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Data de Criação: 04/11/2020
Criado por: Biblioteca
Clipping SCA
Os artigos reproduzidos neste clipping de notícias são, tanto no conteúdo quanto
na forma, de inteira responsabilidade de seus autores. Não traduzem, por isso
mesmo, a opinião legal ou manifestação de integrante da SiqueiraCastro.
Sumário das
Matérias:
Veto à desoneração deve ser votado hoje no Congresso
Valor ––04 de novembro.............................................01
Novos prefeitos devem buscar PPPs de energia renovável
Valor ––04 de novembro.............................................03
Riscos fiscais desafiam a gestão da dívida mobiliária
Valor ––04 de novembro.............................................05
CVM condena quatro ex-diretores da Petrobras
Valor ––04 de novembro.............................................07
Diretor da Aneel vai ao Cade e MPF contra decisão da agência
Valor ––04 de novembro.............................................09
Movimento falimentar
Valor ––04 de novembro.............................................11
TVZ diverge da Multiplan e obtém liminar sobre aluguel
Valor ––04 de novembro.............................................13
Pesquisa mostra 570 reclamações
Valor ––04 de novembro.............................................16
Justiça e Carf negam créditos de PIS e Cofins sobre representação comercial
Valor ––04 de novembro.............................................18
STF vai reiniciar julgamento sobre taxa de exploração de minérios
Valor ––04 de novembro.............................................21
Margem de Valor Agregado do ICMS/ST
Valor ––04 de novembro.............................................23
Estados endividados querem aval do Congresso para excluir saúde e educação do teto até 2023
Folha ––04 de novembro.............................................26
Brasil, EUA e Japão costuram acordo para coordenar questões globais na tecnologia
Globo ––04 de novembro.............................................29
Senado aprova autonomia do Banco Central. Entenda as mudanças em cinco pontos
Globo ––04 de novembro.............................................30
Petrobras se posiciona sobre compra da Linx pela Stone ao Cade
OESP ––04 de novembro.............................................33
Com nova resolução, distribuição de reclamações deve ficar mais transparente no STF
Conjur ––04 de novembro.............................................34
ANTT será multada em R$ 100 mil se descumprir liminar favorável a aplicativo
Conjur ––04 de novembro........................................37
STF volta a julgar incidência de ICMS em operações com software
Migalhas ––04 de novembro.......................................38
Direito de arrependimento e produtos perecíveis: O acerto da lei 14.010/20
Migalhas ––04 de novembro.......................................40
Disputa no STF para tributar software deixa contribuinte ‘na linha do fogo’
Jota ––04 de novembro.............................................45
STF mantém lei de SP que regula comercialização de produtos orgânicos
Jota ––04 de novembro.............................................47
Valor Econômico
Caderno: Primeira Página, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Veto à desoneração deve ser votado hoje no Congresso
Após mais de quatro meses de
negociação, líderes partidários e
governo chegam a acordo para
derrubar decisão de Bolsonaro,
mas Centrão cogita obstruir os
trabalhos
Por Renan Truffi e Vandson
Lima — De Brasília
O presidente do Congresso, Davi
Alcolumbre (DEM-AP), avisou os
líderes do governo que vai manter a
sessão de hoje para deliberação sobre o
veto do presidente Jair Bolsonaro à
desoneração da folha de pagamento,
mesmo que não haja acordo entre os
líderes partidários. Alcolumbre disse
que comparecerá ao Congresso para dar
início aos trabalhos, o que só não
acontecerá se as legendas decidirem
não dar o quórum necessário.
A avaliação de assessores é que
Alcolumbre tem ficado com o ônus do
impasse sobre a desoneração. Por isso,
quer que os líderes do governo
assumam a responsabilidade de uma
eventual falta de acordo. Também será
analisado veto no marco do saneamento
básico que deve dividir Câmara e
Senado.
01
Veto a desoneração deve ser examinado hoje pelo Congresso
Líderes partidários e governo
chegam a acordo para derrubar
decisão de Bolsonaro, mas
Centrão ainda resiste
Por Renan Truffi, Marcelo
Ribeiro, Vandson Lima e Raphael
Di Cunto — De Brasília
Davi Alcolumbre: presidente do Senado
anunciou acordo para derrubar veto — Foto:
Jefferson Rudy/Agência Senado
Após mais de quatro meses de
negociação, líderes partidários e o
governo chegaram a um acordo sobre o
veto da desoneração da folha de
pagamento. O entendimento é que a
decisão do presidente Jair Bolsonaro
deve ser derrubada na sessão do
Congresso prevista para hoje. O
principal empecilho, no entanto, deve
ser o Centrão, grupo que compõe a base
aliada do governo e cogita obstruir os
trabalhos.
O acordo foi feito ontem numa reunião
comandada pelo líder do governo no
Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO),
e anunciado posteriormente pelo
presidente do Congresso, Davi
Alcolumbre (DEM-AP). “Os líderes
estão reunidos desde as 14h e
construíram um entendimento em
relação à votação dos PLNs e dos vetos”,
declarou. “Teremos, enfim, a sessão do
Congresso Nacional.”
Segundo os congressistas que
participaram da negociação, Gomes deu
aval para que os partidos derrubem o
veto da desoneração. Além disso, a
maioria das bancadas concordou com
esse encaminhamento. “Temos maioria
necessária para derrubar o veto 26
sobre desoneração. Isso salvará
empresas e, principalmente, milhares
de empregos no Brasil”, comemorou o
líder da oposição no Senado, Randolfe
Rodrigues (Rede-AP).
Outro parlamentar engajado no assunto
é o líder do PSL no Senado, Major
Olímpio (SP), que tem organizado
manifestações pela revogação do veto.
“O líder Eduardo Gomes confirmou e,
por acordo, se tiver a sessão, nós vamos
fazer realizar a derrubada do veto.
Assim, nós vamos dar sobrevida para
6,5 milhões de empregos. A decisão dos
líderes é pela derrubada do veto,
inclusive com o aceite do governo, na
pessoa do líder Eduardo Gomes”,
explicou Olímpio.
Apesar do acordo feito por Eduardo
Gomes, a equipe econômica tem se
posicionado contra a derrubada do
veto. Na semana passada, durante
audiência pública no Parlamento, o
ministro da Economia, Paulo Guedes,
se recusou a dar apoio à revogação da
decisão presidencial. “Nós temos que
sustentar isso, nós recomendamos o
veto”, afirmou. “Por responsabilidade
fiscal, não podemos apoiar [a
derrubada].”
02
Neste cenário, Guedes precisará torcer
para que o Centrão leve à frente o plano
de frear a votação. Segundo fontes, o
bloco estaria disposto a manter a
obstrução como forma de atender a um
pedido do Palácio do Planalto, que não
conseguiu encontrar uma solução para
compensar a manutenção do benefício
fiscal para 17 setores.
Além disso, o Centrão teria a
interpretação de que é preciso obstruir
a pauta para enviar um recado de
insatisfação a Davi Alcolumbre. Nos
bastidores, integrantes do grupo
avaliam que ele tem protelado a
instalação da Comissão Mista de
Orçamento (CMO) para tentar
beneficiar os aliados do presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Já os partidos de oposição, que também
vêm obstruindo as sessões da Câmara,
ainda não bateram o martelo sobre a
sessão do Congresso. Essas legendas
farão uma reunião para fechar uma
posição. O líder da minoria na Câmara,
José Guimarães (PT-CE), por exemplo,
defende a obstrução apenas se os vetos
presidenciais não forem os primeiros
itens da pauta. “Só aceitamos votar os
PLNs após votarmos os vetos”, disse
Guimarães ao Valor.
https://valor.globo.com/politica/noticia/2
020/11/04/veto-a-desoneracao-deve-ser-
examinado-hoje-pelo-congresso.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Novos prefeitos devem buscar PPPs de energia renovável
Esforços do governo para
incentivar o financiamento de
investimentos privados em
infraestrutura também poderão
dar fôlego às iniciativas
Por Gabriela Ruddy — Do Rio
A baixa nas taxas de juros e as trocas
nas gestões das prefeituras, a partir
do próximo ano, devem incentivar a
busca de parcerias público-privadas
(PPPs) nos segmentos de energia
renovável e eficiência energética. Os
esforços do governo para incentivar o
financiamento de investimentos
privados em infraestrutura também
poderão dar fôlego às iniciativas.
“A despeito da crise, há liquidez no
mundo. Em 2021, muitas prefeituras
devem contratar consultores e
analisar oportunidades. Novos
03
projetos devem ser desenvolvidos no
ano que vem e lançados em 2022”, diz
Guilherme Naves, sócio da
consultoria especializada no
segmento Radar PPP.
Neste ano apenas duas parcerias
público-privadas de energia limpa
foram iniciadas. Semana passada, o
município de Angra dos Reis (RJ)
assinou contrato com Enel X Brasil,
Selt Engenharia e Mobit para
investimentos de R$ 22 milhões na
modernização e gerenciamento do
sistema de iluminação pública por 15
anos. No começo do ano, a prefeitura
de Petrolina (PE) fechou contrato de
26,5 anos por R$ 94,9 milhões com
Enercom, Lira Empreendimentos,
Mobit e UFV Sol para uma usina de
geração fotovoltaica.
A Radar PPP aponta 16 licitações
municipais e estaduais na área de
energia em modelagem, além de
quatro concorrências que devem se
encerrar neste ano. Há ainda cinco
projetos em fase de consulta pública.
O calendário eleitoral costuma
coincidir com a redução dessas
iniciativas. “Anos eleitorais
combinam com a reta final desses
projetos; 2021 é uma oportunidade
para os prefeitos, assim que
assumirem, colocarem de pé projetos
de infraestrutura”, afirma Naves.
Em geral, as prefeituras veem PPPs
como oportunidade para reduzir o
custo da energia paga pelo poder
público e diminuir emissões de
poluentes. “Os projetos dos
municípios pioneiros em renováveis
incentivaram a adoção destas
soluções por outras cidades”, diz a
sócia da consultoria Clean Energy
Latin America Camila Ramos. Ela
afirma que iniciativas internacionais,
caso do grupo C40 de Grandes
Cidades para Liderança do Clima,
ajudam a ampliar o debate sobre o
tema.
As principais soluções buscadas pelas
prefeituras estão ligadas ao uso de
energia solar e aproveitamento
energético em prédios públicos. A
previsão é que nos próximos anos
também despontem iniciativas de
mobilidade elétrica e melhorias na
iluminação pública, como a
substituição das lâmpadas
fluorescentes pelo LED. “Projetos de
autossuficiência energética de prédios
públicos devem aparecer bastante em
2021”, diz Naves.
O decreto 10.387, que criou
debêntures verdes incentivadas para
investimentos em infraestrutura com
benefícios ambientais e sociais, pode
aumentar a atratividade do setor
privado pelas próximas chamadas.
Além disso, o Projeto de Lei das
Debêntures (PL 2646/2020), em
discussão na Câmara, também tem
potencial para ampliar o interesse
privado pelas parcerias, caso seja
aprovado.
O texto prevê que projetos de
infraestrutura ligados ao
desenvolvimento sustentável possam
excluir da base de cálculo do Imposto
sobre a Renda e da CSLL até 50% da
soma dos juros pagos no exercício. “O
mercado de infraestrutura atrai
bancos, companhias de seguro e
fundos de pensão. São projetos de
longo prazo e que passam por vários
governos, por isso são necessários
incentivos seguros e claros para que
os investidores privados assumam
mais riscos. Há muitos projetos hoje e
04
a lei das debêntures geraria
incentivos importantes”, diz Mauricio
Menezes, sócio do Moreira Menezes,
Martins Advogados.
Apesar do baixo número de contratos
assinados, 2020 ainda é o ano com o
maior volume de novos projetos
lançados desde 2013. Neste ano houve
anúncio de 13 novas iniciativas para
PPPs de energia limpa nos níveis
federal, estadual e municipal, ante
nove em 2019. “Há a consciência mais
consolidada de que governos
precisam se apoiar na iniciativa
privada para realizar investimentos e
tornar o gasto público mais eficiente”,
diz Naves.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/
11/04/novos-prefeitos-devem-buscar-ppps-
de-energia-renovavel.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Riscos fiscais desafiam a gestão da dívida mobiliária
Nem o governo nem o Congresso
parecem comprometidos em
tocar as ações que poderiam ter
impacto na administração da
dívida
Os dados da administração da dívida
pública mobiliária mostraram o
tamanho do estrago causado pelas
incertezas do comprometimento do
governo com o ajuste fiscal,
especulações sobre a inflação futura e
pela turbulência no mercado
internacional provocada pela eleição
americana e pelo impacto da segunda
onda da covid-19 nos países
desenvolvidos.
O volume de títulos públicos emitidos
para cobrir os gastos extraordinários
do governo com a pandemia e fazer
frente aos resgates de R$ 74,6 bilhões
foi de R$ 155,3 bilhões em setembro,
o segundo maior da história. Somente
em Letras Financeiras do Tesouro
(LFTs), indexadas à Selic, os resgates
somaram R$ 72,1 bilhões.
O estoque da dívida mobiliária federal
avançou mais 2,6% e atingiu R$ 4,5
trilhões. O volume está dentro da
faixa do Plano Anual de
Financiamento (PAF), que já havia
05
sido ajustado no início da pandemia e
prevê que chegue até R$ 4,9 trilhões.
Mas assustou a estirada forte em
apenas um mês.
Além disso, houve aumento das
operações compromissadas, feitas
com títulos públicos da carteira do
Banco Central (BC), por prazos
curtos, o que reflete a rejeição ao
comprometimento por longos
períodos. Essas operações, que
servem para enxugar a liquidez que
espelha o déficit público, são
contabilizadas na dívida bruta e
totalizavam R$ 932 bilhões em
dezembro. Tiveram um crescimento
recorde entre fevereiro e julho,
chegaram a R$ 1,59 trilhão em agosto,
e atingiram R$ 1,7 trilhão em
setembro.
Outro ponto negativo foi o
encurtamento do prazo da dívida
mobiliária. Dado que os compradores
de títulos começaram a exigir juros
mais elevados para os títulos mais
longos, o Tesouro preferiu oferecer
papéis mais curtos para pagar menos,
e geralmente prefixados como Letras
do Tesouro Nacional (LTNs). Como
resultado, vencem em até 12 meses
mais de um quarto da dívida
mobiliária, ou 26,03%, o maior
percentual desde setembro de 2014,
no governo de Dilma Rousseff. O
vencimento só esteve igualmente tão
curto na crise financeira de 2008. No
início do governo de Jair Bolsonaro
era de 19%. Se for considerada apenas
a dívida mobiliária federal interna, o
percentual de vencimentos em 12
meses chega a 26,7% em comparação
com 22% em agosto. O total da dívida
que vence em mais de cinco anos caiu
de 20,8% para 17,1% de agosto para
setembro.
Já no início de outubro, diante dos
evidentes sinais de deterioração no
mercado, algumas medidas foram
introduzidas, em ação coordenada
entre o Banco Central e o Tesouro. O
BC reduziu a oferta das operações
compromissadas para tentar
aumentar a demanda pelos leilões do
Tesouro que, do seu lado, passou a
reforçar a oferta de papéis mais
curtos prefixados. Ao longo do mês, a
situação se distendeu ligeiramente,
mas segue a queda de braço entre as
autoridades e o mercado em torno das
taxas de remuneração oferecidas.
A favor do Tesouro conta o fato de os
vencimentos previstos para novembro
e dezembro somarem apenas R$ 14
bilhões, nem 10% do total resgatado
em setembro, como salientaram
representantes do Tesouro na
divulgação dos dados na semana
passada. No entanto, sabe-se que o
principal desafio do Tesouro será no
próximo ano, quando terá que fazer
frente a resgates que, até agora,
superam R$ 650 bilhões nos
primeiros quatro meses. O volume
respeitável se acumulou depois que o
Tesouro teve que reduzir o prazo dos
títulos oferecidos para contornar a
resistência dos investidores em
comprar os papéis mais longos, e
pode crescer ainda mais.
A disputa com o mercado se dá
também no âmbito da comunicação.
O Tesouro garante que entrará em
2021 com o caixa necessário para dar
conta dos vencimentos. O secretário
de Política Econômica do Ministério
da Economia, Adolfo Sachsida, disse
na semana passada que, se for
necessário, o governo voltará a fazer
06
transferências de parte do lucro do
Banco Central para capitalizar o
Tesouro em 2021, como fez
recentemente quando injetou R$ 325
bilhões do lucro das reservas
cambiais. Outra possibilidade
levantada foi nova devolução dos
recursos que o Tesouro colocou em
bancos públicos no passado.
Essas medidas ajudam, mas são
paliativas. Por enquanto, a taxa de
juros em patamar histórico de baixa
evita o agravamento da situação. O
problema é que nem o governo nem o
Congresso parecem comprometidos
em tocar as ações que poderiam ter
impacto na administração da dívida
mobiliária, que envolvem a questão
fiscal, ou seja, a reforma fiscal e a
administrativa, além da solução para
o programa Renda Cidadã.
https://valor.globo.com/opiniao/noti
cia/2020/11/04/riscos-fiscais-
desafiam-a-gestao-da-divida-
mobiliaria.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Brasil, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
CVM condena quatro ex-diretores da Petrobras
Paulo Roberto Costa e Renato
Duque foram condenados a
ficarem quinze anos sem
assumir cargos de
administrador ou conselheiro
fiscal de companhias abertas
Por André Ramalho — Do Rio
A Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) condenou ontem os ex-
diretores da Petrobras Paulo Roberto
Costa e Renato Duque a ficarem
quinze anos sem assumir cargos de
administrador ou conselheiro fiscal
de companhias abertas. A autarquia
concluiu o julgamento de ex-
administradores da empresa por
suposta violação do dever de
diligência nas decisões de
investimento nas refinarias Abreu e
Lima (PE) e Comperj (RJ) nos
governos dos ex-presidentes Luiz
Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
E decidiu absolver todos os demais
acusados por falta de diligência,
incluindo Dilma Rousseff e os ex-
ministros Guido Mantega e Antônio
Palocci, que atuaram como membros
do conselho da estatal.
Duque e Costa foram condenados não
por falta de diligência, mas por terem
07
violado o “dever de lealdade” - ou
seja, por terem votado a favor da
construção das refinarias em troca de
vantagens indevidas. Ex-diretor de
abastecimento, Costa foi punido
ainda com multas no valor total de R$
1 milhão, mais R$ 150 mil por um
terceiro processo que apurou a
responsabilidade de administradores
da estatal pelo descumprimento de
normas contábeis na elaboração dos
balanços de 2010 a 2014.
Nesse processo, além de Costa, o ex-
presidente da petroleira José Sérgio
Gabrielli e o ex-diretor financeiro
Almir Barbassa foram multados em
R$ 150 mil cada por infração a artigos
da Lei das S.A. e à Instrução CVM
480. A autarquia contesta o fato de a
petroleira não ter feito a redução ao
valor recuperável de ativos
(“impairment”) da Abreu e Lima
(rebatizada como Rnest), após a saída
da venezuelana PDVSA do projeto.
Cabe recurso ao Conselho de
Recursos do Sistema Financeiro
Nacional (CRSFN).
Hoje, a expectativa é que a CVM
retome outros dois julgamentos
pendentes e conclua se houve ou não
conduta irregular dos auditores
independentes (PWC e KPMG) nas
demonstrações financeiras de 2010 a
2014 da Petrobras. Não há executivos
da estatal nos casos.
Rnest e Comperj são dois símbolos
dos esquemas de corrupção revelados
na Lava-Jato. No voto do relator
Henrique Machado, da CVM, ele cita
que, na passagem da fase de
planejamento para a fase de execução
da refinaria pernambucana, em 2009,
a empresa reviu a previsão de custo
do empreendimento de US$ 4,1
bilhões para US$ 13,3 bilhões.
Machado votou a favor da condenação
de 17 ex-diretores e ex-conselheiros,
em multas que somam R$ 10,5
milhões, por falta de diligência na
deliberação sobre o avanço da Rnest.
Os demais diretores da CVM, Gustavo
Gonzalez e Flávia Perlingeiro votaram
pela absolvição dos acusados. No caso
da pauta sobre as obras do Comperj,
foram absolvidos os 22 ex-
conselheiros acusados. As
condenações dos ex-diretores
Barbassa, Guilherme Estrella,
Gabrielli, Nestor Ceveró, Duque e
Maria das Graças Foster, sugeridas
pelo relator, não foram acatadas.
O presidente da Petrobras, Roberto
Castello Branco, costuma se referir ao
Comperj e à Rnest como “cemitérios
da corrupção”. Os desvios nas obras
da refinaria do Rio, por exemplo,
foram a base da primeira condenação
do ex-governador Sérgio Cabral,
preso por recebimento de propina de
R$ 2,7 milhões da Andrade Gutierrez.
O tamanho do desperdício de
dinheiro na construção das duas
refinarias é superlativo: o Comperj,
por exemplo, foi abandonado em 2015
com mais de 80% das obras
executadas e já tendo absorvido
investimentos de mais de US$ 13
bilhões. Dinheiro irrecuperável.
Desde 2014, a Petrobras já
contabilizou “impairments” de R$ 45
bilhões devido às perspectivas de
perdas com os projetos.
Depois de concluir que o Comperj não
é economicamente viável, a Petrobras
pôs uma pá de cal naquele que era,
originalmente, um projeto de um
complexo petroquímico, mas que, ao
08
fim, será algo bem diferente de tudo o
que se planejou na era da bonança:
um polo de gás natural, rebatizado de
GasLub. Já a Rnest está à venda.
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Diretor da Aneel vai ao Cade e MPF contra decisão da agência
Sandoval de Araújo Feitosa foi
contra acordo firmado com a
ISA Cteep
Por Murillo Camarotto — De
Brasília
Um diretor da Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) decidiu
apelar ao Ministério Público Federal
(MPF) e ao Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (Cade) contra
uma decisão da autarquia da qual ele
discordou e foi voto vencido.
Sandoval de Araújo Feitosa, que está
na Aneel desde 2018, se posicionou
contrariamente a um acordo firmado
na semana passada entre a agência
reguladora e a ISA Cteep, uma das
principais transmissoras de energia
do país.
Pelo acordo, aprovado pela diretoria
colegiada da Aneel no dia 26, a
empresa aceitou reduzir em 13% a
Receita Anual Permitida (RAP) para a
concessionária Interligação Elétrica
Tibagi, que vai atender os Estados de
São Paulo e do Paraná.
Após vencer, em 2017, o leilão para a
construção de uma linha de
transmissão no interior paulista, a
09
Tibagi decidiu mudar a localização de
uma subestação, estratégia que
possibilitou uma redução importante
nos custos totais do projeto.
Ocorre que a mudança de localização
- justificada por limitações técnicas
relacionadas à proposta original - não
estava prevista no edital da licitação,
ou seja, as outras empresas que
participaram do certame não tiveram
chance de concorrer nas mesmas
condições.
A proposta vencedora representou
deságio de 32,2% em relação ao teto
proposto no edital. A segunda melhor
proposta ofereceu diferença bem
menor, de pouco mais de 5% abaixo.
Um processo administrativo foi
aberto e, após várias idas e vindas e
pedidos de vista, a diretoria da Aneel
aprovou, por maioria, a celebração do
acordo. A concessionária aceitou
reduzir a RAP de R$ 18,3 milhões
para R$ 15,9 milhões, além de uma
penalidade de pouco mais de R$ 6,7
milhões, que será paga em meados do
ano que vem.
Relatora do processo, a diretora Elisa
Barros chegou a considerar a
possibilidade de envio dos autos ao
Cade e ao Ministério Público, mas em
seguida entendeu que o acordo seria a
melhor saída. Em linha, o diretor-
geral, André Pepitone entendeu que
cancelar o leilão seria a forma mais
custosa tanto em aspectos temporais
quanto financeiros, traria insegurança
jurídica e não resolveria o problema.
Em nota, a Aneel informou que
decidiu “não encaminhar questão já
superada para o Cade e MPF, diante
da adoção no âmbito regulatório de
instrumentos consensuais saneadores
dos descumprimentos das regras
editalícias e contratuais”.
Feitosa decidiu apelar ao Cade e ao
MPF. Em ofícios encaminhados ao
procurador-geral da República,
Augusto Aras, e ao presidente do
Cade, Alexandre Barreto, o diretor da
agência fala em infração à ordem
econômica e até em crime.
Nos documentos, Feitosa lembra que
a Lei de Licitações tipifica como crime
“o ato de frustrar o caráter
competitivo do procedimento
licitatório, a fim de obter vantagem
decorrente da adjudicação do objeto
da licitação”. Em nota, ele negou que
esteja questionando decisões técnicas
da agência, mas reiterou o
entendimento de que as questões
merecem tratamento por parte do
Cade e do MP.
https://valor.globo.com/empresas/notici
a/2020/11/04/diretor-da-aneel-vai-ao-
cade-e-mpf-contra-decisao-da-
agencia.ghtml
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10
Valor Econômico
Caderno: Empresas, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Movimento falimentar
Processos de Falência Extintos
Requerido: Fortesplastic Indústria de
Embalagens Plásticas Ltda. - CNPJ:
11.421.801/0001-47 - Endereço: Rua
Domiciano Leite de Assis, 143,
Distrito Industrial - Requerente:
Polirex Comércio de Resinas Plásticas
Ltda. - Vara/Comarca: 1a Vara de
Jardinópolis/SP - Observação:
Desistência homologada.
Requerido: Metalúrgica W. A.
Indústria e Comércio Ltda. - CNPJ:
43.607.886/0001-49 - Endereço:
Rodovia Mario Batista, 4351, Bairro
Rio Das Pedras - Requerente:
Garantia Securitizadora S/A -
Vara/Comarca: 2a Vara de Tatuí/SP -
Observação: Desistência homologada.
Requerido: Ricar Lube Comércio de
Peças Eireli ME - CNPJ:
24.637.957/0001-01 - Endereço: Av.
Dr. Peixoto de Castro, 1060, Bairro
Cruz - Requerente: Garantia Banco
Fundo de Investimento em Direitos
Creditórios Multissetorial -
Vara/Comarca: 1a Vara de Lorena/SP
- Observação: Homologado acordo
celebrado entre as partes.
11
Reformas de Sentença de
Falência
Empresa: Fortesplastic Indústria de
Embalagens Plásticas Ltda. - CNPJ:
11.421.801/0001-47 - Endereço: Rua
Domiciano Leite de Assis, 143,
Distrito Industrial - Requerente:
Polirex Comércio de Resinas Plásticas
Ltda. - Vara/Comarca: 1a Vara de
Jardinópolis/SP - Observação:
Revogado o despacho de quebra da
requerida.
Recuperação Judicial Requerida
Empresa: Comercial de Alimentos
Merck Eireli - CNPJ:
17.746.737/0001-50 - Endereço: Rua
Vigário Godói, 140, Vila Zatt -
Vara/Comarca: 2a Vara de Falências e
Recuperações Judiciais de São
Paulo/SP
Empresa: P&r Alimentos do Brasil
Ltda., Nome Fantasia Produtos da
Mamãe - CNPJ: 19.348.187/0001-47 -
Endereço: Q Csg 10, Lote 03, Galpões
01 e 02, S/nº, Taguatinga -
Vara/Comarca: Vara de Falências e
Recuperações Judiciais do Distrito
Federal, Brasília/DF
Recuperação Judicial Deferida
Empresa: Optitex Indústria e
Comércio de Estojos e Brindes Eireli -
CNPJ: 51.747.038/0001-63 -
Endereço: Rua Shinzaburo Mizutani,
397, Bairro Jardim Marabá Ou Rua
Forte Dos Franceses, 70, Parque
Industrial São Lourenço -
Administrador Judicial: Gatekeeper
Consultoria Empresarial Ltda.,
Representada Pelo Dr. Rodrigo Cahu
Beltrão - Vara/Comarca: 1a Vara de
Falências e Recuperações Judiciais de
São Paulo/SP
https://valor.globo.com/empresas/notici
a/2020/11/04/551e583d-movimento-
falimentar.ghtml
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12
Valor Econômico
Caderno: Empresas, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
TVZ diverge da Multiplan e obtém liminar sobre aluguel
Advogados afirmam que varejo
de moda fatura hoje 35% do
verificado antes da pandemia
Por Adriana Mattos — De São
Paulo
Advogados da TVZ dizem que lojas de
shoppings faturam hoje cerca de 35%
do total registrado antes da pandemia
— Foto: Divulgação
A rede de moda feminina TVZ, da
família Zolko, obteve uma liminar na
Justiça do Rio de Janeiro para
depositar em juízo o pagamento do
aluguel da unidade do Barra
Shopping, empreendimento
controlado pela Multiplan. Pela
medida cautelar concedida, a TVZ
pagará um percentual do faturamento
mensal, e não um valor mínimo fixo
(definido em contrato) para os
13
vencimentos relativos ao período de
setembro a fevereiro de 2021.
Nos contratos de locação entre
lojistas e shoppings, pode ocorrer o
pagamento de um valor mínimo ou do
percentual das vendas mensais, sendo
que prevalece aquele que for maior.
Neste caso, trata-se de tutela de
urgência concedida à GMZ
Confecções, dona da TVZ, mas não há
julgamento do mérito, apenas o
depósito em juízo. Na internet, a TVZ
informa que há 50 lojas da marca no
país.
A liminar foi concedida semana
passada pela juíza Bianca Machado
Nigri, do Tribunal Regional da Barra
da Tijuca. A Multiplan informou
ontem que vai recorrer.
Advogados da TVZ alegam que as
varejistas de moda faturam hoje cerca
de 35% do verificado antes do início
da pandemia. Na semana passada, a
Multiplan publicou resultados
informando que as vendas no Barra
Shopping em setembro estavam em
um patamar de 89,7% do registrado
um ano antes, e na média para todos
os seus shoppings, a taxa estava em
75%.
Há algumas semanas têm surgido
divergências entre os números
divulgados por lojas satélites de moda
e pelos shoppings e suas respectivas
associações setoriais.
Empreendimentos relatam retomada
nas vendas, mas lojistas de vestuário
e calçados afirmam que o ritmo ainda
está muito lento.
Em comunicado ontem, a Multiplan
afirmou que “mantém medidas de
apoio aos lojistas, com reduções e
isenções desde os primeiros sinais da
pandemia” e que durante o período
em que permaneceu fechado, “o
shopping isentou os lojistas da
totalidade do aluguel mínimo e do
fundo de promoção, e de 50% dos
encargos comuns”.
O grupo observou que segue
comprometido com a recuperação das
atividades dos lojistas e que cumpre
suas obrigações contratuais e respeita
decisões judiciais.
Segundo a juíza do caso, “é bem
verdade que com o advento da
pandemia, fato este extraordinário e
imprevisível, verifica-se a necessidade
de revisão das relações comerciais e
contratuais, tendo em vista o
desequilíbrio financeiro que atingiu,
obviamente, ambas as partes
contratantes, o que já é objeto das
demandas ajuizadas”, escreveu nos
autos. “Em razão disso e pelo mesmo
motivo, não há razão para
indeferimento do pedido”.
A varejista de moda pediu que a
cobrança referente a setembro
correspondesse a 7% do faturamento,
perfazendo cerca de R$ 8,1 mil, nos
termos do contrato de locação,
acrescido do condomínio de cerca de
R$ 9,8 mil, totalizando R$ 17,9 mil. A
data de pagamento solicitada é 27 de
outubro.
A TVZ pede a não aplicação da multa
e correção monetária definida pelo
shopping por conta da prorrogação do
vencimento do boleto, bem como a
aplicação deste parâmetro (7% sobre
o faturamento) até o aluguel de
competência de fevereiro. Nesse
14
período, a rede de moda prevê que
ainda sofrerá os reflexos da
pandemia. A liminar concedida
autoriza o pagamento nas condições
pedidas e impede a cobrança de
multas.
A unidade localizada no Barra
Shopping é uma loja própria dos
sócios da TVZ, e opera no local desde
2009 - a rede existe há quase 30 anos.
Atualmente, após reajustes, o aluguel
mínimo corresponde a R$ 46,7 mil e,
somado ao IPTU, condomínio, fundo
de promoção e demais encargos,
supera os R$ 70 mil, segundo os
autos.
Nos autos, a Multiplan solicitou a
impugnação do pedido sob alegação
de que há ação anteriormente
ajuizada, “ocorrendo a identidade de
demandas”.
A juíza, porém, diverge da Multiplan e
afirma que “conforme se constata, o
pedido é diverso do mencionado pela
ré, eis que se trata de autorização
para depósito em juízo de valor que
entende devido, restando as demais
questões para serem analisadas em
outras demandas”, afirma.
Paralelamente, continua na Justiça,
desde 2019, a ação revisional com
renovatória de aluguel entre as
partes.
O aluguel da loja com vencimento em
outubro, por conta da limitação de
funcionamento, já sofreu desconto de
30%, diz a TVZ.
Há alguns meses, lojistas têm buscado
negociar o pagamento do aluguel
percentual, porque o valor mínimo
estaria correspondendo a um
montante considerável das vendas,
dizem eles. Os shoppings têm
alegado, porém, que já negociaram
descontos altos e isenções nas
cobranças no início da pandemia, o
que impediu uma judicialização do
tema na época.
Em São Paulo e no Rio,
empreendimentos ouvidos
pelo Valor ainda afirmam que é
válido o definido em contrato de
locação, e que o momento atual não é
considerado de calamidade pública -
não justificando, portanto, uma
análise dos termos dos contratos.
Por meio de advogados, a TVZ afirma
que não há crescimento da economia
neste momento, mas uma lenta
retomada. “As empresas de varejo que
atuam em shopping centers faturam
hoje cerca de 35% do que faturavam
antes do início da pandemia”, disse
Kleber Bissolatti, do escritório
Bissolatti Advogados, que representa
a TVZ e outras empresas de varejo.
https://valor.globo.com/empresas/notici
a/2020/11/04/tvz-diverge-da-multiplan-
e-obtem-liminar-sobre-aluguel.ghtml
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15
Valor Econômico
Caderno: Finanças, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Pesquisa mostra 570 reclamações
Foram analisadas 33 instituições
financeiras entre 5 de outubro
até o dia último dia 29
Por Fernanda Bompan — De São
Paulo
Levantamento do site ReclameAqui
registrou 570 questionamentos de
pessoas físicas relacionadas ao
cadastramento das chaves no Pix, o
novo sistema de pagamentos
instantâneos que entrará em vigor no
dia 16 deste mês. Foram analisadas 33
instituições financeiras entre 5 de
outubro até o dia último dia 29.
O principal questionamento se refere
a erro no cadastramento, com 182
menções, seguido por cadastro
indevido, com 135. Em terceiro,
aparecem queixas relativas a
cancelamento (114) e, na quarta
posição, a portabilidade da chave
(31).
Quem lidera o ranking é o Mercado
Pago, com 225 questionamentos,
seguido por C6 Bank, com 43. Entre
as grandes instituições, o Bradesco
conta com 40 queixas, seguido por
Nubank (34), Santander (27) e Itaú
(21).
16
O CEO do ReclameAqui, Eduardo
Neves, afirmou que o total de
reclamações é considerado pequeno, o
que demonstra o baixo interesse da
população pelo Pix.
Na avaliação dele, a explicação é que
faltam mais explicações,
principalmente do Banco Central,
sobre o uso, regras e vantagens desse
novo sistema. Neves entende que os
motivos das reclamações sinalizam
que houve “muita pressa” das
instituições em estimular o
cadastramento dessas chaves para
manter o cliente com contas ativas,
levando o cliente pessoa física ao erro
no processo, ou até autorizando sem
saber o que estava fazendo.
Ele lembrou que também houve erro
por parte das instituições, como o
sistema não estava funcionando e
cadastro indevido, conforme
noticiado pelo Valor.
Procurado, o Mercado Pago informou
que, no Reclame Aqui, 100% das
solicitações vêm sendo atendidas e
mais de 80% do total registrado já foi
respondido.
Em nota, o C6 Bank negou que houve
cadastro não solicitado de chave e
ressaltou que o cliente pode pedir o
cadastramento e o descadastramento
das chaves diretamente no app. “O
serviço está funcionando
normalmente.”
O Bradesco esclareceu que não houve
relatos de dificuldades dos usuários,
mas que eventuais problemas serão
resolvidos com orientações. O
Nubank reafirmou que todas as
chaves foram cadastradas com a
devida autorização dos clientes, e
informou que não comenta
publicamente casos específicos.
Também em nota, o Itaú afirmou que
tem o compromisso com a ética e a
satisfação dos clientes, e todas as
reclamações recebidas são tratadas
com o objetivo de melhoria contínua
dos produtos, serviços e atendimento.
https://valor.globo.com/financas/noticia
/2020/11/04/pesquisa-mostra-570-
reclamacoes.ghtml
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17
Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Justiça e Carf negam créditos de PIS e Cofins sobre representação comercial
Decisões são desfavoráves
mesmo após julgamento do STJ
sobre insumos
Por Adriana Aguiar — De São
Paulo
Advogado Pedro Moreira: um dos
poucos precedentes favoráveis levou
em conta a essencialidade da
atividade — Foto: Ana Paula
Paiva/Valor
Contribuintes estão perdendo a
disputa que trata da obtenção de
créditos de PIS e Cofins sobre
despesas com serviço de
representação comercial. Há decisões
desfavoráveis tanto no Conselho
18
Administrativo de Recursos Fiscais
(Carf) quanto no Judiciário - mesmo
após decisão do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), de 2018, que ampliou o
conceito de insumos.
Por meio desses representantes, a
indústria consegue divulgar seus
produtos para o comprador. O valor
pago para a prestação desses serviços
é significativo, principalmente para os
setores de alimentos, higiene,
medicamentos e confecções.
O embate, já antigo, tinha reanimado
empresas a entrar na Justiça após
julgamento, em recurso repetitivo, do
STJ (REsp 12 21170). Porém, decisões
recentes de ministros, ao mencionar o
precedente, têm sido contrárias aos
créditos para gastos com
representação comercial.
As empresas alegam nos processos
que a representação comercial é uma
atividade essencial para promover as
vendas e, por isso, deveria ser
considerada como insumo para
obtenção de créditos de PIS e Cofins.
As contribuições sociais incidem em
9,25%.
Para a Receita Federal, porém, os
valores pagos pelas indústrias a título
de comissão sobre vendas não geram
créditos de PIS e Cofins. O
entendimento foi reafirmado na
Solução de Consulta Cosit nº 31, de
março. O texto também menciona o
julgamento do STJ de 2018 e afirma
que não seria o caso de conceder os
créditos por não considerar o serviço
como essencial à produção.
Ao analisar o recurso de uma
indústria química e farmacêutica, o
ministro Gurgel de Faria decidiu, no
dia 2 de setembro, manteve
entendimento do Tribunal Regional
Federal (TRF) da 5ª Região, com sede
em Recife - que negou os créditos de
PIS e Cofins para os serviços
prestados de representação comercial.
A decisão, segundo ele, não está em
dissonância com o que definiu o STJ
em 2018, uma vez que não ficou
comprovada a sua essencialidade
(REsp 1864682). Neste mesmo
sentido, decidiu o ministro Sérgio
Kukina, em processo que envolve uma
indústria de papel, em decisão
publicada em outubro de 2019 (REsp
1834379).
Apesar do cenário, o advogado Fabio
Calcini, do escritório Brasil, Salomão
e Matthes Advocacia, acredita que
pode haver uma reviravolta no
Supremo Tribunal Federal (STF), que
deverá dar a última palavra sobre o
assunto, no processo, em repercussão
geral, que envolve a Unilever (RE
841.979).
Um dos pontos que será tratado é o
direito aos créditos de PIS e Cofins
sobre despesas com comissões. O
julgamento ainda não foi iniciado. O
relator é o ministro Dias Toffoli.
Calcini deve representar a Associação
Brasileira Produtores de Soluções
Parenterais (Abrasp) no caso que
deve atuar como amicus curiae (parte
interessada) no processo. Para o
advogado, a atividade dos
representantes comerciais deve ser
considerada serviço essencial para as
empresas porque a venda e o
faturamento das companhias estão
atrelados a esse desempenho.
19
“Esses representantes têm
significativa parcela de
responsabilidade na realização das
vendas e comercialização dos bens,
que geram a base de cálculo para o
PIS e a Cofins, que é a receita bruta”,
diz. Ele acrescenta que, apesar de não
ser uma atividade atrelada à
industrialização, é essencial para as
empresas. “Existem empresas com
80% da sua comercialização feita por
representantes comerciais.”
Nos Tribunais Regionais Federais
(TRFs), os julgamentos recentes
também têm sido desfavoráveis às
companhias. Há decisões na 1ª Região
(processo nº 2007.40.00. 005582-9),
com sede em Brasília, e na 3ª Região
(processo nº 5006485-
08.2020.4.03.0000), com sede em
São Paulo, além da 5ª Região. O
mesmo tem ocorrido no Carf
(processo nº 16327.000635/2009-
19).
Há apenas uma sentença favorável
recente, que se tem notícia, na 4ª
Vara de Ribeirão Preto, interior de
São Paulo. Beneficia uma empresa
que fabrica balões de festa e
brinquedos (mandado de segurança
nº 5003978-38.2019.4.03.6102).
Na decisão, o juiz Augusto Martinez
Perez afirma que “há que se entender
a atividade de representante
comercial como inserida no conceito
de insumo quando for vital para que a
empresa possa atingir seu mercado
consumidor, sem a qual não haveria
sequer produção. Afinal, esta
(produção) visa o mercado
consumidor”. E acrescenta: “A
atividade de representante comercial,
quando indispensável para a
atividade da empresa, há que ser
considerada insumo e essa conclusão
não afronta a decisão do STJ.”
O advogado que assessora a empresa,
Pedro Moreira, do CM Advogados,
afirma esperar que a sentença sirva
de precedente para outros casos, ao
aplicar de forma mais ampla e
acertada o conceito de insumos. “No
nosso caso conseguimos comprovar
que a atividade do representante
comercial é imprescindível”, diz.
Em nota, a Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional (PGFN) informa
que as decisões dos TRFs estão
atreladas à aplicação do conceito de
insumos definido no REsp 1221
170/PR pelo STJ. E destaca no
julgamento do STF (RE 841979/PE),
pelo qual se debate a
constitucionalidade do parágrafo 12
do artigo 195 da Constitucional
Federal (Tema 756 de repercussão
geral), “apesar de se tratar de um
amplo debate sobre a sistemática não
cumulativa do PIS/Cofins, acredita-se
que não impactará no conceito em si
de insumos definido pelo STJ, o qual
decorreu do exame do critério legal”.
https://valor.globo.com/legislacao/notici
a/2020/11/04/justica-e-carf-negam-
creditos-de-pis-e-cofins-sobre-
representacao-comercial.ghtml
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20
Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
STF vai reiniciar julgamento sobre taxa de exploração de minérios
Tema estava no Plenário Virtual,
com maioria formada contra o
contribuinte
Por Beatriz Olivon — De Brasília
Ministro Luiz Fux: pedido para retirar
tema do Plenário Virtual do STF — Foto:
Divulgação
O Supremo Tribunal Federal (STF)
vai reiniciar o julgamento sobre
cobrança de taxa de exploração de
minérios. O tema estava no Plenário
Virtual, com maioria formada contra
o contribuinte. Porém, a pedido do
ministro Luiz Fux, passará a ser
analisado presencialmente. Não há
previsão de quando a questão será
julgada.
A ação (ADI 4785) foi proposta pela
Confederação Nacional da Indústria
21
(CNI) contra a Lei nº 19.976, de 2011,
editada pelo governo de Minas Gerais.
A norma instituiu a Taxa de Controle,
Monitoramento e Fiscalização das
Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de
Recursos Minerários (TFRM).
Para a CNI, trata-se de um “imposto
mascarado de taxa”. Ainda segundo a
confederação, os Estados não têm
competência para legislar sobre
recursos minerários, sobre os quais
não possuem titularidade, assim
como não têm poder de polícia capaz
de autorizar a criação de taxa de
fiscalização dessa atividade.
Existem pelo menos mais duas ações
do tipo contra leis semelhantes,
editadas pelos Estados do Pará e
Amapá. Mas elas não foram pautadas.
De forma geral, nos três Estados, o
que gera a cobrança da taxa é o
“poder de polícia”, exercido no
momento da venda ou da
transferência entre estabelecimentos
pertencentes ao titular do minério
extraído.
Originalmente, a lei de Minas Gerais
previa isenção da taxa aos recursos
minerais destinados à
industrialização. Mas norma posterior
alterou este ponto e, no Supremo, os
ministros afastaram esse aspecto do
julgamento.
A Assembleia Legislativa do Estado de
Minas Gerais alega na ação que a
fiscalização da atividade mineradora
exige investimentos. Além disso,
afirma que não há confisco e que a
tributação questionada não
representa sequer 1% da receita bruta
ou 2,5% do lucro do setor.
“A maior mineradora do país paga
2,3% de sua receita a título de
tributos aos brasileiros e apresenta
uma lucratividade de 37,9% de seu
faturamento bruto”, diz a assembleia
na ação.
O relator, ministro Edson Fachin,
votou para negar o pedido da CNI -
sem julgar a parte sobre a isenção. Foi
seguido pelos ministros Cármen
Lúcia, Alexandre de Moraes, Ricardo
Lewandowski, Dias Toffoli e Celso de
Mello, que se aposentou e, portanto,
não vai participar do novo
julgamento.
Para o relator, em atuação
subsidiária, é possível ao ente
federativo estadual desempenhar
atividade administrativa, remunerada
mediante taxa. A taxa cobrada por
Minas Gerais, acrescenta em seu voto,
não é desproporcional e, por isso,
seria legítima.
O ministro Marco Aurélio abriu a
divergência, seguido pelos ministros
Luís Roberto Barroso e Gilmar
Mendes. Para Marco Aurélio, o
Estado usurpou da competência da
União ao legislar. “A busca incessante
por receita tem levado a distorções”,
afirma em seu voto. Faltavam as
manifestações da ministra Rosa
Weber e do ministro Luiz Fux, que
pediu o destaque, levando o caso ao
Plenário.
Para o advogado Paulo Honório de
Castro Júnior, do escritório William
Freire Advogados Associados, que
apresentou pareceres no processo,
desde que a taxa foi criada, em 2011,
as empresas têm obtido liminares
contra o recolhimento. Ele lembra
que existe um precedente do STF
sobre o tema, de 2019. Na ocasião, o
22
Plenário desautorizou a cobrança de
taxa de fiscalização de recursos
hídricos no Amapá (ADI 6211).
Prevaleceu o voto do ministro Marco
Aurélio.
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2
020/11/04/stf-vai-reiniciar-julgamento-
sobre-taxa-de-exploracao-de-minerios.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Margem de Valor Agregado do ICMS/ST
Os Estados-membros continuam a
aumentar indistintamente os
percentuais de MVA por meio de
decretos estaduais e com efeitos
imediatos
Por Alysson Amorim Yamasaki
A Margem de Valor Agregado (MVA),
prevista na Lei Complementar nº
87/1996 (Lei Kandir), é empregada em
operações interestaduais sujeitas à
substituição tributária no Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS/ST), consistindo em
percentuais aplicados em negócios
mercantis envolvendo a saída de
produtos de estabelecimentos
indústrias ou importadores,
relativamente às operações ou
prestações subsequentes.
Cabe ressaltar que o ICMS/ST foi
instituído sob o argumento de
simplificação da fiscalização de alguns
contribuintes, como os industriais e
importadores, em detrimento aos
demais contribuintes da cadeia
econômica.
Os Estados continuam a aumentar
os percentuais de MVA por meio
de decretos estaduais e com
efeitos imediatos
23
No entanto, assim como demonstrado
quando do julgamento pelo Excelso
Supremo Tribunal Federal (STF) do RE
593.849 (ADIs 2.777 e 2.675), com
repercussão geral, cada vez mais
cristalino que tal sistemática é ineficaz,
complexa e afronta ao princípio da
segurança jurídica.
Esse princípio não pode ser observado
em razão da incerteza e provisoriedade
da cobrança de ICMS/ST quando diante
de base presumida maior do que a
própria operação consolidada, gerando
onerosidade ao comerciante e
acréscimo de preço ao produto vendido
ao consumidor final.
E para agravar, ainda foi criada a MVA,
cujos critérios para sua aplicação foram
expressamente consignados com base
em ampla discussão no âmbito do
Projeto de Lei Complementar nº
190/2012, sendo a justificativa
consubstanciada na falta de
transparência, vigência imediata e uso
indistinto de sua progressividade pelos
Estados-membros.
De modo concreto, foi acrescentada a
seguinte redação à Lei Kandir: A
margem a que se refere a alínea c do
inciso II do caput será estabelecida com
base em preços usualmente praticados
no mercado considerado, obtidos por
levantamento, ainda que por
amostragem ou através de informações
e outros elementos fornecidos por
entidades representativas dos
respectivos setores, adotando-se a
média ponderada dos preços coletados,
devendo os critérios para sua fixação
ser previstos em lei.
Contudo, o fato é que os Estados-
membros continuam a aumentar
indistintamente os percentuais de MVA
por meio de decretos estaduais e com
efeitos imediatos. Esse modo de operar
é facilmente vislumbrado quando da
análise apurada dos Regulamentos de
ICMS dos Estados-membros e decretos
estaduais.
No Estado do Paraná a MVA foi
majorada pelo Decreto Estadual nº
804/2015, com previsão expressa de
produção de efeitos no mês posterior ao
da publicação em 20 de março de 2015.
No tocante ao Estado de Santa Catarina
também houve a majoração indistinta e
com efeitos imediatos de seu percentual
sobre autopeças relacionadas ao setor
automotivo do Protocolo de ICMS nº
97/2010, conforme os seguintes dados:
(i) 69,21% (sessenta e nove inteiros
cento e vinte e um décimos por cento)
no período de 01/09/2012 a
31/03/2015 - conforme previsão
Decreto nº 1077/2012; e, um aumento
significativo de (ii) 82,13% (oitenta e
dois inteiros cento e treze décimos por
cento) no período de 01/04/2015 a
30/04/2015 - nos termos do Decreto nº
43/2015.
Nesse contexto, note-se que os Estados-
membros acrescentam indiretamente a
base de cálculo do ICMS por meio do
aumento do percentual da MVA,
utilizando-se do instrumento normativo
equivocado e ainda com efeito surpresa.
Da mesma forma, deixam de justificar
os critérios para as respectivas
majorações nos termos da Lei Kandir. E
isso fica muito cristalino, por exemplo,
da simples análise dos percentuais
discrepantes de aumento de MVA no
Estado de Santa Catarina entre 2012 e
2015.
24
Em outras palavras, quando diante de
aumento de seu percentual por meio de
decreto, sem justificativas e com efeitos
imediatos, dois princípios basilares são
afrontados, especificamente os
princípios da legalidade e da
anterioridade.
Sob tais premissas, os contribuintes
podem ou devem defender-se de autos
de infração lavrados em razão de
diferencial de ICMS/ST, por meio de
defesa administrativa, sendo que,
existindo a manutenção do lançamento
tributário, pode ser ajuizado mandado
de segurança em face do lançamento
tributário, com previsão no artigo 5º,
inciso LXIX, da Carta Magna e artigo 1º
da Lei nº 12.016/2009.
No âmbito do Poder Judiciário, os
contribuintes podem buscar amparo
judicial para minoração da base de
cálculo desse tributo em suas
operações, isso também pela opção do
mandado de segurança, destacando-se
que a documentação comprobatória
pode ser apresentada de plano pelos
registros e planilhas contábeis, com a
demonstração ilegal da progressividade
da MVA - sendo a matéria ventilada de
direito, pois eventuais créditos deverão
ser objeto de restituição/compensação e
apuração perante a esfera
administrativa.
Consigne-se os seguintes julgados
favoráveis aos contribuintes: (i) agravo
de instrumento nº 10145130414132001,
Egrégio Tribunal de Justiça de Minas
Gerais; bem como (ii) o mandado de
segurança nº 1399079-5, objeto de
apreciação pela 1ª Câmara Cível em
Composição Integral do Egrégio
Tribunal de Justiça do Paraná.
Em conclusão ao aduzido, a sistemática
utilizada pelos Estados-membros em
relação à majoração do percentual da
MVA, com o cristalino desrespeito aos
princípios da legalidade e
anterioridade, traz como consequência
insegurança jurídica e complexidade
tributária aos contribuintes sujeitos ao
ICMS/ST, devendo esse modo de
operar ser extinto ou revisto e adequado
aos termos da Lei Complementar nº
87/1996.
Alysson Amorim Yamasaki é
advogado tributarista e diretor
jurídico da Câmara do Comércio e
Indústria Brasil Japão do Paraná,
especialista em Direito e Processo
Tributário pelo IBET, atualmente
cursando MBA em Gestão Fiscal
pela Universidade de São Paulo
(USP)
Este artigo reflete as opiniões do
autor, e não do jornal Valor
Econômico. O jornal não se
responsabiliza e nem pode ser
responsabilizado pelas
informações acima ou por
prejuízos de qualquer natureza
em decorrência do uso dessas
informações
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/
2020/11/04/margem-de-valor-agregado-
do-icms-st.ghtml
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25
Caderno: Mercado quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Estados endividados querem aval do Congresso para excluir saúde e educação do teto até 2023
Governadores também pressionam por
repasse de R$ 4 bilhões para estados e
municípios
Danielle BrantBernardo Caram
BRASÍLIA
Estados que furaram o teto de
gastos em 2018 e 2019 querem uma
espécie de perdão do governo federal
para esse descumprimento.
Governadores buscam aval do
Congresso para aderir à regra apenas
em 2021, 2022 e 2023, com autorização
para excluir despesas com saúde e
educação desse limite.
O teto de gastos é uma regra que
restringe o crescimento das despesas à
inflação do ano anterior.
Governadores também pressionam para
que o governo repasse R$ 4 bilhões
ainda neste ano para estados e
municípios como parte de um acordo
para repor perdas geradas pela Lei
Kandir, que isentou as exportações de
cobrança do ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços).
Tanto a alteração na regra do teto,
quanto o repasse de recursos dependem
de aprovação de projetos pelo
Congresso, que está com pauta de
26
votação restrita por conta do período
eleitoral.
Em 2016, em um momento de crise
financeira nos governos regionais, o
Congresso aprovou uma lei
que promoveu uma renegociação de
dívidas estaduais com a União. Foram
autorizados uma redução temporária do
valor das parcelas e o alongamento do
prazo de quitação.
Como contrapartida a esses benefícios,
20 estados aceitaram adotar o teto de
gastos. O objetivo era barrar do
crescimento das despesas correntes --
aquelas relacionadas ao funcionamento
da máquina pública, como pessoal,
água, energia elétrica e materiais
administrativos.
Presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), com governadores de vários
estados após reunião - Pedro Ladeira -
03.nov.2020/Folhapress
O teto de gastos para os estados passou
a vigorar, com validade de dois anos,
limitando o avanço das despesas
correntes à variação da inflação. Ocorre
que os gastos de saúde e educação
foram vinculados à variação da receita.
Assim, quando a receita aumenta,
sobem também os gastos com saúde e
com educação. Se a receita subir mais
que a inflação, é preciso cortar outras
despesas para abrir espaço no teto para
avanço do gasto em saúde e educação.
A regra para os entes não é a mesma da
aplicada no governo federal. Para a
União, uma emenda constitucional
limitou por dez anos, renováveis por
mais dez, o crescimento das despesas
primárias à variação da inflação.
No caso de saúde e educação, foi fixado
um piso, e seus gastos são corrigidos
pela inflação –e não pela variação da
receita, como ocorre nos estados e
municípios.
Em 2018 e 2019, a regra para os estados
foi descumprida por 11 deles: Acre,
Ceará, Goiás, Mato Grosso, Pará,
Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Sergipe.
Se isso ocorresse, conforme a
negociação acertada, o alongamento das
dívidas seria anulado e os estados
seriam obrigados a ressarcir o governo
dos valores que deveriam ter sido pagos
se não tivesse havido acordo.
A cláusula gera forte impacto nas
contas regionais, em momento de crise
fiscal provocada pela pandemia do novo
coronavírus. Isso porque esses estados
terão que voltar a pagar as parcelas
ordinárias, somadas a essa espécie de
multa pelo descumprimento da regra.
Esses valores voltariam a ser pagos em
2020, mas o estado de calamidade
pública e o socorro a estados aprovados
durante a pandemia suspenderam essas
cobranças até dezembro deste ano.
A partir de 1º de janeiro, esses entes
seriam penalizados com retenção do
Fundo de Participação dos Estados.
Pela regra, esses estados deverão
restituir R$ 43,9 bilhões ao governo
federal, segundo relatório do Tesouro
27
Nacional. Os repasses serão parcelados
em 12 meses.
Os entes com os maiores débitos são
Rio Grande do Sul (R$ 24,3 bilhões),
Rio de Janeiro (R$ 13,5 bilhões), Santa
Catarina (R$ 2,5 bilhões) e Goiás (R$ 1
bilhão).
Para evitar ficar sem os recursos,
governadores e representantes dos 11
estados foram nesta terça-feira (3) a
Brasília conversar com os presidentes
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e
do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-
AP). Eles também estiveram com os
secretários do Tesouro, Bruno Funchal,
e com o secretário especial de Fazenda,
Waldery Rodrigues.
A Maia e Alcolumbre, os governadores e
representantes de estados pressionaram
pela votação do Novo Plano Mansueto,
projeto de lei complementar do
deputado Pedro Paulo (DEM-RJ). A
articulação é para tentar aprovar o texto
até 31 de dezembro. Com isso, o
descumprimento da regra por esses
estados no passado seria regularizado e
o teto valeria por mais três anos,
segundo o secretário da Fazenda do
Mato Grosso, Rogério Gallo.
“No caso do Mato Grosso, seriam R$
600 milhões já a partir de 1º de janeiro.
Para os demais estados são [valores]
bilionários”, afirmou.
Segundo Gallo, a proposta também
busca excluir do teto de gastos apenas a
parcela de gastos em saúde e educação
que exceder a variação da inflação.
“Aquilo que exceder a variação da
inflação e aquilo que tiver aumentado
da receita dos estados não será
considerado para o teto de gastos dos
estados.”
Com isso, os governadores
conseguiriam cumprir o piso
constitucional de 12% de gastos em
saúde e de 25% com educação sem
estrangular as outras despesas.
“Você arrecadava acima da inflação,
tinha que gastar, mas não podia pelo
teto de gastos”, explicou Gallo. “Ele
cumpriria a saúde e educação e iria
sacrificar áreas fundamentais, como
assistência social, segurança pública e
outras áreas.”
O secretário afirmou que a exclusão é
importante também no contexto do
pós-pandemia, que gerou represamento
de cirurgias em hospitais e filas.
O objetivo, de acordo com o deputado
Pedro Paulo, é votar o texto na Câmara
em 17 de novembro, logo após o
primeiro turno das eleições municipais.
No Senado, a intenção é que a votação
ocorra no dia 19.
O novo Plano Mansueto deve conter
medidas de reforço da lei de
responsabilidade fiscal. Uma delas é a
unificação da classificação de despesa
de pessoal. Cada poder vai ter que
contabilizar a sua despesa de pessoal de
ativos e inativos, explica Pedro Paulo.
“Você vai acabar com algumas
contabilizações que existem em outros
poderes, de comissionado não estar em
despesa de pessoal”, disse. Os estados
terão dez anos para se ajustar à regra,
segundo o deputado.
A segunda medida é determinar que os
estados tenham caixa para cobrir todas
as despesas contraídas nos dois últimos
anos do governo. Hoje, a regra diz que
isso só precisa acontecer no último ano
de mandato do governante.
28
“A gente está terminando de estudar
isso, nos dois últimos anos do mandato
e, em um momento futuro, todos os
anos”, afirmou. “Isso é talvez uma das
principais medidas para frear esse
endividamento crescente. Porque o cara
fica apertado e começa a dar calote nos
fornecedores para poder pagar folha. E
isso vai acumulando um passivo
enorme.”
Os estados também negociam para
tentar incluir no rol de suspensões até
2023 as dívidas com organismos
multilaterais. “A União bancaria e esse
volume contabilizaria no saldo devedor.
Não é cancelar. Então, esse é um ponto
que imagino que o governo tenha algum
tipo de resistência”, afirmou o
deputado.
O Plano Mansueto original foi
desidratado após a votação do socorro a
estados e municípios para ajudar na
recuperação da arrecadação de
impostos por causa da pandemia do
novo coronavírus.
O texto, que tinha o nome do então
secretário do Tesouro, Mansueto
Almeida, continha um conjunto de
ações de médio e longo prazo para
ajudar na recuperação do equilíbrio
financeiro de estados e municípios que
adotassem medidas de ajuste fiscal.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2
020/11/estados-endividados-querem-aval-
do-congresso-para-excluir-saude-e-
educacao-do-teto-ate-
2023.shtml?origin=folha
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Caderno: Mercado, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Brasil, EUA e Japão costuram acordo para coordenar questões globais na tecnologia
Objetivo é adotar alinhamento comum
e representaria nova ofensiva contra a
China. Texto não traria referência
direta a 5G
Eliane Oliveira
04/11/2020 - 04:30 / Atualizado em
04/11/2020 - 07:13
Fábrica da Alibaba: acordo trilateral
pretende definir regras para tecnologias
disruptivas que marcam a quarta revolução
industrial, como a robótica Foto: Qilai Shen
/ Bloomberg
BRASÍLIA — Brasil, Estados Unidos e
Japão se preparam para lançar uma
espécie de diálogo trilateral, cujo
objetivo é definir posições comuns em
temas ligados à tecnologia, incluindo a
nova frequência 5G de telefonia móvel.
Esta seria mais uma ofensiva contra a
China, que corre o risco de ver a chinesa
Huawei ser banida, por pressão dos
americanos, como fornecedora de
equipamentos após o leilão de 5G que
será realizado em 2021.
29
Uma fonte do governo explicou que os
três países pretendem criar um grupo
similar ao Brics (sigla para Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul)
para discutir e coordenar questões
globais para a área tecnológica.
Essa fonte explicou que é mais uma
coordenação do que um alinhamento: a
ideia é que brasileiros, americanos e
japoneses trabalhem juntos para
definirem “as regras do jogo em todas
as tecnologias disruptivas (que
provocam uma ruptura com os padrões,
modelos ou tecnologias já estabelecidos
no mercado), que devem marcar a
quarta revolução industrial”.
Condições para competir
O acordo deve ser assinado nos
próximos dias. A avaliação é que o
diálogo trilateral sairá
independentemente das eleições nos
EUA. Tanto o atual presidente daquele
país, Donald Trump, quanto o
democrata Joe Biden, seu adversário,
deverão manter postura semelhante em
relação a Pequim. Porém, a pedido do
Brasil, o texto não terá referências
explícitas ao leilão de 5G.
Os três países já vêm se alinhando
contra Pequim há algum tempo. Duas
semanas atrás, Brasil, EUA e Japão
apresentaram um comunicado
conjunto, conclamando os outros 161
membros da Organização Mundial do
Comércio (OMC) a garantir o princípio
de economia de mercado no organismo,
para assegurar condições equitativas de
competição.
https://oglobo.globo.com/economia/
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Caderno: Mercado, quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Senado aprova autonomia do Banco Central. Entenda as mudanças em cinco pontos
Diretoria e presidente da autarquia
teriam mandatos fixos e não
coincidentes com o do presidente da
República. Proposta segue agora para
a Câmara
Gabriel Shinohara e Julia
Lindner
Projeto ainda deve ser apreciado pelos
deputados Foto: Jorge William / Agência
O Globo
BRASÍLIA — O Senado Federal
aprovou nesta terça-feira o projeto
que dá autonomia ao Banco Central
(BC). Foram 56 votos a favor e 12
votos contrários.
A proposta segue para avaliação da
Câmara dos Deputados, onde deve ser
apensada a um projeto semelhante
que já está tramitando.
O projeto faz alterações na estrutura
do Banco Central com a intenção de
proteger a diretoria e o presidente da
autarquia de interferências políticas.
30
A partir da sanção do projeto, a
diretoria terá mandatos fixos, e o
órgão deve dispor de autonomia
“técnica, operacional, administrativa
e financeira”. Como ainda precisa
passar por aprovação dos deputados,
o texto pode ser alterado.
Durante a sessão, o líder do governo
no Senado, Fernado Bezerra (MDB-
PE), que articulou o acordo para
votação, elogiou o trabalho do relator,
senador Telmário Mota (Pros-RR), e
de outros senadores. Segundo ele, o
debate já está maduro:
— É o Senado Federal que puxa a
agenda de reformas em primeiro
lugar e ainda vivendo um momento
eleitoral. O Senado Federal manda
um recado claro para toda a sociedade
brasileira de que estará à altura dos
desafios que o momento político está
a nos ensejar.
O presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (DEM-AP), ressaltou a
que a autonomia do BC é uma
blindagem contra as disputas
políticas:
— A credibilidade do BC junto aos
agentes econômicos sobe
exponencialmente quando se sabe que
seu compromisso básico é com o
controle da inflação e que ele está
livre das disputas políticas para
atingir tais objetivos.
O Congresso já discute sobre
autonomia do Banco Central há
décadas, mas a tramitação nunca
avançou. Um projeto de 1989, de
autoria do ex-presidente e então
senador Itamar Franco, já previa essa
mudança para a autarquia.
Antes da pandemia, o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
citava o projeto de autonomia como
um dos prioritários para entrar em
votação, mas a proposta sempre teve
muita resistência dos partidos de
oposição.
Veja as principais mudanças:
Papel do BC
Entre as responsabilidades atuais do
Banco Central, a principal é a
estabilidade de preços, com controle
da inflação. Com o projeto, ela seguirá
sendo o objetivo fundamental da
autarquia, mas será acompanhada por
três objetivos secundários: zelar pela
estabilidade e eficiência do sistema
financeiro, suavizar as flutuações do
nível de atividade econômica e
fomentar o pleno emprego, todas
“sem prejuízo de seu objetivo
fundamental”.
A inclusão do fomento ao pleno
emprego foi feita por uma emenda do
senador Eduardo Braga (MDB-AM) e
causou polêmica porque criaria um
“duplo mandato” ao Banco Central,
ou seja, o órgão teria que perseguir
dois objetivos ao mesmo tempo. No
entanto, o presidente do BC, Roberto
Campos Neto, sinalizou que não teria
problema de, na medida do possível,
tratar também do emprego.
Autonomia
A autonomia do Banco Central é
diferente de independência. Um
Banco Central independente tem
autoridade para definir suas próprias
metas e objetivos, algo que não será o
caso da autoridade monetária
brasileira caso o projeto seja
aprovado na Câmara.
31
O texto estabelece que o BC terá que
perseguir as metas definidas pelo
Conselho Monetário Nacional (CMN),
órgão que atualmente reúne o
ministro da Economia, o secretário
especial de Fazenda e o presidente do
BC. Por exemplo, as metas de inflação
de cada ano são definidas por esse
conselho e perseguidas pelo Banco
Central.
Mandatos
A proposta estabelece mandatos fixos
de quatro anos para o presidente e
para a diretoria do Banco Central e
prevê que o presidente da República
não poderá demiti-los por vontade
própria sem passar por avaliação do
Senado Federal.
Além disso, esses mandatos não serão
coincidentes com o do presidente da
República. O presidente do Banco
Central assume o cargo no terceiro
ano de mandato do presidente da
República. Cada diretor poderá ser
reconduzido ao cargo uma única vez.
O projeto prevê quatro possibilidades
para que algum diretor ou o
presidente do BC seja exonerado do
cargo: no caso do próprio diretor ou o
presidente pedir para sair; de alguma
doença que incapacite o exercício do
cargo; em caso de condenação com
trânsito em julgado ou proferida por
órgão colegiado por improbidade
administrativa ou com pena de
proibição de exercício de cargos
públicos; e, por último, quando
apresentarem “comprovado e
recorrente” desempenho insuficiente.
Nesse último caso, o Conselho
Monetário Nacional (CMN) deve
apresentar uma proposta de
exoneração ao presidente da
República, que, por sua vez, deve
enviá-la ao Senado. Se houver
maioria absoluta entre os
parlamentares, o membro da diretoria
ou o presidente do BC poderá ser
exonerado.
O projeto também estabelece que, em
até 90 dias após a publicação da lei, o
governo deverá nomear o presidente e
os oito diretores do BC. Se os
indicados já estiverem nos cargos,
não haverá necessidade de sabatina
pelos senadores.
A primeira composição da diretoria
deverá seguir a seguinte ordem:
presidente e dois diretores com
mandatos até o fim de 2024, dois
diretores até o fim de 2023, outros
dois até 28 de fevereiro de 2023 e os
dois restantes até 31 de dezembro de
2021.
Status de ministro
Atualmente, o BC é subordinado ao
Ministério da Economia e seu
presidente tem status de ministro.
Com o projeto, o Banco Central
passaria a não ter vinculação com
ministérios, e o cargo de ministro será
transformado em de "natureza
especial de presidente do Banco
Central do Brasil”.
Confiança do mercado
O projeto de autonomia tem apoio do
mercado financeiro porque blinda as
autoridades que precisam cuidar da
política monetária de interferências
políticas. Por exemplo, se um
presidente da República quiser
diminuir os juros mesmo que as
condições da economia não sejam
ideais para isso, ele terá menos poder
32
de pressão sobre o Banco Central para
forçar essa redução.
Vários países tem bancos centrais
autônomos ou independentes,
inclusive as principais economias do
mundo, como Estados Unidos e
Inglaterra, e países emergentes, como
o Chile.
Desde o início do governo, o projeto
de autonomia do BC esteve na lista de
prioridades da equipe econômica,
inclusive estava literalmente na lista
de 19 projetos que o ministro da
Economia, Paulo Guedes, apresentou
no início da pandemia como
prioridades para conter os efeitos da
crise que se avizinhava.
No entanto, a votação do projeto
relatado pelo deputado Celso
Maldaner (MDB-SC), ao qual a
proposta do Senado deve ser
apensada na Câmara, estava sendo
adiada mesmo antes de o coronavírus
chegar ao país e perdeu ainda mais
espaço quando o Congresso passou a
atuar em sessões remotas.
https://oglobo.globo.com/economia/sen
ado-aprova-autonomia-do-banco-central-
entenda-as-mudancas-em-cinco-pontos-
2-24726708
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Caderno: Mercado quarta-feira 04 de novembro de 2020.
Petrobras se posiciona sobre compra da Linx pela Stone ao Cade
Fernanda Guimarães
04 de novembro de 2020 | 05h00
De maneira inesperada, a Petrobras
também opinou sobre a compra da
Linx pela Stone, junto ao Conselho
Administrativo de Defesa Econômica
(Cade). Ao ser instada pelo órgão
antitruste, a Petrobras buscou
entender a razão do questionamento e
identificou que os contratos firmados
com as empresas haviam sido
assinadas com a BR Distribuidora,
que deixou de ser controlada pela
estatal, após vendas de ações via
oferta em Bolsa.
Colaboração. Mesmo assim, a
Petrobras citou em documento
entregue ao Cade que, para colaborar
com a defesa da concorrência, foi
atrás das considerações de sua ex-
subsidiária integral. O documento
entregue diz que quase todos os
postos BR Mania utilizam a solução
de automação da Linx.
Agora sim. A BR, assim, disse que
pode haver risco em relação à
priorização ou à preferência da Stone
para integração dos sistemas de
gestão da Linx, em detrimento de
outros meios de pagamento ou a
criação de barreiras de entrada de
novas empresas de adquirência
(maquininhas). Apesar disso, afirmou
33
entender que a relação entre os
serviços de soluções de pagamento e
software de gestão empresarial é de
complementariedade. Procuradas,
Linx e Stone não responderam até o
momento.
Contato: [email protected]
https://economia.estadao.com.br/blogs/
coluna-do-broad/petrobras-se-posiciona-
sobre-compra-da-linx-pela-stone-ao-
cade/
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Quarta-feira, 04 de novembro de 2020
SERVENTIA EM REFORMA
Com nova resolução, distribuição de reclamações deve ficar mais transparente no STF
Reclamação contra desrespeito a
Súmula Vinculante, como a que
proíbe juiz de esconder autos dos
advogados, deve ser livremente
distribuída. É o que estabelece o
parágrafo primeiro do artigo 70 do
Regimento do Supremo Tribunal
Federal. O ocultamento dos autos não é
novidade, mas tornou-se recorrente
desde que se instaurou
o lavajatismo no país.
"Art. 70. Será distribuída ao Relator do
feito principal a reclamação que tenha
como causa de pedir o
descumprimento de decisão cujos
efeitos sejam restritos às partes.
(Redação dada pela Emenda
Regimental n. 34, de 7 de agosto de
2009)
§ 1º Será objeto de livre distribuição a
reclamação que tenha como causa de
pedir o descumprimento de súmula
vinculante ou de decisão dotada de
efeito erga omnes. (Incluído pela
Emenda Regimental n. 34, de 7 de
agosto de 2009)".
34
Segundo Regimento do STF,
reclamação contra descumprimento de
Súmula Vinculante deve ser distribuída
livremente Fernando Stankuns/Wikimedia Commons
Advogados e professores ouvidos
pela ConJur foram unânimes em dizer
que as regras do Regimento do STF
sobre distribuição de reclamação contra
descumprimento de Súmula
Vinculantes são bastante claras, e que a
edição da resolução deve trazer mais
transparência para esse processo.
Para o advogado Rogério Taffarello,
"esse tema da distribuição de processos
é tão fundamental quanto pouco olhado
com a atenção que merece". "Não sei se
tenho muito a contribuir no tema, para
além de dizer o que já se sabe — até
porque, felizmente, as regras do RISTF
aplicáveis são bastante claras", afirma.
Segundo Taffarello, desde a aprovação
da Emenda Regimental 34/09, está
claro no Regimento Interno do
Supremo que a reclamação que tenha
como objeto o descumprimento de
decisão com efeitos erga omnes ou o
descumprimento de Súmula Vinculante
não se distribui por prevenção, mas
deve ter livre distribuição.
Trata-se de uma regra bastante clara no
RISTF, a qual não dá margem a
interpretação diversa, pois, em matéria
de reclamação, a distribuição ao relator
do feito principal só ocorre quando o
objeto da reclamação for o
descumprimento de decisão do STF
com efeitos inter partes no processo.
É sempre indesejável, segundo o
advogado, que um processo demore
dias para ser distribuído, sobretudo
quando se trate de matéria criminal. Foi
o que aconteceu, por exemplo, com
a reclamação feita pela defesa de Michel
Temer no STF. Ela chegou à Corte em
26/10, foi protocolizada no dia seguinte
e distribuída apenas em 29/10, por
prevenção.
A Resolução 706/20 da presidência do
tribunal tem um claro intuito de
assegurar maior transparência e
correção na distribuição dos processos
na Corte, no que é muito bem-vinda,
mas é preciso que efetivamente
funcione, avaliou Taffarello. "Os
últimos anos mostraram algumas
possíveis falhas em um sistema de
distribuição que todos acreditávamos
ser seguro; portanto, é necessário, sem
dúvidas, em esforço de
aprimoramento."
Ao se referir à reclamação proposta pela
defesa de Temer, o advogado Alberto
Zacharias Toron afirma que "há algo
de errado num sistema que,
previamente, exclui determinado
ministro da distribuição, mas, ao
mesmo tempo, permite que o processo
vá para ele". "Isso precisa ser objeto de
urgente correção para evitar demora na
prestação jurisdicional. E, como todos
sabemos, essa demora acaba sendo fatal
para o direito da parte", diz.
Para Pedro Serrano, "a distribuição
como regra geral deve ser livre e
aleatória, como consectário da
imparcialidade do juízo". "As exceções
35
são as previstas na legislação, como a
prevenção etc. Qualquer conduta fora
desse padrão é inaceitável face aos
princípios da democracia
constitucional. No STF, não há razão
plausível que justifiquem os desvios
ocorridos, é dever da Presidência
corrigi-los o mais rápido possível",
adverte.
Flávio Yarshell, professor de Direito
Processual Civil da Faculdade de
Direito da USP, diz que a distribuição
de reclamação fundada em
descumprimento de súmula vinculante
deve ser feita de forma livre, diante do
texto expresso e claro do Regimento
Interno do STF.
"Isso é tanto mais claro quando a
medida está fundada no desrespeito à
Súmula 14 da Corte, em que o objeto do
processo é a pretensão de fazer valer o
direito de acesso aos elementos de
prova constantes de procedimento
investigatório. Nesse caso, deve
prevalecer a regra de que a competência
é sempre determinada in status
assertionis, isto é, segundo a asserção
feita pelo requerente — conforme
amplamente reconhecido pela doutrina
e jurisprudência, quando se trata de
fixação de competência", explica.
Ele acrescenta que, quando ainda se
busca saber qual o objeto de uma dada
investigação, não há como fazer
vinculação antecipada com qualquer
outro processo ou investigação, até
mesmo por uma razão de lógica. "Para
se determinar eventual prevenção seria
preciso desconsiderar os termos da
pretensão, que exclusivamente ao
requerente cabe delimitar. Ainda,
eventual prevenção num caso como
esse representaria adiantar juízos sobre
eventual vinculação da investigação que
o requerente quer conhecer com
eventuais outras vias de persecução; o
que, tudo leva a crer, feriria a garantia
do juiz natural", conclui.
Revista Consultor Jurídico, 4 de
novembro de 2020, 8h18
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36
Quarta-feira, 04 de novembro de 2020
ANTT será multada em R$ 100 mil se descumprir liminar favorável a aplicativo
ANTT apreendeu ônibus após liminar
favorável a aplicativo de fretamento Bryan Sim/Pexels
A Justiça Federal em São Paulo decidiu
estipular uma multa de R$ 100 mil caso
a Agência Nacional de Transportes
Terrestres volte a impedir viagens
intermediadas pelo Buser no Rio de
Janeiro e em São Paulo. O aplicativo
atua na intermediação de viagens entre
passageiros e empresas de fretamento
de ônibus.
No último dia 28, a empresa
obteve liminar para que às
Coordenações de Fiscalização das
Unidades do Rio de Janeiro e São Paulo
se abstenham de qualquer medida que
impeça o fretamento de veículos por
meio da plataforma.
A decisão de estipular a multa de R$
100 mil foi provocada por apreensão
realizada pela ANTT no último sábado
37
(1º/11) em um ônibus da empresa
Spazzini Turismo, que atende por meio
da Buser. A apreensão foi realizada um
dia depois de uma outra decisão,
também da Justiça Federal em SP, que
havia determinado que a agência não
poderia impedir o serviço.
O descumprimento da decisão foi
reportado ao Juízo no plantão de
feriado, Marcia Hoffmann do Amaral e
Silva Turri, que determinou a liberação
do veículo e fixou a multa de R$ 100 mil
para cada nova apreensão realizada.
"A decisão foi proferida de forma
preventiva, para impedir apreensões
que vinham sendo irregularmente
realizadas. Os fretadores são, em
extensa maioria, pequenos empresários
que foram duramente afetados pelos
efeitos econômicos da pandemia. Além
disso, vêm enfrentando inúmeras
dificuldades nos últimos tempos em
razão de atos arbitrários do Poder
Público e que, aparentemente, têm por
finalidade garantir uma reserva de
mercado para poucos participantes",
explica o advogado da Spazzini
Turismo, Felipe Rodrigues, do
escritório Desio Senra Advogados.
Clique aqui para ler a decisão
sobre a Spazzini Turismo
5021649-46.2020.4.03.6100
Revista Consultor Jurídico, 4 de
novembro de 2020, 9h33
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Quarta-feira, 04 de novembro de 2020
STF volta a julgar incidência de ICMS em operações com software
O julgamento começou semana
passada com a leitura do relatório e
sustentações orais.
Nesta quarta-feira, 4, o plenário do STF
retoma o julgamento de duas ações que
questionam a incidência do ICMS sobre
as operações com programas de
computador. A sessão da semana
passada contou com a leitura do
relatório e as sustentações orais.
(Imagem: Burst)
ICMS - Software
Em uma das ações, a CNI -
Confederação Nacional das Indústrias
contesta o parágrafo 6º do artigo 25 da
lei 7.098/98, do Estado do Mato
Grosso, que estabeleceu diferença
tributária no crédito de ICMS. Para a
Confederação, o dispositivo contraria a
Constituição Federal, pois gerou
"cumulatividade do imposto nas
aquisições interestaduais", sobretudo
38
em razão de já estarem arroladas no
âmbito de incidência do ISS.
Já na outra ação, a CNS - Confederação
Nacional de Serviços pede a declaração
de inconstitucionalidade do decreto
46.877/15, de Minas Gerais. A
legislação questionada, diz a CNS, fez
com que empresas prestadoras de
serviços de processamento de dados e
serviços de informática, como as
filiadas aos sindicatos e federações
vinculadas à autora, passassem a ser
submetidas ao recolhimento do ICMS
sobre as operações com programas de
computador.
Sustentação orais
Pela CNS, o advogado Ricardo Godoi
defendeu que a legislação é clara no
sentido de que o licenciamento de
softwares deve ser tributado pelo ISS.
Para que fosse possível a incidência do
ICMS nas operações em questão,
segundo o advogado, haveria
necessidade de se alterar a LC 116/03,
que trata do ISS, como a LC 87/96, que
trata do ICMS.
Como amigo da Corte, a Brasscom -
Associação Brasileira de Empresas de
Tecnologia da Informação, pelo
advogado Enzo Megozzi explica que
qualquer que seja a modalidade da
comercialização da licença de software,
não há transferência de titularidade -
requisito previsto para que se dispare a
incidência do imposto estadual. Assim,
entende que a incidência do ICMS
retirará dos cofres municipais valor
expressivo recolhido pelo setor.
O advogado Saul Tourinho, pela amiga
da Corte ABES - Associação Brasileira
das Empresas de Software, procedeu à
explicação das diferenças entre
hardware e software: enquanto o
primeiro é um bem, devendo incidir o
ICMS; o segundo é serviço, devendo
incidir o ISS: "hardware é do Estado e o
que é software é do município", disse.
Pela Abrasf - Associação Brasileira das
Secretarias de Finanças das Capitais, o
advogado Ricardo Silva afirmou que "os
softwares nunca foram hardwares", ou
seja, bens físicos. O causídico explicou
que no mundo todo, software é
considerado serviço e questionou: "Será
que só no Brasil vamos inventar algo
diferente para isso?".
Finalizando as sustentações orais, o
vice-PGR Humberto Jacques entende
que se adquire "software", pois não é o
meio que se está a adquirir, mas o
produto software. Para o representante
do parquet, o fato da "mercadoria
incorpórea", o software, fazer algo no
computador, não a transforma em
serviço, nem lhe retira a natureza de
bem, ou seja, deve incidir o ICMS.
• Processos: ADIns 1.945 e 5.659
Por: Redação do Migalhas
https://migalhas.uol.com.br/quentes/335835/stf-volta-a-julgar-
incidencia-de-icms-em-operacoes-com-software
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39
Quarta-feira, 04 de novembro de 2020
Direito de arrependimento e produtos perecíveis: O acerto da lei 14.010/20
Carolina Nardy Gabriel
Apesar de parecer algo simples essa
"limitação temporária" ao direito de
arrependimento com relação a
produtos perecíveis ou consumo
imediato de medicamentos, o
dispositivo merece reflexão mais
aprofundada.
(Imagem: Arte Migalhas)
A instabilidade econômica e social
acarretada pelo covid-19 ensejou a
promulgação da lei 14.010/20, que
instituiu normas de caráter transitório e
emergencial para a regulação de
relações jurídicas de Direito Privado, de
modo a promover adequações
condizentes com a excepcional situação
vivenciada.
Especificamente no âmbito do Direito
do Consumidor, art. 8º da lei 14.010/20
tangencia ponto importante quanto ao
exercício do direito de arrependimento,
declarando sua "suspensão", até
30/10/20, nos casos de entrega
40
domiciliar de produtos perecíveis ou de
consumo imediato e de medicamentos.1
Apesar de parecer algo simples essa
"limitação temporária" ao direito de
arrependimento com relação a produtos
perecíveis ou consumo imediato de
medicamentos, o dispositivo merece
reflexão mais aprofundada.
O Código de Defesa do Consumidor (lei
8.078/90) completou 30 anos e,
durante todo esse período, apesar de se
tratar de fato cuja constatação é
praticamente instintiva, a
inaplicabilidade do direito de
arrependimento a produtos perecíveis
nunca foi consignada expressamente
em lei.
Veja-se que o artigo 49 do CDC dispõe
genericamente sobre o direito de
arrependimento: "o consumidor pode
desistir do contrato, no prazo de 7 dias
a contar de sua assinatura ou do ato de
recebimento do produto ou serviço,
sempre que a contratação de
fornecimento de produtos e serviços
ocorrer fora do estabelecimento
comercial, especialmente por telefone
ou a domicílio."
Essa redação legal talvez fosse
condizente com a realidade da época de
sua elaboração, mas é certo que, desde
então, o surgimento de novos produtos
e serviços, bem como meios de
comunicação, trouxe tamanho
dinamismo à sociedade que impõe a
atualização daquele texto, se não por
meio de alteração legislativa, ao menos
pela sua interpretação adequada.
Nesse sentido, Eros Roberto Grau
explica, com maestria, que "se todo
texto pretende ser compreendido em
cada momento e em cada situação
concreta de uma maneira nova e
distinta, a interpretação (...) há de ser
concebida como atividade que adapta
o direito às necessidades presentes e
futuras da vida social (= atualiza-lo),
na acepção mais ampla dessa
expressão. Os textos de direito não
veiculam enunciados semânticos
cristalizados, congelados no tempo."
De fato, querer aplicar, nos dias de hoje,
a letra fria da lei elaborada há três
décadas, é condenar a sociedade à
estagnação, a viver eternamente sob os
parâmetros jurídicos de uma realidade
há muito ultrapassada. Portanto, não se
pode fechar os olhos ao descolamento
da realidade em relação à norma. A
construção e atualização constantes do
direito são absolutamente necessárias,
em processo dinâmico de contínua
adaptação dos textos normativos aos
fatos.
A realidade enfrentada pré-pandemia já
contrastava com a vivida quando da
promulgação da lei 8.078/90. O
desenvolvimento e a expansão do e-
commerce e de aplicativos de entrega
de refeições transformaram
profundamente a rotina dos
consumidores, que utilizam com
frequência e estão familiarizados com
os serviços oferecidos naquelas
plataformas.
Na Europa, a diretiva 97/7/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, há
tempos proíbe o exercício do
denominado "direito de rescisão" no
contratos de fornecimento de bens que,
pela sua natureza, não possam ser
reenviados ou sejam suscetíveis de se
deteriorarem ou perecerem
41
rapidamente (art. 6º, 3, terceiro
travessão).
Posteriormente, a Diretiva 2011/83/UE,
do Parlamento Europeu e do Conselho,
manteve a previsão em comento e, em
seu art. 16, alínea "d", consigna que, no
tocante ao "fornecimento de bens
suscetíveis de se deteriorarem ou de
ficarem rapidamente fora de prazo", os
Estados-Membros não conferem o
"direito de retratação" relativo a
contratos celebrados à distância e fora
do estabelecimento comercial.
Neste sentido, autores rechaçam o
exercício do direito de arrependimento
em relação a bens perecíveis, como
Orlando Celso da Silva Neto, segundo o
qual "existem contratos firmados a
distância que não poderão ser objeto
de arrependimento, tais como aqueles
versando sobre bens perecíveis ou de
bens/serviços de consumo imediato
(que se extinguem pelo uso)"2.
Acertadamente, a lei 14.010/20
reconheceu que o consumidor não pode
exercer o direito de arrependimento
com relação a produtos perecíveis e, por
meio de tal limitação, impede o abuso
de direito.
Veja-se que há fundamento por trás dos
dispositivos e da vedação ao direito de
arrependimento especificamente
quanto a produtos perecíveis. Para nós,
o dispositivo não inova, mas apenas
explicita e torna inquestionável a norma
que já se havia de extrair da
interpretação sistemática do Direito do
Consumidor.
O Código de Defesa do Consumidor
impõe que haja equilíbrio nas relações
de consumo, com base na boa fé,
conforme preconiza o art. 4º, III:
III - harmonização dos interesses dos
participantes das relações de consumo
e compatibilização da proteção do
consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e
tecnológico, de modo a viabilizar os
princípios nos quais se funda a ordem
econômica (art. 170, da Constituição
Federal), sempre com base na boa-fé e
equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores
Compreendendo a essência do
dispositivo, Sergio Cavalieri Filho
afirma que "a proteção do consumidor
deve ser na exata medida do necessário
para compatibilizar o desenvolvimento
econômico e tecnológico do qual
necessita toda a sociedade e equilibrar
as relações entre consumidores e
fornecedores"3.
A harmonia nas relações de consumo
deve ser preservada, de modo que o
reconhecimento da vulnerabilidade do
consumidor, com sua consequente
proteção, não pode implicar tratamento
hostil ao fornecedor. Como bem explica
Felipe Peixoto Braga Netto, "o essencial
é o correto equilíbrio da balança."4
Humberto Theodoro Júnior reforça
esse aspecto ao afirmar que "essa tutela
legal não se destina a criar privilégios
que façam inverter, em favor do
consumidor, o desequilíbrio inicial da
relação jurídica. O que o CDC procura
assegurar é a harmonia e o equilíbrio
entre as duas posições contratuais (art.
4º, caput, e inc. III)"5.
Sob este viés, cumpre destacar que a
regra genérica estabelecida pelo art. 49
do CDC parte do pressuposto de que o
exercício do direito de arrependimento
não acarreta prejuízo injusto a
nenhuma das partes (consumidor e
fornecedor), na medida em que, após a
42
devolução do produto, o fornecedor
poderia aproveitá-lo, revendê-lo etc. É o
que ocorre, por exemplo, quando um
consumidor exerce o direito de
arrependimento em relação a um bem
durável, como um livro, um
computador, ou uma peça de roupa. O
prejuízo do fornecedor certamente é
reduzido, pois o valor comercial do bem
é preservado.
Contudo, ao se considerar a aquisição
de alimentos via delivery,
inegavelmente o vendedor sofreria
dano, pois além da devolução do valor
pago pelo consumidor, assumiria o
prejuízo equivalente ao custo integral
de produção, na medida em que os
alimentos não mais podem ser
aproveitados e comercializados. Impõe-
se ao fornecedor risco desproporcional
inaceitável.
Nota-se, portanto, que o direito de
arrependimento encontra limites e deve
ser norteado, como todos os demais
atos, pelo princípio da boa-fé objetiva,
regra de conduta que exige das partes
comportamentos conforme parâmetros
de honestidade e de lealdade a fim de
estabelecer equilíbrio das relações.
Trata-se de princípio que visa a garantir
relações sociais e comerciais saudáveis,
sem abusos ou danos ilegítimos. No
mais, a boa-fé objetiva é exigível dos
dois polos de qualquer relação jurídica.
A lei 14.010/20, apesar de promulgada
com o objetivo de regular período
atípico, acertou ao reconhecer a
inaplicabilidade do direito de
arrependimento quanto a produtos
perecíveis, na medida em que é
inadmissível franquear ao consumidor,
que realizou compra de alimento para
consumo imediato, a possibilidade de
arrependimento em até 7 (sete) dias
após a compra, em prejuízo ao
fornecedor.
Para além da violação da boa-fé,
estender o direito de arrependimento,
indiscriminadamente, aos gêneros
alimentícios e perecíveis, configuraria
abuso de direito, nos termos do art. 187
do Código Civil: "também comete ato
ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes".
Assim, a hipotética aplicação do art. 49
do CDC aos produtos perecíveis
adquiridos para consumo imediato
escapa à lógica, ultrapassa a barreira da
justa conduta, é desproporcional e
flerta com o abuso de direito, violando
os limites da boa-fé e ignorando os
princípios do CDC. Admitir tal
pretensão levaria a distorções e a
prejuízos aos fornecedores, causando
desequilíbrio e ruína a toda a cadeia de
consumo.
A delimitação temporal da suspensão
do exercício do direito de
arrependimento quanto a produtos
perecíveis ou de consumo imediato
imposta pela lei 14.010/20 traz
indagação pertinente: o direito do
consumidor deve ser visto como um
conjunto de normas unilaterais, tendo
como único objetivo a proteção do
consumidor, mesmo que acarretando
abusos e excessos, ou deve ser
interpretado como um conjunto de
normas que estabelecem determinadas
premissas e prezam pela harmonia das
relações de consumo, evitando excessos
tanto em relação aos consumidores
quanto aos fornecedores? Nesse
quadro, a ponderação, o equilíbrio e a
harmonia social e econômica nos
parecem valores irrenunciáveis.
43
Pondera-se que, enquanto na Europa as
exceções ao direito de arrependimento
foram há muito tempo delineadas, no
Brasil, apenas diante de situação de
pandemia, foi editada lei que expressou,
corretamente, a inaplicabilidade do
direito de arrependimento com relação
a produtos perecíveis.
Conforme já pontuado, à época da
consolidação do Código de Defesa do
Consumidor, o cenário fático era
completamente diferente do
estabelecido no período pré-pandemia e
já impunha interpretação do artigo 49
do CDC em consonância com as
dinâmicas sociais e o uso frequente de
aplicativos de delivery pelos
consumidores.
Diante dessa situação, defende-se que o
aprimoramento consignado na lei
14.010/20, fruto de situação
emergencial, não pode se perder, tendo
em vista a necessidade de adequação da
legislação à realidade experimentada,
que em muito difere da enfrentada
quando da edição da lei 8.078/90.
_________
1 "Até 30 de outubro de 2020, fica
suspensa a aplicação do art. 49 do
Código de Defesa do Consumidor na
hipótese de entrega domiciliar
(delivery) de produtos perecíveis ou de
consumo imediato e de medicamentos."
2 SILVA NETO, Orlando Celso
da. Comentários ao Código de Defesa
do Consumidor. Rio de Janeiro:
Forense, 2013, p. 619.
3 CAVALIERI FILHO,
Sergio. Programa de direito do
consumidor, Atlas, 2008, p. 20.
4 BRAGA NETTO, Felipe
Peixoto. Manual de direito do
consumidor, 2. ed., Podivm, p. 58-59.
5 THEODORO JÚNIOR, Humberto. O
contrato imobiliário e a legislação
tutelar do consumo, Forense, 2003, p.
36.
_________
*Carolina Nardy Gabriel é bacharel
pela Faculdade de Direito do Largo de
São Francisco - USP. Advogada no
escritório Edgard Leite Advogados
Associados.
https://migalhas.uol.com.br/depeso/335747/direito-de-
arrependimento-e-produtos-pereciveis--o-acerto-da-lei-14-010-20
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44
Quarta-feira, 04 de novembro de 2020
Disputa no STF para tributar software deixa contribuinte ‘na linha do fogo’
Para Ricardo Godoi, assessor jurídico
da CNS, eventual decisão a favor dos
estados deixa o serviço mais caro
• ALEXANDRE LEORATTI
BRASÍLIA
Ricardo Godoi, assessor jurídico da
Confederação Nacional de Serviços
(CNS)
Após 20 anos de espera o Supremo
Tribunal Federal (STF) julgará o
modelo de tributação incidente sobre
o licenciamento de software. Nesta
quarta-feira (4/11), os ministros da
Corte vão debater se um software é
uma mercadoria ou um serviço. A
decisão pode mudar a forma de
tributação. O ICMS é um tributo
estadual incidente sobre mercadorias,
enquanto o ISS é recolhido pelos
municípios e incide sobre serviços. O
45
tema será debatido em conjunto das
ADI’s1945 e 5659. Os dois processos
são de relatoria da ministra Cármen
Lúcia.
Em entrevista ao JOTA, o assessor
jurídico da Confederação Nacional de
Serviços, Ricardo Godoi, que atua
diretamente no caso, afirma que uma
decisão da Corte a favor da incidência
do ICMS sobre o licenciamento de
software causaria o aumento do custo
tributário para empresas de
Tecnologia da Informação (TI) e,
consequentemente, o aumento do
preço dos software oferecidos no
mercado para clientes.
Para Godoi, o processo no STF
representa uma briga “nada saudável
entre dois entes da Federação com os
contribuintes no meio da linha de
fogo”. Por um lado, a Lei
Complementar 116/2003 estabelece a
incidência do ISS, tributo cobrado
pelos municípios sobre o
licenciamento de softwares. Uma
decisão do STF a favor dos estados,
ou seja, pela incidência do ICMS
alteraria esse modelo.
“Corre-se o risco de o STF decidir
pela incidência do ICMS sobre o
licenciamento de software, e com isso
as consequências seriam dramáticas
também para os municípios, que
arrecadam o ISS sobre esses
serviços”, afirma Godoi.
A ADI 1945 foi proposta pelo MDB
para contestar a constitucionalidade
da Lei 7.098/1998, do estado do Mato
Grosso. Já a ADI 5958, proposta pela
Associação Brasileira das Empresas
de Tecnologia da Informação e
Comunicação (Brasscom) questiona o
Convênio nº 106/2017, do Conselho
Nacional da Fazenda Nacional
(Confaz). O dispositivo autoriza os
estados a cobrarem ICMS nas
operações com bens e mercadorias
digitais e comercializadas por
transferência eletrônica.
Sobre a possibilidade de alguma das
propostas de reforma tributária
melhorar a segurança jurídica para a
tributação de softwares, Ricardo
Godoi afirma que não acredita que
uma tributação única sobre o setor
seja a principal solução dos embates
no Judiciário.
Para ele, a definitiva incidência do
tributo municipal (ISS) já traria
“enorme benefício para a sociedade e
para as empresas”.
Leia a íntegra da entrevista ao JOTA:
Qual a importância da ADI 1945
e 5659 e quais são as possíveis
consequências de uma decisão
do STF sobre o tema?
A importância é enorme, não só do
julgamento da ADI 1945, mas também
a ADI 5659, que está sendo julgada
em conjunto. Isso porque o STF não
analisa a questão de licenciamento de
software e tributação desde o final da
década de 90, ou seja, há mais de 20
anos.
Caso a análise seja feita sob a ótica
daquela época, corre-se o risco de o
STF decidir pela incidência do ICMS
sobre o licenciamento de software, e
com isso as consequências seriam
dramáticas para os municípios, que
arrecadam o ISS sobre esses serviços
desde a Lei Complementar 116/03,
para as empresas de TI, que estão
absolutamente adaptadas com o ISS
46
há quase 20 anos, e até mesmo para o
cliente final, que sofrerá na pele o
aumento do preço do software com o
repasse do aumento do custo
tributário decorrente do recolhimento
de ICMS pelas empresas de TI.
A tributação de softwares é um
dos temas mais discutidos
dentro da área tributária. Por
que, na sua visão, existe tanta
discussão sobre o modelo de
tributação mais adequado?
Acho que em resumo seriam três os
principais motivos: o fato de que os
órgãos tributantes estão sempre à
caça de receitas; o licenciamento de
software, como tudo referente à
tecnologia, apresenta uma velocidade
de mudança dos parâmetros
concretos tão célere que a toda hora a
doutrina e a jurisprudência precisam
redefinir conceitos jurídicos que se
adaptem a nova realidade. Por último,
a demora do Judiciário em pacificar
determinadas discussões tributárias
com a temática do licenciamento de
software, permitindo que elas se
perpetuem ao longo dos anos.
Como o senhor analisa a
possibilidade de vitória dos
contribuintes no caso nesta
quarta-feira (4/11)? Há chances
de vitórias?
A possibilidade de vitória da
Confederação Nacional de Serviços
(CNS) na ADI 5659 e na ADI 1945 me
parece bastante grande, já que como
disse anteriormente, o legislador já
optou há muito tempo pela tributação
do ISS sobre o licenciamento de
software por meio da Lei
Complementar 116/2003.
Uma decisão diferente desta, além de
romper com o status quo, que existe
há 17 anos, instauraria um verdadeiro
caos para empresas e municípios. De
qualquer forma, é uma ação judicial e
evidentemente está sujeita à decisão
soberana dos ministros do STF, para
um lado ou para outro. Mas acredito
sim em uma vitória dos contribuintes
pelo recolhimento do ISS, ainda que
de forma não unânime.
Essa é uma ação antiga no STF,
entrou na Corte em 1999. A
tecnologia não mudou de forma
drástica com o passar do tempo?
Esse adiamento da discussão
pode prejudicar, ou já
prejudicou, o julgamento do
processo?
Como dito anteriormente, as
mudanças foram enormes. O ICMS
incidia apenas sobre o meio físico,
como o disquete e CD ROM, jamais
sobre o valor da licença de software.
Tanto é que depois da Lei
Complementar 116/03, que definiu a
incidência do ISS e a extinção do
meio físico, os estados deixaram de
cobrar o ICMS justamente porque não
havia mercadoria a ser tributada sem
o meio físico, já que no licenciamento
do software não há transferência de
titularidade, que é uma exigência
legal e jurisprudencial para incidência
do ICMS.
A demora em se decidir o tema
evidentemente sempre prejudica a
todos. Existe a insegurança de alterar
completamente, por exemplo, o que já
vem sendo feito há quase 20 anos. Da
mesma forma, conceitos antigos do
STF já não se aplicam mais como, por
exemplo, software por encomenda e
software de prateleira. É em meio a
essa indecisão da jurisprudência que
47
os estados voltaram a cobrar ICMS,
desta vez sobre o próprio
licenciamento, ou seja, sem
mercadoria, sem transferência de
titularidade, criando essa briga nada
saudável entre dois entes da
Federação com os contribuintes no
meio da linha de fogo.
Alguma das propostas de
reforma tributária resolveria o
problema da tributação de
softwares?
Fala-se muito em tributação digital,
mas me parece ser uma forma
‘enganosa’ de se resgatar a tributação
sobre movimentação financeira,
antiga CPMF, que se tornou a sigla
que não pode ser dita.
Ou seja, não acredito em uma
tributação única para o setor de
softwares. Talvez um aprimoramento
da tributação federal e a definitiva
incidência do tributo municipal (ISS)
já trariam enorme benefício para a
sociedade e para as empresas.
ALEXANDRE LEORATTI –
Repórter em Brasília. Faz parte da
equipe de Tributário, com foco na
cobertura do Carf, PGFN e Receita
Federal. Antes de atuar em Brasília,
foi repórter do JOTA em São Paulo.
Email: [email protected]
fo
https://www.jota.info/tributos-e-
empresas/tributario/softwares-contribuinte-stf-04112020
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Quarta-feira, 04 de novembro de 2020
STF mantém lei de SP que regula comercialização de produtos orgânicos
Para Gilmar Mendes, relator, a norma
estadual está ‘em consonância’ com o
CDC
• LUIZ ORLANDO CARNEIRO
BRASÍLIA
Crédito: Unsplash
O plenário virtual do Supremo
Tribunal Federal (STF), na sessão
virtual encerrada nesta terça-feira
(3/11), rejeitou, por unanimidade,
ação direta de inconstitucionalidade
na qual a Associação Brasileira de
Supermercados (Abras) questionava
lei estadual de São Paulo que – ao
tratar da exposição dos produtos
orgânicos nos estabelecimentos
comerciais – teria feito “acréscimos”
ao que já estaria previsto no Código
de Defesa do Consumidor (Lei
Federal 8.078/1990).
48
Todos os ministros seguiram o
voto do relator Gilmar Mendes, para
quem “o único acréscimo de
fato feito pelos legisladores paulistas
foi a ampliação de obrigação já
contida na norma federal”. Ou seja,
“enquanto esta se refere à segregação
dos produtos orgânicos de difícil
identificação, a lei do Estado de São
Paulo impõe a exposição em espaços
exclusivos a todos os produtos
orgânicos”. Assim, a norma estadual
está “em consonância” com o CDC.
A ADI 5.166 fora ajuizada em outubro
de 2014, sob a principal alegação de
que a matéria extrapolava
competência legislativa estadual.
Tendo em vista que a Constituição
Federal prevê competência privativa
da União para legislar sobre Direito
Comercial. Para a Abras, “a
disposição dos produtos nas gôndolas
configura atividade essencial à
própria natureza do negócio,
enquadrando-se na seara do direito
comercial”.
Em sentido contrário, Gilmar Mendes
elogiou a determinação de que os
produtos orgânicos sejam expostos
em espaços exclusivos, identificados
em cada área ou seção do
estabelecimento comercial, de modo a
segregar os produtos orgânicos dos
demais. E assim concluiu o seu voto:
“Não há de se falar em violação à livre
iniciativa, mas de cumprimento do
dever de informar o consumidor,
princípio igualmente essencial para a
garantia da ordem econômica. Ante o
exposto, julgo improcedente a
presente ação direta de
inconstitucionalidade”.
LUIZ ORLANDO CARNEIRO –
Repórter e colunista.
https://www.jota.info/stf/do-supremo/stf-mantem-lei-de-sp-
que-regula-comercializacao-de-produtos-organicos-
04112020
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48