzinia apresenta grandes blocos

heterocromáticos (Mengden e Stock 1980).

No presente trabalho, nenhuma das espécies/subespécies de Boa e Eunectes

apresentou diferenças na distribuição dos blocos heterocromáticos entre machos e

fêmeas e nem entre localidades de coleta, descartando assim a presença de

cromossomos sexuais diferenciados nestas serpentes, como descrito para vários

répteis que possuem sistema de determinação sexual do tipo ZZ/ZW, em que o W é

parcialmente ou totalmente heterocromático (Mengden e Stock 1980; Mengden 1981;

Oguiura et al. 2009; Pinthong et al. 2013).

O padrão de banda C foi específico para cada espécie/subespécie, o que o faz

um excelente marcador citogenético e taxonômico para diferenciar todas as serpentes

Boidae aqui analisadas.

Para as subespécies de Boa, os blocos dos pares 2 e 4 apresentam uma alta

homeologia entre os cariótipos, no entanto a variação presente a partir do quinto par de

macrocromossomos encontra forte apoio nos clados recuperados em filogenia proposta

por Reynolds et al. (2014), em que as subespécies analisadas no presente estudo

estão em clados distintos. Hyncová et al. (2009) sugeriram que a subespécie Boa

constrictor imperator fosse elevada à categoria de espécie, devido às divergências

encontradas entre ela e as outras subespécies de Boa constrictor. No entanto, ainda

não existem dados citogenéticos para essa “espécie”, o que seria um grande avanço

para a compreensão da atual taxonomia do gênero.

Em Eunectes, o par número 1 é homeólogo e conservado entre as duas

espécies analisadas, sendo estas, as que apresentam a maior quantidade de

heterocromatina constitutiva, quando comparadas a Boa e Corallus. Contudo, essas

serpentes ainda apresentam uma quantidade escassa de blocos heterocromáticos

quando comparadas a outras serpentes.

Uma característica notável e surpreendente evidenciada aqui é com relação à

distribuição dos blocos heterocromáticos tanto em macrocromossomos quanto em

microcromossomos, que não evidenciou nenhuma diferença entre os indivíduos de

diferentes localidades e nenhuma relação com os padrões de coloração e de manchas

41

da pele dos animais, principalmente em Corallus hortulanus, sendo esta a mais

polimórfica com relação à coloração e padrões de manchas na pele.

Esses blocos heterocromáticos em microcromossomos mostraram-se

indistinguíveis, bem como no cromossomo menor do possível par sexual em fêmas de

Corallus hortulanus.

5.2 Evolução das famílias gênicas

No que refere-se à localização da região organizadora de nucléolo (RON), o

padrão observado foi o mesmo já descrito anteriormente para outras espécies (Camper

e Hanks 1995), ou seja, RON simples em um par de microcromossomos para todas as

espécies analisadas nesse estudo. Os microcromossomos, mesmo sendo

considerados conservados nas serpentes (Mengden e Stock 1980; Nanda et al. 2002),

não estão isentos de rearranjos cromossômicos ou outros eventos como crossing over

desigual.

A RON em um par de microcromossomos é considerada uma característica

plesiomórfica para várias famílias de Serpentes que apresentam 2n=36 cromossomos,

com 16 macrocromossomos e 20 microcromossomos (Moreno et al. 1987; Porter et al.

1991; 1994; Camper e Hanks 1995; Aprea et al. 2006.). Por outro lado, existe uma

grande variação quanto à localização deste marcador, como já descrito para algumas

espécies de serpentes pertencentes a linhagens derivadas, que apresentam a RON em

macrocromossomos e em microcromossomos, caracterizando RON múltipla (Moreno et

al. 1987; Camper e Hanks 1995; Garcia e Hernando 2007). Trajtengertz et al. (1995)

evidenciaram DNAr em microcromossomos e em macrocromossomos de diferentes

populações da serpente Bothrops neuwiedi, pertencente a uma linhagem derivada, o

que corrobora a hipótese de Camper e Hanks (1995), que sugerem a presença de

rearranjos tipo translocação, mudando a região nucleolar de micro para

macrocromossomo, uma vez que o número de microcromossomos se mantém.

Porter et al. (1991), por meio da hibridização in situ fluorescente com sondas de

DNAr 28S em diferentes espécies de serpentes de diferentes famílias, também

42

constataram variabilidade na localização desta sequência em cromossomos, onde

Thamonophis marcianus e Masticophis flagellum (Colubridae) apresentaram

marcações simples em macrocromossomos, enquanto Crotalus viridis (Viperidae)

apresentou marcações múltiplas em dois pares de microcromossomos. Padrão

semelhante foi evidenciado em Bothrocophias hyoprora (Viperidae), que teve

marcações múltiplas em dois pares de microcromossomos, evidenciadas pela

impregnação por nitrato de prata (Carvalho et al. 2013). Também com a impregnação

com nitrato de prata e mapeamento de DNAr 18S foi evidenciado em Spilotes

sulphureus (Colubridae) marcações simples em um único par de macrocromossomos

(Viana, comunicação pessoal), sendo essas características, de RON, DNAr 18S e 28S

com marcações simples em um par de macrocromossomo e múltipla tanto em macro

quanto em microcromossomos, peculiaridades típicas de serpentes pertencentes a

linhagens intermediárias e derivadas.

Inúmeros estudos reforçam que a detecção do marcador RON em Squamata,

bem como estudos comparativos entre diferentes grupos podem fornecer informações

fundamentais para a elucidação do processo evolutivo desses animais (Odierna et al.

1987; Porter et al. 1991; 1994; Pellegrino et al. 1999; Camper e Hanks 1995, Srikulnat

et al. 2009), entretanto para as serpentes estudadas aqui, a RON não se mostrou como

um marcador citogenético e taxonômico eficiente porém, essas marcações simples em

um par de microcromossomos mostraram-se como uma caracteristica conservada

entre serpentes da linhagem basal. Destaca-se então a importância deste e de novos

estudos, usando este marcador em cromossomos de serpentes para estabelecer-se

um padrão evolutivo dentro do grupo.

Um outro marcador, utilizado no presente trabalho e que, sem dúvidas alguma,

abriu um leque de novas perguntas e possibilidades, foi o mapeamento cromossômico

de sequências teloméricas, que no presente estudo evidenciou as marcações terminais

em todos os cromossomos do complemento. Mesmo que de forma indistinta, os

microcromossomos também apresentaram marcações teloméricas evidentes, padrão

semelhante já descrito para microcromossomos de aves, serpentes, lagartos,

tartarugas e crocodilianos, identificando telômeros funcionais (Meyne et al. 1989;

43

Pellegrino et al. 1999; Nanda et al. 2002; Srikulnath et al. 2011, Viana, comunicação

pessoal). Entretanto, além destas marcações, foram observadas sequências

teloméricas intersticiais (ITS) nos macrocromossomos das três subespécies de Boa

constrictor, em Corallus hortulanus e em Eunectes murinus (Figuras 7, 10 e 13). A

intensidade dos sinais teloméricos variou consideravelmente tanto em macro quanto

em microcromossomos em todas as espécies analisadas, sugerindo que as sequências

tenham tamanhos diferenciais (TTAGGG)n entre os pares cromossômicos.

As ITS apresentam diferentes origens entre as várias ordens de vertebrados

(Wurster-Hill et al. 1988; 1992; Meyne 1988; Meyne et al. 1989; Meyne et al. 1990;

Wiley et al. 1992; Lee et al. 1993; Schmid et al. 1994; Svartman e Vianna-Morgante

1998; Pellegrino et al. 1999; Ruiz-Herrera et al. 2002; Metcalfe et al. 2004), como a

ação da telomerase ao reparar quebras cromossômicas, acrescentando sequências

teloméricas em regiões não terminais (Flint et al. 1994; Azzalin et al. 2001, Nergadze et

al. 2007), resquícios da sequência (TTAGGG)n como resultado de fusões, fissões ou

inversões que perderam sua função em posição intersticial ou centromérica, ou mesmo

duplicações desta sequência (Wiley et al. 1992; Meyne et al. 1990), que é o que parece

ter ocorrido no último par de macrocromossomo acrocêntrico de Boa constrictor

occidentalis (Figura 7 C).

Acreditamos que não necessariamente todas essas ITS encontradas nas

serpentes aqui analisadas sejam indicativas de rearranjos cromossômicos, ainda mais

pelo fato de nem todas estarem associadas com heterocromatina constitutiva, mas

existe sim, uma grande possibilidade de estarem associadas a elementos transponíveis

como o “Tel-1”, já documentado em outros grupos de vertebrados (Cherry e Blackburn

1985; Wynen e Blackburn 1991; Nergadze et al. 2007). Além disso, a composição

gênica das ITS não se restringe somente à sequência (TTAGGG)n, podendo

frequentemente estarem associadas a DNA satélite (Lee et al. 1997; Arnason et al.

1988; Garrido-Ramos et al. 1998).

A presença de sequências repetitivas, como DNA satélite e elementos

transponíveis, pode levar a uma inativação temporária ou eliminação física de

44

sequências teloméricas em porções terminais de cromossomos, o que ocasionaria os

rearranjos e consequente presença das mesmas em posições intersticiais e/ou

centroméricas, sendo consideradas como hotspots para recombinação e evolução

cariotípica (Slijepcevic 1998; Cherry e Blackburn 1985; Wyman e Blackburn 1991;

Ashley e Ward 1993; Nergadze et al. 2007). Assim, destaca-se a importância do

mapeamento de sequências teloméricas realizado nas serpentes no presente estudo,

que revelaram um novo panorama sobre a evolução cariotípica para essas serpentes

neotropicais e para a superfamília Booidea.

5.3 Cromossomos Sexuais

A complexidade e diversidade de mecanismos de determinação sexual em

répteis precedem uma evidente história evolutiva de transição entre sistemas de

determinação sexual por temperatura e determinação sexual genética, com

cromossomos sexuais heteromórfios ou homomórficos (Shine et al. 2002; Mank et al.

2006; Radder et al. 2008; Quiin et al. 2011).

Acredita-se que sistemas de cromossomos sexuais heteromórficos simples e

múltiplos, em répteis, evoluíram a partir de uma condição homomórfica, onde

primariamente o sexo era definido por temperatura, sendo progressivamente

diferenciados até uma condição irreversível de heteromorfia (Bull 1983; Charlesworth

1991), em que as mudanças ao nível de DNA estariam principalmente envolvidas com

o cromossomo W ou Y (Matsuda et al. 2005), evoluindo de forma progressiva até

atingir uma condição especializada de determinação do sexo. Porém, o contrário

também pode ocorrer, ou seja, um organismo que possui um sistema genético, definido

e eficiente de determinação do sexo voltar a apresentar a determinação sexual por

temperatura, o que é uma novidade evolutiva sem muitas explicações (Harlow 2001;

Sarre et al. 2004; Ezaz et al. 2005; Radder et al. 2008; Quiin et al. 2011; Sarre et al.

2011).

Quiin et al. (2011) evidenciaram muito bem esse mecanismo, onde ovos de

lagartos que tem um sistema genético para a determinação sexual (SGD), quando

incubados em temperaturas elevadas, nasciam do tipo fêmea, mesmo alguns desses

45

filhotes tendo o genótipo para o sexo masculino. Ou seja, a temperatura age de forma

conjunta ou complementar à determinação sexual em organismos que tenham a

determinação sexual genética, ou influenciando de forma significativa nesse

mecanismo. O que acaba sendo uma preocupação com as constantes elevações de

temperatura, uma vez que isso também ocorre em populações naturais, podendo

alterar drasticamente a razão sexual dessas populações naturais.

A maioria dos estudos acerca dos cromossomos sexuais em serpentes mostra

diferenças significativas no tamanho e na posição do centrômero (Beçak 1965; 1966;

Singh 1972a; 1972b; Mengden e Stock 1980; Singh 2011) (Figura 14-1).

Por apresentar uma alta homeologia, muitos autores consideram o par

homomórfico número 4 em serpentes basais como sendo o par sexual (Beçak 1965;

Beçak 1966; Beçak e Beçak 1969; Mengden e Stock 1980; Singh 1972a). Essa teoria

foi reforçada pela análise do padrão de bandemanto G em espécies de Booidea de

Madagascar, onde o cromossomo Z de Sanzinia, que é homomórfico em relação ao

seu possível W, é presumidamente homeólogo ao de Acrantophis dumerili, que tem o

W diferenciado por uma inversão pericêntrica (Mengden e stock 1980) (Figura 14-2).

Presume-se que o mesmo tenha ocorrido em linhagens intermediárias, como exemplo,

algumas espécies da família Colubridae e Dipsadidae que apresentam o cromossomo

W com o braço curto menor em relação ao Z, sugerindo também uma inversão

pericêntrica (Figura 14-1). Esse mecanismo de inversão em um dos cromossomos do

par 4, quase sempre está associado a um processo de heterocromatinização, o que

pode estar associado à presença de DNA satélite e elementos transponíveis como

previsto por Singh et al. (1976; 1979), Kraemer e Schmidt (1993); Charlesworth et al.

(2005), Ezaz et al. (2013) e evidenciado por Vicoso et al. (2013). Assim, eventos como

esse impedem o crossing over devido a diferenças entre os homólogos, fazendo com

que um dos cromossomos, o W, passe a acumular cada vez mais genes determinantes

do sexo, por supressão de recombinação e por conseguinte a heterocromatinização.

Essa região do braço curto do cromossomo W (par 4), totalmente heterocromatinizada,

46

é perdida em serpentes de linhagens derivadas, como por exemplo, animais da família

Colubridae e Viperidae (Beçak 1965; Viana, comunicação pessoal).

Acredita-se, também, que mecanismos como adição de heterocromatina e

eventos epigenéticos também possam estar relacionados com essa diferenciação

gradual, de forma independente em diferentes linhagens de serpentes. Vicoso et al.

(2013) sugerem que essa evolução e diferenciação de cromossomos sexuais não

tenham ocorrido de forma independente, sendo essa supressão de crossing over e

heteromorfia surgido muito antes da divergência de Colubridae e Viperidae. Porém, no

estudo de Vicoso et al. (2013) foram analisadas apenas três espécies de serpentes,

sendo elas da família Boidae, Colubridae e Viperidae. Por outro lado, existe uma ampla

variedade de cromossomos sexuais heteromórficos e presença de homomorfia dentro

de Colubridae e Dipsadidae, que são de linhagens intermediárias (Beçak 1966; Beçak

e Beçak 1969; Beçak et al. 1971; Van Devender e Cole 1977; Mengden e Stock 1980),

o que sugere que essa evolução possa sim ter ocorrido de forma independente para

algumas linhagens. Isso mostra a necessidade de mais estudos comparativos de

espécies da mesma e de linhagens diferentes para a melhor compreensão da evolução

dos cromossomos sexuais em serpentes.

Figura 14. (1) Diversidade de cromossomos sexuais ZZ/ZW em serpentes brasileiras: (A) par 4,

homomórfico em linhagem basal (Boidae); (B; C; D) pares 4, heteromórfico em linhagens derivadas

(Colubridae e Dipsadidae); (E) par 4, heteromórfico de linhagem derivada (Viperidae). (2) Cromossomos

sexuais de serpentes de Madagascar: (A) par 4 homomórfico de Sanzinia; (B) par heteromórfico de

Acrantophis (Sanziniidae) (Beçak 1965; Beçak 1966; Mengden e Stock 1980).

47

Sistemas múltipos de determinação sexual estão presentes em diferentes

classes de vertebrados (Singh et al. 1970; Ray-Chaudhuri e Singh 1972a, 1972b;

Bertolotto et al. 2001; Rens et al. 2007; Oguiura et al. 2009; Veyrunes et al. 2008),

sendo que em serpentes este sistema é encontrado somente em linhagens derivadas

(Singh et al. 1970; Singh 1972a, 1972b; Ray-Chaudhuri e Singh 1972; Singh et al.

1979).

Em lagartos são encontrados sistemas simples de determinação sexual (XX/XY)

e (ZZ/ZW) e também sistemas múltiplos como (X1X1X2X2/X1X2Y e Z1Z1Z2Z2/Z1Z2W)

(Janzen e Paukstis 1991; Olmo e Signorino 2005), enquanto que em serpentes, até o

presente momento, foram encontrados apenas o sistema simples ZZ/ZW e múltiplos do

tipo (ZZ/ZW1W2 e Z1Z1Z2Z2/Z1Z2W), ou seja apenas as fêmeas são heterogaméticas

(Singh et al. 1970; Singh 1972a, 1972b; Ray-Chaudhuri e Singh 1972; Singh et al.

1979).

Em Boa, embora os cromossomos sexuais ZW sejam homomórficos, os

mesmos são tão diferenciados a nível molecular quanto em serpentes de linhagens

derivadas, apresentando uma composição gênica significativamente singular entre Z e

W, porém ainda continuam de forma eficiente a realizar “crossing over” (Hoff 2013;

Vicoso et al 2013). Com isso podemos hipotetizar que talvez esse sistema

homomórfico de determinação sexual, também esteja presente em outras espécies de

boídeos que não têm heteromorfismo cromossômico. Assim, em Corallus hortulanus,

caso o par 5, que é evidentemente homeólogo ao par cromossômico 4 em outras

espécies de Boideos Neotropicais, seja um par de cromomossos sexuais

homomórficos, este seria Z1Z1 no macho e Z1W1 na fêmea, o que não explica a

presença de dois cromossomos que não se emparelham na fêmea, tampouco a

presença de um cromossomo a menos nos machos. Da mesma forma que, se estes

cromossomos heteromórficos forem realmente sexuais, ocorreria a existência de

cromossomos sexuais múltiplos e dupla heterogametia. Portanto, apesar de haver

cromossomos heteromórficos e números diploides diferentes, a determinação sexual

48

em Corallus hortulanus não necessariamente esteja relacionada a isso, fato que

merece mais investigação para ser explicado.

5.4 Evolução cromossômica em Booidea

Beçak (1965), ao analisar o cariótipo de boídeos Neotropicais e se deparar com

um complemento macrocromossômico formado por subtelocêntricos e acrocêntricos

em Corallus caninus com 2n=44, presumiu que esse cariótipo fosse o basal para

Boidae e que o cariótipo com 2n=36 teria se originado a partir de fusões (Figura 15).

Figura 15. Idiograma representando a hipótese formulada por Beçak (1965), de origem dos cariótipos de

Boidae por fusões de macrocromossomos a partir de um cariótipo com 2n=44 (Corallus caninus),

formando um complemento com 2n=40, semelhante ao encontrado em Corallus grenadensis e Corallus

hortulanus (fêmeas) e por mais algumas fusões de macrocromossomos acrocêntricos ou

subtelocêntricos, formando um complemento com 2n=36, semelhante ao encontrado nas outras espécies

de Boidae como Boa, Eunectes, Epicrates e Chilabothrus.

49

Gorman e Gress (1970), por sua vez, ao analisar o cariótipo de uma fêmea de

Corallus grenadensis, sugeriram que o cariótipo dos boídeos Neotropicais, na verdade

teria evoluido a partir de um ancestral com 36 cromossomos, que, a partir de fissões

em macrocromossomos metacêntricos, teria originado o 2n=40, semelhante ao

encontrado em Corallus grenadensis (Figura 16) e por mais algumas fissões em

macrocromossomos metacêntricos teria formado o 2n=44, semelhante ao encontrado

em Corallus caninus.

Figura 16. Idiograma representando a hipótese formulada por Gorman e Gress (1970) para a origem dos

cariótipos de Boidae, por fissões cêntricas em macrocromossômos metacêntricos, originando o cariótipo

com 2n=40, semelhante ao encontrado em Corallus grenadensis.

Entretanto, discordamos da hipótese de Beçak (1965) e discordamos em parte

da hipótese de Gorman e gress (1970), pois ao analisarmos a árvore filogenética

proposta por Reynolds et al. (2014) para a superfamília Booidea (Figura 17), com a

sobreposição do número diploide das espécies já analisadas citogeneticamente,

incluindo as desse estudo, verificamos que o número diploide igual a 36 está presente

em Charinidae e Candoiidae, e que em Boidae não só no clado basal (Boa), mas

também nos clados derivados como Eunectes, Epicrates e Chilabothrus e que

2n=40/39 e 44 só estão presentes em Corallus, que não é o clado basal da família e

que, por sua vez, apresenta não só um número diploide diferente, mas também a

estrutura cariotípica. Além disso, Corallus caninus é clado irmão de Corallus hortulanus

e Corallus grenadensis e não foi evidenciado em Corallus hortulanus a presença de ITS

50

em macrocromossomos, correspondentes às fusões necessárias para obter-se um

cariótipo 2n=40 a partir de um 2n=44, visto em Corallus caninus, muito menos a

presença do possível sistema sexual encontrado em Corallus hortulanus. A ITS

presente no macrocromosssomo, par número 2 (st) de Corallus hortulanus, poderia ser

indicativa de uma inversão pericêntrica seguida de duplicações de fragmentos

(TTAGGG)n, o que seria equivalente ao par de macrocromossomo do tipo

submetacêntrico mantido em Boa, Eunectes, Epicrates e Chilabothrus, no entanto não

há heterocromatina constitutiva associada a essa região no par cromossômico número

2 de Corallus hortulanus, podendo este, ser resultado de um evento recente.

51

Figura 17 – Compilação dos dados cromossômicos para a superfamília Booidea (incluindo os deste

estudo) em árvore filogenética proposta por Reynolds et al. (2014). Traços vermelhos: espécies com

2n=36; em amarelo: espécies com 2n=34; em rosa, espécie com 2n=44; em verde espécies com

2n=39/40; em azul: espécies que ainda não possuem o cariótipo descrito.

52

O número diploide 2n=36 também está presente em grande parte das espécies

que compõem a superfamília Pythonoidea, que é irmã da superfamília Booidea e os

cariótipos com 2n=36 mantidos nos clados recuperados para a superfamília Booidea,

tanto em posição basal quanto em posição derivada, apresentam indícios de rearranjos

cromossômicos. Para as famílias Sanziniidae e Erycidae, o número diploide 2n=34

encontrado, poderia ser resultado de fusões de microcromossomos em

macrocromossomos ou até mesmo de deleções, uma vez que o número de

macrocromossomos se mantém, a exceção de Sanzinia madagascariensis, que

apresenta 9 pares de macrocromossomos (Branch 1980; Mengden e Stock 1980).

Sanziniidae é a família que apresenta o menor número de microcromossomos

dentro de Booidea, que assim como o clado formado por Corallus, formaram uma

macroestrutura cariotípica diferencial, sendo Sanzinia (2n=34 / 18M – 16mi) com um

número maior de macrocromossomos metacêntricos e um número menor de

microcromossomos (Branch 1980; Mengden e Stock 1980) e Achrantophis (2n=34 /

16M – 18mi) com uma composição similar aos outros Booideos com 2n=36, porém,

com uma inversão pericêntrica em um dos homólogos do par 4, que ocasionou a

primeira diferenciação cromossômica sexual entre machos e fêmeas dentro de

Sanziniidae e dentro de Booidea. Uma hipótese para o número menor de

microcromossomos encontrado em Sanziniidae, (16) em Sanzinia e (18) em

Achrantophis, seria rearranjos cariotípicos do tipo fusão entre microcromossomos e

macrocromossomos. Caso esses microcromossomos fusionados fossem os portadores

das regiões de DNAr 18S/28S, as regiões organizadoras de nucléolo estariam agora

em macrocromossomos, onde a confirmação dessas marcações nestes pares poderia

corroborar essa hipótese de fusões, tanto em Sanziniidae quanto em Erycidae. No

entanto, ainda são inexistentes dados cariotípicos sobre o mapeamento de regiões de

DNAr ou de cistrons ribossomais em Sanziniidae e Erycidae. Ainda assim, podemos

supor que esses possíveis eventos de fusão entre macro e microcromossomos teriam

ocorrido de forma independente ao longo da evolução da superfamília Booidea, uma

vez que o clado Sanziniidae é irmão do gênero Calabaria e o clado Erycidae é grupo

irmão de Candoiidae e Boidae (Figura 17).

53

Tendo em vista que a origem de diversificação entre Pytonoidea e Booidea

datam o Cretácio (Noonan e Chippindale 2006, Colston et al. 2013, Reynolds et al.

2014), podemos supor que o cariótipo ancestral para essas superfamílias irmãs teria

sido superior a 2n=36 com a presença de mais macrocromossomos subtelocêntricos ou

acrocêntricos, e que esse cariótipo ancestral já estaria envolvido em rearranjos

cromossômicos onde, por fusões nos macrocromossomos acro ou subtelocêntricos

teriam originado o cariótipo 2n=36, encontrado em grande parte das espécies de

Pythonoidea e Booidea (Figura 18).

Figura 18: Idiograma representando a hipótese de cariótipo ancestral para Pythonoidea e Booidea, onde

por fusões em macrocromossomos teria a formação do cariótipo 2n=36 encontrado em Pythonoidea e

Booidea.

Com relação à variação de número diploide encontrado dentro de Booidea , mais

especificamente em Boidae, que tem sua diversificação e origem mais recente (Colston

et al. 2013), acreditamos que o número diploide 2n=36 ancestral se manteve para o

clado Boa, tendo gradativamente a perda dos braços curtos nos dois últimos pares de

macrocromossomos, e que esse cariótipo ancestral tenha divergido de forma

independente, possivelmente por fissões em macrocromossomos metacêntricos e

submetacêntricos, como previsto por Gorman e Gress (1970), formando uma nova

estrutura cariotipica e composição diferencial para o clado Corallus, com 2n=44

(Corallus caninus), 2n=40 (Corallus grenadensis) e 2n=39/40 para Corallus hortulanus,

sendo esta última com um número menor de microcromossomos (18) e uma

diferenciação cromossômica entre os sexos. Já, para o clado irmão de Corallus,

54

formado por Eunectes, Epicrates e Chilabothrus, manteve-se a composição cariotípica

formada por 2n=36 e fórmula cariotípica 6m+2sm+8st+20mi e NF=52, característica

partilhada com Xenopeltidae, Loxocemidae e Pythonidae (Pythonoidea), sendo o

número de microcromossomos (20) e o par nucleolar simples, como uma característica

conservada para as espécies/subespécies de Boa, Eunectes e Epicrates. Além disso,

as ITS detectadas nos pares 2 e 4 de Boa constrictor occidentalis e de Boa constrictor

constrictor e nos pares 1 e 2 de Eunectes murinus podem ser resultado de fusões ou

inversões paracêntricas, o que reforça a hipótese do possível cariótipo ancestral para

Pythonoidea e Booidea ter sido superior a 2n=36. Entretanto, a partir de dados de

alguns bandeamentos já é possível sugerir que os cariótipos dos boídeos neotropicais

de fato não são tão conservados quanto se imaginava e que sua evolução vem

ocorrendo de forma independente nos gêneros.

5.5 Estrutura cromossômica de Corallus hortulanus e Corallus grenadensis

Gorman e Gress (1970) descreveram o cariótipo de quatro espécies de Boidae

neotropicais, dentre elas uma espécie de Corallus, na época denominada como

Corallus enhydris cooki, que veio a ser sinonimizada com Corallus hortulanus alguns

anos depois. O espécime em questão tratava-se de uma fêmea com 2n=40,

proveniente da ilha de Grenada, nas Índias ocidentais. Porém, na verdade tratava-se

de um espécime de Corallus grenadensis, endêmico da ilha. Corallus grenadensis, por

muito tempo foi mantida como sinonímia de Corallus hortulanus, e em estudo recente,

utilizando técnicas e ferramentas moleculares, Coulston et al. (2013) contestaram a

validade de Corallus grenadensis, porém Reynolds et al. (2014) e Pyron et al. (2014)

encontraram forte apoio e validade para a espécie endêmica da ilha de Grenada.

Portanto, consideramos neste estudo a primeira descrição cariotípica de Corallus

hortulanus da região amazônica.

Em seu estudo, Gorman e Gress (1970) relataram para Corallus grenadensis um

cariótipo diferente ao descrito neste estudo (2n=40, 4m+16a+20mi NF=44 ♀), com

diferenças significativas no número fundamental e fórmula cariotípica (Corallus

55

hortulanus 2n=40, 6m+16st+18mi, NF=62 ♀). Porém, esta diferença é devido à

qualidade da preparação cromossômica, que na época os impediu de visualizar a

morfologia exata de alguns cromossomos (Figura 19).

Figura 19. Cariótipo em coloração convencional de Corallus grenadensis, conforme Gorman e Gress

(1970).

Os autores também não relataram em Corallus grenadensis, o suposto par

sexual, aqui descrito para Corallus hortulanus, o qual os autores descreveram apenas

como microcromossomo, ou seja uma interpretação subestimada do cariótipo, como

revelado por Ezaz et al. (2005), que em muitos estudos os microcromossomos são

omitidos ou subestimados por serem de difícil caracterização, ou também pelo fato de

terem analisado apenas uma fêmea. Vicoso et al. (2013) também ressaltam essa

possibilidade de subestimação na interpretação de dados citogenéticos para a não

identificação de cromossomos sexuais. Assim, com os dados obtidos nesse estudo,

podemos confirmar que de fato Corallus grenadensis e Corallus hortulanus são

espécies diferentes e que a presença desse possível sistema heteromórfico de

cromossomos sexuais, bem como a dupla heterogametia entre machos (2n=39) e

fêmeas (2n=40), até o presente momento, é exclusivo para o clado Coralus hortullanus,

o que representa o primeiro caso de cromossomos sexuais heteromórficos para a

família Boidae.

56

6. Conclusões

● O cariótipo de boídeos Neotropicais não é tão conservado quanto era suposto.

● O padrão de bandeamento C de forma geral, mostrou-se um ótimo marcador para

diferenciar os táxons de boídeos Neotropicais.

● A citogenética clássica e molecular apresenta uma contribuição efetiva para a

taxonomia de serpentes.

● Os microcromossomos são de fato conservados no genoma dos boídeos, bem como

a presença da região organizadora de nucléolo em um único par deles.

● O homomomorfismo de cromossomos sexuais foi evidente em Boa e Eunectes, tanto

em coloração convencional quanto com bandeamento C.

● A presença de um possível sistema sexual em Corallus hortulanus é o primeiro caso

de cromossomos sexuais diferenciados em Boidae e o segundo para Booidea.

● Os resultados obtidos no presente trabalho, somados aos já descritos na literatura,

contribuem de maneira significativa para o entendimento da evolução cromossômica,

taxonomia e sistemática de Boideos neotropicais, pois a identificação e a posição

filogenética de algumas espécies ainda não estão bem definidas.

57

7.0 Referências

Amemiya, C.T.; Powers, P.K.; Gold, J.R. 1993. Chromosomal evolution in North

American fishes. In: Mayden, R.L. (ed.), Systematics, Historical Ecology and

North American Fishes, Stanford Univ. Press, Stanford, California. p. 515 – 533.

Aprea, G.; Gentilli, A.; Zuffi, M.A.L.; Odierna, G. 2006. The karyology of Vipera aspis, V.

atra, V. hugyi, and Cerastes vipera. Amphibia-reptilia, 27: 113– 119.

Arnason, U.; Allderdice, P.W.; Lien, J.; Widegren, B. 1988. Highly repetitive DNA in the

baleen whale genera Balaenoptera and Megaptera. Journal of Molecular

Evolution, 27: 217-221.

Ashley, T.; Ward, D.C. 1993. A “hot spot” of recombination coincides with an interstitial

telomeric sequence in the Armenian hamster. Cytogenetics and Cell Genetics,

62: 169–171.

Azzalin, C.M.; Nergadze, S.G.; Giulotto, E. 2001. Human intrachromosomal telomeric-

like repeats: sequence organization and mechanisms of origin. Chromosoma,

110: 75–82.

Baker, R.J.; Bull, J.J.; Mengden, G.A. 1971. Chromosomes of Elaphe subocularis

(Reptilia: Serpentes), with the description of an in vivo technique for preparation

of snake chromosomes. Experientia, 27: 1208-1229.

Beçak, W.; Beçak, M.L.; Nazareth, H.R.S. 1962. Karyotypic studies of two species of

South American snakes (Boa constrictor amarali and Bothrops jararaca).

Cytogenetics, 1: 305–313.

Beçak, W.; Beçak, M.L.; Nazareth, H.R.S. 1963. Chromosomes of snakes in short term

cultures of leucocytes. The American Naturalist, 97(895): 253-256.

Beçak, W.; Beçak, M.L.; Nazareth, H.R.S.; Ohno, S. 1964. Close karyological kinship

between the reptilian suborder Serpentes and the class Aves. Chromosoma, 15:

606–617.

Beçak, W. 1965. Constituição cromossômica e mecanismo de determinação do sexo

em ofídios sul americanos. I. Aspectos cariotípicos. Memórias do Instituto

Butantan, 32: 37-78.

Beçak, W. 1966. Constituição cromossômica e mecanismo de determinação do sexo

em ofídios sul americanos. II. Cromossomos sexuais e Evolução do Cariótipo.

Memórias do Instituto Butantan, 33(3): 775-798.

58

Beçak, W.; Carneiro, S.M.; Beçak, M.L. 1971. Cariologia comparada em seis espécies

de Colubrídeos (Serpentes). In: XXIII Reunião da SBPC e XVIII Reunião da

SBG. Ciência e Cultura, 23: 123.

Beçak, W.; Beçak, M.L. 1969. Cytotaxonomy and chromosomal evolution in Serpentes.

Cytogenetics, 8: 247-262.

Beebe, W. 1946. Field notes on the snakes of Kartabo, British Guyana, and Caripito,

Venezuela. Zoologica, 31: 11–64.

Bennett, D.C.; Lamoreux, M.L. 2003. The color loci of mice a genetic century. Pigment

Cell Research, 16: 333–344.

Bertolotto, C.E.V.; Rodrigues, M.T.; Yonenaga-Yassuda, Y. 2001. Banding patterns,

multiple sex chromosomes system and localization of telomeric (TTAGGG)n

sequences by FISH on two species of Polychrus (Squamata, Polychrotidae).

Caryologia, 54: 217–226.

Bianchi, N.O.; Beçak, W.; De Bianchi, M.S.; Beçak, M.L.; Rabello, M.N. 1969.

Chromosome replication in four species of snakes. Chromosoma, 26: 188–200.

Bickham, J.; W, Carr, J. L. 1983. Taxonomy and phylogeny of the higher categories of

cryptodiran turtles based on a cladistic analysis of chromosomal data. Copeia,

1983: 918-932.

Bickham, J.W.; Rogers, D.S. 1985. Structure and Variation of the nucleolus organizer in

turtles. Genetica, 67: 171-184.

Bisplinghoff, H.; Bellosa, H. 2007. Professional breeder series: Anacondas. Frankfurt

am Main, Germany, Edition Chimaira, 127 pp.

Boback, S.M.; Lynn, M.S. 2010. Variation in color and color change in Island and

Mainland Boas (Boa constrictor). Journal of Herpetology, 44(4): 506-515.

Bonny, K. 2007. Die Gattung Boa: Taxonomie und Fortpflangzung. Rheinstetten,

Germany, KUS-Verlag, 262 pp.

Boos, H.E.A. 2001. The snakes of Trinidad and Tobago. College Station, Texas. Texas

A&M University Press, 270 pp.

Branch, W. R. 1980: Chromosome morphology of the Madagascar tree boa Sanzinia

madagascariensis. South African Journal of Zoology, 152: 79-82.

59

Bull, J.J. 1983. Evolution of Sex Determining Mechanisms. Menlo Park, California:

Benjamin/Cummings 316 pp.

Burbrink, F.T. 2004. Inferring the phylogenetic position of Boa constrictor among the

Boinae. Molecular Phylogenetics and Evolution, 34: 167–180.

Burbrink, F.T.; Pyron, R.A. 2008. The taming of the skew: estimating proper confidence

intervals for divergence dates. Systematic Biology, 57: 317–328.

Burt, D.W.; Bruley, C.; Dunn, I.C.; Jones, C.T.; Ramage, A.; Law, A.S.; Morrice, D.R.;

Paton, I.R.; Smith, J.; Windsor, D.; Sazanov, A.; Fries, R.; Waddington, D. 1999.

The dynamics of chromosome evolution in birds and mammals. Nature, 402:

411-413.

Camper, J.D.; Hanks, B. 1995. Variation in the nucleolus organizer region among New

World snakes. Journal of Herpetology, 29: 468-471.

Carr, J.L.; Bickham, J. 1981: Sex chromosomes of the Asian black pond turtle,

Siebenrockiella crassicollis (Testudines: Emydidae). Cytogenetics and Cell

Genetics, 31: 178-183.

Carvalho, V.T.; Fraga, R.; Eler, E.S.; Kawashita-Ribeiro, R.A.; Feldberg, E.; Vogt, R.;

Carvalho, M.A.; Noronha, J.C.; Condrati, L.H.; Bittencourt, S. 2013. Toad-headed

pitviper Bothrocophias hyoprora (Amaral, 1935) (Serpentes, Viperidae): New

records of geographic range in Brazil, hemipenial morphology, and chromosomal

characterization. Herpetological Review, 44(3): 410-414.

Charlesworth, B. 1991. The evolution of sex chromosomes. Science, 251: 1030-1033.

Charlesworth, D.; Charlesworth, B.; Marais, G. 2005. Steps in the evolution of

heteromorphic sex chromosomes. Heredity, 95: 118–128.

Cherry, E.H.; Blackburn, J.M. 1985. The internally located telomeric sequences in the

germ-line chromosomes of Tetrahymena are at the ends of transposon-like

elements. Cell, 43: 747–758.

Colston, T.J.; Grazziotin, F.G.; Shepard, D.B.; Vitt, L.J.; Colli, G.R.; Henderson, R.W.;

Hedges, S.B.; Bonatto, S.; Zaher, H.; Noonan, B.P.; Burbrink, F.T. 2013.

Molecular systematics and historical biogeography of tree boas (Corallus spp.).

Molecular Phylogenetics and Evolution, 66: 953–959.

60

Corso, J.; Gonçalves, G.L.; de Freitas, T.R. 2012. Sequence variation in the

melanocortin-1 receptor (MC1R) pigmentation gene and its role in the cryptic

coloration of two South American sand lizards. Genetics and Molecular Biology,

35(1): 81–7.

Cox, C.L; Rabosky, A.R; Chippindale, P.T. 2013. Sequence variation in the Mc1r gene

for a group of polymorphic snakes. Gene, 513: 282-286.

De Smet, H.O. 1978. The chromosomes of the 23 species of snakes. Acta Zoologica et

Pathologica, 70: 85-115.

Dirksen, L.; Böhme, W. 1998. Studien an Anakondas 2: Zum taxonomischen Status von

Eunectes murinus gigas (Latreille, 1801) (Serpentes: Boidae), mit neuen

Ergebnissen zur Gattung Eunectes Wagler 1830. Salamandra, 34: 1–16.

Dirksen, L. 2002. Anakondas: Monographische Revision der Gattung Eunectes Wagler,

1830 (Serpentes, Boidae). Münster, Germany, Natur-und-Tier-Verl., 189 pp.

Duellman, W.E. 2005. Cusco Amazonico: the lives of amphibians and reptiles in an

Amazonian rainforest. Ithaca, N.Y., Comstock Publ., 433 pp.

Eizirik, E.N.; Yuhki, W.E.; Johnson, M.; Menotti-Raymond, S.S.; Hannah, S.J.; O’Brien.

2003. Molecular genetics and evolution of melanism in the cat family. Current

Biology, 13: 448–453.

Ernest, C.H.; Zug, G.R. 1996. Snakes in question. Washington: Smithsonian Institution

Press. 203pp.

Ezaz, T.; Quinn, A.E.; Miura, I.; Sarre, S.D.; Georges, A.; et al. 2005. The dragon lizard

Pogona vitticeps has ZZ/ZW micro-sex chromosomes. Chromosome Research,

13: 763–776.

Ezaz, T.; Valenzuela, N.; Grützner, F.; Miura, I.; Georges, A.; Burke, R.L.; Graves,

J.A.M. 2006. An XX/XY sex microchromosome system in a freshwater turtle,

Chelodina longicollis (Testudines: Chelidae) with genetic sex determination.

Chromosome Research, 14: 139-150

Ezaz, T.; Azad, B.; O’Meally, D.; Young, M.J.; Matsubara, K.; et al. 2013. Sequence and

gene content of a large fragment of a lizard sex chromosome and evaluation of

candidate sex differentiating gene R-spondin 1. BMC Genomics, 14: 899.

Fantin, C.; Monjeló, L.A.S 2011. Cytogenetic studies in Podocnemis expansa and

Podocnemis sextuberculata (Testudines, Podocnemididae), turtles of the

Brazilian Amazon. Caryologia, 64: 154-157.

61

Flint, J.; Craddock, C.F.; Villegas, A. et al. 1994. Healing of broken human

chromosomes by the addition of telomeric repeats. The American Journal of

Human Genetics, 55: 505–512.

Fogel, D. 1997. Captive husbandry and propagation of the Boa constrictor and related

boas. Melbourne, Fla., Krieger Publ., 98 pp.

García, J.A.R.; Hernando, A. 2007. Standard karyotype and nucleolus organizer region

of Neotropical blindsnake Typhlops brongersmianus (Serpentes: Typhlopidae).

Acta Herpetologica, 2: 117–120.

Garnero, A.V.; Ledesma, M.A.; Gunski, R.J. 2006. Alta homeologia cariotípica na

família Tinamidae (Aves, Tinamiformes). Revista Brasileira de Ornitologia, 14:

53–58.

Garrido-Ramos, M.A.; Herrán, R.; Ruiz-Rejón, C.; Ruiz-Rejón, M. 1998. A satellite DNA

of the Sparidae family (Pisces, Perciformes) associated with telomeric

sequences. Cytogenetics and Cell Genetics, 83: 3-9.

Gorman, G.C.; Gress, F. 1970. Chromosome cytology of four boid snakes and a varanid

lizard, with comments on the cytosystematics of primitive snakes. Herpetologica,

26(3): 308-317.

Gorman, G. 1981. The chromosomes of Laticauda and a review of karyotypic evolution

in the Elapids. Journal of Zoology, 15: 225-233.

Graham, G. 1977. The karyotype of the Texas coral snake, Micrurus fulvius tenere.

Herpetologica, 33: 345–348.

Gray, S.M.; McKinnon, J.S. 2006. Linking color polymorphism maintenance and

speciation. Trends Ecology and Evolution, 22: 71–79.

Gross, M.C.; Schneider, C.H.; Valente, G.T.; Porto, J.I.R.; Martins, C.; Feldberg, E.

2010. Variability of 18S rDNA locus among Symphysodon fishes: chromosomal

rearrangements. Journal of Fish Biology, 76: 1117–1127.

Gutiérrez, J.M.; Bolaños, R. 1979. Cariótipos de las principales serpientes coral

(Elapidae: Micrurus) de Costa Rica. Revista de Biología Tropical, 27: 57–73.

Gutiérrez, J.M.; Solorzano, A.; Cerdas, L. 1988. Karyotypes of five Species of coral

snakes (Micrurus). Journal of Herpetology, 22: 109-112.

62

Harlow, P.S. 2001. The Ecology of Sex-Determining Mechanisms in Australian Agamid

Lizards. PhD thesis. School of Biological Sciences. Macquarie University,

Sydney.

Henderson, R.W. 1993a. On the diets of some arboreal boids. Herpetological Natural

History, 1: 91-96.

Henderson, R.W. 1993b. Foraging and diet in West Indian Corallus enydris (Serpentes:

Boidae). Journal of Herpetology, 27: 24-28.

Henderson, R. W. 1997. A taxonomic review of the Corallus hortulanus complex of

Neotropical tree boas. Caribbean Journal of Science, 33: 198–221.

Henderson, R.W.; Hedges, S.B. 1995. Origin of West Indian populations of the

geographically widespread boa Corallus enydris inferred from mitochondrial DNA

sequences. Molecular Phylogenetics and Evolution, 4: 88–92.

Henderson, R.W.; Micucci, T.W.P.; Puorto, G.; Bourgeois, R.W. 1995. Ecological

correlates and patterns in the distribution of Neotropical boines (Serpentes:

Boidae): a preliminary assessment. Herpetological Natural History, 1: 15-27.

Henderson, R.W.; Passos, P.; Feitosa, D. 2009. Geographic variation in the Emerald

Treeboa, Corallus caninus (Squamata: Boidae). Copeia, 2009: 572–582.

Hoekstra, H.E.; Hirschmann, R.J.; Bundley, R.A.; Insel, P.A.; Crossland, J.P. 2006. A

single amino acid mutation contributes to adaptive beach mous color pattern.

Science, 313: 101–104.

Hoff, M. 2013. Slithering Toward Clarity: Snakes Shed New Light on the Evolution and

Function of Sex Chromosomes. PLoS Biology, 11(8): e1001644.

Hoorn, C.; Wesselingh, F.P. 2010. Amazonia, landscape and species evolution: a look

into the past. London, UK: Wiley-Blackwell. 464 pp.

Howell, W.M.; Black, D.A. 1980. Controlled silver-staining of nucleolus organizer region

with a protective colloidal developer: a 1-step method. Experientia, 36: 1014-

1015.

Huang, P. 2006. “Introdução” http://www.corallus.com/hortulanus/index.html.

Hubbard, J.K.; Uy, J.A.C.; Hauber, M.E.; Hoekstra, H.E.; Safran, R.J. 2010. Vertebrate

pigmentation: from underlying genes to adaptive function. Trends Genetics, 26:

231–239.

63

Hynková, I.; Starostová, Z.; Frynta, D. 2009. Mitochondrial DNA variation reveals recent

evolutionary history of main Boa constrictor clades. Zoological Science, 26: 623–

631.

Ijdo, J.W.; Wells, R.A.; Baldini, A.; Reeders, S.T. 1991. Improved telomere detection

using a telomere repeat probe (TTAGGG)n generated by PCR. Nucleic Acids

Research, 19(17): 4780.

Janzen, F.J.; Paukstis, G.L. 1991. Environmental sex determination in reptiles: ecology,

evolution, and experimental design. Quarterly Review of Biology, 66: 149-179.

Johnson, J.A. 2012. Genetics of plumage color in the gyrfalcon (Falco rusticolus):

analysis of the melanocortin-1 receptor gene. Journal of Heredity, 103: 315–321.

Kawai, A.; Nishida-Umehara, C.; Ishijima, J.; Tsuda, Y.; Ota, H.; Matsuda, Y. 2007.

Different origins of bird and reptile sex chromosomes inferred from comparative

mapping of chicken Zlinked genes. Cytogenetics Genome Research, 117: 92–

102.

King, M.; Honeycutt, R.; Contreras, N. 1986. Chromosomal repatterning in crocodiles:

C, G, and N-banding and the in situ hybridization of 18S and 26S rRNA cistrons.

Genetica, 70: 191-201.

King, M e King, D. 1975. Chromosomal evolution in the lizard

genus Varanus (Reptilia). Australian Journal BioI. Science. 28: 89–108

Kluge, A.G. 1991. Boine snake phylogeny and research cycles. Miscellaneous

Publications Museum of Zoology University of Michigan, 178: 1–58.

Kraemer, C.; Schmidt, E.R. 1993. The sex determining region of Chironomus thummi is

associated with highly repetitive DNA and transposable elements. Chromosoma,

102: 553–562.

Ledesma, M.A.; Martinez, P.A.; Calderón, O.S.; Boeris, J.M.; Meriles, J.M. 2006.

Descrição do cariótipo e padrões de bandas C e NOR em Pheucticus

aureoventris (Emberizidae, Cardinalinae). Revista Brasileira de Ornitologia, 14:

59-62.

Lee, C.; Sasi, R.; Lin, C.C. 1993. Interstitial localization of telomeric DNA sequences in

the Indian muntjac chromosomes: further evidence for tandem chromosome

fusions in the karyotypic evolution on the Asian muntjacs. Cytogenetics and Cell

Genetics, 63: 156–159.

64

Lee, C.; Wevrick, R.; Fisher, R.B.; Ferguson-Smith, M.A.; Lin, C.C. 1997. Human

centromeric DNAs. Human Genetics, 100: 291–304.

Levan, A.; Fredga, K.; Sandberg, A.A. 1964. Nomenclature for centromeric position on

chromosomes. Hereditas, 52: 201-220.

Luykx, P.; Slowinski, J.B.; McCranie, J.R. 1992. The karyotype of the coral snake

Micrurus ruatanus. Amphib Reptil, 13: 289–292.

Mallet, J.; Joron, M. 1999. Evolution of diversity in warning color and mimicry:

polymorphisms, shifting balance and speciation. The Annual Review of Ecology,

Evolution, and Systematics, 30: 201–233.

Mank, J.E.; Promislow, D.E.L.; Avise, J.C. et al. 2006. Evolution of alternative sex-

determining mechanisms in teleost fishes. Biological Journal of the Linnean

Society, 87: 83–93.

Martins, M.; Oliveira, M. 1999. História natural de serpentes em florestas da região de

Manaus, Amazônia Central, Brasil. Herpetological História Natural, 6: 78-150.

Matsubara, K.; Tarui, H.; Toriba, M.; Yamada, K.; Nishida-Umehara, C.; Agata, K.;

Matsuda, Y. 2006. Evidence for different origin of sex chromosomes in snakes,

birds, and mammals and step-wise differentiation of snake sex chromosomes.

Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of

America, 103: 18190–18195.

Matsubara K, Sarre SD, Georges A, Matsuda Y, Marshall Graves JÁ, Ezaz T. 2014

Highly Differentiated ZW Sex Microchromosomes in the Australian Varanus

Species Evolved through Rapid Amplification of Repetitive Sequences. Plos One,

9(4): e95226.

Matsuda, Y.; Nishida-Umehara, C.; Tarui, H.; Kuroiwa, A.; Yamada, K. 2005. Highly

conserved linkage homology between birds and turtles: Bird and turtle

chromosomes are precise counterparts of each other. Chromosome Research,

13: 601–615.

McDiarmid, R.W.; Campbell, J.A.; Toure, T.A. 1999. Snakes species of the World. A

Taxonomic and Geographic Reference, vol. 1, Herpetol., League, Washington.

Mengden, G.A.; Stock, D. 1980. Chromosomal evolution in Serpentes; a comparision of

G and C chromosome banding patterns of some colubrid and boid genera.

Chromosoma, 79: 53-64.

65

Mengden, G.A. 1981. Linear differentiation of the C-band pattern of the W chromosome

in snakes and birds. Chromosoma, 83(2): 275-287.

Mengden, G.A. 1982. Chromosomal evolution and the phylogeny of elapid snakes. PhD

Thesis, Austr. Nat. Univ. Canberra.

Metcalfe, C.J.; Eldridge, M.D.B.; Johnston, P.G. 2004. Mapping the distribution of the

telomeric sequence (TTAGGG) in the 2n=14 ancestral marsupial complement

and in the macropodines (Marsupialia: Macropodidae) by fluorescence in situ

hybridization. Chromosome Research, 12: 405-414.

Meyne, J. 1988. Fragile sites, telomeric DNA sequences, B chromosomes, and DNA

content in raccoon dogs, Nyctereutes procyonoides, with comparative notes of

foxes, coyote, Wolf and raccoon. Cytogenetics and Cell Genetics, 49: 278–281.

Meyne, J.; Ratliff, R.L.; Moyis, R.K. 1989. Conservation of the human telomere

sequence (TTAGGG)n among vertebrates. Proceedings of the National Academy

of Sciences of the United States of America, 86: 7049–7053.

Meyne, J.; Baker, R.J.; Hobart, H.H.; et al. 1990. Distribution of nontelomeric sites of the

(TTAGGG)n telomeric sequences in vertebrate chromosomes. Chromosoma, 99:

3–10.

Monroy-Vilchis, O.; Sánchez, Ó.; Urios, V. 2011. Consumo de un jaguarundi adulto

Puma yagouaroundi (Felidae) por la serpiente Boa constrictor (Boidae) en el

centro de México. Revista mexicana de biodiversidad, 82(1): 319-321.

Moreno, R.; Navarro, J.; Iturra, P.; Veloso, A. 1987. The karyotype of Philodryas

chamissonis (Colubridae). Identification of nucleolar organizer regions (NOR) and

sex chromosomes by banding methods. Brazilian Journal of Genetics, 10: 497-

506.

Morescalchi, A. 1979. New developments in vertebrate cytotaxonomy. Cytotaxonomy of

the amphibians. Genetica, 50: 179-193.

Mundy, N.I.; Badcock, N.S.; Hart, T.; Scribner, K.; Janssen, K.; Nadeau, N.J. 2004.

Conserved genetic basis of a quantitative plumage trait involved in mate choice.

Science, 303: 1870–1873.

Murphy, J.B.; Campbell, J.A. 1997. Captive maintenance. In: Seigel, R.A.; Collins, J.T.;

Novak, S.S. (Eds.) Snakes: Ecology and Evolutionary Biology. p. 165-181.

Murphy, J.C. 1997. Tales of Giant Snakes: A Historical Natural History of Anacondas

and Pythons. Malabar, Fl.: Krieger Publishing Company.

66

Nanda, I.; Schrama, D.; Feichtinger, W.; Haaf, T.; Schartl, M.; Schmid, M. 2002.

Distribution of telomeric (TTAGGG)n sequences in avian chromosomes.

Chromosoma, 111: 215–227.

Nergadze, S.; Santagostino, M.; Salzano, A.; Mondello, C.; Giulotto, E. 2007.

Contribution of telomerase RNA retrotranscription to DNA double-strand break

repair during mammalian genome evolution. Genome Biology, 8: 260.

Noonan, B.P.; Chippindale, P.T. 2006. Dispersal and vicariance: the complex

evolutionary history of boid snakes. Molecular Phylogenetics and Evolution, 40:

347–358.

Odierna, G.; Olmo, E.; Cobror, O. 1987. Taxonomic implications of NOR-localization in

lacertid lizards. Amphibia-Reptilia, 8: 373-382.

Oguiura, N.; Ferrarezzi, H.; Batistic, R.F. 2009. Cytogenetics and molecular data in

Snakes: A phylogenetic approach. Cytogenetic and Genome Research, 127:

128-142.

Olmo, E.; Signorino, G. 2005. Chromorep: a reptile chromosomes database. Retrieved

from http: //193.206.118.100/ professori/chromorep.pdf

Olmo, E. 2008. Trends in the evolution of reptilian chromosomes. Integrative and

Comparative Biology, 48: 486–493.

Pellegrino, K.C.M.; Rodrigues, M.T.; Yonenaga-Yassuda, Y. 1999. Chromosomal

evolution in the Brazilian lizards of genus Leposoma (Squamata,

Gymnophthalmidae) from Amazon and Atlantic rain forests: Banding patterns and

FISH of telomeric sequences. Hereditas, 131: 15-21.

Pinkel, D.; Straume, T.; Gray, J.W. 1986. Cytogenetic analysis using quantitative,

highsensitivity, fluorescence hybridization. Proceedings of the Natural Academy

of Science, 83: 2934-2938.

Pinthong, K.; Tanomtong, A.; Getlekha, N.; Sangpadee, W.; Sanoamuang, L. 2013.

First cytogenetic study of Puff-Faced Water Snake, Homalopsis buccata

(Squamata, Colubridae) by conventional staing, Ag-NOR banding and GTG –

banding techniques. Cytologia, 78(2): 1-10.

Pokorná, M.; Kratochvíl, L.; Kejnovský, E. 2011. Microsatellite distribution on sex

chromosomes at different stages of heteromorphism and heterochromatinization

in two lizard species (Squamata: Eublepharidae: Coleonyx elegans and

Lacertidae: Eremias velox). BMC Genetics, 12: 90.

67

Porter, C.A.; Hamilton, M.J.; Sites Jr., J.W.; Baker, R.J. 1991. Location of ribosomal

DNA in chromosomes of squamate reptiles: systematic and evolutionary

implications. Herpetologica, 47: 271-280.

Porter, C.A.; Haiduk, M.W.; De Queiroz, K. 1994. Evolution and phylogenetic

significance of ribosomal gene location in chromosomes of squamate reptiles:

systematic and evolutionary implications. Copeia, 1994: 302-313.

Pyron, R.A.; Burbrink, F.T.; Wiens, J.J. 2013. A phylogeny and updated classification of

Squamata, including 4161 species of lizards and snakes. BMC Evolutionary

Biology, 13: 93.

Pyron, R.A.; Reynolds, R.G.; Burbrink, F.T. 2014. A Taxonomic Revision of Boas

(Serpentes: Boidae). Zootaxa, 3846(2): 249-260.

Quinn, A.E.; Sarre, S.D.; Ezaz, T.; et al. 2011. Evolutionary transitions between

mechanisms of sex determination in vertebrates. Biology Letters, 7: 443–448.

Radder, R.S.; Quinn, A.E.; Georges, A.; Sarre, S.D.; Shine, R. 2008. Genetic evidence

for co-occurrence of chromosomal and thermal sex-determining systems in a

lizard. Biology Letters, 4: 176–178.

Ray-Chaudhuri, S.P.; Singh, L. 1972. DNA replication pattern in sex chromosomes of

snakes. Nucleus, 15: 200–210.

Reed, R.N.; Rodda, G.H. 2009. Giant constrictors: biological and management profiles

and an establishment risk assessment for nine large species of pythons,

anacondas, and the Boa constrictor. U.S. Geological Survey Open-File Report.

302 pp.

Reed, K.M.; Hanks, B.G.; Bickham, J.W,; Rhodin,A.G.J.; Greenbaum, I.F.; Mittermeier,

R.A.; Fedullo, L.P. 1991. Cytogenetic analysis of the plurodine turtle Phrynops

hogei and its taxonomic implications. Amphibia-Reptilia, 12: 203-212.

Rens, W.; O’Brien, P.C.; Grutzner, F.; Clarke, O.; Graphodatskaya, D.; Tsend-Ayush,

E.; Ferguson-Smith, M.A. 2007. The multiple sex chromosomes of Platypus and

Echidna are not completely identical and several share homology with the avian

Z. Genome Biology, 8(11): R243.

Reynolds, R.G.; Puente-Rolón, A.R.; Reed, R.N.; Revell, L.J. 2013. Genetic analysis of

a novel invasion of Puerto Rico by an exotic constricting snake. Biological

invasions, 15(5): 953-959.

68

Reynolds, R.G.; Niemiler, M.L.; Revell, L.J. 2014. Toward a Tree-of-Life for the boas

and pythons: multi locus species-level phylogeny with unprecedented taxon

sampling. Molecular Phylogenetics and Evolution, 71: 201–213.

Rhen, T.; Schroeder, A. 2010. Molecular mechanisms of sex determination in reptiles.

Sexual Development, 4: 16-28.

Rivas, J.A. 1999. The life history of the Green Anaconda (Eunectes murinus), with

emphasis on its reproductive biology. Knoxville, Univ. Tennessee, Ph.D.

dissertation, 168 p.

Rivas, J.A.; Owens, R.Y. 2001. Eunectes murinus: juvenile predation.” Herpetological

Review, 32: 107-108.

Ritland, K.; Newton, C.; Marshall, H.D. 2001. Inheritance and population structure of the

white-phased ‘‘Kermode’’ black bear. Current Biology, 11: 1468–1472.

Rosenblum, E.B.; Hoekstra, H.E.; Nachman, M.W. 2004. Adaptive reptile color variation

and the evolution of the MC1R gene. Evolution, 58: 1794–1808.

Rosenblum, E.B.; Rompler, H.; Shoneberg, T.; Hoekstra, H.E. 2010. Molecular and

functional basis of phenotypic convergence in white lizards at White Sands.

Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of

America, 107: 2113–2117.

Ruiz-Herrera, A.; García, F.; Azzalin, C.; Giulotto, E. 2002. Distribution of

intrachromosomal telomeric sequences (ITS) on Macaca fascicularis (Primates)

chromosomes and their implication for chromosome evolution. Human Genetics,

110: 578-586.

Russo, V. 2007. The complete Boa Constrictor: A comprehensive guide to the care,

breeding, and geographic races. ECO Herpetological Publishing, 281 pp.

Saiki, R.K.; Gelfand, D.H.; Stoffel, S.; Scharf, S.J.; Higuchi, R.; Horn, G.T.; Mullis, K.B.;

Erlich, H.A. 1988. Primer-directed enzymatic amplification of DNA with a

thermostable DNA polymerase. Science, 239: 487-491.

Sambrook, J.; Fritsch, E.F.; Maniatis, T. 1989. Molecular Cloning: a Laboratory Manual.

Cold Springs Harbor Laboratory Press, Cold Springs Harbor, NY.

Sarre, S.; Georges, A.; Quinn, A. 2004. The ends of a continuum: Genetic and

temperature-dependent sex determination in reptiles. Bioessays, 26: 639-645.

69

Sarre, S.D.; Ezaz, T.; Georges, A. 2011. Transitions between sex-determining systems

in reptiles and amphibians. Annual Review of Genomics and Human Genetics,

12: 391-406.

Sasaki, M.; Tagaki, N.; Nishida, C.H. 1984.Current profiles of avian cytogenetics, with

notes on chromosomal diagnosis of six birds. Nucleus, 27: 63–73.

Schmid, M.; Feichtinger, W.; Nanda, I.; et al. 1994. An extraordinarily low diploid

chromosome number in the reptile Gonatodes taniae (Squamata, Gekkonidae).

Journal of Heredity, 85: 255–260.

Serafim, H.; Peccinini-Seale, D.M.; Batistic, R.F. 2007. Estudo cariotípico de duas

espécies brasileiras do gênero Micrurus (Ophidia: Elapidae). Biota Neotropica,

7(n1).

Sessions, S.K. 2008. Evolutionary cytogenetics in salamanders. Chromosome

Research, 16: 183–201.

Shine, R.; Elphick, M.; Donnellan, S. 2002. Co-occurrence of multiple, supposedly

incompatible modes of sex determination in a lizard population. Ecology Letters,

5: 486-489.

Sinervo, B.; Lively, C.M. 1996. The rock-paper-scissors game and the evolution of

alternative male strategies. Nature, 380: 240–243.

Singh, L. Sharma, T., Ray-Chaudhuri, S.P. 1970. Multiple sex chromosomes in the

common Indian krait, Bungarus caeruleus Schneider. Chromosoma, 31: 386-391.

Singh, L. 1972a. Evolution of Karyotypes in Snakes. Chromosoma, 38: 185-236.

Singh, L. 1972b. Multiple W chromosome in a sea snake, Enhydrina schistose Daudin.

Experientia, 28: 95-97.

Singh, L.; Purdom, I.F.; Jones, K.W. 1976. Satellite DNA and evolution of sex

chromosomes. Chromosoma, 59: 43-62.

Singh, L.; Purdom, I.F.; Jones, K.W. 1979. Behaviour of sex chromosome associated

satellite DNAs in somatic and germ cells in Snakes. Chromosoma, 71: 167-181.

Singh, L. 2011. The charms of snake sex chromosomes. Journal of Biosciences, 36(1):

17-21.

Slijepcevic, P. 1998. Telomeres and mechanisms of Robertsonian fusion. Chromosoma,

107: 136–140.

70

Smith, J.; Bruley, C.K.; Paton, I.R.; Dunn, I.; Jones, C.T.; Windsor, D.; Morrice, D.R.;

Law, A.S.; Masabanda, J.; Sazanov, A.; Waddington, D.; Fries, R.; Burt, D.W.

2000. Differences in gene density on chicken macrochromosomes and

microchromosomes. Animal Genetics, 31: 96–103.

Srikulnath, K.; Uno, Y.; Matsubara, K.; Thongpan, A.; Suputtitada, S.; Apisitwanich, S.;

Nishida, C.; Matsuda, Y. 2011. Chromosomal localization of 18S-28S and 5S

rRNA genes and (TTAGGG) sequences of butterfly lizards (Leiolepis belliana

belliana and Leiolepis boehmei, Agamidae, Squamata). Genetics and Molecular

Biology, 34(4): 582-586.

Stafford, P.J.; Henderson, R.J. 1996. Kaleidoscopic Tree Boas: the genus Corallus of

Tropical America. Krieger Publishing Company. 120 pp.

Stock, A.D. 1972. Karyological relationships in turtles (Reptilia, Chelonia). Canadian

Journal Genetics Cytology, 14: 859-869.

Strimple, P.D. 1993. Overview of the natural history of the Green Anaconda:

Herpetological Natural History, 1(1): 25–35.

Strussmann, C.; Sazima, I. 1991. Predation on avian eggs by the boid snake, Eunectes

notaeus. Herpetological Review, 22: 118–120.

Strussmann, C.; Sazima, I. 1993. The snake assemblage of the Pantanal at Poconé,

Western Brazil: Faunal composition and ecological summary. Studies on

Neotropical Fauna and Environment, 28: 157–168.

Strussmann, C. 1997. Hábitos alimentares da sucuri-amarela, Eunectes notaeus Cope,

1862, no pantanal Matogrossense. Biociencias, 1: 35–52.

Sumner, A.T. 1972. A simple technique for demonstrating centromeric heterochromatin.

Experimental Cell Research, 75: 304-306.

Svartman, M.; Vianna-Morgante, A.M. 1998. Karyotype evolution of marsupials: from

higher to lower diploid numbers. Cytogenetics and Cell Genetics, 82: 263–266.

Thorbjarnarson, J. 1995. Trailing the Mythical Anaconda. Americas, 47(4): 38.

Tolson, P.J.; Henderson, R.W. 1993. The natural history of West Indian Boas. Tauton,

England: RA Publishing.

Trajtengertz, I.; Beçak, M.L.; Ruiz, I.R.G. 1995. Ribosomal cistrons in Bothrops

neuwiedi (Serpentes) subspecies from Brazil. Genome, 38: 601–606.

71

Uetz, P.; Hosek, J. 2014. The Reptile Database,hhtp://www.reptile-database.org.

Accessed Jul 20.

Underwood, G. 1967. A Contribution to the Classification of Snakes. Trustees of the

British Museum (Natural History), London, 179 pp.

Van Devender, R.W.; Cole, C.J. 1977. Notes on a colubrid snake, Tantilla vermiformis,

from Central America. Apuntes sobre una serpiente colúbrida, Tantilla

vermiformis, de Centroamérica. American Museum Novitates, 2625: 1-12.

Veyrunes, F.; Waters, P.D.; Miethke, P.; Rens, W.; McMillan, D.; Alsop, A.E.; Grützner,

F.; Deakin, J.; Whittington, C.; Kyriena, S.; Colin, K.; Graves, T.; Ferguson-Smith,

M.; Warren, W.; Marshall Graves, J.A. 2008. Bird-like sex chromosomes of

Platypus imply recent origin of mammal sex chromosomes. Genome Research,

18(6): 965–973.

Vicoso, B.; Emerson, J.J.; Zektser, Y.; Mahajan, S.; Bachtrog, D. 2013. Comparative

sex chromosome genomics in snakes: Differentiation, evolutionary strata, and

lack of global dosage compensation. PLoS Biology, 11: e1001643.

Vidal, N.; Henderson, R.W.; Delmas, A.S.; Hedges, S.B. 2005. A phylogeny of the

emerald treeboa (Corallus caninus). Journal of Herpetology, 39: 500–503.

Vidal, N.; Rage, J.C.; Couloux, A.; Hedges, S.B. 2009. Snakes (Serpentes). In: Hedges,

S.B., Kumar, S. (Eds.). The Timetree of Life. Oxford University Univ. Press, New

York, pp. 390–397.

Waller, T.; Micucci, P.A.; Alvarenga, E., 2007. Conservation biology of the Yellow

Anaconda (Eunectes notaeus) in Northeastern Argentina. In: Henderson, R.W.;

Powell, R. (eds.) Biology of the boas and pythons. Eagle Mountain, Utah, Eagle

Mountain Publishing. p. 340–362.

Werner, Y.L. 1959. Chromosomes of primitive snakes from Israel. Bulletin of the

Research Council of Israel, Section B, Zoology, 8B(4): 197-198.

Wiley, J.E.; Meyne, J.; Little, M.L.; Stout, J.C. 1992. Interstitial hybridization sites of the

(TTAGGG)n telomeric sequence on the chromosomes of some North American

hylid frogs. Cytogenetic Cell Genetic, 61: 55–57.

Wurster-Hill, D.H.; Ward, O.G.; Davis, B.H.; Park, J.P.; Moyis, R.K.; Meyne, J. 1988.

Fragile sites, telomeric DNA sequences, B chromosomes, and DNA content in

raccoon dogs, Nyctereutes procyonoides, with comparative notes of foxes,

coyote, Wolf and raccoon. Cytogenetics and Cell Genetics, 49: 278–281.

72

Wurster-Hill, D.H.; Ward, O.G.; Davis, B.H.; Park, J.P.; Moyis, R.K.; Wiley, J.E.; Meyne,

J.; Little, M.L.; Stout, J.C. 1992. Interstitial hybridisation sites of the (TTAGGG)n

telomeric sequence on the chromosomes of some North American hylid frogs.

Cytogenetics and Cell Genetics, 61: 55–57.

Wyman, C.; Blackburn, E.H. 1991. Tel-1 transposon-like elements of Tetrahymena

thermophila are associated with micronuclear genome rearrangements.

Genetics, 129: 57-67.