Classe, estamento e partido

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    A reao conciliar, e ao mesmo tempo nacionalista, contrao universalismo do papado no desaparecimento da Idade Mediateve sua origem, em grande parte, nos interesses dos intelectuaisque desejavam ver as prebendas de seu pas reservadas paraeles e no ocupadas por estrangeiros via Roma. Afinal de

    contas, o nome natio como conceito legal para uma comunidadeorganizada encontrase primeiro nas universidades e nos conc-lios de reforma da Igreja. Naquela poca, porm, a ligaocom a lngua nacional per seno existia; esse elo, pelos motivosexpostos, especificamente moderno.

    Se acreditarmos que cmodo distinguir o sentimento na-cional como algo homogneo e especificamente parte, s o po-deremos fazer em relao a uma tendncia para o Estado autonomo. E devemos ter plena conscincia do fato de que sentimentosde solidariedade, muito heterogneos tanto na sua natureza comona origem, esto compreendidos pelos sentimentos nacionais.

    VII. Classe, Estamento, Partido

    1. O P o de r D e t e r m i n a d o Ec o n o m i c a m e n t e e a O r d e m So c i a l

    A le i ex iste quando h uma probabilidade de que a ordemseja mantida por um quadro especfico de homens que usaroa fora fsica ou psquica com a inteno de obter conformidadecom a ordem, ou de impor sanes pela sua violao. A estru-

    tura de toda ordem jurdica influi diretamente na distribuiodo poder, econmico ou qualquer outro, dentro de sua respectivacomunidade. Isso vlido para todas as ordens jurdicas e noapenas para a do Estado. Em geral, entendemos por podera possibilidade de que um homem, ou um grupo de homens,realize sua vontade prpria numa ao comunitria at mesmocontra a resistncia de outros que participam da ao.

    O poder condicionado economicamente no , decerto, idn-tico ao poder como tal. Pelo contrrio, o aparecimento dopoder econmico pode ser a conseqncia do poder existente poroutros motivos. O homem no luta pelo poder apenas paraenriquecer economicamente. O poder, inclusive o poder econ-

    mico, pode ser desejado por si mesmo. Muito freqentemente,a luta pelo poder tambm condicionada pelas honras sociaisque ele acarreta. Nem todo poder, porm, traz honras sociais:o chefe poltico americano tpico, bem como o grande especula-dor tpico, abrem mo deliberadamente dessa honraria. Geral-mente, o poder meramente econmico, em especial o poderfinanceiro puro e simples, no de forma alguma reconhecidocomo base de honras sociais. Nem o poder a nica base de

    Wirtschaft und Gesellschaft, parte III, cap. 4, pp. 63140. Aprimeira sentena do pargrafo um e as vrias definies que, nestecaptulo, esto en tre colchetes, no constam do texto original.Foram extradas de oi j o s contextos de Wirtschaft und Gesellschaft.

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    tal honra. Na verdade, ela, ou o prestgio, podem ser mesmoa base do poder poltico ou econmico, e isso ocorreu muitofreqentemente. O poder, bem como as honras, podem ser asse-gurados pela ordem jurdica, mas, pelo menos normalmente, no a sua fonte primordial. A ordem jurdica constitui antes um

    fator adicional que aumenta a possibilidade de poder ou honras;mas nem sempre pode assegurlos.

    A forma pela qual as honras sociais so distribudas numacomunidade, entre grupos tpicos que participam nessa distribui-o, pode ser chamada de ordem social. Ela e a ordem eco-nmica esto, decerto, relacionadas da mesma forma com a ordem

    jurdica. No so, porm, idnticas. A ordem social , parans, simplesmente a forma pela qual os bens e servios econ-micos so distribudos e usados. A ordem social , decerto,condicionada em alto grau pela ordem econmica, e por sua vezinflui nela.

    Dessa forma, classes, estamentos e partidos so fen-menos da distribuio de poder dentro de uma comunidade.

    2. D e t e r m i n a o d a S i t u a o d e C l a s se pe l a

    S i t u a o d e M e r c a d o

    Em nossa terminologia, classes no so comunidades; re-presentam simplesmente bases possveis, e freqentes, de aocomunal. Podemos falar de uma classe quando: 1) certonmero de pessoas tem em comum um componente causal espe-cfico em suas oportunidades de vida, e na medida em que 2)sse componente representado exclusivamente pelos interesseseconmicos da posse de bens e oportunidades de renda, e 3) representado sob as condies de mercado de produtos oumercado de trabalho. [sses pontos referemse situao declasse, que podemos expressar mais sucintamente como a opor-tunidade tpica de uma oferta de bens, de condies de vidaexteriores e experincias pessoais de vida, e na medida em queessa oportunidade determinada pelo volume e tipo de poder,ou falta dles, de dispor de bens ou habilidades em benefciode renda de uma determinada ordem econmica. A palavraclasse referese a qualquer grupo de pessoas que se encon-trem na mesma situao de classe.]

    A forma pela qual a propriedade material distribuda entrevrias pessoas, que competem no mercado com a finalidade de

    c l a s se , e s t a m e n t o , p a r t i d o 213

    troca, cria, em si, oportunidades especficas de vida, o que cons-titui um fato econmico bastante elementar. Segundo a lei dautilidade marginal, sse modo de distribuio exclui os noproprietrios da competio pelos bens muito desejados; favoreceos proprietrios e, na verdade, lhes d o monoplio para a aquisi-

    o dsses bens. Em igualdade de fatores, sse modo de dis-tribuio monopoliza as oportunidades de transaes lucrativaspara todos os que, dispondo de bens, no tm necessariamentede troclos. Aumenta, pelo menos em geral, seu poderio nasguerras de preo com os que, no tendo propriedades, s tma oferecer seus servios, em forma bruta, ou bens numa formaconstituda atravs de seu prprio trabalho e que, acima de tudo,so compelidos a se desfazer dsses produtos para que possam,simplesmente, subsistir. Essa forma de distribuio d aos pro-prietrios um monoplio da possibilidade de transferir bens daesfera de uso como fortuna para a esfera de bens de capital;isto , dlhes a funo empresarial e tdas as oportunidades de

    participar direta ou indiretamente dos lucros sbre o capital.Tudo isso vlido dentro da rea na qual predominam as con-dies de mercado pura e simplesmente. Propriedade e faltade propriedade so, portanto, as categorias bsicas de . tdasas situaes de classe. No importa se essas duas categorias setornam efetivas em guerras de preo ou em lutas competitivas.

    Dentro dessas categorias, porm, as situaes de classe dis-tinguemse melhor: de um lado, segundo o tipo de propriedadeutilizvel para lucro; de outro lado, segundo o tipo de serviosque podem ser oferecidos no mercado. A propriedade dos edif-cios de residncia; dos estabelecimentos produtores; armazns;

    lojas; terra cultivvel; grandes e pequenas propriedades dife-renas quantitativas com possveis conseqncias qualitativas ;propriedade de minas; gado; homens (escravos); disposio sbreinstrumentos mveis da produo, ou bens de capital de todosos tipos, especialmente dinheiro ou objetos que possam ser tro-cados por dinheiro, facilmente e a qualquer momento; controledo produto do prprio trabalho e do trabalho de outros, diferin-do segundo as variaes na possibilidade de consumo; controledos monoplios transferveis de qualquer tipo tdas essas dis-tines caracterizam as situaes de classe assim como o sentidoque elas podem dar, e do, utilizao da propriedade, especial-mente a propriedade que tem equivalentes monetrios. Assim,

    os proprietrios, por exemplo, podem pertencer classe dos arren-dadores ou classe dos empresrios.

    (a)(b)

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    Os que no tm propriedade mas oferecem servios so dis-tinguidos tanto pelos tipos de servios que prestam como pelaforma pela qual fazem uso desses servios, numa relao contnuaou descontnua com um recipiendrio. Mas essa sempre aconotao genrica do conceito de classe: que o tipo de oportu-

    nidade no mercado o momento decisivo que apresenta condi-o comum para a sorte individual. Situao de classe, nessesentido, , em ltima anlise, situao de mercado. O efeitoda simples posse, por si, que entre os criadores de gado colocao escravo ou o servo sem propriedades nas mos do dono degado, apenas um precursor da verdadeira formao de classe.Entretanto, no emprstimo de gado e na crua severidade da leide dvidas nessas comunidades, pela primeira vez a simples pos-se como tal surge, decisiva, para o destino do indivduo. Issocontrasta bastante com as comunidades agrcolas baseadas no tra-balho. A relao credordevedor s se torna a base das situaesde classe nas cidades onde a plutocracia criou um mercado de

    crdito, por mais primitivo que seja, com taxas de juro au-mentando segundo as propores da escassez e uma monopoli-zao concreta dos crditos. Com isso, iniciamse as lutas declasse.

    Aqueles cujo destino no determinado pela oportunidadede usar, em proveito prprio, bens e servios no mercado, isto, os escravos, no so, porm, uma classe, no sentido tcnicoda expresso. So, antes, um estamento.

    3. A o C o m un i t r i a D e c o r r e n t e do In t e r e s s e d e C l a s se

    Segundo a nossa terminologia, o fator que cria classe um interesse econmico claro, e na verdade, apenas os interessesligados existncia do mercado. No obstante, o conceito deinteresse de classe ambguo: mesmo como conceito emprico ambguo na medida em que se entenda por ele algo almda direo fatual de interesses que se segue com certa probabili-dade, da situao de classe para certa mdia das pessoas sujei-tas situao de classe. No havendo variaes na situao declasse e outras circunstncias, a direo na qual o trabalhadorindividual, por exemplo, dever buscar seus interesses pode va-riar muito, dependendo do fato de estar qualificado constitucio-

    nalmente, em grau alto, mdio ou baixo, para a tarefa que seapresenta. Da mesma forma, a direo dos interesses pode variar

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    muito, dependendo de se ter ou no desenvolvido da situao declasse uma ao comunitria por parte duma poro maior ou me-nor daqueles que esto igualmente afetados pela situao de clas-se, ou mesmo uma associao entre eles, por exemplo, um sin-dicato, da qual o indivduo possa ou no esperar resultados

    promissores. [A ao comunitria referese ao que orienta-da pelo sentimento dos agentes de pertencerem a um todo. Aao societria, por sua vez, orientada no sentido de um ajus-tamento de interesses racionalmente motivado.] O aparecimentode uma ao societria ou mesmo comunitria, partindo de umasituao comum de classe, no de modo algum um fenmenouniversal.

    A situao de classe pode ser limitada, em seus efeitos, criao de reaes essencialmente homogneas, ou seja, dentrode nossa terminologia, de aes de massa. No obstante,pode no ter nem mesmo esse resultado. Alm disso, com fre-qncia surge apenas uma ao comunitria amorfa. Por exem-plo, o resmungar dos trabalhadores, conhecido na tica orien-tal antiga: a desaprovao moral da conduta do feitor, que emsua significao prtica equivalia provavelmente a um fenmeno,cada vez mais tpico do mais recente desenvolvimento industrial,a operao tartaruga, ou seja, a limitao deliberada do es-foro de trabalho pelos operrios em virtude de um acordotcito. O grau no qual a ao comunitria e possivelmente aao societria surgem das aes de massa dos membros deuma classe depende de condies culturais gerais, especialmenteas do tipo intelectual. Tambm depende das propores doscontrastes que j tenham surgido, estando especialmente ligada transparncia das ligaes entre as causas e as conseqnciasda situao de classe. Por mais diferentes que as oportuni-dades de vida possam ser, esse fato, em si mesmo, segundo tdaexperincia, de forma alguma d origem ao de classe (aocomunitria pelos membros de uma classe). O fato de ser con-dicionado e os resultados da situao de classe precisam serclaramente reconhecidos, pois somente ento o contraste das opor-tunidades de vida poder ser considerado no como um dadoabsoluto a ser aceito, mas como resultante: 1) da distribuiode propriedade existente, ou 2) da estrutura da ordem econmicaconcreta. S ento que as pessoas podem reagir contra aestrutura de classes, no apenas atravs de atos de protesto inter-

    mitentes e irracionais, mas sob a forma de uma associao ra-cional. Houve situaes de classe pertencentes primeira

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    categoria 1), excepcionalmente ntidas e evidentes nos centrosurbanos da Antigidade e durante a Idade Mdia; especialmentenesse ltimo caso, quando foram acumuladas grandes fortunaspelo monoplio de fato do comrcio de produtos industriais dessescentros ou do comrcio de comestveis. Alm disso, em certas

    circunstncias temos o exemplo de economias rurais dos maisdiversos perodos, quando a agricultura era explorada de formacrescente com objetivos de lucro. O exemplo histrico maisimportante da segunda categoria 2) a situao de classe doproletariado moderno.

    4. T i po s d e L u t a d e C l a s se

    Assim, toda classe pode ser portadora de uma das possveise numerosas formas de ao de classe, embora isso no acon-tea necessariamente. De qualquer modo, uma classe no cons-

    titui, em si, uma comunidade. Tratar a classe conceptualmente como tendo o mesmo valor de comunidade leva deformao. O fato de homens na mesma situao de classereagirem regularmente atravs de aes de massa a situaesto tangveis quanto as econmicas, e reagirem no sentido dosinteresses mais adequados mdia deles, importante, e naverdade simples, para a compreenso dos acontecimentos his-tricos. Acima de tudo, esse fato no deve levar quele tipode uso pseudocientfico dos conceitos de classe e interessede classe observado com tanta freqncia, hoje em dia, e queencontra sua expresso mais clssica na afirmao de um autortalentoso, de que o indivduo pode errar em relao aos seus

    interesses, mas que a classe infalvel em relao a essesinteresses. No obstante, se as classes como tal no so comu-nidades, ainda assim as situaes de classe s aparecem baseda comunalizao. A ao comunitria que cria situaes declasse, porm, no basicamente ao entre membros de classeidntica; uma ao entre membros de classes diferentes. Osatos comunitrios que determinam diretamente a situao declasse do trabalhador e do empresrio so: o mercado de tra-balho, o mercado de produtos e a empresa capitalista. Mas,por sua vez, a existncia de uma empresa capitalista pressupea existncia de uma ao comunitria muito especfica e que especificamente estruturada para proteger a posse de bens per

    se, e especialmente o poder que os indivduos tm de dispor,em princpio livremente, dos meios de produo. A existncia

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    da empresa capitalista precondicionada por um tipo especficode ordem jurdica. Cada tipo de situao de classe, e acimade tudo quando se baseia no poder da propriedade per se,

    tornase mais evidentemente eficaz quando todos os outros de-terminantes das relaes recprocas so, na medida do possvel,

    eliminados em sua significao. desse modo que a utilizaodo poder da propriedade no mercado consegue sua maior im-portncia soberana.

    Ora, os chamados estamentos dificultam a realizao ri-gorosa do princpio de mercado, puro e simples. No presentecontexto, so de interesse para ns apenas deste ponto de vista.Antes de os examinarmos sucintamente, observemos que nose pode dizer muita coisa de natureza geral sobre os tipos maisespecficos de antagonismo entre classes (em nosso sentidoda expresso). A grande transformao, que ocorreu continua-mente no passado e veio at a nossa poca, pode ser resumida,

    embora a expensas de uma certa preciso: a luta na qual assituaes de classe so efetivas se deslocou progressivamente,primeiro, da fase do crdito de consumo para as lutas compe-titivas no mercado de produtos e, em seguida, para as guerrasde preo no mercado de trabalho. As lutas de classe daAntigidade na medida em que foram autnticas e no ape-nas lutas entre estamentos foram realizadas inicialmente peloscamponeses endividados e talvez, tambm, pelos artesos amea-ados pela servido em conseqncia de dvidas e que lutavamcontra os credores urbanos, pois a sujeio por dvidas o re-sultado normal da diferenciao de riqueza nas cidades comer-ciais, especialmente nas cidades porturias. Situao semelhante

    existiu entre os criadores de gado. As relaes de dbito, comotal, provocaram ao de classe at a poca de Catilina. Jun-tamente com isto e com um aumento no abastecimento de ce-reais para a cidade, transportandoos de fora, surgiu a luta pelosmeios de manuteno. Centralizouse, em primeiro lugar, emtorno do abastecimento de po e na determinao de seu preo.Durou toda a Antigidade e toda a Idade Mdia. Os noproprietrios, como tal, agruparamse contra os que, real e supos-tamente, tinham interesse pela escassez do po. Essa luta di-fundiuse at envolver todos os produtos essenciais ao modode vida e produo artesanal. Houve apenas discusses inci-pientes de disputas salariais na Antigidade e na Idade Mdia,

    que foram, porm, crescendo lentamente at os tempos moder-nos. Nos perodos anteriores, elas foram completamente se-

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    cundrias s rebelies de escravos, bem como s lutas no mer-cado de produtos.

    Os noproprietrios da Antigidade e da Idade Mdia pro-testaram contra os monoplios, as compras antecipadas, aambarcamento, e a reteno de bens do mercado com a finalidade

    de aumentar os preos. Hoje em dia, a questo central adeterminao do preo do trabalho.

    Essa transio retratada pela luta por acesso ao mercadoe para determinar o preo dos produtos. Tais lutas foram trava-das entre comerciantes e trabalhadores, no sistema de artesa-nato domstico, durante a transio para os tempos modernos.Como um fenmeno bastante geral, devemos mencionar aquique os antagonismos de classes condicionados pela situao demercado so habitualmente mais acerbos entre os que partici-pam, real c diretamente, como adversrios nas guerras de preos.No o homem que vive de rendas, o acionista e o banqueiroque sofrem com a m vontade do trabalhador, mas quaseexclusivamente o industrial e os diretores de empresas que soadversrios diretos dos trabalhadores nas guerras de preos. Issoocorre a despeito do fato de ser precisamente para as arcas dohomem que vive de rendas, do acionista e do banqueiro quefluem os lucros mais ou menos gratuitos, e no para os bolsosdos fabricantes ou dos administradores. Essa situao simplestem sido, com muita freqncia, decisiva para o papel que asituao de classe desempenhou na formao dos partidos pol-ticos. Possibilitou, por exemplo, as variedades de socialismopatriarcal e as tentativas freqentes pelo menos antigamente dos estamentos ameaados de formarem alianas com o pro-

    letariado contra a burguesia.

    5. A H o n r a E s t a m e n t a l

    Em contraste com as classes, os grupos de "status! so nor-malmente comunidades. Com freqncia, porm, so do tipoamorfo. Em contraste com a situao de classe determinadaapenas por motivos econmicos, desejamos designar como si-tuao de statustodo componente tpico do destino dos homens,determinado por uma estimativa especfica, positiva ou negativa,da honraria. Essa honraria pode estar relacionada com qual-quer qualidade partilhada por uma pluralidade de indivduos e,decerto, pode estar relacionada com uma situao de classe: as

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    distines de classe esto ligadas, das formas mais variadas, comas distines de status. A propriedade como tal nem sempre reconhecida como qualificao estamental, mas a longo prazoela assim , e com extraordinria regularidade. Na economiade subsistncia da comunidade organizada, com freqncia o

    homem mais rico simplesmente o chefete. Isso pode, porm,significar com freqncia apenas uma preferncia honorfica. Porexemplo, na chamada democracia moderna pura, isto , a de-mocracia destituda de quaisquer privilgios estamentais expres-samente ordenados para os indivduos, pode acontecer que so-mente as famlias pertencentes aproximadamente mesma cate-goria tributria dancem umas com as outras. Esse exemplo citado em relao a certas cidades suas menores. Mas a hon-raria estamental no precisa, necessariamente, estar ligada a umasituao de classe. Pelo contrrio, normalmente ela se opede forma acentuada s pretenses de simples propriedade.

    Tanto os proprietrios como os noproprietrios pertencem

    ao mesmo estamento e freqentemente o fazem com resultadosbem tangveis. Essa igualdade da estima social pode, porm,a longo prazo, tornarse precria. A igualdade social entreos cavalheiros americanos, por exemplo, se expressa pelo fatode que fora da subordinao determinada pelas diferentes fun-es nos negcios", seria considerado rigorosamente repugnante onde quer que a velha tradio ainda predomine se atmesmo o mais rico chefe, ao jogar bilhar ou cartas em seuclube noite, no tratasse o seu funcionrio como, sob tcdosos aspectos, seu igual por nascimento. Seria repugnante que ochefe americano concedesse ao seu funcionrio uma bene-volncia condescendente, estabelecendo uma distino de posi-o, que o chefe alemo jamais pode dissociar de sua atitude. essa uma das razes mais importantes pelas quais na Am-rica o esprito de clube alemo jamais pode alcanar a atra-o exercida pelos clubes americanos.

    6. G a r a n t i a s d a O r g a n i z a o E s t a m e n t a l

    No contedo, a honra estamental expressa normalmentepelo fato de que acima de tudo um estilo de vida especficopode ser esperado de todos os que desejam pertencer ao crculo.

    Ligadas a essa expectativa existem restries ao relacionamentosocial (isto , ao relacionamento que no se prenda a objetivos

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    econmicos ou quaisquer outros objetivos funcionais da em-presa). Essas restries podem limitar os casamentos normaisao crculo de status e podem levar a um completo fechamentoendogmico. To logo deixa de haver uma mera imitao indi-vidual, socialmente, irrelevante, de outro estilo de vida, para haveruma ao comunal consentida com esse carter de fechamento, odesenvolvimento do status estar em processo.

    Em sua forma caracterstica, a organizao estamental tendopor base estilos de vida convencionais est surgindo no momentonos Estados Unidos, a partir da democracia tradicional. Porexemplo, somente o morador de uma determinada rua (a rua) considerado como pertencente sociedade, est qualificadopara o relacionamento social e visitado e convidado. Acimade tudo, essa diferenciao se desenvolve de tal forma que produzestrita submisso moda dominante em determinado momentona sociedade. Essa submisso moda existe tambm para oshomens na Amrica, em grau desconhecido na Alemanha. Tal

    submisso considerada como um indcio do fato de que umdeterminado homem pretende qualificarse como um cavalheiro,e faz que, pelo menos prima facie, seja tratado como tal. Eesse reconhecimento tornase to importante para suas oportuni-dades de emprego em estabelecimentos finos, e, acima de tudo,para o relacionamento social e casamento com famlias bemconsideradas, quanto a habilitao para o duelo entre os alemes,na poca do Kaiser. Quanto ao resto: certas famlias residentesh longo tempo e, decerto, correspondentemente ricas, por exem-plo as primeiras famlias da Virgnia ou os descendentes, reaisou imaginrios, da princesa ndia Pocahontas, ou dos fundado-res da Nova Inglaterra ou dos fundadores holandeses de Nova

    York, os membros de seitas quase inacessveis e de toda espciede crculos que se distinguem atravs de quaisquer outras carac-tersticas e insgnias... todos esses elementos usurpam a honrariaestamental. O desenvolvimento do estamento essencialmenteuma questo de estratificao que se baseia na usurpao, que a origem normal de quase toda honra estamental. Mas o ca-minho dessa situao puramente convencional para o privilgiolocal, positivo ou negativo, percorrido facilmente to logouma certa estratificao da ordem social tenha, na verdade, sidovivida e tenha conseguido a estabilidade em virtude de umadistribuio estvel do poder econmico.

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    7. Se g r e g a o t n i c a e C a s t a

    Onde as suas conseqncias se realizaram em toda a exten-so, o estamento evolui para uma casta fechada. As distin-es estamentais so, ento, asseguradas no simplesmente pelasconvenes e leis, mas tambm pelos rituais. Isso ocorre de talmodo que todo contato fsico com um membro de qualquer castaque seja considerada inferior pelos membros de uma castasuperior considerado como uma impureza ritualstica e umestigma que deve ser expiado por um ato religioso. As castasindividuais criam cultos e deuses bem distintos.

    Em geral, porm, os estamentos s chegam a tais conseqn-cias extremas quando h diferenas subjacentes consideradascomo tnicas. A casta , realmente, a forma natural pelaqual costumam socializarse as comunidades tnicas que cremno parentesco de sangue com os membros de comunidades ex-

    teriores e o relacionamento social. Essa situao de casta parte do fenmeno de povos prias e se encontra em todo omundo. Esses povos formam comunidades, adquirem tradiesocupacionais especficas de artesanatos, ou de outras artes, e cul-tivam uma crena em sua comunidade tnica. Vivem numadispora rigorosamente segregada de todo relacionamento pes-soal, exceto o de tipo inevitvel, e sua situao legalmenteprecria. No obstante, em virtude de sua indispensabilidadeeconmica, so tolerados, realmente, e freqentemente privilegia-dos, e vivem em comunidades polticas dispersas. Os judeusconstituem o exemplo histrico mais impressionante.

    Uma segregao de estamentos que se transforma numa

    casta difere, em sua estrutura, de uma segregao simplesmentetnica: a estrutura de casta transforma as coexistncias hori-zontais e desconexas de grupos etnicamente segregados numsistema social de super e subordinao. Formulando correta-mente: uma socializao de tipo amplo integra as comunidadesetnicamente divididas em ao comunitria especfica, poltica.Em suas conseqncias diferem precisamente porque: as coexistencias tnicas condicionam uma repulso e um desprezo mtuos,mas permitem a toda comunidade tnica considerar a sua prpriahonra como a mais elevada; a separao de casta provoca umasubordinao e um reconhecimento de mais honra em favordos estamentos e castas privilegiados, pois as diferenas tnicas

    correspondem juno desempenhada dentro da associao po-

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    ltica (guerreiros, sacerdotes, artesos que so politicamente im-portantes para a guerra e a construo, e assim por diante).Porm mesmo os povos prias que so mais desprezados podem,habitualmente, continuar cultivando, de algum modo, aquilo que igualmente peculiar a comunidades tnicas e de castas: a crena

    em sua prpria honra especfica. o caso dos judeus.Apenas com os estamentos negativamente privilegiados osentimento de dignidade sofre um desvio especfico. Umsentimento de dignidade a precipitao nos indivduos da honrasocial e das exigncias convencionais que um estamento positi-vamente privilegiado cria para a conduta de seus membros. Osentimento de dignidade que caracteriza os estamentos positiva-mente privilegiados relacionase, naturalmente, com seu ser queno transcende a si mesmo, isto , relacionase com sua belezae excelncia. Seu reino deste mundo. Vivem para opresente e explorando seu grande passado. O senso de dignidadedas camadas negativamente privilegiadas naturalmente se refere

    a um futuro que est alm do presente, seja desta vida ou deoutra. Em outras palavras, deve ser nutrido pela crena numamisso providencial e por uma crena numa honra especficaperante Deus. A dignidade do povo escolhido alimentadapor uma crena, seja de que no alm os ltimos sero os pri-meiros, seja de que nesta vida aparecer um Messias para trazer luz do mundo que os enxotou a honra oculta do povo pria.Esse simples estado de coisas, e no o ressentimento, que to fortemente ressaltado na admirada construo de Nietzschena Genealogia da Moral, a fonte da religiosidade cultivadapelos estamentos prias. De passagem, podemos notar que o res-sentimento s pode ser aplicado corretamente em proporo li-

    mitada; para um dos principais exemplos de Nietzsche, o budis-mo, no absolutamente aplicvel.

    Incidentalmente, o desenvolvimento dos estamentos a partirde segregaes tnicas no constitui, de modo algum, o fen-meno normal. Pelo contrrio, como as diferenas raciais noso, de forma alguma, bsicas a todo sentimento subjetivo deuma comunidade tnica, o fundamento racial supremo do esta-mento , acertada e absolutamente, uma questo de caso indivi-dual concreto. Muito freqentemente, um estamento instru-mental na produo de um tipo antropolgico puro. Certamente,um estamento , em alto grau, eficaz na produo de tipos ex-tremos, pois seleciona indivduos pessoalmente qualificados (porexemplo, a Cavalaria Medieval seleciona os que so aptos para

    CLASSE, ESTAMENTO, PARTIDO 223

    a guerra, fsica e psiquicamente). Mas a seleo est longe deser a nica forma, ou a predominante, pela qual os estamentosso formados. A participao poltica ou situao de classe foi,em tdas as pocas, pelo menos freqentemente decisiva. Ehoje a situao de classe , de longe, o fator predominante, poisdecerto a possibilidade de um estilo de vida esperado para osmembros de um estamento , em geral, economicamente condi-cionada.

    8. P r i v i l g i o s E s t a m e n t a i s

    Para todas as finalidades prticas, a estratificao estamentalvai de mos dadas com uma monopolizao de bens ou oportu-nidades ideais e materiais, de um modo que chegamos a consi-derar como tpico. Alm da honra estamental especfica, quesempre se baseia na distncia e exclusividade, encontramos todasorte de monoplios materiais. Essas preferncias honorficaspodem consistir no privilgio de usar roupas especiais, comer

    pratos especiais que so tabu para outros, portar armas o que bastante bvio em suas conseqncias o direito dededicarse a certas prticas artsticas por diletantismo, noprofissionalmente, como por exemplo tocar determinados instrumen-tos musicais. claro que os monoplios materiais proporcionamos motivos mais eficientes para a exclusividade de um estamento;embora em si mesmos eles raramente sejam suficientes, quasesempre exercem alguma influncia. Para o connubium entremembros de um mesmo estamento manter o monoplio da modas filhas dentro de um crculo restrito tem tanta importnciacomo o interesse que as famlias tm em monopolizar os possveispretendentes que possam prover o futuro das filhas. Com o

    crescente fechamento do estamento as oportunidades preferen-ciais convencionais de emprego especial transformamse nummonoplio legal de cargos especiais para grupos limitados. Cer-tos bens se tornam objeto de monopolizao pelos estamentos.De modo tpico, eles incluem os bens vinculados e, freqen-temente, tambm as posses de servos ou de criados e, finalmente,ofcios especiais. Essa monopolizao ocorre positivamente quan-do s o grupo em questo est habilitado a possulos e acontrollos; e negativamente quando, a fim de manter seumodo de vida especfico, o estamento no deve possulos econtrollos.

    O papel decisivo de um estilo de vida na honra dogrupo significa que os estamentos so os portadores especficos

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    de todas as convenes. De qualquer modo que se manifeste,toda estilizao da vida se origina nos estamentos ou pelomenos conservada por eles. Apesar de sua grande diversidade,os princpios das convenes estamentais revelam certos traostpicos, especialmente entre as camadas mais privilegiadas. Mui-

    to geralmente, entre os estamentos privilegiados h uma desqua-lificao de estamentos envolvida pela execuo do trabalho fsicocomum. Essa desqualificao se est agora radicando na Am-rica, contra a velha tradio da estima pelo trabalho. Muitofreqentemente toda empresa econmica racional, e especialmentea atividade empresarial, considerada como uma desqualifi-cao social. A atividade artstica e literria tambm con-siderada como trabalho degradante, to logo seja explorada comfinalidades lucrativas, ou pelo menos quando est relacionadacom um esforo fsico pesado. Um exemplo um escultor quetrabalha como um pedreiro, em seu poeirento guardap, emcontraste com o pintor em seu estdio semelhante a um

    salo, e as formas de prtica musical aceitveis pelo grupo pri-vilegiado.

    9. C o n d i e s e E f e i t o s E c o n m i c o s d a

    O r g a n i z a o E s t a m e n t a l

    A desqualificao freqente das pessoas que se empregampara ganhar um salrio um resultado direto do princpio deestratificao estamental, peculiar ordem social e, decerto, daoposio desse princpio a uma distribuio de poder regulada ex-clusivamente por intermdio do mercado. Esses dois fatoresoperam juntamente com vrios outros fatores individuais, que

    sero mencionados mais adiante.Vimos, acima, que o mercado e seus processos no co-

    nhecem distines pessoais: os interesses funcionais o do-minam. Nada conhecem de honras. A ordem estamentalsignifica precisamente o inverso, ou seja, a estratificao emtermos de honras e estilos de vida peculiares aos grupos es-tamentais como tais. Se a simples aquisio econmica e opoder econmico puro, ainda trazendo o estigma de sua origemextraestamental, pudessem conceder a quem os tivesse conse-guido as mesmas honras que os interessados em estamentosem virtude de um estilo de vida que pretendem para si, aordem estamental estaria ameaada em suas bases mesmas, prin-cipalmente tendo em vista que, em condies de igualdade de

    c l a s se , e s t a m e n t o , p a r t i d o 225

    honras estamentais, a posse per se representa um acrscimo,mesmo no sendo abertamente reconhecida como tal. Noobstante, se essa aquisio e poder econmico proporcionassemao agente qualquer honraria, sua riqueza resultaria em alcanarmais honras do que as pessoas que reivindicam, com xito,

    as honras em virtude de um estilo de vida. Portanto, todosos grupos que tm interesses na ordem estamental reagem comespecial violncia precisamente contra as pretenses de aquisi-o exclusivamente econmica. Na maioria dos casos, o vigorda reao proporcional intensidade com que a ameaa experimentada. O tratamento respeitoso que Calderon d aocampons, por exemplo, em oposio ao desprezo simultneo eostensivo de Shakespeare pela canaille ilustra a forma diferentepela qual uma ordem estamental firmemente estruturada reage,em comparao com uma ordem estamental que se tornou eco-nomicamente precria. Tratase do exemplo de um estado decoisas que se repete em tda parte. Precisamente devido sreaes rigorosas contra as pretenses da propriedade per se, o"parvenu jamais aceito, pessoalmente e sem reservas, pelosgrupos estamentalmente privilegiados, por melhor que seu estilode vida se ajuste ao dles. S aceitaro seus descendentes quetiverem sido educados nas convenes do seu grupo estamentale que nunca tenham manchado sua honra pela atividade eco-nmica pessoal.

    Quanto ao efeito geral da ordem estamental, somente umaconseqncia pode ser apresentada, mas sua importncia gran-de: o impedimento do livre desenvolvimento do mercado ocorreprimeiro para os bens que os estamentos subtraem diretamenteda livre troca pela monopolizao. Essa monopolizao pode

    ser efetuada seja legal ou convencionalmente. Por exemplo, emmuitas cidades helnicas durante a poca especificamente esta-mental, e tambm originalmente em Roma, o patrimnio her-dado (como se v pelas velhas frmulas de condenao dosperdulrios) era monopolizado, tal como o eram as propriedadesdos cavaleiros, camponeses, sacerdotes e especialmente a clien-tela das guildas de ofcios e comrcio. O mercado limitado,e o poder puro e simples da propriedade per se, que d suamarca formao de classe, posto em segundo plano. Osresultados desse processo podem ser muito variados. Natural-mente, no enfraquecem necessariamente os contrastes na situa-o econmica. Fortalecem freqentemente esses contrastes e,

    de qualquer modo, quando a estratificao estamental impregna15

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    a comunidade to fortemente como ocorreu em todas as comu-nidades polticas da Antigidade e da Idade Mdia, jamais po-demos falar de uma concorrncia de mercado realmente livre,tal como a entendemos hoje. H efeitos mais amplos do queessa excluso direta de bens especiais do mercado. Da contra-dio entre a ordem estamental e a ordem exclusivamente eco-nmica acima mencionada, seguese que na maioria dos casosa noo de honras peculiares ao estamento abomina de formaabsoluta aquilo que essencial para o mercado: o regateio. Ashonras abominam o regateio entre os pares e ocasionalmentetornam tabu o regateio em geral para os membros de um esta-mento. Portanto, em tda parte, alguns estamentos, e habitual-mente os mais influentes, consideram quase qualquer tipo departicipao aberta na aquisio econmica como um estigmaabsoluto.

    Simplificando, poderamos dizer, assim, que as classes seestratificam de acordo com suas relaes com a produo e aqui-

    sio de bens; ao passo que os estamentos se estratificam deacordo com os princpios de seu consumo de bens, representadopor estilos de vida especiais.

    Um grmio profissional tambm um estamento, pois nor-malmente reivindica as honras sociais apenas em virtude do estilode vida especial que pode determinar. As diferenas entreclasses e estamentos se superpem com freqncia. So precisa-mente as comunidades segregadas com maior rigor em termos dehonra (as castas indianas) que mostram hoje, embora dentro delimites muitos rgidos, um grau relativamente elevado de indi-ferena renda pecuniria. Os brmanes, porm, buscam tal

    renda de muitos modos diferentes.Quanto s condies econmicas gerais que permitem o pre-

    domnio da organizao estamental, pouco podemos dizer. Quan-do as bases da aquisio e distribuio de bens so relativamenteestveis, a organizao estamental favorecida. Toda repercussotecnolgica e transformao econmica ameaaa e coloca emprimeiro plano a situao de classe. As pocas e pases em quea pura situao de classe possui significao predominante soregularmente os perodos de transformaes tcnicas e econ-micas. E toda diminuio no ritmo de mudanas nas estrati-ficaes econmicas leva, no devido tempo, ao aparecimento deorganizaes estamentais e contribui para a ressurreio do im-

    portante papel das honras sociais.

    CLASSE, ESTAMENTO, PAHTIDO 227

    10. P a r Ti d o s

    O lugar autntico das classes no contexto da ordem eco-nmica, ao passo que os estamentos se colocam na ordem social,

    isto , dentro da esfera da distribuio de honras. Dessas es-feras, as classes e os estamentos influenciamse mutuamente e ordem jurdica, e so por sua vez influenciados por ela. Masos partidos vivem sob o signo do poder.

    Sua reao orientada para a aquisio do poder social,ou seja, para a influncia sobre a ao comunitria, sem levarem conta qual possa ser o contedo. Em princpio, os partidospodem existir num clube social, bem como num Estado.Em contraposio s aes das classes e estamentos em que issonem sempre o caso, as aes comunitrias dos partidos sem-pre significam uma socializao, pois tais aes voltamse semprepara uma meta que se procura atingir de forma planificada.

    A meta pode ser uma causa (o partido pode visar realizaode um programa de propsitos ideais ou materiais), ou a metapode ser pessoal (sinecuras, poder e, da, honras para o ldere os seguidores do partido). Habitualmente, a ao partidriavisa a tudo isso, simultaneamente. Portanto, os partidos sopossveis apenas dentro de comunidades de algum modo socia-lizadas, ou seja, que tm alguma ordem racional e um quadrode pessoas prontas a assegurla, pois os partidos visam precisa-mente a influenciar esse quadro, e, se possvel, recrutlo entreos seus seguidores.

    Em qualquer caso individual, os partidos podem representarinteresses determinados atravs da situao classista ou esta-mental, e podem recrutar seus membros de uma ou de outra.Mas no precisam ser partidas exclusivamente de classe, nemestamentais. Na maioria dos casos, so at certo ponto partidosde classe, e at certo ponto partidos estamentais, mas algumas

    vezes no so nenhuma das duas coisas. Podem representarestruturas efmeras ou duradouras. Seus meios de alcanar opoder podem ser variados, indo desde a violncia pura e simples,de qualquer espcie, cabala de votos atravs de meios gros-seiros ou sutis: dinheiro, influncia social, a fora da argumen-tao, sugesto, embustes primrios, e assim por diante, at astticas mais duras ou mais habilidosas de obstruo parlamentar.

    A estrutura sociolgica dos partidos difere de forma bsicasegundo o tipo de ao comunitria que buscam influenciar.

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    Os partidos tambm diferem segundo a organizao da comu-nidade por estamentos ou por classes. Acima de tudo, variamsegundo a estrutura do domnio dentro da comunidade, pois seuslderes normalmente tratam da conquista de uma comunidade.No conceito geral mantido aqui, no so produtos apenas de

    formas especialmente modernas de domnio. Designaremos tam-bm como partidos os partidos antigos e medievais, apesar dea sua estrutura variar basicamente em relao estrutura dospartidos modernos. Em virtude dessas diferenas que oferecea estrutura de dominao, impossvel dizer qualquer coisasbre a estrutura dos partidos, sem discutir as formas estruturaisde domnio social per se. Os partidos, que so sempre estru-turas que lutam pelo domnio, muito freqentemente se orga-nizam de um modo autoritrio muito rigoroso.

    No que se relaciona com as classes, os estamentos e ospartidos, devemos dizer em geral que eles pressupem, neces-sariamente, uma sociedade que os engloba, e especialmente uma

    ao comunitria poltica, dentro da qual operam. Mas isto nosignifica que os partidos sejam confinados pelas fronteiras dequalquer comunidade poltica. Pelo contrrio, em todos os temposocorreu habitualmente que eles (mesmo quando visam ao usoda fora militar em comum) ultrapassam as fronteiras da co-munidade poltica. Tal fato se observou no caso da solidariedadede interesses entre os oligarcas e os democratas na Hlade, entreos guelfos e gibelinos na Idade Mdia e no partido calvinistadurante o perodo de lutas religiosas. E continua sendo o casoat da solidariedade entre os senhores de terra (congresso in-ternacional de senhores de terrat agrrios), e continuou entre osprncipes (sagrada aliana, decretos de Karlsbad), trabalhadores

    socialistas, conservadores (o desejo de uma interveno russa porparte dos conservadores prussianos em 1850). Mas seu objetivono necessariamente o estabelecimento de um novo domniopoltico internacional, isto , territorial. Pretendem, principal-mente, influenciar o domnio existente. *

    * O texto, publicado postumamente, interrompese aqui. Omi-timos um esboo incompleto dos tipos de estamentos guerreiros .

    VHI. Burocracia

    1. C a r a c t e r s t i c a s d a B u r o c r a c i a

    A b u r o c r a c i a m o d e r n a funciona da seguinte forma especfica:I. Rege o princpio de reas de jurisdio fixas e oficiais,

    ordenadas de acordo com regulamentos, ou seja, por leis ounormas administrativas.

    1. As atividades regulares necessrias aos objetivos da es-trutura governada burocraticamente so distribudas de forma fixacomo deveres oficiais.

    2. A autoridade de dar as ordens necessrias execuodesses deveres oficiais se distribui de forma estvel, sendo rigo-rosamente delimitada pelas normas relacionadas com os meiosde coero, fsicos, sacerdotais ou outros, que possam ser colocados disposio dos funcionrios ou autoridades.

    3. Tomamse medidas metdicas para a realizao regulare contnua desses deveres e para a execuo dos direitos corres-pondentes; somente as pessoas que tm qualificaes previstaspor um regulamento geral so empregadas.

    Nos Governos pblicos e legais, esses trs elementos, cons-tituem a autoridade burocrtica. No domnio econmico pri-vado, constituem a administrao burocrtica. A burocracia,assim compreendida, se desenvolve plenamente em comunidadespolticas e eclesisticas apenas no Estado moderno, e na economiaprivada, apenas nas mais avanadas instituies do capitalismo.

    A autoridade permanente e pblica, com jurisdio fixa, noconstitui a norma histrica, mas a exceo. Isso acontece atmesmo nas grandes estruturas polticas, como as do Orienteantigo, os imprios de conquista alemes e monglicos, ou das

    Wtrscfvaft und Gesetlschaft, parte IIT, cap. 6, pp. 65078.