12
Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of small ruminants Francisco C. F. Lobato* 1 , Felipe M. Salvarani 1 , Ronnie A. de Assis 2 1 Laboratório de Bacteriose e Pesquisa da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais Departamento de Medicina Veterinária Preventiva Av. Presidente Antônio Carlos 6627, CEP 30123-970, CP 567, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil 2 Setor de clostridioses. Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais (LANAGRO / MG), Brasil ARTIGO DE REVISÃO 23 Resumo: As clostridioses dos pequenos ruminantes são causadas por microrganismos patogênicos do gênero Clostridium. Estes agentes são encontrados no solo e trato digestivo dos animais e do homem. Os clostrídios são bactérias anaeróbias que penetram no corpo do animal na forma de esporos, através de alimentos contaminados ou feridas. As toxinas são produzidas no organismo do animal ou são ingeridas pré-formadas. As infecções e intoxicações causadas por esses agentes são responsáveis por grandes perdas econômicas nos sistemas de produção de pequenos ruminantes. O diagnóstico das clostridioses depende da detecção das toxinas ou detecção in situ do agente bacteriano, no caso das mionecroses e hepatite necrótica. O controle e a profilaxia das clostridioses estão associados a medidas corretas de manejo e, principalmente, ao emprego de vacinas, que são, na maioria das vezes, toxóides e/ou bacterinas, em combinação de dois ou mais agentes. A utilização sistemática de imunógenos tem reduzido em grande parte a mortalidade e as perdas econômicas advindas dos quadros clínicos causados pela multiplicação ou pela ação das toxinas produzidas por microrganismos do gênero Clostridium. Palavras-chave: Clostridioses, pequenos ruminantes, diagnós- tico, controle Summary: Pathogenic microorganisms of the genus Clostridium cause Clostridiosis in small ruminants. These agents are found in the soil and digestive tract of animals, including human beings. The clostridia are anaerobic microor- ganisms that penetrate in the body of the animals in the form of spores through contaminated food and/or wounds. Toxins are produced inside the organism of the animals or are ingested when preformed. The infections and intoxications caused by these agents are responsible for great economical losses in production systems of small ruminants. The diagnosis of the clostridiosis mediated by toxins depends on the detection of the involved toxin(s) and not on the detection and isolation of the bacterial agent only. The control and prophylaxis of clostridiosis are associated with correct measures of management and vacci- nation. The vaccines are, most of the time, a combination of two or more antigens (toxoids and/or bacterins). The systematic use of immunogens has largely reduced the mortality and the economic losses due to clostridial diseases. Keywords: Clostridiosis, small ruminants, diagnosis, control Introdução O grupo de infecções e intoxicações causadas por bactérias anaeróbias do gênero Clostridium são chamadas clostridioses. Estes microrganismos são bacilos, Gram positivos e têm a habilidade de passar por uma forma de resistência chamada esporo e podem se manter potencialmente infectantes no solo por longos períodos, representando um risco signi- ficativo para a população animal e humana (Titball et al., 2006). Muitos processos infecciosos que afetam as explo- rações ovinas e caprinas são determinados pelos clostrídios. Existem cerca de 100 espécies distribuídas em áreas geográficas distintas, sendo a maioria cons- tituinte da microbiota intestinal, porém apenas algumas delas são capazes de causarem enfermidades nestes animais, ocasionando grandes prejuízos econômicos para os produtores (Lobato e Assis, 2000). As infecções e intoxicações causadas pelas bactérias do gênero Clostridium nos pequenos ruminantes, podem ser classificados em grupos distintos: a) Mionecroses: representadas pelo carbúnculo sintomático e gangrena gasosa ou edema maligno. São afecções em que os agentes Clostridium chauvoei, Clostridium septicum, Clostridium novyi tipo A, Clostridium perfringens tipo A e Clostridium sordellii multiplicam-se na musculatura e tecido subcutâneo, resultando em um quadro de toxemia (Sterne e Batty, 1975). b) Enterotoxemias: afecções causadas pelos agentes Clostridium perfringens tipos A, B, C, D, e provavel- mente o tipo E (Songer, 1996), e ocasionalmente Clostridium sordellii e Clostridium septicum. Esses microrganismos multiplicam no trato intestinal dos animais e produzem exotoxinas responsáveis pelo quadro nosológico. c) Doenças hepáticas: hepatite necrótica e hemoglo- binúria bacilar são causadas pelo Clostridium novyi tipo B e Clostridium haemolyticum, respectivamente. REVISTA PORTUGUESA CIÊNCIAS VETERINÁRIAS DE *Correspondência: [email protected]

Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

  • Upload
    others

  • View
    6

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

Clostridioses dos pequenos ruminantes

Clostridiosis of small ruminants

Francisco C. F. Lobato*1, Felipe M. Salvarani1, Ronnie A. de Assis2

1Laboratório de Bacteriose e Pesquisa da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais Departamento de Medicina Veterinária Preventiva

Av. Presidente Antônio Carlos 6627, CEP 30123-970, CP 567, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil2Setor de clostridioses. Laboratório Nacional Agropecuário de Minas Gerais (LANAGRO / MG), Brasil

ARTIGO DE REVISÃO

23

Resumo: As clostridioses dos pequenos ruminantes são causadas por microrganismos patogênicos do gêneroClostridium. Estes agentes são encontrados no solo e tratodigestivo dos animais e do homem. Os clostrídios são bactériasanaeróbias que penetram no corpo do animal na forma deesporos, através de alimentos contaminados ou feridas. As toxinassão produzidas no organismo do animal ou são ingeridas pré-formadas. As infecções e intoxicações causadas por essesagentes são responsáveis por grandes perdas econômicas nossistemas de produção de pequenos ruminantes. O diagnósticodas clostridioses depende da detecção das toxinas ou detecçãoin situ do agente bacteriano, no caso das mionecroses e hepatitenecrótica. O controle e a profilaxia das clostridioses estão associados a medidas corretas de manejo e, principalmente, aoemprego de vacinas, que são, na maioria das vezes, toxóidese/ou bacterinas, em combinação de dois ou mais agentes. A utilização sistemática de imunógenos tem reduzido em grandeparte a mortalidade e as perdas econômicas advindas dosquadros clínicos causados pela multiplicação ou pela ação dastoxinas produzidas por microrganismos do gênero Clostridium.

Palavras-chave: Clostridioses, pequenos ruminantes, diagnós-tico, controle

Summary: Pathogenic microorganisms of the genusClostridium cause Clostridiosis in small ruminants. Theseagents are found in the soil and digestive tract of animals,including human beings. The clostridia are anaerobic microor-ganisms that penetrate in the body of the animals in the form ofspores through contaminated food and/or wounds. Toxins areproduced inside the organism of the animals or are ingestedwhen preformed. The infections and intoxications caused bythese agents are responsible for great economical losses in production systems of small ruminants. The diagnosis of theclostridiosis mediated by toxins depends on the detection of theinvolved toxin(s) and not on the detection and isolation of thebacterial agent only. The control and prophylaxis of clostridiosisare associated with correct measures of management and vacci-nation. The vaccines are, most of the time, a combination of twoor more antigens (toxoids and/or bacterins). The systematic use of immunogens has largely reduced the mortality and theeconomic losses due to clostridial diseases.

Keywords: Clostridiosis, small ruminants, diagnosis, control

Introdução

O grupo de infecções e intoxicações causadas porbactérias anaeróbias do gênero Clostridium sãochamadas clostridioses. Estes microrganismos sãobacilos, Gram positivos e têm a habilidade de passarpor uma forma de resistência chamada esporo epodem se manter potencialmente infectantes no solopor longos períodos, representando um risco signi-ficativo para a população animal e humana (Titball etal., 2006).

Muitos processos infecciosos que afetam as explo-rações ovinas e caprinas são determinados pelosclostrídios. Existem cerca de 100 espécies distribuídasem áreas geográficas distintas, sendo a maioria cons-tituinte da microbiota intestinal, porém apenas algumasdelas são capazes de causarem enfermidades nestesanimais, ocasionando grandes prejuízos econômicospara os produtores (Lobato e Assis, 2000).

As infecções e intoxicações causadas pelas bactériasdo gênero Clostridium nos pequenos ruminantes,podem ser classificados em grupos distintos:

a) Mionecroses: representadas pelo carbúnculo sintomático e gangrena gasosa ou edema maligno. Sãoafecções em que os agentes Clostridium chauvoei,Clostridium septicum, Clostridium novyi tipo A,Clostridium perfringens tipo A e Clostridium sordelliimultiplicam-se na musculatura e tecido subcutâneo,resultando em um quadro de toxemia (Sterne e Batty,1975).

b) Enterotoxemias: afecções causadas pelos agentesClostridium perfringens tipos A, B, C, D, e provavel-mente o tipo E (Songer, 1996), e ocasionalmenteClostridium sordellii e Clostridium septicum. Essesmicrorganismos multiplicam no trato intestinal dosanimais e produzem exotoxinas responsáveis peloquadro nosológico.

c) Doenças hepáticas: hepatite necrótica e hemoglo-binúria bacilar são causadas pelo Clostridium novyitipo B e Clostridium haemolyticum, respectivamente.

R E V I S T A P O R T U G U E S A

CIÊNCIAS VETERINÁRIASDE

*Correspondência: [email protected]

Page 2: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34Lobato FCF et al.

24

d) Doenças neurotrópicas: são afecções em que osistema nervoso é primariamente acometido. Osagentes envolvidos nesse grupo são Clostridium botu-linum e Clostridium tetani.

Toxinas clostridiais

Clostridium chauvoei e Clostridium septicum

Estes microrganismos produzem quatro toxinasprincipais: alfa (hemolítica, necrotizante e letal), beta(DNase), gama (hialuronidase) e delta (hemolisina). Atoxina alfa é a principal proteína envolvida nosquadros patológicos das mionecroses devido às suasatividades biológicas. Seu mecanismo de ação ébaseado principalmente na formação de poros e liseosmótica, exibindo uma liberação pré-lítica de íonspotássio (Ballard et al., 1992; Gordon et al., 1997;Tweten, 2001). A toxina alfa produzida pelo C. chau-voei, de origem cromossomal, tem peso molecular de53,5 kDa e a toxina alfa secretada pelo C. septicum, deorigem plasmidial e cromossomal, tem peso molecularde 49 kDa (Hatheway, 1990; Tweten, 2001). Moussa(1958) demonstrou que anticorpos contra toxina alfade C. chauvoei não neutralizam toxina alfa de C. sep-ticum, demonstrando não ocorrer proteção cruzadaentre as espécies.

Clostridium perfringens

São classificados de A a E (Tabela 1), de acordocom a produção de quatro toxinas principais: alfa,beta, épsilon e iota. Duas novas toxinas foramdescobertas, beta-2 e enterotoxina, estando relacio-nadas com alguns tipos de C. perfringens.

Tabela 1 - Classificação dos diferentes tipos de Clostridiumperfringens.

Tipo Alfa Beta Beta-2 Épsilon Iota Enterotoxina

A + + +

B + + + +

C + + + +

D + + +

E + + +

Fonte: Petit el at. (1999).

Toxina alfa. Codificada pelo gene plc, de origem cro-mossomal, com peso molecular de 43 kDa e pontoisoelétrico no pH de 5,4. É uma fosfolipase C quehidrolisa a fosfatidilcolina e, em menor proporção, aesfingomielina, na dependência de íons cálcio. A ação da toxina alfa caracteriza-se por hemóliseintravascular, danos capilares, processos inflamatórios,agregação plaquetária e alterações do metabolismo,culminando com a morte celular (Songer, 1996; Petitet al., 1999; Titbal et al., 2006).

Toxina beta. Codificada pelo gene cpb, de origemplasmidial, com peso molecular de 40 kDa e ponto

isoelétrico no pH de 5,6 (Hatheway, 1990). Sua açãocaracteriza-se pelo efeito citotóxico através da for-mação de poros, atuando nos canais seletivos de sódioe potássio, causando despolarização das membranascelulares excitáveis e alterações na permeabilidadevascular do sistema nervoso (Shatursky et al., 2000;Tweten, 2001).

Toxina beta-2. Codificada pelo gene cpb-2, de origemplasmidial, com peso molecular de 28 kDa (Bueschelet al., 2003). Investigações epidemiológicas demons-traram a maior ocorrência do gene cpb-2 entre os animais doentes, sugerindo que a toxina codificadapor este gene tem função relevante no processopatogênico, como possível fator de virulência (Gibertet al., 1997; Klaasen et al., 1999; Gkiourtzidis et al.,2001). Seu mecanismo de ação não está completa-mente esclarecido, mas envolve a lise celular atravésda formação de poros na membrana (Petit et al., 1999).

Toxina épsilon. Codificada pelo gene etx, de origemplasmidial, é secretada na forma de protoxina, compeso molecular de 32,7 kDa e, pela ação de enzimasproteolíticas é convertida na forma ativa, com pesomolecular de 31,2 kDa (Hatheway, 1990; Petit et al.,1999). Seu mecanismo de ação envolve a ligaçãoespecífica a receptores na superfície das célulasendoteliais promovendo a desestabilização da mem-brana com alteração da permeabilidade vascular comresultante escape de líquidos e destruição celular(Songer, 1996).

Toxina iota. Formada por duas subunidades protéicasimunologicamente distintas denominadas iota A, codificada pelo gene iap, de origem plasmidial, compeso molecular de 47,5 kDa e ponto isoelétrico no pHde 5,2; e iota B, codificada pelo gene ibp, de origemplasmidial, com peso molecular de 105 kDa e pontoisoelétrico no pH de 4,2. A toxina iota é produzida naforma de protoxina, sendo ativada na presença de enzimas proteolíticas. Seu mecanismo de açãoenvolve desorganização do citoesqueleto das célulascom consequente morte celular (Marvaud et al.,2002).

Enterotoxina. Codificada pelo gene cpe, de origemcromossomal e/ou plasmidial, com peso molecular de35 kDa e ponto isoelétrico no pH de 4,3. Seu meca-nismo de ação envolve a ligação com receptoresespecíficos na superfície das células epiteliais dointestino dos animais, levando a formação de poros edesequilíbrio osmótico da célula com consequente lisecelular (Li e McClane, 2006).

Toxina secundárias. São representadas, principal-mente, pelas toxinas: theta, codificada pelo genePfoA, de origem cromossomal, com peso molecular de51 kDa e mecanismo de ação envolvendo atividades

Page 3: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34Lobato FCF et al.

25

hemolíticas e necrosantes; delta, com peso molecularde 42 kDa e mecanismo de ação envolvendo atividadehemolítica; kappa, codificada pelo gene colA, deorigem cromossomal, com peso molecular de 80 kDae mecanismo de ação envolvendo hidrólise decolágeno e necrose celular; lambda, codificada pelogene lam, de origem plasmidial, com peso molecularnão determinado e mecanismo de ação envolvendoatividades proteolíticas; neuramidase, codificada pelogene nanH, de origem cromossomal, com peso mole-cular de 64 kDa e mecanismo de ação envolvendoaglutinação de eritrócitos, resultando num aumento daviscosidade sanguínea e formação de trombos(Hatheway, 1990; Petit et al., 1999).

Clostridium novyi

Produz cinco toxinas principais: alfa, com pesomolecular de 260-280 kDa e ação citotóxica; beta,com peso molecular de 32 kDa e caracterizada comofosfolipase C de ação hemolítica; gama e delta, compesos moleculares ainda não determinados e açãosemelhante a toxina beta; e épsilon, com peso molecu-lar ainda não determinado e ação de lipase (Schirmere Aktories, 2004).

Clostridium sordellii

Entre as toxinas produzidas por essa bactéria temosa lectininase, hemolisina lábil ao oxigênio, e uma fibri-nolisina, as quais são capazes de causar choque composterior hipotensão, aumento do hematócrito commarcada neutrofilia, generalizado edema pulmonar,acúmulo de fluídos no peritônio e outras cavidadescorporais (Geny et al., 2007).

Clostridium botulinum

As neurotoxinas são as principais toxinas responsá-veis pelo quadro patológico do botulismo. Existemsete sorotipos de neurotoxina botulínica, que permitema classificação de C. botulinum em sete tipos, dividi-dos de A a G. As neurotoxinas são codificadas pelogene BoNT. A origem desse gene varia entre os diferentes tipos de C. botulinum. Os tipos C e D temorigem em bacteriófagos, os tipos A, B, E e F origemcromossomal e o tipo G origem plasmidial(Brüggemann, 2005).

As neurotoxinas assemelham não somente nomecanismo de ação, mas também na sua organizaçãoestrutural, produzindo uma cadeia polipeptídica inac-tiva com 150 kDa e após a lise bacteriana, as BONTssão liberadas e clivadas por proteases exógenas eendógenas e uma neurotoxina activa bivalente é geradacom uma cadeia pesada (H, 100 kDa) e uma cadeialeve (L, 50 kDa) interligadas por uma ponte dissulfí-drica. A importância dessa ligação está diretamenterelacionada à sua neurotoxicidade quando a toxina éapresentada no espaço extracelular (Brunger et al.,2007).

Outra importante toxina produzida pelo C. botu-linum tipo C é a toxina C2, que não é considerada umaneurotoxina verdadeira. É uma toxina binária, forma-da pelo componente I (C2I) com peso molecular de 50 kDa e o componente II (C2II) com peso molecularde 105 kDa. Seu mecanismo de ação envolve alteraçãoda permeabilidade vascular e atividade letal (Kaiser etal., 2006).

Clostridium tetani

Tetanospasmina. Codificada pelo gene TeTx, deorigem plasmidial, com peso molecular de 150 kDa éuma neurotoxina e age inibindo a liberação de neuro-transmissores inibitórios, como o ácido gama globu-línico (GABA) e a glicina, levando a um quadro deparalisia espástica (Brüggemann, 2005).

Tetanolisina. É uma hemolisina, com peso molecularde 48 kDa e que tem seu mecanismo de ação baseadona lise celular através da formação de poros porhidrólise de fosfolipídeos de membrana (Cornille eRoques, 1999).

Mionecroses

Carbúnculo sintomático ("manqueira" ou "malde ano")

O carbúnculo sintomático ocorre em várias espéciesanimais, sendo bovinos e ovinos os mais acometidos.Nos bovinos a infecção é "endógena" causada peloClostridium chauvoei (Sterne e Batty, 1975; Gyles,1993), em ovinos é principalmente de origem "exógena"causada pelo mesmo agente, e desenvolve-se rapida-mente após contaminações de feridas provenientes detosquias, partos distócicos, castrações, vacinações eoutras intervenções realizadas em condições nãoassépticas (Roberts e McEwen, 1931; Buxton eDonachie, 1991, Assis et al., 2004). Entretanto, carbúnculo sintomático em ovinos sem qualquerevidência de feridas tem sido relatado, envolvendo amusculatura esquelética (Marsh et al., 1928; Stiles,1943) e o miocárdio (Glastonbury et al., 1988).

Clinicamente o animal apresenta temperatura elevada,anorexia e depressão. O local afetado torna-se ede-matoso e à palpação observa-se crepitação decorrentedas bolhas de gás produzidas pela multiplicação dabactéria e quando um membro é atingido, o animalapresenta claudicação. A evolução da doença paramorte ocorre geralmente em até 48 horas. A necrópsiaobserva-se edema, hemorragia e necrose miofibrilar,exalando acentuado odor rançoso ou butírico. Ahistopatologia do músculo, principal espécime clínicoutilizado para o diagnóstico definitivo das mionecroses,observam-se zonas de necrose de coagulação rodeadaspor células inflamatórias, bem como a presença debacilos (Hulland, 1993).

Page 4: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34Lobato FCF et al.

26

Gangrena gasosa (edema maligno)

A gangrena gasosa ou edema maligno é considera-do uma infecção "exógena", produzida por um oumais dos seguintes agentes: C. septicum, C. chauvoei,C. novyi tipo A, C. perfringens tipo A e C. sordellii(Assis et al., 2002). Estes microrganismos penetramem feridas cirúrgicas ou acidentais, decorrentes decastração, tosquia, parto, punção venosa, vacinação,ou do cordão umbilical (Morris et al., 2002; Radostitset al., 2002). Estes fatores propiciam uma diminuiçãodo oxigênio molecular, levando a um baixo potencialde óxido-redução nos tecidos, favorecendo a germi-nação dos esporos dos clostrídios ali localizados, coma consequente produção de toxinas principalmente atoxina alfa que causa efeito letal e citolítico (Lobato eAlmeida, 1997). Acomete várias espécies animais,sendo mais freqüente em bovinos e ovinos. Surtos dadoença, envolvendo pequenos ruminantes, têm sidorelatados com elevada mortalidade (Richards e Hunt,1982; Lima et al., 2006; Costa et al., 2007).

A sintomatologia inclui febre, anorexia, taquicardiae depressão, ocorrendo também toxemia que faz comque o quadro evolua para a morte em poucas horas ougeralmente em um a três dias (Smith, 1984). As lesõesmacroscópicas e microscópicas são semelhantes às docarbúnculo sintomático, com ocorrência de edemacrepitante nos músculos e tecidos subcutâneos, queinicialmente são quentes e doloridos. Com a evoluçãoda doença, tornam-se frios e indolores, sendo comuma ocorrência de hemorragias e necrose. Em geral nagangrena gasosa ocorre com maior frequência umacelulite (afeta principalmente o tecido subcutâneo)que uma miosite (Buxton e Donachie, 1991).

Uma condição peculiar dos ovinos é a afecçãodenominada "big head" ou "cabeça inchada", sendorelatada em carneiros que têm o tecido subcutâneo daregião da cabeça, pescoço, e áreas circunvizinhas,traumatizados por "lutas". As feridas funcionam comoporta de entrada para esporos do microrganismo(Sterne e Batty, 1975).

Enterotoxemias

Enterotoxemia é o termo usado para descreverdoenças causadas por toxinas produzidas no trato gastrintestinal, principalmente pelo C. perfringens ecom menor frequência por C. septicum (Braxy)(Songer, 1996), e C. sordellii (Al-Mashat e Taylor,1983a, b). Os diferentes tipos de C. perfringens sãoclassificados como A, B, C, D e E em relação à produção de quatro diferentes exotoxinas alfa, beta,épsilon e iota (Niilo, 1980). Entretanto, o agente produz várias outras exotoxinas chamadas desecundárias (McDonel, 1986). Em ovinos é maiscomumente descrita a enterotoxemia pelos tipos B, Ce D, embora alguns autores descrevam a enterotoxemia

nessa espécie pelo Clostridium perfringens tipo A,enfermidade denominada de "yellow lamb disease" ou"doença do cordeiro amarelo" (Songer, 1996; Uzal,2001).

Clostridium septicum

Uma condição particular de ovinos, determinadapor C. septicum, é a enfermidade denominada"Braxy", caracterizada por injúrias na parede do abomaso em decorrência da ingestão de pastagenscongeladas que favorecem a infecção pelo microrga-nismo e o desencadeamento do processo, produzindolesões locais no abomaso, intestino delgado e toxemia(Songer, 1996). A enfermidade está restrita a determi-nadas regiões geográficas e já foi relatada emcordeiros recém-nascidos no Reino Unido (Buxton eDonachie, 1991), assim como em outras partes daEuropa, Austrália e EUA (Songer, 1996).

Clostridium perfringens tipo A

A doença do "cordeiro amarelo" é uma enterotoxe-mia causada pela toxina alfa produzida pelo C. per-fringens tipo A, e tem sua patogenia baseada nahemólise de eritrócitos com a liberação de hemoglobina.Os animais acometidos apresentam depressão, ane-mia, icterícia e hemoglobinúria. O curso clínico dadoença é de seis a 12 horas, podendo o animal vir aóbito (Songer, 1996).

Clostridium perfringens tipo B

É o agente causador da disenteria em cordeirosrecém-nascidos. Esta afecção acomete cordeiros commenos de duas semanas de idade e é causada pela ação das toxinas beta e épsilon produzidas por esteagente (Buxton e Donachie, 1991). A principalfracção tóxica responsável pela disenteria doscordeiros é a toxina beta, que é inativada por enzimasproteolíticas como a tripsina. O fato de a doença ocorrerprimariamente em animais recém-nascidos advém doexcesso de colostragem e também por ser o colostrofonte de fatores anti-tripsínicos, favorecendo por suavez a proliferação do agente com produção dessa toxina (Barker et al., 1993).

O curso é super-agudo, em geral em poucas horas osanimais apresentam dores abdominais, redução nasucção do colostro e/ou leite e fezes semi-fluidas ecoradas de vermelho. Ocasionalmente, animais quesobrevivam por mais dias, podem desenvolver no sis-tema nervoso central (SNC) uma lesão conhecida porencefalomalacia focal simétrica (EFS) causada pelaação da toxina épsilon (Buxton e Donachie, 1991),além de apresentarem enterite, extensa hemorragia eulceração do intestino delgado (Songer, 1997). Adoença tem sido também relatada em ovinos e caprinos adultos no Iran (Niilo, 1980).

Page 5: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34Lobato FCF et al.

27

Clostridium perfringens tipo C

A enterotoxemia causada pelo C. perfringens tipo Cproduz um quadro clínico-patológico muito semelhanteao produzido pelo Clostridium perfringens tipo B,sendo a toxina beta a principal envolvida (Barker etal., 1993). É descrito como agente da enterite-hemor-rágica em ovinos recém-nascidos, pelos mesmosfatores já descritos na disenteria dos cordeiros.Também é responsável por um quadro super agudo emovinos adultos denominado de "Struck", que se carac-teriza por morte súbita (Niilo, 1980).

Clostridium perfringens tipo D

C. perfringens tipo D causa a enterotoxemia comu-mente denominada de doença da superalimentação("overeating disease") ou do rim pulposo ("pulpy kid-ney disease"). Enfermidade de distribuição mundial,que afeta primariamente ovinos de qualquer idadecom exceção dos recém-nascidos (Scholes et al.,2007), raramente caprinos e provavelmente bovinos(Niilo, 1980; Uzal et al., 2003a). A doença é causadapela rápida multiplicação do C. perfringens tipo D nointestino delgado e subsequente absorção da toxinaépsilon, que é produzida na forma de protoxina. Estaé convertida em uma toxina letal pela ação da tripsinadigestiva (Buxton e Donachie, 1991) ou por toxinassecundárias do C. perfringens (McDonel, 1986).

C. perfringens tipo D pode estar presente no intesti-no de animais sadios em pequena quantidade e produztoxinas que são eliminadas com os movimentosintestinais normais sem causar alterações patológicasno organismo do animal (Baldassi et al., 1995).Porém, quando ocorrem alterações na microbiotaruminal em decorrência de mudanças bruscas na ali-mentação, fornecimento de dietas ricas em carbo-hidratos e pobre em fibras, dentre outros fatores, oagente multiplica em proporções logarítmicas entrequatro a oito horas, produzindo grandes quantidadesda toxina épsilon. A toxina atua sobre o epitélio intes-tinal, causando aumento da permeabilidade vascular.Ao ganhar a circulação geral, chega aos órgãos, comocérebro, rins, pulmões, fígado e coração, onde se ligaa receptores específicos nas células endoteliais, levan-do a uma degeneração dessas células. Com aumentoda permeabilidade vascular, ocorre extravasamento delíquido e proteínas para o espaço perivascular, comconsequente edema. Quando ocorre no tecido cerebralé denominado edema perivascular proteináceo eosi-nofílico ou microangiopatia (Uzal et al., 1997a).

Em condições naturais e na maioria dos casos, a mortedos animais ocorre durante as primeiras seis a 18 horas,mas se sobrevivem por mais de 36 a 48 horas, umanecrose do tecido cerebral é produzida pela compressãoocasionada pelo edema, conhecida como EFS (Hartley,1956; Uzal, 2001). Essa alteração é característica nocaso de enterotoxemia em ovinos por C. perfringens tipoD, sendo um achado importante para o diagnóstico

definitivo da doença nessa espécie.Em ovinos, a forma clínica mais frequente da enfer-

midade é a super-aguda, com morte entre quatro a oitohoras, sendo raramente observados sinais clínicos,quando ocorrem, são principalmente alterações neurológicas como opistótono, movimentos de peda-lagem, entre outros; e alterações respiratórias comotaquipnéia e edema pulmonar. Na forma aguda, os ani-mais sobrevivem por até 24 horas e os sinais clínicossão geralmente os mesmos observados na formasuper-aguda. Já na forma sub-aguda ou crônica, quetem um curso de 48 a 72 horas, pode ser observada,além dos sinais descritos, a ocorrência de cegueira emalguns animais (Uzal, 2001). Caprinos também podemapresentar essas três formas da doença, porém aslesões neurológicas são pouco frequentes devido auma menor absorção intestinal da toxina épsilon(Buxton, 1978; Uzal et al., 1994; Uzal et al., 1997a;Colodel et al., 2003). Consequentemente observam-seprincipalmente lesões entéricas, como diarréias eenterocolites, sendo as lesões neurológicas restritas aachados histopatológicos de edema perivascular pro-teínaceo eosinofílico ou microangiopatia (Blackwellet al., 1991, Uzal & Kelly, 1996; Colodel et al., 2003).

À necrópsia dos ovinos, os achados podem ser inexistentes (Uzal, 2001), mas em alguns casos encon-tram-se as seguintes alterações: hidrotórax, hidroperi-cárdio, hidroperitôneo, edema pulmonar com acúmulode grandes quantidades de espuma na traquéia e brôn-quios, septos interlobulares dos pulmões engrossadospelo acúmulo de líquido e, em alguns casos, hérnia docerebelo, que consiste na saída do mesmo para fora dacalota craniana através do forame Magno (Uzal, 2001;Facury Filho, 2004). Não é comum encontrar lesõesintestinais, porém pode-se observar uma ligeiraenterite catarral no intestino delgado (Uzal, 2001;Facury Filho, 2004). Hiperglicemia e glicosúriapodem ser observadas, assim como o outro achadoque tem relação com o nome genérico de "doença dorim pulposo", referente a uma alteração autolítica dacortex renal (Songer, 1997). Em caprinos, além dasalterações anteriormente descritas, observam-sequadros de enterocolites, hemorragias da serosa docólon (Colodel et al., 2003), e edema dos linfonodosmesentéricos (Blackwell e Butler, 1992).

Clostridium perfringens tipo E

C. perfringens tipo E produz enterotoxemia emcordeiros, bezerros e coelhos (Barker et al., 1993).Sua patogenia está envolvida com a produção da toxina iota, que precisa ser ativada por enzimas pro-teolíticas para promover a sua atividade biológica,causando citólise. O quadro clínico envolve diarréiahemorrágica com morte do animal em poucas horas.À necrópsia observam-se áreas de hemorragia eedema na mucosa intestinal, podendo atingir a mucosado abomaso (Songer e Miskimmins, 2004).

Page 6: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34Lobato FCF et al.

28

Doenças hepáticas

Hepatite necrótica

A hepatite necrótica é uma enfermidade de caráteragudo que ocorre frequentemente em ovinos e rara-mente nos bovinos devido à associação entre C. novyitipo B e trematódeos, principalmente, Fasciola hepati-ca (Assis et al., 2001a). Entretanto há uma descriçãoda doença na ausência de F. hepatica por Uzal et al.(1996a), onde provavelmente uma “overdose” de anti-helmínticos tenha sido o fator predisponente aolesionar o parênquima hepático. A doença é tambémdenominada "black disease", devido à presença desangue venoso cianótico no tecido subcutâneo (Assiset al., 2001a). C. novyi tipo B, produz duas potentestoxinas: alfa (classicamente letal) e beta (necrotizantee hemolítica), sendo a alfa considerada a mais impor-tante na patogenia do agente. No fígado são observa-das áreas de infarto necrótico de 2-3 cm de diâmetro,rodeadas por uma larga zona de intensa hiperemia(Kelly, 1985).

Hemoglobinúria bacilar

A hemoglobinúria bacilar é uma infecção causadapelo C. haemolyticum, geralmente de localizaçãogeográfica limitada, estando associada a áreas úmidase à presença de infecções por trematódeos, principal-mente F. hepatica. A enfermidade tem sido descritano México, Índia, Nova Zelândia, Austrália e Américado Sul (Pianta, 1997). A doença ocorre usualmentenos bovinos, acometendo esporadicamente os ovinos(Uzal, 2001) sendo causada pela ação da toxina betaque é uma potente lecitinase (Kelly, 1985). Os danoscausados ao tecido hepático pelas larvas do parasitapermitem a proliferação do agente e a produção detoxinas, as quais provocam a destruição de eritrócitoscom liberação de hemoglobina. Os principais sinaisclínicos são: depressão, anorexia, diarréia sanguino-lenta, hemoglobinúria e choque, culminando com amorte em um a três dias após o início dos sintomas(Assis et al., 2001a). Também se observa um quadrode anemia associado à hemólise intravascular. Ànecrópsia, as lesões são semelhantes às da hepatitenecrótica, mas a área do infarto necrótico é usual-mente maior e única. Os rins podem apresentar colo-ração vermelho-amarronzada, devido à impregnaçãopela hemoglobina, os vasos peritoneais injetados, e emalguns casos observa-se uma severa peritonite fibrino--hemorrágica (Kelly, 1985).

Doenças neurotrópicas

Botulismo

O botulismo é uma das principais doenças de bovi-nos adultos podendo acometer outras espécies como

os ovinos e caprinos (Azevedo et al., 1999), sendoresponsável por levar um grande número de animais àmorte. A principal categoria afetada é a de fêmeas emgestação e ou lactação, criadas em pastagens defi-cientes em fósforo, que desenvolvem o hábito da osteofagia ou sarcofagia. Animais podem se intoxicaringerindo neurotoxinas produzidas pelo C. botulinumpresentes em suplementos alimentares, matériaorgânica de origem vegetal e animal em putrefação eágua estagnada (Lobato e Almeida, 1997). O mecanis-mo de ação da toxina envolve o bloqueio nervoso pré--sináptico por inibição da liberação de acetilcolina naplaca motora. A toxina ocupa os sítios relativos ao íoncálcio na fibra colinérgica, evitando a exocitose daacetilcolina, que é cálcio dependente, resultando numaflacidez neuromuscular generalizada que tem inícionos membros posteriores progredindo no sentidocrânio-caudal, atingindo todos os músculos esqueléti-cos (Titball et al., 2006). Vários surtos da doença,envolvendo pequenos ruminantes, têm sido relatadosem diversos países (Van Der Lugt et al., 1995;Azevedo et al., 1999; Otter et al., 2006; Van DerBurght et al., 2007; Lobato et al., 2008).

Os sinais clínicos e curso da doença dependem daquantidade de toxina ingerida. Os sinais mais comunssão incoordenação motora, primariamente dos membros posteriores que progride no sentido cranial,incapacidade de se locomover e levantar culminandocom morte por parada respiratória. A propriocepçãodo animal continua normal por todo o curso da doençae não são encontradas lesões significativas à necropsiados animais acometidos (Lobato et al., 2007). No botulismo é importante o diagnóstico diferencial, poisa sintomatologia clínica apresentada inicialmente ésemelhante a várias doenças infecciosas, metabólicasou envenenamentos (Tabela 2).

Tétano ("Lockjaw")

O tétano é uma toxi-infecção altamente letal queacomete o homem e os animais domésticos, causadapela tetanospasmina, uma potente neurotoxina pro-duzida pelo C. tetani. Os ovinos e caprinos apresen-tam menor sensibilidade à neurotoxina tetânica emrelação à outras espécies animais, sendo os equinos aespécie mais sensível (Lobato et al., 2007).

A infecção se dá geralmente através de feridas acidentais ou cirúrgicas, em contato com esporos doagente presente em esterco ou nos solos. Os esporosdo microrganismo podem se manter infectantes nosolo por períodos superiores há 40 anos. Nas feridas,os esporos encontram condições de anaerobiosefavoráveis para germinarem, multiplicarem e pro-duzirem a tetanospasmina, a qual é transportadaatravés dos axônios da via nervosa periférica por ummecanismo retrógrado, ligando-se nas terminaçõespré-sinápticas ao nível do sistema nervoso central(SNC), impedindo a liberação de neurotransmissores

Page 7: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

29

RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34Lobato FCF et al.

Tabela 2 - Diagnóstico diferencial do botulismo nos pequenos ruminantes.

Doença Características diferenciais Confirmação laboratorial

Listeriose Andar em círculos podendo ocorrer Bacteriologia e histopatologia do cérebro

desvio da cabeça com torcicolo e aborto. e teste sorológico.

Raiva Salivação e tremor muscular. Pesquisa do corpúsculo de Negri ou do

Caprinos são comumente vírus no cérebro.

agressivos.

Toxemia da gestação Ocorre principalmente no último mês Hipoglicemia, cetonemia e cetonúria.

em ovinos de gestação.

O animal apresenta encefalopatia com

cegueira, tremor muscular e convulsões.

Ataxia enzoótica Incoordenação dos membros posteriores Análise do teor de cobre no soro.

com evolução crônica até à queda e morte

por inanição.

Polioencefalomalácia Cegueira, pressão da cabeça contra Não é realizado.

obstáculos, andar em círculos, hiperestesia O diagnóstico é terapêutico, através da

e convulsões tônico-clônicas periódicas. administração de cloridrato de tiamina.

Intoxicação por chumbo Anorexia, estase ruminal, edema craniano. Dosagem de chumbo sanguíneo, nas fezes,

no fígado, rins e conteúdo do retículo.

Traumatismo medular Observadas de acordo com a localizaçao Não realizado. Diagnóstico baseado

ou cerebral da lesão. no histórico, sinais clínicos e achados de

necrópsia.

Deficiência de magnésio Convulsões tetânicas. Análise do teor de magnésio no soro.

Intoxicação por Anorexia, convulsões. Níveis do fator tóxico nos tecidos.

hidrocarbonetos clorados

Intoxicação por Dispnéia, colapso, diarréia, hiperestesia, Níveis de colinesterase no sangue e

organofosforados salivação. nos tecidos.

Tabela 3 - Materiais de eleição das principais clostridioses que afetam os pequenos ruminantes.

Clostridioses Material de eleição

Botulismo 250g de conteúdo intestinal, conteúdo ruminal e fragmentos de fígado, bem como 20 mL

de soro sanguíneo e de água estagnada, em frascos estéreis.

Carbúnculo sintomático e Fragmentos de músculo lesado refrigerado e em formol a 10%.

gangrena gasosa

Hemoglobinúria bacilar Fragmentos de fígado lesado refrigerado e em formol a 10%.

Hepatite necrótica Fragmentos de fígado lesado refrigerado e em formol a 10%.

Enterotoxemia por 50 ml de conteúdo intestinal refrigerado, em frascos estéreis e cérebro inteiro em formol

Clostridium perfringens tipo D a 10%.

Page 8: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34Lobato FCF et al.

30

inibitórios, principalmente glicina, resultando emespasmos musculares tônicos e hiperexcitabilidadereflexa (Bizzini, 1993).

As contrações musculares podem ser tão fortes aponto de causarem fraturas das vértebras. Além disso,observam-se: distensão abdominal, agalactia, ataxia,cólicas, desidratação, constipação intestinal, timpanis-mo, cianose, febre, excitação, miotonia, dispnéia,opistótono, trismo da mandíbula, sialorréia, disfagia,midríase, taquicardia, incontinência urinária, vômitos,regurgitação, prolapso de terceira pálpebra, podendoem alguns casos, ocorrer morte súbita do animal. Operíodo de incubação é de cinco dias a 15 semanas,com média de sete dias. O curso clínico dura emmédia de quatro a sete dias. A morte ocorre devido àparada respiratória. À necropsia, não são encontradaslesões significativas (Driemeier et al., 2007).

Diagnóstico

Colheita e remessa de material

Para a realização do diagnóstico laboratorial dasprincipais clostridioses, que acometem os pequenosruminantes, é necessário conhecer qual o material aser colhido e a forma adequada de submissão domesmo para o local de realização dos exames(Madeley, 1985). Deve-se proceder à necrópsia poucotempo após a morte do animal (no máximo seis horas)ou em estado agônico, pois a maioria dos clostrídiosinvade a carcaça rapidamente, mascarando os resulta-dos do diagnóstico final. Os materiais de eleição e aforma de envio são apresentados na Tabela 3.

Mionecroses

Diferentemente do botulismo, tétano e enterotoxe-mias, em que a detecção da(s) toxina(s) produzidapelos agentes envolvidos é imprescindível para o diag-nóstico, nas mionecroses a detecção dos agentes ésuficiente para se ter um diagnóstico conclusivo.Alguns métodos imunológicos de diagnóstico podemser empregados como a imunofluorescência direta(IFD), teste "padrão-ouro" para mionecroses, que permite a detecção dos agentes em esfregaços de cultivo (Batty e Walker, 1963; Pinto e Abreu, 1992;Assis et al., 2001b) e em impressões (claps) obtidasdiretamente dos tecidos durante a necropsia (Assis etal., 2005); a imunohistoquímica (IHQ) em cortes histológicos e/ou esfregaços de cultivo (Conesa et al.,1995; Vanelli e Uzal, 1996a,b; Assis et al., 2005) e asseguintes técnicas de PCR: que amplificam sequênciasconservadas da subunidade 16s rRNA (Kuhnert et al.,1997; Takeuchi et al., 1997; Uzal et al., 2003b), dasubunidade 16S-23S rDNA (Sasaki et al., 2000 a,b;Sasaki et al., 2001), a sequência gênica que codifica aflagelina de C. chauvoei (Kojima et al., 2001) e a quecodifica a flagelina de C. chauvoei, C. septicum, C.

novyi tipos A e B e C. haemolyticum (Sasaki et al.,2002; Assis et al., 2008).

Enterotoxemias

O diagnóstico confirmatório está na dependênciadireta da detecção da(s) toxina(s) produzida pelosagentes, diretamente no conteúdo intestinal. O métodoconvencional para detecção destas toxinas é o teste desoroneutralização em camundongos, entretanto devidoà discussões éticas por parte de grupos humanitários,está sendo gradualmente substituída por metodologiasin vitro: ELISA (Weddel e Worthington, 1984; ElIdrissi e Ward, 1992; Uzal et al., 2003a; Carvalho,2004), empregos de linhagens celulares (Knight et al.,1990; Lindsay et al., 1995; Souza Júnior, 2005),aglutinação em látex (Songer, 1997) e contraimu-noeletroforese (Uzal et al., 2003a). Também existemdiferentes técnicas de PCR que, apesar de nãodetectarem diretamente a(s) toxina(s) produzida pelosC. perfringens dos tipos A-E, e sim os genes que codificam a produção das mesmas, permitem a tipifi-cação do C. perfringens envolvido em um determinadocaso ou surto (Uzal et al., 1996b; Uzal et al., 1997b;Meer e Songer, 1997; Vieira, 2006). Apesar da pre-sença de toxinas no conteúdo intestinal ser o maisimportante indicador das enterotoxemias, é necessáriocombinar este achado com outros, especialmente ohistórico do animal e da propriedade, sinais clínicos,achados de necropsia e histopatologia dos órgãos comlesões. No caso da enterotoxemia por C. perfringenstipo D, é imprescindível a realização de histopatologiado cérebro concomitantemente à detecção da toxinaépsilon (Uzal, 2004).

Hepatite necrótica e hemoglobinúria bacilar

O diagnóstico da hepatite necrótica baseia-se no isolamento, e na detecção do agente pela técnica deIFD (Sterne e Batty, 1975). Na hemoglobinúriabacilar, além do isolamento e a IFD, tem sido utilizadaa técnica de IHQ, empregando o complexo peroxi-dase-antiperoxidase (PAP) (Uzal et al., 1992). Damesma maneira que nas mionecroses e enterotoxe-mias, achados de necrópsia e subsequente histopatologiade tecidos dão suporte ao diagnóstico definitivodessas enfermidades.

Botulismo

O diagnóstico do botulismo é baseado na anamnese,sinais clínicos, isolamento e principalmente nademonstração e identificação da toxina(s) botulíni-ca(s). Os espécimes de eleição são: soro, conteúdointestinal, conteúdo ruminal, ossos e alimentos sus-peitos. A técnica mais utilizada é a soroneutralizaçãoem camundongos. Uma vez que haja suspeita da pre-sença da toxina(s), o que é verificado pela morte doscamundongos, a identificação da mesma(s) é feitacom anti-soros específicos (Lobato e Assis, 2001). No

Page 9: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34Lobato FCF et al.

31

Brasil, também tem sido empregada a técnica demicrofixação do complemento (Dutra et al., 1993).

Tétano

No tétano, o diagnóstico laboratorial pode ser feitopela demonstração da neurotoxina. Entretanto namaioria dos casos, o diagnóstico está baseado apenasna anamnese e sintomatologia clínica, sem referênciaa testes laboratoriais (Lobato e Assis, 2001).

Controle e profilaxia

As enfermidades causadas por microrganismos dogênero Clostridium ocasionam consideráveis perdasnos diferentes sistemas de produção de pequenosruminantes, uma vez que o tratamento, na maioria doscasos é impraticável. Devido às características ecoló-gicas dos agentes, que são ubiquitários do trato diges-tivo dos animais e solo, e pela forma de resistência pormeio de esporos, a erradicação dessas patologias épraticamente impossível. O controle e profilaxiadevem basear-se em medidas adequadas de manejo evacinações sistemáticas de todo o rebanho, já que osanimais estão em permanente contato com os agentese com os fatores que poderão desencadear as doenças.As vacinas clostridiais são na sua grande maioriapolivalentes, contendo em sua composição múltiplosantígenos e são usadas como estratégia frente a umagrande variedade de agentes e/ou toxinas. Osimunógenos devem ser administrados por via sub-cutânea, preferencialmente, em duas doses intervala-das de 4-6 semanas na primo-vacinação e reforçoanual, com exceção para o Clostridium haemolyticumque deverá ser semestral. Quando o rebanho é sistema-ticamente vacinado, os anticorpos colostrais protegemos animais por até três a quatro meses após o nasci-mento, devendo então a primo-vacinação ser realizadaapós esse período (Lobato e Assis, 2000).

De acordo com a literatura nenhuma vacina é pro-duzida especificamente para prevenir enterotoxemiaem caprinos, sendo as desenvolvidas para ovinos utilizadas em caprinos (Uzal e Kelly, 1996). Porém, deacordo com Uzal et al. (1998), os caprinos têm títulosde anticorpos menores e menos persistentes, sendonecessárias mais pesquisas para o desenvolvimento denovas vacinas que atestem a eficácia dessas vacinaspara essas espécies.

Bibliografia

Al-Mashat RR, Taylor DJ (1983a). Clostridium sordelliiin enteritis in an adult sheep. Veterinary Record, 112 19.

Al-Mashat RR, Taylor DJ (1983b). Production of diarrhoeaand enteric lesions in calves by the oral inoculation of pure cultures of Clostridium sordellii. Veterinary Record, 112: 141-146.

Assis RA, Dias LD, Parreiras PM, Nascimento RAP, Martins NE, Parreiras PM (2001a). Principais clostridioses dos ruminantes. Revista do Conselho Federalde Medicina Veterinária (CFMV), 7: 49-56.

Assis RA, Lobato FCF, Dias LD, Uzal FA, Martins NE,Silva N (2001b). Producción y evaluación de conjugadosfluorescentes para diagnóstico de mancha y gangrena gaseosa. Revista de Medicina Veterinária (Buenos Aires), 82: 68-70.

Assis RA, Lobato FCF, Martins NE, Nascimento RAP, Abreu VLV, Uzal FA (2002). An outbreak of malignant edema in cattle. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, 97: 143-145.

Assis RA, Lobato FCF, Martins NE, Souza Junior M, Lima ACO, Nascimento RAP, Carvalho Filho MB, Uzal FA (2004). Clostridial myonecrosis in sheep after caseous lymphadenitis vaccination. Veterinary Record, 154: 380.

Assis RA, Lobato FCF, Serakides R, Santos RL, Dias GRC, Nascimento RAP, Abreu VLV, Uzal FA (2005). Immunohistochemical detection of clostridia species in paraffin-embedded tissues of experimentally inoculated guinea pigs. Pesquisa Veterinária Brasileira, 25(1): 4-8.

Assis RA, Lobato FCF, Lobato ZIP, Camargos MF, Nascimento RAP, Abreu VLV, Vargas APC, Salvarani FM, Uzal FA (2008). PCR Multiplex para identificação de isolados de Clostridium chauvoie e Clostridium septicum. Arquivo brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 60: 294-298.

Azevedo EO, Trindade VM, Silva SL, Souza PM, Lobato FCF, Maia JD, Nascimento RAP, Maia JC (1999). Surto de Clostridium botulinum em ruminantes no semi-árido Paraíbano-Brasil. In: III Congresso Brasileiro de Buiatria, II Congresso Paulista de Buiatria. São Paulo. Anais... São Paulo, 101.

Ballard J, Bryant A, Stevens D, Tweten RK (1992). Purification and characterization of the lethal toxin (alpha-toxin) of Clostridium septicum. Infection and Immunity, 60: 784-790.

Baldassi L, Calil EMB, Portugal MASC, Moulin AAP, Mourão MAF (1995). Morte súbita de caprinos por enterotoxemia. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, 32: 109-113.

Barker LK, Van Dreumel AA, Palmer N (1993). The Alimentary System. In: Pathology of Domestic Animals. San Diego, California: Academic Press. 4ª Ed.: 237-247.

Batty I, Walker PD (1963). Differentiation of Clostridium septicum and Clostridium chauvoei by use of fluorescent labelled antibodies. Journal of Pathology Bacteriology, 85: 517-521.

Bizzini B (1993). Clostridium tetani. In: Pathogenesis of Bacterial Infections in Animals. C.L Gyles e C. O. Thoen (eds). Ames: Iowa University Press. 2ª Ed.: 97-105.

Blackwell TE, Butler DG, Prescott JF, Wilcock BP (1991). Differences in signs and lesions in sheep and goats with enterotoxaemia induced by intraduodenal infusion of Clostridium perfringens type D. American Journal of Veterinary Research, 52: 1147-1152.

Blackwell TE, Butler DG (1992). Clinical signs, treatment and postmortem lesions in dairy goats with enterotoxae-mia: 13 cases (1979-1982). Journal of the American Veterinary Medical Association, 200: 214-217.

Brüggemann H (2005). Genomics of clostridial pathogens: implication of extrachromosomal elements in pathogenicity. Current Opinion in Microbiology, 8: 601-605.

Page 10: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34Lobato FCF et al.

32

Brunger AT, Breidenbach MA, Jin R, Fischer A, Santos JS, Montal M (2007). Botulinum neurotoxin heavy chain belt as an intramolecular chaperone for the light chain. Plos Pathogens, 7: 1191-1194.

Bueschel DM, Jost BH, Billington SJ, Trinh HT, Songer JG (2003). Prevalence of cpb2, encoding beta2 toxin, in Clostridium perfringens field isolates: correlation of genotype with phenotype. Veterinary microbiology, 94: 121-129.

Buxton D (1978). Further studies on the mode of action of Clostridium welchii type D epsilon toxin. Journal of Medical Microbiology, 11: 293-298.

Buxton D, Donachie WC (1991). Clostridial Diseases. In: Diseases of Sheep. Oxford: Blackwell Scientific Publications. 2ª Ed.: 104-114.

Carvalho AVA (2004). ELISA sanduíche para detecção de toxina beta produzida pelo Clostridium perfringens tipos B e C. Dissertação (Mestrado) – escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, 33.

Colodel EM, Driemeier D, Schmitz M, Germer M, Nascimento RAP, Assis RA, Lobato FCF, Uzal FA (2003). Enterotoxemia em caprinos no Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira, 23: 173-178.

Conesa LCG, Vanelli SA, Uzal FA (1995). Detection of Clostridium chauvoei in formalin-fixed, paraffin-embed-ded tissues of sheep by the peroxidase-antiperoxidase (PAP) technique. Veterinary Research Communications, 19: 451-456.

Cornile F, Roques BP (1999). Tetanus and botulinum toxins are zinc metallopeptidases: molecular mechanisms and inhibition of their neurotoxicity. Journal de la Société de Biologie, 193: 509-516.

Costa JLN, Oliveira MMD, Lobato FCF, Souza Jún MF, Martins NE, Carvalho AVA, Facury Filho EJ, Abreu VLV, Assis RA, FA Uzal (2007). Outbreak of malignant oede-ma in sheep caused by Clostridium sordellii, predisposed by routine vaccination. Veterinary Record, 160: 594-595.

Driemeier D, Schild AL, Fernandes JC, Colodel EM, Corrêa AM, Cruz CE, Barros CS (2007). Outbreaks of tetanus in beef cattle and sheep in Brazil associated with disophe-nol injection. Journal of Veterinary Medicine. A physiology, pathology, clinical medicine, 54: 333-335.

Dutra IS, Weis HE, Weis H, Döbereiner J (1993). Diagnóstico de botulismo em bovinos pela técnica de microfixação de complemento. Pesquisa Veterinária Brasileira, 13: 83-86.

El Idrissi AH, Ward GE (1992). Evaluation of enzyme-linked immunosorbent assay for diagnosis of Clostridium perfringens enterotoxemias. Veterinary Microbiology, 31: 389-396.

Facury Filho EJ (2004). Indução experimental de enteroto-xemia pelo Clostridium perfringes tipo D em bovinos. Tese (Doutorado) – Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, 104.

Geny B, Khun H, Fitting C, Zarantonelli L, Mazuet C, Cayet N, Szatanik M, Prevost M, Cavaillon J, Huerre M, Popoff M (2007). Clostridium sordellii lethal toxin kills mice by inducing a major increase in lung vascular permeability. The American Journal of Pathology, 170: 1003-1017.

Gibert M, Renaud CJ, Popoff MR (1997). Beta-2 toxin, a noveltoxin produced by Clostridium perfringens. Gene, 203: 65-73.

Gkiourtzidis K, Frey J, Bourtzi-Hatzopoulou E, Iliadis N, Sarris K (2001). PCR detection and prevalence of alpha-,beta-, beta 2-, epsilon-, iota- and enterotoxin genes in Clostridium perfringens isolated from lambs with clostridial dysentery. Veterinary Microbiology, 82: 39-43.

Glastonbury JRW, Searson JE, Links IJ (1988). Clostridial myocarditis in lambs. Australian Veterinary Journal, 65: 208-209.

Gordon VM, Benz R, Fujii K, Leppla SH, Tweten RK (1997). Clostridium septicum alpha-toxin is proteolyticallyactived by furin. Infection and Immunity, 65: 4130-4134.

Gyles CL (1993). Histotoxic Clostridia. In: Pathogenesis of Bacterial Infections in Animals. C. L. Gyles e C. O. Thoen. (eds). Ames: Iowa University Press. 2ª Ed.: 106-113.

Hartley WJ (1956). A focal symmetrical encephalomalacia of lambs. New Zealand Veterinary Journal, 4: 129-135.

Hatheway CL (1990). Toxigenic Clostridia. Clinical Microbiology Rewiews, 3: 66-98.

Kaiser E, Haug G, Hliscs M, Aktoreis K, Barth H (2006). Formation of a biologically active toxin complex of the binary Clostridium botulinum C2 toxin without cell mem-brane interaction. Biochemistry, 45: 13361-13368.

Kelly WR (1985). The liver and biliary system. In: Pathology of Domestic Animals. Orlando, Florida: Academic Press: 240-312.

Klaasen LBMH, Molkenboer MJCH, Bakker J, Misrez R, Hani H, Frey J, Popoff MR, Van Den Bosch J (1999). Detection of the beta-2 toxin gene of Clostridium perfrin-gens in diarrheic piglets in the Netherlands and Switzerland. FEMS Immunology Medical Microbioogy, 24: 325-332.

Knight PA, Queminet J, Blanchard JH, Tilleray JH (1990). In vitro tests for the measurement of clostridal toxins,toxoids and antisera. II. Titration of Clostridium perfrin-gens toxins and antitoxins in cell culture. Biologicals, 18: 263-270.

Kojima A, Uchida I, Sekisaki T, Yoshimasa S, Ogikubo Y, Tamura Y (2001). Rapid detection and identification of Clostridium chauvoei by PCR based on flagellin gene sequence. Veterinary Microbiology, 78: 363-371.

Kuhnert P, Krampe M, Selja EC, Frey J, Nicolet J (1997). Identification of Clostridium chauvoei in cultures and clinical material from blackleg using PCR. Veterinary Microbiology, 51: 291-298.

Lewis CL, Naylor RD (1998). Sudden death in sheep asso-ciated with Clostridium sordellii. Veterinary Record, 142: 417-421.

Li J, Macclane BA (2006). Comparative effects of osmotic,sodium nitrite-induced, and ph-induced stress on growth and survival of clostridium perfringens type a isolates car-rying chromosomal or plasmid-borne enterotoxin genes. Applied and Environmental Microbiology, 72: 7620-7625.

Lima CGRD, Lobato FCF, Assis RA, Salvarani FM (2006). Surto de gangrena gasosa em rebanho de ovinos e caprinos.Ciência Veterinária nos Trópicos, 9: 106-109.

Lindsay CD, Hambrook JL, Upshall DG (1995). Examination of Toxicity of Clostridium perfringensepsilon-toxin in the MDCK Cell Line. Toxicon, 9: 213-218.

Page 11: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34Lobato FCF et al.

33

Lobato FCF, Almeida AC (1997). Clostridioses. Revista Brasileira de Reprodução Animal, 21: 61-69.

Lobato FCF, Assis RA (2000). Controle e profilaxia das clostridioses. A Hora Veterinária, 19: 29-33.

Lobato FCF, Assis RA (2001). Diagnóstico de Clostridioses e Controle de Qualidade das Vacinas. Laboratórios Pfizer Ltda.: 45-52.

Lobato FCF, Assis RA, Salvarani FM (2007). Principais Clostridioses dos Ruminantes Domésticos. Revista Veterinária e Zootecnia em Minas – CRMV-MG: 36-40.

Lobato FCF, Salvarani FM, Silva ROS, Souza AM, Lima CGRD, Pires PS, Assis RA, Azevedo EO (2008). Surto de botulismo em ruminantes causado pela ingestão de cama de frango. Ciência Rural, v.38, n.4 (artigo no prelo).

Madeley CR (1986). Guia para la recoleccion y transporte de especimes biológicos. Santiago, Organización de las Nacionas Unidas para la Agricultura y la Alimentación, 36.

Marsh H, Welsh H, Jungherr E (1928). Blackleg in sheep. Journal American Veterinary Medical Association, 27: 63-88.

Marvaud JC, Stiles BG, Chenal A, Gillet D, Gibert M, Smith LA, Popoff MR (2002). Clostridium perfringens iota toxin: mapping of the Ia domain involved in docking with Ib and cellular internalization. The Journal of Biological Chemistry, 277: 43659-43666.

McDonel JL (1986). Toxins of Clostridium perfringenstypes A, B, C, D and E. In: Pharmacology of bacterial toxins. Pergamon Press. 2ª Ed.: 517.

Meer RR, Songer JG (1997). Multiplex polymerase chain reaction assay for genotyping Clostridium perfringens. American Journal Veterinary Research, 58: 702-705.

Morris WE, Uzal FA, Fattorini FR, Terzolo H (2002). Malignant oedema associated with blood sampling in sheep. Australian Veterinary Journal, 80: 280-281.

Moussa RS (1958). Complexity of toxins from Clostridium septicum and Clostridium chauvoei. Journal of Bacteriology, 76: 538-545.

Niilo L (1980). Clostridium perfringens in animal disease: a review of current knowledge. Canadian Veterinary Journal, 21: 141-148.

Otter A, Livesey C, Hogg R, Sharpe R, Gray D (2006). Risk of botulism in cattle and sheep aresing from contact with broiler litter. Veterinary Record, 159: 186-187.

Pianta C (1997). Hemoglobinúria Bacilar. Laboratórios Pfizer Ltda. Actualização técnica, 35: 1-4.

Petit L, Gibert M, Popoff MR (1999). Clostridium perfrin-gens: toxinotype and genotype. Trends in Microbiology, 7: 104-110.

Pinto MP, Abreu VLV (1992). Comparação de técnicas para preparo de conjugados anti-Clostridium septicum e anti-Clostridium chauvoei. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 44: 513-520.

Radostits OM, Gay CC, Blood DC (2002). Clínica Veterinária – Um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e equinos. 9ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1937.

Richards SM, Hunt BW (1982). Clostridium sordellii in lambs. Veterinary Record, 111: 22-26.

Roberts RS, Mcewen AD (1931). Gas gangrene infection of sheep. Journal Comparative Pathology and Therapeutics, 44: 180-191.

Sasaki Y, Yamamoto K, Kojima A, Tetsuka Y, Norimatsu M,Tamura Y (2000a). Rapid and direct detection of Clostridium chauvoei by PCR of the 16S-23S rDNA spacer region and partial 23S rDNA sequences. Journal Veterinary Medical Science, 62: 1275-1281.

Sasaki Y, Yamamoto K, Kojima A, Norimatsu M, Tamura Y (2000b). Rapid identification and differentiation of pathogenic clostridia in gas gangrene by polymerase chain reaction based on the 16S-23S rDNA spacer region. Research in Veterinary Science, 69: 289-294.

Sasaki Y, Yamamoto K, Amimoto K, Kojima A, Ogikubo Y, Norimatsu M, Ogata H, Tamura Y (2001). Amplification of the 16S-23S rDNA spacer region for rapid detection of Clostridium chauvoei and Clostridium septicum, Research in Veterinary Science, 71: 227-229.

Sasaki Y, Kojima A, Aoki H, Ogikubo Y, Takikawa N,Tamura Y (2002). Phylogenetic analysis and PCR detec-tion of Clostridium chauvoei, Clostridium haemolyticum, Clostridium novyi types A and B, and Clostridium septicum based on the flagellin gene. Veterinary Microbiology, 86: 257-267.

Schirmer J, Aktories K (2004). Large clostridial cytotoxins: cellular biology of Rho/Ras-glucosylating toxins. Biochimica et Biophysica Acta, 1673: 66-74.

Scholes SFE, Welchman DB, Hutchinson JP, Edwards GT, Mitchell S (2007) Clostridium perfringens type D enteroto-xaemia in neonatal lambs. Veterinary Record, 160: 811-812.

Shatursky O, Bayles R, Rogers M, Jost BH, Songer JG, Tweten RK (2000). Clostridium perfringens beta-toxin forms potential-dependent, cation-selective channels in lipid bilayers. Infection and Immunity, 68: 5546-5551.

Smith LDS (1984). The Pathogenic Anaerobic Bacteria., Ilinois: Thomas, Springfield. 3ª Ed., 550.

Songer JG (1996). Clostridial enteric diseases of domestic animals. Clinical Microbiological Reviews, 9: 216-234.

Songer JG (1997). Clostridial diseases of animals. In: The Clostridia. Academic Press: 153-182.

Songer JG, Miskimmins DW (2004). Clostridium perfrin-gens type E enteritis in calves: two cases and a brief review of the literature. Anaerobe, 10: 239-242.

Souza Júnior MF (2005). Teste de neutralização para toxina épsilon e titulação de toxinas beta e épsilon de Clostridium perfringens tipos C e D em cultura de células. Dissertação (Mestrado) – Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, 31.

Sterne M, Batty I (1975). Pathogenic Clostridia. London: Butlerworths e CO, 144.

Stiles GW (1943). Blackleg (Clostridium chauvoei) infec-tion of sheep. North American Veterinarian, 24: 354-356.

Takeuchi S, Hashizume N, Kinoshita T, Kaidoh T, Tamura Y (1997). Detection of Clostridium septicum Hemolysin Gene by Polymerase Chain Reaction. Journal of Veterinary Medical Science, 59: 853-855.

Titball R, Duchesnes C, Granum PE, Menozzi MG, Peck M, Pelkonem S, Popoff M, Stackebrandt, Mainil J (2006). Genus Clostridium – Clostridia in medical, veterinary and food microbiology. European Concerted Action, 214.

Tweten RK (2001). Clostridium perfringens beta toxin and Clos-tridium septicum alpha toxin: their mechanisms and possible role in pathogenisis. Veterinary Microbiology, 82: 19.

Page 12: Clostridioses dos pequenos ruminantes Clostridiosis of ... · Clostridium perfringens São classificados de A a E (Tabela 1), de acordo com a produção de quatro toxinas principais:

RPCV (2007) 102 (561-562) 23-34Lobato FCF et al.

34

Uzal FA, Belak K, Rivera E, Robles CA, Feinstein RE (1992). Bacillary haemoglobinuria diagnosis by the per-oxidase-antiperoxidase (PAP) technique. Zentralbl Veterinarmed B, 39: 595-598.

Uzal FA, Pasini MI, Olaechea FV, Robles CA, Elizondo A (1994). An outbreak of enterotoxemia caused by Clostridium perfringens type D in goats in Patagonia. Veterinary Record, 135: 279-280.

Uzal FA, Kelly WR (1996). Enterotoxemia in goats. Review Article. Veterinary Research Communications, 20: 481-492.

Uzal FA, Olaechea FV, Vannelli SA (1996a). Hepatitis infecciosa necrosante en una oveja sin Fasciola hepatica. Revista de Medicina Veterinaria (Buenos Aires), 77: 377-379.

Uzal FA, Plumb JJ, Blackall LL, O’boyle D, Kelly WR (1996b). Detection by polymerase chain reaction of Clostridium perfringens producing epsilon toxin in faeces and in gastrointestinal contents of goats. Letters Applied Microbiology, 23: 13-17.

Uzal FA, Glastongury JRW, Kelly WR, Thomas R (1997a). Caprine enterotoxaemia associated with cerebral microangiopathy. Veterinary Record, 141: 224-226.

Uzal FA, Plumb JJ, Blackall LL, Kelly WR (1997b). PCR detection of Clostridium perfringens producing different toxinin faeces of goats. Letters Applied Microbiology, 25: 339-344.

Uzal FA, Bodero DA, Kelly WR, Nielsen K (1998). Variability of serum antibody responses of goat kids to a commercial Clostridium perfringens epsilon toxoid vac-cine. Veterinary Record, 143: 472-474.

Uzal FA (2001). Curso Internacional en Salud y Producción Ovina. Universidade Austral de Chile (Valdívia). Enfermidades Clostridiales de los Ovinos: 95-107.

Uzal FA, Kelly WR, Tomas R, Hornitzky M, Galea F (2003a). Comparison of four techniques for the detection

of Clostridium perfringens type D epsilon toxin in intes-tinal contents and other body fluids of sheep and goats. Journal Veterinary Diagnostic Investigation, 15: 94-99.

Uzal FA, Hugenholtz P, Blackall LL, Petray S, Moss S, Assis RA, Ferandez Miyakawa M, Carloni G (2003b). PCR detection of Clostridium chauvoei in pure cultures and in formalin-fixed, paraffin-embedded tissues. Veterinary Microbiology, 91: 239-248.

Uzal FA (2004). Diagnosis of Clostridium perfringensintestinal infections in sheep and goats. Anaerobe, 10: 135-143.

Van Der Burght GM, Mitchell ES, Otter A, Whitaker KA, Hoog R (2007) Seven outbreaks of suspected botulism in sheep in the UK. Veterinary Record, 161: 28-30.

Van Der Lugt JJ, Bastianello SS, Kellerman TS, Van Jaarsveld LP (1995). Two outbreaks of type C and D botulism in sheep and goats in South Africa. Journal of South Africa Veterinary Association, 66: 77-82.

Vannelli SA, Uzal FA (1996a). Identificación de Clostridium sordellii por una tecnica de peroxidasa-antiperoxidasa (PAP) en improntas y en tejidos ovinos fijados en formol e incluídos en parafina. Revista de Medicina Veterinaria (Buenos Aires), 77: 306-312.

Vannelli SA, Uzal FA (1996b).Clostridium septicumdetection by the peroxidase-antiperoxidase (PAP) tech-nique, in formalin-fixed, paraffin embedded tissues of sheep. Archivos de Medicina Veterinaria, 28: 125-127.

Vieira AAS (2006). Padronização e aplicação da PCR Multiplex na tipificação de Clostridium perfringens isola-dos de suínos diarréicos. Dissertação (Mestrado) – Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, 35.

Weddel W, Worthington RW (1984). An enzyme labelled immunosorbent assay for measuring Clostridium perfrin-gens epsilon toxin in gut contents. New Zealand Veterinary Journal, 33: 36-37.