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 1 Anais do XIX Seminário de Iniciação Cientíca M   Ú      S    I      C    A   M.B. Póvoas & H.D. Gonçalves Classicação das habilidades motoras na ação pianística 1 Helena Dalbosco Gonçalves 2 Profª. Drª. Maria Bernardete Castelan Póvoas 3 Resumo: Este estudo fez parte do projeto de pesquisa Ação Pianística e Coordenação Mo- tora: Relações Interdisciplinares. O objetivo principal desta parte da pesquisa foi discutir sobre a classicação das habilidades motoras apresentada pelos autores Richard Magill (2001) e Richard Schmidt (2001), relacionando argumentos destes autores com aspectos da técnica pianística. Entende-se que a habilidade motora deve ser desenvolvida através de uma prática consciente que objetive a produção efetiva do movimento com o máximo de certeza, menor dispêndio de energia e em menor tempo. Foram desenvolvidas estratégias de estudo baseados em pressupostos básicos da ergonomia e cinesiologia com o objetivo desenvolver uma prática mais eciente ao piano. Palavras-chave: Ação pianística – Coordenação motora – Habilidades motoras 1. Introdução As habilidades podem ser classicadas tendo em vista dimensões ou de acordo com características proeminentes. Matthay (1964) se refere à técnica como uma questão relacio - nada mais a uma coordenação consciente do que a uma mecânica automatizada dos dedos. No decorrer da construção técnico-musical do aprendizado pianístico, há diversas situações em que o pianista enfrenta novas situações que causam obstáculos que estão relacionados com desajustes mecânicos, como por exemplo, o uso de movimentos desnecessários. Poucos conseguem alcançar um nível de excelência na técnica pianística, principalmen - te com relação ao domínio da técnica paralela - mente à sonoridade expressa em cada toque. O estudo dos aspectos relacionados às habili- dades motoras envolvidos na execução pode trazer maior segurança ao trabalho e interpre - tação musical, através de movimentos mais objetivos com um menor dispêndio de energia. No processo de aprendizagem estão inclu- ídos estudos como: independência dos dedos, mapeamento especíco de cada movimento e exercícios direcionados para uma determina- da nalidade. Alcançar uma técnica apurada é um dos objetivos que nós músicos buscamos incessantemente juntamente com a qualidade sonora que é o objetivo de todos os instrumen- tistas. 2. Métodos Inicialmente, foi realizado um levantamen- to bibliográco relacionado com as habilidades motoras, assim como na literatura especíca do piano. Deste material levantado surgiram a leitura e reexão dos temas pesquisados que, posteriormente, foram debatidos nas reuniões semanais entre o grupo de pesquisa. O estudo foi desenvolvido sob orientação de materiais importantes especícos sobre ha - bilidades motoras e classicação das habilida- des motoras, procurando entender melhor o que compõe cada situação músico-instrumen - 1  Vinculado ao Projeto de Pesquisa Ação Pianístic a e Coordenação Motora: Relações Inte rdisciplinares, desenvolvido no CEART/UDESC. 2  Acadêmica do Curso de Bacharelado em Piano – CEART/UDESC, bolsista de iniciação cientíca do PROBIC/UDESC. 3  Orientadora, Professora do Departamento de Música - CEART – email: [email protected]

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classificação das habilidades motoras

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  • 1Anais do XIX Seminrio de Iniciao Cientfica

    MSICAM.B. Pvoas & H.D. Gonalves

    Classificao das habilidades motoras na ao pianstica1Helena Dalbosco Gonalves2

    Prof. Dr. Maria Bernardete Castelan Pvoas3

    Resumo: Este estudo fez parte do projeto de pesquisa Ao Pianstica e Coordenao Mo-tora: Relaes Interdisciplinares. O objetivo principal desta parte da pesquisa foi discutir sobre a classificao das habilidades motoras apresentada pelos autores Richard Magill (2001) e Richard Schmidt (2001), relacionando argumentos destes autores com aspectos da tcnica pianstica. Entende-se que a habilidade motora deve ser desenvolvida atravs de uma prtica consciente que objetive a produo efetiva do movimento com o mximo de certeza, menor dispndio de energia e em menor tempo. Foram desenvolvidas estratgias de estudo baseados em pressupostos bsicos da ergonomia e cinesiologia com o objetivo desenvolver uma prtica mais eficiente ao piano.

    Palavras-chave: Ao pianstica Coordenao motora Habilidades motoras

    1. Introduo

    As habilidades podem ser classificadas tendo em vista dimenses ou de acordo com caractersticas proeminentes. Matthay (1964) se refere tcnica como uma questo relacio-nada mais a uma coordenao consciente do que a uma mecnica automatizada dos dedos. No decorrer da construo tcnico-musical do aprendizado pianstico, h diversas situaes em que o pianista enfrenta novas situaes que causam obstculos que esto relacionados com desajustes mecnicos, como por exemplo, o uso de movimentos desnecessrios.

    Poucos conseguem alcanar um nvel de excelncia na tcnica pianstica, principalmen-te com relao ao domnio da tcnica paralela-mente sonoridade expressa em cada toque. O estudo dos aspectos relacionados s habili-dades motoras envolvidos na execuo pode trazer maior segurana ao trabalho e interpre-tao musical, atravs de movimentos mais objetivos com um menor dispndio de energia.

    No processo de aprendizagem esto inclu-dos estudos como: independncia dos dedos, mapeamento especfico de cada movimento e exerccios direcionados para uma determina-da finalidade. Alcanar uma tcnica apurada um dos objetivos que ns msicos buscamos incessantemente juntamente com a qualidade sonora que o objetivo de todos os instrumen-tistas.

    2. Mtodos

    Inicialmente, foi realizado um levantamen-to bibliogrfico relacionado com as habilidades motoras, assim como na literatura especfica do piano. Deste material levantado surgiram a leitura e reflexo dos temas pesquisados que, posteriormente, foram debatidos nas reunies semanais entre o grupo de pesquisa.

    O estudo foi desenvolvido sob orientao de materiais importantes especficos sobre ha-bilidades motoras e classificao das habilida-des motoras, procurando entender melhor o que compe cada situao msico-instrumen-

    1 Vinculado ao Projeto de Pesquisa Ao Pianstica e Coordenao Motora: Relaes Interdisciplinares, desenvolvido no CEART/UDESC.2 Acadmica do Curso de Bacharelado em Piano CEART/UDESC, bolsista de iniciao cientfica do PROBIC/UDESC.

    3 Orientadora, Professora do Departamento de Msica - CEART email: [email protected]

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    tal, auxiliando na construo do processo de criao do movimento relacionado prtica instrumental necessria.

    Atravs dos pressupostos da tcnica pia-nstica e assuntos de reas como ergonomia, cinesiologia e biomecnica, foi possvel aplicar determinados conceitos realidade prtica do estudo, que podem ser adaptados utilizao de membros responsveis por movimentos en-volvidos na ao pianstica, contribuindo no aprimoramento e maior eficcia do estudo.

    Segundo Pvoas & Vachtchuk (2007), como auxlio na compreenso e racionalizao do mo-vimento, em funo do aperfeioamento na exe-cuo musical, destaca-se o estudo sobre apren-dizagem motora e sobre conceitos relacionados a este campo, tais como: classificao de habilida-des motoras e processos de aprendizagem.

    3. Discusso

    Segundo Magill (2000), quando pratica-mos uma ao, como por exemplo, tocar piano, utilizamos uma ou mais habilidade, chamadas de habilidades motoras. Dentro dessas, exis-tem classificaes estabelecidas em categorias amplas. As vantagens de se classificar as habi-lidades que podemos estabelecer princpios sobre como realizar e aprender as habilidades motoras.Estas visam a um objetivo determina-do. A frase uma habilidade que exige prti-ca, ouvida quando relacionada ao ato de to-car piano. A Habilidade em questo inclui uma habilidade motora, porque de fato uma ha-bilidade que exige movimentos voluntrios do corpo e dos membros para atingir o objetivo.

    Uma ao disparada por um est-mulo e seguida por conseqncias prazerosas ou recompensadoras tende a se repetir quando o estmulo surgir novamente; uma ao que seguida por conseqncias no prazerosas ou punitivas tende a no ser repetidas. Thorndike (1927) apud Schmidt e Wrisberg (2001, p. 277).

    Segundo Silva (2007), esse reforo positi-vo pode ser transmitido de forma no verbal, por exemplo: uma expresso facial de apro-vao aps o trmino de um trecho difcil. A comunicao torna-se mais efetiva quando a mensagem transmitida envolvendo elemen-tos verbais em conjunto com elementos visuais, valendo tambm para a mensagem com finali-dade corretiva.

    Trs caractersticas so utilizadas para classificar as habilidades: (1) a forma de como o movimento organizado, (2) a importncia relativa dos elementos motores e cognitivos, e (3) o nvel da previsibilidade ambiental en-volvendo a execuo da habilidade. Existem aproximadamente em geral dez classificaes de habilidades, levando em considerao todos os aspectos citados anteriormente. (SCHMIDT e WRISBERG 2001)

    A Habilidade Motora Grossa consiste em usar as musculaturas de maior densidade para realizar as aes, que tem como conseqncia uma menor preciso do movimento. (MA-GILL, 2000) Ex: as habilidades de caminhar e pular. A Habilidade Motora Fina requer maior controle de msculos pequenos, especifica-mente aqueles envolvidos na coordenao dos olhos e mos, como por exemplo: desenhar a mo livre, pintar, digitar, entre outros. Embora os msculos grandes possam estar envolvidos no desempenho de uma habilidade motora fina, os msculos pequenos so os msculos primariamente envolvidos para atingir a meta da habilidade. (MAGILL, 2000)

    A Habilidade Seriada um tipo de orga-nizao da habilidade caracterizado por vrias aes discretas conectadas em uma seqncia, sendo freqentemente, a ordem da ao crucial para o sucesso da performance, ou seja, movi-mentos discretos em uma srie ou seqncia. Um exemplo deste tipo de habilidade a troca de marcha de um automvel com transmis-so manual. (MAGILL, 2000). A Habilidade discreta segundo Schmidt & Wrisberg (2001), uma tarefa de habilidade organizada de ma-neira que a ao normalmente breve em du-rao e tem incio e fim bem-definidos, como por exemplo: arremessar ou chutar uma bola. Segundo Magill 2000 esta habilidade exige um movimento diferente que tenha pontos iniciais e finais bem definidos. Ex: pressionar teclas de um piano, pressionar o pedal da embreagem. De acordo com Schmidt e Wrisberg (2001), as habilidades seriadas diferem das discretas no que diz respeito s circunstncias da produo do movimento, pois requerem um tempo mais longo, mesmo assim cada elemento do movi-mento retm um incio e um fim discretos.

    A habilidade contnua uma habilidade organizada de maneira que a ao se desdobra sem incio e fim identificveis de uma forma contnua e repetitiva, que se caracterizam por serem freqentemente repetitivas ou rtmicas por natureza, com a seqncia de aes fluin-do por vrios minutos, resumindo segundo Magill (2000) a habilidade motora contnua constituda por movimentos contnuos. Exem-

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    plos desta habilidade: nadar, correr, andar de skate e pedalar uma bicicleta.

    Os principais determinantes para uma execuo tima de uma habilidade motora devem ser o sucesso na ao e a qualidade do movimento que o executante produz. Por exemplo, um saltador de altura no atletismo sabe exatamente o que fazer (saltar sobre o sar-rafo). O desafio para esse indivduo produzir movimentos que maximizem a altura vertical. (MAGILL, 2000).

    Na habilidade cognitiva a qualidade na deciso do executante em relao ao que fazer o fator principal determinante para o sucesso. Um exemplo no jogo de xadrez: pouco im-porta se as peas so movidas rpida ou sua-vemente; o desafio decidir qual pea mover e para onde mov-la a fim de maximizar as chances de vitria. Em resumo, esta habilidade aquela que enfatiza saber o que fazer, en-quanto uma habilidade motora enfatiza, princi-palmente, a execuo correta. (MAGILL, 2000).

    A execuo de uma habilidade motora uma tentativa observvel de um indivduo para produzir uma ao voluntria. O nvel de uma prtica varia de acordo com fatores que ocor-rem em deferentes tempos, lugares e situaes, onde o executante estar com diferentes nveis de motivao, ativao muscular, nveis de fa-diga. Assim como importante que na prtica pianstica que a o ataque na execuo das notas seja feito de forma precisa, deve-se tambm pro-curar um toque que seja firme e preciso. Busca-se tambm equilibro sonoro atravs de um con-trole na dosagem de peso efetuado pelos dedos.

    O exemplo musical acima (ver Fig. 1) pos-sui diferentes configuraes no design musi-cal que requerem do instrumentista diversas habilidades motoras e diferentes padres de movimento. Podem-se observar duas con-figuraes distintas: grupos de duas (2) col-cheias ligadas na mo direita e de seis (6) col-cheias na mo esquerda. O movimento neste trecho deveria ser executado na forma mais contnua possvel (sem interrupes bruscas no movimento), procurando-se a menor traje-tria possvel entre os eventos.

    Para que no haja tenses desnecessrias na execuo, devem-se procurar os movimen-tos mais adequados dentro das configuraes encontradas dentro da obra, fazendo assim o instrumentista desenvolver uma melhor coor-denao e conseqentemente a tocar de uma forma mais confortvel.

    Chiviacowsky e Tani (1997) atentam para a importncia de se desenvolver o chamado re-foro subjetivo, onde o executante desenvolve a sensibilidade de deteco e correo de seus prprios erros, fornecendo subsdios para que continue mantendo seus nveis de resultado quanto s tarefas desempenhadas. Segundo Silva (2007), aconselhvel que desde cedo se procure desenvolver a conscincia corporal (tenso-relaxamento), atravs de exerccios de respirao e alongamento, assim como de fle-xibilidade dos segmentos mais envolvidos na execuo pianstica: braos, mos e dedos.

    4. Concluses

    Ao final da pesquisa baseada em mate-riais de Magill (2000) e Schmidt (2001), pode-se entender que uma habilidade pode ser vista a partir de uma perspectiva da tarefa e classifi-cada de acordo com dimenses tais como: a organizao da tarefa, a importncia relativa dos elementos motores e cognitivos e o nvel de previsibilidade ambiental. Compreende-se tambm a composio de cada situao msi-co-instrumental, dando base para a elaborao do processo de criao do movimento necess-rio relacionado prtica instrumental.

    Atualmente no Brasil poucas pesquisas interdisciplinares so realizadas no contexto musical, o que mostra a necessidade de que mais pesquisas sejam feitas nesta rea. Neste trabalho pode-se notar que um melhor enten-dimento da aprendizagem motora, aplicados na prtica pianstica, possibilitam um maior entendimento e fornecem subsdios para uma melhor execuo instrumental.

    Referencial Bibliogrfico

    CHIVIACOWSKY, Suzete; TANI, Go. Efeitos da freqncia de conhecimento de resultados na apre-

    Fig. 1: Sonata para piano n1 - Sergei Prokofiev - compasso 100 102.

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    V Jornada de Iniciao Cientfica

    ndizagem de diferentes programas motores general-izados. Revista Paulista de Educao Fsica: v.1, n.11, p. 1526, 1997.

    MAGILL, Richard A. Aprendizagem Motora: Conceitos e Aplicaes. Traduo da 5 ed. Amer-icana. So Paulo: Editora Edgard Blcher, 2000.

    MATTHAY, Tobias. The visible and invisible in Pianoforte Technique. London: Oxford Univer-sity Press, 1964.

    PVOAS, Maria Bernardete C.; VACHTCHUK, Arele A.; Aprendizagem e coordenao motora: Relao Interdisciplinares para o Aperfeioamento da perfomance pianstica. Anais do XV Seminrio de Iniciao cientfica da Udesc. Florianpolis, 2007.

    SCHIMIDT, R. A.; WRISBERG, C. A. Apren-dizagem e Performance Motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2ed. Porto Alegre: Editora Artmed, 2001.

    SILVA, D. Ao Pianstica e Coordenao Mo-tora: processos de feedback e aplicao de Mtodos de Anlise. Anais do XV Seminrio de Iniciao cientfica da Udesc. Florianpolis, 2007.