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CLARO! Jogo Junho/2016

Claro! Jogo

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4ª Edição de 2016 com o tema "Jogo"

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CLARO! JogoJunho/2016

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Jogo de tabulei-

ro, de videogame, de cartas. Brincadeira

ou esporte. Estratégia, ha-bilidade ou azar. Na vida, esta-

mos sempre jogando – por diversão ou profissionalmente. No jogo encontra-

mos uma forma de fugir um pouquinho da re-alidade, mas quando estamos na realidade, não é tão fácil fugir do jogo.

É fácil entender: O despertador toca. Você foi dormir tarde e não está muito disposto a ir ao tra-balho. É hora de tomar a primeira decisão do dia: você busca forças no seu âmago e vai à luta, ou fica deitado e depois pensa numa desculpa pro seu chefe? Lembre-se: você já disse que estava do-ente na semana passada. E, na anterior, que a tia Gertrudes - “tadinha, gostava tanto dela” - mor-reu do coração. Veja só, antes mesmo de levantar da cama, você já começa a jogar: com as possibi-lidades, as consequências e a definição dos seus próximos movimentos.

Nos simples atos de levantar ou não na hora de ir trabalhar, passando pela delicada escolha do curso na faculdade ou do jeito como você vai flertar com o seu crush, estamos a todo momento tomando decisões que podem nos levar a diferen-

Jogos da vida

arte Paula Lepinskidiagramação

Paula Mesquita

editorial

tes finais – diferentes game overs. Como em um grande jogo,

traçamos estratégias para alcançar obje-tivos, tentamos ler os outros jogadores e, às

vezes, temos que encarar uns chefões. Algumas vezes, vencemos. Muitas outras, perdemos.

É certo que perder (certamente) é mais di-fícil na vida do que em um jogo. Não temos, (in)felizmente, o poder de apagar o que já passou. Não podemos apertar uma combinação de botões e recomeçar do zero, apagando os erros. Por outro lado, é por isso mesmo que, na vida, traçamos es-tratégias o tempo todo. E é essa estratégia que nos faz jogadores de um grande jogo da vida.

Mas que jogo é esse, afinal?, pergunta o leitor ainda um pouco confuso. Para essa pergunta, não temos resposta. Cada um faz o seu. Diferente de um jogo de cartas ou de videogame, não há re-gras ou objetivos explícitos. Você quer ter dinheiro? Quer ser feliz? Famoso? Influente? Amado? Tome sua decisão, trace sua estratégia, e jogue.

Nesse percurso, você vai depender um pouco da sorte também, como em um jogo de apostas. Às vezes, vai ser preciso uma boa dose de trei-no e dedicação, como no esporte. Jogo de cintura também é sempre bom, da mesma forma que no teatro. Isso quando não for preciso ainda um pou-quinho de intuição, igual no videogame, em que você precisa descobrir o macete certo para sair de uma situação complicada.

Nesta edição do Claro!, te convidamos a jogar com a gente os mais variados tipos de jogos da vida. Das apostas à política, da sedução aos games, do re-ality show ao esporte. O jogo começou, aperte start.

texto Cesar Isoldi e

Juliana Fontoura

EXPEDIENTE ECA-USP Diretora Margarida Maria Krohling Kunsch Departamento de Jornalismo e Editoração Chefe Dennis Oliveira REDAÇÃO Professora responsável Eun Yung Park Editores de conteúdo Cesar Isoldi e Juliana Fontoura Diretora online Isabela Augusto Redes sociais Igor Truz Equipe online Guilherme Fernandes e Leonardo Milano Editora de fotografia Lana Ohtani Capa e diretora de arte Carolina Oliveira Diagramadores Paula Mesquita, Thiago Castro, Bruno Vaiano, Leonardo Dáglio, Jessica Bernando, Letícia Paiva Ilustradores Fernanda Guillen e Paula Lepinski Repórteres Matheus Pimentel, Giovanna Chencci, Roberta Vassallo, Beatriz Quesa-da, Vitória Batistoti, Vinícius Andrade, Guilherme Eler, Dimítria Coutinho, Barbara Monfrinato, Matheus Sacramento Vídeo Gabriel Margato e Leandro Bernardo Making of Giovana Belini e Juliana Meres Endereço Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A. Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900 – Telefone (11) 3091-4211

O suplemento Claro! é produzido pelos alunos do 5o semestre de graduação de Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso – Suplemento Tiragem: 8000 exemplares

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Mata- matatexto Matheus Pimentelarte Fernanda Guillendiagramação Paula Mesquita

Diariamente, alguns distintos senhores e senhoras se reúnem para a já tradicional partida de do-minó na Praça dos Três Poderes, pelas bandas de Brasília. A jogatina tem uma só diferença para as das demais praças e calçadas pelo país: é a única televisionada, com milhões de espectadores a observar cada pedra nova disposta sobre a mesa. Já tem gente dizendo que o espor-te vai desbancar o futebol como a maior paixão nacional.

Vão marcando o placar geral e a coisa parece feia para D, sua dupla titular faz tempo que não aparece na praça. Antes líder do ranking, D ainda não aceita os membros de sua equipe que pularam para o lado de T, que não anda exatamente bem das pernas. J até inventou de mexer com os amigos do arquirrival C, que é do tipo de jogador que não larga o osso.

No fim do dia, quando a partida acaba, nem precisam dizer “amanhã no mesmo horário?”, porque bicho velho de dominó sabe que a revan-che está sempre marcada para o outro dia. Cada um volta para casa e os jornalistas passam a reportar os bastidores das equipes, treinos, contratações e, mais frequente por esses tempos, rescisões de contrato.

Há quem lembre que, em pou-cos meses, começam as partidas municipais. Mas aí, negócios à parte. Tem gente que, em Brasília, jamais ia jogar junto. O time de D anda di-zendo que vai se afastar da trupe de T nos municípios, mas nem tanto, vão “examinar caso a caso”. Ora, é paixão nacional, o importante é so-mar vitórias pelo país. Lá na capital o negócio segue acirrado e sem data para terminar.

D manuseia sua pilha de fichas, que já foi menor, e aguarda uma mão boa para dar all-in. Exilado, C parece ter tirado a carta-objetivo “Destruir totalmente os exércitos vermelhos”, mas há umas boas ro-dadas só toca nos dados amarelos. Jogando ao lado do filho pequeno, T segue numa sequência de “volte duas casas”. J aposta que foi o Sr. Marinho no escritório, só lhe resta descobrir como. Olho no peões.

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Par-te de sua vida mudou quando começou a namorar. Do rock, André Kopte passou ao sertanejo. Os estilos mu-sicais se juntaram em sua vida, “não deixei de ouvir rock, só incluí coisas a mais”. A música com a pegada mais pe-sada veio da convivência com o irmão mais velho, uma de suas principais com-panhias de balada na época de solteiro. Essa influência não se deu só no rock, mas no esporte também.

Sua vida de atleta começou aos três anos. Primo e irmão já nadavam, por que não começar também? A decisão veio da mãe, que aceitou a ideia do treina-dor dos meninos e colocou o filho mais novo para nadar. O sucesso chegou na adolescência. Após 10 anos, quantificar o número de medalhas e campeonatos é difícil, mas os mais emblemáticos ainda ficam na memória, como em 2009, em um campeonato americano na Colômbia, quando trouxe para casa uma medalha de bronze e uma prata.

Mas nada aconteceu em sua vida sem esforço. Os treinos são regulares, assim como a vontade de vencer. De segunda a sábado, 2h30 dos seus dias são dedicados à natação. Além do esporte, é formado

em Rádio e

TV pela Cásper Líbero, porém, aos 25

anos, ainda não arrumou um emprego na sua área de atuação. Enquanto isso, dedica seu tempo às aulas de inglês e aos treinos, principalmente. Seus pais o ajudam a se manter no esporte e tam-bém em sua rotina diária.

Portador da Síndrome de Roberts – doença genética que leva a uma má formação física e possível deficiência mental – André é um caso raro. Mesmo tendo nascido sem os dois braços, ele se diz uma pessoa com muita sorte, já que, de acordo com a literatura médica, a síndrome poderia ter se manifestado de maneira muito mais grave, afetando não só o seu corpo físico, mas também suas capacidades neurológicas.

As dificuldades físicas, no entanto, sempre foram encaradas de uma forma natural. Na natação, é possível ser um vencedor usando a cabeça e o tronco. No videogame, os pés. Para escrever, uma mesa adaptada. Nas baladas, os amigos. Os obstáculos do paratleta são vencidos dia após dia, como qualquer outra pes-soa. E o esporte é um dos fatores que

m a i s o ajudam em

sua trajetória. Além de ter proporcionado reconhecimento e momentos de felicidade, a natação também colabora para manter uma vida saudável. “A natação me ajuda não só na saúde, mas no social também, fazer mais amigos, ser mais desinibido. Além disso, ajuda a emagrecer, ter mais foco nas coisas da vida”.

Na hora de nadar, nenhum apoio é necessário. Ele diz que a maior dificuldade é sair da piscina, quando o seu treinador o auxilia. Nas competições, suas categorias são S3, SM2 e SD2, mas ele conta que a melhor maneira é o nado de borboleta e não nada de costas, só de frente.

Hoje, nada pela ADD (Associação Desportiva para Deficientes), depois de ter passado por diversos outros lugares. O próximo grande campeonato que ele irá disputar será em São Paulo, na etapa nacional do Circuito Caixa Brasil Paralím-pico, em junho. Mesmo com os 10 anos no esporte e uma grande experiência na área, André não fará parte dos Jogos Pa-ralímpicos do Rio 2016. Não por falta de vontade, mas pela necessidade de uma classificação internacional que não pos-sui. Mas isso não é problema, a vida se-gue e que venham novos desafios!

Mais do que nadar texto Giovanna Chencciarte e diagramação Thiago Castrofoto Bob Lira

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Olho no lance

A bola vai rolando no gramado, os jogadores atrás. Três lutam pela posse, outros dois mais distantes se preparam para recebê-la. O outro time intercep-ta. Na arquibancada, a torcida levanta e grita. O barulho, inversamente propor-cional à distância entre a bola e o gol, é cada vez maior. Em meio ao alvoroço, um único integrante com a vestimenta de cor diferente e apito no pescoço cor-re para observar o lance. O atacante se prepara para chutar, mas é derrubado. O juiz apita. “Ei, juiz...”

Dentro de um salão, parado, olhando para a bolinha que saltita freneticamen-te de um lado para o outro até que um dos jogadores golpeia o ar com a raque-te e o jogo para. Tem o dever de olhar fixamente a repetição até que chegue o 11º ponto do set. Manter a atenção no tênis de mesa não é para qualquer um, afinal, não é à toa que a modalidade não é conhecida por ter torcidas alvoroça-das – ou qualquer torcida. No xadrez é a mesma coisa, mas o inconveniente é

outro. Na maior parte do tempo, parece que nada acontece. Podem passar vários minutos até que uma peça seja movi-mentada no tabuleiro.

Conhecedor do jogo melhor que nin-guém, corre tanto quanto o jogador de futebol, mantém a concentração de um atleta de tênis de mesa, mas nem um troféu almeja. Arbitrar definitivamente não está entre os ofícios de maior apelo no universo esportivo. “Me tornei árbi-tro mais por necessidade, por falta de gente que tinha ambição ou vontade de ser”, confirma um dos maiores nomes do xadrez mundial, Herman Claudius. Para ele, que já competiu nos principais cam-peonatos do mundo, a arbitragem é só mais uma das atividades relacionadas ao esporte à qual se dedica.

Ao final da coluna da página de Es-portes do Estadão em 6 de fevereiro de 99, de sua autoria, era anunciado o cur-so de arbitragem da modalidade que o próprio autor ministraria no final do mês. A coluna de xadrez, publicada todos os

sábados, chegaria ao seu fim dois anos depois, ao contrário da carreira em arbi-tragem, que ainda contaria com campeo-natos como a final do mundial, em 2005.

O convite para arbitrar geralmen-te envolve algumas viagens e dias de dedicação completa. O clima de amizade com outros árbitros é o que encora-ja Maurel Luchiari, técnico de tênis de mesa, que arbitra jogos há 20 anos. “Na viagem é só falando de tênis de mesa, sobre cada jogador. Na volta, é sempre comentando o que cada um fez e o que não fez, trocando experiências.”

A remuneração é baixa. A carga ho-rária, não. Mesmo assim, para Herman, o trabalho já foi significativo complemen-to em sua renda. “Ser jogador de xa-drez não é tao simples, as pessoas não conseguem viver só de premiação, en-tão você acaba buscando alternativas e a arbitragem é uma delas.” O primeiro a chegar no salão termina a jornada com o aperto de mão dos jogadores após a última rodada do dia. Fim de papo.

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texto Roberta Vassalloarte Fernanda Guillen e Paula Lepinskidiagramação Thiago Castro

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COISA DE GENTE

GRANDE COISA DE GENTE

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® 2016 CJE all rights reserved ® 2016 CJE all rights reserved

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A indústria dos videogames vem crescendo com tanto vigor que já ultrapassou a famosa Hollywood - em 2003, o cinema faturou US$ 19 bilhões, enquanto os games alcançaram a marca dos U$ 30 bilhões. Essa prosperidade que só cresce vem permitindo que cada vez mais fãs de jogos consigam viver do ramo.

Aos 28 anos, Cláudia Rosa Santini é jogadora profissional do popular Counter Strike (CS), jogo de tiro em primeira pessoa que fez sucesso no Brasil durante o boom das lan houses, no início dos anos 2000. Aliando faculdade, trabalho e jogo, Santini-nha, nickname pelo qual é conhecida, dedica mais da metade de seu tempo aperfeiçoando suas habili-

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.docx Beatriz QUESADA & Vitória BATISTOTI.docx Beatriz QUESADA & Vitória BATISTOTI.pdf Bruno VAIANO

Se antes os games eram vistos como la-zer para nerds, hoje eles lotam estádios em campeonatos ao redor do mundo com premiações que chegam até R$ 1 milhão

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dades no mouse e teclado de seu computador, onde cada letra tem uma função diferente. Enquanto o botão esquerdo do mouse atira, a tecla ‘E’ arma e desarma bom-bas. Entre terroristas e antiter-roristas, Santininha não tem pre-ferência. Ela gosta mesmo é de ser a capitã de sua equipe, atu-almente o More Than You (MTY), sendo responsável pela criação e desenvolvimento de estratégias.

Ela já gostava de jogos des-de criança - lembra com orgulho de quando zerou o game 007 – Golden Eye para Nintendo 64. Mas a paixão mesmo veio quando ela conheceu o CS, aos 13 anos.

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jogadora profissional

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Por influência do irmão, passa-va horas na lan house jogando e não demorou muito pra inva-dir o quarto e computador dele para se aventurar em partidas contra BOT (modo no qual o oponente é a própria máquina). Conciliando os estudos com de-dicação e treinamento, de re-pente o profissionalismo surgiu. “Não foi algo que eu escolhi: só aconteceu”, pontua a jogadora, que precisou trancar a faculda-de várias vezes por conta dos compromissos da nova rotina.

França, Canadá, EUA, Portu-gal e Alemanha – ela já esteve em todos estes países por conta de eventos de e-sports (esportes eletrônicos). Apesar do talento, o maior prêmio que ganhou foi de R$ 5 mil. Além de não conseguir se manter apenas como pro--player, Santininha lida diaria-mente com comentários sexistas de telespectadores e jogadores profissionais. No universo pre-dominantemente masculino dos games, muitos são machistas e arrogantes: “Dizem que não deve haver investimento no cenário feminino”, conta.

Do outro lado Quem quer desenvolver seu próprio jogo também passa por dificuldades de adequação no mercado. O crescimento do es-paço para os games é o que atrai muitas pessoas para o concorri-do e instável mercado de jogos independentes, os indie games.

Igor Edington, por exemplo, só começou a se dedicar full time à sua paixão pelos jogos depois de dez anos de carteira assinada. Foi buscar contatos de trabalho em eventos de desen-volvedores como o BIG Festival (Brazil’s Independent Games Festival), o maior evento de jo-gos independentes da América

Latina e o Spin, encontro mensal entre entusiastas da área.

Durante o BIG de 2015, Igor pôde conhecer o trabalho de Lit-soh – conhecido fora do mundo dos games como João Navarro. “Sabe quando você vê de canto de olho que uma pessoa tá te ro-deando, mas ela ainda não che-gou junto? Parecia um stalker”, conta o designer aos risos sobre a falta de jeito de Igor ao tentar se aproximar dele. O time ficou completo quando conheceram no Spin o músico Thiago Schiefer, que trabalha com trilha sonora de jogos há dois anos.

Inspirados em uma mistura dos já consolidados Fruit Ninja e Zombie Juice, os três desen-volveram um jogo para mobile chamado Drop Dead Twice. O nome é uma gíria do estilo ro-

queiro dos anos 50 que significa “morra duas vezes” – um con-ceito que se encaixa bem com a ideia de matar zumbis.

Tiveram a ideia de aplicar no projeto o estilo roqueiro dos anos 50, bastante associado à figura do cantor Elvis Presley (que in-clusive faz uma aparição no jogo como morto-vivo).

Já a pixel art foi uma esco-lha nostálgica: “Gostamos muito da geração old school dos ga-mes”, explica Litsoh. O jogo para android foi desenvolvido em me-nos de um ano através de chats, compartilhamentos de tela e reuniões semanais.

Apesar da competitividade que existe no ramo de desen-volvimento de jogos, os três amigos têm como meta viver de games, objetivo que está mais

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próximo com a oportunidade de expôr o jogo no BIG Festival deste ano. “Isso é muito legal porque o Drop Dead Twice surgiu originalmente no mes-mo festival”, conta Thiago.

Já Santininha ainda percor-re um longo caminho para al-cançar seu sonho, sempre com uma mão no teclado e outra no mouse pronta para detonar as ameaças que aparecem em seu jogo. “No CS é como se eu estivesse em casa. É emoção, conforto, dedicação; é uma das únicas coisas que eu sei o que tô fazendo da minha vida”, conta.

O que motiva a jogadora, a equipe do Drop Dead Twice, e tantos outros que se aventu-ram na indústria é o amor in-condicional pelos videogames. E você, está pronto para jogar?

Foi Litsoh o responsável por transformar a equipe do Drop Dead Twice em pixels

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Amor, do grego strategiatexto Vinicius Andradefoto e diagramação Leonardo Dáglio

Se você curtir fotos antigas da outra pessoa, interesse você tem. A opinião é de Ailton Amélio da Silva, psicólogo clíni-co e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo durante 30 anos. Autor do livro Relacionamento Amoroso, publicado em 2009 pela edi-tora Publifolha, Amélio faz questão de emendar: “Mas o ato pode ter diferentes motivações. Por isso é que as coisas são ambíguas”. Em entrevista ao Claro!, o psicólogo explicou a relação entre amor e jogo, falando a respeito da opção por encarar a vida amorosa como uma área repleta de objetivos, estratégias e terri-tórios a serem conquistados.

CLARO!: O amor é um jogo? O que une essas duas coisas?

AILTON AMELIO: O aspecto jogo não deve predominar no amor. O jogo é uma analogia, mas não é o que as pessoas devem estar sentindo em suas práti-cas amorosas, porque, se encaro como jogo, deixo em segundo plano o que penso de verdade. Assim, deixo-me guiar pela estratégia - e não por sen-timentos genuínos. O amor é um jogo preparado pela natureza, mas não pode ser algo deliberado, porque superficia-

liza, esvazia e torna inseguro o que se passa entre as pessoas.

No mundo virtual, essa relação en-tre amor e jogo se intensifica?

Acredito que sim. Como há muita gente, as coisas são voláteis e podem ser facilmente descartadas, fazendo com que as pessoas maximizem um pouco o aspecto do jogo. Ali, você está pisando em ovos, usando todos os re-cursos possíveis.

O que pode justificar a opção por tratar o amor como um jogo?

Bem, tem gente que encara como jogo, mas tem gente que não suporta essa ideia, achando isso desagradável e inverídico. As pessoas são heterogêne-as. Nesses meios, em aplicativos e na internet, as coisas geralmente estão em um nível superficial. E, nesse nível, você não está sentindo ou pensando muita coisa. Você está trabalhando por resultados. Para algumas pessoas, isso é admissível como um estágio inicial, em direção a um outro patamar. As pessoas esperam que o outro se com-porte de base mais verídica.

O fato de alguém ter curtido deter-minada foto antiga de uma outra pessoa,

sem que haja, ali, interesse amoroso, não pode criar alguma situação embara-çosa, por exemplo?

Se você curtir fotos antigas, in-teresse você tem. Mas o ato pode ter diferentes motivações. Por isso que as coisas são ambíguas. Agora, se você vê que há sempre uma motivação do mesmo tipo presente, aí temos o que chamamos de convergência. O flerte é uma progressão de pistas ambíguas para algo mais claro da natureza do meu interesse. Se corro demais, aper-to o outro. Se corro de menos, a coisa perde a natureza amorosa.

É possível jogar esse jogo sem fugir dessas regras?

Não, porque isso é comunicação. É como perguntar se posso fazer isso sem me comunicar: não tem jeito. Há outros caminhos, porque são vários ti-pos de amor. Tem amor que, desde cara, tem natureza romântica e sexual. E tem outros que passam pela amizade. Esse jogo tem diferentes regras, o que com-plica ainda mais a coisa. Por isso que não dá para escrever um livro sobre “Como conquistar qualquer pessoa” - quem fala isso é um charlatão.

SE A PESSOA...

...é sinal de que HÁ INTERESSE!

Responde as suas mensagens

rapidamente

Responde a tudo o que você mencionou na

mensagem

SE A PESSOA...

...é sinal de que HÁ INTERESSE!

Curte suas fotos antigas

Concorda com tudo o que você diz, tentando criar uma base positiva

SE A PESSOA...

...é sinal de que HÁ INTERESSE!

Responde mais do que o mínimo

necessário para cada pergunta, fornecendo informações gratuitas

SE A PESSOA...

...é sinal de que HÁ INTERESSE!

É quem toma a iniciativa

Tenta estabelecer um clima romântico e sexual, não apenas

amistoso

SE A PESSOA...

...é sinal de que HÁ INTERESSE!

Curte tudo o que você coloca nas redes sociais

Tenta fazer a conversa progredir para algo na

vida real

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Azarado tem sete letras

texto Guilherme Elerfoto e diagramação Leonardo Dáglio

O sexto páreo da noite tinha como palco o Hipódromo da Gávea, na capital carioca, mas era atentamente acompa-nhado a centenas de quilômetros por um inquieto grupo de vinte e poucos homens. Senhores de idade, todos eles, impreterivelmente. Dispostos em me-sas, formavam uma telha de esparsos fios grisalhos logo abaixo das duas te-vês, posicionadas no alto da parede. Os olhos, vidrados. Conhecedores do jogo, debruçavam-se a analisar os números e estatísticas que se revezavam em faixas coloridas nas telas.

Canetas e tabelas nas mãos. Re-cibos, planilhas. Estavam ali para apostar. “A partir de três reais já dá para jogar”, me explica um deles. “Se apostar agora no número cinco e ele vencer, cê ganha R$ 170”. O homem, funcionário do local durante o dia, não tinha muita paciência para meus ques-tionamentos amadores. Agora à noite, estava lá de novo também para ten-tar a sorte. Com o suntuoso salão de

eventos do Jockey Club de São Paulo de pano de fundo, reclamava da falta de habilidade de um dos jóqueis e da pouca sorte no último páreo.

Bastante amplo e todo na cor mar-fim, o espaço contava com dezenas de bilheterias e atendentes mobilizados para computar as apostas. As conver-sas sobre o jogo e o clima de descon-tração eram interrompidos só no mo-mento em que os animais começavam a ser alinhados para o início da corrida. Xaquira Thunder, Garota Levada, Futu-rosa, Hora Fatal, e outros tantos. Cada nome exótico trazia consigo certa pro-babilidade de vitória e uma possível re-compensa para o sortudo da vez.

“Largou mal de novo, é brincadei-ra?”, se irritava um no começo da corri-da. Mais para o fim, gritos ritmados pas-savam a preencher totalmente o salão. A torcida era efusiva. Dorinha Bacana, com uma impressionante arrancada na última reta, foi a primeira a cumprir o percurso de 1.300 m, sob lamentos e comemora-ções. “Só vou fazer mais essa de R$ 50 e aí eu paro”, pontua desacreditado um outro, que acompanhava ao lado.

Resolvi que entraria no sétimo páreo. Só pra ver como era. O cavalo escolhido foi o de número três. Assim, sem motivo ou simbologia nenhuma. Na verdade, a atendente confundira a minha intenção de fazer a aposta mí-nima, e tinha entendido “três” como o número escolhido, e não como a quan-tidade de reais que pretendia por no jogo. Aniche, o nome da égua que de-fenderia meus três contos.

Exatamente antes do início da cor-rida, uma pane elétrica, fruto do grande volume de chuva, deixa tudo no escu-ro. A frustração geral era agora minha também. A energia só volta quando Heart-free, o sete, era anunciado como primeiro lugar. Aniche tinha sido a se-gunda colocada. Ainda pude acompanhar o oitavo páreo, agora sim vencido, para minha descrença, pelo animal que leva-va o número três no lombo. Fora eu ex-periente, teria esperado mais uma úni-ca rodada e saído de lá com o valor da aposta duplicado trinta ou mais vezes. Ou não. A sorte tem dessas.

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Tipo a Dona Geralda, ex-BBB 16, que queria conhecer o Bial, ou o Ronan, tam-bém da última edição, que disse ter “um plano extremamente ambicioso” para o seu futuro. Vale de tudo!

Você, reles mortal que não cha-mou a atenção de um olheiro por aí, tem que se inscrever pelo site. E eles vão te perguntar tudo! Desde seu peso até seu passado. São 81 per-guntas que esmiúçam seu trabalho, orientação sexual, relacionamento com a família, religião, manias e tudo o mais. Tem algo sobre você ou sua vida que você nunca contou para ninguém, mas queira compartilhar conosco? Mas

Quer entrar no BBB?texto Diimítria Coutinhoarte Fernanda Guillendiagramação Jessica Bernardo

Quem sabe você não dá a sorte de esbarrar com um olheiro e seja o que ele está procurando? Ou o olheiro virtu-al pode ficar encantado com suas redes sociais. Sim, os caras têm um perfil que vasculha as redes alheias. Você pode es-tar sendo stalkeado enquanto lê isso.

Tenha bons motivos para querer entrar na casa

...ou abra sua vida. Para um completo estranho.

Mande fotos e vídeos

Seja psicologicamente _____equilibrado

Persista...

...ou nao.

é claro, vou contar justamente pra você, equipe global!

De três a dez fotos e um vídeo. Vale dançar, falar sobre a vida, cantar, imitar um famoso… o que quiser! Só cuidado pra não soltar na rede e virar webcelebrida-de antes de virar BBB. Mas se acontecer, é aquele ditado: vamo fazer o quê?

Finalmente você foi chamado pra primeira seletiva! Nela, você provavel-mente vai participar de dinâmicas, nas quais vão te chamar por um número e não por seu nome. Depois, preenche uma ficha com quase cem questões que detalham (mais ainda) sua vida, além de uma entrevista em vídeo e por fim, ufa!, mais uma entrevista.

Pelo menos foi assim que aconteceu com o Leonardo Vinhas, jornalista que foi chamado para participar de uma seletiva, e contou em seu blog.

Mas essa é só a primeira, tá? Se conseguir sobreviver, você passa por mais algumas fases.

Eu não disse que a equipe do BBB ia querer saber de tudo sobre você?

Depois de passar por todas as sele-tivas, você ainda passa por uma fase que avalia seu equilíbrio psicológico. Regina Soares Navarro, que avaliou candidatos de várias edições do BBB, explica que a pessoa não precisa ser certinha, mas tem que ter um suporte emocional. A ideia é perceber se a pessoa tem maturidade pra não desistir do reality cedo demais. Até porque ficar confinado mexe com o psico-lógico de qualquer um. “O que acontece lá dentro é que os sentimentos ficam bem mais intensos, a situação te leva a isso”, conta Munik, vencedora do BBB 16.

Ou seja, você só precisa provar que não vai dar a louca lá dentro, tá?

“A inscrição já esta feita. O ‘não’ eu já tenho, o que custa correr atrás do ‘sim’, não é mesmo?” - Fernando Baptista, se inscreve todos os anos no BBB desde 2011 e ainda está no páreo para o BBB 17.

“Acho que se eles quiserem agora, tem que vir pedir minha mão em casa-mento para os meus pais” - Sergio Abib, inscrito de 2009 a 2014. Largou mão.

Passe pelas selecoes

Carregue um pe de coelho...

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Dois times rivais, torcida, juiz, apito, hino, uniforme. Poderia bem ser um jogo de futebol, se não parecesse também um circo, peça de comédia ou show de palhaços. Aqui os jogadores têm nariz vermelho e um objetivo comum: criar, no improviso, as cenas preferidas da plateia.

Em “Jogando no Quintal”, espetáculo criado em 2001, é o público quem define os temas a serem encenados. “Chulé”, pede alguém. “Eva e Adão”. Ou ainda: “Minha mulher me traiu com o Chico Buarque”.

Tudo é encenado por palhaços huma-nizados, seguindo desafios diversos apita-dos pelo juiz. Definir os vencedores é, mais uma vez, para o público. Medalha: uma torta na cara de quem venceu – e também de quem perdeu. “No final, a gente passa a rasteira nessa competitividade”, brinca César Gouveia (palhaço Cizar Parker), ator, diretor e criador da Cia do Quintal.

A ideia surgiu entre 1990 e 2000, quando César e Marcio Ballas trabalhavam como Doutores na Alegria em hospitais e buscavam uma nova linguagem que alias-se o improviso ao palhaço, personagem que

nos convida a rir de nosso próprio ridículo. O que começou como pelada no

quintal de casa acabou indo para está-dios maiores e influenciando diversos grupos de improviso desde então, como os Barbixas e o Z.É. Zenas Emprovisadas. Quinze anos de atividade mostraram que brincar é coisa séria: é preciso uma es-trutura teatral bem produzida para que, a partir dela, se crie livremente.

Marcio, além de ator e apresentador de TV, hoje também dá aulas na Casa do Humor, espaço com o seguinte slogan na porta: “Improviso.Palhaço.StandUp.eo-quefor”. Para os iniciantes no improviso, ele começa resgatando a espontaneidade e a criatividade, até chegar à reação ime-diata e construtiva a qualquer proposta cênica. “Você responde rápido e acrescen-ta elementos à proposta”, orienta ele.

Como no futebol, a questão é trei-no: o ator pratica suas ferramentas de agilidade, do corpo à palavra. Um exem-plo é o “goleirinho”, exercício clássico da improvisação. Nele, o “goleiro” espera o chute de um “atacante”, a toda e qual-

texto Diimítria Coutinhoarte Fernanda Guillendiagramação Jessica Bernardo

Vai que e sua texto Barbara Monfrinatoarte Paula Lepinski foto Lana Ohtanidiagramação Jessica Bernardo

quer direção. “Ô tio, posso comer mais um biscoito?”, propõe um colega. “Mas Júlio, sua mãe disse que não podia”, responde o outro. Aqui, o bom goleiro é aquele que diz “sim”: deixa a bola entrar e entra junto, sem pensamento, sem juízo. “Não é defender sua ideia, mas comparti-lhar”, acredita César, também professor.

A repórter resolve então vestir a ca-misa e pede uma rodada de improvisação. Nosso tema, claro: “jogo”. César dita as regras, num desafio já apresentado tan-tas vezes ao vivo: desenvolver uma his-tória em que cada frase comece seguindo as letras do alfabeto. Se eu falo “alô”, ele diz “bom dia”, então pergunto “como vai?” e assim por diante. César começa.

- Adelaide, o que você quer jogar?- Boliche!- Caramba, que saudade de jogar

boliche.- D...elícia, vamos jogar então.- Espero que a gente aproveite.E é hora do F da repórter. Ela vas-

culha palavras em seu dicionário mental.- F...f...odeu...

Cla

roI

11Ju

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2016

Page 12: Claro! Jogo

Os dois disparam em direção ao pique, mas Mário chega primeiro. Ele tinha duas pre-ocupações: uma delas era bater o nome dos colegas na parede de sua casa. “Um dois três Élder! Ufa, peguei o mais rápido e o mais es-perto. Faltam só dois.”

Doce engano. A segunda preocupação do menino aparece na janela de casa: “Máriooo! Vem tomar banho! Já tá ficando escuro, filho.” “Deixa só acabar essa rodada…” “Mário César! Já pra casa. E não feche essa cara, se não…”

A ameaça foi suficiente. Game Over, Mário. “Você tem que entender que a vida não é só diversão, filho… Mas eu te amo, viu?”

“Gira a roleta aí, Mário. Sua vez.” A rua deu lugar à mesa central da sala, enquanto a correria foi substituída pelo tabuleiro. “Seis! Um, dois, três, quatro, cinco, seis. Dia do ca-samento! Receba os presentes”. Nessa fase da vida, puberdade é piada pronta. “Ih, o Mário se casou! Finalmente vai tirar esse bigode?” “Fica quieto, Élder.” “Como você quer que a Joana olhe para você com essa taturana na cara?”. Vermelho como um pimentão, o adolescente explodiu. Jogou o tabuleiro para cima, espa-lhou todas as peças e acabou com o jogo.

De castigo, o esquentadinho recebeu mais um capítulo do tutorial da vida. “Pai, eles ficam zoando dos meus pelos!” “É uma fase, filho... Já pensou se explodir desse jeito sempre? Você vai aprender a superar. ” Game Over, Mário.

“Amor, que inferno. Amanhã tem prova de estatística. Tudo que eu sei dessa maté-ria é que estou 13/8”. Esse número repre-sentava suas matanças e suas mortes no Counter Strike. Enquanto Mário metralhava os problemas, Joana tentava pela última vez mudar o jeito do rapaz.

“Você está viciado! Como vai se tornar um engenheiro se só pensa nisso?” escre-veu a jovem no MSN. “Faz parte, Jô. A vida é um jogo. Só estou treinando para ela”, dis-farçou. “Eu desisto... Vou embora... Por que você é assim? Acho que não vamos fun-cionar juntos… Preciso de um tempo para pensar…” A tradicional frase que antecede o fim. Game Over, Mário.

Era fim de expediente. O senhor Mário César foi chamado no escritório do temido chefão. “Dizem que ninguém nunca con-seguiu passar dessa sala sem uma notí-cia ruim”, provocou o mestre de obras que sentava ao seu lado. “Estou acostumado a desafios”, retrucou, com medo.

O lugar era escuro e cheirava a fe-chado. A voz de trovão anunciou: “Estamos passando por momentos difíceis e precisa-mos fazer uns cortes. É com pesar que digo isso, mas o senhor está sendo desligado.” O homem quase chutou a mesa, mas conse-guiu se controlar. Próximo passo, RH. Pró-xima fase, desemprego. Game Over, Mário. “E aí, vamos recomeçar?”, pergunta Joana.

.doc Matheus SACRAMENTO

GAME OVER clique aqui para recomeçar

.pdf Letícia PAIVA