Civ8019 Hidrologia Enchentes Parte 2

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CIV8019 HIDROLOGIA PROPAGAO DE ENCHENTES 1. Introduo Em muitas ocasies, de interesse para o engenheiro hidrologista saber como se comporta uma onda de cheia ao passar por um reservatrio, bem como a forma de desenvolvimento temporal de vazo em seo para a qual no se dispe de dados suficientes de precipitao e vazo, necessrios para o traado de hidrograma. Nessas circunstncias, lana-se mo de princpios de propagao de enchentes. O acompanhamento da onda de enchente, seja em reservatrio, seja em canais, embasado na lei de continuidade; sua equao, aplicada ao deflvio, fornece a expresso do armazenamento, a partir da qual, por interaes sucessivas, obtm-se pontos para o traado do hidrograma propagado, isto , do hidrograma de sada ou efluente. Para o desenvolvimento do tema e apresentao de processos metodolgicos de propagao, conveniente, dadas as peculiaridades de cada um, separ-lo em dois casos, quais sejam quando a onda passa atravs de um reservatrio e quando ele se desloca para jusante de um canal. Pela equao da continuidade,Q E QS = ds dt

A diferena entre a vazo de entrada e a de sada equivale taxa instantnea de acumulao. Considerando-se o intervalo de tempo suficientemente pequeno, mas no infinitesimal, possvel sua soluo por acrscimos finitos. Nos mtodos que seguem, desprezam-se os acrscimos provenientes de guas subterrneas, as perdas por infiltrao ou por evaporao; alm disso, admite-se a no ocorrncia de chuva na passagem da cheia. 2. Propagao em Reservatrios Ao entrar na rea do reservatrio, ocorre uma acomodao da onda. A vazo de sada e o volume armazenado, num dado instante, so dependentes, exclusivamente, do nvel de gua no reservatrio. O processo de propagao pode ser apresentado numa forma simplificada pelo esquema abaixo:

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Figura 1 Hidrogramas Afluente e Efluente

O reservatrio recebe a gua do influxo, armazena e libera pelo vertedouro. Num caso mais simples, em que a gua recebida de um lado e descarregada do outro, supe-se que no haja armazenamento em cunha, sendo desprezveis os efeitos dinmicos. Dois mtodos so disponveis para o presente caso: o de Plus o de Goodrich. Basicamente, eles se diferenciam pela maneira como rearranjada a equao da continuidade j discretizada. 2.1- Mtodo de Plus A expresso anterior se torna( I1t 1 1 +I 2 ). +S1 .O1 . =S 2 + .O2 . t t 2 2 2

Admite-se o conhecimento dos termos do primeiro membro; assim, possvel computar-se o valor de sua expresso e, com base na relao armazenamento e descarga, reduzir-se o valor de 02. Este ser argumento para a iterao seguinte, quando ento se obtm 03 e assim por diante, at se compor o hidrograma efluente pretendido pela plotagem de 0i (i = 1, 2, 3, . . . ). A seguir, apresentamos o algoritimo do mtodo, objetivando o traado do hidrograma efluente. Para sua implantao, so necessrias, alm do hidrograma afluente, a curva cota x volume e dados relativos a cota x vazo efluente (ou equao do vertedouro), bem como o valor inicial da descarga. 1. A partir da relao cota x descarga e da curva cota x volume, obter as curvas:1 2 1 O x S + .O.t 2

O x S .O.t

O x (S )

2

2. Preencher a coluna (4) da tabela modelada abaixo.

3. Da curva O x S .O.t , extrair o valor correspondente a 0 (descarga inicial, conhecida), preenchendo-se a primeira linha da coluna (6). 4. Adicionar a coluna (4) coluna (6), inserindo a soma na coluna (7). 5. Obter, da curva correspondente, o valor de 0 associado quele computado no passo precedente. 6. Aplicar o novo calor de 0 para encontrar, na curva, o valor S .O.t , 1 2

1 2

retornando o passo (3) e prosseguindo iterativamente at o preenchimento integral da tabela, quando, ento, teremos os elementos necessrios para o traado do H.E. (coluna (1) x coluna (5) ). A coluna (8) preenchida a partir da curva cota x descarga, entrando com os valores de 0 computados a cada iterao. Dessa coluna, podemos conhecer o nvel mximo de elevao no vertedouro. O tempo de pico do hidrograma efluente se apresenta defasado relativamente ao do hidrograma afluente. Alm disso, a vazo de pico menor, indicando a ocorrncia de amortecimento. A diferena entre os tempos de pico conhecida como reservoir lag (retardo pelo reservatrio) e a reduo nos fluxos extremos referida como atenuao. Esta atenuao est associada diretamente s dimenses do dispositivo de sada do reservatrio (vertedouro); quanto maior sua largura, maior o decrscimo de pico. O ponto de mximo no H.E. coincide com um ponto da cauda de recesso do H.A. . Isso se d pelo fato de que a descarga no vertedouro depende somente da altura da lmina dgua acima de sua soleira; ora, como H.E. defasado, no momento em que o influxo eqivale ao efluxo a onda de cheia j recessiva (ou ainda, no h por que o nvel dgua se eleve no vertedouro). Teoricamente, a cauda da direita do H.E. atingir vazo nula aps decorrido um tempo infinito.

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Figura 2 Hidrograma Afluente e Efluente

2.2- Mtodo de Goodrich Neste mtodo, os termos da equao da continuidade so rearranjados da maneira seguinte: 2S 2S 2 I 1 + I 2 + 1 O1 = O2 t t

Conhecendo-se as condies iniciais e a hidrgrafa afluente, todos os termos do lado esquerdo so conhecidos; h, ento, elementos suficientes para determinao do valor do termo da direita. Similarmente ao mtodo de Puls, o resultado de uma iterao servir de argumento na iterao seguinte, at que ao final disporemos dos pares (ti, 0i) necessrios para a composio da hidrgrafa efluente. Dividiremos, por razes didticas, o mtodo em duas etapas: Etapa 1: Traando da curva O x 2S + O t

Esta curva pode ser traada por dois processos distintos: 1. Processo Grfico: A partir das curvas cota-volume e cota-descarga compe-se a curva O x como se segue: 2S +O t

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Figura 3 Curvas Cota-Volume e Cota-Descarga

Tomando-se divisores valores de S e suas descargas 0 correspondentes, obtmse vrios pares ordenados (S,0). Para cada valor de 0 determina-se o termo 2S + O ; computados esses pares, procede-se ao traado da curva. O aspecto de t

uma curva desta natureza apresentado na figura. Figura 4 Curva O x 2S + O t

2. Processo Matemtico Este processo consiste na elaborao de uma tabela auxiliar para o traado da aludida curva, a partir da curva cota x volume e da equao do vertedouro. Tabela 1 Tabela Auxiliar

Observaes: Coluna 1: cotas a partir da solteira do vertedouro; Coluna 2: Hs= altura acima da solteira vertedouro; Coluna 3: 0= descarga no VT, dada pela equao do mesmo (Ex.: 0 = 1,8LH3/2); Coluna 4: S= armazenamento acima da cota da solteira do vertedouro (Si = Vi Vcs);

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Coluna 5: Dt= intervalo de tempo em que se pode considerar o trecho do hidrograma afluente retilneo. Traar, a partir das colunas 3 e 6 a curva 0 x 2S + O t

Etapa 2: Determinao do hidrograma efluente. Tabela 2 Hidrograma Efluente

Algortmo para o preenchimento da tabela: 1. Adicionar o primeiro elemento da coluna 4 aos dois primeiros da coluna 3; inserir o valor obtido na coluna 5. 2. Da curva Oi x 2S i + Oi , extrair o valor de 0i + 1 associado a termo da coluna 5. t

3. Do ltimo valor assinalado na coluna 5, subtrair o dobro da ltima vazo efluente computada. O valor assim obtido, pertinente coluna 4, ser argumento para a nova iterao. Nesta, deve-se tomar da coluna 3 o ltimo termo empregado e o que lhe segue; ademais, retorna-se normalmente ao passo 1 para efetivao do curso iterativo, integralizando, o final, o preenchimento da tabela. O processo de propagao em reservatrio, sendo este dotado de comportas, pode ser tratado de forma anloga ao que foi exposto, desde que se adeque as curvas aludidas nos passos iniciais de cada algoritmo s suas condies de abertura. Haver tantas curvas quanto forem a quantidade de comportas a modalidade de funcionamento. 3. Propagao em Rios e Canais O armazenamento ao longo de rios e canais no funo apenas da descarga, visto que o mesmo se d no somente na forma de prisma dgua; sobre este se manifesta uma formao em cunha. O efeito dessa acumulao deve ser levado em conta. Inexistindo uma relao biunvoca a descarga na extremidade de jusante e o volume retido no vale do rio, h de se introduzir a vazo afluente como parmetro adicional na definio do volume de acumulao. Note-se que o regime no permanente; a superfcie livre das guas pode assumir formas distintas para idnticas condies-

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limites na seo de jusante, em funo da posio em que se encontre a onda de cheia no trecho considerado. A acumulao dgua em um trecho de rio mostrada simplificadamente na figura abaixo, onde se podem identificar o prisma e a cunha de armazenamento. Figura 4 Propagao de um Rio

3.1- Mtodo de Muskingum Desenvolvido por Mac Carthy, embasado em estudos no rio Muskingum (U.S.A), o mtodo adota conceitos de ambos os armazenamentos, em prisma e em cunha. Consideram-se nesse caso, as acumulaes em cunha proporcionais diferena entre as afluente (na seo a montante do trecho considerado) e efluente (na seo de jusante). Assim, proposta a expresso seguinte:S = K .( x.I + (1 x ).O ) onde:

K constante de acumulao; aproxima-se, em geral, do tempo de deslocamento da onda no trecho; X exprime o grau de participao da vazo afluente I na caracterizao do volume acumulado; em geral, varia entre 0 e 0,3. Retornaremos expresso da lei de continuidade, I = O + intervalo de tempo suficientemente pequeno,I 1 + I 2 O1 + O2 S1 + S 2 = + 2 2 tds , ou ainda, tomando dt

O 2 = I 1 + I 2 O1

2( S1 + S 2 ) t

Ora, a ltima parcela do segundo membro pode, como vimos, ser expressa, em funo de I e 0. Assim, introduzindo os coeficientes C0, C1 e C2, as vazes afluentes e efluentes, ficam como:O 2 = C 0 .I 1 + C1 .I 2 + C 2 .O1 onde C 0 . =K .x 0,5. t K K .x + 0,5. t

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K .x + 0,5. t K K .x + 0,5. t K K .x 0,5. t C2 . = K K .x + 0,5. t C1 . =

Note-se que C0 + C1 + C2 = 1, isto , 02 apresentado como uma ponderao de I1 , I2 e 01 . O problema agora consiste na obteno dos valores de K e de x. De posse destes, podemos calcular a vazo efluente no fim de um perodo t em funo das vazes afluentes e da descarga efluente no incio do perodo. O processo segue seu curso iterativamente at a composio do hidrograma de sada. Os valores de K e x podem ser estimados de duas maneiras bsicas. A primeira consiste em se adotar um valor para x e se traar o grfico S versus (x . I + (1 x).0); tal grfico configurar uma curva em lao; o valor de x ser tanto mais ajustado quanto mais fechado for o lao; a reta que melhor acompanhar este lao ter coeficiente angular equivalente a K. A figura 5 esclarece. Figura 5 Curva x.I + (1 x.O)

A outra maneira, que julgamos mais cmoda, ser aqui mais detalhada; apresentada algoritmizada a seguir. 1. A partir de um hidrograma afluente para o trecho e de seu hidrograma efluente correspondente, compor seus grficos, superpondo os eixos das abscissas. 2. Traar cuidadosamente, pelo ponto de cruzamento dos dois hidrogramas referidos, a linha tangente a cada um deles. Obtm-se, dessa forma, os valores de dI/dt. A figura 6 mostra o cumprimento do passo.

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Figura 6 Determinao de x

3. Aplicar os valores de dI/dt e d0/dt na equao seguinte, determinando, a seguir, o valor de x.x. dI dO = (1 x.). dt dt

Observao: A equao acima provm da considerao de que o armazenamento atinge seu mximo quando da interseo dos hidrogramas. evidente que nesse ponto a derivada da acumulao relativamente ao tempo deve ser igual a zero (dS/dt = 0). 4. Compor um diagrama cujas ordenadas sejam os valores de S/K, isto , (x . 1 + (1 x) 0) e cujas abscissas sejam os valores do armazenamento S. Os pontos coordenados sero ajustadas a uma reta; a cotangente do ngulo de inclinao desta corresponde ao valor de K. 5. De posse dos valores de K e de x basta substitu-los nas expresses C0, C1 e C2, compondo, a seguir, a equao de 02 (02 = C0 . I1 + C1 + I2 + C2 . 01). 6. Obtido 02 , este servir de argumento para a iterao seguinte. O processo iterativo concludo ao se dispor de pontos para o traado do hidrograma efluente. Observao: As tabelas a seguir modeladas so teis na determinao do armazenamento e do valor de K. Elas se prestam implementao do passo 4. Tabela 2

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Tabela 3

As acumulaes no trecho do canal so relativamente maiores na fase ascensional da onda, conforme se depende da figura Ao contrrio do que ocorre em reservatrios, pode haver decrescimento na acumulao ao tempo em que a vazo de sada ainda est aumentando; isso porque no necessariamente o pico do hidrograma efluente coincide com um ponto da cauda de recesso do hidrograma de entrada. Figura 7 Hidrograma de Entrada e Sada para um trecho de Curso Dgua

O valor de x que, como frisado, indicativo da participao de I no volume armazenado, tem efeito sobre a forma assumida pelo hidrograma efluente, notadamente quanto defasagem entre os pontos de pico de vazo de H. A. e H.E. . Um maior valor de x acarreta uma maior vazo de pico na seo de jusante do trecho; no caso particular de x ser nulo, ou seja participao nula de I na composio de H.E., a defasagem mnima e o amortecimento da onda de cheia mximo. A figura 8 esclarece.

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Figura 8 Efeito da Variao de x no Hidrograma de Entrada

O tratamento da vazo local, ou seja, proveniente de cursos dgua que afluem ao trecho, constitui uma das principais dificuldades no estudo da propagao de cheias. Dois casos bsicos podem surgir: 1. Afluentes se concentram nas proximidades da seo de montante do trecho. Neste caso, a vazo local adicionada ao hidrograma das descargas afluentes. 2. Contribuio local junto seo de jusante. Subtraem-se, antes de se efetuar a anlise dos volumes de acumulao, das vazes efluentes os valores estimados para a vazo local. Em situao onde a contribuio local de grande vulto, o trecho do rio principal deve ser subdividido e os clculos de propagao efetuados por partes.

REGIONALIZAO DE VAZES 1. Regime de Vazes Com a finalidade de proporcionar uma melhor visualizao do regime do rio, ou apenas destacar algumas de suas caractersticas ou ainda estudar os efeitos da regularizao propiciada por reservatrios, os projetos de obras hidrulicas exigem que os dados de vazo sejam manipulados e apresentados sob a forma de grficos. As vazes podem ser apresentadas atravs de hidrogramas, curvas de permanncia, curvas de utilizao e diagramas de massa. 1.1- Hidrograma O hidrograma simplesmente um grfico das vazes ao longo de um perodo de observao, na ordem cronolgica de ocorrncia.

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Figura 1 Hidrograma

O hidrograma retrata o regime do rio, permitindo visualizar com facilidade a extenso e a distribuio temporal de secas e enchentes ao longo do perodo de observaes. Quando se deseja caracterizar o regime anual, estabelece-se um hidrograma de vazes mdias mensais. Figura 2 Fluviogramas Anuais Mdios para o perodo de 1941-1970

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Na figura 2, v-se claramente, para o rio Capivari, que os meses de maior vazo corresponde em mdia, aos perodos de janeiro a abril e de outubro a dezembro. No rio Iguau as vazes mdias so relativamente uniformes ao longo do ano. Entretanto, a se analisar os coeficientes de variao (d/x) associados a cada valor mdio, observa-se uma nova caracterstica dos regimes dos rios: os coeficientes de variao relativamente baixos no primeiro caso indicam a existncia de um regime razoavelmente bem definido; apenas nos meses de julho a setembro as variaes so mais significativas. No segundo caso, os coeficientes de variao so extremamente elevados, indicando a natureza varivel do regime deste rio. Na figura 2 so mostradas ainda as distribuies das vazes mensais mximas e mnimas observadas no perodo. 1.2- Curva de Permanncia ou de Durao Os valores de vazo podem ainda ser arrumados de forma decrescente, no mais obedecendo a ordem cronolgica. Estes valores podem ser agrupados em classes, e o nmero de valores que se situam em cada classe, registrado (freqncia). Acumulando-se as freqncias e lanando-as em um grfico de correspondncia. Aos limites inferiores de cada classe, obtm-se a Curva de Permanncia das vazes, que nada mais que a curva acumulativa de freqncia da srie temporal das vazes. A curva de permanncia indica a porcentagem de tempo que um determinado valor de vazo foi igualado ou ultrapassado durante o tempo de observao. O somatrio das freqncias expresso em termos de percentagem de tempo.

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EXEMPLO: Tabela 1 - Vazes do rio Guarapiranga (na barragem) em ordem decrescente (Fonte: VILLELA, 1975).

Tabela 2

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Figura 3 - Curva de Durao (Fonte: VILLELA, 1975).

A curva de permanncia pode ser considerada como um hidrograma em que as vazes so arranjadas em ordem de magnitude. Permite, assim, visualizar de imediato a potencialidade natural do rio, destacando a vazo mnima e o grau de permanncia de qualquer valor da vazo. Quanto maior foi o intervalo unitrio de tempo (dia, ms, ano) utilizado para o clculo da vazo mdia, menor ser a gama de variao ao do eixo das ordenadas. Figura 4 - Curvas de Permanncia do rio Iguape, em porto amazonas, para o perodo: 1941 - 1968. (Fonte: SOUSA PINTO ET allii, 1976)

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A curva de permanncia permite, ainda, estimar os efeitos de um pequeno reservatrio sobre a vazo mnima garantida. Na figura 4 observa-se que se poderia elevar a vazo mnima a 10m3/s com o auxlio de um reserva de 4,1 x 106m3. Entretanto, devido a prpria natureza da curva de permanncia em que a ordem cronolgica no obedecida, sua aplicao limitada a estimativas preliminares. A curva de durao quando construda em papel logartmico de probabilidade se apresenta sob a forma de uma linha reta. Figura 5 - Curva de durao (Fonte: VILLELA, 1975).

1.3. Curva de Utilizao Para cada vazo derivada existe um perodo em que as vazes naturais so maiores que a derivada e um perodo em que so menores. Se um aproveitamento projetado para derivar no mximo uma certa vazo (maior que a mnima), ele s poder utilizar, em mdia, uma vazo menor. Esta vazo mdia utilizada (Qu) calculada pela frmula:Qu =T 1 Qd .t 0 + Q.dt t0 T

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Figura 6 - Vazo mdia utilizada

Qu ( t ) =Qumx

Qumn

T 1 Q ( t ).t + Q ( t ).dt t T 1 T = Q , pois Qumx = Q ( t ).dt 0 T = Qmn

Figura 7 - Curva de Utilizao (Fonte: VILLELA, 1975).

1.4. Diagrama de Massa (ou Diagrama de Rippl) O diagrama de massa definido como a integral da hidrgrafa. um diagrama de volumes acumulados que afluem ao reservatrio.

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Tabela 3

Figura 8 - Diagrama de massas (Fonte: VILLELA, 1975)

A hidrgrafa da tabela 3 d origem ao diagrama de massas da figura 8. O diagrama de Rippl encontra sua aplicao especialmente, nos estudos de regulao de vazes pelos reservatrios, que ser visto a seguir.

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2. Regularizao de Vazes

Sempre que um projeto de aproveitamento hdrico de um rio prev uma vazo de retirada maior que a mnima, existir, em conseqncia, perodos em que a vazo natural maior que a necessria e perodos em que menor. Figura 9 - Hidrgrafa (Fonte: VILLELA, 1975).

Se torna necessria ento a construo de um reservatrio para que se possa reter o excesso d'gua dos perodos de grandes vazes para ser utilizado nas pocas de seca. Qualquer que seja o tamanho do reservatrio ou a finalidade das guas acumuladas, sua principal funo a de fornecer uma vazo constante, ou no muito varivel, tendo recebido do rio vazes muito variveis no tempo: ou seja, sua funo a de regularizao da vazo do curso d'gua. 2.1. Capacidade do Reservatrio A capacidade de armazenamento de um reservatrio representa o volume total acumulado no reservatrio quando o nvel da gua encontra-se na cota da soleira do sangradouro. Calcula-se a capacidade de um reservatrio construdo em terrenos naturais a partir do levantamento topogrfico. Deve-se traar a curva "cota x rea" planimetrando-se as reas delimitadas pelas curvas de nvel. A integrao dessa curva d a curva cota x volume do reservatrio.

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Figura 12.10 - Curvas "capacidade em funo da altitude" e "rea em funo de altitude" referente a um reservatrio. (Fonte: Engenharia de Recursos Hdricos).

Zonas de armazenamento de um reservatrio: (extrado do livro "Engenharia de Recursos Hdricos").

Nvel normal do reservatrio - a cota mxima at a qual as guas se elevaro nas condies normais de operao. Em geral este nvel determinado pela cota da crista do vertedor. Nvel mnimo do reservatrio - a cota mnima at a qual as guas baixam nas condies normais de operao. Esse nvel pode ser determinado pela cota da parte inferior do conduto de sada mais baixo da barragem. Volume til - volume armazenado entre os nveis mnimo e normal. Volume morto - volume retido abaixo do nvel mnimo. Sobrearmazenamento - volume acima do nvel normal: no aproveitado. Figura 11 - Nveis de armazenamento de um reservatrio (Fonte: Engenharia de Recursos Hdricos).

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2.2. Lei de Regularizao (ou Nvel de Regularizao)Y (t ) = Qr ( t ) Q

onde

Qr (t) a vazo regularizada em funo do tempo; Q a vazo mdia no perodo considerado. 2.3. Dimensionamento do Reservatrio Os mtodos usados na soluo de problemas de reservatrios podem ser agrupados em 3 tipos:

Empricos - relacionados ao estudo de perodos crticos da srie histrica atravs, por exemplo, do diagrama Rippl. Analticos - so aqueles que seguem a teoria dos "Range", Teoria das Filas, ou teoria das Matrizes de Transio (Teoria de Moran). Experimental - (Mtodo Monte Carlo) Consiste na gerao de sries sintticas de deflvio e posterior operao simulada do reservatrio.

2.3.1. Dimensionamento de um reservatrio pelo mtodo emprico "diagrama de rippl" Perodo crtico - definido como o perodo no qual o reservatrio vai d condio "cheio" para a condio "vazio". O incio do perodo crtico se d com o reservatrio cheio; o fim do perodo critico quando o reservatrio esvazia pela primeira vez dentro do perodo. Assim, uma nica falha pode ocorrer durante o perodo critico. A figura 12 mostra um exemplo onde existe 2 perodos crticos. Note que as falhas durante os anos de 1945 e 1946 no esto includas no perodo critico. (MacMahon e Mein, 1978). Figura 12 - Perodos crticos de um reservatrio. (Fonte: MacMahon e Mein, 1978).

O diagrama de Rippl parece Ter sido o primeiro mtodo racional para a estimativa da quantidade de armazenamento necessria para suprir uma dada retirada.21

Figura 13 - Diagrama da Rippl

Algortimo para utilizao:

Para o reservatrio em questo, traar o diagrama de massas das vazes histricas (em geral vazes mensais). Sobrepor ao diagrama a linha correspondente a vazo a ser retirada. Traar retas paralelas retirada tangentes aos maiores picos (A e E). Medir os maiores afastamentos entre as tangentes e a curva de massa (C1 e C2). Na figura 13 o maior afastamento C2, logo esta ser a capacidade do reservatrio, e o perodo critico considerado ser o EF. Limitaes: Retirada constante Despreza a evaporao. 2.3.2. Dimensionamento de um reservatrio atravs de mtodo analtico baseado na teoria de Moran A maioria das pesquisas no sentido de dimensionar um reservatrio tem sido feita baseada em rios perenes. Ao aplicar-se esses procedimentos em rios intermitentes, h a tendncia de se subestimar a capacidade necessria; no se pode esperar que dois rios de regimes to distintos (Figura 14) possam ser estudados sob a mesma tica.

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Figura 14 - Rio intermitente e rio perene.(Fonte: CAMPOS, 1987).

Grande parte dos rios do nordeste brasileiro intermitente. Outro fator importantssimo a considerar o efeito da evaporao. Assim sendo, Campos (1987) elaborou um modelo grfico para dimensionamento hidrolgico de reservatrios de guas superficiais situados em regies com rios intermitentes sujeitos a altas taxas de evaporao. O suporte terico foi fornecido pela teoria de Moran, que considera o volume de reserva como uma varivel aleatria seguindo uma cadeia Marcoviana. Foi introduzida uma matriz de evaporao que separa as perdas devido a esse fenmeno das retiradas. No nos deteremos aqui na formulao do modelo, que pode ser encontrada na dissertao de doutorado "A Procedure for Reservoir Sizing on Intermittent Rives under High Evaporation Rate" apresentada pelo prof. Jos Nilson B. Campos Universidade do Estado do Colorado, mas na sua aplicao prtica atravs de um exemplo. Esse exemplo nada mais , que a continuao do projeto do Aude Vrzea Alegre, cujas etapas anteriores j foram apresentadas nos captulos "Precipitao" e "Escoamento Superficial". Descrio suscinta do mtodo O modelo em questo busca a soluo da equao: PE = f (K, CV, m, PJ, Ev , a, m) onde: PE = probabilidade do reservatrio esvaziar em um dada ano K = capacidade do reservatrio Cv = coeficiente de variao dos deflvios anuais m = valor mdio dos deflvios anuais PJ = probabilidade de um ano ser totalmente seco Ev = a lmina evaporada do reservatrio durante a estao seca = fator de forma da bacia hidrulica obtido supondo que a relao cota volume do tipo V = h3 m = retirada anual do reservatrio para fins utilitrios Devido ao grande nmero de variveis envolvidas, o autor reuniu os parmetros nos adimensionais:23

fK = fM =

K

M

Fator adimensional de capacidade Fator adimensional de retirada Fator adimensional de evaporao

fE =

3 1 3 EV

1 3

Desta maneira a equao fica simplificada para: PE = f (fE, CV, PI, fk, fM) Atravs de programa computacional o autor resolveu a equao para os casos mais usuais e colocou os resultados em forma grfica. O procedimento engloba 64 grficos. Cada grfico apresenta o valor de PE nos eixo das ordenadas e o de fM no das abicissas: cada grfico contm 6 curvas correspondentes a diferentes fk. Campo de definio dos parmetros de entrada: CV = 0,6; 0,7; 0,8; 1,4 PE = 0,0 - 20,0% fk = 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0; 3,5 fM = 0,1 - 0,60 fE = 0,05; 0,10; 0,15; 0,40 PI = 0 - 10,0% Exemplo: Dimensionamento do Aude Vrzea Alegre. Obteno dos dados (Fonte: AGUASOLOS) 1. Deflvio mdio anual () A lmina mdia de escoamento do Riacho do Machado foi calculado por correlao com a bacia do rio Caris, na estao Stio da Conceio seguindo metodologia do GEVJ, atravs da aplicao de dois coeficientes de correo, relativos a diferena nas reas das duas bacias e nas precipitaes mdias sobre elas. = 7,1 x 106 m3 2. Coeficiente de variao dos deflvios anuais (CV) Tomando igual ao do rio Caris em Stio Conceio - Cv = 0,92 3. Evaporao - os valores da evaporao do espelho d'gua foram estimados a partir do Tanque Classe A, multiplicados por 0,70. Foram utilizados os dados do posto de Iguat o qual se dispe de uma srie de 23 anos de observao.

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Tabela 4 - Valores mdios mensais da evaporao do espelho d'gua calculada a partir da correlao com a evaporao com o tanque classe A medida em Iguat (mm).

EV = 1511,00 mm = 1,511 m (somatrio da evaporao mdia durante a estao seca: Junho a Janeiro). 4. Fator de forma da bacia () obtido atravs de regresso entre o volume (v) e a altura da gua (h), da curva cota x volume, pela equao V = h3. = 2118,2 5. Fator de evaporao (fE)fE = 3 1 3 EV

1 3

como, = 2118,2 m = 7,1 x 106m3 EV = 1,511mfE = 3 x ( 2118 ,2 )13

(7,1x10 )

x1,511

6 13

= 0,30

6. Clculo da relao volume regularizado versus capacidade de reserva. Com os parmetros fE = 0,30 e CV = 0,92* seleciona-se o grfico. Figura 15 - Volume regularizado vs capacidade de armazenamento. (Fonte: CAMPOS, 1987).

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* Como no dispomos de grfico prprio para CV = 0,92 devemos interpolar entre os valores obtidos p/ CV = 0,90 e CV = 1,0 com fE = 0,30 Traar uma linha horizontal partindo da ordenada PE = 20% (probabilidade de esvaziamento do reservatrio). Essa reta corta as curvas correspondentes a fk = 1,0; 1,5; 2,0; 2,5 e 3,0 tira-se ento do eixo das abcissas os valores correspondentes a fM. Como f K = e f M = , sabe-se o volume anual regularizado (M) para cada capacidade de reservatrio (K). Tabela 5 - Relao entre a capacidade do Aude Vrzea Alegre, o volume anual regularizado com 80% de garantia e a vazo regularizao.K M

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Figura 16 - Curva capacidade de acumulao versus volume anual regularizado com 80% de garantia para o Aude Vrzea Alegre. (Fonte: GUASOLOS).

2.3.3. Dimensionamento De Um Reservatrio Atravs De Mtodo Experimental O uso de mtodo experimental no dimensionamento de reservatrio consiste na gerao de sries sintticas e posterior operao simulada do reservatrio atravs de um modelo. A necessidade de modelagem aparece principalmente devido a inadequao dos dados hidrolgicos. Os valores observados so obviamente de imenso valor, mais a srie raramente longa o bastante para a anlise probabilstica. O mtodo descrito a seguir foi elaborado por Campos (1990) e se destina tambm ao dimensionamento de reservatrios situados em regies de intermitentes sujeitos a altas taxas de evaporao, que o caso do Nordeste Brasileiro. Descrio suscinta do Mtodo 1. Gerao Sinttica de Deflvios Grande parte dos rios do Nordeste apresenta regime de escoamento concentrado durante a estao chuvosa e uma longa estao seca; sendo assim os deflvios anuais podem ser considerados serialmente independentes. Desta maneira, estas sries podem ser obtidas atravs da gerao de nmeros aleatrios seguindo uma dada funo densidade de probabilidade. A distribuio Gama de dois parmetros foi a escolhido pelo autor para representar os deflvios anuais (os parmetros estatsticos da srie histrica foram conservados). 2. Operao Simulada do Reservatrio A simulao do comportamento do reservatrio para cada retirada M foi feita atravs da soluo da equao do balano hdrico do reservatrio atravs de processo de integrao numrica.

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Equao do Balano Hdrico:B = Z t + I t (1 2)( At + 1 + At ).E MZ t +1 = K Z t +1 = B Z t +1 = 0

Se B > K Se 0 < B K Se B 0

A sangria calculada por:S t = max ( Z t +1 K ,0) onde

It = Volume afluente no reservatrio durante o perodo t. Zt = Volume da reserva no incio do tempo t. At = rea do lago do reservatrio no incio do perodo t. E = Lmina evaporada do lago durante o perodo t. M = Volume retirado do reservatrio durante o perodo t. K = Capacidade do reservatrio. St = Volume perdido por sangria durante o perodo t. A partir dos resultados obtidos, o autor construiu diagramas triangulares onde o volume afluente foi dividido em trs partes: percentual sangrado, evaporado e utilizado, com uma garantia de 90%. 3. Utilizao do Diagrama Triangular de Regularizao para Dimensionamento de um Reservatrio. (extrado de "Regularizao de vazes em Rios Intermitentes") O uso do diagrama triangular restrito aos caso em que se pretende uma garantia de 90% de fornecimento de gua. Etapas: 1. Calcular da srie histrica de vazes os parmetros estatsticos: mdia, desvio padro e coeficiente de variao. 2. Calcular o fator de forma () com os dados da tabela cota-volume atravs da reta dos mnimos quadrados. (V = h3 Y = x) 3. Determinar f E =3 1 3 EV

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e fK =

K

4. Selecionar o diagrama correspondente ao CV pretendido e a parte do ponto de encontro das isolinhas de fE e fk, determinar os percentuais sangria, evaporao e utilizao. Para determinar estes percentuais, as retas devem seguir as direes mostradas na figura a seguir:

Figura 17 - Diagrama de regularizao. (Fonte. CAMPOS, 1990).28

Exemplo: Determinar o volume anual regularizado com 90% de garantia para um reservatrio com as seguintes caractersticas: m = 700 hm3 CV = 1,20 = 16.000 EV = 1,8 m K = 1.400 hm3 Soluo:fE =fK =

3 x 16 x10 6

( ) x1,8 (700 x10 )13 6 13

1400 = 2,0 700

Selecionar o grfico correspondente a CV = 1,2

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Figura 18 - Diagrama para CV = 1,2 e Zmin = (0,05K; 0,20m). (Fonte: CAMPOS; 1990).

Percentual utilizado = 42% Percentual evaporado = 16% Percentual sangrado = 42% Volume anual regularizado = 0,42 x 700 hm3 = 294 hm3.

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