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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZONIA – INPA
Programa de Pós Graduação em Genética, Conservação e Biologia
Evolutiva – PPG-GCBEv
FRANCISCO CARLOS DE SOUZA VALENTIM
Manaus - Amazonas
2011
CITOTAXONOMIA DE ARRAIAS DE ÁGUA DOCE
(MYLIOBATIFORMES, POTAMOTRYGONIDAE) DA BACIA
AMAZÔNICA CENTRAL
ii
FRANCISCO CARLOS DE SOUZA VALENTIM
Orientadora: Eliana Feldberg, Dra.
Manaus - Amazonas
2011
CITOTAXONOMIA DE ARRAIAS DE ÁGUA DOCE
(MYLIOBATIFORMES, POTAMOTRYGONIDAE) DA BACIA
AMAZÔNICA CENTRAL
Tese apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Genética Conservação e
Biologia Evolutiva – PPG-GCBEv como parte
dos requisitos para obtenção do título de
Doutor em Genética, Conservação e Biologia
Evolutiva.
iii
Ficha Catalográfica
Sinopse: São apresentados estudos citogenéticos de sete espécies e dois citótipos em dois gêneros de arraias de água doce da Amazônia Central. Os estudos envolveram as técnicas clássicas de citogenética, como número diploide, a morfologia do cromossomo, número e localização das regiões organizadoras do nucléolo e detecção da heterocromatina constitutiva. Diferenças intra e interespecíficas foram detectadas e os dados indicam que fusões e/ou fissões, inversões e translocações foram os principais rearranjos que ocorreram na diversificação deste grupo de peixes na água doce. Palavras-chave: Chondrichthyes, Potamotrygonidae, Evolução cromossômica, rearranjos, Sistema sexual XX/X0, Sistema sexual XX/XY.
V155 Valentim, Francisco Carlos de Souza Citotaxonomia de arraias de água doce (Myliobatiformes, Potamotrygonidae) da bacia Amazônica Central / Francisco Carlos de Souza Valentim. --- Manaus : [s.n.], 2011. viii, 91 f. : il. color. Dissertação (mestrado) -- INPA, Manaus, 2011 Orientador : Eliana Feldberg Área de concentração : Genética, Conservação e Biologia Evolutiva
1. Arraias. 2. Chondrichthyes. 3. Potamotrygonidae. 4. Citogenética. 5.Cromossomos sexuais. I. Título.
CDD 19. ed. 597.350415
iv
À minha querida Mãe Carlita e irmã Valdenira de Souza Valentim in memoriam
v
A realização deste projeto foi possível devido: Ao Programa de Pós-Graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva do INPA.
Ao Laboratório de Genética Animal do INPA, Coordenação de Pesquisas em Biologia
Aquática (CPBA), onde grande parte da atividade laboratorial foi realizada, com o
financiamento do Projeto Caracterização Genética (cromossomos, proteínas e DNA) de
vertebrados amazônicos (INPA/MCT - PRJ 12.01).
À Fundação de Amparo à Pesquisa (FAPEAM), pelo auxílio ao projeto PIPIT – Processo 1749/08, Edital N.009/2007.
À Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)/Fundação
de Amparo à Pesquisa (FAPEAM), pela concessão da bolsa durante a realização deste
trabalho.
vi
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela sua infinita bondade, pela ajuda espiritual nos momentos
alegres e tristes desta etapa de minha vida.
Ao meu pai, senhor Sebastião Valentim, pela dedicação à minha vida pessoal,
estudantil e profissional.
À minha esposa Izabele dos Santos Valentim, pela paciência e amor dedicado a
mim durante esta jornada.
Aos meus irmãos: Silvia, Genival, Sinval, Nelson, Silvio, Silvana, Neide, Zilvani e
Sebastião pelos incentivos desta longa jornada.
Aos meus filhos Fabíola Cristina e Carlos Valentim Jr. que em muitos momentos
dessa jornada estive distante de vocês, mas que nunca deixei de amá-los.
À minha orientadora Doutora Eliana Feldberg pela orientação nesta tese,
paciência, compreensão, ensinamentos e pela ajuda Acadêmico-Profissional.
Ao Dr. Jorge Ivan Rebelo Porto pelos incentivos, atenção, colaboração didática,
críticas e sugestões nesta tese.
Ao Dr. Luis Antonio Carlos Bertollo pelas sugestões, correções e incentivo nesta
tese.
A Dra. Maria Lúcia Góes Araújo por ter contribuído fortemente no processo de
identificação, nas coletas e obtenção do meu material de pesquisa.
Ao Dr. Jansen Alfredo Sampaio Zuanon, pelas sugestões, incentivo e colaboração
didática desta tese.
Ao Dr. Ricardo de Souza Rosa pela ajuda na classificação do material desta tese e
pelos comentários feitos acerca do status dos Elasmobrânquios que muito enriqueceram
meus conhecimentos.
vii
Ao Dr. Wallice Paxiuba Duncan pelas criticas, comentários e fornecimento de
material didático desta tese.
À Dra. Celeste Mutuko Nakayama pelo incentivo, motivação a minha pessoa no
decorrer desta tese.
Ao Dr. Richard Vogt pela colaboração na coleta do material desta tese.
Ao Dr. Ailton Saturnino pelas críticas e sugestões feitas ao meu projeto, além de
incentivo durante a execução do meu projeto.
Ao casal, MSc. Carlos Schineider e Dra. Maria Claudia Gross, pela ajuda nas
práticas laboratoriais, formatação, correções, pelas sugestões, críticas e incentivo neste
trabalho.
Ao amigo Adriano, pela ajuda nas coletas de arraias desta tese.
Ao Agente ambiental Henrique Anatole do IBAMA, pelas informações prestadas e
incentivos nesta tese.
A ex-coordenadora do PPG-GCBEV, Dra. Vera Scarpassa e da secretária
Alessandra pelos incentivos, apoio e amizade.
Aos meus AMIGOS e colegas de laboratório, Arlisson, Eliane, Denise, Paola, Leila,
Rodrigo, Carlos Eduardo, Natalia, Leandra, Heidi, Maelin.
Aos PIBICanos, em especial ao Masseo pela ajuda laboratorial e na formatação
das figuras e tabelas desta tese e aos demais: Poli, Brenda e Érica pelas sugestões, além
das brincadeiras nos momentos de descontração desta difícil jornada.
Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA/CPBA pelo apoio na
concessão de material e laboratorial desta tese.
Ao IBAMA pelo apoio na liberação para captura do material deste trabalho.
viii
À Secretaria Municipal de Educação de Manaus – SEMED, pelo apoio e liberação
do quadro funcional para fazer esta tese.
À Secretaria de Estado de Educação e Desporto pela colaboração no que diz
respeito à minha liberação do quadro funcional para dedicar-me a esta tese.
Aos pescadores em especial ao Carlos Sotero, Luizinho, Negrão e Chico Louro (in
memorian), pela busca incansável do material desta pesquisa, pela paciência e
descontração nos momentos de solidão das coletas.
À comunidade Daraquá no município de Barcelos, em particular ao Sr. Bebé e
Pinheiro, pela acolhida durante as excursões.
Ao técnico Arlindo Nascimento Batista ajuda nas coletas e no laboratório, pela
amizade, ajuda e esforço incansável dedicado a esta tese.
Enfim, a todos que de alguma forma direta e indireta contribuíram para a realização desta tese.
ix
Resumo
A família Potamotrygonidae, ordem Myliobatiformes abriga todas as
espécies de arraias de água doce neotropical. Pouco ainda se conhece a
respeito deste grupo de peixes, por exemplo, o número de espécies é incerto,
alguns nomes ainda são duvidosos, como ocorreu sua diversificação em
água doce, qual o grupo irmão marinho. Estudos citogenéticos são ainda
incipientes nesta família. Com o objetivo de ampliar o conhecimento neste
grupo de peixes, de grande interesse na aquariofília e com indicativos de
sobrepesca, foram analisadas, citogeneticamente, sete espécies nominais:
Plesiotrygon iwamae (2n=74, NF=120), Potamotrygon sp. C (cururu)
(2n=67♂/68♀, NF=104/106), com sistema de determinação do sexo XX/X0,
Potamotrygon scobina (2n=66, NF=102), Potamotrygon cf. scobina (2n=66,
NF=101), ambas com provável sistema de determinação de sexo XX/XY,
Potamotrygon constellata (2n=66, NF=110), Potamotrygon leopoldi (2n=64,
NF=102), Potamotrygon orbignyi (2n=66, NF=106), confirmando a presença
do sistema XX/XY e Potamotrygon motoro de diferentes localidades da bacia
amazônica central. Entre os espécimes de Potamotrygon sp. foi identificado
um exemplar fêmea distinto, que apresentou o mesmo número diploide
(2n=68) de Potamotrygon sp. C, mas com morfologia e fórmula cariotípica
diferenciadas podendo, portanto, representar mais uma espécie a ser
reconhecida e descrita neste táxon, provisoriamente denominada
Potamotrygon sp. C1. Entretanto, a ocorrência do sistema XX/XO pode, por
ora, ser caracterizado apenas em Potamotrygon sp. C. Todas as espécies
têm regiões organizadoras de nucléolo múltiplas, com número variando de 4
a 8, as quais porém, nem sempre estiveram todas ativas. Estas regiões
encontram-se preferencialmente localizadas na região terminal dos braços
longos dos cromossomos, exceto um par presente em P. constellata que se
localizou nos braços curtos. A heterocromatina constitutiva, encontra-se
localizada na região centromérica de todos os cromossomos do
complemento, em todas as espécies. Rearranjos cromossômicos,
principalmente os do tipo fusão e/ou fissão, inversões e translocações, foram
mecanismos determinantes da evolução cariotípica das arraias de água doce,
podendo estar implicados nos processos de especiação desse grupo.
x
Abstract
The family Potamotrygonidae in the order Myliobatiformes comprises all the
Neotropical freshwater ray species. The knowledge about this fish group is
limited, for example, the species number is uncertain, some species names
are questionable, there is no information about how their diversification in
freshwater happened, and there are no studies about their real marine sister
group. Cytogenetic studies in this family are incipients. With the objective of
widen the knowledge about this fish group, that arouses interests in aquarium,
and are indicated as an overfishing group, were analyzed, cytogenetically,
seven nominal species and two cytotypes: Plesiotrygon iwamae (2n=74,
FN=120), Potamotrygon sp. C (cururu) (2n=67♂/68♀, FN=104/106), with a
sex determination system XX/X0, Potamotrygon sp. C1 female (2n=68,
FN=108), Potamotrygon scobina (2n=66, FN=102), Potamotrygon cf. scobina
(2n=66, FN=101), both with a probable sex determination system XX/XY,
Potamotrygon constellata (2n=66, FN=110), Potamotrygon leopoldi (2n=64,
FN=102), Potamotrygon orbignyi (2n=66, FN=106), with a confirmed XX/XY
system and Potamotrygon motoro from differents localities of the central
Amazon basin. Among the specimens of Potamotrygon sp. identified a distinct
female specimen, which showed the same diploid number (2n=68) of
Potamotrygon sp. C, but with different morphology and karyotype formula.
Therefore, it may represent another species to be recognized and described
this taxon, provisionally named Potamotrygon sp. C1. However, the
occurrence of the system XX/XO may for now be characterized only in
Potamotrygon sp. C. All the species presented multiple nucleolar organizer
regions (NORs), although those regions were not always active, and the silver
nitrate stains number ranged from four to eight, in most of the metaphases
they were localized in the terminal position of the long arms, except in one
pair in P. constellata that was localized in the short arm. The constitutive
heterochromatin is located, in the centromeric regions of all the complement
chromosomes, in all the species. Chromosomal rearrangements, specially
fusions or fissions, inversions and translocations, were indispensable
mechanisms of karyotype evolution in the freshwater stingrays, and may be
involved in the speciation processes of this group.
xi
Sumário
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
1.1. A ictiofauna neotropical e amazônica ................................................... 1
1.2 Breve história adaptativa das arraias de água doce ............................. 2
1.3 A família Potamotrygonidae e a importância das Arraias na Amazônia ........................................................................................................ 3
1.4 A Citogenética de peixes com ênfase em Arraias ................................ 6
1.5 OBJETIVOS .............................................................................................. 8 1.5.1 Objetivo geral ............................................................................................................8 1.5.2 Objetivos específicos ................................................................................................8
2. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................ 9
2.1 Material ..................................................................................................... 9
2.2 Métodos ................................................................................................ 112 2.2.1 Indução da atividade mitótica ................................................................................ 12 2.2.2 Obtenção dos cromossomos mitóticos .................................................................. 12 2.2.3 Obtenção de cromossomos meióticos de machos ................................................ 14 2.2.4 Caracterização das Regiões Organizadoras de Nucléolos (RONs) ...................... 14 2.2.5. Detecção da Heterocromatina Constitutiva (Banda C) ......................................... 15 2.2.6. Processamento dos Dados Cariotípicos ............................................................... 15
3. Resultados e Discussão .......................................................................... 17
3.1. Artigo 1: Um sistema raro de determinação cromossômica do sexo em arraia de água doce (Potamotrygon sp.) do rio Negro, AM ................ 18
3.1.1. Resumo ................................................................................................................. 19 3.1.2. Introdução ............................................................................................................. 20 3.1.4. Resultados ............................................................................................................ 23 3.1.5. Discussão ............................................................................................................. 29
3.2. Artigo 2: Mecanismos de evolução cromossômica em arraias de água doce (Myliobatiformes, Potamotrygonidae)......................................34
3.2.1. Resumo ................................................................................................................. 35 3.2.2. Introdução ............................................................................................................. 36 3.2.3. Material e Métodos ............................................................................................... 37 3.2.4. Resultados ............................................................................................................ 38 3.2.5. Discussão ......................................................................................................................... 50
4. Conclusão geral ....................................................................................... 61
5. Referências Bibliográficas ...................................................................... 62
xii
Lista de Figuras
Figura 1. Espécies de arraias estudadas no presente trabalho .................... 11
Figura 2. a) Exemplar macho de Potamotrygon sp. C (diâmetro do
disco=19cm); b) Exemplar fêmea de Potamotrygon sp. C (diâmetro do disco=
17,5cm); c) Exemplar fêmea de Potamotrygon sp. C1 (diâmetro do disco
8cm). .............................................................................................................. 21
Figura 3. Locais de coleta de Potamotrygon sp. C e C1 no médio rio Negro.
....................................................................................................................... 22
Figura 4. Cariótipo de Potamotrygon sp. C macho. a) coloração com Giemsa;
b) pares nucleolares (em destaque) evidenciando as AgRONs; c) núcleo
interfásico evidenciando sete sítios (RONs) destacados pela Prata; d) regiões
de heterocromatina constitutiva evidenciadas pelo bandamento C.
m=metacêntrico, sm=submetacêntrico, st=subtelocêntrico, a=acrocêntrico..25
Figura 5. Cariótipo de Potamotrygon sp. C fêmea. a) coloração com Giemsa;
b) pares nucleolares (em destaque) evidenciando as AgRONs; c) núcleo
interfásico evidenciando oito sítios (RONs) destacados pela Prata; d) regiões
de heterocromatina constitutiva evidenciadas pelo bandamento C.
m=metacêntrico, sm=submetacêntrico, st=subtelocêntrico, a=acrocêntrico..26
Figura 6. Cariótipo de Potamotrygon sp. C1 fêmea em: a) coloração com
Giemsa; b) pares nucleolares (em destaque) evidenciando as AgRONs; c)
regiões de heterocromatina constitutiva evidenciadas pelo bandamento
m=metacêntrico, sm=submetacêntrico, st=subtelocêntrico, a=acrocêntrico..27
Figura 7. Meiose de machos de Potamotrygon sp. C: a) metáfase
espermatogonial em coloração convencional, com 2n=67 cromossomos; b)
leptóteno evidenciando um bloco heteropicnótico na borda nuclear (possível
cromossomo sexual); c) diacinese com bandamento C, evidenciando bandas
positivas nos centrômeros dos bivalentes e do univalente (cromossomo X);
d) metáfase II com 33 cromossomos; e) metáfase II com 34 cromossomos; f)
metáfase II com bandamento C, evidenciando bandas positivas nos
centrômeros dos 34 cromossomos.................................................................28
Figura 8. Cariótipo de Plesiotrygon iwamae: a) em coloração convencional
com Giemsa; b) impregnado com AgNO3; c) Banda C. ................................. 39
xiii
Figura 9. Cariótipos em coloração com Giemsa: a) Potamotrygon scobina
(macho); b) Potamotrygon cf. scobina (macho); c) Potamotrygon constellata;
d) Potamotrygon leopoldi. .............................................................................. 42
Figura 10. Cariótipos com impregnação por nitrato de Prata: a) Potamotrygon
scobina (macho); b) Potamotrygon cf. scobina (macho); c) Potamotrygon
constellata; d) Potamotrygon leopoldi. ........................................................... 43
Figura 11. Cariótipos com Bandeamento C: a) Potamotrygon scobina
(macho); b) Potamotrygon cf. scobina (macho); c) Potamotrygon constellata;
d) Potamotrygon leopoldi. .............................................................................. 44
Figura 12. Cariótipos de Potamotrygon orbignyi corados com Giemsa: a)
macho; b) fêmea; c) Cromossomos portadores das Ag-RONS; banda C: d)
macho; e) fêmea. ........................................................................................... 46
Figura 13. Cariótipos de Potamotrygon motoro, de diferentes localidades,
corados com Giemsa: a) Médio rio Negro, região de Barcelos; b) do rio
Jauaperi, médio rio Negro; c) do lago do Catalão, baixo rio Negro; c) do lago
Janauacá, rio Solimões. ................................................................................. 48
Figura 14. Cariótipos de Potamotrygon motoro, de diferentes localidades,
com bandeamento C: a) Médio rio Negro, região de Barcelos; b) do rio
Jauaperi, médio rio Negro; c) do lago do catalão, baixo rio Negro; c) do lago
Janauacá, rio Solimões. ................................................................................. 49
Figura 15. Números diploides sobrepostos à árvore filogenética da ordem
Myliobatiformes proposta por Carvalho et al. (2004)......................................53
xiv
Lista de Tabelas
Tabela 1 Lista das espécies e número de indivíduos de arraias analisadas por
local de coleta, no presente trabalho. Entre parênteses o número de
indivíduos com resultados. ............................................................................ 10
Tabela 2. Dados Citogenéticos das arraias de água doce (Potamotrygonidae)
descritos na literatura e presente trabalho. .................................................... 58
Tabela 3. Compilação dos dados cariotípicos das arraias marinhas
(n=número haplóide; 2n=número diploide; FC=fórmula cromossômica;
NF=número fundamental; CS=cromossomos sexuais; RON=região
organizadora do nucléolo; HC=heterocromatina constitutiva) ........................ 59
1
1. INTRODUÇÃO
Os ecossistemas aquáticos da bacia amazônica podem ser
considerados como “berço” para milhões de espécies animais, vegetais e
microorganismos. A riqueza de sedimentos ao longo do rio Amazonas e de
seus afluentes promove fartura alimentar e diversidade de ambientes, tais
como lagos, igapós, igarapés, enseadas, etc., proporcionando um complexo
faunístico dinâmico. A dificuldade de exploração é um aliado dessa grande
biodiversidade pois cada espécie, além de apresentar suas próprias
peculiaridades, é favorecida por fenômenos naturais como enchentes e
vazantes, que lhes permitem até certo ponto manterem-se restritas a uma
determinada área ou apresentarem uma ampla área de movimentação,
possibilitando o fluxo gênico.
Nas últimas décadas, a exploração que se estabeleceu na região pelo
homem tem sido desastrosa para inúmeras espécies. Como exemplo,
podemos citar, entre os peixes, o pirarucu (Arapaima gigas) e o tambaqui
(Colossoma macropomum) e, entre os mamíferos aquáticos, o peixe-boi da
Amazônia (Trichechus inunguis), os quais passaram para condição de
espécies ameaçadas de extinção. Nesse sentido, os estudos de identificação,
ecologia, conservação e monitoramento de espécies têm contribuído para a
exploração racional da fauna e flora nesta região. A criação de reservas
ecologicamente sustentáveis, assim como a extração de espécies naturais
por meio de cota, são promissores no sentido de evitar o impacto ambiental
para muitas dessas espécies.
1.1. A ictiofauna neotropical e amazônica
A região biogeográfica neotropical se estende do México ao extremo
sul da América do Sul, entre as coordenadas 30º N e pouco mais de 50º S; e,
30º a 120º W. Esta região apresenta grande diversidade de ambientes
ecológicos, o que permitiu processos de irradiação e especiação, tornando-a
uma das regiões mais ricas em espécies. Isto é particularmente verdadeiro
para os peixes de água doce, que podem chegar a 8.000 espécies (Schaefer
1998; Lowe-McConnell 1999; Reis et al. 2003).
2
A bacia amazônica é considerada a maior, mais rica e também a mais
diversificada em espécies de peixes de água doce, podendo alcançar até
5.000 espécies (Santos e Ferreira 1999). É formada pelo rio Amazonas e
seus afluentes, constituindo sub-bacias. Estas, juntamente com inúmeros
igarapés, formam um complexo sistema caracterizado por águas claras,
pretas e brancas. Sua extensão é de aproximadamente sete milhões de
quilômetros quadrados (Sioli 1990; Lowe-McConnell 1999). Para Santos e
Ferreira (1999), os sistemas aquáticos amazônicos favorecem a especiação,
além de fornecer condições ideais para o desenvolvimento da diversidade
ictiológica.
Na região amazônica, os peixes representam um dos recursos naturais
mais abundantes e são utilizados como a principal fonte alimentar pela
população. Além disso, movimentam consideravelmente a economia regional,
tanto na forma de pescado semi-industrializado como na comercialização de
espécies ornamentais (Santos et al. 1991; Araújo 1999; Chao 1995; 2001).
As espécies da ictiofauna amazônica estão agrupadas em 54 famílias
constituídas basicamente por grupos recentes, sendo 43% Characiformes,
39% Silurioidei, 3% Gymnotoidei (revisado por Santos e Ferreira 1999). Há
também representantes da classe Chondrychthyes, sendo uma família de
arraias (Potamotrygonidae), uma família de tubarões (Carcharhinidae) e uma
família de peixes-serra (Pristidae) (Fink e Fink 1978; Rosa 1985; Charvet-
Almeida 2001; Carvalho e McEachran 2003; Nelson 2006).
1.2 Breve história adaptativa das arraias de água doce
As arraias de água doce tiveram sua origem a partir de um ancestral
marinho (Lovejoy et al. 1998; Lovejoy et al. 2006). Uma hipótese provável é a
de “incursão marinha”, ou seja, esse ancestral teria entrado em ambientes
dulcícolas durante os eventos geológicos de separação dos continentes
americano e africano e deslocamento da placa sulamericana para oeste
chocando-se com a placa Nazca, fenômeno que promoveu o soerguimento
da cordilheira andina. Carvalho et al. (2004) postulam que este evento
ocorreu durante o fim do Cretáceo ou entre o fim do Paleoceno e início do
Eoceno, enquanto que outros autores consideram esta ocorrência no
3
Mioceno. Eventos associados a alterações no nível do mar em toda a costa
do Pacífico e Atlântico, promoveram grandes incursões marinhas em vários
locais da bacia amazônica, principalmente na região do Caribe (Lovejoy
1996; Lovejoy et al. 2006). As incursões criaram imensos lagos salinos
recheados de inúmeras espécies marinhas, dentre elas alguns
representantes atuais como as arraias, corvinas, peixe agulha e botos
(Lovejoy et al. 2006; Hoorn 2006). Com o passar dos anos, a salinidade foi
diminuindo gradativamente pela deposição do sal no fundo dos lagos e, deste
modo, formaram-se ambientes salobros e, posteriormente, ambientes
dulcícolas (Lovejoy et al. 2006). Confinadas nestes ambientes, as espécies
marinhas, que resistiram a tais mudanças ambientais, passaram por
adaptações e modificações severas o que as tornaram aptas à vida em água
doce. Exemplos destas adaptações podem ser observados nas arraias de
água doce, como a baixa concentração de uréia nos fluidos corporais e a
intolerância à salinidade (Thorson et al. 1967; Duncan et al. 2010). Uma vez
bem adaptadas à água doce, as arraias não encontraram barreiras dentro do
ambiente amazônico e isso fez com que esses peixes divergissem dentro da
bacia. Segundo Toffoli et al. (2008), a irradiação adaptativa foi o principal
evento evolutivo para a diversidade das arraias dentro dos ambientes de
água doce.
1.3 A família Potamotrygonidae e a importância das arraias na Amazônia
As arraias de água doce possuem a seguinte classificação, segundo
Rosa (1985), Mould (1997) e Carvalho et al. (2003): Classe Chondrichthyes,
Subclasse Elasmobranchii, Ordem Myliobatiformes (08 famílias).
Potamotrygonidae é a única família de arraias de água doce, com quatro
gêneros válidos.
Esse grupo foi originado das arraias marinhas, porém ainda não há um
consenso de qual grupo marinho seria esse ancestral. Resolver o táxon irmão
dos potamotrygonideos tem importantes implicações para a compreensão da
história evolutiva da invasão de myliobatoides em habitats de água doce.
Urobatis (Brooks et al. 1981; Dunn et al. 2003), Himantura (Lovejoy, 1996;
Lovejoy et al. 1998; Lovejoy et al. 2006; McEachran et al. 1996),
Urotrygon+Urobatis Carvalho et al. (2004) e Urolophus (Rosa et al. 2010),
4
têm sido propostos como candidatos para o taxon irmão de
potamotrygonideos. Segundo Lovejoy et al. (1998; 2006) esse grupo teria
sido confinado nos primórdios do Mioceno, acerca de 10-20 milhões de anos,
durante incursões marinhas ocorridas na costa do Pacífico. Aparentemente,
estas teriam sido as únicas espécies marinhas que ficaram presas e isoladas
em ambientes de água doce e confinadas pelos eventos neogênicos.
Os quatro gêneros que compõem a família Potamotrygonidae são:
Paratrygon Duméril 1865 (monoespecífico), Plesiotrygon Rosa, Castello e
Thorson 1987 (duas espécies), Heliotrygon Carvalho e Lovejoy 2011 (duas
espécies) e Potamotrygon Garman 1877 com cerca de 20 espécies válidas
(Rosa 1985; Rosa et al. 1987; Ishihara e Taniuchi 1995; Compagno 1999;
Charvet-Almeida et al. 2002; Carvalho et al. 2003; Carvalho e Lovejoy 2011;
Carvalho e Ragno 2011; Carvalho et al. 2011; da Silva e Carvalho 2011a; b).
Segundo Carvalho e Lovejoy (2011), Heliotrygon (novo gênero) é
grupo irmão de Paratrygon e juntos formam um clado irmão dos outros dois
gêneros.
Segundo Carvalho et al. (2003) os principais problemas relacionados à
identificação deste grupo de peixes se devem aos critérios utilizados, os
quais envolvem, principalmente o padrão de coloração dorsal. Tal critério tem
promovido vários problemas taxômicos, uma vez que as arraias apresentam
policromatismo. Embora não esteja ainda esclarecido, o policromatismo pode
ser atribuído aos diferentes tipos de água em que esses peixes se
encontram. Como exemplo, pode-se citar Potamotrygon motoro e P. orbignyi,
de águas brancas ou pretas da bacia amazônica (Almeida et al. 2002;
Almeida 2003; Charvet-Almeida et al. 2002; Charvet-Almeida e Almeida
2003). Ainda, segundo Carvalho et al. (2003), os critérios merísticos e
morfométricos utilizados na separação de espécies também são limitados
favorecendo as dúvidas por esta forma de identificação.
A bacia amazônica, quando comparada a outras regiões neotropicais,
desponta com a maior diversidade em número de espécies de arraias de
água doce (Rosa 1985; Compagno e CooK 1995; Mould 1997; da Silva e
Carvalho 2011 a; b; Carvalho et al. 2011). Algumas espécies têm ampla
distribuição geográfica, ocorrendo praticamente em toda a calha do rio
Amazonas como, por exemplo, as espécies Potamotrygon motoro e
5
Potamotrygon orbignyi. Outras são endêmicas, por exemplo, Potamotrygon
sp. C e Potamotrygon schroederi no médio rio Negro e Potamotrygon leopoldi
no Xingu (Araújo et al. 2004; Carvalho et al. 2003). Entretanto, as
amostragens têm se restringido às áreas de exportação de peixes
ornamentais como médio rio Negro (município de Barcelos), rio Tocantins e
rio Xingu, permanecendo muitas áreas ainda não amostradas.
As arraias de água doce são distintas das marinhas, por apresentarem
além de especializações morfológicas e fisiológicas, a pélvis com um
processo anteromediano bem desenvolvido (Garman 1877; 1913; Ribeiro
1907; 1923; Bigelow e Schroeder 1953; Thorson e Watson 1975; Carvalho et
al. 2003) e baixa concentração de uréia no sangue e fluidos corporais
(Thorson et al. 1967; Brooks et al. 1981; Thorson e Lacy 1982; Thorson et al.
1983; Wood et al. 2002; Martin 2004; Duncan et al. 2010). São caracterizadas
pelo corpo discóide, prolongado por uma cauda em forma de chicote e
armada de “ferrão”. A reprodução é sexuada com fecundação interna e
descrita como matrotrófica vivípara, com o desenvolvimento de trofonemata
para a nutrição do embrião (Thorson et al. 1983) e os filhotes são expelidos
para a água antes de completarem seu estágio de maturação (Rosa 1985;
Araújo 1998). Vivem em fundo arenoso ou lamacento e às vezes com o corpo
parcialmente encoberto. Alimentam-se de pequenos peixes, crustáceos, lodo
e insetos (Santos et al. 1984; Araújo 1998).
Na região amazônica, as arraias possuem pouca importância alimentar
e sua captura se dá principalmente para fins de exportação como peixes
ornamentais. Nas últimas décadas a exportação desses peixes tem
movimentado um mercado cada vez maior. O interesse dos aquaristas e a
situação econômica dos países importadores determinam a demanda das
espécies e dirigem o esforço de pesca no Amazonas (Araújo 1999; Duncan et
al. 2010). O estado do Amazonas exporta cerca de 10.000 unidades de
arraias anualmente (Araújo 2001; Duncan et al. 2010). As espécies
comercializadas legalmente são: P. motoro, P. orbignyi, Potamotrygon sp. C
(cururu) e P. schroederi (Portaria Nº 22, de 27 de Abril de 2011 do Ministério
da Pesca e Aquicultura), no entanto pelo fato de existir muitos problemas
6
quanto à classificação taxônomica é possível que espécies similares e/ou
mesmo espécies crípticas também possam estar sendo comercializadas.
1.4 A Citogenética de peixes com ênfase em arraias
As técnicas citogenéticas têm evoluído muito desde o início de sua
aplicação, mostrando-se cada vez mais resolutivas, sendo ótimas
ferramentas nos estudos taxonômicos, inferindo sobre a história evolutiva e
correlações de similaridades dos organismos quando em simpatria ou
alopatria (Ojima et al. 1976; Futuyma 2002). Os métodos e técnicas de
marcações cromossômicas específicas, aprimoradas recentemente permitem
um melhor conhecimento do número, tamanho e morfologia dos
cromossomos, assim como, a estrutura, organização molecular e
comportamento durante a divisão celular (Kasahara 2009). No entanto, as
técnicas denominadas convencionais de coloração, bandamento C e
detecção das regiões organizadoras do nucléolo (RONs) por nitrato de prata
(AgRONs) ainda continuam sendo bastante utilizadas em estudos genéticos,
pela sua facilidade, baixo custo e por apresentarem resultados significativos
(Kasahara 2009).
Em peixes, a citotaxonomia e a citosistemática têm corroborado a
identificação, distribuição geográfica e relação evolutiva entre os grupos
naturais, uma vez que muitas espécies e/ou complexos de espécies possuem
diferenciação cariotípica que não se refletem morfologicamente (Almeida-
Toledo 1998; Nakayama et al. 2001; Oliveira et al. 2002; Centofante et al.
2002a).
Com relação à citogenética dos Elasmobranchii, em especial das
arraias, os dados existentes, em sua maioria, referem-se a espécies
marinhas e ainda são incipientes. Stingo e Rocco (2001) revisaram os
estudos citogenéticos em seláquios (Chondrichthyes) e verificaram que para
a superordem Batoidea já existem dados cromossômicos para 64 espécies
distribuídas em 23 gêneros, 16 famílias e cinco ordens. O número
cromossômico variou de 2n=28 em Narcine brasiliensis até 2n=104 em Raja
meerdervoortii com uma predominância de cromossomos metacêntricos na
primeira espécie e acrocêntricos e microcromossomos na segunda. Estes
7
autores mostraram que os estudos citogenéticos estão restritos, em sua
maioria, ao número diploide, número fundamental (NF), fórmula cariotípica e
tamanho do genoma.
Análises de RONs, heterocromatina constitutiva e enzimas de restrição
foram relatadas para cinco espécies de peixes cartilaginosos. A
heterocromatina foi localizada em regiões diferentes, ou seja, centromérica
em Raja asteria e principalmente telomérica em Scyliorhinus stellaris
(tubarão). Em duas espécies do gênero Torpedo (T. marmorata e T. ocellata),
blocos heterocromáticos foram localizados em posições diferentes, ou seja,
pericentroméricos nos cromossomos meta/submetacêntricos de T. ocellata e
digeridas por diferentes enzimas de restrição; centromérica nos telocêntricos
de T. marmorata e não digeridos pelas enzimas de restrição. Essa diferença
na distribuição da heterocromatina pode estar relacionada com a morfologia
dos diferentes cromossomos, e sugere envolvimento das sequências
altamente repetitivas nos rearranjos robertsonianos (Stingo et al. 1995; Stingo
e Rocco 2001). A localização das AgRONs nas espécies marinhas T.
marmorata e T. ocellata foi observada na região terminal de um único par de
cromossomos em ambas as espécies (Stingo e Rocco 2001).
Técnicas citomoleculares também são relatadas no estudo das arraias
marinhas como a coloração pelo fluorocromo DAPI, o uso de enzimas de
restrição e, mais recentemente, a hibridização in situ fluorescente (FISH).
Estas técnicas têm-se mostrado informativas na separação de espécies e
também no entendimento da carioevolução das arraias marinhas (Rocco et
al. 2002b; 2005; 2007).
Em arraias de água doce, os estudos cromossômicos são ainda mais
incipientes, com dados reportados apenas para as espécies Potamotrygon
motoro, P. orbignyi, e Paratrygon aiereba da bacia Amazônica (Valentim et al.
2006) e para Potamotrygon aff. motoro e P. falkineri da bacia do Paraná
superior (Cruz et al. 2011). Os autores observaram diferenças cariotípicas
tanto intra como interespecíficas, no que diz respeito ao número e fórmula
cromossômica, número e posição das regiões organizadoras do nucléolo
(RONs). Entretanto, similaridades foram observadas quanto à quantidade e
localização da heterocromatina constitutiva pois, em todas as espécies, esta
8
se mostrou em pequena quantidade e restrita ao centrômero (Cruz et al.
2011). Apesar das diferenças no número diploide, houve similaridade no
número de braços (NF) entre as espécies estudadas por Valentim et al.
(2006), conservando-se igual a 106 nas três espécies analisadas. Entretanto,
vários questionamentos são ainda frequentes para as arraias de água doce.
Qual é o grupo irmão marinho dos potamotrygonideos? Será apenas um
grupo-irmão? Quais seriam os caminhos evolutivos que levaram à
especiação e diversidade destes peixes na água doce?
Assim sendo, o presente estudo enfocou a caracterização
cromossômica de espécies de arraias de água doce da bacia amazônica
central, com o propósito de contribuir para o conhecimento da evolução
cariotípica desse grupo e dos processos associados a esta historia evolutiva.
1.5 Objetivos
1.5.1 Objetivo geral
Caracterizar, citogeneticamente, espécies de arraias da família
Potamotrygonidae que ocorrem na bacia amazônica central.
1.5.2 Objetivos específicos
Determinar os prováveis rearranjos cromossômicos ocorridos ao longo
do processo de especiação das arraias da família Potamotrygonidae.
Verificar a tendência da evolução cariotípica para as arraias de água
doce.
Verificar a diferenciação de cromossomos sexuais no processo
evolutivo deste grupo.
9
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Material
As espécies de arraias analisadas no presente trabalho, com seus
respectivos locais de coleta, estão relacionadas na Tabela 1 e Figura 1. As
coletas foram feitas ao longo do rio Negro, região do encontro das águas
(confluência dos rios Negro e Solimões), tributários e rio Xingu, região de
Altamira, PA.
Os animais foram capturados com equipamentos específicos:
malhadeiras de fundo, puçá, rapiché e espinhel, em alguns casos com
zagaia. Os peixes maiores (40 cm de largura de disco) foram capturados com
espinhel, sendo que cada continha de 80 a 120 anzóis, espaçados um do
outro de 3 a 5 m. Os animais foram processados em laboratórios montados
em barco, acampamentos, flutuantes ou trazidos para o Laboratório de
Genética Animal do INPA. Em todos os casos, os animais foram aclimatados
por um período de 12 a 24 horas e posteriormente foram submetidos à
indução da atividade mitótica, anestesiados utilizando Eugenol e sacrificados
para a retirada dos órgãos desejados. Cada exemplar foi numerado, fixado
em formol a 10% por pelo menos 24 horas, lavados em água corrente e
acondicionados em álcool 70%, para posterior depósito na Coleção de Peixes
do INPA. A identificação das espécies foi confirmada pelo Dr. Ricardo Rosa,
Sistemata especialista em Elasmobrachii.
10
Tabela 1 Lista das espécies e número de indivíduos de arraias analisadas por local de coleta, no presente trabalho. Entre parênteses o número de indivíduos com resultados.
Espécie Número de Indivíduos
Total
Localidade de Coleta Coordenadas
♀ ♂
Plesiotrygon iwamae 1 (1) 5 (3) 6 (4) Janaucá/ Solimões 3º17’41,57”S e 60º20’31,34”W Potamotrygon motoro 2 (2) 8 (5) 10 (7) Catalão/ baixo rio Negro 3º11’59,15”S e 59º53’59,03”W P. motoro 2 (1) 3 (2) 5 (3) Janauacá/ Rio Solimões 3º22’03,66”S e 60º13’33,76”W
P. motoro 3 (2) 2 (1) 5 (3) Barcelos/ médio Rio negro 0º27’05,39”S e 62º54’37,99”W P. motoro - 6 (4) 6 (4) Rio Joaperi/ médio rio Negro 1º23’32,84”S e 61º38”56,43”W Potamotrygon orbignyi 1 (1) 1 (0) 2 (1) Rio Branco/ médio rio Negro 1º23’45,98”S e 61º50’39,95”W P. orbignyi - 2 (1) 2 (1) Ilha da Marchantaria/ Solimões 3º11’9,80”S e 59º51’42,41”W P. orbignyi - 1 (1) 1 (1) Altamira/ Rio Xingú 3º20’29,69”S e 52º01’36,40”W Potamotrygon sp. (cururu) 5 (4) 6 (5) 11 (9) Rio Itú/ médio rio Negro 0º27’05,39S e 62º46’28,78”W Potamotrygon sp.1 (cururu) 1 (1) - 1 (1) rio Itu/ médio rio Negro 0º51’57,12”S e 62º46’24,63”W Potamotrygon scobina - 3 (3) 3 (3) Janauacá/ Solimões 3º17’41,57”S e 60º20’31,34”W Potamotrygon cf. scobina 1 (1)- 1 (1) Janauacá/ Solimões 3º17’41.57”S e 60º20’31,34”W
Potamotrygon constellata 2 (2) - 2 (2) Janauacá/ Solimões 3º17’41,57”S e 60º20’31,34”W
Potamotrygon leopoldi 4 (3) 3 (2) 7 (5) Altamira/ Rio Xingú 3º20’29,69”S e 52º01’36,40”W
11
Figura 1. Espécies de arraias estudadas no presente trabalho.
12
2.2 Métodos
2.2.1 Indução da atividade mitótica
Para a indução da atividade mitótica nas arraias foi utilizada a técnica
descrita por Oliveira et al. (1988) que consistiu em preparar uma solução de
fermento biológico (0,5g de fermento, 0,5g de açúcar e 20mL de água destilada),
deixar em estufa por alguns minutos para ocorrer a quebra de dormência do
fungo e em seguida injetou-se, intraperitonialmente no animal, na proporção de
1mL/100g de peso do animal nos indivíduos jovens e subadultos. Nos indivíduos
adultos com peso acima de 2 Kg aplicou-se 20 mL da solução. Outro indutor
também utilizado foi o Munolan (Cloridrato de lisozima), que é um antígeno
bacteriano e fúngico, que tem o mesmo principio, ou seja, induzir a atividade
mitótica. Para isso dissolveram-se dois comprimidos em 10 mL de água
destilada e procedeu-se da mesma forma como realizado com o fermento
biológico, inclusive injetado na mesma proporção. O peixe foi mantido em
aquário bem aerado por 24h, os jovens e 48h os adultos.
2.2.2 Obtenção dos cromossomos mitóticos
Decorridas as 24-48 horas após o peixe ter recebido a injeção de solução
de fermento biológico ou Munolan, foi aplicado uma injeção intraperitoneal da
solução de colchicina 0,025%. Nesta solução, a quantidade aplicada também
variou em função do peso do animal, nos animais jovens e subadultos a
proporção foi de 1 mL/100g de peso vivo por 1h e nos adultos acima de 1kg foi
aplicado 1ml para cada quilograma de peso por um período de 3 a 4 horas.
Transcorrido o tempo de colchicinização, o peixe foi colocado em uma solução
anestésica contendo Eugenol diluído em álcool a 1% e depois diluído em água a
10%. Para obtenção dos cromossomos em metáfase, empregou-se a técnica air
drying descrita por Bertollo et al. (1978), que consistiu na retirada dos órgãos
desejados (Baço e Brânquias). O baço e a brânquia foram divulsionados em
10mL de solução hipotônica de cloreto de potássio (KCl 0,075M) e mantido em
estufa a 37 ºC por 30 minutos. Esta suspensão celular foi então transferida para
13
um tubo de centrífuga, centrifugada por 10 minutos a 900rpm e o sobrenadante
descartado. Em seguida foi adicionado 10 mL de fixador Carnoy (Metanol+ácido
acético - 3:1) e o material foi ressuspendido e centrifugado novamente por 10
minutos. Este processo foi repetido três vezes. Após a última centrifugação e
eliminação do sobrenadante foi adicionado fixador suficiente para se obtiver uma
suspensão celular não muito concentrada (± 1,5 mL) e então mantida em freezer
(-10º C).
Em razão de muitos indivíduos capturados serem grandes com peso
acima de 1kg, foi utilizada também a técnica de cultura de células descrita por
Barreto Netto et al. (2007), que utiliza meio RPMI 1640 da CULTILAB. Este meio
é uma solução nutritiva que permite a manutenção da célula por um período
aproximado de 12h. A técnica consistiu em divulsionar o baço ou brânquia em
10ml do meio, colocando em seguida em tubos de centrifuga e colocando em
freezer por um período de 12h. Após esse período procedeu-se a hipotonização
e fixação como descrita anteriormente.
Foram feitos testes utilizando a cultura de linfócitos em meio de cultura
completo para cariótipo da CULTILAB, adaptado de Fenocchio e Bertollo (1988).
Nesta técnica foi coletado sangue por pulsão cardíaca e aplicada no meio de
cultura em câmara estéril e deixada em estufa a 37º C por um período de 48 a
72 horas. Após esse período foi colocado na cultura, contendo o sangue, 0,5mL
de colchicina 0,016% e mantido na estufa por 1h. Em seguida o meio contendo o
sangue foi retirado da estufa e transferido para um tubo de centrifuga e
centrifugado por 10 minutos. Passado este tempo, o sobrenadante foi
descartado e acrescentaram-se 10 mL de solução hipotônica, ressuspendendo o
material e levado à estufa 37 ºC, por 45 minutos. Após esse tempo, procederam-
se os passos da fixação como descrito anteriormente. A vantagem desta técnica
é que o animal é mantido vivo, para uma possível repetição da técnica, podendo
inclusive devolvê-lo ao seu ambiente natural. Entretanto, nem sempre há um
bom crescimento das células.
14
Para análise do material em microscópio óptico foram pingadas de 2 a 3
gotas da suspensão celular sobre lâminas limpas e secas, colocadas sobre o
vapor de um banho-maria a 60o C. As lâminas foram secas ao ar, coradas com
Giemsa diluído a 5% em tampão fosfato 0,06M, pH 6,8, por 10 minutos e
lavadas em água destilada e secas ao ar.
2.2.3 Obtenção de cromossomos meióticos de machos
Para estudo dos cromossomos meióticos em suas diferentes fases foram
utilizadas células gonadais masculinas empregando-se a técnica descrita por
Bertollo et al. (1978) e modificada por Gross et al. (2009). Os testículos foram
retirados, seccionados em fragmentos bem pequenos e colocados em solução
hipotônica de KCl a 0,075M por 30 minutos. Em seguida, o material foi
transferido para uma cubeta contendo fixador Carnoy 3:1 (Metanol: ácido
acético), por 20 minutos. Após este período o fixador foi substituído e este
processo de fixação foi repetido por mais duas vezes. Em seguida, o material foi
guardado em freezer (-10 ºC), em tubos tipo “eppendorf”, com fixador Carnoy
para ser processado posteriormente. A preparação do material para análise
consistiu em retirar os fragmentos do fixador e secar em papel de filtro. Pedaços
bem pequenos foram colocados sobre uma lâmina limpa e macerados em 1mL
de ácido acético 50%, com o auxílio de um bastão de vidro. Em seguida, a
lâmina foi colocada sobre uma placa aquecedora a 40 ºC para secar.
Posteriormente, a lâmina foi corada com Giemsa 5% em tampão fosfato 0,06M e
pH 6,8 por 10 minutos, lavada em água destilada e seca diretamente ao ar.
2.2.4 Caracterização das Regiões Organizadoras de Nucléolos (RONs)
Para a detecção das RONs utilizou-se a técnica descrita por Howell e
Black (1980), que consiste na utilização de duas soluções:
Solução A: solução coloidal reveladora: 1g de gelatina muito bem dissolvida em
50 mL de água destilada, acrescida de 0,5ml de ácido fórmico.
Solução B: solução de nitrato de prata: 1g de AgNO3 dissolvido em 2 mL de
água destilada.
15
A lâmina com a preparação cromossômica foi hidrolisada por 3 minutos
em HCl 1N a 60 oC, lavada em água destilada e seca ao ar. Em seguida,
colocou-se sobre a lâmina uma gota da solução A e duas gotas da solução B,
cobrindo-a com lamínula. A lâmina foi colocada em câmara úmida e levada ao
banho-maria a 60o C até alcançar uma tonalidade marrom dourada. Em seguida
foi lavada em água destilada e secar ao ar.
2.2.5. Detecção da Heterocromatina Constitutiva (Banda C)
Para a detecção da heterocromatina constitutiva (banda C) utilizou-se a
técnica descrita por Sumner (1972), na qual as lâminas preparadas com a
suspensão celular foram hidrolisadas em HCl 0,2N, em temperatura ambiente,
por 10-15 minutos; lavadas em água destilada e seca para em seguida serem
incubadas por três minutos em solução de hidróxido de bário 5%, a 46 º C. Esta
lâmina foi então passada em HCl 0,2N para retirada do excesso de hidróxido de
bário e lavadas em água destilada. Após secas foram incubadas em solução
salina 2XSSC (cloreto de sódio 0,3M e citrato trisódico 0,03M, pH 6,8) a 60 º C,
por 60 minutos, lavadas em água destilada e secas ao ar. Em seguida foram
coradas com Giemsa 5% em tampão fosfato 0,06M, pH 6,8 por 10 minutos.
2.2.6. Processamento dos Dados Cariotípicos
A análise e contagem dos cromossomos foram feitas em microscópio
óptico, estabelecendo o número diploide modal para cada indivíduo de cada
espécie, com a contagem de cerca de 30 metáfases. As melhores metáfases
foram fotografadas em microscópio óptico Zeiss Axiostar Plus, utilizando uma
máquina fotográfica digital Sony Cyber-shot DSC W7 e editadas no programa
Adobe Photoshop CS4. A média do comprimento total dos cromossomos e da
razão entre os braços cromossômicos (q/p) foram calculadas, com auxílio do
programa livre Image J. Os cromossomos homólogos foram emparelhados em
ordem decrescente de tamanho e separados em grupos de acordo com a
nomenclatura proposta por Levan et al. (1964) e classificados em metacêntricos
(RB de 1,0 a 1,70), submetacêntricos (RB de 1,71 a 3,0), subtelocêntricos (RB
16
de 3,01 a 7,00) e acrocêntricos (RB>7,0), (RB=BM/Bm). Para se determinar o
número fundamental (NF) que é o número de braços cromossômicos do
cariótipo, foram considerados os cromossomos metacêntricos, submetacêntricos
e subtelocêntricos como tendo dois braços e os acrocêntricos como tendo um só
braço. Uma comparação dos cariótipos de todos os exemplares foi feita,
verificando a existência ou não de mecanismo de cromossomos sexuais, de
polimorfismo e de variabilidade cromossômica.
Para as espécies que tiveram indícios de mecanismos cromossômicos
sexuais foram feitas análises dos cromossomos meióticos. Neste caso, foram
observados o pareamento dos homólogos, a contagem do número haploide (n) e
fotografadas diferentes fases da divisão meiótica, em busca de evidências do
tipo de heteromorfismo sexual.
17
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos com a análise citogenética das arraias de água
doce e a discussão destes dados são apresentados na forma de dois capítulos,
sendo que cada um corresponde a uma intenção de publicação científica como
segue:
3.1 Capítulo 1:
Um sistema raro de determinação cromossômica do sexo em arraia de água
doce (Potamotrygon sp.) do rio Negro, AM.
3.2 Capítulo 2:
Mecanismos de evolução cromossômica em arraias de água doce
(Myliobatiformes, Potamotrygonidae)
18
3.1. Artigo 1:
Um sistema raro de determinação cromossômica do sexo em
arraia de água doce (Potamotrygon sp.) do rio Negro, AM.
19
3.1. Artigo 1: Um sistema raro de determinação cromossômica do sexo em
arraia de água doce (Potamotrygon sp.) do rio Negro, AM
3.1.1. Resumo
Foi realizada uma análise citogenética comparativa em arraias do gênero Potamotrygon sp., presentes no rio Negro, bacia amazônica, as quais ainda não apresentam taxonomia definida (Potamotrygon sp. C). Foram investigados os cromossomos mitóticos e meióticos, utilizando análises cromossômicas convencionais, além do bandamento C e das regiões organizadoras de nucléolos. Duas formas cariótipicas distintas puderam ser evidenciadas entre os espécimes da população estudada, uma delas correspondente aos espécimes de Potamotrygon sp. C e a outra correspondente a um tipo morfológico também diferenciado, provisoriamente denominado de Potamotrygon sp. C1. Potamotrygon sp. C apresentou número cromossômico distinto entre os sexos 2n=67/2n=68 e NF=104/106 nos machos e fêmeas, respectivamente. No cariótipo dos machos observou-se a ausência de um cromossomo grande equivalente ao par número dois do complemento das fêmeas. Na meiose do macho constatou-se a presença de células metafásicas I com 33 bivalentes mais um univalente de tamanho grande, além de células em metáfase II com n=33 e n=34 cromossomos, representando características concordantes com a presença de um sistema simples de determinação sexual do tipo XX/X0. Potamotrygon sp. C1 também apresentou 2n=68 cromossomos, mas diferindo quanto a estrutura do cariótipo. A inexistência de exemplares machos na amostra estudada impossibilitou verificar a ocorrência de um sistema de cromossomos sexuais, a exemplo daquele presente em Potamotrygon sp. C. As RONs são múltiplas, porém com localizações distintas em Potamotrygon sp. C e Potamotrygon sp. C1. O padrão de bandamento C mostrou uma distribuição similar da heterocromatina constitutiva para Potamotrygon sp. C e C1, com bandas localizadas apenas na região centromérica dos cromossomos. Nossos dados destacam a presença de um sistema de determinação de sexo de ocorrência rara entre os peixes, assim como caracteres citotaxonômicos importantes para o reconhecimento e a distribuição das arraias do gênero Potamotrygon na bacia amazônica.
20
3.1.2. Introdução
A grande maioria dos peixes não possui cromossomos sexuais
diferenciados. Entretanto, este é um grupo de vertebrados que apresenta cerca
de oito sistemas de determinação cromossômica sexual já descrito, simples e
múltiplos (Oliveira et al. 2009). Porém, mecanismos de cromossomos sexuais
em peixes podem estar subestimados, uma vez que existem sistemas que ainda
não estão cromossomicamente diferenciados, só sendo detectados com
técnicas de bandeamentos cromossômicos ou moleculares (Harvey et al. 2002;
Centofante et al. 2003).
Dentro dos sistemas simples de determinação cromossômica sexual pode
ocorrer uma grande diversidade quanto à forma e tamanho dos cromossomos
sexuais, desde muito pequenos, próximos a microcromossomos, até grandes,
próximos aos maiores pares do complemento (Centofante et al. 2003; Oliveira et
al. 2009).
Em arraias marinhas da ordem Rinobatiformes foram relatados dois casos
de cromossomos sexuais. Em Rhinobatus hynnicephalus (Kikuno e Ojima 1987)
o macho tem 59 e a fêmea 60 cromossomos. Em Rhinobatus schlegelii
(Asahida e Ida 1995), o macho tem 63 e a fêmea 64 cromossomos. Embora os
autores façam apenas a descrição numérica dos cromossomos, sem apresentar
e discutir os possíveis sistemas de cromossomos sexuais presentes é possível
que esta diferença de número diploide entre machos e fêmeas caracterize um
sistema de cromossomos sexuais múltiplo, que poderia ser do tipo X1X1X2X2/
X1X2Y, como o encontrado por Cruz et al. (2011) em arraias de água doce do rio
Paraná. Entretanto, não se pode também descartar, a priori, a presença de um
sistema do tipo XX/X0.
No presente estudo foi analisada a estrutura cariotípica de espécimes de
arraia de água doce do gênero Potamotrygon ainda sem taxonomia definida. Foi
descrito um sistema raro de cromossomos sexuais em Potamotrygon sp. C, na
qual o macho tem um cromossomo a menos que a fêmea. Foi também
identificada uma estrutura cariotípica distinta em Potamotrygon sp. C1,
21
correspondente a uma forma morfologicamente diferenciada de Potamotrygon
sp. C.
3.1.3. Material e Métodos
Análise citogenética foi feita em 19 machos e 27 fêmeas de Potamotrygon
sp. C (conforme denominação provisória de Araujo 1998), espécie conhecida
como cururu (Figura 2). Os espécimes foram coletados no igarapé Itu, baixo e
alto (0º27’05,39S e 62º46’28,78”W; 0º51’57,12”S e 62º46’24,63”W), igarapé
Zamula (0º51’53,98”S e 62º46’32,94”W), afluentes do médio rio Negro, próximos
à cidade de Barcelos, Amazonas (Figura 3). Indivíduos adultos (disco de 40 cm
ou mais) foram capturados com espinhel e indivíduos jovens com rapiché. Os
exemplares foram identificados pelo professor Dr.Ricardo Rosa (UFPB).
Figura 2. a) Exemplar macho de Potamotrygon sp. C (diâmetro do disco=19cm); b) Exemplar fêmea de Potamotrygon sp. C (diâmetro do disco= 17,5cm); c) Exemplar fêmea de Potamotrygon sp. C1 (diâmetro do disco 8cm).
22
Figura 3. Locais de coleta de Potamotrygon sp. C e C1 no médio rio Negro.
Os exemplares receberam uma injeção com fermento biológico para
indução mitótica conforme Oliveira et al. (1988). Cromossomos mitóticos foram
obtidos do baço pela técnica de air drying descrita por Bertollo et al. (1978) e
adaptada para arraias com as seguintes modificações: a concentração da
colchicina foi 0,025% na proporção de 1ml/100g de peso do animal por três
horas e a hipotonização durou 45 minutos a 37 ºC. Cromossomos meióticos
foram obtidos de células gonadais dos machos pela técnica descrita para peixes
por Bertollo et al. (1978) e modificada por Gross et al. (2009).
A região organizadora do nucléolo (RON) foi detectada por nitrato de
Prata segundo Howell e Black (1980) e o bandamento C, para localização da
heterocromatina constitutiva, foi feito utilizando hidróxido de Bário de acordo
com Sumner (1972).
Os cromossomos foram identificados pelo critério de proporção de braços
proposto por Levan et al. (1964), onde os cromossomos metacêntricos (m),
submetacêntricos (sm), subtelocêntricos (st) foram considerados como tendo
dois braços e os acrocêntricos (a) como tendo um braço. A interpretação das
fases da meiose seguiu John (1990).
23
3.1.4. Resultados
O número diploide encontrado para todos os espécimes fêmeas foi 2n=68
e para todos os espécimes machos foi 2n=67 cromossomos. Na maioria dos
indivíduos, os quais correspondem à Potamotrygon sp. C (conforme
denominação de Araújo 1998), a fórmula cariotípica correspondente foi
19m+8sm+10st+30a, NF=104 para os machos e 20m+8sm+10st+30a, NF=106
para as fêmeas. Nos machos, o par número dois não apresentou homólogo,
enquanto que nas fêmeas este mesmo par está presente em dose dupla, o que
caracteriza um sistema de cromossomos sexuais XX/X0 (Figuras 4a e 5a).
Entretanto um espécime fêmea, morfologicamente diferenciado, embora
apresentando o mesmo número diploide (2n=68), evidenciou fórmula cariotípica
também divergente, com 22m+10sm+8st+28a, NF=108 o qual foi
provisoriamente denominado Potamotrygon sp. C1 (Figura 6a).
Em Potamotrygon sp. C, as Ag-RONs foram evidenciadas nos machos na
região terminal dos braços longos de seis cromossomos, correspondendo aos
dois homólogos do par 8, ao único representante do par 2 (cromossomo X) e
apenas a um homólogo dos pares 18, 23 e 30 (Figura 4b). Nos núcleos
interfásicos foram visualizados sete sítios destacados pela prata (Figura 4c). Nas
fêmeas foram observadas nos mesmos cromossomos dos machos, diferindo
apenas por apresentar os dois homólogos do par número dois (cromossomos X)
apresentando RONs, totalizando assim oito sítios de AgRONs no complemento
cariotípico (Figura 5b e c). Em Potamotrygon sp. C1 as RONs foram
evidenciadas na região terminal dos braços longos dos pares 2 e 8 e em apenas
um dos homólogos do par 30, assim como no braço curto de um dos homólogos
do par 18 (Figura 6b).
A heterocromatina constitutiva foi evidenciada na região centromérica de
todos os cromossomos, com um padrão de bandas bastante semelhantes em
Potamotrygon sp. C e C1 (Fig. 4d, 5d, 6c).
Na meiose dos machos de Potamotrygon sp. C, as metáfases
espermatogoniais apresentaram 2n=67 cromossomos, confirmando o número
diploide encontrado nas células mitóticas. Em leptóteno foi visualizado um bloco
24
heteropicnótico mais destacado na borda do núcleo, o qual pode estar
relacionado ao cromossomo sexual. Na segunda divisão meiótica foram
constatadas metáfases com 33 e 34 cromossomos, conforme esperado a partir
de espermatogônias com 67 cromossomos. Foram evidenciadas bandas C
positivas nos centrômeros dos bivalentes e do univalente das células em
diplóteno/diacinese, assim como nos centrômeros de todos os cromossomos
das células em metáfase II. Em nenhuma das fases foi detectada qualquer figura
de pareamento sugerindo a presença de um trivalente (Figura 7).
25
Figura 4 – Cariótipo de Potamotrygon sp. C macho. a) coloração com Giemsa; b) pares nucleolares (em destaque) evidenciando as AgRONs; c) núcleo interfásico evidenciando sete sítios (RONs) destacados pela Prata; d) regiões de heterocromatina constitutiva evidenciadas pelo bandamento C. m=metacêntrico, sm=submetacêntrico, st=subtelocêntrico, a=acrocêntrico.
26
Figura 5 – Cariótipo de Potamotrygon sp. C fêmea. a) coloração com Giemsa; b) pares nucleolares (em destaque) evidenciando as AgRONs; c) núcleo interfásico evidenciando oito sítios (RONs) destacados pela Prata; d) regiões de heterocromatina constitutiva evidenciadas pelo bandamento C. m=metacêntrico, sm=submetacêntrico, st=subtelocêntrico, a=acrocêntrico
27
Figura 6 – Cariótipo de Potamotrygon sp. C1 fêmea em: a) coloração com Giemsa; b) pares nucleolares (em destaque) evidenciando as AgRONs; c) regiões de heterocromatina constitutiva evidenciadas pelo bandamento m=metacêntrico, sm=submetacêntrico, st=subtelocêntrico, a=acrocêntrico.
28
Figura 7. Meiose de machos de Potamotrygon sp. C: a) metáfase espermatogonial em coloração convencional, com 2n=67 cromossomos; b) leptóteno evidenciando um bloco heteropicnótico na borda nuclear (possível cromossomo sexual); c) diacinese com bandamento C, evidenciando bandas positivas nos centrômeros dos bivalentes e do univalente (cromossomo X); d) metáfase II com 33 cromossomos; e) metáfase II com 34 cromossomos; f) metáfase II com bandamento C, evidenciando bandas positivas nos centrômeros dos 34 cromossomos.
29
3.1.5. Discussão
Os espécimes de Potamotrygon ora analisados ainda se encontram em
fase de descrição. Araújo (1998) identificou provisoriamente a espécie da região
do presente estudo como Potamotrygon sp. C. Entretanto, nossos dados
mostraram a ocorrência simpátrica de uma segunda forma morfológica, distinta
de Potamotrygon sp. C, a qual foi denominada Potamotrygon sp. C1. Este
exemplar, embora apresentando o mesmo número diploide (2n=68), também se
diferenciou pela sua fórmula cariotípica, podendo representar mais uma espécie
de Potamotrygon a ser reconhecida e descrita na bacia amazônica. Por ora, a
ocorrência de um sistema XX/XO pode ser caracterizado apenas em
Potamotrygon sp. C, considerando que não foram coletados e examinados
espécimes machos de Potamotrygon sp. C1.
Em peixes, cerca de 10% das espécies citogeneticamente estudadas têm
cromossomos sexuais morfologicamente diferenciados, sendo descritos oito
sistemas cromossômicos distintos de determinação do sexo, abrangendo
sistemas simples (Feldberg et al. 1987; Andreata et al. 1993; Galetti Jr. et al.
1995; Bertollo et al. 2000; Centofante et al. 2002b; Rosa et al. 2006) e sistemas
múltiplos (Bertollo et al. 2000; Centofante et al. 2006; de Oliveira et al. 2009;
Cruz et al. 2011). Dentre eles, o sistema XX/XO, é de ocorrência rara entre os
peixes. Neste sistema o macho é o sexo heterogamético com um cromossomo a
menos que a fêmea, no qual o cromossomo Y foi eliminado, provavelmente por
não ter nenhuma função gênica ligada a ele (Chen 1969; Devlin e Nagahama
2002).
Três casos XX/X0 foram relatados por Chen (1969) em peixes marinhos.
Sternoptyx diaphana (2n=35 macho e 2n=36 fêmea), Lampanuyctus riterri
(2n=47 macho e 2n=48 fêmea) e Parvilux ingens (2n=49 macho e 2n=50 fêmea),
sendo que nas três espécies o cromossomo X é um dos maiores do
complemento, apresentando-se como univalente na meiose do macho. Entre os
peixes de água doce neotropical, o único caso deste sistema já descrito é o de
30
Ancistrus n. sp. 1 (Loricariidae, Ancistrini) com 2n= 39 (machos) e 2n=40
(fêmeas) (Alves et al. 2006).
Em Potamotrygon sp. C, os dados obtidos evidenciaram um cromossomo
a menos nos machos em comparação com as fêmeas, devido à presença de um
sistema XX/X0. De fato, foi constatado que o cromossomo ímpar no cariótipo
dos machos apresenta-se constituindo um par de homólogos no cariótipo das
fêmeas (par 2), assim como um univalente na meiose masculina, caracterizando
portanto um sistema sexual do tipo XX/XO. Apesar de ser relativamente raro
entre os peixes, este sistema é bastante frequente em alguns outros grupos de
organismos como os insetos, especialmente em odonatas, ortópteros,
hemípteros e heterópteros (Ramos 2009).
A priori, a presença de um cromossomo a mais em um dos sexos pode
ser também indicativo de cromossomos sexuais múltiplos do tipo
X1X1X2X2/X1X2Y, onde são verificados três cromossomos sem homologia entre si
no cariótipo dos machos e ausência de um desses cromossomos no cariótipo
das fêmeas, assim como a ocorrência de um trivalente na meiose dos machos
(Chen 1968; Bertollo et al. 2000; Centofante et al. 2006; Cruz et al. 2011). Entre
os peixes neotropicais são encontrados vários exemplos deste sistema (Bertollo
et al. 1997; Bertollo e Mestriner 1998; Almeida-Toledo et al. 2000a; b; Silva e
Margarido 2005; entre outros). Entre as arraias de água doce também já foram
descritos cromossomos sexuais múltiplos do tipo X1X1X2X2/X1X2Y para duas
espécies do alto rio Paraná (Potamotrygon aff. motoro e P. falkneri) (Cruz et al.
2011). Entretanto, um sistema de cromossomos sexuais múltiplos
X1X1X2X2/X1X2Y pôde ser descartado em Potamotrygon sp. C, considerando que
as condições acima mencionadas que caracterizam este sistema não foram
encontradas esta espécie.
Nokalla e Nokalla (1983) sugeriram que a origem do sistema XX/X0 ente
insetos poderia teria sido a partir de um sistema XX/XY, com a perda do
cromossomo Y. Chen (1968) também sugeriu que o sistema XX/X0, encontrado
nas três espécies de peixes por ele investigadas, teria se originado de um
sistema XX/XY pela deleção do Y, o qual poderia ser um cromossomo muito
31
pequeno ou mesmo um microcromossomo. Nesse caso, o cromossomo Y já
teria atingido um estágio avançado de degeneração, de sorte que poderia ser
realmente eliminado da população sem maiores implicações, dando origem a um
sistema XX/XO (ou ZZ/ZO) (Devlin e Nagahama 2002).
Sistemas XX/XY podem ser de fato encontrados no grupo das arraias.
Assim, em arraias marinhas já foram relatados cromossomos XY em Dasyatis
sabina (Donahue 1974; Kirpichnikov 1981), Dasyatis say, Platyrhinoidis triseriata
e Rhinobatus productus, (Maddock e Schwartz 1996) (Tabela 3). Entre as
espécies de Potamotrygon, a ocorrência de um sistema XX/XY está sendo por
nós descrita em P. orbignyi, assim como provavelmente também em P. scobina
(Valentim et al., em preparação), de sorte que não pode ser descartada a origem
de um sistema XO a partir de um sistema XY pré-existente neste grupo.
De uma maneira geral, a diferenciação de cromossomos sexuais entre os
peixes neotropicais parece ocorrer como um evento independente entre os
diferentes grupos (Almeida-Toledo e Foresti 2001). Vários autores apontam para
uma íntima correlação entre heterocromatinização e diferenciação dos
cromossomos sexuais simples, particularmente no sistema ZZ/ZW (Schmid et al.
2002; Vicente et al. 2003; Steinemann e Steinemann 2005; Hobza et al. 2006;
Marchal et al. 2006; Matsubara et al. 2006; Vicari et al. 2008; Wang et al. 2009;
Cioffi e Bertollo 2010; Cioffi et al. 2010). Entretanto, embora esta correlação
pode ser de fato encontrada em diversos casos analisados, ela não é universal.
Assim em três espécies do gênero Ancistrus (Loricariidae), cromossomos
sexuais já bem caracterizados morfologicamente, não apresentaram nenhum
sinal de aumento da heterocromatina, indicando que esta diferenciação deve ter
ocorrido por meio de rearranjos cromossômicos (de Oliveira et al. (2006).
Segundo Beçak e Beçak (1969) a diferenciação de cromossomos relacionados a
rearranjos estruturais, resulta em um processo de prevenção das recombinações
meióticas, o qual seria o primeiro passo para a diferenciação dos cromossomos
sexuais.
No caso de Potamotrygon sp. C, na qual a heterocromatina está presente
apenas na região centromérica de todos os cromossomos, a diferenciação
32
cromossômica sexual também não teve nenhuma relação com heterocromatina,
pois o que se observa nos prováveis cromossomos sexuais são blocos
heterocromáticos apenas na região centromérica e ao invés de um Y
heterocromático, o que ocorreu foi sua perda.
Cromossomos sexuais originados a partir de rearranjos estruturais em
peixes já foram registrados em Eigenmania sp. (Almeida-Toledo et al. 1984) e
em algumas populações de Hoplias malabaricus (Bertollo et al. 1997), os quais
estão fortemente associados à origem de sistemas múltiplos (Moreira-Filho et al.
1980).
A ocorrência de RONs em cromossomos sexuais não é comumente
encontrada entre os peixes, embora esta já tenha sido descrita em algumas
espécies. Reed e Phillips (1997) estudaram um caso interessante de
polimorfismo da região organizadora do nucléolo dos prováveis cromossomos
sexuais de Salvelinus alpinus, onde o lócus de DNAr mostrou variação em
número, tamanho e posição. Fundulus diafano é outra espécie em que os
cromossomos X e Y carregam RONs (Howell e Black 1979). Em Hoplias
malabaricus foram observados sítios de RONs localizados em posição distal no
braço longo do cromossomo X, os quais se apresentaram sempre ativos (Born e
Bertollo 2000). A presença de RONs ativas em ambos os cromossomos X em H.
malabaricus mostra que os genes de RNAr não estão sujeitos a um mecanismo
de inativação, fato também observado em outros vertebrados, como no anfíbio
Gastrotheca riobambae (Schmid et al. 1983). Porém, um dos casos mais
interessantes de RONs em cromossomos sexuais é relatado em Triportheus
(Characidae), onde ocorre um sistema ZZ/ZW, em todas as espécies já
estudadas, com o cromossomo W apresentando genes ribossomais (Artoni e
Bertollo 2002). É possível que a presença de sítios de DNAr em cromossomos
sexuais tenha também alguma implicação na segregação desses cromossomos
durante a meiose. Entre os invertebrados, como Drosophila e muitas espécies
de Coleópteros, nos quais não ocorre a formação do complexo sinaptonêmico
entre os cromossomos X e Y, a sinapse é assegurada pela associação entre o
DNAr presente nestes cromossomos, permitindo uma segregação regular
33
durante a gametogênese (Irick 1994; Ren et al. 1997). Stitou et al. (1997)
também descreveram RONs latentes em cromossomos sexuais do roedor
Lemniscomys, sugerindo algum papel para o DNAr durante o processo de
sinapse dos cromossomos X e Y.
Concluindo, o presente estudo evidenciou dois aspectos relevantes na
citogenética de peixes, ou seja, um sistema cromossômico de determinação de
sexo XX/X0, de ocorrência rara entre os peixes neotropicais, bem como dados
citotaxonômicos indicando a presença de uma possível nova espécie,
Potamotrygon sp. C1, a ser reconhecida na bacia amazônica. O sistema X0
caracterizado em Potamotrygon sp. C apresenta-se como um caráter derivado
entre as arraias uma vez que Plesiotrygon iwamae, considerado grupo irmão de
Potamotrygon (Carvalho et al 2003; Carvalho e Lovejoy 2011) não evidencia
cromossomos sexuais diferenciados. Assim sendo, as espécies de
Potamotrygon oferecem uma oportunidade excelente para o estudo dos
cromossomos sexuais entre os peixes, visto que quatro situações distintas já
foram relatadas para este grupo, ou seja, (1) cromossomos sexuais
indiferenciados; (2) cromossomos sexuais simples do tipo XX/XY (Valentim et
al., em preparação); (3) cromossomos sexuais XX/X0 (presente estudo) e,
cromossomos sexuais múltiplos (Cruz et al. 2011). Sem dúvida, os dados ora
apresentados são relevantes para embasar investigações subsequentes sobre
os processos envolvidos na diferenciação desses cromossomos, bem como na
diversificação dos diferentes sistemas até então detectados entre as espécies de
Potamotrygon.
34
3.2. Artigo 2:
Mecanismos de evolução cromossômica em arraias de água
doce (Myliobatiformes, Potamotrygonidae)
35
3.2. Artigo 2: Mecanismos de evolução cromossômica em arraias de água doce
(Myliobatiformes, Potamotrygonidae)
3.2.1. Resumo
Nos estudos da diversidade dos peixes amazônicos a citogenética clássica
ainda tem sido uma ferramenta bastante valiosa no entendimento dos diferentes
táxons e na relação das diversas populações, tanto pelo seu baixo custo como
pelos resultados fornecidos. Na família Potamotrygonidae, os estudos
citogenéticos são ainda incipientes, porém têm mostrado ser uma ferramenta
importante no entendimento da diversificação e evolução desses peixes. No
presente trabalho foram estudadas seis espécies nominais e um citótipo de
potamotrigonídeo da bacia amazônica: Plesiotrygon iwamae (2n=74 e NF=120),
Potamotrygon scobina (2n=66 e NF=104), P. cf. scobina (2n=66 e NF=107), P.
constellata (2n=66 e NF=110), P. leopoldi (2n=64 e NF=102), P. orbignyi (2n=66
e NF=106) e P. motoro de diferentes localidades (2n=66 e NF=106). As RONs
são múltiplas em todas elas, porém diferem em número e posição entre si. A
heterocromatina constitutiva está localizada apenas na região centromérica de
todos os cromossomos, em todas as espécies. Sistema de determinação
cromossômico sexual do tipo XX/XY foi observado em P. orbignyi, estando
provavelmente também presente em P. scobina e P. cf. scobina, dependendo
ainda de confirmação. Embora os dados disponíveis ainda não sejam suficientes
para traçar o caminho da evolução cariotípica entre as arraias de água doce, fica
evidente que alguns tipos de rearranjos cromossômicos, como fusões e/ou
fissões, além de inversões e translocações, tiveram um papel significativo na
diferenciação cromossômica deste grupo de peixes.
36
3.2.2. Introdução
A citogenética de peixes vem ganhando cada vez mais adeptos,
principalmente com a utilização das técnicas moleculares, entretanto, muitos
táxons ainda não têm nem mesmo o seu número diploide conhecido. Em se
falando de Amazônia, onde muitas espécies ainda não foram nem descritas,
esta escassez é ainda maior. Segundo revisão de Santos e Ferreira (1999), o
número de espécies de peixes estimado para a bacia amazônica varia entre
1500 e 5000 e até 1992 apenas 211 espécies nominais tinham seu número
haloide/diploide conhecido (Porto et al. 1992).
Entre os grupos de peixes com maior escassez em dados citogenéticos
estão os Elasmobranquios (Rocco et al. 2005). Segundo Stingo e Rocco (2001),
Rocco et al. (2005), das 1100 espécies marinhas apenas 63 (5,73%) têm o
cariótipo conhecido e o que se observa é uma enorme variabilidade cariotípica,
não havendo um número cromossômico modal e nem uma fórmula cariotípica
predominante. Considerando apenas arraias marinhas, o número de espécies
que tem seu cariótipo determinado é apenas 37 (3,36%) e a mesma
variabilidade cariotípica é observada (Tabela 3). Com relação às arraias de água
doce, das vinte espécies válidas apenas cinco têm seu cariótipo conhecido
(Valentim et al. 2006 e Cruz et al. 2011).
A falta de um plano de manejo adequado, a crescente exploração
no comércio de peixes ornamentais, aliados às características biológicas, como
baixa fecundidade, crescimento lento, maturidade sexual tardia, tornam as
arraias de água doce, o principal elasmobrânquio dulcícola, vulnerável à
extinção (Araújo et al. 2004; Charvet-Almeida et al. 2005; Duncan et al. 2010).
Para muitos pesquisadores isso é preocupante uma vez que, pouco se conhece
a respeito desses peixes, ou seja, a classificação taxonômica e a história
evolutiva do grupo ainda apresentam vários problemas, com grandes lacunas a
respeito do seu grupo irmão marinho e como ocorreu sua diversificação na água
doce (Carvalho et al. 2003; Lovejoy et al. 2006; Toffoli et al 2008; Rosa et al.
2010 e Carvalho e Lovejoy 2011).
37
Em Elasmobrânquios de água doce, os estudos citogenéticos tiveram seu
início com espécies de arraias da bacia amazônica (Valentim et al. 2006). Neste
estudo foram descritos os cariótipos de três espécies (Paratrygon aiereba,
Potamotrygon motoro, fêmeas de Potamotrygon orbignyi) e dois números
diploides (2n=90 e 2n=66) foram encontrados, mas um mesmo número
fundamental. Cruz et al (2011) apresentaram os cariótipos de mais duas
espécies (Potamotrygon aff. motoro e Potamotrygon falkneri), da bacia do alto
Paraná e ambas com 2n=66 cromossomos.
No presente trabalho, as coletas foram ampliadas na bacia amazônica e
análises citogenéticas foram realizadas em Plesiotrygon iwamae e em mais seis
espécies de Potamotrygon.
3.2.3. Material e Métodos
Na Tabela I estão descritas as espécies e seus respectivos números de
indivíduos analisados cariotipicamente, locais de coleta e coordenadas. Na
figura 1 estão as fotos das espécies estudadas. A indução mitótica foi feita com
fermento biológico conforme Oliveira et al. (1988). Cromossomos mitóticos foram
obtidos pela técnica air drying descrita por Bertollo et al. (1978) e adaptada para
arraias por Valentim et al. (2006).
As regiões organizadoras do nucléolo (RONs) foram detectadas por
nitrato de Prata (AgRONs), segundo Howell e Black (1980) e o bandamento C,
para localização da heterocromatina constitutiva, foi feito utilizando hidróxido de
Bário de acordo com Sumner (1972).
Os cariótipos foram montados, separando os cromossomos em
metacêntricos (m), submetacêntricos (sm), subtelocêntricos (st) e acrocêntricos
conforme critério proposto por Levan et al. (1964). Para a determinação do
número fundamental ou número de braços cromossômicos (NF), os
cromossomos metacêntricos (m), submetacêntricos (sm), subtelocêntricos (st)
foram considerados com dois braços e os acrocêntricos (a) com apenas um
braço.
38
3.2.4. Resultados
Plesiotrygon iwamae tem o número diploide igual a 74 cromossomos,
para machos e fêmeas, sendo 26m+8sm+12st+28a e NF=120 (Figura 8a). Esta
espécie tem um sistema múltiplo de RONs, com até cinco sitios, os quais foram
detectados na região terminal dos braços longos dos pares 1 e 6 e em um
homólogo do par 29 (Figura 8b). Blocos de heterocromatina constitutiva foram
detectados na região centromérica da maioria dos cromossomos, sendo alguns
mais pálidos (Figura 1c). Nos pares 1 e 6, os blocos heterocromáticos foram
também evidenciados na região terminal dos braços longos, coincidentes com
as RONs (Figura 8c).
39
Figura 8 Cariótipo de Plesiotrygon iwamae: a) coloração convencional com Giemsa; b) coloração com AgNO3; c) bandamento C.
40
Machos de Potamotrygon scobina e de P. cf. scobina têm o número
diploide igual a 66 cromossomos, mas com cariótipos e fórmulas cariotípicas
distintas, 19m+7sm+12st+28a e NF=104, 21m+8sm+12st+25a e NF=107,
respectivamente (Figura 9a, b). As duas espécies apresentam dois
cromossomos sem homologia, um metacêntrico grande e um submetacêntrico
pequeno. Todos os indivíduos analisados foram machos, o que não permite
concluir sobre a ocorrência de um sistema de cromossomos sexuais nestas
espécies, uma vez que não foi possível uma análise comparativa com os
cariótipos das fêmeas. A priori, é posssível que um sistema cromossômico de
determinação do sexo do tipo XX/XY possa estar presente nestas duas
espécies.
Ambas as espécies apresentaram RONs múltiplas nem sempre ativas,
localizadas na região, terminal dos braços longos dos cromossomos. Entretanto,
como as fórmulas cromossômicas são diferentes, os pares portadores de RONs
também são diferentes, correspondendo aos cromossomos 2, 6, 26 e 33 em P.
scobina e 5, 8, 24 e 33 e P. cf. scobina (Figura 10a, b). A heterocromatina
constitutiva foi evidenciada na região centromérica da maioria dos cromossomos
nas duas espécies, porém em P. scobina o cromossomo número um, sem seu
homólogo, apresentou um bloco maior de heterocromatina na região do
centrômero, o qual se expande para as regiões proximais de ambos os braços
(Figura 11a, b).
Fêmeas de P. constellata têm o número diploide igual a 66 cromossomos,
sendo 22m+8sm+14st+22a e NF=110 (Figura 9c). As RONs são múltiplas, com
até oito marcações localizadas na região terminal dos braços longos dos pares
2, 5 e 32 e na região terminal dos braços curtos do par 22 (Figura 10 c). A
heterocromatina foi evidenciada na região centromérica de todos os
cromossomos (Figura 11c).
Potamotrygon leopoldi tem o número diploide igual a 64 cromossomos
para machos e fêmeas, sendo 24m+4sm+10st+26a com NF=102 (Figura 9d). As
RONs são múltiplas, com até seis marcações localizadas nos braços longos dos
pares 3 e 7 e em um dos homólogos dos pares 23 e 32 (Figura 10d). A
41
heterocromatina constitutiva foi evidenciada na região centromérica da maioria
dos cromossomos (Figura 11d).
42
Figura 9. Cariótipos em coloração Giemsa: a) Potamotrygon scobina (macho); b)
P. cf. scobina (macho); c) P. constellata; d) P. leopoldi.
43
Figura 10. Cariótipos com coloração pelo nitrato de Prata: a) P. scobina (macho); b) P. cf. scobina (macho); c) P. constellata; d) P. leopoldi.
44
Figura 11. Cariótipos com Bandeamento C: a) Potamotrygon scobina (macho); b) P. cf. scobina (macho); c) P. constellata; d) P. leopoldi.
45
P. orbignyi tem número diploide igual a 66 cromossomos para fêmeas
(Valentim et al. 2006) e machos (presente trabalho), sendo 22m+10sm+8st+26a
e NF=106. Com os dados agora obtidos pode-se verificar que os machos têm
dois cromossomos submetacêntricos sem homologia, sendo um de tamanho
médio e o outro pequeno, sendo que este heteromorfismo se encontra ausente
nas fêmeas. Assim sendo, esta falta de homologia em um par de cromossomos
apenas nos machos sugere um sistema de cromossomos sexuais do tipo XX/XY
(figura 12a, b). Um sistema de RONs múltipla também ocorre nesta espécie,
com até oito sítios localizados na região terminal dos braços longos dos pares 2,
8 e 30 e em um dos homólogos dos pares 3 e 12 (Figura 12c). A
heterocromatina constitutiva foi evidenciada na região centromérica de todos os
cromossomos (Figuras 12d, e), exceto para os machos, onde o cromossomo Y
parece ser todo heterocromático (Figura 12d).
46
Figura 12. Cariótipos de Potamotrygon orbignyi corados com Giemsa: a) macho; b) fêmea; c) cromossomos portadores das Ag-RONS; d) bandamento C em machos; e) bandamento C em fêmea.
47
Para P. motoro, a espécie de mais ampla distribuição, foi feito um estudo
comparativo entre indivíduos de diferentes localidades ao longo do rio Negro e
do rio Solimões, próximo à cidade de Manaus, AM (Tabela 1). Todos os
indivíduos apresentaram 2n=66 cromossomos, sendo 18m+12sm+10st e 26a e
NF=106, sem heteromorfismo cromossômico sexual (Figura 13). A
heterocromatina constitutiva foi evidenciada na região centromérica de todos os
cromossomos, sem diferenciação entre as localidades, exceto para a amostra do
rio Jauaperi que além destas marcações apresentaram o par 11 com blocos
heterocromáticos na região terminal dos braços longos (Figura 14).
48
Figura 13. Cariótipos de Potamotrygon motoro, de diferentes localidades, corados com Giemsa: a) Médio rio Negro, região de Barcelos; b) do rio Jauaperi, médio rio Negro; c) do lago do Catalão, baixo rio Negro; c) do lago Janauacá, rio Solimões.
49
Figura 14. Cariótipos de P. motoro, de diferentes localidades, com bandeamento C: a) Médio rio Negro, região de Barcelos; b) rio Jauaperi, médio rio Negro; c) lago Catalão, baixo rio Negro; c) lago Janauacá, rio Solimões.
50
3.2.5. Discussão
3.2.5.1. A macroevolução cariotípica dos potamotrigonídeos
Potamotrygonidae é o único grupo de arraias que se irradiou em ambiente
dulcícola (Lovejoy 1996; Toffoli et al. 2008). Hoje, quatro gêneros são
considerados válidos: Paratrygon Duméril, 1865, Potamotrygon Garman, 1877,
Plesiotrygon Rosa, Castello e Thorson, 1987 e Heliotrygon Carvalho e Lovejoy,
2011 (Rosa et al. 1987; Carvalho et al. 2003; Carvalho e Lovejoy 2011). O
gênero Paratrygon é monoespecífico, enquanto Heliotrygon e Plesiotrygon
possuem duas espécies válidas cada um (Carvalho e Lovejoy, 2011; Carvalho e
Ragno 2011) e Potamotrygon tem aproximadamente 20 espécies válidas
(Carvalho et al. 2003; Rosa et al. 2008).
Os potamotrigonídeos, como todos os Chondrichthyes, estão entre os
vertebrados menos investigados do ponto de vista citotaxonômico, havendo, até
o momento apenas dois estudos publicados sobre esse grupo. Valentim et al.
(2006) determinaram o número diploide de Paratrygon aiereba (2n=90),
Potamotrygon motoro (2n=66) e P. orbignyi (fêmeas 2n=66) da bacia do rio
Negro-AM. Enquanto que Paratrygon aiereba apresentou número alto de
cromossomos acrocêntricos (4m+2sm+10st+74a), as espécies de Potamotrygon
apresentaram redução deste número com aumento dos cromossomos com dois
braços, principalmente meta- e submetacêntricos (18m+12sm+10st+26a e
22m+10sm+8st+26a, respectivamente). Entretanto, as três espécies
apresentaram semelhanças no número fundamental (NF=106), sugerindo que na
evolução cromossômica dessas arraias de água doce teria ocorrido redução do
número diploide. Cruz et al. (2011) analisaram o cariótipo de duas espécies do
alto rio Paraná, Potamotrygon aff. motoro e P. falkneri, ambas com 2n=66
cromossomos e com um sistema de cromossomos sexuais múltiplos do tipo
X1X1X2X2/X1X2Y.
Conforme a proposição filogenética mais recente, baseada em análises
morfológicas e moleculares (gene Citocromo b), a árvore mais parcimoniosa
51
revelou que Heliotrygon e Paratrygon formam um clado, o qual é o grupo irmão
do clado que inclui Plesiotrygon e as espécies de Potamotrygon (Carvalho e
Lovejoy 2011). Os dados moleculares obtidos sugerem que Potamotrygon é
parafilético e que Plesiotrygon estaria inserido em Potamotrygon, corroborando
os achados de Toffoli et al. (2008).
Assim, associando os caracteres cromossômicos obtidos no presente
estudo com os dados filogenéticos de Carvalho e Lovejoy (2011), verifica-se que
ainda não existem informações sobre qualquer uma das duas espécies do
gênero Heliotrygon. Entretanto, para os demais gêneros, os dados ora obtidos
evidenciam diferenciações cromossômicas entre Paratrygon aiereba (2n=90),
Plesiotrygon iwamae (2n=74) e as espécies de Potamotrygon (2n=64 a 68).
Adicionalmente, se considerarmos também o número fundamental ou de braços
(NF), há fortes indicativos dos possíveis rearranjos cromossômicos ocorridos.
Assim, verifica-se que no clado formado por Plesiotrygon iwamae (NF=120) e as
espécies de Potamotrygon (NF=101-122), os rearranjos robertsonianos
(fusões/fissões cêntricas) destacam-se como eventos primordiais na
diferenciação cariotípica deste clado, além de possíveis inversões pericêntricas.
De fato, comparando os dados cariotípicos de Paratrygon aiereba (2n=90;
NF=106), espécie que pertence ao clado irmão de Plesiotrygon e Potamotrygon,
verifica-se que enquanto houve uma redução significativa no número
cromossômico, o número de braços não apresentou variação tão acentuada,
mantendo valores próximos entre os dois clados.
Cariotipicamente as espécies dos três gêneros aqui analisados
apresentam-se bem distintas em relação ao número e fórmula cromossômica.
Quando comparamos os cariótipos de Paratrygon aiereba (2n=90;
4m+2sm+10st+74a) com Plesiotrygon iwamae (2n=74; 26m+8sm+12st+28a)
observa-se uma redução acentuada associada a pelo menos 20 cromossomos
acrocêntricos. A comparação destas duas espécies com todas as espécies de
Potamotrygon, indica uma redução ainda maior (2n= 90 2n=74 2n=64-68).
Os dados disponíveis até o momento indicam que as espécies de
Potamotrygon podem ser agrupadas em três grandes grupos, a saber, com
52
2n=64, 2n=66 e 2n=68. Contudo, há derivações internas associadas com
heteromorfismos cromossômicos sexuais. Entretanto, este agrupamento é ainda
preliminar, considerando que das 20 espécies válidas de Potamotrygon apenas
1/3 já foi cariotipada. Nos casos em que as espécies foram identificadas sob o
mesmo status taxonômico, os cariótipos indicam tratar-se de espécies distintas,
como é o caso de P. scobina e P. cf. scobina, Potamotrygon sp. C e
Potamotrygon sp. C1 (capítulo 1), P. motoro e P. aff. motoro (Tabela 2).
Rocco et al. (2007) observaram que as espécies basais de raias marinhas
têm um número cromossômico elevado, acima de 90, com predominância de
cromossomos com um braço e presença de microcromossomos, como ocorre
em Raja asterias, que tem 2n=98 cromossomos. Contrariamente as espécies
derivadas, como Myliobatis aquila tem número diploide mais baixo e um
progressivo aumento no número de cromossomos com dois braços. Neste caso,
também foi sugerido que rearranjos cromossômicos robertsonianos do tipo fusão
seguidos de inversões seriam os principais mecanismos envolvidos na evolução
cariotípica das raias marinhas.
Com a inclusão dos dados citogenéticos das arraias de água doce e a
comparação de todos esses dados com os Rajiformes e Myliobatiformes (Tabela
3) verifica-se que ainda não existem dados conclusivos para se inferir sobre a
tendência evolutiva cromossômica das arraias de água doce, visto a ausência de
informações cariotípicas sobre as espécies de Heliotrygon. Porém, as evidências
apontam para a redução do número de cromossomos, considerando também
que os representantes das outras famílias de Myliobatiformes possuem na sua
grande maioria números diploides baixos (Figura 15).
53
Figura 15. Números diploides sobrepostos à árvore filogenética da ordem
Myliobatiformes proposta por Carvalho et al. (2004).
54
Convém destacar que ainda não existe consenso sobre o grupo irmão de
Potamotrygonidae (Urotrygonidae ou Dasyatidae?) e nem mesmo das relações
dentro dos clados. Com base em dados moleculares e parasitológicos, Marques
et al. (2003) propõem que Himantura é o parente mais próximo de
Potamotrygonidae. Lovejoy et al. (2006) compartilha desta opinião e que as
espécies envolvidas seriam H. pacifica e H. schmardae da costa do Pacífico com
representantes também no Atlântico. Entretanto, até o momento nenhuma
espécie de Himantura foi cariotipada. Segundo Toffoli et al. (2008), dentro da
bacia amazônica os potamotrigonídeos teriam se diversificado por irradiação
adaptativa, invadindo outras bacias hidrográficas como aconteceu recentemente
na bacia do Paraná Paraguai (Rosa et al. 2008).
Estudos recentes descreveram um novo gênero, Heliotrygon (Carvalho e
Lovejoy 2011). Com a descrição deste quarto gênero uma nova filogenia foi
proposta, onde Paratrygon e Heliotygon seriam táxons irmãos e juntos
formariam o grupo irmão de Plesiotrygon e Potamotrygon (Rosa et al. 2010;
Carvalho e Lovejoy 2011).
Claramente as arraias ainda possuem várias indefinições taxonômicas e
sistemáticas, requerendo esforços integrados para a solução deste problema.
Neste contexto, estudos taxonômicos com um maior número de caracteres
diagnósticos associados a marcadores genéticos (moleculares e citogenéticos),
deverão propiciar avanços no conhecimento deste importante grupo de peixes.
De fato, os caracteres cromossômicos correspondem a uma boa ferramenta
para auxiliar na classificação e delimitar o status taxonômico desses peixes, uma
vez que até o momento, todas as espécies de arraias de água doce são
portadoras de um cariótipo espécie-específico (Tabela 2).
3.2.5.2. Cromossomos sexuais de potamotrigonídeos
Um caráter cromossômico de extrema importância num estudo
citotaxonômico em peixes é a presença de cromossomos sexuais diferenciados
entre machos e fêmeas, uma vez que a grande maioria dos peixes não os
apresenta. Entre as arraias marinhas, vários casos de cromossomos sexuais
55
heteromórficos foram descritos (Tabela 3). Entretanto, entre as arraias de água
doce, esta característica só foi constatada entre espécies do gênero
Potamotrygon, enquanto que espécies dos demais gêneros, como Paratrygon
aiereba e Plesiotrygon iwamae não têm cromossomos sexuais diferenciados.
Assim sendo, este é um caráter apomórfico para Potamotrygon, onde já foram
encontrados três tipos de sistemas, a saber, (a) um sistema simples XX/XY em
P. orbignyi e possivelmente também em P. scobina e P. cf. scobina (a ser
confirmado), b) um sistema simples XX/X0 em Potamotrygon sp. C (Valentim et
al., em preparação) e c) um sistema múltiplo X1X1X2X2/X1X2Y em P. aff. motoro e
P. falkneri (Cruz et al. 2011).
A diferenciação de cromossomos sexuais principalmente nos sistemas
simples, pode ocorrer a partir de rearranjos cromossômicos, que atuam na
redução da recombinação entre os cromossomos rearranjados. Entre os peixes,
é também frequente o processo de heterocromatinização na diferenciação dos
cromossomos sexuais. Entretanto, no caso específico das arraias do gênero
Potamotrygon não há evidências de que a diferenciação dos cromossomos
sexuais tenha ocorrido por perda ou ganho de heterocromatina. Assim,
rearranjos cromossômicos, ou mesmo deleções de segmentos ou de
cromossomos inteiros, podem estar associados aos processos de diferenciação
dos sistemas detectados neste grupo. Em Potamotrygon dos nove táxons,
citogeneticamente analisados, seis têm cromossomos sexuais e em todos os
machos é o sexo heterogamético. Portanto, tanto o sistema XX/X0 como o
sistema múltiplo X1X1X2X2/X1X2Y podem ter se diferenciado a partir de um
sistema ancestral XX/XY. É também possível que este sistema ancestral possa
se encontrar ainda indiferenciado, em estado nascente, como já constatado em
outros grupos de peixes (Cioffi e Bertollo 2010; Cioffi et al 2011). Um aspecto
interessante é que as espécies portadoras de cromossomos sexuais simples são
encontradas na bacia amazônica (P. scobina, P. cf. scobina, P. orbignyi,
Potamotrygon sp. C), enquanto que as espécies com sistemas de cromossomos
sexuais múltiplos ocorrem na bacia do alto rio Paraná: P. aff. motoro e P.
falkneri. Entretanto, a espécie classificada como P. motoro, que ocorre na região
56
amazônica, não apresentou heterogametia em nenhum dos locais onde foi
coletada, o que leva a questionamentos sobre a real identidade desta espécie
nessas duas bacias.
3.2.5.3. O padrão da heterocromatina constitutiva e das regiões
organizadoras de nucléolo em potamotrígonideos
As arraias, tanto as marinhas como as de água doce, as quais tiveram
seu padrão de banda C analisado, têm evidenciado a presença de
heterocromatina apenas na região centromérica de todos os cromossomos do
complemento (Stingo et al. 1995; Valentim et al. 2006; Rocco et al. 2002b; 2005;
2007; Cruz et al. 2011) o que foi também constatado no presente estudo com as
cinco espécies e as diferentes populações analisadas. Em P. motoro apenas os
indivíduos do rio Jauaperi (médio rio Negro) apresentaram um par
cromossômico com blocos terminais nos braços longos. Por sua vez, os
cromossomos sexuais de P. scobina, P. cf. scobina e P. orbignyi, também não
apresentam segmentos heterocromáticos conspícuos, como ocorre em diversas
outras espécies de peixes neotropicais (Born e Bertollo 2000; Almeida-Toledo e
Foresti 2001). O mesmo também foi destacado por Cruz et al. (2011), em
relação aos cromossomos sexuais múltiplos descritos para duas espécies de
Potamotrygon da bacia do alto rio Paraná. Deste modo, pouca heterocromatina,
e com localização preferencialmente centromérica, parece ser um caráter
plesiomórfico para as arraias.
Todas as espécies de arraias de água doce até agora analisadas
apresentam RONs múltiplas, localizadas na região terminal dos braços longos,
com duas exceções em Potamotrygon constellata e Potamotrygon sp. C1, que
apresentam um dos pares cromossômicos com sítios de RONs localizados nos
braços curtos. Entretanto, o número de RONs consideradas ativas (AgRONs)
pode ser variável, observando-se quatro sítios em Paratrygon aiereba (Valentim
et al. 2006), até seis em Plesiotrygon iwamae e até oito nas espécies de
Potamotrygon. Contrariamente, RONs simples foram encontradas em várias
espécies de arraias marinhas (Stingo et al. 1995).
57
Em algumas famílias de peixes a RON pode ser considerado um
excelente marcador, como em Curimatidae (Feldberg et al. 1993) e Anostomidae
(Galetti Jr. et al. 1984). Entretanto, para alguns outros grupos este caráter não
tem se mostrado informativo para a citotaxonomia, onde as RONs são simples e
homeólogas, para todas as espécies do táxon ou são múltiplas e com variações
no número.
Deste modo, Potamotrygonidae é uma família de peixes que abriga
espécies com grande diversidade cariotípica, com número diploide variando de
66 a 90 cromossomos e número de braços variando de 102 a 122, o que indica
que rearranjos cromossômicos, principalmente fusões ou fissões cêntricas,
estão estreitamente associados à sua evolução cariotípica. Entretanto,
rearranjos do tipo inversões pericêntricas e/ou translocações podem ter
participado deste processo, contribuindo para a diversidade cariotípica
constatada entre as espécies dessa família. Esses rearranjos também explicam
a variabilidade das regiões organizadoras do nucléolo e presença de
mecanismos de determinação sexual, uma vez que a diferenciação
cromossômica sexual não foi por heterocromatinização e nem por adição de
heterocromatina. Ainda, os diferentes sistemas de cromossomos sexuais,
simples ou múltiplos representam caracteres derivados na evolução
cromossômica deste grupo e estes só foram evidenciados no gênero
Potamotrygon.
.
58
Tabela 2. Dados citogenéticos das arraias de água doce (Potamotrygonidae) descritos na literatura e no presente estudo.
FC= Fórmula cromossômica; 2n=número diploide; NF=número fundamental T=Terminal; p=braço curto; q=braço longo
Espécie FC 2n NF Nº de RON Posição das RONs
Cromos. sexual referências
Paratrygon aiereba 4m+2sm+10st+74a 90♂/♀ 106 2 a 4 T/pq - Valentim et al. 2006
Plesiotrygon iwamae 26m+8sm+12st+28a 74♂/♀ 120 5 a 6 T/q - Presente trabalho
Potamotrygon orbignyi 22m+10sm+8st+26a 66♂/♀ 106 6 a 8 T/q -XY Valentim et al. 2006; Presente trabalho
Potamotrygon constellata 22m+8sm+14st+22a 66♀ 110 8 T/pq - Presente trabalho
Potamotrygon leopoldi 24m+4sm+10st+26a 64♂/♀ 102 4 a 6 T/q - Presente trabalho
Potamotrygon scobina 19m+7sm+12st+28a 66♂ 104 6 a 8 T/q - Presente trabalho
Potamotrygon cf. scobina 21m+8sm+12st+25a 66♂ 107 6 a 8 T/q Presente trabalho
Potamotrygon sp. C(cururu) 19m+8sm+10st+30a/20m+8sm+10st+30a
67♂/68♀ 104/106 7 a 8 T/q X0 Presente trabalho
Potamotrygon sp. C1 22m+10sm+8st+28a 68♀ 108 8 T/q Presente trabalho
Potamotrygon motoro 18m+12sm+10st+26a 66♂/♀ 106 6 a 8 T/q - Valentim et al. 2006
Potamotrygon aff. motoro de Ilha Solteira
21m+9sm+19st+16a/ 22m+8sm+20st+16a
65♂/66♀ 114/116 8 T/pq X1X1X2X2/X1X2Y Cruz et al. 2011
Potamotrygon aff. motoro de Porto Rico
20m+10sm+25st+10a/ 22m+10sm+26st+10a
65♂/66♀ 120/122 10 T/pq X1X1X2X2/X1X2Y Cruz et al. 2011
Potamotrygon falkneri de Ilha Solteira
20m+9sm+14st+22a/ 20m+10sm+14st+22a
65♂/66♀ 108/110 10 T/q X1X1X2X2/X1X2Y Cruz et al. 2011
Potamotrygon falkneri de Porto Rico
20m+9sm+18st+18a/ 20m+10sm+18st+18a
65♂/66♀ 112/114 8 T/q X1X1X2X2/X1X2Y Cruz et al. 2011
59
Tabela 3. Compilação dos dados cariotípicos das arraias marinhas (n=número haploide; 2n=número diploide; FC=fórmula cromossômica; NF=número fundamental; CS=cromossomos sexuais; RON=região organizadora do nucléolo; HC=heterocromatina constitutiva)
Espécie
n
2n
FC
NF
CS
RON
HC
Referência
Ordem/Família
Rhinobatiformes
Rhinobatidae
Rhinobatos productus 92 44m/sm+48t 136 XY Schwartz e Maddock 1986; Maddock e Schwartz 1996
Rhinobatos hynnicephalus M 59 50m/sm+9t 109 ND Kikuno e Ojima 1987
Rhinobatos hynnicephalus F 60 51m/sm+9t 111 ND Kikuno e Ojima 1987
Rhinobatos schlegelii M 63 54m/sm+9t 117 ND Asahida e Ida 1995
Rhinobatos schlegelii F 64 55m/sm+9t 119 ND Asahida e Ida 1995
Platyrhinidae
Platyrhinoidis triseriata 64 32m/sm+32t 96 XY Schwartz e Maddock 1986; Maddock e Schwartz 1996
Torpediniformes
Narcinidae
Narcine brasiliensis 28 28m/SM 56 Donahue 1974
Narkidae
Narke japonica 54 28m/sm+26t 82 Ida et al. 1985
Torpedinidae
Torpedo californica 82 4m/sm+78st/a 86 Ida et al. 1985
Torpedo marmorata 86 86st-a 86 Stingo 1979
Torpedo marmorata 86 86st-a 86 m/p/t Centr. Stingo et al. 1995
Torpedo ocellata 66 12m/sm+54t 78 Stingo 1976
Torpedo ocellata 66 12m/sm+54t 78 Centr. Stingo e Capriglione 1986
Torpedo ocellata 66 12m/sm+54t 78 m/p/t. Centr. Stingo et al. 1995
Torpedo tokionis 86 86ª 86 Asahida e Ida 1990
Rajiformes
Rajidae
Amblyraja (Raja) radiata 49 98 6m/sm+ 92t 104 Nygre et al. 1971
Dipturus (Raja) batis 98 6m/sm+92ª 104 Nygre e Jahnke 1972
Raja eglantéria 58 30m/sm+28t 88 Schwartz e Maddock 1986
Raja clavata 49 98 6m/sm+92t 104 Stingo 1979; Nygre e Jahnke 1972
Raja(Akamejei) meerdervoortii 104 0m/sm+104t 104 Makino 1937
Raja asterias 98 6m/sm+92t 104 Olmo et al. 1982
Raja asterias 98 6m/sm+92t 104 m/p/t Centr Rocco et al. 2002a
Raja montagui 48 9m/sm+8st+31t 104 m/p/tc Rocco et al. 2002b
Raja polystigma 96 18m/sm+16st+62a 114 Centr Rocco et al. 2007
60
Continuação da tabela 3.
Espécie
n
2n
FC.
NF
CS
RON
HC
Referência
Ordem/ Família
Myliobatiformes
Urolophidae
Urolophus aurantiacus 52 44m/sm+8t Asahida et al. 1987
Urotrygonidae
Urobatis (Urolophus) halleri 72 20m/sm+52t 92 Schwartz e Maddock 1986
Dasyatidae
Dasyatis ajakei 72 34m/sm+38t 106 Asahida et al. 1987
Dasyatis ajakei 42 84 20m/sm+64t 104 Nogusa 1960
Dasyatis americana 78 69m/sm+9t 87 Asahida et al. 1993
Dasyatis kuhlii 64 Asahida et al. 1993
Dasyatis matsubari 64 40m/sm+24t 104 Asahida et al. 1990
Dasyatis Sabina 68 28m/sm+40t 96 XY Donahue 1974; Kirpichnikov 1981
Dasyatis sayi 68 34m/sm+34t 102 XY Donahue 1974; Maddock e Schwartz 1996
Dasyatis violácea 58 46m/sm+12t 104 Hinegardner 1976
Dasyatis violácea 58 30m/sm+28t 88 Olmo et al. 1982
Taeniura lymma 64 38m/sm+26/a 102 m/p Cent. Rocco et al. 2002a; Rocco et al. 2005
Gymnuridae
Gymnura micrura 56 44m/sm+12t 100
Gymnura japônica 56 32m/sm+24t 88 Asahida e Ida unpublished
Myliobatidae
Myliobatis freminvillei 52 50m/sm+2t 102 Schwartz e Maddock 1986
Myliobatis californica 52 50m/sm+2t 102 Schwartz e Maddock 1986
Myliobatis Áquila 52 32m/sm+20t 84 Stingo e Capriglione 1986
Myliobatis tobijei 54 40m/sm+14t 94 Asahida et al. 1987
Rhinopteridae
Rhinoptera bonasus 64 42m/sm+22t Schwartz e Maddock, 1986
Mobulidae
Mobula japônica 66 38m/sm+28t 104 Asahida et al. 1993.
61
4. CONCLUSÕES GERAIS
Com base nos resultados obtidos no presente estudo pode se concluir
que:
1) Potamotrygonidae abriga espécies com grande diversidade
cariotípica, com número diploide variando de 66 a 90 cromossomos e número
de braços variando de 102 a 122.
2) Rearranjos cromossômicos, principalmente fusões ou fissões
cêntricas, estão estreitamente associados à evolução cariotípica da família
Potamotrygonidae. Entretanto, rearranjos do tipo inversões pericêntricas e/ou
translocações também ocorreram, contribuindo para a diversidade cariotípica
constatada entre as espécies dessa família.
3) Inversões pericêntricas e translocações ocorreram na diversificação
cariotípica de Potamotrygonidae, o que explica a variabilidade das regiões
organizadoras do nucléolo e presença de mecanismos de determinação
sexual.
4) Diferentes sistemas de cromossomos sexuais, simples ou múltiplos,
ocorrem entre as espécies de Potamotrygon, representando caracteres
derivados na evolução cromossômica deste grupo.
5) Diferentemente do que se constata em diversos outros grupos de
peixes neotropicais, a diferenciação cromossômica sexual nas arraias não se
deu por processos de heterocromatinização cromossômica, visto que nos
sistemas simples ora estudados (XX/XY e XX/X0), assim como nos sistemas
múltiplos já descritos, a heterocromatina encontra-se restrita à região
centromérica dos cromossomos.
6) Cariótipos distintos foram detectados entre as espécies de
Potamotrygon ora analisadas, a exemplo de Potamotrygon sp. C e
Potamotrygon sp. C1, representando possíveis novas espécies a serem
reconhecidas e descritas para esse grupo.
62
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almeida-Toledo, L.F.; Foresti, F.; Daniel, M.F.Z.; Toledo-Filho, S.A. 1984.
Complex sex chromosome system in Eigenmannia sp. (Pisces,
Gymnotiformes). Genetica, 64: 165-169.
Almeida-Toledo, L.F. 1998. Cytogenetic markers in Neotropical freshwater
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